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Centro Universitário de Brasília-Uniceub

Faculdade de Ciências da Educação e Saúde-FACES


Curso de Psicologia

​ Reflexões sobre Psicologia comunitária nas Práticas da Saúde

Adrielly Soares Ximenes


RA:21500026

Brasília
DEZEMBRO/2020

0
Centro Universitário de Brasília-Uniceub
Faculdade de Ciências da Educação e Saúde
FACES Curso de Psicologia

​ Reflexões sobre Psicologia comunitária nas Práticas da Saúde

​Adrielly Soares Ximenes


RA:21500026

Brasília

DEZEMBRO/2020

Monografia apresentada
ao Centro Universitário
de Brasília-Uniceub como
requisito básico para
obtenção do grau de
Psicóloga.
Orientadora-Profa.Dra.
Valéria Deusdará Mori

1
​Folha de Avaliação

Autor: Adrielly Soares Ximenes


Título: Reflexões Sobre a Psicologia Comunitária nas Práticas da Saúde

Banca Examinadora:

__________________________________________________________________
Professora Dra. Valéria Deusdará Mori

DEZEMBRO/2020

2
DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado aos meus


pais, Suzimar e Fernando.

3
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Suzimar e Fernando, pelo apoio desde minha

decisão de iniciar o curso Psicologia até a sua conclusão, sem eles seria praticamente impossível

que eu tivesse condições de cursar uma faculdade e poder desfrutar de um diploma de graduação.

Agradeço alguns professores que me inspiraram de tantas formas e que foram responsáveis

por me apaixonar cada vez mais pelo campo da Psicologia, em especial a professora Tânia

Siqueira que desde o começo do curso sempre enxergou meu potencial e me apoiou quando

precisei. Ao professor Daniel Goulart, por me apresentar a matéria que me fez me apaixonar pela

pesquisa acadêmica, ao professor Leonardo Mello que com suas aulas sabiamente ministradas e

que me fez despertar o interesse pela área da Psicologia Social e por último, mas não menos

importante, a minha orientadora, Valéria Mori, que mesmo com o distanciamento social, me

orientou sabiamente para que eu pudesse concluir esta monografia. A todos os professores de

Psicologia do Uniceub, o meu muito obrigado.

Agradeço aos meus colegas de turma que estiveram comigo nesta longa jornada, de

aprendizado, apreensão, dificuldades, mas também de alegrias, momentos descontraídos e união.

Em especial às minhas colegas Rayele e Gabriela que estiveram comigo desde os primeiros dias

de aula e que hoje somos grandes amigas e companheiras. As minhas colegas Larissa, Fernanda e

Tatiane que estiveram sempre presentes nas aulas e que serviram de suporte para mim em

praticamente todas as matérias do curso, com ajuda mútua e leal nas conclusões dos trabalhos

acadêmicos. Aos meus colegas do Campus de Taguatinga que apesar de todo esse tempo se

manteve a união da turma e que agora serão meus colegas de profissão.

Agradeço a minha família que mesmo de longe sempre torceram pelo meu sucesso

acadêmico.

4
Agradeço a minha melhor amiga Malu, que nesses oito anos de amizade se manteve

presente e me apoiando em todas as dificuldades que enfrentei durante o curso e que sempre me

encorajou a persistir com o curso e assim poder concluí-lo.

5
​Defenda o SUS!

6
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo refletir sobre o papel e as ações da Psicologia
Comunitária nas Práticas da Saúde, se trata de um trabalho de cunho bibliográfico que
teve como fonte de pesquisa artigos acadêmicos, dissertações de mestrado, monografias,
livros e congressos acadêmicos, trabalhos que tratam do tema da psicologia comunitária,
psicologia da saúde, saúde comunitária e saúde coletiva. Todos os materiais consultados
escolhidos para estarem neste trabalho, trazem a ideia da psicologia comunitária como um
dos agentes responsáveis no trabalho nas comunidades e que o trabalho interdisciplinar é
o caminho mais importante para se percorrer junto com as comunidades em prol da saúde
coletiva e pública. Orientada pela teoria da subjetividade e dos sentidos subjetivos
presentes no processo de saúde da comunidade, o trabalho apresenta pesquisas
acadêmicas que comprovam que a vivência e o diálogo entre a comunidade e os
profissionais da saúde é o que faz que com que o trabalho na comunidade seja bem
sucedido, apesar das dificuldades ainda enfrentadas neste campo. O trabalho mostrou que
é necessário a defesa e a criação de políticas públicas para a melhora do Sistema Único de
Saúde (SUS), e que o papel da Psicologia é essencial nesta busca pela saúde pública de
qualidade e acessível.
Palavras-Chave: ​Psicologia Comunitária, Psicologia da Saúde, Saúde Comunitária

7
Sumário

Introdução​……………………………………………………………………………………….. 9

Psicologia Comunitária​…………………………………………………………………………. 13
Psicologia Comunitária Latina Americana​……………………………………………………. 15
Psicologia Histórico-cultural, Subjetividade e Psicologia Comunitária: Articulações entre
campos…​………………………………………………………………………………………… 17

Subjetividade e Saúde​………………………………………………………………………….. 20

Saúde Comunitária​……………………………………………………………………………... 23

A promoção de saúde no trabalho da psicologia comunitária​……………………………….. 26


A interdisciplinaridade da Psicologia Comunitária na área da Saúde​………………………. 28

Método Dialógico-vivencial na prática da Psicologia Comunitária​………………………….. 32

Considerações finais​…………………………………………………………...…………………​35
Referências​………………………………………………………………………………………. 38

8
Introdução

No decorrer do curso de Psicologia, sempre tive em mente a ideia de que a preocupação

com a saúde da população devia também ser um papel do psicólogo e um compromisso do mesmo

com a sociedade. No passar dos semestres algumas matérias foram essenciais para entender a

Psicologia da Saúde, principalmente no contexto brasileiro, sendo uma área atuação essencial no

SUS. O profissional de Psicologia inserido na área da saúde ainda precisa percorrer um longo

caminho, em busca principalmente de reconhecimento, e mostrar que ele é necessário e

indispensável dentro da equipe interdisciplinar de saúde.

Com isso, o trabalho a seguir se trata de uma monografia de cunho bibliográfico, que teve

como um dos critérios de pesquisa artigos, livros, dissertações e monografias que se encoraram na

visão da psicologia comunitária como totalmente inserida no contexto da saúde brasileira, e

também como o trabalho da psicologia comunitária pode ser um aliado na concepção da saúde

comunitária como um direito, como uma prática libertadora e como a comunidade é pode ser

totalmente ativa no seu processo de saúde-doença.

O tema específico da pesquisa será a Psicologia Comunitária e Saúde, será uma pesquisa

bibliográfica onde os artigos, livros e periódicos serão consultados para que se possa definir,

conceituar e caracterizar a psicologia comunitária e saúde. No que se entende de uma pesquisa

bibliográfica, ela tem como finalidade de prestar ao pesquisador um contato mais direto com

obras, documentos ou artigos que abordam o tema de pesquisa e estudo, a opção pela pesquisa

bibliográfica é uma garantia de que as fontes pesquisadas já tem o reconhecimento do domínio

científico, diferente da pesquisa documental que para sua pesquisa se utiliza de informações não

científicas como entrevistas, revistas, filmes, etc (Almeida, Guidane, Sá-Silva , 2009).

