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Concepção e função da afetividade na EaD:


uma pesquisa de revisão sistematizada

Ana Martha de Almeida LIMONGELLI1


Luís Fernando CORREIA2
Nilce Mara da SILVA3
Ricardo Boone WOTCKOSKI4
Resumo: O objetivo do presente estudo foi identificar a produção científica so-
bre a concepção e função da afetividade na EaD da Revista Brasileira de Apren-
dizagem Aberta a Distância no período de 2002 a 2015. Para tanto, foi realizada
uma pesquisa de revisão sistematizada. Os dados foram tratados pela análise de
conteúdo adotando o tema como unidade temática. Encontraram-se três artigos
que atenderam aos critérios de inclusão. Concluiu-se que a temática Afetividade
– EaD – processos ensino e aprendizagem é pouco publicada no periódico em
questão; a conceituação de Afetividade utilizada por todos os autores relaciona-
-se a dois elementos centrais: emoção e sentimento; a função da Afetividade na
EaD citada em todos os artigos fundamenta-se na compreensão de que ela auxi-
lia, possibilita, potencializa e influencia o desenvolvimento cognitivo do aluno
e está presente nas diferentes ações e processos que envolvem a construção de
conhecimento do aluno.

Palavras-chave: Afetividade. Processos Educativos. Educação a Distância.

1
Ana Martha de Almeida Limongelli. Doutora em Psicologia da Educação pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialista em Ciências do Esporte pela Universidade
do Grande ABC. Licenciada em Educação Física pela Universidade de Santo Amaro (UNISA).
Professora e Tutora no Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <anamartha.claretiano@gmail.com>.
2
Luís Fernando Correia. Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação do Centro
Universitário Moura Lacerda (CUML), Ribeirão Preto-SP. Especialista em Educação Física Escolar pelo
Claretiano – Centro Universitário. Especialista em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e
Gestão pela mesma instituição, onde também é Tutor do curso de Licenciatura em Educação Física. Professor
de Educação Física na Rede de Ensino de Pontal-SP. E-mail: <luisbodinho@claretiano.edu.br>.
3
Nilce Mara da Silva. Mestranda em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP). Enfermeira
chefe do HC-USP - Ribeirão Preto (SP). E-mail: <nilcemara.silva@hotmail.com>.
4
Ricardo Boone Wotckoski. Mestre em Linguagens da Religião pela Universidade Metodista de
São Paulo. Especialista em Metodologia do Ensino da Língua Inglesa pela Faculdade São Luís de
Jaboticabal e em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela Universidade
Federal Fluminense (UFF). Tutor do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <rwotckoski@gmail.
com>.

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Conception and function of affection in EaD: a


survey of systematic review

Ana Martha de Almeida LIMONGELLI


Luís Fernando CORREIA
Nilce Mara da SILVA
Ricardo Boone WOTCKOSKI

Abstract: The aim of this study was to identify the scientific production on
the conception and function of affectivity in the EAD da Revista Brasileira de
Aprendizagem Aberta a Distância in the 2002 to 2015 period for both a systematic
review of research was conducted. The data were analyzed by content analysis
adopting the theme as thematic unit. It is met three articles that met the inclusion
criteria. It is concluded that the Affection theme - EAD - teaching and learning
processes is little published in the journal in question; the concept of Affection
used by all authors relates to two central elements: emotion and feeling; the
role of affectivity in the EAD quoted on all items is based on the understanding
that helps Affection, enables, empowers, influences the cognitive development
of the student and is present in different actions and processes that involve the
construction of knowledge of the student.

Keywords: Affectivity. Educational Processes. Distance Learning.

