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PATOLOGIA DO RIM
Rins pálidos do gato: uma coloração bronzeado-clara ou mesmo creme-clara é normal nessa espécie. Essa
coloração é devida ao acúmulo de gordura nas células tubulares. Além disso, no gato, os vasos da
superfície cortical são bastante salientes e colocados em verdadeiros sulcos. Esses também são aspectos
anatômicos normais do rim dessa espécie. Por outro lado, os rins do gato podem aparecer bronzeados ou
marrom-avermelhados e, mesmo assim, são considerados normais.
Muco na pelve renal de cavalos: o cavalo tem glândulas mucosas na pelve renal que secretam uma
quantidade de muco suficiente para enganar aqueles que desconhecem essa condição normal.
Diagnósticos de pielite ou pielonefrite catarral ou purulenta já foram feitos, baseados nessa condição, por
patologistas mal informados. Uma quantidade considerável de muco pode ser encontrada também na
bexiga e ser considerada, também erroneamente, como exsudato mucoso ou purulento. Uma condição
semelhante é observada no coelho. No rato, é comum encontrar tampões mais firmes de muco.
Rim polposo: nessa alteração autolítica PM, observada mais freqüentemente em ovinos, a porção cortical
dos rins está macia e pastosa, enquanto a medular é menos afetada e pode parecer macroscopicamente
normal. A mesma alteração pode ser vista no cavalo e, ocasionalmente, no bovino que recebeu terapia
com glicose. A alteração é provavelmente devida ao conteúdo alto em glicose ou glicogênio nos túbulos
do córtex renal. A glicose e o glicogênio fornecem o substrato para proliferação bacteriana, favorecendo a
alteração autolítica. Ovinos que morrem por enterotoxemia apresentam glicosúria, que favorece o
aparecimento de “rim polposo” antes de ocorrer putrefação em outros órgãos. Testes para medir a
glicosúria são tidos como apropriados como auxiliares no diagnóstico dessa doença.
Aderências da cápsula renal: muitos livros-texto e trabalhos mencionam essa alteração como patológica.
Essa é uma das falácias mais comuns em patologia. Raras vezes a cápsula está realmente aderida à
superfície cortical. Na maioria das vezes, o que ocorre é imperícia da pessoa que realiza a necropsia em
remover facilmente a cápsula. A desidratação tende a “grudar” mais a cápsula ao rim e, nesses casos, se
houver descuido, podem se retirar pedaços do córtex renal junto com a cápsula. Vasos normais que se
estendem do córtex renal até a cápsula podem causar alguma dificuldade em removê-la, especialmente
em cavalos. Pessoas com pouca experiência em necropsia já confundiram esses vasos com parasitas.
Anomalias do Desenvolvimento
O não desenvolvimento (agenesia) ou desenvolvimento só do esboço embrionário (aplasia) do
rim pode ser uni ou bilateral; o ureter pode ou não estar presente ou ausente. Aplasia (ou agenesia)
unilateral é compatível com a vida (desde que o outro rim seja normal) e pode ser apenas um achado
incidental de necropsia. Pode haver uma tendência familiar em cães Doberman pinscher e Beagles.
Hipoplasia renal é o desenvolvimento incompleto do rim. Pode ser unilateral ou bilateral. A displasia
(desorganização estrutural) renal resulta de diferenciação celular anormal. As lesões displásicas podem
ser unilaterais ou bilaterais e podem afetar a maior parte da massa renal ou ocorrer apenas focalmente.
Rins displásicos podem ser pequenos e/ou disformes. O número de néfrons, lóbulos e cálices é normal.
Rins ectópicos têm localizações diferentes da localização sublombar normal, devido à migração anômala
durante o desenvolvimento fetal. Ocorrem mais em suínos e caninos e, na maioria das vezes,
unilateralmente. Localizações ectópicas freqüentemente incluem a cavidade pélvica e a região inguinal.
