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Exame do abdome:

sistema digestivo
Profª. Ma. Ana Paula Machado Silva
Sistema Digestivo

Os órgãos que compõem o sistema


digestório têm funções específicas como:
Mastigação

Ingestão

Digestão
Absorção dos alimentos

Eliminação dos resíduos e das substâncias


não aproveitados

São responsáveis por prover o organismo de


suprimento contínuo de água, nutrientes e
eletrólitos.

Regulação nervosa e hormonal.


Exame físico

Para realizar o exame, o examinador


deve expor o abdome do paciente,
tornando-o completamente visível desde
o apêndice xifoide até a sínfise púbica.

Deve preocupar-se em cobrir-lhe a


genitália e, se do sexo feminino, cobrir
também as mamas.
Anamnese

As queixas atuais do paciente devem ser


investigadas de forma minuciosa, incluindo
início, duração e intensidade dos sintomas,
sendo fundamental que o entrevistador
questione os fatores que as exacerbam ou
inibem, bem como a sintomatologia
associada.
O que é importante investigar na
anamnese...
Hábito alimentar –
 Número de refeições diárias,
 Tipos de alimentos ingeridos,
 Preferências e aversões alimentares,
 Intolerância a alimentos,
 Restrições alimentares culturais ou orientadas por tratamento
clínico,
 Uso de suplementos alimentares,
 Anorexia ou outras alterações no apetite,
 Ingestão habitual de líquidos ao dia.
 Alteração de peso – peso corporal habitual, se o
peso aumentou ou diminuiu ultimamente e em
quanto tempo, associação da alteração de peso
com algum outro sintoma ou com alteração no
estilo de vida.

 Sialorreia ou ptialismo – frequência e fatores


desencadeantes da produção excessiva de saliva.

 Soluço – início e evolução do sintoma, relação com


a ingestão de alimentos.
 Disfagia – início e evolução da dificuldade para
deglutir; consistência dos alimentos que consegue
deglutir, dor associada à deglutição (odinofagia),
sensação de alívio após a ingestão de água sobre o
bolo alimentar e a regurgitação dos alimentos durante
ou após as refeições.

 Pirose ou azia – se a “queimação” retroesternal é


contínua ou intermitente, se irradia para o pescoço e
abdome superior, se há relação com a ingestão de
determinados alimentos, ou de refeições copiosas, ou
com o repouso pós-prandial, ou com a postura
adotada no exercício das atividades diárias.
 Náuseas – intensidade, frequência, fatores
desencadeantes (odores, ingestão de determinados
alimentos) e período do dia em que ocorre.

 Vômitos – frequência, quantidade, características (cor,


odor, presença de alimentos não digeridos, precedido
de náuseas ou em jato), fatores desencadeantes (dor,
medicamentos, alimentos), presença de sangue vivo ou
digerido (hematêmese).

 Eructação – frequência e fatores desencadeantes.


Hábito intestinal –
 frequência e consistência das evacuações intestinais,
 alteração na frequência ou consistência das evacuações e
em quanto tempo,
 queixa de diarreia ou obstipação,
 descrição da cor, odor, volume, presença de sangue, muco,
alimentos não digeridos, alteração no formato das fezes,
 dor associada ao ato de evacuar,
 perda involuntária de fezes,
 uso de medicamentos (antidiarreicos ou laxantes)
 distensão abdominal.
Dor
 tipo (aguda, em pontada, em cólica ou em
queimação),
 característica (superficial ou profunda, contínua ou
intermitente),
 intensidade,
 propagação para outras regiões,
 sinais e sintomas associados,
 fatores que a precipitam ou que a melhoram e
pioram.
Antecedentes pessoais – presença de úlceras
pépticas, problemas de vesícula biliar,
apendicite, hérnia e/ou cirurgias anteriores,
hipertensão, alcoolismo, uso de medicações
que alteram o funcionamento gastrointestinal
como antibióticos e anti-inflamatórios.

Antecedentes familiares – presença de


antecedentes familiares de doença
gastrointestinal, como câncer.
Topografia

O abdome é a região do tronco compreendida


entre o diafragma – o músculo que o separa do
tórax – e a pelve.

