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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO UNIVERSITÁRIO

UNIABEU

CURSO DE PSICOLOGIA

VICTORIA KETELY PEREIRA FERREIRA

O USO EXCESSIVO DAS REDES SOCIAIS NA VIDA DOS


ADOLESCENTES SOB A PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE

Belford Roxo
2023
VICTORIA FERREIRA

O USO EXCESSIVO DAS REDES SOCIAIS NA VIDA DOS


ADOLESCENTES SOB A PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE

Monografia apresentada à Banca


Examinadora como exigência parcial para
obtenção do Título de Graduação em
Psicologia pelo UNIABEU Centro
Universitário.

Orientador/a: Prof. Drª Vanessa


Silveira de Brito

Belford Roxo
2023
VICTORIA KETELY PEREIRA FERREIRA
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Conectados, Mas Desconectados: O Impacto Psicanalítico do Uso


Excessivo das Redes Sociais na Vida dos Adolescentes

Monografia apresentada à Banca


Examinadora como exigência parcial para
obtenção do Título de Graduação em Psicologia
pelo UNIABEU Centro Universitário.

Aprovada em _____/_________________de 2023.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________
Orientador/a:
UNIABEU Centro Universitário

__________________________________________________

UNIABEU Centro Universitário

__________________________________________________

UNIABEU Centro Universitário

Belford Roxo
2023
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a mim mesma como um lembrete de que sou capaz, de
que posso superar qualquer desafio e alcançar meus objetivos. Este trabalho é o
resultado do meu esforço, da minha paixão e do meu comprometimento.
Que este trabalho represente não apenas o fim de um ciclo, mas também o
início de novas possibilidades, de novas descobertas e de uma contínua busca pelo
conhecimento.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus.


Agradeço à minha orientadora Vanessa Brito por aceitar conduzir o meu
trabalho de pesquisa.
A todos os meus professores do curso de Psicologia da Universidade
Uniabeu pela excelência da qualidade técnica de cada um.
Aos meus pais Sinderleia Pimentel e Manoel Junior, meus avós Maria
Veronica e Manoel Ferreira e ao meu irmão Victor kevim que sempre estiveram ao
meu lado me apoiando ao longo de toda a minha trajetória.
RESUMO

O uso excessivo das redes sociais vem levantando uma preocupação


significativa em relação aos adolescentes, pois não podemos só considerar os
aspectos positivos da plataforma, mas também os efeitos negativos. Este estudo teve
como objetivo examinar as redes sociais na vida dos adolescentes, sob a perspectiva
da psicanálise, foi analisado como as redes sociais podem afetá-los emocionalmente
e psicologicamente a vida desses jovens que ainda se encontra em fase
desenvolvimento. Nesse trabalho utilizei o método de examinar livros, artigos,
documentários e jornais, onde extrai informações sobre a psicanálise,
desenvolvimento do adolescente e rede sociais. A exposição constante a conteúdos
idealizados, a pressão para se encaixar aos padrões virtuais e a falta de interações
reais são alguns dos desafios enfrentados pelos adolescentes. Ao longo da pesquisa
exploramos como a redes sociais podem afetar o narcisismo, a construção da
identidade, autoimagem, aprovação externa. A psicanalise proporcionou a
compreender melhor os impactos do uso excessivo da tecnologia na vida dos
adolescentes e como é necessário que pais, educadores e profissionais da saúde
estejam atendo aos sinais do uso exagerado das redes sociais.1.

Palavras-chave: psicanálise; adolescente; rede social.

1 FERREIRA, Victoria. Conectados, Mas Desconectados: O Impacto Psicanalítico do Uso Excessivo das
Redes Sociais na Vida dos Adolescentes. 2023. Monografia (Graduação em Psicologia) – UNIABEU Centro
Universitário, Belford Roxo, 2023
ABSTRACT

The excessive use of social networks has raised a significant concern in relation
to adolescents, as we cannot only consider the positive aspects of the platform, but
also the negative effects. This study aimed to examine social networks in the lives of
adolescents, from the perspective of psychoanalysis, it was analyzed how social
networks can affect them emotionally and psychologically, the lives of these young
people who are still in the development phase. In this work I used the method of
examining books, articles, documentaries, and newspapers, where I extracted
information about psychoanalysis, adolescent development and social networks.
Constant exposure to idealized content, pressure to fit virtual standards and lack of
real interactions are some of the challenges faced by adolescents. Throughout the
research we explored how social networks can affect narcissism, identity construction,
self-image, external approval. Psychoanalysis provided a better understanding of the
impacts of the excessive use of technology in the lives of adolescents and how it is
necessary for parents, educators, and health professionals to be attentive to the signs
of the excessive use of social networks.

Keywords: adolescence; social media; psychoanalysis.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 8

1 Virtualmente Conectados: Reflexões Psicanalíticas sobre as Redes


Sociais ......................................................................................................................... 10

2 Os Desafios da Adolescência ..................................................................... 22

3 Complexidade e desafios das redes sociais na adolescência ............. 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 46


8

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram uma presença constante na


vida de muitos adolescentes, proporcionando uma plataforma para se conectar com
amigos, compartilhar informações e explorar interesses. No entanto, o uso excessivo
dessas plataformas tem levantado preocupações significativas sobre seus efeitos na
vida dos adolescentes. Este trabalho tem como objetivo analisar os efeitos do uso
excessivo das redes sociais na vida dos adolescentes sob a perspectiva da
psicanálise.
Através da lente psicanalítica, é possível examinar como as redes sociais
afetam a formação da identidade, as relações interpessoais, as emoções e o
desenvolvimento psicológico dos adolescentes. A psicanálise nos convida a explorar
não apenas os aspectos visíveis e conscientes do uso das redes sociais, mas também
as dinâmicas inconscientes que podem estar presentes nessa interação virtual.
Ao examinar o uso das redes sociais sob a perspectiva psicanalítica, é
importante considerar conceitos fundamentais, como o ego, o id e o superego. O ego,
responsável pela mediação entre os desejos do id e as demandas da realidade, pode
ser influenciado pelas interações nas redes sociais, levando a desafios no
estabelecimento de uma identidade sólida e no enfrentamento das pressões sociais
online.
Ao analisar os efeitos do uso excessivo das redes sociais na vida dos
adolescentes, é necessário considerar não apenas os aspectos positivos, como a
conexão social e o acesso a informações, mas também os possíveis efeitos negativos,
como a dependência, a comparação social, a ansiedade e a baixa autoestima
A adolescência é uma fase crucial do desenvolvimento, caracterizada por
mudanças físicas, emocionais e sociais intensas. Nesse período, os adolescentes
estão em busca de identidade e autonomia, e as redes sociais desempenham um
papel significativo em suas vidas, influenciando sua percepção de si mesmos e de seu
lugar na sociedade. No entanto, o uso excessivo das redes sociais pode ter
consequências negativas para o bem-estar psicológico e emocional dos adolescentes.
9

Aberastury e Knobel (1992) diz que o adolescente passa por desequilíbrio e


instabilidades extremas, o que configura uma entidade semipatológica, que eles
denominam síndrome do adolescente normal.
Além disso, a psicanálise nos convida a examinar como as redes sociais podem
afetar a necessidade de intimidade, a busca por reconhecimento e a satisfação de
desejos inconscientes. A constante exposição às vidas dos outros nas redes sociais
pode levar a comparações sociais, inveja e sentimentos de inadequação,
influenciando a saúde mental e o bem-estar emocional dos adolescentes.
Dessa forma, este trabalho buscará aprofundar a compreensão dos efeitos do
uso excessivo das redes sociais na vida dos adolescentes, considerando as
contribuições da psicanálise. Serão examinadas as dinâmicas psicológicas
subjacentes ao uso das redes sociais, como a busca por aprovação e reconhecimento,
a necessidade de pertencimento e a influência dos modelos ideais presentes nesses
ambientes virtuais.
Por fim, espera-se que esta pesquisa possa contribuir para uma reflexão crítica
sobre o uso das redes sociais na adolescência e fornecer subsídios para a criação de
estratégias de intervenção e prevenção.
10

1 Virtualmente Conectados: Reflexões Psicanalíticas sobre as Redes


Sociais.

Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram uma parte integral da vida
moderna, oferecendo uma plataforma para conexão social, compartilhamento de
informações e entretenimento. No entanto, por trás da aparente inocência dessas
plataformas, existe um aspecto sombrio: a manipulação psicológica que ocorre por
trás delas. Na visão da psicanálise, é fundamental compreender como essa
manipulação afeta a psique humana e influencia nosso comportamento.
De acordo com o documentário O Dilema das Rede (2020), as redes sociais
são projetadas para atrair e reter a atenção dos usuários, tornando-se um espaço
onde o desejo é constantemente estimulado. Através de algoritmos sofisticados e
estratégias de design, as plataformas buscam atender aos desejos inconscientes das
pessoas, alimentando suas necessidades de aprovação, reconhecimento e conexão
social. Essa manipulação é realizada de forma sutil, muitas vezes explorando nossas
vulnerabilidades emocionais.
A sociedade contemporânea está cada vez mais presa na tela de um
smartphone, os criadores da plataforma descobriram o quanto o sujeito tem medo de
ficar sozinho e quanto estão dispostos a pagar para não ficar só. O sujeito acaba
pagando com sua liberdade, pois a partir do momento em que ele clica em “aceito os
termos” o algoritmo assume o controle da sua liberdade, ele acaba manipulando os
pensamentos dos seus usuários, além de também controlar seus usuários com
notificações, só para prender ainda mais o usuário a ele. Quando o algoritmo percebe
que a pessoa está um tempo sem utilizar alguma plataforma eles começam a mandar
notificações e te prender ainda mais ao aplicativo, quando a pessoa vai ver já perdeu
uma hora da sua vida só em frente do smartphone e no computador, pois os criadores
não ver só o sujeito como consumidor, o ver também como mercadoria, vendendo
nossos dados de pesquisa e desejos para grandes empresas, além de influenciar
nossos desejos sobre alguma mercadoria que a rede esteja vendendo
As redes sociais podem desencadear uma série de efeitos psicológicos. Pois
a busca incessante por validação e aprovação, por exemplo, pode levar a sentimentos
de inadequação e baixa autoestima quando não recebemos a resposta desejada.
11

O psicólogo Luiz Mafle, professor de psicologia e Doutor pela PUC Minas


explica para o jornal Metropoles que a situação da pandemia alterou a configuração
dos aplicativos:

A ideia começou a ser fazer com que se passe o máximo de tempo possível diante
da tela para o consumo de propaganda. Para isso, desenvolveram a estratégia dos algoritmos,
likes e engajamentos, que ativam o mecanismo de recompensa em nosso cérebro. Por conta
do impulso constante para checar se recebemos uma mensagem, nos sentimos
desconfortáveis e impelidos a olhar a todo instante o celular.