9
A fundamentação teórica é dividida em oito capítulos, onde o primeiro faz um apanhado

histórico e conceitual da Psicologia Comunitária e de como ocorre sua prática, de forma mais

geral e central. O segundo capítulo traz a história da Psicologia comunitária Latina- americana, e

como ela foi se moldando para o que conhecemos hoje em dia da prática da psicologia

comunitária. O terceiro, traz a articulação da Psicologia Histórico-Cultural, a Teoria da

Subjetividade e a Psicologia Comunitária, e como essas bases teóricas foram essenciais para a

concepção do trabalho prático da psicologia comunitária e a atuação dos profissionais na

comunidade.

A pesquisa se baseia na teoria da subjetividade, proposta por González Rey (1995, 2003a,

2003b), onde a base teórica da pesquisa se constitui por ser essencialmente uma teoria que procura

compreender a subjetividade, onde se reconhece o valor da história e da cultura, podendo assim

possibilitar o olhar para processos singulares, a teoria também permite segundo (Martínez &

Rossato, 2012, p.290)

(a) compreensão da subjetividade como sistema complexo, dinâmico e em

permanente mobilidade; (b) concepção do sujeito que ensina e que aprende

constituído na inter-relação tensa e contraditória entre a subjetividade individual e a

subjetividade social; (c) produção contínua de novos sentidos subjetivos capazes de

entrar no sistema de configurações subjetivas; (d) possibilidades de reconfiguração

subjetiva e mudanças nos núcleos das configurações subjetivas.

Os próximos capítulos começam a tratar da visão da Saúde primeiramente na visão teoria

da subjetividade e dos processos subjetivos implicados na concepção de saúde e doença.

Posteriormente a pesquisa toma um rumo para as questões comunitárias implicadas na saúde,

também o papel essencial do SUS como promotor de igualdade social, junto com a promoção de

saúde no trabalho do psicólogo comunitário.

10
Também é discutida a interdisciplinaridade e como funciona as equipes multiprofissionais

no trabalho da Psicologia comunitária no SUS. Por fim é discutido a técnica do método dialógico

vivencial no trabalho da Psicologia comunitária em ações voltadas para instituições dos SUS,

finalizando a discussão teórica que a pesquisa traz que é possível e é necessário que haja uma

ponte entre a psicologia comunitária e saúde e que a psicologia comunitária possui de suporte

teórico e técnico para lidar com as questões de saúde e doença na realidade brasileira.

Fazendo um diálogo entre esses dois temas tão abrangentes (Psicologia Comunitária e

Saúde), que de uma certa forma são complementares no que se trata das diversas atuações que a

Psicologia exerce. Este trabalho terá foco em discutir como as comunidades podem ser

responsáveis e ativas em seus processos de saúde e como o trabalho da psicologia comunitária

pode ser a ponte que liga o indivíduo inserido na comunidade aos seus processos de saúde,

diferente da ideia de que a psicologia/psicólogo é o detentor do saber.

Este trabalho também visa desmistificar essa ideia, irá abarcar as diversas possibilidades

que a psicologia comunitária pode trabalhar com a comunidade e as pessoas inseridas nela, como

o mediador que junto com a comunidade une os apetrechos necessários para uma saúde igualitária

e emancipatória. Discutir saúde será também responsável por evitar o discurso modelo biomédico

tradicional, onde o foco não se encontra na promoção de saúde e sim na falta de doença.

Para a promoção de saúde, oferecer poder e empoderamento são os pilares mais

importantes para a saúde individual e comunitária, o ato de empoderar as pessoas, os que

promovem a saúde, tornam os indivíduos e as comunidades aptos para poderem mudar suas vidas

e suas perspectivas sobre suas condições e como consequência sua saúde (Laverack, 2008).

O problema de pesquisa traz a discussão dos processos de saúde junto com a

problemática de que um país com tantas desigualdades, necessita do trabalho da psicologia

11
comunitária em conjunto com o trabalho interdisciplinar, para atuar junto com os indivíduos da

comunidade para que essas desigualdades sejam minimamente cessadas.

Contudo, trazer também discussões epistemológicas e teóricas que cercam o campo

da psicologia comunitária, como o papel da psicologia e do compromisso social, a articulação com

a saúde.

12
Psicologia Comunitária
A psicologia comunitária surge como um novo modelo dentro da Psicologia Social, com o

inconformismo de alguns autores sobre a psicologia social e de como ela estava afastada de

assuntos considerados importantes para a área como o compromisso social, a busca pela igualdade

social e a libertação do indivíduo. Também alguns autores buscavam pela emancipação e a

discussão de uma psicologia comunitária latino-americana, que olhasse para os problemas sociais,

que se diferencia da psicologia comunitária americana e europeia. Essas diferenças, aliás são

também no enfoque que a psicologia social desses países tinha.

Apontavam para temas e preocupações que a Psicologia Social tradicional

não considerava, contribuindo desse modo para a construção de modelos

de explicação e de ação importantes para a mudança do panorama

tradicional da Psicologia Social. Dentre desses conceitos e categorias

ressaltamos: mudança social, ideologia, alienação, representação social,

identidade social, sentido psicológico de comunidade, “empoderamento”,

grupo social, apoio social, realidade socialmente construída, atividade,

investigação-ação-participante, sujeito histórico-social, consciência crítica,

conscientização etc. (Góis, 2008, pp. 277-278)

Não existe portanto uma definição consensual, porém pode-se dizer que a psicologia

comunitária consiste em uma psicologia da ação para a mudança, onde os atores são as pessoas

comuns que estão presentes na comunidade e na vida cotidiana, e o papel do psicólogo é ser o

facilitador e não o líder dessa mudança, (Montero, 1994). Outra definição diz que a psicologia

social comunitária se utiliza da teoria da psicologia social, com o foco em trabalhos em grupo e

privilegiando a formação de uma consciência crítica, identidade social e individual que são

orientadas pelas normas éticas e humanas (Quintal de Freitas, 1996).

13
A prática do psicólogo comunitário está em promover por meio de ações educativas

individuais e coletivas com atuações diretas na comunidade. Pode também colaborar para a

criação de uma consciência crítica acerca do sistema de saúde que favorece a participação do

indivíduo na gestão da saúde e sua contribuição para que seja construindo uma autonomia dentro

de sua comunidade (Dias & Silveira, 2016).

Com isso o contato direto do psicólogo com a comunidade proporciona o momento de

traçar novas estratégias, por meio de uma abordagem chamada de e​mpowerment​1​. Outra prática da

psicologia comunitária é a partir da abordagem de participação, que segundo Rappaport (1990), é

onde se utiliza do fortalecimento dos indivíduos por meio de organizações de ajuda mútua, onde o

dever dos profissionais é colaborar junto com a comunidade e não os controlar.

A psicologia comunitária consiste em muitas visões, desde a sua constituição histórica à

sua práxis, com isso existem várias explicações epistemológicas e conceituais na literatura. Silva

& Svartaman (2016), apresentam três conceitos de comunidade e de como esses conceitos podem

orientar a práxis do psicólogo comunitário, tanto na atuação como em pesquisas. A primeira diz

que a comunidade é vista como um lugar de convivência e de apoio de experiências humanas

essenciais, com isso um local fundamental de ética do convívio; segundo, comunidade vista como

local de concepção do sofrimento e humilhação social, e assim, um local que administra mudanças

psíquicas e relação a forma de atuação política mais organizadas e consistentes; e por último,

comunidade vista como de uma perspectiva utópica e inspiradora de mudanças sociais, com ponto

ideal organizador de atividades educacionais populares críticas, podendo haver articulação entre

os fatores que desencadeiam a luta de vários grupos e o entendimento do funcionamento da

totalidade social.

