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3º Relatório – Aula do dia 05/03/2021

Ampliando a noção de leitura


De acordo com Maria Helena Martins, se a definição de leitura está precisamente
relacionada à escrita, pode-se dizer que o processo de aprendizagem, por sua vez, é
usualmente associado às formações do indivíduo (ou seja, às vivências, experiências
socioeconômicas, políticas e culturais). Além disso, mesmo entre os gregos e romanos,
o conhecimento a respeito da escrita e leitura manifestava o domínio de bases
educacionais adequadas para a vida e, consequentemente, significava efetivamente a
inclusão do indivíduo na sociedade – à classe dos homens livres.
Assim, semelhante ao passado, a problemática consiste no fato de que ler e escrever
não é privilégio de todos. Todavia, capacidade de leitura vai muito além da
decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de aprendizado estabelecido a
partir de uma metodologia baseada em estímulo-resposta fato nem sempre
compreendido por muitos educadores. Tem-se, portanto, a chamada pedagogia do
sacrifício, na qual prevalece a ideia de “aprender por aprender”. Haja vista que não se
sabe colocar o porque, como, para quê, podemos afirmar que as pessoas
desconhecem a verdadeira função da leitura.
Ademais, é sabido que as metodologias utilizadas para a alfabetização não implicam,
restritivamente, na formação de leitores eficientes. Pois, uma vez alfabetizada, a
maioria das pessoas, limita-se à leitura com fins específicos e passa a ignorar o sentido
de que ler significa inteirar-se do mundo, tal qual uma forma de conquistar autonomia,
de deixar de “ler pelos olhos dos outros”.
Dessa forma, o hábito de ler livros passa a ser mistificado e cabe às minorias (elite) dar
sentido ao mundo. Além disso, quando um intelectual tenta ajudar um iletrado, o que
prevalece são apenas suas visões e metodologias de ensino em discrepância com a
realidade do iletrado. A libertação do ser humano passa pela sua capacidade de leitura
(e não apenas da leitura de textos). Nosso tempo é o da cultura de massa – isso implica
em manipulação e consumo.

Para que haja a diminuiçãode problemas, muitos educadores defendem o estímulo ao


hábito da leitura. Todavia, há uma impotência presente na “crise de leitura”, ou seja, a
ausência da leitura de textos escritos. Como fator investigativo, é necessário analisar a
otrigem dessa “crise”. Portanto, essa ideia nasce nos bancos escolares e o contato com
livros geralmente, é restrito aos materiais didáticos.

Os textos condensados da escola são ilusórios no que diz respeito a tornar seus
usuários aptos a dominar o saber. Ademais, por nem sempre cultivarem o hábito de
ler, os materiais didáticos geralmente alimentam mais a ignorância. Esses livros estão
repletos de falsas verdades e imposições, dessa forma, está implícito a intenção de
manipular a leitura.
Os organizadores dos livros didáticos justificam as temáticas dos livros didáticos por
meio do “caráter científico”, ao passo que os educadores os reconhecem como um
“mal necessário”. Assim, a educação formal padece e a política educacional tem
resultados desastrosos.

Ademais, há um receio do diálogo franco e crítico entre o professor e aluno,


bloqueando, portanto, oportunidades raras de leituras efetivas. Existe, poranto, um
equívoco oriundo da base.

Sabe-se que, no Brasil, as publicações, vendas e distribuições de materiais impressos


são precárias, todavia, essa falta de acesso aos livros engloba fatores bem mais
complexos. A questão é proveniente das necessidades socioeconômicas e, por
conseguinte, volta-se para o âmbito escolar. Além disso, a crise na leitura vem ainda
dos jesuítas, formação livresca, defasada em relação à realidade. Portanto, pode-se
dizer que há uma elitização da cultura, um interesse vivo de manter o conhecimento
restrito a apenas alguns.

Outrossim, os materiais didáticos não proporcionam tantos aprendizados vivos e


duradouros quanto os contextos em que cada leitor está inserido. Dessa forma, há
uma preferência pelas leituras distintas às impostas em sala de aula. Vale ressaltar
que, inegavelmente, as instituições de ensino correm o risco de estarem preparando
crianças e adultos que irão envelhecer sem ao menos ter a chance de passar pelo
processo de crescimento.

Por isso, seria contra-senso insistir na leitura restringindo-a aos livros, uma vez que
essa restrição afastaria a oportunidade de uma experiência da leitura aos milhões de
analfabetos e iletrados espalhados pelo país. Logo, os educadores devem aplicar
metodologias consoantes aos desafios e desequilíbrios vivenciados na realidade de
cada indivíduo.

Vista de maneira mais abrangente, ampliar a noção de leitura implica na valorização do


aprendizado, experiência e compreensão de cada passo enquanto leitor. Ler é
descobrir, tomar consciência e alavancar uma postura crítica perante a sociedade.

Ampliar a noção leitura é ampliar a visão de mundo e da cultura, haja vista que as
noções que se têm geralmente ligadas às noções impostas pelas instituições. A
verdadeira leitura só tem sentido quando as relações humanas são compreendidas e
pode-se transferir o que está sendo lido a essas relações.

Portanto, a leitura não é apenas um processo de decodificação (embora seja


necessário decodificar o código-signo), mas também é reconhecida como um processo
dinâmico de compreensão que passa por componentes sensoriais, emocionais,
intelectuais, fisiológicos, culturais, econômicos etc.
Leitura é decodificação e compreensão, ou seja, não é só a capacidade de decifrar
sinais, mas principalmente dar sentido a eles. Decodificar sem compreender é inútil – e
o inverso também é verdadeiro.

A leitura começa antes do texto e vai além dele, assim, o leitor tem um papel atuante.
A leitura se dá a partir do diálogo do leitor com o objeto lido, mas considerar a leitura
apenas como resultado dessa interação seria reduzi-la consideravelmente.

Por isso, aprender a ler significa também ler o mundo, e dar sentido ao mundo implica
em dar sentido a nós mesmos. Em suma, deve-se lembrar de que a leitura é um
instrumento libertador e deve ser encarada como um ato de resistência. Ler é libertar-
se,ao passo que a liberdade é para todos.

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