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Prática Integrativa II

Curso de Psicologia – CCS


Universidade de Fortaleza
Novembro - 2019

O IMPACTO DOS JOGOS ELETRÔNICOS E INTERNET NA VIVÊNCIA


SOCIAL E ESTUDANTIL DE JOVENS DE 10 A 15 ANOS
Lia Bezerra Guedes/Sofhia Nobre
Prof. Orientador: Tauily Claussen

Resumo
O presente artigo tem como proposta elucidar alguns pontos sobre o uso excessivo e o
impacto de jogos eletrônicos e da internet em jovens de 10 a 15 anos, além de elucidar o
impacto que tal problemática causa em dois processos psicológicos básicos que serão
aprofundados posteriormente, a aprendizagem e a emoção. Foi feita a entrevista com dois
profissionais, sendo uma professora e a outra uma psicóloga escolar. Após as pesquisas,
notou-se que o que delineia até que ponto o uso dos eletrônicos é nocivo, é justamente o
quanto e para que esse uso está sendo destinado, cabendo aos responsáveis estabelecer tais
limites e transformar em uma ação enriquecedora que traz consequências benéficas para o
usuário que está em seu processo de formação. Entretanto, não tendo um uso responsável,
chegou-se à conclusão de que pode trazer efeitos nefastos, dentre eles dificuldade de
socialização devido ao afastamento do presente e a aprendizagem que é deteriorada
principalmente na transição da fase infantil para a pré-adolescência.

Palavras chave: Tecnologia. Emoção. Aprendizagem. Escola.

Introdução
Este trabalho foi desenvolvido segundo proposta da disciplina de Prática Integrativa II
do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), que tem como objetivo fazer
modelos de investigação em Psicologia (entrevista e observação), a integração dos Processos
Psicológicos Básicos (PPB’s). Assim, essa disciplina é considerada um pré-estágio em
Psicologia, que propõe um levantamento de situações-problema sobre PPB e proposição de
soluções com base na integração dos conhecimentos teóricos e práticos.
O tema escolhido é o impacto dos jogos eletrônicos e internet na vivência social e
estudantil de crianças de 10 a 15 anos. Como a geração do início do século XXI está em meio
à tecnologia é bastante relevante e presente esse assunto, tanto pelos benefícios quanto pelos
malefícios. (SILVA; SILVA, 2017). Isso pode ser relacionado com a aprendizagem, pois podem
ser afetadas ou não com o uso. Assim, este trabalho busca por analisar e aprofundar os
impactos positivos e negativos com foco na aprendizagem e na emoção sob a visão da
Psicologia Escolar, essa área escolhida atua em colégios com o objetivo de nortear os alunos
em sua vida acadêmica e lhes dar todo o suporte necessário para uma boa experiência escolar,
além de desenvolver projetos que viabilizem a aprendizagem e também o emocional, pois não
auxiliando nesse quesito, pode acarretar sérios problemas no desenvolvimento estudantil.
 (ANDRADA, 2005)
 
Há várias pesquisas sobre a constante e crescente utilização da internet pelos jovens.

Os adolescentes lideram o ranking de uso de celulares e internet. Segundo


dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em seu último
censo realizado em 2010, e do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br), de
2014, notou-se que, em um conjunto de 34,1 milhões de pessoas, entre 10 e 19
anos de idade, existentes no país, cerca de 81% acessam internet todos os
dias. Isso evidencia o quanto a internet está inserida nos lares brasileiros e o
seu poder de persuasão. (SILVA; SILVA p. 3, 2017).

O primeiro PPB escolhido foi a aprendizagem, a qual pode ser prejudicada ou


estimulada, dependendo de como está sendo o uso dos eletrônicos. De acordo com David
(2012), a aprendizagem ocorre por intermédio das experiências e produz uma mudança
significativa no indivíduo.
No campo da Psicologia, existem teorias acerca de como ocorre o aprendizado, dentre
elas podemos citar a construtivista de Piaget que aborda modos de como se dá aprendizagem,
a qual será utilizada para analisar os dados do presente trabalho. De acordo com a teoria
construtivista de Jean Piaget (1919), a aprendizagem é viabilizada a partir de cada estágio de
vida, contendo níveis de processos mentais e o homem é visto em uma visão interacionista, ou
seja, em constante interação com o mundo que o cerca (RAPPAPORT; FIORI, 1981).
Uma das coisas revolucionárias na teoria do autor citado é a aplicação de testes
psicólogos, mas o interesse em respostas erradas com o intuito de entender que tipo de
raciocínio o aluno usou para chegar a uma determinada resposta. Piaget postula que o
aprendizado é obtido por interações com o mundo e utiliza os termos assimilação e
acomodação para explicar a sua teoria. De acordo com o Piaget (1919) a assimilação é quando
o sujeito tenta resolver problemas utilizando estruturas mentais que já existem, ou seja, tenta
solucionar utilizando o que ele já experimentou, mas é sabido que não existem situações
idênticas, portanto, a estrutura mental terá que fazer algumas modificações para que ocorra o
processo de acomodação, que é quando as estruturas mudam para que a nova demanda
possa ser atendida. Exemplo: uma criança aprende a andar de bicicleta com duas rodinhas e
seu pai decide deixar apenas uma, em um primeiro contato ele tentará assimilar, mas verá que
ocorreu uma modificação, a partir que ele for pegando a prática, ocorrerá a adaptação em sua
estrutura mental, que é justamente o que Piaget conceitua como acomodação. Ocorrido todo
esse processo, tem-se a equilibração das estruturas cognitivas.

A segunda PPB que será aprofundada no presente artigo é a emoção e como ela pode
sofrer influência diante de tal processo, que é o impacto negativo do uso da tecnologia. Desde
o nascimento estamos imersos nesse emaranhado de emoções, é o que explica David Myers
em seu livro:
Estamos sempre expostos a mistos de emoções que refletem em
nosso corpo físico, elas existem não para nos proporcionar experiências
importantes, mas para permitir a nossa sobrevivência. Quando enfrentamos
desafios, as emoções põem nossa atenção em foco e energizam nossas
ações. O coração acelera. Apressamos o passo. Todos os nossos sentidos
entram em alerta. “Ao receber boas notícias inesperadamente, nossos olhos
podem se encher de lágrimas.” (MYERS, David. Pág.220.,2012).

