Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Saúde Mental
Objetivos Definição
Para o início do Houver necessidade de
desenvolvimento de apresentar um novo conceito
uma nova competência
Nota Importante
Quando necessárias As obsevações escritas
observações ou tiveram que ser priorizadas
complementações para para você
o seu conhecimento
Você Sabia?
Explicando Melhor Curiosidades e indagações
Algo precisa ser melhor lúdicas sobre o tema
explicado ou detalhado em estudo, se forem
necessárias.
Acesse Resumindo
Se for preciso acessar um Quando for preciso fazer um
ou mais sites para fazer resumo acumulativo das
download, assistir vídeos, últimas abordagens
ler textos, ouvir podcast.
Atividades Testando
Quando alguma atividade Quando uma compeência
de autoaprendizagem for for concluída e questões
aplicada forem explicadas.
Sumário
Hospital-Dia
de semana)
matriciamento
Dispositivos da saúde
mental
Objetivos
A Lei n.º 10.216/2001 estabelece que essa reabilitação deve acontecer em base
comunitária e próximo ao convívio com a família e a sociedade. Para isso, foram criados
equipamentos e dispositivos em saúde mental ou serviços substitutivos, os quais são
chamados os serviços de atendimento em saúde mental na comunidade, formando
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1
IIMAGEM 1
Atendimento psicossocial
FONTE
Freepik
Definição
Cada município deve determinar suas ações e seus serviços de saúde mental baseados
em processos coletivos garantindo o direito ao acesso à atenção em saúde mental e
aos programas existentes. Esses serviços fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial
(Raps), responsável pela articulação desses serviços. Entre eles estão: Unidades Básicas
de Saúde; Centros de Atenção Psicossocial (Caps); Centros de Convivência e Cultura;
Unidades de Pronto-Atendimento (UPA); Serviço Residencial Terapêutico (SRT); leitos de
retaguarda em Hospitais Gerais (noturno/feriado/ final de semana); Programa “de Volta
para Casa”; Hospital-Dia; grupos de Produção; ações intersetoriais; mobilização; controle
social e a desconstrução do Hospital Psiquiátrico.
Reflita
Nos casos mais graves, a equipe presta o atendimento ao paciente e é responsável pelo
controle e, algumas vezes, pela aplicação da medicação juntamente com a avaliação
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1
Entre as atividades da equipe, está a visita domiciliar, a qual é definida como instrumento
de realização da assistência domiciliar, sendo constituída pelo conjunto de ações para
viabilizar o cuidado às pessoas com algum nível de alteração no estado de saúde
(dependência física ou emocional) ou para realizar atividades vinculadas aos programas
de saúde. Para isso, à equipe de saúde da família cabe reconhecer quando o núcleo
familiar precisa de apoio, além de entender que a família tem o papel fundamental para
o bom desenvolvimento do cuidado ao paciente (AOSANI; NUNES, 2013; CORREIA, 2011).
Definição
Esses centros têm como objetivos não apenas o atendimento médico e psicológico,
mas também a atenção na rede de cuidados à saúde mental garantindo o acesso e a
equidade, levando direito e autonomia aos pacientes por meio da assistência realizada
por equipe multidisciplinar. Dessa forma, essa equipe é baseada em um trabalho
comunitário, humanizador e reintegrador do ser humano no contexto social, trazendo
novo significado individual e social para os usuários desses serviços.
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1
Definição
Esse espaço permite a interação de grupos muitas vezes discriminados pela sociedade,
como dependentes químicos, idosos, pessoas com algum tipo de deficiência física e
pessoas com transtornos mentais, tendo como característica a participação voluntária
sem controle de frequência ou prontuários médicos.
Saiba Mais
Esse programa, criado pelo Ministério da Saúde, tem como seu objetivo a “inserção social
de pessoas acometidas de transtornos mentais, incentivando a organização de uma
Saiba Mais
Para que o município possa participar desse programa, deve ser acompanhado por
meio de Comissão de Acompanhamento do Programa “De Volta para Casa”, constituída
pelo Ministério da Saúde, cujas responsabilidades são:
Para que o paciente possa ser incluído no programa e se beneficiar com o auxílio-
reabilitação, é necessário que esteja de alta hospitalar, sendo acompanhado por
um CAPS ou outro serviço de saúde do município onde passará a residir, além do
acompanhamento por uma equipe de profissionais encarregada de prover e garantir a
atenção psicossocial e apoiá-lo em sua integração ao ambiente familiar e social. Entre
os serviços do CAPS que esse paciente pode participar, há o Serviço Terapêutico que
vamos ver a seguir (BRASIL, 2003b; BRASIL, 2003a).
