Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CETEB
Brasília-DF.
Elaboração:
Análise e revisão:
Equipe Técnica do Centro de Ensino Tecnológico de Brasília
Nos termos da legislação sobre direitos autorais, é proibida a reprodução total ou parcial
deste documento, por qualquer forma ou meio – eletrônico ou mecânico, inclusive por
processos xerográficos de fotocópia e de gravação – sem a permissão expressa e por
escrito do CETEB.
Sumário
Apresentação ............................................................................................................ 4
Introdução.................................................................................................................. 7
Referências ............................................................................................................... 79
Apresentação
Caro aluno,
A carga horária do curso é de 150 (cento e cinquenta) horas, cabendo a você administrar o
tempo conforme a sua disponibilidade. Mas, lembre-se, há um prazo para a conclusão do
curso, incluindo a apresentação ao seu tutor das atividades avaliativas indicadas.
Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados neste curso. Lembre-
-se de que, apesar de distantes, podemos estar muito próximos.
4
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa
5
Organização do Curso
Objetivos:
– Identificar o lúdico como linguagem que permite ao homem se expressar e se
comunicar.
Conteúdo Capítulo
O Lúdico como Linguagem 1
O Brincar como Atividade da Criança 2
Conteúdo Capítulo
Planejamento Educacional 3
Projeto Pedagógico 4
Plano de Trabalho 5
Elementos do Plano de Ensino 6
6
Introdução
Neste Caderno de Estudos vamos abordar como os eixos de trabalho na Educação Infantil
são organizados na prática pedagógica. Durante seus estudos, você poderá verificar como
o educador pode desenvolver, de maneira integrada, todo trabalho direcionado para a
aprendizagem escolar adequada às crianças pequenas.
Na primeira unidade, você irá conhecer uma proposta lúdica centrada no brincar, adequada
às necessidades do desenvolvimento infantil de forma significativa e prazerosa. Para isso,
tomamos como ponto de partida a sugestão de Cerisara (apud Faria; Palhares, 1999)
em relação à estruturação do currículo na Educação Infantil, apontando que o brincar não
consta mais como eixo ou área do currículo, mas, sim, perpassa todos os conteúdos para
que não ocorra a escolarização precoce ou didatização do lúdico.
Essa prática pedagógica, conforme você poderá constatar, traz mudanças significativas
para o trabalho na Educação Infantil, pois implica a superação de um modelo tradicional
centrado apenas nos aspectos cognitivos dos processos de ensino e de aprendizagem.
Desejamos que seu trabalho seja proveitoso e, acima de tudo, muito prazeroso, assim
como tem sido, para nós, acompanhá-lo nesta jornada.
Bom trabalho!
7
A Prática Pedagógica na Educação Infantil de Qualidade Unidade I
Ciranda cirandinha,
Vamos todos cirandar.
Vamos dar a meia volta,
Volta e meia vamos dar...
Embora não seja propriamente uma novidade na área educacional, a linguagem lúdica tem
sido objeto de estudo de autores em diversas áreas do conhecimento. A esse respeito,
Negrine (apud Santos, 2000, p.18) salienta que:
A ludicidade – vista até então como alguma coisa sem muita importância
no processo de desenvolvimento humano – hoje é estudada como algo
fundamental do processo, fazendo com que cada vez mais se produzam
estudos de cunho científico para entender sua dimensão no comportamento
9
humano e se busquem novas formas de intervenção pedagógica como
estratégia favorecedora de todo o processo.
Santos (2000, p. 1) também ressalta o interesse que o lúdico tem despertado em importantes
setores da sociedade. Segundo a autora, “pesquisas, relatos, experiências, reportagens
em revistas, jornais, Internet e televisão têm mostrado que os jogos, os brinquedos e sua
aplicação em diferentes etapas do desenvolvimento humano, crescem vertiginosamente”.
Podemos observar, com isso, que as pesquisas sobre a linguagem lúdica têm desempenhado
um papel fundamental para a compreensão dos sujeitos em sua história de desenvolvimento
e humanização. No entanto, embora atualmente haja certo consenso entre educadores
sobre a importância da linguagem lúdica para o desenvolvimento humano, ainda se fazem
presentes importantes indagações, como: o que caracteriza as atividades lúdicas? Risos,
descontração e alegria são indicativos de ludicidade na escola? Afinal, para que servem
as práticas pedagógicas centradas na perspectiva lúdica? Será que servem apenas para
manter um clima agradável e descontraído?
É, por meio da linguagem, portanto, que o homem constrói seu conhecimento, amplia seu
universo, explora e descobre o novo, se expressa e compreende cada vez mais o mundo
a sua volta.
Bem, agora que já relembramos o que é linguagem, vamos ver o que significa lúdico.
A palavra lúdico tem sua origem na palavra latina ludus, que quer dizer “jogo”. Se tomarmos
como referência a etimologia da palavra, portanto, o termo lúdico está diretamente
relacionado com a ação de jogar.
O significado desse termo, porém, não para por aí. Em sua evolução histórica, o lúdico
deixou de ser um simples sinônimo de jogo e passou a ser reconhecido como uma
atividade espontânea, funcional e prazerosa, essencial ao ser humano, que proporciona
sua integração com o ambiente onde vive.
10
brinquedo como suporte. Neste sentido, o lúdico abarca as categorias do
jogo, do brinquedo e da brincadeira e, ainda que sejam feitas do mesmo
tecido conceitual, são demarcadas por suas especificidades.
Lúdico é ludique (que vem de ludere: ilusão), é o adjetivo que qualifica tudo
o que se relaciona com o jogo ou brincadeira. É utilizado para caracterizar
uma mentalidade, um comportamento ou ação que parece apresentar um
ambiente ou evento no qual o real tem um estatuto semelhante ao que tem
na brincadeira ou no jogo: de prazer, divertimento etc.
Observe que, nas definições das autoras, o universo lúdico abrange, de forma mais ampla,
os termos brincar, brincadeira, jogo e brinquedo, conforme mostra a ilustração a seguir.
UNIVERSO LÚDICO
BRINCAR
JOGO BRINCADEIRA
BRINQUEDO
Ilustração 1
Essa também é a concepção de Luckesi (2007) sobre o lúdico. O autor, no entanto, alerta
para o fato de que a ludicidade não deve ser confundida com divertimento. Em sua visão, a
atividade lúdica é um ’fazer’ humano mais amplo, que se relaciona não apenas à presença
das brincadeiras ou dos jogos, mas também a uma atitude verdadeira do sujeito envolvido
na ação. Ao explicitar sua compreensão da ludicidade, afirma:
De acordo com Luckesi, portanto, atividades lúdicas são aquelas atividades em que nos
envolvemos plenamente, inteiramente, de forma flexível, alegre e saudável. Caso contrário,
nossa atividade não será lúdica. Vamos tentar entender melhor essa afirmação analisando
um exemplo dado pelo próprio autor:
11
Se estivermos num salão de dança e estivermos verdadeiramente dançando, não
haverá lugar para outra coisa a não ser para o prazer e a alegria do movimento
ritmado, harmônico e gracioso do corpo. Contudo, se estivermos num salão de
dança, fazendo de conta que estamos dançando, mas de fato, estamos observando,
com o olhar crítico e julgativo, como os outros dançam, com certeza, não estaremos
vivenciando ludicamente esse momento. (Luckesi, 2007)
Com esse exemplo você deve ter percebido que agir ludicamente, na concepção de Luckesi,
exige uma entrega total do ser humano, do corpo e da mente ao mesmo tempo, certo? É
exatamente isso. Para o autor, a atividade lúdica não admite divisão, ou seja, se estivermos
participando de uma atividade lúdica, com o corpo presente, mas a mente em outro lugar,
não estaremos verdadeiramente participando dessa atividade, portanto, nossa atividade
não será plena e, por isso mesmo, não será lúdica.
Nesse sentido, podemos afirmar que as atividades lúdicas podem ser um excelente
recurso no processo de aprendizagem, pois como afirma Rizzo Pinto (1997, p. 336) “não
há aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer”.
Outra autora que defende a ludicidade como um fator indispensável para a educação é
Fortuna. Em sua concepção,
Fica claro, portanto, que “a educação pela via da ludicidade propõe-se a uma nova postura
existencial, cujo paradigma é um novo sistema de aprender brincando inspirado numa
concepção de educação para além da instrução”. (SANTOS, 2001, p.15)
12
Nessa particularidade, pesquisadores de várias áreas do conhecimento, há muito tempo,
vêm desenvolvendo seus estudos sobre a importância das atividades lúdicas como meio de
expressão e aprendizado. Entre eles, destacam-se Piaget (1896-1980), Vigotsky (1896-
1934) e Wallon (1879-1962). Pois bem, vamos verificar algumas contribuições importantes
desses teóricos que influenciam e fundamentam o trabalho de profissionais e pesquisadores
acerca do papel desempenhado pelas atividades lúdicas no desenvolvimento humano.
Assim como Piaget, Vygotsky acredita que o lúdico tem grande influência no
desenvolvimento da criança. De acordo com o autor, na brincadeira “a criança
se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu
comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que ela é na
realidade” (VYGOTSKY, 1984, p.117). Por meio das atividades lúdicas em geral
(uso de brinquedos, jogos e brincadeiras), a criança começa a construir seu mundo
real, por meio de situações imaginárias, ou seja, ela usa seus conhecimentos da
realidade para recriar um mundo em que pode ser o que ainda não é, e fazer coisas
que ainda não lhe são permitidas. Na perspectiva vygotskyana, a brincadeira cria
uma zona de desenvolvimento proximal2 , permitindo que a criança ultrapasse
os limites reais de seu desenvolvimento. Em suas palavras,
13
Assim como Piaget e Vygotsky, Wallon considera
as atividades lúdicas como momentos ricos de
aprendizagem, pois permitem que a criança
vivencie o mundo adulto a partir do movimento,
das emoções, da noção de si e de suas ideas.
A teoria walloniana defende a educação da criança como um ser completo que, além da
cognição, é constituída de corpo e emoção. Dessa forma, concebe a escola como um
espaço que atenda às necessidades da criança nos planos afetivo, cognitivo e motor, e
promova seu desenvolvimento em todos os níveis. Nesse sentido, mais que transmitir
conteúdos, a escola deve abrir possibilidades para a criança ser e atuar no mundo. Para
atingir esse objetivo, segundo sua teoria, a escola precisa unir ciência e arte para ensinar
os conteúdos.
Bem, agora que já vimos alguns conceitos básicos da linguagem lúdica, vamos analisar sua
evolução ao longo da História. Antes, porém, vamos fazer uma síntese do que vimos até
aqui. Diante das ideias dos autores que tomamos como referência para o nosso trabalho,
podemos afirmar o seguinte.
• A linguagem lúdica é uma das formas pela qual o homem assimila a cultura do meio
em que vive e se constitui como sujeito histórico.
14
• Sendo considerado como meio de expressão e aprendizado, o lúdico é indispensável
à prática educativa.
Essas ideias sintetizadas devem tê-lo ajudado a compreender melhor o nosso tema, certo?
