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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

Instituto de Psicologia - IPS


Programa de Pós-Graduação em Psicologia – PPGPSI

MESTRADO ACADEMICO E DOUTORADO

ADESÃO DE MEDIDAS SÓCIO PREVENTIVAS EM CRIANÇAS E


ADOLESCENTES RECÉM-INSTITUCIONALIZADOS: UMA PROPOSTA DE
REDUÇÃO DE DANOS PSICOSSOCIAS NOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO.

Aryadne Azevedo Santos Silva¹

Prof.ª Dr. Marilena Ristum²

Senhor do Bonfim
2017

¹ Psicóloga, Pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Pós-graduada em Terapia


Comportamental e Cognitiva: Teoria, Aplicação e Prática; e Pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento
Infantil.
² Pré-projeto apresentado a comissão de seleção do curso de pós graduação em Psicologia da Universidade Federal
da Bahia, na linha de pesquisa da Prof.ª. Dr. Marilena Ristum em Cognições Sociais e Dinâmicas Interacionais.
DELINEAMENTO DO TEMA

Desde os tempos remotos o abandono de vulneráveis é uma prática comum no Brasil,


findando-se até o momento em detrimento das consequências desastrosas que em grande escala,
são consequências provenientes da pobreza, violência em massa, e de inúmeras outras
disfunções sociais. Contudo, após a proclamação da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990,
nominada como Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA passou a existir garantias de
direitos dos infantes, para que estes usufruíssem com dignidade e segurança de todos os seus
direitos civis. E com isso, o ECA impactou uma significativa transformação sócio histórica,
quando passou a estabelecer que o desprovimento financeiro da família não se fundamentava
em causa suficiente e embasada, para a desagregação da criança e do adolescente no âmbito
familiar (Art. 23). Motivo este utilizado anteriormente como justificativa social para inúmeros
abandonos, adquirindo posteriormente caráter criminoso de maus tratos e negligência,
respaldado pelo artigo 136 do Código Penal- Decreto Lei 2848/40. Contudo, este estudo se
findará abrangendo a circunstância dos menores e suas famílias através de uma análise sócio-
histórica-cultural, uma vez que é pertinente a averiguação do abandono como consequência
proveniente de negligência parental ou derivada da condição de extrema pobreza.

As equipes profissionais e instituições de acolhimento utilizadas para este estudo serão


referentes aos serviços de Proteção Social e Especial da Média e Alta Complexidade- CASA
LAR, ABRIGO, CREAS E CONSELHO TUTELAR. As modalidades de serviços de
acolhimento utilizadas para a pesquisa se fundarão em estrutura Casa Lar e Abrigo,
disponibilizados pelas políticas da Assistência Social designada na Constituição Federal do
Brasil de 1988, no qual oferecem acolhimento protetivo a crianças e adolescentes que possuem
seus direitos violados, encontrando-se em situação de risco e vulnerabilidade biopsicossocial.
De modo que, estes são resguardados e apartados da convivência familiar como prudência
extrema e excepcional, que é de exclusividade da jurisdição (art. 101, §2º, do ECA).

Segundo uma pesquisa realizada no ano de 2004 pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), existe no Brasil aproximadamente 626 instituições de abrigo voltadas ao
atendimento de crianças e adolescentes, 19% estão presentes na Região Nordeste, e
especificamente 6,3% encontram-se na Bahia. Tais instituições são alicerçadas pelo Estatuto

¹ Psicóloga, Pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Pós-graduada em Terapia


Comportamental e Cognitiva: Teoria, Aplicação e Prática; e Pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento
Infantil.
² Pré-projeto apresentado a comissão de seleção do curso de pós graduação em Psicologia da Universidade Federal
da Bahia, na linha de pesquisa da Prof.ª. Dr. Marilena Ristum em Cognições Sociais e Dinâmicas Interacionais.
da Criança e do Adolescente- ECA, e responsabilizam-se pela assistência ampla dos infantes,
oferecendo-lhes seguridade, habitação, higienização, conservação livre de crença e religião,
inserção em rotinas escolares, lazer, programas de preservação e reestabelecimento de vínculos
na família extensa ou nuclear, atendimento multiprofissional especializado segundo as
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (Resolução
Conjunta 01/2009, do CNAS e do CONANDA), entre outros princípios que serão discutidos,
articulados e estruturados posteriormente á adoção de medidas sócio preventivas nos serviços
de média e alta complexidade social.

DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A problemática da institucionalização emerge a começar no processo de identificação


das potencialidades psicossociais que poderão se fundamentar como causa judicial para
suspensão do poder familiar, perpassando ao decurso do deslocamento dos infantes para as
instituições de acolhimento protetivo e perdurando até o momento da desinstitucionalização,
quando iniciam as reinserções nas famílias nucleares, extensas, ou em famílias acolhedoras
(adoção, guarda e tutela) cadastradas nos serviços de assistência social dos municípios de
origem dos menores, segundo o tópico III, Seção III do Estatuto da Criança e do Adolescente-
ECA; Em prática os menores não são preparados de maneira preventiva e gradativa para
afastar-se da sua rotina, ambiente, amigos e familiares por um tempo indeterminado, e em
virtude disso, é notável uma possibilidade de surgimento de comportamentos aversivos
provenientes desta ruptura.

Bento (2010) reforça que em todas as modalidades de acolhimentos propostas pela


assistência social, é incontestável a influência do processo de institucionalização em crianças e
adolescentes ao expressarem a sua singularidade, pois estes condicionamentos tendem a
desconsiderar a herança sócio histórica, acarretando uma possibilidade de pertencimento social
a categoria “abandono”. Além disso, são conduzidos por pessoas estranhas para um ambiente
totalmente diferente do seu habitual. E por mais que, o seu ambiente anterior expusesse risco
causando violação dos seus direitos, e que estes tenham sido acompanhados por uma equipe
profissional para lidar com o processo de institucionalização, buscando proporcionar durante a
saída das crianças e/ou adolescentes de suas residências uma amenização dos impactos

¹ Psicóloga, Pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Pós-graduada em Terapia


Comportamental e Cognitiva: Teoria, Aplicação e Prática; e Pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento
Infantil.
² Pré-projeto apresentado a comissão de seleção do curso de pós graduação em Psicologia da Universidade Federal
da Bahia, na linha de pesquisa da Prof.ª. Dr. Marilena Ristum em Cognições Sociais e Dinâmicas Interacionais.
psicossociais presentes no processo, pode-se notar inúmeras probabilidades de surgimentos de
variáveis aversivas que irão afetar no desenvolvimento biopsicossocial, refletindo nos
comportamentos das crianças e adolescentes recém-institucionalizados em detrimento da
descontinuidade da sua rotina e do contato diário com os vínculos familiares, uma vez que,
conforme Yunes et al. (2004) a institucionalização pode ou não constituir-se como uma
potencialidade de risco para o desenvolvimento.

Todavia, faz-se necessário a identificação e adoção de medidas sócio preventivas entre


as equipes desde a identificação de uma possibilidade do afastamento familiar, até o momento
da institucionalização dos menores, uma vez que a carência de uma rede de apoio social pode
ocasionar insociabilidade e consequentemente a privação das construções de seus reforçadores
sociais que são essências e indispensáveis durante o percurso de um desenvolvimento
psicossocial saudável (Samuelsson et al., 1996). Para o reconhecimento das variáveis sociais
neste processo, utilizaremos como referência a teoria das representações sociais (Moscovici)
tendo por finalidade a elucidação e interpretação da realidade social em que os menores e as
equipes profissionais da média e alta complexidade estão inseridos, considerando desta forma,
sua constituição histórico/crítica ao regulamento das políticas públicas da assistência social,
fundamentando-se em questionamentos ao novo conhecimento social. A representação tem que
ser produzida e socializada por um determinado grupo (Moscovici, 1978), uma vez que sua
construção é realizada no processo de socialização entre pessoas, e objetos. Por quanto, a teoria
das representações sociais é uma alternativa para a caracterização e elucidação das
manifestações sociais resultando em concepções e ações compartilhadas entre determinados
grupos.

