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VICTORIA BRITO - FESAR P5 - IESC V

Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde


INTRODUÇÃO - Transtornos mentais estão frequentemente
associados a sofrimento ou incapacidade significativos
O termo saúde mental refere-se ao resultado da que afetam atividades sociais, profissionais ou outras
interação de uma série de fatores biológicos, atividades importantes.
psicológicos, familiares e sociais, resultando em uma
forma de funcionamento mental a ser avaliada pelo ATENÇÃO BÁSICA NA SAÚDE MENTAL
médico de família e comunidade.
Os médicos de família e comunidade são, geralmente,
Ademais, sabe-se que a abordagem em saúde mental os únicos recursos de saúde mental a que as pessoas
na atenção primária à saúde (APS) necessita de têm acesso e, portanto, os profissionais que
habilidades técnicas específicas relacionadas à assumem a responsabilidade pelo cuidado longitudinal,
psicologia e à psiquiatria, associadas ao ou seja, em longo prazo desses pacientes. Além disso,
desenvolvimento de atitudes do médico. sabe-se que temas de saúde mental são uma razão
comum para a busca de consultas na rede de atenção
CONCEITOS IMPORTANTES básica e que a maioria das doenças psiquiátricas é
PESSOA: tratada pelos médicos de família e comunidade sem o
envolvimento de um especialista em saúde mental.
- Toda pessoa tem uma vida passada, memórias, vida
familiar, mundo cultural, vida política, além de diversos A atenção primária, por ser caracterizada como porta
papeis sociais. de entrada preferencial do SUS, deve ser o primeiro
contato do indivíduo que busca cuidados em saúde
SOFRIMENTO: mental.
- É a vivência da ameaça de ruptura da Além disso, evidencia-se que a integração do cuidado
unidade/identidade da pessoa. em saúde mental na APS diminuiria os custos do
tratamento e reduziria o estigma ligado à doença
- Sofrimento não é o mesmo que dor, embora a dor mental, evitando idas desnecessárias a clínicas
possa levar a um sofrimento, mas não é qualquer dor especializadas.
que nos faz sofrer.
PAPEL DO NASF
TRANSTORNO MENTAL:
Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs)
Definição pelo DSM-5: Síndrome caracterizada por possuem o objetivo de ampliar a abrangência das
perturbação clinicamente significativa na cognição, na ações da Atenção Básica, bem como sua
regulação emocional ou no comportamento de um resolutividade. Portanto, são constituídos por equipes
indivíduo que reflete uma disfunção nos processos com profissionais de diversas áreas que devem atuar
psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento de maneira integrada com os profissionais da equipe
subjacentes ao funcionamento mental. de saúde da família.
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Os NASFs não se constituem como serviços com  Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
unidades físicas independentes. Logo, as atividades  Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT).
podem ser desenvolvidas nas unidades básicas de  Centros de Convivência (Cecos).
Saúde, nas academias da Saúde ou em outros pontos  Enfermarias de Saúde Mental em hospitais
do território. gerais.
São exemplos de ações de apoio desenvolvidas pelos  Oficinas de geração de renda.
profissionais dos NASFs: AÇÕES TERAPÊUTICAS COMUNS AOS
 Discussão de casos. PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA
 Atendimento conjunto ou não. As práticas em saúde mental na Atenção Básica
 Interconsulta. podem e devem ser realizadas por todos os
 Construção conjunta de projetos profissionais de Saúde e, com isso, as intervenções
terapêuticos. são concebidas na realidade do dia a dia do território,
 Educação permanente. com as singularidades dos pacientes e de suas
 Intervenções no território e na saúde de comunidades.
grupos populacionais e da coletividade.
Dentre as ações que podem ser realizadas por todos
 Ações intersetoriais.
os profissionais da Atenção Básica, incluem-se:
 Ações de prevenção e promoção da Saúde.
 Discussão do processo de trabalho das  Proporcionar ao usuário um momento para
equipes. pensar/refletir.
 Exercer boa comunicação.
POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL
 Exercitar a habilidade da empatia.
A atual política de saúde mental brasileira é resultado  Lembrar-se de escutar o que o usuário
da mobilização de usuários, familiares e trabalhadores precisa dizer.
da Saúde iniciada na década de 1980 com o objetivo  Acolher o usuário e suas queixas emocionais
de mudar a realidade dos manicômios. como legítimas.
Nas últimas décadas, esse processo de mudança se  Oferecer suporte na medida certa; uma
expressa especialmente por meio do Movimento medida que não torne o usuário dependente
Social da Luta Antimanicomial e de um projeto e nem gere no profissional uma sobrecarga.
coletivamente produzido de mudança do modelo de  Reconhecer os modelos de entendimento do
atenção e de gestão do cuidado: a Reforma usuário.
Psiquiátrica. ACOLHIMENTO AO PACIENTE DE SAÚDE MENTAL
Na década de 2000, amplia-se fortemente a Rede de O acolhimento realizado nas unidades de Saúde é um
Atenção Psicossocial (RAPS), que passa a integrar o dispositivo para a formação de vínculo e a prática de
