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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

JULIANA ZARDINI CAETANO

SENSO DE COMPETÊNCIA PARENTAL E ESTRESSE


PARENTAL EM PAIS DE CRIANÇAS DIAGNOSTICADAS COM
TEA

VITÓRIA
2022
JULIANA ZARDINI CAETANO

SENSO DE COMPETÊNCIA PARENTAL E ESTRESSE


PARENTAL EM PAIS DE CRIANÇAS DIAGNOSTICADAS COM
TEA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Psicologia Social e do
Desenvolvimento da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES) como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em
Psicologia.
Orientador: Prof. Dr. Elizeu Batista Borloti

VITÓRIA
2022
AGRADECIMENTOS
Esse é o texto o qual estou desde o início do mestrado pensando em
como escrevê-lo sem tomar todo o espaço da dissertação. Refleti sobre
como resumir o que/quem me sustentou ao longo desses meses intensos de
dedicação ao mestrado.
RESUMO (construir a partir das alterações do projeto)
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...........................................................................................................................6
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................8
1.1 Breve Apresentação sobre as Leis de Pessoas com Deficiência....................................8
1.2 O TEA – Transtorno do Espectro Autista.......................................................................9
1.3 Estresse parental – a família como um lugar para intervenção........................................10
1.3.1 Estresse Parental Comparado à Múltiplas Variáveis em Crianças Típicas......................13
1.3.2 Estresse Parental Comparado à Múltiplas Variáveis em Crianças Atípicas....................16
1.4 Senso de Competência Parental.......................................................................................19
APRESENTAÇÃO

O desejo de ingressar no mestrado surgiu durante a graduação, em meio a imersão em


projeto de pesquisa, monitorias, estágio e na convivência com excelentes mestres que
me guiaram enquanto graduanda. Cito aqui Luciano Cunha, Felipe Pimentel, Andreia
Ferreira, Laís, Carlos, Nielson, Marcelo entre outros gigantes da psicologia da FAESA.
Com eles, vi que o mestrado poderia ser um caminho após a graduação. Eles me
mostraram que era possível e assim segui. Somado a isso, um primo querido (o único
doutor da família) foi uma parcela grande de motivação para o ingresso no mestrado.
Neste berço, decidi tentar e assim ingressei no mestrado no ano de 2020.

Ao mesmo tempo em que ingressei no mestrado, estava vivendo uma experiência rica
no trabalho. Havia me tornado psicóloga da Clínica Envolve – especializada em
intervenção ABA para o público autista - me vi frente à inúmeras crianças, cada uma
com suas peculiaridades e famílias que se sentiam sem condições psicológicas de
encarar todos os desafios cotidianos que ocorriam na presença do diagnóstico do seu
filho na esfera social. Senti ali que faltava acolhimento, não por parte da clínica a qual
atuava/atuo, mas acolhimento provido de uma esfera global, a governamental, o acesso
e a implementação de políticas públicas.

Dessa maneira, decidi que o público alvo do meu estudo seriam os pais com o objetivo
de analisar dados que fossem justificativas para a criação e implementação de políticas
públicas voltadas para crianças autistas e as suas famílias. Além disso, para que seja
material bibliográfico para instituições clínicas se debruçarem nos cuidados com as
famílias.

Encontrei na literatura estudos com dados surpreendentemente reais sob a ótica da


minha experiência. Decidi usar o VB MAPP (instrumento de avaliação de
comportamentos verbais para crianças do TEA), somando a relação entre o estresse
parental e a sobrecarga parental. As bases de dados brasileiras dentro da análise do
comportamento (minha preferência em abordagem da psicologia) possuíam uma
escassez de estudos com essas variáveis. Insisti e acreditei no projeto inicial. Na
qualificação fui bem avaliada, entretanto, alguns comentários dos avaliadores me
trouxeram reflexões importantes sobre a minha coleta de dados: como eu iria garantir
que a avaliação mediada pelo VB MAPPP realizada na criança estaria fidedigna? Esse
questionamento perdurou até a decisão de retirada dessa variável e com isso, retirei
também a variável da sobrecarga parental mantendo somente o estresse parental.

Contra o tempo investiguei novas variáveis entre pais de crianças autistas ou com outros
transtornos que estavam sendo estudadas fora do país. Nesse processo mudei os
instrumentos duas vezes, substituindo o VB MAPP pelo The Behavior Problems
Inventory (BPI-01), inclusão do Parent Problem Checklist, entre outros. Ainda assim
não me sentia confortável com o que estava produzindo.

