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Copyright ©2020 Jéssica Macedo

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autor. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido
na Lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.

Projeto Gráfico de Capa e Miolo


Jéssica Macedo
Preparação de Texto
Aline Damaceno
Revisão
Ana Roen

Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas,


acontecimentos, e locais que existam ou que tenham
verdadeiramente existido em algum período da história
foram usados para ambientar o enredo. Qualquer
semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.
Para as meninas do meu grudo do
WhatsApp “Leitoras da Jéssica”, por pedirem
o livro da Rachel só para terem um pouco
mais do Will.
Esse livro é para vocês!
Sumário
Sumário
Sinopse
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Trinta e cinco
Trinta e seis
Trinta e sete
Trinta e oito
Trinta e nove
Quarenta
Quarenta e um
Quarenta e dois
Quarenta e três
Quarenta e quatro
Quarenta e cinco
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Sinopse
Livro 1 - Faz parte de uma duologia.

Michael e Rachel se conhecem desde criança, e viviam em pé de


guerra desde sempre. Eram inimigos declarados, que só pararam de se
engalfinhar quando foram para universidades em continentes diferentes.

Anos se passaram. Ele se tornou o CEO de uma empresa familiar e


ela se formou em veterinária e tem a própria clínica, onde está cercada dos
animais que tanto ama. Porém, a patricinha Allen e o marrento Smith irão se
trombar em uma festa de ex-alunos e o desastroso reencontro vai provar que
o ódio ainda vibra forte entre eles. No entanto, a festa marca apenas o reinício
das desavenças, pois o destino parece determinado a manter os dois juntos.

A viagem de negócios dele e a de férias dela os colocarão no mesmo


hotel em Miami, onde será impossível evitar um ao outro.

Há uma linha tênue entre o ódio e o amor, entre a tensão e o tesão.


Michael e Rachel irão perceber que é difícil se controlarem na presença um
do outro e, em meio a explosões e descontroles, poderão acabar na mesma
cama e terem que enfrentar o sentimento que existe entre eles.
Prólogo

Vários anos atrás...

— Ele pregou chiclete no meu cabelo. — Saltei da cadeira e fui


correndo para a minha mãe quando ela entrou na sala da diretoria, onde
haviam me colocado de castigo. Lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto
eu abraçava suas pernas.

— O que está acontecendo? — Mamãe me pegou no colo e escondi o


rosto no seu peito.

— Senhora Allen, que bom que chegou. — A diretora indicou a


cadeira diante da mesa escura, que tinha uma plaquinha com o nome da
mulher. — Sente-se, por favor.

Minha mãe assumiu a cadeira ao lado da mãe do Michael. Quando


nossos olhos se encontraram, ele rosnou para mim como um cão e eu rugi de
volta. O garoto mais insuportável do mundo tentou avançar para cima de
mim, porém a mãe dele o segurou.

— Senhora Allen e senhora Smith, eu as chamei aqui hoje porque a


situação das crianças está se tornando insustentável.

— Não tenho culpa! Ele pregou chiclete no meu cabelo. — Cruzei os


braços e fiz bico. Estava muito irritada e temia pelo meu cabelo. Minha
amiga Agatha havia dito que teriam que raspar tudo. Chorava muito só de
pensar.

— Preguei porque você é chata! — Michael mostrou língua para


mim.

— Ah, mas você vai se ver comigo! — Tentei sair do colo da minha
mãe para bater nele, mas ela me segurou.

— Chata!

— Chato é você! Nanico!

— Eu ainda vou crescer. Sou criança!

— Vai nada, seu anão!

— Você é horrorosa, chorona!

— Crianças! — gritou a diretora, tentando apartar a nossa briga.

Eu rosnava como um pequeno pinscher furioso, prestes a atacar, mas


minha mãe me continha como podia. A mãe do Michael fazia o mesmo com
ele.

A diretora respirou fundo e se ajeitou na cadeira, repousando as costas


no encosto, antes de voltar a fitar as nossas mães.

