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Amiloidose
Por John L. Berk
, MD, Amyloidosis Center, Boston University Medical Center;
Vaishali Sanchorawala
, MD, Boston University School of Medicine and Boston Medical Center
Última modificação do conteúdo abr 2020
Etiologia
Naamiloidose sistêmica, proteínas amiloidogênicas na circulação formam depósitos em uma variedade
de órgãos. Os principais tipos sistêmicos incluem
AL (amiloidose primária): causada por superexpressão adquirida de cadeias leves de
imunoglobulina clonal
AF (amiloidose familiar): causada por hereditariedade de um gene mutante que codifica uma
proteína propensa a enovelamento incorreto, mais comumente transtirretina (TTR)
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p p p
ATTRts (ATTR do tipo selvagem; anteriormente denominada amiloidose sistêmica senil ou ASS):
causada por dobramento incorreto de proteínas com acúmulo de TTR do tipo selvavem (ATTR tipo
selvagem)
Essa forma pode ocorrer em várias condições infecciosas, inflamatórias e doenças malignas e é causada
pela agregação de isoformas do reagente de fase aguda amiloide sérico A.
As infecções causadoras comuns incluem
Tuberculose
Bronquiectasia
Osteomielite
Hanseníase
As doenças inflamatórias predisponentes são
Artrite reumatoide
Doença de Crohn
Doença de Castleman
As citocinas inflamatórias (p. ex., interleucina [IL-1], tumor necrosis factor [fator de necrose tumoral, TNF]),
IL-6] que são produzidas nessas doenças ou de forma ectópica pelas células tumorais causam aumento da
síntese hepática da amiloide A no plasma (SAA).
Amiloidose AA mostra predileção pelo baço, fígado, rim, glândulas surparrenais e linfonodos. O
comprometimento do coração e dos nervos periféricos ou autonômicos ocorre tardiamente no curso da
doença.
Amiloidose localizada
A amiloidose localizada fora do cérebro é mais frequentemente causada por depósitos de imunoglobulina
clonal de cadeias leves e no interior do cérebro pelaproteína beta-amiloide.
Depósitos amiloides localizados tipicamente envolvem as vias respiratórias e tecido pulmonar, bexiga e
ureteres, pele, mamas e olhos. Raramente, outras proteínas produzidas localmente causam amiloidose,
como queratina isoforme que pode formar depósitos localmente na pele. Cadeias leves de
imunoglobulina clonal produzidas pelo tecido linfoide associado à mucosa no trato gastrintestinal, vias
respíratórias e bexiga podem resultar em AL localizada nesses órgãos.
Os depósitos de proteína beta-amiloide no cérebro contribuem para a doença de Alzheimer ou a
angiopatia amiloide cerebrovascular. Outras proteínas produzidas no sistema nervoso central pode ter
mal formação, agregação e danos nos neurônios, levando a doenças neurodegenerativas (p. ex., doença
de Parkinson , doença de Huntington ).
Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas da amiloidose sistêmica são inespecíficos, muitas vezes resultando em atrasos no
diagnóstico. Deve-se suspeitar mais fortemente de amiloidose em pacientes com um processo de doença
multissistêmica progressiva.
Depósitos amiloides renais tipicamente ocorrem na membrana glomerular levando à proteinúria, mas
em cerca de 15% dos casos, os túbulos são afetados, causando azotemia com proteinúria mínima. Esses
processos podem evoluir para síndrome nefrótica com hipoalbuminemia acentuada, edema e anasarca ou
para a fase final de doença renal.
O envolvimento hepático causa hepatomegalia indolor, que pode ser maciça. Testes hepáticos
geralmente sugerem colestase intra-hepática com elevação da fosfatase alcalina e, mais tarde, bilirrubina,
embora icterícia seja rara. Ocasionalmente, desenvolve-se hipertensão portal , resultando em varizes de
esôfago e ascite.
O envolvimento das vias respíratórias leva a dispneia, sibilância, hemoptise ou obstrução das vias
respíratórias.
Infiltração do miocárdio causa miocardiopatia restritiva , levando com o tempo à disfunção diastólica e
insuficiência cardíaca ; bloqueio cardíaco ou arritmia pode ocorrer. Hipotensão é comum.
