Você está na página 1de 57

UNIDADE 2

Saúde Mental
Objetivos Definição
Para o início do Houver necessidade de
desenvolvimento de apresentar um novo conceito
uma nova competência

Nota Importante
Quando necessárias As obsevações escritas
observações ou tiveram que ser priorizadas
complementações para para você
o seu conhecimento

Você Sabia?
Explicando Melhor Curiosidades e indagações
Algo precisa ser melhor lúdicas sobre o tema
explicado ou detalhado em estudo, se forem
necessárias.

Saiba Mais Reflita


Textos, referências Se houver a necessidade
bibliográficas e links para de chamar a atenção
aprofundamento do se sobre algo a ser refletido ou
conhecimento. discutido

Acesse Resumindo
Se for preciso acessar um Quando for preciso fazer um
ou mais sites para fazer resumo acumulativo das
download, assistir vídeos, últimas abordagens
ler textos, ouvir podcast.

Atividades Testando
Quando alguma atividade Quando uma compeência
de autoaprendizagem for for concluída e questões
aplicada forem explicadas.
Sumário

Dispositivos da saúde mental 6


O que são dispositivos da saúde mental

Unidades Básicas de Saúde

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Centros de Convivência e Cultura

Programa “De Volta para Casa”

Serviço Residencial Terapêutico (SRT)

Hospital-Dia

Leitos de retaguarda em Hospitais Gerais (noturno/feriado/final

de semana)

Unidades de Pronto-Atendimento (UPA)

Integração e redes sociais em saúde mental 17

Conceito de redes sociais

Mapa de redes sociais

Redes sociais em saúde mental

Importância das redes sociais em saúde mental

Rede social no auxílio ao tratamento

CL I QUE N O CAP Í T UL O P ARA SE R RE DI RE C I O N A DO


Sumário

Atenção e cuidado em saúde mental 29

A relação familiar no passado

A importância da relação familiar

Dificuldades na inserção da família no cuidado

O cuidado com o cuidador

Matriciamento em saúde mental 41

O que é matriciamento em saúde mental

Instrumentos do processo de matriciamento em saúde mental

Elaboração do projeto terapêutico singular no apoio

matricial de saúde mental

Interconsulta como instrumento do processo de

matriciamento

Dificuldades na implantação da equipe de apoio matricial

CL I QUE N O CAP Í T UL O P ARA SE R RE DI RE C I O N A DO


1
Dispositivos da saúde
mental
Saúde Mental Capítulo 1

Dispositivos da saúde
mental

Objetivos

O movimento pela luta antimanicomial levou a uma progressiva


substituição por uma rede de atenção em saúde mental composta
de uma série de serviços e ações de saúde mental no Sistema de
Saúde. Neste capítulo, vamos conhecer melhor essas ações, como são
realizadas, de que forma são integradas ao Sistema Único de Saúde (SUS)
e à Estratégia de Saúde da Família (ESF) e como substituem a internação
por longa permanência. Pronto para aprofundar seu conhecimento?
Então vamos lá!

O que são dispositivos da saúde mental

A Reforma Psiquiátrica no Brasil aconteceu, e ainda acontece, de forma lenta, porém,


tendo a desinstitucionalização como principal vertente levando à construção de outras
estruturas para tratamento das pessoas com sofrimento psíquico. Este processo foi
viabilizado pela Lei n.º 10.216/2001 garantindo a proteção e os direitos das pessoas com
transtornos mentais, redirecionando o modelo assistencial em saúde mental.

Com esse redirecionamento se tornou necessário modificar as ações e os serviços de


saúde mental, por meio de um conjunto de atividades capazes de oferecer condições
amplas à recuperação dos indivíduos, para neutralizar os efeitos da doença e das
internações psiquiátricas sucessivas. A reabilitação acontece por meio de uso de
recursos individuais, familiares e da comunidade, dando ao indivíduo oportunidade para
a restituição da identidade pessoal, social e a autonomia.

A Lei n.º 10.216/2001 estabelece que essa reabilitação deve acontecer em base
comunitária e próximo ao convívio com a família e a sociedade. Para isso, foram criados
equipamentos e dispositivos em saúde mental ou serviços substitutivos, os quais são
chamados os serviços de atendimento em saúde mental na comunidade, formando
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

uma rede de atendimento psicossocial.

IIMAGEM 1

Atendimento psicossocial
FONTE

Freepik

Definição

Esses serviços substitutivos são um conjunto de dispositivos sanitários e


socioculturais para a integração das várias áreas da vida do indivíduo,
como educação, assistencial e de reabilitação.

Cada município deve determinar suas ações e seus serviços de saúde mental baseados
em processos coletivos garantindo o direito ao acesso à atenção em saúde mental e
aos programas existentes. Esses serviços fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial
(Raps), responsável pela articulação desses serviços. Entre eles estão: Unidades Básicas
de Saúde; Centros de Atenção Psicossocial (Caps); Centros de Convivência e Cultura;
Unidades de Pronto-Atendimento (UPA); Serviço Residencial Terapêutico (SRT); leitos de
retaguarda em Hospitais Gerais (noturno/feriado/ final de semana); Programa “de Volta
para Casa”; Hospital-Dia; grupos de Produção; ações intersetoriais; mobilização; controle
social e a desconstrução do Hospital Psiquiátrico.

Entendendo quais são os dispositivos e como eles funcionam, conseguimos entender


melhor o processo de cuidado do paciente com transtornos mentais. Por isso, vamos
conhecer os principais dispositivos da saúde mental (FIGUEIREDO; CAMPOS, 2009;
ZAMBENEDETTI, 2009).
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

Unidades Básicas de Saúde

A Atenção Básica teve, e ainda tem, um papel importante no processo da Reforma


Psiquiátrica, pois, é por meio dela que se estrutura a rede de atendimento à saúde
mental principalmente em municípios pequenos. Isso porque municípios com menos de
20 mil habitantes não dispõem de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, tais
como: os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Serviços Residenciais Terapêuticos
(SRT), leitos em hospitais gerais e Ambulatórios. Dessa forma, a Atenção Básica se
torna responsável por organizar e desenvolver o atendimento a esses pacientes com
o objetivo de acolher e estabelecer vínculos terapêuticos. Nesses casos, o médico da
equipe de ESF deve ser generalista com capacitação em saúde mental e deve dispor de
um técnico de saúde mental, de nível superior, para desenvolvimento do apoio matricial
que é essencial no acompanhamento do paciente.

atendimento central da Atenção Básica acontece nas Unidades Básicas de Saúde


(UBSs), e o acompanhamento dos pacientes com transtornos mentais está vinculado
às ações e aos serviços das equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF), isso para
se fazer um acompanhamento não apenas de consultas, mas também verificando o
convívio desse indivíduo com a família e a sociedade. Dessa forma, torna-se um campo
de práticas e de produção de novos modelos de cuidado em saúde mental, tendo como
proposta os cuidados dentro dos princípios da integralidade, da interdisciplinaridade,

Reflita

Sabemos da necessidade do acompanhamento dos pacientes com


transtornos mentais e que a ESF é de extrema importância, mas, sabendo
que este perfil de paciente deve ter um cuidado mais especializado
como o CAPS, será que a ESF dos municípios pequenos tem estrutura
para isso? Em contrapartida, será que em uma população pequena ter
essa estrutura não afetaria financeiramente as demais ações e serviços
de saúde?

Nos casos mais graves, a equipe presta o atendimento ao paciente e é responsável pelo
controle e, algumas vezes, pela aplicação da medicação juntamente com a avaliação
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

médica e acompanhamento psicológico. Nos demais casos, o controle e aplicação são


responsabilidade do próprio paciente ou responsável, isso porque entende-se que ele é
capaz desse autocuidado.

Entre as atividades da equipe, está a visita domiciliar, a qual é definida como instrumento
de realização da assistência domiciliar, sendo constituída pelo conjunto de ações para
viabilizar o cuidado às pessoas com algum nível de alteração no estado de saúde
(dependência física ou emocional) ou para realizar atividades vinculadas aos programas
de saúde. Para isso, à equipe de saúde da família cabe reconhecer quando o núcleo
familiar precisa de apoio, além de entender que a família tem o papel fundamental para
o bom desenvolvimento do cuidado ao paciente (AOSANI; NUNES, 2013; CORREIA, 2011).

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Segundo o Ministério da saúde, os CAPS podem ser definidos como:

Definição

São pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial


(RAPS): serviços de saúde de caráter aberto e comunitário constituído
por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar e
realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou
transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do
uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em situações
de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial e são substitutivos
ao modelo asilar.

Esses centros têm como objetivos não apenas o atendimento médico e psicológico,
mas também a atenção na rede de cuidados à saúde mental garantindo o acesso e a
equidade, levando direito e autonomia aos pacientes por meio da assistência realizada
por equipe multidisciplinar. Dessa forma, essa equipe é baseada em um trabalho
comunitário, humanizador e reintegrador do ser humano no contexto social, trazendo
novo significado individual e social para os usuários desses serviços.
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

As atividades são desenvolvidas por intermédio de Projeto Terapêutico Singular (PTS)


estando relacionados com a equipe, o indivíduo e a família, assim, o PTS acaba sendo
individualizado de acordo com as necessidades do paciente.

É importante que a estrutura do CAPS, independente da modalidade, seja acolhedor,


remetendo ao convívio em casa e com a família, para que seja atrativo ao paciente
para ser possível acompanhar o usuário, em sua história, cultura, projetos e vida
cotidiana indo além do próprio serviço, sendo também um suporte social, saberes e
recursos dos territórios. Apesar de serem individualizadas, não são, necessariamente,
individuais, algumas dessas ações são coletivas, outras junto com as famílias e ainda
ações voltadas para as famílias.

Até aqui entendemos de forma superficial as ações e os serviços do CAPS, mas


posteriormente aprofundaremos este tema com mais detalhes, por isso, vamos agora
conhecer os próximos dispositivos da saúde mental (LEAL; ANTONI, 2013; BRASIL, 2015;
RIBEIRO, 2018).

Centros de Convivência e Cultura

A partir de uma avaliação dos profissionais responsáveis pelo paciente, é importante


que o tratamento tenha continuidade em outros dispositivos, e o Centro de Convivência
e Cultura é considerado um dispositivo potente e efetivo na inclusão social dos pacientes

Definição

Os Centros de Convivência e Cultura foram definidos pela Portaria


n.º 396/2005 como “dispositivos componentes da rede de atenção
substitutiva em saúde mental, onde são oferecidos às pessoas espaços
de sociabilidade, produção e intervenção na cidade” e, posteriormente,
pela Portaria nº 3.088 de 2011/2014 como “unidade pública, articulada às
Redes de Atenção à Saúde, em especial à Rede de Atenção Psicossocial,
onde são oferecidos, em geral, espaços de sociabilidade, produção e
intervenção na cultura e na cidade”.
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

Nestes centros, as pessoas da comunidade têm a liberdade para se reunir livremente,


com a finalidade de socialização para construírem, juntas, espaços de lazer, trabalho,
saúde, cultura, entretenimento, inclusão social, além da possibilidade de discussões
sobre problemas de sua comunidade, dessa forma, é uma alternativa de socialização
para as pessoas com transtornos mentais, base do conceito da Reforma Psiquiátrica.