— O Michael e a Rachel vivem em pé de guerra, e os professores e


auxiliares não conseguem mais contê-los. Parece que fazem de tudo para
irritar um ao outro, e é impossível mantê-los no mesmo ambiente. Estão
suspensos por indisciplina por uma semana.

— Uma semana? — Mamãe arregalou os olhos e me fitou com um ar


de decepção.

— Sim. Essa uma semana é para que vocês, como família, entrem em
um consenso para que um deles deixe essa escola. Caso contrário, ambos
serão expulsos.

— Expulsos? — exclamou a senhora Smith, abismada com a atitude


drástica da escola. — Deve haver alguma outra forma de entrarmos em um
consenso para que isso não aconteça. Acredito que tanto eu quanto a senhora
Allen desejemos o mesmo, que as crianças continuem tendo um bom ensino
aqui, com vocês.

— Se não derem um jeito no comportamento agressivo dos dois, não


nos resta outra alternativa que não seja a expulsão. As atitudes deles estão
comprometendo o aprendizado das outras crianças.

— Nós iremos conversar com eles — garantiu a minha mãe.

— Assim esperamos — assentiu a diretora, pouco confiante.

— Vamos para casa, Rachel. — Minha mãe me puxou pela mão e me


arrastou até a porta. Ela estava tentando manter a pose, mas eu sabia que, no
momento em que ficássemos sozinhas, iria me dar uma bela bronca.

O resultado daquele dia foi um corte de cabelo estilo Chanel, para me


livrar do chiclete que estava grudado nas pontas, e uma mudança de escola.
Fui para um colégio só de meninas, uma punição para o meu péssimo
comportamento. Meus pais me diziam que eu deveria me comportar como
uma dama, porém queria ver só se continuariam pensando assim se
conhecessem o Michael como eu conhecia. Não havia ninguém no mundo tão
bom em enfurecer alguém quanto ele.

Porém, acabamos nos encontrando no Ensino Médio novamente.


Paramos uma ou outra vez na diretoria, mas sem expulsões dessa vez. Era
como se o destino gostasse de brincar conosco, apenas por saber o quanto nos
odiávamos e não suportávamos a presença um do outro.

Diziam que amor de verdade durava para sempre. Sobre o amor, eu


não tinha certeza, mas sobre o ódio que eu tinha do Michael Smith, esse era
um sentimento que sabia ser eterno.
Um

Saí do meu carro e joguei a chave no bolso antes de seguir para a


entrada da minha clínica. Havia alguns tutores esperando com seus animais
na recepção e eu os cumprimentei com um sorriso ao caminhar até o balcão
onde ficava a minha secretária.

— Bom dia, Evelyn. — Apoiei a minha bolsa no balcão de mármore e


peguei um elástico para prender o meu cabelo.

— Bom dia, doutora Allen. Como foi o final de semana?

— Ótimo! E o seu? Como está o Julian?

— Ah, ele está uma graça. Já começou até a dizer as primeiras


palavras. Philip fica todo bobo quando ele fala papa.

— Imagino que sim. — Ri ao me recordar de como o meu irmão tinha


ficado um babão quando a filha disse as primeiras palavras. — Depois o traga
aqui para que eu possa vê-lo.

— Claro! — Minha secretária sorriu.

— Você está com os prontuários do Barney e do Rufi, que ficaram


internados no final de semana? Quero ver as anotações que a enfermeira e a
plantonista deixaram.

— Estão bem aqui. — Ela se virou e os puxou de um painel com vãos


em acrílico que ficava atrás dela, no interior do balcão.

— Obrigada! — Peguei as anotações e segui para o interior da clínica.


Deixei a minha bolsa na minha sala e fui para o local onde ficavam os leitos
de internação dos animais.

Aproximei-me de um gatil e o gato que estava lá dentro abriu os olhos


e me fitou. Ele era branco com listras em amarelo, e parecia menos abatido
do que quando eu o vira pela última vez. Porém, o fato de não ter se movido
com a minha aproximação me deixou preocupada.

— Como você está, rapaz? — Abri a porta do gatil e coloquei a mão,


para que ele pudesse cheirar e se recordar do meu aroma.

