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Universidade Pedagógica
Maputo
2019
Teodósio José Tobela
Universidade Pedagógica
Maputo
2019
ii
DECLARAÇÃO DE HONRA
Declaro por minha honra que esta monografia científica, intitulada “Ambiente Sociofamiliar e
Expectativas sobre a Maternidade como Factores Psicossociais que Influenciam o Consumo
de Drogas Durante a Gestação: estudo realizado com utentes do Hospital Geral de
Chamanculo”, é resultado da minha investigação pessoal e das orientações da minha
supervisora, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.
____________________________________
(Teodósio José Tobela)
iii
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
À Deus em primeiro lugar, pela vida, pela saúde, por ter me mostrado o caminho da minha
trajectória, por me levantar em momentos difíceis, e por me permitir conhecer a Psicologia
que hoje faz parte de mim;
À minha supervisora, por ter aceitado o desafio da minha orientação, pela extrema
competência e firmeza nos rumos do estudo, pela disponibilidade, motivação, apoio, interesse,
sugestões e reflexões para a elaboração desta pesquisa;
Aos meus colegas do curso, especialmente ao António Chambal, Ernesto Nhalusse e Nivalda
Nhachengo, pelo incentivo e partilha de experiências, pela ajuda em obras e opiniões para a
realização desta pesquisa;
Aos meus pais, José Tobela e Elisa, e aos meus irmãos Matilde, Johane e Elton que sempre
mostraram caminhos certos para me tornar a pessoa que sou hoje, pelo apoio e por
acreditarem no meu potencial;
Agradeço ainda, à todos os que me ajudaram e que conviveram comigo, e não tiveram os seus
nomes nesta página, o meu sincero agradecimento.
Epigrafe
Resumo
Abstract
The consumption of licit or illicit drugs during pregnancy is seen as a complex and
multifactorial psychosocial problem and in recent times there has been a considerable increase
in Mozambique. In this research was carried out an exploratory study that has as a type of
mixed approach and whose main objective is to understand to what extent the socio-family
environment and expectations about motherhood influence the consumption of drugs during
gestation. For the identification of consumption, we used the QIGECD and to explore
questions related to the psychosocial experiences and expectations about motherhood we used
interview, and the target group were pregnant women attending the HGCH for prenatal
consultations and the sample was 31 pregnant women. In the bibliographic review, themes
related to drugs, pregnancy and maternity, self-concept of the pregnant woman and
expectation about maternity and drug use in pregnancy were brought. Data analysis was
performed through statistical analysis where we used SPSS and content analysis. With the
data collected, the categories that are the socio-family environment of the pregnant women
and the expectations about maternity were elaborated. At the end, the analysis of the
correlation between the categories and the consumption of drugs was carried out, where we
found that when the socio-family environment of the MG is unfavorable, they tend to adhere
to the alcohol consumption practices and when their expectations about motherhood are
negative, they are not interested in the expected child and consume the drugs without any
control.
Quadros
Gráficos
MG - Mulheres Gestantes
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12
1.1. Problema de pesquisa ............................................................................................ 13
1.2. Justificativa ........................................................................................................... 13
1.3. Objectivos ............................................................................................................. 14
1.3.1. Objectivo geral ...................................................................................................... 14
1.3.2. Objectivos específicos ........................................................................................... 14
1.4. Questões de pesquisa............................................................................................. 14
3. METODOLOGIA DE PESQUISA.................................................................... 27
3.1. Tipo de pesquisa.................................................................................................... 27
3.2. Métodos ................................................................................................................. 28
3.2.1. Métodos de abordagem ......................................................................................... 28
3.2.2. Métodos de procedimento ..................................................................................... 28
3.3. População e amostra da pesquisa .......................................................................... 28
3.3.1. População .............................................................................................................. 28
3.3.2. Amostra ................................................................................................................. 29
3.4. Técnica e instrumentos de recolha de dados ......................................................... 30
3.4.1. Questionário sóciodemográfico ............................................................................ 30
3.4.2. QIGECD................................................................................................................ 30
3.4.3. Entrevista............................................................................................................... 30
3.4.4. Pré-teste ................................................................................................................. 31
3.5. Procedimentos de recolha de dados ...................................................................... 31
3.6. Procedimentos da análise dos dados ..................................................................... 32
3.7. Limitações ............................................................................................................. 33
Apêndice ⑤ .............................................................................................................................. 54
Anexo .................................................................................................................... 55
12
1 – INTRODUÇÃO
O uso de drogas na gestação está mundialmente a crescer, porém ainda é um problema global
de carácter social e de saúde pública pouco discutido e susceptível de diversas interpretações
epistemológicas, visto que se trata de um problema psicossocial complexo e multifactorial.
Diante do exposto, visto que o consumo das drogas durante a gestação está relacionado com
situações problemáticas que impactam negativamente na saúde biopsicossocial, tanto da
gestante, quanto na do feto, e que existem poucos estudos que correlacionam o uso de drogas
com a gestação, o presente estudo aborda o consumo de drogas na gravidez, com o objectivo
de Compreender em que medida o ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a
maternidade influenciam o consumo de drogas durante a gestação.
Historicamente é sabido que o uso de drogas nas gestantes está relacionado com uma série de
problemas, porém, actualmente, dentre diversos factores, as vivências psicossociais
desfavoráveis associadas, fundamentalmente, ao ambiente sociofamiliar e expectativas sobre a
maternidade, tendem a se configurar como um dos factores de maior significância, pois são
observadas, actualmente, diversas situações em que as gestantes vivenciam o momento sem
nenhum apoio do parceiro ou da família, vivenciam frequentes discussões com o parceiro,
bem como são acometidas por expectativas negativas sobre a maternidade, o que, de certo
modo, pode contribuir de forma intensa na busca pelas drogas como forma de apartar-se dos
problemas decorrentes de vivências desfavoráveis, anteriormente referenciadas.
