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AS CONSEQUÊNCIAS DO ABUSO SEXUAL INTRAFAMILIAR NO

PROCESSO DE APRENDIZAGEM¹

Jaqueline Silva LAPUENTE²


Camila Ramos de CARVALHO³

RESUMO

A violência intrafamiliar que acomete crianças e adolescentes tem sido objeto


de pesquisa em função do aumento do número de casos nos últimos anos,
alcançando proporções epidêmicas. Este tipo de violência é caracterizado por
ação ou omissão que prejudique a integridade física e/ou psicológica, assim
como por negligência em relação aos cuidados básicos necessários para o
desenvolvimento psicossocial infantil. A escola configura-se como ambiente
favorável para a detecção de casos de maus-tratos infantis na medida que
abrange significativo percentual da população infantil. Desta forma, o objetivo
deste estudo foi compreender as repercussões, no contexto escolar, da
violência intrafamiliar contra a criança. Esta pesquisa, de abordagem
qualitativa, foi realizada por meio de revisão bibliográfica em bases de dados de
artigos científicos. Os artigos foram pesquisados nas bases de dados Lilacs,
Scielo e Pubmed. A violência intrafamiliar interfere diretamente no processo
educacional e nas relações estabelecidas no contexto escolar, estimulando a
agressividade e outros comportamentos inoportunos neste meio, podendo
significar um verdadeiro reflexo do tratamento recebido no ambiente familiar.
Em relação aos prejuízos cognitivos, vítimas de maus-tratos apresentam níveis
de inteligência geral inferiores a outros sujeitos. Concluiu-se que compreender
as relações familiares e seu reflexo no contexto escolar, permite a concepção e
implementação de estratégias que envolvam a educação, a assistência e a
promoção da saúde, capazes de transformar este trágico cenário que vem
comprometendo a qualidade de vida, o desenvolvimento psicossocial e
cognitivo de crianças vítimas de violência intrafamiliar.
PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Neuropsicopedagogia. Violência Infantil.

¹Trabalho para conclusão de Pòs Graduação do curdo de Neuropsicopedagogia e Reabilitação


Cognitiva - Instituto Sinapses de Ensino Superior
²Graduada em Serviço Social – Universidade Anhanguera, Perita Social, Pós Graduada em
Psicopedagogia – Faculdade Intervale, Pós Graduanda em Neuropsicopedagogia e ABA – Instituto
Sinapses de Educação, Pós Graduanda em Autismo – Faculdade Faveni – emial:
lapuente.psiconeuro@gmail.com
³Esp.Docência do Ensino Superior, Esp. Gestão, Coordenação e Supervisão Escolar
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1 INTRODUÇÃO

1.1 Tema
Os transtornos de aprendizagem e a Síndrome do segredo.

1.2 Justificativa

Justifica-se a escolha do tema pela necessidade de conhecer a importância


de trabalho do profissional de neuropsicopedagogia junto a criança vítima de
abuso sexual,
Diante do exposto, a relevância da pesquisa é de cunho profissional e
científico, objetivando conhecer, em estudos publicados os danos físicos e
psicológicos causados pelo abuso sexual intrafamiliar contra criança, levando o
neuropsicopedagogogo(a) a lançar um novo olhar sobre suas práticas
terapeuticas, onde nesse caso a criança, parece mais vulnerável e exposto aos
riscos.
Compreendendo como o profissional realiza sua intervenção no sentido de
contribuir para o processo no resgate da infância interrompida pelo abuso sexual
seja efetivo trazendo benefícios positivos, sendo que a criança ou adolescnde
abusado sexualmente pode perder o desejo pela aprendizagem apresentando
condutas diferentes.

