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UNIDADE I – FAMÍLIA, CRIANÇA E

ADOLESCENTE
Feito: Ver

A prevenção ao uso de álcool e outras drogas busca ajudar pessoas para que
evitem ou retardem o uso, de modo a impedir consequências mais graves. Ações
preventivas visam pela estabilidade, segurança, saúde e favorecem que o convívio
proporcione para crianças, jovens e adultos uma participação mais ativa e de forma
positiva nas atividades familiares, escolares, comunitárias e no trabalho (UNODC,
2013).

Com este propósito, o Governo do Estado do Ceará tem procurado difundir e


potencializar práticas de prevenção enquanto política pública. Nesta unidade,
destacaremos a importância da família como fator de proteção e quais estratégias a
serem realizadas na infância e adolescência.

Bons estudos!!!

Uso de álcool e outras drogas


O uso problemático de álcool é responsável, anualmente, por inúmeras
mortes no Brasil e no mundo. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), no ano de 2016, cerca de 3 milhões de pessoas
morreram em virtude do uso nocivo de álcool em todo o mundo, ou
seja, 5,3% de todas as mortes, evidenciando que o uso nocivo dessa
substância pode gerar doenças e agravar outras pré-existentes. Além
disso, o relatório também revela que os danos desse uso são ainda
maiores para pessoas mais pobres e suas famílias (WHO, 2018).
Estudos e pesquisas como essas são primordiais para que os
governantes possam planejar ações que viabilizem a promoção da
saúde por meio da redução de agravos decorrentes do uso nocivo de
substâncias lícitas ou ilícitas.  A prevenção é mundialmente uma das
políticas públicas mais adotadas na área de drogas, quer seja por meio
do controle da oferta ou por meio de estratégias proporcionadas pelo
acesso a serviços sociais e de saúde para as pessoas, pois oferece a
melhor relação custo-benefício para que haja a redução tanto do
consumo abusivo como de suas consequências (TATMATSU; SIQUEIRA;
PRETTE, 2020).

Prevenção x Família

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a


família é primordial para o desenvolvimento infantil através do vínculo,
agindo como base para o exercício pleno de potencialidades das
crianças e dos adolescentes (KALOUSTIAN,  2011). Ela proporciona um
espaço natural e privilegiado que garante a cada criança seus direitos,
se configurando como indispensável para o desenvolvimento e
proteção integral dos seus membros, favorecendo a socialização e o
aprendizado sobre tolerância, responsabilidades, além do exercício da
cidadania (KALOUSTIAN,  2011).

Desde a gestação é fundamental ampliar a oferta e a qualidade do


vínculo, pois desse modo tanto a mãe se prepara para  dar  um 
suporte  ao  seu  filho,  como auxilia  na  formação  da  moral  e 
personalidade dessa criança, fortalecendo o vínculo seguro  e
favorecendo a prevenção ao uso de álcool e outras drogas
(GONÇALVES et al., 2016). Muitas famílias apesar das dificuldades
enfrentadas durante toda a vida, alcançam a superação por meio da
resiliência e desenvoltura, demonstrando suas capacidades de ensinar
estratégias de não ceder ao uso abusivo de drogas passando a ser um
fator de proteção para os jovens, que vivem em situação de
vulnerabilidade ao uso e a violência (OPARA et al., 2019).

  

 Estratégia de Prevenção para a Primeira Infância


A Primeira Infância compreende do zero aos seis anos de idade, sendo
uma fase importante de desenvolvimento, pois é quando se estabelece
alicerces para toda a vida. Conforme foi dito acima, o fortalecimento
do vínculo é a principal ferramenta de prevenção que pode ser
utilizada pela família desde a primeira infância. O trabalho de
prevenção nessa fase não acontece explicando o que é um cigarro ou
bebida, e sim, com abordagens voltadas a um ambiente familiar sem
uso de substâncias, sem agressões e violência familiar. Em décadas
passadas, era muito comum ver pais realizando brincadeiras que
estimulavam crianças para o uso de bebida alcoólica, sendo uma
atitude incorreta e inviável na construção de um ambiente seguro. Hoje
este comportamento tem sido reduzido, entretanto muitos pais ainda
bebem na presença de crianças, o que pode levá-la a interpretações
equivocadas de algo positivo para o bem-estar e saúde do indivíduo.

Conforme o Manual de Normas Internacionais de Prevenção sobre


Drogas publicado em 2018, diversos estudos apontam que o uso de
álcool pela gestante, ou até mesmo nicotina e outras drogas, podem
atingir negativamente o feto em desenvolvimento, impedindo o
alcance de aptidões significativas, tornando a criança vulnerável ao
desenvolvimento de comportamentos negativos posteriormente,
podendo apresentar comportamento disruptivos, acessos de raiva ou
desobediência ainda mesmo na primeira infância, por volta dos 2 ou 3
anos de idade. (UNODC, 2018).

Conhecer esse Manual na integra através do link abaixo:

https://www.unodc.org/documents/prevention/standards_180412.pdf;

Para as crianças, o brincar de faz de conta, por exemplo quando


brincam de comidinha, proporciona a imaginação de algo, apesar de
não ser concreto naquele momento e favorece o desempenho de
habilidades para realizar ações independentes, potencializando seu
desenvolvimento, sendo importante o envolvimento de outras pessoas
para assumir papéis na brincadeira como estímulo a essas habilidades
(STAGNITTI, 2016).

As crianças sempre elegem suas brincadeiras e brinquedos preferidos e


o adulto deve se aproximar e observar de forma ativa e sensível,
buscando interagir e brincar com elas, assim, podem conhecer melhor
suas curiosidades, escolhas, maneiras de agir e ver mundo
reconhecendo as crianças da primeira infância como sujeitos
competentes com capacidade de aprender e que também podem
ensinar através de suas próprias experiências (SOMMERHALDER;
NICOLIELO; ALVES, 2016).

Vale ressaltar que, ao longo dos anos muitos aspectos foram se


modificando e gerando novos hábitos, tendo como exemplo as
guerras, o início da atividade industrial e a dinâmica das relações
familiares e extrafamiliares na sociedade, com isso, as mudanças nos
hábitos alimentares também aconteceram, observando-se a redução
do momento de refeições em família, que gera o elemento afetivo
central na alimentação, e proporciona encontro e trocas, importantes
para o convívio social (MACHADO et al., 2014).

Alguns outros fatores também precisam ser destacados, um, é sobre a


importância da música e da dança para o desenvolvimento da criança.
Vygotsky (1991, p. 97) já dizia, que as crianças quando brincam, ouvem
música e dançam, garantem o seu desenvolvimento possibilitando a
prática de exercícios de funções e papéis para os quais ainda não estão
aptas, imitando comportamentos mais avançados de outro
semelhante.

Outro ponto, é sobre o uso de telas e o espaço que está ganhando na


vida das crianças, bem como os efeitos que o uso das novas
tecnologias da informação e comunicação (NTICs) podem ocasionar.
Santos e Barros (2017), ao buscar entender o exagero das crianças com
os eletrônicos, destacam que há uma falta e não um excesso, pois as
tecnologias têm preenchido o lugar de algo faltante, quer seja um
espaço vazio, ou uma presença, tendo em vista que ao desligar as luzes
das telas, surge a reflexão sobre o que está por trás da tela.

O quadro abaixo ilustra as principais atividades a serem desenvolvidas


com as crianças, conforme a faixa etária.

Gestação e o primeiro mês de vida 1 a 2 anos


Durante a gravidez deve-se ouvir músicas Esconde-esconde; Ne
tranquilas, conversar com o bebê/a criança, e fre
praticar atividades físicas que não gerem Cantar;
impactos. Na
Dançar; cri
des
Bater palma; bri
O bebê gosta muito quando:
Rolar no chão; Af
- Conversa com ele; nes
Imitar as pessoas; ac
- Canta baixinho, esc
Brincar com caixas vazias de tamanhos
- Olha nos seus olhos, variados; Embalagens vazias e limpas, Alé
transformadas em brinquedos; cri
- Toca e massageia seu corpo de forma
respeitosa. Além de ouvir várias vezes as mesmas -E
histórias.
-M
Obs.: Nessa fase é importante que o bebê -E
seja cuidado na maior parte do tempo pela
mesma pessoa, para reconhecer quem cuida
dele, passando-lhe segurança e conforto. Obs: O que parece bobo para você, para a
criança é novo!
Kit Família Fortalecida – Unicef (2013).

 
Estratégia de Prevenção para a Adolescência   
 

Assim como discutimos para infância, o ambiente familiar também


desempenha um papel importante para os adolescentes gerando
reflexos na vida adulta, principalmente em relação ao estilo de vida e
saúde. Compreender um pouco sobre essa etapa, antes da abordagem
de fatores de proteção para esse grupo, é primordial para a reflexão
sobre a importância do cuidado.

Após a infância, a adolescência vem como uma etapa da vida onde a


exposição a agentes externos, novas ideias e comportamentos surgem
para além dos já encontrados na infância. É uma fase onde se busca
conhecer um pouco mais sobre as funções e responsabilidades da vida
adulta, objetivando ter a liberdade para algumas ações pertencentes
aos adultos, entretanto, vale ressaltar que mudanças significativas
estão ocorrendo no cérebro do adolescente algumas decisões podem
ser prejudiciais. Nesse momento, a presença constante da rede familiar
é fundamental para que comportamentos positivos, atitudes saudáveis
e crenças normativas sociais seguras venham a agir como fatores de
proteção quanto ao uso de drogas (UNODC, 2018).

Os adolescentes associam o uso de álcool e outras drogas a problemas


pessoais e sociais, ao mesmo tempo que variáveis ambientais,
biológicas, psicológicas e sociais atuam influenciando uma tendência
ao uso dessas substâncias (TARGINO; HAYASIDA, 2018). Para que essa
tendência não se agrave, a rede de apoio desse adolescente é um fator
de proteção e possibilita menor tendência ao uso.

Abaixo, temos um quadro de demonstração sobre os fatores que


podem favorecer ao uso, bem como os que podem proporcionar
proteção, promovendo o desenvolvimento de competências e
habilidades para que os adolescentes se tornem mais assertivos na
tomada de decisões.

FATORES DE RISCO FATO


Fatores individuais: sintomas de depressão, ansiedade e insegurança; Fatores individuais: vín
Fatores familiares: pais ou irmãos usuários de drogas e violência ou
conflitos familiares;
Fatores familiares: envo
Fatores escolares: baixo desempenho e exclusão; familiar

Fatores sociais: violência e falta de trabalho e lazer; Fatores escolares: bom


pares;
Fatores relacionados às drogas: disponibilidade da droga e a mídia.
Fatores sociais: lazer, c

Fatores relacionados às
uso e seus efeitos.
FONTE: Macedo et al. (2014); Ferro e Meneses-Gaya (2015).

Os fatos que norteiam sobre os fatores de risco e proteção, não são


fáceis de se analisar pela multifatoriedade envolvida, mas é importante
compreender que esses fatores não são estáticos, podendo variar de
indivíduo para indivíduo e conforme  a cultura e o momento social
vivido, trazendo a reflexão que o risco para uma pessoa, pode não ser
para outra e assim sucessivamente (TARGINO; HAYASIDA, 2018).

Diante do exposto, finaliza-se a primeira unidade e espera-se que


tenha ficado uma melhor compreensão acerca da prevenção para este
grupo específico e suas estratégias voltadas ao distanciamento do uso
problemático de álcool e outras drogas.

  

REFERÊNCIAS
 

FERRO, L.; MENESES-GAYA, C. (2015). Resiliência como fator protetor


no consumo de drogas entre universitários. Saúde e Pesquisa, 2015, v.
8, 139-149.

Macedo, J., Aygnes, D., Barbosa, S., & Luis, M. (2014). Concepções e
vivências de estudantes quanto ao envolvimento com substâncias
psicoativas em uma escola pública de Ribeirão Preto, São Paulo,
Brasil. Ciencia y Enfermeria, v. 3, p.95-107.    
MACHADO, Isabel Kasper; BECKER, Débora; CAMPOS, Débora Martins
de; WENDT, Guilherme Welter; LISBOA, Carolina Saraiva de Macedo.
Repercussões do cenário contemporâneo no ato de compartilhar
refeições em família. Psicologia Argumento, [s.l.], v. 32, n. 76, p. 117-
127, 24 nov. 2017. Pontificia Universidade Catolica do Parana - PUCPR.
http://dx.doi.org/10.7213/psicol.argum.32.076.ao07.

OPARA, Ijeoma; LARDIER, David T.; REID, Robert J.; GARCIA-REID,


Pauline. “It All Starts With the Parents”: a qualitative study on protective
factors for drug-use prevention among black and hispanic girls.: A
Qualitative Study on Protective Factors for Drug-Use Prevention
Among Black and Hispanic Girls. Affilia, [s.l.], v. 34, n. 2, p.

SANTOS, C. C.; BARROS, J. F. Efeitos do uso das novas tecnologias da


informação e comunicação para o desenvolvimento emocional infantil:
uma compreensão psicanalítica. Psicologia Pt. 2017. Disponível
em: https://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0435.pdf Acesso em: 25
de mai 2020.

SEIXAS GONÇALVES, B.; CARDOSO DE OLIVEIRA JÚNIOR, W.; VIDOTTI


CASTRO CORREA, C.; GOMES SANTOS MORAES, C.; SILVA ALVES, M.;
SILVA DE LUCCA, M.; DAVID HENRIQUES, B. O vínculo mãe e filho no
período gestacional como estratégia de prevenção do uso de álcool e
outras drogas: relato de experiência em extensão. Revista ELO –
Diálogos em Extensão, v. 5, n. 2, 28 nov. 2016.

STAGNITTI, K. Play therapy for school-age children with high


functioning autism. In: DREWES, A.; SCHAEFER, C. (Eds.). Play therapy
in middle childhood. New York: American Psychological Association,
2016. p.237-255.

