Você está na página 1de 14

A PESQUISA EDUCACIONAL NA PRÁTICA DOCENTE DO ENSINO

FUNDAMENTAL E NA FORMAÇÃO INICIAL: ANALISANDO


DISCURSOS

MORAIS, Joelson de Sousa – FACEMA


joelsonmorais@hotmail.com

Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente


Agência Financiadora: Não contou com financiamento

Resumo

A pesquisa na educação vem se configurando como uma das alternativas eficazes para se
aprimorar a prática dos professores em exercício, além de corroborar com aprendizagens
significativas na formação inicial, se tornando uma via satisfatória de reflexão e ação
otimizadoras no fazer pedagógico e no processo de inicialização à área da docência. Trata-se
de uma pesquisa qualitativa, no qual realizou-se uma pesquisa bibliográfica, no que diz
respeito aos aspectos teóricos por meio de autores que contemplam o estudo acerca da
temática, tais como González Rey (2005), Bortolini (2009), Becker e Marques (2010), entre
outros que corroboram com pressupostos acerca de conhecimentos experienciados sobre o
assunto em questão, em contrapartida consolidando-se com uma pesquisa de campo, quanto
aos fins práticos, através da aplicação de questionários com perguntas discursivas,
direcionadas a professores da educação básica na modalidade de ensino fundamental, e
discentes do curso de pedagogia, tendo como objetivo desvelar as concepções e
representações que esses sujeitos tem acerca da pesquisa educacional, ora evidenciadas em
seu percurso prático e formativo no âmbito escolar e/ou na academia. Utilizando-se
posteriormente de uma técnica que viabiliza a interpretação das falas dos indivíduos que
participaram do estudo que é a Análise do Discurso. O problema que embasou a pesquisa foi
qual representação o professor em exercício e os discentes do curso de pedagogia em
processo de formação inicial evidenciam em seus discursos acerca da pesquisa educacional e
como tem se desdobrado os horizontes da pesquisa em seus fazeres? Os resultados mostraram
que os professores ainda apresentam concepções elementares sobre a pesquisa, fruto do
processo formativo que tiveram no passado, e cupam o tempo como um obstáculo que
atrapalha a iniciativa pela pesquisa, enquanto que os acadêmicos mostraram-se mais interados
e envolvidos atribuindo concepções mais fundamentadas acerca da pesquisa educacional, com
melhores interesses para pesquisar.

Palavras-chave: Prática Pedagógica. Representações Sociais. Pesquisa Educacional. Ensino


Fundamental. Formação Inicial.
5205

1 Introdução

Atualmente, a pesquisa na educação vem ganhando espaços importantes, fomentando


a participação de professores/educadores de variadas áreas, se tornando uma alternativa de
formação em processo bastante viável e compensatória pela comunidade educativa e pela
própria potencialização de práticas pedagógicas que podem ser socializadas entre os pares da
escola, analogamente às reflexões geradoras de mudanças.
Diante da realidade com a qual a comunidade científica se defronta perante aos
condicionantes da pesquisa, o estudo evidencia mais especificamente, o cenário encarado por
professores que estão no exercício da docência por meio do ato de pesquisar que se dá de
variadas maneiras e com diferentes propósitos, em consonância com discentes do curso de
pedagogia, para estabelecer as diferenciações dessa prática partindo desde a formação inicial
até o campo exercido profissionalmente pelos docentes. Tal averiguação, por assim melhor
dizer, é uma possibilidade investigativa tomada à luz das representações sociais que os
sujeitos pesquisados concebem acerca da pesquisa na educação, por permitir características
analíticas não somente do mundo experienciado por cada grupo distintamente pesquisado,
mas por situá-los em uma esfera no qual todos estão imersos, e que, quer queira, quer não,
envolve os contextos sociais e seus possíveis desdobramentos percorridos quando nas suas
atividades desenvolvidas cotidianamente.
Para tanto elencou-se como problema qual representação o professor da educação
básica em exercício e os discentes do curso de pedagogia em processo de formação inicial
evidenciam em seus discursos acerca da pesquisa educacional e como tem se desdobrado os
horizontes da pesquisa em seus fazeres? Tal problema está articulado com o binômio teoria-
prática, questão esta bastante latente na educação e que neste trabalho relaciona-se com o
discurso pedagógico levantado por docentes versus discentes acerca da pesquisa educacional.
Na tentativa de responder ao problema questionado anteriormente, delineou-se como
objetivo geral desvelar as concepções e representações que professores da educação básica
do ensino fundamental e discentes do curso de pedagogia tem acerca da pesquisa
educacional, ora evidenciadas em seu percurso prático e formativo no âmbito escolar e/ou na
academia, mais especificamente analisar qual a importância atribuída à pesquisa pelos
professores e discentes pesquisados, bem como identificar as principais características
elencadas pelos pesquisados quanto aos obstáculos no ato de pesquisar.
5206

