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Os contributos de David Ausubel, Lev Vygotsky e Jerome

Bruner na Educação em Ciências


DIDÁCTICA E DESENVOLVIMENTO CURRICULAR DA FÍSICA E QUÍMICA I

Alexandre Cardoso Mendes_103096

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Índice:

1. Introdução
2. Teoria de Lev Vygotsky
2.1. Ideias principais
2.2. Reflexão crítica sobre o impacto no ensino em ciências
3. Teoria de David Ausubel
3.1. Ideias principais
3.2. Reflexão crítica sobre o impacto no ensino em ciências
4. Teoria de Jerome Bruner
4.1. Ideias principais
4.2. Reflexão crítica sobre o impacto no ensino em ciências
5. Reflexão de um futuro professor
6. Referências

1. Introdução

A educação em ciência está intimamente ligada ao desenvolvimento cognitivo e


à construção do conhecimento. Neste trabalho abordarei três teóricos da educação, Lev
Vygotsky (1896-1934), David Ausubel (1918-2008) e Jerome Bruner (1915-2016). As
suas teorias e ideias transformaram a educação e continuam a influenciar a mesma em
todo o mundo. Cada um abordou a aprendizagem de maneira única, destacando a
importância da compreensão profunda, da interação social, da aprendizagem ativa e da
estruturação do conhecimento. As suas ideias não mudaram apenas o ensino em
ciências, mas também proporcionaram uma base sólida para o desenvolvimento de
abordagens pedagógicas eficazes e inovadoras.

Por último irei fazer uma reflexão acerca de como os professores de Física e de
Química devem ter em consideração os contributos destes autores para a sua prática
profissional.

2. Teoria de Lev Vygotsky

A teoria de Vygosky é amplamente reconhecida no campo da psicologia do


desenvolvimento e educação. Os seus conceitos fundamentais oferecem uma perspetiva
distinta sobre a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo. Vou explorar alguns

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pilares centrais dessa teoria destacando a zona de desenvolvimento próximo, o papel
crucial da interação social e uso de mediadores como por exemplo a linguagem.

2.1 Ideias principais

Vygosky no seu trabalho defende que as características humanas são resultado


das relações entre o homem e a sociedade pois o homem transforma-se na procura de
compreender as suas necessidades básicas. As crianças nascem apenas com funções
psicológicas elementares1 , funções que existem desde o nascimento, e através do
contato com a cultura, estas funções transformam-se em funções psicológicas
superiores2 . O desenvolvimento humano não ocorre de forma isolada, mas sim no
contexto social, através de um mediador que orienta, limita e atribui significados à
realidade para a criança.

Tradicionalmente, o processo de desenvolvimento é baseado no que a criança já


conseguiu realizar e nas tarefas que ela pode executar. Para Vygosky esse conjunto de
capacidades diz respeito ao nível de desenvolvimento real, mas não revela o processo de
desenvolvimento do indivíduo na totalidade. Por isso, é necessário conhecer o nível de
desenvolvimento potencial, entendido como a capacidade de realizar tarefas com ajuda
de uma pessoa mais experiente. É um momento caracterizado por funções em
desenvolvimento passíveis de serem consolidadas por meio da interferência externa.
“Aquilo que a criança consegue fazer com ajuda é muito mais indicativo do seu
desenvolvimento do que aquilo que consegue fazer sozinha”. (Chaiklin and Campregher
Pasqualini n.d.)

Vygotsky apresenta assim uma definição para a zona de desenvolvimento


próximo: a trajetória a ser percorrida para que as funções que estão em processo de “vir-
a-ser” se tornem funções consolidadas no desenvolvimento real. Como tal, a
participação do outro mais experiente é fundamental. Pode-se afirmar, portanto, que o
processo de desenvolvimento passa por transformações constantes, e é influenciado pela
qualidade da mediação; daí o papel fundamental da interação social na construção das
funções psicológicas humanas.

1 Sensações, perceções
2 Controlo consciente do comportamento, ou seja, a capacidade de regular e direcionar
as suas ações de formas voluntárias; a ação intencional, que envolve a realização de
atividades com propósito específico; liberdade em relação ao momento e espaço
presente, permitindo uma compreensão mais abstrata flexível do tempo e espaço.
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Segundo Vygotsky,

“A zona de desenvolvimento próximo pode, portanto, tornar-se um conceito


poderoso nas pesquisas de desenvolvimento, conceito este pode aumentar de forma
acentuada a eficiência e a utilidade da aquisição de métodos diagnósticos do
desenvolvimento mental a problemas educacionais”(Coelho and Pisoni n.d.)

