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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER

ANGÉLICA LUCIANO DA COSTA ALMEIDA


RU 2803337

PRODUÇÃO CONCEITUAL
ESTÁGIO SUPERVISIONAL PSICOPEDAGOGIA ESCOLAR
INICIAÇÃO CIENTÍCA

Brasília
2020
1. INTRODUÇÃO

O psicopedagogo possui diversas atribuições. As competências do


psicopedagogo não são apenas clínicas, tem-se também o psicopedagogo
institucional que atua, geralmente, em escolas, hospitais e empresas.
O psicopedagogo escolar auxiliará soluções de problemas relacionados aos
alunos, prevenindo dificuldades de aprendizagem e encaminhando ao
psicopedagogo clínico quando necessitar de uma investigação, diagnóstico e
intervenção.
O psicopedagogo escolar também assessora toda a equipe multidisciplinar
(RECH, 2020.). Segundo Bossa (1999, p. 34):

Pensar a escola à luz da Psicopedagogia significa analisar um processo que


inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o
ponto de vista do educador e dos educandos; abrangendo também a
participação da família e da sociedade.

A escola, comunidade, família e o aluno fazem parte do mesmo sistema


cultural. Dessa forma, o sistema de ensino, seja público ou privado, irá refletir,
querendo ou não, a sociedade inserida (RECH, 2020).
O psicopedagogo não solucionará problemas. Ele investigará e observará
toda a rede de interações daquela escola: o projeto político-pedagógico (PPP), se há
espaço para discussões, análises, questionamentos, sugestões, ou se simplesmente
é imposto e se todos têm autonomia e responsabilidade. O psicopedagogo utiliza
técnicas próprias como a entrevista operativa centrada na modalidade ensino-
aprendizagem (EOCMEA); análise da documentação da escola; entrevistas
individuais e em grupos; observação imparcial daquela comunidade escolar,
definindo o perfil dos alunos e profissionais e a relação família-aluno-escola;
quantidade de alunos e professores em toda a escola e em cada sala; qual a
modalidade de ensino ofertada; qual a metodologia aplicada pela escola e por cada
professor. Não se pode esquecer que pertencem à comunidade escolar os gestores,
pedagogos, professores, alunos, apoio, administrativo e família (MONTENEGRO,
2020). O apoio da família é essencial para qualquer projeto, pois ela é a ponte entre
os alunos, a escola e os professores (SACHIOTA, 2020).
E com o ensino remoto qual será a importância do psicopedagogo escolar
para toda equipe? A educação remota foi algo emergencial. Transferiu-se a sala de
aula para uma tela de computador ou smartphone (SANTOS, 2020). No Brasil, tem-
se uma desigualdade social que ficou mais evidente com a pandemia. Professores
de locais distantes e/ou sem recursos, bem como alunos, mantém o status quo de
vulnerabilidade que o vírus coloca em evidência (SILVA, 2020). Ademais, mesmo
transpondo a dificuldade social de falta de recursos para todos, as escolas, bem
como suas equipes, não foram preparadas para utilizar ferramentas digitais da noite
para o dia (SCHNEIDER, 2020).
Neste cenário alienado (o professor se viu encurralado e utilizando algo que
nem sempre dominou; a equipe multidisciplinar não teve tempo hábil de expor o que
pretendia e pedir sugestões, agindo como déspota; alunos e suas famílias foram
quase obrigados a utilizar ferramentas tecnológicas, independentemente de ter e
saber) o psicopedagogo surge, não como um herói, pois ninguém é, mas como
mediador de possíveis ânimos exaltados, psicológicos desestruturados, dificuldades
de aprendizagem aparentes, falta de entrosamento evidentes.
O psicopedagogo escolar é vital para toda a equipe multidisciplinar, família,
aluno e comunidade em tempos de Pandemia e ensino remoto. Dessa forma, o
objetivo da pesquisa é (re)afirmar as competências do psicopedagogo escolar, tão
necessário, mas tão esquecido.
O estágio supervisionado foi realizado na modalidade Iniciação Científica da
Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional UNINTER. A
linha de pesquisa foi Educação à distância, Metodologias e Inovação e o projeto de
pesquisa é o Vozes da Pedagogia, coordenado pela professora Drª Gisele Cordeiro.
Durante o estágio foram discutidos os capítulos do livro “Educação em tempos de
Covid” na plataforma TEAMS, além de pesquisas no google acadêmico e leituras de
artigos sobre o tema em questão. Foi foi realizada a análise do documentário “Entre
os muros da escola” para explicar e difundir os fazeres e saberes do psicopedagogo
escolar e produzido um capítulo do livro “Retratos e Memórias de uma Pandemia”
onde há uma narrativa demonstrando o aprendiz à margem da sociedade e tantas
vezes sentenciado como mau aluno. A importância da iniciação científica é a
pesquisa de algo salutar à sociedade. Pode-se afirmar que algo novo para a ciência
não existe se não houver a pesquisa.
A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica quantitativa com análise de
artigos, documentário e dados sobre o tema. Os autores do referencial teórico são
Pichon-Rivière, Nádia Bossa, Sara Paín.

