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Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-MG
Fundação Osvaldo Cruz – FIOCRUZ-BRASÍLIA

Inserção social e habitação:


pesquisa avaliativa de moradias de
portadores de transtorno mental grave
Tema: A.2.9. Perfil dos pacientes de longa permanência, identificando sua possibili-
dade de inserção ao Programa de Volta pra Casa, Residências Terapêuticas, e outros.

ARQUITETURA PSICANÁLISE

SAÚDE COLETIVA ANTROPOLOGIA

Santos-Belo Horizonte-Distrito Federal


Outubro de 2008
“Com dez pego na casa”.
com vinte levanto esteios
com trinta reparto o meio
com quarenta faço a base
cinqüenta nada me atrasa
sessenta obra singular
setenta porta e janela
com oitenta ripo e amarro
noventa bato o barro
com cem estou dentro dela”
(Domínio popular, recolhido de José Zito da Silva,
pelo Museu do Homem do Nordeste, Recife, PE)
Resumo

No que concerne ao atendimento de suas necessidades de moradias,


os portadores de transtorno mental grave no Brasil possuem duas pers-
pectivas: se possuidores de histórico de longas internações psiquiátricas
podem contar com a possibilidade de ingresso em Serviços Residenciais
Terapêuticos (SRTs); se não, deverão equacionar suas necessidades de
habitação sozinhos ou com o apoio de familiares, da rede de saúde men-
tal do SUS, sobretudo os Caps, dentre outros. Nosso propósito é avaliar
como os portadores de sofrimento mental grave constituem suas habi-
tação (habitus) e inserção social a partir dos elementos estruturais da
moradia (abrigo, privacidade, segurança e conforto) e de suporte (rede
social e de serviços), independentemente de estarem ou não inseridos em
SRTs. Objetivamos também analisar as influências exercidas pelo con-
texto organizacional e sociocultural sobre os moradores, bem como as
especificidades e similaridades existentes entre os SRTS e aquelas mora-
dias não normatizadas pela portaria 106/2000. Para isso, realizaremos
uma investigação avaliativa qualitativa interdisciplinar e multicêntrica,
composta por pesquisadores de distintas áreas do saber (antropologia,
arquitetura, psicanálise e saúde coletiva).
Palavras-chaves: Reforma psiquiátrica; Serviços Residenciais Tera-
pêuticos; Reabilitação Psicossocial; Interdisciplinaridade; Inserção Social.
Sumário

I – Qualificação do problema 6
Novas categorias de análise para os SRTs 6
Habitando as moradias 8
Moradia, habitação e inserção social 11
Morando de outras maneiras 12

II – Pressupostos da pesquisa 15

III – Objetivos 16

IV – Metodologia 17
Abordagem interdisciplinar de um objeto complexo 17
Pesquisa avaliativa qualitativa 19
Estudo de caso 20
Formação da informação 22
Produção do conhecimento e
participação: a formação de comitês 25
Análise dos resultados e construção
de síntese complementar 26

V – Contribuições científicas ou
tecnológicas da proposta 28
VI – Resultados esperados
e contribuição da proposta 29

VII – Cronograma 30

VIII – Identificação da equipe do


projeto e respectivas atividades 34
Juarez Pereira Furtado - Unifesp 34
Eunice Nakamura - Unifesp 34
Augustin de Tugny - UFMG 35
Cláudia Generoso - SMS/Betim-MG 35
Andréa Máris Campos Guerra - PUC-MG 36
Florianita Braga Campos - Fiocruz-DF 36
Silke Kapp - UFMG 36

IX – Disponibilidade efetiva de infra-estrutura


e de apoio técnico para o
desenvolvimento do projeto 38

X – Estimativa dos recursos financeiros de outras


fontes que serão aportados pelos parceiros 40

XI – Aspectos Éticos 41

XII – Referências Bibliográficas 42

Anexo I 47
I – Qualificação do problema

• Novas categorias de análise para os SRTs

A despeito de algumas iniciativas pontuais antecedentes (BRASIL,


1973; PALLADINI, 1987), podemos localizar no início da década de
1990 as experiências pioneiras que influenciaram diretamente e ajuda-
ram a conformar o que hoje entendemos como Serviços Residenciais
Terapêuticos (SRTs). Nas cidades de Porto Alegre (GUILHERMANO
NETO & OLIVEIRA, 2003), Ribeirão Preto (GUIMARÃES & SAEKI,
2001) e Campinas (BRAGA CAMPOS & GUARIDO, 2006; FURTADO
& PACHECO, 1998) desenvolveram-se iniciativas de inserção de porta-
dores de transtorno mental grave, moradores de asilos psiquiátricos, em
espaços residenciais com a explícita intenção de superar o isolamento dos
mesmos e, sobretudo, implementar alternativas de moradia para aqueles
não mais aceitos pela família ou cujos laços familiares se perderam.
Essas três experiências foram distintas entre si no que concerne aos
fatores que desencadearam seu início, na organização interna e número
inicial de usuários. Mas apresentaram convergência em dois aspectos es-
senciais: a busca de resposta concreta à situação de moradia para internos
de longa data; e a utilização de formas de financiamento absolutamente
determinadas pelas circunstâncias locais, já que se tratava de modalidade
assistencial oficialmente inexistente no Sistema Único de Saúde (SUS).
O advento da portaria 106/2000 do Ministério da Saúde (BRASIL,
2002) oficializou a iniciativa no SUS, estabelecendo sua estrutura básica,

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modo de operar e financiamento. A partir daí, as pensões protegidas,
lares abrigados, vilas terapêuticas, moradias extra-hospitalares e núcleos
de convívio – como até então eram chamadas as diversas experiências de
casas destinadas aos egressos de longa internação (SUIYAMA, ROLIN
& COLVERO, 2007) – passam a ser chamadas de Serviços Residenciais
Terapêuticos. Tal nomenclatura foi questionada à época, sobretudo no
que concerne aos termos ‘serviços’ e ‘terapêuticos’, que foram inseridos
justamente para justificar e viabilizar sua inserção no SUS.
Notemos aí que, ao menos em tese, considera-se a possibilidade de
que tais moradias pudessem ser abrigadas em outros setores, como o de
promoção e assistência social. Contudo, a assistência social no Brasil dos
anos 1990 deparava-se com a grande tarefa de superar o clientelismo,
paternalismo e filantropia que lhe eram quase inerentes (LIMA, 2003). A
impossibilidade do setor de assistência social de abrigar a iniciativa dos
SRTs foi propulsora, no interior da Reforma Psiquiátrica, da ampliação
de seu campo. Assumindo aspectos relativos à moradia dos egressos, em
seus mais diversos componentes, a área da saúde mental avança e amplia
em seu aspecto interdisciplinar e intersetorial.
A regulamentação das residências para portadores de transtorno
mental grave em nosso sistema público de saúde representou importan-
te conquista na medida em que viabilizou a expansão de uma iniciativa
até então muito restrita, em termos de número e de estados da federa-
ção nos quais se fazia presente. Atualmente, a despeito de problemas
que atravancam sua expansão (FURTADO, 2006), existem aproxima-
damente 500 módulos residenciais nos quais habitam um total de 2.500
ex-moradores de hospitais psiquiátricos em 18 estados da federação
(BRASIL, 2007).
No entanto, convivem nesses espaços muito mais do que egressos de
longas internações. Encontramos ali a coexistência entre a normatização,
oriunda do três níveis de gestão do SUS e dos conselhos profissionais,
dentre outros, e um projeto de “casa”, de espaço privativo, portanto
avesso a regramentos provenientes do Estado e outras instâncias. Coa-
bitam nessas moradas diretrizes gerais estabelecidas nacionalmente com