Definição
Hospital-Dia
Definição
Para se implantar esse programa, é necessário que haja uma área específica,
independente da estrutura hospitalar, com áreas para atividades em grupo, área
externa, leitos para repouso eventual e ambiente para refeições. Deve ter uma equipe
multiprofissional atuando cinco dias na semana (segunda a sexta-feira) com carga
horária de oito horas por dia de forma que atenda à população de uma área geográfica
definida, para facilitar o acesso do paciente à unidade assistencial sendo integrada à
rede hierarquizada de assistência à saúde mental (BRASIL, 2001b).
São considerados um ponto estratégico para fortalecimento da Raps, devendo ser bem
localizados em vários municípios, de fácil acesso, com propostas de intervenções breves
e acesso a recursos clínicos multidisciplinares diferentemente do que ocorre no Hospital
Psiquiátrico. Contribuem para a diminuição do estigma do transtorno mental e propiciam
práticas de cuidado mais transparentes, associadas a uma integração efetiva entre as
Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1
Resumindo
Objetivos
Importante
Desde o início da vida, o ser humano participa de grupo social, uma trama interpessoal
que os molda e contribui para moldar a seu grupo social futuro. Trata-se do conjunto de
pessoas com quem esse indivíduo interage, conversa e troca sinais regularmente.
Essa experiência ajuda a constituir a própria identidade, que se constrói e reconstrói
constantemente durante a vida com base na interação com os outros, tornando-se
parte intrínseca da identidade de cada indivíduo. Como afirma Brusamarello et al. (2011,
p. 34)
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2
A rede microssocial que o indivíduo integra contribui de maneira significativa para gerar
suas práticas sociais e a visão do mundo e de si, também é parte crucial da própria
identidade e evolui ao longo da vida. Além disso, as mudanças nas redes sociais são
consideradas um marcador para os diversos períodos do ciclo da vida, sendo causa e
efeito das contínuas transformações do indivíduo.
Dessa forma, podemos dizer que a rede social é um grupo de pessoas, membros da família,
amigos, vizinhos e outras pessoas, com capacidade de ajudar e apoiar a um indivíduo
ou família. Correspondendo, assim, ao nicho interpessoal da pessoa e contribuindo para
seu próprio reconhecimento como indivíduo e para sua autoimagem. As pessoas que
compõem essa rede, são todas as pessoas que o indivíduo considera significativas no
universo relacional no qual está inserido (MORE, 2005; UBER; BOECKEL, 2014).
Importante
Nos últimos anos, como parte da Reforma Psiquiátrica brasileira, os padrões da atenção
psiquiátrica hospitalar têm sido questionados, levando a novas formas de cuidar das
pessoas com transtornos mentais, pautadas na inclusão e na reabilitação psicossocial.
O atual modelo de atuação visa substituir o atendimento exclusivo que tem levado ao
abandono e à marginalização por uma rede de saúde mental inclusiva que promova a
integração social e familiar das pessoas com transtornos mentais.
Uma rede social que é pessoal e consegue ser estável, ativa e confiável pode proteger
a vida diária de uma pessoa, promover a construção e manutenção da autoestima e
acelerar o processo de recuperação. Como tal, é essencial para promover o bemestar
físico, mental e emocional. Por outro lado, existe uma rede que não oferece suporte
suficiente, portanto, sua fragilidade e inadequação são fatores de fragilidade da saúde,
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2
o que contribui para o aumento dos níveis de transtornos emocionais e físicos como
depressão, hipertensão e obesidade.
• Família.
• Amizades.
• Relações de trabalho ou escolares (companheiros de trabalho e ou de estudos).
• Relações comunitárias, de serviços (exemplo, serviços de saúde) ou de credos.
