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Direitos autorais da obra © 2021


Beatriz Ferrara Carunchio
Todos os direitos reservados

ISBN: 9781005170912
São Paulo, 2021

CARUNCHIO, Beatriz Ferrara. Experiência de Quase Morte: Cartilha virtual


com mais de 30 perguntas e respostas sobre EQM. Smashwords: São Paulo,
2021.
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Índice

Introdução

Conhecendo as EQMs
O que é EQM?
Mas o simples fato de ter sido dado como morto ou de ter estado desacordado já
pode ser considerado uma EQM?
O que exatamente ocorre durante uma EQM?
Esses elementos sempre ocorrem dessa maneira em todas as EQMs?
Como as pessoas que tiveram EQM relatam que ocorreu o “retorno ao corpo”?
Passar por uma EQM é algo muito raro?

EQMs perturbadoras
Uma EQM sempre é agradável?
Como são as EQMs perturbadoras?
Passar por uma EQM perturbadora traz impactos mais complicados de lidar?
O que pode levar alguém a ter uma EQM perturbadora?

EQMs de crianças e adolescentes


Crianças também podem ter EQM? Existem diferenças entre as EQMs de
crianças, adolescentes e adultos?
Quais as principais consequências que uma EQM pode deixar aos mais jovens?
E quanto à saúde mental, as consequências de crianças e adolescentes após a
EQM são as mesmas dos adultos?
Se a EQM marca o desenvolvimento dessas crianças e adolescentes, qual impacto
podem trazer para a escolha da carreira e o início da vida profissional?

EQM, religiosidade e espiritualidade


EQM tem algum tipo de relação com crenças religiosas? Quem é ateu ou quem
não segue uma religião também pode ter EQM?
Ter EQM tende a ser mais provável para pessoas de alguma religião?
Existe algum tipo de diferença nas EQMs de pessoas religiosas e nas EQMs de
ateus ou de quem não tem religião?

EQM, ciência e método científico


Estudar EQM não é algo que vai contra a postura da ciência?
Como a ciência explica as EQMs?

EQM, suas consequências e saúde mental


Quais podem ser as consequências de uma EQM?
Ter passado por uma EQM significa que a pessoa já apresentava algum transtorno
mental?
E quanto à saúde mental após a EQM?
Existe risco de suicídio após uma EQM?
E quando a EQM acontece depois de uma tentativa de suicídio? Existe alguma
diferença ou algum risco aumentado de novas tentativas?
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Se a maior parte das EQMs são agradáveis, por que podem ocorrer
consequências ruins?

Situações especiais: O que podemos considerar EQM?


Corri um grande risco de morte e não cheguei a me machucar, foi apenas um
susto. Mas vivenciei fenômenos parecidos com uma EQM. Isso é possível?
Nunca corri risco de morte, mas sonhei que me via morto. Isso pode ser
considerado uma EQM?
Qual a diferença entre EQM e experiência fora do corpo (EFC)?

Para quem teve EQM ou convive com alguém que teve


Tive uma EQM e depois disso nada nunca mais foi o mesmo. Como saber se é
hora de procurar ajuda? Qual tipo de ajuda posso buscar?
Alguém querido passou por uma EQM e não está bem. Como posso ajudá-lo?
Uma pessoa querida passou por uma EQM e desde então as coisas estão
estranhas para mim. Como posso lidar com isso?

Para profissionais de saúde


Meu paciente relatou uma EQM. Qual a melhor conduta?
Por que o primeiro atendimento precisa ser ágil? Qual a sua importância?
Como lidar com casos de EQM em psicoterapia?

A Autora

Para saber mais


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Prefácio

Uma das missões mais importantes, mas também difíceis, de um


cientista é comunicar seus conhecimentos ao público em geral de modo
simples, mas sem que o rigor seja perdido. Esse trabalho de divulgação
científica é importante porque a ciência é feita para a população em geral, mas
a população em geral não tem qualquer obrigação de entender o jargão
científico. Além disso, grande parte do conhecimento científico tem sua origem
em pesquisas financiadas por agências de fomento cujas verbas são públicas,
extraídas de impostos. Mas também as universidades públicas, que geram a
maior parte das pesquisas no Brasil, são igualmente financiadas por verbas
públicas. Assim, fazer divulgação científica de boa qualidade é um modo de
retribuir à comunidade o que a comunidade financiou! Dentre as várias
possibilidades da divulgação científica, a que mais gosto são as cartilhas!

É pelas razões apresentadas acima que estou muito satisfeito por


escrever esse prefácio! Trata-se do prefácio de uma cartilha, cujo objetivo é o
de divulgar conhecimento científico de modo claro, objetivo e, ainda assim,
rigoroso! Além disso, trata-se de uma cartilha cujo tema carece de material de
qualidade em nosso meio. As EQMs são vivenciadas por uma parcela
significativa da população e trazem consequências as mais variadas à vida de
quem as experienciou e na vida dos grupos aos quais essas pessoas
pertencem, sobretudo, o grupo familiar. Uma cartilha que cubra essa temática
permite que essas pessoas e grupos possam ter acesso a um material de
rápida leitura e compreensão e que as levará à compreensão das ocorrências,
por vezes insólitas, narradas pelos experienciadores das EQMs. Mas eu
gostaria de enfatizar o aspecto preventivo que uma cartilha como está pode ter!
Seus leitores e leitoras, ao compreenderem as caraterísticas, sinais, tipos,
consequências, teorias... das EQMs, saberão que suas experiências não estão
no limbo do interesse científico. Ao contrário, perceberão que já há bastante
conhecimento a respeito delas e, além disso, que há centenas de milhares de
pessoas que compartilham de experiências similares ao redor do globo! Isso
levará, desejosamente, a uma menor sensação de isolamento, o que por si só,
já significará uma redução da ansiedade pela qual algumas pessoas que
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vivenciam EQMs podem experimentar caso pensem que apenas elas é que
passam ou passaram por algo tão diferente do esperado. Mas dentre os
leitores e leitoras também poderão estar profissionais de saúde, agentes de
grupos diversos que atuam em comunidades e professores, por exemplo. A
leitura desta cartilha também os apetrechará para lidarem com as pessoas com
as quais privam de contato e que eventualmente compartilharão experiências
como as EQMs. Sentir-se-ão capazes de informar essas pessoas com mais
conhecimento e segurança, oferecendo acolhimento para aquelas que
acabaram por sentirem-se em sofrimento em função do isolamento acima
mencionado.

Por fim, gostaria de expressar minha admiração pela capacidade com


que a autora, pesquisadora muito competente na área dos estudos das EQMs,
elaborou o conteúdo desta cartilha! A sucessão de perguntas e respostas,
apresentadas num crescendo de relevância e complexidade, leva os leitores e
leitoras a se sentirem guiados e guiadas de modo sensível por um caminho
quase de aventura para dentro de experiências (anômalas) tão intrincadas. A
autora soube reunir as principais informações e apresentá-las de modo leve e
bem fundamentado. Trata-se, portanto, de uma excelente contribuição na área
da divulgação científica que devolve à comunidade aquilo que a pesquisadora
tem construído em termos de conhecimento também na universidade pública, a
Universidade de São Paulo.

