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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE SAÚDE DE MAPUTO

-(ISCISA)-

CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Disciplina: Seminário de Saúde Mental

Meios Terapêuticos em Saúde Mental Para Lidar Com Problemas Comunitária

Discente:
Elisabeth Wamusse
Ilda Macuacua
Maria Arlinda
Discente:
Dr. Ana Maria Jumbe
Maputo, Julho de 2022

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Índice
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................1
1.1. Objectivo geral:....................................................................................................................2
1.2. Objectivos específicos:..................................................................................................2
1.3. Metodologia...................................................................................................................2
2. MEIOS TERAPÊUTICOS EM SAÚDE MENTAL PARA LIDAR COM PROBLEMAS
COMUNITÁRIA.............................................................................................................................3
2.1. Definição de conceitos..........................................................................................................3
2.2. Teoria da Comunicação no âmbito comunitário...................................................................4
2.3. Resiliência.............................................................................................................................5
2.4. Necessidades e recursos das comunidades na satisfação da saúde mental...........................7
2.4.1. O cuidado na Atenção Básica em saúde mental...............................................................7
2.4.2. Intervenção em saúde mental............................................................................................8
2.4.3. Acções terapêuticas de uma equipe comum dos profissionais da Atenção Básica...........9
2.5. Outros cuidado em saúde mental..........................................................................................9
2.5.1. O desabafo: a equipe de Saúde como um interlocutor para a pessoa em sofrimento.....10
2.5.2. A potência do acolhimento da equipe de saúde mental..................................................11
2.6. Medicalização social no contexto comunitário na produção do cuidado em saúde mental11
3. CONCLUSÃO........................................................................................................................13
3.1. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA..................................................................................14
1. INTRODUÇÃO
O trabalho em curso versa sobre os Meios Terapêuticos em Saúde Mental Para Lidar Com
Problemas Comunitária. É importante referir que os transtornos mentais são uma das causas mais
frequentes que procura as Unidades Básicas de Saúde e pela proximidade com as famílias e a
comunidade, a equipe da atenção básica é ponto estratégico para o enfrentamento destes
problemas. Contudo, nem sempre a atenção básica apresenta condições para dar conta dessa
importante tarefa. Muitas vezes, a falta de recursos de pessoal e a falta de capacitação acabam
por prejudicar o desenvolvimento de uma acção integral pelas equipes.

As práticas em saúde mental na Atenção Básica podem e devem ser realizadas por todos os
profissionais de Saúde e o entendimento da comunidade e a relação de vínculo da equipe de
Saúde mental com os usuários é o que unifica o objectivo dos profissionais para o cuidado em
saúde mental. Portanto, para uma maior aproximação do tema e do entendimento sobre quais
intervenções podem contribuir para a melhoria do cuidado em saúde mental, é necessário refletir
sobre o que já se realiza cotidianamente e o que o território tem a oferecer como recurso aos
profissionais de Saúde para contribuir no manejo dessas questões.

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1.1. Objectivo geral:
 Analisar os Meios Terapêuticos em Saúde Mental Para Lidar Com Problemas
Comunitária.

1.2. Objectivos específicos:


 Definir conceito inerentes a terapia comunitária.
 Destacar as teoria da Comunicação no âmbito comunitário e Resiliência como um dos
factores importantes na saúde mental;
 Descrever as necessidades e recursos das comunidades na satisfação da saúde mental.

1.3. Metodologia
Para efetivação deste trabalho, usou-se como metodologia a consulta bibliográfica em varias
obras que serviram como fonte de inspiração na elaboração deste trabalho. Esta consulta fez com
que releva-se mais qualidade de informação no desenvolvimento do trabalho, e de uma forma
minuciosa foram analisados os dados encontrados e apuradas as melhores informações como
produto final que resultou nesse trabalho, e usou se a internet para fazer uma reflexão condigna
das várias informações.

