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Teodósio José Tobela

Ambiente Sociofamiliar e Expectativas sobre a Maternidade como Factores


Psicossociais que Influenciam o Consumo de Drogas Durante a Gestação: estudo
realizado com utentes do Hospital Geral de Chamanculo

Licenciatura em Psicologia Social e das Organizações com Habilitação em Psicologia Social

Universidade Pedagógica
Maputo
2019
Teodósio José Tobela

Ambiente Sociofamiliar e Expectativas sobre a Maternidade como Factores


Psicossociais que Influenciam o Consumo de Drogas Durante a Gestação: estudo
realizado com utentes do Hospital Geral de Chamanculo

Monografia apresentada ao Departamento de


Psicologia, Faculdade de Ciências de Educação e
Psicologia, como requisito parcial para obtenção do
grau académico de Licenciatura em Psicologia
Social e das Organizações com Habilitação em
Psicologia Social, sob orientação da
Dra. Mery José António

Universidade Pedagógica
Maputo
2019
ii

DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro por minha honra que esta monografia científica, intitulada “Ambiente Sociofamiliar e
Expectativas sobre a Maternidade como Factores Psicossociais que Influenciam o Consumo
de Drogas Durante a Gestação: estudo realizado com utentes do Hospital Geral de
Chamanculo”, é resultado da minha investigação pessoal e das orientações da minha
supervisora, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.

Maputo, Fevereiro de 2019

____________________________________
(Teodósio José Tobela)
iii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, cujo amor e amparo


sucessivos constituem um porto para que a minha
existência ocorra no caminhar incessante pela busca de
realização dos meus sonhos.
iv

AGRADECIMENTOS

À Deus em primeiro lugar, pela vida, pela saúde, por ter me mostrado o caminho da minha
trajectória, por me levantar em momentos difíceis, e por me permitir conhecer a Psicologia
que hoje faz parte de mim;

À minha supervisora, por ter aceitado o desafio da minha orientação, pela extrema
competência e firmeza nos rumos do estudo, pela disponibilidade, motivação, apoio, interesse,
sugestões e reflexões para a elaboração desta pesquisa;

Aos meus colegas do curso, especialmente ao António Chambal, Ernesto Nhalusse e Nivalda
Nhachengo, pelo incentivo e partilha de experiências, pela ajuda em obras e opiniões para a
realização desta pesquisa;

Aos meus pais, José Tobela e Elisa, e aos meus irmãos Matilde, Johane e Elton que sempre
mostraram caminhos certos para me tornar a pessoa que sou hoje, pelo apoio e por
acreditarem no meu potencial;

À todos os professores do Departamento de Psicologia da Universidade Pedagógica que me


acompanharam durante a minha formação;

Agradeço ainda, à todos os que me ajudaram e que conviveram comigo, e não tiveram os seus
nomes nesta página, o meu sincero agradecimento.

A todos, muito obrigado.


v

Epigrafe

“A alma não tem segredo que o comportamento não


revele” (Lao-Tsé).
vi

Resumo

O consumo de drogas na gestação é visto como um problema psicossocial complexo e


multifactorial e nos últimos tempos tem registado em Moçambique um considerável aumento.
Nesta pesquisa foi realizado um estudo exploratório que tem como tipo de abordagem mista e
cujo principal objectivo é compreender em que medida o ambiente sociofamiliar e as
expectativas sobre a maternidade influenciam o consumo de drogas durante a gestação. Para a
identificação do consumo usamos o QIGECD e para explorar questões relacionadas as
vivências psicossociais e expectativas sobre a maternidade usamos entrevista, e o grupo alvo
foram mulheres grávidas que frequentam o HGCH para consultas de pré-natal e a amostra foi
de 31 gestantes. Na revisão bibliográfica foram trazidos temas relacionados com drogas,
gravidez e maternidade, auto-conceito da grávida e expectativa sobre a maternidade e
consumo de drogas na gravidez. A análise de dados foi realizada através da análise estatística
onde usamos SPSS e da análise de conteúdo. Com os dados colectados foram elaboradas
categorias que são ambiente sociofamilar das gestantes e as expectativas sobre a maternidade
e no final feita a análise da correlação entre as categorias e o consumo de drogas onde
constatamos que quando o ambiente sociofamiliar das MG for desfavorável tendem a aderir as
práticas de consumo de álcool e quando as expectativas destas sobre a maternidade forem
negativas não se interessam com a criança esperada e consomem as drogas sem nenhum
controlo.

Palavras-chave: Gestação; Ambiente sociofamiliar; Expectativas; Drogas.


vii

Abstract

The consumption of licit or illicit drugs during pregnancy is seen as a complex and
multifactorial psychosocial problem and in recent times there has been a considerable increase
in Mozambique. In this research was carried out an exploratory study that has as a type of
mixed approach and whose main objective is to understand to what extent the socio-family
environment and expectations about motherhood influence the consumption of drugs during
gestation. For the identification of consumption, we used the QIGECD and to explore
questions related to the psychosocial experiences and expectations about motherhood we used
interview, and the target group were pregnant women attending the HGCH for prenatal
consultations and the sample was 31 pregnant women. In the bibliographic review, themes
related to drugs, pregnancy and maternity, self-concept of the pregnant woman and
expectation about maternity and drug use in pregnancy were brought. Data analysis was
performed through statistical analysis where we used SPSS and content analysis. With the
data collected, the categories that are the socio-family environment of the pregnant women
and the expectations about maternity were elaborated. At the end, the analysis of the
correlation between the categories and the consumption of drugs was carried out, where we
found that when the socio-family environment of the MG is unfavorable, they tend to adhere
to the alcohol consumption practices and when their expectations about motherhood are
negative, they are not interested in the expected child and consume the drugs without any
control.

Keywords: Gestation; Socio-family environment; Expectations; Drugs.


viii

LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS

Quadros

Quadro 01: Ambiente Sociofamiliar……………………………………………………...37

Quadro 02: Expectativas Sobre a Maternidade…………………………………………...38

Gráficos

Gráfico 01: Envolvimento no Consumo de Drogas Durante a Gestação………..………..34


Gráfico 02: Frequência de Consumo de Drogas durante a Gestação……………………..35
ix

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CID-10 – Classificação Internacional de Doenças – 10ª Edição

HGCH - Hospital Geral de Chamanculo

MG - Mulheres Gestantes

MGC - Mulheres Gestantes Consumidoras

OMS - Organização Mundial da Saúde

QIGECD - Questionário de Identificação das Gestantes Envolvidas no Consumo de Drogas

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

SNC - Sistema Nervoso Central


Índice

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12
1.1. Problema de pesquisa ............................................................................................ 13
1.2. Justificativa ........................................................................................................... 13
1.3. Objectivos ............................................................................................................. 14
1.3.1. Objectivo geral ...................................................................................................... 14
1.3.2. Objectivos específicos ........................................................................................... 14
1.4. Questões de pesquisa............................................................................................. 14

2. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... 15


2.1. Drogas ................................................................................................................... 15
2.2. Classificação das drogas ....................................................................................... 16
2.2.1. Classificação das drogas do ponto de vista legal .................................................. 16
2.2.2. Classificação das drogas na actuação no SNC ...................................................... 17
2.2.2.1. Drogas estimulantes........................................................................................... 17
2.2.2.2. Drogas depressoras ............................................................................................ 17
2.2.2.3. Drogas perturbadoras ou alucinógenas .............................................................. 17
2.3. Factores que influenciam o consumo de drogas ...................................................... 17
2.3.1. Factores psicológicos ............................................................................................ 17
2.3.2. Factores sócioambientais ...................................................................................... 18
2.3.3. Factores biológicos................................................................................................ 18
2.4. Padrão de consumo de drogas ............................................................................... 18
2.5. Os efeitos da droga no organismo ......................................................................... 20
2.6. Gravidez e maternidade......................................................................................... 20
2.7. Tarefas psicológicas da gravidez .......................................................................... 21
2.8. Aspectos físicos da gravidez ................................................................................. 22
2.9. Aspectos psicossociais da gravidez ....................................................................... 22
2.10. Auto conceito da grávida e expectativas sobre a maternidade .............................. 24
2.11. Consumo de drogas na gravidez ........................................................................... 25

3. METODOLOGIA DE PESQUISA.................................................................... 27
3.1. Tipo de pesquisa.................................................................................................... 27
3.2. Métodos ................................................................................................................. 28
3.2.1. Métodos de abordagem ......................................................................................... 28
3.2.2. Métodos de procedimento ..................................................................................... 28
3.3. População e amostra da pesquisa .......................................................................... 28
3.3.1. População .............................................................................................................. 28
3.3.2. Amostra ................................................................................................................. 29
3.4. Técnica e instrumentos de recolha de dados ......................................................... 30
3.4.1. Questionário sóciodemográfico ............................................................................ 30
3.4.2. QIGECD................................................................................................................ 30
3.4.3. Entrevista............................................................................................................... 30
3.4.4. Pré-teste ................................................................................................................. 31
3.5. Procedimentos de recolha de dados ...................................................................... 31
3.6. Procedimentos da análise dos dados ..................................................................... 32
3.7. Limitações ............................................................................................................. 33

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS .. 34

4.1. Consumo de drogas durante a gestação ................................................................ 34


4.2. Vivências psicossociais das gestantes: ambiente sociofamiliar e expectativas .... 36
4.2.1. Categoria 1: ambiente sociofamiliar das gestantes ............................................... 37
4.2.2. Categoria 2: expectativas das gestantes sobre a maternidade ............................... 38
4.3. Consumo de drogas durante a gestação versus ambiente sociofamiliar e
expectativas sobre a maternidade .......................................................................... 40
5. Considerações finais ................................................................................................. 43
Sugestões ........................................................................................................................ 45
Referências bibliográficas ............................................................................................ 46
Apêndices....................................................................................................................... 48
Apêndice ① .................................................................................................................. 49
Apêndice ② .................................................................................................................. 50
Apêndice ③................................................................................................................... 51
Apêndice ④ ................................................................................................................... 52

Apêndice ⑤ .............................................................................................................................. 54
Anexo .................................................................................................................... 55
12

1 – INTRODUÇÃO

O uso de drogas na gestação está mundialmente a crescer, porém ainda é um problema global
de carácter social e de saúde pública pouco discutido e susceptível de diversas interpretações
epistemológicas, visto que se trata de um problema psicossocial complexo e multifactorial.

A gestação é um período de grandes transformações na vida da mulher, causando


modificações significativas em seu organismo, seu psiquismo e em seu papel sociofamiliar.
Durante essa fase, a gestante passa por vivências que podem influenciar de forma intensa a
sua vida, envolvendo a capacidade de resolução de conflitos, suporte conjugal e familiar,
expectativas da maternidade bem como as circunstâncias em que ocorre a gravidez.
Entretanto, quando desfavoráveis, as vivências são passíveis de propiciar um certo
desequilíbrio psicossocial, que pode, influenciar o uso de certas drogas na expectativa do
alcance de um relativo equilíbrio por parte das gestantes.

Diante do exposto, visto que o consumo das drogas durante a gestação está relacionado com
situações problemáticas que impactam negativamente na saúde biopsicossocial, tanto da
gestante, quanto na do feto, e que existem poucos estudos que correlacionam o uso de drogas
com a gestação, o presente estudo aborda o consumo de drogas na gravidez, com o objectivo
de Compreender em que medida o ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a
maternidade influenciam o consumo de drogas durante a gestação.

