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DEUSES PERVERSOS

GIFTED ACADEMY # 1

Michelle Hércules
Lugar nenhum é seguro quando os deuses são perversos.

Desde o início dos tempos, sempre houve dois lados: Norms e


Idols.

Mas nunca a balança esteve tão desequilibrada como hoje.

Eu sou uma Norm, o que significa que cresci com medo dos
Idols e de seus poderes divinos.

E agora, estarei cercada por eles, dia e noite. Recebi a oferta


de um lugar na prestigiosa Gifted Academy, uma
oportunidade que poucos Norms conseguem.

Para sobreviver, devo me tornar invisível. Mas minha


esperança de passar pela academia ilesa vai pelo ralo quando
os meninos mais poderosos da escola colocam seus olhos em
mim.

Eles me odeiam simplesmente porque sou uma Norm. Se eles


soubessem quem eu realmente sou, eles me estraçalhariam
membro por membro. Mas eu cansei de me esconder dos
Idols. É hora de os Norms lutarem, e tudo começa comigo.
GLOSSÁRIO

A Gifted Academy acontece em um mundo alternativo,


onde a espécie humana é classificada em três tipos diferentes:

• Norms: pessoas sem talento.

• Fringes: dotados de habilidades especiais, mas baixo no


nível de poder (níveis 1 a 9).

• Idols: dotados de habilidades especiais. Alto no nível de


poder (níveis 10 a desconhecido).
Daisy

“EI, Rosie. Você poderia desligar a TV? Estou tentando


estudar.” Levanto meu olhar do caderno e olho para a nuca da
minha irmã.

Ela está empoleirada no braço do nosso velho sofá como


um maldito macaco.

Sem olhar para mim, ela diz: “São nove e meia. Agora é
minha hora de me divertir.”

“Não, agora é hora de você ir para a cama,


mocinha.” Mamãe entra na sala, esfregando as mãos no
avental xadrez preferido dela. Está desbotado e desgastado nas
bordas, mas ela se recusa a deixar o papai lhe comprar um
novo.

“Mas, mãe, papai ainda não está em casa.” Rosie lamenta.

Tudo o que mamãe faz é sacudir a cabeça e desligar a


TV. Rosie sempre tenta ganhar mais tempo dizendo que está
esperando pelo pai. Eu acreditaria nela, se ela desse alguma
atenção a ele quando ele voltasse para casa. Ela tem apenas
sete anos, mas já está completamente obcecada com a besteira
de programação que as redes nos vendem. Programas de TV
em que os Norms vivem vidas felizes e gratificantes e se dão
maravilhosamente bem com os Idols. Lixo total. Nem mesmo os
atores que interpretam Norms são Norms.

O som de uma chave girando na fechadura me faz me


animar no meu assento. Papai entra pela porta no segundo
seguinte, carregando uma sacola de compras em uma mão e
uma pilha de livros velhos na outra.

“Uma pequena ajuda aqui.” diz ele.

Empurro minha cadeira para trás, mas mamãe diz: “Deixa


comigo.”

Mesmo assim, eu levanto e ajudo papai com seus livros.

“Obrigado, querida.” Ele me dá um sorriso cansado. Seus


olhos estão vermelhos, e a sombra escura em seu rosto me diz
que não se barbeou esta manhã. Ele trabalha mais horas do
que o normal ultimamente.

“O que é tudo isso?” Carrego os tomos1 encadernados em


couro para a mesa.

“Pesquisas de um artigo que estou escrevendo.”

Mamãe fez uma cara que se pareceu muito com uma


careta antes de levar as compras para o balcão da cozinha. Ela
nunca criticaria papai na nossa frente, mas ouvi suas
discussões abafadas no meio da noite. É impossível ter
qualquer tipo de privacidade nesta pequena caixa que

1 Volume que faz parte de uma obra impressa ou manuscrita.


chamamos de lar. Além disso, eu não durmo bem. Vivo com o
medo constante de que algo ruim vai acontecer com a gente.

Vivemos em um pequeno apartamento de dois quartos em


Hawk City, em um bairro não tão bom. O prédio é velho e
assustador, mas pelo menos nossos vizinhos são bons. Tento
não insistir muito no fato de que meu pai, editor de um dos
maiores jornais de Hawk City, não pode garantir um lugar
melhor para sua família. O problema é que somos Norms e, em
uma cidade governada por Idols, temos sorte de ter um teto
sobre nossas cabeças.

Olho os livros que papai trouxe para casa e um título me


chama a atenção. Quando os deuses andaram entre nós. Uma
história dos Idols.

“O que é isso?” Traço as letras douradas desbotadas na


capa.

“Nada.” Papai rapidamente varre o livro do meu alcance.

“Daisy, diga boa noite ao seu pai e vá para a cama.” diz


mamãe.

Eu gemo. “Por que devo dormir tão cedo? Eu não sou uma
criança.”

Papai ri e mamãe me observa com uma sobrancelha


levantada. “Você tem dez anos. Definitivamente na faixa etária
das crianças.”

“Ha! Na sua cara, nerd.” Rosie pula do sofá e mostra a


língua para mim.
“Cale a boca, pirralha.” Pego meus livros da mesa,
desejando ter mais uma hora para estudar. Obter boas notas
na escola é a única maneira pela qual espero não acabar
trabalhando em um emprego humilhante na minha vida
adulta. Papai pode não estar nadando em riquezas, mas pelo
menos está fazendo o que ama.

Ao passar pelo balcão da cozinha, pego a lanterna que


mamãe usou mais cedo quando perdemos energia, graças a
queda da caixa de fusíveis. Talvez eu possa me esgueirar em
mais algumas horas de estudo debaixo dos lençóis.

***

VOZES ALTAS na sala me acordam de um sono


agitado. Apoiando-me nos cotovelos, esfrego os olhos e olho
pela janela. Fluxos de luz prateados passam através da cortina
esfarrapada. Hoje é lua cheia.

“Como pôde Paul? Isso vai te matar.” mamãe diz,


exasperada.

Suas palavras fazem meu coração apertar tão forte quanto


um nó de marinheiro. Eu desembaraço dos meus lençóis e jogo
minhas pernas para o lado da cama. Esqueci de colocar meias
esta noite, e a frieza do chão varrendo minhas pernas me faz
tremer.

“Estou cansado de viver com medo, Anna. Não posso


testemunhar toda a injustiça do mundo e não dizer nada.”

“Mas, Paul, este artigo...”


Empurro a porta do meu quarto uma lasca para que eu
possa escutar melhor meus pais. Eu os vejo sentados à mesa
da cozinha. Papai pega as mãos da mamãe e as cobre com as
dele.

“Mantenho o que disse. Os Idols representam apenas 15%


da população do mundo, mas mantêm o restante de nós,
mesmo os Fringes, sob controle. Está na hora das balanças
serem equilibradas novamente.”

Mamãe balança a cabeça. “Pensamentos positivos. Não


podemos lutar contra os Idols. Eles são muito poderosos. Não
há nada que possamos fazer.”

“Há alguns Idols que não concordam com o que está


acontecendo, meu amor.”

Mamãe solta uma risada irônica. “Você está falando sobre


os cavaleiros? Existem apenas alguns deles, e logo não haverá
nenhum. Outro acabou morto. Eu vi no noticiário esta
manhã.”

Com um aperto de sua mandíbula, papai deixa seu olhar


estreitado para a mesa. “Eu sei. É tudo sobre o que meus
repórteres estão falando. Não importa.” Ele levanta os olhos
novamente. “Eu descobri algo que pode virar a balança a nosso
favor.”

A coluna de mamãe fica tensa. Ela puxa as mãos das


mãos de papai. “Não quero ouvir mais nada disso. Primeiro, era
sua obsessão em encontrar a ilha imaginária onde os Norms
podem viver sem medo.”
“Starlight Island não é imaginá…”

“Chega, Paul!” Mamãe bate as palmas das mãos abertas


na mesa. “Sua fixação com Idols e cavaleiros será o nosso fim.”

“Enfiar a cabeça na areia não vai ajudar, Anna, nem


manter nossas filhas seguras. Todos esses anos em que
pesquiso as origens dos Idols finalmente valeram a pena.”

Mamãe zomba. “Não me diga que você encontrou a ilha.”

Papai balança a cabeça, olhando para longe do rosto da


mãe. “Eu tenho pistas, mas nada sólido.” Ele faz uma pausa e
depois lambe o lábio inferior, antes de se concentrar na mamãe
mais uma vez. “Eu encontrei uma maneira de matar os Idols.”

O suor frio escorre pela minha espinha e meu estômago


se revira. Sempre acreditei que os Idols eram quase
indestrutíveis e só podiam ser mortos por outros Idols. Eles são
mais rápidos, mais fortes. Alguns podem ler mentes, e todos
são imunes a armas fabricadas pelos Norms.

“Você está falando bobagens, Paul. Se os Idols


descobrirem, eles vão matar todos nós.”

“Tomei cuidado para não deixar rastros digitais. Eu sei


que eles estão monitorando as redes.” Ele puxa seu diário para
mais perto dele e bate na capa de couro surrada. “Está tudo
aqui.”

O estrondo da nossa porta da frente explodindo pelas


dobradiças traz um grito na minha garganta. Meus pais se
levantam e se voltam para o buraco aberto onde a porta
costumava estar. Três Idols vestindo preto da cabeça aos pés
invadem nossa casa. O do meio dá um passo à frente e zomba
do meu pai. Seu cabelo é completamente branco, longo em
cima e empurrado para trás. Combina com o tom de pele sem
sangue de seu rosto. Um pedaço de couro cobre o olho direito
e uma cicatriz irregular escorre pela bochecha direita,
desaparecendo sob o queixo. Ele é a morte personificada.

Meu coração bate forte e rápido, e uma dormência fria


varre meu corpo.

“Paul Rodale, o ilustre editor do Hawk City Gazette. Está


na hora de conversarmos um pouco.”

“Como você ousa invadir minha casa assim?” Papai dá um


passo à frente, empurrando mamãe atrás dele.

Com um golpe no braço, o Idol manda papai voando pela


sala de estar. Ele bate contra a TV em uma torção de membros.

“Papai!” Eu corro em sua direção, mas minha mãe pula no


meu caminho e tenta me empurrar para trás.

“Mamãe, o que está acontecendo?” Rosie entra na sala,


ainda com os olhos turvos.

“Cuide deles.” diz o Idol de cabelos brancos por cima do


ombro antes de caminhar em direção ao meu pai, que está
tentando se levantar, todo ensanguentado.

“Não, deixe-os em paz!” Seu rosto se torce em uma careta.


Mamãe se vira e amplia sua postura, usando seu corpo
como um escudo contra os outros dois Idols que estão vindo
em nossa direção.

“Daisy, tire Rosie daqui.” diz ela.

Eu sei que tenho que obedecer, mas meu corpo está


congelado.

Um dos Idols ri. “Ninguém vai a lugar algum.”

Mais rápido do que posso piscar, ele rompe a distância


entre ele e a mamãe e a levanta do chão pelo pescoço.

Rosie está chorando atrás de mim, mas não posso


consolá-la agora. Eu tenho que ajudar
mamãe. Freneticamente, procuro qualquer coisa que possa
usar como arma. Mamãe não gosta de manter nada afiado à
vista, com medo de que Rosie se corte acidentalmente, então
quando eu vejo o punho de um abridor de cartas espreitando
da bolsa de meu pai no balcão da cozinha, eu mergulho por
ele.

Consigo enrolar meus dedos em volta dele antes que um


poder incrível envolva meu corpo e me puxe de volta. Bato na
parede oposta com força, batendo a cabeça contra ela com
tanta força que fico tonta por um momento. Mas não perco o
abridor de cartas. Quando minha visão entra em foco
novamente, um dos Idols, um homem de pele escura e olhos
que brilham como fogo, está bem na minha frente. Ele está me
mantendo presa na parede acima do chão, usando apenas seus
poderes divinos.
Olho por cima do ombro bem a tempo de ver o segundo
Idol deixar mamãe cair no chão, inconsciente. Soltei um
gemido. Ela não pode estar morta.

“Oh, você está com medo agora que sua mãe não está mais
aqui para protegê-la?”

Sua provocação me deixa mais irritada do que com


medo. A fúria surge da boca do meu estômago e eu deixo
escapar: “Foda-se!”

Ele me bate no rosto, e o gosto de sangue enche minha


boca. Meus ouvidos estão pulsando e minha bochecha está
queimando, mas olho para ele novamente com desafio.

“O que você está tentando fazer, pirralha? Me golpear com


aquela arma lamentável?” Ele ri.

Atrás dele, o Idol de cabelos brancos tem meu pai de


joelhos enquanto ele segura a cabeça com as duas mãos. Fios
de energia azul envolvem seus dedos. Papai grunhe com os
olhos fechados, e seu rosto se contorce em uma expressão de
dor terrível.

“Deixe meu pai em paz!” Eu grito.

“Você quer ajudar seu pai, pirralha?” o Idol na minha


frente diz. “Vá em frente, faça o seu melhor.”

De repente, o poder que me segurava colada à parede


afrouxa ao redor do meu braço empunhando a arma. Eu sei
que o Idol odioso está apenas me provocando, e ainda assim
golpeio seu pescoço com um grito de guerra. O objeto afiado
atravessa sua pele e músculos como se fossem feitos de
manteiga.

Caio no chão, mas não quebro o contato visual com o


homem. O desprezo no rosto do Idol se esvai em nada quando
seus olhos se arregalam de surpresa. Cambaleando para trás,
ele agarra a alça do abridor de cartas saindo do pescoço. Então
ele solta um rugido enfurecido quando rachaduras alaranjadas
brilhantes se espalham por seu rosto. Um momento depois, ele
explode em uma chuva de detritos parecidos com carvão.

O abridor de cartas tilinta quando bate no chão duro, e só


então vejo que não era um abridor de cartas, mas uma adaga
com uma lâmina de vidro.

“Mas que porra!” o Idol que atacou minha mãe grita.

O Idol de cabelos brancos derruba meu pai e gira. Seu


olhar se concentra na adaga no chão, e então ele me perfura
com um olhar assassino.

“Você! Você vai pagar por isso.” Ele segue meu caminho e
eu recuo, sabendo que não posso fugir dele, mesmo que eu
esteja de pé.

Ele levanta o braço acima da cabeça e uma bola de energia


azul se forma na palma da mão. Eu abraço meus joelhos e
fecho meus olhos, me preparando para o golpe. Isso nunca
vem.

Meus olhos se abrem com o som de gritos de raiva. Um


grupo de cinco Idols se juntou aos outros. O líder dessa nova
investida, um homem alto, com longos cabelos loiros, parece
um semideus verdadeiro, brandindo uma espada feita de
fogo. Mas eles não estão atrás de nós, estão atacando nossos
agressores. Bolas de energia e fogo são trocadas. Eu preciso
tirar o papai do campo de tiro. Levanto-me, corro, curvada para
a frente e usando os braços para cobrir a cabeça. Mergulho em
uma brecha e rolo no chão agora sujo para evitar ser queimada
por uma esfera de fogo em espiral.

Rastejando sobre minhas mãos e joelhos, chego ao lado de


papai. O sangue endureceu seus cabelos e parte do rosto. Seus
olhos mal estão abertos e sua respiração está saindo em jorros.

Eu balanço seu ombro levemente. “Pai, fala comigo. Você


está bem?”

Com um grunhido, ele tenta se sentar. O caos supremo


reina ao nosso redor, mas por enquanto estamos esquecidos.

“Onde está Rosie?”

Eu a procuro no meio do corpo a corpo, mas não a vejo em


lugar algum, apenas a forma amassada da mamãe no
chão. Minha garganta fica apertada e meus olhos ardem.

“Eu não sei.” eu respondo. “Mamãe está machucada.”

Papai enrola os dedos em volta do meu antebraço e me


puxa para mais perto. “Ouça, Daisy. Não temos muito
tempo. Você tem que encontrar Rosie e pegar a escada de
incêndio.”

Eu sei o que ele está me pedindo para fazer, mas meu


coração torce violentamente no meu peito só de pensar nisso.
“Não, papai. Não posso deixar você e mamãe.”

Seu aperto aumenta. “Droga, Daisy. Não discuta


comigo. Você deve encontrar Starlight Island.” Ele puxa um
caderno velho de baixo dele. Está coberto de poeira e
sangue. Demoro um momento para reconhecê-lo pelo que é...
o diário de papai.

“O que é Starlight Island?”

“Um santuário para Norms. Me prometa que vai


procurar.” Papai me observa com determinação, apesar da dor
que vejo brilhando em seus olhos. “Pegue isso.” Ele enfia o
diário encadernado em couro nas minhas mãos. “Tudo o que
sei sobre a ilha e os Idols está aí. Mantenha-o seguro e nunca
mostre isso a ninguém.”

Meu rosto está quente e molhado. Meus olhos estão


embaçados. Soltei um soluço, segurando o diário no meu peito.
“Estou com medo, papai.” sussurro.

Ele solta meu braço e segura minha bochecha com uma


mão calejada. “Não tenha medo, querida. Você deve ser forte
por você e sua irmã. Agora vá!” Ele me empurra para trás e
depois se levanta para enfrentar a ira do Idol de cabelos
brancos.

Não me mexo imediatamente, tomada pelo medo. Mas seu


pedido finalmente atravessa o pânico e me impulsiona para a
ação. Fico de pernas trêmulas e corro em direção à parte de
trás do apartamento. Quero dar uma olhada na mamãe, mas
dois Idols estão chegando ao meu caminho até ela.
“Rosie!” Eu chamo, esperando que ela seja esperta o
suficiente para se esconder.

A encontro encolhida embaixo do balcão da cozinha. Me


agacho e agarro seu braço. “Vamos. Temos que ir.”

“E mamãe e papai?”

“Eles virão logo atrás de nós. Vamos lá!” Eu a arrasto. Não


largando a mão dela, vou para o nosso quarto. Mas algo me faz
parar e olhar por cima do ombro.

Tudo parece acontecer em câmera lenta.

O Idol de cabelos brancos ergue a mão brilhante e lança


uma enorme esfera de energia azul em direção ao papai. O
golpeia direto no peito, fazendo-o voar para trás. Ele cai a
poucos metros de nós, perto o suficiente para eu ver seu
pescoço torcido em um ângulo estranho e seus olhos olhando
para o nada.

“Não.” eu engasgo.

Rosie começa a chorar muito. O olhar demente do Idol de


cabelos brancos colide com o meu, gelando meu sangue. Seus
lábios se curvam em um sorriso de desprezo antes de ele vir
para nós.

Girando, corro para a escada de incêndio, arrastando uma


Rosie chorosa comigo. Tranco a porta do quarto, sabendo que
não manterá o Idol fora, mas levarei o segundo que pode nos
comprar. Papai se foi, e provavelmente mamãe também. Há
uma dor terrível no meu peito que não cede, mas não consigo
pensar nisso agora.

Coloco o diário do papai debaixo do braço e abro a trava


da janela, amaldiçoando minhas mãos suadas. Empurro Rosie
pela janela primeiro, seguindo logo atrás. A escada de metal
geme alto enquanto descemos os degraus, mas até agora não
há sinal de perseguição. Não sei quem eram os outros Idols,
mas devem manter o monstro de cabelos brancos e seu
cúmplice ocupados.

Quando bati na calçada logo depois de Rosie, agarro a mão


dela e saio para a noite. Não sei para onde estamos indo ou se
Starlight Island é mesmo real. Tudo o que sei é que Hawk City
não é mais segura para nós, se é que realmente foi.

Rosie é tudo o que tenho agora, e farei qualquer coisa para


protegê-la.

Qualquer coisa.
Daisy

Sete anos depois

“Um pedido de batatas fritas, dois cheeseburgers duplos,


um sem cebola e outro com cebola e jalapeños, por
favor?” Apertei a campainha e prendi o pedido de papel no
quadro da janela.

Sem pausa, eu giro, limpando o suor da minha testa com


a parte de trás do meu antebraço. O Poppy’s Joint é
climatizado, mas o calor da cozinha combinado com a ação
ininterrupta na lanchonete me faz desejar um bom banho
frio. Apenas nos meus sonhos. Vou ter que me contentar com
o gotejamento do meu chuveiro de cem anos.

Felicity, minha parceira no crime, para ao meu lado, pega


um menu e se abana. “Exploda todos os titãs para o
inferno. Hoje está quente pra caralho.”

Sua franja loira branca está emaranhada e grudada na


testa, e seu delineador está um pouco borrado. De fato, toda a
sua maquiagem parece prestes a derreter, deixando os vincos
nos lados da boca e as rugas nos cantos dos olhos expostos. É
melhor mantê-la longe de espelhos. Ela terá um ataque se
descobrir que está com a idade real — trinta e sete — em vez
dos vinte e poucos anos que tenta retratar.

“Sim, está muito quente. Mas pelo menos estamos


ocupadas. Devemos receber algumas gorjetas decentes hoje.”

Felicity bufa. “Certo. Os Norms nesta cidade não podem


se dar ao luxo de dar gorjetas boas, mesmo que quisessem.”

Meu coração afunda, mas o que ela disse não é novidade


para mim. Trabalho na Poppy’s Joint há dois anos e nunca
ganhei mais de vinte dólares por dia em gorjetas. Mal ganho
dinheiro suficiente para colocar comida na mesa e pagar o
aluguel do quarto que divido com Rosie.

Mas estou atrasada no aluguel esta semana. Usei o


dinheiro para pagar a visita de Rosie à sala de
emergência. Algum idiota Fringe quebrou seu braço na
escola. Preciso ganhar dinheiro rapidamente, e resta apenas
uma opção. Só o pensamento me deixa doente.

A campainha toca, anunciando que temos mais


clientes. Mas a conversa na lanchonete para de repente e segue
um terrível silêncio. Um grupo de quatro Idols está parado na
porta. Eles são jovens, provavelmente da minha
idade. Simplesmente olhando para os quatro garotos, eu sei
que eles são Idols de alto nível. Não é por causa de sua postura
arrogante de queixos elevados e sorrisos em abundância. Eles
exalam poder. Suor frio lambe a parte de trás do meu pescoço,
e um arrepio percorre minha espinha.

Onde quer que os Idols vão, os Norms se machucam.


Mas não é só essa verdade profundamente enraizada que
está fazendo meu corpo estremecer e meus joelhos ficarem
fracos. É a semelhança que um deles tem com o Idol que matou
meu pai. Não em seus traços faciais. É o cabelo, seu maldito
cabelo branco que está levando minha cabeça para dar uma
volta.

“Porra, o que esses idiotas estão fazendo aqui?” Felicity


sussurra perto do meu ouvido. Ela tenta mascarar seu medo
fingindo que os Idols só têm direito de garotos ricos, mas todos
sabemos que eles podem matar todos nesse restaurante com
um estalar de dedos.

Poppy anda pelo balcão, enxugando os dedos gordinhos


no avental branco e imaculado, enrolado em sua cintura.

“Posso ajudá-los, senhores?”

Os dois garotos se afastam trocam um olhar e sorriem. O


cara ao lado do de cabelos brancos apenas olha para Poppy
com um ar de tédio.

“Sim, por favor. Gostaríamos de um estande para quatro


pessoas.” o cara de cabelos brancos responde. Sua voz é como
veludo rico, agradável e suave.

Poppy pega alguns menus na frente e começa a levá-los


para a parte de trás da lanchonete.

“Não. Queremos um dos estandes perto da janela da


frente.” responde o garoto de cabelos escuros entediado.
Poppy se vira, seu rosto é uma máscara de conformidade,
mas eu posso ver além de sua fachada. Ele está preocupado
agora. Não há cabines disponíveis pela janela da frente.

“Eles podem ter nosso estande. Estamos indo embora.” diz


Sr. Jenkins, um de nossos frequentadores.

Sua esposa já está de pé e pedindo aos filhos que saiam


do estande. Nenhuma das crianças lamenta, mesmo que elas
tenham acabado de chegar aqui. Como Norm, você aprende
rapidamente a nunca irritar um Idol.

Poppy agradece ao Sr. Jenkins e rapidamente limpa a


mesa. Os meninos formais deslizam para dentro do estande e
espiam o menu. O movimento recomeça lentamente, mas a
atmosfera está tensa agora. Tenho certeza de que a presença
dos Idols aqui vai limpar a lanchonete em pouco tempo.

“Bem, agora definitivamente não estamos ganhando


dinheiro hoje à noite.” Felicity se vira para a janela da cozinha.
“Ei, Luigi. Onde diabos estão meus hambúrgueres?”

Colocando os fios soltos de cabelo que escapavam do meu


rabo de cavalo atrás da orelha, respiro fundo.

Acalme-se, Daisy. Eles só querem jantar, não causar


destruição total.

Poppy vem na minha direção. “Não se preocupe,


querida. Eles estão na sua seção, mas eu cuidarei deles.”

Soltei um suspiro de alívio. “Obrigada.”


Com o bloco e a caneta na mão, forço minhas pernas a se
moverem. Preciso checar a mesa ao lado do estande dos
Idols. Não olho na direção deles enquanto passo em direção aos
meus clientes. Quando o cara de cabelos brancos levanta a
mão, eu finjo que não vejo.

“Com licença, garçonete.” diz ele em voz alta enquanto eu


ando na frente da mesa deles. “Estamos prontos para pedir.”

Faço uma pausa e lanço um olhar nervoso para Poppy,


que já está vindo para o resgate.

“Vou receber seus pedidos, senhores.” diz ele


educadamente.

“Por quê?” o garoto com ar de tédio pergunta, encostado


na parte de trás do estande.

“Bem, o turno de Daisy está quase no fim e...”

“Eu não dou a mínima para a porra do turno de Daisy.”


ele cospe de volta, levantando a voz. “Nosso estande não está
na seção dela?” Seus olhos azuis cerúleo ficam mais
brilhantes, tornando-se um azul elétrico, e veias escuras
aparecem em seu rosto pedregoso antes que desapareçam.

Meu queixo se contrai e meus olhos se arregalam por


vontade própria. Meu coração está batendo forte dentro do
meu peito, querendo me libertar, mas não posso deixar que
esses valentões matem Poppy ou nossos clientes, não por
minha causa.
“Está tudo bem, Poppy. Eu posso cuidar do pedido
deles.” Eu sorrio com força, e então, empurrando o medo de
lado, eu me viro para os idiotas. “O que eu posso buscar?”

Aperto a caneta com mais força para esconder os tremores


que correm pelo meu corpo e encaro o de cabelos escuros. Ele
parece ser o pior de todos, mas eu não consigo fazer contato
visual com quem está de frente para ele — o assassino de papai
é parecido.

“Que tal um pequeno sorriso para nós, querida?” Os lábios


do moreno se abrem em um sorriso perverso, e meu estômago
se enrola com força. Não gosto de como ele está me olhando
como se eu fosse uma presa.

“Desculpe, isso não está no menu.” digo antes que eu


possa me ajudar.

Daisy, o que diabos você está fazendo?

“Ai. Queimado em dois segundos. Deve ser um recorde


para você, Rufio.” um deles ri.

Loiro de olhos verdes, ele me lembra um ator de um


popular programa de TV. Ele definitivamente tem o pacote de
Hollywood. Pena que é um Idol e, como tal, é mau até os ossos.

“Cale a boca, Phoenix.” Rufio lança um olhar para o


amigo.

“Qual é a torta do dia?” o garoto de cabelos brancos


pergunta.
Não tenho escolha a não ser olhar para ele. E foda-se,
agora estou com a língua presa por razões completamente
diferentes. Seu cabelo é completamente branco, mas olhando
para ele de perto, posso ver que ele definitivamente não possui
nenhuma semelhança com o assassino de meu pai. Só posso
usar uma palavra para descrevê-lo: impecável. Seu rosto
parece esculpido em mármore, todos os ângulos perfeitos.

Grandes olhos cor de mel em forma de amêndoa,


emoldurados por cílios ridiculamente longos, me observam
intensamente. Ele me fez uma pergunta, e aqui estou eu,
encarando-o como se eu fosse um idiota.

“Mirtilo.” coaxo e depois limpo a garganta. “Torta de


mirtilo.”

“É bom?” Ele continua me encarando.

“O melhor da cidade.”

“Por que você está perguntando se a torta é boa?” Rufio


pergunta com uma pitada de aborrecimento. “Você vai pedir e
comer tudo com gosto, mesmo que tenha gosto de papelão.”

Eu me viro para o cara. “Não tem gosto de papelão. É


incrível pra caralho.”

Ok, eu devo ter um desejo de morte. Por que estou falando


com ele? Ele é um Idol de alto nível, pelo amor de Deus.

As sobrancelhas dele arquearam, e ele me deu um sorriso


torto. “Realmente? Você apostaria sua vida nisso?”
Perigo. Abortar. Abortar. Muito tarde. Se eu recuar agora,
ele pensará que tenho medo dele — o que eu
tenho. Aterrorizada, na verdade. Mas ele não pode saber disso.

Eu levanto meu queixo. “Sim.”

Phoenix, o loiro, assobia e diz: “Parece que temos uma


coisinha mal-humorada em nossas mãos, meninos. Esta noite
está se tornando mais divertida do que eu previa.”

“Você não deveria ter feito isso.” diz o homem de cabelos


brancos sem rodeios.

Ele está certo, mas tudo bem. Minha mãe costumava dizer
que minha boca grande seria minha morte. Talvez o dia
finalmente chegou.

“Confie em mim. Não vou perder.” respondo.

Seus olhos ficam mais redondos, como se minha


declaração o pegasse de surpresa. Ele então estreita o olhar e
diz: “Vamos ver. Eu também gostaria de pedir um milk-shake
de morango.”

“O que eu ganho quando ganhar?” Viro-me para Rufio, o


filho da puta arrogante que parece ser o pior de todos.

“Uh, sua vida?” Phoenix responde em vez disso.

Rufio permanece quieto, me observando. Seus olhos estão


mais escuros agora, quase azul da meia-noite.

“Gente, porra, pedidos já, para que eu possa pegar minha


maldita torta.” diz o de cabelos brancos.
“Caramba, Bryce. Relaxe, porra.” Phoenix baixa o olhar
para o menu.

“Vou tomar a sopa de galinha, por favor.” diz o quarto cara


que não havia falado até agora.

“Sopa de galinha? Nesse calor? Você é louco?” Phoenix


olha para o amigo, exasperado.

“Estou com frio.”

“Morpheus, você sempre está com frio. Talvez você deva


sair das sombras pela primeira vez.” responde Rufio, seu olhar
agora no menu.

“Morda-me, imbecil.”

Sem olhar para o amigo, Rufio o descarta. Então ele


levanta o queixo, afastando a franja longa dos olhos para olhar
melhor os meus. “Eu vou comer a deliciosa torta de mirtilo.”

“Você não gosta de torta.” Phoenix diz.

Ainda olhando para mim e agora exibindo um sorriso,


Rufio responde: “Eu odeio isso, mas tenho uma aposta para
vencer.”
Rufio

A garota Norm pega os pedidos de todos e sai sem dizer


outra palavra para mim. Eu a chacoalhei, isso eu sei, mas ela
está interessada em não demonstrar medo. Tola. Eu posso ver
através dos seus olhos castanhos desafiadores.

“Nunca vi nenhuma garota se defender contra você,


Rufio. E para uma Norm fazer isso?” Phoenix assobia. “Você
deve estar perdendo o jeito.”

“Cale a boca, vadia. Esse foi apenas o aquecimento.”

Bryce suspira. “Eu só queria comer um pouco de torta.


Não deveria ter pedido a vocês idiotas para vir junto.” Ele
brinca com as garrafas de condimento na mesa e não faz
contato visual com ninguém.

“Você não pode ficar muito tempo sozinho, irmão. Você


ficaria entediado.” digo com um sorriso.

“Não enche, Rufio.” Ele se recosta no estande barato de


couro falso e olha em volta. “Espero que a torta seja boa.”

“Essa garçonete é uma má notícia.” diz Morpheus, muito


sério.
“Agourento demais? Credo.” Phoenix balança a cabeça e
ri. “O que uma Norm pode fazer contra nós? Somos Idols,
cara. Os melhores cães.”

O olhar de Morpheus fica desfocado. “Eu não sei. Não


consigo entender bem.”

Pego o menu e o faço flutuar acima da minha mão. “Pare


de ser um esquisito com sua merda de premonição.”

Com um simples pensamento, o pedaço de papelão


laminado se desintegra em pó. Um suspiro à minha direita
chama minha atenção. Um garoto Norm está me observando
com os olhos redondos e a boca aberta. Eu o recompenso com
um sorriso cheio de dentes e falo: “Você é o próximo.”

Terror enche seus olhos. Ele se vira para a mãe e implora


para sair. A mulher, uma Norm de aparência cansada, olha na
minha direção e recua de medo. Ela pega sua bolsa
rapidamente e empurra seu filho para fora do assento. Eles se
foram antes que Daisy pudesse receber o cheque.

“Norms patéticos.” Eu rio.

Bryce olha para mim. “Porque você está assim?”

“O que?” Eu arregalo meus olhos, tentando jogar a carta


inocente. “Não é minha culpa que as Norms se assustem
facilmente.”

Phoenix se anima em seu lugar. “Aí vem a pequena Daisy


com nosso pedido, pessoal.”
Ela está segurando a bandeja cheia de comida com uma
mão apenas enquanto pega alguns pacotes de utensílios. Para
uma Norm insignificante, ela é meio forte.

Me dou um tapa mental. Eu não apenas admirava algo


sobre uma Norm nojenta. São baratas, boas apenas para
serem esmagadas sob nossos pés.

Com uma mandíbula cerrada, Daisy marcha em nossa


direção. Ela está odiando essa situação tanto quanto eu estou
adorando. Quando Bryce perguntou se eu queria acompanhar
essa viagem de exploração dele, eu não esperava ser divertido.

Ela para na nossa mesa e começa a recitar nossos pedidos


de volta para nós. Ela entrega os pedidos a Phoenix e
Morpheus primeiro, depois dá ao meu irmão sua maldita torta
e milk-shake. Não pedi mais nada além da sobremesa. Eu
realmente não estou com fome.

“E um pedaço extragrande de torta para você, senhor.” Ela


se vira para mim lentamente, segurando o prato de torta pela
borda, quando a coisa sai da mão dela e a torta de mirtilo acaba
cobrindo todo o meu rosto.

“Merda!” ela grita. “Eu sinto muito.”

Phoenix e Morpheus uivam de tanto rir, mas o som que


está abafando tudo é minha raiva batendo nos meus
ouvidos. Deliberadamente lento, eu limpo pedaços de geleia e
crosta dos meus olhos e nariz. Então me viro para Daisy, a
Norm que estou prestes a matar. Literalmente.
Ela dá um passo para trás, finalmente mostrando seu
medo.

“Eu não quis fazer isso. Foi um acidente.” ela pede


desculpas.

“Rufio, sente-se.” Bryce diz, mas ele pode beijar minha


bunda. Eu não vou ser humilhado assim por uma porra de
Norm.

“O que está acontecendo aqui?” O dono desse casebre fica


entre mim e sua empregada.

“Eu não fiz isso de propósito. Eu juro, Poppy.” a menina


diz.

Seu desespero alimenta minha fome de vingança. Eu sou


o senhor da morte, e esta Norm apenas despertou a besta.

***

Daisy

Ele vai me matar, Poppy também, se ele não sair do


caminho.
Não sei o que aconteceu. Um momento o prato estava em
minhas mãos, e no outro, ele saiu dos meus dedos e virou no
ar, lançando o pedaço de torta diretamente no rosto do Idol.

“Daisy, pegue suas coisas e vá embora.” diz Poppy sem


interromper o contato visual com Rufio.

“Afaste-se, velho, ou você também morrerá.” ordena


Rufio. Seus olhos estão piscando em um azul brilhante, e veias
escuras se espalharam por suas bochechas.

Seu poder está rolando em ondas, algo escuro e


sufocante. Eu nunca senti nada assim. Nem o Idol que matou
meu pai se pareceu tão poderoso. É quase como se eu estivesse
diante de um semideus verdadeiro.

Os clientes de Poppy começam a evacuar as instalações


em uma corrida louca de cadeiras recuadas e utensílios
tilintando contra o vidro.

Alguém agarra meu antebraço e me puxa para trás.

“Vamos, garota. O que você está esperando?” Felicity


pede.

“Não posso deixar Poppy lidar com esse Idol.”

“Não se preocupe com Poppy, Daisy. Pense em Rosie.”

A culpa serpenteia em meu interior e as mantém em um


torno perigoso. Rosie. Eu sou toda a família que restou. Se eu
morrer, o que vai acontecer com ela?
Eu cambaleio para trás antes de me virar e ir para a porta
dos fundos. Há um estrondo e depois o som do vidro
quebrando. Não paro, mas não consigo deixar de olhar por
cima do ombro. Poppy ainda está de pé, mas Rufio está de
joelhos.

Eu desacelero e começo a me virar. Preciso saber o que


está acontecendo. O garoto de cabelos brancos está parado
agora, cercado pela luz. O brilho desaparece, e então ele olha
para mim. Não consigo decifrar o brilho em seus olhos, mas
sua voz suave soa na minha cabeça. “Vai.”

Porra. Ele realmente colocou essa palavra na minha


cabeça, ou eu imaginei?

“Daisy!” Felicity chama, já em frente à porta de saída no


final do corredor.

Eu quebro o contato visual com o cara e corro para


ela. Meus pensamentos estão indo a cem milhas por hora. O
que diabos aconteceu lá atrás? O garoto chamado Bryce ajudou
Poppy? Isso não faz sentido.

Atravessei a porta dos fundos e em uma parede de ar


aquecido. É assim que se sente saindo de Poppy’s Joint. Já é
setembro, mas o verão não perde o controle sobre a Saturn’s
Bay.

Felicity abre a porta do carro com um movimento brusco


e me diz para me apressar.

Entro no seu velho Mustang vermelho, o carro que ela


chama carinhosamente de Ralph. O motor ruge e, antes que eu
possa colocar o cinto de segurança, Felicity sai do
estacionamento, queimando borracha.

Ela olha para o espelho retrovisor e depois xinga. “O que


diabos aconteceu lá atrás, garota? Você jogou torta no rosto
daquele Idol de propósito?”

“Não! Claro que não.”

“Merda. Não importa agora. Espero que ele não tenha


ressentimento.”

Uma bolha de risada louca me escapa.

“Qual o problema com você? Por que você está rindo? Você
poderia ter sido morta.”

“Eu sei. Estou rindo porque tenho que arrumar minhas


coisas e sair da Saturn’s Bay.”

“Não seja tão dramática. Você não precisa fugir.” Felicity


volta sua atenção novamente para o espelho retrovisor.
“Ninguém está nos seguindo. Bom.”

Eu poderia tentar explicar para Felicity o quão ingênua ela


está agindo agora. Idols são loucos. O poder ilimitado apagou
qualquer moral que eles pudessem ter.

Eu me contento com algo que meu pai costumava dizer.


“O poder absoluto corrompe absolutamente.”

“E agora?” Ela olha para mim. “Não vomite suas bobagens


de inteligência cerebral para mim, Daisy.”
“Por favor, me leve para casa, Felicity. Eu preciso ter
certeza de que Rosie está bem.”

Mais do que nunca, preciso do dinheiro extra. Não para


pagar aluguel, mas para comprar ingressos para Rosie e eu
para fora da cidade. Não tenho ideia para onde ir
agora. Quando deixei Hawk City, viajei o mais longe que pude
da metrópole da costa leste sem sair do país. Papai me disse
para procurar Starlight Island, mas as anotações em seu diário
não faziam sentido para mim. Além disso, eu estava muito
ocupada tentando sobreviver. Agora acho que vou ter que ir
para o sul e atravessar a fronteira, o que faz meu coração se
contrair tão dolorosamente no peito que fica difícil respirar.

Ouvi dizer que a vida para os Norms é muito mais difícil


do outro lado da fronteira. Os Idols não são apenas mais
cruéis, mas os Norms também precisam se preocupar com
Fringes sem escrúpulos. Talvez eu devesse ficar e lidar com a
ira de Rufio e seus amigos.

Esfregando o rosto, olho pela janela, vendo apenas um


borrão de formas escuras. Não é a velocidade do carro que está
atrapalhando minha visão, mas as lágrimas nos meus
olhos. Eu só queria que, pela primeira vez, a vida fosse um
pouco mais fácil para mim. Estou tão cansada de me sentir
miserável o tempo todo.

Felicity entra em minha subdivisão. A rua é bastante


iluminada, mostrando vislumbres de um bairro que já viu
melhores dias. As casas são antigas e poderia usar um pouco
de tinta fresca. Alguns jardins da frente precisam muito cortar
a grama e outros estão cheios de bicicletas e brinquedos
quebrados.
Os faróis do carro de Felicity brilham na caixa de correio
de flamingo rosa desbotada. Estou em casa. As luzes da sala
estão acesas, o que significa que meu senhorio deve estar
esperando por mim e seu cheque de aluguel. Merda.

Felicity estaciona o carro, mas não me mexo para sair do


veículo.

“O que foi, garota?”

“E-Eu não posso entrar.”

“Por que não?”

Colocando meu olhar no meu colo, digo: “Estou com o


aluguel vencido e não o tenho.”

“Filho da puta. Era a porra da conta do hospital, não era?”

Eu levanto meus olhos para encontrar os dela. “Sim.”

“Por que você não disse algo antes? Talvez eu possa ajudá-
la ou coletar doações na lanchonete.”

“Pensei que poderia ganhar dinheiro se trabalhasse mais


horas.”

Felicity olha para frente, passando uma mão nervosa pelo


cabelo. “Cara, a vida não é justa, porra. Às vezes me pergunto
qual é o sentido de viver sendo uma Norm.”

Eu nunca ouvi Felicity falar sombriamente assim. Ela


geralmente é a senhorita Sunshine, sempre olhando o lado
bom das coisas.
“Você está me assustando, Fefe.” eu digo, usando o
apelido que apenas algumas pessoas têm permissão.

Ela se vira para mim e sorri. “Eu sinto Muito. Não quis
parecer tão trágica. Você pode ficar no meu sofá hoje à noite,
mas e Rosie?”

Soltei uma expiração carregada. “Meu senhorio tem uma


queda por Rosie. Ele não a expulsará sozinha no meio da
noite. Mas ele vai se eu estiver por perto.”

Pego meu celular do bolso do avental e envio uma


mensagem rápida para minha irmã. Ela responde quase
imediatamente com uma aprovação.

“Então isso é um sim?” Felicity pergunta.

“Sim. Se você não se importar.”

“Querida, você sabe que não me importo.”

Ela se afasta do meio-fio enquanto eu afundo mais fundo


no meu assento, pensando sobre o que tenho que fazer hoje à
noite. Bile sobe na minha garganta. Estou brincando com a
ideia há dias, mas estava realmente esperando que não se
resumisse a isso. Mas agora não se trata apenas de manter o
teto sobre nossas cabeças. É uma questão de sobrevivência.
Daisy

Não demorou muito para Felicity adormecer em sua


cadeira estilo vovô, segurando a garrafa de gim como se fosse
seu amante. A TV está ligada, mas a única coisa que mostra é
a cena na lanchonete. Eu ainda estou tentando entender isso.

O relógio na parede aponta à meia-noite. Felicity


desmaiou uma hora atrás, e seus roncos são altos o suficiente
para tirar um urso da hibernação. Ela não vai acordar até
amanhã de manhã.

Andando na ponta dos pés, pego as chaves do carro na


mesa de café e vou para a porta. Nunca consegui minha
carteira de motorista, mas sei dirigir.

O caminho para o meu destino é silencioso e escuro, o que


me deixa em paz com meus pensamentos pessimistas. Para
evitar perder a coragem, ligo o rádio e escolho uma estação
conhecida por tocar músicas animadas.

A música ajuda a abafar minhas reflexões


autodestrutivas. Não tenho certeza se Felicity estava errada
quando ela questionou o ponto de viver como uma Norm. Na
verdade, se não fosse por Rosie, não tenho certeza do que teria
feito.
Antes que eu perceba, estou estacionando na parte de trás
de Unearthly Desires, uma junta de faixa sofisticada que
atende a Idols e Fringes bem conectados. Lamento não ter tido
a chance de tomar banho e melhorar minha aparência. Mas me
disseram antes que eu era linda, além de ter belos seios.

Ok, Daisy. Se você vai fazer isso, é melhor fazer agora.

Saio do carro e puxo minha camiseta confortável com


decote em V para baixo. Tenho que destacar as garotas. Ando
com confiança em direção à porta dos fundos, que é guarnecida
por um Fringe careca e carnudo. Assim que passo sob a luz do
teto, ele me olha de cima a baixo, e então seu olhar se fixa nos
meus seios.

“O que você quer garota?”

“Estou aqui para me candidatar a um emprego.”

Ele zomba. “Não estamos contratando no momento.”

“Besteira. Vocês estão sempre contratando.”

Ele estreita o olhar sombrio e depois lambe o lábio inferior.


“Se você está interessada em obter uma entrevista, isso vai
custar a você.”

Merda. Conheço uma expressão maliciosa quando a vejo.

“Me chupe e eu vou deixar você passar.” Ele segura seu


lixo e juro que vomitei na minha boca. Talvez eu não possa
fazer isso depois de tudo.
Não, Daisy. Você tem que levar isso até o fim. É sua única
chance de conseguir o dinheiro que você precisa. Pense em
Rosie.

“O Sr. X sabe que você trata seu futuro talento assim?” Eu


pergunto.

Careca solta suas bolas e seus olhos escurecem. “Cuidado


com a boca, garota Norm, ou você terá que fazer mais do que
chupar meu pau.”

“O que diabos está acontecendo aqui, Anthony?” uma voz


fria pergunta atrás de mim. Eu giro no local e fico cara a cara
com o Sr. X, o misterioso dono da Unearthly Desires.

“Nada, senhor. Apenas um rato de rua tentando


esgueirar-se para uma audição.”

O Sr. X se aproxima, entrando na luz. Ainda assim, não


consigo ver o rosto dele, pois ele está usando um chapéu,
também está vestindo um terno de três peças com gravata e
tudo. Ele não está derretendo nesse calor?

Ele finalmente levanta o rosto e olha direto nos meus


olhos. Com pele morena e olhos cor de uísque, o Sr. X é um
homem malandro e bonito. Também extremamente perigoso,
de acordo com os rumores.

Mas não tenho medo dele. Na verdade, estou bastante


aliviada por esbarrar no homem.

“Então você quer trabalhar para mim, é isso?” ele


pergunta.
“Sim.”

Ele estreita um pouco o olhar e aperta a mandíbula. Não


é um bom sinal. Eu sei o que ele vai dizer. Ele vai me mandar
embora. Mas não quero nada disso.

“Por favor. Deixe-me entrar e eu vou provar para você que


vou ser o melhor talento que você já teve.”

Atrás de mim, Careca faz um barulho descontente. Ele


provavelmente está chateado por eu estar disposta a chupar o
chefe dele e não a ele. Oh, bem, ele pode pensar o que
quiser. Tudo o que preciso é de um momento a sós com o Sr.
X. Não tenho intenção de trocar favores sexuais esta noite.

Apenas tirar a roupa na frente de um monte de estranhos.

Com um suspiro, o Sr. X diz: “Tudo bem. Vou te dar cinco


minutos.”

Careca abre a porta para o Sr. X, mas quando passo por


ele, sussurra: “Estarei esperando por você quando o Sr. X a
mandar embora, vadia.”

Há tantas coisas que quero dizer ao pervertido, mas


engulo todas as réplicas raivosas. Eu só preciso trabalhar uma
noite, e depois é adiós2, Saturn’s Bay.

A porta dos fundos leva a um corredor estreito e escuro. O


cheiro de licor e fumaça está por toda parte, um odor velho que
parece ter sido absorvido pelo papel de parede
berrante. Música animada sai da frente, abafada pela porta do

2 Adeus.
que eu acho que é o clube de strip. O Sr. X abre uma porta à
direita e espera que eu o alcance. Ele me deixa entrar primeiro,
e sou recebida por um escritório pequeno e meticulosamente
organizado. Uma mesa de mogno escuro fica atrás, sem nada
além de um laptop e um bloco de anotações. Um armário de
arquivos é empurrado contra a parede esquerda e um sofá de
couro à direita.

O Sr. X tira o chapéu e anda ao meu redor. Então ele se


senta atrás da mesa e se recosta, entrelaçando os dedos e
descansando as mãos unidas na barriga lisa.

“O que posso fazer por você, Senhorita...?”

“Daisy. Meu nome é Daisy.”

“Certo. Então, o que faz você pensar que pode trabalhar


na Unearthly Desires?”

“Eu tenho um espelho. Sei como me pareço. Além disso,


eu tenho esses.” Aponto para os meus seios.

O olhar do Sr. X passa rapidamente pelo meu peito antes


de retornar ao meu rosto.

“Você é linda. Não há como negar isso. Mas você não pode
trabalhar para mim.”

“Por que não? Eu tenho dezoito anos.” Dou um passo à


frente.

“Uma garota Norm bonita como você? Meus clientes


comeriam você viva e cuspiriam os ossos.”
“Eu me viro sozinha.”

“Ouça, garota. Eu já vi o seu tipo antes. Não há uma noite


em que um jovem ingênuo Norm não venha ao meu
estabelecimento, tentando trabalhar algumas noites e ganhar
mais dinheiro do que eles poderiam sonhar. Mas o problema é
que não há uma saída rápida desta vida. Quando estiver no
negócio, nunca desistirá. O dinheiro é bom demais.”

“Por que você se importa?”

Ele estreita os olhos e me observa atentamente. “Não me


importo, mas hoje à noite estou me sentindo benevolente.”

“Não quero sua benevolência. Eu só quero trabalhar.”

O Sr. X se inclina para a frente e apoia os cotovelos na


mesa. “Aqui não. Minha resposta é final.”

Fervendo, eu cerro os dentes. Se o Sr. X quer jogar duro,


que assim seja.

“Eu reconsideraria sua decisão se fosse você, Sr. X. Ou é


Poppy?”

O olhar de espanto no rosto do homem devia ser


capturado por uma câmera. Pena que eu não tenho uma
comigo. Seus olhos são tão redondos quanto discos, e sua boca
está aberta.

“O que você disse?”

“Você me ouviu.” Eu levanto meu queixo mais alto.


Ele olha para mim sem piscar por várias batidas antes de
perguntar: “Como você soube?”

“Eu peguei você mudando uma vez. Não é assim que vocês
chamam? Transformando?”

Papai tinha uma seção inteira em seu diário dedicada aos


Idols que podiam mudar de forma. Não é um poder comum,
mas é bastante assustador. Quando peguei Poppy se
transformando no Sr. X pela primeira vez, quase fugi. Mas eu
estava sem dinheiro a ponto de não ter dinheiro suficiente para
comprar itens básicos, e Rosie estava gripada, então engoli
meu medo e fiquei. Mas nunca baixei a guarda em volta de
Poppy.

“Quando?” Seu olhar se estreita em fendas.

“Um ano atrás.”

“E você nunca disse uma palavra depois de todo esse


tempo?” Ele descansa contra sua cadeira, ainda parecendo ter
dificuldade em acreditar que eu sabia sobre o seu segredo o
tempo todo.

“Eu estava guardando as informações para usar no


momento certo.”

Ele esfrega o rosto. “Filho da puta. Eles estavam certos


sobre você.” ele murmura.

Espere um minuto. Eles? Do que ele está falando?

“Quem?” Dou um passo ansioso para a frente, meu


coração batendo de repente a um ritmo aumentado.
“Deixa pra lá.” Ele acena com a mão, impaciente. “O que
você quer de mim, Daisy?”

Eu quero pressionar, é claro que ele está escondendo


informações de mim, mas minha prioridade agora é conseguir
um emprego.

“Eu já te disse. Eu quero trabalhar aqui. Ou você poderia


me dar o dinheiro que eu preciso.”

Ele me observa em silêncio por um momento antes de


jogar a cabeça para trás e rir. “Garota, você é engraçada.”

Eu fecho minhas mãos em punhos. “Se você não fizer isso,


vou contar a todos sobre o seu pequeno segredo. Você pode se
despedir do Poppy’s Joint. Nenhum Norm comerá em um lugar
de propriedade de um Idol.

Toda diversão desapareceu de seu rosto agora. “Você está


me chantageando, Daisy?” Seu tom é baixo e tenso, e uma bola
de medo fica presa na minha garganta.

Eu levanto meu queixo mais alto, tentando esconder os


tremores que correm pelo meu corpo. “Você pode apostar que
estou.”

Achatando as mãos sobre a mesa, o Sr. X se


levanta. Merda. Talvez eu tenha ido longe demais, mas tempos
desesperados exigem medidas desesperadas.

“Eu poderia te matar.” diz ele com frieza suficiente em sua


voz que eu quase acredito nele.

Quase.
Minha boca fica insuportavelmente seca e meu batimento
cardíaco é irregular, mas eu me mantenho firme. “Se você me
queria morta, por que você interveio quando aquele idiota veio
atrás de mim?”

A ira diminui em seu rosto. Ele rodeia a mesa e senta-se


na beira com os braços cruzados. “Como eu disse, estou me
sentindo benevolente esta noite.”

Penso em todas as vezes que Poppy me ajudou. Ele me


deu um emprego quando eu não tinha nenhuma
qualificação. Ele me ajudou a encontrar um lugar para
morar. Sr. X, Poppy, tanto faz, não quer me prejudicar. Então,
qual é o problema dele?

“Bem. Não me dê uma chance. Mas você também não


precisa se preocupar em me matar. Estarei morta mais cedo
ou mais tarde quando esses meninos me encontrarem. Duvido
que você tenha conseguido convencer aquele idiota a esquecer
a retaliação dele.”

A preocupação brilha em seus olhos. “Você não passa de


um pontinho na memória dele. Ele não vem atrás de você.”

Talvez eu não possua nenhum poder especial, mas posso


ler as pessoas muito bem. E eu sei sem um pingo de dúvida
que o Sr. X não acredita em suas próprias palavras.

“Mas se você está decidida a trabalhar aqui, eu lhe darei


uma chance.” continua ele. “Só não venha chorando depois
quando as coisas piorarem. E não se engane, Daisy. As coisas
vão ficar difíceis. Aquele garoto Rufio é manso em comparação
com a clientela que frequenta meu estabelecimento.”
“Você não sabe as coisas que eu vi, Sr. X. As coisas que
eu tenho suportado. Eu sou uma garota durona, posso lidar
com sua clientela.”

Além disso, duvido seriamente que os Idols que vêm aqui


sejam piores do que os idiotas que entraram hoje à noite no
Poppy Joint. Conheço seres poderosos quando os vejo, e esses
idiotas estavam no topo da escala dos dons divinos. A linhagem
deles com os semideuses originais deve ser bem forte.

“Você tem uma chance, Daisy. Um erro e você está fora


daqui.”

O alívio toma conta de mim, mas a ansiedade toma seu


lugar. Agora eu tenho que realmente fazer o trabalho que
implorei.

Porra.
Bryce

NUNCA vi Rufio tão chateado antes, ou cheio de mais sede


de vingança. Não podia deixá-lo ir atrás daquela garota
Norm. Não porque me preocupo com o destino dela, mas
porque prometi à minha mãe que manteria Rufio longe de
problemas. E matar uma Norm agora só chamaria a atenção
dos Cavaleiros, Idols que viraram as costas para proteger os
fracos.

Eu usei meu presente nele, o que ele não vai me deixar


esquecer tão cedo. Como uma oferta de paz, eu o trouxe para
Unearthly Desires, o único lugar na Saturn’s Bay onde Idols,
Fringes e Norms se misturam sem estar na garganta um do
outro. Bem, Idols e Fringes se misturam; os Norms
atuam. Eles podem ser fracos e patéticos, mas as garotas Norm
podem dançar e se despir como se fosse seu propósito divino
na Terra.

Temos nossa mesa de sempre, bem em frente ao palco


principal. No momento, Satine está girando no pole. Ela é uma
Fringe, baixa no nível de poder, quase uma Norm
realmente. Mas ela é a melhor dançarina da casa, entre outras
coisas. Rufio sempre recebe dela uma dança de colo privada,
mas hoje à noite ele nem está olhando na direção dela.
“Você ainda está pensando sobre aquela garota Norm,
cara?” Pergunta Phoenix.

Rufio resmunga e depois se levanta. “Eu preciso de outra


bebida.”

Tropeçando para a frente, ele cambaleia para o bar. No


meio do caminho, ele encontra uma garota nova. Eu a examino
rapidamente, sem encontrar nenhum traço de poder. Ela é
uma Norm. Estou prestes a voltar minha atenção para o palco
quando sou atingido pelo reconhecimento.

Sento-me ereto na minha cadeira e olho de perto. De jeito


nenhum. É aquela maldita garçonete. Ela trabalha aqui
agora? Ela está usando uma peruca loira, mas é ela. Eu me
preparo para Rufio descobrir e atacar a garota, mas, em vez
disso, ele passa os braços em volta da cintura dela e fareja o
pescoço dela.

“Puta merda. Não acredito.” O olhar de Morpheus também


é treinado na cena. Sendo extremamente sensível às auras,
tudo o que precisava era de um rápido vislumbre para
identificar a garçonete.

“O que?” Phoenix segue nossa linha de visão. “Oh, garota


nova. Ela é gostosa.”

“É a garçonete do Poppy’s Joint, seu idiota. Quem jogou


torta no rosto de Rufio.” responde Morpheus.

“Bem, na verdade, não era ela.” Phoenix encolhe os


ombros.
Eu esfrego meu rosto. “Eu não acredito nisso. Você foi
responsável por isso?” Eu pergunto, irritado comigo mesmo por
não ter descoberto isso antes. Mas, para ser justo, eu estava
mais preocupado com o desperdício de uma torta
perfeitamente boa.

Daisy estava certa, a torta estava deliciosa. Daisy. Eu nem


deveria estar pensando nela com base no primeiro nome. As
Norms geralmente não têm classificação alta o suficiente na
escala de importância para serem nomes justificados. Eles são
apenas Norms.

“O que Rufio está fazendo?” Pergunta Phoenix.

Meu irmão está atualmente tentando apalpar a garota, e


ela claramente não gosta disso. Ok, agora as coisas estão
ficando interessantes, estou curioso para ver o que ela fará em
seguida. Ela deve conhecer as regras da casa: os clientes
podem fazer o que quiserem com o pessoal.

“Ele não sabe quem ela é?” Morpheus pergunta, seu tom
quase descrente.

“Rufio está bêbado. Não acho que ele tenha se reconhecido


no espelho.” digo.

“Temos que detê-lo. Ele ficará furioso quando ficar


sóbrio.” Morpheus começa a deixar sua cadeira, mas eu o paro.

“Não. Eu quero ver no que vai dar.”

“Em derramamento de sangue. É assim que as coisas vão


acabar.” responde Phoenix.
Prometi a minha mãe que manteria Rufio longe de
problemas, mas meu interesse foi despertado. Poderia haver
uma Norm que possua uma espinha dorsal? Seria Daisy?

Eu tenho que descobrir.

***

Daisy

Eles me fizeram tomar banho, pelo que fiquei feliz, eu


precisava me esfregar muito. Claro, não posso cheirar a
gordura e suor. Não sei por que fiquei pensando que a pior
parte do trabalho era me despir num palco. Humilhante, com
certeza, mas não tão repugnante quanto desfilar em poucas
roupas, enquanto serve bebidas a homens espreitadores com
mãos sujas.

Por alguma razão, pensei que usando uma peruca loira,


eu poderia fingir que era atriz em uma peça. Se não fosse eu,
apenas um personagem, seria mais suportável. Pensamento
positivo. Eu sirvo por menos de dez minutos e minha bunda já
foi tocada e beliscada quinze vezes. A única determinação de
ver esta noite passar é manter as lágrimas sob controle.

Estou voltando para o bar quando uma sombra aparece


no meu caminho e me envolve em um abraço. Eu fico tensa no
local. Meus instintos estão me dizendo para bater no peito do
cara e me libertar do contato indesejado, mas não posso fazer
isso. O Sr. X foi muito claro sobre as regras da casa. Seus
clientes são reis, e eu estou aqui para o entretenimento deles.

Respiro fundo enquanto cerro os dentes com tanta força


que meus molares doem. Os dedos do homem se enrolam em
volta do tecido da minha blusa enquanto ele leva o nariz ao
meu pescoço. Arrepios surgem no meu braço. O cheiro de sua
colônia cítrica enche meu nariz e faz minha cabeça girar. É
inebriante, e combinado com o que ele está fazendo, está
criando todos os tipos de sensações contraditórias no meu
corpo. Estou apavorada, com nojo e também excitada.

Pelo amor de Deus. O que diabos está errado comigo?

Finalmente, ele dá um passo para trás e olha nos meus


olhos. Eu respiro fundo. É o Idol do Poppy’s Joint. Aquele que
queria me matar.

Meu coração dispara em uma corrida louca, enquanto


meu corpo congela completamente.

“Olá. Não acredito que já tenha visto você antes.” Ele sorri
preguiçosamente, com os olhos macios e encapuzados. Merda,
acho que ele não sabe quem eu sou.

“C-Comecei hoje.” eu resmungo.

Ele ri. “Você está tremendo. Eu te deixo nervosa?”

O que dizer? Não quero que ele saiba que estou prestes a
mijar nas calças. “Não, é o ar condicionado. Estou com frio.”
“Eu sei algumas maneiras pelas quais posso aquecê-
la.” Sem soltar minha cintura, ele coloca o nariz no meu
pescoço novamente, mas em vez de apenas respirar, ele passa
a língua quente sobre a pele sensível. Sem nenhum
autocontrole, meus olhos se fecham e solto um gemido suave.

Um pigarro atrás de mim rompe a neblina luxuriante que


de repente tomou conta de mim. O calor da carícia de Rufio
desaparece rapidamente, e eu volto a sentir cem por cento de
medo.

Ele relaxa e espia por cima do meu ombro. “O que?”

“Patricia está no palco.” diz Sr. X. Eu reconheceria sua voz


de barítono em qualquer lugar.

Antes de começar meu turno, ele me deu um nome


artístico, uma precaução de segurança que toma com todos os
seus funcionários. Minha nova persona é Patricia.

A carranca furiosa desaparece do rosto de Rufio quando


ele se afasta e me recompensa com um sorriso torto. Meu
coração dá um pulo, e não tenho muita certeza se foi o medo
ou alguma outra coisa que o causou.

“Ótimo. Estou ansioso para isso.” Rufio sorri.

O Sr. X coloca a mão na minha região lombar e me vira


para a área dos bastidores. Uma vez que estamos fora de vista,
ele se vira para mim. “O que aconteceu?”

“Eu não sei. Ele apareceu do nada e me abraçou.”

Ele se inclina para mais perto. “E ele não te reconheceu?”


“Acho que não.”

O Sr. X dá um passo para trás e esfrega o rosto. “Ele bebeu


desde que chegou aqui.” Ele zomba. “Bem, não é como se eu
não tivesse avisado você sobre minha clientela.”

“Você não me disse que aqueles garotos eram seus


clientes.” digo um pouco mais alto do que pretendia, ganhando
alguns olhares curiosos dos outros strippers. Eu acho que
meus nervos estão me superando.

“Eu te avisei, Daisy. Esta é sua única chance, então é


melhor você se recompor e subir nesse palco.”

Meu coração está batendo tão rápido que tenho medo de


saltar para minha garganta. O Sr. X está certo. Ele me avisou
e eu disse que era uma garota durona. Que diferença faz se
Rufio estiver na plateia? Ele não sabe quem eu sou.

“Estou pronta.”

Meu estômago embrulhado diz o contrário, mas tanto


faz. Finja até conseguir, certo?

Olho brevemente para Satine, a dançarina experiente que


sugeriu a peruca loira. Ela é linda com sua pele impecável de
azeitona e cabelos escuros e deliciosos. Não é à toa que ela é a
favorita aqui, um fato que o Sr. X foi rápido em apontar. Eu
acho que ele está dormindo com ela.

Ela sorri para mim e diz: “Lembre-se, querida. Mantenha


seu olhar no holofote e finja que não há ninguém lá fora.”

Engulo o enorme nó na garganta e aceno.


A voz suave do Sr. X explode através dos alto-falantes. Eu
tomo meu lugar bem na beira do palco e espero que ele anuncie
meu nome. Os tremores retornaram e minhas pernas parecem
gelatina.

Droga. Eu vou poder dançar assim? Ou tirar minha roupa,


nesse caso?

Ugh. Saia dessa, Daisy. Você consegue.

Eu ouço o nome Patricia sendo chamado. Essa é a minha


deixa. Com uma respiração profunda e trêmula, entro no
centro das atenções e tento me lembrar por que estou fazendo
isso.
Morpheus

Rufio está de volta, estacionado o mais perto possível do


palco, com uma nova bebida na mão. O idiota ainda não tem
ideia de que ele estava tateando a Norm que prometeu matar
algumas horas atrás. Bryce tem a ideia demente de ver como
as coisas vão. Eu sei exatamente como. Rufio se lembrará de
manhã e ficará de mau humor pelo resto do mês. Eu não o
deixaria voltar aqui e arrasar o lugar para o chão.