conjunto das redes indispensáveis na constituição das cuidado entre o profissional e o usuário. Em uma
regiões de saúde. Entre os equipamentos primeira conversa, por meio do acolhimento, a equipe
substitutivos ao modelo manicomial podemos citar: da unidade de Saúde já pode oferecer um espaço de
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escuta a usuários e a famílias, de modo que eles se ser detectado no momento da consulta. Nesse caso,
sintam seguros e tranquilos para expressar suas cabe ao médico definir em que momento emocional a
aflições, dúvidas e angústias. pessoa se encontra, questionar se ela percebe e traz
Com o conhecimento das demandas de saúde da o problema ou se tem alguma ideia própria sobre ele.
população, a equipe de Saúde tem como criar A psicopatologia depende da entrevista psiquiátrica
recursos coletivos e individuais para os cuidados. No para a identificação de sinais e sintomas. Na
campo da Saúde Mental, temos como principais anamnese, deve-se estar atento a:
dispositivos comunitários os grupos terapêuticos, os
grupos operativos, a abordagem familiar, as redes de  Atitude de atenção empática
apoio social e/ou pessoal do indivíduo, os grupos de  Escuta interessada da história da pessoa
convivência e os grupos de artesanato ou de geração (forma verbal e não verbal)
de renda.  Anseios e temores
 Necessidade de ser compreendido e ajudado
ABORDAGEM AO PACIENTE sem julgamentos
A abordagem emocional requer que o médico não só  Linguagem simples e comportamento
compreenda os critérios de diagnóstico, mas que seja espontâneo
capaz de acolher com sensibilidade sinais e sintomas  Perguntas abertas e sem interferências
das pessoas, as quais podem ter dificuldade em EXAME DO ESTADO MENTAL
relatar uma história clara. Com isso, a abordagem
emocional se traduz pela descrição dos sentimentos O exame do estado mental é parte fundamental da
associados aos fatos. avaliação da pessoa. Portanto, diversas áreas
merecem atenção e devem ser analisadas no
A abordagem emocional em uma consulta envolve: atendimento de uma pessoa com problemas de saúde
 Perceber as emoções que estão em jogo. mental.
 Reconhecer na emoção uma oportunidade de
PRINCIPAIS ÁREAS
compreensão do que está ocorrendo, para
estabelecer relação de confiança.  ATENÇÃO
 Ouvir com empatia, legitimando os  SENSOPERCEPÇÃO
sentimentos.  REPRESENTAÇÕES
 Ajudar a pessoa a encontrar as palavras e a  MEMÓRIA
identificar a emoção que está sentindo.  ORIENTAÇÃO
 Explorar estratégias para solução do  CONSCIÊNCIA
problema em questão.  PENSAMENTO (JUÍZO, RACIOCÍNIO)
 LINGUAGEM
ANAMNESE
 AFETIVIDADE
Na vivência do médico de família e comunidade, é
 INTELIGÊNCIA
comum a pessoa não perceber o problema, e este
 ATIVIDADE VOLUNTÁRIA (CONDUTA)
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O exame mental se inicia desde o primeiro contato manifestam pelas ilusões e pelas aberrações
com o paciente. Avalia-se, portanto, a apresentação, perceptivas sensoriais.
a aparência física dos pacientes, o aspecto geral, o
REPRESENTAÇÕES
autocuidado, higiene, vestimentas, adornos, além da
maneira como o paciente se porta diante do São reapresentações de percepções passadas,
examinador. originadas da síntese perceptiva originada nas
sensações.
ATENÇÃO
A patologia das representações está vinculada à
A atenção sofre alterações em quase todos os
produção de alucinações e pseudoalucinações, em que
transtornos mentais. Entre as alterações da atenção
o estímulo sensorial é percebido sem que tenha sido
podem estar:
verdadeiramente produzido no meio externo. Essas
 Aprosexia (ausência total de atenção) alucinações indicam uma perturbação grave das
 Distração (dificuldades na fixação da atenção) funções mentais e podem ser visuais, auditivas, táteis
 Hipoprosexia (enfraquecimento acentuado da ou de contato, olfativas, gustativas, cinestésicas
atenção, como nos quadros depressivos) (relacionadas ao movimento e ao equilíbrio) e
 Hiperprosexia (aumento quantitativo da cenestésicas (sensações anormais em determinadas
atenção, como nos quadros paranoicos) partes do corpo, como formigas caminhando por
debaixo da pele).
SENSOPERCEPÇÃO
MEMÓRIA
O termo sensopercepção inclui dois aspectos: as
sensações e as percepções As alterações da memória podem ser quantitativas
ou qualitativas. As alterações quantitativas incluem:
- Sensações: informam os efeitos dos estímulos sobre
os órgãos dos sentidos, estímulos que podem ser - Hipermnésia (acentuação da memória)
externos (luz, som.) ou internos (sensibilidade visceral,
- Hipomnésia ou amnésia (graus diferentes de perda
dor em um órgão).
da memória, por sua diminuição). A amnésia pode ser
Alterações das sensações: anterógrada, para fatos recentes (por dificuldade de
fixação) ou retrógrada, aquela que acontece para
 Hiperestesia: aumento da sensibilidade fatos passados, anteriores ao surgimento de um
 Hipoestesia: diminuição da sensibilidade transtorno.
 Anestesia: supressão completa da
sensibilidade ORIENTAÇÃO
 Analgesia: redução da sensibilidade A orientação associa-se às noções de espaço e de
especificamente quanto à dor tempo e a desorientação pode ser:

- Percepções: ato pelo qual uma pessoa toma  Autopsíquica (em relação a si próprio)
conhecimento consciente de objetos do meio exterior.  Alopsíquica (em relação aos demais e ao
Quando há alterações da percepção, elas se ambiente).
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Nas alterações da orientação, também se situam os  Interceptação do pensamento, compulsão a


desdobramentos de personalidade e os casos de pensar
despersonalização, ou de estranheza quanto a si  Concretismo do pensamento
próprio.  Pensamentoderreísta ou mágico
CONSCIÊNCIA  Pensamento obsessivo
 Perseveração
A consciência é um processo de coordenação e de
 Pensamento prolixo
síntese da atividade psíquica. Ela apresenta dois
 Pensamento oligofrênico
aspectos: o subjetivo e o objetivo.
 Pensamento demencial
Em relação às alterações, podem estar:  Incoerência do pensamento
 Lúcida Outro elemento associado à avaliação do pensamento
 Obnubilada: diminuição do grau de clareza do é o “juízo”, aquilo que estabelece a relação entre dois
sensório, com lentidão da compreensão, conceitos, respeitando as lógicas formais do
dificuldades de percepção e elaboração dos pensamento. É um pensamento enunciativo,
estímulos sensoriais. asseverativo.
 Comatosa: geralmente acompanhada de
As alterações do juízo se expressam, por exemplo,
manifestações neurológicas.
nos delírios e seus subtipos – delírios de perseguição,
Pode ocorrer confusão mental, acompanhada de de relação, de influência, de ciúme, de grandeza. O
agitação psicomotora ou delírios oniroides (os delírios delírio parte de uma premissa falsa, que origina um
febris de certas doenças infecciosas). Podem ocorrer juízo falso e que não pode ser corrigido por meios
alterações na consciência do eu, como estados de racionais. A perda do juízo de realidade origina o
êxtase, de transe ou de possessão. delírio, pela perda da capacidade de discernir o real
do não real.
PENSAMENTO
O pensamento, ou raciocínio, tem diversos elementos, LINGUAGEM
podendo ir de um pensar elementar (ideias vagas, A linguagem é a forma de expressão do pensamento.
casuais e irregulares, sem lógica ou utilidade, como em Portanto, perturbações do pensamento podem se
alguns devaneios) a uma forma superior de pensar expressar na linguagem.
(como um ato reflexivo, uma sucessão lógica de ideias,
As alterações de linguagem podem ser divididas
encadeadas coerentemente).
naquelas de natureza orgânica e nas de natureza
Alterações do pensamento: funcional.