1. DESENVOLVIMENTO

1.1 Estado da Arte

O psicopedagogo escolar é o responsável pela mediação entre os


componentes da instituição e também é aquele que fará consultorias em caso de
sugestões, dúvidas e reclamações (SANTOS, 2020).
No caso do psicopedagogo escolar atuando no ensino a distância, há a
atuação entre o equilíbrio dos recursos tecnológicos e humanos prevenindo e
intervindo em dificuldade, transtornos e distúrbios na aprendizagem. Ele será a
ponte entre tutores, alunos e gestores educacionais presenciais ou não. Trabalhará
em busca da inclusão do aluno observando relatórios, históricos, notas, chats e
fóruns em busca de prevenir ou intervir em um possível obstáculo à aprendizagem
(SANTOS, 2020).
O psicopedagogo clínico ou institucional tem como objetivo conhecer o
processo humano evolutivo da aprendizagem em seus padrões normais e
patológicos e a influência da família/escola neste processo (RECH; ET AL, 2020),
prevenir e intervir em algo que estiver causando ou ameaçando uma má
aprendizagem.
Piaget com a epistemologia genética, o cognitivismo e o desenvolvimento em
fases contribuiu para as bases teóricas da Psicopedagogia bem como com o seu
surgimento. Vygotsky e a teoria sócio-interacionista, que prega a interação social e
suas relações e a essencialidade para o desenvolvimento e a aprendizagem (RECH,
2020), também contribuiu para a base da Psicopedagogia, assim como Freud e a
Psicanálise e Jorge Visca e a Psicologia Social.
A Psicopedagogia Escolar /Institucional tem alcançado êxito nas instituições
(SOARES; SENA, 2012)., embora ainda não seja valorizada em sua importância. O
psicopedagogo é uma peça importante na assessoria e esclarecimento sobre TUDO
o que diz respeito ao processo ensino-aprendizagem. Por que? Mais uma vez o
olhar holístico irá observar as relações entre alunos, professores, coordenação,
família e apoio escolar. E qual o objetivo da observação? Detectar algum “ruído” nas
relações tanto do macrossistema e microssistema escolar. Problemas nas relações
levam a ter problemas emocionais, por exemplo, e todos fazem parte de um sistema
que deve estar em equilíbrio e, obviamente, quando um não está bem, o todo
também não estará, fator que pode afetar a aprendizagem. E não se pode esquecer
que TODOS estão em processo de aprendizagem e não somente os alunos.
Segundo Basseda (1996):

“Geralmente, os sistemas tentam manter um equilíbrio entre as tendências


que produzem uma transformação e aquelas que tendem à manutenção da
estabilidade, com a finalidade de conseguir uma homeostase, um equilíbrio
que lhe permita “sobreviver”.

O psicopedagogo deve ter bem claro que deverá, na instituição, intervir e não
interferir. Na intervenção, todos podem sugerir e juntos acharão a melhor solução.
Já quando ocorre a interferência, geralmente ocorre manipulação das ideias e o
psicopedagogo quer construir prevenção e solução (construir porque ninguém tem
solução pronta) juntamente com toda comunidade institucional (PONTES, 2010).

Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no


processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa,
favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de
acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo,
realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o
psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de
planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais,
fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam
repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades
individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem. (BOSSA,
1994, p 23).
Pichon-Rivière diz que na instituição o grupo é formado pela dinâmica 3D. O
depositado, o depositante e o depositário (Apud Grossi & Bordin). Esses “atores”
formarão o grupo operativo, ou seja, agem por si e o psicopedagogo é apenas o
mediador desse grupo que deve estimular a autonomia e descobrir o papel de cada
indivíduo. A partir do momento que se identifica os papéis e o diagnóstico confirma
ou exclui um problema, o psicopedagogo poderá propor uma ação, porém os
indivíduos que formam o grupo deverão estar dispostos à intervenção.
O desejo de aprender, deve ser o desejo de ensinar e também aprender
(SENA). Caso algum aluno ou o próprio professor/escola não sejam estimulados
corretamente, teremos um problema na aprendizagem. E será que o ensino remoto
é estimulante? Como reage e qual o papel da família? Como transpor a barreira
tecnológica tanto por falta de conhecimento, quanto por falta de recursos
financeiros? O que ensinar e como ensinar? E a interação e sociabilidade,
essenciais à aprendizagem? Lima e Natel (2010) citam Paín:

“Mundo interno e o mundo externo do indivíduo: ambos se relacionam


dialeticamente, um alimentando o outro simultaneamente. Paín considera
tais fatores como inerentes à aprendizagem: o aspecto social (como fator
externo), o orgânico, a condição cognitiva e a dinâmica do comportamento,
sendo os últimos retratados como fatores internos. Desta forma, a autora
ressalta a aprendizagem como um processo dinâmico e que possibilita um
processamento da realidade e, concomitantemente, uma alteração no
comportamento do sujeito, que atuará ativamente sobre a realidade a qual
está inserido”.

O que se deve pensar é: onde se encaixa o psicopedagogo escolar no caso


de uma escola e seus indivíduos? Em tudo. Mais do que nunca, precisa-se de
alguém como mediador, que poderá prevenir ou intervir em um problema, tem o
olhar holístico e atento, preocupa-se com a aprendizagem. Esse alguém é o
psicopedagogo escolar que poderá utilizar, mesmo que virtualmente, ferramentas
para deixar o grupo coeso e autônomo; além de ser capaz de perceber, através de
notas, relatórios e até mesmo de observação da tarefa ou chats uma possível
dificuldade de aprendizagem e intervir.
O ensino remoto, caso não seja bem definido e estimulante para todos, tende
a ser uma educação bancário. O Brasil e o mundo precisam ultrapassar a educação
bancário e ter uma educação libertadora. Como fazer isso em uma aula virtual?
Chats, fóruns entre professores e alunos, reuniões por plataformas como o TEAMS
entre professores e colaboradores onde se possa discutir o que é melhor nesse
momento: tudo mediado por um psicopedagogo que poderá detectar algum
problema.