A divisão em quatro quadrantes é um método


simples e bastante utilizado. Os quadrantes são
obtidos traçando-se duas linhas imaginárias ou
dois planos perpendiculares entre si, que se
cruzam junto à cicatriz umbilical
Quadrante Quadrante
superior superior
direito esquerdo

Quadrante Quadrante
inferior inferior
direito esquerdo
A situação dos órgãos abdominais em relação aos quadrantes é a
seguinte:

No quadrante superior direito, encontram-se o lobo direito do fígado,


a vesícula biliar, o piloro, o duodeno, a cabeça do pâncreas, a
flexura hepática do cólon e parte dos cólons ascendente e
transverso;

No superior esquerdo, estão o lobo esquerdo do fígado, o estômago,


o corpo do pâncreas, a flexura esplênica do cólon e parte dos cólons
transverso e descendente;

No quadrante inferior direito, situam-se o cécum, o apêndice


vermiforme e parte do cólon ascendente; e, finalmente, no inferior
esquerdo, o cólon descendente e parte do cólon sigmoide.
O abdome é dividido em nove regiões quando se quer
localizar mais precisamente um achado.

Hipocôndrio Hipocôndrio
direito Epigastro Esquerdo
Flanco direito Flanco esquerdo
ou região Região ou região lateral
lateral direita umbilical esquerda

Região iguinal Região Região iguinal


direita ou fossa suprapúbica esquerda ou fossa
ilíaca direita ilíaca esquerda
Técnicas de exame do abdômen
 Para um exame sistematizado do abdome, utilizam-se as técnicas
propedêuticas, obedecendo à sequência: inspeção, ausculta,
percussão e palpação.

 Dessa forma, evita-se a obtenção de informações equivocadas


como, por exemplo, sons intestinais alterados por uma palpação
ou percussão anterior, ou ainda dificuldades em completar o
exame devido ao desconforto, ou aumento da dor produzido no
paciente.

 Antes de tocar o abdome, recomenda-se solicitar ao paciente que


aponte qualquer ponto ou área dolorosa ou sensível, que deverá
ser examinado por último.
Inspeção

A inspeção inclui a observação da forma, simetria


e características da pele da superfície do
abdome, incluindo outros acidentes anatômicos
como abaulamentos, retrações, cicatrizes, hérnias
e movimentos peristálticos visíveis na parede.
Quanto à forma, o abdome pode
apresentar-se:
 Plano e simétrico (em pessoas eutróficas);

 Globoso, com aumento predominante do diâmetro


anteroposterior, que pode ter como consequência o acúmulo de
tecido gorduroso na parede e na cavidade abdominal
(obesidade), ou de líquido dentro da cavidade abdominal (ascite),
ou de gases dentro das vísceras ocas (meteorismo), causando
distensão em outras situações patológicas como grandes
visceromegalias (fígado e baço) e megacólon chagásico.
Dentre as pessoas obesas, podem-se encontrar ainda o
abdome pendular ou em avental e o abdome em ventre
de batráquio. Neste último, além da obesidade, que pode
não ser tão intensa, há a associação com a flacidez
muscular da parede abdominal, o que faz com que esta
se projetepara ambos os lados;

Abdome escavado (comum em pessoas muito


emagrecidas e em caquéticas). Neste caso, há um
afundamento ou depressão da parede anterior quando a
pessoa está em posição supina, deixando bem visíveis as
saliências das cristas ilíacas, da sínfise púbica e dos
rebordos costais.
Ausculta

A avaliação dos ruídos intestinais, denominados ruídos


hidroaéreos, que são decorrentes dos movimentos
peristálticos e do deslocamento de ar e líquidos ao longo
das alças intestinais, constitui a principal finalidade da
ausculta abdominal.

Como citado anteriormente, devido à sensibilidade do


abdome ao toque, a palpação antes da ausculta pode
modificar os sons peristálticos, razão pela qual a ausculta
deve preceder a percussão e a palpação.
Utilizando o estetoscópio com o diafragma previamente aquecido, o
enfermeiro deve iniciar a ausculta abdominal pelo quadrante inferior
direito, aplicando leve pressão e identificando a presença e a
qualidade dos ruídos intestinais.

