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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA


CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE PATOLOGIA VETERINÁRIA

Apostila de Não Lesões e Lesões de Pouco Significado Clínico em Patologia


Veterinária

Professor Pedro M.O. Pedroso


Professora Juliana T.S.A. Macêdo

NÃO LESÕES

1.1. DEFINIÇÃO

São estruturas normais que, por serem pouco conhecidas ou semelhantes a lesões, são ocasionalmente
interpretadas como tal. São alterações de pouca ou nenhuma importância diagnóstica, porém com ocorrência
comum que devem ser reconhecidas e compreendidas durante a necropsia.

1.2. SISTEMA DIGESTÓRIO

Melanose
Pigmentação normal e frequente na mucosa oral de várias raças de cães. A pigmentação aumenta com
o avanço da idade. Não deve ser confundida com melanoma.

Fímbrias linguais
Também conhecida como hiperplasia epitelial da borda da língua, comum em leitões recém-nascidos
e menos frequente em filhotes de cães. A superfície lateral da língua está coberta por franjas de epitélio
hiperplásico de 5-10 mm. Essa franja é normal no momento do nascimento e será perdida por meio de traumas
mecânicos durante o período de amamentação. Sua causa e função não são conhecidas.

Aspecto amarelo da língua


O aspecto amarelo da superfície de corte da língua na maioria das espécies é devido ao tecido adiposo,
sendo mais abundante na porção caudal da língua.

Esôfago serrilhado do gato


Em gatos, a porção caudal do esôfago apresenta estrias transversais.
Hiperplasia linfoide da faringe
É um achado comum em equinos jovens. É reconhecida pela irregularidade da mucosa da faringe,
podendo ser observado nódulos de 2-3 mm na superfície.

Hiperemia gástrica
Observa-se uma coloração mais vermelha da mucosa glandular do estômago. É um achado fisiológico
comum no estômago de muitas espécies, especialmente em equinos e suínos. A falta de hemorragia, exsudato,
edema e úlceras diferenciam da gastrite. Áreas avermelhadas no estômago são normais e uma redistribuição
sanguínea após a morte também deve ser considerada.

Papilas ungueais
As papilas ungueais apresentam forma de garra. São firmes e cornificadas, localizadas na porção distal
da goteira esofágica e do omaso de ruminantes. Nos animais jovens que são alimentados com leite, apresentam
uma coloração branco-opaca. As papilas ungueais variam em comprimento, tornando-se mais longas com dieta
rica em fibras. Animais que consomem dietas com menos de 10% de fibras podem desenvolver paraqueratose
ruminal.

Toro pilórico (Torus pyloricus)


É um aumento discreto do músculo liso da parede gástrica, na junção da porção pilórica do estômago
e do duodeno. No suíno, mede em torno de 3-5 cm e apresenta uma fenda central. É uma protuberância lisa no
bovino e menos proeminente nas outras espécies.

Papila duodenal
São duas estruturas nodulares, uma maior que a outra, localizadas na mucosa do intestino delgado
(duodeno) da maioria das espécies. São aberturas normais da bile e dos ductos pancreáticos. São erroneamente
considerados pólipos ou neoplasias, principalmente no equino em que a papila duodenal é muito proeminente.

Folículos linfoides
São pequenos focos arredondados, com vários milímetros de diâmetro, distribuídos pelo ceco e cólon,
principalmente em cães, suínos e equinos. O tecido linfoide intestinal representa 25% da massa linfoide do
organismo, estando presente na superfície antimesentérica do intestino.

Estômago de equino
Em equino é normal observar o estômago firme e distendido, decorrente de uma dieta com alimentos
mais secos.

Corpúsculos de Pacini
Os corpúsculos de Pacini normalmente estão presentes no tecido conjuntivo interlobular do pâncreas
e do mesentério de felinos, e são visíveis macroscopicamente como nódulos de 1-3 mm de tamanho.