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a


sua produção ou a sua construção”. (FREIRE, 2011, p. 24)

1.2 Campo Externo


E quando uma escola não possui gestão, um plano pedagógico, as
metodologias são retrógadas, punições e os alunos têm origens diversas que nem
sempre são respeitadas pelos outros? Podemos encontrar tudo isso no filme francês
“Entre os muros da escola” e, infelizmente, facilmente em escolas brasileiras. O
tema central é a sociedade escolar em um bairro popular de Paris.
O filme mostra um ano letivo inteiro e seu dia-a-dia e é baseado em um livro
de François Begaudeau. Curiosamente o autor também interpreta o professor (ele
mesmo) no filme que foi muito premiado.
A falta de um plano pedagógico, de conexão entre professores, gestores,
alunos e família é evidente e causa dificuldades de aprendizagem nos alunos. Aliás,
a escola como um todo não está preparada para atender e respeitar a singularidade
de cada um. Resultado: turma com falta de controle, alunos sem interesse, alunos
sem aprender quase nada, notável desinteresse dos professores. Com certeza, o
psicopedagogo escolar é necessário em um ambiente assim para mediar conflitos,
escutar a todos, intervir, procurar a identidade e autonomia de cada um e respeitar
todas as culturas.
A escola retratada no filme não buscava solucionar o problema, mas aplicava
punições. Temos que ter em mente que a escola reflete a sociedade, sendo uma
comunidade em sim mesma. Aquela comunidade multicultural era de imigrantes,
alguns ilegais. O psicopedagogo escolar irá mostrar os problemas, auxiliar
democraticamente, detectar dificuldades de aprendizagem e o porquê ocorrem
(problemas na família, na escola, sociais e/ou emocionais).
Chamam a atenção no filme a mãe que não consegue se comunicar com os
professores e é analfabeta; o professor perguntar aos alunos porquê gosta de
determinada matéria e um responde que “O interesse sei lá! Se o professor está
ensinando é interessante”, mas ele não sabe a importância do aprendizado e
transfere para o professor a responsabilidade; uma aluna, muito quieta por sinal, que
chega ao professor e fala “eu não aprendi nada”; a relação conflituosa e até
agressiva entre professor e alunos; o aluno que é tratado como o grande problema
da escola e claramente tem dificuldades na aprendizagem, mas ao invés de
tentarem solucionar o “problema” o expulsam. Será o que causava esses conflitos,
desinteresse, dificuldades na aprendizagem? Segundo Basseda (1997):

“A escola, como instituição social, pode ser considerada de forma


ampla e, de acordo com a teoria sistêmica, como um sistema aberto que
compartilha funções e que se inter-relaciona com outros sistemas que
integram todo o contexto social. Entre esses sistemas, o familiar é o que
adquire o papel mais relevante à educação e assim, na atualidade, vemos a
escola e a família em inter-relação contínua, mesmo que nem sempre sejam
obtidas atuações adequadas, já que, muitas vezes, agem como sistemas
contrapostos mais do que como sistemas complementares”.

O psicopedagogo escolar, com seus saberes fundamentados em teorias,


poderá investigar documentos da escola, alunos, professores, apoio; técnicas
operatórias; a escuta imparcial, porém democrática, perceberá que o problema vai
além dos muros da escola, pois são um reflexo daquela sociedade fragmentada e
com pouca autoestima. Soluções? O psicopedagogo escolar não tem soluções, mas
cria soluções com todos os indivíduos. Uma sugestão seria a melhoria da
metodologia em sala; respeito à cultura, limitações, etnias, integração e colocar-se
no papel do outro (psicodrama), mas não somente em uma dinâmica e sim nas
atitudes.

FICHA TÉCNICA DO DOCUMENTÁRIO/FILME

Documentário:
Entre os muros da escola
Título Original:
Entre les murs
Ano: 2008 País: França Idioma: Francês Duração: 128 min.

Gênero: Drama Cor: colorido Idade recomendada: 12 anos

Palavras-chave:
Pluralidade cultural, problemas sociais, gestão escolar
Direção: Laurent Canttet Imovision

Elenco Principal: François Bégaudeau (François Marin), Nassim Amrabt (Nassim), Laura
Baquela (Laura), Cherif Bounaïdja Rachedi (Cherif), Juliette Demaille (Juliette), Dalla Doucoure
(Dalla), Arthur Fogel (Arthur)

Informações de Produção: Filme inspirado em fatos reais. François Bégaudeau, protagonista de


Entre os Muros da Escola, é também o autor do livro em que o filme foi baseado.

Restrições: Classificação etária 12 anos.

2.3 Material: criação e reflexão

A criação consistiu em produção de um Podcast na plataforma Spotify, com o


título de “Psicopedagogia escolar”. Narra-se o que é, onde e quando atua o
psicopedagogo escolar, além de possíveis intervenções psicopedagógicas no ensino
remoto. O endereço do podcast no spotify é:
https://open.spotify.com/show/0lDoCNg5Kj9QY73jJSyeBS

Além do podcast, foi produzido uma narrativa “Desabafo de uma criança sem
voz”. Essa produção foi publicada como o terceiro capítulo do livro “Retratos e
Memórias de uma Pandemia”, que faz parte da coletânea “Vulnerabilidades
Contemporâneas”.
A narrativa “Desabafo de uma criança sem voz” demonstra que a dificuldade
de aprendizagem pode estar ligada a outros fatores, sejam emocionais, familiares,
sociais ou econômicos. Muitas crianças crescem com o estigma de mal alunos, mas
a equipe escolar deve ter preparo para auxiliá-los e dar voz às suas dificuldades e
ter em mente que o aluno reflete a sociedade e a comunidade em que vive. Pode-se
também perceber a desigualdade social e o status quo que a pandemia causa.