A partir de uma leitura sobre Senso de Competência Parental, decidi que seria sobre ele
que poderia investir. Um termo muito estudado fora do Brasil, mas que a análise do
comportamento e os estudiosos em autismo ainda não haviam se dedicado a explorar
esse fenômeno. O uni ao estresse parental e vi que estudiosos de outros países estavam
produzindo dados comprobatórios da correlação negativa entre duas variáveis.

Logo, definitivamente o projeto efetivo para coleta de dados foi finalizado. O contato
com as clínicas que cederão o contato dos pais para a pesquisa foi realizado, o CEP
demorou a chegar nesse processo. Processo este que foi longo e que ocorria
concomitantemente ao trabalho, situações familiares complexas e problemas de saúde.

Mas tudo isso foi uma escolha feita por mim sem arrependimentos e hoje entendo mais
sobre o processo de “tornar-me mestre”, mais especificamente, a primeira mulher
mestre da família.

O Senso de Competência Parental e Estresse Parental em Pais de Crianças


Diagnosticadas com TEA é o nome do projeto, da pesquisa, que foi elaborada para ser
um estudo com relevância científica e social com foco na primeira instituição social da
vida de um sujeito com ou sem diagnóstico, a família.
1. INTRODUÇÃO
MELHORAR A INTRO (+ GERAL) E ACRESCENTAR O OBJETIVO GERAL DA DISSERTÇÃO – começar
falando sobre PARENTALIDADE, SER PAR E SER MÃE. Pq o TEA?

O início da vida é o tempo em que a espécie humana se desenvolve de forma

evidente sendo notório por qualquer outro indivíduo. A infância e a adolescência são

fases da vida onde os primeiros contatos com o ambiente ocorrem e com isso, o respeito

e a proteção a essa fase é uma forma de promover saúde e educação ao futuro cidadão

em formação. Isto posto, ao estudar fenômenos que ocorrem nessa fase de evidente

desenvolvimento se faz necessário entender sobre a proteção e a garantia de direitos a

essas pessoas, uma vez que ter entendimento dessas garantias viabiliza a busca pelos

tais direitos, inclusive, quando se trata do público infanto-juvenil com deficiência. Além

do mais, para compreensão do cenário da atual dissertação vale uma apresentação breve

dos temas que serão abordados sendo a deficiência, o Transtorno do Espectro Autista

(TEA), fenômenos parentais psicológicos e a análise do comportamento.

1.1 Breve Apresentação sobre as Leis de Pessoas com Deficiência

No Brasil, a criança e o adolescente são protegidos pelo Estatuto da Criança e do


(ECA, 1990)
Adolescente , lei que garante os diretos a este público sem qualquer

discriminação pontuando crianças e adolescentes com deficiência. Em 2015 foi


Lei Brasileira de Inclusão Da Pessoa Com Deficiência
sancionada a (Estatuto da Pessoa

com Deficiência, 2015) com o objetivo de elucidar sobre a inclusão social e cidadania

de pessoas com deficiência. Este estatuto esclarece quanto a responsabilidade da família

em assegurar e efetivar os direitos garantidos por lei para a criança deficiente em todas

as esferas da sua vida, além do mais, garante que os familiares e cuidadores tenham

acesso a atendimento psicológico. Especificamente à pessoa com Transtorno do Espetro


Autista, a Lei Berenice Piana é o nome dado a Política Nacional de Proteção dos

Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (2012) e surgiu com o fim de

fomentar que uma pessoa com TEA é uma pessoa com deficiência e com isso, deve ter

todos os seus direitos garantidos. Neste cenário, entende-se que essas leis que vigoram a

nível nacional dão luz à temática e ao público que carecia de direitos e tratamentos.