Muito bem. Vamos, então, prosseguir nosso estudo analisando como a linguagem lúdica,
tão importante para a dinâmica humana, desenvolveu-se ao longo da história.
Essa constatação fica clara nas palavras de Lima (2003). Segundo a autora:
A partir dessa afirmação, podemos observar que a ludicidade permeia todas as etapas da
vida humana, não se limitando à infância. A esse respeito, Aranha (2006) afirma:
Até o final do século XVIII o brincar sempre foi uma atividade coletiva, comum a crianças
e adultos. A dissociação entre infância e fase adulta consolidou-se no século XIX, quando
então surgiram os espaços especialidados para o cuidado com a infância. As atividades
lúdicas, então, passaram por um processo de transformação e adaptação, adquirindo
caráter infantil e adulto distintos.
15
a atividade lúdica modifica-se: ela torna-se segmentada, passa a fazer
parte especificamente da vida das crianças; ao mesmo tempo torna-se
“pedagógica” entrando dentro da escola com objetivos educacionais. Esses
fenômenos são acompanhados do surgimento do brinquedo industrializado,
a institucionalização da criança, um movimento da mulher para o mercado
de trabalho que, aliado à falta de espaço e segurança nas ruas das grandes
cidades, transforma o brincar em uma atividade mais solitária e que acontece
em função do apelo ao consumo de brinquedos.
Com esse breve histórico podemos constatar que brincar, jogar e tantas outras formas de
construir a ludicidade são práticas históricas que estiveram presentes em todas as fases da
vida dos seres humanos, tornando especial sua existência. No entanto, a história também
nos mostra que essas mesmas práticas, tão essenciais ao ser humano, vêm perdendo
espaço na cultura contemporânea. Conforme afirma Friedmann (2003), “o brincar que nos
tornava mais humanos tem sido muito raro...”.
Essa afirmativa pode ser comprovada por uma pesquisa sobre Educação Infantil, publicada
em 2007, pela Revista Veja, cujos resultados revelaram que 97% das crianças entrevistadas
citam o videogame, a TV e o DVD como atividades lúdicas e que 84% dos pais acreditam
que os filhos devam, desde cedo, estudar mais do que brincar.
A pesquisa também demonstrou que, na maioria das vezes, as crianças brincam sempre
com a mesma brincadeira, sozinhas e mais na escola do que em casa. Pouco brincam com
16
os pais. Dos adultos entrevistados, apenas 14% afirmaram que brincar com os filhos é uma
atividade que lhes dá prazer. Confira os dados.
• 44% acham que as crianças devem preencher o tempo livre com atividades
extracurriculares.
Infelizmente, parece não haver dúvida, diante da configuração dessa realidade, que as
atividades lúdicas estão ameaçadas em nossa sociedade, não é mesmo?
Essa pesquisa deixa bem claro que o que presenciamos hoje em nossa sociedade é uma
completa transformação do modo de viver. A estrutura familiar mudou e, com isso, as
relações entre pais e filhos também mudaram. A sociedade mudou. Os valores mudaram.
Consequentemente, essas mudanças influenciam, de forma direta, o cotidiano das crianças,
que passam a ter menos contato com outras crianças e a brincar menos, conforme evidencia
a pesquisa.
Diante da importância que essa constatação tem na nossa prática pedagógica, vamos
refletir um pouco mais sobre o assunto, tentando responder a uma questão:
17
Para essa pergunta, podemos encontrar inúmeras respostas. Vejamos como se posicionam
alguns autores a esse respeito.
Segundo Friedmann (2003), muitas são as causas de as atividades lúdicas terem perdido
seu espaço físico e temporal. Entre elas, aponta: o crescimento das cidades, que causaram
o aumento das distâncias, maiores dificuldades de deslocamento e encontros; a ausência
de espaços públicos voltados para o lazer; o excesso de atividades que preencheram o
tempo das crianças; a falta de segurança; a inserção da mulher no mercado de trabalho
e, por conseguinte, menos tempo junto aos seus filhos; o incremento do consumo de
brinquedos industrializados e a globalização que tende a generalizar e nos leva a perder as
especificidades e as singularidades de cada comunidade. De acordo com a autora, estamos
vivendo uma crise de valores em consequência das contradições do mundo globalizado.
Diante disso, aponta a necessidade do ser humano de resgatar suas raízes mais profundas,
suas razões de ser e de existir.
Para Oliveira (2004), essa mudança é consequência da sociedade capitalista da qual fazemos
parte. Segundo a autora, na dinâmica capitalista há uma concepção que subordina o lazer
ao trabalho, ou seja, na busca desenfreada de garantir a satisfação de suas necessidades
básicas como alimentação, moradia, vestuário, enfim, todos os subsídios necessários
à manutenção da vida material e física, o ser humano passou a conceber o lazer como
algo supérfluo ou menor. Em sua visão “há, nesta perspectiva, uma preocupação com a
manutenção da vida biológica, mas não da vida especificamente humana, portanto, vida
em sociedade e repleta de interações” (OLIVEIRA, 2004, p.29). Dessa forma, alerta para a
necessidade de se entender que o lazer, cuja característica fundamental é o exercício do
lúdico, é uma necessidade básica do ser humano, pois o homem não mantém sua existência
somente por meio do suprimento de suas necessidades materiais. Exercer plenamente a
ludicidade, segundo afirma, é essencialmente o que nos torna humanos.
Também para Aranha (2006), a mudança deve-se à sociedade capitalista que encara o
brincar como perda de tempo e exige do adulto inserido no setor produtivo da sociedade
uma seriedade condizente com seu papel social. Com isso, o ser humano acaba por reprimir
sua ludicidade pela valorização excessiva da razão e das amarras sociais que situam o
lúdico como função de crianças e idosos. Como não se trata de atividade ligada à produção,
o lúdico torna-se algo fútil, sem propósito e, por conta disso, perpetuam-se no inconsciente
coletivo máximas construídas ao longo da história, como “homem não brinca”, “brincar não
é sério, “sério é educação”, “brincar e educar são opostos”.
Não se diferenciando dos autores até então abordados, Santin (1994) atribui tal mudança
à lógica da racionalidade presente na sociedade moderna que, na sua visão, extinguiu o
calor das paixões, substituiu a arte pela matemática e transformou o humano em técnico.
Segundo sua concepção, o homem da ciência e da técnica perdeu a felicidade e a alegria
de viver, perdeu a capacidade de brincar, perdeu a fertilidade da fantasia e da imaginação
guiadas pelo impulso lúdico.
18
Na perspectiva desses autores, portanto, as atividades lúdicas perderam seu real significado
em função das condições da modernidade, que exige um homem capaz de atender a um
mercado de trabalho cada vez mais produtivo e competitivo.
Para ilustrar nossa afirmativa, leia o depoimento a seguir e reflita: Como podemos superar
essa visão que atribui à educação e ao lúdico espaços diferentes na prática escolar? Pense
nisso após sua leitura...
“Tenho um filho1 (hoje com 12 anos) que desde os 4 anos já lançava questões
desconcertantes como: ‘se acabar as horas, acaba o mundo?’, ‘se o mundo fosse
todo de água, as pessoas passavam umas por dentro das outras...’ ou ‘se o mundo
fosse todo de ar agente sairia flutuando...’ e por aí afora. E tentando ver como vai
ser estar no mundo uma cabeça voadora, “viajandão’, como me diziam alguns, é
que fui tentando: escola alternativa de cá, escola de artes de lá, descobrindo as
habilidades, o que gosta de fazer (mas sem perder de vista a formação escolar),
coisa e tal, até que, aos 8 anos, ele teve uma espécie de inadaptação total à
professora, a ponto de entregar prova em branco, recusar-se a se relacionar com
outros colegas na escola, e precisei, então, procurar ajuda profissional. A abertura
da escola foi fundamental naquele momento: a psicóloga pode assistir aulas, se
reunir com professores, coordenadora etc. A ajuda profissional nos ajudou muito
e principalmente a ele que embora muito inteligente não conseguia entender as
incoerências do mundo adulto nem se adaptar ao mundo sistematizado do jeito
que ele é. Numa de suas construções (pois é um artesão), ele fez um boneco
de papelão articulado (com possibilidade de movimento) e um monte de outros
bonecos menores (que ele colocava na barriga do boneco maior), que a psicóloga
pediu emprestado para mostrar na escola onde ele estudava, pois estava fascinada
com o seu trabalho, ao que ele respondeu: – Tá louca? Eles vão dizer que eu fico
brincando na escola! – Ao que ela retrucou: – Oxente, Bri, mas a escola também
não é lugar de brincar? – E ela comentando depois comigo, afirmava categórica: –
Lourdes, ele me deu um diagnóstico perfeito da escola, ele me respondeu: Só na
sua cabeça que escola é lugar de brincar! [sic]
1. Relato de Lourdes Bernadete, mãe de Brian que, à época, cursava a 3o ano em colégio de filosofia montessoriana e
construtivista.
19
Essa cena demonstra bem o quanto o campo da ludicidade precisa ser repensado na
Educação Infantil, a fim de possibilitar um novo olhar sobre a importância desse recurso tão
rico, mas pouco reconhecido pela sociedade.
Bem, depois de tudo o que vimos até aqui, vamos, então, ao ponto central deste capítulo:
as implicações da linguagem lúdica na prática pedagógica da Educação infantil. Pronto
para continuar? Então, siga em frente...
Não existe uma única infância, pois, em cada época, a infância é compreendida a partir
das condições histórico-sociais que a produz. Dessa forma, nem sempre as crianças
despertaram os mesmos sentimentos, numa mesma sociedade e num mesmo período:
ora eram consideradas como ingênuas e puras, ora como seres incompletos. Algumas
vezes, eram valorizadas pelo que são de fato, outras pelo que poderiam vir a ser (Basso;
Chaves, 2007).
No entanto, embora essas distintas condições impostas às crianças nos levem a reconhecer
a existência de diferentes infâncias, podemos também reconhecer que, independentemente
das condições sob as quais as crianças vivem, uma coisa as torna semelhantes: a capacidade
de brincar, criar, imaginar, viver o mundo da imaginação e da fantasia.
Defender uma prática pedagógica a partir de atividades lúdicas, entretanto, traz mudanças
significativas para o trabalho na Educação Infantil, pois transforma o espaço escolar em
um espaço integrador, dinâmico, que prioriza o desenvolvimento pleno da criança em
todos os seus aspectos. Isso implica a superação de uma prática pedagógica centrada nos
aspectos cognitivos dos processos de ensino e de aprendizagem, para promover também
o desenvolvimento motor, social e emocional da criança.
Em síntese, implica uma revisão do modelo educacional atual, pois, como afirma Moraes
(1997, p.20):
20
Um importante passo nesse sentido, segundo Macedo, Petty e Passos (2005), é verificar
se as atividades escolares possuem um caráter lúdico. Para isso, os autores sugerem os
seguintes indicadores.
• O segundo ponto a ser levado em conta é que a escola deve oferecer desafios e
surpresas. A sugestão dos autores para que isso ocorra refere-se ao trabalho com
situações-problema, pelos desafios que essas situações proporcionam.
• O quarto indicador é a dimensão simbólica, que precisa ser valorizada pela escola.
