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IV R O S DE E
3
O ensino das lutas na educação física escolar - a produção científica (2006-2016) das
revistas RBCE, movimento e pensar a prática
6
O ensino das lutas nas aulas de educação física: análise da prática pedagógica à
luz de especialistas
7
O ensino de lutas corporais indígenas na Educação Física Escolar: um relato de
experiência
8
O ensino de lutas na educação física escolar: uma revisão sistemática da
literatura
10
O ensino de lutas/artes marciais em configuração remota: notas de uma
trajetóriadidático-metodológica na formação docente em Educação Física
13
A Educação Física nos Anos Finais do Ensino Fundamental: Desafios,
experiências e possibilidades para o ensino das lutas na escola
14
A presença/ausência do conteúdo lutas na educação física escolar:
identificando desafios e propondo sugestões
15
A separação dos conteúdos das “lutas” dos “esportes” na educação física
escolar: necessidade ou tradição?
Artigos científicos
30 artigos científicos sobre o ensino das lutas na Educação Física
Escolar
19
Desafios para o ensino das lutas na escola: um panorama a partir da base de
dados do portal de periódicos da capes
23
Lutas na educação física escolar: metodologia através dos parâmetros
curriculares nacionais - PCNs
25
Organização e Trato Pedagógico do Conteúdo de Lutas na Educação Física
Escolar
26
Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com
professores de educação física
28
Produção científica nacional sobre o ensino de lutas no ambiente escolar:
estado da arte
30
Tematizando as lutas na educação física escolar: relato de uma prática
pedagógica no contexto do PIBID
Motrivivência Ano XXV, Nº 41, P. 305-320 Dez./2013
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2013v25n41p305
RESUMO
As lutas são conteúdos da Educação Física que devem estar presentes na prática
pedagógica. Contudo, há ainda lacunas e incompreensões em seu desenvolvimento
pedagógico. Assim, por meio de uma revisão de literatura, este estudo objetivou analisar
as lutas compreendendo sua importância, bem como apresentando uma forma de
classificação. Em um segundo momento, apresentou-se uma proposta de organização
curricular das lutas nas séries iniciais do ensino fundamental. Conclui-se ser importante
compreender as lutas enquanto conteúdos das aulas de Educação Física propondo
uma organização dos conteúdos que pode contribuir com a apropriação crítica dessa
manifestação da cultura corporal de movimento.
Movimento, Revista Brasileira de Cineantro- Para Rufino (2012a, p. 17): “a palavra ‘lutar’
pometria e Desempenho Humano, Revista pode conter em si uma série de significados
da Educação Física, Revista de Educação que variam de acordo com o contexto. Luta-
Física, Revista Mineira de Educação Física -se pela vida, por objetivos pessoais, pela
e Revista Brasileira de Educação Física e terra, com um oponente em alguma prática
Esporte. Acrescida desses periódicos inse- esportiva, e assim por diante”. Ao abordar
rimos na análise as revistas Motrivivência e especificamente as lutas enquanto práticas
Pensar a Prática, que também apresentam corporais, esse mesmo autor destaca que:
produções relacionadas às lutas, totalizando
13 revistas científicas analisadas. Em termos de esportivização, as lutas
compreendem uma série de práticas,
Para as análises, foram abordados os
com diferenças e similaridades entre si,
seguintes tópicos de discussão: Lutas: algu- na qual possuem objetivos distintos. Há
mas definições; As lutas na escola: motivos, lutas em que não se pode tocar no outro,
importância e significados; O conteúdo das em que só valem golpes com os braços
(punhos), lutas de agarramento, lutas
lutas na escola: possível classificação; As
que se utilizam de técnicas à distância,
lutas nas séries iniciais do ensino funda- lutas com artefatos, numa infinidade de
mental: proposta de organização curricular. práticas (RUFINO, 2012a, p. 17).
Cada tópico será discutido a seguir.
Sendo assim, embora difícil de pre-
cisar uma vez que a histórica não decorre
Lutas: algumas definições por processos lineares, as lutas como as
conhecemos, representam uma forma que
As definições sobre lutas podem
as sociedades encontraram para superar as
contribuir com maiores compreensões
adversidades de seu meio físico. Com o
acerca dessas práticas corporais. Contudo,
passar do tempo, foi sistematizada e com
não há consensos na literatura uma vez
aplicações práticas nas guerras, em eventos
que transitam na área diversas acepções
distintas, algumas limitando a compreensão diversos, nos esportes, entre outros.
apenas ao que corresponde ao combate e à Os PCN (BRASIL, 1998) trazem uma
oposição entre duas pessoas, outras trazen- definição de lutas partindo das ações pro-
do sentidos mais filosóficos e holísticos ao cedimentais originárias dessas práticas, mas
entendimento dessas práticas. Em muitos também compreendendo valores e atitudes
contextos o verbo “lutar” apresenta diversos circunscritos. Para esse documento oficial
significados. as lutas são definidas como sendo disputas
Segundo Mazzei (2006) a palavra em que os oponentes devem ser subjugados
luta vem do latim: lucta. Ela pode ser de- com técnicas e estratégias de desequilíbrio,
finida como combate entre duas ou mais imobilização ou exclusão de um determina-
pessoas, com ou sem armas, mas também do espaço na combinação de ações de ata-
pode ter um sentido mais abrangente e estar que e defesa. Os parâmetros destacam ainda
ligado ao esforço de um ser em alcançar que as lutas podem ser caracterizadas por
um objetivo, conflito entre doutrinas ou uma regulamentação específica que busca
oposição entre forças materiais ou morais. punir atitudes de violência e deslealdade.
Ano XXV, n° 41, dezembro/2013 309
Bechara (2004, p. 73), por sua vez, adaptando tais pressupostos para as lutas.
aponta que as lutas “são manifestações cul- Para isso, estas práticas corporais são carac-
turais da Cultura Corporal que reproduzem terizadas pelos seguintes aspectos: contato
as formas históricas de enfrentamento (...) e proposital; fusão ataque/defesa; imprevisi-
de preparação para o combate, totalmente bilidade; oponente/alvo e regras (GOMES,
ineficientes no mundo atual comandado 2008; GOMES et al., 2010).
pela tecnologia, porém cheias de tradições Independente da modalidade ou es-
e formas simbólicas de combate”. O autor pecificidade da luta proposta, tais princípios
não apresenta explicações, no entanto, so- salientados anteriormente são condições
bre os motivos de considerar as ações das indispensáveis para que possamos classi-
lutas ineficientes no mundo atual. ficar uma prática como sendo relacionada
Para a Proposta Curricular do Estado às lutas. Ou seja, tais princípios revestem as
de São Paulo (SÃO PAULO, 2008) as lutas práticas das lutas de características próprias,
apresentam em suas origens, características permitindo-nos diferenciá-las das demais
práticas corporais. Por isso, a compreensão
atribuídas à sobrevivência, ao exercício
de tais características é fundamental para
físico, ao treinamento militar, à defesa e ao
que haja subsídios que possam permitir aos
ataque pessoal, além das implicações das
professores ensinar tais manifestações da
tradições culturais, religiosas e filosóficas.
cultura corporal de movimento na escola,
Com o surgimento de outras necessidades
durante as aulas de Educação Física.
e o desenvolvimento de novas técnicas, o
Rufino e Darido (2011) trazem para
ser humano atribuiu outros significados às a pauta a busca pela compreensão se as
lutas. Atualmente há um amplo processo lutas são ou não são esportes. Os autores
de esportivização de muitas modalidades concluem que algumas práticas associadas
bem como de espetacularização, haja vista às lutas passaram por um processo de
a projeção atual dos eventos de Mistura de esportivização, enquanto que outras não.
Artes Marciais (ou Artes Marciais Mistas), da Além disso, os autores ressaltam que ora
sigla em inglês MMA (PAIVA, 2009). estas práticas podem ser consideradas como
Em Gomes (2008) e Gomes et at. esportivas, caso se incluam nas definições
(2010) encontramos uma definição a qual da sociologia do esporte, ora podem ser
compreende as lutas enquanto práticas compreendidas como jogos e brincadeiras,
corporais imprevisíveis que são caracteri- por exemplo, quando vinculadas às aulas de
zadas por apresentar determinado nível de Educação Física na escola.
contato entre os participantes, bem como A partir de tais apontamentos acre-
possibilitar a execução de ações ofensivas ditamos que é possível convergir propostas
e defensivas realizadas simultaneamente. de compreensão das lutas nos contextos es-
Estes autores salientam ainda que o objetivo colarizados, buscando romper paradigmas
das lutas é mútuo, sobre um alvo móvel, que outrora relacionaram tais práticas com
personificado no oponente. aspectos vinculados à violência ou falta de
Para tais definições Gomes (2008) e respeito entre os participantes. Portanto, é
Gomes et al. (2010) buscam contemplar os preciso ter clareza do universo plural e mul-
princípios condicionais do modelo proposto tifacetado relacionado às lutas (CORREIA;
por Bayer (1994) para os esportes coletivos, FRANCHINI, 2010).
310
lutadores. Os golpes caracterizam o contato para reter, imobilizar e livrar-se; jogos para
e não dependem dele para acontecer como combater (OLIVIER, 2000). Esses jogos
na curta distância (o contato é um fim e abrangem ações motoras fundamentais
não o meio). Na média distância estão que as crianças são capazes de realizar nas
presentes os chutes, socos e as sequências atividades de oposição. É possível ainda que
combinadas. os professores incluam outros elementos nas
Finalmente, as ações de longa dis- unidades didáticas relacionadas às lutas nas
tância são definidas pela presença de um séries iniciais, desde que haja clareza dos
implemento e, por isso, deve haver uma objetivos pretendidos, bem como do nível
distância maior entre os oponentes para que desenvolvimento dos alunos.
os mesmos possam manipular de forma ade- Reconhecemos que as classificações
quada esse implemento, fazendo com que apresentadas não contemplam a diversida-
o contato entre eles seja por meio de uma de de lutas existentes e que tão adoção,
espada, por exemplo. Na longa distância há como toda tomada de decisão, implica em
ações como as empunhaduras, habilidades uma seleção de procedimentos e conheci-
manipulativas e posturas. mentos (FORQUIN, 1993). Contudo, tal
perspectiva permite ilustrar possibilidades
Para se desenvolver tais perspectivas
concretas de contextualização didática das
na escola, ao longo das aulas de Educação
lutas na escola haja vista, dentro de outras
Física, os professores podem lançar mão
questões, a grande amplitude de práticas
de uma série de estratégias teórico-meto-
existentes relacionadas às lutas (CORREIA;
dológicas. Nessa visão, os jogos podem
FRANCHINI, 2010), bem como às perspecti-
ser compreendidos enquanto elementos
vas de formação profissional atualmente em
que proporcionam potenciais de ensino.
voga (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006).
Para Olivier (2000) os jogos podem ser
Acreditamos ainda que nos anos
compreendidos enquanto uma simplifi-
iniciais do ensino fundamental é possível
cação na abordagem de lutar, no qual os aprender as lutas por meio de jogos que
alunos devem desempenhar papéis que enfatizem os elementos das lutas. Sendo
serão previamente definidos pelo professor assim, modificamos e adaptamos a classifi-
(o jogador ataca ou defende, imobiliza ou cação de jogos de Olivier (2000), tratando
livra-se, desequilibra ou tenta manter o dos elementos de lutas que prevalecem nos
equilíbrio), ao invés de desempenhá-los jogos de combate, resultando na seguinte
simultaneamente. Tais perspectivas, ao classificação:
menos ao longo das séries iniciais do ensi- • Jogos de esquivar: consiste em jo-
no fundamental facilita a aprendizagem e gos de ações de desvio dos ataques
conscientização quanto os elementos das desferidos, sendo que é preciso al-
lutas (RUFINO; DARIDO, 2011). ternar os papéis de quem ataca e de
O autor ainda classifica as lutas den- quem defende, evitando o contato
tro de seis categorias, as quais podem estar com o adversário;
permeadas pela classificação das distâncias: • Jogos de imobilizar: são jogos em
jogos de rapidez e de atenção; jogos de que há a necessidade de contato
conquista de objetos; jogos de conquista para se chegar a ações de imo-
de territórios; jogos de desequilibrar; jogos bilização e de saídas ou fugas de
Ano XXV, n° 41, dezembro/2013 315
Quadro 2: Organização curricular sobre o conteúdo das lutas ao longo das séries iniciais
do ensino fundamental
Revisão
O que são Revisão Revisão Revisão
conteúdos
lutas? conteúdos já conteúdos já conteúdos já
TEMA 1 já estudados
estudados nos estudados nos estudados nos
nos anos
2 aulas anos anteriores anos anteriores anos anteriores
anteriores
Diferenciação
Elementos das Elementos das Origem e Conhecendo
de lutas e
lutas: jogos de lutas: criação e Possibilidades as Lutas
briga
lutas de transformação de Lutas
TEMA 2 desequilibrar e
conquistar
território
4 aulas 6 aulas 3 aulas 4 aulas
3 aulas
Total de
8 aulas 8 aulas 8 aulas 8 aulas 8 aulas
aulas
ABSTRACT
Fights are Physical Education contents that should be present in pedagogical practice.
However, there are still gaps and misunderstandings in their educational development.
Thus, through a literature review, this study aimed to analyze fights as contents of School
Physical Education, comprehending its importance as well as presenting a classification
form. In a second moment, we presented a curricular organization proposal of fights in
elementary school’s early grades. We concluded that is important to understand fights
as School Physical Education contents. In this way, the content organization suggested
can contribute to the critical appropriation of this movement body culture manifestation.
Adriana F. Gehres2
Rita C. B. F. Rodrigues3
Caio N. O. Silva4
Pablo P. H. Guimarães5
Rebecca R. Oliveira6
Tiago E. Nascimento7
RESUMO
O estudo objetivou sistematizar uma proposta de ensino da Luta para uma escola federal de
educação básica no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID-
Capes) da Escola Superior de Educação Física da Universidade de Pernambuco (ESEF-UPE). Para
tanto, utilizou-se da pesquisa-ação. A proposta de ensino da Luta foi apresentada ao Serviço de
Orientação e Experimentação Pedagógica (SOEP) da referida escola, o qual a aprovou para as aulas
de educação física da escola.
PALAVRAS-CHAVE: Luta; Programa de ensino; Educação física escolar.
1 INTRODUÇÃO
A LUTA
2 METODOLOGIA
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
3 PLANO DE AÇÃO
RESULTADOS
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARCHANJO, Flávio Miguel. A História das Lutas Corporais: Contribuições Epistemológicas
para a Educação Física. Recife, 2005. Monografia de Especialização (ESEF/UPE)
BARRETO, M.; TAVARES, M.; ALMEIDA, R.; SANTOS, T. Programa da disciplina educação
física. Recife, 1999.
GOMES, M. S. P.; MORATO, M. P.; DUARTE, E.; ALMEIDA, J. J. G. Ensino das lutas: dos
princípios condicionais aos grupos situacionais 1. Movimento. Porto Alegre, v. 16, n. 02, p.
207-227, abr/jun de 2010.
LUFT, C. P. Minidicionário Luft da língua portuguesa. 20.ed. São Paulo: Ática, 2000
RUFINO, Luiz G. B; DARIDO, S. Cristina: A separação dos conteúdos das “lutas” dos
“esportes” na educação física escolar: necessidade ou tradição?. Pensar a Prática, Goiânia,
v. 14, n. 3, p. 1-17, set/dez 2011
RESUMO
Este artigo investiga a produção científica (2006-2016) sobre o ensino das lutas nas aulas de educação
física por meio dos artigos das Revistas Pensar a Prática, RBCE e Movimento. Como objetivo, busca-
se um panorama sobre a produção científica que contemple o ensino das lutas na escola. Conclui-se
que a produção científica vem superando a fase de denúncia da ausência do conteúdo lutas e aponta
estratégias e metodologias para o ensino, articulado à formação continuada e a realidade escolar.
PALAVRAS-CHAVE: produção científica; ensino; lutas.
1 INTRODUÇÃO
Este texto problematiza o que tem sido produzido na área de educação física
acerca do ensino das lutas. Matos et al (2013) ao investigar a produção acadêmica
sobre os conteúdos da educação física constata que o esporte continua sendo o
conteúdo hegemônico tematizado pelos autores, de modo que as lutas, a capoeira
e a ginástica configuram-se como temas da cultura corporal abordados em menor
número. O argumento teórico desta investigação busca potencializar os estudos
no campo sócio pedagógico da educação física, especialmente acerca das lutas,
tema pouco abordado pedagogicamente e, de menor visibilidade na produção
acadêmica.
O objetivo central visa oferecer um panorama sobre a produção científica da
área quanto às preocupações de pesquisa sobre o ensino das lutas. Contribuindo
assim, para a constituição de um “estado do conhecimento” que pode revelar
concepções e prescrições pedagógicas que norteiam e fazem interface com a
temática investigada.
O corpus documental constitui-se dos textos indexados em três periódicos
da área no período de 2006 a 2016, inclusive as edições especiais do período, são
1 O presente texto não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização.
2 Universidade Federal de Goiás, anacarla.carvalho72@gmail.com
3 Universidade Federal de Goiás, luarafaria@hotmail.com
4 Universidade Federal de Goiás, maristela.vicente.paula@gmail.com
TABELA 1 - Acervo de artigos sobre o ensino das lutas nas aulas de educação física.
Título Autores(as) Periódico Ano
A separação dos conteúdos das “lutas” dos “esportes” na Pensar a
Rufino; Darido 2011
Educação Física escolar: Necessidade ou tradição? Prática
Agressividade, violência e Budô: temas da Educação Física em Pensar a
Ueno; Sousa. 2014
uma escola estadual em Goiânia. Prática
Conhecimento declarativo de docentes sobre a prática de lutas,
Fonseca; Pensar a
artes marciais e modalidades esportivas de combate nas aulas de 2013
Franchini;Vecchio. Prática
Educação Física escolar em Pelotas-RS.
O jogo de faz de conta e o ensino da luta para crianças: criando Fabiani; Scaglia; Pensar a
2016
ambientes de aprendizagem. Almeida. Prática
Capoeira nas aulas de educação física: alguns apontamentos
Silva. RBCE 2011
sobre processos de ensino-aprendizado de professores.
A Tematização das lutas nas aulas de Educação Física Escolar: Nascimento;
Movimento 2007
restrições e possibilidades. Almeida.
Bertazzoli; Alves;
Uma Abordagem Pedagógica para a Capoeira. Movimento 2008
Amaral.
Ensino das lutas: dos princípios condicionais aos grupos Gomes; Morato;
Movimento 2010
situacionais Duarte; Almeida.
MMA e Educação Física Escolar: a luta vai começar Vasques; Beltrão. Movimento 2013
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto aos aspectos centrais dos textos levantados, evidenciamos que esta
produção inaugura um novo estágio de conhecimento para o ensino das lutas
na escola na medida em que, supera o denuncismo corrente da inexistência do
trato pedagógico das lutas na educação física para lançar mão de estratégias
metodológicas que possam subsidiar metodologias de ensino para este conteúdo.
Vale dizer, que a necessidade de formação qualificada ainda é enfatizada pela
literatura, no entanto esta produção mais recente da área tem-se comprometido
em focalizar esforços que colaboram para a formação continuada de professores de
educação física pautada nas demandas da realidade escolar.
Assim, a abordagem das lutas ocorre de modo amplo, as modalidades não
são tratadas de modo estanque, perspectiva esta que reflete a sintonia com o que
vem sendo produzido no campo das metodologias críticas da educação física.
Todos os textos possuem abordagem qualitativa e estão articuladas a experiência
docente, seja no sentido das preocupações teórico-metodológicas, seja articulando
universidade-escola através de investigações de cunho propositivo que podem
contribuir para a reflexão e qualificação dos envolvidos.
ABSTRACT: This article investigates the scientific production (2006-2016) on the teaching of the
struggles in physical education classes through the articles of the Magazines Thinking Practice,
RBCE and Movement. As an objective, we search for a panorama about the scientific production that
contemplates the teaching of the struggles in the school. It is concluded that the scientific production
has overcome a stage of denunciation of the absence of content struggles and points out strategies
and methodologies for teaching, articulating the continuous formation and the school reality.
KEYWORDS: scientific production; teaching; Fights
REFERÊNCIAS
ALVES JÚNIOR, E. Discutindo a violência nos esportes de luta: a responsabilidade do
professor de educação física na busca de novos significados para o uso das lutas como
RESUMO EXPANDIDO | GTT 05 - ESCOLA
Disponível em: <http://congressos.cbce.org.br/index.php/conbrace2017/7conice/>
ISSN 2175-5930
1295
conteúdo pedagógico. Usos do Passado. In. XII ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA.
ANPUH. RJ. Anais... 2006. p.01-09.
GOMES, M. S. P. et al. Ensino das lutas: dos princípios condicionais aos grupos
situacionais. Movimento, Porto Alegre, v. 16, n. 02, p. 207-227, abr/jun. 2010.
MATOS, J. M. C.; SCHNEIDER, O.; MELLO, A. da S.; FERREIRA, A. F.; SANTOS, W. dos. A
produção acadêmica sobre conteúdos de ensino na educação física escolar. Movimento,
Porto Alegre, v. 19, n. 02, p. 123-148, abr/jun; 2013.
NASCIMENTO, Paulo R. B. do; ALMEIDA, Luciano de. A tematização das lutas na Educação
Física Escolar: restrições e possibilidades. Movimento, Porto Alegre, v. 13, n. 03, p. 91-110,
setembro/dezembro. 2007.
RUFINO, L. G. B.; DARIDO, S. C.A separação dos conteúdos das “lutas” dos “esportes” na
Educação Física escolar: Necessidade ou tradição? Pensar a Prática, Goiânia, v. 14, n. 3, p.
117, set./dez. 2011.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. São Paulo. Cortez. 2007.
VASQUES, D. G.; BELTRÃO, J. A. MMA e Educação Física Escolar: a luta vai começar.
Movimento, Porto Alegre, v. 19, n. 04, p. 289-308, out/dez de 2013.
RESUMO
Este estudo tem o objetivo de analisar e refletir sobre o ensino das práticas de Lutas no ambiente
escolar, a partir da concepção de 2 (dois) acadêmicos do curso de Educação Física. Possui uma
abordagem qualitativa de cunho descritivo interpretativo com ênfase no estudo de caso. Foi
utilizado um instrumento de pesquisa, no formato de questionário misto, contendo perguntas
abertas e fechadas, com o intuito de coletar o depoimento dos participantes, a partir de 5 (cinco)
questões norteadoras sobre o tema. De maneira geral, os entrevistados manifestaram aprovação
em relação ao ensino de Lutas na Educação Física escolar e demonstraram estar cientes dos
benefícios que estas práticas podem proporcionar, se trabalhadas da forma adequada. As
percepções apresentadas pelos estudantes possibilitaram ao estudo reflexões como: a necessidade
do ensino de Lutas no meio acadêmico; além do tipo de abordagem que este tema deve ter nas
escolas, possibilitando o conhecimento de diferentes práticas e as individualidades
técnicas/históricas/culturais que possuem, além da execução de jogos educativos com elementos
das Lutas, para vivenciar na prática estas características estudadas; por fim, também mostrou-se
extremamente essencial a atenção e o cuidado com a prática docente, que exerce grande influência
na maneira que os alunos irão encarar e praticar as Lutas durante as aulas.
Palavras-chave: Aprendizado; Docente; Práticas Corporais.
INTRODUÇÃO
Atualmente a Educação Física escolar passa por grande carência no que tange ao
ensino das diferentes práticas corporais. Apesar dos constantes discursos da necessidade
de diversificar os conteúdos, a maior parte das instituições oferece uma educação
limitada, priorizando apenas o ensino dos clássicos esportes coletivos, como: futsal,
voleibol, handebol e basquetebol. Desta forma, o aprendizado e a experiência dos alunos
com as práticas corporais acabam se tornando superficiais e insuficientes, por conta da
ausência de outros conteúdos com grande valor social e cultural, como é o caso das Lutas
(MATOS, 2015).
As Lutas são práticas que possuem grande relevância na cultura do movimento e
estiveram presentes em grandes momentos históricos da humanidade, exercendo grande
influência em diversos costumes, estilo de vida e no rumo das sociedades. Neste sentido,
Matos (2015, p.120) destaca que as Lutas “são conteúdos ricos em significados e
possibilitam a apreensão de conhecimentos em diferentes dimensões, quer sejam
conceituais, científicas, estéticas, corporais, econômicas, dentre outras”.
Diante disso, González e Fensterseifer (2014, p.437) caracterizam as Lutas como,
1
Acadêmico, Educação Física da UNIJUÍ, Ijuí-RS, joao.corso@sou.unijui.edu.br
2
Docente do Curso de Educação Física da UNIJUÍ, Ijuí -RS, fabiana.antunes@unijui.edu.br
_______________________________________________________________________
Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES, Juína/MT, v. 4, n. 5, jan./jun. 2021. 27
de caráter simultâneo. Apresentam o envolvimento de ações que
ocorrem ao mesmo tempo e são centradas em um alvo que é móvel e
personificado pelo corpo de outrem, além de diferentes níveis de
contato de acordo com as características de cada prática. São regidas
por regras básicas que variam conforme a modalidade.
Devido à magnitude destas práticas, as Lutas estão previstas como conteúdos a
serem trabalhados na Educação Física escolar, com presença tanto no ensino fundamental
quanto no ensino médio. Estas orientações fazem parte dos documentos nacionais que
norteiam a composição do currículo das escolas, como a BNCC – Base Nacional Comum
Curricular (BRASIL, 2018). Sendo assim, é de direito dos alunos, o aprendizado e
experiências com Lutas em determinadas aulas de Educação Física.
Apesar disso, este conteúdo ainda é pouco trabalhado e é quase inexistente no
ambiente escolar. Isso se deve a certos preconceitos que existem em relação às lutas
relacionando-as com brigas; a falta de materiais; e/ou a formação falha dos profissionais
de Educação Física, dentre outros empecilhos que acabam desenvolvendo certo receio
com a prática das Lutas nas escolas (RUFINO, 2014).
Visando colaborar para a superação destes problemas citados, Rufino apresenta
algumas considerações sobre cada um deles. Com relação ao preconceito, o autor constata
que não há uma postura crítica e discute a necessidade de um ensino de maneira adequada,
envolvendo debates, troca de ideias, estudos, fatos históricos e experiências concretas,
para desmistificar certos pensamentos simplistas e errôneos em relação às lutas. Referente
à falta de materiais e adaptação das atividades, Rufino (2014, p.34) indica que“é
importante conhecer modos de adaptação dos materiais, das regras e da utilização de
formas de ensino, assim como a estratégia dos jogos de luta”. Sobre a formação falha dos
profissionais da área de Educação Física, diz é que,
Outra questão fundamental para o ensino das Lutas na escola são os jogos
educativos de lutas. Estes, aliados ao modelo situacional-ativo de educação, possuem
grande potencial, pois permitirão a vivência da lógica interna e das mais variadas
características que as lutas possuem. Deste modo os jogos educativos apresentam-se
como grandes aliados na superação dos obstáculos e na viabilização das práticas de Lutas
no ambiente escolar. Seguindo esta compreensão,
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Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES, Juína/MT, v. 4, n. 5, jan./jun. 2021. 28
Desta forma é de extrema relevância para o campo das Lutas, estudos que se propõe a
analisar diferentes pontos de vista em diferentes contextos da sociedade, para maiores
aprofundamentos na resolução de problemas e na viabilização de caminhos para o ensino
destas práticas.
Diante das considerações destacadas, este estudo busca contribuir na ampliação
das reflexões acerca do tema “Lutas” no meio universitário. Para isso, tem por objetivo
analisar e refletir sobre o ensino das práticas de Lutas no ambiente escolar, a partir da
concepção de 2 (dois) acadêmicos do curso de Educação Física de uma Universidade
pública do país.
METODOLOGIA
Este estudo possui uma abordagem qualitativa de cunho descritivo interpretativo
com ênfase no estudo de caso. Foi utilizado um instrumento de pesquisa, no formato de
questionário misto, contendo perguntas abertas e fechadas. Com o intuito de coletar o
depoimento dos participantes, a entrevista contou com 5 (cinco) questões norteadoras,
envolvendo os temas: desenvolvimento do ensino de Lutas nas escolas; disciplina de
Lutas na formação acadêmica; condições dos cursos graduação para o trabalho com este
tema; o papel do docente no ensino das Lutas nas escolas; os benefícios e/ou malefícios
das Lutas para os alunos.
Este instrumento de pesquisa foi enviado por e-mail em um documento no formato
de PDF aos 2 (dois) voluntários da pesquisa que responderam e devolveram também
através do e-mail. Buscando preservar a identificação pessoal dos entrevistados, os
mesmos estão representados no presente artigo como Estudante 1 e Estudante 2. De
acordo com os dados coletados inicialmente, os participantes possuíam os seguintes
perfis:
Estudante 1 - 21 anos; sexo masculino; graduando do 4º semestre do curso de
Educação Física (bacharelado) em Universidade pública.
Estudante 2 - 19 anos; sexo masculino; graduando do 1º semestre do curso de
Educação Física (bacharelado) em Universidade pública.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Diante das respostas concedidas pelos entrevistados, foi possível analisar o
contato e as relações de cada um com as Lutas, a partir das questões 2 e 3, além das
percepções e opiniões dos voluntários sobre o contexto da prática de Lutas no ambiente
escolar, por meio das questões 1,4 5.
A primeira questão, referente ao ensino do tema "Lutas" nas aulas de Educação
Física escolar, foi respondida pelos entrevistados da seguinte forma:
“Desenvolveria sim este tema nas aulas, para que os alunos possam ter a experiência e
a iniciação de lutas, assim podendo se interessar e daí individualmente de acordo com o
interesse próprio levar a prática mais a fundo. Além de abrir o “leque” de possibilidades
na Educação Física escolar” (Estudante 1, 2021).
“Eu desenvolveria o tema de lutas na educação física escolar, pois acredito que seja
importante tanto para autodefesa, tanto para interação com os colegas, para aprenderem
a se respeitar e também porque acho importante a apresentação de diferentes esportes
para os alunos” (Estudante 2, 2021).
A partir destas considerações, fica evidente que os 2 (dois) sujeitos são favoráveis
ao ensino das Lutas nas escolas, confirmando que trabalhariam com este tema na
disciplina de Educação Física. Dentre as justificativas, foram citadas a importância da:
interação dos alunos; a autodefesa; a disciplina. E a ideia que merece destaque, inclusive
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presente nos 2 (dois) discursos, é o reconhecimento da importância da diversidade de
práticas e das inúmeras possibilidades que o campo da Educação Física pode oferecer.
Esta ideia reflete o grande desafio dos profissionais desta área, de proporcionar
aos alunos o aprendizado e as experiências nas diversas práticas pertencentes à cultura
corporal do movimento. As Lutas pertencem ao grupo de práticas previstas no currículo
escolar e, como os sujeitos do estudo apontaram, é de grande importância para o processo
de formação dos alunos na Educação Física.
A segunda questão da entrevista busca saber se há alguma disciplina específica de
Lutas na graduação da universidade em que os entrevistados estudam. Por cursarem
Educação Física na mesma instituição, os 2 (dois) responderam que sim, porém é ofertada
de forma optativa no currículo do curso e eles não haviam cursado até o momento.
É fundamental que disciplinas que abordam o ensino das Lutas estejam presentes
nos cursos de Educação Física, para que os futuros profissionais, formados nestas
instituições, tenham aporte teórico e prático adequado para trabalhar com este tema nas
escolas. No caso dos entrevistados, há a possibilidade, mesmo que de forma optativa, de
realizarem a disciplina. Diferentemente de grande parte dos cursos de Educação Física do
país, que sequer oferecem disciplinas com abordagens deste tipo. Neste sentido, é cabível
a seguinte reflexão: o atual ensino e prioridades das instituições de ensino superior, em
geral, estão contribuindo com a formação necessária para o trabalho com práticas
inovadoras e a inclusão de diferentes conteúdos, como é o caso das Lutas?
A terceira pergunta da entrevista questiona se, na opinião dos entrevistados, o
curso que estão realizando oferece condições para que incluam as aulas de Lutas na
escola. A partir disso, obteve-se as seguintes respostas:
“Acredito que o curso que estou estudando oferece sim as condições necessárias para
que tenhamos a capacidade de passar aos alunos uma base das Lutas. Mas não se
aprofunda de maneira que possamos trabalhar com as técnicas mais avançadas e
apuradas de tal Luta específica” (Estudante 1, 2021).
“Sim, porque temos a disciplina de inicialização em lutas e podemos tranquilamente
incluir em aulas, porém é uma disciplina base, por isso, se decidíssemos trabalhar no
âmbito do treinamento específico e de alta intensidade com determinada Luta, seria
necessário um estudo e formação maior” (Estudante 2, 2021).
Analisando as opiniões dos estudantes é possível entender que os dois
compreendem o papel da disciplina de Lutas no curso de Educação Física, que não se
detêm a ensinar/treinar técnicas avançadas de Lutas específicas, mas sim trabalhar com
elementos, lógicas, regras e características que sirvam como base para o ensino adequado
deste tema no ambiente escolar, em dinâmicas de recreação/lazer ou até mesmo práticas
que possam envolver certas técnicas/características de Luta.
O preparo e o treinamento de práticas específicas de Luta para o alto nível não
está presente na proposta dos cursos de Educação Física. Caso o profissional pretenda
tornar-se professor ou instrutor de uma determinada Luta específica, precisa se
especializar, praticar e atingir certo nível de graduação da modalidade para, então, estar
apto a ministrar aulas e treinamentos, com fins de aprendizado, competição e/ou
aprimoramento para o alto rendimento.
Já no curso de Educação Física, o ensino de Lutas deve estar presente no intuito
de capacitar o graduando a trabalhar com seus futuros alunos sobre: aspectos históricos e
culturais do tema; prática de jogos/dinâmicas/tarefas que envolvam determinados
movimentos, técnicas e características de Lutas; além de vivências com certas
modalidades e o conhecimento dos mais variados tipos de Lutas. No caso dos
entrevistados, o curso que realizam oferece uma disciplina com este tema, por conta disso,
os dois acreditam que o curso atende às demandas para o posterior ensino nas escolas.
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A questão seguinte (4ª questão) indaga se, na opinião dos entrevistados, o docente
deve ensinar o tema Lutas nas aulas de Educação Física escolar. A partir disso, obteve-se
as seguintes respostas:
“Na minha opinião, os professores devem sim passar o tema lutas nas aulas de
educação física, para que os alunos possam ter a oportunidade de aprender e se
interessar pela arte” (Estudante 1, 2021).
“Em minha opinião sim, o tema lutas deve ser introduzido no âmbito da educação
física escolar” (Estudante 2, 2021).
As duas opiniões mostram-se a favor do ensino das Lutas nas escolas e, a
similaridade das ideias dos estudantes perante esta e as demais questões tem grande
influência da provável forma de pensar o ensino da Educação Física no curso que
estudam, desde o início até o término do mesmo. Deste modo, apesar de ainda não terem
feito a disciplina específica de Lutas, os entrevistados já mostraram entender sobre a
importância da diversidade de práticas a serem trabalhadas na Educação Física, além das
inúmeras possibilidades de experiências e aprendizado que esta área pode e deve
proporcionar aos alunos.
Por isso, mesmo estando em semestres/etapas diferentes, as ideias dos estudantes
seguem a mesma linha de pensamento e são refletidas nas diversas respostas concedidas
a este estudo. Como por exemplo, ao citarem em boa parte delas a necessidade da
presença de diferentes práticas e possibilidades na Educação Física escolar além de
considerarem as Lutas como uma dessas possibilidades para ampliar o “leque” de opções.
Ao tomar consciência, desde o início, do dever e importância do trabalho com as
diversas práticas inovadoras na Educação Física, o graduando tende associar
adequadamente certas propostas com naturalidade, como é o caso da proposta do ensino
das Lutas nas escolas. Mesmo não tendo estudado diretamente com estas práticas, os
estudantes já possuíam o conhecimento da relevância da diversidade de modalidades no
campo da Educação Física, portanto associaram as Lutas a estas práticas, compreendendo
então como necessárias e importantes.
Por fim, a 5ª e última pergunta questiona se, na opinião dos entrevistados, as aulas
de Lutas na escola podem trazer benefícios ou malefícios aos alunos. As respostas
concedidas foram as seguintes:
“Acredito que as aulas sobre lutas trazem grandes benefícios, pois proporciona
aos alunos um convívio social de interação com os demais colegas e ensina-os a respeitar
o esporte” (Estudante 1, 2021).
“Acredito que, se bem introduzida pelo professor, pode trazer diversos benefícios
como os já citados na questão 1. Porém, se não for introduzida com cuidado e atenção
pode gerar conflito entre os alunos e se tornar algo agressivo e ruim para os mesmos”
(Estudante 2, 2021).
A primeira opinião traz elementos relacionados aos benefícios que as Lutas podem
proporcionar aos alunos, como o convívio e interação entre eles. Estes aspectos estão
fortemente ligados ao potencial de inclusão e relações sociais que estas práticas
proporcionam para os participantes, através do contato físico, respeito à integridade dos
oponentes e superação de limites individuais por meio de interações com os colegas.
Outro elemento citado que vale destaque é o respeito com a prática, ou seja, muito
além de realizar determinada Luta, o aluno compreenderá o que ela significa, valores que
carrega e características que envolve, como: regras, noções técnicas e táticas, dentre
outros aspectos que tornam estas práticas tão ricas e complexas. Desta forma, o aluno
tende distinguir as Lutas de brigas ou violência gratuita e, portanto, passará a trata-las de
forma mais responsável e respeitosa.
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A segunda resposta acrescenta a responsabilidade do docente diante dos
benefícios ou malefícios que estas práticas podem proporcionar. Este elemento é
extremamente importante para o andamento das aulas, tanto com práticas de Lutas quanto
com qualquer outro tipo de prática, destacando a influência do professor sobre o
aprendizado e entendimento dos discentes perante os conteúdos trabalhados.
Neste sentido, cabe ao docente conduzir a aula de forma apropriada,
proporcionando a seus alunos o ensino através de reflexões, criticidade e, além do simples
ato de realizar determinada prática, gerar a tomada de consciência do que estão praticando
e por que estão praticando. No entanto, se o professor não tiver o cuidado necessário, não
realizar as explicações e contextualizações adequadas, apenas trabalhando com técnicas
e movimentos aleatórios, a tendência é que passe por problemas, ainda mais trabalhando
este tipo de prática, que já sofre com grande preconceito, desconhecimento e receio no
ambiente escolar. Consequentemente, ao invés de proporcionar os benefícios que as Lutas
possuem, acabarão causando os malefícios que elas tanto abominam.
Por isso, faz-se necessário o preparo/capacitação dos professores para o trabalho
com o conteúdo a ser ensinado e esta é a importância dos cursos de graduação que
possuem em seu currículo as práticas de Lutas. Sem uma base de metodologias, materiais
e possibilidades, torna-se extremamente difícil o ensino adequado destas práticas no
âmbito escolar e isso acaba colaborando para serem deixadas de lado nas aulas de
Educação Física de grande parte das escolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo proporcionou análises e reflexões que buscam validar e reforçar
a importância do ensino de Lutas nas escolas. A partir das respostas dos estudantes
universitários, foram abordados assuntos e questões extremamente relevantes para esta
temática. Os entrevistados manifestaram aprovação em relação ao ensino de Lutas na
Educação Física escolar e, de maneira geral, demonstraram estar cientes dos benefícios
que estas práticas podem proporcionar, se trabalhadas da forma adequada, como: respeito,
melhor interação com os colegas, diversidade de experiências, dentre outras contribuições
que a temática tende a potencializar nesta disciplina.
As percepções apresentadas pelos estudantes possibilitaram ao estudo reflexões
como a necessidade do ensino de Lutas no meio acadêmico, com o intuito de preparar os
futuros profissionais para o trabalho com estas práticas na Educação Física escolar de
forma adequada. Outro tópico analisado foi a abordagem que este tema deve ter nas
escolas, não se detendo ao ensinamento de modalidades específicas, mas sim no
conhecimento de diferentes práticas e as individualidades técnicas/históricas/culturais
que possuem, além da execução de jogos educativos com elementos das Lutas, para
vivenciar na prática estas características estudadas.
Mostrou-se também extremamente essencial o cuidado e a atenção na prática
docente, que exerce grande influência na maneira que os alunos irão encarar e praticar as
Lutas durante as aulas. Desta forma, o professor tem o papel de guiar as aulas com
reflexões, senso crítico e explicações que irão elucidar o aprendizado destas práticas e
desenvolver o respeito e a valorização das mesmas.
Por fim, conclui-se que as Lutas devem ser incluídas no ambiente escolar, como
conteúdos na disciplina de Educação Física. Neste sentido, torna-se necessário o preparo
e capacitação dos futuros docentes nos cursos de graduação, desenvolvendo as
competências necessárias para o ensino adequado desta temática nas escolas. Portanto, se
existir a consciência e a atenção apropriada ao ensino das Lutas nos cursos de graduação,
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esta condição terá grande impacto e contribuição para os futuros profissionais e refletirá
posteriormente na presença destas práticas na Educação Física escolar.
REFERÊNCIAS
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Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES, Juína/MT, v. 4, n. 5, jan./jun. 2021. 33
Motrivivência v. 27, n. 45, p. 262-279, setembro/2015
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2015v27n45p262
RESUMO
A Educação Física brasileira é controversa quanto aos seus conteúdos: ao mesmo tempo
em que se declaram diversas possibilidades de tematização, nota-se que aquelas que se
apresentam no cotidiano das aulas são retratos da área em décadas passadas. O estudo
tem o objetivo de relatar possibilidades de inclusão das Lutas nas aulas de Educação
Física para alunos do sexto ano do ensino fundamental a partir de jogos. Foi proposto
um percurso com quatro situações de aprendizagem em que se buscou a compreensão
e a experimentação dos princípios condicionais das Lutas e suas classificações por tipo
de contato e distância. Destacam-se as aprendizagens que permitiram a interconexão
entre o saber fazer e as razões do fazer nas diferentes situações-problema. Além disso,
esta experiência rompe com alguns paradigmas recorrentes, como a questão da violência
ou a necessidade de ser especialista em Lutas para abordá-las.
1 Especialista em Ética, Valores e Cidadania na Escola. Professor de Educação Física da Rede Municipal do Ensino
de São Paulo e da Rede Estadual de São Paulo. São Paulo/SP, Brasil. E-mail: raphael.gregory@hotmail.com
2 Mestre em Pedagogia do Movimento. Professora de Educação Física da Rede Estadual de São Paulo. Professora
do Centro Universitário UNISANTAT’ANNA, São Paulo/SP, Brasil. E-mail: tiemiok@yahoo.com
V. 27, n° 45, setembro/2015 263
3 Esta possibilidade de inserção das Lutas foi pensada e aplicada em uma escola da rede estadual paulista, logo,
as experiências didáticas dialogaram com o currículo oficial adotado.
264
4 Neste texto, a expressão “briga” é sinônimo de “agressão”, conforme adotado por Oliveira e Martins (2007): a
aplicação de força excessiva contra o outro, de maneira intencional, com o objetivo de causar dano.
266
5 Para Elenor Kunz, a pessoa estabelece relações de sentido e significado com o movimento e consequentemente
com mundo, logo o “se-movimentar” representa uma experiência subjetiva, que vai além de um movimento
que considera apenas os aspectos de natureza física (compreendido apenas pelas leis da Física, por exemplo),
para considerá-lo como “[...] meio e precondição para as experiências humanas mais ricas e variadas” (KUNZ,
2006, p. 20).
6 “[...] o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de
tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim
em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente
da ‘vida quotidiana’” (HUIZINGA, 2008, p. 33).
V. 27, n° 45, setembro/2015 269
(tanto na vitória ou derrota), pois uma série 14 aulas para desenvolver o tema entre
de ações é executada para se chegar aos Agosto e Setembro de 2013.
objetivos almejados (DAOLIO, 2012). O Percurso de Aprendizagem foi
organizado em quatro Situações de Apren-
dizagem (Quadro 1): Mapeamento, Princí-
Percurso de aprendizagem pios Condicionais, Classificações da Luta
e Revisão. Nem todas as aulas aplicadas
O percurso apresentado faz parte serão analisadas neste texto de forma mi-
do trabalho desenvolvido pelo autor com nuciosa, no entanto, os fenômenos mais
alunos do sexto ano do ensino fundamental significativos serão apreciados com mais
de uma escola da rede estadual paulista, profundidade para situar o leitor sobre as
localizada na zona norte da cidade de São repercussões do seu desenvolvimento em
Paulo, cujo bairro possui característica resi- consonância com os objetivos almejados.
dencial e atende uma população com baixas Convém ressaltar que o presente
condições socioeconômicas. A maioria dos Percurso de Aprendizagem contempla os
alunos é residente no bairro e em outros conteúdos para as séries iniciais do ensino
vizinhos à escola. fundamental proposto por Gomes et al.
As aulas foram aplicadas para as (2013) em sua revisão de literatura, mesmo
dez turmas de sexto ano, contudo foi se- ano em que o Trabalho de Conclusão de
lecionada uma turma para a produção do Curso que motivou este estudo foi defen-
estudo com as seguintes características: dido (LOPES, 2013). Essa coincidência
assiduidade, número adequado de alunos demonstra a urgência em se incluir essa
(24 alunos frequentes) e com composição temática na Educação Física escolar, visto
equilibrada entre meninos e meninas, cujas a escassez de trabalhos relacionados às
idades variavam entre onze e doze anos. Lutas na escola e tendo poucos referenciais
Salienta-se ainda que essa turma teria mais teóricos sobre o tema que servem de base
aulas previstas no bimestre, visto poucos para as práticas pedagógicas.
feriados, reuniões escolares etc., totalizando
2. Princípios
1. Mapeamento 3. Classificações da Luta 4. Revisão
Condicionais
Jogos de luta: Princípios Classificações da Luta. O que é Luta
- Arranca Fita em condicionais. (definição)?
grupo/dupla; Jogos de luta:
- Rouba Bandeira; Jogos de luta: - Imóvel; Percurso
- Ameba. - Luta de Cobra; - Luta com Balões; histórico da Luta.
- Luta de Braço; - Esgrima.
Roda de conversa: - Luta com Bola; Princípios
- O que é Luta - Empurra-empurra; condicionais.
(definição)? - Arranca Fita em
- Percurso histórico duplas; Classificações
da Luta. - Cabo de Guerra. da Luta.
270
7 Não serão descritos todos os jogos utilizados, haja vista que muitos deles estão presentes nos cotidianos
escolares, mas eles podem ser encontrados no projeto Mapa do Brincar do jornal Folha de S.Paulo, disponível
em: <http://mapadobrincar.folha.com.br>. Acesso em 18 abr. 2015.
V. 27, n° 45, setembro/2015 271
Mídia exerce influências significativas na Luta desde seus primórdios até a atualidade,
vida das pessoas, reiterando um discurso além do seu conceito adotado neste traba-
hegemônico e criando novos produtos para lho. A partir disso, a diferenciação entre
o consumo (AMARAL, 2012). Luta e briga foi ressaltada, haja vista que
Quando foram solicitados a olhar a manifestação corporal apresenta regras
para as práticas vivenciadas, os alunos nota- bem definidas e o respeito mútuo entre os
ram que o “Arranca Fita”, nas duas versões, adversários.
eram mais próximos ao conceito de Luta do Por fim, como forma de avaliação
que os demais jogos, ainda mais o realizado e registro das aprendizagens, foram apre-
em duplas. Quanto ao “Ameba” e ao “Rou- sentados vídeos (Quadro 2) com diferentes
ba Bandeira”, falaram que não eram Lutas, práticas corporais e os alunos tiveram que
pois não tinha contato físico ou era mínimo. elaborar um quadro síntese identificando as
Após a “Roda de conversa” foi apre- práticas que podem ser consideradas Lutas
sentado um percurso histórico situando a a partir do que foi visto nas aulas.
A análise dos vídeos diagnosticou e não situaram quando eles estavam presen-
articulou os saberes trabalhados até o mo- tes nos vídeos que apresentavam Lutas ou
mento. Os alunos deveriam se concentrar brigas. Dentre as habilidades e capacidades
em classificar aqueles que eram Lutas; quais apontaram: velocidade, força, agilidade,
comportamentos dos lutadores poderiam socos, chutes, rasteiras, derrubar, ginga,
ser observados; quais as principais habili- equilíbrio, correr e puxar; o que demonstra
dades empregadas; quais regras estavam o conhecimento das ações necessárias à prá-
presentes; enfim, deveriam refletir se “é tica. Sobre as regras, devido a diversidade
possível vivenciar as Lutas na escola?”.
de práticas apresentadas, não foi possível
A maioria dos alunos identificou as
estabelecer uma análise mais precisa, haja
práticas concernentes às Lutas. Quanto aos
vista que eles poderiam citar qualquer uma
comportamentos, eles citaram a agressivida-
e suas peculiaridades.
de, o respeito, a violência, a raiva etc., mas
272
Por fim, sobre a possibilidade de encontrada. Vale destacar que eles não só
vivenciar as Lutas na escola, não foi encon- alteraram as duplas entre seus pares de mes-
trada nenhuma resposta negativa, principal- mo sexo, mas também para menino-menina,
mente ao observar os relatos das primeiras o que demonstra um avanço no aspecto de
aulas, que indicavam a preocupação em se aceitação e respeito visto que as diferenças
conhecer o conteúdo. Várias podem ser as costumam marcar as atividades em que
hipóteses, mas acreditamos que os jogos predomina a “força”, tida como masculina.
parecidos com as Lutas tenham levado a Já na “Luta com bolas”, cada dupla
compreensão que a mesma não precisa ser estava sentada, um de frente para o outro,
idêntica ao modelo oficial; que as Lutas de modo que as solas dos pés se encontrem
tem regras e as brigas não, caracterizan- e segurando uma bola ao mesmo tempo.
do esta última como um comportamento Vencia aquele que conseguia tomar a posse
inadequado ao ambiente escolar e social do material. Foi observado que eles gosta-
como um todo. ram da atividade, mas depois de duas/três
Já a situação de aprendizagem realizações, e mesmo trocando as duplas,
Princípios Condicionais procurava que eles perderam um pouco a motivação em
os alunos (1) vivenciassem elementos que realizá-la: alguns foram arremessar a bola à
compõem as Lutas, a partir de formas adap- cesta e outros propuseram uma nova forma
tadas; (2) compreendessem e articulassem de execução: em trios. Nesta, em vez de
as vivências aos princípios condicionais ter duas pessoas disputando a posse de
das Lutas. Foram desenvolvidos jogos que bola, haviam três, o que tornou o jogo mais
priorizavam ao menos um dos princípios divertido e emocionante, pois havia forças
condicionais: a “Luta de Cobra” prioriza atuantes em três direções contrárias; nesse
o princípio condicional alvo/oponente; o momento, até quem estava arremessando
“Braço de ferro” e o “Empurra-Empurra”8, retornou a tarefa.
o contato proposital; a “Luta com bolas”, A “Luta de Cobra” foi realizada em
a fusão ataque/defesa; o “Arranca Fita” e dupla, frente a frente, em posição do exer-
o “Cabo de Guerra”, a imprevisibilidade. cício de “flexão de braços” ou seis apoios
No “Braço de ferro”, eles voltaram (joelhos no chão), com o objetivo de tirar o
a vivenciar uma atividade que brincam equilíbrio do colega puxando o antebraço
costumeiramente na escola e que podem do colega e tomando cuidado para não cair;
demonstrar sua “força”, o que representa o aluno que tocava o abdômen no chão
a dimensão lúdica e competitiva do jogo. perdia. Com certeza foi a atividade que
Foi orientado que eles trocassem de duplas, eles mais gostaram, haja vista a expressão
para que verificassem os níveis de dificul- corporal deles e as falas, eles estavam se
dades com cada um dos adversários, o que divertindo nas situações que envolviam
gerou nova resposta a situação-problema possibilidade de derrubar e ser derrubado.
8 “Empurra-empurra”. Em duplas, com os alunos de frente um para o outro e com os braços estendidos e mãos
apoiadas nos ombros do colega, o objetivo é mover o oponente do lugar, isto é, fazer com que ele ultrapasse
uma marcação definida.
V. 27, n° 45, setembro/2015 273
Várias foram às técnicas corporais que eles razões do fazer (porque fazer assim e não
utilizaram para desenvolver a tarefa: pernas de outra maneira). Destarte, não se procu-
mais juntas, mais afastadas; com o corpo rou desempenhar o gesto técnico perfeito
mais próximo ou distante dos adversários; para as atividades em questão, mas sim o
corpo mais ou menos arqueado, etc. Ou processo de experimentação, pois várias
seja, a situação-problema suscitou inúmeras respostas foram adequadas para as situações
respostas que levaram a diversas experi- encontradas (MOREIRA; NISTA-PICCOLO,
mentações do se-movimentar (BETTI, 2011; 2009; FERREIRA et al., 2010).
KUNZ, 2006; TREBELS, 2006). Já as Classificações da Luta pro-
Ao término das vivências, abriu-se punham que os alunos: (1) vivenciassem
uma roda de conversa para socializar as elementos que compõem as Lutas, a partir
sensações experimentadas, as respostas de formas adaptadas; (2) compreendessem
encontradas para resolver corporalmente e associassem as vivências às classificações
os problemas, bem como se conseguiram das Lutas (distância e/ou contato). Assim,
detectar os princípios priorizados. Vale foram ensinadas as classificações das Lutas
(aula expositiva) atrelada à análise das
ressaltar que o princípio condicional regras
experiências e uma atividade de identifica-
foi enfatizado em todas as práticas, pois elas
ção dessas classificações em modalidades
regulam as ações que são executadas (o que
oficiais. No que tange as experiências do
é válido ou não), definem o vencedor, entre
se-movimentar, foram desenvolvidos os
outras coisas. Para solidificar a aprendiza-
seguintes jogos: “Luta com Balões”, classifi-
gem dos princípios condicionais foi propos-
cado como Luta de média distância ou Luta
ta uma síntese dos mesmos articulando-os
com golpe; “Imóvel”, classificado como
às práticas vivenciadas anteriormente. Para Luta de curta distância ou Luta com agarre,
finalizar, os alunos registraram em forma de e a Esgrima, Luta de longa distância ou Luta
desenho um dos princípios condicionais com implemento. Nessas atividades foram
aprendidos resgatando uma experiência proporcionadas oportunidades para que os
anterior, uma luta que tenham visto na TV, alunos percebessem porque certas ações de
uma criação pessoal, etc. movimento estão mais associadas a um tipo
Referente às aprendizagens, os de luta do que outro, logo, que consigam
alunos ampliaram o entendimento sobre lançar mão de suas experiências pessoais
as Lutas e foram capazes de diagnosticar e criativas para responder as situações-
alguns elementos que nela estão presentes, -problemas criadas de forma diferenciada.
que se assemelham aos princípios condi- A “Luta com Balões” consistia na
cionais estudados (GOMES, 2008; GOMES realização de golpes com o objetivo de
et al., 2008). acertar uma das bexigas presas ao corpo
Também foi muito interessante as do colega. Cada um da dupla tinha uma
respostas encontradas no plano motor para bexiga presa ao braço e outra a perna. Ficou
cada uma das situações em que eles experi- combinado que um golpe que entrasse em
mentaram diferentes formas de fazer e testar contato direto com o corpo do colega seria
aquilo que mais se adequava a cada uma punido com um ponto para o atingido – os
delas, o que revela entendimento do como alunos regularam as regras e as pontuações
fazer (movimento, propriamente dito) e das do combate.
