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Manifestações

Culturais e Esportivas:
Esportes Individuais
Pedagogia dos Esportes Individuais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Igor Roberto Dias

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Pedagogia dos Esportes Individuais

• Introdução;
• Objetivos Relativos à Prática dos Esportes Individuais;
• Aspectos Didáticos e Pedagógicos;
• Implicações Pedagógicas;
• Quem é o seu Atleta?
• Formação Esportiva;
• Planificação dos Trabalhos.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Entender os aspectos didáticos e pedagógicos e andragógicos, que envolvem o ensino de
modalidades esportivas individuais perante a prática, discutindo as possibilidades de plani-
ficação dos trabalhos a serem realizados em conformidade com a realidade;
• Discurtir as implicações pedagógicas e andragógicas e a formação esportiva relacionadas à
iniciação e especialização.
UNIDADE Pedagogia dos Esportes Individuais

Introdução
O ensino e aprendizagem das modalidades esportivas evoluiu muito nos últimos anos.
Se lembrarmos que, há não muito tempo, os professores em geral eram as pessoas que
viviam a modalidade e transmitiam aquilo que aprenderam na prática, o que, de certo
modo, é muito rico. Não é anormal que pessoas que viveram a vida toda em um tipo de
treinamento esportivo tenham experiências complexas e muito bem elaboradas sobre
determinada modalidade. Essa característica foi abordagem do ensino das modalidades
de um modo geral por muitos anos. Mas veja, a ciência também trouxe muito conhe-
cimento, e muito sobre o entendimento daquilo que era feito na prática. A experiência
prática é muito rica, lembre-se do que dissemos na unidade anterior: saber ensinar é
primordial, mas o saber fazer também é muito rico para o professor.

Mas o que nos diferencia de alguém que viveu a vida fazendo uma modalidade?
O que nos diferencia dessa pessoa que entende tanto de uma modalidade? Havia uma
professora na faculdade que dizia: “qualquer um pode mandar um atleta fazer 20 chega-
das na piscina, mas só nós profissionais de Educação Física, entendemos o porquê fazer,
quando fazer e como fazer, e isso faz toda a diferença”. Veja, vivenciar uma modalidade
e ter experiência prática é muito importante, mas estudar o que acontece por trás desse
entendimento prático é tão importante quanto. Não devemos ensinar somente o ato mo-
tor e as regras da modalidade, devemos ensinar mais que a modalidade, devemos traçar
caminhos que levem à autonomia do aluno (isso só é possível através da compreensão
da sua própria prática).

Por isso, o intuito desta unidade é abordar os temas atuais relacionados à pedagogia
e andragogia do esporte individual, de modo crítico e reflexivo, pensando nas alterna-
tivas e maneiras de intervenção. Não vamos trazer nenhuma “receita de bolo” pronta,
mas vamos discutir os conceitos e partir deles, como profissionais, estabelecer algumas
diretrizes que devem ser consideradas no momento do planejamento das aulas e do cro-
nograma de treinamento.

Objetivos Relativos à Prática


dos Esportes Individuais
Desenvolvimento motor, técnico e tático associado ao desenvolvimento da autonomia
do atleta (ou seja, o atleta deve ser capaz de aprender a aprender – a aprendizagem ativa
– e assumir parte da responsabilidade pela sua evolução como atleta). Não menos impor-
tante, o esporte deve ser uma ferramenta para formação de um cidadão ético e moral.

Nos próximos tópicos, iremos discutir os aspectos pedagógicos e didáticos de como


atingir esses objetivos.

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Aspectos Didáticos e Pedagógicos
Uma importante característica do trabalho de ensino é a consideração e valorização da
experiência do aluno por menor que seja seu repertório. O professor deve sempre consi-
derar o repertório motor do aluno no aspecto do ensino e aprendizagem. Autores na área
da educação física reforçam que o professor deve interpretar e utilizar essa experiência
prévia. No decorrer do ensino de modalidades esportivas, podemos lidar com diferentes
tipos de público, desde o iniciante, que não domina nada, até alguém experiente em ou-
tras modalidades e que tem facilidade de lidar com novos desafios. Usando como base a
modalidade esportiva, temos que ensinar procedimento, conceitos e atitudes. A profundi-
dade dos conceitos, procedimentos e atitudes deve depender da capacidade de absorção
do aluno.

É necessário identificar a capacidade do aluno em aprender regras. Por exemplo, ati-


vidades desportivas para poucos alunos não devem ter muitas regras (em geral, no má-
ximo, duas a três regras em cada atividade). Nesse sentido, não se pode tentar ensinar
uma atividade esportiva (que contém centenas de regras para esse público), devem-se
utilizar atividades pré-desportivas. A modalidade esportiva em si deve ser ensinada no
nível de especialização (em escolinhas de esportes). O padrão motor deve ser cobrado
de acordo com a capacidade de execução do aluno (dependente da vivência prévia e do
amadurecimento do sistema nervoso do aluno) – atitudes, como conduta moral dentro
das atividades, por exemplo, respeito às regras combinadas nas atividades, devem ser
cobradas e valorizadas no decorrer das atividades sem exceção. Por exemplo, se uma
criança em formação (amoral) percebe que é vantajoso burlar as regras durante as ati-
vidades, ela irá levar isso para a vida esportiva adulta e também social (é importante
salientar que, antes de buscarmos a formação de uma atleta para o alto rendimento, o
nosso o objetivo maior é formar um cidadão ético e social).

Mesmo que você esteja treinando um atleta ou um iniciante (aluno de escola regular),
você deverá criar atividades para aumentar a sua proficiência na modalidade, conhecimen-
to sobre a modalidade e seus atos motores, e também o atleta/aluno deverá desenvolver
apreço e conduta ética para a modalidade. Portanto, todas as atividades (técnica ou táti-
ca) devem ser pensadas em como você passará conteúdos procedimentais (saber como
executar os movimentos), conceitual (o porquê e quando executar os seus atos motores),
aspectos biomecânicos (técnicos e teóricos), fisiológicos (devem ser abordados quando
pertinentes) e atitudinal (qual a importância daquela atividade na sua vida?). A ideia é que
o aluno se torne independente e que se ensine muito mais que a modalidade.

O que é conteúdo atitudinal, procedimental e conceitual?