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1.  INTRODUÇÃO

Existem diferentes conceitos de Educação a Distância (EaD),


mas o ponto comum entre todos é que na EaD as tecnologias são
meios de minimizar a separação espacial e temporal entre profes-
sor-aluno e aluno-aluno, promovendo a mediatização. Essa intera-
ção dinâmica, tanto síncrona como assíncrona, entre os atores da
EaD e conteúdos possibilita potencializar a aprendizagem do aluno
(GUAREZI; MATOS, 2009). Assim, neste estudo, a EaD é com-
preendida como um meio educacional integrador que se constitui,
operacionaliza-se e desenvolve-se na articulação entre quatro gran-
des unidades: educação, docente, aluno e interação. Para que tal
articulação aconteça, é necessária a compreensão da concepção de
cada uma dessas quatro unidades temáticas.
A educação é entendida como um processo de formação do
homem/pessoa em sua plenitude e totalidade dinâmica. Ou seja, é
um processo de formação humana, política, cultural, social, bio-
lógica, física, ética, histórica e econômica, que abrange a totali-
dade das múltiplas dimensões da pessoa, em que são apropriados
os valores, costumes e conhecimentos, de diferentes ordens, de
geração para geração, a fim de contribuir com a formação cidadã da
pessoa (WALLON, 1975; FREIRE, 2001, 2004, FREIRE; SHOR,
2008).
O docente é compreendido como uma pessoa em sua totalidade
dinâmica, histórica e cultural em constante transformação que tem
a responsabilidade de organizar o ambiente de aprendizagem do
aluno. Essa aprendizagem precisa acontecer via ensino centrado no
aluno, no processo, na problematização, no diálogo, iniciando pela
cogestão aluno-professor e caminhando para a autogestão de apren-
dizagem do aluno. Dessa forma, o docente da EaD necessita conhe-
cer e compreender os elementos da Andragogia e Heutagogia, além
de ter o respectivo domínio do conhecimento de sua área de atuação
(FREIRE; SHOR, 2008; LITTO; FORMIGA, 2009). Não se pode
deixar de citar que, na EaD, há diferentes formas de se organizar a
docência. Nesse contexto, surgem atores cuja nomenclatura varia
de acordo com a especificidade de sua frente de atuação. Dentre
eles, destacam-se a tutoria presencial a distância e o professor res-

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ponsável, cada qual atuando em diferentes instâncias do processo


pedagógicas, mas todos necessariamente com a mesma concepção
de educação e aluno.
O aluno é concebido como uma pessoa em sua totalidade
dinâmica, histórica e cultural em constante transformação
(WALLON, 1975). Na EaD, em sua maioria, é jovem ou adulto. Ele
busca na EaD conhecimento para abrir e diversificar seus caminhos
de vida profissional e pessoal, apropriando-se do conhecimento a
partir de um processo de reflexão das informações via operações
de comparar, relacionar, integrar e internalizar, transformando as
informações em conhecimentos que apresentem significação, o que
potencializa sua emancipação humana (LITTO; FORMIGA, 2009;
POZO, 2008). Para tanto, a interação torna-se fundamental.
A interação ou interatividade é compreendida como uma
ação que envolve docente, aluno e ambiente de aprendizagem pau-
tada pelos princípios da participação, bidirecionalidade e poten-
cialidade. A interatividade apresenta diferentes relações na EaD,
permitindo adequar-se aos diferentes contextos e temporalidades
(LITTO; FORMIGA, 2009).
Tais interações são construídas via diferentes áreas de conhe-
cimentos e domínios humanos; um deles é a afetividade.
A afetividade é um dos domínios da pessoa que é compreendida
como a capacidade humana de afetar o outro e ser afetada por ele.
Assim, compreende-se que a afetividade participa na construção
das relações do ser humano consigo mesmo, com o outro e com o
mundo, sendo a base da linguagem que permeia todo o processo
de aprendizagem e de comunicações humanas (WALLON, 1975;
CARVALHO; LIMA, 2015).
Diante de tal contexto e a partir da compreensão de que a
EaD é um ambiente integrado que se faz com e para pessoas (BRA-
SIL, 2015), considera-se necessário aprofundar os conhecimentos
sobre afetividade e suas relações na EaD.
Assim, o objetivo do presente estudo é identificar a produção
científica sobre a concepção e função da afetividade na EaD da

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Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta a Distância no período


de 2002 a 2015.

