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Depois da minha punição, Kaden deixou o bando por conta própria e não
apareceu mais.
Tenho ficado no meu quarto o tempo todo, lendo o livro estranho
que Coen me traz.
Isso me mantém entretida pela maior parte do dia antes que meus
olhos fiquem cansados e eu tenha que parar a leitura.
Eu encontro Kace três vezes ao dia para as refeições. Ele permanece
em silêncio apesar dos meus questionamentos.
Eu pergunto a ele o que ele faz o dia todo. Eu sou ignorada.
Eu pergunto a ele quando devemos nos casar. Ignorada novamente.
Eu pergunto a ele onde está Kaden. Ignorada.
Estes últimos dias têm sido tão chatos que acabei fazendo desenhos
com a unha no papel de parede azul suave, criando memórias de casa.
Às vezes eu rezo. Pela minha casa. Pela minha família. Pela liberdade.
Outras vezes, apenas choro. Por Milly. Por mim.
Estou distraída trançando meu cabelo quando Coen abre a porta e
entra.
Acabei de terminar uma trança francesa usando um elástico que
encontrei debaixo da minha cama.
Está magnífico como sempre, vestindo uma capa que chega até seus
pés. Ela assovia em torno de suas pernas quando ele anda.
Ele não tem sua espada embainhada hoje, o que me deixa um pouco
apreensiva. Nunca pensei que a falta de uma espada me preocuparia.
— Boa tarde, — ele me cumprimenta.
Eu sorrio de volta para ele, feliz por ter contato com outra pessoa.
— Entre.
Ele respira fundo e parece atormentado. Percebo que ele não deve
entrar no meu quarto.
Obviamente, algumas novas restrições foram colocadas em prática
sem eu saber.
Ele me surpreende, no entanto, parecendo ter tomado uma decisão e
entrando sem hesitar em vez de se sentar ao meu lado na cama, ele fica
sem jeito em pé no meio do quarto.
— Eu vim para lhe fazer companhia.
Mesmo que eu não seja uma mulher...
— Bem, obrigada, Coen, — eu digo honestamente.
Ele dá um leve sorriso. Noto que ele nunca sorri com os dentes.
— Venha e sente-se, — eu digo, apontando o local ao meu lado na
cama.
Ele me encara como se fosse um dragão prestes a cuspir fogo nele se
chegar muito perto.
Eu inclino minha cabeça confusa.
— Sentar na cama de uma noiva é imperdoável, — ele me diz.
Ele olha para os próprios pés, mas ainda consigo perceber o rubor que
atinge suas bochechas.
Claro, eu não deveria ter sido tão direta. Se Kace ou Kaden
descobrirem, ele pode perder o emprego ou pior ainda...
Decido sentar no chão com as pernas cruzadas.
Coen dá uma risadinha por causa do meu jeito e se senta na minha
frente.
— Você acredita em companheiros? — pergunto depois de alguns
momentos em silêncio.
Minhas palavras parecem ter um grande efeito sobre ele. É como se
um enorme fardo tivesse se acomodado, pesando em seus ombros.
Eu disse algo errado?
— Sim, — ele me diz.
Isso me deixa surpresa.
Pelo que Kace disse, os membros da Matilha da Vingança não estão
acostumados a acreditar em companheiros ou mesmo no amor
verdadeiro.
Eu decido continuar.
— Você tem alguém?
Ele balança a cabeça devagar, seus olhos exibem apatia. Durante um
tempo ele olha para o nada, aparentemente voltando às suas memórias.
Eu fico em silêncio, olhando para ele com curiosidade.
Sempre há algo específico nos olhos de alguém quando conheceu o
amor e o perdeu. No caso de Coen, está escrito em seu rosto.
— Tenho.
Ele parece tão triste que faz meu coração doer.
Companheiros devem trazer alegria e felicidade. Talvez Kaden o
proíba de estar com ela?
— Ela me rejeitou, — ele explica antes que eu possa perguntar.
Eu me envergonho por perguntar. Quão estúpida eu poderia ser em
trazer esse assunto à tona quando obviamente é algo sobre o qual ele não
quer falar?
Ser rejeitado por seu companheiro é uma experiência terrível pela
qual ninguém deveria passar. Eu sinto pena dele.
— Eu sinto muito...
— Não sinta. Ela encontrou outra pessoa e é isso, — diz ele, com uma
expressão de derrota nos olhos. Seu rosto fica pálido.
Eu balanço minha cabeça.
— Eu não entendo. Quem quer que seja, que estava apaixonada por
você, deveria ter perdido a capacidade de se interessar por qualquer
outro homem.
Isso é o que me ensinaram. Essas foram as palavras de Alpha Rylan.
Ele se mexe desconfortavelmente.
— Ela já estava apaixonada. Não havia nada que eu pudesse fazer.
— Posso saber o nome dela?
— Althea.
— Da Matilha do Poder?
— Sim.
Suas palavras me deixam triste. Este é um destino horrível.
— Sabe, isso significa apenas que a Deusa da Lua quer você com outra
pessoa, — digo a ele, tentando dar-lhe uma luz de esperança no escuro.
— Talvez alguém que perdeu seu companheiro como você.
Coen me encara e posso perceber que ele nunca considerou isso
antes.
Ele agarra minha mão e até ensaia um sorriso.
— Obrigado, Mara. Você é a única que entende, — diz ele
calorosamente.
Suas palavras me deprimem, entretanto, quando considero minha
própria situação.
Eu nunca vou encontrar um companheiro nesta sociedade sem amor
— não enquanto eu permanecer confinada neste bando por aquele
assassino Kaden.
Ficamos sentados em silêncio por um tempo.
— Você também encontrará alguém, — ele diz gentilmente.
Nossos olhos se encontram. Os dele são tão quentes em comparação
com os de Kaden.
Eu balanço minha cabeça.
— Talvez. Mas não alguém da Matilha da Vingança.
Ele aperta minha mão.
Sua tentativa de me confortar até ajuda, mas não está preenchendo o
buraco escuro que parece ter se formado em meu coração.
— Simplesmente não é justo. Você não merece estar aqui, — ele diz
suavemente.
Isso me faz suspirar. Ele tem razão. Eu não fiz nada para merecer esse
destino.
Eu o olho e quase posso ler a mente de Coen, como se ele estivesse
pensando em como me tirar dessa.
E ele de fato está.
— Eu poderia ajudá-la a escapar, — ele diz de repente.
Olho espantada.
Ele está falando sério?
Seus olhos estão repletos de animação. Ele pula de pé, sem soltar
minha mão, então sou forçada a ficar de pé com ele.
— A parede! — ele diz, dando um largo sorriso.
Eu inclino minha cabeça.
— Que parede?
— A parede que mantém a matilha dentro. Eu conheço uma saída.
Kaden a usa e acha que não sei a senha!
Meu coração dá um salto. Se isso for verdade, talvez eu tenha um
meio de voltar para minha família.
De repente, estou tão animada quanto ele, a luz da esperança brilha
no fim do túnel.
— Você tem certeza disso?
— Sim. Devemos ir agora, antes que Kaden volte. Devo levá-la para
jantar, — disse Coen apressadamente.
Eu concordo. Se Kaden me encontrar tentando escapar,
provavelmente estarei em apuros.
Mas se ele encontrar Coen me ajudando na minha fuga, ele pode
matá-lo.
Com meus dedos ainda entrelaçados com os de Coen, eu o deixo me
levar até a porta.
Ele não parece estar preocupado com a existência de outros guardas
por perto, como se soubesse que o caminho estaria limpo.
Isso me faz pensar se eles estão com Kaden — e onde possa estar.