Para entender melhor a opção pela escolha dos grupos pesquisados, parte-se para um
questionamento fundamental: por que então a preferência para se pesquisar professores da
educação básica e não de outras modalidades de ensino, e por outro lado pesquisar também
discentes do curso de pedagogia? Justamente pelo fato de que, no curso de pedagogia se
preparam profissionais para atuarem na educação infantil e nas séries inicias do ensino
fundamental, uma vez que suas práticas serão realmente evidenciadas quando estiverem no
exercício da docência, daí a importância dessa articulação entre educação básica e formação
inicial, no sentido de conhecer mais de perto como a pesquisa está sendo encarada no dia-a-
dia do professor ao se deparar com suas atividades de sala de aula, situação semelhante acerca
do curso de pedagogia, compreendendo os percursos vividos pelos acadêmicos durante, e não
somente no final do processo formativo, esclarecendo como as pesquisas são desenvolvidas.
Tais perspectivas são pertinentes para uma constituição profissional e identitária na área da
educação, sobretudo porque legitima e dá condições para se defender a cientificidade da
pedagogia, permitindo esboçar possíveis reflexões e apontamentos diante da realidade
evidenciada no momento atual.

2 O lugar das Representações Sociais na pesquisa educacional

Todas as formas de expressão, seja ela verbal, gestual e de outras procedências estão
vinculadas aos grupos interativos que os indivíduos estão contidos presentes na sociedade. Há
uma interconectividade entre o que se faz, o que se pensa e o que se fala, gerando uma rede de
significados alimentados durante as relações intersubjetivas travadas pelos sujeitos, quando
em contato direto ou indiretamente com o objeto de conhecimento e/ou com os próprios
sujeitos entre si.

Construídas nas interações sociais, as representações sociais acabam por se


constituir, portanto, em mediações entre os sujeitos e o mundo, interpenetrando
sentimentos, idéias, biografias, ideologias, fundindo as histórias dos sujeitos com as
histórias das nações; e apropriadas pelos sujeitos para dar sentido às suas ações, à
sua vida. Ou seja, como expressão e construção do sujeito, como produto e processo
de apropriação do mundo pelo pensamento... (BORTOLINI, 2009, p.29).
5207

Neste sentido, as experiências vivenciadas pelos indivíduos no dia-a-dia da escola


