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Exame Físico do Abdômen

INTRODUÇÃO O plano horizontal superior (o plano subcostal) é


imediatamente inferior às margens costais.
O abdome é a maior cavidade do corpo humano e
compreende a região do tronco que fica entre o tórax e a O plano horizontal inferior (o plano intertubercular) passa
pelve. A divisão entre o tórax e o abdome é demarcada pelo pelo tubérculo ilíaco.
diafragma, enquanto a abertura superior da pelve demarca
os limites entre as cavidades abdominal e pélvica. Os planos verticais passam a partir do ponto médio das
clavículas.
O limite superior do abdômen é o processo xifoide e o
limite inferior são as cristas ilíacas. EXAME FÍSICO

O abdome pode ser dividido de vários modos; entretanto, as ● Inspeção


divisões em quatro quadrantes ou em nove regiões são as ● Ausculta SEMPRE COMUNICAR TUDO
mais utilizadas: ● Palpação QUE VAI FAZER AO PACIENTE
● Percussão E PEDIR PERMISSÃO!
Linha horizontal e uma vertical que se cruzam
perpendicularmente na cicatriz umbilical:
Atenção! A realização de percussão e palpação antes da
ausculta pode alterar o peristaltismo intestinal, alterando e
prejudicando a ausculta!

Apesar da ordem de realização do exame ser essa, no


prontuário as informações são adicionadas na ordem:
inspeção, palpação, percussão e ausculta.

Paciente em decúbito dorsal: ventre para cima.

O médico deve estar sempre posicionado à direita do


paciente.

 INSPEÇÃO

► Forma e volume de abdome: variam de acordo com


a idade, sexo e estado de nutrição.

- Avaliar a presença de assimetria (assimetria é encontrada


em hepatoesplenomegalias, neoplasias, hérnias, ou
síndromes obstrutivas);

- Abdome normal (atípico): simétrico e levemente


abaulado;

- Tipo globoso ou protuberante: globalmente aumentando


com predomínio do diâmetro anteroposterior sobre o
transversal. Obesidade, ascite, gravidez avançada, distensão
gasosa e neoplasias

- Batráquio: predomínio do diâmetro transversal sobre o


anteroposterior. Pode ser consequência de pressão exercida
pelo líquido sobre as paredes laterais do abdome, observado
na ascite.

- Escavado: parede abdominal retraída. Emagrecimento ou


doenças consuptivas  neoplasias do sistema digestivo)

- Pendular: paciente quando está de pé, as vísceras


pressionam a parte inferior da parede abdominal.

- Abdome em avental: acúmulo de tecido gorduroso na


parede abdominal faz com que a parede abdominal penda
como um avental sobre as coxas do paciente. Obesidade em
grau elevado.
► Cicatriz umbilical elevando as duas pernas estendidas, seja levantando do
travesseiro a cabeça, sem mover o tórax.
Geralmente apresenta-se de forma plana ou levemente
retraída. Esta mesma manobra serve também para se investigar a
presença de hérnias da parede abdominal. As hérnias
► Abaulamentos e retrações: presença de massas inguinais e crurais tornam-se evidentes quando o
abdominais ou depressões. paciente sopra com força sua própria mão, posicionada
na boca para impedir a eliminação do ar.
O abaulamento ou a retração torna o abdome assimétrico e
irregular, indicando alguma anormalidade cuja identificação
depende dos dados fornecidos pela inspeção, que se somam
aos da palpação (localização, forma, tamanho, mobilidade e
pulsatilidade).

As principais causas são: hepatomegalia, esplenomegalia,


útero grávido, tumores do ovário e do útero, retenção
urinária, tumores renais, tumores pancreáticos, linfomas,
aneurisma da aorta abdominal (raro) e megacólon chagásico
quando se apresenta com fecaloma volumoso.

► Circulação colateral

Geralmente o padrão venoso da parede abdominal é pouco


perceptível. Quando se tornam visíveis, constituem a
circulação colateral e são rotas alternativas do fluxo
sanguíneo, em caso de obstrução do sistema nervoso
porta ou veia cava.