— A Estrada fica do outro lado da parede, — explica Coen. — Você
deve ser capaz de contatar alguém para levá-la de volta ao seu bando.
A Estrada. É a única parte deste mundo pertencente a todas as
matilhas.
Ninguém pode reivindicá-la como sua; está aberta para todos usarem
quando quiserem.
Alguém certamente me levaria de volta a Matilha da Pureza.
Coen me leva por um labirinto de corredores que eu nunca vi antes.
Isso me desorienta, mas a ideia de voltar para casa me dá uma
sensação de determinação que nunca senti antes.
Logo vemos a luz do dia. Eu suspiro de alívio, sentindo o sol no meu
rosto. Eu não saio há muito tempo.
Até paro para notar como a área por onde passamos está bem
cuidada.
Kaden deve contratar alguém para jardinar para ele, já que não posso
imaginá-lo sujando as mãos dessa forma.
— Por aqui, — Coen indica, puxando minha mão. Ele está ansioso
para me tirar daqui.
A parede é enorme.
Eu nunca percebi isso antes porque em casa nós nunca falamos muito
sobre a Matilha da Vingança e sua zona. Parece interminável.
Coen me conduz pela grama, indo o mais rápido possível.
— Onde fica essa porta? — pergunto-lhe. Estou examinando a parede
à nossa frente, mas não consigo ver a maçaneta ou botão de qualquer
tipo.
Coen dá um risinho.
— Bem aqui, — diz ele.
Ele pressiona vários tijolos por vez.
Eu percebo que eles têm números rabiscados e que ele os pressiona
em uma determinada sequência. Observo com espanto quando o
primeiro tijolo cai para trás e desaparece na parede.
De repente, outros tijolos começam a desaparecer na parede.
Então eu percebo que eles não estão desaparecendo, mas sim sendo
retraídos por braços mecânicos que os puxam para trás para criar um
espaço pelo qual podemos passar.
E posso ver o mundo além da muralha.
Eu começo a avançar, mas Coen agarra meu braço.
— Espere.
— Você vai vir? — pergunto-lhe.
Ele balança a cabeça negativamente.
— Eu não posso. Devo ficar e servir Kaden. É meu trabalho. E de
qualquer maneira, eu não sobreviveria lá. Não sem uma matilha. Não
tenho boas memórias.
Ele solta minha mão e ela cai pesadamente ao meu lado.
Eu não posso acreditar no que ele está dizendo. Eu não posso deixá-lo
ficar aqui com aquele monstro do Kaden.
— E se Kaden descobrir que você me ajudou a escapar? — eu
pergunto.
A boca de Coen se contrai.
— Ele não vai — Ele me empurra em direção à saída. — Agora vá,
antes que seja tarde demais.
Eu me inclino para frente e envolvo meus braços em volta dos ombros
de Coen. Ele me abraça de volta, embora um pouco apreensivo.
— Obrigada, — eu sussurro.
Um sentimento de perda enche meu coração, mas tento afastá-lo.
Coen quer ficar aqui. Ele nasceu aqui e, como disse, deve servir Kaden
como prometeu. Agora sei que não tenho tempo para ficar e convencê-lo
do contrário.
— Vejo você por aí, Mara.
A grama roça minhas pernas enquanto eu passo pela muralha e
começo a correr em direção à rodovia.
Existem alguns carros na estrada — os automóveis aumentaram em
número desde que a Matilha da Sabedoria os colocou na moda.
Nunca imaginei que essas máquinas mortais pudessem um dia ser a
chave para salvar minha vida.
Quando chego ao lado da estrada, no entanto, ninguém para.
Eu aceno pra cima e pra baixo, esperando que alguém me veja e se
ofereça para me ajudar a chegar em casa.
Mas ninguém me ajuda.
Alguns motoristas olham para mim, é verdade, mas nenhum deles
para.
Eles não veem como estou desesperada para sair daqui?
De repente, um veículo preto parecido com um caminhão dá a seta
para a esquerda e encosta no acostamento.
Solto um suspiro profundo, extremamente grata que finalmente
alguém apareceu para me resgatar. Suspiro aliviada quando os alcanço.
A janela está abaixada e coloco minha cabeça para agradecer ao
motorista. Então meu coração salta da minha boca.
É Kaden.
Capítulo 9
ESCONDE-ESCONDE
MARA
MARA
MARA
KADEN
MARA
Enquanto Althea carrega uma bandeja de chocolate quente para o
terraço nos fundos da mansão, eu apareço de repente.
— Althea, por favor, deixe-me ajudar, — eu digo, sorrindo. — Você
está grávida. Você não deveria estar carregando isso.
— Oh, não se preocupe comigo. Eu ainda consigo me equilibrar, —
ela ri.
— Independentemente disso, eu sinto que preciso fazer algo. Você já
fez muito por mim, — eu digo. — Tudo bem, leve isso para fora e eu pego
alguns biscoitos. Confie em mim, eu faço os melhores biscoitos.
— Eu mal posso esperar para prová-los.
Enquanto Althea desaparece na cozinha, eu saio e coloco a bandeja
sobre a mesa.
Três canecas de chocolate quente — uma para mim, uma para
Landon e uma para Althea.
Eu nervosamente coloco o dedo no frasco de veneno em meu bolso.
Eu realmente vou fazer isso?
O sorriso maligno de Kaden pisca diante dos meus olhos.
A melhor pergunta é: eu realmente tenho escolha?
Depois disso não tem volta atrás... Como teria?
Mas nunca vou me perdoar se algo acontecer com meus pais.
Eu tenho que fazer uma escolha.
Eu abro a tampa do frasco roxo e despejo todo o conteúdo em uma
das canecas.
Althea sai para o terraço com uma bandeja de biscoitos.
— Acabaram de sair do forno, — diz ela, sentando-se à mesa. —
Landon vai se juntar a nós logo.
Ela vai pegar uma caneca mas me antecipo e dou uma a ela,
observando enquanto ela toma um gole profundo.
— Delicioso, — diz ela, lambendo os lábios e tomando mais um gole.
Pego minha própria caneca e vejo um círculo roxo claro girando na
superfície do chocolate quente.
Eu olho para Althea intensamente e ela parece alarmada.
— Althea... preciso de sua ajuda.
Capítulo 14
ESTRADA PARA A LIBERDADE
Ir para casa não é uma opção.
E nem correr Ele vai apenas me pegar.
Então eu preciso me esconder.
Eu preciso ir a algum lugar que ele nunca vai me encontrar.
Em algum lugar onde eu possa simplesmente desaparecer.
Eu preciso ir para a Matilha da Liberdade.
MARA
MARA
MARA
Estou sem fôlego enquanto caminho pelo matagal o mais rápido que
posso.
Eu não consigo parar.
Nem por um momento.
Se aquela coisa for parecida com a fera em que Kaden se
transformou... ele nunca vai parar de caçar até que pegue sua presa.
Um uivo agudo ecoa pelo céu noturno quente e úmido.
Minhas roupas suadas grudam na minha pele como se estivessem
fundidas ao meu corpo.
Eu caio de joelhos e começo a espalhar lama em meus braços, peito e
pernas.
Talvez se eu pudesse pelo menos mascarar meu cheiro...
Deusa, por favor, me dê força.
Por que sempre recorro à Deusa da Lua em momentos como este? É
como um reflexo...
Ninguém vai te salvar, Mara. Então, salve-se a si mesma, porra.
Eu fico de pé e começo a atravessar o matagal denso novamente,
movendo com força as grossas folhas de mato para fora do meu caminho.
À
À medida que ganho um pouco de fôlego, começo a correr, mas meu
pé afunda em uma poça de lama que me suga como um vácuo.
Eu grito ao sentir meu tornozelo torcer.
