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UNIABEU
CURSO DE PSICOLOGIA
Belford Roxo
2023
KAREN CRISTINA DE OLIVEIRA TOBIAS DA SILVA
Belford Roxo
2023
KAREN CRISTINA DE OLIVEIRA TOBIAS DA SILVA
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Orientador: Antônio Malvar
UNIABEU Centro Universitário
__________________________________________________
Examinadora: Dra. Noely Godoy
UNIABEU Centro Universitário
_________________________________________________
Examinadora: Me. Christiane Penha
UNIABEU Centro Universitário
Belford Roxo
2023
Dedico esse aos meus pais, meu esposo e
meus amigos que me ajudaram e
tornaram este sonho possível, me
trazendo força e perseverança.
AGRADECIMENTOS
Grata Aos meus pais que foram fundamentais na minha formação, na minha educação e
amadurecimento, obrigada por me incentivarem a prosseguir na conclusão de meu curso
para a realização desse meu sonho.
E agradeço ainda ao meu esposo Eduardo que abdicou junto comigo de noites de sono
onde, me apoiou em diversas leituras e escritas, e que sempre esteve, me dando forças
durante todo o processo acadêmico, e me deu todo o suporte, me incentivou até quando
achei que não conseguiria dar conta.
E por fim agradeço ao Meu querido orientador Antônio Malvar, que me deu total
suporte, me orientou e iluminou meu caminho quando eu só via escuridão.
RESUMO
Esta monografia tem como o objetivo descrever, alertar e apresentar um breve histórico
e conceitos gerais sobre os danos e os reflexos do abandono afetivo e parental no
desenvolvimento infantil, além de avaliar seus reflexos na vida adulta, tendo como base
estudos sobre a teoria do apego, bem como a natureza do vínculo. Será descrito ao
longo da pesquisa os benefícios do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no que
tange a proteção dos direitos dos mesmos, será relatado quais as intervenções utilizadas
para auxiliaras famílias que passa por situações e ausência de afeto, se utilizando de
referenciais teóricos sólidos para embasar esse estudo. O presente trabalho teve base em
uma revisão bibliográfica, onde buscou-se inserir uma visão ampla que já se encontra
alicerçada em nossa Constituição, essa que tem como principal plano a proteção e o
com o objetivo de cuidar e de precaver que as crianças passem por isso, se buscará
especificar sobre o desenvolvimento e conceituar o abandono afetivo, descrevendo os
reflexos negativos gerados durante o percurso da criança até a vida adulta, baseando-se
em revisões bibliográficas e por artigos científicos, e nos estudos de Bowlby e Vigotski
e outros autores. Com o intuito de esclarecer que o abandono e a alienação parental se
caracterizam como uma síndrome, que porventura acarreta em uma constelação de
comportamentos, de forma tanto consciente, quanto inconsciente, que finda por
promover distúrbios de relacionamentos, entre pais e filhos, que resultam em danos de
futuros aos filhos que em alguns casos são irreversíveis, e desta finaliza em maturação
dos sentimentos e dos laços fraternais, afetando o comportamento da criança no que se
refere a sua vida social e particular.
2
Professor Orientador do Curso de Psicologia da Associação Brasileira de Ensino Universitário - UNIABEU
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................... 10
1 CONCEITO DE FAMÍLIA NO CONTEXTO ATUAL......................... 12
1.1 DESENVOLVIMENTO INFANTIL.......................................................... 15
1.2 TEORIA DO APEGO................................................................................. 17
2 CARACTERÍSTICAS DO ABANDONO AFETIVO E COMO
OCORREM................................................................................................ 19
2.1 O DEVER DA FAMÍLIA DE CRIAR E CUIDAR.................................... 21
2.2 ECA............................................................................................................. 23
3 HISTÓRICOS SOCIAIS DA INFÂNCIA E DO ADOLESCENTE E
DA FAMÍLIA............................................................................................. 25
3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL PELO ABANDONO
AFETIVO.......................................................................................... 28
3.2 POSSÍVEIS DANOS DO ABANDONO PARENTAL E REFLEXOS NA
VIDA 30
ADULTA............................................................................................