SOMMERHALDER, Aline; NICOLIELO, Maria Elisa; ALVES, Fernando


Donizete. Participação pedagógica no brincar de um grupo de crianças:
o que revelam os fazeres docentes em contexto de educação
infantil? Revista Ibero-americana de Estudos em Educação,
Araraquara-SP, Brasil, v. 11, n. 2, p. 1-21, jun. 2016. Disponível
em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/
8485/5817 Acesso em: 27 mai 2020.
TARGINO, Raquel; HAYASIDA, Nazaré. Risco e proteção no uso de
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Doenças, Lisboa, v.19, n.3, p.724-742,  dez.  2018. Disponível
em http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S164500862018000300020&lng=pt&nrm=is Ac
esso em:  11  mai  2020.

TATMATSU, Daniely Ildegardes Brito; SIQUEIRA, Carlos Eduardo;


PRETTE, Zilda Aparecida Pereira Del. Políticas de prevenção ao abuso
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Janeiro,  v. 36, n. 1,  e00040218,    2020 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X2020000103001&lng=en&nrm=iso>. access on  26  May  2020.
Epub Dec 20, 2019.  https://doi.org/10.1590/0102-311x00040218. 

KALOUSTIAN, Silvio Manoug Kaloustian. Família brasileira: a base de tudo. 10ª


edição. São Paulo: Cortez/UNICEF, 2011.

UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME – UNODC. Normas


internacionais sobre a prevenção do uso de drogas. Viena: UNODC, 2013.
Disponível
em: https://www.unodc.org/documents/lpobrazil/noticias/2013/09/UNODC_Norma
s_Internacionais_PREVENCAO_portugues.pdf

VIGOSTSKY, L. S. A formação social da mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,


1991.

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Global status report on alcohol and


health 2018: executive summary. Geneva: WHO, 2018. Disponível
em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/312318.
UNIDADE II – Mulher
Feito: Ver

Atualmente, os problemas relacionados ao


uso de drogas vêm acometendo grupos com características
heterogêneas (ZILBERMAN; HOCHGRAF; ANDRADE, 2003), e reduzindo
a diferença entre os gêneros (SANTOS; GAVIOLI, 2016).

O apelo dos meios de comunicação influencia de forma negativa a


iniciação e a permanência do consumo de drogas no público feminino
(MEDEIROS; MACIEL; SOUSA, 2017), pois frequentemente estão
veiculando associação do consumo com beleza, sedução, ascensão
profissional e enriquecimento. Além da mídia, também há outros
fatores desencadeantes como família, pares, escolas e comunidade de
convivência.

Estima-se que 20% das mulheres façam uso regular de algum tipo de droga de abuso
tabaco ou baseados). As drogas lícitas mais usadas na gestação são álcool e tabaco e a
Segundo a OMS, 3,2% das mulheres brasileiras apresentam algum transtorno relacio
diagnóstico de dependência (SANTOS; GAVIOLI, 2016).
Assim, a Unidade II deste curso vem apresentar diversas informações
relevantes quanto ao uso e abuso de drogas em mulheres, com
destaque para o período gestacional e puerpério, fase de maior
cuidado na vida feminina por estar gerando uma nova vida.

CONSUMO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NO PÚBLICO FEMININO

Para uma melhor compreensão de alguns dados, que serão apresentados, define-se uma dos
aproximadamente, 14 g de álcool, quantidade presente em: uma latinha de cerveja; uma ga
vinho; uma garrafa de ice; ou uma dose de cachaça (ou outros destilados) e binge drinking
ou mais doses, para homens, ou quatro ou mais doses, para mulheres (III LNUD 2017).
O consumo nocivo de álcool causou, em 2016, cerca de 3 milhões de
mortes no mundo (5,3% de todas as mortes) e os principais fatores que
contribuíram para a mortalidade atribuíveis ao álcool nos homens
foram lesões, doenças relacionadas a distúrbios digestivos e
transtornos relacionados ao álcool, enquanto nas mulheres foram
doenças cardiovasculares, doenças digestivas e trauma (WHO, 2018).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem destacado que a


quantidade de mulheres consumidoras de álcool no mundo é menor
em relação aos homens, quando bebem consomem menos que os
homens, entretanto o número absoluto de mulheres que bebem
atualmente tem aumentado no mundo (WHO, 2018).

As mulheres vêm apresentando maiores índices de aumento de


consumo e uso de forma mais nociva e o Quadro 1 abaixo, traz dados
que demonstram esse aumento:

Quadro 1. Dados relacionados ao uso de álcool em mulheres. I e II


Levantamento Nacional sobre Álcool e Drogas – LENAD. 2006 e 2012.

Mulheres I LENAD 2
Em uso de álcool 29%
Com padrão beber em binge drinking 36%
Experimentaram bebida alcoólica com menos de 15 anos 8%
No III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População
Brasileira – III LNUD, realizado em 2017, demonstrou que a prevalência
do uso de bebidas alcoólica nos últimos 30 dias, pela população
brasileira, foi de 30,1% e do consumo em binge foi 16,5%, além de
38,4% nos indivíduos que fizeram uso de álcool nos últimos 12 meses.
Destacou ainda que a idade do primeiro uso do álcool é em média de
15,7 anos para homens e 17,1 anos para mulheres. Abaixo, encontra-se
o Quadro 2, com informações específicas relacionadas ao consumo de
álcool e outras drogas pelas mulheres conforme o III LNUD .

Quadro 2. Prevalência de consumo de bebidas alcoólicas, cigarros e


medicamento não-prescrito e substâncias psicoativas ilícitas em mulheres,
conforme o III LNUD, 2017.

I
Na vida
Consumo de bebidas alcoólicas 59,0%
Em binge
Média de idade do 1º uso álcool
Consumo de cigarros industrializados 28,4%

Média de idade do 1º uso cigarro industrializado

Uso de qualquer medicamento de forma não-prescrita 9,4%


Média de idade do 1º uso de medicamento de forma não-
prescrita
Uso de alguma substância ilícita 5,2%

Média de idade do 1º uso substância ilícita

Fonte: ICICT, Fiocruz, 2017.

O III LNUD traz que o consumo de cigarro ainda continua frequente


nas mulheres, embora seja mais consumido por homens (18,4% nos
últimos 12 meses e 16,2% nos últimos 30 dias), com idade média do
primeiro uso de 15,1 anos em homens e 14,9 anos em mulheres, ou
seja, na adolescência. Quanto ao uso de qualquer medicamento de
forma não-prescrita, foi reportado o uso mais frequentemente entre as
mulheres do que entre os homens (2,0% nos últimos 12 meses e 0,7%
nos últimos 30 dias) (ICICT, Fiocruz; 2017).

Ao observarmos o gráfico abaixo sobre a prevalência do consumo de


tabaco entre adultos por gênero, observou-se uma queda do número
de fumantes, sendo essa queda mais expressiva nos homens (queda de
5,7 pontos percentuais) do que nas mulheres (queda de 2,3 pontos
percentuais), de 2006 a 2012.

Gráfico 1: Prevalência do consumo de tabaco entre adultos por


gênero:
Fonte: II LENAD, 2014.

Muitas são as abordagens na literatura sobre a relação de depressão e


problemas com consumo de álcool, e o II LENAD mostrou que a
depressão é significativamente maior entre abusadores de álcool,
seguido dos usuários de cocaína e maconha (ver Gráfico 2). Este
levantamento detectou ainda que 5% dos brasileiros já tentaram tirar a
própria vida, destes, em mais de dois a cada dez casos (24%), a
tentativa estava relacionada ao consumo de álcool (II LENAD, 2014)

Gráfico 2: Prevalência de indivíduos com indicadores para depressão


entre a população geral, com abuso e/ou dependência de álcool
(DSM-IV), consumidores de maconha (uso no último ano) e
consumidores de cocaína (uso no último ano), por gênero.
Fonte: II LENAD, 2014.

PREVENÇÃO AO USO E ABUSO DE ÁLCOOL E


OUTRAS DROGAS
Os dados apresentados relacionados ao público feminino, traz a
reflexão da necessidade de se trabalhar cada vez mais estratégias
baseada em evidências científicas sólidas. Estratégias de prevenção
além de prevenirem o uso de álcool e outras drogas, favorecem o
fortalecimento de vínculos familiares, promoção da saúde e
conscientização para uma vida mais saudável, contribuindo para o
bem-estar da mulher e das pessoas que convivem com ela. Nessas
estratégias deve-se ressaltar que o uso de álcool e outras drogas
durante a gestação e puerpério interferem na saúde e
desenvolvimento do seu bebê.

A prevenção ao uso de drogas visa a uma atitude responsável com


relação a elas, devendo considerar que o uso de drogas é um
problema pessoal, social, cultural, entre tantos que permeiam esse
tema, sendo importante cada vez mais cuidar da vida, reduzindo
vulnerabilidades que levam ao adoecer (BUCHELE; COELHO; LINDNER,
2009).

Antes da realização de qualquer estratégia, é fundamental que seja realizado um diagnóstic


considerando os contextos histórico, sociocultural e econômico, bem como a realidade de c
permanecer. Uma parceria intersetorial é extremamente necessária. Sabe aquele lema “junt
Você precisa ganhar a confiança da população que você está atuando,
e não funciona você chegar reprimindo, assustando e amedrontando
com muita informação, tendo em vista que os modelos de atenção
baseados em práticas repressivas e de terror, ou na criminalização
excessiva, enfatizando ao usuário que " não use drogas", " tenha medo
das drogas", não favorecem a atuação nos níveis preventivos e de
tratamento (BUCHELE; COELHO; LINDNER, 2009).
 

Sugere-se abordagens de concepções baseadas em aspectos mais


saudáveis de viver, prevenção em sentido mais amplo. Propõe-se
realizar estratégias que desenvolvam a auto-estima, a capacidade de
lidar com tensões, frustrações e angústias, a habilidade de decidir e
interagir em grupo, a comunicação verbal e expressão não verbal e a
capacidade de resistir a pressões (BUCHELE; COELHO; LINDNER, 2009).
Isso deixar a pessoa mais segura para que possa tomar decisões
racionais sobre o uso ou não de drogas.

Uma sugestão é realizar dinâmicas durante os encontros de prevenção.


Dinâmicas ou energizadores que são atividades interativas
desenvolvidas para transmitir com clareza o que se quer passar,
buscando a concentração e atenção dos participantes para a atividade,
com foco em atingir um objetivo comum.

Durante as atividades podemos identificar o conhecimento, a


característica comportamental e emocional de cada integrante e ter
uma melhor noção de como se aproximar e se comunicar com as
ideias e sugestões dos mesmos; além de contribuir para ter
um feedback se o conteúdo transmitido foi assimilado, ou até resumir e
reforçar as informações passadas.

É uma oportunidade de realizar momentos de descontração,


desinibição, interação, motivação entre outros, além de promover uma
troca de experiências e boa relação entre os participantes.

Nas dinâmicas ou energizadores é importante enfatizar um caráter


mais lúdico que envolva jogos, desafios, resolução de problemas, entre
outros meios. Hoje com o fácil acesso a internet conseguimos ter um
leque de atividades simples, de baixo custo e que podem ser
trabalhadas com diversos públicos e temas. 
POLÍTICAS SOBRE DROGAS E ATENÇÃO À
GESTANTE

O cuidado a gestantes dependentes de álcool e outras drogas é


complexo, difícil e exige um preparo especial por parte das pessoas
que prestam atenção e cuidado a esse público, devendo os
profissionais estar conscientes das características únicas, tanto
psicológicas quanto sociais, assim como com as questões éticas e
legais destes comportamentos (BRASIL, 2012).

Muito são os fatores de risco que podem direcionar a mulher a fazer


uso abusivo de substância psicoativa durante uma gestação. São eles:
autoestima baixa, sistemas de apoio inadequados, baixas expectativas
para si própria, níveis altos de ansiedade, barreiras socioeconômicas,
envolvimento em relacionamentos abusivos, sistemas familiar e social
caóticos e história pregressa de doença psiquiátrica ou depressão, bem
como alívio da ansiedade e sentimentos de desesperança (RICCI, 2013).

A principal barreira de entrada no tratamento para as mulheres


dependentes, em geral, é o preconceito e a censura que sofrem da
sociedade e dos profissionais de saúde. Quando estão grávidas, esse
preconceito só aumenta, dificultando um pedido de ajuda. A
consequência é a ausência de acompanhamento pré-natal. Quando
passam pelo acompanhamento, não se sentem à vontade para relatar
seu problema com drogas (BRASIL, 2012). Muitas temem o sentimento
de vergonha ou medo de serem denunciadas para as autoridades
legais ou de proteção à infância (RICCI, 2013).

Assim, uma equipe cuidadora e bem preparada, ao identificar uma gestante com essa prob
consiga uma abstinência completa e duradoura de todas as drogas, tendo em vista que
sensibilização ao tratamento, pois a mulher, na maioria dos casos, mesmo não tendo d
prejudicá-lo (BRASIL, 2012). A relação de confiança também poderá ser um fator motiva
tratamento.
É preciso esclarecer para a mulher que tudo que entra no seu corpo
passa para o bebê através da corrente sanguínea e da placenta,
principalmente substâncias químicas. A placenta atua como um
mecanismo de transporte ativo, não como uma barreira. Assim, passam
substâncias da mãe para o feto, podendo interferir no seu crescimento
e desenvolvimento e aumentando o risco de desfechos ruins para o
neonato (RICCI, 2013)

Torna-se importante que as gestantes sejam envolvidas num ambiente


de imparcialidade e orientações justas, independente do seu estilo de
vida, pois poderão se sentir “seguras” e responder, honestamente, às
perguntas de avaliação, contribuindo para que sejam instituídas
medidas preventivas e até que sejam encaminhadas para tratamento
(RICCI, 2013). O incentivo, o elogio e a autoestima devem ser
adicionados ao acompanhamento da gestante (ORSHAN, 2010). A
chave do sucesso é não fazer juízo de valor. Com isso, a cliente estará
apta a confiar e revelar padrões de uso abusivo, se o profissional não
julgar suas escolhas de estilo de vida (RICCI, 2013).

