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CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE PSICOLOGIA
FORTALEZA
2021
INGRID GOMES QUEIROZ
FORTALEZA
2021
A Jesus, meu salvador.
A minha mãe, meu alicerce.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por guiar meus passos e me sustentar até aqui, por me ensinar a amar e cuidar
das pessoas e por confiar a mim esse curso e profissão.
À professora Liana Elias, pela confiança, pela inspiração, pelos ensinamentos e pela
amizade. Devo grande parte da minha graduação ao seu suporte.
Às professoras integrantes da Banca examinadora Amanda Barroso de Lima e Janine
de Carvalho Bonfadini, pela dedicação e tempo empenhados em melhorar o meu trabalho e
me fazer crescer enquanto pesquisadora.
A minha mãe, por ser minha inspiração e a mulher mais inteligente e forte que eu
conheço. Obrigada por me ensinar desde pequena que eu posso ser o que eu quiser, e ser o
meu melhor. Ao meu pai, pelas piadas em períodos de estresse, pelos remédios e cuidados
quando estou doente e pelas caronas pra faculdade, sem elas não sei se eu teria sobrevivido.
Aos meus amigos/irmãos que compartilham a vida comigo há tanto tempo e são o
amor de Deus em carne viva pra mim aqui na terra: Keila, por ser quase eu mesma; Caio, por
ser meu irmão mais velho, mesmo sendo mais novo; Diego, por me irritar e me amar; Bruno,
por ser meu amigo desde o ventre da sua mãe; Wal, por cuidar tanto de mim; Amanda, Camila
e Nath, por serem meu suporte e minha família em qualquer lugar que estejam.
Ao Gabs, por ter sido o melhor aluno da Casa de Cultura Britânica, à minha titia
Helenilde, por ter consertado meu computador quando quebrou justamente no dia de enviar a
Monografia, e ao meu titio Ezequias por ser meu pastor e segundo pai.
Às minhas amizades do Curso, que tanto me ensinaram e me deram apoio para estar
aqui: à Erica (ou Errrrrica), por ser minha duplinha na vida; a Mari, pelas madrugadas fazendo
trabalhos e reclamando da UFC; ao Miguel, por me aguentar desde antes do ensino médio; à
Marli, por ser minha parceira de bolsa e ter dado tanto suporte para a realização desse estudo;
à Liz, à Letícia e à Bibs, pelas festas e idas ao Pitombeira depois das aulas; à Sofia (ou Sofria)
por ser tão chata e tão amável.
Aos meus professores na Academia e na vida, professor Antônio Maia Olsen do Vale,
por ter me ensinado a amar a Análise do Comportamento e a Psicologia como ciência, por
acreditar em mim e por ser o melhor professor que já tive. Ao professor Walberto Silva dos
Santos, por me apresentar a pesquisa, por me acolher ainda no começo do curso e por me
ensinar tanto, obrigada por ter sido como um pai pra mim.
“Quero trazer à memória o que me pode dar
esperança” (Lamentações 3,21)
Observação: O formato de Trabalho de Conclusão do Curso submetido é o formato de artigo
científico, seguindo as orientações de normalização da revista Arquivos de Neuro-
Psiquiatria.
RESUMO
Os diversos quadros demenciais vêm sendo tratados pela Organização Mundial de Saúde
como prioridade em saúde pública. O Comprometimento Comportamental Leve (MBI) é um
construto recente, com estudos que vêm demonstrando sua correlação com sintomas
neuropsiquiátricos, Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e desenvolvimento de quadros
demenciais. Este estudo pretende investigar a associação entre déficits de Cognição Social e
MBI, bem como avaliar a pertinência desses enquanto preditores de quadros demenciais,
verificando sua associação com fatores de risco para demência já estabelecidos na literatura.