3.3 INTERVENÇÕES PARA AS FAMÍLIAS E PARA AS CRIANÇAS
ATINGIDAS PELO ABANDONO PARENTAL...................................... 32
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 34
5 REFERÊNCIAS........................................................................................ 37
10
INTRODUÇÃO
Esta monografia proporá uma reflexão e fazer uma análise sobre o abandono
parental no âmbito da dinâmica familiar, direcionando a presente pesquisa para a falta
de apoio emocional e afetivo dos pais durante o desenvolvimento infantil, que leva ao
abandono parental, o afeto é algo essencial para o bem-estar da criança, e a sua falta
acarreta inúmeros traumas na infância, e isso têm reflexos significativos na vida adulta.
Durante a infância, a família exerce um papel de extrema importância no
desenvolvimento psíquico-motor da criança, principalmente em seus primeiros anos de
vida, pois o menor necessita de todo o cuidado e suporte dos pais. No entanto, devido à
falta de compreensão e esclarecimento sobre o emocional, as crianças muitas vezes são
privadas desse suporte, resultando em atitudes e pensamentos negativos na vida adulta.
O abandono parental é uma questão preocupante que afeta crianças em todo o
mundo. A problemática desta pesquisa é analisar os danos causados pela ausência física
e emocional de um ou ambos os pais durante a infância que pode ter consequências
significativas no desenvolvimento da criança, afetando também sua vida adulta. Por
isso, faz-se necessário compreender os possíveis danos causados pelo abandono parental
no âmbito do direito de família é crucial para conscientização e implementação de
medidas adequadas de intervenção.
No entanto, quando se trata do abandono afetivo, surge um debate sobre a
possibilidade de reparar ou não os danos causados à criança ou adolescente. Esta
monografia tem como objetivo explorar os possíveis impactos do abandono parental no
desenvolvimento infantil, que podem refletir na vida adulta, no contexto do direito de
família. Serão analisados os efeitos emocionais, psicológicos e sociais do abandono
parental, assim como suas consequências nas relações interpessoais, na formação da
identidade e na saúde mental dos indivíduos afetados.
A psicologia desempenha um papel fundamental no entendimento dos impactos
e consequências dos casos de abandono, possibilitando a identificação precoce e a
implementação de cuidados e intervenções adequadas. A guarda e a modificação das
condições de convivência da criança são estratégias que podem ajudar a superar essa
situação de abandono, promovendo um ambiente propício ao seu desenvolvimento
saudável. Através da atuação psicológica, é possível oferecer suporte emocional, avaliar
11
As relações familiares impactam na vida dos indivíduos, pois elas irão refletir no
futuro e na boa evolução, e isso tem seu início desde o período gestacional, pois nessa
época a criança já consegue sentir se é amada aceita por sua mãe e por seus familiares, e
na infância o afeto tem um maior impacto, pois é nos primeiros anos de vida que a
criança se descobre e cria sua própria identidade, e essa relação de afeto recíproco irá
refletir por gerações. (LÔBO, 2015, p. 68-69)
A família sem dúvida exerce um papel importante na vida das crianças, e
podendo corroborar tanto efeitos negativos quanto positivos, a depender da forma que
que ocorre o acolhimento familiar, 0nde compreende-se que o amor e o cuidado não
podem ser impostos. O dever de cuidar é de ambos os pais, conforme o previsto na
Constituição (CARVALHO, 2016) e, também como dispõe o Estatuto da Criança e do
Adolescente em seu art. 21 abaixo descrito:
Os meios tecnológicos no contexto atual veio para facilitar a interação entre pais
e filhos, pois se tornou um facilitador da comunicação entre os mesmos, além disso
aproximar os seus entes, principalmente esses aplicativos de mensagens e
compartilhamentos, a exemplo disso tem-se o WhatsApp. A nova geração está sempre
interligada na internet e nas redes sociais, e ao mesmo tempo que esse meios facilitam a
interação familiar, eles possuem um ponto negativo, pois, corrobora o afastamento
físico entre eles. (NEUMANN; MISSEL, 2019)
Segundo Cardoso (2023) na atualidade o modelo tradicional de família, formado
por pai, mãe e filho, já não é o único existente, pois hoje existe a família monoparental,
formada pelo filho e por um dos pais, e o casamento não é o único que prevalece,
porque além dele há a união estável se equipara ao casamento civil. (CARDOSO, 2023)
Para Rodrigues (2020) a família tradicional era somente para a procriação, e
com a sua evolução essa característica perdeu mais o seu sentido, e hoje há diferentes
tipos de família, a extensa, que é formada não só pelos membros consanguíneos, mas
por todos que moram sob o mesmo teto. A família Nuclear que engloba vários entes
consanguíneos que vai além das figuras dos pais e filhos, pois nessa se incluem outros
entes. A família Reconstituída quando o casal que se junta e cada um tem filhos de suas
uniões anteriores. A família Numerosa, que é quando há a existência de três ou mais
filhos no meio familiar. A família homoafetiva, que é quando os pais são o mesmo
gênero, embora a autora cite outros modelos, ela ressalta que esses são os mais vistos na
sociedade atual.