Se você ensinar apenas padrões motores sem explicar a função daquele movimento e o
valor dele na modalidade de forma explícita (como é o caso, em geral, de profissionais não
formados), o aluno não será independente na modalidade, apenas aprenderá com seus pró-
prios erros e acertos e, provavelmente, não será autônomo para criar e reinventar a moda-
lidade para levar para a vida. Portanto, todas as nossas atividades devem ser pensadas em
transmitir as diferentes dimensões dos conteúdos a fim de criar a autonomia do aluno:

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UNIDADE Pedagogia dos Esportes Individuais

• Conceito: ensinar mais que a modalidade, ensinar como utilizar essa modalidade na
vida; ensinar para que serve cada atividade proposta na aula (velocidade? agilidade?
técnica? etc.) e como adaptá-la ou aplicá-la na modalidade. Essa dimensão do con-
teúdo deve ajudar os alunos a saberem, não apenas como fazer algo, mas também
quando, onde e por que fazer;
• Procedimento: o aluno deve ser capaz de entender o jogo (regras e mecanismo téc-
nico/táticos) e executar conscientemente os fundamentos técnicos e táticos da moda-
lidade para solução de problemas da modalidade;
• Atitude: as aulas devem considerar aspectos éticos, morais e normativos; portanto,
além de ensinar a gostar do esporte, devemos ensinar a trabalhar em equipe (ele pode
estar em uma modalidade de esporte individual, mas certamente terá uma equipe as-
sessorando a sua atuação), ensinar a respeitar o adversário, as regras etc.

O quadro 1 apresenta um exemplo hipotético dos temas nas dimensões do conteúdo


no processo de ensino/aprendizagem da natação. De fato, devemos ensinar os princípios
biomecânicos que influenciam a flutuação (como empuxo ou princípios de Arquimedes).
Se o aluno aprender a flutuar sem saber como (as razões físicas), dificilmente ele conse-
guirá passar esse conhecimento adiante (pode até passar, mas pelo método de tentativa
e erro, ou seja, ele sabe que é possível flutuar só basta achar o “jeito”). Um professor
que conhece esses princípios pode ensinar um aluno a flutuar em apenas uma aula (em
alguns minutos). Ao ensinar o flutuar e o conceito envolvido, será inevitável falar que indi-
víduos gordos flutuam com maior facilidade do que indivíduos magros. Nesse momento,
podem surgir piadas preconceituosas. Esse é o momento ideal para ensinar os alunos a
respeitarem as diferenças individuais. O professor é um modelo de cidadão para o aluno
e deve usar esses momentos para formar um cidadão ético e moral.

Quadro 1 – Exemplo de aula abordando as dimensões dos conhecimentos

Objetivo geral Adaptação ao meio líquido/ iniciação na natação.

Princípios biomecânicos da flutuação; diferença morfológicas que


Dimensão conceitual influência na flutuação.

Dimensão
Aprender a flutuar na água.
procedimental

Dimensão atitudinal Respeitar as diferenças individuais das pessoas.

Cabe salientar que o professor deve ter claro os objetivos em relação às dimensões do
conteúdo (veja o exemplo da Tabela 2). Nesse sentido, além do objetivo geral, é necessá-
rio ter os objetivos específicos em relação às dimensões dos conteúdos.

O aumento da proficiência motora, além da habilidade motora em si, exige deman-


das cognitivas. Nesse sentido, não basta executar atividades de forma aleatória, e todas
as atividades devem ter um fim (O que está melhorando no atleta? Qual o tempo de
reação? Noção espacial? Controle motor? Ou todas juntas?). É necessário estudar as
demandas específicas da modalidade e as deficiências do atleta para elaborar um plano
de intervenção motora e lapidar um atleta. O livro “Escola da bola” (KRÖGER; ROTH,
2002) sintetiza de forma brilhante um roteiro de trabalho de intervenção técnico/tático

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que pode ser aplicado na iniciação de qualquer modalidade esportiva com bola (seja in-
dividual ou coletiva). O método da “Escola da bola” será abordado mais detalhadamente
em outras unidades.

No entanto, existem vários outros esportes individuais sem bola, como musculação
(fisiculturismo), escalada, corrida, automobilismo, natação, lutas etc. Neste capítulo, ire-
mos focar em aspectos universais que guiam a formação de uma atleta de modalidade
individual. Diferentemente de esportes coletivos, os esportes individuais têm uma menor
demanda de treinamento tático e tomada de decisões, no entanto, o foco no treino das
técnicas e nas ações motoras é intenso e isso deve ser treinada de forma direta sob a
orientação de um técnico experiente e de forma a desenvolver a autonomia (aprendi-
zagem ativa). Diferentemente de esportes coletivos em que o atleta tem feedback ime-
diatos tanto do técnico como dos seus parceiros de equipe (aprendizagem passiva), nos
esportes individuais, esse processo de feedback é menos intenso, por isso é importante
desenvolver nos seus atletas as habilidades de aprendizagem ativa.

O que é aprendizagem ativa no esporte?


A proposta aqui é que o treinador apresente um problema a ser solucionado na modalidade
e deve instigar o atleta ou grupo a formular, testar e avaliar soluções de cunho motor, téc-
nico ou táticas. Como aumentar a agilidade, a mira? Como usar a força do adversário a seu
favor? Essa abordagem focada na solução concentra a atenção dos jogadores/atletas em
quais são os objetivos da atividade e o que eles precisam fazer para atingir esses objetivos.
Em esportes coletivos com bola, sabe aquele jogador “fominha” que não passa a bola? Ape-
sar de saber que o objetivo é obter o maior número de pontos, não sabe que é melhor estra-
tégia para fazer um ponto é a troca rápida de passe, claro, junto de um esquema tático que
torne a troca de passe efetiva e não aleatória. Na corrida, a melhor estratégia para melhorar
o tempo na corrida (além de correr, é claro) é desenvolver uma elevada e afinada técnica
de corrida, potência aeróbia junto da economia de corrida e também conhecer o perfil de
pace (ritmo) de corridas em diferentes distâncias – pense num problema interessante a ser
proposto para o seu atleta resolver: além de conhecimento de desenvolvimento de técnicas
de corrida (conhecimentos em biomecânica), ele terá que se envolver com conhecimentos
de fisiologia do exercício, treinamento de força e aeróbio e tático. Essa abordagem também
incentiva os treinadores e seus atletas a trabalharem colaborativamente para resolver os
problemas que surgem na prática e na competição. Isso irá envolver uma relação de poder
diferente do que vemos normalmente na relação técnico/atleta (ou seja, o treinador manda
e o atleta obedece). Essa abordagem exige que técnico e atleta operem em um nível mais
igualitário, no qual o técnico não apenas facilita o aprendizado, mas também aprende como
um coparticipante do aprendizado. Essa não é uma tarefa fácil para treinadores acostuma-
dos a dizer aos jogadores/atletas o que eles devem fazer. O aprofundamento deste tópico
pode ser encontrado em Light e Harvey (2017). Entretanto, ao longo desta unidade, segui-
mos as mesmas ideias para desenvolver um roteiro para a aprendizagem ativa dos atletas.