A pesquisa é direccionada às mulheres grávidas que frequentam o Hospital Geral de


Chamanculo (HGCH) para consultas pré-natal. No que diz respeito à estrutura deste projecto,
encontra-se dividido em quatro partes. A primeira corresponde a parte introdutória, onde diz
respeito a introdução propriamente dita, ao problema de pesquisa, a justificativa, os objectivos
e questões de pesquisa; na segunda parte traz a revisão da literatura, onde trazemos
conhecimentos de pesquisas já existentes relacionadas com drogas, gravidez e maternidade e
consumo de drogas na gravidez; a terceira parte traz a metodologia na qual se baseará a
pesquisa (tipo de pesquisa, população e amostra, técnicas e instrumentos e procedimentos de
recolha e de análise de dados) e por fim faz-se a apresentação, análise e interpretação dos
resultados.
13

1.1. Problema de pesquisa

A questão do consumo de drogas vem sendo um problema actual em Moçambique,


registando-se nos últimos tempos um considerável aumento. Em meio a essa onda de
consumo, nos últimos tempos verifica-se, inclusive em espaços públicos, uma tendência para
o consumo de certas drogas por parte de mulheres gestantes, fenómeno esse que, apesar de
alarmante, tende a passar despercebido.

Historicamente é sabido que o uso de drogas nas gestantes está relacionado com uma série de
problemas, porém, actualmente, dentre diversos factores, as vivências psicossociais
desfavoráveis associadas, fundamentalmente, ao ambiente sociofamiliar e expectativas sobre a
maternidade, tendem a se configurar como um dos factores de maior significância, pois são
observadas, actualmente, diversas situações em que as gestantes vivenciam o momento sem
nenhum apoio do parceiro ou da família, vivenciam frequentes discussões com o parceiro,
bem como são acometidas por expectativas negativas sobre a maternidade, o que, de certo
modo, pode contribuir de forma intensa na busca pelas drogas como forma de apartar-se dos
problemas decorrentes de vivências desfavoráveis, anteriormente referenciadas.

Posto isto, atentando para a escassez de estudos científicos, divulgados em solo


moçambicano, relacionados a problemática do consumo de drogas durante a gestação e
tomando em consideração que o consumo de drogas na gestação impacta negativamente na
saúde biopsicossocial dos intervenientes directos e indirectos, com a finalidade de entender
até que ponto o ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a maternidade influenciam no
consumo de drogas durante a gestação, nasce a necessidade de questionar:

Em que medida o ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a maternidade


influenciam o consumo de drogas durante a gestação?

1.2. Justificativa

O interesse pelo estudo das vivências psicossociais nas mulheres que consomem drogas
durante a fase da gestação, nasce da necessidade de se compreender minuciosamente a
problemática do consumo de drogas durante a gestação, desmistificando as vivências
psicossociais que induzem as mulheres a tais práticas de risco, com o intuito de trazer uma
maior reflexão e consciencialização.
14

Justifica-se ainda, na medida em que fornecerá dados, suficientemente esclarecidos que, para
além de incitar discussões de fórum académico, poderão contribuir para propor formas de
intervenção centradas nas mulheres em gestação, fornecer subsídios para esta área de interesse
e trazer uma visão que estimule estudos afins, o que, em última análise, poderá servir de ajuda
para a prevenção e mitigação dos comportamentos de risco em relação ao consumo de drogas
nas mulheres grávidas, promovendo assim um estilo de vida mais saudável, a nível
biopsicossocial, nas gestantes e, consequentes, intervenientes.

1.3. Objectivos

De seguida serão apresentados o objectivo geral e os objectivos específicos da pesquisa, com


a descrição do que se pretende atingir com este trabalho. Veremos que o objectivo geral
definirá o propósito do trabalho, o qual somente poderá ser alcançado com a conquista dos
objectivos específicos traçados.

1.3.1. Objectivo Geral

Compreender em que medida o ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a


maternidade influenciam o consumo de drogas durante a gestação.

1.3.2. Objectivos Específicos

Identificar casos de mulheres que consomem drogas durante a gestação;


Verificar o ambiente sociofamiliar das mulheres que consomem drogas durante a
gestação bem como as expectativas que essas gestantes têm sobre a maternidade;
Correlacionar o ambiente sociofamiliar, expectativas sobre a maternidade e o consumo
de drogas durante a fase da gestação.

1.4. Questões de Pesquisa

1. De que modo as situações de discussões constantes entre a gestante e o parceiro


influenciam no consumo de drogas?
2. Em que medida as situações em que a gestante vivencia a gravidez sem nenhum apoio
da família e do parceiro influenciam no consumo de drogas?
3. Até que ponto as mulheres grávidas com expectativas negativas de ser mãe têm uma
maior propensão para o consumo de drogas durante a gestação?
4. Quais as relações existentes entre o ambiente sociofamiliar, as expectativas sobre a
maternidade e o consumo de drogas durante a gestação?
15

2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Drogas

O termo “droga” tem a sua origem na palavra holandesa antiga “droog”, que significa folha
seca. Essa denominação surgiu devido ao facto de anteriormente, a maior parte dos
medicamentos utilizados serem provenientes de ordem vegetal. Segundo a definição da
organização mundial da saúde (OMS), a droga é qualquer substância que tem a propriedade
de actuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento
(LIMA, 2012). Nesse caso podem produzir alterações nas sensações, no grau de consciência
ou no estado emocional.

Uma droga não é por si só boa ou má. Existem substâncias que são usadas com a finalidade de
produzir efeitos benéficos, como o tratamento de doenças, e são consideradas medicamentos.
Mas também existem substâncias que provocam malefícios à saúde, que são os tóxicos. O
interessante é que a mesma substância pode funcionar como medicamento em algumas
situações e como tóxico em outras (NICASTRI, 2006). Portanto, todo o medicamento é
droga, mas nem toda droga é medicamento, o que varia é como actua no organismo de cada
indivíduo, bem como a finalidade, pois, quando a droga é empregada com finalidade de cura,
ela passa a denominar-se medicamento.

Considera-se droga toda a substancia que é introduzida no corpo através da inalação, ingestão
ou injectada, pois provoca alterações no funcionamento do organismo humano. Dentre estas,
há um grupo que actua no psiquismo, as denominadas psicotrópicas, visto que provocam
alterações de humor, da percepção, das sensações de prazer e euforia, do alívio, medo, dor.
Para efeito considera-se para este grupo a denominação de droga (CHACÓN, 2016).

Segundo DALGALARRONDO (2008), as substâncias psicotrópicas produzem alguma


sensação de prazer ou excitação por actuarem nas áreas de recompensa do cérebro. De acordo
com o Dicionário de Psicologia (1996) psicotrópico é qualquer substancia, sintética, semi-
sintética ou natural, capaz de alterar a actividade mental. Essas alterações acontecem a nível
da percepção, do funcionamento cerebral, do humor e tais substâncias podem ser legais ou
ilícitas. Quando o consumo de droga é exagerado, torna-se grave, pois pode levar a
dependência. Hoje em dia existem várias substâncias utilizadas para este fim, sendo que as
drogas consumidas habitualmente incluem o álcool, o tabaco, a cannabis, a heroína, a cocaína,
a êxtase e mais. É visto que há uma larga tendência de maior consumo das diversas
16

substâncias psicoativas, daquelas que tem maior facilidade de acesso e que são aceitas de
acordo com os aspectos culturais mais ou menos comuns a cada região e aos factores
socioeconómicos (CHACÓN, 2016). Como fenómeno global, este tem atingido parcela da
população grávida.

2.2. Classificação das drogas

Para a melhor compreensão do fenómeno das drogas, torna-se importante conhecer as


principais classificações que explicam sobre o ponto de vista legal e na actuação no sistema
nervoso central (SNC).

2.2.1. Classificação das drogas do ponto de vista legal

De acordo com o critério de legalidade, podemos identificar dois grandes grupos de drogas: as
lícitas e as ilícitas.

As drogas lícitas são aquelas permitidas por lei, as quais são compradas praticamente de
maneira livre e seu comércio é legal (SILVEIRA e DOERING-SILVEIRA, 1999). Exemplo
de drogas lícitas ou que o seu uso é permitido em Moçambique: o álcool e o tabaco.

As drogas ilícitas são aquelas cuja comercialização é proibida pela justiça, elas são também
conhecidas como drogas pesadas e causam forte dependência (SILVEIRA e DOERING-
SILVEIRA, 1999). Alguns exemplos de drogas não permitidas pela lei em Moçambique são
cannabis, cocaína, heroína, morfina, êxtase, entre outros.

Com frequência, consideramos drogas os produtos ilegais, como a cannabis, a cocaína,


heroína entre outros. Porém, do ponto de vista de saúde muitas substâncias legalizadas podem
ser igualmente perigosas, como o álcool por exemplo. Ou seja todas as drogas, lícitas ou
ilícitas podem provocar alterações a nível do sistema nervoso e são susceptíveis de criar
dependência psicológica ou física1.

1
Dependência psicológica consiste na ideação que o utilizador desenvolve no sentido de necessitar da substãncia
para chegar a um equilibrio ou a percepcao de bem estar, envolve a recordação do prazer provocado
pelo estimulo em determinadas situações. E a dependência fisica indica que o corpo se adaptou
fisiologicamente ao consumo habitual da substância, surgindo sintomas quando o uso da droga termina ou é
diminuido (SCHUCKIT, 1998).
17

2.2.2. Classificação das drogas na actuação no SNC

As drogas actuam no cérebro afectando a actividade mental, sendo por essa razão,
denominadas psicoativas. De acordo com SILVEIRA e DOERING-SILVEIRA (1999);
NICASTRI (2006); LIMA (2012), basicamente elas são de três tipos:

2.2.2.1. Drogas estimulantes

São drogas que aumentam a actividade mental. Essas substâncias afectam o cérebro, fazendo
com que ele funcione de forma mais acelerada Causam estado de alerta extremo, insónia,
entre outros sintomas. Algumas dessas substâncias são: a cocaína, o tabaco e cafeína.

2.2.2.2. Drogas depressoras

São drogas que diminuem a actividade mental. Tais drogas afectam o cérebro, fazendo com
que ele funcione de forma mais lenta, comprometendo as actividades motoras, diminuindo a
atenção, a concentração, a tensão emocional, a memorização e a capacidade intelectual.
Algumas dessas substâncias são: o álcool, a heroína, a morfina.

2.2.2.3. Drogas perturbadoras ou alucinógenas

São drogas que alteram a percepção e provocam alterações no funcionamento do cérebro, que
resultam de vários fenómenos psíquicos anormais como delírio e alucinações. De entre as
perturbadoras, citam-se: a cannabis, o êxtase.

2.3. Factores que influenciam o consumo de droga

Segundo CASTRO e ROSA (2010, citados por CHACÓN, 2016), “[…] a pessoa não começa
a usar drogas ou abusar delas por acaso ou por uma decisão isolada” (p. 21), sendo que o
uso indevido de drogas é fruto da acção de múltiplos factores, como influência de amigos,
além dos contextos social, politico, cultural e económicos. De modo geral é visto que o
consumo de substâncias psicoativas é provocado por um conjunto de factores: psicológicos,
socioambientais e biológicos (DETONI, 2009).

2.3.1. Factores psicológicos

Apontados como questões ligadas a personalidade individual que pode ser: instabilidade
emocional acentuada, baixa auto-estima, sentimento de vazio e tédio, incapacidade de lidar
com frustrações e críticas, insegurança, medo de rejeição, necessidade de imitar ou de exibir e
18

dificuldade de aceitar os aspectos imutáveis da realidade. Estes são factores associados às


características pessoais que colocam o indivíduo em uma situação mais susceptível ao uso de
drogas.

