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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA - IPA

CURSO DE PSICOLOGIA

Flaviani Castro da Silva, Tatiane Lessa e Sandro Silveira

PROJETO DE INTERVENÇÃO
GRUPO SOCIODRAMÁTICO PARA OS RESPONSÁVEIS
DAS CRIANÇAS EM PSICOTERAPIA

Porto Alegre
2017
INTRODUÇÃO

Foi através da experiência de estágio da ​Flaviani, ​na Associação de Moradores da


Vila Parque Santa Anita, gerenciado pelo Instituto de Desenvolvimento Humano (IDH),
através do projeto de terapia de grupo psicodramática para crianças que frequentam o ​Serviço
de Apoio Sócioeducativo da Prefeitura de Porto Alegre (​SASE), que conhecemos um pouco
da realidade desta comunidade.
Viemos, com esse projeto, apresentar uma intervenção à população da região, com a
intenção de propor uma atenção maior aos responsáveis pelas crianças e uma aproximação
destes para com as terapias individuais ou em grupo, visto que as demandas são grandes,
chegando a partir dos relatos da supervisão do local.

CONTEXTUALIZAÇÃO
A Associação dos Moradores da Vila Parque Santa Anita foi fundada no mês de junho
de 1981, com a objetivo de defender os interesses e carências da comunidade, e de seus
habitantes. Localizada no bairro Nonoai, no município de Porto Alegre, a entidade se propõe
a ser um suporte às vulnerabilidades da região, que de longa data é uma região com tráfico de
drogas, sendo o envolvimento dos mais jovens como um dos fatores mais preocupantes.
Em 1999, foi inaugurada a creche comunitária, à pedido dos moradores, que atende
cerca de 100 crianças em turno integral. Busca-se, na associação, atender e desenvolver
atividades para todos os públicos, como crianças, adolescentes e adultos. No entanto, as
atividades ofertadas ao público adulto são, quantitativamente, inferiores às outras faixas
etárias, sendo assim insuficientes. O atendimento individual é disponibilizado à toda a
comunidade, mas essa abertura não está tão clara, impossibilitando, assim, que atinjam os
adultos. A instituição parece não incentivar muito este tipo de atendimento, assim como
também não se posiciona quanto aos abusos (sexuais e morais) revelados em sessão. Mesmo
se propondo a atuar na comunidade como um todo, já que objetivo sempre foi construir um
espaço para desenvolver atividades e atender todas as demandas.
Em 2003, iniciou-se o trabalho com o Projeto Trabalho Educativo, para jovens de 14 a
18 anos de idade, caracterizado como atividade profissionalizante, para o desenvolvimento
em técnicas de informática e oficinas culturais, como street dance, capoeira e a construção de
um jornal anual. No ano de 2004, deu-se início ao SASE, que atende, de 6 a 14 anos, no turno
inverso à escola. Atualmente está aliado ao Serviço de Convivência Fortalecimento de
Vínculo (SCFV). Este é um serviço de Proteção Social Básica do SUAS, que é ofertado de
forma complementar ao trabalho social com famílias, e se propõe realizar atendimentos em
grupos, bem como atividades artísticas, culturais, de lazer e esportivas, com o objetivo de
fortalecer as relações familiares e comunitárias, possibilitando a interação e a troca de
experiências entre participantes, e valorizando o sentido de vida coletiva. Segundo o site do
Ministério do Desenvolvimento Social:
“​Atender crianças e adolescentes de 0 a 18 anos e seus
respectivos familiares, visando o desenvolvimento dos
potenciais individuais e coletivos em termos psicossociais,
incluindo a inserção no mercado de trabalho, bem como
melhorar as condições de infraestrutura do bairro, buscando a
auto-gestão.”