O que se observa é que o modelo estrutural familiar existe desde a antiguidade, e
que ao longo dos anos o modelo considerado tradicional que era composto por pai, mãe,
e filho, sofreu alterações a fim de incluir as novas estruturas familiares, embora tenha
ocorrido essa evolução, porém não perdeu a sua importância, pois continua sendo
fundamental para o desenvolvimento do indivíduo.
A teoria do Apego criada por John Bowlby (1989), vem a tratar do vínculo que a
mãe desenvolve pelo filho recém-nascido, para o autor o “apego”, nada mais é do que
todo o cuidado e dedicação que a mãe tem com seu filho, o autor complementa que esse
é um conjunto de comportamentos que é natural da espécie humana, como por exemplo,
a mãe tende a ser superprotetora com seu filho, isso é uma atitude normal de mãe para
filho. (BOWLBY,1990 apud, PEREIRA; FERREIRA, 2022, p. 04)
Para Pereira; Ferreira (2022, p. 05), o apego está intimamente ligado ao vínculo,
sendo que esse último é um conjunto de emoções e atitudes que ligam dois indivíduos, e
segundo os ensinamentos de Bowlby há variados padrões de apego, que são o apego
seguro, o inseguro, o ambivalente, e por último o desorganizado. (BOWLBY, J.;
AINSWORTH, 1981)
Sobre a criação de vínculos Siqueira e Andriatte (2001) cita o seguinte:
Ela também pode demonstrar sentimentos negativos como por exemplo da raiva e do
ressentimento quando a mãe está presente no local, e principalmente quando esta deseja
restabelecer o elo afetivo. Nesse caso entende-se que a mãe não atende plenamente às
necessidades emocionais dessa criança. (BOWLBY, J.; AINSWORTH, 1981)
Por fim, o apego desorganizado é um padrão identificado posteriormente, no
qual a criança apresenta uma combinação de apego e raiva ao mesmo tempo. As reações
são colidentes, com expressões de ansiedade, apreensão e movimentos descoordenados.
Esse padrão de apego está associado a experiências traumáticas ou interações
inconsistentes e confusas por parte do cuidador. (BOWLBY, J.; AINSWORTH, 1981)
Em resumo percebe-se que esses diferentes padrões de apego têm um impacto
significativo no desenvolvimento emocional e social da criança. O apego seguro
proporciona uma base segura para que a criança explore o mundo e desenvolva
relacionamentos saudáveis, enquanto os padrões de apego inseguro podem resultar em
dificuldades emocionais, comportamentais e de relacionamento ao longo da vida.