2.  MÉTODO

Foi realizada uma pesquisa de revisão sistematizada (SOU-


ZA; SILVA; CARVALHO, 2010). Para tanto, foram conduzidas as
seguintes etapas: 1ª) levantamento dos artigos publicados pela Re-
vista Brasileira de Aprendizagem Aberta a Distância (RBAAD);
2ª) coleta de dados: os critérios de inclusão foram artigos publi-
cados na RBAAD no período entre 2002 a 2015, disponíveis em
ambiente aberto, na língua portuguesa, apresentando pelo menos
um dos unitermos: “afetividade”, “relações afetivas” e “educação
a distância”, combinados com os termos “ensino” e/ou “aprendiza-
gem”. Os critérios de exclusão foram: artigos sem resumo, publi-
cados fora do intervalo entre 2002 a 2015, que não apresentaram
os unitermos: “afetividade” e “relações afetivas”; 3ª) análise crí-
tica dos dados coletados: os dados foram trabalhados pela análise
de conteúdo adotando o tema como unidade (BARDIN, 2011); 4ª)
apresentação da revisão integrativa.
A Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância
(RBAAD) é uma publicação eletrônica interativa anual, de abran-
gência internacional, focada na pesquisa, no desenvolvimento e na
prática da educação a distância nos diferentes níveis educacionais,
formais e informais, e nas tecnologias disponíveis. Ela é uma publi-
cação da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e
apresenta Qualis – ISSN – 1806 – 1362 / DOI 10.17143 / abed1995.

3.  RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da revisão integrativa estão apresentados em


três quadros. O Quadro 1 apresenta os dados de perfil da produção
da Revista, e os Quadros 2 e 3 apresentam os dados extraídos da
análise de conteúdo realizada.

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Quadro 1. Perfil da produção da revista.


ARTIGO
ATENDEU
ANO/ TOTAL DE APRESENTAÇÃO DOS
AOS
VOLUME ARTIGOS ARTIGOS
CRITÉRIOS
DA PESQUISA
Maioria sem resumo e unitermos;
2002 – v. 1 11 artigos em português e artigos 0
em inglês
Maioria com resumo e poucos
2003 – v. 2 44 0
com unitermos
2004 – v. 3 5 Todos com resumo e unitermos 0
2005 – v. 4 7 Todos com resumo e unitermos 0
2006 – v. 5 11 Todos com resumo e unitermos 0
2007 – v. 6 13 Todos com resumo e unitermos 1
2008 – v. 7 17 Todos com resumo e unitermos 1
2009 – v. 8 7 Todos com resumo e unitermos 0
2010 – v. 9 8 Todos com resumo e unitermos 0
2011 – v. 10 7 Todos com resumo e unitermos 0
2012 – v. 11 7 Todos com resumo e unitermos 0
Todos com resumo e unitermos /
2013 – v. 12 9 nova formato: artigo nas versões: 0
português, inglês e espanhol
Todos com resumo e unitermos /
2014 – v. 13 8 nova formato: artigo nas versões: 0
português, inglês e espanhol
Todos com resumo e unitermos
/ nova formato: artigos nas
2015 – v. 14 9 1
versões: português, inglês e
espanhol
O Quadro 1 sinaliza que a Revista manteve produção cons-
tante desde sua primeira publicação on-line em 2002, não deixando
nenhum ano sem publicar. Percebe-se que, no início, apresentou
maior número de artigos por volume, sendo que, no ano de 2003,
houve a maior publicação de artigos. Nos dois anos iniciais, a maio-
ria dos artigos não apresentou resumo e unitermos, sendo que, a
partir de 2004, passou a publicar somente artigos com resumo e
unitermos. A partir do ano de 2014, inovou o seu formato de apre-

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sentar o artigo, apresentando-o nas versões: português, inglês e es-


panhol. Dessa forma, os seus conteúdos são facilmente lidos por
diferentes culturas/nacionalidades de leitores.
Em relação a artigos que atenderam aos critérios da pesquisa,
encontraram-se somente três obras: uma no ano de 2007, outra no
ano 2008 e a última no ano 2015. Esse dado sinaliza que, nesse
periódico, parece haver pouca produção de artigos sobre a temática
“afetividade/EaD/processos de ensino e aprendizagem”. Como se
analisou, apenas um periódico da área não pode transpor essa aná-
lise para a totalidade da área, mas é um dado significativo, tendo
em vista a abrangência e a classificação do respectivo periódico
analisado.
A partir da análise de conteúdo, foram levantadas duas gran-
des categorias: Afetividade – conceituação e Afetividade – função
na EaD. No Quadro 2, estão apresentados os dados da Categoria
Afetividade – conceituação. No Quadro 3, estão apresentados os
dados da Categoria Afetividade – função na EaD.
Quadro 2. Afetividade: conceituação.
TRECHO TEÓRICO CONCEITUAÇÃO
ID – Artigo: 2007 – v. 6, autoria
dupla, instituição não indicada
“[...] afetividade compreende o
estado de ânimo ou humor, os – Estado de ânimo:
sentimentos, as emoções e as paixões (BALLONE, 2003) sentimentos,
e reflete sempre a capacidade de emoções, paixões.
experimentar sentimentos e emoções – Determinante
[...] afetividade é quem determina da atitude geral da
a atitude geral da pessoa diante de pessoa.
qualquer experiência vivencial [...]”
(LOPES; XAVIER, p. 7).