Ainda mantenho minha impressão anterior da garçonete


Norm. Ela é uma má notícia. Ainda não sei como. Eu sou um
Idol de nível quinze, e meus poderes são bem fodas. Sou um
maníaco pelo medo. Mas meu segundo presente, a capacidade
de ver vislumbres do futuro, é algo que ainda não consigo
controlar. Vem e vai à vontade, o que me irrita.

A Norm entra em cena, nervosa como a merda, mas


tentando mascará-la, colocando um rosto corajoso. Eles a
anunciaram como Patricia, um nome artístico, suponho. O
nome verdadeiro dela é Daisy. Eu me lembro disso. Não
combina com ela; é muito macio, muito manso. Ela é feroz para
uma Norm. Destemida.

A música começa e Daisy balança ao ritmo,


desajeitadamente a princípio. Ela não consegue encontrar o
ritmo e as pernas estão rígidas. Se ela seguir essa rotina
grotesca, será vaiada do palco. Olho para Rufio. Ele está
assistindo a garota, completamente encantado, como se ela
fosse a coisa mais preciosa do mundo. Que idiota.

“É doloroso de assistir.” diz Phoenix alto o suficiente para


que a garota possa ouvi-lo por cima da música.

Eu a vejo estremecer, mas então algo muda em seu


comportamento. É quase como uma chama acesa dentro de
seu núcleo. Seus quadris começam a balançar como deveriam,
em sincronia com a música. Ela pega o mastro e o torna
seu. Sua peruca loira cai em cascata pelas costas. Parece
ridículo para ela, não natural. Eu quero pular no palco e tirá-
la. O desejo de ver seu cabelo de verdade, de passar meus
dedos por ele, é estranho. Meu pau se contrai dentro da minha
calça, uma reação que não estava esperando.

Porra.

Quando Daisy abre a blusa no meio com um puxão, um


rosnado involuntário sai do fundo da minha garganta. Ela está
usando um sutiã vermelho de renda que faz pouco para
esconder seus seios lindos. Minha boca começa a salivar e
estou duro como pedra agora.

Merda. Quando foi a última vez que uma garota Norm me


excitou?

“Ok, eu retiro minha declaração anterior. Isso não é


doloroso de assistir.” Phoenix diz com uma voz cheia de
luxúria. “Ou talvez seja.” Ele pega o celular e aponta a câmera
para ela.
Rufio tira os olhos do palco por um momento para nos
encarar. “Não tenha ideias sofisticadas. Estou recebendo um
lap dance dela primeiro.”

“Quem disse?” Phoenix responde, mas todos sabemos que


Rufio sempre consegue o que quer. Não é porque ele é mais
forte que nós, o que ele não é. Mas ele é definitivamente o mais
louco.

Daisy tira a saia em seguida, e Phoenix geme alto antes de


morder o punho fechado. “Quem diria que debaixo daquela
garçon...”

Bryce dá um soco no braço de Phoenix com força.

“Ai!” Ele massageia o local, encarando Bryce, antes que


suas sobrancelhas se levantem. “Oh, certo. Opa.”

Rufio perdeu a troca entre seu irmão e Phoenix. É como


se ele estivesse em transe ou algo assim. Quando Daisy chega
atrás das costas, Rufio senta-se reto na cadeira, inclinando-se
para a frente. Não vou negar que estou tão ansioso para ver o
que está por baixo da lingerie quanto ele.

E então as luzes se apagam.

***

Daisy
Rufio não só está na plateia, mas seus amigos
também. Tentei seguir o conselho de Satine e manter o olhar
na luz, mas ainda podia sentir todos os olhares famintos em
mim. Então um deles teve que ir e criticar minha
performance. Sim, eu estava sem ritmo no começo. Mas, em
vez de me fazer perder a coragem completamente, suas
palavras duras serviram para me dar a motivação que eu
precisava.

Estou determinada a dar a esses garotos cruéis o melhor


desempenho que eles já viram. Deixe-os cobiçar a garota
Norm. Deveria ser uma punição suficiente, já que detestam
tanto a minha espécie.

Quanto mais eu danço, mais fácil fica, até que estou de


calcinha e sutiã. Então eu perco a coragem. Despir-me na
frente deles parece uma violação. Os Idols já me tiraram
muito; eu realmente vou deixar que eles levem minha
dignidade também?

Eu cometo o erro de novato de olhar na direção deles. Não


consigo distinguir os rostos dos que estão sentados um pouco
mais atrás, mas Rufio está praticamente no palco, me
encarando como se quisesse me devorar inteira. Um arrepio
percorre minha espinha, uma combinação de apreensão e
emoção. Completamente sem saber por que meu corpo está
reagindo dessa maneira quando odeio o tipo dele, mudo minha
atenção para Bryce, que está sentado ao lado de Rufio. Ele
também está me olhando intensamente, mas sua expressão é
protegida. Ele não revela nada.

Eu só tenho alguns minutos no palco. Se eu não tirar o


resto das minhas roupas, tenho certeza de que vou ser vaiada,
se tiver sorte. Então pego o fecho do meu sutiã. Eu nunca tirei
um sutiã assim, usando apenas uma mão. Satine me mostrou
o truque, mas ainda assim, espero não estragar tudo.

Mal toquei o fecho quando, de repente, as luzes de


Unearthly Desires se apagam e a música para. Falta de
energia? Se fosse um estabelecimento Norm, eu não ficaria
alarmada. Mas coisas assim não acontecem em lugares como
este.

Uma mão carnuda envolve meu antebraço e me puxa para


os bastidores.

“Ei, me solte!”

“Relaxe, Daisy. Sou eu.” diz o Sr. X.

Paro de lutar, mas estou longe de relaxar. Assim que


estamos longe do palco, as luzes se acendem e o Sr. X solta
meu braço.

“O que aconteceu?” Satine pergunta, de olhos


arregalados.

“Um fusível disparou.” responde o Sr. X.

Eu me abraço, tentando cobrir meu corpo quase


nu. Minhas roupas ainda estão no palco.

“Aqui, querida.” Satine me oferece uma túnica, mas ele


afasta a mão dela.
“Não há necessidade de encobrir. Alguém reservou um lap
dance de Patricia.” O Sr. X olha para mim, todo convencido. Eu
gostava mais dele como Poppy.

“Quem?” Eu pergunto, temendo que Rufio tenha.

“Não quem você pensa. Vamos.”

Ele caminha até a parte de trás do clube, obviamente


esperando que eu o siga. Satine me lança um olhar cheio de
pena. Eu meio que queria que ela não fosse tão legal. Eu
poderia fazer com alguma maldade. Parece que eu funciono
melhor quando estou lidando com idiotas.

No final do corredor mal iluminado, o Sr. X está me


esperando na frente de uma porta fechada. “Eu confio que você
sabe o que fazer.” diz ele.

Na verdade, não, mas não digo isso.

“Certo. Finja que quem está por trás dessa porta é o rei do
mundo.”

“Detecto sarcasmo. Sua personalidade desbocada


funciona bem para você no Poppy’s Joint, mas aqui, ela vai te
matar e a mim em um monte de problemas. Portanto, a
mantenha no zero.”

“Devidamente anotado, chefe.” Eu zombei ao


cumprimentá-lo, mas rapidamente minha diversão
diminui. Não faço ideia do que me espera atrás desta
porta. Para me distrair da minha ansiedade, pergunto: “Um
fusível realmente queimou?”
O Sr. X estreita o olhar. “Claro que não. Chega de
procrastinação. Entre e tente não morrer.”

Ele empurra a porta e me empurra. Quase tropeço nos


meus saltos plataforma. A sala está escura, iluminada apenas
por luz vermelha. Está vazia, além de uma espreguiçadeira de
couro de aparência cara. Tem ângulos peculiares, quase como
se tivesse sido feito apenas para uma coisa: sexo.

Porra. Isto não é uma lap dance, e o Sr. X não tem um


clube de strip. Unearthly Desires é um bordel de alta classe.

Como eu pude ser tão estúpida?

A porta do outro lado da sala se abre e entra uma mulher


com cabelo loiro curto, vestindo um escuro terno cortado. Ela
é uma Idol, uma poderosa.

Ok, eu não esperava que meu primeiro cliente fosse uma


mulher. Não tenho certeza se isso é melhor ou pior.

Ela está de pé atrás da poltrona de sexo, com as mãos


escondidas atrás das costas. Não diz uma palavra enquanto
me olha de uma maneira minuciosa. Finalmente, depois de
alguns minutos no silêncio sufocante, abro a boca.

“Então, o que você quer que eu faça?”

“Não é o que você pensa. Devo dizer que a imaginei de


maneira bem diferente, Daisy Rodale.”

Meu estômago aperta. Como ela sabia meu sobrenome


real? Uso Woods desde que deixei a Hawk City.
Eu dou um passo para trás. “Quem é você?”

“Não se preocupe, Daisy. Eu não vou te machucar.”

“Responda minha pergunta, então.”

“Meu nome é Jodie Fallon. Sou amiga do Sr. X.”

“O que você quer de mim?” Cruzo os braços, lembrei que


estou quase nua na frente dessa estranha.

“Eu quero ajudar você.”

Eu bufo. “Desde quando os Idols ajudam os Norms?”

“Sr. X é um Idol, não é? E ele está ajudando você desde


que chegou em Saturn’s Bay.”

Ela me pegou, mas não vou desistir tão facilmente. “Poppy


me ajudou, não o Sr. X.”

A mulher balança a cabeça e ri baixinho. “Potato,


potahto3.”

“Você disse que queria me ajudar. Como?” Eu levanto


uma sobrancelha. Ainda não estou comprando toda essa farsa
de Bom Samaritano. Tudo na vida tem um preço, e se é um
Idol oferecendo o favor, você pode apostar que tem um preço
alto.

“Quero lhe dar a chance que é negada a tantas Norms. O


Sr. X me disse que você é uma garota inteligente,

3 Quer dizer que é a mesma coisa de ângulos diferentes.


Daisy. Verdadeiramente talentosa. Estou oferecendo uma
carona grátis na melhor instituição educacional do país. Minha
instituição.”

“O que?” Eu pergunto estupidamente.

“Você gostaria de frequentar a Gifted Academy?”


Daisy

PISCO várias vezes sem dizer uma palavra. Meus ouvidos


devem ter me enganado, ou talvez eu esteja tendo algum tipo
de alucinação psicótica.

“Você está sem palavras.” diz a Idol.

“Isso é algum tipo de piada doentia?” Eu pergunto.

“Não é brincadeira.”

“Qual é o problema, então?” A suspeita invadiu meu


coração e passou a residir permanentemente lá.

“Nenhum.”

“Besteira. Nunca conheci um Idol que se preocupasse com


os Norms.”

“Entendo que sua experiência com a minha espécie não


foi positiva, mas nem todos os Idols estão corrompidos,
Daisy. Muitos de nós querem viver em um mundo onde há
harmonia entre Norms, Fringes e Idols.”

Balanço a cabeça. “O que acha que eu sou? Não existe um


Idol com consciência.”
“Realmente?” A mulher levanta uma sobrancelha. “Então,
você nunca ouviu falar dos Cavaleiros?”

“Claro que ouvi falar deles. Assim como eu ouvi falar do


Papai Noel. Isso não torna nenhum deles real.”

“Você com certeza tem uma boca grande, mas você tem a
espinha dorsal para apoiá-la?”

Eu massageio minhas têmporas, sentindo os sinais


reveladores de uma dor de cabeça. “Ouça, senhora. Eu tive um
longo dia. Se você não está interessada em uma lap dance, eu
só vou pegar minhas gorjetas e voltar para casa.”

“Que casa? A notícia na rua é que você estava prestes a


deixar a cidade, algo sobre alguns garotos Idols assustando
você.”

“Mais uma razão para sair de Saturn’s Bay.”

“E a pobre e inocente Rosie? Deseja realmente arriscar


levar uma criança tão doce para o outro lado da fronteira? O
que você acha que os senhores das gangues farão com você e
sua preciosa irmã?”

“Eu vou proteger Rosie. Venho fazendo isso nos últimos


sete anos.”

“Mas não sozinha, querida. Nunca lhe ocorreu questionar


a ajuda que recebeu ao longo do caminho de meros estranhos,
até Fringes?”

Abro a boca para responder, mas não tenho resposta para


isso.
“Nenhuma observação espertinha?” Seus lábios se torcem
em um sorriso. “Você não tem ideia de quantas vidas seu pai
tocou. Ele deu esperança às pessoas, Daisy.”

“E isso o matou.” eu digo, tentando parecer forte, mas


falhando miseravelmente.

“Sim. E se você recusar minha ajuda e seguir para o sul,


estará dando as costas ao legado dele. Todo o seu bom trabalho
será por nada.”

Eu tenho que admitir a essa senhora; ela é uma mestra


em manipulação. Suas palavras são como pequenas adagas
perfurando meu peito.

“O que acontecerá com Rosie se eu aceitar sua oferta? Ela


poderia morar no campus comigo?” Eu pergunto.

“Não. Infelizmente, essas regras não posso quebrar,


mesmo para você. Mas você receberá um subsídio, mais do que
no Poppy’s Joint. Rosie pode continuar morando no mesmo
quarto que vocês estavam dividindo.”

Mordo o lábio inferior. Não posso negar que o que essa


mulher está oferecendo é uma oportunidade pela qual muitos
matariam. A Gifted Academy é uma das melhores escolas do
país. Talvez eu pudesse até ir para a faculdade se mantiver
minhas notas e conseguir uma bolsa de estudos. Mas parece
bom demais para ser verdade.

“Quantos Norms frequentam a Gifted Academy?”

“Um no momento.”
“Um?” Eu levanto minha voz. “Por que isso?”

Ela se inclina para frente, segurando as costas da cadeira


sexual com mais força. “Os filhos de Idols poderosos
frequentam minha escola, e a maioria dos Norms não pode
pagar as mensalidades. O conselho é extremamente rigoroso
quando se trata de bolsas de estudo, e elas geralmente são
concedidas a Fringes. Eu tive que lutar para conseguir essa
chance. Não deixe que seja em vão.”

Eu já fiz uma lista dos prós e contras de aceitar a oferta


dela. Sinceramente, o único golpe que vejo agora é a
improbabilidade de sobreviver ao semestre.

“A maioria dos Idols odeia a minha espécie. O incidente


com aqueles garotos na lanchonete é prova disso.”

“Você estará mais segura na academia do que fora. Eu


posso controlar meus alunos enquanto eles estão nas
dependências da escola.” Ela faz uma pausa e inclina a cabeça
para o lado. “Então, o que vai ser, Daisy? Posso esperar vê-la
no meu escritório na Segunda de manhã?”

Presa entre a rocha proverbial e o lugar duro. Estou sem


dinheiro, em breve ficarei sem casa e tenho uma irmã mais
nova para pensar. No final do dia, a única opção que realmente
tenho é como vou cair, enfrentar ou correr. Eu escolho
enfrentar. Não vou colocar em risco a vida da minha irmã só
porque alguns idiotas Idols têm ressentimento contra mim.

“Sim. Eu estarei lá.”


***

QUANDO EU VOLTO para a área dos bastidores para pegar


minhas coisas — também conhecido como uniforme do Poppy’s
Joint — o Sr. X está me esperando ao lado deles. Parece que
todas as meninas foram para casa, então somos apenas eu e o
chefe. Ainda estou apenas usando meu sutiã e calcinha, mas
seu olhar não sai do meu rosto.

“Você marcou essa reunião?” Eu cruzo meus braços.

“Sim.”

“Quando você ligou para aquela mulher?”

“Assim que eu concordei em deixar você trabalhar aqui.”

“E você também criou esse pequeno apagão quando eu


estava prestes a me despir?”

“Sim.” Ele concorda.

“Por quê?” Puxo a cadeira em frente ao espelho iluminado,


sentindo-me cansada de repente. Meu reflexo confirma isso.

“Porque você é uma boa garota e merece mais do que servir


comida gordurosa e lavar o chão sujo. Você definitivamente
merece mais do que se degradar por um monte de Idols
odiosos.”

“Você não se importa que Satine faça isso.”


O Sr. X parece surpreso. “O que ela tem a ver com alguma
coisa?”

Eu reviro meus olhos. “Por favor. Eu sei que você está


dormindo com ela.”

“Como?” Ele balança a cabeça. “Deixa pra lá. Veja, é disso


que estou falando. Você é esperta. Perceptiva. Quero que você
tenha um futuro melhor que as Satines e Felicitys do mundo.”

Descansando os cotovelos nos joelhos, inclino os ombros


para frente. “Por que você está me ajudando? E por favor,
quero uma resposta honesta.”

Seu olhar escurece por um segundo antes de ele puxar


uma cadeira na frente da minha e se sentar. “Não posso lhe
dar todas as respostas, Daisy. Você só precisa descobrir por si
mesma.”

“Que tipo de resposta idiota é essa? Você está me


ajudando por um motivo, e eu quero saber o porquê.”

O Sr. X passa a mão pelos cabelos e desvia o olhar. “Você


me chamou de Idol antes. Pela primeira vez, você estava
errada.”

“Uh, o quê?”

Ele olha nos meus olhos. “Eu não sou um Idol, Daisy. Sou
um Fringe de nível seis.”

“Nem a pau. Eu posso sentir a diferença entre Idols e


Fringes. Você tem muito mais poder do que seis.”
“Uma ilusão. Eu sou um Morfo. Não só posso mudar
minha aparência, mas também posso projetar mais poder do
que o que tenho. É por isso que quero ajudá-la. Claro, eu sou
um Fringe. Mesmo que eu não pudesse fingir ser um Idol, a
vida seria mais fácil para mim do que para você. Ou seja, se eu
não crescesse ao sul da fronteira.”

Eu olho para ele, tentando cheirar a mentira, mas não vejo


sinal de que ele esteja sendo falso. “Eu não fazia ideia.”

“Você é a única pessoa que sabe além de Jodie. Então aí


está, Daisy. A razão pela qual estou tão interessado em ajudá-
la. Não há agenda secreta aqui, nem segundas intenções.”

Olho minhas mãos, me sentindo tola e pequena. E aqui eu


pensei que tinha tudo planejado graças ao diário do meu
pai. Ele contém muitas informações sobre Idols, Fringes e até
os misteriosos Cavaleiros. Mas parecia mais um livro escolar,
factual. Talvez o mundo não seja tão preto e branco como eu
pensava.

“Obrigada.” eu finalmente digo. “Por tudo o que você fez


por mim.”

O Sr. X sorri e todo o seu rosto se ilumina. “De nada.”

“Só mais uma pergunta. Qual é a sua verdadeira


forma? Poppy ou Sr. X?”

Ele bufa. “O que você acha, garota?” Ele passa a mão


sobre a barriga lisa e estufa o peito.
“Claro.” Pego minha camiseta, lembrando que ainda estou
seminua.

“Mais uma coisa antes de você ir para casa. Faça o que


fizer, nunca deixe ninguém saber quem era seu pai. Estou
falando sério, Daisy.”

Coloco a camiseta e pergunto: “Você sempre soube da


minha verdadeira identidade?”

“Sim.” O Sr. X enrola a mão esquerda em um punho e


repousa sobre a penteadeira ao lado dele.

“Como?” Presto muita atenção a ele. Ele compartilhou seu


segredo comigo, mas ainda está escondendo coisas. Eu posso
sentir isso.

Ele não responde por vários segundos, depois suspira alto.


“Seu pai era um velho amigo, e é tudo o que vou dizer sobre o
assunto.”

“Isso não é justo.”

Ele ri sem humor. “Desde quando a vida é justa?”

Fazendo beicinho, cruzo os braços. “Sua amiga Jodie


também conhece meu pai. Ela era uma das amigas dele?”

“Eu não sei, Daisy. Verdadeiramente. Mas ela já é uma


pessoa à mais que sabe sobre o seu segredo. Você tem que ter
cuidado.”

Uma lasca de apreensão se aloja no meu coração. Como a


diretora da Gifted Academy sabia que meu pai era Paul Rodale?
“Não se preocupe, Sr. X. Eu sei por que meu pai
morreu. Não vou cometer o mesmo erro que ele cometeu.”
Rufio

UMA luz ofuscante penetra minhas pálpebras fechadas e,


com ela, a dor de cabeça mais insuportável. Com um gemido,
arrasto o travesseiro sobre a cabeça e me enterro mais embaixo
das cobertas.

Porra. Quanto eu bebi ontem à noite?

O som estridente do alarme de Phoenix atravessa meus


tímpanos, apesar de o quarto dele estar do outro lado do
apartamento que eu compartilho com ele, meu irmão e
Morpheus.

“Maldição, Phoenix! Desligue esta coisa!” Morpheus grita


do seu quarto.

Minha porta se abre e alguém entra. É isso. Sento-me com


um movimento brusco e me preparo para matar quem foi burro
o suficiente para entrar no meu quarto.

“Bom dia, raio de sol.” Bryce senta-se vagarosamente na


minha mesa e dá uma mordida na maçã.

“Saia!” Eu grito, imediatamente me arrependendo. A dor


incandescente brota na minha testa. Eu mergulho meu queixo
e pressiono o calcanhar da minha mão na minha têmpora.
“Caralhooooo.”

“Sentindo um pouco de ressaca aí, irmãozinho?”

“Foda-se.”

“Não, eu vou passar. Não acredito que você ainda está se


sentindo mal. Você dormiu até domingo. Eu tive que vir ver
você várias vezes para ter certeza de que você ainda estava
respirando.” Há humor na voz do meu irmão. Idiota.

“Sinto como se tivesse sido atropelado por um veículo de


dezoito rodas.” resmungo.

“Você parece com isso.”

Eu o ignoro.

“Então, o que você lembra do sábado à noite?”

“Lembro-me de querer matar a cadela Norm que jogou


torta na minha cara e você não me deixou.” Eu levanto meu
queixo para encará-lo.

Ele encolhe os ombros. “Isso não teria sido tão divertido


quanto você pensou. Além disso, ela não fez isso. Você pode
agradecer a Phoenix e sua telecinesia por isso.”

“Aquele filho da puta.”

Eu deveria saber, mas estava morrendo de vontade de


colocar a garçonete no lugar dela, e Phoenix apenas me deu a
desculpa de que precisava — não que realmente precisasse
de uma.

“Sim, de qualquer maneira, então é isso? Você não se


lembra de nós irmos para Unearthly Desires?

Memórias confusas sobre o lugar começam a aparecer em


minha mente. “Lembro-me de beber a ponto de me intoxicar
com álcool, então obrigado por me deixar fazer isso.”

“Pare de ser uma putinha. Como se você morresse de


envenenamento por álcool.”

Ele tem razão. Eu não faria. Estou muito alto na escala de


poder dos Idols para isso. Mas estou chateado e com vontade
de lamentar.

“Eu pelo menos fiz uma lap dance com Satine?” Aqui estou
eu esperando um resultado positivo. Essa Fringe com certeza
sabe como mover seus quadris.

“Não.” Bryce dá outra mordida na maçã e olha pela janela.

“Ótimo pra caralho. Por que você está me perguntando se


eu lembro de alguma coisa?” O observo atentamente. “O que
eu fiz?”

Bryce se vira para mim, seus olhos amplamente inocentes,


mas os cantos de seus lábios se contraem. “Eu poderia lhe
dizer, mas será mais divertido ver você recuperar suas
memórias lentamente.”

O filho da puta sorri para mim. Se eu não estivesse com


tanta ressaca, tiraria o sorriso do rosto presunçoso dele.
Meu estômago revira e a bile sobe na minha garganta. “Eu
acho que vou ficar doente.”

Jogo minhas pernas para o lado da cama e me levanto


rapidamente, lamentando minha decisão imediatamente. A
sala inteira começa a girar. Foda-se essa merda. Não existe
apenas álcool no meu sistema. Eu devo ter tomado outra coisa.

“Se você vai vomitar, é melhor fazê-lo rápido. Mamãe


gostaria de conversar com você antes de ir para a aula.”

“Eu ligo para ela mais tarde.”

Bryce pula da minha mesa e joga sua maçã meio comida


na minha lixeira.

“Droga, Bryce. Você sabe que é apenas para papel.”

Ele me olha fixamente. “Mamãe quer vê-lo pessoalmente,


então prepare-se rápido e não abra a boca. Eu realmente
gostaria de uma semana tranquila pela primeira vez.”

“Tranquila? Quem diabos é você? Um sábio de cem anos


da China? Além disso, foi você quem quis visitar Normville pela
torta, não eu.”

Só de pensar naquela porra de lanchonete e aquela


maldita garçonete faz meu sangue ferver. Tudo bem, ela não
jogou torta em mim de propósito, mas ela era desafiadora. Ela
não se encolheu como a maioria dos Norms, como deveria.

Quem ela pensa que é?


“Prepare-se.” Bryce aponta o dedo mandão para mim
quando sai.

Eu o descarto, mesmo que ele não possa ver o gesto.

O enjoo passou. Eu acho que a raiva é a cura para


tudo. Quando eu encontrar a garçonete Norm, ela aprenderá a
nunca mais cruzar com um Idol.

***

Daisy

Meu corpo está tremendo e meu estômago está atado


enquanto arrumo minha bolsa para a escola. Tudo aconteceu
tão rápido que eu ainda não tive a chance de me mudar para o
dormitório da academia. Ainda não acredito que vou para a
Gifted Academy. Tudo isso soa como um sonho. Ou talvez seja
uma armadilha.

Oh, Deus. E se for uma armadilha?

Agora estou suando.

“Você já empacotou e desempacotou a bolsa cinco vezes.”


diz Rosie de seu lugar na minha cama. Ela está abraçando os
joelhos com o braço engessado e me olhando com os olhos
arregalados.
“Eu não sei o que levar.” eu digo.

“Eu só levaria um caderno e uma caneta. Duvido que eles


usem os mesmos livros escolares da escola pública Norm.”
Noto a amargura em seu tom, e meu coração fica ainda mais
pesado.

“Talvez uma vez que eu me forme no próximo ano, você


possa obter uma bolsa de estudos. Mas você precisa manter
suas boas notas.”

Rosie balança a cabeça. “De jeito nenhum. Eu não quero


ir para aquela escola. Apenas Idols e Fringes vão para lá. Eu
ficaria assustada. Não acredito que você está indo
mesmo. Essas pessoas são monstros.”

Aperto minha mandíbula e conto até cinco na minha


cabeça. Até dois dias atrás, eu pensava o mesmo sobre os
Idols. Mas agora, sabendo o que sei, não posso honestamente
colocar todos os Idols e Fringes na categoria mais malvada de
todas. Não há preto e branco na vida, apenas diferentes tons
de cinza.

“Esta é a oportunidade de uma vida, Rosie. Não posso


deixar que o medo me afaste de um futuro melhor.”

“Uma vida que com certeza será cortada.” Ela bufa e


desvia o olhar. “Não haverá um futuro melhor se você morrer.”

Eu ando em volta da cama e sento ao lado dela. “Ei. Eu


vou ficar bem, Rosie. Nós vamos ficar bem, prometo.”
Seus brilhantes olhos azuis estão cheios de lágrimas não
derramadas. Ela joga o braço em volta do meu pescoço e me
segura firme, com o gesso pressionado contra o meu peito.
“Estou com tanto medo, Daisy. Eu não quero te perder. Você é
tudo que tenho neste mundo.”

“Você não vai me perder.” Tento manter minha voz forte,


mas engasgo no final.

“Você ainda vai continuar procurando pela Starlight


Island, certo?”

Eu tive que contar a Rosie sobre a ilha, apesar de não


acreditar que ela realmente existisse. Acreditando que havia
um lugar no mundo em que os Norms podiam realmente viver
sem medo era o que mantinha seus pesadelos afastados.

Saio do abraço e olho nos olhos dela. “Sim. Eu nunca vou


parar de procurar, Rosie.”

Não é mentira. Fiz uma promessa ao papai e pretendo


cumpri-la, apesar dos meus sentimentos sobre o assunto.

“De qualquer forma, paguei à Sra. Wilmot o aluguel devido


mais o aluguel pelas próximas três semanas.”

Agradecimentos ao adiantamento de ajuda financeira da


Diretora Fallon. Eu nem precisei perguntar. Depois que aceitei
sua oferta, ela apenas entregou um envelope cheio de dinheiro.

“E aqui está um dinheiro extra para compras e


emergências. Não gaste em lixo, Rosie. Minha bolsa não me
permite trabalhar, então não haverá mais até o final do mês.”
“Ok.” Rosie conta as notas com os olhos redondos. “Uau,
é mais dinheiro do que eu já vi.”

Seu comentário faz meu coração se contrair firmemente


no meu peito. Eu tentei o meu melhor para sustentá-la, mas
os primeiros anos de vida na estrada foram difíceis para
nós. Parentes nos ajudaram no começo, mas ficar com eles por
muito tempo foi arriscado. Eu sabia que os Idols que mataram
nossos pais estavam procurando por nós, então nos
mudávamos constantemente, às vezes ficando com amigos,
outras dormindo em pontes ou em prédios abandonados. Foi
só quando chegamos à Saturn’s Bay e eu consegui o emprego
no Poppy’s Joint que as coisas ficaram um pouco mais fáceis.

“Eu sei. Mas você tem que ser responsável, Rosie. Você
não é mais criança.” Eu dou um tapinha no ombro dela.

Ela levanta o queixo mais alto e estreita o olhar. “Eu não


sou criança desde que perdemos mamãe e papai.”

Um nó fica preso na minha garganta e meu coração se


divide no meio com um estalo alto. Rosie tem apenas catorze
anos de idade. Ela não deveria parecer uma velha amarga.

Uma batida na porta quebra a atmosfera tensa.

“Daisy, o motorista da escola está aqui para buscá-la.”

“Porcaria.” Encho apressadamente minha bolsa com


todas as coisas jogadas na cama. Rosie provavelmente está
certa. Não precisarei da maior parte do que estou carregando.
“Estou indo.”
Eu levanto a mochila, agora explodindo nas costuras, e
me viro para olhar meu reflexo no espelho. Ainda não tenho
meu uniforme, então estou usando a melhor roupa que
possuo, que é um par de jeans escuros e uma camisa branca
de botão que comprei em uma venda de garagem há duas
semanas. Tinha grandes manchas amarelas na frente, mas
fora isso, era quase nova em folha. Água sanitária cuidou das
manchas, mas nada pode ser feito sobre o estilo antiquado e
quadrado.

“Como estou?” Eu pergunto.

“Como um peixe completamente fora d’água.”

Dou a Rosie um olhar a caminho da porta. “Muito


obrigada, pirralha. Eu te ligo mais tarde, ok?”

“Se você não for morta no seu primeiro dia na escola.”

Fico com a língua para fora, mas é apenas para esconder


o medo crescente que está me deixando mal do estômago. Não
quero parecer pessimista, mas há uma grande chance de que
o que Rosie disse possa acontecer, apesar das garantias da
Diretora Fallon. Ouvi dizer que o terreno da escola é vasto e a
senhora não pode monitorar seus alunos 24-7. Eu gostaria de
não ter perdido a adaga especial de papai no dia em que ele
morreu. Me sentiria muito mais segura se tivesse uma arma
que pudesse matar Idols.

A Sra. Wilmot está do lado de fora do nosso quarto. Não


duvido que a mulher estava ouvindo minha conversa com
Rosie.
“O motorista está esperando.” diz ela, tentando parecer
inocente.

“Sim. Eu estarei lá em um segundo. Eu preciso pegar


minha jaqueta. Está secando nos fundos.”

“Para que você precisa de uma jaqueta nesse calor?”

Eu ignoro a mulher e continuo caminhando em direção à


porta da cozinha. Uma vez lá fora, espio por cima do ombro
para me certificar de que ela não está me espionando da
janela. Ela não está, então passo pela linha de roupas secando
ao sol e circulo o antigo galpão de armazenamento. Eu me
agacho e tiro a pedra que usei como marcador. Colocando as
mãos na terra quente, cavo até meus dedos roçarem no plástico
que envolvi em meu bem mais precioso: o diário do papai.

É um risco trazê-lo para um lugar onde eu estarei cercada


por Idols. Se alguém descobrir quem era meu pai e o que ele
descobriu sobre esses seres poderosos, certamente serei carne
morta. Mas não posso me separar. É a única coisa que me
resta dele, e talvez eu finalmente consiga entender sua
descoberta final. Aquela que o matou.
Rufio

PODERIA adivinhar por que mamãe querida quer falar


comigo com tanta urgência que mal podia esperar até que o dia
escolar terminasse. Tenho certeza que ela ouviu falar sobre a
nossa visita à Normville. O que não entendo é o motivo de eu
ser chamado para uma reunião e não Bryce. Afinal, foi sua
ideia brilhante.

Não me incomodo em bater na porta dela antes de entrar


em seu escritório. Ela está sentada atrás de sua mesa com o
olhar colado na tela do laptop.

“Você teve uma noite e tanto, não teve, Rufio?” ela diz sem
olhar na minha direção. O brilho da tela reflete em sua pele
pálida e sem rugas. Mamãe está batendo na agulha de Botox,
com certeza. Os Idols, por mais poderosos que sejam, não
podem evitar envelhecer.

“Eh, nada fora do comum.” Eu me sento no assento e o


inclino para trás, cruzando as pernas nos tornozelos em cima
da mesa da mamãe.

Com um movimento de pulso, ela empurra minhas pernas


de volta no chão e a cadeira cai para frente com um baque
alto. Maldita telecinesia. Ela gira no assento e descansa os
cotovelos na mesa. As sobrancelhas dela estão franzidas, e os
músculos ao redor da boca estão tensos como o inferno.

“Por mais que eu gostaria de lhe dar uma bronca pela


comoção que você causou no estabelecimento Norm, eu não te
chamei aqui por isso.”

“A comoção que eu causei?” Coloco a mão no peito, não


fingindo minha indignação.

“Temos um problema sério. Há uma nova bolsista a partir


de hoje.”

Eu reviro meus olhos. “Oh, por favor. Outro daqueles


casos de caridade, Fringes? Como isso é um problema?”

De fato, uma nova Fringe de baixo nível significaria


semanas de entretenimento fácil. Depois de um tempo,
escolher aqueles pobres bastardos fica velho.

“Não é uma Fringe. Uma Norm.” Os lábios da minha mãe


viram um feio escárnio. Ela odeia Norms tanto quanto eu.

Agora ela tem minha atenção total. “De jeito


nenhum. Norms não são permitidos aqui.”

“Na verdade, não existe essa regra nas diretrizes da


escola. Naturalmente, os casos de bolsas de estudos são
decididos pelo conselho da escola. Desta vez, fui derrotada.”

“Eu pensei que a decisão tinha que ser unânime.”

Mamãe se recosta na cadeira e balança a cabeça. “Isso


foi. Fui forçada a votar a favor.”
Eu pulo da minha cadeira, sentindo a raiva se misturar
com meus poderes. Quero quebrar algo em pedaços. “Como
eles podem forçá-la a fazer alguma coisa?”

“Rufio, sente-se. Não perca a cabeça. Quando crescer,


você entenderá que às vezes precisa fazer coisas que não
quer. Chama-se ser adulto e viver no mundo real.”

Com um aperto firme na minha mandíbula, volto à minha


cadeira. “Acho que nunca vou conseguir fazer isso.”

“Você irá. Mas apenas porque as circunstâncias forçam


nossas mãos, isso não significa que devemos aceitá-las
humildemente. Existem alguns políticos em Hawk City que
aderiram à agenda dos Cavaleiros. Igualdade para todos,
proteja os fracos. É patético, e eu serei amaldiçoada se deixar
essa propaganda de merda enraizar-se em Saturn’s Bay.”

“O que você quer que eu faça?”

Mamãe sorri de maneira arrepiante. “Eu tive que votar a


favor dessa garota Norm, mas ninguém no conselho pode forçá-
la a ficar aqui contra sua vontade.”

A compreensão surge em mim e meus lábios se curvam


em um sorriso. “Então você está me designando como líder do
comitê de boas-vindas?”

Mamãe assente. “Precisamente.”

Eu me inclino para frente, deixando meu sorriso se


transformar em um sorriso cheio de dentes. “Não se preocupe,
mãe. Vou garantir que a estadia dela na Academia seja tão
agradável quanto andar no fogo do inferno.”

***

Daisy

É difícil impedir que meu queixo caia enquanto eu olho


para os corredores da Academia. Eu nunca vi um luxo tão
ostensivo a essa distância. Paredes cobertas de madeira escura
com painéis e pinturas a óleo emolduradas em invólucros
dourados me cercam. Meus tênis baratos com sola de borracha
rangem enquanto eu ando no chão coberto de mármore, um
lembrete alto de que não pertenço a este lugar.

Corte a porcaria, Daisy. Você é uma estudante da Gifted


Academy agora. Você pertence aqui.

Um dos seguranças do portão foi escolhido para me


escoltar. Talvez ele tenha pegado o canudo curto ou algo assim,
porque ele com certeza não parece feliz fazendo isso. Não disse
uma palavra, mas me olhou bastante. Olhou e zombou. Ah,
sim, ele é um Fringe, mas ele detesta os Norms tão ferozmente
quanto os Idols. Acho que tenho que dizer como a maioria
dos Idols agora. A Diretora Fallon não, a menos que ela seja
uma atriz incrível.

O guarda parte tão silenciosamente quanto ele


permaneceu o caminho todo até aqui quando chegamos ao
escritório da diretora. Uma mulher de cabelos prateados
sentada atrás de uma mesa organizada levanta o olhar do
trabalho para me encarar. Ela estreita os olhos como se não
pudesse me ver bem, apesar dos óculos no nariz. Finalmente,
como se uma lâmpada acendesse acima de sua cabeça, seus
olhos se arregalam e ela se levanta.

“Oh, você deve ser a nova aluna. A Diretora Fallon me


pediu para ajudá-la a se organizar até que ela volte.”

“Oh, ela não está ainda?” Pergunto, minha ansiedade


crescendo aos trancos e barrancos.

“Bem, ela estava, mas teve que sair por um


momento. Algum problema de instalação menor que exigia a
presença dela.”

Mordo o lábio inferior, desejando que a diretora estivesse


aqui.

A mulher mais velha anda em volta da mesa e estende a


mão para mim. “Sou Bethany Walkers, assistente da Diretora
Fallon. Bem-vinda à Gifted Academy, Srta. Woods.”

“Obrigada. Por favor, me chame de Daisy.”

Bethany me olha de cima a baixo e depois faz um som de


zombaria. “Você é um pouco maior na área do peito do que eu
pensava. Você pode precisar de uma camisa de tamanho
médio. Aqui, tente isso e vamos torcer para que se encaixe.” ela
me entrega um uniforme escolar cuidadosamente dobrado.
“Você pode mudar dentro do escritório da Diretora Fallon.”
“Ah, tudo bem. Obrigada.”

O escritório da diretora é menos grandioso do que eu


esperava, especialmente quando comparado ao edifício
principal, que se assemelha a um castelo de conto de fadas. Os
móveis são de madeira escura, acentuados por tons
terrosos. As paredes não têm painéis de madeira, mas há
algumas peças de arte penduradas nelas. Um em particular
chama minha atenção. É de um homem de aparência
imponente, vestindo um terno com o emblema da escola
bordado no bolso do paletó. Aproximo-me e leio o nome escrito
na placa dourada logo abaixo da pintura.

Diretor Benjamin Fallon.

Gostaria de saber se o Idol na foto é o pai de Jodie


Fallon. Não vejo semelhança, mas isso não significa nada.

Chega de enrolar, Daisy. É melhor mudar antes que o


proprietário do escritório retorne.

Tiro o jeans primeiro e visto a saia. Está um pouco solto


na cintura, mas nada que um alfinete de segurança não
resolva. Infelizmente, nunca aprendi a costurar. Estar em fuga
e tal não me deixou muito tempo para aprender coisas além da
sobrevivência.

Minha camiseta velha vai a seguir. Quando levanto o


novo, posso dizer imediatamente que será muito pequeno em
torno das minhas meninas. Eu deveria experimentá-la de
qualquer maneira. O tecido é fresco e liso, uma melhoria total
da camisa que comprei na venda de garagem.
De repente, a porta do escritório se abre. Eu grito, pulando
para trás e cobrindo minha frente com a camisa. Quando vejo
quem está parado na porta, parecendo presunçoso e mais lindo
do que me lembro, minha garganta se fecha completamente e
não consigo levar ar aos meus pulmões.

É o Idol loiro que entrou no Poppy’s Joint no sábado. O


que eles chamaram de Phoenix. Porra. Eu deveria saber que
aqueles meninos formais eram estudantes daqui.

No momento, ele está olhando para mim como se tivesse


acabado de ganhar o jackpot4.

4 Um jackpot é um prêmio acumulado em máquinas de cassinos ou em sorteios de loterias, onde o

valor do prémio aumenta sucessivamente com cada jogo efetuado e não contemplado com o prêmio
máximo.
Phoenix

“DIGA novamente porque você quer invadir o escritório da


Diretora Fallon?” Morpheus tenta suprimir um bocejo. “Você
pode facilmente invadir o sistema e obter informações sobre o
novo aluno.”

“Porque é mais divertido assim.” Eu rio.

“Quando você soube do novo aluno, afinal?”

“Um dos seguranças no portão me mandou uma


mensagem. A Diretora Fallon enviou seu próprio motorista
para pegar a garota. Ela deve ser uma dessas Fringes com falta
de dinheiro se não tem seu próprio carro.”

“Ótimo. Mais um desses. Cara, este lugar costumava ter


alguns padrões. Agora eles deixam qualquer ralé entrar.”

“A garota deve ser um gênio.”

“Ou bem conectado.” murmura Morpheus.

“Você quer dizer que ela deve estar chupando o pau de


algum Idol poderoso?” Eu ri.

“Muito bruto? Eita.”


Ouço o som da voz da Diretora Fallon no corredor. Nosso
desvio funcionou. Fizemos uma visita à academia primeiro, e
eu tive certeza de que todos os sanitários do banheiro dos
meninos começassem a derramar água sem parar. É um
truque simples que qualquer telecinético pode fazer à
distância. Eu, sendo um Idol de nível 15, posso mantê-lo em
segundo plano sem precisar me concentrar.

Estamos prestes a virar a esquina que leva ao escritório


da diretora. Encosto minhas costas contra a parede e espero
até o som dos calcanhares de Fallon clicando no chão de
mármore desaparecer. Levantando a cabeça devagar, verifico
se a barra está realmente limpa. Ninguém à vista. Perfeito.

Do lado de fora do escritório dela, eu me viro para


Morpheus. “Você sabe o que fazer, certo?”

“Sim, sim. Mantenha a velha garota


distraída. Moleza.” Morpheus passa a mão pelos cabelos
encaracolados e depois coloca um sorriso falso no rosto.

Abro a porta e dou o meu sorriso mais brilhante para o


benefício da Srta. Walkers. “Bom dia, amor. Como vai você
hoje?”

“Sr. Westbrook, o que você está fazendo aqui? Não é um


pouco cedo para você?” Ela estreita os olhos. Não a culpo por
suspeitar. Morpheus e eu não temos o melhor histórico de
comportamento.

A Srta. Walkers pode parecer uma velhinha inofensiva,


mas ela é uma Idol de nível dez, o que torna muito mais difícil
fazê-la se curvar à nossa vontade. Felizmente, a senhora tem
uma queda por Morpheus.

“Viemos ver a Diretora Fallon.” respondo.

“Ela não está no momento. Mas você sabe que não pode
simplesmente aparecer. Se precisar falar com ela, deve marcar
uma consulta.”

“Eu te disse, Phoenix.” Morpheus olha para mim com um


olhar conhecedor. Ele então muda sua atenção para Srta.
Walkers e encanta. “Você não tem ideia de como é difícil ser
amigo dele, Srta. Walkers.”

A carranca desaparece do rosto da assistente e seus olhos


suavizam. “Bem, pelo menos você está tentando mantê-lo longe
de problemas.”

Morpheus se aproxima de sua mesa e senta-se na beira.


“Seu cabelo está diferente hoje, Srta. Walkers. O que você fez?”

Um rubor se espalha pelas bochechas da mulher. Ela


passa a mão pelos cabelos grisalhos e depois olha para
Morpheus. “Bem, nada, realmente.”

Vamos, cara. Distraia a velhota já.

Não consigo me comunicar telepaticamente, o que é uma


pena. Mas Morpheus recebe a mensagem da mesma
forma. Com um gemido, ele pressiona o calcanhar da mão
contra a testa e torce o rosto em uma careta.

Srta. Walkers pula da cadeira em um instante.


“Morpheus, querido. Está tudo bem?”
“Não, acho que vou desmaiar.” ele resmunga, depois cai
no chão, inconsciente.

A mulher solta um grito e anda em volta da


mesa. Aproveito a oportunidade para entrar no escritório da
diretora, e eis que, tropeço na visão mais inesperada.

A garçonete do Poppy’s Joint está seminua no meio da


sala. Ela grita e tenta se cobrir com a blusa.

“Olá.” Dou-lhe um sorriso cheio de dentes antes de fechar


a porta.

“O que você está fazendo aqui?” ela pergunta, olhos


arregalados.

“Eu poderia perguntar a mesma coisa.” Dou um passo à


frente.

“Eu estudo aqui agora.”

“Realmente?” Eu levanto uma sobrancelha. “Então você é


o novo aluno?”

Ela levanta o queixo mais alto. Cara, essa garota


realmente não tem medo. Eu gosto disso. Vai ser muito mais
doce quando a quebrarmos.

“Sim.”

“Então, você decidiu trazer Unearthly Desires para a


nossa escola.” Eu continuo me aproximando, perseguindo
realmente, mas a garota se mantém firme. “Ótimo. Graças a
esse blecaute oportuno, não consegui ver o que paguei.”
“E você não vai. Agora dê o fora antes que eu grite.”

Minha diversão cresce. “Oh, eu adoraria ouvir você


gritar.” Com um movimento da minha mão, a camisa que ela
está segurando forte sai de suas mãos, revelando um sutiã de
algodão simples e o mais delicioso par de peitos que eu já
vi. Porra, já estou morrendo de vontade de tocá-los.

“Seu otário!” Ela faz o possível para cobrir os seios com os


braços. “Devolva minha camisa.”

“Por que você é tão modesta de repente? Você ia tirar tudo


isso para nós antes.” Dou de ombros.

A fúria brilha em seus olhos estreitados. “Bem. Você quer


vê-los?” Ela abaixa os braços e depois os leva atrás das costas.

Meu queixo cai. Eu não esperava que ela cedesse tão


facilmente. Estou um pouco decepcionado, para ser honesto,
mas meu pau não se importa. Já está ficando mais duro com
a antecipação. Minha atenção está completamente
concentrada em seu peito, então estou muito atrasado para
evitar o míssil que ela lança em minha direção. Algo afiado se
conecta à minha têmpora. Minha cabeça empurra para trás e
a dor explode na minha testa.

Apertando minha mandíbula, toco o ponto dolorido e


meus dedos descem manchados de sangue. Que porra é
essa. Como ela conseguiu me cortar? Ela é apenas uma
Norm. Minha visão fica tingida de vermelho quando a ira de mil
deuses passa por mim.

“Eu vou te matar.” eu digo firmemente.


Os olhos da garota se arregalam e ela finalmente parece
perceber que mexeu com o Idol errado.

Estou prestes a transformar seu pior pesadelo em


realidade quando o movimento nas minhas costas me faz
parar.

“Que diabos está acontecendo aqui?” A Diretora Fallon


pergunta.

Ah, porra. A diversão acabou. Por enquanto.


Daisy

“Estou esperando por uma explicação, Sr. Westbrook.” A


Diretora Fallon parece que está prestes a matar alguém.

Não acredito que o fiz sangrar assim. Os Idols não se


machucam facilmente, e eu definitivamente não sou forte o
suficiente para causar um arranhão. Que diabos eu joguei
nele? Era frio e pesado, com bordas afiadas.

Enquanto ela está olhando para o idiota, eu visto minha


camisa velha. Não faço ideia para onde foi o meu uniforme.

O Idol loiro se vira. “Eu estava apenas procurando por


você, Diretora Fallon, e essa lunática me atacou.” Ele aponta
para mim.

A diretora estreita o olhar dela. “Phoenix, quem você acha


que eu sou? Saia daqui antes que eu lhe prenda.”

Sério? Ela não vai lhe dar nenhum castigo? Que diabos!

“Bem.” Ele olha por cima do ombro. “Vejo você por


aí, Daisy.”

Não há como confundir a mensagem gritante em seus


olhos. Ele vai me fazer pagar por me defender.
Muito bem, Daisy. Agora você tem dois Idols se atirando na
sua garganta. Formidável.

Ele sai do escritório e fecha a porta com um estrondo. A


Diretora Fallon solta um suspiro alto e olha para mim.

“Lamento que você tenha que lidar com Phoenix. Ele é


uma praga, mas, infelizmente, é um dos nossos alunos mais
talentosos.”

“Ele invadiu seu escritório enquanto eu vestia meu


uniforme.” digo. Ser um dedo-duro é desaprovado em todos os
lugares, mesmo nas escolas Norm, mas duvido que tenha mais
problemas do que já estou com esses Idols.

“Suponho que ele mereceu esse golpe em sua cabeça.” A


Diretora Fallon procura em seu escritório até encontrar o que
estava procurando. Ela se agacha perto de um arquivo e
recupera o objeto misterioso que eu usei como arma.

“Finalmente, isso provou ter mais utilidade do que


simplesmente segurar o papel.”

Ela volta para sua mesa e coloca o objeto de pedra escura


de volta onde eu o encontrei. É uma mini pirâmide. Tem
muitas arestas afiadas, mas ainda não explica como consegui
perfurar a pele de Phoenix com ela.

“Termine de se vestir, Srta. Woods.” Com um movimento


do dedo indicador, ela faz a camisa do uniforme escolar voar
do chão para as minhas mãos.
Meu rosto fica mais quente e, embora eu esteja feliz por
não corar facilmente, o constrangimento chegou para
ficar. Coloquei a camisa mais rápido que um raio. Os botões
superiores pressionam meu peito, mas pelo menos meu sutiã
está coberto.

Então, a diretora tem poderes telecinéticos, assim como


Phoenix. A telecinesia é um poder comum entre os Idols, e até
alguns Fringes possuem o dom. Mas provavelmente não é a
única coisa que ela pode fazer. Ou tudo o que Phoenix pode
fazer, nesse caso. Eles estão muito altos na escala de poder dos
Idols para ter apenas a capacidade de mover objetos com suas
mentes.

O diário do papai tem uma lista detalhada de todos os


diferentes poderes que os Idols possuem desde a sua
criação. Obviamente, não há como saber com certeza se
existem certas habilidades que nunca foram catalogadas.

Enfio meus braços nas mangas da jaqueta e abotoo-a. A


Diretora Fallon contorna a mesa e aponta para a cadeira em
frente a ela.

“Srta. Woods, por favor, sente-se.”

Ela cai em sua cadeira de couro macio, seu olhar nunca


vacilando do meu rosto. Sentindo-me como um peixe fora
d’água, sento-me e aliso o tecido da minha saia.

“Como você está se sentindo?” ela pergunta, seu tom


calmo.

“Honestamente?”
Ela assente.

“Nervosa e louca.”

“Você não pode deixar os outros alunos verem isso. Não


vou adoçar isso para você. O que aconteceu aqui no meu
escritório foi apenas uma pequena demonstração do que
espera por você lá fora.”

“Você disse que eu estaria mais segura aqui do que nas


ruas.” digo, acusação amarrando minhas palavras. Isso foi
besteira para me fazer aceitar a oferta dela? Mas o que ela tem
a ganhar comigo vindo aqui?

“E eu não estava mentindo. Mas não consigo monitorar


meus alunos o tempo todo. Você tem que mostrar a eles que
pertence aqui. Não deixe que a intimidem.”

“E se eles usarem seus poderes contra mim?” Eu arrasto


meus pés para trás, pronta para sair da cadeira.

“Certifique-se de que não o façam.” ela responde,


mantendo seu olhar duro treinado no meu rosto.

Ótimo. Aqui eu pensei que ter a diretora no meu lado iria


contar para alguma coisa. Ela está praticamente me jogando
para os lobos e me fazendo cuidar de mim mesma.

“Você parece decepcionada.”

“Eu não estou.” minto. “Não tive tempo suficiente para


fazer as malas e não sei onde fica meu dormitório ou que aulas
estou fazendo.”
“Considerando sua situação peculiar, eu lhe designei um
dormitório único na ala norte. É onde a maioria dos nossos
sêniores estão.”

“Mas eu não sou do último ano.”

“Não, mas essa ala é a única com quartos


individuais. Você vai gostar.”

Fecho minha mandíbula. Fico feliz por não ter que dividir
um quarto com ninguém, mas sei que o privilégio não vai
acabar bem com meus novos colegas de classe.

“Quanto ao seu horário de aula, minha assistente lhe dará


uma cópia.”

“Não posso ser eu a escolhê-los?” Eu pergunto.

“Examinei suas transcrições da sua velha escola. Eu


tentei colocá-la em aulas semelhantes. É claro que eles estão
mais avançados aqui, e você já perdeu uma semana, mas tenho
certeza de que não terá problemas para acompanhar.”

Uma batida na porta interrompe a pergunta na ponta da


minha língua.

“Sim?” A Diretora Fallon olha por cima do meu ombro.

Viro-me para ver quem vai entrar. A Srta. Walkers abre


uma lasca da porta e enfia a cabeça. “Toby Macintosh está
aqui, senhora.”

A Diretora Fallon apoia as mãos na mesa e se levanta. “Ah,


bom. Deixe-o entrar.”
Um jovem baixo e magro entra. Seu cabelo é tão brilhante
quanto uma cenoura e espetado em ângulos estranhos. Eu não
sinto nenhum poder saindo em ondas dele, então ele não é um
Idol. Mas ele também não é um Norm. Um Fringe, então.

“Daisy, conheça Toby Macintosh. Eu o designei para ser


seu guia durante sua primeira semana aqui. Ele está na
maioria das suas aulas. Imaginei que, como ele também faz
parte do nosso programa de bolsas, vocês teriam algo em
comum.”

“Ei, mocinha.” Ele acena para mim.

“Mocinha?” Eu levanto uma sobrancelha em troca.

“Bem, você deve ir.” diz a Diretora Fallon. “Você não quer
se atrasar para o seu primeiro dia na escola.”

Tudo certo. Eu acho que fui dispensada.

Levanto-me e pego minhas roupas civis, enfiando-as na


minha mochila já cheia demais.

Quando me viro, encontro Toby me observando com


curiosidade. Ele parece amigável, mas não posso baixar minha
guarda. Os Fringes, mesmo os de baixo nível, podem ser
bastante desagradáveis para os Norms.

“Então, vamos?” Aponto para a porta aberta.

Espero até ele sair primeiro. Não vou dar as costas a


ninguém nesta escola se eu puder evitar.
Uma vez que estamos no corredor, sou tomada por um
ataque de pânico. A escola não está mais vazia. Alguns
estudantes agora estão se misturando e todos se viraram para
me encarar. Pior, vejo Phoenix e seu amigo, o cara de cabelos
cacheados compridos que não falou muito na
lanchonete. Phoenix está sorrindo como o gato que comeu o
canário, apesar do pequeno curativo na testa. Ele quebra o
contato visual comigo para se aproximar da garota loira
pequena ao lado dele. Ele sussurra algo em seu ouvido, e seu
olhar imediatamente zera para mim. O cenho franzido e as
sobrancelhas estreitas me dizem que Phoenix já começou sua
vingança.

Merda. Aqui vamos nós.

“Então, primeiro devemos descarregar sua mochila. É


tarde demais para passar pela biblioteca para obter novos
livros, então teremos que compartilhar os meus.” Toby diz,
aparentemente alheio ao ódio apontado em minha direção.

“Ok.” digo, muito baixo para o meu gosto. É quase como


se os olhares me obrigassem a ser a presa.

De jeito nenhum. Lembre-se, Daisy. Você não pode mostrar


fraqueza.

Quando passo por Phoenix, levanto o queixo e pergunto


no tom mais doce: “Como está sua cabeça, querido?”

Phoenix estreita os olhos para fendas e abre as narinas. A


garota ao lado dele decide jogar como zagueira e pula na minha
frente, invadindo meu espaço. “O que você disse, Norm
prostituta?”
A conversa cessa imediatamente, e ao meu lado, Toby faz
um som angustiado no fundo da garganta.

Dou um passo à frente e olho para a cadela Idol, que é


muito mais baixa que eu. Ela não é tão alta na escala de poder
de Idols. Talvez ela não seja nem um Idol, apenas uma Fringe
que seja forte o suficiente para fazer algo desagradável para
mim. Bem, vamos ver como vão as coisas.

“Quem você está chamando de prostituta, anã?”

Seus olhos castanhos se arregalam e suas sobrancelhas


se arqueiam. “Como você ousa falar comigo assim.”

Alguém me puxa de volta. Toby.

“Ok, pessoal, vamos todos nos acalmar. Estamos do lado


de fora do escritório da Diretora Fallon e ninguém quer ser
detido, certo?’’ ele diz da maneira mais diplomática.

Eu luto contra um bufo. Qual é a probabilidade de a


diretora enviar qualquer uma dessas crianças beneficiadas
para detenção? Ela não o fez quando aquele filho da puta
presunçoso invadiu seu escritório e me pegou seminua.

“Relaxe, Cherise.” diz Phoenix em uma voz suave. “Ela não


vale a pena.”

A expressão assassina da garota se transforma em


desdém. Ou seja, antes que ela olhe para Phoenix e se
transforme em uma poça de gosma. E ela teve a audácia de me
chamar de prostituta.
“Vamos, Daisy. Vamos lá.” Toby me afasta de Phoenix e de
sua groupie.

Não é até virar a esquina que exalo em alívio.

Só que é muito cedo.

Toby e o corredor desaparecem, e uma visão de mim nua


na cama com Phoenix pairando sobre mim invade meu
cérebro. Não só isso, mas meu corpo traidor o quer. Do nada,
estou ofegando como um cachorro com tesão. Phoenix se
aproxima e separa minhas pernas usando as duas mãos,
abrindo-as. Ele sopra um hálito quente sobre meu clitóris
latejante, e eu solto um gemido alto.

“Daisy, você está bem?” Toby pergunta.

A imagem desaparece e estou de volta ao corredor. Mas


meu tesão não se dissipou. Meu coração está batendo
irregularmente, e há uma dor cruel entre as minhas pernas. O
babaca me deu “bolas azuis”.

Toby está na minha frente, parecendo todo preocupado e


assustado. “O que aconteceu?” Eu pergunto.

“Uh, eu ia perguntar a mesma coisa. Em um momento


você ficou quieta e, no outro, sua respiração saiu em rajadas.”

Toco meu rosto, encontrando quente.

“Toby, você sabe qual é o presente de Phoenix?”

“Bem, ele é um dos telecinéticos mais poderosos da


escola.”
“Sim, além disso.”

“Não tenho cem por cento de certeza.” Toby olha em volta


de uma maneira cautelosa e depois se inclina para mais perto.
“Mas o que dizem por aí é que ele pode colocar pensamentos
na cabeça das pessoas, fazê-las ver coisas que não estão lá.”

Uma lasca de pavor percorre minha espinha. Então era


isso que a visão era. Retaliação de Phoenix.

Os jogos do Idol começaram.


Rufio

Estou dez minutos atrasado para a aula de matemática, e


o Sr. Atkins já está se preparando para me rasgar. Mas sou
inteligente demais para o nerd obcecado com RPG e parei no
consultório da enfermeira no caminho para cá. Com um sorriso
de lobo, mostro ao homem careca o passe amarelo entre meus
dedos. Ele tira de mim com um olhar furioso, lê rapidamente o
rabisco no papel e o transforma em uma bola apertada.

“Sente-se, Sr. Kent.”

Caio no meu lugar de sempre, na frente de Morpheus e ao


lado de Phoenix. Assim que o Sr. Atkins nos dá as costas,
Phoenix se vira para mim. “Onde diabos você estava?”

“Eu precisava de um estímulo depois que vi minha


mãe.” Eu torço o nariz. A Silver- cheeseburgers é uma droga
incrível, mas, porra, faz meu nariz coçar como um louco.

“Nós conhecemos a nova garota. A Norm.” Os olhos de


Phoenix nadam com travessuras.

“Não me diga que você já fodeu a imbecil.” eu resmungo,


tentando manter uma expressão não afetada. Mas caramba, eu
ficaria muito chateado se Phoenix a pegasse primeiro.
Norms são pulgas, mas boceta é boceta, e um dos jogos
mais cruéis é amarrar uma garota e depois quebrá-la com
força. Fecho minha mão em punho, lembrando da conversa
com minha mãe. Na maioria das vezes, não nos olhamos nos
olhos, principalmente porque ela é uma boceta, mas ela está
certa sobre a aluna Norm. Não podemos deixar que a
propaganda dos Cavaleiros se enraíze na Saturn’s Bay.

“Não. Ainda não, de qualquer maneira.” Phoenix responde


com um sorriso malicioso. “Mas você não quer saber o nome
dela?”

Eu dou de ombros. “Certo. Qual é o nome dela?”

“Daisy.”

Phoenix está me observando da ponta do seu


assento. Pela minha vida, não entendo por que ele está agindo
dessa maneira bizarra. Eu dou a ele um olhar fixo. “Esse nome
deveria significar alguma coisa para mim?”

Morpheus solta um suspiro alto. “Pelo amor de Deus,


Rufio. Onde está seu cérebro? Daisy é a garçonete que você
queria matar no sábado.”

Dou um pulo no meu assento e me viro. “O que?”

Algo duro bate na parte de trás da minha cabeça, depois


bate no chão, saltando várias vezes antes de rolar para
longe. Uma bola de metal.

“Sr. Kent. Se você vai fofocar com seus amigos como uma
putinha, sugiro que faça isso fora da minha sala de aula.”
Massageando a parte de trás da minha cabeça, eu me viro,
olhando abertamente para o idiota. Ele tem sorte que atacar
professores é completamente proibido. É uma política de
tolerância zero. Uma agressão e você está fora. Nem a
influência de minha mãe seria capaz de me livrar de
problemas. A mesma regra não se aplica aos professores. Eles
podem e constantemente usam seus dons para manter os
alunos alinhados. Então, desvio minha raiva para um alvo
muito mais satisfatório. Daisy.

Não acredito que ela está aqui, no meu domínio. Ela tinha
pavor de nós, por isso é realmente surpreendente que ela viesse
à Gifted Academy, uma escola dominada pelos Idols. Ela deve
ter um desejo de morte. Não posso evitar o sorriso que se
desenrola no meu rosto.

“Oh, olha quem está de bom humor agora.” Phoenix ri.

“Sim, eu me pergunto quanto tempo isso vai durar.”


Morpheus fala.

“Cara, você está deprimente como sempre, menino-


múmia.” eu digo, sabendo muito bem o quanto Morpheus odeia
esse apelido.

Ele não responde, mas um momento depois, manchas


escuras aparecem na frente dos meus olhos. De repente, toda
a minha visão fica preta e o mais terrível sentimento de
desespero toma conta de mim. Meus pulmões param de
funcionar. Não consigo respirar.

A sensação desaparece tão rápido quanto veio, e eu posso


ver e respirar novamente. Inspiro profundamente enquanto
espero meu batimento cardíaco voltar ao normal. Quando
estou no controle, lentamente me viro no meu lugar. Morpheus
está olhando para a tela grande na frente da classe com uma
expressão neutra no rosto.

“Seu filho da puta. Você usou seus poderes contra


mim?” Eu sussurro.

Ele me olha com calma. “Você me chamou de menino-


múmia. Eu te disse o que aconteceria se você usasse esse
apelido novamente.”

Estou fervendo, mas não posso oferecer uma resposta


para isso. Se ele fosse outro aluno, Idol ou não, ele nem estaria
falando agora. Mas há muito tempo, Morpheus, Phoenix, Bryce
e eu fizemos um pacto, um voto inquebrável. Sempre teríamos
as costas um do outro, não importa o quê. Ser as crianças Idol
mais fortes do quarteirão nos uniu a princípio. Mas foi o que
aconteceu conosco naquela ilha há dez anos, as coisas que
precisamos lutar para sobreviver, que nos uniram por toda a
vida.

Resmungando, volto minha atenção para a tela, mas todas


as equações nela se tornam um borrão. Apenas uma imagem é
vívida no meu cérebro: aquela garçonete Norm. Mal posso
esperar para colocar minhas mãos nela.

Acontece que eu não tenho que esperar muito. A porta da


sala se abre e a garota do momento entra, toda corada e
porra. Ela é mais bonita do que eu me lembro, ou talvez seja
porque ela não está coberta de sujeira de restaurante e eu
posso realmente prestar atenção em sua pele impecável e
cabelos castanhos gostosos. Seus lábios são cheios e
naturalmente vermelhos. Ela não está usando maquiagem. É
perfeita demais para uma Norm, o que me faz odiá-la ainda
mais.

Eu olho seu peito, observando que a blusa dela é pequena


demais para ela. Seus peitos estão forçando contra o
tecido. Um movimento súbito e o botão superior escorregará do
buraco.

“Oh, acho que essa será minha aula favorita a partir de


agora.” diz Phoenix.