Essa dimensão somente se concretiza se a atividade for significativa para a criança.
Desconsiderar essa dimensão pode acarretar desinteresse e desatenção por não
corresponder às expectativas individuais ou grupais dos sujeitos em situação de
aprendizagem.
Em face de todas essas constatações, podemos afirmar, sem dúvida alguma, que
precisamos resgatar o espaço que a linguagem lúdica perdeu na nossa sociedade. Para
isso, é importante termos bem claro a função do brincar no processo de desenvolvimento
e de aprendizagem, assim como o papel do professor nesse processo. Mas isso é o que
veremos no próximo capítulo...
Por enquanto vamos ficando por aqui. Antes de finalizar este capítulo, porém, propomos a
você uma reflexão:
21
Capítulo 2 – O Brincar como Atividade da Criança
Parabéns! Você foi escolhido para fazer, conosco, um passeio pelo mundo da imaginação,
da alegria e, naturalmente, do conhecimento. Neste segundo capítulo, vamos reviver, com
as crianças, o imenso prazer que sentimos quando brincamos... E então? Vamos lá?
Vamos refletir um pouco mais sobre essa questão: de acordo com esse autor, perguntar
por que a criança brinca é perguntar por que ela é criança. O que você pensa sobre isso?
22
As brincadeiras, portanto, sempre fizeram parte da vida das crianças, independentemente
de tempo e lugar. Isso é um ponto pacífico. A questão que se faz presente, então, é: Por
que as crianças brincam? Que características possui essa ação que contagia todas as
crianças, independentemente de sexo, idade, etnia e classe social a que pertencem?
De acordo com Beauclair (2006), “a criança brinca para buscar respostas às suas perguntas,
para interagir com o mundo e com os outros e, claro, para se divertir e sentir-se bem”.
Para Almeida (1990), a criança brinca para conhecer o mundo que a cerca.
Na visão de Freud, a criança brinca não somente para viver situações satisfatórias, mas
também para elaborar as que lhe foram dolorosas e traumáticas. (OUTEIRAL, 1998)
Santos (1999) converge para essa mesma perspectiva, quando afirma: para a criança,
brincar é viver.
Observe que, nessas definições, o ato de brincar aparece sempre como uma ação que
faz parte da natureza humana, ou seja, como uma atividade inerente ao ser humano. Os
autores nos levam a concluir, portanto, que as crianças brincam porque brincar é uma
necessidade básica, assim como a alimentação, a saúde, a habitação e a educação.
Fica difícil, diante dessas afirmações, alguém negar que a criança precisa brincar, não é
mesmo? Embora nem todos os adultos levem essa necessidade a sério, conforme vimos
no capítulo anterior2, a importância do brincar para o desenvolvimento infantil tem sido,
cada vez mais, reconhecida por estudiosos, educadores e órgãos governamentais. Como
consequência, no processo de legalização desse direito temos avançado bastante.
Legalização? Será que estamos falando do direito de brincar como um direito regulamentado
por leis? Exatamente. O brincar é um direito da criança e esse direito é reconhecido por
vários organismos governamentais nacionais e internacionais que defendem os direitos da
criança, como: a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente
de 1990, a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional de 1996, as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil de 1998. Para conferir, observe o quadro
a seguir.
2
Pesquisa sobre Educação Infantil conduzida pelo Instituto Ipsos, publicada em 21 de fevereiro pela Revista Veja.
23
– A Convenção dos Direitos da Criança da ONU, no seu art. 31 estabelece: “Toda
criança tem o direito ao descanso e ao lazer, e a participar de atividades de jogo
e recreação, apropriadas à sua idade, bem como a participar livremente da vida
cultural e das artes”.
– A declaração dos Direitos das Crianças, em seu 7o art. estabelece que: “A criança
deve ter a oportunidade de participar de jogos e brincadeiras, dirigidos, sempre
que possível, para a sua educação. A sociedade e as autoridades devem se
esforçar para promover o exercício deste direito”.
24
No que se refere às contribuições do RCNEI para o reconhecimento da importância
do brincar no desenvolvimento e constituição da criança, destacamos:
– [...] A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com
aquilo que é o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano
da imaginação isto [...] quer dizer que é preciso haver consciência da diferença
existente entre a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo
para realizar-se.
– Para brincar, é preciso que as crianças tenham certa independência para escolher
seus companheiros e os papéis que irão assumir no interior de um determinado
tema [...].
25
– As brincadeiras de faz de conta, os jogos de construção e aqueles que possuem
regras, [...] propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da
atividade lúdica.
– É o adulto, na figura do professor, que, na instituição infantil, ajuda a estruturar o
campo das brincadeiras na vida das crianças. [...].
– Por meio das brincadeiras, os professores podem observar e constituir uma visão
dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em
particular, registrando suas capacidades [...].
– [...] Cabe ao professor organizar situações para que as brincadeiras ocorram de
maneira diversificada para propiciar às crianças a possibilidade de [...] elaborarem
de forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e
regras sociais.
– É preciso que o professor tenha consciência de que, na brincadeira, as crianças
recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do
conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva,
não se deve confundir situações nas quais se objetivam determinadas
aprendizagens relativas a conceitos, procedimentos ou atitudes explícitas com
aquelas em que os conhecimentos são experimentados de maneira espontânea
[...].
Fonte: RCNEI – volume 1, páginas 27, 28 e 29.
Uma primeira hipótese para essa resposta é o fato de que, na contemporaneidade, somos
programados para não sermos lúdicos. Basta observar quantas vezes, em nossas vidas, já
ouvimos ou dissemos frases como estas.
26
– Agora é sério: acabou a brincadeira!
Dessa forma, construímos ideias desvirtuadas sobre o brincar, tais como: “brincar é perda
de tempo”, “brincar não é sério”, “adulto não brinca”, “brincar é coisa de crianças”, “brincar
e educar não combinam”, e por aí vai...
Observando bem, essas ideias sem propósitos, que se perpetuam no inconsciente coletivo
em razão da excessiva racionalidade moderna, precisam ser urgentemente questionadas.
Brincar não é perda de tempo nem uma simples forma de preenchê-lo. E tampouco sua
importância se limita ao mundo infantil.
Redin (2003) também defende a importância do lúdico para além da infância, projetando-a
“como uma dimensão humana” necessária em todas as fases da vida.
Da mesma forma, Moyles (2002) afirma que, “em todas as idades, o brincar é realizado
por puro prazer e cria uma atitude alegre em relação à vida e à aprendizagem”. Nessa
dimensão, o brincar é essencial para a formação do “hábito de ser feliz” (MOYLES, 2002,
p. 21).
Santin (1994) vai além, afirmando que, ao perder a capacidade de brincar, o homem perde
a fertilidade da fantasia e da imaginação e, consequentemente, a felicidade e a alegria de
viver.
27
possibilidade de integração com os outros, consigo mesmo e com o seu meio social. Com
isso, passará a dar mais sentido e mais alegria à vida, sem perder a sua condição de adulto
sério e responsável (NEGRINE, 1998).
Essa conclusão realça, ainda mais, o nosso desafio como educadores, num momento em
que uma nova visão de mundo se impõe, nos conduzindo a mudanças profundas nas nossas
certezas e gerando novas concepções em todas as áreas da vida humana. Precisamos,
urgentemente, rever nossos valores, imprimindo, na nossa prática educacional, visões mais
positivas para o futuro.
Por falar em cantar, que tal uma canção? Vamos refletir sobre o que vimos até aqui,
utilizando a música “Brincando se aprende a viver”, de Michael Sullivan e Dudu Falcão.
Preparado? Então vá em frente...
Bem, depois dessa reflexão, acreditamos que você já está convencido de que brincar é
uma forma privilegiada do ser humano conhecer, compreender e se expressar no mundo.
Mas como isso acontece? De que forma o brincar promove a aprendizagem? O que as
crianças aprendem quando brincam?
28
aprendizagem das crianças. Dessa forma, vamos abordar os principais pontos de cada
enfoque, segundo Santos (1999):
– Do ponto de vista sociológico, o brincar tem sido visto como a forma mais pura de
inserção da criança na sociedade. Brincando, a criança vai assimilando crenças,
costumes, regras, leis e hábitos do meio em que vive. Nessa linha de enfoque,
a apropriação da cultura é resultado das interações lúdicas, que se dão entre a
criança, o brinquedo e as outras pessoas.
– Do ponto de vista da criatividade, tanto o ato de brincar quanto o ato criativo estão
centrados na busca do “eu”. É no brincar que se pode ser criativo, e é no criar que
se brinca com as imagens, símbolos e signos, fazendo uso do próprio potencial.
Brincando ou sendo criativo, o indivíduo descobre quem realmente é. Assim, a
criança que é estimulada a brincar com liberdade terá grandes possibilidades de se
transformar num adulto criativo.
29
Em síntese, o brincar é uma atividade capaz de potencializar o processo de aprendizagem
por intermédio da ludicidade, pois
Diante dessas diferentes abordagens podemos perceber, então, que o brincar está presente
em todas as dimensões da existência humana e, mais especialmente, na vida das crianças,
influenciando positivamente seu desenvolvimento e sua aprendizagem.
Muito bem. Vamos prosseguir nosso estudo para podermos abordar a questão do brincar
na Educação Infantil. Pronto para continuar? Então vamos nessa...
No capítulo anterior vimos que o termo brincar abrange, de forma mais ampla, os termos
brincadeira, jogo e brinquedo*3, lembra-se? Pois bem. Esses termos algumas vezes
se confundem e exatamente por isso não é fácil defini-los. Além disso, alguns autores
os consideram como sinônimos, pois sintetizam a vivência do lúdico. No entanto, para
desenvolvermos uma prática pedagógica centrada no brincar, precisamos estabelecer
claramente a diferença entre brincadeira, jogo e brinquedo. Vamos juntos?
Para iniciarmos esse diálogo, vamos voltar um pouco no tempo. Procure se lembrar de como
você costumava brincar na sua infância. Onde eram realizadas as brincadeiras? Na rua?
Em casa? Na escola? Com quem você brincava? Como aconteciam essas brincadeiras?
Faça agora uma comparação entre essas e as brincadeiras das crianças com as quais
você convive. Do que elas mais gostam de brincar? Onde, como e com quem brincam? As
brincadeiras das quais você se lembrou aparecem entre as das crianças atualmente? O
que influencia as brincadeiras das crianças hoje?
Pode até ser que as crianças de hoje brinquem de coisas semelhantes àquelas que você
brincou, porém, as crianças são influenciadas pelo contexto no qual elas estão inseridas.
As brincadeiras surgem a partir dos objetos disponíveis para a criança e pelas experiências
que ela adquire no meio em que vive. Assim, a criança brinca com o que ela tem à mão (que
ela transforma em brinquedo) e com o que tem na cabeça (a sua imaginação) (Brougère,
2001).
Existe certa confusão por parte de alguns professores que chamam de brincadeira
atividades que podem ser lúdicas, mas que não são propostas nem desenvolvidas pelas
próprias crianças. Na brincadeira, os elementos que predominam são: incerteza, ausência
30
de consequência e sucessão de decisões tomadas por aqueles que brincam (PORTO,
2003).