1
​Um processo de reconhecimento, criação e utilização de recursos e de instrumentos pelos indivíduos, grupos e
comunidades, em si mesmos e no meio envolvente, que se traduz num acréscimo de poder –psicológico, sociocultural,
político e econômico –que permite a estes sujeitos aumentar a eficácia do exercício da sua cidadania. (Pinto, 1998,
p.247.)

14
Psicologia Comunitária Latina Americana

A psicologia comunitária latino-americana que surgia em meados dos anos 70, tinha como

base por se diferenciar-se da psicologia comunitária estadunidense que partia da premissa de uma

psicologia comunitária mais liberal, diferentemente da psicologia comunitária latino americana,

que visa mais a comunidade e a libertação dos indivíduos (Prado, 2002). Com um enfoque na

Saúde mental, a psicologia norte-americana passou a se preocupar com a reintegração dos doentes

mentais na sociedade, incentivando a prevenção do sofrimento humano, junto com a promoção

positiva da saúde mental (Ornelas, 1997).

Portanto, a psicologia comunitária latino-americana traçou algumas características que

orientavam sua pesquisa, teoria e prática. A primeira delas tratava de uma orientação para a

mudança social baseada no desenvolvimento individual e social, com o olhar para a solução de

problemas psicossociais (como saúde, moradia, educação, meio ambiente, lazer, etc.), ter uma

visão histórica da psicologia e seu objeto, cuja essência é fundamentalmente dinâmica e dialética e

considerar que a relação de pesquisa é entre dois atores sociais em interação dialógica. (Montero,

1993). Também se atentou a desenvolver uma estrutura teórica e metodológica heterogênea, mas

ao mesmo tempo buscar a alimentar ideias, hipóteses e explicações que surgem em contato com a

realidade e que atualmente está em processo de produção de uma teoria psicossocial comunitária

(Montero 1993 apud Serrano-García & Rosario Collazo, 1992).

A imersão da psicologia comunitária surgiu da revisão, principalmente no contexto

latino-americana, onde se destaca por "enforcar" os processos psicossociais que existem na

comunidade, por inserir-se em diversos campos, entre eles movimentos sociais e as políticas

públicas também por mostrar um acervo teórico-metodológico heterogêneo ainda em formação.

(Freitas, 1998, 2005; Scarparo & Guaresch, 2007 apud Barros & Ximenes, 2009)

15
A psicologia comunitária latino-americana teve início pela luta popular, com movimentos

sociais, dando ênfase no movimento de saúde mental onde se tem desta que a mudança da ideia de

saúde e participação da comunidade. Essa mudança de perspectiva de uma saúde curativa para

prevenção e promoção de qualidade de vida teve início a partir da luta antimanicomial e o foco na

comunidade como edificadora de sua saúde mental, favorecendo as relações sociais (Bonfim &

Lima, 2012)

Orientada por uma práxis libertadora, a psicologia comunitária a partir de suas próprias

condições (atuais e potenciais), vem desenvolvendo na comunidade os seus potenciais pessoais e

sociais (Góis, 2008). Com isso, essa prática segue orientada por duas visões, sentido coletivo e

sentido (significado pessoal), que a própria atividade e vida em comunidade proporciona para seus

moradores (Góis, 2005). A comunidade é integrada por um espaço territorial onde a subjetividade

é construída nas relações entre os moradores em contextos sociais que vivem. Vínculos afetivos

são construídos, junto com o sentimento de pertença e com problematizações do cotidiano e suas

realidades (Júnior & Ximenes, 2010).

Com influência da psicologia social crítica, a psicologia comunitária se volta para o

conhecimento científico junto com os saberes populares e propaga na práxis o diálogo, como

modo de derrubar a opressão e a exclusão que existem nas classes populares (Bonfim & Lima,

2012). Ao falar do papel do diálogo na psicologia comunitária Martin-Baró (1996), discute que no

diálogo é possível que a prática venha do contexto dos indivíduos comunitários, de uma reflexão

de seus problemas, e do envolvimento nas questões sociais, sendo assim o autor traz uma proposta

de postura política que transforma a realidade social, com uma prática histórica e que se

contextualiza na realidade. Assim entendemos que a neutralidade na ciência é uma ilusão, sendo

que o psicólogo se compromete com a realidade.

16
Psicologia Histórico-cultural, Subjetividade e Psicologia Comunitária: Articulações entre

campos.

Em um estudo sobre a questão da subjetividade social em criação de políticas públicas

González Rey & Martins (2015), discutem que não existe subjetividade social sem contribuições

individuais de cada sujeito, da mesma forma que não há como um sujeito que se constitua fora de

um grupo, sociedade ou comunidade. A teoria da subjetividade que categoriza a subjetividade

individual e social advém da perspectiva histórico-cultural de Vigotsky, Rubstein e Luria. A

Psicologia Histórico-cultural contribui para uma visão integradora, onde se rompe com a

dicotomia do individual-social, considerando o homem com sua historicidade e imerso em uma

cultura constituinte que a ao mesmo tempo é constituída pelo homem (González Rey & Martins,

2015)

No seguimento da tradição Histórico-cultural o autor González Rey avança em seus

estudos sobre a personalidade e formula uma metateoria​2​, onde se busca a definição de

subjetividade a partir da perspectiva histórico-cultural, nessa teoria é considerado as relações

humanas históricas, dialéticas e dialógicas como impulsoras da abertura da dicotomia

individual-social, agregando também a psique “como como sistema recursivo, complexo,

dinâmico e multidimensional.” (González Rey & Martins, 2015, p. 51).

Com esse breve resumo, vamos agora articular a perspectiva histórico-cultural com a psicologia

comunitária, e as contribuições de Vigotsky para a área. Relembrando o papel da psicologia

comunitária Góis (1994), diz que o psicólogo comunitário não é apenas o profissional que realiza

diagnósticos da comunidade e prática intervenções, ele também realiza um estudo do modo de vida

comunitário e como este modo de vida se reflete e se transforma na mente das pessoas daquele local,

e assim aparecer novamente nas atividades concretas do cotidiano daquele local.

2
A metateoria é tida como área do conhecimento que teoriza sobre teorias de outros campos científicos, normalmente
duas ou mais, conferindo-lhes legitimidade, uma vez que se não a seguirmos, as teorias ficam desacreditadas (Laze,
2013). A metateoria preocupa-se, portanto, com a investigação, análise e descrição das teorias. (Dalessandro et al.,
2018, p. 06)

17
Por volta de 1924, Vigotsky começou a se dedicar a escrever sobre a consciência como um

objeto de estudo da Psicologia, elaborando teoricamente de uma forma contundente sobre as

relações sociais com a mediação semiótica em sua constituição. Assim, nos anos 80, autores como

Góis (2005) e Lane (1995) o usam como exemplo e designam a consciência como uma das

condições centrais da psicologia comunitária. Vigotsky deixa o seu legado oportunizando que a

categoria de destaque aparece neste caso como uma questão complexa idealizada por várias

atividades mediadas, e não como uma substância ou um epifenômeno​3​, como se poderia conceber

à luz das referências idealistas (Barros & Ximenes, 2009).