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2. MEIOS TERAPÊUTICOS EM SAÚDE MENTAL PARA LIDAR COM
PROBLEMAS COMUNITÁRIA

2.1. Definição de conceitos


A Terapia Comunitária é um instrumento que permite construir redes sociais solidárias de
promoção da vida e mobilização dos recursos e das competências dos indivíduos, das famílias e
das comunidades. A TC funciona como fomentadora da cidadania, restauração da autoestima e
da identidade cultural dos diversos contextos familiares, institucionais, sociais e comunitários.
Favorece a promoção e a prevenção da saúde, bem como a reinserção social, uma vez que
propicia a expressão dos sofrimentos vivenciados nas várias dimensões da vida, que afetam
diretamente a saúde das pessoas. A Terapia Comunitária é um exercício permanente de inclusão
e valorização das diferenças (BARRETO, 2005).

A TC apresenta-se no âmbito da promoção da saúde mental, valorizando o saber popular, criando


outros espaços de manifestação do sofrimento psíquico. Mais do que um espaço de terapia
tradicional, favorece a formação de actores de saúde capacitados para a escuta dos sofrimentos e
das inquietações dos indivíduos, em um ambiente de troca de experiências entre os pares.
Valoriza ainda as práticas populares, incorporando o saber de rezadeiras, curandeiros, a
utilização do conhecimento dos remédios feitos com plantas medicinais, as práticas integrativas,
a massoterapia e outras acções produzidas pela acumulação de saberes da população local, os
quais fazem parte de sua cultura.

Nesse conceito, Barreto (2005) apresenta, de uma forma singular, a base teórica que veio dar a
origem à Terapia Comunitária. De um modo sucinto, apresenta traços da Teoria da
Comunicação, da Pedagogia de Paulo Freire, da Antropologia Cultural, da Resiliência e do
Pensamento Sistêmico.

Neste ponto do estudo, ressaltar-se-ão apenas alguns pontos dos referidos eixos teóricos, não
buscando um amplo aprofundamento, por este não ser o foco principal da pesquisa. Essa breve
narrativa tem apenas o intuito de compreender sua interligação na implantação e na prática da
Terapia Comunitária.

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2.2. Teoria da Comunicação no âmbito comunitário
A comunicação está presente em todas as nossas relações. A compreensão da mensagem emitida
ou recebida é a base para que se estabeleça um diálogo entre as pessoas. A comunicação pode
manifestar-se de maneira verbal e não verbal.

Na terapia comunitária a fala é muito importante. Normalmente se estimulam as pessoas a


falarem, muitas vezes, utilizando ditos populares para desenvolver o estímulo, como, por
exemplo: Quando a boca cala, os órgãos falam. E quando a boca fala, os órgãos saram.

Silva e Muniz (2008) citam Gregory Bateson como precursor da Teoria da Comunicação
Humana, através de uma análise sobre a patologia comunicacional e a esquizofrenia, também
ressaltado por um profundo estudo sobre a obra de Bateson, voltada para a comunicação
realizada por Centeno (2009).

Segundo Bateson, citado por Silva e Muniz (2008) e Centeno (2009), a teoria da comunicação
apresenta cinco axiomas:

 Todo comportamento é comunicação;

 Toda comunicação tem dois lados: o conteúdo e a relação; toda comunicação depende da
pontuação;

 Toda comunicação tem dois aspectos: a comunicação verbal e a comunicação não verbal;

 E toda comunicação entre pessoas é feita de forma simétrica (baseada no que é parecido)
ou complementar (baseada no que é diferente).

Para Barreto (2005), a comunicação é o elo entre os indivíduos, a família e a sociedade.


Apresenta a comunicação como um processo de múltiplas possibilidades de significados e
sentidos que podem estar associados ao comportamento humano. Relaciona também com a busca
incessante de cada ser humano pela consciência de existir e pertencer, de ser confirmado e
reconhecido como cidadão.

Barreto (2005) também enfatiza o efeito nocivo da comunicação, quando usada de forma
ambígua. Incentiva que, na Terapia Comunitária, haja sempre uma busca da clareza da

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informação, com o intuito de promover o crescimento, a reflexão diante da palavra proferida ou
escutada e a transformação pessoal e coletiva.

Identifica-se que todo comportamento é comunicação e, se tudo é comunicação, tudo também é


código e o código reenvia à cultura e as nossas raízes (BARRETO, 2005).