1.3 Problematização do Tema

A problematização do tema traz como questão central compreender e refletir


como o trabalho do neuropsicopedagogo, procura identificar as demandas
existentes de crianças vítimas de abuso sexual, seguido das seguintes questões
norteadoras: Como terapeutas da aprendizagem lidam com o resgate dessas
crianças? Quais fatores podem interferir no crescimento de uma criança que
sofreu abuso sexual e quais prejuizos no seu desenvolvimento intelectual? As
dificuldades de atenção,de socialização e de aquisição doconhecimento seria
algumas das conseuencias que o abusado apresenta após o fato ocorrido?
Diante disso, a problemática torna-se relevante e fornece com isso, uma
fonte de pesquisa para se desenvolver trabalhos com grande relevância de cunho
social.
2 OBJETIVOS

2.1 Geral

 Identificar em produções cientificas as consequências intelectuais,mentais e


psicológicas causadas pelo abuso sexual intrafamiliar contra criança

2.2 Específicos
.
 Descrever o papel da neuropsicopedagogia no resgate dos prejuizos na
aprendizagem a criança vítima de abuso sexual.
 Compreender o trabalho do terapeuta da aprendizagem no âmbito das
famílias que tem uma criança sexualmente abusada.

3 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com abordagem qualitativa.


Este método permite que pesquisas anteriores sejam sumarizadas e conclusões
sejam estabelecidas a partir da avaliação crítica de diferentes abordagens
metodológicas. As etapas que conduziram esta revisão integrativa foram: formulação
do problema; coleta de dados; avaliação dos dados; análise e interpretação dos
dados; apresentação dos resultados e conclusões (SOUSA; SILVA; CARVALHO,
2010).
A coleta de dados foi realizada nos meses de março a maio de 2021, na
Literatura Latino-Americano e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e na
biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO), Foram utilizados
os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “abuso sexual’, ‘criança” e
“aprendizagem”. Ambos associados a neuropsicopedagogia. A partir da
combinação desses descritores, foram localizadas 25 produções.
Como critérios de inclusão dos artigos adotaram-se: periódicos nacionais,
disponíveis na íntegra, em língua portuguesa, publicados entre os anos de 2015 e
2020, independentemente do método de pesquisa utilizado.
A amostra final será constituída por 15 artigos.
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4 DESENVOLVIMENTO

A violência caracteriza-se como um dos problemas de saúde pública, pois


causa impacto na integridade dos sujeitos que sofrem a agressão, afetando a saúde
física, mental, psicológica e comprometendo o bem-estar (WAISELFISZ, 2012). As
crianças expostas à violência doméstica são vítimas indiretas, mas igualmente
vulneráveis de várias consequências físicas e psicológicas, que podem ser ou não
de percepção imediata. Nesse sentido, julgamos pertinente distinguir duas situações
diferentes como: a criança vítima direta de violência, e a criança que assiste
indiretamente à violência doméstica. Segundo Brino e Souza (2016) a violência
contra a criança pode gerar diversas consequências no processo de
desenvolvimento, alterando a conduta e as emoções e interferindo no processo de
socialização e de aprendizagem da criança.
A criança ou o adolescente abusado sexualmente pode perder o desejo pela
aprendizagem, apresentando condutas diferentes daquelas que até então mostrava.
Muitas vezes, a dificuldade de atenção, de socialização e de aquisição de
conhecimentos são alguns sinais que o abusado apresenta após o fato ocorrido.
Dentre os sintomas dos pacientes, alguns freqüentemente citados na literatura da área
não foram percebidos por neuropsicopedagogos em seus processos diagnósticos, tais
como problemas no sono (pesadelos, vigília), desejo de fugir de casa ou evitar voltar
para casa após a escola, repelir o toque de outras pessoas, desenvolvimento de
fobias, etc. De qualquer maneira, apenas detectar alguns sintomas parece não ser
suficiente para identificar a ocorrência do abuso sexual. É necessário um
conhecimento aprofundado para que o saiba identificar um conjunto de sintomas,
além de avaliar o contexto do sujeito, como: quando começaram a ocorrer tais
sintomas, se foi um processo, se foi de repente, se esses sintomas têm permanecido
por um período longo, além de uma equipe multprofissional.
O Brasil registrou ao menos 32 mil casos de abuso sexual contra crianças e
adolescentes em 2018, o maior índice de notificações já registrado pelo Ministério da
Saúde, segundo levantamento obtido pelo GLOBO.
O índice equivale a mais de três casos por hora - quase duas vezes o que foi
registrado em 2011, ano em que agentes de saúde passaram a ter a obrigação de
computar atendimentos. De lá para cá, os números crescem ano a ano, e somam um
total de 177,3 mil notificações em todo o país.
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4.1 SÍNDROME DO SEGREDO