“Posso ajudar?” O Sr. Atkins franze a testa para Daisy.

“Sim. Eu deveria estar nesta classe.” Ela entrega uma


nota para o nosso professor.

Ele digitaliza o pedaço de papel brevemente e depois


suspira. “Você pensaria que, com todo o dinheiro que essa
instituição recebe, eles poderiam contratar pessoas que não
são idiotas completos. Sente-se, Srta. Woods.”

Ela olha para a sala de aula e eu tenho que admitir, ela


está segurando sua máscara confiante muito bem. Vamos ver
quanto tempo vai durar. Seu olhar encontra o meu, e então ela
finalmente dá um sinal de fraqueza. Ela se encolhe. Mas
rapidamente muda sua atenção para Phoenix, e todo seu
comportamento muda. Ela estreita os olhos e aperta a
mandíbula. Parece que o que quer que Phoenix tenha feito já
agitou suas penas. Estou ficando chateado novamente. Eu sou
o mestre torturador aqui, não ele.
Ela começa a andar pelo nosso corredor. Há uma cadeira
vazia no final da minha fila.

Phoenix chuta a cadeira na frente dele, onde um cara


Fringe está sentado. “Você. Levante-se.”

Ele se vira para Phoenix com os olhos redondos e a boca


aberta. “O que?”

“Você é surdo? Desocupe esta cadeira imediatamente.”

“Onde eu vou me sentar?” o garoto geme.

“Não me importo. Mova-se. Agora!”

Vendo que Phoenix não está brincando — pela primeira


vez —, o Fringe recolhe suas coisas às pressas e sai correndo
da cadeira. Como o assento que Daisy estava procurando era
o único disponível, não preciso olhar para ver que o garoto
Fringe agora o ocupa.

Sua expressão cai quando ela olha para a cadeira agora


vazia na frente de Phoenix. Ele se recosta na cadeira com um
grande e gordo sorriso no rosto presunçoso.

“A qualquer momento, Srta. Woods.” O Sr. Atkins late,


forçando a garota a finalmente tomar a cadeira vazia.

Ela não olha na nossa direção enquanto tira um caderno


da mochila. As duas cadelas sentadas na fila ao lado dão
risada de Daisy. Ninguém aqui faz anotações no papel. Tablets
e laptops são o caminho a percorrer. Daisy simplesmente os
ignora. Como se isso os fizesse parar de implicar com ela.
Phoenix se inclina para frente e fica muito perto do ouvido
de Daisy. “Você gostou da pequena imagem que enviei mais
cedo?”

A garota endurece. “Você tem o hábito de transmitir os


seus sonhos molhados para todos?”

“Meus sonhos molhados? Ah, docinho. Você foi quem


ficou com calor e incomodada. Ainda sinto o cheiro da sua
excitação.”

Ela enrola os dedos com mais força em torno da caneta e


o músculo da mandíbula se contrai. “Qualquer mentira que
faça você dormir melhor à noite.”

“Tudo certo. É suficiente!” O Sr. Atkins gira com as mãos


nos quadris. “Srta. Woods, você parece estar de bom
humor. Por que você não resolve esse problema para mim?” Ele
aponta para a tela do projetor.

“Uh, em um pedaço de papel?” ela pergunta, e várias


pessoas riem.

O Sr. Atkins olha para o teto. “‘Em um pedaço de papel,’


ela pergunta. Juro por todos os deuses. Um dia vou explodir
esses idiotas em pedacinhos.” Ele olha para ela novamente.
“Não, Srta. Woods, use seu maldito tablet, laptop, o que seja, e
faça login na minha classe.”

Ela abre e fecha a boca como um peixe fora d’água. Antes


que ela possa informar a todos que ela não possui nenhum
desses itens, eu digo: “Aqui, use o meu.”
Daisy olha para o tablet na minha mão e depois levanta
os olhos castanhos para o meu rosto, com suspeita brilhando
neles. Ela pode olhar o quanto quiser; não verá nada além de
uma expressão neutra e sem culpa.

“Continue. O Sr. Atkins não estava brincando. Ele pode


realmente explodir você em pedacinhos.” eu continuo.

“Obrigada.” Ela aceita a oferta, claramente ainda


desconfiada de mim.

“Eu já estou logado na aula dele. Tudo o que você precisa


fazer é resolver o problema de matemática.”

Inclino-me na cadeira, ligando os dedos atrás da


cabeça. Agora tudo o que tenho a fazer é esperar que ela se dê
mal. De jeito nenhum ela pode resolver esse problema, não
com sua merda de educação Norm.

Mas ela está fazendo isso, suas respostas aparecendo na


tela do projetor mais rápido do que eu pensava ser possível
para qualquer pessoa com seu histórico. Ela terminou em
menos de um minuto, e tenho que piscar algumas vezes para
me certificar de que não estou vendo coisas.

“Eu serei amaldiçoado. Ela fez.” Phoenix ri.

O Sr. Atkins está olhando confuso para a tela. “Hã? Bem,


olhe para isso. Parece que sua bolsa não foi desperdiçada,
afinal. Muito bem, Srta. Woods.”
Ele a nivela com um olhar severo. “Apenas tente resistir
aos encantos de Casanova até que a aula termine. Ninguém
quer ouvir sobre seus sonhos molhados.”

Daisy suspira alto antes de afundar o queixo e esconder o


rosto atrás dos cabelos compridos. Sua reação ao comentário
do Sr. Atkins me dá uma ótima ideia. Não seria divertido
destruí-la rapidamente. Uma tortura lenta e agonizante será
muito mais satisfatória.

“Sobre o que você está sorrindo?” Pergunta Phoenix.

“Nada. Nada mesmo.”


Daisy

SOBREVIVI ao meu primeiro dia de aula. Mal. Haviam


olhares furiosos e comentários maliciosos jogados em meu
caminho, mas nenhum uso do poder Idol além da visão de
Phoenix. Tenho certeza que isso vai acontecer
eventualmente. Encostada na porta do meu dormitório,
descanso a cabeça contra a superfície lisa e solto um suspiro
pesado.

O plano de navegar pelos corredores da escola sem


chamar atenção foi um grande fracasso. Suponho que não
posso fazer manso e tranquilo. Não posso deixar que as
pessoas me intimidem, independentemente de sua posição na
escala de poder. Isso me faz uma idiota.

Largo minha mochila no chão e vou para a janela. A visão


de algumas caixas no canto chama minha atenção.

“O que…?”

Aproximando-me, vejo meu nome rabiscado em cima de


uma. Lá dentro, encontro meus pertences pessoais: histórias
em quadrinhos e livros antigos, uma luz noturna no formato
de uma coruja, alguns CDs e meu CD player portátil mais
antigo que a sujeira. Eu nunca tive dinheiro suficiente para
comprar aqueles tocadores digitais que podem armazenar
milhares de músicas.

Na segunda caixa, existem apenas roupas e um par de


botas de cowboy vermelhas desbotadas. Eu as puxo,
abraçando o calçado como se fosse um bicho de pelúcia. Eles
são de Rosie. Nós duas nos apaixonamos pelos sapatos quando
estávamos comprando em uma loja de segunda mão há alguns
anos. Não tínhamos dinheiro suficiente para comprá-las, mas
economizei o suficiente e as comprei para o aniversário de
Rosie. Ela só as tirou para dormir por um ano inteiro. Não
acredito que ela me deu.

“Oh, Rosie. Já sinto sua falta.”

Ponho as botas de lado e olho para a minha cama. É uma


twin5, e está me implorando para experimentá-la. Mas ainda
não consigo dormir. Eu tenho muito trabalho de casa para
fazer, além de ter que acompanhar as coisas que perdi na
semana passada.

Pego meu caderno e os livros que recebi da biblioteca e


viro para minha mesa. Minha mão já está dolorida com toda a
escrita durante minhas aulas, mas até receber o subsídio do
próximo mês, anotações à mão terão que ser feitas. Abro o livro
de biologia primeiro, o assunto que mais me engana. Tento me
concentrar no texto, mas não posso deixar de repetir os eventos
do dia.

O truque de Phoenix comigo, aula de matemática, Rufio


me emprestando seu tablet. E não vamos esquecer os olhares

5 Um tipo de cama de solteiro um pouco maior.


de morte que seu amigo pensativo continuava me dando. Eu
pensei que Rufio era o mais assustador do grupo, mas
Morpheus está competindo pelo lugar.

Quais são as chances de que, em todas as aulas desta


escola, acabei na mesma aula de matemática do trio? Eu
deveria estar na aula de inglês com Toby naquele período. Pelo
menos, foi o que minha agenda disse. Mas quando cheguei à
aula, a professora me disse que minha agenda estava
errada. Ela me deu o bilhete para apresentar ao Sr. Atkins e
me enviou em sua direção.

Eu tenho que concordar com a avaliação do cara. Como


no mundo alguém pode estragar uma simples impressão de
programação? Droga, Srta. Walkers.

Ok, Daisy. Chega de procrastinação. Você tem que estudar.

Consigo ler uma página antes que o barulho estridente de


punk rock invada meu pequeno quarto. É tão alto que
reverbera através das paredes.

Que diabos?

Cubro meus ouvidos com as mãos sem sucesso. Já era


difícil se concentrar antes, mas agora é impossível. Só há uma
coisa que posso fazer. Porra, porra. É exatamente disso que
preciso, antagonizar outra das crianças especiais desta
escola. Bem, não há nada a fazer. É fazer o barulho parar ou
esquecer de fazer qualquer lição de casa.

Com um aperto na mandíbula, saio do meu quarto e vou


para a porta do meu vizinho. Bato nela o mais forte que posso,
esperando que quem estiver dentro possa me ouvir batendo
com a música alta. Devo ter passado pelo menos um minuto lá
fora, martelando a superfície de madeira, antes que ela
finalmente se abrisse.

Meu queixo cai. Em pé na minha frente, vestindo nada


além de uma toalha enrolada na cintura, está Bryce. Seu
cabelo está molhado e gotas de água brilham em seu peito
largo. Claro que ele também estuda aqui. Minha garganta fica
seca e perco minha capacidade de falar.

“Sim?” ele pergunta, parecendo entediado.

“Uh, sua música. Você se importa em diminuir um


pouco?”

Ele faz uma careta. “Sim, eu me importo.”

Ele começa a fechar a porta, mas eu coloco minha mão


contra ela, mantendo-a aberta. Bem, só porque ele me
deixou. Tenho certeza que ele poderia fechá-la — e quebrar
meu braço no processo — com um piscar de olhos.

“Por favor. Estou tentando estudar.” digo.

“Use fones de ouvido com cancelamento de ruído.” Ele


parece exasperado.

“Eu não tenho fones de ouvido com cancelamento de


ruído.” digo com os dentes cerrados, perdendo rapidamente a
paciência. Meu mau humor será definitivamente a minha
morte.
“Tá brincando, né?” As sobrancelhas dele se arquearam, e
não acho que seja um gesto de surpresa falsa. Ele parece
genuíno.

“Parece que estou brincando? Eu estava atendendo mesas


em um restaurante dois dias atrás. Você acha que posso
comprar eletrônicos sofisticados?”

O cara solta um suspiro alto e passa as mãos pelos


cabelos. Meus olhos caem para seu peito e seu abdômen. Meu
olhar continua indo para o sul até chegar ao V que faz as
mulheres ficarem loucas.

Merda. Por que estou olhando esse Idol, pelo amor de


Deus?

Porque você tem sangue bombeando nas veias e não é cega.

Cale a boca, prostituta.

“O que você disse?” Ele inclina a cabeça para o lado.

Espera. Eu disse essas palavras em voz alta, ou ele leu


minha mente?

E se ele fez? Merda. Então ele sabe que eu o acho atraente


e que gostaria que sua toalha caísse no chão.

Daisy, pare de pensar.

“Fique aqui.” Ele se vira e desaparece dentro de seu


apartamento, deixando a porta semiaberta.
Curiosa, empurro-a para trás e enfio a cabeça. Whoa. É
muito maior que o meu quarto. Não que eu esteja reclamando
das minhas novas acomodações, mas isso é legal. Ele ainda
tem uma pequena cozinha e sala de TV. Existem quatro portas,
duas de cada lado. Talvez ele tenha colegas de quarto.

Ele sai por uma daquelas portas, me pegando totalmente


bisbilhotando. Eu pulo de volta para o corredor, sem dúvida
parecendo culpada.

“Aqui.” Ele me entrega um par de fones de ouvido caros.

“O que é isso?”

“Compromisso. Você quer estudar e eu quero ouvir minha


música o mais alto que puder.”

Pego os fones de ouvido com cuidado, com medo de que


eles me eletrocutem. “Obrigada. Eu vou devolver...”

“Não se preocupe. Você vai precisar deles mais de uma


vez.”

“Por que você está sendo legal comigo?” A pergunta surge


antes que eu possa parar as palavras.

Ele pisca algumas vezes e franze as sobrancelhas. “Não


tenho certeza.”

Pelo menos ele é honesto.

“Bem, obrigada.” Eu dou um passo para trás.


“De nada.” Ele me dá um sorriso travesso, e então a toalha
em volta da cintura cai logo antes de ele fechar a porta.

Filho da puta. Ele ouviu meus pensamentos.

Não importa. Vaca sagrada. Vou precisar de um banho


frio agora.
Daisy

Uma coisa que eu nunca pulei, nem mesmo nos nossos


dias mais sombrios onde morava nas ruas, era minha corrida
matinal. Quando você mora em um mundo em que há pessoas
muito mais fortes que você, precisa aprimorar qualquer
habilidade possível. Para mim, foi aprender a lutar e melhorar
minha resistência. Eu sempre arrastava Rosie comigo nas
minhas corridas, mesmo que ela preferisse ficar na
cama. Espero que ela não comece a relaxar agora que não
moramos mais juntas.

Antes do sol escaldante da Saturn’s Bay nascer, saio do


prédio do dormitório e faço uma corrida exploratória. Toby me
deu um mapa do terreno do campus ontem, então pelo menos
eu tenho uma ideia de onde estou indo.

O céu azul da meia-noite está começando a desaparecer


em laranja. Os madrugadores estão cantando e o ar ainda está
fresco. Respiro fundo e ponho meus fones de ouvido — não os
que Bryce me deu, pois não são compatíveis com o CD player
pré-histórico que tenho. Depois de um rápido alongamento,
saio, amando a sensação do vento no meu rosto.

Eu circulo o campus inteiro algumas vezes primeiro, o que


me leva aproximadamente uma hora. Em seguida, aponto para
o centro esportivo, composto por quatro grandes campos e uma
academia onde são realizados os esportes indoor6. Eles
também têm uma piscina. Estou curiosa sobre isso. Minha
velha escola nem tinha academia, muito menos piscina.

Respirando com dificuldade, tento a porta da frente. Está


desbloqueada. O zelador provavelmente já está aqui. Não
tenho muito tempo para explorar o prédio inteiro — o sol está
chegando, e preciso tomar um banho e comer um pouco antes
de ir para a aula — então miro direto para a piscina,
naturalmente.

É no fim do corredor e, antes de passar pelas portas


duplas, já sinto o cheiro do cloro. No interior, o nível de
umidade está fora das tabelas. Também é muito quente, o que
é impressionante, considerando que o clima ainda está
bom. Aproximo-me da beira da piscina e me agacho para enfiar
as mãos na água morna. Cara, nadar agora seria legal. Se eu
tivesse tempo.

O som de algo batendo me assusta. Desdobro do meu


agachamento e vou investigar. Há um monte de cadeiras
empilhadas e empurradas contra a parede, mas não vejo
ninguém.

“Olá? Alguém aí?”

Sem resposta.

Você provavelmente está ouvindo coisas, Daisy. Ou talvez


seja uma das alucinações de Phoenix.

6 Esportes de ginásio.
Espero que não.

Estou prestes a me virar quando uma garota pula de trás


de uma coluna à minha direita e cai em cima de mim.

“Me ajude.” ela grita.

Seus cabelos e roupas estão desarrumados, e há sangue


escorrendo livremente do nariz.

“O que aconteceu com você?”

“Por favor, você tem que me ajudar.” Ela está tremendo, e


seu terror é claro em seus olhos vermelhos.

“Ok. Vou levá-la à enfermaria.” Começo a arrastá-la para


a saída, mas ela cava as unhas nos meus braços.

“Não, não a enfermaria.”

“Você está louca? Você está sangrando pelo na...”

Seus olhos rolam para trás das órbitas e ela se torna


chumbo nos meus braços. Ela está fria. Meus músculos se
contraem com o peso dela, mas eu consigo mantê-la fora do
chão.

“Socorro!” Eu grito.

Sem resposta. Porra, ótimo. O que essa garota está


fazendo aqui sozinha, e o que aconteceu com ela?

Não há tempo para descobrir.


Com o melhor de minha capacidade, eu a levanto em meus
braços e saio do prédio. Estou em boa forma, mas não sou forte
o suficiente para levar alguém de volta ao edifício principal. É
pelo menos um trecho de quinze minutos. Também não sei se
tenho tempo suficiente. E se ela estiver tendo um derrame ou
uma overdose de alguma coisa?

Quando meus braços estão prestes a cair, uma figura


escura entra no caminho, vindo de trás de alguns arbustos
altos à minha esquerda. O sol já apareceu no horizonte, então
não há dúvida de quem é.

Morpheus.

Ele parece surpreso ao me ver lá, e não porque eu estou


carregando uma garota meio morta nos braços. Seu olhar nem
a registrou. Não, seus olhos escuros estão colados no meu
rosto. Quando ele não se move ou diz nada, eu tomo uma
atitude.

“Por favor, preciso de ajuda. Não posso mais carregá-la.”

Ele pisca algumas vezes e finalmente caminha na minha


direção. Ele olha para o rosto da garota por alguns segundos
antes de agarrar seu pulso e verifica-lo.

“Fringes estúpidos.” ele murmura. “Entregue-a.”

Eu a transfiro para os braços de Morpheus, e antes que


eu possa piscar, ele decola, se movendo mais rápido que um
velocista. Ele desaparece na esquina antes que eu possa
alcançá-lo. Há apenas um lugar onde ele pode levá-la, então eu
vou ao consultório da enfermeira. Mas quando estou dentro do
prédio da escola, não consigo me lembrar de que lado é a
enfermaria. Ainda não tive a chance de memorizar o mapa
inteiro.

Eu olho para o relógio na parede. Merda. Já são seis e


meia. Eu tenho que voltar para o meu quarto e me arrumar.

No caminho, eu não posso evitar a ansiedade girando no


meu peito. Até agora, minhas primeiras 24 horas nesta escola
foram tudo o que eu esperava que fosse e nada
parecido. Espero que Morpheus chegue à enfermaria a tempo.

Olho para minha blusa branca. Está manchada de sangue


no meio. Não é a maior das minhas preocupações agora.

Estou perdida no meu tumulto e distraída quando sinto a


presença de alguém por perto. Antes que eu possa levantar o
olhar, uma mão áspera envolve meu antebraço e me vira,
empurrando-me contra a parede. Morpheus.

“O que você está fazendo? Me deixe ir.”

“Onde você encontrou Alicia Stones?” Seu tom é frio e


duro.

“Ao lado da piscina. Apenas me deixe ir.” Eu luto contra o


seu domínio sem sucesso.

“Você viu mais alguém lá?”

“Não. O que há com as dez mil perguntas?”

Em vez de responder ou soltar meu braço, Morpheus se


aproxima e passa a mão em volta do meu pescoço.
“Você nem está aqui um dia e conseguiu causar
problemas. Eu sei exatamente quem você é, Daisy.”

Meu coração dá um pulo e parece que eu engoli centenas


de bolas de chumbo. Ele não pode saber a verdade, a menos
que... Ele já entrou no meu quarto e encontrou o diário do meu
pai? Fiz um corte no fundo do colchão e escondi o diário lá
dentro, mas suponho que se alguém realmente estivesse
procurando algo, eles o encontrariam.

“Eu não sei do que você está falando.”

Os olhos castanhos de Morpheus escurecem e estreitam


até que não passam de fendas. “Por que você está realmente
aqui?”

“Me ofereceram uma bolsa de estudos. Você não recebeu


o memorando?”

Morpheus aperta minha garganta com mais força,


prejudicando seriamente minha capacidade de respirar. Se ele
continuar, eu vou desmaiar.

“Não seja uma espertinha. Você não tem ideia do que


posso fazer com você.”

“O que? Você quer me matar? Entre na fila. Seu amigo


Rufio já anunciou no sábado. Antes que ele tentasse entender
a situação, é claro.”

Morpheus finalmente me libera e eu chio, tentando


respirar. Toco minha garganta, que agora está sensível.
“Você simplesmente não passa de uma garçonete e
stripper para o material da Gifted Academy. Alguém
importante queria você aqui, mas para que fim, eu não sei. Mas
confie em mim, Daisy. Eu vou descobrir.”

Sim, alguém importante, como a porra da sua própria


diretora, seu idiota. Eu quero gritar as palavras em seu rosto,
mas não posso. A Diretora Fallon não pediu sigilo, mas sei que
isso não é uma informação que eu deveria jogar ao vento. Eu
nem estou ciente de qual é a intenção dela.

“Por que te incomoda tanto que eu estou aqui? Sou uma


Norm, irrelevante no grande esquema das coisas, mas você
certamente se esforça para me incomodar. Por que você não
pode me deixar em paz?”

“Porque você não conhece seu lugar.”

“E onde é isso? Oh, deixe-me adivinhar: servindo comida


gordurosa e tirando minhas roupas. É isso?”

Os lábios de Morpheus se curvam em um sorriso feio.


“Precisamente.”

“Bem, desculpe desapontá-lo, amigo. Apesar das minhas


circunstâncias e do fato de ter tido vários empregos desde os
dez anos para sobreviver, ainda sou uma aluna de primeira
linha. Se acha que suas palhaçadas e bullying me forçarão a
abandonar meus sonhos, você está muito enganado. Eu não
estou indo a lugar nenhum.”

“Será o seu funeral, então.”


Eu ri ironicamente. “Você acha que ameaças de morte me
assustam? Garoto, você não sabe de nada.”

Meu coração está trovejando. Estou blefando agora. Estou


com medo desse cara. Seu poder está enrolando em torno de
seu corpo como uma cobra, firme e pronto para ser
desencadeado. Estou certa de que ele pode fazer coisas
terríveis comigo.

Ele sorri, um gesto arrepiante no rosto zangado. “Não por


muito tempo.”

Ele gira e me deixa em pé no corredor com o coração preso


na garganta. Espero até ele desaparecer na esquina para
expirar.

E então percebo que não perguntei sobre a garota que


encontrei na área da piscina. Ele disse que o nome dela era
Alicia Stones. Vou ter que ir vê-la mais tarde. Tive a impressão
de que Morpheus sabia exatamente o que havia acontecido
com ela. Se houver algo suspeito acontecendo aqui, tenho que
descobrir.
Morpheus

ESTOU gelado até os ossos quando chego ao local secreto


de ponto de encontro, uma enorme casa na árvore no topo de
uma das árvores mais altas da floresta que circunda as
instalações da escola. Este é o lugar onde Rufio, Phoenix e eu
viemos quando queremos relaxar. Bryce sabe a localização,
mas ele nunca vem aqui. Eu o conheço quase toda a minha
vida, mas o cara ainda é um enigma.

As sombras, um efeito colateral do meu presente de


premonição, são mais fortes do que nunca hoje. Os braceletes
Egípcios antigos que uso para manter a trela do poder que não
consigo controlar ainda, são pouco eficazes no momento. Por
uma questão de fato, as sombras foram implacáveis desde que
cruzei o caminho com Daisy, o que só me deixa mais certo de
que ela é uma má notícia.

Não me surpreendo quando encontro Rufio e Phoenix já


descansando nas cadeiras confortáveis na área principal de
nosso esconderijo recreativo. Claro, compartilhamos um
apartamento, mas Bryce desaprova certas coisas que fazemos
para nos divertir, como o uso de Silver-voltage, nossa droga de
escolha. Quanto mais fortes somos na escala de poder dos
Idols, menos suscetíveis somos à maioria das drogas. Silver-
voltage é a única coisa que nos afeta.
“Onde você esteve?” Phoenix olha para mim antes de
passar a droga na manga da camisa e levá-la ao nariz.

“Lidando com uma situação do caralho.” Caio na cadeira


vazia e pego o cobertor de lã que estava caído no chão. As
sombras sempre me deixam frio.

“Que situação?” Rufio me observa intensamente,


brincando com a garrafa de voltagem prateada na mão.

“Alicia Stones teve uma overdose de Silver-voltage.”

Phoenix balança a cabeça. “Cadela estúpida.”

Rufio estreita os olhos para fendas. “E como esse foi o seu


problema? Por favor, não me diga que você foi quem lhe deu
uma dose.”

Eu dou a ele um olhar fixo. “Quando você viu eu me


misturando com Fringes? Não, eu não lhe dei Silver-voltage,
mas acabei tendo que cuidar da garota de qualquer maneira,
graças a Daisy.”

Rufio e Phoenix sentam-se eretos em suas cadeiras.

“O que Daisy tem a ver com Alicia?” Rufio pergunta.

“Ela a encontrou na área da piscina. Ela estava


carregando Alicia para a enfermaria quando eu esbarrei nela.”

“Espere, Daisy estava ajudando Alicia? Por


quê?” Pergunta Phoenix.
“Não sei, porra. Mas vou lhe dizer uma coisa, ela
definitivamente não é uma Norm comum, e esse não é o meu
presente falando. Essa garota não se intimida tão facilmente.”

“Ela é imune aos seus poderes?” Phoenix levanta uma


sobrancelha enquanto me oferece a garrafa de Silver-voltage na
mão.

“Ainda não testei isso.” Eu pulverizo o líquido claro na


minha camisa e respiro fundo a fumaça. É como inalar
perfume barato. Quase imediatamente, as sombras recuam e
a temperatura do meu corpo volta ao normal. A tensão em
meus membros também desaparece.

“Por que não?” Rufio pergunta.

Sua pergunta me dá uma pausa. Eu poderia facilmente


assustar a garota esta manhã e enviá-la para fazer as
malas. Mas algo me segurou. Talvez fosse curiosidade
mórbida.

“Quero ver até onde podemos empurrá-la antes que ela


caia. Usar meu poder nela seria muito fácil.” respondo.

Rufio bufa, o que lhe rende um olhar curioso de Phoenix.

“Eu queria perguntar a você. Que diabos foi aquilo na aula


de matemática?” Pergunta Phoenix.

“Eu não tenho ideia do que você está falando.” A expressão


de Rufio não revela nada.
“Realmente? Você queria matar a garota há alguns dias e
ontem estava mais do que feliz em lhe emprestar seu tablet.”
continua Phoenix.

“Eu não pensei que ela seria capaz de resolver esse


problema de matemática.” Os lábios de Rufio se curvam em um
sorriso perverso. “Você está com ciúmes, mano?”

Phoenix ri. “Com ciúmes? De você? Me dá um tempo. Vou


colocar a pequena Daisy no meu dedo até o final da
semana. Você deveria ter visto como ela estava excitada
quando lhe enviei uma prévia do que está por vir.” O idiota
mexe as sobrancelhas para cima e para baixo.

Balanço a cabeça. Ainda não vi uma garota, seja ela uma


Norm, uma Fringe ou um Idol, que resistiu a seus encantos.

Rufio se inclina para a frente, apoiando os cotovelos nos


joelhos. “Você quer apostar dinheiro nisso?”

“Oh, pelo amor de Deus. Você realmente vai fazer isso de


novo? Veja quem pode dormir com a carne fresca
primeiro?” Reviro os olhos, afundando mais na minha cadeira.

Phoenix encolhe os ombros. “Por que não? É sempre


divertido induzir uma garota idiota a acreditar que nos
importamos.”

“Não, não é disso que estou falando.” diz Rufio. “Seduzir


uma garota Norm seria muito fácil. O jogo está em fazê-la se
apaixonar.”
“E por que você acha que isso seria um desafio? Garotas
se apaixonam por vocês todos os dias.” eu indico.

Rufio se recosta na cadeira, sorrindo presunçosamente.


“Sou um bom leitor de pessoas, e Daisy nos odeia tanto quanto
a odiamos.”

Eu assisto meu amigo através de fendas estreitas. “Então,


essa vai ser sua vingança contra ela? Quebrar o coração
dela? Eu tenho que dizer, é um pouco manso para você. Cadê
o sangue?”

“Oh, não se preocupe. Quando as víboras da escola


perceberem Phoenix e eu disputando a atenção da pequena
Daisy, elas vão trazer o bastão e as pedras.” Rufio coloca os
dedos atrás da cabeça. “Tudo o que tenho a fazer é sentar e
assistir.”

Meu peito está apertado de repente. Reconheço a reação


imediatamente pelo que é, meu presente de premonição se
manifestando. Se eu não tivesse tomado a Silver-voltage,
poderia estar tendo uma visão agora. Felizmente, faz meses
desde a última vez que tive uma.

O plano de Rufio é diabólico e aparentemente infalível,


mas a sensação de desgraça pairando sobre minha cabeça me
diz que as coisas não vão dar certo como ele planeja. Mas nada
que eu possa dizer irá dissuadi-lo de sua ideia. E se eu sacudir
a memória dele e lhe contar o que ele fez com Daisy em
Unearthly Desires, isso só piorará as coisas.

“Desafio aceito.” diz Phoenix. “Então, a quem Daisy disser


‘eu te amo’ primeiro ganha.”
Rufio balança cabeça. “Garotas mentem o tempo todo. Ela
tem que mostrar seu amor, não contar.”

Phoenix esfrega o queixo. “E quem será o juiz disso?”

Ambos se voltam para mim.

“Oh, porra, não.” eu digo.

“Vamos lá, cara. Com sua natureza perceptiva, você é o


único que pode dizer de verdade.” argumenta Phoenix.

“Pergunte ao Bryce.” Cruzo os braços na frente do peito.

“Meu irmão vive principalmente na cabeça dele, e não no


mundo real. Tem que ser você, Morpheus.” Rufio insiste.

Eu largo meu queixo, focando o padrão no cobertor ainda


enrolado em meus ombros. “Merda. Você não vai parar de me
incomodar até que eu concorde, vai?”

“Não.” responde Phoenix.

“Bem. Eu serei o juiz do seu jogo idiota. Mas é melhor


fazer isso acontecer rápido. Não quero perder meio semestre
prestando atenção em uma garota Norm.”

Especialmente quando tenho que estudar duas vezes mais


do que todo mundo para tirar boas notas. Todo esse poder de
Idol não garantia uma mente brilhante. Eu me pergunto se
minhas lutas com a academia são uma punição pelo que
minha mãe fez. É definitivamente a razão pela qual meu pai me
olha como se eu fosse uma maldição. Não importa se ele é um
Fringe de nível cinco e deve beijar o chão em que ando. Mas
sou eu quem afunda por sua afeição.

Mais do que frequentemente, eu odeio ser um Idol. Mas


esse é um segredo que ninguém jamais saberá.
Daisy

“ENTÃO, você descobriu alguma coisa?” Toby pergunta


antes de dar uma mordida enorme no seu sanduíche.

Eu caio no banco em frente a ele. Estamos almoçando lá


fora em uma das mesas de piquenique. É outro dia quente, e
nós somos os únicos tolos aqui. Nem mesmo a sombra do
carvalho está ajudando muito. Mas o refeitório da escola é tão
seguro quanto uma zona de guerra. Apesar da ausência de
Phoenix, Rufio e Morpheus — os três Idols que odeiam minha
coragem — a vibração da hostilidade ainda estava fora de
cogitação. Se eu achava que os Idols de Hawk City eram ruins,
os alunos da Gifted Academy são dez vezes piores. Não me
surpreenderia alguém me fazendo engasgar com a comida.

Toby foi quem sugeriu que sentássemos lá fora. Ainda


estou tentando entendê-lo. Ele é um Fringe, mas é legal. Nem
todas os Fringes são idiotas, mas não tenho certeza se a
gentileza de Toby é genuína ou não.

“Não. A enfermeira pensou que eu estava louca por


perguntar sobre Alicia. Ela disse que ninguém veio vê-la hoje
antes de eu aparecer, o que significa que Morpheus não a levou
para lá.”
Só contei a Toby sobre a parte em que pedi a Morpheus
que levasse a garota para a enfermaria. Eu nunca mencionei
que o garoto de olhos escuros tentou me sufocar até a morte
depois. Ainda não conheço bem Toby, mas ele é a única pessoa
amigável aqui. Não quero assustá-lo, revelando que estou na
lista de merda de gente como Morpheus e Rufio. Ele já sabe
sobre Phoenix — mais ou menos.

Toby mastiga sua comida lentamente enquanto seus olhos


se voltam calculistas. Depois que ele engole, diz: “Acho que sei
qual era o problema de Alicia. Se eu estiver certo, Morpheus
nunca a levaria à uma figura de autoridade.”

“Qual é a sua teoria?”

“Ela deve ter tomado Silver-voltage.”

“O que é isso? Uma droga?” Pego uma batata frita da


sacola.

“Sim. Uma droga altamente potente e super popular entre


os Idols. É extremamente perigoso para qualquer outra
pessoa. Os Fringes não são poderosos o suficiente para lidar
com a substância, e é mortal para os Norms.”

“Esse fato é bem conhecido? Quero dizer, ela poderia ter


tomado sem estar ciente dos efeitos colaterais?” Tomo um gole
do meu suco de laranja espremido na hora. É um luxo para
mim.

“Você está brincando comigo? Claro que é bem


conhecido. Às vezes, os Idols desafiam Fringes a usar a Silver-
voltage. Mas muitas vezes os idiotas consomem a droga.”
“O que a droga faz?” As crianças Norms também usam
drogas, maconha, cocaína, heroína, mas elas não afetam os
Idols.

“Bem, como não sou idiota, não tenho conhecimento em


primeira mão, mas ouvi pessoas dizerem que é como se
estivessem flutuando. Outros dirão que ficam eufóricos e
hiperativos. Eu acho que os efeitos colaterais são diferentes
para cada Idol, dependendo de suas habilidades.”

Mordo o lábio inferior. “Por que alguém escolheria ficar


chapado sozinho na academia? Você não acha isso estranho?”

Toby assente. “Oh, sim. Definitivamente estranho. Aposto


que ela não estava sozinha. Alicia é uma Fringe de nível
quatro.” Toby para de repente e inclina a cabeça. “Você está
familiarizada com a classificação de Fringes e Idols?”

Eu os conheço de dentro para fora, mas muito poucos


Norms o fazem. Tudo o que eles querem saber é ficar longe dos
Idols e desconfiar de Fringes. Meu conhecimento vem do diário
de papai, então não posso contar a verdade a Toby.

“Sei um pouco.”

“Certo. Então, basicamente, todos os Fringes e Idols têm


sangue de semideuses correndo em suas veias, mas a linhagem
é mais forte para os Idols; portanto, eles são mais
poderosos. Quanto mais próximos eles estiverem de seus
antepassados, mais fortes serão.”

“Então, qual é o nível mais forte para os Idols?” Eu


pergunto.
O diário de papai disse que o maior nível de poder
registrado era dezoito, mas ele não tinha certeza se o Idol era
realmente um Idol ou mesmo um semideus. Ele disse que os
Idols mais poderosos costumam estar na faixa dos catorze.

“Os livros de história do Idol dizem dezoito, mas ninguém


nunca viu um Idol tão poderoso. Então eu diria com certeza
dezessete.”

“Realmente? Acho que nunca me deparei com um Idol


mais forte do que catorze.” É isso que eu imagino que Rufio e
seus amigos sejam, pelo menos.

Toby coloca seu sanduíche meio comido na bandeja de


comida e me lança um olhar furioso. “Do que você está
falando? Claro que sim.”

“Quem?” Meu estômago aperta dolorosamente. Eu posso


adivinhar quem ele vai dizer.

“Os Quatro Magníficos.”

“Hã?”

“Rufio, Morpheus, Phoenix e Bryce. Cara, acho que tenho


me concentrado demais em mostrar os detalhes da escola. O
que você precisa é de uma palestra sobre hierarquia de
Idols. Rufio, Morpheus e Phoenix são do nível quinze e são os
reis da escola.”

Merda.

“E Bryce?”
“Oh, ele está em uma liga própria. Ele tem fodidos
dezessete.”

Meu queixo cai no chão. Não acredito que fui reclamar de


barulho para um Idol tão poderoso. Ele poderia ter me
destruído com um estalar de dedos. Sorte minha que não
fez. Mas ainda assim, estou na lista de merda dos Idols mais
poderosos da escola, mas também dos Idols mais poderosos de
todos os tempos. Porra, por que eu tenho que ser tão
ultrapassada?

O olhar de Toby passa pelo meu ombro. “Ah, porra. Aí vem


Dreadzilla e seu bando.”

“Quem?” Eu viro.

Uma ruiva alta está marchando em nossa direção. Ela


está ladeada por duas outras garotas, incluindo a que eu quase
briguei ontem. Ótimo.

“O nome dela é Drusilla Dharma. Desagradável até os


ossos. Ela é uma Idol de nível doze. A loira à sua esquerda, a
que você já irritou, é Cherise Blake, uma Fringe nível nove. E
a outra garota é Renata Pomme, uma Idol de nível dez. Você
pode ignorá-la; ela é burra demais para ser um problema.”

As três garotas param em frente à nossa mesa, todas


cheias de sorrisos e atitude.

“Então, você é a nova cadela Norm.” Drusilla me dá uma


olhada. “Estou meio decepcionada. Eu pensei que você seria
mais... de aparência ameaçadora.”
A abelha rainha lança um olhar castigador na direção de
Cherise. A garota se encolhe.

“Você quer alguma coisa?” Eu pergunto.

“Oh, sim, agora que você mencionou, eu quero algo.” Ela


se inclina para frente, aproximando a boca da minha orelha.
“Eu quero que você arrume seus pertences desprezíveis e tire
seu traseiro Norm da minha escola.”

Ela se endireita com um grande sorriso de plástico no


rosto.

“Sério?” Eu zombei. “Vocês não têm nada melhor para


fazer do que me ameaçar? Quão miseráveis são suas vidas?”

“Nossas vidas não são miseráveis.” responde Renata,


indignada.

Com um bufo e um olhar furioso, Drusilla se vira para a


amiga. “O que eu te disse, Renata? Sem falar, a menos que eu
diga para você.”

A morena se encolhe, mantendo o olhar abatido.

Quem precisa de inimigos quando você tem amigos como a


Dreadzilla?

Olho para Toby, que está visivelmente tenso.

Unhas compridas e afiadas cravam na minha pele quando


Drusilla me agarra pelo queixo e me obriga a olhá-la. “Deixe a
Gifted Academy, ou nós tornaremos sua vida um inferno.”
Meu sangue atinge a temperatura de ebulição. Eu tiro a
mão dela de cima de mim e me levanto. “Não me toque, porra.”

Os olhos verdes de Drusilla se arregalam, mas o gesto


dura apenas um segundo antes que seu olhar se estreite.

“Ajoelhe-se.” diz ela, apenas sua voz soa diferente, quase


como se várias pessoas estivessem falando através dela.

Meus joelhos dobram debaixo de mim. Eu luto contra a


compulsão o mais forte que posso, mas acabo me inclinando
na frente da cadela de qualquer maneira.

“Drusilla, pare com isso.” Toby esquece o almoço e fica de


pé.

Merda. Não quero que ele tenha problemas com essas


garotas por minha causa.

“Cale a boca, Fringe, ou você é o próximo.” Drusilla


retruca.

“Deixe-me ir.” eu digo com os dentes cerrados.

Ela ri e suas servas seguem o exemplo. “Eu acho que


não. Gosto de ver prostitutas sujas onde elas pertencem.”

Estou tremendo e suando, mas não importa o quanto


tente me libertar do poder do Idol, não posso.

“O que está acontecendo aqui?” uma voz masculina


pergunta por trás das meninas más.
Elas se viram, permitindo que eu veja quem está ali, em
toda a sua cruel beleza. Rufio. Foda-se. A última coisa que eu
queria era que ele testemunhasse minha humilhação. Mesmo
assim, meu estômago começa a girar fora de controle e uma
sensação estranha atinge meu peito, levando minha cabeça
para dar uma volta. Ele é odioso, então minha reação ao vê-lo
não passa de idiota.

Em minha defesa, agora que ele não está me encarando


com um olhar assassino, posso realmente prestar atenção à
sua aparência. Seu cabelo é escuro, com franja longa,
estilizada de uma maneira bagunçada. Suas maçãs do rosto
são altas e seus lábios cheios — e muito beijáveis. Droga. Por
que ele tem que ser tão atraente? Seus amigos também são
muito bonitos. Deve ser a proximidade deles com os
deuses. Não é de admirar que eles sejam chamados de os
Quatro Magníficos. É quase como se a beleza divina deles fosse
uma tentativa de esconder seus corações feios.

A gravata de Rufio está solta em volta do pescoço e os


botões superiores da camisa estão desfeitos, o que apenas
adiciona uma vibe de diabo à sua imagem. Como se ele
precisasse de pontos sexy extra.

“Oh, Rufio. Estou apenas colocando a Norm no lugar


dela.” responde Drusilla. Seu tom ficou mais doce a ponto de
me dar uma dor de dente.

“Deixe-a ir.” ele responde, duro e frio. Não deixa espaço


para discussão.

A compulsão que me mantém de joelhos evapora. Eu


rapidamente pulo de pé e limpo a sujeira das minhas pernas,
mas minha tensão dobrou. A presença de Rufio aqui é ainda
mais motivo de preocupação.

Contra a minha vontade, tremores assolam meu corpo


enquanto espero o Idol que deseja que eu morra. Não comprei
a gentileza dele durante a aula de matemática por um segundo.

Drusilla rebola em direção a Rufio, parando apenas


quando ela está na frente dele, invadindo seu espaço pessoal.

“Eu não tenho visto você por aí ultimamente.” Ela coloca


uma mão bem cuidada no peito dele.

Rufio olha para o rosto de Drusilla. Então, com um som


de empurrão, ele a afasta para longe dele e caminha ao seu
redor em minha direção.

“Você está bem?” ele pergunta como se estivesse


realmente preocupado. Não há nada em seu tom ou expressão
que mostre sua duplicidade. Mesmo assim, sou cautelosa. Ele
pode ter uma excelente cara de pôquer, mas eu sei que ele não
é confiável.

“Sim, estou bem.” Eu viro para a minha bandeja. Só


consegui comer metade do meu almoço antes que Drusilla
aparecesse, mas não tenho mais fome.

“Por que você está perguntando se a Norm está bem? Eu


não entendo.” pergunta a amiga de Drusilla, aquela que Toby
disse que não era muito inteligente. Estou começando a
concordar com a avaliação dele.
Em vez de responder, Rufio simplesmente olha por cima
do ombro e se concentra na líder. “Você deve deixar Daisy em
paz.”

As sobrancelhas de Drusilla se erguem. “Uh, o quê?”

“Você me ouviu. Agora siga em frente.”

Seus olhos brilham com tanto ódio que eu posso sentir


nos meus ossos. Foda-se. Acabei de adicionar outro inimigo à
minha lista cada vez maior. Eu realmente preciso parar de
colecioná-los como se fossem moedas.

Com um bufo, Drusilla se vira e volta para o prédio,


seguida por suas amigas.

Rufio volta sua atenção para mim e me dá um sorriso


torto. Seus olhos são intensos, mas desprovidos de
animosidade. Não importa. Ele tira o meu fôlego, seja ele
sincero ou uma cobra. De fato, seu olhar apreciativo é pior que
o assassino. Dissolve minha raiva fervente, que está sempre na
superfície como uma armadura de aço, me protegendo. Não
posso baixar minha guarda; estar sempre no limite é o que
manteve Rosie e eu vivas todos esses anos.

“Você está bem?” ele pergunta.

“Estou bem.” Cruzo os braços sobre o peito e logo os jogo


de lado. Não posso mostrar nenhum sinal de que tenho medo
dele. “Você não precisava intervir.”
Ele arqueia uma sobrancelha. “É assim mesmo? Então
você está me dizendo que estava prestes a se libertar da
compulsão de Drusilla?”

“Eu estava trabalhando nisso.”

Toby limpa a garganta e eu me viro para encará-lo. Ele


está tentando o seu melhor para me dizer algo com os
olhos. Provavelmente ele quer que eu morda minha língua. Eu
deveria. Rufio é poderoso e obviamente não é bom. Ninguém
vai de querer matá-la à cavaleiro de armadura brilhante em
questão de dias.

“Oi, Toby.” diz Rufio, seu tom tão descontraído quanto


uma brisa de verão.

“Oi. Precisamos ir ou vamos nos atrasar para a


aula.” Toby pega sua bandeja e me incentiva a fazer o mesmo.

“Que aula você tem agora?” Rufio pergunta.

“EF7.” eu respondo.

“Oh, que bom. Eu vou junto.”

“Você não tem PE.” Toby franze as sobrancelhas,


observando Rufio com suspeita agora.

Rufio enfia as mãos nos bolsos e encolhe os ombros. “É


um período livre para mim a seguir.” Ele olha para mim.
“Tenho a sensação de que será uma aula interessante.”

7 Educação Física.
O que diabos ele quis dizer com isso?
Daisy

NÃO demoro muito para entender qual é o jogo de


Rufio. Obviamente, não cresceu um coração em dois dias. Não,
sociopatas como ele não sabem o significado da palavra
empatia.

Primeiro, ele me emprestou seu tablet ontem, sem dúvida


apostando que eu não seria capaz de resolver o problema de
matemática. Hoje, ele está seguindo uma sugestão do livro de
Phoenix: rejeite a abelha rainha a meu favor e pinte um alvo
nas minhas costas. Os olhares e escárnios que recebo de todas
as alunas que encontro no caminho para o ginásio são apenas
um prelúdio do que está por vir. Então ele não é apenas um
idiota, ele é um idiota preguiçoso. Ele não consegue nem se
vingar por uma falta que eu não cometi; apenas usará suas
muitas admiradoras para fazer seu trabalho sujo por ele.

Bem, vamos lá, cadelas.

Ele está andando ao meu lado, exalando toda a confiança


de que alguém com seu poder e aparência nasce. Ele não teve
que se trocar, pois não está em nossa classe, mas esperou que
Toby e eu o fizéssemos. Eu tive sorte que o vestiário das
meninas estava vazio quando tive que usá-lo.

Não olho na direção dele e não caio nas suaa tentativas de


iniciar uma conversa. Na verdade, quero ver quanto tempo ele
manterá a fachada antes de entrar e mostrar suas verdadeiras
cores.

“Você não é uma pessoa muito faladora, é, Daisy?” ele


pergunta alto quando estamos andando por um grupo de
garotas.

Imbecil.

“Considerando a primeira vez que nos conhecemos, você


queria me matar, não, não estou com vontade de falar com
você.”

“Ai. Acho que mereço isso.” Ele ri.

Puxa, o som é irritante e sedutor ao mesmo tempo. Você


não pode se apaixonar por suas besteiras, Daisy. Isso é uma
armadilha.

“Estamos aqui.” Toby anuncia na frente das portas duplas


de metal. Há uma nota anexada a uma delas.

Rufio estica a mão, entrando no meu espaço pessoal, e


pega a folha de papel da porta.

“Diz que os estudantes devem ir para a quadra de tênis lá


fora.” diz ele.

“Deixe-me ver isso.” Toby arranca o papel da mão de


Rufio. Parece que ele esqueceu quem o cara é, ou talvez esteja
acreditando nos falsos modos amigáveis de Rufio. “Eu não
posso acreditar, porra. Eles querem que a gente se exercite lá
fora nesse calor?”
“Não vai ser tão ruim.” eu digo. “Vamos lá, ou vamos nos
atrasar.”

Retrocedemos nossos passos e, menos de dois minutos


depois, estamos de volta ao calor abrasador da Saturn’s
Bay. Um grupo de estudantes já está reunido na quadra de
tênis. Eles mudam sua atenção para nós quando nos
aproximamos. A animosidade está surgindo em ondas do
grupo, até dos caras.

“Ah, Srta. Woods e Sr. Macintosh. Fico feliz que vocês


possam finalmente se juntar a nós.” uma mulher atarracada
de short bege e uma camiseta polo branca se dirige a nós.

“Desculpe pelo pequeno atraso, Srta. Piccolo. Não


sabíamos que a localização da turma havia mudado.” responde
Toby.

A professora de EF se concentra em Rufio. “E o que você


está fazendo aqui, Sr. Kent?”

“Tenho um período livre, Srta. Piccolo. Eu estava apenas


mostrando a casa à Daisy. Você sabe, sendo útil.”

A mulher estreita os olhos. Sim, ela também não está


comprando o lixo de Rufio. Infelizmente, suas alunas estão
consumindo cada palavra que ele diz, o que significa que
estarão me perseguindo assim que eu der as costas para elas.

“Bem. Se você quer sofrer sob esse calor infernal conosco,


que assim seja. Srta. Woods e o Sr. Macintosh, entrem na fila
já.” Ela aponta para onde quer que a gente vá.
Com passos rápidos, Toby e eu nos juntamos aos outros
alunos. Quando a Srta. Piccolo se vira para ajustar a máquina
de bolas de tênis no final da quadra, Toby pergunta ao cara
mais próximo de nós: “Você sabe por que estamos tendo aula
de tênis hoje?”

O garoto magro com uma mecha de cabelo encaracolado


escuro me observa com ressentimento. “É tudo graças à fracote
ao seu lado.”

“Eu?” Eu pergunto. “O que eu tenho a ver com isso?”

“Você é muito fraca para lidar com um esporte


coletivo. Nossa diretora não quer que você quebre na primeira
semana de aula.”

“Eu não pedi para ela mudar o horário.” eu respondo, me


sentindo frustrada. “Além disso, não sou tão frágil quanto
pareço.”

O garoto dá um passo na minha direção. “Oh, isso é um


desafio?”

“Afaste-se, Conan.” Rufio se move na minha frente,


impedindo o cara de avançar mais.

Inclino meu corpo para o lado para que eu possa ver a


reação de Conan. Sua pele está mais pálida agora e
desapareceu a arrogância de antes.

“Rufio, desculpe, cara. Não sabia que ela era sua.”

Os pequenos pelos na parte de trás do meu pescoço ficam


arrepiados. Eu sou sua? Ninguém é meu dono, então a
declaração de Conan me deixa furiosa. Mas antes que eu possa
cavar ainda mais minha cova e expressar minha indignação em
voz alta, a Srta. Piccolo chama nossa atenção.

“Ok, pessoal. Ouçam. Sei que a última coisa que vocês


querem é se destacar nesse calor e acertar algumas bolas, mas
quanto mais rápido acabarmos com isso, mais rápido vocês
poderão voltar aos seus quartos refrigerados.”

“Isso é uma vergonha. Eu já sei jogar tênis.” protesta uma


garota de cabelo rosa e franja grossa. “Esse é um esporte para
bebês, ou Norms fracos.” Ela olha para mim.

“Eu vou te mostrar a fraca, vadia.” murmuro baixinho.

Rufio ri, lembrando-me que ele ainda está super perto.

“Tenho certeza de que você poderia colocar a garota Fringe


no lugar dela, Daisy.” Rufio responde suavemente. Meu nome
sai de sua língua como uísque suave, me dando arrepios.

Eu me afasto, aumentando a distância entre nós.

A fila para acertar a bola de tênis se move mais rápido do


que eu previa. Parece que a maioria dos estudantes sabem
jogar bem com uma raquete de tênis. Meu palpite é que eles
praticam o esporte desde que estavam sem fraldas. Não sou
idiota quando se trata de esportes, mas aprender a jogar tênis
não era uma prioridade para mim. Concentrei-me em
atividades extracurriculares que me deram uma vantagem,
uma maneira de me defender.
Minha vez chega bem rápido, e me sinto insegura
enquanto seguro a raquete de tênis na mão e me preparo para
acertar algumas bolas. O peso de uma dúzia de pares de olhos
não está me ajudando a ganhar confiança. Eu nunca fiz isso
antes, então há uma grande chance de eu estragar
tudo. Fico feliz que isso aconteça na frente de todas essas
pessoas que me detestam.

“Srta. Woods, você já jogou tênis antes?” Srta. Piccolo


pergunta.

“Não.”

“Eu imaginei. Bem, não há segredo para isso. Essa


máquina do outro lado lançará bolas em sua direção. Tudo o
que você precisa fazer é acertá-las.”

Ela tenta corrigir meu aperto na raquete de tênis e minha


posição antes de se afastar. Minhas mãos estão suadas e não
tem nada a ver com o calor. Tento ignorar as risadas e os
comentários maldosos dos outros alunos, mas estou tendo
dificuldades para criar uma proteção em volta de mim.

Quando a primeira bola de tênis vem, eu sou muito lenta


e acabo batendo no ar vazio. O riso zombador se torna mais
alto, e não tenho orgulho de dizer que está me afetando
totalmente. Meu rosto está quente e há um zumbido nos meus
ouvidos.

Perco as próximas três bolas, e agora não estou apenas


mortificada, mas também chateada como o inferno. O desejo
de jogar a maldita raquete para longe é grande. Eu juro que a
última bola estava no chão.
A professora de EF tenta me ajudar novamente, mas ela
não entende que não é a falta de coordenação que está me
impedindo de atingir o alvo. É quase como se a maldita
máquina estivesse enviando bolas curvas em minha direção.

“Srta. Piccolo, talvez eu possa ajudar Daisy.” Rufio se


afasta da linha lateral e se aproxima de nós.

O riso dá lugar ao silêncio absoluto, e toda a atenção


desvia para Rufio. Até eu estou fascinada com ele. Há algo
diferente no Idol agora, quase como se ele estivesse cercado por
uma aura de poder. A atmosfera crepita ao seu redor. Mais
uma vez, meu corpo traidor reage de uma maneira odiosa —
estou com falta de ar e borboletas radioativas estão tremulando
maniacamente no meu estômago.

Não, não posso permitir que meus hormônios atrapalhem


meu julgamento. Sim, o cara é mais quente que o pecado, mas
é cruel e definitivamente está querendo me pegar.

“Seja meu convidado.” A mulher joga as mãos para o alto,


já desistindo de mim.

Que ótimo programa eles têm aqui. Meu ex-professor de


EF era dez vezes mais paciente que a Srta. Piccolo.

Os lábios de Rufio se curvam em um sorriso malicioso


enquanto ele rompe a distância final entre nós.

“Por que você é tão presunçoso?” Eu pergunto.

As sobrancelhas dele se erguem como se minha pergunta


o surpreendesse.
“Eu não sou presunçoso. Agora, você quer aprender a
jogar tênis ou não?” Ele tira o paletó e arregaça as mangas da
camisa. Desejo lambe a base da minha espinha, e eu estou
achando que tudo o que Rufio está fazendo é de propósito. Ele
sabe o efeito que tem sobre o sexo oposto. O mistério é por que
estou sendo vítima de seus encantos.

“Eu só quero que essa humilhação termine.”

Rufio anda ao meu redor e se posiciona nas minhas


costas, muito perto. Minha coluna fica tensa em um
instante. Ele traça meu antebraço com os dedos, deixando um
rastro de arrepios pelo caminho, o que não ajuda em
nada. Paro de respirar por um segundo.

“O que você está fazendo?” Eu pergunto.

Sem responder, ele me envolve em um abraço, enviando


meu batimento cardíaco em disparada. Estou a um segundo
de dar uma cotovelada em seu estômago para me libertar
quando a intenção de sua proximidade se tornar óbvia.

“Você está segurando a raquete errado.” Ele guia minhas


mãos pela alça da raquete e depois se aproxima ainda mais de
mim. Agora minhas costas estão contra o peito dele. “Relaxe,
eu não vou te morder.”

“Não, você só vai me explodir em pedacinhos.” eu


respondo em voz baixa.

“Se isso é sobre o incidente na lanchonete? Eu sei que a


torta na cara não foi por sua causa.”
“Ah, e de quem foi a culpa, então?”

“Phoenix.”

“Claro que foi.”

“Sr. Kent. Você está ajudando Daisy ou só queria


aproveitar a oportunidade?” Srta. Piccolo pergunta do outro
lado da quadra.

O calor surge no meu rosto.

Rufio ri. “Não ligue para ela. Ela está com ciúmes porque
não está recebendo nada.”

“Você também não está conseguindo.” Eu tento romper


com o alcance de Rufio, mas ele só me abraça mais.

Aparentemente não satisfeito, ele aproxima a boca da


minha orelha. “Eu não tenho tanta certeza sobre...”

Ele para de falar abruptamente e cheira meu


pescoço. Meus olhos se fecham involuntariamente quando um
calafrio percorre minha espinha. Rufio engasga, um som que
eu nunca poderia imaginar que ele era capaz de fazer, logo
antes de me soltar como se eu o tivesse eletrocutado de alguma
forma.

A Srta. Piccolo liga a máquina no momento em que estou


me virando para ver o que há de errado com o cara. A bola de
tênis acaba batendo no meu ombro direito e eu grito.

“Daisy!” Toby exclama, e então ele corre em minha


direção.
Segurando meu ombro, vejo Rufio se afastar da quadra de
tênis sem olhar para trás. Uau, ele não conseguiu manter a
mentira por nem uma hora.

“Daisy, você está bem?” Toby entra na minha linha de


visão, forçando-me a esquecer Rufio por um momento.

“Sim, eu estou bem.”

“Srta. Woods. Isso foi absolutamente imprudente da sua


parte.” diz Srta. Piccolo, olhando do outro lado da quadra.
“Você poderia ter sido gravemente ferida.”

“Sinto muito.” respondo docilmente.

“O que você esperava de uma Norm estúpida?” a garota de


cabelo rosa responde.

“Ninguém pediu sua opinião, Srta. Winters.” Srta. Piccolo


vira o olhar para a Fringe irritante.

“Acho que devo levar Daisy para ver a enfermaria. Foi um


golpe duro.” sugere Toby.

Srta. Piccolo assente. “Sim, acho melhor.”

“E o resto de nós? Ainda precisamos sofrer sob esse


calor? Só estávamos aqui por causa da nova garota.” diz
Conan.

Ele ainda está agindo muito melhor, apesar da partida de


Rufio.

“Bem, eu supon...”
Um grito na multidão interrompe o que Srta. Piccolo
estava prestes a dizer. Todos na fila se voltam para o
barulho. Uma garota tímida agora está cobrindo a boca com as
duas mãos enquanto olha para a forma amassada da Fringe de
cabelo rosa.

“Oh, pelo amor de Deus.” Srta. Piccolo corre em direção à


garota no chão.

Troco um olhar preocupado com Toby antes de fazer o


mesmo.

“Para trás.” A Srta. Piccolo empurra os alunos para fora


do caminho e depois se agacha ao lado da garota inconsciente.
“O que aconteceu?”

“Eu não sei.” a menina tímida responde. “Um momento


Stella estava rindo da garota Norm, e no seguinte, seu nariz
começou a sangrar e ela desmaiou.”

Finalmente estou perto o suficiente para ver o rosto


manchado de sangue da Fringe. Alicia também sangrou pelo
nariz antes de cair meio morta em cima de mim.

Incapaz de resistir, pergunto: “Os olhos dela viraram antes


de desmaiar?”

A amiga de Stella franze as sobrancelhas. “Sim, como você


soube?”

Abro a boca para responder, mas Toby dá uma cotovelada


no meu braço e responde antes que eu possa.
“Palpite de sorte. Srta. Piccolo, você precisa de ajuda para
levar Stella à enfermaria?”

A professora de EF olha furiosa para Toby. “Claro que


não.” Ela levanta Stella facilmente em seus braços e se dirige à
multidão. “Quero que todos voltem ao edifício principal
imediatamente.”

Ela não espera que reconheçamos seu comando antes de


sair da quadra de tênis. A amiga de Stella segue a professora
logo atrás.

Quando a Srta. Piccolo está fora do alcance da voz, todos


começam a falar de uma vez. A palavra na língua de todos é
Silver-voltage.
Rufio

VOU matar aqueles filhos da puta. Não acredito que eles


me deixaram no escuro por três dias sobre o que aconteceu em
Unearthly Desires. Três dias de merda! Agora a pergunta de
Bryce na segunda-feira de manhã faz sentido. Ele queria saber
se eu me lembrava de algo.

Filho da puta.

Eu não posso acreditar que estava todo sobre a Daisy


como um vagabundo em um cachorro-quente e não a
reconheci. Se tivesse, provavelmente a teria matado com
minhas próprias mãos. Eu nem teria usado meus
poderes. Agora que as memórias retornaram, não quero mais
matá-la, apenas destruí-la e por razões totalmente diferentes.

Eu quero ela. Apesar de ser uma Norm que não conhece


seu lugar, quero que a garota seja uma deusa enviada do
céu. Este não é um simples desejo carnal que pode ser
atendido com uma simples conexão. Um desejo profundo me
atingiu do nada quando senti seu doce perfume na quadra de
tênis, e uma febre ardente varreu meu corpo. Se eu não tivesse
saído imediatamente, poderia tê-la jogado por cima do ombro
e trazido de volta para o meu quarto.
Eu não me incomodo em voltar para a escola. Preciso
arrumar minhas coisas antes de ver Daisy novamente. Ela
nunca pode conhecer o poder momentâneo que tinha sobre
mim.

Ninguém está em casa quando eu atravesso a porta do


apartamento. Bom. Não estou com vontade de ver ou falar com
ninguém, principalmente porque meus amigos poderiam dizer
que algo está definitivamente errado comigo.

Apesar do vazio do apartamento, não paro até que esteja


no meu quarto, fechando a porta com força suficiente para
abalar as paredes. O espelho pendurado acima da minha
cômoda cai, quebrando-se em mil pedaços quando atinge o
topo da cômoda antes de cair no chão.

Ótimo. Sete anos de azar. Como se eu precisasse de mais


besteira na minha vida.

Passo por cima dos cacos de vidro e vou para o


banheiro. Eu preciso de um banho frio para acalmar, porra.

Meu uniforme sai com puxões fortes, e não ficarei


surpreso se o transformar em trapos.

Coloco as duas mãos contra as paredes de azulejos e olho


para baixo. A água está gelada quando passo sob a corrente, e
ainda assim meu corpo parece uma fornalha. A imagem de
Daisy dançando seminua naquele palco no Unearthly Desires
está na minha frente. Ela era de tirar o fôlego, linda, sexy como
o inferno. Tudo que uma Norm não deveria ser.
Meu pau não se importa que eu odeie a garota, que devo
destruí-la. Está em alerta, duro como uma rocha. Envolvo
meus dedos ao redor do eixo e perversamente imagino que é a
mão de Daisy me bombeando para cima e para baixo. Um
assobio baixo escapa dos meus lábios. Não me lembro da
última vez que precisei me masturbar para manter minha
sanidade. Mas aqui estou eu, de olhos fechados, gemendo
enquanto minha mão faz o trabalho que sei que não vai me
ajudar muito. Esse tipo de necessidade só pode ser saciada por
quem a instigou.

Minha imaginação assume, e de repente é a boca de Daisy


que está envolvida em meu pau. Na minha mente, sua língua
é quente e experiente. Agarro seus cabelos e puxo com força o
suficiente para doer. Ela trava seu olhar com o meu, e seus
olhos cheios de luxúria não são submissos. Não, ela está me
observando como sempre fez desde que nos conhecemos. Com
desafio.

O lançamento vem rapidamente. Eu grito enquanto


ordenho meu orgasmo, odiando que eu desejasse que Daisy
estivesse aqui, de joelhos, me desafiando.

Quando me esvaziei no chão molhado, finalmente abri os


olhos. No meio da minha libertação, perfurei um buraco na
parede. Ela me deixou irritado.

Destruí-la não é mais uma questão de dizer um grande


“foda-se” aos Cavaleiros e sua propaganda. É uma questão de
autopreservação.

Se eu não a destruir, ela vai me destruir.


***

Phoenix

Rufio acha que tem essa aposta no papo, mas sei que ele
não será capaz de manter a farsa por muito tempo. Quando ele
descobrir sobre o evento no Unearthly Desires, ficará furioso,
o que naturalmente o levará a estragar o acordo com Daisy.

Estou contando os minutos até ver a Norm


novamente. Essa maldita aula de física está me entediando até
às lágrimas. Não sei por que a sociedade Idol insiste em que
aprendemos o mesmo currículo que Fringes e Norms. Nós não
somos os mesmos. Podemos fazer coisas que aqueles com
pouco ou nenhum poder sequer podem imaginar.

Graças a Deus, o novo conselho escolar insistiu que os


Idols fizessem aulas extras, adaptadas para aprimorar nossas
habilidades especiais. É a única coisa que torna a Gifted
Academy suportável. Bem, isso e minha aposta contra Rufio.

Trago o horário das aulas de Daisy na tela do meu


laptop. Ela está na EF agora, mas depois disso é Inglês
Avançado com Bryce e eu. Um pequeno sorriso brota nos meus
lábios. Mal posso esperar para dar à Daisy outra visão do que
está por vir. Eu nunca tive que perseguir uma garota
antes; essa mudança de ritmo é refrescante.
Quinze minutos antes do término da aula, meu telefone
toca com uma mensagem de meu pai. Diz apenas ‘Preciso de
você agora’. Náuseas rodam no meu estômago. Com um aperto
firme na mandíbula, desligo o telefone e finjo que não vi
nada. É uma atitude infantil da minha parte, já que ele tem
outras maneiras de entrar em contato comigo.