associam-se aos contextos construídos no âmbito extra-escolar, somando-se dialeticamente, e
conduzindo a sedimentações mais significativas para a apropriação fundamentada de saberes
que possam ser conduzidos a ações geradas em diferentes dimensões nos grupos de atuação
que os sujeitos fazem parte.
As caracterizações com as quais podem revelar mais sucintamente as múltiplas
realidades do contexto escolar, quanto à pesquisa, mediada pelas representações sociais é a
pesquisa qualitativa, pois nesta “[...] o valor de qualquer elemento não provém de sua
objetividade em abstrato, mas do significado atribuído em um sistema (GONZÁLEZ REY,
2005, p.100). Então, não se trata de informações puramente fornecidas desconexas dos outros
momentos e lugares vividos pelos sujeitos, mas a coexistências desses elementos em profunda
interligação.
Diferentemente da pesquisa quantitativa, a qualitativa busca envolver os sujeitos
participantes de forma a voltarem sobre si próprios como condição necessária a externalização
dos procedimentos cabíveis ao seu desempenho no decurso da pesquisa, contribuindo dessa
forma para a representação dos fatos advindos de sua participação. Como bem aponta Berger
e Luckmann (2007), “[...] o homem, ao se exteriorizar, constrói o mundo no qual se
exterioriza a si mesmo. No processo de exteriorização projeta na realidade seus próprios
significados”. (p.142, grifos do autor).
Muitos pesquisadores valorizam mais as técnicas de pesquisas que buscam
informações subentendidas/discursivas, por conter aspectos representacionais das situações
pesquisadas e se valerem da essência das informações colhidas, podendo ser analisadas
posteriormente à luz das representações sociais, pois contribuem para um enfoque mais
realista do fenômeno pesquisado.
De acordo com Bortolini (2009) “[...] a representação constrói uma realidade própria
que tem relação estreita com a experiência concreta, mas é maior/menor/diferente dela
(p.33)”. Há uma oscilação que depende do grau de concreticidade que o indivíduo pode
apresentar em relação ao discurso e ao vivido. Alguém pode traduzir seu pensamento como
uma idealização em poder conseguir fazer o que fala, contrapondo-se, por outro lado, com a
realidade que condiz com o que de fato faz, e não consegue expor objetivamente esse fato,
mas que, porém traz alguns traços das vivências que faz parte do seu ciclo de vida.
5208

Portanto, as representações sociais se caracterizam como uma fonte muito rica de


informações, pois as situações são construídas numa processualidade que nega níveis pré-
concebidos e que não contribuem para a construção de outros pressupostos escondidos por
trás das situações representadas pelos sujeitos que participam das pesquisas. Por outro lado,
pesquisar na educação não dá condições inteiramente objetivas de entender os contextos sem,
contudo utilizar das questões que podem ser analisadas qualitativamente pelo pesquisador por
meio das representações, a menos que ele opte pela pesquisa quantitativa, que é outra questão
contrária à qual se concebe nessa discussão. Assim, a pesquisa educacional consegue adquirir
resultados exitosos, quando parte de uma perspectiva de subjetividade, por considerar
elementos analíticos encarados pelo pesquisador ao se deparar com os contextos explorados,
tanto por ele próprio, como pelos próprios sujeitos participantes da pesquisa que estão
envolvidos.

3 A pesquisa na visão de acadêmicos e práticos

Existem algumas diferenciações extremistas na pesquisa educacional que dificultam


uma interação pelos profissionais da educação. Os professores práticos muitas vezes negam
os saberes dos acadêmicos, e vice-versa. O que acontece é um distanciamento em que
professores consideram as produções dos iniciantes muito utópicas e distantes da realidade,
como se fossem proposições impossíveis e incongruentes com o espaço escolar. Do outro
lado, àqueles que estão no princípio do encontro com a área da educação, se
profissionalizando, destituem os professores práticos de saberes e técnicas científicas que
elevam a ciência educacional, enaltecendo a cientificidade pelo ato de pesquisar na
pedagogia, descaracterizando aspectos práticos externalizados pelos docentes em ação. Tal
situação é muito bem explicitada por Zeichner (1998), um notável pesquisador que aborda
sobre a formação de professores e reflexividade em seus estudos, quando nos diz que “os
mundos dos pesquisadores acadêmicos e dos pesquisadores-professores raramente se cruzam”
(p.217). Estas situações tampouco contribuem para a evolução da escola, pois a própria
comunidade educacional se cruza diante de questões obsoletas, uma vez que se poderia partir
5209