OBJETIVOS

GERAL

1. Proporcionar a inserção de medidas sócio preventivas nos serviços de média e alta


complexidade social, objetivando a redução de danos psicossociais de crianças e
adolescentes recém-institucionalizados nos serviços de acolhimento;

ESPECÍFICOS

¹ Psicóloga, Pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Pós-graduada em Terapia


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da Bahia, na linha de pesquisa da Prof.ª. Dr. Marilena Ristum em Cognições Sociais e Dinâmicas Interacionais.
2. Refletir sobre as construções das representações sócias dos infantes recém-
institucionalizados e das equipes inseridas nos serviços de média e alta
complexidade social;
3. Promover a articulação intersetorial dos serviços na garantia dos direitos e na
plenitude de políticas públicas para os usuários;
4. Evidenciar alternativas sociais vinculadas as políticas públicas assistenciais que
auxiliem as famílias em situação de vulnerabilidade social.

MÉTODOS

A escassez de investigação, elaboração e publicação de medidas sócio


preventivas na redução de danos psicossociais em crianças e adolescentes institucionalizados,
respaldados sob a perspectiva cultural do nosso país, desperta grandes preocupações devido à
temática se referir aos serviços prioritários de proteção especial ofertados na Assistência Social
do nosso país. Deste modo, este estudo desencadeará primordialmente, após a aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia, seguindo a Resolução nº
466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS), que trata da pesquisa envolvendo seres
humanos, onde serão elaborados e preenchidos Carta de Solicitação em Pesquisa SEMAS,
Termo de Responsabilidade e Compromisso, e de Consentimento Livre e Esclarecido entre
os envolvidos para o prosseguimento do estudo.

Esta pesquisa versará em abordagem qualitativa exploratória e de campo (GIL, 2007),


que utilizarão de norteadores como os métodos científicos de observações, levantamentos de
dados bibliográficos e a utilização do mecanismo Survey, por meio da elaboração de entrevistas
semiestruturadas para análise de variáveis qualitativas.

Seguindo uma subsequência, a priori, de:

a) Levantamentos de dados bibliográficos referentes às


problemáticas sócio-históricas-culturais em que os sujeitos experimentais estão
inseridos; ao conhecimento das representações sociais como símbolo de
transferência concebido entre os mesmos nos espaços sociais, nas ligações
interpessoais, que influem na idealização das aprendizagens partilhadas.
¹ Psicóloga, Pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Pós-graduada em Terapia
Comportamental e Cognitiva: Teoria, Aplicação e Prática; e Pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento
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Conectando estas duas vias, ás diretrizes das políticas públicas assistenciais e
ao Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA;
b) Observações das atuações dos técnicos nos serviços de
complexidade especial desde o momento de identificação das potencialidades
pertinentes ao processo da institucionalização, até ao momento da chegada dos
infantes recém-institucionalizados aos serviços de acolhimento;
c) Elaboração das entrevistas individuais e semiestruturadas, para
as equipes profissionais da assistência, decorrendo de forma virtual através da
ferramenta online SurveyMonkey, proporcionado uma maior praticidade e
comodidade através deste mecanismo com Survey para a aquisição de
informações referentes as particularidades ou as crenças de determinados
grupos, utilizando um questionário ou entrevista como instrumento de pesquisa
(Fonseca, 2002, p.33);
d) Análise das respostas das entrevistas através do software IBM
SPSS, comparando-as ás duas primeiras subsequências citadas anteriormente,
de forma organizada e descritiva expondo o número e a percentagem das
variáveis qualitativas.