Como um relógio, a tatuagem no meu pulso começa a


queimar.

Não, agora não. Droga.

Puxo a manga da minha jaqueta para baixo, mesmo que a


tatuagem esteja completamente coberta. A queima é
suportável no início, mas aumenta quanto mais eu ignoro o
chamado. Ele não vai parar até eu fazer o que ele quer. Ele não
me incomoda há semanas, então foi estúpido da minha parte
não prever que ligaria em breve.

Sou capaz de suportar cinco minutos de pura agonia antes


de finalmente pular da cadeira e me dirigir à porta.

“Onde você pensa que está indo, Sr. Westbrook?”

“Vou ver a enfermeira.” respondo com os dentes cerrados.

Não espero ouvir a resposta do professor. Quando estou


no corredor, vou até o armário do zelador que usei várias vezes
antes para conexões.

Encostado na porta fechada, não acendo as luzes. Minha


respiração está irregular, então afrouxo a gravata em volta do
pescoço. O desgosto está na boca do meu estômago como
mingau de uma semana.

Eu toco na tatuagem antes que meu pai perca a paciência


e decida me fazer uma visita pessoal. Por pior que seja ele me
forçar a enviar-lhe as visões perturbadoras que tanto deseja, é
melhor do que ter que realizar o ato pessoalmente.

A queima para quase imediatamente. Com uma


inspiração profunda, configuro a cena. Estou no escritório do
meu pai, o ambiente preferido do homem odioso. Ele está
sentado atrás da mesa, me olhando com um sorriso
presunçoso nos lábios.

“Quando digo que preciso de você, espero ser atendido


imediatamente.” diz ele.

Estou no controle total das visões que envio, incluindo as


falas. Mas eu sei do que o homem gosta, porra, eu venho
fazendo essa merda há quase sete anos.

“Eu estava no meio da aula.”

“Me poupe das suas desculpas.” Ele acaricia as mãos na


mesa e se levanta. “Tire suas roupas.”

Eu obedeço a sua ordem como o bom garoto que sou, mas


no fundo da minha mente, estou sempre planejando o dia em
que o matarei. Imaginei mil maneiras de afastar o homem e,
em todas elas, faço-o sofrer a ponto de implorar pelo fim. É um
sonho que eu não vejo uma maneira de realizar, no
entanto. Não até encontrar uma maneira de remover a
tatuagem no meu pulso — as algemas proverbiais que me
impedem de remover o coração do homem com as mãos nuas.

Eu me desnudo e espero que ele caminhe lentamente em


minha direção. Mesmo sabendo que a cena não é real,
tremores correm pelo meu corpo. Mordo o interior da minha
bochecha para me distrair da náusea. Vomitar por todo o traje
intocado de meu pai não serve, mesmo que tudo isso esteja
acontecendo em sua cabeça.

Ele para na minha frente, invadindo meu espaço. Eu sei


exatamente o que vai acontecer a seguir. Não há necessidade
de ser criativo. O monstro que me gerou sempre quer a mesma
coisa: minha total humilhação. Ele chega atrás da minha
cabeça e agarra um punhado de cabelo, puxando-o com força
e forçando meu rosto para cima.

“Você tem sido um filho terrível. Você sabe o que fazer.”

“Sim, Pai.”

Ele me solta para que eu possa fazer minhas coisas. Caio


de joelhos e, pela milésima vez, desejo morrer.
Daisy

Todo mundo ainda está falando sobre o que aconteceu


com Stella na aula de EF quando vou para a aula de literatura
Inglesa. Como a aula de tênis foi interrompida, tive tempo de
voltar para o meu dormitório e tomar banho lá. A ideia de
tomar banho no vestiário, estar nua e vulnerável cercada por
garotas que me odeiam, não é minha ideia de diversão.

Não vou conseguir evitar isso por muito tempo, então


tenho que criar uma maneira de lidar, ou pelo menos adquirir
algum tipo de proteção, como spray de pimenta. Sei que os
Idols são imunes à maioria senão a todas as armas fabricadas
pelos Norms, mas o diário de papai não mencionou que uma
boa e velha água temperada à moda antiga não funcionaria.

Eu sou a primeira na sala de aula, então vou para o


fundo. Vamos ver se consigo sobreviver à palestra de duas
horas sem chamar atenção.

Eu soltei um suspiro. Boas vibrações, Daisy.

Pego um caderno e uma caneta da minha bolsa, mas a


ação é automática. Meu cérebro ainda está colado à estranha
reação de Rufio, depois ao que aconteceu com a garota
Fringe. Não posso deixar de questionar se Stella tomou a droga
perigosa em um desafio ou se ela era estúpida o suficiente para
fazê-la sozinha.

Eu me perco na minha cabeça e não percebo que estou


mastigando a ponta da caneta quando uma voz masculina à
minha esquerda diz: “Se você está com fome, tenho uma barra
de chocolate na minha bolsa.”

Eu me sacudo no meu lugar quando me viro, encontrando


Bryce me observando de uma maneira minuciosa. Todos os
pensamentos anteriores que ocupam minha cabeça
desaparecem em uma fração de segundo. Em seu lugar, a
imagem de Bryce largando sua maldita toalha é tudo o que
vejo.

“O que?” Eu pergunto estupidamente.

“Você estava comendo sua caneta. Pensei que estivesse


com fome.” Ele pesca uma barra de chocolate da mochila.
“Então, chocolate?”

Eu não acho que ele está zombando de mim. Ele parece


sincero. Mas balanço minha cabeça de qualquer maneira.
“Não, obrigada.”

Ele se recosta na cadeira e desembrulha a guloseima.


“Bom. Mais para mim.” Ele dá uma grande mordida no
chocolate escuro enquanto olha para o quadro branco.

Incapaz de manter a boca fechada, pergunto: “Você tem


um dente doce, não é?”
Ele volta sua atenção para mim, mas só responde depois
que engole. “O que te faz dizer isso?”

Não há humor em seu tom nem em seus olhos. Ele


claramente não tem ideia do porquê estou perguntando isso a
ele.

“Palpite ousado.” Abro o caderno em uma página em


branco aleatória e fixo meu olhar nela, tentando o meu melhor
para ignorar o fato de Bryce estar olhando um buraco no meu
rosto.

Segundos se passam, até que ele finalmente diz: “Você


sabe assar?”

Coloquei minha caneta na mesa e olhei para ele. “Não


pretendo ser uma especialista, mas eu me viro.”

“Você pode fazer uma torta?” Ele se inclina para frente,


sua voz monótona finalmente mostrando um toque de
excitação.

Não posso evitar a risada que escapa dos meus lábios.


“Sim. Então, torta é sua fraqueza, hein?”

Suas sobrancelhas franzem e seus lábios se tornam nada


além de uma linha fina e plana. Merda. Eu esqueci com quem
estava falando.

“Eu não tenho uma fraqueza.” Ele olha para frente


novamente e observa o fluxo de estudantes quando eles entram
lentamente.
Minha observação serviu apenas para merecer o
tratamento silencioso de Bryce. Vou tomar isso como
retaliação a qualquer momento. Maior do que o que seus
amigos tentaram antes.

Phoenix entra naquele momento preciso, exalando apelo


sexual e algo muito mais perigoso do que isso. Há algo
diferente nele hoje. Uma rápida olhada em seu rosto me diz que
ele está de mau humor.

Ótimo.

Antes que eu possa desviar meu olhar, nossos olhares


travam e vejo uma tempestade de emoções ruins brilhando em
seus lindos olhos verdes. Há uma raiva enrolada em torno de
seu corpo, e posso dizer que não será preciso muito para
desencadear o animal. Involuntariamente, eu me encolho.

Ele sorri perversamente enquanto puxa a cadeira ao lado


da minha. “Daisy, você não tem ideia de como estou feliz em
vê-la novamente.”

Ele está me provocando, mas meus instintos de


autopreservação finalmente fizeram efeito, então eu não
respondo à sua declaração.

“O que? O gato comeu sua língua?” ele pergunta.

O professor entra na sala de aula bem a tempo, dando-me


a desculpa perfeita para não responder. Phoenix ri e, da minha
visão periférica, vejo seu agito de cabeça.
A aula progride sem incidentes por pelo menos uma hora,
e eu finalmente começo a relaxar. O professor, Sr. Amaro,
distribuiu uma tarefa no início que deveríamos entregar no
final da aula de hoje. A tarefa é simples: escrever um ensaio
sobre um evento em nossas próprias vidas que trave paralelos
com qualquer um dos clássicos que devemos ler.

Tenho tantas experiências que alteram a vida que é difícil


escolher. Eu me apego a um mais recente, sobre quando me
mudei para Saturn’s Bay e comecei a trabalhar no Poppy’s
Joint. Apesar do grande segredo de Poppy, ainda considero
meu tempo trabalhando para ele os melhores dias da minha
vida desde a morte de meus pais.

Com um sorriso no rosto, começo a escrever sobre uma


noite em particular quando um dos ex-namorados de Felicity
entrou na lanchonete acompanhado por outra mulher. Eu sou
bastante boa na maioria das disciplinas, mas o inglês é o lugar
onde me destaco. Adoro ler e escrever, por isso não me importo
que demore duas vezes mais para escrever um ensaio de duas
mil palavras à mão. Entro na zona quase imediatamente, me
perdendo na história.

Só tenho um par de parágrafos para escrever quando o


texto desaparece e me encontro em um lugar diferente. Há uma
varanda à minha direita e, de onde estou atualmente, posso
ver a vista do porto de Saturn’s Bay. Eu rapidamente absorvo
o meu entorno. Estou sentada em uma cama coberta com
lençóis de cetim e, com um suspiro, percebo que estou usando
uma túnica de seda preta.

Porra. Estou em uma das visões de Phoenix.


A porta à frente se abre e Phoenix entra vestindo nada
além de boxer.

“Olá, doce Daisy.”

Eu quero pular da cama e exigir que ele saia da minha


cabeça de uma vez, mas na sua visão, eu não tenho
controle. Sou apenas um fantoche à sua mercê. Então, minha
bunda fica colada na cama enquanto eu o vejo entrar com um
sorriso diabólico em seus lábios carnudos. Minha garganta fica
seca e a vibração dentro do meu peito é real, eu sei disso.

“Phoenix.” eu expiro.

“Você não tem ideia do quanto eu esperei para ficarmos


sozinhos.” Ele para na minha frente e olha para baixo. “Você
está adorável nessa coisinha.”

“Obrigada.”

Meu olhar cai para sua virilha, que está no meu nível dos
olhos agora. Sua ereção está pressionando contra o tecido de
algodão da cueca, implorando para ser libertada.

“Vá em frente. Toque-me.” Ele passa os dedos pelos meus


cabelos, enviando um arrepio pela minha espinha.

Eu lambo meus lábios e puxo sua cueca para baixo. Seu


pau duro como uma pedra se solta. Eu alcanço o eixo, amando
a sensação de sua força suave sob meus dedos.

“Vamos, Daisy. Prove. Eu sei que você está morrendo de


vontade.”
Eu lambo seu comprimento da base até a ponta. Phoenix
solta um silvo quando envolvo minha boca em torno da cabeça
e o chupo.

Minha consciência está gritando comigo, mas a Daisy da


visão está desfrutando de cada parte da ação. Tudo o que ela
se importa é agradar Phoenix.

“Porra, Daisy. Sua boca é incrível no meu pau.” Ele puxa


meu cabelo para trás, me puxando para longe dele. Dói um
pouco, mas é o tipo de dor que apenas aumenta o prazer.

“O que foi?” Eu pergunto.

“Você vai terminar isso um dia, mas no mundo real. Agora,


tenho outros planos para você.”

Ele puxa sua cueca boxer para cima, cobrindo sua ereção
e depois cai de joelhos. Ele não quebra o contato visual
enquanto empurra minhas pernas mais abertas. O ar frio bate
na minha boceta, me fazendo perceber que não estou usando
calcinha. Ele acaricia a parte superior das minhas coxas com
a ponta dos dedos, juntando o tecido caído até que eu esteja
completamente nua da cintura para baixo.

O verdadeiro eu está mortificado e zangado como o


inferno, mas a Daisy da imaginação de Phoenix está respirando
com dificuldade e totalmente no jogo de sedução do Idol.

“O que você está fazendo?” Eu pergunto, como se não


soubesse.
Ugh. Por que ele tem que me fazer parecer uma puta com
cabeça oca?

Daisy, essa é a menor das suas preocupações agora.

“Você teve um gostinho. Agora é a minha vez.”

Ele sorri e depois se inclina para frente, indo direto para


a matança. Sua língua dispara e lambe meu clitóris. Eu cedo
com o contato, mas sua mão nos meus quadris me mantém no
lugar. Phoenix continua sua tortura, chupando e lambendo
com a perícia de um homem.

Jogo a cabeça para trás e enrolo os dedos nos lençóis de


cetim. A tensão continua crescendo entre as minhas pernas até
parecer que estou em queda livre. Quando o clímax me atinge,
meu corpo inteiro se desintegra em pequenos pedaços que se
espalham ao vento. Não sei onde estou nem meu nome por
alguns segundos. Eu já tive orgasmos antes, mas nada tão
devastador quanto isso.

Lentamente, meu corpo se torna inteiro novamente, mas


o latejar entre minhas pernas ainda está lá.

“Srta. Woods, controle-se.” A voz severa masculina


penetra no meu cérebro.

Phoenix e o quarto de motel desaparecem e estou de volta


à sala de aula. Todo mundo está olhando para mim. Alguns
estudantes têm a boca aberta; outros estão rindo de mim.
Sr. Amaro, no entanto, está com tanta raiva que quase sai
fumaça dos ouvidos.
“O que aconteceu?” Eu pergunto, ainda tonta da visão.

“Você acabou de gozar?” um cara malicioso sentado


algumas fileiras à frente pergunta.

Sento-me ereta na minha cadeira. “O que?”

Ao meu lado, Phoenix ri. “Oh, sim, ela fez.”

Eu me viro para encará-lo tão rápido que posso ter


distendido um músculo. “O que você fez?”

Ele levanta as sobrancelhas, a epítome da inocência. “Ora,


Daisy, não pareça tão ofendida. Eu só fiz o que você me pediu.”

Com um suspiro, eu cubro minha boca. A compreensão


finalmente me ocorre. A visão era uma mentira, mas minha
reação a ela foi muito real. Phoenix me levou a um orgasmo, e
eu devo ter gemido alto quando cheguei ao clímax. A vergonha
toma conta de mim. Em uma reação brusca, pulo da cadeira,
empurrando a cadeira com tanta força que ela tomba.

“Onde você pensa que está indo, Srta. Woods?” Sr. Amaro
pergunta.

Eu ando pelo corredor e, a cada passo, minha humilhação


cresce.

“Srta. Woods, volte para o seu lugar imediatamente.”

Eu ignoro o homem enquanto abro a porta e saio em uma


corrida. Livre de todos aqueles olhares de julgamento, as
lágrimas finalmente se libertam. Eu sabia que vir para a Gifted
Academy seria difícil, mas conhecer e experimentar são coisas
muito diferentes. Honestamente, eu aceitaria uma humilhação
a qualquer dia.

Fico cega pelas lágrimas quando viro a esquina e colido


com Morpheus, de todas as pessoas. Eu bato nele como uma
bola de raquetebol contra a parede.

“Cuidado onde você and...”

“Poupe-me, ok?” Eu falo.

Sem parar, eu ando em volta dele e continuo minha


fuga. Ele me viu chorando, o que é péssimo, mas pelo menos
ele não tentou me parar. Eu corro como se o diabo estivesse
atrás de mim e, quando chego ao prédio do dormitório e ao meu
andar, estou ofegando. Minha mão está tremendo quando
tento abrir a porta e não consigo inserir a chave no buraco da
fechadura imediatamente.

“Droga. Se recomponha, Daisy.”

O som de uma fechadura girando ao lado faz meu coração


pular na garganta. Eu posso adivinhar quem poderia ser; não
vejo Rufio desde que ele decolou hoje de manhã. Não é demais
supor que ele divide o apartamento com o irmão mais velho. É
uma maldição ou um teste que a Diretora Fallon me designou
ao quarto ao lado dos Idols mais poderosos da escola?

Minha chave finalmente desliza no lugar, e destranco a


porta e deslizo para dentro do meu quarto assim que Rufio abre
a dele. Eu fecho a porta com um estrondo e me inclino contra
a superfície dura. As lágrimas secaram, mas o peso no meu
peito não diminuiu nem um pouco.
Phoenix me fez gozar na frente de todas aquelas pessoas,
e ele gostou de fazer isso. Por que todo mundo é tão horrível?

Sinto falta de Rosie, Felicity e até Poppy. Eu espio as


caixas vazias no canto do meu quarto, e a tentação de voltar à
minha antiga vida me bate forte. Mas eu não posso fazer
isso. Os Idols já me tiraram muito; não vou permitir que eles
roubem essa oportunidade também.

Com passos sombrios, eu me aproximo da cama. Estou


determinada a ficar, mas ninguém pode me fazer assistir ao
resto das minhas aulas hoje. Eu preciso me recuperar,
reconstruir a armadura de aço ao meu redor.

Quando estou perto o suficiente, noto o pequeno pacote


bem no meio dela, com uma nota anexada. A ansiedade toma
conta de mim, suas correntes se enrolam firmemente em volta
do meu coração. Alguém estava no meu quarto.

Dou uma rápida olhada ao redor, mas nada parece


deslocado ou faltando. Com um suspiro alto, levanto o colchão
e verifico o corte que fiz no fundo. Colocando a mão, expiro
aliviada quando meus dedos roçam a capa de couro do diário
de papai. Para garantir que alguém não roubou o original e
deixou uma cópia falsa, removo-o de seu esconderijo. Abrindo
para uma página aleatória, quase choro quando leio a caligrafia
familiar de papai.

Segurando meu bem mais precioso contra o peito, volto


minha atenção para o pacote misterioso. Isso é outra
brincadeira?
Eu li a nota primeiro, que diz apenas “Um presente de
boas-vindas de um amigo.”

Isso não me conforta.

Ponho a nota de lado e desembrulho o pacote. Meus olhos


se arregalam e eu respiro fundo, uma reação totalmente
esperada considerando o que estou olhando.

É uma adaga. Mas não qualquer punhal comum. A lâmina


é feita de vidro relâmpago, o único material no mundo que pode
matar um Idol.
Bryce

Idols não são conhecidos por sentir empatia pelos outros,


especialmente pelos Norms, mas ver Phoenix humilhar Daisy
em nossa aula de Literatura Inglesa despertou uma habilidade
que eu não sabia que possuía. Isso me pegou completamente
de surpresa e, enquanto lutava com o sentimento, não o fiz
parar.

Eu nunca vi a garota mostrar fraqueza, nem quando Rufio


ameaçou matá-la no restaurante Norm. Mas hoje ela
quebrou. Ela não conseguiu esconder a vergonha. Não é
surpresa que eu não a tenha visto depois. Se as travessuras de
Phoenix fizerem com que ela saia da escola, eu ficarei
furioso. Ainda não tive a chance de descobri-la, de descobrir
por que ela me faz agir fora do personagem.

Quando ela exigiu que eu abaixasse o volume da minha


música, eu deveria tê-la colocado em seu lugar. Ninguém me
diz o que fazer. Certamente não uma garota Norm. Mas, em vez
disso, ofereci um favor. E o pior é que nem precisei pensar
nisso. Eu apenas fiz como se fosse a ação mais natural do
mundo.

Estou me sentindo muito inquieto quando o dia escolar


termina. Quando passo pela porta de Daisy, fico tentado a vê-
la. Na verdade, paro e levanto o punho, pronto para bater, mas
algo me impede. As palavras da poderosa divindade que
conhecemos há muitos anos voltam para me assombrar. Os
Norms serão a destruição dos Idols e cabe a Rufio, Morpheus,
Phoenix e eu detê-los. Fomos escolhidos, e a marca que Deus
nos deu como prova está pesadamente no meu
ombro. Literalmente.

Estendo a mão e toco o local sobre minhas roupas. Parece


uma marca de nascença no formato de um raio. Meu irmão,
Morpheus e Phoenix têm a mesma marca. Fomos marcados
quando aceitamos o chamado. Os outros ficaram mais do que
felizes em considerar as palavras da divindade pelo valor
nominal, nós tivemos uma lavagem cerebral durante toda a
nossa vida para odiar os Norms e menosprezar Fringes,
afinal. Eu era o único que tinha dúvidas sobre a coisa toda.

Com um movimento de cabeça, segui em frente,


afrouxando a gravata no pescoço enquanto entro no pequeno
apartamento que compartilho com os caras, determinado a
esquecer hoje. Tudo muda quando meu olhar pousa em
Phoenix, deitado no sofá, assistindo TV. A ira se desenrola da
boca do meu estômago, espalhando-se rapidamente por todo o
meu corpo como fogo. Fios de energia estalam entre meus
dedos.

A imagem na TV é pixelada logo antes da estática assumir


a tela inteira.

“Que diabos.” Phoenix senta-se ereto no sofá, virando-se


para mim a seguir. “Você está fazendo isso?”

“Como você ousa.” Dou um passo ameaçador em direção


a ele.
Os olhos de Phoenix se arregalam quando ele vê minha
aparência. Não preciso de um espelho para saber que estou
cercado por uma bolha de energia em turbilhão, pronto para
ser desencadeada.

As luzes piscam e todos os eletrodomésticos do


apartamento ficam inoperantes. Morpheus e Rufio se juntam a
nós na sala de estar.

“Bryce, que porra é essa, cara?” Morpheus diz. “Você


fritou meu laptop.”

Phoenix levanta as duas mãos. “Cara, eu não sei o que


está te consumindo, mas você precisa relaxar antes de explodir
todo o bloco fora de órbita.”

“Não, eu não vou estragar o bloco inteiro, só você.” Com


um movimento da minha mão, envio Phoenix voando pelo
quarto. Ele bate com força na parede esquerda, quebrando o
gesso, antes de cair no chão.

“Que diabos!” Rufio diz. “O que Phoenix fez com você?”

“Ele...” Eu paro e realmente pondero sobre o que estava


prestes a dizer.

A fúria começa a diminuir e, sem ela, eu consigo pensar


com clareza. Phoenix cambaleia de pé, segurando o ombro
direito. Ele franze as sobrancelhas quando diz: “Bryce, é
melhor não ser sobre aquela porra da garota Norm.”

“Daisy?” A voz de Rufio mostra seu interesse repentino. “O


que ela tem a ver com esse confronto?”
“Eu esbarrei nela mais cedo. Ela estava chorando.”
Morpheus grita.

“Realmente?” Phoenix parece surpreso. As sobrancelhas


dele se erguem, mas quase imediatamente sua expressão fica
séria. “Eu sabia que tinha chegado até ela, mas não o suficiente
para fazê-la chorar.”

Rufio aperta a ponte do nariz. “Alguém pode me dizer o


que diabos está acontecendo?”

Não mais controlado pela minha raiva, eu me viro para o


meu irmão. “Phoenix fez Daisy ter um orgasmo em voz alta em
literatura Inglesa hoje.”

O rosto de Rufio se torce em uma careta. “Você fez o que?”

Phoenix encolhe os ombros. “Eu estava trabalhando para


ganhar a aposta.”

Veias escuras aparecem nas bochechas do meu irmão e


seus olhos brilham em azul brilhante. Ele enrola uma mão em
um punho fechado, apontando um dedo ameaçador na direção
de Phoenix com a outra. “É melhor ela não sair da escola por
sua causa, imbecil.”

“O ponto da sua aposta idiota não é fazer a Norm sair da


Gifted Academy?” Morpheus pergunta.

Rufio lança um olhar fixo para ele. “Não antes que ela seja
completamente destruída, de preferência por mim.”
Sinto algo diferente na aura de Rufio. Há o ódio que ele
carregou por toda a vida, mas também há uma nova faísca
nele, uma chama que não faz parte.

“Você quer dizer não antes de transar com ela,


certo?” Morpheus levanta uma sobrancelha.

“Rufio não está transando com ninguém. Daisy é


minha.” Phoenix sorri maliciosamente.

Meu irmão revira os olhos. “Certo. Essa stripper e


garçonete mal-humorada vai dormir com você depois que você
a humilhou na aula.”

“Ah, então você finalmente se lembrou.” pergunto,


surpreso que Rufio não tenha reagido mal com o
conhecimento. Sinceramente, pensei que ele arrasaria o prédio
e enterraria Daisy viva.

Ele tenta me nivelar com um olhar. “Sim, eu me lembrei.


Obrigado por me deixar ficar no escuro por três malditos dias,
idiota.”

De repente, cansado e sem vontade de discutir com ele, eu


apenas o afasto.

Morpheus vai para a TV, que ainda está mostrando


estática. Ele desliga e liga a tela, mas a estática permanece.
“Porra, Bryce. A TV está estragada.”

“Eu vou comprar uma nova.” Vou para o meu quarto, feito
com a cena.

“Onde você vai?” Rufio pergunta.


“Adivinhe, Sherlock.” eu respondo sem olhar na direção
dele.

“Houve outro incidente envolvendo Silver-voltage e


Fringes.” diz Morpheus do nada.

Faço uma pausa e depois me viro lentamente. “E devemos


nos importar porque...?”

O sangue de Morpheus some de seu rosto. Ele desvia o


olhar, enfiando as mãos nos bolsos. “Eu não estou dizendo que
devemos dar a mínima. Eu estava...”

“Fofocando.” Phoenix ri. “Quem você acha que está


fornecendo Silver-voltage para esses Fringes? Essa merda não
é barata.”

“Quem se importa? Se eles são estúpidos o suficiente para


tomar a droga, sabendo que é perigoso para eles, eu digo boa
viagem.” Rufio pega o maço de cigarros na mesa de café e pega
um.

“Alicia Stones está morta.” diz Morpheus, tentando


parecer indiferente, o timbre de sua voz é um pouco diferente,
mais apertado.

“O que? Quando isso aconteceu?” Phoenix se senta no


sofá e rouba um cigarro de Rufio.

“Noite passada. A irmã dela me mandou uma mensagem


para me avisar.” Morpheus caminha até a janela, sem fazer
contato visual com nenhum de nós.
“Então você é amigo dos Fringes agora, hein?” Phoenix faz
piada.

“Cale a boca, loirinha.” Rufio retruca.

Phoenix acende o cigarro e ignora Rufio.

Morpheus olha por cima do ombro. “Meus pais são


Fringes, ou você esqueceu?”

Phoenix parece genuinamente surpreso. “Oh, sim. Está


certo. Na verdade, eu esqueci.”

Eu olho para o teto. “Que se foda. Estou cercado de


idiotas.”

“Eu pensei que você estava indo embora?” Meu irmão


levanta uma sobrancelha.

“Eu vou. Estou perdendo células cerebrais saindo com


vocês.” Eu continuo em direção ao meu quarto. Phoenix faz
outro comentário estúpido, mas eu o bloqueio. É fácil fazer isso
quando meu cérebro está sobrecarregado com informações.

De repente, todos nós estamos agindo fora do


personagem. Não sei o que é mais bizarro: Morpheus
demonstrando preocupação por Fringes, o que ele nunca fez
antes; Phoenix sendo excessivamente cruel em suas
brincadeiras; Rufio exercendo autocontrole; ou eu perdendo a
cabeça por uma Norm.

E o catalisador de tudo isso? Daisy Woods.


Eu não acredito em coincidências. Ela está aqui por um
motivo, mesmo que ainda não o saiba.

Eu tenho que descobrir o porquê.


Daisy

ESQUECI um pouco a humilhação que sofri nas mãos de


Phoenix. Tenho outras coisas para ocupar minha mente. Quem
me deu essa adaga e com que finalidade? Eu escondi a arma
de matar Idols junto com o diário do meu pai, mas fora da vista
definitivamente não significa fora da mente.

Estive olhando para o nada nas últimas horas. Nem


mesmo a falta de energia estranha me distraiu dos meus
pensamentos perturbadores. Quando a batida forte chega à
minha porta, pulo do meu assento na cama.

“Daisy? Você está aí?” A Diretora Fallon pergunta.

Merda. O que ela está fazendo aqui?

O que você acha, gênio? Você faltou aula na sua primeira


semana. Ela provavelmente está aqui para dizer para você
arrumar suas malas e sair imediatamente.

“Sim, só um segundo.” Eu saio da cama com um salto e


tento suavizar as rugas do meu uniforme antes de deixar a
mulher entrar.
Com uma respiração profunda, eu ando em direção à
porta. Os nós no meu estômago se apertam quando vejo a
carranca no rosto da diretora.

“O-Olá, Diretora Fallon. Como posso ajudá-la?”

“Posso entrar?”

“Certo.” Abro mais a porta e saio do caminho.

A Diretora Fallon entra no meu pequeno quarto com


passos medidos, não se virando para mim até que ela chegue
ao final da minha cama. Fecho a porta com um clique
retumbante e fico perto dela, caso precise correr com
pressa. Depois dos eventos de hoje, desconfio de todos os Idols.

“Você saiu da aula de literatura Inglesa hoje,


Srta. Woods.” Ela enfatiza meu sobrenome falso. “Você estava
doente?”

Eu deixo meu olhar cair no chão, envergonhada por ser


tão fraca. “Não. Eu não estava doente.”

Ela estala a língua, um som que eu imediatamente associo


à desaprovação. “Ouvi dizer que você causou uma interrupção
na aula do Sr. Amaro.”

Meu rosto está prestes a explodir em chamas.

“Sim. Sinto muito.”

“Daisy, olhe para mim.”


Eu faço como ela disse. Ela está me observando
intensamente, mas pelo menos não está mais gritante.

“Vou fazer uma pergunta e quero que você me responda


com sinceridade.” continua ela.

“Ok.”

“Phoenix te deu uma visão?”

Meu queixo cai. “Como você sabia?”

Os cantos dos lábios dela se curvam para cima. “Criança,


é da minha conta saber do que cada aluno meu é capaz.” Ela
coloca as mãos atrás das costas. “Então, eu acho que a visão
que ele deu a você era do tipo sexual?”

“Sim.” eu respondo, ainda mantendo contato visual com


ela. É um esforço, no entanto. Quero que o chão se abra e me
engula inteira.

“Entendo. Bem, Phoenix sempre teve uma propensão a


piadas sujas. Na maioria das vezes, suas ‘vítimas’ não se
importam com sua invasão.” A Diretora Fallon usa aspas no ar
quando diz a palavra vítimas.

Eu bufo. “Aposto que não.”

“O mais intrigante para mim em tudo isso é a sua


reação. Pensei que você tivesse mais espinha dorsal, Daisy.”

Suas críticas irritam minhas penas proverbiais. “Eu tenho


espinha dorsal. É só que... bem, ele me pegou de surpresa, só
isso.”
“Eu odiaria se você desperdiçasse suas chances na Gifted
Academy por causa de um garoto imaturo.” A Diretora Fallon
continua como se eu não tivesse falado.

“Não vou permitir que ele ou qualquer um desses


estudantes detestáveis me atrapalhe do meu objetivo.”

A mulher assente. “Bom. Normalmente, eu teria que puni-


la por faltar à aula, mas desde que foi sua primeira ofensa,
deixarei passar.”

“Então a classe abandonada merece punição, mas invadir


seu escritório não?” Eu pergunto, referindo-me ao incidente no
meu primeiro dia.

A Diretora Fallon estreita o olhar. “É melhor você prestar


atenção no seu tom, jovem. Não esqueça quem fez sua bolsa
acontecer.”

Eu baixo minha cabeça. “Desculpa.”

“Enfim, apenas parei para garantir que meus esforços não


fossem em vão.”

“Não, de jeito nenhum. Estou feliz por estar aqui.”

“Bom.” Ela vira em direção à porta e eu saio do


caminho. Faz uma pausa no momento em que está prestes a
abrir e olha para mim. “Não há nada que eu possa fazer que
faça Phoenix parar de incomodá-la, mas pode haver uma
maneira de você bloquear as suas invasões da mente.”

“Realmente? O que?” Eu pergunto, surpresa. O diário de


papai fala brevemente sobre o tipo de presente que Phoenix
possui, mas não menciona uma maneira dos Norms se
protegerem dela.

Com um sorriso, ela responde: “Sabe, existe um lugar


maravilhoso onde o conhecimento está na ponta dos dedos de
qualquer pessoa. Chama-se biblioteca, e a nossa é uma das
melhores.”

Ela sai do meu quarto com esse comentário de


despedida. Eu mostro o dedo na minha cabeça, não ousando
realmente fazer o gesto. Pelo que sei, a Idol pode ter um par de
olhos na parte de trás do crânio.

Tranco a porta e depois encosto a testa contra ela, com


um suspiro trêmulo. Hoje eu estava fraca, e não importa
quantas desculpas eu invente, não posso me perdoar por
isso. A visita da Diretora Fallon me deixou com mais raiva de
mim mesma.

Eu empurro a porta com um movimento rápido. Detesto


admitir, mas hoje baixei a guarda, não apenas com Phoenix,
mas também com Rufio antes. Esqueci por um segundo o que
Idols poderosos como eles fizeram com minha família. Eu
preciso da raiva para alimentar minha determinação, para
construir meu escudo.

Meu telefone toca. É Rosie ligando. Eu enrolo meus dedos


em torno do dispositivo antigo e espero mais alguns segundos
antes de responder. Preciso controlar meus batimentos
cardíacos. Não posso deixar Rosie saber que estou abalada.

“Ei, Rosie.” eu digo.


“Oi. Como foi seu segundo dia?”

“Foi bom.” Sento na beira da minha cama.

“Bom? Realmente?” O tom dela é incrédulo. “Você quer


que eu acredite que esses Idols te deixaram em paz depois de
apenas um dia?”

Falei com ela ontem e contei a ela sobre Phoenix me


pegando seminua no escritório da diretora, mas pulei a parte
quando ele me deu essa visão de classificação R. Ela não
precisa saber.

“Sim. Talvez eles queiram que eu fique à vontade, baixe


minha guarda.”

O que eu já fiz.

“Bem, eles podem esperar para sempre.” Rosie ri. “Eles


não sabem com quem estão mexendo.”

A vergonha toma conta de mim. Se ela soubesse o quão


patética eu fui hoje.

“Como está tudo contigo? Aquele Fringe estúpido ainda


está lhe dando problemas?”

“Na verdade, ele morreu.”

Eu pulo da cama. “O que? Quando?”

“Ele tomou uma overdose de alguma droga idiota de


Idol.” O tom de Rosie é desdenhoso. Não posso culpá-la por não
sentir pena de seu valentão estar morto.
“É chamada de Silver-voltage, por acaso?”

“Sim, acho que sim. Por que você pergunta?”

“Uma garota Fringe aqui também ficou doente tomando


essa droga.”

“Realmente? Você sabe o que faz?”

Campainhas de alarme soam na minha cabeça. “Escute,


Rosie. Você fica longe da Silver-voltage, ok? É superperigosa,
fatal, na verdade, para os Norms.”

“Eita, você vai relaxar? Eu não sou estúpida, ok? Nem


fumo maconha.”

“Isso deveria me fazer sentir melhor?”

“Podemos deixar o assunto de lado? Você está ficando


muito maternal para o meu gosto.”

Estremeço. Eu tive que desempenhar o papel de mãe com


Rosie, o que me deixa triste e com raiva ao mesmo tempo. Ela
deveria ter tido uma mãe de verdade... nós deveríamos ter tido
nossa mãe conosco. Em vez disso, ela me tem, uma irmã
danificada e mal-humorada.

“Desculpe por me importar.” murmuro.

“De qualquer forma, liguei para perguntar se está tudo


bem se mudarmos o local da festa surpresa de aniversário de
Felicity.”
Merda. A festa dela é neste sábado. Eu tinha esquecido
completamente. Com tudo o que aconteceu, quem poderia me
culpar? E fui eu quem teve a ideia.

“Por que precisamos mudar a localização?”

“Porque o restaurante Los Tres Amigos foi fechado pelo


departamento de saúde. Aparentemente, eles tiveram um
problema com baratas.”

“Nojento. Então não temos escolha.” eu começo a


andar. Planejamos a festa de Felicity desde o mês
passado. Levei muito tempo para encontrar um lugar onde ela
não tinha história com um funcionário ou o proprietário.

“Poppy diz que conhece um lugar.”

“Poppy? Quando você falou com Poppy?” Minha voz sobe


para estridente. Uma coisa é eu trabalhar com ele, conhecendo
sua verdadeira identidade, mas outra coisa é Rosie ter algum
relacionamento com o cara.

“Quando soube do Los Tres Amigos. De qualquer forma, o


lugar que ele sugeriu é um bar de esportes em Emelton.”

“Isso está quase fora de Saturn’s Bay.”

E muito perto de Unearthly Desires.

“Eu sei, eu sei. Mas é o único lugar que pudemos


encontrar no último minuto. É isso ou temos que cancelar a
festa.”
Aperto a ponte do meu nariz. “Não, não podemos cancelar
a festa.” Eu suspiro. “Bem. Diga a Poppy que está certo.”

“Impressionante! Isso vai ser ótimo. E mal posso esperar


para vê-la no Sábado.”

Eu sorrio firmemente, feliz por Rosie não poder ver meu


rosto. Quero estar feliz. Porra, eu deveria estar na lua por ver
minha irmã e amigos depois de uma semana que está se
tornando infernal. Mas meu peito está tão pesado agora, e não
sei por que.
Daisy

“ENTÃO, a Diretora Fallon deu alguma pista sobre o que


deveríamos procurar?” Toby sussurra no meio de um dos
corredores da biblioteca.

Ele ouviu falar sobre o que havia acontecido em literatura


Inglesa e me procurou para verificar se eu estava bem. Ainda é
humilhante que toda a escola saiba sobre o evento, mas foda-
se se vou deixar que eles saibam que ainda estou incomodada
com isso. Agora só tenho que encontrar uma maneira de
impedir que Phoenix entre na minha mente.

“Não. Ela apenas me disse que pode haver uma maneira


de impedir que Phoenix transmita pornografia diretamente na
minha cabeça.” Eu leio os títulos nas lombadas do livro à
minha direita, enquanto Toby verifica os livros à esquerda.

“Talvez você possa construir um capacete especial ou algo


assim.”

“Espero que não. Você pode me imaginar usando um


capacete caseiro na escola?”

Toby ri. “Merda, acabei de fazer. Um capacete feito de um


coador de macarrão e canudos de plástico.”
“Cale-se.” Eu bati no braço dele de brincadeira.

Continuamos procurando em silêncio por mais um


minuto antes de eu falar novamente. “Então, você nunca me
disse o que pode fazer.”

“O que você quer dizer?”

“Você sabe. Qual é o seu presente?” Olho por cima do


ombro, encontrando Toby franzindo a testa.

“Oh, eu sou um Fringe de baixo nível. Não posso fazer


nada emocionante.”

“Vamos. É melhor do que não ter nenhum poder. Não


conte a ninguém, mas às vezes eu gostaria de ter alguma
habilidade.”

“Realmente? Eu pensei que você odiava Idols.”

“Eu não disse que queria ser um. Mas seria legal não estar
tão desamparada.”

“Sim, eu sei o que você quer dizer.” Ele puxa um livro da


estante, lê o título e o coloca de volta. “É verdade, eu sou um
Fringe, mas ainda estou no final da cadeia alimentar aqui.”

“Eu ouvi você.” Eu giro, então estou de frente para ele. “Ei,
algo me ocorreu. A Diretora Fallon disse que havia outro
estudante Norm aqui, mas eu não o conheci.”

Toby pisca algumas vezes sem responder. Ele parece um


pouco tenso.
“O que foi?” Eu pergunto.

“Ele se foi.”

“Se foi como ele saiu da escola, ou se foi como...?” Eu


arrasto meu dedo indicador no meu pescoço.

“Oh, ele não está morto. Ele não aguentou a pressão e


voltou para sua antiga escola Norm.”

“Ah, eu entendo.”

Toby volta sua atenção para os livros. Ele está


definitivamente no limite agora. Mas preciso saber o que
afastou o outro Norm da Gifted Academy.

“O que aconteceu? Alguém...” Olho ao redor, depois me


aproximo e sussurro: “Alguém o machucou?”

Toby olha para o relógio. “Ah, merda. Olha a hora. Eu


tenho que estar em algum lugar.”

Ele decola antes que eu tenha a chance de pronunciar


outra palavra.

Isso foi estranho. Por que ele não queria falar sobre o
garoto Norm? Eles eram amigos?

Mordo o lábio inferior. Aposto que o Norm foi intimidado


incansavelmente e não aguentou.

Pego meu celular do bolso e verifico a hora. São quase oito


horas. É melhor eu ir para a aula também. É improvável que
eu encontre alguma coisa útil nesses livros sozinha de
qualquer maneira. É como procurar uma agulha no palheiro.

Gritos próximos me colocam em alerta máximo. Deixo o


corredor e espio na direção em que o barulho veio. Morpheus
está segurando um aluno pelo pescoço enquanto ele o levanta
do chão. O cara chuta as pernas enquanto tenta se libertar do
estrangulamento.

Outros estudantes estão assistindo a cena, congelados no


lugar. Ninguém mostra nenhuma inclinação de intervir.

O que diabos há de errado com essas pessoas?

“Deixe-o ir!” Dou um passo à frente.

Morpheus olha por cima do ombro e seu olhar sombrio se


conecta ao meu. Ele deixa a vítima cair no segundo seguinte e
vira todo o corpo na minha direção. Um grande nó fica preso
na minha garganta quando sinto o peso do olhar mortal de
Morpheus.

Ah, merda. O que eu fiz?

O medo como eu nunca senti perfura meu coração como


uma adaga fria e de aço. Aperto meu peito em uma tentativa
vã de massagear a dor repentina lá. Parece que estou prestes
a ter um ataque cardíaco.

“Sr. Malek!” Uma mulher de meia idade corre em direção


à cena, a boca aberta e os olhos arregalados.

O terror que aperta meu coração diminui até retornar ao


sentimento de ansiedade regular que eu carrego.
Morpheus se vira lentamente para a mulher. “Sim, Sra.
Wilkins?”

“Não toleramos violência entre nossos alunos na Gifted


Academy. Dirija-se ao escritório da Diretora Fallon
imediatamente.” A mulher aponta para a porta de saída da
biblioteca.

O Idol não responde à senhora; em vez disso, ele me olha


com um sorriso de escárnio. “Continuamos depois, Daisy.”

Ele se vira e sai da biblioteca. A pequena audiência de


estudantes que ficou mais do que feliz em deixar Morpheus
sufocar até a morte começa a falar de uma só vez. Não consigo
discernir o que eles estão dizendo, não quando há um zumbido
alto nos meus ouvidos.

Puta merda. Não acredito que desafiei Morpheus assim. Eu


tenho um desejo de morte.

“Uau, isso foi loucura.” Um cara com um moicano azul se


aproxima de mim. “Você é muito corajosa para uma Norm.” Ele
se inclina para mais perto e cobre o lado da boca com a mão.
“Isso foi muito sexy também.”

Eu me levanto mais ereta. Não confio em caras que soltam


elogios maliciosos como se estivessem distribuindo doces.

“Sr. Armani, sugiro que você vá para a aula ou se junte ao


Sr. Malek no escritório da diretora.” diz a bibliotecária.

O cara dá um passo atrás. “O que eu fiz? A conversa com


meus colegas de classe não é mais permitida?”
“Conversa fútil nunca foi permitida. Isto é uma
biblioteca.”

Começo a me dirigir à porta quando a bibliotecária muda


sua atenção para mim.

“Srta. Woods, gostaria de uma palavra com você.”

Merda. Estou com problemas agora? A bibliotecária é uma


Idol, então há uma grande chance de ela não estar do meu
lado.

“Ok.” eu digo.

“Me siga.” Ela gira e se dirige para a parte de trás da


biblioteca, levando-me para um espaço de escritório com uma
grande janela voltada para as estantes de livros. Ela abre a
porta e espera que eu entre primeiro antes de fechá-la e fechar
as cortinas. Obviamente, ela não quer ninguém bisbilhotando
essa conversa.

Estou um pouco nervosa por estar sozinha com a mulher,


para ser sincera. E sua expressão facial severa não está me
ajudando a me acalmar nem um pouco.

Ela contorna a mesa e aponta para a cadeira de frente


para ela. “Srta. Woods, sente-se.”

“Isso vai demorar? Não quero me atrasar para a aula.” Eu


arrumo minha saia nervosamente enquanto me sento.

“De modo nenhum. Só quero elogiá-la por enfrentar o Sr.


Malek. Foi tolo, mas admirável.”
“Oh. Bem, sou eu. Sempre fazendo coisas tolas.” Dou de
ombros, tentando subestimar minha estupidez.

A mulher pega um livro na prateleira atrás dela. “Eu


acredito que você estava procurando por isso.”

Ela desliza o livro de couro gasto sobre a mesa. O tomo é


tão antigo que o título desapareceu.

“O que é isso?” Eu agarro a oferenda, abrindo-a no meio.

“A Diretora Fallon me avisou que você poderia passar por


aqui. Você está tendo problemas para manter um certo Idol
fora da sua cabeça, não?” Ela levanta uma sobrancelha.

Minhas bochechas estão subitamente quentes. Eu largo


meus olhos para o texto em minhas mãos. “Sim.”

“Esse livro pode ajudar.”

“Obrigada.” Eu levanto meu olhar para a bibliotecária


mais uma vez. “Posso te perguntar uma coisa?”

“Continue.”

“Se você sabia o que eu estava procurando, por que não


me abordou mais cedo com o livro?”

Os lábios da mulher se torcem em um sorriso. “Eu tive que


garantir que você valesse o conhecimento primeiro.”

“Então, tudo aquilo com Morpheus foi uma armadilha?”


“Claro que não. Aquele garoto e seus amigos são
armadilhas ambulantes. Qualquer coisa pode desencadeá-
los. É apenas uma questão de esperar que isso aconteça e ver
como os outros alunos lidam com a situação.”

“Aquele garoto que ele estava maltratando poderia ter sido


morto.”

A bibliotecária balança a cabeça. “Não é provável.


Sr. Malek é assustador, mas não é um assassino. É com Rufio
Kent que você precisa se preocupar.” Os olhos dela se
estreitam e os músculos ao redor da boca ficam tensos. “Estou
falando sério, Srta. Woods. Fique longe desse garoto.”
Morpheus

Andar para o escritório da diretora não fez nada para


diminuir a raiva correndo pelas minhas veias. Ainda não
acredito que a garota Norm teve coragem de me dizer o que
fazer. As únicas pessoas que se atrevem a me confrontar são
meus amigos, e isso é apenas porque eles podem lidar com o
chicote. O resto do corpo discente está muito consciente da
minha reputação.

Daisy não tem curva de aprendizado, o que só será mais


doloroso para ela.

Os olhos da assistente da diretora brilham de alegria


quando entro no escritório, mas sua expressão rapidamente se
torna apreensiva quando ela sente a escuridão que me rodeia.

“Sr. Malek, tem algo errado?”

“Estou aqui para ver sua chefe.”

“Por quê?”

“Eu me comportei mal.” Enfio minhas mãos nos


bolsos. Não quero que ela veja as sombras rodopiando ao redor
delas.
“Oh?”

A porta do escritório da diretora se abre e a própria mulher


preenche o quadro. “Sr. Malek, entre.”

Não olho nos olhos dela, enquanto miro a cadeira de frente


para sua mesa. Estive aqui várias vezes, embora nunca por
atacar um aluno. Normalmente, consigo controlar melhor meu
temperamento com os professores.

A Diretora Fallon se senta e entrelaça as mãos.


“Morpheus, o que eu vou fazer com você?”

Eu afundo na minha cadeira. “Que tal nada?”

“Você atacou dois estudantes hoje.”

Eu aperto meu queixo com força antes de responder. “Os


dois pediram.”

“Claro.” Ela se recosta na cadeira de couro. “Não foi isso


que ouvi. Simon é o quarto tutor que você assustou. E tudo o
que Daisy fez foi intervir.”

“Ela não tinha nada que interferir.”

A Diretora Fallon balança a cabeça. “Eu não posso fazer


você concordar comigo, mas você conhece as regras. Você usou
seu presente contra um estudante. Você deve ser punido.”

“Tudo bem. Me dê detenção. Tanto faz.” Apoio as mãos nos


braços da cadeira e empurro, pronto para fugir.
“Sente-se, Morpheus. Eu não terminei com você.” Sua voz
é dura, o que significa que ela parou de ser legal.

“O Sr. Atkins me disse que você já está ficando para trás


na aula dele. No ano passado, você veio me pedir ajuda. Você
ainda quer que suas notas melhorem?”

Meu aperto nos braços aumenta. “Sim.”

“Então pare de sufocar seus malditos tutores!”

Eu estremeço. “Simon é um espertinho. Ele acha que é


melhor que eu.”

“Ele é.” responde a Diretora Fallon, claramente


exasperada. “Pelo menos em matemática ele é. Obviamente, ele
não estará mais lhe ensinando.”

“Tenho certeza que você pode me encontrar outro nerd em


pouco tempo.” eu resmungo.

“Eu já tenho.” Ela sorri presunçosamente.

Maldita seja a mulher. Aposto que é alguém que eu odeio.

“Ótimo. Quem é?”

“Daisy Woods.”

Eu zombo, incrédulo “Você só pode estar brincando. Não


vou deixar que a Norm me ensine nada.”
“Isso é inegociável, Morpheus. Estou cansada de lhe dar
chances. Você quer tirar melhores notas em matemática?
Então Daisy será sua tutora.”

“Isso é um castigo?”

“Se você vê dessa maneira.” Ela encolhe os ombros. “Eu


vejo isso como uma oportunidade para você crescer, tanto
academicamente quanto pessoalmente.”

Foda-se. A última coisa que quero é passar mais tempo


com a Norm. Eu não quero ter nada a ver com ela. E tenho
certeza que ela sente o mesmo por mim.

Eu sorrio. “Duvido que sua preciosa aluna de bolsa aceite


o emprego.”

“Não se preocupe com isso. Vou informá-la sobre a


programação de aulas por e-mail.”

“Ótimo. Mal posso esperar. Estou livre para ir agora?”

“Uh, não. Ainda há o problema do seu castigo para


discutir.”

Olho para o teto e conto até dez. Minha raiva se


transformou em frustração. Eu odeio que a Diretora Fallon me
pegue pelas bolas. Eu queria nunca ter vindo vê-la ano
passado sobre minhas notas ruins.

“Bem, acabe com isso.” digo a ela. “O suspense está me


matando.”
“O muro do lado norte foi vandalizado por delinquentes.
Seu trabalho é limpá-lo.”

“Sério? Você está me atribuindo trabalho manual nesse


calor?”

“Como o calor o incomoda. Você não está sempre com


frio?”

Não tenho retorno para isso. Ela está certa. É o fato de eu


estar sendo punido por atacar Daisy que está me irritando. E
a Diretora Fallon está me forçando a passar um tempo com a
garota.

Ela percebe o quão terrível é a ideia?

Ela quer que eu mate a Norm?

***

“DIZEM POR AÍ que você foi pego em flagrante atacando


Daisy. Então, o que a Diretora Fallon fez com você?” Phoenix
pergunta com uma risada.

“Eu tenho que pintar a parede lateral norte.” eu resmungo,


brincando com a minha comida. Perdi meu apetite.

“É isso?” Bryce pergunta, arqueando as sobrancelhas.

“Sim.”

“Um passe fácil.” Ele dá uma mordida no seu


hambúrguer.
“Ele não deveria ter sido punido.” Rufio comenta. “Daisy o
desafiou.”

“Tanto faz. Podemos conversar sobre outra coisa?” Eu


empurro minha bandeja para o lado.

“Tudo bem.” diz Phoenix, depois se vira para Rufio. “Mal


posso esperar para ver Daisy novamente. Tenho uma surpresa
especial para ela.”

“Morda-me, pervertido.” resmunga Rufio.

“Qual é o problema, mal-humorado? Você está com


ciúmes?”

“Na verdade, não. Vá em frente, humilhe a pobre Daisy


novamente. Suas travessuras só a levarão direto aos meus
braços. E então será hora do show.”

“Vocês são ridículos.” diz Bryce. “Por que você


simplesmente não admite que tem tesão pela garota Norm em
vez de se esconder atrás de falsas pretensões?”

Rufio e Phoenix olham fixamente para Bryce como se de


repente tivesse brotado uma segunda cabeça
nele. Honestamente, até eu estou surpreso com a declaração
dele.

“Não tenho tesão por essa pulga.” responde Rufio


defensivamente.

“Sério? Então não foi você quem se transformou em uma


bagunça patética no Unearthly Desires quando as luzes se
apagaram e você não viu Daisy nua?” Bryce levanta uma
sobrancelha.

Rufio franze a testa e depois abre a boca, mas nenhum


som sai. Não posso culpar Bryce por sua lógica, o que me deixa
ainda mais desconfiado da presença de Daisy na Gifted
Academy. Ela tem uma influência estranha sobre meus amigos
— e eu, se estou sendo honesto.

“É claro que quero desossar a garota. Não sou cego.”


responde Phoenix. “Ela é gostosa. Você já viu o decote dela?
Porra, eu estou ficando duro só de pensar nisso.”

“Você é nojento.” eu digo.

Como se a tivéssemos convocado meramente


mencionando seu nome, ela entra na lanchonete da escola,
sozinha pela primeira vez. O garoto Fringe designado para ser
seu guia não está em lugar algum.

Como um, Rufio, Phoenix e Bryce mudam sua atenção em


sua direção. As sombras ficam inquietas, reagindo ao meu
mau humor. Elas enrolam em volta dos meus braceletes de
prata, tentando se libertar. Droga. Por que elas estão sendo
acionadas assim? Minha mãe as comprou para mim quando
meus poderes aumentaram porque meu pai estava com medo
do que eu poderia fazer. Foi nessa época que nós dois
aprendemos a verdade sobre o meu nascimento. Ele me odeia
agora, e eu não posso culpá-lo. Mas também não consigo parar
de tentar fazê-lo mudar de ideia. É a razão pela qual estou tão
interessado em ir bem na escola — meu pai é um renomado
professor na Universidade de Everdale, uma das cinco
principais instituições do país.
Sinceramente, não sei como vou me sentar ao lado de
Daisy e permitir que ela saiba que sou péssimo em
matemática. E pior, deixá-la me ensinar. A Diretora Fallon não
tem ideia de quanto perigo está colocando a garota.

Phoenix esfrega as mãos. “Legal. Talvez eu não precise


esperar até a aula para lembrar a Daisy o que posso oferecer.”

Bryce o olha com um olhar assassino. “Não se atreva,


porra.”

Muito raramente vemos Bryce perder seu comportamento


descontraído, mas, no momento, ele definitivamente não está
pronto para travessuras. Está falando sério.

“O que está acontecendo com você?” Rufio observa o irmão


através dos olhos semicerrados. “Desde quando você se
importa com o destino dos Norms?”

Bryce dirige seu olhar duro para Rufio. “Quem disse que
eu me importo com a garota? Eu não quero ficar nauseado, só
isso.”

Besteira pra caralho. Bryce está mentindo, e ele nem está


tentando esconder.

“Tudo bem. Se eu não puder enviar à Daisy um bom sonho


molhado, então vou falar com ela pessoalmente.” Phoenix
começa a se levantar, mas Rufio o agarra pelo pulso.

“Não tão rápido, Romeu. Vamos ver como nosso peixinho


age em um oceano infestado de tubarões.”
Rufio olha para o outro lado da lanchonete. Seguindo seu
olhar, vejo o que chamou sua atenção: Drusilla e suas
seguidoras. Formidável. Assim como um tubarão que cheira o
sangue na água, a garota esnobe coloca seu olhar predador em
Daisy. Ela fica de pé com suas sandálias de salto alto e
caminha em direção à Norm com a determinação de alguém
que nunca ouviu um não. Dizer que eu não gosto dela é um
eufemismo. E talvez seja por isso que levanto da minha cadeira
e viro em direção a Daisy.

Ela deve sentir minha abordagem, seus olhos se


arregalam e seu rosto fica mais pálido. Ela nem percebe
quando Drusilla para ao lado dela. Um fato que irrita a cadela
Idol, se a fúria que brilha em seus olhos é alguma
indicação. Ela agarra Daisy pelo braço e a gira.

“Então você acha que pode andar por aí dando ordens aos
Idols?”

“Solte-me.” Daisy tenta se libertar do domínio de Drusilla,


mas é em vão.

Pietro Armani, um idiota que acha que é a coisa mais


quente que já enfeitou os corredores da Gifted Academy, diz:
“Oh, briga de gatas.”

“Acho que não.” Drusilla se dirige a Daisy, ignorando o


comentário de Pietro. “Alguém precisa lembrá-la do seu lugar.”

Drusilla pega o suco de laranja da bandeja de Daisy e o


joga na sua cabeça. Ela poderia ter usado sua compulsão para
forçar Daisy a fazê-lo, mas ela não é estúpida como eu. O uso
de presentes de Idol contra outros estudantes é uma ofensa
séria. Bullying regular, nem tanto.

Atrás de mim, ouço Rufio xingar alto. As coisas estão


prestes a sair do controle.

Os olhos de Daisy estão fechados, mas sua expressão é de


raiva mal contida. Meus olhos caem para a mão dela, que ela
apenas enrolou em punho. Uma visão me atinge naquele
preciso momento de Daisy jogando o braço e dando um soco
no rosto de Drusilla. A imagem desaparece, mas eu sei que
causará o Armagedom se eu não a impedir.

Eu aperto o braço de Daisy no momento em que ela está


prestes a puxá-lo para trás. “Você vem comigo.”
Daisy

ESTOU tremendo, lívida e quero matar alguém. Tenho toda


a intenção de socar Drusilla em seu rosto feio quando
Morpheus agarra meu pulso e sem cerimônia me arrasta para
fora da cafeteria.

Deveria lutar com ele, mas pela primeira vez eu não deixo
minhas emoções tomarem o controle. Ainda me lembro como
foi sua retaliação. Um surto de medo atinge meu coração, e eu
não acho que é Morpheus usando seu poder. Ainda não, pelo
menos. Ele foi interrompido na biblioteca. Talvez queira
terminar o que começou.

Meus instintos de autopreservação entram em ação e eu


finco os calcanhares no chão e ofereço resistência.

“Deixe-me ir, seu bruto.” eu digo.

Surpreendentemente, ele obedece, mas ainda me observa


com aquele ar de superioridade que os Idols são mestres.

“Você parece ridícula.”

“Sério? Obrigada pela observação, imbecil.” Limpo o suco


de laranja do rosto com a manga da jaqueta. “Por que você me
arrastou para fora?”
“Eu queria evitar um massacre nas dependências da
escola.”

Eu dou a ele um olhar engraçado. “Perdoe-me se eu tiver


dificuldade em acreditar nas suas besteiras. Você deveria pelo
menos ter me deixado dar um bom soco.”

“Drusilla teria destruído você.”

“Por que você se importa? Não é isso que você e seus


amigos estão tentando fazer comigo desde que nos
conhecemos?”

Parece que minha pergunta o pegou de surpresa. Seus


olhos se arregalam e sua boca se abre. Depois de um momento,
ele finalmente responde. “Eu não queria perder meu novo
tutor.”

“O que?”

“Você não ouviu? Eu sou academicamente deficiente e


preciso de toda a ajuda que puder obter. Você foi designada
para me orientar em matemática.” Ele encolhe os ombros.

Balanço a cabeça, o que é uma má ideia, considerando


que o suco de laranja ainda está pingando dos fios. Eu preciso
de um banho o mais rápido possível.

“O cara que eu estava ensinando uma lição antes de você


tão gentilmente interromper era meu ex-tutor. Ele obviamente
está demitido e agora você tem o emprego.”

“Besteira. Eu não vou te ensinar nada. Você é um valentão


mau. Encontre outra pessoa.” Eu olho para ele.
Morpheus estreita o olhar e uma escuridão parece
envolver todo o seu corpo. Merda. Eu acordei a fera.
Novamente. Quando vou aprender?

Olho por cima do ombro do Idol quando vejo Toby


correndo pelo corredor em minha direção. Ele diminui a
velocidade quando se aproxima.

Morpheus se vira e olha Toby de cima a baixo. “Qual o


problema com você? Por que você está correndo como se tivesse
acabado de ver um fantasma?” ele pergunta.

Toby o encara com cautela antes de me olhar. “Por que


você está encharcada?”

Eu aceno minha mão com desdém. “Eu te conto depois. O


que aconteceu?” Eu tenho que concordar com Morpheus. Toby
parece positivamente assustado.

“Eu estava a caminho de vê-la quando outra garota Fringe


desmaiou bem na minha frente.”

Os ombros de Morpheus ficam mais tensos. “Era Silver-


voltage?”

Toby assente. “Sim, acho que sim. O nariz dela estava


sangrando e, quando a enfermeira chegou, ela já estava com
convulsão.” Ele faz uma pausa e passa a mão nervosa pelo
cabelo. “Ela não resistiu.”

“O quê? Ela morreu?” Eu pergunto.

“Bem na minha frente. Foi horrível.”


Morpheus esfrega o rosto e olha ao longe. “Alicia Stones
também não resistiu.”

Lembro-me que o Morpheus nunca levou a Alicia à


enfermaria, e depois fico brava de novo. “Talvez ela teria
sobrevivido se tivesse recebido atenção médica imediata.”

Morpheus me olha com uma sobrancelha franzida. “O que


isso deveria significar?”

“Você nunca a levou para a enfermaria.”

“Não, eu não levei. Levei-a para sua irmã, que a levou


rapidamente para o hospital.”

Minha raiva esvazia em um instante. “Por que você não a


levou para a enfermaria?”

A expressão de Morpheus se transforma em uma


carranca, e então sua atenção se move para um ponto atrás do
meu ombro. “Não importa. Seu fã-clube está aqui. Vejo você
amanhã na biblioteca às sete. Não se atrase.”

O que?

Morpheus vai embora antes que eu possa argumentar


contra sua declaração. Mas sinto a presença de alguém atrás
de mim. Giro no local e encontro Rufio, Phoenix e Bryce se
aproximando.

Porra, não. Eu não quero lidar com eles agora. Tive o


suficiente de idiotas por um dia.
Eu ando na direção oposta, muito consciente de que ainda
estou coberta de suco de laranja. Se eu for para o meu
dormitório para me trocar, vou me atrasar para EF. Eu não
quero receber outra visita da diretora, então realmente não
tenho uma opção. Para o ginásio eu vou.

Não sei dizer em voz alta o quanto é divertido andar sob o


sol da tarde de Saturn’s Bay, coberta de suco pegajoso. Moscas
e abelhas me seguem como uma horda de duendes famintos
tentando fazer sua próxima refeição. Eu tenho que correr no
final para escapar dos insetos traquinas.

Existem algumas aulas em andamento no prédio, mas


felizmente o vestiário está vazio no momento. Dentro do meu
armário, encontro um uniforme de EF limpo. No entanto,
nenhum par extra de roupa íntima. Eu esqueci de trazer
um. Bem, é melhor seguir sem calcinhas do que usar roupas
ensopadas de suco de laranja.

Uma rápida olhada no relógio na parede me diz que tenho


quinze minutos para tomar banho e me vestir antes que o
vestiário seja invadido por um grupo de garotas suadas. Muito
tempo para eu terminar e sair daqui.

A área do chuveiro tem pequenas barracas com portas que


nos dão a semi-ilusão de privacidade. Digo semi porque, por
um lado, as portas e as paredes entre as bancas só chegam ao
meu peito. Segundo, as portas são feitas de vidro — é verdade
que é um vidro leitoso, mas você ainda pode ver a silhueta da
pessoa dentro da tenda.

Definitivamente vou evitar tomar banho aqui a todo custo.


O jato de água é potente, no entanto. Apesar do calor lá
fora, ainda coloco a temperatura alta e logo minha pequena
área fica envolta em nevoeiro. Eu nunca tive acesso a água
quente antes, então ainda estou me acostumando ao
luxo. Meus músculos me agradecem, não percebi o quão tensa
eu estava até que eles começaram a relaxar sob o fluxo quente.

Estou a meio caminho de enxaguar o cabelo quando as


vozes de várias garotas invadem meu casulo pacífico. Soltei um
suspiro e recuo para trás, o que fez meu frasco de xampu cair.

“Merda.” eu digo.

Antes que o conteúdo despeje, eu me agacho e recupero a


garrafa. Quando me levanto da minha posição abaixada,
encontro várias garotas me encarando. Não, não
olhando. Encarando.

“O que?” Eu pergunto.

Uma delas abre a boca, mas um alarme estridente soa no


mesmo momento.

“Isso é um alarme de incêndio?” ela pergunta.

“Não sinto cheiro de fumaça.” responde uma segunda


garota.

Desligo o chuveiro e pego minha toalha, que dobrei sobre


a porta do box.

