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Resumo – A leitura é, ao mesmo tempo, uma habilidade mental e uma atividade social. Além disso, ela pode ser
estudada sob vários outros aspectos que a caracterizam e que interferem no ato de ler e nas práticas sociais da
leitura. Neste artigo, a autora apresenta alguns desses aspectos, abordando, de forma sucinta, os fatores políticos e
sociais, culturais, psicológicos, ideológicos, semióticos, cognitivos e sociocognitivos, pedagógicos, históricos e
etnográficos que estão na base dessa complexa atividade. A autora conclui afirmando que todos os profissionais
cujo trabalho envolve a leitura e suas práticas (professores, jornalistas, bibliotecários, agentes culturais em geral),
devem procurar entender os diversos fatores que estão imbricados na leitura e suas práticas a fim de que possam
contribuir para a democratização da leitura na nossa sociedade.
Introdução
Num sentido muito amplo, a leitura é uma atividade extremamente complexa que se
desenvolve nos seres humanos desde que ele toma contato com o mundo que o cerca. Nossas
primeiras percepções e aprendizagens só ocorrem porque para viver e se desenvolver biológica e
socialmente, o ser humano tem que perceber, ler e compreender o que está ao seu redor, não
importando, aqui, a qualidade ou intensidade dessas “leituras”.
A compreensão do que percebemos através dos nossos sentidos está associada à
atribuição de significados que atribuímos a essas informações. Esse fato aparentemente óbvio
está na base da leitura. Mesmo em se tratando da leitura do texto escrito, não devemos nos
esquecer daquela célebre frase de Paulo Freire: “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
Com efeito, os sentidos atribuídos ao que lemos depende dos nossos conhecimentos prévios.
Em se tratando especificamente do texto escrito, a leitura é uma habilidade que se
desenvolve com a prática, pois o domínio dessa habilidade passa pelo domínio de procedimentos
sucessivos (ou processamentos) que se iniciam com o conhecimento do código lingüístico escrito
e de certas convenções relativas à língua escrita e aos textos e seus usos socioculturais que se
fazem deles em determinada comunidade.
Mas o domínio dos processamentos, que são ligados aos aspectos internos,
mentalísticos, cognitivos do leitor ainda não é suficiente para se chegar à chamada proficiência
na leitura, embora esta seja uma etapa necessária e mesmo imprescindível para a efetivação
dessa habilidade. Assim sendo, muitos outros fatores externos, como os de natureza social,
cultural e política estão envolvidos no ato de ler, no sentido do desenvolvimento da leitura
proficiente e significativa.
1
Este artigo foi publicado, originalmente, como capítulo do livro O Ensino da Língua Portuguesa nos Anos Iniciais
– Eventos e Práticas de Letramento, organizado por M. Auxiliadora S. Cavalcante e Marinaide L. Q. Freitas.
EDUFAL, 2008. A versão aqui apresentada foi um pouco ampliada.
2
Sendo uma atividade extremamente complexa, a leitura como objeto de estudo e
reflexão pode ser apreciada, estudada e pesquisada sob vários aspectos e abordagens. Dentre os
vários aspectos (econômico, cultural, ideológico, etc.), um dos mais importantes é, sem dúvida, o
aspecto afetivo. Hoje em dia, discute-se muito a contribuição da família e da escola para o
desenvolvimento do chamado gosto pela leitura, ou do tão desejado prazer de ler. Com efeito,
sendo esse componente afetivo algo muito forte e decisivo, ele merece toda a atenção. Mas não
nos esqueçamos de que outros aspectos são também dignos de atenção.
Convém, também, lembrar que esses aspectos e abordagens são indubitavelmente
interdependentes, com interrelacionamentos até, às vezes, decisivos. Por exemplo, o fato de não
se gostar de ler pode estar ligado ao fato de não se ter uma fluência mínima na leitura, ou seja, ao
fato de se ter dificuldade de ler, até mesmo na decodificação. E isso pode estar relacionado ao
aspecto cognitivo ou procedimental do ato de ler. Noutras palavras, quando não se tem um
domínio de procedimentos cognitivos e estratégicos para efetivar o ato de ler, esta atividade se
transforma em algo extremamente penoso. Daí, evidentemente, passa a ser algo que traz mais
desprazer do que prazer, obviamente. Outro relacionamento importante é, por exemplo, o fato de
se gostar de ler e não se ter acesso a materiais de leitura, por várias razões (falta de recursos
financeiros, falta de bibliotecas, proibições, falta de condições físicas, de tempo, etc.).
A seguir, apresentamos a discussão sucinta dos vários aspectos que estão envolvidos
no estudo da leitura e que consideramos relevantes, além, naturalmente, do aspecto afetivo. A
bem da verdade, cada um desses aspectos podem ser considerados como verdadeiras abordagens
/para o estudo e a pesquisa sobre a leitura do texto escrito.
2. Aspectos culturais
Têm a ver com a valorização da leitura como um bem cultural que deve ser estendido
a todos. Tem a ver também com o professor como agente promotor de leitura como prazer, como
instrumento e como contributo para a formação do caráter, da personalidade e da identidade
cultural dos educandos. A transmissão e a preservação cultural têm sido realizadas,
principalmente, através da língua escrita. O acesso à leitura dos textos que asseguram a
identidade cultural de um povo é uma obrigação dos intelectuais e agentes culturais para com as
novas gerações.
4. Aspectos ideológicos
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6. Aspectos semióticos
Considerações Finais
A leitura pode ser um prazer individual, uma necessidade pessoal, uma forma de
inserção social e cultural e um instrumento extremamente útil para o cumprimento dos inúmeros
papéis sociais que exercemos no nosso dia-a-dia, principalmente na vida moderna, em que as
atividades sociais, principalmente as escolares, acadêmicas e profissionais são muito valorizadas.
E é desejável que ela assim seja encarada por todos que a ela devem ter acesso. Nesse sentido,
numa sociedade centrada na língua escrita, uma das grandes violências que se praticam é a
negação do direito de aprender a ler e de ser leitor minimamente proficiente. Evidentemente,
para que possamos trabalhar com mais segurança e mais propriedade, todos nós, profissionais da
palavra, principalmente os professores e educadores, devemos envidar esforços no sentido de
desvendar e entender os vários aspectos da leitura acima discutidos (e outros, obviamente) para
que possamos trabalhar de forma mais eficaz nas diversas instâncias em que a leitura se torna
uma prática extremamente decisiva, de capital importância, como ocorre no processo de
escolarização nos seus diversos níveis, na academia, na vida profissional, no mundo do trabalho,
além de ser um fator importante de formação e realização pessoal.
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REFERÊNCIAS