Eu luto para tirar meu pé, mas ele não se move.
De repente, o matagal ao longe começa a se abrir e balançar como
força.
Merda, ele está vindo.
Eu arranco meu pé para fora da bota, deixando-a para trás e me
livrando da outra no caminho.
Vou ter que correr descalça... mas para onde diabos estou correndo?
Eu ouço o barulho de patas pisando na lama atrás de mim.
Quando viro a cabeça, vejo um dorso peludo curvado mergulhando
acima e abaixo do matagal como uma serpente marinha.
Porra, eu não consigo continuar correndo direito. Ele vai me alcançar em
segundos.
Eu faço uma curva fechada e caio pra fora da grama direto na terra.
Meus pés descalços sangram quando passo por cima de pedras
pontiagudas, porém à frente vejo algumas ruínas.
Não tenho outras opções... Manco em direção à estrutura, rezando
para encontrar um lugar para me esconder.
Rastejando nas ruínas, eu me espremo por baixo de uma parede caída.
O luar brilha através de cada fenda no teto, criando um conjunto
estranhamente belo de luzes fluindo.
Um barulho forte no telhado faz com que detritos caiam na minha
cabeça.
Está no telhado... procurando uma maneira de entrar.
Em pânico, tento encontrar um pedaço de algo resistente para me
esconder, mas todo este lugar parece que está à beira de desmoronar.
TUM.
TUM.
TUM.
Ele está tentando entrar.
Eu não tenho muito tempo.
Eu rastejo sob uma estátua quebrada da Deusa da Lua, segurando
meus joelhos e fechando meus olhos.
CRASH!
O teto desaba quando Grayson cai e pousa no centro das ruínas.
Do meu esconderijo, posso ver suas patas com garras enormes,
tilintando na superfície do chão.
A fera fareja o ar e se volta para a estátua.
Ele sabe que estou aqui.
A fera se agacha o mais baixo possível no chão, e eu me pego olhando
diretamente em seus olhos escuros e frios.
Ele rosna com sede de sangue e eu não tenho para onde correr.
AAAAA-UUUUU!
O uivo de outro lobisomem tira a atenção da fera de mim.
O lobisomem corre para a sala, colidindo com a fera e cravando os
dentes em sua lateral.
Eu me atiro para fora do meu esconderijo, disparando pela sala
enquanto os dois lobisomens se jogam no ar.
Um lobisomem cor de areia menor está lutando contra a fera,
jogando-a contra as ruínas, tentando derrotá-la.
Todo esse lugar vai desabar.
Eu subo uma rampa de pedra, me levantando até uma janela, assim
que o lobo cor de areia passa por mim ele afunda suas garras nas costas
da fera.
Enquanto eu caio em um terreno aberto, os dois lobisomens se
chocam contra a parede, lutando do lado de fora.
Eu manco até a árvore mais próxima e me encosto contra ela
enquanto observo as duas silhuetas sombrias de lobo lutando e se
golpeando sob o luar.
Depois de um momento, ambas as sombras diminuem voltando para
a forma humana...
Mas apenas um surge.
À
À medida que a figura caminha em minha direção, um homem nu
com cabelo louro-claro se torna visível.
— Não tenha medo, — ele diz em um tom calmo. — Ele não pode
machucar você agora.
— Ele está morto? — eu pergunto, olhando para o corpo
aparentemente sem vida de Grayson.
— Não, ele está apenas inconsciente. Ele ficará assim até amanhã, e
então voltará ao que era.
— Isso já aconteceu antes? — pergunto em estado de choque.
— Sim, Grayson tem uma condição... bem, na verdade uma maldição.
Ele não consegue controlar quando se transforma e então se torna algo
mais do que um lobisomem... Ele se torna...
— Um monstro. Já vi isso antes, — digo. — Obrigada por intervir. Eu
estaria morta se não fosse por você.
— Eu só queria ter chegado a ele mais cedo. É meu dever protegê-lo,
— diz ele em tom solene.
— Você é o Beta dele?
— Seu irmão, — ele responde, estendendo a mão. — Meu nome é
Evan. E você é?
— Mara, — eu respondo, retribuindo o aperto de mão. — Eu sou nova
aqui.
Evan me lança um olhar simpático.
— Fugindo de alguma coisa?
— De alguém, — eu o corrijo.
— Bem, você pode ficar comigo e com minha esposa, se quiser. É o
mínimo que posso oferecer depois que meu irmão atacou você — Evan
diz, carinhosamente.
Grayson está esparramado no chão, espancado e machucado e Evan
não parece muito melhor.
Isso deve ser um fardo... para os dois.
Evan pega Grayson e o coloca sobre o ombro.
— Vá na frente, — eu digo, aceitando sua oferta.
É preciso caminhar um pouco, mas fico surpresa ao descobrir que a
Matilha da Liberdade tem uma cidade real... ou algo parecido com uma,
de qualquer maneira.
Não é muito, mas existem casas de verdade e não apenas cabanas ou
tendas.
Eu até noto várias pessoas usando roupas.
Uma pequena fonte sem graça no centro da rua esguicha um jato
fraco de água no ar.
Eu mergulho minhas mãos e jogo um pouco de água no meu rosto,
olhando para o meu reflexo.
Estou imprestável, coberta de lama seca e arranhões ensanguentados.
Meus pés estão em estado ainda pior, cobertos de cortes.
Coloco ambos na fonte, sentindo um alívio imediato assim que a água
penetra em minhas feridas.
Evan sai de uma casa próxima e acena para mim.
— Ok, Grayson está seguro. Você pode entrar.
Eu o sigo até a aconchegante sala de estar, onde o fogo está
crepitando na lareira.
Uma mulher baixa com um rosto suave e olhos amáveis entra
correndo na sala com uma energia curativa.
— Oh, minha Deusa, o que você deve ter passado! Sente-se aqui,
querida, — diz ela, ajudando-me a sentar em uma cadeira perto do fogo.
— Deixe-me trazer um pouco do chá que eu fiz.
— Essa é minha companheira, Leia, — diz Evan, rindo. — Ela não vai
deixar você descansar até ter certeza de que você está bem cuidada. Eu
nunca poderia lidar com Grayson sem a ajuda dela.
— Ela parece adorável. — eu sorrio, mas meu sorriso desaparece
quando penso na condição de Grayson. — Existe uma maneira de ajudá-
lo? Uma cura?
— Não há cura... não no sentido médico de qualquer maneira, —
afirma Evan com tristeza.
— O que você quer dizer? — pergunto.
— Como eu disse antes, a condição dele... é realmente uma maldição.
E a única pessoa que pode quebrar uma maldição como essa é uma
companheira.
— Bem, onde está a companheira de Grayson? Certamente ele tem
uma, certo? — Não sei porque me sinto tão empenhada nisso, mas meu
coração dói por essas pessoas.
Talvez seja porque eu veja algo semelhante em Kaden... tantos
demônios... mas não há como se libertar.
— Eu gostaria de saber mas ela desapareceu há muito tempo. Pode
nem estar mais viva — Evan diz, com a voz embargada.
— Se você me der licença, eu preciso ir ver como ele está.
Enquanto Evan sobe as escadas, Leia entra com o chá e se senta à
minha frente.
— Aqui está, querida, bebida especial, — diz ela, entregando-me uma
xícara.
Tomo um gole do líquido quente que imediatamente aquece meu
corpo de dentro para fora.
Leia me olha com curiosidade, como se estivesse tentando me ler.
Ela cora quando me vê notar.
— Oh, sinto muito, querida, não é minha intenção ficar olhando. É só
que... você tem uma aura muito interessante, — diz ela, continuando a
beber. — Eu sou uma Oculus Videns, então tenho uma tendência a ficar
olhando um pouco demais. Se isso te deixar desconfortável, é só me
avisar.
