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Psicologia Comunitária e
a Saúde Pública: Relato de
Experiência da Prática Psi em
uma Unidade de Saúde da
Família
Communitarian Psychology And Public Health: Story Of An
Experience Of The Psi Practice In A Basic Unit Of Family
Resumo: Este trabalho relata a realização de uma experiência de estágio em uma Unidade de Saúde da
Família em Santa Maria-RS. O objetivo foi analisar a prática da Psicologia comunitária e as suas estratégias
de facilitação em comunidades inseridas em uma unidade de saúde pública. Participaram dessa experiência
usuários atendidos pela equipe multidisciplinar que haviam sido encaminhados para o serviço de Psicologia.
No contexto estudado, as estratégias utilizadas foram entrevistas, visitas domiciliares, conversas informais
e interação nos espaços comunitários. Essas estratégias se mostraram importantes para o mapeamento da
realidade comunitária, das redes de serviços e para verificar como estas funcionam. No que se refere às
questões éticas, observou-se a importância de romper os padrões de atendimento psicológico tradicional,
quando se constrói uma ética que abrange os princípios da interdisciplinaridade. Observou-se que estratégias
de atuação em comunidade na perspectiva da Psicologia comunitária podem favorecer ações mais integradas
às necessidades da população atendida pela ESF. Tal experiência apontou a importância do questionamento
sobre os modelos de atuação prestados pela Psicologia nos serviços de saúde pública, se for discutida uma
proposta de atuação que esteja comprometida com o fortalecimento e o engajamento comunitário para o
exercício e a garantia da cidadania dos usuários.
Palavras-chave: Psicologia comunitária. Saúde da família. Programa de atendimento domiciliar. Saúde
pública.
Abstract: This paper reports an internship experience in a Family Health Unit in Santa Maria-RS that aimed
to analyze the practice of community psychology and strategy facilitation in communities located in a public
health context. The users joined in this experience, referred to the psychology service, were assisted by a
multidisciplinary team. In the context studied, the strategies used were interviews, home visits, informal
conversations and interaction in community spaces. All strategies above were important for the mapping
of the real community, for network services as well as for the observation of how they work. With regard
to ethical issues, it was noted the importance of breaking the traditional standards of psychological care
to build an ethic that embraces the principles of interdisciplinarity. It was observed that at the end of this
experiment these strategies of community action from the perspective of community psychology promoted
more integrated actions to the needs of the population served by the unit. This experience pointed at the
importance of questioning the role of the models provided by psychology in public health services, when
discussing a proposal for action that is committed to community strengthening and engagement for the
exercise of citizenship and the security of the users.
Keywords: Community psychology. Family health. Home attending program. Public health.
Resumen: Este trabajo relata la realización de una experiencia de pasantía en una Unidad de Salud de la
Familia en Santa María – RS. El objetivo ha sido el de analizar la práctica de la Psicología comunitaria y sus
estrategias de facilitación en comunidades insertadas en una unidad de salud pública. Han participado de
esa experiencia usuarios atendidos por el equipo multidisciplinario que habían sido dirigidos al servicio
de Psicología. En el contexto estudiado, las estrategias utilizadas han sido entrevistas, visitas domiciliares,
conversaciones informales e interacción en los espacios comunitarios. Esas estrategias se han mostrado
importantes para el mapeo de la realidad comunitaria, de las cadenas de servicios y para verificar cómo
éstas funcionan. En lo que se refiere a las cuestiones éticas, se ha observado la importancia de romper los
estándares de atendimiento psicológico tradicional, cuando se construye una ética que abarca los principios
de la interdisciplinaridad. Se ha observado que estrategias de actuación en comunidad en la perspectiva
de la Psicología comunitaria pueden favorecer acciones más integradas a las necesidades de la población
atendida por la ESF. Dicha experiencia ha señalado la importancia del cuestionamiento acerca de los modelos
de actuación rendidos por la Psicología en los servicios de salud pública, si se discute una propuesta de
actuación que esté comprometida con el fortalecimiento y la movilización comunitaria para el ejercicio y
la garantía de la ciudadanía de los usuarios.