2.3. Resiliência
Na Terapia Comunitária, a forma como os indivíduos conseguem superar as suas crises serve de
matéria-prima para um trabalho de consciência coletiva, sobre as implicações sociais da gênese
do sofrimento humano.

Barreto (2005) considera como resiliência a capacidade do ser humano de superar, dentro de um
espírito criativo e construtivo, as adversidades que permeiam sua história. Fala da carência que
gera competência. Assim sendo, resiliência é a capacidade de o indivíduo, ou a família, enfrentar
as adversidades, ser transformado por elas, conseguindo superá-las.

No entanto, é importante analisar se é possível falar de resiliência sempre que houver


sobrevivência física e psicológica da pessoa diante dos fatores de risco, ou se seria resiliente o
indivíduo que não só supera as adversidades, mas se sente feliz e em paz com a sua existência.

Quanto à origem etimológica, resiliência vem do latim resiliens que significa saltar para trás,
voltar, ser impelido, recuar, encolher-se, romper. Pela origem inglesa, resilient remete à ideia de
elasticidade e capacidade rápida de recuperação. (PINHEIRO, 2004).

No dicionário de língua portuguesa Houaiss (2001), resiliência contempla tanto o sentido físico
(propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido
submetidos a uma deformação elástica), quanto o sentido figurado, remetendo a elementos
humanos (capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças).

Flach (1991) faz o uso do termo em 1966, visando descrever as forças psicológicas e biológicas
exigidas para atravessar, com sucesso, as mudanças na vida. Para ele, o indivíduo resiliente é
aquele que tem habilidade para reconhecer a dor, perceber seu sentido e tolerá-la até resolver os
conflitos de forma construtiva.

Tavares (2001) discute a origem do termo sob três pontos de vista: o físico, o médico e o
psicológico. No primeiro, a resiliência é a qualidade de resistência de um material ao choque, à
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tensão, à pressão, a qual lhe permite voltar, sempre que é forçado ou violentado, à sua forma ou
posição inicial - por exemplo, uma barra de ferro, uma mola, um elástico etc. No segundo, a
resiliência seria a capacidade de um sujeito resistir a uma doença, a uma infecção, a uma
intervenção, por si próprio ou com a ajuda de medicamentos. E, no terceiro, a resiliência também
é uma capacidade de as pessoas, individualmente ou em grupo, resistirem a situações adversas,
sem perder o seu equilíbrio inicial, isto é, a capacidade de se acomodar e reequilibrar
constantemente.

Esse autor também contribui com outro enfoque. Ele afirma que o desenvolvimento de
capacidades de resiliência nos sujeitos passa pela mobilização e ativação das suas capacidades de
ser, estar, ter, poder e querer, ou seja, pela sua capacidade de autorregulação e autoestima.

“Ajudar as pessoas a descobrir as suas capacidades, aceitá-las e confirmá-las


positiva e incondicionalmente é, em boa medida, a maneira de as tornar mais
confiantes e resilientes para enfrentar a vida do dia-a-dia por mais adversa e
difícil que se apresente” (TAVARES, 2001, p.52).

Raciocínio semelhante desenvolveu Flach (1991), ao discutir a ideia de ambientes facilitadores


de resiliência, os quais apresentam como características: estruturas coerentes e flexíveis;
respeito; reconhecimento; garantia de privacidade; tolerância às mudanças; limites de
comportamento definidos e realistas; comunicação aberta; tolerância aos conflitos; busca de
reconciliação; sentido de comunidade; empatia.

Para Ralha-Simões (2001), o conceito de resiliência não se trata de uma espécie de escudo
protetor que alguns indivíduos teriam, mas da possibilidade de flexibilidade interna que lhes
tornaria possível interagir com êxito, modificando-se de uma forma adaptativa, em face dos
confrontos adversos com o meio exterior. Assim, resiliência não seria uma forma de defesa
rígida, ou mesmo de contrapressão à situação, mas uma forma de manejo das circunstâncias
adversas, externas e internas, sempre presentes ao longo de todo o desenvolvimento humano.

“O indivíduo resiliente parece de fato salientar-se por uma estrutura de


personalidade precoce e adequadamente diferenciada, a par com uma acrescida
abertura a novas experiências, novos valores e a fatores de transformação dessa

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mesma estrutura, que apesar de ser bem estabelecida, é flexível e não apresenta
resistência à mudança” (RALHA-SIMÕES, 2001, p.108).

