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LEITURA E LEITOR
A leitura constitui também uma prática social, pela qual o sujeito, ao praticar o ato
de ler, mergulha no processo de produção de sentidos, e esta tornar-se-á algo
inscrito na dimensão simbólica das atividades humanas. Sendo assim, falar em
atividades humanas, aqui, é tratar de uma linguagem, do recurso pelo qual o
homem adentra o universo da cultura, configurando-se com um ser culto, racional e
pensante.
A leitura propõe, ainda, interação entre diversos fatores para que haja realmente o
“processo de ler”. Vale ressaltar que aspectos psicológicos e pedagógicos deverão
ser levados em consideração. Dessa forma, esse processo perpassará diferentes
linhas teóricas, enfocando equilibradamente os demais aspectos que conferem
ênfase a um único interesse: compreender e interpretar o texto, auferindo todas as
informações nele contidas. É o leitor quem atribui significado ao texto, processando
diversificadamente as informações nele constantes. É relevante afirmar que os
significados do texto baseiam-se em sistemas interacionais esquematizados para o
leitor; já os do escritor relacionam-se com ele na forma de interação.
Segundo Koch e Elias (2008), a leitura está além de apenas ocupar um importante
espaço na vida do leitor. Para as autoras, o ato de ler constitui-se da junção entre os
sujeitos sociáveis com a linguagem sociocognitiva, o que lhes possibilita um contato
eficaz com elementos significativos do texto. Sendo assim, o leitor é posto em
contato direto com as palavras, de maneira peculiar, percebendo o elevado grau de
sentido que elas preservam. Notam-se, constantemente, indagações acerca da real
importância da leitura para os membros de uma sociedade.
Observa-se também, que o mesmo grupo de indivíduos, anseia pela necessidade
de nutrir o conhecimento, especialmente, por meio da leitura. É fato que tal lacuna,
poderá ser suprida corretamente, por intermédio das diferentes maneiras de
aplicabilidade do elemento de informação. Concebendo que, a leitura decorre do
entendimento entre sujeito, língua, texto e sentido, adotados na respectiva
sequência, a representação do pensamento, estará assegurada e promoverá a
captação mental do leitor, de maneira absoluta.
O mesmo acontecerá com o entendimento da leitura, levada à sério, sem
menosprezar as experiências e conhecimento, próprios do leitor, compreendendo
propósitos consolidados ao longo de sua caminhada, e para tanto, tais suportes,
servirão de condução para atividades interativas entre autor-texto-leitor, servindo
muito além de um simples produto codificado para conhecimento, transmitido ao
receptor de forma passiva (Koch & Elias, 2008). Todo conhecimento que o leitor
possa ter, encontra-se armazenado na memória, e esta, por sua vez, organiza-o
adequadamente, gerando espaço para as inúmeras informações que esse mesmo
leitor agregará para si, ao longo de sua rotina como praticante da leitura.
É impreterível que se promova um trabalho produtivo da leitura, a fim de contribuir
para a formação do sujeito leitor, de forma que possa identificar-se no texto, ou nas
suas leituras plurais, não somente como um consumidor de livros, e sim, um
produtor destes à 5 medida que preenche as lacunas existentes na obra lida,
mergulhando na ambiguidade dos textos e encontrando significados mais profundos
nas entrelinhas dos textos. Percebe-se, dessa forma, quão importante é a
habilidade de leitura, que ultrapassa os limites da decodificação, efetivando-se como
ação, que prepara leitores capazes de participarem da sociedade na qual estão
inseridos e, acima de tudo, exercendo o direito e o dever de transformá-la. Para que
isso ocorra, necessariamente, recorre-se à disponibilidade do professor, para agir
como mediador do processo, atentando para o caráter social do ato de ler.