Tendo em vista esse enlace, é importante acrescentar algumas questões específicas da obra

de Vigotsky que podem auxiliar os psicólogos comunitários com os estudos dos processos

psicossociais. A mediação semiótica é um conceito e um exemplo que ilustra de forma bem ampla

a possibilidade do acréscimo das reflexões do pensamento de Vigotsky com a práxis do psicólogo

comunitário. Se tratando de uma boa chave de análise onde se aborda de uma forma não dualista

das interações sociais e os movimentos nos quais seus agentes produzem um conhecimento e que

transformam suas realidades, com o intuito de entender o que implica esses processos na

construção das subjetividades e dos modos de vida da comunidade (Barros & Ximenes, 2009).

Agora, pensando em uma articulação da subjetividade com a comunidade, González Rey (2003),

desenvolve a categoria do sentido subjetivo para compreender como a subjetividade é organizada

como um processo, em que essa definição é a representação central da categoria da teoria da

subjetividade e com ela pode compreender os diferentes processos sociais e individuais que são

configurados na experiência do indivíduo. Os sentidos subjetivos são organizados em espaços

simbólicos, sendo assim o autor tem a preocupação de especificar qual a relação entre o individual

e o social em sua organização (Mori, 2015). Os sentidos subjetivos são produções que exercem

lugar durante a vida social e cultural, porém não causas determinantes de uma para outra, nem
3
​ Segundo o dicionário, se trata de um termo usado na filosofia para atribuir que o valor da consciência usada apenas
de maneira acessória, não é capaz de determinar ou influenciar o comportamento humano.
<https://www.dicio.com.br/epifenomeno/>

18
reflexos desses múltiplos processos, o que pode ser uma nova produção que se específica em

efeitos para quem os vivência (González Rey, 2010).

Pensar a comunidade não é excluir que ela é dotada de configurações subjetivas

construídas nas relações do cotidiano, sobre isso González Rey (2015) afirma que, a configuração

subjetiva pode ser contextualizada na comunidade como a complexa integração qualitativa e uma

diversidade da vida social dos indivíduos por meio dos processos e sentidos subjetivos singulares

que esses indivíduos constituem em suas diversas atividades. Pensar o social em toda sua

diversidade e ampliação, apenas é possível de se tornar estudo para as ciências humanas e sociais a

partir das diversidades de criações subjetivas singulares que os indivíduos compartilham em uma

trama social.

Relacionando a própria comunidade como exemplo, ao tentar implantar nesta comunidade

um programa de psicoterapia comunitária, baseando-se no estudo das configurações subjetivas,

podem ser geradas hipóteses sobre o funcionamento da comunidade, bem como as produções

simbólicas que este espaço social estabelece. O autor continua com a ideia de que o cenário social

ou a instituição, só é visto de forma relevante para os indivíduos em suas configurações subjetivas

e que compartilham desses mesmos espaços sociais.

Esse significado de uma realidade vivenciada para o indivíduo resulta, não das ideias e

falas explícitas que estão presentes nesse espaço social, mas da aplicação de elementos diretos do

funcionamento desses espaços que não são visíveis pela aparência empírica destes locais.

Pensando nesse sentido, a subjetividade pode ser considerada um conceito subversivo, que permite

entender sobre características do social que se mantém ocultos às práticas e discursos dominantes

de uma realidade social (González Rey, 2015).

19
Subjetividade e Saúde

A partir desses pontos, entende-se a psicologia comunitária como integrante de práticas

comunitárias, de psicologia, consciência e saúde (Góis, 2005). O trabalho da psicologia

comunitária também é responsável por interferir de forma a garantir direitos à saúde dos

indivíduos, colocando-os como protagonistas dos seus processos de saúde, os emancipando e

educando a comunidade como sendo ativos e responsáveis pela saúde e bem estar geral.

Dito isso, para começarmos a falar de saúde e como a psicologia comunitária está

envolvida com este processo, é preciso primeiramente definir o processo de saúde. O processo de

saúde é constituído pelo social, também pelos processos individuais que se estabelecem nessa

experiência, assim como o adoecimento é também constituído e demarcado pelo social e não

apenas pelo individual (Mori & González Rey, 2012). Os autores, complementam alguns pontos

importantes sobre saúde, primeiro que a saúde precisa ser considerada como um processo que é

permanente e integrante ao social, ao cultural e a história, que se diferenciam de acordo com as

pessoas e a sociedade. González Rey (2004a), afirma que não se associa saúde a um estado de

normalidade, se trata de um processo que o indivíduo está totalmente ativo e participativo em sua

qualidade e completa que a saúde se trata de uma questão plurideterminada, envolvendo processos

genéticos, sociais e psicológicos.

González Rey (2011a), traz em sua obra sobre subjetividade e saúde, uma crítica da

apropriação influente da perspectiva causal e determinista da saúde, onde se enxerga a patologia

como uma entidade que reduz o sujeito a uma vítima da doença e totalmente externo a ela, onde

não se considera as configurações subjetivas que vem de desdobramentos complexos a partir do

modo de vida do indivíduo. A conclusão disso foi uma perda total da condição de sujeito por parte

de pessoas atendidas nos processos terapêuticos, onde as práticas médicas institucionalizadas

transformaram o homem um ser indefeso e refém e sem competências, comparado a quaisquer

condições consideradas patológicas (Costa & Goulart, 2015).

20
Com essa perspectiva, a saúde é entendida como uma qualidade de processos de vida, não

como uma propriedade de ter ou não, ela começa ser vista como uma expressão integrada do

desenvolvimento humano e sua promoção pode ser somente entendida como uma fórmula integral

do desenvolvimento humano, entendendo como fundamental o papel das instituições que atuam na

sociedade onde ela é produzida. A saúde mental como exemplo, o transtorno deixa de ser

entendido ​a priori c​ omo uma entidade patológica e sim entendido como configurações subjetivas

de processos momentâneos da vida do indivíduo, esses processos o impede de criar novos sentidos

subjetivos e que por um tempo o atormenta emocionalmente. Porém, no surgimento de uma nova

psicoterapia é onde se deve reconhecer no sujeito seus potenciais que são geradores de sentidos

subjetivos para a mudança no seu estilo de vida (Costa & Goulart, 2015).

Na discussão da subjetividade no processo de saúde-doença, González Rey (1997,1999)

citado por Mori & González Rey (2011), traz a ideia de que a subjetividade não é formada por um

processo individual e intrapsíquico, mas que está eventualmente nas organizações da vida das

pessoas e nos espaços sociais. A configuração da subjetividade é histórica e cultural, mas não se

trata de uma cópia ou uma internalização social, portanto é uma elaboração que acontece resultada

de várias e simultâneas consequências da vivência do indivíduo.

No que tange o processo de adoecimento, a subjetividade individual e social se articula de

uma forma que esses sistemas formam com o tempo uma criação da pessoa relativos aos

desdobramentos desse processo, com isso a posição do indivíduo é importante para que essa

experiência do adoecimento faz com que os processos de subjetivação possam determinar se é

possível gerar alternativas ou não. Uma vez que não há possibilidade para a criação de

alternativas, o enfrentamento da doença e no desenvolvimento durante sua vida de forma geral, se

torna mais um elemento que gera sofrimento e enfraquecimento da pessoa e acrescentando a

infelicidade neste processo (Mori, 2015).