1.2 O TEA – Transtorno do Espectro Autista

Os transtornos do neurodesenvolvimento são múltiplos e específicos segundo a

5ª edição do Manual of Mental Disorders (APA, 2014), um manual que visa melhorar os

critérios diagnósticos tornando-os mais fidedignos com os sinais e sintomas de cada um

deles. Essa multiplicidade é colocada em subdivisões desses transtornos, que descrevem

os seus diferentes tipos no acometimento do desenvolvimento, desde a fase pré-escolar

do indivíduo, prejudicando diversas áreas importantes da sua vida, como a social, a de

aprendizagem, comunicação, entre outras. São considerados transtornos do

neurodesenvolvimento: Deficiências Intelectuais, Transtornos da Comunicação,

Transtornos do Espectro Autista, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade,

Transtorno Específico da Aprendizagem e Transtornos Motores. Assim como todo

indivíduo com quaisquer transtornos, uma criança com TEA deve passar por

intervenções visando ao objetivo geral de que os seus comportamentos inadequados

excessivos reduzam de frequência, os adequados aumentem de frequência considerando

as necessidades de cada indivíduo com TEA e a sua família (Soares dos Santos et al.,

n.d.). Profissionais e cuidadores devem atentar ao fato inexorável de que o TEA não tem

cura; e que o tratamento visa à redução dos seus déficits e excessos comportamentais,

proporcionando assim, uma vida mais funcional e mais saudável em nível biológico,

psicológico e social. As intervenções voltadas para o público com o repertório


comportamental do espectro autista costumam enfatizar os déficits presentes, pelo seu

impacto negativo no desenvolvimento em longo prazo, na linguagem, na emoção, na

motivação e em outros processos psicológicos básicos, além do aspecto da saúde

neurofisiológica possibilitando uma vida independente (Barcelos et al., 2020). Com

isso, uma gama de profissionais da saúde, especialmente da mental, englobam equipes

que se dispõem a cuidar desse público.

O analista do comportamento tem sido um elemento fundamental em equipes,

como mostra o estudo da National Autism Center (2009). O instituto fez uma busca

sistemática das evidências cientificas da eficácia dos diferentes tipos de intervenções

psicológicas dirigidas ao acolher o público de clientes autistas. Os resultados mostraram

que, em suma, as práticas decorrentes da Análise do Comportamento Aplicada (Applied

Behavior Analysis – ABA) foram as mais descritas em um número maior de artigos

científicos que garantiam bons resultados e replicações. Isto indica que a ABA contém

procedimentos que possuem maior evidência cientifica de eficácia para os casos de

autismo. Esse resultado foi apontado no objetivo da organização National Standards

Project (2009), ao sinalizar para profissionais e cuidadores os padrões de tratamento

eficazes para o autismo, assim como as áreas afetadas que mais devem passar por

intervenções com tais padrões. Embora essa organização esteja concentrada no público

norte-americano, sua sinalização tem se disseminado no mundo.

1.3 Estresse parental – a família como um lugar para intervenção

O estresse é uma condição humana em que a comunidade cientifica já investiu e

ainda investe muitas pesquisas. Em geral, o objetivo principal dessas pesquisas, a

exemplo da de Faro et al. (2019), é mapear essa condição de desgaste psicofisiológico

produzida por estressores presentes nas diversas situações nas quais o indivíduo está

envolvido. Mélina Rivard et al.(2014), por exemplo, investigaram a característica do


déficit de linguagem oral nos filhos e o impacto sobre o estresse nos pais, as autoras

concluíram que o estresse parental está independentemente associado ao déficit de

linguagem dos filhos, porém, também indicaram que pais de crianças com atrasos na

linguagem, diagnosticadas com TEA ou com algum quadro assemelhado, apresentaram

maior índice de estresse parental, se comparado com pais de crianças com Síndrome de

Down. Com melhores descrições do repertório comportamental no espectro autista,

possíveis aumentos percentuais de crianças com o diagnóstico de TEA têm ocorrido.

Com isso, as famílias dessas crianças vivenciam uma rotina de tratamentos com

múltiplos profissionais, além de lidar cotidianamente com os desafios de desempenhar

os papéis de pai e mãe de uma criança autista. Com a mudança da dinâmica da vida

alterada por esses desafios, a vulnerabilidade desse núcleo familiar ao estresse,

depressão e ansiedade pode se tornar uma realidade (Alves & Hora, 2017). Faro et al.

(2019), por exemplo, sinalizam que mães que não apresentam estresse tendem a

reconhecer a sua família como um espaço de suporte, neutralizando a sobrecarga

parental.