Uso de álcool na gestação/puerpério

O alcoolismo em mulheres tem aumentado na faixa de maior


fertilidade e a questão do uso de drogas durante a gestação é a mais
delicada, pois o álcool é uma substância que atravessa rapidamente a
barreira placentária, além de também passar para o leite materno,
fazendo com que o feto e o recém-nascido tenham maior dificuldade
em livrar-se do álcool porque o fígado não está amadurecido (BRASIL,
2012). Aproximadamente, 10% das gestantes relatam o uso de álcool
(RICCI, 2013).

O álcool é uma substância tóxica para o desenvolvimento humano.


Assim, quando a gestante bebe, seu embrião ou feto é exposto à
mesma concentração sanguínea de álcool que ela. Nenhum consumo
de álcool é considerado seguro durante a gravidez. A lesão do feto
pode ocorrer em qualquer estágio da gravidez e os defeitos cognitivos
e problemas comportamentais decorrentes da exposição pré-natal são
vitalícios (RICCI, 2013)

O dano na criança varia segundo o chamado QFT: Q – quantidade de


álcool consumida, F – frequência de consumo e T – timing ou
momento da idade gestacional em que o álcool foi consumido. Após
40-60 minutos de ingestão de álcool por uma gestante, a concentração
de álcool no sangue fetal fica equivalente à concentração de álcool no
sangue da mãe (BRASIL, 2013)

Mesmo uma dose de álcool por semana está associada com a


possibilidade de dificuldades mentais. O recém-nascido de uma
alcoolista provavelmente irá mamar pouco e será irritável,
hiperexcitado e hipersensível, sentindo tremores e fraqueza muscular,
além de ter uma alteração do padrão de sono, transpirar muito e ter
apneia (não conseguir respirar adequadamente) (BRASIL, 2013).

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é um conjunto de anomalias


congênitas físicas, mentais e neuro comportamentais vitalícias, porém
completamente evitáveis (RICCI, 2013); e consiste numa combinação
qualquer dos seguintes componentes: baixo peso para a idade
gestacional, malformações na estrutura facial (fendas palpebrais
menores, pinte nasal baixa e filtro ausente), defeitos no septo
ventricular cardíaco, malformação das mãos e pés (especialmente
sindactilia), além de retardo mental que varia de leve a moderado;
além de problemas no comportamento e aprendizado que podem
persistir pelo menos durante a infância (BRASIL, 2012).

A síndrome de abstinência é outro sintoma bem frequente


manifestado no recém-nascido logo após o parto, podendo levar à
morte repentina após horas de vida e que nem sempre é devidamente
diagnosticada (BRASIL, 2013).
Podemos destacar alguns fatores de risco para um neonato ser afetado
pelo álcool como: idade materna, nível socioeconômico, etnia, fatores
genéticos, depressão, desorganização familiar, gestação não planejada
e metabolismo materno (RICCI, 2013).

Problemas cognitivos e comportamentais frequentes associados ao transtorn



o Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
o Incapacidade de prever as consequências
o Incapacidade de aprender a partir de expectativas prévias
o Falta de organização
o Dificuldade de aprendizagem
o Baixo raciocínio abstrato
o Baixo controle de impulsos
o Problemas na fala e na linguagem
o Mau julgamento

FONTE: RICCI (2013, p. 509)

Uso da Cafeína na gestação/puerpério


A cafeína é um estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC) e está
presente em teores variáveis em produtos como café, chá, refrigerantes
e chocolate, bem como em remédios para resfriado e analgésicos.
Embora ainda não tenha ocorrido associação entre anomalias
congênitas e o consumo de cafeína, o consumo materno de café
diminui a absorção de ferro e pode aumentar o risco de anemia
durante a gravidez. A Food and Drug Administration (FDA) recomenda
a eliminação ou limitação do consumo de cafeína para menos de
300mg/dia (três xícaras de café ou refrigerante) em mulheres gestantes
(RICCI, 2013).

A nicotina encontrada no cigarro é outra substância lesiva para a


gestante e o feto, pois provoca vasoconstricção, atravessa a placenta e
reduz o fluxo sanguíneo ao feto, contribuindo para a hipóxia fetal
(RICCI, 2013).

As mulheres que fumam durante a gravidez continuam a fumar após o


parto. Assim, o bebê continuará exposto à nicotina. A exposição
ambiental ou passiva impacta sobre o desenvolvimento da criança,
aumentando o risco de transtornos respiratórios infantis (RICCI, 2013) e
contaminando o leite materno (ANDRADE; ÁVILA, 2003). Até com mais
idade, entre sete e 11 anos, podem surgir efeitos nocivos psicomotores
(ANDRADE; ÁVILA, 2003).

Vale ressaltar que os cigarros mais baratos possuem um maior teor de


substâncias tóxicas. Ao fumar até o final do cigarro, a toxidade
aumenta à medida que a brasa se aproxima dos lábios. A segunda
metade do cigarro é mais venenosa que a primeira. Diante do grande
número de mulheres fumantes, calcula-se que 750 mil bebês nascidos
anualmente no Brasil são vítimas da intoxicação pelo tabagismo
materno (ANDRADE; ÁVILA, 2003).

Uso de outras drogas na gestação/puerpério


O uso de drogas ilícitas acarreta riscos à gravidez, ocasionando
consequências negativas ao feto em desenvolvimento como:
problemas de saúde física, desnutrição e susceptibilidade a infecções
(BRASIL, 2012); e a mulher pode ter abortamento espontâneo ou parto
prematuro (ou natimorto) ou desenvolver hipertensão induzida pela
gravidez, hemorragia ou descolamento prematuro da placenta
(BRANDEN, 2000).

Um grande problema para a avaliação dos efeitos diretos das drogas


ilícitas sobre o feto é a grande quantidade de fatores de risco
sociodemográficos, psicossociais, comportamentais e biológicos que se
relacionam com as drogas e com as consequências da gravidez
quando indesejada, tais como pobreza, falta de cuidado pré-natal,
infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), desnutrição, entre outros
(BRASIL, 2012).

O uso de cocaína pode ocasionar restrição de crescimento intrauterino,


como consequência da vasoconstricção materna, com trabalho de
parto prematuro e com a ruptura prematura de membranas, embora
alguns estudiosos também acreditem proporcionar baixo peso ao
nascer, baixa estatura, diminuição da circunferência da cabeça e
alterações neurocomportamentais (BRASIL, 2012).

O crack, ao ser consumido na gestação, chega à corrente sanguínea e


eleva o risco de complicações tanto para a mãe quanto para o bebê.
Ao ser consumido no puerpério, passa pelo leite materno. Para a
gestante, aumenta o risco de descolamento prematuro de placenta,
aborto espontâneo e redução da oxigenação uterina. Para o bebê,
pode reduzir a velocidade de crescimento fetal, o peso e o perímetro
cefálico (diâmetro da cabeça) ao nascimento, com riscos de má-
formação congênita, morte súbita da infância, alterações do
comportamento e atraso do desenvolvimento (BRASIL, 2013).

No caso de opioides (ex: morfina, heroína, codeína, metadona,


meperidina), a abstinência é mais perigosa para o feto que para a mãe,
devendo a abstinência na mãe ser completada no segundo trimestre
ou, caso contrário, é preferível retirar gradualmente os opioides do
recém-nascido (BRASIL, 2012). Para as mulheres que abusam de
opiáceos ou de heroína, pode-se recomendar um programa de
abstinência controlada da droga, com administração de metadona,
pois a abstinência abrupta não é recomendável durante a gravidez
devido aos riscos de convulsões, hipóxia e morte fetais (BRANDEN,
2000). Assim, poderá ser realizada uma redução gradual que permita
que a mulher não sofra complicações obstétricas ou de abstinência
(ORSHAN, 2010).

O rastreamento toxicológico da urina pode ser útil para identificar o


uso de drogas, embora identifique somente o consumo recente ou
intenso da substância. Abaixo se encontra o intervalo de tempo que
uma droga permanece na urina (RICCI, 2013):

 Cocaína: 24 a 48h em adultos e 72 a 96h em bebê;


 Heroína: 24h em adultos e 24 a 48h em bebê;
 Maconha: 1 semana a 1 mês em adultos e até 1 mês ou mais em
bebê;
 Metadona: até 10 dias em bebê. 

Importante destacar

A mulher que afirma não ter feito uso de drogas durante a gravidez pode não ter consciênc
o cabelo, refrigerante diet, medicações de venda livre para resfriado ou cefaleia também sã
dificultar um quadro verdadeiro do uso real de drogas pelas gestantes (RICCI, 2013).

Muitas medicações são consideradas teratogênicas, ou seja, podem causar defeitos físicos n
Vale destacar que gestantes usuárias de substâncias psicoativas geralmente consomem vári
agressivo do que o uso de uma única substância e dificultar a determinação do que causou
2013).
  

O que devemos fazer ao se deparar com casos de


gestantes usuárias de drogas?
 

 Encorajá-la para fazer parte de um programa de reabilitação de


drogas, a fim de controlar seu problema de abuso das drogas;
 Proporcionar orientações nutricionais e informações sobre
suplementos de ferro e vitaminas que podem ser prescritos;
 Estimulá-la a comparecer às consultas marcadas, quando forem
necessárias;
 Informá-la de que poderá ser preciso fornecer uma amostra de
urina para rastreamento toxicológico em cada consulta, a fim de
detectar a presença, o tipo e a quantidade da droga usada
abusivamente (ver possibilidade desse exame no território de
atuação);
 Estabelecer uma relação de confiança sincera e sem julgamentos
com a paciente para que ela entenda que a equipe de saúde

deseja proporcionar a  assistência mais eficaz


e segura para si própria e para seu bebê;
 Deixar claro para que a gestante entenda que se espera que ela
desempenhe um papel ativo e honesto em sua própria
assistência.
 Esclarecê-la acerca dos efeitos prejudiciais das várias drogas para
si própria, para o feto e recém-nascido e informar para a
gestante que seu filho recém-nascido terá sintomas de
abstinência e será tratado como dependente, após o nascimento;
 Explicar à gestante os motivos, as causas, os sinais das infecções
relacionadas com o uso de drogas intravenosa e que essas
infecções podem ser perigosas para si própria e para o feto;
 Promover a nutrição adequada e, caso seja necessário, a mulher
deve consultar um(a) assistente social, para determinar a
elegibilidade dela para receber algum benefício referente a
transferência de renda, cesta básica, leite, etc;
 Proporcionar informações quanto aos cuidados neonatais,
durante as sessões de aconselhamentos individuais ou sessões e
grupo (BRANDEN, 2000).

Não deixe de ler!


 Nota Técnica Conjunta MDS/MSaúde N° 001/2016 Assunto:
Diretrizes, Fluxo e Fluxograma para a atenção integral às
mulheres e adolescentes em situação de rua e/ou usuárias de
álcool e/ou crack/outras drogas e seus filhos recém-
nascidos. http://www.mds.gov.br/webarquivos/legislacao/bolsa_f
amilia/nota_tecnica/nt_conjunta_01_MDS_msaude.pdf

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Januário de; AVILA, Walkiria Samuel. Doença
cardiovascular, gravidez e planejamento familiar. São Paulo: Editora
Atheneu, 2003. 511p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto
risco: manual técnico. 5. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde,
2012. 302 p.

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre


Drogas – SENAD. Prevenção do uso de drogas: capacitação para
conselheiros e lideranças comunitárias. 5. ed. – Brasília: SENAD, 2013.
450 p.

BRANDEN, PennieSessler. Enfermagem materno-infantil. 2 ed.


Tradução: Carlos Henrique Cosendey. Revisão Técnica: Maria Isabel
Sampaio Carmagnani. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores,
2000. 524p.

BUCHELE, Fátima; COELHO, Elza Berger Salema; LINDNER, Sheila Rubia.


A promoção da saúde enquanto estratégia de prevenção ao uso das
drogas. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 267-
273, Feb.  2009.   Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S141381232009000100033&lng=en&nrm=iso .
Acesso: 12 mai 2020.

FUNDACAO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ. Instituto de Comunicação e


Informação Científica e Tecnológica em Saúde. III Levantamento
Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira – III LNUD.

I Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo de álcool na


população brasileira / Elaboração, redação e organização: Ronaldo
Laranjeira ...[et al.] ; Revisão técnica científica: Paulina do Carmo Arruda
Vieira Duarte. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2007. Disponível
em: http://inpad.org.br/wp-content/uploads/2013/03/BNAS.pdf

II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) – 2012. Ronaldo


Laranjeira (Supervisão) [et al.], São Paulo: Instituto Nacional de Ciência
e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD),
UNIFESP. 2014. Disponível
em: https://inpad.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Lenad-II-Relat
%C3%B3rio.pdf

MEDEIROS, Katruccy Tenório; MACIEL, Silvana Carneiro; SOUSA, Patrícia


Fonseca. (2017). A mulher no contexto das drogas: representações
Sociais de Mulheres Usuárias de Drogas. Paidéia, v. 27, Suppl. 1, 2017.
p.439-447. Disponível
em: https://www.scielo.br/pdf/paideia/v27s1/1982-4327-paideia-27-s1-
439.pdf

ORSHAN, Susan A. Enfermagem na saúde das mulheres, das mães e


dos recém-nascidos: o cuidado ao longo da vida. Tradução: Ana
Thorell, Celeste Inthy, Regina Machado Garcez. Revisão Técnica: Ana
Lúcia de Lourenzi Bonilha, Ane Marie Weissheimer. Porto Alegre:
Artmed, 2010. 1152p.
RICCI, Susan Scott. Enfermagem materno-neonatal e saúde da
mulher. Tradução: Maria de Fátima Azevedo. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013. 712p.