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nuanças regionais, acrescidas da diversidade que permeiam as relações
sócio-culturais entre os diferentes atores envolvidos.
Tais contradições não necessariamente inviabilizam esses serviços e
nem são totalmente superáveis, constituindo mesmo a própria essência
desses equipamentos. A assunção dessa premissa – de que são contradi-
ções inerentes aos chamados SRTs – pode nos permitir avançar, evitan-
do-se o maniqueísmo e a restrição da análise à identificação (ou não) de
características manicomiais ou “institucionais” nesses equipamentos que
vêm predominando no debate (CADERNOS IPUB, 2006).
Dessa forma, faz-se necessário estudos que permitam conhecer em
mais profundidade os vários aspectos envolvidos e constituintes dos SRTs
e a maneira como esses componentes interagem entre si, determinando a
conformação final e distinta que tais equipamentos assumem para cada
um de seus moradores e para a sociedade em geral. A consideração dos
elementos físicos, sócio-culturais, políticos e subjetivos que definem as
características intrínsecas – e ainda pouco exploradas – dessas residências
assume especial relevância nesse projeto, na medida em que permite gerar
novas categorias para a análise, compreensão e avaliação das mesmas.

• Habitando as moradias

Os SRTs constituem única opção – e em formato único – de moradia


com financiamento do Estado para os portadores de sofrimento mental
grave egressos de longas internações. Esse formato pode ser mais bem
compreendido se cotejado com iniciativas que na atualidade expressam
a diversidade de opções de moradias. Apesar das diferenças históricas e
culturais, consideramos que a aproximação com a experiência canaden-
se, ao modo de uma interlocução, pode auxiliar na análise da proposta
nacional, estimulando nossas reflexões rumo ao reconhecimento dessa
pluralidade de experiências.
Alguns autores abordam de especial maneira a experiência cana-
dense na área, como PIAT et al (2008), TRUDEL & LESAGE (2005),

.8
TRAINOR (2004; et al, 1993), SYLVESTRE et al (2004); MORIN et al
(2001). Para sintetizar a evolução das concepções e práticas quebequen-
ses sobre as moradias aqui enfocadas, apoiaremos-nos em análise feita
por MERCIER(2004), com base em documentos ministeriais das última
quatro décadas sobre o assunto, na província de Quebec.
Segundo MERCIER (2004), os anos 1960 se caracterizaram
pela tensão entre a necessidade de inserção dos egressos na comu-
nidade e a refratariedade dessa mesma comunidade em receber os
ex-internos. Pequenos pavilhões e as chamadas “famílias de aco-
lhimento” (constituídas basicamente por casais que se dispunham
a receber até nove egressos, sendo remunerados pelo Estado por
isso) constituíram-se nas principais estratégias de desinstituciona-
lização utilizadas. Freqüentemente os responsáveis pelos pequenos
pavilhões e famílias de acolhimento adotavam as mesmas rotinas
grupais e pré-estabelecidas das instituições de origem no que con-
cerne à higiene, alimentação e atividades, levando ao aumento da
itinerância entre os usuários, que rejeitavam essas estruturas. Para
a autora (MERCIER, 2004) “Nesse período, a sociedade parece
definir o papel desses alojamentos primordialmente como de pro-
teção e não como de inserção” (p.19).
Nos anos 1970, visando desenvolver habilidades e autonomia, a
reabilitação torna-se a principal estratégia de reinserção. Um leque de
opções com acompanhamento mais ou menos estruturado é oferecido a
pessoas portando diferentes graus de capacidades e autonomia, a saber:
pequenos pavilhões, família de acolhimento, casa de transição, aparta-
mentos supervisionados, apartamentos satélites e, finalmente, alojamen-
tos autônomos. A idéia central é oferecer meios de vida o menos restri-
tivo possível, levando em conta e desenvolvendo as potencialidades de
cada um (MERCIER, 2004).
Os anos 1980 e 1990 são caracterizados pela entrada em cena da as-
sociação dos organismos comunitários de saúde mental, chamados de re-
cursos alternativos, composta por serviços não-governamentais (ONGs)
e conduzidas em boa parte por usuários. Estabelece-se aí forte oposição

.9
entre a rede pública, que oferece uma gama de serviços residenciais lis-
tados no parágrafo anterior, e uma rede comunitária que defende que se
privilegie a escolha dos usuários e o acesso destes ao mercado imobiliário
formal ou subvencionado (MERCIER, 2004). O modelo alternativo de
“casas normais com suporte modulado” – ou seja, uma residência cuja
constituição receberia interferência mínima dos serviços e o morador
contaria com suporte variável e flexível do setor saúde – surge em respos-
ta às críticas ao modelo tradicional, que não responderia às necessidades
e preferências dos usuários (PIAT et al., 2008).
Finalmente, e conseqüente ao debate abordado no último parágrafo,
temos, a partir dos anos 2000, um movimento para o acesso à moradia
como direito fundamental para cada cidadão. Documentos oficiais do
Ministério da Saúde passam a espelhar esse movimento ao apontar a ne-
cessidade de convergência do acompanhamento e suporte de intensidade
variável, no plano individual, com ações intersetoriais visando o acesso a
moradias comuns, no plano estrutural. Ou seja, ganha plano operacional
e de disputa política a idéia de que se os determinantes sociais de saúde
conduzidos fora do campo da saúde (trabalho, renda, moradia, educação
etc.), mas com apoio desta, são decisivos para a real inserção dos porta-
dores de distúrbios mentais (DORVIL, 2004).
No que concerne ao Brasil, percebe-se a coexistência, na atualidade,
de experiências locais mais voltadas à proteção e outras que privilegiam
a reabilitação, sendo que a posse ou ao menos a garantia da casa como
direito ainda está longe de se tornar uma questão para os moradores de
SRTs (CADERNOS IPUB, 2006). Nesse aspecto, tivemos exemplo em-
blemático no início dos anos 1990, quando da inserção de alguns dos
antigos moradores do Hospital Estadual Santa Tereza (Ribeirão Preto,
SP) em casas construídas pela COHAB, órgão do sistema paulista de
habitação (GUIMARÃES & SAEKI, 2001).
Em que pese adaptações locais e institucionais, a portaria 106 repre-
senta forte elemento indutor do perfil técnico, administrativo e assistencial
desses dispositivos. Sobretudo se considerarmos as dimensões continen-
tais de nosso país e a grande inserção, nos serviços originários da reforma

.10
psiquiátrica, de novos trabalhadores carentes de parâmetros que venham
pautar as suas práticas (FURTADO & ONOCKO CAMPOS, 2005).
No entanto, as relações instituídas entre o espaço produzido para
o morar e a habitação constituída por seus habitantes não é linear ou
totalmente controlada ou previsível. Por essa razão, compreender as in-
fluências do suporte e dos elementos estruturais dos SRTs na inserção
social de seus moradores e como estes últimos constituem sua habitação
(habitus) a partir desses elementos, em um contexto que tende a unificar
os tipos de moradias, é um dos propósitos desse estudo.