Com o fim de descrever melhor e intervir sobre esses aspectos, vários

pesquisadores (e.g., Dunn et al., 2001; Minetto et al., 2012; Rivard et al., 2014; Faro et

al., 2019) estão retornando atenção para os aspectos emocionais de cuidadores de

crianças diagnosticadas com TEA. Para Abdin et al. (1997, como citado em Park &

Walton-Moss, 2012) o estresse parental é definido como um desequilíbrio entre as

demandas de parentalidade e os recursos parentais disponíveis percebidos. Não

restringe-se somente a bens materiais e envolve aspectos relacionais da parentalidade e

seus entrelaçamentos. Rivard et al. sugerem que, em casos de crianças com TEA, o

estresse parental vivenciado está correlacionado ao papel parental que o cuidador

cumpre e não em função de características comportamentais do próprio filho (no estudo


dos autores, as mães apresentam maior índice de estresse comparado ao índice

apresentado pelos pais). Minetto et al. mapearam práticas parentais investidas em

grupos de crianças com desenvolvimento típico e atípico: pais de crianças típicas têm

um investimento parental com tendências que seguem o modelo autoritativo, que

promove liberdade e autonomia às crianças; pais de crianças atípicas tendem a seguir o

modelo autoritário, o com maior supervisão e controle da ansiedade das crianças. O

mesmo estudo sugere que os maiores níveis de estresse se concentraram nos pais de

crianças com desenvolvimento atípico, sendo assim, este grupo de pais necessita de

maior rede de apoio e, bem como, de serviços de orientação de práticas parentais. O

estudo de Dunn et al. (2001) mostra, como um dos resultados obtidos, que o

comportamento de isolar-se socialmente é altamente provável de ocorrer no repertório

de pais. Esse isolamento tem função de fuga de avaliações sociais e ocorre tanto em pais

que não possuem suporte social quanto em pais que o possuem. Porém, buscar suporte

social também aparece com a função de reduzir altos níveis de estresse. Nesse estudo,

os autores sugerem que estudar os tipos de suporte social seria um passo para encontrar

soluções para a dor dos pais de filhos atípicos. Faro et al. (2019) focaram o seu estudo

na comparação de mães de crianças com TEA que apresentaram ou não estresse. Seus

resultados sinalizaram que a manifestação do estresse nas mães tende a ser em sintomas

psicológicos, como irritabilidade, agitação e sensibilidade emocional. Os autores ainda

indicam a sobrecarga parental como um dos moderadores de estresse nas cuidadoras.

Os estudos descritos no parágrafo anterior revelam que o estresse parental é um

fenômeno presente na vida de familiares de crianças com desenvolvimento atípico. Em

nível das amostragens das pesquisas nele citadas, esse estresse é estatisticamente

significativo em pais, particularmente nas mães, de crianças diagnosticadas com TEA.

As formas de mapear as condições de vida desses pais variam de pesquisa para


pesquisa, entretanto, é comum o estresse ser o foco dos problemas de pesquisa, somado

ao foco da busca de possíveis estressores da sobrecarga da vivência da maternidade e da

paternidade com um filho com TEA.

1.3.1 Estresse Parental Comparado à Múltiplas Variáveis em Crianças Típicas

Segundo Selye (1936), o estresse é a reação do organismo que ocorre diante


Sadir et al.(2010)
situações que exijam dele adaptações que vão além do seu limite.

ressaltam sobre o impacto do estresse na qualidade de vida e da produtividade do

sujeito, além de seus efeitos no corpo e no psíquico. As definições dos dois autores

elucidam que o estresse é um fator desencadeado por um agente ambiental com efeitos

diferentes no ser humano, incluindo mudanças fisiológicas e alterações

comportamentais. Uma revisão sistemática de literatura realizada por


Brito e Faro (2016)
fez uso de duas bases de dados para verificar a presença do termo estresse

parental na literatura. Os autores analisaram 11 (onze) estudos e concluíram sobre

estudos acerca do estresse relacionado a família, suporte social e outros possíveis

estressores que as pesquisas se direcionavam as mães e que ainda não existe um

instrumento brasileiro dedicado somente em avaliar o estresse parental. Com isso, pode-

se entender que pesquisadores brasileiros a estudarem sobre estresse parental buscam

instrumentos traduzidos e adaptados à realidade brasileira ou instrumentos que avaliam

o estresse em qualquer amostra, mas, o incluem dentro de um contexto de parentalidade.