Para Bowlby (1981) o apego é como um kit de sobrevivência, é como um
preparatório para a vida adulta, pois a relação adquirida entre mãe e filho, a depender de
como ela se dá, pode colaborar para o desenvolvimento saudável e para a formação de
um bom caráter e de uma boa personalidade da criança. Esse apego segundo Ana
Caroline Silva (2016), já pode ser sentido desde os primeiros momentos de vida da
criança, conforme cita as palavras de Bowlby:
Segundo Dill e Calderan (2011) o dever de cuidar é dos pais, e esse dever está
na Lei, e por isso a Constituição afirma que a família é a base da sociedade, as autoras
afirmam que desde a gestação a criança já tem a capacidade de sentir emoções, e o
dever dos pais vai além daquele de só alimentar, dar banho e brincar com o filho, e sim
a mesma tem que se sentir querida e aceita para melhor evoluir.
E como foi visto na antiguidade o dever de criar era vinculado somente a mãe, e
desde a gestação essa cria um vínculo e se prepara para receber esse filho, porém, tal
fato mudou, pois atualmente ambos tem mútua responsabilidade na criação dos filhos,
como bem expõe no trecho abaixo:
23
Cabe aos pais imporem limites e educarem os filho, prepará-los para a vida em
sociedade. A Formação da personalidade e seu desenvolvimento dependerá dos esforços
de ambos os pais, e mesmo o pai exercendo um papel importante, a mãe por ser aquela
que gera e carrega o filho no ventre essa assume um papel primário na criação dos
filhos, e por estar mais próxima a mãe a mãe cria um vínculo mais forte com sua prole.
(DILL; CALDERAN, 2011)
Porém há que se observar que para que os progenitores possam criam e
transmitir valores éticos e morais, os mesmos devem estar emocionalmente
equilibrados, pois somente desta forma é que serão bons exemplos. A presença dos
ambos os pais é fundamental porque o ser humano desde o seu nascimento precisa
emocional e fisicamente do amor e do cuidado fraternal, para melhor evoluírem. (DILL;
CALDERAN, 2011)
Nos primeiros anos de vida o papel dos pais é superimportante para o
desenvolvimento motor e psicossocial da criança, mas é claro que essa necessidade não
termina na infância, já que também há a sua necessidade na fase da adolescência,
porém, o que muda é a abordagem e os métodos de criação, pois esses deverão ser
inovados e adaptados para lidar com as alterações comportamentais, adequando-os para
a necessidade de cada fase, e afirma-se que os filhos se sentem mais seguros e felizes
com a presença de ambos genitores. (DILL; CALDERAN, 2011)
A presença dos pais não é baseadas só em presença física, e sim nos cuidados e
no afeto que é distribuído a sua prole, e esses atos contribuem para a construção de uma
personalidade saudável e um bom caráter, evitando desta forma que o filho fique à
mercê da marginalidade, e ainda se afirmar que a família é o caminho pelo qual a
criança e o adolescente usam como exemplos para se orientarem e para lidarem com a
vida em sociedade. (DILL; CALDERAN, 2011)
É por essa razão que nos casos de separação, estipula-se que a guarda seja
compartilhada, com a garantia do direito de visitação, para que mesmo após o divórcio,
as obrigações e as responsabilidades sejam exercidas por ambos os pais e para que os
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laços afetivos não sejam destruídos, para que desta forma a criança ou o adolescente não
seja prejudicado em seu desenvolvimento psíquico-motor. (DILL; CALDERAN, 2011)
Entende-se dessa maneira, que aos pais cabem o dever de criar, e para isso faz-se
míster que os mesmos estejam preparados psicológica e fisicamente, pois só assim
exercerão com perfeição esse papel, logo, tendo os pais a preparação fraternal
necessária, eles serão capazes de suprir as necessidades de afeto e darem uma boa
educação aos filhos, para que esses se desenvolvam de forma saudável e plena.
2.2 ECA
Como já foi visto a Constituição prevê em seu art. 226 “a família, base da
sociedade, tem especial proteção do estado” (GUIMARÃES, 1988). É dessa forma
criou-se o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), segundo MERELES (2017)
“nada mais é que uma Constituição que prevê a esse grupo todos os direitos humanos
fundamentais, como à educação, ao lazer, à dignidade, à saúde, à convivência familiar e
comunitária, aos objetos pessoais”.
o princípio da Proteção Integral à família, e a criança e ao adolescente está
previsto no art.227 da Constituição de1988:
proteção no que se refere ao seu corpo, que este não deve ser “objeto de qualquer forma
de negligência, violência, crueldade, e a criança ou adolescente não deve sofrer
quaisquer discriminação ou opressão”.