1.2. Justificativa
O interesse pelo estudo das vivências psicossociais nas mulheres que consomem drogas
durante a fase da gestação, nasce da necessidade de se compreender minuciosamente a
problemática do consumo de drogas durante a gestação, desmistificando as vivências
psicossociais que induzem as mulheres a tais práticas de risco, com o intuito de trazer uma
maior reflexão e consciencialização.
14
Justifica-se ainda, na medida em que fornecerá dados, suficientemente esclarecidos que, para
além de incitar discussões de fórum académico, poderão contribuir para propor formas de
intervenção centradas nas mulheres em gestação, fornecer subsídios para esta área de interesse
e trazer uma visão que estimule estudos afins, o que, em última análise, poderá servir de ajuda
para a prevenção e mitigação dos comportamentos de risco em relação ao consumo de drogas
nas mulheres grávidas, promovendo assim um estilo de vida mais saudável, a nível
biopsicossocial, nas gestantes e, consequentes, intervenientes.
1.3. Objectivos
2 – REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Drogas
O termo “droga” tem a sua origem na palavra holandesa antiga “droog”, que significa folha
seca. Essa denominação surgiu devido ao facto de anteriormente, a maior parte dos
medicamentos utilizados serem provenientes de ordem vegetal. Segundo a definição da
organização mundial da saúde (OMS), a droga é qualquer substância que tem a propriedade
de actuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento
(LIMA, 2012). Nesse caso podem produzir alterações nas sensações, no grau de consciência
ou no estado emocional.
Uma droga não é por si só boa ou má. Existem substâncias que são usadas com a finalidade de
produzir efeitos benéficos, como o tratamento de doenças, e são consideradas medicamentos.
Mas também existem substâncias que provocam malefícios à saúde, que são os tóxicos. O
interessante é que a mesma substância pode funcionar como medicamento em algumas
situações e como tóxico em outras (NICASTRI, 2006). Portanto, todo o medicamento é
droga, mas nem toda droga é medicamento, o que varia é como actua no organismo de cada
indivíduo, bem como a finalidade, pois, quando a droga é empregada com finalidade de cura,
ela passa a denominar-se medicamento.
Considera-se droga toda a substancia que é introduzida no corpo através da inalação, ingestão
ou injectada, pois provoca alterações no funcionamento do organismo humano. Dentre estas,
há um grupo que actua no psiquismo, as denominadas psicotrópicas, visto que provocam
alterações de humor, da percepção, das sensações de prazer e euforia, do alívio, medo, dor.
Para efeito considera-se para este grupo a denominação de droga (CHACÓN, 2016).
substâncias psicoativas, daquelas que tem maior facilidade de acesso e que são aceitas de
acordo com os aspectos culturais mais ou menos comuns a cada região e aos factores
socioeconómicos (CHACÓN, 2016). Como fenómeno global, este tem atingido parcela da
população grávida.
De acordo com o critério de legalidade, podemos identificar dois grandes grupos de drogas: as
lícitas e as ilícitas.
As drogas lícitas são aquelas permitidas por lei, as quais são compradas praticamente de
maneira livre e seu comércio é legal (SILVEIRA e DOERING-SILVEIRA, 1999). Exemplo
de drogas lícitas ou que o seu uso é permitido em Moçambique: o álcool e o tabaco.
As drogas ilícitas são aquelas cuja comercialização é proibida pela justiça, elas são também
conhecidas como drogas pesadas e causam forte dependência (SILVEIRA e DOERING-
SILVEIRA, 1999). Alguns exemplos de drogas não permitidas pela lei em Moçambique são
cannabis, cocaína, heroína, morfina, êxtase, entre outros.
1
Dependência psicológica consiste na ideação que o utilizador desenvolve no sentido de necessitar da substãncia
para chegar a um equilibrio ou a percepcao de bem estar, envolve a recordação do prazer provocado
pelo estimulo em determinadas situações. E a dependência fisica indica que o corpo se adaptou
fisiologicamente ao consumo habitual da substância, surgindo sintomas quando o uso da droga termina ou é
diminuido (SCHUCKIT, 1998).
17
As drogas actuam no cérebro afectando a actividade mental, sendo por essa razão,
denominadas psicoativas. De acordo com SILVEIRA e DOERING-SILVEIRA (1999);
NICASTRI (2006); LIMA (2012), basicamente elas são de três tipos:
São drogas que aumentam a actividade mental. Essas substâncias afectam o cérebro, fazendo
com que ele funcione de forma mais acelerada Causam estado de alerta extremo, insónia,
entre outros sintomas. Algumas dessas substâncias são: a cocaína, o tabaco e cafeína.
São drogas que diminuem a actividade mental. Tais drogas afectam o cérebro, fazendo com
que ele funcione de forma mais lenta, comprometendo as actividades motoras, diminuindo a
atenção, a concentração, a tensão emocional, a memorização e a capacidade intelectual.
Algumas dessas substâncias são: o álcool, a heroína, a morfina.
São drogas que alteram a percepção e provocam alterações no funcionamento do cérebro, que
resultam de vários fenómenos psíquicos anormais como delírio e alucinações. De entre as
perturbadoras, citam-se: a cannabis, o êxtase.