Esse espaço permite a interação de grupos muitas vezes discriminados pela sociedade,
como dependentes químicos, idosos, pessoas com algum tipo de deficiência física e
pessoas com transtornos mentais, tendo como característica a participação voluntária
sem controle de frequência ou prontuários médicos.

Saiba Mais

É possível encontrar dissertações e teses que descrevem um mapa


territorial da quantidade de Centros de Convivência e o número de
pessoas que utilizam esse espaço, além de estudos descrevendo a
implantação desses centros em algumas cidades. Entre eles, está a
dissertação de Ferreira (2014), utilizada como referência neste capítulo.
Vale a pena a leitura!

Programa “De Volta para Casa”

Esse programa, criado pelo Ministério da Saúde, tem como seu objetivo a “inserção social
de pessoas acometidas de transtornos mentais, incentivando a organização de uma

Saiba Mais

O Ministério da Saúde, na cartilha “Mostra Fotográfica Programa De Volta


para Casa”, elaborada em 2008, descreve que o Programa de Redução de
Leitos Hospitalares de Longa Permanência em conjunto com os Serviços
Residenciais Terapêuticos e o Programa De Volta para Casa formam
o tripé essencial para o efetivo processo de desinstitucionalização
e resgate da cidadania das pessoas acometidas por transtornos
mentais submetidas à privação da liberdade nos hospitais psiquiátricos
brasileiros.
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

Para que o município possa participar desse programa, deve ser acompanhado por
meio de Comissão de Acompanhamento do Programa “De Volta para Casa”, constituída
pelo Ministério da Saúde, cujas responsabilidades são:

• Elaborar e pactuar as normas aplicáveis ao programa e submetê-las ao Ministério da


Saúde.
• Pactuar a definição de municípios prioritários para habilitação no programa.
• Ratificar o levantamento nacional de clientela de beneficiários em potencial do
programa.
• Acompanhar e assessorar a implantação do programa.

A Lei n.º 10.708/2003 regulamenta o auxílio-reabilitação psicossocial para pacientes


acometidos de transtornos mentais egressos de internações, atualmente esse valor pago
mensalmente é de R$ 412,00, por um ano, podendo ser renovado pelo tempo necessário
para a reintegração social do paciente.

Para que o paciente possa ser incluído no programa e se beneficiar com o auxílio-
reabilitação, é necessário que esteja de alta hospitalar, sendo acompanhado por
um CAPS ou outro serviço de saúde do município onde passará a residir, além do
acompanhamento por uma equipe de profissionais encarregada de prover e garantir a
atenção psicossocial e apoiá-lo em sua integração ao ambiente familiar e social. Entre
os serviços do CAPS que esse paciente pode participar, há o Serviço Terapêutico que
vamos ver a seguir (BRASIL, 2003b; BRASIL, 2003a).

Serviço Residencial Terapêutico (SRT)

Segundo a Portaria nº 3.588, de 21 de dezembro de 2017, entende-se como Serviços


Residenciais Terapêuticos (SRT):

Definição

Moradias inseridas na comunidade, destinadas a cuidar dos portadores


de transtornos mentais crônicos com necessidade de cuidados de longa
permanência, prioritariamente egressos de internações psiquiátricas e
de hospitais de custódia, que não possuam suporte financeiro, social e/
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

/ou laços familiares que permitam outra forma de reinserção.

Esse serviço surge com a proposta de acolher os egressos ou não de hospitais


psiquiátricos, em geral sem suporte familiar, que não têm condições de garantia de
espaço adequado de moradia. Tem por objetivo ajudar o paciente a ressocializar,
resgatar a autonomia e incentivá-lo a assumir uma posição de agente ativo de
produção de vida. Essas moradias, inseridas em espaço urbano, podem alojar de um
a oito pacientes necessitando de um profissional de nível médio capacitado por uma
equipe de referência como cuidador, além de ter suporte garantido pelo CAPS, pela ESF
ou outros serviços de saúde, caracterizando a interdisciplinaridade.

Na transição entre a hospitalização de longa permanência e a luta antimanicomial, esse


serviço foi essencial como serviço intermediário dos pacientes que já estavam por anos
internados e iniciariam seu convívio com a sociedade novamente. Essa reestruturação
levou à diminuição do repasse de recursos aos hospícios e ao aumento de recursos para
os serviços residenciais terapêuticos. De acordo com o descrito na Portaria n.º 106/2000,
“a cada transferência de paciente do Hospital Especializado para o Serviço de Residência
Terapêutica, deve-se reduzir ou descredenciar do SUS igual nº de leitos naquele hospital”.
Dessa forma, é considerado um facilitador do processo de desospitalização e um
operador da substituição da hospitalização (FONSÊCA, 2018; MASSA; MOREIRA, 2019; WEBER,
2018).

Hospital-Dia

Definição

Regime de Hospital Dia prevê a assistência intermediária entre a internação


e o atendimento ambulatorial, para realização de procedimentos clínicos,
cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, que requeiram a permanência
do paciente na Unidade por um período máximo de 12 horas (BRASIL,
2001a).
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

Para se implantar esse programa, é necessário que haja uma área específica,
independente da estrutura hospitalar, com áreas para atividades em grupo, área
externa, leitos para repouso eventual e ambiente para refeições. Deve ter uma equipe
multiprofissional atuando cinco dias na semana (segunda a sexta-feira) com carga
horária de oito horas por dia de forma que atenda à população de uma área geográfica
definida, para facilitar o acesso do paciente à unidade assistencial sendo integrada à
rede hierarquizada de assistência à saúde mental (BRASIL, 2001b).

Com uma equipe multiprofissional avalia a necessidade de cada paciente e inclui


atividades como:

• Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros).


• Atendimento grupal (psicoterapia, grupo operativo, atendimento em oficina terapêutica,
atividades socioterápicas, entre outras).
• Visitas domiciliares.
• Atendimento à família.
• Atividades comunitárias visando trabalhar a integração do paciente mental na
comunidade.
• Inserção social.

Leitos de retaguarda em Hospitais Gerais (noturno/feriado/final de semana)

Os leitos de Saúde Mental em Hospitais Gerais são componentes da Rede de Atenção


Psicossocial (Raps), porém, não devem ser considerados como um ponto de atenção
isolado, mas complementar aos demais serviços da Atenção à Saúde Mental. Trata-
se de um componente de urgência e emergência para garantir acesso dos usuários à
tecnologia hospitalar, particularmente no manejo do cuidado às intercorrências clínicas,
pois os serviços extra-hospitalares nem sempre dispõem de uma estrutura que ofereça
agilidade para esse tipo de atendimento.

São considerados um ponto estratégico para fortalecimento da Raps, devendo ser bem
localizados em vários municípios, de fácil acesso, com propostas de intervenções breves
e acesso a recursos clínicos multidisciplinares diferentemente do que ocorre no Hospital
Psiquiátrico. Contribuem para a diminuição do estigma do transtorno mental e propiciam
práticas de cuidado mais transparentes, associadas a uma integração efetiva entre as
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1

s equipes de profissionais, sendo utilizados principalmente para o manejo do paciente


com transtorno mental em crises que necessitem de internamento (BARROS; TUNG; MARI,
2010; PARANÁ, 2016).

Unidades de Pronto-Atendimento (UPA)

A procura pelas Unidades de Pronto-Atendimento tem como principal motivo o


atendimento psiquiátrico de emergência, em geral, com sintomas de agitação
psicomotora e/ou agressividade. Casos em que é indispensável a intervenção imediata
da equipe multiprofissional, adequadamente treinada, com o intuito de evitar maiores
prejuízos à saúde do indivíduo, ou possíveis riscos à sua vida ou a de terceiros.

No momento do atendimento, é realizado uma triagem para verificar a necessidade


e a duração de internamento, ou se é possível estabilizar e instituir o tratamento de
casos agudos, isso de forma rápida e ágil, buscando caracterizar aspectos diagnósticos,
etiológicos e psicossociais do quadro apresentado pelo paciente. Além disso,
proporcionam suporte psicossocial, podem ser consideradas uma porta de entrada
do paciente da rede de atenção à saúde mental, organizando o fluxo das internações
e reduzindo as admissões hospitalares desnecessárias, além de possibilitarem uma
melhor comunicação entre as diversas unidades do sistema de saúde (BARROS; TUNG;
MARI, 2010; SOUZA, 2017).

Resumindo

E então? Gostou do tema trabalhado? Vimos os principais serviços


e ações voltados à saúde mental, com foco principal na substituição
das instituições de longa permanência por atividades que incluam este
paciente na sociedade a partir de uma Rede de Atenção em Saúde Mental.
Mas é importante destacar que isto vai além do simples deslocamento
dos espaços de cuidado, está relacionado a uma complexa mudança
de paradigmas e de práticas no campo da saúde mental.
2
Integração e redes
sociais em saúde
mental
Saúde Mental Capítulo 2

Integração e redes sociais


em saúde mental

Objetivos

Neste capítulo, vamos conhecer o conceito de redes sociais, refletir sobre


sua importância nos cuidados da saúde mental e como pode auxiliar o
tratamento do paciente com transtornos mentais. Além disso, vamos
discutir acerca da importância dessa rede social do indivíduo participar
de ações e serviços voltados ao tratamento deste transtorno. Motivado
para ampliar seu repertório? Então vamos lá!

Conceito de redes sociais

Importante

Na literatura, não há um consenso quanto à utilização do termo “rede


social”, por isso, quando você for aprofundar seus conhecimentos nesta
área, pode deparar-se com termos como “rede social significativa”,
“rede social de apoio”, “redes comunitárias” ou “redes de suporte”, todos
eles possuem a mesma ideia de relação entre indivíduos na sociedade.

Desde o início da vida, o ser humano participa de grupo social, uma trama interpessoal
que os molda e contribui para moldar a seu grupo social futuro. Trata-se do conjunto de
pessoas com quem esse indivíduo interage, conversa e troca sinais regularmente.
Essa experiência ajuda a constituir a própria identidade, que se constrói e reconstrói
constantemente durante a vida com base na interação com os outros, tornando-se
parte intrínseca da identidade de cada indivíduo. Como afirma Brusamarello et al. (2011,
p. 34)
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

As redes sociais são definidas como teias de


relações que circundam o indivíduo e, desta
forma, permitem que ocorra união, comutação,
troca e transformação. Ao integrá-la, existe a
possibilidade de se organizar socialmente como
uma estrutura descentralizada, em que todos
podem, simultaneamente, ocupar diferentes e
distintas posições, dependendo dos interesses e
dos temas tratados.