Para tanto, participaram da pesquisa 72 pessoas sem diagnóstico de demência, acima de 50
anos de idade, as quais responderam instrumentos que avaliam MBI, queixas de memória,
déficits de Cognição Social, além de um questionário biossociodemográfico no período de 9
de setembro de 2020 a 10 de março de 2021. Os resultados mostraram associação entre MBI e
queixas de memória (rs = 0,39, p = 0,001), e também do fator Inadequação Social do MBI
com a habilidade de Percepção Emocional da Cognição Social (rs = -0,27, p = 0,019).
Comparações entre grupos mostraram que as mulheres (t = 2,11, p = 0,031, d = 0,52), os não-
praticantes de atividade física (t = 2,11, p = 0,037, d = 0,51), os que possuem alguma
comorbidade médica (t = 3,20, p = 0,003, d = 1,00) e os consumidores moderados de álcool (t
= 2,38, p = 0,020, d = 0,57) apresentaram maior grau de comprometimento comportamental,
todos esses grupos já sendo validados pela literatura como fatores de risco para demências. Os
resultados demonstraram associações entre o MBI e a Cognição Social e com fatores de risco
para demência, o que corrobora para uma possível classificação do MBI como um preditor de
quadros demenciais.
The various dementia conditions have been treated by the World Health Organization as a
priority in public health. Mild Behavioral Impairment (MBI) is a recent construct, with studies
showing its correlation with neuropsychiatric symptoms, Mild Cognitive Impairment (MCI),
and the development of dementia. This study aims to investigate the association between
deficits in Social Cognition and MBI, as well as to evaluate their relevance as predictors of
dementia, verifying their association with risk factors for dementia already established in the
literature. To this end, 72 people over 50 years of age without a diagnosis of dementia
participated in the survey. They answered instruments that evaluate MBI, memory
complaints, and deficits in social cognition and responded to a biosociodemographic
questionnaire between September 9, 2020, and March 10, 2021. The results showed an
association between MBI and memory complaints (rs = 0.39, p = 0.001), and also the MBI
Social Inadequacy factor with the Emotional Perception of Social Cognition (rs = - 0.27, p =
0.019). Comparisons between groups showed that women (t = 2.11, p = 0.031, d = 0.52), non-
practitioners of physical activity (t = 2.11, p = 0.037, d = 0.51), those with some medical
comorbidity (t = 3.20, p = 0.003, d = 1.00) and moderate alcohol consumers (t = 2.38, p =
0.020, d = 0.57) had a higher degree of behavioral impairment, all of these groups have
already been validated by the literature as risk factors for dementia. The results showed that
MBI is associated with Social Cognition and with risk factors for dementia, which
corroborates the possible classification of MBI as a predictor of dementia.
Keyords: Mild Behavioral Commitment. MBI. Dementia. Social Cognition. Risk factor.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................
9
1.1 Queixa subjetiva de memória, declínio cognitivo e risco de demência .....................
10
1.2 Sintomas neuropsiquiátricos, comportamentais e Cognição Social ............................
11
1.3 Fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento de demências .....................
12
1.3.1 Sexo .............................................................................................................................
12
1.3.2 Prática de atividade física ............................................................................................
13
1.3.3 Comorbidades médicas ................................................................................................
13
1.3.3.1 Hipertensão ...............................................................................................................
13
1.3.3.2 Diabetes ....................................................................................................................
13
1.3.4 Consumo de álcool ......................................................................................................
14
1.3.5 Uso de cigarro .............................................................................................................
14
1.4 Hipótese ..........................................................................................................................
14
2 MÉTODO .........................................................................................................................
16
2.1 Participantes ..................................................................................................................
16
2.2 Instrumentos e procedimentos de coleta ......................................................................
16
2.2.1 Mild Behavioral Impairment – Checklist ....................................................................
17
2.2.2 Memory Complaint Questionnaire (MAC-Q) .............................................................
17
2.2.3 Theory of Mind (ToM) Stories ....................................................................................
17
2.2.4 Reading the Mind in the Eyes Test (RMET) ...............................................................
17
2.3 Análise dos dados ..........................................................................................................