Vamos tentar esclarecer a confusão a que a autora se refere, tentando definir, então, o que
é brincadeira.
Piaget, ao definir a brincadeira, estabelece os seguintes critérios: “ter um fim em si; ser uma
atividade espontânea; ser uma atividade de prazer; ter uma relativa falta de organização;
ser caracterizada como um comportamento livre de conflito” (1986, p. 132).
– representa personagens (a criança representa papéis sociais, tais como: avó, mãe,
filha, neném...);
31
– trata objetos inanimados como animados (por exemplo: faz a boneca dormir, tomar
mamadeira...).
Mas o que a diferencia do jogo? Vamos tentar estabelecer essa diferença definindo, então,
o que é jogo. Vejamos como os autores abordam esse conceito.
O jogo geralmente é compreendido como uma brincadeira que envolve regras. Na visão de
Marques (2007), é uma atividade mais estruturada e organizada por um sistema de regras
mais explícitas.
Essa também é a forma que Bomtempo (1986) diferencia jogo de brincadeira. Segundo o
autor, é comum que as pessoas se refiram ao jogo como uma atividade que envolve regras
e brincadeiras.
Para Cássia (2003, p. 128): o jogo é uma atividade espontânea, realizada por uma ou mais
pessoas, regido por meio de regras que determinam que o vencerá. Delimitam-se regras,
tempo de duração, o que é permitido e proibido e indicadores como terminar a partida.
Para finalizar, veja como Macedo (2004, p.9) estabelece a diferença entre jogo e brincadeira:
32
faz-se de conta. No jogo, as delimitações (tabuleiro, peças, objetivos, regras,
alternância entre jogadores, tempo etc.) são fundamentais, ou seja, a condição
para sua realização. Nas brincadeiras, tais definições não são necessárias.
O jogar é uma brincadeira organizada, convencional, com papéis e posições
demarcadas. O que surpreende no jogar é seu resultado ou certas reações
dos jogadores. O que surpreende, nas brincadeiras, é sua própria composição
ou realização. O jogo é uma brincadeira que evoluiu. A brincadeira é o que
será do jogo, é sua antecipação, é sua condição primordial. A brincadeira é
uma necessidade da criança; o jogo, uma de suas possibilidades à medida
que nos tornamos mais velhos.
Conforme você pode perceber, nessas definições se acentuam algumas características que
os autores consideram básicas nos jogos, quais sejam: a existência de regras, a liberdade
de participação, a delimitação do tempo e espaço.
Isso posto, vamos então ao nosso último conceito: o brinquedo. Vamos começar propondo
uma reflexão.
O que você pensa a esse respeito? Você pode pensar melhor sobre isso a partir das
brincadeiras que você resgatou da sua infância: todas elas envolviam brinquedos? Quando
envolviam, que tipo de brinquedos eram utilizados: artesanal ou industrializado?
Veja o que diz Rubem Alves sobre a presença dos brinquedos na sua infância.
Como a gente era pobre e não tinha dinheiro para comprar os brinquedos, a gente
fazia os brinquedos. Minha mãe me ensinou a fazer chapéus de Napoleão com
jornais, a recortar bonequinhas, todas de mãos dadas, a fazer corrupios com botões
e linhas, a fazer barquinhos de papel que eu colocava na enxurrada...
“Quando eu era menino”
E você? Você já confeccionou, alguma vez, o seu próprio brinquedo? Se não, ainda está
em tempo. Convide uma criança para fazer isso na sua companhia e veja o quanto essa
atividade pode ser prazerosa...
Aliás, para uma criança, tudo pode se transformar em brinquedo: uma lata, um pedaço de
pau, uma pedra, um toquinho de madeira ou até mesmo uma folha caída de uma árvore.
Basta usar a criatividade e... pronto... esses objetos rapidamente se transformam em carros,
cavalos, capacetes, espadas e tudo o mais que a imaginação permitir...
33
A esse respeito, Bettelheim (1989, p.14) afirma: “é surpreendente o que uma criança
pequena pode aprender apenas brincando com cartucho de papelão de um rolo de papel
higiênico, ou quão construtivo e educativo pode ser brincar com caixas vazias.”
Mas atenção:
Alô Escola
Ou seja: não é o preço nem a quantidade de brinquedos que garantem a diversão. Brinquedos
e objetos simples, também, podem proporcionar momentos de diversão e aprendizagem,
pois o brinquedo é apenas um suporte da brincadeira. Se não for assim, passa a ser apenas
um objeto. Nada mais. O que importa, então, é a função lúdica que é atribuída ao objeto,
seja ele uma simples caixa de fósforo ou um sofisticado videogame. O que importa, é que
ele seja desafiador. Que oportunizem a criatividade e a fantasia.
Os pais, muitas vezes, para agradar os filhos, oportunizam-lhes os brinquedos mais
sofisticados, na tentativa de suprir suas necessidade. Sobre isso, veja o que pensa Rubem
Alves: “Todo brinquedo bom é um desafio. E isso nada tem a ver com esses brinquedos
eletrônicos comprados, em que não se usa a inteligência, mas apenas o dedo para apertar
um botão. Brinquedo bom tem de ser desafio. Brinquedo bom tem de fazer pensar”.
34
A Bola
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar
a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro.
Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos
são decididamente outros.
– Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
– O quê?
– Controla, chuta...
– Nada não.
O garoto agradeceu, disse “legal” de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente
da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo
chamado Monster Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma
bola em forma de bip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir
mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido.
Estava ganhando da máquina.
35
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no
peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
– Filho, olha.
O garoto disse “legal”, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as
mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a
nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa ideia, pensou. Mas em inglês, para a
garotada se interessar.
Essa cena ilustra bem como as diferenças que se manifestam entre realidades distintas.
Assim, podemos concluir que cada brinquedo tem diferentes significados a partir das
condições históricas e sociais de cada contexto.
Brinquedos de berço: móbiles, chocalhos, bichinhos de vinil, brinquedos para olhar, ouvir,
pegar e morder são valiosos para as estimulações sensorial e motora da criança.
36
Que tal mais uma interessante história? Camila Franco e Marcelo Pires, no livro “Liga-
desliga”, nos contam a história de uma televisão que “assistia” a um menino, até que um
dia...
Era uma vez uma televisão que não saía da frente de um menino.
E TV, nada.
Um dia o menino ganhou uma bola. E quando TV foi para sala, logo depois do café
da manhã, o menino já não estava mais lá.
Essa é uma questão bastante delicada, não acha? Provavelmente, não podemos impedir
que as crianças fiquem tanto tempo diante da televisão ou dos tão famosos videogames,
nem é essa nossa intenção. No entanto, podemos criar, no cotidiano da Educação Infantil,
espaços para que as crianças brinquem. E não é brincar apenas porque estão no recreio ou
têm tempo livre, mas porque planejamos essas atividades, pois sabemos o quanto o brincar
é fundamental para o seu desenvolvimento e aprendizagem.
Dessa forma, sem sombra de dúvidas, teremos, nos jogos e nas brincadeiras, excelentes
aliados no processo de ensino e aprendizagem. Diante dessa constatação, faz-se necessário,
37
então, reconhecermos o espaço central que o brincar deve ocupar na Educação Infantil,
assim como o papel do professor nesse processo.
– Participar das brincadeiras, sempre que possível, e aproveitar para questionar, com
as crianças, sobre elas mesmas.
– Estimular a imaginação infantil, oferecendo materiais dos mais simples aos mais
complexos, podendo esses brinquedos ou jogos serem estruturados (fabricados)
ou serem, brinquedos e jogos confeccionados com material reciclado (material
descartado como lixo), como, por exemplo: pedaço de madeira; papel; folha seca;
tampa de garrafa; latas secas e limpas; garrafa plástica; pedaço de pano. Todo e
qualquer material cria para a criança uma possibilidade de fantasiar e brincar.
– Providenciar para que as crianças tenham espaço para brincar (área livre), e que
possam mexer no mobiliário, montar casinhas, fazer cabanas, tendas de circo.
– Coordenar sua ação com a ação da criança, pelo conhecimento e ligação com as
emoções dela.
38
Rizzo (1996) também analisa alguns aspectos necessários para que um bom educador
possa realizar sua atividade com crianças pequenas. Para a autora, o educador:
– deve jogar com as crianças e participar ativamente de suas brincadeiras, pois esse
talvez seja o caminho mais seguro para obter informações e conhecimentos sobre
o mundo infantil.
Diante de tudo o que estudamos até aqui, vimos que o professor da Educação Infantil tem
um papel fundamental na organização e no planejamento de condições adequadas para o
desenvolvimento e a aprendizagem do processo de brincar.
39
A Prática Pedagógica na Educação Infantil de Qualidade Unidade II
Planejar é algo que faz parte da vida de cada um de nós. No dia a dia, mesmo sem ter, por
vezes, consciência, planejamos as nossas ações. Vamos conferir? Você, por acaso, vive
situações semelhantes a estas?
Que roupa usar? Vai chover? O tempo pode mudar? Será que vou
passar frio? A que horas vou almoçar? Onde? Ah, hoje, preciso passar na
escola das crianças. Vou me organizar no trabalho. Vou trabalhar no meu
horário de almoço e dar uma fugidinha até a escola delas. Viu só? É o
planejamento das ações do dia a dia.
Mas além dessas, planejamos ainda alguns sonhos: a compra de um computador, da casa
própria, da televisão nova, a viagem tão desejada... O planejamento, nesses casos, busca
transformar o sonho numa realidade objetiva.
Entretanto, quando não planejamos, tudo pode acontecer: a chuva pode nos pegar
desprevenido, o orçamento pode estourar, a viagem pode frustrar, a televisão pode
minguar... No dito popular: quando a cabeça não pensa, o corpo padece!
Baseado nisto, podemos afirmar que o planejamento é algo racional. Racional? Sim,
racional, sobretudo
porque, sendo a pessoa humana condenada, por sua racionalidade, a realizar
algum tipo de planejamento, está sempre ensaiando processos de transformar
suas ideias em realidade. Embora não o faça de maneira consciente e eficaz,
a pessoa humana possui uma estrutura básica que a leva a divisar o futuro, a
analisar a realidade, a propor ações e atitudes para transformá-la. (GANDIN,
2001, p. 83)
Assim, por sermos seres racionais, buscamos sempre realizar, de forma eficiente, as
nossas ações. Em um primeiro momento, conforme sugere Gandin (idem), analisamos a
realidade. Por exemplo: o meu orçamento comporta uma prestação de um valor x? Análise
feita, tomamos algumas decisões: trabalhar mais, cortar gastos e, por fim, comprar o bem
desejado. Não é assim?
Ainda, que o planejamento acontece em todas as atividades humanas. Ele é condição básica
ou “medida obrigatória” nas mais diferentes áreas: na economia, na política, na justiça, na
medicina... Por exemplo: um médico, ao concluir que determinado paciente precisa passar
por uma intervenção cirúrgica, passa a planejar os passos da cirurgia: exames prévios,
agendamento do dia e clínica, contato com o médico-anestesista, procedimentos a serem
adotados no momento da execução, e assim por diante. Em síntese, para se chegar a
resultados desejados, o planejamento é imprescindível.