Uma vez que você cria atividades e explica qual é a função da atividade para o desen-
volvimento do atleta (ou seja, criar jogos para entender a modalidade), você desenvolverá
um ambiente motivante. Também é necessário que o atleta saiba aonde ele deve chegar
(execução correta das ações técnicas e táticas para minimizar os erros), ou seja, o treino
de técnica e tática não devem ser executados sem que os atletas saibam como aquelas
atividades irão agregar no seu repertório esportivo. É normal encontrar técnicos que

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UNIDADE Pedagogia dos Esportes Individuais

simplesmente passam uma série de atividade para seus atletas sem ao menos falar do
objetivo do treino do dia, além disso, com excessiva cobrança e exposição dos atletas
(criando um sentimento de incompetência e de clima negativo nos treinos). Isso des-
motiva o atleta, além de não dar ferramenta (conhecimento) para aprendizagem ativa.
O que queremos dizer é que você tem que ensinar o seu atleta a se desenvolver de forma
autônoma e você, como técnico, deverá mostrar o caminho para isso (aprendizagem
ativa). Além de mostrar o caminho com abordagem das dimensões do conhecimento,
o técnico deverá criar um clima positivo e atividades que desenvolvam senso de com-
petência e autonomia do seu aluno – essa estratégia pedagógica para desenvolvimento
de autonomia para aprender a aprender é conhecida com teoria da autodeterminação.

O que é teoria da autodeterminação?


Segundo a teoria da autodeterminação (EDMUNDS, NTOUMANIS & DUDA, 2009), todos os
comportamentos e ações são levados a ser cometidos por fatores motivacionais. Por exem-
plo, como profissionais de Educação Física, sabendo dos nossos objetivos para com o atle-
ta, temos que fazer com que ele adquira a aderência à prática regular nas atividades com
um fim nela mesma, ou seja, gosto pela prática (i.e., motivação intrínseca). Não devemos
promover a prática somente o alertando, por exemplo, sobre o fato de eles precisarem me-
lhorar a sua performance para serem titulares ou atleta de elite, ou seja, não ser um atleta
reserva e fugir do fracasso. Em outras palavras, não devemos promover a motivação através
do medo, ou seja, promover motivação extrínseca. Promover a motivação extrínseca não é
interessante ao pensarmos que o atleta precisa de um engajamento em longo prazo (anos
de treino). Entretanto, apesar da motivação extrínseca funcionar em curto prazo (fazer trei-
nar mais), isso não satisfaz às necessidades psicológicas básicas do ser humano, exatamente
porque ele não se sente satisfeito naquela atividade, pois é uma atividade que lhe impõe
sentimento de medo e preocupação, como o medo de falhar.

Em termos práticos, como fazemos para desenvolver a motivação intrínseca do atleta


e com isso desenvolver a autonomia e sentimento de competência – o que irá alimentar
as suas necessidades psicológicas básicas para ser feliz na modalidade – e assim conseguir
mantê-lo na prática em longo prazo?

Primeiramente, para desenvolver a competência e a autonomia do atleta, você


deve criar um ambiente de clima positivo:

Para isso, você deverá fazer com que o aluno se sinta integrado e parte daquele meio.
Isso é feito quando há as necessidades de competência e autonomia são supridas. Dessa
forma, cria-se um ambiente positivo para bons resultados, por exemplo, aderência à
prática e aprendizagem ativa.

Entretanto, para isso, é necessário que você dê ao atleta estrutura, suporte para a
autonomia e que você tenha boa relação interpessoal como o ele. A seguir, seguem
exemplos, de acordo com a teoria da autodeterminação, de como um professor pode
trabalhar com o atleta a fim de promover motivações intrínsecas.

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Quadro 2

• Dar escolhas ao aluno (por exemplo, fazer com que o aluno dê opiniões sobre di-
ferentes tipos de exercícios);
• O treinador deve fazer perguntas que gerem diálogo e pensamento em vez de
apenas dizer aos jogadores/atletas o que fazer;
• Fornecer oportunidades para jogadores/atletas formularem, testarem e avaliarem
coletivamente soluções para problemas;
Suporte para
• Perceber a melhoria do aluno (por exemplo, enaltecer a melhoria conseguida);
autonomia • Enfatizar o envolvimento com o ambiente de aprendizagem física ou experiências;
• Reconhecer e levar em conta os sentimentos e perspectivas do aluno em relação
às atividades (por exemplo, estar aberto para reclamações e respondê-las de uma
maneira positiva);
• Fornecer justificativa significativa (por exemplo, explique por que cada atividade
é benéfica e em que áreas de aptidão pode melhorar).

• Demonstrar uma boa liderança (por exemplo, negociar metas no início do trabalho);
• Responder bem e diretamente às perguntas (por exemplo, não deixar os alunos
Estrutura com dúvidas sobre certas atividades);
• Fornecer desafios transponíveis (por exemplo, trabalhar em um nível que leva os
participantes ao máximo, fornecer opções fáceis e difíceis).

• Dedicar-se ao aluno (por exemplo, gastar tempo conversando no início da aula,


saber o seu nome e mostrar prazer com a atividade);
• Demonstrar empatia com o aluno (por exemplo, não fazer o papel de chefe);
• Reconhecer interesse e desinteresse (por exemplo, se surgir um problema, discutir
e alterá-lo; tentar voltar a envolvê-la na atividade novamente e não manter a ati-
Relação interpessoal vidade, independentemente do ocorrido);
• O treinador deve fornecer um ambiente sociomoral de apoio no qual cometer erros
é aceito como uma parte essencial da aprendizagem;
• Saber como tornar o seu atleta em um mestre na modalidade no sentido de domi-
nar todos os aspectos relacionados à modalidade.

Portanto, ao ensinar os fundamentos técnicos, devemos também ensinar os funda-


mentos táticos e, para isso, o aluno deve entender como funciona a modalidade.

Em Síntese
A aprendizagem é significativa em esporte de equipe e/ou individual quando as tarefas e
atividades de aprendizagem fazem sentido dentro do “quadro geral” – você se pergunta:
“por que tenho que fazer alguns educativos?”. É necessário que o atleta tenha compreensão
do que está fazendo. Além disso, quando o aluno está submerso num ambiente de clima
positivo, há uma promoção do sentimento de competência e de autonomia. Ao ensinar
além do procedimento – ou seja, também ensinar conceito e atitude –, você envolverá o
aluno afetivamente e socialmente, bem como fisicamente e intelectualmente, e é provável
que essas atividades sejam significativas. Em outras palavras, você promoverá a aprendiza-
gem positiva, pois a aprendizagem só ocorre em atividades significativas.