2.3.2. Factores sócioambientais

Quando o próprio meio em que o indivíduo vive facilitar e até estimular o uso dessas
substâncias. A questão da influência e a pressão do grupo que o indivíduo faz parte, também
contribuem para o uso de drogas. O caso das campanhas publicitárias merece uma atenção
especial, tendo em vista que veiculam propagandas associando as drogas lícitas (ex:
publicidades de cerveja) com o sucesso, o prazer, a aceitação pelo grupo, como se este fosse
um modelo de felicidade e de diversão. Para os jovens que estão na formação dos seus
valores, as propagandas exercem forte impacto. Entretanto Minayo chama atenção para o
reforço do papel da família ao argumentar que:

“[…] a família, tem o papel de inserir seus membros na cultura e ser instituidora
das relações primárias, influencia a forma como o indivíduo reage a ampla oferta
de droga na sociedade actual. Relações familiares saudáveis desde o nascimento
da criança servem como factor de protecção para toda a vida e de forma muito
particular para o adolescente. No entanto problemas enfrentados na adolescência,
são plantados na infância (MINAYO, 2005 citado por CHACÓN, 2016, p. 21) ”.

2.3.3. Factores biológicos

Pode haver a predisposição genética de alguns indivíduos. Algumas pessoas são


geneticamente mais propensas a aderir certas drogas, principalmente quando tem antecedentes
na família. Pois o contexto familiar está relacionado com a formação e desenvolvimento da
pessoa. O que pode propiciar um ambiente de facilidade de consumo e consequentemente
levar a dependência.

2.4. Padrão de consumo de drogas

Existem diferentes formas de uso de drogas e o padrão de uso nocivo não tem
necessariamente relação directa com a quantidade ingerida no momento, sendo possível
consumir substâncias sem que isso traga prejuízo a saúde e a qualidade de vida. Por isso, os
pesquisadores devem sempre olhar para o padrão das pessoas sob seu cuidado,
pois durante a investigação é possível detectar níveis de gravidade e observar rituais
19

de uso que, segundo SMS (2016), podem ser caracterizados como: (a) ocasional ou
recreativo, (b) habitual e/ou (c) nocivo ou dependente.

a) Uso ocasional de drogas: refere-se a experimentação, ao uso lúdico, sem provocar


prejuízos ao quotidiano da vida da pessoa. A droga representa um objecto de prazer.
Neste padrão configuram-se poucos episódios de uso de uma determinada droga
(LIMA, 2012).
b) Uso habitual de drogas: a droga ganha um lugar especial na vida do indivíduo,
podendo ser consumida até diariamente, ela pode tanto fazer parte da vida do usuário,
não causando prejuízos, como também demonstrar que algo não vai bem, prejudicando
o usuário, podendo este não investir em seus interesses, tendo desse modo perdas
afectivas e materiais.
c) Uso nocivo/abuso e dependência: refere-se quando há um padrão de uso em que
aumentam-se as chances de risco de consequências danosas ao usuário, resultando em
danos físicos, mentais e sociais (LIMA, 2012).

De acordo com o CID-10, citado por SMS (2016, p. 18), a distinção entre uso nocivo e um
quadro de dependência em relação a uma substância é feita da seguinte forma:

i. Uso nocivo de drogas: os padrões nocivos de uso são frequentemente criticados por
várias pessoas e estão associados a consequências sociais adversas de vários tipos. O
diagnóstico requer que um dano real tenha sido causado a saúde física e mental do
usuário.
ii. Dependência de drogas: segundo SMS (2016) o diagnóstico de dependência deve ser
feito se três ou mais dos seguintes itens forem experienciados ou manifestados durante
o ultimo ano:
• Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância;
• Dificuldade em controlar o comportamento de consumir a substancia em
termos de inicio, término ou níveis de consumo;
• Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substancia cessou ou foi
reduzido, como evidenciado por síndrome de abstinência característica para a
substância, ou uso da mesma substância ou intimamente relacionada com
intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência;
20

• Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância


psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por
doses mais baixas;
• Abandono progressivo de prazeres alternativos em favor do uso da substância
psicoativa: aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a
substância ou recuperar-se de seus efeitos;
• Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de
consequências manifestamente nocivas.

2.5. Os efeitos da droga no organismo

De acordo com SILVEIRA e DOERING-SILVEIRA (1999) os efeitos de uma droga


dependem basicamente de três aspectos, que podem ser: da droga, do usuário e do meio
ambiente. Cada tipo de droga, com suas características químicas, tende a produzir efeitos
diferentes no organismo, a forma como uma substancia é utilizada, assim como a quantidade
consumida e o seu grau de pureza também terão influência no efeito. Cada usuário, com suas
características biológicas e psicológicas, tende a apresentar reacções diversas sob a acção de
drogas, pois são extremamente importantes, o estado emocional do usuário e suas
expectativas com relação à drogas no momento do uso. O meio ambiente também influencia o
tipo de reacção que a droga pode produzir. Dessa maneira, o local, as pessoas e o contexto no
qual o uso acontece podem interferir nos efeitos que a droga vai produzir.

2.6. Gravidez e maternidade

A gravidez refere-se ao período de mais ou menos 40 semanas, que medeia entre a concepção
e o parto. Esta fase acarreta vivências psicológicas particulares, sendo então considerado um
momento particular e de retorno a si própria. A gravidez é um processo de
transição que ocorre na vida da mulher, transportando consigo mudanças e promovendo um
conjunto de aquisições desenvolvimentais (LEAL, 2005; FIGUEIREDO, 2005 citados por
GORDINHO, 2013, p. 7).

As alterações no corpo da mulher durante a gravidez podem ser experienciadas como


mudanças desafiadoras e ao mesmo tempo ameaçadoras, tendo em conta a cultura e
a imagem que a mulher tem acerca dos valores, estética, família, emprego e obrigações
(GORDINHO, 2013). A gravidez e a maternidade são normalmente descritas como uma das
tarefas desenvolvimentais mais significativas da idade adulta. De facto, a gravidez envolve
21

uma reorganização a todos os níveis biológico, cognitivo, emocional, relacional e social,


transformando a relação da mulher com o seu corpo, o self, as suas figuras significativas e a
sua comunidade, constituindo-se assim como uma transição desenvolvimental (MEIRELES e
COSTA, 2005).

Nem sempre a gravidez é sinónima de felicidade. Para certas mulheres pode desencadear
processos psicológicos contrários como a negação, em que como se não acreditassem no que
está a acontecer e não aceitam a gravidez; situações em que as mulheres querem engravidar
mas têm medo de sofrer um aborto; situações em que ocultam a informação dos
companheiros, optando por revelar apenas quando as alterações são obvias e muitas
mulheres vivenciam a primeira gravidez com algum sentimento de frustração (COLMAN e
COLMAN, 1991) citados por (GORDINHO, 2013, p. 8). É necessário que a gravidez seja
planeada e desejada pela futura mãe gestante (MEIRELES e COSTA, 2005).

Gordinho, refere que no período de gestação podem estar associadas algumas condições
psicológicas como o stress, a ansiedade e a depressão. De acordo com vários estudos, altos
níveis de stress durante este período podem estar associados com uma gestação mais
prematura e com um crescimento retardado do bebé. A gravidez, pode ser entendida por
alguns autores como um momento de crise, o que implica um maior envolvimento da mulher
num processo psicológico, em que esta deverá fazer um esforço em manter uma situação
positiva e gratificante (GORDINHO, 2013).

2.7. Tarefas psicológicas da gravidez

A gravidez supõe a resolução de tarefas psicológicas como a construção da identidade


materna e a construção da relação mãe-bebé, em torno das quais se processa, então, a
redefinição psicossocial própria desta transição. A vivência da grávida é reconstruída ao longo
do processo da gravidez, reenquadrados em diferentes configurações psicológicas, numa
dinâmica desenvolvimental que deverá confluir para a resolução idiossincrática das tarefas
psicológicas da gravidez (MEIRELES e COSTA, 2005). Assim, espera-se que ao longo da
gravidez, vão sendo progressivamente construídas a identidade materna e a relação com o
bebé na confluência de todos estes condicionantes.

Segundo os mesmos autores, durante a gravidez a mulher tem que passar a olhar-se como
mãe. A construção da identidade materna envolve a referência à relação da grávida com a sua
mãe, considerando que a mãe é para cada mulher o primeiro e principal modelo de
22

comportamentos e afectos maternos (CANAVARO, 2001 citado por MEIRELES e COSTA,


2005, p.76). Nesse caso permite adoptar certos comportamentos semelhantes aos da sua mãe
que são considerados adequados, mas também adopta comportamentos diferentes em
substituição dos que considera disfuncionais ou que não se adaptam à situação pessoal.

2.8. Aspectos físicos da gravidez

De entre várias mudanças, certos sintomas e comportamentos comuns são esperados em uma
gestação. De acordo com MALDONADO (2002), citado por FONSECA e SILVA (2013, p.
4), a gravidez normal, do ponto de vista desenvolvimental, pode ser dividida em três
trimestres distintos, com características marcantes e especificas em cada um.

O primeiro trimestre é marcado por incertezas, dúvidas e ambivalências. Na maioria das vezes
é neste período que a mãe toma conhecimento da gravidez, mas com a demora das
modificações físicas e a percepção dos discretos movimentos, a gestação não se faz notar para
ela mesma, para o companheiro ou para a família. Nessa fase a combinação de factores
emocionais com as alterações hormonais pode desencadear o aparecimento de sintomas como
sonolência, enjoos e transtornos alimentares.

No segundo trimestre as mudanças no corpo já são visíveis e percebidas pela sociedade. A


percepção dos movimentos fetais por parte da mãe, dissipando as dúvidas e dando lugar às
certezas, leva os sintomas de náuseas e fadiga a desaparecerem. A maioria das gestantes
experimenta forte sensação de bem-estar físico e apesar de a barriga tornar-se mais visível,
nesse momento não é sentida como desconfortável.

No terceiro trimestre, a proximidade do parto intensifica as ansiedades e incertezas referentes


ao mesmo, que se expressam através de incógnitas: como será o parto, onde será, se estará
sozinha ou acompanhada, se saberá quando é hora de ir para o hospital. Nesse período, os
temores em relação a dor e da morte são intensificados, algumas mulheres vivem uma
ambiguidade e ficam divididas entre manter o filho no ventre ou deixá-lo nascer, da mesma
forma o temor e a angústia da separação do bebé que ocorrerá com o nascimento e que irá
inaugurar um novo papel da mãe, podem até mesmo interferir na qualidade do parto.

2.9. Aspectos psicossociais da gravidez

Durante a gestação a mulher passa por momentos de tensão psicológica, alternacões no


comportamento e modificações no relacionamento com o parceiro devido ao aumento da
23

sensibilidade, irritabilidade, labilidade emocional e também no desejo e desempenho sexual.


Esses factores se não forem bem trabalhados durante o pré-natal podem vir a
acarretar transtornos familiares (PINHO e RIBEIRO, 2001 citados por FONSECA e
SILVA, 2013, p. 5).

Muitas gestações são rapidamente aceitas ou transformam-se em desejadas ao longo da


gestação, resultando em situações felizes e equilibradas (SILVA et al., 2004, citado por
FONSECA e SILVA, 2013, p. 6), mas nem sempre leva o casal, ou principalmente a mulher,
a um estado de contentamento, quando planeada e desejada, marca de forma positiva o
relacionamento e quando não desejada, pode vir a desencadear conflitos, como o rompimento
entre os parceiros ou ate mesmo a escolha por se fazer um aborto. Entretanto, apesar do
acontecimento de gestação não planeada ser frequente entre mulheres de diferentes faixas
etárias e escolaridade, não significa necessariamente que o filho não seja desejado.