Segundo CASTRO e ROSA (2010, citados por CHACÓN, 2016), “[…] a pessoa não começa
a usar drogas ou abusar delas por acaso ou por uma decisão isolada” (p. 21), sendo que o
uso indevido de drogas é fruto da acção de múltiplos factores, como influência de amigos,
além dos contextos social, politico, cultural e económicos. De modo geral é visto que o
consumo de substâncias psicoativas é provocado por um conjunto de factores: psicológicos,
socioambientais e biológicos (DETONI, 2009).
Apontados como questões ligadas a personalidade individual que pode ser: instabilidade
emocional acentuada, baixa auto-estima, sentimento de vazio e tédio, incapacidade de lidar
com frustrações e críticas, insegurança, medo de rejeição, necessidade de imitar ou de exibir e
18
Quando o próprio meio em que o indivíduo vive facilitar e até estimular o uso dessas
substâncias. A questão da influência e a pressão do grupo que o indivíduo faz parte, também
contribuem para o uso de drogas. O caso das campanhas publicitárias merece uma atenção
especial, tendo em vista que veiculam propagandas associando as drogas lícitas (ex:
publicidades de cerveja) com o sucesso, o prazer, a aceitação pelo grupo, como se este fosse
um modelo de felicidade e de diversão. Para os jovens que estão na formação dos seus
valores, as propagandas exercem forte impacto. Entretanto Minayo chama atenção para o
reforço do papel da família ao argumentar que:
“[…] a família, tem o papel de inserir seus membros na cultura e ser instituidora
das relações primárias, influencia a forma como o indivíduo reage a ampla oferta
de droga na sociedade actual. Relações familiares saudáveis desde o nascimento
da criança servem como factor de protecção para toda a vida e de forma muito
particular para o adolescente. No entanto problemas enfrentados na adolescência,
são plantados na infância (MINAYO, 2005 citado por CHACÓN, 2016, p. 21) ”.
Existem diferentes formas de uso de drogas e o padrão de uso nocivo não tem
necessariamente relação directa com a quantidade ingerida no momento, sendo possível
consumir substâncias sem que isso traga prejuízo a saúde e a qualidade de vida. Por isso, os
pesquisadores devem sempre olhar para o padrão das pessoas sob seu cuidado,
pois durante a investigação é possível detectar níveis de gravidade e observar rituais
19
de uso que, segundo SMS (2016), podem ser caracterizados como: (a) ocasional ou
recreativo, (b) habitual e/ou (c) nocivo ou dependente.
De acordo com o CID-10, citado por SMS (2016, p. 18), a distinção entre uso nocivo e um
quadro de dependência em relação a uma substância é feita da seguinte forma:
i. Uso nocivo de drogas: os padrões nocivos de uso são frequentemente criticados por
várias pessoas e estão associados a consequências sociais adversas de vários tipos. O
diagnóstico requer que um dano real tenha sido causado a saúde física e mental do
usuário.
ii. Dependência de drogas: segundo SMS (2016) o diagnóstico de dependência deve ser
feito se três ou mais dos seguintes itens forem experienciados ou manifestados durante
o ultimo ano:
• Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância;
• Dificuldade em controlar o comportamento de consumir a substancia em
termos de inicio, término ou níveis de consumo;
• Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substancia cessou ou foi
reduzido, como evidenciado por síndrome de abstinência característica para a
substância, ou uso da mesma substância ou intimamente relacionada com
intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência;
20
A gravidez refere-se ao período de mais ou menos 40 semanas, que medeia entre a concepção
e o parto. Esta fase acarreta vivências psicológicas particulares, sendo então considerado um
momento particular e de retorno a si própria. A gravidez é um processo de
transição que ocorre na vida da mulher, transportando consigo mudanças e promovendo um
conjunto de aquisições desenvolvimentais (LEAL, 2005; FIGUEIREDO, 2005 citados por
GORDINHO, 2013, p. 7).
Nem sempre a gravidez é sinónima de felicidade. Para certas mulheres pode desencadear
processos psicológicos contrários como a negação, em que como se não acreditassem no que
está a acontecer e não aceitam a gravidez; situações em que as mulheres querem engravidar
mas têm medo de sofrer um aborto; situações em que ocultam a informação dos
companheiros, optando por revelar apenas quando as alterações são obvias e muitas
mulheres vivenciam a primeira gravidez com algum sentimento de frustração (COLMAN e
COLMAN, 1991) citados por (GORDINHO, 2013, p. 8). É necessário que a gravidez seja
planeada e desejada pela futura mãe gestante (MEIRELES e COSTA, 2005).
Gordinho, refere que no período de gestação podem estar associadas algumas condições
psicológicas como o stress, a ansiedade e a depressão. De acordo com vários estudos, altos
níveis de stress durante este período podem estar associados com uma gestação mais
prematura e com um crescimento retardado do bebé. A gravidez, pode ser entendida por
alguns autores como um momento de crise, o que implica um maior envolvimento da mulher
num processo psicológico, em que esta deverá fazer um esforço em manter uma situação
positiva e gratificante (GORDINHO, 2013).
Segundo os mesmos autores, durante a gravidez a mulher tem que passar a olhar-se como
mãe. A construção da identidade materna envolve a referência à relação da grávida com a sua
mãe, considerando que a mãe é para cada mulher o primeiro e principal modelo de
22
De entre várias mudanças, certos sintomas e comportamentos comuns são esperados em uma
gestação. De acordo com MALDONADO (2002), citado por FONSECA e SILVA (2013, p.
4), a gravidez normal, do ponto de vista desenvolvimental, pode ser dividida em três
trimestres distintos, com características marcantes e especificas em cada um.
O primeiro trimestre é marcado por incertezas, dúvidas e ambivalências. Na maioria das vezes
é neste período que a mãe toma conhecimento da gravidez, mas com a demora das
modificações físicas e a percepção dos discretos movimentos, a gestação não se faz notar para
ela mesma, para o companheiro ou para a família. Nessa fase a combinação de factores
emocionais com as alterações hormonais pode desencadear o aparecimento de sintomas como
sonolência, enjoos e transtornos alimentares.
