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Resumo
Este texto aborda questões sobre a aquisição de uma segunda língua como processo
estruturante da identidade social do aluno e o resultado da implementação de atividades
didáticas baseadas nesta visão. O pressuposto teórico desta investigação é o enfoque
histórico-cultural. Do ponto de vista metodológico, foi escolhida a abordagem qualitativa.
Por meio de um trabalho teórico, de observação e de análise das características
lingüísticas do próprio material didático, pretende-se explicitar quais as implicações
metodológicas, semânticas e comunicativas para a educação do aluno. Os objetivos
deste trabalho são constatar a relevância da imediatez discursiva do aluno no processo
de aquisição de uma segunda língua; a intervenção de elementos lingüístico-teóricos
neste processo para, enfim, sistematizar as implicações da aquisição da língua alvo no
processo estruturante da identidade social do aluno através de atividades específicas,
elaboradas pelo professor PDE.
Abstract
Introdução
Fundamentação teórica
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Em virtude das diferentes formas de escrita do nome do estudioso russo Lev Semenovich Vigotski, neste
trabalho opto pela grafia VIGOTSKI, salvas as referências bibliográficas.
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Sons como /æ/, /ŋ/, /Ə/, /θ/, /Λ/, /ai/, etc e o emprego anterior dos adjetivos (a red fish), o uso de auxiliares
temporais (She will go), o emprego do apóstrofo-s nas contrações (He’s been learning) e no caso genitivo
(My father’s profession), etc.
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Pretende-se, desse modo, não extrapolar nos insumos com relação ao conhecimento prévio do aluno,
além de contribuir para o processo assimilatório do mesmo.
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Sujeito, verbo e objeto + expressão temporal ou especial.
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aluno lhe permite, portanto, sua expressão pessoal e denota a realidade em que está
inserido. A projeção desse contexto viabiliza, a partir de um vocabulário controlado,
sintagmas curtos e marcadores discursivos na expressão de adição, contraste,
causa/conseqüência, tempo, seqüência cronológica, etc., a produção da imediatez
discursiva na língua alvo.
A tese básica do material didático em estudo – foco na expressão pessoal
do aluno – pressupõe que a condição mais fundamental exigida para que o aluno de 5° a
8° série seja capaz de tomar nota de alguma noção, conceito ou frase na LA é que algum
estímulo, ou insinuação particular, que, em si mesmo, nada tem a ver com está idéia,
conceito ou frase, “é empregado como um signo auxiliar (LURIA, 2006, p.144) cuja
percepção leva o aluno a recordar a idéia, etc, à qual ele se refere”.
Sakharov (apud LURIA, 1992, p.54), um talentoso colaborador de Vigotski
que morreu muito jovem, descobriu que a função nomeadora das palavras, que parece
ser constante nas diferentes idades, na verdade passa por profundas mudanças no curso
do crescimento. Nos primeiros estágios, as palavras designam conjuntos complexos de
referentes, que incluem não só o objeto mencionado, mas os sentimentos da criança em
relação a esse objeto. A seguir, as palavras se referem aos objetos nos seus contextos
concretos, e só mais tarde passam a se referir a categorias abstratas.
Assim, o domínio do gênero primário (BAKHTIN, 2003) configura
habilidades para a construção do gênero secundário (idem) e gera implicações para o
desenvolvimento sócio-intelectual do aluno. Pois, para Bakhtin,
quanto em sua própria habilidade discursiva – uma vez que a aquisição da língua inglesa
ampliará sua capacidade comunicativa e lhe fornecerá diferentes parâmetros para
comparação, promovendo assim sua capacidade de reflexão.
A relevância deste trabalho está na tentativa de observação e reflexão
acerca de estudos e pesquisas relacionados à aquisição de uma segunda língua como
processo estruturante da identidade social. Leontiev (2006, p.82) ainda enfatiza que as
“relações que se estabelecem entre a criança e o mundo circundante são, por natureza,
relações sociais, pois é precisamente a sociedade que constitui a condição real, primária,
de sua vida, determinando tanto seu conteúdo como sua motivação”.