Diante de todas estas transformações, a experiência da gestação leva a uma exacerbação da


sensibilidade da mulher, o que a deixa susceptível a vários distúrbios emocionais. Assim a
gravidez pode desencadear tanto uma crise emocional para as grávidas como descobrir um
potencial de adaptação e resolução de conflitos até então desconhecido. A fase de gestação é a
de maior incidência de transtornos psíquicos na mulher, necessitando de atenção especial para
manter ou recuperar o bem-estar e prevenir dificuldades futuras para o filho (FONSECA e
SILVA, 2013). A intensidade das alterações psicológicas dependerá de factores familiares,
conjugais, sociais, culturais, da personalidade da gestante e de acontecimentos no decorrer da
gravidez (FONSECA e SILVA, 2013; SILVEIRA e FERREIRA, 2011). Pois, a forma como
a mulher lida com todas estas alterações psicológicas do período gestacional deverá
influenciar intimamente a relação futura com a criança e os comportamentos de risco
durante a gravidez.

Não é de admirar, portanto, que um processo que impõe tantas exigências, como o
caso da gravidez, tenha invariavelmente associada a presença de ansiedade (FONSECA
e SILVA, 2013), as preocupações com a gravidez, com o bebé e com maternidade
aparecem como uma influência importante na ansiedade, mas qualquer ansiedade
torna-se prejudicial quando persiste ao longo de toda a gravidez. Cada mulher vive cada
gravidez de uma forma única e diferente, de acordo com os palcos sociais em que se
movimenta, as normas e os valores pelos quais foram educadas, as experiencias por que
24

passou, o seu estado de saúde, a sua emotividade e desenvolvimento psicológico, as relações


que estabeleceu ao longo da vida e as características da relação que a unem ao pai do seu filho
(SILVEIRA e FERREIRA, 2011).

2.10. Auto-conceito da grávida e expectativas sobre maternidade

O período de gravidez e de transição para a maternidade são momentos do ciclo de vida da


mulher onde esta vivencia períodos de crise (CANAVARRO, 2001, citado por SILVEIRA e
FERREIRA, 2011, p. 55), isto é, como processos evolutivos irreversíveis, de passagem de um
estádio de desenvolvimento para outro, com implicações na sua identidade e auto-conceito,
nos seus valores, nos seus comportamentos e relacionamentos interpessoais (MEIRELES e
COSTA, 2003).

Segundo DALY (2003 citado por SILVEIRA e FERREIRA 2011), o auto-conceito é um


factor psicológico influente no comportamento, na saúde e no bem-estar do indivíduo, tem um
papel moderador no ajustamento psicológico que a transição para a maternidade acarreta, e
considera este período a oportunidade ideal para examinar a relação entre as características
estruturais do conceito que a mulher tem de si mesma e das suas capacidades e a sua saúde
psicológica.

Não há dúvidas que a mulher vive a gravidez como uma combinação misteriosa de
acontecimentos biológicos e psicológicos, que vão ocorrendo a medida que os meses passam,
enquanto é assegurado o adequado desenvolvimento da nova vida (COLMAN e
COLMAN, 1994, citado por SILVEIRA e FERREIRA, 2011). Isto é, a medida em que há
mudanças da imagem corporal, pode se observar em paralelo as mudanças da identidade
pessoal e dos papéis sociais. Apesar de a gravidez constituir um enorme desafio pessoal e
familiar, marcado por um conjunto de mudanças, etapas e obstáculos, ela constitui acima de
tudo um tempo de espera, em que um espaço próprio é conquistado no corpo e na mente da
futura mãe (LEITÃO, 1998, citado por SILVEIRA e FERREIRA, 2011).

HOCKING (2007) citado por SILVEIRA e FERREIRA (2011), afirma, com base nos seus
estudos do auto-conceito de mulheres na sua primeira gestação, que a gravidez altera
dramaticamente a forma como uma mulher se vê e sente a si mesma e acrescenta que a
identidade de mãe, que é formada nos primeiros estágios da gestação, cresce no conceito que
a mulher tem de si própria durante todo o percurso, o qual é vivido de forma complexa, com
incalculável alegria, esperança e amor, mas também com ansiedade, medo, conflito e luta.
25

Essa fase obriga a mulher a deixar de se considerar independente e responsável somente por
si, e passa a olhar também para o outro ser, o seu filho (SILVEIRA e FERREIRA, 2011).

A gravidez pode ser interpretada como uma tentativa de busca pela imortalização ou recusa de
morte ou como uma forma de realização feminina e descrita de diversas formas, visto que
cada gestante irá vivencia-la a seu modo. O que se pode afirmar é que a gestação
tem repercussão significativa na vida de uma mulher e é, por si só, um período permeado de
expectativas, onde a grávida vivencia uma variedade de sentimentos e emoções
que são originadas pelas mudanças psicológicas, sociais e físicas próprias desta fase
(QUEVEDO, 2010 citado por FONSECA e SILVA, 2013, p. 3).

A gestação é um momento de preparação e constituição de maternidade. Durante a gravidez, a


mulher tem que passar da condição de filha para a de mãe e reviver experiencias anteriores,
alem de ter de reajustar seu relacionamento conjugal, sua situação socioeconómica e suas
actividades profissionais. Todas estas mudanças são mais impactantes nas gestantes
primíparas, apesar de as multíparas também as viverem com intensidade. De acordo com
MALDONADO, 2002, a maternidade não pode ser vista somente no período pós-natal e
acredita que a relação entre pais e filhos e a configuração dos papéis materno e paterno
começam muito antes (FONSECA e SILVA, 2013). Desta forma podemos perceber que
refere ainda nas primeiras relações e identificações da mulher, passando pela actividade lúdica
infantil, a adolescência, o desejo de ter um filho e a gravidez propriamente dita.

2.11. Consumo de drogas na gravidez

Por uma razão ou por outra, as drogas são conhecidas como perigosas para o feto, como o
álcool, o tabaco, a cannabis, a heroína, o haxixe, a cocaína, a êxtase entre outras, e podem
levar ao comprometimento, por vezes irreversíveis e deletérias. Sabendo-se dos perigos
inerentes ao uso dessas drogas, a gestante não pode utilizar drogas, visto que podem ser
prejudiciais tanto para a gestante quanto ao feto. Para além disso uma dose considerada
aceitável para um adulto é muito elevada para um feto (MWAMWENDA, 2006).

Praticamente tudo o que a mãe ingere chega até a nova vida em seu útero. As drogas
atravessam a placenta2, assim como o oxigénio, o dióxido de carbono e a água, e é
especialmente vulnerável nos primeiros meses quando o desenvolvimento é mais rápido

2
A placenta é o orgão que surge no cordão umbilicar e que permite a intermediação entre a gestante e o feto
durante a fase da gestação, pois é através da placenta que o bebé pode respirar e receber os nutrientes da mãe.
26

(PAPALIA e OLDS, 1998). Assim o impacto das drogas ingeridas no início da gravidez é
mais forte.

O uso de drogas lícitas, como álcool e tabaco, durante a gestação pode levar ao
comprometimento por vezes irreversível da integridade da saúde da mulher e da criança
(ROCHA et al., 2016). Dessa forma é recomendável que toda a gestante evite o consumo de
bebidas alcoólicas, não só ao longo da gestação assim como também durante o período da
amamentação, pois o álcool pode passar para o bebé através do leite materno (CARLINI et
al., 2001). O consumo de álcool durante a gestação tem sido associado a aborto espontâneo,
crianças com dificuldades de aprendizagem e defeitos de nascimento, atraso mental, bebes
pequenos e de pouco peso e bebe com cabeça pequena. Esses efeitos ocorrem tanto antes
assim como muito tempo após o nascimento da criança (MWAMWENDA, 2006). Já quando
na gravidez a mãe fuma, o feto também fuma, passando a receber as substâncias tóxicas do
cigarro através da placenta. A nicotina provoca aumento do batimento cardíaco no feto,
redução do peso do recém-nascido, alterações fisiológicas, risco de abortamento espontâneo,
abortamento espontâneo, entre outras complicações durante a gravidez é maior nas gestantes
que fumam. Assim como no álcool durante a amamentação as substâncias tóxicas do cigarro
são transmitidas para a criança através do leite materno (CARLINI et al., 2001).

As drogas ilícitas como a cannabis, a cocaína, a heroína, haxixe, entre outras são consideradas
deletérias às gestantes e ao feto, vários autores concordam que o uso destas drogas na
gestação pode ter sérios agravos à saúde física e ao bem-estar psicossocial da mulher e da
criança (ROCHA et al., 2016). A cannabis provoca distúrbios funcionais no decorrer da vida
dos filhos expostos a essa droga, tais como deficits cognitivos, impulsividade, deficit de
atenção, hiperactividade, sintomas depressivos e distúrbios do sono (COUTINHO et al.,
2014).
27

3 - METODOLOGIA DE PESQUISA

Na metodologia segundo GIL (2002), descrevem-se os procedimentos a serem seguidos na


realização da pesquisa onde são apresentadas informações sobre certos aspectos que nos
conduzirão a alcançar o topo da pesquisa. Posto isto, a metodologia pode ser vista como um
conjunto de métodos e técnicas que guiam o projecto científico para alcançar determinado
objectivo.

3.1. Tipo de pesquisa

Em função do problema de pesquisa, a mesma define-se como sendo exploratória, pois, de


acordo com GIL (2002), este tipo de pesquisa tem como objectivo proporcionar maior
familiaridade com o problema e torna-lo mais explícito. Este tipo de pesquisa é tido como
muito flexível visto que permite que consideremos variados aspectos relacionados com o
problema estudado.

Do ponto de vista da abordagem considera-se uma pesquisa mista, visto que abrange as
abordagens qualitativa e quantitativa, Sendo que o uso dos dois tipos pode ajudar na recolha
de mais informações em relação a estudos que fazem uso de um único tipo. A abordagem
qualitativa segundo BRITTEN (2005 citado por FONSECA e SILVA, 2013, p. 21) refere-se
quando o pesquisador está voltado para o significado de factos, eventos ou ocorrências. Onde
haverá interpretação dos fenómenos e atribuição de significados sendo que a pesquisa tem
opiniões subjectivas. E para GERHARDT e SILVEIRA (2009), a pesquisa qualitativa salienta
aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana, para compreender a
totalidade no contexto daqueles que vivenciam o fenómeno. Assim sendo, esta abordagem é
para servir de ajuda ao pesquisador na obtenção de conhecimentos profundos e detalhados das
opiniões, que no nosso estudo reflectem as vivências de mulheres grávidas que estão em
contacto com drogas. Por sua vez vamos recorrer a abordagem quantitativa, sendo que é
necessário obter medidas quantificáveis, o que significa que na pesquisa é necessário traduzir
opiniões e números as quais serão classificadas e analisadas.
28

3.2. Métodos

3.2.1. Métodos de Abordagem3

Em relação ao plano geral do trabalho, seus fundamentos lógicos e aos processos de


raciocínio adoptados, na pesquisa foi usado o método de raciocínio fenomenológico que de
acordo com GIL, (2008) parte do dia-a-dia, da compreensão do modo de viver das pessoas,
procurando trazer os significados atribuidos pelos sujeitos ao objecto que está a ser estudado, foi
usado também o método de raciocínio indutivo4, visto que a pesquisa não abrangeu a toda
população, contudo, parte-se da observação de factos ou fenómenos cujas causas se deseja
conhecer, e procura-se compará-los com finalidade de descobrir as relações existentes entre
eles para por fim, proceder-se à generalização com base na relação verificada entre esses
factos.