• Moradia, habitação e inserção social

A distinção que operamos entre “moradia” e “habitação” remete ao


pensamento do sociólogo Pierre Bourdieu ao redor do conceito renovado
de habitus e do campo onde este se desenvolve e com o qual interage.
Por habitus, BOURDIEU entende

[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas as


experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções,
de apreciações e de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente
diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas [...] (BOURDIEU,
1983, p. 65)

O habitus é, então, a partir da abordagem de BOURDIEU, especi-


ficamente subjetivo e se inscreve numa temporalidade vivenciada num
campo que por sua vez o informa. Nesse sentido, ele não remete unica-
mente a uma questão sociológica, constituindo-se num elemento-chave,
operador da formação do sujeito através de sua experiência; é estrutura-
do e estruturante, permitindo a reprodução social.

Habitus surge então como um conceito capaz de conciliar a oposição aparente entre
realidade exterior e as realidades individuais. Capaz de expressar o diálogo, a troca
constante e recíproca entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo das individuali-
dades. (SETTON, 2002, p.62)

.11
Por essa razão escolhemos o termo “habitação” – com certa liber-
dade etimológica – para definir o campo onde um habitus entra em jogo,
onde uma experiência do morar se articula numa “matriz de percepções,
de apreciações e de ações”. Denominamos “moradia” (termo comumen-
te atribuído aos Serviços Residenciais Terapêuticos) o campo onde se
formula e interage o sujeito na articulação do habitus. Os dois termos
permitem distinguir dois estados do mesmo lugar em dois tempos: a mo-
radia é o campo determinado para a habitação anterior à experiência
do sujeito; a habitação é a constituição do habitus no decorrer de uma
experiência.
A noção de habitus encontra-se, portanto, estreitamente vinculada
às práticas de reprodução social, sendo fundamental à organização das
pessoas e dos grupos sociais no espaço de moradia, ou seja, na casa, que
“tem historicamente permitido uma variedade de imagens e significados,
seja ela entendida como uma construção específica que serve de abrigo,
seja como uma imagem de um espaço simbólico de pertencimento social,
de intimidade e segurança.” (HIGUCHI, 2003, p. 50)
Nessa configuração da habitação como lócus da ação simbólica
constitui-se a idéia de inserção social, ou de “integração social”, segundo
BOURDIEU (2000), na medida em que para simbolizar ou atribuir sig-
nificados às coisas torna-se fundamental a comunicação, a relação com
outros e o consenso sobre o sentido do mundo social.
Essa experiência constituída e constituinte dos significados atribuí-
dos à moradia será nomeada “habitar”, num processo dinâmico e com-
plexo, às vezes tenso, da possibilidade de inserção social.

• Morando de outras maneiras

As moradias, por mais diversas que possam ser entre si, constituem
elemento fundamental no processo de reabilitação psicossocial de por-
tadores de sofrimento mental grave. Para SARACENO (1999) os eixos
sobre os quais se apóia o aumento da capacidade contratual dos pacien-

.12
tes psiquiátricos são a morada, que se ocupa da casa e da apropriação
da habitação do espaço vital; a rede social, onde se dão de fato as trocas
sociais vivas; e o trabalho, entendido como processo de articulação do
campo dos interesses, das necessidades e dos desejos.
Na presente proposta, além dos moradores de SRTs nos interessa
também os modos como portadores de sofrimento mental grave não in-
seridos nesses equipamentos instauram e sustentam suas moradias na co-
munidade, tornando-as suas habitações. Atualmente, cerca de 400 mil
usuários são atendidos pelos 1.200 Caps existentes no Brasil (BRASIL,
2007). Estima-se que 30% destes possam ser considerados graves, o que
equivale a aproximadamente 120 mil indivíduos, se tomarmos como base
extenso trabalho realizado nos três estados do Sul do país por KANTOR-
SKI (2008) cujas formas como equacionam sua necessidade de moradia
e habitação carecem de mais conhecimento, uma vez que não têm aces-
so aos SRTs e a função de abrigo tradicionalmente desempenhada pelos
hospitais psiquiátricos vem sendo restringida.
Parte desses usuários permanecem sob cuidados dos familiares, con-
forme vimos em outra ocasião (DONAÇÃO & FURTADO, 2006), ori-
ginando questões de convívio, qualidade de vida e sobrecarga financeira
entre o núcleo familiar (PEGORARO & CALDANA, 2006; SPADINI &
SOUZA, 2004; GONÇALVES & SENA, 2001). No entanto, consideran-
do nosso foco sobre as relações entre habitação e inserção social expli-
citado nesse projeto, julgamos de especial interesse a inserção social de
portadores de sofrimento mental grave que por alguma razão não mais
residem com membros de seu núcleo familiar original, enfrentando um
conjunto de questões inerentes ao estabelecimento de um espaço de mo-
radia no meio comunitário e de problemas relacionados à sua inserção
numa determinada comunidade.
A aproximação de alguns casos dessa natureza contribuiria para a
compreensão de como essa clientela – cuja magnitude e crescente amplia-
ção são evidentes – vêm equacionando suas necessidades de moradia e
de como esta última influencia seu processo de inserção social. É possível
esperar que os usuários de Caps, por meio de sua experiência concreta,

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tenham constituído contribuições criativas ao debate da política pública
de saúde mental voltada para essa categoria no que tange às moradias.
Por fim, a consideração em conjunto tanto das perspectivas dos mo-
radores de SRTs quanto dos usuários de Caps (considerados graves e que
constituíram formas distintas de moradias que não aquela com a famí-
lia), possibilitará a construção de um painel e avaliação mais preciso dos
modos de habitar dos portadores de sofrimento mental grave no Brasil,
oferecendo subsídios para a qualificação do modelo de assistência em
saúde mental vigente.

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II – Pressupostos da pesquisa

− As moradias na comunidade e os modos como são habitadas consti-


tuem fatores decisivos na inserção social dos portadores de sofrimento
mental grave.
− Uma abordagem qualitativa, interdisciplinar e participativa dos SRTs,
centrada nos usuários, pode revelar novos e importantes aspectos des-
ses serviços ainda não evidenciados, superando categorias restritas ao
“manicômio / não-manicômio”.
− É crescente o número de pacientes graves sem histórico de longas in-
ternações (portanto, sem acesso aos SRTs), assistidos no próprio ter-
ritório. Essa realidade leva à constituição de diferentes formas de mo-
radias na comunidade pelos portadores de sofrimento mental grave.
– A aproximação entre as perspectivas dos atuais moradores de SRTs e
dos portadores de sofrimento mental grave que constituíram formas
distintas de moradias permitirá a compreensão dos mecanismos tec-
noassistenciais e sócio-culturais que possibilitam a configuração de
habitações e, conseqüentemente, o seu papel na inserção social dessa
clientela.

.15
III – Objetivos

1. Principal: avaliar como os portadores de sofrimento mental grave


constituem sua habitação (habitus) e os mecanismos de inserção so-
cial a partir dos elementos estruturais da moradia (abrigo, privaci-
dade, segurança e conforto) e de suporte (rede social e de serviços).

2. Específicos:

–– Elaborar novas categorias para aproximação e análise de mora-


dias para portadores de transtorno mental grave.
–– Analisar similaridades e especificidades entre SRTs e moradias
distintas dessas últimas, constituídas por portadores de transtor-
no mental grave.
–– Identificar as influências do suporte e dos elementos estruturais
das moradias na inserção social dessa clientela.
–– Compreender e analisar as relações sociais estabelecidas nos mo-
dos de habitação, enquanto experiências subjetivas constituídas
pelos pacientes em suas diferentes moradias.
–– Contribuir para o debate e planejamento das ações voltadas para
a moradia e inserção social nos três níveis do SUS.