Com efeito, no momento da leitura, trocam-se valores, crenças, gostos, que não
pertencem somente ao leitor, nem tão-somente ao autor do texto, mas, sobretudo, a
um conjunto sociocultural. Nos atuais dias, a leitura tão somente abriu-se para
receber pesquisadores, como também, proporcionou lugar amplo para inúmeras
discussões, sobre torvações e anseios dos profissionais da educação, sejam por
razões leigas, profissionais ou de cunho institucional. Prova disso, são os diversos
simpósios, sessões, encontros, fóruns e afins dedicados ao assunto, os quais
oferecem propostas teóricas, metodológicas, científicas e políticas, visando
amenizar incertezas dos profissionais da área. Para Orlandi (1995), o sujeito leitor é
quem, em sua preexistência, se torna produtor da interpretação do texto, ao mesmo
tempo em que, coloca-se como contemporâneo a ele, produzindo leitura,
especificamente de sentido, garantindo sua eficácia, organizando-se com seu
conhecimento de um eu-aqui-e-agora, relacionando-se com ele sem perder sua
originalidade.
A prática da leitura se faz presente na vida das pessoas desde o momento em que
passam a compreender o mundo a sua volta. No constante desejo de decifrar e
interpretar o sentido das coisas que os cercam, de perceber o mundo sob diversas
perspectivas, de relacionar a ficção com a realidade em que vivem, no contato com
um livro, enfim, em todos esses casos, está de certa forma lendo, embora muitas
vezes o indivíduo não se dá conta disso. Freire (2008) já postulava que “A leitura do
mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente” (FREIRE, 2008, p. 11). Freire (2008) mostra que antes mesmo do
contato com o livro o indivíduo já tem um contato com a leitura do mundo, com sua
experiência de vida, pois cada ser tem uma maneira de interpretar e ver as coisas
que o rodeia, por isso a leitura do mundo é sempre fundamental para a importância
do ato de ler, de escrever ou reescrever e transformar através de uma prática
consciente.
Isso equivale dizer que a realidade cotidiana do aprendiz está diretamente refletida
no processo de conhecimento e interpretação das palavras e frases escritas. Com
isso a leitura é uma forma de atribuição contínua de significado, os quais precisam
ser desvelados pela compreensão do ser humano, pela sua subjetividade. Assim, a
leitura é um dos grandes elementos da civilização humana. Maria Helena Martins
(1986) também afirma que o ato de ler vai além da escrita. “Enfim, dizem os
pesquisadores da linguagem, em crescente convicção: aprendemos a ler lendo. Eu
diria vivendo”. (MARTINS, 1986, p14). É notável que tanto para Martins (1986)
quanto para Freire (2008) a experiência do mundo que precede a leitura é antes de
tudo viver, cada pessoa tem sua experiência de mundo e, ao ler, muitos se
identificam na leitura escrita.
A prática da leitura da palavra é um fator que deve ser realizado, na sala de aula e
na biblioteca, fazendo uso de livros didáticos e literários, revistas, jornais, entre
outros, a fim de transformar em qualidade a relação textual com o mundo leitor. O
incentivo à leitura deve partir do professor em sala de aula, dos pais e da sociedade,
pois assim os alunos passarão a buscar leituras individualizadas. Dessa forma, o
texto quando lido com intenção de compreendê-lo tem o poder de transformar o
leitor passivo em um leitor crítico e agente capaz de modificar e formar conceitos.
Por isso é importante o uso da biblioteca escolar, a qual deve ser amplamente
explorada pelos professores para que os alunos tomem gosto pelas leituras
diversas, a qual pode ser vista como propagadora da função social do ato de ler.
A maioria dos alunos não gosta de ler e há alguns fatores que servem para
comprovar isso. No ambiente familiar, por exemplo, diversos pais não leem e não
estimulam os filhos à leitura, porque eles também não foram incentivados para tal.
Com isso, são poucas as famílias que tem o hábito de leitura em casa. Na família
brasileira só se fala de livros quem teve a oportunidade de ter nascido em meio a
eles e os que falam de leitura e de escola falam com a vontade de quem pertence à
classe que se apossa de livros desde criança.