Além disso, a exposição constante a imagens informações idealizadas podem


criar um sentimento de insatisfação com nossas próprias vidas, levando a um ciclo de
comparação constante e descontentamento.
A psicanálise também destaca a maneira como as redes sociais podem afetar
nossa relação com o tempo e a realidade. O imediatismo proporcionado por essas
plataformas pode gerar uma busca constante por gratificação instantânea, dificultando
nossa capacidade de lidar com a espera e a frustração. Além disso, a exposição
excessiva a uma realidade virtual pode distorcer nossa percepção da realidade,
levando à alienação e ao afastamento das experiências reais e significativas.
Outro aspecto preocupante é o poder de influência das redes sociais na
formação da identidade e na construção da imagem pessoal. A busca pela aprovação
social pode levar as pessoas a adaptarem suas personas online de acordo com as
expectativas e normas estabelecidas na plataforma, resultando em uma fragmentação
da identidade e em uma busca constante por validação externa.
Nas redes sociais podemos analisar os aspectos psicológicos e emocionais
envolvidos na interação online, como a construção da identidade, transferência e
projeção, narcisismo e a busca de aprovação e o inconsciente coletivo.
Na era digital alguns psicanalistas considera que os sujeitos projetam suas
emoções e desejos não resolvidos nos outros, muitas vezes inconscientemente, isso
pode se manifestar nas interações entre usuários e acabam transferindo suas
expectativas, necessidades e até mesmo conflitos pessoas para os outros, criando
dinâmica complexas de relacionamento online.
12

A psicanálise postula que os indivíduos são movidos por forças internas, muitas
vezes inconscientes, que impulsionam seus pensamentos, sentimentos e
comportamentos. Essas forças são moldadas por desejos e necessidades que surgem
a partir de experiências passadas, relacionamentos interpessoais e conflitos internos.
Os desejos são entendidos como uma expressão dos impulsos e anseios
humanos. Eles podem abranger uma ampla gama de âmbitos, incluindo desejos
físicos, emocionais, sexuais, sociais e de autorrealização. Por exemplo, podemos ter
desejos de comida quando estamos com fome, desejos de amor e intimidade quando
buscamos conexões emocionais, desejos de reconhecimento e realização pessoal em
nossas carreiras, entre outros.
Esses desejos são vistos como essenciais para o desenvolvimento e o bem-
estar humano. Eles impulsionam a busca por satisfação e plenitude, levando os
indivíduos a buscar experiências e objetivos que correspondam a esses desejos.
Quando nossos desejos são atendidos e satisfeitos, experimentamos um senso de
realização e contentamento2.
No entanto, alguns psicanalistas também reconhecem que nem sempre é
possível satisfazer todos os nossos desejos de maneira imediata ou completa.
Conflitos internos, restrições sociais e limitações da realidade podem impedir a
realização de certos desejos. Essas frustrações podem gerar ansiedade, insatisfação
e angústia.
psicanalistas buscam explorar e compreender os desejos inconscientes que
podem estar influenciando nosso comportamento e nossas escolhas. Através do
processo terapêutico, os indivíduos podem se tornar mais conscientes de seus
desejos, entender as motivações por trás deles e buscar maneiras saudáveis de lidar
com eles. Isso envolve a exploração dos desejos reprimidos ou negados, a
compreensão de conflitos internos e a busca de alternativas adaptativas para a
satisfação dos desejos.

2 22
Lacan enfatiza a importância do desejo na constituição do sujeito, ele argumenta que o desejo
humano é marcado por uma falta fundamental e por uma busca constante por completude, no Seminário, livro
11 (1965).
13

Em suma, a psicanálise considera os desejos como uma parte fundamental da


experiência humana, impulsionando-nos a buscar satisfação e plenitude em várias
áreas de nossas vidas. Ao explorar e compreender esses desejos, podemos
desenvolver uma maior consciência de nós mesmos e buscar formas saudáveis de
preencher nossas necessidades e anseios.
A plataforma nos influência a idealizar projeções sobre a solidão não existi
enquanto estivermos online, que há sempre alguém disposto a ler qualquer coisa que
postamos, que sempre há alguém para conversar. Mas isso não é realidade, pois a
realidade na mídia social é que não há conversa e sim diálogo, mas o sujeito anseia
tanto em fugir da solidão e alimentar o seu narcisismo, que acaba sendo acorrentado
numa caverna, assim como no livro A república de Platão que fala da alegoria da
caverna, onde todos estão acorrentado numa caverna, nessa caverna o fogo ilumina
o outro lado dela projetando uma sombra de objetos e pessoas, a parede da caverna
também ecoa sons que vem de fora da caverna, eles acreditavam que a sombra que
fazia os barulhos que eles escutava, para os prisioneiros a sombra era algo real, até
um prisioneiro conseguir fugir da caverna e ver que nada daquilo que ele acreditava
ser verdade quando estava preso era real, quando ele decide voltar para caverna para
revelar ao seus antigos companheiros que nada daquilo era real, ele entra na caverna
e já não consegue mais enxergar tão bem quanto antes naquela, pois já tinha se
acostumado com a luz do lado de fora, os antigos companheiros dele acreditou que
sair da caverna lhe causou danos e os companheiros não quiseram acompanha-lo
para fora da caverna, com medo de lhes causarem algo3. Atualmente vivemos nessa
caverna acorrentados observando um mundo que acreditamos ser real, onde
acabamos nos recusando a sair dele renunciando à nossa liberdade, nos tornando
prisioneiros da plataforma, postando foto todo dia e alimentando a plataforma com
falsas exposições da nossa vida, onde todos acaba tendo as percepções influenciadas
pela plataforma, pois um conteúdo viral pode refletir os nossos desejos.
A maioria das pessoas utilizam a redes social para suprir o vazio interno, com
aprovações externas, pois acaba que o ser humano vive constantemente em busca

33 Platão aborda alegoria da caverna em a República livro 7.


14

de alguma aprovação e a rede social projeta uma falsa impressão de reconhecimento


que o sujeito tanto procura.
No mundo virtual o usuário pode experimentar uma ampla tonalidade de afeto,
como alegria e tristeza, nas redes sociais as interações podem provocar resposta
emocionais por meio de publicações, comentários e interações virtuais com outras
pessoas. No entanto, a psicanálise também destacada que o mundo cyber apresenta
certas limitações que podem impactar negativamente a experiencia do afeto. Em
algumas situações, as interações online podem ser superficiais e carentes de
elementos essenciais para construção de relacionamentos autênticos e duradouros,
como contato físico, linguagem corporal e comunicação não verbal. Isso pode levar a
uma sensação de vazio e insatisfação emocional, apesar da aparente conexão virtual.
A rede social alimenta a nossa busca por aprovação, através do nosso
narcisismo. Na teoria psicanalítica discute a importância do narcisismo na formação
da nossa personalidade, nas redes sociais, muitos indivíduos buscam validação e
reconhecimento através de curtidas, comentários e compartilhamentos. A quantidade
de curtidas e a popularidade nas mídias sociais podem se tornar indicadores de valor
pessoal, alimentando o narcisismo e a necessidade aprovação. Sherry Turkle diz para
o jornal Zero Hora que:

Somos criaturas sociais. Queremos agradar e ser socialmente reconhecidos.


É por isso que é tão fácil entrar nessa cultura de mercado de aprovação online. Não
acho que seja necessário usar o termo "vício" para explicar o que está acontecendo.
Na internet, encontramos uma forma simples, rápida e relativamente "barata" de achar
a aprovação dos outros.

O narcisismo é uma fase normal do desenvolvimento humano durante a


infância, conhecida como narcisismo primário. Nesse estágio, o bebê direciona sua
energia libidinal (energia sexual) para si mesmo, buscando a satisfação de suas
necessidades e prazeres imediatos. O bebê experimenta a si mesmo como uma
15

entidade separada, mas ainda não possui uma clara distinção entre o eu e o mundo
externo. 4
Quando não conseguimos satisfazer adequadamente o nosso narcisismo
pode acabar levando a diferentes consequências psicológicas, como:
• Baixa autoestima: ocorre quando há falta de satisfação narcísica e o leva a
pessoa ter uma visão negativa de si mesma.
• Dependência excessiva de aprovação externa: a autoestima pode acabar
dependendo excessivamente das opiniões e das reações dos outros
• Comportamento destrutivo: a insatisfação narcísica pode acabar levando a
comportamentos destrutivos, como a constante busca por atenção, manipulação,
inveja ou até comportamentos agressivos.
• Sentimentos de vazio: a falta da satisfação narcísica certa pode acabar
deixando uma sensação de vazio, pode ocorrer uma procura constante para
preencher essa lacuna, seja através das redes sociais, de realizações, bens materiais
ou relacionamentos.
• Vulnerabilidade: a falta de um senso solido de identidade e de reconhecimento
pessoal pode tornar uma pessoa mais vulnerável ao desamparo emocional.
Freud apresentou na segunda teoria do aparelho psíquico uma divisão, essa
teoria se baseia na estruturação da mente humana em diferentes instancias, nela ele
propôs que o aparelho psíquico é composto por três partes inter-relacionadas: id, ego
e superego. O equilíbrio entre essas instancias e essencial para saúde psíquica e o
funcionamento adaptativo do indivíduo. Os conflitos e as negociações entre id, ego e
superego são fundamentais na compreensão dos processos psicológicos, dos
comportamentos humanos e das dinâmicas interpessoais.5
O id é a parte mais primitiva do nosso inconsciente, ele busca satisfazer nossos
impulsos e desejos imediatos, sem levar em consideração as consequências sociais
ou morais. Quando enxergamos o funcionamento das redes sociais na perspectiva do

4 Freud aborda o narcisismo em sua obra Introdução ao Narcisismo (1914), onde explora a natureza do
narcisismo e suas relações com o desenvolvimento psicossexual e a estruturação da personalidade.
5 Freud propôs que a mente é composta por três instancias psíquicas distintas ids, ego e superego na

obra O Ego e o Id de (1923).