Figura 1 Zona de desenvolvimento próximo

As práticas pedagógicas devem ser planeadas a partir do nível de


desenvolvimento real e ainda, ter em conta o nível de desenvolvimento potencial, tendo
como objetivo as conquistas ainda não alcançadas. Isso significa que o ensino deve estar
relacionado com ambos os níveis de desenvolvimento da criança, pois existe uma
relação entre um determinado nível de desenvolvimento e a capacidade de
aprendizagem. Se o professor durante a sua aula praticar somente os conceitos já
adquiridos, o aluno poderá ficar com uma noção equívoca e ilimitada daquilo que ele
não consegue fazer, privando-o da possibilidade de ampliar as suas formas de pensar,
sentir e agir. Quando um professor não auxilia o aluno a rever uma determinada
dificuldade, propondo-lhe só atividades que já domina e realiza sem ajuda, ele está a
impedir o aluno de seguir em frente por privá-lo da mediação necessária para construir
um pensamento mais elaborado. Cabe ao professor, então, entre empurrar o aluno para
aquilo que ainda não consegue, mas que virá conseguir mediante a sua ajuda. Essa ajuda
promove justamente o desenvolvimento do aluno.

O professor tem então de ter uma abertura e disponibilidade para desempenhar o


papel de mediador. Assim para que a proposta pedagógica resulte em desenvolvimento
é indispensável que o professor conheça o nível de desenvolvimento real e potencial dos
seus alunos, o que pode ser feito através de um meio de avaliação diagnóstica e

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processual. Essa modalidade de avaliação centra-se mais no processo do que no
produto, ou seja, é contrária à que apenas verifica o rendimento do aluno. O seu objetivo
é compreender como o aluno conhece e interage com o mundo, quais são as suas
experiências prévias e as suas necessidades, de modo a trabalhá-las mediante um plano
de ação adequado, um ensino voltado para as novas aprendizagens e novos
desenvolvimentos.

A relação entre o aluno e o professor é uma relação mediada por sistemas


simbólicos, ou seja, elementos intermediários entre ambos. Esses elementos
intermediários são os signos3 e os instrumentos4. Os signos são compartilhados pelos
grupos sociais, em que há uma representação no plano simbólico de cada elemento.
Tanto os instrumentos e os signos, geram novas funções psicológicas, as funções
psicológicas superiores, assim, é pela aprendizagem que a criança se humaniza e
alcança patamares psicológicos superiores.(Anon n.d.)

A sala de aula é um ambiente organizado por uma prática social. Nela, espera-se
que o indivíduo realize determinadas ações e alcance certos conhecimentos pelos modos
de pensar e de agir. Nesse processo, professores e alunos interpretam-se mutuamente,
conforme parâmetros nem sempre concordantes. Essas interpretações fazem com que
alunos e professores atribuam sentidos diferentes às suas ações, de modo que a
mediação sempre se dá em um contexto de relações entre pessoas que tentam alcançar
significados compartilhados para sentidos pessoais.

A mediação tem duas características fundamentais não é uma transmissão


passiva de conteúdos e não ocorre independente do nível desenvolvimento, ou seja, para
beneficiar-se da mediação é preciso que se leve em consideração o nível de
desenvolvimento real, o que reforça a importância de se investigar as aquisições já
disponíveis.

Para ocorrer este processo de mediação é fundamental o desenvolvimento da


linguagem . A linguagem não é apenas uma forma de expressão, mas uma ferramenta
ativa na construção do pensamento, um instrumento cognitivo fundamental que
desempenha um papel ativo e dinâmico no desenvolvimento das crianças. A relação
entre pensamento e linguagem é bidirecional. Na ZDP, onde uma criança pode realizar

3 Ferramentas que auxiliam nos processos psicológicos e não nas ações concretas como
os instrumentos
4 Age externamente ao homem, baseia-se na intervenção na natureza.