Palabras clave: Psicología comunitaria. Salud de la familia. Programa de atención domiciliaria. Salud pública.
Este trabalho partiu de uma experiência de a importância, cada vez maior, da inserção
estágio em Psicologia comunitária realizada de psicólogos na área da saúde pública, uma
em uma instituição localizada em Santa vez que as experiências de saúde e doença
Maria, RS. O objetivo foi analisar a prática são marcadas por dimensões subjetivas,
da Psicologia comunitária e as suas estratégias e estas, por sua vez, constituem um dos
de intervenção em comunidades atendidas principais objetos de estudo da Psicologia
por uma Unidade de Saúde da Família (USF). (Dimenstein, 2006). O contexto da saúde
Para a escolha do local, levou-se em conta pública, incluindo a Estratégia de Saúde
o psicólogo comunitário, o saber científico é dias de chuva, havia muitas goteiras, infiltração
relativizado diante do saber popular, sendo nas paredes e água escorrendo pelos fios
este uma importante via para o acesso à de luz. No entanto, mesmo com todas as
Saúde Mental da população (Vasconcelos, dificuldades estruturais, diariamente, a partir
1994). O psicólogo comunitário deve das cinco horas da manhã, uma funcionária
analisar o contexto da comunidade a partir distribuía as fichas do dia para o atendimento
de conhecimentos científicos e do saber com os profissionais. Em função do grande
popular, utilizando valores éticos de respeito, número de pessoas atendidas pela equipe, as
solidariedade e compromisso (Sarriera, filas começavam cedo, e, muitas vezes, nem
2008). Sendo assim, a Psicologia comunitária todas conseguiam ser contempladas pelo
foi escolhida como proposta teórica e atendimento naquele dia. Dessa maneira,
metodológica para esse estágio por entender mesmo que a estrutura da equipe técnica do
O psicólogo local fosse composta por dois médicos, dois
comunitário a atividade psíquica como decorrente dos
deve analisar modos de vida dos locais onde a pessoa enfermeiros, um técnico em enfermagem,
o contexto da reside, sendo o espaço de moradia um um dentista, um auxiliar de dentista, dois
comunidade estagiários de Medicina, estagiários rotativos,
a partir de local privilegiado de intervenção (Góis,
conhecimentos 1993). Neste trabalho, serão apresentados a cada dois meses, de Fisioterapia, Farmácia e
científicos e do Nutrição e dois estagiários de Psicologia, nem
a contextualização do estágio e o processo
saber popular, sempre era possível o atendimento à excessiva
utilizando valores de inserção: mapeamento da realidade
demanda.
éticos de respeito, comunitária, estratégias de intervenção frente
solidariedade ao funcionamento institucional e a entrevista
e compromisso Em relação aos usuários do serviço de saúde,
(Sarriera, 2008). como instrumento para conhecer a realidade
ainda que houvesse um público fixo formado
comunitária.