para preocupações mais emergenciais, buscando juntos – professores e futuros professores –


as respostas para os problemas vigentes na escola.
Assim, buscando responder à altura do que se propõe este trabalho, utilizou-se como
metodologia uma abordagem qualitativa, realizando uma pesquisa de campo com 14
professores da educação básica (do sexo feminino – atualmente exercendo a docência), na
modalidade de ensino fundamental, em 02 (duas) escolas da rede pública de ensino da cidade
de Caxias-MA – situadas em áreas periféricas da cidade – concomitantemente com 14
discentes do curso de pedagogia de uma IES particular (do 6° bloco/noturno; diferentemente
de muitas outras pesquisas que fazem com discentes egressos, esta valorizou o processo em
que os acadêmicos estão em contato com alguns elementos da pesquisa científica), no qual
utilizou-se um questionário com 11 questões discursivas, relativas à pesquisa educacional,
para cada grupo de sujeitos pesquisados. Posteriormente, partiu-se para a técnica da Análise
do Discurso, um componente rico e ao mesmo tempo essencial no desvelamento das
informações contidas nas falas dos pesquisados, compatível com a presente pesquisa. Para
melhor esclarecer essa técnica, Araújo (2004), diz que:

A análise do discurso parte da descontinuidade e da singularidade do enunciado em


certas formações, isto é, grupo(s) de enunciados que articulam objetos, designam
papel ao sujeito, dispõem e compõem referenciais, ligam-se a domínios associados e
são dotados de uma materialidade que enseja certos usos e reutilizações. (p.232).

Trata-se de discursos que consideram uma complexidade de vivências conduzidas por


cada sujeito em todos os grupos que frequentam, e que apresentam aspectos subjetivos
importantes para a construção de informações e de conhecimentos pelo pesquisador.
As análises e discussões a seguir vão intercruzar-se entre discentes e professores, para
um melhor entendimento do contexto evidenciado em cada caso.
Quando questionado sobre a concepção acerca da pesquisa educacional, a maioria das
professoras disseram que: “Se trata de uma busca de novos conhecimentos para aprimorar o
ensino”; outras enfatizaram ser: “Uma investigação prática acerca da realidade educacional”.
Nota-se que foram bem específicas. Nesse sentido a pesquisa é tida como algo elementar,
assemelhando-se a outros conceitos redutíveis que se fazem presentes no discurso
pedagógico, não tendo nenhuma característica plausível. Já os acadêmicos têm conceitos mais
bem formulados; dois dos participantes abordaram o seguinte:
5210

“É uma pesquisa que relata a realidade da educação, identificando seus fatores,


problemas e soluções para se chegar a uma análise e conclusão”.
“É um estudo ao qual se busca o conhecimento, para consequentemente materializar
alguma ideia ao qual se busca respostas”.

As visões contidas nessas falas são as mais complexas do estudo; os demais


acadêmicos associaram a um nível de apropriação de conhecimentos e resoluções de
problemas educacionais. Ainda assim, acadêmicos também representam a pesquisa
educacional de forma fragmentada e sem maiores aprofundamentos, embora sendo poucos.
A prática da pesquisa é realizada por quase todos os professores, apenas dois disseram
não fazer. E quanto aos acadêmicos mais da metade realizam pesquisas, os demais não.
Porém, as respostas estão muito associadas ao que eles consideram ser pesquisa, portanto,
embora alguns façam, mas não sabem que fazem, principalmente no que diz respeito aos
acadêmicos, que se mostraram com algumas características duvidosas do que seja pesquisa.
Quanto à importância da pesquisa na prática docente três das professoras disseram:

“Muito importante, pois adquirir conhecimento é sempre prazeroso e necessário para


um bom desempenho educacional”.
“Se torna relevante por tratar de uma estratégia metodológica que subsidiará a
prática docente”
“É um trabalho indispensável para a formação pessoal e para a comunidade
acadêmica científica”