Pessoas com trajetórias semelhantes diferenciam-se pelo fato de algumas conseguirem superar as
crises e outras não. Nesse sentido, as características pessoais precisam ser consideradas, como o
sexo, o temperamento, os traços de personalidade, a genética, bem como os relacionamentos com
familiares e amigos, os aspectos sociais e econômicos, a interação com o ambiente, e ainda o
estilo das práticas parentais. Para compreender a resiliência, é importante tentar conhecer como
as características protetoras se desenvolveram e de que modo modificaram o percurso pessoal do
indivíduo (PINHEIRO, 2004).

A Resiliência não é uma qualidade que nasce com o indivíduo e, ainda, é muito mais do que uma
simples combinação de condições felizes. Devem-se levar em conta as qualidades do próprio
indivíduo, o ambiente familiar favorável e também as interações positivas entre esses dois
elementos.

2.4. Necessidades e recursos das comunidades na satisfação da saúde mental

2.4.1. O cuidado na Atenção Básica em saúde mental


A Atenção Básica tem como um de seus princípios possibilitar o primeiro acesso das pessoas ao
sistema de Saúde mental, inclusive daquelas que demandam um cuidado em saúde mental. Neste
ponto de atenção, as acções são desenvolvidas em uma comunidade geograficamente conhecido,
possibilitando aos profissionais de Saúde uma proximidade para conhecer a história de vida das
pessoas e de seus vínculos com a comunidade/território onde moram, bem como com outros
elementos dos seus contextos de vida. Podemos dizer que o cuidado em saúde mental na Atenção
Básica é bastante estratégico pela facilidade de acesso das equipes aos usuários e vice-versa. Por
estas características, é comum que os profissionais de Saúde se encontrem a todo o momento
com pacientes em situação de sofrimento psíquico.

No entanto, apesar de sua importância, a realização de práticas em saúde mental na Atenção


Básica suscita muitas dúvidas, curiosidades e receios nos profissionais de Saúde. Além disso,
esperamos que as reflexões propostas neste trabalho possam criar no profissional da Atenção
Básica uma abertura, um posicionamento, uma espécie de respaldo interno ao profissional para

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se colocar disponível como ouvinte e cuidador, no momento que estiver diante de um usuário
com algum tipo de sofrimento psíquico.

2.4.2. Intervenção em saúde mental


Os profissionais de Saúde costumam refletir consigo e por vezes ficam em dúvida sobre quais
situações de sua realidade cotidiana necessitam de intervenções em saúde mental. Nalgum
momento o profissional de Saúde já tenha se sentido inseguro, surpreso ou sem saber como agir
assim que identificou uma demanda de saúde mental.

Também acreditamos ser provável que em algumas destas situações o profissional se sente
improvisando, ou usando a intuição e o bom senso. Pois bem, para início de conversa, podemos
dizer que estas reflexões e sensações são comuns à prática em saúde. Contudo, sentir-se sem
chão ou sem um saber técnico específico não é indicativo suficiente para definir que uma
intervenção em saúde mental possa estar equivocada.

Entendemos que as práticas em saúde mental na Atenção Básica podem e devem ser realizadas
por todos os profissionais de Saúde. O que unifica o objectivo dos profissionais para o cuidado
em saúde mental devem ser o entendimento do território e a relação de vínculo da equipe de
Saúde com os usuários, mais do que a escolha entre uma das diferentes compreensões sobre a
saúde mental que uma equipe venha a se identificar.

Mesmo os profissionais especialistas em saúde mental elaboram suas intervenções a partir das
vivências nos territórios. Ou seja, o cuidado em saúde mental não é algo de outro mundo ou para
além do trabalho cotidiano na Atenção Básica. Pelo contrário, as intervenções são concebidas na
realidade do dia a dia do território, com as singularidades dos pacientes e de suas comunidades.

Portanto, para uma maior aproximação do tema e do entendimento sobre quais intervenções
podem se configurar como de saúde mental, é necessário refletir sobre o que já se realiza
cotidianamente e o que o território tem a oferecer como recurso aos profissionais de Saúde para
contribuir no manejo dessas questões. Algumas acções de saúde mental são realizadas sem
mesmo que os profissionais as percebam em sua prática.