21
Já na subjetividade social, há várias reverberações para a saúde humana que não podem ser

vistas como uma relação de causa e efeito, a não ser pelos efeitos colaterais que aparecem nas

configurações subjetivas, que se diferenciam pelas pessoas no processo da convivência com a

doença. Os sujeitos e suas ações não se separam da rede dos sentidos subjetivos que aos poucos se

organizam durante esse processo (González Rey, 1997 apud Mori & González Rey, 2011). Assim

a produção subjetiva do indivíduo no processo de saúde e doença se organiza a partir de diferentes

elementos presentes na sua história individual, na convivência social e na cultura que está inserida.

Sua história e o momento em que se encontra a vida do indivíduo não são relações determinadas,

mas se constituem como configuração complexa dos processos subjetivos, a saúde ou a doença

com esses termos, são subjetivados pelo sujeito em sua vida, onde lhe é possibilitado criar

diferentes produções de sentido relacionados a elas. Isso implica em entender que nenhum desses

processos existem de forma abstrata ou que são representações dadas, mas que são fenômenos

presentes e subjetivados socialmente e individualmente (Mori & González Rey, 2011).

Refletindo o tema da saúde como um processo subjetivo, nos possibilita articular

diferentes registros da organização do fenômeno humano. Usar a teoria da subjetividade como

uma ferramenta teórica, permite que esses aspectos representem a psique humana a partir da

perspectiva histórico-cultural em uma realidade complexa. (Mitjáns, 2005 apud Mori, 2015).

Também permite o avanço na compreensão dos processos de saúde e doença como configurações

multideterminadas que vão além da visão reducionista de processos somáticos e integram assim os

aspectos individuais e sociais da sua origem (Mori, 2015).

Com isso partimos de dois pontos importantes: o indivíduo é ativo em seu processo de

saúde e a saúde também engloba o social e o individual. É neste ponto que a psicologia

comunitária entra como uma forma de trabalho em que se coloca os moradores de uma

determinada comunidade como atores de seus processos de saúde. Onde o psicólogo comunitário

não pode colocar-se em posição de promotor da transformação social, a intervenção proposta por

22
ele tem como como função potencializar ações concretas da realidade comunitária e transformá-la,

com isso a saúde comunitária se trata de uma conjuntura de atividades com a concepção de saúde,

a partir do momento que se propõe criar uma abertura para o diálogo, atividades e vivências, com

a finalidade de promover potencialidades que todas comunidade possui, fortalecendo grupos e as

redes comunitárias de apoio, proteção e cuidado, com o foco principalmente na promoção e

prevenção (Abreu et al., 2017).

Saúde Comunitária

O trabalho prático da psicologia comunitária no contexto da saúde comunitária, implica em

um trabalho coletivo, junto com os membros da comunidade e os serviços de saúde existentes

nessa comunidade e interdisciplinar, assim analisando os problemas de saúde que a comunidade

enfrenta, podendo procurar soluções para esses problemas através de programas que esses serviços

de saúde dispõem para comunidade. Tem como objetivo contemplar as necessidades concretas da

comunidade, as existências de riscos para a saúde da mesma, prevenção de enfermidades, também

a cura se estivesse produzindo e por fim a educação emancipadora das pessoas da comunidade

(Martín González et al, 1993).

Na Saúde comunitária, a saúde é entendida como um valor que se apresenta de diferentes

formas de acordo com cada morador da comunidade, com isso é preciso criar um local onde há

espaço para o diálogo, vivência e ação com intuito de criar um olhar e uma prática coletiva de

saúde. Com ela é formado uma espécie de prática institucional e comunitária, que se direciona

para uma organização e articulação de ações e serviços de saúde para a comunidade, ao entender

que a saúde é uma responsabilidade social com e da comunidade, afirma-se como um processo e

não como um recurso com o fim em si mesmo. Há uma preocupação que fomenta e facilita a

formação e o fortalecimento dos grupos comunitários, trabalhando com os moradores metas

direcionadas, com aspirações compartilhadas, que se integrem e que cada vez mais fortaleça e

23
apoie o formal e o informal, com isso se geram redes comunitárias de proteção e cuidado. Todas

essas ações são para enfatizar a prevenção de promoção, a educação com estratégias

metodológicas para a participação social (Góis, 2008).

Ter um olhar para a comunidade com suas fragilidades e com seu potencial de saúde e

desenvolvimento, não significa “apagar” as desigualdades sociais, diferença de classe, submissão

e identidade de oprimido, mas sim mostrá-las, compreendê-las em direção a saúde da população,

da vida, da libertação e da cidadania. A saúde comunitária é entendida como práxis da vida, com a

libertação e cidadania na/em comunidade e se constitui com referência ou um novo caminho para

redução permanente dos problemas na atenção primária. Por isso, os profissionais de saúde

necessitam compreender a saúde do indivíduo pobre dentro da lógica social desumanizadora, em

um realidade social que também se mostra com um potencial transformador, onde passa ser capaz

de levar a população a ideia de submissão e impassibilidade da sua própria identidade de oprimido

(Góis, 2008)

Outra visão da saúde, mas partindo da perspectiva da saúde como direito social, Badiziak e

Moura (2010) citam Puccini e Cecilio (2004), discutem que a saúde necessita ser entendida como

um direito social, com isso as políticas públicas de saúde não podem se restringir a uma forma

limitada de saúde ou à forma organizacional de seus serviços. divididas entre ações de caráter

coletivo e individual e entre prevenção e cura. Olhando de uma forma mais abrangente, saúde não

se reduz à esfera biológica do indivíduo, é indispensável estratégias que integram aspectos

políticos e sociais, para além, só serão alcançadas novas perspectivas de saúde com a participação

comunitária efusiva na criação e implementação de projetos de interesse geral.

De acordo com a realidade brasileira, pensar a saúde pública é entender que ela é um dever

do estado, garantido como direito de todos na constituição, pode-se afirmar que não é apenas um

papel da psicologia, é também dever do cidadão ser participativo nas discussões, construções,

24
intervenções. monitoramento e avaliação de políticas públicas. É importante também ressaltar que

se deve somar o direito de acesso à saúde com outras áreas de atuação, desde e a medicina a

terapia ocupacional, do direito à antropologia, entre outras (Conceição et al., 2015). A integração

do profissional da psicologia com outros profissionais da saúde é importante, visto que os

processos de saúde-doença são diversos (Muller, 2007).

A organização do SUS, junto com as políticas públicas preventivas da saúde, trazem a

Estratégia Saúde da Família (ESF), como uma melhoria na qualidade de assistência e garante

acesso ao primeiro nível de atenção, fazendo com que se reorganize a porta de entrada no sistema

de saúde. Também é incorporado uma lógica de um trabalho com um vínculo junto à comunidade

e interdisciplinar, nas quais as atribuições são de prestar uma assistência integral, contínua e

focalizada de acordo com a demanda, seja ela espontânea ou orgânica. É enfatizado também ações

de promoção, proteção e recuperação da saúde com prioridade no caráter preventivo, o trabalho é

sempre sob a ótica das equipes dirigidas para populações de territórios limitados (Carvalho, 2015).

Por meio do vínculo com a população, as equipes multiprofissionais conseguem adquirir o

compromisso e a corresponsabilidade dos usuários e da população da comunidade no cuidado da

saúde, usando um movimento promotor que se integra a uma nova organização do sistema de

saúde, sendo mais democrático e participativo, onde as comunidades se organizam e exercem o

controle social das ações e dos serviços de saúde (Carvalho, 2015).