3.2.2. Métodos de Procedimento5

No que diz respeito ao método de procedimento, olhando para a natureza desta pesquisa, e na
busca pela qualidade da sua elaboração, não se limita a apenas um tipo, pois utilizamos vários
concomitantemente, visto que em função das suas características, este tipo de pesquisa não se
enquadra facilmente num ou noutro modelo (LAKATOS e MARKONI, 2003; GIL, 2008).

3.3. População e amostra da pesquisa

3.3.1. População

No planeamento de um projecto de pesquisa é necessário definir com precisão a população


que se deseja estudar, ou seja, o grupo alvo. Para LAKATOS e MARKONI (2003) população
é o conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica
em comum. Posto isto, o grupo alvo desta pesquisa é constituído por mulheres grávidas de
todas idades. Visto que os hospitais são lugares em que as gestantes frequentam para as
suas consultas pré-natal, preferimos optar por actuar no Hospital Geral de Chamanculo
(HGCH) - Maputo, a escolha do local onde foi feita a pesquisa é pelo facto de os pacientes
3
São métodos desenvolvidos a partir de elevado grau de abstracção, que possibilitam ao pesquisador decidir
acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos factos e da validade de suas
generalizações (GIL, 2008).
4
O método da indução coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de recolha de dados
particulares. Seguindo este raciocínio, a generalização será constatada a partir da observação de casos concretos
suficientemente confirmadores dessa realidade (GIL, 2008).
5
Este método proporciona ao investigador os meios técnicos de uma investigação, para garantir a objectividade e
a precisão no estudo dos factos sociais, oferecendo assim a orientação necessária para a realização da pesquisa,
obtenção, processamento e validação dos dados pertinentes a problemática em estudo (GIL, 2008).
29

serem de diferentes bairros e locais da cidade de Maputo, o que sugere também a uma
diversidade cultural.

3.3.2. Amostra

Concordando com LAKATOS e MARKONI (2003), a amostra é uma parcela


convenientemente seleccionada do universo (população), é um subconjunto do universo, deste
modo a amostra não abrangeu a totalidade da população, sendo que há necessidade de
investigar somente uma parte dessa população, ou seja numa dada população escolhe-se a
amostra de modo que ela seja a mais representativa possível do todo. Neste estudo a amostra
foi constituída por 31 gestantes. Como critério de inclusão na pesquisa foram consideradas
mulheres de todas as idades, e em condições cognitivas de responder as questões e que
frequentam o HGCH – Maputo.

O método de amostragem utilizado é o não-probabilístico, baseando-se na amostragem por


acessibilidade, visto que para a amostra vamos seleccionar as gestantes que tivermos acesso
(LAKATOS e MARKONI, 2003; GIL, 2008).

No que diz respeito às idades, constatou-se que as gestantes participantes tinham idades
compreendidas entre os 17 e os 40 anos, sendo que correspondem as idades mínima e máxima
respectivamente, a média das idades é 26 e o desvio padrão é de 5,78.

Foram registados também dados relativos ao questionário sociodemografico, onde em relação


a situação profissional observamos que quase metade das participantes são desempregadas,
22,6% ainda vão a escola e 29% encontram-se a trabalhar. Quanto ao nível de escolaridade,
vimos que mais da metade das gestantes tem intervalo de 8ª a 12ª classe. Os dados indicam
também que as participantes que vivem com parceiro correspondem a 67,7%, sendo que
dentre estas 54,8 % não são casadas formalmente e 12,9 são casadas. Observou-se também
que 29% das participantes corresponde ao número de participantes que ainda vivem em casa
dos pais e 1 mulher afirmou ser viúva. Do total das entrevistadas, 48,4% eram primigestas6,
29% estavam na 2ª gravidez, 9,7% para a 3ª gravidez, 9,7% para a 4ª gravidez e apenas 3,2%
dizem ser a 5ª gravidez ou mais.

6
Refere-se às gestantes que estão na sua primeira gravidez.
30

3.4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

A escolha do método de recolha de dados é de fundamental importância para o


desenvolvimento da investigação, na verdade a recolha de dados é a busca por informações
para a elucidação do fenómeno que o pesquisador quer desvendar. Para a
condução desta pesquisa foram usados dois instrumentos como auxilio na recolha de dados,
que são: questionário sóciodemográfico, questionário de identificação das gestantes
envolvidas no consumo de drogas (QIGECD) e entrevista.

3.4.1. Questionário Sóciodemográfico 7

Este questionário permite obter informação sobre os dados demográficos das gestantes (idade,
situação profissional, estado civil e escolaridade); aborda ainda a questão sobre o ambiente
familiar e a situação da grávida.

3.4.2. QIGECD8

Neste estudo aplicamos numa primeira fase, o QIGECD elaborado pelo autor da pesquisa,
como estratégia para identificar as mulheres que fazem uso de drogas durante a gravidez, pelo
facto de este ser um instrumento de colecta de dados constituído por uma série ordenada de
perguntas que podem ser respondidas por escrito pelo informante, sem a presença do
pesquisador, possibilitando o levantamento de opiniões das situações vivenciadas
(GERHARDT & SILVEIRA, 2009). Considerando também que a busca pela identificação do
consumo de drogas através da entrevista nas gestantes criaria constrangimentos e receio de
falar sobre esses aspectos.

3.4.3. Entrevista 9

Após a aplicação do QIGECD fez-se entrevista (semi-estruturada) a todas as mulheres que


responderam ao questionário, considerando que a entrevista constitui uma técnica alternativa
para se colectarem dados não documentados sobre determinado assunto. De acordo com
LAKATOS & MARCONI (2003), a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que
uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto ou problema e outra se
apresenta como fonte de informação. E ainda concordando com os mesmos autores, Mediante
a técnica da entrevista, o pesquisador pode levar o entrevistado a uma penetração maior em

7
Vide em apêndice ①.
8
Vide em apêndice ②.
9
Vide em apêndice ③.
31

sua própria experiência, explorando áreas importantes, mas não previstas no roteiro10 de
perguntas.

Este roteiro de entrevistas contêm oito perguntas abertas que complementam as questões do
questionário. Com a entrevista pretende-se recolher as vivências das gestantes, expectativas
da maternidade e certos aspectos relacionados com o consumo de drogas.

3.4.4. Pré-teste

O pré-teste consiste segundo LAKATOS & MARCONI (2003), no preenchimento do


questionário por uma pequena população que reflicta a diversidade da população visada, com
a finalidade de verificar se as questões podem ser bem compreendidas e encontrar as possíveis
falhas.

O pré-teste foi aplicado com o objectivo de se verificar as seguintes características:

• Fidedignidade – qualquer pessoa que utilize o questionário deve obter os mesmos


resultados.
• Validade – os dados recolhidos são fundamentais para o estudo;
• Acessibilidade – o vocabulário utilizado deve ser acessível a qualquer pessoa;

Esta etapa é indispensável para a realização da pesquisa e permite corrigir ou modificar o


questionário. Desta forma, o pré-teste foi aplicado a 5 MG que frequentavam o HGCH,
durante o período em que se encontravam a espera de consulta pré-natal, o que levou o
pesquisador a mudar certos aspectos no questionário e no roteiro de entrevista para tornar
mais clara a percepção por parte das participantes e permitir deste modo que a nossa pesquisa
chegue a um resultado mais profundo.

3.5. Procedimentos de recolha de dados

A recolha de dados foi realizada no HGCH, estando ciente da importância dos procedimentos
formais para a permissão da recolha de dados neste local, seguiu-se com a solicitação de
autorização para iniciar com a nossa investigação.
A entrevista com cada mulher grávida (participantes) levou cerca de 10 minutos e o melhor
momento para questionar e entrevistar o grupo alvo foi no momento em que estavam a espera

10
Roteiro é um dos tópicos que o pesquisador deve seguir durante a entrevista. Isso permite uma flexibilidade
quanto a ordem ao propor as questões, originando variedade de respostas ou até mesmo outras questões
GERHARDT & SILVEIRA (2009).
32

de ser atendidas nas consultas de gravidez. Onde demos a entender o objectivo deste estudo e
o motivo da importância destas grávidas em apoiar este estudo, sendo que a pesquisa poderá
ser útil para o entendimento desta problemática. De realçar que a participação dessas
mulheres não foi de carácter obrigatório e por questões éticas o pesquisador garantiu o total
sigilo em relação a identificação das pesquisadas e confidencialidade das informações por elas
prestadas.

A postura assumida pelo pesquisador durante as entrevistas foi espontânea, natural, evitando
quaisquer tipos de preconceitos, pressupostos e hipóteses, sendo receptivo a tudo o que as
entrevistadas queriam falar e respeitando-as em todos os momentos da entrevista.

3.6. Procedimento da análise dos dados

Para o tratamento e análise estatística dos dados recolhidos, utilizamos o pacote estatístico
SPSS Versão 22, e os dados das entrevistas foram analisados através da análise de conteúdo.
A técnica da análise de conteúdo é frequentemente utilizada nas pesquisas qualitativas no
campo em diversas áreas. BARDIN (1979) refere que a análise de conteúdo consiste em um
conjunto de técnicas de análise das comunicações, e utiliza-se de procedimentos sistemáticos
e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens. Pois, tudo o que é dito ou escrito é
susceptível de ser submetido a uma análise de conteúdo.

A mesma autora divide em três as etapas inerentes à análise de conteúdo: pré-analise,


exploração do material e tratamento dos resultados.

• Na etapa da pré-analise fez-se uma transcrição das entrevistas que foram gravadas em
áudio para uma analise, com o objectivo de torna-lo operacional e fazer a análise para
fundamentar a interpretação final desta pesquisa;
• A segunda etapa é a de exploração do material com a definição de categorias11 e a
identificação das unidades de registo, onde foi necessário dividir os depoimentos em
categorias e subcategorias e usar as mensagens necessárias para o segmento da
pesquisa.
• Na fase de tratamento dos resultados estão presentes a inferência e a interpretação.
Esta etapa é destinada ao tratamento dos resultados e é nela que culminam as

11
As categorias são classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse
efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (BARDIN, 1979).
33

interpretações inferenciais, ou seja, é o momento da intuição, da análise reflexiva e


crítica (BARDIN, 1979).

3.7. Limitações

Uma das limitações deste estudo é devido o facto de abranger apenas mulheres gestantes que
frequentam o HGCH, e não incluir as que fazem consultas noutras unidades sanitárias. Outra
limitação observou-se durante o período da recolha de dados, visto que muitas pacientes não
aceitavam quando solicitadas para entrevistas, considerando que o consumo de drogas durante
a gestação é uma prática socialmente estigmatizada em Moçambique, e as poucas que se
disponibilizam mostravam resistência pela sensibilidade do problema e consequentemente dá
espaço para algumas omitirem o seu envolvimento com tais drogas.
34

4 – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

De forma a tornar mais clara a apresentação, análise e interpretação dos resultados,


seguiremos a ordem dos objectivos específicos, isto, atentando para o facto de os objectivos
específicos serem um atalho que viabilizam a compreensão do objectivo geral desta pesquisa
(MINAYO, 2009).

Com efeito, nesta etapa serão abordados os resultados referentes: (i) a identificação de
Mulheres Gestantes Consumidoras de Drogas; (ii) ao ambiente sociofamiliar e expectativas
das mulheres gestantes sobre a maternidade (que evidenciam, até certo ponto, as suas
vivências psicossociais) e, por fim, (iii) as possíveis correlações existentes entre o consumo de
drogas durante a gestação, o ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a maternidade.