Luria (2006) também assevera que a qualidade das futuras gerações
depende do que se faz hoje. E reitera que
Mello (2004, p.142) pondera que “as relações do indivíduo com a cultura5
constituem condição essencial para seu desenvolvimento, uma vez que criam aptidões e
capacidades que não existem no indivíduo no nascimento”.
Desse modo, mais uma vez este texto, fundamentado na teoria histórico-
cultural, retoma o papel do mediador da língua inglesa como uma possibilidade de
intervenção no desenvolvimento do aluno a partir das atividades propostas. A
possibilidade de viabilizar uma aprendizagem coerente com o nível de desenvolvimento
psíquico já alcançado pelo mesmo. Nesse sentido, o bom ensino acontece num processo
colaborativo entre o professor e o aluno. Pois, segundo Ellis (1998, p.42), “a aquisição de
uma segunda língua é bem sucedida quando o aluno é capaz de evocar ou construir uma
identidade que o capacita a impor seu direito de ser ouvido e assim se torna o sujeito do
discurso6”.
O aluno de 5° a 8° série, da rede pública de ensino, também traz consigo
seu universo próprio para a tarefa de aprender uma segunda língua. Para começar, ele já
fala uma língua (sua língua materna) que lhe favorece, de certa forma, no lidar com os
signos lingüísticos da LA (PEIRCE, 1995).
A proposta defendida nesse objeto de estudo visa, a princípio, a
verbalização de atividades pessoais, de experiências cotidianas e comuns à cultura
autóctone, bem como da prática das relações mantidas pelo aprendiz com aqueles dos
diferentes grupos que este transita.
Um elemento lingüístico-teórico preponderante no processo de aquisição
de uma segunda língua, no entanto, se perfaz no filtro afetivo (ALMEIDA FILHO, 1999).
Segundo este autor as forças envolvidas na operação de ensino e aprendizagem –
abordagens de terceiros, dos autores do material didático adotado, o nível psicológico
dos envolvidos na operação e a cultura autóctone – confluem substancialmente nos atos
responsivos ora do professor, ora do aluno. E, são essas forças que regulam o filtro
afetivo tanto do mediador quanto do aluno no processo de ensino e aprendizagem da LA.
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Aqui, entende-se por cultura, também, os aspectos semióticos das relações interpessoais travadas entre
os indivíduos de um mesmo grupo social.
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T. da autora
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7
MELLO, 2004, 145.
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Contextualização e Metodologia
Com o intuito de pôr em prática a teoria estudada e conseqüentemente verificar a
sua eficácia, foi elaborado um material didático denominado Folhas a respeito do meio
ambiente com o título “Planet in danger – Is there a solution for the Global Warming?” e
também uma proposta de implementação aplicada no Colégio Estadual “Professor Sílvio
Tavares”, no período matutino, para sextas séries do Ensino Fundamental. Este colégio
atende alunos de classe social econômica média-baixa e fica no centro da cidade de
Cambará – Paraná.
Os objetivos e passos da implementação serão descritos abaixo:
Primeiramente o professor diagnosticou o grau de informação dos alunos através
de um questionamento oral com pergunta inicial do material Folhas “Is there a solution for
the Global Warming?”. Os alunos fizeram seus comentários e a professora pôde
perceber a participação total dos educandos, houve opiniões diversas e a professora
propôs um estudo mais aprofundado sobre o assunto. Foi muito interessante a interação
dos alunos com o tema e com os colegas, pois, como afirma FACCI - 2004, o jovem
busca, na relação com o grupo, uma forma de posicionamento pessoal diante das
questões que a realidade impõe à sua vida pessoal e social, construindo sua identidade.
O professor, pôde perceber também que esta rica experiência de comunicação nos
adolescentes favoreceu o despertar da consciência ecológica e crítica. Outras questões
também foram exploradas oralmente como:
- É importante manter-se informado sobre o Brasil e o Mundo? Por que?
- De que forma você, em seu dia-a-dia, está se atualizando?
- O que você já ouviu falar ou leu sobre o Aquecimento Global?
- Quais as fontes de poluição?, dentre outras.