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tarefas com ajuda, a linguagem desempenha um papel vital. A orientação na ZDP ocorre
principalmente por meio da linguagem, como orientações, esclarecimentos e feedback
guiando a criança.(Chaiklin and Campregher Pasqualini n.d.). A linguagem permite que
as crianças planeiem, executem e avaliem as suas ações de maneira mais eficaz.

2.2 Reflexão crítica sobre o impacto no ensino em ciências

Normalmente, as escolas não conseguem promover um ensino onde os alunos


participem ativamente na sua própria educação e na dos colegas. Vygosky, no entanto,
apela que tanto o professor como os alunos assumam papéis não tradicionais à medida
que se envolvem na aprendizagem colaborativa. O ensino recíproco permite a criação de
um diálogo entre alunos e professores, incentivando os alunos a irem além de responder
às perguntas, deve-se assim evitar propor uma pedagogia diretiva, onde o aluno só tem
simplesmente o papel de recetor passivo.

Em vez de um professor impor a sua compreensão aos alunos sobre um


conteúdo, o professor deve tentar criar um ambiente onde os alunos se sintam
confortáveis a interagir com esse conteúdo, assumindo assim uma responsabilidade no
seu próprio processo de aprendizagem. Por exemplo, um aluno e um professor podem
iniciar uma tarefa com vários níveis de conhecimento e compreensão. À medida que se
adaptam à perspetiva um do outro, o professor deve articular as suas ideias de uma
forma que o aluno possa compreender, levando uma compreensão mais completa da
tarefa ou do conceito.

As atividades propostas pelo professor podem ser desenvolvidas em grupo ou


com uma discussão em turma, os membros do grupo devem ter diferentes níveis de
capacidade para que os pares mais avançados possam ajudar os menos avançados a
trabalharem dentro da sua zona de desenvolvimento próximo.

A ênfase na interação social pode moldar as práticas de avaliação. A avaliação


formativa, com feedback construtivo contínuo, alinha-se à ideia de desenvolvimento
contínuo dos alunos, não avaliando apenas a compreensão do conteúdo, mas também
fazendo uma orientação para os próximos passos da aprendizagem.

3. Teoria de David Ausubel

Ao contrário de abordagens tradicionais, a teoria de David Ausubel destaca a


importância de conectar novas informações e conceitos presentes na estrutura cognitiva

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dos alunos. Vou explorar assim alguns pilares essenciais na teoria, como a
aprendizagem significativa, os organizadores prévios e os mapas de conceitos.

3.1 Ideias principais

Ausubel é um representante do cognitivismo e, portanto, oferece uma explicação


teórica da aprendizagem de acordo com a perspetiva cognitivista5. Baseia-se na
premissa de que existe uma estrutura, como outros teóricos do cognitivismo. É a
estrutura cognitiva definida como o conjunto total de pensamentos de uma pessoa e a
sua organização; ou, em particular, o conjunto e organização de pensamentos do
conhecimento.(Paul n.d.)

“A atenção de Ausubel está constantemente voltada para a aprendizagem, tal


como ela ocorre na sala de aula, no dia a dia da grande maioria das escolas” (Bryce and
Blown 2023)

A ideia central da teoria de Ausubel é a aprendizagem significativa. Ele acredita


que o conhecimento prévio do aluno é o que proporciona maior impacto na
aprendizagem, o professor deve identificar esse conhecimento e ensinar com base nisso.
Apenas quando os conceitos são relevantes, inclusivos, suficientemente claros e
disponíveis na estrutura cognitiva de uma pessoa, novas ideias e informações podem ser
aprendidas e mantidas. Essa estrutura cognitiva funciona como uma ponte para novas
ideias e informações. Como resultado, existe um processo de interação por meio do qual
ideias mais pertinentes e inclusivas interagem com os novos conteúdos, abrangendo e
integrando-os e, ao mesmo tempo, alterando-se de acordo com essa interação.

A aprendizagem significativa é o processo pelo qual novas informações se


relacionam com uma parte particular da estrutura cognitiva da pessoa, que Ausubel
define como o conceito subsunçor. Assim, o conhecimento é organizado
hierarquicamente, e as informações mais específicas são conectadas e assimiladas as
ideias mais amplas. Portanto, a estrutura cognitiva refere-se a uma hierarquia de ideias
que são representações das experiências sensórias de uma pessoa.(Safdar et al. 2012)

Entretanto, após a descoberta em si a aprendizagem só é significativa se o


conteúdo descoberto se ligar a conceitos já existentes na sua estrutura cognitiva, ou seja,

5 Estuda os processos mentais, como perceção, memória, linguagem e resolução de problemas, para
compreender o funcionamento da mente humana e o processo de aprendizagem.