Outra disse ainda: “Não trabalhamos com pesquisa a fundo e nem ao pé da letra, não
quero dizer que não conheço este tipo de trabalho, mas leio e sei que é importante”. Nesse
discurso, existe uma grande contradição explícita, pois não há interesse algum pela pesquisa,
fato este apresentado inicialmente na fala como algo negativo, enfatizando logo depois o lado
positivo. As demais professoras relacionaram como importantes na condução do ensinar e
aprender pelos conhecimentos adquiridos ao longo do ato de pesquisar. Vez por outra,
algumas acabam desfocando realmente o caráter contribuidor da pesquisa em sua prática
docente, partindo do princípio de que, umas valorizam, outras nem se quer dão o seu devido
valor.
Na visão dos acadêmicos os contributos da pesquisa dizem respeito ao seguinte:

“É essencial, pois ela reflete as práticas educacionais do professor e aluno, tendo


como referência o aprendizado e a interação aluno e professor”.
“É importante, pois é através do resultado da pesquisa que o professor e o próprio
pesquisador avaliará, e, principalmente se fundamentará através da pesquisa”.
5211

“Por meio dela é que iremos desenvolver o nosso senso crítico quanto a realidade
investigada, e para o nosso futuro TCC, além de contribuir para a melhoria da
educação”.

A importância dada à pesquisa na formação inicial é mais valorizada do que na prática


docente, uma vez que os iniciantes estão desejosos por novos conhecimentos e descobrindo
novos horizontes em suas vidas, tanto pessoal, quanto vislumbrando um campo profissional
efetivo. Assim, o que tem adquirido na prática da pesquisa, como mostra na fala de outros é o
fato de: “Observar as grandes dificuldades educacionais, e conhecer de que forma melhorar e
como se dá essa problemática”; bem como um retorno satisfatório em que: “A pesquisa nos
permite uma compreensão maior da realidade, além de nos possibilitar conhecimentos e
contato com o objeto a ser pesquisado”.
A respeito dos critérios e objetivos levantados pelos professores para realizar alguma
pesquisa, apenas uma respondeu: “Ver a escola como um espaço que suscite a aprendizagem
de forma significativa, desafiadora e inteligente”; todas as demais responderam simplesmente
por considerar “mais informações, conhecimentos e aprendizagens”. É interessante as falas
das professoras, pois desde o começo das respostas estão fazendo menção à apropriação de
mais conhecimentos, como se a pesquisa gerasse somente essa alternativa. Tal análise
contribui para entender que a concepção de pesquisa realmente é simplista, não dando
margem a outras práticas e reflexões de cunho abstrativas e importantes, uma vez que não
saíram do mesmo ciclo de conjunto de palavras.
Os acadêmicos disseram que para realizar suas pesquisas, os critérios e objetivos
levados em conta também dizem respeito a “ampliação de conhecimentos”, como em outras
falas “para subsidiar a prática docente”, expressados pela maioria dos respondentes; ainda
assim uma disse que é: “Com o intuito de se compreender o espaço e o objeto a ser
pesquisado”. Dessa forma, fazer pesquisa assemelha-se mais a reprodução e conhecimento de
teorias, que um momento de construção e evolução de ideias pessoais e visões políticas
durante a formação inicial.

4 Dificuldades e desafios na construção da pesquisa


5212

Algumas indagações que levam o pesquisador a se questionar são primeiras


aproximações racionais que ajudam a se enveredar pelos campos da pesquisa, como por
exemplo: “O que devo pesquisar?” “Para que pesquisar?” “E para quem pesquisar?”. Posto
estas questões surge inúmeras respostas, levando o pesquisador a adotar parâmetros lógicos
das ideias mais pertinentes e compatíveis com sua realidade, tendo um norte objetivo para se
poder guiar.
As dificuldades apresentadas na construção da pesquisa foram expressas de variadas
dimensões pelos acadêmicos. Dentre as mais expressivas, pode-se citar:

“Desmotivação, preguiça de estudar, a leitura, o tempo”;


“Focar o que desejar buscar”;
“A disponibilidade dos entrevistados”;
“A falta de conhecimento, o medo de desenvolver uma pesquisa e não saber
organizar os dados da pesquisa”
“A falta de apoio da escola”.