Espero que as leitoras e os leitores possam apreciar a leitura desta


cartilha tanto quanto eu apreciei!

Prof. Dr. Wellington Zangari


Co-coordenador do Laboratório de Estudos
Psicossociais: “crença, subjetividades, cultura & saúde”,
docente e pesquisador do Depto. de Psicologia Social e
do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo.
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Introdução

Imagine que atravessamos os corredores de um hospital. Você observa


um paciente internado em graves condições de saúde quando escuta os
equipamentos hospitalares soarem de forma diferente do esperado, indicando
que o paciente sofreu uma parada cardíaca. A equipe de saúde age rápido e
logo os batimentos cardíacos retornam. O paciente foi estabilizado. Parece que
foi apenas um susto, mas para o alívio da equipe e do familiar que
acompanhava tudo, o paciente ganhou uma segunda chance. Ao recuperar a
consciência, ele parece confuso. Relata, então, que viu tudo o que se passava
enquanto estava em morte clínica. Viu o desespero do familiar que o
acompanhava e os profissionais entrarem correndo, viu quando alguém levou
esse familiar para o corredor do hospital enquanto o restante da equipe
trabalhava de forma incansável. Ele via o quarto todo, como se flutuasse
próximo do teto. O paciente relata, ainda, que de repente tudo ficou distante e
ele viajou por um túnel escuro em direção a uma luz muito linda, que irradiava
aceitação plena e amor incondicional de uma forma que ele não se recorda de
já ter sentido. Visitou um local incrível onde pode conversar com o avô falecido
décadas atrás. A paz daquele lugar era maravilhosa, as cores pareciam mais
vívidas que o normal e havia uma música que lhe acalmava ainda mais. Foi
então que ele se sentiu puxado por uma força contra a qual não podia lutar, e
se viu lançado no próprio corpo. Sentia dor, peso, uma sensação de sufoco.
Mais do que isso, sentia incompreensão e até frustração: por que não foi
permitido que ele ficasse num local tão agradável? Como tudo aquilo pode ter
se passado em poucos segundos se, na percepção dele, pareceu que foram
horas? Foi real, foi algum tipo de sonho ou será que tem algo errado com ele?
Você percebe que o familiar que acompanhava o paciente parecia preocupado,
mas também muito confuso ao ouvir esse relato. Os profissionais também se
questionam: se salvamos uma vida, por que o paciente não parece satisfeito?
O que fazer nessa situação? Mais do que isso, como cuidar deste paciente?

Ao contrário do que muitos imaginam, uma EQM não é um evento tão


raro, estima-se que já ocorreu a 14% da população brasileira. Neste tipo de
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vivência, podem ocorrer uma série de fenômenos anômalos, ou seja, aqueles


fenômenos para os quais ainda não há uma explicação científica satisfatória,
mas que, mesmo assim, não são indícios de patologia. Alguns exemplos deste
tipo de fenômeno são as experiências fora do corpo, os relatos de contato com
entes queridos falecidos, flashes do futuro, entre outros que serão abordados
mais à frente. É compreensível que, ao se deparar com esses relatos,
familiares, amigos, profissionais de saúde e os próprios pacientes se sintam
alarmados, sem saber ao certo quais seriam as condutas adequadas ou como
retomar certos aspectos de suas vidas. Isso pode ocorrer tanto pelo teor de
algumas dessas experiências, como pelo fato de não ter uma explicação
concreta para as razões de algo assim ter acontecido.

Esta cartilha foi escrita como parte da pesquisa de pós-doutorado da


autora, realizada no Interpsi – Laboratório de Estudos Psicossociais: crença,
subjetividade, cultura & saúde, do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo (IP-USP), sob a supervisão do Prof. Dr. Wellington Zangari. Com
este material, pretende-se disseminar conhecimento acerca das Experiências
de Quase Morte (EQMs) de forma gratuita e acessível para todos os
interessados no assunto, em especial para quem já vivenciou este fenômeno,
aos seus familiares, assim como aos profissionais de saúde, que sempre e
cada vez mais estão sujeitos a se deparar com pacientes nessas condições.

Por isso, esperamos que esta cartilha, escrita de forma simples e direta,
na forma de perguntas e respostas, ajude a trazer compreensão acerca do
assunto, facilitando a retomada da “vida normal” por parte desses pacientes e
de suas famílias, além de contribuir com o trabalho dos colegas.
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Conhecendo as EQMs

O que é EQM?
Experiência de Quase Morte, ou simplesmente EQM, é um tipo de experiência
intensa que ocorre a pessoas em morte clínica ou próximas desse estado,
durante o período em que estavam inconscientes. Quando são reanimados,
esses pacientes relatam lembranças do tempo em que, supostamente,
estavam mortos, como observar a equipe de socorro, ter contato com seres
místicos ou entes queridos já falecidos ou perceber-se em supostos outros
planos da existência. A EQM é um tipo de experiência mística, uma experiência
anômala. Compreendemos aqui o termo “anômalo” no sentido de não usual,
algo não explicado pelas teorias científicas atuais, mas não necessariamente
patológica. Uma EQM tem o potencial de marcar a vida e a identidade do
sujeito de forma intensa e duradoura, ou seja, depois desse tipo de vivência, é
comum que essas pessoas reorganizem suas vidas e a si mesmas em torno
daquilo que experimentaram na EQM.

Mas o simples fato de ter sido dado como morto ou de ter estado
desacordado já pode ser considerado uma EQM?
Não. A EQM não é apenas ter se aproximado da morte, mas, nessa
aproximação, ter vivenciado uma série de fenômenos inexplicáveis. Nem todos
aqueles que correm risco de morte ou mesmo que chegam a entrar em morte
clínica passam por uma EQM. A EQM é a experiência formada pelas
lembranças que um paciente poderia ter desse período.

O que exatamente ocorre durante uma EQM?


A seguir serão listados e brevemente explicados alguns fenômenos que
acontecem durante uma EQM:
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- Inefabilidade: dificuldade para relatar a experiência em palavras, pois é


um tipo de vivência não usual, para a qual nem sempre o sujeito tem
referências para interpretar e organizar suas lembranças na forma de
relato, tecendo uma narrativa;

- Sentimento de paz e serenidade: muito frequente em EQMs


agradáveis, é um sentimento mencionado com carinho e saudade por
grande parte daqueles que passam por EQM;

- Consciência de estar morto: seja por observar o próprio corpo,


aparentemente sem vida, seja por ouvir a equipe de saúde declarar a
morte, seja por simplesmente saber disso intuitivamente;

- Experiência fora do corpo (EFC): com frequência é descrita como a


sensação de tirar um casaco velho e pesado. Na maioria das vezes se
relata flutuar acima do corpo. A lucidez é mantida, e todos os dados de
personalidade, identidade e lembranças acompanham o sujeito fora do
corpo. Importante mencionar que uma EFC pode ocorrer durante uma
EQM, mas ter simplesmente uma EFC (por exemplo, durante o sono)
não significa que o sujeito teve uma EQM ou que correu algum risco de
morte;