O ambiente escolar deveria ser o local de maior motivação à leitura, mas o sistema
de ensino valoriza e foca muito mais a gramática e esquece de estimular os alunos
a ler um bom livro, revistas, gibis, jornais etc. tornando-se um erro gravíssimo do
ensino de Língua. Falta também, o apoio governamental, ou seja, falta o governo
investir mais na educação, muitas escolas públicas, infelizmente, carecem de
qualidade e de recursos como livros e biblioteca adequada. Ser leitor, também
requer disciplina e treinamento. Martins (1986, p. 84) mostra que “o homem é um
ser pensante por natureza, mas sua capacidade de raciocínio precisa de tanto
treinamento quanto necessita seu físico para, por exemplo, tornar-se um atleta.”
Isso vem mostrar que para se tornar um grande leitor é preciso ter atenção, desafiar
ludicamente a memória, pensar e ler diariamente.
Assim como Martins (1986), Freire (2008) aponta, também, a disciplina na leitura; já
que “estudar exige disciplina. Estudar não é fácil porque estudar é criar e recriar é
não repetir o que os outros dizem.” (FREIRE, 2008, p.59). Com isso, percebe-se
que para ler bem tem que ler muito e grande parte dos alunos sentem-se
desmotivados e “preguiçosos” quando o assunto é leitura. Esses não querem
exercitar a mente porque ler requer garra, estímulo, concentração e perseverança.
É muito mais fácil sentar-se diante da televisão ou ficar ouvindo o rádio do que
pegar um jornal ou um livro e ler. A dificuldade maior é a acomodação e a falta de
tradição de leitura no contexto histórico do Brasil, pois a leitura sempre se restringiu
à minoria de indivíduos que teve acesso à educação e aos livros. A grande massa
da população sem condições de estudar sempre aderiu aos meios diretos de
comunicação que não exigem educação formal, como, por exemplo, rádio e TV. Por
isso, ler é um hábito raro entre as famílias. Muitos alunos chegam ao colégio
achando livro quase uma coisa esquisita, leitura uma chatice, talvez esses alunos
precisam ser conquistados; perceber que ler pode ser divertido, interessante,
descontraído e prazeroso.
Mas o que é preciso ler, afinal? Cada um deve descobrir o que gosta de ler, e vai
gostar, talvez, pela vida afora. Não é preciso que todos amem os clássicos nem
aprecie romance ou poesia. Há quem goste de ler sobre esportes, explorações,
viagens, astronáutica ou astronomia, história, artes, computação. Independente do
que está lendo o importante é que faça exercitar o cérebro. Se o aluno iniciar-se
com o que gosta, passará a ter o hábito de leitura e, consequentemente, estará
lendo gêneros variados com maior complexidade.
Portanto, para que o aluno tome gosto pela leitura é preciso estímulo por parte dos
professores para que eles possam ter outra concepção de leitura e não repitam com
seus filhos o que seus pais lhes passaram. Dessa maneira, é possível modificar o
conceito de que o aluno não gosta de ler, assim, a leitura será a ponte para o
processo educacional eficiente. Essa motivação deve acontecer desde a Educação
Infantil, porém nunca é tarde para incentivar os estudantes já adolescestes à leitura,
pois lendo o sujeito fica mais forte como indivíduo, mais integrado no mundo, mais
curioso, mais ligado aos acontecimentos.
Significa, inicialmente, compreender que ler é uma prática social, que acontece em
diferentes espaços, que possuem características muito específicas: o tipo de
conteúdos dos textos que nele circulam, as finalidades colocadas para a leitura, os
procedimentos mais comuns, decorrentes dessas finalidades, os gêneros dos
textos. Por exemplo, em um consultório de dentista costumam estar disponíveis
diferentes tipos de revistas, ali disponibilizadas para que os pacientes “passem o
tempo” enquanto esperam seu horário; uma leitura de entretenimento, basicamente.
Nessa situação, a leitura costuma ser feita em voz baixa, e é interrompida tão logo a
presença do paciente seja solicitada pelo dentista.