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2
O círculo interno representa as relações mais íntimas consideradas pelo indivíduo, seja
da família ou de amizades. O círculo intermediário registra as relações com menor grau
de relacionamento (relações sociais ou profissionais ou familiares), e o círculo externo
as relações ocasionais (tais como conhecidos de escola ou trabalho, familiares mais
distantes, vizinhos).
IIMAGEM 2
Freepik
Outra análise que pode ser feita, diz respeito às funções dos vínculos estabelecidos,
como de companhia social, de apoio emocional, de guia cognitivo e de conselhos, de
regulação social, de ajuda material e de serviços e de acesso a novos contatos. Cada
membro pode estar relacionado a mais de um desses vínculos. Dessa forma, é possível
perceber o tipo de interação que o indivíduo acompanhado tem com sua rede social,
entender quais são relevantes efetivamente e de que forma esses membros podem
auxiliar no tratamento e nas atividades do indivíduo.
Por isso, vamos lembrar que a Reforma Psiquiátrica propõe substituir o modelo
asilar por um modelo de atenção baseado no convívio com a comunidade, tendo o
acompanhamento do tratamento dentro do Sistema de Saúde, e os Centros de Atenção
Psicossocial (Caps) sãos seus dispositivos estratégicos com prioridade na reinserção
social e no fortalecimento de vínculo dos usuários com a sociedade, incentivando-o na
busca da construção da autonomia e cidadania.
Quando utilizamos o termo “redes sociais” na saúde mental, estamos falando sobre
o conjunto de todas as relações que circundam o indivíduo e levam a interações
interpessoais, não apenas na questão de tratamento, mas de reconhecimento enquanto
sujeito, para a construção de identidade, para o sentimento de bem-estar, pertença e
autonomia. No momento em que integramos essas redes sociais, possibilitamos que se
organizem socialmente como uma estrutura descentralizada, em que todos podem
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2
ocupar diferentes e distintas posições, dependendo dos interesses e dos temas tratados.
Para isso, é importante que essa rede seja diversificada para poder atender, ao menos, a
maioria dessas demandas. Por ser um sistema aberto, permite ao paciente, aos membros
da família ou à própria comunidade o benefício das múltiplas relações, estabelecendo e
favorecendo seu desenvolvimento (BRUSAMARELLO et al., 2011; UBER; BOECKEL, 2014).
Dessa forma, as redes sociais se tornam um dos principais recursos que um sujeito dispõe
referente ao apoio recebido e percebido, havendo associação entre desenvolvimento
humano saudável e qualidade das redes sociais que um sujeito mantém. São uma das
chaves centrais da experiência individual de identidade, competência, bem-estar e
autoria, incluindo os hábitos de cuidado de saúde e a capacidade de adaptação em
uma crise.
Importante
Muitas vezes, o sofrimento psíquico afasta o indivíduo do convívio social, por isso, a
reconstrução de um cotidiano com convívio social torna-se um imprescindível suporte
no tratamento a partir dos diversos dispositivos de apoio e de solidariedade. A reinserção
e reabilitação do portador de transtorno mental na sociedade, bem como o resgate de
Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2
sua autonomia são essenciais. Assim, os suportes sociais percebidos e recebidos das
pessoas significativas são primordiais para a manutenção da saúde mental, pois uma
rede social fortalecida ajuda o indivíduo a enfrentar situações estressantes, como uma
doença própria ou de algum familiar.
Quando essa rede social é estável, ativa e confiável o indivíduo se sente protegido em sua
vida diária, além de favorecer a construção e manutenção da autoestima, acelerando
os processos de recuperação da saúde. Em contrapartida, se esse indivíduo permanece
em uma rede social que não proporciona suporte adequado, sua fragilidade e seu
sentimento de insuficiência contribuem para a vulnerabilidade do indivíduo podendo
elevar o nível de doenças emocionais e físicas como depressão, hipertensão arterial e
obesidade (BRUSAMARELLO et al., 2011; UBER; BOECKEL, 2014).