Os alunos adoraram participar e contar suas experiências.
Com o intuito de ampliar o conhecimento dos alunos, a professora propôs uma
atividade de pesquisa sobre o assunto em casa para ser entregue na próxima aula, na
qual também houve uma participação maciça. Os alunos, antes de entregarem os
trabalhos comentaram sobre o que não havia sido dito na aula passada e as novidades
de suas pesquisas, como por exemplo, reciclagem, bio combustíveis, etc. Como os
alunos estavam envolvidos com o tema, foi um momento muito propício para iniciar as
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tarefas do Folhas. Este material didático possui textos e gráficos informativos, atividades
de ampliação de vocabulário e pesquisa, além de questões reflexivas para auto análise e
mudança de postura em favor do processo de mitigação. A última tarefa deste material
proposto é para o aluno elaborar um texto em inglês, com o auxílio do professor, com
base em tudo que foi comentado, lido, analisado e proposto, respondendo a questão
inicial do material e contando como ele pode e deve contribuir com o meio ambiente.
Este texto foi construído com a participação de todos os alunos da classe, escrito na
lousa e cada um anotou em seu caderno. Esta atividade também foi muito enriquecedora
pois houve a fixação do vocabulário e o professor pôde auxiliar os alunos quanto a
colocação correta dos elementos das frases.
Ao concluir as tarefas propostas pela professora, foi entregue aos alunos um
questionário para avaliar os pontos positivos e negativos do trabalho da professora e dos
alunos, como por exemplo: opinião sobre os textos e atividades, grau de dificuldade,
motivação, aprendizagem, contribuição do assunto para a vida pessoal, etc.
As respostas foram surpreendentes, como:
-Amei! As aulas foram ótimas. Fique muito interessado. Sou muito mais
consciente hoje, etc. Em nenhum momento houve crítica negativa por parte dos alunos.
Para a execução desta proposta, a professora utilizou o data show e a TV pen
drive para mostrar gravuras relacionadas ao meio ambiente com o intuito de instigar o
envolvimento e participação dos alunos na discussão dos textos, estes foram duplicados
através de xérox. Durante as atividades os alunos utilizaram também dicionários (apoio
para os textos), recortes de jornais, revistas e material pesquisado na internet para a
realização dos trabalhos de pesquisa.
Alguns alunos encontraram dificuldades nas pesquisas por não possuírem internet
e não poderem freqüentar uma LAN house, principalmente os da zona rural. Outro ponto
negativo é que nós professores de inglês encontrarmos dificuldade em reproduzir
material escrito, pois ainda não há um material de apoio neste sentido para o Ensino
Fundamental e nenhuma verba específica para reprodução de materiais.
Os pontos positivos podem ser constatados em vários momentos pela consciência
ecológica, porque houve um envolvimento dinâmico dos alunos, eles realmente
vivenciaram a experiência de pôr em prática o conteúdo estudado, contribuindo
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Considerações finais
eficácia obstáculo para o processo de aquisição pelo aluno no que tange à comparação
de sua língua materna, conseqüentemente causando a desmotivação.
Por fim, da ótica do enfoque histórico-cultural descrito neste texto, com o
auxílio dos signos, o homem pode controlar voluntariamente sua atividade psicológica e
ampliar sua capacidade de atenção, memória e acúmulo de informações, desde que o
assunto tratado tenha significado e relevância para a vida do aluno.
Sugiro pesquisa e visitas à fábricas e indústrias local, a fim de verificar o
destino do lixo, bem como propostas de alternativas viáveis, se for o caso. Poderá
também ser realizado excursões em parques, trilhas ou sítios ecológicos, para
potencializar a conscientização dos alunos, e por fim, escreverem suas conclusões -
frases ou redações na LA com o auxílio do professor.
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Referências bibliográficas
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4° ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
LURIA, A. R. A construção da mente. Trad. Por Marcelo B. Cipolla. São Paulo: Ícone,
1992.
PEIRCE, C. S. Semiótica. (The Collected Papers of Charles Sanders Peirce). São Paulo,
SP: Perspectiva, 1995.
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