 Inibição do pensamento  Orgânicas:


 Fuga de ideias
- Disartria: dificuldade de articular as palavras por
 Pensamento vago
problemas nos músculos que intervêm na articulação
da fala.
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- Dislalia: pode ser tanto orgânica quanto funcional cognitivas e intelectuais obtidas ao longo da vida, como
o nível de escolaridade, as habilidades laborais
- Afasias: incapacidade de expressar o pensamento
adquiridas apenas para tarefas mais simples ou
por meio das palavras orais ou escritas
atividades profissionais mais elaboradas e complexas.
 Funcionais:
ATIVIDADE VOLUNTÁRIA
- Logorreia ou taquilalia: incontinência verbal, comum O comportamento, ou conduta, depende de uma série
nos quadros de agitação psicomotora ou de de processos psíquicos conscientes (percepção,
hipomaníacos e maníacos ideias, sentimentos), que determinarão a direção e a
intensidade da ação, de acordo com um objetivo
- Bradilalia: diminuição da velocidade de expressão
consciente ou não.
OBS: Mutismo é a ausência de linguagem oral e pode
Suas alterações poderão variar de estados de
ser de causa orgânica ou funcional.
excitação motora, de ausência ou diminuição da
AFETIVIDADE atividade motora (hipobulia ou abulia). Quando a
A afetividade é a capacidade de expressar atividade está diminuída ao máximo, encontram-se os
sentimentos e emoções, compreende os estados de estados de estupor. O negativismo, tendência
ânimo, de humor e as paixões. permanente contra as solicitações do mundo
exterior, é outra das alterações da conduta
As principais alterações poderão ser: encontradas.
 Hipertimia OBS: Para o exame mental, existe também o Cartão
 Hipotimia Babel, o qual contém instrumentos de avaliação em
 Apatia ou indiferença afetiva saúde mental na atenção básica, incluindo
 Sentimentos de insuficiência instrumentos de triagem de transtornos do humor,
 Sentimentos de irritabilidade patológica, de transtornos ansiosos, avaliação do risco de suicídio,
instabilidade afetiva, de incontinência demência, álcool e tabaco.
emocional ou ambivalência.
MANEJO DA PESSOA COM TRANSTORNO MENTAL
Um dos afetos mais importantes encontrados na
clínica é a angústia ou a ansiedade, que deve ser  ELABORAÇÃO DE UMA LISTA DE PROBLEMAS:
diferenciada do temor relacionado a um determinado Após a coleta adequada dos dados na consulta médica,
objeto. A angústia refere-se a um temor sem objeto a elaboração de uma lista de problemas é o próximo
e, por vezes, sem uma base realista consciente. passo. A vantagem de trabalhar com uma lista de
INTELIGÊNCIA problemas em relação à formulação de hipóteses
diagnósticas é que na lista de problemas, há um
A inteligência é mensurada por meio de testes
trabalho intelectual prático e com método, ao passo
psicológicos específicos, mas pode ser avaliada
que na hipótese diagnóstica por tentativa, há uma
empiricamente pela anamnese das aquisições
premissa um tanto mágica de que o médico tem uma
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resposta pronta, restando apenas ver se os achados, capacidade de insight, motivação para o tratamento,
quando agrupados, a confirmam. recursos financeiros e de tempo).
A lista de problemas, portanto, segue passo a passo O plano de atuação pode ser dividido em:
a construção de um processo diagnóstico, expressão
clínica de um processo de pensamento e raciocínio 1. Plano diagnóstico: obter mais informações sobre
que ocorre internamente no profissional. a época e o contexto pessoal e profissional da
pessoa no início de sua depressão.
 CONSTRUÇÃO DA HIPÓTESE DIAGNÓSTICA:
2. Plano terapêutico: psicoterapia breve, voltada à
A forma mais fácil e objetiva para o médico de família compreensão dos fatores desencadeantes,
e comunidade é, inicialmente, fazer um diagnóstico mostrando sua relação com o desenvolvimento
sindrômico (síndrome ansiosa, síndrome depressiva, da depressão e com os sintomas atuais;
síndrome psicótica). Para isso, pode-se realizar o prescrição de antidepressivo inibidor seletivo da
diagnóstico baseado na psicodinâmica, a qual refere- recaptação da serotonina, visando a um
se à obtenção de uma compreensão mais ampla da esbatimento e a um controle mais rápido dos
pessoa em sofrimento, o que inclui formas habituais sintomas depressivos.
ou principais de funcionamento daquela pessoa em
várias áreas de sua vida, sejam elas pessoais, sociais 3. Plano educacional: fornecer à pessoa e aos
ou profissionais. familiares a compreensão de que a depressão é
uma doença potencialmente tratável e para a
Posteriormente, após a coleta de dados abrangente qual se espera uma evolução favorável com o
e compreensiva e a construção de uma adequada lista tratamento.
de problemas, deve-se realizar um estudo inicial,
 OPÇÕES PARA O MÉDICO DE FAMÍLIA E
utilizando-se os instrumentos de classificação e
COMUNIDADE APÓS A AVALIAÇÃO:
diagnóstico nosológicos, dentre os quais incluem-se:
Existem quatro padrões de manejo dos médicos de
- Classificação internacional de atenção
família para os casos em que há um componente de
primária (CIAP-2), para a classificação inicial
saúde mental:
- Classificação internacional de doenças (CID-10), para
detalhamento 1. Sozinho, maneja a situação.
2. Dá o atendimento continuado com o auxílio e apoio
 PLANO DE ABORDAGEM: de um profissional de saúde mental.
O próximo passo lógico, após a construção de uma 3. Referencia a pessoa a um psiquiatra ou serviço
hipótese diagnóstica, nosológica e psicodinâmica, é o psiquiátrico para consulta.
estabelecimento de um plano de abordagem desses 4. Referencia a pessoa a um psiquiatra, para que
aspectos. Esse plano deve ser objetivo e adequado às este faça o seguimento ambulatorial ou
hipóteses construídas e às circunstâncias presentes hospitalar, se esse for o caso.
no contexto do atendimento (nível intelectual,
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RESUMO DO MANEJO Uma vez de posse dos dados relevantes, pode-se