SANTOS, Rubia Mariana de Souza; GAVIOLI, Aroldo. Risco relacionado


ao consumo de drogas de abuso em gestantes. Rev Rene. 2017 jan-
fev; 18(1):35-42. 2016

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Global status report on


alcohol and health 2018: Executive summary. 2018. Disponível
em: https://www.who.int/substance_abuse/publications/global_alcohol_
report/en/ Acesso em 16 abr. 2020

ZILBERMAN, M. L.; HOCHGRAF, P. B.; ANDRADE, A. G.; Gender differences in


treatment-seeking brazilian drug-dependent individuals. Subst Abus. 2003 Mar;
v.24, n.1, p.17-25.

◄ UNIDADE I - ATIVIDADE AVALIATIVA

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UNIDADE III – ADULTO E IDOSO


Feito: Ver

O uso de álcool e outras drogas é evidente em diversas fases da vida e


muitos adultos e idosos já passaram por situações como presenciar os
pais ou parentes próximos fazendo uso, já receberam convite para
fazer uso, e/ou já experimentaram álcool, tabaco e outras drogas, o
que pode ter contribuído para continuidade do uso e abuso dessas
substâncias.

Fatores individuais e ambientais influenciam os hábitos de consumo e


danos associados, sendo complexa a relação entre o consumo de
álcool e suas consequências à saúde. Dentre os fatores individuais
estão sexo, idade, herança genética, massa corporal, altura e condição
de saúde; e dentre os fatores ambientais estão desenvolvimento
econômico, cultura, disponibilidade de álcool, e níveis de
implementação e aplicação de políticas sobre o álcool. A sociedade em
certos contextos e ocasiões, vê o consumo como algo comum e até
natural, e em outras situações vê com estigma (casos de abuso e
dependência).

Neste contexto, será abordado nesta unidade a prevenção de


problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas na população
adulta e idosa.

Uso de álcool e outras drogas na população


adulta
Ao se analisar no Departamento de Informática do Sistema Único de
Saúde (DATASUS) os registros dos últimos 5 anos (2015 a 2019) de
transtornos relacionados ao uso de álcool no estado do Ceará
identificou-se 3.704 casos. Em todos os anos houve predomínio dos
casos de internamento de homens com 857 (91,3%) em 2015, 721
(91,3%) em 2016, 584 (91,7%), em 2017, 538 (91,8%) em 2018 e 676
(89,9%) em 2019, com média de permanência de 13,7 dias e taxa de
mortalidade de 1,05 (BRASIL, 2020).

Os transtornos psiquiátricos são observados em ambos os sexos, mas


os homens têm uma dificuldade em falar sobre suas angústias e
problemas e precisam de uma atenção quanto a este aspecto, tendo
em vista os papéis sociais que exercem e as cobranças referentes à sua
masculinidade (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC,
2016). Alguns homens receberam essa educação em casa e passaram
por cobranças sociais tendo que se opor às referências feminina e
homossexual. Para tanto, torna-se importante atuar desde a juventude
quanto a esses comportamentos, passando segurança ao jovem para
não se preocupar com julgamento da sociedade, favorecendo um
adulto mais seguro e com argumentos quanto a seus posicionamentos.
Embora dados indiquem elevado número de homens que praticam

violência sob uso de álcool  e outras drogas, vale


destacar que nem todo homem que usa álcool e outras drogas
maltrata suas companheiras e outras mulheres e muitos homens que
cometem esse tipo de violência não dependem do efeito do álcool ou
de outras drogas para tal, e agride também quando não estão sob
efeito de substâncias (MORAES; CASTRO; PETUCO, 2010). Podendo
haver casos, em que os companheiros agrediam as mulheres antes de
terem problemas com uso de substâncias psicoativas, como o álcool.
Isso nos traz uma reflexão, tendo em vista que alguns homens
procuram exercer poder, tendo sido educados com a convicção de que
força e coragem são referências de masculinidade, levando-os a correr
riscos associados aos contextos de uso de drogas (MORAES; CASTRO;
PETUCO, 2010).

Assim, precisamos transformar essa realidade, e é por isso que a


cultura de paz, a prevenção da violência e do uso de drogas deve se
iniciar durante a fase de desenvolvimento da criança e do adolescente,
com abordagens relacionadas a vínculo familiar, afeto, respeito,
empatia, solidariedade, companheirismo, entre outras características de
humanização.

A população adulta precisa estar atenta, tendo em vista que, o uso de


álcool e outras drogas pode trazer consequências de risco para saúde,

conflitos familiares, exclusão social, problemas  


no ambiente de trabalho por não conseguir a produtividade desejada
em sua atividade laboral, problemas financeiros (diante dos gastos e
ausência/improdutividade no trabalho), entre outras consequências. É
preciso avaliar os determinantes sociais de vulnerabilidade do homem
para os problemas relacionados às substâncias na construção de ações
efetivas de prevenção e promoção da saúde mental deste segmento
(BRASIL, 2008).

Fonte: ANDRADE, 2020

IMPORTANTE!!!!

A evidência científica atual esclarece que não existe dose segura de álcool a ser recomenda
ao consumo de bebidas em qualquer dose, tendo em vista que os pequenos benefícios adqu
moderado de bebidas alcoólicas são superados pelo risco aumentado de outros danos rela
(BURTON, SHERON, 2018).
Uso de álcool e outras drogas na população idosa

O envelhecimento é um processo da vida com consequências sociais e


fisiológicas e faz com que diminua a tolerância do corpo ao álcool,
provocando efeitos mais acentuados. Outras situações vividas pela
população idosa podem provocar abuso de álcool, como: viuvez,
solidão, perda de amigos, aposentadoria, isolamento, aumento de
comorbidades, déficits no funcionamento cognitivo e intelectuais, entre
outras (ANDRADE, 2020).

O III Levantamento Nacional sobre o uso de Drogas pela População


Brasileira (2017) traz que na população de 55 a 65 anos 35% fez
consumo de álcool nos últimos 12 meses, 24,5% nos últimos 30 dias e
11,3% em comportamento binge (beber pesado). Quanto ao consumo
de cigarros industrializados 19,2% fez uso nos últimos 12 meses e
17,8% nos últimos 30 dias. Quanto a substâncias ilícitas na faixa etária
estudada, 1,1% fez uso nos últimos 12 meses e 0,2% nos últimos 30
dias. Esses dados são preocupantes, tendo em vista que a idade
avançada tende a rápida desidratação e que o consumo de álcool
interfere nos efeitos das medicações utilizadas nessa idade, o que pode
fragilizar ainda mais a saúde desse público.

Vale ressaltar que alguns idosos exercem, principalmente, na região


Nordeste atividades artesanais com couro, pintura, consertos de
objetos, em que utilizam inalantes (cola, solvente, tinta, ceras, graxas,
resinas, combustíveis). Alguns possuem como anexo às suas

casas  comércio que realizam venda de


bebida alcoólica, e os profissionais que atuam nas políticas sobre
drogas precisam estar atentos a esses cenários de fonte de renda dos
idosos em seu território, buscando promover orientações para reduzir
os danos que essas atividades podem trazer ao idoso e sua família.

O problema do consumo das drogas é complexo, pois, se encontra


atrelado às amarras sociais, políticas e morais, sendo fundamental que
os profissionais estejam atentos  às necessidades das pessoas idosas
que usam drogas como forma de identificar os diversos fatores que
contribuem para a iniciação e continuação desse consumo, o que
poderá direcionar para estratégias a serem realizadas (CRUZ et al.,
2016).

Prevenção aos problemas relacionados ao uso de


álcool e outras drogas
Para bons resultados nas ações de prevenção ao uso de álcool e outras
drogas destaca-se a atuação com habilidades de vida, tendo em vista
que são embasadas em conceitos de promoção da saúde. Para a
eficácia dessas ações precisamos:

- Permitir o amadurecimento emocional;

- Estimular a conscientização no processo de tomada de decisões;

- Desenvolver valores que correspondem a uma vida saudável,

tanto fisicamente como moralmente;

- Desenvolver a autonomia e o pensamento crítico;

- Proporcionar habilidades necessárias para manter


relacionamentos saudáveis;

- Desenvolver a auto aceitação, trabalhando pela construção de


uma autoimagem positiva e real, permitindo, assim, o
desenvolvimento da autoestima (BRASIL, 2016)

Tais estratégias são importantes não só para ações de prevenção com


crianças e jovens, mas também com outros públicos como adultos e
idosos, sendo fundamental uma articulação intersetorial para
implementação dessas práticas.

Atividades em grupo são sempre válidas, pois tiram do foco o sujeito,


deixando todos de igual para igual. Assim, ao realizar estratégias em
coletivo pode-se proporcionar reflexão, promover um debate saudável
e potencializar o conhecimento do grupo sobre determinado tema.

Diante deste cenário, a abordagem a esse tema procura promover uma


reflexão sobre o uso de drogas nesses períodos da vida e sugerir
atividades práticas e técnicas para atuação do profissional em seu
processo de trabalho com diferentes tipos de grupos, como forma de
prevenir problemas relacionados ao uso de drogas.
O que fazer quando o adulto/idoso já faz uso?
Infelizmente sabemos que nem sempre iremos nos deparar com
adultos ou idosos que nunca fizeram uso de álcool e outras drogas, e
alguns cuidados são importantes para esse público como forma de
reduzir os danos que são gerados pelo uso.

O uso de drogas por pessoas idosas, geralmente, está associado aos


agravos à saúde, exclusão social e isolamento, podendo ser inclusive,
uma espécie de fuga devido a esses fatores. Tais fatores são
preocupantes, tendo em vista que, os riscos causados pelo uso podem
gerar maiores problemas diante de mudanças na composição corporal,
além de um aumento da morbidade e do uso de medicamentos
psicoativos. Em alguns casos, a dependência é confundida com
doenças características do idoso, como é o caso da depressão e
demência (HSER et al., 2004).

Desse modo, as ações de redução de danos, podem ser vistas como


uma forma de cuidado, pois visualiza o indivíduo dentro do seu
contexto e de sua singularidade, integrando pessoas e serviços que
compõe a rede de apoio, sem fazê-lo perder sua autonomia, e 
liberdade de escolha  e compreendendo a situação em que se encontra
(CRUZ et al., 2016).

O programa de Redução de Danos (RD), teve no Brasil em 1989, na


cidade de Santos em São Paulo, sua primeira experiência, porém a
abordagem utilizada, gerou grande impacto e foi proibida. Tempos
mais tarde, em 1993, uma nova tentativa é feita, através dos redutores
de danos como agentes promotores de saúde, em 1995 o programa se
efetiva por meio de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia
(UFBA) e em 1998 um grande desenvolvimento das estratégias de RD
no Brasil marca o histórico de criação dessa política (NEIL; SILVEIRA,
2008).

Passado cerca de 30 anos, configura-se como política e permanece


buscando, através do seu conceito, ser um conjunto de estratégias que
visa reduzir os efeitos negativos do uso de drogas, sem a necessidade
de abstinência, respeitando-se o direito desses cidadãos ao cuidado à
saúde.
É preciso enxergar a RD como uma estratégia que busca entender e
respeitar o indivíduo, sem propor comportamentos que se julguem
adequados e que direcionem somente à abstinência do consumo,
enfatizando a busca pela promoção de saúde, bem-estar e qualidade
de vida das pessoas que consomem drogas.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Arthur Guerra de. Álcool e a Saúde dos


Brasileiros: panorama 2020. São Paulo: Centro de Informações sobre
Saúde e Álcool. Brasil, 2020. 152p. Disponível
em: http://www.cisa.org.br/

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre


Drogas. Prevenção dos problemas relacionados ao uso de drogas.
Brasília: Ministério da Justiça, 2016. Disponível
em: http://www.aberta.senad.gov.br/medias/original/201612/20161213
-100419-002/pagina-02.html

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política nacional
de atenção integral à saúde do homem: princípios e diretrizes.
Brasília: Ministério da Saúde, 2008. Disponível
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_aten
cao_homem.pdf

BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS –


DATASUS. Morbidade Hospitalar do SUS. Brasília: Ministério da Saúde,
2020. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?
sih/cnv/nrce.def

BURTON, Robyn; SHERON, Nick. No level of alcohol consumption improves


health. The Lancet Global Health. v 392, p.987-988, 2018. Disponível em:
https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2818%2931571-X

CRUZ, Vânia Dias; SANTOS, Silvana Sidney Costa; GAUTÉRIO-ABREU,


Daiane Porto; SILVA, Bárbara Tarouco da Silva; ILHA, Silomar. Consumo
de drogas entre pessoas idosas e a redução de danos: reflexão a partir
da complexidade. Esc Anna Nery [online], Rio de Janeiro, 2016, v. 20, n.
3, e20160076, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?
pid=S141481452016000300601&script=sci_abstract&tlng=pt

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ. III Levantamento Nacional


sobre o uso de Drogas pela População Brasileira – III LNUD. Rio de
Janeiro: FICRUZ, 2017. 528p. Disponível
em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/34614 Acesso em 18 mai
2020.

Hser YI, Gelberg L, Hoffman V, Grella CE, McCarthy W, Anglin MD.


Health conditions among aging narcotics addicts: Medical examination
results. J Behav Med. 2004 Dec; 27(6):607-22.

MORAES, Maristela; CASTRO, Ricardo; PETUCO, Dênis. Gênero e


drogas: contribuições para uma atenção integral à saúde. Recife:
Instituto PAPAI, 2010. 116p. (Série Homens e Políticas Públicas).
Disponível
em: https://cetadobserva.ufba.br/sites/cetadobserva.ufba.br/files/
212.pdf

NIEL, Marcelo; SILVEIRA, Dartiu Xavier da. Drogas e Redução de


Danos: uma cartilha para profissionais de saúde. São Paulo: UNIFESP,
Ministério da Saúde, 2008. 96p. Disponível
em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/direito
s_humanos/Cartilha%20para%20profissionais%20da%20saude.pdf

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC. Centro de


Ciências da Saúde. Curso de Atenção Integral à Saúde do Homem –
modalidade à distância. Atenção à saúde mental do homem [recurso
eletrônico]. Fátima Büchele Assis, Fernanda Martinhago, Larissa de
Abreu Queiroz (Organizadoras). Florianópolis: UFSC, 2016. 86 p.
Disponível em: www.unasus.ufsc.br

UNIDADE IV – PESSOA EM SITUAÇÃO DE


RUA
Feito: Ver
Sabemos que o Brasil é um país onde as desigualdades sociais podem
ser vistas em todos os espaços, em especial, nas ruas. A existência de
pessoas que não têm condições de moradia ou que sofrem influências
que as levam a viver nas ruas das cidades do Brasil surgiu muito antes
do que podemos pensar e continuam acontecendo ainda hoje. Desse
modo, a Unidade IV deste curso traz informações que podem somar
as discussões feitas até aqui. Desejamos um ótimo aproveitamento do
material.