18
3 RESULTADOS ................................................................................................................
19
4 DISCUSSÃO .....................................................................................................................
21
5. CONCLUSÃO .................................................................................................................
25
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................
26
TABELAS ............................................................................................................................
36
9
1 INTRODUÇÃO
Os diversos quadros demenciais vêm sendo tratados pela Organização Mundial de
Saúde(1) como prioridade em saúde pública, visto que, à medida que a população mundial
envelhece, espera-se que o número de pessoas que vivem com demência triplique (de 50
milhões para 152 milhões até 2050).
A demência é uma síndrome clínica adquirida caracterizada pelo declínio da memória
e, pelo menos, mais um aspecto da função cognitiva, além do prejuízo significativo nas
atividades sociais e/ou ocupacionais da pessoa(2). Entretanto, trata-se de uma síndrome
subdiagnosticada. Estima-se que 50% dos pacientes com demência – principalmente leve a
moderada, com mais de 65 anos, não são diagnosticados por seu médico de atenção
primária(3-5).
Dada a baixa prevalência de causas reversíveis de demência, uma detecção precoce do
seu desenvolvimento ou dos fatores de risco seria benéfico para um tratamento prévio, e
possível retardamento da evolução da doença, ou mesmo maiores chances de não evolução
desta(6). Como a incidência anual de demência aumenta com a idade, o subdiagnóstico de
demência na atenção primária provavelmente aumentará no futuro(3). Dessa forma, os
quadros de demências vêm sendo alvo de várias investigações para melhor compreensão de
seus sintomas, bem como de sua fase prodrômica, a fim de se estabelecer critérios de detecção
e intervenção precoce da doença(7-11).
A literatura demonstra que sintomas neuropsiquiátricos (SNP), como distúrbios de
humor, percepção e comportamento estão presentes nesses pacientes, juntamente com a
degeneração cognitiva(12). Esses sintomas também são encontrados na fase de pré-
demência(13), inclusive, sendo associados com maior risco de desenvolvimento de
Comprometimento Cognitivo Leve - CCL e de demência(14-16).
Seguindo essa linha investigativa, estudos vêm sendo realizados voltando-se,
especificamente, para as formas de detecção precoce do risco de desenvolvimento da doença
neurodegenerativa. Em 2003, Taragano e colaboradores(17) desenvolveram o Mild
Behavioral Impairment (MBI), construto que serviria para descrever um pródromo
neuropsiquiátrico para demência fronto-temporal (DFT) antes do declínio significativo da
memória(17, 18).
O construto MBI passou por transformações em seus critérios de classificação a partir
de 2012, durante a Alzheimer’s Association International Conference (AAIC), da
International Society to Advance Alzheimer’s Research and Treatment (ISTAART)(11). A
partir dos grupos de estudos conduzidos pelos pesquisadores da associação, os novos critérios
10
Apesar de ser um instrumento recente, o MBI-C já tem sido validado em alguns países
além do Canadá, como na Espanha(20, 21) e Coreia do Sul(22), e tem apresentado bons
índices de consistência interna, além de validade convergente e divergente(20),
correlacionando-se positivamente com o Inventário Neuropsiquiátrico (INP)(21, 22).
Estudos também têm demonstrado a prevalência do construto MBI em pacientes com
CCL. Mallo et al. (2018)(20) encontrou, em uma amostra de 111 participantes com CCL, uma
taxa de 14% que também apresentavam MBI. Assim como Kang et al. (2018)(22) mostra que
a prevalência de MBI em pacientes com CCL é significativamente maior do que em idosos
normais.
Além disso, Taragano e colaboradores (2009)(18), com uma amostra de 358 pacientes
(239 com CCL e 119 com MBI), acompanhados durante cinco anos, demonstraram que o
MBI pode ser um fator de risco maior que o CCL para o desenvolvimento de demência, 70%
da amostra que tinha MBI desenvolveu demência, contra 34% dos que tinham CCL.