A rede microssocial que o indivíduo integra contribui de maneira significativa para gerar
suas práticas sociais e a visão do mundo e de si, também é parte crucial da própria
identidade e evolui ao longo da vida. Além disso, as mudanças nas redes sociais são
consideradas um marcador para os diversos períodos do ciclo da vida, sendo causa e
efeito das contínuas transformações do indivíduo.

Dessa forma, podemos dizer que a rede social é um grupo de pessoas, membros da família,
amigos, vizinhos e outras pessoas, com capacidade de ajudar e apoiar a um indivíduo
ou família. Correspondendo, assim, ao nicho interpessoal da pessoa e contribuindo para
seu próprio reconhecimento como indivíduo e para sua autoimagem. As pessoas que
compõem essa rede, são todas as pessoas que o indivíduo considera significativas no
universo relacional no qual está inserido (MORE, 2005; UBER; BOECKEL, 2014).

Importante

O termo “redes sociais” é encontrado hoje como “estruturas virtuais”


em que pessoas ou empresas se relacionam por meio de conteúdos e
mensagens diretas ou postadas na internet, mas vale lembrar que esse
conceito é mais amplo e vai além da web. Rede no seu conceito amplo
pode designar comunicar, interligar ou distribuir, e, quando falamos
de rede social, estamos descrevendo a comunicação ou interligação
entre os indivíduos da sociedade. Apenas para não confundir: em nosso
estudo, estamos falando da comunicação direta entre os indivíduos da
sociedade.
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

Nos últimos anos, como parte da Reforma Psiquiátrica brasileira, os padrões da atenção
psiquiátrica hospitalar têm sido questionados, levando a novas formas de cuidar das
pessoas com transtornos mentais, pautadas na inclusão e na reabilitação psicossocial.
O atual modelo de atuação visa substituir o atendimento exclusivo que tem levado ao
abandono e à marginalização por uma rede de saúde mental inclusiva que promova a
integração social e familiar das pessoas com transtornos mentais.

O cuidado em saúde mental tem evidenciado a


necessidade de focar a atenção para intervenções
que ofereçam alternativas de se trabalhar a
realidade social a fim de promover suporte
mútuo, democracia participativa e movimentos
sociais. Nessa perspectiva, as redes sociais são
de extrema significância “tanto do ponto de vista
da reconstrução de um cotidiano, muitas vezes
perdido pelo sofrimento psíquico, como importante
suporte no tratamento a partir dos diversos
dispositivos de apoio e de solidariedade. Dessa
forma, elas ganham relevância na reinserção e
reabilitação do portador de transtorno mental na
sociedade, bem como no resgate de sua
autonomia. (BRUSAMARELLO et al., 2011, p. 34)

O apoio social que as pessoas recebem e percebem é essencial para a manutenção


da saúde mental, pois redes sociais aprimoradas ajudam os indivíduos a lidarem com
situações estressantes, como ter um membro da família com transtorno mental ou
que foi diagnosticado com uma doença crônica. Nesse sentido, quanto mais diversa e
contextual for uma relação, maiores e mais diversos serão os recursos psicossociais à
disposição da pessoa.

Uma rede social que é pessoal e consegue ser estável, ativa e confiável pode proteger
a vida diária de uma pessoa, promover a construção e manutenção da autoestima e
acelerar o processo de recuperação. Como tal, é essencial para promover o bemestar
físico, mental e emocional. Por outro lado, existe uma rede que não oferece suporte
suficiente, portanto, sua fragilidade e inadequação são fatores de fragilidade da saúde,
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

o que contribui para o aumento dos níveis de transtornos emocionais e físicos como
depressão, hipertensão e obesidade.

É importante observar que a rede social de um indivíduo é um reflexo do contexto histórico,


cultural, social e político em que as pessoas têm interesses, aspirações, intenções e
desejos. Por isso, a respeito deste aspecto, Brusamarello et al. (2011, p. 34) afirma:

Compreender o modo de viver das pessoas,


reconhecer suas percepções acerca do mundo
e identificar seus relacionamentos possibilita aos
profissionais de enfermagem, na organização
e na prestação do cuidado, contribuir para o
alcance do bem-estar destes sujeitos. Com
esta investigação pretende-se contribuir para a
ampliação do conhecimento científico da equipe
de enfermagem com vistas à qualificação do
cuidado a pessoas com transtorno mental e
familiares. Assim, considerasse importante que
o enfermeiro e demais profissionais da área da
saúde conheçam as redes sociais de pessoas
com transtorno mental e familiares e as utilizem
para proporcionar um cuidado a essa população
de acordo com suas necessidades e realidades
cotidianas.

Mapa de redes sociais

A rede social de um indivíduo pode ser registrada em forma de “mapa mínimo” o


qual inclui todos os indivíduos que determinada pessoa interage. É constituído por um
diagrama formado por três círculos concêntricos dividido em quatro quadrantes:

• Família.
• Amizades.
• Relações de trabalho ou escolares (companheiros de trabalho e ou de estudos).
• Relações comunitárias, de serviços (exemplo, serviços de saúde) ou de credos.
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

O círculo interno representa as relações mais íntimas consideradas pelo indivíduo, seja
da família ou de amizades. O círculo intermediário registra as relações com menor grau
de relacionamento (relações sociais ou profissionais ou familiares), e o círculo externo
as relações ocasionais (tais como conhecidos de escola ou trabalho, familiares mais
distantes, vizinhos).

IIMAGEM 2

Mapa de rede social


FONTE

Freepik

Esse registro é específico do momento atual ou situação vivenciada pelo indivíduo e só


terá importância se realizado e avaliado da forma correta. Para isso, pode-se observar
os seguintes aspectos:

• Tamanho – quantidade de pessoas que constituem a rede. Redes muito pequenas


são menos efetivas quando o indivíduo se sente sobrecarregado ou em situações de
tensão de longa duração, a fim de poupar-se pode evitar contatos; da mesma forma,
redes muito numerosas podem não ser efetivas, pois parte-se do pressuposto de que o
“outro” está cuidando do problema, dessa forma, as redes de maior efetividade são as
de tamanho médio.

• Densidade – qualidade da relação entre seus membros e o quanto de influência que


podem exercer no indivíduo. • Composição ou distribuição – qual posição que cada
membro ocupa nos quadrantes.
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

• Dispersão – distância geográfica entre a pessoa e os membros de sua rede.

• Homogeneidade/heterogeneidade – variáveis como idade, sexo, cultura e nível


socioeconômico, que podem favorecer trocas ou evidenciar tensões entre os membros
e o indivíduo.

Outra análise que pode ser feita, diz respeito às funções dos vínculos estabelecidos,
como de companhia social, de apoio emocional, de guia cognitivo e de conselhos, de
regulação social, de ajuda material e de serviços e de acesso a novos contatos. Cada
membro pode estar relacionado a mais de um desses vínculos. Dessa forma, é possível
perceber o tipo de interação que o indivíduo acompanhado tem com sua rede social,
entender quais são relevantes efetivamente e de que forma esses membros podem
auxiliar no tratamento e nas atividades do indivíduo.

Redes sociais em saúde mental

Sempre que falamos sobre o cuidado de pacientes com transtornos mentais,


comparamos os modelos atuais com os utilizados antes da Reforma Psiquiátrica, pois é
a necessidade de fazer diferente que nos impulsiona à melhoria dos novos modelos de
cuidados.

Por isso, vamos lembrar que a Reforma Psiquiátrica propõe substituir o modelo
asilar por um modelo de atenção baseado no convívio com a comunidade, tendo o
acompanhamento do tratamento dentro do Sistema de Saúde, e os Centros de Atenção
Psicossocial (Caps) sãos seus dispositivos estratégicos com prioridade na reinserção
social e no fortalecimento de vínculo dos usuários com a sociedade, incentivando-o na
busca da construção da autonomia e cidadania.

Quando utilizamos o termo “redes sociais” na saúde mental, estamos falando sobre
o conjunto de todas as relações que circundam o indivíduo e levam a interações
interpessoais, não apenas na questão de tratamento, mas de reconhecimento enquanto
sujeito, para a construção de identidade, para o sentimento de bem-estar, pertença e
autonomia. No momento em que integramos essas redes sociais, possibilitamos que se
organizem socialmente como uma estrutura descentralizada, em que todos podem
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

ocupar diferentes e distintas posições, dependendo dos interesses e dos temas tratados.
Para isso, é importante que essa rede seja diversificada para poder atender, ao menos, a
maioria dessas demandas. Por ser um sistema aberto, permite ao paciente, aos membros
da família ou à própria comunidade o benefício das múltiplas relações, estabelecendo e
favorecendo seu desenvolvimento (BRUSAMARELLO et al., 2011; UBER; BOECKEL, 2014).

Importância das redes sociais em saúde mental

O convívio social, em geral, leva o paciente ao entendimento da sua inserção como


indivíduo e sua importância para o desenvolvimento da sociedade na qual está inserido.
Entendendo que desempenha funções essenciais na vida dos sujeitos e na sociedade,
auxiliando nas soluções de problemas e oferecendo orientações e companhia.

Dessa forma, as redes sociais se tornam um dos principais recursos que um sujeito dispõe
referente ao apoio recebido e percebido, havendo associação entre desenvolvimento
humano saudável e qualidade das redes sociais que um sujeito mantém. São uma das
chaves centrais da experiência individual de identidade, competência, bem-estar e
autoria, incluindo os hábitos de cuidado de saúde e a capacidade de adaptação em
uma crise.

Importante

Vale ressaltar que as redes sociais incluem o conjunto de vínculos


interpessoais que abrangem a vida de uma pessoa contribuindo
para a autoimagem do indivíduo. Dessa forma, podemos perceber a
relevância da desinstitucionalização do tratamento psiquiátrico para o
autoconhecimento do paciente perante sua real situação e seu processo
de autocuidado. Com isso, notamos que os dispositivos de saúde mental
são fundamentais para a integração e permanência do paciente nas
redes sociais.

Muitas vezes, o sofrimento psíquico afasta o indivíduo do convívio social, por isso, a
reconstrução de um cotidiano com convívio social torna-se um imprescindível suporte
no tratamento a partir dos diversos dispositivos de apoio e de solidariedade. A reinserção
e reabilitação do portador de transtorno mental na sociedade, bem como o resgate de
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

sua autonomia são essenciais. Assim, os suportes sociais percebidos e recebidos das
pessoas significativas são primordiais para a manutenção da saúde mental, pois uma
rede social fortalecida ajuda o indivíduo a enfrentar situações estressantes, como uma
doença própria ou de algum familiar.