1.3. SISTEMA CARDIOVASCULAR

Melanose
A pigmentaçção melânica apresenta uma coloração cinza ou preta. É frequentemente observada na
artéria pulmonar e aorta de ovinos; e cérebro, meninge, adrenal, útero, traqueia, rins, cavidade oral e esôfago
de várias espécies.
Nódulos de Arantius
São pequenos nódulos pálidos e firmes de 1-2 mm localizados no meio das bordas livres da válvula
aórtica semilunar. São estruturas normais, sendo mais evidentes em suínos, mas podem ser observados em
outras espécies. Eles devem ser diferenciados de granulomas por estrongilídeos sobre as cúspides da aorta em
equinos. Nesse caso estes granulomas serão irregulares na localização e no tamanho.

Osso do coração
São dois ossos finos, pontiagudos, curvos e triangulares encontrados na base do coração de bovinos.
Eles são muitas vezes confundidos com ossificação anormal do anel fibroso da base do coração na maioria das
espécies à medida que envelhecem.

Linfáticos do epicárdio
Os vasos linfáticos do epicárdio, especialmente em bovinos, podem apresentar-se como estriações
brancas proeminentes.

Miocárdio pálido
Palidez focal ou difusa é observada no miocárdio de cães e equinos jovens.

Gordura no endocárdio
Ocorre na maioria das espécies, tanto em animais obesos, como naqueles com estado nutricional
normal. Podem ocorrer pequenos focos pálidos de 1-2 mm até vários centímetros de diâmetro no endocárdio
ou nas fendas naturais do próprio endocárdio. Esse depósito de gordura normal são mais pronunciados em
bovinos e equinos excessivamente obesos.

Líquido no saco pericárdio


Presença de pequena quantidade de líquido de cor clara no saco pericárdio é de ocorrência fisiológica.
Em pacientes que receberam injeção intracardíaca durante emergência podem apresentar pequena perfuração
do miocárdio.

Embebição pela hemoglobina


A embebição post mortem pela hemoglobina produz uma coloração avermelhada difusa no endocárdio,
inclusive nas válvulas e cordas tendíneas. Essa alteração não deve ser interpretada como lesão. Deve-se
diferenciar de doenças hemolíticas como babesiose e hemoglobinúria bacilar.

1.4. SISTEMA RESPIRATÓRIO

Melanose
A melanose congênita é um achado incidental comum em suínos e ruminantes, sendo observada
principalmente no abate. É caracterizada por manchas cinza ou pretas com alguns centímetros de diâmetro
disseminadas pelo parênquima pulmonar. A melanose não tem nenhum significado clínico, e a textura dos
pulmões permanece inalterada.

Fibrose da pleura
É a presença de grandes áreas de tecido conjuntivo sobre a superfície dorsal dos lobos caudais dos
pulmões na maioria das espécies, principalmente em bovinos e ovinos. É uma característica anatômica normal
nestas espécies.
1.5. SISTEMA UROGENITAL

Rins pálidos
É comum em gatos. O rim apresenta uma coloração amarelada pelo fato de apresentar uma maior
quantidade de conteúdo lipídico nas células epiteliais dos túbulos renais.

Adesão da cápsula renal


Raramente a cápsula renal está aderida a superfície cortical. Na maioria dos casos, a incapacidade de
remover a cápsula é culpa do legista. Em um animal desidratado a cápsula tende a estar mais aderida, onde
parte do córtex renal pode ser retirada junto à cápsula.

Muco na pelve renal


O equino e o suíno têm glândulas mucosas localizadas na pelve renal, portanto é comum encontrar
muco espesso de coloração amarelada nessa região.

Sedimento urinário
Uma quantidade relativamente grande de material de coloração amarelo-alaranjado é encontrada na
bexiga urinária de equinos normais. Erroneamente é interpretado como pus. É um achado normal,
principalmente em equinos com acesso limitado a água. Esse material é proveniente de resíduos da urina, sais
e mucos das glândulas mucosas da pelve renal. Material semelhante é observado em coelhos e porquinhos da
índia. É visto em ambos os sexos, porém é mais comum no macho.

Rim com cortical reduzida


Em animais jovens a região cortical possui menor tamanho que a região medular, não devendo ser
confundida em casos de insuficiência renal crônica onde esta região também está diminuída.