1.1 Queixa subjetiva de memória, declínio cognitivo e risco de demência
As queixas de memória podem ser comuns em pacientes idosos, visto que há um
declínio natural do funcionamento cognitivo no envelhecimento saudável(23-27). Entretanto,
quando frequentes, as queixas de memória em pessoas idosas não devem ser consideradas
apenas um fenômeno inocente relacionado à idade ou enquanto um sintoma de depressão, mas
merecem uma atenção especial, pois podem se tratar de um sinal precoce de demência(24).
Muitos artigos têm explorado a relação entre queixa subjetiva de memória e o risco de
declínio cognitivo subsequente(28-30) e demência(7, 31), discutindo, inclusive, que as
queixas de memória, juntamente com a restrição em atividades cognitivas complexas da vida
diária, são sintomas iniciais observados na fase prodrômica da doença demencial,
especialmente, na Doença de Alzheimer (DA)(7).
11
progressão mais rápida em mulheres idosas. Hebert et al. (2013)(60) relataram em pesquisa
que quase dois terços dos pacientes com DA são mulheres. Um estudo italiano de coorte traz
dados de que as mulheres representam mais de 70% em um total de 213 pacientes com
demência(61). Já outros estudos apontam que as mulheres têm um risco maior de desenvolver
DA e os homens têm um risco maior de desenvolver Demência Vascular (DV)(62-64).
1.3.3.1 Hipertensão
De acordo com Barnes e Yaffe (2011)(78), a hipertensão na meia-idade está associada
a um risco 61% maior de desenvolver demência. De 21 estudos, 19 encontraram associação
entre hipertensão e risco de demência, de acordo com a revisão sistemática de Deckers et. al.
(2014)(65). Desses, sete eram sobre hipertensão na meia-idade(79-85), e 12 eram sobre
hipertensão na terceira idade(82-84, 86-94).
1.3.3.2 Diabetes
A diabetes tipo dois causa resistência à insulina, que está relacionada à formação de
Aβ e agentes inflamatórios no cérebro(95, 96), e o subsequente aumento do risco para
desenvolvimento de DA(95). Estudos vêm sendo realizados mostrando resultados que
corroboram para o estabelecimento da diabetes como um importante fator de risco para o
desenvolvimento de demências(79, 82, 84, 85, 87, 89, 97-102). Em uma metanálise realizada
por Lu et al. (2009)(103), a diabetes apresentou um risco de 47% para a demência.
14
1.4 Hipótese
Sintomas neuropsiquiátricos, CCL e déficits de Cognição Social já estão associados a
diversos quadros neurológicos e psiquiátricos, sendo, por vezes, parte de seus critérios
diagnósticos(41). O MBI é um construto recente, com estudos que vêm demonstrando sua
correlação com sintomas neuropsiquiátricos, CCL e desenvolvimento de quadros
demenciais(18, 20). Além disso, variáveis demográficas e clínicas já estabelecidas na
literatura como fatores de risco para o desenvolvimento de demências são levadas em
consideração neste trabalho, como sexo, a prática de atividade física, o consumo de álcool, o
tabagismo, a presença de alguma comorbidade médica, como a hipertensão ou a diabetes, e as
queixas de memória.
15
2 MÉTODO
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do
Ceará, em Ceará, Brasil, protocolo número 4.244.330, em 28/08/2020, seguindo a Resolução
466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
2.1 Participantes
O estudo contou com 72 participantes, dos quais todos concordaram com o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE...) antes de responder aos testes. Os critérios
de inclusão na amostra foram os seguintes: ter 50 anos ou mais e apresentar alguma queixa de
memória. Já os critérios de exclusão consistiram em: possuir diagnóstico de demência ou de
algum transtorno psiquiátrico. As características sociodemográficas dos participantes estão
explícitas na Tabela 1.