41
Muito bem! E na educação? Normalmente, quando o assunto é planejamento, ouvem-se
afirmações do tipo:
– Claro que o planejamento é importante, mas eu prefiro confiar na minha experiência.
No dia a dia da escola é que a gente descobre o que é preciso fazer.
– Aquela aula que eu não planejei foi a melhor aula que dei.
– Acho uma perda de tempo o período de planejamento na escola. Na prática, nada
funciona. Mas como tenho que entregar o planejamento, eu faço e entrego. Depois,
trabalho do meu jeito.
E outras:
– A gente faz um plano e Deus faz outro.
– Toda vez que planejo as coisas não dão certo.
Todos nós sabemos que, na prática de muitas instituições de ensino, o planejamento tem
reduzido-se ao cumprimento de uma exigência. Em alguns casos, o planejamento traduz
a cópia de planos anteriores ou a concretização de imposições externas. A Secretaria de
Educação quer que seja assim e pronto!
O que isso nos revela? Primeiro que o planejamento educacional, diferente do planejamento
que acontece no nosso dia a dia e nas diferentes áreas humanas, não atende aos “desejos”
que se tem em termos de processo e resultados da educação. Nesse caso, torna-se uma
atividade burocrática a ser cumprida. E só! Mas planejamento educacional não é isso. O
que é então?
Para responder a essa questão, antes de tudo, é preciso que se façam algumas distinções
conceituais. Isso porque muitas vezes alguns conceitos se confundem. Entre eles, o de
projeto, programa, plano, currículo e planejamento. Para você, o que cada um significa?
Você consegue estabelecer a diferença entre eles? Vamos tentar juntos?
PROGRAMA: Indicação geral das matérias a serem estudadas num determinado curso.
Você, ao iniciar este curso, recebeu a sua programação geral: disciplinas a serem estudadas
e os períodos de estudo, certo? Você recebeu, então, o programa.
PLANO: “apresentação sistematizada e justificada das decisões tomadas relativas à ação
a realizar” (FERREIRA apud PADILHA, 2001, p. 36). Na prática docente, normalmente,
deparamo-nos com diferentes tipos de planos: escolar, de curso, de ensino, de aula, entre
outros. Certamente, você também já ouviu falar do Plano Nacional de Educação, que é
aquele que define a política educacional do país.
PROJETO: Segundo Gadotti (2001, apud Veiga, 2001), a palavra projeto vem do verbo
projetar, ou seja, lançar-se para frente. Dá sempre a ideia de movimento, de mudança. A
sua origem etimológica, segundo Veiga (2001, p. 12), “vem do latim projectu, particípio
passado do verbo projecere, que significa lançar para diante”. Assim, toda vez que falamos
em projeto, passamos a ideia de futuro, como, por exemplo, tenho alguns projetos para a
minha carreira.
PLANEJAMENTO EDUCACIONAL: “processo contínuo que se preocupa com o ‘para onde
ir’ e ‘quais as maneiras adequadas para chegar lá’, tendo em vista a situação presente
e as possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da educação atenda tanto as
necessidades da sociedade quanto as do indivíduo” (CORRACY apud SANT’ANNA et al.,
1995, p. 14)
42
CURRÍCULO: Conforme o Dicionário Aurélio, currículo é definido como “as matérias
constantes de um curso”. E, segundo o Dicionário Interativo da Educação Brasileira, o
currículo é o “conjunto de disciplinas sobre um determinado curso ou programa de ensino
ou a trajetória de um indivíduo para o seu aperfeiçoamento profissional”, denominado
curriculum vitae.
Observe que se fez aqui um recorte de cada conceito. Defini-los não é tarefa fácil. Há,
na área da educação, muitas pesquisas acerca deles, diferentes abordagens e algumas
polêmicas. Mas, essencialmente, a intenção é que você saiba que o professor precisa se
envolver com o planejamento no seu todo. Todo professor é coautor e corresponsável pelo
planejamento educacional na sua totalidade.
Se você retornar aos conceitos apresentados, vai perceber que o planejamento educacional
é amplo e, também, que ele envolve o currículo, programas, planos e projetos. Portanto,
resta-nos saber: que planejamentos são próprios de uma Instituição de Educação Infantil?
Pense nisso!
Antes de avançarmos nessa questão, precisamos refletir sobre o papel do professor.
Voltando à questão proposta... Você aprendeu que, na Educação Infantil assim como nas
demais etapas da educação, é esperado que ocorram as aprendizagens escolares. E,
ainda, que estas precisam ser planejadas e organizadas sistematicamente. Isso significa
que o planejamento é o primeiro passo. Mas quais planejamentos?
Diferentes fontes poderiam ser usadas para responder a esse questionamento. No entanto,
optamos por partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB no 9.394/1996,
que, no que diz respeito ao planejamento, aponta:
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu
sistema de ensino, terão a incumbência de:
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; [...]
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino; [...]
43
Muito bem! Já sabemos agora que a proposta pedagógica é documento obrigatório, assim
como o plano de trabalho. Também, que a proposta deverá ser construída pelo coletivo
da escola e que o plano é incumbência do professor (o que não impede que seja coletivo).
Só isso? Não, obviamente que não! Caberá a cada instituição a definição do currículo, de
programas e projetos que atendam a demanda da sua comunidade.
44
Diante de tudo que até aqui foi exposto e levando-se em consideração, também, a prática
de planejamento recorrente na educação atual, podemos, por fim, sistematizar algumas
ideias.
O Planejamento Educacional
– antecipa resultados;
Vamos, então, para o nosso próximo assunto: O Projeto Pedagógico. Até já!
45
Capítulo 4 – Projeto Pedagógico
A LDB no 9.394/1996 refere-se à Proposta Pedagógica, mas optamos pela expressão Projeto
Pedagógico em função da literatura educacional atual, que assim identifica o documento.
Entretanto, as expressões Proposta Pedagógica, Projeto Pedagógico ou Projeto Político-
Pedagógico dizem respeito ao mesmo documento. Em frente!
Se você tem interesse em se aprofundar nisso, sugerimos que leia os Subsídios para
Credenciamento e Funcionamento de Instituições de Educação Infantil publicado pelo
Ministério da Educação em 1998. Antes disso, a Educação Infantil não era regulada
(credenciada, autorizada, supervisionada e avaliada) pelo sistema de ensino.
Resolução no 01/2002
46
II. registro do mantenedor, se da iniciativa privada, junto aos órgãos competentes: Cartório
de Títulos e Documentos, Junta Comercial e Cadastro Geral dos Contribuintes do
Ministério da Fazenda ;
X. proposta pedagógica;
Por que lhe expomos tudo isso? Para que você compreenda o contexto maior que envolve
a Educação Infantil e, também, para que você assuma, no seu espaço de atuação, o papel
que cabe ao professor – de partícipe ativo da construção pedagógica da instituição.
47
professores desconhecem o documento. Fatos como esses retardam, com certeza, o
processo mais amplo de reconhecimento da Educação Infantil e da busca da qualidade
nessa etapa da educação.
Faremos aqui uma sugestão para redação do Projeto Pedagógico para a Educação Infantil.
Nosso ponto de partida? Os indicadores de avaliação da qualidade trabalhados na disciplina
“A Qualidade da Educação Infantil”. Por quê? Porque conforme você pode estudar, “os
indicadores de qualidade são sinalizadores de ações que orientam a construção da qualidade
da educação” (MARCHESI; MARTIN, 2003, p. 27). Orientam, portanto, a construção do
Projeto.
Apresentação
1. Contextualização
1.1 Localização
48
• Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais
independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas
limitações.
2.3 Princípios Norteadores (para o Jurista Miguel Reale, “os princípios são certos
enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das demais
asserções que compõem dado campo do saber” (REALE, 1991, p. 300). Nos
Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil – v. 1, p. 13, você
encontrará os seguintes princípios).
• A socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais
diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma.
49
3. Gestão
4. Currículo
7. Ambiente
7.2 Dimensão Funcional (descrever a forma como o espaço está organizado para
poder atender às atividades a que se destinam).
Não se esqueça: esse é apenas um modelo, não é uma receita pronta e acabada. O Sistema
de Ensino a que pertence a Instituição é que vai determinar os itens que devem constar no
Projeto. Entretanto, pensamos que, ao se guiar pelos indicadores de qualidade, a Instituição
terá clareza das suas intenções, do processo educativo no seu todo e dos resultados que
pretende alcançar.
Sugerimos, ainda, que, a cada novo ano, a Instituição, de posse da avaliação do Projeto
e com dados da realidade (diagnóstico dos avanços e das dificuldades) estipule metas a
serem cumpridas em curto, médio e longo prazo. Por exemplo:
50
Problema Meta Ações Período Envolvidos
O número de Adquirir, até 1) levantar o número e – Março Direção,
livros infantis final do mês títulos do acervo. Professores e
não atende à de junho, 2) calcular a necessidade – Março Famílias.
demanda da pelo menos, de livros a serem
Instituição. dois livros adquiridos, em função da
infantis por meta. – Abril
aluno. 3) fazer um levantamento
de títulos e preços. – Abril,
4) planejar e implementar maio
atividades para captação
de recursos (busca de
recursos junto ao órgão
mantenedor, festas,
bazar, assim por diante).
5) comprar e catalogar os – Junho
livros.
Primeiro: Vamos supor que abriremos uma Instituição de Educação Infantil para atender a
crianças de zero a seis anos de idade. Muito bem! Primeiramente, definiremos as intenções
que se tem em relação à criança que ingressa com zero ano e que concluirá aos cinco anos
a Educação Infantil. Isso é o Projeto Pedagógico! Então, pensamos no Projeto para os seis
anos dessa criança na Instituição e, normalmente, o expomos aos pais e à comunidade.
Diante disso, não parece recomendável que se altere o Projeto anualmente. O que se faz,
então? Principalmente, reflete-se sobre a ação. Em que medida a ação caminhou na direção
da concretização do Projeto? O que precisamos melhorar, adequar ou até reformular?
Exemplificando, todos nós sabemos que aprender não é algo que acontece naturalmente
ou de forma espontânea. Aprender envolve racionalidade, intencionalidade e mudança.
Pensando nisso, não podemos supor que a aprendizagem escolar possa abdicar do
planejamento. Assim, aquele professor que não planeja, criteriosamente, a ação pedagógica
51
revela, entre outras coisas, que possui uma concepção “inatista” de desenvolvimento e
aprendizagem. Isso quer dizer que acredita que o aluno vai aprender naturalmente, ou
não, uma vez que ele nasce programado biologicamente para isso. Estão lembrados da
expressão: “pau que nasce torto morre torto”?
Aí perguntamos: será que no Projeto Pedagógico a concepção descrita foi essa, uma
concepção inatista? Provavelmente, não! Revela-se, portanto, uma incoerência entre a
prática e a concepção proposta pela Instituição. Dessa forma, justifica-se afirmar que o
discurso é um e a prática é outra. E, nesse caso, não é o Projeto que precisa ser revisto,
mas a prática em si. É necessário identificar as razões que levam Projeto e prática a se
distanciarem e propor soluções para a superação.