Pela variedade de respostas e o sentido com que estão sendo aferidas, os acadêmicos
estão entendendo como funciona o contexto que gira em torno do ato de pesquisar. Isso
pressupõe que diante dos momentos conflituosos os quais, vez por outra se deparam,
enriquecem e ajudam na maturação/compreensão dos fenômenos pesquisados, alargando um
universo de possibilidades, que fundamentará as pesquisas posteriores.
No entender das professoras, a maioria disse ser “a falta de tempo” o maior vilão da
história. Outra informou que: “Acredito que para quem tem interesse, não há dificuldades”.
Foi colocado também uma técnica como meio obstaculizante: “A pesquisa de campo”; e
poucas mostraram um discurso constituído de uma neutralidade: “As dificuldades são
relativas; onde dependerá de como é feita tal pesquisa”.
Assim, a pesquisa educacional mostra muitos impasses que demandam esforços do
pesquisador. O maior desafio como forma de superação dessas lacunas é o interesse e a
motivação, como bem retratou uma das falas acima. É preciso atitudes e compromissos, não
deixando de pairar um comodismo deturpante da atividade de pensar e fazer ciência.
Quando o sujeito se propõe a pesquisar, deve abraçar a causa, investindo no tempo,
principalmente da leitura, da informação, do conhecimento, da reflexão pelos seus contínuos
momentos de interação com o objeto pesquisado e os elementos que fazem parte da
construção dessa trajetória. E como diz González Rey (2005, p.92) “a pesquisa é e será
sempre uma tarefa para os que se assumem como sujeitos da produção do conhecimento”.
5213

Portanto, a educação só ganhará mais espaço, quando os professores e educadores mostrarem


elementos claros e fundamentais de sua área, pesquisando, incentivando e apresentando reais
situações que a escola faz, pode e consegue obter resultados exitosos na aprendizagem dos
alunos, fruto do trabalho do professor. Tais características são essenciais para a construção da
legitimidade da pedagogia, contudo, do sucesso da escola. Por outro lado, contribui para a
desmistificação de preconceitos de que a pesquisa educacional é apenas um trabalho qualquer,
quando na verdade é coerente e transformadora.

5 A pesquisa como fio condutor da mudança

A pesquisa educacional mostra, em maior profundidade, elementos que poderiam estar


ocultos sobre a ação educativa, e por não existir um tempo destinado à reflexão, ao
pensamento do que se está fazendo no dia-a-dia de sala de aula, se perde oportunidades de
fazer um trabalho melhor propiciando uma variedade complexa de alternativas a serem
desenvolvidas na escola.
Dos avanços pelos quais muitas sociedades têm passado, um dos principais fatores tem
sido a execução de pesquisas em vários âmbitos, identificando quais as dificuldades para se
poder chegar ao ponto crucial, viabilizando a condução de procedimentos e alternativas de
transformações dos cenários encontrados em suas respectivas características emblemáticas.
Muitos autores e pesquisadores procuram mostrar a relevância do ato de pesquisar
esclarecendo as imensas características adquiridas pela mesma. E no que se refere ao
professor, existem ganhos que perpassam as suas realizações pessoais, uma vez que a
pesquisa não se configura como satisfação pessoal, mas abrange uma totalidade gerando
diferentes graus de transformações nos vários grupos contidos pela área pela qual se
desenvolve a pesquisa. Assim,

O professor-pesquisador traz uma característica que o diferencia dos demais colegas.