Quando se fala em questões internas, é essencial ao(a) neuropsicopedagogo(a), ter a
consciência de que estando em atendimento à criança, estará indo de encontro à sua própria
subjetividade, e que,
“[...] a ele e à criança deve ser permitida a conservação da sua individualidade, e
que este espaço por assim dizer deve ser preservado, sendo capaz de serem
reelaboradas, por meio da consciência de seu trabalho, atividades e
conhecimentos, inclusive de si mesmo” (MERY, 1985, p. 25).

Cuidando para evitar no seu trabalho, a transferência¹ e a contratransferência² , Mery (1985,


p. 24) ao falar da contratransferência, afirma que “[...] o terapeuta e a criança, não se
encontram totalmente cara a cara; entre eles, servindo-lhes de mediador, estão as atividades
que realizam juntos”; algo que se crê ser verdadeiramente o cerne do trabalho em função de
um(a) profissional(a) qualificado(a). Coadunando com a ideia de Mery (1985), quando ela diz
que um terapeuta precisa ir de encontro a si mesmo e que seja qual for o caminho que ele
tenha escolhido, é de suma importância que ele possa se conhecer melhor. Ideia reafirmada
por Freud (1938) ao afirmar que é necessário que ao terapeuta, antes de se voltar para a
criança, aprofunde o conhecimento de si, e não apenas de ‘si mesmo’ consciente ou pré-
consciente, mas do si - mesmo inconsciente, pois, como escreveu (FREUD, 1938/1964, p.46)
“conhecer-se mal significa para o ego perder sua força e sua influência”. Este conhecimento de
si mesmo lhe permite submeter-se à situação infantil da qual participa “[...] e ao mesmo tempo
resistir a toda tendência regressiva no interior de si” (MERY, 1985, p. 24, grifo nosso).
A violência familiar pode ser detectada em escolas a partir de alguns indicadores:
ausência frequente do aluno, baixo rendimento, falta de atenção e de concentração e
comportamentos como apatia, passividade, agressividade e choro. As crianças de
forma inconsciente tendem a dar sinais de que estão vivenciando algum tipo de
violência em seu meio familiar. Ristum (2014) investigou como os professores
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identificam a violência intrafamiliar e relatou que as crianças possuem diversas formas
de demonstrar que são vítimas ou que presenciam a violência familiar, desde marcas
ou ferimentos no corpo e comportamentos agressivos ou isolamento e retraimento, até
sinais mais sutis como a projeção dos conflitos familiares nos desenhos e no brincar.
____________________________________________
¹Transferência é um fenômeno que ocorre na relação paciente/terapeuta, onde o desejo do paciente irá se apresentar atualizado, com uma
repetição dos modelos infantis, as figuras parentais e seus substitutos serão transpostas para o analista, e assim sentimentos, desejos,
impressões dos primeiros vínculos afetivos serão vivenciados e sentidos na atualidade. Fonte:
https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia © Psicologado.com
²Contratransferência Segundo Isolan (2005), a contratransferência é algo inerente a terapia . O conceito de contratransferência foi
introduzindo por Freud que o definiu como sendo aquilo que "surge no *terapeuta como resultado da influência que exerce o paciente sobre os
seus sentimentos inconscientes". (FREUD, 1969, p.125-36) Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia-e-
contratransferencia © Psicologado.com
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que as pesquisas vêm identificando e avaliando as consequências da