Esse exercício de reflexão se faz necessário a todo instante. Isso é o que mantém o Projeto
em permanente movimento. Isto é, também, o que assegura sua efetiva concretização – do
sonho transformar-se numa realidade objetiva.
Mas e quanto às mudanças que se fizerem necessárias? Essas podem ser anexadas
ao Projeto original, juntamente com a ata da reunião que decidiu pela reformulação ou a
proposta de novas ações. As metas que citamos anteriormente são um bom exemplo disso.
Podem ser pensadas anualmente e anexadas ao Projeto.
Cabe lembrar: toda mudança deve ser amplamente refletida, devidamente registrada e sua
implementação sistematicamente acompanhada e avaliada.
Um Projeto Pedagógico que tenha sido elaborado com indicadores claros de qualidade
não passará por reformulações significativas a cada ano. O que, certamente, passarão
por transformações serão as ações que levam à sua concretização.
52
Capítulo 5 – Plano de Trabalho
Ao início de cada ano letivo, o que temos vivenciado? Horas e horas de reunião e de
planejamento que, para muitos professores, não têm sentido. Não levam a nada.
Observamos, nesse período, que muitos professores estão preocupados com o que
ensinar. Para resolver essas situações, alguns recorrem aos livros ou manuais e extraem
de seus índices uma relação de “conteúdos” a serem trabalhados. Relação pronta, diz:
Plano pronto! Agora estou tranquilo, é só por em ação.
Mais recentemente, outros professores têm demonstrado uma grande preocupação com a
forma de trabalhar. Com o como trabalhar, ou, em outras palavras: com a metodologia de
trabalho.
Antes de prosseguirmos, cabe salientar que existe uma diferença significativa entre
planejamento e plano, que já foi tratada brevemente, mas que, agora, reforçamos com o
que afirma Fusari (1989, 2007):
53
– Plano de Curso: É a “sistematização da proposta geral de trabalho do
professor naquela determinada disciplina ou área de estudo, numa dada
realidade”. (VASCONCELLOS 1995, p. 117)
Você deve estar se perguntando: qual a diferença entre Plano Escolar e Projeto Pedagógico?
Praticamente, nenhuma. O Plano Escolar, velho conhecido dos educadores, na atual
LDB ganhou novo nome: Proposta Pedagógica. Mas não só isso! Ganhou, também, mais
importância e real significado. O Projeto, de responsabilidade da Escola, constitui-se, hoje,
em ferramenta poderosa na luta pela conquista da autonomia e da identidade de cada
instituição escolar, assim como na luta pela qualidade da educação.
O Plano de Curso, voltado para a Educação Infantil, é o documento mais amplo a ser
elaborado pelo professor. Deverá sistematizar os objetivos gerais, os conteúdos, a
metodologia e a avaliação do trabalho pedagógico para todo o ano letivo ou para o semestre,
se assim for definido pela Instituição. O Plano de Ensino é mais específico e pode ser
elaborado mensalmente, por unidades, por semana ou até diariamente. Mas é fundamental
que todos estejam coerentes entre si.
54
2. O planejamento baseado em datas comemorativas
Neste, o planejamento da prática cotidiana é direcionado pelo calendário. A programação
é organizada, considerando algumas datas escolhidas pela Instituição ou pelo educador.
São datas tidas como importantes do ponto de vista do adulto, que as considera relevante
para a criança. Portanto, ao longo do ano são realizadas atividades referentes ao Carnaval,
ao Dia de Tiradentes, ao Descobrimento do Brasil, ao Dia do Índio, à Páscoa, ao Dia do
Trabalho, ao Dia das Mães etc. Um exemplo: Dia do Índio – atividades: música do índio e
imitação, confecção do cocar do índio (com cartolina), dançar e cantar como índio, pintar
desenho do índio, recortar figuras do índio.
3. Planejamento baseado em aspectos do desenvolvimento
Esse planejamento tem como parâmetro a psicologia do desenvolvimento, ou seja, está
direcionado para as especificidades da criança de zero a seis anos e a intenção maior é
que sejam determinados objetivos a partir dos quais serão organizadas atividades que
estimulem as crianças naquelas áreas consideradas importantes: físico-motor, afetivo,
social e cognitivo. Por exemplo: estimular a criatividade; estimular a motivação; estimular a
curiosidade.
4. Planejamento baseado em conteúdos organizados por áreas de conhecimento
Neste, os conteúdos decorrentes da Língua Portuguesa, da Matemática, das Ciências
Sociais e Naturais dão o norte para um trabalho intencional com a criança de quatro a seis
anos, de modo a favorecer a ampliação de seus conhecimentos.
5. Planejamento baseado em temas (tema integrador, tema gerador, centros de
interesse, unidades de experiência)
Nesse tipo de planejamento, o “tema” é o desencadeador ou gerador de atividades
propostas às crianças. Com ele, busca-se articular as diversas atividades desenvolvidas
no cotidiano educativo. Funciona como uma espécie de eixo condutor do trabalho. Nesse
caso, visualiza-se a preocupação com o interesse da criança, colocando-se em foco suas
necessidades e perguntas. Os temas podem ser escolhidos pelo professor, sugeridos pelas
crianças ou surgidos de situações particulares e significativas. Assim, além da preocupação
em trabalhar aspectos que façam parte da realidade da criança, são delimitados conteúdos
considerados significativos para sua aprendizagem.
Observe que, nas formas aqui apresentadas, há uma ênfase na atividade pedagógica,
entendida como aquela atividade a ser desenvolvida pelo professor em que, normalmente,
as crianças se sentam ou ficam em volta da professora para “aprender” algo novo e para
realizar uma ação concreta de aprendizagem, por exemplo: desenhar ou escrever. Mas,
segundo Machado (1996, apud Ostetto, 2007), é preciso se ter claro que não é a
atividade em si que ensina, e sim a troca de experiência, a possibilidade de interagir e de
acessar novos conhecimentos. Diante disso, podemos afirmar que:
O pedagógico, então, não está relacionado somente àquelas atividades
coordenadas ou dirigidas pelo educador, realizadas geralmente na mesa,
com todas as crianças, envolvendo materiais específicos – em regra papel,
lápis, caneta... -, e que resultam num produto “observável”. O pedagógico
também envolve o que se passa nas trocas afetivas, em todos os momentos
do cotidiano com as crianças; perpassa todas as ações: limpar, lavar, trocar,
alimentar, dormir. (OSTETTO, 2007)
55
Capítulo 6 – Elementos do Plano de Ensino
De acordo com Fusari (2007), a escola deve desencadear um processo de repensar todo
o ensino, buscando um significado transformador para os elementos curriculares básicos.
Objetivos
Você, provavelmente, já escutou ou quem sabe até já falou: uma vida sem objetivo é
uma vida sem sentido! Já falou? Muito bem! É provável e até aconselhável que todos nós
pensemos assim. Se pararmos para “filosofar” um pouquinho, poderíamos, talvez, inverter
a frase e dizer: o que dá sentido à vida são os nossos objetivos. Mudou alguma coisa?
Parece que não. Então, em resumo, são os objetivos que direcionam a nossa vida, ou seja,
nossas ações.
Nessa lógica de raciocínio, podemos supor que em educação não é diferente. Os objetivos
orientarão a ação pedagógica, a escolha dos conteúdos, a definição dos métodos, tempos
e espaços, assim como a natureza da avaliação. Os objetivos assumem função importante
e imprescindível na educação. Vale a pena, portanto, estudá-los mais detalhadamente.
Antes de tudo, cabe relembrar que os objetivos educacionais são “exigência indispensável
para o trabalho docente, requerendo um posicionamento ativo do professor em sua
explicitação, seja no planejamento escolar, seja no desenvolvimento das aulas” (LIBÂNEO;
1991, p. 121).
Claro que nada disso é novidade para você. Os educadores, hoje, têm consciência da
importância de se ter objetivos educacionais claramente definidos. No entanto, na prática,
ainda existem algumas dificuldades, como, por exemplo, como elaborar os objetivos?
Baseado nisso, nos propomos a percorrer, com vocês, esse caminho. Vamos juntos?
No que diz respeito à finalidade dos objetivos, Bloom (apud PILETTI, 2002, p. 83) afirma
que: “a formulação de objetivos tem por finalidade classificar para o professor, em sua
própria mente, ou comunicar a outros as mudanças desejadas no aprendiz”.
De acordo com Sant’Anna et al. (1998), existe um elemento que é fundamental na descrição
de um objetivo educacional. Você sabe qual é esse elemento?
56
Em suma, é o resultado esperado ao final dos processos de ensino e de aprendizagem.
Para tanto, o desempenho é composto por um verbo – sempre no infinitivo – e por um
objeto de ação.
Os verbos, por sua vez, devem indicar uma ação, descrita de forma clara, simples e direta.
Além disso, devem possibilitar a observação e a avaliação. Nesse sentido, há verbos mais
adequados (que possuem menos interpretações) e outros menos adequados (que dão
margem a muitas interpretações). Veja o quadro a seguir.
Na coluna dos verbos que permitem menos interpretações, também podemos incluir:
demonstrar, explicar, aplicar, avaliar, organizar, verificar, partilhar, apoiar, perguntar,
indicar, entre outros.
Tudo bem! Já sabemos da importância de escolher um verbo adequado. Mas o verbo, por
si só, garante que um objetivo esteja bem elaborado? Não, claro que não. Um objetivo bem
elaborado exige um verbo adequado, assim como deve indicar o sujeito da ação que, em
se tratando de aprendizagem, será sempre o aluno. O que isso quer dizer?
57
Analise mais um exemplo: Comparar formas
distintas de vida.
– o objetivo deverá anunciar o desempenho que o aluno deverá atingir ao final dos
processos de ensino e de aprendizagem;
58
– os verbos mais adequados são aqueles que permitem poucas interpretações e que
podem ser observados e avaliados;
Certamente você percebeu que o objetivo adequado é o 2. Da forma como foi definido, não
deixa dúvidas quanto à aprendizagem desejada. Revela o desempenho a ser atingido,
indica que a ação será do aluno. Além disso, o objeto da ação está explícito. No entanto,
no objetivo 1, o verbo não revela de fato o que o aluno conhecerá sobre o próprio corpo.
1. ____________________________________
____________________________________
____________________________________
2. ____________________________________
____________________________________
____________________________________
59
Veja alguns exemplos:
1. Observar-se no espelho.
Conteúdo
Uma vez que os objetivos estão definidos, os passos seguintes se apresentam quase que
naturalmente. O objetivo, já sabemos, traz no seu enunciado o objeto da ação. E o que é
esse objeto da ação? Nada mais é que o conteúdo.
Sim, imagem e movimento! Mas a que área do conhecimento pertence esses conteúdos?
É sobre isso que queremos agora refletir com você. Vamos abrir um parêntese para tratar
especificamente disso. É uma questão fundamental e que envolve as próprias concepções
de educação no seu todo. Então, abra-se o parêntese...
60
O que nos levou a fazer essa escolha? A principal razão foi a própria definição de eixo de
trabalho, que se constitui “em uma parcela significativa da produção cultural humana que
se amplia e enriquece as condições de inserção das crianças na sociedade” (RCNEI, vol.