Embora os rins ectópicos sejam, na maioria das vezes, estrutural e funcionalmente normais, o mau
posicionamento do ureter predispõe à obstrução e hidronefrose secundária. Rins fundidos (em
ferradura) ocorrem por fusão dos pólos craniais ou caudais dos rins durante a nefrogênese, resultando
no aparecimento de um grande rim com dois ureteres. A estrutura histológica e função dos rins fundidos
são geralmente normais. Cistos renais (solitários ou múltiplos) congênitos são associados à displasia
renal ou podem ocorrer como entidades primárias. São achados incidentais de necropsia ou de
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matadouro, comuns em suínos e terneiros. Cistos podem originar-se em qualquer lugar ao longo do
néfron e ser localizados tanto no córtex como na medular. Os tamanhos dos cistos variam desde alguns
milímetros até vários centímetros em diâmetro. São usualmente esféricos, de paredes finas e cercados
por epitélio achatado. Contêm líquido claro e seroso. Quando os rins são policísticos (com contêm
muitos cistos), a função renal pode ser comprometida. Rins policísticos congênitos ocorrem
esporadicamente em muitas espécies, mas podem ser herdados como uma lesão autossômica dominante
em suínos e cordeiros e gatos siameses.
A patogenia dos cistos renais não é completamente entendida. Cistos renais adquiridos podem
ocorrer como resultado de fibrose intersticial renal ou outras doenças renais que causam obstrução
intratubular. Esses cistos são usualmente muito pequenos (1 a 2 mm) e ocorrem primariamente no
córtex.
Distúrbios Circulatórios
Hiperemia dos rins pode ser fisiológica, ativa, passiva (congestão) ou hipostática. Rins congestos
mais escuros que o normal, podem ser perceptivelmente tumefeitos e deixar fluir sangue da superfície de
corte. Na necropsia, congestão hipostática renal unilateral ocorre em animais que morrem decúbito
lateral. Hemorragias na cortical ocorrem devido a vasculite ou necrose vascular associadas a várias
doenças septicêmicas. Ocorrem petéquias nos rins de suínos com peste suína clássica, peste suína
africana, erisipelas, infecções por estreptococos ou salmonelose. Equimoses corticais renais ocorrem em
filhotes de cães na infecção por herpesvírus canino.
Infartos renais são áreas de necrose de coagulação que resultam de isquemia por oclusão
vascular, usualmente causada por trombose ou embolia asséptica. A oclusão de artérias resulta em
infartos que inicialmente são hemorrágicos e tornam-se cinza-amarelos e pálidos em 2 a 3 dias, devido à
lise dos eritrócitos e à remoção da hemoglobina. Infartos pálidos têm uma área central de necrose de
coagulação e são usualmente cercados por uma zona de congestão e hemorragia ao lado de uma margem
pálida formada por uma zona de leucócitos. Infartos freqüentemente têm forma de cunha, com a base
contra a superfície cortical e o ápice voltado para a medular. Infartos podem envolver somente o córtex
ou o córtex e a medular, dependendo do tamanho do vaso ocluído e do local da obstrução. Os infartos
devido por oclusão venosa são menos comuns. Seu aspecto hemorrágico dura mais que o dos infartos
arteriais porque o fluxo de sangue arterial para a área é mantido. A cicatrização da área infartada ocorre
por lise e fagocitose do tecido necrótico e substituição por tecido conjuntivo fibroso, deixando uma
cicatriz fibrótica linear bem definida. Trombose (endocardite) do endocárdio freqüentemente resulta em
embolia dos vasos renais devido à alta porcentagem (20% a 25%) do débito cardíaco que vai para os
rins. Em casos raros, os êmbolos podem ser grandes o suficiente para ocluir a artéria renal, causando
infarto de todo o rim. Mais comumente, os êmbolos obstruem muitos vasos menores, causando múltiplos
pequenos infartos renais. Êmbolos sépticos, especialmente os derivados de endocardite valvular podem
também causar infartos renais. Os infartos sépticos são inicialmente hemorrágicos, mas com o tempo
tornam-se abscessos.