- Atravessar um túnel ou uma região escura: pode vir acompanhado de


sentimentos de medo, angústia ou incerteza. Pode ter contornos
coloridos, música e/ou a presença de outros seres. Algumas vezes a
pessoa atravessa o túnel em direção a uma luz muito brilhante;

- Visitar supostas outras dimensões ou planos da existência: em


EQMs agradáveis são mencionados com frequência a lembrança de
visitar jardins e cidades feitas de luz. Já nas EQMs perturbadoras, são
frequentes as descrições de locais áridos, sem vida, com vegetação
morta, ou ainda pântanos e charcos;

- Contato com entes queridos falecidos: geralmente esses conhecidos


já falecidos se mostram melhores do que estavam no momento da
morte, por exemplo, recuperados de doenças ou de acidentes. Aqueles
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que faleceram em idade avançada, com frequência são vistos como


mais joviais, com vitalidade e força. Já aqueles que morreram na
infância ou muito jovens parecem ser vistos na idade que teriam na
ocasião da experiência, caso a morte tenha ocorrido há muitas décadas,
são vistos como adultos com cerca de 35 anos. Algo ainda mais
inusitado ocorre quando a pessoa que passa pela EQM não sabia que
certo ente querido havia falecido, descobrindo isso na ocasião da EQM;
ou quando crianças pequenas veem pessoas falecidas que não haviam
chegado a conhecer, reconhecendo-os, mais tarde, em antigas fotos de
família;

- A luz: contato com uma luz muito brilhante, mas que não ofusca a visão.
Com frequência essa luz é descrita como algo que possui todo o
conhecimento sobre todas as coisas, transmitindo sentimentos de
aceitação plena e amor incondicional. Pessoas religiosas podem
associar essa luz a entes em que acreditam, como Deus, Jesus Cristo,
um guia, orixá, anjo da guarda, um espírito muito evoluído, etc. Da
mesma forma, pessoas não religiosas ou que não associaram o evento
a algo religioso, podem se referir à luz como apenas uma luz muito
agradável;

- Revisão da história de vida: a pessoa pode ver pontos agradáveis ou


desagradáveis da sua história de vida, seja presenciando as lembranças
de fora (como um expectador), ou de maneira a vivenciar essas
lembranças desde o próprio ponto de vista ou através do ponto de vista
e das emoções de outra pessoa. Essa revisão da história de vida pode
ocorrer durante a travessia do túnel ou em outro momento, na presença
da luz, de algum ser místico ou de forma solitária. É algo raro em
crianças pequenas, passa a se tornar cada vez mais comum dos 6 anos
em diante;

- Flashes do futuro: elemento muito raro. Algumas pessoas veem ou


tomam conhecimento de supostos acontecimentos que virão a
acontecer, geralmente relacionados a suas próprias vidas ou a pessoas
próximas;
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Esses elementos sempre ocorrem dessa maneira em todas as


EQMs?
Não. Não há um elemento que ocorra em todas as EQMs, nem há uma
sequência ou um padrão em que ocorrem. Os elementos são divididos assim
para facilitar o estudo e a compreensão, mas os relatos deixam claro que esses
elementos podem ser mesclados e ordenados de maneira única para cada
pessoa.

Como as pessoas que tiveram EQM relatam que ocorreu o “retorno


ao corpo”?
O retorno para o corpo pode se dar por vontade própria, por sugestão ou por
ordem do “ser de luz” ou de um ser místico, ou a pessoa pode ainda se sentir
puxada para o corpo por uma força invisível e de difícil identificação. Em alguns
relatos, a pessoa se depara com um ponto sem retorno durante a EQM, muitas
vezes marcado por um portal, uma ponte ou um rio que, caso seja atravessado,
não será possível o retorno. A volta para a vida geralmente é narrada como
algo angustiante, afinal, é preciso lembrar que na maioria dos casos a pessoa
deixou um contexto de paz e serenidade (na EQM), com seres que lhe
demonstravam amor incondicional, para retornar a um corpo gravemente
doente ou ferido, talvez com sequelas, com dores físicas e psicológicas.

Passar por uma EQM é algo muito raro?


Não tanto quanto se supõe. Estima-se que 10% da população mundial já
vivenciou uma EQM. No Brasil, 14% da população geral já teve EQM. Quando
consideramos apenas brasileiros que já correram risco de morte iminente, 51%
já vivenciou este fenômeno. Estudos estrangeiros apontam que pacientes com
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episódios cardíacos, como infarto ou parada cardíaca têm maior tendência a


experienciar EQM.
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EQMs perturbadoras

Uma EQM sempre é agradável?


Não. Infelizmente algumas pessoas passam por experiências perturbadoras.

Como são as EQMs perturbadoras?


Existem três tipos de casos em que uma EQM pode apresentar algo de
perturbador:

1- Não é propriamente uma EQM perturbadora, e sim a presença de


situações, emoções ou sensações desagradáveis inseridas em EQMs
agradáveis. Por exemplo, assustar-se com a percepção de estar
morrendo ou com a visão do próprio corpo sem vida, desconforto na
experiência do túnel, ou mesmo se sentir julgado ou arrependido na
revisão da história de vida. Neste tipo de EQM, os detalhes
desagradáveis geralmente são momentâneos, e a experiência tende a
se desenrolar de maneira mais agradável.
2- EQM paradoxal. Um tipo de experiência em que, ao invés de encontrar
alguém ou algum lugar, a pessoa se defronta com o vazio e/ou com a
possibilidade de deixar de existir. Nestes casos, a inefabilidade é uma
característica marcante, pois este tipo de EQM é bastante abstrata, e
para muitas pessoas é difícil encontrar palavras para descrevê-la. Algo
típico neste tipo de relato é focar nas sensações e emoções, mais do
que em descrições.
3- EQM com conteúdos perturbadores, geradores de medo, desespero,
sentimentos de desamparo e de vulnerabilidade. São as EQMs mais
raras, e são também as mais difíceis de serem superadas. Este tipo de
experiência geralmente ocorre em cenários que parecem pesadelo, com
regiões escuras, pantanosas ou desérticas, sensação de frio muito
intenso e presença de seres ameaçadores ou sofredores. Muitas
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pessoas relatam ouvir gritos, choros ou lamúrias, sofrer algum tipo de


violência, tortura ou estar sujeito a esse risco.

Passar por uma EQM perturbadora traz impactos mais complicados


de lidar?
Muitas vezes sim. Este tipo de EQM tende a ser mais difícil de ser processada,
com isso, esses pacientes também têm mais dificuldade para retomar a “vida
normal”, além de estarem mais sujeitos a transtornos como depressão,
distúrbios do sono, TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático) e
ansiedade após a EQM.

O que pode levar alguém a ter uma EQM perturbadora?