JUSTIFICATIVA
Visto que a Associação se propõe desenvolver as potências individuais, e também as
coletivas, o que vai ao encontro do que o SCFV propõe para o fortalecimento das relações
familiares e comunitárias, para conseguirmos valorizar o sentido de vida coletiva é necessário
a contribuição de uma parte fundamental: a própria família. Pode-se observar que, no
contexto da Santa Anita, as famílias estão muito distantes da entidade. Os serviços prestados
acabam tendo enfoque no público infanto-juvenil e perdendo o laço com as famílias, como
um todo. Podemos perceber que o contexto social da região, flagrante no atendimento às
próprias crianças, perpetua uma enorme violência, tanto física como psicológica. Dentro
deste contexto, estão os familiares e responsáveis que também passam por diversas violações
de direitos, e pouco amparados dentro da comunidade. Sem uma orientação adequada, as
crianças passam a ser apenas reprodutores da violência, vivida no ambiente familiar e
comunitário. Para isso, se faz importante um espaço que dê suporte aos pais para “plantar” a
saúde nos vínculos. Propor formas de construções relacionais menos cristalizadas, menos
baseadas nas conservas culturais.
Nos grupos de psicodrama, as crianças manifestam um comportamento violento com
relação ao outro. Também no atendimento individual, trazem papéis muito rígidos, e
cristalizados, de abusos de autoridade, assim como, também, agressões físicas e verbais. Há
muita dificuldade na criação dos papéis e interação com o outro. Falta empatia e formas mais
saudáveis de expressar a raiva, que não necessariamente precisam ferir o outro. Há uma
necessidade de centrar-se no seu próprio desejo, reflexo da parcela narcisista do sujeito
pós-moderno, como também a falta de reconhecimento do igual, do respeito ao outro.
Contudo, é na família, a matriz de nossa identidade, onde a criança cria suas primeiras
relações e vai se construindo como sujeito, desenvolvendo o psiquismo. É fundamental que
as relações, enquanto cristalizadas e aprendidas durante a vida pelo contexto, tenham no olhar
dos responsáveis um fator determinante nesta questão. Favorecendo o ambiente relacional
interno e externo das crianças, fortalecemos as potencialidades de cada criança. Sempre será
útil ajudarmos crianças, mas ineficiente sem um trabalho em conjunto com seu ambiente, ou
seja, sua família.
Entendemos que uma intervenção com os familiares, para aliar o tratamento
psicoterapêutico, pode diminuir os comportamentos agressivos dos pais, que muitas vezes só
são violentos porque também não aprenderam a expressar sua raiva, assim como outras
emoções, de uma maneira mais reflexiva.

OBJETIVOS

Geral
Contribuir para o processo terapêutico das crianças com o auxílio da família, sendo
incluída como um facilitador do processo terapêutico.

Específico

Contribuir para a aproximação do público adulto com a entidade a partir do grupo.


Proporcionar o fortalecimento das relações sociais, como também, os vínculos
familiares.
Construir um espaço de atenção e escuta para os responsáveis dentro de um ambiente
próximo e familiar.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para ajudar na forma que as relações se estabelecem é necessário no tratamento o
estabelecimento relacional sincero, honesto com o respeito ao outro. Pois é na construção da
relação que nos tornamos sujeitos, a partir das relações que viramos Eu e construímos o Tu.

Segundo Zimerman, desde do início da vida fazemos parte de grupos, passamos por
diversos grupos durante a nossa existência, e na maior parte do tempo, somos membros de
grupos. O individual e o social se fundem da mesma forma que o interior com o exterior,
dessa maneira surgindo no grupo as nossas projeções que muitas vezes fazem parte dos
outros também. Por isso é interessante tratar sobre as formas que se estabelece as relações no
ambiente grupal.

No grupo podemos trabalhar a forma como os vínculos se manifestam e criar formas


relacionais mais saudáveis no reconhecimento do outro que sejam trabalhadas dentro das
famílias. Para entendermos o indivíduo não podemos olhar para ele isoladamente, precisamos
de dados da dinâmica social que constitui o sujeito. Para isso é importante o contato com os
familiares das crianças em atendimento, ter um conhecimento das redes, que por sua vez
também estão adoecidas.

Para moreno é a partir da matriz de identidade – a família- a criança é inserida no


contexto cultural e social vinculando-se aos processos psicológicos e sociais. O psiquismo se
constrói com os papéis psicossociais e seus contrapapéis na relação.