Necrose de papila
Necrose das papilas renais ou de seu correspondente anatômico, a crista medular, é uma reação
da medular interna à isquemia. A medula interna, incluindo as papilas, é normalmente menos perfundida
por sangue que as zonas mais externas dos rins. Devido a esse fluxo limitado de sangue, qualquer lesão
que adicionalmente reduza o fluxo sanguíneo na medular, pode causar necrose isquêmica (infarto) das
papilas. Dessa forma, a necrose papilar pode ocorrer como conseqüência de fibrose da medular externa,
amiloidose da medular, pielite, cálculos renais pélvicos ou aumento da pressão intrapélvica na obstrução
do trato urinário inferior. Necrose papilar ocorre também como lesão primária em animais,
(principalmente em eqüinos) tratados com drogas antiinflamatórias e analgésicas não-esteróides (por ex.
flunixin meglumine). Essas drogas inibem a biossíntese de prostaglandinas (importantes na manutenção
do fluxo normal nos vasa recta) com isquemia das papilas por redução do fluxo sangüíneo. O tecido
necrótico pode ser amarelo-acinzentado, verde ou rosa. Dependendo do estágio/duração da lesão, pode
ser aderido, destacado ou ausente, deixando a papila delgada e ulcerada. O tecido medular necrótico
descamado pode formar um ninho para a precipitação de minerais, resultando na formação de um
cálculo ureteral.
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Necrose tubular nefrotóxica pode ser causada por várias classes de compostos de ocorrência
natural ou sintéticos (Tabela 3). As nefrotoxinas, geralmente não danificam a membrana basal.
Certos agentes medicamentosos são nefrotóxicos e causam necrose tubular aguda quando
administrados em doses excessivas. Cisplatina, um agente quimioterápico antiblástico que contém
platina, causa necrose tubular através de dano tubular direto e redução do fluxo sanguíneo.
Aminoglicosídeos antimicrobianos, como a gentamicina, neomicina, canamicina, tobramicina, amicacina e
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estreptomicina, são nefrotóxicos. Necrose tubular induzida por sulfonamida, uma entidade comum em
anos passados, ocorre, hoje em dia, com baixa freqüência, porque as sulfonamidas usadas atualmente
têm maior poder de solubilidade do que as usadas no passado. As sulfonamidas produzem necrose
tubular com maior facilidade em animais desidratados.
Glomerulonefrites imunomediadas
Glomerulonefrites resultam, na maioria das vezes, de mecanismos imunomediados,
principalmente os que envolvem anticorpos contra as membranas basais dos glomérulos ou a deposição,
no glomérulo, de complexos imunes solúveis. O diagnóstico de uma glomerulonefrite imunomediada é
confirmado pela demonstração, por técnicas de imunofluorescência ou de imunoistoquímica, de
imunoglobulinas (Ig) e componentes do complemento, usualmente C3, nos glomérulos.
Há dois tipos principais de glomerulonefrites imunomediadas. Em um deles, os anticopos ligam-se
à membrana glomérulo (lesão antimembrana basal), resultando em dano ao glomérulo pela fixação do
complemento e infiltração leucocitária subseqüente. Esse mecanismo de glomerulonefrite é descrito em
seres humanos e primatas inferiores, mas raramente em outras espécies. A glomerulonefrite
imunomediada comum em animais domésticos, principalmente em cães e gatos, é a glomerulonefrite por
imunocomplexos que ocorre associada a infecções persistentes ou outras doenças que
caracteristicamente apresentam antigenemia prolongada. As principais causas de glomerulonefrite por
imunocomplexos em animais domésticos estão na Tabela 5.