274
atividades; acreditamos que vai além disso, priorizado o aspecto criativo (DAOLIO,
pois estas atividades sugerem ações bem 2012) para resolver corporalmente os pro-
diferentes daquelas que costumam realizar blemas encontrados, tanto é que alguns
e talvez o aspecto da vergonha tenha gerado alunos chegavam à vitória sem infringir
isto, especialmente, com as meninas. nenhuma das regras ou executar os movi-
Quanto à “Esgrima”9, em uma aula mentos ensinados.
foi apresentada as regras e movimentos bá- Como síntese, os alunos relembra-
sicos da modalidade e em outra os alunos ram as experiências e aprendizagens ao
registrar num questionário, que continha
construíram a espada com jornal10. Com o
fotos com diferentes modalidades de luta,
material produzido, os alunos ficaram de
suas classificações por tipo de contato e/
frente um para o outro, mas sem nenhu-
ou distância.
ma demarcação que lembrasse a Esgrima Por fim, a Revisão buscou consoli-
oficial, e tentaram a execução dos golpes dar os objetivos almejados nas situações de
vistos nos vídeos anteriormente. Foi refor- aprendizagens anteriores. Esta etapa contou
çado que o objetivo era tocar a ponta da com uma “Avaliação Bimestral” que faz
espada no corpo do colega (região peitoral e parte do calendário escolar e reúne todos
abdômen), tomando cuidado com os olhos os componentes curriculares, cada qual
e região genital. contribuindo com três questões sobre os
Durante a prática, os alunos iam estudos realizados. Para finalizar, foi reali-
com vontade para o ataque e se descuida- zada uma breve incursão sobre os assuntos
vam do aspecto defensivo, assim, aqueles vistos durante o bimestre, relembrando as
que tinham um pouco mais de percepção experiências obtidas nas aulas e percepções
deste fator e conseguiam se livrar da in- obtidas na avaliação aplicada anteriormen-
vestida inicial, realizavam o contragolpe te, bem como esclarecer dúvidas ou equí-
vocos que os alunos apresentaram sobre
com eficiência. Em algumas execuções foi
a manifestação cultural Luta. Nessa aula
possível observar que eles tentavam seguir
também foi realizado um registro em que
a posição de guarda indicada e com isso
os alunos anotaram aquilo que aprenderam
levavam vantagem, pois a movimentação no bimestre; recurso interessante para que
permitia um recuo e um ataque mais equi- o professor conheça como os alunos se
librado. Tal fator foi potencializado quando veem em relação aos saberes construídos
eles executavam o afundo com a perna cor- e a efetividade do seu trabalho.
respondente ao lado do corpo que segurava
a espada, ampliando o alcance.
Mais uma vez não foi exigido que CONSIDERAÇÕES FINAIS
eles seguissem exatamente as técnicas,
mesmo sabendo que elas ajudariam em um Esta experiência apresentou ca-
melhor desenvolvimento do jogo. Tanto minhos para levar o conteúdo Lutas para
nesta quanto nas outras atividades foi dentro da escola, conteúdo clássico da
Cultura de Movimento que está ausente Tudo isso leva à reflexão que a in-
nesse contexto, mesmo sendo uma prática serção de um “conteúdo novo” na escola
que acompanha os seres humanos ao longo passa primeiro pela mudança de atitude do
dos tempos, ou seja, que diz respeito aos professor, que exige a aceitação dos desafios
modos de vida das pessoas e da socie- e novas formas de pensar e atuar na Edu-
dade em diferentes momentos históricos cação Física escolar, ao compreender que
(RUFINO; DARIDO, 2012). Assim, foram toda a manifestação corporal tem espaço na
considerados os estudos empreendidos por escola, inclusive as Lutas, cujo tratamento
Almeida (2012), Gomes (2008) e Gomes didático ainda é incipiente. Destarte, a
et al. (2008) ao conceituar a Luta enquanto forma como foi organizado o trabalho não
manifestação corporal, os princípios con- apontou para a necessidade de o professor
dicionais subjacentes, suas classificações ser especialista em alguma modalidade de
por tipo de contato e/ou distância e suas luta para poder ensiná-la, bem como foram
possibilidades de inserção na escola, além abertas possibilidades de diálogo com os
das ideias de Daolio (2012), ao lançar mão alunos para discutir sobre a questão da
do jogo como elemento para chegar às violência, que pode aparecer nas diferentes
práticas corporais, não só nas Lutas. Com
vivências planejadas.
isso, buscou-se evitar a manifestação de
Acentua-se que este trabalho tam-
comportamentos violentos durante as aulas.
bém obteve sustentação em Gomes et al.
Devem ser destacadas também
(2013), pois houve convergência com
as aprendizagens de gestos motores, que
a proposta de ensino das dimensões do
versavam sobre o saber fazer e as razões
conteúdo, ainda que no estudo de revisão
do fazer por meio de jogos de lutas, nas
de literatura proposto por Gomes et al.
quais em diferentes situações-problema
(2013) sejam enfatizadas as Lutas nas séries
encontradas os alunos utilizavam-se de di-
iniciais do ensino fundamental. Em ambas
ferentes saberes corporais para resolvê-las,
as propostas verificou-se as três dimensões associadas aos princípios condicionais da
do conteúdo frisadas por Rufino e Darido Luta ou suas classificações a partir do tipo
(2012) ao proporem uma pedagogia dos de contato ou distância empregados pelos
esportes às Lutas. São exemplos do concei- oponentes durante a prática.
tual: ao trabalhar com os aspectos históricos Estes resultados se tornam ainda
das Lutas; procedimental: a aprendizagem mais instigantes ao observamos a recepção
do saber fazer corporal preconizado nas do conteúdo por parte dos alunos, em
situações propostas nos diferentes jogos; que este não foi bem visto num primeiro
atitudinal: ao desmitificar os comporta- momento, mas com sua ressignificação ao
mentos violentos associados às Lutas. Vale longo das aulas foi possível verificar que
ressaltar ainda, que tais conteúdos devem eles gostaram: quantas vezes os alunos não
estar em consonância com os objetivos foram vistos brincando de “lutinha”, por
almejados, bem como com as estratégias exemplo, ao chegar instantes antes da aula.
e métodos de ensino e sua consequente Outras preocupações que não foram
avaliação (GOMES et al., 2013; RUFINO; discutidas com a profundidade merecida
DARIDO. 2012). neste texto, mas que podem ser campos
V. 27, n° 45, setembro/2015 277
importantes para estudos futuros apontam ALMEIDA, José J. G. Disciplina: luta. Curso
para a articulação das Lutas com os dife- de Pós-Graduação. SÃO PAULO (Estado):
rentes Eixos Temáticos preconizados no RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
CEF-SP, como as Mídias, Lazer e Trabalho AMARAL, Sílvia. C. F. Disciplina: eixos
e/ou com Corpo, Saúde e Beleza; Contem- temáticos para o ensino médio:
poraneidade (questões relativas ao gênero, mídias; lazer e trabalho. Curso de
por exemplo), bem como temas referentes Pós-Graduação. SÃO PAULO (Estado):
ao paradigma da Inclusão que perpassam a RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
escola contemporânea. BETTI, Mauro. Disciplina: concepção da
Enfim, as aulas de Educação Física disciplina educação física na proposta
são um tempo e espaço adequado para curricular. Curso de Pós-Graduação.
a construção de ideias que objetivam SÃO PAULO (Estado): Redefor;
o aprofundamento das experiências do Campinas: Unicamp, 2011.
se-movimentar, no caso, (res)significar as BRASIL. Secretaria de Educação
Lutas em toda a sua complexidade. Mas é Fundamental. Parâmetros curriculares
necessário que as visões sobre os objetivos, nacionais: educação física. Secretaria de
sobre os conteúdos e sobre os procedi- Educação Fundamental. Brasília: MEC /
mentos didáticos se modifiquem, a fim de SEF, 1998.
atender as atuais exigências, que não mais BREDA, Mauro et al. Pedagogia do esporte
se traduzem na repetição de movimentos. aplicada às lutas. São Paulo: Phorte, 2010.
Assim, apresentou-se uma proposta em DAOLIO, Jocimar. Educação física e o
que a experiência lúdica da Luta na escola conceito de cultura. 2. ed. Campinas:
é possível, bem como um tratamento mais Autores Associados, 2007.
aprofundado pode levar a compreensão que DAOLIO, Jocimar. Disciplina: do jogo
esta pode representar um povo, seus costu- ao esporte coletivo. Curso de Pós-
mes, etc., que pode ser contextualizada com Graduação. SÃO PAULO (Estado):
a realidade de cada um, promovendo uma RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
apropriação crítica, autônoma e criativa, le- DEL VECCHIO, Fabrício. B.; FRANCHINI,
vando o aluno a utilizá-la nos mais diversos Emerson. Lutas, artes marciais e
espaços, além daqueles estabelecidos pelos esportes de combate: possibilidades,
muros da escola. experiências e abordagens no currículo
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Educação Física, Universidade Estadual FERREIRA, Elizabete et al. Esportes alternativos
de Campinas, Campinas, 2008. na escola: intervenção baseada na
278
ABSTRACT
Brazilian Physical Education is controversial regarding to its contents: while claiming for
several possibilities of themes in one hand, we note that in another hand those which
are present in daily lessons are portraits of the area in past decades. The study aims to
report possibilities for inclusion of Martial Arts’ themes in Physical Education classes for
students from the sixth grade in elementary school using games. We proposed a path
with four learning situations in which we have sought to understand and experiment
the conditional principles of Martial Arts and their classifications by type of contact
and distance. It highlights the learning that allowed the interconnection between the
know-how and the reasons the making of different problem situations. Furthermore,
this essay breaks with some recurring paradigms, such as the issue of violence or the
need to be an expert in Martial Arts to address them.
RESUMEN
ARTIGOS ORIGINAIS
RESUMO
Objetivou-se analisar as opiniões de docentes universitários especialistas no tema das lutas sobre a prática pedagógica nas
aulas de Educação Física na escola, propondo implicações para o desenvolvimento dos contextos de formação de professores.
A amostra foi constituída por 5 professores selecionados de modo intencional que participaram de entrevistas
semiestruturadas a partir de um roteiro previamente construído. A análise dos dados foi realizada por meio da técnica da
análise de conteúdo, culminando com a inferência de duas categorias: 1) fatores restritivos, a qual buscou analisar os
principais elementos de dificuldade no que corresponde ao desenvolvimento das lutas na escola; 2) possibilidades, a qual
representou propostas de edificação das lutas frente às demandas sociais atuais. Conclui-se que a prática pedagógica das lutas
na escola apresenta alguns dilemas oriundos da forma como elas são desenvolvidas no âmbito da formação, indicando a
necessidade de alterações que possam valorizá-las como manifestações da cultura corporal.
Palavras-chave: Capacitação Profissional. Ensino. Artes Marciais.
*
Doutorando. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade do Instituto de Biociências, Universidade Estadual
Paulista, Rio Claro-SP, Brasil.
**
Doutora. Professora do Departamento de Educação Física. Instituto de Biociências. Universidade Estadual Paulista, Rio
Claro-SP, Brasil.
prática e possível de ser levada para a elaboração dos saberes necessários à prática
escola com segurança (Especialista 5). educativa”.
Del Vecchio e Franchini (2006) salientam
Essa perspectiva corrobora a fala apresentada que o domínio das técnicas específicas de uma
pelo especialista 1: “Eu acho que o maior determinada modalidade de luta leva entre cinco
empecilho é a formação do professor. É provável e dez anos, aproximadamente. Por outro lado, no
que muitos docentes não tiveram uma formação âmbito universitário, a disciplina de lutas
que mostrasse que é possível adaptar as lutas na apresenta-se usualmente em apenas um ou dois
escola”. Para o especialista 3 os problemas de semestres. Como saída para essa divergência:
formação de professores para abordar o
conteúdo das lutas são prejudiciais para a prática Seria mais importante que o graduando
pedagógica. Para ele: “o maior problema é que a aprendesse a utilizar a luta/arte marcial
graduação do professor é deficiente. Seria como estratégia para atingir o objetivo
preciso haver mais semestres para o ensino das de um programa de educação física em
lutas e que elas não fossem disciplinas optativas vez de executar técnicas específicas de
como é em alguns lugares”. um único estilo durante sua
permanência no ensino superior (DEL
A defasagem em termos de formação
VECCHIO; FRANCHINI, 2006, p.
profissional, sobretudo a forma como as lutas são
103).
compreendidas na universidade, principalmente em
cursos de formação de professores, foi o ponto Como apontamentos para a formação
mais enfatizado pelos participantes. O especialista profissional competente no ensino das lutas, Del
2 questionou: “Nem todas as universidades têm Vecchio e Franchini (2006) ressaltam que não é
disciplinas de lutas, e as que têm por vezes são possível assumir a prática isolada de uma ou
modalidades específicas, e aí nem sempre isso dá outra modalidade. Os autores propõem que a
uma visão para ser levado na escola”. abordagem do ensino das lutas deveria propiciar
Estas inquietações corroboram os aos graduandos a aprendizagem de conceitos,
apontamentos de Del Vecchio e Franchini procedimentos e atitudes que os auxiliem a
(2006) ao admitir que as dificuldades em tratar analisar criticamente esta prática corporal,
os conteúdos das lutas na escola são oriundas, compreendendo tanto os processos didáticos
em parte, devido à formação do profissional de envolvidos quanto a assimilação de conteúdos
Educação Física. Para os autores, a disciplina de que os possibilitem aprender e ensinar.
lutas nos currículos das instituições de ensino Essa argumentação elucida a implicação
superior deve direcionar claramente para a área a prática de se repensar a forma como o processo
qual pretende formar seu profissional, seja a de ensino e aprendizagem das lutas vem sendo
licenciatura no âmbito escolar, seja o abordado no âmbito do ensino superior no Brasil
bacharelado no âmbito não escolar. Para isso, de modo geral, uma vez que tal deficiência
são necessárias formas diferenciadas de tratar provoca e contribui com outras dificuldades,
pedagogicamente as lutas no ensino superior. algumas das quais também foram abordadas
Essa implicação apresenta aporte inclusive pelos participantes. Dessa forma, é fundamental
fora do contexto brasileiro. Espartero e Gutierrez que seja revista a forma de encadeamento e
(2004) admitem que na Espanha poucos ancoragem pedagógica das lutas no âmbito dos
professores consideram-se com formação cursos de graduação em Educação Física.
adequada para utilizar as lutas nas aulas de Outra dificuldade elencada pelos
Educação Física. Esse dado ilustra a dimensão especialistasrelacionou-se à insegurança do
da defasagem profissional no que corresponde professor. O especialista 1, por exemplo,
ao ensino das lutas no ensino superior. admitiu: “para mim o maior empecilho seria a
Da mesma maneira, Correia e Franchini ação do professor, sua insegurança para ensinar
(2010) salientam a escassez de cursos que as lutas na escola”. Da mesma maneira, a
proponham a tematização das lutas. Ainda de especialista 5 apontou: “o professor tem pouca
acordo com Correia e Franchini (2010, p. 6) informação sobre o que são as lutas e como é
“[...] a importância da produção de que ele vai ensinar uma coisa que ele não sabe o
conhecimento para alicerçar uma condição que é, que ele tem medo”.
mínima de apoio aos docentes, na eminência da
O fato do professor não sentir-se seguro para Barros e Gabriel (2011), Carreiro (2005) e
ensinar as lutas na escola está relacionado com Nascimento e Almeida (2007) ao admitirem que
defasagens na formação, pois o professor, na os argumentos mais encontrados para justificar a
maior parte das vezes, opta por ensinar aquilo não inserção das lutas na escola remetem aestas
que ele possui domínio de tratamento questões. No entanto, os autores e os
pedagógico o que, muitas vezes, redunda-se no especialistas analisados reconhecem ser possível
ensino dos esportes coletivos mais tradicionais, superar estas dificuldades por meio de
dado sua forte influência na sociedade e na adaptações de espaços e materiais que permitam
formação dos professores de Educação Física intervenções seguras e em conformidade com a
(RUFINO; DARIDO, 2011). De modo escola.
semelhante, Barros e Gabriel (2011) afirmam Outros três temas também emergiram da
que a insegurança com relação ao tratamento análise de conteúdo, sendo eles: carga horária
pedagógico das lutas na escola é uma das insuficiente para a Educação Física na escola,
maiores dificuldades dos professores que poucas informações sobre as lutas na sociedade e
consideram fundamental ser especialista em associação com incitações à violência. Sobre a
modalidades para poder ensiná-las. questão da carga horária insuficiente, o
Como aponta Forquin (1993), o professor especialista 4 afirmou que: “sei que o ensino das
ensinade modo significativo apenas aspectos lutas caí em diversas limitações, da própria
advindos da cultura que ele conhece, que lhe é grade, por exemplo”. Este especialista admitiu
familiar, que faz parte de sua compreensão e ainda que muitas vezes a Educação Física
visão de mundo, aquilo que ele tem domínio. apresenta poucas aulas semanais para os alunos
Sobretudo, o autor salienta que o professor de forma que, com uma carga horária reduzida,
ensinará realmente aquilo que for válido e muitos conteúdos passam a ser negligenciados.
verdadeiro a seus próprios olhos. Ou seja, a A especialista 5 elencou a falta de
insegurança no ato de ensinar as lutas na escola informações sobre as lutas na sociedade,
origina-se de maneira bastante enfática na falta afirmando que estas práticas costumam ser
de domínio desse conteúdo, resultando em uma pouco vinculadas nas mais diversas mídias,
formainsuficiente de abordagem das lutas na comparado com outros esportes, impedindo que
escola ou ainda na superficialidade de seu os professores que não são praticantes tenham
tratamento pedagógico. contato sistemático e conhecimentos
Os especialistas elencaram também a questão aprofundados sobre estas manifestações
da infraestrutura escolar deficiente como corporais. Comparado com outras práticas
condição que muitas vezes gera empecilhos para corporais mais hegemônicas em termos
o ensino das lutas. O especialista 3, por exemplo, midiáticos, as lutas não apresentam a mesma
afirmou: “a gente tem algumas dificuldades, pois notoriedade. Contudo, há tendências de um
as vezes você não encontra a questão do crescimento de alguns eventos relacionados às
espaço”. O especialista 4 também corroborou lutas e vinculados às mais diversas mídias. Tal
essa perspectiva ao admitir que: “Os maiores fato se deve uma vez que muitas dessas práticas,
problemas se devem à questão das condições de a partir de seu processo de esportivização,
estrutura das escolas”. No entanto, este tornaram-se espetacularizadas (RUFINO;
especialista reconheceu que as condições de falta DARIDO, 2011). Esse motivo ilustra a
de infraestrutura não podem se tornar importância de se discutir as lutas com
justificativa para o não ensino das lutas na criticidade na escola, para que os alunos, ao
escola. acompanharem pela mídia tais eventos, tenham
Os problemas de infraestrutura coadunam condições de discernir sobre os diversos
também com defasagens em termos de materiais aspectos que os tangenciam.
para o ensino das lutas na escola, elencados Finalmente, houve o destaque sobre a
pelos professores. Para o especialista 3: “muitas associação com incitações à violência. A
vezes você não encontra a questão do espaço, especialista 5 admitiu que o desconhecimento
não encontra os materiais minimamente sobre as lutas, muitas vezes, pode gerar
adequados para o ensino destas práticas”. preconceitos sobre a violência exacerbada que
Tanto a falta de materiais quanto as questões passa a ser relacionada comestas práticas. Esta
de infraestrutura são elencadas por autores como especialistaadmitiu ainda que essa relação passa
a justificar a não inclusão das lutas na escola em especialistas (f=45%). Além disso, houve
diversos contextos. Alguns autores que algumas proposições de inovação que buscaram
buscaram a inclusão das lutas na escola também romper com os aspectos tradicionalmente
afirmam que a relação entre lutas e violência é relacionados às lutas no contexto escolar. O
uma característica muitas vezes estabelecida, o especialista 1 admitiu: “porque adaptar tudo
que dificulta o seu ensino (BARROS; pode ser adaptável. É possível adaptar as lutas na
GABRIEL, 2011; CARREIRO, 2005). escola, mas o professor fica ‘preso’ naquilo que
Os fatores restritivos apresentados pelos ele tem mais segurança”. Nessa mesma
participantes não se resumem somente ao perspectiva, o especialista 3 sinalizou que “se
processo de ensino e aprendizagem das lutas e adaptando você consegue ensinar alguns tipos de
nem se reduzem apenas aos conteúdos a serem modalidades de combate dentro da escola”.
ensinados, denotando implicações à própria Para o especialista 4, as lutas são um
compreensão do trabalho docente. Contudo, por conteúdo possível de ser ensinado na escola de
apresentarem especificidades e conhecimentos forma adaptada, desde que se ofereça condições
pouco difundidos no âmbito da formação de para o ensino. Este especialista ainda admitiu, ao
professores, conforme destacam os autores remeter à sua própria história como professor:
supracitados, bem como devido ao fato das lutas “eu adaptava tudo, isso porque eu tinha uma
estabelecerem relações de falta de familiaridade experiência que estava focada na adaptação”.
com os professores que não apresentam muitas O especialista 2 exemplificou formas de
vivências com estas práticas, tais fatores podem adaptação das lutas na escola tanto pela
eclodir em restrições, corriqueiramente impossibilidade de usufruto de materiais, quanto
assinaladas e que devem ser analisadas, tendo com a realização de pesquisas e outras
em vista sua superação. adaptações ao afirmar que “você pode não ter
De acordo com os especialistas entrevistados um tatame para trabalhar o judô, por exemplo,
a despeito dos dilemas relacionados ao ensino mas trabalhar qualquer outro tipo de luta”. Este
das lutas na escola, há algumas potencialidades mesmo especialista apontou ainda outra
educativas nestas práticas, desde que abordadas possibilidade de adaptação por meio de filmes
de modo coerente e de acordo com pressupostos que permitem discussões e a reflexões sobre
pedagógicos críticos e reflexivos. Tais alguns aspectos relacionados às lutas,
proposições fazem parte dacategoria semelhante às proposições de Tavares e Lopes
possibilidades, analisada a seguir. (2014), ao analisarem que os recursos materiais
e simbólicos utilizados por professores de karatê
Possibilidades estão fortemente alicerçado em seus saberes,
sobretudo os oriundos da experiência.
A categoria intitulada “possibilidades” A questão da adaptação é condição
buscou abranger algumas questões oriundas dos fundamental para o ensino das lutas na escola
discursos que demonstraram aspectos possíveis uma vez que é preciso traduzir pedagogicamente
para o ensino das lutas na escola, por meio de o ensino destas práticas de uma forma
propostas de inovação e adaptação do ensino das diferenciada daquela que é encontrada em outros
lutas no meio escolar, produção de materiais contextos sociais. A partir das representações
didáticos sobre lutas e questões concernentes à dos especialistas podemos inferir que essa busca
formação continuada. por adaptações é necessária por diversas razões,
destacando-se: 1) a não adaptação das lutas
Propostas de adaptação e inovação das lutas no requer do professor um conhecimento muito
meio escolar aprofundado, necessitando que ele seja
Essa subcategoria referiu-se às possibilidades especialista em uma ou mais modalidades; 2) A
de ensino das lutas na escola a partir da não adaptação das lutas na escola indica que elas
realização de adaptações, seja com relação a devam ser inseridas seguindo os mesmos
materiais, infraestrutura ou mesmo metodologias preceitos das práticas encontradas fora da escola,
de ensino. O destaque às questões referentes à impossibilitando que elas sejam
adaptação foi veemente uma vez que esse termo pedagogicamente assimiladas e circunscritas de
apareceu inúmeras vezes nas falas dos forma educativa ao longo dos processos de
entanto, o autor reconhece que essas questões fundamental que haja proposições que possam
são, por diversas vezes, deixadas de lado, uma auxiliar os professores na seleção dos saberes,
vez que encarece o produto final, o que torna o bem como na organização das aulas,
material desinteressante para o mercado diversificando as formas de atuação docente sem
editorial. substituir o papel da formação profissional nesse
O especialista 1 considerou a construção de processo.
materiais didáticos como uma ação importante Os materiais didáticos são um dos elementos
para a prática pedagógica especialmente em que compõe o currículo escolar. É preciso
conteúdos não muito comuns aos professores, considerarque a educação é uma ação social que
como as lutas, embora tenha reconhecido que o exige reflexões constantes, bem como estudos e
livro não é capaz de capacitar o professor e sim análises que não cessem em buscar saltos
auxiliá-lo ao longo de suas aulas. Para ele: “a qualitativos aos processos de ensino e
elaboração de livros didáticos é algo positivo e aprendizagem de todos os componentes
fundamental. Cada vez mais isso tem que ser curriculares, como a Educação Física. No caso
explorado e com mais instrumentos para que o das lutas, a diversificação de materiais, se bem
professor tenha acesso a eles”. O especialista 4 utilizados, pode auxiliar no desenvolvimento de
também convergiu suas considerações sobre a propostas pedagógicas que contribuam com sua
importância de se considerar as formas as quais inserção de modo crítico e criativo.
os materiais didáticos são corriqueiramente
utilizados, ressaltando que o livro é uma Propostas de formação continuada a partir do
ferramenta que depende do modo que é utilizado contexto da prática pedagógica
e da riqueza de informações sobre as lutas Os especialistas enfatizaram as dificuldades
apresentadas. enfrentadas pelos professores de Educação
Especificamente com relação ao conteúdo das Física com relação ao trato pedagógico do
lutas, a especialista 5 considerou que é conteúdo das lutas, alertando para os problemas
fundamental a existência de materiais didáticos referentes à formação. A partir dessas
uma vez que os professores podem não ter considerações, eles apontaram que uma das
muitos conhecimentos acerca destas práticas possibilidades de proporcionar um domínio
corporais, de modo que estes instrumentos maior acerca desse conteúdo pode ocorrer por
podem corroborar a transposição didática e meio da realização de processos de formação
seleção de prioridades e ênfases as quais os continuada, como encontros, debates, cursos,
professores podem se basear, desde que não capacitações, dentre outros, desde que estas
sejam utilizados como “muletas”. açõeslevem em consideração o trabalho que os
Contudo, há uma escassez de materiais professores realizam cotidianamente, bem como
didáticos acerca do conteúdo das lutas que seus saberes e contextos sociais relacionados.
apresentam uma perspectiva crítica e organizada O especialista 2, por exemplo, buscou
de como ensinar estas práticas nas aulas de enfatizar a necessidade de uma atenção maior
Educação Física sem serem concebidos, tanto à formação inicial quanto à formação
necessariamente, como manuais de atividades. continuada, devido às características de
Esta afirmação, reforçada por autores como rápidas transformações da sociedade
Darido et al. (2010), se lança como um desafio contemporânea, sendo necessário reformular e
para a área da Educação Física que deve ressignificaros conhecimentos. Este
fomentar o desenvolvimento desses materiais, especialista considerou a importância de se
para que sejam capazes de subsidiar o trabalho compreender as lutas como um dos conteúdos,
docente. valorizando a autonomia docente.
Os usos dos livros didáticos são A especialista 5 também apontou a formação
determinantes para a compreensão de seus continuada como possibilidade de permitir aos
papéis durante os processos de ensino e professores a aquisição de conhecimentos,
aprendizagem, não substituindo a figura do metodologias e procedimentos didáticos não
professor, mas podendo auxiliá-lo durante a adquiridos na formação inicial, além de
prática pedagógica. No caso específico das lutas, atualizações e ressignificações de sua prática,
como destacaram os especialistas, é ainda mais ressaltando ainda a importância de propostas que
importância de novos estudos, sobretudo com estas práticas como manifestações da cultura
amostras maiores e advindas de outras regiões, corporal que devem ser ensinadas de modo
bem como indica a necessidade de apropriado na escola, ao longo das aulas de
transformações que possam de fato valorizar Educação Física.
ABSTRACT
This study aimed to analyze college teachers’ opinions experts in fight contents about the pedagogical practice in school
Physical Education, proposing implications for the development of teacher education contexts. The sample consisted of 5
teachers selected intentionally, who participated in a semi-structured interview from a script previously built. Data analysis
was performed using the content analysis technique, culminating with the inference of two categories: 1) restrictive factors,
which seeks to analyze the main elements related to the development of fights contents in school; 2) possibilities, which
accounted for proposals for building the fights ahead to today's social demands. We concluded that the pedagogical practice
of fights in school presents some dilemmas arising from the way they are developed in teacher education, which requires
changes that may value them as manifestations of body culture.
Keywords: Professional Training. Teaching. Martial Arts.
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Endereço para correspondência: Luiz Gustavo Bonatto Rufino. UNESP – Rio Claro. Avenida 24-A, nº1515, bairro
Bela Vista, Rio Claro – SP, CEP: 13506-900. Departamento de Educação, Instituto de
Biociências. E-mail: gurufino@rc.unesp.br.
Resumo
Os povos indígenas carregam consigo uma riqueza de manifestações
1
culturais próprias como o artesanato, as danças, mitos, ritos e dentre outros.
Na escola a temática indígena tornou-se obrigatória a partir da Lei nº
11.645/08, mas há diversos fatores que influenciam o trabalho dos
professores sobre essa temática, por exemplo, questões acerca da falta de
formação inicial e continuada, fatores relacionados à família dos discentes,
falta de apoio da gestão escolar, disponibilidade de tempo e acesso a
materiais pelos alunos. Para tanto, o escopo deste estudo é relatar a
experiência de uma professora de Educação Física em uma escola pública
municipal da cidade de Quixeramobim, na região do Sertão Central no
estado do Ceará. Assim, foram tecidas as dificuldades encontradas ao se
abordar o conteúdo de lutas no ensino remoto em que foi aplicada a
temática das lutas corporais indígenas e a experiência da professora em
uma formação continuada.
Palavras-chave: Prática Docente. Cultura Indígena. Lutas Corporais
Indígenas.
Abstract
Indigenous peoples carry with them a wealth of cultural manifestations such
as handicrafts, dances, myths, rites and others. At school, the indigenous
theme became mandatory after Law nº 11.645/08, but there are several
factors that influence the work of teachers on this topic, for example, issues
about the lack of initial and continuing education, factors related to the
students' families, lack of support from school management, availability of
time and access to materials by students. Therefore, the scope of this study
is to report the experience of a Physical Education teacher in a municipal
public school in the city of Quixeramobim, in the Sertão Central region of the
state of Ceará. Thus, the difficulties encountered when addressing the
content of struggles in remote education were woven, in which the theme of
indigenous bodily struggles and the teacher's experience in continuing
education were applied.
Keywords: Teaching Practice. Indigenous Culture. Indigenous Body
Struggles.
2 Metodologia
3 Relato de Experiência
4 Considerações finais
Referências
PEREIRA, Arliene Stephanie Menezes; SOUZA, Symon Tiago Brandão de. Lutas
corporais indígenas: o estado do conhecimento. Práticas Educativas, Memórias e
Oralidades - Rev. Pemo, Fortaleza, v. 3, n. 3, e335779,2021. Disponível em:
Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/revpemo/article/view/5779. Acesso
em: 12 jul. 2021.
SILVA, Maria de Fátima Santos de; OLIVEIRA, Caroline Terra de; CANABARRO,
Cauê Lima. O Índio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: para além do cocar,
Resumo
Este artigo teve como objetivo analisar a produção acadêmica brasileira acerca do ensino das
lutas como conteúdo das aulas de Educação Física escolar. Utilizou-se o método qualitativo
de revisão sistemática, o qual foi pesquisado em periódicos do sistema WebQualis entre A1 e
B2. Para a seleção dos artigos, foram analisados os títulos, resumos e estudo na íntegra,
buscando artigos que tratassem do conteúdo “lutas na escola”. Foram selecionados 19 artigos
que resultaram em três categorias: Aspectos Pedagógicos e Metodológicos das Lutas;
Violência e Lutas no Contexto Escolar, e Formação Docente. Constatamos que é necessário
sistematizar o ensino das lutas e refletir sobre sua intervenção pedagógica, potencializar a
formação inicial e continuada na operacionalização desse conteúdo, distanciar as lutas da
ideia de violência e promover a escola como local de estudo e propagação desse conteúdo.
Palavras-chave: Educação Física escolar. Ensino. Lutas.
Abstract
This article aims to analyze the Brazilian academic production about the teaching of the fight
in the School Physical Education. The qualitative systematic review method was used, was
investigated in WebQualis periodicals between A1 and B2. For the selection of the articles we
analyzed the titles, abstracts and study in the integral searching article with the content fight
in the school. We selected 19 articles that resulted in the grouping of three categories that
guided our analysis in a didactic perspective: pedagogical and methodological aspects of the
fight; violence and fight in the school context; and Teacher training. We found that it is
necessary to systematize the teaching of the fight and to reflect on their pedagogical
intervention, to potentiate the initial and continuous formation in the operationalization of this
content, to distance the fight from the idea of violence and to promote the school as a place of
study and propagation of this content.
Keywords: School Physical education. Theaching. Fight.
Resumen
Este artículo tiene como objetivo analizar La producción académica brasileña en La
enseñanza de las luchas y contenido de las clases de Educación Física. Se utilizo el método de
revisión sistemática cualitativa que fue investigado en los WebQualis periódicas del sistema
entre A1 y B2. Para seleccionar los artículos fueron analizados títulos, resúmenes y estudiar la
búsqueda de texto completo para el tratamiento de los contenidos de peleas en la escuela. 19
artículos dieron como resultado La agrupación de tres categorías que guiaron nuestro análisis
en una perspectiva didáctica fueron seleccionados: aspectos pedagógicos y metodológicos de
las luchas; violencia y peleas en el contexto escolar; y La formación docente. Observamos que
es necesario sistematizar La enseñanza de las luchas y reflexionar sobre su intervención
pedagógica, mejorar La formación inicial y continua en El funcionamiento de este contenido,
distancia combate La idea de La violencia y promover La escuela como un lugar de estudio y
propagación de este contenido.
Palabras clave: Educación Física. Enseñanza. Peleas.
Introdução
Metodologia
Motriz 0
Movimento 3
Revista Brasileira de Ciências do Esporte 1
Pensar a Prática 5
Revista Brasileira de Ciência e Movimento 2
Total 22
1
Utilizamos como critério extratos de B2 em diante por serem aqueles que têm sido alvo de maior estímulo de
publicação pelos critérios da CAPES.
Na terceira fase, a seleção dos artigos foi realizada a partir da leitura dos títulos,
quando foram encontrados 22 artigos. Feito isso, iniciamos a leitura dos resumos, aplicando
os seguintes critérios de inclusão: 1) artigos que discutiam o ensino das lutas na escola; 2)
publicações no arco temporal de 2005 a 2015; 3) artigos publicados em língua portuguesa; 4)
publicações no formato de artigo original, relato de experiência, ensaio e artigo de revisão.
Após a leitura dos artigos, foram selecionados 19 para compor a amostra, assim como
apresentado na Tabela 2.
Motriz -
Movimento 3
Pensar a Prática 4
Motrivivência 7
19
Total
Fonte: Próprio autor, 2017.
Na quarta fase, os artigos foram agrupados em categorias para tornar a discussão mais
didática. As contribuições de cada artigo foram analisadas através de uma análise
interpretativa. A seguir, serão apresentados os resultados e as discussões analisadas.
Resultados e discussão
técnico das lutas e propõe uma abordagem que debata esse conteúdo de uma forma ampla,
considerando os aspectos históricos, culturais e pedagógicos.
As reflexões sobre o ensino das lutas atuam em diferentes sentidos. Alencar et al.
(2015) e Rufino e Darido (2012) propõem o ensino das lutas focado nas dimensões
conceituais, procedimentais e atitudinais.
O objetivo de Alencar et al. (2015) foi elaborar, aplicar e avaliar uma proposta do
conteúdo “lutas” nas aulas de Educação Física. Foram construídos seis planos de aula sobre as
diversas modalidades de lutas. As aulas dialogavam com as três dimensões do conteúdo
(atitudinais, procedimentais e conceituais). A intervenção foi realizada em duas escolas,
através da observação participante e de um diário de campo. Apontaram que o ensino das
lutas é negligenciado na escola e, para mudar essa situação, é necessário que esse conteúdo
seja sistematizado para o ambiente escolar.
Rufino e Darido (2012) afirmam que o ensino das lutas deve estar pautado na busca de
atitudes críticas e criativas. Apontam a necessidade de ampliação dos conteúdos por meio da
contextualização das dimensões conceitual, atitudinal e procedimental. Reconhecem que o
ensino das lutas na escola deve buscar a superação da abordagem reducionista, priorizar a
formação geral em detrimento da repetição dos gestos técnicos, considerar as subjetividades e
empregar sentido à prática. Deve-se procurar o entrelaçamento do conteúdo com as
concepções pedagógicas. No entanto, ainda é um desafio identificar quais são essas
concepções e como elas podem ser abordadas na intervenção desse conteúdo.
Notemos que tanto Alencar et al. (2015) quanto Rufino e Darido (2012) percebem o
desafio de uma sistematização para as lutas. Embora os autores não sejam mais propositivos
na indicação de propostas de sistematização, avançam ao indicar caminhos via as dimensões
do conteúdo.
Outros autores apresentam propostas a partir da reflexão sobre experiências de aulas e
projetos. Bertazolli, Alves e Amaral (2008) descrevem um relato de experiência sobre o
ensino da capoeira inspirado na pedagogia histórico-crítica, no ensino aberto e nas reflexões
de Vitgotsky. Apontam que é possível ocorrer uma dinâmica de aula com três ações
articuladas: a solução de problemas, a criação de movimentos e a reflexão.
Nascimento e Almeida (2007), a partir de um relato de experiência, relatam a
utilização de jogos tradicionais com elementos de equilíbrio como uma forma de ensino desse
conteúdo. Bueno, Silva e Capela (2011) propõem problematizar questões sobre a capoeira
como instrumento de formação dos educandos. Para isso, foram utilizadas estratégias de
ensino como: musicalidade, organização e promoção de eventos, prática da capoeira na luta,
apresentações teatrais, viagens e oficinas.
Sabino e Benites (2010) desenvolveram um projeto extracurricular de capoeira em
uma escola de Rio Claro. De acordo com os autores, as atividades devem ir ao encontro de
temáticas envolvendo história, golpes, movimentos, músicas e roda, assim tornando a prática
da capoeira mais prazerosa, demonstrando a possibilidade de abordar o conteúdo “lutas” nas
suas diversas possibilidades e explorando questões além do aspecto técnico e instrumental.
Ueno e Souza (2014) compreendem a necessidade de abordar o tema “lutas” através
dos temas transversais, com isso, considerando as lutas por linhas gerais e suas relações com a
sociedade. O direcionamento do tema “lutas” segue a preposição com o fenômeno social,
refletindo para a ação no ambiente escolar, em particular nas aulas de Educação Física, como
um campo de intervenção que busca sua consolidação.
As experiências apresentadas nesses artigos apontam a busca por contextualização do
conteúdo e proposição de atividades lúdicas com menos ênfase nas técnicas. Os artigos
aproximam o conteúdo de uma linguagem mais pedagógica, mas ainda não apontam formas
de sistematização desse conteúdo. Todavia, há outros artigos que procuram avançar nesse
sentido, indicando formas de sistematização do conteúdo.
Formação docente
São nove artigos que fazem parte dessa categoria (NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007;
SANTOS; PALHARES, 2010; MELO, 2011; ALENCAR et al., 2015; VASQUES;
BELTRÃO, 2013; CORREIA, 2015; FONSECA; FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2013;
RUFINO; DARIDO, 2015; SILVA, 2011). O debate central se concentra em diagnósticos e
propostas de auxiliar a formação do docente para atuar com esse conteúdo.
A formação inicial e continuada tem influência direta na utilização do conteúdo lutas
nas aulas de Educação Física. Os autores reconhecem que a utilização dessa metodologia na
escola apresenta algumas barreiras, dentre elas, a principal é a formação inicial e continuada,
que não prepara o professor para atuar sobre esse conteúdo na escola (FONSECA;
FRANCINE; DEL VECCHIO, 2013).
A insegurança ao abordar as lutas como conteúdo das aulas de Educação Física é uma
das principais causas da pouca inclusão desse conteúdo. Os autores dessa categoria apontam
que a formação inicial precisa ser reestruturada para assegurar ao professor a possibilidade de
vivência desse conteúdo nas aulas de Educação Física. Além disso, Fonseca, Franchini e Del
2
Segundo os autores, o processo de esportivização das lutas ocorreu com o advento da Modernidade. Todavia, a
criação de eventos com poucas regras sucedeu uma desesportivização. Mas, quando essa modalidade se trans-
forma em MMA, aumentando o número de regras restritivas à violência, e o MMA vive um processo de reespor-
tivização.
Vecchio (2013) apontam que deve haver, por parte dos gestores ligados à educação, a
preocupação constante com a formação continuada dos professores de Educação Física.
Darido e Rufino (2015) entrevistaram cinco professores universitários que ministram a
disciplina de lutas sobre as implicações dessa disciplina para a formação de professores. Os
autores concluem que a prática pedagógica das lutas na escola apresenta alguns dilemas
oriundos da forma como elas são desenvolvidas no âmbito da formação, indicando a
necessidade de alterações que possam valorizá-las como manifestações da cultura corporal.
Nascimento e Almeida (2007), a partir de um relato de experiência, relativiza a ideia
de que os professores devem ter experiência com as modalidades de lutas para ministrar esse
conteúdo na escola.
Os demais artigos desta categoria discutem a formação a partir da especificidade da
capoeira. Para esses autores, a abordagem da capoeira nas aulas de Educação Física é
dependente da formação inicial e/ou da vivência desses professores em ambientes extra-
acadêmicos. A falta de segurança para abordar a capoeira é uma das principais dificuldades
enfrentadas pelos professores em relação ao ensino desse conteúdo (SANTOS; PALHARES,
2010).
Santos e Palhares (2010) apresentaram algumas reflexões a respeito da inclusão da
capoeira na formação de professores de Educação Física. Para eles, as diferentes formas de
conhecimento entre o mestre de capoeira e o professor de Educação Física não devem ser
comparadas. Nesse sentido, Melo (2011) sugere uma aproximação entre os atores da
comunidade ligados à capoeira e as intervenções dessa modalidade no ambiente escolar.
Segundo Santos e Palhares (2010), os campos de atuação profissional são diferentes, ambos
são conhecimentos epistemológicos e práticas pedagógicas que atendem a objetivos que
podem ocorrer no mesmo lugar: a escola.
Silva (2011) realizou um curso prático de formação continuada com professores de
Educação Física de Campinas sob o conteúdo da capoeira. O objetivo do curso foi apresentar
e aprofundar o ensino desse conteúdo de maneira prática. De acordo com o depoimento dos
professores-alunos, esse objetivo foi alcançado, pois muitos avaliaram as aulas e o processo
de ensino e aprendizado de forma positiva. Entretanto, foi relatado pelo grupo que, mesmo
apreendendo o jogo da capoeira e sua gestualidade, tiveram dificuldades quanto ao
aprendizado da musicalidade e à insuficiência de tempo para as vivências gestuais. O
principal ponto positivo refere-se à apreensão dos sentidos e significados dos gestos da
capoeira demonstrados pelos professores-alunos. Conclui que são as condições sociais de
produção nas quais o professor encontra-se inserido que vão impulsionar a escolha (ou não)
da capoeira para compor o rol das manifestações da cultura corporal a serem estudadas nas
aulas. Nesse sentido, um curso de formação pode auxiliar, mas não garante a possibilidade de
inserção dessa luta na escola.
Os artigos apontam a necessidade de maior acesso dos docentes ao conteúdo das lutas,
seja pela formação inicial, seja pela continuada, para que os docentes possam ter mais
segurança ao tematizar esse conteúdo. Todavia, refletem que a utilização desse conteúdo não
pode depender de experiência como atleta. Nesse sentido, enfatizamos que a formação deve
ter uma abordagem menos técnica e mais próxima da realidade da docência.
Considerações finais
Este artigo teve como objetivo analisar a produção acadêmica brasileira acerca do
ensino das lutas como conteúdo na Educação Física escolar. A partir da revisão sistemática da
literatura especializada nas revistas brasileiras da área, identificamos três temas centrais: a)
Aspectos pedagógicos e metodológicos das lutas; b) Violência e lutas no contexto escolar, e
c) Formação docente.
Referências
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processos de ensino-aprendizado de professores. Revista Brasileira de Ciências do Esporte,
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Educação Física escolar: necessidade ou tradição?. Pensar a Prática, v. 14, n. 3, 2011.
______. RUFINO, L. G. B.; DARIDO, S. C. O ensino das lutas nas aulas de Educação Física:
análise da prática pedagógica à luz de especialistas. Journal of Physical Education, v. 26, n.
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SILVA, P. C. C. Capoeira nas aulas de educação física: alguns apontamentos sobre processos
de ensino-aprendizado de professores. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n.
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VASQUES, D. G.; BELTRÃO, J. A. MMA e Educação Física escolar: a luta vai começar.
Movimento, Porto Alegre, v. 19, n. 4, p. 289-308, out./dez. 2013.
…………………………………………………………………………………………………...
ARTIGO ORIGINAL
e deslealdade. Podem ser citadas como exemplos de Os participantes do estudo foram 18 professores
luta, as brincadeiras de cabo de guerra e braço de de Educação Física, sendo nove do sexo masculino e
ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do nove do sexo feminino. Os professores participantes
judô e do karatê1-5. deste estudo possuíam faixa etária entre 25 e 48 anos
A Educação Física enquanto componente curricu- de idade, metade da amostra possuía pós graduação, o
lar da Educação Básica deve assumir uma tarefa que restante apenas concluíram a graduação. Todos os pro-
ao introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de fessores já exerciam a função por pelo menos dois anos.
movimento, formando o cidadão que vai produzi-la,
reproduzi-la e transformá-la através do gesto motor, Instrumento
habilidades aprendidas e valores trabalhados, durante O instrumento utilizado para verificação da
as aulas de Educação Física6-8. possível abordagem do conteúdo Lutas nas aulas de
A prática da luta, em sua iniciação esportiva, apre- Educação Física Escolar foi um questionário fechado
senta valores que contribuem para o desenvolvimento adaptado15, contendo seis questões fechadas.
pleno do cidadão, como respeito, disciplina, dentre outros.
Além disso, analisada pela perspectiva da expressão cor- Procedimentos metodológicos e estatísticos
poral, seus movimentos resgatam princípios inerentes ao No momento da aplicação do questionário foram
próprio sentido e papel da Educação Física, na sociedade explicados o objetivo do trabalho e as questões rela-
atual, ou seja, à promoção da saúde; o que a caracteriza cionadas ao instrumento avaliativo. Vale ressaltar que,
como conteúdo curricular da Educação Física9-12. durante o preenchimento das questões investigadas, o
Dessa forma, faz-se necessário aos professores avaliador permaneceu ao lado do avaliado, ficando de
de Educação Física Escolar, saber e ensinar a diferença prontidão para sanar quaisquer dúvidas, que pudessem
entre lutas e brigas para seus alunos, independente da surgir, durante o processo, sem interferir e influenciar
modalidade13,14. Enquanto a primeira trata-se de uma nas respostas.
prática esportiva ou alternativa de atividade física com Utilizou-se, para realização do tratamento dos
regras determinadas, a segunda é vista como uma dados, a frequência relativa e percentual nas questões
forma de provocar confusões, desrespeito ao próximo, investigativas. Para o tratamento dos dados, foi utiliza-
gerando violência excessiva. do o Microsoft Excel do Windows Seven.
Com o objetivo de analisar como vem acontecen-
do nas aulas de Educação Física, das Escolas da Rede
Municipal da cidade de Cataguases, nossa busca é RESULTADOS E DISCUSSÃO
entender, em especial, como funciona a utilização das
A tabela 1, expressa os resultados referentes a
lutas e se está acontecendo uma das temáticas dos
questão da utilização das lutas na educação física escolar.
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), que são
Dos professores investigados, 56% afirmaram
as artes marciais, principalmente pela sua importância
ministrar lutas dentro das aulas de Educação Física, en-
quando falamos de artes milenares, ou das capacidades
quanto que 44% responderam que não trabalham com
físicas envolvidas como a força, a flexibilidade, a resis-
este conteúdo em suas atividades na escola. Ferreira15
tência, a agilidade, e a velocidade.
encontrou apenas 32% de professores que trabalham
com lutas, dentro de uma amostra de 50 investigados,
no município de Fortaleza, Ceará.
MÉTODO A maior parte dos entrevistados afirmaram tra-
Tipo de Pesquisa balhar com conteúdo lutas, respeitar o que sugere os
No estudo transversal foi realizado um levanta- PCN’s e o CBC’s (conteúdos básicos comuns). Mesmo
mento do número de escolas (14) da Rede Municipal assim, o percentual dos entrevistados ficou aquém do
do Ensino Fundamental da cidade de Cataguases, do desejado com relação à utilização de aulas de lutas. É
Estado de Minas Gerais, pertencentes à Secretaria importante contribuir com a formação dos alunos dentro
Municipal de Educação da referida cidade. Neste de um contexto holístico. Metodologias diversificadas e
mesmo levantamento, também foi verificado a inovações em atividades da Educação Física, pedagogi-
quantidade de professores (22) de Educação Física, camente são positivas quanto à participação dos alunos
que lecionam nas mesmas. de uma maneira mais empolgante e maciça15.
Foi realizada uma visita aos professores de Educa- Ainda dentro desta questão, quando verificamos
ção Física das escolas encontradas no levantamento, na as respostas positivas, observa-se que 90% dos entre-
qual foram esclarecidos os objetivos e procedimentos vistados marcaram que trabalham lutas de forma lúdica,
do estudo. Em seguida, foi passado a eles um Termo enquanto 10% recorrem ajuda de algum especialista.
de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) aos que se Vídeos e aulas de campo não foram citadas (ver tabela 1).
dispuseram a participar do estudo, sendo a assinatura Assim, dos professores que responderam posi-
um critério de inclusão à participação do mesmo. Os tivamente a esta questão avaliativa, nove destes res-
estagiários foram excluídos da amostra. ponderam que se utilizam de práticas lúdicas, enquanto
O estudo seguiu os padrões éticos de pesquisa, en- um professor citou que recorre a ajuda de especialista.
volvendo seres humanos de acordo com a lei 466/2012 Podemos perceber que os profissionais que utilizam
do Conselho Nacional de Saúde. dos recursos lúdicos para ministrarem as lutas, dentro
do conteúdo escolar, muitos recorrem à criatividade
Amostra com devidas adaptações aos movimentos técnicos
tradicionais. No estudo de Ferreira15, o autor encontrou abordadas. Nossa amostra citou esta variável em 25%
resultados um pouco diferentes ao que encontramos (2), enquanto o estudo de Ferreira apresentou 17,64%
em nosso experimento. Enquanto em nossa pesquisa, (6), relatando este problema. Por último, o questiona-
encontramos 90% que utilizam-se de técnicas lúdicas mento foi referente se o conteúdo estaria adequado para
(9 professores), no estudo de Ferreira encontrou um o ambiente escolar. Nesta investigação, nossos entre-
percentual muito menor equivalente a 12,5% (2 pro- vistados não citaram esta questão, enquanto que para
fessores). Em nosso estudo 10%, (1) solicita ajuda de tamanho de cidades diferentes, por ter o estudo de
especialista na área para intervenção das atividades de Ferreira um número mais significativo que o nosso e
lutas, enquanto que, no estudo de Ferreira, 31,25% (5) também por compreender escolas da rede particular
se apoia na mesma metodologia abordada. Em relação além das públicas pode ser que os resultados apresen-
ao auxílio dos vídeos como ferramenta para as aulas, tados se tornem diferentes de nossa pesquisa que só
nenhum integrante de nossa amostra citou este recur- investigou a rede municipal.
so, enquanto que 50% do estudo de Ferreira (16) citou Podemos perceber que independente das dificulda-
este recurso como metodologia para esta atividade. des que os professores possam vir a ter para lecionarem
as lutas dentro do conteúdo da Educação Física Escolar,
estes ainda podem recorrer a inúmeros recursos como
Tabela 1 - Utilização das lutas nas aulas de educação
vídeos, palestras, atividades lúdicas, aulas de campo de
física (n=18).
modalidades diversificadas, conhecimento da história
Você utiliza as lutas nas aulas de educação física? n % de cada modalidade, seus ídolos, regras, países onde
Sim 10 56
são mais difundidas, visitas técnicas dentre outras.
Não 8 44
Importante deixarmos claro que a iniciativa, a vontade
Respostas positivas n=10
de fazer algo diferente e desafiador e a ajuda do alto
Como é fundamentada a aula? n %
escalão da escola são variáveis a se considerar dentro
Através de práticas recreativas/lúdicas 9 90
deste contexto.
Através de ajuda de especialista 1 10
Quando apresentamos o questionamento rela-
Através de vídeos 0 0
Através de aula de campo 0 0
cionado às lutas e suas formas de manifestações:
Respostas negativas n=8
pré-existentes com modalidades específicas ou ainda
Motivo pelo qual não aplica as lutas como conteúdo? n % se apresentarem como formas lúdicas como cabo de
Não tenho instrução para isso 2 25 guerra, queda de braço, dentre outras. A tabela 2 nos
A escola não tem condições físicas para isso. 4 50 apresenta os resultados que se segue.
Não temos colaborador 2 25 Observa-se que 33% (6) responderam que as lutas
Acho conteúdo inadequado para a aula 0 0 se apresentam apenas de acordo com as modalidades
específicas, enquanto que 67% (12) visualizam este
conteúdo, sendo apresentadas também com formas lú-
dicas. Novamente no estudo de Ferreira et al.15, dos 50
Já, em relação à abordagem de aula de campo,
entrevistados, 64% (32) consideraram que lutas seriam
nossos entrevistados também não citaram que se utili-
somente as técnicas pré-existentes de combate, en-
zam deste recurso, enquanto que no artigo de Ferreira
quanto que 36% (18) afirmaram que qualquer atividade
6,25% se utilizam deste recurso (1). Talvez, uma pos-
em que dois oponentes se enfrentam pode ser um tipo
sível explicação para estas diferenças estejam associa-
de luta. Podemos observar que estes resultados não
das ao local de investigação das pesquisas. Enquanto
vão ao encontro, mais uma vez aos encontrados com
entrevistamos professores que em grande maioria nem
nossa pesquisa. O trabalho mencionado acima demons-
tiveram este conteúdo em suas grades curriculares, o
tra que a maioria dos professores ainda não reconhece
estudo de Ferreira investigou professores de Fortaleza
a luta diversificada o que em nosso, já demonstra esta
no Ceará com possivelmente diferentes grades insti-
concepção. Ainda utilizando os dados de Ferreira15,
tucionais e maiores possibilidades de competições de
apenas técnicas de Karatê, de Judô, de Capoeira, Boxe,
lutas diversificadas por se tratar de uma capital.
Jiu-Jitsu dentre outras modalidades, são consideradas
Quando verificamos as respostas negativas, po-
lutas o que sabermos que não é uma verdade absoluta.
demos verificar os seguintes resultados de acordo com
Desta forma, os alunos tendem a perder a oportunidade
a tabela 1. Das questões negativas, 8 professores se
de vivenciarem as lutas seja através de um simples
mostraram resistentes ao conteúdo lutas. Nosso estudo
cabo-de-guerra, ou de uma queda de braço e traba-
encontrou resultados em que 25% (2) afirmaram não te-
lharem com isso o componente físico força muscular e
rem instruções para tal prática, enquanto que no estudo
experimentarem estar numa situação de combate.
de Ferreira15, 41,17% (14) mostraram-se resistentes ao
trabalho com lutas por desconhecerem instruções espe-
cíficas de como conduzir as atividades. Em relação ao Tabela 2 - Forma de aplicação das lutas na escola.
questionamento estrutura física da escola, 50% (4) de
Você considera que as lutas são apenas as formas pré-
nossa amostra afirmou que não trabalha este conteúdo existentes, como Caratê, Boxe, Capoeira ou acha que cabo- n %
por causa desta variável, enquanto que no estudo de de-guerra e braço-de-ferro também são formas de luta?