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Implicações Pedagógicas
Ao realizar uma proposta de treinamento, é importante que o profissional de educa-
ção física entenda que uma boa elaboração pode ajudar o atleta não apenas a conhecer
seu potencial, mas a identificá-lo reconhecendo seus limites. Em seu livro, Nista e Piccolo
(2014) relatam que a preocupação do professor deve ser em utilizar os métodos pedagó-
gicos, que basicamente focam nas propostas pedagógicas, no ambiente de trabalho e no
desenvolvimento das atividades.

Quem é o seu Atleta?


A formação esportiva envolve entender especificamente o público que está aten-
dendo. Pois as demandas e as expectativas são bem diferentes. Indivíduos que buscam
formação esportiva podem apresentar diferentes objetivos e em diferentes idades:
• Para os jovens, como meio de aprendizado de diferentes repertórios motores:
geralmente são direcionados pelos pais por diferentes objetivos, como meio de ocu-
par o tempo livre, ou porque os pais veem importância na prática esportiva como
uma ferramenta para formação de um cidadão ético-moral e saudável;
• Para jovens que buscam especialização esportiva (tem objetivo de ser atleta):
em geral, esse público também é direcionado pelos pais que desejam que o seu filho
seja um atleta, ou até mesmo a criança que tem como objetivo ser atleta;
• A iniciação esportiva na fase adulta possui outros objetivos e outros resul-
tados: em geral, a iniciação nessa etapa da vida envolve a busca por uma ativida-
de saudável, ou o desejo de aprender uma nova atividade esportiva, mais desejo
pela prática do que por resultados de performance especificamente (indivíduos que
buscam modalidade esportiva porque gostam da prática e não esperam nenhum
resultado em troca, buscam somente a prática). Não que esse público não seja
competitivo ou não queira disputar campeonatos, por exemplo, mas em geral os
objetivos ficam em torno da prática com fim nela mesma;
• Adultos que buscam prática esportiva por pressões externas: conselho do mé-
dico, pressão social por estar fora de forma, acima do peso etc.

Perceba que há um padrão dos participantes que buscam a prática. Ou seja, ou é


porque gosta, porque vê importância ou por pressão externa. Você deve identificar o
que motivou o atleta a procurar a prática esportiva. Há perguntas que podem facilitar a
percepção da motivação, que são:
1. “Por quem, para quem?” Pretende descobrir se há pressões externas (por
exemplo, pressões sociais), para a adoção do comportamento;
2. “Por quê? Quais os objetivos que estão realmente na base da decisão?” Tem o
objetivo de fazer com que o indivíduo reflita sobre as suas expectativas quanto
ao comportamento;

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3. “Como me sinto com a prática? Que emoções e pensamentos a atividade me
suscita?” Visa à reflexão do aluno sobre o que ele sente em relação à ação
do comportamento.

Essas perguntas identificam a fonte da motivação. Conhecer o tipo de motivação tor-


na-se importante, pois os resultados da prática, como aderência ou “dropout”, estão li-
gados à motivação intrínseca e extrínseca respectivamente (EDMUNDS, NTOUMANIS
& DUDA, 2009). Perceba que, independentemente da motivação do atleta, você deverá
trabalhar para desenvolver sentimento de competência e autonomia em um ambiente de
clima positivo. Ignorar essa conduta levará o seu trabalho ao fracasso.

Formação Esportiva
Iniciação Esportiva e Especialização Esportiva
Não menos importante, por mencionarmos a esta altura da unidade, o desenvolvi-
mento do atleta do ponto de vista motor é um dos objetivos da educação física, já o de-
senvolvimento da performance máxima (especialização) do atleta é objetivo do esporte.
O trabalho para desenvolvimento motor específico (especialização) para a modalidade
ou o desenvolvimento motor para a vida deve estar explícito e deve ser conversado com
os atletas e responsáveis. A formação esportiva, deve ser usado para os jovens como
meio de aprendizado de diferentes repertórios motores, que, em alguns casos, pode
virar uma especialização esportiva, caso seja apresentado potencial e vontade para a
competição por exemplo.

Especialização esportiva é basicamente o treino focado numa só modalidade e com


carga de treinamento voltado ao alto nível. Uma das grandes discussões na literatura é
como e quando introduzir a especialização esportiva. A questão que irá guiar este tópico
é se a especialização esportiva deve ser precoce – ou seja, já na infância a iniciação deve
ser uma especialização ou deve ter uma programação de formação em longo prazo?

Um fato é que há diminuição da flexibilidade conforme a criança vai crescendo; outro


fato é que o atleta consegue chegar ao seu melhor rendimento na adolescência; quanto
mais baixo o centro de massa, maior a capacidade de controlar o equilíbrio; a massa
corporal afeta a velocidade e a potência. O que queremos dizer é que tudo isso implica,
aos olhos de um leigo, na impossibilidade de se conseguir alcançar grandes evoluções em
alguns esportes individuais, como na ginástica artística de alto nível, com um treinamento
respeitando o atleta como um ser humano. Então cabe indagar se o esporte foi feito para
servir ao homem ou homem para servir ao esporte, ou melhor, cabe perguntar: torna-se
necessário para o alto nível em alguns esportes, como ginástica artística, a especialização
precoce da criança logo na sua iniciação esportiva? Nesse sentido, no que diz respeito ao
treinamento de alto nível, para crianças, logo se pressupõe especialização precoce. Por
exemplo, para atingir o alto nível na ginástica artística, muitos técnicos acreditam que a
especialização das crianças deve ser precoce, ou seja, logo na sua iniciação esportiva.

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Nunomura, Carrara e Tsukamoto (2010) apresentaram uma pesquisa com técnicos de ginástica
artística que afirmavam que a idade de iniciação dos atletas brasileiros na ginástica esportiva
deve ocorrer aos de 3 a 7 anos, especialização de 7 a 10 anos, o pico de performance ocorre aos
17-18 anos para meninos e 13 anos para meninas. Ocorre o abandono da prática (aposentado-
ria) em 17 anos de idade para meninas e 25 para meninos. Acredita-se que se, por um lado,
a especialização é cedo demais (o que prejudica uma longa vida esportiva), por outro lado, a
não especialização precoce não irá gerar atletas campeões. Propomos aqui é que você como
professor deve saber que tipo de atleta está preparando: para o esporte ou para a vida?