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Tabela 5. Doenças associadas a glomerulonefrite por imunocomplexos em
animais
Cães Hepatite infecciosa canina
Endometrite bacteriana (piômetra)
Dirofilaríase
Lúpus eritematoso sistêmico
Poliarterite
Neoplasia
Gatos Infecção pelo vírus da leucemia felina
Peritonite infecciosa felina
Neoplasia
Eqüinos Anemia infecciosa eqüina
Streptococcus sp.
Bovinos Diarréia bovina a vírus
Suínos Peste suína clássica
Peste suína africana
Aspectos macroscópicos: as lesões agudas são usualmente pouco pronunciadas. Os rins estão
tumefeitos, com superfície capsular lisa, têm coloração normal ou pálida e glomérulos visíveis como
pequenos pontos vermelhos, na superfície de corte da cortical. Se as lesões se tornam subagudas ou
crônicas, a cortical se atrofia moderadamente e assume um aspecto granular na superfície capsular. Na
superfície de corte,a cortical pode estar adelgaçada e os glomérulos podem aparecer como pontos cinza-
claros. Com o tempo, uma cicatrização mais intensa pode se desenvolver por todo o córtex. Aspectos
microscópicos: as lesões nos glomérulos podem ser classificadas da seguinte maneira:
Amiloidose
O amilóide, uma proteína fibrilar insolúvel com uma conformação em manto -plissado, é
produzido após proteólise limitada de várias proteínas solúveis. Depósitos de amilóide em pacientes com
mieloma de plasmócitos ou outras discrasias de linfócitos B (chamada amiloidose AL), são compostos de
fragmentos de cadeias leves de imunoglobulinas. Em animais domésticos, a amiloidose é geralmente do
tipo reativa (amiloidose AA) e freqüentemente associada a estímulos e lesões inflamatórias crônicos.
Nesse tipo, os depósitos de amilóide são compostos de fragmentos de uma proteína sérica reagente de
fase aguda chamada proteína amilóide associada ao soro (AA). As fibrilas de amilóide, independente de
sua origem, são depositadas nos tecidos junto com uma glicoproteína chamada componente-P do
amilóide.
Os glomérulos são o local mais comum para a deposição de amilóide, embora o interstício da
medular seja um lugar comum para essa deposição em gatos. A amiloidose renal pode ocorrer em
associação a outras doenças, particularmente doenças inflamatórias crônicas ou neoplasias. Aspectos
macroscópicos: Os rins com amiloidose glomerular são freqüentemente aumentados de volume e pálidos,
com superfície capsular lisa ou finamente granular. Os glomérulos carregados com amilóide podem ser
visíveis como pequeninos pontos bronzeados na superfície capsular e superfície de corte. O córtex pode
ter um aspecto finamente granular. A aplicação, nos rins com amiloidose, de uma solução de iodo, como o
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Lugol, pode resultar em coloração marrom dos glomérulos que se tornam púrpura quando expostos a
ácido sulfúrico diluído. Aspectos microscópicos: a arquitetura normal dos glomérulos é substituída por
material eosinofílico, homogêneo ou levemente fibrilar.
Lesões Tubulointersticiais
Nefrite intersticial
Acúmulos de células inflamatórias podem ocorrer no interstício renal em várias doenças
infecciosas sistêmicas de animais domésticos. Em muitas dessas doenças, os infiltrados de células
inflamatórias são visíveis apenas microscopicamente, não são associados à insuficiência renal e,
geralmente, não são associados a sinais clínicos. Em outras doenças, as respostas inflamatórias são mais
acentuadas, macroscopicamente visíveis, associadas à insuficiência renal. Essas alterações são chamadas
de nefrite intersticial. O termo nefrite tubulointersticial tem sido também usado para designar essa lesão
porque geralmente há alterações tubulares associadas. A nefrite intersticial pode ser aguda ou crônica e é
tradicionalmente associada a infiltrado linfoplasmocitário. A nefrite intersticial crônica é associada à
fibrose renal.