Quando essa rede social é estável, ativa e confiável o indivíduo se sente protegido em sua
vida diária, além de favorecer a construção e manutenção da autoestima, acelerando
os processos de recuperação da saúde. Em contrapartida, se esse indivíduo permanece
em uma rede social que não proporciona suporte adequado, sua fragilidade e seu
sentimento de insuficiência contribuem para a vulnerabilidade do indivíduo podendo
elevar o nível de doenças emocionais e físicas como depressão, hipertensão arterial e
obesidade (BRUSAMARELLO et al., 2011; UBER; BOECKEL, 2014).

O apoio da rede social é um aspecto fundamental da inclusão social de pessoas com


transtornos mentais. Em situações em que muitas vezes encontram dificuldades de
inserção no mercado de trabalho, outros meios de promover a inclusão social são ainda
mais valorizados.

O conceito de redes implica um processo de construção permanente, individual e


coletivamente. É um sistema aberto que permite a utilização dos recursos existentes por
meio da troca dinâmica de seus membros com outros grupos sociais. Salles e Barros
(2013, p. 2130) afirmam:

As redes sociais são de extrema importância


para todos, elas proporcionam a organização
da identidade através do olhar e das ações de
outras pessoas. A rede de relações que oferece
suporte a uma pessoa na sociedade não se
restringe à família, mas incluem todos os vínculos
interpessoais significativos do sujeito: amigos,
relações de trabalho, de estudo e na comunidade.
Na construção das redes sociais é importante que
o sujeito possa estabelecer relações de trocas
não apenas com sua família, mas também com
outras pessoas, compondo uma rede social
ampliada e diversificada e sem sobrecarregar o
núcleo familiar.
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

Um indivíduo não faz parte apenas de uma comunidade, mas de várias comunidades. Sua
identidade é expressa nesta propriedade. Na comunidade à qual pertence, o indivíduo
se reconhece, percebe seus interesses e comunica seus afetos. Essas interações podem
ser formalizadas em bairros, igrejas e locais de trabalho. Mas também podem não ser
formalizadas, ainda assim, são essas interações que medem a participação e a inclusão
social. Você pode obter uma imagem refletida de si mesmo a partir de suas interações
com os outros. Este autorretrato baseia-se em ter algo a oferecer aos outros.

Apesar da importância das redes sociais na vida


cotidiana das pessoas, nem sempre aquelas
com transtornos mentais têm acesso a novos
contatos, ou não conseguem manter e formar as
redes, devido ao contexto social em que imperam
a discriminação e o preconceito. A forma como
os usuários se relacionam com os outros reflete
a maneira da sociedade aceitar e incluir essa
população, e tem efeitos em como as pessoas
com transtornos mentais se percebem acolhidas
e pertencendo a sociedade. Considerando a
importância das redes sociais para a inclusão
social das pessoas com transtornos mentais,
esta é uma questão que deve ser tratada pelos
profissionais e serviços de saúde mental. (SALLES;
BARROS, 2013, p. 2130)

Os relacionamentos na comunidade permitem que as pessoas, independentemente do


transtorno mental, redefinam-se. A maioria das pessoas com esses transtornos precisa
de encorajamento e da oportunidade de fazer amigos. Na prática, a inclusão social
significa que a sociedade deve acolher e aceitar as pessoas com transtornos mentais.
Este não é apenas um trabalho para famílias e serviços de saúde mental, é preciso
adotar uma atitude de engajamento ativo de toda a comunidade. Isso indica que a
maneira como essas pessoas se veem como “outros” precisa mudar.

Com o processo da Reforma Psiquiátrica e as


novas possibilidades de tratamento para as
pessoas com transtornos mentais, a sociedade
se depara com a questão de como se relacionar
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

com essa população. Algumas vezes velhos


modelos são retidos, mas também ocorre a
reinvenção de novas formas de ver, tratar, se
aproximar, colocar limites, ajudar, se afastar;
enfim, de lidar no dia a dia com as pessoas com
transtornos mentais que estão a sua volta, em um
processo dialético de exclusão e inclusão social.
(SALLES; BARROS, 2013, p. 2130)

Rede social no auxílio ao tratamento

Quando o indivíduo com transtorno mental se conscientiza de sua rede social de apoio
e do seu papel nas suas relações, tende a mudar de comportamentos, ampliar sua
capacidade de enfrentar situações dolorosas e difíceis, além de melhorar sua autoestima,
isso ajuda a aumentar a possibilidade de uma vida melhor, contribui para a promoção
da saúde, favorece a autonomia desse indivíduo e seus familiares, bem como modifica
sua posição em relação às intervenções.

Porém, vale ressaltar que a rede social pode gerar benefícios ao indivíduo, mas isso
depende da postura dos membros, pois, mesmo querendo dar suporte ao indivíduo,
podem não ter conhecimentos e habilidade para isso. Nesses casos, é de extrema
importância o acompanhamento desses membros, que em geral são familiares, para
garantir a melhora do paciente e evitar problemas aos demais membros da família. Nos
casos de pacientes envolvidos com drogas ilícitas e álcool, os membros de sua rede, em
geral, estão relacionados com o problema e, dessa forma, acabam levando o indivíduo
a recaídas, nesses casos, ou ocorre o afastamento do indivíduo, ou o tratamento dos
demais membros.

Você Sabia?

Estudos mostram que indivíduos com transtornos mentais severos são


quatro vezes mais propensos a não terem um amigo mais próximo, e
mais de um terço deles relatam não ter ninguém a quem recorrer em
um momento de crise (MURAMOTO; MÂNGIA, 2011).
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2

Nas intervenções terapêuticas desenvolvidas pelos profissionais de saúde mental, é


imprescindível a presença e o acionamento das redes sociais do indivíduo. Primeiro
porque o modelo existente não atende somente o paciente, mas também auxilia a
família com ações e intervenções terapêuticas. Em segundo lugar, pela intervenção nas
redes de suporte social, organizadas no âmbito comunitário, o que tem um papel de
destaque no contexto de programas de reabilitação, prevenção e promoção da saúde
dos indivíduos.

A variabilidade dos tipos de atendimento possíveis para pacientes com transtornos


mentais, como psicoterapia, visita domiciliar, atividades de apoio social etc., vai depender
da necessidade de cuidados à saúde mental do paciente, das condições concretas de
intervenção da equipe multiprofissional e dos recursos terapêuticos disponíveis. O que
permite que os atendimentos sejam realizados de forma complementares é a interligação
profissional entre eles (VIEIRA; NÓBREGA, 2004; MORE; CREPALDI, 2012; MURAMOTO; MÂNGIA,
2011).

Resumindo

Esse capítulo foi muito importante, certo? Vimos que redes sociais
compreendem os membros que fazem parte do convívio de indivíduos
na sociedade, como a família, os amigos, vizinhos, colegas de trabalho,
colegas de estudos, entre outros. Vimos, também, a importância de uma
rede social sólida e disponível para apoiar o paciente com transtornos
mentais e a necessidade de acompanhamento desses indivíduos
também. Além disso, aprendemos que a relação entre as pessoas auxilia
no desenvolvimento do paciente, e por esta razão as ações e atividades
em grupo são tão importantes quanto a desinstitucionalização do
tratamento psiquiátrico.
3
Atenção e cuidado em
saúde mental
Saúde Mental Capítulo 3

Atenção e cuidado em saúde


mental

Objetivos

O cuidado em saúde mental não se restringe ao cuidado do profissional


da saúde. A família, como parte da reinserção social do paciente, torna-
se essencial para a evolução da condição de saúde do indivíduo. Neste
capítulo, vamos entender como a família era vista em relação aos
transtornos mentais e qual sua importância atuando com os profissionais
da saúde para a atenção e o cuidado do paciente.

A relação familiar no passado

Nem sempre a família foi vista como uma instituição capaz de acolher e cuidar de um
indivíduo que está mentalmente adoecido. Antes do capitalismo, o cuidado com o
indivíduo era responsabilidade da família, quando não havia quem o amparasse, esse
indivíduo era considerado uma questão pública, ficando sob responsabilidade do rei e
seus auxiliares. Borba et al. (2011, p. 443) afirmam:

A família historicamente foi excluída do tratamento


dispensado às pessoas com transtorno mental,
pois os hospitais psiquiátricos eram construídos
longe das metrópoles, o que dificultava o acesso
dos familiares a essas instituições. Outro fator que
permeava a relação da família com o portador
de transtorno mental era o entendimento de que
ela era a produtora da doença, uma vez que o
membro que adoecia era considerado um bode
expiatório, aquele que carregava todas as mazelas
do núcleo familiar e deveria ser afasta do
daqueles considerados responsáveis pela sua
doença. Desse modo, restava à família o papel de
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

encaminhar seu familiar à instituição psiquiátrica


para que os técnicos do saber se incumbissem do
tratamento e da cura.
Com os avanços e as transformações da Psicanálise no século XX, a família começa
a ser vista de forma negativa sendo culpabilizada pelo surgimento de um portador
de transtorno mental. Dessa forma, o saber psiquiátrico procura afastar o paciente do
ambiente familiar por entender que esse ambiente, responsável pelo surgimento de
sua doença, irá adoecê-lo ainda mais, iniciando a cultura do isolamento social.

Importante

Existe outra vertente histórica, que justifica o procedimento de isolamento


como necessário para proteger a família da loucura e prevenir possíveis
contaminações do outros membros.

Ainda no século XX, principalmente com a influência das teorias freudianas, a família
entra para o rol das intervenções dos especialistas por se destacar a importância das
relações familiares sobre o psiquismo dos sujeitos. Ao conhecer o universo familiar,
esses especialistas buscam identificar e determinar a causa da doença na maneira
como os pais conduzem a educação dos seus filhos, entendendo que o inadequado
comportamento da criança como má educação ou o próprio transtorno mental
acontecem por culpa dos pais.

Reflita

Quem nunca olhou uma criança fazendo “birra” e disse, ou pelo menos
pensou: “Cadê os pais dessa criança?”; ou “Nossa, esses pais de hoje
em dia são muito ‘frouxos’ na educação dessa criança”; ou ainda “Se
fosse meu filho não estaria fazendo isso”. Se você já tem filho talvez
compreenda melhor, mas é importante lembrar que o entendimento
sobre os sentimentos acontece aos poucos, o que nós adultos chamamos
de birra é, na verdade, a forma que a criança encontra de mostrar que
tem algo errado, assim, ela ainda não sabe expressar em palavras, o
que está sentindo pode ser sono, fome, tristeza, raiva etc. Além disso, o
sentimento de frustração é um dos últimos a ser entendido pela criança,
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

por isso, quando não consegue o que quer, tende a chorar


descontroladamente para demonstrar que está insatisfeita. Percebe que,
neste caso, estamos falando de um processo natural de desenvolvimento
psicoemocional e mesmo após anos de estudos sobre o funcionamento
da mente humana, ainda colocamos a culpa nos pais para justificar o
comportamento de seus filhos?