Os textos terão características bastante diferentes, proporcionais à variedade de
cada revista e serão organizados em gêneros típicos da mídia impressa: artigos,
reportagens, notícias, notas, classificados, propagandas, editorial, crônicas, por
exemplo. Em uma missa da Igreja católica, por outro lado, costumam circular os
textos religiosos que constam da Bíblia, de missais e folhetos que orientam a
participação no ritual. Nessas ocasiões, lê- se supostamente para retirar do texto
algum ensinamento já que os textos a serem lidos foram selecionados
especificamente com essa finalidade , ou para acompanhar o ritual, sabendo quais
falas deverão ser realizadas. Nessa situação, é costume realizar leituras em voz
alta, individualmente e em coro.
A leitura que se realiza nesse espaço, quando se trata da Bíblia, é de pequenos
trechos, não se tratando, dessa forma, de uma leitura exaustiva. Quando se trata
dos missais ou dos folhetos orientadores, a leitura é quase instrucional, dado que
orienta as pessoas sobre o que devem dizer nos diferentes momentos do ritual.
Quando se está em casa e se toma um romance para ler, por exemplo, pode ser
para entretenimento e, dessa forma, a leitura será sempre extensiva (a obra toda,
linearmente), ainda que realizada parte a parte. Ao se participar de uma leitura
dramática, sabe-se que uma peça de teatro será lida em voz alta e interpretada por
atores.
A finalidade colocada para a leitura é interpretar dramaticamente o texto; para os
que assistem, é apreciar a leitura que está sendo realizada pelos atores. Nessa
situação, os textos serão sempre peças de teatro. Ao mesmo tempo em que
coexistem diferentes práticas sociais em uma mesma sociedade, em um único
momento histórico, diferentes sociedades estabeleceram diferentes usos para a
escrita e a leitura ao longo da sua história. A leitura, enquanto prática social é,
portanto, histórica.
Significa, também, compreender que ler é tanto uma experiência individual e única,
quanto uma experiência interpessoal e dialógica. E isso nos remete diretamente à
natureza do processo de leitura. Toda leitura é individual porque significa um
processo pessoal e particular de processamento dos sentidos do texto. Mas toda
leitura também é interpessoal porque os sentidos não se encontram no texto,
exclusivamente, ou no leitor, exclusivamente; ao contrário, os sentidos situam-se no
espaço intervalar entre texto e leitor.
Um texto é sempre produzido em um determinado momento histórico no qual se
encontra definido um determinado horizonte de expectativas, derivado de um corpo
de conhecimentos e informações disponível e compartilhado em maior ou menor
medida pelos possíveis interlocutores. Assim, quando um texto é produzido, alguns
sentidos são pretendidos pelo autor, sentidos que são decorrentes da forma de
compreender o mundo constituída naquele momento histórico específico em uma
determinada cultura.
Uma leitura, igualmente, é decorrente do corpo de conhecimentos e informações
disponível no momento sócio histórico em que a leitura se realiza, o qual constitui
uma determinada forma de ver o mundo. Dessa forma, ao lermos uma obra escrita
em meados do século XVIII, por exemplo, certamente nos depararemos com
determinados ideais estéticos de beleza feminina e masculina, com determinadas
referências de educação e cultura que, não necessariamente, correspondem às que
hoje circulam na nossa sociedade. Por exemplo: uma pele alva, e uma mulher
“cheia de carnes” pode não corresponder à referência estética de beleza feminina
de hoje, na sociedade brasileira (certamente, não corresponderá nunca aos ideais
estéticos dos países de cultura africana…).
Da mesma forma, o hábito de a mulher andar sempre protegida por uma
“sombrinha”, o significado conferido ao ato de corar diante de uma fala um pouco
mais atrevida de um homem, o efeito que provocava nos homens a visão de um
tornozelo feminino, por exemplo, não são os mesmos que circulam hoje, na nossa
cultura. Assim, o processo de construção dos sentidos de uma obra de tal época
será resultado do que for possível ao leitor de hoje compreender (e recuperar) sobre
os valores que circulavam quando a obra foi produzida.
