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ALTOS, PIAUÍ
2022
JOSE WILSON MARTINS
ALTOS, PIAUÍ
2022
DEUS E FAMÍLIA
“O HOMEM NÃO É NADA AQUILO DO QUE A
EDUCAÇÃO FAZ DELE”
(AUTOR DESCONHECIDO)
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................7
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................37
REFERÊNCIAS...........................................................................................................38
1 INTRODUÇÃO
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com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais, regular a entrada na rede
de assistência em saúde mental na sua área de atuação e dar suporte à atenção à
saúde mental na rede básica (BISNETO, 2012, p. 71).
Como objetivo geral a pesquisa aponta o exercício do assistente social no
centro de atenção psicossocial (CAPS) para a promoção de saúde e reabilitação do
paciente e seu retorno ao convívio social e familiar, tendo como objetivos
específicos: observar os principais desafios encontrados nessa atuação do
assistente social; perceber as principais ações que podem ser feitas pelo assistente
social; Identificar os principais desafios encontrados pelo assistente social nessa
área de atuação.
Esse estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, que consiste na fase
inicial de todo o trabalho científico ou acadêmico, com o objetivo de colher e
reunir as informações e dados que servirão de base para a construção da
investigação proposta a partir de um determinado tema (URSI, 2006, p. 126). Depois
da escolha de uma temática específica para ser abordada, a pesquisa bibliográfica
deve se delimitar ao tema que foi escolhido pelo pesquisador, utilizando como modo
de se aprofundar no assunto. Desta forma, além de traçar um histórico sobre o
objeto de estudo, a pesquisa bibliográfica também auxilia nas identificações de
contradições e respostas anteriormente encontradas sobre as perguntas formuladas
(WHITTEMORE, 2009, p. 549).
O levantamento bibliográfico é normalmente feito a partir da análise
de fontes secundárias que abordam, de diferentes maneiras, o tema escolhido
para estudo. As fontes podem ser livros, artigos, documentos monográficos,
periódicos (jornais, revistas, etc.), textos disponíveis em sites confiáveis, entre outros
locais que apresentam um conteúdo documentado (ARMSTRONG, 2011, p. 656).
Trata-se também de uma pesquisa qualitativa no qual é uma abordagem de
pesquisa que estuda aspectos subjetivos de fenômenos sociais e do
comportamento humano. Os objetos de uma pesquisa qualitativa são fenômenos
que ocorrem em determinado tempo, local e cultura (WHITTEMORE, 2009, p. 552).
Uma pesquisa qualitativa aborda temas que não podem ser quantificados em
equações e estatísticas. Ao contrário, estudam-se os símbolos, as crenças, os
valores e as relações humanas de determinado grupo social (SCHELB, 2008, p. 35).
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Para a presente pesquisa foi feito um levantamento bibliográfico através de
publicações de periódicos indexados na BVS e Lilacs que tratassem o tema em
questão, publicados nas línguas inglesa e portuguesa, no período de outubro e
novembro, foram consultados artigos do ano de 2018 a 2022. Os artigos foram
analisados e aplicados os critérios de inclusão e exclusão. Critérios de Inclusão: a)
estudos científicos sobre o tema abordado; b) estudos que verificaram a atuação do
assistente social na saúde mental; c) período de publicação de 2014 a 2019; d)
publicações em inglês, espanhol e português. Critérios de Exclusão a) artigos
incompletos; b) artigos indisponíveis e pagos; c) artigos fora do período proposto.
Percebendo também que no campo da saúde mental é primordial trabalhar
em equipe, uma vez que lidamos com a complexidade do ser humano,
principalmente quando se trata em Transtorno Mental, sendo fundamental o olhar de
cada profissional (dotado com suas atribuições específicas), bem como, o olhar
coletivo (todas as profissões) para que se possa proporcionar uma qualidade de vida
ao indivíduo.
A pesquisa aborda três capítulos, no qual o primeiro capítulo aborda a
reforma psiquiátrica e saúde mental, tendo como subtópicos: os impactos na história
e usuários do serviço de saúde mental, o segundo relata sobre política de saúde e
SUS, compondo como subtópicos contexto histórico e Dificuldades e desafios a
serem enfrentados na saúde e no sistema único de saúde (SUS); e o terceiro
capítulo: tema o exercício do assistente social no centro de atenção psicossocial
(CAPS) para a promoção de saúde e reabilitação do paciente e seu retorno ao
convívio social e familiar, abordando os subtópicos princípios básicos e ações
realizadas pelo assistente social em centros de atenção psicossocial.