Não é de admirar, portanto, que um processo que impõe tantas exigências, como o
caso da gravidez, tenha invariavelmente associada a presença de ansiedade (FONSECA
e SILVA, 2013), as preocupações com a gravidez, com o bebé e com maternidade
aparecem como uma influência importante na ansiedade, mas qualquer ansiedade
torna-se prejudicial quando persiste ao longo de toda a gravidez. Cada mulher vive cada
gravidez de uma forma única e diferente, de acordo com os palcos sociais em que se
movimenta, as normas e os valores pelos quais foram educadas, as experiencias por que
24
Não há dúvidas que a mulher vive a gravidez como uma combinação misteriosa de
acontecimentos biológicos e psicológicos, que vão ocorrendo a medida que os meses passam,
enquanto é assegurado o adequado desenvolvimento da nova vida (COLMAN e
COLMAN, 1994, citado por SILVEIRA e FERREIRA, 2011). Isto é, a medida em que há
mudanças da imagem corporal, pode se observar em paralelo as mudanças da identidade
pessoal e dos papéis sociais. Apesar de a gravidez constituir um enorme desafio pessoal e
familiar, marcado por um conjunto de mudanças, etapas e obstáculos, ela constitui acima de
tudo um tempo de espera, em que um espaço próprio é conquistado no corpo e na mente da
futura mãe (LEITÃO, 1998, citado por SILVEIRA e FERREIRA, 2011).
HOCKING (2007) citado por SILVEIRA e FERREIRA (2011), afirma, com base nos seus
estudos do auto-conceito de mulheres na sua primeira gestação, que a gravidez altera
dramaticamente a forma como uma mulher se vê e sente a si mesma e acrescenta que a
identidade de mãe, que é formada nos primeiros estágios da gestação, cresce no conceito que
a mulher tem de si própria durante todo o percurso, o qual é vivido de forma complexa, com
incalculável alegria, esperança e amor, mas também com ansiedade, medo, conflito e luta.
25
Essa fase obriga a mulher a deixar de se considerar independente e responsável somente por
si, e passa a olhar também para o outro ser, o seu filho (SILVEIRA e FERREIRA, 2011).
A gravidez pode ser interpretada como uma tentativa de busca pela imortalização ou recusa de
morte ou como uma forma de realização feminina e descrita de diversas formas, visto que
cada gestante irá vivencia-la a seu modo. O que se pode afirmar é que a gestação
tem repercussão significativa na vida de uma mulher e é, por si só, um período permeado de
expectativas, onde a grávida vivencia uma variedade de sentimentos e emoções
que são originadas pelas mudanças psicológicas, sociais e físicas próprias desta fase
(QUEVEDO, 2010 citado por FONSECA e SILVA, 2013, p. 3).
Por uma razão ou por outra, as drogas são conhecidas como perigosas para o feto, como o
álcool, o tabaco, a cannabis, a heroína, o haxixe, a cocaína, a êxtase entre outras, e podem
levar ao comprometimento, por vezes irreversíveis e deletérias. Sabendo-se dos perigos
inerentes ao uso dessas drogas, a gestante não pode utilizar drogas, visto que podem ser
prejudiciais tanto para a gestante quanto ao feto. Para além disso uma dose considerada
aceitável para um adulto é muito elevada para um feto (MWAMWENDA, 2006).
Praticamente tudo o que a mãe ingere chega até a nova vida em seu útero. As drogas
atravessam a placenta2, assim como o oxigénio, o dióxido de carbono e a água, e é
especialmente vulnerável nos primeiros meses quando o desenvolvimento é mais rápido
2
A placenta é o orgão que surge no cordão umbilicar e que permite a intermediação entre a gestante e o feto
durante a fase da gestação, pois é através da placenta que o bebé pode respirar e receber os nutrientes da mãe.
26
(PAPALIA e OLDS, 1998). Assim o impacto das drogas ingeridas no início da gravidez é
mais forte.
O uso de drogas lícitas, como álcool e tabaco, durante a gestação pode levar ao
comprometimento por vezes irreversível da integridade da saúde da mulher e da criança
(ROCHA et al., 2016). Dessa forma é recomendável que toda a gestante evite o consumo de
bebidas alcoólicas, não só ao longo da gestação assim como também durante o período da
amamentação, pois o álcool pode passar para o bebé através do leite materno (CARLINI et
al., 2001). O consumo de álcool durante a gestação tem sido associado a aborto espontâneo,
crianças com dificuldades de aprendizagem e defeitos de nascimento, atraso mental, bebes
pequenos e de pouco peso e bebe com cabeça pequena. Esses efeitos ocorrem tanto antes
assim como muito tempo após o nascimento da criança (MWAMWENDA, 2006). Já quando
na gravidez a mãe fuma, o feto também fuma, passando a receber as substâncias tóxicas do
cigarro através da placenta. A nicotina provoca aumento do batimento cardíaco no feto,
redução do peso do recém-nascido, alterações fisiológicas, risco de abortamento espontâneo,
abortamento espontâneo, entre outras complicações durante a gravidez é maior nas gestantes
que fumam. Assim como no álcool durante a amamentação as substâncias tóxicas do cigarro
são transmitidas para a criança através do leite materno (CARLINI et al., 2001).