4.1. Consumo de Drogas durante a Gestação

Em relação ao consumo de drogas durante a gestação, os dados recolhidos diante da amostra


possibilitaram a identificação de 10 MG (correspondente a 32,3% da amostra) que se
encontravam, até ao momento da colecta de dados, a consumir substâncias nocivas, como o
Álcool e o Tabaco, como se pode verificar no gráfico que se apresenta na sequência.

Gráfico 01: Envolvimento no Consumo de Drogas Durante a Gestação12


120
96.8 %
100

80
Álcool
67.7 %
Tabaco
60

40 32.3 %

20
3.2 %
0
Não Sim

Fonte: elaborado pelo autor (2019)

12
Importa referir que as inqueridas foram confrontadas com diversas substâncias, sendo que dessas apenas
houve indicação para o Álcool e Tabaco, o que significa que das 10 consumidoras (32.3%) somente 1 consome
álcool e tabaco e o restante só consomem álcool.
35

No que diz respeito


speito a frequência de consumo durante o período da gestação, de um total de
32.3% das participantes que declarou se encontrar, até ao momento da colecta de dados, a
consumir substâncias nocivas, como o Álcool e o Tabaco,
Tabaco 12.9% consomem diariamente,
12.9% consomem semanalmente, 3.2% mensalmente e 3.2% consumiram 1 ou 2 vezes como
pode-se
se notar no gráfico a seguir.

Gráfico 02: Frequência de Consumo de Drogas durante a Gestação

120,0

96.8 %
100,0
Álcool
80,0
67.7 %
Tabaco
60,0

40,0

20,0 12.9 % 12.9 %


3.2 % 3.2 % 3.2 %
0,0
Nunca 1 ou 2 Vezes Mensalmente Semanalmente Diariamente

Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Os dados, acima apresentados, demonstram que


qu no quadro das MGC,, o consumo é, de certo
modo, uma realidade constante, pois como se pode perceber a maioria faz um consumo
relativamente frequente, o que, ao se pensar nas consequências do consumo de substâncias
durante o período da gestão, deixa a desejar
desejar ou é alarmante, visto que, de acordo com vários
autores (MWAMWENDA, 2006; YAMAGUCHI, 2008; DETONI, 2009; LIMA, 2012;
GORDINHO, 2013), as consequências não se limitam a componente biológica/fisiológica,
como também afectam, de modo drástico, as componentes
componentes psicológicas e sociais, o que se
pode traduzir em danos na saúde da mãe e filho bem como, ao se pensar na saúde não apenas
como a ausência de doença, estes danos podem se estender aos demais envolvidos.

Embora que dos resultados, acima apresentados, apenas


a 32,3% da amostra tenha declarado
que se encontrava, até ao momento da colecta de dados, a consumir substâncias nocivas, isto
durante a gestação, alguns indícios observados durante
durante a realização das entrevistas bem como
da análise do conjunto de dados, sugerem pensar que pode ter havido omissão de informações
por parte de algumas inqueridas pois, pela sensibilidade do assunto, quando questionadas
36

sobre o consumo de drogas durante a gestação, notou-se uma tendência para se esquivarem e
defenderem de tais práticas problemáticas, visto que as mesmas encontram-se revestidas de
preconceitos e estigmas.

Deste modo se pode dizer com algum grau de precisão que na realidade o número de MGC
pode vir a ser diferente do declarado, valendo-nos, neste momento, referir e concordar com
GORDINHO (2013) ao postular que pelo facto de a gestação ser entendida como um período
em que a mulher deverá fazer um esforço em manter uma situação positiva e gratificante,
consequentemente, as participantes podem tender a omitir o seu consumo pelo receio de
julgamentos morais pela adopção de uma atitude negativa em relação ao consumo durante
esse período.

Contudo, apesar dos resultados acima se mostrarem positivos, pelo facto de a maior parte das
participantes (67.7%) afirmarem não ter consumido drogas desde que tomaram conhecimento
da gravidez, tendo em consideração o perigo inerente ao uso de drogas durante a gestação, é
notável que estamos diante de um cenário que deve merecer considerável atenção, isto na
medida em que tais práticas podem impulsionar o surgimento de problemas graves aos níveis
biopsicossocial pois, tal como ROCHA et al., (2016) preconiza, as gestantes não podem
consumir quaisquer tipos de drogas, visto que podem ser prejudiciais tanto para a gestante
bem como para o feto e os demais envolvidos.

Embora que, até certo ponto, seja do conhecimento geral que o consumo de drogas durante a
gestação deve ser evitado, nos indagamos sobre as possíveis razoes que levam essas mulheres
a tais práticas, sendo que os resultados obtidos sugerem vivamente que o ambiente familiar e
as expectativas sobre a maternidade possam ser factores fortemente associados ao fenómeno.
Esse raciocínio é, de certo modo, compartilhado por autores como DETONI (2009) e SMS
(2016), ao defenderem que a pessoa não inicia o contacto de drogas por uma decisão isolada,
o seu consumo se encontra associado a vários factores. É com base nesse raciocínio que nos
trechos subsequentes buscamos apresentar e analisar as vivências psicossociais das
inqueridas, atribuindo ênfase ao ambiente sociofamiliar e as expectativas sobre a maternidade.

4.2. Vivências Psicossociais das Gestantes: ambiente sociofamiliar e expectativas

Admitindo que as vivências, enquanto tudo a volta do indivíduo (MEIRELES e COSTA,


2005), podem constituir factores de risco e/ou de protecção, no presente tópico, são
apresentados e analisados os dados que possibilitam a apreensão das vivências psicossociais,
37

com maior incidência para os factores “ambiente sociofamiliar” e “expectativas sobre a


maternidade”, acreditando-se vivamente que estes factores podem concorrer para o bem-estar,
quando satisfatórios, bem como podem proporcionar momentos de mal-estar, quando
insatisfatórios.

Para efeito, com o objectivo de facilitar a exposição e a compreensão do conteúdo extraído


durante o processo das entrevistas, os dados colectados, após os devidos tratamentos, foram
agrupados em duas categorias distintas que evidenciam, por meio das verbalizações das MG,
os seus ambientes sociofamiliares (categoria 1) e as expectativas sobre a maternidade
(categoria 2), respectivamente descritos na sequência.

4.2.1. Categoria 1: Ambiente Sociofamiliar das Gestantes

Esta categoria evidencia o ambiente sociofamiliar das entrevistadas e se apresenta sob a forma
de duas subcategorias (satisfatório e insatisfatório) que evidenciam as vivências das MG em
relação ao ambiente sociofamiliar no qual se encontram inseridas, como se pode observar no
quadro apresentado na sequência.

Quadro 01: Ambiente Sociofamiliar

Subcategorias Unidade de Análise


“[…] tenho a atenção dos meus pais, do meu marido (…) os que estão ao meu redor me
dão atenção (E13)”; “[…] há um bom ambiente, (…) o pai da criança me trata bem, na
minha família não há problemas também (E1)”; “[…] muito bom, meu parceiro é muito
Satisfatório carinhoso, atencioso, está sempre presente (…) os meus pais reagiram muito bem,
gostam de me ver feliz (E11)”; “[…] está tudo normal, não mudou nada, o ambiente é
favorável (E9)”; “[…] bom, sinto-me bem (E8)”.
“[…] como é que posso dizer, a família ficou um pouco chateada, quando eu engravidei
ele rejeitou a criança, então não há relação entre nós os dois (pai da criança) (E27)”;
“[…] um ambiente um pouco frustrante porque em casa estiveram tipo naquela
Insatisfatório
expectativa de está grávida vai sair (ir ao lar), mas como não saí, ainda vivo com os
meus pais, então a sociedade pressiona e os meus pais também pressionam (E29)”.
Fonte: Dados da Pesquisa – Inquérito por Entrevista.
Como é de perceber, os resultados patentes no quadro, anteriormente apresentado,
demonstram a existência de vivências distintas, no que concerne ao ambiente sociofamiliar
das MG, sendo que a maior parte da amostra (aproximadamente 74.2%) em algum momento
declara ter a atenção dos pais e do companheiro, e afirmam que o ambiente em que se
encontram a viver é favorável, diferindo assim dos demais 25.8% da amostra que, perante as
suas falas, percebe-se que encontram-se em um ambiente sociofamiliar insatisfatório, visto
38

que estas relataram estar a viver em ambientes desfavoráveis que acarretam experiências
frustrantes, tanto ao nível da relação com os parceiros, quanto ao nível da relação com os
demais familiares (pais, sogros, enteados e outros), o que, pode de certo modo, proporcionar o
surgimento de sentimentos como a angústia e insegurança.

Indo de acordo com FONSECA & SILVA (2013) e SILVEIRA & FERREIRA (2011),
importa referir que o ambiente familiar e conjugal da gestante podem ser factores de risco
quando o meio proporcionar pouca afectividade e conflitos nas suas relações ou podem ser de
protecção quando as relações das gestantes são saudáveis. Contudo, visto que as vivencias
psicossociais não se limitam apenas no ambiente sociofamiliar, com a intenção de
complementar as vivencias psicossociais que podem influenciar o uso de certas drogas
durante a gestação, trazemos em seguida os depoimentos a cerca das expectativas que elas
têm sobre a maternidade.

4.2.2. Categoria 2: Expectativas das Gestantes Sobre a Maternidade

Esta categoria está relacionada às expectativas que as gestantes têm em relação a maternidade
e se apresenta também sob a forma de duas subcategorias que são expectativas positivas e
expectativas negativas, segundo apresentado no quadro a seguir.

Quadro 02: Expectativas Sobre a Maternidade


Subcategorias Unidade de Análise
“[…] uma expectativa muito grande (E14)”; “[…] que venha complementar o elo
familiar, é isso que esperamos nem, procurar dar essa criança que vai nascer um pouco
Positiva de tudo que uma criança deve ter não é? (E2)”; “[…] ah normal, só por agora que
estou grávida fico feliz, (…) hum o bom é ele (filho) estar bem, saudável, tudo mais, (…)
quanto a família terá (o filho) uma boa família (E4)”; “[…] epa, boas expectativas,
espero ser uma boa mãe (E26)”.
“[…] muita ansiedade e nem sei de onde começar, de onde vou pegar, como é ser mãe?
(E15)”; “[…] bom, deixas a tua rotina como jovem tudo mais (…) ficas com mais
ansiedade, será que vou conseguir? (E22)”; “[…] nesta gravidez tenho passado por
Negativa
muitos problemas, então agora estou numa fase em que não tenho muita expectativa, só
estou a espera que o meu bebé nasça (E29)”
Fonte: Dados da Pesquisa – Inquérito por Entrevista.

Durante os depoimentos sobre as expectativas que estas grávidas têm em relação a


maternidade, nota-se claramente que certas MG têm expectativas positivas, visto que,
mostram o desejo de ser boa mãe e a ansiedade com a vinda do novo bebe. Contudo, estas
39

gestantes mostram-se felizes com a gravidez. Outras participantes que mostraram ter
expectativas negativas sobre a maternidade mostram mais ansiedade em relação ao facto de
esperar um bebé e de saber que daqui em diante terá responsabilidades maternas, o que de
certa forma vai priva-las da sua liberdade, e estas quando questionadas sobre as expectativas
que tem com a vinda da criança, simplesmente afirmam não ter expectativas e outras que não
sabem.