— O que é uma Oculus Videns? — eu pergunto, intrigada.
— Eu sou abençoada pela Deusa da Lua. Posso ver o futuro pelos
olhos dos outros, — diz ela.
Agora eu me lembro de ouvir sobre os Oculus Videns. Minha mãe
costumava dizer que eles eram fraudes — fingindo que a Deusa da Lua
lhes deu habilidades especiais a fim de enganar as pessoas com seu
dinheiro.
Mas Leia não parecia uma vigarista...
— O que você vê quando olha nos meus olhos? — eu pergunto.
Leia pega minha xícara de chá vazia e a vira em um pires. As folhas de
chá formam uma imagem, talvez um animal, mas é muito difícil dizer.
— Interessante... — ela diz para si mesma.
Leia agarra minha cabeça e me encara profundamente. Suas íris
lilases são hipnotizantes.
— Fascinante... eu vejo algo... algo nebuloso, — ela diz em uma voz
distante.
Talvez isso seja mesmo besteira...
De repente, seus olhos ficam nublados e seu controle sobre meu rosto
se intensifica.
— Você está fugindo... você está fugindo do Alpha, — ela diz em um
tom assustador.
Que porra... Eu não estou gostando disso.
— Mas ele não vai parar de procurar por você... Ele nunca vai parar de
procurar por você.
— Leia, estou desconfortável. Você disse que pararia se eu estivesse
desconfortável, — eu peço.
Ela fixa no meu olhar e eu não consigo nem piscar.
— Você pertence a ele, Mara.
Capítulo 16
CORRENDO SELVAGEMENTE
Estou presa em um quarto escuro sem saída — apenas uma cadeira vazia.
Minha veste da pureza esvoaçante atrás de mim enquanto eu corro
freneticamente ao redor da sala, procurando por uma porta.
— Por que você corre, Mara?
A voz de Kaden ecoa por todo o quarto.
Isso é real? Já estive aqui antes.
Foi para cá que Kaden me trouxe depois que ele me sequestrou.
Eu tropeço em um corpo e caio no chão.
Eu me viro esperando encontrar Kace, mas em vez disso, vejo Milly...
Seu corpo está gravemente mutilado e a expressão congelada em seu rosto é
de angústia.
A boca de seu cadáver de repente começa a se mover.
— Por que você não me salvou, Mara?
Gritando, eu recuo.
Eu sinto a luva de couro de Kaden envolver meu pescoço por trás.
Ele aperta com força, sem soltar
— Você pertence a mim, Mara.
MARA
Acordo suando frio, pulo da cama e abro as cortinas para ter certeza de
que não estou em um quarto falso... e que não fui sequestrada
novamente.
Estou aliviada ao ver a degradada praça da Matilha da Liberdade do
lado de fora.
Não importa o quão longe eu corra de Kaden, nunca vou escapar dele
em meus pesadelos.
Mas o que mais me assombra é Milly...
E a expressão em seus olhos quando ela descobriu que eu tinha a
chance de salvá-la.
Sinto como se a tivesse abandonado, desaparecendo assim do nada.
Mas se eu nem consigo me defender, como posso defender os outros?
Ou estou apenas dizendo isso a mim mesma para justificar minha
decisão egoísta de me esconder? Tenho medo de Kaden e do que ele fará
com meus amigos e família se eu não voltar para ele — e que novo
castigo doentio ele vai propor para mim.
Mas tenho mais medo de outra coisa...
Tenho medo de continuar fugindo disso, a culpa vai me corroer.
KADEN
Meus homens estão vasculhando cada matilha por essas áreas, mas até
agora não houve nem sinal de Mara.
Mesmo estando furioso com a fuga dela, temo por sua segurança.
Pelo menos quando ela está aqui na Matilha da Vingança, posso ficar
de olho nela o tempo todo e garantir que nenhum dano aconteça a ela.
Lá fora, não posso garantir sua segurança... ou a segurança de sua
família.
As coisas só vão piorar se eu não a encontrar e se eu for forçado a
machucar sua família... ela nunca vai me perdoar.
Eu também não me perdoaria.
Mara é inteligente e desbocada. Eu sei que ela pode cuidar de si
mesma, mas eu preciso encontrá-la logo.
Perdi o controle da minha matilha.
Perdi o controle da minha companheira.
E perdi o controle de mim mesmo.
Meu mundo inteiro é um pesadelo, mas Mara é o único feixe de luz
em toda a escuridão.
Eu irei até os confins da terra para encontrá-la se for preciso.
Eu agarro os cantos da minha mesa quando sou repentinamente
tomado por um cheiro poderoso. Sinto-me tonto, intoxicado pelo aroma
floral e frutado.
Mara... ela se transformou, liberando seu perfume para seu
companheiro.
Mesmo de longe, sinto o cheiro dela como se ela estivesse bem aqui.
— Eu sei exatamente onde você está.
Capítulo 17
PRIMEIRO TOQUE
Minhas garras se abrem enquanto eu agacho com as quatro patas.
Meu cabelo cor de mel surge por todo meu corpo como pelo.
Tudo tem um cheiro mais intenso.
Tudo parece mais estimulante.
Acabei de me transformar pela primeira vez em anos.
E eu me sinto completamente livre.
MARA
KADEN
MARA
MARA
KADEN
MARA
Respire.
A cada passo que dou fico mais nervosa. Estou começando a ter
dúvidas sobre ser tão teimosa, mas não posso voltar atrás agora.
Eu preciso encontrar Kaden.
O que pretendo fazer é contra tudo o que a Matilha da Pureza me fez
acreditar, mas há uma razão pela qual nunca me encaixo nisso.
As folhas rangem sob meus pés enquanto eu caminho mais fundo na
floresta.
O cabo da adaga pressiona contra minha mão. Estou mais pronta do
que nunca para finalmente enfrentar esse monstro. Pela última vez...
Meu plano é simples: vou atrair Kaden para a floresta e enquanto ele
está fixado em mim, Grayson e Evan vão prendê-lo.
O que não compartilho com os outros é meu plano de fazer Kaden
sangrar. Para fazê-lo implorar por sua vida e implorar por misericórdia.
A única incerteza é minha determinação.
Eu sei que uma coisa é desejar mal a outra pessoa, mas outra é fazê-la.
Devo acreditar que irei conseguir quando chegar a hora.
Independente disso, preciso do elemento surpresa se quiser ter
sucesso. Só espero que ele não me surpreenda primeiro.
Pela primeira vez, eu quero ser aquela que está um passo à frente
neste jogo.
Eu paro em uma clareira. Aqui, pelo menos terei a chance de vê-lo se
aproximar.
— Kaden! — eu grito.
Minha voz ecoa nos troncos das árvores e irradia pela floresta como
uma sirene.
Pareço desesperada e precisando de ajuda. Talvez Kaden chegue aqui
mais rápido se pensar que estou vulnerável.
— Você venceu, ok! Eu me rendo.., — acho que isso é suficiente para
chamar a atenção dele onde quer que esteja.
Nada. Por cinco minutos espero que ele escute meus chamados, mas
nada acontece.
Apoiada na base de uma árvore, oro à Deusa da Lua para que meu
plano funcione.
Vale a pena arriscar.
Quando minha esperança começa a se esvair, uma mão me agarra por
trás e me puxa ao redor da árvore.
Ofegante, estou pressionada entre o tronco e um corpo firme e
quente. Quando eu olho para cima, encontro os olhos escuros cruéis de
Alpha Kaden.
Ele está sorrindo, é claro.
— Você me chamou?
Meu plano era apunhalá-lo bem no coração e fugir. Mas no momento
em que sinto seu corpo pressionado contra o meu, fico sem fôlego e
minha mente trava.