1, p. 46). Em função disso, acredita-se que o eixo:
– é integrador;
– é flexível;
Por exemplo, o movimento – um dos eixos de trabalho da Educação Infantil – pode ser visto
ou representado, entre outras coisas por: um simples mexer e deslocar o corpo, um ato
motor, uma sequência de gestos, aplicação de forças movimentando alavancas corporais,
forma de comunicação, forma de expressão, identidade, coordenação e equilíbrio,
manifestação cultural e muito mais. O movimento, assim visto e representado, supera a
visão fragmentada desse conhecimento.
Aos olhos do mundo moderno, que tende a fragmentar as manifestações da cultura humana,
devemos agregar olhares que possibilitem a compreensão da totalidade, nesse caso, do
movimento humano. E, nesse sentido, acredita-se que o eixo é a opção mais adequada,
pois permite que se contextualize o objeto do conhecimento por meio de interfaces
complementares, integradas e não excludentes.
61
forma harmoniosa. Nem poderiam, pois são, por vezes, contraditórios. Cada uma de nós já
soma mais de 20 anos de efetiva atuação no magistério. Aprendemos a ler com a Cartilha
mais famosa da história da alfabetização do Brasil. Evoluímos junto com as mudanças da
legislação educacional. Quando ingressamos na escola, a LDB em vigor era a no 4.025/61,
que durou até 1971, quando foi promulgada a LDB no 5.692/71. Nessa época, estávamos
no início do primário. Mais tarde, ingressamos no magistério, vimos cair a ditadura militar e
acompanhamos a promulgação da LDB atual – no 9.394/96. Mas, mesmo assim, também
alfabetizamos com a Cartilha – aquela! Só muito tempo depois é que conseguimos superar
a paixão e a devoção a tão singela produção didática. Enfrentamos dificuldades, superamos
obstáculos e estamos aí, a lutar!
E foi no percurso das nossas aprendizagens e das nossas experiências que descobrimos
e assumimos as nossas muitas contradições. Encontramos na manutenção dessas
contradições a própria expressão das nossas verdades. (MORIN, 1995, p.42).
Nessa busca descobrimos, e agora repartirmos com vocês, a boa nova: a ideia da
complexidade. Todo conhecimento é complexo e deve ser pensado a partir de um novo
paradigma. “O conhecimento pertinente deve enfrentar a complexidade. Complexus significa
o que foi tecido junto; de fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis
constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo,
o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de
conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. Por
isso, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade. Os desenvolvimentos
próprios a nossa era planetária nos confrontam cada vez mais e de maneira cada vez mais
inelutável com os desafios da complexidade”. (Id, 2000, p.38).
O que podemos nós fazer caros amigos? Não somos os salvadores do mundo, nem os
heróis da educação, mas podemos difundir ideias e experiências que proponham a
interdisciplinaridade como prática possível.
62
interdisciplinaridade, o conhecimento é reconhecido como resultado da produção cultural
humana. E essa não é fragmentada em disciplinas.
Acabaremos com as disciplinas? Não, pelo menos por enquanto, mas provocaremos uma
revolução no interior de cada uma. Colocaremos em cheque a sua condição disciplinar.
Provocaremos alguns encontros, forçaremos algumas trocas e, o mais importante: vamos
criar um espaço para que circulem com liberdade, para que conheçam e se façam conhecer.
Aguardaremos com ansiedade a sua resposta, pois sem vocês nosso plano (vocês já
perceberam que isso é um plano, não?!) nasce fadado ao fracasso.
Ao nos despedirmos, registramos o pensamento que por hora nos possui: a única certeza
que temos hoje é a certeza que em educação haverá mudanças. A mudança se impõe, não
pede licença. Assim, acreditamos na ruptura do paradigma que aprisiona os homens ao
saber especializado (que é sem graça e pobre de ideias!).
Acreditamos no saber inteiro e próprio da nossa condição humana. Aquele capaz de nos
tornar pessoas mais confiantes, solidárias, felizes e apaixonadas pela cultura humana.
Agora, podemos fechar o parêntese que abrimos há pouco. É hora de avançar. O assunto
seguinte é instigante: vamos abordar os métodos.
Métodos
_______________________________________
_______________________________________
_______________________________________
_______________________________________
63
Para que possamos aprofundar nossos conhecimentos
sobre método, solicitamos que, primeiro, você responda
ao exercício que se segue.
ATENÇÃO: Essa é uma atividade com perguntas e
instruções simples, cujo principal objetivo é verificar o
menor tempo em que cada pessoa consegue realizá-
las. Exige agilidade de pensamento e rapidez de
solução. Está preparado?
As pessoas mais ágeis costumam levar de 4 a 6 minutos
para concluir a atividade. Vamos ver como você se
sairá. Não perca tempo! Aperte o cronômetro e vá em
frente...
Leia as questões a seguir e depois responda ao que
se pede:
1) O nome dado a este curso de extensão é:
________________________________________
________________________________________
________________________________________
________________________________________
( ) menos de 10 letras
( ) entre 11 e 20 letras
( ) mais de 20 letras
4) Faça uma estimativa de quantas escolas de Educação
Infantil existem no seu município e registre o número
na figura abaixo:
64
5) Levante-se, respire fundo e conte pausadamente até
10. Depois, pule para a questão 7.
6)
Nesse Caderno você conheceu um pouco da
vida de Piaget e outros teóricos que tratam do
desenvolvimento e aprendizagem. Volte à questão
4, responda e avance para a questão 5.
________________________________________
Segundo o Dicionário Aurélio, método pode ser definido como um caminho pelo qual se
atinge um objetivo. Nesse sentido, o método está relacionado à forma de ensinar e aprender.
Na realização da atividade, aqueles que seguiram as instruções, a começar pela primeira
que orientava que todos deveriam ler as questões e depois respondê-las, certamente
chegaram mais rápido e adequadamente ao objetivo final.
Na elaboração do plano, após definido para que ensinar e aprender – objetivos – e, também,
o que ensinar e aprender – conteúdos, o passo seguinte é definir como ensinar e aprender
– métodos.
Em educação, assim como em outras áreas, sempre há novidades quanto aos métodos. Por
vezes, a preocupação com a forma de ensinar torna-se mais relevante que todos os outros
elementos do planejamento. Isso é, com certeza, um equívoco! Como escolher o caminho
se não sabemos para que chegar a determinado lugar e o que buscamos encontrar? Você
concorda com isso?
Por outro lado, quando sabemos para que chegar e o que buscamos, o caminho torna-se
relevante, pois quando escolhido adequadamente, atingiremos provavelmente com sucesso
o nosso objetivo.
65
LÚDICO!!! Ensinar e aprender por meio do lúdico.
São muitos os métodos existentes hoje, no campo da educação. Abordaremos, a seguir, uma
breve exposição sobre um método bastante difundido, atualmente, e, que tem provocado
resultados significativos em termos de ensino-aprendizagem – Pedagogia de Projetos.
Pedagogia de Projetos
Não é de hoje que se fala em projetos na escola. Precisamos, então, antes de tudo, saber:
Por incrível que pareça a história dessa Pedagogia se inicia no século XVIII, com a Filosofia
de Fichte – o primeiro e maior discípulo de Kant –, em oposição ao tempo tradicional que
anunciava o desenvolvimento científico e técnico (VEIGA, s.d). Portanto, não é algo que
se possa dizer novo. Por isso, vamos, de forma resumida, situá-los historicamente a seu
respeito.
– Nos séculos XIX e XX, aparecem as primeiras experiências com projeto, nas
escolas alemãs, americanas e soviéticas. Era, também, o início da escola nova.
Agora que estamos situados em termos da história da Pedagogia do Projeto, vamos buscar
outras informações: O que é a Pedagogia de Projetos?
66
Pedagogia de Projetos é um dos muitos modos de organizar o ato educativo.
Ela indica uma ação concreta, voluntária e consciente que é decidida tendo
em vista a obtenção de determinado e preciso alvo formativo. É saber partir,
na prática escolar, de uma situação-problema e global dos fenômenos, da
realidade factual e não da interpretação teórica já sistematizada nas disciplinas
(BARBOSA, 2001, p. 84).
– indica uma ação concreta, voluntária e consciente. Por isso, racional e intencional.
Pressupõe objetivos a serem alcançados. Valoriza a ação e o envolvimento do
aluno;
Antes de avançarmos para a prática dos Projetos, cabe apontar algumas características
fundamentais que envolvem o trabalho com eles. Essas características, de alguma forma,
permitem-nos compreender melhor a concepção de Pedagogia de Projeto.
67
Vamos em frente: Etapas de um projeto: como fazer? Hernández et al. (1998) trabalham
com as seguintes etapas.
Atividade do professor
1. Estabelece os objetivos educativos e de aprendizagem.
3. Faz, em conjunto com os alunos, uma avaliação inicial: o que já sabemos acerca do
tema e o que queremos saber?
8. Preestabelece atividades.
68
Quanta coisa, não? São muitas as atribuições do professor, mas todas necessárias e
imprescindíveis. Trabalhar com projetos exige certas competências do professor, entre
elas, que seja um permanente estudante.
Muito bem! Diante de tudo que foi exposto, pode-se pensar num formato para o projeto?
Sim, parece necessário, não? Então, vamos lá.
São muitos os autores que tratam da Pedagogia do Projeto. Mas, de maneira geral, há
entre eles um consenso de ideias e etapas do projeto. Em síntese, pode-se supor que um
Projeto possa ser construído por meio das seguintes etapas.
Modelo de Projeto
1. Escolha do Tema.
6. Culminância.
Ao se navegar pela Internet, é possível encontrar vários projetos. É claro que eles não se
apresentam na formatação que aqui sugerimos, mas vale a pena conferir:
“BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS”4
Logo que voltamos às aulas, no mês de agosto, iniciamos um novo projeto intitulado
“Brinquedos e brincadeiras”. Pretendíamos, entre outras coisas, resgatar um pouco da
nossa cultura por meio das brincadeiras folclóricas.
Os depoimentos dos pais e mães acerca das brincadeiras que realizavam quando eram
crianças deram subsídios para a elaboração de questões que formaram a nossa REDE.
69
Parece interessante, não? Então, que tal você
agora formatar esse projeto no modelo sugerido?
Acredite, vai dar certo! Ao trabalho! Tudo será
uma simulação, nós iniciaremos e você dará
continuidade.
2. Problematização e levantamento de
hipóteses
____________________________________
____________________________________
____________________________________
____________________________________
____________________________________
____________________________________
____________________________________
____________________________________
____________________________________
70
5. Planejamento das ações:
Distribuição Formas de
das socialização
Estratégias atividades – Cronograma e de Avaliação
individual e registro das
coletivo informações
– Pesquisar
os tipos de
brincadeiras
e brinquedos
que os
adultos
vivenciavam
na sua
infância.
6. Culminância:
____________________________________
____________________________________
____________________________________
Concluído! Parabéns! Pedimos mais um pouco de sua atenção. Para encerrar nossa
discussão sobre os métodos de ensino, vamos revisar alguns pontos centrais.