Ferreira15, 23,52% (8) afirmaram que o motivo de não Somente as técnicas pré-existentes podem ser consid-
trabalharem com lutas está relacionado à estrutura física 6 33
eradas lutas.
escolar. Esta mesma temática foi citada por Nakamoto13 Qualquer atividade em que dois oponentes se enfrentam,
e Olivier14. Quando o questionamento foi relacionado a 12 67
tentado superar o outro é um tipo de luta.
ter um colaborador que pudesse ajudar nas temáticas
Quando passamos a uma outra questão avaliativa, com as crianças, enquanto 6% (1) ficam mais receosos
perguntamos, aos professores investigados, qual tipo quanto a esta metodologia de aula. Quando buscamos
de luta eles acreditam ser ideais para se trabalharem nas comparar com outro estudo15, 76% (38) alegaram que
escolas. Os resultados são apresentados na tabela 3. não sugerem esta prática dentro das escolas no âmbito
Como pode ser observado, a capoeira foi a mais infantil, cabendo a mesma ser realizada por um espe-
citada com 35% (7) seguida por Karatê 20% (4), Judô cialista em uma academia própria, e os outros 12 pro-
15% (3), Tae Know Do 15% (3), Boxe 5% (1), Jiu-Jitsu fessores (24%) disseram que é possível sim realizar tal
5% (1) e Hapkido 5% (1). tipo de intervenção. Acreditamos que uma capacitação
Para Ferreira15, 16% (8) responderam que nenhu- de Educação Física, frente a esta modalidade tende a
ma luta deveria ser abordada no conteúdo escolar e deixar os professores mais homogêneos no que tange
justificaram pelo fator agressividade ser uma temática às respostas lutas e Educação Física, quer seja relacio-
recorrente dentro de diversificadas escolas, espalhadas nado às técnicas, quer seja relacionado à ludicidade e à
pelo Brasil. Das modalidades mais citadas, a capoeira expressão corporal do movimento.
foi a de maior destaque com 26% (13), indo ao encon- Quando o questionamento tem relação à prática
tro a nossos achados. Talvez uma explicação plausível das lutas e a geração de agressividade, observa-se que,
para isto reside no fato de a capoeira ser genuinamente nenhum dos professores entrevistados, responderam
brasileira. Sequencialmente aparece o Karatê com 24% positivamente a esta questão. 39% dos entrevistados
(12) assim como em nosso estudo. Posteriormente relataram que as lutas não geram violência e 61% dos
aparece o Judô com 18% (9), também aparecendo na entrevistados relataram que depende do professor.
mesma sequencia de nossa proposta. O Tae Know Do Quando comparados ao estudo de Ferreira15, 24% (12)
aparece na mesma sequencia de nosso estudo com 8% responderam que sim; 44% (22), que não; e 32% (16)
(4), seguido do Kung-Fu com 6% (3), Jiu-Jitsu, com 2% disseram que depende do professor. Um fator que po-
(1) e seguidos por 4% (2) que a lúdica deve ser lúdica de ser explicado sobre as diferenças nestas respostas
apresentada como brincadeira. podem estar relacionados aos locais que as pesquisas
foram realizadas, ao tipo de alunos investigados, às
Tabela 3 - Tipo de luta que deve ser trabalhada na escola famílias envolvidas bem como os profissionais que tra-
(n=18). balham com Educação Física e lutas. Temos que deixar
claro que luta é um esporte como um outro qualquer,
Que tipo de luta você acha ideal ser trabalhada na escola? n %
todavia o envolvimento com a utilização de quedas,
Jiu Jitsu 1 5
torções, imobilizações, estrangulamentos, uso da força
Hapkido 1 5
Karatê 4 20
e situações de combate possam ser confundidas com
Boxe 1 5
brigas, o que sabemos que não é uma verdade. Por
Capoeira 7 35 fim apresentamos a questão referente se os alunos se
Judô 3 15 tornariam mais agressivos ao praticarem lutas.
Tae know do 3 15 Verifica-se que nenhum dos professores entrevis-
tados respondeu que acreditam que as lutas tornariam
os alunos mais agressivos, 50% (9) que não acreditam
A mídia, filmes, desenhos, podem ter influencia e que 50% (9) que talvez. Um fato que pode ser explica-
nas respostas dos professores investigados, bem como do a este percentual, pelo fato de que a maior parte das
o comportamento dos praticantes de diferentes modali- lutas, leva à disciplina e não à violência, como virtude
dades. Como pode ser observado, o Jiu-Jitsu apresen- de um grande lutador e desportista. Para Ferreira15,
tou-se com número baixíssimo em ambos os estudos, 24% (12) responderam que sim; 50% (25), que não e
talvez pelo comportamento de tais lutadores que não 26% (13) que talvez. Sugere-se uma maior conscien-
saibam diferenciar lutas de brigas. Todavia deixamos tização dos professores, palestras educativas, vídeos
claro que não é a modalidade que é responsável pela específicos e aulas práticas conduzidas de forma que
violência e sim o fator social que anda muito conturba- sejam respeitados os oponentes e as regras se fazem
do dentro das famílias e dentro da própria sociedade, de necessárias para criações de alunos com um perfil con-
uma maneira geral. trário à violência.
Quando a abordagem refere-se à Educação In-
fantil, apresentamos a tabela 4, referente às questões
impostas ao professores. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pode ser observado, 94% (17) dos entre-
vistados sugerem que é possível trabalhar ludicamente Diante dos resultados encontrados no presente
Tabela 4 - Número de alunos e valores percentuais de professores relacionado ao trabalho de lutas na escola, agressividade dos
alunos e o uso das lutas na educação infantil (n=18).
2. Você considera que as lutas são apenas as formas pré-existentes, como Caratê, Boxe, Capoeira ou
acha que cabo-de-guerra e braço-de-ferro também são formas de luta?
A. Somente as técnicas pré-existentes podem ser consideradas lutas.
B. Qualquer atividade em que dois oponentes se enfrentam, tentado superar o outro é um tipo de luta.
6. Você acha que seus alunos se tornariam mais agressivos ao praticarem lutas?
A. Sim.
B. Não.
C. Talvez.
Educación Física y Ciencia, vol. 24, nº1, e212, enero-marzo 2022. ISSN 2314-2561
Universidad Nacional de La Plata.
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación.
Departamento de Educación Física
Resumo:
O artigo retrata uma investigação cujo objetivo consistiu em perscrutar as implicações do trabalho pedagógico desenvolvido num
componente curricular intitulado: ‘Pedagogia das Lutas’, no segundo semestre de 2020, elaborado em conformação remota, em
uma instituição de ensino superior federal, no estado de Minas Gerais/BR. Tratou-se de uma pesquisa de natureza qualitativa.
O grupo amostral contou com vinte e oito aprendizes, sendo quatorze homens e o mesmo número de mulheres. Em termos de
procedimentos analíticos foram escrutinados os materiais empíricos produzidos por ocasião das aulas. Para examiná-los empregou-
se a análise de conteúdo, enquanto técnica. Os resultados expuseram êxito em relação aos aportes teóricos selecionados à disciplina,
com realce para os conteúdos correlatos e àqueles que forneceram subsídio epistemológico para o desenvolvimento do ensino de
Lutas nas diferentes etapas da educação básica. Outro destaque referiu-se ao modo de condução dos encontros, em especial, quando
houve atividades “práticas”. Em termos de limites a ênfase recaiu na “falta de contato corporal”, configurando-se como o grande
desafio para o ensino de Lutas/Artes Marciais na escola, em razão da conformação remota.
Palavras-chave: Lutas, Artes Marciais, Educação Física, Formação Inicial, Ensino Remoto.
Abstract:
e article portrays an investigation whose objective was to analyze the implications of the pedagogical work developed in a
curricular component entitled: 'Pedagogy of Struggles', in the second half of 2020, prepared in remote conformation, in a federal
higher education institution, in the state of Minas Gerais/BR. It was a qualitative investigation. e sample group had twenty-
eight apprentices, being fourteen men and the same number of women. In terms of analytical procedures, the empirical materials
produced during the classes were scrutinized. To examine them, content analysis was used as a technique. e results showed
success in relation to the theoretical contributions selected to the discipline, with emphasis on contents with social relevance and
those that provided epistemological basis for the development of the teaching of Fighting, in the different stages of basic education.
Another highlight referred to the way the meetings were conducted, especially when there were “practical” activities. In terms of
limits, the emphasis fell on the “lack of body contact”, constituting the great challenge for the teaching of Fighting/Martial Arts
at school, due to its remote configuration.
Keywords: Fights, Martial Arts, Physical Education, Initial Formation, Remote Teaching.
Cita sugerida: Soares, G. A., Reis, F. P. G. y Carneiro, K. T. (2022). O ensino de lutas/artes marciais em configuração remota: notas
de uma trajetóriadidático-metodológica na formação docente em Educação Física. Educación Física y Ciencia, 24(1), e212.
https://doi.org/10.24215/23142561e212
Esta obra está bajo licencia Creative Commons Atribución-NoComercial-CompartirIgual 4.0 Internacional https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/deed.es_AR
Educación Física y Ciencia, enero-marzo 2022, vol. 24, n° 1, e212. ISSN 2314-2561
Resumen:
El artículo retrata una investigación cuyo objetivo fue indagar las implicaciones del trabajo pedagógico desarrollado en un
componente curricular titulado: 'Pedagogía de las Luchas', en el segundo semestre de 2020, elaborado en conformación a distancia,
en una institución de educación superior federal, en el Estado de Minas Gerais General/BR. Fue una investigación cualitativa.
El grupo de muestra tenía veintiocho aprendices, siendo catorce hombres y el mismo número de mujeres. En términos de
procedimientos analíticos, se escudriñó el material empírico producido durante las clases. Para examinarlos se utilizó como técnica
el análisis de contenido. Los resultados arrojaron éxito en relación con los aportes teóricos seleccionados a la disciplina, con énfasis
en contenidos con relevancia social y aquellos que brindaron base epistemológica para el desarrollo de la enseñanza de la Lucha,
en las diferentes etapas de la educación básica. Otro punto a destacar se refirió a la forma en que se llevaron a cabo las reuniones,
especialmente cuando hubo actividades “practicas”. En cuanto a los límites, el énfasis recayó en la “falta de contacto corporal”,
constituyendo el gran desafío para la enseñanza de la Lucha/ Artes Marciales en la escuela, debido a su configuración remota.
Palabras clave: Luchas, Artes Marciales, Educación Física, Formación Inicial, Enseñanza a Distancia.
Em decorrência da crise pandêmica deflagrada pelo vírus SARS-Cov-2 em março de 2020 – de acordo
com a World Health Organisation (2020) constituía-se numa Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional (ESPII) –, escolas e universidades interromperam o ensino presencial, com base na Medida
Provisória N° 934 (01/04/2020) a qual institui a contemporização dos dias letivos presenciais nas instituições
educacionais de todo o país. Como efeito implementa-se a modalidade de Ensino Remoto Emergencial
(ERE) no domínio de uma universidade federal situada no estado de Minas Gerais, consoante às medidas
preventivas exigidas pelo contexto. Em razão disso, tal instituição propôs um modelo de Roteiro de Estudos
Orientados (REO), de modo a subsidiar o trabalho pedagógico docente referente às disciplinas de graduação
e pós-graduação.
À face dessa conjuntura insólita para o desenvolvimento da formação inicial, mais especificamente
no interior do curso de Licenciatura em Educação Física, engendrou-se esta investigação cujo objetivo
consistiu em cotejar e perscrutar a pedagogia universitária empregada pelo regente do componente curricular
intitulado ‘Pedagogia das Lutas’, cuja carga horária perfaz 34 horas semestrais. De igual modo mapear as
implicações do trabalho pedagógico realizado ao longo do segundo semestre de 2020, sob uma atmosfera
virtual.
Trata-se de um interesse epistêmico desinente da complexidade e desafio presentes na elaboração de um
trabalho pedagógico – desenvolvido ao longo de dezessete semanas – no qual os saberes relativos às lutas/artes
marciais foram ensinados sem a “presença da experiência corporificada”, ou seja, à dimensão procedimental
(saber fazer) do conteúdo, uma face relevante para a apropriação do conhecimento (Coll, Pozo, Sarabia e
Walls, 1998; Zabala, 1998). Em outras palavras, o que nos mobilizou cientificamente residiu na possibilidade
de avaliar essa experiência formativa num curso (presencial) de formação docente (licenciatura) em Educação
Física, em uma universidade federal situada no estado de Minas Gerais, escrutinando a disciplina ‘Pedagogia
das Lutas’ cuja oferta ocorrera sob conformação remota.
Corresponde a um cenário inusitado, ao menos em relação à Instituição de Ensino Superior (IES) em
análise, portanto, deve-se levar em consideração à conformação remota. Soma-se a isso o fato do docente erigir
o trabalho pedagógico evocando as representações discentes para organizar a construção de procedimentos
metodológicos e fomentar tematizações, com vistas a atuar no novo cenário sobre o qual o componente
curricular – e a vida humana em linhas gerais – experienciaram abruptas modificações.
Basicamente, a organização da disciplina entremeou (semanalmente) momentos de estudos, videoaulas
e desenvolvimento de atividades. Além disso, houve encontros síncronos, no horário cujas aulas estavam
previstas na matriz curricular – todos eles foram gravados e disponibilizados aos acadêmicos/as, por
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intermédio da plataforma (Campus) virtual da instituição –. Oportuno citar a criação de espaços de interação
entre professores e alunos, quais sejam: os fóruns de discussão e os painéis de registro, facultando que os
ausentes nos encontros síncronos tivessem acesso ao conteúdo, pari passu preconizassem suas impressões e
dúvidas.
Ademais, os materiais elaborados pelos aprendizes compuseram parte das atividades avaliativas quinzenais,
confeccionadas por exigência do componente curricular supracitado. Foram desenvolvidos: estudos
dirigidos, textos dissertativos, resenhas, planos de aula, indagações para subsidiar os debates (leia-se encontros
virtuais), dentre outros recursos, sendo essas formulações – materiais empíricos – objetos de análise para a
consecução do estudo em tela.
Nessa esteira de descrição do contexto do estudo, destacam-se, além disso, o planejamento de ensino
elaborado pelo docente regente do componente curricular – disponível para consulta pública no sistema
integrado da IES – e sua formação acadêmica dedicada ao campo didático –, afora os anos de magistério e
atuação na educação básica – constatação examinada por ocasião da pesquisa. Conjuntura a qual suscitou
o interesse em escrutar sua pedagogia universitária, conquanto perscrutar-se-á apenas as implicações do
trabalho pedagógico desenvolvido num dos componentes curriculares (lê-se: ‘Pedagogia das Lutas’) por ele
ministrado, cujos efeitos, em alguma medida, traduziram os atributos formativos descritos.
Acrescenta-se a esse quadro investigativo o próprio curso de formação docente em Educação Física,
em virtude de suas idiossincrasias de ordem epistemológica, haja vista corresponder a uma subárea do
conhecimento “colonizada” por outras áreas científicas (Rezer, Nascimento e Fensterseifer, 2011; Bracht,
2000; Loviloso, 1998; Carneiro, Assis e Bronzatto, 2016; Carneiro 2012). Além das questões de natureza
didática, deve-se levar em conta a forte presença de uma formação tecnificada, fragmentada, esportivizada
(Darido, 1999; 2012). Ademais se tem a questão da obliteração das práticas – ou experiências – corporais,
devido à condição virtual do ensino, circunstância já aludida, convindo reiterar. Um cenário absolutamente
implexo e adverso para se pensar e desenvolver o ensino das Lutas/Artes Marciais.
Não bastasse o panorama descrito, há ainda, o fato dos saberes relativos às Lutas/Artes Marciais serem
prescindidos ou negligenciados, sob a égide das seguintes alegações: estrutura precária e ausência de materiais;
formação acadêmica deficitária; falta de interesse de aprendizes e docentes; em grande medida em decorrência
da preferência por jogos coletivos, em especial aqueles com bola; ademais temos a associação peremptória com
a violência, portanto sendo uma prática corporal inadequada ao ambiente escolar, dentre outras justificativas
cotejadas no estudo Lise, Cavichiolli e GIl (2022), no qual apresenta uma correlação entre o Brasil e a Espanha
no que se refere à efetividade do conteúdo Lutas nas aulas de Educação Física.
Adiciona-se outro elemento a esse cenário intrigante, a escassez de produções acadêmicas que tematizem
o conteúdo das Lutas no ambiente escolar, pois de acordo com Correia e Franchini (2010) apenas 2,93%
das produções publicadas em revistas acadêmicas de circulação nacional (leia-se brasileira) versam sobre
a temática: Lutas/Artes Marciais, desse percentual somente 10,7% tratam de aspectos voltados para a
Pedagogia do Movimento Humano, dificultando, por sua vez, o aprofundamento teórico/metodológico
dos docentes em exercício professoral. O quadro (intricado) exposto ensejou a presente investigação. Na
continuidade serão expostos os aspectos metodológicos empregados na investigação.
Metodologia
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Pode-se, então, afiançar que ao eleger a abordagem qualitativa o pesquisador/a volta-se para a busca do
significado das coisas, porque este tem um papel organizador nos seres humanos. Aquilo que as “coisas” –
fenômenos, manifestações, ocorrências, fatos, eventos, vivências, ideias, sentimentos, assuntos – representam
oferece "molde" à vida das pessoas (Lüdke e André, 1986). Num outro nível, os significados que os fenômenos
(leia-se “coisas”) recebem passam também a ser partilhados culturalmente e, assim, organizam o grupo social
em torno dessas representações e simbolismos (Chizzotti, 2003).
Em termos de procedimentos analíticos para escrutinar os dados coletados empregou-se a análise de
conteúdo, consoante aos pressupostos formulados por Bardin (1994), consistindo, para o contexto do estudo
em questão, na descrição detalhada e sistematizada dos relatos dos acadêmicos/as, somado aos registros
escritos provenientes dos REOs, em conjunto com as gravações das aulas. De acordo com a autora supracitada,
esta técnica de análise organiza-se em três etapas, a saber: a primeira refere-se a “pré-análise”, momento no
qual se realiza a primeira leitura do material empírico de modo a ordená-lo e estabelecer conjecturas, visando
o aprofundamento do objeto de estudo.
A segunda diz respeito à “fase de exploração”, equivalendo à ocasião da formulação de categorias
(analíticas) específicas, com base na recorrência temática ou por análise e agrupamento de conteúdo
(Bardin, 1994). Para fins desta pesquisa identificamos a reincidência do teor temático tanto nos relatos
dos/as acadêmicos/as quanto nas atividades resultantes da proposta do componente curricular: ‘Pedagogia
das Lutas’. Somou-se a essa técnica os critérios de caracterização de categorias baseado na exclusividade,
homogeneidade e confiabilidade propostos por Carlomagno e Rocha (2016).
E à última etapa concernente ao “tratamento dos resultados”, de acordo com Bardin (1994) utilizou-
se o referencial teórico de modo a granjear subsídio (epistemológico) para decodificar e perscrutar os
materiais empíricos produzidos ao longo do trabalho pedagógico desenvolvido pelo componente curricular
supramencionado. Estabelecendo, por sua vez, inferências sobre “os achados” da pesquisa.
Em termos éticos, para o desenvolvimento do estudo houve anuência dos/as pesquisados/as, na medida
em que aceitaram colaborar com a pesquisa, referendando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). A pesquisa foi aprovada junto ao comitê de ética da instituição investigada, cujo registro consta no
parecer número 4614.882.
O grupo amostral contou com vinte e oito (28) aprendizes matriculados na disciplina ‘Pedagogia das
Lutas’, sendo quatorze (14) homens e o mesmo número de mulheres (lê-se 14). Com o intuito de preservar a
identidade de cada um deles, ao invés de empregarmos uma simbologia gráfica ou numérica – desumanizando
os participantes da pesquisa –, inseriu-se nomes fictícios relacionados ao universo das Lutas/Artes Marciais,
evocando as representações relativas ao mote.
Compete-nos informar ainda, o intento de articular pesquisa e formação, uma premissa segundo a qual
se fomente um processo de superação de formas convencionais de trabalho científico aplicado, dado que,
historicamente, tem-se observado investigações em Educação – e áreas correlatas – nas quais os investigados
(professores/as) reduzem-se a amostras (estatísticas) e, portanto, a objetos de estudo (Demo, 2004). Trata-se
de uma perspectiva pela qual se alvitra transcender essa concepção instrumentalizada, cujos “pesquisadores
da área educacional têm sido desafiados a propor formas de investigação que possam estabelecer uma relação
mais orgânica entre suas atividades de pesquisa e ensino” (Demo, 2004, p. 17).
Nessa direção, ao contrário do pesquisador inserir-se no ambiente educativo apenas para observar
ou tecer críticas e adequações, objetiva-se debater “junto ao professor a realidade de seu trabalho, as
dificuldades encontradas e oferecer subsídios teórico-metodológicos para a implementação de novas práticas
possíveis” (Bortoni-Ricardo, 2011, p. 26). Correspondendo, portanto, a uma noção “de pesquisa em que todo
o processo é conduzido em coparticipação entre professor e pesquisador, visando sempre à reestruturação e
reconstrução do trabalho com a linguagem em situação de ensino” (Bortoni-Ricardo, 2011, p. 22).
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Antes de descrever o processo formativo propriamente dito, faz-se indispensável elucidar a razão pela qual
se optou pelo emprego do binômio: Lutas/Artes Marciais. Parte-se da premissa de que tanto na concepção
de Lutas quanto no entendimento de Artes Marciais há certa complementaridade, seja no plano da evolução
histórica, ou mesmo na conformação das práticas corporais, afora o aprimoramento de seus artefatos,
em que pesem os riscos – tradições, histórias e elementos contextuais – ao aproximá-las. Ainda assim,
independentemente da ousadia epistemológica e de suas implicações, coaduná-las nos parece indicar um
caminho auspicioso na tentativa de ampliar a presença desses saberes no espaço escolar, uma noção alinhada
à proposta de Pereira, Reis e Carneiro (2020) e Pereira, Reis, Carneiro e Scaglia (2021).
Ao abrigo dessa premissa conceitual estruturaram-se os “caminhos epistêmicos” tracejados à disciplina
‘Pedagogia das Lutas’. O docente responsável organizou o componente curricular sob quatro eixos (de
conhecimento), a saber: 1) levantamento das representações discentes a respeito dos conceitos de Lutas, Artes
Marciais e Modalidades Esportivas de Combate; 2) discussões teórico-metodológicas para o ensino de Lutas/
Artes Marciais à luz da pedagogia do esporte; 3) tematizações possíveis quanto aos conteúdos de Lutas/Artes
Marciais – observando os marcadores sociais de gênero, classe social, raça, etnia, geração, religiosidade, dentre
outras que pudessem insurgir –; 4) outros temas possíveis (violência e competição).
Inicialmente houve um investimento formativo na direção de pôr em desconfiança às representações
referentes ao universo das Lutas/Artes Marciais na tentativa de compreender como as vivências, às
dimensões sociais e as leituras de mundo incidiriam na percepção com a qual um indivíduo apresenta ao
apreciar determinado material, acessar artefatos culturais (vídeo, música, poesia, dentre tanto outros), ou
mesmo relatar uma experiência. De igual modo pelas relações de poder cujos sujeitos estão submetidos,
representadas pela “composição e intenção do autor que cria a obra para determinado público. Sendo assim,
as representações que cada pessoa carrega consigo são constituídas de acordo com suas histórias de vida e
permitem outras interpretações de mundo” (Chartier, 1991, p. 87).
Acessar às narrativas produzidas tornou-se relevante na medida em que deslindaram representações sobre
o entendimento de Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate, haja vista consistir no ponto
de partida – avaliação diagnóstica – da organização pedagógica empreendida (Rabelo, 1998). Ao trazer a
lume todas as impressões prévias construídas (historicamente) sobre o mote, a proposição inicial alvitrava pô-
las em suspeição, com efeito, desestabilizá-las, tendo em mente o fato de não serem fixas, porquanto, apesar
de funcionarem como convenções sociais, não são inabaláveis (Resende, 2018).
À vista disso, o resultado do primeiro REO originou vinte e três relatos produzidos pelos aprendizes no
interstício do primeiro para o segundo encontro (virtual) da disciplina. Na qualidade de objeto disparador o
docente regente formulou a seguinte perquirição: “O que são lutas, artes marciais e modalidades esportivas de
combate?” Objetivava-se, com isso, mapear – a “bagagem” histórica/cultural adquirida ao longo da trajetória
formativa e das experiências de vida – o conhecimento a respeito do tema.
Ao analisar o teor dos relatos notou-se uma variedade de respostas consoante a subjetividade de cada
um, resultante, inclusive, do processo formativo do próprio curso de licenciatura ao qual estão vinculados.
Oportuno anotar o fato do campo semântico relativo ao termo “Luta” suceder diferentes conotações, isso
equivale a dizer que a palavra “luta” possui uma natureza polissêmica, recebendo diferentes acepções, a
depender do contexto ou da apropriação de seus objetivos (Rufino, 2012).
Ao interpretarmos o modo com o qual o termo “Lutas” figurou nos primeiros relatos, constatou-se
determinadas correspondências temáticas, observemos as mais frequentes: técnicas/golpes, disputa, prêmio,
machucar, treino, brincar, defender, brigar, adversário, disciplina, ataque/defesa, inimigo, regras e cultura.
Diante dessas associações relativas ao conceito, notou-se o registro de quatro explanações distinguirem o
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termo “brigar” de “lutas”, pois, essa conjugação conceitual alija a presença de seus saberes no espaço escolar,
conforme demonstram alguns relatos a seguir:
[...] dificuldade de serem introduzidas na escola por muitas vezes serem confundidas com uma “briga”, o que é justamente
o contrário (Rickson Gracie).
[...] separarmos o conceito de luta como sendo sinônimo de “BRIGA” VIOLÊNCIA”/“SELVAGERIA” entre outros
sentidos errôneos (Gabi Silva)
[...] deixar claro para os alunos que luta não é briga (Cris Cyborg)
A luta ensina exatamente maneiras de como agir e quando agir caso esteja sendo atacado por alguém, como em brigas (Kyra
Gracie).
Como se pode depreender, parte dos/as aspirantes à docência avalizaram existir diferenças entre as Lutas
e as brigas, entendimento análogo ao de Gomes (2008), ao elucidar o fato das manifestações codificadas
de combate obrarem de modo diametralmente oposto das expressões de violências, basta ponderar sobre
a presença de regras e espaço definido de confronto. A autora complementa sua explanação anotando
que ao contrário das brigas, as Lutas têm como característica o contato proposital entre duas ou mais
pessoas, com ações ofensivas e defensivas alvitrando acertar ou imobilizar o oponente/alvo. De acordo
com ela (lê-se, Gomes (2008)), são acontecimentos com regras previamente reconhecidas e respeitadas,
à semelhança de ações corporais imprevisíveis com o intuito de sobrepujar o oponente. Ademais, tem-
se um alvo personificado, o oponente, podendo ocorrer em nível representativo – a título de exemplo
lembremo-nos dos treinamentos/demonstrações de técnicas de lutas cuja ação não necessariamente requeira
um oponente “concreto” –. A ausência de qualquer uma dessas características tolher-se-ia o fenômeno, com
efeito, facultariam outros tipos de práticas, mas não manifestações codificadas de combate (Gomes, 2008).
Em relação ao termo “Artes Marciais”, observamos a ocorrência de outras palavras que foram elencadas
direta ou indiretamente à referida prática corporal, sendo elas: disciplina, batalhas, guerras, história, técnicas,
implementos, defesa pessoal, cultura e atividades físicas. Segundo Correia e Franchini (2010) e Rufino
(2018), Arte Marcial diz respeito às práticas corporais utilizadas em combates ou guerras, contudo, ao longo
do tempo outras noções foram atreladas ao conceito, a exemplo das ideias de beleza e estética dos movimentos,
de igual modo às condutas e fundamentações filosóficas com forte influência do “mundo oriental”.
No entanto, ao perscrutarmos a ocorrência de termos associados ao conceito de “Arte Marcial”, verificou-
se uma aproximação com o conceito de ‘técnica’, amplamente difundida no campo da Educação Física, em
especial, no Esporte. Logo, a questão das “técnicas” foi um dos conteúdos mais recorrentes na descrição
dos relatos, correlacionando-as com as Artes Marciais, entendimento igualmente constatado por (Correia e
Franchini, 2010) e (Rufino, 2018). Os excertos textuais ulteriores evidenciam essa agregação:
Quando é mencionada a palavra artes marciais, logo me vem na cabeça que são às técnicas de lutas desenvolvidas para utilizar
em batalhas [...] (Anderson Silva).
As artes marciais surgiram como uma luta corporal própria para guerras, técnicas de lutas desenvolvidas para utilizar em
batalhas [...] (Kyra Gracie).
As artes marciais dizem respeito a um conjunto de técnicas de cada lutador [...] (Amanda Ribas).
[...] artes marciais referem-se a um conjunto de técnicas de luta individual (Amanda Nunes).
Admitir essa associação entre técnica e o universo das Artes Marciais, embora não incorra num equívoco
– desde que haja uma noção mais elaborada a respeito do conceito, a exemplo da acepção de técnicas
corporais formulada por Marcel Mauss (1974), segundo a qual o antropólogo francês considerou os gestos e
os movimentos corporais como técnicas próprias da cultura, passíveis de transmissão através das gerações e
imbuídas de significados específicos –, todavia poderá ser deformada, na medida em que no interior da escola
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Educación Física y Ciencia, enero-marzo 2022, vol. 24, n° 1, e212. ISSN 2314-2561
seja apregoada de forma tecnificada – sob acepção estritamente biomecânica –, apolítica e descontextualizada,
visto que a Educação Física escolar – assim como os outros componentes curriculares da educação básica
– dever-se-ia fomentar aos aprendizes à emancipação, por intermédio da apropriação do conhecimento
historicamente situado (Bracht, 2005; Charlot, 2008).
Não se trata de negligenciar o ensino da técnica enquanto conhecimento social e dimensão procedimental
do saber, conquanto rechaçar a ideia de reprodução técnica e mecânica dos movimentos, haja vista essa
perspectiva incidir numa concepção acrítica de educação, afora olvidar a reflexão sobre ‘o que’ está se fazendo,
além do ‘por quê’ dos fazeres, sendo, portanto, indispensável uma organização pedagógica pela qual se
produza sentido e significado para os saberes escolares, notadamente no que concerne às Lutas/Artes Marciais
(Alencar, Silva, Lavoura, e Drigo, 2015; Pereira, et al., 2020; Pereira et al., 2021).
Seguindo a esteira de análise, após o mapeamento e as interpretações produzidas em relação às
representações, o segundo REO foi dedicado a granjear os contributos da pedagogia do esporte para os
processos de ensino das Lutas/Artes Marciais. Para tanto, propôs-se indagar os/as acadêmicos a essa respeito,
com base na seguinte perquirição: “quais as contribuições da pedagogia do esporte nos processos de ensino das
Lutas/Artes Marciais”? Apenas dezenove acadêmicos/as entregaram o trabalho escrito, dos quais quatorze
notabilizaram à necessidade de ‘ressignificações/transformações’ dos conteúdos relativos às Lutas/Artes
Marciais na escola, enquanto cinco assinalaram na direção do ‘ensino das técnicas’.
No interior do agrupamento ‘ressignificações/transformações’ explicitam à indispensável necessidade
de transformação didático/metodológica para se ensinar os saberes referentes às Lutas/Artes Marciais.
Chamou-nos à atenção o indicativo de transformação didática por intermédio de jogos/brincadeiras, uma
compreensão admitida por (Pereira et al., 2020; Pereira et al., 2021), ao serem arautos da pedagogia do jogo.
No que se refere à categoria de ‘ensino de técnicas’, os/as aprendizes fizeram alusão às Lutas centralizando os
argumentos na questão de aprendizagens das técnicas específicas, voltadas ao treinamento e autodefesa.
Em face do exposto, pode-se perceber que as práticas corporais de Luta/Artes Marciais devem ser
transformadas de modo a acolher a função social da escola, com isso se tornar uma possibilidade educativa.
Algumas das discentes pesquisadas argumentaram de maneira pontual quanto aos caminhos e atividades pelas
quais poder-se-iam desenvolver as Luta/Artes Marciais no contexto escolar, conforme se constata doravante:
Acredito que o ensino de lutas na escola deve ser feito, como por exemplo, através de brincadeiras de cabo-de-guerra, braço
de ferro e outras. A contextualização deve ser feita de maneira lúdica, levando o aluno a compreender a diferença entre as
modalidades e entre modalidades esportivas de combate e brigas, e apresentar as lutas no contexto onde os alunos estão
inseridos (Cris Cyborg).
Para ensinar tais práticas corporais, por exemplo, dentro de um ambiente escolar, o professor pode trabalhar com brincadeiras
e jogos que tenham características próprias ou comuns as das lutas, artes marciais ou esportes de combate (Jessica Andrade).
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formação inicial dever-se-iam elaborar um texto dissertativo a respeito do assunto, de modo que as ideias e
reflexões contidas na produção textual pudessem nutrir o debate do encontro (virtual) subsequente.
No que tange aos resultados, em dezesseis produções o conteúdo basilar escrutava ou problematizava
as Lutas/Artes Marciais, colocando em perspectiva a conjugação entre violências/brigas – uma verificação
relevante, em virtude de corresponder ao primeiro eixo de conhecimento desenvolvido no interior do
componente curricular, no qual se averiguou às representações discentes a respeito dos conceitos de Lutas,
Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate, um fato cujo indicativo permite à ilação de êxito, de
algum modo, na proposta formativa –, outras quatro abordaram questões de gênero e duas se destinaram a
discorrer sobre discriminação e ascensão social.
Dentre os argumentos mais críticos e frequentes nos escritos, tem-se a vinculação das práticas de Lutas/
Artes Marciais à construção do comportamento agressivo, ou mesmo um estereótipo de ações violentas e
repletas de preconceitos. A literatura especializada já acoimou o equívoco dessa correlação induzida – na
maioria das vezes proveniente do senso comum ou de empirias deformadas –, no que concerne às Lutas/Artes
Marciais, brigas e as distintas manifestações de violências e o quanto ela deprecia e promove interditos para se
vivenciar e ensinar essas práticas corporais (Rufino e Darido, 2013). Não sem razão advertiram Nascimento e
Almeida (2007, p 12), “o fator violência, que julgam ser intrínseco às Lutas/Artes Marciais, incompatibiliza
a possibilidade de abordagem deste conteúdo na escola”.
Segundo os referidos autores, trata-se de um dos principais entraves na vivência do conteúdo pelos jovens,
entretanto, argumentam que a violência ou comportamentos violentos não se restringem ao universo das
Lutas/Artes Marciais. Sublinham até mesmo o fato da existência frequente de violências e agressões em outras
práticas corporais, a título de exemplo, citam o futebol e outras modalidades, em relação à questão das torcidas
(Nascimento e Almeida, 2007). A rigor, se porventura analisássemos os atos violentos que acontecem em
campeonatos da modalidade aludida, provavelmente poder-se-ia encontrar mais manifestações de violência
(simbólica e efetiva) nos estádios e nas torcidas organizadas, se comparado aos torneios e competições que
envolvem as Lutas/Artes Marciais (Ferreira, 2006; Pereira, et al., 2020; Pereira et al., 2021).
Na realidade, as violências se inscrevem em raízes mais amplas e complexas, expressas nas relações sociais
enquanto modos e procedimentos de comunicação que insurgem em situações de conflito, ameaças, incerteza,
medo, tensão, entre outras. Conjectura-se, nesse sentido, que o desenvolvimento das Lutas/Artes Marciais na
escola ao ser realizado de forma sistematizada, ou seja, transformado didaticamente, fomente aos aprendizes
uma condição de (re)aprender a gerir e a controlar as pulsões ante a complexidade das relações “violentas”, as
quais, eventualmente, possam estar expostos. Portanto, pode-se avalizar não haver uma relação peremptória
entre essas práticas corporais e a violência. No limite, admite-se sobrevir – em decorrência de um histórico
de exposição às violências – eventuais extravaso de pulsões reprimidas em ambiente de disputas corporais,
acontecimento, até mesmo, azado para se interferir pedagogicamente e, quem sabe, promover à reelaboração
de reações emocionais, experiências e afetos (Ferreira, 2006; Lise et al., 2022; Pereira et al., 2020; Pereira et
al., 2021).
Em outra perspectiva de análise presente nos excertos produzidos, fez-se uma problematização relativa
à discriminação social incluída em determinadas modalidades esportivas, compreendendo as Lutas/Artes
Marciais, em razão de existirem práticas mais elitizadas em oposição a outras. A esse respeito Betti (1998)
destacou o fato da comercialização e a midiatização esportiva coadjuvarem à discriminação no esporte, basta
notar a ocorrência de algumas modalidades granjearem notoriedade em razão do apelo comercial e incentivo
de patrocinadores, com efeito, adquirem mais evidência em relação às outras, seja em decorrência de como
são praticadas, seja em virtude do potencial de venda – tornando-se commodities –. Na continuidade há uma
passagem textual cujo teor explicita essa questão:
Na minha cidade as lutas são divididas em duas partes, as que são ensinadas gratuitamente, ou seja, voltado para os menos
afortunados (capoeira, muay thai), e as lutas que são ensinadas em academias privadas como (Karatê, Judô, jiu-jitsu) sendo
que essas últimas não oferecem nenhuma oportunidade para quem não tem condição financeira. Creio que em toda cidade
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é necessário haver locais disponíveis para toda população gratuitamente nos quais se ensine lutas e outras modalidades, mas
o que vejo hoje é uma grande segregação onde o esporte é separado entre modalidade para ricos e modalidades para pobres.
(Flavio Canto)
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justiça e desumanizado, no qual a competição se vê privada de seu amplo potencial formativo, pois, se assim o
fosse, até proporcionar-se-ia empenho, excelência individual e autossuperação, por exemplo. Contudo seria
incapaz – dada a ambientação em que se vê imersa – de aprimorar a humanização da sociedade, a autonomia
humana e o reconhecimento do “outrem” (Carneiro et al., 2017).
Nesse sentido, uma “terceira margem da questão”, entre o desprezo da competitividade ou a aceitação
de sua caricatura neoliberal, dar-se-á pelo “resgate da competitividade como uma peculiaridade humana”,
já que ela “não é uma invenção do sistema capitalista, tampouco precisa ser execrada como um vício, ou
uma antítese da virtude”, mas poder-se-ia se “manifestar de forma rica em um ambiente justo, em especial o
ambiente em que ocorrem as escolarizações dos indivíduos, cuja formação ética tem oportunidades ímpares
de ocorrer” (Carneiro et al., 2017, p. 88).
Encerrou-se o debate, ou melhor, o encontro, exprimindo a proposta de uma última atividade relativa ao
período letivo, a saber: a produção de um relato avaliativo sobre o processo (virtual) formativo experienciado.
Nessa direção, o último REO orientava os/as aspirantes à docência a revisar todo o conteúdo da disciplina
alvitrando avaliá-la. Para isso, o docente regente erigiu uma espécie de roteiro semiestruturado de questões,
de modo a subsidiar a proposta avaliativa. A tabela 1 expõe as indagações, conforme se vê de agora em diante.
TABELA 1
Roteiro semiestruturado de questões
Em termos de resultados, dos vinte e oito (28) aprendizes matriculados na disciplina ‘Pedagogia das
Lutas’, apenas dezesseis (16) concluíram a atividade. Em relação ao primeiro ponto (lê-se “Que bom”),
cujos/as acadêmicos/as descrever-se-iam experiências significativas, em linhas gerais, notou-se dois aspectos
proeminentes nas avaliações – após um escrutínio analítico dos relatos para composição das categorias de
análise –. O primeiro diz respeito à compreensão do fenômeno Lutas/Artes Marciais a partir da ótica dos
autores selecionados como aporte teórico da disciplina, com destaque à relação do conteúdo com temas de
relevância social e as possibilidades do trabalho pedagógico com as diferentes etapas de ensino. O segundo
elemento está atrelado ao projeto didático com a qual se conduziu as aulas, em especial, às propostas cujas
implicações culminaram na produção e desenvolvimento de atividades propositivas, “práticas”, por assim
dizer. Ambos os aspectos arrolados nos relatos retratam a relevância dos atributos formativos – descritos na
introdução do texto –, presentes na pedagogia universitária empregada pelo docente regente do componente
curricular, uma evidência ratificada por nossa investigação, a despeito de não tê-la explorado em termos de
material empírico de análise, caracterizando um limite do estudo empreendido. Percorramos alguns trechos
dessas avaliações cujos teores revelam os destaques significativos – sob a percepção dos/as aprendizes – do
processo de formação, em conformação remota:
No que diz respeito aos processos de aprendizagens, experiências e formação, esta disciplina foi um potencializador
para minha aprendizagem dos aspectos e as características das Lutas de maneira geral. Ao longo da disciplina pude
compreender que as várias expressões de Lutas possuem características semelhantes, apesar de cada uma delas apresentarem
suas especificidades (Hélio Gracie).
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Que bom que no decorrer da disciplina, nós conseguimos aprender um pouco sobre as lutas/artes marciais. Foi dado início
com uma introdução sobre a temática, onde o objetivo foi conhecer os conceitos e as características (Amanda Ribas).
Muito bom, o fato de termos conseguido dar continuidade a disciplina de Pedagogia das Lutas, em razão da pandemia. Os
textos abordados durante a disciplina foram de extrema importância para esclarecer muitos conceitos sobre a luta, como, por
exemplo; suas características, suas semelhanças, maneiras de aplicação prática nas aulas [...] (Yvone Duarte).
Depreende-se dos três excertos expostos o fato de alguns dos/as futuros/as professores/as de Educação
Física interpretarem o trabalho conceitual relativo às Lutas/Artes Marciais como significativo, notadamente
no tocante à compreensão de seus princípios condicionantes (características) os quais adjudicam distinguir
e aproximar os saberes concernentes a essas práticas corporais (historicamente situadas), de igual modo
estruturar uma planificação em termos pedagógicos (Gomes, Morato, Duarte e Almeida, 2010; Pereira et al.,
2020; Pereira et al., 2021). Logo, essa verificação nos permite estabelecer a ilação da presença de mobilização
intelectiva na direção de apropriação dos conceitos discorridos, no momento da formação inicial dos/as
investigados/as, malgrado nem todos/as explicitarem tal acontecimento nos relatos.
Essa apropriação conceitual confere, de alguma maneira, aos aspirantes à docência, condição pedagógica
para desenvolver o conteúdo na escola, haja vista que o escamoteamento do conteúdo na formação inicial
incide na ausência de seu ensino, de acordo com Rufino (2018), muito embora a apropriação epistêmica não
afiance sua presença no interior do trabalho pedagógico desenvolvido nas aulas de Educação Física.
Ainda na esteira do primeiro ponto (lê-se “Que bom”), outros participantes enalteceram as tematizações
relativas: as questões de gênero, as competições infantis e a discriminação socioeconômica em práticas
esportivas vinculadas ao universo das Lutas/Artes Marciais, sejam nos encontros virtuais ou nas atividades
escritas. Na continuidade alguns fragmentos textuais revelam essa questão:
[...] trouxe à tona temas sociais relevantes (gênero, violência, classe social, mídia, dentre outros), que podem e devem ser
problematizados e discutidos para promover o ensino das lutas/artes marciais (Cris Cyborg).
A questão de gênero também foi assunto de nossas aulas, através do filme “Menina de Ouro” podemos analisar como ainda
na sociedade moderna há preconceitos baseados em estereótipos, muitos ainda enxergam as lutas somente para o público
masculino, sendo que mulheres não devem lutar. Contudo, movimentos como o feminismo, sinalizam à igualdade de gênero,
defendendo que mulheres podem estar onde elas quiserem (Luana Azulguir).
Uma questão debatida na disciplina muito importante foi a da competição; os modelos historicamente construídos pelos
adultos, modelos baseados, muitas vezes, no alto rendimento e na busca por resultados (a qualquer preço), sobretudo pela
famigerada vitória. Fato que acaba, por sua vez, prejudicando os sujeitos envolvidos, principalmente as crianças; a questão da
especialização precoce; supervalorização da competição; a questão de como pensar a competição na infância e como trabalhar
de forma pedagógica com as crianças (Anderson Silva).
Como se vê, suscitar tematizações correlacionando às Lutas/Artes Marciais denota uma perspectiva de
formação alvissareira, a despeito de desafiadora, porquanto fomenta igualmente conflitos, já que coloca em
debate aspectos relevantes da sociedade, todavia expõe preconceitos, crenças e convicções. A esse respeito,
explana Castro (2014, p. 20) “importa menos o que as aulas dizem sobre os/as autores/as, os conceitos, e
mais como as/os estudantes, em relação com as palavras e conceitos desses/as autores/as, podem formar e
transformar suas palavras, suas ideias, seus saberes”. Complementa sua explicação dizendo “como as aulas
podem ajudar a pensar e sentir o que ainda não foi possível pensar e sentir. Nessa experiência as/os estudantes
podem encontrar com suas próprias fragilidades, vulnerabilidades e ignorâncias, sua própria impotência”. Em
última análise são reflexões – a respeito de problemáticas sociais – cujo ideal de educação assenta-se sob o
preceito da emancipação, consoante a Freire (2002).
Além disso, há avaliações indicando à importância deste conteúdo em qualquer ambiente de formação,
embora a ênfase recaia-se na escola, justamente porque corresponde a um saber pertencente ao acervo
da cultura corporal de movimento (Bracht, 2005). Na sequência têm-se dois relatos recomendando essa
perspectiva.
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O ensino das lutas na escola ou em centro de treinamentos é de extrema importância tanto na formação motora como
psicológica e social dos educandos, uma aula bem elaborada pode contribuir tanto no desenvolvimento motor dos alunos,
assim como no quesito psicológico e social, formando um ser de maneira integral (Flavio Canto).
[...] aprendemos como ensinar, tratar e problematizar as lutas dentro do âmbito escolar. Percebemos que embora ainda
haja aspectos que limitam ensinar lutas através da Educação Física escolar, basta adaptar à realidade da escola, levando em
consideração aspectos socioculturais dos alunos ou os problemas relacionados à infraestrutura (Gabi Garcia).
No fragmento textual produzido por Gabi Garcia, nota-se à mobilização do saber no que se refere ao
ajuste do conteúdo ao contexto escolar específico, demonstrando “pequenas marcas formativas” resultante
do contato com a disciplina Pedagogia das Lutas. Quanto a isso glosam Pires, do Nascimento, Farias e
Suzuki (2017) que marcas deixadas no processo de formação inicial de professores de Educação Física podem
interferir no desenvolvimento profissional e atuação ulterior.
Houve, além disso, um realce presente em alguns relatos referente ao encontro no qual se expôs
movimentos corporais característicos de alguma modalidade marcial, com demonstrações de elementos
tático-técnicos pelo regente do componente curricular. Ao que tudo indica, para os/as acadêmicos/as,
existiu uma valorização das aulas nas quais se versava à construção de experiências corporais, mesmo
em condição remota (virtualidade). Muito provavelmente corresponda a uma valorização do movimento
corporal, no sentido do ‘aprender fazer para saber ensinar’, uma perspectiva, segundo Figueredo (2007),
cuja aprendizagem marca o corpo de maneira profícua. Aliás, de acordo com o autor, a escolha do curso de
Educação Física, via de regra, está relacionada diretamente com as práticas corporais vivenciadas ao longo
da existência, razão pela qual os/as participantes enalteceram os encontros (virtuais) cuja temática suscitava
algum tipo de movimentação ou realização de movimento, malgrado às limitações da condição remota.
Apresentado os destaques relativos aos aspectos assertivos da pedagogia universitária, pelos quais houve
possibilidades de apropriação dos conteúdos desenvolvidos, adentramos no segundo ponto cujo objetivo
consistia em vasculhar os obstáculos e impedimentos do processo formativo, referenciado pela expressão:
“Que pena”. Em linhas gerais as críticas foram dirigidas para a carência de contato e de experiências corporais
relacionadas às Lutas/Artes Marciais, conforme revela o excerto da avaliação a seguir:
Foi um pouco frustrante não poder realizar a disciplina presencialmente, mas o professor e seus auxiliares fizeram o máximo
que puderam para amparar e suprir essas necessidades. Torço para que em breve seja possível nos encontrar e desfrutar das
coisas boas que o contato físico nos permite. (Kyra Gracie)
Na passagem citada, constata-se o desapontamento de Kyra com o ensino remoto, não por falta de
conhecimentos relacionados ao saber ensinar, mas, sim, pela ausência do contato físico. A discente patenteia
o fato de o contato proporcionar “coisas boas”, trata-se de uma verificação cujo indicativo oportuniza inferir
que nenhuma outra condição de ensino substitui à presencial, ao menos no que diz respeito ao ensino de
práticas corporais. Soa como uma espécie de desabafo sua manifestação textual. Similar a ela, essa questão foi
sublinhada por outro/as aprendizes:
Como desafios do processo de ensino aprendizagem eu destacaria primeiramente a questão de estarmos limitados por uma
tela em virtude do momento que atravessamos, acho que a falta do contato presencial seria o primeiro desafio no ensino
aprendizagem da disciplina, até porque se trata de uma disciplina de prática corporal em que o contato dos indivíduos é
fundamental para elucidar aspectos importantes das Lutas/Artes Marciais (Caín Velásquez).
Infelizmente não tivemos a prática nesta matéria – exceto em alguns momentos demonstrativos –, devido ao caos gerado
pela pandemia. Acho que faz e fez bastante falta à troca de experiência que ocorre dentro da sala de aula, pois gosto assaz
dessas matérias, principalmente quando há a parte prática (Gabi Garcia).
Uma pena não termos tido a possibilidade de realizá-la presencialmente, pois as dinâmicas práticas ajudariam muito para
uma melhor assimilação dos conteúdos. Mas vale destacar que as aulas práticas demonstradas pelos convidados foram de
extrema importância, facilitando, em muito, à aprendizagem. Assim, mesmo não sendo possível realizar a prática, o “assistir”
também ajudou muito na compreensão (Ronda Rousey).
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Fica marcado nos fragmentos textuais a necessidade dos/as acadêmicos/as realizarem corporalmente –
uma espécie de aprendizagem encarnada – os jogos e as práticas de Lutas/Artes Marciais, tendo em vista que
isso robusteceria os saberes e experiências preconizadas na disciplina. Ao trazer o contexto da prática corporal
à baila no processo de formação de professores de Educação Física, Quaranta e Pires (2013) identificaram
que a falta de vivências corporais e saberes pedagógicos – principalmente no início do curso –, obscurece
a mobilização da aprendizagem na direção de ressignificar ou romper com empirias e representações
precedentes ao Ensino Superior. No caso, em questão, não notamos a ausência de desconstrução no que diz
respeito às perspectivas arraigadas que antecederam o ingresso ao curso, ao menos não fica nítido nos materiais
(empíricos) escrutinados.
Muito bem, esgotado os aspectos referentes aos desafios examinou-se o terceiro ponto proposto na
avaliação, sendo ele de natureza mais propositiva, a partir da indagação: “Que tal?”. Tratava-se do momento
cujos participantes deveriam apresentar propostas ou ideias frente aos desafios cotejados, a fim de aquilatar
os processos de aprendizagem formulados na oferta – atual e ulterior – da disciplina. À semelhança dos
apontamentos expostos no segundo ponto – obstáculos e impedimentos do processo formativo, a partir da
expressão: “Que pena” –, os relatos indicam à carência de experiências corporais, sendo a mesma resolvida
com a ampliação da quantidade de aulas, pari passu com a intensificação da participação efetiva do coletivo
de aprendizes, conforme se vê de agora em diante.
Como sugestões ao processo de ensino da disciplina eu acho que seria legal ter mais experiências práticas nos encontros,
pois proporcionaria uma participação mais efetiva dos alunos a refletirem todos juntos e a entender melhor a teoria;
disponibilizaria como subsídios filmes, seriados e até mesmo desenhos para elucidar melhor determinadas Lutas e Artes
Marciais, os jogos de oposição, contexto histórico, etc. (Caín Velásquez).
Que tal nos próximos períodos, caso continuarmos ainda estivermos remotamente, a ministração de mais aulas envolvendo
a prática de outros professores, como foi com os professores Alex, Alysson e Gustavo (Amanda Ribas).
Os relatos assinalam para o fato das aulas cuja teorização foi construída a partir da vivência de jogos de
oposição e vivências demonstrativas (dimensão procedimental do conteúdo), tenham potencializado uma
compreensão mais elaborada sobre os próprios conceitos (dimensão conceitual). Em que pesem os limites,
ao que parece, a disciplina conferiu subsídios – teórico-metodológicos – de modo que os/as aspirantes à
docência desenvolveram saberes concernentes às Lutas/Artes Marciais na escola, entretanto, segundo eles,
as experiências corporais poderiam ser ampliadas. Houve, além disso, discentes que não sugeriram nenhum
tipo de mudança ou acréscimo à disciplina, haja vista entenderem a conjuntura na qual o processo formativo
transcorrera, à face disso contemplou todas as expectativas, tal qual evidencia o próximo fragmento textual.
Diante do processo, não mudaria nada, pois no meu entendimento o conteúdo foi trabalhado de forma sistematizada e
abordando de forma claro, como a modalidade Luta deve ser trabalhada na escola, assim como as diversidades, desafios,
obstáculos, resistência que são encontradas nas aulas de educação física (Rickson Gracie).
O relato reconhece o contexto (e suas fragilidades) sobre o qual o ensino remoto híbrido e/ou a distância
decorreu, ainda assim, denota assertividade na proposta formativa, na medida em que não propõe adequações.
A esse respeito, Lazzarotti Filho, Silva, Lisbôa e Pires (2013) e Pimentel (2014) advertem para a possibilidade
dos cursos de Educação Física fomentarem o ensinar a partir de ferramentas virtuais diversas, rompendo com
modelos tradicionais de ensino baseado no “saber fazer-ensinar”.
Concluindo o último ponto proposto na avaliação, ter-se-ia o momento cujos aprendentes discorreriam a
respeito das impressões extraídas de todo o processo formativo, descrevendo os limites e possibilidades para o
ensino de Lutas/Artes Marciais no contexto remoto, contudo ao invés de apresentá-lo neste espaço o faremos
nas impressões finais, de maneira a usá-lo na qualidade de uma “moldura” para o encerramento do estudo.
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À guisa de conclusão
Conforme se aludiu anteriormente, a última propositura da disciplina ‘Pedagogia das Lutas’ alvidrou uma
espécie de processo autoavaliativo. De modo geral houve relatos com argumentos e questões díspares. Alguns
alegaram não terem conseguido acompanhar à disciplina em sua totalidade, limitando-se a apreciação dos
aportes teóricos. Outros declararam o acompanhamento dos encontros sincronamente, embora tenham
deixando de elaborar as atividades indicadas para nutrir os debates e fomentar a inteligibilidade dos conteúdos
desenvolvidos nos encontros.
Adiciona-se a isso, enunciados justificando o absenteísmo dos encontros em razão de ocupação laboral,
na tentativa de complementar o orçamento familiar, em virtude de adoecimento ou desemprego dos/as
entes. Ademais existiram agradecimentos dedicados ao professor e convidados, com destaque em relação ao
empenho para fornecer uma formação a qual fizesse sentido em face de tantas adversidades.