As drogas ilícitas como a cannabis, a cocaína, a heroína, haxixe, entre outras são consideradas
deletérias às gestantes e ao feto, vários autores concordam que o uso destas drogas na
gestação pode ter sérios agravos à saúde física e ao bem-estar psicossocial da mulher e da
criança (ROCHA et al., 2016). A cannabis provoca distúrbios funcionais no decorrer da vida
dos filhos expostos a essa droga, tais como deficits cognitivos, impulsividade, deficit de
atenção, hiperactividade, sintomas depressivos e distúrbios do sono (COUTINHO et al.,
2014).
27
3 - METODOLOGIA DE PESQUISA
Do ponto de vista da abordagem considera-se uma pesquisa mista, visto que abrange as
abordagens qualitativa e quantitativa, Sendo que o uso dos dois tipos pode ajudar na recolha
de mais informações em relação a estudos que fazem uso de um único tipo. A abordagem
qualitativa segundo BRITTEN (2005 citado por FONSECA e SILVA, 2013, p. 21) refere-se
quando o pesquisador está voltado para o significado de factos, eventos ou ocorrências. Onde
haverá interpretação dos fenómenos e atribuição de significados sendo que a pesquisa tem
opiniões subjectivas. E para GERHARDT e SILVEIRA (2009), a pesquisa qualitativa salienta
aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana, para compreender a
totalidade no contexto daqueles que vivenciam o fenómeno. Assim sendo, esta abordagem é
para servir de ajuda ao pesquisador na obtenção de conhecimentos profundos e detalhados das
opiniões, que no nosso estudo reflectem as vivências de mulheres grávidas que estão em
contacto com drogas. Por sua vez vamos recorrer a abordagem quantitativa, sendo que é
necessário obter medidas quantificáveis, o que significa que na pesquisa é necessário traduzir
opiniões e números as quais serão classificadas e analisadas.
28
3.2. Métodos
No que diz respeito ao método de procedimento, olhando para a natureza desta pesquisa, e na
busca pela qualidade da sua elaboração, não se limita a apenas um tipo, pois utilizamos vários
concomitantemente, visto que em função das suas características, este tipo de pesquisa não se
enquadra facilmente num ou noutro modelo (LAKATOS e MARKONI, 2003; GIL, 2008).
3.3.1. População
serem de diferentes bairros e locais da cidade de Maputo, o que sugere também a uma
diversidade cultural.
3.3.2. Amostra
No que diz respeito às idades, constatou-se que as gestantes participantes tinham idades
compreendidas entre os 17 e os 40 anos, sendo que correspondem as idades mínima e máxima
respectivamente, a média das idades é 26 e o desvio padrão é de 5,78.
6
Refere-se às gestantes que estão na sua primeira gravidez.
30
Este questionário permite obter informação sobre os dados demográficos das gestantes (idade,
situação profissional, estado civil e escolaridade); aborda ainda a questão sobre o ambiente
familiar e a situação da grávida.
3.4.2. QIGECD8
Neste estudo aplicamos numa primeira fase, o QIGECD elaborado pelo autor da pesquisa,
como estratégia para identificar as mulheres que fazem uso de drogas durante a gravidez, pelo
facto de este ser um instrumento de colecta de dados constituído por uma série ordenada de
perguntas que podem ser respondidas por escrito pelo informante, sem a presença do
pesquisador, possibilitando o levantamento de opiniões das situações vivenciadas
(GERHARDT & SILVEIRA, 2009). Considerando também que a busca pela identificação do
consumo de drogas através da entrevista nas gestantes criaria constrangimentos e receio de
falar sobre esses aspectos.
3.4.3. Entrevista 9
7
Vide em apêndice ①.
8
Vide em apêndice ②.
9
Vide em apêndice ③.
31
sua própria experiência, explorando áreas importantes, mas não previstas no roteiro10 de
perguntas.
Este roteiro de entrevistas contêm oito perguntas abertas que complementam as questões do
questionário. Com a entrevista pretende-se recolher as vivências das gestantes, expectativas
da maternidade e certos aspectos relacionados com o consumo de drogas.
3.4.4. Pré-teste
A recolha de dados foi realizada no HGCH, estando ciente da importância dos procedimentos
formais para a permissão da recolha de dados neste local, seguiu-se com a solicitação de
autorização para iniciar com a nossa investigação.
A entrevista com cada mulher grávida (participantes) levou cerca de 10 minutos e o melhor
momento para questionar e entrevistar o grupo alvo foi no momento em que estavam a espera
10
Roteiro é um dos tópicos que o pesquisador deve seguir durante a entrevista. Isso permite uma flexibilidade
quanto a ordem ao propor as questões, originando variedade de respostas ou até mesmo outras questões
GERHARDT & SILVEIRA (2009).
32
de ser atendidas nas consultas de gravidez. Onde demos a entender o objectivo deste estudo e
o motivo da importância destas grávidas em apoiar este estudo, sendo que a pesquisa poderá
ser útil para o entendimento desta problemática. De realçar que a participação dessas
mulheres não foi de carácter obrigatório e por questões éticas o pesquisador garantiu o total
sigilo em relação a identificação das pesquisadas e confidencialidade das informações por elas
prestadas.
A postura assumida pelo pesquisador durante as entrevistas foi espontânea, natural, evitando
quaisquer tipos de preconceitos, pressupostos e hipóteses, sendo receptivo a tudo o que as
entrevistadas queriam falar e respeitando-as em todos os momentos da entrevista.
Para o tratamento e análise estatística dos dados recolhidos, utilizamos o pacote estatístico
SPSS Versão 22, e os dados das entrevistas foram analisados através da análise de conteúdo.