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a aprendizagem é significativa, se a informação incorpora de forma não arbitrária na
estrutura cognitiva.

Ausubel recomenda o uso de organizadores prévios para que estes sirvam de


pontes cognitivas para a nova aprendizagem e levem ao desenvolvimento de conceitos
já existentes na estrutura cognitiva facilitando assim a aprendizagem. O uso de
organizadores prévios é uma estratégia para deliberadamente manipular a estrutura
cognitiva facilitando a aprendizagem. Estes são materiais introdutórios apresentados
antes do material a ser aprendido. Contrariamente a sumários, que são geralmente
apresentados ao mesmo nível de abstração e generalidade, destacando simplesmente
certos aspetos do assunto. (Schuhmacher 2013)

“A essência do processo de aprendizagem significativa é que ideias


simbolicamente expressas sejam relacionadas de maneira substantiva não literal e não
arbitrária ao que o aluno já sabe, ou seja, a algum aspeto da sua estrutura cognitiva
especificamente relevante para a aprendizagem dessas ideias. Este aspeto
especificamente relevante pode ser, por exemplo uma imagem, um símbolo, um
conceito já significativo”(Bryce and Blown 2023)

Portanto, um requisito para ocorrer a aprendizagem é que o conteúdo a ser


aprendido seja relacionado de forma não arbitrária e não literal à estrutura cognitiva do
aluno. O material que apresenta essas características é considerado potencialmente
significativo.

A outro requisito é que o aluno demonstre a capacidade de relacionar o novo


conteúdo de maneira substantiva e não arbitrária com sua estrutura cognitiva. Em outras
palavras, se o objetivo do aluno for apenas memorizar, o processo de aprendizagem e
seus resultados serão mecânicos6 (ou automáticos).

De acordo com Ausubel, para ocorrer uma compreensão genuína de um


conceito, o aluno deve conseguir compreender o que o conceito representa e como ele
relaciona-se com outros conceitos; usá-lo corretamente em diferentes contextos; ser
capaz de aplicar o conhecimento adquirido em novas situações. Porém, ao testar essa
compreensão, simplesmente pedindo ao aluno que diga para que serve o conceito pode-

6 Aprendizagem mecânica consiste na aprendizagem de novas informações sem


interação com conceitos pertinentes na estrutura cognitiva do aluno. A informação é
armazenada arbitrariamente.
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se obter apenas respostas mecanizadas. Ele comenta que uma longa experiência em
fazer exames faz com que os estudantes se habituem a memorizar não só fórmulas, mas
também causas, exemplos, explicações e maneiras de resolver “problemas típicos”.
Propõe, então, que para procurar evidências de compreensão significativa, a melhor
maneira de evitar respostas mecanizadas é formular questões e problemas de uma
maneira nova e não familiar, que requeira máxima transformação do conhecimento
adquirido, ou a construção de um mapa de conceitos.

Os mapas conceituais são diagramas que mostram as relações entre conceitos.


Estes mapas não visam classificar conceitos. Em vez disso, eles exploram o significado
das interconexões hierárquicas entre eles.

Figura 2 Mapa de conceitos sobre transformações da matéria

No entanto, o aluno pode pensar que apenas um mapa representa um conjunto


específico de conceitos, o que é errado (Safdar et al. 2012); portanto, é importante usar
estes mapas com cuidado. O termo "um mapa conceitual" deve ser usado em vez de "o
mapa conceitual" para descrever um mapa conceitual. Poderíamos avaliar se a
aprendizagem foi significativa ou não permitindo que os alunos construam um mapa
conceitual com base em suas estruturas cognitivas.