Dalka Ferrari, aponta

A integridade do eu dependerá dos vínculos e da organização entre os agrupamentos


de papéis sociais, psicológicos (ou psicodramáticos) e sociais. As variações e os
desequilíbrios no acoplamento das estruturas desses papéis em seu desenvolvimento
originam características e ou distúrbios do Eu.

Os pais adquirem o papel social a partir de modelos, aprendidos na própria


experiência. Se esses pais tiveram modelos de violência, repetirão na relação com seus filhos.
E as crianças sinalizaram nas relações que estabelecem fora de casa. O problema da criança,
quase sempre, representa a aprendizagem emotiva incompleta dos pais, segundo Dalka
Ferrari.
De maneira geral, as crianças sempre sofrem diversas violências e violações de seus
direitos como pessoa. Culturalmente se reforça a agressão física e psicológica dos menores,
colocando-os, muitas vezes, como objetos de posse, dominação e poder dos adultos. Contudo,
esse lugar de violência com a relação com as crianças traz prejuízos na formação da
personalidade, como também, formas adoecidas de se relacionar. Crianças que não
reconhecem o outro, possivelmente não são reconhecidos como o outro, apenas acabam
reproduzindo as relações que aprenderam. Se tratar o outro com agressividade é o repertório
delas, dessa maneira vão utilizar.

As crianças acabam carregando os sintomas familiares. O foco das dificuldades não


são as próprias crianças, mas sim a forma que as relações são estabelecidas dentro dos
grupos. Promover novas possibilidades relacionais, ampliando o repertório de manejo nas
relações entre pais e filhos, parece ser significativo para o tratamento de uma forma global do
grupo familiar. Dessa forma, criando um espaço para os pais, que muitas vezes, estão tão
necessitados de atenção quanto as crianças. Esses que trazem relações violentas e acabam
apenas as repetindo.

Para moreno, o indivíduo é concebido e estudado através de suas relações


interpessoais. Dessa maneira, a criança vai articulando sua psique com a integração dinâmica
entre mente, corpo, ambiente e vínculos construídos pelos contatos com o seu mundo interno
e externo. Os papéis surgem no interior da matriz de identidade, a partir das relações
construídos dentro do contexto familiar, o psiquismo do bebê vai se formando com os
vínculos estabelecidos dentro da placenta social. Sendo assim, o sujeito é visto como um ser
em relação, então, para tratar o psiquismo é necessário ser colocado em relação, por isso o
vínculo terapêutico é tão importante para o tratamento. Uma realidade mutável exige do
indivíduo um repertório de respostas e uma flexibilidade para com as diferentes situações e os
papéis que exercem na vida. Quando há a cristalização do sujeito, ou seja, a rigidez das
respostas frente ao meio, pode-se gerar o adoecimento do sujeito, como também das relações.
Formas de criar repertórios relacionais novos, estimulando a espontaneidade, que é a
capacidade de respostas mais fluidas para diferentes situações é fundamental para favorecer a
espontaneidade.

A vivência dos papéis no contexto lúdico permite a desconstrução de papéis rígidos e


sedimentados socialmente na conserva cultural, como por exemplo as respostas de pais
agressivos, produto da agressividade vivida dentro do contexto familiar em que foi criado.

PÚBLICO BENEFICIADO

O público alvo são adultos responsáveis das crianças em atendimento individual na


ASMOVISA.
No entanto, o benefício que se espera é mais amplo. Seja este, dentro de todo o
contexto familiar, tanto favorecendo e complementando o atendimento das crianças, como
também criando na instituição um local acolhedor para os adultos. Beneficiando os sujeitos,
as famílias e a vila como um todo.