16

id, podemos identificar satisfação imediata, busca por prazer, além de agressividade
e impulsos primitivos.
O ego lida com a realidade é age como mediador entre o id e o mundo. externo,
ele busca satisfazer as necessidades do id de maneira realista e socialmente
aceitável, o ego opera de acordo com o princípio da realidade, equilibrando os desejos
do id com as exigências da sociedade.
O superego age como um vigilante moral, impondo os valores e as normas
internalizadas pela sociedade, juntos o ego e superego trabalham para regular e
direcionar o comportamento humano de acordo com as demandas internas e
externas.
O narcisismo e o id nas redes sociais podem sobrepor alguns aspectos, como
o uso excessivo das redes sociais pode satisfazer os impulsos do Id por gratificação
imediata e prazer, ao mesmo tempo que alimenta o narcisismo em busca de
aprovação e atenção dos outros por meio de curtidas, comentários e
compartilhamento.
A mundo virtual acaba causando prazer para o id e ele está totalmente ligado
ao inconsciente, se o desejo não for realizado imediatamente, pode acabar gerando
algum transtorno emocional. O Id é impulsivo, isso nas redes sociais pode se
manifestar na forma de postagens impulsivas, comentários e compartilhamento de
conteúdo sem levar em consideração as consequências ou impacto que possa causar
na vida dos outros.
A rede social acaba se tornando favorável para relações superficiais e vazia,
onde acaba não tendo uma relação solida, esse é um dos preços que pagamos para
alimentar nosso narcisismo. As relações sociais no mundo virtual acabam se tornando
algo fácil de entrar e de sair, com um clique você acaba se tornando “amiga” de um
completo desconhecido e do mesmo jeito você pode deixar de ser amiga, ao contrário
de um relacionamento real, Bauman concedeu uma entrevista a Fernando Schuler e
Mario Mazzilli na Inglaterra, na conferência do fronteiras do pensamento 2011 na qual
afirmou que “Ao contrário de “relacionamentos reais”, os ‘relacionamentos virtuais’ são
fáceis de entrar e de sair. Acho que a atratividade do novo tipo de amizade, o tipo de
amizade de facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. É a facilidade de
desconectar.”
17

No livro Identidade de Bauman (2005) ele cita que as redes sociais é uma
tentativa contemporânea de construção de identidade, nos lembrando de que a
identidade é algo a ser criado. A era da internet estimulou uma nova identidade, onde
é necessário um mostruário de exposição da sua vida, mas onde o sujeito expõe os
aspectos que o convém, Rosa (2015) afirma que em rede social o sujeito pode
escolher o que lhe convém expor “entre mostrar e esconder, ver e comentar, infere-
se que o processo de negociação de identidade nas redes culmina com o fenômeno
da estetização do self’’ (p.435) - fenômeno propulsor da produção subjetiva na
atualidade.
A psicanálise enfatiza que a identidade é uma criação complexa, que é
influenciada por aspectos internos e externos, já no mundo virtual as pessoas criam
uma identidade virtual que pode ser influenciada por fantasias e projeções, nas redes
sociais o sujeito pode projetar seus desejos e fantasias, isso pode envolver a
apresentação de uma vida idealizada, com conquistas, experiencias e aparências
idealizadas, que não corresponde à realidade.6
A identidade virtual também pode estar relacionada ao narcisismo e a busca
por reconhecimento, nas redes sociais a busca por curtidas, visualizações,
comentários e seguidores pode alimentar o narcisismo, uma vez que a validação e o
reconhecimento online se tornam indicadores de valor pessoal e autoestima.
O ser humano tem a necessidade constante de alimentar seu narcisismo, o
usuário da rede social não posta uma foto porque está se achando bonito ou por amor
próprios e sim a procura de elogios para revigorar o seu narcisismo. O sujeito começa
a viver por aprovação externa e essa procura incansável por aprovação pode levar a
uma sensação de vazio e insatisfação, já que o reconhecimento não é duradouro ou
autêntico.
A internet oferece uma plataforma para a construção de identidades virtuais,
nas quais as pessoas podem escolher como se apresentar ao mundo. Isso pode levar
à criação de personas e personagens online, onde as pessoas podem esconder ou
exagerar certos aspectos de si mesmas. A busca por aceitação e validação nas redes

6 Lacan argumenta que a identidade é construída através da relação com o "outro" e a busca pelo
reconhecimento do "eu idealizado", na sua obra da teoria do espelho (1949).
18

sociais pode incentivar a apresentação de uma versão idealizada de si mesmo, que


pode não corresponder à realidade.
Na visão da psicanálise, essa dissociação entre a persona online e a identidade
real pode levar a um conflito interno e à falta de autenticidade. Quando as pessoas se
esforçam para atender às expectativas do mundo virtual, elas podem se distanciar de
sua verdadeira essência e dos seus desejos autênticos. Isso pode resultar em
sentimentos de vazio, desconexão e inautenticidade.
Além disso, a busca por validação nas redes sociais pode levar a uma
dependência do feedback externo, prejudicando a capacidade de autoavaliação e
autorregulação. As pessoas podem se tornar excessivamente preocupadas com a
imagem que projetam online, buscando constantemente aprovação e validação dos
outros. Isso pode criar um ciclo vicioso em que a autenticidade é sacrificada em prol
da aceitação social, levando a uma falta de integridade pessoal e a um sentimento de
vazio emocional.
O uso excessivo das redes sociais pode causar preocupação excessiva com
aparência física e a autoimagem. A busca por aprovação através de curtidas e
comentários pode levar a dependência de relação externo para manter sua
autoestima. Isso pode acabar afetando negativamente a autoimagem, levando uma
preocupação excessiva com sua aparência física, lhe causando dismorfia corporal e
a sensação de nunca ser boa suficiente.7
A era digital pode desempenhar um papel importante dismorfia corporal,
principalmente devido às constantes exposições de imagens idealizadas e alteradas
digitalmente de corpos perfeitos. Essas imagens podem criar um padrão falsa de
beleza e fazer com que as pessoas se comparem negativamente, sentindo sempre
insatisfeita com sua aparência.
Ansiedade e depressão têm sido ligadas ao uso exagerado das redes sociais,
pois a constante exposição de imagens idealizadas, as comparações sociais, a busca
por aprovação e medo de ficar de fora pode acabar gerando sentimentos de
inadequação, solidão, ansiedade e tristeza. As redes sociais acabaram contribuindo

7 No artigo Repercussões das Redes Sociais na Imagem Corporal de Seus Usuários: Revisão Integrativa
de Ana Flavia, Camila Cremonezi e Fernanda Rodrigues (2020), investiga a repercussão do uso das redes sociais
pode afetar nossa autoimagem.
19

para o isolamento, embora elas possam nos conectar as pessoas virtualmente, ela
nos levou a diminuir a interação rosto a rosto, do contato humano. Podendo causar
uma sensação de desligamento emocional.
A influência das redes sociais na insatisfação com a aparência é um tema
relevante na psicanálise, pois evidencia os impactos psicológicos que essas
plataformas podem ter sobre a percepção do próprio corpo e a autoestima.
As redes sociais, com seu foco na imagem e na aparência, podem criar um
ambiente propício para a comparação constante. Ao serem expostas a imagens
cuidadosamente selecionadas e idealizadas, as pessoas podem sentir-se
pressionadas a alcançar um padrão inatingível de beleza e perfeição. Essa exposição
incessante a corpos e estéticas considerados ideais pode levar a sentimentos de
inadequação, insatisfação e baixa autoestima.
Na visão da psicanálise, a insatisfação com a aparência está ligada a processos
psicológicos complexos, incluindo a formação da identidade e a busca por
reconhecimento e validação. As redes sociais podem ampliar esses processos, uma
vez que a aparência física é constantemente avaliada e julgada pelos outros. Isso
pode levar a uma busca obsessiva por aprovação externa, minando a própria
percepção do indivíduo sobre sua beleza e valor intrínseco.
Além disso, a cultura de likes, comentários e seguidores nas redes sociais pode
reforçar a ideia de que a aparência é um fator central para a aceitação social e a
validação pessoal. A busca por validação através da aparência pode tornar-se uma
fonte de ansiedade e angústia, já que a insatisfação contínua com o corpo e a
comparação com os outros podem gerar um ciclo de autocrítica e baixa autoestima.
Desligamento emocional é um estado em que o sujeito se desconecta das suas
emoções e sentimentos, no mundo virtual o sujeito compartilha aspectos superficiais
para evitar assuntos emocionalmente desafiadores, eles mantem uma distância
emocional das interações online. O desligamento também pode ocorrer como forma
de proteção contra julgamentos e rejeição externa, ao se distanciar o sujeito evita
possibilidade de críticas ou confrontos emocionais que possa ocorrer virtualmente. 8

8Bauman aborda o desligamento emocional e a fragilidade das relações afetivas na sociedade


contemporânea em seu livro Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos (2003).
20