Bons estudos.

Histórico das Pessoas em Situação de Rua                     


Segundo a Fundação escola nacional de administração pública – ENAP
(2019), após o fim da escravidão inúmeras pessoas passaram a ser
livres, sem políticas integradoras de habitação e emprego, o que as
levaram às ruas das cidades. Não existe uma história oficial

 que marque a organização da população em


situação de rua (PSR), no Brasil nem de um movimento de luta em prol
da garantia de seus direitos. Em 1960, ações passaram a acontecer em
algumas cidades do país e na década de 70 a Pastoral do Povo da Rua,
instituição pertencente a Igreja Católica, passa a implantar casas de
assistência para as PSR.

Estima-se 101.854 pessoas em situação de rua no Brasil com grande


número de homens e de população LGBTQIAP+, sendo este último
grupo, vítima de violações e violências físicas por sua dupla condição
de estar nas ruas e por sua orientação sexual (NATALINO, 2016). O
aumento do número de mulheres e o envelhecimento, preocupam
ainda mais, além do número de crianças e adolescentes, bem como
imigrantes e refugiados.

Infelizmente, supomos que esse número tenha aumentado devido a


variações econômicas do país nos quatro anos seguintes ao estudo.

Política Nacional de População em Situação de


Rua no Brasil                                   
O Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, instituiu a Política
Nacional para a População em Situação de Rua (PNPSR) assim como o
Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento (CIAMP-
Rua) conceituando população em situação de rua como sendo um
grupo populacional em pobreza extrema, com vínculos familiares
interrompidos ou fragilizados, sem moradia convencional e que utiliza
as ruas ou áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento.

Conheça o texto do Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009 na integra, acessando:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7053.htm
O Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS) entre 2007 e
2008, realizou, por meio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –
IPEA, a Pesquisa Nacional Sobre a População em Situação de Rua. A
pesquisa contemplou pessoas com 18 anos completos ou mais, que
estivessem vivendo em situação de rua em 48 municípios com mais de
300 mil habitantes de 23 capitais, alcançando um total de 31.922
pessoas em situação de rua (NATALINO, 2016). Vale ressaltar, que a
própria pesquisa menciona que após oito anos, seus resultados
começam a não refletir a dinâmica desta população no território
(NATALINO, 2016).

A ausência de dados oficiais atuais sobre a população em situação de


rua, dificulta a construção e implementação de políticas públicas
voltadas a esse grupo. Estima-se que em 2015 a população em
situação de rua no Brasil através de dados disponibilizados por 1.924
municípios via Censo do Sistema Único de Assistência Social (Censo
Suas) era de 101.854 pessoas estimando 40,1%  em municípios com
mais de 900 mil habitantes, 77,02% em municípios de grande porte e
6,63% em municípios com menos de 10 mil habitantes, o que
demonstra que cidades maiores, tendem a concentrar uma quantidade
elevada de população em situação de rua (NATALINO, 2016).

O aumento desses números é preocupante pois revela a necessidade de aprimoramento das p


principais que permeiam essa temática.

Dados do Ceará

O Censo e Mapa de Riscos Pessoal e Social – CEMARIS da Secretaria de


Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos – SPS,
informa que em 2018, 59 municípios registravam 1.738 notificações de
situação de rua, resultando num Índice de Riscos Pessoal e Social – ÍRIS
estadual de 0,01. Os municípios de Fortaleza, Maracanaú e Caucaia,
apresentam os maiores índices.

Fonte: CEMARIS (2018)


No mapa as regiões que registraram as maiores ocorrências foram:
Grande Fortaleza com 1.351 (77,73%) notificações; Sertão de Sobral
com 143 (8,23%) notificações; Cariri com 130 (7,48%) notificações. As
regiões que registraram as menores ocorrências foram: Sertão de
Crateús, com 2 notificações (0,12%); Maciço de Baturité, com 6 (0,35%)
notificações; e Serra da Ibiapaba, com 7 (0,40%) notificações.

Situação de rua x uso problemático de álcool e outras drogas

Estar em situação de rua, faz com que pessoas vivenciem as mais


diversas experiências, podendo ser definitivas ou provisórias, sentindo-
se invisível diante da pobreza, e por consequência, sofrendo exclusão
social e desrespeito (XAVIER et al., 2019).

Infelizmente o número de pessoas nessa situação tem aumentado a


cada dia, e são inúmeros os motivos que levam a isso, como: pobreza,
desemprego, rompimento dos vínculos familiares, migrações devido a
violência urbana, e/ou uso problemático de álcool e outras drogas
(SILVA et al., 2018).

Em muitos casos, o uso de álcool e outras drogas, faz com que a


pessoa vivencie desavenças familiares e, embora tentem retornar à
casa da família, se o uso problemático não for tratado, a tendência é o
retorno dos conflitos e abandono do lar (MOTA et al. 2019).

Vale destacar que muitas vezes esse uso perpassa também pela

sociabilidade e não apenas  pela dependência.


Ressaltamos que é uma população heterogênea, com uma grande
diversidade de histórias de vida, sendo necessária uma atenção
especial para essa situação na construção das políticas.

Por esse motivo, a intersetorialidade como uma estratégia de gestão


pública democrática, implica em disposição política, articulação entre
os setores e complementariedade das ações. A intersetorialidade dos
serviços nas políticas sociais favorece a qualidade de vida da
população, entretanto, é um desafio permanente para as diferentes
gestões municipais, estaduais e federal (WANDERLEY; MARTINELLI;
PAZ, 2020).

A seguir serão abordadas algumas ações desenvolvidas para esse


público:

Medidas
adotadas                                                                                             
                

Acesso a serviços socioassistenciais voltados para as pessoas em


situação de rua:

Conforme o Guia de Atuação Ministerial: defesa dos direitos das


pessoas em situação de rua (2015), os serviços que compõem a
proteção social básica seguem a Resolução nº 109, de 11 de
novembro de 2009, do Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS). Nela há previsão expressa de serviços aplicáveis às pessoas
em situação de rua. São eles:

1       Serviço especializado em abordagem social

Este serviço é realizado em praças, ruas, fronteiras, espaços


públicos, feiras livres, locais de intensa circulação de pessoas e
existência de comércio, terminais de ônibus, trens, metrô e outros
com objetivo de buscar auxiliar em necessidades imediatas e
promover a inserção da pessoa na rede de serviços
socioassistenciais e das demais políticas públicas na perspectiva da
garantia dos direitos.

2       Serviço especializado para pessoas em situação de rua

Conhecido como Centro Pop, busca promover o acesso a espaços


onde as pessoas podem guardar seus pertences de higiene
pessoal, alimentação, documentação civil, bem como providenciá-
los, assim como podem fazer a inscrição no Cadastro Único dos
Programas Sociais. Esse serviço também se torna a referência do
usuário quando este necessitar comprovar endereço para os mais
diversos fins.
3       Serviço de acolhimento institucional

Atuando em uma unidade dentro da comunidade, tem


características residenciais, com intuito de oferecer um ambiente
acolhedor e estrutura física adequada, para tornar as relações mais
próximas do ambiente familiar. O atendimento prestado deve ser
personalizado para pequenos grupos favorecendo o convívio
familiar e comunitário bem como a utilização dos equipamentos e
serviços disponíveis na comunidade local. Nesse espaço as regras
de convivência são construídas em conjunto a fim de assegurar a
autonomia e personalidade dos usuários.

A Casa de Passagem é uma espécie de unidade de acolhimento,


para abrigamento imediato e emergencial, acolhendo pessoas ou
famílias em situação de rua e desabrigo por abandono, migração,
ausência de residência ou pessoas em trânsito, funcionando 24
horas/dia. As ações desenvolvidas no serviço buscam atender a
demandas específicas, verificando a situação apresentada pelo
usuário possibilitando a realização dos devidos encaminhamentos.
Deve contar com equipe especializada para atender e receber
usuários, a qualquer horário do dia ou da noite.

4. Serviço de acolhimento em república

É destinado a pessoas adultas com vivência de rua em fase de


reinserção social, restabelecimento de vínculos sociais e construção
de autonomia. São organizadas em unidades femininas e
masculinas. Apoiam a qualificação e inserção profissional bem
como a construção de projeto de vida.

É importante destacar que o cofinanciamento federal para os


serviços especializados às pessoas em situação de rua, na
regulação atual, é ofertado para municípios com população
superior a 100 mil habitantes ou municípios com mais 50 mil
habitantes que integrem regiões metropolitanas.

Todos os serviços citados acima favorecem as pessoas em situação de


rua em uso problemático de álcool e outras drogas, possibilitando a
resolução de necessidades imediatas e inserção na rede de serviços
socioassistenciais e das demais políticas públicas na perspectiva da
garantia dos direitos.

Todas as informações citadas acima fazem parte do:

“Guia de ação ministerial do Conselho Nacional do Ministério Público”, onde você encontra
disponível no link: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Publicacoes/documentos/Guia_M

Acesse e obtenha mais informações!

Estratégias de Prevenção

Segundo a Organização Internacional do trabalho – OIT (2003) a


prevenção está relacionada a uma intervenção que desencoraja o início
do consumo de álcool e drogas podendo incluir sensibilização, ou seja,
informar e educar as pessoas sobre as substâncias e seus efeitos, dar
apoio a grupos que possam escolher o que fazer e promover
ambientes que permitam viver bem.

A prevenção tem como objetivo proteger pessoas, em especial os


jovens, buscando evitar ou retardar o início do uso de drogas.
Entretanto, se já iniciaram o uso, ela busca evitar que desenvolvam
transtornos como a dependência e faz com que as pessoas enxerguem
seu potencial diante da sociedade , participando de forma positiva das
atividades familiares, escolares, comunitárias e trabalhistas (UNITED
NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME - UNODC, 2013).

É um erro dizer que todas as pessoas em situação de rua fazem uso de


álcool e/ou outras drogas. Entretanto, como uma parcela dessa
população faz uso, serão discutidas medidas para ambos. Para pessoas
que não fazem uso, é necessário trabalhar ações de prevenção que
busquem mantê-las distante do uso, ou que, se vier a usar, tenha
conhecimento dos riscos e utilize de forma consciente.  Para pessoas
que já fazem uso, a prevenção será direcionada por meio de ações que
visem reduzir os danos que o uso da substância traz para sua vida, até
quem sabe, cessar o uso.

Para municípios onde é possível contar com os serviços


socioassistenciais acima descritos, é favorável a realização de
algumas ações a partir dos equipamentos existentes, bem como as
equipes onde lá trabalham.
Para municípios onde não existem esses equipamentos, devemos
contar com os serviços que existem na rede como Unidade Básica

de Saúde – UBS, Centro de  


Referência em Assistência Social – CRAS, Centro de Referência
Especializado em Assistência Social – CREAS, Escolas, Igrejas,
Centros Comunitários, entre outros espaços da comunidade que
podem ser utilizados para ações nesse sentido.

A relação entre os serviços de saúde e assistência social são


entrelaçadas para condução de ações com as pessoas em situação de
rua e em uso problemático de álcool e outras drogas. Essas ações
favorecem o fortalecimento de vínculo à rede, à família e aos amigos
para que seja alcançada a estabilidade desejada.

Por esse motivo, explorar as ações intersetoriais são as melhores vias


de acesso ao sucesso das estratégias quando o assunto é população
em situação de rua. O olhar respeitoso frente as particularidades de
cada umas dessas pessoas que se encontram em situação de
vulnerabilidade, encarando a história individual, permite aproximá-las
da rede e dos serviços a elas direcionados.

O famoso educador Paulo Freire através do seu trabalho buscava a


humanização das pessoas, e seu legado nos ensina a buscar meios no
processo de ensino-aprendizagem que favoreça a escuta, a interação e
valorização da história de vida que cada um carrega.

Essa escuta pode ocorrer por meio de uma abordagem individual ou


coletiva, de forma qualificada, pelo investimento nas pessoas e suas
relações intra ou interpessoais favorecendo a redução de riscos e
vulnerabilidade de cada indivíduo (MAYNART et al., 2014).

Ao trabalhar ações de prevenção exercite a valiosa ferramenta

REFERÊNCIAS
ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - ENAP. Política
Nacional para a População em Situação de Rua – PNPR. In: Curso
Promoção dos direitos da população em situação de rua. Módulo 1.
Brasília: ENAP, 2019. 17p.

NATALINO, Marco Antônio Carvalho. Estimativa da população em


situação de rua no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada – IPEA, 2016. Disponível
em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7289/1/td_2246.pdf

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos


Jurídicos. Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009. Institui a
Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê
Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras
providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder
Executivo, Brasília, DF, 24 dez. 2009. Seção 1, nº 246, p. 16-17.
Disponível em:

http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?
data=24/12/2009&jornal=1&pagina=16&totalArquivos=312

CEARÁ. Governo do Estado do Ceará. Secretaria da Proteção Social,


Justiça Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos. Censo e mapa de
riscos pessoal e social do estado do Ceará – CEMARIS 2018. Julho,
2019. Disponível em:

https://www.sps.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/16/2019/11/
CEMARIS-2018-PUBLICA%C3%87%C3%83O-compactado-1.pdf

XAVIER, Monalisa Pontes; LIMA, Carla Fernanda de; PRADO; Guilherme


Augusto Souza; OLIVEIRA, Thiago Firmo de.  Pessoas em situação de
rua: saúde, território e cuidado. Mnemosine. Rio de Janeiro, v.15, n. 2,
p. 125-137, 2019. – Parte Especial - Artigos.

https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/mnemosine/article/view/
48320/32248

Acesso em: 14 de mai 2020.