Em termos de limites a ênfase reincidiu na “falta de contato corporal”, o tema mais recorrente em todos
os relatos, com efeito, acabou se configurando como o grande desafio para o ensino de Lutas/Artes Marciais
na escola, residindo na principal crítica endereçada à disciplina. Com a ressalva dele (lê-se o toque) figurar
na qualidade de uma das características da prática corporal em questão, lembrando a explanação de Gomes
(2008), a respeito do contato intencional, oponente/alvos, imprevisibilidade e fusão ataque/defesa, portanto,
requerendo a participação de outrem na atividade.
No plano da virtuosidade tem-se a proeminência dos autores selecionados na qualidade de aporte teórico
da disciplina, com realce à relação do conteúdo com temas de relevância social e a questão de fornecerem
subsídio epistemológico para o desenvolvimento do trabalho pedagógico pensando as diferentes etapas
de ensino. Houve referência ao modo de condução dos encontros, em especial, quando às propostas em
atividades “práticas”. A título de elucidação dos assuntos arrolados erigiu-se uma tabela cujo teor sintetiza-
os, doravante:
TABELA 2
Possibilidades e desafios para o ensino de Lutas.
Ora, se os obstáculos listados serão sobrepujados, quer em uma nova edição do componente curricular,
quer no desenvolvimento da docência dos/as futuros/as professores/as, não se pode afiançar, no entanto,
a síntese construída ao menos indica um exercício reflexivo dos/as acadêmicos/as, de modo a evocar
conscientização e granjear mudanças para o aprimoramento do ensino das Lutas/Artes Marciais na escola.
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Esperamos assaz cuja investigação até aqui descrita, permita, de algum modo, lançar rebento para se
pensar as injunções imputadas à docência em tempos de pandemia e se some a outras contribuições para
compreender o complexo campo da formação docente, notadamente sob conformação remota. Nosso
intento, em última análise, consistiu em perscrutar uma experiência docente no tocante ao ensino de Lutas/
Artes Marciais, observando um contexto específico, reconhecendo suas limitações – algumas, inclusive
descritas em outros momentos do trabalho – e potencialidades, todavia coerente com a perspectiva de
articular pesquisa e formação (Demo, 2004).
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ENSAIO
DOSSIÊ LUTAS
Gabriela Simone Harnisch, Lizete Wasem Walter, Shayda Muniz de Oliveira Guilherme,
Bruna Poliana Silva, Ana Laura Fischer Lottermann, Douglas Roberto Borella
RESUMO
Trata-se de um ensaio que teve como objetivo discursar acerca dos desafios para a inserção do conteúdo lutas na educação
física escolar. As lutas, apesar de contempladas nos documentos norteadores da educação física escolar, ainda carecem de
maior atenção, tendo em vista que, muitos empecilhos ainda são elencados para a mesma ser desenvolvida nas escolas. Sendo
assim, sugere-se que as lacunas evidenciadas quanto à formação de professores em relação às lutas e a disponibilidade de
materiais e espaços sejam sanadas, bem como, que a relação das lutas com a violência seja cada vez menos presente perante
a comunidade escolar. Espera-se que este estudo possa suscitar a comunidade acadêmica quanto ao assunto para que tal
conteúdo seja desenvolvido, conforme previsto na literatura e nos principais documentos que regulamentam a Educação Física
no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Física; Lutas; Escola.
ABSTRACT
It is an essay aiming to address the challenges for the insertion of content fights in physical education classes. The fights,
although contemplated in the guiding documents of physical education classes, still lack more attention, considering that many
obstacles are still listed for it to be developed in schools. Therefore, it is suggested that the gaps evidenced regarding teacher
training in relation to the fights and the availability of materials and spaces be solved, as well as, that the relationship of fights
with violence be less and less present before the school community. It is hoped that this study may stimulate the academic
community on the subject so that such content is developed, as predicted in the literature and in the main documents that
regulate physical education in Brazil.
KEYWORDS: Physical Education; Fights; School.
INTRODUÇÃO
Com o objetivo de proporcionar o acesso à cultura corporal do movimento e/ou às práticas corporais, a
Educação Física foi inserida enquanto componente curricular nas escolas regulares brasileiras (BRASIL, 1997).
Para que o acesso fosse possível, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s sugeriram cinco conteúdos: jogos,
esportes, danças, ginásticas e lutas. Recentemente, tais conteúdos foram revistos no mais novo documento
norteador da educação brasileira: a Base Nacional Comum Curricular - BNCC, no qual as lutas, foco do presente
estudo, permaneceram (BRASIL, 2017).
A prática das lutas é uma atividade tão antiga quanto os jogos, na civilização humana. A partir da
arqueologia, encontram-se indícios dos primórdios da humanidade nos mais diferentes cantos do mundo,
pinturas em cavernas, paredes, jarros que descrevem a práticas das lutas, essas que por sua vez em cada lugar,
praticadas de maneiras distintas umas das outras (ANTUNES, 2016).
Sobre tal conteúdo, justifica-se a importância de sua inserção nas escolas de modo que, além de dar
acesso a esta prática corporal, a mesma pode ser um elemento canalizador da violência, podendo melhorar o
repertório motor a partir de novos movimentos (BREDA et al., 2010; GOMES, 2008; RUFINO; DARIDO, 2015)
Todavia, muitos professores de Educação Física não desenvolvem o conteúdo lutas. Estes justificam
que existem diversos motivos para que isso aconteça, desde a falta de preparo para ministrar tal conteúdo,
a associação das modalidades pela sua temática a violência, e mesmo pela ausência de roupas e espaços
adequados (BARROS; GABRIEL, 2011; HARNISCH et al., 2017; RUFINO; DARIDO, 2015).
Contrapondo tal discurso, Campos (2014) reflete que trabalhar as lutas é uma oportunidade para
discutir acerca da violência, com suas causas, consequências e mecanismos para evitar tal. Ainda, trata-se de
uma oportunidade de desenvolver mais uma prática possível na Educação Física Escolar, explorando todos os
princípios da corporeidade.
Assim, o objetivo do presente estudo foi de discursar acerca dos desafios para a inserção do conteúdo
lutas na Educação Física Escolar. Para alcançar o objetivo proposto, os procedimentos metodológicos pautaram-
se em um ensaio com base nas principais literaturas e autores do tema.
Um dos documentos pioneiros na educação física escolar, no que tange os seus conteúdos e as práticas
pedagógicas para o seu desenvolvimento, é a obra “Metodologia do ensino de Educação Física”, idealizado pelo
Coletivo de Autores. Neste, as lutas não estavam contempladas enquanto um único conteúdo, mas a capoeira
constava como uma das manifestações da cultura corporal de movimento, juntamente com as ginásticas,
danças, jogos e esportes (SOARES et al., 1991).
Neste documento fica clara a importância da capoeira na história do país, quanto ao contexto dos negros
no período Brasil escravocrata. Ao longo deste período, a capoeira era desenvolvida em todos os seus sentidos
escondidos, camuflados em cada gesto de harmonia do golpe com a música (SOARES et al., 1991).
A Educação Física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja,
trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou
(SOARES et al, 1991, p.76).
Mais tarde, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997), formularam conteúdos, dentre outras
sugestões, que norteassem a Educação Física nas escolas brasileiras. Neste documento, voltado aos ensinos
fundamental e médio, os professores deveriam desenvolver jogos, esportes, ginásticas, atividades rítmicas e
expressivas, conhecimentos sobre o corpo, bem como, as lutas (BRASIL, 1997).
Deste modo, as lutas foram tratadas enquanto
Disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de
desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações
de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de
violência e de deslealdade (BRASIL, 1997, p. 37).
Ademais, fica evidente nos PCN’s que se tem uma preocupação para com o espaço adequado necessário
não somente para a aplicação do conteúdo lutas, mas também para com os demais conteúdos. Porém esse
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 179-184, jan./jun. 2018.
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HARNISCH et al.
As lutas na educação física escolar: um ensaio sobre os desafios para sua inserção 181
desfalque não impossibilita que os professores consigam adaptar os espaços disponíveis para a realização de
seu trabalho, um contexto comum até mesmo com os alunos que vivem suas infâncias adaptando minicampos
de futebol nas ruas dos bairros onde moram (BRASIL, 1997).
Assim como os demais conteúdos, o conteúdo de lutas deve ser utilizado com a finalidade de desenvolver
as capacidades físicas, aprimorar as habilidades motoras, bem como, um material para apreciação dos
alunos, de modo que possam expressar suas opiniões quanto a estratégias e atitudes a serem utilizadas em
determinadas situações (BRASIL, 1997).
Além disso, Matos et al. (2015) corroboram que as diretrizes curriculares de vários Estados preveem o
ensino das Lutas nas aulas de Educação Física, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio.
De forma mais recente, a Base Nacional Comum Curricular - BNCC, o mais novo documento norteador
da Educação Física, também contempla as lutas, juntamente com as danças, ginásticas, esportes, brincadeiras
e jogos e as práticas corporais de aventura. Neste, cada conteúdo deve ser desenvolvido de acordo com oito
dimensões: experimentação, uso e apropriação, fruição, uso e reflexão, construção de valores, análise e
compreensão, protagonismo comunitário (BRASIL, 2017).
Quanto ao foco no desenvolvimento do conteúdo lutas, a BNCC
focaliza as disputas corporais, nas quais os participantes empregam técnicas, táticas e estratégias
específicas para imobilizar, desequilibrar, atingir ou excluir o oponente de um determinado espaço,
combinando ações de ataque e defesa dirigidas ao corpo do adversário. Dessa forma, além das lutas
presentes no contexto comunitário e regional, podem ser tratadas lutas brasileiras (capoeira, huka-
huka, luta marajoara etc.), bem como lutas de diversos países do mundo (judô, aikido, jiu-jítsu, muay
thai, boxe, chinese boxing, esgrima, kendo, etc.) (BRASIL, 2017, p. 176).
Com tais constatações é possível perceber que as lutas, do mesmo modo que os demais conteúdos,
devem ser tratadas não somente enquanto uma prática a ser reproduzida, mas também, como um modo de
reflexão de sua inserção na comunidade e suas contribuições para outros aspectos da formação humana, que
vão além do âmbito físico e motor.
Sendo assim, confirma-se a relevância de trabalhar com o conteúdo lutas, amplamente refletidas nos
principais documentos que norteiam a Educação Física Escolar no Brasil. Apesar da, ainda, não obrigatoriedade
em seguir as propostas de tais documentos, compreende-se o quanto estes podem contribuir para os
professores e, consequentemente, para a formação dos alunos que frequentam as escolas brasileiras.
Apesar de, conforme explanado anteriormente, as lutas apresentarem grande relevância enquanto
conteúdo da Educação Física Escolar, muitos professores ainda não desenvolvem o mesmo devido a diversos
empecilhos elucidados pelos mesmos. Dentre estes, destaca-se a relação das lutas com a violência, as lacunas
na formação de professores em relação as lutas, a ausência de espaços e materiais e espaços adequados,
dentre outros (BARROS; GABRIEL, 2011; BREDA et al., 2010; CAMPOS, 2014; MATOS et al., 2015; RUFINO;
DARIDO, 2015).
A inclusão das lutas no currículo real da Educação Física estabelece dependências com a formação
dos professores em relação a esse conteúdo (MATOS et al., 2015). Todavia, os professores universitários que
ministram essa disciplina na graduação, em sua maioria, tiveram contato com alguma modalidade especifica
na condição de praticante. Sendo assim, esse professor restringe suas aulas em apenas uma modalidade, não
desenvolvendo o conteúdo de modo que os graduandos possam compreender os aspectos pedagógicos do
ensino das lutas de forma global no âmbito escolar (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006).
Sobre isso, Matos et al. (2015, p. 125) refletem sobre os problemas elencados acerca da formação de
professores em relação as lutas, de modo que
As experiências dos professores que colaboraram com esta pesquisa indicam a necessidade de revisão
das disciplinas que tratam do conteúdo Lutas nos cursos de Educação Física. O aumento da carga horária
ou inclusão de novas disciplinas nos currículos podem contribuir na qualificação dos futuros professores.
O ensino tecnicista parece não atender à realidade escolar, ao mesmo tempo os professores reclamam
por mais experiências práticas durante a formação inicial, por isso, propostas que não sejam centradas
nas técnicas formais mas que, ao mesmo tempo, não negligenciem o fazer corporal presentes nas Lutas
possam concorrer para que as Lutas se façam mais presentes no currículo real das escolas.
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 179-184, jan./jun. 2018.
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HARNISCH et al.
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Entende-se assim que, para desenvolver este conteúdo no ambiente escolar não é necessário que o
professor tenha amplos conhecimentos sobre modalidades especificas de lutas. Mas, que possua os conceitos
básicos para sentir-se competente para recriar sua prática e atuar de maneira transformadora (MATOS et al.,
2015; RUFINO; DARIDO, 2015).
Para sanar lacunas em relação à formação inicial de professores para o trabalho com o conteúdo lutas,
sugere-se que estes busquem a formação continuada, ou seja, o aperfeiçoamento em cursos de extensão
universitária, em momentos oferecidos pelas escolas, secretarias de educação ou até mesmo por entidades
diretamente ligadas às lutas (BETTI; SO, 2009; CAMPOS, 2014; HARNISCH et al., 2017; MAZINI FILHO et al.,
2014; MATOS et al., 2015).
É necessário que os professores de Educação Física participem de cursos de qualificação e aprimoramento
da temática “lutas na escola”, pois assim poderão agregar mais estratégias técnicas e lúdicas de se abordar o
conteúdo, esgueirando-se dos esportes tradicionais, que na maioria das vezes é o olhar principal das aulas de
Educação Física (MAZINI FILHO et al., 2014).
Além de dificuldades oriundas da formação inicial deficitária, outro empecilho para o desenvolvimento
das lutas na escola é a associação deste conteúdo à violência (BARROS; GABRIEL, 2011). Os participantes da
pesquisa de Matos et al. (2015), que relataram não desenvolver tal conteúdo justificaram que a oferta de
atividades relacionadas às lutas estimularia atitudes inadequadas para a convivência, como a agressividade.
De modo contrário, na pesquisa realizada por Mazini Filho et al. (2014), nenhum dos professores
participantes consideraram as lutas enquanto elemento fomentador de violência e agressividade, sugerindo
assim maior conscientização dos professores, por meio de palestras educativas, vídeos específicos e aulas
práticas conduzidas de forma que sejam respeitados os oponentes e as regras se fazem necessárias para
criações de alunos com um perfil contrário à violência.
Sendo assim, Breda et al. (2010), sugerem que não se permitam agressões relacionadas aos gestos
técnicos de modalidades de luta, conforme se observa em filmes e desenhos, mas ensinar os alunos a conviver
com a agressividade, não prejudicando-se e nem mesmo, prejudicando aos colegas.
Campos (2014) ressalva que o debate sobre a violência e a agressividade deve ser frequente em aulas
de Educação Física, aprimorando questões da concentração, da preservação da integridade física e até do
relaxamento, considerando que uma das características importantes das lutas é a paciência.
Outro aspecto importante a ser destacado é a ausência de espaços e materiais adequados. Quanto a
isso, as pesquisas de Gomes (2008) e Rufino; Darido (2015), idealizaram propostas pedagógicas para o ensino
das lutas a partir do ensino global, e não se focando em modalidades especificas. Para que este ensino fosse
possível em ambiente escolar, os autores propõem a utilização de materiais alternativos, como a substituição
de tatames por colchonetes; sacos de pancada por bexigas; espadas de metal por jornal, dentre outros. Lopes
e Kerr (2015) ainda destacam que a partir dessas práticas pedagógicas não existe a necessidade do professor
de Educação Física ser especialista em alguma modalidade de luta para poder ensiná-la.
Ou seja, independente das dificuldades que os professores possam vir a ter para lecionarem as lutas
dentro do conteúdo da Educação Física Escolar, estes ainda podem recorrer a inúmeros recursos como vídeos,
palestras, atividades lúdicas, aulas de campo de modalidades diversificadas, conhecimento da história de cada
modalidade, seus ídolos, regras, países onde são mais difundidas, visitas técnicas dentre outras. Importante
enfatizar que o mais importante é a vontade de fazer algo diferente (MAZINI FILHO et al., 2014).
Para tanto, Fabiani, Scaglia e Almeida (2016) ainda sugerem a adoção do jogo de faz de conta enquanto
recurso facilitador da aprendizagem das lutas. Desta maneira, segundo os autores,
Sendo assim, destaca-se a importância das lutas como parte da cultura humana, representando um
meio eficaz de educação e um conjunto de conteúdos altamente importante para a Educação Física escolar,
pois, qualquer que seja a modalidade de luta, exige respeito às regras, a hierarquia e a disciplina, valorizando
a preservação da saúde física e mental de seus praticantes. As lutas, assim como os demais conteúdos da
Educação Física, devem ser abordadas na escola de forma reflexiva, direcionada a propósitos mais abrangentes
do que somente desenvolver capacidades e potencialidades físicas (OLIVEIRA; REIS FILHO, 2013).
Rufino e Darido (2013) à guisa de defender esta ideia da inserção das lutas nas escolas abordam que o
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 179-184, jan./jun. 2018.
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HARNISCH et al.
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professor de Educação Física deve ter consigo a compreensão da importância deste conteúdo, já que o mesmo
faz parte da cultura corporal, e por esse motivo os alunos devem ser oportunizados a vivenciá-lo, de modo que,
com a prática, o professor e o aluno possam aprender e progredir juntos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em consideração o objetivo do estudo, argumenta-se o fato de que todos os desafios superados
até hoje foi por conta das pessoas, percebendo sua importância, se proporem a enfrentar tal situação. Na
Educação Física não foi diferente.
Portanto, quando levado em consideração o conteúdo lutas, que ainda é menosprezado nas escolas, é de
extrema importância que o professor de Educação Física se envolva com o mesmo, procurando se aprofundar
no assunto, superar as dificuldades de ausência de espaço e vestimenta adequada, bem como da visão do
senso comum que retrata as lutas como sinônimo de violência. Assim, envolvendo-se na mudança para uma
nova realidade. Realidade esta que, finalmente, atenderá aos documentos que a citam enquanto conteúdo
contemplado dentre as práticas corporais a serem desenvolvidas nas aulas de Educação Física Escolar.
Por fim, espera-se que com este estudo novas ideias e propostas pedagógicas para o ensino das lutas no
ambiente escolar sejam idealizadas, testadas e amplamente utilizadas por professores de Educação Física, de
modo a tornar as lutas cada vez mais disseminadas e compreendidas pela sociedade enquanto manifestação
da cultura corporal de movimento.
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© Copyright: Federación Española de Asociaciones de Docentes de Educación Física (FEADEF) ISSN: Edición impresa: 1579-1726. Edición Web: 1988-2041 (https://recyt.fecyt.es/index.php/retos/index)
A configuração do conteúdo Lutas na Educação Física escolar: análise dos contextos espanhol e
brasileiro
Content configuration Combat Sports in school Physical Eeducation: analysis of spanish and
brazilian contexts
La configuración de contenidos de Luchas en Educación Física escolar: análisis de contextos
español y brasileño
*Riqueldi Straub Lise, **José Francisco López-Gil, *Fernando Renato Cavichiolli
*Universidade Federal do Paraná (Brasil), **Universidad de Murcia (España)
Resumo: O objetivo deste estudo é, em uma perspectiva comparada, compreender as diferenças e semelhanças acerca da
efetividade do conteúdo Lutas nas aulas de Educação Física da Espanha e do Brasil. Para tanto foram analisadas as principais
legislações que regulamentam os currículos escolares de ambos os países; o Real Decreto, na Espanha, e a Base Nacional
Comum Curricular, no Brasil. Em complemento a essa análise documental foram elencadas algumas pesquisas correlatas ao
tema, cujo propósito consiste na verificação do cumprimento das normativas legais acerca do conteúdo de Lutas nas escolas.
Notou-se, a partir das fontes selecionadas para este estudo, que existem, nos dois países, legislações robustas preconizando o
ensino de Lutas nas aulas de Educação Física. No entanto, algumas pesquisas apontam para o fato de que esse conteúdo
raramente está presente nas aulas de Educação Física, devido a alguns fatores restritivos, tais como: falta de estrutura, incapacidade
dos professores, vinculação com violência.
Palavras-chave: Lutas; Esportes de combate; Educação Física; Escola; Currículo Escolar.
Abstract:The objective of this study is to understand the differences and similarities regarding the effectiveness of the content
Combat Sports in Physical Education classes in Spain and Brazil, in a comparative perspective.To this end, the main laws that
regulate school curricula in both countries were analyzed – the Royal Decree, in Spain, and the National Common Curricular
Base, in Brazil. In addition to this documentary analysis, some researches related to the theme were listed. The purpose of
theses researchs was to verify compliance with legal regulations regarding the content of combat sports in schools. We
concluded that there are, in both countries, robust laws recommending the teaching of combat sports in Physical Education
classes. However some researches point to the fact that this content is rarely present in Physical Education classes, due to some
restrictive factors, such as: lack of structure, incapacity of teachers, connection with violence.
Keywords: Combat sports; Physical Education; School; School program.
Resumen: El objetivo de este estudio es, desde una perspectiva comparada, comprender las diferencias y similitudes en
cuanto a la efectividad de los contenidos de Lucha en las clases de Educación Física en España y Brasil. Para ello, se analizaron
las principales leyes que regulan los planes de estudios escolares en ambos países; el Real Decreto, en España, y la Base
Curricular Común Nacional, en Brasil.Además de este análisis documental, se enumeraron algunas investigaciones relacionadas
con el tema, cuyo propósito es verificar el cumplimiento de la normativa legal sobre el contenido de Luchas en las escuelas.
Se señaló, a partir de las fuentes seleccionadas para este estudio, que existen, en ambos países, leyes robustas que recomiendan
la enseñanza de peleas en clases de Educación Física. Sin embargo, algunas investigaciones apuntan a que este contenido rara
vez está presente en las clases de Educación Física, debido a algunos factores restrictivos, como: falta de estructura, incapacidad
de los profesores, vinculación con la violencia.
Palabras clave: Luchas; Deportes de combate; Educación Física; Colegio; Planes de estudios.
A Educação Física nos Anos Finais do Ensino Fundamental: Desa os, experiências e
possibilidades para o ensino das lutas na escola
Physical Education in the Final Years of Elementary School: Challenges, Experiences, and
Possibilities for Teaching School Struggles
Resumo: Este relato de experiência parte das aulas de Educação Física com duas turmas do 6º ano do Ensino
Fundamental em uma escola situada no Município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Teve como objetivo
compreender a partir das estratégias didáticas organizadas pelo professor das turmas como os jogos de oposição
podem contribuir no desenvolvimento de uma proposta introdutória para o ensino das lutas. Usou - se a observação
participante com Gil (2002) e as imagens como registro. Entendeu-se que os jogos de oposição foram ferramentas
do processo de conhecimento, abordagem e proposta da temática luta no contexto das turmas do sexto ano. Como
resultados, a ludicidade, as atitudes e valores trabalhados sobressaíram na verbalização dos alunos, re exões nas
rodas de conversa e nos grupos dos seminários, bem como as estratégias fundamentadas na dinâmica e regras dos
jogos que possibilitaram a introdução de elementos e movimentos de diversi cadas lutas.
Palavras-chave: Educação Física; Jogos de Oposição; Ensino Fundamental; Lutas.
Abstract: is experience report starts from Physical Education classes with two classes of the 6th grade of Elementary
School in a school located in Duque de Caxias, Rio de Janeiro. It aimed to understand from the didactic strategies
organized by the class teacher how the opposition games can contribute to the development of an introductory
proposal for the teaching of ghts. Participant observation with Gil (2002) and images were used as record. It was
understood that the opposition games were tools of the process of knowledge, approach and proposal of the theme
ght in the context of the sixth grade classes. As a result, playfulness, attitudes and values worked out stood out in
the students’ verbalization, re ections in the conversation wheels and seminar groups, as well as strategies based on
the dynamics and rules of the games that allowed the introduction of elements and movements of diverse struggles.
Keywords: Physical Education; Opposition Games; Elementary School; Fights.
Introdução
Quem nunca passou por uma situação de con ito na vida? Na escola, em casa, no trabalho, na rua?
Quem nunca viu ou ouviu uma discussão e achou que era briga? Mas o que é brigar?, O que é lutar?, O
que é o con ito? O que é o Consenso? Os con itos ocorrem de que maneira?, Os con itos fazem parte do
processo educativo?, Nas aulas de Educação física escolar (Efe) como eles ocorrem? Quais são os fatores
que interferem ou não nesse processo? Que estratégias podem ser construídas para amenizar tais questões?.
Essas questões iniciais nos levam a pensar nos possíveis sentidos de con ito, visto que de acordo
com Vinha (2004), existem pessoas/grupos que seguem as normas/regras sociais, principalmente por
dois aspectos. O primeiro porque compreendem as regras enquanto um valor intrínseco de moralidade,
respeitando o próximo. O segundo porque existe o receio/medo das pessoas de, ao burlarem as normas,
serem descobertas e sofrerem penalizações sociais. Para Chrispino (2007), os con itos podem ocorrer
na sociedade em geral e no ambiente escolar por diversas motivações, ideológicas, de gênero, opiniões
divergentes e outras diversas situações.
O autor destaca ainda que o con ito signi ca a falta de compreensão entre duas ou mais partes. Isso
não signi ca necessariamente algo negativo, pois ao expor pontos divergentes em um con ito, “é possível
promover novas re exões que podem colaborar para a mudança de atitudes dos envolvidos” (CHRISPINO,
2007, p. 67). Esse direcionamento no processo de ensino e aprendizagem na escola deve ser mediado pelo
professor na sua prática pedagógica que neste caso estaremos problematizando no seio do componente
curricular Educação Física (EF).
Destacamos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/96 que rati ca a
Educação física escolar (Efe) como componente curricular da Educação Básica. Essa legislação fomenta
a participação e autonomia da disciplina no trabalho integrado ao currículo escolar – o que favorece
problematizar questões que as crianças apresentam durante as aulas, re exões perante as práticas
pedagógicas desenvolvidas, novos olhares e metodologias que proporcionem diversi cadas intervenções.
Nesse contexto, a Efe faz parte de um projeto maior como a rmam Mattos e Neira (2013), visto que
está situada em um contexto da escolarização básica território fundamental no desenvolvimento humano
e formação de um cidadão crítico e re exivo perante o contexto social em que vive. Na visão de Oliveira
(1994), a Educação Física evoluiu de uma prática reprodutivista e consensual para uma prática crítica e
con ituosa, tornando-se consequentemente uma prática social politizada.
Com isso, estabelecer estratégias de ensino, métodos e objetivos se constituem como processos
fundamentais para a construção, ressigni cação de qualquer conteúdo da área. No diálogo com Soares
(1992) podemos usufruir de inúmeras possibilidades de questionamentos ao pensarmos na cultura
corporal, visto que, dentro de seu objeto de estudo, a Educação Física desenvolve conteúdos como os jogos,
os esportes, as danças, a capoeira, as lutas, os conhecimentos do corpo e a ginástica.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física, PCN de EF (1997, p. 29) “introduzir e
integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e
transformá-la [...] em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida”.
Dessa forma, estabelecemos como objetivo compreendera partir das estratégias didáticas organizadas
pelo professor como os jogos de oposição podem contribuir no desenvolvimento de uma proposta introdutória
para o ensino das lutas nas aulas de educação física escolar. Tem como pergunta: Como e quais elementos
favoreceram a vivência dos jogos de oposição no contexto da educação física escolar?.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN de EF, (1997) tratam os conteúdos dança, jogos,
ginástica, esporte e lutas como uma representação corporal das diversas culturas humanas que tenham
como característica o lúdico. Partindo deste entendimento, as lutas devem ser trabalhadas como estratégias
metodológicas que não visem apenas à técnica pela técnica, mas sim que a criança possa vivenciar os
aspectos corporais das lutas de uma maneira que lhes proporcione prazer e respeite sua individualidade,
relação com o mundo em que vive e seus saberes.
Ainda dialogando com esse documento percebemos que, “as lutas são atividades em que o
adversário deve ser subjugado com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou
exclusão, combinando movimentos de ataque e defesa” (BRASIL, 1998, p. 70). Nesse sentido, Ru no e
Darido (2011) argumentam que as lutas são atividades onde ocorrem disputas, sendo que um indivíduo
deve ganhar do outro, utilizando técnicas e táticas de desequilíbrio, dominação, imobilização ou exclusão
de um determinado espaço. Para isto utilizam-se técnicas e táticas de ataque e defesa.
Quando estreitamos nossa busca encontramos Santos (2012) que contribui nesse contexto ao
demarcar que os jogos de oposição existem desde a pré-história na humanidade. As formas corporais de
combate eram usadas pela sobrevivência e com o tempo as disputas por comida e território aumentaram.
Com isso, nos fortalecemos nos pressupostos deste mesmo autor pelo seguinte conceito:
[...] “os jogos de oposição caracterizam-se como uma atividade lúdica que envolve o confronto
entre duplas ou grupo, na qual cada participante tenha intenção de vencer ( sem valorizar o
contexto de competição para não excluir os “perdedores”) impondo-se ao outro pela tática, pelo
físico, sempre respeitando regras e convenções relativas à sua segurança e à de seu oponente,
sem jamais deixar de lado o componente lúdico e prazeroso, uma vez que os opositores são livres
para criar e ter o jogo como objetivo principal. Os jogos de oposição objetivam como qualquer
atividade de cunho educacional, formar indivíduos para o convívio social por meio de conteúdos
que passam por valores culturais, históricos, sociais e de gênero, e que podem ser ensinados pelo
movimento humano” (SANTOS, 2012, p. 41).
Essa ampla de nição nos permite pensar sua especi cidade dentro das propostas pedagógicas na Efe.
Os valores e o trabalho com as regras que esses jogos exteriorizam a possibilidade usá-los como ferramenta
educacional em diversas situações de aula, principalmente aquelas em que a violência e os con itos exacerbados
predominam. Logo, instrumentalizar os alunos para que desenvolvam conceitos, atitudes e valores constituem
como uma tarefa possível pela perspectiva da temática luta e os jogos de oposição.
Metodologia
O estudo é do tipo qualitativo, construído por meio de um relato de experiência (BAUER; GASKEL,
2012). Tal abordagem se justi ca na medida em que o objetivo principal é observar o fenômeno, descrevê-
lo e compreender o seu signi cado, a partir de relações estabelecidas entre os dados empíricos acumulados
e a literatura elencada.
o papel de um membro do grupo. Nesse caso, o professor integrado ao grupo de alunos em interação com
as observações realizou os registros acerca das situações nesse espaço e tempo escolar.
A partir da perspectiva da observação participante, realizamos uma seleção do material que foi
utilizado para composição da experiência em questão. Sobretudo, o conjunto de imagens registradas ao
longo das atividades desenvolvidas. Podemos re etir com Samian (2012) a respeito de como pensam as
imagens?. Tal problematização, nos ajuda a compreender que toda imagem na relação que o autor apresenta
traz consigo e é portadora de um pensamento.
Pode-se ainda apontar que toda imagem é viajante e nos provoca em viajar por uma trilha re exiva
que está ligada há um sistema de pensamento. “Essa espécie de ‘jogo de pensamento’ fomenta a ideia de
que a imagem está para além de um objeto” (SAMIAN, 2012, p. 54). A memória também surge nesse jogo,
visto que ao olharmos uma imagem as ideias/lembranças ligadas a ela voltam a se movimentar dentro
de nós e que nos convida a pensar na noção de tempo. Após identi carmos esse acervo, procurou-se
analisá-lo como fonte no sentido de recuperar as vivências, visto que as imagens ajudaram no processo de
rememoração do vivido por esse coletivo de alunos e a diálogo do professor com esses grupos discentes.
No segundo momento, iniciamos o processo de escrita da experiência em si, buscando problematizar
esses elementos de forma dialógica para além de uma mera descrição das imagens. Todavia, re etir sobre
essas observações que foram registradas durante e após as aulas ministradas, visto que favoreceram o
conjunto de elementos na experiência descrita.
Nesse cotidiano revelador e complexo diversas tramas/ cenários começaram a ser revelados com
os alunos do 6º ano. Tais questões surgiram na perspectiva de problematizar o desenvolvimento de uma
proposta de ensino fundamentada nos jogos de oposição e suas aproximações com as lutas nas aulas de
Educação Física em uma escola no Município de Duque de Caxias.
Essa escola localiza-se na região do primeiro distrito no centro da cidade. Recebe alunos que
residem nas periferias de Duque de Caxias e também do Município de São João de Meriti. Atende alunos
dos anos nais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), Classe Especial e Educação de Jovens e Adultos
(EJA). Como professor dessa escola há dois anos no turno da tarde sempre lecionei para todos os anos de
escolaridade. Essa experiência foi construída durante o quarto bimestre de 2019 com duas turmas do sexto
ano. Cada turma em média possuía 20 a 30 alunos com faixa etária de 11 a 14 anos. Na 609, a média era em
torno de 16 meninas e 10 meninos. Já na 608, 17 meninos e 5 meninas.
Tivemos aproximadamente 12 aulas de 50 minutos com cada umas dessas turmas, onde foram
construídas estratégias a partir dos jogos de oposição na perspectiva de introduzir a temática lutas nas
aulas de Educação Física. Concordamos que:
[...] Cabe ao professor, inserido numa metodologia com perguntas operacionalizadas e na base das
descobertas de problemas, conscientizar-se da necessidade da formação da criança, valendo-se do
suporte cienti co para fundamentar a prática dos jogos de oposição associada à cultura corporal
e ao despertar de valores, como a participação dos alunos no seu cotidiano, e que estes opinem,
solicitem atividades, discutam com o grupo e que o professor procure levar a turma a um processo
de solução de problemas”(SANTOS, 2012, p. 96).
As aulas se con guraram por atividades desenvolvidas em grupos, trios e duplas. Para além disso, a
cada atividade conversamos acerca do tipo de jogo vivenciado e suas especi cidades, relações com as lutas.
A roda de conversa no inicial e no nal das aulas favoreceram a discussão, diálogo e re exão a partir dos
relatos dos alunos.
Portanto, entendemos que às formas pelas quais os docentes fazem interligações com o conteúdo
e o que se espera alcançar. Salientam que as estratégias de ensino devem estar expostas no equipamento
didático e com seus objetivos claros para os sujeitos envolvidos, visto que elas têm como primordial “o
alcance dos seus objetivos, não perdendo de vista que o processo de ensino tem que deixar visível o que
quer atingir naquele momento” (MELO; MELO, 2016, p. 34).
A classi cação dos Jogos de Oposição usados nas aulas no quarto bimestre foram baseados em Santos
(2012), visto que podemos classi cá-los em três grandes grupos: Jogos que aproximam os combatentes:
Estes jogos são procedentes dos esportes de combate que mantém contato direto (corpo a corpo), os quais
consistem em tirar, empurrar, desequilibrar, projetar e imobilizar. Entre estes Jogos de Oposição podemos
citar o Judô, Luta olímpica, Jiu-Jitsu, Sumô etc.
Jogos que mantêm o adversário á distância: estes jogos têm como característica não manter contato
direto com seu adversário, este contato só se dá no momento da aplicação de uma técnica. Os exemplos
que podemos destacar são o Karatê, Boxe, Muayay, Taekwondo. Jogos que utilizam um instrumento
mediador: Esgrima e Kendo.
Com isso, apresentamos a seguir algumas imagens a partir de re exões que representam o processo
de vivência dos jogos de oposição com as turmas 608 e 609 durante o quarto bimestre de 2019. Na primeira
imagem são revelados os processos e experiências a partir do jogo “Gato e Rato”. O objetivo era proteger o
colega (rato) que estava no centro do círculo do gato que estava posicionado fora. Ou seja, a formatação da
roda se con gura como a “defesa” do colega que está nessa posição. Interessante é que nas duas turmas os
alunos perceberam que se a roda casse totalmente parada a proteção do rato caria comprometida.
Nesse sentido, as estratégias adotadas em geral nas turmas foram a aproximação com o coleado ao
lado estreitando a passagem do gato e girar em torno do rato de acordo com os movimentos e tentativas
do gato. Segundo Oliver (2010) no Ensino Fundamental, propõe-se às crianças situações motivadoras que
possam permitir, a descoberta das ações fundamentais das disciplinas de combate, a aplicação do modo
mais diversi cado possível, considerando as possibilidades motoras do momento e reutilizando-as em
condições diferentes.
O jogo pegue o colete foi considerado pelos alunos como um dos jogos mais “legais” desse percurso
de vivência dos jogos de oposição. Nesse jogo, cada dupla uma de frente para o outra, onde o objetivo era
que os alunos tentassem pegar o colete do outro que estava pendurado na cintura. Alguns alunos ao longo
da atividade relataram que os movimentos e regras se aproximavam do Taekwondo. Dessa forma, re etimos
sobre as caraterísticas desse esporte e se realmente se aproximava dos objetivos do jogo vivenciado.
Para ser considerado um Jogo de Oposição “a atividade deve apresentar as ações motoras de ataque
e defesa envolvendo técnicas de lutas com características lúdicas ou jogos de estratégias” (OLIVER, 2010,
p. 23). Podemos perceber que dois ou mais oponentes se colocam em atitudes de oposição com o combate,
sobrepondo o espírito de combatividade e esportividade.
O jogo “Pegue o pregador” foi uma das atividades mais interessantes para os alunos, principalmente
por verbalizarem que nunca tinham participado de nenhuma atividade nas aulas de educação física com
esse material. A regra era que os alunos dentro do círculo deveriam tentar pegar o pregador do outro,
sendo que se seu oponente saísse do círculo a vitória seria decretada para o outro.
A maioria dos alunos tentou retirar o objeto do colega com os movimentos que os mesmos
identi caram como análogos ao do Karatê e Taekwondo. A forma e o tratamento entre os alunos também
podem ser apresentadas como destaque nesse processo de vivência dos jogos de oposição. Em cada atividade
os alunos sempre se cumprimentavam demonstrando respeito e solidariedade ao outro.
A posição e o movimento dos alunos nesse jogo foi um dos destaques recorrentes levantados por
eles. A verbalização voltou-se para a questão do “ter equilíbrio” para conseguir forçar o colega a cair. A regra
era car na posição de cócoras e tentar derrubar o colega sem deixar o joelho tocar no chão. Interessante
que na primeira rodada, os alunos escolheram suas duplas sem nenhum critério (gênero, sexo, idade)
estabelecido pelo professor.
Os alunos perceberam que o peso, a força e a composição corporal eram fatores que poderiam
interferir no desenvolvimento do jogo. Nas rodadas seguintes, os mesmos sugeriram que as divisões das
duplas ocorressem de acordo com o peso e altura. Novamente foram realizadas rodadas que possibilitaram
e (re)signi caram os conhecimentos, visto que a problematização voltava-se agora para o olhar do outro e
a sua observação.
Para Kunz (2004), se o ensino oferecer possibilidades aos alunos como as múltiplas formas de relações
e entendimentos linguístico - comunicativo, oferecerá também a chance para as possibilidades de uma
capacidade crítico e emancipatória. Percebeu-se que as agressões verbais e con itos que predominavam
nas turmas aos poucos foram amenizados pelo diálogo com respeito a opinião do outro, espaço, forma de
se movimentar e ocupar os espaços, principalmente dos alunos com o professor e alunos com alunos. O
processo comunicativo com e pelo jogo foram destaques desse registro feito.
Inspirado nas lutas indígenas3 o próximo jogo foi chamado de “Jogo do Empurra”. Nesse jogo, os
alunos deveriam se posicionar no círculo central da quadra de forma que um apoiasse as mãos do outro,
visto que o objetivo era empurrar o colega para fora do círculo. Os mesmos não poderiam apertar o colega
para levar vantagem nem usar as pernas através de chutes. Diferente da origem do jogo que é realizado
ajoelhado, zemos em pé em razão das condições estruturais da quadra.
O contato físico estimulado pelos jogos foi observado como uma questão problematizadora,
principalmente pelo afastamento que esse grupo demonstrava ao realizar atividades desse caráter nas aulas.
Como a rma Souza Junior e Santos (2010, p. 3) “ao vivenciarem os jogos de oposição os discentes podem
desenvolver capacidades cognitivas, sócio-afetivas e motoras”.
3 A inspiração veio da luta HukaHuka que foi criada pelo povo indígena Bakairi e povos do Xingu, localizados no Estado
do Mato Grosso. O huka-huka é bastante praticado nessa região e representa uma das modalidades dos Jogos dos Povos
Indígenas, competição esportiva criada no ano de 1996. Fonte: https://www.infoescola.com/artes-marciais/huka-huka/ .
Acesso em: 03 jan 2020.
No que tange a questão cognitiva, a tomada de decisão e a estratégia foram elementos que ganharam
destaque, pois alguns alunos entenderam que esperar o colega empurrar seria mais interessante do que
tomar essa iniciativa. Outro ponto, foi que utilizar o seu centro de gravidade contribuiria para uma base de
sustentação do corpo impedindo que o colega avançasse.
Como culminância desse conjunto de aulas, foram planejados seminários. Tais apresentações
tiveram como objetivo dialogar com as lutas que os alunos identi caram nas aulas a partir da experiência
dos jogos.Com isso, as turmas foram divididas em grupo de 4 a 5 alunos, visto que cada grupo deveria
elementos da história da luta escolhida, os golpes predominantes, regras de combate, as características
e curiosidades. Cada grupo teve em torno de 5 a 10 minutos para apresentar sua luta. Na 609, foram
apresentados trabalhos sobre as seguintes práticas: Muaythai, Capoeira, Kung fu, Sumô e Jiu-Jitsu.
Nos seminários, os alunos perceberam os traços identitários de cada luta, principalmente por
verbalizarem como, por exemplo, na capoeira a relação de ancestralidade, respeito entre os “jogadores”4,
bem como o sentido da roda e a ginga como elemento chave.
Na imagem, temos um grupo que trouxe para sua apresentação a luta muaythai. Essas alunas
mostraram em suas falas que essa arte marcial tem suas especi cardes e que se diferencia de outras como
o judô e a capoeira. Relataram que nas aulas o ato de cumprimentar o outro foi um aspecto que chamaram
sua atenção ainda que não tivéssemos realizado jogos que trabalhassem diretamente os movimentos
característicos dessa luta. Outra aproximação que destacaram foi na sua relação com o boxe e sua
diferenciação pelo uso dos membros inferiores no uso de habilidades como o chutar.
Na 608, os alunos apresentaram as seguintes lutas: judô, sumô, capoeira e taekwondo. A imagem
abaixo representa um dos grupos no seminário que falou sobre a capoeira. Esse grupo teve a preocupação
de trazer traços históricos da prática, visto que apresentaram o signi cado do nome capoeira como sendo
uma expressão cultural brasileira que tem características de movimentos como chutes e rasteiras bem
como sua musicalidade como destaque.
Um dos grupos levantou a questão da capoeira: Capoeira seria uma luta, esporte, jogo ou dança?.
Esse questionamento fundamentou um debate interessante na turma que correspondeu a indagação do
grupo. Percebeu – se que a capoeira traz diversas características que “bebem” na fonte de cada elemento da
cultura corporal citado na pergunta dos alunos. Entretanto, e:
[...] A Educação Física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural,
ou seja, trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político
que a gerou. Esse alerta vale nos meios da Educação Física, inclusive para o judô que foi, entre nós,
totalmente despojado de seus signi cados culturais, recebendo um tratamento exclusivamente
técnico (SOARES et al., 1992, p. 53).
Dessa forma, esse resgate favorece a ampliação dos conhecimentos pelos alunos bem como sua visão
de mundo para com a educação física escolar e especi camente seu repertório de conhecimentos acerca
da cultura corporal de movimento. Além disso, contribui na quebra do paradigma do “quadrado mágico”
nas aulas que se restringe ao contato apenas dos esportes coletivos como futsal, basquete, handebol e vôlei.
Considerações Finais
Vivenciamos variados jogos de oposição com o objetivo de pensar estratégias que pudessem favorecer
uma proposta introdutória no ensino das lutas para alunos do 6º ano da E. M. Professora Olga Teixeira de
Oliveira. As estratégias foram problematizadas a partir de debates, rodas de conversa, diálogo com o outro,
utilização de jogos em duplas, trios e grupos, bem como o uso de materiais diversi cados como pregadores
e jornais. Sobretudo, realizamos a construção e sistematização dos conhecimentos através de seminários
sobre as lutas pesquisadas pelos discentes.
Os alunos da turma 609, foram mais receptivos a proposta dos jogos em duplas o que nos incita dizer
que desenvolver esse tipo de atividade contribuiu na amenização dos con itos entre eles. Nos jogos em
grupos, como o “gato e rato”, a ação de segurar a mão do outro gerou con itos, mas os mesmos perceberam
que segurar a mão ao outro seria um movimento necessário para a ocorrência do jogo.
Nesse sentido, dialogar com esses alunos favoreceu a preocupação dos mesmos em esperar o seu
tempo de fala e o respeito ao momento do outro na verbalização de diferentes ideias. A relação e o convívio
se transformaram ao longo desse processo, visto que conviver com o outro no mesmo espaço não era mais
um “problema” ou uma “chatice”. Na turma 608, alguns fatores se destacaram de forma positiva como: a
atenção dos alunos em ouvir as regras dos jogos e atividades apresentadas pelo professor, a diminuição da
“panelinha” entre os mesmos, limitando o contato com outros colegas e a melhora no tratamento ao colega.
Outros destaques estratégicos ecoaram pelas ações realizadas pelo professor na roda de conversa
antes e ao nal da aula. Antes de cada aula, os alunos eram reunidos para as explicações e apresentação
dos objetivos de cada jogo proposto. O uso dos jogos de oposição como estratégia introdutória possibilitou
durante o processo de ensino e aprendizagem a elucidação da dimensão criativa dos alunos em escolher a
melhor posição para car ou criar um movimento.
A estratégia dos seminários contribuiu para que diversas escutas e vozes pudessem apresentar
suas percepções, sensações e emoções desse processo pelo ensino dos jogos de oposição. Essa experiência
trouxe representatividades e re exões para os alunos, visto que na disciplina existem objetivos, conteúdos
para além da “rola bola”, metodologia, avaliação e planejamento. E ainda que não é uma mera prática
desconectada de re exões e discussões.
Por m, abordar os jogos de oposição foi uma das intervenções e estratégias utilizadas nesse período
letivo com essas turmas. Rati ca-se que esses jogos são ferramentas, meios e não ns interessantes para o
docente potencializar futuras desconstruções de con itos exacerbados, agressões verbais caso ocorram em
suas aulas, e ainda, construir um entendimento sobre o tratamento com o colega, o convívio, respeito ao
espaço, a percepção do outro, o diálogo e as múltiplas possibilidades do ensino das lutas nas aulas de Efe.
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RESUMO
O presente trabalho objetivou investigar o conteúdo Lutas no currículo real da disciplina
Educação Física de escolas públicas situadas no interior do estado da Bahia, buscando
identificar os possíveis motivos que contribuem para a sua presença ou ausência nas aulas
desta disciplina. Para isso, foi utilizado, como instrumento investigativo, um questionário
contendo 15 questões, entre abertas e fechadas. A pesquisa contou com 26 professores que
atuavam em escolas públicas de 11 cidades. As Lutas ainda são pouco presente nas aulas
de Educação Física nesta região, sobretudo experiências pedagógicas de vivências
corporais. A formação acadêmica dos professores se mostrou determinante tanto na
presença quanto na ausência deste conteúdo no currículo real das escolas. Conclui-se que
alterações no formato das disciplinas que tratam o tema Lutas na graduação, a oferta de
formação continuada e a melhoria nas condições materiais das escolas podem contribuir
para uma presença mais efetiva das Lutas nas aulas de Educação Física. Sugere-se, então,
que as formações privilegiem as abordagens estruturadas em similaridades e nos princípios
das Lutas.
ABSTRACT
This study investigated the presence/absence of the contents martial arts in Physical
Education in the practicum curriculum of Bahia´s State schools. The aim was to identify
the possible reasons for that. To this, it was used applied a questionnaire containing fifteen
questions, between open and closed. The research involved 26 teachers who worked in
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public schools in 11 Bahia´s cities. Like in other Brazilian regions, martial arts were little
addressed in classes, especially pedagogical activities of bodily experiences. As conclusion
teacher´s primary University formation is pointed as decisive in the presence or not of this
content in the real schools´ curriculums. We conclude that changes in the format of the
disciplines that treat the subject struggles in college, the provision of continuing education
and improvement in the material conditions of the schools can contribute to a more
effective presence of the struggles in Physical Education classes. Then it is suggested that
the formations in favor structured similarities and principles of the struggles approaches.
RESUMEN
El objetivo fui investigar la presencia/ausencia del contenido lucha en el currículo efectivo
de Maestría en Educación Física de las escuelas situadas en Bahía, identificando las
razones que contribuyen a su presencia o ausencia en las clases de esta disciplina. Como
herramienta de investigación se aplicó un cuestionario de 15 preguntas. Participaron 26
profesores que trabajaban en las escuelas públicas en 11 ciudades bahianas. En estas, como
en otras regiones del país, las luchas siguen estando insuficientemente representadas en las
clases de educación física, en especial las actividades pedagógicas de experiencias
corporales. Concluimos que la formación inicial del profesorado fue decisiva en la
presencia o ausencia de estos contenidos en el currículo real de las escuelas. Llegamos a la
conclusión de que los cambios en el formato de las disciplinas que tratan las luchas materia
en la universidad, la provisión de la educación continua y la mejora de las condiciones
materiales de las escuelas pueden contribuir a una presencia más efectiva de las luchas en
las clases de Educación Física. A continuación se sugiere que las formaciones en favor
estructurado similitudes y principios de las luchas de los enfoques.
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INTRODUÇÃO
Há pelo menos três décadas se discute a necessidade de diversificação dos conteúdos na
Educação Física escolar e um tratamento pedagógico que supere práticas tecnicistas.
Apesar disso, as Lutas, conteúdo clássico da cultura corporal, têm enfrentado dificuldades
em sua inserção no currículo real das escolas.1-3 A ausência deste conteúdo sugere que a
Educação Física escolar vem oferecendo uma formação limitada, já que negligencia um
conteúdo de grande relevância social.
Diretrizes curriculares de vários Estados4-8 preveem o ensino das Lutas nas aulas de
Educação Física, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. Mais que isso, os
documentos nacionais que orientam a constituição do currículo da Educação Física escolar
também indicam o ensino deste conteúdo.9-10
Em relação a essas questões, Santos e Paraíso15 afirmam que o termo currículo guarda
diversas especificidades e se manifesta no ambiente escolar em diferentes dimensões,
necessitando de terminologias específicas. Nesse sentido, os conhecimentos presentes no
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plano oficial a serem ensinados nas diferentes disciplinas e séries compõem o denominado
currículo oficial, enquanto que as aprendizagens resultantes de experiências educativas
compõem o chamado currículo em ação ou real.
Breda et al.16:22 também sinalizam como dificuldades a recente inclusão deste tema na
Educação Física escolar e, consequentemente, o receio do professor em abordar o conteúdo
Lutas em suas aulas. Um conjunto de situações parece tornar esta insegurança justificada,
visto que muitos problemas são detectados, tais quais a escassez de propostas pedagógicas
de tratamento ao conteúdo Lutas e o pequeno número de publicações sobre o ensino das
Lutas.2, 17 Os indícios aventados pelos autores suscitam diversas questões, dentre elas: Por
que as Lutas não se estabelecem no currículo real da Educação Física escolar? Quais são as
maiores dificuldades enfrentadas pelos professores? A formação relacionada ao ensino das
Lutas nos cursos de Educação Física atende às demandas do cotidiano escolar?
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nas aulas desta disciplina e sinalizar possibilidades de minimização de problemas
encontrados por meio de propostas recentes de pedagogia das Lutas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Como o estudo pretendeu diagnosticar a realidade de uma determinada região, foi utilizado
como instrumento investigativo um questionário, visto que este recurso possibilita atingir
um grande número de pessoas, mesmo que estas estejam ou vivam em áreas geográficas
extensas.18 Apesar do número de professores que responderam aos questionários parecer
pequeno, esta quantidade passa a ser representativa quando se relaciona ao universo total
de profissionais que atuam com a disciplina Educação Física na região do Vale do
Jiquiriçá. A coleta de dados da pesquisa foi realizada durante um seminário de formação
dos professores de Educação Física que atuavam, durante o ano de 2013, em escolas
públicas sob a circunscrição da 4ª Diretoria Regional de Educação da Bahia – DIREC. A
pesquisa contou com a participação de 26 professores de 11 cidades1 diferentes,
representando uma amostra de 40% dos profissionais, de um total de 65 professores que
lecionavam a disciplina Educação Física na região administrativa desta diretoria, onde
existem 26 unidades escolares. Importante salientar que no estado da Bahia é permitido
que professores de outras disciplinas assumam as aulas de Educação Física para
completarem suas respectivas cargas horárias.
O questionário foi composto por 15 questões, entre abertas e fechadas, que versavam sobre
o ensino das Lutas nas aulas de Educação Física, as condições físicas e materiais das
escolas e sobre a formação inicial e continuada dos professores em relação ao tema Lutas.
A DIREC 4 encaminhou convite e garantiu transporte e alimentação a todos os professores
de escolas públicas desta região para participarem do referido evento. Todos os professores
que compareceram foram convidados a participar da pesquisa, sendo adotado como critério
de inclusão “ministrar aulas de Educação Física nas escolas públicas da região” e declarar
motivação e interesse em participar da pesquisa.
1
12 Municípios compõem a região administrativa da DIREC 4, dos quais 9 contaram com representantes nesta pesquisa,
a saber: Santo Antônio de Jesus, Dom Macedo Costa, Castro Alves, Aratuípe, Varzedo, Jaguaripe, Muniz Ferreira, Santa
Terezinha e Nazaré. Apenas Conceição de Almeida, Salinas da Margarida e Itatim não tiveram representantes. A DIREC
4 convidou professores de Ubaíra e Laje, cidades próximas e apoiadas pela diretoria, para participarem do evento, os
quais aceitaram participar da pesquisa, totalizando 11 cidades representadas.
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Para analisar os dados, recorreu-se a análise de conteúdo,21 que, segundo Souza Júnior,
Melo e Santiago,20 vem sendo bastante utilizada em pesquisas qualitativas em Educação
Física escolar, já que possibilita a análise de mensagens escritas ou transcritas. A opção por
essa técnica se deu por interesse de verificar além da frequência dos fenômenos, os seus
significados e relevância no contexto estudado.
Desta forma, a partir das respostas aproximadas dos participantes, levantamos os temas,
realizando as “formulações” e relacionando-as com o referencial teórico.
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junto à comunidade escolar. Tanto a formação inicial quanto a formação continuada,
agindo de maneira articulada, devem dar subsídios científicos para que o professor possa
sentir-se competente para recriar sua prática e atuar de maneira transformadora. Nesse
sentido, a inclusão das Lutas no currículo real da Educação Física estabelece dependências
com a formação dos professores em relação a esse conteúdo.
Estes dados indicam o distanciamento de propostas de ensino que tratam as Lutas a partir
de seus princípios gerais e aproximações.16, 22-23 Desta forma, as possibilidades de atuação
do professor ficam limitadas às poucas modalidades abordadas, que são, em geral,
trabalhadas tradicionalmente com ênfase em seus aspectos técnicos em detrimento das
possibilidades de relação com outras expressões através de suas semelhanças. No mesmo
sentido, destaca-se a ênfase no conteúdo Capoeira, indicando a preferência regional, visto
que o Vale do Jiquiriçá e Recôncavo Baiano2 são conhecidos por serem o berço desta
manifestação. No entanto, ao se oferecer como conteúdo apenas uma modalidade,
minimizam-se as possibilidades de ampliação das vivências e discussões sobre a cultura
corporal relacionadas às demais Lutas.