— Sim... sim, — eu gaguejo incoerentemente.
Espere o quê? Por que diabos estou enrolando a língua?
Kaden prende um dos meus pulsos contra a árvore enquanto o outro
está preso nas minhas costas. Ele não tem ideia de que estou segurando a
adaga naquela mão.
— Senti sua falta, Mara — murmura ele.
Por um momento quase acredito que ele está falando sério. Mas o
brilho em seus olhos me faz pensar que sim.
Ele não suspeita que estou prestes a estragar seu jogo.
Meus dedos apertam o cabo da adaga.
— O sentimento não é mútuo — eu retruco.
Ele ri profundamente.
— Sempre com uma resposta na ponta da língua. Grayson não te
ensinou nada sobre os perigos de responder a mim?
Sua menção a Grayson fortalece minha determinação. Eu penso em
sua companheira, mantida refém pela Matilha da Vingança.
Não vou me deixar ser vítima do mesmo destino.
— Então, diga-me, Mara, por que você me chamou quando se
esforçou tanto para escapar das minhas garras?
Este é o momento que estou esperando.
Só é preciso um golpe. Um golpe tão poderoso que afunde a lâmina
profundamente em seu peito. Eu quero que ele sinta uma dor horrível.
Ele está muito perto de mim, no entanto. Eu preciso de um pouco
mais de espaço.
Enquanto sua mão enluvada acaricia meu braço não consigo não
relaxar. Eu preciso focar.
— Eu quero que você libere a companheira de Grayson, — digo com
confiança.
Eu realmente quero que ele a solte, mas esse não é o motivo pelo qual
eu toco no assunto.
Kaden levanta uma sobrancelha desconfiado.
— Por que você se preocupa com a liberdade de Lexia? — Eu engulo e
desejo não ser uma mentirosa tão ruim.
— Por que eu não deveria? É um crime preocupar-se com os outros?
— Bem, você não está realmente em posição de negociar algo assim,
— diz ele, me apertando ainda mais.
Ele tem razão. Estou imprensada entre uma árvore e um Alpha que
pode me matar a qualquer momento. Mas eu me recuso a deixá-lo me
intimidar.
— Por favor..., — eu imploro, tentando soar convincente.
Eu preciso enrolar mais para que eu possa liberar meu braço de trás
das minhas costas.
Ele sorri perversamente.
— Você só precisa... me convencer, — ele murmura em meu ouvido.
Minha mandíbula aperta enquanto me forço a olhar em seus olhos.
Quero ver a surpresa em seu rosto quando o aço perfurar sua pele.
— Como? — Eu pergunto em um sussurro ofegante.
Ele sorri e, de repente, percebo o quão perto seu rosto está do meu.
Ele está tão perto que sua respiração está se misturando à minha. Eu
sinto o gosto do ar quando sai de sua boca e bate no meu rosto.
Sua mão livre aperta minha cintura com força.
— Implore, — ele sussurra em meu ouvido.
Eu me contorço em suas mãos.
— Você é patético.
— Você parece pensar que tem alguma escolha, — Kaden comenta
arrogantemente.
Não tenho certeza do que ele está insinuando. Eu nem quero pensar
sobre isso.
— Apenas me deixe ir, — eu murmuro, tentando ignorar o fato de
que sua mão está vagarosamente deslizando para baixo da minha cintura.
A diversão em seus olhos é evidente.
— Por que?
Eu cerro meus dentes assim que seus dedos enluvados tocam minha
coxa.
— Eu não estou aqui para você me tocar assim, — eu grito.
— Por que você está aqui então?
Estou prestes a responder de maneira sarcástica quando os dedos de
Kaden alcançam a parte do meu corpo reservada exclusivamente para o
meu companheiro.
Eu suspiro de indignação e tento me esquivar, mas a pressão de seus
dedos só aumenta. E pela expressão em seu rosto, ele não vai parar.
— Você testou meus limites, Mara. Agora sou eu quem vai testar o
seu.
Suas palavras me fazem estremecer e sei que ele percebe.
— O que você quer de mim? — pergunto rispidamente.
— Diga meu nome. Diga-me que eu ganhei e darei a você a liberdade
que você tanto quer.
— Nunca, — eu rosno.
Fechando os olhos tento me concentrar em algo que não sejam as
pontas de seus dedos fazendo círculos certeiros na minha pele delicada.
Eu quero sentir nojo do seu toque, mas ele tem algum domínio sobre
meu corpo que não posso explicar. Quanto mais eu luto, mais poderoso
ele se torna.
Ele ri baixinho no meu ouvido. É óbvio que ele está gostando disso.
Como ele não gostaria?
Minha mão aperta a adaga com força. Se eu conseguir me concentrar
poderia colocar um fim nisso.
Em vez disso, minhas pernas involuntariamente apertam em torno da
mão de Kaden enquanto seus dedos enluvados me massageiam através
das minhas roupas.
A maneira como ele está controlando meu corpo me dá vontade de
gritar.
Um gemido ameaça escapar dos meus lábios, mas cerro os dentes e o
prendo dentro. Eu me recuso a dar a Kaden o prazer de ouvir isso.
— Renda-se a mim, — ele insiste.
É essa palavra que quebra seu feitiço sobre mim.
Renda-se.
Nunca! Eu nunca vou me render a esse monstro.
Em um movimento súbito, eu levanto a adaga por trás das minhas
costas e enterro-a profundamente no peito de Kaden.
Ele tropeça surpreso e me solta.
Suas mãos agarram a faca cravada em seu peito. Ele a puxa para fora e
o que vejo me dá vontade de gritar.
Um espectro horrível sai de dentro da ferida e sobrevoa nossas
cabeças em movimentos espirais. Ele abre sua boca e emite um guincho
de gelar o sangue antes de desaparecer no ar.
Aterrorizada, eu olho para Kaden e a adaga está revestida de uma
mistura espessa de fluído vermelho e preto que goteja da lâmina.
Demoro um momento para perceber o que fiz.
Eu não apenas esfaqueei o Alpha. Eu o envenenei.
O olhar nos olhos de Kaden, o que eu pensei que iria me satisfazer, na
verdade me perturba profundamente. Ele cai de joelhos na minha frente,
largando a adaga na grama.
— Não... não, não! — Eu gaguejo. Uma compaixão repentina e
inexplicável aperta meu coração ao ver o sofrimento de Kaden.
Eu caio na frente dele, agarrando seus ombros. Qualquer que seja o
veneno que Grayson usou nesta adaga, está funcionando rápido.
— Eu juro que não tive a intenção de fazer isso! — Eu imploro.
Eu queria feri-lo, enfraquecê-lo, não matá-lo com veneno.
Ele dá um leve sorriso antes de cair no chão. Eu o viro para que ele
fique deitado de costas. Ele me encara, a traição girando no fundo de
seus olhos de obsidiana.
— O que eu faço? — Eu exijo freneticamente.
Eu pressiono minhas mãos contra a ferida que jorra, mas o fluxo
quente de sangue envenenado escorre pelos meus dedos.
— Diga que você me ama, — ele engasga.
Eu paro e olho para o rosto de Kaden. Está pálido como um cadáver e
sinto o veneno dominando-o.
Ele está morrendo.
Nós dois sabemos disso.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, não sei como isso pode
ajudar.
Ficando mais fraco a cada segundo, ele luta para tirar uma de suas
luvas. Eu assisto em confusão e então encontro seus olhos suplicantes.
— Eu não posso morrer até que você saiba, — ele murmura, sua voz
tensa e sem fôlego.
Ele estende a palma da mão para mim.
Ele quer que eu o toque.