Não se sabe. Ter EQM perturbadora não tem relação com crença ou descrença
religiosa, nem com estilo de vida anterior à EQM ou com os comportamentos e
escolhas de vida. Todos nós estamos sujeitos a ter uma EQM, e existe a
possibilidade de ser uma experiência perturbadora.
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EQMs de crianças e adolescentes

Crianças também podem ter EQM? Existem diferenças entre as


EQMs de crianças, adolescentes e adultos?
Sim. Uma EQM pode ocorrer em qualquer fase da vida. As EQMs de crianças
são bastante parecidas com as de adultos, mas uma diferença que se nota é a
raridade da revisão da história de vida em crianças menores de seis anos de
idade (sendo que em adultos, este é um elemento muito comum). Não se sabe
ao certo o motivo desta diferença. Autores clássicos alegam que crianças
pequenas ainda não passaram por tantos acontecimentos quanto os adultos ou
mesmo as crianças um pouco mais velhas, não tornando este elemento
frequente. No entanto, também devemos considerar que a forma como
crianças e adultos utilizam a memória é diferente, ou seja, a memória da
criança é diferente da memória do adulto em seus aspectos neuropsicológicos,
por exemplo, na maneira como se percebe/compreende a passagem do tempo,
nos aspectos afetivos envolvidos nas lembranças, na maneira de compreender
e dar sentido ao que é vivenciado e mesmo no tipo de acontecimento ou de
detalhes aos quais cada um detém a atenção. Além disso, a forma como a
EQM é relatada, compreendida e interpretada por uma criança, por um
adolescente ou por um adulto também não é a mesma.

Quanto ao conteúdo da EQM, agradável ou perturbador, assim como os


adultos, crianças e adolescentes também estão sujeitas a ter EQMs
perturbadoras.

Quais as principais consequências que uma EQM pode deixar aos


mais jovens?
Algo muito marcado em crianças, após uma EQM, é a dificuldade de falar
sobre a experiência.

Outro aspecto a se considerar é que, enquanto o adulto terá de adaptar sua


vida e seus valores à realidade após a EQM, uma criança ou um adolescente
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passam a ter o desenvolvimento marcado por esse fato. Isso não é,


necessariamente, algo ruim, mas traz a necessidade de lidar com experiências,
conteúdos e questionamentos que outras crianças e jovens geralmente não
precisam lidar. Assim, aspectos como os estudos, o início da vida profissional,
a escolha de uma carreira, a maneira de perceber a si mesmo e de vivenciar os
relacionamentos possivelmente serão afetados pela EQM. Com isso, a família
e a escola podem ter certas dificuldades com essas crianças, por exemplo o
questionamento constante de regras ou valores impostos, especialmente em
casos que vão contra o amor incondicional e a aceitação pura que vivenciaram
na EQM.

Além disso, a criança ou o adolescente terá que lidar com dilemas complexos,
como a questão da morte ou sentimento de perda, que nem sempre saberão
expressar através de palavras. Com isso, nas tentativas de processar essas
lembranças e questionamentos, essas crianças tendem a amadurecer mais
cedo, e a isolar-se de seus colegas, por exemplo, apenas observando as
brincadeiras em lugar de interagir.

Tal como os adultos, crianças e adolescentes que tiveram EQM também podem
sentir aversão ao barulho e um apreço precoce pela música instrumental.
Podem ter necessidade maior de segurança, conforto e atenção, precisam
sentir que são compreendidas e aceitas. Muitas vezes, após a EQM essas
crianças ou adolescentes passam a se sentir diferentes dos colegas da mesma
idade, mas também de quem eram até então, como se ocorresse algum tipo de
ruptura ou descontinuidade da percepção de si mesmos (identidade). Com
isso, elas podem se sentir solitárias, com dificuldade em criar identificação com
seus pares, sendo logo deixadas de lado por eles, tanto em função dessa
dificuldade quanto pela mudança brusca de interesses, aliada à redução de
características como o materialismo e a competitividade. Muitas dessas
crianças até então não tinham problemas para interagir e fazer amizade com
outras crianças. É preciso acolher e ouvir a experiência da criança,
garantindo-lhe que, ainda que nenhum dos coleguinhas tenha passado por
isso, esta é uma experiência que algumas vezes acontece, e não a torna
inferior ou, ao contrário, também não a torna mais especial que as outras
crianças.
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E quanto à saúde mental, as consequências de crianças e


adolescentes após a EQM são as mesmas dos adultos?
Em partes. Em qualquer faixa etária, pode haver transtornos como depressão,
TEPT, distúrbios do sono. No entanto, é preciso observar que alguns
transtornos, como a depressão, e mesmo o sentimento de luto, podem
apresentar sinais e sintomas diferentes na infância, na adolescência e na fase
adulta.

Além disso, existem algumas particularidades: enquanto quem tem EQM na


infância pode apresentar quadros semelhantes ao TEA (Transtorno do
Espectro Autista), na adolescência são frequentes os diagnósticos de TDAH
(Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) após uma EQM. Existe
ainda um risco maior, na adolescência, de envolvimento com álcool e drogas, e
de apresentar depressão grave (com risco de suicídio).

Se a EQM marca o desenvolvimento dessas crianças e


adolescentes, qual impacto podem trazer para a escolha da carreira
e o início da vida profissional?
Quando essas crianças e adolescentes se deparam com o momento da
escolha da carreira, a maior parte deles optam por estudar algo nas áreas da
filosofia, física e teologia, cursos na área da saúde também são muito
populares entre esses jovens. Em alguns casos, o início da carreira e a entrada
no mercado de trabalho pode ser turbulento, em especial se houver dificuldade
em lidar com a competitividade, hierarquias e status social, aspectos que
algumas carreiras tendem a valorizar e enfatizar mais.
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EQM, religiosidade e espiritualidade

EQM tem algum tipo de relação com crenças religiosas? Quem é


ateu ou quem não segue uma religião também pode ter EQM?
Qualquer pessoa está sujeita a passar por uma EQM ao correr risco de morte,
independentemente da crença ou descrença, bem como do tipo de prática
religiosa/espiritual ou da ausência dessas práticas. Isso inclui ateus,
agnósticos, pessoas sem religião, pessoas que creem mas não frequentam
seus locais de culto religioso, e pessoas religiosas.

Ter EQM tende a ser mais provável para pessoas de alguma


religião?
Não, não há religiões ou crenças que tornam alguém mais propenso ou não a
ter EQM.

Existe algum tipo de diferença nas EQMs de pessoas religiosas e


nas EQMs de ateus ou de quem não tem religião?
O que geralmente varia é a forma como os elementos da EQM são
interpretados e narrados. Deste modo, quando nos deparamos com certo
elemento, por exemplo, a luz, pode ocorrer que um católico diga que encontrou
seu anjo da guarda, um espírita relate o encontro com um mentor ou guia de
luz, talvez alguém diga que se deparou com Deus, com Oxalá... e talvez
alguém sem religião ou ateu relate que viu um ser feito de luz muito sábio, ou
simplesmente uma luz muito intensa.
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EQM, ciência e método científico

Estudar EQM não é algo que vai contra a postura da ciência?