Dentre as motivações para a escolha dos processos básicos e da abordagem da


Psicologia Escolar, que é uma área dentro das diversas dessa profissão que tem como objetivo
acompanhar e ajudar os alunos, além de aprofundar mais com aqueles com necessidades
especiais para que haja um melhor rendimento escolar e social. São tarefas do psicólogo
escolar: desenvolver projetos de ensinos e aprendizagem, ajudar no desenvolvimento humano,
inclusão de pessoas com deficiência, formação continuada dos professores, além de diversas
outras contribuições.(ABRAPPE-Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional)
Um dos motivos para a escolha do assunto citado no artigo está o fato de ser um assunto
pertinente em nossa sociedade e que deve ter o olhar da ciência sobre ele, além de estarmos
buscando uma maior apresentação e esclarecimento sobre os fatos. A escolha da Psicologia
Escolar em articulação com as PPBs anteriormente citadas se deu pela forma de como estão
entrelaçadas, afetando assim uma a outra, ao fazer as escolhas visamos entender qual o papel
que esse profissional pode desempenhar para que ocorra a equilibração nessas vertentes.
Deram-se também pelo interesse na atuação dos profissionais que será apresentada ao longo
do trabalho.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar e compreender o tema, sobre os
impactos negativos dos jogos eletrônicos e da internet no meio social dos jovens, que foi
escolhido, visto que é um assunto relevante para a psicologia, pois está intrinsicamente ligado
com a mente e com o bem-estar social e profissional do ser humano.

Metodologia
O percurso metodológico construído para desenvolver esse trabalho partiu de uma
pesquisa bibliográfica e qualitativa. O emprego da pesquisa qualitativa serve para ter uma
análise crítica e compreensiva a respeito do mundo, da vida dos respondentes. Este é o ponto
de entrada para o cientista social. O objetivo real da pesquisa qualitativa não é atingir metas
objetivadas em números ou diferentes opiniões, mas explorar o espectro de opiniões e as
diferentes representações sobre o assunto em questão. Sejam quais forem as minuciosidades
de tal, o objetivo é potencializar as diferentes perspectivas dos diferentes membros do
organismo social (BAUER; GASKELL, 2002, p.68).
A técnica utilizada foi a entrevista semiestruturada ou por pautas, a qual é um tipo de
entrevista com certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de
interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso. As pautas devem ser
ordenadas e guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e
deixa o entrevistado falar livremente, à medida que reporta às pautas assinaladas (BRITO, JR.;
JÚNIOR, 2011). Há o roteiro prévio que contém perguntas para esmiuçar como é a práticas das
profissionais, seus desafios e como os processos psicológicos básicos são afetados.
Contamos com a ajuda de duas participantes, que é uma profissional da psicologia
escolar e uma professora (ensino fundamental II). Essas profissionais foram escolhidas devido
ser a de maior contato com esses jovens que tem um uso exagerado e indevidos da tecnologia.
As entrevistas com essas profissionais foram gravadas e transcritas conforme o real, e para
preservar as entrevistadas por uma questão ética elas vão ser indicadas como E1 e E2
respectivamente a psicóloga escolar e a professora. A análise dos dados será feita por meio de
comparações convergentes e divergentes entre as falas das entrevistadas juntamente com a
literatura. A supervisão é feita pelo professor de práticas II e monitora da mesma disciplina. A
identidade dos profissionais entrevistados está resguardada e suas falas serão usadas
somente para o meio acadêmico.

Resultados e Discussão

Impacto dos jogos eletrônicos e internet:

O impacto dos jogos eletrônicos e da internet é algo que deve ser discutido, já que
quase a totalidade da população está nessa era tecnológica do século XXI e, devemos saber
quando o uso passa de saudável para algo que atrapalha no desenvolvimento cognitivo e
acadêmico do jovem. O uso demasiado desses meios acaba provocando o distanciamento dos
jovens que naturalmente ocorre devido às transições enfrentadas, mas que é acentuada pelo
uso dos eletrônicos. (SILVA, T.O; SILVA, L.T.G. 2017)  De acordo com a Dora Goes, uma
psicóloga de transtornos do impulso na USP, o abuso do celular pode se tornar um vício,
conhecido como nomofobia, que consiste no medo de ficar longe do aparelho e esse distúrbio
se dá não necessariamente pelo tempo, mas sim pelos estragos que o mau uso causa na vida
das pessoas. Portanto, a família é um elo bem importante quando o quesito é uso indevido, já
que os pais devem mostrar e instigar os filhos a saírem do celular e apreciar coisas além da
tela que não podemos deixar de citar que é bem divertida, mas é importante que tenha o
acompanhamento e a imposição de limites por parte dos responsáveis. Quando questionadas
pelo uso abusivo da tecnologia, a entrevistada 1 respondeu que: 

No período até o sétimo, oitavo ano é onde eu vejo que tem mais repercussão
negativa, porque eu vejo isolamento pra ficar ali no celular, as relações são
enfraquecidas e tem a questão do afeto e do lúdico que é perdido e muito cedo.
(...) Isso acontece quando lá na base já tem o isolamento dessas crianças né,
pais que trabalham, que passam o dia fora, que chegam exaustos e aí a
criança fica ali sozinha e ela vai fazer o que? Vídeo game, celular e as vezes
só, não tem mais nada (Fala de E1,2019)