As principais causas de nefrite intersticial em animais domésticos estão na Tabela 6.
Os aspectos macroscópicos mencionados aqui são os das nefrites intersticiais agudas ou subagudas. A
distribuição das lesões pode ser difusa como na leptospirose canina ou multifocal como nos “rins
manchados de branco” em terneiros devidos à septicemia por E. coli, na hepatite infecciosa canina, na
febre catarral maligna ou na leptospirose suína. Na nefrite intersticial difusa, os rins podem estar
tumefeitos, pálidos e com um mosqueado cinza aleatório visto desde a superfície capsular. A superfície
de corte pode estar protuberante. Infiltrados branco-acinzentados, de vários tamanhos e formas,
obliteram a estriação radiada da arquitetura normal do córtex. A nefrite intersticial focal é menos grave e
consiste de áreas branco-acinzentadas mais bem demarcadas no córtex e, às vezes, na medula externa.
Aspectos microscópicos: agregados de linfócitos, plasmócitos, monócitos e alguns poucos neutrófilos
aparecem dispersos aleatoriamente ou se localizam intensamente pelo interstício. O interstício pode
estar edematoso. Nas áreas intensamente inflamadas, o epitélio tubular apresenta alterações de
degeneração e necrose.
Nefrite granulomatosa
Nefrite granulomatosa é um tipo de lesão tubulointersticial que geralmente acompanha doenças
sistêmicas crônicas caracterizadas por formação de múltiplos granulomas em vários órgãos. Em animais
domésticos, a nefrite granulomatosa pode estar associada a vários agentes infecciosos, incluindo vírus,
bactérias, fungos e parasitas (Tabela 7). O aspecto comum a cada uma dessas doenças são granulomas
visíveis na macroscopia e distribuídos de maneira aleatória por todo o rim, mas especialmente
localizados no córtex.
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Tabela 7. Causas de nefrite granulomatosa em animais domésticos
Doença Espécie afetada Etiologia
Peritonite infecciosa felina gatos Coronavírus
Encefalitozoonose cães (filhotes), coelhos Encephalitozoon cuniculi
Xantogranulomas Gatos Hiperlipoproteinemia
Xantogranulomas Cães Hipotireoidismo
Tuberculose renal Bovinos Mycobacterium spp.
Intoxicação por ervilhaca Bovinos Vicia villosa
Intoxicação por polpa Bovinos Desconhecida
cítrica
Granulomas parasitários Cães Toxocara canis
Prototecose renal Cães Prototheca spp.
Micoses sistêmicas Várias espécies Aspergillus spp., Histoplasma capsulatum,
ficomicetos
Pielonefrite
Pielite é a inflamação da pelve renal, e pielonefrite é a inflamação da pelve e do parênquima renal.
Pielonefrite é exemplo de lesão tubulointersticial supurativa. Geralmente se origina por extensão de
infecção bacteriana do trato urinário inferior que sobe pelos ureteres até os rins e estabelece infecções
na pelve e na medular interna. Mais raramente a pielonefrite resulta de infecções bacterianas
descendentes (por disseminação bacteriana hematógena) como na nefrite embólica. A infecção
ascendente é, no entanto, de longe, a causa mais comum de pielonefrite.
A patogenia da pielonefrite ascendente depende do refluxo anormal de urina contaminada por
bactérias desde o trato urinário inferior até a pelve renal e tubos coletores e geralmente é associada à
obstrução do fluxo urinário. Cistite e uretrite, associadas ao estreitamento da uretra, ou obstrução por
cálculos urinários podem causar aumento da pressão intravesical e facilitar o refluxo. As causas de
pielonefrite em animais domésticos estão na Tabela 8. A pielonefrite ocorre mais em fêmeas por essas
serem mais suscetíveis a infecções do trato urinário inferior. Aspectos macroscópicos: as membranas
mucosas da pelve e do ureter estão avermelhadas, rugosas ou granulares e recobertas por um exsudato
delgado ou pode estar acentuadamente dilatadas e conter exsudato purulento. Na maioria das vezes, a
crista da medular (papila) está ulcerada e necrótica. Aspectos microscópicos: as lesões mais acentuadas
ocorrem na medular interna. Na maioria das vezes, o epitélio de transição está necrótico e descamado.