Ele transforma sua docência em atividade intelectual cuja empiria (aquilo que ele
observa) é fornecida por sua atividade de ensino, pela atividade de aprendizagem
dos alunos, pela sua própria aprendizagem, pela rebeldia de alguns alunos, pela
incapacidade de aprendizagem de outros devido à falta de condições cognitivas
prévias, em conteúdo ou de estrutura, de condições didáticas apropriadas, ou ainda
de carência de condições materiais. E, finalmente, por transformar sua prática em
função dessa atividade e, eventualmente, publicar suas conclusões, exercitando sua
5214

capacidade teórica ou reflexiva e beneficiando-se, com suas experiências, os colegas


professores. Quando isso acontecer, sua reflexão prestará à escola, ao ensino, à
educação, e, por conseqüência, à aprendizagem um inestimável serviço. (BECKER,
2010, p. 20).

São esses os retornos notórios que a pesquisa pode proporcionar. Além de alcançar
inteligibilidade, quem pesquisa adquire estruturas cognoscitivas mais coerentes para refletir
diante das divergências afrontadas nas imprevisibilidades, agindo em contrapartida com ações
efetivas e envolvendo uma gama maior de sujeitos da comunidade escolar, que se apropriam
de seus contributos valiosos para a educação.
A pesquisa educacional não é a panacéia para os problemas educacionais; isso não foi,
nem jamais será, mas é uma, entre muitas outras, alternativas potencialmente eficazes para
que o professor adote em seu fazer pedagógico, e não se reduza as mesmas práticas que
cansam os alunos e torna as aulas desagradáveis e irritantes.

A acomodação dos professores diante de sua prática pedagógica repetitiva pode ser
rompida com a prática da pesquisa, pois o olhar do professor para a sala de aula, a
sua concepção de educação pode ser transformada perante o imenso conhecimento
que determinados fenômenos ainda têm a nos oferecer, enquanto aprendizes.
(MACIEL, 2004, p.109).

Pesquisando, o professor estará contribuindo no seu processo auto-formativo, e quem


mais ganha com isso é ele, e consequentemente a sua escola, pois estará aplicando suas
aprendizagens e conhecimentos na sala de aula, gerando expectativas e resultados positivos
entre alunos e seus próprios pares, possibilitando a mudança, a inovação, a transformação de
uma dada realidade para melhor.

6 À guisa de conclusões

É preciso aprender a pensar, aprender a aprender continuamente como uma condição


de reconstrução do conhecimento e transformação pela via da inovação de situações
engessadas na escola, que se apresentam com caráter reprodutivistas dificultando a passagem
para o novo, o encontro com a materialidade executada, de fato. Condições essas
5215

proporcionadas, substancialmente pela pesquisa, além do fato de fazer com que a escola deixe
de ser um espaço com interposições meramente reducionistas.
Não se faz pesquisa se não haver uma boa prática da leitura, da reflexão, dos
questionamentos que inquietam as mentes sedentas por conhecer o que ainda não se conhece;
não se faz pesquisa sem que haja condições problematizadoras do que se apresenta à sua
frente, dos diferentes contextos de realidades surgidas no seu mundo existencial e em torno
dos condicionantes enfrentados no seu dia-a-dia de trabalho; não se faz pesquisa somente pela
reprodução das teorias já defendidas por outros, embora tenha-se que utilizá-las para
fundamentar teoricamente os trabalhos, sem porém, evidentemente apenas repetir as mesmas
coisas como se não existisse o próprio construto crítico de ideias do pesquisador, ora
corroborando, ora refutando certos ideais apresentados por outrem e construindo suas próprias
teorias advindas dos ensinamentos práticos de sua profissão ou dos momentos que se
defrontou outrora; não se faz pesquisa se não tiver atitude para começar a dar os primeiros
passos, e ninguém irá segurar nas mãos de ninguém induzindo às iniciativas, mas sim o
contrário, partir do próprio ser em consonância com os conflitos que o afligem, pois somente
quem vive determinados acontecimentos, sabe como proceder para que encontre as saídas ou
os acertos de uma caminhada a qual se está percorrendo.
Os professores pesquisados apresentam percepções fragmentadas acerca da pesquisa
educacional, e se acomodam, muitas vezes com suas simples práticas de sala de aula,
colocando o tempo como um obstáculo na construção da pesquisa. Tais perspectivas são
advindas de seus processos formativos que obtiveram no passado.
Já os que estão em formação inicial apresentaram um entendimento mais coerente do
que seja pesquisa, colocando em evidência elementos didático-metodológicos, bem como a
leitura, como impasses na construção da pesquisa, mas que não compromete o seu
desenvolvimento.
Os professores em geral têm um mundo de oportunidades, os alunos mais ainda,
porém não estão sabendo usufruir dos meios que lhes cercam para produzir conhecimento,
para alavancar aprendizagens e poder utilizar socialmente o que se aprende na escola, uma
vez que é uma mão de duplo sentido, onde professores e alunos ensinam e aprendem
continuamente.
Pesquisar na educação significa ampliar os horizontes do cabedal informativo que
cada um vai construindo em suas respectivas singularidades, potencializando as práticas
5216