A terapia psicanalítica pode desempenhar um papel importante ao ajudar os


indivíduos a explorar seus padrões de uso das redes sociais, as motivações
subjacentes e as emoções reprimidas ou negadas que podem estar envolvidas. Ao
trazer à tona essas emoções reprimidas, a psicanálise busca promover a reconexão
emocional, a compreensão de si mesmo e o desenvolvimento de estratégias
saudáveis para lidar com as influências das redes sociais.
Em suma, o desligamento emocional causado pela exposição constante às
redes sociais pode afetar negativamente o ser humano, levando à superficialidade nas
conexões, sentimentos.
as reflexões psicanalíticas sobre as redes sociais nos convidam a examinar
criticamente os impactos dessas plataformas em nossas vidas. Ao explorar as
dinâmicas do desejo e as manipulações psicológicas presentes nas redes sociais,
podemos obter uma compreensão mais profunda dos efeitos que elas têm sobre
nossa psique e comportamento.
A psicanálise nos alerta para os riscos de dependência emocional e busca
constante por validação que as redes sociais podem promover. Essas plataformas
podem alimentar nossos desejos inconscientes de conexão, reconhecimento e
aprovação, muitas vezes resultando em comparação constante, baixa autoestima e
alienação da realidade.
Ao reconhecer a manipulação sutil que ocorre nas redes sociais, somos
convidados a desenvolver uma consciência crítica e um maior autoconhecimento. Isso
implica em refletir sobre nossos desejos, motivações e vulnerabilidades emocionais
ao interagir com essas plataformas.
A terapia psicanalítica pode desempenhar um papel fundamental na análise
dessas questões. Ao explorar os desejos inconscientes, os conflitos internos e os
mecanismos de defesa que estão em jogo, podemos desenvolver estratégias
saudáveis para lidar com as influências das redes sociais em nossa vida diária. O
processo terapêutico nos permite examinar nossos padrões de comportamento,
identificar as motivações subjacentes e buscar alternativas mais gratificantes para a
satisfação de nossos desejos.
É essencial lembrar que temos um papel ativo na forma como nos envolvemos
com as redes sociais. Podemos adotar medidas para regular nosso tempo de uso,
21

estabelecer limites saudáveis e cultivar relacionamentos e experiências offline


significativas.
Em última análise, as reflexões psicanalíticas sobre as redes sociais nos
convidam a encontrar um equilíbrio entre a conectividade virtual e a preservação de
nossa saúde emocional e bem-estar. Ao desenvolver uma maior consciência de
nossos desejos, necessidades e vulnerabilidades, podemos nos tornar participantes
mais conscientes e autônomos nesse novo cenário digital, encontrando formas de
usar as redes sociais de maneiras que sejam positivas e enriquecedoras para nossas
vidas.
22

2 Os Desafios da Adolescência

Freud dedicou parte de sua obra para tentar compreender e analisar a


psicologia dos adolescentes. Embora a teoria dele se concentre principalmente nas
fases iniciais do desenvolvimento humano, Freud reconheceu a importância crucial da
adolescência como um período de transição e mudanças significativas.9 Freud pontua
que:
Ainda nos primeiros anos de sua adolescência, ela costumava por algum
tempo ser encontrada todas as manhas num estado de estupor, com os membros
rígidos, a boca aberta e a língua para fora; e agora, mais uma vez, estava sofrendo, ao
despertar, de acessos que eram semelhantes, embora não tão graves. (Freud,
1893\1996, p. 288)

Ele percebeu que a adolescência era um momento marcado por intensas


transformações físicas, emocionais e psicológicas. Ele reconheceu que os jovens
passavam por uma série de conflitos internos, questionamentos sobre a identidade,
sexualidade e autonomia. Em sua teoria, Freud observou que a puberdade trazia à
tona uma intensificação dos impulsos sexuais e uma necessidade de explorar e
entender a própria sexualidade.
Além disso, ele também enfatizou a importância do complexo de Édipo no
desenvolvimento do adolescente. Esse complexo se origina na infância, envolve
sentimentos confusos em relação aos pais, como amor pelo genitor do sexo oposto e
rivalidade com o genitor do mesmo sexo. Freud argumentou que esses sentimentos
poderiam ressurgir e influenciar os conflitos e as dinâmicas emocionais dos
adolescentes.
Embora ele não tenha elaborado uma teoria específica dos estágios do
desenvolvimento do adolescente, ele forneceu uma percepção valiosa sobre a
compreensão das questões psicológicas e emocionais enfrentadas nessa fase da
vida. Ele enfatizou a importância de explorar os desejos inconscientes, os conflitos
internos e as dinâmicas familiares que afetam o desenvolvimento dos adolescentes.
Ele observou que a puberdade traz consigo uma intensificação dos impulsos
sexuais e uma busca por compreender e explorar a própria sexualidade. Ele

9 Freud não tem uma obra centrada sobre a puberdade, mas ele a aborda em sua obra Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade (1905), onde também aborda o complexo de édipo
23

acreditava que a sexualidade era uma força motivadora fundamental na vida humana,
e a puberdade era um marco importante nesse aspecto. Para Freud, a sexualidade
não se limitava apenas à satisfação física, mas também desempenhava um papel
crucial na formação da identidade e no desenvolvimento emocional.
Além disso, Freud reconheceu que a puberdade poderia reavivar o complexo
de Édipo, que se origina na infância. O complexo de Édipo envolve sentimentos
ambivalentes em relação aos pais, como amor pelo genitor do sexo oposto e rivalidade
com o genitor do mesmo sexo.
O complexo de Édipo está relacionamento ao desenvolvimento da sexualidade
e à formação da identidade de gênero. Durante a infância, a criança experimenta
sentimentos confusos em relação aos pais, desenvolvendo um amor intenso pelo
progenitor do sexo oposto e uma rivalidade com o progenitor do mesmo sexo. Esses
sentimentos confusos podem reaparecer na adolescência, afetando as dinâmicas
emocionais e os relacionamentos dos adolescentes.
Na adolescência, os jovens começam a se afastar da infância e começa a
busca pela sua identidade e autonomia. O complexo de Édipo desempenha um
importante papel nessa busca, pois ela influencia a formação da identidade sexual e
a orientação emocional do adolescente. O conflito e as emoções relacionados ao
complexo de Édipo podem influenciar a atração romântica e sexual, bem como a
maneira como o adolescente se relaciona com os outros.
Esse complexo também pode influenciar o relacionamento em casa, esses
sentimentos de amor e rivalidade do adolescente pelo genitor pode causar conflitos e
tensões familiares. Os jovens podem sentir uma necessidade de se afastar dos seus
pais para estabelecer sua própria identidade, ao mesmo tempo em que podem sentir
culpa ou equívoco em relação a esses sentimentos.
Freud também destacou que a puberdade pode ser um período de intensos
conflitos internos e de questionamentos sobre a identidade. Os jovens enfrentam o
desafio de equilibrar suas necessidades de independência e autonomia com as
pressões e expectativas sociais. Durante essa fase, podem ocorrer mudanças
significativas na autoimagem e na percepção do eu.
Freud, propôs uma teoria do desenvolvimento psicossexual que descreve as
diferentes fases pelas quais uma pessoa passa desde o nascimento até a idade
24

adulta. Segundo Freud, essas fases envolvem a interação entre impulsos biológicos
(sexualidade infantil) e influências sociais e culturais. Aqui estão as fases do
desenvolvimento psicossexual propostas por Freud:

1. Fase oral (do nascimento aos 18 meses): Durante esta fase, a principal fonte
de prazer e satisfação é a boca. O bebê obtém prazer através da amamentação
e da exploração oral do ambiente. O desenvolvimento adequado nessa fase
envolve a resolução de conflitos relacionados à dependência e independência.
2. Fase anal (dos 18 meses aos 3 anos): Nesta fase, o foco do prazer se desloca
para a área anal. O controle dos esfíncteres e a capacidade de lidar com a
gratificação e a retenção fecal são questões importantes nessa fase. Freud
sugeriu que os conflitos nessa fase podem influenciar a personalidade adulta,
com características como ordem e organização versus desordem e
descontrole.
3. Fase fálica (dos 3 aos 6 anos): Durante a fase fálica, a zona erógena se move
para os genitais. As crianças começam a desenvolver uma consciência da
diferença entre os sexos e o desejo de estabelecer um vínculo emocional com
o genitor do sexo oposto (complexo de Édipo para meninos e complexo de
Electra para meninas). Os conflitos e resoluções nessa fase são fundamentais
para o desenvolvimento da identidade de gênero e da moralidade.
4. Período de latência (dos 6 anos à puberdade): Nessa fase, os impulsos sexuais
são reprimidos e a energia psíquica é direcionada para atividades intelectuais,
sociais e educacionais. As crianças tendem a se envolver em atividades com
pessoas do mesmo sexo e a explorar interesses e habilidades pessoais.
5. Fase genital (puberdade em diante): Essa fase marca o início da maturidade
sexual e o desenvolvimento dos relacionamentos íntimos. O foco principal do
prazer está nos órgãos genitais e a energia sexual é direcionada para relações
sexuais maduras e saudáveis.10
Freud dedicou parte de sua obra para tentar compreender e analisar a
psicologia dos adolescentes. Embora a teoria dele se concentre principalmente nas

10 Freud aborda o desenvolvimento psicossexual na sua obra três Ensaios sobre a teoria da Sexualidade.
25

fases iniciais do desenvolvimento humano, Freud reconheceu a importância crucial da


adolescência como um período de transição e mudanças significativas.11
Ele percebeu que a adolescência era um momento marcado por intensas
transformações físicas, emocionais e psicológicas. Ele reconheceu que os jovens
passavam por uma série de conflitos internos, questionamentos sobre a identidade,
sexualidade e autonomia. Em sua teoria, Freud observou que a puberdade trazia à
tona uma intensificação dos impulsos sexuais e uma necessidade de explorar e
entender a própria sexualidade.
Além disso, ele também enfatizou a importância do complexo de Édipo no
desenvolvimento do adolescente. Esse complexo se origina na infância, envolve
sentimentos confusos em relação aos pais, como amor pelo genitor do sexo oposto e
rivalidade com o genitor do mesmo sexo. Freud argumentou que esses sentimentos
poderiam ressurgir e influenciar os conflitos e as dinâmicas emocionais dos
adolescentes.
Embora ele não tenha elaborado uma teoria específica dos estágios do
desenvolvimento do adolescente, ele forneceu uma percepção valiosa sobre a
compreensão das questões psicológicas e emocionais enfrentadas nessa fase da
vida. Ele enfatizou a importância de explorar os desejos inconscientes, os conflitos
internos e as dinâmicas familiares que afetam o desenvolvimento dos adolescentes.
Ele observou que a puberdade traz consigo uma intensificação dos impulsos
sexuais e uma busca por compreender e explorar a própria sexualidade. Ele
acreditava que a sexualidade era uma força motivadora fundamental na vida humana,
e a puberdade era um marco importante nesse aspecto. Para Freud, a sexualidade
não se limitava apenas à satisfação física, mas também desempenhava um papel
crucial na formação da identidade e no desenvolvimento emocional.
Além disso, Freud reconheceu que a puberdade poderia reavivar o complexo
de Édipo, que se origina na infância. O complexo de Édipo envolve sentimentos
ambivalentes em relação aos pais, como amor pelo genitor do sexo oposto e rivalidade
com o genitor do mesmo sexo.