Detritos necróticos, fibrina, neutrófilos e colônias bacterianas podem aderir-se à superfície desprotegida
de epitélio. Os túbulos da medular estão marcadamente dilatados e seus lúmens contêm neutrófilos e
colônias bacterianas. O epitélio tubular está focalmente necrótico. Um infiltrado neutrofílico intenso
presente no interstício renal pode ser acompanhado por hemorragias e edema intersticiais acentuados.
Lesões tubulares e intersticiais semelhantes, embora menos intensas, estendem-se radialmente para os
túbulos corticais e interstício.
Parasitas renais
O verme gigante do rim de cães (Dioctophyma renale) pode ser visto em cães de países de climas
temperado e frio por todo o mundo. A freqüência de seu aparecimento é baixa. Devido a seu ciclo
prolongado e complexo, esse nematódeo é visto apenas em cães com 2 anos de idade ou mais velhos. O
nematódeo adulto, que pode ter até 100 cm de comprimento, habita a pelve renal, onde causa grave
pielite hemorrágica ou purulenta e obstrução ureteral. O parênquima renal pode ser destruído,
transformando o rim num cisto que contém o nematódeo e exsudato purulento.
O verme do rim dos suínos (Stephanurus dentatus) é um problema em países com clima quente e é
encontrado mais freqüentemente em suínos adultos. Vermes adultos normalmente se encistam na
gordura perirrenal. Cistos com o nematódeo podem também ser encontrados nos rins. Cistos
peripélvicos freqüentemente se comunicam com a pelve renal ou com o ureter. Pode haver fibrose e
tecido de granulação localizados ao redor do parasita.
Migração de larvas de Toxocara canis pelo rim também causa nefrite granulomatosa focal sem
importância clínica.
Neoplasia
Neoplasias primárias dos rins podem ser de origem mesenquimal ou embrionária e constituem
menos do que 1% do total de neoplasias relatadas em animais. Geralmente afetam apenas um dos rins.
As neoplasias epiteliais incluem os adenomas, carcinomas, carcinomas de células de transição e
nefroblastomas (nefroma embrionário ou tumor de Wilm). As primeiras são benignas e raras, originam-
se dos túbulos renais. Carcinomas renais são as neoplasias renais mais comuns. As massas geralmente
ocupam e obliteram um pólo de um dos rins e crescem por expansão, comprimindo o tecido renal
adjacente. Metástases para os pulmões são freqüentes. Em cães Pastores Alemães, uma variante do
carcinoma renal típico tem sido observada em associação com dermatofibrose nodular. As lesões são
hereditárias e consistem de cistadenocarcinomas renais, multifocais e bilaterais. Os carcinomas de
células de transição originam-se no epitélio de transição da pelve renal e do trato urinário inferior e
podem obstruir o fluxo eferente de urina e invadir os rins. Os nefroblastomas são neoplasias
embrionárias que ocorrem mais freqüentemente em suínos e galinhas. Como os nefroblastomas
originam-se de tecido primitivo pluripotencial, os aspectos microscópicos variam, mas são
morfologicamente semelhantes aos estágios do desenvolvimento embrionário dos rins
Ao contrário das neoplasias primárias, que são pouco freqüentes, as neoplasias metastáticas são
comuns nos rins. Tumores que se disseminam pelo organismo geralmente metastatisam nos rins,
pulmões, fígado e cérebro. O linfossarcoma renal ocorre com alguma freqüência em bovinos e gatos,
particularmente como parte do linfossarcoma multicêntrico ou generalizado. As lesões aparecem como
nódulos homogêneos, branco-acinzentados, solitários ou múltiplos, ou como infiltrados difusos que
aumentam uniformemente de volume o rim afetado.