A técnica da análise de conteúdo é frequentemente utilizada nas pesquisas qualitativas no
campo em diversas áreas. BARDIN (1979) refere que a análise de conteúdo consiste em um
conjunto de técnicas de análise das comunicações, e utiliza-se de procedimentos sistemáticos
e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens. Pois, tudo o que é dito ou escrito é
susceptível de ser submetido a uma análise de conteúdo.
• Na etapa da pré-analise fez-se uma transcrição das entrevistas que foram gravadas em
áudio para uma analise, com o objectivo de torna-lo operacional e fazer a análise para
fundamentar a interpretação final desta pesquisa;
• A segunda etapa é a de exploração do material com a definição de categorias11 e a
identificação das unidades de registo, onde foi necessário dividir os depoimentos em
categorias e subcategorias e usar as mensagens necessárias para o segmento da
pesquisa.
• Na fase de tratamento dos resultados estão presentes a inferência e a interpretação.
Esta etapa é destinada ao tratamento dos resultados e é nela que culminam as
11
As categorias são classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse
efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (BARDIN, 1979).
33
3.7. Limitações
Uma das limitações deste estudo é devido o facto de abranger apenas mulheres gestantes que
frequentam o HGCH, e não incluir as que fazem consultas noutras unidades sanitárias. Outra
limitação observou-se durante o período da recolha de dados, visto que muitas pacientes não
aceitavam quando solicitadas para entrevistas, considerando que o consumo de drogas durante
a gestação é uma prática socialmente estigmatizada em Moçambique, e as poucas que se
disponibilizam mostravam resistência pela sensibilidade do problema e consequentemente dá
espaço para algumas omitirem o seu envolvimento com tais drogas.
34
Com efeito, nesta etapa serão abordados os resultados referentes: (i) a identificação de
Mulheres Gestantes Consumidoras de Drogas; (ii) ao ambiente sociofamiliar e expectativas
das mulheres gestantes sobre a maternidade (que evidenciam, até certo ponto, as suas
vivências psicossociais) e, por fim, (iii) as possíveis correlações existentes entre o consumo de
drogas durante a gestação, o ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a maternidade.
80
Álcool
67.7 %
Tabaco
60
40 32.3 %
20
3.2 %
0
Não Sim
12
Importa referir que as inqueridas foram confrontadas com diversas substâncias, sendo que dessas apenas
houve indicação para o Álcool e Tabaco, o que significa que das 10 consumidoras (32.3%) somente 1 consome
álcool e tabaco e o restante só consomem álcool.
35
120,0
96.8 %
100,0
Álcool
80,0
67.7 %
Tabaco
60,0
40,0
sobre o consumo de drogas durante a gestação, notou-se uma tendência para se esquivarem e
defenderem de tais práticas problemáticas, visto que as mesmas encontram-se revestidas de
preconceitos e estigmas.
Deste modo se pode dizer com algum grau de precisão que na realidade o número de MGC
pode vir a ser diferente do declarado, valendo-nos, neste momento, referir e concordar com
GORDINHO (2013) ao postular que pelo facto de a gestação ser entendida como um período
em que a mulher deverá fazer um esforço em manter uma situação positiva e gratificante,
consequentemente, as participantes podem tender a omitir o seu consumo pelo receio de
julgamentos morais pela adopção de uma atitude negativa em relação ao consumo durante
esse período.
Contudo, apesar dos resultados acima se mostrarem positivos, pelo facto de a maior parte das
participantes (67.7%) afirmarem não ter consumido drogas desde que tomaram conhecimento
da gravidez, tendo em consideração o perigo inerente ao uso de drogas durante a gestação, é
notável que estamos diante de um cenário que deve merecer considerável atenção, isto na
medida em que tais práticas podem impulsionar o surgimento de problemas graves aos níveis
biopsicossocial pois, tal como ROCHA et al., (2016) preconiza, as gestantes não podem
consumir quaisquer tipos de drogas, visto que podem ser prejudiciais tanto para a gestante
bem como para o feto e os demais envolvidos.
Embora que, até certo ponto, seja do conhecimento geral que o consumo de drogas durante a
gestação deve ser evitado, nos indagamos sobre as possíveis razoes que levam essas mulheres
a tais práticas, sendo que os resultados obtidos sugerem vivamente que o ambiente familiar e
as expectativas sobre a maternidade possam ser factores fortemente associados ao fenómeno.
Esse raciocínio é, de certo modo, compartilhado por autores como DETONI (2009) e SMS
(2016), ao defenderem que a pessoa não inicia o contacto de drogas por uma decisão isolada,
o seu consumo se encontra associado a vários factores. É com base nesse raciocínio que nos
trechos subsequentes buscamos apresentar e analisar as vivências psicossociais das
inqueridas, atribuindo ênfase ao ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a maternidade.
Esta categoria evidencia o ambiente sociofamiliar das entrevistadas e se apresenta sob a forma
de duas subcategorias (satisfatório e insatisfatório) que evidenciam as vivências das MG em
relação ao ambiente sociofamiliar no qual se encontram inseridas, como se pode observar no
quadro apresentado na sequência.
que estas relataram estar a viver em ambientes desfavoráveis que acarretam experiências
frustrantes, tanto ao nível da relação com os parceiros, quanto ao nível da relação com os
demais familiares (pais, sogros, enteados e outros), o que, pode de certo modo, proporcionar o
surgimento de sentimentos como a angústia e insegurança.
Indo de acordo com FONSECA & SILVA (2013) e SILVEIRA & FERREIRA (2011),
importa referir que o ambiente familiar e conjugal da gestante podem ser factores de risco
quando o meio proporcionar pouca afectividade e conflitos nas suas relações ou podem ser de
protecção quando as relações das gestantes são saudáveis. Contudo, visto que as vivencias
psicossociais não se limitam apenas no ambiente sociofamiliar, com a intenção de
complementar as vivencias psicossociais que podem influenciar o uso de certas drogas
durante a gestação, trazemos em seguida os depoimentos a cerca das expectativas que elas
têm sobre a maternidade.
