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Qual é a verdadeira importância

da leitura?
• Saraiva Educação
• outubro 4, 2022

Com frequência, ouve-se dizer que a leitura é fundamental para a vida em


sociedade. E, de fato, o hábito de ler livros é comprovadamente benéfico para
pessoas de todas as idades e realidades sociais. No entanto, a leitura vai muito
além daquilo que fazemos por prazer ou hobby — ela é um pedaço inseparável
de nós.

Uma vez que aprendemos a ler, está selado o nosso destino: tudo se torna
passível de leitura, mesmo aqueles símbolos que escondem palavras
desconhecidas. É impossível desaprender a ler, da mesma forma que é
impossível transitar pela sociedade sem colocar em prática esse aprendizado.

Mas como a leitura realmente interfere nos nossos modos de vida? Se ela é
mais que uma alternativa a outros interesses e hobbies; se ela se traduz como
uma parte essencial para a manutenção social, então qual é realmente a sua
importância? Para entender mais, basta continuar lendo.

Qual a importância da leitura para a sociedade?


Embora seja frequentemente entendida como uma atividade solitária, a leitura
é, sempre, um diálogo. Ao lermos um texto, estabelecemos uma comunicação
direta entre aquilo que já sabemos e que constrói a nossa subjetividade, e
aquilo que o texto apresenta, que pode ou não ser novo para nós.
Nesse momento de contato entre um e outro lado, passamos a atribuir
significado àquilo que é lido. E, para isso, lançamos mão de recursos
argumentativos que nos ajudam a sustentar um determinado ponto de vista.

A leitura não é, portanto, um processo de decifrar os significados de um texto.


Ela é, na verdade, um processo de reformulação contínua desses significados,
conforme construímos, em paralelo, a nossa identidade. Assim, é a partir dos
textos lidos que podemos construir a competência de operar
criativamente, interpretando novos pontos de vista e unindo esse
conhecimento ao nosso.

Esse processo de leitura e interpretação de símbolos é a maneira a partir da


qual construímos a nossa subjetividade social e política. Para Paulo Freire,
ler é representar a afirmação do sujeito, da sua história como produtor de
linguagem e da sua singularização como intérprete do mundo que o cerca.

Isso significa que a leitura abre portas para que um indivíduo compreenda
como funciona a dinâmica social, quais são os códigos linguísticos que
impactam ou formulam essa dinâmica e como a realidade pode ser alterada, se
necessário. A leitura se torna, sob esse ponto de vista, uma maneira de
formar cidadãos conscientes e críticos, aptos a interferir diretamente na
sua realidade.

Como a leitura contribuiu para o desenvolvimento de competências


socioemocionais?

Na sociedade atual, as competências socioemocionais se tornaram


fundamentais para o trabalho e para a vida no geral. E, se a leitura é o
processo de interpretação do mundo para a construção da subjetividade de um
indivíduo, então ela também tem efeitos nessa nova exigência social.

Isso porque, ao nos colocar em contato com perspectivas diferentes das


nossas, a leitura atua como uma incentivadora do desenvolvimento de
raciocínio lógico. Uma vez que é seu papel estabelecer o diálogo entre o que
já sabemos e o que o texto nos diz, torna-se automática a argumentação de um
ponto de vista.

Além disso, a leitura abre as portas da criatividade ao imprimir no indivíduo


novos cenários e possibilidades, tanto no campo da fantasia quanto no campo
de uma sociedade melhor, mais justa e mais igualitária. Se, como afirma Paulo
Freire, o sujeito que lê se torna capaz de transformar a realidade social na qual
está inserido, então a leitura é também um catalisador de mudanças sociais
que, no entanto, têm berço na criatividade e na imaginação.

Por fim, é a leitura a principal responsável por desenvolver em um


indivíduo o sentimento de empatia, o que fortalece a resiliência, a
inteligência emocional e a capacidade de trabalhar em equipe. Os livros
apresentam cenários diversos àqueles que os leem, o que amplia nossa visão
de mundo e nos torna aptos a lidar com as diferenças mais facilmente.
Você também pode se interessar: Como curar a ressaca literária?

Quais são os benefícios da leitura?


Mencionamos, ao longo deste texto, que a leitura é a maneira pela qual
podemos construir a nossa individualidade, atuar de maneira crítica na
sociedade em que estamos inseridos e desenvolver habilidades e
competências fundamentais para o estudo e o trabalho.