Diante dessas problemáticas, é necessária a compreensão de que não deve ser


descartado o uso total dos aparelhos, visto que é de extrema ajuda ter o seu auxílio em
diversos quesitos, mas que como já mencionado, haja o uso adequado conferindo uma
qualidade mental. Nessa lógica, a entrevistada 2 afirmou que:
Estava entregando um TD de revisão, pois eles estão próximo das provas, e
tinha uma questão no TD de história que o professor pedia para fazer uma
pesquisa na internet. E aí o aluno me questionou: “Tia, e isso pode?” e eu
disse: Pode. A gente não tem que ver a internet como inimiga, ela é uma
ferramenta super positiva quando ela é usada de forma que seja útil. Então
assim, a questão da tecnologia atrapalhar ou não vai do direcionamento dado a
ela. Ela vem atrapalhar quando o uso dessa tecnologia ela não é limitada.
Limitada no sentido de que não tem em mente que as crianças estão sendo
bombardeadas o tempo inteiro por informações. E, a internet não vai filtrar
essas informações para seu filho, ela vai jogar. (Fala de E2, 2019)

Aprendizagem e emoção:
          Para uma boa compreensão sobre como a aprendizagem e emoção são afetadas, é
prudente que, primeiramente, conheçamos as definições de ambas. De acordo com Piaget
(1952, p. 7), a aprendizagem são os atos intelectuais entendidos como atos de organização e
de adaptação ao meio.
A emoção, segundo Goleman (1997) diz que a emoção se refere a um sentimento e aos
raciocínios aí derivados, estada psicológica e biológica, e o leque de propensões para a ação.
A função biológica da emoção para Damásio é que produz uma reação específica para a
situação indutora e a outra função é de homeostase, regulando o estado interno do organismo,
são comportamentos rápidos e eficazes para a sobrevivência.
A aprendizagem e a emoção estão intrinsecamente ligadas aos impactos negativos da
tecnologia, pois o uso exagerado e sem limites de redes sociais, sites de filmes, e jogos,
afetam tanto na vivência social, quanto na vivência estudantil. Em relação ao meio social esse
uso se vê prejudicial nas relações com a família, amigos desses jovens. Quando a criança e o
jovem estão usando a tecnologia sem rotina, acaba priorizando somente a tela do computador
e celular, fazendo com que se percam as relações presenciais. As pessoas ficam sem assunto,
preferem ficar em casa. Na vivência estudantil, atrapalha também, justamente, por esse uso
desregrado, quando o aluno não tem rotina, a consequência é não cumprir com todas as suas
obrigações. Durante a entrevista a E2 afirma isso:
A aprendizagem é afetada com certeza, se ele tem a liberdade de usar esses
aparelhos eletrônicos, seja um tablete, seja um celular, a hora que ele quiser,
como ele vai se organizar dentro da rotina escolar?! Não vai ter como se
organizar, e ele acaba negligenciando em atividades corriqueiras, que no caso
seria de responsabilidade deles. [...] (Fala da E2, 2019)

De acordo com a entrevistada 2, a aprendizagem e emoção são afetadas com esse uso
excessivo e ilimitado da tecnologia. No século atual, XXI, vemos as dificuldades de nos
concentrarmos em atividades, as pessoas usam a tecnologia como subterfúgio e a internet
para criar uma vida virtual, desfocando dos problemas e da vida real. Os diálogos presenciais
estão cada vez mais raros. Dessa forma, de acordo com a professora entrevistada, os jovens
estudantes, passam a não estudar, a não ter responsabilidade em cumprir com suas
obrigações, seja em casa ou na escola.

Intercâmbio entre os pais e profissionais e os desafios enfrentados:


          Para uma eficácia na vida estudantil  e social de crianças e jovens a relação entre os
pais e profissionais deve ser concisa. Vários  métodos são utilizados para auxiliar a melhora na
qualidade de vida desses indivíduos que estão usando excessivamente  os meios tecnológicos,
que podem ser por meio de técnicas psicológicas, projetos que visam ao autoconhecimento,
para melhorar a relação com os outros e a vida estudantil. Os métodos variam de acordo com a
abordagem dos psicólogos e as intervenções que são feitas no meio familiar e escolar.
Entrevistamos uma psicóloga escolar para conhecer os métodos que ela utiliza quando a
criança ou o jovem está usando de forma desmedida e ilimitada a internet. Como afirma Reis
(2007, p.06) os pais devem tomar consciência de que a escola não é uma entidade estranha,
desconhecida e que sua participação ativa nesta é a garantia da boa qualidade da educação
escolar. As crianças são filhos e estudantes ao mesmo tempo. Assim, as duas mais
importantes instituições da sociedade contemporânea, a família e a escola, devem unir
esforços em busca de objetivos comuns.

                 Temos um trabalho aqui na escola sobre a questão do sócio emocional. A nossa
supervisora ela fez estudos de uma técnica Mindfulness, que é a questão da
atenção plena, e na qual ela trabalha a questão do sócio emocional, para que
os jovens e crianças possam perceber que eles são protagonistas da própria
vida, como também ela procura trabalhar dentro da escola com os pais. Como
o pai lidar com as emoções do seu filho, como o pai lidar com a questão da
ansiedade que hoje é muito comum (Fala da E2, 2019).

         A relação entre pais e profissionais é extremamente necessária. Essa relação é


importante, pois os adultos que convivem com essas crianças e jovens precisam dialogar entre
si. Um exemplo dessa importância é que caso o aluno esteja com dificuldades no ambiente
acadêmico, pode ser que o problema esteja em alguma situação dentro de casa, e a
proposição contrária da mesma forma, caso o aluno esteja com dificuldade de se se relacionar
com os pais, pode estar ocorrendo algo no ambiente escolar, seja relacionado com algum
professor, com alguma disciplina ou com os próprios colegas. Outro exemplo, é que precisa
haver cooperação e concisão entre as falas e decisões dos adultos responsáveis por esses
sujeitos, ou seja, se houver alguma sanção por parte da escola e for correta os pais precisam
confirmar essa sanção dentro de casa, assim, precisa haver um apoio e uma diálogo entre
todos os responsáveis por essas crianças e jovens. No que se refere ao intercâmbio entre pais
e profissionais da educação e da psicologia, Andrada (2003, p. 3) afirma que:
Quando pensamos em processo de formação dos alunos não podemos excluir
a participação ativa das famílias e, certamente, dos educadores. Envolver a
família, co-responsável no processo de educação de seus filhos e filhas, a fim
de que se possa colher dados acerca do outro sistema direto em que participa
o aluno é mais que necessário (Andrada, 2003).
 Isso também se encontra na fala da E2:
O grande segredo, vamos dizer pra que o aluno tenha sucesso dentro da vida
escolar, é realmente a parceria pais e  escola. O aluno, ele não vai ter sucesso
se não existir essa parceria, não adianta a escola cobrar como coordenadores
e professores, se dentro de casa esse aluno não receber também essa
cobrança, que ele seja um aluno, que faça as suas obrigações como aluno,
então, nesse momento é necessário que ele tenha uma rotina, que ele tenha
responsabilidade, que se ocorrer algo dentro da escola, que saia dos padrões
cotidianos, seja deixar de fazer uma atividade, ou seja, o aluno ser colocado
pra fora de sala por questões disciplinares, que a família possa interferir
diretamente diante desse processo, e essa interferência é primordial.(...) ((Fala
da E2, 2019)