O estudo realizado por Silva et al. (2018) investigou o estresse parental em

contextos de pobreza. Para checar a presença do estresse parental, os autores utilizaram

a escala Índice de Estresse Parental – ISP, tradução da escala Parenting Stress Index –

PSI de Abidin (1995 – pegar referência). O ISP é baseado em um autorrelato composto

por 36 itens em escala do tipo likert e dividido em 3 subescalas sendo sofrimento


parental, interação parental e criança difícil. Obtiveram como principais resultados a

perspectiva de quanto maior a pobreza (escassez de acesso ao conhecimento, à renda e

menor desenvolvimento infantil), mais associada estava o estresse parental. A condição

contrária também foi validada pelo estudo, indicando que famílias menos pobres

possuem índices de estresse baixo ou normal. Os autores constataram que variáveis do

adulto (acesso a renda e a conhecimento) e da criança (condições de se desenvolver de

forma saudável) interferiram nos índices de estresse parental. Com esse estudo, percebe-

se que múltiplas variáveis ambientais podem aumentar ou diminuir a intensidade o qual

o responsável pela criança experencia e, entende-se como variáveis ambientes no estudo

supracitado todos os aspectos presentes que foram avaliados que compõe a pobreza

sendo o acesso a renda (emprego, oportunidades de trabalho), conhecimento (acesso a

educação, escola) e favorecimento de desenvolvimento saudável (acesso a educação

primária, disponibilidade de afeto, alimentação adequada).

O ISP/PSI também foi utilizado no estudo Bérgamo e Bazon (2011) que abordou

o estresse parental e apoio social dentro de um histórico de abuso físico infantil dos

pais para com os filhos. O estudo dos autores fez uso do instrumento para investigar a

presença do estresse nos pais em comparação com dados coletados sobre apoio social

também, além de avaliar questões sociodemográficas. Os principais resultados do

estudo envolvendo o instrumento exibiram que a subescala criança difícil foi

determinante para o score total da escala respondida por pais que possuíam histórico de

abuso físico. Isto é, quanto mais difícil se torna o manejo do comportamento das

crianças, maior o estresse parental tornando a criança e os pais vulneráveis a


(Bérgamo & Bazon, 2011).
apresentarem condutas de abuso infantil Analisando os
Silva et al., 2018 e Bérgamo e Bazon, 2011)
estudos citados anteriormente ( mostram

que variáveis ambientais impactam diretamente sob o índice de estresse dos pais, dessa
forma, identificar essas variáveis é fundamental para que o corpo de saúde e do cuidado

desenvolvam estratégias para reduzir os níveis de estresse e beneficiar os pais com bem

estar. Além do corpo da saúde, o estudo de Silva et al. (2018) indica que órgãos

políticos também possuem um papel importante para que os pais desempenhem suas

funções parentais de forma saudável para si próprios e sem estresse.

Gomide et al. (2005) estudou a relação dos estilos parentais com a incidência do

estresse, depressão e habilidades sociais em pais de filhos com idades entre 14 e 17

anos. Para avaliar o estresse, as autoras fizeram uso de do instrumento Inventário de

Sintomas de Stress para Adultos de Lipp – ISSL (1998 – pegar referência) e o comparou

com outros instrumentos que avaliaram os estilos parentais, depressão e habilidades


Bérgamo e Bazon (2011) Gomide et al. (2005)
socias. Diferente do estudo de , não

utilizou um instrumento específico para o estresse parental, mas uso um instrumento de

estresse validado dentro de um contexto cujo as variáveis circuncidavam a

parentalidade. Os resultados do estudo supracitado indicaram que pais com práticas

parentais positivas apresentaram um índice de habilidade social elevado e baixos níveis

de depressão e estresse, enquanto pais que possuíam práticas negativas apresentaram

baixos índices de habilidade social, mas, com indicativos de ansiedade e depressão. O


Rodrigues e Nogueira (2016)
ISSL (1998) também foi utilizado no estudo de ao

comparar práticas educativas com a presença da ansiedade, depressão e estresse em

mães de bebês recém nascidos entre 6 e 12 meses de vida. O estudo resultou que mães

com práticas caracterizadas como disciplina relaxada apresentaram maiores níveis de

estresse confirmando a relação negativa das duas variáveis. Os estudos supracitados

(Gomide et al., 2005 e Rodrigues e Nogueira, 2016) apresentam semelhanças nas

variáveis selecionadas para comparação de dados, mas vale ressaltar que os dois estudos

se debruçaram sob as práticas parentais exercidas e a presença de mal estares como o


estresse, depressão e ansiedade. Os autores trataram de identificar comportamentos dos

próprios pais que impactam no estresse parental, evidenciando que embora as variáveis

ambientais possuem importância sob o índice de estresse, o comportamento dos pais

também deve ser analisado a fim de promover intervenções eficazes.