2.23.2 Reflexão crítica sobre o impacto no ensino em ciências

A aprendizagem significativa, destaca a importância de incorporar novos


conhecimentos de maneira a fazer sentido para o aluno, relacionando-os de maneira
lógica e substancial com o conhecimento já existente. Isso implica a criação de aulas
que constantemente ampliem e conectem um novo material com base no conhecimento

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prévio dos alunos, promovendo uma compreensão mais profunda e duradoura. Por
exemplo, na física, novos conceitos sobre campos e forças – como campos e forças
eletromagnéticas – podem ser introduzidos a partir de conceitos que já estão presentes
na estrutura cognitiva dos alunos. Uma noção intuitiva de força e campo serviria como
base para obter informações sobre forças e campos gravitacionais ou eletromagnéticos

Para criar esse tipo de aulas os professores podem utilizar estratégias como
esquemas, resumos, introduções ou softwares que ativem conhecimentos prévios,
preparando o terreno para assimilação do novo conteúdo, facilitando assim a
aprendizagem. Como por exemplo, os mapas de conceitos que oferecem uma
representação visual das relações entre conceitos mesmo promovendo a organização
mental do conhecimento.

4. Teoria de Jerome Bruner

Na psicologia do desenvolvimento e na educação, a teoria de Bruner é


amplamente reconhecida. Os princípios que a sustentam fornecem uma perspetiva
distinta sobre o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem. Vou examinar os
principais componentes dessa teoria, como a aprendizagem por descoberta, a
estruturação de um currículo em espira e a valorização da aprendizagem por resolução
de problemas. A abordagem de Bruner enfatiza a importância de incentivar os alunos a
serem curiosos e a participarem ativamente na construção do conhecimento.

4.1 Ideias principais

O trabalho de Jerome Bruner foca-se na aprendizagem baseada na descoberta


centrada no aluno, em contraste com abordagens tradicionais baseadas na transmissão
unidirecional, em que o professor apresenta o conhecimento na forma final. Neste ponto
de vista, Bruner destaca elementos essenciais para a aplicação da avaliação por meio de
uma educação baseada em descobertas: “i-Deve ser considerada informação
educacional para orientar a elaboração de currículos didáticos; ii- para ser efetiva,
precisa de alguma forma combinada a um esforço para ensinar, a fim de permitir avaliar
a reação da criança a um processo específico de ensino; …. vii- A avaliação de
currículos, para ser eficaz, deverá contribuir para uma teoria da aprendizagem “(Leão
and Goi 2021)

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A aprendizagem por descoberta é uma abordagem indutiva que parte do
específico para ideias mais amplas. Como resultado, os professores podem ajudar os
alunos de várias maneiras. Durante esse processo de raciocínio indutivo, os alunos
podem usar sua intuição, imaginação e criatividade para atingir o resultado pretendido.
Portanto, é uma abordagem de ensino que envolve o aluno na construção de seu próprio
conhecimento. O objetivo é ajudar os alunos a aprender de forma eficaz, real e
contextualizada, bem como a desenvolver suas competências cognitivas e envolvendo-
os ativamente. Este método evita uma educação desorganizada e sem planejamento,
pois os alunos recebem experiências, conceitos e exemplos sob a supervisão do
professor.

"Aliás, os seus defensores afirmam que, na maioria das vezes, o aluno vai além
dos objetivos iniciados pelo professor em termos de aprendizagem". (Leão and Goi
2021)

Bruner também argumenta que fatores culturais, motivacionais e pessoais têm


um impacto significativo nos processos de ensino e aprendizagem porque o processo de
ensino e social estabelece relações entre quem ensina e quem aprende. (Takaya 2008)

A participação ativa da criança no processo de aprendizagem por meio da


investigação leva a descoberta. A sua teoria explora o desenvolvimento da criança e o
ensino no formato de um currículo em espiral, onde é necessário um ambiente favorável
e materiais que permitam que os alunos relacionem e encontrem semelhanças entre os
conceitos novos e os conceitos aprendidos noutros anos. O currículo em espiral
promove a aprendizagem em vários níveis de profundidade e modos de representação.
Além disso, incentiva os alunos a desenvolver hábitos de aprendizagem, pois incentiva-
os a identificar problemas, elaborar perguntas, formularem explicações e a construírem
novos significados (Leão and Goi 2021). Ao adotar esta ideia, a criança nem sempre é
capaz de construir a sua aprendizagem por conta própria, precisando assim do apoio do
professor, designado o papel dos professores como andaimes.