 
          O foco da psicologia escolar é auxiliar no desenvolvimento cognitivo e intelectual dos
alunos, para uma melhor eficácia nas diversas áreas da vida do sujeito e para orientar sobre
seu desenvolvimento, orientar sobre sua futura profissão. Segundo Carmem Silva, o psicólogo
escolar age com mudanças dentro da instituição-escola, onde funcionaria como um elemento
catalizador de reflexões, um conscientizador dos papéis representados pelos vários grupos que
compõem a instituição. O psicólogo escolar tem papel fundamental para diminuir dificuldades
que possam ocorrer entre alunos e escola, e sanar dúvidas.

         Os desafios enfrentados são diversos, um exemplo é justamente essa falta de diálogo
entre pais e professores. Na entrevista com a psicóloga ela diz que:

Pais que trabalham e passam o dia fora, que chegam exaustos e aí a criança
fica ali, não tem. Todo mundo com muito medo né, hoje em dia você tem um,
dois filhos no máximo, deixa a criança ali sozinha e ela vai fazer o que? Vídeo
game, celular e às vezes só, não tem mais nada (risos) e isso é bastante
prejudicial, ah e eu tô falando a nível emocional e até a nível cognitivo. (Fala da
E1, 2019)

A E2 afirma que o grande segredo pra que essa criança, esse adolescente obtenha
sucesso na vida escolar, realmente, ter uma base familiar, e uma família que acompanhe os
anos finais do fundamental. Assim, é comum ver que quando os alunos vão para o fundamental
II, e para o ensino médio há um distanciamento dos pais na vida estudantil dos filhos, na
maioria das vezes por comodidade.
Assim, de fato, a tecnologia em geral tem a parte positiva e a parte negativa. A parte
positiva como foi citada é para meios de pesquisas e interações sociais. A parte negativa muito
prejudica isso pois os adolescentes passam a não ter uma rotina de estudo e não ter relações
presenciais. O que separa entre o lado prejudicial ou não é a rotina, os limites.
Realmente, quando o estudante não tem rotina e usam ilimitadamente o celular, internet e
jogos eletrônicos não conseguem conciliar as outras áreas da vida. O ponto em que melhora a
qualidade de vida, os estudos, as relações sociais são os limites, a organização e planejamento
de horários. Para isso, é extremamente necessário o intercâmbio entre pais e professores, ou
seja, é de extrema importância que os adultos que cuidam do desenvolvimento pessoal e
estudantil desses jovens tenham uma comunicação. Trilhar um caminho de conversa e ter o
conhecimento das situações que esses jovens passam em casa e na escola é importante para
a resolução de vários problemas que possam ser gerados nesse período da vida, como a não
interação com outras pessoas, baixo desenvolvimento estudantil, indisciplinas, depressão.
Considerações Finais
A partir dos resultados obtidos foi possível notar o modo que cada profissional vê a
problemática levantada e como ele atua diante disso para reduzir os impactos na emoção e na
aprendizagem, que afetados podem prejudicar a vida pessoal e escolar do indivíduo. Com as
entrevistas e pesquisas feitas ao logo do artigo, é possível concluir que o uso de forma
responsável não traz danos para o usuário, mas que ao ultrapassar determinado limite,
ocorrem danos sérios que prejudicam em vários âmbitos.
Foi enriquecedor estar em contato com o modo de cada profissional atuar, além de nos
nortear como se dá a profissão na prática. Um dos pontos levantados pela psicóloga é da
participação dos responsáveis em todo esse processo de estabelecer limites e o de oferecer
novas alternativas de entretenimentos para os jovens.
Toda essa discussão acerca desse assunto está tomando proporções maiores agora, visto
que estamos imersos nessa era tecnológica e que se feito sem responsabilidade, pode trazer
danos irreversíveis. Além disso, foi possível notar os diversos desafios enfrentados para
estabelecer um diálogo entre os responsáveis e o jovem, que de fato, está em uma fase
transicional delicada.
Todavia, mesmo diante de diversos dilemas, os profissionais defendem dos eletrônicos que
podem ser bastante enriquecedores, desde que o uso seja feito de forma regrada.

Referências

ABRAPPE. O psicólogo escolar. Disponível em:


https://abrapee.wordpress.com/sobre/o-psicologo-escolar/. Acesso em: 28 de novembro de
2019

ANDALÓ, Carmem. O papel do psicólogo escolar. Disponível em:


http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931984000100009. Acesso em:
8 de Novembro de 2019.

ANDRADA, Edla. Focos de intervenção em psicologia escolar. Disponível em:


http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572005000100019. Acesso em:
8 de Novembro de 2019.

HAMZE, Amélia. O que é a aprendizagem?. Disponível em:


https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/o-que-e-aprendizagem.htm conceito
de aprendizagem. Acesso em: 8 de Novembro de 2019.

LOPES, Rosimeri. As emoções. Disponível em:


https://psicologado.com.br/psicologia-geral/introducao/as-emocoes. Acesso em: 15 de Novembro de
2019.
MYERS, David. Psicologia. 9° edição. Pág.220.LTC,2012

RAPPAPORT, Clara; FIORI, Wagner; DAVIS, Claudia. Teorias do desenvolvimento:


conceitos fundamentais. 1° edição. Cap. 3. São Paulo. Editora pedagógica e universitária;
1981.