METODOLOGIA

Inicialmente, levando em consideração a resistência dos familiares a um projeto na


associação, a falta de tempo e a própria desvalorização de saúde mental que é multiplicada
socialmente. O projeto começaria algo menor, para se iniciar dentro da entidade, de forma a
abrir espaço para esse público, visto que o CRAS de referência da comunidade é distante da
vila e assim dificulta ainda mais o acesso dos moradores.Acontecerão grupos semanais,
localizadas no prédio da associação de moradores, com duração de 1h e 25min. Grupo
fechado, disponibilizado para os responsáveis que tiverem interesse da sessão em grupo. Em
que o foco serão as situações da relação responsáveis e filhos no formato de sociodrama. Que
se propõe a ser uma terapia do grupo, onde o grupo é o protagonista, em que tem um objetivo
em comum, uma tarefa do grupo.
Inicialmente é feito um aquecimento inespecífico, para se conectarem com o
ambiente, com o próprio corpo. Logo, é feito o aquecimento específico, conectando o grupo a
cena a ser trabalhada. No fechamento é feito o compartilhar, em que são manifestadas as
emoções, as sensações trabalhadas no grupo. A parte de verbalização no grupo.

RESULTADOS

O objetivo inicial é que o grupo consiga se desenvolver como unidade funcional,


passando o fase do caótico indiferenciado com o vínculo. Para então, o trabalho terapêutico
se construir a partir das demandas trazidas pelos integrantes. Reproduzindo e trabalhando
cenas nas sessões.

Espera-se que a tensão, observada nos atendimentos para a construção da anamnese


das crianças, sejam reduzidas. Como também, nas relações se trabalhe a desconstrução das
cristalizações criadas sobre o papel de responsáveis, contra o papel das crianças e jovens. Por
exemplo, o enrijecimento do papel de pai ditador, que estabelece relação em função do
autoritarismo, disseminado e construído socialmente, geralmente é algo dado e reproduzido a
partir das conservas culturais.

CRONOGRAMA

Mar Abr Mai Jun


Atividades Fev ço il o ho

Conhecer o público, definir a


disponibilidade, X

Cadastrar os interessados, organizar a


aplicação do projeto X

Construção do vínculo X
Habituação com o grupo (fase caótico
indiferenciado) X

Rematrização da relação pais-filhos X X

Fechamento do grupo X

CONCLUSÃO

Através do referente projeto, busco aproximar os vínculos da entidade com o público


adulto da comunidade, que hoje, ainda é uma pequena parte que busca apoio na rede ou é
encaminhado para atendimento individual. Além disso, provocar uma aproximação dos
vínculos e familiares, promovendo o respeito dentro das relações, aumentando o repertório
das relações, dessa forma ajudando e favorecendo o trabalho terapêutico com as crianças que
já estão em psicoterapia. Unindo recursos da rede familiar para o tratamento dos pequenos.

REFERÊNCIAS

FERRARI, Dalka Chaves de Almeida. Visão histórica da Infância e a questão da


violência. In: FERRARI, Dalka Chaves de Almeida; VECINA, Tereza Cristina Cruz.
(org.). ​O fim do silêncio na violência familiar: teoria e prática​. 4. ed. São Paulo:
Ágora, 2002.

ZIMERMAN, D. E; OSORIO, L. C. ​Como trabalhamos com grupos​. Porto Alegre:


Artes Médica, 1997.

http://mds.gov.br/assistencia-social-suas/servicos-e-programas/servicos-de-convivencia-e-fo
rtalecimento-de-vinculos
__Disponível em www.scielo.br/paideia____________________________________ A
Família e a Escola como contextos de desenvolvimento humano Maria Auxiliadora Dessen
Ana da Costa Polonia Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil

​RAMALHO, Cybele M. R. Psicodrama e dinâmica de grupo. São Paulo, Ed.Iglu: 2010


Disponivel, nov. 2017 ​http://www.scielo.br/pdf/csp/v10s1/v10supl1a02

GONÇALVES, C. WOLLF, J. & ALMEIDA, W. Lições de Psicodrama – introdução


ao pensamento de J. L. Moreno. São Paulo: Ágora, 1988.

GONÇALVES, C. Psicodrama com crianças. ​Rematrizando a relação pais-filhos​, pag.


43-51.. São Paulo. Àgora,1988.

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