► Cicatrizes

A localização, a extensão e a forma de uma cicatriz na


parede abdominal podem fornecer informações úteis sobre
cirurgias anteriores.

Na fossa ilíaca direita: apendicectomia

No flanco direito: colecistectomia


 AUSCULTA
► Movimentos
Utilizar preferencialmente a divisão dos 4 quadrantes.
Em pacientes muito magros, as ondas peristálticas são
visíveis. Além disso, podem ser observados em pacientes Ruídos hidroaéreos: produzidos pelo deslocamento de
caquéticos ou em condições patológicas como síndromes líquidos e gases no lúmen intestinal.
obstrutivas.
Em médias, em adultos, tem-se de 1 a 3 ruídos hidroaéreos
Além disso, observar os movimentos respiratórios, pois em por minuto. 1 a 3 minutos por cada quadrante.
processos inflamatórios os movimentos na parte superior
A partir do quadrante em que começar a ausculta, deve-se
podem parar, por uma rigidez do abdome.
seguir uma ordem lógica.
Pode-se observar também pulsações da aorta abdominal.
O ruído paralítico mostra ausência de peristaltismo, que
Também pode-se observar: pode ser causada por uma obstrução.

► Lesões elementares da pele Em casos de diarreia ou oclusão intestinal, os ruídos


hidroaéreos tornam-se mais intensos, em função de
Deve-se investigar a coloração da pele, a presença de estrias, aumento do peristaltismo: borborigmos
manchas hemorrágicas e a distribuição dos pelos.
Portanto, deve-se dar atenção a ausência ou excesso de
® Sinal de Cullen e Sinal de Turner: presentes em ruídos hidroaéreos.
casos de pancreatite aguda.
 PALPAÇÃO
► Soluções de continuidade da parede abdominal
A palpação abdominal pode tornar-se difícil em pessoas
Diástase dos músculos retos anteriores do abdome e hérnias; obesas, com panículo adiposo espesso, e nas que exercitam
intensamente a musculatura da parede abdominal, como os
A diástase dos músculos retos anteriores é caracterizada pela atletas.
seguinte manobra: estando o paciente em decúbito dorsal,
pede-se a ele para contrair a musculatura abdominal, seja ● Palpação superficial
● Palpação profunda
● Palpação do fígado foi referido, a projeção superficial dos órgãos é bastante
● Palpação do baço e outros órgãos variável.

Em condições normais, não se consegue distinguir pela Sinal de Rovsing: quando se suspeita de apendicite aguda
palpação todos os órgãos intra-abdominais. Nas pessoas este ponto deve ser comprimido, fazendo-se uma pressão
magras, se a parede abdominal estiver bem relaxada, é progressiva, lenta e contínua, procurando-se averiguar se
possível reconhecer o fígado, os rins, a aorta abdominal, o isso provoca sensação dolorosa.
ceco, o cólon transverso e o sigmoide.

Em contrapartida, o estômago, o duodeno, o intestino


delgado, o pâncreas, as vias biliares e o peritônio não são
reconhecíveis pela palpação, exceto em situações especiais e
transitórias, como, por exemplo, quando uma alça intestinal
contém um volume gasoso apreciável.

► PALPAÇÃO SUPERFICIAL
Verificação da parede abdominal; Sinal de Blumberg: Dor que ocorre à descompressão
brusca da parede abdominal. Essa manobra –
Mãos espalmadas, com as pontas dos dedos, seguindo uma descompressão rápida – pode ser aplicada em qualquer
lógica dos quadrantes, assim como na ausculta. região da parede abdominal, e seu significado é sempre o
mesmo, ou seja, peritonite. Nos casos de peritonite
- Sensibilidade: palpar de leve. Se esta manobra levantar generalizada, o sinal de Blumberg é observado em qualquer
dor, deve-se investigar os pontos dolorosos. área do abdome em que for pesquisado.