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ID – Artigo: 2008 – v. 7, autoria


dupla, CESPE/UnB
“[...] afirma não ser possível
desenvolver a habilidade cognitiva
(CHALITA, 2004) – Emoção, afeto.
e a social sem que a emoção seja
trabalhada [...] Só há educação onde
há afeto [...]” (CASTRO; MATTEI,
p. 6).
-----------------------------
“[...] educação como experiência
fria, sem alma, em que os
– Sentimentos,
sentimentos e as emoções, os
(FREIRE, 2007) emoções.
desejos, os sonhos [...]” (CASTRO;
MATTEI, p. 6).

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ID – Artigo: 2015 – v. 14, autoria


tripla, Universidade Federal Itajubá
“[...] emoção, o estado do corpo deve
– Emoção é
apresentar alterações provenientes
manifestação
de um estado mental a partir das
corporal.
representações das/nas interações
(DAMÁSIO, 1996) – Sentimento ligado à
sociais. Sendo assim, o sentimento
representação.
está ligado ao resultado do estado
– Afeto/afetividade
mental dessas representações. Dessa
é manifestação do
forma, a emoção é o reflexo no
sentimento na/pela
corpo de um sentimento. O afeto,
ação.
nessa forma de pensar, seria, então,
a manifestação do sentimento
em ações” (SILVA; SHITSUKA;
PASCHOAL, p. 16).
--------------------------------
“[...] emoções compreendem
reações orgânicas, acompanhadas
(WALLON, 1968; – Emoções são
de alterações biológicas, isto é, o
1989) reações orgânicas
efeito é notável no/pelo corpo [...]”
notadas no/pelo
(SILVA; SHITSUKA; PASCHOAL,
corpo.
p. 17).
---------------------------------
“[...] afeto, nessa perspectiva, está
relacionado a todas as interações
– Afeto/afetividade
estabelecidas pelo sujeito [...] pois,
(VYGOTSKY, 2008) são todas interações
de uma forma ou de outra, afetam ou
do sujeito.
levam o indivíduo a se posicionar a
– Afeto/afetividade
respeito [...]” (SILVA; SHITSUKA;
leva sujeito a se
PASCHOAL, p.17).
posicionar.
O Quadro 2 apresenta trechos dos artigos analisados que
apresentam unidades de significado que propiciaram a extração da
conceituação de afetividade tratada nos artigos. Também está apre-
sentado o teórico que foi utilizado, pelos autores dos artigos, para
sustentar a conceituação da afetividade.

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Encontrou-se que a conceituação utilizada por todos os auto-


res se relaciona a dois elementos centrais: emoção e sentimento. Os
dois primeiros artigos (ID:2007-V.6 e ID:2008-V.7) não conside-
ram que exista diferenciação entre esses elementos da Afetividade,
ou seja, não apontam diferenças entre emoções e sentimentos. Essa
compreensão da não existência de diferenciação entre emoção e
sentimento está fundamentada nos teóricos: Ballone, Chalita e Frei-
re. No terceiro artigo (ID:2015-V.14), ocorre um fato de forma con-
trária, pois neste é apontada diferença entre emoção e sentimento.
A emoção é reação orgânica /manifestação corporal, ao passo que
o sentimento se liga à representação mental. Ambos se integram de
forma dinâmica, construindo a afetividade ou afeto. Essa compre-
ensão da existência de diferenciação entre emoção e sentimento e
a integração dinâmica destes para a construção da afetividade está
fundamentada nos teóricos: Damásio, Wallon e Vygotsky. Tanto o
primeiro artigo como o terceiro entendem que a afetividade pos-
sibilita o sujeito se posicionar diante de uma situação, ou seja, é
determinante para a pessoa estabelecer e dar sentido/significado a
todas as suas interações.
A seguir, está apresentado o Quadro 3.