Desabafo de uma criança sem voz

“Todos os dias parecem o mesmo dia. Um verdadeiro filme de


terror. Escuto o jornal falando de pandemia, coronavírus, mortes e só penso:
“Por que eu não, meu Deus!? Acabe com meu sofrimento! ”
Sou a voz silenciosa, a criança sem sombra, o aluno que necessita
ser visto. “Ei, professora! Olhe para mim! Olhe minhas marcas! ”. Mas
ninguém vê. Chuto, brigo com todos, tiro notas baixas. E continuam
achando que a culpa é somente minha. “Aluno delinquente! ”. Mas mal
sabem eles que o projeto de marginal é só mais uma presa.
No dia em que falaram da suspensão das aulas, meu mundo caiu. “E
agora? ”. “Para quem irei pedir socorro sem gritar? ”. “Como ficarei livre por
alguns momentos do monstro pior do que qualquer vírus? ”. E lá fui eu,
como todos, ficar em “casa”. Mas a minha casa não tem gramado, bola,
boneca, comida e amor. Minha casa tem lixo, trabalho, brigas, fome e meu
algoz.
Meu corpo esquio e frágil não é meu. Aliás, nada é meu: “minha
mãe”, “meu pai”, “meu irmão”. Não, definitivamente não são meus.
Eu só queria, sabe, ser notado igual esse vírus. Dizem que ele é tão
pequeno..., mas aí lembro que meu grito é silencioso e o meu corpo não é
meu.
Deus do céu, se existe mesmo, gostaria de ser contaminado só um
pouquinho. E talvez com esse vírus tão famoso, minha voz ganhe força.
Ah, não! Acabei de lembrar. Sou delinquente. Deus não me escuta ...”

(ALMEIDA, 2020, p. 36)

1.3 Prática do campo e teorias: Práxis

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO ESCOLAR EM MEIO ÀS


INCERTEZAS PANDÊMICAS

ALMEIDA, Angélica Luciano da Costa¹

RU 2803337

CORDEIRO, Gisele do Rocio Cordeiro²

RESUMO: O psicopedagogo escolar é de suma importância, apesar de nem sempre


ser reconhecido, em uma comunidade escolar. Sua capacidade de observação, a
aplicação de saberes típicos da Psicopedagogia, detectará se há iminência de um
problema relacionado ao aprender ou se já está acontecendo esse problema e
poderá intervir de maneira correta visando a autonomia, autoestima, sentimento de
pertença e cooperação para o indivíduo e o grupo. O ensino remoto é uma
realidade, mas quais suas consequências para a escola, família e alunos? O que se
pode esperar da atuação do psicopedagogo escolar? O objetivo do artigo é
(re)afirmar as competências do psicopedagogo escolar em meio às incertezas
pandêmicas. Utilizou-se de pesquisa qualitativa, bibliográfica e descritiva. O
presente não é como o esperado, porém, em relação ao ambiente escolar, o
psicopedagogo poderá auxiliar a construir o futuro.

Palavras-chave: psicopedagogo escolar, ensino remoto, aprendizagem.

INTRODUÇÃO: O presente não é mais como era antigamente

“Toda situação de mudança gera ansiedade, devido aos medos básicos de


ataque e perda implícitos nas relações, podendo se tornar ruídos na
comunicação, o quando não explicitados”. (PICHON-RIVIÈRE, 1994).

O psicopedagogo possui diversas atribuições. As competências do


psicopedagogo não são apenas clínicas, tem-se também o psicopedagogo
institucional que atua, geralmente, em escolas, hospitais e empresas.
O psicopedagogo escolar assessora toda a equipe multidisciplinar (RECH,
2020.). Segundo Bossa (1999, p. 34):

“Pensar a escola à luz da Psicopedagogia significa analisar um processo


que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando
o ponto de vista do educador e dos educandos; abrangendo também a
participação da família e da sociedade”.