Inevitavelmente, acontece o engajamento de crianças na vida esportiva induzidas


pelos pais ou por influências sociais. Dessa forma, pelo fato de as crianças não possu-
írem conhecimento de outras modalidades esportivas, então elas recebem influências
externas na hora de decidirem por uma delas. O objetivo com relação a esses fatores é o
esporte de alto rendimento, na esperança de obter sucesso e status, o que faz com que
um número crescente de crianças inicie sua prática cada vez mais cedo.

Diferente da especialização precoce, a criança pode ser submetida a um processo de


treinamento de longo prazo (TLP) que é entendido como treinamento de alto nível (algumas
entidades da cidade de São Paulo, SESC Pinheiros, SESI Osasco e Clube Hebraica (São
Paulo) têm essa visão de TLP e formação de cidadão ético e social por meio do esporte.
Caso você tenha oportunidade, vale a pena visitar e tentar estágio, caso seja seu objetivo).

A literatura tem reportado que, quando a prática satisfaz aspectos como necessidades
fisiológicas, de segurança, social, autoestima e autorrealização, no qual colabora com a for-
mação de um cidadão social, o treinamento de alto nível é válido (LOPES; NUNOMURA,
2007). Além disso, o profissional que se depara com esses fatores precisa de conhecimento
científico no que concerne à formação de futuros atletas. O problema é quando, muitas das
elaborações de programas de treinamento para crianças estão baseados na meta do trei-
nador ou dos pais, sem mesma consulta ao objetivo da criança (isso levará a bournout da
modalidade). Ao contrário, fugindo da especialização precoce, Silva et al. (2006) discorre
que a formação de bons atletas depende do TLP, ao qual os jovens atletas devem ser subme-
tidos. O TLP deve ser realizado de forma planejada e sistemática. De acordo com Silva et al.
(2006), o processo de treinamento em longo prazo deve seguir a seguinte ordem:
1. Iniciação, no período da grande infância: enfatizar a formação básica geral,
correspondente às capacidades coordenativas;
2. Fazer com que a criança passe por etapas distintas, começando o treinamento
básico sem especialização (ou seja, variar as modalidades esportivas) e, poste-
riormente, especializando-se em uma determinada modalidade, onde se inicia
a participação em competições sob a forma de festivais e/ou gincanas;
3. Promover a especialização total, altas cargas de treinamento específico, aper-
feiçoamento e refinamento da técnica e tática, sempre buscando altos níveis
de rendimento.

Segundo Silva et al., (2003), o jovem atleta deve passar por todas as fases do TLP
para tornar-se um atleta de alto nível. O profissional da atividade física, além de ter em

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mente o conceito de treinamento lógico em longo prazo, deve também saber elencar as
possíveis vantagens e desvantagens no que diz respeito à especialização precoce.

Desvantagens
• Aspecto motor: Segundo Gomes (2008), na infância, é mais fácil ensinar a andar
de bicicleta, nadar, executar exercícios de acrobacia do que na idade adulta, pois
na idade infantil é que se desenvolvem ativamente as estruturas psicofisiológicas do
organismo, que assegura a revelação das capacidades de coordenação e, ao mesmo
tempo, ainda são pouco expressas às relações de defesa relacionadas com o sentido
do medo. A dependência entre idade e a eficiência do ensino altera-se na medida da
alternância dos períodos, que se distinguem pelo nível diferente de aprendizagem,
aceitação de influências de treino e de processamento da informação. O mesmo se
vê também quanto ao aperfeiçoamento das capacidades motoras (físicas);
• Aspecto psicológico: Alguns pais matriculam seu filho em uma escola esporti-
va sem consultá-lo. Há pais que sempre aspiram praticar determinados esportes
e projetam esses sentimentos nos seus filhos, ou seja, induzindo-os a realizar os
seus sonhos (o que não foi possível para ele). Outros que foram campeões munici-
pais em determinada modalidade esperam que seu filho alcance na mesma idade
níveis mais altos, no mínimo, um campeonato estadual. Essas cobranças podem
levar várias crianças a atingirem níveis extraordinários de rendimento, pelas suas
qualidades psicofísicas, mas, ao atingir tais marcas, algumas delas podem mostrar
desmotivação, tristeza e depressão, que contribuem para o abandono precoce das
atividades esportivas, chamado por Silva e et al. (2006) de subprodutos da prática
coercitiva propiciado pelo esporte de alto rendimento (quando não seguem as dire-
trizes que sugerimos no item “Aspectos didáticos e pedagógicos”);
• Aspecto Físico: o treinamento de resistência intenso ou o de força contém ques-
tões controversas. Há evidências de que os ossos em crescimento de uma criança
são mais suscetíveis a certos tipos de lesão mecânica do que os dos adultos, sobre-
tudo em razão da presença de cartilagem de crescimento, a qual está presente na
placa de crescimento. Apesar de não haver dados humanos correspondentes, uma
preocupação importante está relacionada com o microtraumatismo constante do
treinamento repetitivo provocada pelo treinamento de resistência (corrida) ou de
força (levantamento de peso), que pode provocar fechamento prematuro da placa
de crescimento e, consequentemente, retardar o crescimento normal dos ossos
longos. Isto é, os efeitos da pressão da atividade física regular podem estimular o
crescimento ósseo até um comprimento ideal, mas a pressão excessiva pode retar-
dar o crescimento linear (POWERS; HOWLEY, 2005).

Portanto, a especialização precoce, que é a especialização da criança em um (a) ativi-


dade/esporte, no tocante à parte motora, limitará as outras atividades por falta de tempo
e energia diminuirá a oportunidade em um momento tão propício para o aumento do
acervo motor. No que diz respeito aos aspectos psicológicos, é extremamente desvanta-
josa a especialização precoce, pois as crianças não estão preparadas para suportarem
tais níveis de pressão psíquica propiciada pelo esporte de rendimento. Já na parte física,
a exigência mecânica desproporcional à sua capacidade musculoesquelética leva a adap-
tações prejudiciais ao seu crescimento.

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Vantagens
De fato, uma criança aprende rapidamente a fazer algo que lhe é exigido (SILVA
et al., 2006). Em síntese, em todas as modalidades esportivas que submete crianças
à especialização esportiva precoce, uma das consequências óbvias desse processo é o
abandono precoce das práticas esportivas Silva et al., (2006). Com isso, não perde só a
criança, mas perde também o esporte, que deixa de contar com um número significativo
de adeptos, que pode estar perdendo futuros atletas, mas também está sendo desperdi-
çada uma “chance de ouro” para o processo de educação via esporte.