pelos pacientes em situação de doença
crônica, que buscavam medicações com
Contextualização do estágio certa regularidade, o público usuário do
serviço variava muito em idade, gênero e
A Unidade de Saúde da Família (USF)
classe social, pois os três bairros possuíam
estudada surgiu na comunidade no ano 1988,
uma grande diversidade no que diz respeito
embora o Programa Saúde da Família tenha
à situação socioeconômica. Entretanto,
sido implantado somente em 2004. Antes quase todas as pessoas residentes da região,
disso, ela era considerada Unidade Básica de independentemente de pagarem planos de
Saúde, que é conhecida, entre os moradores, saúde particulares, buscavam atendimento no
como posto de saúde. Anteriormente, estava posto e recebiam periodicamente as visitas dos
alocada em uma antiga casa ao lado de Agentes Comunitários em Saúde (ACS). Além
uma escola municipal, que formava o ponto desse variado público, que era formado por
de confluência entre três grandes bairros gestantes, doentes crônicos, crianças e idosos,
periféricos da cidade de Santa Maria - RS. pode-se dizer que dois públicos, embora
Por causa de sua localização geográfica e das com menos frequência, se destacavam: o de
necessidades dos moradores dos bairros, a adolescentes estudantes da escola ao lado,
USF atendia, no ano 2008, aproximadamente que, por vezes, buscavam preservativos e
9.700 usuários, um número excessivo e faziam curativos após acidentes na escola,
muito acima de suas capacidades estruturais e as mulheres acima de 40 anos cuidadoras
e técnicas, principalmente se se levar em de pacientes acamados, que, quando não
conta a precária estrutura oferecida: uma recebiam os medicamentos trazidos pelos
pequena sala de espera, com banheiros agentes, se deslocavam até o posto de saúde
constantemente interditados, e salas de ou ainda iam em busca de consultas médicas
consultas visitadas por ratos e baratas. Em para dores crônicas.
realidade e ao contexto dos usuários, e assim A inserção nesse local passou por dificuldades,
tivesse maior engajamento e participação da muitas vezes obstaculizadas por alguns
comunidade. membros da instituição, talvez desmotivados
pela pouca difusão de conhecimentos acerca
As estratégias de intervenção da Psicologia comunitária entre alguns
profissionais das equipes de saúde, ou até
frente ao funcionamento
mesmo pela própria falha da formação
institucional acadêmica em não desmistificar, para
os alunos de Psicologia, a intervenção
Frente às informações obtidas sobre/com a
clínica como única forma do fazer psi.
comunidade a partir de um primeiro contato
Assim, para que a proposta de estágio
e da leitura teórica dos principais conceitos e
finalmente fosse mantida nesse local, foram
ações da Psicologia comunitária, foi possível
necessárias negociações com a equipe para
discutir a supervisão a respeito dos objetivos
que as intervenções e os encaminhamentos
do estágio e, essencialmente, a construção
individuais, que configuravam a Psicologia
de um plano de ação fundamentado
anteriormente, não sofressem bruscas
nos alicerces histórico e socioculturais já
mudanças. Optou-se conjuntamente pela
existentes no local, que teve como objetivo
continuação de alguns atendimentos clínicos
principal a intervenção voltada para a
individuais, priorizando, porém, as visitas e
prevenção primária em saúde, com ênfase na
os atendimentos domiciliares, assim como a
potencialização do indivíduo como sujeito de
participação junto aos grupos já existentes;
sua própria realidade. Essa prática envolvia
como o de hipertensos e diabéticos, gestantes
conhecimentos, instrumentos e métodos
e educação sexual para adolescentes.
de Psicologia comunitária em intervenções
individuais e coletivas através de práticas
A área clínica ainda é o modelo hegemônico
educativas, preventivas e comunitárias.
no saber-fazer acadêmico, e tal modelo foi
deslocado para o contexto da saúde pública
A partir da construção do plano, partiu-se
sem considerar a diversidade da população
para a apresentação da proposta de estágio atendida e a política de atendimento proposta
em uma reunião formada pela equipe técnica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para
e por agentes comunitários de saúde da USF. a ESF (Dimenstein, 2000). Os obstáculos
Na reunião, foram explicados os objetivos do colocados pela instituição consistiram em
estágio e esclarecidos os fundamentos básicos desvalorizar uma proposta que previa a
da Psicologia comunitária. Percebeu-se, a partir reversão desse quadro individual e curativo
do modo como algumas ações foram colocadas para a perspectiva de prevenção e de
em questão pela equipe, que o imperativo investigação, análise e compreensão coletivas.