Bexiga com parede espessada: a espessura da bexiga é difícil de interpretar, devido à grande variação
fisiológica. Em animais sadios, a bexiga vazia e contraída tem, freqüentemente, uma parede
surpreendentemente espessa. Isso não deve ser considerado patológico (cistite, etc.), a menos que se
encontre fibrina, ulcerações ou detritos necróticos associados à mucosa. A parede da bexiga pode estar,
fisiologicamente, hipertrofiada em casos de incontinência prolongada.
Artérias umbilicais: há dois vasos calibrosos que vão da aorta abdominal, passando bem próximos à
bexiga, até o umbigo. São estruturas normais no recém-nascido. Há vários graus de hemorragia na parede
e adventícia desses vasos. Essas hemorragias são devidas a rupturas pós-natais. Após o nascimento, esses
vasos se contraem, e o sangue, neles aprisionado, coagula. No adulto, tornam-se os ligamentos redondos
da bexiga.
Anomalias do Desenvolvimento
Úraco persistente
A malformação mais comum da bexiga é o úraco persistente (pérvio). Ocorre quando o úraco fetal
não fecha, formando um canal direto entre o ápice da bexiga e o umbigo. Animais afetados apresentam
susceptibilidade aumentada a infecções bacterianas da bexiga Potros são afetados mais freqüentemente
(gotejamento de urina no umbigo).
Lesões inflamatórias
Cistite (inflamação da bexiga) é comum em animais domésticos. Ureterite (inflamação dos
ureteres) e uretrite (inflamação da uretra) ocorrem quase exclusivamente associadas a cistite.
Cistite aguda
Aspectos macroscópicos: freqüentemente é hemorrágica, fibrinopurulenta, necrosante ou
ulcerativa. No entanto, em cada caso, estão presentes componentes de vários desses processos. A parede
da bexiga pode estar espessada devido a edema e infiltração de células inflamatórias e difusa ou
focalmente hemorrágica. A hemorragia é mais comum quando a cistite é associada à obstrução. A mucosa
pode apresentar focos de erosão e ulceração, placas de exsudato, detritos necróticos ou coágulos de
sangue aderidos à mucosa. Aspectos microscópicos: perda do revestimento epitelial com colônias
bacterianas na superfície. Lâmina própria está intensamente edematosa e difusamente infiltrada por
neutrófilos.
Cistite crônica
Pode ter várias formas. Cistite polipóide crônica: é a forma encontrada principalmente em cães.
Aspectos macroscópicos: há massas nodulares solitárias ou múltiplas na mucosa compostas de tecido
conjuntivo, fibroso e infiltradas por leucócitos, neutrófilos e mononucleares. Cistite folicular:
proliferações linfóides nodulares (2 a 4 mm de diâmetro) disseminadas na submucosa. Esses focos
linfóides branco-acinzentados são freqüentemente cercados por uma zona de hiperemia.
Neoplasias
Neoplasias do trato urinário inferior ocorrem predominantemente na bexiga. São observadas com
certa freqüência em cães, às vezes em gatos e apenas raramente em outras espécies. No entanto, as
neoplasias de bexiga (de vários tipos) são comuns em bovinos que pastam em campos invadidos por
samambaia (Pteridium aquilinum). Essas neoplasias de bexiga em bovinos são associadas a hematúria
enzoótica. As neoplasias epiteliais de bexiga incluem papilomas de células transicionais, carcinomas de
células transicionais, carcinomas de células escamosas, adenocarcinomas e carcinomas indiferenciados.
Tumores mesenquimais também ocorrem no trato urinário inferior e incluem fibromas/fibrossarcomas,
leiomiomas/leiomiossarcomas, rabdomiossarcomas, linfossarcomas e
hemangiomas/hemangiossarcomas.