Planificação dos Trabalhos


No esporte individual, o objetivo do professor é promover o desenvolvimento saudá-
vel dos praticantes como um cidadão autônomo, ético e moral (objetivo primário), além
de cumprir com o objetivo secundário (ensinar a técnica e tática relacionada à modali-
dade esportiva).

É observada na prática uma grande rotatividade dos praticantes (burnout), onde se


percebe um grande número de adeptos na infância, um pouco menos na adolescência
(principalmente no final) em um grande abandono na vida adulta, observado no seden-
tarismo que atinge a população adulta.

Entretanto, quando o objetivo da prática esportiva está voltado a uma formação


multidirecional, isso implica em não abordar o que de fato ocorre nas escolinhas de um
modo geral: o aspecto motor e sua performance, além disso, abordando de forma não
coerente os métodos de ensino aprendizagem – tecnicista e global – sem uma justificati-
va plausível para o seu uso em excesso ou não.

A literatura tem reportado que o uso excessivo do método tecnicista ou global torna
a prática enfadonha ou excludente. Não que esses métodos não tenham resultado, eles
podem e devem ser utilizados! Entretanto, para desenvolver de forma sistemática as ca-
pacidades coordenativas, técnica (da modalidade) e também e o desenvolvimento tático
torna-se necessário um método que engloba, além desses dois métodos, um método
que desenvolva a capacidade cognitiva e a autonomia do atleta (isso, automaticamente,
deixa a modalidade mais desafiante e interessante para o atleta).

O que é método global e tecnicista? Se você não sabe, então precisar ler a seguir para esta
unidade fazer sentido. No link é abordado as características dos métodos de ensino, por
exemplo, no futebol. Claro, o futebol é um esporte coletivo, mas o princípio se aplica a todos
os esportes (individual ou coletivo), seja de interação com o adversário ou não. O método
integrado mencionado no link (Teaching Games for Understanding – Jogos de ensino para a
compreensão) é o método que abordamos nesta unidade.
Disponível em: https://bit.ly/33L1ea7

18
Dessa forma, aulas que ofereçam uma variedade de estímulos, que considerem as
necessidades dos alunos, a fim de supri-las, poderão fazer com que o indivíduo se desen-
volva de forma saudável, não abandonando a prática que lhe agrada.

Todas as aulas devem ser planejadas de forma coerente, com objetivos, conteúdo
(conceitual, procedimental e atitudinal) a ser ministrado e estratégia a ser utilizada. Veja
um exemplo na Tabela 1 abaixo.

A tabela abaixo faz parte de uma aula que está inserida num cronograma (Tabela 2)
anual de atividade de iniciação esportivas para leigos (indivíduos que não conhece a mo-
dalidade, como criança) que visa desenvolver capacidades coordenativas, técnica e tática
(todas essas atividades são abordadas nas três dimensões do conteúdo – conceitual, atitudinal
e procedimental).

Perceba que há uma sugestão de roda de conversa ao final da aula. No entanto, a


roda de conversa deve ser no início e ao final da aula. Roda de conversa é uma opor-
tunidade para discutir e formular coletivamente estratégias a serem testadas, em dois
corredores de revezamento, testando ideias para melhorar suas trocas de bastão ou em
jogos coletivos de como anular um trio de atacantes do time adversário.

Ao final da aula, devem se reunir novamente para refletir criticamente sobre como
a estratégia funcionou. Se não funcionou, eles são solicitados a identificar por que não
funcionou e formular uma nova estratégia ou plano e testá-lo. O técnico deve estimular
os atletas mais experientes e confiantes a começarem a discussão, os menos experientes
devem ser estimulados a contribuir com a discussão. Isso é importante porque atletas
melhoram enquanto desenvolvem confiança em sua capacidade de se tornarem apren-
dizes independentes e solucionadores de problemas e, assim, permanecem motivados
a participar da atividade por um longo prazo. Lembre-se: essa situação só é possível
quando você dá suporte para autonomia (discutido anteriormente).

Tabela 1 – Plano de aula com abordagem das dimensões do conteúdo


para ensinar capacidades coordenativas, habilidades técnicas e táticas

Aula 7. 14/01/2022

• Conhecimento sobre o corpo e atividade física;


• Deverá saber como realizar o aquecimento e a intensidade dele;
Objetivos • Desenvolver as capacidades físicas e coordenativas e inteligência de jogo;
• Ter em mente a importância do alongamento.

• Conceitual: saber como o aquecimento prepara o seu corpo para a atividade;


• Procedimental: aprender a realizar o alongamento o aquecimento; aprender
diferentes jogos pré-desportivos; atividades coordenativas de habilidade e de
Conteúdo situação de jogo;
• Atitudinal: saber da importância de realizar alongamento e aquecimento antes
do exercício físico intenso.

Exercícios/Atividades

Aquecimento Brincar livremente com a bola; alongamento.

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UNIDADE Pedagogia dos Esportes Individuais

• Coordenação motora (pressão de complexidade): dentro de um espaço deli-


mitado, os alunos deverão se locomover, e só pode mudar de direção se realizar
uma “pedalada” antes;
• Habilidade (determinar o momento do passe): semelhante ao jogo anterior
só que, depois da “pedalada”, deve trocar passe com colegas de coletes da mes-
ma cor;
Parte principal
• Jogos situacionais (tirar vantagem tática do jogo): duas equipes, uma com 2
alunos e outra inicia com 3. A equipe com três jogadores atacará a equipe com 2
jogadores. Caso a equipe com 2 jogadores roube a bola, ou a jogada seja finaliza-
da (gol, ou linha de fundo), a mesma inicia um contra-ataque com um jogador a
mais (selecionado anteriormente), a fim de estar em uma superioridade numéri-
ca. Essa superioridade varia de acordo com os ataques e defesas.

Volta a calma Beber água; roda de conversa.

Observações da aula:

Avaliação:

Perceba que a programação da Tabela 2 deve iniciar com o reconhecimento afetivo,


motor e cognitivo do atleta. No primeiro encontro, o professor deve fazer um reconhe-
cimento geral do atleta (aspecto afetivo, motor e cognitivo relativamente à modalidade)
para saber o nível de complexidade motora e cognitiva das atividades a serem desen-
volvidas assim como os testes de avaliação (as atividades devem ser adequadas ao nível
de capacidade motora e cognitiva dos praticantes). O professor deve identificar o nível
cognitivo (capacidades de entender regras da modalidade e de assimilação de táticas
de jogo). O nível atitudinal também deve ser avaliado como: respeito às regras, moda-
lidade, valorização e respeito aos colegas, professores e adversários (lembre-se de que
o objetivo primário da educação física é formar um cidadão ético e moral, formar um
atleta é secundário). Para reconhecimento afetivo, devemos identificar o que o traz à
modalidade (o que o motiva?). Fazer as perguntas relacionadas à motivação, sugeridas
no item “Implicações pedagógicas”. O nível motor (capacidade de solucionar problemas
motores da modalidade) deve ser identificado por testes específicos já desenvolvidos por
pesquisadores da ciência do esporte.