Parede espessa da vesícula urinária


A espessura da parede da vesícula urinária é difícil de ser interpretada, devido à variação fisiológica
normal. Em animais com a bexiga vazia, a parede está surpreendentemente espessa. Pode estar
fisiologicamente hipertrofiada em casos de incontinência urinária prolongada. A bexiga totalmente contraída
pode ser interpretada como um tumor, pois é uma massa firme e arredondada.

Pênis do cão
É composto de osso no corpo cavernoso do pênis.

1.6. SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

Linfonodos de animais jovens


Normalmente em animais jovens, os linfonodos do sistema gastrointestinal estão aumentados de
tamanho.

Linfonodo hepático
Os linfonodos hepáticos de bovinos e ovinos apresentam frequentemente uma coloração entre marrom
e preto. Devido à notável atividade fagocitária dos macrófagos dos seios medulares, a medula pode estar corada
por material fagocitado. Nessas espécies, os linfonodos hepáticos são acometidos pela hematina parasitária,
um pigmento produzido pela Fasciola hepatica.
Linfonodos hemais
São estruturas normais, semelhantes aos gânglios linfáticos, encontrados apenas em ruminantes.
Apresentam coloração vermelho escuro, pois o tecido linfático está repleto de sangue. Os nódulos hemais estão
localizados nas cavidades abdominal e torácica, principalmente na gordura mesentérica abdominal.

Cápsula espessa do baço


As cápsulas esplênicas dos equinos e ruminantes são mais grossas e apresentam coloração acinzentada,
pois a cor vermelha da polpa não pode ser observada através da cápsula.

Fissuras da cápsula esplênica


As fissuras na cápsula esplênica são fendas ou depressões profundas e alongadas na superfície parietal
do baço. Este defeito de desenvolvimento é observado principalmente em equinos, mas também pode ocorrer
em suínos e gatos. Essas fissuras esplênicas muitas vezes são confundidas frequentemente por lesão traumática
cicatrizada.

Extrusão da polpa vermelha do baço


Extrusão de pontos vermelhos de 1-3 mm de tamanho na cápsula do baço em equinos e suínos. Podem
estar localizados em qualquer parte da superfície do órgão. É uma variação anatômica sem significado.

Baço de anestesia
O órgão está aumentado de tamanho, macio e quando cortado flui sangue em abundante quantidade.
Soluções anestésicas, principalmente barbitúricos, utilizados para procedimentos de eutanásia ou quando são
utilizados em procedimentos cirúrgicos podem promover esta condição.

1.7. SISTEMA NERVOSO

Melanose das leptomeninges


Áreas de coloração preta nas leptomeninges, principalmente nos lobos frontais, é um achado frequente
em encéfalo de ovinos de face negra como das raças Suffolk e Hampshire Down e em bovinos com pele
fortemente pigmentada. A extensão e o grau da deposição dos pigmentos variam de animal para animal. A
melanose não produz alterações clínicas nos animais afetados. Frequentemente, a melanose é erroneamente
interpretada como necrose.

Corpo Pineal
Corpo pineal, epífise ou conarium que se situa dorsalmente ao tronco encefálico entre os colículos
rostrais do mesencéfalo e o tálamo. O corpo pineal é uma estrutura glandular especializada na secreção de
melatonina.

1.8. OSSO

Osso
Os ossos do suíno são significativamente mais espessos do que os ossos de outras espécies domésticas.

Fossas sinoviais
São superfícies normais, relativamente depressões irregulares nas superfícies articulares de algumas
articulações, principalmente em equinos. Servem para distribuir melhor o fluído sinovial. Desenvolvem com
o avanço da idade.
1.9. FETO E PLACENTA

Cápsula decidual do casco (Epinóquio)


A cápsula decidual do casco (“slippers” ou “chinelas”) apresenta contorno arredondado e estrutura
elástica que protege o útero e a vagina durante o parto de possíveis lesões causadas pelos cascos do feto.
Durante o primeiro dia de vida, seca com rapidez e pelo caminhar se desprende. Na morte intra-parto, os fetos
apresentam extensões de tecido cartilaginoso nos cascos. Na morte pós-parto há ausência de chinelas.