Apesar de (MEIRELES e COSTA, 2005), referirem que é necessário que a gravidez seja
planeada e desejada pela futura mãe gestante, durante os depoimentos deste estudo quando
questionadas sobre os sentimentos a partir do momento em que as participantes souberam que
estavam grávidas, constatamos que a maioria delas não planeou a gravidez mas durante o
período da gestação passaram a se ver como futuras mães, ou seja houve a construção da
identidade materna, como mostram os depoimentos abaixo:

“[…] não foi programado mas também não foi algo de me deixar sei
lá, triste ou arrependida (E26)”; “[…] bom, foi uma coisa inesperada,
também foi uma sensação muito emocionante (E15)”;

“[…] primeiro foi chato, porque eu não queria, não estava a espera,
não estava preparada ainda no momento para encarar de novo, mas
depois tive que aceitar (E25)”; “[…] apesar de não ser planeada foi
bom ter (E1)”.

Nesse caso, o facto de a gravidez não ter sido planeada, não mostra implicações negativas
para a gestante, mas sim propõe importantes desafios para a mulher e sua família.

Nos é oportuno olhar com base neste estudo que as repercussões da gravidez não planeada
não se comparam às provocadas por gestações decorrentes de relacionamentos passageiros ou,
particularmente, de homens que não estão disposto a assumir a gravidez.

Foi de observar também durante as entrevistas algumas MG que mencionaram esperar filhos
de homens que tem outro lar, o que de certa forma pode proporcionar sentimentos de
frustração para a gestante que vê os sonhos de ter uma família se frustrarem.

“[…] não sei explicar, olha o pai da criança é casado, cabe a ele se
cuida bem da criança (E31)”.
40

Contudo, uma vez identificadas as MGC bem como apuradas as vivências, importa analisar
até que ponto as vivências (com maior incidência para o ambiente sociofamiliar e as
expectativas) influenciam o consumo de drogas, facto esse abordado nos trechos
subsequentes.

4.3. Consumo de Drogas durante a Gestação versus Ambiente Sociofamiliar e


Expectativas Sobre a Maternidade

Devidamente analisado e interpretado, o conjunto de dados evidencia ainda a existência de


interligações entre o Consumo de Drogas durante a Gestação e o Ambiente Sociofamiliar bem
como as Expectativas Sobre a Maternidade. Tais interligações, tornam-se evidentes na medida
em que, durante os depoimentos, a maioria das participantes que dizem consumir drogas
durante a gestação relatam vivências desfavoráveis relacionadas, a priori, com o ambiente
sociofamiliar, com maior incidência para relação com os parceiros, como se pode perceber
nos depoimentos que se seguem:

“[…] é assim nos primeiros dias quando eu lhe disse ficou feliz e todo
entusiasmado, tipo estás grávida mor! Então nos primeiros dias estava
tudo bem, mas quando passa 1º mês a barriga começa a sair é ai onde
começa já o stress, porque eu já ligava para ele e não atendia, outro
dia fui a casa dele e mandou dizer que não estava em casa, então foi ai
que já começaram os problemas, (…) então é por isso que acabo
bebendo, mas bebo para refrescar quando me estresso outros dias
(E30)”; “[…] é uma barriga que me deixa meio frustrada, mas isso
tudo por causa da minha relação (…) bebo para poder relaxar os meus
nervos (E29)”.

Atentando ainda para a componente ambiente sociofamiliar, chamam-nos atenção certos


aspectos que foram considerados por algumas participantes consumidoras, nomeadamente: o
óbito do parceiro pai da criança esperada (associado ao desemprego por parte das MG)
e a convivência, até certo ponto, “forçada” com enteados pois, para algumas das MG
inqueridas, a convivência com enteados acaba por proporcionar vivências desfavoráveis que,
por sua vez, interferem de forma negativa na relação com os seus parceiros e,
consequentemente, no ambiente sociofamiliar como um todo, visto que na concepção das
mesmas, um lar ideal seria aquele constituído por elas, seus maridos e filhos próprios, de
modo que na presença ou existência de enteado(s), as suas idealizações de um lar em que
41

estejam a vontade com os seus maridos e filhos ficam frustradas, como se pode observar no
seguinte relato:

“[…] eu considero que devo estar no meu canto, com ele (marido),
então acho que precisamos só nós ter uma experiência diferente de
viver uma vida de marido e mulher diferente daquilo que estou a viver
com meus enteados, entende! (E9)”.

Fora os aspectos anteriormente apresentados, atentando ainda para o factor ambiente


sociofamiliar e/ou relação com o parceiro, a análise do conteúdo nos permitiu, de certo modo,
constatar que o consumo de drogas na gravidez, por um lado, é mais comum entre as MG que
referem que o companheiro consome de forma frequente enquanto que, por outro lado, o
abandono do consumo é mais comum quando o parceiro não consome qualquer droga ou
quando consome menos. Portanto, pode-se afirmar com, relativo rigor, que quando o parceiro
da gestante adopta uma postura de consumidor frequente, tende a aumentar as possibilidades
de esta aderir a tais práticas, ou seja, o ambiente em que a gestante se encontra a viver pode
determinar o seu envolvimento com o consumo de drogas, tanto as lícitas assim como as
ilícitas e ainda interferir nas expectativas em relação a maternidade.

Olhando mais atentamente para o factor expectativas em relação a maternidade, durante a


análise das falas das participantes foi de perceber que as MG com expectativas
positivas, quando souberam que estão grávidas, deixaram de consumir drogas. Este facto fica
ainda mais evidente na medida em que, quando questionadas sobre o desejo de consumir
drogas durante a gestação, 45.2% declarou que já teve forte desejo ou já pensou em consumir,
mas se abstive pelo facto de estarem nessa situação de gestação e de levarem em conta as
consequências que podem advir de tais práticas. Como elucida o seguinte depoimento:

“[…] ya é complicado dizer mas só o simples facto de estar assim, isso


já me deixou muito alegre, isso muda em termos da minha forma de
viver nem…procuro cuidar mais da minha saúde, (…) procuro ter um
período de gestante tranquilo e saudável, não estou só a olhar para
mim, mas para a criança que está por vir, (…) então isso faz com que
meus hábitos tenham que mudar, a atenção muda, o meu itinerário
diário muda nem, há coisas que eu fazia e agora já não faço, ou se faço
é pausadamente, não com muita pressa para não agredir o meu corpo e
não me cansar facilmente (E2)”.
42

Diante dos factos apresentados anteriormente, torna-se oportuno mencionar SILVEIRA e


FERREIRA (2011) quando postulam que nesta fase a mulher deixa de se considerar
independente e responsável somente por ela e passa a olhar também para a futura criança,
considerando que a maternidade não pode ser vista apenas depois de ter filho, mas sim deve
começar ainda na gestação. Concordando com os autores, entretanto, atentando para os
resultados da pesquisa, importa-nos referir que se por um lado, as expectativas positivas
constituem um factor de protecção, por outro lado, as expectativas negativas constituem, até
certo ponto, um factor de risco visto que, quando questionadas se a gravidez muda algo na
vida delas, as MG que admitiram consumir drogas durante a gestação responderam que nada
tinha mudado nas suas vidas, transparecendo assim uma relativa indiferença e/ou existência
de expectativas negativas em relação a maternidade sendo que mesmo sabendo que estavam
grávidas, as mesmas, não pararam de fazer uso de drogas apesar de estarem cientes dos
malefícios que estas podem causar. Em última análise, esta aparente indiferença e/ou
expectativas negativas em relação a gestação, tal como o conjunto de dados sugere, se
encontram associadas a momentos conflituosos com seus parceiros e familiares ou pelo facto
de não ter sido uma gravidez planeada o que, por fim, pode desencadear um desequilíbrio
biopsicossocial que, como explicado anteriormente, pode induzir ao consumo de drogas.
43

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Investigar o consumo de drogas pelas gestantes, mostrou ser um desafio, considerando que o
período da gestação é crítico em termos de intervenção, o que fica confirmado a medida em
que durante a pesquisa certas MG demonstravam receios de falar sobre drogas para o
pesquisador. Com este trabalho procurou-se compreender em que medida o ambiente
sociofamiliar e as expectativas sobre a maternidade influenciam o consumo de drogas durante
a gestação. Para a compreensão deste estudo tentamos responder as questões de pesquisa que
foram propostas.

Na primeira questão não foi possível ter nenhum dado em relação a situações de discussões ou
de violência, talvez seja por receios de expor o meio familiar em que esta se encontra e não
querer expor as suas fragilidades a quando da sua gravidez. De seguida verificamos que, das
10 participantes que afirmaram ter consumido alguma droga durante o período de gestação,
80% referiram que o ambiente em que se encontram a viver é insatisfatório, sendo que
vivenciaram a gravidez ainda a viver em casa dos pais, e ainda durante os seus comentários
trazem a questão da pressão social pelo facto de não estarem no lar, mostram-se preocupadas
desse modo com os comentários que os outros fazem perante a sua situação e o facto de
algumas não estarem numa relação firme com pai da criança e com a família. O que nos faz
afirmar que quando o ambiente for desfavorável e a gestante não ter apoio que deseja durante
o período de gestação pode criar um desequilíbrio psicossocial, o que em última análise, pode
influenciar o uso de certas drogas na expectativa do alcance de um relativo equilíbrio.

Ainda, durante o trabalho podemos perceber que quando as expectativas de ser mãe são
negativas por parte da gestante, consequentemente tendem a consumir certas drogas de forma
frequente e sem nenhum receio. Em algum momento durante os seus depoimentos todas as
participantes consumidoras referiram alguma expectativa negativa visto que, Quando
questionadas “Quais as tuas expectativas com a vinda do novo bebé” quase todas
responderam que não sabiam e que o tempo vai ditar, outra resposta relevante vem da E28 que
disse que esperava o primeiro filho do homem que estão juntos, então que seja bom para ele e
em nenhum momento mostra-se feliz e como alguém a construir uma relação de proximidade
materna.

Diante da relação entre o consumo de drogas, ambiente sociofamiliar e expectativas sobre a


maternidade, constatou-se que durante os depoimentos a maioria das participantes que referiu
44

se encontrar em ambientes desfavoráveis durante a gestação são as que dizem que consomem
álcool, o que nos permite concluir que se a situação ou ambiente das MG for desfavorável elas
podem facilmente aderir às práticas constantes de uso de drogas. E as participantes que se
mostraram com expectativas negativas mesmo sabendo que estavam grávidas não pararam de
consumir drogas culminando no desinteresse com o bem-estar da criança que esperavam e as
participantes com expectativas positivas dizem que deixaram de consumir drogas visto que
sabem dos malefícios que estas podem causar.

Como desenvolvimentos futuros, importa referir que apesar da importância deste estudo é
necessário ter em consideração que o ambiente sociofamiliar e as expectativas negativas sobre
a maternidade não são os únicos factores para a compreensão do consumo de drogas durante a
gestação, pois é evidente que o consumo de qualquer droga durante este período é um
comportamento determinado por vários factores biopsicossociais, e dessa forma devem ser
olhadas outras variáveis.

Contudo, torna-se importante uma intervenção no seio destas MG na tentativa de evitar


qualquer uso de drogas durante a gestação, considerando que em Moçambique certas drogas
lícitas como álcool e cigarro são consumidas de forma frequente e aberta, visto que são
intensamente publicitadas e associadas a falsos conceitos, na verdade podem de certa forma
determinar para o crescente número das gestantes que aderem a essas práticas de consumo.
45

Sugestões

O consumo de drogas durante a gestação por vezes deve ser identificado enquanto um sinal,
um sintoma de problemas individuais, familiares e sociais. Por vezes, pode ser a única
resposta para certos problemas, uma tentativa de resolve-los ou simplesmente uma
experiência que faça parte das descobertas e do crescimento do ser humano alias, qualquer
usuário de drogas é antes de tudo, um ser humano portanto, como tal, deve ser sempre
identificado e respeitado. Posto isto, fica evidente que definir acções de intervenção não se
configura como uma tarefa fácil contudo, por se tratar de comportamento capaz de provocar
consequências potencialmente graves tanto para a mãe quanto para a criança, torna-se
imperioso:

• A criação de algumas políticas preventivas sobre o seu consumo e criação de


projectos ou estratégias de intervenção com grupos de gestantes e seus familiares para
a divulgação de informação sobre os malefícios que as drogas podem causar na
gestação13;

Outro aspecto por se olhar é a influência dos grupos, no sentido de:

• Traçar estratégias de resistência a pressões externas de incentivo ao consumo onde


inclui o próprio parceiro;

Sendo os hospitais os locais onde as gestantes fazem frequentemente as suas consultas,


poderia ser o lugar ideal para os profissionais mais indicados intervirem na prevenção de
consumo de qualquer droga.