Um indivíduo não faz parte apenas de uma comunidade, mas de várias comunidades. Sua
identidade é expressa nesta propriedade. Na comunidade à qual pertence, o indivíduo
se reconhece, percebe seus interesses e comunica seus afetos. Essas interações podem
ser formalizadas em bairros, igrejas e locais de trabalho. Mas também podem não ser
formalizadas, ainda assim, são essas interações que medem a participação e a inclusão
social. Você pode obter uma imagem refletida de si mesmo a partir de suas interações
com os outros. Este autorretrato baseia-se em ter algo a oferecer aos outros.
Quando o indivíduo com transtorno mental se conscientiza de sua rede social de apoio
e do seu papel nas suas relações, tende a mudar de comportamentos, ampliar sua
capacidade de enfrentar situações dolorosas e difíceis, além de melhorar sua autoestima,
isso ajuda a aumentar a possibilidade de uma vida melhor, contribui para a promoção
da saúde, favorece a autonomia desse indivíduo e seus familiares, bem como modifica
sua posição em relação às intervenções.
Porém, vale ressaltar que a rede social pode gerar benefícios ao indivíduo, mas isso
depende da postura dos membros, pois, mesmo querendo dar suporte ao indivíduo,
podem não ter conhecimentos e habilidade para isso. Nesses casos, é de extrema
importância o acompanhamento desses membros, que em geral são familiares, para
garantir a melhora do paciente e evitar problemas aos demais membros da família. Nos
casos de pacientes envolvidos com drogas ilícitas e álcool, os membros de sua rede, em
geral, estão relacionados com o problema e, dessa forma, acabam levando o indivíduo
a recaídas, nesses casos, ou ocorre o afastamento do indivíduo, ou o tratamento dos
demais membros.
Você Sabia?
Resumindo
Esse capítulo foi muito importante, certo? Vimos que redes sociais
compreendem os membros que fazem parte do convívio de indivíduos
na sociedade, como a família, os amigos, vizinhos, colegas de trabalho,
colegas de estudos, entre outros. Vimos, também, a importância de uma
rede social sólida e disponível para apoiar o paciente com transtornos
mentais e a necessidade de acompanhamento desses indivíduos
também. Além disso, aprendemos que a relação entre as pessoas auxilia
no desenvolvimento do paciente, e por esta razão as ações e atividades
em grupo são tão importantes quanto a desinstitucionalização do
tratamento psiquiátrico.
3
Atenção e cuidado em
saúde mental
Saúde Mental Capítulo 3
Objetivos
Nem sempre a família foi vista como uma instituição capaz de acolher e cuidar de um
indivíduo que está mentalmente adoecido. Antes do capitalismo, o cuidado com o
indivíduo era responsabilidade da família, quando não havia quem o amparasse, esse
indivíduo era considerado uma questão pública, ficando sob responsabilidade do rei e
seus auxiliares. Borba et al. (2011, p. 443) afirmam:
Importante
Ainda no século XX, principalmente com a influência das teorias freudianas, a família
entra para o rol das intervenções dos especialistas por se destacar a importância das
relações familiares sobre o psiquismo dos sujeitos. Ao conhecer o universo familiar,
esses especialistas buscam identificar e determinar a causa da doença na maneira
como os pais conduzem a educação dos seus filhos, entendendo que o inadequado
comportamento da criança como má educação ou o próprio transtorno mental
acontecem por culpa dos pais.
Reflita
Quem nunca olhou uma criança fazendo “birra” e disse, ou pelo menos
pensou: “Cadê os pais dessa criança?”; ou “Nossa, esses pais de hoje
em dia são muito ‘frouxos’ na educação dessa criança”; ou ainda “Se
fosse meu filho não estaria fazendo isso”. Se você já tem filho talvez
compreenda melhor, mas é importante lembrar que o entendimento
sobre os sentimentos acontece aos poucos, o que nós adultos chamamos
de birra é, na verdade, a forma que a criança encontra de mostrar que
tem algo errado, assim, ela ainda não sabe expressar em palavras, o
que está sentindo pode ser sono, fome, tristeza, raiva etc. Além disso, o
sentimento de frustração é um dos últimos a ser entendido pela criança,
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3
A observação sistemática da família começa a acontecer nos anos 1950, pela pesquisa
e intervenção direta no meio familiar, ganhando destaque o papel da mãe. Para alguns
autores, há a importância da função da patologia dentro do grupo familiar e o paciente
com transtorno mental passa a ser considerado o porta-voz da enfermidade de toda
a família tendo, agora, um papel positivo, pois é considerado um agente catalizador
que adoece para proteger o grupo familiar e manter sua homeostase. Mas essa
caracterização do indivíduo sendo invalidado impede os processos de mudanças nos
padrões de relacionamento do grupo.