A neuropatia periférica é uma manifestação clínica comum em todas as amiloidoses primárias (AL) e
familiares (ATTR) com parestesias nos dedos das mãos e dos pés A neuropatia autonômica pode causar
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familiares (ATTR), com parestesias nos dedos das mãos e dos pés. A neuropatia autonômica pode causar
hipotensão ortostática, disfunção erétil, anormalidades de sudorese e distúrbios de motilidade
gastrintestinal.
A angiopatia amiloide cerebrovascular mais frequentemente causa hemorragia cerebral lobar
espontânea, mas alguns pacientes têm sintomas neurológicos transitórios breves.
O amiloide gastrintestinal pode causar anormalidades de motilidade do esôfago e dos intestinos grosso
e delgado. Atonia gástrica, má absorção , sangramento ou pseudo-obstrução também podem ocorrer.
Macroglossia é comum na amiloidose AL.
Caracteristicamente, o envolvimento amiloide dos tecidos moles precede a expressão clínica da
miocardiopatia amiloide da ATTRts. Manifestações da doença amiloide das partes moles incluem síndrome
do túnel do carpo, dedo em gatilho, ruptura do tendão bicipital e estenose espinal.
Macroglossia
A amiloidose da glândula tireoide pode causar bócio simétrico, de consistência firme e indolor que se
assemelha ao encontrado na tireoidite de Hashimoto . Outras endocrinopatias também podem ocorrer.
O envolvimento pulmonar (sobretudo na amiloidose primária -AL-) pode ser caracterizado por nódulos
pulmonares focais, lesões traqueobrônquicas ou depósitos alveolares difusos.
Ocorre opacidades vítreas amiloides e margens pupilares entrecortada bilaterais em várias amiloidoses
hereditárias.
Outras manifestações são hematomas, como hematoma periorbital (olhos de guaxinim), causados por
depósitos de proetína amiloide nos vasos sanguíneos. Os depósitos amiloides enfraquecem os vasos
sanguíneos, que podem se romper após pequenos traumas, como espirros ou tosse.
Diagnóstico
Biópsia
Tipagem amiloide
Biópsia
O diagnóstico da amiloidose é feito pela demonstração de depósitos fibrilares em um órgão envolvido. A
aspiração da gordura abdominal subcutânea é positiva em cerca de 80% dos pacientes com AL, 50% na AF,
mas menos de 25% dos pacientes com ATTRts. Se o resultado da biópsia de gordura é negativo, um órgão
clinicamente envolvido deve passar por biópsia. A sensibilidade diagnóstica das biópsias renais e
cardíacas é quase 100% quando esses órgãos estão clinicamente comprometidos. As seções teciduais são
coradas com vermelho Congo e examinadas em microscópio com luz polarizada para verificar a
birrefringência característica. Fibrilas de 10 nm sem ramificações também podem ser reconhecidas por
microscopia eletrônica em amostras de biópsia de coração ou rim.
Tipagem amiloide
Depois de a amiloidose ser confirmada por biópsia, o tipo é determinado utilizando uma variedade de
técnicas. Para alguns tipos de amiloidose, imuno-histoquímica ou imunofluorescência pode ser
diagnóstica, mas ocorrem resultados falso-positivos de tipagem. Outras técnicas úteis são o
sequenciamento de genes para AF e a identificação bioquímica por espectrometria de massa (o método
mais sensível e específico).
Se houve suspeita de AL, deve-se avaliar nos pacientes doença subjacente de células plasmáticas usando
uma medição quantitativa das cadeias leves livres de imunoglobulina no plasma, detecção qualitativa de
cadeias leves monoclonais no plasma ou na urina usando eletroforese de imunofixação (eletroforese de
proteínas séricas e eletroforese de proteínas na urina são insensíveis em pacientes com AL), e uma biópsia
da medula óssea com citometria de fluxo ou imuno-histoquímica para estabelecer a clonalidade das
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da edu a óssea co c to et a de u o ou u o stoqu ca pa a estabe ece a c o a dade das
células plasmáticas.
ANÁLISE LABORATORIAL
Deve-se testar se os pacientes com > 10% de células plasmáticas clonais para ver se correspondem aos
critérios de mieloma múltiplo , com triagem de lesões ósseas líticas, anemia, insuficiência renal e
hipercalcemia.