“Não importa. Precisamos sair daqui.” digo quando


nenhuma delas faz qualquer movimento para se mover.
“Cale a boca, Norm. Você não nos diz o que fazer.” a
primeira garota que se aproximou de mim diz. Ela é muito mais
baixa que eu. Ela também parece jovem, quase jovem demais
para estar no ensino médio.

“Tudo bem. Fique aqui. Eu não me importo de qualquer


maneira.” Eu ando pelo trio e vou para o meu armário. No meio
do caminho, eu não apenas sinto o cheiro da fumaça, mas
também a vejo. Está saindo dos dutos de ventilação.

As outras garotas da sala também notaram isso e dirigem-


se para a porta de saída ao mesmo tempo. Merda. Eles não têm
simulações de incêndio aqui?

A garota que chegou à porta primeiro tenta abri-la, mas


ela não se mexe.

“Que diabos! Essa coisa está trancada.”

Uma morena alta e atlética empurra a primeira garota


para fora do caminho. “Afaste-se, Whitney. Deixa comigo.”

Ela pega a maçaneta e a puxa com força. Eu posso ver que


ela está usando toda a sua força pela maneira como seus
músculos do braço estão tensos.

“Droga. Algo está errado.” diz ela.

Ainda enrolada na minha toalha, pergunto: “Alguém aqui


tem telecinesia, ou inferno, super força como presente?”

As meninas aglomeradas perto da porta de saída se voltam


para mim como se minha pergunta fosse louca.
Finalmente, alguém responde: “Não somos Idols.”

“Espere. Nenhuma de vocês?”

“Por que você está tão chocada?” a garota atlética


pergunta, estreitando o olhar. “Idols e Fringes geralmente são
mantidos separados durante as atividades físicas.”

“Oh, eu não sabia disso.”

“Tanto faz. Precisamos abrir essa porta.”

O alarme de incêndio continua tocando alto e a fumaça


continua a encher o vestiário. Meus olhos ardem com
isso. Cubro meu nariz com a parte de trás do meu antebraço,
tentando proteger meus pulmões de inalar muito dos vapores
tóxicos. A tosse ocorre em toda a sala. Eu posso dizer que as
meninas Fringe estão prestes a entrar em pânico. Bem, eu
também.

“Existe alguma coisa aqui que possamos usar para tentar


destrancar a porta?” Pergunto a ninguém em particular.

Não recebo resposta além de olhares ansiosos trocados.

“Alguém tem um telefone celular, então?”

Algumas das meninas concordam e se dispersam. Menos


a garota atlética. Ela continua tentando forçar a porta a abrir.

“Pelo amor de Deus. Isso não está certo. Eu deveria ser


capaz de abrir essa porra.”

“Se estiver bloqueada, seria muito difícil.” eu digo.


Ela me nivela com um olhar. “Você não entende. Eu não
sou um Idol, mas sou uma Fringe de nível seis, e meu presente
é força maior.”

Ok, isso definitivamente não é um bom sinal. Mesmo que


ela não seja tão poderosa, ela deve poder abrir uma porta
trancada. Olho para a saída mais uma vez e depois me
aproximo da maçaneta. Uma lasca de pavor percorre minha
espinha. Não consigo ver o ferrolho entre a porta e a estrutura.

“A porta não está trancada.” eu digo.

“O que?” A garota Fringe me empurra para fora do


caminho e toma meu lugar. “Filho da puta. Eu sabia que algo
estava errado.”

“Alguém está nos mantendo presas aqui de propósito.”

Num acesso de raiva, minha companheira solta um grito


e começa a dar um soco e chutar a porta. Ela coloca alguns
amassados nela, mas infelizmente ela não consegue perfurar.

Um círculo de meninas preocupadas se forma ao nosso


redor. Todas elas compartilham a mesma expressão de medo.

“Alguém pode pedir ajuda?”

Eu vejo muitos balanços de cabeça. Definitivamente isso


não é bom.

“Não conseguimos sinal aqui.” responde uma delas.


Respiro fundo e começo a pensar em voz alta. “Tudo bem.
Não podemos passar pela porta e a ajuda não está chegando,
o que significa que temos que encontrar outra saída.”

“Há janelas atrás, mas não sei se são grandes o suficiente


para que possamos passar.” responde uma das meninas.

“Se essas janelas não estiverem bloqueadas pelos truques


do Idol, então eu posso trabalhar com isso.” diz a Fringe nível
seis.

Todas nós vamos para o fundo do vestiário. A fumaça


ainda não é tão espessa aqui.

As janelas estão próximas ao teto e estreitas. Somente


uma criança seria capaz de rastejar por essas aberturas. A
Super Fringe puxa um banco para mais perto da parede e pisa
nele.

“Alguém me passa uma toalha.” Ela estende com a mão


sem olhar.

A toalha enrolada em meu corpo é arrancada do meu


aperto, e eu sou muito lenta para não perder meu
encobrimento.

“Ei!” Eu protesto, cobrindo meu peito nu.

“Desculpe. Não temos tempo para procurar outra.” a


garota que pegou minha toalha responde se desculpando.

“O que eu devo fazer agora? Desfilar nua?”


Uma camiseta úmida se materializa na minha frente.
“Aqui, você pode usar isso.”

A menina pequena é a que oferece a peça de roupa. Ela


tirou a que estava vestindo. Nem sei se vai caber, mas aceito a
roupa mesmo assim. Ela se encaixa tão confortavelmente
quanto eu previ e não cobre minha região inferior. Fantástico
pra caralho.

Distraída por minha falta de roupa, perco a parte em que


Super Fringe bate no vidro da janela. Eu ouço o vidro quebrar,
porém, é um som muito bem-vindo.

“Tudo bem. Nenhuma porcaria de Idol fodido está


acontecendo aqui. Fiquem para trás. Eu vou fazer a abertura
maior.”

E ela faz exatamente isso, batendo contra a parede até que


o buraco seja grande o suficiente para nós escaparmos.
Surpreendentemente, ela não sai primeiro, ajudando as outras
garotas. Fico para trás e espero até que eu seja a último em
pé. Essas garotas são jovens, com a idade de Rosie, e Fringes
ou não, elas estavam assustadas.

Super Fringe olha por cima do ombro e pergunta: “O que


você está esperando? Vamos lá.” Ela me oferece sua mão, mas
um segundo antes de eu estender a mão, todo o teto acima dela
cai, enterrando-a sob uma pilha de escombros.

Grito e inalo um monte de fumaça no processo. A abertura


que ela criou se foi, mas não estou nem preocupada com isso
agora. Começo a cavar, afastando os pedaços de gesso e
concreto. Apenas o braço estendido está saindo debaixo da
montanha de escombros.

A sala ficou insuportavelmente mais quente e a fumaça é


sufocante. Mal consigo ver nada, mas não paro de cavar.

“Espere aí, Super Fringe. Eu vou te tirar daí.”

Há uma explosão alta atrás de mim, mas não olho para


trás, nem paro o que estou fazendo. Um momento depois, um
par de braços fortes me afastam da minha tarefa.

“Não. Deixe-me ir. Eu preciso tirá-la.”

“Pare de lutar, Norm estúpida. Estou tentando


ajudar.” Reconheço a voz de Phoenix, apesar da diferença em
seu tom. Está faltando o seu charme sedutor de sempre.

“Então ajude-a já.” Aponto para os escombros.

“Afaste-se.” Ele fica na minha frente e, um segundo


depois, todos os escombros se erguem no ar, revelando a forma
imóvel da Super Fringe.

Phoenix envia os destroços para um canto enquanto eu


corro em volta dele e ajoelho-me. Viro a garota, sacudindo-a.

“Acorde, acorde.”

“Daisy. O que você está fazendo?” Phoenix se agacha ao


meu lado.

“Ela precisa acordar.”


Phoenix agarra meus pulsos e interrompe meus
movimentos. “Abra seus olhos, Daisy. Essa garota está morta.”

Vejo então, a grande bagunça vermelha que costumava


ser o lado de sua cabeça.

“Não.” eu choramingo, e depois faço algo que não faço há


muito tempo: choro pela perda de alguém.

Phoenix solta meus braços e apenas me observa gritar.

Pelo menos ele não tentou me consolar. Eu teria aceitado


totalmente naquele momento, e isso teria sido muito, muito
pior.
Morpheus

Disse que encontraria Daisy na biblioteca às sete, mas não


tenho certeza se ela aparecerá. Alguém incendiou a academia
e a trancou lá dentro com um monte de Fringes. Eu ficaria
surpreso se ela não fosse afetada. Phoenix disse que ela chorou
ao ver o corpo da Fringe morta em um ato de vandalismo — é
assim que a administração da escola está chamando. Não sei
quem está comprando essa besteira. Obviamente, foi uma
tentativa de assassinato. O alvo pretendido é difícil de
dizer. Tenho certeza de que a Norm acha que alguém estava
tentando matá-la, mas eu não acredito. Também não acredito
que aquelas duas garotas Fringe que usam Silver-voltage não
estejam relacionadas ao fogo de ontem.

Por enquanto, estou mantendo minhas suspeitas para


mim. Não quero que os caras pensem que minha teoria está
ligada ao fato de meus pais serem Fringes. Eu nunca me
importei com os Fringes nesta escola antes e não vou começar
agora.

Saio antes que meus colegas de quarto estejam acordados,


mas paro na frente da porta de Daisy. Foda-se. Quero que ela
seja minha professora tanto quanto quero que meus dentes do
siso sejam arrancados. Mas não posso reprovar em
matemática, e a Diretora Fallon não me permite escolher outro
nerd.

Antes que eu possa me convencer disso, eu bato. Três


vezes. Forte.

“Quem é?” Daisy pergunta. A voz dela não parece


sonolenta. Ela está acordada há um tempo.

Eu limpo minha garganta, encontrando-a de repente seca.


“Morpheus.”

Daisy abre a porta uma lasca, me olhando através do


pequeno espaço com um ar de alarme. “Ainda não são sete.”

“Então, você me encontraria na biblioteca?” Eu pergunto


como um idiota.

“Você não me deu muita escolha.” Ela abre a porta um


pouco mais, permitindo que eu veja que ela está realmente
pronta para ir.

Qualquer pessoa decente perguntaria como ela está. Mas


não sou decente e não dou a mínima para o bem-estar dela.

“Bem, vamos lá então.”

“O quê? Você quer ir junto?” Ela levantou as duas


sobrancelhas, os olhos grandes e redondos. Eles são bonitos,
amendoados e com uma cor tão única.

Ok. Que diabos? Não apreciei apenas algo sobre a


aparência da Norm.
“Obviamente. Estamos indo na mesma direção. Se não
caminharmos juntos, um de nós se atrasará.”

“Certo. Deixe-me pegar minha bolsa.” Ela se vira e meus


olhos traidores caem na bunda dela.

Pelo amor de Deus. Eu devo estar perdendo a cabeça. Uma


coisa é Phoenix notar a aparência da garota ou Rufio desejar a
Norm que ele alega odiar, mas é outra coisa para eu fazer
isso. Eu sei melhor que isso. Sempre que estou perto de Daisy,
sinto que ela será nossa destruição. Não sei ao certo como ela
vai desencadear isso, mas não há dúvida de que ela será o
catalisador de uma grande mudança em nosso mundo.

Talvez eu devesse matá-la agora e lidar com a ira da


Diretora Fallon mais tarde. As sombras dentro de mim
concordam. Elas lambem minha pele, me deixando frio onde
tocam. Um arrepio percorre minha espinha e eu puxo as
lapelas da minha jaqueta para mais perto.

“Está com frio?” ela pergunta antes de fechar a porta.

“Não, eu estou bem.” Começo a andar e Daisy segue logo


atrás de mim. Ela não anda mais rápido para acompanhar.

Paro abruptamente e ela bate nas minhas costas.

“Ai. Me desculpe. Por que você parou?”

Eu giro, lutando contra o desejo de agarrá-la pelo pescoço


novamente. “Quem se importa por que eu parei? Você é cega
ou algo assim?”
“Eu estava mandando uma mensagem para minha irm...
estava mandando uma mensagem.”

Ela ia dizer “irmã”, mas mudou de ideia. Entendo que ela


não quer que eu saiba que tem uma irmã em algum lugar. Eu
não gostaria que essa informação fosse de conhecimento
comum, se eu fosse ela.

“Preste atenção.” Eu me viro e volto a andar. “E não se


arraste atrás de mim.”

“Eu não me arrasto. Não sou um troll. Além disso, estava


lhe dando espaço. O que as pessoas pensariam se nos vissem
juntos?” ela pergunta ironicamente.

“Foda-se o que as pessoas pensam. Andar lado a lado com


você não se compara à humilhação de ter você me ensinando.”

“Eu não entendo por que a Diretora Fallon está nos


forçando juntos. É quase como se ela tivesse um motivo
oculto.” diz Daisy.

Parece um comentário indireto, como se ela não


conhecesse seu papel na história. É possível que ela não o
faça. Mas isso não a torna menos perigosa.

***

Daisy
É difícil acreditar que alguém tão poderoso possa ser tão
ignorante quando se trata de equações simples. A matemática
é a ciência mais fácil que existe. É senso comum.

“Tudo certo. Vamos tentar mais uma vez.” digo, incapaz


de esconder minha frustração. Eu tenho tentado explicar o
mesmo problema para Morpheus por mais de quinze minutos.

Ele agarra meu pulso com força, me impedindo de


escrever em seu caderno. “É melhor você largar esse tom
condescendente, Norm.”

“Ou o que? Você vai me sufocar como fez com o seu último
tutor?” Olho diretamente em seus olhos, deixando minha raiva
encobrir o medo.

É difícil manter meu corpo imóvel, no entanto, para não


deixar que os tremores assumam o controle.

Sua mandíbula está apertada e seus olhos castanhos


estão cheios de tanto ódio que parece veneno.

Com um rápido estreitamento do olhar, ele solta meu


pulso e desvia o olhar. “Eu terminei a tutoria por hoje.”

Olho o relógio instalado na parede da biblioteca. “Ainda


temos vinte minutos para terminar.”

Ele vira rápido, e minha reação instintiva é me afastar.

“Eu disse que terminei.” ele grita.

Superada pela ousadia — e tolice — eu agarro seu


pulso. Meus dedos enrolam em torno de algum tipo de
bracelete debaixo de sua jaqueta do uniforme, e minha mão
instantaneamente se torna fria.

Com um suspiro, assisto sombras escuras deslizarem por


baixo de sua jaqueta e cobrirem minha mão, pulso e
antebraço. Minha garganta se fecha, e não consigo meter ar
nos meus pulmões.

“Oh, meu Deus.” eu coaxo.

Um segundo depois, puxo meu braço para trás e aperto


minha mão entorpecida contra o peito. Felizmente, posso
respirar novamente.

Para minha surpresa, Morpheus não está olhando para


mim como se quisesse me matar. Em vez disso, ele está me
olhando com os olhos arregalados. Sua respiração também
está fora de sintonia, superficial.

Com um salto, ele empurra a cadeira para trás e se


levanta. Ele nem coleta suas coisas antes de sair da biblioteca.

Meu coração ainda está batendo em ritmo acelerado


enquanto meu cérebro tenta entender o que diabos
aconteceu. Não saio do meu lugar por não sei quanto tempo,
até que a primeira campainha da escola finalmente me tira da
inércia. Com um sobressalto, pego minhas coisas e enfio os
livros e anotações de Morpheus em sua mochila. Na minha
pressa, largo o caderno dele no chão. Um pedaço de papel
dobrado cai de dentro.

Curiosa, desdobro a folha. Um desenho muito detalhado


de um homem alto parado no meio de uma selva quase salta
do papel. É feito na cor cinza, uma mistura de lápis e
marcadores. É de tirar o fôlego e também aterrorizante. O
personagem no desenho não parece humano. Seus olhos estão
brilhando, e tatuagens estranhas e rodopiantes cobrem seu
peito e braços estendidos. Raios estão saindo de suas mãos.

Ele parece alguém poderoso — um semideus.

Rapidamente, redobro o desenho e o coloco dentro do


caderno de Morpheus. Eu deveria ter deixado seus pertences
com o bibliotecário, mas na minha pressa de chegar à aula a
tempo, acabei levando sua mochila comigo.

Eu tenho que correr para chegar à minha aula de


matemática antes que a campainha final toque e, portanto,
estou sem fôlego quando entro. Phoenix e Rufio já estão em
seus lugares, mas Morpheus não.

Ambos os Idols olham para mim com interesse, mas


nenhum deles parece inclinado a usar o charme hoje. A última
vez que vi Phoenix, ele simplesmente me olhou quando eu
chorei pela Fringe que perdeu sua vida durante o incêndio de
ontem. Ele saiu antes que eu tivesse a chance de agradecê-lo
por salvar minha vida, mesmo que não tivesse sido intencional.

Eu poderia fazer isso agora, mas ainda estou abalada com


a minha interação com Morpheus. Sento-me sem pensar mais
em Phoenix ou Rufio, largando minha carga ao lado da minha
cadeira.

Até que um deles abra sua boca grande. “O que você está
fazendo com a mochila de Morpheus?” Rufio pergunta.
Respiro fundo, pronta para dizer a verdade, quando
Morpheus entra. Ele está mais fechado do que antes, mas
também está visivelmente abalado. Ele não faz contato visual
comigo enquanto passa. Eu me viro e olho, mas ele ainda se
recusa a olhar para mim.

Phoenix e Rufio não perdem um segundo da interação, ou


falta dela, entre Morpheus e eu.

“Por que Daisy tem suas coisas?” Phoenix pergunta a ele.

Morpheus se vira para mim antes de lançar o olhar para


o chão, onde sua mochila está ao lado da minha.

“Ele esqueceu na biblioteca.” eu digo. “O bibliotecário


perguntou se eu poderia levar até ele.”

Por que estou cobrindo o Idol idiota? Ele é mau, violento e


totalmente indigno da minha gentileza.

Mas uma coisa que meu ato faz é pegá-lo de


surpresa. Suas sobrancelhas estão menos franzidas quando
ele olha para mim com uma mandíbula frouxa. Movo-me para
pegar a alça da mochila e entregá-la a ele, mas a mochila
desliza pelo corredor sozinha, parando ao lado da mesa de
Morpheus.

“Eu cuido disso, Daisy.” diz Phoenix.

Quando olho por cima do ombro, encontro-o com um


sorriso malicioso estampado nos lábios, lembrando que não
olhei para o livro especial que a bibliotecária me deu. Ainda
estou totalmente vulnerável aos seus devaneios eróticos.
Droga.
Daisy

Finalmente é sábado e ainda estou viva. Os implacáveis


Quatro Magníficos me deixaram em paz pelo resto da
semana. Não sei por que eles decidiram me dar um tempo. Foi
por causa do incêndio na academia ou por algum outro motivo
completamente não relacionado a mim?

Definitivamente não vou perguntar. Mas também não vou


assumir que o bullying acabou. Tenho a sensação de que essa
é a calma antes da tempestade de merda, o que significa que
tenho que descobrir o que fazer para impedir Phoenix de mexer
com minha mente.

O livro que a bibliotecária me deu é um livro grosso, com


mais de mil páginas. O índice não mostrou nada que chamou
minha atenção. Percorrer o livro também não me ajudou. Acho
que não tenho outra escolha senão ler a Bíblia do começo ao
fim. Vou acrescentar isso à pilha de trabalhos de casa e tarefas
a serem entregues na próxima semana. Hoje, porém, estou
determinada a me divertir com minha família e amigos.

Eu empurrei todos os pensamentos sobre Idols, armas


misteriosas, e mortes para o lado. Muitos me considerariam
uma cadela fria por não se importar mais com o destino
daqueles Fringes que morreram em circunstâncias
suspeitas. Eu chorando sobre a Super Fringe foi uma
anomalia. Viver a vida no modo de sobrevivência me ensinou a
compartimentar as coisas.

Espero do lado de fora do prédio do dormitório por


Toby. Convidei-o para vir comigo, não apenas porque preciso
de um meio de transporte, mas também porque quero conhecê-
lo melhor. Até agora, ele pareceu bom para um Fringe. Confio
nele implicitamente agora? Sem chance. Em um mundo Idol-
come-Norm, a fé cega pode matá-lo ou, pelo menos, deixá-lo
gravemente ferido.

Um velho Cadillac roxo vira a esquina, seu motor rugindo


como um leão com dor de garganta. Toby para na minha frente
e então se aproxima para rolar a janela manualmente.

“Então, o que você acha?”

Inclino-me para frente e espio dentro do veículo. O


estofamento de couro preto está em boa forma, além de uma
lasca na parte de trás do banco da frente, que foi remendada
com silver tape.

“Toby, eu não tinha ideia de que você tinha um coração de


cafetão.”

Ele ri. “Por duzentos dólares, eu poderia ser qualquer


coisa, até um agente funerário.”

Eu levanto uma sobrancelha. “Você estava pensando em


comprar um carro funerário?”
“Sim. Foi entre Purple Delight aqui ou o carro
funerário.” Ele esfrega as mãos no volante do carro
carinhosamente.

“Você nomeou seu carro como Purple Delight?” Abro a


porta e entro. O assento espaçoso quase me engole quando me
sento.

Toby encolhe os ombros. “Eu não sou muito bom com


nomes. Então, para onde vamos?”

“A festa é em um bar de esportes em Emelton.” Eu pesco


as instruções que pude imprimir no computador da biblioteca.
“Aqui, eu consegui um mapa para nós.”

“Obrigado, mas eu posso apenas conectar o endereço no


meu telefone.” Ele pega um smartphone no porta-copos do
carro e olha para mim, esperando.

A vergonha deixa meu rosto quente. Presumi que, como


ele é bolsista, ele não tinha acesso a itens de luxo. Eu sou uma
idiota. Devo ser a única aluna da Gifted Academy que vive na
pobreza.

Limpo a garganta e leio o endereço em voz alta. Uma vez


que o sistema de GPS do telefone de Toby está pronto, ele sai.

“Obrigado por me convidar.” diz ele.

“Não é grande coisa. Na verdade, eu não queria pegar o


ônibus.”

Ele ri. “Imaginei isso. Eu teria lhe dado uma carona,


mesmo que você não tivesse me convidado, no entanto.”
“Isso teria sido tão rude.”

“Não, eu não pensaria assim. Acho que estou cercado por


Idols por muito tempo. Não sei mais a diferença entre grosseria
e crueldade absoluta.”

Soltei um suspiro pesado, quase como se quisesse


descarregar todo o estresse da semana passada. Sim, eu
empurrei tudo o que aconteceu para o lado, mas meu corpo
ainda está cheio da tensão de tudo que eu já passei.

“Há quanto tempo você estuda aqui?” Eu pergunto em vez


disso.

“Desde o primeiro ano. Meu pai trabalha para um membro


do conselho da escola e ele puxou algumas cordas.”

“Isso foi legal da parte dele. Eu não encontrei muitos Idols


que são gentis com pessoas que consideram menos valiosas
porque não são abençoadas com presentes divinos. Mas deve
ser diferente para você, já que você é um Fringe.”

Eu assisto a expressão de Toby de perto. Os músculos ao


redor de sua boca estão definitivamente mais tensos do que
antes.

Interessante.

“É verdade. A maior parte da minha experiência com os


Idols foi positiva antes de vir para a Gifted Academy. Eu
aprendi rapidamente que estava vivendo dentro de uma bolha,
algo parecido com a lendária Starlight Island.”
Meu coração dá uma guinada repentina à menção da ilha
que meu pai me fez prometer que tentaria encontrar. Tentando
parecer blasé, pergunto: “Você acha que a Starlight Island é
real?”

Toby muda sua atenção para mim por um segundo. “Ha,


não.” Ele ri. “É uma história de conto de fadas, Daisy. Você
acredita seriamente que, se houvesse um lugar assim, os Idols
não o teriam encontrado e destruído até agora?”

Eu rio, tentando esconder minha decepção. Não tenho


certeza do que estava tentando ganhar com a minha
pergunta. Passei os últimos sete anos desacreditando na
existência de um lugar tão idílico. Então, por que me incomoda
tanto que Toby acha que a ilha é um mito?

“Certo.” Olho pela janela. O sol está brilhando, mas a


temperatura caiu alguns graus. Agradeço aos céus por
isso. Pode demorar mais um mês até o verão finalmente ficar
para trás.

“Eu sei que já perguntei, mas você está bem?” Toby sonda,
e eu sei que ele está se referindo ao incidente do incêndio.

“Se eu dissesse que sim, você acreditaria em mim?”

“Não.”

“Honestamente, eu não sei o que pensar. A Diretora Fallon


me garantiu que a Gifted Academy era um lugar seguro, mas
estou começando a duvidar disso.”
“Você provavelmente não quer falar sobre isso, mas estou
começando a suspeitar que algo muito obscuro está
acontecendo na escola.”

Eu queria ter um dia livre das teorias de drama e


conspiração dos Idols, mas não posso deixar passar a
oportunidade de aprender tudo o que posso sobre o lugar.

“O que você quer dizer?” Eu pergunto.

“Bem, para começar, há a morte de dois estudantes Fringe


até agora causados por uma overdose de Silver-voltage.”

“Você acha que eles foram alvos?”

“Bem, Fringes de baixo nível são sempre alvo dos Idols


mais cruéis. Os Quatro Magníficos e a Dreadzilla são
conhecidos por serem os maiores valentões da escola.”

“Isso não me surpreende.” Um peso se instala no meu


peito, quase como uma premonição de que algo horrível vai
acontecer comigo.

Se eu não tivesse que me preocupar com mais ninguém


além de mim, provavelmente fugiria. Mas não posso fazer isso
com Rosie. Eu tenho que garantir que ela tenha um teto sobre
a cabeça. Contanto que ela esteja o mais longe possível dos
Idols, suportarei todos os jogos perversos que eles reservam
para mim.

“A Silver-voltage é cara, e Fringes sabem ficar longe das


coisas.” explica Toby. “Mas sempre existem os estúpidos que
tentam, então essas mortes não são tão suspeitas.”
“Você está pensando que o fogo estava mirando àquelas
meninas Fringes.”

O aperto de Toby no volante fica mais apertado. “Sim.” Ele


vira a cabeça para me encarar. “Mas, por favor, não diga uma
palavra sobre isso a ninguém.”

“A quem eu vou contar?” Mordo o lábio inferior e olho para


a estrada. “Não entendo. Quem iria querer Fringes mortos?
Norms, sim, eu entendo. Idols odeiam minha espécie. Mas
Fringes?”

“Eu pensava o mesmo antes de vir para a Gifted Academy.


Mas os Idols odeiam Fringes quase tanto quanto odeiam os
Norms. Se não são poderosos o suficiente, são inúteis aos olhos
dos Idols mais fanáticos.”

“O que você quer dizer com fanáticos?”

“Há um pequeno e poderoso grupo de Idols que acreditam


que Norms e Fringes devem ser expurgados da face da Terra.
Eles nos culpam pelo desaparecimento dos semideuses, e
acreditam que a única maneira de trazê-los de volta é se
livrando da sujeira... nós.”

Eu fecho minhas mãos em punhos. Talvez eu tenha sido


muito complacente todos esses anos, apenas preocupada em
chegar a algum lugar seguro. O assassinato de meus pais vem
à tona. Aqueles Idols os mataram sem piedade. Eu gostaria de
poder vingar meus pais naquele momento. Pelo menos, eu
consegui matar um daqueles filhos da puta, e me senti bem.

Uma raiva fervente surge na boca do meu estômago.


Você tem uma arma que mata Idols, Daisy. O que está
impedindo você de meter no coração dos seus atormentadores?

“Daisy? Você está bem? Eu não quis estragar o clima.”

“Eu estou bem, Toby. Apenas processando o que você me


disse.”

“Honestamente, eu gostaria que houvesse uma maneira


de nos defender deles.” continua Toby.

“Sim, de verdade.” Minha resposta é sem convicção.

“Tudo bem, chega desses filhos da puta. Você quer ouvir


alguma música, entrar no ritmo?”

Toby liga o rádio e a música country enche o carro, mega


alto.

“Oh meu Deus. Que diabos é isso?”

“Oops, desculpe.” Ele muda rapidamente de estação


quando seu rosto fica adoravelmente vermelho. “Devo ter
mudado acidentalmente enquanto espanava o painel.”

“Tudo bem. Não há nada errado com a música country,


Toby. Se é isso que você gosta.”

“Não, não. Do que você gosta? Pop, rock, clássico?”

Eu dou de ombros. “Que tal ouvir The Freaks? Eles


costumam tocar uma boa variedade de músicas.”
“The Freaks então.” Toby sintoniza a estação que pertence
a um Fringe e composta por uma mistura de Fringes e Norms.

É uma das razões pelas quais comecei a ouvi-la quando


me mudei para a Saturn’s Bay. A grande maioria da indústria
do entretenimento é controlada pelos Idols, o que significa que
raramente conseguimos ver ou ouvir algo de Fringes ou Norms.

Uma das minhas músicas favoritas começa e eu começo a


cantar baixinho, mas Toby aumenta o volume e se junta a
mim. Bloqueamos o olhar antes de cantarmos a letra,
balançando a cabeça ao ritmo da música.

A tristeza finalmente começa a se dissipar. Então o motor


do carro começa a engasgar.

“Ei, o que foi isso?” Eu pergunto.

“Eu não sei.” Toby franze a testa para o painel.

O carro diminui a velocidade e, um momento depois, sai


fumaça por baixo do capô.

“Merda!” Toby acende as luzes de alerta e sai da estrada.

Nós dois saímos do carro para verificar qual é o


problema. Não sei muito sobre mecânica de automóveis, mas
sei o suficiente para estar ciente de que não vamos a lugar
nenhum tão cedo.

***
Bryce

Eu tinha toda a intenção de dormir o dia inteiro.


Pensamento positivo. Estou exausto e, no início da
madrugada, estava bem acordado. Na semana passada, dormir
uma noite inteira foi impossível. Eu nunca sofri com insônia,
mas parece que desde que Daisy se mudou para a porta ao
lado, eu desenvolvi o problema. Uma simples Norm não deve
ser responsável por tantas perturbações, o que suscita a
pergunta: quem é ela realmente?

Não há dúvida de que ela é uma Norm. Não sinto nenhum


poder vindo dela. Mas ela definitivamente não é comum.

Inquieto, arranco os lençóis emaranhados das minhas


pernas e as jogo ao lado da cama. Inclinando-me para frente,
esfrego o rosto enquanto penso em uma maneira de me livrar
do sentimento estranho. Dormência eu conheço. Eu a
abraço. Esse sentimento nervoso, por outro lado, é bastante
irritante.

Vou para a janela e abro as persianas. O sol nasceu,


queimando os jardins paisagísticos da Gifted Academy. Não
importa que haja uma seca em Saturn’s Bay, não há falta de
água para irrigação aqui.

Cheio de um impulso repentino, visto um short e uma


camiseta e saio. Talvez uma caminhada no calor coloque
minha cabeça em ordem.
Mas a paz de espírito não é pra ser. Pouco antes de eu
abrir a porta do prédio, vejo Daisy esperando junto ao meio-fio.
Paro automaticamente, e minha hesitação me confunde. Desde
quando evito Norms? Eles deveriam ser aqueles que se
escondem de nós.

Um perigoso Cadillac roxo estaciona na frente


dela. Mesmo de onde estou, vejo que está prestes a
desmoronar. Ele deve ser rebocado pelo Departamento de
Segurança Rodoviária. Daisy entra e logo depois o carro
decola. Não vi o motorista, mas posso adivinhar quem estava
ao volante, aquele garoto Fringe ruivinho.

Toby conseguiu voar sob nosso radar durante a maior


parte do ensino médio. Ele é um Fringe de baixo nível que,
graças ao seu status normal, se mistura ao fundo. Agora que
ele foi designado como guia de Daisy, ele está definitivamente
no meu radar. Mas Daisy é o enigma que devo decifrar.

Antes que eu possa pensar muito sobre o que estou


fazendo, eu giro e vou para a garagem. Já é hora de descobrir
mais sobre a garota Norm, que levou não só a minha cabeça
para dar uma volta, mas também a de Rufio, Phoenix e
Morpheus.
Daisy

“NÃO posso acreditar nisso.” Toby coloca as mãos nos


quadris e olha para o carburador superaquecido. “Acabei de
fazer a manutenção do carro.”

“Quantos anos tem esse pedaço de... quero dizer, quantos


anos tem Purple Delight, afinal?”

“Dezenove.”

Eu suspiro. “Dezenove? É mais velho que nós. Estou


surpresa que funcione.”

Toby se vira e aponta um dedo para mim. “Ei, não


desrespeite meu carro.”

Eu levanto as duas mãos em sinal de paz. “Desculpe. Eu


não quis ofender. O que vamos fazer?”

Olho para o longo caminho à nossa frente. Não há um


edifício à vista. Provavelmente estamos a trinta quilômetros do
centro da cidade de Saturn Bay, e prometi pegar Rosie cedo
antes de seguirmos para Emelton.
“Eu preciso ligar para um caminhão de reboque.” Toby
suspira. “Merda. Isso vai custar todo o dinheiro que consegui
economizar este mês.”

“Eu ajudaria se tivesse algum de sobra.” Enfio minhas


mãos nos bolsos da minha saia.

Toby acena com a mão com desdém. “Não se preocupe. É


o meu carro, o meu problema.”

Ao som de um veículo se aproximando, nós dois olhando


para longe. É um SUV de luxo preto, brilhando sob a luz do
sol. Ele diminui a velocidade antes de estacionar logo atrás do
carro de Toby.

As janelas são escuras, então não consigo ver quem está


ao volante, mas sei que deve ser um Idol ou um Fringe muito
bem de condições. A porta se abre e sai Bryce Kent em toda a
sua glória Idol. Merda, lá se vai a possibilidade de um dia semi-
decente. Problemas de carro à parte, eu estava ansiosa para
passar um tempo de qualidade com meus amigos sem me
preocupar com os Idols.

“Parece que você precisa de assistência na estrada.” Ele se


aproxima de nós, olhando o capô aberto de Purple Delight.

“Não me diga que você trabalha como mecânico de


automóveis?” Eu pergunto.

Toby dá uma cotovelada no meu braço e tenta transmitir


uma mensagem silenciosa e urgente com os olhos: Cala a boca,
Daisy.
Merda. Ele tem razão. É como se eu tivesse uma doença
ou algo assim. Eu vejo um Idol e não posso deixar de querer
antagonizá-los.

Bryce volta sua atenção para mim. “Não, mas eu posso


conseguir um aqui rapidamente.”

“Está tudo bem. Agradeço a oferta, mas vou ligar para um


caminhão de reboque.” Toby responde rapidamente.

“Você tem certeza?” Bryce levanta uma sobrancelha.


“Pode demorar um pouco.”

Assentindo rápido como uma boneca bobblehead8, Toby


diz: “Sim, sim. Tenho certeza.”

Ele está nervoso e tenso. Eu não o culpo. Também estou


desconfortável na presença de Bryce. Ele parece não querer
ferrar conosco, mas nunca se sabe.

Toby se afasta com o telefone colado no ouvido, me


deixando sozinha com Bryce, que agora está me observando de
perto. Seus olhos cor de mel caem para minhas botas de
caubói vermelhas e depois viajam pelo meu corpo
lentamente. Decidi usar a saia jeans curta que Felicity me deu
no ano passado no meu aniversário. É minúscula ao ponto de
que, se eu me inclinar um pouco para a frente, meu útero
aparecerá, mas isso faz minhas pernas parecerem mais longas
e eu queria me sentir bonita hoje.

8 Bonequinhos com a cabeça solta geralmente usadas para adornar painéis de carros.
Os olhos de Bryce estão brilhando de apreciação quando
eles finalmente voltam para o meu rosto. Uma mudança da sua
expressão entediada de sempre. Não tenho certeza se gosto.

“Onde você estava indo?” ele pergunta.

“Para uma festa de aniversário em Emelton.”

“Oh. Isso está um pouco longe da lanchonete.”

Por que ele está mencionando o Poppy’s Joint?

“Eu não sou de Emelton.” Eu me mexo, desejando que


Toby termine sua ligação.

“Então, de onde você é? Seu sotaque é diferente. Costa


Leste?”

Uma lasca de pavor desce pela minha espinha. Não quero


contar nada sobre o meu passado. Toby volta bem a tempo de
me salvar de responder a Bryce.

“Tenho más notícias.” ele me diz. “O caminhão de reboque


não estará aqui até o final do dia.”

“O que? Você está brincando.” Há um aperto no meu peito


agora. Eu tenho que chegar à Saturn’s Bay.

Puxo meu celular da minha bolsa. Talvez Poppy possa nos


pegar. Mas ele é Poppy hoje ou o Sr. X? Mordo o lábio
inferior. Não posso ligar para o Sr. X. Eu nem tenho o número
de telefone dele.

“Posso dar uma carona.” Bryce oferece.


Levanto os olhos do meu telefone com a boca aberta. “O
que?”

Ele torce os lábios em um sorriso triste. “Não fique tão


chocada. Eu estava indo para lá de qualquer maneira.”

Toby olha para mim. “Nós realmente não temos muita


escolha, Daisy.”

Ele está certo, mas caramba, eu não quero que Bryce


saiba onde Rosie mora. Vou pedir que ela pegue um táxi e me
encontre no Poppy’s Joint.

“Ok.”

Bryce me recompensa com um sorriso vitorioso cheio de


dentes. Acho que nunca o vi fazer mais do que ter um ar
superior.

“Pare com isso.” eu estalo.

“Parar o que?”

Eu faço um círculo no ar com o dedo, apontando para esta


boca. “O sorriso. É estranho.”

Ele arqueia as sobrancelhas, os olhos amplamente


inocentes. “Por que isso é estranho?”

“Eu nunca vi você sorrindo, é por isso.”

Bryce caminha para trás, mantendo o olhar fixo no meu.


“Eu não sou de sorrir sem motivo.” Ele finalmente abre a porta
do lado do passageiro e, com um floreio do braço, diz: “Vamos?”
Droga. Não quero andar no carona, mas recusar parecerá
estúpido.

Sem uma palavra, deslizo para o interior gelado. O cheiro


de couro macio novinho em folha e a colônia de sândalo de
Bryce enchem meu nariz. Algo estranho se desenrola no meu
estômago, uma reação louca à combinação de aromas.

O couro frio toca minhas pernas nuas e arrepios surgem


na minha pele. Minha saia se levantou quando me sentei, mas
não importa o quanto puxo o tecido, minhas coxas estão
expostas.

Toby entra no carro de Bryce antes que o Idol possa


circular em torno da frente do veículo.

“Você está bem, Daisy? Me desculpe, eu fiz você aceitar a


oferta dele.”

“Estou bem, Toby. E você não me forçou a fazer


nada. Realmente não tivemos muita escolha.” dou-lhe um
sorriso tenso pouco antes de Bryce se juntar a nós.

Seus olhos imediatamente se concentram nas minhas


pernas nuas e permanecem ali por um momento. Eu limpo
minha garganta para tirá-lo de sua cobiça. Ele levanta o rosto
para o meu, e talvez eu esteja imaginando coisas, mas parece
que ele está envergonhado por ser pego olhando.

Tão rápido quanto um chicote, ele muda sua atenção para


a estrada sem dizer uma palavra e vai embora. O motor é
silencioso; se eu não soubesse melhor, não acreditaria que
estava ligado. Eu nunca andei em um modo tão sofisticado de
transporte antes, e é impossível não olhar para tudo
maravilhada, mas tento fazê-lo de uma maneira discreta. Sou
pobre, mas não preciso mostrar.

“Onde eu vou te deixar?” Bryce pergunta.

“No Poppy’s.”

“Realmente? Você quer visitar o lugar onde costumava se


escravizar no seu primeiro fim de semana de folga?” Ele olha
para mim.

“Eu tenho amigos que ainda trabalham lá.” Cruzo os


braços sobre o peito.

Não perco quando o olhar de Bryce cai no meu decote. Não


estou usando uma blusa super decotada, mas meus seios
podem deixar qualquer coisa sexy. Para a maioria das
meninas, seria uma bênção, mas para mim é uma
maldição. Não tenho tempo nem quero atenção dos meninos.

“Olhos na estrada, por favor.” eu digo.

O vermelho se espalha pelas bochechas de Bryce, e dizer


que estou chocada é um eufemismo. Eu fiz um Idol corar. E
não apenas qualquer Idol, um maldito Idol de nível dezessete,
o mais próximo de um semideus da vida real que eu já vi.

Com um aperto na mandíbula, ele dá ouvidos às minhas


palavras.

O rádio está desligado. Eu gostaria que houvesse pelo


menos alguma música tocando no fundo. É melhor do que esse
silêncio pesado, que está apenas aumentando a tensão no ar. É
tão grosso que você pode fazer sushi com ele.

“Então, Bryce, como está indo o último ano para


você?” Toby começa.

“Não é diferente do meu primeiro ano.” o Idol responde.

“Você sabe qual escola vai frequentar depois de se


formar?”

“Estou inclinado para a Hawk City University.”

“Legal, legal, legal. Essa é uma boa escola.”

Eu me viro no meu lugar para olhar para Toby. Nunca o


vi agir assim antes, murmurando palavras como se estivesse
perdendo parte de seu cérebro.

“E você, Daisy? Ainda pensa sobre o que vai fazer quando


se formar na Gifted Academy?” Bryce me pergunta por sua vez.

Lancei-lhe um olhar fugaz antes de olhar para a estrada


novamente. “Não. Acho que não vou para a faculdade.”

“Por que não? É por causa do dinheiro?” Sua pergunta é


tão blasé que alguém poderia pensar que está perguntando
sobre o tempo e não minha situação financeira.

“Sim.” Olho pela janela. Talvez ele tenha uma pista de que
não quero falar se eu o ignorar.

“Meu sonho é frequentar a faculdade de medicina da


Prism City University.” diz Toby.
“Esse é um plano ousado para um Fringe, Toby.” responde
Bryce.

“Bem, Fringes e Norms adoecem com mais frequência do


que os Idols. Faz sentido ter mais médicos Fringes e Norms,
mas esse não é o caso.” A resposta de Toby tem uma pitada de
amargura, o que nunca é bom para mostrar em torno de um
Idol.

“E você acha que isso é um problema?” Bryce olha para


Toby através do espelho retrovisor.

Merda. Pergunta perigosa. Abortar. Abortar.

“Você não?” Toby atira de volta.

Eu descanso minha testa na minha mão. E aqui eu pensei


que tinha tendências autodestrutivas em torno dos Idols. O que
Toby está tentando fazer? Entrar na lista de merda dos Quatro
Magníficos ao meu lado?

“Honestamente. Eu nunca parei para pensar sobre isso.”


Bryce responde.

“Então, que tal alguma música?” Eu pergunto, tentando


mudar de assunto.

Bryce clica em um dos doze botões do volante e a música


enche o carro imediatamente. Música clássica.

“Isso é Mozart?” Toby pergunta.

“Le Nozze di Figaro.” Bryce responde com uma elevação de


seus lábios.
“Ele não era um Norm?” Franzo a testa para o visor do
rádio.

“Ele foi brilhante. Quem se importa se ele era Norm?” Para


aprofundar seu argumento, Bryce aumenta o volume.

Eu olho para o cara, completamente estupefata. Ele é um


Idol, e tem a arrogância de alguém nascido com poderes
fenomenais. Mas ele também é completamente atípico. Me deu
fones de ouvido com cancelamento de ruído, me ajudou a
escapar de Rufio na noite em que nos conhecemos, e agora ele
está me dando uma carona enquanto ouvimos um dos Norms
mais famosos de todos os tempos. Ele é um enigma do caralho,
e apesar de todas as minhas dúvidas sobre os Idols, eu quero
desvendar o seu mistério.

Também não machuca que ele seja sexy como o pecado.

O calor toma conta do meu rosto. A cena com uma certa


toalha que caiu na minha frente. Minha garganta fica seca e
há uma vibração distinta no meu peito.

“Você está bonita, a propósito.” Bryce diz de repente.


“Espero não ter me intrometido no seu encontro.”

“Encontro?” Toby e eu dizemos o mesmo.

“Não, não, não. Nós não estávamos em um encontro. De


jeito nenhum.” acrescenta Toby com veemência.

Eu me viro, brincando, olhando para ele. “Eita, você


poderia ser mais assertivo sobre isso?”
Seus olhos verdes ficam mais redondos e seu rosto pálido
e sardento fica vermelho brilhante. “Eu não quis dizer
isso. Eu... eu... qual é, Daisy. Você sabe o que eu quero dizer.”

“Na verdade, não sei.” Eu rio, mas vendo o olhar de pânico


nos olhos de Toby, engulo a diversão. É possível que Toby goste
de meninos?

“Você é gay?” Bryce pergunta sem rodeios.

“O que?” Toby fica mais pálido. “Não. Eu não sou gay.” Ele
descansa a cabeça na mão. “Eu dou vibrações gays?”

“Não, não mesmo. Relaxe, eu estava apenas brincando.”


eu digo, depois olho para Bryce. “Mandou bem, Sr. Sutil.”

“O que foi que eu disse?” O cara parece genuinamente


surpreso com o meu comentário sarcástico.

Eu olho para longe. “Deixa pra lá. Eu não esperaria que


seu tipo visse além do seu umbigo.”

“Você com certeza tem muitos conceitos errados sobre


a minha espécie. Talvez eu deva deixar você no meio do nada e
decolar.” ele retruca com raiva. “Ou melhor ainda, obliterar
você a nada com um estalar de dedos.”

Ele enfatiza seu argumento com o gesto real, e tentáculos


de energia piscam entre seus dígitos. A música é interrompida
por um breve momento, mas é o brilho ardente em seus olhos
que faz meu estômago revirar violentamente. Meu pulso
acelera quando engulo um pedaço do tamanho de uma pedra.
Foda-se. Isso foi uma coisa estúpida de se fazer. Cutucar
a besta enquanto presa em seu carro.

“Daisy não quis dizer nada com isso.” Toby diz. “Por favor,
não nos mate.”

Bryce torce os lábios em um sorriso. “Relaxe, ruivinho. Eu


não sou do tipo assassino.”

Quase me enganou. A resposta está na ponta da minha


língua, mas por algum milagre, eu a mantenho engarrafada.

Daisy, quando você vai aprender?


Bryce

Estava sondando para saber o que Daisy estava fazendo,


e a oportunidade de fazer isso praticamente caiu no meu
colo. Um carro quebrado. Perfeito. Teria sido melhor se o
garoto Fringe não estivesse por perto. Ele está agindo como um
amortecedor, policiando as respostas de Daisy. Não
importa. Vou descobrir a verdade sobre ela hoje à noite, de
uma maneira ou de outra.

Mas ela tinha que estar usando aquela maldita mini saia
e botas de cowboy de couro? É perturbador e irritante. Eu a vi
vestindo menos, mas de alguma forma sua roupa atual é mais
sexy do que sua roupa de stripper. Suas pernas parecem durar
para sempre, mostrando a pele dourada que me deixa com
vontade de tocá-la.

Bryce, controle-se. Ela é apenas uma garota Norm.

Mas não posso me conter. Agora que Daisy conseguiu


reanimar algo dentro de mim e derrotar o entorpecimento, ela
criou um ímã ao seu redor. E por mais que eu odeie, sou
atraído por ela.

Eu arrisco alguns olhares sutis na direção dela. Ela não


falou muito depois da minha pequena exibição do poder de
Idol. Seu corpo está tenso, e quando eu a pego mordiscando
seu lábio inferior, um toque de excitação dispara direto para
minha virilha. Meu pau endurece e estica contra o meu
jeans. Pelo amor de Deus. Estou agindo como Phoenix agora,
que anda com uma semi-ereção constante.

“Pare de morder seus lábios.” eu estalo. “Se você estiver


com fome, há lanches no porta-luvas.”

“Sério? Você vai se meter com o que eu faço com os dentes


e a boca agora?”

Filho da puta. Várias ideias surgem na minha cabeça


sobre o que ela poderia fazer com aquela boca beijável dela.

“Cara, você tem sorte que eu não sou Phoenix.” Eu ri.

“O que isso deveria significar?” Ela cruza os braços na


frente do peito.

“Na verdade, estou com fome.” interrompe Toby. “Eu


esqueci de tomar café da manhã.”

Olho para o Fringe pelo espelho retrovisor. Não tenho


certeza se devo jogá-lo pela janela ou agradecer por sua
interrupção oportuna.

Daisy alcança o porta-luvas, mas impulsionado por um


impulso estranho, eu me inclino para o lado e abro a caixa para
ela, escovando minha mão contra sua
coxa acidentalmente. Ela se mexe no banco, puxando as
pernas para mais perto da porta, enquanto eu vasculho as
barras de chocolate e as mini sacolas de doces variados. Eu
tomo meu tempo, gostando de invadir o espaço pessoal de
Daisy um pouco demais.

“Você se importa?” ela finalmente reclama.

Pego alguns pacotes e os jogo para Toby. “Pronto, amigo.


Espero que goste de doces.”

“Obrigado.” Ele pega o doce de uma maneira estranha,


obviamente não esperando tantos pacotes choverem nele.

“Muito saudável?” Daisy diz.

“Você esperava barras de granola e frutas secas?” Eu


levanto uma sobrancelha.

“Nada tão específico, mas talvez outros lanches além de


doces.”

“Eu amo açúcar.” Eu sorrio

“Obviamente.” Ela torce os lábios para o lado. Ela


realmente deveria parar de chamar minha atenção para sua
boca. Estou tentado a parar o carro e fazer uma jogada à moda
Phoenix.

Balanço a cabeça e tento arrancar minha mente da


sarjeta.

“Estamos quase no Poppy’s Joint. Talvez desta vez você


possa pedir uma torta inteira para si.” Daisy me dá um sorriso
falso. É radiante, no entanto. Eu adoraria ver quando ela sorri
de verdade.
“Uh, Daisy. Você mandou uma mensagem de texto para
sua irmã para nos encontrar no Poppy’s Joint?” Toby pergunta
com a boca meio cheia de doces.

“Porra!” Ela puxa um dispositivo antigo da bolsa.

“Isso é um telefone?” Eu pergunto.

“Sim.” Ela me nivela com um olhar. “Calado.”

“Eu não disse nada.” Pareço culpado e defensivo, duas


emoções que são completamente estranhas para mim.

Estou perdendo o controle aqui, e isso não é uma coisa


boa.

“Eu sei o que você estava pensando.” ela responde.

Seus dedos ágeis voam sobre os pequenos botões do


telefone. Minha nossa. Não sei como ela pode digitar tão rápido
quando não há teclado na tela.

“Ótimo. Agora Rosie está chateada comigo que eu não


contei a ela antes.” murmura Daisy para si mesma.

“Eu posso facilmente buscá-la.” ofereço.

Todo o seu comportamento muda. Suas sobrancelhas


franzem e seu olhar fica sombrio, protegido. “Está tudo bem.
Ela vai nos encontrar no Poppy’s.”

Ela não quer que eu descubra onde sua irmã mora. É uma
precaução inteligente, mas inútil. Agora que sei que ela tem
uma irmã, seria brincadeira de criança conseguir o
endereço. Mas seja como for, vou deixá-la ter essa falsa ilusão
de segurança.

Demora mais dois minutos para chegar ao Poppy’s Joint,


e fico animado por algo diferente da Norm ao meu lado.

“O que você acha que é a torta do dia?” Eu pergunto


enquanto desligo o motor.

“É sábado, então provavelmente mirtilo novamente.”

“Essa foi uma torta excelente. Meu irmão definitivamente


perdeu essa aposta.”

“Ugh. Não me lembre do seu irmão.” Daisy sai do carro.

“Que aposta?” Toby pergunta.

Eu não respondo imediatamente, muito ocupado vendo


Daisy entrar na lanchonete. Merda, a garota tem uma bunda
linda.

E agora eu tenho uma grande ereção. Novamente.

Filho da puta.

***

Daisy
“Você está louca?” Felicity envolve a mão em meu braço e
me puxa para mais perto. “O que você está fazendo com esse
Idol?”

“O carro da minha carona quebrou e Bryce apareceu e nos


ofereceu uma carona.”

Ela olha por cima do meu ombro e olha abertamente para


Bryce, que agora está sentado em uma cabine e olhando o
menu.

“E quem é o ruivo com ele?”

“Você pode parar de encarar Toby. Ele é um Fringe e


um amigo.”

Eu tenho que enfatizar a última palavra. Fringes podem


ser imprevisíveis. Na minha experiência, quanto mais
próximos eles estão do status de Idol, pior eles ficam.

“Posso ter meu braço de volta agora?” Eu pergunto.

A expressão de Felicity suaviza quando ela solta meu


braço apenas para me envolver em um abraço de urso. “Oh, eu
senti sua falta, menina. Este lugar não tem sido o mesmo sem
você.”

“Eu também sinto sua falta. Mais do que você pode


imaginar.”

Ela me segura pelos ombros e me empurra para trás.


“Aqueles idiotas Idols estão incomodando você, Daisy?”
“Não tanto quanto eu pensei que eles iriam.” minto, e sei
que Felicity suspeita. “Eu tenho que dar tutoria.”

Os cantos da boca se contraem antes que ela jogue a


cabeça para trás e ria alto. “Isso é foda demais.”

“Sim, é bem surreal.” Eu sorrio, mas não estou tão


divertida quanto ela.

Ela não sabe que estou em perigo mortal apenas por estar
na presença de Morpheus. Sim, ser ensinado por uma Norm
humilde não se encaixa bem com seu ego.

“E o outro cara? Você sabe, o idiota de cabelos escuros


que queria matar você?”

“Oh, ele está bem. Ele não me incomodou.” Eu aceno


minha mão com desdém.

“Daisy, tenha cuidado com esses Idols. Se eles estão


agindo como se tudo estivesse bem, é porque eles estão
planejando algo realmente desagradável.”

Eu acredito totalmente nas palavras de Felicity. O


interesse repentino de Rufio por mim provavelmente faz parte
de um esquema para me derrubar. Phoenix e Morpheus são os
únicos que agem como esperado, como os valentões
desprezíveis que são.

“Não se preocupe, Fefe. Eu posso cuidar de mim mesma.”

Felicity me observa com um olhar estreitado. “Tudo bem.


Agora, sente-se com seu amigo. Estarei lá para cuidar de você
em um minuto.”
Eu viro em direção ao estande. Toby está sentado em
frente a Bryce. Olho o assento ao lado dele. Não tem como eu
estar sentada tão perto do Idol. Mas naquele momento preciso,
Rosie entra pela porta.

“Daisy!” ela grita e depois corre para os meus braços.

“Rosie! Você chegou aqui super rápido.” eu a abraço


apertado e beijo sua bochecha.

“Nossa senhoria teve pena de mim. Ela me trouxe aqui.”

“Isso foi legal da parte dela.” Eu me afasto e pego o rosto


da minha irmã. “Você está bronzeada. Você não faltou a escola
para ir à praia, não é?”

“Fui à praia ontem, mas só depois da aula. Fui surfar!”

Uma pontada de ciúme me perfura. Eu sempre quis


aprender a surfar, mas nunca encontrei tempo — ou dinheiro
para pagar as aulas.

“Com quem você foi?” Eu pergunto, mas ela não está mais
prestando atenção.

Eu sigo sua linha de visão. Ela está olhando para Bryce e


Toby. Meu amigo está olhando para ela de uma maneira
engraçada — boca ligeiramente aberta e olhos
esbugalhados. Bryce também está olhando para ela, mas sua
expressão é completamente oposta à de Toby. Ele está
assistindo Rosie de maneira desapegada. Estou aliviada por ele
não estar olhando para minha irmã como ele me olhou antes.
Rosie se inclina para mais perto e sussurra no meu
ouvido: “Quem são eles?”

“O ruivo é Toby. Ele é um Fringe, mas ele é legal. O outro


cara é Bryce. Um Idol e um asno.”

“O que você está fazendo saindo com um Idol?” ela


pergunta.

“É uma longa história. Vamos antes que eles percebam


que estamos fofocando sobre eles.”

“Merda, precisamos sentar com eles?” A voz de Rosie


treme um pouco. Ela tem tanto motivo quanto eu para temer
os Idols. Nenhuma de nós pode esquecer a noite em que nossos
pais foram mortos pelas mãos desses monstros.

“Infelizmente, sim. Você pode sentar ao lado de Toby.”

Os dois garotos se aproximam da janela quando nos


aproximamos do estande.

“Esta é minha irmã, Rosie, estes são Toby e Bryce.” eu


apresento.

“Oi.” Rosie sussurra com o olhar abatido.

“Prazer em conhecê-la, Rosie.” Bryce responde com uma


voz clara e alta.

Toby apenas murmura algo indiscernível.

Rosie e eu nos sentamos, mas tomo cuidado para deixar


uma lacuna grande o suficiente entre mim e Bryce, o que
significa que metade da minha bunda está pendurada na
cabine. Meu sentar desajeitado dura apenas um segundo antes
que uma força invisível puxe meu corpo para a esquerda, me
fazendo deslizar ao longo da cabine até que minha perna esteja
nivelada com a de Bryce.

“Que diabos?” eu olho para ele.

“Você estava caindo do assento.” Ele sorri para mim, a


travessura brilhando em seus olhos.

Minhas narinas se alargam e minhas mãos se fecham em


punhos. Abro a boca para oferecer uma resposta irritada
quando Felicity vem à nossa mesa.

“Olá, pessoal. O que vão querer?”

Bryce ergue o olhar para ela. “Eu gostaria da torta de


mirtilo, por favor.”

“Uma fatia de torta de mirtilo.” recita Felicity enquanto


escreve o pedido no bloco.

“Não é uma fatia. Eu gostaria de uma torta inteira.”

Sua caneta para de se mover e ela olha para Bryce. “Você


vai comer uma torta inteira sozinho?”

Balanço a cabeça. “Confie em mim, Fefe. Ele vai.”

“Tudo bem, então. E vocês, meninas?”

“Não estou com muita fome.” responde Rosie.


“Absurdo. É hora do almoço. Você tem que comer alguma
coisa. Não se preocupe, vou pedir ao nosso chef que cozinhe
algo legal para você.” Felicity sorri.

“Vocês têm um chef?” As sobrancelhas de Toby se erguem.

Todos nós o encaramos. Não há brilho de alegria em seu


olhar. Ele fala sério.

“Ela estava brincando, garoto Fringe.” Bryce responde.

As bochechas de Toby ficam vermelhas novamente.


“Oh. Vou comer o hambúrguer especial, por favor.”

Bryce move a perna e o atrito me deixa ainda mais


consciente de que estamos muito perto. Estou desconfiada e
ao mesmo tempo animada. Minha cabeça sabe que Bryce é
perigoso, mas meu corpo é tão burro quanto uma porta. Olho
para a mesa e tento não pensar que estou gostando demais da
nossa proximidade.

“Terra para Daisy.” Felicity estala os dedos no meu rosto.


“O que você vai querer, querida?”

Pisco algumas vezes e percebo que todos os olhos estão


em mim. “Certo, também vou comer o hambúrguer
especial. Obrigada.” Devolvo o menu para ela sem fazer contato
visual.

Espero que ninguém suspeite por que eu estava distraída.

Rosie segue Felicity com os olhos, e quando ela está fora


do alcance da voz, ela se inclina para frente sobre a mesa. “Está
tudo pronto para a festa de Felicity. Tudo o que precisamos
fazer é ajudar com as decorações.”

“Ah, então é a festa de aniversário da garçonete.” diz


Bryce.

Eu o ignoro. “E como vamos levá-la ao bar em Emelton?”

Todo o meu planejamento cuidadoso foi pelo ralo, comigo


não estando mais trabalhando aqui e o restaurante que eu
havia escolhido originalmente não estava mais operacional.

“O namorado dela a levará ao bar.”

“O namorado dela?” Eu pareço surpresa porque estou.

“É novo.” Rosie encolhe os ombros.

Outra pontada de ciúme me atinge. Rosie soube das


novidades de Felicity antes de mim. Felicity conhece Rosie
desde que me conhece, mas eu sou amiga dela. Rosie é como
uma irmã caçula de Fefe, uma com quem nunca conversaria
sobre namorados e outras coisas.

Não percebo que estou franzindo a testa até Bryce


sussurrar perto do meu ouvido. “Qual é o problema,
Daisy? Você parece brava.”

Ignorando os arrepios no meu pescoço, eu me afasto.


“Nada.”

“Você é uma péssima mentirosa.” Ele ri.


“Você está errado.” Rosie retruca. “Você deveria ver Daisy
jogando em uma sala de bilhar.”

Eu a chuto embaixo da mesa. Ela engasga e olha para


mim.

“Ah? Então você é uma jogadora.” Bryce olha para mim,


mas eu me recuso a fazer contato visual. “Quantos talentos
mais ocultos você tem?”

Aposto que ele está se referindo ao striptease. Filho da


puta. Se ele mencionar Unearthly Desires para minha irmã ou
Toby, eu o mato.

Felicity retorna com nossa comida pouco tempo


depois. Bryce esfrega as mãos como uma criança quando ela
coloca uma torta inteira na frente dele.

“Uau, essa torta parece boa.” diz Toby.

“Ei, olhos no seu próprio prato, amigo. Esse bebê é todo


meu.” Bryce enfia o garfo e dá uma mordida. Ele geme alto
enquanto relaxa contra a cabine.

Droga. Por que isso parece tão sexy?

Felicity me dá um tapinha no ombro e percebo que estava


olhando para o Idol como uma idiota.

“Posso falar com você?” ela pergunta. “Nos fundos?”

“Certo.”
Deslizo para fora da cabine e a sigo em direção ao depósito
do restaurante. Uma vez que estamos escondidas, ela se vira
para me encarar.

“O que há, Fefe?” Eu pergunto.

“Você me diz, garota. Por que você está encarando o garoto


Idol com olhos apaixonados?”

Minha coluna está esticada. “Eu não estava.”

“Daisy, conheço um olhar de desejo quando vejo um. Eu


sei que ele se parece com um modelo de capa, mas ele é um
Idol. E na semana passada ele esteve aqui com seus amigos
odiosos, assustando nossos clientes e você.”

“Bryce não estava assustando ninguém. Ele só veio pela


torta.”

Por que estou defendendo ele?

“Olhe para você. Já está dando desculpas. Você deve se


lembrar que eles podem se parecer conosco, mas não são nada
como nós. Seus poderes não naturais são mortais. Por favor,
prometa que vai ficar longe desse garoto.”

Felicity parece tão assustada agora como estava no


Sábado, quando tivemos que sair do Poppy’s Joint às pressas,
graças a Bryce e os outros.

Eu aceno, engolindo em seco. “Sim, não se preocupe. Eu


sei o que são.”

Monstros.
Provavelmente deveria me abster de dizer à Felicity que
compartilho uma parede com eles. Eu não diria, ela me
trancaria em seu apartamento e me proibiria de voltar à Gifted
Academy.
Bryce

Qualquer merda que a garçonete teve que conversar com


Daisy em particular, isso afetou seu humor. Agora Daisy está
retraída e tensa. Mais uma vez, ela se sentou o mais longe
possível de mim, mas desta vez eu não usei a telecinesia para
trazê-la para perto de mim. Eu tinha uma torta para demolir,
e isso levou a maior parte da minha atenção.

“Não acredito que você comeu tudo isso.” diz a irmã de


Daisy, com os olhos arregalados. Ela é fofa, uma pequena loira
com grandes olhos azuis. Jovem, provavelmente por volta dos
catorze ou quinze. Entendi agora por que Daisy queria manter
sua irmã a salvo de gente como eu. Mas, sinceramente, nem
mesmo Phoenix, que é o maior cachorro do nosso círculo, iria
atrás de alguém tão jovem.

Toby, no entanto, está perdendo totalmente as poucas


células cerebrais que restam. Eu nunca vi alguém se apaixonar
assim à primeira vista.

“Que horas é a festa?” Eu pergunto casualmente. Ainda


não estou pronto para retornar à Gifted Academy. Por uma
questão de fato, tenho toda a intenção de permanecer na festa
de aniversário.

“Não até às sete.” responde Daisy.


“É muito tempo para matar.”

Daisy e Toby trocam um olhar, e depois Daisy muda sua


atenção para sua irmã. Um silêncio desconfortável desce sobre
nós.

Toby esfrega a nuca e diz: “Estávamos planejando conferir


o carnaval no calçadão da praia.”

Daisy vira a cabeça em direção a Toby tão rápido que ouço


seu pescoço estalar.

“Ei, eu não tenho nada para fazer hoje. Estaria mais do


que bem em levá-los à praia.” ofereço. “Não me lembro da
última vez que fui a um carnaval.”

“Os Idols gostam dessas coisas?” Rosie pergunta com os


olhos redondos.

“Claro que sim.” Dou de ombros, deixando de fora que


nossos passeios de carnaval são dez vezes mais intensos do
que qualquer coisa que um Norm ou um Fringe possam
suportar.

“Você não precisa bancar o motorista. Podemos nos virar


sem você.” diz Daisy.

“Bobagem. A menos que você não queira que eu vá junto.”

Toby e Rosie empalidecem. Eles perceberam que meu


comentário não tinha duplo significado? Eu não parecia
ameaçador, ou parecia?
“Não, eu simplesmente não quero dever a você.” responde
Daisy.