A observação sistemática da família começa a acontecer nos anos 1950, pela pesquisa
e intervenção direta no meio familiar, ganhando destaque o papel da mãe. Para alguns
autores, há a importância da função da patologia dentro do grupo familiar e o paciente
com transtorno mental passa a ser considerado o porta-voz da enfermidade de toda
a família tendo, agora, um papel positivo, pois é considerado um agente catalizador
que adoece para proteger o grupo familiar e manter sua homeostase. Mas essa
caracterização do indivíduo sendo invalidado impede os processos de mudanças nos
padrões de relacionamento do grupo.

Os estudos inserindo a família no contexto de saúde mental ganham visibilidade no


Brasil na década de 1970, quando surgem as terapias familiares que favorecem as
mudanças nos padrões de relacionamento e comunicação dentro do sistema familiar.
A partir da Reforma Psiquiátrica no Brasil, é que esses conceitos são incorporados ao
trabalho dos profissionais de saúde, dando maior atenção à relação da família com o
portador de sofrimento psíquico. Além disso, o processo de desinstitucionalização atribui
à família a responsabilidade do cuidado do indivíduo. Inserida como objeto de estudos,
surgem diferentes visões sobre a família, conforme sua relação com o paciente, entre
elas, podemos destacar:

• A família como mais um recurso, uma estratégia de intervenção.


• A família como provedora de cuidado, com auxílio dos serviços de saúde, principalmente
nos momentos de crise.
• A família como um lugar de possível convivência para o paciente, mas não exclusivo e
nem obrigatório.
• A família como sofredora necessitando de suporte e assistência social.
• A família como um sujeito de ação política e coletiva, construtor de cidadania e
avaliador dos serviços de saúde.
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

A inserção do paciente na sociedade e o apoio familiar no provimento de cuidados do


indivíduo são um dos focos da atenção à saúde mental elaborado nos Caps, fazendo
parte da estratégia de cuidado da equipe multidisciplinar (SANTIN; KLAFKE, 2011; CARDOSO;
GALERA, 2011; ROSA, 2005). Borba et al. (2011, p. 443) afirmam:

Esse distanciamento da família esteve presente


na relação sujeito-loucura até aproximadamente
a década de 80 do século passado, quando
emergem novas possibilidades referentes ao
papel e ao relacionamento da família com o
portador de transtorno mental. Essas perspectivas
ocorrem em face das novas políticas na área
da saúde mental, consequência do movimento
da reforma psiquiátrica que acontece no país e
orienta a transição dos espaços de tratamento
da instituição coercitiva e restritiva para serviços
comunitários de atenção à saúde.

A importância da relação familiar

O novo modelo de cuidado em saúde mental volta seu olhar para o indivíduo como um
todo, como um ser que sofre e enfrenta momentos desestabilizadores, como separação,
perda de emprego, luto, carência afetiva, entre outros problemas cotidianos que podem
levá-lo a procurar ajuda. Por isso, a atenção à saúde está voltada à integração social
do sujeito, procurando mantê-lo em seu contexto familiar e comunitário, servindo como
suporte fundamental para que o sujeito mantenha vínculos, principalmente afetivos,
revertendo o modelo manicomial. Com isso, o cuidado envolve também questões
pessoais, emocionais, financeiras e sociais, relacionadas à convivência do paciente
levando em consideração as inúmeras dificuldades vivenciadas tanto pelos pacientes

Definição

A família é considerada o conjunto de pessoas ligadas por laços de


sangue, parentesco ou dependência, que estabelecem entre si relações
de solidariedade e tensão, conflito e afeto, entre outros aspectos, e (se
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

Essa nova perspectiva em relação à saúde mental leva a confirmar a importância e a


necessidade da participação familiar no cuidado de seus parentes com transtornos
mentais. Dessa forma, a família passa a ser posicionada como parceira no tratamento
nos novos ambientes de atendimento, sendo inserida como unidade de atenção e
cuidado. Borba et al. (2011, p. 443) destacam que:

A família, portanto, deve ser considerada como


ator social indispensável para a efetividade da
assistência psiquiátrica e entendida como um
grupo com grande potencial de acolhimento e
ressocialização de seus integrantes. Exemplos
de transformação no campo da saúde mental
que tem exigido a inclusão da família no plano
de cuidados são a criação e ampliação de uma
rede comunitária de atendimento às pessoas
com transtorno mental e a redução do tempo de
internação em instituição psiquiátrica.

Para isso, é necessária a capacitação de todos os sujeitos envolvidos nesse processo


(pacientes, familiares, profissionais e sociedade) para entender melhor os transtornos
mentais, quebrando as barreiras e restaurando de acordo com os recursos disponíveis
a autonomia desse indivíduo para viver em sociedade.

Na fase inicial do transtorno mental, a família tem um papel fundamental na construção


de uma nova trajetória para o paciente, mas seus recursos emocionais, temporais e
econômicos, além de seus conhecimentos têm que ser bem direcionados; é função
essencial dos trabalhadores e dos serviços psiquiátricos fornecer orientação à família.
Vale ressaltar que a busca pelos serviços em saúde mental acontece nas crises do
paciente, momento em que a família está fragilizada e mais acessível às informações
prestadas pela equipe e com facilidade para manter o tratamento, apesar de existir
receio de os psicofármacos produzirem dependência.
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

Saiba Mais

O que caracteriza o cuidador: ser uma pessoa, membro ou não da


família, que, com ou sem remuneração, cuida do doente ou dependente
no exercício das suas atividades diárias, tais como alimentação, higiene
pessoal, medicação de rotina, acompanhamento aos serviços de saúde
e demais serviços requeridos no cotidiano como a ida a bancos ou
farmácias, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados
com profissões legalmente estabelecidas, particularmente na área da
enfermagem.

A atenção e o cuidado em saúde mental é decorrente de uma intrínseca relação


entre os serviços de saúde, seus profissionais, o paciente e sua família, considerando
as particularidades de cada contexto cultural, social e econômico. Em muitos casos, o
cuidador está inserido no núcleo familiar deste paciente, por isso, é primordial conhecer
melhor quem são estes familiares cuidadores, uma vez que se tornam parceiros da
assistência em saúde mental.

Apesar do aspecto positivo da promoção dos laços familiares e sociais, a responsabilidade


pelo cuidado do paciente é marcada, muitas vezes, pela sobrecarga do cuidador, em
geral, devido à falta de orientação e de apoio necessários para o desempenho do papel
que assumem no dia a dia.

Observa-se ainda que as associações de familiares são compostas preponderantemente


por mães, em geral, com idade em que também podem estar precisando de cuidados.
O que leva ao desgaste emocional e a consequente necessidade de cuidado com o
cuidador (SANTIN; KLAFKE, 2011; CARDOSO; GALERA, 2011; MARTINS; LORENZI, 2016; ROSA, 2005).

Portanto, a família deve ser vista como ator social fundamental para a efetividade da
psicoterapia e compreendida como um grupo com grande potencial para acolher e
reassentar seus membros. Exemplos de transformações da saúde mental que exigem
o envolvimento da família no planejamento do cuidado incluem a criação e expansão
de redes comunitárias para cuidar de pessoas com transtornos mentais e a redução de
internações em instituições mentais.
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

Dificuldades na inserção da família no cuidado

Alguns pesquisadores argumentam sobre a inclusão da família em tratamentos


terapêuticos como sendo decisiva e essencial para a resposta de pacientes psiquiátricos.
Entretanto, é um processo que ocorre com tensões e contradições, pois, em alguns
casos, há a simples devolução do paciente para a família, em razão da desarticulação
dos manicômios, sem que tenha havido a criação efetiva de recursos de assistência
substitutivos e sem considerar adequadamente a estrutura social para a qual se
devolviam os pacientes.

Importante

Os avanços da assistência à saúde mental são consideráveis, porém,


a dificuldade dos familiares em conviver com o indivíduo leva a um
processo de sucessivas internações, esse fenômeno é conhecido como
porta giratória.

Uma dificuldade encontrada nesse modelo é deixar claro para os familiares e cuidadores
os benefícios das mudanças em curso, pelo temor de terem que assumir sozinhos as
sobrecargas no ambiente doméstico. Além disso, o familiar, exausto e estigmatizado,
muitas vezes teme tornar pública a condição de sua família, sendo exposto como
representante da “saúde mental” e conviver com o rótulo de “familiar de louco”. Esse
estereótipo sobre os transtornos mentais, muitas vezes, leva a família a tentar resolver
o problema internamente primeiro e, quando não consegue, chega a um serviço
psiquiátrico com sentimento de impotência, exaustão, culpa e desespero.

Outra dificuldade encontrada vem da própria equipe de saúde sobre a forma de inclusão
da família e o lugar que ela poderia ocupar que nem sempre corresponde ao seu desejo
e às possibilidades reais principalmente nos casos de famílias com possibilidades
limitadas. Além disso, poucos profissionais são capacitados academicamente para
trabalhar com a família, e os que são, na grande maioria, estão preparados para lidar
com famílias de classe média não com famílias de baixa renda, em geral, com baixa
escolaridade e dificuldade de relatar os acontecimentos. Esse profissional está pouco
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

habilitado para entender códigos culturais, comportamentais e linguísticos dessa


população, confundindo, muitas vezes, pobreza econômica e material com pobreza
cultural (SANTIN; KLAFKE, 2011; CARDOSO; GALERA, 2011; MARTINS; LORENZI, 2016; ROSA, 2005).

Além disso, deve-se ter em mente que a convivência de uma família com uma pessoa
com transtorno mental nem sempre é harmoniosa, caracteriza-se por tensões e conflitos,
pois nesse espaço é mais fácil expressar sentimentos. Como um grupo vivo, a família
requer, portanto, a capacidade de seus membros de repensar e reajustar continuamente
suas estratégias e dinâmicas internas. Isso exige respeito à individualidade do sujeito,
afinal, as pessoas existem no mundo, pensam, interpretam os fatos e agem de forma
diferente mesmo morando na mesma casa.

A família é uma unidade social complexa e


fundamental para o processo de viver de todo ser
humano, que se concretiza por meio da vivência,
que é dinâmica e singular. Ela não é formada
apenas por um conjunto de pessoas, mas pelas
relações e ligações entre elas. E, ao longo da
trajetória familiar, seus integrantes passam por
situações de crise, sejam estas previsíveis ou
não, ligadas aos processos de transição como
nascimento, mudança de emprego, casamento,
saída de casa dos filhos, ou a situações adversas,
como a doença. A capacidade da família
de ajustar-se a novas situações, como a de
conviver com um membro com doença crônica,
depende das fortalezas que possui, dos laços de
solidariedade que agrega e da possibilidade de
solicitar apoio das outras pessoas e instituições.
(BORBA et al., 2011, p. 443)

O cuidado com o cuidador

Quando se identifica o aparecimento de um paciente com transtorno mental na família,


Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

acontece um momento de crise, modificação da rotina familiar e até conflito entre os


membros.