Hemorragia no umbigo
Algumas hemorragias ao redor do umbigo são comuns e geralmente não são significativas.

Placas amnióticas
São pequenas placas elevadas compostas por epitélio escamoso estratificado queratinizado. Nos
ruminantes, estas placas apresentam até 2 cm de diâmetro e somente estão presentes no âmnio localizado no
mesmo lado do feto. Os ruminantes apresentam mineralização da placenta, que aparecem como laços brancos
localizados especialmente no córion.

Espessura dos ventrículos


Em fetos a espessura do ventrículo esquerdo é semelhante à espessura do ventrículo direito do coração.

Hipômane
São concreções flexíveis de precipitados alantoides com coloração que varia de branco a levemente
avermelhado. Quase em todas as éguas apresentam em sua placenta hipômane na cavidade alantoide.

Cérebro de feto
A consistência do cérebro de fetos e neonatos tende a ser mais pastosa e não deve ser confundida com
lesões ante mortem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CABANA, E.M. Veterinary Necropsy Procedures. CLSU Alumni Association, Inc. 47p, 2008.

KING, J.M.; ROTH-JOHNSON, L.; DODD, D.C. et al. The Necropsy Book. A Guide for Veterinary
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McGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em Veterinária. Elsevier: Rio de Janeiro, 4ªed.,
1476p, 2009.

OLIVEIRA, E.C.; PESCADOR, C.A. Alterações post mortem e não lesões. Apostila da disciplina de
Patologia I. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 13p, 2009.

PESCADOR, C.A. Causas infecciosas de abortos e natimortalidade em suínos no Sul do Brasil. 2008. 96f.
Tese (Doutorado em Ciências Veterinárias) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS,
2008.

RECH, R.R. Alterações no encéfalo de bovinos submetidos à vigilância das encefalopatias espongiformes
transmissíveis. 2007. 228f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) – Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, RS, 2007.

LESÕES DE POUCO SIGNIFICADO CLÍNICO

2.1. DEFINIÇÃO

São lesões que geralmente não se traduzem em manifestações clínicas e, portanto, não podem ser
associadas às causas da morte do animal.

Achados gerais

Locais de injeção ou de coleta de sangue


Substâncias químicas de diferentes colorações poderão ser observadas no tecido subcutâneo ou tecido
muscular, em locais comuns de aplicação de injeção.

Pseudoicterícia
É um aumento relativo normal de pigmentos no sangue, incluindo caroteno. A pseudoicterícia aparece
nos tecidos de equinos jovens ou em equinos desidratados. Este termo também pode ser usado para descrever
o aumento da cor amarela de tecidos normais, como córtex da adrenal, plasma/soro e gordura de equinos e
bovinos das raças Jersey e Guernsey. Microscopicamente, os carotenos não são observados em cortes fixados
em formol e emblocados em parafina, pois o álcoois e agentes diafanizadores removem os pigmentos
lipossolúveis.

2.2. SISTEMA DIGESTÓRIO

Hipertrofia da muscular do esôfago


A hipertrofia muscular do esôfago distal é uma lesão peculiar em equinos e suínos, mas geralmente
não possui significância clínica. A musculatura esofágica pode estar vários centímetros espessada, e a lesão
pode se estender ao longo de todo o quarto distal do esôfago. Raramente esta condição desempenha papel nos
quadros de impactação esofágica.

Parasitismo ruminal
A paranfistomíase é a infestação do proventrículo de ruminantes por trematódeos em regiões de
latitudes quentes. Esses trematódeos pertencem aos gêneros Paramphistomum, Calicophoron e Cotylophoron.
Estes parasitas são semelhantes à papila ruminal em tamanho e aparência. Apesar da presença dos parasitas
nos compartimentos gástricos, geralmente não apresentam significância clínica.