Para que avaliar, professor? Para você saber o quanto está progredindo com seu atle-
ta na formação dele como um atleta/cidadão autônomo ético e social. Perceba que, ao
final do cronograma da Tabela 2, é sugerida a reavaliação.

Você ficaria orgulhoso do seu atleta se ele ganhasse milhões em dinheiro com o esporte que
você ensinou? Porém, imagine que ele sonega imposto (que o governo poderia reinvestir na
sociedade em educação e saúde); quando pode, despreza, trapaceia e humilha o adversário;
ou, quando está estressado, trata mal os fãs e colegas de equipe. Você não se orgulharia
dele! Você deve ter em mente que um atleta pode ser seguido por milhões de fãs que irão
copiar e reproduzir a sua conduta esportiva e social.
Por isso devemos ensinar mais do que esporte, temos que ensinar aspectos éticos, morais
e normativos e ter ferramentas de avaliação para identificar se o atleta está evoluindo em
todos esses aspectos.

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Tabela 2 – Cronograma anual para desenvolvimento motor, técnico e tático dos atletas
Mês Dia Aula Conteúdo
1 Reconhecimento do grupo (afetivo; motor; cognitivo).
2 Avaliação (cognitiva e atitudinal).
3 Avaliação (afetiva).
4 Avaliação motora (passe).
Alongamento na modalidade; (pressão de organização; regulação da aplicação de força;
5
tirar vantagem tática do jogo).
Alongamento na modalidade; (pressão de tempo; antecipação defensiva; oferecer-se e
6
orientar-se).
Alongamento na modalidade; (pressão de variabilidade; determinar o momento do passe;
7
jogo coletivo).
Alongamento na modalidade; (pressão de complexidade; controle de ângulo; transportar
8
a bola ao objetivo).
Aquecimento na modalidade; (pressão de organização; regulação da aplicação de força;
9 tirar vantagem tática do jogo) (pressão de carga; antecipação à direção do passe; superar
o adversário).
Aquecimento na modalidade; (pressão de precisão; regulação da aplicação de força; acer-
10
tar o alvo).
Aquecimento na modalidade; (tirar vantagem tática do jogo; pressão de complexidade;
11
determinar o momento do passe).
Músculos na modalidade; (pressão de carga; antecipação a direção do passe; superar
12
o adversário).
13 Músculos na modalidade; (pressão de tempo; antecipação defensiva; oferecer-se e orientar-se).
14 Músculos na modalidade; (pressão de precisão; observação de deslocamentos; acertar o alvo).
Músculos na modalidade; (pressão de complexidade; controle de ângulo; transportar a
15
bola ao objetivo).
Músculos na modalidade; (pressão de organização; regulação da aplicação de força; tirar
16
vantagem tática do jogo).
Músculos na modalidade; (pressão de variabilidade; determinar o momento do passe;
17
jogo coletivo).
Músculos na modalidade; (determinar linhas de corrida e tempo de bola; determinar o
18
momento do passe).
Sistema Cardiovascular na modalidade; (pressão de carga; antecipação a direção do passe;
19
superar o adversário).
Sistema Cardiovascular na modalidade; (pressão de tempo; antecipação defensiva; ofere-
20
cer-se e orientar-se).
Sistema Cardiovascular na modalidade; (pressão de precisão; observação de deslocamentos;
21
acertar o alvo).
Sistema Cardiovascular na modalidade; (pressão de complexidade; controle de ângulo;
22
transportar a bola ao objetivo).
Sistema Cardiovascular na modalidade; (pressão de organização; regulação da aplicação
23
de força; tirar vantagem tática do jogo).
Sistema Cardiovascular na modalidade; (pressão de variabilidade; determinar o momento
24
do passe; jogo coletivo).
Sistema Cardiovascular na modalidade; (determinar linhas de corrida e tempo de bola;
25
determinar o momento do passe.
Sistema energético na modalidade; (pressão de carga; antecipação a direção do passe;
26
superar o adversário).

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UNIDADE Pedagogia dos Esportes Individuais

Mês Dia Aula Conteúdo


Sistema energético na modalidade; (pressão de tempo; antecipação defensiva; oferecer-se
27
e orientar-se).
Sistema energético na modalidade; (pressão de precisão; observação de deslocamentos;
28
acertar o alvo).
Sistema energético na modalidade; (pressão de complexidade; controle de ângulo; trans-
29
portar a bola ao objetivo).
Sistema energético na modalidade; (pressão de organização; regulação da aplicação de
30
força; tirar vantagem tática do jogo).
Sistema energético na modalidade; (pressão de variabilidade; determinar o momento do
31
passe; jogo coletivo).
Sistema energético na modalidade; lançamento. (determinar linhas de corrida e tempo de
32
bola; determinar o momento do passe).
Nutrição na modalidade; (pressão de carga; antecipação a direção do passe; superar
33
o adversário).
34 Nutrição na modalidade; (pressão de tempo; antecipação defensiva; oferecer-se e orientar-se).
35 Nutrição na modalidade; (pressão de precisão; observação de deslocamentos; acertar o alvo).
Nutrição na modalidade; (pressão de complexidade; controle de ângulo; transportar a
36
bola ao objetivo).
Nutrição na modalidade; (pressão de organização; regulação da aplicação de força; tirar
37
vantagem tática do jogo).
Nutrição na modalidade; (determinar o momento do passe; determinar linhas de corrida
38
e tempo de bola).
História da modalidade; (pressão de carga; antecipação a direção do passe; superar
39
o adversário).
40 História da modalidade; (pressão de tempo; antecipação defensiva; oferecer-se e orientar-se).
41 História da modalidade; (pressão de precisão; observação de deslocamentos; acertar o alvo).
História da modalidade; (pressão de complexidade; controle de ângulo; transportar a bola
42
ao objetivo).
História da modalidade; (determinar o momento do passe; determinar linhas de corrida
43
e tempo de bola).
44 Planejamento do campeonato com os alunos.
45 Campeonato interno.
46 Campeonato Interno.
47 Avaliação (cognitiva e atitudinal) .
48 Avaliação (afetiva).
49 Avaliação motora.
50 Encerramento – Feedback dos alunos.