Ainda sobre o ECA, este se subdivide em partes geral e especial, onde em uma
parte se trata dos princípios, dentre eles citam-se os “o direito à vida, a saúde, à
liberdade, ao respeito, e à dignidade humana”, e também fala dos direitos e deveres, e
na parte especial, expõe-se sobre “política de atendimento, medidas, conselho tutelar,
acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais” (FREITAS E FROTA
ADVOCACIA, 2020).
O Conselho Tutelar é o órgão previsto no ECA, que visa proteger e assegurar
que os direitos da criança e do adolescente sejam devidamente respeitados, e na referida
lei está disposto sanções para casos em que os pais sejam omissos na educação dos
filhos e também estipula sanções para os menores que cometerem atos infracionais.
(BEZERRA, 2023)
Para Freitas e Frota (2020) o ECA, tem o intuito de defender todas as crianças e
os adolescentes de qualquer ato que danifique sua integridade física e qualquer ato
omissivo no que se refere aos cuidados paternos. Ainda no ECA prevê-se a preparação
para o mercado de trabalho, por meio de ensinos profissionais e proíbe o trabalho
infantil e a exploração da criança e do adolescente, com a exceção do trabalho do menor
aprendiz, desde que seja em horário diurno.
No ECA ainda estão descritas sanções para corrigir a prática de atos
infracionais, essas são impostas aqueles na idade entre 15 e 18 anos, e somente em
casos excepcionais é imposta para aqueles na idade de 21 anos, e as mesmas devem ser
diferenciadas daquelas que é imposta aos adultos, pois perante a Lei os mesmos não
cometem crimes e sim atos infracionais, e seu desenvolvimento psíquico ainda está em
formação. obre as garantias processuais o art. 110 do ECA “Nenhum adolescente será
privado de sua liberdade sem o devido processo legal”. (EDUCAÇÃO, 2020, p. 859).
Conforme afirma VERONESE e SILVEIRA (2011) as medidas socioeducativas
servem para:
Sobre a análise de Ariés, Heywood (2004) discorda, pois para ele havia sim uma
infância na era medieval, mesmo que fossem equiparados a adultos, um exemplo que o
autor traz é que havia uma educação dentro dos monastérios voltadas para as crianças
que eram colocadas à disposição da igreja, e que encontrou sinais de que a criança
possuía uma visão diferenciada da consciência dos adultos, confirmando sua tese de que
a infância era presente também nas épocas passadas.
Compreende-se que as relações familiares a depender de como são introduzidas
podem prejudicar ou promover o desenvolvimento humano, segundo os históricos
sociais no que se refere aos adolescentes esses foram marcados por ocorrências de atos
infracionais, e as principais causas eram “a pobreza, a separação conjugais e as
desigualdades sociais, educacionais e regionais”, e esses fatores impulsionavam a
prática de infrações pela busca de melhorias. (GOMES, 2018)
As inovações nas formas familiares como afirma Gomes (2018) alterou o papel
que cada ente exerce dentro do corpo familiar, fazendo com que se adaptem em
posições que antes não eram suas, um exemplo disso é a mãe, que hoje assume o
sustento da casa. A infância e a adolescência são fases que fazem parte da vida e do
desenvolvimento do ser humano, porém, um fato que não mudou na adolescência é a
vulnerabilidade, porque essa é equiparada à mesma da infância, tal fato ocorre porque
eles também estão com o desenvolvimento cerebral em formação, com algumas
agravantes equivalentes dessa fase, que são as frustrações geradas pelo desejo de se
encaixarem em seu meio social. Sobre a adolescência Calligaris (2000) afirma:
transição para da infância para a vida adulta, onde o adolescente está em busca de sua
própria identidade, e tenta se encaixar em seu meio. (GOMES, 2018)
Gomes (2018) reitera que a adolescência não só a transição para a fase adulta,
pois para ela é bem mais que isso, pois “é um período entre puberdade e a fase adulta
[...] referindo-se ao conjunto de transformações fisiológicas ligadas à maturação sexual,
que traduzem a passagem progressiva da infância à adolescência”
Na concepção de Ariés (2006) o adolescente possui características específicas da
fase da infância, e essas características se diferenciam dependendo do seu contexto
social e do meio em que vive, por isso, os comportamentos não são iguais e nem são
demostrados da mesma forma para todos, segundo a concepção do autor Stanley Hall,
esse que para o referido autor é considerado o pai da psicologia, e se pode afirmar
contudo que a adolescência é a fase mais difícil, pois é repleta de turbulências e dramas,
que são as principais causas de angústia para todos os entes e para o próprio
adolescente.