Eu não hesito.
Eu não penso.
Eu boto sua mão junto à minha, envolvendo meus dedos em torno de
seus dedos moribundos, eu me surpreendo com o que sinto.
Faíscas se formam no ar.
Capítulo 20
LINHAS DO AMOR
Como eu poderia voltar para minha matilha agora?
Eu era quase culpada do maior pecado de todos.
Além do mais, como eu poderia enfrentá-los depois do que senti na floresta?
Como meu coração poderia me trair assim, depois de toda desgraça que esse
monstro infligiu ao meu povo?
MARA
MARA
MARA
Acordo com uma deliciosa sensação entre minhas pernas que me lembra
nossa travessura noturna.
Eu me alongo nos lençóis, esticando meus músculos doloridos.
— Vamos, levante-se, — diz Kaden, entrando com um prato de bacon
e croissants. — Temos que estar na estrada em uma hora.
Quase pergunto para onde estamos indo, mas então me lembro.
O pensamento em Coen acaba com meu bom humor.
— Você já conversou com Grayson?
Kaden coloca a comida na minha frente, beijando minha testa.
— Sim, vou lhe contar o que discutimos no carro. Primeiro, você
precisa comer. Você tem um longo dia pela frente.
KADEN
MARA
Na manhã seguinte, sou chamada por uma batida na porta. Com base no
padrão, já sei quem é.
Meu estômago revira.
A trava levanta e Coen entra dançando como se nada de ruim tivesse
acontecido entre nós.
— Bom dia, linda, — ele me cumprimenta, com um sorriso sinistro
estampado no rosto.
Eu cerro meu punho.
— Está aqui para me acompanhar no café da manhã? — Eu pergunto,
tentando manter a atmosfera leve e amigável.
— Como você adivinhou?
Pego seu braço estendido e Coen me leva pelo labirinto de corredores
até a sala de jantar.
A cada passo, estremeço ao pensar no que acontecerá se ele decidir vir
pra cima de mim novamente.
Não há ninguém por perto. A fortaleza está assustadoramente
silenciosa.
Quando reconheço a porta da sala de jantar, suspiro aliviada.
Pelo menos eu sei que Kace está a apenas alguns metros de distância
agora. Dois contra um são chances muito melhores.
No café da manhã, sento-me de frente para Kace. Ele não encontra
meu olhar. Eu tenho que dar o braço a torcer, ele é um bom ator.
Cutucando minha quiche, decido que agora é a hora de colocar nosso
plano em curso.
— Eu preciso de um favor, — eu digo incisivamente.
Coen levanta a cabeça quando me ouve falar. Kace apenas olha para o
leite girando em torno de sua colher.
— Que tipo de favor? — ele pergunta.
— Eu quero visitar a Cidade da Vingança.
Kace olha para cima, seus olhos escuros encontrando os meus
finalmente. Eles refletem algum tipo de emoção — medo, talvez?
— Acho que não, — diz ele.
Ele pega o jornal na frente dele, como se estivesse cortando a
conversa ali mesmo. Isso faz parte do ato ou ele mudou de ideia? Eu não
sei dizer.
Eu abaixo o jornal das mãos dele.
— Por que não?
Ele suspira.
— Lá não é seguro. Você se lembra de como eles agiram em nossa
cerimônia de noivado. É uma fossa, — diz ele, enfatizando a última
palavra.
Relaxo. Kace está me deixando saber que ele está apenas
desempenhando seu papel. Eu olho para Coen, que está ouvindo, mas
não particularmente interessado em nossa conversa.
— É por isso que estou pedindo que você me leve, — eu insisto. —
Como meu noivo, você deve demonstrar ao bando que estou sob sua
proteção e ninguém deve ousar colocar um dedo em mim.
Kace estreita os olhos para mim.
— Tudo bem. Vou levá-la para a cidade, então, — ele responde, sem
rodeios. — Tenho certeza de que Coen adoraria uma pausa nas tarefas de
babá.
As palavras de Kace me deixam apreensiva. Ele deveria ter
mencionado Coen diretamente?
— Esse é um pensamento gentil, mas eu realmente não me importo,
— ele responde, arrancando a casca de uma laranja.
— Eu, no entanto, acho bom expor sua delicada noiva à realidade da
vida fora desse lugar. Talvez isso torne a perspectiva de fuga menos
agradável.
Ele pega uma uva e a rola pela mesa, depois a esmaga com a mão. Ele
ri, me dando uma piscadela que faz minha pele arrepiar.
Eu olho para a faca na minha frente.
Eu me imagino afundando a faca em seu pescoço e vendo o sorriso de
satisfação desaparecer de seu rosto.
Desculpe, Deusa da Lua, algumas regras merecem ser quebradas.
Capítulo 24
O X MARCA O LUGAR
Traga-me seus miseráveis, seus vagabundos, seus cidadãos errantes.
Sedentos para roubar livremente.
Aqueles que se recusam a mudar.
Envie estes, os assassinos, gananciosos, moralmente perdidos para mim.
Aqui, todos esses demônios têm sua vez.
Este é o credo da Cidade da Vingança.
MARA
MARA
MARA
KADEN
Foi imprudente da minha parte fazer amor com Mara quando Coen
ainda é uma ameaça, mas nossas paixões nos fazem de tolos.
Eu quero ficar com ela, ficar perto de seu corpo quente, mas tenho
que ir embora.
Sua menção à marca de Coen não passou despercebida por mim.
Sei que ele está deixando a fortaleza por alguns dias a negócios que se
recusa a revelar. Não faz diferença.
O importante é que agora tenho liberdade para fazer algumas
investigações por conta própria.
Todo mundo pensa que eu negligenciei os podres da Cidade da
Vingança, mas isso faz parte do meu plano.
O governante dos guetos sabe de tudo e de todos que vão e vêm na
minha matilha e quero ver o que dizem quando os consultar com essas
novas informações.
Só espero que o líder me deixe entrar. Não temos nos falado desde
que a roubei de sua matilha.
O fedor da cidade entra nas minhas narinas como leite estragado.
Eu furtivamente faço meu caminho através dos montes de lixo fétido
até a usina de energia, onde ela estará.
Só espero que ela não atire em mim imediatamente.
Assim que chego à porta da frente, uma flecha é disparada no chão a
apenas alguns centímetros do meu pé.
Eu olho para cima e vejo as silhuetas dos guardas, cada um apontando
uma besta para mim.
Estou cercado por todos os lados, não tenho como escapar.
— Eu só quero conversar, — eu grito, minha voz ecoando ao redor da
praça.
Uma mulher negra emerge das sombras, seu cabelo encaracolado
ondulando atrás dela.
Ela é flanqueada por seis soldados mascarados brandindo uma
variedade de porretes e machados mal construídos.
— Alpha Kaden. Tive a sensação de que você nos faria uma visita.
Alguns dias atrás, eu não reconheceria a mulher na minha frente, mas
depois das descrições de Kace e Mara, não tenho dúvidas sobre sua
identidade.
— Meu Deus, Lexia, como você cresceu, — eu respondo.
Eu deixei minha mão cair de volta para o meu lado, e Lexia fez um
gesto para que seus homens abaixem as armas.
— Fale logo, — ela diz. — Por que você está aqui?
— Estou aqui apenas para descobrir como Coen se conecta aos
homens marcados.
Lexia ri.
— Você é realmente tão cego, Kaden? Enquanto você relaxa em sua
torre de marfim, não consegue ver as formigas ocupadas erodindo suas
fundações.
— O que você está falando? — Eu pergunto, tentando o meu melhor
para permanecer diplomático.
— Uma insurreição está sendo planejada. Seu irmão e seus homens
estão apenas esperando o momento certo para desencadear o caos.