Envolvimento de órgãos
Os pacientes fazem o rastreamento de comprometimento de órgãos começando com os exames não
invasivos:
Rim: exame de urina e dosagem sérica de ureia e creatinina
Coração: ECG e mensuração dos biomarcadores como peptídeo natriurético encefálico (PNE) (tipo B)
ou pró-PNE N-terminal (pro-PNE-NT) e troponina
O envolvimento cardíaco pode ser sugerido por baixa tensão no ECG (causada por ventrículo espessado)
e/ou arritmias. Se houver suspeita de envolvimento cardíaco por causa dos sintomas, ECG ou
biomarcadores cardíacos, faz-se ecocardiografia para medir o relaxamento diastólico e função sistólica e
para verificar hipertrofia biventricular. Em casos ambíguos, RM cardíaca pode ser realizada para detectar
realce por gadolínio subendocárdico tardio, um resultado característico. Os avanços na cintilografia
cardíaca com pirofosfato marcado com tecnécio melhoraram a detecção da amiloidose ATTR e podem
evitar a necessidade de biópsias cardíacas, desde que os exames de sangue excluam a amiloidose AL ( 1, 2
).
2. Maurer MS, Bokhari S, Damy T, et al : Expert consensus recommendations for the suspicion and
diagnosis of transthyretin cardiac amyloidosis. Circ Heart Fail 12(9):e006075, 2019.
Prognóstico
O prognóstico depende do tipo de amiloidose e sistema orgânico envolvido, mas com tratamento de
suporte apropriado específico para a doença, muitos pacientes têm excelente expectativa de vida.
AL complicada por miocardiopatia grave tem o prognóstico reservado, com sobrevida mediana de < 1 ano.
A amiloidose ATTR não tratada geralmente evolui para doença cardíaca ou neurológica de estágio terminal
em 5 a 15 anos. Anteriormente considerava-se que a ATTRts tinha a progressão mais lenta de todas as
amiloidoses sistêmicas comprometendo o coração; mas alguns pacientes com ATTRts evoluem para
insuficiência cardíaca sintomática e morte em uma mediana de 4 anos a partir do diagnóstico da biópsia.
O prognóstico na amiloidose AA depende em grande parte da eficácia do tratamento da doença
infecciosa, inflamatória ou maligna subjacente.
Tratamento
Cuidados de suporte
Cuidados de suporte
Medidas de tratamento de suporte são direcionadas para o sistema do órgão afetado:
Renal: pacientes com síndrome nefrótica e edema devem ser tratados com restrição de sal e
líquidos e diuréticos de alça; por causa da perda de proteínas contínua, a ingestão de proteínas não
deve ser restringida. O transplante renal é uma opção quando o processo da doença subjacente
está controlado, e pode fornecer sobrevida a longo prazo comparável àquela de outras doenças
renais.
Cardíaco: pacientes com miocardiopatia devem ser tratados com restrição de sal e líquidos e
diuréticos de alça. Outros fármacos para insuficiência cardíaca, como digoxina, inibidores da enzima
conversora da angiotensina (ECA), bloqueadores do canal de cálcio, e betabloqueadores, são mal
tolerados e contraindicados. O transplante de coração foi bem-sucedido em pacientes
cuidadosamente selecionados com amiloidose AL ou ATTR e comprometimento cardíaco grave. Para
prevenir a recorrência no coração transplantado, os pacientes com amiloidose AL devem receber
quimioterapia agressiva direcionada ao distúrbio clonal plasmocitário, e pacientes com
polineuropatia amiloidótica sintomática ATTR ou miocardiopatia devem ser considerados para fazer
tratamento anti-TTR.
Sistema nervoso: nos pacientes com neuropatia periférica , a gabapentina ou a pregabalina podem
aliviar a dor.
A hipotensão ortostática frequentemente melhora com doses elevadas de midodrina; esse fármaco
pode causar retenção urinária em homens idosos, mas a complicação medicamentosa da hipertensão em
decúbito dorsal raramente é um problema nessa população. Meias de suporte também podem ajudar, e
fludrocortisona pode ser utilizada em pacientes sem edema periférico, anasarca ou insuficiência cardíaca.
Amiloidose AL
Para amiloidose AL:
Início imediato da terapia celular antiplasmática é essencial para preservar a função do órgão e
prolongar a vida.
A maioria dos fármacos utilizados para o mieloma múltiplo tem sido utilizada na amiloidose AL; a escolha
do fármaco, a dose e a posologia muitas vezes devem ser modificados quando o órgão está
funcionalmente prejudicado.