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2 REFORMA PSIQUIÁTRICA E SAÚDE MENTAL
11
municípios com mais de 50.000 habitantes, seu usurário é composta de adultos com
transtornos mentais severos e persistentes; os CAPS III – são os serviços de maior
porte da rede, dão cobertura aos grandes municípios, prestando serviços de grandes
complexidades, funcionando 24 horas todos os dias da semana (LOURAU, 2009, p.
39).
Os serviços têm capacidade para realizar o acompanhamento de até 450
pessoas/mês, os CAPS – especializados em atendimento de crianças e
adolescentes com transtornos mentais e os CAPS Ad – especializados em atender
pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas (LOURAU, 2009, p. 50).
A partir da implementação da Lei nº 10.216/01, os CAPS passaram a ser a
principal estratégia do processo da Reforma Psiquiátrica, cujos serviços foram
implantados para acolher as pessoas portadoras de transtornos mentais graves e
persistentes, para oferecer-lhes atendimento com equipe multidisciplinar e integrá-
las no ambiente social em que vivem (NASCIMENTO, 2009, p. 11).
Política de Saúde Mental no Brasil propõe a redução de leitos psiquiátricos de
longa duração, pondo incentivo às internações por curta duração no meio dos
hospitais gerais, pondo em objetivo a oferecer um tratamento digno e humanizado
àquelas pessoas que sofrem de transtornos mentais, tentando a integração delas à
vida em comunidade (SANTOS, 2016, p. 12).
Com essa finalidade foram desenvolvidas alternativas como os Hospitais-Dia
e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), como meio de oferecer maiores
condições de tratamento e um acompanhamento qualificado a cada paciente
(MENDES, 2015, p. 887).
Apesar das mudanças no modelo de atenção à saúde mental, a ideia que
ainda persiste em relação aos portadores de transtorno mental traz o estigma de
ameaça e perigo. Por isso, como aborda Oliveira (2018, p. 125):
Conhecer o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é importante,
considerando que esta instituição recebe a pessoa com transtorno mental,
oferece atendimento médico e psicológico. Além disso, na tentativa de
buscar a cidadania e oferecer-lhes a autonomia, busca também estratégias
sociais e familiares para transformar o paradigma de periculosidade e
construir novos caminhos para que eles sejam reinseridos nos grupos
sociais dos quais fazem parte.
13
Os assistentes sociais fizeram destaques às dificuldades de limitações
institucionais e materiais que encontram para responder a tais demandas (CEBRID,
2010, p. 86).
A defesa da garantia de direitos à saúde dos usuários dos CAPS vem sendo
efetuada por esses profissionais, mas a concentricidade de tais direitos é imbricada
às mediações inerentes à realidade dos CAPS (SANTOS, 2012, p. 16).
A exemplo se destaca a dificuldade financeira para custear o transporte
coletivo, pois o usuário não tem acesso gratuito ao transporte, ou até mesmo se ele
o tem, mas o acompanhante não tem, principalmente, porque é necessário o
acompanhamento do paciente três vezes por semana (SANTOS, 2016, p. 13).
Esta situação se torna mais difícil nos casos de usuários oriundos de outros
municípios (Santa Izabel, Vigia etc.) ou de outro estado (Maranhão) (LESSA, 2012,
p. 74).
Estas situações que dificultam o trabalho dos assistentes sociais nos CAPS e,
consequentemente, na recuperação da saúde mental dos usuários expressam sem
dúvida, de um lado, as contradições postas na organização institucional e, de outro,
as contradições sociais do capitalismo contemporâneo que determinam as
condições materiais de vida dos usuários dos CAPS (ABREU, 2009, p. 595).
Segundo Lara et al, (2015, p. 54):
A intervenção profissional em outras expressões da questão social que
extrapolam a situação de sofrimento mental, o que explica o fato de que a
articulação do serviços dos CAPS com a rede de serviços de saúde, a
orientação sobre os benefícios sociais etc., sejam uma das contribuições do
trabalho dos assistentes sociais para a saúde mental dos usuários, pois
segundo Rosa (2012), a saúde mental se configura como um campo social
e político, permeado pelas contradições inerentes do capitalismo.