— Ele já tem o controle do bando, — eu falo de volta. — Pelo menos
ele pensa que sim. Que razão ele tem para esperar?
— Ele não está apenas atrás do seu bando de merda, — Lexia sibila,
seus olhos ganhando vida. — Ele quer controlar todas as matilhas.
Esse plano é ambicioso, mas percebo que não está fora do reino das
possibilidades.
Coen tem o poder de nos amaldiçoar. Grayson ainda está sob seu
feitiço.
Por que ele não tentaria colocar os outros alfas sob seu controle?
— Por que você está me contando isso? — Eu pergunto.
Lexia se aproxima, seus olhos esmeralda pulsando na escuridão.
— Eu nunca vou ser escrava de ninguém novamente, Kaden. Nenhum
de nós pode parar Coen por conta própria. O que você acha, Alpha? Você
está disposto a fazer um acordo?
Lexia lambe os lábios e mostra suas presas brancas ofuscantes.
Eu olho para seus homens e considero minhas opções. Se eu recusar,
há poucas chances de eu sair daqui vivo.
Eu penso em Mara. Ela não tem ideia de que estou aqui.
O pensamento de vê-la novamente é tudo o que importa.
— Tudo bem, Lexia, vamos conversar.
MARA
KADEN
MARA
MARA
A água fria jorra do chuveiro, batendo contra minha pele nua. Isto não é
suficiente para aplacar o calor enlouquecedor.
Eu olho para o meu braço, meio que esperando ver a água evaporando
com o contato. Cada centímetro de mim parece que está sendo
queimado pelo sol.
Se eu não soubesse porque estava queimando, teria pensado que a
Deusa da Lua estava liberando sua fúria sobre mim por todos os meus
pecados.
Eu imagino que ela seja uma vadia malvada.
Lexia me disse para tomar banho imediatamente para tentar me
refrescar e lavar meu cheiro, mas o fogo dentro de mim é muito forte.
A única outra maneira de pará-lo é sentir o toque de outro lobo sem
companheiro.
Eu só tenho sentimentos por Kaden. Eu preciso dele aqui para apagar essa
chama interna.
Mas e se eu mesmo tentar? Nunca cheguei ao orgasmo sozinha,
nunca consegui terminar. Talvez funcione.
Eu trago meus dedos até o meio das minhas coxas e lentamente
começo a brincar.
Eu movo meus dedos em pequenos círculos ao redor do meu clitóris,
mas o fogo continua ardendo.
Eu me solto, primeiro com um dedo, depois outro, e começo a movê-
los para frente e para trás.
Uma sensação que eu já conheço, mas não está adiantando.
Eu continuo e acelero meu ritmo. Todo o meu corpo se contrai
enquanto a euforia passa por mim.
Acabei de chegar ao orgasmo pela primeira vez, mas ainda estou
fervendo de calor.
Droga!
Eu desisto e saio do chuveiro.
Enquanto eu me seco com a toalha, as fibras parecem queimar como
centenas de minúsculas cabeças de fósforo.
Tento me vestir, mas as roupas só pioram a sensação.
Tudo é como uma lixa na minha pele. Até minha blusa de caxemira
me faz contorcer.
Finalmente decidi por um vestido sem mangas, mas a minha vontade
é de arrancá-lo.
Meu coração parece uma fornalha, mas eu não posso me deixar levar
pelo desconforto.
Lexia disse que a parte febril logo acabaria. Assim que isso
acontecesse, os lobos seriam capazes de sentir meu cheiro.
Preciso ir logo antes que isso aconteça... e Coen volte.
Saindo furtivamente do meu quarto, sigo as instruções de Lexia e
desço para os níveis inferiores da fortaleza.
Está escuro e úmido. Não há janelas. A única luz vem de lâmpadas
antigas penduradas na parede.
Apenas um punhado ainda funciona, e aqueles que sobraram emitem
apenas um brilho fraco.
Eu corro meus dedos ao longo das pedras maciças das antigas
fundações. Elas são geladas e escorregadias.
Eu pressiono meu corpo contra elas, mas isso pouco adianta para me
esfriar.
Concentre-se, Mara.
Chego à sala que Lexia descreveu. Está vazia, exceto por um altar de
pedra ao fundo no qual está uma estátua antiga da Deusa da Lua.
Uma espada enferrujada repousa sobre suas mãos estendidas.
Então a Matilha da Vingança costumava acreditar nela também?
Lexia disse que a entrada do túnel ficava aqui, mas tudo é feito de
pedra — as paredes, o chão, o teto. Cada superfície é rocha sólida.
Eu me agacho ao lado do altar e inspeciono sua base. Talvez haja um
alçapão e a estátua seja o gatilho?
Enquanto passo minha mão ao longo da estátua, ouço o barulho de
pedras raspando e imediatamente me escondo atrás do altar.
A raspagem para e eu espio por trás da estátua.
Para meu choque total, um buraco se abre na parede e da escuridão
sai Coen.
Ele está sozinho e vestido com seu traje habitual. Suas luvas
adornadas com joias brilham, mesmo com pouca luz.
Alcançando a mão para cima, ele pressiona uma pedra na parede e a
abertura começa a se fechar.
Eu tomo nota de qual pedra é para que eu possa abrir a porta quando
ele se for.
Está insuportavelmente quieto na sala agora, tão quieto que posso
ouvir a respiração de Coen.
Ele cheira profundamente o ar. Prendo minha respiração, desejando
que meu coração pare de bater.
O calor inunda minhas veias, tornando-se insuportável dentro de
mim.
Só espero que ele ainda não possa me cheirar.
Eu ouço seus pés se arrastarem para fora da sala e pelo corredor.
Eu luto contra o calor que assola meu corpo até ter certeza de que ele
não consegue me ouvir, então deixo escapar um suspiro abafado.
Lutando para ficar de pé, me aproximo da parede e tateio em busca
do trinco.
Sinto uma pedra ceder e a parede se abre diante de mim.
— Estou indo, Milly.
Eu luto contra o calor que assola meu corpo até ter certeza de que ele
não consegue me ouvir, então deixo escapar um suspiro abafado.
Lutando para ficar de pé, me aproximo da parede e tateio em busca
do trinco.
Sinto uma pedra ceder e a parede se abre diante de mim.
— Estou indo, Milly.
KADEN
Mara, me dê força.
Uma bagunça está se desenrolando na minha frente.
Cada Alpha tem suas próprias demandas. Eu só quero voltar para casa
com minha companheira.
Eles têm discutido por tanto tempo que eu nem percebo.
Só consigo pensar na maneira como Mara me olhou quando saí.
Eu quero senti-la em meus braços novamente, cheirá-la, tocá-la.
Para fazer amor com ela, fazê-la gritar meu nome e finalmente marcá-
la.
Uma pancada me tira do meu torpor. Landon dá um soco na mesa
antes de falar.
— Sejamos honestos uns com os outros, — diz Landon. — A Matilha
do Poder fará a maior parte da luta. Portanto, o resto de vocês deve me
compensar por meu sacrifício.
— Isso é absurdo, — rebate Rylan. — Os membros da Matilha da
Pureza são tão capazes quanto os seus.
— Seus membros são todos pacifistas! — Landon rebate. — Eles não
servem nem para afastar as moscas. Em vez de lutadores, por que você
não contribui com alguns dos recursos que tem acumulado?
— Minha matilha tem todo o direito às nossas reservas de recursos.
Não devemos ser punidos por nosso estilo de vida. Nós vimos o que
acontece com aqueles que levam uma existência gananciosa, — Rylan
diz, apontando para Malik.
— Julgue-me o quanto quiser, — responde Malik. — Vocês dois
subestimam o poder reformador do amor.