Esta categoria está relacionada às expectativas que as gestantes têm em relação a maternidade
e se apresenta também sob a forma de duas subcategorias que são expectativas positivas e
expectativas negativas, segundo apresentado no quadro a seguir.
gestantes mostram-se felizes com a gravidez. Outras participantes que mostraram ter
expectativas negativas sobre a maternidade mostram mais ansiedade em relação ao facto de
esperar um bebé e de saber que daqui em diante terá responsabilidades maternas, o que de
certa forma vai priva-las da sua liberdade, e estas quando questionadas sobre as expectativas
que tem com a vinda da criança, simplesmente afirmam não ter expectativas e outras que não
sabem.
Apesar de (MEIRELES e COSTA, 2005), referirem que é necessário que a gravidez seja
planeada e desejada pela futura mãe gestante, durante os depoimentos deste estudo quando
questionadas sobre os sentimentos a partir do momento em que as participantes souberam que
estavam grávidas, constatamos que a maioria delas não planeou a gravidez mas durante o
período da gestação passaram a se ver como futuras mães, ou seja houve a construção da
identidade materna, como mostram os depoimentos abaixo:
“[…] não foi programado mas também não foi algo de me deixar sei
lá, triste ou arrependida (E26)”; “[…] bom, foi uma coisa inesperada,
também foi uma sensação muito emocionante (E15)”;
“[…] primeiro foi chato, porque eu não queria, não estava a espera,
não estava preparada ainda no momento para encarar de novo, mas
depois tive que aceitar (E25)”; “[…] apesar de não ser planeada foi
bom ter (E1)”.
Nesse caso, o facto de a gravidez não ter sido planeada, não mostra implicações negativas
para a gestante, mas sim propõe importantes desafios para a mulher e sua família.
Nos é oportuno olhar com base neste estudo que as repercussões da gravidez não planeada
não se comparam às provocadas por gestações decorrentes de relacionamentos passageiros ou,
particularmente, de homens que não estão disposto a assumir a gravidez.
Foi de observar também durante as entrevistas algumas MG que mencionaram esperar filhos
de homens que tem outro lar, o que de certa forma pode proporcionar sentimentos de
frustração para a gestante que vê os sonhos de ter uma família se frustrarem.
“[…] não sei explicar, olha o pai da criança é casado, cabe a ele se
cuida bem da criança (E31)”.
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Contudo, uma vez identificadas as MGC bem como apuradas as vivências, importa analisar
até que ponto as vivências (com maior incidência para o ambiente sociofamiliar e as
expectativas) influenciam o consumo de drogas, facto esse abordado nos trechos
subsequentes.
“[…] é assim nos primeiros dias quando eu lhe disse ficou feliz e todo
entusiasmado, tipo estás grávida mor! Então nos primeiros dias estava
tudo bem, mas quando passa 1º mês a barriga começa a sair é ai onde
começa já o stress, porque eu já ligava para ele e não atendia, outro
dia fui a casa dele e mandou dizer que não estava em casa, então foi ai
que já começaram os problemas, (…) então é por isso que acabo
bebendo, mas bebo para refrescar quando me estresso outros dias
(E30)”; “[…] é uma barriga que me deixa meio frustrada, mas isso
tudo por causa da minha relação (…) bebo para poder relaxar os meus
nervos (E29)”.
estejam a vontade com os seus maridos e filhos ficam frustradas, como se pode observar no
seguinte relato:
“[…] eu considero que devo estar no meu canto, com ele (marido),
então acho que precisamos só nós ter uma experiência diferente de
viver uma vida de marido e mulher diferente daquilo que estou a viver
com meus enteados, entende! (E9)”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Investigar o consumo de drogas pelas gestantes, mostrou ser um desafio, considerando que o
período da gestação é crítico em termos de intervenção, o que fica confirmado a medida em
que durante a pesquisa certas MG demonstravam receios de falar sobre drogas para o
pesquisador. Com este trabalho procurou-se compreender em que medida o ambiente
sociofamiliar e as expectativas sobre a maternidade influenciam o consumo de drogas durante
a gestação. Para a compreensão deste estudo tentamos responder as questões de pesquisa que
foram propostas.
Na primeira questão não foi possível ter nenhum dado em relação a situações de discussões ou
de violência, talvez seja por receios de expor o meio familiar em que esta se encontra e não
querer expor as suas fragilidades a quando da sua gravidez. De seguida verificamos que, das
10 participantes que afirmaram ter consumido alguma droga durante o período de gestação,
80% referiram que o ambiente em que se encontram a viver é insatisfatório, sendo que
vivenciaram a gravidez ainda a viver em casa dos pais, e ainda durante os seus comentários
trazem a questão da pressão social pelo facto de não estarem no lar, mostram-se preocupadas
desse modo com os comentários que os outros fazem perante a sua situação e o facto de
algumas não estarem numa relação firme com pai da criança e com a família. O que nos faz
afirmar que quando o ambiente for desfavorável e a gestante não ter apoio que deseja durante
o período de gestação pode criar um desequilíbrio psicossocial, o que em última análise, pode
influenciar o uso de certas drogas na expectativa do alcance de um relativo equilíbrio.