No tópico a seguir serão discutidos estudos cujo a amostra se configura em pais

de crianças com desenvolvimento atípico.

1.3.2 Estresse Parental Comparado à Múltiplas Variáveis em Crianças Atípicas

O estresse e a parentalidade foram explorados por autores como


Minetto et al. 2012
Arrais e Vieira-Santos (2021) Cunha (2016).
, e Os autores se debruçaram na

existência do estresse parental em diferentes contextos infantis como idade escolar,

síndrome de down, deficiência intelectual e paralisia cerebral. As conclusões dos

estudos reforçam a presença de estresse parental em todas as famílias com crianças que

possuem diagnósticos e também famílias com crianças sem diagnósticos, as diferenças

estão nas variáveis que estão entrelaçadas ao mal estar parental, sejam elas na interação

familiar e/ou em algum aspecto ambiental sociodemográfico. Dessa forma, o estresse

parental não é um fator presente somente em famílias que convivem com o diagnóstico

de uma criança, tal explicação se faz importante para catalisar qualquer ideia que

associa diagnóstico e sofrimento na família.

Com foco no autismo, o estudo de Carlo Schmidt & Cleonice Bosa (2007)

resultou na confirmação da presença de estresse parental em 30 mulheres mães de

crianças com TEA. As variáveis identificadas como agentes estressores eram a entrega

integral da mãe no cuidado com seus filhos como na alimentação, cuidados, ida a

médicos, terapias e etc., em determinados comportamentos ressaltando os agressivos e


Fávero e Santos (2005)
autolesivos e a adolescência de seus filhos. A revisão sistemática realizada por
investigou nas bases de dados Medline, LILACS e PsycInfo as

publicações que estudavam o estresse parental em pais de crianças com TEA. Os

resultados gerais do estudo expuseram que variáveis sociodemográficas com as

socioeconômicas, status intelectual, educação e origem étnica não interferia de forma

direta no estresse parental. Em contrapartida, famílias que possuem filhos autistas

sofrem com o estresse parental quando há prejuízo cognitivo e quando há

imprevisibilidade do futuro do filho relacionada a independência do mesmo


(Fávero & Santos, 2005)
. Os autores também descreveram sobre estudos que descreviam sobre o

estresse parental e a resiliência, tratamento precoce, medicação, treino de pais. Uma


Hayes e Watson (2012)
meta-análise realizada por publicada em inglês examinou

publicações em bases de dados como PsychInfo, Scholars Portal, Dissertations and

Theses (Proquest), Academic Search Complete e na internet (por exemplo, Google

Scholar), o estresse parental associado a filhos com TEA e filhos com desenvolvimento

típico. Com os artigos selecionados para análise os autores puderem detalhar sobre o

impacto do diagnóstico do TEA e em famílias com filhos com desenvolvimento típico,

além de relacionar famílias com TEA e com outras deficiências presentes. Os resultados

obtidos sugerem que o estresse parental se acentua em famílias com filhos com

diagnosticados com TEA, se comparado a famílias sem diagnóstico ou com outras


(Hayes & Watson, 2012)
deficiências .

Tratando-se de outras deficiências, Cherubini et al. (2008) e


Vermeij et al., (2019)
estudaram sobre o estresse parental em famílias com diagnóstico de Síndrome do

X-frágil, Síndrome de Down e Transtornos de Linguagem. O estudo que investigou pais

e mães de crianças com Síndrome do X-Frágil e Síndrome de Down


(Cherubini et al., 2008)
buscou entender a presença do estresse parental e do autoconceito e comparou as

famílias com filhos diagnosticados com famílias com filhos com desenvolvimento
típico. Os principais resultados indicaram que os três grupos investigados no estudo

apresentaram índices de estresse parental, entretanto, os índices maiores acometiam os

grupos clínicos. Para mais, mães de crianças com Síndrome do X-Frágil apresentaram

maior resistência ao estresse ao mesmo passo que foram as que apresentaram sintomas

físicos e psicológicos acentuados. Os Transtornos de Linguagem e o estresse parental


(Vermeij et al., 2019)
foram avaliados em conjunto com variável do comportamento

problema infantil. No estudo, o instrumento que avaliou o estresse foi o Parenting Stress

Questionnaire – PSQ (Vermulst, Kroes, De Meyer, Nguyen, & Veerman, 2015)

composto por 34 itens respondidos em escalas Likert e é destinado para pais que

frequentam instituições de saúde e educacionais pelos seus filhos. Entre os resultados,

os autores concluíram que transtornos de linguagem não impactam diretamente no

estresse parental dos pais, mas, os problemas de comportamento das crianças mostraram

maior impacto no estresse parental.