Ele levanta a mão como se estivesse incrustada de joias e continua o
monólogo.
— Eu mudei mais vidas com estes dedos do que a espada de qualquer
soldado ou o tesouro do imperador. Se tivéssemos mais amor neste
mundo, não haveria necessidade de conflito.
Rylan responde com uma risada debochada.
— O que você está dizendo, Malik? Você pretende amar Coen e seus
homens até a morte?
— Você zomba, mas não consigo pensar em nenhuma maneira
melhor de entrar no reino da lua, — responde Malik, com um largo
sorriso no rosto. — Uma metida, estou neste reino, e na próxima, estou
no nirvana.
— Urgh, isso é nojento, — Rylan responde, franzindo o rosto.
Malik balança a cabeça e sorri.
— Venha para minha cama, Alpha Rylan e eu o ajudarei a abraçar o
que você claramente reprime.
— Como eu disse, — Landon interrompe, — enquanto seus dois
bandos se apaixonam, Kaden e eu estaremos lutando.
— Minha matilha também pode lutar, — rebate Grayson. Agora
Landon está totalmente divertido.
— Você não tem matilha, Grayson. — Ele diz. — Você cuida de um
bando de hippies rebeldes.
— Só porque eu não os faço curvar-se a mim não significa que não
vão se unir à nossa causa, — retruca Grayson. — Um povo livre sempre
lutará mais duramente do que aqueles que são pressionados a servir um
tirano.
A cadeira de Landon voa pela sala enquanto ele pula de pé e Grayson
responde da mesma forma. Antes que Rylan e eu possamos intervir, os
dois Alfas se lançam um contra o outro em meio a socos e palavrões.
Malik foge da briga e balança a cabeça.
— Irmãos, irmãos, onde está o amor?
— Você vai me ajudar a acabar com isso? — Eu pergunto a Rylan.
Ele assume um ar desinteressado e estala os dedos.
— Com prazer, se você estiver disposto a se desfazer de uma parte do
suprimento de gasolina de sua matilha.
Essa é a gota d'água.
Pela primeira vez desde que Mara me libertou, sinto a escuridão
começando a invadir meu corpo. Isso incha meus músculos e deixa
minhas unhas saltadas.
Coen inventou um feitiço para controlar minha ira, mas a escuridão
sempre esteve dentro de mim, um lobo puro-sangue da Vingança.
Agarrando Grayson pelo tornozelo, eu puxo meu braço para trás e o
mando deslizando pelo chão.
Seu corpo bate na parede, fazendo com que uma das estátuas de
querubim caia de sua coluna e se espatife pelo chão.
Malik emite um grito enquanto corre para o cupido caído e ergue seu
falo cortado.
— Eros, o que eles fizeram com você?
— Chega! — Eu grito, silenciando a sala.
Eu fecho meus olhos e respiro fundo, deixando a escuridão diminuir.
Tenho que ter cuidado para não me deixar dominar completamente.
Quando meus olhos se abrem, vejo os outros Alfas se afastando.
Bom. Estou feliz por ter sua atenção.
— Não podemos parar Coen se estivermos lutando um contra o
outro, — eu rosno.
Eu continuo.
— Na verdade, provavelmente era isso que ele pretendia desde o
início. Prometa-me sua ajuda ou condene suas matilhas a um destino de
escravidão e desgraça.
Eu olho para cada um deles, me perguntando quem terá a coragem de
falar primeiro.
Grayson dá um passo à frente.
— Você sabe que estou com você, Kaden.
Eu aceno em apreciação.
Depois que contei a Grayson sobre Lexia, ele quase socou a parede.
Eu sei que ele está faminto por vingança.
— A Matilha do Poder ficará com você, — declara Landon. — Vou
fazer seu irmão beber seu próprio veneno.
Eu olho para Rylan, que torce o nariz como se estivesse considerando
se algum de nós vale seu tempo.
— Visto que é contra os ensinamentos da Deusa fazer mal, não posso
levantar as armas contra o seu irmão. Mas, como protetor de minha
matilha, é igualmente pecaminoso ficar parado enquanto o mal se
aproxima.
— Abandone o duplo discurso divino e tome uma decisão, —
respondo.
Rylan faz uma cara pensativa e esfrega o pingente da Deusa da Lua
que está pendurado em seu pescoço.
Ele começa a balançar e fazer barulhos baixos, o que deixa todos,
exceto Malik, desconfortáveis.
— A Deusa vai me conceder clemência por meu envolvimento, —
proclama Rylan.
Eu rolo meus olhos.
— Envie à Deusa meus cumprimentos.
— Kaden, você sabe que eu sou um apreciador do amor, não um
lutador, — diz Malik, passando o braço por cima do meu ombro. — Estou
convencido de que existe uma solução pacífica.
— Você não conhece Coen, — eu respondo. — Ele está além da
salvação.
— Hmm, — responde Malik, esfregando minhas costas. — Parece que
você precisa de um pouco de atenção também.
— O que você quer dizer? — Eu respondo de volta.
— Você não marcou a sua companheira ainda, não é? — Malik
responde. — Eu posso sentir a tensão em sua aura.
— Não é sobre isso que vim falar. — eu digo. — Eu posso lidar com
isso sozinho.
— Sim, mas a Febre virá em breve.
— Eu disse que posso lidar com isso, — eu retruco.
Malik levanta uma sobrancelha.
— Ah sim, mas você confia em seu irmão para não marcá-la?
— Kace nunca faria isso, — eu digo.
Malik ri sombriamente.
— E o seu outro irmão? A razão de estarmos todos aqui? Você pode
confiar nele perto dela? — ele responde.
Eu sinto como se tivesse sido atingido por um raio.
Coen!
Ele vai cheirá-la imediatamente.
Eu não posso esperar.
Preciso chegar até Mara antes que meu pior pesadelo se torne
realidade.
Capítulo 30
ACHANDO UMA BRECHA O ponteiro passa para o
vermelho.
O motor grita em protesto.
Eu desligo e tento fazer o mesmo com Mara.
Estou falhando com ela.
Olhos na estrada.
Mente na estrada.
Meu carro não consegue se mover rápido o suficiente.
Não consigo chegar em casa rápido o suficiente.
KADEN
MARA
MARA
KADEN
MARA
MARA
Eu me olho no espelho.
Daqui a algumas horas estarei viajando com Milly e o resto das
garotas de volta a Matilha da Pureza para nos reunir com nossas famílias.
Espero que meus pais não tenham um ataque cardíaco quando
descobrirem que estou agora acasalada com Alpha Kaden.
Estou ansiosa para a volta ao lar, mas sei que não vou ficar. Meu lugar
é aqui, como Luna da Matilha da Vingança.
Kaden cedeu toda a Cidade da Vingança para Lexia em troca de sua
ajuda para derrotar Coen.
Ela conseguiu seu reino exatamente como queria. Quanto a Grayson,
bem, ela o deixou viver, o que é mais do que eu esperava.
Eu vejo Milly entrar no reflexo do espelho.
Seu cabelo está lavado e escovado e a sujeira foi removida de sua pele.
Um vestido floral envolve seu corpo. Mas o mais importante, há uma
faísca em seus olhos. Uma ânsia de vida que foi extinguida durante seu
tempo nos túneis.
— Você parece tão feliz, — eu digo.
Ela sorri e balança a saia do vestido.
— Você pode imaginá-los nos deixando usar algo tão colorido em
casa?
— Não, — eu digo, rindo. — Irmã Lumina teria um ataque.
Milly ri também. Seu sorriso irradia esperança e um novo começo.
Nós nos abraçamos com força, sem dizer uma palavra.
Nós não precisamos.
Somos irmãs.
KADEN
KACE