violência intrafamiliar no desenvolvimento da criança, porém ainda há poucos estudos
que retratam o reflexo da violência intrafamiliar no aprendizado da criança. A escola,
apesar de ocupar um lugar privilegiado na vida de crianças e adolescentes, não
assume integralmente seu papel de instituição protetora da infância e adolescência.
Quando se opta por estabelecer uma relação das práticas pedagógicas do trabalho
com crianças vítimas destes abusos e violências, de modo preferencial dáse ênfase na
intenção de verificar o atendimento a estas crianças e adolescentes por meio do
aparato Clínico da Epistemologia Convergente de Visca (1987), pois também seria
satisfatório aproximar mais desta teoria.
Ao profissional de neuropsicopedagogia cabe fazer um diagnóstico minucioso quando
receber a demanda suspeita de caso de abuso sexual intrafamiliar, pois deve-se fazer
as seguintes pontuações que se considera relevantes sobre as condições que
demandem empenho e esforço, para que possa minimizar prejuízo às crianças e
adolescentes, isto é, deve-se ocupar (focar) os aspectos que visam superar tais
mazelas:
a) Aprendizagem: Situações em que os aspectos emocionais estariam ligados ao
desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento, a
expressão deste por meio da produção escolar, que suscitam o bloqueio da
aprendizagem. “[...] O não aprender pode, por exemplo, expressar uma
dificuldade na relação da criança com sua família; será o sintoma de que algo
vai mal nessa dinâmica” (LIMA, 2013, p.77).
b) Síndromes: Dentre os aspectos do equilíbrio biopsicossocial, são estas
crianças e adolescentes, passíveis de desenvolverem várias doenças e
síndromes.
c) Implicações no processo cognitivo: As crianças vítimas de violência sexual
necessitam de atendimento desta, por sua vez, pode ter implicações em seu
processo cognitivo (ter pouca concentração e ser dispersa), em consequência
disso a execução de tarefas cotidianas será baixa, e assim o aproveitamento
dos momentos de estudos pode ser baixo e a dispersão a cometer. A falta de
concentração faz com que as possibilidades de aprendizado diminuam,
tomando um ritmo lento em que a criança não tenha condições de apreender.
A violência é uma barreira para a aprendizagem, por isso deve-se estar atento a
cada sintoma que o sujeito venha apresentar.
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4 CRONOGRAMA

ATIVIDADE Fev Mar Abr Mai Jun

1. Observar orientações

2. Pesquisa Bibliográfica

3. Pesquisa documental

4. Análise do material lido

5. Redação do artigo

6. Finalização do artigo

7. Postagem do artigo no AVA


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5 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO, J.; LIMA, A.; PEREIRA, M. F. Abuso sexual intrafamiliar: as mães


diante da vitimação das filhas. Psicol. Soc. [online]. 2012, vol.24, n.2, pp.412-420.
ISSN 0102-7182. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822012000200019. Acesso em
abril 2021.

SOCREPPA, M. C. B.; SANCHES, S. R. S.; GALLO, A. E. Inocência Roubada.


Disponível em
<
http://www.cesumar.br/curtas/psicologia2008/trabalhos/INOCENCIA_ROUBADA.pdf
> Acesso em abril 2021.

MERY, Janine. Pedagogia curativa escolar e psicanálise. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1985.

LOPES , Rosimeire Bruno. Transferência e Contratransferência. 2010. Disponível em


<https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia-econtratransferencia
© Psicologado.com<. Acesso em 08 de maio. 2021.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre,


Artes Médicas, 1987.

ASSIS, S. G.; AVANCI, J. Q.; PESCE, R. P.; PIRES, T. O.; GOMES, D. L.


Notificações de violência doméstica, sexual e outras violências contra crianças no
Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 9, p. 2305-2317, 2012. Disponível
em:
<www.redalyc.org/pdf/630/63023703007.pdf

BRASIL, Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação -


SINAN. Violência Doméstica, Sexual e/ou outras violências - Notificações
Registradas: banco de dados. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://datasus.saude.gov.br/>

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