11 Freud não tem uma obra centrada sobre a puberdade, mas ele a aborda em sua obra Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade (1905), onde também aborda o complexo de édipo
26

Na adolescência, os jovens começam a se afastar da infância e começa a


busca pela sua identidade e autonomia. O complexo de Édipo desempenha um
importante papel nessa busca, pois ela influencia a formação da identidade sexual e
a orientação emocional do adolescente. O conflito e as emoções relacionados ao
complexo de Édipo podem influenciar a atração romântica e sexual, bem como a
maneira como o adolescente se relaciona com os outros.
Esse complexo também pode influenciar o relacionamento em casa, esses
sentimentos de amor e rivalidade do adolescente pelo genitor pode causar conflitos e
tensões familiares. Os jovens podem sentir uma necessidade de se afastar dos seus
pais para estabelecer sua própria identidade, ao mesmo tempo em que podem sentir
culpa ou equívoco em relação a esses sentimentos.
Freud também destacou que a puberdade pode ser um período de intensos
conflitos internos e de questionamentos sobre a identidade. Os jovens enfrentam o
desafio de equilibrar suas necessidades de independência e autonomia com as
pressões e expectativas sociais. Durante essa fase, podem ocorrer mudanças
significativas na autoimagem e na percepção do eu.
A abordagem dele permitiu que psicanalistas subsequentes ampliassem sua
compreensão da adolescência. Muitos estudiosos psicanalíticos seguiram seus
passos e se aprofundaram nas questões específicas do desenvolvimento
adolescente, explorando temas como identidade, relacionamentos interpessoais,
construção do eu e o impacto das influências sociais e culturais.
No livro Adolescência normal: Um enfoque psicanalítico, de Arminda
Aberastury e Mauricio Knobel, apresentou Síndrome da adolescência normal, a
característica dessa síndrome são a busca pela identidade, tendencia grupal,
necessidade de intelectualizar e fantasiar, crises religiosas, deslocação temporal,
evolução sexual, atitude social reivindicatória, contradições sucessivas em suas
manifestações e conduta, separação progressiva dos pais, constantes flutuações de
humor e animo.

As condições familiares e culturais poderão mitigar, favorecer, demorar ou


precipitar o desenvolvimento, mas não poderão impedir que o adolescente deva
elaborar por si mesmo lutos tão importantes como os que temos assinalado
(ABERASTURY, 1983, p. 27).
27

Busca pela identidade

A busca pela identidade envolve uma série de fatores psicológicos, sociais e


emocionais. Os adolescentes estão em constante interação com seu ambiente,
incluindo a família, amigos, escola e sociedade em geral. Essas interações moldam
suas percepções sobre si mesmos e influenciam na formação de sua identidade.
Durante essa busca, os adolescentes podem experimentar um senso de
confusão e ambivalência. Eles podem se sentir pressionados a se encaixar em
normas sociais e expectativas externas, enquanto ao mesmo tempo desejam
expressar sua individualidade e encontrar sua própria voz.
A identidade não é um estado fixo e definitivo, mas sim um processo contínuo
de autodescoberta e construção. Os adolescentes passam por diferentes estágios e
experimentam diferentes identidades ao longo do tempo. Eles podem experimentar
diferentes grupos sociais, hobbies, estilos de vida e identidades vocacionais antes de
encontrar uma identidade que ressoe verdadeiramente com quem são.
Essa busca também está relacionada à formação da autoestima e
autoconfiança. Os adolescentes precisam desenvolver um senso saudável de
autoestima, que os capacite a reconhecer suas próprias habilidades e valor pessoal.
A falta de uma identidade clara ou a dificuldade em encontrar uma identidade autêntica
pode levar a um sentimento de desorientação e baixa autoestima.
Durante a adolescência, os jovens sentem uma necessidade crescente de se
conectar com outros indivíduos da mesma faixa etária, que compartilham interesses,
valores e experiências similares. Os grupos de pares oferecem uma oportunidade de
pertencer a um círculo social e de se identificar com os outros membros, o que é
importante para o desenvolvimento da identidade e para o estabelecimento da
autoimagem, nessa fase o adolescente precisa do apoio familiar, pois é angustiante
essa busca, precisa ter força para superar o luto da infância.
A busca incessante de saber qual a identidade adulta que se vai constituir é
angustiante, e as forças necessárias para superar estes micros lutos e os lutos ainda
maiores da vida diária obtêm-se das primeiras figuras introjetadas que formam a base
do ego e do superego deste mundo interno do ser. (Aberastury e Knobel, 1989, p.350).
28

Tendencia grupal

A tendência grupal do adolescente pode manifestar-se de diferentes formas,


como a formação de gangues, tribos urbanas, clubes escolares, equipes esportivas,
grupos musicais, entre outros. Esses grupos fornecem um ambiente social no qual os
adolescentes podem experimentar e explorar diferentes papéis sociais, normas e
valores, ao mesmo tempo em que estabelecem vínculos afetivos com seus pares.
No entanto, a tendência grupal também pode ter seus desafios e riscos. Em
alguns casos, os adolescentes podem se envolver em comportamentos de grupo
negativos, como pressão dos pares para se envolver em comportamentos de risco,
exclusão social de outros jovens, formação de identidades coletivas baseadas em
oposição a outros grupos, entre outros.

Crises religiosas

Crises religiosas é fenômeno comum na adolescência, pois é nessa fase que


os jovens começam a questionar e reavaliar suas crenças e valores religiosos.
Durante a adolescência, os indivíduos estão em busca de sua identidade e autonomia,
o que inclui a exploração de suas convicções religiosas.
Existem várias razões pelas quais os adolescentes podem passar por crises
religiosas. Uma delas é o desenvolvimento cognitivo, que permite que os jovens
questionem e examinem suas crenças de maneira mais crítica. Eles podem começar
a fazer perguntas sobre a existência de Deus, o propósito da vida, a moralidade e a
relação entre a religião e a ciência.
Além disso, os adolescentes também estão expostos a diferentes perspectivas
e influências culturais. Eles podem entrar em contato com diferentes religiões,
filosofias e visões de mundo, o que os leva a questionar suas próprias crenças e a
considerar alternativas.
Elas podem ser acompanhadas por sentimentos de dúvida, ambivalência e
conflito interno. Os adolescentes podem se sentir divididos entre as crenças que foram
29

transmitidas a eles por suas famílias e comunidades religiosas e as novas


perspectivas que estão explorando. Isso pode gerar angústia e confusão, já que eles
estão tentando reconciliar suas crenças com sua identidade em formação.

A necessidade de intelectualizar e fantasiar

Durante a adolescência, os jovens frequentemente apresentam uma


necessidade de intelectualizar e fantasiar como parte de seu desenvolvimento
cognitivo, emocional e psicossocial. Essas duas dimensões desempenham papéis
diferentes, mas interligados, no processo de crescimento dos adolescentes.
A necessidade de intelectualizar refere-se à busca de compreensão e sentido
por meio do pensamento crítico e da reflexão. Os adolescentes estão desenvolvendo
habilidades cognitivas mais avançadas, como o pensamento abstrato e a capacidade
de raciocínio lógico. Eles estão mais aptos a analisar situações complexas, questionar
suposições e procurar respostas para perguntas existenciais e morais.
A intelectualização pode servir como uma forma de lidar com as questões
emocionais e os desafios da adolescência. Os adolescentes podem usar o intelecto
como um mecanismo de defesa para afastar emoções desconfortáveis, buscando
respostas racionais e lógicas para lidar com suas experiências. Eles podem se
envolver em debates intelectuais, buscar conhecimento em áreas de interesse
pessoal e dedicar tempo à reflexão e à autorreflexão.
Por outro lado, a fantasia desempenha um papel importante no
desenvolvimento da criatividade e da imaginação dos adolescentes. A fantasia
permite que eles explorem diferentes possibilidades e experimentem mundos
imaginários. Por meio da fantasia, os adolescentes podem criar narrativas, histórias e
personagens que representam seus desejos, medos e aspirações. Essa capacidade
de fantasiar contribui para o desenvolvimento da identidade e da expressão individual.
A fantasia também pode ser um meio de escapismo, proporcionando aos
adolescentes uma pausa temporária das demandas e pressões da realidade. Eles
podem recorrer à fantasia como uma forma de lidar com o estresse ou como uma
maneira de experimentar diferentes papéis e identidades. Através da fantasia, os
30

adolescentes podem explorar sua sexualidade, expressar seus anseios e explorar o


mundo de maneira segura e imaginativa.
É importante ressaltar que a intelectualização e a fantasia devem ser
equilibradas na vida do adolescente. Um foco excessivo na intelectualização pode
levar à negação ou repressão das emoções, dificultando o processamento saudável
das experiências emocionais. Por outro lado, uma dependência excessiva da fantasia
pode levar à desconexão com a realidade e dificultar a adaptação ao mundo adulto.