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IV – Metodologia

• Abordagem interdisciplinar de um objeto complexo

O significante “habitar” remete a necessidades fundamentais dos


seres humanos e a uma ampla gama de vivências e memórias (KASPER,
2006; BRANDÃO, 2002; TUGNY, 1998; BACHELARD, 1987), cons-
tituindo termo multifacetado e polissêmico. Quando se agrega a reabili-
tação psicossocial, inserção social e desinstitucionalização a esse “habi-
tar”, temos aí constituído um objeto de especial complexidade (MORIN,
1996), por sua vez inserido em um campo – a saúde mental – resultante
da convergência de vários saberes, como a psiquiatria, psicologia, psica-
nálise, antropologia e saúde coletiva.
Concordamos com ALMEIDA FILHO (1997) quando afirma que a
interdisciplinaridade não se efetiva por meio de princípios ou de propo-
sições genéricas e bem intencionadas. A troca efetiva entre disciplinas e
profissões torna-se possível por meio da ação de agentes concretos que
irão ou não estabelecer práticas integradas. É por intermédio da concre-
tude dos aparelhos cognitivos de indivíduos que transitem em diferentes
áreas que ocorrerão os diferentes graus de interação e colaboração entre
disciplinas e profissões (ALMEIDA FILHO, 1997).
Por essa razão, optamos por uma aproximação do nosso objeto a
partir de perspectivas distintas e complementares, por profissionais in-
seridos em suas respectivas áreas de conhecimento, a saber: arquitetura,
antropologia, psicanálise e saúde coletiva. Pretendemos: trabalhar de

.17
Antropologia

Arquitetura S. Coletiva

Psicanálise

Comitês de
Roteiro I Pesquisa

I Seminário

Roteiro II

gr. focais Observação


trabalhadores Entrevistas
SRTs e Caps

Informações

Análise

Arq. Antrop. Psican. S. Col.

Oficinas com os Grupos de Interesse

II Seminário

Reconstrução do Objeto

Figura 1 – delineamento da metodologia

.18
maneira interdisciplinar, estabelecendo novas combinações de elementos
internos e o estabelecimento de uma linguagem comum (ainda que consi-
derando as diferenças); elaborar um roteiro de campo que atenda a todos
os interesses;realizar análises em separado segundo categorias pertinentes
a cada um dos quatro campos do conhecimento; domínio dos conteúdos
básicos das outras áreas por todos os investigadores (FURTADO, 2007;
VASCONCELOS, 2004; TURATO, 2003; MORIN, 1996) e finalmente
uma síntese ou reconstrução do objeto, conforme realizamos em outra
pesquisa avaliativa (ONOCKO CAMPOS & FURTADO, 2008). Um de-
lineamento geral da metodologia pode ser visto na figura 1.

• Pesquisa avaliativa qualitativa

A relação entre as pesquisas científicas e avaliativas caracteriza-se


pela existência de pontos de contatos e de distanciamento. Ambas têm a
preocupação de imprimir rigor em seus procedimentos, de modo a superar
a simples opinião ou convicção como fonte de suas conclusões (HARTZ,
1997; WORTHEN et al, 2003). Com relação às respectivas distinções, a
pesquisa científica busca conclusões enquanto na pesquisa avaliativa os
resultados buscam, no geral, subsidiar a tomada de decisões. Na pesquisa
avaliativa, o avaliador opera em um campo delimitado e, dada a comple-
xidade inerente aos programas, necessariamente irá lançar mão de amplo
leque de disciplinas (FURTADO, 2006). Como afirmado por ZÚÑIGA
(2004), avaliamos para saber o que se passa (ou passou) com aquilo que
fazemos (ou fizemos), emitindo um julgamento ao final do processo, com
base em critérios estabelecidos e para a tomada de decisão .
A partir de meados da década de 80 do século passado, ganha ex-
pressão a avaliação qualitativa, baseada em correntes compreensivistas
(BOSI & MERCADO, 2006; FURTADO, 2001), tendo como fundamen-
to de sua metodologia a aplicação de abordagens antropológicas na ava-
liação de programas e serviços. As abordagens qualitativas em avaliação
teriam como núcleo comum o fato de levarem em conta a participação e

.19
percepções do sujeitos envolvidos em uma dada iniciativa e a considera-
ção das relações e das representações como parte fundamental dos êxito e
limites das ações (MINAYO, 2005) possibilitando “Compreender o que
contribui para o êxito dos programas, projetos e serviços; o que possibi-
lita o seu alcance e o que questiona os seus limites.” ( p. 20).
No caso desta pesquisa, pretendemos avaliar as repercussões das di-
ferentes formas de moradias e dos modos de habitar na inserção dos por-
tadores de sofrimento mental grave, a partir da superação da centralidade
do hospital psiquiátrico e do direcionamento da atenção em saúde mental
para o espaço comunitário. Os critérios a serem utilizados para balizar
nossas análises serão ligados aos elementos estruturais, de suporte (indivi-
dual ou coletivo) e ao processo de inserção social propriamente dito.
Quanto à opção pelo referencial qualitativo, sabemos que a opção
pela vertente “quali” ou “quanti” provém de concepções e posiciona-
mentos ontológicos e epistemológicos dos investigadores, ambos deter-
minando as opções metodológicas (KUHN, 1988). Em nosso caso, so-
mos pesquisadores detentores de uma perspectiva ontológica relativista,
que considera a existência de múltiplas e socialmente construídas reali-
dades, não governadas por leis naturais. Para nós, a “verdade” é definida
a partir de construções individuais e também coletivas. A epistemologia,
nesta perspectiva, é subjetivista, o que implica considerar a interação e
reconstrução mútua entre objeto, investigador e realidade, numa negocia-
ção permanente de significados, conforme discutido por alguns autores
(DEZIN & LINCOLON, 2006; BOSI & MERCADO, 2006; TURATO,
2003; GUBA & LINCOLN, 1989; GEERTZ, 1989; MARTIN ET AL,
2006; CARDOSO DE OLIVEIRA, 1995).

• Estudo de caso

Mais precisamente, abordaremos um grupo de casos, o que nos per-


mitirá a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu con-
texto real, no qual as fronteiras (entre fenômeno e contexto) não são clara-

.20
mente evidentes e cuja aproximação requer a utilização de múltiplas fontes
(YIN,1994). Sabemos que o estudo de um caso, ou de casos, não se presta
à direta generalização dos resultados, sendo sua maior contribuição a ex-
ploração de situações e tendências do que emerge dos casos escolhidos – e
suas contribuições frente a um modelo de compreensão (ROY, 2004).
Nosso conjunto de casos será constituído por um total de vinte e
quatro portadores de sofrimento mental grave, residentes em Santo An-
dré (SP), Belo Horizonte (MG) e Goiânia (GO), sendo respectivamente
oito em cada um dos três municípios. Dentre esses oito, quatro serão
moradores de dois SRTs diferentes e quatro usuários de um mesmo Caps
(vide quadro abaixo).