Inicialmente, a coleta de dados seria realizada de forma presencial em Fortaleza, na
Clínica Escola de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, mas, devido à pandemia
causada pela COVID-19, necessitou-se de uma adequação para uma coleta remota e um novo
projeto foi tramitado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (Parecer No
4.244.330, em 28/08/2020), recebendo, assim, uma nova autorização para sua continuidade.
A fim de adequar os instrumentos utilizados para o modo virtual, foi realizada uma
nova pesquisa bibliográfica com o objetivo de garantir uma teleavaliação neuropsicológica
adequada. Procurou-se diversos estudos que validassem a coleta remota de testes cognitivos a
fim de compor uma nova coleta a partir das variáveis da pesquisa.
Os participantes foram convidados a colaborar com a pesquisa de forma on-line,
através de divulgação feita por meios digitais em redes sociais, como o Instagram, o
WhatsApp e grupos no Facebook para pessoas da população geral da cidade de Fortaleza,
Ceará.
participante deve escolher a que melhor representa o sentimento expresso na figura. Foi
validado para o contexto brasileiro por Sanvicente-Vieira e colaboradores (2013)(118).
Foi feita uma adaptação de todos os instrumentos utilizados para a plataforma Google
Forms.
3 RESULTADOS
Dos 72 participantes do estudo, a maioria era do sexo feminino (76,4%), casada
(69,4%), com o pós-graduação (33,3%), assalariada (34,7%), sem diagnóstico de CCL
(97,2%), sem acompanhamento por um profissional da saúde mental (90,3%). Além disso, a
maioria não possui parente de primeiro grau com diagnóstico de demência (75,0%), não
pratica atividade física (63,9%) e não apresenta alguma comorbidade médica (54,2%). As
características biossociodemográficas dos grupos são apresentadas na Tabela 1.
As médias de acerto nas tarefas de Cognição Social estão apresentadas na Tabela 2. A
porcentagem mínima de acertos no ToM Stories foi de 52,9%, e máxima de 94,1%, com
média de 80,2% de acertos. Já o RMET apresentou 62,6% de média de acertos, com mínimo
de 30,5% e máximo de 86,1%.
Com relação à perda subjetiva de memória, 93,1% dos participantes apresentaram esse
déficit, com média de 27,8 (DP = 1,6) na pontuação do MAC-Q. (Tabela 3). A pontuação
média da amostra no MBI-C foi de 9,86 (DP = 14,42). Os resultados médios do MBI-C
separados pelos fatores estão expostos na Tabela 4.
A correlação entre as queixas de memória (MAC-Q) e os domínios do MBI foram
significativas com os domínios Desregulação Afetiva (rs = 0,46, p < 0,001) e Descontrole de
Impulsos (rs = 0,31, p = 0,007) e com o escore total do teste (rs = 0,39, p = 0,001) (Tabela 5).
Os acertos no teste RMET correlacionaram-se negativamente com o domínio Inadequação
Social do MBI (rs = -0,27, p = 0,019) e as queixas de memória (rs = -0,29, p = 0,014). Não se
encontrou correlações significativas entre o escore total do teste ToM Stories e as outras
demais variáveis.
Considerando o grau de comprometimento comportamental, a média das mulheres foi
significativamente maior que a dos homens nas respostas ao MBI-C (escote total) (t = 2,11, p
= 0,031, d = 0,52) e, também, no domínio Desregulação Afetiva do MBI (t = 3,21, p = 0,002,
d = 0,81). Além disso, a média das mulheres também foi maior com relação às queixas de
memória (MAC-Q) (t = 3,20, p = 0,002, d = 0,76) (ver Tabela 6).