Um dos problemas reside no fato das próprias disciplinas ofertadas, embora tenham uma
denominação genérica como “Lutas” ou “Metodologia do Ensino das Lutas”, na prática
tratam, em muitos casos, de algumas poucas modalidades específicas, senão apenas uma
2
A DIREC 4 integra cidades destas duas regiões administrativas da Bahia.
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(em geral a que o docente domina com vivências como lutador). Como discutir as Lutas
sem que se restrinja o conteúdo abordando apenas uma modalidade?
Somente estudos mais recentes, marcadamente do final da década 1990, têm levantado
propostas de intervenção com as Lutas buscando tratá-las a partir de suas similaridades,
proporcionando a abordagem de diversas modalidades sem necessariamente excluir outras,
dentre eles destacam-se os estudos de Espartero,14 de Breda et al.,16 Gomes22 e Olivier.24 A
partir dos autores, uma alternativa para os componentes curriculares que abordam o tema
Lutas no ensino superior seja conduzir uma abordagem a partir destas propostas.
Espartero14 classifica as Lutas em três categorias, quais sejam, Lutas de agarre, Lutas de
golpes e Lutas com implementos. No mesmo sentido Breda et al.16 também apresenta
classificação das Lutas em elementos de curta, média e longa distância. Tais classificações
permitem ao professor melhor sistematizar seu planejamento no sentido de abordar as
Lutas partindo de seus princípios operacionais, envolvendo, desta forma, muitas
modalidades diferentes, mas com características semelhantes.
Do total de entrevistados (26 professores), apenas 12 afirmaram ter cursado a disciplina
Lutas na graduação. Destes, 8 afirmam que se sentem preparados para abordar este
conteúdo nas aulas de Educação Física. Contudo, 5 destes profissionais alegam que a
disciplina de Lutas cursada na graduação não foi suficiente para prepará-los para as
demandas enfrentadas na escola:
"Não. Obviamente as experiências acadêmicas nos dão uma boa base
para o trato com o conhecimento Lutas, porém as vivências das Lutas no
curso de formação acontecem muito pontualmente e às vezes
superficialmente, o que não contribui para uma maior apropriação do
conhecimento sobre o conteúdo já na Universidade." Prof. 43
Para ser capaz de abordar o conteúdo Lutas na Educação Física escolar e suprir as
deficiências da disciplina específica vivenciada na graduação, alega-se a necessidade de
formação continuada.
"Porque a graduação não é suficiente para que o professor sinta-se
habilitado para ensinar, é preciso uma busca continua de conhecimentos
para que se concretize o conhecimento e daí está apto para suprir as
demandas da escola." Prof. 13
3
Optamos por manter a originalidade das respostas, sem realizar modificações ortográficas.
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“Pois 60 horas de aula não foi suficiente para nos embasar de forma pelo
menos mediana. É preciso e pretendo me capacitar um pouco mais, pois,
as demandas são enormes." Prof. 11
Segundo Ferreira,3 muitos alunos encaram a disciplina de Lutas na graduação como “mais
uma disciplina descartável”, questionando como seria possível aprender judô ou caratê, por
exemplo, em seis meses e estarem aptos a empregarem esses conhecimentos na escola.
As experiências dos professores que colaboraram com esta pesquisa indicam a necessidade
de revisão das disciplinas que tratam do conteúdo Lutas nos cursos de Educação Física. O
aumento da carga horária ou inclusão de novas disciplinas nos currículos podem contribuir
na qualificação dos futuros professores. O ensino tecnicista parece não atender à realidade
escolar, ao mesmo tempo os professores reclamam por mais experiências práticas durante a
formação inicial, por isso, propostas que não sejam centradas nas técnicas formais mas
que, ao mesmo tempo, não negligenciem o fazer corporal presentes nas Lutas possam
concorrer para que as Lutas se façam mais presentes no currículo real das escolas.
Sobre a inclusão deste conteúdo nas aulas de Educação Física, quando questionados, 4
professores se posicionaram contrários ao ensino das Lutas nas aulas de Educação Física, 1
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professor não respondeu e a grande maioria dos professores afirmou que concordava,
totalizando 21 professores, atribuindo ao conteúdo a contribuição para a formação cidadã,
evidenciando-se o estímulo a valores de relacionamento inter e intrapessoal.
No entanto, é interessante destacar que a minoria dos professores que se mostraram contra
a abordagem do conteúdo Lutas na Educação Física escolar, ao todo 4 professores,
alegaram como justificativa exatamente o contrário dos colegas que defendem o tratamento
deste conteúdo, ou seja, que a oferta de atividades relacionadas às Lutas estimulariam
atitudes inadequadas para a convivência, como a agressividade.
É importante destacar que estes 4 professores que se posicionaram contra a abordagem das
Lutas na Educação Física escolar não cursaram na graduação disciplina específica deste
conteúdo. Suas afirmações denunciam um entendimento superficial do fenômeno muitas
vezes relacionando luta à briga.24
Essa visão que vincula as Lutas ao aumento da violência também foi identificada em uma
investigação com alunos do ensino fundamental no Paraná, que não tinham experiência
com Lutas. Ao serem questionados se a prática das Lutas geraria mais violência, 84% dos
alunos (n-80) afirmaram que sim. Contudo, após a abordagem deste conteúdo em uma
intervenção de vinte horas, apenas 8% dos alunos continuaram afirmando que as Lutas
fomentavam a violência.28
Esse relato confirma a necessidade de abordamos este conteúdo nas aulas de Educação
Física, no intuito de desmistificar preconceitos relacionados às Lutas, além de cumprir a
função da escola de oferecer a apreensão de conhecimentos científicos, para que os alunos
possam fazer uma leitura crítica e intervir de maneira transformadora na sociedade.
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Negligenciar o ensino das Lutas no âmbito escolar pode ainda alimentar equívocos
fomentados pela mídia e contribuir para a proliferação de consumidores pouco conscientes.
Já que a mídia vem explorando com maior frequência emoções relacionadas à violência em
transmissões de Lutas.29
Outros professores concordam que seja possível abordar o tema nas aulas de Educação
Física, mas fazem ressalvas referentes às dificuldades geradas pela falta de conhecimento
relativo às técnicas das modalidades:
"Possível é, porque todos são capazes de aprender, mas considero muito
difícil e desconfortante para o professor que não tem experiência nem
afinidade com a área. Seria melhor se fosse possível o professor trabalhar
em conjunto com um professor específico da área." Prof. 4
"É possível, mas é bem mais difícil a partir do momento que você tem
que empregar as técnicas." Prof. 1
Por outro lado, a mesma dificuldade relativa ao não conhecimento das técnicas é o motivo
principal alegado por outros professores que entendem que não é possível ensinar as Lutas
sem esta vivência anterior. Identifica-se nas respostas forte tendência tecnicista e a
exigência do professor ensinar através do exemplo prático, distante ainda das
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possibilidades de mediação/facilitação do docente e consequentemente da minimização dos
processos de criação, investigação e experimentação por parte dos alunos:
"Caso o professor nunca tenha praticado uma arte (luta) ele não tem
condições de ensinar". Prof 14
"Não. É preciso que tenha conhecimento e vivenciado para que saiba
como agir em determinadas atuações." Prof. 13
Esse posicionamento dos professores está alinhado a uma tradição formativa no campo das
modalidades de Lutas, que seguem um formato de repetição exaustiva, em que o aluno
‘copia’ o professor e assim reproduz tudo aquilo nas aulas e competições.16
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sem experiência prática do professor, as seguintes respostas confirmam o tratamento
teórico:
"Só se for teórica, mas não terá tanta habilidade para trabalhar na
prática". Prof. 17
"Sim. Porque o conteúdo pode ser estudado na teoria, sem exatamente a
necessidade de praticá-los." Prof. 23
O fato de incluir a discussão das Lutas nas aulas de Educação Física pode ser considerado
um avanço, entretanto, não devemos perder de vista a necessidade de oferecermos espaço
para a apropriação do fazer corporal presente nestas manifestações. Parece que um dos
desafios postos a estes professores está relacionado à proposição de experiências corporais
aos seus alunos quando o tema for Lutas. Visto que a Educação Física não pode ser uma
disciplina apenas que fale sobre os esportes, jogos, danças, ginásticas e Lutas, correndo o
risco de perder aquilo que a caracteriza, o fazer corporal.
Somente em uma resposta foi encontrada ênfase em aulas baseadas apenas na prática de
modalidades ou ações relacionadas às Lutas:
"Sim, foi abordado Lutas livres sem socos, só no sentido de imobilizar o
colega, mas eles não aceitaram o desafio não estavam preparados para
tais desafios." Prof. 16
No entanto, foram relatadas propostas que relacionavam a prática com aspectos sociais,
históricos e econômicos, destacando a atenção na abordagem do conteúdo para além do
fazer corporal, aproximando-se da proposta defendida por Soares et al.13
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Apesar da carência formativa apontada por diversos professores e escassez de bibliografia
e material didático disponíveis na região, foram relatadas experiências interessantes. A
sistematização e socialização dessas propostas podem ser uma alternativa para introduzir
de fato as Lutas no currículo da Educação Física escolar na região. A maioria das
experiências práticas relatadas por aqueles professores que abordaram o conteúdo Lutas
em suas aulas se aproximava de propostas estruturadas em similaridades das Lutas ou em
seus princípios,14, 16, 24 mesmo as experiências dos professores que tiveram uma formação
mais “tecnicista”.
Como exemplo de utilização das classificações é possível descrever uma aula em que se
abordem Lutas de pequena distância ou com agarre. Criar e vivenciar jogos com regras
onde se deva retirar o adversário de um local determinado ou projetá-lo ao solo podem
servir de gatilho para discussões sobre diferentes modalidades que envolvam esta dinâmica
como o Sumô, a Luta Olímpica e o Judô.
Ao responderem sobre quais materiais seriam necessários, a ênfase foi nos tatames, que de
fato pode contribuir para as atividades relacionadas às Lutas. Os demais materiais são
específicos de modalidades como luvas de boxe, protetores, vestimentas e instrumentos
musicais da capoeira, denunciando uma aproximação da percepção da prática atrelada às
diferentes modalidades.
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Como nenhum material de uso geral foi descrito, como cordas, cones, bolas, grandes
colchões, entre outros, é possível inferir duas situações: tais materiais já existam na escola,
ou não há percepção por parte do professor em utilizá-los em aulas com este conteúdo.
CONCLUSÃO
Apesar de ser considerado um conteúdo clássico da cultura corporal e marcar presença
significativa em diferentes momentos históricos da humanidade,9, 13-14 as Lutas, como em
outras localidades, ainda são pouco presentes nas aulas de Educação Física nesta região da
Bahia, sobretudo experiências pedagógicas de vivências corporais.
Este cenário, suas práticas docentes e as demandas do cotidiano escolar indicam que
propostas inovadoras do ensino de Lutas podem contribuir na inserção das Lutas nas aulas
de Educação Física. Tendo por características a abordagem da diversidade de modalidades
de Lutas com ênfase em seus princípios, afastando-se da ênfase nas técnicas específicas,
propondo a adaptação de materiais para as vivências, estimulando a criação de gestos a
partir de situações problemas oferecidas nas aulas, é possível minimizar as dificuldades
atribuídas para a inclusão deste conteúdo nas aulas de Educação Física.
Conclui-se que alterações no formato das disciplinas que tratam o tema Lutas na
graduação, a oferta de formação continuada, a melhoria nas condições materiais das
escolas, o aumento de publicações sobre o ensino das Lutas, assim como a sistematização
de experiências realizadas pelos professores da educação básica podem contribuir para
uma presença mais efetiva das Lutas nas aulas de Educação Física.
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esportivos: determinações da economia política, implicações didático-pedagógicas e rumos
da formação humana nas aulas de Educação Física. Em Aberto, Brasília, v. 26, n. 89, p.
57-66, 2013.
27
NASCIMENTO, P. R. B.; ALMEIDA, L. A tematização das lutas na Educação Física
Escolar: restrições e possibilidades. Movimento. Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 91-110, 2007.
28
LIMA JUNIOR, H. C.; CHAVES JUNIOR, S. R. Possibilidades das lutas como conteúdo
na Educação Física escolar: o confrontamento em uma abordagem pedagógica com alunos
da 6ª série em um colégio estadual do município de Guarapuava-PR. Cadernos de
Formação RBCE, Florianópolis, v. 2, n.1, p. 69-80, 2011.
29
VASQUES, D. G.; BELTRÃO, J. A. MMA e Educação Física escolar: a luta vai
começar. Movimento, Porto Alegre, v. 19, n. 4, p. 289-308, 2013.
Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 13, n. 2, p. 117-135, abr./jun. 2015.
ISSN: 1983-9030
134
30
PORT, V. P.; PRAZERES, R. M.; PINTO, F. M. Lutas e surfe na Educação Física
escolar. Cadernos de Formação RBCE, Florianópolis, v. 4, n. 1, p. 37-48, 2013.
Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 13, n. 2, p. 117-135, abr./jun. 2015.
ISSN: 1983-9030
135
DOI: 10.5216/rpp.v14i3.12202
Resumo
Muitas propostas curriculares de Educação Física escolar apresentam as lutas sepa
radas da categoria de esportes. Mas lutas não são esportes? Por que há essa separa
ção? O objetivo desse trabalho foi discutir sobre os possíveis motivos pelos quais
as lutas são separadas dos conteúdos dos esportes na esfera da cultura corporal. Pa
ra isso, buscouse por meio de uma revisão de literatura, analisar as concepções de
lutas e esportes presentes nas propostas curriculares e em alguns autores da área da
Educação Física. Concluise que a separação ocorre por diferentes motivos e pode
constituir uma maneira de garantir que as lutas sejam efetivamente implementadas
nas aulas de Educação Física escolar.
Palavraschave: Lutas Artes Marciais Esportes Educação Física Escolar
A
Introdução
alerta Carreiro (2005). O autor afirma que dentre os conteúdos que po
dem ser apresentados na Educação Física escolar, as lutas são um dos
que encontram maior resistência por parte dos professores, com argu
mentos como: falta de espaço, falta de material, falta de vestimentas
adequadas e associação intrínseca às questões de violência (CARREI
RO, 2005).
Eis uma grande divergência encontrada: embora garantida por pro
postas curriculares e defendida por inúmeros autores, na prática esco
lar as lutas ainda não aparecem enquanto um conteúdo plenamente
ensinado. Por que isso ocorre?
Del´Vecchio e Franchini (2006) consideram que a dificuldade em
tratar os conteúdos das lutas na escola devese, em grande parte, à for
mação do profissional de Educação Física que, em muitos casos, fre
quenta uma graduação deficiente em relação a esses conteúdos,
restringindose à apenas uma modalidade (como o judô ou a capoeira,
por exemplo), ou as vezes sequer havendo a presença desses conteú
dos no ensino superior.
Dessa forma, as lutas geralmente são aplicadas apenas (e isso
quando são) pelos profissionais que tiveram vivências com esta temá
tica durante suas vidas, independente de terem tido aulas de lutas ou
não em sua formação inicial. Há casos também de algumas escolas
que oferecem aos alunos modalidades de lutas como judô e karatê co
mo atividade extracurricular, ministradas por expraticantes, não inte
gradas ao Projeto Político Pedagógico da escola.
Outro problema é a falta de pesquisas sobre lutas no Brasil, fato
evidenciado por Correia e Franchini (2010) ao analisarem 11 periódi
cos nacionais no período de 1998 até 2008 e constatarem que dos
2561 encontrados, apenas 75 (ou 2,93%) eram sobre lutas. Os autores
encontraram ainda um número muito baixo de artigos que abordassem
os aspectos pedagógicos das lutas. A maioria dos artigos encontrados
abordou as lutas nas temáticas da fisiologia ou do comportamento mo
tor (CORREIA e FRANCHINI, 2010).
Apesar das dificuldades, é possível tratar a temática das lutas na
escola, afinal, estes conteúdos são assegurados por uma série de pro
postas e autores que as destacam como sendo parte integrante do que
se denomina de cultura corporal. Entretanto, surge uma questão para
ser analisada, uma vez que todos estes autores e propostas diferenciam
as lutas dos esportes.
As lutas não são esportes? Ora, as modalidades apresentadas pela
(...) uma disciplina que tem por finalidade propiciar aos alunos
a apropriação crítica da Cultura Corporal de Movimento, visan
do formar o cidadão que possa usufruir, compartilhar, produzir
e transformar as formas culturais do exercício da motricidade
humana: jogo, esporte, ginásticas e práticas de aptidão física,
dança e atividades rítmicas/ expressivas, lutas/ artes marciais,
práticas alternativas (BETTI, 2009, p. 64, grifo nosso).
Outra ressalva deve ser feita ao fato de Betti (2009) utilizar o ter
mo “cultura corporal de movimento”. Embora haja diferentes termino
logias para caracterizar esse acervo de manifestações corporais
humanas, como cultura física, cultura corporal, cultura de movimento,
cultura corporal de movimento, entre outras, todas caracterizam o lu
tar como uma das manifestações pertencentes a essa cultura, tendo im
portância histórica e social. Assim, buscando encontrar adequações
sobre a terminologia, optouse por utilizar a expressão “cultura corpo
ral” conforme o referencial da abordagem críticosuperadora de Soa
res et al. (1992).
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNS/BRASIL, 1998, p. 28, grifo nosso) a Educação Física tem uma
história de pelo menos um século e meio no mundo ocidental moder
no, possuindo “uma tradição e um saberfazer ligados ao jogo, ao es
porte, à luta, à dança e à ginástica, e, a partir deles, tem buscado a
formulação de um recorte epistemológico próprio”.
Algumas propostas curriculares também distinguem o conteúdo
das lutas dos esportes. Conforme descrito na Proposta Curricular do
Estado de São Paulo para a área da Educação Física, a Educação Físi
ca escolar deve tratar pedagogicamente de conteúdos culturais relacio
nados ao movimentarse humano, “porque o ser humano, ao longo de
sua evolução de milhões de anos, foi construindo certos conhecimen
tos ligados ao uso do corpo e ao seu movimentarse” (SÃO PAULO,
2008, p. 42). De acordo com esta proposta: “a Educação Física trata
Considerações finais
Abstract
A lot of curriculum proposals present the division between fights and sports con
tents. However, isn´t fights sports too? Why do they separate these contents? The
objective of this study was to discuss about the reasons why some proposals and
some authors separate the fights contents of the sports contents in body culture
conception. For this, we analyzed, through a review of literature, the concepts of
fights and sports in some curriculum proposals and some authors in the field of
Physical Education. We conclude that the separation occurs for different reasons,
and it may offer a means of ensuring that these contents could be applied in Physi
cal Education classes.
Keywords: Fights Martial Arts Sports Physical Education Classes
Resumen
Muchas propuestas curriculares muestran la división entre los contenidos de las lu
chas y los deportes. Pero las luchas no son deportes también? Por qué hay esta se
paración? El objetivo de este estudio era examinar las posibles razones de la
separación de contenidos de las luchas y deportes en el alcance de la cultura física.
Para ello, hemos tratado de analizar a través de uma revisión de la literatura, los
conceptos de lucha y los deportes presentes en los currículos, y algunos autores en
el ámbito de la educación física. Se concluye que la separación se produce por di
ferentes razones. Así, separar las luchas de los deportes es una manera de asegurar
que estos contenidos se aplican en las clases de educación física en la escuela.
Palabras clave: Luchas Artes Marciales Deportes Educación Física en la Es
cuela
Referências
1 INTRODUÇÃO
*
Mestre em Educação nas Ciências (UNIJUÍ). Professor do Curso de Educação Física da
URI (Campus Santo Ângelo) e Professor da Escola Municipal Madalena, Panambi, RS, Brasil.
E-mail: paulonascimento@urisan.tche.br
**
Mestre em Educação nas Ciências (UNIJUÍ). Professor do Curso de Educação Física da
URI (Campus Santo Ângelo) e Professor da Escola Estadual de Ensino Médio Santo Augusto,
Santo Augusto, RS, Brasil. E-mail: lucianoedf@urisan.tche.br
92 Artigos Originais Paulo do Nascimento e Luciano de Almeida
1
Considera-se, para este estudo, a mudança paradigmática que se refere à introdução do
conceito de “cultura” nos estudos acadêmicos da área de Educação Física, o que tem
ampliado a visão da área para além do corpo eminentemente biológico, mas também histórico,
social e cultural.
3 PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS OU
CAMINHOS QUE PERPASSARAM O ESTUDO
PROPOSTO
2
NASCIMENTO, Paulo R. B. Sistematização do tema/conteúdo de lutas para a Educação
Física escolar. 2007. (Mímeo).
3
No estudo citado, a falta de sistematização deste tema/conteúdo também foi uma indicação
relevante por parte dos professores, sendo então tratado, especificamente, por Nascimento
em outro artigo, intitulado “Sistematização do tema/conteúdo de Lutas para a Educação
Física Escolar”, em vias de publicação.
4
É preciso chamar a atenção para o fato de que adotamos a pesquisa-ação como metodologia
de referência, sem fechar as portas para elementos que escapem desse universo, por
entendermos que isso poderia obstruir nosso percurso investigativo.
5
Assim, precisamos nos reconhecer como professores-pesquisadores, que criam e recriam
a sua profissão no contexto da prática (MALDANER, 2000).
6
O relato no 1 refere-se à intervenção realizada pelo professor Luciano de Almeida. O relato
no 2, à intervenção realizada pelo professor Paulo Rogério Barbosa do Nascimento.
4 RELATOS E ANÁLISES
7
Essas questões embasam também uma proposta de intervenção que vem sendo realizada,
desde 2004, na escola em que parte deste estudo vem sendo desenvolvido (ALMEIDA;
FENSTERSEIFER, 2006).
Nome Modo de
Regras Proibições Estratégias
da luta jogar/objetivo
Tirar o
adversário
É proibido
da pista;
soltar as
Derrotar o usando só
mãos e Exclusão do
Jo g o d e adversário, tirando-o as costas,
qualquer e sp a ço .
costas da pista, só usando dando as
tipo de
as costas. mãos
violência
para o
co m o s p é s.
adversário
não cair.
É proibido
trocar de
Vestir-se de gaúcho; Conseguir
braço
desequilibrar o tirar o
quando
adversário no adversário
estiver
espaço adaptado, d o e sp a ço , Exclusão do
Luta jogando e
com um dos braços não tirando e sp a ço .
gaúcha não pode
nas costas e o outro um dos
usar
tentando braços de
qualquer
desequilibrar o trás das
tipo de
adversário. costas.
violência
co m o s p é s.
continua...
8
NASCIMENTO, Paulo R. B. Apostila da disciplina de Metodologia do Ensino de lutas,
2006. (Mímeo).
9
Será mantida a descrição original dos alunos, sem alteração ou correção de erros ortográficos
e/ou gramaticais.
continuação.
Os oponentes desta
luta devem ficar de
Não pode
joelhos em um lugar
Permanecer soltar as
apropriado e têm
Briga de co m o s mãos. É
que tentar derrubar o Desequilíbrio.
joelhos joelhos no proibido dar
outro. Quem ficar
chão. socos nos
com os joelhos no
adversários.
chão ganha a luta.
Quem tirar, perde.
Quadro 1. Lutas propostas pelos alunos
10
Fizemos um relato após a aula para não perdermos informações relevantes para o nosso
trabalho diário.
11
Adotamos nomes fictícios para preservar as identidades dos alunos.
12
Não é pretensão nos posicionarmos contra o futebol, mas sim utilizá-lo como exemplo palpável
da nossa realidade escolar, para então realizarmos um contraponto, pensando as lutas como
conteúdo da Educação Física. Entendemos ser pertinente esta exemplificação, uma vez que o
futebol é prática “naturalizada na escola”, mas apresenta contradições significativas, tanto na
forma como é tratado “pedagogicamente” na escola, quanto na forma como se apresenta no
campo social mais amplo, o que também pode ser dito em relação às lutas.
13
Expressão popular que designa as incontáveis partidas de futebol do âmbito não profissional
que, amistosas ou não, com maior ou menor grau de organização, com maior ou menor grau de
interferência do poder público, acontecem no cotidiano das cidades e vilarejos, ocupando os
mais diversos tipos de campos e gramados, sendo os finais de semana os períodos mais
expressivos em que são realizadas.
14
O texto, elaborado pelo professor responsável pela intervenção, tratou de conhecimentos
sócio-históricos gerais a respeito das lutas, com a preocupação de adotar uma linguagem
acessível à turma, conforme sua série e contexto, por exemplo: houve, inclusive, referência
aos animais (gato, cachorro, etc.), e suas reações, que podemos classificar como brincar de
luta. Essa linguagem foi ao encontro da realidade sociocultural dos alunos, que pertencem a
uma comunidade da zona rural, o que despertou os mais diversos relatos e exemplos,
baseados nas suas experiências de vida. O escrever, reescrever, adequar, exemplificar
numa linguagem acessível aos contextos socioculturais e níveis de compreensão, das
turmas escolares e/ou dos escolares de cada realidade específica, conceitos, idéias,
conhecimentos, que como profissionais acessamos numa linguagem técnica, nos parece
cada vez mais uma habilidade necessária do professor de Educação Física, o que
definitivamente redimensiona seu papel “estereotipado” de “instrutor de ginástica”, apenas.
continuação.
15
Esta habilidade de mediar diferentes e/ou divergentes opiniões pelo uso do debate e do
voto, relacionados com o conhecimento que está sendo tratado, também se entende como
cada vez mais necessária, e mais que isso, uma imposição, uma vez que o professor de
Educação Física passa também a ser investido do papel de “tematizador” de assuntos,
temas, práticas que extrapolam a sua relação/dependência exclusiva dos conhecimentos
anátomo-fisiológicos.
continuação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Artigo Original
Este estudo visa observar a realidade dos não repassavam seus conhecimentos facilmente e,
professores de educação física no que se refere à além disso, não existem registros documentados, já
utilização das lutas como um dos blocos de conteúdo que as tradições eram passadas de forma oral, de
proposto pelos PCN’s. mestre para discípulo.
De acordo com Alves Jr (2001):
DESENVOLVIMENTO
Na história da humanidade quando levamos em
As lutas: questões históricas consideração o estágio já urbano, ao se fazer uma
breve gênese das lutas, observamos que não foram
Existem muitas definições sobre o que seriam poucos os registros encontrados nas mais diversas
as lutas, sendo a definição proposta nos PCN’s - civilizações. Remontando entre os anos 3000 e
Educação Física: 1500 a.C., os sumerianos deixaram imagens de
três duplas de lutadores representando diversas
As lutas são disputas em que os oponentes devem fases de uma luta, com características que D.
ser subjugados, com técnicas e estratégias de Palmer e M. Howell (in Blanchard, Chelska, op. cit)
desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão consideraram como sendo, “uma das provas mais
de um determinado espaço na combinação de antigas” do que hoje entenderíamos como atividade
ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por de luta. Outras evidências de práticas de lutas
uma regulamentação específica a fim de punir também foram encontradas em outras culturas,
atitudes de violência e deslealdade. Podem ser através dos desenhos encontrados dentro da tumba
citados exemplos de luta: as brincadeiras de egípcia de Beni Hassan (Henares, 2000) e também
cabo de guerra e braço de ferro, até as práticas em Creta, por volta de 2000 a.C. (Blanchard e
mais complexas da capoeira, do judô e do caratê Chelska, op. cit).
(Brasil, 1998).
Algumas informações nos levam a crer que os
Histórias sobre lutadores são transmitidas de sistemas de lutas chegaram à China e à Índia, no
gerações a gerações. Textos bíblicos já comentam século V a.C., através do comércio marítimo.
pelejas entre oponentes. Segundo Reid e Croucher Muitos artistas marciais consideram a China
(2003): como o berço desta cultura, como se referem Reid e
Croucher (2003):
Desde as épocas antigas temos registro de lutas
a dois. A história de Davi, que matou Golias com
(...) um monge indiano chamado Bodhidharma
uma pedra atirada por uma funda, é uma das
descrições mais detalhadas (...) com sua arma chegou certo dia ao templo e mosteiro de Songshan
simples, Davi foi capaz de obter uma precisão Shaolin, na China, onde passou a ensinar um tipo
comparada à de um samurai quando dá um golpe novo e mais direto de Budismo, que envolvia longos
com sua espada (...). períodos de estática (...) para ajudá-los a agüentar
as longas horas de meditação, ensinou-lhes técnicas
A origem das lutas e das artes marciais continua de respiração e exercícios para desenvolver a
sendo uma incógnita. Os gregos tinham uma forma força e a capacidade de defender-se na remota e
de lutar, conhecida como “pancrácio”, modalidade montanhosa região onde residiam.
presente nos primeiros jogos olímpicos da era antiga.
Os gladiadores romanos, já naquela época, faziam o A filosofia do budismo influenciou profundamente
uso de técnicas de luta a dois. Na Índia e na China, os sistemas de lutas de todo o oriente, principalmente
surgiram os primeiros indícios de formas organizadas na China, na Coréia, no Japão, na Índia e nos países
de combate. do Sudeste Asiático. Assim, as técnicas de luta se
A história das formas de luta, de combate ou de proliferaram pelo oriente.
arte marcial, é difícil de ser definida, pois poucos fatos Neste período, surgem os lutadores sábios e
são verdadeiramente conhecidos. Os antigos mestres suas estratégias militares, sendo exemplos Sun Tzu,
um general de guerra chinês, e Miyamoto Musashi, o Tae-Kwon-Do, a Esgrima, o Arco e Flecha, o Boxe, a
mais famoso dos samurais do antigo Japão. Ambos Luta Livre e a Luta Greco-romana. O Caratê, que há
escreveram clássicos da arte da guerra, utilizados até muito pleiteia uma vaga nos jogos, já é considerado
os dias de hoje por empresários e empreendedores. esporte olímpico, participando efetivamente do circuito
Segundo Sugai (2004): promovido pelo Comitê Olímpico Internacional, como
os Jogos Pan-Americanos, os Sul-Americanos, os
É interessante destacar também que esses Asiáticos e os Europeus.
clássicos, exaustivamente interpretados ao longo
No Brasil, a educação física deve resgatar a
dos séculos, têm sido considerados muito mais pelo
prisma da lógica, das suas possibilidades bélicas ou Capoeira como parte da manifestação da cultura dos
estratégicas. Todavia, em um momento de tantas negros no período escravocrata. Esta modalidade
transformações por que passamos, de quebra de de luta envolve a dança, a música e um gestual
valores essenciais, da procura do sentido da vida, carregado de historicidade.
é mais que oportuno ressaltar os propósitos mais Também não se pode esquecer o Brazilian
elevados desses dois guerreiros: por meio da arte Jiu-jitsu (derivado do Jiu-jitsu japonês, mas muito
que escolheram, eles conseguiram chegar até o modificado pela família Gracie), hoje considerado um
máximo de compreensão da alma humana para esporte genuinamente “tupiniquim”.
alcançar, à semelhança da natureza, a perfeição A disciplina de educação física, também, tem
da arte de existir.
a responsabilidade de não deixar que os grandes
Conforme atesta Kishikawa (2004), o livro nomes de nossos esportes de luta sejam esquecidos:
de Sun Tzu, “A arte da guerra”, e o de Musashi, “O como Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Eder Jofre,
livro dos cinco anéis”, foram adotados como leitura Maguila, Acelino “Popó” Freitas, Família Gracie, entre
obrigatória na Escola de Administração de Empresas tantos outros.
da Universidade de Harvard.
Após o século XIV, os europeus começaram As lutas na educação física escolar
suas expansões e descobertas de territórios,
tomando contato com a cultura e com os povos de A prática da luta nas aulas de educação física
outros países. Somente em 1900, alguns ingleses deve ser considerada, estando inclusa no bloco de
e outros tantos norte-americanos começaram a conteúdos da disciplina, exposto nos PCN’s:
aprender judô e outras artes marciais japonesas. Após
1945, os norte-americanos, em serviço no Japão, Os conteúdos estão organizados em três blocos,
que deverão ser desenvolvidos ao longo de
disseminaram as lutas do oriente no mundo ocidental
todo o ensino fundamental. A distribuição e o
(Reid e Croucher, 2003). desenvolvimento dos conteúdos estão relacionados
Alguns lutadores possuem uma visão filosófica com o projeto pedagógico de cada escola e a
do que vem a ser uma luta, como afirma Lee especificidade de cada grupo... Assim, não se
(2003): trata de uma estrutura estática ou inflexível, mas
sim de uma forma de organizar o conjunto de
(...) o objetivo da arte é projetar uma visão interior conhecimentos abordados, segundo enfoques que
para o mundo; declarar, em uma criação estética, o podem ser dados: esportes, jogos lutas e ginástica;
espírito mais íntimo e as experiências pessoais de atividades rítmicas e corporais e conhecimentos
um ser humano. sobre o corpo (Brasil, 1988).
Na atualidade, existem inúmeros sistemas de Esta prática pode trazer inúmeros benefícios
luta, as chamadas artes orientais: Kung Fu, Tai-Chi- ao usuário, destacando-se o desenvolvimento motor,
Chuan, Caratê, Judô, Jiu-jitsu, Aikido, Tae-Kwon-Do, o cognitivo e o afetivo-social. No aspecto motor,
Jet-Kune-Do, Kendo, entre outras. Também existem observamos o desenvolvimento da lateralidade, o
aquelas consideradas ocidentais como: o Boxe, a controle do tônus muscular, a melhora do equilíbrio e
Esgrima, o Kick-Boxe, etc. da coordenação global, o aprimoramento da idéia de
Nos jogos olímpicos, estão presentes o Judô, o tempo e espaço, bem como da noção de corpo. No
aspecto cognitivo, as lutas favorecem a percepção, o revistas que se referem ao tema, adquirem livros de
raciocínio, a formulação de estratégias e a atenção. técnicas de luta e matriculam-se em academias para
No que se refere ao aspecto afetivo e social, pode-se realizar a prática da luta.
observar em alunos alguns aspectos importantes, Portanto, as lutas devem fazer parte dos
como a reação a determinadas atitudes, a postura conteúdos a serem ministrados nas aulas de educação
social, a socialização, a perseverança, o respeito e física, seja na educação infantil, ensino fundamental ou
a determinação. médio, ressaltando-se que as lutas não são somente as
Ao falarmos de lutas como um conteúdo técnicas sistematizadas como Caratê e Judô. O braço
da educação física, alguns podem pensar que de ferro, o cabo de guerra, as técnicas recreativas
se refere a uma das tendências da disciplina: a de empurrar, de puxar, de deslocar o parceiro do
educação física militarista, que possui como objetivo local, as lutas representativas como a luta do sapo
a obtenção de uma juventude capaz de suportar o (alunos agachados, um tentando derrubar o outro),
combate, a luta e a guerra (Ghiraldelli, 1997). Esta a luta do saci (alunos de mãos dadas, somente com
tendência da educação física teve seu apogeu um pé no chão, tentando provocar o desequilíbrio
durante o período nazi-fascista. A inclusão das lutas do parceiro, forçando o colega a tocar com o pé que
na disciplina de educação física não é promover estava elevado no chão), são apenas alguns exemplos
alunos-soldados, nem prepará-los para a guerra. de como se trabalhar as lutas de forma estimulante
Pretende-se oferecê-las, na escola, com o objetivo e desafiadora na aula de educação física. Pode-se
de proporcionar diversidade cultural e amplitude de levar, em visitas às escolas, especialistas, promovendo
atividades corporais. palestras, ministrando pequenos cursos ou fazendo
Outra vez, reportando a Alves Jr (2001): demonstrações específicas. Os alunos podem visitar
academias de lutas, assistir a filmes e documentários
A Educação Física passa a ser uma disciplina ou, ainda, realizar pesquisas sobre o tema.
que vai tratar pedagogicamente de uma área de Não se pode esquecer que, no ensino médio,
conhecimento denominada de ‘cultura corporal’, a filosofia das lutas, a prática competitiva das
configurada na forma de temas ou de atividades modalidades e o estudo dos clássicos de Sun Tzu
corporais. Devemos ter consciência que a atividade
e Miyamoto Musashi, já citados, poderiam motivar e
física das lutas não é nem nociva nem virtuosa em
si, ela transforma-se segundo o contexto. A luta na afirmar o sentido das lutas como conteúdo.
universidade, na escola, ou em qualquer outro local, Além disso, conforme a revista do Conselho
torna-se o que dela a fazemos, e a competição, Federal de Educação Física (CONFEF, 2002):
acrescentaríamos, não é uma imposição deste
esporte. Pierre Parlebas (1990) lembra que as A prática da luta, em sua iniciação esportiva, apresenta
lutas em geral são atividades esportivas com uma valores que contribuem para o desenvolvimento
oposição presente, imediata, e que é o objeto pleno do cidadão. Identificado por médicos,
da ação, existe uma situação de enfrentamento psicólogos e outros profissionais, por sua natureza
codificado com o corpo do oponente. Desta forma, histórica apresentam um grande acervo cultural.
mais do que lutar contra o outro, a educação Além disso, analisada pela perspectiva da expressão
física escolar deve ensinar a lutar com o outro, corporal, seus movimentos resgatam princípios
estimulando os alunos a aprenderem através inerentes ao próprio sentido e papel da educação
da problematização dos conteúdos e da própria física na sociedade atual, ou seja, a promoção da
curiosidade dos alunos.
saúde.
É inquestionável o poder de fascinação que as lutas Segundo os PCN’s (Brasil, 1988), os objetivos
provocam nos alunos. Nos dias atuais, constata-se que da prática das lutas na escola, são:
o tema está em moda, seja em desenhos animados,
em filmes ou em academias. Não é difícil encontrar A compreensão por parte do educando do ato de
crianças brincando de luta nos intervalos das aulas lutar (por que lutar, com quem lutar, contra quem
ou colecionando figurinhas dos heróis que lutam em ou contra o que lutar; a compreensão e vivência de
seus desenhos animados. Os adolescentes compram lutas no contexto escolar (lutas X violência; vivência
FIGURA 1
QUESTIONÁRIO APLICADO EM PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA.
Se for negativa:
A.Não tenho instrução para isso.
B. A escola não tem condições físicas para tal aula.
C. Não temos um colaborador que saiba tal tema.
D. Acho este conteúdo inadequado para a escola.
E. Outras alternativas.
2. Você considera que as lutas são apenas as formas pré-existentes, como Caratê, Boxe, Capoeira
ou acha que cabo-de-guerra e braço-de-ferro também são formas de luta?
A.Sim
B.Não
A.Sim.
B.Não.
C.Depende do professor.
6. Você acha que seus alunos se tornariam mais agressivos ao praticarem lutas?
A.Sim.
B.Não.
C.Talvez.
também é exaltado, podendo ser observado que os seja através de um simples cabo-de-guerra ou de
alunos desenvolvem a auto-estima, o autocontrole e um braço-de-ferro.
a determinação. Dos 50 envolvidos, quando perguntados
Os que responderam negativamente (34 sobre qual luta deveria ser praticada na escola: oito
professores - 68%) afirmaram que o motivo de não (16%) consideraram que nenhuma luta deveria ser
utilizarem as práticas das lutas foram: que não tinham trabalhada na escola, já que poderia ser um gerador
instrução para lecionar tal atividade (14 - 41,17%); de agressividade; 13 (26%) optaram pela Capoeira;
que a escola não oferecia condições estruturais para 12 (24%), pelo Caratê; nove (18%) responderam o
a realização das práticas de lutas (oito - 23,52%); que Judô; quatro (8%) escolheram o Tae-Kwon-do; três
achavam que o conteúdo de lutas era inadequado (6%), o Kung Fu; um (2%), o Jiu-Jitsu; e, apenas dois
para o ambiente escolar (seis - 17,64%); e que não (4%) responderam que a luta na escola deve ser
havia especialistas disponíveis para receber ajuda lúdica, praticada através da brincadeira.
sobre o tema (seis - 17,64%). A resposta a esta pergunta demonstra que a
Ficou bem claro que existem dificuldades Capoeira, uma luta nacional, é a mais votada como
para a prática das lutas na escola, porém, estes modalidade a ser praticada na escola, seguida do
obstáculos não devem ser barreiras intransponíveis. Caratê, que pode ter obtido esta classificação em
Se o professor não tem instrução para lecionar virtude da influência da mídia, pois existem inúmeros
lutas, deve procurar cursos de capacitação, trocar desenhos e filmes de ação protagonizados por
experiências com os colegas ou recorrer ao vídeo lutadores de Caratê. O resultado pouco expressivo
e à ajuda de especialistas. Se a escola não oferece atingido pela votação do Jiu-Jitsu (apenas um voto)
condições físicas e materiais, o professor deve parece trazer à reflexão o comportamento de alguns
utilizar a improvisação, realizando suas atividades praticantes desta arte marcial que têm prejudicado a
na própria sala de aula (tendo o cuidado com a imagem de tão nobre forma de luta.
preparação do espaço) ou oferecendo aos alunos Quando questionados se era possível trabalhar
uma aula de campo (visita a academias, por as lutas na educação infantil: 38 professores (76%)
exemplo). alegaram que não, que esta seria uma prática
Chama a atenção o número de professores que realizada por um especialista em uma academia
afirmaram que o conteúdo de lutas era inadequado ao própria, e os outros 12 professores (24%) disseram
contexto escolar. Através desta afirmação, expõe-se que era possível sim, ou com ajuda de especialista
um recuo do desenvolvimento da educação física (10 - 83,33%), ou de forma lúdica (dois - 16,66%).
diversificada. A prática da educação física tradicional, Neste quesito, os educadores físicos expressaram,
onde imperam atividades como o “rachão” e a antiga em grande parte, a divergência entre lutas e educação
ginástica, precisa romper este paradigma. As aulas infantil. Outro engano, pois as lutas na educação
de educação física necessitam de novas formas e infantil promovem o desenvolvimento integral.
de novos conteúdos, como os direcionados pelos Perguntados se a prática da luta geraria
PCN’s, entre eles a luta, a dança, o conhecimento violência: 12 (24%) responderam que sim; 22 (44%),
do corpo, as atividades rítmicas e expressivas, além que não; e 16 (32%) disseram que depende do
dos esportes, dos jogos e das brincadeiras. professor.
Dos 50 entrevistados, 32 (64%) consideraram Também questionados se os alunos da
que lutas seriam somente as técnicas pré-existentes educação física, ao praticarem lutas nas aulas, se
de combate, enquanto que 18 (36%) afirmaram tornariam mais agressivos: 12 (24%) responderam
que qualquer atividade em que dois oponentes se que sim; 25 (50%), que não; e 13 (26%) que talvez.
enfrentam pode ser um tipo de luta. Este resultado
demonstra que a maioria dos professores ainda não CONCLUSÃO
reconhece a luta diversificada. Para estes, somente
técnicas de Caratê, de Judô, de Capoeira e de Através destes resultados, pode-se concluir
outras modalidades, são consideradas lutas. Desta que os PCN’s - Educação Física devem ser revistos
forma, os alunos perdem a oportunidade de lutar, pelos profissionais da área, pois se alguns possuem
conhecimento sobre este material, poucos são os que alguns profissionais possuem uma visão
que o utilizam na prática. deturpada do que sejam as lutas, relacionando-as
Pode-se constatar que a prática das lutas, parte com violência e com agressividade, atitude oposta
dos blocos de conteúdos dos PCN’s, e, portanto, à educação física e à própria filosofia das lutas.
apreciados pela educação física escolar, não vem Sugere-se que este tema seja abordado por
sendo explorado. outros educadores físicos, contribuindo para a
Para uma educação física diversificada, que discussão e somando com outras posições.
não sucumba às eternas práticas de “rachas com
bola”, deve-se cumprir o que se estabelece nos Endereço para correspondência:
PCN’s, seja com as lutas ou com a dança. Rua Tibúrcio Cavalcante, 1490 / apto 102 - Aldeota
Observa-se que os profissionais necessitam Fortaleza - Ceará - Brasil
de treinamento, de capacitação e de cursos de CEP: 60125-100
reciclagem, para, a partir de então, incluir a prática Tel: 85 32646013
das lutas em suas aulas. Também se pode concluir e-mail: heraldosimoes@bol.com.br
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2001;73-91.
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MUSASHI M. O livro dos cinco anéis: o clássico guia de estratégia. São Paulo: Ed Masdras, 2000.
REID H, CROUCHER M. O caminho do guerreiro, o paradoxo das artes marciais. São Paulo: Ed Cultrix,
2000.
Resumo
Por se tratar de atividades que geram contato físico entre estudantes, o senso comum acredita
que a modalidade de lutas acarreta violência e indisciplina. No entanto, observamos
benefícios na prática de lutas em ambiente escolar, como redução de violência e construção de
valores. O objetivo do presente estudo é determinar os fatores limitadores e facilitadores para
o ensino do conteúdo lutas na Educação Física escolar. Os métodos utilizados para o
desenvolvimento do presente trabalho foram revisão bibliográfica além de pesquisa aplicada
no banco de dados da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Os resultados, foram: 18,86
(46%) dos professores, não utilizam o conteúdo de lutas na Educação Física escolar e dentre
as principais justificativas, encontram-se a falta de instrução e falta de estrutura. Os
professores relataram ainda dificuldades em trabalhar o conteúdo na escola, sendo que 11,3
(27,7%) alegaram que a principal dificuldade é a falta de instrução, seguidos de 1,47 (3,6%)
que optaram pela falta de estrutura. Concluímos então, que mesmo fazendo parte dos
parâmetros que regem a educação física, muitos professores não utilizam as lutas como parte
dos conteúdos das suas aulas. Em relação aos fatores limitadores encontra-se a falta de
instrução, de estrutura e por achar o conteúdo impróprio. Em relação à falta de instrução, cabe
ao profissional entender que não é necessário ser um mestre em artes marciais para trabalhar
lutas na escola, basta que o professor busque conhecimento. Quando falamos em falta de
estrutura, nos remetemos não somente a falta de estrutura para as aulas de educação física, e
sim para as aulas em geral, e aqui entra a criatividade do professor. E quanto a achar o
conteúdo impróprio, com o referencial teórico apresentado no presente estudo comprovamos
1
Atleta de Muay Thai. Graduou-se em licenciatura em Educação Física pelo Dom Bosco, atualmente é
acadêmico de Bacharelado na mesma instituição de ensino. E-mail: guimaribeiro@hotmail.com
2
Acadêmica de licenciatura em Educação Física na PUCPR. Participa do Grupo de pesquisas GECOM. E-mail:
moura.gabrielade@hotmail.com
3
Atleta e técnica desportiva de Karate, atuando na seleção brasileira juvenil, júnior e adulto como atleta.
Graduou-se em licenciatura plena em Ed. Física pela UFPR. É especialista em Fisiologia do Exercício pela
UFPR, possui o título de Mestre em Ciência do Movimento Humano pela UDESC e também é Mestranda em
Bioengenharia pela PUCPR. E-mail: keith_sato@hotmail.com
25961
que as lutas são uma ferramenta importante para o profissional de educação física mediante a
educação física escolar.
Introdução
unanimidade devido à falta de documentos que comprovem sua origem, uma vez que há
registros na China, Índia, Império Romano e Grécia. Entretanto, para muitos, a China é
considerada o berço das artes marciais no século V a.C. (FERREIRA, 2006). Os esportes de
combate, antes de se tornarem modalidades esportivas eram técnicas de lutas, e uma forma de
defesa de um povo, com princípios e filosofias, ou seja, se a escola tem como objetivo formar
cidadão, seu enquadramento no ensino escolar é de suma importância (TRUSZ e NUNES,
2007). As lutas podem ser definidas como:
Devido à falta de experiência dos professores nesta área acaba existindo certo receio
quanto a sua habilidade para trabalhar as lutas no ambiente escolar. Uma vez que por se tratar
de atividades que geram contato físico entre os estudantes, a sociedade acredita que a
modalidade acarreta violência e indisciplina entre os praticantes, quando na verdade é o
oposto (NASCIMENTO, 2008). Deste modo, o objetivo do presente estudo foi determinar os
fatores limitadores e facilitadores para o ensino do conteúdo lutas na educação física escolar
conforme percepção de professores da rede municipal, estadual e particular de ensino.
Metodologia
Resultados e Discussões
Observa-se que quando a prática do conteúdo de lutas esta associada ao tipo de ensino
(figura 3), no ensino público (prefeitura e estado) é mais utilizada do que no ensino particular.
Talvez este fato ocorra porque as diretrizes e normativas da prefeitura de Curitiba
(PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, 2006) e do estado do Paraná (LEITE et al,
2009) basearem suas publicações nos PCNs (BRASIL, 1998).
10
9 9
9
8
7
7
0
Particular Prefeitura Estado
as lutas não são somente as técnicas sistematizadas como karate e judô. O braço de
ferro, o cabo de guerra, técnicas recreativas de empurrar, puxar,deslocar o parceiro
do local, lutas representativas como a luta do sapo (alunos agachados,um tentando
derrubar o outro), a luta do saci (alunos de mãos dadas, somente com um pé no
chão, vão tentar provocar o desequilíbrio do parceiro, forçando o colega a tocar com
o pé que estava elevado no chão), são apenas alguns exemplos de como se trabalhar
as lutas de forma estimulante e desafiadora na aula de educação física (FERREIRA,
2005b, p. 9).
Dos 41 entrevistados 17,4 (42,6%) alegam que o ensino das lutas na Educação Física
escolar não gera violência, entretanto outros 20 (48,78) entrevistados afirmam que se o ensino
das lutas irá gerar ou não violência, dependerá do professor. Dos entrevistados 28,7 (70,2%)
afirmam que a prática das lutas não torna os estudantes agressivos, algo bem próximo ao
encontrado por Santos, Oliveira e Cândido (2011) onde 65% responderam que não e 35% que
depende do professor, podendo ser possível até mesmo uma redução desta agressividade.
Verifica-se que o conteúdo de lutas é pouco explorado devido à preocupação e dúvidas
dos professores de Educação Física escolar quanto à utilização desta modalidade em suas
aulas, pois para a maioria dos pais e educadores o ensino das lutas geraria agressividade e
25968
Outro ponto apontado que pode ser utilizado pelo professor são palestras, filmes e
documentários, bem como incentivar o conhecimento dos estudantes através de pesquisas
dadas a eles sobre diversos temas como história, regras, indumentárias, dentre outros
(FERREIRA, 2009).
Trusz e Nunes (2007) afirmam que:
é uma manifestação de cultura de movimento que não pode ser negada, e seu ensino
na escola não exige que o professor seja treinador ou professor de artes marciais, já
que não se pretende formar um atleta/lutador, mas sim que os estudantes se
apropriem e apreciem elementos das lutas como manifestações da cultura de
movimento.
25970
que de forma intrínseca, um aprendizado das técnicas das lutas (FIGUEIREDO, 2000), além
de proporcionar um melhor conhecimento sobre saúde e qualidade de vida (LANÇANOVA,
2006). E para que isto ocorra de forma satisfatória é necessário trabalhar nos três conceitos:
afetivo-social, cognitivo e motor.
O ambiente escolar não deve buscar a formação de atletas e sim a formação de
cidadãos que durante as aulas de Educação Física conheçam e pratiquem a modalidade de
lutas (NASCIMENTO, 2008). Por meio desta afirmação pode-se verificar que o professor não
precisa ser especialista em uma determinada modalidade de lutas, pois o mesmo pode se
utilizar de filmes e vídeos demonstrativos para a execução das atividades durante as aulas
(LANÇANOVA, 2006).
Em estudo de campo feito por Nascimento e Almeida (2007) o professor se utilizou de
vídeos para que ocorresse a análise deste e com isto identificar e mostrar os valores éticos,
históricos e morais das lutas, enquanto que para o conhecimento das regras das modalidades
denominou pesquisa para os estudantes, e com isto desmistificou o conceito de que lutas são
esportes violentos. Cabe ao professor de Educação Física demonstrar, que as lutas não estão
vinculadas apenas ao contato físico entre os praticantes, mas que por meio dela é possível
estimular a tomada de decisão dos estudantes e resolução de problemas (FERREIRA, 2009).
Porém ocorre que há muitos professores que são apenas ex- atletas e se utilizam de
métodos sem comprovação de estudos quanto a sua eficácia quando relacionadas a
treinamento, ou pior, ser instrutor sem fundamentação teórica, apenas repassando práticas que
aprendeu, causando prejuízo a quem pratica a atividade (LANÇANOVA,2006), além destes
profissionais não terem conhecimento do projeto político pedagógico da escola (CORREIA e
FRANCHINI, 2010).
Com tudo que foi abordado neste estudo deve-se buscar uma reestruturação dos
métodos de ensino da Educação Física escolar relacionado às lutas para que sejam
enquadradas na realidade atual e cotidiana dos estudantes (NASCIMENTO e ALMEIDA,
2007), uma vez que as lutas têm papel fundamental na formação do estudante, tanto quanto os
esportes de quadra (LANÇANOVA, 2006).
Considerações Finais
Através deste estudo foi possível verificar que apesar do conteúdo de lutas ser um
conteúdo da educação física escolar (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL,
25972
1998) tal pratica ainda é pouco exercida. A mudança deve ocorrer desde a formação
profissional do professor, demonstrando os benefícios de seu ensinamento no ambiente
escolar. As lutas não devem ser tratadas como esportivização nas escolas, algo evidenciado
nesta pesquisa, uma vez que a forma lúdica e de jogos de oposição não foram à forma mais
lembrada pelos professores, já que as modalidades aplicadas mais mencionadas foram às
técnicas esportivas pré- existentes. Entretanto, cabe uma pesquisa com cunho qualitativo para
observar-se a forma como estas modalidades estão inseridas nas aulas de Educação Física
escolar. Partindo do ponto de vista que este estudo verificou quantitativamente o uso ou não
das modalidades de lutas e não a forma de sua aplicação durante as aulas.
Considerando que os objetivos desse estudo foram determinar fatores limitadores e
facilitadores para o ensino do conteúdo lutas na educação física escolar conforme percepção
de professores da rede municipal, estadual e particular de ensino, entende-se que foram
considerados fatores limitadores a formação profissional e não conhecimento técnico
científico do conteúdo de lutas.
REFERÊNCIAS
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científica no CONPEFE 2009. EFDeportes (Revista Digital), Buenos Aires, ano 14, n. 138,
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OLIVEIRA, André Luis de; GOMES, Fabio Rodrigo Ferreira; SUZUKI, Frank Shiguemitsu.
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TRUSZ, Rodrigo Augusto; NUNES, Alexandre Velly. A evolução dos esportes de combate
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<http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/2932/1566>. Acesso em: 22 nov. 2012.
DESAFIOS PARA O ENSINO DAS
LUTAS NA ESCOLA:
UM PANORAMA A PARTIR DA BASE DE DADOS DO
PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES1
1. O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua
realização.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Este trabalho explica as dificuldades encontradas no momento que se pensa em
introduzir as lutas dentro das aulas de Educação Física Escolar. Vários são os motivos para
que isso ocorra, alguns deles são: o preconceito por parte das pessoas, diretores, pais e até por
alguns alunos em si, e a falta de preparação dos profissionais ao sair das universidades para
uma sala de aula. Para chegarmos a uma conclusão foi realizado um questionário com dois
professores formados a mais de dez anos pela mesma universidade, com apontamentos feito
por eles podemos notar a diferença que faz se ter uma base de conhecimento boa para a
introdução das lutas dentro da Educação Física escolar.
As lutas estão presentes na nossa história desde o início dela. O ato de lutar surgiu
com a própria origem do homem. Em princípio, lutar pela comida, lutar com outros animais,
lutar com outros homens, lutar para defender a terra (após tornarem-se sedentários), ou seja,
lutar para sobreviver. (RUFINO, 2010). Notamos que as lutas são vistas como marcas
culturais dentro da história de determinadas regiões e locais tanto no mundo como no Brasil,
são marcos e características do povo, vindo do início da história. Porém,
[...] deve-se ressaltar, no entanto, que o “surgimento” das lutas não foi algo “natural”
ou que “nasceu do nada” e sim processo de muitas transformações vividas pelas
sociedades. O surgimento dessas manifestações corporais relacionadas às lutas não
foi retilíneo e sim, provocados por inúmeras mudanças, rupturas e, muitas vezes,
considerando apenas a visão dos povos dominadores sobre os povos dominados
(RUFINO, 2010, p.34).