Hemomelasma ilei
Lesão única em equinos. São placas de coloração rosa a negra, que variam de vários milímetros até
muitos centímetros de comprimento, podendo ocorrer na serosa em qualquer porção do intestino, mas são
geralmente limitadas ao íleo. Elas são atribuídas à migração de larvas de Strongylus edentatus e localizadas na
superfície serosa antimesentérica. São placas fibrovasculares da serosa formadas em resposta ao dano tecidual
causado pela migração das larvas. Entretanto, parasitos nunca foram observados e, portanto, a causa continua
desconhecida.

Listras tigroides
As listras tigroides são um tipo de congestão não-específica dos sulcos colônicos, secundárias à
diarreia e/ou tenesmo.

2.3. FÍGADO, VESÍCULA BILIAR E PÂNCREAS

Franjas e placas fibrosas na cápsula hepática


As placas fibrosas estão presentes na superfície diafragmática do fígado e no diafragma adjacente do
equino. Pode ocorrer sob duas formas: grandes placas de tecido conjuntivo, ocupando cerca de 20 cm ou mais
da superfície diafragmática do órgão ou sob a forma de franjas finas e longas. É proposto que seja uma
resolução de peritonite não séptica, possivelmente como resultado do contato entre o diafragma e a cápsula
hepática.

Manchas de leite
É atribuída a migração de larvas de Ascaris suum. À medida que as larvas se deslocam no fígado, elas
produzem necrose hepatocelular, que são acompanhados de inflamação, e no final, são substituídos por tecido
conjuntivo, que se desenvolve em cicatrizes fibrosas na superfície capsular. Essas cicatrizes capsulares têm a
aparência de áreas pálidas, e o termo “fígado com manchas de leite” tem sido usado para descrever o fígado
de suínos marcado por larvas de Ascaris suum.

Telangiectasia
É a dilatação dos sinusoides em áreas de perda de hepatócitos. Macroscopicamente evidenciam-se
focos azul-escuros no fígado, de tamanhos variáveis, desde pequenos pontos a vários centímetros.

Lipidose de tensão
São áreas pálidas isoladas nas margens do parênquima hepático, comumente encontradas em bovinos
e equinos. Ocorrem na região adjacente à inserção de uma conexão de ligamento, sendo proposto que essas
conexões impeçam o aporte de sangue ao parênquima hepático, pela tensão exercida sobre a cápsula. Os
hepatócitos acometidos acumulam gordura no seu citoplasma como consequência de hipóxia.

Hiperplasia nodular do fígado


É comum somente nos cães. A incidência aumenta com a idade. Os nódulos podem ser observados na
superfície capsular, sendo salientes e hemisféricos, de coloração amarela a cor de canela, medindo de 0,5 a 3
cm de diâmetro e são mais friáveis que o fígado normal. Esses nódulos apresentam todos os elementos do
fígado normal, porém com proporção maior de hepatócitos e número menor de tratos portais e veias centrais.
Os hepatócitos frequentemente contém lipídio citoplasmático.
Hiperplasia cística da vesícula biliar
A hiperplasia cística da vesícula biliar foi relatada somente em caninos e ovinos. A mucosa acometida
apresenta coloração branco-acinzentada. Ocasionalmente são observados grandes cistos que apresentam
projeções papilares no lúmen da vesícula biliar. Numerosos cistos de 1 a 3 mm na mucosa hiperplásica são
responsáveis pelo aspecto característico. A causa não é conhecida.

Vesícula biliar dilatada


Dilatação da vesícula biliar pode ser observada na necropsia de animais com jejum prolongado,
decorrente de inanição por qualquer motivo, tais como problemas dentários, desnutrição ou fome. Deve-se
diferenciar de dilatações patológicas que causam obstrução do fluxo da bile (ex: neoplasias, colelitíase e
parasitas).

Anomalia da vesícula biliar


Vesículas bi ou trilobuladas inseridas no parênquima hepático podem ser observadas em gatos. São
achados de necropsia considerados como dentro dos limites normais.