SILVA, Itana Carvalho Nunes et al. Representações sociais do cuidado
em saúde de pessoas em situação de rua. Revista da Escola de
Enfermagem da USP [online]. São Paulo, v. 52, n. e03314, p. 1-7, 2018.
Disponível em:

https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v52/0080-6234-reeusp-S1980-
220X2017023703314.pdf

MOTA, Fernanda Oliveira et al. Aspectos do cuidado integral para


pessoas em situação de rua acompanhadas por serviço de saúde e de
assistência social: um olhar para e pela terapia ocupacional. Cad. Bras.
Ter. Ocup. São Carlos, v. 27, n. 4, p. 806-816, Dez.  2019.  Disponível
em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2526-
89102019000400806

Acesso em:  21 Mai  2020.

WANDERLEY, Mariangela Belfiore; MARTINELLI, Maria Lúcia; DA PAZ,


Rosangela Dias O. Intersetorialidade nas Políticas
Públicas. Serv. Soc. Soc. São Paulo, n. 137, p. 7-13, abril 2020.
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0101-66282020000100007&lng=en&nrm=iso 
Acesso em 21 de maio de 2020.

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO – CNMP. Guia de


Atuação Ministerial: defesa dos direitos das pessoas em situação de
rua. Brasília: CNMP, 2015. Disponível em:

https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Publicacoes/documentos/
Guia_Ministerial_CNMP_WEB_2015.pdf

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Problemas


ligados ao álcool e a drogas no local de trabalho: uma evolução
para a prevenção. Genebra: OIT, 2003. Disponível
em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---europe/---ro-
geneva/---ilo-lisbon/documents/genericdocument/wcms_666024.pdf

MAYNART, Willams Henrique da Costa et al. A escuta qualificada e o


acolhimento na atenção psicossocial. Acta paul. enferm. São Paulo, v.
27, n. 4, p. 300-304, Aug. 2014. Disponível
em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
21002014000400003&lng=en&nrm=iso Acesso em: 22 Mai 2020.  

UNODC - United Nations Office on Drugs and Crime. Normas


Internacionais sobre a Prevenção do Uso de Drogas. São Paulo, 2013.

UNIDADE V – TRÂNSITO
Feito: Ver

Uso de álcool e outras drogas no trânsito


O Relatório Global sobre Álcool e Saúde da Organização Mundial da
Saúde (OMS), publicado em setembro de 2018, menciona que 3
milhões de pessoas morreram no mundo em 2016 em decorrência do
consumo de bebidas alcoólicas (WHO, 2018a). Muitas são as causas,
podendo ser relacionadas a lesões por acidentes de trânsito,
automutilação, violência interpessoal e doenças diversas.

Em seis anos, houve uma redução de 11% no consumo de álcool per

capita no Brasil (passou  de 8,8 litros em 2010


para 7,8 litros em 2016), equivalente a redução de 1 dose por
brasileiro, seja, uma lata de cerveja de 350 mL ou uma taça de vinho de
150 mL ou uma dose de bebida destilada de 45 mL, por semana
(ANDRADE, 2019).

Acredita-se que implementação e intensificação da Lei Seca (Lei nº


11.705/2008) e da lei que tornou crime a oferta de bebidas alcoólicas
para menores de 18 anos (Lei nº 13.106/2015) tenham contribuído
para esse resultado. Apesar de todos os esforços, o Brasil ainda está
acima da média mundial de consumo per capita de 6,4 L/ano e, entre
os bebedores, o consumo médio é de 3 doses/dia, maior que a média
na região das Américas e no mundo, de 2,3 doses/dia. Além da
necessidade de redução nos dados do Beber Pesado Episódico, ou
seja, no consumo de grande quantidade de álcool em um curto espaço
de tempo, tendo em vista o aumento de 12,7% para 19,4%, de 2010
para 2016, em contraste à diminuição no mundo (de 20,5% para 18,2%,
no mesmo período) (ANDRADE, 2019).

O Brasil é um dos poucos países do mundo que possui duras leis


nacionais em relação a dirigir sob influência de álcool, com tolerância
zero, aplicando medidas administrativas caso seja constatado qualquer
concentração de álcool no sangue ou alteração da capacidade motora,
além de ser crime passível de prisão a constatação ≥0,6g/ ou alteração
da capacidade motora. A Lei Seca, por exemplo, já contribuiu para a
redução em 27,4% das mortes por acidentes de trânsito nas capitais e
evitou cerca de 41 mil mortes entre 2008 e 2017 (ANDRADE, 2020)

O organismo demora cerca de uma hora para eliminar 15g de álcool


(uma taça de vinho de 150 ml ou uma lata de cerveja de 350 ml), no
entanto, o nível de álcool no sangue demora horas e horas para ser
reduzido (CISA, 2011).

O III Levantamento Nacional sobre o uso de


Drogas pela População Brasileira (III LNUD) ao analisar os dados
quanto as consequências do uso de álcool e substâncias ilícitas, em
indivíduos maiores de 12 anos, nos últimos 12 meses, identificou que a
consequência mais frequentemente associada ao uso de álcool foi
dirigir sob o efeito de álcool, estimando cerca de 7,5% dos indivíduos
− o que corresponde a, aproximadamente, 11.5 milhões de indivíduos
que dirigiram sob efeito do álcool nos 12 meses anteriores à entrevista.
De forma algo similar, a consequência mais frequentemente associada
ao uso de substâncias ilícitas também foi dirigir, sendo estimado cerca
de 0,7% dos indivíduos, aproximadamente, 1.060 pessoas. Isso nos leva
a pensar que a ordem de magnitude seria 10x mais frequente com
relação ao álcool, na comparação com as demais substâncias
(FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ, 2017).
A pesquisa do III LNUD (2017) foi realizada em 2015 com brasileiros de
12 a 65 anos e, dos entrevistados, cerca de 14% homens e 1,8%
mulheres, relataram ter dirigido após consumir bebida alcoólica, nos 12
meses anteriores à entrevista; já em relação às substâncias ilícitas, este
comportamento foi relatado por 0,7% dos homens e 0,1% das
mulheres (FIOCRUZ, 2017).

Em pesquisa desenvolvida com 500 universitários de Pouso Alegre/MG,


39,2% relatavam ingerir bebidas alcoólicas antes de dirigir e no último
mês, a maioria chegou a trafegar com um motorista alcoolizado, ou
dirigiu após uso de bebidas (MESQUITA FILHO; CARVALHO; GARCIA,
2017).

No III LNUD o comportamento de beber e dirigir e uso de substâncias


ilícitas e dirigir foi maior na faixa etária 25 a 34 anos com 11,9% e 0,9%,
respectivamente. Entretanto, vale destacar que na faixa etária de 12 a
17 anos que, formalmente, são pessoas não habilitadas a dirigir, e só
poderiam estar envolvidas em acidentes caso fossem passageiros ou
vítimas de atropelamento, observou-se direção sob efeito de álcool e
uso de substâncias ilícitas em 0,5% e 0,3%, respectivamente. Em uma
análise geral, a pesquisa apresentou que o comportamento de dirigir
sob efeito de álcool e substâncias ilícitas está concentrado mais na
faixa etária entre 18 a 44 anos, ou seja, população economicamente
produtiva, e vale destacar a redução desse comportamento nas
pessoas de mais idade, chegando inclusive a percentual zero em se
tratando de substâncias ilícitas na faixa etária de 45 a 65 anos,
provavelmente, por terem uma conduta mais cautelosa, e receios de
ficarem limitados quanto a dirigir por conta da infração (FIOCRUZ,
2017).

Foi observado no III LNUD que a


prevalência de beber e dirigir, em indivíduos de 18 anos ou mais, foi
maior entre pessoas com ensino superior completo ou maior
escolaridade e o dirigir sob efeito de drogas foi mais frequente no
Brasil urbano do que no rural, e nos municípios grandes quando
comparados aos médios e pequenos.

Mesmo as pessoas que não bebem correm perigo diante de


atropelamentos ou acidentes que possam ocorrer ao andar com
pessoas que dirigem sob influência de álcool.

A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar – PeNSE realizada em 2015,


identificou que 32,5% dos escolares, na sua maioria, na faixa etária de
13 a 15 anos, declarou ter dirigido veículo motorizado (carro,
motocicleta, voadeira, barco), mesmo tendo idade inferior ao que é
regulamentado pela legislação brasileira. Vale ressaltar que a
proporção de meninos que fizeram essa declaração (45,2%) foi mais
que duas vezes superior à das meninas (20,3%), assim, como o
percentual entre os alunos de escolas públicas (33,9%) que foi maior
em relação às escolas privadas (23,6%) (IBGE, 2016). Esta pesquisa
revelou ainda que 26,3% dos escolares brasileiros foram transportados
em veículos motorizados dirigidos por motoristas que tinham
consumido bebida alcoólica, nos 30 dias anteriores à pesquisa,
ressaltando que 1 em cada 7 escolares, entre 13 e 15 anos, pegou
carona com motorista alcoolizado, no mínimo, 2 vezes no mês anterior
à pesquisa (IBGE, 2016).

Dados do estado do Ceará


Os acidentes de trânsito com vítimas são responsáveis por alto
impacto econômico e muitos desses acidentes não aconteceriam se os
condutores fossem mais prudentes e praticassem a direção defensiva.
Conforme análise de dados de 2012 a 2014, disponibilizados no
sistema eletrônico do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará
(Detran/CE), houve aumento dos acidentes passando de 25.704 para
29.011 no estado, além de crescentes vítimas fatais passando de 2.403
(9,3%) para 3.054 (10,5%) (CEARÁ, 2016). Observou-se a necessidade
de maiores informações referentes a álcool e trânsito no sistema
pesquisado, identificando-se 45.493 infrações de janeiro a junho de
2013, em que a infração dirigir sob influência do álcool correspondeu a
3.368 (7,4%) e no feriado do carnaval foram identificadas 1.786
infrações, em que 353 (19,8%) condutores foram autuados pela Lei
Seca (Lei nº 11.705 de 19/06/08) (CEARÁ, 2016).

Nesta mesma análise, identificou-se que na capital os acidentes são


mais elevados que os do interior do estado e estão sempre
ascendendo, enquanto que os do interior estão reduzindo, no entanto,
os acidentes ocorridos no interior são preocupantes tendo em vista
que o número de vítimas fatais é bem maior que o da capital.

Ao analisar a estatística do DETRAN-CE quanto as infrações de trânsito


nas operações realizadas no período dos cinco dias de carnaval (de
sexta-feira a terça-feira) no estado do Ceará nos anos de 2014 a 2016,
a Lei Seca (dirigir sob influência do álcool) levou à autuação de 353
(19,8%) condutores em 2014; 550 (35,9%) em 2015 e 791 (55,3%) em
2016. Do total de infratores na Lei Seca de 2016, 29 (3,7%) também
foram detidos, porque o índice de álcool no sangue foi igual ou
superior a 0,34mg/l (miligrama de álcool por cada litro de ar expelido
pelos pulmões). Apesar da intensificação de fiscalização nesse período
festivo do carnaval, identificou-se um crescimento de infrações
relacionadas à combinação álcool e direção, levando a refletir que a
população cearense ainda não estava sensível a esse problema no
período estudado (CEARÁ, 2016).

Na Operação Carnaval nos anos de 2019 e 2020 foram lavradas 332 e


564 autuações à Lei Seca, havendo um crescimento de 75%, para isso
foram realizadas 28.000 abordagens de veículo, 22% maior que no ano
anterior. Já o número de acidentes nas rodovias estaduais nessa
operação passou de 49 para 15, redução de 69% (CEARÁ, 2020).

Medidas adotadas
Não há um consumo seguro de álcool e a combinação de outras
substâncias com o álcool agrava ainda mais a situação, sendo
responsabilidade do condutor, não dirigir após beber. O uso nocivo de
álcool necessita de políticas públicas que possam reduzir seu impacto
não apenas no contexto do trânsito, mas também em outros contextos,
incluindo a propaganda (OLIVEIRA, 2020).
As medidas mais eficazes na redução do comportamento de beber e
dirigir são: limitação da alcoolemia para condutores de veículos
automotores; ações de prevenção e conscientização da população;
intensa fiscalização; punições severas como multas e suspensão da
carteira de habilitação (ANDRADE, 2020).

Como vimos, avanços existiram com resultados positivos em alguns


aspectos, mas em outros nem tanto. Com isso, constatamos que ainda
há um longo caminho a ser percorrido por ser um tema complexo e
que atinge toda a população, direta ou indiretamente, sendo
fundamental estratégias para mobilizar toda a sociedade para possíveis
melhorias.

Campanhas de prevenção são fundamentais para reduzir o uso e os


riscos de dependência, o que nos leva a pensar na necessidade, cada
vez mais urgente, de estratégias que concentrem esforços e dificultem
o acesso às bebidas alcoólicas e outras drogas.

Em 2018, a OMS lançou uma iniciativa e “pacote técnico”, chamado


SAFER, que traz o delineamento de 5 estratégias de alto impacto que
podem ajudar os governos a reduzir o uso nocivo do álcool (10% até
2025) e as consequências sociais, econômicas e de saúde
relacionadas (WHO, 2018b).
 

S A F
Reduzir a Ampliação das Facilitar o acesso a Restrições qua
disponibilidade do restrições de beber e diagnóstico, intervenções publicidade pa
álcool dirigir breves e tratamento promoção de b
alcoólicas
-Horários de venda -Fiscalização e
- Em vários tipo
-Licença pra venda -    penalidades

-Locais de venda

-Densidade dos pontos de


venda
 

Diante do contexto o governador do estado do Ceará lançou em


dezembro/2015 campanha para redução de acidentes e vítimas de
trânsito, com disponibilização de vídeos educativos, oferta de
capacetes para candidatos aprovados no Programa Carteira de
Motorista Popular (categoria A) e mobilizou a sociedade, assinando
termos de compromisso com diversas representações de associações
empresariais voltadas à temática em busca de maior segurança no
trânsito das vias públicas cearenses. Mesmo assim, há necessidade de
intensificar ações quanto à segurança no trânsito e fortalecer cada vez
mais as estratégias que estão sendo realizadas, para possíveis
melhorias.