Ainda, durante o trabalho podemos perceber que quando as expectativas de ser mãe são
negativas por parte da gestante, consequentemente tendem a consumir certas drogas de forma
frequente e sem nenhum receio. Em algum momento durante os seus depoimentos todas as
participantes consumidoras referiram alguma expectativa negativa visto que, Quando
questionadas “Quais as tuas expectativas com a vinda do novo bebé” quase todas
responderam que não sabiam e que o tempo vai ditar, outra resposta relevante vem da E28 que
disse que esperava o primeiro filho do homem que estão juntos, então que seja bom para ele e
em nenhum momento mostra-se feliz e como alguém a construir uma relação de proximidade
materna.
se encontrar em ambientes desfavoráveis durante a gestação são as que dizem que consomem
álcool, o que nos permite concluir que se a situação ou ambiente das MG for desfavorável elas
podem facilmente aderir às práticas constantes de uso de drogas. E as participantes que se
mostraram com expectativas negativas mesmo sabendo que estavam grávidas não pararam de
consumir drogas culminando no desinteresse com o bem-estar da criança que esperavam e as
participantes com expectativas positivas dizem que deixaram de consumir drogas visto que
sabem dos malefícios que estas podem causar.
Como desenvolvimentos futuros, importa referir que apesar da importância deste estudo é
necessário ter em consideração que o ambiente sociofamiliar e as expectativas negativas sobre
a maternidade não são os únicos factores para a compreensão do consumo de drogas durante a
gestação, pois é evidente que o consumo de qualquer droga durante este período é um
comportamento determinado por vários factores biopsicossociais, e dessa forma devem ser
olhadas outras variáveis.
Sugestões
O consumo de drogas durante a gestação por vezes deve ser identificado enquanto um sinal,
um sintoma de problemas individuais, familiares e sociais. Por vezes, pode ser a única
resposta para certos problemas, uma tentativa de resolve-los ou simplesmente uma
experiência que faça parte das descobertas e do crescimento do ser humano alias, qualquer
usuário de drogas é antes de tudo, um ser humano portanto, como tal, deve ser sempre
identificado e respeitado. Posto isto, fica evidente que definir acções de intervenção não se
configura como uma tarefa fácil contudo, por se tratar de comportamento capaz de provocar
consequências potencialmente graves tanto para a mãe quanto para a criança, torna-se
imperioso:
Devido a importância do tema e atentando para escassez de estudos afins divulgados em solo
Moçambicano, parece-nos prudente sugerir que:
13
Caso existam, é importante que sejam realizados trabalhos no sentido de melhorar a sua divulgação e acesso.
46
Referências bibliográficas
CARLINI, E. A. et al. Drogas psicotrópicas – o que são e como agem. In: Revista IMESC,
n. 3, 2001. pp. 9-35.
GIL, A. C. Como Elaborar Projectos de Pesquisa. 4ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2002.
________. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2008.
YAMAGUCHI, E. T. et al. Drogas de Abuso e Gravidez. Revista Psiq. Clin., 2008. pp: 44-47.
Apêndices
49
APÊNDICE ①
Questionário
Informações Sociodemográficos
2. Situação profissional:
3. Profissão: _______________________
4. Escolaridade:
5. Estado civil:
Sim Não
1. Parceiro, Pai da Criança
2. Parceiro, que não é Pai da Criança
3. Com seus Pais
4. Sozinha
5. Sogros
6. Concunhadas/os
7. Enteados
9. Tempo da gravidez:
1. Menos de 3 meses ( ) 2. De 3 a 6 meses ( ) 3. De 7 a 9 meses ( ) 4. Ou: _____________
50
APÊNDICE ②
As que já
1. Assinale com um circulo no “SIM” ou “NAO” Quais dessas As que já consumiu pensou/teve vontade
para cada substancia referida nas três questões substancias já ou experimentou de consumir ou
apresentadas neste quadro. consumiu ou durante a gravidez experimentar
experimentou alguma (somente uso não durante a gravidez
vez na vida (somente médico) (somente uso não
uso não médico) médico)
NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM
1. Tabaco (cigarros, charuto, Cachimbo…) 0 1 0 1 0 1
2. Álcool (cerveja, vinho, uísque, vodka, destiladas) 0 1 0 1 0 1
3. Marijuana (suruma, haxixe, erva) 0 1 0 1 0 1
4. Cocaína (pó, crack, pedra…) 0 1 0 1 0 1
5. Estimulantes (ecstasy, anfetaminas…) 0 1 0 1 0 1
6. Inalantes (cola de sapateiro,tinta, gasolina,benzina) 0 1 0 1 0 1
7. Hipnóticos (remédios para dormir, diazepam…) 0 1 0 1 0 1
8. Drogas alucinógenas (cogumelo, LSD, ácido…) 0 1 0 1 0 1
9. Opiódes (heroína, morfina, metadona, codeína…) 0 1 0 1 0 1
10. Outras. Especificar_____________________ 0 1 0 1 0 1
APÊNDICE ③
Roteiro de entrevista
APÊNDICE ④
Nessa pesquisa, devem participar mulheres grávidas, independentemente da sua idade e tempo
de gestação e a participação é voluntária e livre. Portanto, ninguém tem o direito de lhe
pressionar ou obrigar a participar.
A utente é livre de recusar, e não haverá nenhum tipo de consequência, pressão, penalização
ou crítica por isso.
entanto, o tempo para o questionário não é limitado, podendo o indivíduo trabalhar num ritmo
que for de sua conveniência, porém, dentro de limites da norma.
Custos e benefícios de participação na pesquisa: Não existe nenhum custo para participar
na pesquisa, e esta pesquisa não traz benefícios financeiros nem materiais para as
participantes, No entanto, existem benefícios, individuais e colectivos, que resultam da
possibilidade de adquirir informações e conhecimentos sobre o consumo de drogas durante a
gravidez.
APÊNDICE ⑤
Investigada Investigador
____________________ _______________________