A escola, comunidade, família e o aluno fazem parte do mesmo sistema


cultural. Dessa forma, o sistema de ensino, seja público ou privado, irá refletir,
querendo ou não, a sociedade inserida (RECH, 2020).
O psicopedagogo não solucionará problemas, mas após investigação própria
à profissão, poderá intervir, mostrando onde o que pode estar errado e auxiliando o
grupo a buscar uma solução. Na escola, os saberes multidisciplinares do
psicopedagogo objetivarão a socialização dos conhecimentos; promovendo o
desenvolvimento cognitivo no processo da aprendizagem; apontando para um
diálogo satisfatório entre pais, alunos e escola (professores, coordenadores, apoio
escolar, administração); estimulando a autonomia, autoestima e sentimento de
pertença do indivíduo e do grupo (MOURA; PAIXÃO, 2020).
Qual a importância do psicopedagogo escolar para a equipe em tempos de
ensino remoto? O “presente” não é mais como deveria ser. A educação remota foi
algo emergencial devido a pandemia de Sars-cov-2 e a necessidade de
autoproteção e proteção coletiva. Transferiu-se a sala de aula para uma tela de
computador ou smartphone (SANTOS, 2020). No Brasil, tem-se uma desigualdade
social que ficou mais evidente com a pandemia. Professores de locais distantes e/ou
sem recursos, bem como alunos, mantém o status quo de vulnerabilidade que o
vírus coloca em evidência (SILVA, 2020). Ademais, mesmo transpondo a dificuldade
social de falta de recursos para todos, as escolas, bem como suas equipes, não
foram preparadas para utilizar ferramentas digitais da noite para o dia (SCHNEIDER,
2020).
Neste cenário alienado (o professor se viu encurralado e utilizando algo que
nem sempre dominou; a equipe multidisciplinar não teve tempo hábil de expor o que
pretendia e pedir sugestões, agindo como déspota; alunos e suas famílias foram
quase obrigados a utilizar ferramentas tecnológicas, independentemente de ter e
saber) o psicopedagogo surge, não como um herói, pois ninguém é, mas como
mediador de possíveis ânimos exaltados, psicológicos desestruturados, dificuldades
de aprendizagem nem sempre evidentes, falta de entrosamento iminente.
O psicopedagogo escolar é vital para toda a equipe multidisciplinar, família,
aluno e comunidade em tempos de Pandemia e ensino remoto. Dessa forma, o
objetivo do artigo é (re)afirmar as competências do psicopedagogo escolar em meio
às incertezas pandêmicas e sugerir formas de atuação no momento.
A pesquisa, realizada durante estágio da Iniciação Científica “Vozes da
Pedagogia e a Formação docente: transitando entre a teoria e a prática nas
articulações entre EAD, semipresencial e presencial” utilizou a metodologia
qualitativa, bibliográfica e descritiva. Dividiu-se em análise bibliográfica, observações
das relações sociais, autoria de um capítulo do livro “Retratos e memórias de uma
pandemia” e sua posterior repercussão e a análise do material pesquisado e
produzido.
DESENVOLVIMENTO: A voz silenciosa

"... O ensino se modifica em decorrência da sua necessária ligação com o


desenvolvimento da sociedade e com as condições reais em que ocorre o
trabalho docente." (LIBÂNEO, 2017)

O psicopedagogo escolar é o responsável pela mediação entre os componentes


da instituição e também é aquele que fará consultorias em caso de sugestões,
dúvidas e reclamações (SANTOS, 2020).
O psicopedagogo clínico ou institucional tem como objetivo conhecer o processo
humano evolutivo da aprendizagem em seus padrões normais e patológicos e a
influência da família/escola neste processo (RECH; ET AL, 2020), prevenir e intervir
em algo que estiver causando ou ameaçando uma má aprendizagem.
Piaget com a epistemologia genética, o cognitivismo e o desenvolvimento em
fases contribuiu para as bases teóricas da Psicopedagogia bem como com o seu
surgimento. Vygotsky e a teoria sócio-interacionista, que prega a interação social e
suas relações e a essencialidade para o desenvolvimento e a aprendizagem (RECH,
2020), também contribuiu para a base da Psicopedagogia, assim como Freud, com a
Psicanálise, e o “pai” da Epistemologia Convergente, Jorge Visca, que une cognitvo,
afetivo e social no processo de aprendizagem.
A Psicopedagogia Escolar /Institucional tem alcançado êxito nas instituições
(SOARES; SENA, 2012), embora ainda não seja valorizada em sua importância. O
psicopedagogo é uma peça importante na assessoria e esclarecimento sobre TUDO
o que diz respeito ao processo ensino-aprendizagem. Por que? Mais uma vez o
olhar holístico observará as relações entre alunos, professores, coordenação, família
e apoio escolar. E qual o objetivo da observação? Detectar algum “ruído” nas
relações tanto do macrossistema e microssistema escolar. Problemas nas relações
levam a ter problemas emocionais, por exemplo, e todos fazem parte de um sistema
que deve estar em equilíbrio e, obviamente, quando um não está bem, o todo
também não estará, fator que pode afetar a aprendizagem. E não se pode esquecer
que TODOS estão em processo de aprendizagem e não somente os alunos.
Segundo Basseda (1996):
“Geralmente, os sistemas tentam manter um equilíbrio entre as tendências
que produzem uma transformação e aquelas que tendem à manutenção da
estabilidade, com a finalidade de conseguir uma homeostase, um equilíbrio
que lhe permita sobreviver”.

O psicopedagogo deve ter bem claro que deverá, na instituição, intervir e não
interferir. Na intervenção, todos podem sugerir e juntos acharão a melhor solução.
Já quando ocorre a interferência, geralmente ocorre manipulação das ideias e o
psicopedagogo quer construir prevenção e solução (construir porque ninguém tem
solução pronta) juntamente com toda comunidade institucional (PONTES, 2010).

Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no


processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa,
favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de
acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo,
realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o
psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de
planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais,
fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam
repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades
individuais de aprendizagem da criança ou, da própria forma de ensinar.
(BOSSA, 1994, p 23).