O novo modelo de cuidado em saúde mental volta seu olhar para o indivíduo como um
todo, como um ser que sofre e enfrenta momentos desestabilizadores, como separação,
perda de emprego, luto, carência afetiva, entre outros problemas cotidianos que podem
levá-lo a procurar ajuda. Por isso, a atenção à saúde está voltada à integração social
do sujeito, procurando mantê-lo em seu contexto familiar e comunitário, servindo como
suporte fundamental para que o sujeito mantenha vínculos, principalmente afetivos,
revertendo o modelo manicomial. Com isso, o cuidado envolve também questões
pessoais, emocionais, financeiras e sociais, relacionadas à convivência do paciente
levando em consideração as inúmeras dificuldades vivenciadas tanto pelos pacientes
Definição
Saiba Mais
Portanto, a família deve ser vista como ator social fundamental para a efetividade da
psicoterapia e compreendida como um grupo com grande potencial para acolher e
reassentar seus membros. Exemplos de transformações da saúde mental que exigem
o envolvimento da família no planejamento do cuidado incluem a criação e expansão
de redes comunitárias para cuidar de pessoas com transtornos mentais e a redução de
internações em instituições mentais.
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3
Importante
Uma dificuldade encontrada nesse modelo é deixar claro para os familiares e cuidadores
os benefícios das mudanças em curso, pelo temor de terem que assumir sozinhos as
sobrecargas no ambiente doméstico. Além disso, o familiar, exausto e estigmatizado,
muitas vezes teme tornar pública a condição de sua família, sendo exposto como
representante da “saúde mental” e conviver com o rótulo de “familiar de louco”. Esse
estereótipo sobre os transtornos mentais, muitas vezes, leva a família a tentar resolver
o problema internamente primeiro e, quando não consegue, chega a um serviço
psiquiátrico com sentimento de impotência, exaustão, culpa e desespero.
Outra dificuldade encontrada vem da própria equipe de saúde sobre a forma de inclusão
da família e o lugar que ela poderia ocupar que nem sempre corresponde ao seu desejo
e às possibilidades reais principalmente nos casos de famílias com possibilidades
limitadas. Além disso, poucos profissionais são capacitados academicamente para
trabalhar com a família, e os que são, na grande maioria, estão preparados para lidar
com famílias de classe média não com famílias de baixa renda, em geral, com baixa
escolaridade e dificuldade de relatar os acontecimentos. Esse profissional está pouco
Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3
Além disso, deve-se ter em mente que a convivência de uma família com uma pessoa
com transtorno mental nem sempre é harmoniosa, caracteriza-se por tensões e conflitos,
pois nesse espaço é mais fácil expressar sentimentos. Como um grupo vivo, a família
requer, portanto, a capacidade de seus membros de repensar e reajustar continuamente
suas estratégias e dinâmicas internas. Isso exige respeito à individualidade do sujeito,
afinal, as pessoas existem no mundo, pensam, interpretam os fatos e agem de forma
diferente mesmo morando na mesma casa.
Além disso, o cuidado com uma pessoa adulta, principalmente se for considerado
líder da família (pai ou mãe, por exemplo), gera a necessidade da reconstrução da
unidade familiar, tornase importante que todos os membros aprendam a se relacionar
com o transtorno mental, com os serviços de saúde mental e com a linguagem dos
profissionais que, muitas vezes, não estão preparados para conversar com a população
sem a educação na área e, muitas vezes, com baixo grau de instrução.
