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CAPÍTULO 1 – Teoria Histórico Cultural e educação infantil: concepções para orientar

o pensar e o agir docentes

O objetivo deste capítulo é discutir a relação entre a THC e a EI e explicitar as


concepções e conceitos que servem de orientação do trabalho dos professores nas
escolas.

A THC surgiu nos anos 1920 na URSS, produto de construção coletiva e visa
compreender e explicar o processo de formação humana. Quem é o ser humano? Como
se constitui como sujeito em interação com a realidade social?

É um campo do saber que contribui com a pedagogia que apoia a escola e a educação
emancipadora.

O objetivo da EI é promover o desenvolvimento social da personalidade das crianças e


quando a escola orienta seu pensar e agir pela abordagem THC, deve seguir e critérios
ou condições: (no texto)

As crianças são diferentes umas das outras. O que explica a formação da personalidade
é a existência social concreta. A criança não pode ser entendida como produto do seu
meio social, mas o resultado da síntese dialética entre a personalidade e o meio. A
criança é ativa, ela filtra a influência a partir da sua experiência acumulada. Ela se
desenvolve a partir das relações sociais vividas na escola, organizadas por professores.
Para que o professor possa acompanhar o desenvolvimento da personalidade, ele deve
organizar possibilidades de expressão. Entendendo como internalização – tornar seu o
que é social e externalização.

O processo de desenvolvimento da personalidade é um processo complexo, sistêmico,


móvel, mutável, avanços e retrocessos, com periodicidades, crises e saltos qualitativos.

Isto leva a pensar o lugar da educação no sistema conceitual da TH, ou seja, a educação
desempenha papel fundamental no sentido amplo e no sentido restrito. Educar significa
organizar a vida.

Quais concepções e conceitos que orientam o trabalho pedagógico na EI?

1. Criança: sujeito ativo, que atribui sentido ao que vive, participante do processo
social de formação de sua personalidade. É parte do seu meio social.

2. Infância: Tempo da formação da personalidade, que no ser humano é mais


longo.

3. Desenvolvimento: o desenvolvimento humano não é algo dado. É uma


possibilidade, depende das experiências, vivências, aprendizagens. Os processos
sociais vividos pelas crianças são reconstruídos no plano psicológico, Todas as
funções do psiquismo humano aparecem em cena duas vezes ou em dois planos
– plano social e plano individual, numa relação dialética entre esses dois planos.
Três critérios éticos: superação, cooperação, emancipação.

4. Situação social de desenvolvimento: é um conceito que abrange o lugar que a


criança ocupa nas relações sociais de que participa, a forma da criança se
relacionar com a vida em uma determinada idade e a força que faz emergir as
neoformações. Não é a idade que define as possibilidades, mas o conjunto do
que foi vivido e a maneira como foi internalizado. Produto da atividade que guia
o desenvolvimento humano nas três idades: 0 a 1: comunicação emocional; de 1
a 3: atividade manipulatória; de 3 a 6: brincadeira de faz de conta.

5. Processo educativo: A fórmula do processo educativo é composta por três


elementos centrais na escola, trilateralmente ativos: professora, criança e
ambiente social educativo.

6. Papel do Professor: organizador do ambiente social educativo. Intelectual que


conduz com base científica as relações sociais educativas das crianças com
outras crianças, das crianças com as professoras, e demais profissionais da
escola e da criança com os conteúdos da cultura.

7. Obutchenies: conceito formulado por Vigotsky para unir dialeticamente os três


elementos do processo educativo, marcar a interdependência entre eles, enfatizar
o papel do professor como organizador do meio social educativo e destacar o
papel da intencionalidade pedagógica. Para Vigotsky não é aprendizagem que
promove o desenvolvimento, mas a obutchenies, a relação entre a professora, a
criança e a realidade social, que impulsiona o desenvolvimento social da
personalidade. A obutchenies implica dialeticamente na atividade da criança, na
orientação do “outro” e na intencionalidade pedagógica. É uma atividade que faz
parte do meio social educativo organizado pelas professoras juntamente com as
crianças com participação ativa delas.

8. Zona de desenvolvimento proximal ou iminente:

É a distância entre o nível de desenvolvimento atual da criança e o nível de


desenvolvimento possível da criança. Define as funções ainda não
amadurecidas. Complementa os demais conceitos e indica a possibilidade de
planejar ou organizar o trabalho pedagógico na Educação Infantil fundamentado
nos três critérios éticos: superação, cooperação e emancipação.

A ação compartilhada entre o adulto e as crianças e entre as próprias crianças permite


que todos os sujeitos envolvidos no processo educativo se superem, que possam ir ao
máximo de seus níveis de desenvolvimento (superação) tornando-se cada vez mais
autônomos e mais ativos em seus processos de formação humana (emancipação).

Concluindo...
A função da teoria: compreender a realidade, possibilitar a crítica dessa realidade e
sinalizar possibilidades de mudança. O objetivo é contribuir para a formação da
personalidade da criança, do ponto de vista de sua gênese - origem e desenvolvimento
histórico.

A efetivação de uma EI pautada na abordagem da THC é um desafio que tem que ser
assumido coletivamente.

Cabe aos professores: disponibilizar elementos da realidade para as crianças e abrir


espaço para que elas possam expressar e imaginar, criar e recriar o que lhes é
apresentado. A imaginação é uma ponte para o pensamento abstrato e ação voluntária.
O desenvolvimento das crianças não depende só da escola, mas das condições objetivas
de vida. Assim, além do trabalho pedagógico na escola com as crianças os professores
devem engajar na luta de classe, profissional e social.

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