Para Pichon-Rivière a aprendizagem é centrada no grupo formado pela


dinâmica 3D. O depositado, o depositante e o depositário (Apud Grossi & Bordin).
Esses “atores” formarão o grupo operativo, ou seja, agem por si e o psicopedagogo
é apenas o mediador desse grupo que deve estimular a autonomia e descobrir o
papel de cada indivíduo. A partir do momento que se identifica os papéis e o
diagnóstico confirma ou exclui um problema, o psicopedagogo poderá propor uma
ação, porém os indivíduos que formam o grupo deverão estar dispostos à
intervenção.
O desejo de aprender, deve ser o desejo de ensinar e também aprender
(SENA). Caso algum aluno ou o próprio professor/escola não sejam estimulados
corretamente, teremos um problema na aprendizagem. E será que o ensino remoto
é estimulante? Como reage e qual o papel da família? Como transpor a barreira
tecnológica tanto por falta de conhecimento, quanto por falta de recursos
financeiros? O que ensinar e como ensinar? E a interação e sociabilidade,
essenciais à aprendizagem? Lima e Natel (2010) citam Paín:

“Mundo interno e o mundo externo do indivíduo: ambos se relacionam


dialeticamente, um alimentando o outro simultaneamente. Paín considera
tais fatores como inerentes à aprendizagem: o aspecto social (como fator
externo), o orgânico, a condição cognitiva e a dinâmica do comportamento,
sendo os últimos retratados como fatores internos. Desta forma, a autora
ressalta a aprendizagem como um processo dinâmico e que possibilita um
processamento da realidade e, concomitantemente, uma alteração no
comportamento do sujeito, que atuará ativamente sobre a realidade a qual
está inserido”.

No caso do psicopedagogo escolar atuando no ensino a distância, há o


equilíbrio entre os recursos tecnológicos e humanos prevenindo e intervindo em
dificuldade, transtornos e distúrbios na aprendizagem. Ele será a ponte entre tutores,
alunos e gestores educacionais presenciais ou não. Trabalhará em busca da
inclusão do aluno observando relatórios, históricos, notas, chats e fóruns em busca
de prevenir ou intervir em um possível obstáculo à aprendizagem (SANTOS, 2020).
O que se deve pensar é: onde se encaixa o psicopedagogo escolar no caso
de uma escola e seus indivíduos? Em tudo. Mais do que nunca, precisa-se de
alguém como mediador, que poderá prevenir ou intervir em um problema, tem o
olhar holístico e atento, preocupa-se com a aprendizagem. Esse alguém é o
psicopedagogo escolar que poderá utilizar, mesmo que virtualmente, ferramentas
para deixar o grupo coeso e autônomo; além de ser capaz de perceber, através de
notas, relatórios e até mesmo de observação da tarefa ou chats uma possível
dificuldade de aprendizagem e intervir.
Lógico que todos sabem das dificuldades da sociedade para tentar amenizar
as consequências. Aqui no Brasil, cada Estado determinou qual seria a ferramenta
utilizada. O Governo Federal não adotou medidas para promover a educação
inclusiva (G1, 2020) e quando se fala em inclusão, deve-se ter em mente que fatores
sociais ou econômicos também irão incluir ou excluir um indivíduo de seu direito à
Educação de qualidade e gratuita.
No Distrito Federal (DF) foi adotada medidas diferentes entre as escolas
públicas e privadas. Cabe ressaltar que o DF possui uma grande diferença social e
econômica. De um lado mansões de milhões de reais e, do outro, favelas sem
condições sanitárias, sem escolas, sem perspectiva de melhora.
Observando o ensino remoto no DF, nota-se que talvez tenha segregado mais
do que ensinou. A escola privada rapidamente contratou profissionais responsáveis
por criar classes online e professores e alunos tiveram a barreira física, mas
continuou tendo aula normalmente, com uma metodologia talvez errada para aulas
online e crianças/ adolescentes devido ao modo expositivo e monótono.
Continuaram tendo trabalhos, provas, trabalhos apresentados por vídeos. E,
excetuando bolsistas, o “consumidor” da escola privada tem smartphone,
computador e/ou notebook. O ano letivo quase não teve interrupções, exceto nas
primeiras semanas de março, e acabou como de costume em dezembro. As aulas
mudavam a quantidade de horas de acordo com a faixa etária e a recomendação de
exposição ao computador recomendada. A alfabetização e Ensino Médio tiveram
aulas adaptadas
A escola pública, porém, até meados de junho não tinha nenhum plano
estabelecido para as aulas do ensino remoto. O ano letivo, que no dia 11 de março
tinha somente uma semana, reiniciou no dia 13 de julho com aulas pré-gravadas,
exercícios em uma plataforma e alunos sem condições retirando o material impresso
na própria escola e estudando sem suporte pedagógico. O ensino remoto, com aulas
sincrónicas e, a maior parte, assincrônicas. O ano letivo acabará somente no final de
fevereiro. Todos os segmentos educacionais tiveram esse tipo de ensino remoto.
As escolas privadas, em sua maioria, contaram com a ajuda de
psicopedagogos que compõem a coordenação escolar. O psicopedagogo observava
através das aulas, dos exercícios, provas e assiduidade, cada aluno. Alunos que por
ventura apresentassem indícios de uma dificuldade na aprendizagem devido fatores
tecnológicos, psicomotor, cognitivo ou emocional, ou que já apresentavam
anteriormente, tinham a família acionada e discutia-se a melhor metodologia e sua
aplicação. Os professores seguiam uma metodologia pré-estabelecida pela escola,
porém tiveram ambientações para utilizar os aplicativos e também contavam com a
orientação de uma psicopedagoga que sempre acompanhava as aulas.
Nas escolas públicas, nem sempre a coordenação tem auxílio de um
psicopedagogo. Além disso, o governo, mesmo tendo feito reuniões, impôs algumas
metodologias na qual os professores eram contrários. Por exemplo, uma criança
com aula assincrônica, porém os familiares são analfabetos funcionais ou
analfabetos: como terá um suporte para aquela criança já que as aulas são
gravadas, e nem todos conseguem acompanhar e a família não tem escolarização o
suficiente? Isso quando o aluno tem um pequeno smartphone. Alguns alunos devem
buscar o material impresso na escola de origem e ler. Será que todos conseguem ler
e entender ou será que para alguns é somente um amontoado de letras? Alguns
alunos moram em zonas rurais e iam para escola através de ônibus escolar
cancelados pelo governo devido a pandemia. Como retirar o material?
Durante a pesquisa, foi produzido um capítulo do livro “Retratos e memórias
de uma pandemia” que conta com crônicas, contos, narrativas e poemas. A narrativa
“só queria ser o coronavírus” descreve o que uma criança de gênero não definido
sente durante o isolamento. Essa criança tem o rótulo na escola entre professores,
alunos e coordenação de mau aluno. O que a escola nunca investigou é que a
dificuldade na aprendizagem do aluno é devido à problemas familiares. A família
demonstra ser agressora tanto mentalmente, quanto fisicamente. A criança não tem
voz na escola, em casa, na sociedade. Ele(a) não tem suporte econômico. Ele(a)
gostaria de ser o coronavírus para ser escutado. Ele(a) gostaria de ser contaminada,
pois em sua inocência infantil, ao menos seria um número, já que para a sociedade
só era um “delinguente”. Segundo a UNICEF a violência doméstica aumentou
durante a pandemia, porém como não tem outras pessoas para perceber, nem
sempre é denunciada (CARTA CAPITAL, 2020).