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2.4.3. Acções terapêuticas de uma equipe comum dos profissionais da Atenção Básica
Abaixo, apresentamos algumas acções que podem ser realizadas por todos os profissionais da
Atenção Básica, nos mais diversos dispositivos de cuidado (CHIAVERINI, 2011):

 Proporcionar ao usuário um momento para pensar/refletir;

 Exercer boa comunicação;

 Exercitar a habilidade da empatia;

 Lembrar-se de escutar o que o usuário precisa dizer;

 Acolher o usuário e suas queixas emocionais como legítimas.

 Oferecer suporte na medida certa; uma medida que não torne o usuário dependente e nem
gere no profissional uma sobrecarga;

 Reconhecer os modelos de entendimento do usuário.

2.5. Outros cuidado em saúde mental


As intervenções em saúde mental devem promover novas possibilidades de modificar e
qualificar as condições e modos de vida, orientando-se pela produção de vida e de saúde e não se
restringindo à cura de doenças. Isso significa acreditar que a vida pode ter várias formas de ser
percebida, experimentada e vivida. Para tanto, é necessário olhar o sujeito em suas múltiplas
dimensões, com seus desejos, anseios, valores e escolhas. Na Atenção Básica, o
desenvolvimento de intervenções em saúde mental é construído no cotidiano dos encontros entre
profissionais e usuários, em que ambos criam novas ferramentas e estratégias para compartilhar e
construir juntos o cuidado em saúde.

Os profissionais de Saúde realizam diariamente, por meio de intervenções e acções próprias do


processo de trabalho das equipes, atitudes que possibilitam suporte emocional aos pacientes em
situação de sofrimento. Serão apresentadas e desenvolvidas ao longo deste caderno algumas
destas atitudes. Neste capítulo apresentaremos duas delas:

 O desabafo: o profissional de Saúde como um interlocutor para a pessoa em sofrimento;


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 A potência do acolhimento.

2.5.1. O desabafo: a equipe de Saúde como um interlocutor para a pessoa em


sofrimento
Não raramente, os profissionais oferecem atenção e tempo para a escuta, o que permite um
espaço de desabafo para o paciente. A atitude de desabafar e de escutar o desabafo é comum no
dia a dia de muitas pessoas, independentemente de elas exercerem um ofício profissional
relacionado à saúde. Por ser considerada uma prática do senso comum e não uma técnica
específica do profissional de Saúde, a oferta para escutar atentamente o desabafo pode parecer
algo menor se comparado a outras condutas técnicas. Contudo, essa desvalorização do espaço
para a escuta não invalida sua importância e potência, principalmente no trabalho na Atenção
Básica. É uma primeira ferramenta a ser utilizada pelo profissional de Saúde mental para que o
paciente possa contar e ouvir o seu sofrimento de outra perspectiva, por intermédio de um
interlocutor que apresenta sua disponibilidade e atenção para ouvir o que ele tem a dizer. A partir
dessa aposta, entendemos que o usuário encontrará no profissional de Saúde mental uma pessoa
interessada por sua vida e em lhe ajudar. Na medida em que a unidade de Atenção Básica e seus
trabalhadores consigam oferecer o cuidado em saúde ao longo do tempo, torna-se possível
fortificar uma relação de vínculo, e então têm-se maiores condições de ouvir do usuário aquilo
que ele tem a nos contar.