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Quadro 3. Afetividade – funções na EaD.


TRECHO TEÓRICO CONCEITUAÇÃO
ID – Artigo: 2007 – v.6, autoria dupla,
instituição não indicada – Possibilita o sujeito a
“[...] afetividade é fundamental para que construir ações.
o homem possa construir ações, pois é
ela que impulsiona o ser a agir”.
---------------------------------- (ROSA, 2003)
“[...] este componente estando presente
na interação no contexto educacional
pode levar o aluno à busca de novos – Leva o aluno a buscar
conhecimentos sem perder a essência de novos conhecimentos para
saber utilizá-los em favor da vida, em utilizar a favor da vida e
favor do humano” (LOPES; XAVIER, do humano.
p. 7).
ID – Artigo: 2008 – v. 7, autoria dupla,
CESPE/UnB – Possibilita troca de
“Só há educação onde há afeto, onde (CHALITA, 2004, p. experiências.
experiências são trocadas, enriquecidas, 245)
vividas” (CASTRO; MATTEI, p. 6).
----------------------------------
“[...] fatores sociais e afetivos podem se
tornar incentivadores da aprendizagem
e a colaboração entre os educandos
pode contribuir para a aprendizagem – Promove incentivo para
em nível pessoal e social ... estímulos aprendizagem pessoal e
emocionais tendem a motivar mais e social.
podem ser determinantes para o sucesso (VYGOTSKY, 2007) – Potencializa sucesso
da atividade educativa [...] superação de da atividade educativa e
dificuldades (CASTRO; MATTEI, p. 17). superação de dificuldades.
“[...] estímulos afetivos superam os de – Aumenta a participação
estímulos cognitivos [...] houve maior dos alunos.
participação dos alunos [...]” (CASTRO;
MATTEI, p. 18).

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ID – Artigo: 2015 – v. 14, autoria tripla, – Afeta o desempenho do


Universidade Federal de Itajubá (WALLON, 1968, aluno.
“[...] as de ensino-aprendizagem 1989) (VYGOTSKY, – Manifestações afetivas
marcadas por manifestações afetivas 1998) do professor afetam
(aversivas ou prazerosas), afetarão de desempenho do aluno.
alguma forma o desempenho do aluno
[...] o resultado desse desempenho
depende muito do processo de mediação
do professor” (SILVA; SHITSUKA;
PASCHOAL, p. 14-15).
-------------------------------------
“[...] a afetividade não só influencia as
– Auxilia no processo
relações sociais como também ajuda nos
de desenvolvimento
processos de desenvolvimento cognitivo”
cognitivo.
(SILVA; SHITSUKA; PASCHOAL, p.
16).
-------------------------------------
“[...] afetividade faz parte do ambiente
virtual com objetivos de ensino-
aprendizagem, de diferentes maneiras, – Objetiva ensino-
assim como nas diferentes interações (VYGOTSKY, 1998) aprendizagem.
humanas” (SILVA; SHITSUKA;
PASCHOAL, p. 20).
-------------------------------------
“Durante essas relações interpessoais,
o aluno pode criar laços afetivos, – Possibilita construir
tanto com o professor quanto com relações de entendimento
o tutor, comunicando-se de forma a ou desentendimento com
constituir relações de entendimento professor ou tutor.
ou desentendimento mútuo” (SILVA;
SHITSUKA; PASCHOAL, p. 13).
-------------------------------------
“Na interação entre os colegas, a
afetividade dos alunos acaba aparecendo,
na maioria das vezes, nas relações de
– Possibilita troca de
amizades, pois é possível perceber,
experiências e capacidade
nas discussões em grupo, as trocas de
de ajudar por meio de
experiências, como também a capacidade
conhecimento partilhado.
de ajudar no desenvolvimento por meio
do conhecimento partilhado” (SILVA;
SHITSUKA; PASCHOAL, p. 14).