“Tarde demais agora. Eu já te trouxe até aqui. Não se


preocupe, não vou pedir muito em troca.” Eu pisco para ela.

Com um suspiro, ela balança a cabeça. “Ok, vamos pegar


a conta e partir. Temos que chegar ao bar por volta das seis
para colocar as placas e os balões.”

Felicity traz a conta naquele momento preciso. Todos


alcançamos nossas bolsas e carteiras, mas anuncio: “Não se
preocupem. Eu cuido disso.” Coloquei uma nota de cem
dólares na bandeja e olho para Felicity. “Estamos todos
prontos.”

“Voltarei com seu troco em um momento.” Ela pega o


dinheiro.

“Não precisa. Fique com o troco.” eu digo com um sorriso


brilhante.

A garçonete congela e olha para mim com os olhos


esbugalhados.

“Isso é demais.” diz ela finalmente.

“Considere uma gorjeta de aniversário.”

A mulher se vira para Daisy com as sobrancelhas


levantadas.

“Feliz aniversário, senhorita.” Toby diz, sem dúvida


tentando quebrar a tensão.
“Tudo bem, então. Obrigada.” Ela dá a Daisy um olhar
significativo antes de se afastar.

Daisy se levanta da cabine com um movimento brusco e


sai da lanchonete com passos furiosos. Ela ainda está furiosa
quando eu a acompanho lá fora.

“O que eu fiz agora?” Eu pergunto.

“Se você não consegue descobrir por conta própria, não


vou lhe contar.” Ela desvia o olhar com uma careta.

Estou começando a pensar que é bom que ela seja apenas


uma Norm e não uma Idol. Ela criaria o caos se tivesse algum
poder. Fale sobre coragem.

“Não tenho certeza se você está chateada porque dei uma


ótima gorjeta a sua amiga ou porque estou me oferecendo para
levá-los por aí. Mas você tem que concordar que os dois
motivos são ridículos.”

“Ei, vocês estão brigando ou algo assim?” Rosie pergunta,


aproximando-se da irmã. Ela está me olhando com apreensão
agora.

“Não se preocupe. Não estamos brigando. Mas antes de


entrarmos no carro, gostaria de esclarecer as coisas.” eu digo.

Daisy troca um olhar preocupado com a irmã.

“Eu não sou o bandido aqui, ok? Entendo que os Idols


geralmente são terríveis para Norms e Fringes, mas não sou
um deles.”
Não estou mentindo, mas também nunca achei necessário
que Norms ou Fringes me aceitassem. Eles nunca se
registraram no meu radar, não até Daisy aparecer.

Ela me observa atentamente através dos olhos estreitos


antes de responder. “Ok, tudo bem. Eu vou parar de implicar
com você.”

Diversão borbulha na minha garganta. O surrealismo


dessa situação é quase demais. Se Rufio pudesse testemunhar
essa cena, ele teria um aneurisma. Uma Norm dizendo a um
Idol que ela vai parar de implicar com ele. É como se eu
estivesse vivendo em um mundo onde tudo está de cabeça para
baixo.

“Obrigado.” eu digo, segurando meus braços e inclinando


a cabeça. “Vamos lá. Mal posso esperar para ver como é um
parque de diversão Norm.”

***

Daisy

Não consigo entender Bryce nem dizer se ele está nos


enganando com essa personalidade de bom rapaz. Ele não fez
nada até agora para me fazer duvidar de suas palavras, mas
ele é um Idol, o que é um grande fator negativo do lado
dele. Penso no aviso de Felicity. Ela acertou o alvo com sua
avaliação. Estou atraída por Bryce, o que significa que preciso
ter ainda mais cuidado e manter a guarda em alerta.

Mal trocamos palavras no caminho para Saturn’s Bay


Beach, no lado Norm. Os Idols têm seu próprio acesso a uma
orla muito mais agradável e nunca vêm aqui. O calçadão é
sempre movimentado, principalmente nos finais de semana,
mas com o parque de diversão, o volume de tráfego triplicou. O
utilitário esportivo de luxo de Bryce está completamente fora
de lugar e atrai olhares de pedestres enquanto navegamos
perto da calçada, procurando um lugar para estacionar.

Um policial Norm está ajudando a controlar o trânsito e,


no momento em que ele nos vê, sua postura muda. Bryce deve
ter percebido isso também, quando ele para o veículo ao lado
do policial e abaixa a janela.

“Boa tarde, senhor. Dia ocupado, hein?” Bryce pergunta.

“Boa tarde. Não quero ofender, mas você está perdido?” O


homem olha para mim e depois volta sua atenção para Rosie e
Toby no banco de trás.

“Nós não estamos perdidos.” eu respondo.

O policial esfrega a nuca em um movimento inquieto.


“Olha, crianças. Eu não quero nenhum problema, mas talvez
seja melhor se vocês dessem uma volta na praia do seu lado.”

A compreensão me atinge. Ele acha que somos todos


Idols. Cara, ele é corajoso por dizer qualquer coisa.
“Por que faríamos isso? Este não é um país livre?” Bryce
pergunta.

O policial abre e fecha a boca, aparentemente sem


palavras.

“Senhor, você não precisa se preocupar. Apenas nosso


motorista é um Idol. Eu sou uma Norm e minha irmã também.”
digo a ele.

“E eu sou um Fringe de baixo nível, então sou


praticamente inofensivo.” acrescenta Toby.

“Ah, tudo bem. Bem, cuidado nunca é demais. As


crianças Idols geralmente não vêm aqui, mas quando o fazem,
nunca acaba bem.” O policial olha para Bryce. “Sem ofensa.”

Bryce olha para a frente, sua mandíbula apertada com


força. “Não ofendeu.”

“Você terá dificuldade em encontrar uma vaga de


estacionamento perto da praia.” O policial olha para a fila de
carros à nossa frente. “Você sabe o que? Por que você não
estaciona ao lado do meu veículo?”

Ele remove a barricada e sinaliza para Bryce virar onde


alguns carros oficiais estão estacionados.

Bryce descansa o antebraço na beirada da janela aberta e


levanta dois dedos em saudação. “Obrigado, senhor.”

“Foi legal da parte dele nos oferecer um lugar para


estacionar.” diz Toby, ao qual Bryce responde com um
grunhido.
“Algo está errado?” Eu pergunto, sem saber por que me
importo.

Não é por temer pela minha vida, como deveria ser.

“Não.”

Ele sai do SUV e bate a porta com força.

“Ele está zangado. Você acha que ele ficou chateado por
causa do que o policial disse sobre Idols?” Rosie pergunta.

“Bryce sempre foi estranho.” responde Toby. “Ele nunca


desrespeitou Norms ou Fringes, pelo menos não
abertamente. É quase como se ele estivesse acima de tudo
isso.”

“Bem, é melhor irmos antes que ele suspeite que estamos


fofocando sobre ele.”

Encontramos Bryce nos esperando ao lado do policial


enquanto ele observa a multidão. Não sei dizer se eles trocaram
mais palavras, mas quando estamos ao alcance da voz, ambos
estão em silêncio.

Bryce olha por cima do ombro, seu olhar imediatamente


encontrando o meu. Há uma nova intensidade em seus olhos
que estava ausente antes, e eu sinto o impacto a todo vapor.

“O que vocês querem fazer primeiro?” ele pergunta.

“Que tal a roda gigante?” Rosie responde quando não


consigo encontrar minha língua.
Eu finalmente consegui quebrar o contato visual com o
cara. “Sim. Parece bom.”

Há uma enorme fila para entrar na atração do parque, e a


espera é dolorosa. Bryce ainda está agindo como se houvesse
um pau em sua bunda, então evito conversar com ele. Toby
continua a agir de uma maneira bizarra em torno de
Rosie. Tudo o que eu queria era uma tarde livre de estresse
com minha irmã e alguns momentos divertidos com meus
amigos. Em vez disso, estou presa em uma das interações
sociais mais embaraçosas da minha vida.

Enquanto Bryce está olhando para o nada, eu vejo um


vendedor de algodão doce. Talvez o que todos precisem seja de
um pouco de açúcar para acalmar essa porra.

“Eu já volto.” eu digo e viro em direção ao carrinho.

Há apenas um casal à minha frente, então não preciso


esperar muito.

“Posso ter quatro palitos de algodão doce, por favor?” Eu


pergunto quando é a minha vez.

“Com certeza, senhorita.” o vendedor responde com um


sorriso largo.

Saltando na ponta dos pés, olho por cima do ombro. Bryce


parece não ter notado que eu saí da fila e Rosie está tentando
falar com Toby.

Cinco minutos depois, eu volto.

“Onde você esteve?” Rosie pergunta.


“Onde você acha?” Eu dou a ela um algodão doce.

Bryce ainda está perdido em seu próprio


mundo. Sentindo-me corajosa e um pouco estúpida, bato em
seu ombro.

“O que é...” Ele olha o doce que eu estou oferecendo a ele.


“Isso é para mim?”

“Sim. Como agradecimento por nos trazer aqui.”

Ele aceita a oferta como se não pudesse acreditar que eu


lhe comprei doces.

“Obrigado. Como você sabia que eu estava ficando com


fome?” Ele enfia um grande pedaço da nuvem rosa na boca.

“Palpite ousado.” Eu dou de ombros.

Bryce fica ocupado devorando seu algodão doce. Ele


terminou antes que eu pudesse fazer um estrago no meu. Para
ser sincera, não sou muito fã de coisas doces e já estou ficando
enjoada.

“Você quer terminar o meu?” Ofereço.

“Você tem certeza?” Ele levanta uma sobrancelha.

“Não aguento tanto açúcar.”

Quando ele termina de comer meu algodão doce, é a nossa


vez na roda gigante. Mantemos o mesmo arranjo de assentos
da lanchonete, com Toby e Rosie de um lado e Bryce e eu na
frente deles. O carrinho balança para frente e para trás com
uma guinada enquanto a roda se move, me empurrando contra
Bryce. Ele joga o braço em volta do meu ombro para me
estabilizar, mas tudo o que faz é me deixar tensa.

Meu batimento cardíaco chega à noventa em uma fração


de segundo e todos os músculos do meu corpo estão
congelados.

“Desculpa.” Bryce tira o braço de mim e olha para baixo.

Eu me viro para Rosie, que está me observando de


perto. Não sei se ela notou algo errado, mas mesmo que eu não
tivesse demonstrado qualquer demonstração física do meu
desconforto, ela saberia. Não tivemos boas experiências nas
mãos dos Idols.

“Uau, olhe para essa visão.” diz Toby. “Eu nunca estive tão
alto antes.”

“Nós já.” Rosie responde distraidamente. “Lembra quando


mamãe e papai nos levaram para aquele grande parque de
diversão em Hawk City, Daisy?”

“Então é daí que você é.” Bryce se vira para mim.

Eu faço uma careta, olhando para o outro lado. “Sim, é de


onde nós somos.”

“Por que você se mudou para Saturn’s Bay?” ele pergunta,


me deixando ainda mais tensa. Amaldiçoada seja Rosie por
abrir a boca.

“Porque Idols mataram nossos pais sete anos atrás.” Rosie


responde com uma mordida em seu tom.
“Rosie!” Eu a nivelo com um olhar. Droga. Por que ela diria
isso a Bryce?

Bryce não diz nada por vários segundos, mas Toby parece
absolutamente abatido.

“Sinto muito.” diz ele.

Os olhos de Rosie se enchem de lágrimas. Ela desvia o


olhar, cobrindo a boca com o punho fechado.

“Foi um ato aleatório de violência?” Bryce finalmente


pergunta, sua voz fria e tensa.

“Sim. Eles foram atacados por Idols no meio da


rua. Mortos bem na nossa frente.” minto. Se Bryce descobrir a
verdadeira razão pela qual os Idols invadiram nossa casa e
mataram nossos pais, Rosie e eu não estaremos seguras.

Rosie me lança um olhar de desaprovação. Ela não


entende o perigo que as informações que já forneceu nos
coloca. A culpa é minha. Eu deveria ter sido mais honesta com
ela sobre o motivo por trás do assassinato de nossos pais. Mas
ela estava com tanto medo, e eu não queria lhe dar mais
motivos para isso.

“Sinto muito.” Bryce diz simplesmente.

Mais uma vez, um silêncio insuportável cai sobre nós


como um casulo de destruição.

A roda gigante para de repente, fazendo nosso carrinho


girar. Agarro o lado desta vez, não querendo ser jogada contra
Bryce novamente. O movimento é retomado após um
momento, mas não lentamente como antes. A roda dispara
violentamente para cima e ouço gritos dos outros passageiros.

“Que diabos?” Eu digo e olho para baixo.

“Não estamos indo um pouco rápido demais?” Toby franze


a testa.

“Eu não gosto disso.” O rosto de Rosie está mais


pálido. Ela está segurando o banco de metal com tanta força
que suas juntas ficaram brancas.

À medida que a roda gigante aumenta a velocidade, os


gritos dos outros passageiros aumentam. Eles também mudam
de natureza, não mais gritos de excitação, mas de terror. Nosso
carrinho começa a balançar precariamente, rápido demais
para ser seguro.

“Algo não está certo aqui.” eu digo.

“Não, definitivamente não.” Bryce se levanta e se inclina


para o lado do carrinho.

Pego as costas da camisa dele. “Volte para o seu


lugar. Você vai cair.”

Meu aperto nele é fraco, então quando ele pisa no banco,


não posso impedi-lo.

“Bryce, pare com isso.” eu digo.

“Filhos da puta.” ele diz baixinho antes de olhar por cima


do ombro. “Fique aqui!”
Ele pula no segundo seguinte. Eu grito quando deslizo no
banco para espiar. Em vez de cair em desgraça, a descida de
Bryce é lenta e medida, usando os polos de metal da roda como
plataformas de salto. Ele desapareceu de vista por um
momento, mas eu sei que ele está bem.

“Ele é um Idol de nível dezessete, Daisy. Uma queda não


o matará.” diz Toby.

“Ele pode voar?” Rosie pergunta.

“Acho que não.” digo a ela, embora eu realmente não


saiba.

O quadro da roda gigante sacode violentamente, seguido


por uma explosão brilhante de luz vindo do chão que quase me
cega. Então o movimento para e o silêncio supremo reina.

“O que aconteceu?” Rosie olha para baixo. “Não vejo


nada.”

Depois de pelo menos cinco minutos, o passeio


recomeça. Mas só dez minutos depois é que o nosso carrinho
chega ao fundo e conseguimos sair.

Policiais, bombeiros e paramédicos estão por toda parte,


misturados com a multidão agitada. Nenhum sinal de Bryce.

“Rosie, Toby, fiquem perto de mim.” Pego a mão de Rosie


e ela entrelaça os dedos com Toby.

Liderando a fila, eu trilho um caminho através da


multidão com cotoveladas. Não é até eu imaginar o pior de tudo
que vejo Bryce conversando com alguns policiais, incluindo
aquele que nos deu uma vaga de estacionamento.

“Bryce!” Eu grito antes de aumentar meu ritmo.

Ele se vira com o som da minha voz, e eu vejo isso, o


pedaço de tecido branco pressionado contra seus lábios.

Eu apenas colido de leve com ele. “O que aconteceu?”

Ele puxa o lenço de papel da boca, revelando um lábio


quebrado. Parece que sangrou um pouco, mas agora está
apenas inchado.

“Isso não foi nada.” diz ele casualmente.

“Você está sendo modesto, filho.” nosso amigo policial fala.


“Seu amigo aqui ajudou a evitar uma tragédia.”

“Ok, mas o que aconteceu exatamente?” Toby pergunta.

“Um grupo de Idols de fora da cidade achou que seria


divertido aterrorizar alguns garotos Norm.” Bryce responde
com um tom que implica que esses Idols não estão muito bem
agora.

“O que você fez com eles?” Eu pergunto.

“Nada que eles não merecessem.”

“Em um momento, Bryce estava cercado por quatro Idols,


e no seguinte, havia uma luz brilhante. Depois que
desapareceu, os delinquentes estavam no chão, inconscientes
e todos cobertos de hematomas. Foi demais. Isso meio que faz
você acreditar que os Cavaleiros são reais, não é?” O policial ri.

Os olhos de Bryce se arregalam quando ele olha para o


policial antes de me pegar olhando para ele.

“E como você conseguiu isso?” Aponto para o lábio cortado


dele.

“Um deles teve um golpe de sorte.” Bryce sorri.

“Acho que devemos ir.” Rosie se abraça, parecendo um


pouco assustada.

“Sim, nós provavelmente deveríamos. Escute, acho que


você já fez o suficiente. Provavelmente podemos pegar um táxi
daqui.” digo a Bryce.

Ele faz uma careta. “Você está tentando me abandonar


depois do meu ato heroico? Isso não parece certo.”

Os cantos dos lábios dele estão curvados para cima, então


eu sei que ele não está falando sério.

“Eu sinto que você já fez o suficiente.”

“Haverá bolo nesta festa de aniversário?”

“Naturalmente.”

O sorriso dele se amplia. “Então acho que o mínimo que


você poderia fazer é me colocar na lista de convidados.”
Soltei uma expiração derrotada, embora esteja me
sentindo exatamente o oposto. “Tudo bem, se você insiste.”

“Oh, Daisy. Eu insisto.” Sua voz perde o tom de zombaria


e se torna quase sedutora. Meu coração decide que é hora de
dar uma cambalhota.

Ok, Daisy. Você está gostando muito disso. Lembre-se de


quem ele é. O que ele é.
Rufio

“Onde diabos está Bryce?” Eu ligo para meu irmão


estúpido novamente, apenas para ser enviado para o correio de
voz depois de alguns toques, o que significa que o filho da puta
está ignorando minhas chamadas de propósito.

“Você nunca se importou com o paradeiro de Bryce antes.”


Phoenix responde do sofá sem tirar os olhos do videogame na
tela da TV.

“Somos esperados para jantar na casa dos nossos pais


esta noite, e não vou sozinho.” Eu ando até a janela, mas estou
muito chateado para apreciar a vista.

Se Bryce me deixar na mão de novo, eu vou bater na


bunda dele até a China. Não posso suportar sozinho outro
jantar sufocante com nossa mãe autoritária e nosso pai
imbecil. A ideia deles de bons momentos é nos criticar. Preciso
que Bryce compartilhe os holofotes comigo.

Eu giro, determinado a encontrar o idiota a todo custo.

Morpheus entra na sala seminu, secando o cabelo com


uma toalha. “Nenhuma palavra de Bryce ainda?”

“Não.” eu resmungo.
Ele deixa cair a toalha no sofá, levando minha irritação ao
limite.

“Ei, coloque essa coisa de volta onde ela pertence.”

Morpheus me dá um olhar mortal, mas pega a toalha


novamente. “Juro por todos os deuses, Rufio, que sua obsessão
com a arrumação será a razão de eu matá-lo um dia.”

“Você deveria me agradecer que nosso lugar não é um


chiqueiro. Você não pode usar seu maldito presente para ver
onde Bryce está?”

Ele estreita os olhos em fendas antes de se virar. “Eu não


sou um detector de merda perdida.”

“Porra, você é inútil.” Eu puxo meu cabelo para trás pelas


raízes.

“Vamos lá, cara. O jantar com seus pais não pode ser tão
ruim assim.” Phoenix ri.

“Você quer trocar de lugar comigo?”

O sorriso desaparece do rosto do meu amigo. Com uma


expressão sombria, ele responde: “Não.”

Eu conheci o pai de Phoenix uma vez. Ele parecia


bom. Phoenix não gosta de falar muito sobre sua família ou
sua vida em casa. O mesmo pode ser dito sobre Morpheus, mas
pelo menos eu sei por que o garoto-múmia não fala sobre seus
pais. Há muito drama por lá, e fico feliz que Morpheus seja o
tipo de cara que mantém a merda para si mesmo.
“Eu me pergunto o que Daisy está fazendo hoje. Talvez eu
faça uma visita a ela.” Phoenix olha para mim em desafio.

“Tanto faz. Não há nenhuma maneira no inferno que você


vá pegar essa Norm. Ela é inútil, mas não é estúpida.” digo a
ele.

“Você me subestima, mano, e isso será sua queda.”

“Podemos parar de falar sobre Daisy por um dia? Isso é


possível?” Morpheus reclama da cozinha.

“Agora que Phoenix a mencionou, talvez eu vá ver o que


ela está fazendo hoje.” Eu viro em direção ao balcão da cozinha
e puxo uma cadeira.

Morpheus ainda está procurando algo na geladeira


quando toda a sua coluna fica rígida. Os braceletes de prata
que ele usa desaparecem sob as sombras que saem de seus
pulsos.

“Morpheus? Você está bem aí?”

As sombras recuam, mas são mais um ou dois segundos


antes que ele se vire. “Acho que sei onde Bryce está. Phoenix,
sintonize no canal de notícias agora.”

Phoenix olha por cima do ombro com um brilho entediado


nos olhos. “Você está brincando, certo? Estou quase no nível
final deste jogo.”

“Faça isso, droga!” Morpheus bate a porta da geladeira,


sacudindo as garrafas em cima.
“Caramba, tudo bem. Acalme os cavalos, mano.”

O videogame desaparece e, depois de alguns cliques, as


notícias são mostradas. Eles estão mostrando uma vista aérea
da Praia da Saturn’s Bay, onde uma área circular perto da roda
gigante do parque de diversão parece ter sido arrasada por uma
grande força.

“É o parque de diversão no lado Norm da praia?” Pergunta


Phoenix.

O repórter está dizendo que o parque de diversão foi


atacado por pessoas de fora da cidade, Idols, e que um herói
local Idol impediu uma tragédia. Uma das testemunhas
descreve ter visto uma grande explosão brilhante, que é
totalmente o MO9 do meu irmão.

“Droga, Bryce. O que você está fazendo em Normville de


novo?” Eu pergunto em voz alta.

“Talvez ele tenha voltado para mais torta.” responde


Phoenix.

Uma fúria repentina irrompe da boca do meu


estômago. Eu me viro e vou para a porta.

“Cara, onde você está indo?” Pergunta Phoenix.

Já estou lá fora, batendo na porta da nossa ilustre vizinha.

“Daisy, abra.”

9 Modus Operandi, o padrão de ação de uma pessoa.


Minhas batidas são altas o suficiente para balançar o chão
inteiro. Quando nenhuma resposta vem de dentro, estou
pronto para explodir a porta em pedaços. Morpheus segura
meu braço antes que eu possa.

“Que porra você está fazendo?”

“Com o que se parece?”

“Você não pode abrir a porta com as próprias


mãos. Esqueceu que elas estão protegidas contra os poderes
dos Idols?”

Eu aperto meu queixo com tanta força que realmente


dói. Cada porta do dormitório no campus é feita de um material
especial que repele os presentes dos Idols. Uma precaução
para garantir que os alunos tenham privacidade e também
para evitar que as pessoas morram nas dependências da
escola.

“Ela provavelmente não está em casa de qualquer


maneira. Aposto que ela foi visitar suas amigas na lanchonete.”
Phoenix fala.

“Você acha que Daisy e Bryce estão juntos?” Eu pergunto


a Morpheus.

“Eu diria que há uma grande chance de que eles estejam.”

Estou lívido. Se Bryce estragar meus planos para Daisy,


irá pagar caro. Ele sempre teve um estranho fascínio por coisas
patéticas. Primeiro foram os insetos, agora os Norms.

“Acho que vou acabar com o encontro deles.”


Volto ao nosso apartamento com Morpheus logo atrás de
mim. “E o jantar com seus pais?” ele pergunta.

“Foda-se eles. Se Bryce pode faltar, eu também posso.”

“O que está acontecendo agora?” Phoenix senta-se ereto


no sofá.

“Rufio está indo atrás de Bryce.” responde Morpheus.

Phoenix pula de seu assento, jogando o controle do


videogame no sofá. “Ele vai atrás da Daisy? Então eu estou
dentro.”

Pego as chaves do meu carro no balcão. “Foi mal,


cara. Esta é uma missão solo.”

“Foda-se isso. Eu vou.”

Sem olhar para trás, digo: “Comigo você não irá.”

Fechei a porta da frente com força. Isso me dá uma


pequena sensação de satisfação. Isso não impedirá que
Phoenix acompanhe, mesmo em um carro separado, mas há
uma vantagem que tenho sobre o idiota. Agora que sei mais ou
menos o paradeiro de Bryce, posso encontrá-lo. Eu posso
sentir sua assinatura de poder única se eu estiver perto.

Excitação perversa envolve a base da minha espinha, a


emoção da caçada. É intensificada pelo fato de que eu posso
matar dois coelhos com uma cajadada — irritar meu irmão e
continuar meus planos para Daisy.
Mal posso esperar para ver o olhar em seu rosto quando
eu colidir com seu mundo. Novamente.
Daisy

NÃO pensei esse dia poderia ser aproveitável, mas eu


subestimei o poder de sair com amigos de verdade. Poucas
horas depois da festa surpresa de Felicity, a merda que
aconteceu antes desapareceu no fundo.

A presença de Bryce deixou todo mundo nervoso no


começo, mas Toby foi rápido em dar um breve resumo do que
o Idol fez no parque de diversão. Isso foi suficiente para
quebrar a tensão de quase todo mundo, exceto Poppy, que
vigiava Bryce desde que chegamos.

Quando finalmente estou sozinha, ele para ao meu lado.


“Como está a vida na Gifted Academy? Vejo que você fez amigos
em lugares altos.”

Eu pego facilmente o tom de desaprovação em seu


comentário.

“Ela teve altos e baixos. Estou inteira, no entanto, então


conto isso como uma vitória.”

Poppy toma um gole de cerveja. “Eu tenho que dizer, estou


surpreso em vê-la saindo com esse Idol. Ele não faz parte do
grupo que aterrorizou meu restaurante na semana passada?”
“Bryce não teve nada a ver com isso. Ele só queria torta.”

Por que estou defendendo ele? Novamente?

“Olhe para você, eriçando suas penas por um pobre garoto


Idol. Se eu não te conhecesse melhor, diria que você tem uma
queda por ele.”

“O que?” Eu chio. “Eu não tenho uma queda por ele, ou


por qualquer outra pessoa.”

Mas isso está correto? Eu experimentei todos os tipos de


novas emoções, não só hoje com Bryce, mas também na
semana passada. Não posso negar que tanto Phoenix quanto
Rufio deixaram suas marcas em mim. E se isso não me render
o prêmio de garota mais estúpida do universo, não sei o que faz.

“Bom. Espero que você não tenha esquecido sua


experiência em um determinado local de entretenimento
noturno. Ninguém que frequenta esse lugar é decente, Daisy.
Lembre-se disso.”

Poppy se afasta, me deixando sozinha para pensar no seu


aviso. Meu bom humor despenca.

Por que ele teve que me lembrar de uma das noites mais
humilhantes da minha vida?

“Tudo certo?” Bryce se materializa ao meu lado.

Eu enrolo meus dedos com mais força ao redor do copo de


refrigerante na minha mão. “Sim. Está tudo bem.”

“Você parece tensa.”


Inclino meu rosto para o lado para observá-lo. A primeira
coisa que noto é a mancha de chocolate no canto da boca.

“Você pegou uma segunda porção de bolo?”

Ele me recompensa com um sorriso travesso. “Terceiro, se


eu estou sendo honesto. Como você sabia?”

Aponto para a mancha. “Você tem chocolate no rosto.”

Bryce passa os dedos pelo canto da boca, mas ele apenas


consegue tirar a mancha parcialmente. Ele lambe o chocolate
dos dedos e meus olhos imediatamente se concentram em seus
lábios. Meu estômago aperta, lutando contra as borboletas que
estão subitamente tremulando lá dentro.

Seus olhos encontram os meus, e eu sei que ele está ciente


da minha reação estúpida.

“Eu tirei tudo?” ele pergunta com uma voz perigosamente


suave.

“Uh, não. Esqueceu de um lugar.”

“Onde?” Ele toca cada centímetro de pele ao redor dos


lábios, além da área onde está o chocolate.

Tenho certeza de que ele está fazendo isso de propósito e,


tolamente, caí na armadilha dele.

“Lá.” Estendo a mão e limpo o local.

Uma onda de desejo percorre minha espinha e se enrola


em torno de sua base. As borboletas estão batendo as asas a
toda velocidade agora, combinando com o ritmo do meu
batimento cardíaco acelerado. Afasto minha mão com um
suspiro. Bryce sorri amplamente, mostrando uma fileira de
dentes brancos perfeitos.

“Você está fazendo isso de novo.” eu resmungo.

“Fazendo o que?” ele pergunta, seus olhos cheios de


travessuras.

“A coisa sorridente.” Eu me afasto, incapaz de suportar o


poder de seu olhar.

Eu sei que ele é um Idol e perigoso, então por que tenho


esse desejo insano de provar seus lábios?

Me concentro na mesa de sinuca, que atualmente está


livre.

“Então, você costumava brincar com tolos desavisados na


sinuca, hein?” ele diz.

“Eu não acredito que Rosie te disse isso.” eu respondo,


cruzando os braços.

“Você quer me ensinar?”

Eu olho para ele. “Você não sabe jogar sinuca?”

Bryce encolhe os ombros. “Não é um passatempo comum


do meu lado da cerca.”
Aperto minha mandíbula, virando o rosto
novamente. Nunca parei para pensar que os Idols tinham
outros interesses na vida além de perseguir os Norms.

“Tudo bem. Vou lhe dar algumas dicas.” Eu coloco meu


copo no chão e reivindico a mesa.

Bryce me segue e espera do lado oposto enquanto eu


arrumo as bolas dentro do triângulo. Uma vez que elas estão
prontas, eu levanto meus olhos para os dele. “Você quer
quebrar?”

“Um momento, você quer dizer começar?” ele pergunta.

Pego os tacos fixados na parede atrás de mim. “Você


conhece o básico?”

“Você pensaria menos de mim se minha resposta fosse


negativa?”

Eu rio. “Não.”

A atenção de Bryce permanece no meu rosto enquanto


ando em volta da mesa. Coloquei um dos tacos na borda e
entrego a ele o segundo.

Ele passa o dedo sobre o comprimento do taco e depois se


vira para mim. “O que agora?”

Coloco a bola em cima da mesa. “Apenas pegue o taco


como você faria naturalmente.” Eu espero que ele faça isso.
“Agora, incline-se para a frente e coloque a ponta sobre a mesa,
atrás da bola branca.”
“Assim?”

“Quase.” Eu me movo para trás dele e me inclino para


frente para ajustar sua posição, o que coloca meus peitos
contra suas costas. Sua colônia inebriante enche minhas
narinas, enviando calafrios pela minha espinha. Ou talvez seja
apenas a proximidade dele que esteja me deixando tonta.

Cubro sua mão com a minha e mudo a maneira como ele


está segurando o taco. “Segure a parte traseira com o polegar,
o indicador e o dedo médio. E você não quer agarrar a parte de
trás muito perto do fim.”

Bryce se vira para mim, trazendo o rosto a centímetros do


meu. Eu mantenho meus olhos fixos na bola, tentando o meu
melhor para ignorar a fúria desenfreada do meu batimento
cardíaco.

“Coloque a cabeça alinhada com a bola. Ao puxar o braço


para trás, você deve soltar o punho, o que aumentará o poder
do seu tiro.”

“Tudo bem, acho que entendi.” ele responde, ainda


olhando para o meu rosto. Sua respiração quente com cheiro
de chocolate se espalha pela minha pele superaquecida.

Dou um passo para trás, percebendo que Bryce


provavelmente poderia sentir o forte bater do meu coração
enquanto eu estava colada nas costas dele. Merda.

Ele fica em posição, olhando a bola branca agora. Sua


tacada é perfeita, e começo a suspeitar que ele não estava
dizendo a verdade sobre sua falta de habilidades. Quando ele
puxa o braço para trás e dispara um tiro poderoso e preciso,
ele consegue colocar pelo menos cinco bolas nos bolsos.

Ele se endireita e lentamente se vira para mim com um


sorriso atrevido estampado em seu rosto lindo.

Coloquei as mãos nos quadris. “Você mentiu para mim.


Você já jogou sinuca antes.”

“O quê? Bobagem. Deve ser sorte de principiante.”

Aperto os olhos levemente antes de pegar meu taco. “Tudo


bem, amigo. Vamos ver quanto tempo a sua sorte dura.”

O jogo termina rápido. Eu ganho, mas apenas porque


Bryce deixou. Sou boa, mas ele é muito melhor.

“Ok, você me venceu. Disse que o tiro foi sorte de


principiante.” ele afirma com um sorriso.

“Você está muito divertido para alguém que acabou de


perder um jogo.” Eu olho duro para ele.

“Ei, crianças, alguém gosta de brownies?” Felicity se


aproxima de nossa mesa e oferece uma bandeja com as
guloseimas, mal segurando a oferta em linha reta. É seguro
dizer que ela está um pouco embriagada agora.

“Não se preocupe.” Bryce pega três pedaços quadrados,


colocando um imediatamente na boca.

“Uau, deixe um pouco para o resto de nós.” Eu ando em


volta da mesa para pegar um. “Quem assou isso?”
“Angel. Ele não é doce?” O olhar de Felicity viaja através
da sala para pousar em seu namorado, Angel, que está
tomando uma bebida com Poppy.

Ele é um cara mais velho, com cabelos compridos e


barba. Honestamente, ele é meio hippie, o que não é do tipo de
Felicity. Ela parece apaixonada pelo cara, mas só namoram há
uma semana.

Dou uma mordida no brownie de Angel e gemo alto. “Oh,


meu Deus. Isso é tão bom.”

“Eu sei, ok? Ele é um bom confeiteiro.” Felicity responde


com orgulho.

“Cara, eu nunca tive nada mais delicioso. Eles até


ganharam da torta de mirtilo. Posso pegar outro pedaço?” Os
dedos gananciosos de Bryce já estão pairando sobre a bandeja.

“Claro, querido. Pegue quantos quiser.”

“Eu realmente não sei como você pode comer tanto açúcar
e manter seu físico.” Eu dou outra mordida no brownie.

“Deve estar nos meus genes.” Bryce enfia outro quadrado


inteiro em sua boca.

Termino de comer meu petisco e depois lambo o chocolate


derretido dos meus dedos. É um movimento totalmente
inocente, mas quando olho para Bryce, encontro-o olhando
para mim com a boca ligeiramente aberta e os olhos a meio
mastro.
O calor se espalha pelas minhas bochechas. “O que?” Eu
pergunto, tentando mascarar meu constrangimento.

“Você é tão bonita.” diz ele simplesmente sem quebrar o


contato visual.

Estou sem palavras. Meu rosto está entorpecido, e agora


há um ruído estranho nos meus ouvidos, como se minha
cabeça estivesse presa debaixo d’água.

“Isso é aleatório.” Eu rio nervosamente.

Oh meu Deus, eu pareço uma idiota.

Ele se aproxima um pouco mais, depois segura minha


bochecha com a mão grande. “Talvez eu goste de assistir você.”

Eu torço meu rosto em uma careta. “Bryce, você está


entrando em território perseguidor.”

Ele se inclina, aproximando seus lábios dos meus. Entro


no modo de pânico. Ele vai me beijar, e eu estou tão tentada a
deixá-lo.

Uma velha música favorita minha começa a tocar e, para


evitar o que eu sei que seria um grande erro, dou um passo
atrás e anuncio: “Eu amo essa música. Vamos dançar.”

Enlaço meus dedos com os dele e o arrasto para a pista de


dança improvisada. É um número clássico, alegre, e logo
outras pessoas se juntam a nós. Eu pensei erroneamente que
uma pista de dança lotada ajudaria a manter Bryce longe de
mim, mas funciona de outra maneira, pois somos rapidamente
empurrados pela multidão de foliões.
Seus braços serpenteiam em volta da minha cintura, me
puxando para mais perto dele. Mas, em vez de ficar parada
como uma prancha — estou nos braços do inimigo, afinal —
eu rio e ponho as mãos nos ombros dele.

“O que é tão engraçado?” ele pergunta.

“Eu não sei.”

Bryce olha para a esquerda e depois inclina a cabeça


nessa direção. “Eu acho que Toby está apaixonado por sua
irmã.”

Sigo a linha de visão de Bryce. Toby e Rosie estão sentados


um ao lado do outro em uma mesa. Rosie está falando sobre
algo que ela claramente gosta; o gesto apaixonado de suas
mãos é um sinal óbvio. Toby está simplesmente olhando para
ela com adoração.

“Eu acho que você está certo.” eu digo.

“E você, Daisy? Você deixou algum pobre bastardo com o


coração partido quando se matriculou na Gifted Academy?”

Eu bufo. “Não. Eu não tinha tempo para namorar. Entre


a escola e ser garçonete...”

“E tirando a roupa.” Bryce acrescenta com um sorriso


atrevido.

Seu comentário deveria me deixar louca pra caralho, mas,


engraçado, eu não me importo. “Cale-se. Isso foi apenas uma
vez, e só porque eu estava desesperada.”
“Para que você precisava do dinheiro?” ele pergunta.

Eu o encaro através de fendas. “O que há com o


interrogatório policial?”

“Desculpa.” Ele franze a testa e aperta os lábios. “Foi


indelicado perguntar isso? Já me disseram antes que tenho a
graça social de uma colher de chá.”

“E quem foi a alma corajosa que disse isso na sua


cara?” Eu pergunto ironicamente. Mas sinceramente, eu quero
saber.

“Minha mãe.” ele responde com um suspiro profundo.

“Ela não é legal?”

“Essa é uma maneira de dizer.”

“E quanto ao seu pai?”

Bryce levanta uma sobrancelha quando seus lábios se


curvam em um sorriso. “Agora quem está atuando como
policial?”

Eu reviro meus olhos. “Tanto faz.”

Alguém esbarra em mim por trás, me empurrando contra


Bryce. Agora existe um espaço absolutamente nulo entre
nossos corpos. Tento dar um passo atrás, mas ele me segura
firmemente no lugar. Para ser sincera, não tentei tanto. Como
a idiota que sou, levanto o queixo, encarando-o. O mundo
inteiro parece desacelerar ao nosso redor, a música e o som do
riso das pessoas desaparecendo em segundo plano.
“Daisy?” Ele diz meu nome tão baixo que parece uma
carícia.

“Sim?”

“Eu vou te beijar agora.”

Paro de me mover, respirar, tudo. Minha língua está


grossa na minha boca. Isso é louco e imprudente, mas eu
quero tanto. Deveria dizer que não, afastá-lo. Em vez disso,
simplesmente olho para Bryce como um cervo preso nos faróis.

Ele solta minha cintura para segurar minhas bochechas


com as duas mãos. Fecho os olhos, a tontura me atingindo com
tanta força que eu balançaria no local se não fosse por Bryce
me segurando ainda. Quando seus lábios roçam suavemente
os meus, eles formigam. Mas quando a língua dele sai e sonda
meus lábios um pouco mais, sou atingida por um furacão de
categoria cinco. Meus dedos pressionam contra suas costas
largas enquanto eu levanto na ponta dos pés, aprofundando o
beijo.

Puta merda. Eu estou beijando um Idol. Devo ter


enlouquecido e não me importo. Nunca beijei alguém com
gosto de tempestade, que me faz sentir viva de todas as
maneiras possíveis. Bem, não sei como é o sabor de uma
tempestade. Será que tem algum gosto?

Ugh, cale a boca, cérebro.

Os lábios de Bryce se afastam dos meus para salpicar


minha mandíbula e depois meu pescoço com beijos
entorpecentes. Meus dedos se enrolam dentro das minhas
botas de cowboy, e a necessidade de me aproximar dele, de
remover todas as barreiras entre nossos corpos, é
esmagadora. Ele traça meus ombros, depois meus lados com
as pontas dos dedos, queimando minha pele através da minha
camisa. Quando ele roça a parte de baixo dos meus seios, solto
um gemido tão cheio de necessidade que me mortificaria se eu
não estivesse perdida no momento.

“Bryce.” eu sussurro.

“Sim, Daisy?” Ele funde seus lábios com os meus


novamente.

Eu não respondo por um momento, muito envolvida na


sensação de sua língua contra a minha, no toque de suas mãos
no meu corpo. Ele se afasta um pouco e espera que eu
continue, me observando com olhos mais brilhantes do que
antes, a cor semelhante ao ouro derretido.

“Eu não sei o que ia dizer.”

Ele sorri preguiçosamente. “Bom. Acho que prefiro que


você use sua boca para outra coisa.” Ele se inclina novamente,
mas congela uma respiração longe de minha boca.

Um segundo depois, ele se afasta completamente, como se


tivesse sido puxado por um elástico.

“Bryce? O que está errado?”

Longe está a expressão descontraída e cheia de luxúria de


um segundo atrás. “Eu sinto meu irmão. Ele está por
perto. Deve estar me procurando.”
“Você pode sentir seu irmão?” Eu pergunto com uma voz
estridente. “Vocês todos podem fazer isso?”

Bryce não responde minha pergunta. “Ele não pode me


encontrar aqui com você. Eu tenho que ir.”

Ele se vira e se afasta. Como uma idiota, eu o sigo. “Bryce,


espere.”

Ele vira direto para a mesa onde Toby e Rosie estão.

“Cara, nós temos que ir. Tipo, agora mesmo.” Bryce diz a
Toby.

Os olhos de Toby se arregalam antes que ele pule fora de


seu assento. “O que aconteceu?”

“Não tenho tempo para explicar. Vamos.”

Toby muda sua atenção para mim. “E Daisy?”

Bryce finalmente olha para mim. Seus olhos são


turbulentos e frios, e sinto que um balde de água gelada foi
jogado sobre minha cabeça. Sentindo-me pequena e estúpida,
abraço meu corpo enquanto meus ombros se curvam para
frente.

“Daisy tem que ficar.” Sua resposta é dura e final.

“Mas...” Toby começa.

“Toby, vá com Bryce.” digo a ele. “Eu ficarei bem. Vou ficar
no meu antigo quarto com Rosie.”
O Idol que acabei de beijar já está se movendo em direção
à saída. Ele nem se despediu. Estou ferida, e isso é ainda mais
trágico. O que mais eu esperava de pessoas como ele?

“Tudo certo. Se meu carro for consertado rapidamente,


posso buscá-la amanhã.” Toby diz se desculpando.

“Não se preocupe comigo. Vai. Bryce vai deixar você aqui


se você não o alcançar.”

Toby se vira para minha irmã. “Tchau, Rosie. Foi bom


conhecê-la.”

“O mesmo. Me mande uma mensagem.”

O rosto de Toby está tão brilhante quanto um tomate. Ele


assente e depois corre em direção à saída. Bryce já
desapareceu pela porta.

Eu caio na cadeira que Toby acabou de desocupar e entro


na cabine. A festa de Felicity é um sucesso e isso diminui o
aguilhão da atitude de Bryce.

“Não acredito que você beijou um Idol.” diz Rosie.

Eu me viro para encará-la. “Você viu isso?”

“Olá? Você estava chupando seu o rosto no meio da pista


de dança. Todo mundo viu. Você receberá uma bronca de
Felicity em cerca de dois segundos.” O olhar de Rosie se
concentra em frente. Com certeza, Felicity está marchando em
direção a nossa mesa.
“Oh, cara. Rosie, você precisa me salvar.” Eu agarro seu
braço.

Felicity para na nossa frente com as mãos nos


quadris. Ela balança um pouco, e seus olhos não são tão
afiados, mas ela ainda consegue um olhar severo. “Daisy, o que
eu te disse?”

“Não me apaixonar por bonitos garotos Idol?” Eu dou de


ombros.

“Precisamente. Valeu a pena, pelo menos?

“Porra. Isso valeu.” Um ataque de risos me pega de


surpresa. O que há de errado comigo?

“Por que você está rindo agora? O cara beijou e correu. Ele
foi um idiota.” Rosie argumenta.

“Eu sei e não sei por que estou rindo.” As risadas


continuam. Inferno, eu não me lembro de me divertir assim há
muito tempo. “Fefe, o que havia naqueles brownies?”

“Bem, eu pensei que eles eram apenas brownies


regulares.” Ela balança no local, e seu discurso é
arrastado. Ela está chapada. “Mas Angel acabou de me dizer
que eram brownies especiais.”

Cubro minha boca com a mão, mas não consigo conter


minha risada. “Oh, meu Deus. Eu comi brownies
mágicos10. Isso é hilário.” Eu abraço meu meio e me inclino
para a frente, rindo tanto que começo a chorar.

“Não acredito nisso. Você está doidona. Não é à toa que


você está agindo tão blasé por Bryce ter abandonado você.” diz
Rose.

“Dane-se, Bryce.” Pulo da cadeira e forço Rosie a fazer o


mesmo. “Vamos, irmã. Vamos dançar.”

“Uh, talvez devêssemos ir para casa.” ela responde.

“Não, você não pode sair ainda. Agora que esses caras
sufocantes da Gifted Academy se foram, podemos realmente
deixar nossos cabelos soltos.” Felicity levanta as mãos no ar e
balança com a música.

“Exatamente. Vamos, Rosie. Não seja uma desmancha


prazeres.” Eu faço beicinho.

“Bem. Suponho que dançar uma música não mate


ninguém.”

Eu soco o ar e grito: “Inferno, sim.”

Definitivamente vou me arrepender disso amanhã, mas


hoje à noite eu simplesmente não me importo.

10 Brownies com maconha.


Rufio

BRYCE está dentro do bar esportivo Norm de segunda


categoria na minha frente. Eu o senti meia hora atrás, mas tive
que me livrar do rabo de Phoenix primeiro. O idiota me seguiu,
embora eu finalmente o despistei quando passei um sinal
vermelho em um cruzamento movimentado. Quase não
consegui fazê-lo.

Pego a maçaneta da porta quando Bryce sai do bar às


pressas. Um minuto depois, Toby, o garoto Fringe que estava
praticamente colado no quadril de Daisy na semana passada,
sai correndo. Espero Daisy sair em seguida, mas ela não
sai. As luzes de ré no carro de Bryce acendem antes que Toby
possa entrar. O Fringe consegue deslizar antes que Bryce
recue, no entanto, e um segundo depois, seu SUV sai do
estacionamento.

Droga. Eu estava contando ver aquela Norm estúpida com


ele. Estou me afogando na minha irritação quando sou
atingido por uma ideia. Rufio, você é um idiota. Bryce deve ter
me sentido e saiu antes que eu pudesse chegar aqui, antes que
eu pudesse encontrar Daisy.

Aposto um braço que a quebrada beleza roxa que vi


abandonada na estrada pertence ao garoto Fringe. É a cara do
meu irmão idiota bancar o Bom Samaritano e oferecer uma
carona a Daisy e seu amigo. Mas por que sair com ela esse
tempo todo?

Só há uma maneira de descobrir.

Eu saio do meu carro e vou para a entrada do bar. O


cheiro de cerveja e cigarros baratos chega ao meu nariz e me
deixa enjoado. Não há nenhum segurança na porta, o que me
diz que o proprietário não considera seus clientes importantes
o suficiente para oferecer segurança.

Quando entro no salão, o cheiro não melhora, o suor agora


se mistura aos outros dois odores. Há uma grande multidão
hoje à noite, principalmente Norms com um ocasional Fringe
de baixo nível aqui e ali.

Não demorou muito para eu localizar Daisy. Ela está


dançando em cima de uma mesa, vestindo uma microssaia e
botas vermelhas de cowboy. O cabelo dela está solto e
selvagem. Filho da puta. Ela parece mais sexy agora do que em
sua roupa de stripper. Tremores correm pelo meu corpo, o
resultado de eu tentar controlar o impulso de atravessar a sala
e jogar Daisy por cima do ombro. Se eu não tocar nela hoje à
noite, vou entrar em combustão.

Por que ela tem que se parecer assim? Seria muito mais
fácil destruí-la se meu corpo não a desejasse como se ela fosse
o último pedaço de bunda na face da Terra.

Alguns clientes olham na minha direção e imediatamente


sabem que não sou como eles. Eles trocam olhares um com o
outro, jogam dinheiro no balcão do bar e correm para longe,
mantendo uma grande distância de mim
Idiotas. Como se eu fosse perder o meu tempo destruindo
este lugar. Só sou mau quando provocado.

Tomo algumas respirações antes de ir em direção a Daisy,


sabendo que tenho que colocar minha cabeça no jogo. Estou
aqui para ganhar a confiança dela, não lhe dar um motivo para
fugir de mim como um rato assustado. É o que eu queria que
ela fizesse não faz muito tempo, fazê-la se encolher de medo na
minha presença, mas não mais. Ela é como um cavalo
selvagem, selvagem e indomável até que o treinador certo
apareça. Quando eu terminar com ela, ela será montada com
força e deixada molhada. Não é o que um bom treinador faria,
mas sempre achei que a expressão tinha mais conotação
sexual do que qualquer outra coisa.

Ela não me nota até eu estar bem embaixo dela. Não


precisei fazer muito para ver que tipo de calcinha ela usava. É
preta e rendada, meu favorito. Mas não vou me tocar hoje à
noite, então mantenho meus olhos grudados no rosto dela.

Ela abaixa o olhar, encontrando o meu e para de


dançar. Espero ver medo e apreensão em sua expressão, mas,
em vez disso, ela me oferece sua mão para segurar enquanto
pula da mesa.

“Rufio! Oh, meu Deus. O que você está fazendo aqui?” ela
me pergunta com um sorriso largo.

“Eu estava na área.”

“Você acabou de perder o seu irmão.”


Algo não está certo aqui. A Daisy que observei na semana
passada é séria e sempre nervosa. A garota na minha frente é
animada e livre, e o pior de tudo, ela não tem medo de mim.

Que diabos?

Eu a agarro pelos braços e a olho diretamente nos olhos.


“Você está drogada?”

Ela começa a rir. “Felicity nos deu brownies, mas ela


esqueceu de nos dizer que eram brownies mágicos. Bryce
comeu três! Ainda bem que vocês são imunes aos narcóticos
Norm.”

Eu a solto e esfrego meu rosto. Tinha toda a intenção de


jogar meus jogos perversos com Daisy hoje à noite, mas em sua
atual condição intoxicada, não seria nada divertido. Quero
sentir sua hesitação quando a beijar, ver o medo por trás do
desejo quando tocar seu corpo.

“Vamos lá. Vamos pegar algo para você beber.” Ela pega
minha mão e me guia em direção ao bar.

Mas ela só consegue dar alguns passos antes de perder o


equilíbrio e cair para trás. Eu a pego em meus braços, o que é
semelhante a derramar gasolina sobre o fogo, transformando a
pequena chama na boca do meu estômago em um incêndio
incontrolável.

Exploda esta noite para o inferno. Nada saiu como


planejado. Não só consegui irritar meus pais hoje à noite, mas
agora estou perdendo o controle da situação com Daisy.
Trago o corpo dela para a vertical mais uma vez e dou um
passo para trás.

“Obrigada. Ufa, está quente aqui.” Ela se abana,


chamando minha atenção para seu decote. Ela está vestindo
uma camiseta simples, mas qualquer trapo ficaria bem nela
com esse par de peitos.

“Vamos lá fora. Você precisa de ar fresco.” Enrolo minha


mão em torno da dela e tento arrastar a garota para a saída,
mas ela oferece resistência. Claro que ela tem que ser difícil,
mesmo quando está tão alta11 quanto uma pipa.

“Espere, eu tenho que dizer a Rosie para onde estou indo.”

“Quem é Rosie?”

Daisy torce o nariz e balança a cabeça. “Deixa pra lá.”

Ótimo. Ela nem se lembra quem é sua amiga. Eu diria que


Daisy também está bêbada, mas não senti cheiro de álcool no
hálito dela.

Uma vez lá fora, ela solta minha mão e faz uma pirueta na
minha frente. “Eu já te disse o quanto eu amo dançar?”

“Eu certamente lembro que você tem as


habilidades.” Estou me referindo à noite no Unearthly Desires,
mas meu comentário passa por cima de sua cabeça.

Ela pega minha mão. “Vamos, Rufio. Dance comigo.”

11 Chapada.
“Não, não, não. Eu não danço.” Eu afundo meus
calcanhares no chão, mas Daisy não cede.

Quando não me mexo, ela joga os braços em volta dos


meus ombros, fecha os olhos e balança sozinha. Coloco
minhas mãos nos quadris dela, meus dedos espalhados por
eles. Não há nenhum traço de maquiagem em seu rosto, mas
sua pele é tão perfeita que seria uma pena se ela a cobrisse
com lixo.

Daisy começa a cantar baixinho, uma música que não


reconheço. Ela está agindo como uma lunática, e tenho certeza
que ficará mortificada amanhã ao se lembrar de algo disso. Eu
deveria tirar proveito da situação. Tenho a Norm vulnerável e
exatamente onde a quero, mas algo me impede. Não é
moralidade. Não sofro dessa fraqueza como Bryce.

Talvez seja o fato de que haverá um inferno para pagar


amanhã por abandonar o jantar com meus pais, e eu só quero
ter um momento em que possa apreciar algo bonito. E é isso
que Daisy é, de tirar o fôlego.

A luz da rua é fraca e a única outra fonte de iluminação


vem do letreiro vermelho da placa neon. Não há ninguém por
perto para me testemunhar admirar uma Norm. Toco sua
têmpora com as pontas dos dedos e traço sua linha do
cabelo. Os olhos de Daisy se abrem e ela olha nos meus. Suas
pupilas estão dilatadas, então eu tenho certeza que ela não
pode me ver tão bem agora. Apesar disso, ela sorri.

“Aí está você.” Ela sorri preguiçosamente, contente.


“Eu não fui a lugar nenhum.” Minha voz está rouca e
baixa.

“Eu gosto de dançar com você.”

Meu pulso acelera e minha garganta fica apertada. Eu


enfio meus dedos em seus quadris, trazendo-a ainda mais
perto de mim. Sua pélvis esfrega contra a minha ereção,
enviando ondas de desejo por todo o meu corpo.

“Eu não sabia que estava dançando, mas tudo bem.”

“Você é engraçado.” Ela ri baixinho, sem saber o quanto


eu quero prová-la.

“Daisy, acho que devo levá-la de volta para o dormitó...”

Ela fecha os olhos e se torna um peso morto nos meus


braços. Ela desmaiou.

Merda.

***

TENHO certeza que eu desativei todas as câmeras de


segurança enquanto carrego a forma inerte de Daisy para baixo
no corredor do nosso andar. Já estou com problemas
suficientes; também não quero ficar do lado ruim da
administração da escola. Não pensei duas vezes antes de
colocar Daisy no meu carro e voltar para o campus. Ela estava
com a bolsa e eu não devo nenhuma explicação aos amigos. Ela
pode acalmá-los amanhã sozinha.
Eu ajusto o corpo dela para poder segurá-la com apenas
um braço e usar minha mão livre para encontrar a chave do
quarto. Ela deixou as persianas abertas quando saiu mais
cedo, de modo que a sala está parcialmente iluminada pela luz
da lua que entra pela janela. As acomodações de Daisy são
muito menores que as nossas. Temos um apartamento com
uma pequena cozinha e sala de estar, enquanto Daisy tem
menos de um quarto do espaço que ocupamos. Mas ela não
tem um colega de quarto, e sendo uma Norm, essa foi sem
dúvida uma manobra preventiva da escola. Além disso, duvido
que qualquer garota Idol concordaria em dividir um quarto com
uma Norm.

Coloco Daisy em sua cama com toda a intenção de sair


imediatamente, mas ela acorda.

“Rufio?”

“Volte a dormir.”

Eu ando para trás e ela se senta. Ela olha em volta e faz


uma careta. “Estou no meu dormitório?”

“Sim. Você desmaiou em mim.”

Por que estou lhe dando uma explicação?

Ela se levanta sem jeito e se move em minha direção.


“Onde você vai?”

“Para o meu apartamento. Foi um dia longo e frustrante.”

“Você sabe o que seria superdivertido?” ela pergunta, um


pouco animada demais para o meu gosto.
Por que ela não está dormindo como os mortos agora?

“Eu vou dormir e você vai fazer a mesma coisa.” eu


respondo.

“Não, bobo. Eu estava pensando em lhe dar o show pelo


qual você pagou.”

“Agora?”

Ela pega minha mão e me obriga a sentar em sua


cama. Bem, eu a deixei me guiar, mas tanto faz.

“O strip-tease.”

Ela tira a camiseta, de pé na minha frente vestindo seu


sutiã de renda e mini saia. Não vamos esquecer aquelas
malditas botas de cowboy. Enrolo minhas mãos em volta da
colcha dela, enquanto luto contra a onda de desejo que a visão
provoca.

“Daisy, é melhor você parar.” digo com dificuldade.

Não estou dizendo isso para ser legal. Estou fazendo isso
para recuperar o controle que ela roubou de mim. Sou eu quem
deve ditar as regras, não ela. Mas agora, estou totalmente à
sua mercê.

Ela dá um passo à frente, segurando seus peitos. “Mas


você pagou para ver isso.”

“Pare com isso!” Eu pulo da cama, invadindo seu espaço


pessoal. Seus olhos castanhos ficam mais redondos, sua
respiração superficial. Mas foda-se, ela não é a única
respirando irregularmente.

“Me faça.” Ela levanta o queixo.

Já chega. Agarro-a pela cintura com toda a intenção de


jogá-la na cama e sair, mas meu corpo tem outras
ideias. Capturo sua boca desafiadora com a minha, rompendo
a costura de seus lábios com a minha língua selvagemente,
impaciente.

Ela combina minha fúria, golpe por golpe, mordida por


mordida. Foda-se. Eu não esperava que ela beijasse assim,
como se fosse uma batalha pela sobrevivência. Ela pega os
botões da minha camisa e, com um trabalho rápido, desabotoa
todos eles.

Isso está se intensificando muito rápido, e eu nem sei por


que está acontecendo. Mas caramba, se eu não quero que isso
aconteça. Meu pau estica contra o meu jeans e
involuntariamente levo os quadris de Daisy para os meus. O
contato apenas piora o desejo.

Ela é uma Norm. Eu não a queria com esse fervor louco.

Mas a razão parece ter deixado a estação de trem.

Eu nos viro e juntos caímos na cama de Daisy. Estou em


cima dela, e sua saia poderia nem estar lá. Subiu, deixando a
calcinha exposta. Giro meus quadris, criando um atrito que é
mais enlouquecedor do que calmante. Minhas bolas estão
apertadas, mas eu aperto minhas nádegas juntas para evitar
gozar prematuramente em minhas calças como um menino de
doze anos de idade.

“Você quer vê-los ou não?” ela pergunta entre beijos


quentes e molhados.

“Você sabe que sim, Daisy.”

Não reconheço minha própria voz. Eu pareço um perdedor


privado de sexo que nunca viu um par de peitos pessoalmente
antes. Mas isso não me impede de salpicar beijos no pescoço e
no esterno até alcançar os montes de seus seios.

Como uma criança ansiosa na manhã de Natal, solto o


fecho frontal do sutiã e lentamente retiro o delicado
tecido. Meu pau estremece, e eu quase gozo com a visão do par
de peitos mais perfeito que já vi. Eles são grandes e firmes, e
seus mamilos cor-de-rosa são tão duros quanto pequenas
pedrinhas.

Cubro um seio com a mão e beijo o outro, passando a


língua sobre a pele quente antes de capturar o mamilo e chupá-
lo na minha boca. Daisy passa os dedos pelos meus cabelos e
arqueia as costas, gemendo alto. Eu chupo com mais força e
aumento o impulso dos meus quadris contra os dela,
desejando que não houvesse roupas entre nós.

“Oh, meu Deus. Não pare.” Ela começa a girar a pélvis


também até que nós dois imitamos o que acabará por
acontecer — mas não hoje à noite.
Quero que ela esteja sóbria quando eu a levar. Ela precisa
se lembrar de todos os detalhes. Ela precisa cair forte, ou não
vai quebrar além do reparo.

Consumido por pensamentos de destruição, perco o


aperto fraco que tinha no meu pau. Quando Daisy chega ao
clímax e grita, minha própria libertação segue. Eu explodo no
jeans e, caralho, se não foi o melhor orgasmo que já tive em
anos.

Tremores percorrem o corpo de Daisy e o meu. Soltei seu


mamilo para capturar seus lábios novamente enquanto andava
nos últimos tentáculos da minha libertação. Este beijo é terno
e preguiçoso, desprovido da selvageria maníaca de antes. Isso
me bate bem no centro do peito, tornando-o apertado para
caralho. Todos os meus alarmes são acionados, mas não
consigo parar de saborear a Norm.

Amanhã vou pensar em como vou punir Daisy por me


fazer perder o controle.

Hoje à noite eu festejo.


Daisy

DESPERTO com o som de batidas implacáveis na minha


porta.

“Daisy, você está aí?” A voz frenética de Toby chama do


corredor.

Eu lentamente abro meus olhos, lutando contra minhas


pálpebras pesadas. Minha boca tem um gosto estranho, e há
uma dor latejante na minha testa. Quando a neblina sonolenta
se eleva da minha visão, noto que estou no meu quarto. Não
me lembro de voltar à Gifted Academy. Tenho uma vaga noção
de que deveria passar a noite com Rosie.

“Daisy!” Toby continua batendo.

“Ugh. Estou indo!”

Jogo minhas pernas ao lado da minha cama. Merda. Eu


dormi com minhas botas de cowboy. O que aconteceu comigo
ontem à noite, quando pensei que era mais importante tirar
minha camisa e sutiã, mas não meus sapatos? Eu ainda estou
usando a saia, mas está funcionando mais como um cinto
agora.
Eu a puxo para baixo e procuro algo para cobrir minhas
meninas. Eu vejo meu moletom enorme sobre a minha
cadeira. Perfeito.

Quando finalmente abro a porta, encontro Toby andando


no corredor. Ele se vira e me dá uma olhada.

“Qual é o problema?” Eu pergunto.

“Você me diz. Rosie está ligando desde a noite passada


procurando por você.”

“Ela está? Por quê?” Franzo o cenho, tentando juntar os


detalhes que faltam da noite passada.

“Você deveria ficar com ela, lembra? Então você


desapareceu do bar e não atendeu o telefone.”

Eu passo uma mão trêmula pelo meu cabelo emaranhado.


“Maldita Felicity e seus brownies mágicos.”

“Então, como você voltou?” Toby pergunta.

“Eu...”

A porta ao lado da minha se abre. Rufio e Bryce saem,


parecendo maravilhosos. Como uma avalanche, minhas
memórias retornam. Eu beijei os dois irmãos Kent ontem à
noite. Na verdade, fiz mais do que beijar Rufio. Uma pulsação
familiar se faz conhecida entre minhas pernas.

Eu me despi para ele e brincamos.

Alguém me mate agora.


Nenhum deles olha na minha direção quando eles passam
pela minha porta. Suas expressões são fechadas, frias e duras.

Toby os observa irem em silêncio e, quando desaparecem


da escada, ele se vira para mim. “O que houve com esses dois?”

“Eu não sei.” Meu peito está insuportavelmente


apertado. Não esperava que Rufio mostrasse qualquer tipo de
calor para mim, mas pensei que Bryce seria diferente. Ontem
cometi um grande erro confiando nele?

Não há dúvida de que eu estraguei tudo em relação a


Rufio.

Que merda você estava pensando, Daisy? Despir-se e


deixar seu arqui-inimigo número um lhe proporcionar o melhor
orgasmo da sua vida?

“Daisy? Você está bem?” Toby pergunta.

“Sim eu estou bem.”

“Você ficou um pouco pálida. Bem, mais do que o normal.”

Balanço a cabeça, arrependendo-me imediatamente


quando a dor na minha testa aumenta. “Devem ser os efeitos
colaterais dos brownies de Felicity.”

“Você deveria ligar para sua irmã.” ele me lembra.

“Merda. Sim.” Volto para o meu quarto, deixando a porta


aberta para Toby me seguir.

Quando ele não entra, eu digo, “Você pode entrar.”


“Eu não posso. Tenho que ver se Purple Delight ainda está
onde a deixamos ontem.”

“Oh, merda. É mesmo. Como você vai chegar lá?”

“Não se preocupe. Espero que você se sinta melhor.


Conversamos mais tarde, ok?”

“Claro. Obrigada, Toby.”

Ele assente e sai. Com meu telefone colado no ouvido,


fecho a porta, trancando-a por uma boa medida. Sinto que
minhas ações de ontem me custarão mais do que posso
pagar. Eu deixei aqueles Idols verem minha fraqueza. Agora
Bryce sabe que tenho uma irmã e Rufio sabe que tenho uma
atração doentia por ele.

“Daisy? Oh, meu Deus. Você está bem?” Rosie quase grita
no meu ouvido.

“Sim, eu estou bem. Sinto muito pela noite passada.”

“Eu estava preocupada, doente. Você do nada


desapareceu. O que aconteceu?”

“Os brownies de Felicity aconteceram. Eles eram do tipo


especial, lembra?”

“Sim, o que me deixou mais preocupada. Aparentemente,


não havia apenas maconha neles, mas também algum tipo de
planta afrodisíaca.”

“O que?” Minha voz sobe uma oitava.


“Você deveria ter visto Poppy. Ele ficou furioso. Quase deu
um soco no namorado de Felicity.”

Cubro minha boca, fechando os olhos. Isso explica por


que eu praticamente pulei em Rufio na noite passada. Por que
não poderia ter sido Bryce? Ele está agindo como se nem me
conhecesse hoje de manhã, mas pelo menos ele nunca tentou
me matar.