1
Acadêmica do Curso de Educação Física Licenciatura e Bacharelado da UNIJUI, Email:
jordana.stephanini@sou.unijui.edu.br
2
Docente do Curso de Educação Física da UNIJUI,. E-mail: fabiana.antunes@unijui.edu.br
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As lutas em um panorama geral, não estão significantemente inseridas dentro das aulas
de Educação Física Escolar, e isso é um fator que poderia ser mais trabalhado, onde traria
experiências motoras diferentes dos quais os alunos estão acostumados a ter. Sendo assim,
nesse trabalho será discutido sobre como o ensinamento das lutas dentro da Educação Física
Escolar pode ser realizado, e como isso atingirá tanto culturalmente, corporalmente e
socialmente as crianças e adolescentes envolvidas nessas aulas. Sabemos que,
Culturalmente, ao longo de muitos anos, as lutas foram envolvidas por certas
características místicas, além de treinamentos intensos. Muitos professores foram
formados com estas concepções. Muitos filmes sobre a temática das lutas/ artes
marciais ilustram e enaltecem esta relação e, certamente, todos estes fatores
influenciam a prática dos alunos dessas modalidades (RUFINO,2010, p.14).
Precisamos desfazer essa imagem de que as lutas não são práticas que possam ser
trabalhadas nas escolas, pelo fato de se ter um contato maior que muitas vezes se vê como um
ato violento e que introduzir a luta dentro da escola, a violência vai de uma certa forma
aumentar. Essa desconstrução precisará ser feita de uma forma lenta, através de exemplos e
muita dedicação principalmente dos professores, para buscar o conhecimento e também a
aprovação dos diretores e pais para essa inserção, um passo de cada vez e ficamos mais perto
de chegarmos ao objetivo, que é inserir as lutas dentro da escola de uma forma saudável e
bem vista por todos.
METODOLOGIA
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feminino, formada em 2001, tens 46 anos e está atuando dentro de uma escola estadual e uma
municipal. A análise das respostas foi realizada comparando a resposta de ambos os sujeitos,
realizando um comentário pelo autor baseado na realidade vivida pelos sujeitos, fala de
autores a respeito dos assuntos pautados e por experiências vividas pelo autor.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES, Juína/MT, v. 4, n. 6, jul./dez. 2021. 5
proporcionado essa dificuldade de ter um conhecimento considerável para o ensino do tema
de lutas na escola.
Agora percebemos que o sujeito dois não trabalhava com as lutas antes da inserção do
mesmo na Base Nacional Comum Curricular - BNCC, pelo fato de não ter recebido uma base
suficiente para que isso acontecesse, não podemos julgar a atitude dela, pois após a inserção
do tema, ela começou a trabalhar ou pelo menos a iniciar a inserção do mesmo dentro das
aulas de Educação Física escolar, pensamos que nosso sujeito dois tem um alcance de muitos
alunos ao trabalhar tanto em rede estadual como municipal, podemos nos questionar sobre
qual seria a mudança dentro das aulas de Educação Física dessas redes após a introdução e
desenvolvimento deste tema e qual seria o impacto aos alunos. Pensando nisso vemos que,
[...] as lutas são parte integrante e constituinte da cultura corporal dos seres humanos
e por isso devem ser ensinadas nos mais diversos ambientes da educação formal e
não-formal. Entretanto, o fato de fazerem parte da cultura corporal, não garante, por
si só, que elas sejam praticadas por muitas pessoas. É preciso compreender também
os benefícios dessas práticas (RUFINO,2010, p.132).
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lutas gere ainda mais violência do que possa ajudar a combate-la. Porém sabemos que a
prática desse tema traz benefícios,
[...] dentro dos benefícios categorizados como capacidades físicas e saúde estão a
melhora da força, coordenação motora, flexibilidade, agilidade, etc.; os benefícios
mentais e cognitivos podem ser representados pela melhora da concentração,
velocidade de raciocínio, entre outros; dentro de disciplina e respeito estão: respeito
à hierarquia, melhora do comportamento e da disciplina, etc.; benefícios
filosóficos/educacionais podem ser representados pela formação da pessoa humana,
aprendizagem de uma filosofia de vida, etc.; e benefícios espirituais e religiosos,
como melhora da espiritualidade e aprendizagem espiritual (RUFINO, 2010, p. 132).
Uma última questão foi feita com o objetivo de abrir espaço para que os sujeitos
participantes pudessem deixar algo registrado que eles achassem importante referente a
inserção das lutas na Educação Física escolar, o Sujeito Um enfatizou que “os alunos tem
todo o direito de aprender todos os tipos de esportes, e para isso acontecer, o professor
precisa buscar conhecimento e se preparar, pois a universidade oferece apenas uma base do
que é preciso para dar uma aula de qualidade, mas nos estigam e nos dão autonomia em
buscar conhecimento e saber qualificar conteúdos de qualidade para que as aulas sejam de
um grande proveito tanto para os alunos como para os professores” (SUJEITO 1, 2021). O
Sujeito Dois destaca que “é preciso que os professores sejam melhor preparados para
trabalharem na sala de aula, acreditando que a universidade precisa dar conta de uma
preparação para que quando os acadêmicos saiam das universidades estejam aptos para a
inserção e para o trabalho dentro das escolas e das salas de aula, com um ensino de
qualidade” (SUJEITO 2, 2021).
Notasse que os resultados obtidos nos questionários revelam o quanto devemos nos
preocupar com a formação dos nossos professores, e como a atualização e a busca da melhora
dos currículos das universidades é importante. Os resultados nos mostram de que mesmo com
as diferenças entre idades e ano de formação a opinião deles do ensino das lutas nas escolas é
de uma certa forma a mesma, levantam um grande ponto ao porquê de as lutas não estarem
inseridas dentro das aulas de Educação Física escolar. Pelo fato dos professores não se
sentirem preparados para a iniciação desse tema, o qual é muitas vezes rebatido pela direção
das escolas e pelos pais, os quais tem preconceitos com o tema proposto e um pensamento de
que a prática de lutas dentro da Educação Física escolar só aumentara a violência nas escolas
e consequentemente na sociedade, eles acabam não inserindo por pressão contraria e por não
se sentirem seguros referente ao tema para poder aplica-lo.
Discutindo agora tudo o que foi relatado podemos ver que o medo da mudança e do
novo por parte dos professores é de uma certa forma bem considerável, ao ponto de não
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trabalharem o tema de lutas na escola, e que o pouco conhecimento e pouca preparação dos
profissionais é um possível causa desse acontecimento, porém,
[...] a postura diante de novos aprendizados, que poderiam em outros momentos,
parecer distantes de nossa realidade, é fundamental para a carreira docente. Para
grande parte dos professores, a proposta de trabalhar com lutas envolve mais
saberes. É preciso superar o medo de trabalhar com esse conteúdo, compreendendo
o trabalho com lutas na escola como uma aplicação dos repertórios de práticas
corporais (BOOG e URIZZI,2019, p.77).
Pensando nisso devemos sair das nossas zonas de conforto e deixar nossos medos de
lado, para que podemos proporcionar aos nossos alunos aulas diversificadas e de uma ótima
qualidade e desfazer essa imagem distorcida das lutas, mas para que isso aconteça é preciso
que aja mudanças, notamos que,
[...] no processo de construção do conhecimento, faz-se necessário descontruir
algumas realidades, sem deixar de valoriza-las, como parte importante da formação
daquele ser humano. E a reconstrução faz essas vivencias, que podem em principio
se ligadas à violência, se tornarem jogos prazerosos, repletos de significados e regras
(BOOG e URIZZI,2019, p.78).
Refletindo tudo isso podemos notar que se tem muitas dificuldades perante aos
professores, mas com alguns esforços a mais podemos sim inserir as lutas dentro da Educação
Física escolar, é necessário que saiamos da nossa zona de conforto e busquemos métodos e
respostas para que esse tema seja utilizado de uma maneira certa e coerente e nosso alunos
podendo praticar e conhecer o lado bom das lutas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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matérias específicas e que trabalham com a inserção dos professores dentro das escolas, que
faça com que esse medo minimize e que eles entrem com um nível maior de segurança, com
um bom conhecimento técnico e uma boa introdução prática.
Notamos que ao falar das lutas essa insegurança é ainda maior, pelo fato do
preconceito em relação a este tema estar muito inserido dentro da sociedade e das escolas,
precisamos descontruir esse preconceito, mostrar que as lutas podem ajudar tanto fisicamente,
como no comportamento dos nossos alunos, por abranger dentro das modalidades normas e
regras, onde o respeito tem uma função crucial dentro do desporto, e que se usarmos essa
visão de que a prática das modalidades de lutas mudam comportamentos e vidas, a
desconstrução do preconceito será um objetivo alcançado, e é nós professores que precisamos
nos erguer e fazer com que essas práticas sejam inseridas com êxito dentro das aulas de
Educação Física, mostrado tanto para sociedade, quanto para os pais e diretores, os benefícios
que a pratica desse esporte faz.
A busca do conhecimento precisar ser constante, pois os temas sempre estão em
evolução, então nós como professores sempre precisamos continuar buscando atualizações,
claramente que uma boa graduação é um grande passo para ser um ótimo profissional, e se
juntarmos uma boa graduação com dedicação, busca de conhecimento, atualizações, parcerias
e constante mudança, podemos aplicar aulas com mais produtividade onde nossos alunos
aproveitem ao máximo em todos os aspectos possíveis.
REFERÊNCIAS
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Escolar. Caderno do Professor, Ensino Fundamental, Anos iniciais, vl.2, Ministério da
Educação, 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC,
2017.
COTTA.; Maria Amélia de Castro; DEL-MASSO.; Maria Candida Soares; SANTOS.; Marisa
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Especialização em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, UNESP. São
Paulo. 2014
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Ginástica. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Instituto de
Biociências, Rio Claro, São Paulo, 2010.
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Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES, Juína/MT, v. 4, n. 6, jul./dez. 2021. 9
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Resumo
Na atualidade, as mulheres ainda são estigmatizadas no âmbito esportivo, principalmente no que se refere a prática
das Artes Marciais e Esportes de Combate (AM&EC). No contexto escolar, estudos científicos que tratam da interface
entre Lutas e questões de gênero são escassos. Esta investigação buscou apontar a acepção dos alunos sobre a
participação feminina nas aulas de Lutas na Educação Física. Os estudantes do 3º ano do ensino médio responderam à
um questionário semiestruturado, antes e após, serem submetidos a seis encontros que envolviam aulas teóricas e
aulas práticas subsequentemente, totalizando 140 minutos, cada encontro. O estudo ocorreu no Centro Educacional
Dom Ungarelli, em Pinheiro-MA, numa sala de aula adaptada com Tatame e abrangeu 13 modalidades de Lutas. Os
pais autorizaram-nos a participar, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo excluídos aqueles
que não frequentaram 75% das aulas ou não responderam. Os resultados mostram que, preliminarmente, 150
estudantes que participaram do estudo, 120 consideraram negativa a participação das meninas, pelo risco de se
machucarem; apenas 19 julgaram-nas capazes e 11 com direitos iguais aos meninos. Posteriormente, todos
aprovaram-nas nas aulas de Lutas, 35 confirmaram a capacidade delas e 60 estudantes passaram a reconhecer como
uma prática em que as meninas também tem direito de participar; e destacamos que 55 estudantes perceberam que as
Lutas rompem o preconceito de gênero. Portanto, concluímos que o conteúdo Lutas pode ser uma importante
ferramenta educacional no combate aos estereótipos e preconceitos.
Palavras-chave: Artes marciais; Esportes de combate; Lutas; Educação física escolar; Preconceito; Gênero.
Abstract
Currently, woman are still stigmatized in the sports field. Mainly, in what refers to the practice of Fighting, Martial
Arts and Combat Sports (AM&EC). In the school context, scientific studies dealing with the interface between
struggles and gender issues are scarce. This investigation sought to point out the meaning of student about female
participation in classes of Struggles in Physical Education. The students of the 3rd year of high school answered a
semi-structured questionnaire, before and after being submitted to six meetings that involved theoretical classes and
subsequent practical classes, totaling 140 minutes, each meeting. The study took place at the Dom Ungarelli
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Educational Center, in Pinheiro-MA, in the classroom adapted with fighting mat and covered 13 modalities of Fights.
The parents authorized us to participate, by signing the Free and Informed Consent Form (TCLE), excluding those
who did not attend 75% of the class or did not answer the questionnaire. The results show that, preliminary, of the 150
students who participated in the study, 120 considered negative the participation of girls, because of the risk of getting
hurt; only 19 judged them capable and 11 with equal rights to boys. Subsequently, all approved them in Fighting
classes, 35 confirmed their capacity and 60 students began to recognize it as a practice in which girls also have right
to participate; and we emphasize that 55 students acknowledge that the Struggles break the gender prejudice.
Therefore, we conclude that the content Fighting/Martial Arts/Combat Sports can be an important educational tool in
combating stereotypes and prejudices.
Keywords: Martial arts; Combat sports; Fights; School physical education; Preconception; Genre.
Resumen
En la actualidad, las mujeres siguen estando estigmatizadas en el ámbito deportivo, principalmente en lo que respecta
a la práctica de Luchas, Artes Marciales y Deportes de Combate(AM&EC). En el contexto escolar, los estudios
científicos que aborden la interfaz entre luchas y cuestiones de género son escasos. Esta investigación buscó señalar la
percepción de los estudiantes sobre la participación femenina en las clases de Lucha en Educación Física. Los
alumnos de 3º año de bachillerato respondieron un cuestionario semiestructurado, antes y después, siendo sometido a
seis reuniones que involucraron clases teóricas y prácticas posteriormente, totalizando 140 minutos, cada reunión. El
estudio se llevó a cabo en el Centro Educacional Dom Ungarelli, en Pinheiro-MA, en un aula adaptada con Tatami y
cubrió 13 tipos de peleas. Los padres nos autorizaron a participar firmando el Formulario de Consentimiento
Informado, excluyendo a aquellos que no asistieron al 75% de las clases o no respondieron. Los resultados muestran
que, de manera preliminar, 150 estudiantes que participaron del estudio, 120 consideraron negativa la participación de
las niñas, por el riesgo de lastimarse; solo 19 los juzgaron capaces y 11 con los mismos derechos que los niños.
Posteriormente, todos los aprobaron en las clases de Lucha, 35 confirmaron su habilidad y 60 estudiantes comenzaron
a reconocerla como una práctica en la que las niñas también tienen derecho a participar; y destacamos que 55
estudiantes se dieron cuenta de que las Luchas rompen el sesgo de género. Por tanto, concluimos que el contenido de
Fight puede ser una importante herramienta educativa en la lucha contra los estereotipos y prejuicios.
Palabras clave: Artes marciales; Deportes de combate; Peleas; Educación física escolar; Preconcepción; Género.
1. Introdução
Denotadas como “sexo frágil”, deliberadas aos afazeres domésticos e destinadas à procriação e aos cuidados com a
prole, as mulheres sofreram, exageradamente, as barreiras de um julgamento sexista, impelido por fatores culturais da época
(Beauvoir, 1980; Terret, 2006). As limitações impostas foram estruturadas por esses estereótipos, o que, deste modo,
representava para a sociedade vigente características contrárias às exigências de prática esportiva. Conforme salienta Felipe
(2000), ser simples e discreta eram características intensamente valorizados, possivelmente uma das maiores virtudes nas
mulheres e meninas. Desta forma, a educação das mulheres foi estruturada de forma diferenciada, voltada para a sua
capacidade procriativa e as considerando como subordinadas.
Na atualidade, as mulheres ainda são descriminadas em vários setores da sociedade. No âmbito esportivo, o
preconceito de gênero se faz presente há décadas, e a história da mulher no esporte é pautada pela subversão. Não obstante, o
combate ativo na sociedade e no esporte pela equidade de gênero, se torna, a cada dia, mais efetiva e eficaz (Silva, 2017).
Historicamente, no Brasil, durante a presidência de Getúlio Vargas (1937-1945) e o período da Ditadura Militar
(1964-1985), foram marcados, de maneira abusiva, pelas limitações de possiblidades de articulação das mulheres no Esporte,
haja vista, o vigor do Decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941, que assim determinava: “Art. 54. Às mulheres não se permitirá
a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de
Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país” (Decreto-lei 3.199, 1941).
No final do século XIX e transcorrer do século XX, as mulheres iniciaram suas conquistas por posições mais ativas no
Esporte e, aos poucos, engajaram-se numa área, que há muito tempo lhes havia sido negada e pela qual se mostravam
intensamente seduzidas (Miragaya, 2007). Por consequência, intensificou-se a promoção de eventos esportivos que
repercutiram no aumento do quantitativo de mulheres atletas participantes de modalidades esportivas direcionadas a elas
(Oliveira, 2011).
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Culturalmente, a participação das mulheres nas artes marciais e esportes de combate (AM&EC) era considerada uma
prática anormal, inconveniente e periculosa; ao passo que, para os homens, lhes eram, e ainda são atribuídas as qualidades
necessárias para praticá-las, como a virilidade, a coragem e a força. Discurso este, legitimado a partir da perspectiva biológica
e adotado como estratégia para manter as mulheres afastadas desta prática esportiva (Santana da Silva, 2019).
Ressaltamos que a inserção efetiva das mulheres nas AM&EC, em particular nas Lutas, ocorreu de forma tardia. Os
registros datam a primeira participação das mulheres na Esgrima em 1924, em Jogos Olímpicos (Mourão & Sebastião, 2005).
No Judô, elas iniciaram seu protagonismo a partir de 1992 (COI, 2016). Em 2000, houve a estreia feminina na modalidade
Taekwondo (Pereira & Carneiro, 2016), e em 2004, a Luta Olímpica - Estilo Livre entrou em cena com a disputa feminina
(COI, 2016). Na nobre arte, o Boxe, registrou-se a marcante participação feminina somente no ano de 2012 (Cardoso et al.,
2013). Este “considerável atraso” foi justificado no estudo de Jardim (2018) ao mostrar as Lutas como práticas marcadas pelo
domínio masculino, e portanto, inadequadas ao corpo frágil, delicado e passivo da mulher.
Por ser um tema contestável, o preconceito de gênero, necessita ser discutido na esfera educacional, especificamente,
nas aulas de Educação Física Escolar (EFE), onde encontramos um campo fértil no trato desta temática, em específico, ao eixo
temático Lutas, determinado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na área de Linguagens (Ministério da Educação,
2015). Como afirmam Lima et al. (2017, p. 437-438): “a luta não é um conteúdo com o fim em si mesmo, ela também deve ser
utilizada na abordagem dos temas transversais, já que está diretamente ligada às questões pertinentes ao gênero”.
Evidenciamos, na obra de Rosa et al. (2020), a presença frequente do preconceito de gênero contra
mulheres/alunas/professoras no âmbito educacional através de declarações ofensivas, tais como: marica, bicha, mulherzinha,
afeminado, mulher macho e paraíba; ao passo que, no estudo de Lima et al. (2017, p.438), que tratava do preconceito de
gênero entre alunos do nono ano, nas aulas de Educação Física, registrou-se a persistência na pronúncia da frase: “as meninas
devem praticar balé e os meninos as lutas”, mencionada pelos garotos. Tais atitudes e conotações podem ocorrer em virtude
das consequências culturais, relações escolares, ou ainda, da influência familiar (Rosa et al., 2020).
Neste contexto, Costa (2019) compactuou com uma postura bastante adversa diante de tal situação. Ele defendeu o
pensamento de que atitudes de preconceito de gênero no ambiente educacional deveriam ser discutidas e abolidas. Outrossim,
Rodrigues et al. (2017) alvitrou a possibilidade de se elaborar estratégias para elucidar o papel das Lutas no ambiente escolar e
romper com os estereótipos que, em outros momentos, relacionavam tais práticas como inadequadas ao gênero feminino.
Recentemente, alguns estudos problematizaram as relações de gênero e das sexualidades no cotidiano do currículo
escolar (Da Silva Barros & Queiroz, 2020; Miranda & Dos Reis, 2020; Costa, 2019; So et al., 2018), que culminaram num
atual ataque as discussões de gênero no ambiente educacional.
Estudos atuais se propuseram a verificar o efeito de programas de iniciação as lutas em estudantes no contexto escolar
(Rodrigues et al., 2017; Silva et al., 2019). A desmistificação das Lutas nas aulas de Educação Física Escolar (EFE) se
apresenta como tema emergente (Silva et al., 2020). Firmino e de Souza Ventura (2017) propõe uma análise sistematizada
desta temática na busca pela emancipação da mulher em diferentes modalidades de Lutas. Os autores Silva et al. (2020)
compreendem as Lutas como campo afetivo social que estabelece vínculo entre os envolvidos, por meio de ações e reações
durante o embate. Neste pensamento, os participantes adotam uma postura de confronto, que de forma controversa, promove a
socialização e incita atitudes de perseverança, respeito e determinação. Lima et al. (2017) consideram as Lutas como uma
excelente ferramenta no trato de questões de gênero, na educação formal e informal, na contemporaneidade.
Todavia, na interface entre lutas e gênero, no contexto da EFE, pouco se investigou e se publicou na literatura
científica. Lima et al. (2017) reforçam a carência de pesquisas e novos apontamentos desta temática, principalmente, na esfera
educacional.
Nesta perspectiva, este artigo tem como objetivo verificar a concepção dos alunos a respeito do preconceito de gênero
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diante da participação de meninas nas aulas de Lutas; buscou-se ainda, apontar, se as Lutas promovem inclusão ou a exclusão
de alunos, durante a participação em um bloco de atividades envolvendo diferentes modalidades de Lutas, no ensino médio.
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A Esgrima, que até o século XVIII, era considerada uma atividade bélica destinada ao duelo entre homens e praticada
com enorme veemência entre eles (Alves, 2019), foi proibida para o gênero feminino, em virtude da agressividade que
representava. No início do século XIX, a modalidade passou a ser oficialmente praticada por mulheres, chegando aos Jogos
Olímpicos á partir de 1924 e disseminada a todo público feminino mundial (Mourão & Sebastião, 2005).
No Brasil, muitas mulheres iniciaram sua busca pela independência financeira e autonomia pessoal trabalhando no
comércio, em bancas de rua, açougues e mercados. Entretanto, elas sofriam frequentes tentativas de violência e ameaças. Neste
cenário, surgiram as primeiras menções sobre a participação de mulheres em grupos de Capoeira. A partir deste momento, elas
passaram a ser estereotipadas pela sociedade como mulheres violentas e arruaceiras, confirmando assim, o preconceito de
gênero de caráter cultural que limitou, e ainda limita o público feminino a aderir em diversas áreas de atuação (Oliveira &
Leal, 2009).
Nos anos seguintes percebeu-se uma vagarosa e escassa progressão na participação das mulheres nas AM&EC, em
detrimento a hegemonia e a supervalorização do gênero masculino nas modalidades de combate (Leite et al., 2017).
Neste ínterim, surge uma personagem emblemática, Valdelice Santos de Jesus “Mestra Jararaca”. Em 2001, ela foi
reconhecida como a primeira mulher mestra em Capoeira, e tal fato repercutiu no surgimento de uma personalidade feminina
ativa na sociedade, com o propósito de combater a discriminação e a desvalorização da mulher na sociedade fortalecendo
sobremaneira a autoafirmação da mulher e seu valor na sociedade (Ferreira, 2016).
Ainda hoje, percebemos que algumas práticas de AM&EC continuam restritas ou proibidas ao público feminino,
como é o caso do Sumô, a Arte Marcial mais reverenciada no Japão, local onde as mulheres são oficialmente proibidas de
praticá-lo, pois, para os padrões que o povo ali ostenta, isto representaria “o fim do Sumô” (Ledur et al., 2018).
Na prática do Boxe, as menções revelam que as qualidades anatômicas dos corpos determinavam os direitos, deveres
e possibilidades de movimentação dentro do embate (Louro, 2018). A rotulação de gênero à mulher praticante de Boxe reflete
o efeito de um olhar midiático discriminatório, por considerarem uma prática violenta e bárbara com eminentes riscos à
integridade física da mulher. Infelizmente, o Boxe possui uma hegemonia masculina e uma tardia oficialização da participação
feminina, fato que ocorreu somente em 2012 (Cardoso et al., 2013).
Ao tratarmos das Artes Marciais Mistas (MMA) no remetemos a Jardim (2018) que as compreende como um conjunto
de técnicas de diferentes modalidades de combate, caracterizada por uma prática violenta e agressiva que oferece considerável
risco à saúde do praticante, principalmente, quando se trata de mulheres. Contudo, Silveira e Vaz (2016) sugerem que o
preconceito frente às mulheres se revela, não pelas capacidades esportivas, mas pelos requisitos femininos heteronormativos.
Em aversão a tais pensamentos, salientamos a visão Santana da Silva (2019) ao atribuir a inserção e valorização das
mulheres nas Lutas à expansão do MMA, que por sua vez, foi e é propagado por meio de eventos de grande magnitude
midiática, como o Pride Fighting Championship, fundado em 1997, no Japão; o Cage Warriors Fighting Championship, criado
na Europa, em 2001; o Jungle Fight Championship, originado no estado do Amazonas, Brasil, em 2006; e o Ultimate Fighting
Championship (UFC), nascido em 1993 nos Estados Unidos e reestruturado em 2001, que atualmente, é a maior promotora de
eventos de MMA em todos os continentes. Neste “campo de batalha”, as mulheres estão conquistando e ampliando seu espaço
e reconhecimento, além de deixarem um legado na história das AM&EC construindo a imagem de mulheres aguerridas,
versáteis, determinadas e corajosas (Fernandes, 2015).
Ao romperem as fronteiras da rejeição e da intolerância, as mulheres afrontam o estigma de fragilidade e obediência
imposto pela sociedade e abrem novos caminhos e possibilidades encorajando outras ações de combate ao preconceito de
gênero, fortalecendo assim, a efetivação de seus direitos (Camargo & Kessler, 2017).
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de temas relevantes e diversificados que visam a construção de um ser humano autônomo, crítico e atuante na sociedade.
Assim, a nova semântica das aulas de EFE, deve possibilitar a análise de práticas obsoletas que tornavam a aula excludente, e
promover a quebra de paradigmas, excepcionalmente, quanto ao preconceito de gênero no ambiente educacional.
2. Metodologia
Esta investigação caracteriza-se por um Estudo de Caso (EC), por se tratar de um fenômeno que envolve processos
sociais no contexto educacional. Pereira (2018, p. 70) afirma que EC é propício a quaisquer níveis e modalidades de ensino e
pode abranger professor, aluno e turmas, com algum fenômeno em foco. Neste caso, o estudo será realizado com cinco turmas
do ensino médio. O método qualitativo foi adotado para o estudo por favorecer a interpretação do fenômeno e possibilitar uma
descrição e análise mais aprofundadas dos dados obtidos (Pereira, 2018, p. 66). O estudo tem caráter descritivo, pois revela
detalhes dos fenômenos ocorridos nos dados coletados a partir da aplicação de inquérito por questionário, apontado por Gil
(2008) como uma técnica padronizada de coleta de dados. Pereira (2018, p. 67) sugere a utilização do questionário pela
viabilidade de agregar muitos participantes e por assegurar o anonimato das respostas, e afirma que a formulação de questões
abertas permite aos envolvidos expressarem seus pensamentos acerca do assunto enriquecendo a investigação.
Esta pesquisa foi realizada no Centro Educacional Dom Ungarelli, município de Pinheiro-MA, com alunos do 3ºano
do ensino médio. A amostra foi por conveniência e contou com a participação voluntária de 150 estudantes, conforme mostra o
fluxograma (Figura 1):
Fonte: Autores.
Os responsáveis pelos participantes, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) autorizando-
os assim, a ingressar no estudo. No entanto, os alunos seriam excluídos do estudo caso a frequência nas aulas fosse inferior a 8
aulas, sendo que uma aula correspondeu a 50 minutos de teoria seguidos de mais 50 minutos de prática; ou caso o questionário
não fosse respondido, antes ou após as intervenções. O estudo foi iniciado após autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Maranhão/UFMA, Campus Pinheiro, com o Parecer nº 3.212.643.
A respeito do perfil dos participantes, verificamos a idade,100 deles (66,7%) tinham 16 anos enquanto 50 (33,3%)
tinha 17 anos ou mais. Quanto à classificação por sexo, observou-se diferença mínima no quantitativo entre a participação
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3. Resultados e Discussão
Após realizadas as intervenções pedagógicas obtivemos resultados bastante expressivos acerca da interface entre o
preconceito de gênero em referência a participação feminina nas aulas na EFE. Identificamos, no primeiro momento, a
mudança na compreensão dos estudantes sobre a participação das meninas nas aulas de Lutas, como fator positivo ou negativo,
conforme nos mostra o Gráfico 1:
Gráfico 1 – Percepção dos escolares sobre a participação das alunas nas aulas de lutas.
Fonte: Autores.
Evidenciamos, no momento anterior a intervenção pedagógica, que 120 (80%) estudantes de ambos os sexos,
apontavam como fator negativo, a participação das meninas nas aulas de Lutas; enquanto apenas 30 (20%) alunos entendiam
ser um ponto positivo a presença delas durante as aulas de Lutas na escola. Este olhar demasiadamente negativo e
preconceituoso pode contribuir sobremaneira na inibição e no afastamento das alunas quando se trata deste conteúdo da
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Educação Física.
No estudo de Lima (2017) foi detectada grande resistência em relação a participação feminina nas aulas de Educação
Física no ensino médio, envolvendo 29 discentes, sendo 15 meninas e 14 meninos, numa escola estadual, em Piritiba-BA. Ele
revelou que 89,64% dos discentes avaliaram como negativa a presença ativa das meninas na quadra, enquanto apenas 10,34
avaliaram-na como positiva. Contudo, o conteúdo ministrado foi Futebol e o número de participantes foi consideravelmente
inferior comparado ao presente estudo. No presente estudo, o número de participantes foi cinco vezes superior e a temática
desenvolvida foi um conteúdo atual, inusitado e atraente.
Devemos salientar, no entanto, a transformação ocorrida no pensamento dos estudantes que passaram a compreender a
presença das meninas nas aulas de Lutas como um fator extremamente positivo para todos os envolvidos. Este fato ficou
comprovado ao verificarmos que todos os 150 alunos acolheram a presença feminina nas aulas de Lutas no ambiente
educacional. Assim, destacamos a visão de So et al. (2018) que pregam a construção do conhecimento sobre Lutas,
desarticulando-as de questões sexistas e visando o rompimento de estereótipos de gênero; e ainda sugerem ações com permutas
constantes de duplas e participação simultânea dos envolvidos nas atividades com o propósito de diminuir a sensação de
vigilância e julgamento dos demais, promovendo maior exploração dos jogos de oposição direta entre os oponentes.
Nesta acepção, este estudo corrobora integralmente, tanto no aspecto conceitual quanto na práxis, apresentada pelos
autores supracitados, visto que, o mesmo infringe o preconceito de gênero ao proporcionar aos estudantes momentos de
aprendizado significativo, com alto teor cultural e intercâmbio social. A execução do plano de aula elaborado a partir de uma
proposta curricular, previamente estruturada, e posteriormente, contemplada nos livros didáticos se concretiza no denominado
“Currículo em Ação”, determinado por Sacristán (1998).
O segundo resultado obtido no estudo, enaltece de forma singular o potencial anti-sexista das Lutas em relação a
atuação das meninas durante as aulas de Educação Física. A impressionante transformação no pensamento sexista e
comportamento hostil dos estudantes nos remete à Sacristán (1998) que destaca o papel da educação como elemento de
transformação do aprendiz, ou seja, o aluno processa as informações, adquire e assimila conhecimentos, os internaliza, e então,
passa a analisar e compreender os fatos, discernindo-os, para posteriormente, elaborar suas próprias concepções e adotar nova
postura diante da realidade que o cerca.
No Gráfico 2, enfatiza esta transformação do entendimento dos estudantes após vivenciarem as aulas teóricas e
práticas sobre as AM&EC na EFE.
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Gráfico 2 - Percepção dos estudantes quanto a participação feminina nas atividades de lutas na EFE, antes e após as práticas
pedagógicas.
Fonte: Autores.
O “risco de machucar” foi apontado por 80% estudantes (n=120), como o principal fator negativo relacionado a
participação das meninas nas atividades de Lutas. Nota-se que há um explícito julgamento por parte dos estudantes nesta
afirmativa, pois eles associam a resposta a uma suposta fragilidade e sensibilidade excessivas quanto a integridade física delas,
conforme constatamos em alguns dos testemunhos recolhidos dos alunos: “[...] não é bom elas participar, elas podem se
machucar” (A32); “[...] Isso não pode acontecer, elas são muito sensíveis” (A09).
Neste quesito encontramos fragmentos culturais e tradicionais que desfavorecem a inclusão das meninas nas aulas
com o tema Lutas, revelando um alto grau de intolerância dos integrantes do estudo. Furlan e Santos (2008) afirmam que,
desde o período de introdução dos esportes na EFE no Brasil, os meninos são reconhecidos pela força, hegemonia e poder,
enquanto as meninas são enxergadas como vulneráveis, submissas e dóceis, ou seja, fisicamente inferiores quando comparada
a eles.
Os resultados encontrados na presente investigação corroboram com aqueles obtidos na pesquisa de So et al.(2018),
os quais pretendiam analisar a mobilização das meninas do 7º ano do ensino fundamental, com o conteúdo Lutas, numa escola
municipal, na periferia de Bauru (SP), os resultados apontaram que o medo de se machucar como um fator limitante da
participação feminina, além de revelar uma prática pedagógica docente que reforça a distinção entre meninos e meninas, e
utiliza conceitos e tradições que valorizam o corpo padronizado, fortalecendo atitudes preconceituosas.
O “medo de se machucar” foi confirmado no estudo de Lima (2017) com entrevistas a adolescentes cuja maioria
afirmou não gostar das aulas de Lutas, devido à inferioridade da competência atlética delas quando comparada aos
adolescentes do sexo masculino.
Na pesquisa etnográfica de Uchoga e Altmann (2016), que objetivou entender como se dão as relações de gênero nos
diferentes blocos de conteúdo de EFE, realizado em duas escolas estaduais, do município de Campinas (SP), constatou-se que,
professores de Educação Física, diretores da escola e pais, reforçam preconceitos de gênero clássicos, quando justificam a
ausência das meninas nas aulas, com o discurso do “medo de se machucar”, embora não utilizem este argumento para os
meninos.
A grande maioria dos professores de EFE se prendem nessa prerrogativa para justificar a ausência das AM&EC em
suas aulas; sendo que, neste cenário deveria prevalecer o compromisso do professor no trato pedagógico do eixo temático
AM&EC no exercício profissional, explorando potencial educativo deste conteúdo em prol da formação integral do aluno
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nas lutas todos somos iguais, independente do gênero, todos somos iguais.” (A70). “[...] todos tem que participar, a aula é para
nós e para as meninas também” (A92); “[...] Todos somos iguais, hoje em dia as mulheres também têm o conhecimento sobre
as lutas” (A141).
Os apontamentos supracitados vão ao encontro com o pensamento de Silva et al. (2020) ao ratificar as Lutas enquanto
componente curricular fundamental no processo de eliminação de estereótipos e de promoção da igualdade de direitos nas
aulas de EFE. Santos et al. (2019) declaram a participação das meninas nas aulas de Lutas, como fator confrontante à ideia de
preconceito de gênero e contribui para a emancipação feminina na construção e ampliação do seu espaço na sociedade,
diminuindo a desigualdade de gênero e garantindo o direito de oportunidades a todos (Santos et al., 2019).
Para Reis e Eggert (2017), a Educação é um direito de todos sem subdivisões por orientação sexual ou identidade de
gênero, e reforça o papel dos Estados no papel de oferecer acesso igualitário à Educação e tratamento igual, desenvolvendo
assim, o respeito aos direitos humanos, proteção adequada contra exclusão, violência e discriminação. Todos têm o direito de
viver experiências motrizes, “se movimento logo existo” (Lima et al., 2017, p.441).
Corroborando com esta acepção, Coledam et al. (2014) destacam a relevância da educação conjunta, entre meninos e
meninas, com direito e igualdade de oportunidades entre os gêneros, independente do conteúdo e atividade proposta. No
presente estudo identificamos que as AM&EC favorecem o contato entre os estudantes, dentro de um contexto de regras
acordadas entre os participantes e o professor, e possibilita ainda, não só a participação feminina, mas a interação dos gêneros
de maneira respeitosa e consciente, mesmo no confronto direto entre eles: menina versus menino.
Do resultado crucial da investigação emanou uma nova consciência consolidada pelos estudantes com referência às
Lutas no campo educacional. A concepção formada por eles após as intervenções pedagógicas elucida e robustece as AM&EC
como um elemento indispensável na educação, pois 55 (36,61%) estudantes passaram a compreender e valorizar a essência das
Lutas, por meio dos princípios filosóficos e os valores pessoais agregados à prática de diversificadas modalidades, como uma
ferramenta que contribui substancialmente no combate ao preconceito de gênero, ao afirmarem que as Lutas, literalmente,
“rompem preconceitos”.
Destacamos esta emancipação intelectual ao revelarmos os dizeres alguns discentes: “[...] Chega dessa história que
lutar é coisa de menino e não de menina, chega desse pensamento machista” (A22); “[...] pois mostra que não há espaços para
machismo na educação física e que alguns paradigmas estão sendo quebrados” (A62); “[...] elas são mais interessadas que os
meninos (A88)”; “[...] Fomos incluídas” (A05); “[...] foi bom para eles verem que tem meninas que conseguem lutar”
Romper preconceitos é sinônimo de inclusão. Incluir significa a reestruturação das culturas, políticas, e
principalmente, da prática escolar e docente, muitas vezes elitista e excludente. A luta contra ações sexistas nas aulas de EFE
se concretiza a partir de uma perseverança de ações de inclusão percebidas e internalizadas pelos estudantes no ambiente
escolar e na contextualização de cada temática desenvolvida na aula, propriamente dita (Carvalho, 2019; Silva et al., 2020).
A inclusão social através do desporto remete para o desenvolvimento de competências pessoais, sociais, motoras ou
outras, em que as boas práticas se dirigem à promoção do desporto formativo e privilegia os princípios éticos do desporto e
valores associados junto de crianças e jovens em meio escolar (Marivoet, 2014).
Certificamos, neste estudo, uma expansão e um fortalecimento das relações sociais entre os alunos, principalmente, os
de gêneros distintos. O método adotado durante as aulas de Lutas favoreceu o intercâmbio entre os participantes, pois havia a
necessidade de alternar os componentes a cada confronto, e não era permitido manter a disputa com o mesmo adversário;
impelindo-os a se inter-relacionar, fomentando a construção das redes de sociabilidade.
O estudo de Marivoet (2010) corrobora com os achados da atual investigação, pois ressalta o papel do esporte como
instrumento que vem agregar inúmeras formas de culturas e com grande potencial de aproximação das pessoas. Esta
aproximação leva o indivíduo a socialização, ou seja, a inclusão, e a pessoa constrói uma base de respeito, interação, igualdade,
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aprendizagem.
Tais princípios/valores apreendidos no ambiente de ensino eram replicados em outros espaços sociais, pois, a
estruturação destes valores decorre das relações que se estabelecem ao nível dos valores presentes nos diferentes espaços
sociais, em especial, a “família, os amigos e o clube” desportivo, tendo presente as sociabilidades aí dinamizadas” (Marivoet,
1997, p. 106).
Os estudantes, apesar de se encontrem no mesmo ambiente durante um período considerado suficiente para se
socializarem e estabelecerem maior aproximação, tal fato não ocorre, pois são formados vários subgrupos na turma. Em
contrapartida, as ações executadas nas aulas de Lutas proporcionaram aos alunos momentos peculiares de inter-relação pessoal,
até então, nunca vivenciados.
Nesta perspectiva, Brás (2010) ressalta que o corpo é o instrumento principal dessa cultura de combate durante as
aulas de Educação Física e serve como produto social neste contexto de socialização, e afirma que “o corpo enquanto produto
social tem necessariamente que ser situado no tempo e no espaço, pois estes condicionam a percepção que se tem acerca dele.
É na sociedade que nós buscamos as nossas ideias, é a partir daí que nós criamos o nosso organismo mental” (Brás, 2010, p.3).
Bourdieu (1980) identificou as redes de relações sociais entre indivíduos do mesmo grupo, bem como, a quantidade e
a qualidade de desses relacionamentos e verificou que, as relações estabelecidas entre os indivíduos pertencentes a um
determinado grupo não advêm apenas da partilha das relações objetivas ou do mesmo espaço socioeconómico, mas também
das trocas materiais e simbólicas, cuja instauração e perpetuação pressupõe o reconhecimento dessa proximidade.
Diante deste fato, nos remetemos à Sacristán (1998), por acreditar que todo aprendizado adquirido na escola tem a
função imprescindível de perpetuar no âmbito social, o qual abrande a família e a sociedade, concretizando, dessa forma, a
aprendizagem significativa, caracterizada pelo autor como a aprendizagem que agrega valores e envolve sentimentos que serão
repassados em diferentes contextos educacionais formais e informais.
4. Conclusão
Com base neste estudo de caso, é possível concluir que existe a latência do preconceito direcionado a
mulheres/discentes, arraigado por questões históricas, culturais, sociais e legislativas que marcaram épocas. Considerando os
resultados apresentados, conclui-se que o conteúdo Lutas pode ser uma importante ferramenta educacional no combate aos
estereótipos e preconceitos, reafirmando a necessidade de defender uma educação voltada ao respeito às diferenças,
nomeadamente na EFE, e consequentemente “lutar” para/pela promoção da dignidade da pessoa humana. Os resultados mais
expressivos deste estudo evidenciam que, no período anterior a intervenção os discentes tinham a percepção negativa quanto a
participação das meninas nas aulas de Lutas, bem como grande maioria associava este conteúdo ao risco das meninas se
machucar. Entretanto, após a intervenção os discentes passaram a veiculá-lo, a uma prática onde ambos os gêneros têm diretos
iguais, além de associarem a um instrumento capaz de romper preconceitos e estereótipos, como pode ser observado nos
argumentos dos discentes.
Entendemos que houve algumas limitações na pesquisa como a ausência da descrição rigorosa das aulas ministradas e
a composição amostral abraçar somente os alunos no último ano do ensino médio.
Entretanto, sugerimos que novas investigações sobre a unidade temática Lutas, no âmbito educacional, precisam se
concretizar, tendo em vista o ensino básico no geral, com o propósito de quebrar paradigmas acerca das Lutas e com intuito de
propagar seu potencial educativo.
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Revista Pensar a Prática | ISSN: 1980-6183 DOI 10.5216/rpp.v24.67744
1 O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização.
conteúdo nas aulas. Concluiu-se que as lutas ainda são pouco utilizadas
nas aulas de Educação Física escolar e que a formação de professores é
um ponto chave para a solução dessa defasagem.
Palavras-chave: Educação Física Escolar. Lutas Corporais. Pesquisa
Qualitativa.
Introdução
Métodos
Resultados e Discussão
Figura 1. Divisão das categorias identificadas a partir das falas dos professores
Considerações finais
Referências
Publisher
Universidade Federal de Goiás. Faculdade de Educação Física
e Dança. Publicação no Portal de Periódicos UFG. As ideias expres-
sadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não
representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da
universidade.
O objetivo deste artigo é descobrir como os profissionais de educação física escolar desenvolvem os
procedimentos de ensino e aprendizagem das lutas (Karatê-do, Judô, Taekwondo, lutas associadas) na
diretoria de ensino Público do Governo do Estado de São Paulo (Santos, Bertioga, Cubatão e Guarujá).
Assim o presente estudo tem como objetivos específicos: a) identificar os conhecimentos para as aulas de
lutas; b) se trabalham junto com os PCNs nos blocos de conteúdo; c) quais são as maiores dificuldades.
Participou deste estudo um total de 112 profissionais graduados em educação física. Os dados foram
obtidos por meio de questionário estruturado com perguntas fechadas e de observação de aulas de
Educação Física. Através da análise dos resultados obtidos, pode-se entender como é apresentado às
lutas aos alunos na educação física escolar.
Introdução
As lutas estão cada vez mais presentes no cotidiano sendo muito diversificadas e difundidas em clubes e
do ser humano, e é evidente que elas estão ocupando academias, ou seja, estabelecimentos não formais de
seu espaço na vida das crianças e dos adolescentes ensino3. Tal como indicam Correia e Franchini4, o
nas escolas. Nos dias de hoje, não é raro vermos termo “Luta” designa um investimento diversificado
crianças colecionando figurinhas de super-heróis ou de representações e significados que lhe confere
até mesmo brincando de luta na recreação. Segundo uma dimensão polissêmica. Neste mesmo estudo,
Breda, et al.1 o surgimento das lutas não é possível, os autores também discutem os termos “Artes
uma vez que não se trata de uma ação isolada de um Marciais” e “Modalidades Esportivas de Combate”
homem ou grupo que a propôs, mas, sim, de uma e propõem a expressão “Lutas, Artes Marciais e
construção sociocultural que foi modificado e dando Modalidades Esportivas de Combate (LAMEC)”
novos significados ao longo do tempo. Partindo como um universo amplo de manifestações
do princípio onde todo ataque gera uma ação de antropológicas de natureza multidimensional e
defesa, seja contra uma fera ou um inimigo, a caça complexa. As Lutas, Artes Marciais e Modalidades
ou o combate na guerra, usamos o corpo como Esportivas de Combate (LAMEC), tal como é
armas, de forma organizada como as modalidades indicado pelos mesmos autores, e também no
conhecidas, ou instintiva, emanada da necessidade estudo Fonseca, Franchini e Del Vecchio5, são
do ser humano em proteger o seu próprio corpo2. citadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais –
Podemos dizer também que as lutas são uma das PCN6-8 como conteúdos da Educação Física Escolar
mais elementares manifestações corporais, da qual (EFE), mas pouco desenvolvidas neste contexto,
fazem parte também os esportes, as danças, as e também na Proposta Curricular de Educação
ginásticas, entre outros. No contexto brasileiro, elas Física do Estado de São Paulo9. No entanto, os
estão presentes por meio de variadas modalidades, Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) tornam-
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2019; Jul-Set 33(3):401-412 • 401
Lopes JC, et al.
se importantes ferramentas de auxílio pedagógico tentem levar seus oponentes para fora de um espaço
ao professor de EFE. previamente delimitado; repitam essa atividade com
A definição de lutas que os Parâmetros companheiros mais altos, mais leves, mais fortes
Curriculares Nacionais (PCN’s) adota é a seguinte: levar para desenvolverem estratégias de ataque e
defesa13.
As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) Darido14, ao problematizar a Educação Física
deve(m) ser subjulgado(s), mediante técnicas no Ensino Médio, em um livro com as Orientações
e estratégias de desequilíbrio, contusão, Educacionais Complementares aos Parâmetros
imobilização, ou exclusão de um determinado Curriculares Nacionais, afirmou que:
espaço na combinação de ações que gerem
ataque e defesa. Caracterizam-se por uma Alguns estudantes podem não ter tido
regulamentação específica, a fim de punir anteriormente oportunidades adequadas de
atitudes de violência e/ou deslealdade.(p.70)10 participar de atividades de movimento mais
sistematizadas e organizadas, quer em jogos,
A luta é um dos conteúdos da Educação Física, esportes, lutas, ginásticas, quer em atividades
a ser trabalhado no primeiro ciclo (1ª e 2ª séries) rítmicas e expressivas. Nessas circunstâncias,
e segundo ciclo (3ª e 4ª série), conforme disposto desempenho e eficiência não devem ser
nos PCNs. A partir da abordagem das dimensões radicalmente determinantes.(p.152)14
conceituais, procedimentais e atitudinais, trata-se de
oferecer aos alunos a oportunidade de participação Nas últimas décadas, a educação física vem
em diversos jogos e lutas, respeitando as regras e não passando por mudanças quanto à seleção
discriminando os colegas; a utilização de habilidades dos conteúdos no âmbito escolar, visando o
em situações de jogo e lutas, tendo como referência desenvolvimento de novas experiências corporais
de avaliação o esforço pessoal, e o desenvolvimento e uma habilidade de conviver entre os diferentes
das capacidades físicas durante os jogos e lutas11. aspectos de uma sociedade moderna. Neste caminho
Para o terceiro ciclo (5ª e 6ª séries) e quarto ciclo em seus estudos15 apontam que as aulas de educação
(7ª e 8ª série), a luta e a ginástica compõem o mesmo física no contexto escolar devem promover nos
bloco de conteúdo12. Especificamente sobre a luta, alunos o gosto pela prática de atividades físicas,
os indicativos presentes no PCNs são para abordar: o que depende em muito de vários fatores como
1) aspectos histórico-sociais das lutas: compreensão novos currículos, métodos diferenciados, as
do ato de lutar; vivência da luta no contexto relações intrapessoais e interpessoais e ao estimulo
escolar; 2) construção do gesto nas lutas: perceber empregado pelo professor bem como o foco do
e desenvolver as capacidades físicas e as habilidades aluno. Neste âmbito das diferentes abordagens,
motoras presentes nas lutas; 3) participação em atualmente, nas escolas públicas estaduais do Estado
jogos, lutas, e esportes dentro do contexto escolar de São Paulo, encontra-se a Proposta Curricular
de forma recreativa e, também, forma competitiva; (PC) para educação física baseada na concepção
4) aquisição e aperfeiçoamento de habilidades da “cultura de movimento”. Este enfoque cultural
específicas a jogos, esportes, lutas e ginásticas. ganhou destaque “por levar em conta as diferentes
Algo interessante, previsto no PCNs, para o manifestações dos alunos em variados contextos e
final do quarto ciclo, é a expectativa de o aluno por pregar a pluralidade de ações, sugerindo uma
“adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade relação sobre a noção de desenvolvimento dos
e solidariedade na prática dos jogos, lutas e dos mesmos conteúdos e da mesma forma”(p.42)16.
esportes, buscando encaminhar os conflitos de A PC está vinculada ao documento denominado
forma não-violenta, pelo diálogo, e prescindindo Matriz de Avaliação Processual17, o qual define os
da figura do árbitro”(p.89)12. componentes curriculares da Educação Básica. A
Com relação ao emprego das lutas como um matriz explicita os conteúdos, as competências e
conteúdo das aulas de Educação Física, no Ensino habilidades que devem ser desenvolvidos ao longo
Médio, espera-se que o aluno amplie a compreensão do percurso escolar.
e a atuação nas manifestações da cultura corporal. Ao traçar um paralelo entre a Matriz de Avaliação
Por isso, nesse período, os alunos devem ser Processual (Educação Física) e as lutas, tema desse
desafiados por meio de inúmeras atividades. No artigo, identificou-se o seguinte panorama sobre as
caso das lutas, é possível propor os alunos que: possibilidades para trabalhar o conteúdo lutas nas
402 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2019; Jul-Set 33(3):401-412
Lutas na educação física escolar
aulas de Educação Física: que tais aspectos podem ser encontrados através
• 8ºano Ensino Fundamental – 1º bimestre: da postura social, responsabilidade, respeito,
Conteúdo: luta (judô, caratê, taekwondo, boxe perseverança e determinação nos alunos que
ou outra); princípios técnicos e táticos; principais praticam. Tal fato pode ser explicado, como
regras; processo histórico exemplo, através dos princípios do Taekwondo
Situações de aprendizagem (competência/ como: Cortesia; Integridade; Perseverança, Auto-
habilidade): identificação do conhecimento a controle e Espírito Indomável22.
respeito do conceito de luta Os estudos sobre os saberes docentes, Tardif e
Avaliação processual: reconhecer as diferenças Lessard23 apresentam possibilidades de aproximação
entre uma luta e outra (luta x briga/violência) com a problemática a ser investigada nesta
• 3ª série Ensino Médio – 1º bimestre: pesquisa. Guardadas as características específicas do
Conteúdo: luta – modalidadede luta já conhecida trabalho docente escolar, procuramos demonstrar
pelos alunos: capoeira, caratê, judô, taekwondo, a peculiaridade e as possíveis aproximações que
boxe ou outra o trabalho pedagógico das lutas e artes marciais
Situações de aprendizagem (competência/ apresentam para refletir sobre os saberes docentes
habilidade): conhecendo e vivenciando o boxe operacionalizados pelos mestres no cotidiano. A
Avaliação processual: relacionar imagens à produção do conhecimento fundamentada nestas
denominação dos golpes, técnicas e táticas do boxe; matrizes teóricas, está orientada para construir
identificar preconceito e discriminação na prática discursos sobre a prática pedagógica a partir do
de luta que os autores dizem e fazem para ensinar. Estes
Nota-se que, na PC, o tema lutas está contemplado fundamentos trazem subsídios para compreender
para ser abordado no 8ºano do Ensino Fundamental com maior profundidade as características e as
e na 3ª série do Ensino Médio. fontes dos saberes concretamente mobilizado pelos
Em se tratando da atuação profissional, com a mestres e as possibilidades de transformação da
criação do Conselho Federal de Educação Física prática.
(CONFEF), a maior parte dessas atividades passou As lutas ou modalidades de combate, como
a ser de responsabilidade dos profissionais de também são conhecidas, podem ser trabalhadas
Educação Física e daqueles que comprovadamente nas três dimensões dos blocos de conteúdo, sendo
atuavam com essas atividades antes da criação elas a procedimental que seria o saber fazer, ou
desse conselho profissional18. Assim, Correia e seja, a vivência prática do conteúdo em si; também
Franchini19 descrevem que as discussões em que aparecem às dimensões conceituais que estão
pese sobre o profissional que deve atuar nessa área, ligadas ao saber sobre o que está fazendo, ou seja,
no entanto, é preciso considerar que poucos cursos refere-se a fatos, conceitos, princípios e o próprio
de graduação em Educação Física apresentam contexto histórico pelo qual passou o conteúdo a ser
disciplinas específicas voltadas para as artes marciais estudado; e por último as dimensões atitudinais que
e quando o fazem tratam, quase que exclusivamente estão ligadas às normas, valores e atitudes adotadas
de uma ou duas modalidades, mais especificamente pelos alunos24.
o judô e a capoeira. Dessa forma, o presente estudo traz o seguinte
Sendo assim, as lutas são consideradas um problema de pesquisa: como são trabalhadas as lutas
conteúdo indiscutivelmente importante, por na rede pública de ensino de São Paulo segundo
preparar o aluno para conviver em sociedade, os parâmetros curriculares nacionais? O objetivo
aprendendo a manter o controle do seu corpo foi descobrir como os profissionais de educação
através da sua mente, tornando um cidadão crítico física escolar desenvolvem os procedimentos de
e solidário nos momentos propícios a esta ação. ensino e aprendizagem das lutas (Karatê-do, Judô,
Dessa forma, a cultura humana inserida no âmbito Taekwondo, lutas associadas) na diretoria de ensino
escolar, em particular nas aulas de educação física, Público do Governo do Estado de São Paulo
seria também transmitida através delas, por meio (Santos, Bertioga, Cubatão e Guarujá). Assim o
da evolução histórica, como se pode conferir nas presente estudo teve como objetivos específicos: a)
indicações dos Parâmetros Curriculares Nacionais identificar os conhecimentos para as aulas de lutas;
– PCN’s20. b) se trabalham junto com os PCNs nos blocos de
Ferreira21 relata em seu estudo que as lutas conteúdo; c) quais são as maiores dificuldades que
abrangem aspectos afetivos e sociais, de modo os professionais encontraram.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2019; Jul-Set 33(3):401-412 • 403
Lopes JC, et al.