A partir da aula 5 (cinco), perceba que são colocados conhecimentos de procedi-


mentos de rotinas da modalidade, como, por exemplo, alongamentos, aquecimento e
o papel dos músculos no ato esportivo. Veja em detalhes, na Tabela 2 (acima) que, por
exemplo, o alongamento é abordado nas dimensões dos conteúdos: o que é e por que
alongar (explicar fisiologicamente suas implicações na modalidade), como alongar (ensi-
nar técnicas de alongamento), o que alongar e o que acontece se não alongar (saber da
importância de realizar alongamento).

É sério mesmo que devo ensinar, por exemplo, fisiologia e biomecânica ao meu
aluno? Sim, caso você queira desenvolver a autonomia do seu aluno! Um público bem

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interessante que desenvolve autonomia é o público da musculação. Em pouco tempo
de prática, esse público sabe quais exercícios utilizar para os músculos que desejam
hipertrofiar (muitos montam o seu próprio treino, que, em muitos casos, é tão bom ou
melhor do que o do professor da academia que ele treina); também, aprender qual tipo
de alimento deve ser ingerido para otimizar os ganhos. Isso não é observado em atletas
nas outras modalidades tanto de esportes individuais (como tênis, ginástica) quanto de
esportes coletivos (como futebol, ou vôlei). Esse público não sabe muito bem o que fazer
para correr mais rápido ou pular mais alto ou devolver a bola com mais força (apesar de
quererem isso). Por exemplo, em escolinhas, é comum observar que, apesar de o profes-
sor passar treino pliométrico, os alunos nunca ouvem esse nome da boca do treinador,
nem ele explicando como aquele exercício irá ajudá-lo na modalidade e muito menos
como os atletas podem inserir de forma efetiva aquela atividade no seu programa de
treino (ele monta o circuito, demonstra o exercício e manda os atletas reproduzirem a
ação). Particularmente, portanto, é importante que o aluno saiba para que serve e como
fazer (executar e inserir no programa de treino) as atividades que está fazendo. Isso irá
instigá-lo a querer aprender sobre a modalidade (desenvolver autonomia e participar ati-
vamente da sua aprendizagem como atleta) similarmente aos praticantes de musculação,
porque a aprendizagem ocorre por meio do envolvimento com o ambiente de aprendi-
zagem e não por meio de instrução direta.

Na Tabela 2, é sugerido para abordar desenvolvimento motor (coordenação motora),


técnico (habilidade da modalidade) e tático (relacionado a modalidade) que pode ser
aplicado a todas as modalidades. Em particular, a Tabela 2 visa ao desenvolvimento dos
esportes com bola, que será o foco da unidade “Esportes Individuais com Raquete”. Na
unidade “Esportes Individuais de Combate” e na unidade “Esportes Individuais Alterna-
tivos”, abordaremos outras estratégias de condicionantes motoras, técnica e tática mais
específica a essas modalidades. As demandas específicas de desenvolvimento motor,
técnico e tático são diversas nas modalidades, mas o princípio pedagógico e didático
abordado nesta unidade é o mesmo.

Lembrando que, no cronograma da Tabela 2, o atleta deve ser induzido a participar


ativamente do processo de ensino/aprendizado, como discussão tática para solução de
problemas de jogo (não dizer somente o que o atleta deve fazer, você deve instigá-lo a
formular, testar e avaliar soluções táticas). Isso leva ao empoderamento dos jogadores
(como alunos), alcançado por meio de uma compreensão crescente sobre a modalidade
e de como aprender.

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UNIDADE Pedagogia dos Esportes Individuais

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Desempenho esportivo: treinamento com crianças e adolescentes
SILVA, L. R. R. (Org.). Desempenho esportivo: treinamento com crianças e
adolescentes. São Paulo: Phorte, 2006.
Escola da bola: um ABC para iniciantes nos jogos esportivos
KRÖGER, C.; ROTH, K.; MEMMERT, D. Escola da bola: um ABC para iniciantes
nos jogos esportivos. São Paulo: Phorte, 2002.
Athlete-centred coaching for individual sports
LIGHT, R. Athlete-centred coaching for individual sports. Perspectives on
athlete-centred coaching. p. 139-149, 2018.

 Leitura
A pedagogia do esporte e as dimensões dos conteúdos: conceitual, procedimental e atitudinal
BARROSO, A. L. R.; DARIDO, S. C. A pedagogia do esporte e as dimensões dos
conteúdos: conceitual, procedimental e atitudinal. Journal of Physical Education,
v. 20, n. 2, p. 281-289, 2009.
https://bit.ly/36My0d3

24
Referências
EDMUNDS, J.; NTOUMANIS, N.; DUDA, J. L. Helping your clients and patients take
ownership over their exercise: Fostering exercise adoption, adherence, and associated
well-being. ACSM’s Health & Fitness Journal. 2009;13(3):20-5.

KRÖGER, C.; ROTH, K.; MEMMERT, D. Escola da bola: um ABC para iniciantes nos
jogos esportivos. São Paulo: Phorte, 2002.

LIGHT, R. Athlete-centred coaching for individual sports. Perspectives on athlete-


-centred coaching. p. 139-149, 2018.

________. L.; HARVEY, S. Positive pedagogy for sport coaching. Sport, Education
and Society. v. 22, n. 2, p. 271-287, 2017.

LOPES, P.; NUNOMURA, M. Motivação para a prática e permanência na ginástica


artística de alto nível. Rev. bras. Educ. Fís. Esp. v.21 n.3 São Paulo jul./set. 2007.

POWERS, S. K; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício teoria e aplicação ao con-


dicionamento e ao desempenho. 5 ed. Barueri. SP: Manole, 2005.

NISTA-PICCOLO, V. L.; TOLEDO, E. Abordagens Pedagógicas do Esporte: Modali-


dades Convencionais e não Convencionais. Campinas: Papirus, 2014

NUNOMURA, M.; CARRARA, P. D. S.; TSUKAMOTO, M. H. C. Ginástica artística e


especialização precoce: cedo demais para especializar, tarde demais para ser campeão.
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 24, n. 3, p. 305-314, 2010.

SILVA, L. R. R. da; MASSA, M.; RE, A. H. N.; UEZU, R.; TEIXEIRA, C. O Talento
Esportivo: refutações e perspectivas. In: SILVA, L. R. R. da. (Org.). Desempenho es-
portivo: treinamento com crianças e adolescentes. São Paulo: Phorte, 2006.

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Você também pode gostar