ROSA, Lívia. Consequência do uso exagerado das tecnologias. Disponível em:


https://www.a12.com/santuario/campanha-dos-devotos/noticias/consequencias-do-uso-exagera
do-das-tecnologias. Acesso em: 15 de Novembro de 2019.

SILVA, T.O; SILVA, L.T.G. Os impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de
adolescentes conectados às tecnologias digitais. Revista psicopedagogia, 2017. Disponível
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000100009.
Acesso em: 08 de Novembro de 2019.

Apêndice

Como é o seu trabalho?


Pronto... eu estou aqui dois dias da semana, agora no final do ano a minha carga
horária aumentou um pouco porque eu assumi também o ensino médio, então eu estou no
fundamental II e médio, mas basicamente são dois dias para cada segmento né? E aí a gente
tem algumas frentes de trabalho, uma são por projetos que a gente desenvolve no decorrer do
ano, que são projeto mentor que fala sobre disciplina, liderança, motivação, essa questão
mesmo do autoconhecimento. Tem também o sociograma que é para a psicologia poder
conhecer os alunos, o perfil dos alunos, o perfil das turmas e até conseguir identificar já no
início do ano quem são pessoas que a gente precisa estar mais próximo, ficar observando, ver
alguma questão de relacionamento, entende? Então o sociograma é um projeto que a gente faz
nesse sentido das relações sociais, a gente tem o projeto hábitos de estudos que é mais nesse
sentido do estudo ativo e de como é que o aluno ele pode se sentir autônomo na sua produção
do conhecimento, né?! Não ficar só nessa questão de depender do professor, da explicação de
um professor, de um pai ou do reforço, por que isso acaba deixando mesmo aquela muleta e a
nossa intenção com esse projeto é também favorecer essa autonomia né, então assim, eu
posso me virar aqui, posso me organizar e dar tudo certo e falar um pouco das minhas
dificuldades. É, esse hábito de estudos eu não sei como acontece no médio, pois os alunos já
estão mais maduros né, mas ele é bem importante no fundamental II, nessa transição de
fundamental I para fundamental II é bem bacana, e aí tem o mentor como eu comentei que é
voltado pra disciplinas, escolhas de representantes de sala né. E além desses projetos que já
são fixos, a gente pode desenvolver outros projetos mediante uma necessidade, então por
exemplo, a gente viveu o setembro amarelo e a gente tava com alguma necessidade de
conversar sobre sentimentos, sobre saúde mental, sobre a depressão, sobre a ansiedade né! A
gente percebeu alguns alunos com essa demanda de fala e aí a gente desenvolveu um projeto
curto, mas que levava pra sala de aula essa questão de pensar essa saúde mental, e aí a
gente fez dinâmicas com as turmas, fez uma dinâmica que era de desafios né, desafios
positivos, então diga... escolha 3 pessoas e diga pra elas o quanto elas são importantes pra
você, tire um dia pra ficar em contato com a natureza, com seus pais, faça uma carta pra você
mesmo agradecendo por todas as coisas que você já conquistou, já venceu e tudo mais. Enfim,
eram vários desafios positivos, assim... interessantes, e aí pode acontecer esses projetos
mediante uma necessidade que a gente observa. Além disso tem os atendimentos né, dos
“filhos” do SOEP (risos) que precisam de um acompanhamento especializado, um
acompanhamento mais próximo, são os meninos que a gente chama de inclusão de uma
maneira geral né, porque a inclusão é feita muito específica pra cada pessoa, então, é... A
gente faz também o acompanhamento desses alunos periodicamente, toda etapa a gente tenta
abraçar como um todo e ver como eles estão caminhando, isso tanto os alunos quanto as
famílias, e aí também tem os atendimentos de demanda espontânea, por exemplo uma pessoa
que tá com uma crise de ansiedade, entende? Aí pode vir aqui e a gente conversa e tal, tenta
fazer uma técnica de relaxamento, de aterramento pra que a pessoa consiga sentir o corpo e
tal, voltar, é mais nesse sentido também das demandas espontâneas, acho que de maneira
geral é isso.
Você considera que o uso da tecnologia está atrapalhando? Se sim, como ela atrapalha o
desenvolvimento intelectual e a vida pessoal do jovem?
Pronto, você falou um marco, que é... é muito prejudicial para alunos mais novos, então
assim, é... Vamos pensar infantil, fundamental I e fundamental II até o 7° e 8° ano que ali no
início de adolescência né, saída da infância pra adolescência, esse período é muito permeado
entre aquela ideia do pezinho na infância e o pezinho na adolescência né, nessa fantasia em
algo mais concreto, nesse período é onde eu vejo que tem mais repercussão negativa, porquê?
Porque existe isolamento pra ficar ali no celular, as relações são enfraquecidas, a questão do
afeto, do lúdico é perdido sabe? e muito cedo, a gente já é jogado pra essa lógica racional
quando a gente começa né... 9° ano, ensino médio, mercado de trabalho e a gente já é jogado
pra essa questão que é brusco e super ansiogênica pra todas as pessoas né, pra todas as
pessoas, assim, eu não conheço um ser humano hoje em dia que não tenha essa ansiedade
que é própria da sociedade em que a gente vive, e... e aí, quando isso acontece? Quando lá na
base a gente já tem o isolamento dessas crianças né? Pais que trabalham e passam o dia fora,
que chegam exaustos e aí a criança fica ali, não tem, todo mundo com muito medo né, hoje em
dia você tem um, dois filhos no máximo, deixa a criança ali sozinha e ela vai fazer o que? Vídeo
game, celular e as vezes só, não tem mais nada (risos) e isso é bastante prejudicial, ah e eu tô
falando a nível emocional e até a nível cognitivo né? Porque vão se empobrecendo sinapses
importantes mesmo no organismo da pessoa né e aí enfim. Mas assim, a gente tem que pensar
que nada é uni determinado, não é o celular que está fazendo isso, até porque o celular é um
aparelho né, ele quase manda na gente, mas não era pra mandar, então assim... Não é o
celular que faz isso, não é a internet, eu também não gosto da gente entrar nessa demonização
do aparelho né, demonização da internet, nesse discurso de “ah, bom era meu tempo” a ideia
não é essa, mas sim, com certeza influencia.
Como a aprendizagem é afetada?
Sim, por exemplo, é... Quando a gente tá em celular, aparelhos eletrônicos, tablets,
jogos são muitos estímulos né, então a gente tem cores, som, algo que se meche ali, algo que
interage com a pessoa que tá usando, quando a gente vai pra um livro, pra uma prova, pra uma
leitura... Se torna chato, se torna” hmmm só isso”, entendeu? Desestimulante, a tecnologia as
vezes é tão atrativa, entende? É um círculo tão grande que quando a gente vai pra algo que é
do dia a dia a gente tem essa sensação de tédio e isso em muitas vezes, crianças e
adolescentes entram nisso, “poxa a minha vida é tão chata”, e entra naquela coisa das redes
socias né, “a minha vida é tão chata, a do meu colega é tão mais legal, ele tem tanta curtidas”
entende? Ah e eu já tive casos assim da menina em processo depressivo né, chorando
copiosamente e falando “tia, mas eu so tenho 500 curtidas na minha foto, a fulana chega em
900” entendeu? Então assim, olha a realidade que essa criaturinha tá inserida né, e isso pra
ela, assim... Eu não... Não vou entrar no mérito de dizer ai, mas que besteira e tal, não, é a
realidade dela, ela realmente tá sofrendo por isso entende? É exatamente essa concepção da
realidade que é meio deturpada né, e aí tem essas questões dos estímulos e também tem a
questão linguística, que eu sinto bastante, que é alunos assim... Tem uma dificuldade muito
grande pra interpretar as questões, eles não gostam de ler e quando lê é uma coisa muito
rápida, entende? E aí essa associação pra interpretar alguma coisa ou pra generalizar um
conteúdo, as vezes fica comprometida.