Método
Em relação aos aspectos éticos, o trabalho questionário, com os 112 participantes, ocorreu
foi submetido e aprovado pelo comitê de ética de forma grupal, por meio de uma Orientação
da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Técnica (OT), reunião de formação continuada
campus de Marília sob o número 5406, junto que visa o desenvolvimento técnico e pedagógico
ao departamento de Ciência da Informação. Os dos professores e coordenadores da Secretaria de
participantes assinaram o Termo de Consentimento Educação do Estado de São Paulo, na qual foi
Livre e Esclarecido. explicada a pesquisa.
O presente estudo trata-se de uma pesquisa 2. Observação de aulas de educação física nas
descrita a qual possui abordagem qualitativa quais foi trabalhado o conteúdo lutas/modalidades
e quantitativa, privilegiando a compreensão de combate: teve o objetivo de identificar como os
dos sentidos e significados da vivência dos professores de educação física desenvolviam as aulas
participantes, em um ambiente específico. Os na temática das lutas. O procedimento de observação
seguintes procedimentos foram realizados para a foi realizado com 51 professores de educação física,
coleta dos dados: dentre os 112 participantes, selecionados em função:
1. Aplicação de questionário: objetivou-se da disponibilidade em participar; da concordância
identificar a opinião dos professores participantes em ter a aula observada; de no momento da
sobre lutas/modalidades de combate na educação realização da pesquisa estar trabalhando com o
física escolar. Para tanto, um instrumento com 13 conteúdo lutas nas aulas e, também, mediante a
perguntas fechadas foi elaborado. O questionário foi autorização da direção escolar. As observações,
encaminhado para três juízes, professores doutores impressões e interpretações, sobre as aulas, foram
com experiência no tema, para avaliar o constructo registradas em um diário de campo, organizado a
das questões e das alternativas de resposta. Além partir de um roteiro dividido em aspectos descritivos
disso, uma aplicação-teste foi realizada com 10 e aspectos reflexivos das observações. O roteiro está
professores de educação física. A aplicação do descrito na QUADRO 1, a seguir:
Aspectos Descrição
Aparência física, formas de vestir, estilo de falar e agir,
1. Retrato do sujeito
maneiras de ser
Desenhos, croquis, fotografias do espaço, dos móveis, das
2. Descrição do espaço fisico/material
paredes, das janelas e portas, elementos nas paredes
Aparência física, formas de vestir, estilo de falar e agir,
3. Descrição dos alunos
maneiras de ser
4. Quantidade de alunos por turma Número de alunos presentes na aula
Aspectos Formas
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Lutas na educação física escolar
Resultados
Nesse estudo fizeram parte 112 professores de mais enquanto apenas 20% disseram ter 32
educação física da rede pública onde 52 (média anos ou menos. A renovação é lenta, temos um
de idade é de 39,6) foram do sexo masculino e professorado maduro, o que por um lado é bom,
60 do sexo feminino (média de idade é de 34,5) pois denota maior experiência e conhecimento
totalizando com média geral de 36,9 de idade. dos procedimentos e conteúdos relacionados ao
Identificamos o maior intervalo de idade entre trabalho em educação. Por outro lado, como a
os participantes a faixa de 30 a 40 anos. Em renovação é pequena, motivada por fatores como
pesquisa feita pela Fundação Lemann e o Instituto baixos salários, condições inadequadas de trabalho
Ibope Inteligência juntamente a professores de e baixo reconhecimento social.
escolas públicas brasileiras espalhadas por todo Em se tratando pelo tempo de carreira como
o território nacional25 diz que a média de idade professor, na FIGURA 1, observamos que a
dos professores brasileiros é de 40,8 anos. No maioria dos professores tem mais de sete anos
tocante a faixa etária dos docentes, onde há como profissional graduado, trazendo assim uma
uma preocupação quanto ao fato de que 80% experiência na profissão muito grande na área de
dos professores pesquisados terem 33 anos ou educação física escolar.
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Lopes JC, et al.
Segundo dados da Prova Brasil26 onde 34% dos as IES públicas são de período integral e por último
professores no Brasil tem sua formação a mais de 7 a maior facilidade de disputa de ingresso no ensino
anos confirmando nossa pesquisa. As licenciaturas superior28.
são cursos que, pela legislação, têm por objetivo Os PCN’s propõem uma reorganização para
formar professores para a educação básica: educação a educação física, no que se refere ao currículo,
infantil (creche e pré-escola); ensino fundamental; trazendo o movimento como um aspecto central.
ensino médio; ensino profissionalizante; educação Como componente curricular da Educação Básica,
de jovens e adultos; educação especial25. Neste a educação física começa a ser pensada de forma
caminho a formação de professores profissionais para integrada, valorizando o corpo e a mente dos
a educação básica tem que partir de seu campo de alunos. Nesse contexto, os PCN’s29 explicam que
prática e agregar a este os conhecimentos necessários instala-se um novo ordenamento legal na proposição
selecionados como valorosos, em seus fundamentos da atual Lei de Diretrizes e Bases, que orienta
e com as mediações didáticas necessárias, sobretudo para a integração da Educação Física na proposta
por se tratar de formação para o trabalho educacional pedagógica da escola.
com crianças e adolescentes27. Já, na FIGURA 2, tínhamos como perguntas
Podemos observar que a grande maioria dos a relação entre teoria e prática nos conteúdos
professores é oriunda de Instituição de Ensino da luta, utilização dos PCN’s no quesito luta, e
Superior (IES) particulares. Podemos dizer que se houve subsídios suficientes para os diversos
a escolha pela IES privada envolve vários fatores, conteúdos dos blocos. A grande maioria das
dentre eles: número do aumento delas de 197% respostas foi de pouca utilização. Assim estas três
em relação a 18% das públicas, uma maior perguntas nos mostram que mesmo nos últimos
disponibilidade de financiamento (FIES/ProUNI), 5 anos da entrada das lutas na grade curricular
o aumento das IES privadas nas maiorias dos estados das IES ainda existem uma lacuna muito grande
brasileiros, a maioria dos jovens brasileiros começam entre a teoria e a prática bem como organização
a trabalhar cedo, estudando no período noturno. Já das possibilidades das lutas.
FIGURA 2 -Proposta pedagógica dos conteúdos voltados para lutas dentro dos PCN’s.
Observamos que a maioria dos professores teve modo que possa efetivamente garantir a formação
em suas aulas sobre lutas na parte conceitual que do cidadão a partir de suas aulas de Educação Física
traz como informações as definições, história, escolar. A aprendizagem dos conteúdos conceituais,
regras, curiosidades e modelos de competições. procedimentais e atitudinais não se realizam,
Para garantir um ensino de qualidade além de nem se efetivam separadamente, mas por inter-
diversificar os conteúdos na escola é preciso relações30. Partindo deste princípio, vale ressaltar
aprofundar os conhecimentos, ou seja, tratá- também que os professores além da sua formação
los nas três dimensões, abordando os diferentes profissional em educação física, estes possuem ou
aspectos que compõem as suas significações. Esses não conhecimento e experiências sobre as lutas,
conteúdos não devem ser ensinados e aprendidos uma vez que para ser trabalhado determinado tipo
pelos alunos apenas na dimensão do saber fazer de conteúdo, torna-se necessário tal conhecimento
(dimensão procedimental dos conteúdos), mas de técnicas específicas das modalidades de combate
devem incluir um saber sobre esses conteúdos (Judô, Karatê, Taekwondo, lutas associadas) que
(dimensão conceitual dos conteúdos) e um saber envolvem golpes e métodos de como ensiná-lo sem
ser (dimensão atitudinal dos conteúdos), de tal o perigo de contusão entre os participantes.
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Lutas na educação física escolar
Na FIGURA 4 se trata da relação de como os caso ele não tenha nenhuma experiência e formação
professores trabalham a parte teórica, já que a específica em algum tipo de luta, menos conteúdo
mesma resume o conteúdo da própria formação prático ele conseguirá apresentar, encontrando
nas IES, onde a parte conceitual pode abranger tal situação, o professor poderá evitar acidentes
a história e as regras, são as mais trabalhadas, com sua prática inadequada, concentrando apenas
justamente por ser mais fácil ao conhecimento nas histórias e regras de algumas modalidades de
da informação através da internet ou de sites combate, conforme mostra o gráfico a seguir.
específicos. As teorias cognitivas parecem se adequar Na FIGURA 5, as perguntas vão em direção
melhor às necessidades dos educandos e dos de como a escola contribui na parte de estrutura
educadores, uma vez que trabalham diretamente e qual a dificuldade nas aulas para serem
com os pontos de ancoragem dos alunos, visando ministradas, assim, observamos que a metade das
à organização e estruturação da matéria de escolas dão estrutura e que a maior dificuldade
forma eficiente e significativa para o aprendiz. A vista pelos professores é a participação das
aprendizagem significativa processa-se quando um aulas pelos alunos, talvez esta também pode
novo conteúdo é correlacionado a estes pontos de ser entendida pela dificuldade dos docentes em
ancoragem, havendo, portanto, a necessidade do lidar com as lutas e falta de experiência prática
professor estruturar o conteúdo a ser passado de destes em transmitir o conteúdo, podendo
modo progressivo, em situações mais simples para desencadear um baixo entusiasmo pelos alunos
situações mais complexas. Assim quanto maior por apresentarem pouco conteúdo prático, além
informação sobre o conteúdo das lutas o professor da falta de planejamento das aulas. Podemos
apresentar, maior será seu empenho e dedicação entender os tópicos citados, mais ainda, quando
para o conhecimento do assunto, já que o mesmo citamos outros tipos de problemas que podem
terá que transmitir o conteúdo aos seus alunos, estar inseridos na categoria outros.
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A seguir, na FIGURA 6, analisamos que quando o que pode ser observado nos cursos de formação
se fala em capacitação, a maioria entende que deve é que as disciplinas teóricas não são trabalhadas
ser composta por parte teórico-prática para um em conjunto com a prática, é que se mostra na
melhor aproveitamento, onde os professores possam FIGURA 6. Quando se procura relacionar a teoria e
ter condições de conduzir cada vez mais suas aulas a prática, geralmente é de maneira superficial através
com excelência e satisfação aos alunos. Entendemos de conceitos amplos ou através de pesquisas na qual
que a formação dos professores os conhecimentos tem como referência uma comunidade diferente da
teóricos e práticos são muito importantes, porém qual ele irá exercer a profissão.
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Lutas na educação física escolar
os banheiros não ficam próximos, bem como os lados da quadra ou um dos lados específicos
a hidratação com água também. Em algumas devido à luz ou à chuva e somente pouco preferem
quadras existem uma mini arquibancada e somente ficar sentados.
um espaço foi adaptado para as lutas numa sala. No quesito “satisfação dos alunos” classificou-se
Quanto ao material nenhum dos professores possui da seguinte forma: grande parte de alunos satisfeitos,
algo que podemos aproximar da especificidade de outra grande parte de alunos parcialmente
determinada luta. satisfeitos, que faziam com vontade, alegria e
Quanto a “descrição dos alunos” eram prazer, e somente uma pequena porcentagem de
adolescentes de ambos os sexos que, na grande não satisfeitos, que geralmente eram os que não
maioria, estão trajados de forma apropriada não queriam fazer nenhuma atividade e ficavam sem
totalmente para as aulas de educação física, mas nenhum esforço ou motivação.
para o contexto escolar. Como analisamos a faixa Na “metodologia do professor”, identificou-se
etária que envolve de 15 a 17 anos, vemos que todos a organização da aula em três momentos sendo
têm seus grupos de referências e escolhas pessoais. que, a maioria dos professores, num primeiro
No quesito “quantidade de alunos por turma e momento, realizou uma conversa sobre o que seria
o tempo de aula” as turmas tinham um número a aula com suas explicações e alguns fez algum tipo
aproximado de no mínimo 35 alunos e no máximo de aquecimento ou alongamento para início das
45, com a presença de um único professor de atividades. Num segundo momento eram feitas
educação física. Sendo que as aulas tinham o tempo as atividades especificas voltadas para as lutas e no
máximo de 50 minutos onde podem ser aulas último momento havia a volta à calma e alguns
duplas e divididas o mesmo número em outros realizam uma reflexão com conversa entre os alunos
dias da semana. sobre o que sentiram.
Quanto aos aspectos reflexivos estes foram No último quesito a “criação de novas atividades
direcionados para a visão do pesquisador na forma em lutas pelo professor” observou-se que quase
que o professor de educação física realizava a aula 24% dos professores que faziam as atividades
voltada para as lutas. que estavam em seus livros didáticos e que, mais
Quanto ao “posicionamento do professor da metade, realizava ou criava atividades novas
no espaço da aula” observou-se que a maioria das seguintes maneiras: apostilas com desenhos,
se posicionou de frente aos alunos, pois veem e confecção de materiais, filmes, imitação de animais
podem ser vistos pelos alunos, outros preferem e reflexões sobre o comportamento.
Discussão
Dentre os dados analisados no presente trabalho, Exclusão dos menos hábeis; Preferência pela bola
foi possível citar dificuldades que os professores de sempre para os meninos. Outros fatores que estão
educação física possam vir a ter ao submeter-se a interligados com a falta de interesse das meninas
uma proposta pedagógica das lutas na escola, uma pelas aulas de educação física, segundo Alves34 a
delas é a auto exclusão de alunos do sexo feminino metodologia de ensino inadequada, conteúdos que
no ensino médio. Andrade e Devide33, realizaram não favorecem a aprendizagem, falta de interação
um estudo com alunos do sexo feminino no ensino entre o professor e aluno, postura desinteressada do
médio que frequentavam as aulas de educação educador, falta de coordenação de área, orientação,
física. Os autores ressaltaram que muitos motivos supervisão ou até mesmo a direção da escola junto
podem contribuir para a exclusão dessas alunas nas a ausência sobre o real papel da educação física no
aulas de educação física, como: ambiente físico contexto escolar que identifique o professor. Tais
inadequado (quadras pequenas e sem vestiários); fatores entre os alunos contribuem para a falta de
aulas frequentemente repetitivas e desorganizadas; disciplina entre os mesmos e com a escola.
falta de habilidades e desprazer com os esportes Antunes35 relata que: “A indisciplina quase
oferecidos; brutalidade masculina; professores de sempre emana de três focos: a escola e sua estrutura,
educação física que não participavam das aulas; o professor e sua conduta e o aluno e sua bagunça”35.
Desigualdade de habilidades do sexo oposto; Com esta linha de raciocínio, Pereira36 descreve que
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Lutas na educação física escolar
física escolar, proposto pelos PCN’s e como parte brasileira e da valorização de uma área que ainda
integrante do currículo do Estado de São Paulo hoje se encontra desvalorizada que é a Educação
poderiam ser mais desenvolvidas nas aulas. Física escolar. Por meio de sua atuação, o professor,
Com isso, vale ressaltar que a Educação Física pode reiterar a relevância do papel da Educação
deve ter sua responsabilidade social pautada na Física na escola e atender a seu compromisso de
ética, para dessa maneira assumir o seu papel maneira sublime e com qualidade, afirmando seu
de corresponsável pela qualidade da educação valor como educador/educando.
Abstract
Fighting sports in physical education: methodology based on the Brazilian curricular guidelenes - PCN
The aim of this paper is to find out how professionals in physical education develop teaching procedures
for fighting education (Karate-do, Judo, Taekwondo, and related fighting) in public schools of São Paulo
state (Santos, Bertioga, Cubatão and Guarujá). The specific objectives of this study are: a) to identify the
knowledge for fighting classes; b) if the work together with PCN’s in the content blocks; c) to find out the
major difficulties. A total of 112 professionals holding undergrad degrees in physical education participated
in this study. The data was collected using a structured questionnaire with closed questions and capacity
(a total of 8 hours). Through the analysis of the results, how fights are presented to students in school
physical education is understood.
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endereço de correspondência:
Camilo Antonio Monteiro Bueno
Av: Hygino Muzzi Filho, 737
Marilia - São Paulo – BRASIL Submetido: 07/06/2016
CEP: 17525-900 Revisado: 11/01/2018
E-mail: bueno.camilo@gmail.com Aceito: 07/05/2018
412 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2019; Jul-Set 33(3):401-412
LUTAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO
CENÁRIO DA PRÁTICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Resumo Abstract
A sistematização do tema/conteúdo The systematization of the topic/
de lutas para a disciplina de content of wrestling for the subject
Educação Física escolar é uma of Physical Education at school is a
carência desta área de estudo. deficiency of this area of study. This
Este fato é considerado por alguns fact is considered by some teachers as
professores como restritivo ao trato limited to the pedagogical treatment
pedagógico deste tema/conteúdo. of such topic/content. We understand
Entendemos ser possível contrapor that it is possible to oppose such
esta suposta restrição, considerando: alleged limitation by considering: our
nossa concepção sobre a função da understanding of the function of Phy-
Educação Física escolar; um projeto sical Education at school, a curricu-
curricular de Educação Física; os lum for the suject, the time at school,
tempos escolares e as características and the characteristics of the student
do educando em cada etapa. Assim, in every phase. Thus, this topic/
este tema/conteúdo se justifica e pode content appears justified and can be
ser organizado, edificando-se uma organized by building a grounding so
base para que futuras intervenções that future pedagogical interventions
1 Prof. Licenciado em Educação Física - UNICRUZ/Cruz Alta-RS, Mestre em Educação nas Ciências
- UNIJUI/Ijuí-RS. Prof. Curso de Educação Física - UNIJUI/Ijuí-RS e do Curso de Educação Física
- URI/Santo Ângelo-RS. Contato: paulonascimento@urisan.tche.br
Ano XX, n° 31, dezembro/2008 37
pedagógicas tornem possível a sua make its presence and study in the
vivência e estudo no âmbito escolar. educational sphere possible.
Introdução
2 Para efeito de organização consideramos neste estudo as faixas etárias que dizem respeito a cada
etapa escolar, dentro de uma regularidade, embora não desconhecemos totalmente a realidade
encontrada no Brasil, que devido à repetência ou atrasos de aprendizagem faz com que alunos
de faixas etárias avançadas permaneçam em etapas escolares que, teoricamente, já deviam ter
sido superadas. Porém, em casos como estes, acreditamos que a necessidade passa a ser de (re)
adequarmos conteúdos, ou as formas de trabalhar estes conteúdos, procurando respeitar os tempos
de vida dos educandos (ARROYO, 2004).
38
Categoria Motricidade
4 Ao exemplificar neste estudo (com o auxílio da literatura), como referência, alguns possíveis
conteúdos de ensino, não houve a preocupação em esgotá-los, nem em citá-los e classificá-los nas
dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. Cada professor, estudioso do tema, poderá
aprofundá-los e classificá-los de acordo com seus objetivos e planejamentos.
44
5 Segundo Sbórquia e Galhardo (2006), é possível abordar conteúdos de Educação Física através de
vivências. Nessas situações, “o interesse pedagógico não está centrado no domínio técnico dos
conteúdos, mas no seu domínio conceitual, na perspectiva de um saber sistematizado que supere o
senso comum, inserido num espaço humano de convivência, em que possam ser vivificados aqueles
valores humanos que aumentem o grau de confiança e de respeito entre os integrantes do grupo”.
6 Não é descartada a possibilidade de vivência de outras modalidades de luta, como a esgrima,
por exemplo.
46
7 Em conversa pessoal, um professor de Karatê, ao relatar como havia chegado até sua iniciação
nesta prática, explicou que inicialmente realizara uma observação duradoura, em várias academias
de Karatê, até se decidir a respeito daquela que mais lhe agradasse e combinasse com o conceito
que tinha desta luta. Tal atitude presume um conhecimento e posicionamento prévio a respeito do
Karatê por parte do professor citado, o que de certa forma lhe deu capacidade de julgamento. Se
a pessoa não tiver o mínimo de acesso e leitura crítica a respeito daquilo que se coloca para sua
apreciação, daquilo que está a praticar ou do que um dia poderá se tornar aprendiz, como no caso
de alguma prática de luta, será mais fácil de ser levada por modismos, aparências e estimulações
da mídia. Sabemos também que há certo descontrole na proliferação das chamadas “academias
de luta”, assim como uma gama enorme de atribuições de significados a estas práticas, que nem
sempre estão relacionadas a comportamentos sociais, considerados mais aceitáveis, ou a uma
relação mestre x discípulo das mais sadias. Esta estimulação do senso crítico, acreditamos, deva
fazer parte do trabalho pedagógico do professor de Educação Física.
48
ARTIGO ORIGINAL
DOSSIÊ LUTAS
RESUMO
Esta pesquisa buscou verificar quais são as consequências de uma experiência de formação colaborativa, nas concepções de
professores acerca da abordagem das lutas nas aulas de educação física escolar. Para tanto, operou-se metodologicamente
com a realização de uma pesquisa-ação com quatro docentes de Educação Física que atuam em escolas públicas no interior do
Rio Grande do Sul. Os professores, juntamente com um dos pesquisadores, constituíram um grupo de estudos que se reuniu
semanalmente em oito encontros, com o intuito de refletir sobre a abordagem das lutas na educação física escolar. Os resultados
indicam que, inicialmente, os professores não se sentiam em condições de tematizar as lutas na escola. Especialmente, porque
não tiveram um componente curricular específico em sua formação inicial. No entanto, após a realização do estudo, os docentes
compreenderam que é possível trabalhar com as lutas nas aulas de educação física. Os principais fatores que geraram essa
alteração foram o estudo dos jogos de lutas e sua classificação com base nas distâncias, a produção de tarefas durante os
encontros e a vivência corporal nas reuniões.
PALAVRAS-CHAVE: Lutas; Educação Física escolar; Pesquisa-ação.
ABSTRACT
This research sought to verify the consequences of a collaborative training experience, in the conceptions of teachers about
the approach of the struggles in the School Physical Education classes. For that, it was operated methodologically with the
accomplishment of an action research with four physical education teachers who work in public schools in the interior of
Rio Grande do Sul (Brazil). The teachers, together with one of the researchers, constituted a study group that met weekly in
eight meetings, in order to reflect on the approach of the struggles in physical school education. The results indicate that,
initially, the teachers did not feel able to thematize the struggles in the school. Especially, because they did not have a specific
curricular component in their initial formation. However, after the study, teachers understood that it is possible to work with the
struggles in physical education classes. The main factors that led to this change were the study of the games of fights and their
classification based on distances, the production of tasks during the meetings and the corporal experience in the meetings.
KEYWORDS: Fights; School Physical Education; Action research.
INTRODUÇÃO
As lutas corporais1 fazem parte da cultura corporal do brasileiro e, atualmente, são bastante difundidas
pelos meios de comunicação (televisão, jornais, rede mundial de computadores, entre outros). Os microdados
do suplemento de “Práticas de esporte e atividade física”, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(IBGE, 2017) permitem estimar que, entre as pessoas que declaram praticar esporte ou atividade física, 1,7%
praticam “lutas/artes marciais”.
Nessa linha, os eventos de luta na mídia, as propagandas das academias e dos clubes, os inúmeros
filmes com a temática, são cada vez mais comuns. Além de seu caráter contemporâneo e midiático, Rufino e
Darido (2015, p. 22) destacam a característica histórica e cultural das lutas afirmando que “[...] são práticas
historicamente importantes e que acompanharam os seres humanos ao longo do tempo, sendo umas das mais
elementares manifestações [da] cultura”.
Nesse sentido, entendemos que a escola – mais precisamente a Educação Física – precisa assumir a
responsabilidade de tematizar essa prática corporal histórica, como tema de ensino, conforme consta nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017) e é
defendido por vários autores (BETTI, 2013; GONZÁLEZ; FRAGA, 2012, entre outros). No entanto, o ensino das
lutas nas aulas de Educação Física escolar é algo bastante raro, uma vez que a maioria dos professores não o
desenvolve (MATOS et al., 2015; RUFINO; DARIDO, 2011). Com isso, “[...] há um distanciamento entre o que
é previsto para se ensinar e o que é efetivamente ensinado nas escolas” (MATOS et al., 2015, p. 119), mesmo
com o aumento das investigações sobre as lutas e as artes marciais nos últimos anos (HEROLD JÚNIOR, 2016).
Desse modo, as lutas se constituem como um dos temas da Educação Física escolar que encontram
maior resistência por parte dos professores, havendo preconceitos em relação ao seu ensino. Segundo Matos
et al. (2015), os preconceitos se relacionam com a falta de espaço, vestimentas e materiais adequados e,
também, pela associação às questões de violência. Sobre isso, Rufino e Darido (2015, p. 57) afirmam que “[...]
os preconceitos estão cristalizados, o que torna ainda mais difícil significá-los. Nesses casos, será necessário
‘lutar’ para quebrar determinados paradigmas que possam prejudicar o ensino das lutas na escola”.
Alguns desses preconceitos, relacionam-se com o fato de a formação inicial encontrar dificuldades
para assegurar aos professores condições efetivas de trabalho com essa temática. Afinal, “apesar da previsão
curricular oficial e da inclusão da discussão sobre lutas na formação de professores [...]” (RUFINO; DARIDO,
2015, p. 120), muitos docentes alegam que não tiveram um componente curricular acerca do assunto no
período de graduação em Educação Física. Outros, mesmo tendo, não se sentem preparados para desenvolver
o seu ensino para os alunos (MATOS et al., 2015).
Sobre as fragilidades da formação inicial em Educação Física, Castellani Filho (2011) entende que a
maioria dos cursos ainda tem uma lógica de formação profissional do século passado, o que dificulta uma
evolução da área no Brasil. Na mesma linha, Zeichner e Diniz-Pereira (2005, p. 66) alertam para os limites
da graduação, apontando que “não podemos confiar apenas no conhecimento gerado na universidade para
formação profissional [...]”. Segundo os referidos autores, é possível “[...] no máximo formar profissionais para
iniciarem sua prática” (ZEICHNER; DINIZ-PEREIRA, 2005, p. 66).
A quase inexistência do ensino das lutas nas aulas de Educação Física ganha um reforço na pouca
produção científica sobre o tema. Num estudo realizado por Correia e Franchini (2010), os autores constataram
que dos 2.561 trabalhos acadêmicos publicados em periódicos nacionais, entre 1998 e 2008, apenas 75, ou
seja, menos de três por cento, abordavam a temática das lutas.
Neste cenário, perece fundamental a realização de investimentos que contribuam para uma alteração
na concepção dos professores sobre o ensino das lutas na Educação Física escolar. Particularmente, a pesquisa-
ação tem sido apontada como um tipo de investigação bastante eficaz para o estudo com professores (BETTI,
2013; TRIPP, 2005). No entanto, em relação ao tema “lutas”, parecem raros os estudos colaborativos que se
1
Segundo Correia e Franchini (2010, p. 1) “o termo ‘Luta’ de forma recorrente e dinâmica implica um investimento diversificado de representações e
significados, o que por sua vez, lhe confere uma dimensão polissêmica. Como exemplificação, temos as noções de lutas de classe, dos trabalhadores,
pelos direitos da mulher, pela vida e outros mais”. Neste estudo, utilizamos o termo luta nos referindo a lutas corporais que são práticas geralmente
individuais e que apresentam características de enfrentamento físico direto entre adversários, com regras que conduzem as ações realizadas em um
ambiente estável e sem interferências naturais (RUFINO; DARIDO, 2015).
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Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com professores de educação física 101
dedicam a tentar uma alteração na situação atual2. Inquietados por esse contexto, realizamos uma investigação
que tem como objetivo verificar quais são as consequências de uma experiência de formação colaborativa, nas
concepções de professores acerca da abordagem das lutas nas aulas de educação física escolar.
MÉTODOS
A presente pesquisa está pautada em uma abordagem qualitativa. Especificamente, trata-se de uma
pesquisa-ação, “[...] pesquisa na qual as pessoas envolvidas têm participação ativa, e na qual há uma exigência
de conhecimento a ser produzido” (BETTI, 2010, p. 142). De acordo com Thiollent (2011, p. 20), trata-se de
[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação
com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Os sujeitos participantes deste estudo foram quatro professores, com formação em Educação Física,
que atuam em escolas de uma cidade da região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Os educadores, dois
homens e duas mulheres, juntamente com um dos pesquisadores, formaram um grupo de estudos. A seguir
descrevemos um breve histórico dos docentes.
- Professor A3: 44 anos, concluiu o curso de graduação em 1998. Atua como docente há 15 anos. Tem
mestrado em Ciências da Educação.
- Professora B: 29 anos, concluiu o curso de graduação em 2010. Atua como docente há dois anos.
- Professora C: 38 anos, concluiu o curso de graduação em 2000. Tem especialização em Educação Física
escolar e mestrado em Ciências do Movimento Humano. Atua como docente há dez anos.
- Professor D: 33 anos, concluiu o curso de graduação em 2009. Atua como professor há três anos. Possui
especialização em Fisiologia do Exercício.
2
A dissertação de mestrado de Rufino (2012b) é um dos escassos estudos.
3
Visando a preservar a identidade dos participantes da investigação, seus nomes foram substituídos pelas letras A, B, C e D. Cabe ressaltar que os pro-
fessores autorizaram a divulgação dos resultados da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
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102 Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com professores de educação física
O processo de investigação ocorreu durante oito encontros do grupo de estudos, uma vez por semana,
com duas horas de duração cada dia. Durante as reuniões se procurou criar um clima de confiança, na tentativa
de que os docentes se sentissem confortáveis em dialogar e expressar suas opiniões sobre os assuntos
relacionados ao ensino das lutas na Educação Física escolar. Especificamente, os integrantes do grupo se
reuniam numa sala e dialogavam sobre suas concepções acerca do desenvolvimento das lutas como tema de
ensino da Educação Física. Para facilitar a compreensão do que foi realizado, apresentamos o Quadro 1 com a
síntese dos assuntos tratados nos encontros.
Como recursos para a produção de dados foram utilizados: a) as gravações dos encontros do grupo
de estudos, posteriormente transcritas na íntegra; b) anotações e proposições didáticas elaboradas pelos
docentes, recolhidas ao final das reuniões; c) um questionário sobre o contato com lutas na formação inicial;
d) registros sobre o desenrolar dos encontros, realizados no diário de campo do pesquisador.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para aferir os resultados do estudo, utilizamos uma análise de conteúdo com base em Silverman (2009).
Este autor entende que nesse tipo de análise os pesquisadores estabelecem uma série de categorias definidas,
de modo que, na pesquisa qualitativa, utilizam-se trechos e recortes não tabulados que ilustram categorias em
especial.
Nessa perspectiva, organizamos os resultados em um conjunto de três categorias: (1) o desconhecimento
sobre o ensino das lutas; (2) a relação entre o entendimento do papel da Educação Física na escola e o sentido
atribuído pelos professores aos assuntos/conteúdos estudados; (3) a mudança de concepção dos docentes
sobre o ensino das lutas na Educação Física escolar.
Acerca da primeira categoria, interpretamos que os professores não se consideravam em condições de
desenvolver o tema lutas nas aulas de Educação Física escolar, como se identifica na seguinte fala: “Não tenho
ideia de como ensinar lutas” (Prof. B). O principal motivo apontado por eles é que não tiveram um componente
curricular sobre lutas na formação inicial, pois entendem que seria essencial para ter ao menos uma base de
como trabalhar com essa temática na escola. Esse resultado é semelhante ao encontrado por Matos et al.
(2015), pois dos 26 entrevistados em seu estudo a maioria não cursou um componente curricular relacionado
as lutas na formação inicial.
Assim, é possível pensar que, em boa medida, a graduação não lhes ofereceu condições efetivas para
o ensino dessa temática, como se percebe nas seguintes locuções: “Metodologia das lutas, agora faz parte
do currículo, mas na minha época era optativa, então você não tem um conhecimento das lutas, eu nunca
ia dar aula de lutas, se eu nunca tive uma vivência, nunca soube ensinar” (Prof. C); “Essa proposta é bacana,
é interessante... Eu consegui só agora vivenciar com nosso grupo de estudos as lutas” (Prof. B). Esse achado
é idêntico ao encontrado por Lima (2018), uma vez que o principal motivo apontado pelos professores
participantes de sua pesquisa para não abordar lutas em suas aulas, vincula-se ao fato de não terem cursado
uma disciplina em sua formação inicial que ofereceu saberes suficientes para o ensino na escola. Na mesma
linha, Saldanha (2018) identificou que apesar de os docentes considerarem importante o ensino das lutas na
Educação Física, eles não desenvolvem o tema em suas aulas, pois não se sentirem preparados, apontando que
a graduação não lhes ofereceu os conhecimentos necessários.
Outras evidências sobre isso, são as respostas dos professores no questionário preenchido no segundo
encontro de estudos, em questões relacionadas ao contato com o tema lutas na graduação em Educação Física,
como se observa no Quadro 2.
Analisando a segunda categoria, foi possível identificar que o sentido atribuído pelos professores aos
assuntos estudados nos encontros tem relação direta com o entendimento deles sobre o papel da Educação
Física na escola. Dessa forma, para os docentes A e C – que têm atuações pautadas no entendimento de que a
4
Os assuntos foram propostos com base em González e Bracht (2012), González e Fensterseifer (2009, 2010), Rufino (2012a) e Rufino e Darido (2015).
Também, levamos em consideração a sugestão de Matos et al. (2015, p. 117): “[...] que as formações privilegiem as abordagens estruturadas em simi-
laridades e nos princípios das Lutas”.
5
González e Bracht (2012, p. 77) definem tarefa como “[...] o trabalho, ou atividade indicada pelo professor (eventualmente auto sugerida) a ser execu-
tada pelos alunos, que envolve dificuldades, esforço e/ou prazo determinado”.
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Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com professores de educação física 103
Educação Física é um componente curricular responsável por tratar dos diversos temas da cultura corporal de
movimento e por uma proposta de trabalho organizada em conteúdos curriculares e unidades didáticas – os
assuntos estudados foram compreendidos como mais um elemento para inserir na pluralidade de temas que
eles já desenvolvem, visando o aprendizado dos alunos.
Quadro 2. Respostas dos professores a questões relacionadas ao contato com o tema lutas na
graduação em Educação Física.
Professor Respostas dos professores
3) Na sua formação universitária existia uma disciplina específica sobre lutas? Não.
A 4) Como foram trabalhados os conteúdos de lutas na sua graduação? (...)5
5) O seu curso de graduação ofereceu condições para que você inclua a luta em suas aulas? Por quê? (...)
3) Na sua formação universitária existia uma disciplina específica sobre lutas? Não fiz nenhuma disciplina de
lutas.
4) Como foram trabalhados os conteúdos de lutas na sua graduação? Não foram trabalhados, pois não fiz
B nenhuma disciplina, mas lembro que tinha como optativa.
5) O seu curso de graduação ofereceu condições para que você inclua a luta em suas aulas? Por quê? Não sei.
Porque como era optativa não cheguei a fazer esta disciplina.
3) Na sua formação universitária existia uma disciplina específica sobre lutas? Não.
C 4) Como foram trabalhados os conteúdos de lutas na sua graduação? (...)
5) O seu curso de graduação ofereceu condições para que você inclua a luta em suas aulas? Por quê? (...)
3) Na sua formação universitária existia uma disciplina específica sobre lutas? Optativa apenas.
4) Como foram trabalhados os conteúdos de lutas na sua graduação? Como Disciplina optativa, a qual não
D cursei.
5) O seu curso de graduação ofereceu condições para que você inclua a luta em suas aulas? Por quê? Sim,
ofereceu como optativa e não fazendo parte da grade curricular.
Ao contrário, os professores B e D têm uma visão diferente do papel da Educação Física na escola,
pensam o componente curricular como um espaço de recreação sem o foco no aprendizado dos alunos. Eis
uma fala nessa linha: “Eu topo sim participar do grupo, mesmo sabendo que não vou usar nas aulas, mas vai
ser legal para aprender umas brincadeiras novas” (Prof. B). Nesse sentido, interpretamos que os docentes B
e D perceberam os assuntos estudados no grupo de estudos como um repertório de atividades para serem
“aplicadas” nas aulas, descontextualizadas de uma unidade de ensino estruturada para desenvolver um tema
específico.
Nessa perspectiva, parece necessário o cuidado ao desenvolver estudos colaborativos visando alteração
de concepção de professores de Educação Física para não desvincular um tema estudado do sentido que
os docentes atribuem ao componente curricular. A nosso ver, nesse estudo, a compreensão do papel dessa
disciplina na escola influenciou a concepção sobre uma possível utilização dos assuntos estudados.
Na última categoria estabelecida, constatamos o acontecimento de uma mudança de concepção dos
professores sobre o ensino das lutas na Educação Física escolar. Entendemos que os docentes aprenderam
mais acerca das lutas do que sabiam antes do estudo. Os professores A e C, especialmente, compreenderam
que é possível trabalhar com esse tema na escola numa perspectiva crítica e reflexiva, possibilitando assim
o aprendizado dos alunos. Nesse sentido, pensamos que quatro fatores principais tiveram destaque nesse
processo: 1) o estudo dos jogos de lutas; 2) o estudo da classificação das lutas com base nas distâncias; 3)
a produção de tarefas durante os encontros; 4) a vivência corporal das lutas pelos professores durante as
reuniões.
A produção de conhecimento conceitual dos docentes sobre das lutas começou a ocorrer a partir do
momento em que foram estudados os jogos de lutas, como possibilidade de abordar aspectos universais dessa
prática corporal6. Com isso, eles perceberam que é possível desenvolver as lutas como uma criação histórica
da humanidade através de enfrentamentos corporais e não apenas com algumas modalidades específicas7
5
Utilizamos o símbolo (...) para representar questões “em branco”, uma vez que não foram respondidas pelos professores
6
Como aponta Gomes (2008, p. 11), destacando aspectos vinculados à lógica interna, “[...] as Lutas dispõem de princípios condicionais (contato pro-
posital, fusão ataque/defesa, oponente/alvo, imprevisibilidade e regras) determinantes para a compreensão e leitura da dinâmica interna de qualquer
prática de Luta, que solicitam o pensamento tático e a criação de técnicas para solução dos problemas num combate”.
7
Segundo Gomes (2008, p. 11) “[...] o ensino fragmentado em modalidades na iniciação tende a restringir o universo de possibilidades inerentes aos
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104 Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com professores de educação física
(esportes de combate8), como se percebe na manifestação do professor D: “Até fica fácil pelas dinâmicas
de fazer, porque antes, as lutas tu já pensa em soco e chute, em se machucar, daí tu pensa, não vou levar
pra escola lutas se tu não consegue trabalhar, mas essas atividades são bem simples, bem lúdicas, daí tu já
consegue trabalhar”. Segundo Matos et al. (2015), alguns professores participantes do seu estudo entendem
que atividades relacionadas às lutas estimulariam atitudes impróprias, como a agressividade.
Contudo, foi a partir do momento em que o grupo estudou a classificação das lutas com base nas
distâncias e nas ações estabelecidas9, que os professores tiveram uma compreensão mais clara da possibilidade
de trabalhar com o tema na Educação Física escolar, sem precisar ser faixa preta ou ter experiência com algum
tipo de esporte de combate. Percebemos isso através das expressões e declarações dos professores, como
por exemplo: “[...] ter a classificação das lutas pra mim foi o auge da coisa, do nosso estudo, no sentido de
dar significado” (Prof. C); “Como é legal agora poder fazer essa distinção com essa classificação, daí já é outro,
tu vai garantir uma de cada, pode trabalhar muito melhor” (Prof. A); “Nossa, a gente não tinha nem ideia de
que as lutas podiam ser classificadas desse jeito” (Prof. A); “Bom, lutas também entram numa classificação,
a classificação é essa, daí eu posso, qualquer luta que eu for trabalhar, a gente encaixa nessa classificação....
Agora eu já posso fazer uma unidade didática.... Bem legal assim” (Prof. C).
Essas falas indicam que a pesquisa começou a oferecer os frutos mais concretos, pontualmente a
partir do estudo da classificação das lutas com base nas distâncias, ocorrido no quinto encontro. Matos et
al. (2015, p. 124) defendem que classificações desse tipo “[...] permitem ao professor melhor sistematizar
seu planejamento no sentido de abordar as Lutas partindo de seus princípios operacionais, envolvendo,
desta forma, muitas modalidades diferentes, mas com características semelhantes”. Assim, ao realizar outro
trabalho nessa perspectiva acreditamos que esse conteúdo, em particular, poderia ser trabalhado mais cedo,
despertando previamente o interesse e a própria evolução do conhecimento dos professores.
Na mesma linha, uma opção metodológica positiva que colaborou na mudança de concepção dos
docentes foi solicitar que produzissem tarefas durante os encontros. O fato de experimentar a proposição
de atividades em grupo, de acordo com a classificação de lutas, como consta no Quadro 3, proporcionou um
domínio maior sobre o tema. Essa ação pode gerar boas possibilidades para trabalhar com as lutas em suas
aulas de educação física na escola.
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Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com professores de educação física 105
Um quarto fator que influenciou na alteração de concepção dos professores sobre o ensino das
lutas na educação física escolar, foi a vivência corporal durante os encontros de estudo. A condição de eles
desempenharem corporalmente tarefas em que precisavam realizar ações táticas e técnicas, visando o corpo
do oponente para superá-lo, possibilitou uma melhor apropriação dos assuntos estudados conceitualmente,
como manifesta o professor A: “Agora, tipo, lendo o livro e com essas práticas nos encontros, dá pra ter uma
baita noção”. De algum modo, a ideia de ensinar lutas passou a fazer sentido para os docentes. Como apontado
em Borges (2014), se os professores precisam ser ensinados a ensinar, isso precisa ocorrer também na prática.
Nesse contexto, entendemos que após o estudo os docentes passaram a acreditar na possibilidade de
trabalhar com o tema lutas na Educação Física escolar e demonstraram certo domínio a respeito dos assuntos
discutimos nos encontros. Assim, ocorreu uma alteração do fato de que os professores não se sentiam
preparados para desempenhar o ensino das lutas na escola, para o entendimento de que agora compreendem
a possibilidade de se trabalhar com o tema em suas aulas. O professor A, inclusive, realizou uma aula sobre
lutas com seus alunos na escola em que atua, com base nas vivências corporais que o grupo de estudos teve
no quinto encontro e relatou:
A turma de quinta, minha agora, fiz a aula daquele dia que nós fizemos lá... Foi bem tranquilo assim,
expliquei os jogos de luta, de curta, média, longa distância, o que eles compreendiam de lutas e tal.
Daí cada um deu a sua opinião, daí expliquei aquele resumo de lutas e fiz umas atividades práticas. Fiz
aquela de colocar o colete atrás, daí essa eles gostaram mais [...].
Com isso, é possível pensar que professores que historicamente não desenvolvem a abordagem das
lutas nas aulas de Educação Física escolar, podem passar a realizar tal ação se forem oferecidas condições
efetivas para tanto. Dito de outro modo, a partir do momento no qual os docentes tomam contato com uma
proposta para o ensino das lutas que faça sentido para eles, os professores têm condições – após um tempo de
estudos – de trabalhar com um tema no qual não adquiriram conhecimento na formação inicial. Como defende
Behrens (2007), a concepção que constitui a ação docente pode ser mudada ao longo do percurso profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho consistiu em verificar quais são as consequências de uma experiência de
formação colaborativa, nas concepções de professores acerca da abordagem das lutas nas aulas de Educação
Física escolar. Inicialmente, identificamos que os docentes não se percebiam em condições de tematizar as
lutas nessa disciplina por não se sentirem preparados, uma vez que julgavam não possuir conhecimento
suficiente. Especialmente, porque não tiveram um componente curricular sobre a temática na formação inicial.
Após a realização da investigação os resultados indicam que os docentes aprenderam mais sobre as lutas do
que sabiam antes do estudo, particularmente em relação ao conhecimento conceitual. Mais precisamente,
perceberam que é possível trabalhar com as lutas na escola pautados em classificações e aspectos universais
dessa prática corporal. No mesmo sentido, compreenderam a importância de tratar das lutas numa perspectiva
crítica e reflexiva.
Os principais elementos que permitiram a alteração de concepção dos docentes foram o estudo dos
jogos de lutas e de sua classificação com base nas distâncias, a produção de tarefas e a vivência corporal
durante os encontros. Esse conjunto de fatores permitiu entender que é possível o ensino das lutas na escola
sem ter uma experiência como lutador em um esporte de combate específico.
Durante o processo de estudo, percebemos que o sentido atribuído pelos docentes aos assuntos
estudados nos encontros está diretamente relacionado com o entendimento que possuem sobre o papel da
Educação Física na escola. Com isso, conjeturamos que os professores farão diferentes usos do conhecimento
adquirido com esse estudo. Para os docentes A e C o estudo serviu como uma possibilidade de desenvolver um
tema de ensino através de determinados conteúdos conceituais ao ensinar lutas na Educação Física escolar,
enquanto que para os educadores B e D, constitui-se mais como um receituário de tarefas para aplicar com os
alunos. Numa investigação futura, pretendemos analisar de que modo os professores utilizarão o conhecimento
adquirido com essa formação continuada.
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106 Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com professores de educação física
REFERÊNCIAS
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Possibilidades do ensino das lutas na escola: uma pesquisa-ação com professores de educação física 107
RUFINO, L. G. B.; DARIDO, S. C. O ensino das lutas na escola: possibilidades para a educação física.
Porto Alegre: Penso, 2015.
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SILVERMAN, D. Interpretação de dados qualitativos: métodos para análise de entrevistas, textos e
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ZEICHNER, K.; DINIZ-PEREIRA, J. E. Pesquisa dos educadores e formação docente voltada para a
transformação social. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 125, p. 63-80, 2005.
____________________________________
Autor correspondente: Robson Machado Borges
E-mail: robsonmachadoborges@gmail.com
*****
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POSSÍVEIS DIÁLOGOS ENTRE A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E
O CONTEÚDO DAS LUTAS NA PERSPECTIVA DA CULTURA
CORPORAL
Luiz Gustavo Bonatto Rufino, Universidade Estadual Paulista - UNESP, Rio Claro, São
Paulo – Brasil
Suraya Cristina Darido, Universidade Estadual Paulista - UNESP, Rio Claro, São Paulo –
Brasil
RESUMO
O objetivo deste estudo foi analisar o contexto da temática das lutas na Educação Física
escolar, considerando a concepção de cultura corporal e as dimensões dos conteúdos,
estabelecendo assim possíveis “diálogos” entre estas práticas e a Educação Física. Para
isso, foi realizada uma revisão de literatura abordando os seguintes tópicos:
compreendendo as lutas, a temática das lutas na cultura corporal, ensinando as lutas na
escola e as lutas nas três dimensões dos conteúdos. Concluímos que é preciso inserir as
lutas na escola, levando-se em conta a questão das dimensões dos conteúdos,
possibilitando que, além dos procedimentos, seja empregado também conceitos e atitudes
em relação ao ensino destes conteúdos.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the context of fights in Physical Education
classes, in school, considering the conception of body culture and the content dimension,
establishing possible “dialogues” between the theme of fights and Physical Education. For
this study we did a review of literature including the following topics: understanding the
fights, the theme of fighting in body culture, teaching the fights at school and the fights in
the tree dimensions of contents. We concluded that the fights must be inserted as one
content at school, considering the dimensions of contents, allowing that beyond the
procedures, the teachers could use the concepts and attitudes while they teach these
contents.
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ISSN: 1983-9030
POSIBLE DIÁLOGOS ENTRE LA ESCUELA DE EDUCACIÓN
FÍSICA Y LO CONTENIDO DE LAS LUCHAS IN LA PERSPECTIVA
DE LA CULTURA DEL CUERPO
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue analizar el contexto de las luchas en las clases de Educación
Física en la escuela, teniendo en cuenta la concepción de la cultura del cuerpo y la
dimensión del contenido, establecer posibles "diálogos" entre el tema de las peleas y la
Educación Física. Para este estudio se hizo una revisión de literatura, incluyendo los
siguientes temas: La comprensión de las luchas, el tema de las luchas en la cultura del
cuerpo, la enseñanza de la luchas en la escuela y las luchas en las dimensiones de los
contenidos. Llegamos a la conclusión de que las luchas debe entrar en escuela, teniendo en
cuenta la cuestión de las dimensiones de contenido, permitiendo, además de los
procedimientos, también se emplea conceptos y actitudes hacia el aprendizaje de ese
contenido.
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Não é no silêncio que os homens se fazem, mas
na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”
Paulo Freire1
INTRODUÇÃO
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCNs2, o diálogo é um dos
principais instrumentos de uma democracia justa, permitindo espaço ao consenso e ao
dissenso. Dialogar pede capacidade de ouvir o outro e de se fazer entender. Portanto, a
democracia deve valorizar o diálogo como forma de esclarecer conflitos.2 Tamanha a
importância dada ao diálogo que este é um dos blocos de conteúdos do tema transversal
ética, juntamente com o respeito mútuo, a solidariedade e a justiça. Deve-se valorizar o
diálogo visando o esclarecimento e a superação de conflitos.2
Ao optarmos por estabelecer “diálogos” entre a área da Educação Física e a temática das
lutas, pretendemos apresentar algumas características sobre o ensino desses conteúdos.
Para os PCNs2 não há nem reais descobertas, nem real aprendizagem se estas não forem
fruto de rica comunicação entre indivíduos. Portanto, para que haja mudanças e
transformações da práxis escolar desses conteúdos, é preciso, antes de tudo, dialogar,
discutir e debater sobre eles, possibilitando que uma visão crítica seja criada em relação ao
ensino das lutas na escola.
Na verdade, o conteúdo das lutas, de acordo com alguns autores da área, ainda é pouco
explorado por grande parte dos professores de Educação Física escolar. As lutas são uma
das mais elementares manifestações da cultura corporal, juntamente com as danças, os
jogos, os esportes, as atividades rítmicas, as brincadeiras, dentre outros. São práticas
corporais construídas ao longo da história por razões de sobrevivência e de vivências
lúdicas.
Entretanto, há inúmeras divergências em relação ao que ensinar sobre lutas dentro da área
da Educação Física escolar. Talvez este seja um dos fatores relacionados que limitam o seu
tratamento nas aulas de Educação Física na escola. Devido à divergência existente na área
sobre qual terminologia que deve ser aplicada (lutas, artes marciais ou modalidades
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esportivas de combate), optamos por caracterizar essa temática como lutas. Essa
denominação corrobora com Rufino e Darido3:406 que afirmam:
Segundo Carreiro4 dentre os conteúdos que podem ser apresentados na Educação Física
escolar, as lutas são um dos que encontram maior resistência por parte dos professores,
com argumentos como: falta de espaço, falta de material, falta de vestimentas adequadas e
associação às questões de violência. O autor sugere ainda que o professor que não conhece
o conteúdo das lutas apropriadamente, pode também aprender sobre ele em livros, revistas,
internet e até mesmo com os próprios alunos.
Do mesmo modo, Del Vecchio e Franchini5 consideram que a dificuldade em tratar com os
conteúdos das lutas na escola deve-se, em grande parte, à formação do profissional de
Educação Física que, em muitos casos, frequenta uma graduação deficiente em relação à
esses conteúdos, restringindo-se à apenas uma modalidade (como o judô ou a capoeira, por
exemplo), ou mesmo nem havendo a aplicação desses conteúdos no ensino superior.
Até mesmo quanto aos professores universitários que ministram esses conteúdos há
algumas considerações, comparados aos docentes de outras disciplinas. Para Del Vecchio e
Franchini5 a maior parte dos docentes que ministram conteúdos de lutas nas universidades
teve contato direto com estes conteúdos na qualidade de praticante.
Essa característica dos docentes de lutas pode trazer um outro problema, no qual seja: o do
direcionamento da disciplina para um único estilo ou modalidade de luta5. Desse modo, o
ensino dos conteúdos da temática das lutas torna-se restrito àquelas pessoas que tiveram
contato com esses conteúdos, ou seja, praticantes ou ex-praticantes, reiterando-se que,
mesmo assim, a tendência é que essas pessoas ensinem apenas a modalidade na qual
tiveram mais contato, utilizando como recurso principal unicamente as suas experiências
enquanto ex-praticantes/atletas e não conhecimentos científicos inovadores que permitam
compreender os aspectos pedagógicos do ensino das lutas na escola.
Portanto, não é necessário que o professor de Educação Física escolar tenha profundos
conhecimentos das lutas para que elas possam ser tratadas na Educação Física escolar,
contanto que o professor tenha uma formação que o possibilite ter contato com esses
conteúdos, como os conceitos básicos, as formas de ensinar e assim por diante.
Além dos problemas em relação à formação profissional, há também outro agravante com
relação ao ensino dos conteúdos das lutas. A escassez no número de produção científica na
área é um fator muito importante a ser considerado também. Esta carência de produção
científica foi analisada por Correia e Franchini.6 Os autores realizaram um estudo onde
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descreveram a questão da produção acadêmica em lutas, artes marciais e modalidades de
combate no Brasil.
Para isso, eles analisaram 11 periódicos nacionais (a escolha dos periódicos baseou-se no
questionamento sobre quais periódicos eram utilizados para pesquisas nessa área à 17
profissionais/estudantes envolvidos com as lutas) no período de 1998 até 2008 (optou-se
pelo ano de 1998 pois foi neste ano que a profissão de Educação Física foi regulamenta por
lei, a lei número 9696 de primeiro de setembro de 1998, e, conjuntamente com isso, foi
criado o Conselho Federal de Educação Física, o CONFEF).6
Em relação às áreas de estudo, a pesquisa baseou-se nas proposições de Tani7 que dividiu a
estrutura acadêmica da Cinesiologia, Educação Física e Esporte em: Biodinâmica do
Movimento Humano, Comportamento Motor Humano e Estudos Sócio-Culturais do
Movimento Humano, áreas consideradas de caráter básico para este autor, e a área de
Pedagogia do Movimento Humano e Adaptação do Movimento Humano (para a Educação
Física) e o Treinamento Esportivo e a Administração Esportiva (para o Esporte), todas
estas áreas consideradas de caráter aplicado.7
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Estes resultados apontam para um baixo número de artigos voltados às lutas/ artes
marciais/modalidades esportivas de combate e, dentre as modalidades mais pesquisadas
estão o judô e a capoeira, duas modalidades bastante tradicionais no Brasil.6
Sendo assim, o objetivo desse texto foi contextualizar o panorama atual das lutas na
Educação Física escolar por meio de uma revisão de literatura sobre estudos que
conceituem estas manifestações como representações da cultura corporal, analisando as
possibilidades de implementações destes conteúdos nas aulas de Educação Física escolar,
estabelecendo, desta maneira, “diálogos” entre o conteúdo das lutas e a área da Educação
Física na escola.
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COMPREENDENDO AS LUTAS
A compreensão das lutas em sua pluralidade de significados não é uma tarefa fácil e requer
que sejam considerados inúmeros fatores. Primeiramente, é preciso levar em conta que, em
se tratando desses conteúdos, não é possível desmistificá-los e racionalizados, devido ao
universo simbólico de representações e idéias que fazem parte dessa temática. Assim, até
mesmo definir o que são lutas torna-se arriscado, considerando-se que ao definirmos,
limitamos a nossa compreensão.
O dicionário Luft,8:431 por exemplo, define o ato de lutar (do latim luctari) como:
“combater/ pelejar, brigar/ disputar, competir/ trabalhar arduamente, esforçar-se,
empenhar-se”. Já o substantivo luta é definido como “ação de lutar/qualquer combate
corpo a corpo/guerra, peleja/antagonismo/esforço, empenho.”
Há dentro do contexto das lutas marciais, muita tradição, muito misticismo, muitas
histórias envolvidas. Há relatos (embora não comprovados) de feitos sobre humanos,
histórias de façanhas inacreditáveis, lutadores que foram verdadeiros heróis, e assim por
diante. Até mesmo em alguns filmes sobre lutas observa-se, por diversas vezes, lutadores
capazes de realizar feitos incríveis como derrotar sozinhos uma quantidade muito grande
de oponentes, de uma só vez.