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Esse processo de desinstitucionalização não fica limitado apenas na
substituição por um modelo de cuidados externos que envolvem principalmente as
questões de caráter tanto técnico, como de caráter assistencial, envolvendo também
o deslocamento das práticas psiquiátricas para o cuidado realizado na comunidade
(NICACIO, 2013, p. 16).
Os autores trazem um importante figura nessa relação de cuidados e
estabelecem que os vínculos mais profundos são os familiares, mostrando a
importância para o processo de reabilitação e reinserção do usuário no espaço da
comunidade (ROBAINA, 2010, p. 336).
Como afirma Paim (2013, p. 97):
A reforma psiquiátrica abriu possibilidades para uma nova forma de pensar
e atuar sobre a saúde mental, rompendo com barreiras e paradigmas sobre
o cuidado da pessoa portadora de doença mental, tendo como foco principal
a reintrodução do sujeito na esfera das relações sociais, garantindo a
cidadania e a autonomia deste usuário.
15
mesma como uma forma de subjetividade válida, onde o maior desafio da reforma é
sua despatologização (PINHEIRO; MILANI, 2015, p. 168).
O processo de mudança de papéis se dá de forma lenta e gradual, mas os
movimentos para tantos já foram iniciados (PEREIRA, 2013, p. 8).
A Reforma Psiquiátrica é um processo político e social complexo, composto
de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios
diversos. A Reforma avançou marcada por impasses, tensões, conflitos e desafios
(MOURA, 2011, p. 37).
O período atual caracteriza-se assim por dois movimentos simultâneos: a
construção de uma rede de atenção à saúde mental substitutiva ao modelo centrado
na internação hospitalar, por um lado, e a fiscalização e redução progressiva e
programada dos leitos psiquiátricos existentes, por outro. É neste período que a
Reforma Psiquiátrica se consolida como política oficial do governo federal (BRASIL,
2007, p. 56).
Os NAPS/CAPS foram criados oficialmente pela Portaria GM 224/92.
Atualmente os CAPS e outros tipos de serviços substitutivos que têm surgido no
país são regulamentados pela Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002 e
integram a rede do Sistema Único de Saúde (SANTOS, 2013, p. 89).
O Ministério da Saúde trabalha desde 2003 com o Programa de
Reestruturação da Assistência Psiquiátrica Hospitalar no Sistema Único de Saúde
(SUS), que propõe várias alternativas ao modelo de institucionalização dos
tratamentos de saúde mental (MANGUIA, 2007, p. 56).
Segundo Pavão (2016, p. 17):
Os CAPS devem assumir seu papel estratégico na articulação e tecimento
das redes de cuidado em saúde mental tanto cumprindo suas funções na
assistência direta e na regulação da rede de serviços de saúde, trabalhando
em conjunto com as equipes de Saúde da Família e Agentes Comunitários
de Saúde, quanto na promoção da vida comunitária e da autonomia dos
usuários articulando os recursos existentes em outras redes
.
Na construção da rede de apoio deve-se articular todos os recursos afetivos,
sanitários, sociais, econômicos, culturais, religiosos e de lazer. Apesar das
dificuldades os CAPS estão conseguindo interromper os ciclos de múltiplas
internações (ROSA, 2009, p. 77).
Pretende-se reverter a tendência autoritária das instituições de saúde ao
estimular o questionamento dos papéis estereotipados das equipes de saúde e na
16
construção do trabalho baseado em equipes multidisciplinares, sem hierarquia rígida
(MOURA, 2011, p. 40).
Apesar dos avanços da RP brasileira, ainda existem obstáculos e fragilidades
na aplicação dos princípios reformistas, como a dificuldade na articulação e diálogo
entre CAPS e atenção básica, serviços de urgência/emergência insuficientes,
profissionais da área despreparados. Além disso, persistem ou ressurgem formas de
apego a práticas manicomiais, imersas nos serviços substitutivos (AZEVEDO, p.
2011, p. 2)
Estudos avaliativos proporcionam um olhar diferenciado que levam a
questionamentos e pensamentos de modificações no serviço/atendimento prestado
ao usuário (MANGUIA, 2007, p. 59).