Percebe-se que os estudos sobre estresse parental cujos filhos possuem

diagnósticos presenciam de grupos de controle com pais de crianças típicas e, os grupos

clínicos disparam quando o assunto é estresse parental. As variáveis ambientais vão

além do diagnóstico do filho e como apontado por Vermeij et al. (2019) o

comportamento problema do filho é um potente eliciador de estresse. O TEA enquanto

diagnóstico foi apontado por (Hayes & Watson, 2012) como forte estressor, entretanto,

podemos compreender que por tratar-se de um espectro, com a variabilidade de sinais e

sintomas, o pai sinta-se confrontado em relação a sua expectativa de futuro para o seu

filho (Fávero & Santos, 2005).

Dessa forma, o próximo capítulo será destinado a descrever o conceito de

Competência parental em pais de mães cujos filhos possuem diagnóstico.


1.4 Senso de Competência Parental

Debruçar-se em fenômenos parentais auxilia o terapeuta infantil na elaboração

de planos terapêuticos que comtemplem objetivos que beneficiam todo o núcleo

familiar. Entre os fenômenos parentais pode-se citar o Senso de Competência Parental

que, segundo Pardo et al. (2018), é um termo que diz respeito à percepção dos papéis

parentais maternos e paternos exercidos e é relativamente dependente do contexto que

garante suas atuações enquanto cuidadores. O contexto é um conjunto de variáveis

implícitas e explicitas que atravessam a manifestação da competência parental, isto é,

pode envolver sentimentos, emoções, ações diversas em relação ao filho (a) e em

relação a si próprio (a). O autor afirma que competência é uma ação efetiva que

subjetivamente indica o sentido de competência parental que pode resultar em

recompensas para que o pai e/ou mãe continue se comportando, aumentando a

autoestima. Johnston e Mash (1989) explicam que a autoestima parental deriva de uma

relação a qual o pai desenvolve autoeficácia, como o pai percebe o seu papel, e

satisfação, como o pai se sente satisfeito desempenhando sua função. Bandura (1982)

foi o autor que explanou os conceitos de autoeficácia e satisfação dentro de uma esfera

de conhecimento cognitivo. Dessa forma, a competência parental possui como base

teórica pilares do conhecimento cognitivo que compõe uma parte de um fenômeno

humano sendo a outra parte um aspecto observável e concreto, o comportamental.

Guilhardi (2002) sob uma perspectiva analítico comportamental esclarece que a

autoestima é produto das contingências de reforço positivo social. O reforço positivo

social é um aspecto do contexto que fortalece comportamentos adequados e prazerosos

para o indivíduo e a sua comunidade verbal. O comportamento que é reforçado por

intermédio de outra pessoa é definido com Skinner (1957) por Comportamento Verbal,

o comportamento entre um falante e um ouvinte envolvendo a fala ou não. O autor


declara na sua obra supracitada que o comportamento do falante é reforçado pelo

comportamento do ouvinte e do ouvinte pelo falante, sendo assim, é um reforçamento

mútuo dentro da comunidade verbal do indivíduo. Quando uma contingência é mantida

sob reforçamento em um determinado grupo de pessoas é chamada de comunidade

verbal (Skinner, 1957).

Neste sentido, a competência parental é o produto de diversos comportamentos

emitidos no âmbito parental (pai/mãe > filho ou filha) que promove consequências

positivas para os pais e os filhos envolvidos, sendo que essas consequências podem ser

sentimentos, emoções, comportamentos adequados dos filhos, bom manejo do

comportamento do filho, entre outros. Caso as consequências não forem positivas, os

pais passam a apresentar supressão do comportamento por escassez de reforçamento

positivo na relação parental. Dessa forma, passamos a entender o fenômeno da

competência parental por intermédio de comportamentos concretos.