Por vezes o usuário não se dá conta da relação de seus conflitos e seus sofrimentos com aquilo
que ele fala, pensa ou faz. Ter o profissional de Saúde da Atenção Básica como um interlocutor
pode ser uma via para lidar com esses sofrimentos cotidianos, muitas vezes responsáveis por
somatizações ou complicações clínicas. O exercício de narrar seus sofrimentos, ter a
possibilidade de escutar a si mesmo enquanto narra, além de ser ouvido por um profissional de
Saúde mental atento, por si só, já pode criar para o usuário outras possibilidades de olhar para a
forma como se movimenta na vida e suas escolhas, além de também ofertar diferentes formas de
perceber e dar significado aos seus sofrimentos. Outras vezes, caberá ao profissional de Saúde, a
partir daquilo que ouviu ou percebeu, devolver ao paciente algumas ofertas para lidar com
situações que aumentam o sofrimento. A segurança para realizar estas orientações virá do
vínculo produzido com o usuário ao longo do tempo. Cabe destacar que isso é possível
justamente porque o profissional de Saúde se dispôs e soube se colocar como este interlocutor.
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2.5.2. A potência do acolhimento da equipe de saúde mental
O acolhimento realizado nas unidades de Saúde mental é um dispositivo para a formação de
vínculo e a prática de cuidado entre o profissional e o usuário. Em uma primeira conversa, por
meio do acolhimento, a equipe da unidade de Saúde Mental já pode oferecer um espaço de
escuta a usuários e a famílias, de modo que eles se sintam seguros e tranquilos para expressar
suas aflições, dúvidas e angústias, sabendo então que a equipe de saúde mental está disponível
para acolher, acompanhar e se o caso exigir, cuidar de forma compartilhada com outros serviços.

Estes encontros com os usuários oferecem ao profissional a possibilidade de conhecer as


demandas de saúde da população de seu território ou comunidade. Com este conhecimento, a
equipe de Saúde tem como criar recursos colectivos e individuais de cuidado avaliados como os
mais necessários ao acompanhamento e ao suporte de seus usuários e de sua comunidade. No
campo da Saúde Mental, temos como principais dispositivos comunitários os grupos
terapêuticos, os grupos operativos, a abordagem familiar, as redes de apoio social e/ou pessoal
do indivíduo, os grupos de convivência, os grupos de artesanato ou de geração de renda, entre
outros.

2.6. Medicalização social no contexto comunitário na produção do cuidado em


saúde mental
O processo de medicalização é hoje um dos principais pontos de análise na política da saúde
pública no nosso país e no mundo, que vem caracterizando uma mudança de paradigma na
política de saúde mental. Mesmo com os avanços da saúde pública, representados pela
descentralização da assistência, pela instituição do Programa de Saúde Mental, pelo
desenvolvimento de instrumentos de gestão com participação comunitária, dentre outros, o nosso
país ainda permanece com um modelo de saúde médico-centrado, sendo a medicalização uma de
suas consequências.

Um dos pressupostos teóricos da medicalização é a de que seria útil e susceptível para promover
o bem-estar da humanidade. Ao ser transformado em fundamento filosófico na clínica psíquica, é
considerado eficaz aquele medicamento que consegue diminuir o sofrimento subjetivo,
promovendo o bem-estar em curto espaço de tempo e a baixo custo. O norte das políticas da
saúde pública baseia-se na busca da eficácia como forma de reduzir custos (CALAZANS e
LUSTOZA, 2008).
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A falta de formação profissional de toda a equipe de saúde mental, associada com as dificuldades
do desenvolvimento de um trabalho multiprofissional integrado, faz com que a figura do médico
ainda seja o principal componente de uma equipe de saúde, quando fala-se de atendimento
clínico. Além disso, a formação médica essencialmente hospitalocêntrica favorece o factor
medicalizante a que estão submetidos os usuários dos serviços de saúde, gerando a
medicalização social.

A medicalização social se caracteriza como o fenômeno de tornar médicas situações cotidianas


dos indivíduos. É um processo sociocultural complexo que transforma em necessidades médicas
vivências e subjectividades, que antes eram resolvidas no próprio ambiente familiar ou
comunitário ou de outras formas que não centrados na Medicina e no medicamento (TESSER,
NETO E CAMPOS, 2008).

Historicamente percebemos o avanço da medicalização na saúde mental, a partir de 1974,


quando a OMS passou a considerar a saúde mental com os mesmos parâmetros da saúde
orgânica, acompanhado da grande repercussão do DSM III (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais), difundido na década de 80. Esse avanço também se deu, quando em 2004,
a OMS apresentou a proposta de se regulamentarem as diversas psicoterapias, baseadas nos
mesmos critérios objetivos que regulamentam a clínica médica (CALAZANS e LUSTOZA,
2008 e GUARIDO, 2007).