Como é a relação com os pais? De que modo eles podem contribuir ou atrapalhar?
Sim, é... Essa questão, a gente tem uma tendência em querer achar um culpado né, e
eu tenho muito cuidado quando eu vou conversar com os pais, porque os pais também estão
passando pelas dores deles e pelas dificuldades deles, então eu não posso dizer “ ah, você tá
errado, você está fazendo isso com seu filho porque você passa o dia todo trabalhando e
quando chega em casa não dá atenção porque você tá cansado né “ e aí eu vou demonizar
esse pai? Ele tá tentando fazer o que é melhor, pode não tá seguindo os melhores caminhos
né, mas eu sempre tento fazer essa abordagem de quais são outras possibilidades né pra
restringir o tempo, pra apresentar novas atividades, pra ter um tempo de qualidade em família
né, na medida do possível. Então... É aquela coisa né, a gente tem uma família, um filho e a
gente precisa se dedicar pra isso, é obvio que a gente não pode ser totalmente exigente e só
culpabilizar os pais, mas eu tento construir nesse sentido, tá, eu sei que é difícil e tudo mais,
mas essa situação ta acontecendo e ela vai virar uma bola de neve, então o que que é possível
a gente fazer agora? Vamos tentar restringir esse tempo, vamos tentar observar mais o que
que ele tá olhando, assistindo, jogando, com quem ele tá falando porque agora tem várias
redes sociais até mesmo nos jogos né. Então assim, tentar ter essa observância em relação ao
que tá sendo consumido alí na internet e trocar esse tempo, porque assim...” Ah, pois então
pronto, eu vou tirar o celular”, vai tirar o celular e o menino vai ficar olhando pra cima, então
como é que a gente pode substituir? Uma outra aula, um espaço que tenha pessoas pra ele
interagir e brincar na vida real, um momento de qualidade em família mesmo, então como é
que a gente pode fazer essa logística de que a vida também seja tão atraente quanto ficar no
celular ou nos jogos. É nesse sentido de apresentar a vida como interessante também, não tirar
como uma punição ou um castigo, a ideia não é essa.
De que modo as emoções podem ser afetadas pelo uso do celular na vida escolar e
familiar?
Pronto, nesse quesito acho que a gente fala bastante das redes sociais né, que foram
pontos que eu coloquei um pouco. Primeiro, filhos que estão sozinhos ou com irmãos, e as
vezes os irmãos também se separam, ficam cada um com o seu celular, vários e vários casos
nesse sentido né, que não tem esse diálogo e não precisa ter, eles nem chegam a querer...
tentar esse diálogo, porque tem ali o celular então todas as relações são travadas por ele né,
por meio do WhatsApp, do Instagram, do facebook, mas principalmente WhatsApp e Instagram,
tanto as conversas como a questão da vitrine da vida do outro né, porque é uma vitrine onde
tudo é colocado lindo, maravilhoso, e eu acho que é nesse sentido que as emoções são
afetadas tanto pra todo mundo e isso eu não falo nem de crianças e adolescentes, eu falo de
famílias, de adultos, quantas pessoas não tá ali rolando aquele feed “poxa, caramba, tá numa
viagem tal e eu aqui tendo que lavar louça” entende? E é... tem um livro que agora eu não vou
recordar o nome, mas que fala exatamente dessa sociedade do cansaço assim, que tudo tem
que ser um espetáculo entende? Tudo tem que ser maravilhoso e aí o limite da frustração fica
bem pequenininho, qualquer coisa, qualquer crítica ou qualquer tédio, nossa, é uma coisa
muito mortificante, que é inerente a vida humana, o ócio é inerente à vida humana, até criativo
né. Então assim, não há mais essa, não há mais não, mas é difícil acessar esses momentos e
de uma maneira tranquila né e vida que segue, vou lavar minhas roupas. (risos). O Renato
Russo que falava que o mal do século é a solidão né, tá todo mundo as vezes juntos, mas se
sentindo só, por quê? Porque não tem essa autenticidade, como você falou do Rogers, não tem
essa autenticidade, essa segurança de mostrar quem se é, nossa, quantos discursos de “eu
não sei o que ela vai pensar de mim” ou “ eu não quero falar porque eu não quero preocupar”
então assim, as pessoas estão cada vez mais se fechando e se fechando e aí...
Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Pronto, eu acho que é nesse sentido né, a gente tem que aceitar que a gente tá na era
da tecnologia, a era digital né e que isso não é por si só ruim, mas a gente tem que assumir a
posição de donos da tecnologia, não a tecnologia como algo que vai nos sujeitar, que é o que
tá acontecendo, é o que acontece com todos nós. Então é nesse sentido, é mais como uma
mudança de paradigma, esse pra mim é o maior desafio, que é uma mudança de paradigma do
ser humano mesmo enquanto é... eu sou alguém que eu vou utilizar a tecnologia pra algo que
vai me servir entende? Ou eu vou ser utilizada por ela, a maioria das coisas né, historicamente
a gente já passou por vários momentos nesse sentido de... isso aqui tem um potencial bom e
um potencial ruim, eu vou deixar o que acontecer? Eu vou fazer que tipo de escolha?