Podem ser necessários até cinco minutos de ausculta contínua antes


que se possa determinar a ausência de ruídos hidroaéreos. Quando
for difícil auscultá-los, o enfermeiro deve prosseguir sistematicamente
repetindo a ausculta por dois a cinco minutos em cada um dos
demais quadrantes abdominais em busca de atividade peristáltica.

Sons hipoativos x sons hiperativos


Percussão

A percussão direta ou indireta do abdome


auxilia na determinação do tamanho e da
localização de vísceras sólidas e na
avaliação da presença e distribuição de
gases, líquidos e massas.
A percussão direta é realizada utilizando- se uma das
mãos, ou os dedos, a fim de estimular diretamente a
parede do abdome por meio de tapas. Na percussão
indireta, coloca-se a mão não dominante estendida sobre
o abdome e, com o dedo médio da mão dominante,
flexionado e usado como se fosse um martelo, percute-se
sobre um dedo da mão estendida.

Inicia-se levemente a percussão no quadrante inferior


direito, prosseguindo-se pelos demais quadrantes no
sentido horário, até percorrer todos os quadrantes do
abdome.
Palpação

A palpação do abdome pode ser superficial e profunda,


e auxilia na determinação do tamanho, forma, posição e
sensibilidade da maioria dos órgãos, além da
identificação de massas e acúmulo de fluidos. Os quatro
quadrantes devem ser palpados em sentido horário,
reservando-se para o final do exame aquelas áreas
previamente mencionadas como dolorosas ou sensíveis.
Palpação superficial do abdome.
Palpação profunda: técnica bimanual
Quando percebida a resistência muscular, é necessário
distinguir entre resistência voluntária, chamada de defesa,
e a contratura muscular involuntária, característica da
resposta inflamatória do peritônio.

São considerados normais os achados de um abdome


liso, de consistência macia, sem tensão, indolor e sem
órgãos aumentados ou massas.

À medida que a palpação é realizada, com cuidado e


devagar, deve ser observada a expressão do paciente
em busca de manifestação de desconforto ou dor.
Procedimentos especiais

Na avaliação da dor abdominal sugestiva de irritação


peritoneal, a pesquisa do sinal de descompressão brusca
dolorosa é de grande valor. Se, durante a palpação
superficial e profunda, for detectada alguma área de
sensibilidade dolorosa, o teste deve ser feito. Assim,
evitando as áreas mais dolorosas, aplica-se com os dedos
uma compressão lenta e profunda no abdome para,
então, subitamente suspender a mão, soltando a parede
do abdome.
A descompressão brusca dolorosa, quando
ocorre no ponto médio entre a cicatriz umbilical e
crista ilíaca direita, é conhecida como sinal de
McBurney e é indicativa de apendicite aguda.

O sinal de Rosving é identificado pela palpação


profunda e contínua do quadrante inferior
esquerdo que produz dor intensa no quadrante
inferior direito, mais especificamente na fossa
ilíaca direita, sinal este também sugestivo de
apendicite aguda.
O fígado pode ser palpado por meio de duas técnicas. A
primeira, conhecida como técnica bimanual, exige
palpação com uma das mãos e pressão em sentido
contrário com a outra.
Palpação do fígado: com as mãos em
garra.
Exame do abdome:
aparelho urinário
Profª. Ma. Ana Paula Machado Silva
O sistema renal e urinário é formado por dois rins, dois
ureteres, bexiga urinária e uretra. Todas essas estruturas
anatômicas e funcionais, juntas, auxiliam na remoção de
substâncias não desejáveis ao organismo.