Por outro lado, nos últimos anos tem aumentado o número de artigos científicos, livros,
dissertações, teses e trabalhos de conclusão de curso, embora ainda seja muito aquém do
que poderia e deveria ser. Estes estudos possibilitam a racionalização de determinadas
características das lutas, sobretudo fora do meio escolar, nas questões que tangem o
treinamento e a preparação de atletas de lutas, a fisiologia das modalidades de lutas, o
comportamento motor dos praticantes, dentre outros estudos.
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Desse modo, podemos destacar um conflito existente entre os conhecimentos oriundos da
tradição das lutas com os estudos científicos realizados sobre essas práticas.
Exemplificando: se outrora alguns professores/mestres de lutas exigiam treinamentos
árduos e que duravam horas e até dias (fato evidenciado em alguns filmes sobre essa
temática, por exemplo), atualmente questões relacionadas aos princípios do treinamento
esportivo foram acrescentadas, desmistificando as antigas formas de treinar. Se um lutador
de kung fu precisava ficar diversas horas realizando determinadas posições, hoje sabe-se
que ele deve periodizar o seu treinamento, por exemplo.
Breda et al.10 constata que durante séculos as lutas foram ensinadas de forma rústica e
disciplinadora e sofreram poucas mudanças dentro dos processos de ensino-aprendizagem.
Os autores acreditam que a ciência e a pedagogia têm contribuído muito para o
desenvolvimento do esporte, aproximando-o das lutas, buscando enriquecer as aulas de
lutas com a inserção dos conhecimentos da Educação Física, assim como enriquecer as
aulas de Educação Física com os conhecimentos das lutas.10
É preciso considerar que a perspectiva sobre as lutas mudou com o passar do tempo e
novas formas de lutar foram surgindo enquanto que outras modalidades foram extintas.
Algumas modalidades atingiram o patamar de esportes olímpicos, como o judô, o
taekwondo, o boxe amador, a esgrima e wrestling (luta olímpica). Atualmente, com os
avanços da área do treinamento esportivo, como os princípios do treinamento e sua
periodização, por exemplo, ampliaram-se as possibilidades de aprendizagem e rendimento
nas modalidades.
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Para Betti11:186 o método científico representa um importante caminho de legitimação da
práxis do profissional de Educação Física porque permite problematizar afirmações
genéricas como, por exemplo: “atividade física é boa para a saúde”, ou “o judô é bom
para descarregar a agressividade”. Ou seja, não é possível excluir as inúmeras
colaborações que a ciência e a racionalização podem trazer para a área das lutas.
Contudo, não se pode também restringir e racionalizar demais a concepção das lutas a
ponto de não considerar a sua dimensão cultural e simbólica. As lutas possuem
significados plurais e diversos, não sendo possível compreendê-las única e exclusivamente
através da racionalização do conhecimento.
Betti12 (1994), por exemplo, afirma que o ser humano realiza constantemente atividades
simbólicas para poder dar valor e orientar suas ações e as lutas são, claramente, atividades
envoltas em um universo simbólico plural e abrangente, variando de acordo com a visão
que cada sociedade emprega sobre cada modalidade existente. O autor considera que todas
as noções usadas para caracterizar e explicar o comportamento humano são consequência
ou derivam de universos simbólicos, não podendo ser reduzidas a impulsos biológicos,
instintos psicanalíticos ou reforço de satisfação.
Há um grande número de lutas, cada uma com sua própria história e embasada em
inúmeros significados diferentes. Desde o passado, cada sociedade compreendeu o
fenômeno das lutas de um modo diferente, promovendo assim uma infinidade de práticas,
algumas bem diferentes entre si, enquanto outras apresentam diversas similaridades.
Porém, é preciso considerar também que muito do que se afirma sobre as lutas pode não
ser verdadeiro. Correia13 considera que do ponto de vista do senso comum, afirmações
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como as de que as lutas são milenares, provenientes do oriente, possuem filosofia, geram
saúde, disciplinam as pessoas, pregam uma cultura de paz, etc. são constituídas de
“pretensões generalizantes” porque não correspondem à práxis social.
Em relação à afirmação que todas as lutas são provenientes do oriente, esta também pode
ser uma afirmação questionada já que nem todas vieram do oriente como, por exemplo, o
Sambo que é proveniente da Rússia, o Huka-Huka proveniente dos índios brasileiros e o
Krav Maga oriundo de Israel.
Correia13 aponta que as lutas foram criadas para a guerra e não para o âmbito escolar.
Poderíamos pressupor que, da mesma forma que as lutas não foram criadas para a escola,
outras modalidades como o futebol, por exemplo, prática bastante empregada nas aulas de
Educação Física escolar, também não foi criada visando a escola.
Portanto, para que as práticas de lutas sejam aplicadas nas aulas de Educação Física
escolar, deve haver modificações ou uma transformação didático-pedagógica, como
denomina Kunz.15 Dessa forma, Correia13 considera que ainda é necessário um longo
processo de apropriação relacionado às lutas por parte dos profissionais de Educação
Física, propiciando um aproximação acadêmica e profissional no que se relaciona à essas
temáticas.
Para este autor:
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Demandamos na atualidade por elementos teóricos e práticos mais
consistentes e coerentes para uma imperiosa transformação/transposição
didática [...]. Assim, talvez possamos diminuir nossa ignorância [...]
sobre essas manifestações [lutas, artes marciais, modalidades esportivas
de combate] e dar um tratamento mais responsável e menos
demagógico/caricato para essas importantes objetivações culturais que
compõem o patrimônio universal expresso pela cultura e, sobretudo,
explorá-las como elementos indispensáveis ao desenvolvimento
humano.13:30
Darido e Souza Júnior16 destacam que a área da Educação Física escolar ultrapassa a idéia
de estar voltada apenas para o ensino do gesto motor correto. Muito mais do que isso, cabe
ao professor de Educação Física problematizar, interpretar, relacionar, analisar com seus
alunos as amplas manifestações dessa Cultura Corporal, de tal forma que estes
compreendam os sentidos e significados impregnados nas práticas corporais.
Ao longo dos anos, a concepção de Educação Física dentro do âmbito escolar foi se
modificando. Para Soares,17 por exemplo, a Educação Física na escola é um espaço de
aprendizagem e, portanto, de ensino. Mas ensinar o quê?
Soares17 afirma que historicamente a Educação Física ocidental moderna tem ensinado o
jogo, a ginástica, as lutas, a dança, os esportes. Estes são conteúdos clássicos que
permaneceram através do tempo transformando inúmeros de seus aspectos, para se afirmar
como elementos da cultura, como linguagem singular do homem no tempo.17
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Na clássica obra da área da Educação Física intitulada como Metodologia do Ensino da
Educação Física, a temática das lutas e da capoeira (colocada de forma separada) também
aparece. De acordo com Soares et al.18:38
Os PCNs19 afirmam ainda que as lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser
subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou
exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa.
Deve-se ressaltar que a definição dos PCNs19 inclui as lutas apenas nas questões que
tangem as vivências práticas dessas modalidades como o equilíbrio ou desequilíbrio,
técnicas de contusão ou exclusão de espaços, dentre outras, não mencionando, assim,
outras formas de se abordar as lutas na escola como, por exemplo, incluir na definição
questões como: o que são lutas ou questões relacionadas à história das modalidades,
condutas dos praticantes, dentre outras possibilidades.
A Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a área da Educação Física20 também
aborda a temática das lutas, compreendendo-a com parte inerente da Cultura Corporal.
Nela, é proposto que a Educação Física trate da cultura relacionada aos aspectos corporais,
que se expressam de diversas formas, dentre as quais os jogos, a ginástica, as danças e
atividades rítmicas, as lutas e os esportes20. (grifo nosso).
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Embora afirme que não pretende restringir e sim diversificar os conteúdos, a proposta do
Estado de São Paulo20 propõe que se trabalhe com a temática das lutas de forma genérica a
partir apenas do quarto semestre do sétimo ano (antiga sexta série).
O Estado do Rio Grande do Sul também elaborou uma proposta curricular de apoio ao
professor da rede estadual de ensino daquele estado. Na proposta relacionada à área da
Educação Física, conteúdos sobre a temática das lutas também são abordados. As práticas
esportivas, as ginásticas, as lutas, as atividades lúdicas, as práticas corporais expressivas,
entre outras, se firmaram ao longo dos anos como objetos de estudo próprios da Educação
Física.21:114 (grifo nosso).
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Exemplificando, podemos considerar que uma determinada luta pode ser escolhida pelo
professor como objeto de estudo de uma das unidades didáticas que tratam desses
conteúdos. Tal escolha implicará a proposição de um fazer corporal em aula que leve os
alunos a conhecerem tal prática, mas sem a pretensão de investir em um nível de
apropriação que lhes permita praticar, fora da escola, a arte marcial estudada21. Entretanto,
a temática das lutas aparece somente como componentes das sétimas e oitavas séries,
(denominadas atualmente de oitavo e nono ano) durante apenas 8% do tempo relativo ao
ensino dos conteúdos da Educação Física destes anos, com opções como o judô, o caratê, a
capoeira e o taekwondo.
Finalmente, há a visão de Betti22 que também destaca a temática das lutas em sua
conceituação sobre a Educação Física na escola. Para este autor a Educação Física na
escola é:
uma disciplina que tem por finalidade propiciar aos alunos a apropriação
crítica da cultura corporal de movimento, visando formar o cidadão que
possa usufruir, compartilhar, produzir e transformar as formas culturais
do exercício da motricidade humana: jogo, esporte, ginásticas e práticas
de aptidão física, dança e atividades rítmicas/ expressivas, lutas/ artes
marciais, práticas alternativas.22:64 (grifo nosso).
É interessante observar que em todas as propostas analisadas, a temática das lutas aparece
de forma autônoma em relação ao conteúdo dos esportes, embora as lutas mais difundidas
e praticadas em nossa sociedade e que aparecem na mídia, são as formas esportivas de
modalidades de combate.
Talvez, o fato do conteúdo das lutas aparecerem de forma separada aos conteúdos dos
esportes nas definições de Cultura Corporal apresentadas, seja uma forma de garantir a
aplicação desses conteúdos na escola, mesmo que muitas lutas sejam também modalidades
esportivas. Essa pode ser uma forma de permitir que os alunos se apropriem destes
conteúdos nas aulas de Educação Física, além dos outros conteúdos referentes à Cultura
Corporal.
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Dentre todas as propostas analisadas anteriormente4,17-22 fica evidente a inserção da
temática das lutas como um importante conteúdo a ser ensinado nas aulas de Educação
Física na escola, como uma das práticas que compõem o universo da Cultura Corporal.
Todavia, há ainda muitas incertezas sobre quais são as práticas relacionadas às lutas que
devem ser efetivamente selecionadas para as aulas de Educação Física na escola e quando
isso deve ocorrer nos espaços e tempos escolares. Sabe-se que as lutas são importantes,
porém não há estudos que indiquem quando ensiná-las e, principalmente, o que ensinar
das lutas ao longo do processo de escolarização.
Este fato é exemplificado com a inserção da temática das lutas em séries espaçadas, sem
uma sequência lógica de ensino desses conteúdos. Algumas propostas inserem as lutas em
séries e semestres sem uma clara explicação para isso, como a proposta do Estado do Rio
Grande do Sul21 que considera as lutas como conteúdos apenas das sétimas e oitavas séries
(atuais oitavo e nono ano).
Para facilitar a compreensão a respeito da falta de critérios com relação à escolha das
modalidades por parte de alguns referenciais de proposição do ensino destes conteúdos,
elaboramos um quadro que aborda quais modalidades de lutas são abordadas por algumas
propostas de inserção das lutas na escola.
Quadro 1 - Apresenta quais modalidades de lutas são incluídas nas proposições referentes a
alguns autores
Autores Judô Caratê Capoeira Boxe Taekwondo Esgrima
Soares et al.18 ✓
PCNs19 ✓ ✓ ✓ ✓
São Paulo20 ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
Rio Grande ✓ ✓ ✓ ✓
21
do Sul
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O Quadro 1 demonstra que apenas algumas modalidades de lutas foram adotadas, dentro
de um universo muito mais amplo, nos possibilitando realizar alguns questionamentos.
Entre tantas modalidades de lutas existentes, quais são aquelas que devem ser incluídas
nas aulas de Educação Física escolar? Mais importante ainda seria nos perguntarmos:
quais devem ser os critérios utilizados para a inclusão ou exclusão de modalidades de
lutas na escola? Por fim, poderíamos questionar: o que ensinar de cada uma dessas
modalidades inseridas nas aulas de Educação Física escolar?
Evidentemente que as lutas são mais um conteúdo, dentro do universo amplo e plural da
Cultura Corporal. No entanto, um número maior de estudos e trabalhos deve ser conduzido
de modo que seja considerado o universo da escola, as características dos alunos, a
relevância social dos conteúdos, além de outras características.
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Primeiramente, deve-se ter claro que a função da escola não é formar atletas, muito menos
lutadores e/ou competidores de uma ou outra modalidade esportiva de combate. Deve-se
prezar, a princípio, pela formação do cidadão que irá apropriar-se da Cultura Corporal em
suas diferentes formas de manifestação (sendo as lutas apenas uma delas). Visa-se, com
isso, a formação de pessoas éticas e autônomas.19
Os autores propõem ainda que sejam tratados outras questões além das vivências de jogos,
brincadeiras e outras dinâmicas, como, por exemplo: conceituação de algumas
modalidades de lutas, a história de determinadas práticas, a questão da diferença entre lutar
e brigar, algumas curiosidades sobre as lutas, dentre outras questões.16
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Coll23 classifica os conteúdos em três dimensões, cada uma respondendo à um
questionamento, sendo eles:
• O que se deve saber? (Dimensão conceitual);
• O que se deve fazer? (Dimensão procedimental);
• Como se deve ser? (Dimensão atitudinal).
Dessa forma, a dimensão conceitual do ensino das lutas poderia abranger os aspectos dos
conceitos sobre as diferentes modalidades, suas regras, estudos e análises sobre as corretas
formas de se realizar determinados movimentos, fatos históricos sobre as diferentes
modalidades, dentre outras possibilidades.
Por fim, a dimensão atitudinal compreende as atitudes e valores que devem ser ensinados
em relação às lutas, como as condutas éticas, valores e princípios orientadores das práticas
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como o respeito mútuo, a solidariedade, dentre outros. Há também vários exemplos de
aplicação da dimensão atitudinal nas aulas de Educação Física na escola sobre a prática das
lutas como: respeito ao companheiro, diferenciação entre luta e briga, discussão de termos
como “porrada”, “massacre” e “guerra”, discussões a respeito da hierarquia imposta à
algumas modalidades, questões relativa ao respeito aos limites do próprio corpo no que
tange alguns golpes e posições de algumas práticas, a ética necessária para não se utilizar
os conhecimentos aprendidos com outras pessoas em outros ambientes, dentre outras
possibilidades.
Embora muitos caracterizem as lutas como práticas holísticas que promovem o respeito, a
disciplina, dentre outros valores, é preciso destacar que essas modalidades, assim como os
demais esportes, não são por si só provedoras desses valores, dependem de como o
professor ensinará esses conteúdos.
Bracht24:64 traz uma importante contribuição a esse respeito ao afirmar que, se por um lado,
o esporte pode promover a socialização, por outro, ele pode espelhar as condições de uma
sociedade autoritária, aceitando as regras impostas onde o princípio de rendimento se
impõe a todos os outros.
Bracht24 afirma ainda que o esporte pode desenvolver idéias e valores que levem ao
conformismo e ao respeito incondicional de regras, promovendo uma educação que leve ao
acomodamento, uma educação a serviço da classe dominante. Porém, o autor considera
que embora não seja possível mudar o sistema (capitalista) é possível realizar algumas
mudanças dentro do sistema possibilitando que o esporte, sobretudo aquele praticado na
escola, não seja voltado única e exclusivamente ao rendimento.
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Para Bracht25 os professores de Educação Física devem entender que o que determinará o
uso que o indivíduo fará do movimento não é determinado pela condição física, habilidade
desportiva, flexibilidade, etc., e sim pelos valores e normas de comportamento introjetados,
pela condição econômica e pela posição na estrutura de classes de nossa sociedade.
Nessa visão, podemos considerar que o esporte é uma construção histórico-social humana
em constante transformação e fruto de múltiplas determinações. Em relação ao esporte na
escola, podemos considerar que enquanto atividade escolar ele só tem sentido se integrado
ao projeto pedagógico da escola25.
Portanto, as lutas, assim como todos os outros conteúdos da Educação Física escolar,
dependem não só de como são tratados pelo professor, mas também de como estão
estabelecidos no projeto político pedagógico da escola, sobretudo considerando se há a
ampliação de significados sobre esta temática ou não.
Dessa forma, as dimensões dos conteúdos são uma forma de ampliar o conhecimento sobre
os aspectos das lutas, não restringindo o ensino aos aspectos apenas procedimentais, o
“saber fazer”, mas indo além, transcendendo para os conhecimentos das outras dimensões,
como as atitudes e os conceitos. Nas palavras de Freire:1:45
O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do
gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das
emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do
medo que, ao ser ‘educado’, vai gerando a coragem.
É claro que para isso o professor deve ter uma formação acadêmica e continuada adequada
para lidar com esses conteúdos, não necessitando que, para isso, eles sejam praticantes
assíduos em modalidades de combate, e sim que eles possam ter conhecimentos das lutas
nas três dimensões dos conteúdos e que saibam como transmitir esses conhecimentos para
os alunos numa perspectiva formadora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor só pode ensinar aquilo que ele conhece, que lhe é familiar, aquilo que ele tem
domínio mas, sobretudo, ele só ensinará aquilo que for válido e verdadeiro a seus próprios
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olhos26. Sem conhecer e compreender as lutas enquanto um fenômeno plural e abrangente,
o seu ensino continuará sendo negado aos alunos, mesmo com a presença das lutas nas
propostas curriculares dos estados e da posição dos autores analisados.
Continuar-se-á então com a mesma cadência (ou decadência) em torno das possibilidades
do que se ensina/aprende nas aulas de Educação Física escolar em relação a esse tema
(salvo algumas exceções), ou seja, continuará o não ensino desses conteúdos, ou então a
limitação à apenas algumas modalidades, sem o aprofundamento sobre os diversos
aspectos que o universo das lutas abrangem, seja em termos biológicos, em termos
históricos, em termos de condutas éticas, dentre outros.
Ampliar a visão sobre esse tema é uma forma de ensinar as lutas de maneira melhor, mais
qualificada, mais abrangente e visando ir além dos preceitos práticos, compreendendo,
além da dimensão procedimental, as dimensões conceitual e atitudinal. Mais do que isso,
deve-se compreender as lutas para ensinar mais do que as lutas em si. Breda et al.10
afirmam que os alunos tem o direito de aprender a lutar e aprender mais que lutar, aprender
a ser.
Estas “metáforas” com o termo do lutar nos permite abordar outras questões, indo além de
considerar o lutar apenas como práticas corporais. Lutar é opor-se, é enfrentar, é resistir.
Lutar é a arte da não aceitação, mesmo que para isso, muitas vezes seja necessário primeiro
ceder, para depois vencer. Para Freire1 lutar é enfrentar, é opor resistência e isso faz parte
da vida, indo muito além das práticas corporais em si.
Dessa forma, tratar os conteúdos das lutas nas aulas de Educação Física é necessário, como
foi visto. Mas é necessário saber que lutas são estas e como serão ensinadas, quais
modalidades e, certamente, o que e o porquê de serem ensinadas essas modalidades.
É preciso que as lutas, juntamente com os outros conteúdos da Cultura Corporal sejam
aplicadas nas aulas de Educação Física na escola nas diversas séries, em diversos
semestres, promovendo para os alunos, algo que eles ainda não têm em relação à essa
temática, que é a vivência de diferentes modalidades, a apropriação crítica da cultura
envolta nessas práticas e a ampliação dos conteúdos, promovidos pelas dimensões dos
conteúdos.
Todavia, é fato que a Educação Física ainda não se apropriou adequadamente dos
conteúdos relacionados às lutas considerando a questão do que ensinar sobre elas na
escola. Em meio a embates sobre legitimação de aplicação profissional, falta de produção
acadêmica e uma precária formação profissional, há o âmbito escolar, local que embora
tenha encontrado algumas convergências em relação ao trato dos conteúdos da área da
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Educação Física, ainda está longe de ser um ambiente de avanços em relação à
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PRODUÇÃO CIENTÍFICA NACIONAL SOBRE O ENSINO DE
LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR: ESTADO DA ARTE
RESUMO
Objetivou-se verificar quantitativamente a produção científica nacional sobre o ensino de
lutas na escola. Foi realizada busca sistematizada em bases indexadoras de periódicos
científicos nacionais, bem como em todas as revistas de estrato A e B do sistema
Qualis/Capes. A busca retornou 11 artigos que foram categorizados em: ensino de lutas na
formação do professor; possibilidade de abordagens das lutas na escola; benefícios
proporcionados pela vivência das lutas na escola. Foi possível perceber que o número de
pesquisas relacionadas ao ensino de lutas nos últimos dez anos é pequeno e há necessidade
de aumento quantitativo de pesquisas capazes de desenvolver o tema na escola visando o
encorajamento dos professores de Educação Física na utilização desta ferramenta
pedagógica.
ABSTRACT
The objective was to verify quantitatively the national scientific production on teaching
fights at school. Was performed systematic search in indexing databases of national
scientific journals and in all journals strata A and B in system Qualis/Capes. The search
returned 11 articles that were categorized to: teaching fights in teacher undergraduation;
possibility of address the issue fights at school; benefits provided by the experience of
fights learning at school. It could be observed that the number of researches related to
teaching fight the past ten years is little and there need to increase quantitative research can
develop the issue in school to the encouragement of Physical Education teachers in using
this educational tool.
Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 11, n. 4, p. 46-58, out./dez. 2013. 112
ISSN: 1983-9030
PRODUCCIÓN CIENTÍFICA NACIONAL DE ENSEÑANZA DE
LUCHAS EN LA ESCOLA: ESTADO DEL ARTE
RESUMEN
El objetivo fue determinar cuantitativamente la producción científica nacional en la
enseñanza de luchas en la escuela. Búsqueda sistemática fue realizada en bases de datos de
indexación de revistas científicas nacionales y en todo sistema Qualis / Capes em revistas
con estratos A y B. La búsqueda ha dado 12 artículos se clasificaron en: enseñanza de
luchas en la formación del profesorado; posibilidad de enfoque de luchas en la escuela, los
beneficios proporcionados por la experiencia de las luchas en la escuela. Se pudo observar
que el número de investigaciones relacionadas con la enseñanza de las luchas de los
últimos diez años es poca y hay necesidad de aumentar la investigación cuantitativa capaz
de desarrollar el tema en la escuela, al estímulo de los profesores de Educación Física en el
uso de esta herramienta educativa.
Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 11, n. 4, p. 112-124, out./dez. 2013.
ISSN: 1983-9030 113
INTRODUÇÃO
Frequentemente é apontado pela literatura que um adequado desenvolvimento de crianças
e adolescentes em idade escolar, nos domínios social, psicológico, cognitivo e biológico
está relacionado a efetivos estímulos externos, capazes de auxiliar nesta tarefa.1-2 Neste
sentido, o ambiente escolar é apontado como espaço determinante no que diz respeito à
demanda e direcionamento destes estímulos.3
Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 11, n. 4, p. 112-124, out./dez. 2013.
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Neste contexto, é possível citar o caso do ensino do conteúdo lutas na escola, em que a
insegurança causada pela valorização do conhecimento técnico frente aos outros domínios
da cultura corporal acerca do tema poderia afastar os professores desta abordagem e,
consequentemente, no interesse à pesquisa sobre o assunto.
Com base nestes pressupostos, torna-se importante verificar quanto e como é representado
cientificamente o estudo destas modalidades, subestimadas no âmbito prático do ensino
escolar, com intuito de entender quais os fatores capazes de influenciar a abordagem e a
qualidade desta pelo professor de Educação Física escolar. Nesta perspectiva o objetivo
deste estudo foi verificar quantitativamente a produção científica nacional sobre a temática
do ensino de lutas na escola e os principais temas desenvolvidos por estes estudos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa trata-se de uma revisão sistemática de estudos publicados em periódicos
nacionais, sobre a temática de ensino de lutas. Foram realizadas buscas nas bases de
documentos científicos: Scielo, Periódicos Capes, Google Scholar no intervalo de 10 anos,
período de 2004 a 2013. Na base Scielo utilizou-se os termos booleanos para os definição
de “Ensino” OR “Aprendizagem” AND “Artes Marciais” OR “Lutas” OR Jogos de
Oposição” OR “Jogos de Combate” AND “Escola” OR “Escolar”. Tanto na base
Periódicos Capes e Google Scholar foram realizadas todas as combinações possíveis entre
os termos para retorno de estudos que abordassem a temática no campo de busca
“Assunto”.
Além das buscas nas bases de artigos científicos, foi realizada verificação minuciosa pelos
periódicos relacionados no sistema Qualis/Capes. Todas as revistas com temática
relacionadas à Educação Física escolar classificadas nos estratos A e B foram pesquisadas
com os termos relacionados ao ensino de lutas, já mencionados.
RESULTADOS
Além da busca pelos termos nas bases de artigos científicos foram verificadas 28 revistas
com temática relacionada à Educação Física escolar.
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ISSN: 1983-9030 116
As publicações relacionadas ao tema se concentraram em sete periódicos, no período de
dez anos, como está apresentado na Tabela 1.
PERIÓDICO 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Movimento 2 1
Pensar a Prática 1
Conexões 1
Fiep Bulletin 1 1
Motrivivência 1 1
Mov. e Percepção 1
Cad. Form. RBCE 1
RBEFE 1
Legenda: RBEFE: Revista Brasileira de Educação Física e Esporte.
Cad. Form. RBCE. Cadernos de Formação da Revista Brasileira de Ciências do Esporte
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ISSN: 1983-9030 117
DISCUSSÃO
Diante da quantidade de artigos encontrados após a busca, é possível perceber o pequeno
número de publicações científicas, nos últimos dez anos, com o objetivo de investigação
sobre o ensino de lutas no ambiente escolar. Diante da importância mencionada pelos
PCNs,5 que apontam as “lutas”, como um dos assuntos fundamentais para
desenvolvimento do ensino da Educação Física escolar, este dado torna-se preocupante se
considerado que a base de apoio para a prática do ensino é por vezes obtida nos estudos
que sugerem métodos e considerações importantes sobre o tema. Nesta perspectiva, diante
de uma quantidade pequena de material à disposição do professor para consulta e
julgamento da pertinência em seu contexto, a ação muitas vezes bem intencionada, é
baseada no empirismo e possivelmente realizada de forma equivocada ou simplesmente
não é tomada, prejudicando o público de maior interesse, o aluno, que deixa de vivenciar
um conteúdo importante da cultura corporal.
Del Vecchio e Franchini22 apontam para o fato que, a dificuldade do professor em trabalhar
com o ensino de lutas se deve pela deficiência dos cursos de graduação na abordagem do
conteúdo “lutas” que muitas vezes se resume em uma só modalidade, como Capoeira ou
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Judô. Segundo o mesmo autor, em muitos casos, essas disciplinas são ministradas de forma
extracurricular por ex-praticantes da modalidade e estão fora do projeto político
pedagógico da instituição.
Por fim, três estudos propuseram os benefícios proporcionados pela aprendizagem das
“lutas” na escola.19-2 Sem grandes surpresas os três estudos citam a importância da prática
das Artes Marciais/Lutas no contexto escolar quanto ao desenvolvimento motor e
cognitivo, assim como é sabido da importância das atividades físicas para o
desenvolvimento destas variáveis, quando administradas adequadamente. Entretanto, de
forma especial, o conteúdo é abordado pelos autores quanto à possibilidade de trabalhar
fatores inerentes à prática das “Lutas”. Como aponta Rosa et al.20, situações de medo,
autocontrole emocional, ansiedade, canalização de agressividade, respeito e hierarquia são
especialmente vivenciados neste tipo de atividade. Além disto, estes autores lembram
ainda, a imensa carga cultural e filosófica que as Artes Marciais trazem de contribuição dos
outros povos para o Brasil, a se citar a Capoeira, o Judô, o Jiu-Jítsu, entre tantas outras.
Rufino e Darido19 contribuem para a prática do professor quando expõem que o ensino
deste conteúdo deve estar pautado em eixos norteadores: por que ensiná-las? o que ensinar
das Lutas? como ensiná-las? e como avaliá-las? Com base nisto se poderá efetuar o
julgamento crítico necessário para um ensino efetivo.
CONCLUSÕES
Diante deste estudo, foi possível perceber que o número de pesquisas relacionadas ao
ensino de lutas nos últimos dez anos é pequeno perto da importância dada à temática pelas
próprias instituições que regulamentam e sugerem os temas inerentes ao estudo da
Educação Física escolar no Brasil. Além disso, observou-se que elas estão concentradas em
somente alguns periódicos nacionais.
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REFLEXÕES ACERCA DO ENSINO DE LUTAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
MARCHI, Enair1
VEIGA, Mateus Martinelli da2
ANTUNES, Fabiana Ritter3
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo refletir e sintetizar as aprendizagens discutidas no decorrer
da disciplina de Lutas. Temos por base os debates realizados em aula e a análise das respostas
obtidas em um questionário realizado para um acadêmico do curso de Educação Física.
Enfatizando a importância dessa prática nas escolas e em outros ambientes. Tendo em vista que
as lutas são alvo de tabus e preconceitos, mas com benefícios evidentes. No entanto, os
acadêmicos saem da graduação se sentindo inseguros para ministrarem aulas dessa prática e
apontando que precisam procurar uma especialização para isso.
Palavras-chave: Arte Marcial; Ensino; Lutas.
INTRODUÇÃO
Em consideração ao contexto atual, algumas pessoas acreditam que as lutas são
socialmente incorretas. Porém há uma crescente população que está revertendo esse
contexto, sejam eles professores de Educação Física, praticantes, admiradores e/ou
adeptos a essa prática, todos concordam que quando ele é praticado de forma correta tem
inúmeros benefícios, não somente físicos, mas também sociais.
Por esse motivo buscamos contextualizar o ensino de lutas por profissionais da
Educação Física para entender por que muitos deles se sentem despreparados e
desmotivados para realizarem essa prática. Para complementar o assunto realizamos uma
entrevista com um estudante da área, a fim de evidenciar o exposto.
Lutas/arte marcial aqui abordado como esporte de combate, onde o objetivo de
jogo (meta para pontuar) está centrada no corpo do adversário, possui regras,
institucionalizadas, que visam manter a segurança e proporcionar a igualdade de ambos
os competidores em conquistar a vitória. Essa prática desaprova as brigas que são atos de
violência, desrespeito, hostilidade e que na maioria das vezes é considerado legalmente
como um crime contra outro ser humano.
METODOLOGIA
No presente momento no qual vivemos em um mundo acelerado e enérgico, onde
ninguém mais tem tempo para os outros, as pessoas estão se distanciando cada vez mais,
isso tudo exerce uma grande influência sobre os jovens, fazendo com que eles se tornem
cada vez mais agressivos e hostis com os outros, muitos pensam que as lutas podem ser
algo negativo para esses jovens agressivos, podendo fazer com que se tornem piores do
que já são. Segundo Carneiro et al. (2015) a palavra arte marcial tem origem na mitologia
Romana, segundo o qual a palavra marcial faz menção ao deus da guerra, que é
representado pelo planeta Marte, levando isso em conta, temos a arte da guerra.
1
Acadêmica do curso de Educação Física, Unijuí, Alecrim/RS, enair.marchi@sou.unijui.edu.br
2
Acadêmico do curso de Educação Física ,Unijuí, Santa Rosa/RS, mveiga2@bol.com.br
3
Docente do Curso de Educação Física da Unijuí, RS, fabiana.antunes@unijui.edu.br
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Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES, Juína/MT, v. 4, n. 5, jan./jun. 2021. 14
Conforme Pacheco (2012) às artes marciais são um forte mecanismo que está à
disposição e que podemos e devemos utilizar para ajudar os jovens a controlarem a sua
agressividade, de acordo com os resultados obtidos houve uma redução nessa atitude dos
entrevistados, já na prática de outros jogos, se comprovou que essa agressividade
aumentava, porém em decorrência das artes marciais, os jovens estão mais calmos, e são
mais capazes de se controlarem, sem agir ou reagir de forma agressiva diante de uma
situação estressante.
Segundo Oliveira (2019, p.14),
Quando falamos sobre Educação Física escolar, temos por referência um dos
principais documentos norteadores da educação brasileira, a Base Nacional Comum
Curricular, ela apresenta como 10ª competência específica de educação física para o
ensino fundamental (BRASIL, 2018, p.223), “experimentar, desfrutar, apreciar e criar
diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de
aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo”. Com objetivos focado em
lutas do país e do mundo. Como o ensino médio consiste no aprofundamento das
aprendizagens até o momento, as lutas surgem num contexto mais amplo e reflexivo.
Tendo em vista que o ensino das lutas tanto na escola como na academia
favorece positivamente os alunos, pois ela não estimula a agressividade, o desrespeito e
o vandalismo. Buscamos investigar por que ainda existem tantas controvérsias, tabus,
mesmo que essa prática ganhe a cada dia novos praticantes, em relação a outras
modalidades esportivas como o futebol a quantidade de adeptos é inferior e pode oferecer
benefícios tanto quanto.
Este trabalho foi realizado na forma de um questionário, já estruturado e
finalizado pela professora da disciplina de lutas, porém, a professora nos deixou livres
para modificar e alterar a estrutura do mesmo, sem alterar o seu sentido e sem alterar o
objetivo do questionário que é descobrir mais sobre o que o acadêmico de Educação
Física entende sobre a temática de lutas.
Segundo Gil (2008) o questionário é uma da muitas técnica de investigação que
é constituída por uma série de questões que são entregues a pessoa pesquisada, com o
objetivo de descobrir informações sobre os mais diversos temas e assuntos, englobando
desde sentimentos e emoções, até comportamento passado ou presente, o cita alguns
benefícios do questionário, entre eles encontramos: a parte da pessoa pesquisada poder
responder o questionário quando for mais conveniente para ela, a possibilidade atingir
um público muito amplo, o anonimato, entre muitos outros.
O questionário foi enviado para o entrevistado pelo WhatsApp, por conta da distância e
também pelo momento que a sociedade vive relacionada à pandemia de Covid-19 ao qual
a Organização Mundial da Saúde recomenda o distanciamento social para reduzir o
número de contágio do vírus. Preferimos realizar este instrumento de comunicação,
explicamos para o entrevistado do que se tratava esse questionário, deixamos ele bem à
vontade para poder responder sem pressa ou preocupação, ele pôde ser franco em suas
respostas, pois explicamos que a sua identificação seria mantida em sigilo, isso o levou a
responder com mais calma e tranquilidade, podendo dar a sua opinião e a sua visão em
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suas respostas. No entanto ficamos à disposição para eventuais dúvidas.
As perguntas ao entrevistado foram questões abertas as quais ele teria total
liberdade de respondê-las. De forma geral, pode-se perceber através das respostas que em
sua graduação o curso oferece condições para que as Lutas sejam inseridas dentro do
espaço escolar quanto fora dele, entretanto, o ensino é muito superficial e no momento
não tem intenção de trabalhá-las em sua profissão, porém se futuramente vir a trabalhar
precisará buscar conhecimentos e aprofundamentos maiores para conseguir se sentir
confortável no processo de ensino e aprendizagem de seus alunos.
Dessa forma, esse acadêmico concorda que as artes marciais trazem inúmeros
benefícios para o corpo humano, benefícios esses que são tanto físicos, quanto mentais, e
ele acredita que o ensino das lutas deveria ser ensinado nas escolas, porém, o acadêmico
relata que não teve nada sobre lutas em sua educação básica, e isso, infelizmente não
acontece apenas em uma ou outra, mas sim, em quase todas as escolas do Brasil, o ensino
de lutas para as crianças é fundamental, mas ainda hoje temos muito preconceito sobre
essa temática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o presente trabalho, conseguimos perceber alguns dos muitos benefícios que
as artes marciais trazem para os indivíduos, não importando em que idade se encontram,
não fazendo diferenças entre homens ou mulheres, o mais importantes é o que a arte
marcial exercita o corpo humano como um todo, melhorando o sistema muscular, o
sistema ósseo, o sistema cardiovascular, entre outros, podemos citar também a
capacidade das artes marciais promoverem o autocontrole em seus praticantes, levando
assim aos artistas marciais a serem calmos e controlados em situações onde outras
pessoas estão nervosas e extremamente estressadas.
Sabe-se que a Educação Física escolar não tem por função tornar os alunos
atletas, mas estimular além do senso crítico, o gosto pelas práticas esportivas, tendo em
vista seus benefícios para ter uma vida saudável. No entanto, o aluno se tornará adepto a
prática que se identificar, por isso a escola deve oferecer o maior número de
conhecimentos esportivos possíveis. Quando um professor não ministra aula de lutas,
além de privar esse conhecimento, ele permite que o aluno tenha uma ideia errônea sobre
essa prática.
Ao analisarmos as respostas do acadêmico entrevistados, podemos perceber que
muitas escolas não oferecem lutas na educação infantil ou no ensino médio, o contato
que esses indivíduos teriam com as lutas teria que ser intermediado por academias ou
quiçá na faculdade, mesmo que tivesse na faculdade, o que é o nosso caso por fazermos
educação física, fica evidente que apenas uma disciplina de lutas em apenas um semestre
é pouquíssimo para se aprofundar na temática, até mesmo é pouco para aprendermos
sobre os muitos estilos de artes marciais que existem, também é possível perceber que o
conhecimento que adquirimos em apenas uma disciplina é algo muito superficial e fraco,
pois temos muitos assuntos e muitos pormenores para serem tratados em tão pouco
tempo, por isso que é preciso buscar esse conhecimento mais especializado além da
graduação, se queremos no futuro trabalhar com as lutas.
Essa disciplina de lutas, juntamente com este trabalho nos propiciou muitas vivências e
experiências positivas, foi de fundamental importância para a nossa caminhada como
acadêmicos, futuros profissionais da educação física e principalmente como pessoas,
aprendemos muito uns com os outros, com a professora e com todos os professores,
mestres, convidados que tivemos durante as aulas, cada uma dessas pessoas enriqueceu
este conteúdo, e mais ainda que isso, conseguiram trazer muitos aprendizados que
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perpassam as lutas, trouxeram histórias, experiências, nos contaram a sua história, o seu
modo de ver as artes marciais, nos contaram sobre as histórias de origem das artes
marciais, a do boxe, a da capoeira, do kung fu, e muitas outras. Nos trouxeram noções
básicas de como nos tornamos melhores e mais aptos para trabalhar com essa prática.
REFERÊNCIAS
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Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES, Juína/MT, v. 4, n. 5, jan./jun. 2021. 17
ISSN 2318-5104 | e-ISSN 2318-5090
CADERNO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE
Physical Education and Sport Journal
[v. 16 | n. 1 | p. 109-115 |2018]
RECEBIDO: 02-02-2018
APROVADO: 21-03-2018
RELATO DE EXPERIÊNCIA
DOSSIÊ LUTAS
Marlon Messias Santana Cruz1, Abília Ana Castro Neta2, Drieli Fernandes Boa Sorte1,
Joice Tainá de Jesus Santos1, Ana Gabriela Alves Medeiro1
1
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
2
Universidade Estadual do Sudoeste Baiano (UESB)
RESUMO
Este estudo foi desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência no contexto do subprojeto
“Educação Física escolar: construindo possibilidades pedagógicas a partir de uma perspectiva cultural” do curso de licenciatura
em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus XII. As ações pedagógicas foram desenvolvidas em
uma instituição de ensino básico da rede pública, situada no município de Guanambi (BA), compreendido no período de março
a novembro de 2017. As informações necessárias à elucidação do problema da pesquisa foram produzidas no contexto da
intervenção pedagógica e posteriormente sistematizadas e analisadas. Essas informações foram coletadas por meio de registros
reflexivos – ou diários de bordo – realizados cotidianamente, nos quais foram transcritos detalhes relativos ao desenvolvimento
das aulas. Foi utilizado também, como fonte para a obtenção dos resultados, a gravação em áudio das discussões e rodas
de conversa. A partir dos desdobramentos decorrentes das problematizações e da avaliação realizada ao final do ano letivo,
identificamos nos alunos uma possível desconstrução das representações ou signos da cultura dominante, inicialmente presentes
em seus discursos. Ao final, identificamos, a partir das problematizações e vivências, que alguns discursos estereotipados a
respeito das lutas se desestabilizaram.
PALAVRAS-CHAVE: Currículo; Educação Física Escolar; PIBID.
ABSTRACT
This study was developed within the scope of the Institutional Scholarship Initiative Program in the context of the subproject
“Physical School Education: building pedagogical possibilities from a cultural perspective” of the undergraduate course in
Physical Education of the University of the State of Bahia (UNEB) - Campus XII. The pedagogical actions were carried out in
a public elementary school located in the municipality of Guanambi-Ba, from March to November 2017. The information
needed to elucidate the research problem was produced in the context of pedagogical intervention and Later systematized and
analyzed. This information was collected through reflective records - or daily logs - carried out daily, in which details related to
the development of the classes were transcribed. It was also used, as a source for obtaining the results, the audio recording of
discussions and talk wheels. From the developments resulting from the problematizations and the evaluation carried out at the
end of the school year, we identified in the students a possible deconstruction of the representations or signs of the dominant
culture, initially present in their discourses. In the end, we identified, from the problematizations and experiences, that some
stereotyped discourses about the struggles were destabilized.
KEYWORDS: Curriculum; Physical Education; PIBID.
INTRODUÇÃO
Nos cursos de licenciatura, a aproximação da universidade com a realidade escolar é uma necessidade
formativa, mas esse contato muitas vezes fica restrito ao momento do estágio curricular supervisionado. Nesse
contexto, nota-se o surgimento de iniciativas políticas que visam fortalecer essa aproximação, e uma delas é o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID).
O PIBID é um programa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que
tem por finalidade fomentar a iniciação à docência, contribuindo para o aperfeiçoamento da formação de
docentes em nível superior e para a melhoria da qualidade da educação básica pública brasileira.
Este estudo foi desenvolvido no âmbito do PIBID no contexto do subprojeto “Educação Física escolar:
construindo possibilidades pedagógicas a partir de uma perspectiva cultural” do curso de licenciatura
em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus XII , cujo propósito consiste em
contribuir para a construção da legitimidade da Educação Física na escola, a partir da efetivação de uma prática
pedagógica orientada por princípios democráticos e de valorização da diversidade, que possibilite uma leitura
crítica da realidade social.
As ações pedagógicas do subprojeto sustentam-se no currículo cultural da Educação Física, proposto por
Neira e Nunes (2008; 2009) a partir do referencial teórico dos Estudos Culturais e do Multiculturalismo Crítico.
O currículo cultural da Educação Física tem como objetivo a formação de um sujeito ativo-crítico socialmente,
que seja suficientemente capaz de se posicionar e lutar por condições de vida e por relações sociais mais
democráticas.
A partir desta perspectiva, buscamos neste trabalho apresentar e refletir acerca do trato pedagógico do
conteúdo “lutas” nas aulas Educação Física no campo do PIBID - UNEB - Campus XII. Consideramos que o trato
pedagógico com as lutas é uma tarefa que se apresenta primordial, pois tal prática vem sendo negligenciada
no contexto escolar, em decorrência de argumentos como falta de competência técnica sobre tal conteúdo,
infraestrutura ausente ou inadequada, vinculação das lutas com violência e agressividade e até mesmo a
resistência dos próprios alunos (FERREIRA, 2006).
Nesse sentido, o trabalho com lutas, quando realizado, se restringe a uma análise conceitual de tal
conteúdo. Transformar tal situação, além de possível, é essencial, pois negar tais vivências aos estudantes é
limitar-lhes o direito ao repertório cultural existente na sociedade. Constitui uma barreira para compreenderem,
analisarem e questionarem as inúmeras manifestações relacionadas a temática que se impõe no cotidiano.
Para tanto, o trato pedagógico com as lutas, demanda muito mais competência cognitiva do que técnica.
Mobilizar tais competências é essencial para a prática pedagógica, ao passo que o professor deve tematizar
as práticas corporais dos vários grupos que coabitam a sociedade, engajado na luta por mudanças sociais,
priorizando procedimentos democráticos para a definição dos temas e atividades de ensino, além de valorizar
experiências de reflexão crítica sobre a ocorrência social das práticas corporais, aprofundando e ampliando os
conhecimentos dos alunos mediante o confronto com outras representações.
MÉTODOS
Este estudo se consiste em um relato de experiência que, segundo Cavalcante e Lima (2012, p. 96), “é
uma ferramenta de pesquisa descritiva que apresenta uma reflexão sobre uma ação ou um conjunto de ações
que abordam uma situação vivenciada no âmbito profissional de interesse da comunidade científica”.
Os procedimentos de intervenção pedagógica foram norteados pelos princípios do currículo cultural da
Educação Física. Primeiramente, no processo denominado de mapeamento, levantamos os conhecimentos
que os alunos possuem sobre determinada prática corporal. Portanto, durante o mapeamento, não há padrão
ou roteiro obrigatório a ser seguido.
O segundo processo é a tematização, que implica em abordar, interpretar, reconstruir, conferindo-lhes
novos significados sobre o tema selecionado. Assim, são convidados, por meio de problematizações e debates,
a produzirem novas formas de vivenciar a prática em questão, em conformidade com as formas de regulação
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 109-115, jan./jun. 2018.
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Tematizando as lutas na educação física escolar: relato de uma prática pedagógica no contexto do PIBID 111
que ocorrem no âmbito das aulas, e a relacionarem esse processo com as formas como a prática corporal
investigada se manifesta na sociedade mais ampla. Esse procedimento é denominado de ressignificação.
As ações de aprofundamento e ampliação dos saberes referentes à prática corporal tematizada, por sua
vez, permitem aos alunos conhecer aspectos culturais referentes à política, à história, aos saberes populares e
científicos, entre tantos outros que o trabalho possa requerer.
Por fim, outra possibilidade de ação pedagógica que o currículo cultural da Educação Física nos
direciona são os registros e avaliação. A avaliação no currículo cultural se caracteriza pela adoção de uma
postura etnográfica, para além das observações, os professores registram as ações didáticas desenvolvidas,
os encaminhamentos efetuados e as respostas dos educandos. Também recolhem e arquivam exemplares dos
materiais produzidos pelos alunos durante as aulas.
A sistematização e análise dos resultados desta experiência foram feitas por meio de registros reflexivos
– ou diários de bordo – realizados cotidianamente, nos quais foram transcritos detalhes e impressões relativas
ao desenvolvimento das aulas e aos seus acontecimentos. Nesta perspectiva, Soldati (2005) afirma que através
desta técnica é possível apresentar os problemas que surgiram durante o estudo, descrevendo as atividades
desenvolvidas, comentários, reflexões e medidas utilizadas para superar os desafios e obstáculos encontrados.
Utilizamos também, como fonte para a obtenção dos resultados, a gravação em áudio das discussões
e rodas de conversa. Para isso, foi feito o uso de um gravador na realização das intervenções pedagógicas,
para que fosse ampliado o poder de registro das falas dos alunos e a captação de elementos de comunicação
que pudessem ser significativos, tais como pausas de reflexão, dúvidas ou entonação da voz, aprimorando a
compreensão da narrativa. Autores como Patton (1990) e Rojas (1999) corroboram com este indicativo, pois o
gravador preserva o conteúdo original e aumenta a acurácia dos dados coletados.
As aulas que resultaram na elaboração deste relato ocorreram no período compreendido entre março
a novembro de 2016. A temática estudada nesse período letivo foram os esportes olímpicos, em função dos
Jogos Olímpicos decorrentes no momento. O cenário do estudo foi uma instituição de ensino básico da rede
pública situada no município de Guanambi (Bahia), com uma turma do 2° ano do ensino fundamental I.
A PRÁXIS PEDAGÓGICA
No espaço de intervenção escolar, podemos afirmar que o tema/conteúdo de lutas é pouco acessado
e, inclusive, o seu trato pedagógico suscita questionamentos e preocupações diversas por parte dos
profissionais atuantes na Educação Física (NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007, p. 92).
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 109-115, jan./jun. 2018.
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112 Tematizando as lutas na educação física escolar: relato de uma prática pedagógica no contexto do PIBID
Na tentativa de rompermos estes paradigmas, nas semanas posteriores tematizamos este conteúdo,
especificamente as lutas presentes nos Jogos Olímpicos, a saber: boxe, esgrima, judô, luta olímpica e taekwondo.
Para este relato, nos deteremos somente nas aulas com o conteúdo judô.
Ao tematizarmos o judô, discutimos acerca das suas origens, seus praticantes, quais grupos sociais
pertencem, em quais espaços se realizam, quais os procedimentos envolvidos. Foram feitas diversas
problematizações acerca das representações sociais inerentes a essa prática. Identificamos nos discursos dos
alunos que as lutas, de modo geral, eram eminentemente violentas. Marginalizavam esta prática corporal e a
associavam como sinônimo de agressão e/ou briga.
Fato que nos levou a problematizar tais representações a fim de refletirmos sobre a marginalização desta
prática corporal na Educação Física escolar e no contexto social mais amplo. As vivências foram realizadas
por meio de brincadeiras com movimentos inerentes à luta. Segundo Neira (2011, p. 123), “no que tange
às vivências corporais multiculturalmente orientadas, sua característica distintiva com relação às demais
propostas do componente é a prática acompanhada de leitura e interpretação”.
Para ampliar e aprofundar os conhecimentos a respeito da prática corporal em foco foram planejados
momentos para assistir documentários e filmes, pesquisas na internet, em livros ou revistas, entrevistas com
participantes, visitas a locais de prática, entre outras. Atividades como essas prescindem de uma busca pessoal
do professor para que oriente os alunos acerca dos materiais, formato, procedimentos, pessoas envolvidas,
etc. É o momento da recontextualização pedagógica (BERNSTEIN, 1996), ocasião em que o docente trabalha
com textos culturais que contêm informações distintas, divergentes das acessadas pelos estudantes, o que faz
gerar um ambiente contra hegemônico.
Corroborando com estes apontamentos, apresentamos aos alunos alguns discursos de lutadores
profissionais – por meio de imagens, vídeos, etc. – que desconstruíam uma imagem eminentemente violenta
das lutas. Além disso, agendamos uma visita a um local onde são desenvolvidas lutas distintas com a finalidade
de ampliarmos o conhecimento acerca das mesmas. Para isso, propusemos que entrevistássemos professores
e praticantes da academia de lutas visitada.
As atividades de ensino voltadas para o aprofundamento possibilitam um entendimento maior dos
significados comumente atribuídos à prática corporal objeto de estudo. As atividades de ensino voltadas para
a ampliação procuram confrontar os conhecimentos culturais inicialmente disponíveis com outros, estimulam
o contato com discursos diferentes e enriquecem as leituras e interpretações realizadas.
Ao término do conteúdo lutas realizamos uma avaliação, onde foi analisado todo o processo de ensino/
aprendizagem. Indagamos acerca da diferença existente entre luta e briga.
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 109-115, jan./jun. 2018.
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Tematizando as lutas na educação física escolar: relato de uma prática pedagógica no contexto do PIBID 113
Entrecruzando as falas dos alunos no início das nossas problematizações com os discursos ao término
das mesmas, identificamos uma possível desconstrução da imagem deturpada – eminentemente violenta e
marginalizada – que estes possuíam acerca das lutas. Na prática pedagógica aqui relatada, a problematização
esteve presente na tentativa de confrontar as representações que os alunos tinham a respeito da violência
no âmbito das lutas. Ao final, conseguimos proporcionar uma reflexão sobre a marginalização desta prática
corporal e de seus praticantes no contexto social mais amplo. A partir das problematizações e vivências, alguns
discursos estereotipados a respeito das lutas se desestabilizaram. Neste sentido, relata Neira (2011, p. 116):
Assim, o Currículo Cultural da Educação Física vem desestabilizar o currículo dominante, colocar sua
própria identidade em questão, pois a partir do momento que o papel do mesmo é expor a cultura marginalizada
dos grupos subjugados da sociedade, aceitar as culturas vivenciadas pelos alunos e potencializar as vozes,
ele vem dizer que o ambiente escolar deve reconhecer e oferecer espaço para um debate do processo da
constituição das identidades dos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos apontamentos dos Estudos Culturais para a pedagogia consiste no direcionamento dos olhares
para as relações de poder. Neste sentido, ao dar a devida atenção a essas relações, torna-se necessário
analisar sua origem, por meio de indagações que entrevejam a mudança já que a submissão dos diferentes
não corrobora com os princípios democráticos propostos na atualidade para as escolas.
Nossas ações eram constantemente planejadas, refletidas, analisadas, num processo contínuo, sujeito a
adaptações conforme as necessidades dos sujeitos envolvidos, aproximando e confrontando os conhecimentos
dos alunos, promovendo o reconhecimento das diferenças, ao potencializar os interesses e as características
socioculturais dos discentes.
Ao tematizarmos o conteúdo lutas, emergiram questões que nos possibilitaram problematizar
representações e relações muitas vezes carregadas de opressão, submissão, estereótipo e preconceito, que
adentram os espaços da escola e as vivências “naturalizadas” das manifestações da cultura corporal que se
concretizam nesse contexto. A partir dos desdobramentos decorrentes das problematizações e da avaliação
realizada ao final do ano letivo, identificamos nos alunos uma possível desconstrução das representações ou
signos da cultura dominante, inicialmente presentes em seus discursos.
Foi possível apreender que o processo de desnaturalização apresentado nesse relato de experiência,
resultantes das ações pedagógicas desenvolvidas (tematização, ressignificação, aprofundamento, ampliação,
registros e avaliação), não é um fator comum que se concretize nas aulas de Educação Física Escolar, pois
suscita o rompimento de paradigmas existentes, construídos social, cultural e historicamente na área.
A partir dos desdobramentos da prática pedagógica aqui relatada é possível verificar que nos colocamos
como professores-pesquisadores. No decorrer do projeto, o professor-pesquisador continua mapeando os
saberes e conhecimentos dos alunos, e de forma contínua, com idas e vindas, vai compondo o currículo,
prioritariamente a partir das questões dos alunos em relação ao tema. Também como professor-etnógrafo,
pois vai a campo, observa, estuda, se envolve, pesquisa em diversas fontes. Os alunos também assumem o
papel de pesquisadores e etnógrafos, a medida em que vão coletando informações, assistindo aos vídeos,
aprendendo conceitos, táticas, técnicas, conhecendo locais de prática, aprofundando, ampliando, registrando
e ressignificando.
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 109-115, jan./jun. 2018.
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Por tudo isso, corroboramos com os apontamentos de Neira (2011) ao defender uma noção curricular
aberta ao diálogo cultural, na busca contínua por uma Educação Física da diferença, que desestabiliza o
acomodado e desconstrói as certezas, por meio de um currículo que não se configura como uma proposta
definitiva, mas como um caminho a seguir, pois outros são possíveis e necessários para uma prática pedagógica
não estática.
REFERÊNCIAS
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 109-115, jan./jun. 2018.
http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/index
CRUZ et al.
Tematizando as lutas na educação física escolar: relato de uma prática pedagógica no contexto do PIBID 115
Autêntica, 2003.
SOLDATI, M. Capoeira: prevention et mediation educative au près de jeunesen situation de risque au
Brésil. Genève: Univirsité de Genève. Mémoire de licence, 2005.
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Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 109-115, jan./jun. 2018.
http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/index