Essa compreensão se dará de maneira circunscrita num horizonte cultural atual, que
pressupõe outros valores; portanto, os sentidos não serão os mesmos que
circulavam no contexto cultural de origem da obra, mas aqueles que forem possíveis
ao leitor hoje, que resultarão permeados das nuances dos valores hoje vigentes. Um
aspecto importante de salientarmos é o fato de que as palavras são constituídas por
um significado que é estável, que é recuperável pelos falantes de uma determinada
língua em um determinado momento histórico e também por um conjunto de
sentidos que são decorrentes das experiências pessoais de cada um, constituídos a
partir das referências particulares de cada falante ao logo da vida.
Significado e sentidos constituem um amálgama indissolúvel, de tal forma que uma
palavra nunca será a mesma para diferentes pessoas, embora possa ser
compreendida no que tem de generalizável. Assim, ainda que lida por sujeitos que
coexistem em um mesmo momento histórico, uma palavra nunca será a mesma
para diferentes sujeitos. Os sentidos de um texto, portanto, ao mesmo tempo em
que são resultado de um processo pessoal e intransferível, dialogam,
inevitavelmente com o outro: com o autor, com os outros presentes no corpo de
ideias que constituía o horizonte cultural do momento de sua produção. A leitura,
assim, é pessoal e, ao mesmo tempo, dialógica.
Letramento e leitura
Além disso, a leitura deve ser compreendida como parte de um processo mais
amplo: o letramento. Este configura-se como um processo de apropriação dos usos
da leitura e da escrita nas diferentes práticas sociais. Nessa perspectiva, um leitor
competente é aquele que usa a linguagem escrita e, portanto, a leitura efetivamente,
em diferentes circunstâncias de comunicação; é aquele que se apropriou das
estratégias e dos procedimentos de leitura característicos das diferentes práticas
sociais das quais participa, de tal forma que os utiliza no processo de (re)
construção dos sentidos dos textos.
Estes procedimentos e estratégias de leitura tanto são individuais e caracterizados
como processos cognitivos de alta complexidade, quanto sociais, sendo decorrentes
das especificidades das práticas sociais nas quais se realizam. Além disso, também
os elementos do contexto de produção dos textos devem ser considerados no
processamento dos sentidos, dado que colocam restrições e ao mesmo tempo
possibilidades que determinam os textos. As estratégias de leitura Ao lermos,
fazemos usos de algumas estratégias que precisam ser consideradas no
processamento de sentido dos textos.
Estas estratégias referem-se à capacidade:
a) de ativarmos o conhecimento prévio que temos sobre todos os aspectos
envolvidos na leitura conhecimento sobre o assunto, sobre o gênero, sobre o
portador onde foi publicado o texto (jornal, revista, livro, folder, panfleto, folheto,
etc.); sobre o autor do texto, sobre a época em que o texto foi publicado, quer dizer,
sobre as condições de produção do texto a ser lido para selecionar as informações
que possam criar o contexto de produção da leitura, garantindo a fluência da
mesma;
b) de anteciparmos informações que podem estar contidas no texto a ser lido;
c) de realizarmos inferências quando lemos, quer dizer, lermos para além do que
está nas palavras do texto, ler o que as palavras nos sugerem;
d) de localizarmos informações presentes no texto;
e) de conferirmos as inferências e antecipações realizadas ao longo do
processamento do texto, de forma a podermos validá-las ou não;
f) de irmos sintetizando as informações dos trechos do texto;
g) de estabelecermos relações entre os diferentes segmentos do texto;
h) de estabelecermos relações entre tudo o que o texto nos diz e o que outros textos
já nos disseram, e o que sabemos da vida, do mundo e das pessoas. Os
procedimentos de leitura Toda leitura que fazemos é orientada pelos objetivos e
finalidades que temos ao realizar a leitura, e estes objetivos determinam a escolha
de procedimentos que tornarão o processo de leitura mais eficaz. Assim:
i) se estamos realizando uma pesquisa sobre determinado assunto, investigaremos
quais obras podem abordar esse assunto, selecionando as que nos parecerem
adequadas para uma leitura posterior: leremos o título, identificaremos autor,
leremos a apresentação da obra, procurando antecipar se há alguma possibilidade
de aquele portador tratar do assunto; procuraremos no índice se há algum capítulo
ou seção que aborde o tema, por exemplo;
j) nessa mesma pesquisa, selecionada a obra, procuraremos ler apenas os tópicos
referentes ao assunto de nosso interesse, e não, necessariamente, a obra toda;
k) se estivermos estudando determinada questão, leremos o texto intensivamente,
procurando compreender o máximo do que foi dito pelo autor;
l) se estivermos selecionando textos que nos possibilitem trabalhar com variedades
linguísticas, por exemplo, o nosso critério será temático e, dessa forma, buscaremos
indicações sobre qual o tema e o assunto que os textos abordam;
m) se estivermos procurando revisar nosso texto para torná-lo mais adequado,
buscaremos pôr todos os elementos que possam provocar um efeito de sentido
diferente daquele que pretendemos.