Estudos atuais revelam que pesquisadores que se dedicam a explicar fenômenos

parentais tem investido no senso de competência parental em diversos contextos

familiares. Envolvendo famílias que convivem com crianças com TEA, Arellano (2017)

apontou que mães que não trabalham fora e com menor renda indicaram maior senso de

competência parental. O estudo também concluiu que mães de crianças com TEA

apresentam um senso de competência inferior se comparado a mães de crianças com

outro diagnóstico de transtorno do desenvolvimento. Esses dados demonstram que

questões sociodemográficas são condições ambientais que atravessam o senso de

competência parental do indivíduo.

1.4.1 Competência Parental em Pais que convivem com o Desenvolvimento Atípico


Estudos atuais revelam que pesquisadores que se dedicam a explicar fenômenos

parentais tem investido no senso de competência parental em diversos contextos

familiares. A Competência Parental, segundo Pardo et al. (2018), é um termo que diz

respeito à percepção dos papéis parentais maternos e paternos exercidos e é

relativamente dependente do contexto que garante suas atuações enquanto cuidadores.

Envolvendo famílias que convivem com crianças com TEA, Arellano (2017) apontou

que mães que não trabalham fora e com menor renda indicaram maior senso de

competência parental. O estudo também concluiu que mães de crianças com TEA

apresentam um senso de competência inferior se comparado a mães de crianças com

outro diagnóstico de transtorno do desenvolvimento. Esses dados demonstram que

questões sociodemográficas são condições ambientais que atravessam o senso de

competência parental do indivíduo.

Moura (2020) explorou o senso de competência parental em pais de crianças

que apresentam comportamento antissocial e possíveis intervenções no âmbito parental

para desenvolvimento de habilidades parentais para com os filhos. No estudo utilizaram

um instrumento de medida do fenômeno, a Escala de Senso de Competência Parental

(Parenting Sense of Competence Scale – PSOC) como uma das variáveis no contexto do

comportamento antissocial da criança e a família. A autora supracitada mediu as

propriedades psicométricas do instrumento PSOC, de um instrumento de Escala

Estresse Parental (EEP) e um Questionário de Capacidades e Dificuldades (SDQ). Os

dados concluíram que o instrumento PSOC possui validade psicométrica para o público

do estudo dentro das suas condições ambientais. Somado a isso, Moura (2020) concluiu

a relação entre as variáveis de estresse, senso de competência e estilos parentais em pais

de crianças com comportamento antissocial. Por fim, o uso de um instrumento de

medida de estresse parental congruentemente com o PSOC sinaliza aos pesquisadores


de fenômenos parentais a relação das duas variáveis em famílias de crianças com

comportamento antissocial sugerindo que, essa relação pode estar presente também em

relações parentais na qual os filhos apresentam outros tipos de diagnóstico.

Após desbravar e compreender sobre o assunto principal do presente estudo,

entende-se como o seu objetivo principal descrever a relação entre dados coletados no

questionário sociodemográfico, estresse parental e senso de competência parental em

pais de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista ou estejam em

processo de diagnóstico. A justificativa pauta-se que investigar o estado de estresse dos

pais e como eles avaliam a sua competência parental pode gerar conclusões que

apontem formas de tornar o atendimento ao público com transtornos do espectro autista

mais eficaz, entendendo que os pais fazem parte do desenvolvimento da criança. Além

do mais, estudos sobre transtornos do neurodesenvolvimento e seus desdobramentos

aumentaram nos últimos além de contribuir para a comunidade acadêmica com um

estudo que sinalize variáveis desencadeadoras de estresse e o seu impacto no senso de

competência parental que direcionará os pesquisadores para investigarem intervenções

com pais que amenizem o estado de estresse e falta de senso de competência parental.

O objetivo dessa dissertação é o de explanar sobre a temática de estresse e


competência parental em pais de crianças com deficiência, com foco no TEA. A
dissertação é composta por 2 estudos, sendo o primeiro uma revisão sistemática e o
segundo uma pesquisa de levantamento de dados com análise quantitativa. Dessa forma,
entende-se que a revisão de literatura com abordagem sistemática elucida sobre
variáveis que são desencadeadoras de estresse e senso de competência parental
alcançadas por outros estudos. O levantamento de dados investiga as variáveis que
desencadeiam o estresse e afetam sob a competência parental no contexto da pesquisa,
em terreno brasileiro e dentro de uma perspectiva de crianças em tratamento ABA.

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