Os rins exercem funções de extrema importância para a


homeostasia: livram o corpo dos produtos de degradação
que são ingeridos ou produzidos pelo metabolismo e
controlam o volume e a composição dos líquidos
corporais.
Entrevista
Durante a entrevista, o enfermeiro deve investigar os
dados que podem auxiliar na elucidação de possíveis
queixas abdominais relacionadas à disfunção miccional,
como infecção urinária, cólica nefrótica e incontinência
urinária. Dentre os principais achados estão:

 Queimação, dor, urgência ou hesitação para urinar

 Presença de sangue na urina (hematúria)


 Cor e odor da urina alterados
 Presença de febre nos últimos dias
 Dores nas costas do lado direito ou esquerdo
 Dores nas costas que se irradiam para o baixo ventre e
seguem em direção às coxas
 Perdas urinárias aos esforços (tossir, espirrar, carregar peso)
 Sensação de urgência para urinar na ausência de
infecção urinária
 Sensação de que, após ter urinado, ainda resta urina na
bexiga
 Necessidade de acordar frequentemente à noite para
urinar
Outro aspecto importante que se torna
necessário investigar é a presença de fatores
capazes de desencadear a insuficiência renal,
como diabete, doença renal policística, cálculo
renal, doenças cardíacas, anomalias congênitas
e uso de medicamentos, como anti-inflamatórios.
Inspeção

Em condições normais, a inspeção pouco informa


sobre alterações.

Entretanto, nos grandes aumentos dos rins


(hidronefrose e tumores), podem-se observar
abaulamentos localizados no flanco e na fossa
ilíaca correspondente; ou a presença de
abaulamentos bilaterais típicos nos casos de rins
policísticos.
Realizar inspeção da urina, a partir da qual
se observam a coloração, o aspecto e o
odor.

Inspecionar a presença de edemas.


Percussão

Os rins não são delimitáveis pela percussão dígito-


digital. No entanto, nos processos inflamatórios
agudos, renais e perirrenais, a pesquisa por meio
de punho-percussão é de grande valia para
determinar alguns dados sindrômicos.

Essa avaliação é conhecida como sinal de


Giordano, sendo positiva na presença de dor e
negativa na ausência.
Punho-percussão indireta do ângulo
costovertebral.
Punho-percussão direta do ângulo
costovertebral.
Palpação

Embora os rins normais sejam praticamente


inacessíveis à palpação, a palpação é o método
semiológico que fornece melhores informações
sobre os rins.

Algumas técnicas, auxiliam na avaliação quanto


a forma, tamanho e presença de massas e
líquido.
Método de Devoto.
Método de Israel.
Ausculta

A ausculta é útil somente na identificação


de sopros abdominais, caracterizados por
sons murmurantes de baixa intensidade,
sugestivos de estenose da artéria renal.
Alterações na eliminação urinária
 Anúria: débito urinário inferior ao volume de 50 mL/dia.

 Oligúria: diminuição do débito urinário, geralmente


inferior a 400 mL/dia ou inferior a 0,5 mL/Kg/h por 6
horas consecutivas.

 Poliúria: aumento do volume urinário acima de 1.800


mL/dia.

 Polaciúria: eliminação de urina várias vezes, em um


curto intervalo de tempo, em pequena quantidade.
 Nictúria ou noctúria: necessidade de urinar durante a noite.

 Enurese: perda involuntária de urina durante o sono, considerada


fisiológica até 3 anos de idade.

 Urgência urinária: necessidade súbita de urinar, podendo ocorrer


esvaziamento involuntário da bexiga.

 Hematúria: presença de sangue na urina.

 Urina turva: alteração na coloração da urina, com perda da


transparência e coloração esbranquiçada.
 Piúria: presença de leucócitos na urina, que pode se
apresentar com pus, e, desta forma, turva e com
presença de sedimentos.

 Disúria: é a micção acompanhada de dor, desconforto


ou queimação.

 Estrangúria: emissão lenta e dolorosa de urina.

 Hesitação: intervalo maior até que se consiga urinar ou


até que apareça o jato de urina.
 Retenção urinária: incapacidade de esvaziar a bexiga,
apesar de os rins produzirem-na normalmente.

 Incontinência urinária: eliminação involuntária de urina.

 Odor fétido: odor desagradável com fetidez


propriamente dita.
Considerações finais

Para tornar mais criteriosos os dados obtidos durante o


exame físico, o enfermeiro deve concluir a avaliação do
sistema urinário revisando os resultados de exames
laboratoriais que complementem dados de função renal
ou que avaliem criteriosamente o desempenho miccional.
Por fim, é preciso documentar os dados obtidos e usá-los
para planejar a assistência, implementar ações e, ainda,
avaliar e eficácia do cuidado prestado ao paciente

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