Deslocação temporal

A deslocação temporal é um aspecto interessante do desenvolvimento


adolescente, que se refere à tendência dos jovens em se concentrar mais no presente
imediato do que nas perspectivas futuras. Durante essa fase de transição, os
adolescentes enfrentam uma série de mudanças físicas, emocionais e sociais, que
podem influenciar sua percepção do tempo.
Uma das principais características da deslocação temporal é a dificuldade dos
adolescentes em considerar as consequências de longo prazo de suas ações. Eles
tendem a privilegiar as recompensas imediatas e a gratificação instantânea, em vez
de considerar os impactos futuros de suas escolhas. Isso pode ser observado em
várias áreas da vida adolescente, como a tomada de decisões acadêmicas, o
planejamento de carreira, a gestão financeira e a manutenção de relacionamentos
saudáveis.
A deslocação temporal também pode levar os adolescentes a se envolverem
em comportamentos de risco. Eles podem adotar uma mentalidade "viver o momento"
e se sentir invulneráveis às consequências negativas. Isso pode resultar em
comportamentos como experimentação de drogas, envolvimento em atividades
perigosas, práticas sexuais de risco e negligência dos cuidados com a saúde.
No entanto, é importante destacar que a deslocação temporal não é
exclusivamente negativa. Ela faz parte do processo de desenvolvimento e permite que
os adolescentes explorem, experimentem e aprendam com suas experiências. A
ênfase no presente imediato pode ajudá-los a descobrir suas preferências, interesses
e identidade pessoal. Além disso, a deslocação temporal também pode ser vista como
31

uma estratégia adaptativa para lidar com as demandas e pressões da adolescência.


Os jovens estão enfrentando mudanças rápidas e intensas, e focar no presente pode
ser uma maneira de se protegerem de se sentirem sobrecarregados pelo futuro.

Evolução sexual

Aberastury e Knobel propuseram que a evolução sexual é uma parte essencial


do desenvolvimento humano durante a adolescência. Eles destacaram que a
puberdade desencadeia mudanças físicas, hormonais e psicológicas significativas
que afetam a sexualidade dos indivíduos.
A evolução sexual, segundo eles, envolve a transição da sexualidade infantil
para a sexualidade adulta, juntamente com o desenvolvimento das identificações de
gênero e a formação de uma identidade sexual.

Atitude social reivindicatória

A atitude social reivindicatória é uma resposta da criança à percepção de que


está sendo privada de sua onipotência inicial. À medida que a criança cresce, ela
começa a perceber que não pode ter tudo o que deseja instantaneamente e que
precisa lidar com a frustração e a realidade externa. Isso pode resultar em
comportamentos reivindicatórios, nos quais a criança exige e reclama de forma
insistente para satisfazer suas necessidades e desejos.
Essa atitude pode ser vista como uma forma de protesto contra a perda da
onipotência infantil, uma tentativa de recuperar um senso de controle e poder sobre o
ambiente. No entanto, eles destacam que é importante que os pais e cuidadores
estabeleçam limites adequados e auxiliem a criança a lidar com a frustração,
ajudando-a a desenvolver uma atitude mais adaptativa em relação às demandas do
mundo exterior.

Contradições sucessivas em suas manifestações de conduta


32

Os adolescentes podem exibir contradições em suas manifestações de


conduta. Pois eles estão em um período de transição, em que estão explorando e
experimentando diferentes identidades e papéis sociais. Isso pode levar a mudanças
frequentes em suas preferências, atitudes e comportamentos.
Além disso, os adolescentes estão lidando com novos desafios e demandas,
como a busca de independência, a pressão dos pares, a formação de relacionamentos
românticos, as mudanças hormonais e a busca por uma identidade própria. Esses
fatores podem levar a uma série de emoções conflitantes e comportamentos variados.
É importante entender que as contradições nas manifestações de conduta dos
adolescentes não devem ser vistas como um sinal de instabilidade ou problema. Faz
parte do processo de desenvolvimento e autodescoberta. No entanto, se os
comportamentos contraditórios forem extremos, persistentes ou prejudiciais, pode ser
necessário procurar apoio de um profissional de saúde mental para ajudar o
adolescente a lidar com essas questões.

Separação progressiva dos pais

A separação progressiva dos pais na adolescência refere-se ao processo pelo


qual os adolescentes começam a se afastar emocionalmente de seus pais, buscando
maior independência e autonomia. É um aspecto natural e esperado do
desenvolvimento durante essa fase da vida.
Durante a adolescência, os jovens estão em busca de sua identidade individual
e exploram novas experiências e relacionamentos fora do núcleo familiar. Eles
desejam se afirmar como indivíduos únicos e desenvolver sua própria visão de mundo.
A separação progressiva dos pais envolve uma série de mudanças, tanto para
os adolescentes quanto para seus pais. Os adolescentes podem começar a
questionar a autoridade dos pais, buscar mais privacidade, desafiar regras e valores
familiares, e buscar autonomia nas decisões e escolhas que afetam suas vidas.
33

Constante flutuações do humor e do estado de ânimo

Os adolescentes estão lidando com a transição da infância para a vida adulta,


enfrentando desafios como a formação da identidade, a sexualidade, a independência
emocional e a separação dos pais. Essas mudanças podem gerar conflitos internos e
angústias, refletindo-se nas flutuações de humor e ânimo.
a abordagem psicanalítica da síndrome do adolescente normal oferece uma
compreensão profunda dos desafios psicológicos enfrentados pelos adolescentes
durante o período de desenvolvimento. Através dessa perspectiva, podemos entender
que as constantes flutuações de humor e ânimo são parte integrante do processo de
amadurecimento emocional e da busca pela identidade.
A psicanálise reconhece a importância dos conflitos internos, dos desejos
inconscientes e das relações interpessoais na formação da personalidade do
adolescente. Ao explorar esses aspectos, a terapia psicanalítica pode ajudar os
adolescentes a compreenderem melhor a si mesmos, a lidarem com seus conflitos
internos e a desenvolverem uma identidade autêntica e saudável.
É importante ressaltar que a síndrome do adolescente normal não deve ser
vista como uma desordem patológica, mas sim como um aspecto natural e esperado
do desenvolvimento humano. As constantes flutuações de humor e ânimo podem ser
desafiadoras tanto para os próprios adolescentes quanto para as pessoas ao seu
redor, mas é fundamental reconhecer que essas oscilações fazem parte do processo
de autodescoberta e de construção da identidade.
A abordagem psicanalítica também destaca a importância das relações
familiares e das experiências passadas na formação da personalidade do
adolescente. A separação progressiva dos pais, por exemplo, pode ser um aspecto
crucial nesse processo, pois envolve a necessidade de desenvolver um senso de
autonomia e de estabelecer relacionamentos saudáveis com figuras de autoridade.
a abordagem psicanalítica da síndrome do adolescente normal oferece uma
compreensão profunda dos desafios psicológicos enfrentados pelos adolescentes
durante o período de desenvolvimento. Através dessa perspectiva, podemos entender
que as constantes flutuações de humor e ânimo são parte integrante do processo de
amadurecimento emocional e da busca pela identidade.
34

3 Complexidade e desafios das redes sociais na adolescência

A adolescência é uma fase de intensas transformações e descobertas, e o


surgimento das redes sociais adicionou uma nova camada de complexidade a esse
período. Sob a perspectiva da psicanálise, podemos explorar as diversas formas pelas
quais as redes sociais afetam os adolescentes e os desafios psíquicos que surgem
como resultado.
Segundo a pesquisa TIC Kids Online, divulgado pelo Comitê Gestor da Internet
no Brasil 88% dos usuários de internet do grupo entre 9 a 17 anos tem perfis em redes
sociais, a seguir veremos um gráfico feito pelo jornal Estadão baseado na pesquisa
TIC Kids Online:

As redes sociais oferecem aos adolescentes uma ampla gama de


oportunidades de conexão, expressão e interação social. No entanto, essa nova forma
de comunicação também traz desafios únicos que podem impactar a saúde mental e
emocional dos jovens.
No livro A Fábrica de Cretinos Digitais do neurocientista Michel Desmurget
(2021), ele discute os impactos negativos do uso excessivo de telas e dispositivo
eletrônicos nas mãos de crianças e adolescentes, ele argumenta que o uso excessivo
de telas e exposições podem levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e
depressão, além de impactar de forma negativa o desenvolvimento cognitivo,
incluindo habilidades linguísticas, memória, concentração e inteligência geral.
35

Conforme abordei como a rede social afeta o id, ego e superego em geral no
capítulo Virtualmente Conectados: Reflexões Psicanalíticas sobre as Redes Sociais,
agora irei falar como as redes sociais podem ter um impacto significativo no id, ego e
superego dos adolescentes, podendo afetar negativamente seu desenvolvimento
psicológico e bem-estar emocional. Vamos explorar como cada uma dessas
instâncias pode ser prejudicada:12
• Id: O id representa os impulsos e desejos primitivos da personalidade. Nas
redes sociais, o id dos adolescentes pode ser influenciado por conteúdos que
promovem comportamentos impulsivos, como desafios perigosos, incitação à
violência, uso de substâncias prejudiciais ou envolvimento em relacionamentos
tóxicos. A exposição a esse tipo de conteúdo pode despertar impulsos negativos nos
adolescentes, levando a comportamentos de risco ou prejudiciais à sua saúde física
e emocional.
• Ego: O ego é responsável pela mediação entre os impulsos do id e as
demandas da realidade. Nas redes sociais, o ego dos adolescentes pode ser
impactado negativamente de várias maneiras. Por exemplo, eles podem sentir uma
pressão constante para se encaixar nos padrões de beleza, popularidade ou sucesso
retratados nas redes sociais. Isso pode levar a uma autoavaliação negativa, baixa
autoestima e sentimentos de inadequação. O ego também pode ser desafiado pela
necessidade de se comparar constantemente com os outros, o que pode resultar em
inveja, ciúme e uma busca obsessiva por validação externa.
• Superego: O superego representa os valores e normas internalizadas pela
pessoa. Nas redes sociais, o superego dos adolescentes pode ser influenciado por
conteúdos prejudiciais, como cyberbullying, discursos de ódio, desinformação e
exposição a comportamentos antissociais. A exposição constante a esses conteúdos
pode levar os adolescentes a adotarem atitudes negativas, comprometendo sua
moralidade e valores éticos. Eles podem começar a normalizar comportamentos
prejudiciais.
As redes sociais encorajam os adolescentes a compartilharem detalhes íntimos
de suas vidas e a promoverem uma versão idealizada de si mesmos. Através de fotos,