Além disso, o cuidado com uma pessoa adulta, principalmente se for considerado
líder da família (pai ou mãe, por exemplo), gera a necessidade da reconstrução da
unidade familiar, tornase importante que todos os membros aprendam a se relacionar
com o transtorno mental, com os serviços de saúde mental e com a linguagem dos
profissionais que, muitas vezes, não estão preparados para conversar com a população
sem a educação na área e, muitas vezes, com baixo grau de instrução.

Entre as ações e os serviços realizados pelos Centros de Atenção Psicossocial, está o


acompanhamento dos familiares do paciente. Em geral, há reuniões semanais nas quais
se trocam experiências com familiares de outros pacientes, e eles recebem suporte
para tirarem dúvidas sobre o tratamento e o manejo do paciente, além de este ser
um momento para que o familiar (em geral o cuidador) possa desabafar acerca de
suas angustias e seu cansaço e também falar sobre si enquanto pessoa. Normalmente,
esses grupos não têm número de participantes definidos por não ser uma obrigação
relacionada ao tratamento.

Saiba Mais

Existem dois tipos de cuidadores: os cuidadores formais que são profissionais


de saúde, geralmente enfermeiros ou técnicos de enfermagem com
competências centradas na manutenção deste perfil de paciente, que
são pagos, geralmente, pela própria família, para cuidarem do paciente.
Já os cuidadores informais são, muitas vezes, familiares, principalmente
do sexo feminino, não remunerados, orientados pelos serviços de saúde.
Mas em ambos os casos, a sobrecarga emocional é evidente devido à
proximidade com o paciente emocionalmente instável.

É importante ressaltar que a sobrecarga do cuidador pode implicar em graves


consequências ao cuidador e até mesmo ao paciente e toda a família. Essa sobrecarga
caracteriza-se como uma experiência de fardo a carregar descrita por mudanças
no cotidiano relacionadas ao processo de cuidado, implementação de hábitos e
principalmente às maiores responsabilidades. Estas mudanças, muitas vezes, exigem
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

adaptações de toda a família e podem interferir nas necessidades do cuidador, gerando


acúmulo de responsabilidades que levam ao estresse e até ao adiamento de planos
pessoais do cuidador.

As maiores dificuldades que os cuidadores informais relatam são relativas a condições


financeiras, pois, muitas vezes, o cuidador tem que parar de trabalhar para cuidar de
seu parente. Mas também são relatadas dificuldades como falta de suporte social, baixo
nível de funcionamento dos pacientes, baixa escolaridade dos pacientes e familiares,
estratégias ineficientes de enfrentamento, entre outras.

Uma característica marcante encontrada por Cardoso (2015), quando fez uma análise
de vários estudos sobre o perfil do cuidador de paciente em saúde mental, é a presença
feminina no papel de cuidador principal. Mostrando que o cuidado à saúde está ligado
a questões socioculturais que incorporam à mulher o papel de principal provedora
de cuidados à família e aos necessitados, o que muitas vezes é entendido como uma
obrigação moral. Nesse estudo, o autor descreve que a sobrecarga relacionada ao
cuidado favorece o adoecimento do próprio cuidador o qual negligencia o autocuidado
a favor do cuidado ao próximo; é observada menor qualidade de vida do cuidador com
maior risco de desenvolvimento de doenças emocionais como depressão, diretamente
relacionadas à dependência do paciente, além da redução da atenção com os demais
membros da família. Cardoso (2015) relata que a atenção ao cuidador ainda necessita
de maiores estudos para observar suas necessidades e intervenções por parte dos
profissionais e serviços da área da saúde.

Resumindo

E então? Conseguiu compreender mais profundamente as temáticas


relacionadas à atenção e ao cuidado em saúde mental? Vimos até
aqui a importância da família como suporte social para o paciente, e a
necessidade, principalmente do cuidador, da integração e participação
das ações e dos serviços de saúde para conseguir entender melhor o
processo da doença e do cuidado sendo um elemento adicional no
tratamento. Aprendemos que outro aspecto importante é a saúde física
e mental do cuidador, para que ele esteja bem para poder exercer sua
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3

função de cuidador sem sobrecarregar-se.


4
Matriciamento em
saúde mental
Saúde Mental Capítulo 4

Matriciamento em saúde
mental

Objetivos

Entendendo que a atenção básica, em geral, é a porta de entrada


dos indivíduos para o atendimento no Sistema Único de Saúde, vamos
aprender neste capítulo sobre a equipe de apoio matricial. Essa equipe
foi criada para dar suporte para a unidade básica para que ela possa
identificar casos que necessitam de um acompanhamento mais
específico e especializado. Então, animado para conhecer mais acerca
desta temática?

O que é matriciamento em saúde mental

Tradicionalmente, o Sistema Único de Saúde se organizava de uma forma vertical


(hierárquica), com diferença de autoridade entre quem encaminha um caso e quem o
recebe, e consequente transferência de responsabilidade ao encaminhar. A comunicação
entre os níveis hierárquicos ocorre, muitas vezes, de forma precária e irregular sem uma
boa resolubilidade. A nova proposta integradora, conhecida como Redes de Atenção à
Saúde, traz um novo modelo horizontalizado no qual a Unidade de Saúde é, em geral,
porta de entrada, responsável pelo fluxo e contrafluxo de cada paciente, integrando os
componentes e seus saberes nos diferentes níveis assistenciais.

Definição

O matriciamento, também chamado de apoio matricial, é um novo


modelo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, em um processo
de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção
pedagógico-terapêutica.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

DEFINIÇÃO:
O matriciamento, também chamado de apoio matricial, é um novo modelo de produzir
saúde em que duas ou mais equipes, em um processo de construção compartilhada,
criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica.

Na horizontalização decorrente do processo de matriciamento, o sistema de saúde se


reestrutura em dois tipos de equipes:

• Equipe de referência;
• Equipe de apoio matricial.

Nessa estrutura, a Atenção Primária à Saúde (APS), por exemplo, a equipe de Estratégia
em Saúde da Família (ESF), funciona como equipes de referência interdisciplinares,
atuando com uma responsabilidade, incluindo o cuidado longitudinal, além do
atendimento especializado que realiza concomitantemente. Quanto à estas equipes,
Gazignato e Silva (2014, p. 297) afirmam que:

O Programa de Saúde da Família (PSF) foi criado em


1994 pelo Ministério da Saúde, visando a modificar
a prática da atenção básica. O PSF passa a ser
denominado Estratégia de Saúde da Família (ESF)
quando deixa de ser apenas um programa para
se tornar a estratégia principal de organização
da atenção básica. Assim, trabalha numa
perspectiva de saúde ampliada e integral, com
equipes multiprofissionais responsabilizadas por
um número de pessoas de uma região delimitada.
A ESF foi elaborada como uma estratégia de
reorientação do modelo assistencial à saúde,
baseado até então no modelo biomédico, na
prática hospitalo cêntrica e no uso inapropriado
dos recursos tecnológicos disponíveis. Nessa
estratégia, propõe-se que a atenção básica se
configure como porta de entrada do sistema de
saúde.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

E a equipe de apoio matricial é uma equipe específica de saúde mental, caracterizada


como um suporte técnico especializado ofertado a uma equipe interdisciplinar em
saúde a fim de ampliar seu campo de atuação e qualificar suas ações como o Caps.
Gazignato e Silva (2014, p. 297) ressaltam:

Conforme a perspectiva da inserção da pessoa


com transtorno mental nos equipamentos
comunitários, num contexto de rede social, aos
poucos, começa a implantação dos equipamentos
substitutivos: os Centros de Atenção Psicossocial
(Caps), as Residências Terapêuticas, os Centros
de Convivência, as Oficinas de Trabalho e as
Enfermarias Psiquiátricas em Hospital Geral (GAMA;
CAMPOS, 2009). O Caps é um serviço estratégico
para promover a desospitalização e a reinserção
social, compatíveis com os princípios da Reforma
Psiquiátrica e com as diretrizes da Política Nacional
de Saúde Mental. Porém, os Caps e os outros
equipamentos substitutivos não são, ainda,
suficientes para a cobertura da demanda de
saúde mental nas diversas realidades do País.

Os profissionais matriciadores em saúde mental na atenção primária podem ser


psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, assistentes sociais e
enfermeiros de saúde mental. Dessa forma, existem áreas de atuação específicas de
cada especialidade ou profissão (área de saber e de prática profissional), chamada de
núcleo, e um espaço de limites imprecisos em que cada disciplina ou profissão buscaria
em outras o apoio para cumprir suas tarefas teóricas e práticas, chamada de campo.
Portanto, o processo de cuidado não é monopólio nem ferramenta exclusiva de nenhuma
especialidade, pertencendo a todo o campo da saúde, assim, o matriciamento é um
processo multidisciplinar por natureza para a construção do conhecimento.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

Importante

A equipe de apoio não é responsável pelo encaminhamento ao


especialista, nem pela intervenção psicossocial coletiva ou atendimento
individual, pois isso faz parte da atividade da equipe de referência.
Funciona como a retaguarda especializada da assistência e um suporte
técnico pedagógico para maior qualificação do cuidado na unidade
básica sendo um dispositivo para a formação continuada, por meio de
discussões de textos, casos e situações, contribuindo para a ampliação
da clínica. Assim, torna-se possível compartilhar casos e situações
com a equipe de saúde local, favorecendo a corresponsabilização, a
horizontalização do cuidado.

A inserção das práticas de saúde mental na atenção primária à saúde demonstra


a busca pela regionalização da atenção à saúde e seu direcionamento para as
questões de acordo com a integralidade e humanização do cuidado, conectando-se
a especialistas e serviços já localizados nas regiões. Gazignato e Silva (2014, p. 298)
destacam que:

Nunes et al. (2007) identificaram os princípios da


integralidade e da participação social, além das
propostas de ampliação do conceito de saúde-
doença, da interdisciplinaridade no cuidado e
da territorialização das ações, como questões
que orientam tanto o modelo psicossocial da
saúde mental como a ESF. Esta última funcionaria
como um importante articulador da rede de
saúde mental, na tentativa de superar o modelo
hospitalocêntrico e centrar o cuidado na família.
Entretanto, a implementação de ações de saúde
mental na saúde da família ainda está em
processo de consolidação, uma vez que a ESF pode
ser entendida como uma tecnologia de produção
do cuidado em saúde mental a ser explorada e
mais bem desenhada como possibilidades de
atenção comunitária.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

A saúde mental é um tema bastante complexo e pouco desenvolvido pelas equipes da


ESF, principalmente, junto às famílias, devido à falta de treinamento ou conhecimento
específico dos profissionais sobre o assunto. Entretanto, a ESF constitui uma estratégia
ideal para trabalhar a saúde mental, pois, suas equipes apresentam-se engajadas no
dia a dia da comunidade, com a perspectiva de melhorar as condições de vida da
população, incorporando ações de promoção e educação para a saúde. Para isso,
o suporte técnico e de conhecimento da equipe de apoio matricial se torna uma
ferramenta eficaz para o acompanhamento dos pacientes com transtornos mentais e
seus familiares.