Frota (2007, p. 157) concorda que a adolescência não é só uma fase transitória
para idade adulta e nem só de mudanças fisiológicas, para a autora “a adolescência deve
ser pensada como uma categoria que se constrói, se exercita e se reconstrói dentro de
história e em tempo específicos”, o que a autora bem informa é que cada pessoa mesmo
compartilhando as mesmas culturas, ainda assim tendem a interpretá-las e reagirem de
formas diferentes. Segundo Drumond & Drumond Filho (1998) a criação de laços entre
seus entes e os adolescentes, baseados em diálogo, sendo esse conduzido com respeito
mútuo, é favorável para que se construa uma relação confortável e ajuda a superar essa
fase difícil, que é a adolescência.
Para Gomes (2018) a família é crucial para o bom desenvolvimento do
adolescente, e essa é uma construção deve vir desde o nascimento, atravessar a infância
e perdurar até que o filho obtenha uma construção plena de sua identidade e capacidade,
e mesmo após as mudanças nas estruturas familiares que ocorreram desde os séculos
passados e que ainda ocorrem, ainda assim o ambiente familiar é o primeiro e o mais
importante meio que favorece o bom desenvolvimento de todos os indivíduos, logo, o
lar precisa ser um lugar equilibrado e seguro, capaz de promover o bem estar e a
adequada evolução até a idade adulta.
30
Dessa forma entende-se que deve ser dado uma atenção melhor para as crianças
e adolescentes, e que devido a sua formação psicossocial estar em andamento, essa deve
ser tratada com afeto e zelo, pois uma infância e uma adolescência bem construída é
crucial para a criação de seres psicologicamente saudáveis e felizes
No entanto, a autora atenta que a perda do poder familiar não impede que além
dessa perda, que recaia sobre o indivíduo violador a consequência da reparação civil,
que funciona como uma forma de amenizar a dor do ato, para fins de compensar ou
indenizar a pessoa lesada. (CUNHA, 2017)
Há alguns impasses ditos pelo Ministro Fernando Gonçalves, que contraditam a
reparação civil pelo abandono afetivo, um deles é que o pai ou a mãe deixam de cumprir
com suas obrigações paternas e maternas, ou seja, já não cumprem o poder familiar e o
outro é que dar preço a indenização seria um medidor valorativo para o amor, que para
o mesmo seria algo imensurável, além de que o Ministro citado entende que “como
escapa ao arbítrio do Judiciário obrigar alguém a amar, ou a manter um relacionamento
afetivo, nenhuma finalidade positiva seria alcançada com a indenização pleiteada”.
(BRASIL, 2005)
Se fosse pelo entendimento do Ministro a indenização por abandono afetivo
seria incabível por haver impossibilidade de dar preço ao amor, que para Cunha (2017)
isso seria uma “banalização do dano moral”, no entanto, quando se trata de
responsabilização por ausência de afeto essa é avaliada não só pelo valor afetivo, mas
pela ausência do dever de cuidar e de cumprir com os deveres que são de
responsabilidade dos pais. Embora o valor em pecúnia não vá “trazer de volta a falta de
cuidado perdida em toda uma infância e /ou adolescência”, porém, essa foi a forma que
o judiciário encontrou de amenizar o dano causado pelo abandono afetivo.