Saiba Mais
Uma característica marcante encontrada por Cardoso (2015), quando fez uma análise
de vários estudos sobre o perfil do cuidador de paciente em saúde mental, é a presença
feminina no papel de cuidador principal. Mostrando que o cuidado à saúde está ligado
a questões socioculturais que incorporam à mulher o papel de principal provedora
de cuidados à família e aos necessitados, o que muitas vezes é entendido como uma
obrigação moral. Nesse estudo, o autor descreve que a sobrecarga relacionada ao
cuidado favorece o adoecimento do próprio cuidador o qual negligencia o autocuidado
a favor do cuidado ao próximo; é observada menor qualidade de vida do cuidador com
maior risco de desenvolvimento de doenças emocionais como depressão, diretamente
relacionadas à dependência do paciente, além da redução da atenção com os demais
membros da família. Cardoso (2015) relata que a atenção ao cuidador ainda necessita
de maiores estudos para observar suas necessidades e intervenções por parte dos
profissionais e serviços da área da saúde.
Resumindo
Matriciamento em saúde
mental
Objetivos
Definição
DEFINIÇÃO:
O matriciamento, também chamado de apoio matricial, é um novo modelo de produzir
saúde em que duas ou mais equipes, em um processo de construção compartilhada,
criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica.
• Equipe de referência;
• Equipe de apoio matricial.
Nessa estrutura, a Atenção Primária à Saúde (APS), por exemplo, a equipe de Estratégia
em Saúde da Família (ESF), funciona como equipes de referência interdisciplinares,
atuando com uma responsabilidade, incluindo o cuidado longitudinal, além do
atendimento especializado que realiza concomitantemente. Quanto à estas equipes,
Gazignato e Silva (2014, p. 297) afirmam que:
Importante
É a partir deste arranjo que a equipe de saúde mental consegue compartilhar alguns
casos com a equipe de cuidados primários. Esse compartilhamento se dá na forma
de corresponsabilização dos casos, seja por meio de revisões conjuntas de casos,
intervenções conjuntas com famílias e comunidades, ou cuidado compartilhado,
podendo ser na forma de supervisão e treinamento.
Assim, uma das principais estratégias desenvolvidas pelo Caps para o desenvolvimento
de uma rede de atenção é a implantação do matriciamento ou apoio matricial, entendido
como “um novo método de geração de saúde em que duas ou mais equipes, em
processo de construção conjunta, criam uma proposta de intervenção terapêutica
educativa” (CHIAVERINI et al., 2011, p. 13). Pegoraro, Cassimiro e Leão (2014, p. 622) afirmam
que:
Importante
Esse projeto auxilia e direciona a equipe referência, mas não busca a total autossuficiência
dela, tendo a retomada periódica para atualizar o caminhar de cada caso para repactuar
e reformular novos projetos terapêuticos e avaliar o que deu certo e o que deixou a
desejar (AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI et al., 2011; CAMPOS; DOMITTI, 2007).
Essa modalidade envolve desde discussão de caso por parte da equipe como consulta
e visitas domiciliares conjuntas permitindo a construção de uma compreensão integral
do processo saúde-doença devido à interdisciplinaridade da equipe.
As discussões de casos são uma das etapas do processo que sempre devem estar
presente, deve-se entender o motivo pelo qual aquele caso deve ser discutido, a situação
atual analisa o contexto e verifica os recursos positivos disponíveis além do principal
objetivo do cuidado (AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI et al., 2011; CAMPOS;
DOMITTI, 2007).
Entre as dificuldades que a equipe de apoio matricial pode encontrar, uma das mais
relevantes está no fato de as equipes referência não possuírem uma definição clara
sobre o apoio matricial, apresentando dúvidas referentes ao conceito e dificuldades
para empregar a metodologia. Isso porque, sem entender o que é o apoio matricial, não
é possível identificar a percepção e as experiências com o matriciamento.
Saúde Mental Matriciamento em saúde mental Capítulo 4
Além disso, a falta de entendimento de como funciona o matriciamento faz com que
a equipe de ESF compreenda que a atividade da equipe de apoio esteja relacionada a
trocas de favores, mas a real função é suporte às atividades da equipe referência.
Entre os desafios encontrados pela equipe de apoio, está a política de saúde mental
infanto-juvenil, pois, historicamente, a criança ainda possui pouca visibilidade no cenário
da saúde mental, além dos profissionais da ESF não possuírem formação para atuar com
problemas de saúde mental nessa faixa etária aparecendo dificuldades de identificar
casos que seriam importantes de ser estudados (CHIAVERINI et al., 2011; SALVADOR; PIO,
2016).