ENTREVISTA COM PROFESSORA|COORDENADORA ENSINO FUNDAMENTAL II


Como é o seu trabalho?
Sou coordenadora pedagógica do sexto ao oitavo ano. Mas a minha formação original, vamos
dizer assim, minha graduação é em historia e minha pós-graduação em psicopedagogia.

Você considera que o uso da tecnologia está atrapalhando? Se sim, como atrapalha no
desenvolvimento intelectual e na vida pessoal do jovem?
Em tese, sabe? Depende muito de como essa tecnologia é direcionada pelos adultos. Eu falei
sobre isso hoje numa sala de sexto ano. Estava entregando um TD de revisão, pois eles estão
próximo das provas, e tinha uma questão no TD de história que o professor pedia para fazer
uma pesquisa na internet. E aí o aluno me questionou: “Tia, e isso pode?” e eu disse: Pode. A
gente não tem que ver a internet como inimiga, ela é uma ferramenta positiva quando ela é
usada de forma que seja útil. Então assim, a questão da tecnologia atrapalhar ou não vai do
direcionamento dado a ela. Ela vem atrapalhar quando o uso dessa tecnologia ela não é
limitada. Limitada no sentido de que não tem em mente que as crianças estão sendo
bombardeadas o tempo inteiro por informações. E, a internet não vai filtrar essas informações
para seu filho, ela vai jogar. Cabe a você pai orientar essa criança com o uso dessa tecnologia
que tá ali ao alcance das mãos sim. Mas, muitas vezes, uma criança ela não tem discernimento
de filtrar as informações. Então, quando essas informações elas não são filtradas elas podem
vim sim a atrapalhar. Por que? Porque a criança em si é muito curiosa, então vai buscando
informações que não condiz com a idade dele. Por que? Porque tem liberdade para isso, ele
vai dormir duas três horas da manhã, pois não é limitado o uso daquele aparelho. Então, isso
pode vim sim a atrapalhar quando a criança não tem uma rotina, quando ele usa esse aparelho
de uma forma desmedida.

A aprendizagem é afetada? O que pode ser feito para reverter isso?


A aprendizagem é afetada com certeza, se ele tem a liberdade de usar esses aparelhos
eletrônicos, seja um tablete, seja um celular, a hora que ele quiser, como ele vai se organizar
dentro da rotina escolar?! Não vai ter como se organizar, e ele acaba negligenciando em
atividades corriqueiras, que no caso seria de responsabilidade deles. Por exemplo, aqui a
gente vê alguns exemplos, o aluno tem uma agenda física, de papel, na qual ele deve copiar
diariamente, atividades de casa, de classe, o conteúdo que foi dado, e muitos deles fazem o
que? Batem a foto, pois é mais cômodo. Então, às vezes você pega a agenda de um aluno que
ela tá toda em branco e por mais que a gente tenha esse direcionamento, já tenha dado esse
direcionamento para o aluno e para os pais. Se não existe esse controle do pai dentro de casa,
então isso acaba sim atrapalhando. Por que? Porque o jovem, o adolescente ele quer aquilo
que é mais fácil para ele. Então, se é mais fácil para ele bater uma foto ele não vai copiar. Se
ele tem acesso a essa tecnologia de uma forma ilimitada, vamos dizer assim, então, ele,
realmente, não vai fazer. Acredito que o grande segredo é a questão da orientação, pois como
eu disse inicialmente, a internet, a tecnologia é positiva, mas pra um adolescente que ainda
não tem essa maturidade de filtrar aquilo que realmente é positivo, pode prejudicar sim.

Como acontece o intercâmbio com os pais e como se dá? De que maneira eles podem
contribuir ou atrapalhar?
Como eu disse, a questão dos meios de tecnológicos, são positivos quando são usados de
uma forma, realmente, útil, aqui na coordenação nós utilizamos muito o WhatsApp, entramos
muito em contato com os pais por essa rede social. Até mesmo, por sabermos que a rotina dos
pais são bem movimentadas, corrida, como a nossa também, às vezes é mais prático que
mandamos uma mensagem para o pai seja digitando, ou por um áudio como o pai também,
então entra em contato com o pai via telefone, via WhatsApp e a gente vai tendo essa
comunicação diária, do mesmo jeito que nós vemos de forma positiva, nós também em
contrapartida vemos como uma forma negativa dentro da nossa realidade aqui da escola. O
que veríamos de forma negativa? Hoje, grupo de pais que se forma no WhatsApp, é, pra
debater coisas do dia a dia da escola, na qual eles poderiam resolver diretamente com a
coordenação, com a direção da escola e eles acabam gerando situações dentro desses grupos
que poderiam ser resolvidas facilmente. O grande segredo, vamos dizer, pra que o aluno tenha
sucesso dentro da vida escolar, é realmente a parceria pais e escola. O aluno, ele não vai ter
sucesso se não existir essa parceria, não adianta a escola cobrar como coordenadores e
professores, se dentro de casa esse aluno não receber também essa cobrança, que ele seja
um aluno, que faça as suas obrigações como aluno, então, nesse momento é necessário que
ele tenha uma rotina, que ele tenha responsabilidade, que se ocorrer algo dentro da escola,
que saia dos padrões cotidianos, seja deixar de fazer uma atividade, ou seja, o aluno ser
colocado pra fora de sala por questões disciplinares, que a família possa interferir diretamente
diante desse processo, e essa interferência é primordial. Se essa criança, esse adolescente
percebe que “se eu errei, eu vou ter sanções lá na frente” ele vai pensar duas vezes antes de
fazer, mas da mesma forma se ele percebe que ‘eu errei aqui na escola, eu estou recebendo as
minhas sanções, eu vou ter eu fazer um trabalho extra, ou eu vou ter que, eu não vou poder
correr na hora do intervalo, eu recebi alguma sanção, eu vou pensar duas vezes antes de fazer,
mas se na minha casa eu continuo com meu netflix, minha internet, meu tablet, meu celular, o
que é que vai me motivar a mudar? Então, é necessário que a família intervenha sim, de forma
positiva, na educação dessa criança, desse jovem, pois ela precisa ter rotina. Ela precisa
perceber que ela só estuda e que tem responsabilidades como aluna e dentro da escola.