das práticas da Psicologia clínica tradicional Da mesma forma, os próprios profissionais da
continua sendo, em algumas unidades de saúde parecem ainda encontrar dificuldades
saúde, a única forma considerável, legítima e em se adaptar às exigências propostas pelo
aceitável de atuação da Psicologia. Confirmou- SUS para o atendimento na saúde pública. A
se a consolidação dessas ideias no local ao se ênfase na formação do profissional de saúde
observar os poucos e restritos espaços ocupados tem sido diagnóstico, cuidado, tratamento,
pela Psicologia até então, que se restringiam a: prognóstico, etiologia e profilaxia das doenças
atendimentos em salinha do fundo e a visitas e agravos (Ceccim & Feuerwerker, 2004).
direcionadas pela equipe de saúde somente Devido a isso, o olhar do profissional, muitas
para aqueles moradores considerados muito vezes, se centraliza no aspecto técnico
debilitados psíquica e/ou fisicamente. do atendimento e deixa de lado todos os
fatores que envolvem a produção de saúde- perspectiva do SUS sobre a humanização nos
doença e a integralidade do cuidado em atendimentos, a escuta é uma das etapas mais
saúde (Macedo & Dimenstein, 2009). E importantes no cuidado e na compreensão
tal perspectiva tem sido considerada uma da realidade dos seus usuários, para que a
das maiores barreiras na execução das doença ou o adoecimento não seja visto como
políticas de saúde, por estar focada em um o elemento mais importante na vida da pessoa
modelo biomédico que privilegia a cura pela (Ministério da Saúde, 2004). Tal procedimento
medicação em vez da prevenção (Traverso- foi privilegiado nas entrevistas realizadas
Yépez, 2001). para que fossem retomados aspectos que
circundam a saúde na vida das pessoas, como
A entrevista como instrumento os vínculos afetivos, tanto na família como
para conhecimento da na vizinhança, e os eventos comunitários
socializadores, como as mateadas (rodas
realidade comunitária
de chimarrão), que comumente reúnem
Nas entrevistas, as pessoas para tomar chimarrão. A escuta
a posição do Nas entrevistas, utilizou-se um roteiro
psicólogo é a de humanizada permitiu ampliar as percepções
semiestruturado que continha aspectos
facilitador, que faz de si mesmo e das realidades dos moradores,
com que as próprias
como a história da comunidade (surgimento,
por vezes encaminhados ao atendimento
pessoas construam participação, mudanças ocorridas),
o seu processo de psicológico, percepções essas que, em muitos
mapeamento das redes de serviço (escola,
autoconhecimento casos, estão restritas aos seus sintomas de
e de sua realidade
hospital, água, luz...), realidade econômica
doença.
(Rocha, Boeckel, & (como vivem, renda familiar), escolaridade
Moreira, 2008). (leitura e escrita), lazer (diversão), dificuldades
Nas entrevistas, a posição do psicólogo
mais apresentadas (doenças e problemas
é a de facilitador, que faz com que as
sociais) e a participação comunitária
próprias pessoas construam o seu processo
(atividades e dificuldades). Assim, a entrevista
de autoconhecimento e de sua realidade
semiestruturada teve como objetivo
(Rocha, Boeckel, & Moreira, 2008). Uma das
conhecer o modo de vida dos moradores
possibilidades de facilitação seria conhecer
da comunidade que utilizam os serviços da
os serviços disponíveis na comunidade e na
USF, incluindo os atendimentos psicológicos,
rede de atendimento do Município, para que
com a análise dos aspectos sociais, culturais
outras políticas públicas possam ser acionadas
e históricos desses moradores.
caso o morador delas tenha necessidade.
Foi possível observar que muitos moradores
Observou-se, nas entrevistas, a importância
não conheciam o funcionamento da rede
de se considerar as dimensões como
de serviços e nem quais deles estavam
o ambiente e os recursos individuais e
disponíveis. Tal fato mostra a importância de
coletivos, sejam eles materiais, psicológicos
se ampliar as informações sobre as políticas
ou sociais, que favoreçam a saúde dos
públicas existentes como estratégia para a
moradores entrevistados. A entrevista é
melhoria da saúde dos moradores.