Com as mudanças advindas da RP, a avaliação dos serviços de saúde
mental é uma necessidade real, sobretudo para o devido acompanhamento da
política nacional de saúde (AZEVEDO, 2014, p. 113).
17
Há, consequentemente, uma fratura entre o cidadão trabalhador e o pobre,
constituindo-se na prática assistencial dois sistemas de prestação de serviços na
área da saúde, destinados a dois públicos distintos (ROSA, 2011, p. 41).
De um lado, um sistema público, gratuito, destinado aos pobres, denominados
indigentes. De outro lado, um sistema previdenciário, voltado para os segmentos de
trabalhadores urbanos que contribuem para o sistema, denominados
pensionistas/beneficiários (LARA, 2015, p. 58).
Segundo Silva (2016, p. 85):
As lutas encampadas no período de redemocratização da sociedade
brasileira, sob o comando do Movimento da Reforma Sanitária brasileira,
serão coroadas pelo reconhecimento da saúde como um direito de todos e
dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação, no Art. 196, da Constituição Federal de 1988, que reafirma o
Sistema Único de Saúde - SUS, orientado para o setor público estatal e
universal, independente da capacidade contributiva das pessoas
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Consequentemente, essa centralidade traz subjacentes várias implicações
para o dia a dia profissional, já que várias vezes o usuário e seus familiares veem o
assistente social como o profissional que facilita ou restringe o usufruto de certos
benefícios (ROBAINA, 2010, p. 341).
O acesso a vale transporte, que assegura o deslocamento de casa para o
CAPS, o que em muitos serviços é indispensável para garantir a acessibilidade, haja
vista a não incorporação, em alguns municípios/estados, da pessoa com transtorno
no rol dos usuários do passe livre, em geral também é gerido pelo assistente social,
o qual deve estabelecer critérios de eletividade para tanto, em virtude da restrição
quantitativa, que não permite a universalidade nem integralidade do cuidado
(PEREIRA, 2013, p. 3).
Esta tarefa tem consumido muito tempo de trabalho de alguns assistentes
sociais, em alguns serviços de saúde mental, o que limita tais profissionais a
trabalho burocrático, disciplinar, controlador, sem conseguir reverter essa tendência
(URSI, 2015, p. 7)
Segundo Jacobo (2013, p. 06):
O sujeito contemporâneo queixa-se da velocidade, da incapacidade de lidar
com as perdas e da inaptidão, mesmo que temporária, de acompanhar a
lógica de produção alienante que cai maciçamente sobre sua cabeça.
Vivendo na sociedade da autonomia, sente-se livre na mesma medida em
que se sente inseguro, sem referências estáveis para ancorar sua
existência. Adoece-se pelo excesso de liberdade, que leva à exaustão
maníaca, assim como pela falta de garantias, que leva ao vazio existencial.
Talvez por isso as mais altas prevalências de doença mental correspondam
justamente aos transtornos do humor e aos sintomas ansiosos.
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Os diagnósticos de transtornos severos e persistentes (psicoses e
esquizofrenias) foram predominantes entre os homens e, nas mulheres,
prevaleceram os transtornos do humor e de ansiedade (PAVÃO, 2016, p. 20).
Nos homens predominaram diagnósticos de transtornos mentais e
comportamentais decorrentes do uso abusivo de substâncias psicoativas e, entre as
mulheres, esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes
(PEREIRA, 2012, p. 50).
Quando se analisa a realidade da área saúde mental é possível perceber
dificuldades para concretizar as metas de desinstitucionalização propostas pelo novo
modelo assistencial no Brasil (SILVEIRA, 2015, p. 592).
As dificuldades encontram-se na redução dessa proposta a um processo de
desospitalização sem a real desconstrução do hospital psiquiátrico e o deslocamento
completo da atenção em saúde mental para serviços substitutivos (AMORIM, 2011,
p. 198).
Como ocorre em outros aspectos da atenção à saúde, a tarefa de proteger e
melhorara saúde mental é complexa, envolve múltiplas decisões e diferenças
sensíveis nos recursos financeiros e humanos disponíveis aos países influem no
modo como as questões de saúde mental são tratadas (PINHEIRO; MILANI, 2015,
p. 267).