Quadro 1 – Sujeitos da pesquisa


Serviço Indivíduos Subdivisões Acompanhamento
1 Caps 4 2 casos emblemáticos Observação participante;
entrevistas em profundidade
2 casos problemáticos
2 SRTs 4 1 que apropriou-se (p/ SRT) Observação participante;
entrevistas em profundidade
1 c/ dificuldades (p/ SRT)

Em um mesmo Caps serão definidos pela equipe, dois pacientes gra-


ves que não morem com a família e apresentem problemas relativos à
moradia e dois outros pacientes graves que também não coabitam com a
família e que tenham solucionado de maneira adequada suas necessida-
des de morar. Em dois SRTs, necessariamente distintos, serão definidos
pela equipe em cada um deles, um morador que tenha visivelmente se
apropriado do espaço e outro que apresente dificuldades nesse quesito.
Os SRTs e o Caps deverão estar preferencialmente inseridos no mesmo
território. Os usuários dos Caps deverão estar ligados ao serviço há pelo
menos seis meses e, no caso dos SRTs, daremos preferência aos morado-
res mais antigos. Naturalmente, outros critérios serão a vontade de parti-
cipar por parte dos usuários e o fato de serem detentores de capacidade
de expressão que contemple as necessidades da pesquisa.

.21
A escolha pelos municípios citados deve-se à heterogeneidade re-
gional e diversidade na constituição da rede municipal de saúde mental
de cada um deles guardando, no entanto, a similaridade de integrarem
pólos regionais e metropolitanos importantes em suas respectivas áreas.
Tais cidades caracterizam-se por possuírem uma rede municipal de saúde
mental que atravessou mais de um governo municipal, contando com
SRTs e Caps e com significativa redução de leitos psiquiátricos e/ou su-
peração de modelos centrados no hospital psiquiátrico na região na qual
estão inseridos. Além disso, representam universos políticos, econômicos
e sociais distintos entre si.

• Formação da informação
O trabalho de campo será desenvolvido no início e intensivamente
por dois dos integrantes da equipe de pesquisadores desse projeto em
cada município. Durante uma semana, esses pesquisadores permanece-
rão por tempo completo acompanhando os usuários de SRTs, Caps e
trabalhadores da rede de saúde mental local. A partir daí, o acompanha-
mento será feito, durante quatro meses, pelos dois bolsistas de iniciação
científica em cada município e pelo pessoal de apoio técnico de campo
(entrevistadores, coordenador de campo, etc.), que darão continuidade
às observações e farão as entrevistas em profundidade, além de apoiarem
a realização dos grupos focais.
Considerando os pressupostos e objetivos estabelecidos, nossa pes-
quisa se concentrará em cinco vertentes cuja diversidade de atores e fontes
constituirá uma triangulação de métodos (DEZIN & LINCOLN, 2006;
MINAYO, 2006), a saber:
1. Levantamento da composição e estruturação da rede de saúde
mental de cada um dos municípios;
2. Identificação da rede de equipamentos sociais e culturais exis-
tentes no território;
3. Estudo dos moradores de SRTs: como se apropriam e intera-
gem com o espaço físico, urbano e social;

.22
4. Estudo dos usuários de Caps: como equacionam suas moradias
longe da família e na comunidade;
5. Estudo do suporte oferecido: como a rede de saúde mental en-
tra nessa relação habitação-inserção social; perspectivas dos
trabalhadores.
O levantamento sobre a rede (1) se fará por meio de entrevistas
com informantes-chave (gestores e trabalhadores da saúde) e análise do-
cumental (dados das Secretarias Municipais de Saúde). A partir desse
trabalho, pretendemos realizar um mapeamento detalhado dos compo-
nentes da rede de atenção à saúde estabelecida no município e a inserção
do Caps e dos SRTs nesse contexto, incluindo o custo de cada um desses
equipamentos por usuário ou morador. Além disso, detalharemos o fluxo
assistencial, instâncias de deliberação da rede de saúde mental e o modelo
técno-assistencial que organiza essa mesma rede. O conjunto dessas in-
formações irá compor o cenário do qual destacaremos o nosso objeto.
A identificação da rede de equipamentos sociais e culturais existen-
tes no território (2) se fará por meio de entrevistas com informantes-cha-
ve (usuários, gestores, trabalhadores da saúde, líderes da comunidade) e
análise documental (dados das Prefeituras Municipais). Essas informa-
ções são consideradas fundamentais para a análise da inserção social dos
pacientes na comunidade, de acordo com a sua possibilidade de acesso
aos diferentes equipamentos sociais e culturais.
O estudo dos moradores de SRTs e de usuários dos Caps sem acesso
aos SRTs (3 e 4) se fará por meio de observação participante (dos SRTs
e de outros locais de moradia) e entrevistas em profundidade (com pa-
cientes ou pessoas residentes no mesmo local de moradia). Para a análise
dos aspectos subjetivos e dos significados das experiências de habitar,
bem como das relações entre os diferentes atores sociais envolvidos no
processo, utilizaremos o método etnográfico.
O método etnográfico pressupõe a capacidade do pesquisador de
realizar uma “descrição densa” (GEERTZ, 1989), no sentido de que
os dados não são apenas apreendidos, mas devem ser interpretados,
para que os vários significados atribuídos a experiências concretas pos-

.23
sam ser revelados (MALINOWSKI, 1986). É preciso ressaltar que essa
busca dos significados da experiência humana não se refere apenas ao
“objeto” de pesquisa, mas envolve, também, o pesquisador, numa re-
lação entre diferentes subjetividades, na medida em que “para a antro-
pologia, que é uma conversa do homem com o homem, tudo é símbolo
e signo que se coloca como intermediários entre dois sujeitos.” (LÉVI-
STRAUSS, 1993, p. 19).
Apreender essa “hierarquia estratificada de estruturas significantes”
(GEERTZ, 1989) é uma tarefa bastante complexa e para realizá-la é
necessário combinar diferentes técnicas, em especial a observação par-
ticipante e entrevistas em profundidade, mais comumente utilizadas em
estudos etnográficos. A escolha dessas técnicas não ocorre sem que sejam
observadas três faculdades a ela complementares: “olhar, ouvir e escre-
ver”, consideradas essenciais ao processo de apreensão dos fenômenos
sociais (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1998) e bastante adequadas para
alcançar os objetivos desse projeto.
Na observação-participante dos SRTs e de outras moradias não
institucionais serão destacados o levantamento físico-espacial e tem-
poral, as relações sociais entre moradores e trabalhadores da saúde e
entre moradores e outras pessoas da comunidade local, a dinâmica do
serviço, o dia a dia dos moradores, a adequação da proposta terapêuti-
ca à experiência dos moradores, a utilização da rede de serviços local,
dentre outras. As entrevistas em profundidade terão roteiro semi-estru-
turado e serão gravadas, visando apreender os diferentes significados
da experiência de habitar, a dinâmica das relações sociais, as percepções
simbólicas do espaço e a relação ou implicações das formas de trata-
mento nas experiências de moradia.
O suporte oferecido (5) será abordado na perspectiva dos usuários
por meio das entrevistas em profundidade e observação participante.
No que tange aos trabalhadores, o suporte e outras perspectivas sobre
o objeto em avaliação será considerado por meio de grupos focais ou
grupos de discussão (WIGGINS, 2004; MORGAN, 1997; WESTPHAL
et al, 1996). Serão realizados dois grupos focais com trabalhadores da

.24
rede de saúde mental e da atenção básica. Os encontros serão transcri-
tos, analisados e o produto do primeiro encontro será apresentado no
encontro seguinte para validação e aprofundamento de (novas) ques-
tões (FURTADO & ONOCKO CAMPOS, 2008).