Em seu desenvolvimento com o passar dos anos o SUS necessitou criar uma forma de

atendimento que precisava ser voltado para questões comunitárias e preventivas. Sendo um

sistema que é destinado à toda população brasileira, financiado com recursos advindos de

impostos e contribuições sociais, pagos pelos cidadãos e que são administrados pelo governo

federal. Os principais objetivos desta grande ação pública é a promoção da saúde, dar prioridade a

ações preventivas e a democratização de informações importantes para que a população saiba seus

direitos e riscos à saúde (Dias & Silveira, 2016). O SUS pode ser considerado uma das políticas

25
públicas mais férteis para a superação de desigualdades no país, sua manutenção junto com seus

programas e propostas democratizantes, inclusivas e participativas podem gerar diversos processos

de subjetivação de uma população discriminada ou excluída por questões de etnia, gênero ou

sexualidade (Conceição et al., 2015).

Os serviços de saúde intermediados pelo SUS, se abrem e se aprofundam nas relações do

próprio serviço, dos profissionais e da população, principalmente a oprimida. O usuário pobre

passa a ser visto como usuário cidadão e começa a haver uma interação entre os profissionais e a

comunidade. O SUS é capaz de transformar a saúde em atos de cidadania, sendo a cada dia mais

considerado como um sistema sanitário socialmente justo, também por apresentar condições

técnicas e de gestão adequadas para o desafio que é visto a saúde brasileira e pelo avanço da

democracia depois de vintes anos de ditadura militar, ocorrido entre 1964-1984 (Góis, 2008).

A promoção de saúde no trabalho da psicologia comunitária

O movimento de promoção de saúde pela psicologia nas comunidades é composto por

profissionais engajados com o propósito de deselitizar a profissão, e dar oportunidade de acesso a

todas as camadas da sociedade, porém ainda é preciso percorrer um longo trajeto (Bevilaqua et al.,

2009). Como práxis da vida, entende-se que a saúde comunitária, a libertação e a cidadania em/na

comunidade se constitui como referência ou caminho para reduzir efetivamente os problemas da

atenção primária na saúde, com isso os profissionais da saúde necessitam entender a saúde dos

mais pobres dentro da lógica social desumanizadora, em uma realidade social, que pode ser

também um potencial transformador, capaz de levar as pessoas a superarem a ideia de submissão,

impassibilidade e a identidade do oprimido e opressor (Góis, 2008.)

Em diversos espaços de atuação e formação profissional em saúde, o debate mais profundo

que se dirige a busca da racionalidade relacionada aos serviços de saúde, para que houvesse um

26
atendimento mais eficaz à população. Portanto, para que isso ocorra seria preciso que essa

racionalidade atendesse a três importantes condições. A primeira diz respeito à hierarquização dos

serviços de saúde, assim sendo fornecido para aqueles que fossem prioridades dentro do quadro de

saúde-doença, onde a população se encontra. A segunda com direção à possibilidade e incentivo

da participação da comunidade, para que a comunidade pudesse ser escutada em suas

necessidades, mas também que houvesse um posicionamento de forma construtora de se fazer

novos modos e fazeres do cotidiano, junto com o compartilhamento de conhecimentos e dúvidas

sobre sua condição ou não de saúde. E a terceira com a defesa da multiprofissionalidade, pois era

revelado a necessidade da existência de distintas equipes profissionais de diferentes formações,

com um trabalho voltado para a totalidade histórica, para que o fenômeno de saúde-doença seja

compreendido de forma sócio-histórica (Quintal de Freitas, 2015).

É importante valorizar os determinantes sociais da doença e o contexto de onde ela

aparece, junto com a inserção e participação da população como atores sociais, que podem ajudar

na construção de processos saudáveis com seus enfermos e com suas vidas. Com isso também era

visto a necessidade da reunião de equipes multiprofissionais, que nas diferentes formações que se

focam no compromisso de superar as condições que favoreciam o processo de adoecimento das

pessoas (Quintal de Freitas, 2015).

Significa também que todas as pessoas envolvidas nesse processo, principalmente os

usuários e suas famílias, para que haja a participação no processo contínuo de educação e

aprendizagem, onde seja possível a transformação e melhora das condições de vida e saúde.

Necessita também um tipo de relação e trabalho junto com a equipe e a população seja horizontal

com uma participação colaborativa. Colocando as pessoas da comunidade em uma posição de

sujeitos ativos em volta de um projeto comunitário comumente coletivo da melhora e das

condições de saúde e existências (Quintal de Freitas, 2015).

27
Ações de educação em saúde, em uma visão ampliada do cuidado e da saúde, necessita da

participação do usuário para que possa mobilizar e capacitar e desenvolver aprendizagens e

habilidades tanto como individuais e sociais para se envolver com os processos de saúde e doença

e também se estendendo a concretização de políticas públicas saudáveis. Os profissionais de

saúde, junto com a população são atores sociais que ficam em constante interação, e a promoção

de saúde se torna a finalidade essencial para a atuação dos profissionais de saúde em todos os

âmbitos assistenciais (Machado & Vieira, 2009).

Porém ainda há algumas dificuldades em se implantar uma educação emancipadora da

saúde, é o fato de ainda estar predominante na população a visão de qualidade de vida associada à

cura da doença e da medicalização. A desconstrução dessa visão para uma que implica na

concepção da promoção e prevenção de saúde como um processo longo e difícil, se trata de um

processo em que várias ações individuais e coletivas, necessitam de um planejamento conjunto a

ser apoiado pela equipe de trabalho e também da gestão das políticas de saúde pública (Quintal de

Freitas, 2015)

A interdisciplinaridade da Psicologia Comunitária na área da Saúde

Em sua trajetória de construção, o SUS retifica o conceito de saúde que passa por

algumas mudanças ao decorrer dos anos. Assim é entendido que saúde não é apenas ausência de

doença, foi percebido que as ações em saúde necessitavam ser estendidas para atender

intervenções que se baseiam em um cuidado integral. Com isso houve uma necessidade de que

outros profissionais fizessem parte dos diversos serviços de saúde que os três níveis primários,

secundários e terciários prestavam à população, tornando assim a saúde um movimento

multidisciplinar, incluindo a psicologia cada vez mais no SUS (Airpini et al., 2015).

28
Para que se possa falar da importância da interdisciplinaridade no trabalho da

psicologia na saúde é importante ressaltar as diferenças entre interdisciplinaridade,

multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. Esses três conceitos tão importantes para entender

como funciona o atendimento na saúde através dos SUS é bastante confundido e até desconhecido

pelos profissionais de saúde.

É considerado o trabalho multidisciplinar aquele que avalia o paciente visando-o de

forma independente e seu tratamento é executado de uma forma que vários serviços são prestados

de acordo com a orientação do médico para com o restante da equipe, isso quer dizer que o médico

é o responsável geral pelo tratamento do paciente e os outros profissionais se adequam com as

demandas do paciente e as decisões do médico (Bruscato et al​., 2004). Sendo assim a equipe

multidisciplinar precisa construir entre os profissionais uma relação que priorize o paciente como

um todo e assim partindo para um atendimento humanizado (Fossi & Guareshi, 2004), focando-se

assim nas demandas globais do indivíduo priorizando seu bem estar, é importante ressaltar que

para que esse vínculo ocorra é preciso que o paciente e os profissionais estejam respaldados por

um atendimento psicológico adequado, por isso é tão importante a inserção do profissional da

psicologia no ambiente hospitalar (Gonçalves et al., 2012).