Com efeito, as necessidades manifestadas pelos usuários, familiares e
profissionais dos serviços de saúde mental, além dos demais trabalhadores da
saúde, dependem muito do contexto histórico-cultural da assistência, sendo que as
expectativas das pessoas variam consideravelmente de país para país (SILVA,
2012, p. 282).
Atualmente, vivencia-se, no Brasil, um período próspero em inovações e
mudanças, dados alguns avanços conquistados na assistência psiquiátrica (PRADO,
2011, p. 107).
Por outro lado, esse processo não pode ser refletido como simples
modificações de estruturas físicas, mas, sim, como reelaboração de concepções, de
dispositivos sob uma ótica mais comprometida como interesses daqueles a quem se
presta assistência (SILVEIRA, 2015, p. 595).
Como afirma Nascimento (2009, p. 14):
Dentre as dificuldades percebidas na reelaboração de concepções sobre a
assistência em saúde mental, destaca-se a crescente necessidade de
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investimento em formação de recursos humanos especializados na área e
em número suficiente para cada serviço de acordo com as necessidades e
demanda de cada local, garantindo, assim, a qualidade do serviço prestado,
a reabilitação do paciente e melhor satisfação dos diversos atores
envolvidos com a saúde mental.
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Apesar de ainda persistirem grandes desafios no sentido de romper de vez
com o modelo manicomial/asilar, muitas estratégias estão sendo construídas no
cotidiano das práticas de cuidado, produzindo e inventando novos modos de cuidar,
novas formas de fazer acontecer, baseadas em relações sociais pautadas por
princípios e valores que buscam reinventar a sociedade, constituindo um novo lugar
de acolhimento para o sofrimento (CARDOSO, 2016, p. 88).
É possível observar um redirecionamento do modelo assistencial, com vistas
ao resgate da cidadania dos sujeitos em sofrimento psíquico, possibilitando a
construção de novas práticas, sustentadas a partir do comprometimento, do
compromisso e da responsabilização (LIMA, 2012, p. 429).
Tais práticas pressupõem, sem dúvida, que cuidar da saúde de alguém é
mais do que construir um objeto e intervir sobre ele. É, na verdade, ser capaz de
acolher, dialogar, produzir novas subjetividades, exercitar a capacidade crítica,
transformar criativamente os modos de ver, sentir e pensar já estabelecidos
(CARDOSO, 2016, p. 91).
23
3 POLÍTICA DE SAÚDE E SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
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As Políticas Públicas de Saúde, como disciplina no meio acadêmico, abordam
estudos sobre o Papel do Estado frente as questões e os movimentos sociais
(políticas de saúde, políticas econômicas e políticas sociais), sendo que, estes
servem para a elaboração de possíveis planos de intervenção perante os problemas
de gestão nos serviços de saúde (SANTOS; TEIXEIRA, 2017, p. 1990).
Segundo Silva (2015, p. 30):
No Brasil, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) foram planejadas para
estarem instaladas perto das pessoas e são efetivamente a porta de acesso
para a atenção à saúde da população. Pesquisas que visam o acesso ao
serviço básico de saúde, a saúde do trabalhador, do idoso, do homem e a
mental figuram como o segundo assunto de maior interesse identificado na
produção científica correlata.
25
da taxa de mortalidade infantil e o controle de doenças infecciosas (OLIVEIRA;
CRUZ, 2015, p. 256).
Durante o Regime Militar, o MRS foi de extrema importância para a
implantação de um novo modelo de atenção em saúde. Segundo Pavão(2016, p.7):
O MRS se iniciou através de universitários, profissionais de saúde e
pessoas vinculadas aos setores da saúde e possuía diretrizes
(universalização, acessibilidade, descentralização, integralidade e
participação da comunidade) e propostas (unificação do sistema de saúde,
conceito ampliado de saúde, e direito à cidadania e o dever do Estado) que
foram aprovadas na 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986). O relatório
da conferência foi encaminhado em 1987 à Assembleia, e este ganhou
destaque na Constituição de 1988.
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complexidade de cada usuário levando em consideração que todos os usuários são
iguais perante o SUS. Através do Princípio da Equidade é que ocorre a formulação
de novas políticas públicas de saúde (SOUTO, et al, 2016, p. 50).
Dessa forma, o SUS deve desenvolver ações sobre o ambiente e sobre a
pessoa destinados à promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como à
reabilitação (SILVA, 2016, p. 87).