Os não-praticantes de atividade física pontuaram mais no escore total do MBI-C (t =
2,11, p = 0,037, d = 0,51), no fator Desregulação Afetiva do MBI (t = 3,09, p = 0,003, d =
0,74) e no MAC-Q (t = 3,62, p = 0,001, d = 0,86) em comparação com aqueles que praticam
atividade física (Tabela 7). Além disso, realizou-se uma correlação de Spearman entre a
frequência de atividade física (semanal) e os resultados dos testes aplicados, da qual
encontrou-se resultados que confirmam os do Teste T. A frequência de atividade física se
correlacionou negativamente com o resultado total do MBI-C (rs = - 0,25, p = 0,04), com o
20
fator Desregulação Afetiva do MBI (rs = - 0,32, p = 0,007) e com o escore do MAC-Q (rs = -
0,40, p = 0,001) (Tabela 8)
A média daqueles que apresentam alguma comorbidade médica, em comparação com
aqueles que não apresentam, é significativamente maior no escore total do MBI-C (t = 3,20, p
= 0,003, d = 1,00) e em todos os seus domínios: Decréscimo de Motivação (t = 2,35, p =
0,003, d = 0,56), Desregulação Afetiva (t = 2,94, p = 0,003, d = 0,84), Descontrole de
Impulsos (t = 2,82, p = 0,003, d = 0,91), Inadequação Social, (t = 2,57, p = 0,003, d = 0,84) e
Percepção ou conteúdo do pensamento anormal (t = 3,05, p = 0,003, d = 1,04); além disso,
também apresentaram médias maiores nas respostas ao MAC-Q (t = 2,36, p = 0,003, d = 0,57)
(Tabela 9). A principal comorbidade médica relatada pelos participantes foi hipertensão
(63,6% dos que apresentam comorbidade), seguida de diabetes (21,2%)
Com relação aos grupos dos que fazem acompanhamento com algum profissional da
saúde mental e daqueles que não o fazem, o primeiro grupo apresenta médias
significativamente maiores no escore total do MBI-C (t = 2,64, p = 0,010, d = 0,63), no
domínio Desregulação Afetiva do MBI (t = 2,93, p = 0,024, d = 2,28), e no resultado do
MAC-Q (t = 1,98, p = 0,049, d = 0,47) (Ver tabela 10).
As médias dos usuários de álcool foram significativamente menores no valor total do
MBI-C (t = 2,38, p = 0,020, d = 0,57); nos domínios Decréscimo de Motivação (t = 2,43, p =
0,018, d = 0,58), Desregulação Afetiva (t = 2,65, p = 0,010, d = 0,67) e Inadequação Social (t
= 2,19, p = 0,032, d = 0,52) do MBI-C, em comparação com os que não fazem uso de álcool
(Tabela 11), além de pontuarem menos também no MAC-Q (t = 2,18, p = 0,033, d = 0,52). Já
entre os usuários e não usuários de cigarro não foram identificadas diferenças significativas.
21
4 DISCUSSÃO
A associação encontrada entre as queixas de memória e o MBI colaboram para o
estabelecimento do MBI como um preditor de quadros demenciais, visto que as queixas de
memória já são consolidadas na literatura como fortes indicativos de futuro desenvolvimento
de demência, principalmente DA(7, 24, 32).
De acordo com os resultados, a Cognição Social está associada com o fator
Inadequação Social do MBI, especialmente, o fator Percepção Emocional (PE) da Cognição
Social. Já há estudos que comprovam a associação da PE ao funcionamento na comunidade e
existe um bom suporte para uma relação com o comportamento social(123, 124) e, também,
com as habilidades sociais(125, 126). O domínio Inadequação Social do MBI descreve o
comprometimento da adesão às normas da sociedade e da presença de comportamento social
adequado, tato e empatia. Já a PE da Cognição Social é a capacidade de inferir informações
emocionais (o que uma pessoa está sentindo) a partir de expressões faciais ou inflexões
vocais(49). Dessa forma, um déficit nessa habilidade da Cognição Social pode resultar em
problemas relacionados ao funcionamento social, nas relações interpessoais, pela dificuldade
em inferir adequadamente os estados emocionais dos indivíduos com que se relaciona, não
podendo agir da maneira mais coerente. Os resultados dessa pesquisa colaboram para o
fortalecimento dessa relação.