Considerações finais
O papel dos mediadores apareceu na memória dos leitores pela indicação de livros
solicitada por amigos, alunos, professores e conhecidos, todos com algo em comum
o amor pela leitura. Os mediadores aparecem com intensidade através das
experiências com a leitura e pela diversidade de obras lidas através da socialização
de obras como, O Alienista, Dom Casmurro de Machado de Assis ,Madame Bovari
entre outras.
A formação do leitor dá-se pelo prazer da leitura que surge ainda na infância, com o
hábito de ouvir e contar histórias. Crianças adoram ouvir histórias. Por que então
quando chegam a adolescência, quando poderiam escolher suas próprias leituras,
esta se transforma em rejeição? Isso porque ela deixou de ser um prazer e
tornou-se uma obrigação. Contudo, o leitor ainda está lá, só precisa ser recuperado.
O real significado de um texto escrito não se encontra nas palavras e no
pensamento do escritor, mas na compreensão de seu leitor e na interação que
surgirá entre estes em que o processo de intercorrespondência e
intercomplementaridade. Para o verdadeiro leitor, um texto não terá significado
similar ao que apresenta pura e simplesmente. Para o leitor existe a dimensão que
se concretiza na escrita, coexistindo em aprimoramento visual, de forma sutil e
quase tátil, permitindo a ele descobrir os sentidos plantados nas entrelinhas. O leitor
deverá ser capaz de extrair da leitura diferentes acepções ao interpretar o universo
escrito, incluindo-se em um contexto reflexivo em que vivências diferentes do autor
e do leitor se contextualizarão em simbologias não necessariamente idênticas.
Tão importante quanto formar bons leitores, será o desafio dos mediadores em
sensibilizá-los para a grandeza da leitura. Cabe aos mediadores pensar a leitura,
basicamente, em relação ao fato de que esta faculta, ao ser humano, seu sucesso,
tomada de consciência e seu status, tornando-se essencial para o seu cotidiano.
Dessa forma, a escola deverá propiciar condições adequadas para que tais
convívios ocorram, com a finalidade de proporcionar ao aluno aprimorar-se na
construção do conhecimento significativo. É aconselhável que o mediador da leitura
o professor detenha meios adequados e condizentes para o bom desempenho da
mesma. Convém, no entanto, que ele ao designá-las, as pense como contribuição
para o desempenho futuro de cidadãos conscientes para com um corpo social, no
qual, comportamentos e valores desafiam o potencial educativo dos sujeitos.
Conceber a leitura, direcionando leitor e discernimento, a fim de promover a
construção de sentidos entre elemento humano e narrativa, requer olhar atento em
relação aos estudos e discussões, realmente necessários para ensinar a assimilar
as bagagens inescusáveis em relação ao verdadeiro significado do texto.
Percebendo haver tal junção, torna-se indispensável tramar antecipações e
hipóteses, com a finalidade de fortalecer a competência leitora para reafirmar
valores, conjugando habilidades e alicerçando saberes competentes. Visando tal
propósito, as discussões teóricas em relação às estratégias de leitura, necessitam
entender-se com a prática, extraindo dentre as mais diferentes temáticas
disponibilizadas pelos conhecedores do assunto - os especialistas de todas as
esferas caminhos pedagógicos para uma pedagogia de leitura, amparados por
novas aquisições de linguagem, a fim de não se perder vínculos históricos da leitura
com a sociedade.