De acordo com Sousa (2019, p. 117):
Observa-se que o Movimento da Reforma Sanitária, que teve como principal
liderança o médico sanitarista Sérgio Arouca, foi um marco histórico para o
surgimento e a implantação do SUS no Brasil. Ressalta-se que o SUS é
estabelecido por meio de princípios, está presente nas esferas de governo,
sua principal fonte de recursos são as contribuições da população e o MS é
o principal gestor sendo responsável pelas políticas públicas de saúde no
Brasil. Destaca-se que os gestores do SUS preconizam o planejamento das
ações em saúde e estes são os principais responsáveis pela criação de
modelos de atenção em saúde.
28
efetivar mudanças na realidade dessa família vítima da exclusão social
(VASCONCELOS, 2010, p. 56).
A família exerce um papel fundamental junto ao portador de doença mental
proporcionando toda a proteção, acolhimento, bem como aportes afetivos e
cuidados distintos. Concernente à concepção conceitual do papel da família, deve
ser parceira corresponsável nos projetos terapêuticos dos Serviços de Saúde Mental
(FERREIRA, 2015, p. 15).
Segundo Bisneto (2011, p. 110) cabe ao profissional para superar
determinadas fragilidades ainda existentes no campo de saúde mental:
Reconhecer seu próprio valor, saber o que está fazendo, criar um discurso
profissional, publicar ideias, lutar por seus princípios, fazer alianças, se
expor profissionalmente em Saúde Mental. É claro que o profissional de
campo precisa contar com a colaboração de seus colegas de academia: a
universidade também deve desenvolver esse discurso profissional com
pesquisas, aulas, extensão, publicações, conferências entre outros
recursos.
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O interesse em estudar o tema da saúde mental, enquanto um dos espaços
sócio-ocupacionais dos assistentes sociais é devido, de um lado, por tratar-se de um
tema instigante, sobretudo com a criação de um novo modelo de atenção em saúde
mental, antes tratado como loucura e da parca literatura sobre o tema na área do
Serviço Social - apesar de se ter um acúmulo de discussões em diversas áreas a
partir da Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica (OLIVEIRA, 2018, p. 2321).
Segundo Terto (2018, p. 3):
Quanto à inserção de assistentes sociais na Saúde Mental, historicamente
foi determinada pela criação de equipes multidisciplinares no atendimento
psiquiátrico. Essas equipes não se instituíram somente porque o Serviço
Social constituiria uma nova forma de encaminhar o sofrimento da loucura,
mas também porque a profissão operaria como intermediária das demandas
sociais emergentes na área manicomial e como barateador dos custos da
assistência em geral.
31
Social, nas Assembleias, Conselhos e Conferências; e a garantia de acesso aos
direitos sociais (ROBAINA, 2010, p. 340).
De acordo com Ceolin (2014, p. 241):
A precarização do trabalho e o desemprego estrutural caracterizam o
padrão da acumulação flexível, incidem nas relações sociais e repercutem
na gestão das forças de trabalho e no planejamento e organização das
políticas sociais. Desta forma, os rebatimentos nas condições e relações de
trabalho dos assistentes sociais são expressões da precariedade do
trabalho.
32
demora para atendimento em postos, centros de saúde ou hospitais (35,4%) e a
demora para conseguir uma consulta com especialistas (33,8%) (GUARESCHI,
2010, p. 9).
O SUS autoriza a atuação do setor privado, de forma suplementar, nas ações
e serviços de saúde. Ressalta-se que o SUS atende a diversas demandas sociais
(violência, acidentes, doenças crônicas, etc.) e não dispõe de recursos suficientes
para tais atendimentos (SANTOS,2016, p. 9).
Quando se compara os gastos com saúde em outros países mais
desenvolvidos chega-se à conclusão de que os recursos destinados aos SUS no
Brasil são considerados insuficientes para um atendimento integral e universal em
saúde (MENDES, 2014, p. 38).