O estudo não encontrou associação entre a ToM e nenhuma das demais variáveis. Isso
pode ser explicado tanto pela limitação do tamanho da amostra quanto pela própria literatura
já estabelecida sobre o tema: de acordo com uma revisão realizada por Couture, Penn e
Roberts em 2006(49), há achados bem controversos sobre a associação da ToM com
comportamento social e habilidades sociais, muitos estudos demonstrando não haver uma
relação significativa. Ademais, outras habilidades constituintes da Cognição Social não foram
analisadas nesse estudo, como a percepção social (PS) e o estilo de atribuição (EA). Portanto,
segue-se a necessidade de investigação dos demais aspectos da Cognição Social associados ao
comprometimento comportamental, como demanda para futuros estudos.
As diferenças encontradas entre os sexos mostram que mulheres apresentam maiores
índices de comprometimento comportamental, desregulação afetiva e queixas de memória
quando comparadas aos homens. Como estudos anteriormente discutidos no presente artigo já
estabelecem o sexo feminino como um fator de risco para demência(59-62), a associação
deste com o MBI colabora com o estabelecimento deste último enquanto um preditor de
quadros demenciais. O risco maior para mulheres pode ser explicado pela longa exposição ao
22
estrogênio ao longo da vida, bem como uma expectativa de vida maior que a dos homens(127,
128).
Na comparação entre praticantes e não-praticantes de atividade física, encontrou-se
que aqueles que praticam atividade física apresentam significativamente menos
comprometimento comportamental, menos desregulação afetiva e menos queixas de memória.
Além disso, encontrou-se relação entre a frequência de atividade física e essas mesmas três
variáveis, fortalecendo a hipótese de que quanto maior a frequência de exercícios físicos,
menor o comprometimento comportamental, menores as queixas de memória e menor o risco
de demência. Isso colabora com os achados já expostos nesse artigo de atividade física como
fator protetivo contra a demência(66-71). O efeito protetor da atividade física pode ser
explicado pelo fato de proporcionar a redução do risco vascular e da obesidade, além de
menos inflamações, aumento da aptidão, da saúde neuronal e da funcionalidade física, bem
como de como comportamento positivo(72, 129). Além disso, pesquisas com animais têm
demonstrado que a atividade física pode afetar diretamente o cérebro, independente de seus
efeitos cardioprotetores(130).
Aqueles que apresentam alguma comorbidade médica, como hipertensão e diabetes,
demonstraram um aumento significativo de comprometimento comportamental, com um
tamanho do efeito alto (d = 1,00). Ademais, pontuaram maior em todos os fatores do MBI,
todos os tamanhos de efeito grandes (d variando de 0,84 a 1,04), à exceção do fator
Decréscimo de Motivação, que apresentou um tamanho do efeito médio (d = 0,56). Além
disso, os resultados mostram que pessoas que apresentam comorbidades médicas também
apresentam mais queixas de memória, com um tamanho do efeito médio (d = 0,57). Isso se dá
porque a grande maioria das comorbidades médicas dos participantes eram hipertensão,
seguida por diabetes, que são fatores de risco para o desenvolvimento de demências já
consolidados na literatura(65, 78, 79, 82-103).
Os possíveis mecanismos biológicos para o estabelecimento da hipertensão como um
fator de risco incluem aterosclerose, lesões da substância branca, aumento de placas neuríticas
e emaranhados e atrofia(131). Já os mecanismos patológicos que ligam a diabetes ao declínio
cognitivo e à demência podem incluir processos metabólicos, vasculares e inflamatórios. A
deficiência de insulina está ligada ao metabolismo da patologia da DA, incluindo beta e tau
amilóide(65, 132, 133).