• Produção do conhecimento e participação: a formação de comitês

Há convergência e necessária articulação entre participação popu-


lar, que deve influenciar a formulação, execução, fiscalização e avaliação
de políticas públicas e serviços básicos na área social (SERAPIONI &
ROMANI, 2006; DEMO, 1999; VALLA, 1998) e a participação de dife-
rentes segmentos da comunidade na produção de conhecimentos sistemá-
ticos sobre essas mesmas políticas ou serviços. A avaliação participativa
de programas e serviços na área social, seria assim, tributária das relações
entre participação popular e políticas públicas por um lado e pesquisa e
ação, por outro.
As interações entre pesquisa e ação atendem por diversos nomes:
pesquisa-ação, pesquisa ação-participativa, pesquisa baseada na comu-
nidade, pesquisa colaborativa, dentre outros (BRANDÃO & STRECK,
2006; DOLBEC, 2004). Essas abordagens inserem profissionais, cida-
dãos, pacientes, etc., ligados ao objeto em estudo que por suas formações,
status social, experiências ou especialidades são normalmente colocados
à margem da produção científica.
Além da apresentação de nosso projeto em fóruns já existentes na
rede de saúde dos municípios, associação de usuários e outras de natu-
rezas distintas, pretendemos constituir três comitês locais de interlo-
cução e acompanhamento da pesquisa. Tais comitês serão integrados
por igual número de usuários, trabalhadores e membros da pesquisa,
constituindo espaços de debate, processamento e qualificação dos pas-
sos da investigação e rede perene de novas formulações e eventuais
correções de rota no projeto original. Com isso pretendemos adaptar
a proposta às realidades locais e às questões dos diversos grupos de

.25
interesse, além de favorecer a utilização dos resultados finais, confor-
me pudemos experienciar em outro estudo (FURTADO & ONOCKO
CAMPOS, 2008).
Os dois seminários internacionais previstos têm como função pro-
mover um debate público em torno do projeto com diversos atores: aca-
dêmicos, usuários, trabalhadores e gestores. O primeiro seminário, pre-
visto para o mês cinco da pesquisa, terá como intuito qualificar o projeto
antes da realização dos trabalhos de campo. Nesse momento, constituída
a equipe e feito contatos com os atores (e identificados os primeiros desa-
fios) realizaremos reflexões em torno das principais questões, de maneira
pública, por meio do primeiro seminário. Um segundo e último seminário
internacional será feito no mês dezenove da pesquisa, visando apresentar
os resultados preliminares e dar formato final ao estudo.

• Análise dos resultados e construção de síntese complementar

As informações concernentes aos usuários, à rede de saúde e às pers-


pectivas dos trabalhadores será constituída por meio do trabalho de
campo apresentado nos tópicos anteriores. Essa “coleta” será feita por
profissionais previamente treinados por pesquisadores das quatro áreas
do conhecimento aqui presentes. Findo esse processo, a informação ge-
rada será analisada por cada uma das áreas segundo categorias e referen-
ciais próprios (vide quadro 2).

quadro 2 – Categorias de análise e referenciais das quatro áreas envolvidas

Áreas Categorias Referenciais


Saúde Coletiva - intersetorialidade das ações - Método Paidéia
- organização do trabalho interprofissional (CAMPOS, 2000)
- gestão da clínica - Avaliação de quarta
- particularização do cuidado geração(GUBA & LIN-
- promoção de autonomia COLN, 1989)

.26
Áreas Categorias Referenciais
Antropologia - significado - Método interpretativo
- inserção social e cultural (GEERTZ, 1989; CAR-
- experiências de habitação DOSO DE OLIVEIRA,
- relações sociais 1998)
- pessoa - Significado (BOUR-
DIEU, 1983, 2000)
- Pessoa (DUARTE,
2003; DUARTE &
LEAL, 2001)
Arquitetura - tipologias espaciais - Arquiteturologia
- relações moradia-habitação (BOUDON, 1985)
- formulação do habitar - Hábitus e apropriação
- instrumentos para avaliação do habitus (BOURDIEU,1985 e
- produção social do espaço KASPER, 2006)
- Subjetividade do habi-
tar (BRANDÃO, 2002)
- Interfaces (BALTA-
ZAR DOS SANTOS &
KAPP, 2007, e website
do MOM)
- Produção do espaço
(LEFEBVRE, 2000)
Psicanálise - Posição na Linguagem (simbólico) Clínica da psicose
- Laço com o Outro (FREUD, 1912[1911]
- Transferência e rede Psicanálise Aplicada
- Savoir-y-faire com o sintoma (LACAN, 2003)
Psicanálise e Institui-
ção (ZENONI, 2000,
VIGANÓ, 1997; DI
CIACCIA, 2003

No entanto, considerando o caráter francamente interdisciplinar


aqui defendido, após esse processo analítico será realizada uma recons-
trução do objeto (ONOCKO CAMPOS & FURTADO, 2008) ou uma
síntese complementar, de modo a reconstituir ou reconstruir o objeto a
partir dos subsídios oferecidos pelas diversas áreas e perspectivas.

.27
V – Contribuições científicas
ou tecnológicas da proposta

• Estudo exploratório sobre a situação de moradia e habitação dos


doentes mentais graves no Brasil;
• Aproximação epistemológica e instrumental entre quatro áreas
distintas do saber (antropologia, arquitetura, psicanálise e saú-
de coletiva) em torno da atual política de assistência em saúde
mental;
• Ampliação do conhecimento sobre os SRTs e formas alternativas de
moradia, apontando novas categorias de análise e de avaliação.

.28
VI – Resultados esperados
e contribuição da proposta

• Avaliação da situação de moradia e habitação dos portadores de


sofrimento mental grave na comunidade;
• Identificação de elementos da realidade empírica que possam
subsidiar o desenvolvimento de metodologia de avaliação das
moradias mediante a proposição de aspectos qualitativos para o
seu acompanhamento;
• Geração de subsídios para a qualificação e avanço da inserção
social de portadores de sofrimento mental;
• Incremento da autonomia (empoderamento) dos grupos de inte-
resse envolvidos com os serviços analisados no campo.