fazer um diagnóstico inicial no mínimo sindrômico:
 Atitude empática e compreensiva ao escutar.
 Sem transtorno mental, mas com sintomas
 Coleta criteriosa de dados relevantes, iniciando
(conflito psíquico).
pelo motivo da busca de tratamento atual.
 Crise evolutiva normal, com sintomas
 Investigação do fator desencadeante da crise (geralmente com ansiedade ou depressão).
(início, contexto, evolução, significados para a  Reações de ajustamento a situações vitais
pessoa). estressantes.
 Transtorno mental sem perda do juízo de
 Lista de sinais e sintomas presentes no momento realidade.
e no passado.  Transtornos afetivos (alterações no humor).
 Estar atento para respostas vagas ou evasivas.  Transtornos de personalidade (padrões de
Tenha como regras o seguinte: comportamento cronicamente inadequados):

- Faça mais perguntas abertas do que fechadas. - Abuso de substâncias.


- Transtornos de ansiedade (fobias,
- Procure compreender e reconhecer as respostas transtorno obsessivo-compulsivo, etc.).
da pessoa.
- Transtorno de estresse pós-traumático.
- Preste atenção à linguagem corporal e ao tom de - Outros.
voz.  Transtorno mental com perda do juízo de
realidade:
- Permita à pessoa expressar livremente suas
emoções. - Psicoses funcionais (esquizofrenia).

- Garanta a confidencialidade das informações. - Psicoses orgânicas (por drogas, metabólicas,


traumáticas, tumores, etc.).
- Quando não souber o que dizer, aguarde em silêncio,
escutando ativamente. - Transtorno afetivo com sintomas psicóticos.

- Coloque as informações coletadas dentro de um - Demências (senil, mal de Alzheimer).


contexto mais amplo, que envolva os sintomas, o
tempo, as relações entre as pessoas.  Outras situações:

- Quando quiser dizer algo, como um entendimento ou - Problemas de desenvolvimento e de


uma interpretação, e não tiver certeza de sua aprendizado (em crianças).
correção ou momento (timing), faça-o na forma de - Retardo mental.
pergunta.
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Algumas dicas práticas, em caso de múltiplos


transtornos incluem:

 O tratamento do alcoolismo antes, se estiver


presente.
 A presença de sintomas depressivos faz com
que o tratamento da depressão seja prioritário
em relação à ansiedade ou a sintomas somáticos
inexplicados.
 Se sintomas ansiosos estiverem presentes, o
foco do tratamento deve ser na ansiedade mais
do que em sintomas somáticos inexplicados, pois
estes aumentam quando ambos os problemas
estão presentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PARA


APROFUNDAMENTO DO ESTUDO:
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M.C.; DIAS, Lêda C. (Orgs.).
Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios,
Formação e Prática. Porto Alegre: ARTMED, 2019, p.
2388. Cap. 36.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à


Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
Departamento de Atenção Básica, Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas. - Brasília: Ministério
da Saúde, 2013. 176 p.: il. (Cadernos de Atenção Básica,
n. 34).

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