uma forma de compreender a realidade,
o contexto específico, focando, também,
Visita domiciliar e intervenção
a potencialização dos aspectos saudáveis
(Rocha, Boeckel, & Moreira, 2008). Percebeu-
comunitária
se que os moradores, nos primeiros contatos,
Outra estratégia adotada foram as visitas
centralizavam os aspectos negativos de sua
domiciliares, como forma de inserção e
vida e da sua comunidade, principalmente processo de intervenção, que ocorreram duas
os que se relacionavam à doença. Seguindo a vezes por semana, e que duravam entre 30
minutos a uma hora, dependendo do tipo com a comunidade envolvida, pois ele está
de demanda e do profissional da USF que adentrando seu lar, sua casa, sua intimidade,
acompanhava os estagiários. Os critérios mantendo, assim, interações, ou seja,
para a escolha das famílias seguiram uma relacionamento interpessoal (Laham, 2004).
lista de espera, preenchida pela equipe de Para a autora, tal intervenção permite a
profissionais de saúde e pelos atendentes. obtenção de dados mais fidedignos sobre
Os objetivos das visitas foram analisar a a saúde das famílias, porém, para que isso
comunidade e as famílias atendidas e avaliar a aconteça, é necessário estabelecer confiança
necessidade de acompanhamento psicológico entre os membros da equipe de saúde e os da
domiciliar. Para este último, o público-alvo família, para que esta última se sinta segura
era as pessoas acamadas por algum tipo de com as ações desenvolvidas pelos profissionais
doença crônica e/ou seus cuidadores, que, (Nogueira & Fonseca, 1997).
impossibilitados de se locomover devido
aos cuidados cotidianos que prestavam, Durante as primeiras visitas realizadas,
padeciam de adoecimentos psíquicos, tais surgiram alguns questionamentos em relação
como depressão, desesperança, carência à investigação da demanda, pois a solicitação
de autocuidados ou problemas físicos do serviço da Psicologia não era feita pelos
somatizados. próprios moradores, e sim, pela equipe.
Segundo Rocha, Boeckel e Moreira (2008),
Para a realização das visitas domiciliares, é importante avaliar quem solicita as visitas
foram feitos contatos com os agentes domiciliares, assim como o seu significado e
comunitários e avaliada a disponibilidade de as suas implicações. Sendo assim, o desafio era
acompanhá-los nas visitas domiciliares, já que tornar a visita significativa para os moradores
são eles os principais responsáveis, na ESF, por que estavam sendo visitados.
essa atividade. A escolha das pessoas a serem
visitadas foi feita pelos agentes, que utilizaram A presença dos agentes de saúde sempre foi um
como critério as famílias que passavam por aspecto facilitador para a aproximação com os
algum conflito emocional ou manifestações moradores, já que eles apresentavam grande
de tristeza, como choro ou queixas sobre vínculo com as famílias. Para que esse laço
a sua vida. Os encaminhamentos também também fosse estabelecido com os estagiários,
foram realizados pelos profissionais de saúde foi necessária a inserção no contexto familiar
(médicos, enfermeiros, dentista), por escrito dos moradores, utilizando-se de estratégias
ou verbalmente. como: falar de assuntos do cotidiano, que as
pessoas relatavam, comentar sobre os objetos
A visita domiciliar é uma das estratégias de expostos nas casas que poderiam demonstrar
intervenção na comunidade, e é realizada em características da família, como fotos, quadros,
equipe. Cabe ressaltar que essa intervenção imagens de santos, etc. Outra forma foi a
não é uma prática específica dos psicólogos, interação com as atividades que estavam sendo
ou seja, foram os trabalhadores sociais os desenvolvidas durante a entrevista, como tomar
primeiros profissionais a utilizarem essa prática chimarrão, participar do lanche, auxiliar em
(Rocha et al., 2008), a saber, ainda há escassez atividades domésticas como recolher roupas
de literatura a respeito de como proceder em e lixo, dialogar sobre os programas assistidos
uma visita domiciliar dentro dos parâmetros na televisão e conversas com as vizinhas.
da intervenção psicológica. Quanto mais efetivo for o relacionamento e
o envolvimento do profissional com a família,
A visita domiciliar permite ao profissional maior será o seu reconhecimento como
criar um relacionamento afetivo e amistoso profissional (Nogueira, 1997).