De fato, trata-se de problemas crônicos de saúde pública no Brasil, devidos,
em grande parte, a uma lógica que especialistas definem como imediatista. Segundo
Paim (2011, p. 1780):
A ela deve substituir-se um sistema que priorize a atenção primária, o
diagnóstico precoce e o trabalho de prevenção. Uma solução recomendada
pela ONU desde 1978 (Declaração de Alma-Ata, da OMS, 1978) e já
delineada na Lei Orgânica da Saúde n° 8080, de 1990 (Brasil, 1990), que
propunha uma rede de saúde descentralizada e hierarquizada, cujo polo
coordenador deveria ser as Unidades Básicas de Saúde. Isso porque,
afirma o documento da OMS, 80% dos problemas de saúde da população
poderiam ser resolvidos por meio de uma atenção básica de qualidade.
33
e de alimentação, de escolarização, de recreação e lazer, de acesso aos serviços de
saúde de trabalho, de emprego e de renda (SOUTO, 2016, p. 53).
Saúde Pública é a ciência e a arte de evitar a doença, prolongar a vida e
promover a saúde física e mental, e a eficiência, através de esforços organizados da
comunidade, visando o saneamento do meio, o controle das infecções comunitárias
(JACOBO, 2013, p. 5).
A educação do indivíduo nos princípios da higiene pessoal, a organização de
serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e o tratamento da
doença e o desenvolvimento dos mecanismos sociais que assegurarão a cada
pessoa na comunidade o padrão de vida adequado para a manutenção da saúde,
organizando estes benefícios de tal modo que cada indivíduo esteja em condições
de gozar de seu direito natural à saúde e à longevidade (SORATTO, 2015, p. 4).
Destacar-se, ser a saúde pública o esforço organizado da sociedade para
ampliar as possibilidades de os indivíduos poderem gozar as melhores condições
possíveis de saúde (ALMEIDA, 2013, p. 7).
Assegurar para a população os direitos e os recursos previstos na
Constituição Federal (Brasil, 1988) sobre a Seguridade Social (Assistência Social,
Previdência Social e Saúde) é um dos principais desafios sociais atualmente. Na
contramão do que prevê a Constituição, são as famílias que mais gastam com saúde
(BEZERRA, 2013, p. 79).
Segundo Cebrid (2010, p.67):
Um dos graves problemas de saúde pública brasileiro é a dependência do
álcool. Conforme levantamentos de pesquisa do Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas, atualmente 18% da população
adulta consomem álcool em excesso, em contraposição aos 16,2% em
2006. A população masculina ainda é a maioria entre os que bebem em
excesso (26,8%, em 2010), mas foi entre as mulheres que se deu o
aumento mais expressivo na utilização da bebida alcoólica. Neste grupo, a
taxa passou de 8,2%, em 2006, para 10,6%, em 2010.
34
Números do IBGE (2007) mostram que o gasto com a saúde representou
8,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, em 2007. Do total registrado, 58,4%
(ou 128,9 bilhões de reais) foram gastos pelas famílias, enquanto 41,6% (93,4
bilhões de reais) ficaram a cargo do setor público. As instituições sem fins lucrativos
gastaram 2,3 bilhões de reais (PAIM, 2011, p. 785).
De acordo com o IBGE (2007), nos países ricos, 70% dos gastos com saúde
são cobertos pelo governo e somente 30% pelas famílias. Para especialistas na área
de Saúde Pública, o gasto total com a saúde, em 2009, foi de R$ 270 bilhões (8,5%
do PIB), sendo R$ 127 bilhões (47% dos recursos ou 4% do PIB) de recursos
públicos e R$ 143 bilhões (53% dos recursos ou 4,5% do PIB) de recursos privados
(CARVALHO, 2011, p. 107).
É importante destacar que o processo saúde enfermidade de uma
coletividade é decorrente de diversos aspectos sociais, políticos, econômicos,
ambientais e biológicos (KANTORSKI, 2011, p. 7).
Enfatiza-se entre os determinantes sociais: a urbanização; e a industrialização
crescente, bem como as condições de moradia, de saneamento básico, de nutrição
e de alimentação, de escolarização, de recreação e lazer, de acesso aos serviços de
saúde de trabalho, de emprego e de renda (ALMEIDA, 2013, p. 5).
O direito à saúde praticamente se confunde com o direito à vida. Ter saúde
exige alimentação adequada, condições de trabalhos saudáveis, moradia digna,
saneamento básico eficiente, meio ambiente protegido (ALMEIDA, 2011, p. 297).
35
4 ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS)
PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE E REABILITAÇÃO DO PACIENTE E SEU
RETORNO AO CONVÍVIO SOCIAL E FAMILIAR
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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