.29
VII – Cronograma

Plano de execução do projeto


Atividades para reali-
Etapas zação das etapas (nos 3 Período de execução (meses)
municípios estudados)
  Nº. Descrição 1/2 3/4 5/6 7/8 9/10 11/12 13/14 15/16 17/18 19/20 21/22 23/24
1 - Levanta- 1.1 x x x x x x            
mento sobre levantamento
o objeto de bibliográfico
pesquisa
  1.2 sistematização   x x x x x            
1.3 análise de   x x x x x            
conceitos
2 - Contato 2.1 contato com ges- x                      
com serviços tores, gerentes e
técnicos responsá-
veis pelos serviços
de saúde mental
3 - Levan- 3.1 mapeamento da x x                    
tamento da rede de serviços
rede de saúde de saúde mental e
mental identificação dos
SRTs e Caps (loca-
lização espacial e
geográfica)
  3.2 levantamento   x x                  
documental:
identificação de
fontes e mecanis-
mos de financia-
mento; principais
ações; recursos hu-
manos envolvidos;
perfil dos usuários
atendidos
  3.3 elaboração de rotei-   x                    
ro de entrevistas

.30
Atividades para reali-
Etapas zação das etapas (nos 3 Período de execução (meses)
municípios estudados)
  Nº. Descrição 1/2 3/4 5/6 7/8 9/10 11/12 13/14 15/16 17/18 19/20 21/22 23/24
  3.4 entrevistas com     x x                
gestores e traba-
lhadores: histórico
sobre a rede de
saúde mental no
município; processo
de implantação
dos SRTs e Caps;
funcionamento
(potenciais e limi-
tações)
  3.5 transcrição das     x x                
entrevistas
  3.6 análise e descrição         x x            
da implantação e
da situação atual
da rede de serviços
em cada município
4 - Levan- 4.1 mapeamento da x x                  
tamento de rede de equipa-
equipamentos mentos sociais e
sociais e culturais existentes
culturais no território onde
se localizam os ser-
viços pesquisados
(localização espa-
cial e geográfica)  
  4.2 levantamento   x x                
documental: iden-
tificação de fontes
e mecanismos de
financiamento;
principais ações;
recursos humanos
envolvidos  
  4.3 análise e descrição       x x              
dos principais equi-
pamentos sociais e
culturais existentes
nos territórios pes-
quisados em cada
município
5 - Observa- 5.1       x                
ção partici-
pante dos elaboração de rotei-
SRTs e locais ro de observação
de moradia
  5.2 treinamento dos       x                
pesquisadores

.31
Atividades para reali-
Etapas zação das etapas (nos 3 Período de execução (meses)
municípios estudados)
  Nº. Descrição 1/2 3/4 5/6 7/8 9/10 11/12 13/14 15/16 17/18 19/20 21/22 23/24
  5.3 observação das       x x x          
moradias x
  5.4 análise e sistemati-         x x x x x      
zação das anota-
ções do diário de
campo
  5.5 apresentação e               x      
discussão de dados
preliminares  
6 - Entre- 6.1         x            
vistas em
elaboração de rotei-
profundidade
ro de entrevistas
(pacientes e
moradores)  
  6.2 identificação dos         x            
entrevistados e
outros informantes-
chave  
  6.3
realização das
        x x x x        
entrevistas
6.4 transcrição das         x x x x        
entrevistas
6.5 análise e sistemati-             x x x      
zação das
entrevistas
6.6
apresentação e
                x      
discussão de dados
preliminares
7 - Grupos 7.1
contato com
        x              
Focais (traba-
gerentes e técnicos
lhadores da
responsáveis pelos
rede de saúde
serviços de saúde
mental)
mental (SRTs e
Caps) para organi-
zação dos grupos
7.2
realização dos
        x x x x        
  grupos
7.3 análise e sistemati-           x x x x      
zação dos grupos
  7.4 apresentação e                 x      
discussão de dados
preliminares
8- Relatório 8.1 apresentação do                   x x  
relatório preliminar
8.2
relatório final
                      x

.32
Atividades para reali-
Etapas zação das etapas (nos 3 Período de execução (meses)
municípios estudados)
  Nº. Descrição 1/2 3/4 5/6 7/8 9/10 11/12 13/14 15/16 17/18 19/20 21/22 23/24
9.1
seminários de
    x             x    
pesquisa
9-
Divulgação
9.2 oficinas com                 x     x
usuários e

trabalhadores
9.3
publicação
                      x

.33
VIII – Identificação da equipe do projeto
e respectivas atividades

Juarez Pereira Furtado – Unifesp – Saúde Coletiva – Coord. do projeto


• Formação: Fisioterapeuta. Doutorado em Saúde Coletiva (Unicamp/
Umontreal). Área: Gestão e planejamento em saúde. Pós-doutorado
(Unicamp) em avaliação de programas e serviços em saúde mental.
• Temáticas: Avaliação de programas e serviços em saúde; Reforma Psi-
quiátrica; Reabilitação Psicossocial.
• Atividades nessa pesquisa: Formulação geral do projeto; coordena-
ção-geral da investigação; coordenação da área de Saúde Coletiva;
organização dos seminários e encontros entre os pesquisadores dos
três campos; co-coordenação do campo Santo André; treinamento dos
pesquisadores de campo (grupos focais); integrante do comitê de pes-
quisa em Santo André; análise dos resultados do campo Santo André;
colaboração na formulação da síntese final do objeto; orientação de
um bolsista de iniciação científica; elaboração de relatórios e textos
científicos.

Eunice Nakamura – Unifesp – Antropologia – Vice-coord. do projeto


• Formação: Cientista Social. Doutorado Antropologia (USP). Área:
Antropologia e Saúde Coletiva.
• Temáticas: antropologia médica, saúde mental, aspectos sócio-cultu-
rais da saúde e da doença.
• Atividades nessa pesquisa: Formulação geral do projeto; vice-coorde-

.34
nação geral da investigação; coordenação da área de Antropologia;
co-coordenação do campo Santo André – SP; participação no treina-
mento dos pesquisadores de campo da pesquisa (observação partici-
pante e entrevistas em profundidade); análise dos resultados campo
Santo André – SP; orientação de um bolsista de iniciação científica;
elaboração de relatórios e textos científicos.

Augustin de Tugny – UFMG – Arquitetura


• Formação: Arquiteto de Interiores, Mestre em Arquitetura e Urba-
nismo (EAUFMG), doutorando em Artes (EBAUFMG). Área: Arte e
Tecnologia da Imagem.
• Temáticas: Arquitetura de Interiores, Habitação, Cor.
• Atividades nessa pesquisa: Formulação geral do projeto;coordenação
da área de arquitetura, de maneira transversal, nos três campos; co-
ordenação do campo de Belo Horizonte; participação no treinamento
dos pesquisadores de campo da pesquisa; análise dos resultados da
área de arquitetura; orientação de um bolsista de iniciação científica;
elaboração de relatórios e textos científicos.
Dada a pouca tradição de interface entre a arquitetura e as outras
áreas que conformam essa proposta, bem como a necessidade de ins-
trumental especialmente adaptado ao nosso objeto, esse profissional
deverá apoiar todos os três campos, razão pela qual deverá receber
especial subsídio por meio de bolsa (vide orçamento).

Cláudia Generoso – SMS/Betim-MG – Psicanálise


• Formação: Psicologia, Mestrado em Psicologia (UFMG). Área: Lin-
guagem e psicose.
• Temáticas: psicanálise e saúde mental; clínica da psicose; reforma psi-
quiátrica; serviços residenciais terapêuticos.
• Atividades nessa pesquisa: Formulação geral do projeto; co-coordena-
ção da área de psicanálise; participação no treinamento dos pesquisa-
dores de campo da pesquisa (observação participante e entrevistas em
profundidade); análise dos resultados da área de psicanálise; orienta-

.35
ção de bolsista de iniciação científica; elaboração de relatórios e textos
científicos.

Andréa Máris Campos Guerra – PUC-MG – Psicanálise


• Formação: Psicologia e Direito, Doutorado em Teoria Psicanalítica
(UFRJ/Rennes II). Área: Clínica da Psicose.
• Temáticas: psicanálise e saúde mental; clínica da psicose; psicanálise
aplicada; clínica e inclusão social.
• Atividades nessa pesquisa: Oferecimento de subsídios à formulação
do projeto; co-coordenação da área de psicanálise; participação no
treinamento dos pesquisadores de campo da pesquisa (observação
participante e entrevistas em profundidade); análise dos resultados da
área de psicanálise; orientação de bolsista de iniciação científica; ela-
boração de relatórios e textos científicos.