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Figura 3 Currículo em Espiral

Os andaimes são essenciais para a abordagem de Bruner porque destacam a


importância da orientação e do apoio dos professores durante o processo de
aprendizagem. Os professores podem promover o crescimento cognitivo dos alunos
dando-lhes uma compreensão mais profunda do assunto e promovendo a retenção de
informações na memória de longo prazo. Este método ajuda os alunos a desenvolverem
o pensamento crítico e as habilidades de resolução de problemas, o que os torna mais
confiantes, capazes e autossuficientes.

Para receber apoio e orientação do professor, é necessário um domínio


linguístico. Este ajuda na estruturação do pensamento e no desenvolvimento cognitivo.
A linguagem não é apenas uma forma de comunicar, mas também um meio pelo qual as
pessoas pensam e criam conceitos, constroem o pensamento. Ao falar com seus pais,
professores e colegas, os alunos desenvolvem não apenas suas habilidades linguísticas,
mas também compreendem os significados e o mundo que os cerca. A aquisição de
linguagem das crianças é facilitada pela narrativa, que fornece estruturas que facilitam a
compreensão e a retenção de informações. A exposição a diferentes tipos de narrativas
enriquece o vocabulário e promove o desenvolvimento cognitivo.(Leão and Goi 2021;
Matsumoto n.d.)

Os alunos, para Bruner, têm três maneiras distintas de construir e organizar o


conhecimento sendo essas os modos de representação -ativa 7, icónica8 e simbólica9-,
estes modos fornecem uma base para o pensamento educacional e servem de base para a
compreensão de como os alunos processam e internalizam a informação. A utilização

7 Refere-se ao conhecimento adquirido através da interação física direta com o ambiente.


8 Refere-se às imagens visuais e ao uso de imagens mentais para organizar e compreender informações.
9 Envolve o uso de símbolos abstratos como a linguagem para representar e comunicar ideias
complexas.

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dos modos de representação pode ter um impacto profundo na aprendizagem dos alunos
e nos resultados educacionais gerais. Ao incorporar uma gama diversificada de
representações do ensino em sala de aula os professores podem criar um ambiente mais
enriquecedor envolvente que apoia o desenvolvimento cognitivo dos alunos e promove
uma compreensão mais profunda do mundo que os rodeia. (Silva et al. 2017)

4.2Reflexão crítica sobre o impacto no ensino em ciências

As contribuições de Bruner como o currículo em espiral, os andaimes, a


aprendizagem por descoberta, os modos de representação ajudaram a criar uma nova
maneira de ensinar.

O conceito do currículo em espiral tem um impacto significativo no ensino em


sala de aula. Os professores podem criar um ambiente de aprendizagem que promova
uma compreensão mais profunda e uma retenção a longo prazo, ao organizar o material
didático de forma que revisite e amplie o conhecimento anterior. No entanto, para fazê-
lo funcionar eficazmente, os professores devem planear cuidadosamente as aulas
oferecendo aos alunos oportunidades de aplicar o que sabem em novos contextos e
desafios.

A aprendizagem por andaimes envolve aumentar gradualmente a cumplicidade


das tarefas e apresentar o material didático de forma acessível aos alunos no contexto do
ensino em sala de aula. Os professores devem avaliar com cuidado o foco de atenção e
as necessidades dos alunos, dando conselhos e incentivando ao mesmo tempo. Eles
também devem garantir que os alunos estejam ativamente envolvidos no processo de
aprendizagem. Para usar os andaimes na sala de aula de forma eficaz, os professores
devem pensar em várias maneiras: dividir as tarefas em etapas mais pequenas e mais
complexas; dar instruções mais claras; dar feedback e incentivo; e gradualmente
diminuir o apoio à medida que os alunos ganham confiança e ganham domínio do
material.

Ao entender os modos de representação, os professores podem incorporar uma


variedade desses no seu ensino, criando um ambiente de aprendizagem mais dinâmico e
envolvente que leva em conta as diferentes necessidades cognitivas dos alunos. Os
professores devem conceber atividades que combinem ambos os modos de
representação. Por exemplo, simulações e experiências práticas podem fornecer aos
alunos experiências valiosas, enquanto diagramas, ilustrações e recursos visuais podem
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apoiar a compreensão icônica. Os professores podem melhorar ainda mais a
representação simbólica, promovendo o pensamento crítico e uma compreensão mais
profunda do assunto, ao incorporar a linguagem e a discussão.