De outro modo, as propostas tornar-se-ão, em síntese, sem sentido de conclusão,
fechando-se para as astúcias inovadoras, atentas ao caráter interdisciplinar da
prática leitora. Preocuparmo-nos com a leitura, um dos pilares básicos da educação,
é assumir, instantaneamente, o componente popularizante que ela representa. Da
mesma forma que outrora, confundia-se o ler com o alfabetizar pois a leitura
fazia-se introduzir a partir do alfabeto e seu domínio percebe-se seu crescimento
notório, exigindo, atualmente, além dos conceitos tão conhecidos, tornar os signos
da escrita, tangíveis para as crianças, a partir conhecimento de profissionais
especializados.
Contudo, é preciso notar que o desempenho do professor, para com a atividade de
ensinar, converteu-se com o passar dos anos, em finalidade para si mesmo. Nada
se modificou para a escola, com o ler e escrever juntamente dispostos. Tendo em
vista a relação pela qual o sujeito é estimulado e incentivado texto escrito de
qualquer natureza, tipo, linguagem utilizada, produção e destino não se dá de forma
espontânea. Será preciso a experiência do professor, com seus atributos e
percepção, incorporar novos elementos para ocorrer a passagem de um simples
receptor de informação a um ledor apto frente aos impactos elevados da sociedade.
Ler permeia uma das obrigações da escola na qual as crianças estão, na sua
grande maioria, presentes em tempo integral. Para que o ato de ler não torne-se
intransitivo e inexplicável, de forma emprestada aos pequenos, é profícua a
condição do professor leitor, indispensável à ascensão de novos patamares de
ensino, a fim de se configurar, no atual cenário desolador da educação, relevante
trajetória vitoriosa, independendo do ganho pessoal, econômico ou individual dos
profissionais didáticos.
Preocupar-se com a leitura realizada por crianças, jovens e adultos, é acima de
tudo, ater-se e não negligenciar, princípios e traços dos atributos literários, estéticos
e artísticos, encontrados nas narrativas. Relacionar temas presentes e objetivos,
ajusta e oferta, substancialmente, peculiaridades e elementos indissociáveis que
somente a leitura resguarda. Tais elementos servirão de alicerces para
compreender, interpretar, produzir e recriar, a partir de uma determinada conjuntura.
Nestas condições, cabe ao mediador, conferir, de fato, que toda a narrativa em
relação à leitura, possui diversos segmentos de entrada (multiplicidade de
colocação do sujeito), e saída (diferentes percepções e atributos de sentido).
Tais fundamentos fornecem subsídios necessários ao leitor, permitindo-lhe que
percorra diversos direcionamentos, nem sempre previsíveis nem tampouco,
sistematizados, mas providos de perspectivas passíveis de entendimento, os quais
o colocarão em posição de sujeito-leitor-ativo. Essa alternativa produzirá sentido à
criança, conferindo-lhe uma relação dinâmica entre construir e formular significação
acerca da leitura inteligível, interpretável e compreensível.
É preciso compreender a leitura, como elemento fundamental para a aproximação
do leitor com o mundo que o cerca e que a prática proporciona o alargamento de
possibilidades para sua efetivação. Abordar a leitura como finalidade geradora de
perspectivas, é capaz de proporcionar parcerias importantes que viabilizam o
diálogo entre leitor e autor.
Fica, pois, claro, em nível de conclusão, que é perfeitamente possível, aceitar o fato
de que dominar o saber e qualquer informação loquaz, fundamenta-se na
decorrência de introdução da narrativa, em suas variadas formas de expressividade,
observadas as adequações do outro, independente da capacidade de
inteligibilidade, descrição do material utilizado, e estratégias persuasivas para a
mediação da leitura, ser de total e irrevogável cumplicidade do professor, redefinir a
caminhada e descoberta da comunicabilidade social, cultural e pessoal de seus
educandos.
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