O Detran/CE por meio da Escola de Educação para o Trânsito tem


buscado realizar cursos como dar oportunidade para as pessoas
reciclarem os conhecimentos sobre a legislação de trânsito, respeito ao
meio ambiente, primeiros socorros, convívio social, relacionamento
interpessoal e direção defensiva.

Estratégias de Prevenção
Torna-se importante que os municípios tenham seus protocolos
quanto ao atendimento e manejo às situações de violência no trânsito,

de forma a padronizar as ações no território;  realize


articulação intersetorial e desenvolva ações para implementação de
planos de ação de segurança para pedestres, ciclistas, motociclistas e
população em geral, bem como realize campanhas esclarecendo as
consequências do consumo de álcool e drogas, realize monitoramento
quanto a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos e fortaleça
a atuação próxima a ambientes como bares, festas, casas noturnas, etc.
Muitos podem ser os parceiros como guarda municipal, agentes

comunitários de saúde,  técnicos de diversas setoriais,


conselheiros de direitos, bem como toda a comunidade. A mobilização
social deve ser reforçada com realização de passeatas, distribuição de
panfletos, pinturas de muros com a arte do grafite expondo
mensagens educativas de prevenção, divulgação sobre o tema na rádio
local e carros de som, realização de ações com os alunos das escolas e
de grupos atuantes nos equipamentos sociais e rodas de conversa
abordando o tema.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Arthur Guerra de. Álcool e saúde dos
brasileiros: panorama 2019. São Paulo: Centro de Informações sobre
Saúde e Álcool. Brasil, 2019. 104p. Disponível em:
http://www.cisa.org.br/ Acesso em 28 out 2019

ANDRADE, Arthur Guerra de. Álcool e a Saúde dos


Brasileiros: panorama 2020. São Paulo: Centro de Informações sobre
Saúde e Álcool. Brasil, 2020. 152p.

CEARÁ. Governo do Estado do Ceará. Secretaria da Infraestrutura.


Departamento Estadual de Trânsito – DETRAN. Autuações à Lei Seca
crescem 75% e acidentes reduzem 69% nas rodovias estaduais
durante a Operação Carnaval 2020. Disponível
em: https://www.detran.ce.gov.br/autuacoes-a-lei-seca-crescem-75-e-
acidentes-reduzem-69-nas-rodovias-estaduais-durante-a-operacao-
carnaval-2020/

CEARÁ. Governo do Estado do Ceará. Secretaria das Cidades.


Departamento Estadual de Trânsito. Estatísticas: acidentes [Internet].
Fortaleza, CE. 2016 [Internet] Disponível
em: http://portal.detran.ce.gov.br/index.php/estatisticas Acesso em: 2
mar. 2016

CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE SAÚDE E ÁLCOOL – CISA. Guia


“Sinal verde para vida; vermelho para álcool e direção”. 2011.

Disponível
em: https://cisa.org.br/images/upload/SinalVerdeParaVida.pdf Acesso
em 19 mai 2020.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ. III Levantamento Nacional


sobre o uso de Drogas pela População Brasileira. Rio de Janeiro:
FICRUZ, 2017. 528p. Disponível em: ----- Acesso em 18 mai 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE.


Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa nacional
de saúde do escolar: 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. 132 p.
Disponível
em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf

MESQUITA FILHO, Marcos; CARVALHO, Carolina Rodrigues; GARCIA,


Elisa de Paula. Fatores associados à ocorrência de acidentes de trânsito
entre universitários. Ciência e Saúde. v. 10, n. 2, p. 62-70, abr-jun, 2017.
Disponível
em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faenfi/article/
view/24205/15602 Acesso em 19 mai 2020.

OLIVEIRA, Lúcio Garcia de. Cap.5 Consequências à saúde e à


sociedade. In: ANDRADE, Arthur Guerra de. Álcool e a saúde dos
brasileiros: panorama 2020. 1ª ed. São Paulo: Centro de Informações
sobre Saúde e Álcool – CISA. 152p.

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Global status report on


alcohol and health 2018: executive summary. Geneva: World Health
Organization, 2018a. Disponível
em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/312318.

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. SAFER. 2018. 2018b.


Disponível
em: https://www.who.int/substance_abuse/safer/msb_safer_framework.
pdf?ua=1

UNIDADE VI – LEGISLAÇÃO NAS


POLÍTICAS SOBRE DROGAS
Feito: Ver
Políticas sobre drogas é um assunto que, direta ou indiretamente, diz

respeito a todos nós e o  engajamento nesse


processo exige responsabilidade e conhecimento, tanto científico e
normativo, quanto da vida.

A Unidade VI deste curso busca apresentar alguns marcos políticos e


legais considerados indispensáveis para o conhecimento das pessoas
envolvidas nas políticas sobre drogas, tendo em vista que a rede
normativa é muito ampla e necessitamos de objetividade na
abordagem.

UM BREVE HISTÓRICO
O Brasil, seguindo o exemplo de outros países, passou a implementar
uma política sobre drogas na primeira metade do século 20
influenciado pela Convenção Internacional do Ópio (Convenção de
Haia, 1912), que visava colocar em pauta a discussão sobre a
regulamentação do comércio e do consumo de ópio e outros
alcalóides no mundo. Assim, a primeira norma legal a tratar do assunto
foi o Decreto nº 11.481/1915, que previa medidas para impedir os
abusos crescentes do ópio, da morfina e seus derivados, bem como da
cocaína.

Anos depois, foi aprovado o Decreto-Lei nº 891/1938, que consolidou


ações de prevenção, tratamento e repressão de drogas no Brasil. Em
1976, o referido Decreto-Lei foi alterado pela Lei n. 6.368/1976, que
dispôs sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso
indevido de substâncias entorpecentes ou que causem dependência
física ou psíquica, bem como, previa tipos penais distintos para
traficantes e usuários, determinando penas mais brandas para os
usuários.

O Brasil, seguindo o exemplo dos


EUA, passou a adotar então uma política de “guerra contra as drogas”
criando órgãos e instituições para atuar nesse cenário. Em 1980 foi
instituído o Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão
de Entorpecentes, através do Decreto nº 85.110/1980, o qual
regulamentou o Conselho Nacional de Entorpecentes.

A Lei n° 7.560/1986 criou o Fundo de Prevenção, Recuperação e de


Combate às Drogas de Abuso, posteriormente denominado de Fundo
Nacional Antidrogas e o Conselho Federal de Entorpecentes,
atualmente denominado Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas.
A Secretaria Nacional de Entorpecentes foi criada em 1993, através da
Lei nº 8.764.    

Como é possível perceber, até então a política sobre drogas era tratada
na grande maioria das vezes com ações de repressão, no entanto, nos
anos 2000, surgia uma nova visão, diferente

 daquela visão repressiva e


particularmente focada nos usuários e dependentes de drogas. A
Política de Redução de Danos era implantada em algumas cidades
brasileiras, a exemplo da cidade de Santos, desde 1989, mas foi em
2005 que, pela Portaria nº 1.059 do Ministério da Saúde, foram
formalmente instituídas ações que visam à redução de danos sociais e
à saúde.

Surgiu em 2002, por meio do Decreto nº 4.345/2002, pela primeira vez,


um documento com a síntese da política de drogas, denominado
de Política Nacional Antidrogas (PNAD).

Em 2005, por meio da Portaria 1.028/2005 determinou-se a regulação das ações


que visam a redução de danos sociais e à saúde, por meio do uso de produtos,
substâncias ou drogas que causem dependência.

Em 2006, foi aprovada a Lei nº 11.343/2006 que instituiu o Sistema


Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD) e prescreveu
medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas, em consonância com a política
sobre drogas vigente.

Em 2008, foi editada a Lei nº 11.754/2008 por meio da qual o Conselho


Nacional Antidrogas passou a se chamar Conselho Nacional de
Políticas sobre Drogas (CONAD). A nova Lei também alterou o nome
da Secretaria Nacional Antidrogas (criada pela MP nº 1.669/1998)
para Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD).

Esses foram alguns marcos históricos da Política sobre Drogas no


Brasil.

CONVENÇÕES INTERNACIONAIS
O Brasil é signatário das três convenções internacionais das
Organizações das Nações Unidas – ONU, são elas:

1. Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961 (emendada pelo


protocolo de 1972)

Em 1961, foi aprovada a Convenção Única sobre Drogas Narcóticas, ou


Convenção de Viena, a primeira das três convenções da ONU sobre
drogas e que ainda é o fundamento normativo do regime internacional
hoje vigente. O texto, cujo preâmbulo anuncia a preocupação com a
saúde e o bem-estar da humanidade, consolidou os inúmeros tratados
que a antecederam, incluindo a limitação do uso das substâncias para
fins exclusivamente científicos e medicinais e a obrigação de
criminalização de determinadas condutas. Também colocou novas
substâncias sob controle internacional e criou um órgão regulador da
produção e do comércio de drogas, a Junta Internacional de
Fiscalização de Entorpecentes (Jife, ou INCB, na sigla em inglês). O
pressuposto do sistema regulatório foi o de que o manejo eficiente da
demanda lícita pelas substâncias controladas iria reduzir a demanda
ilícita (PAIVA, 2018).

2. A Convenção de 1971 sobre as Substâncias Psicotrópicas

Esta convenção estabelece um sistema de controle internacional para


substâncias psicotrópicas, e é uma reação à expansão e diversificação
do espectro do abuso de drogas. A convenção criou ainda formas de
controle sobre diversas drogas sintéticas de acordo, por um lado, a seu
potencial de criar dependência, e por outro lado, a poder terapêutico.

3. Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e


Substâncias Psicotrópicas de 1988

A Convenção de 1988 tem como objetivo promover a cooperação


entre os Estados para tratar de forma mais eficaz o tráfico de drogas,
acabar com os lucros de organizações criminosas através da produção
de drogas ilícitas e do tráfico e fornecer novas ferramentas aos
governos. A Convenção também buscou reduzir o sofrimento humano
e pediu que os Estados adotassem medidas efetivas nas áreas de
prevenção, tratamento e reabilitação.

Algumas decisões foram tomadas quanto a Convenção contra o Tráfico


Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, diante das partes
estarem:
 Profundamente preocupadas com a magnitude e a crescente
tendência da produção, da demanda e do tráfico ilícitos de
entorpecentes e de substâncias psicotrópicas, que representam
uma grave ameaça à saúde e ao bem-estar dos seres humanos e
que têm efeitos nefastos sobre as bases econômicas, culturais e
políticas da sociedade;
 Profundamente preocupadas também com a sustentada e
crescente expansão do tráfico ilícito de entorpecentes e de
substâncias psicotrópicas nos diversos grupos sociais e, em
particular, pela exploração de crianças em muitas partes do
mundo, tanto na qualidade de consumidores como na condição
de instrumentos utilizados na produção, na distribuição e no
comércio ilícitos de entorpecentes e de substâncias
psicotrópicas, o que constitui um perigo de gravidade
incalculável;
 Reconhecendo os vínculos que existem entre o tráfico ilícito e
outras atividades criminosas organizadas, a ele relacionadas, que
minam as economias lícitas de ameaçam a estabilidade, a
segurança e a soberania dos Estados;

 Reconhecendo também que o tráfico ilícito é uma atividade


criminosa internacional, cuja supressão exige atenção urgente e a
mais alta prioridade;
 Conscientes de que o tráfico ilícito gera consideráveis
rendimentos financeiros e grandes fortunas que permitem às
organizações criminosas transnacionais invadir, contaminar e
corromper as estruturas da administração pública, as atividades
comerciais e financeiras lícitas e a sociedade em todos os seus
níveis;
 Decididas a privar as pessoas dedicadas ao tráfico ilícito do
produto de suas atividades criminosas e eliminar, assim, o
principal incentivo a essa atividade;
 Interessadas em eliminar as causas profundas do problema do
uso indevido de entorpecentes e de substâncias psicotrópicas,
compreendendo a demanda ilícita de tais drogas e substâncias e
os enormes ganhos derivados do tráfico ilícito;
 Considerando que são necessárias medidas para o controle de
determinadas substâncias, tais como precursores, produtos
químicos e solventes que são utilizados na fabricação de
entorpecentes e substâncias psicotrópicas e que, pela facilidade
com que são obtidas, têm provocado um aumento da fabricação
clandestina dessas drogas e substâncias;
 Decididas a melhorar a cooperação internacional para a
supressão do tráfico ilícito pelo mar;
 Reconhecendo que a erradicação de tráfico ilícito é
responsabilidade coletiva de todos os Estados e que, para esse
fim, é necessária uma ação coordenada no nível da cooperação
internacional;
 Reconhecendo a competência das Nações Unidas em matéria de
fiscalização de entorpecentes e de substâncias psicotrópicas e
desejando que os organismos internacionais interessados nessa
fiscalização atuem dentro do quadro das Nações Unidas;
 Reafirmando os princípios que regem os tratados vigentes sobre
a fiscalização de entorpecentes e de substâncias psicotrópicas e
o sistema de fiscalização estabelecido por esses tratados;
 Reconhecendo a necessidade de fortalecer e complementar as
medidas previstas na Convenção Única de 1961 sobre
Entorpecentes, emendada pelo Protocolo de 1972 de
Modificação da Convenção Única sobre Entorpecentes, de 1961,
e na Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971, a fim
de enfrentar a magnitude e a expansão do tráfico ilícito e suas
graves consequências;
 Reconhecendo também a importância de fortalecer e intensificar
os meios jurídicos efetivos para a cooperação internacional em
matéria penal para suprimir as atividades criminosas
internacionais do tráfico ilícito;
 Interessadas em concluir uma convenção internacional, que seja
um instrumento completo, eficaz e operativo, especificamente
dirigido contra o tráfico ilícito, levando em conta os diversos
aspectos nos tratados vigentes, no âmbito dos entorpecentes e
das substâncias psicotrópicas.