Seguindo este caminho, o Ministério da Saúde conseguiu propor uma estratégia do


Apoio Matricial (AM), ou Apoio Matricial em Saúde Mental, para facilitar o direcionamento
do fluxo na rede e facilitar a integração entre os equipamentos de saúde mental e
a ESF. De acordo com a Unidade Coordenadora de Saúde Mental, nos documentos
apresentados às conferências regionais sobre a reforma dos serviços de saúde mental,
o AM é: “um arranjo organizacional que viabiliza o suporte técnico em áreas específicas
para equipes responsáveis pelo desenvolvimento de ações básicas de saúde” (BRASIL,
2008, p. 34).

É a partir deste arranjo que a equipe de saúde mental consegue compartilhar alguns
casos com a equipe de cuidados primários. Esse compartilhamento se dá na forma
de corresponsabilização dos casos, seja por meio de revisões conjuntas de casos,
intervenções conjuntas com famílias e comunidades, ou cuidado compartilhado,
podendo ser na forma de supervisão e treinamento.

O Apoio Matricial surgiu a partir da constatação de


que a reforma psiquiátrica não pode avançar se a
atenção básica não for incorporada ao processo.
Concentrar esforços somente na rede substitutiva
não é suficiente, é preciso estender o cuidado em
saúde mental para todos os níveis de assistência,
em especial, da atenção básica. Entretanto, sabe-
se que as equipes de atenção básica se sentem
desprotegidas, sem capacidade de enfrentar
as demandas em saúde mental que chegam
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

cotidianamente ao serviço, especialmente os


casos mais graves ou crônicos. O matriciamento
visa a dar suporte técnico a essas equipes, bem
como a estabelecer a corresponsabilização.
(GAZIGNATO; SILVA, 2014, p. 298)
Uma equipe de referência de profissionais da ESF são responsáveis pela gestão
individual, familiar ou comunitária, com uma metodologia de trabalho voltada para
garantir o suporte profissional tanto na enfermagem quanto na educação profissional e
apoiadores. Especialistas agregam conhecimento às equipes de referência e contribuem
para intervenções que melhoram as habilidades de resolução de problemas.
O Apoio Matricial às equipes da atenção básica
deve partir dos Caps, dado que são serviços que
ocupam lugar central na proposta da reforma
psiquiátrica e seus dispositivos principais. São
considerados ordenadores da rede de saúde
mental, direcionando o fluxo e servindo de
retaguarda tanto para as residências terapêuticas
como para a atenção básica (DIMENSTEIN et al.,
2009). O matriciamento pode ser entendido como
uma estratégia de trabalho em rede, ou seja,
mediante a integralidade dos serviços de saúde,
uma das diretrizes do SUS. (GAZIGNATO; SILVA, 2014,
p. 298)
O matriciamento constitui-se em uma ferramenta de transformação, não só do processo
de saúde e doença, mas de toda a realidade dessas equipes e da comunidade. A
equipe de apoio matricial pode ser acionada para participar ativamente do projeto
terapêutico:

• Nos casos em que a equipe de referência percebe a necessidade de apoio da saúde


mental para conduzir e abordar um caso que exige esclarecimento de diagnóstico,
estruturação de um projeto terapêutico e abordagem da família.
• Quando há necessidade de suporte para realizar intervenções psicossociais específicas
da atenção primária, como grupos de pacientes com transtornos mentais.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

• Para integração do nível especializado com a atenção primária no tratamento de


pacientes com transtorno mental, apoiando na adesão ao projeto terapêutico de
pacientes com transtornos mentais graves e persistentes em atendimento especializado
em um Caps.
• Quando a equipe de referência sente necessidade de apoio para resolver problemas
relativos ao desempenho de suas tarefas, como dificuldades nas relações pessoais
ou nas situações especialmente difíceis encontradas na realidade do trabalho diário.
(AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI, 2011; CAMPOS; DOMITTI, 2007).

Assim, uma das principais estratégias desenvolvidas pelo Caps para o desenvolvimento
de uma rede de atenção é a implantação do matriciamento ou apoio matricial, entendido
como “um novo método de geração de saúde em que duas ou mais equipes, em
processo de construção conjunta, criam uma proposta de intervenção terapêutica
educativa” (CHIAVERINI et al., 2011, p. 13). Pegoraro, Cassimiro e Leão (2014, p. 622) afirmam
que:

No campo da saúde, a palavra matricial indica


a possibilidade de “sugerir que profissionais de
referência e especialistas mantenham uma
relação horizontal e não vertical, como recomenda
a tradição dos sistemas de saúde” (CAMPOS;
DOMITTI apud Penido et al. 2010, p. 472). Por sua
vez, o termo apoio indica uma relação horizontal,
sem autoridade, baseada em procedimentos
dialógicos. Os mesmos autores destacam que
o apoio matricial pode ser desenvolvido através
da troca de conhecimentos, do fornecimento
de orientações, de intervenções conjuntas e
de intervenções complementares realizadas
pelo apoiador, mas sempre com a equipe de
referência com a responsabilidade pelo caso,
ainda que apoio especializado se faça necessário
em diferentes momentos.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

Instrumentos do processo de matriciamento em saúde mental

Os instrumentos utilizados pelos profissionais da equipe de apoio para a realização


do matriciamento consistem na elaboração do projeto terapêutico singular no apoio
matricial de saúde mental, a interconsulta, a visita domiciliar conjunta, o contato a
distância, o genograma, o ecomapa, a educação permanente em saúde mental e a
criação de grupos na atenção primária à saúde.

Por meio do matriciamento, a ESF passa a ter instrumentos e conhecimento suficientes


para a assistência em situações de crise atuando além dos cuidados básicos de
prevenção aos agravos em saúde. Vamos conhecer alguns desses instrumentos
(AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI et al., 2011; CAMPOS; DOMITTI, 2007).

Elaboração do projeto terapêutico singular no apoio matricial de


saúde mental

Os projetos elaborados podem ser territoriais, coletivos, familiares ou até o individual,


exigindo um foco abrangente incluindo o entorno. Chiaverini et al. (2011) descreve um
guia prático de matriciamento em saúde mental, é possível encontrar um roteiro para a
discussão de casos para orientar a coleta de informações com a equipe da ESF. O autor
recomenda aos matriciadores abordarem a equipe referência reforçando as atitudes
positivas, além disso, é importante que as discussões busquem formulação diagnóstica,
mas principalmente compreendam a situação em suas várias faces de maneira a abrir
uma agenda interdisciplinar.

Importante

No momento da interação entre as equipes, os profissionais da ESF


podem descrever sintomas que não chegam a configurar diagnósticos
psiquiátricos, mas a equipe de apoio deve reforçar a capacidade
da equipe referência de identificar quadros mesmo sem precisão
psicopatológica potencializando o que pode ser feito dentro da atenção
primária.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

Na construção do projeto terapêutico singular, deve conter:

• Abordagens biológica e farmacológica.


• Abordagens psicossocial e familiar.
• Apoio do sistema de saúde.
• Apoio da rede comunitária.
• Trabalho em equipe: quem faz o quê.

Esse projeto auxilia e direciona a equipe referência, mas não busca a total autossuficiência
dela, tendo a retomada periódica para atualizar o caminhar de cada caso para repactuar
e reformular novos projetos terapêuticos e avaliar o que deu certo e o que deixou a
desejar (AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI et al., 2011; CAMPOS; DOMITTI, 2007).

Interconsulta como instrumento do processo de matriciamento

A interconsulta é considerada o principal instrumento do apoio matricial na atenção


primária; por definição, é uma prática interdisciplinar para a construção do modelo
integral do cuidado, isto é, uma ação colaborativa entre profissionais de diferentes áreas.

Essa modalidade envolve desde discussão de caso por parte da equipe como consulta
e visitas domiciliares conjuntas permitindo a construção de uma compreensão integral
do processo saúde-doença devido à interdisciplinaridade da equipe.

As discussões de casos são uma das etapas do processo que sempre devem estar
presente, deve-se entender o motivo pelo qual aquele caso deve ser discutido, a situação
atual analisa o contexto e verifica os recursos positivos disponíveis além do principal
objetivo do cuidado (AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI et al., 2011; CAMPOS;
DOMITTI, 2007).

Dificuldades na implantação da equipe de apoio matricial

Entre as dificuldades que a equipe de apoio matricial pode encontrar, uma das mais
relevantes está no fato de as equipes referência não possuírem uma definição clara
sobre o apoio matricial, apresentando dúvidas referentes ao conceito e dificuldades
para empregar a metodologia. Isso porque, sem entender o que é o apoio matricial, não
é possível identificar a percepção e as experiências com o matriciamento.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4

Além disso, a falta de entendimento de como funciona o matriciamento faz com que
a equipe de ESF compreenda que a atividade da equipe de apoio esteja relacionada a
trocas de favores, mas a real função é suporte às atividades da equipe referência.

Entre os desafios encontrados pela equipe de apoio, está a política de saúde mental
infanto-juvenil, pois, historicamente, a criança ainda possui pouca visibilidade no cenário
da saúde mental, além dos profissionais da ESF não possuírem formação para atuar com
problemas de saúde mental nessa faixa etária aparecendo dificuldades de identificar
casos que seriam importantes de ser estudados (CHIAVERINI et al., 2011; SALVADOR; PIO,
2016).

Resumindo

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho?


Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema
de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve
ter aprendido que o matriciamento é uma ferramenta de auxílio para a
atenção básica que contribui para identificar e acompanhar pacientes
com transtornos mentais. Além disso, é considerado de grande
importância, mas, muitas vezes, é desconhecido pelos próprios
profissionais da equipe referência que não conseguem atuar de formar
eficaz.
Saúde Mental

Referências

AOSANI, T.; NUNES, K. A saúde mental na atenção básica: a percepção dos profissionais de
saúde. Revista Psicologia e Saúde, [s. l.], v. 5, p. 71-80, jul./dez. 2013. Disponível em: http://
pepsic.bvsalud.org/pdf/rpsaude/v5n2/v5n2a02.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

BARROS, R.; TUNG, T.; MARI, J. Serviços de emergência psiquiátrica e suas relações com a
rede de saúde mental brasileira. Revista Brasileira de Psiquiatria, [s. l.], v. 32, 2010. Disponível
em: http:// www.scielo.br/pdf/rbp/v32s2/v32s2a03.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

BORBA, L. de O. et al. A família e o portador de transtorno mental: dinâmica e sua relação


familiar. Revista da Escola de Enfermagem da USP, [s. l.], v. 45, p. 442-449, 2011.