A interdisciplinaridade é uma abordagem que agrega todos os profissionais da

saúde e com isso a equipe é responsável por toda assistência à saúde. A visão da

interdisciplinaridade é que possa haver uma colaboração entre profissionais distintos e diferentes

áreas do saber e qualificações, com uma integração entre a equipe que precede o atendimento à

saúde de forma ampla e que transcenda o conceito conhecido de saúde (Gonçalves et al., 2012).

Com isso a saúde não necessita ser competido a um profissional (geralmente o

médico), mas sim uma prática interdisciplinar que vários profissionais representantes de diversas

ciências, se agreguem nas equipes de saúde, com objetivos de estudarem as relações somáticas e

29
psicossociais e assim encontrarem métodos adequados que sejam propensos à uma prática que

entregue, com enfoque total dos aspectos inter-relacionados à saúde e doença (Maldonado &

Canella, 2009).

Já a transdisciplinaridade propõe uma mudança que tenta suprir uma anomalia no

sistema anterior, sem acabar com o antigo, contudo, se consolida mais ampla e aberta. A

transdisciplinaridade necessita que se decorra o desenvolvimento dos conhecimentos, da

complexidade humana e da cultura. Como uma nova modalidade, a transdisciplinaridade busca

entrelaçar a genética, o biológico, o social também o espiritual ou o sagrado que também devem

ser validados (Gonçalves et al., 2012).

É entendida como uma epistemologia e uma metodologia oriunda da trajetória

científica contemporânea, sendo ajustada aos movimentos societários atuais (Paul, 2005). Há uma

preocupação na transdisciplinaridade de que haja uma interação entre disciplinas, promovendo o

diálogo com várias áreas de conhecimento e suas ferramentas, visando a cooperação entre essas

diferentes áreas (Iribarry, 2003). Contudo, é fundamental o trabalho em equipe no atendimento à

saúde sendo que médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes

sociais, técnicos de enfermagem, entre outros profissionais que se envolvem no atendimento criem

uma forma de agregar o indivíduo como um todo e assim dotando de um atendimento humanizado

que contemple todas as necessidades do paciente (Gonçalves et al., 2012).

Dito as diferenças e as funções da interdisciplinaridade no atendimento à saúde, é

importante agora falar sobre o trabalho do psicólogo dentro da equipe multidisciplinar. Airpini et

al (2015), explica que as práticas psicológicas que se desenvolvem na Atenção Básica (nota de

rodapé) se demonstram frágeis no trabalho psicológico. Essas fragilidades se destacam

principalmente um atendimento clínico individual, com ações pouco contextualizadas e problemas

de trabalho em equipe. Existe um descompasso entre as práticas do trabalho psicológico e o que

30
prega os princípios do SUS, e sendo um possível reflexo da formação em Psicologia, onde

disciplinas sobre Saúde Coletiva e Psicologia da Saúde se mostram insuficientes, fazendo com que

muitos recém-formados terminem o curso com lacunas nessas áreas. Torna-se então um desafio a

Psicologia no que se diz respeito uma qualificação na formação para uma atuação que se encaixe

com o SUS (Airpini et al., 2015).

No que se trata das ações de caráter coletivo é possível encontrar as contribuições

da psicologia comunitária e como estes trabalhos subsidiam as estratégias de trabalho em grupo,

que contribuem para o fortalecimento comunitário que envolvem os processos de participação e a

conscientização das relações do cotidiano, dentro ou fora das UBS (Quintal de Freitas, 2015). O

campo da psicologia comunitária pode trazer contribuições que permitem compreender a relação

que adquire entre as equipes profissionais da saúde e da comunidade, também relações internas da

equipe. Essas contribuições se situam em uma captação e na compreensão dos processos, e como

são significados psicossociais na vida cotidiana dos profissionais e da população. Nos diferentes

lugares que atuam no campo da saúde se encontram diferentes profissões, postos e cargos, no qual

os poderes provenientes, sejam simbólicos ou materiais, colaboram de formas existentes distintas

de práticas e atuações (Quintal de Freitas, 2015).

Essas atuações são direcionadas a pessoas que se encontram geralmente em

posições fragilizadas e vulneráveis em razão da realização dessa forma de trabalho, portanto,

estarem de alguma forma enfermas. Ao lado disso, os valores, julgamentos e concepções que

profissionais poderiam fazer em direção a população e de suas enfermidades, no sentido de

reivindicar as responsabilidades disso, também se constituem um novo fator para ser considerado.

É importante quando é pretendido aumentar as condições que fortalecem a realização dos

trabalhos no campo da saúde se implicam na superação e a eliminação das condições precárias da

vida e da saúde (Quintal de Freitas, 2015)

31
Método Dialógico-vivencial na prática da Psicologia Comunitária

A psicologia da saúde no seu desenvolvimento estimulou o trabalho do psicólogo no

campo da promoção de saúde e prevenção, junto com a participação nas equipes interdisciplinares

de saúde, que ocorrem em instituições de saúde e no trabalho comunitário, fazendo assim a

psicologia um espaço importante de promoção e prevenção. Em seu desenvolvimento, a psicologia

comunitária que pratica seu trabalho na área da saúde, sendo quaisquer orientações teóricas que se

baseiam, reformulou os moldes rígidos que eram definidos em pesquisas e práticas psicológicas

(González Rey, 1997).

Pensando nisto, Amaral et al (2012), realizaram uma pesquisa que relatam a experiência da

prática da psicologia comunitária no campo da saúde em uma UBS​4​( Unidade Básica de Saúde),

segundo as autoras, a pesquisa teve um dos enfoques demonstrar, que em questões éticas, é

importante romper os moldes do atendimento psicológico tradicional, principalmente quando essa

ética é construída a partir dos princípios da interdisciplinaridade. Em suas considerações finais

sobre o trabalho de estágio, a pesquisa demonstrou que uma análise das estratégias de atuação em

comunidades. a partir da psicologia comunitária, é possível contribuir para ações introduzidas às

necessidades da comunidade atendida pela ESF​5 (Estratégia Saúde da Família). Com isso,

permitiu-se que os usuários não fossem vistos apenas como seus sintomas e doenças, mas também

pelas condições que conseguissem auxiliar em seu tratamento e manutenção da saúde.

Já a pesquisa de Moreira et al (2013), relata a participação comunitária nas ações da

psicologia comunitária. A partir de um projeto de extensão focado na saúde comunitária em um

bairro da cidade de Fortaleza/CE. O objetivo do projeto foi facilitar o diálogo e a participação da

comunidade nas atividades de saúde mental do local. Dinâmicas de grupo, rodas de conversas,

4
​ As Unidades Básicas de Saúde ou UBS são preferencialmente as primeiras portas de entrada ao Sistema Único de
Saúde (SUS), tem como objetivo de atender até 80% dos problemas de saúde da população, evitando assim a
necessidade de encaminhamento a outras unidades como hospitais ou emergências (Brasil ,2020).
5
​ Estratégia saúde da família (ESF), busca a promoção da qualidade de vida da população brasileira, com intervenções
em atos que colocam a saúde em risco, como sedentarismo, má alimentação e tabagismo (Brasil, 2020​)

32
caminhadas e mutirões foram as atividades escolhidas para esse projeto, baseado no método

dialógico-vivencial.

O método dialógico-vivencial ocorre através do processo que analisa e vivencia a atividade

na comunidade, nele o pesquisador apropria-se da dinâmica comunitária, compreendendo suas

significações, sentidos e sentimentos que a integram. Essa imersão na realidade objetiva e

subjetiva da comunidade acontece com uma visão não apenas das condições diretas da vida dos

moradores da comunidade, mas também através das relações inter-humanas, as relações dos

indivíduos com a comunidade com a realidade e da forma que ela significa e se posiciona sobre

ela (Goes, 2009).