É importante destacar que estudar EQM não significa buscar comprovar essas
vivências, da mesma forma que o objetivo também não é invalidar ou
desqualificar. Geralmente o objetivo desses estudos giram em torno de
aspectos clínicos e sociais, por exemplo, compreender os efeitos de uma EQM
na esfera psicológica (emoções, processos de pensamento, comportamentos,
saúde mental, etc.), social (impactos nos relacionamentos interpessoais, na
família, na carreira...), fisiológica (pesquisas envolvendo aspectos neurológicos
ou, ainda no campo da cardiologia, por exemplo). Muitas vezes, as pesquisas
sobre EQM são focadas no conhecimento do fenômeno, em especial, suas
consequências, e no tratamento para essas possíveis consequências. Assim,
não é necessário crer nas experiências ou ser uma pessoa religiosa, da mesma
maneira que ter algum tipo de crença não é impedimento para o estudo sério e
científico do fenômeno.

Como a ciência explica as EQMs?


Como mencionado no início desta cartilha, a EQM é considerada um tipo de
fenômeno anômalo, isto é, um fenômeno que ocorre, mas para o qual a ciência
ainda não tem explicações que deem conta de explicar todos os tipos de caso.
Assim, ao invés de falar sobre explicações, pensaremos, aqui, em hipóteses,
ou seja, possíveis modelos explicativos que podem vir a ser comprovadas ou
não, conforme mais estudos e pesquisas são realizados. A seguir,
apresentaremos as principais hipóteses explicativas para as EQMs, que se
valem de conhecimentos da medicina, da psicologia e das neurociências:

- Hipóxia ou anoxia: a EQM ocorreria por má oxigenação ou ausência de


oxigenação no cérebro. A falta de oxigênio pode acarretar vivências
similares a alguns elementos das EQMs. Por exemplo, pilotos de caça
algumas vezes perdem a consciência por alguns momentos durante a
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aceleração, e relatam experiência fora do corpo ou algo similar à


experiência do túnel. No entanto, esse tipo de vivência dos pilotos, o
significado que carrega e o impacto sobre a vida são completamente
diferentes das vivências de quem teve EQM. Os relatos dos pilotos
também são cheios de idiossincrasias, ou seja, apresentam conteúdos
semelhantes aos sonhos, o que é bem diferente de uma EQM. Além
disso, esta hipótese não explica casos de EQM em que não houve
hipóxia ou anoxia, como as EQMs de pacientes monitorados em
contexto hospitalar, recebendo oxigenação.

- Efeitos colaterais de medicamentos ou abuso de substâncias:


algumas substâncias e mesmo algumas medicações podem mesmo
gerar alucinações. No entanto, uma EQM é um tipo de vivência muito
diferente de uma alucinação, de um sonho ou de simples fantasia, tanto
pelo tipo de conteúdo e pelo impacto que deixa na vida do sujeito,
mesmo décadas após o evento, quanto no grau de lucidez que a pessoa
afirma ter durante a EQM. Além disso, esta hipótese não explicaria as
EQMs de pessoas que não estavam sob a ação de medicamentos ou de
outras drogas ao terem a EQM, por exemplo uma criança que se afoga
ou um desastre de carro em que o paciente estava sóbrio.

- Distúrbios metabólicos ou disfunções cerebrais: Na grande maioria


dos casos de EQM, esses fatores estão ausentes. Por isso, não se
poderia explicar a origem de uma EQM como fruto de problemas
metabólicos ou neurológicos.

- Alucinações: É preciso notar que uma alucinação não trará impacto


duradouro na vida do paciente, em especial quando é um sintoma que
ocorreu uma só vez. Além disso, quando analisamos alucinações de
pacientes, podemos notar que são plenas de elementos bizarros, sem
um fio lógico que ordene a experiência, bem diferente de uma EQM. Ao
pensar nas emoções associadas a esses dois tipos de fenômeno,
percebe-se que pacientes que têm alucinações reagem a essas
percepções com medo, raiva ou agressividade, enquanto a maior parte
das EQMs são agradáveis e ligadas a sentimentos de amor
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incondicional, paz e serenidade. Outro ponto curioso que aponta para a


impossibilidade de explicar as EQMs como sendo fruto de alucinações é
o fato de pacientes que já tiveram tanto alucinações quanto EQMs
considerarem que na alucinação estavam menos lúcidos que quando
despertos, e na EQM, mais lúcidos.

- Ação de endorfinas: endorfinas são substâncias que o corpo produz e


que trazem sensação de prazer e bem estar. São liberadas, por
exemplo, quando se faz atividade física, no ato sexual, e até quando
alguém come chocolate! Este modelo explicativo sugere a liberação de
uma dose alta de endorfina quando se está próximo da morte, tornando
a experiência de morrer algo menos doloroso e mais tranquilo.
Entretanto, esta explicação não abarca os casos de experiências
perturbadoras, em que os pacientes relatam EQMs em que ocorreram
vivências de dor, sensação de frio intenso, medo e desamparo.

- Hiperatividade dos lobos temporais: Os lobos temporais são regiões


na lateral do nosso cérebro. São importantíssimas, pois cuidam de
processos neuropsicológicos como a memória, a aprendizagem, a
compreensão da linguagem e o processamento auditivo. Estas regiões
cerebrais também participam do processamento das emoções. Algumas
vezes, quando ocorre uma parada cardiorrespiratória, o paciente pode
apresentar atividade residual nessas regiões, ou seja, um “resto” de
atividade cerebral, por um breve período, até que o cérebro pare por
completo. Neste modelo explicativo, se alega que esse resíduo de
atividade cerebral poderia desencadear as percepções e experiências
da EQM. No entanto, esta hipótese também não dá conta de todos os
casos, pois nem todos os pacientes que relatam EQM apresentam
parada cardiorrespiratória, e quando apresentam, nem todos tem essa
atividade residual nos lobos temporais.

- Hipótese dos neurotransmissores: Neurotransmissores são


substâncias produzidas pelo organismo e que atuam em diferentes
processos cerebrais. Até o momento, esta é a explicação mais aceita
para as EQMs. Quando o corpo produz e libera substâncias como
23

endorfinas, serotonina, glutamato e endopsicosinas, no momento


próximo da morte, a EQM em suas percepções e aspectos emocionais
pode acontecer. No entanto, esta é uma hipótese sem comprovação até
o presente momento.

- Defesa psíquica contra a ameaça de morte iminente: Esta é uma


hipótese sugerida pelo psicanalista Oskar Pfister em 1930, mas
mencionada até hoje, quase um século depois. Conforme esta hipótese,
ao perceber que está morrendo, a psique produziria a EQM como
tentativa de evitar o medo e o desespero que poderiam ocorrer no
momento da morte. No entanto, para que esta explicação fosse
plausível, seria preciso que o paciente tivesse certas crenças,
esperanças, expectativas e sentimentos acerca da morte, o que não
ocorre, por exemplo, com crianças pequenas, que ainda não
compreendem a morte ou crenças religiosas, ou ainda com ateus ou
pessoas sem religião.

- Lembrança do parto: esta hipótese se tornou muito popular na década


de 1970, e associava a experiência do túnel na EQM às lembranças do
parto (normal). Entretanto, esta hipótese encontra alguns obstáculos:
primeiro, muitas EQMs não apresentam a experiência do túnel.
Segundo, muitas pessoas nascem por cesariana e têm EQM com a
experiência do túnel. Terceiro, um recém-nascido ainda não tem
acuidade visual para enxergar o que se passa no parto, da mesma
forma que o cérebro de um recém-nascido não apresenta diferenciação
entre tecidos corticais e subcorticais, dificultando que o acontecimento
seja adequadamente percebido, interpretado/compreendido e
consolidado na memória.