12 Freud propôs que a mente é composta por três instancias psíquicas distintas ids, ego e superego na
obra O Ego e o Id de (1923).
36

postagens e histórias, os adolescentes podem exibir suas conquistas, aparência e


estilo de vida. Essa autopromoção constante fortalece o narcisismo, pois os
adolescentes se concentram na construção de uma imagem atraente e na busca por
admiração e inveja dos outros.
No capítulo anterior, foi abordado a síndrome da adolescência a partindo da
perspectiva de Aberastury e Knobel (1992). Nesta seção, a análise dos impactos do
uso excessivo das redes sociais na adolescência é feita a partir dos tópicos elencado
anteriormente, ou seja irei utilizar os tópicos do capítulo anterior incluindo agora as
rede sociais. 13

Busca pela identidade

Uma das complexidades das redes sociais na adolescência está relacionada à


construção da identidade. Nessa fase, os adolescentes estão em busca de si mesmos,
experimentando diferentes papéis e explorando sua identidade pessoal. As redes
sociais oferecem um espaço onde eles podem moldar sua identidade virtualmente,
escolhendo cuidadosamente os aspectos de suas vidas que desejam compartilhar.
No entanto, essa construção da identidade na esfera virtual pode criar uma
desconexão com a realidade e dificultar a compreensão autêntica de si mesmos.
Outro desafio é a busca incessante por validação e aprovação nas redes
sociais. Os adolescentes estão em uma fase de desenvolvimento onde a opinião dos
outros é extremamente significativa para eles. Os likes, comentários e
compartilhamentos nas redes sociais se tornam métricas de popularidade e aceitação
social. A busca constante por validação externa pode levar a uma dependência das
opiniões dos outros e a uma sensação de insatisfação constante, afetando
negativamente a autoestima e a autoconfiança dos adolescentes.
A rede social pode ter um impacto significativo na busca pela identidade do
adolescente, podendo prejudicar esse processo de desenvolvimento de várias
maneiras. as redes sociais promovem uma cultura de comparação constante. Os
adolescentes são expostos a vidas aparentemente perfeitas e idealizadas de seus

13 No artigo A Busca da Identidade na Adolescência e Suas Influenciais no Uso da Internet de Alessandra


Silva e Cintia Carvalho (2019) não fala especialmente sobre a rede social e sim sobre a internet como toda.
37

pares, muitas vezes filtradas e editadas para mostrar apenas os momentos positivos.
Isso pode levar a uma sensação de inadequação e insatisfação, pois eles comparam
suas próprias vidas reais com essas representações idealizadas. A busca incessante
por se equiparar aos outros ou alcançar os mesmos padrões de sucesso e aparência
pode interferir na exploração autêntica de sua própria identidade.
Além disso, as redes sociais podem reforçar estereótipos e pressões sociais.
Os adolescentes podem sentir-se compelidos a se encaixar em determinados padrões
estéticos, comportamentais ou de interesse, a fim de serem aceitos e valorizados nas
redes sociais. Isso pode restringir sua expressão individual e dificultar a descoberta
de quem realmente são. A busca pela aceitação online pode levar à supressão de
aspectos únicos de sua personalidade e à adoção de papéis ou personas que não
refletem sua verdadeira identidade.
A exposição excessiva nas redes sociais pode resultar na perda de privacidade
e intimidade. Os adolescentes podem sentir-se obrigados a compartilhar detalhes
íntimos de suas vidas para obter reconhecimento ou se encaixar em determinados
grupos. Essa falta de espaço pessoal e reflexão pode interferir na construção de uma
identidade sólida, pois não há tempo suficiente para o autoconhecimento e a
exploração interna.

Tendencia grupal

Os algoritmos frequentemente mostram conteúdo com base nas preferências e


interações anteriores do usuário. Isso pode criar bolhas de informações, onde os
adolescentes são expostos principalmente a opiniões e perspectivas semelhantes às
suas. Isso pode levar à formação de grupos mais polarizados e à falta de exposição a
diferentes pontos de vista. A polarização pode resultar em uma tendência grupal mais
rígida e na perda da capacidade de tolerância e compreensão de ideias diferentes.
Nas redes sociais, os adolescentes podem sentir uma pressão intensa para se
conformarem aos padrões e expectativas do grupo. Isso pode resultar em
comportamentos de busca por aprovação e medo de serem excluídos ou rejeitados.
A pressão para se encaixar pode levar a uma supressão da individualidade e da
38

capacidade de expressar opiniões diferentes, prejudicando a diversidade e a livre


expressão de ideias dentro do grupo.
Nas redes sociais, os adolescentes podem ser expostos a comportamentos
negativos, como bullying, cyberbullying e exclusão social. A dinâmica de grupo nas
redes sociais pode amplificar esses comportamentos, tornando-os mais intensos e
prejudiciais. Isso pode afetar negativamente a saúde emocional e psicológica dos
adolescentes, levando a sentimentos de isolamento, baixa autoestima e problemas de
saúde mental.
A cultura das redes sociais é frequentemente centrada na imagem e na
aparência física. Os adolescentes podem ser expostos a imagens idealizadas e
distorcidas de corpos e estilos de vida, o que pode levar a uma comparação social
prejudicial e a uma baixa autoestima. A busca pela perfeição física e a comparação
constante com os outros podem prejudicar a aceitação de si mesmos e a valorização
das qualidades individuais.

Crise religiosa

Nas redes sociais, os adolescentes são expostos a uma variedade de ideias,


perspectivas e crenças religiosas diferentes. Isso pode levar a influências
contraditórias que podem desafiar suas crenças religiosas tradicionais. A exposição a
visões alternativas e críticas pode aumentar a dúvida e a incerteza, gerando conflitos
internos e contribuindo para a crise religiosa.
As redes sociais são espaços onde os adolescentes buscam interação social e
pertencimento. No entanto, essas interações podem levar à pressão social e de grupo,
onde os adolescentes podem sentir-se pressionados a adotar uma visão secularizada
ou a abandonar suas crenças religiosas para se encaixarem em determinados grupos
ou serem aceitos socialmente. Essa pressão pode aumentar a crise religiosa e a
sensação de isolamento para aqueles que desejam manter sua fé.
As redes sociais são frequentemente usadas para expressar opiniões e debater
questões religiosas. Isso pode levar a críticas, ridicularização e até mesmo ataques
direcionados às crenças religiosas dos adolescentes. Essas experiências negativas
podem minar a confiança religiosa e levar a uma crise de fé.
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Nas redes sociais, os adolescentes podem ser expostos a informações


seletivas e polarizadas que podem reforçar visões negativas ou distorcidas da religião.
Isso pode dificultar a busca por uma compreensão mais ampla e equilibrada das
crenças religiosas, contribuindo para a crise religiosa.

A necessidade de intelectualizar e fantasiar

Nas redes sociais, o conteúdo muitas vezes é apresentado de forma breve e


superficial. As postagens curtas, imagens e vídeos de fácil consumo podem promover
uma mentalidade de gratificação instantânea e reduzir a disposição dos adolescentes
para se envolverem em atividades que demandem esforço intelectual ou imaginação
mais profunda. Isso pode levar a uma diminuição da capacidade de refletir, analisar e
explorar tópicos com profundidade.
As redes sociais são um espaço onde há uma quantidade excessiva de
informações disponíveis a todo momento. Isso pode sobrecarregar os adolescentes e
dificultar o desenvolvimento de habilidades de seleção crítica e discernimento. A
constante exposição a conteúdos rápidos e fragmentados pode prejudicar a
capacidade de se concentrar em informações mais complexas e desafiadoras.
Embora as redes sociais ofereçam uma plataforma para interações sociais,
muitas vezes essas interações tendem a ser superficiais. Os adolescentes podem se
envolver em conversas rápidas e curtas, sem aprofundar discussões intelectuais ou
estimular a imaginação. A dependência dessas interações superficiais pode limitar as
oportunidades de se envolver em diálogos significativos e explorar ideias de forma
mais profunda.
As redes sociais são conhecidas por suas notificações, feeds intermináveis e
distrações constantes. Essas distrações podem dificultar a concentração e o foco
necessários para atividades intelectuais e fantasiosas. Os adolescentes podem
encontrar dificuldades em dedicar tempo e energia para a leitura, escrita, reflexão e
criatividade, sendo facilmente distraídos pela infinidade de estímulos presentes nas
redes sociais.
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Deslocação temporal

A deslocação temporal do adolescente refere-se à capacidade de projetar-se


no futuro e pensar a longo prazo. Infelizmente, a rede social pode ter um impacto
negativo nesse aspecto. Nas redes sociais, os adolescentes são frequentemente
expostos a conteúdos que oferecem gratificação instantânea. Desde as curtidas e
comentários imediatos até as notícias e entretenimento que estão prontamente
disponíveis, a rede social reforça a busca por satisfação imediata. Isso pode levar os
adolescentes a valorizarem mais o momento presente do que a considerar as
consequências futuras de suas ações.
A natureza altamente viciante das redes sociais pode distrair os adolescentes
e desviar sua atenção do planejamento e da reflexão a longo prazo. O constante fluxo
de notificações, feeds de notícias e conteúdos atrativos pode dificultar a concentração
e o foco em atividades que exigem deslocação temporal, como a definição de metas,
o planejamento acadêmico ou o desenvolvimento de habilidades específicas.
Nas redes sociais, os adolescentes são expostos a uma infinidade de
comparações sociais, onde podem ver seus pares atingindo marcos, alcançando
objetivos ou vivendo experiências que podem gerar ansiedade e pressão. Isso pode
fazer com que os adolescentes se concentrem excessivamente na busca por status e
aprovação imediata, em vez de considerar como suas escolhas no presente podem
impactar seu futuro.
O uso excessivo das redes sociais pode levar a uma dependência virtual, onde
os adolescentes priorizam as interações e a vida online em detrimento das interações
e experiências offline. Isso pode prejudicar sua capacidade de desenvolver
relacionamentos reais, explorar novos ambientes, aprender habilidades práticas e
planejar sua trajetória de vida com base em objetivos significativos e duradouros.
Fuga da realidade: As redes sociais podem se tornar uma forma de fuga da
realidade para os adolescentes. Ao passar horas interagindo nas redes sociais, eles
podem evitar enfrentar desafios do mundo real, adiar responsabilidades e evitar
pensar sobre seu futuro. Essa evasão pode levar a uma falta de motivação para
planejar e se preparar adequadamente para o futuro.
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Evolução sexual