Ainda assim, os benefícios promovidos pela leitura não param por aí. De fato, o
ato de ler pode ser transformador da nossa realidade e atuar diretamente na
construção de um mundo melhor. E isso se torna ainda mais visível quando
falamos sobre períodos ou situações em que o contato social se torna menos
frequente.

Nos últimos anos, atravessamos alguns desses cenários. Um deles, mais


permanente, é a criação de uma cibercultura — uma geração inteira de
indivíduos cuja relação com o mundo é mediada pela internet, pelos
smartphones e, mais importante, pela leitura digital. Outros são cenários de
isolamento, como o que aconteceu na pandemia da Covid-19.

Abaixo, explicaremos melhor quais são os benefícios da leitura nesses


cenários. Confira!

Leia também: Qual é sua comida favorita? Sugestões de leitura para todos os
apetites!

Impactos da leitura em situações de isolamento

Imagine um leitor. Imaginou? Ele está sozinho em um quarto, em uma poltrona


grande e confortável, lendo enquanto a chuva cai lá fora? Em algum lugar
dessa paisagem você também incluiu um gato, ou uma xícara de café? E, mais
importante: ele está sozinho?

A imagem que fazemos dos leitores é, com frequência, associada ao


isolamento e ao silêncio. Ainda que ela não seja completamente verdadeira,
a leitura é, de fato, uma saída para a solidão — tanto a acidental quanto a
imposta. E isso se prova especialmente verdadeiro nos casos em que o contato
com o “mundo lá fora” é interrompido por fatores fora do nosso controle.

Foi o caso, por exemplo, da pandemia da Covid-19, que impeliu os diversos


leitores a se manterem em casa, como o resto da sociedade. Bibliotecas,
clubes de leitura, livrarias: tudo estava fechado, e talvez por isso tenhamos
observado um boom de bookgrams e leituras coletivas.

Mas também é o caso de indivíduos encarcerados. As prisões são um


ambiente pouco propício para o exercício da imaginação e da liberdade de
pensamento, mas, ainda assim, a leitura se impõe sobre esses espaços como
uma alternativa ao sofrimento.
Leitura e pandemia

No contexto da pandemia da Covid-19, que teve início em 2020, o isolamento


social estava associado a uma série de sentimentos negativos: medo,
insegurança, ansiedade, apreensão etc. Em cenários como esse, a leitura se
torna uma maneira de reestabelecer o senso de segurança e conforto.

O ato de ler pode assumir um papel terapêutico, na medida em que


proporciona alívio e tranquilização de emoções. Nesse sentido, a leitura passa
a oferecer benefícios ao restabelecimento da saúde porque cria no leitor
motivação e troca de experiências, além de possibilitar a sensação de
sentimentos positivos, como o riso, a curiosidade, o encantamento etc.

Para que funcione, porém, é necessário que o processo de leitura seja


intencional. Isso porque o ato de ler precisa suprir uma necessidade — seja
ela de companhia, de conforto ou de segurança. Essa intenção de leitura é o
que faz com que o ganho de novas informações, mesmo em um contexto
majoritariamente negativo, se torne benéfico para o leitor.

Leitura e encarceramento

A Constituição brasileira assegura aos encarcerados que mantenham o seu


direito à educação gratuita e de qualidade. No entanto, o processo de
aprisionamento é responsável pela diluição da noção de identidade dos
indivíduos, o que impacta diretamente na sua adaptação ao novo espaço.

Para pesquisadores da área, a diminuição da noção de “quem sou eu” é


comum ao ambiente carcerário graças às condições às quais são submetidos
os indivíduos. No entanto, esse processo abre margem para o surgimento de
uma nova personalidade, que se adapta às necessidades do contexto da
prisão.

Nesse cenário, a leitura aparece como uma maneira de manter contato


com o mundo exterior. Seja através de jornais e revistas, seja através das
cartas recebidas pelos prisioneiros, a leitura se torna uma espécie de janela
pela qual é possível alcançar a sensação de liberdade.

Isso significa que é por meio dela que os indivíduos em situação de


encarceramento podem recuperar a sua identidade, o que contribui para
uma melhor readaptação social no futuro e para manter o elo com as pessoas
que foram antes do período da prisão.

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