O público-alvo destinado às entrevistas serão os profissionais com no mínimo 06 meses


de atuação nos serviços de média e alta complexidade social - Assistentes Sociais e Psicólogos
das instituições CASA LAR, ABRIGO, CREAS, e membros do CONSELHO TUTELAR,
na região do Vale do São Francisco/Bahia/Brasil. Espera-se que após esta coleta de dados,
sejam identificadas as diferentes formas de abordagens e a ampliação das representações
sociais das equipes intersetoriais na assistência social, desde o surgimento da probabilidade de
saída do infante da família até o encaminhamento aos serviços institucionais. Permitindo assim,
aclarar dados sociais que ainda não foram identificados, e através disso, classificarmos e
construirmos medidas sócias preventivas que objetivem a redução de danos na recém-
institucionalização de crianças e adolescentes (MINAYO, 2007). E através deste feito,
detectaremos potencialidades a serem adotadas entre as equipes de maneira preventiva,
objetivando sempre a redução de danos psicossociais provenientes do processo de
institucionalização nas crianças e adolescentes, pois a rede de apoio social tem uma profunda

¹ Psicóloga, Pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Pós-graduada em Terapia


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influência na saúde e no bem-estar do indivíduo (SAMUELSSON, THERNLUND E
RINGSTRÖM, 1996).

É extremamente relevante pontuarmos neste pré-projeto de pesquisa, que o abandono


não é somente concretizado por menores deixados por seus cuidadores, mas sim, mediante o
esquecimento das famílias e pessoas pelas políticas públicas e pela comunidade (BECKER,
1994, p. 63). Portanto, através dos resultados obtidos no estudo, promoveremos diálogos
essenciais referentes às viabilidades nas práticas das políticas públicas assistenciais, por
intermédio da implementação de atualizações, capacitações e discussões profissionais de
maneira regular nos serviços de média e alta complexidade social.

REFERÊNCIAS

BECKER. M. J. A ruptura dos vínculos: quando a tragédia acontece. In: Família brasileira, a
base de tudo. São Paulo: Cortez; Brasília: UNICEF, p. 60-76, 1994. Cap.4.

BENTO, R. (2010). A história de vida de crianças e adolescentes como mediadora da


reintegração no contexto familiar. Dissertação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
- PUCSP - São, Paulo, SP.

Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Diário Oficial da União. Lei nº 8069, de 13 de


julho de 1990. Brasília, DF: Palácio do Planalto.

FONSECA, João José Saraiva da. Metodologia da pesquisa científica. Ceará: Universidade
Estadual do Ceará, 2002.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.

MIGUEL, P. A. C.; HO, L. L. Levantamento tipo survey. In: MIGUEL, P. A. C. et al. (org).
Metodologia da pesquisa em engenharia de produção e gestão de operações. Rio de Janeiro:
Elsevier, p. 73-127, 2010

¹ Psicóloga, Pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Pós-graduada em Terapia


Comportamental e Cognitiva: Teoria, Aplicação e Prática; e Pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento
Infantil.
² Pré-projeto apresentado a comissão de seleção do curso de pós graduação em Psicologia da Universidade Federal
da Bahia, na linha de pesquisa da Prof.ª. Dr. Marilena Ristum em Cognições Sociais e Dinâmicas Interacionais.
MINAYO, M.C.S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 10. ed. São
Paulo: HUCITEC, 2007.

MOSCOVICI, Serge. A representação social da psicanálise. 1.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

SAMUELSSON, M., THERNLUND, G. & RINGSTRÖM, J. (1996). Using the five map to
describe the social network of children: a methodological study. International Journal
Behavioral Development, 19, 327-345

SILVA, E.R. (2004). O direito à convivência familiar e comunitária: Os abrigos para crianças
e adolescentes no Brasil. Brasília: IPEA/ CONANDA.

YUNES, M.A., MIRANDA, A.T., CUELLO, S.S. & ADORNO, R.S. (2000). A história das
instituições de abrigo às crianças e concepções de desenvolvimento infantil [Resumo]. In:
Sociedade Brasileira de Psicologia (Ed.), Resumos de comunicações científicas, XXXII
Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia (pp.213- 214). Florianópolis: SBP.

¹ Psicóloga, Pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho; Pós-graduada em Terapia


Comportamental e Cognitiva: Teoria, Aplicação e Prática; e Pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento
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