- Atuação de arquétipos: esta hipótese é originária da psicologia


analítica, e sugere que a EQM poderia acontecer pela atuação de
arquétipos no momento da morte, como o arquétipo da experiência de
nascimento, da morte e da iluminação, da dissolução ou da integração
transcendente. Também é uma hipótese de difícil experimentação e
comprovação.
24

Infelizmente, apesar dos esforços dos estudiosos, nenhuma dessas hipóteses


teve comprovação até este momento. Além disso, nenhuma dessas
possibilidades de explicação poderia ser aplicada a todos os tipos de casos de
EQM.
25

EQM, suas consequências e saúde mental

Quais podem ser as consequências de uma EQM?


Uma EQM pode trazer consequências agradáveis e desagradáveis,
independentemente do tipo de conteúdo da experiência. Essas consequências
tendem a ser duradouras, envolvendo diferentes esferas da vida da pessoa
(relacionamentos, carreira, projetos de vida, valores...), e pode também afetar
familiares, cônjuge e pessoas próximas. Seguem as principais consequências
de uma EQM, lembrando que nem todos os pacientes passam por todas elas:

- Consequências fisiológicas: aumento da sensibilidade (à luz solar, aos sons


altos, olfato, tato), a percepção se torna mais intensa, tornando-se incômoda,
com isso surge a preferência pelo silêncio ou por músicas mais tranquilas, por
exemplo; alterações metabólicas (como maior sensibilidade ao álcool, alergias
a medicamentos ou substâncias e alterações no nível de vitalidade); sinestesia
(um fenômeno neurológico em que diferentes tipos de percepção se cruzam,
gerando sensações como “ouvir aromas” ou percepção visual de cores
relacionadas aos sons, por exemplo);

- Consequências psicológicas: alteração duradoura e algumas vezes


drástica nas crenças, valores e atitudes. Muitas pessoas passam a apreciar
mais a vida, valorizando cada momento. Redução da competitividade e do
materialismo. Maior flexibilidade e confiança frente aos desafios da vida. A
diminuição do medo da morte é muito comum, assim como a sensação de
estar aqui por um propósito maior. Algumas consequências podem ser difíceis
de lidar, como angústia, luto por ter voltado, medo de ser considerado doente
mental por pessoas queridas ou profissionais de saúde, dúvidas quanto a
própria sanidade mental e sentimento de realidade alterada que pode persistir
por muitos anos;

- Consequências na esfera social, família e relacionamentos: maior


preocupação com o próximo, com justiça social e ecologia; aumento da
compaixão, tolerância e empatia; diminuição do materialismo, do valor que
26

atribuía ao status social e da necessidade de aprovação. Conflitos familiares e


rompimento de relacionamentos afetivos são comuns, em especial quando não
há espaço para as mudanças, questionamentos e angústias que uma EQM
pode trazer. Algumas pessoas relatam se sentirem isoladas, com sentimento
de ser muito diferente dos grupos em que estava inserido até então;

- Carreira e trabalho: Mudanças de carreira são comuns, assim como o


afastamento do trabalho (geralmente em casos em que há algum transtorno
associado). Isso é mais comum no caso de pessoas que, até então, atuavam
em áreas que incentivava o status e a competição. É comum que essas
pessoas passem a buscar novas oportunidades em áreas mais afinadas com
as mudanças de vida que almeja. No caso de crianças e jovens, é comum que
a escolha da profissão se volte para a área de saúde, artes, física ou teologia;

- Espiritualidade e religiosidade: junto com a redução do medo da morte,


vem o sentimento de estar vivo por um propósito, de ser inabalável e uma
busca por perceber um sentido na existência. Algumas pessoas podem passar
a crer ou fortalecer a crença na vida após a morte. Também são comuns
relatos de mudança de religião, conversão ou saída da religião. Pessoas que
vivenciaram na EQM algo muito diferente de suas crenças podem apresentar
conflitos.

No caso de EQMs perturbadoras, somado a tudo isso, existe o a angústia


sobre o motivo de ter vivenciado algo tão desagradável. Preconceito e
estigmatização também são comuns, pois grande parte da população tende a
associar esse tipo de experiência a supostos comportamentos inadequados,
má índole ou descrença religiosa, o que não é verdade. Ainda assim, esses
pacientes podem apresentar sentimento de culpa e medo de perder o afeto de
familiares e amigos ao relatar a EQM.

Ter passado por uma EQM significa que a pessoa já apresentava


algum transtorno mental?
Não, não há indícios de traços psicológicos ou psicopatológicos que impeçam
ou que facilitem a ocorrência de uma EQM. Além disso, quando esses
27

pacientes são examinados ou testados, não apresentam traços diferentes da


média da população quanto ao nível de inteligência (QI), neuroticismo,
presença de transtornos ou qualquer índice do teste de Rorschach. Ou seja,
qualquer pessoa que esteja sob risco de morte iminente poderia ter uma EQM.

E quanto à saúde mental após a EQM?


Além dos conflitos e consequências nem sempre agradáveis, como pontuamos
na questão anterior, podem surgir alguns transtornos nesses pacientes, como
depressão (mesmo quando a EQM é agradável) e distúrbios do sono. No caso
de EQMs perturbadoras, o paciente também pode apresentar TEPT
(Transtorno do Estresse Pós-Traumático) e ansiedade. A ansiedade é bastante
característica das EQMs perturbadoras, pois nas agradáveis, ao contrário, o
que muitas vezes ocorre é a diminuição da ansiedade.

Crianças que tiveram EQM podem apresentar comportamentos e


características semelhantes ao Transtorno do Espectro Autista após este
evento. Já quando a EQM ocorre na adolescência, pode ocorrer dificuldades
relacionadas à atenção, e mesmo quadros de TDAH. Na adolescência pode
ocorrer também situações de abuso de álcool ou drogas.

Nem todos os pacientes que passam por uma EQM apresentam estes
transtornos. Nos casos em que ocorrem, o ideal é que sejam tratados conforme
os protocolos convencionais mas, também, que o profissional de saúde esteja
sensibilizado para a questão da EQM e de possíveis outras consequências
desagradáveis.

Existe risco de suicídio após uma EQM?


Apesar de ser uma preocupação frequente entre profissionais de saúde e
familiares de pacientes que tiveram EQM, especialmente devido à angústia
intensa, ao luto por ter voltado e mesmo pela visão da morte como algo que
não gera medo e que pode ser agradável, esses pacientes geralmente são
bastante contrários ao suicídio, defendendo a ideia que a morte não é algo
28

desagradável ou a se ter medo, mas apenas na “hora certa”, é o fechamento


natural de uma história de vida que precisa se desenrolar, não algo a ser
provocado.

IMPORTANTE: no caso de adolescentes que tiveram EQM e apresentem


sintomas depressivos, pode haver risco de suicídio.