“Cheguei em casa sã e salva, mas eu estava um pouco fora


de mim.” digo a ela.

“Como você chegou em casa? Pensei que Bryce tivesse


saído com Toby.”

“Ele voltou por mim.” eu digo, odiando a mentira. Mas


Rosie já está super preocupada, se eu disser a ela que Rufio foi
quem me trouxe de volta ao campus, ela vai enlouquecer.

“Foi legal da parte dele, mas você não deve confiar no cara,
Daisy. Ele é um Idol.”

Sento-me na beira da cama, me sentindo tão cansada de


repente. “Eu sei. Não se preocupe, Rosie. Meu escudo ainda
está muito no lugar.”

Puxa, eu estou tão cheia de merda hoje.

Meu estômago ronca e vou à procura de um


lanche. Desanimada, percebo que fiquei sem nada. Existem
máquinas de venda automática no lobby do térreo. Está cheio
de lixo, mas é melhor que nada. Espero que Toby conserte seu
carro hoje. Talvez ele tenha pena de mim e me leve até o
supermercado mais próximo.

Tomo um banho rápido, tentando não pensar em Rufio e


Bryce quando meus dedos roçam no meu clitóris, mas então a
memória de Rufio se esfregando contra mim ontem à noite vem
à tona na minha mente. Não acredito que ele me fez gozar tão
rapidamente assim. Minha pele está quente, apesar do banho
frio. Afasto minha mão, mesmo sendo tentada a me
acariciar. Me recuso a me masturbar enquanto ele está na
minha cabeça.

Por um milagre, eu não dormi com ele. Ele saiu do meu


quarto depois que ambos satisfizemos nossa fome. Detesto
admitir que, pela primeira vez, tenho que agradecer por
isso. Ele poderia ter me fodido, e eu o teria recebido com as
pernas bem abertas.

Elegante, Daisy. Tão elegante.

Ugh, até minha consciência está sendo uma cadela hoje.

Eu abro a cortina do chuveiro, rasgando a capa de plástico


de dois dos anéis.

“Isso é ótimo.” murmuro.

De volta ao meu quarto, olho minha saia e minhas botas


de cowboy com nojo. O que diabos eu estava pensando quando
decidi me vestir como uma prostituta?

Para compensar, vesti as roupas mais modestas que


tenho: calças largas e a mesma camiseta grande que usei antes
para abrir a porta para Toby. Não faço nada com o meu cabelo
além de desembaraçar alguns dos nós, o que foi uma
dor. Brincar como se não houvesse amanhã fará isso com uma
pessoa. Meus lábios formigam com as lembranças. Não sei
qual irmão Kent eu mais gostei de beijar, Bryce ou Rufio.

Com uma expiração alta, forço os dois para fora da minha


mente e saio a passos largos para o corredor. Não posso
desperdiçar meu domingo obcecada por eles. Tenho dever de
casa a fazer e preciso terminar de ler o livro misterioso que a
bibliotecária me emprestou. Mais do que nunca, tenho que
encontrar uma maneira de bloquear Phoenix da minha cabeça.

Ainda não são nove horas, então o saguão está


completamente vazio. Como este edifício é exclusivo para
sêniores, aposto que ninguém se levanta antes do meio
dia. Tenho certeza de que os Idols têm melhores meios de
entretenimento do que passear em um bar esportivo barato. É
com amargura que pago pelo meu café da manhã dos
campeões, uma coca e um saco de batatas fritas. A noite
passada teria sido épica, além de todo o incidente com o
brownie mágico, se não fosse pelas presenças de Bryce e Rufio.

Meu estômago ronca novamente, mais alto do que


antes. Enfio a lata de refrigerante debaixo do braço e puxo os
dois lados do saco de batatas fritas para abri-lo. Como se
minha manhã já não estivesse ruim o suficiente, rasgo
completamente a bolsa no meio e as batatas fritas se espalham
por toda parte.

“Filho da puta!”
Caio de joelhos e começo a pegar meu café da manhã
caído. Regra dos cinco segundos ou o que for. Eu comi coisas
piores do que batatas fritas derramadas.

O som de batatas fritas sendo trituradas me alerta para a


chegada de alguém. Ótimo. Giro meu agachamento e olho para
cima. Phoenix está de pé, vestindo uma camisa pólo justa que
acentua seu peito e braços impressionantes. Ele está usando
óculos escuros, mas a linha dura da boca me diz que ele não
está tendo um bom dia também.

Ótimo pra caralho.

“Eu sabia que você era pobre, mas comer lixo do chão é
um pouco baixo, até para você.” diz ele.

“Obrigada por essa observação super inútil.” Giro de volta


e continuo à minha tarefa.

Antes que eu possa sair do seu caminho, ele enrola os


dedos nas costas da minha blusa e me puxa para cima.

“Ei, me solte.” Afasto a mão dele, mas é tão útil quanto


bater em um tronco de árvore.

“Você não vai comer migalhas do chão. Não na minha


frente.”

“Quem está forçando você a assistir?” Eu finalmente me


liberto e me viro.

“Está com fome?” ele pergunta ao invés disso.

“Não. Gosto de brincar com comida derramada.”


“Por que você está sempre tão na defensiva?” Ele agarra
meu braço e me vira de volta para onde eu vim.

“O que você pensa que está fazendo? Deixe-me ir.” Eu


puxo contra seu aperto sem sucesso. Ele é um Idol, dotado de
poderes extraordinários, incluindo mais força do que posso
invocar.

“Eu estou sendo um bom vizinho.”

“Vizinho, minha bunda. Apenas vá em frente e diga o que


realmente está planejando fazer comigo.”

Ele não responde, mas eu também não paro de lutar o


caminho de volta. É estupido. Tudo o que minha luta está
fazendo é fazer Phoenix apertar meu braço. Ele vai deixar um
machucado.

Voltamos ao nosso andar, mas Phoenix está determinado


a me fazer sofrer na presença dele. Se ele me der mais uma de
suas visões indecentes, eu poderia explodir em chamas. Fui
sexuada o suficiente recentemente.

Ele passa pela minha porta e se dirige para a dele.

Oh inferno, não. Eu enfio meus pés no chão. Não quero


ficar sozinha com ele em seu próprio domínio.

“O que você está fazendo?” Eu pergunto.

Ele empurra a porta do seu apartamento e me força a


entrar com um empurrão leve, mas assertivo. Dou alguns
passos à frente para colocar alguma distância entre nós e
depois giro no local. Phoenix já trancou a porta.
“Você vai me manter refém no seu apartamento? É isso?”

“Que porra é toda essa barulheira?” Morpheus sai de seu


quarto, vestindo nada além de moletom que mostra um
impressionante pacote de seis e V. Eu sabia que ele era atlético,
mas ele tem que parecer tão bem sem uma camiseta?

Não importa o cabelo encaracolado bagunçado, de quem


acabou de sair da cama.

Ele para quando me vê em pé na sua sala de estar. “O que


diabos ela está fazendo aqui?”

Coloco minhas mãos nos quadris e olho para os dois. “Eu


gostaria de uma resposta para essa pergunta também.”

“Estou alimentando-a. Ela estava prestes a comer batatas


fritas do chão.” Phoenix vai para a cozinha e abre a geladeira.

“Eu não preciso da sua caridade.” cuspi de volta.

Enquanto estou encarando as costas de Phoenix, sinto o


próprio olhar assassino de Morpheus queimando um buraco
no meu rosto. Eu me viro para encará-lo. “O que?”

“Nada. Como não consigo dormir com você e Phoenix


gritando um com o outro como um par de vendedores
ambulantes italianos, vou sair para tomar café da manhã.”

Phoenix se vira, os braços carregados com os ingredientes


do café da manhã: uma bandeja de ovos, queijo, presunto,
manteiga. Ao trabalho. Meu estômago ronca alto em
antecipação.
Phoenix olha para mim com um sorriso malicioso
enquanto Morpheus desaparece em seu quarto novamente.

Como não posso deixar as coisas em paz, puxo a banqueta


em frente ao balcão da cozinha e digo: “Pensei que apenas
drogados e celebridades egomaníacas usavam óculos de sol em
ambientes fechados.”

Phoenix aperta a mandíbula com força antes de


responder. “Suponho que sou uma celebridade egomaníaca.”

“Não se iluda.” Eu reviro meus olhos.

Morpheus retorna apenas para desaparecer novamente,


desta vez pela porta da frente. Ele nem se despede de seu
companheiro de quarto. Gostaria de poder fugir, mas Phoenix
estaria em cima de mim rapidamente. Eu não preciso ser
maltratada por ele novamente.

“Você gosta de ovos, certo?” Ele começa a quebrá-los em


uma tigela.

“Isso importa? Você vai cozinhar o que quiser.”

Ele levanta o queixo e olha para mim por algumas


batidas. É um pouco irritante que eu não possa ver seus olhos.
“Ouvi dizer que você teve um dia e uma noite e tanto ontem.”

Minha coluna fica tensa em um instante. “O que você quer


dizer?”

Oh, Senhor. Ele sabe? Rufio contou a ele o que fizemos?

Ele ri. “Deixa pra lá.”


Que otário.

“Ugh, você é tão irritante.” Encosto os cotovelos no balcão.


“O que você está fazendo?” Eu me concentro na bagunça de
cascas de ovos quebradas e massa em toda a área de
preparação.

“Isso se chama cozinhar.”

Com um gemido, pulo do meu assento e ando em volta do


balcão. “Afaste-se da comida antes de estragar tudo.” Bato no
lado dele com o cotovelo e olho dentro da tigela. Torcendo meu
rosto em uma carranca, eu pesco pedaços de casca de ovo da
mistura.

“Então esse foi o seu jogo? Me envenenar com comida não


comestível?” Pego o batedor, mas ele está oscilando muito
perto da borda e acabo jogando no chão.

Phoenix e eu tentamos pegá-lo, o que resulta em uma


colisão frontal literal. O canto de seus óculos de sol belisca
minha testa.

“Ai.” Eu me afasto, massageando minha têmpora.

Imperturbável, Phoenix se inclina e recupera o


batedor. Quando ele se endireita, seus óculos de sol estão
tortos, permitindo-me ver por que ele os está usando. Ele está
com um roxo enorme no olho direito; a pele ao redor é roxa
escura e inchada.

Ele é um Idol de nível quinze, o que significa que alguém


mais forte que ele fez isso.
“Parece que ontem foi bastante agitado para você também.
Quem você irritou?”

Com um aperto cerrado na mandíbula, Phoenix ajeita os


óculos de sol e caminha em direção à moderna máquina de café
expresso na curva do balcão.

“Café?” ele pergunta.

Eu olho para as costas tensas dele por vários


segundos. Por que ele está fugindo das minhas perguntas
quando pode facilmente me fazer calar a boca? Seu
comportamento não combina com o cara arrogante que eu sei
que ele é. O que houve?

“Sim, obrigada.” Eu o vejo trabalhar na máquina por um


tempo antes de continuar. “Você deve colocar gelo para se livrar
do inchaço.”

Ele congela por um segundo antes de alcançar o armário


sobre sua cabeça. “Devidamente anotado.”

“Geralmente, leva cerca de duas semanas para que os


hematomas desapareçam nos Norms. Provavelmente leva
menos tempo para você, mas se você quiser emprestado um
pouco de corret...”

Phoenix se vira tão rápido que ele não passa de um borrão.


“O que você está fazendo, Daisy?”

Com os olhos arregalados, respondo: “Nada. Só estou


tentando ajudar. Você se ofereceu para me alimentar, afinal.”

“Quem disse que preciso de ajuda?”


“Você está usando óculos escuros dentro do seu
apartamento. Não é preciso muito para adivinhar que você não
quer que as pessoas saibam que alguém o nocauteou na noite
passada.”

Com um movimento brusco, Phoenix remove seus óculos


escuros, jogando-os violentamente para o lado, onde eles
batem contra a parede. Seus habituais olhos verdes brilhantes
são tempestuosos e cheios de raiva. Dou um passo para trás,
lamentando dizer qualquer coisa. Por que continuo
esquecendo que Phoenix e seus amigos não são homens
comuns?

“É melhor eu ir embora.” eu digo.

“Você vai sair quando eu disser que pode.”

“Bem, eu não quero seus ovos estúpidos ou café chique.


Prefiro passar fome.”

Mais rápido do que posso piscar, Phoenix está na minha


frente, invadindo meu espaço. Com seu corpo volumoso, ele me
enjaula no balcão. A ponta dura pinica minhas costas. Coloco
minhas mãos contra ele, na esperança de encontrar
discretamente uma arma para adiar o que quer que Phoenix
queira fazer comigo.

“Você não está interessada na minha oferta de ramo de


oliveira, mas com certeza quer se intrometer nos meus
negócios pessoais.”

“Eu não estava tentando me intrometer. E não chamaria


me forçar a tomar café da manhã com você como um ramo de
oliveira.” digo enquanto minha mão direita encontra algo frio e
sólido. A tigela com a mistura de ovos.

“Você poderia ter me enganado. Dê uma boa olhada,


Daisy.” Ele aponta para o olho roxo. “Os Norms não são os
únicos que recebem mãos de merda.”

“Alguém lhe deu um olho roxo, e agora você acha que sua
dor é igual à minha?” Eu pergunto com os dentes cerrados. A
dor da morte de meus pais retorna com uma vingança. “Você é
um idiota tão arrogante.” Pego a tigela e jogo seu conteúdo no
rosto de Phoenix.

Ele dá um passo para trás, limpando a bagunça. “Que


porra é essa!”

Eu corro para a porta. Morpheus não trancou quando


saiu, um detalhe que notei. Envolvo minha mão em torno da
maçaneta, a única coisa que posso fazer antes que uma grande
força invisível me puxe de volta. Eu atravesso a sala, parando
apenas quando minhas costas batem na parede. Estilo
propagação de águia12, não consigo me mexer. Estou colada à
superfície dura na mesma posição em que me encontrei há sete
anos.

E assim, estou de volta ao pior momento da minha vida.

Phoenix se aproxima de mim com passos medidos, o ovo


ainda pingando do queixo. Ele para na minha frente, mas a
imagem do Idol que matei está sobreposta ao rosto zangado de

12 Com os braços abertos.


Phoenix. Só que desta vez não tenho uma arma adequada para
me defender.

“Você é a garota mais estúpida que eu já conheci ou está


procurando um suicídio por Idol.” diz ele com raiva mal
controlada.

“Deixe-me ir.” eu respondo.

“Não até eu colocar algo em sua cabeça dura. Você não é


nada. Se você acha que pode vir em nosso território, nos
desafiar e não enfrentar as consequências, está seriamente
enganada, querida.”

“Eu não estava desafiando ninguém. Estava me


protegendo. Mas acho que você nunca encontrou uma Norm
que revide, e isso está te irritando, não é? Você acha que somos
mansos, inferiores.”

“Eu não acho. Vocês são.”

Eu rio quase delirantemente. “Se você realmente acredita


nisso, então é um tolo. Você sabe qual realmente é a verdade?
Vocês Idols temem os Norms. Nós não possuímos poderes
divinos, mas somos a maioria. É apenas uma questão de tempo
até nós encontramos uma maneira de aniquilar todos vocês.”

As narinas de Phoenix se abrem. Ele pega minha garganta


com as mãos nuas e pressiona os dedos em torno dela. Mas ele
não me sufoca, apenas congela e olha nos meus olhos. A raiva
ainda está lá, mas algo mais também.

Dúvida. E arrependimento.
Depois do que parece uma eternidade, ele me libera e dá
um passo atrás. O poder que me segura na parede desaparece
e eu caio de bunda.

Ele se vira e diz em voz baixa: “Vá embora. Agora.”

Ele não precisa dizer duas vezes. Eu me levanto e saio pela


porta o mais rápido que posso.
Phoenix

PROPOSITADAMENTE me fiz desaparecer no Domingo depois


da minha briga com Daisy. Rufio e Bryce ficaram fora o dia
inteiro, lidando com os pais por terem perdido o jantar na noite
anterior. Eu nunca vi quando Morpheus voltou desde que me
tranquei no meu quarto o resto do dia.

Ficar sozinho me deu tempo para pensar, analisar as


últimas palavras de Daisy para mim. Não pensei muito nisso
quando Morpheus afirmou que ela era uma má notícia. Ele é
propenso a ser pessimista, nosso prenúncio. Mas Daisy está de
fato tentando nos destruir. Ela me disse corajosamente.

Eu deveria tê-la matado então. Teria sido tão fácil, como


esmagar um inseto sob o meu polegar. Mas enquanto eu estava
com a mão em volta do pescoço, ela me lembrou de mim
mesmo. Perdi a conta de quantas vezes meu pai me manteve
nessa mesma posição. Preso, sujeito a seus caprichos
perversos.

Por esse motivo, não consegui acabar com ela. Digo a mim
mesmo que esse foi o único motivo, mas no fundo sei que há
mais.

Não precisava arrastá-la para o meu apartamento e


preparar o café da manhã. Eu poderia ter mentido para ela
sobre o meu olho roxo, ou assustado ela em silêncio. O ponto
principal é que tem um domínio sobre mim, quer ela saiba ou
não, e eu não posso permitir isso. Já sou uma pessoa em
cativeiro, e isso é demais.

O desejo de esquecer o dia da escola é grandioso, mas


lembro que temos aulas de matemática com Daisy nos dois
primeiros períodos. Mal posso esperar para realmente começar
a tornar a vida dela um inferno.

Os caras estão prontos para ir quando eu entro na sala


apenas seminu.

“Você vai se atrasar.” diz Morpheus por cima da borda da


caneca de café.

“O que aconteceu com o seu rosto?” Rufio pergunta.

Eu dou de ombros. “Uma partida de tênis intensa que


ficou um pouco fora de controle. Você deveria ver o outro cara.”

Rufio franze a testa enquanto tenta cheirar a mentira. Eu


não me importo se ele sabe que estou mentindo, desde que ele
não conheça a verdade.

“Isso é idiota, mas infelizmente você não ganhou o troféu


mais idiota da semana.” diz Morpheus. “Essa honra vai para
Bryce.”

Eu olho para o cara. Ele está lendo um livro, com o queixo


baixo. Tudo o que ele faz é ignorar Morpheus. Quem me dera
poder ignorar as coisas tão facilmente como ele. Parece que
nada perturba o irmão mais velho de Rufio.
“Antes de irmos, eu quero falar sobre Daisy.” eu digo.

“O que tem ela?” As sobrancelhas de Rufio se


franzem. Surpreendentemente, isso chama a atenção de Bryce
também.

“Acho que é hora de ampliar os jogos. Ela não é uma típica


Norm, e isso é um grande problema.”

“Estou com você lá.” diz Rufio. “Ela é uma puta do caralho,
e precisa aprender o seu lugar.”

“Então, isso significa que ninguém mais quer transar com


ela?” Morpheus pergunta.

Há um tremor quase imperceptível de Rufio e uma leve


carranca de Bryce. Droga. Se ela já conseguiu prender Bryce,
o filho da puta mais frio que eu conheço, em sua teia, então
nós definitivamente a subestimamos.

Rufio finalmente responde: “Ela não vale a pena.”

Ele está mentindo, o que não me surpreende. Perigosa ou


não, ela tem uma bunda gostosa.

“Bem, o que você decidir fazer, por favor, não comece


durante a aula de matemática.” Morpheus levanta a alça da
bolsa por cima do ombro. “Gostaria de aprender algo hoje, não
ser distraído por suas travessuras.”

“Tudo bem, nerd. Vamos esperar até a hora do almoço.”


digo por cima do ombro.
Morpheus está do lado de fora no próximo segundo. Seja
como for, não precisamos dele.

“Como exatamente você planeja fazer Daisy desistir de seu


lugar na Gifted Academy?” Bryce pergunta.

Eu levanto meu telefone. “Talvez seja hora de o corpo


discente conhecer um pouco mais os antecedentes de Daisy.”

“O que você tem aí?” Rufio pergunta.

“Oh, apenas uma lembrança que recebi de Unearthly


Desires.”

“Você gravou a performance de Daisy?” As sobrancelhas


de Rufio disparam para o céu.

Eu deixei meu sorriso largo responder por mim.

“Seu filho da puta. Como é que você não nos


contou?” Rufio agora está me encarando com adagas.

“Eu sabia.” Bryce responde, voltando o olhar para o livro.

“Bem, eu mal tinha consciência.” retruca Rufio.

“Então, seu plano mestre é transmitir o vídeo de Daisy


para toda a escola? Isso é tão... ensino médio. E honestamente
não vale o castigo que a administração da escola vai
distribuir.” Bryce vira uma página de qualquer romance que
esteja lendo.

“Ok, agora você está me ofendendo. Eu não estou


enviando o vídeo do meu próprio telefone.” eu respondo.
“Você vai pedir a alguém do seu fã-clube que faça isso por
você.” Os lábios de Rufio se curvam em um sorriso.

“Precisamente, e eu conheço a garota certa para o


trabalho.”

***

Morpheus

Por mais que eu queira participar da eliminação da Norm,


tenho outros assuntos a ocupar minha mente, como entender
matemática. Por que números e equações me escapam tanto?

Rufio e Phoenix melhor controlarem sua sede de


destruição durante as aulas. Não posso permitir que o Sr.
Atkins cancele a aula por causa de suas brincadeiras. Eu
preciso de cada minuto que puder. Talvez eu não precise de
um tutor se estudar.

Como se eu a convocasse com meus pensamentos, Daisy


entra na sala de aula antes de Rufio e Phoenix chegarem. Ela
olha brevemente na minha direção antes de desviar o olhar e
se sentar na frente da mesa de Phoenix. Sua aparência não é
a melhor, não que a garota possa ser feia. Ela está mais pálida
do que o habitual, e suas olheiras são evidentes. Ela deve ter
tido um fim de semana difícil.

Conhecendo Rufio e Phoenix, sua semana não vai


melhorar. Seja como for, esse não é o meu problema.
Pela primeira vez, minhas sombras não despertam na
presença dela. Talvez Daisy não tenha sido o gatilho,
afinal. Balanço a cabeça e foco na equação que venho tentando
resolver desde ontem. Estou preso e não consigo descobrir o
que estou fazendo de errado.

Eu levanto meus olhos para Daisy. Ela está com o queixo


abaixado e a mão de escrever está se movendo rapidamente
sobre o caderno. Estico meu pescoço, tentando ver em que
página do livro ela está agora. Cento e três. Droga. Ela já está
à frente em três capítulos. Que porra é essa? Largo meu lápis
e puxo meu cabelo para trás em frustração. Deveria ser ilegal
que os Norms fossem mais inteligentes que os Idols.

Rufio e Phoenix entram na sala assim que a campainha


final toca. Daisy não olha para cima, mas para de escrever por
um segundo enquanto seus ombros ficam tensos. Phoenix cai
ruidosamente em sua cadeira, estendendo as pernas para a
frente e esbarrando na cadeira de Daisy.

Ela olha por cima do ombro, olhos estreitados em fendas.


“Você se importa?”

Phoenix dá um de seus famosos sorrisos arrogantes. “Na


verdade, sim, querida.”

“Tudo bem, pessoal.” O Sr. Atkins bate palmas para


chamar nossa atenção. “Espero que vocês tenham tido um
ótimo final de semana. Tenho certeza de que vocês também
encontraram tempo em suas agendas lotadas para concluir
sua lição de casa.”

Ouço vários gemidos e pego algumas reviradas de olhos.


“Sim, sim. Poupe-me das suas queixas.” continua nosso
professor. “Como esta é a terceira semana de aula para 99% da
turma.” ele olha significativamente para Daisy “estamos
fazendo um teste hoje. E sim, antes que vocês perguntem,
vocês serão avaliados.”

“Foda-me.” diz Phoenix em voz alta, fazendo algumas


garotas em seu fã-clube rirem como idiotas.

“Não, obrigado, Sr. Westbrook. Por mais encantador que


eu te ache, passo a oferta.” diz Sr. Atkins.

Ele pega uma pilha de papel e as distribui para os alunos


sentados no banco da frente de cada fila. “Vocês sabem o que
fazer, peguem uma cópia e passem o resto para o aluno atrás
de você.”

Daisy tenta passar a pilha para Phoenix sem tocá-lo, mas


é claro que ele agarra seus dedos e aperta com força por um
segundo. Tudo o que ela faz é apertar a mandíbula e afastar a
mão.

Quando o questionário finalmente chega à minha mesa,


engulo o caroço que fodidamente fica preso na minha
garganta. Apenas uma rápida olhada no questionário me diz
que vou falhar com força.

***

Bryce
Eu deveria estar na aula de telecinesia avançada. Além do
currículo tradicional que todos os alunos — Idols, Fringes e
Norms — devem seguir, os Idols também podem se inscrever
em aulas personalizadas especificamente para seus dons. A
telecinese não é minha capacidade dominante e, portanto,
gosto de aprender mais sobre ela.

Mas, em vez de ir para o prédio de estudos especiais, ainda


estou no escritório da Diretora Fallon. Eu não tenho ideia do
que ela quer. Raramente sou chamado e, nas poucas ocasiões
em que isso aconteceu antes, foi graças a algo que Rufio ou
Phoenix fizeram e eu estava por perto dos idiotas.

Estou esperando há mais de cinco minutos quando ela


finalmente se junta a mim.

“Obrigada por esperar, Bryce.” Ela circula a mesa e se


senta em sua cadeira de couro cara.

Eu não respondo. Normalmente, não sou propenso a fazer


comentários sem sentido e, após o intenso fim de semana que
tive, a última coisa que quero é conversar com a diretora.

Como sempre, sua aparência é impecável. Seu cabelo loiro


curto está penteado para trás, destacando os ângulos agudos
do rosto. Não há uma única ruga em seu terno cinza escuro.

Ela se inclina para frente, descansando os antebraços na


mesa enquanto junta as mãos. “Como foram as coisas esta
manhã com seus colegas de quarto?”
Eu gemo na minha cabeça. “Você me tirou de uma das
poucas aulas toleráveis nesta instituição para me perguntar
sobre meus colegas de quarto?”

“Pode parecer uma pergunta inconsequente, mas,


considerando o que aconteceu no fim de semana passado,
preciso conhecer o humor de seus amigos em relação a Daisy
Woods.”

Inclino-me para a frente e massageio minhas têmporas


com os dedos. Dispensar nossos pais no sábado à noite rendeu
a mim e a Rufio a pior bronca de nossas vidas. Ainda estou me
afogando no sermão de meu pai sobre dever e destino. Porra,
às vezes eu gostaria de poder bater em seu rosto. Eu odeio o
filho da puta. Mamãe é um pouco mais tolerável, embora não
muito.

“Todo mundo odeia a Norm. É isso que você quer ouvir?”

Estreitando os olhos para fendas, ela responde: “Eu não


gosto do seu tom, garoto.”

“Eu não sou um garoto.” digo com os dentes cerrados.


“Vamos direto ao ponto, e você me diz o que quer.”

“Eu quero que você fique de olho em Daisy. Você é o mais


sensato. Certifique-se de que Rufio, Phoenix e Morpheus não
levem seus jogos sádicos muito longe.”

Balanço a cabeça e rio com desprezo. “Você é


inacreditável. Você trouxe uma garota Norm para a Gifted
Academy e agora espera que eu a mantenha a salvo dos outros
alunos?”
“Precisamente.”

“Se você se importa tanto com o bem-estar dela, por que a


trouxe aqui? Tenho certeza de que você teve que fazer muitos
compromissos para obter a aprovação do conselho.”

“Por que eu queria dar a Daisy uma chance melhor na vida


não é da sua conta.” Seu tom é duro, final.

Doente e cansado das besteiras, levanto-me e coloco


minhas mãos na mesa dela, inclinando-me para a frente.

“Talvez se tivéssemos tido essa conversa na semana


passada, quando você trouxe Daisy para nossas vidas, eu
poderia ter feito o que você disse, sem perguntas. Mas desde
que eu tive que ouvir você e papai nos martelar com conversas
sobre orgulho Idol e como todos os Norms devem ser
erradicados da face da Terra, estou menos inclinado a fazer o
que me dizem.”

Deixei meu poder vazar e envolvi minha volta. Todas as


luzes do escritório piscam. Ela abre as narinas e trava o olhar
no meu em uma batalha de poder. Ela sabe exatamente do que
sou capaz, apesar de nunca ter usado meus poderes contra
ela. Há uma primeira vez para tudo.

“Eu tenho um papel a desempenhar no tabuleiro dos


deuses, e você e seu irmão também.”

“Você deveria estar conversando com Rufio, então, não


comigo. Ele é o único com uma vingança contra Daisy.”

“Quem disse que não?”


Eu rio sem humor, “Certo, você pediu que ele fosse
simpático com a Norm.”

“Claro que não. Eu disse a Rufio exatamente o que ele


esperava de mim.”

Assisto com incredulidade. Ela sempre fica do lado de


papai toda vez que os Norms estavam envolvidos. Eu
suspeitava que ela realmente não concordava com ele, mas foi
só quando Daisy apareceu que eu tinha a certeza da posição
de mamãe. Rufio nunca entendeu isso. Ele acredita que os
nossos pais odeiam os Norm, o que significa que ela colocou
Rufio contra Daisy.

“Você deu a Rufio um passe livre para fazer o que ele


quisesse com Daisy, não deu?”

“Eu fiz o que tinha que ser feito.” ela responde sem um
pingo de emoção.

Droga, e eu pensei que era um bastardo frio. Eu não chego


perto da crueldade da mamãe.

“Corte a porcaria. Por que você trouxe Daisy aqui?”

Mamãe semicerra os olhos e aperta o queixo com força.


“Você saberá na hora certa.”

Fantoches. Isso é o que Rufio e eu somos para


ela. Furioso, amplio o alcance do meu poder, o que significa
que toda a seção do edifício está enfrentando problemas com a
eletricidade.
“Eu vi você ao redor da garota. Ela mudou algo em você.”
diz ela de repente, me pegando desprevenido.

Eu controlo meus poderes. A mulher é muito


observadora. Ela sempre foi capaz de dizer exatamente o que
eu estava pensando, não importa quão boa fosse a minha cara
de poker. E eu sou o mestre de expressões neutras.

“Você está errada.”

“Então, se algo terrível acontecesse com Daisy, você não


se importaria?”

“Não.” Eu respondo muito rápido, muito duro. Qualquer


tolo podia sentir a mentira.

Os cantos da boca da mamãe se contraem. “Diz o cara que


derrubou quatro Idols em um piscar de olhos para defender a
Norm com a qual ele não se importa. Certo.”

“Isso não teve nada a ver com Daisy. Eu não deixaria


aqueles idiotas de Hawk City fazerem estragos no meu
território.”

“Você pode continuar mentindo para si mesmo, mas não


pode esconder a verdade de mim. Eu te conheço a vida toda,
afinal.”

“Como se isso importasse, mãe.”

Eu giro e saio do escritório dela, sem me preocupar em


fechar a porta. Mas eu frito todos os circuitos em seu
escritório. O som de sua maldição alta não apaga o
aborrecimento que corre em minhas veias, mas é satisfatório,
no entanto.

Minha diversão é interrompida. Eu sabia que minha mãe


estava tramando. Daisy não ganhou uma bolsa de estudos na
Gifted Academy por acaso. Mas eu relaxei. Não me incomodei
em olhar para o passado dela para descobrir o que havia de tão
especial na garota. Que ela é destemida e não se curvar para
nós Idols não pode ser a única razão pela qual minha mãe
passou por todos os problemas para trazê-la aqui. Não, há
mais do que isso, e agora que ela está debaixo da minha pele,
tenho que descobrir exatamente com o que estou lidando.
Daisy

Já é o meio da semana, e estou exausta de olhar


constantemente por cima do ombro. Até agora, meus adoráveis
vizinhos me deixaram em paz. Sem comentários maliciosos,
sem visões inadequadas. Nada. O que significa que o golpe,
quando vier, será devastador.

Os serviços de orientação de Toby não são mais


necessários, mas ele continua a sair comigo mesmo assim. Não
sei por que ele quer arriscar o bullying que certamente sofrerá
só por se associar a mim. Suponho que ele agora tenha um
motivo oculto, que é me perguntar sobre Rosie. A diferença de
idade de três anos entre eles deveria me incomodar, mas a
probabilidade de que alguma coisa saia dessa paixão é
pequena. Quando Toby encontraria tempo para namorar
minha irmã? Realmente não sei como alguém pode ter uma
vida social estudando aqui. Sair no último final de semana é
um evento que não repetirei tão cedo.

Estou de volta à aula de matemática, que está se tornando


a minha matéria menos favorita, graças ao trio de
imbecis. Essas duas horas confinadas em uma sala com eles
envia meus níveis de ansiedade para o telhado. Até o final do
semestre, vou ter uma úlcera. Para ser sincera, gostaria que
eles fossem em frente com o que já estão planejando. A
antecipação está me matando.

Sr. Atkins inicia a aula entregando os questionários que


fizemos na segunda-feira. Quando ele me dá o meu, ele diz:
“Bom trabalho, Srta. Woods. Tenho que dizer que estou
impressionado.”

Nota máxima. Eu tenho um A+. Sempre fui boa em


matemática, mas estou um pouco surpresa por não ter
respondido mal ao questionário. Minha cabeça simplesmente
não estava cem por cento nele.

“Filho da puta.” Phoenix grita atrás de mim. “Eu tenho um


C?”

“Você tem sorte de não ter conseguido um F. Péssimo, Sr.


Westbrook.” responde o professor.

Percebo quando Phoenix paira sobre meu ombro para


olhar para a minha nota. Minha coluna fica rígida em um
instante. Ele está muito perto, muito perto.

“Você deve estar brincando comigo. Como conseguiu um


A+?”

“Ela provavelmente trapaceou.” Cherise Blake, que


geralmente senta ao meu lado, zomba.

“Não, eu sou simplesmente mais esperta que você.” digo


com um encolher de ombros. “É uma pena que poderes divinos
não incluam automaticamente um cérebro.”
A garota torce o rosto em uma carranca com raiva. “Você
está me chamando de idiota?”

“Se a carapuça serviu.”

Tudo acontece rápido demais para eu sair do


caminho. Com um grito de guerra, Cherise pula da cadeira e
me empurra da minha, aterrissando em cima de mim. A queda
me surpreendeu momentaneamente, e os dois segundos de
letargia vão me dar um soco no rosto de um punho feito de gelo
sólido.

Merda, essa cadela louca é uma elementar.

Mas de repente Morpheus aparece atrás dela. Cercado por


uma aura tão escura que ele quase se assemelha a um
espectro, ele agarra o pulso da garota e a puxa de cima de mim.

Ela grita quando ele quebra o gelo em torno de sua mão,


mas não a solta até que o Sr. Atkins os separa.

“Que porra você pensa que está fazendo?” ele grita,


observando Morpheus e Cherise.

“Ele tentou usar seu presente contra mim.” Ela aponta um


dedo trêmulo na direção de Morpheus.

O Sr. Atkins olha para mim. “Você está bem, Srta.


Woods?”

Esfrego meu ombro esquerdo, que sofreu o impacto da


queda. “Sim, eu estou bem.”
Olho na direção de Rufio, sentindo seu olhar. Seus olhos
azuis são ilegíveis e seu rosto se assemelha a uma estátua de
mármore. Que diferença do garoto que me beijou tão
apaixonadamente três noites atrás.

Uma mão aparece na minha linha de visão. Phoenix. O


inferno congelará antes que eu aceite a ajuda dele. Afasto a
mão dele e levanto sozinha.

“Você realmente é demais, Norm.” diz ele com raiva mal


contida.

“Já chega. Srta. Blake, tire sua bunda da minha sala de


aula neste instante.” O professor aponta para a porta.

“Com prazer.” Ela zomba de mim.

“É melhor você ir imediatamente ao escritório da Diretora


Fallon se quiser continuar estudando nesta escola.” ele
responde.

Com um bufo, ela recolhe suas coisas e sai da sala.

“Sr. Westbrook, ajude a Srta. Woods com sua mesa e


cadeira.” ordena o Sr. Atkins.

Phoenix se senta e estica os braços e as pernas. “Ela pode


fazer isso sozinha.”

O Sr. Atkins aperta a ponte do nariz. “Por favor, não me


faça mandá-lo para o escritório da diretora também. Lidar com
um idiota é suficiente por um dia.”
“Eu faço isso.” anuncia Morpheus, ganhando olhares
surpresos dos dois amigos.

Silenciosamente, ele coloca a mesa e a cadeira de volta em


seus lugares e depois volta para o dele.

“Obrigada.” eu digo, mas ele não olha na minha direção.

O murmúrio alto dos alunos conversando continua. O Sr.


Atkins tem que bater palmas alto para chamar a atenção da
sala mais uma vez. Ele faz uma piada sobre a situação e depois
retoma a aula como se nada tivesse acontecido.

Quanto a mim, não consigo me concentrar na merda da


aula. Eu menti quando disse que estava bem. Meu ombro
esquerdo está latejando. Amanhã haverá um machucado
enorme, tenho certeza. Eu nem ouço a campainha tocar; só sei
que a aula acaba quando os alunos começam a sair.

Phoenix bate na minha cadeira novamente, me


empurrando com força. Babaca. Eu socaria seu rosto se não
achasse que iria quebrar minha mão no processo. Posso
encarar furiosamente suas costas largas em vez disso.

Rufio passa pela minha cadeira em seguida. Nem preciso


olhar para saber que é ele; o cheiro de sua colônia já é
suficiente. Formigamentos correm pela minha espinha, e eu
amaldiçoo meu corpo e sua reação a ele. Parece que está
desconectado do meu cérebro e não entende que Rufio ficou
comigo e agora está fingindo que sou uma estranha. Apesar de
saber o tempo todo o que ele é, estou me sentindo mal. É como
se eu tivesse desenvolvido sentimentos pelo idiota, o que seria
razão suficiente para me internar. Quem se apaixona por seus
atormentadores? Mulheres doentes da cabeça, é isso.

Quando ele se foi, começo a recolher minhas coisas e


percebo que não sou a única aluna que ficou para
trás. Morpheus está parado ao lado da minha mesa,
esperando, ao que parece, por mim. Seus dedos estão
enrolados em torno da alça da mochila. Ele parece
tenso. Ótimo.

“O que?” Eu pergunto.

“Gostaria de retomar nossas sessões de tutoria.” ele diz


simplesmente. Não é uma pergunta, mas também não é um
comando.

“E se eu não quiser mais te ensinar?”

Também não queria ensiná-lo da primeira vez, mas agora


estou disposta a lutar contra a decisão da Diretora Fallon. Eu
não vim para a Gifted Academy para ser forçada a ensinar
alguém que me odeia. Foda-se isso.

O olhar de Morpheus escurece, mas a emoção é


passageira. Sua sobrancelha se levanta e ele me mostra uma
versão de si mesmo que eu não vi até agora, uma não
ameaçadora.

“Eu ficaria surpreso se você quisesse, mas estou te


implorando.”

“Você está me implorando?” Eu levanto uma sobrancelha.


“Eu não sabia que os Idols eram capazes disso.”
Ele enfia as mãos nos bolsos da jaqueta. “Não posso falar
pelo resto dos Idols, mas sou capaz de muitas coisas que você
não pensaria ser possível.”

Cruzo os braços na frente do peito. “Quão mal se saiu no


teste?”

Morpheus respira fundo e tira um pedaço de papel


amassado de um dos bolsos.

“Você conseguiu um D. Isso não é tão terrível. Você pode


se recuperar.” eu digo.

“Não, não vou conseguir me recuperar. Estou tão atrasado


que nem é engraçado.” Ele amassa o papel do questionário em
uma bola apertada e a enfia no bolso novamente. “Eu posso
pagar você.”

Eu gostaria de ser uma daquelas pessoas que colocam os


padrões morais e o orgulho acima de tudo, mas, porra, eu vivi
na pobreza por muito tempo para recusar dinheiro em troca de
um trabalho honesto.

“Quanto?”

Os olhos de Morpheus se tornam mais vívidos. Ele sabe


que sua isca funcionou.

“Cinquenta por reunião.”

“Dobre isso e faça-o por hora e você tem um acordo.”


Ele aperta os olhos levemente, seus lábios se
transformando em uma linha plana. “Bem. Você tem um
acordo. O que você está fazendo no almoço?”

“Uh, comendo?”

“Nós podemos fazer as duas coisas.”

“Não, não podemos. Se você realmente quer aprender


alguma coisa, não podemos ter nenhuma distração.”

“Vamos comer na minha casa. Eu posso fazer bons


tacos. Definitivamente melhor do que a comida que a cafeteria
serve.” Ele começa a se mover em direção à saída.

“O que há de errado com a biblioteca?”

“Estou na lista de merda da Sra. Wilkins.” ele responde


casualmente, depois se dirige para a saída. Na porta, ele para
e olha por cima do ombro. “Até mais, Daisy.”

Eu apoiei minha cabeça em minhas mãos. Apenas


concordei em passar uma hora sozinha com um dos meninos
mais mortais da escola. Tenho que checar minha cabeça. Este
é um caso para a ala psiquiátrica.
Phoenix

ESPERO meu tempo, deixando a ansiedade de Daisy


crescer a cada dia que não tomamos medidas contra ela. Não
sei por que Rufio está decidido a se livrar da garota tão
rapidamente. Ele queria matá-la antes, mas agora é
pessoal. Ela conseguiu irritá-lo também. Ela é a garota mais
estúpida viva ou a mais perigosa. Não vou esperar para
descobrir.

Toda vez que eu tentei ajudá-la, mesmo sem segundas


intenções, ela praticamente me disse para me foder. Fui
tratado como lixo por meu pai toda a minha vida, mas eu não
posso escapar de seu abuso, ainda. Mas a merda de Daisy? Eu
não preciso aceitar isso. Mesmo que ela me deixe duro com seu
olhar desafiador, mesmo que eu ainda a veja nua, se
contorcendo debaixo de mim de prazer enquanto mergulho
meu pau profundamente em sua vagina, eu a destruirei.

A porta do escritório da diretora se abre e a garota que eu


estava esperando sai. Cherise Blake, uma Fringe de alto nível,
amarga por perder o título de Idol por apenas um nível. Ela
segue Drusilla Dharma por aí como um filhote de cachorro,
atendendo a todos os caprichos da rainha Idol. Mas ela
esfaquearia sua melhor amiga nas costas em um piscar de
olhos se isso lhe desse o status de Idol. Garotas como Cherise
são uma moeda de dez centavos, seguindo apenas a garota
mais popular da escola por conveniência.

E agora, ela vai cair nas minhas mãos. Tenho a iludido


desde que a escola começou. Sempre soube que ela tinha uma
queda por mim, mas ela não faz o meu tipo. Loira demais,
muito falsa, muito alta. Alguns caras podem considerá-la
bonita, mas eu a acho comum, como uma boneca inflável
barata.

Me empurro da parede para começar o show. Seus olhos


se arregalam quando ela me vê. “Phoenix, você estava me
esperando?”

“Sim, eu queria ter certeza de que você estava bem. A


Diretora Fallon não te fez passar um mau bocado, não é?” Eu
me aproximo, sabendo como minha proximidade afeta a
Fringe. Merda, se quisesse transar com ela aqui no meio do
corredor, eu poderia.

Infelizmente para o meu pau, tenho zero inclinação para


dormir com ela. Ao contrário da minha reputação, não sou um
jogador. Eu prefiro qualidade sobre quantidade.

“Essa cadela me deu uma semana de detenção. Meus pais


vão me matar.”

“Isso é péssimo. É completamente louco que os Idols


estejam sendo punidos por colocar uma Norm em seu lugar.”

“Não é? Droga. Eu não poderia lidar com esse pedaço de


merda desrespeitando você assim. Quem ela pensa que é?”
“Exatamente. Se a Diretora Fallon soubesse que tipo de
atividades sua protegida Norm realiza fora da escola...” digo
casualmente.

“Espera, você sabe de alguma coisa?” Cherise agarra meu


braço ansiosamente.

Olho para a esquerda e direita de uma maneira cautelosa,


depois sussurro em seu ouvido. “Um amigo meu me enviou um
vídeo de Daisy tirando a roupa no centro da cidade.”

“De jeito nenhum!” Os olhos de Cherise quase saltam da


cabeça. “Temos que mostrar esse vídeo para todos.”

“Bem, eu não posso. Se as pessoas descobrirem que eu


vazei o vídeo, isso poderia levar de volta ao meu amigo, e seria
um grande escândalo. Ele é casado com uma figura pública
muito importante.”

“Sério? Quem?”

Balanço a cabeça. “É melhor você não saber.”

“Bem, e se eu vazasse o vídeo? Ninguém seria capaz de


rastrear de volta para ele, certo?”

Oh, a alegria dos estúpidos. Não acredito que ela comprou


essa história.

“Está certo.”

“Bem, envie-me já. Mal posso esperar para destruir essa


Norm imunda.”
Meus lábios se curvam em um sorriso. Isso foi fácil
demais. Pego o telefone e pressiono Enviar a mensagem com o
vídeo que eu estava pronto para usar.

“Feito. Enviei anonimamente, só por segurança.”

Com dedos ansiosos, Cherise abre a mensagem. A música


disco no fundo está distorcida, mas o vídeo é sólido. Você pode
ver totalmente que Daisy está dançando no palco, mesmo com
a peruca estúpida que ela estava usando. Eu sei porque perdi
a conta de quantas vezes me masturbei assistindo. Agora,
Daisy preencherá os sonhos molhados de toda a população
masculina na Gifted Academy.

Um ciúme repentino me atinge do nada, esvaziando minha


alegria.

Daisy maldita do inferno. Não acredito que ela está me


roubando isso também.

“Bem, quero que todos saibam que estou por trás do


vídeo. Não posso ter ninguém pensando que ela saiu vitoriosa
da luta de hoje.”

“Não, você não iria querer isso.” Olho para o meu telefone
e franzo a testa. “Merda, eu preciso ir para a aula.”

Para selar o acordo, eu me aproximo e beijo a bochecha de


Cherise. “Vejo você mais tarde, linda.”

Há uma inspiração aguda da parte dela, e quando me


afasto, percebo que seus olhos ficaram vidrados.

Absorva tudo, querida. Isso é tudo que você recebe de mim.


***

RUFIO

Basta apenas um soco no meio para o tijolo na minha


frente se desfazer em pequenos fragmentos e poeira.

“Vá com calma, garoto. Não queremos derrubar o prédio


inteiro.” o Sr. Rogers, nosso professor de Estudos Especiais,
me repreende.

Eu giro, limpando o suor da minha testa com as costas da


minha mão. A escuridão rodando dentro do meu peito alimenta
minha raiva, e essa fúria tem que ser desencadeada em algum
lugar.

Daisy está sempre no epicentro de qualquer agitação que


eu esteja enfrentando. A idiota merecia totalmente a reação
que recebeu de Cherise na aula de matemática, mas o instinto
assassino que a cena me provocou não foi direcionado à
Norm. Eu queria pulverizar a amiga de Drusilla. Foi preciso
uma grande quantidade de autocontrole para manter minha
bunda colada na minha cadeira.

“Não é minha culpa que esses malditos obstáculos sejam


brincadeira de criança.” eu respondo com raiva.

“Tanto faz, princesa. Vá se acalmar no chuveiro. Você


destruiu coisas suficientes por um dia.”

“São apenas dez e quinze.”


“Olhe em volta, garoto. Você já demoliu metade do curso
de treinamento. Você não é o único aluno aqui.” Sr. Rogers vira
as costas para mim.

Eu fecho minhas mãos em punhos e energia crepita sobre


minha pele. Meu poder surge da boca do meu estômago, cru e
primitivo. Estou a um segundo de cometer um grande erro
quando Phoenix irrompe pelas portas das instalações de
treinamento, mais arrogante do que nunca. O sorriso malicioso
que ele estampou em seu rosto estúpido me indica que ele fez
alguma coisa.

“Sr. Westbrook. Você está atrasado.” salienta o Sr. Roger.

“Desculpe, senhor.” O olhar dele viaja do nosso professor


para a destruição que eu já causei. “Parece que alguém não
deixou muito para eu fazer.” Os olhos de Phoenix se conectam
com os meus.

“O Sr. Kent terminou por hoje.” Sr. Rogers responde com


um rápido olhar em minha direção.

Phoenix se aproxima de mim com um salto extra em seus


passos.

“Por que você está tão alegre?” Eu pergunto.

“Acabei de conversar com Cherise. Digamos que não


vamos querer pular o almoço hoje.”

“Você enviou o vídeo de Daisy para ela?” A escuridão


pressiona, fazendo meu peito apertar.
“Claro que sim. Eu mal posso esperar para ver o olhar em
seu rosto quando todo mundo descobrir sobre seu pequeno
trabalho secundário.” Phoenix ri, e eu quero dar um soco nele.

Porra. O que há de errado comigo?

Ele está fazendo exatamente o que deveria. Todos


concordamos que Daisy tinha que ir. Duas semanas atrás, eu
teria votado em assassinato. Rápido e fácil. Mas agora é como
se eu não suportasse viver em um mundo onde ela não
existe. Talvez ela não seja uma simples Norm, afinal, mas uma
espiã dos cavaleiros.

Eu nunca ouvi falar de um Idol que pudesse mascarar


seus poderes e fingir ser um Norm. Mas também não é uma
ideia exagerada. Merda. Não acredito que o pensamento nunca
me ocorreu até agora.

“Rufio, por que você está carrancudo assim? Eu pensei


que você ficaria feliz.”

“Acabei de me lembrar que tenho uma reunião com minha


mãe.”

“No meio da sua aula favorita?” Phoenix levanta uma


sobrancelha.

Já em direção à saída, respondo por cima do ombro: “Você


não ouviu o Sr. Rogers? Eu terminei.”
37

DAISY

PENSEI que nunca mais colocaria os pés no apartamento


dos Quatro Magníficos novamente. Mas aqui estou eu, apenas
três dias depois, sentada no banquinho e assistindo Morpheus
preparar seus ‘bons’ tacos. Ele puxou seus longos cachos para
trás em um coque masculino, um visual que eu sempre
associei aos fuckboys13, mas Morpheus usa bem.

“Temos apenas uma hora para comer e estudar.


Deveríamos ter nos encontrado depois da aula.” eu digo.

“Oh, nos encontraremos hoje mais tarde também.” diz ele


casualmente.

“Eu não concordei com isso. Tenho meu próprio dever de


casa para me preocupar.”

Ele se vira, segurando um prato com dois tacos


fumegantes. Coloca o prato na minha frente e depois volta ao
fogão para pegar o seu.

“Vamos, Daisy. Você está arrasando em todas as suas


aulas. É por isso que recebeu a bolsa, certo? Você é algum tipo
de gênio.” Ele descansa a bunda no balcão da cozinha ao lado
do fogão e dá uma mordida em sua refeição.

13 Homens com atitudes de garotos, sem noção e desrespeitosos; famoso chernoboy.


“Dificilmente. Eu tenho que estudar muito para merecer
minhas notas.” Eu provo o taco, e ele derrete na minha boca.

Um gemido escapa dos meus lábios. É tão delicioso.

“Eu disse que meus tacos são bons.” Ele sorri, revelando
covinhas que eu não sabia que ele tinha. E eu amo
covinhas. Elas são a minha fraqueza quando se trata de
meninos.

Eu me pego observando Morpheus sob uma luz


completamente diferente. Sempre senti uma aura ameaçadora
ao seu redor, como se ele sempre andasse nas sombras. Hoje,
a escuridão se foi e eu posso ver seu brilho.

“Por que você está olhando?” Ele faz uma careta.

O calor se espalha pelas minhas bochechas, e eu largo


meu olhar para o meu prato. “Você parece diferente com o
cabelo puxado para trás assim.”

Ele faz um som descomprometido e me sinto obrigada a


acrescentar: “Os tacos são incríveis. Quem te ensinou a
cozinhar?”

“Minha mãe.”

Sua resposta me faz pensar em mamãe. Como eu a amava


cozinhando. Gostaria de ter prestado mais atenção quando ela
tentou me ensinar algumas de nossas receitas de família, mas
eu estava mais interessada em estudar do que em aprender
habilidades domésticas.
Um nó fica preso na minha garganta e meu apetite
desaparece. Ponho o prato de lado e puxo meu livro de
matemática da minha bolsa.

“Qual é o problema? Não está com fome?”

“Eu vou comer no caminho para a aula. Vamos às aulas.


Acho que devemos começar examinando suas respostas do
questionário.”

“Ótimo. Mal posso esperar, que a humilhação comece.”

Eu levanto meu olhar para ele.

“Você não deve se culpar porque não entende matemática.


É um erro supor que cada pessoa aprende da mesma maneira.
Nosso cérebro é único e cada pessoa processa as informações
de uma maneira diferente.”

“Você acabou de pensar nisso?” Ele levanta uma


sobrancelha.

“Não, isso era apenas algo que meu pai costumava dizer.”

“Eles estão mortos, certo? Seus pais?” ele pergunta sem


rodeios, me fazendo estremecer.

“Como você sabia?”

Merda, se ele sabe que meus pais se foram, ele também


sabe quem era meu pai?
“Eu posso sentir que você foi tocada pela morte, e percebi
a mudança na sua postura quando mencionou seus pais. Foi
um palpite fácil.”

Soltei um suspiro de alívio. Ele não sabe.

“Vamos nos concentrar no que estou aqui para fazer.


Estou cobrando por hora, quer eu ensine ou não.”

“Cruel.” Morpheus tira o questionário do bolso.

“Olha quem está falando.” murmuro.

“Touché.”

***

TENHO UM TRABALHÃO PELA FRENTE. Eu deveria ter cobrado


mais a Morpheus. Quando ele disse que não entende
matemática, falou sério. Passei o almoço inteiro analisando
apenas algumas equações. O dinheiro extra será bom, mas não
posso gastar todo o meu tempo livre ensinando-o. Além disso,
se eu não o ajudar a melhorar suas notas, a trégua
terminará. Ele virá atrás de mim com armas em punho.

Aperto meu peito, lembrando o pânico que senti quando


Morpheus usou seus poderes em mim. Sou íntima do medo,
mas nunca senti nada remotamente parecido antes. Foi puro
terror que agarrou meu coração em uma prensa impiedosa.

Um arrepio percorre minha espinha apenas revivendo o


momento em minha cabeça.
Deixei a casa dele antes dele porque não posso me
atrasar. No momento em que passo para dentro do prédio
principal, onde as aulas são realizadas, sinto que algo está
terrivelmente errado. O corredor está lotado, e o lugar está
movimentado. Os alunos têm seus smartphones nas
mãos. Alguns estão agrupados, assistindo a algo que parece
muito divertido para eles. Eles levantam seus olhares para
mim quando passo, e os risos e comentários zombadores
começam. As pessoas apontam, os caras assobiam. Algum
idiota pula no meu caminho e pede um lap dance.

Que porra é essa?

Eu acelero meus passos, mas parece que quanto mais


rápido tento andar, mais apertado fica o túnel de estudantes
que bloqueiam meu caminho.

“Eu sabia que ela era uma prostituta barata.” diz uma
garota enquanto passo ao alcance da voz.

Eu aperto meu queixo com força, lutando contra o desejo


de perguntar qual é o problema dela. À frente, a multidão se
abre um pouco e eu posso ver Phoenix no final, sorrindo de
uma maneira vitoriosa. Cherise, a garota que me atacou mais
cedo, está ao lado dele.

Sem quebrar o contato visual, Phoenix envolve o braço em


volta dos ombros da garota e sussurra em seu ouvido. Um
sorriso feio corta seu rosto antes de seu olhar mudar para o
monitor de TV montado mais perto dela. Vários estão
espalhados pelo corredor, geralmente apenas transmitindo
anúncios da escola.
A tela fica preta apenas um segundo antes que um vídeo
a preencha. Não há som, mas eu sei exatamente o que foi
transmitido para toda a escola.

Minha atuação no Unearthly Desires.

O clamor e as conversas aumentam de volume, me


sufocando. Eu quero desaparecer deste lugar, mas minhas
pernas estão congeladas.

Toby vem correndo na minha direção antes de parar bem


na minha frente, sem fôlego. “Eu estive procurando por você.”

Eu não posso responder. Minha língua está presa na


minha boca.

“Vamos, Daisy. Diga algo.”

Olho por cima do ombro dele quando Rufio e Bryce se


juntam a Phoenix no corredor. Os dois irmãos estão me
encarando, com os olhos frios e sem emoção. Não sei qual dos
dois me machucou mais.

Sinceramente, pensei que Bryce fosse diferente do


resto. Eu pensei que ele se importava. E Rufio... caramba. Eu
não posso nem começar a entender o que aconteceu entre nós.

Meus olhos começam a queimar, e é isso que me tira da


minha paralisia. Não posso chorar na frente dessas pessoas.

“Toby, por favor, me tire daqui.”


Bryce

VEJO Daisy ir com o único amigo que ela tem na escola, e


não faço nada. Eu deveria ter feito todos fecharem suas
bocas. Sabia o que Phoenix planejava fazer e, apesar da
conversa com minha mãe, não fiz nada para detê-lo.

É quase como se eu estivesse testando como reagiria. Mas,


considerando o quão enojado estou com a coisa toda, o quão
miserável estou me sentindo agora, só posso chegar a uma
conclusão.

Estava vivendo em negação.

Eu me preocupo com Daisy. Não sei quando aconteceu, só


que estou no meio de sentimentos poderosos e estranhos.

Daisy se foi, mas o tumulto não parou. O vídeo ainda está


sendo reproduzido. Como uma onda, deixei meu presente
surgir através de mim, solto, liberando. Aponto para todos os
malditos monitores, não apenas cortando a alimentação, mas
fazendo-os explodir com a minha mente.

Há gritos e depois olhares aterrorizados para mim. As


luzes piscam. Eu posso sentir a tensão em cada aluno
presente. Mas destruir esses monitores de TV não é
suficiente. Eu explodo todos os smartphones ao redor também.
A Fringe ao lado de Phoenix grita, abanando a mão, que
ficou chamuscada quando o telefone fritou.

“Bryce? O que você está fazendo?” Phoenix pergunta, mas


ele mantém distância de mim.

A comoção para de repente quando minha mãe desce o


corredor, seguida pelo Sr. Atkins e pelo Sr. Rogers. Ela está
vindo direto para mim. Reduzo a exibição de poder, mas não
completamente. Estou com muita raiva para voltar à minha
posição regular e desapegada.

“Sr. Kent, qual é o significado disso?” ela pergunta.

Eu poderia dizer a verdade, mas ela realmente não se


importa. E que diferença faria denunciar Cherise e
Phoenix? Eu sabia da brincadeira e não fiz nada para impedi-
la.

“Eu fiquei entediado. Tive vontade de exercitar alguns dos


meus músculos Idol.”

Ela aperta com força o queixo. Eu quase posso ler seus


pensamentos. Ela espera um comportamento tão imprudente
de Rufio, não de mim.

“Você vai direto ao meu escritório. Agora.”

Eu controlo meu poder completamente, e as luzes param


de piscar. Agora realmente vou ouvir dela. Tenho certeza que
ela ainda está chateada por eu ter fritado todos os dispositivos
eletrônicos em seu escritório.

Ela gira ao redor. “Todo mundo, volte para a aula.”


“Vou ligar para o escritório de manutenção do edifício.” diz
Rogers.

“Não, não. O outro Sr. Kent e Westbrook vão limpar tudo.”

“Espere, por que estou sendo punido? Não fiz nada.”


reclama Rufio.

Não posso evitar a risada que borbulha na minha


garganta.

“O que há de tão engraçado, Bryce?” Phoenix olha para


mim.

“Nada. Absolutamente nada.”

***

Daisy

Basta dizer que não voltei para a aula. Mas fiz Toby ir. Não
queria que ele tivesse problemas por minha conta. Não sei ao
certo o que havia de pior hoje, o fato de que toda a escola agora
sabe o quão baixo eu tinha ido para sobreviver ou que Phoenix,
Rufio e Bryce tinham um assento na primeira fila da minha
humilhação.

Phoenix estava todo presunçoso e merda, regozijando-se


com minha queda com graça.
Por um momento fugaz, pergunto-me se suas tentativas
de amizade eram sinceras e eu errei. Mas a dúvida desaparece
rapidamente. Esse Idol não tem um osso verdadeiro no corpo.

Se a distribuição do vídeo não fosse suficiente, algum


idiota também compartilhou meu número de telefone com toda
a população masculina da Gifted Academy. Eu tive que
desligar meu telefone para evitar a leitura de algumas das
mensagens de texto mais insidiosas.

Só há uma coisa de que me orgulho hoje. Eu não


chorei. Nem mesmo quando estava sozinha no meu
quarto. Claro, isso não quer dizer que eu não estava perto de
chorar, mas pelo menos tenho isso.

Alguém bate na minha porta e eu fico tensa


imediatamente. Não me surpreenderia que um daqueles
idiotas viesse aqui para me assediar.

“Daisy, eu sei que você está aí. Abra a porta, por favor.”
Bryce diz.

“Eu não quero falar com você, ou com alguém sobre esse
assunto.”

“Eu entendi, mas preciso falar com você. Por favor.”

Seu pedido humilde torce algo em meu interior. É um


anseio e isso machuca. Como uma idiota, eu ando até a
porta. Minha mão paira sobre a maçaneta. Meu cérebro está
gritando para eu mandá-lo embora, mas meu coração está me
implorando para ouvir o que ele tem a dizer. Cometi um erro
terrível uma vez, baixando a guarda. E eu estou prestes a fazer
de novo. Meu coração vence. Otário.

Finalmente, abro a porta, mas antes de deixá-lo entrar,


aviso: “Você tem um minuto. Faça valer a pena.”

Ele concorda, mas quando eu fecho a porta atrás dele, ele


diz: “Eu posso precisar de mais de um minuto.”

“Eu não ligo.” Cruzo os braços na frente do peito.

Ele passa a mão pelos cabelos e depois olha para a minha


cama desarrumada. Amaldiçoo na minha cabeça quando o
olhar dele se concentra nos dois itens que tenho ali: o diário do
meu pai e o livro que recebi da bibliotecária.

“O que é isso?” Ele se aproxima da minha cama.

Não. Não. Não. Se ele ler alguma página do diário de meu


pai, saberá a verdade sobre mim. Então serei uma mulher
morta.

Mas Bryce ignora o diário e pega o livro grosso.

“É apenas um livro que peguei emprestado da


biblioteca.” Minha voz é muito fina, muito culpada.

Ele abre o tomo quase com reverência. “Este é um livro


raro que remonta a duzentos anos. Como você achou isso?”

“Bem, para ser honesta, a bibliotecária me emprestou.”

Bryce levanta o olhar para encontrar o meu. “Por quê?”


Foda-se. Estou tão cansada de tudo, que não vejo sentido
em esconder as informações de Bryce. “Porque eu queria
encontrar uma maneira de impedir que Phoenix entrasse na
minha cabeça.”

As sobrancelhas de Bryce arqueiam. “Oh. Ele ainda está


fazendo isso?”

“Não. Ele decidiu me punir da maneira antiga.”

Ele solta um suspiro carregado. “Sinto muito por hoje.”

“Me poupe as palavras vazias, ok? Como se você não


soubesse o que seu colega de quarto estava fazendo. Vocês
todos estavam trabalhando juntos para derrubar a irritante
Norm, me fazer fugir com o rabo entre as pernas.”

“Você está certa, eu sabia que Phoenix estava planejando


compartilhar o vídeo e não tentei detê-lo.”

Ele dá alguns passos à frente, diminuindo a distância


entre nós. O ar está impregnado de uma energia intensa, e não
tenho certeza se Bryce está fazendo isso de propósito ou não.

“Fique aí.” digo a ele. “Não se aproxime.”

“Você tem medo de mim, Daisy?” Sua voz se torna mais


rouca, mais perigosa.

Não de você, Bryce, mas da emoção louca e estúpida que


roda no meu peito. Eu deveria odiá-lo, não ansiar por seu toque,
seu beijo. Mas não posso deixar que ele saiba disso.
“Eu não estou com medo. Só não quero você perto de
mim.”

Bryce se encolhe como se minhas palavras o


machucassem. Tanto faz. Ele não vai me enganar de novo.

Ele me olha nos olhos. “Não espero que você acredite em


mim, mas eu estou realmente arrependido.”

“Você está certo. Eu não acredito em você.” Levanto meu


queixo mais alto. “E eu lamento por muitas coisas também.”

“Você está falando sobre o nosso beijo.” Ele se aproxima


mais, e eu fico presa entre querer me manter firme ou fugir.

“Sim.”

“Eu não me arrependo.” Ele dá outro passo à frente.

Eu zombo. “Por que você iria? Tudo correu bem para você
no final, não é?”

“Não, não correu. Aquele beijo não fazia parte de um


grande plano para torturá-la. Eu queria te beijar.” Ele faz uma
pausa como se estivesse debatendo o que dizer. “E eu quero te
beijar novamente agora.”