CENÁRIO NACIONAL

Nos anos 90 foi iniciada por meio de leis, a substituição progressiva dos leitos
psiquiátricos para uma rede integrada de atenção à saúde mental direcionando
para o surgimento da reforma psiquiátrica, momento este potencializado por
práticas, saberes, valores culturais e sociais, mas também caracterizado por desafios
(BRASIL, 2005).

Com isso a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, formalizou a Reforma Psiquiátrica


através da Política Nacional de Saúde Mental garantindo os direitos das pessoas
portadoras de transtorno mentais e promovendo novos direcionamentos nesta
área.

Em 2003 foi instituída a Política Nacional de Atenção Integral ao Uso de Álcool e


Outras Drogas destacando ações voltadas a prevenção, tratamento e educação
referentes a essa problemática com ênfase na articulação intersetorial. Em 2004
através da Portaria nº 1.174, de 15 de junho de 2004, o Ministério da Saúde
direciona incentivo financeiro para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para
estruturação e consolidação da rede extra hospitalar na saúde mental.

Como forma de ampliação das intervenções de saúde e melhoria da qualidade de


vida dos usuários e dependentes de álcool e outras drogas, o Ministério da Saúde
publicou a Portaria nº 1.028, de 1º de julho de 2005, determinando a regulação de
ações que visam à redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de
produtos, substâncias ou drogas que causem dependência. Tais ações
compreendiam uma ou mais das medidas de atenção integral à saúde,
mencionadas abaixo, praticadas respeitando as necessidades do público alvo e da
comunidade:

I - informação, educação e aconselhamento, que objetiva o estímulo à adoção de


comportamentos mais seguros no consumo de produtos, substâncias ou drogas
que causem dependência, e nas práticas sexuais de seus consumidores e parceiros
sexuais;

II - assistência social e à saúde que objetiva a garantia de assistência integral ao


usuário ou ao dependente de produtos, substâncias ou drogas que causem
dependência;

III - disponibilização de insumos de proteção à saúde e de prevenção ao HIV/Aids e


Hepatites.

Ressalta-se nesta portaria que tais ações também se aplicam no âmbito do sistema
penitenciário, das cadeias públicas, dos estabelecimentos educacionais destinados
à internação de adolescentes, dos hospitais psiquiátricos, dos abrigos, dos
estabelecimentos destinados ao tratamento de usuários ou dependentes ou de
quaisquer outras instituições que mantenham pessoas submetidas à privação ou à
restrição da liberdade.

A Portaria 3.088/2011, instituiu a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas


com sofrimento ou transtornos mental e com necessidade decorrentes do uso de
Crack, álcool e outras drogas, no âmbito do SUS, e destacou dentre as diretrizes
para o funcionamento da RAPS, o desenvolvimento de estratégias de Redução de
Danos.

Em 2019, houve a revogação do Decreto nº 4.345, de 26 de agosto de


2002 referente a instituição da Política Nacional Antidrogas com a
aprovação da Política Nacional sobre Drogas por meio do Decreto nº
9.761, de 11 de abril de 2019.

O Decreto nº 9.761/2019, regulamenta a Política Nacional sobre


Drogas, atualmente vigente, promovendo ajustes na Governança da
Política Nacional de Drogas.

Nesse documento são apresentadas informações atualizadas quanto a


estudos realizados como Relatório Mundial sobre Drogas 2018 –
UNODC, II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) e do
Instituto Nacional de Câncer (INCA); além dos pressupostos e objetivos
da política nacional sobre drogas; e destaque na abordagem dos eixos:
prevenção; tratamento, acolhimento, recuperação, apoio, mútua ajuda
e reinserção social; redução da oferta; estudos, pesquisas e avaliações.

São alguns pressupostos da Política Nacional sobre Drogas:


 Reconhecer as diferenças entre o usuário, o dependente e o
traficante de drogas e tratá-los de forma diferenciada,
considerada a natureza, a quantidade da substância apreendida,
o local e as condições em que se desenvolveu a ação de
apreensão, as circunstâncias sociais e pessoais e a conduta e os
antecedentes do agente, considerados obrigatoriamente em
conjunto pelos agentes públicos incumbidos dessa tarefa, de
acordo com a legislação.
 Tratar sem discriminação as pessoas usuárias ou dependentes de
drogas lícitas ou ilícitas.
 Garantir o direito à assistência intersetorial, interdisciplinar e
transversal, a partir da visão holística do ser humano, com
tratamento, acolhimento, acompanhamento e outros serviços, às
pessoas com problemas decorrentes do uso, do uso indevido ou
da dependência do álcool e de outras drogas.
 As ações, os programas, os projetos, as atividades de atenção, o
cuidado, a assistência, a prevenção, o tratamento, o acolhimento,
o apoio, a mútua ajuda, a reinserção social, os estudos, a
pesquisa, a avaliação, as formações e as capacitações objetivarão
que as pessoas se mantenham abstinentes em relação ao uso de
drogas.
 Reconhecer a necessidade de elaboração de planos que
permitam a realização de ações coordenadas dos órgãos
vinculados à redução da oferta de drogas ilícitas, a fim de
impedir a utilização do território nacional para o cultivo, a
produção, a armazenagem, o trânsito e o tráfico de tais drogas.
 Reconhecer a necessidade de elaboração de planos que
permitam a realização de ações coordenadas dos órgãos
públicos e das organizações da sociedade civil vinculados à
redução da demanda por drogas.
 Reconhecer a necessidade de promoção e fomento dos fatores
de proteção ao uso, ao uso indevido e à dependência do álcool e
de outras drogas.
 Reconhecer o vínculo familiar, a espiritualidade, os esportes,
entre outros, como fatores de proteção ao uso, ao uso indevido
e à dependência do tabaco, do álcool e de outras drogas,
observada a laicidade do Estado.
 Reconhecer a necessidade de desenvolvimento de habilidades
para a vida, como forma de proteção ao uso, ao uso indevido e à
dependência do álcool e outras drogas.
 Reconhecer que a assistência, a prevenção, o cuidado, o
tratamento, o acolhimento, o apoio, a mútua ajuda, a reinserção
social e outros serviços e ações na área do uso, do uso indevido
e da dependência de drogas lícitas e ilícitas precisam alcançar a
população brasileira, especialmente sua parcela mais vulnerável.
 Reconhecer que é necessário tratar as causas e os fatores do uso,
do uso indevido e da dependência do álcool e de outras drogas,
além de promover assistência aos afetados pelos problemas
deles decorrentes.
 Reconhecer a necessidade de impor restrições de disponibilidade
de drogas lícitas e ilícitas.
 Reconhecer a necessidade de capacitação e formação da rede
relacionada à Política Nacional sobre Drogas e da Política
Nacional sobre o Álcool, nos âmbitos público e privado.
 Reconhecer a necessidade de estudos, pesquisas e avaliações das
ações, dos serviços, dos programas e das atividades no âmbito
da Política Nacional sobre Drogas e da Política Nacional sobre o
Álcool, nos âmbitos público e privado.
 Reconhecer a necessidade de manter programas de
monitoramento para detecção e avaliação de novas drogas,
sintéticas ou não, sua composição, efeitos, danos e populações-
alvo, a fim de delinear ações de prevenção, tratamento e
repressão da oferta.
 Buscar garantir, por meio do Conselho Nacional de Políticas
sobre Drogas do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o
desenvolvimento de estratégias de planejamento e avaliação das
políticas de educação, assistência social, saúde, trabalho,
esportes, habitação, cultura, trânsito e segurança pública nos
campos relacionados ao tabaco e seus derivados, álcool e outras
drogas, com uso de estudos técnicos e outros conhecimentos
produzidos pela comunidade científica.

Através da Lei 13.840, de 5 de junho de 2019 foi instituída a nova lei sobre drogas
que altera algumas leis como forma de dispor sobre o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas e as condições de atenção aos usuários ou dependentes de
drogas e para tratar do financiamento das políticas sobre drogas, fazendo menção
quanto as questões abaixo:

 Composição e competências do Sistema Nacional de Políticas


Públicas sobre Drogas (SISNAD);
 Formulação das políticas sobre drogas por meio de plano
nacional e conselhos de políticas sobre drogas, constituídos por
estados, distrito federal e municípios;
 Acompanhamento e avaliação das políticas sobre drogas, com
destaque para a Semana Nacional de Políticas sobre Drogas que
passará a ser comemorada anualmente, na quarta semana de
junho;
 Atividades de prevenção, tratamento, acolhimento e de
reinserção social e econômica de usuários ou dependentes de
drogas enfatizando educação e trabalho na reinserção social e
econômica, tratamento do usuário ou dependente de drogas,
plano individual de atendimento, acolhimento em comunidade
terapêutica acolhedora;
 Financiamento das políticas sobre drogas.

Esta lei trouxe algumas questões em discussão quanto a temática


como: fortalecimento de ações para comunidades terapêuticas,
internação involuntária de dependentes químicos; sistema
informatizado único como forma de informar as internações ao
Ministério Público, Defensoria Pública e outros órgãos de internação.

Torna-se importante mencionar que a política de redução de danos (Portaria nº


1.028, de 1º de julho de 2005), inclui na sua proposta a oferta de tratamento para
pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas e não se
opõe a alcançar a abstinência, o que não justifica o fortalecimento das estratégias
de abstinência priorizando o cuidado com comunidades terapêuticas e deixando de
forma acanhada e fragilizada a redução de danos. Entretanto, é preciso ter respeito
à singularidade do sujeito, considerando sua condição, autonomia e ressignificação
quanto ao uso de substâncias, não podendo exigir algo que ele não sinta
necessidade ou não consiga realizar em determinado momento.

Os profissionais, em especial nas práticas dos CAPSad e serviços a pessoas em


situação de vulnerabilidade, procuram garantir a sustentabilidade da política,
entretanto ainda se torna necessário a valorização do trabalho dos agentes
redutores, monitoramento das práticas e vínculo do usuário ao serviço,
mecanismos de financiamento, dentre outros aspectos desafiantes.
CENÁRIO ESTADUAL
 

Contextualização das políticas


públicas sobre álcool e outras drogas no Ceará

O Ceará nos últimos anos trilhou uma caminhada de valorização e


notoriedade ao tema das drogas, destacando-se a nível nacional.

Nos anos de 2010 e 2011, sensibilizada pela expansão do consumo de


drogas no Estado, a Assembleia Legislativa do Ceará (AL/CE) decidiu
articular o “Pacto pela Vida – Drogas, um caminho para um triste fim”.
O fórum foi criado pelo Conselho de Altos Estudos da Assembleia
Legislativa do Ceará e objetivava construir um diagnóstico do uso de
drogas e de assistência aos usuários, identificando os grandes desafios
de enfrentamento da questão para, por fim, traçar um plano de ações
integradas para fazer frente ao problema.

A partir desta iniciativa o governo estadual criou através da Lei nº


15.234, de 19 de novembro de 2012, a Assessoria Especial de
Políticas Públicas sobre Drogas do Estado do Ceará (AESPD). A mesma
se constituía em um órgão de assessoramento para decisões
estratégicas do Chefe do Poder Executivo e coordenação da política
pública sobre drogas, visando assegurar efetividade nas ações de
desenvolvimento social do Estado, em benefício do povo cearense. A
mesma foi extinta em 31 de dezembro de 2014, quando foi concebida,
através da Lei Estadual nº 15.773, de 10 de março de 2015, uma
Secretaria Especial para tratar do tema no âmbito do Estado do Ceará.

A Secretaria Especial de Políticas sobre Drogas (SPD) durante seu


período de atividade de março de 2015 a dezembro de 2018 atuou
desenvolvendo e executando ações nos eixos da Prevenção,
Acolhimento e Cuidado e Reinserção Social e Profissional.
Neste cenário, a SPD constituiu-se órgão central articulador do Sistema
Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas – SISED. Instituído pela Lei
nº 14.217, de 03 de outubro de 2008, e alterado pela Lei nº 15.424,
de 16 de setembro de 2013 e pela Lei Complementar 151 de
27.07.2015, o SISED tem por finalidade articular, integrar, organizar e
implementar ações relacionadas às Políticas sobre Drogas no Estado
do Ceará e apresenta como órgão superior o Conselho
Interinstitucional de Políticas Públicas sobre Drogas – CIPOD, criado
pela Lei Complementar 151 de 27.07.2015, de caráter normativo,
consultivo e de deliberação coletiva nas questões referentes às drogas,
competente para propor, acompanhar e atualizar a Política Estadual
sobre Drogas.

Diante dos novos rumos na esfera estadual com extinção da SPD e


criação da Secretaria Executiva de Políticas sobre Drogas na Secretaria
da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos –
SPS, através da Lei n° 16.863 de 15 de abril de 2019, pretende-se
fortalecer as ações intersetoriais que visam conhecer, articular, propor
e desenvolver estratégias de abordagem ao uso de drogas lícitas e
ilícitas no Estado.

A Secretaria Executiva de Políticas sobre Drogas tem direcionado suas


ações para: Prevenção, Rede de orientação e apoio, Conselhos
Municipais de Politicas sobre Drogas, Educação Permanente, Estudos e
Pesquisas.

A política sobre drogas traz em sua essência o desafio da


intersetorialidade e da transversalidade, cujos princípios somam-se as
lutas e conquistas por uma sociedade justa e igualitária, a garantia do
respeito aos direitos humanos e ao cuidado em liberdade, na qual a
comunhão entre diferentes saberes e práticas devem permitir a
compreensão do fenômeno contemporâneo do uso abusivo de drogas,
de modo integrado, diversificado, com uma leitura plural,
multidisciplinar, com compreensão ampla da vida e que considere a
pessoa como sujeito de direitos, na perspectiva da integralidade do ser
e de sua autonomia.

 
 

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