Sempre que houver suspeita desse tipo de risco, cabe investigação clínica. Em
caso de dúvida, nunca espere, consulte um profissional de saúde mental da
sua confiança.

E quando a EQM acontece depois de uma tentativa de suicídio?


Existe alguma diferença ou algum risco aumentado de novas
tentativas?
Cerca de 20% dos pacientes que foram salvos de uma tentativa de suicídio
relatam EQM. É curioso observar que nesses casos, as EQMs são, com
frequência, agradáveis, e trazem um impacto muito positivo no quadro clínico e
no prognóstico desses pacientes. Ao retornarem, pacientes que tiveram EQM
após tentativa de suicídio são menos suscetíveis a novas tentativas que os
pacientes que tentaram e não tiveram EQM. Além disso, tendem a se
apresentar motivados a buscar soluções mais equilibradas e construtivas para
as situações de vida ou para as condições de saúde mental que haviam
motivado a tentativa. Outro ponto a ser considerado é que não há relação entre
tentativa de suicídio e EQM perturbadora.

Se a maior parte das EQMs são agradáveis, por que podem ocorrer
consequências ruins?
EQMs são experiências muito intensas e completamente diferentes daquilo que
geralmente vivenciamos no dia a dia. Por isso, mesmo que a experiência tenha
sido agradável, nem sempre o paciente tem referências para interpretá-la, dar a
ela um sentido e acomodá-la entre suas lembranças. Essa dificuldade faz com
que uma experiência (ainda que agradável) se torne angustiante, pois não se
29

encaixa na vida e no dia a dia do sujeito, apesar de tê-lo marcado


profundamente. A maneira como a pessoa se reconhece e é reconhecida pode
passar por grandes mudanças, além de seus comportamentos e escolhas de
vida. Sem poder dar um sentido a tudo isso, também é comum que a noção de
si mesmo, a identidade, deixe de ser percebida pelo próprio sujeito com
coerência.

Além disso, fatores como o luto por deixar de lado uma experiência tão
agradável e voltar para uma realidade imperfeita, com relacionamentos
limitados, um corpo possivelmente doente, com dores ou com sequelas, pode
ser algo extremamente angustiante.

Outro ponto é a potencial mudança nos valores, planos e projetos de vida, que
nem sempre dão conta de acomodar essa experiência. Alguns pacientes com
EQMs agradáveis podem se angustiar, ainda, pelo fato de vivenciarem na EQM
algo diferente das suas expectativas e crenças prévias acerca da morte.

O senso de realidade alterada também contribui para essa situação, e pode


ocorrer tanto em EQMs agradáveis quanto nas perturbadoras. Esse senso de
realidade alterada faz com que o paciente perceba a lembrança da experiência
como algo muito mais intenso e realista que sua própria vida e a realidade de
todos os dias.

Esses fatores podem trazer angústia intensa, conflitos na família ou nos


relacionamentos e dificuldades sociais ou no trabalho, afinal, nem sempre as
pessoas que convivem com esse paciente compreendem e acompanham todo
esse processo.
30

Situações especiais: O que podemos considerar EQM?

Corri um grande risco de morte e não cheguei a me machucar, foi


apenas um susto. Mas vivenciei fenômenos parecidos com uma
EQM. Isso é possível?
Existem diferentes tipos de fenômenos anômalos, alguns deles parecidos com
as EQMs, outros bem diferentes. Alguns autores consideram que esse tipo de
experiência também são EQMs. Outros autores chamam essas experiências
em que ocorre algum tipo de fenômeno inexplicável quando há um risco de
morte, mas do qual a pessoa se salva sem maiores problemas de “medo da
morte”. Por exemplo, pessoas que sofrem um acidente, do qual escapam ilesas
ou praticamente ilesas, mas durante este evento, veem a revisão da história de
vida, ou uma luz muito brilhante ou mesmo algum tipo de presença.

Outro tipo de experiência muito semelhante às EQMs são as chamadas


“experiências próximas da morte”, em que alguém que está à beira da morte
percebe e narra, pouco antes de morrer, fenômenos como presenças, uma luz,
etc.

É importante dizer que todas essas experiências podem ter algo de semelhante
com as EQMs, e podem ter grande impacto para o sujeito.

Nunca corri risco de morte, mas sonhei que me via morto. Isso pode
ser considerado uma EQM?
Não. Esta é uma pergunta recorrente, afinal, pois talvez este tipo de sonho seja
mais comum do que se poderia imaginar. Para muitas pessoas, os sonhos são
uma parte importante da realidade, como uma janela para o nosso mundo
interno. Um sonho pode ser extremamente vívido e marcante, e pode
influenciar nossas escolhas e comportamentos. Por exemplo, muitas pessoas
desistem de uma viagem ao sonhar com um desastre ou, ao contrário, se
entusiasmam com um novo projeto ao sonhar que as coisas deram certo. No
entanto, se para chegar a passar por uma EQM houve risco de morte iminente,
31

durante um sonho, mesmo que seja muito desagradável, não há risco de


morte. Além disso, os processos neurofisiológicos que envolvem o sono e o
sonho são muito diferentes dos processos que ocorrem no cérebro e no
restante do organismo com a entrada ou a aproximação do estado de morte
clínica.

Qual a diferença entre EQM e experiência fora do corpo (EFC)?


Ambas são experiências anômalas, isto é, sem explicação científica
satisfatória. Muitas pessoas que tiveram EQM relatam experiência fora do
corpo, mas, como vimos em outros pontos desta cartilha, EQMs podem
envolver outros tipos de experiência além desta. Outro ponto que diferencia
essas duas experiências é o fato de a EQM envolver o risco iminente de morte.
Muitas pessoas que tiveram experiência fora do corpo relatam ter ocorrido
durante a noite, quando puderam observar o próprio corpo dormindo na cama.
Apesar de algumas pessoas relatarem estas experiências como se fossem
EQM por compreenderem que, talvez, poderiam não retornar para o corpo, é
preciso compreender que não existe risco de morte nessas experiências. Além
disso, nenhuma delas, EQM e EFC, estão relacionadas a problemas prévios de
saúde mental.
32

Para quem teve EQM ou convive com alguém que teve

Tive uma EQM e depois disso nada nunca mais foi o mesmo. Como
saber se é hora de procurar ajuda? Qual tipo de ajuda posso
buscar?
É indicado procurar ajuda sempre que existir algum distúrbio ou algum
desconforto. Como vimos em pontos anteriores desta cartilha, alguns pacientes
podem apresentar, após a EQM, quadros de depressão, distúrbios do sono e
mesmo Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT). É recomendado que
esses pacientes recebam o tratamento habitual para esses transtornos, com
psicoterapia e medicação (conforme cada caso).

Além disso, alguns pacientes passam por situações complicadas, mesmo ser
apresentarem transtornos. Por exemplo, dificuldades de relacionamento,
conflitos na família, dificuldade para retomar a carreira e outras atividades que
eram importantes em suas vidas. Alguns se sentem profundamente
angustiados e confusos. Em casos assim, psicoterapia pode ter um impacto
bastante positivo.