De que modo a emoção dos jovens pode ser afetado na vida escolar e familiar?
Aqui na escola, particularmente, nós trabalhamos já faz algum tempo com a gestão das
emoções, a gente está num período que essas questões emocionais elas estão assim,
eclodindo de uma forma como nunca se viu. Eu acredito, particularmente, que isso seja reflexo
da falta de base familiar. Algum tempo atrás os pais ditavam as regras, hoje, infelizmente, os
filhos ditam as regras. Então, muito a gente ouve falar dessas questões de depressão,
ansiedade, em crianças em jovens. O que a gente pode perceber no nosso dia a dia, pelo
nosso cotidiano, esse tipo de situação, ela se dá, pois essas crianças e jovens não tiveram
bases familiares, tanto relacionado a ser preparada para o mundo, como também aquela
criança que é super protegida, aquela criança que não aprendeu a se decepcionar. Dentro da
casa dela, sempre foi feito tudo que ela quis, da maneira que ela quis, então no momento que
dentro de uma escola ela se frustra, ela não sabe lidar. Essa frustração é que vai acabar
refletindo no que a gente vê muito hoje, que é justamente, essa depressão cada vez mais cedo,
essa ansiedade cada vez mais cedo, crianças se mutilando, jovens sofrendo de anorexia, de
bulimia, e acredito que isso tudo seja reflexo, justamente, da questão de que as famílias hoje
não deixam as suas crianças e jovens se frustrarem. A frustração faz parte da formação do
caráter do ser humano, e quando isso não acontece, ai a gente vê, infelizmente, esses
resultados negativos. Nós temos um trabalho aqui na escola a questão do sócio emocional, a
nossa supervisora ela é formada, fez estudos de uma técnica Mindfuless, que é a questão da
atenção plena, e na qual ela trabalha a questão do sócio emocional, para que os jovens e
crianças possam perceber, que eles são protagonistas da própria vida, como também ela
procura trabalhar dentro da escola com os pais. Como o pai lidar com as emoções do seu filho,
como o pai lidar com a questão da ansiedade que hoje é muito comum. Temos um projeto
chamado “Líder em mim”, que hoje ele é até o quinto ano, mas pra 2020 ele vai abranger a
escola toda, e esse projeto é um projeto que ele procura colocar para as crianças elementos do
dia a dia. Como é a questão do ser proativo, a questão que na vida não é o ganha perde,
ganha ganha. São situações que a gente vai trabalhando diariamente, mas que é importante
que a gente tenha em mente que esse trabalho não tem como evoluir, como fluir sendo
trabalhado apenas pela escola. Então a gente procura diariamente essa parceria com os pais.
Quais os desafios enfrentados pelo uso excessivo dos eletrônicos?
O grande desafio é, realmente, quando a gente não tem a parceria da família, pois, eu poderia
te dar vários exemplos, uma coisa que aconteceu ontem: uma aluna que se negou a fazer uma
atividade de revisão em sala de aula que valia pontuação, e aí a gente entrou em contato com
a família, e a mãe diz o quê? “Eu não sei mais o que eu faço, eu tomei o celular, mas mesmo
assim ela foi dormir quatro horas da manhã”. Quer dizer, pra uma adolescente de treze anos
dormir quatro horas da manhã. Então, quando falta essa abordagem positiva da família em
relação a esse adolescente, o nosso trabalho é vão. Por que? Por que aqui nós passamos
quatro, cinco horas com o aluno, com o adolescente, nossa escola tem normas e regras como
qualquer outra, mas não adianta a gente trabalhar com esse aluno as nossas normas e as
nossas regras se em casa isso não é trabalhado com ele. Isso nos atrapalha, no nosso
cotidiano no sentido que não adianta eu falar pra ele que isso é prejudicial se dentro da casa
dele não é. Tem que ser uma via de mão dupla, família e escola, se isso não acontece tudo fica
mais complicado. Acredito que, realmente, o grande segredo de uma criança, seja do infantil,
do fundamental I ou II, ou médio. O grande segredo pra que essa criança, esse adolescente ele
obtenha sucesso na vida escolar, ele realmente ter uma base familiar, e uma família que
acompanhe os anos finais do fundamental. Quando eles vão chegando no oitavo, nono ano a
gente tem muita dificuldade, pois a medida que eles vão crescendo os familiares vão se
distanciando da escola. Isso podemos ver em vários momentos, uma festinha, por exemplo,
quando são crianças da educação infantil a escola lota, se é reunião da educação infantil a
escola lota, se é do fundamental I a escola fica cheia, mas quando a gente vai tratar de
fundamental II e ensino médio a gente já tem metade do público. Infelizmente, a família acaba
deixando pra lá, a medida que eles vão crescendo, eles próprios vão colocando para os pais:
“Eu não sou mais criança, não precisa mais ver minha agenda pra assinar”. E alguns pais por
comodidade acabam se deixando levar por essas situações e aí só procuram a escola quando
vai chegando o final do ano, que aí tem que passar, que também vai a questão financeira, e aí
a gente começa a perceber o quanto faz falta esse acompanhamento.

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