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ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS1
RESUMO
A presente pesquisa em andamento pretende analisar os impactos afetivos produzidos
pelas práticas pedagógicas do professor e vivenciados por alunos adultos no processo de
alfabetização, em uma sala de EJA – Educação de Jovens e Adultos. Propõe investigar a
dimensão afetiva na mediação pedagógica, bem como sua repercussão para os sujeitos
envolvidos, buscando compreender e descrever o papel da afetividade no
desenvolvimento humano, em especial, nos aspectos psicológicos do desenvolvimento
humano. Procura compreender como tais experiências afetivas impactam na construção
da subjetividade humana. As bases teóricas fixam-se na área da Psicologia, na
abordagem Histórico-Cultural, principalmente em Vygotsky (1998) e Wallon (1968).
Assume-se, como pressuposto teórico, que o processo de mediação pedagógica,
desenvolvido pelo professor em sala de aula, é marcadamente afetivo, podendo produzir
movimentos de aproximação ou de afastamento entre o aluno e os objetos de
conhecimento em questão. Na coleta de dados, segundo a metodologia qualitativa,
utilizou-se o procedimento de autoscopia, no qual o sujeito confronta-se com sua
imagem videogravada e é incentivado, pelo pesquisador, a verbalizar sobre os seus
sentimentos vivenciados na situação em tela. A partir dos dados são construídos núcleos
temáticos que possibilitam identificar os diversos sentidos constituídos pelos sujeitos, a
partir das práticas pedagógicas vivenciadas em sala de aula. Sua pertinência firma-se na
relevância social do tema e na possibilidade de contribuir para ampliar o conhecimento
de temática que vem ganhando visibilidade entre as pesquisas em educação.
PALAVRAS-CHAVE: afetividade, subjetividade, Educação de Jovens e Adultos,
práticas pedagógicas.
1
Financiamento FAPESP.
1. Introdução
3. Afetividade e subjetividade
5. Metodologia
6. Coleta de dados
Portanto, esta pesquisa assume a abordagem qualitativa devido à sua clara
adequação aos objetivos propostos. Uma vez que tal metodologia tem no ambiente onde
se dão as relações a serem estudadas a sua fonte de dados, ela possibilita uma melhor
observação e análise das práticas pedagógicas que serão trabalhadas e permite inferir e
interpretar dados relativos à questão da afetividade.
No referido procedimento de autoscopia, as filmagens foram realizadas durante
um período de seis meses. O equipamento usado foi um tablet iPad, gerando arquivos
de vídeo em formato digital que foram armazenados em um computador.
Posteriormente, as gravações foram editadas, transformadas nos vídeos individuais com
os momentos de destaque de cada sujeito e utilizadas nas sessões de autoscopia, onde o
sujeito observava os seus vídeos e respondia algumas questões elaboradas pela
pesquisadora. Essas falas eram gravadas e consideradas os dados primários da pesquisa.
Cada sujeito tinha um roteiro de perguntas, elaborado especificamente com base no seu
vídeo, visando fomentar a verbalização dos aspectos julgados mais pertinentes aos
objetivos da pesquisa. Ao todo, foram realizadas sete sessões de autoscopia, seis
sujeitos alunos e a professora da turma.
8. Considerações finais
Os dados até agora analisados permitem afirmar que a dimensão afetiva deve ser
pensada no planejamento educacional, uma vez que a qualidade das interações e as
decisões assumidas pelo docente, no planejamento e desenvolvimento do curso,
produzem repercussões marcadamente afetivas e constituem um dos diferenciais que
podem vir a transformar a aprendizagem em uma experiência de aproximação ou
afastamento com os objetos de ensino.
Acredita-se que, na modalidade EJA, – principalmente em função da não
obrigatoriedade e pelas dificuldades enfrentadas pelos alunos na tentativa de conciliar
trabalho, responsabilidades familiares e estudos – havendo a criação de um vínculo
afetivo de aproximação entre professor e aluno, aumentam-se as chances de existir
motivação para retornar todos os dias, verificando-se uma melhora significativa na
qualidade do aprendizado para alunos que, muitas vezes, estão voltando para uma escola
que os excluiu, uma escola que é instrumento de uma sociedade que os desvaloriza
exatamente pela sua não escolarização. De acordo com Gadotti (2001):
O aluno adulto não pode ser tratado como uma criança cuja história de
vida apenas começa. (...) Ao mesmo tempo, apresenta-se temeroso,
sente-se ameaçado, precisa ser estimulado, criar auto-estima pois a sua
“ignorância” lhe traz tensão, angústia, complexo de inferioridade (p.
39).
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.