Em caso de dúvidas, em caso de perceber que a situação está muito


complicada para lidar sozinho, nunca deixe de buscar ajuda com um
profissional da sua confiança. A vida depois de passar por uma EQM não
precisa ser assim.

Alguém querido passou por uma EQM e não está bem. Como posso
ajudá-lo?
Seja uma pessoa acolhedora. Esteja lá para ouvir sem julgar, caso essa
pessoa queira compartilhar a experiência. Não faça piadas, nunca dê a
entender que seu amigo “ficou loco” ou “está cheio de frescuras”, esse tipo de
julgamento (mesmo que só por brincadeira) pode ter um impacto muito ruim. É
normal alguém mudar depois de uma experiência muito intensa e marcante,
respeite isso e respeite também o ritmo do seu amigo para se abrir e para
33

tomar atitudes na própria vida. Ao mesmo tempo, se você perceber que ele
apresenta algum sintoma de depressão, problemas de sono, ou até uma
angústia extrema, se você notar que as coisas estão muito pesadas para ele
administrar sozinho, encoraje seu amigo a procurar um profissional de saúde
mental.

Uma pessoa querida passou por uma EQM e desde então as coisas
estão estranhas para mim. Como posso lidar com isso?
Esse tipo de fala é comum, e também precisa ser ouvida. É comum que
familiares, cônjuges e mesmo amigos próximos de alguém que teve EQM se
sintam assim. Algumas vezes essa pessoa passou por tantas mudanças (em
seus valores, crenças e atitudes), de forma tão repentina que, para as pessoas
que conviviam com o paciente, afinal, um familiar ou amigo não acompanhou a
pessoa nas vivências da EQM. Ao contrário, esteve o tempo todo tentando lidar
com a possibilidade iminente de perder essa pessoa querida. A sensação é
que ele simplesmente “voltou diferente”. Não reconhecem mais aquela pessoa
querida, algumas vezes não sabem ao certo como agir com ela ou o que
esperar. Fica um sentimento ambíguo entre se sentir aliviado pela pessoa ter
sobrevivido, preocupado com possíveis consequências e, em muitos casos,
perdido e sem referências diante de mudanças tão repentinas, especialmente
quando essas mudanças começam a se refletir mais diretamente no dia a dia e
estilo de vida do casal, da família ou do grupo em questão. Psicoterapia pode
ser recomendável para pessoas próximas de alguém que teve uma EQM, com
foco em compreender e acomodar essas mudanças, facilitar o gerenciamento
de possíveis conflitos ou reflexões e mesmo para o acolhimento desse estado
emocional.
34

Para profissionais de saúde

Meu paciente relatou uma EQM. Qual a melhor conduta?


Incentive seu paciente a expressar esse relato livremente, é importante ouvir o
paciente sem julgamentos. É recomendável estar muito atento às próprias
reações ao ouvir esse tipo de relato, comentário ou perguntas por parte dos
seus pacientes. Algumas vezes, até mesmo a reação de surpresa na fisionomia
do profissional pode fazer alguns pacientes interpretarem a EQM como algo
que não deveria ter sido mencionado, como algo bizarro que beira a loucura.
Obviamente, isso faria o paciente se fechar, tendo que lidar com a EQM e suas
consequências sozinho, o que pode dificultar a superação de possíveis
consequências nefastas, por exemplo, fazendo com que deixe de buscar ajuda
para transtornos decorrentes, se for o caso.

Informe, também, que alguns pacientes passam por isso, não se sabe ao certo
o motivo, mas que isso não significa que essas pessoas tenham algum tipo de
problema mental. Também é importante oferecer-lhe informações a respeito
das EQMs, inclusive para familiares ou cônjuge, quando for o caso.

Por que o primeiro atendimento precisa ser ágil? Qual a sua


importância?
O primeiro atendimento, quando realizado de maneira ágil e adequada, pode
facilitar muito a assimilação dos conteúdos da EQM pelo paciente, bem como
as atitudes e mudanças que esse paciente pode ter intenção de realizar,
reduzindo possíveis conflitos e promovendo qualidade de vida e saúde mental.
Infelizmente, a maior parte dos pacientes diz não ter se sentido bem acolhido
por profissionais de saúde ao relatar a EQM, inclusive por profissionais de
psicologia.
35

Como lidar com casos de EQM em psicoterapia?


Quando uma EQM é narrada em termos linguísticos, isso permite que o
paciente se aproprie da experiência, lidando com ela de outras maneiras e
atribuindo-lhe sentido. Portanto, num primeiro momento, é recomendável que o
foco central da psicoterapia com pacientes de EQM seja permitir que ele fale
abertamente sobre isso. Nos casos em que o paciente tem dificuldade em
narrar a EQM, seja por ter sido uma experiência muito peculiar, por ser uma
pessoa mais concreta ou mesmo quando se trata de crianças, recursos
gráficos podem ser utilizados para facilitar a organização do relato.

Assim será possível o trabalho psicoterapêutico com aquilo que essas


vivências/narrativas carregam: os afetos e pensamentos acerca do fato de ter
se deparado com a própria morte (não enquanto possibilidade ou algo futuro e
inevitável, mas como algo presente, palpável), com um suposto pós-morte e
com as consequências que vieram. É importante esclarecer percepções e
emoções, além de facilitar e incentivar a reflexão, revendo valores, atitudes e
interesses, o que, por sua vez, ajudará a acomodar a EQM na história de vida e
a adaptar o estilo de vida do paciente à sua nova realidade e identidade.

Também se recomenda não interpretar o relato como se poderia fazer com um


sonho ou algum conteúdo simbólico. Esse tipo de interpretação dificulta a
inserção da EQM na história de vida do paciente, reforçando ainda, para
alguns, a ideia de ser algo inadequado, assim como o senso de realidade
alterada.

A EQM é uma experiência não patológica. É importante afirmar e repetir isso


ao paciente sempre que necessário recordar.

Outro ponto na psicoterapia com esses pacientes é focar também na vida


concreta e prática, ajudando a encontrar alternativas para possíveis conflitos e
a modificar o que for necessário. Além disso, é importante é tira-lo do papel de
vítima e oferecendo-lhe o papel principal em sua própria história de vida.
36

Também cabe conduzir o tratamento de transtornos secundários, quando for o


caso, seguindo os protocolos habituais.

Oferecer informações ao paciente e seus familiares acerca da EQM e de suas


consequências é algo que pode facilitar bastante a acomodação da lembrança,
assim como ajuda a lidar com possíveis consequências e mudanças de
maneira mais tranquila.

Conforme cada caso, além da psicoterapia pode ser recomendado a terapia


familiar ou de casal, quando há algum tipo de conflito nesse sentido.
37

A Autora

Beatriz Ferrara Carunchio é neuropsicóloga com atuação clínica em consultório


particular. Pesquisadora de pós-doutorado em Psicologia Social no Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Mestrado e doutorado em Ciência
da Religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Psicóloga pela
Universidade São Marcos, com título de especialista em Neuropsicologia pelo Conselho
Federal de Psicologia (CFP). Membro do Laboratório de Estudos Psicossociais: crença,
subjetividade, cultura e saúde (InterPsi-USP).

E-mail: bf.carunchio@gmail.com
38

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