Desabafo de uma criança sem voz

“Todos os dias parecem o mesmo dia. Um verdadeiro filme de


terror. Escuto o jornal falando de pandemia, coronavírus, mortes e só penso:
“Por que eu não, meu Deus!? Acabe com meu sofrimento! ”
Sou a voz silenciosa, a criança sem sombra, o aluno que necessita
ser visto. “Ei, professora! Olhe para mim! Olhe minhas marcas! ”. Mas
ninguém vê. Chuto, brigo com todos, tiro notas baixas. E continuam
achando que a culpa é somente minha. “Aluno delinquente! ”. Mas mal
sabem eles que o projeto de marginal é só mais uma presa.
No dia em que falaram da suspensão das aulas, meu mundo caiu. “E
agora? ”. “Para quem irei pedir socorro sem gritar? ”. “Como ficarei livre por
alguns momentos do monstro pior do que qualquer vírus? ”. E lá fui eu,
como todos, ficar em “casa”. Mas a minha casa não tem gramado, bola,
boneca, comida e amor. Minha casa tem lixo, trabalho, brigas, fome e meu
algoz.
Meu corpo esquio e frágil não é meu. Aliás, nada é meu: “minha
mãe”, “meu pai”, “meu irmão”. Não, definitivamente não são meus.
Eu só queria, sabe, ser notado igual esse vírus. Dizem que ele é tão
pequeno..., mas aí lembro que meu grito é silencioso e o meu corpo não é
meu.
Deus do céu, se existe mesmo, gostaria de ser contaminado só um
pouquinho. E talvez com esse vírus tão famoso, minha voz ganhe força.
Ah, não! Acabei de lembrar. Sou delinquente. Deus não me escuta...”
(ALMEIDA, 2020, p. 36)

Essa narrativa acontece todos os dias em muitas escolas e famílias. A escola,


com um projeto político pedagógico fraco, rotula a criança, mas sem investigar o
porquê daquelas atitudes. A escola não tem uma ligação com a família. E uma
criança durante esse momento pandêmico? Falta olhar holístico da escola, família e
do Governo. Falta um psicopedagogo escolar para observar e intervir no que for
necessário, mesmo nesse momento.
O psicopedagogo escolar é essencial seja na escola privada ou pública. Ele
poderá auxiliar professores com grupo operativos de Pichon-Rivère, mesmo à
distância através de chat, vídeo-conferência ou outro aplicativo. Neste momento de
isolamento social, tem-se uma dificuldade para aplicar o psicodrama e trabalhar o eu
e o outro. Porém, pode-se realizar dinâmicas sincronicamente.
O ensino remoto, caso não seja bem definido e estimulante para todos, tende
a ser uma educação bancária. O Brasil e o mundo precisam ultrapassar a educação
bancário e ter uma educação libertadora. Como fazer isso em uma aula virtual?
Chats, fóruns entre professores e alunos, reuniões por plataformas como o TEAMS
entre professores e colaboradores onde se possa discutir o que é melhor nesse
momento: tudo mediado por um psicopedagogo que poderá detectar algum
problema.
A voz silenciosa, seja do aluno, escola ou família quer e necessita falar!
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades
para a sua produção ou a sua construção”. (FREIRE, 2011, p. 24)

.
CONSIDERAÇÕES FINAIS – O futuro nos chama

“Mudar é difícil, mas é possível. A alegria não chega apenas no encontro do


achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não
pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. (FREIRE, 2011,
p. 24)