Nas redes sociais os adolescentes podem ser expostos a imagens e conteúdos


sexualmente explícitos que podem influenciar sua percepção distorcida sobre
sexualidade. A exposição precoce a esse tipo de conteúdo pode levar a uma
compreensão inadequada e desinformada sobre sexo, além de criar expectativas
irreais em relação à intimidade e ao desempenho sexual.
Na mídia digital há uma ênfase significativa na aparência física e na
sexualidade. Os adolescentes podem sentir uma pressão intensa para se encaixar em
padrões estéticos idealizados e se comparar com outras pessoas. Isso pode levar a
problemas de autoimagem, baixa autoestima e disfunção sexual, pois os adolescentes
podem desenvolver uma visão distorcida de seu próprio corpo e de sua própria
sexualidade.
A mídia social pode ser um ambiente propício para o cyberbullying relacionado
à sexualidade. Os adolescentes podem ser vítimas de assédio, humilhação e
difamação online com base em sua expressão sexual ou orientação sexual. Isso pode
causar traumas emocionais e afetar negativamente a autoconfiança e o
desenvolvimento saudável da sexualidade.
Nas redes sociais os adolescentes estão constantemente expostos a retratos
idealizados de relacionamentos, encontros e experiências sexuais. Isso pode levar à
comparação social e à ansiedade em relação à própria sexualidade. Os adolescentes
podem se sentir pressionados a se enquadrar em normas e expectativas irrealistas, o
que pode afetar negativamente sua autoestima, confiança sexual e capacidade de
explorar sua sexualidade de forma saudável e autêntica.

Atitude social reivindicatória

A rede social pode afetar a atitude social reivindicatória do adolescente de


várias de diversas maneiras, pois nas redes sociais os adolescentes podem sentir que
estão fazendo a diferença ao compartilhar postagens, curtir ou comentar sobre
questões sociais. No entanto, essa participação muitas vezes se limita ao mundo
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virtual e pode criar uma falsa sensação de ativismo, onde o engajamento online
substitui a ação real no mundo offline. Isso pode reduzir a motivação para se envolver
em atividades reais de defesa de direitos e participação cívica.
As redes sociais podem ser palco de polarização e conflitos intensos. Os
debates muitas vezes se tornam acalorados e hostis, o que pode desencorajar os
adolescentes de expressarem suas opiniões e se envolverem em discussões
construtivas. Em vez de promover a atitude reivindicatória, a polarização online pode
levar ao silenciamento e à autocensura.
A constante exposição a uma grande quantidade de informações nas redes
sociais pode levar à sobrecarga de informações. Os adolescentes podem sentir-se
inundados por notícias, campanhas e causas sociais, o que pode resultar em apatia e
desengajamento. A quantidade excessiva de informações pode dificultar a
identificação e o foco em questões sociais específicas, levando a uma atitude
reivindicatória menos direcionada e eficaz.
Nas redes sociais, os adolescentes muitas vezes recebem feedback imediato
e apoio virtual, o que pode criar uma ilusão de impacto. Ao receber curtidas,
comentários e compartilhamentos, eles podem sentir que estão fazendo a diferença,
mesmo que suas ações online tenham poucas repercussões reais no mundo. Isso
pode diminuir a motivação para se envolver em ações concretas e tangíveis para
promover mudanças sociais.

Contradições sucessivas em suas manifestações de conduta

Os adolescentes estão expostos a uma infinidade de influências, nem sempre


positivas nas redes sociais. Eles podem se deparar com modelos de comportamento
contraditórios, mensagens conflitantes e exemplos de conduta questionável. Essas
influências negativas podem levar os adolescentes a adotar comportamentos
contraditórios, imitando o que veem online sem considerar a consistência de suas
ações.
A natureza das interações nas redes sociais muitas vezes é superficial e
carente de contexto completo. Isso pode levar os adolescentes a compartilhar apenas
aspectos selecionados de suas vidas, criando uma representação fragmentada e
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contraditória de sua conduta. As redes sociais não fornecem uma visão abrangente
da pessoa e suas complexidades, o que pode resultar em contradições nas
manifestações de conduta percebidas.

Separação progressiva dos pais

As plataformas sociais fornecem um fluxo constante de informações sobre a


vida dos outros, incluindo eventos familiares, atividades dos pais e mudanças na
dinâmica familiar. Para os adolescentes, essa sobrecarga de informações pode ser
avassaladora e dificultar o processo de separação progressiva, pois eles podem se
sentir sobrecarregados com detalhes íntimos ou mudanças em curso na vida de seus
pais.
O tempo gasto nas redes sociais pode levar os adolescentes a se desconectar
da interação pessoal com os pais. O foco nas atividades online pode resultar em
menos tempo de qualidade passado em família, afetando a comunicação, a
compreensão mútua e a capacidade de lidar com a separação progressiva de maneira
saudável. A falta de intimidade familiar pode dificultar a expressão de sentimentos e
preocupações relacionadas à separação dos pais.
A mídia social pode criar desafios na definição de limites saudáveis entre a
vida pessoal e a exposição pública. Os adolescentes podem sentir a pressão de
compartilhar informações ou fotos relacionadas à separação dos pais, buscando apoio
ou validação online. Isso pode dificultar a privacidade e a gestão emocional adequada
durante o processo de separação progressiva.

Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo

Os adolescentes são expostos nas redes sociais a uma infinidade de postagens


e imagens que retratam a vida de outras pessoas de forma idealizada. Essa
comparação constante com os outros pode levar os adolescentes a se sentirem
inadequados, desencadeando sentimentos de tristeza, baixa autoestima e
insatisfação com suas próprias vidas. Essa constante comparação pode contribuir
para flutuações negativas do humor.
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Eles muitas vezes se sentem pressionados a seguir as tendências, atender às


expectativas dos outros e se encaixar em determinados padrões estéticos ou
comportamentais. Essa pressão para se conformar pode levar a um esforço constante
para agradar os outros e buscar validação online, o que pode resultar em flutuações
do humor quando não recebem a atenção ou aprovação desejadas.
Diante desses desafios, a psicanálise nos convida a explorar os processos
psíquicos e inconscientes que ocorrem no contexto das redes sociais. Ela nos
encoraja a refletir sobre as motivações inconscientes por trás do uso excessivo, da
busca por validação externa e da dependência emocional das redes sociais.
A psicanálise também enfatiza a importância do autoconhecimento e da
compreensão dos mecanismos de defesa que os adolescentes podem utilizar para
lidar com as pressões e desafios online. Promover um ambiente de diálogo aberto, no
qual os adolescentes se sintam à vontade para expressar suas preocupações e
angústias, é fundamental para apoiá-los na navegação saudável pelas redes sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O uso excessivo das redes sociais na vida dos adolescentes é um fenômeno


que merece atenção e reflexão. Nesta análise sob a perspectiva da psicanálise,
pudemos observar os diversos impactos negativos que o uso descontrolado das redes
sociais pode ter sobre o desenvolvimento psicológico e emocional dos jovens.
Ao longo deste trabalho, exploramos como as redes sociais podem afetar o
narcisismo, a construção da identidade, a busca por aprovação externa e a saúde
mental dos adolescentes. Ficou evidente que a exposição constante a conteúdos
inapropriados, a comparação social exacerbada, o cyberbullying e a dependência
emocional das redes sociais são alguns dos desafios enfrentados pelos jovens nesse
contexto.
A psicanálise nos proporcionou um olhar profundo sobre os mecanismos
psíquicos envolvidos nesse processo, permitindo-nos compreender as dinâmicas
inconscientes que influenciam o comportamento dos adolescentes nas redes sociais.
Identificamos a necessidade de autoconhecimento, do estabelecimento de limites
saudáveis e da busca por relações interpessoais genuínas como elementos-chave
para o enfrentamento desses desafios.
É fundamental ressaltar que as redes sociais também podem oferecer
benefícios aos adolescentes, como a possibilidade de conexão com pessoas de
diferentes culturas e a expressão de suas opiniões e criatividade. No entanto, é
importante que essas ferramentas sejam utilizadas de forma equilibrada e consciente,
sem prejudicar o desenvolvimento psicológico e o bem-estar dos jovens.
Diante dessas considerações, é necessário que pais, educadores e
profissionais da saúde estejam atentos aos sinais de uso excessivo das redes sociais
pelos adolescentes. Promover um ambiente de diálogo aberto, incentivar atividades
offline, estimular o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais e fornecer
orientações sobre o uso responsável das redes sociais são medidas importantes para
ajudar os jovens a enfrentar os desafios impostos por essa realidade virtual.
Em suma, o uso excessivo das redes sociais na vida dos adolescentes exige
uma abordagem integrada, que considere não apenas os aspectos individuais, mas
também os fatores sociais, culturais e psicológicos envolvidos. A psicanálise nos
proporcionou insights valiosos para compreender os impactos dessas tecnologias na
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vida dos adolescentes e para promover um desenvolvimento saudável e equilibrado


nessa fase tão importante de suas vidas.
Em última análise, as reflexões psicanalíticas sobre as redes sociais nos
convidam a encontrar um equilíbrio entre a conectividade virtual e a preservação de
nossa saúde emocional e bem-estar. Ao desenvolver uma maior consciência de
nossos desejos, necessidades e vulnerabilidades, podemos nos tornar participantes
mais conscientes e autônomos nesse novo cenário digital, encontrando formas de
usar as redes sociais de maneiras que sejam positivas e enriquecedoras para nossas
vidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIA
47

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sociais-mais-usadas-por-criancas-e-adolescentes/

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