Há algumas áreas na parede abdominal cuja compressão, ao Os pontos ureterais localizam-se na borda externa dos
despertar sensação dolorosa, costuma indicar músculos reto abdominais em dois níveis: linha horizontal
comprometimento do órgão ali projetado. Os principais que passa pela cicatriz umbilical e linha horizontal que liga
pontos dolorosos são: pontos gástricos, ponto cístico ou as duas espinhas ilíacas ântero superiores. Dor nessas
biliar, ponto apendicular, ponto esplênico e pontos regiões sugere cólica renal e traduz quase sempre a
ureterais. migração de um cálculo renal pelos ureteres.

Os pontos gástricos compreendem o ponto xifoidiano e o O ponto esplênico localiza-se logo abaixo da reborda costal
ponto epigástrico. esquerda no início do seu terço externo; o infarto esplênico
provoca dor nesse local.
O ponto xifoidiano localiza-se logo abaixo do apêndice
xifoide. A presença da dor nessa área é observada na cólica
biliar e nas afecções do esôfago, do estômago e do duodeno
que incluem principalmente as esofagites, as úlceras e as
neoplasias.

O ponto epigástrico corresponde ao meio da linha


xifoumbilical e é particularmente sensível nos processos
inflamatórios do estômago (gastrite), nos processos
ulcerosos e tumorais.

O ponto biliar ou ponto cístico situa-se no ângulo formado


pela reborda costal direita e a borda externa do músculo reto
abdominal.
Ao estudar os pontos dolorosos da parede abdominal, é
Ao se comprimir este local, pede-se ao paciente que inspire necessário lembrar-se da dor referida da colecistite (ombro
profundamente. Neste momento, o diafragma fará o fígado direito), dor pleurítica (flanco direito ou esquerdo), cólica
descer, o que faz com que a vesícula biliar alcance a renal, apendicite (região escrotal) e dor do infarto do
extremidade do dedo que está comprimindo a área. Nos miocárdio (epigástrio):
casos de colecistite aguda, tal manobra desperta uma dor
inesperada que obriga o paciente a interromper subitamente
a inspiração; este fato denomina-se sinal de Murphy.

O ponto apendicular situa-se geralmente na extremidade


dos dois terços da linha que une a espinha ilíaca
anterossuperior direita ao umbigo. Cumpre lembrar que nas
crianças o ceco localiza-se um pouco mais acima, e nos
adultos é necessário levar em conta o biotipo, pois, como já
Ex: a bexiga cheia de urina, os cistos do ovário, a vesícula
biliar distendida e os abscessos hepáticos têm consistência
cística. Exemplo de consistência borrachosa é o fígado
gorduroso. As neoplasias, de maneira geral, têm consistência
dura ou pétrea.

Mobilidade: interessa saber se ela ocorre em função dos


movimentos respiratórios ou se depende apenas da palpação.

Pulsatilidade implica, inicialmente, diferenciar pulsações


próprias de pulsações transmitidas. As “tumorações”
superpostas à aorta ou a um de seus grandes ramos tornam-
se pulsáteis pela simples transmissão das pulsações destes
vasos.
 Resistência da parede abdominal
► PALPAÇÃO DO FÍGADO
Em condições normais, a resistência do paciente é a de um
músculo descontraído. Quando se encontra a musculatura - Partir da cicatriz umbilical até o rebordo costal. Em
contraída, deve-se investigar. seguida, executa-se a palpação junto a reborda costal, de
modo que durante a expiração a mão não faz compressão, e
Voluntária: paciente nervoso, principalmente crianças; na inspiração a mão do examinador comprime e é
Involuntária: mecanismo de defesa que mostra um quadro movimentada para cima, buscando detectar a borda hepática.
álgico: reação a dor.
- Avaliar sensibilidade, consistência, superfície
 Hérnias e diástases: continuidade da parede
abdominal. ► PALPAÇÃO DO BAÇO