O Quadro 3 apresenta trechos dos artigos analisados que in-


dicam unidades de significado que propiciaram a extração da fun-

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ção da afetividade na EaD. Também, em alguns trechos, está apre-


sentado o teórico que foi utilizado pelos autores dos artigos para
sustentar a função da afetividade. Os trechos que não mostram o
teórico contêm as conclusões citadas pelos autores sobre as funções
da afetividade na EaD.
Encontrou-se que a função da afetividade na EaD citada por
todos os artigos se fundamenta na compreensão de que a afetivida-
de auxilia, possibilita, potencializa e influencia o desenvolvimento
cognitivo do aluno. Assim, a afetividade está presente nas diferen-
tes ações e processos que envolvem a construção de conhecimen-
to do aluno. Especificamente, foi apontado que a afetividade leva
o aluno a buscar novos conhecimentos para utilizá-los a favor da
vida e do humano mediante a troca de experiências, superação de
dificuldades, maior participação e ajuda via compartilhamento de
conhecimentos. Também ficou sinalizado que a mediação do pro-
fessor e tutor afeta o desempenho do aluno. Somente no terceiro
artigo (ID:2015-V14), houve a referência de que as manifestações
afetivas podem ser tanto prazerosas como aversivas e que ambas
podem afetar a construção de conhecimentos dos alunos. Essa
compreensão supera a visão ingênua de que afetividade é amor in-
condicional. Essa referência se fundamenta no teórico Wallon, que
entende que não existe afetividade positiva e afetividade negativa,
mas que a afetividade é a capacidade da pessoa de afetar e ser afe-
tada pelo outro.
Portanto, independentemente da valoração da afetividade, ela
sempre vai provocar uma reação em ambas as pessoas envolvidas
no processo. E essas reações podem ser diversificadas, pois a inter-
pretação da valoração depende da história de vida de cada pessoa
(MAHONEY; ALMEIDA, 2010; ALMEIDA, MAHONEY, 2014);
por isso, o professor ou tutor precisa conhecer o melhor possível
seus alunos e o contexto do ambiente de aprendizagem virtual.

4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do estudo realizado, constatou-se, de acordo com a


produção científica sobre a concepção e a função da afetividade na

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EaD da Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta a Distância no


período de 2002 a 2015, que:
a)  A temática afetividade – EaD – processos ensino e apren-
dizagem apresentou baixa publicação no periódico em
questão.
b)  A conceituação de afetividade utilizada por todos os au-
tores relaciona-se a dois elementos centrais: emoção e
sentimento. Há diferença entre os estudos no que tange
à compreensão sobre emoção e sentimento. Nos estudos
fundamentados pelos teóricos Ballone, Chalita e Frei-
re, não há diferenciação entre emoção e sentimento. Nos
estudos fundamentados pelos teóricos Damásio, Wallon
e Vygotsky, há diferenciação entre emoção e sentimento.
Emoção é reação orgânica, e sentimento liga-se à repre-
sentação mental. Emoção e sentimento integram-se de
forma dinâmica, construindo a afetividade ou o afeto. Afe-
tividade é concebida como um determinante para a pessoa
estabelecer e dar sentido/significado a todas as interações.
c)  A função da afetividade na EaD citada em todos os artigos
fundamenta-se na compreensão de que a ela auxilia, pos-
sibilita, potencializa e influencia o desenvolvimento cog-
nitivo do aluno. A afetividade está presente nas diferentes
ações e processos que envolvem a construção de conheci-
mento do aluno, levando-o a buscar novos conhecimentos
para utilizar a favor da vida e do humano mediante a troca
de experiências, superação de dificuldades, maior parti-
cipação e ajuda via compartilhamento de conhecimentos.
Também ficou sinalizado que a mediação do professor e
tutor afeta o desempenho do aluno. Somente em um único
artigo, houve a referência de que as manifestações afetivas
podem ser tanto prazerosas como aversivas e que ambas
podem afetar a construção de conhecimentos dos alunos.
Essa compreensão supera a visão ingênua de que Afetivi-
dade é amor incondicional.
Este estudo sinalizou, assim, a influência da afetividade nos
processos educativos da EaD e a importância de mais estudos para

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contribuir com esclarecimentos necessários para dinamizar o pro-


cesso educativo da EaD. Sugere-se que esse tipo de pesquisa seja
realizado em outros periódicos significativos da área, a fim de se
construir um cenário mais abrangente sobre essa temática.

REFERÊNCIAS

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de Henri Wallon. 4. ed. Loyola: São Paulo, 2014.

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