Além desse aspecto, foi de grande importância na saúde dificultou o planejamento de ações
o estabelecimento de diálogos com os demais mais voltadas para a prevenção e para a
profissionais da saúde, porque as informações promoção de saúde, e, principalmente, para o
obtidas nas visitas foram compartilhadas fortalecimento da cidadania, como grupos de
com o objetivo de propiciar uma visão mais convivência, reuniões de líderes comunitários,
integral do usuário. Isso fez com que a ética, etc. Apesar disso, as estagiárias se inseriram
antes restrita ao psicólogo e ao paciente nas atividades de grupo existentes na USF,
no contexto clínico no consultório, fosse algumas relativas a doenças específicas e outras
reavaliada para que se tornasse uma ética a oficinas multiprofissionais, com o objetivo
partilhada entre toda a equipe de saúde. de favorecer intervenções que promovessem
a saúde, uma participação mais ativa dos
Considerações finais usuários nas reuniões e o fortalecimento
de vínculos afetivos entre os membros do
A experiência de estágio realizada em uma grupo. Além dessa inserção, as estagiárias
Unidade de Saúde da Família (USF) permitiu buscaram ampliar o seu conhecimento sobre a
analisar como estratégias de atuação em comunidade que a ESF abrangia, assim como
comunidades, na perspectiva da Psicologia os modos de vida dos moradores. De acordo
comunitária, podem contribuir para ações com Góis (1993), a vida comunitária reflete
mais integradas às necessidades da população as atividades do psiquismo, principalmente
atendida pela ESF. No contexto da saúde aquelas que impedem o sujeito de ser um
pública, os psicólogos comunitários podem sujeito de direitos. Assim, as conversas
buscar informações acerca da realidade informais nos próprios locais comunitários,
comunitária, das redes de serviços, do modo como nas visitas realizadas, foram importantes
como funcionam, das suas potencialidades para a vinculação das estagiárias com a
e dificuldades, trabalhando, assim, de comunidade e com os seus moradores.
forma preventiva. As estratégias utilizadas,
como entrevistas, visitas domiciliares, As intervenções realizadas em forma de
conversas informais e interação nos espaços entrevistas, visitas e atendimentos domiciliares
comunitários como padarias, escolas e a são ainda intervenções recentes no campo da
própria USF, levaram a uma avaliação mais Psicologia, e, por isso, os seus procedimentos
ampla da realidade dos usuários do serviço ainda precisam ser mais esclarecidos e
da equipe da ESF. Tais procedimentos discutidos. Com relação à visita domiciliar,
permitiram que os usuários não fossem vistos constatou-se a importância de se observar
apenas por meio dos sintomas das doenças, a pessoa atendida e de verificar como ela
mas também pelos fatores que pudessem define o seu espaço de moradia, mostrando
auxiliar no seu tratamento de saúde. ao psicólogo quem pode participar das
entrevistas e das visitas.
Nessa experiência, não foi possível colocar
em prática grande parte das possibilidades de Logo, frente ao atendimento domiciliar, ainda
intervenção de que a Psicologia comunitária há muito a ser discutido sobre a ética do
dispõe, isso devido às exigências institucionais profissional nessa realidade, tendo em vista
que estavam mais focadas no atendimento à ser essa uma prática que rompe os padrões
doença, por meio do atendimento clínico, e tradicionais do atendimento psicológico e
não em práticas de prevenção. A ênfase em também pelo fato de tratar-se de um modelo
um modelo de Psicologia clínica centrada de atendimento interdisciplinar, geralmente
no atendimento individual de usuários que realizado com profissionais de diferentes
apresentavam um comprometimento maior áreas, o que faz emergir a necessidade de se
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