32
contatos da criança com o meio externo. O abandono afetivo pode ser dado de várias
formas que pode ser somado com violência física ou somente emocional.
E Para que haja ausência não é necessário que essa ausência seja física, pois, há
inúmeros casos em que o pai mora com o filho e ainda assim não fornece afeto e nem dá
a mínima atenção para o mesmo, e ainda assim o adolescente se sente desamparado, o
pai por muitos séculos era relacionado como o “provedor’ da casa, e que à mãe se
incumbia a tarefa de cuidar do filho, e de ser a pessoa que venha a cuidar de seu
emocional, isso e dava por conta da cultura machista que perdurou durante os anos,
porém um fato esquecido é que o homem é o suporte da mãe, e esse apoio deveria
ocorrer em todos os campos da relação familiar (REIS E SILVA, 2021)
Os danos pelo abandono afetivo podem ser avassaladores, que corroboram
lesões de diversas formas, tornando crianças e adolescentes problemáticos, e esses
problemas prejudica seu desempenho psíquico e social, alguns desses danos são, o
medo, a agressividade, a timidez, dificuldade de aprendizado e outros, e porventura,
esses danos vão além da idade infantil ou adolescente, pois findam afetando também a
idade adulta. (LONGO, 2020)
Refletindo sobre a idade adulta, Longo (2020) mencionou alguns problemas
ocorridos com adultos que cresceram sem afeto, que são o stress ou a fácil
predisposição em se aborrecer, ou geralmente estão sempre irritados, eles também
adquirem aversão a mudanças, pois não consegue adaptar-se a elas, alguns tornam-se
ansiosos, outros são apegados a objetos, isso ocorre porque eles projetam o abandono
afetivo que tiveram e tendem a ter amor e de serem apegados por suas coisas, como por
seus “veículos, livros, documentos ou qualquer outro objeto com significado especial ou
não para eles”.
Outros danos trazidos pelo autor acima são os vícios, e quando se fala em vícios
não se refere só a drogas, pois o mesmo fala em algo mais voltado para o lado obsessivo
compulsivo, que podem ser o fato de viciar-se e ter um apego extremo em alguma
“atividade, objeto, ou pessoas, ao trabalho, ao sexo...”, e em outros casos tendem a
priorizar mais aos outros que a si mesmos por medo do abandono. (LONGO, 2020)
Há muitos outros problemas trazidas por Longo (2020), porém mencionou-se os
principais, ainda sobre o assunto o autor afirma que para superá-los o indivíduo
necessita de acompanhamento, terapias e até tratamentos específicos com especialistas
34
como psicólogos, psicanalistas, e outros, e cada pessoa deve ser tratada de forma
individualizada, pois, há uma diversidade de abandonos afetivos, que variam entre mal
trato físico e emocional, portanto, os danos evoluem a partir de vivências traumáticas
advindas de circunstâncias diferentes, ou seja, precisará ser analisado com cautela para
após isso indicar os profissionais e os tratamentos adaptados para cada caso.
Percebe-se que o abandono afetivo vivido pela criança e pelo adolescente,
influencia no bem-estar do futuro adulto, já que o psíquico emocional do ser humano
adulto, é refletido através do carinho e cuidado que recebeu quando era pequeno,
ademais, adultos bem-sucedidos e realizados, geralmente são aqueles que cresceram em
famílias bem estruturadas e em um ambiente harmonioso e saudável.
Porém, ao ocorrer a retirada “do poder-dever dos pais sobre os filhos menores”,
não cessa a “sucessão hereditária e os direitos alimentícios”, pois esses permanecerão
como forma de responsabilização dos direitos violados, até porque seria muito fácil tirar
o filho dos pais violadores e eles não sofrerem nenhuma punição, assim impunidade
seria contínua, fato que o estado busca evitar. (S. Milena, 2015)
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https://portal.fslf.edu.br/wp-content/uploads/2016/12/tcc9-6.pdf. Acesso em
16/05/2023.