Aguiar (2003) comenta que o vocabulário da Psiquiatria começou a expandir- -se com mais
ênfase na mídia e em outros meios, a partir de lançamento do Prozac, em 1988. Desde então,
passou a difundir um discurso apoiado na Neurociência, propondo a entender o cérebro humano
e assim explicar sua subjetividade.

A medicalização excessiva da sociedade parece acompanhar o crescimento e o desenvolvimento


da indústria farmacêutica e seu papel na Psiquiatria (AGUIAR, 2003). Desde 1952, ano em que
houve a primeira sintetização de um psicofármaco utilizado em tratamento psiquiátrico, a
indústria farmacêutica não para de investir em pesquisas na área de psicofarmacologia e aplica
grande parcela dos recursos em marketing de novas drogas (GUARIDO, 2007).

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3. CONCLUSÃO
Em suma, importa referir que um dos aspectos fundamentais para a equipe de saúde mental é a
comunicação. Portanto, a compreensão da mensagem emitida ou recebida é a base para que se
estabeleça um diálogo entre as pessoas. A comunicação pode manifestar-se de maneira verbal e
não verbal. Na terapia comunitária a fala é muito importante. Normalmente se estimulam as
pessoas a falarem, muitas vezes, utilizando ditos populares para desenvolver o estímulo, como,
por exemplo: Quando a boca cala, os órgãos falam. E quando a boca fala, os órgãos saram.

Um outro elemento fundamental é o acolhimento realizado nas unidades de Saúde mental é um


dispositivo para a formação de vínculo e a prática de cuidado entre o profissional e o usuário. Em
uma primeira conversa, por meio do acolhimento, a equipe da unidade de Saúde Mental já pode
oferecer um espaço de escuta a usuários e a famílias, de modo que eles se sintam seguros e
tranquilos para expressar suas aflições, dúvidas e angústias, sabendo então que a equipe de saúde
mental está disponível para acolher, acompanhar e se o caso exigir, cuidar de forma
compartilhada com outros serviços.

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3.1. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA
AGUIAR, A. A. Entre as ciências da vida e a medicalização da existência: uma cartografia da
psiquiatria contemporânea. Estados Gerais da Psicanálise: Segundo Encontro Mundial. Rio de
Janeiro, 2003.
CALAZANS, R.; LUSTOZA, R. Z. A medicalização do psíquico: os conceitos de vida e saúde.
Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 60, n. 1, 2008.
GUARIDO, R. A medicalização do sofrimento psíquico: considerações sobre o discurso
psiquiátrico e seus efeitos na educação. Educação e Pesquisa. São Paulo, v.33, n.1, p. 151-161,
jan./abr. 2007.
PINHEIRO, D. Patrícia N.. A Resiliência em discussão. Psicologia em estudo. [on line]. 2004,
vol. 9, n.1, pp.67-75.
SILVA, J. C. J.; MUNIZ, V. L. P.. Terapia comunitária e alcoolismo. 2008;
CENTENO, M. J. O conceito de comunicação na obra de Beteson: interação e regulação.
Coleção: Estudos em Comunicação. 2009.
BARRETO, A. de P. Terapia comunitária passo a passo. – Fortaleza: gráfica LCR, 2005.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.
FLACH, F.. Resiliência: a arte de ser flexível. São Paulo: Saraiva, 1991.
TAVARES, J. A resiliência na sociedade emergente. In: TAVARES, José.(org.) Resiliência e
educação. pp. 43-76. São Paulo: Cortês, 2001.
RALHA-SIMÕES, H.. Resiliência e desenvolvimento pessoal. In: TAVARES, José.(org.)
Resiliência e educação. pp.95-114. São Paulo: Cortês, 2001.
NETO, P.P.; CAPONI, S. Medicalização, revisitando definições e teorias. In: Medicalização
social e atenção à saúde no SUS. HUCITEC, São Paulo, 2010, p. 35-51.
TESSER, C. D.; NETO, P. P.; CAMPOS, G. W. de S. Acolhimento e (des)medicalização social:
um desafio para as equipes de saúde da família. In: Medicalização social e atenção à saúde no
SUS. HUCITEC, São Paulo, 2010p. 131-150.

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