Os participantes que fazem acompanhamento com profissionais da saúde mental
pontuaram mais em MBI, desregulação afetiva e em queixas de memória, o que indica que o
MBI-C pode estar medindo realmente o que se propõe a medir, visto que essas pessoas já
23
Uma limitação deste estudo foi não ter acessado medidas de frequência ou quantidade
de consumo de álcool. Assim, não se pode afirmar que todos os participantes faziam consumo
moderado de álcool.
Entretanto, resultados pertinentes e coerentes com a literatura foram obtidos e colaboram para
uma melhor compreensão dos fenômenos estudados.
A correlação positiva e significativa entre os fatores do MBI-C – à exceção de
Inadequação Social com Percepção ou conteúdo do pensamento anormal, traz evidências da
consistência interna do instrumento, necessitando estudos de validação com amostras mais
representativas no Brasil para estabelecer o MBI-C como uma medida válida e fidedigna do
construto MBI, visto que há potencial para tanto. Ademais, a medida já foi validada em países
como o Canadá(19), a Espanha(20, 25) e a Coreia do Sul(22).
25
5. CONCLUSÃO
O estudo objetivou verificar a associação de MBI com déficits de Cognição Social e a
caracterização desses enquanto preditores de quadros demenciais. Os resultados
demonstraram estar de acordo com a literatura já consolidada sobre o tema. Além disso, este
estudo mostrou associações entre o MBI e a habilidade de percepção emocional da Cognição
Social e com fatores de risco para demência, o que corrobora para sua classificação como um
preditor de quadros demenciais.
Ademais, os resultados dessa pesquisa puderam contribuir para a melhor compreensão
dos sintomas que precedem o desenvolvimento de quadros demenciais, instigando novas
pesquisas que procurem acessar o MBI, construto que pode, inclusive, anteceder o
comprometimento cognitivo em pacientes que venham a desenvolver demência, para que haja
uma intervenção e tratamento precoce desses casos, colaborando com seu prognóstico.
Uma grande limitação do estudo foi a pequena amostra decorrente dos problemas da
pandemia da COVID-19, na qual precisou-se adaptar a coleta para o meio remoto (on-line) e
não foi possível conseguir a adesão de muitos participantes, dado o prazo para a realização da
pesquisa, o que dificulta a generalização dos dados.
Ademais, o MBI-C mostrou potencial como instrumento útil para o acesso ao grau de
comprometimento comportamental, necessitando de mais estudos, com amostras maiores e
generalizáveis da população geral para validá-lo para o contexto brasileiro, algo que esse
artigo não pôde realizar por conta da pequena amostra.
Novos estudos, com avaliação longitudinal, fazem-se necessários para verificar a
validade do MBI como preditor de demência (e quais os tipos de demência), além de
verificarem melhor sua relação com a Cognição Social, acrescentando instrumentos que
acessem outras habilidades da Cognição Social, como a percepção social e o estilo de
atribuição.
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TABELAS
Tabela 1
MÉDIA
N %
(DP)
Idade 72 59,31 (7,84)
Sexo
Feminino 55 76,4
Masculino 17 23,6
Estado civil
Escolaridade
Pós-graduação 24 33,3
Ocupação
Outro 11 15,3
Diagnóstico de CCL
Possui 2 2,8
Possui 18 25,0
Pratica 26 36,1
Apresenta 33 45,8
Tabela 2
% de
% de acerto
Teste acerto Média
mínimo máximo
ToM Stories 52,9% 94,1% 80,2%
RMET 30,5% 86,1% 62,6%
Legenda: ToM Stories = Theory of Mind Stories Test; RMET = Reading the mind in the eyes test.
Tabela 3
Tabela 4
Resultados do Mild Behavioral Impairment - Checklist
Tabela 5 - Correlação de Spearman entre os cinco fatores do MBI e os instrumentos MAQ-Q, ToM
Stories e RMET
Instrumentos e fatores 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1. MBI - TOTAL —
9. RMET - TOTAL -.08 -.01 -.12 -.03 -.27 -.0 -.29* .22 —
* 7
Variáveis 1 2 3 4
1. MBI - TOTAL —