Hiperplasia nodular do pâncreas


A hiperplasia nodular do pâncreas exócrino ocorre em caninos, felinos e bovinos, principalmente em
animais idosos. Os nódulos hiperplásicos são múltiplos, elevados, macios e de coloração branca ou
acinzentados na superfície de corte. Histologicamente, consistem em agregados encapsulados de células
acinares que podem estar desprovidas de grânulos de zimogênio ou conter uma abundância deles.

2.4. SISTEMA CARDIOVASCULAR

Asperezas de fricção
Lesão muito comum observada nas cúspides da aorta de equinos. São nódulos pares de 2 a 5 mm de
diâmetro, localizados à mesma distância da inserção valvular no ponto de contato entre as duas cúspides e
representam tecido cicatricial. Essa lesão é causada pela fricção das válvulas, devendo ser diferenciada dos
nódulos de Arantius.

Cúspide septal da válvula tricúspide


É importante observar que a cúspide septal da válvula tricúspide em cães é firmemente aderida ao
septo ventricular.

Edema das válvulas cardíacas


Todas as principais válvulas do coração podem estar acentuadamente espessadas até 5 mm com um
líquido claro, dando a válvula uma aparência inchada e brilhante. Embora todas as cúspides possam estar
envolvidas em um determinado caso, frequentemente se observa que apenas uma ou duas cúspides entre três
estão afetadas. Esse é um achado comum de necropsia sem qualquer valor diagnóstico. No entanto, deve-se
diferenciar de endocardiose, lesão que ocorre em cães velhos e se caracteriza por nódulos firmes, irregulares e
verrugosos nos bordos livres das válvulas atrioventriculares. Uma provável causa para o edema das válvulas é
a desaceleração do fluxo sanguíneo no momento da morte, em casos de morte precedida por um período
agônico prolongado.

Persistência do ducto arterioso e do forâmen oval


Em ruminantes recém-nascidos, o ducto arterioso e o forâmen oval podem ser persistentes, mas se as
aberturas forem amplas, provavelmente não haverá desvio significativo de sangue durante a vida.
Hemorragias pericárdicas, endocárdicas e miocárdicas
Hemorragias petequiais e equimóticas ocorrem como fenômenos agônicos do coração, especialmente
em grandes animais. É resultado do aumento da resistência da circulação periférica nos membros, associada
às contrações cardíacas intermitentes e vigorosas, ocorrendo nas fases terminais de qualquer doença. Em
seguida, o coração trabalha contra essa resistência periférica, causando hemorragias em várias partes do
coração, mediastino e pleura parietal.

Hematocistos
Hematomas valvulares, também conhecidos como hematocistos, ocorrem nas válvulas
atrioventriculares de ruminantes neonatos. As lesões consistem em cistos preenchidos por sangue, salientes,
com vários milímetros de diâmetro, localizados nas bordas das válvulas atrioventriculares. Estas lesões
normalmente regridem de forma espontânea alguns meses após o nascimento.

Cistos linfáticos
Também conhecido como linfocisto, É um cisto preenchido por linfa, apresentando um conteúdo
seroso e de coloração amarelada na cúspide da válvula atrioventricular.

Linfangiectasia
Linfangiectasia é a dilatação dos vasos linfáticos. A causa pode ser uma anomalia congênita, no qual
os vasos linfáticos não se conectam a outros vasos ou pela obstrução da drenagem linfática. Observa-se uma
aparência tortuosa do vaso linfático epicárdico.

Injeção intracardíaca
A aplicação de injeção intracardíaca de soluções para eutanásia ou com outras substâncias podem
causar hemopericárdio e palidez miocárdica devido à decomposição tecidual e a depósitos cristalinos no local
da administração da solução. Observa-se uma área focal úmida e esverdeada no miocárdio, cercada por tecido
cardíaco seco, pode ser indicativa de injeção intracardíaca.

2.5. SISTEMA RESPIRATÓRIO

Enfisema pulmonar
Enfisema pulmonar é um dos achados mais frequentemente mal interpretados durante a necropsia.
Apresenta pouco significado, a não ser que seja baseado por meio de sinais clínicos respiratórios. É um achado
muito comum em bovinos que morrem por qualquer motivo, também observado em gatos, e menos
frequentemente em equinos.