Ele rompe a distância final entre nós, pega a parte de trás


da minha cabeça, enrosca os dedos nos meus cabelos e esmaga
seus lábios nos meus. Meu corpo inteiro fica confuso. Meu
coração dispara em uma corrida louca, e a luxúria começa a
nublar meu cérebro. Sua língua invade minha boca,
incendiária e impiedosa. Aperto seu braço quando meu corpo
começa a derreter. Por que ele tem que ter o sabor do néctar
mais delicioso da face da Terra? Inebriante. Viciante. Estou a
um segundo de sucumbir ao desejo, de dar a Bryce o que ele
quer, mas meu cérebro ainda não está perdido. Traz a
humilhação de hoje.

Eu me liberto do seu domínio, e o empurro de cima de


mim com toda a força que tenho. “Nunca mais me toque de
novo.”

Bryce pisca rápido, olhando para mim como se eu falasse


Chinês. Depois de alguns segundos, ele perde o brilho confuso
em seus olhos. Seu olhar fica duro, frio enquanto ele assente.
“Como quiser.”

Uma resposta cortada. Ele está com raiva como se tivesse


o direito de estar. Idiota. Graças a Deus eu não caí no jogo dele
dessa vez.

Ele baixa o olhar para o livro ainda em sua posse, e então


segura a mão brilhante sobre a capa. O tomo abre no meio e
as páginas começam a tremer rapidamente, parando
subitamente em um local aleatório. “Aqui. Acredito que é isso
que você precisa para bloquear Phoenix da sua cabeça para
sempre.”

Ele devolve o livro à minha cama e depois se dirige para a


porta. Com a mão na maçaneta, ele se vira para mim. “Boa
sorte, Daisy.”

Não é até que ele se foi e a porta está trancada que eu


posso respirar facilmente novamente. Ainda estou tremendo
com o beijo de Bryce enquanto corro de volta ao livro para ver
o que ele marcou para mim. Isso é um pedido de desculpas por
tudo o que ele fez, ou ele ainda está jogando seus jogos
perversos?

Eu li o texto rapidamente. A solução é descrita em apenas


um parágrafo; levaria semanas para encontrá-lo. É bem
simples, mas não é fácil de conseguir: preciso usar um frasco
de sangue de Phoenix em torno do meu pescoço. Os Idols não
sangram tão facilmente. Ainda tenho a adaga de raio, mas
como no mundo vou chegar perto o suficiente de Phoenix para
cortá-lo?
Bryce

Vendo o livro que Daisy tinha no seu quarto sacudiu uma


memória há muito esquecida. Lembro-me de ter visto um tomo
semelhante no escritório da minha mãe e agora estou ansioso
para descobrir se é o mesmo livro ou se o que Daisy tem é uma
cópia. Minha aposta é na primeira.

Preciso de uma folga do terreno da escola e de todos os


Idols podres lá dentro, assim que a escola termina na sexta-
feira, dirijo até a propriedade dos meus pais no bairro mais
prestigiado da Saturn’s Bay. Uma propriedade à beira-mar,
oferece uma vista do pôr-do-sol mais bonito e atrai a inveja de
muitas pessoas que conheço.

No entanto, a bela mansão não é um lar feliz.

No dia em que me mudei para o meu dormitório na Gifted


Academy, senti como se tivesse sido libertado de anos de
opressão. Claro, minha mãe já era a diretora na época, mas
não morar sob o mesmo teto que meus pais fez uma mudança
significativa em minha vida. Não há mais sessões diárias de
lavagem cerebral sobre nossos deveres como Idols. Chega de
críticas duras e olhares de decepção do meu pai.

O portão para o terreno da propriedade abre


automaticamente quando eu me aproximo. No final da entrada
da garagem, a grande mansão branca com suas colunas de
estilo Grego e uma fonte de água opulenta na frente aparece
como uma grande fera esperando para devorar minha
alma. Tremores correm pela minha espinha, e eu aperto o
volante com mais força, meus nós dos dedos ficando brancos.

Eu odeio vir aqui.

Estaciono meu carro na parte de trás do prédio, não


querendo que meus pais estejam cientes da minha presença,
caso estejam em casa.

Ninguém está por perto quando entro na casa pela porta


da cozinha. Não que os funcionários dos meus pais se
importem. Eles são treinados para serem invisíveis, então,
mesmo que eu esbarrasse em alguém, eles não me abordariam.

A urgência de sair daqui é imensa, então vou direto ao


escritório de minha mãe, onde vi o livro pela última vez. No
meio do caminho, ouço vozes altas vindo da porta fechada.

Merda. Meus pais estão em casa e estão discutindo. Estou


prestes a me virar e sair antes de ouvir meu pai mencionar
Daisy.

Minha curiosidade é aguçada.

No domingo passado, ele não escondeu como detestava a


ideia de uma Norm estudando conosco. Mas hoje, o argumento
parece específico. Andando suavemente, me aproximo da porta
fechada e ouço atentamente.
“Não tive nada a ver com a admissão de Daisy Woods na
Gifted Academy.” responde minha mãe.

Eu bufo na minha cabeça. Me pergunto se ela já foi


verdadeira em sua vida.

“Pare com isso, Jodie. Você sempre teve um fascínio


doentio pelos Norms, algo que infelizmente passou para Bryce.”

Minha coluna está esticada. Eu nunca tive um fascínio


por Norms, por si só. Meu interesse estava nas origens do ódio
dos Idols por seres mais fracos que eles. A única Norm que
realmente me cativa é Daisy, e não sei por quê.

“Bryce detesta Norms, assim como você o ensinou.” O tom


da minha mãe é amargo.

“Você parece zangada com isso. Pensei que você tivesse


deixado essa parte do seu passado contaminado, Jodie.”

“Meu passado contaminado?” Minha mãe ri de maneira


irônica.

Algo se choca lá dentro, a quebra de móveis é o meu


palpite. Tenso, eu faço um movimento para entrar no quarto,
mas a voz da minha mãe me mantém no lugar.

“Continue. Destrua todos os móveis. Eu não ligo.”

“Eu nunca deveria ter concordado em casar com


você. Você era uma prostituta que amava Norms, e agora é
uma prostituta que ama Norms.”
O que ele está dizendo? Minha mãe estava envolvida com
um Norm antes de conhecer meu pai?

“Isso mata você, não é? Que eu amei um homem Norm,


que ele foi o primeiro a tocar meu corpo.”

“Não se iluda, Jodie. Eu nunca dei a mínima para


você. Nosso casamento foi puramente comercial, puro e
simples. Não vou negar que matar seu amante me deu uma
grande satisfação, no entanto.”

“Desgraçado!” ela grita, e o som de mais móveis sendo


destruídos ecoa pelo corredor.

“Oh, tão sensível.” Meu pai ri.

“Saia da minha frente.” minha mãe resmunga.

“Com prazer, querida. Mas mais uma coisa. Se você se


importa ao menos com a segurança daquela garota Norm que
você impôs aos nossos filhos, revogará a bolsa
imediatamente. Não sei como você conseguiu integrar o
conselho escolar com a sua simulação de bolsa de estudos,
mas há muitos pais preocupados que estão prontos para ir ao
extremo para se livrar dela.”

“Ao contrário do que você acredita, eu não tive nenhum


envolvimento na admissão dela.”

Por que ela é tão inflexível em negar seu envolvimento na


bolsa de estudos de Daisy? Ela não teve escrúpulos em admitir
a verdade para mim.
“Acho que você não vai se importar se a verme Norm sofrer
um acidente fatal, então. Eles são tão frágeis, afinal.” Meu pai
ri, um som odioso que me faz odiá-lo ainda mais.

Eu sei o que ele está implicando. Daisy não está


segura. Ela nunca esteve. Colocar uma Norm entre um grupo
de estudantes Idols foi como entregar uma gazela a um grupo
de leões famintos. A única razão pela qual ela sobreviveu até
agora é graças à aposta de Rufio e Phoenix. Agora que esses
idiotas estão entusiasmados em destruí-la a todo custo, eles
declararam a temporada aberta para Daisy.

Não enquanto eu estiver por perto, no entanto.

Eu refiz meus passos e me escondo dentro de um banheiro


no corredor bem a tempo de evitar ser pego pelo meu pai. Ouço
a porta do escritório de minha mãe se abrir, depois seus passos
altos no piso de mármore.

Atento aos sons, eu pego o som dele saindo de casa. Abro


a porta do meu esconderijo uma lasca e espio lá fora. A porta
do escritório da minha mãe está entreaberta e, do meu ponto
de vista, posso ver o caos.

Ela está andando de um lado para o outro com o celular


colado no ouvido, ignorando as peças de mobiliário espalhadas
pelo chão.

“Xavier? Sou eu.” ela diz. “Tenho que ver você.”

Há uma pausa e ela continua. “Eu sei que é perigoso, mas


isso é importante.”
Quem diabos é Xavier? Amante da minha mãe? Eu não
ficaria surpreso se ela estivesse traindo meu pai. Ele mesmo
disse que o casamento deles é uma farsa, um negócio.

“Encontro você lá. Estou saindo agora.” Ela termina a


ligação e se vira para a porta.

Eu me escondo de novo e não saio do meu lugar até saber


que ela se foi. Então corro para o meu carro. Encontrar o livro
que vim buscar terá que esperar. Eu tenho que saber que
segredos minha mãe está guardando, especialmente quando
eu sei que eles estão relacionados a Daisy.

É difícil seguir minha mãe sem revelar que estou fazendo


isso. Ela reconheceria meu carro em um instante, então
mantenho vários veículos entre nós, o que resulta em quase
perdê-la algumas vezes. Mas quando ela se move para um
bairro familiar, tenho um palpite sobre para onde ela está indo.

Ela estaciona nos fundos de Unearthly Desires, e as peças


do quebra-cabeça começam a fazer sentido. O cara no telefone
se chamava Xavier — Sr. X, o dono do famoso clube de strip.

Não pode ser coincidência que Daisy tenha trabalhado


aqui uma noite e, de repente, tenha aparecido na Gifted
Academy.

Mas qual é a conexão entre os três?

Infelizmente, não posso entrar e exigir respostas. Minha


mãe não vai revelar nada até que ela queira, então espero do
lado de fora. Minha melhor aposta é apanhar o Sr. X
sozinho. Ele é um Idol, mas não é tão forte quanto eu. Posso
fazê-lo falar.

Minha mãe não fica dentro da casa por muito tempo. Meia
hora depois, ela sai com passos apressados. O que quer que
ela tenha discutido com o Sr. X, claramente não a
confortou; sua expressão é dura e sua testa está franzida
quando ela desliza dentro de seu carro.

O Sr. X não sai do clube até horas depois. Observando a


hora no meu painel, vejo que já passou de uma da
manhã. Minha bunda está entorpecida por ficar sentada sem
me mexer por muito tempo. O segurança que estava abrindo a
porta durante o horário de funcionamento já se foi. O
estacionamento atrás do clube está deserto.

Hora de fazer a minha jogada.

Eu saio do meu carro e atravesso a rua rápido. O Sr. X


parece distraído e não percebe minha abordagem até que eu
esteja quase em cima dele.

Ele gira no local, pronto para lutar com os braços


levantados na frente dele e as mãos enroladas em
punhos. Quando ele me vê, relaxa sua postura, mas só um
pouco.

“Bryce Kent? O que você está fazendo aqui, garoto?”

“Eu preciso ter uma palavra com você.”

“Sobre o que?” Ele arqueia as sobrancelhas.


“O que minha mãe estava fazendo aqui? Ela veio falar com
você.”

“Sua mãe? Não sei do que você está falando.”

“Corte a porcaria, Xavier. Você e minha mãe estão


envolvidas em algo que envolve Daisy, e eu quero saber o que
é.”

O Sr. X encara e seus lábios se tornam nada além de uma


linha fina e plana.

“Por quê? Então você pode correr e contar ao seu pai?”

“Não tenho lealdade ao meu pai. Estou aqui por minha


conta. O que você quer com Daisy?” Dou um passo à frente,
não escondendo mais minha postura agressiva.

“Por que você se importa? Ela é apenas uma Norm,


afinal.” Ele levanta uma sobrancelha.

Sua observação sarcástica me deixa ainda mais


irritado. Eu não deveria me importar com ela, mas me
importo. E aposto que ele pode ver meu conflito tão claro
quanto o dia.

“Não é da sua conta por que eu me importo!” Minha


explosão de raiva também está carregada com uma dose do
meu presente. As luzes acima da porta dos fundos do edifício
piscam em resposta.

O Sr. X corajosamente dá um passo adiante, invadindo


meu espaço pessoal. “Eu não te conheço, Bryce. Você não
ganhou minha confiança, e também ouvi dizer que você não fez
nada para ajudar Daisy naquele mar infestado de tubarões que
você chama de escola. Então não, você não receberá uma
resposta minha.”

“Eu poderia fazer você falar.” eu respondo com os dentes


cerrados.

O Sr. X dá um passo atrás, mas não por medo. “Eu aposto


que você poderia. Mas você não vai. A única coisa que você
conseguirá de mim é isso: mantenha Daisy em segurança.”

“Por quê?”

O homem sorri. “Eu sei minha razão pela qual a quero


segura. Você conhece a sua?”

***

MEU CONFRONTO com o Sr. X deixa minha mente em espiral


fora de controle. Sem vontade de voltar ao campus, eu dirijo
por aí sem um destino em mente, repetindo os eventos do
dia. Não sei mais o que pensar. Minha mãe quer que Daisy
esteja segura ou ela tem outros planos para ela? Mais do que
nunca, sinto que somos todos peões em um jogo perverso.

Uma coisa é certa: minha lealdade não é mais cega. Há


sete anos, jurei a um deus poderoso que usaria meus dons
para purificar a Terra dos Norms e Fringes. Hoje sei que a
promessa foi um erro. Cada vez mais, acredito que os deuses e
semideuses não se importam com o destino de ninguém, sejam
eles Idols, Fringes ou Norms. Todos eles se preocupam com
seus caprichos, e não somos nada além de entretenimento.
Perdido demais na minha cabeça, não percebo que estou
sendo seguido até que um SUV acelere à frente e vire
bruscamente para a direita, empurrando meu carro para fora
da estrada. Com uma maldição, tento recuperar o controle do
veículo, mas não consigo evitar a colisão com a árvore à
frente. Meu corpo é sacudido para frente, o cinto de segurança
afundando no meu peito enquanto meu rosto colide com o
airbag. Se eu fosse um Norm ou mesmo um Fringe de baixo
nível, provavelmente teria quebrado meu nariz, mas todo o
impacto só me dá uma dor de cabeça desagradável e me deixa
tonto por um momento.

A janela ao meu lado se abre e, uma fração de segundo


depois, sou puxado do carro. A força é tão grande que rasga o
cinto de segurança em dois, como se fosse feito de papel.

Meu atacante teve a vantagem surpresa, mas essa é toda


a força que ele está me superando. Meu poder sobe da boca do
meu estômago, violento e sem limites. Eu envio o homem
segurando meu braço voando pela estrada. Ele desaparece de
vista.

“Prenda-o logo, caramba! Ele é nível dezessete!” alguém


grita na escuridão.

Uma esfera de energia se forma na minha mão. Eu puxo


meu braço para trás para jogá-lo na direção em que o grito veio,
mas videiras elétricas envolvem meu tronco e braço esquerdo,
atingindo meu corpo com uma explosão de alta tensão. Perco
o controle do meu poder por apenas um segundo, mas é tempo
suficiente para meus agressores se reagruparem.
Meu braço livre é puxado para minhas costas e mais
trepadeiras me envolvem.

“Seus tolos. Vocês acham que podem me prender?” Eu


grito.

Eu me concentro no meu poder, no turbilhão de energia


que reside no meu núcleo. Está lá, mas de alguma forma meu
acesso a ele foi bloqueado. Que diabos?

“Pode parar de lutar agora. Você não vai a lugar nenhum.”

Um homem se aproxima de mim, embora eu só possa ver


sua forma no início, graças ao brilho dos faróis de um segundo
SUV estacionado atrás do meu carro quebrado.

Quando ele para na minha frente, sou capaz de distinguir


um pouco de sua aparência. Seu cabelo é longo e ondulado,
loiro. Sua mandíbula quadrada está polvilhada de barba por
fazer, e ele está usando uma camisa preta e um cinto de couro
com a coronha de uma arma saindo de um coldre.

“Deixe-me ir, ou vocês pagarão com suas vidas.”

Ele cai no nível dos meus olhos e aperta meu queixo com
uma mão enluvada. “No tempo devido. Mas primeiro, devemos
conversar um pouco.”
Daisy

UMA outra semana se passou, e enquanto ainda estou


viva, não estou inteira. Não há machucados visíveis no meu
corpo, mas meu espírito está quebrado. Apesar da garantia da
Diretora Fallon de que quem quer que divulgasse o vídeo seria
severamente punido, suas palavras são vapor. Ela não vai fazer
nada sobre isso, nada significativo, de qualquer maneira.

Ela disse que era melhor eu tirar o resto da semana de


folga. Ela me deu um passe livre, e eu estava fraca e o
peguei. Não deveria importar o que um bando de Idols pensa
sobre mim. Eu fui quase uma stripper. Grande coisa. Fiz o que
tinha que fazer. Mas parece que eu me recupero mais
facilmente das lutas físicas do que das psicológicas. Não
consigo me livrar do aguilhão desse golpe, da humilhação, tão
rápido.

Meu telefone vibra na minha mesa de cabeceira, mas eu o


ignoro. Provavelmente é Toby ou Rosie, querendo saber como
eu estou. Não contei a Rosie o que aconteceu, então minha
conclusão é que Toby abriu a boca grande. Tanto faz.

Desligo o telefone e enterro a cabeça debaixo do


travesseiro. Eu só quero dormir o dia inteiro.
Não muito depois, ouço uma batida forte na minha porta,
seguida pela voz de Toby chamando meu nome.

“Me deixe em paz!” Eu grito da minha cama.

“Vamos, Daisy. Abra. Não me faça pedir que um de seus


vizinhos bata em sua porta por mim.”

Peste. Ele teve que trazer aqueles filhos da puta.

Com um bufo, saio da cama e atravesso o quarto para


abrir a porta e encarar Toby.

“O que você quer?” Eu lato.

Toby me dá uma olhada. “Merda, Daisy. Você parece uma


porcaria.”

“Obrigada, imbecil. Se você veio me insultar,


adeus.” Começo a fechar a porta na cara dele, mas ele a
mantém aberta.

“Não, eu vim para convidá-la para uma aula de surf.”

“O que?”

“Um passarinho me disse que você estava morrendo de


vontade de aprender, mas nunca chegou a fazê-lo.” Toby sorri
descaradamente.

Por passarinho, ele quer dizer minha irmã. Merda,


eles estão conversando, então.

“Eu não estou no clima.”


“Vamos, Daisy. Hoje há boas ondas. Vai ser divertido.”

“As praias conhecidas por suas boas ondas são todas


misturadas. A última coisa que quero é esbarrar em um idiota
da escola.”

“Não se preocupe. A Echo Cove é conhecida apenas pelos


surfistas locais, e nenhum deles daqui vai.”

Meu desejo era ficar no meu quarto o fim de semana


inteiro, mas Toby me ofereceu a oportunidade de riscar um
item da minha lista de desejos. Se eu ficar, Phoenix e seus
amigos odiosos vencem.

“Bem. Encontro você lá fora em cinco minutos.”

***

Rufio

Não quis escutar a conversa de Daisy. Isso acabou por


acontecer. É como se eu estivesse sintonizado com a garota
Norm ou algo assim, e a telepatia não é nem um dos meus
presentes. Eu estava na cozinha pegando uma tigela de cereal
quando ouvi a voz dela. Funcionou como um soco no meu
peito, dando um pontapé no meu coração.

E agora estou me preparando para bater na porta dela


como um idiota apaixonado. Não consigo dormir porra
nenhuma desde quarta-feira, quando o plano de Phoenix
funcionou perfeitamente. Ninguém viu Daisy desde que seu
vídeo humilhante apareceu.

Eu deveria estar de bom humor. Consegui o que queria,


afinal. Mas a verdade é que a sujeira na disposição de todos
está fora dos gráficos. Até Phoenix, o cérebro por trás da coisa
toda, está mais irritável do que eu já o vi. E Bryce e Morpheus
se afastaram completamente de Phoenix e eu. De fato, não vejo
Bryce desde ontem. Ele deve ter participado de uma de suas
misteriosas viagens solo.

Quanto a mim, me sinto podre. E é por isso que eu vou


atrás dela. Toby deve estar completamente por fora, porque
hoje há um enorme churrasco em Echo Cove e o local estará
cheio de estudantes da Gifted Academy. Ela precisa saber.

Estou quase saindo quando um gemido alto e cheio de dor


vem do quarto de Morpheus. Eu paro no meu caminho e vou
na direção dele.

Depois de uma batida, pergunto: “Morpheus, você está


bem?”

“Não.”

Abro a porta e entro no quarto dele, que atualmente


parece uma sauna.

“Por que está tão quente aqui?”

Morpheus está completamente escondido debaixo dos


cobertores. “Porque estou me transformando em um picolé
humano.”
“Você está doente ou algo assim?” Aproximo-me e puxo as
cobertas da cabeça dele.

Seu cabelo está emaranhado e grudado na testa. Sua pele


está pegajosa e desbotada.

“Porra, você está doente.”

“Eu não estou doente. É o meu presente. As sombras


estão mais inquietas do que nunca, e nem as pulseiras estão
ajudando hoje.”

“Que diabos isso significa?”

“Eu não sei, mas não é nada bom. Não senti nada
remotamente parecido desde aquele dia na ilha.”

Uma lasca de pavor percorre minha espinha. Tínhamos


dez anos quando nosso barco afundou graças a uma
tempestade misteriosa que nos atingiu do nada. Conseguimos
nadar até uma pequena ilha próxima e isso mudou nossas
vidas para sempre, e não para melhor.

Eu esfrego meu rosto, dividido sobre o que fazer. Preciso


avisar Daisy, mas tenho medo de deixar Morpheus
sozinho. Estou enlouquecendo. Eu não deveria me importar
com o bem-estar de Daisy, mas aqui estou eu. Porra.

“Você está preocupado com alguma coisa.” aponta


Morpheus.

“Sim. Espere, eu tenho que chamar Phoenix.”

“Ele passou a noite na casa de seus pais, eu acho.”


Morpheus assobia e fecha os olhos. “Porra.” Ele pressiona
dois dedos entre as sobrancelhas. “Estou tendo uma visão.”

“O que é?” Eu pergunto, apreensão e ansiedade no meu


tom. Morpheus não tem uma visão há mais de seis meses.

“Uma praia. Ondas. Daisy.” Ele abre os olhos de repente.


“Temos que chegar a Echo Cove.”

“O que vai acontecer em Echo Cove?”

“Eu não sei, mas Daisy está envolvida e é ruim,


Rufio. Muito ruim.”

“Eu estava no meu caminho para impedi-la de ir.”


confesso.

Morpheus se senta e joga as pernas para o lado da cama.


“Muito tarde. Ela já foi.”
Daisy

Nos dois anos que moro em Saturn’s Bay, esta é a minha


primeira vez em Echo Cove. Há ônibus que levam ao local
idílico de surf, mas eu continuava adiando. A verdade é que
não queria vir assistir todas aquelas pessoas na água quando
não podia participar. Eu não tinha dinheiro nem para alugar
uma prancha de surf, muito menos para pagar as aulas.

Hoje, o sol está fora, mas o tempo não está


escaldante. Definitivamente, há um bom swell14, e o oceano já
está cheio de surfistas esperando a onda perfeita.

“Uau, parece que todo mundo estava desejando a água


depois de tanto tempo sem ondas decentes.” Toby afunda a
prancha na areia.

A dúvida surge. “Não sei se hoje é um bom dia para


aprender. Há tantas pessoas.”

“Você vê aquela formação rochosa ali?” Toby aponta para


longe onde a praia desaparece ao virar da esquina.

“Sim? Que tem isso?”

14 No Swell as ondas são formadas dentro de zonas de geração, região onde ocorre a formação de

tempestades.
“Há um local mais calmo do outro lado. Vamos.”

Toby estava certo, não há tantas pessoas na água nesta


pequena enseada. Mais longe da costa, vejo a entrada de uma
pequena caverna. Toby segue meu olhar e diz: “Podemos
verificar a caverna mais tarde. É muito legal.”

“Não há animais vivendo lá, certo?”

“Não. Um pouco de trivialidade para você. Este pequeno


recanto na praia e essa caverna foram o que inspirou o nome
Echo Cove.”

“Realmente? Eu me sinto como uma turista e já moro em


Saturn’s Bay há dois anos.”

“Confie em mim, aposto que existem pessoas que


nasceram e cresceram aqui que não viram metade da cidade.”

Olho para minhas roupas. Eu estou vestindo um maiô


velho e uma camiseta. “Isso parece bom?”

“Sim, está ótima. Devemos?”

Olho para o oceano mais uma vez. Está me chamando.


“Certo. Vamos antes que eu corra.”

***

Rufio
Imediatamente vejo a multidão da Gifted Academy quando
Morpheus e eu saímos do meu carro. Sou muito lento para
evitar ser visto. Drusilla se vira e acena com entusiasmo.

“Rufio, aqui!”

“Porra, eu não estou com disposição para isso.”

“Ora, ora, Rufio. Você não quer interagir com a presidente


do seu fã-clube?” Morpheus responde sarcasticamente por trás
do grosso cachecol de lã que ele enrolou no pescoço, que
também cobre metade do rosto.

Uma resposta irritada seguida por “garoto-múmia” está na


ponta da minha língua, mas lembro-me da última vez que usei
esse apelido. Definitivamente, não quero repetir isso.

Tenho toda a intenção de ignorar Drusilla quando


vislumbro Phoenix rodeado de garotas. Ele está rindo como se
estivesse de volta ao seu estado normal.

“Acho que não temos mais que lidar com essa atitude
idiota.” digo.

Morpheus bufa. “Sujo, conheça o mal lavado.”

Ficamos ociosos por muito tempo e agora Drusilla está


correndo para nos encontrar.

“Oh, merda.” murmuro. “Vou me livrar dela para que


possamos encontrar Daisy.”

“Algo não está certo com Phoenix.”


Apertando os olhos, presto mais atenção em Phoenix. Ele
parece normal, o que significa que Morpheus pode sentir algo
além do olho nu. Ótimo. Antes que eu possa perguntar,
Morpheus já está indo para a praia. Ele ignora Drusilla quando
passa por ela. Ela dá a ele um olhar crítico antes de continuar
seu caminho a mim.

“Olá, Rufio. Eu estava começando a pensar que você não


iria aparecer.”

“Eu não vou ficar muito tempo.” Propositadamente não


faço contato visual com ela. Em vez disso, olho por cima do
ombro dela, tentando encontrar Daisy ou o ruivo.

Ela se aproxima de mim e toca meu peito. “Isso é ruim. Eu


estava ansiosa para passar algum tempo sozinha com você.”

Eu sabia que ficar com ela no ano passado seria um


erro. Drusilla acha que, por ser a abelha rainha, ela tem que
namorar um de nós. Fui o tolo que dormiu com ela primeiro, e
agora ela não vai me deixar em paz.

Agarro seu pulso e afasto a mão dela. “Desculpe,


Drusilla. Eu nunca fico duas vezes.”

Ela engasga e seus olhos ficam tão redondos quanto


pires. Eu ando em volta dela, não querendo ouvir o ataque de
palavras raivosas que certamente virão. Me diverti enrolando-
a por um tempo, mas agora ela só me irrita.

Finalmente chego a Morpheus e Phoenix a tempo de ouvir


o final de sua discussão.
“Pelo amor de Deus, Morpheus. Eu já disse que estou
bem. Agora vá embora.”

Phoenix empurra Morpheus para fora do caminho e se


afasta. Seu novo animal de estimação, Cherise, é rápida em
segui-lo. Ela não pode sentir que ele está prestes a
explodir? Fringe burra.

“Sobre o que era tudo isso?” Eu pergunto.

“Phoenix sendo um idiota, como sempre. Algo não está


certo com ele, mas ele não fala.”

“O problema dele está ligado à sua visão sobre Daisy?”

Morpheus balança a cabeça. “Não.”

“Ok, vamos nos preocupar com ele mais tarde. Agora,


vamos encontrar Daisy e o ruivinho.”

“Você não disse que eles iriam surfar?” ele pergunta.

“Sim.” Eu avisto Phoenix desaparecendo atrás de um


aglomerado de pedras no final da praia. “Echo Cove não é ali?”

“Acho que sim. Vamos lá.”

Areia entra no meu tênis, apenas servindo para agravar


ainda mais o meu humor já azedo. Eu deveria ter tirado meus
sapatos.

“Por que está gemendo?” Morpheus me dá uma olhada


lateral.
“Eu odeio a praia.”

“É a praia que você odeia ou a bagunça arenosa?”

“Cale a boca, Morpheus. Você parece ridículo, a


propósito.”

“Não posso fazer nada se parece que estou na Sibéria,


ok? Mas você poderia ter usado chinelos, pelo menos.”

Eu guardo minha recusa para outra hora. Nós viramos a


esquina e encontramos Phoenix com o olhar fixo no
oceano. Cherise também está olhando na mesma direção, mas
com base em sua expressão, ela não está feliz com a vista. Eu
sigo a linha de visão deles e encontro Daisy e Toby na água. Ela
está na prancha de surf, tentando romper as ondas com a
ajuda de Toby. Ciúme feio lança em meu peito. Aquele garoto
ruivo está muito perto dela.

Sinto a presença de alguém atrás de nós. Olhando por


cima do ombro, descubro que Drusilla e uma de suas servas
também nos seguiram. Porra, ótimo.

“Essa é a stripper?” Drusilla pergunta.

Phoenix e Cherise olham em nossa direção. Os olhos de


Phoenix brilham de raiva. Não tenho certeza para quem ele
está apontando sua ira.

“Eu pensei que ela tinha aprendido a lição.” Cherise


zomba.

“A praia é pública.” responde Morpheus.


Seu comentário a deixa ainda mais irada. Ela não é um
Idol, mas é uma poderosa Fringe, e eu já vi alguns deles
causarem muita dor de cabeça, principalmente quando
motivados.

“Mas o oceano é tão imprevisível.” Drusilla responde


conspirativamente.

Lancei-lhe um olhar de aviso, mas ela propositadamente


desvia os olhos e finge que não me vê.

“Filho da puta.” Morpheus murmura, e minha atenção


volta para o mar.

As águas estão agitadas agora e as ondas triplicaram de


tamanho.

Sem pensar duas vezes, sigo em direção a Cherise. Ela é


de elemento água e tenho certeza de que é responsável pela
mudança no oceano. Agarro seu braço e a puxo violentamente
em minha direção. “Pare com isso.”

“Eu não estou fazendo nada.” Ela tenta se libertar, mas eu


a seguro com firmeza.

“Que diabos, Rufio? Deixe Cherise ir.” diz Drusilla.

“Não até que ela pare com seu joguinho mesquinho.”

“Você honestamente acha que sou responsável por essas


ondas?” Cherise zomba. “Eu não sou tão poderosa.”
“Rufio, deixe-a ir. Agora!” A voz de Drusilla mudou. Eu
posso sentir o poder. Ela está tentando usar seu presente de
compulsão em mim.

Grande erro, cadela.

Soltei Cherise apenas para me virar e agarrar Drusilla pelo


pescoço. Meu poder crepita sobre a minha pele, e as veias da
minha mão e braço ficam escuras. Ela tenta se libertar do meu
aperto enquanto seus olhos se arregalam.

“Rufio, você está louco? Pare com isso!” Morpheus grita.

Mas eu já estou perdido na sede de sangue. Eu não quero


parar.

Um empurrão invisível me derruba para o lado, me


fazendo perder o controle de Drusilla. Ela cai de joelhos,
ofegando por ar e me olhando com intenção assassina.

Não preciso olhar para saber que Phoenix a salvou.

“Puta merda. O que diabos está acontecendo?” Cherise


está apontando para o céu.

Uma grande e sinistra nuvem de tempestade se formou


logo acima do local onde vimos Daisy pela última vez. Um raio
ilumina o céu, seguido pelo som do trovão. É um turbilhão
concentrado, e todos nós já vimos isso antes.

Isso não é uma tempestade natural.

Esse é o sinal de um deus.


Daisy

As coisas mudam rapidamente. Em um momento estou


submersa, contornando uma onda, e no próximo sou
encontrada pelo meu pior pesadelo. Um céu violento e escuro
paira sobre mim, combinando com a selvageria do mar. Não
sou rápida o suficiente para evitar uma onda com o triplo do
tamanho da que acabei de ficar livre e ela me bate de frente,
me enviando em espiral para o fundo do oceano.

A prancha é empurrada em uma direção diferente e a


coleira é esticada enquanto puxa minha perna. Merda. Eu
tenho que abandonar a prancha ou correr o risco de perder a
perna. É difícil, mas sou capaz de enrolar meu corpo para a
frente o suficiente para alcançar meu tornozelo.

Finalmente estou livre, mas também estou ficando sem


ar. Bolhas me cercaram, e além delas, não há nada além de
escuridão.

Porra. Onde está a superfície?

Escolhendo uma direção aleatória, chuto minhas pernas


o mais forte que posso, esperando que não esteja nadando em
direção ao fundo, e sim ao topo.
Com meus pulmões queimando, eu quebro a superfície,
ofegando por ar. Eu só tenho a chance de inalar oxigênio uma
vez antes que outra onda me envie para o abismo do mar
novamente.

Droga. Eu tenho que sair daqui.

Não tenho certeza de onde Toby está, o que apenas


acrescenta outro ponto de medo ao meu coração.

Pelo menos não estou tão desorientada como antes, então


consigo chegar à superfície mais facilmente dessa vez.

Eu respiro fundo antes de começar a procurar ao meu


redor. “Toby!”

Um flash brilhante ilumina um céu escuro por um


segundo. O som estrondoso do trovão segue. Um grande rugido
nas minhas costas me faz virar.

“Filho da puta.”

Uma onda de quinze metros está se aproximando de mim


e, pela maneira como a crista se curva, ela vai bater
exatamente onde estou. Não sei nadar rápido o suficiente para
escapar. O que devo fazer? Olho para a costa e depois para a
onda enorme. Merda. Impulsionada por um desespero louco,
vou em direção a ela. Ela se enrola completamente e começa a
se dobrar sobre si mesma. Eu respiro fundo e
mergulho. Mesmo assim, ainda fico presa no redemoinho do
impacto. Como uma boneca de pano, meu corpo desossado
gira e gira até minha cabeça bater contra algo duro e tudo ficar
escuro.
***

Phoenix

Morpheus se vira para mim e Rufio, os olhos praticamente


saltando para fora do crânio. “O que vocês estão
esperando? Tirem Daisy de lá!” Ele aponta para o mar revolto.

Em uma fração de segundo, Rufio pega a parte de trás da


camisa e a tira. Seus tênis desaparecem em seguida.

“O que ele está fazendo? Ele é doido?” Cherise pergunta.


“Ela é apenas uma Norm.”

Não, ela é mais do que apenas uma Norm.

Por mais que tentei odiá-la, destruí-la, não consigo tirá-la


da cabeça. Humilhá-la não me trouxe nada além de nojo de
mim mesmo. E depois da noite infernal que passei com meu
pai, preciso fazer algo para limpar minha alma.

Eu corro atrás de Rufio, mas ele já está desaparecendo


sob uma onda enorme. Pelo canto do olho, vejo um pouco de
cabelo vermelho na água. Toby, amigo de Daisy, chegou à
costa. Eu não estou surpreso. Se o poder que causou essa
tempestade é o mesmo que encontramos sete anos atrás, então
o garoto Fringe não é o alvo. Daisy é. E de acordo com o voto
que fizemos há muito tempo, devemos nos afastar e não fazer
nada.
Mas, contra toda a lógica, todos parecemos inclinados a
arriscar tudo, a desobedecer ao ser mais poderoso que já
conhecemos para salvar a desafiadora garota Norm.

Eu mergulho, ignorando a mordida fria da água. Usando


minha telecinesia, crio uma corrente atrás de mim, que me
impulsiona para a frente muito mais rápido. Infelizmente, isso
não me dá a capacidade de respirar debaixo d’água, então,
eventualmente, tenho que respirar.

Quando o faço, o mar está ainda mais turbulento do que


antes, e não há sinal de Daisy.

Rufio nada mais perto de mim. “Você viu ela?”

“Não.”

“Ela deve estar debaixo d’água.”

Ele respira fundo outra vez e desaparece. Eu o sigo de


perto, mas logo o perco nas profundezas do mar.

Droga, Daisy, onde você está?

Eu fico embaixo o tempo que posso. É só quando meus


pulmões estão prestes a ceder que eu aponto para a superfície
e rompo. Expirando em jorros, olho ao meu redor. As ondas
continuam batendo e o céu está furioso. Quando um raio cai,
vejo o rosto do deus nas nuvens. Duro, poderoso,
aterrorizante. Ele parece estar rindo, mas a visão desaparece
muito rapidamente. Talvez eu apenas tenha imaginado.
A cabeça de Rufio finalmente aparece acima da água, e
levo um segundo para ver que ele a pegou. Ele encontrou
Daisy.

“Ela está viva?” Eu pergunto.

“Eu não sei. Eu não acho que ela está respirando.”

Ele começa a nadar de volta para a costa, mas ele nunca


vai chegar a tempo de ajudar Daisy, mesmo com sua velocidade
de Idol.

“Segure firme. Vou te mandar para lá.” grito sobre o rugido


das ondas e do vento.

A compreensão surge nos olhos de Rufio, e ele envolve os


dois braços em volta de Daisy. “Estou pronto.”

Eu jogo meu braço para frente e envio Rufio e Daisy


voando no ar. Eles levam menos de três segundos para chegar
à costa. Eu controlo o poder enquanto eles descem e Rufio
pousa suavemente na areia com Daisy nos braços. É a última
coisa que vejo antes que uma onda gigante me enterre vivo em
uma tumba feita de água.

***

Rufio
Deitei Daisy na areia branca e macia enquanto tento
controlar minha respiração. Ela está pálida como um
fantasma, e seus lábios estão roxos.

Toby corre para o meu lado. “Ela está respirando?”

“Ela não está respirando, Rufio. Você tem que fazer boca
a boca.” Morpheus diz atrás de mim.

“Eu sei.”

“Eu posso fazer isso.” Toby se ajoelha ao lado de Daisy.

“Afaste-se dela, Fringe.” Eu o empurro forte o suficiente


para que ele recue.

Ignoro o idiota e a multidão de alunos da Gifted Academy


que estão reunidos enquanto eu bombeio o peito de Daisy e
sopro ar em sua boca.

“Vamos lá, Norm. Não se atreva a morrer.” eu sussurro.

Repito o processo várias vezes, perdendo a noção de


quanto tempo estive fazendo isso, quando Daisy finalmente
começa a tossir água. Eu a rolo para o lado para ajudá-la a se
livrar disso enquanto o alívio toma conta de mim. Eu nunca
fiquei tão aliviado ao ouvir o som de alguém arfando.

Um suéter aparece na minha frente; Morpheus desistiu de


uma de suas muitas camadas de roupas. Envolvo-o nos
ombros de Daisy e, em seguida, impulsionado por um impulso
estranho, tiro mechas de cabelo molhado e arenoso do seu
rosto.
“Daisy, você está bem?” Toby chega muito perto dela
novamente. Estou pronto para derrubá-lo quando uma mão no
meu ombro me para.

“Agora não.” murmura Morpheus.

“Onde está Phoenix?” Cherise pergunta com uma voz


estridente.

Eu enfrento o mar. As águas estão se acalmando agora e


as nuvens escuras estão se dissipando. A cabeça de Phoenix
aparece debaixo de uma onda, que o empurra em direção à
costa como se ele não pudesse mais nadar por conta
própria. Ele se levanta e cambaleia para frente até ficar fora do
alcance das ondas. Ele então cai de joelhos, respirando com
dificuldade.

Ele levanta a cabeça e pergunta: “Ela está bem?”

“Estou bem.” responde Daisy, já sentada.

Com um gemido, Phoenix cai completamente, deitado de


costas com o braço cobrindo os olhos.

Cherise se aproxima, mas pelo menos tem o bom senso de


deixar algum espaço entre ela e Phoenix. Vislumbro a multidão
e meus olhos se conectam com os de Drusilla. Se ela pudesse
matar com um simples olhar, eu estaria morto. Ela muda sua
atenção para Daisy, e seus lábios se curvam em um sorriso
odioso.

Ela não se vingará de mim. Eu sou forte demais para ela.

Daisy, por outro lado, é presa fácil.


Morpheus

As sombras retrocederam quando Rufio trouxe Daisy de


volta da beira da morte. Os céus clarearam e o oceano se
acalmou. O frio que envolveu meu corpo e penetrou em meus
ossos cedeu. Não sei por que me deram essa premonição ou
por que isso me deixa tão doente, mas pensei que o pior já
havia passado.

Não é até segunda-feira de manhã, antes do nascer do sol,


que as sombras reagem novamente. Desta vez são mais fortes,
e as pulseiras que uso não podem contê-las. A temperatura do
meu corpo cai de repente, me fazendo tremer tanto que meus
dentes batem. Alfinetes e agulhas parecem formigar meu corpo
inteiro da cabeça aos pés.

Minha mente está vazia, sem visão ou premonição, o que


me deixa completamente no escuro a respeito do porquê as
sombras estão se manifestando. De repente, a marca de raio
nas minhas costas arde como se tivesse sido tocada por uma
lâmina gelada.

Minha cabeça parece que vai se dividir em duas. Com um


gemido, aperto meu crânio com as mãos e fecho os olhos.

“Você foi contra os meus desejos. Você me desafiou. Agora


deve pagar.”
A voz parece que mil pessoas estão gritando na minha
cabeça ao mesmo tempo. É a voz do deus que conhecemos
quando nos encontramos naquela ilha de horrores. Depois de
24 horas lutando contra as criaturas mais terríveis de nossos
piores pesadelos, a divindade apareceu diante de nós. Ele disse
que passamos por suas provações e valia a pena levar os
presentes que ele nos deu no nascimento. Então ele nos deu a
marca do raio depois que prometemos exterminar Norms e
Fringes da face da Terra.

“Saia da minha cabeça!” Eu grito, sem saber onde


encontrei forças para fazê-lo.

As sombras se enrolam nos meus pulsos e viajam pelos


meus braços. Perco a sensação nos meus membros. Filho da
puta. Ele vai me congelar até a morte.

A porta do meu quarto se abre e Rufio entra correndo,


seguido por Phoenix.

“Morpheus! O que está acontecendo?” Rufio pergunta.

“Rufio, verifique suas mãos e braços. Eles estão cobertos


de sombras.” Phoenix aponta para eles.

“Ele está... me punindo.” Consigo revelar as palavras com


grande esforço.

“Quem?” Rufio e Phoenix perguntam ao mesmo tempo.

“Ele! O deus que nos marcou.”

Fecho os olhos novamente quando uma dor insuportável


se espalha pelo meu peito.
“Porra. O que podemos fazer?” Pergunta Phoenix.

“Leve-me para minha mãe.” eu digo, logo antes de um grito


rasgar da minha boca. Eu nunca senti tanta dor excruciante
antes. Droga. A morte agora seria uma misericórdia.

O deus ri na minha cabeça.

Ele não é do tipo misericordioso.

***

Daisy

Passei o resto do fim de semana me recuperando da minha


provação, mas agora é segunda-feira e não posso mais me
esconder no meu quarto. O período de graça acabou. A
Diretora Fallon não se importa que eu quase me afoguei no
oceano. Meus professores também não.

Toby me disse que Rufio e Phoenix enfrentaram o mar


revolto para me salvar, o que é desconcertante. Por que eles
arriscariam suas vidas por mim? Poder Idol ou não, eles
poderiam ter se afogado.

Sentada na beira da minha cama, respiro fundo para


reunir minha coragem. Não preciso ser um gênio para saber
que vai ser uma selva lá fora. Nunca me senti mais vulnerável
em toda a minha vida, nem mesmo quando eu estava fugindo
há muitos anos.
Você não precisa se sentir assim, Daisy. Você tem uma
arma.

Não olhei para a adaga de raio desde que ela apareceu


misteriosamente no meu quarto. Se alguém descobrisse que eu
possuo uma arma que pode matar Idols, minha vida seria
perdida, e a de Rosie também, por extensão. Mas se os
estudantes aqui estão tentando me matar, por que vou facilitar
para eles?

Antes de mudar de ideia, pulo da cama e levanto meu


colchão. Escondi a adaga no mesmo lugar que o diário de meu
pai. Quando enrolo meus dedos em torno de sua alça, uma
onda de poder percorre meu corpo. Se cada Norm tivesse uma
arma dessas em suas mãos, talvez os Idols pensassem duas
vezes antes de mexer conosco.

Meu pai estava certo. Os Idols são minoria. Por que


devemos nos curvar a eles?

A escola está cheia de fofocas. Até agora, todo o corpo


discente sabe que Rufio e Phoenix arriscaram suas vidas para
me salvar. Todo mundo olha enquanto eu ando em direção à
aula de matemática. Pelo menos eles não estão mais falando
sobre o meu desempenho vergonhoso no Unearthly Desires.

Ainda não tenho certeza de como vou reagir quando voltar


a ver meus salvadores cara a cara. Eu tenho que agradecer a
eles com certeza.

Mas nenhum deles vem para a aula de matemática. É


estranho não ter Phoenix nas minhas costas ou precisar
suportar os olhares intensos de Rufio. O que é mais intrigante
para mim é o absentismo de Morpheus. Ele está tão
determinado a melhorar suas notas, afinal.

Ele não pode estar doente, pode? Eu nunca tive muita


interação com os Idols antes de ingressar na Gifted Academy,
então, na minha cabeça, sempre assumi que eles eram imunes
a doenças que assolam os Norms e Fringes.

Na ausência do trio poderoso, Cherise não reprime seu


ódio. Ela lança insultos não tão velados para mim durante toda
a aula, mas toma cuidado para manter a voz baixa para que o
Sr. Atkins não ouça.

Eu tento o meu melhor para ignorar a estúpida Fringe,


mas meus nervos estão fritos, considerando tudo o que passei
em questão de dias. Como resultado, mal consigo me
concentrar durante as aulas e minhas anotações são
patéticas. Eu nem sequer preenchi uma página do meu
caderno.

Quando a campainha toca, indicando o fim da aula, saio


da cadeira, mas não há para onde correr. O corredor está cheio
de mais Idols que me querem fora. Pela primeira vez desde que
cheguei aqui, sinto a animosidade deles a todo vapor. Eu sabia
que seria ruim, e ainda estou surpresa com o quão difícil é
suportar. É quase como se eles estivessem se segurando
antes. Mas não posso faltar outro dia de aula. Seria covarde, e
eu não sou covarde.

A adaga de raio que enrolei em um pano e enfiei na cintura


da minha saia está quente contra a minha pele. Sinto-me um
pouco melhor por ter decidido trazê-la comigo, mas não posso
empunhá-la a menos que seja uma situação de matar ou
morrer.

Eu mantenho minha cabeça baixa enquanto caminho em


direção à minha próxima aula. As pessoas esbarram em mim
de propósito; outros me chamam de nomes. De repente, sou
empurrada por trás, mas quando giro, não há ninguém
lá. Algum idiota com telecinesia deve ter feito isso. Eu procuro
por Phoenix na multidão, mas não há sinal do Idol bonito e
odioso.

Estou quase correndo quando subo as escadas para o


terceiro andar, onde fica minha próxima aula. Quando chego
ao patamar, encontro meu caminho bloqueado por Drusilla e
suas amigas Cherise e Renata.

“Onde você pensa que está indo, Norm?” Drusilla


pergunta, veneno pingando de sua voz.

Cherise e Renata estão com os sorrisos mais feios em seus


rostos, e a pequena multidão alinhada no corredor está
assistindo a cena inteira com expressões cruéis semelhantes.

“Adivinhe.” eu respondo sarcasticamente.

A expressão de Drusilla se torce em uma careta. “Eu não


gosto do seu tom, prostituta imunda. Parece que você não
aprendeu sua lição ainda.”

Foda-se. Ela vai me mandar fazer algo horrível com seus


poderes de compulsão. Meu corpo inteiro está tenso. Eu mudo
minha atenção para as câmeras de segurança montadas
estrategicamente no alto das paredes. Drusilla percebe meu
olhar e ri.

“Se você está esperando a cavalaria chegar e salvar você,


pode pensar novamente. Tomei precauções extras. A Diretora
Fallon não está vindo para salvá-la. Ajoelhe-se!”

Pego minha adaga, puxando-a para fora da minha cintura


a tempo de Drusilla usar seu presente em mim. Seu comando
é muito forte, e não posso combater a compulsão. Meus joelhos
dobram e eu caio no chão. Presa assim, empurro a adaga na
manga, mantendo-a escondida lá.

“Agora, o que devo fazer com você primeiro?” Ela coloca o


dedo indicador contra os lábios e finge refletir.

“Faça-a despir-se.” diz um cara à minha direita. Seu


comentário é seguido por assobios e gritos de concordância.

Drusilla olha para ele. “Eu não estou aqui para atender
aos seus gostos nojentos.”

“Dru, deixe-me brincar com ela um pouco. Vingança por


me causar problemas com a Diretora Fallon.” diz Cherise.

“Você chegou lá por conta própria, cadela estúpida.” eu


respondo.

Drusilla se vira para mim com ira disparada de seus olhos.


“Cale a boca, Norm imunda.” Ela estala os dedos e meus lábios
se fecham, como se estivessem selados por seus poderes. Não
posso falar, o que significa que não posso gritar por ajuda.
Muito bem, Daisy. Bem, pelo menos ainda tenho minha
adaga e a capacidade de mover meus braços.

“Tudo bem.” Drusilla responde ao pedido de sua amiga.

O sorriso de Cherise se transforma em um sorriso


perverso e arrepiante. Ela se move em direção à fonte de água
mais próxima e, com um movimento agitado de seus braços,
cria um bico de água e aponta o jato em minha direção. Tudo
o que posso fazer é arregalar os olhos antes que uma esfera de
água envolva minha cabeça, cortando meu suprimento de
oxigênio. Bolhas se formam na minha visão enquanto eu
lentamente me afogo na frente de todas essas pessoas.

Eu posso ouvir a multidão rindo e aplaudindo, apesar da


água em volta da minha cabeça distorcer o som. Então é assim
que eu vou morrer. Morte por afogamento em terra seca.

De repente, alguém solta um grito de batalha


enfurecido. Toby vem correndo pelo corredor e derruba Cherise
no chão antes que alguém possa detê-lo. O capacete de água
quebra e eu caio para a frente, apoiando minha mão esquerda
no chão molhado enquanto ofego por ar.

“Saia de cima de mim, imbecil.” Cherise luta com o peso


de Toby.

Drusilla gira em direção a sua amiga, e a compulsão que


me mantém colada no chão desaparece. Eu cambaleio de volta
aos meus pés, puxando a adaga do seu esconderijo. Cherise
tentou me matar uma vez. Não vou deixar isso acontecer
novamente.
Renata, a segunda serva, arranca Toby da amiga. Ele solta
um grito de dor. O aperto da garota em seu braço é tão
violentamente apertado que suas pernas se dobram. Um
segundo depois, há o som de ossos estalando, e Toby grita mais
alto do que antes. A cadela acabou de quebrar o braço do meu
amigo.

Ela deixa Toby cair no chão, como se ele fosse um


brinquedo quebrado. A cena tira as últimas faixas de restrição
que me restavam. Cheia de raiva, eu carrego, adaga pronta
para atacar. Renata se vira para mim enquanto meu braço
desce em um arco, apontando para o maldito coração
morto. Mas antes que o fim pontudo se conecte com ela, sou
empurrada na direção oposta por uma força igual a um
furacão. Eu bato nos armários de metal no final do corredor
com um estrondo alto antes de cair no chão sem adaga. Minha
cabeça está latejando com o impacto e minha visão fica confusa
por um segundo.

Quando minha visão se esvai, vejo que o Idol responsável


pelo meu voo indesejado não foi um estudante, mas um
professor. Com os braços levantados, ele caminha em minha
direção. Não sei o nome dele, mas já o vi antes com a Diretora
Fallon.

Usando seu presente, ele me levanta do chão. “Você já


causou problemas suficientes, Norm. Está na hora de você se
despedir.”

Em um piscar de olhos, ele me envia voando pela


janela. Estilhaços de vidro quebrado perfuram minha pele,
mas a dor não se compara a quando eu bato no chão. Cada
osso do meu corpo parece estar quebrado, e a dor é tão
insuportável que nem consigo gritar.

O gosto amargo de cobre do sangue enche minha boca.

Eu ouço alguém chamar meu nome, mas o zumbido alto


em meus ouvidos torna impossível reconhecer a voz. Talvez eu
tenha imaginado.

Olhando para o céu azul, sei que o fim está próximo


quando manchas escuras aparecem na minha linha de
visão. Penso em Rosie, como ela ficará arrasada quando souber
da minha morte. Ela é o único arrependimento que tenho nesta
vida miserável, a única razão pela qual lágrimas rolam pelo
meu rosto sangrento.

Sinto muito, Rosie.


Bryce

MEUS sequestradores trouxeram-me para uma pequena


sala com paredes de concreto por todos os lados. Sem janelas,
apenas uma porta. A lâmpada brilhante pendurada no teto é a
única fonte de iluminação. Estou amarrado a uma cadeira com
as mãos amarradas atrás das costas. Não sei que tipo de
material eles usam para me prender, mas não posso me
libertar, nem posso explorar meus poderes. O que suscita a
pergunta: quem são essas pessoas?

Eles são Idols, isso eu poderia dizer. E o líder deles era


poderoso. Nível quatorze ou quinze, com certeza. Um fato que
me irrita ainda mais. Eu poderia destruir esses idiotas
facilmente se não fosse por essas malditas videiras. Eu nunca
ouvi falar de nada nesta Terra que pudesse tirar um Idol de
seus poderes assim.

Não tenho ideia de quanto tempo estou em cativeiro, mas


se a dormência nas mãos e nas pernas for alguma indicação,
definitivamente mais de vinte e quatro horas. Eu tive que mijar
nas calças, já que ninguém veio me deixar usar o
banheiro. Eles vieram apenas uma vez para entregar água e
uma barra de granola, que me alimentaram como se eu fosse
um bebê. A merda do lanche me fez pensar em Daisy, e o desejo
me bateu forte.
Finalmente, a porta se abre e entra o cara de cabelos
compridos, o líder dessa operação. Ele entra no círculo
formado pela luz, e eu posso ver seu rosto claramente agora. A
barba se foi. Olhos de prata afiados e inteligentes me
encaram. Ele está vestido com um terno de três peças em vez
do conjunto todo preto de antes, e seu cabelo comprido está
em um rabo de cavalo.

“Como vai esta manhã, Bryce Kent?” ele pergunta.

“Maravilhoso, porra.” eu cuspi de volta. “Quem é você e o


que quer comigo?”

O cara começa a andar na minha frente com as mãos atrás


das costas. “Depende.”

“De que?”

“Se eu acredito que você pode ser útil para a nossa causa.”

“E que causa é essa?”

Ele se vira com um sorriso nos lábios. A luz reflete no


alfinete de metal na lapela de sua jaqueta. Vejo então as
insígnias dos Cavaleiros — um cavaleiro montado em seu
cavalo, carregando uma lança. Eu deveria ter adivinhado
antes.

Solto uma risada irônica. “Você quer que eu me torne um


Cavaleiro? Você sabe quem eu sou?”

O sorriso do cara se amplia. “Claro que sabemos quem


você é, quem são seus pais. E o mais importante, sabemos do
seu envolvimento com Daisy Rodale.”
“Rodale? Eu pensei que o sobrenome dela fosse Woods.”

“Sim, ela está usando esse nome agora.”

O que os Cavaleiros poderiam querer com Daisy? Temo


que eles não tenham as melhores intenções em relação a ela, e
isso deixa meu peito incrivelmente pesado de preocupação. Eu
me esforço contra minhas amarras, ignorando a picada das
videiras contra a minha pele.

“Lutar é inútil. Você só está saindo dessa cadeira quando


eu decidir que é hora.”

“As pessoas estarão me procurando.”

“Você já está fora há mais de quarenta e oito horas e


ninguém notou sua ausência.” O cara encolhe os ombros.

Porra. Meu irmão idiota e meus colegas de quarto não


pensariam muito no meu desaparecimento até que eu não
viesse às aulas.

“Mas não se preocupe, não planejamos mantê-lo por


muito mais tempo.”

“Não vou me juntar ao seu grupo de traidores, se é isso


que você espera ganhar.”

O homem faz um som de ‘tisc’ quando balança a cabeça.


“Não estamos oferecendo associação, pelo menos não
agora. Vamos ver como as coisas vão primeiro.”

“Que coisas? Que porra você quer de mim?”


Frustração está fazendo meu sangue ferver, e ficar preso
como um Norm inútil não está ajudando meu caso.

O Cavaleiro estreita os olhos e aperta a mandíbula. Ele


não fala por vários segundos, sem dúvida apenas para me
torturar.

“Haviam certas coisas que precisavam ser colocadas em


movimento, e sua presença comprometeria esses eventos.” ele
finalmente responde.

“Que eventos?” Eu pergunto com os dentes cerrados.

“Você descobrirá em breve. Mas é melhor você se apressar,


garoto, ou sua preciosa Norm encontrará um destino do qual
ela não será capaz de escapar.”

Ele se vira e sai da sala, mas deixa a porta aberta. Um


minuto depois, as amarras me mantendo preso relaxam e
depois caem no chão. Eu pulo da minha cadeira, mas porque
estou na mesma posição há tanto tempo, só consigo cambalear
para frente, incapaz de controlar minhas pernas. Eu me inclino
contra a parede enquanto pequenas agulhas picam minha pele
quando a sensação retorna, mas eu descanso apenas por
alguns segundos antes de sair da prisão. Estou no final de um
corredor e só há um caminho a seguir, em direção ao fluxo de
luz.

Isso leva à liberdade. Eu me encontro no meio de uma


floresta; o lugar em que fui mantido em cativeiro era uma
cabana. Não há sinal do Cavaleiro ou de seus cúmplices, mas
meu SUV está estacionado em frente. Há um amassado no
para-choque dianteiro, mas o dano parece mínimo.
Eu corro em direção a ele, enquanto as últimas palavras
do Cavaleiro para mim continuam repetindo na minha
cabeça. Se Daisy estiver em perigo, tenho que voltar ao campus
imediatamente.

Atrás do volante, solto um suspiro aliviado quando o


motor ruge à vida. Eu piso fundo e saio na estrada de terra,
ignorando os danos que estou causando ao meu carro. Meu
telefone está onde eu o deixei e, por algum milagre, ele ainda
tem um pouco de bateria.

Eu vejo todas as chamadas perdidas de Rufio e Phoenix e


entro em pânico. Merda. Elas eram todas de manhã cedo, entre
as quatro e as seis. O que diabos aconteceu?

Ligo de volta para Rufio e, no quarto toque, ele atende.

“Bryce, onde diabos você estava? Estamos ligando sem


parar.”

“Eu não posso explicar agora. O que está


acontecendo? Onde está Daisy?”

Há uma longa pausa antes que meu irmão finalmente


responda. “Merda, cara. Muita coisa aconteceu. Você escolheu
o fim de semana errado para desaparecer.”

“Apenas responda à pergunta logo. Daisy está bem?”

“Eu não sei. Mas ouça, Bryce. Você precisa voltar para a
escola o mais rápido possível. Merda aconteceu no último
sábado, e Daisy não está segura.”
Meu estômago se enrola com força. “Por que você não está
na escola?”

“Morpheus ficou muito doente e tivemos que trazê-lo para


sua mãe.”

“O que aconteceu com ele?”

“Ainda não sabemos. Mas não se preocupe com


Morpheus. Phoenix e eu lidamos com isso. Você precisa checar
Daisy.”

Há desespero na voz de Rufio, o que significa que ele não


está brincando. Ele também está extremamente preocupado
com uma garota que, não muito tempo atrás, ele estava
interessado em destruir.

A chamada é interrompida repentinamente. A tela preta


diz que meu telefone acabou de morrer. Ótimo. Porra, ótimo.

Saio da estrada de terra no próximo segundo. Quando


volto à estrada principal, eu me oriento. Este é o local em que
fui cortado pelos cavaleiros. Isso significa que estou a apenas
dez minutos da escola. Pressiono o acelerador. Eu posso voltar
em cinco.

O mundo inteiro lá fora se torna um borrão. Passo carros


na estrada como um maníaco. O painel diz que eu já estou indo
tão rápido quanto meu carro permite, mas ainda não é rápido
o suficiente. Um sentimento terrível tomou conta de mim, uma
grande sensação de destruição.
A energia serpenteia em volta dos meus braços e mãos,
espalhando-se sobre o volante e depois desaparecendo pelo
painel. O motor ruge mais alto do que antes. O monitor de
velocidade mostra que o SUV está indo mais rápido do que o
possível. De alguma forma, estou dando mais força à máquina.

O portão da Gifted Academy finalmente aparece no


horizonte. Com um movimento da minha mão, eu o forço a
abrir. É isso ou colidir com ele. Dirijo direto para o prédio
principal, onde as aulas são ministradas. Mas antes de chegar
às portas principais, pego alguém voando pela janela do
terceiro andar, no lado norte.

Daisy.

Pressiono os freios e o carro para. O cheiro de borracha


queimada atinge meu nariz quando eu pulo para fora do carro.

“Daisy!” Eu grito.

Não, não, não. Estou atrasado.

Corro a uma velocidade vertiginosa e a alcanço apenas


alguns segundos depois que ela colidiu contra um solo
sólido. Seu corpo está completamente mutilado. Sua perna
direita está torcida em um ângulo estranho, o osso
exposto. Estilhaços de vidro cortam seus braços, tronco,
pernas e rosto.

Caio de joelhos, com medo de tocá-la. “Daisy, fale comigo.”


“Bryce. Isso machuca muito.” Ela estremece e suas
pálpebras se fecham parcialmente. “Faça parar.” ela sussurra
em uma voz minúscula.

Meu coração parte, depois se despedaça completamente,


e algo estranho acontece nos meus olhos. Eles começam a
queimar, e então a umidade escorre pelas minhas
bochechas. Estou chorando.

Eu seguro sua bochecha com cuidado, com medo de


machucá-la mais. “Sinto muito, Daisy. Eu deveria ter parado
eles.”

Ela fecha os olhos. A respiração dela para.

“Não! Você não pode morrer!”

Sem saber o que mais fazer, começo a bombear seu peito


e respiro em sua boca. O desespero se mistura com meus
poderes. A energia em brasa gira dentro do meu núcleo e
depois se expande até cobrir não apenas meu corpo, mas o
dela. Uma bola de luz envolve a nós dois. Não o invoquei
conscientemente, mas estou muito ocupado para me
preocupar com isso. Eu tenho que salvar Daisy.

Eu ouço uma respiração aguda dela e sinto o toque de sua


mão no meu braço. Afasto-me da boca dela e vejo que, mesmo
com todo o brilho ao nosso redor, seus olhos estão abertos. Não
apenas isso, os cortes em seu rosto se curaram
completamente, não deixando nem mesmo a menor cicatriz
para trás.
Meus olhos correm pelo resto do seu corpo. Ela está
curada. Cem por cento curada. Eu nunca soube que poderia
fazer isso.

“Bryce? O que aconteceu?”

Impressionado demais para responder, faço a primeira


coisa que me passa pela cabeça, seguro o rosto de Daisy em
minhas mãos e a beijo apaixonadamente sem reservas, sem
segundas intenções. Ela me disse para nunca mais tocá-la,
mas para o inferno com isso. Ela devolve o beijo com tanta
ansiedade, aumentando minha fome por ela. Ela tem gosto do
néctar mais doce, como a força da vida. Meu coração está
batendo como se fosse uma máquina louca, alta e caótica.

Eu a puxo em meus braços, embalando seu corpo perto


do meu peito. Ela é tão pequena e frágil, mas é a pessoa mais
forte que eu conheço. Não acredito que demorei tanto tempo
para perceber o quanto ela é importante para mim.

Eu alivio o beijo para olhar nos olhos dela. “Nunca mais


deixarei alguém te machucar, Daisy. Eu prometo.”

Seus olhos brilham mais enquanto procuram a verdade


no meu olhar. Depois de um momento, ela segura minha
bochecha e depois leva seus lábios aos meus novamente. Perco
a noção do tempo enquanto saboreio seus lábios como se eu
quisesse me afogar nela. Não é até ouvir vozes ao fundo que
quebro o beijo e olho por cima do ombro.

Um pequeno grupo de espectadores se formou perto de


nós, e minha mãe está na frente dele. Nossos olhares travam,
e por uma fração de segundo, vejo o brilho de satisfação em
seus olhos. O conhecimento não me conforta. Pelo contrário,
enche minha alma de pavor. De alguma forma, eu fiz
exatamente o que ela queria, e não preciso do presente de
Morpheus para saber que não será um bom presságio para
alguém próximo a mim, especialmente Daisy.

Eu seguro Daisy mais apertado. Quis dizer o que disse a


ela. Não vou deixar ninguém machucá-la novamente, mesmo
que essa pessoa seja minha própria mãe.

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