Como todos os outros métodos de ensino, este método tem suas desvantagens,
incluindo a possibilidade de confundir os alunos se o professor não fornecer uma base
sólida. Por outro lado, quando a aprendizagem é bem planeada, existe várias vantagens,
como: o aluno envolve-se ativamente no processo de aprendizagem; estimula a
curiosidade do aluno; desenvolve habilidades de aprendizagem que duram para toda a
vida; personalizar a experiência de aprendizagem; dar aos alunos a oportunidade de
experimentar e descobrir algo por conta própria; e baseia-se no que os alunos já sabem e
entendem.

5.Opinião de um futuro professor

Para criar ambientes de aprendizagem significativos e eficazes, é essencial


incorporar as contribuições de Vygosky, Ausubel e Bruner na prática profissional dos
professores de Físico-Química. É fundamental que os professores reconheçam que essas
abordagens não precisam ser mutuamente exclusivas; em vez disso, elas devem
funcionar juntas. Os alunos podem obter experiências de aprendizagem mais ricas
usando uma abordagem holística que incorpora elementos de aprendizagem
significativa, interação social, descoberta guiada e andaimes. Essa abordagem pode ser
adaptável às diversas necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos. Além disso,
simulações de recursos online podem melhorar o ensino, oferecendo oportunidades para
a exploração independente e colaboração; a tecnologia também pode ser uma aliada
valiosa para implementar essas abordagens.

Em resumo, devemos adotar uma abordagem integradora que reconheça a


importância da interação social, da exploração ativa e do conhecimento prévio. Ao fazê-
lo estaremos mais bem preparados para inspirar e cativar os alunos na compreensão e
aplicação dos princípios fundamentais da Físico-Química.

6.Referências:

Anon. n.d. “Vygotsky_2.”

Bryce, T. G. K., and E. J. Blown. 2023. “Ausubel’s Meaningful Learning Re-Visited.” Current
Psychology. doi: 10.1007/s12144-023-04440-4.

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Chaiklin, Seth, and Juliana Campregher Pasqualini. n.d. A ZONA DE DESENVOLVIMENTO
PRÓXIMO NA ANÁLISE DE VIGOTSKI SOBRE APRENDIZAGEM E ENSINO 1 2 3. Vol. 16.

Coelho, Luana, and Silene Pisoni. n.d. R e v i s t a E-P e d-F A C O S / C N E C O s ó r i o V o l. 2-N


o
1-A G O / 2 0 1 2-I S S N 2 2 3 7-7 0 7 7 Vygotsky: Sua Teoria e a Influência Na Educação.

Leão, Ana Flávia Corrêa, and Mara Elisângela Jappe Goi. 2021. “Um Olhar Na Teoria Da
Aprendizagem de Bruner Sobre o Ensino de Ciências.” Research, Society and Development
10(13):e367101321214. doi: 10.33448/rsd-v10i13.21214.

Matsumoto, Koji. n.d. A Review of Jerome Bruner’s Educational Theory: Its Implications for Studies
in Teaching and Learning and Active Learning (Secondary Publication).

Paul, David. n.d. LEARNING THEORIES Ausubel’s Learning Theory.

Safdar, Muhammad, Azhar Hussain, Iqbal Shah, and Qudsia Rifat. 2012. “Concept Maps: An
Instructional Tool to Facilitate Meaningful Learning.” European Journal of Educational
Research 1(1):55–64. doi: 10.12973/eu-jer.1.1.55.

Schuhmacher, Elcio. 2013. A Aprendizagem Significativa No Ensino de Física Moderna e


Contemporânea.

Silva, Alisson Henrique, Luciano Carvalhais, Gomes Doutor, and Em Educação Para. 2017. A
TEORIA DE APRENDIZAGEM DE BRUNER E O ENSINO DE CIÊNCIAS BRUNER’S
THEORY OF LEARNING AND THE TEACHING OF SCIENCES. Vol. 21.

Takaya, Keiichi. 2008. “Jerome Bruner’s Theory of Education: From Early Bruner to Later Bruner.”
Interchange 39(1):1–19. doi: 10.1007/s10780-008-9039-2.

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