Antracose
O carbono é o pigmento exógeno mais comum. A porta de entrada usual no organismo é através da
inalação, e seu acúmulo nos pulmões resulta em uma condição denominada de antracose. Macroscopicamente,
os pulmões apresentam-se pontuados por pontos enegrecidos subpleurais de 1-2 mm de diâmetro. Esta
condição é observada principalmente em animais de cidade.
2.6. SISTEMA URINÁRIO

Granulomas multifocais no rim


Larvas de Toxocara canis migratórias podem induzir a formação de granulomas pequenos (2-3 mm),
cinza-esbranquiçados, distribuídos ao acaso através do córtex renal subcapsular de cães.

Cisto renal
Os cistos renais são distensões esféricas de parede fina e tamanho variável, principalmente dos túbulos
corticais ou medulares e são preenchidos com fluido claro aquoso. Quando vista da superfície renal, a parede
do cisto é cinza-pálido, lisa e translúcida. Tais cistos renais são achados incidentais em suínos e bovinos e
devem ser diferenciados da hidronefrose.

2.7. SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

Hiperplasia nodular do baço


A hiperplasia nodular esplênica é mais comumente observada nos baços de cães idosos e é
frequentemente um achado incidental. Esta lesão também tem sido denominada de hiperplasia nodular
esplênica canina ou esplenoma. Os nódulos hiperplásicos, usualmente, são hemisféricos com diâmetro de 2
cm ou mais, observados como nódulos firmes e coalescentes, únicos ou múltiplos, salientes da superfície
capsular. Os nódulos são formados por células linfoides hiperplásicas ou acúmulos de células hiperplásicas
eritroides, mieloides e megacariócitos com células linfoides.

Placas siderofibróticas
As placas siderofibróticas são também conhecidas como corpos de Gamma-Gandy.
Macroscopicamente, tais placas apresentam coloração esbranquiçada a amarelada e são incrustações duras e
secas sobre a cápsula, principalmente ao longo das margens do baço. Microscopicamente, estas placas são em
geral multicoloridas em cortes corados pela hematoxilina e eosina: amarela (bilirrubina em casos iniciais),
marrom dourado (hemossiderina) e azul (cálcio). São alterações frequentemente observadas em cães idosos.

Pseudoinfartos
São áreas de coloração vermelho escuras distribuídas ao longo do baço. O sangue fica represado nestes
locais, enquanto o restante do sangue foi expulso por contrações esplênicas. É observado principalmente em
cães que foram submetidos à eutanásia. As maiorias dos pseudoinfartos apresentam de 2-10 mm, mas podem
envolver até metade da área do baço.

2.8. SISTEMA NERVOSO

Colesteatoma
Os colesteatomas, também conhecidos como granulomas de colesterol, se formam no plexo coroide
dos ventrículos de equinos velhos. Os colesteatomas são massas firmes, pálidas a amarelo-amarronzadas, com
uma superfície lisa. Estes depósitos induzem reação inflamatória de corpo estranho no plexo coroide. São
considerados achados de necropsia sem importância clínica. Sinais clínicos podem aparecer quando essas
massas atingem grandes dimensões.

Fibrose das leptomeninges


Cães idosos apresentam vários graus de fibrose leptomeníngea envolvendo os recessos dos sulcos
cerebrais. As leptomeninges podem ter áreas de fibrose (áreas brancas) particularmente nas áreas mais externas
do giro. Esta característica pode ser útil na diferenciação da fibrose leptomeníngea da meningite supurativa. A
causa da fibrose tem sido considerada o desgaste normal do sistema nervoso central.

Ossificação da dura-máter
A ossificação da dura-máter, também conhecida como paquimeningite ossificante e metaplasia dural.
A dura-máter das intumescências cervical e lombar da medula espinhal contém osso bem diferenciado que
podem até mesmo formar medula óssea.

Congestão da meninge
É comum observar meninges congestas, devido à posição do corpo e da gravidade após a morte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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