A diástase dos músculos retos consiste na separação desses - Normalmente não é palpável, exceto quando atinge duas
músculos, quer abaixo ou acima da cicatriz umbilical, sendo ou três vezes seu tamanho normal: esplenomegalia
possível insinuar-se um ou mais dedos entre eles. Quando o
paciente está de pé e faz esforço, uma porção do intestino - Paciente em decúbito lateral direito, perna direita estendida
penetra pela abertura. e perna esquerda fletida sobre o abdome em um ângulo de
90º. Pegar a mão não dominante, coloca na mão do dorso, e
Ao se suspeitar de hérnia, deve-se pedir ao paciente que com a mão dominante faz a palpação, seguindo do umbigo
tussa, observando-se as regiões inguinal, umbilical e para o rebordo costal esquerdo.
femoral. O aumento da pressão intra-abdominal pode tornar
mais evidente uma hérnia. ► PALPAÇÃO DO CECO, TRANSVERSO E
SIGMÓIDE
► PALPAÇÃO PROFUNDA
- O ceco pode ser facilmente palpado na fossa ilíaca direita.
Por meio da palpação profunda investigam-se os órgãos Faz-se a palpação deslizando-se a mão ao longo de uma
contidos na cavidade abdominal e eventuais “massas linha que une a cicatriz umbilical à espinha ilíaca ântero
palpáveis” ou “tumorações”. superior, até alcançar a borda interna do ceco.

- Avisar ao paciente sobre o aumento da força; - A palpação do colo transverso é feita deslizando as mãos
- Uma mão sobre a outra; de cima para baixo e de baixo para cima no abdome,
principalmente na região mesogástrica.
O encontro de órgãos, massas palpáveis ou “tumorações”
obriga o examinador a analisar as seguintes - A alça sigmóide é o segmento do trato digestivo de mais
características: localização, forma, volume, sensibilidade, fácil percepção ao exame palpatório. Quadrante inferior
consistência, mobilidade e pulsatilidade. esquerdo. Durante a palpação, sente um borbulhamento .

Localização: usar as divisões clínicas do abdome. - Sinal de Gersuny: fecaloma

Forma e volume das massas palpáveis: recorre-se a


designações comparativas (tamanho de azeitona, limão,
laranja e assim por diante).  PERCUSSÃO

Sensibilidade refere-se à intensidade da dor. - O examinador posiciona uma das mãos sobre o abdome e
percute com o dedo indicador.
Consistência é avaliada pela sensação tátil despertada pela - Determinar a sonoridade do abdome
massa ou “tumoração”. Pode ser cística, borrachosa, dura ou
pétrea.
Pode-se observar os seguintes tipos de sons no abdome:
timpanismo, hipertimpanismo, submacicez e macicez.

O som timpânico indica a presença de ar dentro de uma


víscera oca. Em condições normais, é percebido em quase
todo o abdome, porém é mais nítido na área de projeção do
fundo do estômago (espaço de Traube).

As variações do timbre do som timpânico nas várias regiões


abdominais decorrem das diferentes quantidades de ar
contido nos segmentos do trato digestivo; quando aumenta a
quantidade de ar, tal como acontece na gastrectasia, no
meteorismo, na obstrução intestinal, no vólvulo, no
pneumoperitônio, fala-se em hipertimpanismo.

Menor quantidade de ar ou superposição de uma víscera


maciça sobre uma alça intestinal origina o som submaciço.

A ausência de ar origina o som maciço, como se observa


nas áreas de projeção do fígado, baço e útero gravídico.
Ascite, tumores e cistos contendo líquido originam som
maciço.

HEPATIMETRIA: A percussão do hipocôndrio direito é


utilizada para determinar os limites superior e inferior do
fígado. O paciente estando em decúbito dorsal, percute-se o
hemitórax direito de cima para baixo, acompanhando a linha
hemiclavicular direita até se obter um som submaciço. O
encontro da submacicez marca a presença do limite superior
do fígado.

Pesquisa de ascite: presença de líquido na cavidade


peritoneal.

- Percussão por piparote

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