E de repente, quase da noite para o dia, o presente não foi como o planejado.
Adaptações em todas as áreas. Demonstrações do melhor e do pior da sociedade. A
escola, um microssistema social, teve que se (re)definir e, consequentemente, o
psicopedagogo escolar.
O psicopedagogo escolar trabalha com o direcionamento dessa escola,
orientando discursões, projetos pedagógicos, adaptações, metodologias inclusivas
para evitar qualquer problema que atrapalhe o processo de ensino-aprendizagem.
Descrevendo, temos a impressão de falar de um super-herói que com seus
poderes solucionará todos os problemas escolares. Mero engano. Não é função do
psicopedagogo consertar a educação durante a pandemia. O psicopedagogo
mediará o grupo nos trabalhos em pró de amenizar ou eliminar algo que possa
resultar em uma dificuldade de aprendizagem, elevando a autoestima, autonomia e
sentimentos de cooperação e pertença dos indivíduos e do grupo.
Aprendemos durante toda a nossa vida. Aquele idoso que diz não aprender
mais, engana-se. Todos os dias aprendemos porquê formamos uma rede interação
social, emocional e afetiva individual e coletiva. Porém, o indivíduo pode não ter uma
aprendizagem conforme o esperado. Por exemplo, o professor que não domina
algumas tecnologias e durante a pandemia precisa ser um expert para a aula não
ser tão monótona; a coordenação que não dialoga com a família, professores e
alunos; o aluno que não ter suporte familiar, tecnológico ou até mesmo econômico.
O psicopedagogo trabalhará para evitar ou solucionar um possível problema
nessa rede. Mas como fazer isso na pandemia? Como ser proativo? A pandemia
trouxe a necessidade de trabalhar em equipe, porém, virtualmente. Caminhos a
serem traçados em nome do aprendizado precisam mais ainda serem
(re)formulados a partir de um olhar mais cuidadoso do que anteriormente, afinal, o
psicopedagogo terá que escutar o silêncio. O “novo normal” pede que o grupo seja
muito coeso. Difícil? Sim, mas não impossível se utilizar as ferramentas necessárias
e adaptadas.
Somos partes do mesmo. E como partes do mesmo em uma instituição
escolar que passa por esse momento de incertezas e preocupações; sejam elas
sociais, econômicas, emocionais, devemos nos ajudar. Coloque-se, mesmo que a
barreira física o impeça, no lugar do próximo (um exercício psicodramático
adaptado). Todos, absolutamente todos, nesse momento têm problemas. Está tão
em vulgo a palavra “empatia”, mas Governo, escola, família ou alunos têm a
utilizado?
Não cabe ao psicopedagogo escolar obrigar alguém a ser empático. Porém,
cabe ao psicopedagogo orientar nos processos de aprendizagem nesse momento
de incertezas.

REFERÊNCIAS

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2. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

“A educação tinha por objeto, antes de tudo, realizar em cada indivíduo, os


atributos constitutivos da espécie humana em geral, levando-os ao mais alto
grau de perfeição”. (DURKHEIM, 1952)

O estudo para o estágio psicopedagógico escolar foi baseado nas bases


teóricas da Psicopedagogia, utilizando-se autores renomados como Piaget,
Vygotsky, Bossa, Paín, Picho-Rivière, Jorge Visca e Freire. O objetivo desse estudo
era ter a base teórica para posteriormente analisar artigos e associar à sociedade e
seus benefícios e malefícios do ensino remoto e qual o papel do psicopedagogo
escolar para amenizar as possíveis consequências ao processo educacional.
A pesquisa foi realizada em conjunto com o Programa de Iniciação Científica
“Vozes da Pedagogia e a Formação Docente: Transitando entre a teoria e a prática
nas articulações entre EAD, semipresencial e presencial. Além disso, tive o prazer
de trabalhar em um projeto de extensão na Universidade de Brasília (UnB),
“Vulnerabilidades Contemporâneas”. Fui convidada pelos organizadores Maria Inês
Montagner e Miguel Montagner a contribuir com uma visão psicopedagógica, pois é
diferenciada dos outros autores (maioria graduados ou graduandos em Saúde
Coletiva, Farmácia e Enfermagem).
Observando as pessoas, principalmente crianças, trabalhadores essenciais
para o momento sem vulto social e idosos, construí narrativas, contos e poesias em
um capítulo de 10 páginas no livro “Retratos e Memórias de uma pandemia”,
publicado pela editora CRV. No livro há uma narrativa que demonstra alguns fatores
da dificuldade de aprendizagem como rótulos, problemas familiares, violência,
depressão, pobreza extrema que acentua o status quo de parte da população.
Durante o estágio em Psicopedagogia escolar, verifiquei que:
 Nem sempre a culpa de uma dificuldade de aprendizagem é da escola ou
família, pois fatores sociais de divisão de renda influencia;
 A escola pública foi mais afetada do que a privada devido a recursos
escassos, falta de um planejamento pedagógico, ações errôneas ou
atrasadas do governo, por exemplo;
 Apesar do psicopedagogo escolar nem sempre ser visto como necessário,
as escolas que o possui tinham resultados com alunos, família,
professores e coordenação mais satisfatório.
 Infelizmente, apesar de ser o profissional responsável pela aprendizagem
clínica e institucional (neste caso a escola), o psicopedagogo ainda não
conseguiu modificar pensamentos e atitudes que secundarizam o
aprender.

Será que a aprendizagem salutar sobreviverá a pandemia? No que depender do


auxílio e prevenção do psicopedagogo, sim.

3. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. L. C.. Retratos e memórias de uma pandemia. Curitiba, Paraná: ed.


CRV, p. 31-36, 2020.

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autor: 2020.

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docentes para a atenção integral de alunos do ensino médio em Angola. Revista
angolana de ciências. Angola, vol. 2, n. 1, jan-jul. 2020.

Entre os muros da escola. Direção de Laurent Cantet, François Bégaudeau e


Robin Campillo. França: Canal+, 128 min., 2007.

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