Resumindo
Referências
AOSANI, T.; NUNES, K. A saúde mental na atenção básica: a percepção dos profissionais de
saúde. Revista Psicologia e Saúde, [s. l.], v. 5, p. 71-80, jul./dez. 2013. Disponível em: http://
pepsic.bvsalud.org/pdf/rpsaude/v5n2/v5n2a02.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
BARROS, R.; TUNG, T.; MARI, J. Serviços de emergência psiquiátrica e suas relações com a
rede de saúde mental brasileira. Revista Brasileira de Psiquiatria, [s. l.], v. 32, 2010. Disponível
em: http:// www.scielo.br/pdf/rbp/v32s2/v32s2a03.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
BRASIL. Portaria n.º 44, de 10 de janeiro de 2001. Secretaria de Atenção à Saúde. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001a. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/saudelegis/ gm/2001/prt0044_10_01_2001.html. Acesso em: 3 jun. 2023. BRASIL.
Lei n.º 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, p. 2, 9 abr. 2001b. Disponível em: http://cgj.tjrj.jus.br/
documents/1017893/1038413/politicanac- saude-mental.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
BRASIL. Lei n.º 10.708, de 31 de julho de 2003. Institui o auxílio-reabilitação psicossocial para
pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações. Diário Oficial da
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n.º 154 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio à
Saúde da Família – NASF. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2008.
BRASIL. Programa de volta para casa: liberdade e cidadania para quem precisa de
cuidados em saúde mental. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação Geral de Saúde
Mental, 2003. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ prog_volta_
para_casa.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
Saúde Mental Referências
CAMPOS, G.; DOMITTI, A. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para
gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Caderno de Saúde Pública, v. 23, n. 2, p. 399-
407, 2007. Disponível em: http://www2.unifesp.br/centros/cedess/producao/ produtos_
tese/produto_adriana_dias_%20silva.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
CARDOSO, L.; GALERA, S. O cuidado em saúde mental na atualidade. Rev. Esc. Enferm. USP,
[s. l.], v. 45, n. 3, p. 687-691, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n3/
v45n3a20.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
CHIAVERINI, D. et al. (org.). Guia prático de matriciamento em saúde mental. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva. Disponível em: http://
bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_ saudemental.pdf.
Acesso em: 3 jun. 2023.
Saúde Mental Referências
FIGUEIREDO, M.; CAMPOS, R. Saúde Mental na atenção básica à saúde de Campinas, SP: uma
rede ou um emaranhado? Ciência & Saúde Coletiva, [s. l.], v. 14, p. 129-138, 2009. Disponível
em: https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413- 81232009000100018&script=sci_
arttext. Acesso em: 3 jun. 2023.
PEREIRA, M.; OLIVEIRA, M. Análise dos dispositivos de saúde mental em municípios do Vale
do Paraíba. Rev. Bras. Enferm., [s. l.], v. 64, n. 2, p. 294-300, mar./abr. 2011. Disponível em:
http://www.scielo. br/pdf/reben/v64n2/a12v64n2.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
ROSA, L. A inclusão da família nos projetos terapêuticos dos serviços de saúde mental.
Psicologia em Revista, [s. l.], v. 11, n. 18, p. 205-218, 2005. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.
org/pdf/ per/v11n18/v11n18a05.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.
Saúde Mental Referências
SALLES, M. M.; BARROS, S. Inclusão social de pessoas com transtornos mentais: a construção
de redes sociais na vida cotidiana. Ciência & Saúde Coletiva, [s. l.], v. 18, p. 2129-2138, 2013.
SANTIN, G.; KLAFKE, T. A família e o cuidado em saúde mental. Barbarói, [s. l.], v. 34, p.
146-160, 2011. Disponível em: https:// online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/
view/1643/1567. Acesso em: 3 jun. 2023.
SILVA, A. O apoio matricial e a rede saúde mental: atenção básica. Porto Velho, RO:
Universidade Federal de São Paulo, 2014. Disponível em: http://www2.unifesp.br/centros/
cedess/producao/ produtos_tese/produto_adriana_dias_%20silva.pdf. Acesso em: 3
jun. 2023.