Devido a importância do tema e atentando para escassez de estudos afins divulgados em solo
Moçambicano, parece-nos prudente sugerir que:

• Temáticas similares devem actualmente constituir objecto de estudos científicos mais


abrangentes e aprofundados que possam gerar concepções mais esclarecedoras.

13
Caso existam, é importante que sejam realizados trabalhos no sentido de melhorar a sua divulgação e acesso.
46

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Apêndices
49

APÊNDICE ①

Questionário

Informações Sociodemográficos

1. Idade: _____ anos

2. Situação profissional:

1. Desempregada ( ) 2. Empregada ( ) 3. Reformada ( ) 4. Estudante ( )

3. Profissão: _______________________

4. Escolaridade:

1. Nunca estudou ( ) 2. De 1ª a 5ª classe ( ) 3. De 6ª a 7ª classe ( ) 4. De 8ª a 10 classe ( )


5. De 11ª a 12ª classe ( ) 6. Ensino técnico ( ) 7. Licenciatura ( ) 8. Pós-graduação ( )

5. Estado civil:

1. Solteira ( ) 2. Casada ( ) 3. A viver com um parceiro ( )


4. Divorciada/Separada ( ) 5. Viúva ( )

6. Actualmente Você se encontra a viver com:

Sim Não
1. Parceiro, Pai da Criança
2. Parceiro, que não é Pai da Criança
3. Com seus Pais
4. Sozinha
5. Sogros
6. Concunhadas/os
7. Enteados

7. Quantas pessoas vivem na sua casa: ____ (escreva um número)

8. Quantas vezes você ficou grávida:

1. 1ª Gravidez ( ) 2. 2ª Gravidez ( ) 3. 3ª Gravidez ( ) 4. 4ª Gravidez ( )


5. 5ª Gravidez ou mais ( )

9. Tempo da gravidez:
1. Menos de 3 meses ( ) 2. De 3 a 6 meses ( ) 3. De 7 a 9 meses ( ) 4. Ou: _____________
50

APÊNDICE ②

Questionário para Identificação das Gestantes Envolvidas no Consumo de Drogas


(QIGECD)

As que já
1. Assinale com um circulo no “SIM” ou “NAO” Quais dessas As que já consumiu pensou/teve vontade
para cada substancia referida nas três questões substancias já ou experimentou de consumir ou
apresentadas neste quadro. consumiu ou durante a gravidez experimentar
experimentou alguma (somente uso não durante a gravidez
vez na vida (somente médico) (somente uso não
uso não médico) médico)
NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM
1. Tabaco (cigarros, charuto, Cachimbo…) 0 1 0 1 0 1
2. Álcool (cerveja, vinho, uísque, vodka, destiladas) 0 1 0 1 0 1
3. Marijuana (suruma, haxixe, erva) 0 1 0 1 0 1
4. Cocaína (pó, crack, pedra…) 0 1 0 1 0 1
5. Estimulantes (ecstasy, anfetaminas…) 0 1 0 1 0 1
6. Inalantes (cola de sapateiro,tinta, gasolina,benzina) 0 1 0 1 0 1
7. Hipnóticos (remédios para dormir, diazepam…) 0 1 0 1 0 1
8. Drogas alucinógenas (cogumelo, LSD, ácido…) 0 1 0 1 0 1
9. Opiódes (heroína, morfina, metadona, codeína…) 0 1 0 1 0 1
10. Outras. Especificar_____________________ 0 1 0 1 0 1

2 - Durante os últimos 3 meses, com que frequência


você utilizou essa(s) substancia(s) que mencionou? Nunca 1 ou 2 vezes Mensalmente Semanalme Diariamente
(primeira droga, depois a segunda droga, etc) nte
1. Tabaco (cigarros, charuto, Cachimbo…) 0 1 2 3 4
2. Álcool (cerveja, vinho, uísque, vodka, destiladas) 0 1 2 3 4
3. Marijuana (suruma, haxixe, erva) 0 1 2 3 4
4. Cocaína (pó, crack, pedra…) 0 1 2 3 4
5. Estimulantes (ecstasy, anfetaminas…) 0 1 2 3 4
6. Inalantes (cola de sapateiro,tinta, gasolina,benzina) 0 1 2 3 4
7. Hipnóticos (remédios para dormir, diazepam…) 0 1 2 3 4
8. Drogas alucinógenas (cogumelo, LSD, ácido…) 0 1 2 3 4
9. Opiódes (heroína, morfina, metadona, codeína…) 0 1 2 3 4
10. Outras. Especificar_____________________ 0 1 2 3 4

3 - Durante os últimos 3 meses, com que frequência


você teve um forte desejo ou urgência em consumir? Nunca 1 ou 2 vezes Mensalmente Semanalme Diariamente
(primeira droga, depois a segunda droga, etc) nte
1. Tabaco (cigarros, charuto, Cachimbo…) 0 1 2 3 4
2. Álcool (cerveja, vinho, uísque, vodka, destiladas) 0 1 2 3 4
3. Marijuana (suruma, haxixe, erva) 0 1 2 3 4
4. Cocaína (pó, crack, pedra…) 0 1 2 3 4
5. Estimulantes (ecstasy, anfetaminas…) 0 1 2 3 4
6. Inalantes (cola de sapateiro,tinta, gasolina,benzina) 0 1 2 3 4
7. Hipnóticos (remédios para dormir, diazepam…) 0 1 2 3 4
8. Drogas alucinógenas (cogumelo, LSD, ácido…) 0 1 2 3 4
9. Opiódes (heroína, morfina, metadona, codeína…) 0 1 2 3 4
10. Outras. Especificar_____________________ 0 1 2 3 4
51

APÊNDICE ③

Roteiro de entrevista

1 Como te sentes pelo facto de consumir/experimentar drogas durante a gravidez?


2 Das pessoas com as quais convives, existem algumas que consomem drogas? Se sim,
quais?
3 Como você se sente em relação ao ambiente no qual te encontras a viver?
4 Como tem sido a tua vivência/relação com o pai da criança, com a tua família e/ou a
do pai da criança no período de gestação?
5 Qual foi o sentimento quando soube que está grávida? Como reagiu?
6 Como o pai da criança e a tua família reagiram quando souberam que estás grávida?
7 Quais as tuas expectativas com a vinda do novo bebé?
8 Achas que estar grávida muda alguma coisa na tua vida? Porquê?
52

APÊNDICE ④

FOLHA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE

Hospital Geral de Chamanculo - HGCH e Hospital Central de Maputo - HCM

Título da pesquisa: Ambiente Sociofamiliar e Expectativas sobre a Maternidade como


Factores Psicossociais que Influenciam o Consumo de Drogas Durante a Gestação: estudo
realizado com utentes do HGCH e HCM.

Pesquisador: Teodósio José Tobela.

Supervisora da Pesquisa: Dra. Mery José António.

Estudante do curso de licenciatura em Psicologia 4º Ano, na Universidade Pedagógica de


Moçambique, encontra-se a elaborar a sua monografia sob orientação da Dra. Mery José
António, acerca dos factores psicossociais que levam ao consumos de drogas nas mulheres
grávidas utentes do HGCH e HCM.

O objectivo geral deste projecto é compreender em que medida o ambiente sociofamiliar e as


expectativas sobre a maternidade influenciam o consumo de drogas durante a gestação.

Antes de decidir se deve ou não participar, a utente é convidada a familiarizar-se com o


conteúdo desta declaração, que tem a finalidade de dar-lhe todas as informações necessárias
sobre a pesquisa, de modo a ajudar-lhe a tomar uma decisão sobre se quer ou não participar.
Entretanto, esta tem direito à informação sobre a pesquisa, podendo apresentar todas as
dúvidas e preocupações ao pesquisador.

Nessa pesquisa, devem participar mulheres grávidas, independentemente da sua idade e tempo
de gestação e a participação é voluntária e livre. Portanto, ninguém tem o direito de lhe
pressionar ou obrigar a participar.

A utente é livre de recusar, e não haverá nenhum tipo de consequência, pressão, penalização
ou crítica por isso.

Procedimentos da pesquisa: faremos aplicação (individual) de 1 (um) questionário e a


posterior entrevista, a aplicação do segundo instrumento dependerá do resultado obtido no
questionário. A aplicação dos 2 instrumentos poderá durar uma média de 15 minutos, no
53

entanto, o tempo para o questionário não é limitado, podendo o indivíduo trabalhar num ritmo
que for de sua conveniência, porém, dentro de limites da norma.

Custos e benefícios de participação na pesquisa: Não existe nenhum custo para participar
na pesquisa, e esta pesquisa não traz benefícios financeiros nem materiais para as
participantes, No entanto, existem benefícios, individuais e colectivos, que resultam da
possibilidade de adquirir informações e conhecimentos sobre o consumo de drogas durante a
gravidez.

Confidencialidade: Para garantir o anonimato, o sigilo e a privacidade, serão criadas todas as


condições necessárias no sentido de todas as participantes e todos os dados e informações que
possam fornecer serem devidamente protegidos. A utente não precisa fornecer o seu nome
verdadeiro, podendo fornecer qualquer pseudónimo, código ou nome não verdadeiro, à sua
escolha. Ademais, toda a informação ligada às participantes será altamente protegida, mantida
em segredo e só o pesquisador terá acesso a ela. Deste modo, nem antes, nem durante a
pesquisa nem depois dela a investigada poderá ser identificada ou associada aos dados e
informações que fornecer.

Interrupção da participação na pesquisa: Todo o indivíduo que aceite participar na


pesquisa é livre de, a qualquer momento interromper a sua participação, pois estas não serão
questionadas nem obrigadas ou forçadas a prosseguir a sua participação sem o desejar.

Contactos importantes: Em caso de necessidade para apresentar qualquer tipo de dúvida,


questão ou preocupação relacionada com a pesquisa, com o pesquisador ou outras pessoas
envolvidas, pode contactar o numero 844238178 ou pelo E-mail: teodosiotobela01@gmail.
54

APÊNDICE ⑤

DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Eu, ______________________ compreendi a explicação que me foi fornecida sobre o estudo


relativo ao tema: ‟Ambiente Sociofamiliar e Expectativas sobre a Maternidade como Factores
Psicossociais que Influenciam o Consumo de Drogas Durante a Gestação”, assim como o direito de
decidir livremente se aceito ou me recuso em participar na investigação, tendo-me sido dada a
oportunidade de fazer as perguntas que julguei necessárias e para as quais obtive respostas
satisfatórias.

Fui também informada que a minha identidade permanecerá confidencial, assegurando-se a


máxima privacidade e confidencialidade dos dados e que poderei deixar de participar em
qualquer momento.

Assim sendo, aceito responder aos questionários no âmbito desta investigação.

Investigada Investigador

____________________ _______________________

Data: ___/ _____________ /2018


Anexo

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