Florianita Braga Campos – Fiocruz-DF – Saúde Coletiva


• Formação: Psicologia (UnB), Especialista em Saúde Pública (Uni-
camp), Mestre em Psicologia Social (PUC/SP), Doutora em Saúde Co-
letiva (Unicamp) Área: Saúde Coletiva.
• Temáticas: Políticas Públicas e Reforma Psiquiátrica; Novos Serviços
de Saúde Mental; Atenção Básica e Saúde Mental; Gestão de Redes de
Cuidado.
• Atividades nessa pesquisa: Oferecimento de subsídios à formulação
do projeto; participação no treinamento dos pesquisadores de cam-
po da pesquisa (observação participante e entrevistas em profun-
didade); análise dos resultados da área Saúde Coletiva; orientação
de bolsista de iniciação científica; elaboração de relatórios e textos
científicos.

Silke Kapp – UFMG – Arquitetura


• Formação: Arquiteta, Mestre e Doutora em Filosofia, coordenadora
do MOM.
• Temáticas: avaliação crítica da produção do espaço; desenvolvimento

.36
de interfaces visando avaliação e produção autônoma de moradias;
levantamento de autoprodução de moradias.
• Atividades nessa pesquisa: participação no desenvolvimento da
meto­dologia de abordagem da pesquisa de campo (elaboração das
interfaces a serem adotadas); participação no treinamento dos pes-
quisadores de campo da pesquisa (uso das interfaces, observação
participante e entrevistas em profundidade); análise dos resultados
da área de arquitetura.

.37
IX – Disponibilidade efetiva de
infra-estrutura e de apoio técnico para
o desenvolvimento do projeto

O projeto será desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo


(Unifesp - Campus Baixada Santista) em parceria com a Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG – Laboratório Morar de Outras Ma-
neiras), Fundação Instituto Osvaldo Cruz do Distrito Federal (Fiocruz-
DF) e Pontificia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc-MG) que
disponibilizarão a infra-estrutura básica necessária ao desenvolvimento
da pesquisa, como salas de pesquisa, com espaço para armazenamento
do material da investigação, sala para reuniões do grupo local, serviço de
telefonia, computadores em rede, além de serviços de apoio administra-
tivo. Destacamos também o tempo disponibilizado pelos pesquisadores
envolvidos no projeto:

• Juarez Pereira Furtado - UNIFESP - Departamento Saúde, Educação e


Sociedade – 8 horas semanais.
• Eunice Nakamura – UNIFESP – Departamento Saúde, Educação e So-
ciedade – 6 horas semanais.
• Augustin Tugny - UFMG – Grupo MOM - Morar de Outras Manei-
ras, Escola de Arquitetura – 8 horas semanais
• Cláudia Generoso – Secretaria Municipal de Saúde de Betim – MG – 6
horas semanais
• Andréa Máris Campos Guerra – PUC MG – Instituto de Psicologia

.38
– 6 horas semanais
• Florianita Braga Campos – Fiocruz-DF – 6 horas semanais
• Silke Kapp – UFMG – Grupo MOM - Morar de Outras Maneiras,
Escola de Arquitetura, – 2 horas semanais.

.39
X – Estimativa dos recursos
financeiros de outras fontes que
serão aportados pelos parceiros

Além da contrapartida oferecida pelas quatro instituições envolvi-


das, por meio do trabalho de seus pesquisadores e apoio logístico listado
no tópico anterior, buscaremos recursos junto a outros órgãos de fomen-
to em ciência e tecnologia dentro dessas universidades e também junto
a agências de inserção nacional e estadual, de modo a expandir alguns
aspectos desse projeto. Dentre esses destacamos maior intercâmbio com
outras universidades fora do país, equipamentos para a realização de
videoconferências, expansão do número de bolsistas de IC e inserção de
bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado que venham abrir no-
vas frentes na pesquisa ou aprofundar ainda mais aquelas já existentes.

.40
XII – Aspectos Éticos

O presente projeto será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa


da UNIFESP em cumprimento aos preceitos estabelecidos na Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Com base nestes preceitos haverá Termos de Consentimento Livre
e Esclarecido (vide anexo I) apropriados a cada uma das situações de
pesquisa, visando assegurar cuidados éticos para que a participação dos
informantes se dê de maneira voluntária, consciente e segura.

.41
XIII – Referências Bibliográficas

ALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade e Saúde Coletiva. Ciência & Saúde Coleti-


va, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1/2, p. 5-20, 1997.
BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
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autonomous production of space and the non-ethics of architectural interven-
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BOSI, M.L.; MERCADO, J.M. (orgs). Avaliação Qualitativa em Saúde. Rio de Janeiro:
Vozes, 2006.
BOUDON, P. Pessac de Le Corbusier. 1927-1967 Étude socio-architecturale. Paris: Du-
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BOURDIEU, P. Sobre el poder simbolico. In: Intelectuales, política y poder. Buenos Aires:
UBA/ Eudeba, 2000. p. 65-73.
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Anexo I

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

A presente pesquisa intitulada “Inserção social e habitação: pesquisa


avaliativa de moradias de portadores de transtorno mental grave” tem
como objetivo avaliar como os portadores de sofrimento mental grave
constituem sua habitação (habitus) e os mecanismos de inserção social a
partir dos elementos estruturais da moradia (abrigo, privacidade, segu-
rança e conforto) e de suporte (rede social e de serviços). Esta pesquisa
está sendo desenvolvida sob a coordenação do Prof. Juarez Pereira Fur-
tado, docente do Dep. Saúde, Educação e Sociedade da Universidade Fe-
deral de São Paulo (UNIFESP) – Campus Baixada Santista, com apoio do
Ministério da Saúde e financiamento do Conselho Nacional de Pesquisa
(Cnpq) do Ministério das Ciências.
Ressaltamos que esta pesquisa não envolve procedimentos experi-
mentais e os instrumentos para a sua realização abrangem a pesquisa em
documentos, entrevistas com gestores e trabalhadores de SRTs e Caps,
moradores de SRTs e usuários de Caps sem acesso aos SRTs, grupos fo-
cais com trabalhadores dos serviços citados, além de observação par-
ticipante (dos SRTs e de outros locais de moradia). Desta forma, não
apresenta risco humano direto de nenhuma natureza.
Todas as informações prestadas aos pesquisadores estão sob sigilo de
pesquisa sendo garantida a privacidade e o anonimato dos entrevistados,
os quais podem desistir de participar da pesquisa a qualquer momento.

.47
Os resultados verificados serão divulgados em forma de relatório de
pesquisa e artigos científicos.
Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e
ter entendido o que me foi explicado, consinto em participar da entrevis-
ta/ autorizo a observação das atividades deste conselho de saúde.
Local, data.

_____________________ ____________________
Entrevistado Pesquisador

________________________
Juarez Pereira Furtado

Qualquer questão, dúvida, esclarecimento ou reclamação sobre os as-


pectos éticos dessa pesquisa, favor entrar em contato com a Unifesp - Cam-
pus Baixada Santista: Av Saldanha da Gama, 89 – Ponta da Praia – Santos/
Tel: (13) 3261-3320.

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