O método dialógico-vivencial é uma ferramenta importante para a inserção do profissional

e pesquisador na comunidade, pois ela é capaz de criar um espaço de troca entre os moradores e

frequentadores no caso da pesquisa, o Caps. O pesquisador ali não está apenas com o propósito de

colher dados com um padrão rígido que é normalmente visto em pesquisas, o profissional que se

insere na comunidade a partir deste método está também no papel de aprendiz, onde se troca

saberes, vivências e podendo haver nessas vivências um espaço para transformação social, como

relatado na pesquisa.

Que trouxe como conclusão do trabalho alguns pontos positivos apresentados pelos

frequentadores, a começar pela mudança do paradigma biomédico para o aspecto psicossocial.

Com diversidade de profissionais e saúde (médicos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros).

Apontaram também as diversidades de atividades terapêuticas, como grupos, citados

anteriormente e ainda a não centralização do medicamento como única forma de tratamento,

foram destaques de transformação (Moreira et al., 2013)

Fundamentalmente é importante entender o método dialógico vivencial como uma forma

que o homem sente, emociona-se e ressignifica o sentido da vivência. Existem também o papel

33
afetivo da vivência, pois está inerente ao indivíduo e a sociedade como um todo dar prioridade a

razão e a cognição em detrimento das emoções, com isso a vivência promove a necessidade de

uma consciência enraizada no momento vivido. (Lima, 2010). A autora ainda complementa:

O psicólogo e o pesquisador, ao vivenciarem a comunidade, deverão introduzir-se o

máximo possível nas relações cotidianas e conhecer seu modo de vida comunitário. Esta

compreensão enfatiza-se na sua dinâmica, no impacto psicossocial do modo de vida dos

moradores e da sua relação com o entorno vivencial (Lima, 2010, p.50)

Por fim, Castro (2009), discute a vivência do psicólogo na comunidade como um

compromisso ético e amoroso no trabalho comunitário. Não é possível falar em atuação

comunitária sem que se preceda a inserção, com um mergulho aprofundado na vida da

comunidade, em suas histórias, as angústias, os significados e principalmente as relações sociais,

dentre eles vários aspectos da realização de mapeamentos psicossociais participativos que

permitem compreender a vivência.

34
Considerações finais

Neste trabalho foi apresentado um breve apanhado histórico da psicologia

comunitária e também da psicologia comunitária-latina americana, de como ela foi desvinculada

da psicologia comunitária, para atender as necessidades dos países latino-americanas, e

consequentemente o Brasil. Num país com desigualdades sociais escancaradas, o papel da

psicologia comunitária junto com o SUS trouxe uma nova abordagem do tratamento da saúde,

onde a comunidade é a protagonista e o psicólogo comunitário que um dos agentes responsáveis

por uma abordagem libertadora que dá para as pessoas da comunidade a bagagem necessária,

junto com outros profissionais, de fazer e mostrar que a comunidade pode ser responsável e ativa

nos seus processos de saúde.

Foi dito que a comunidade é responsável e possui potenciais emancipadores nas questões

do processo de saúde e doença e o trabalho do psicólogo comunitário é ser a pessoa que ajuda a

conduzir a comunidade no seu processo de “libertação” das amarras sociais que limitam a

comunidade crescer.

Outro ponto foi de entender que processos históricos sociais também são importantes na

concepção de saúde na visão da psicologia comunitária, e com que essa visão histórica é possível

descobrir como os processos de saúde e doença se desencadeiam de acordo com cada comunidade

e na vivência sócio histórica do indivíduo.

Também pude compreender que os processos de saúde da comunidade não dependem

apenas da autoridade médica para que possa fazer com que os indivíduos inseridos na comunidade

vivenciem uma saúde emancipadora, mas com o trabalho dos profissionais de saúde que tem como

responsabilidade ser promotores de saúde e de educação, para que a comunidade possa caminhar

com mais independência no que diz respeito à própria saúde.

35
Em uma pesquisa bibliográfica, o critério para a busca dos artigos, livros e periódicos etc,

foi para que a literatura que abordasse conteúdos sobre a psicologia da saúde, fossem aqueles que

tinham como bases em seus argumentos de que o modelo biomédico que até nos dias de hoje

persistem para que ter um parâmetro de saúde, fossem quebrados pela ideia central que a saúde se

trata de processos que a comunidade vive em conjunto, com auxílio das equipes

multidisciplinares, e que não se trata apenas da cura do enfermo, mas de mostrar ao indivíduo ou a

comunidade como podem viver o processo de saúde-doença da forma que gere menos sofrimento

e que faça sentido de acordo com sua realidade.

Foi explicitado a importância da equipe multiprofissional no atendimento à comunidade no

que se trata da saúde, importante ressaltar que esse trabalho em conjunto é importante de se

desmistificar que o tratamento da saúde se dá apenas pelo trabalho do médico ou no caso de

questão de saúde mental apenas do psicólogo ou psiquiatra, algo que graças ao SUS não faz parte

de suas diretrizes, e que ressalta a importância de uma equipe que contribua, cada uma de acordo

com sua especialidade, com o tratamento da saúde coletiva.

Outro ponto bastante importante da pesquisa foi a de trazer, não apenas em pontos

descritivos, o papel da vivência do psicólogo na comunidade e de como é uma ferramenta

essencial no trabalho do psicólogo, pois com ela, o profissional pode adentrar na comunidade e

entender como funciona a vida daquele lugar, quais os processos subjetivos específicos daquele

lugar, e com isso fazer articulações com outros profissionais para se trazer um atendimento que

engloba às necessidades daquela comunidade, e sempre ressaltando que a comunidade também é

totalmente ativa neste processos.

As compreensões que este trabalho traz para campo da psicologia comunitária e da saúde,

são as de que é o diálogo entre a comunidade e os profissionais que nela atuam é a chave principal

para que se estabeleça uma convivência e um trabalho em conjunto na busca pela saúde e bem

36
estar de uma comunidade. Que é a união entre as áreas da psicologia da saúde e da psicologia

comunitária são necessárias e que cada dia mais precisam ser fortalecidas, penso que são dois

campos muito importantes e que união dessas duas áreas em prol da saúde comunitária é o que faz

com que o trabalho na comunidade seja tão importante e necessário.

Outra questão importante, é que a Psicologia em geral, não só a área da psicologia

da saúde ou comunitária, precisa estar unida em prol da defesa do Sistema Único de Saúde, pois só

a partir dele que as ações na comunidade são possíveis, mais que defende-lo é preciso que a

psicologia no Brasil esteja presente em criações de políticas públicas que fortaleçam o SUS e que

traga mais igualdade para aqueles que estão na margem da sociedade e que vivem constantemente

as injustiças sociais que este país sofre. Falar de Psicologia Comunitária e todos os processos que

estão em volta dele é nunca esquecer que se trata de uma busca pela igualdade e pela aquisição de

direitos por aqueles que estão excluídos socialmente.

E por fim, salientar a ideia de que o psicólogo comunitário é responsável por diminuir as

desigualdades sociais que a comunidade enfrenta, porém sem trazer a ideia de caridade, mas sim

um direito que a comunidade precisa usufruir para sua qualidade de vida.

37
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