pedagógico-metodológicas dos professores em exercício sem que as aulas sejam fazeres


rotinizados e desmotivantes. Por outro lado, quem está em processo formativo, consegue
aproximar-se da realidade educacional sem que sofra impactos desalentadores quando estiver
em contato com a sala de aula, além de possibilitar a construção de suas próprias posições
teóricas, que ajudarão, sobremaneira, na constituição de sua profissionalidade.
A pesquisa na docência deve também somar-se à pesquisa acadêmica permitindo uma
troca enriquecedora de saberes e práticas que possam ajudar a sanar as dificuldades
apresentadas na comunidade escolar, pois quem já está atuando em sala de aula defende
aspectos práticos experienciados em sua profissão, em contrapartida, quem está na academia
também troca experiências novas e atualizadas advindas das tendências da educação,
adquiridas no percurso formativo dos indivíduos. Enfim, nada de antagonismos
desimportantes, pois todos estão com os mesmos objetivos, buscando contribuir para uma
qualidade da educação, que faça dos sujeitos, não meros espectadores de sua vida, mas co-
autores e partícipes de suas próprias mudanças, que podem estar sendo desabrochadas por
todos os professores/educadores, sejam os já formados ou os que estão em formação inicial.
Assim, estar-se-á transformando a educação para melhor, para um futuro digno e mais
humano, contudo, com sentido, ações e intenções realmente democráticas.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem. São


Paulo: Parábola Editorial, 2004. (Linguagem]; v.9).

BECKER, Fernando. Ensino e pesquisa: qual a relação? In. _____________; MARQUES,


Tania B. I. (Orgs.) Ser professor é ser pesquisador. 2.ed. atual. ortogr. Porto Alegre:
Mediação, 2010.

BERGER, P. L.; LUCKMAN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do


conhecimento. 27 ed. [tradução de Floriano de Souza Fernandes]. Petrópolis, Vozes, 2007.

BORTOLINI, Maria Regina. A pesquisa na formação de professores: experiências e


representações. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Rio de Janeiro,
UFRJ, 2009.

GONZÁLEZ REY, Fernando. Pesquisa qualitativa e subjetividade: os processos de


construção da informação. [tradução Marcel Aristides Ferrada Silva]. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.
5217

MACIEL, L. S. B. A formação do professor pela pesquisa: ações e reflexões. In.:


___________; NETO, A. S. (Orgs.) Formação de professores: passado, presente e futuro.
São Paulo: Cortez, 2004.

ZEICHNER, Kenneth M. Para além da divisão entre professor-pesquisador e pesquisador


acadêmico. In.: GERALDI, C. M. G.; FIORENTINI, D.; PEREIRA, E. M. de A. (Orgs.)
Cartografias do trabalho docente: professor (a) – pesquisador (a). Campinas, SP: Mercado
de Letras, 1998. (Coleção Leituras no Brasil).

Você também pode gostar