Quimioterapia com um agente de alquilação (p. ex., melfalano, ciclofosfamida) combinado com corticoides
foi o primeiro regime a mostrar algum benefício. Altas doses de melfalano venoso, combinado com
transplante autólogo de células-tronco , pode ser muito eficaz para alguns pacientes (1 ).
Inibidores de proteassoma (p. ex., bortezomibe) e imunomoduladores (p. ex., lenalidomida) também
podem ser eficazes. Regimes de combinação e sequenciais estão sendo investigados.
A AL localizada pode ser tratada com radioterapia de baixa dose com feixe externo porque as células
plasmáticas são altamente radiossensíveiss.
Amiloidose ATTR
Para amiloidose ATTR:
Transplante de fígado
Transplante hepático — que substitui o local da síntese hepática da proteína mutante por um que produz
TTR normal — pode ser eficaz em certas mutações TTR se feito no início da doença (neuropatia precoce e
sem comprometimento cardíaco). Quando feito mais tarde no curso da doença, depois que ocorreu
deposição amiloide significativa no coração e nos nervos, o transplante de fígado muitas vezes resulta em
cardiomiopatia e neuropatia amiloide progressiva devido ao enovelamento incorreto e à deposição de TTR
do tipo selvagem nos depósitos amiloides preexistentes.
Vários fármacos mostraram estabilizar tetrâmeros TTR circulando no plasma, prevenindo o enovelamento
TTR incorreto e a formação de fibrilas e inibindo de modo eficaz a progressão da doença neurológica e, ao
mesmo tempo, preservando a qualidade de vida. Esses estabilizadores de TTR são o diflunisal, um anti-
inflamatório amplamente disponível e o tafamidis. (2, 3 ).
O silenciamento do gene TTR por RNA antissenso ou por interferência de RNA para bloquear a translação
do mRNA do TTR reduz de maneira eficaz os níveis séricos da TTR, melhora os resultados neurológicos em
cerca de 70% dos pacientes, e parece capaz de reparar os nervos lesados em alguns pacientes (4, 5 ). Dois
fármacos para silenciamento de genes, patisiran e inotersen, estão disponíveis.
Amiloidose ATTRts
Para amiloidose ATTRts:
Fármacos estabilizadores de tetrâmero
A estabilização da TTR usando tafamidis, em pacientes com miocardiopatia amiloide ATTR demonstrou
diminuir a mortalidade por todas as causas e as hospitalizações cardiovasculares (3 ).
Diferentemente da amiloidose ATTR hereditária, o transplante hepático não é eficaz para pacientes com
ATTRts porque a proteína amiloidogênica de tipo selvagem é uma TTR estruturalmente normal.
Amiloidose AA
Para a amiloidose AA causada por febre familiar do Mediterrâneo, colchicina, 0,6 mg por via oral uma ou
duas vezes ao dia, é eficaz.
Para outros tipos de AA, o tratamento é direcionado à doença infecciosa ou inflamatória ou ao câncer
subjacente.
Pode-se usar fármacos anti-IL1, anti-IL6 e anti-FNT para interromper a sinalização de citocinas, diminuindo
o processo inflamatório que leva à produção hepática de amiloide sérico A (SAA).
2. Berk JL, Suhr OB, Obici L, et al : Repurposing diflunisal for familial amyloid polyneuropathy: a
randomized clinical trial. JAMA 310: 2658–2667, 2013. doi: 10.1001/jama.2013.283815
3. Maurer MS, Schwart JH, Gundapaneni B, et al : Tafamidis treatment for patients with transthyretin
amyloid cardiomyopathy. N Engl J Med 379:1007–1016, 2018.
5. Benson MD, Waddington-Cruz M, Berk JL, et al : Inotersen treatment for patients with transthyretin
amyloidosis. N Engl J Med 379:22–31, 2018.
Pontos-chave
Muitas proteínas diferentes são propensas a mal formações; algumas dessas proteínas são
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Muitas proteínas diferentes são propensas a mal formações; algumas dessas proteínas são
produzidas por um defeito genético ou por certos estados de doença, enquanto outras são
cadeias leves de imunoglobulina produzidas por células monoclonais plasmáticas ou outras
doenças linfoproliferativas de células-B.
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