71
– Os espaços internos (salas) garantem segurança e ausência de riscos.
O que pretendemos reafirmar aqui é que a forma de organização dos elementos no espaço
físico interfere, significativamente, na dinâmica do trabalho a ser realizado. A organização
do mobiliário, os materiais didáticos utilizados e a própria decoração da sala de aula
transformam-se em componentes curriculares. “O ambiente é, por si mesmo, um educador
tanto das crianças quanto dos adultos” (FORNEIRO apud ZABALZA,1998, p.241 – grifo
nosso). Ainda,
72
E quanto ao tempo? Em relação a esse elemento,
convidamos você para refletir sobre as rotinas
estáveis. Para tanto, pergunta-se: uma rotina
estável faz-se necessária na Educação Infantil?
Por quê? Registre suas ideias.
Vamos pensar juntos: Como se organizam nossas vidas? Tanto nós, os adultos, como as
crianças, nos organizamos no tempo e no espaço. Se não fosse assim, as nossas vidas
seriam um caos. Vivemos em sociedade e, como tal, para viver bem, precisamos nos
organizar temporalmente e espacialmente. Isso nos indica algo importante:
Qual seria, então, o ponto de partida para se pensar na organização do tempo da criança?
O ponto de partida são as necessidades de educação e o cuidado da criança. A criança
precisa se alimentar, dormir, brincar, tomar banho, relacionar-se com outras crianças,
explorar o mundo, enfim. Mas não podemos querer que todas as crianças durmam no
mesmo horário. Cada criança tem um ritmo e esse ritmo deverá ser respeitado. Por outro
lado, é adequado que o horário do sono seja o mais regular possível. E assim por diante.
Segundo Coutinho (1978), a rotina estável torna o mundo da criança mais estável e
previsível, o que lhe dá mais segurança. Mas, um alerta: quando falamos em rotina, não
estamos falando de uma rotina que aprisiona a criança, daquelas que a força a ficar horas e
horas sentadas, copiando ou desenhando. A criança precisa de movimento, precisa brincar!
A rotina deverá assegurar essa condição lúdica da criança se relacionar com o mundo.
Afinal, rotina ou não? Por incrível que possa parecer, é justamente a rotina que possibilitará
que a criança se situe melhor no tempo e no espaço. Então, cabe ao educador elaborar uma
rotina cuidadosa, que leva em consideração a faixa etária das crianças, suas necessidades
e possibilidades de concentração, atenção e interesses (PANNUTI, 2007).
73
Avaliação
Avaliação educacional? Você conhece algo mais polêmico? Além de polêmico, é assunto
bastante denso. São muitos os aspectos a serem considerados quando se trata do tema,
em especial, o como avaliar. Mas para iniciar de forma mais descontraída, leia a “piadinha”
que reservamos para você.
O boletim vermelho
– Meu filho! No meu tempo NOTA baixa era motivo para uma grande surra!
– Boa ideia pai!! Que tal pegarmos o professor amanhã na hora da saída?
Danado esse menino! Bom, mas pelo menos na Educação Infantil, estamos livres da
questão da nota e da aprovação e reprovação. No entanto, é preciso estar atento para não
reproduzir o modelo de avaliação mais comum que existe no espaço escolar: o modelo que
só valoriza o resultado final, o certo e o errado, o bem e o mal...
Uma avaliação bem presente na Educação Infantil tem sido a avaliação descritiva. Talvez,
a mais comum e, por isso, vamos nos centrar nela.
74
a) Ações do professor: registro de aspectos que apontam sua ação, por exemplo:
começamos a tirar as fraldas de algumas crianças.
b) Dimensões do desenvolvimento e da aprendizagem infantil: indicam o grau de
desenvolvimento e de aprendizagem das crianças, por exemplo: Ele sobe e
desce dos brinquedos, sem dificuldades.
c) Aspectos comportamentais: em praticamente todos os registros, são feitas
pontuações sobre às atitudes das crianças, do como se comportam, por exemplo:
Ela é muito participativa.
d) Preferências das crianças: outro aspecto bem presente nos registros, em que
são apontadas as preferências da criança, por exemplo: gosta muito de cantar e
dançar.
e) Sentimentos da professora: expressam os sentimentos da professora, por
exemplo: fico feliz com seu sucesso.
A autora (IDEM) aponta, entre outras coisas que:
– o registro é fundamental. Serve como suporte para o planejamento diário.
São documentos reais para subsidiar os pontos significativos da evolução da
aprendizagem e a definição das futuras práticas pedagógicas.
– a contradição entre o discurso e a prática é frequente. Os professores, teoricamente,
concebem a avaliação como formativa – parte integrante de todo trabalho pedagógico
–, mas demonstraram, nos registros, a ênfase na avaliação como um fim em si
mesma.
Agora que você conheceu um pouco mais sobre os registros avaliativos, nós o convidamos
para fazer um exercício. Relacione os registros com o aspecto que melhor lhe define.
1)
Carmem é uma criança sempre muito
participativa.
75
Está certo quem relacionou na seguinte sequência: 1 – 5 – 2 – 4 – 3.
Vamos juntos?
Qual é o elemento do plano que indica o desempenho esperado? Os objetivos? Sim, são
os objetivos. Então, precisamos retornar a eles, o tempo todo, a toda hora. Em que medida
eles estão sendo alcançados? Qual a relação existente entre a avaliação e os objetivos?
E quanto ao registro avaliativo? Ele só terá sentido se não reproduzir a prática equivocada
do registro final. Normalmente, a coordenação da escola estabelece um prazo para os
professores entregarem o registro avaliativo. O que acabam por fazer muitos desses
professores? Criam um texto-padrão e fazem pequenas alterações de um aluno para outro.
Ao contrário disso, os registros descritivos devem ser construídos de tal forma que:
A autora defende que não apenas a criança seja avaliada, mas todo o trabalho pedagógico.
Ainda, que o registro não se configure em uma avaliação final e pontual que retrata um
único momento da criança, mas uma avaliação processual, que precisa ser registrada
periodicamente.
Muito bem, chegamos ao final dos nossos estudos sobre os elementos do plano. Fechar um
capítulo é algo sempre difícil. Parece que ficaram coisas sem serem ditas, ou quem sabe,
foram ditas coisas demais... Pensando nisso, recorremos a Drumond...
76
Para (não) Finalizar
77
Deus que livre vocês de uma escola
em que tenham que copiar pontos.
78
Referências
ALMEIDA, P.N. Educação lúdica; técnicas e jogos pedagógicos. 6. ed. São Paulo:
Loyola, 1990.
ARANHA, Fábio. Ludicidade e história. Revista Nós na Escola. Ano 3, nº. 36, 2006.
Disponível em: <www.multirio.rj.gov.br/portal/_download/revista36.pdf>. Acesso em: 10
de julho de 2007.
BASSO, Cláudia de Fátima Ribeiro, CHAVES, Laura Cristina Peixoto. Educação infantil
de qualidade: direito das crianças e das famílias. Blumenau: Nova Letra, 2007.
BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho – pais bons o bastante. 18.ed. Rio de
Janeiro: Campus (cap. 14-15), 1989.
79
CÁSSIA Regina. Educação Biocêntrica – Vivenciando o desenvolvimento organizacional.
Fortaleza: Banco do Nordeste, 2003.
CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. Tradução: Guido de Almeida. São Paulo: Summus,
1987.
COELHO, Maria Teresa F.; PEDROSA, Maria Isabel. Faz de conta: construção e
compartilhamento de significados. In: OLIVEIRA, Zilma de M. Ramos., (Org). A criança
e seu desenvolvimento: perspectivas para se discutir a educação infantil. São Paulo:
Cortez, 2000.
Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. São Paulo: Folha de São Paulo:
Nova Fronteira, 1995.
FARIA A.L.G.; PALHARES M.S. (Orgs.). Educação infantil pós-LDB: Rumos e Desafios.
Campinas: Autores Associados, 1999.
FARIA, Ana Lúcia G. O espaço físico como um dos elementos fundamentais para uma
pedagogia da educação infantil. In: FARIA, A. L. G. & PALHARES, M. S. (org.). Educação
infantil pós LDB: rumos e desafios. Campinas, SP: Autores Associados – FÉ/UNICAMP;
São Carlos, SP: UFSCar; Florianópolis, SC: UFSC, 2003.
FORNEIRO, Lina Iglesias. A organização dos espaços na educação infantil. In: ZABALZA,
Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Trad. Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1998. p. 229-281.
FRANCO, C.; PIRES M. Liga-desliga. São Paulo: Companhia das letrinhas, 1992.
FRIEDMANN, Adriana. Brincar: uma viagem, muitos portos. Texto elaborado para
palestra da Associação Brasileira de Brinquedotecas - Maio de 2000 na PUC de São
Paulo. <http://www.aliancapelainfancia.org.br/biblioteca/textos/detalhe.asp?nt=12>.
Acesso em: 10 de jul. 2007.
80
FUSARI, J.C. O Planejamento do Trabalho Pedagógico: Algumas Indagações e
Tentativas de Respostas. Disponível em: <http://www.uepg.br/uepg_departamentos/
demet/disciplinas/ artigo%20Professor%20Fusari.pdf>. Acesso em: 01 de jul. 2007.
HUIZINGA, Johan. Homo ludens – O jogo como elemento da cultura. Tradução de João
Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 2001.
LOPES, Maria Helena. Brincar e criar. In: Olhares das Ciências sobre as Crianças.
Brasília: UNESCO, 2005
MACEDO, Lino de; PETTY, Ana Lúcia Sícoli; PASSOS, Norimar Christe. Os jogos e o
lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005.
81
MALUF, Angela Cristina Munhoz. Brincar na escola. Publicado em 01/01/2000.
Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=270>.
OLIVEIRA, Cristina Borges de. Sobre lazer, tempo e trabalho na sociedade de consumo.
Conexões, [sl.], [s.n.], v. 2, n. 1, 2004.
PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Trad. Por Dirceu Accioly Lindoso e Rosa Maria
Ribeiro da Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.
82
_____. A formação do símbolo na criança. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 1991.
REDIN, Euclides. O espaço e o tempo da criança: se der tempo a gente brinca. 4.ed.
Porto Alegre: Mediação, 2003.
REGO, Teresa Cristina. Brincar é coisa séria. São Paulo: Fundação Samuel,1992.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e infância: um guia para pais e educadores.
Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
_____. (org.). Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
TIMERMAN, Yeda. Brincar faz bem à saúde! Publicação: Outubro 2003, 18. ed.
Disponível em: <http://www.alobebe.com.br/site/revista/reportagem.asp?Texto=297>.
Acesso em: 12 de jul. 2007.
83
ZACHARIAS Vera Lúcia Câmara. A criança e o faz de conta. Centro de Referência
Educacional. Atualizado/maio/2007 Disponível em: <http://www.centrorefeducacional.
com.br/fazcont.htm>. Acesso em: 10 de julho de 2007.
Sites Consultados
<http://www.rosanevolpatto.trd.br/ciranda.html>
<http://www.tvcultura.com.br/aloescola/infantis/brincarebom/paiseprofessores.htm>
84