BRASIL. Portaria n.º 44, de 10 de janeiro de 2001. Secretaria de Atenção à Saúde. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001a. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/saudelegis/ gm/2001/prt0044_10_01_2001.html. Acesso em: 3 jun. 2023. BRASIL.
Lei n.º 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, p. 2, 9 abr. 2001b. Disponível em: http://cgj.tjrj.jus.br/
documents/1017893/1038413/politicanac- saude-mental.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

BRASIL. Lei n.º 10.708, de 31 de julho de 2003. Institui o auxílio-reabilitação psicossocial para
pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações. Diário Oficial da

União, Brasília, DF, p. 3, 1 ago. 2003. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/


leis/2003/l10.708.htm. Acesso em: 3 jun. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n.º 154 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio à
Saúde da Família – NASF. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2008.

BRASIL. Programa de volta para casa: liberdade e cidadania para quem precisa de
cuidados em saúde mental. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação Geral de Saúde
Mental, 2003. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ prog_volta_
para_casa.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
Saúde Mental Referências

BRASIL. Saúde Mental no SUS: acesso ao tratamento e mudança do modelo de


atenção. Relatório de Gestão 2003-2006. Ministério da Saúde: Brasília, DF, jan. 2007.
Disponível em: http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relatorio_gestao_saude_
mental_2003-2006.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

BRASIL. Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de Acolhimento como lugares


da atenção psicossocial nos territórios: orientações para elaboração de projetos de
construção, reforma e ampliação de CAPS e de UA. Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. Brasília: Ministério
da Saúde, 2015. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ centros_
atencao_psicossocial_unidades_acolhimento.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

BRUSAMARELLO, T. et al. Redes sociais de apoio de pessoas com transtornos mentais e


familiares. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 20, p. 33-40, jan./mar. 2011. Disponível
em: http:// www.scielo.br/pdf/tce/v20n1/04.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

CAMPOS, G.; DOMITTI, A. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para
gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Caderno de Saúde Pública, v. 23, n. 2, p. 399-
407, 2007. Disponível em: http://www2.unifesp.br/centros/cedess/producao/ produtos_
tese/produto_adriana_dias_%20silva.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

CARDOSO, A. Reforma Psiquiátrica e a Política Nacional de Saúde Mental. Tempus, Actas


de Saúde Coletiva, [s. l.], v. 8, p. 57-63, mar. 2015. Disponível em: http://www.tempusactas.
unb.br/index. php/tempus/article/view/1453. Acesso em: 3 jun. 2023.

CARDOSO, L.; GALERA, S. O cuidado em saúde mental na atualidade. Rev. Esc. Enferm. USP,
[s. l.], v. 45, n. 3, p. 687-691, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n3/
v45n3a20.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

CHIAVERINI, D. et al. (org.). Guia prático de matriciamento em saúde mental. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva. Disponível em: http://
bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_ saudemental.pdf.
Acesso em: 3 jun. 2023.
Saúde Mental Referências

CORREIA, V. Saúde mental na atenção básica: prática da equipe de saúde da família.


Rev. Esc. Enferm. USP, [s. l.], v. 45, p. 1501-1506, 2011.Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/
reeusp/v45n6/ v45n6a32.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

FERREIRA, P. Centro de convivência e cultura e suas repercussões na vida de usuários


de um centro de atenção psicossocial. 2014. Dissertação (Mestrado em Saúde,
Interdisciplinaridade e Reabilitação) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
Estadual de Campinas. Campinas, Disponível em: http:// repositorio.unicamp.br/jspui/
bitstream/REPOSIP/310870/1/ Ferreira_PriscilaHelenaRubin_M.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

FIGUEIREDO, M.; CAMPOS, R. Saúde Mental na atenção básica à saúde de Campinas, SP: uma
rede ou um emaranhado? Ciência & Saúde Coletiva, [s. l.], v. 14, p. 129-138, 2009. Disponível
em: https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413- 81232009000100018&script=sci_
arttext. Acesso em: 3 jun. 2023.

FONSÊCA, M.. Serviços Residenciais Terapêuticos como instrumentos de mudança na


saúde mental. Argumentum, [s. l.], v. 10, p. 162-175, set./dez. 2018. Disponível em: http://www.
publicacoes. ufes.br/argumentum/article/view/20750/15682. Acesso em: 3 jun. 2023.

GAZIGNATO, E. C. da S.; SILVA, C. R. de C. Saúde mental na atenção básica: o trabalho em


rede e o matriciamento em saúde mental na Estratégia de Saúde da Família. Saúde em
Debate, [s. l.], v. 38, p. 296-304, 2014.

LEAL, B.; ANTONI, C. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): estruturação,


interdisciplinaridade e intersetorialidade. Aletheia [s. l.], v. 40, p. 87-101, 2013. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud. org/pdf/aletheia/n40/n40a08.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

MARTINS, P. P. S.; LORENZI, C. Participação da Família no Tratamento em Saúde Mental


como Prática no Cotidiano do Serviço. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 32, n. 4, 2016.
Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/ptp/v32n4/1806-3446-ptp-32-04-e324216. pdf.
Acesso em: 3 jun. 2023.

MASSA, P.; MOREIRA, M. Vivências de cuidado em saúde de moradores de Serviços


Residenciais Terapêuticos. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, SP, v.
23, p. e170950, 2019. Disponível em https://www.scielosp.org/pdf/icse/2019.v23/ e170950/
pt. Acesso em: 3 jun. 2023.
Saúde Mental Referências

MORE, C. As redes pessoais significativas como instrumento de intervenção psicológica


no contexto comunitário. Paidéia, [s. l.], v. 15, p. 287-297, 2005. Disponível em: http://www.
scielo.br/pdf/ paideia/v15n31/16.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

MORE, C.; CREPALDI, M. O mapa de rede social significativa como instrumento de


investigação no contexto da pesquisa qualitativa. Nova Perspectiva Sistêmica, [s. l.], v.
43, p. 84-98, ago. 2012. Disponível em: http://www.revistanps.com.br/nps/article/viewFile/
265/257. Acesso em: 3 jun. 2023.

MURAMOTO, M.; MÂNGIA, E. A sustentabilidade da vida cotidiana: um estudo das redes


sociais de usuários de serviço de saúde mental no município de Santo André (SP, Brasil).
Ciência & Saúde Coletiva, [s. l.], v. 16, p. 2165-2177, 2011. Disponível em: https:// core.ac.uk/
download/pdf/37446128.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

PARANÁ. Central de regulação de leitos em saúde mental do estado do Paraná. Secretaria


de Estado da Saúde do Paraná. Curitiba: SESA, 2016. Disponível em: http://www.saude.
pr.gov.br/arquivos/File/ AFNormaGeralLeitosSaudeMental010716__2.pdf. Acesso em: 3
jun. 2023.

PEGORARO, R. F.; CASSIMIRO, T. J. L.; LEÃO, N. C. Matriciamento em saúde mental segundo


profissionais da estratégia da saúde da família. Psicologia em Estudo, [s. l.], v. 19, p. 621-
631, 2014.

PEREIRA, M.; OLIVEIRA, M. Análise dos dispositivos de saúde mental em municípios do Vale
do Paraíba. Rev. Bras. Enferm., [s. l.], v. 64, n. 2, p. 294-300, mar./abr. 2011. Disponível em:
http://www.scielo. br/pdf/reben/v64n2/a12v64n2.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

RIBEIRO, M. Atenção psicossocial e satisfação no trabalho: processos dialéticos na saúde


mental. Revista Interdisciplinar de Estudos em Saúde, [s. l.], v. 7, 2018. Disponível em: http://
periodicos.uniarp.edu.br/ries/article/view/1102/759. Acesso em: 3 jun. 2023.

ROSA, L. A inclusão da família nos projetos terapêuticos dos serviços de saúde mental.
Psicologia em Revista, [s. l.], v. 11, n. 18, p. 205-218, 2005. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.
org/pdf/ per/v11n18/v11n18a05.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
Saúde Mental Referências

SALLES, M. M.; BARROS, S. Inclusão social de pessoas com transtornos mentais: a construção
de redes sociais na vida cotidiana. Ciência & Saúde Coletiva, [s. l.], v. 18, p. 2129-2138, 2013.

SALVADOR, D. B.; PIO, D. A. M. Apoio Matricial e Caps: desafios do cenário na implantação


do matriciamento em saúde mental. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 40, n. 111, p. 246-256,
out. 2016.

SANTIN, G.; KLAFKE, T. A família e o cuidado em saúde mental. Barbarói, [s. l.], v. 34, p.
146-160, 2011. Disponível em: https:// online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/
view/1643/1567. Acesso em: 3 jun. 2023.

SILVA, A. O apoio matricial e a rede saúde mental: atenção básica. Porto Velho, RO:
Universidade Federal de São Paulo, 2014. Disponível em: http://www2.unifesp.br/centros/
cedess/producao/ produtos_tese/produto_adriana_dias_%20silva.pdf. Acesso em: 3
jun. 2023.

SOUZA, P. Emergência psiquiátrica: contexto, condutas, escuta e compreensão para um


atendimento diferenciado. Psychiatry on line Brasil, Rio de Janeiro, v. 22, p. 1-17, 9 mar. 2017.
Disponível em: https://www.polbr.med.br/ano17/art0317-2.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

UBER, M.; BOECKEL, M. A prática em Terapia de Família e as Redes Sociais Pessoais.


Pensando Famílias, [s. l.], v. 18, p. 108-123, dez. 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.
org/pdf/penf/v18n2/ v18n2a09.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.

VIEIRA, N. F. G.; NÓBREGA, S. M. da. A atenção psicossocial em saúde mental: contribuição


teórica para o trabalho terapêutico em rede social. Estudos de Psicologia, [s. l.], v. 9, p.
373-379, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n2/a20v9n2.pdf. Acesso
em: 3 jun. 2023.

WEBER, C. Contribuições de um hospital-dia para as redes de apoio social a pessoas


com transtornos mentais. Psicologia, Conocimiento y Sociedad, [s. l.], v. 8, p. 144-
161, 2018. Disponível em: https://revista.psico.edu.uy/index.php/revpsicologia/article/
view/360/353. Acesso em: 3 jun. 2023.

ZAMBENEDETTI, G. Dispositivos de Integração da Rede Assistencial em Saúde Mental: a


experiência do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira. Saúde Soc., [s. l.], v. 18, p. 334-345,
Saúde Mental Referências

2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v18n2/16.pdf. Acesso em: 3 jun.


2023.

Você também pode gostar