O gato se levantou com um pouco de dificuldade e aproximou a


cabeça da minha mão. Farejou a minha pele por alguns minutos até que se
recordou de mim e esfregou a cabeça na minha mão, todo manhoso.

— A infecção está melhor? Vamos ver como você passou o final de


semana? — Tirei a mão e li a ficha dele. — Sem vômito ou diarreia. Muito
bem, garoto! Logo vai poder voltar para casa.

Deixei-o lá e fui pegar uma dose de vitaminas e um composto


alimentar hipercalórico para dar a ele.

Após cuidar dos animais que estavam internados, voltei para o meu
consultório para atender aqueles que vieram para uma consulta.

Meu expediente estava quase terminando quando uma batida na porta


chamou minha atenção. Levantei a cabeça da tela do computador, onde
atualizava a ficha do cachorro que havia acabado de atender, e murmurei:

— Pode entrar.

— Desculpa aparecer a essa hora. — Meu irmão colocou a cabeça


para dentro da sala, balançando uma mecha do seu cabelo longo.

— William! Que surpresa vê-lo aqui. — Olhei o relógio do


computador, que marcava quase sete horas da noite. — Precisa que eu leve
alguma coisa para a mamãe ou para a Anne?

— Não. Precisamos da doutora Rachel. — Ele abriu mais a porta e


empurrou a filha para que ela entrasse, cambaleando, para dentro da minha
sala.

Rose olhou de um lado para o outro antes de parar na minha frente


com os olhinhos pequenos e lacrimejantes, que me deram dó.

— Oh, meu anjinho. — Levantei da minha cadeira e dei a volta na


mesa para agachar-me diante dela. — O que foi?

— A Miau tá dodói, tia. — Esfregou os olhinhos, toda chorosa.

— O que aconteceu? — Segurei os ombros da minha sobrinha


enquanto elevava os meus olhos a procura dos do meu irmão.

— Eu não sei. Eu tinha acabado de chegar do hotel e vi que a Lilly


estava desesperada porque a gata não parava de tossir. Achávamos que
pudesse ser uma bola de pelos presa na garganta, mas, como ela continuou
tossindo, imaginei ser melhor trazê-la para que você pudesse dar uma olhada.
— Meu irmão estava carregando uma caixa de transporte vermelha na mão e
a colocou sobre a mesa de metal na minha sala.

— A tia vai ver o que está acontecendo com a Miau, tudo bem? —
falei para a Rose, que balançou a cabeça, concordando.

Abri a caixa de transporte e olhei para a gata, que estava encolhida lá


no fundo. A tirei da caixa e a acomodei sobre a mesa. Ela estava encolhida e
visivelmente assustada. Entendi o temor da Rose, pois realmente havia algo
de errado com a mascote da minha sobrinha.

Peguei o meu estetoscópio e auscultei os pulmões e o coração da gata,


que respirava com dificuldade.

— Faz muito tempo que ela está assim? — Voltei a encarar o meu
irmão enquanto continuava o exame clínico da gata.

— Ela tossiu ontem, tia — respondeu a Rose, e o Will apenas deu de


ombros.

Ficava me perguntando a quem ela poderia ter puxado, pois a Rose,


com apenas quatro anos, parecia bem mais esperta do que os pais, que
demoraram tempo demais para se tocarem de que eram o melhor um para o
outro.

— O que acha que é? — William coçou o queixo, com a barba loira


por fazer.

— Uma infecção respiratória. — Peguei a gata no colo e me agachei


na frente da minha sobrinha, para que ela pudesse acariciá-la na cabeça. — A
Miau vai tomar alguns remédios e ficará bem.

— Que bom, tia!

Coloquei a gata de volta na caixa de transporte e fui para a minha


mesa, para registrar uma nova receita nos arquivos da gata da minha
sobrinha.

— Eu vou receitar um antibiótico e um anti-inflamatório para vocês


medicarem a Miau por dez dias. Durante esse tempo, eu apareço na sua casa
para ver como ela está.

— Obrigado, Rachel.

— Como estão a Lilly e o Drew?

— Bem. Parece que ele nasceu ontem, mas já está correndo para todo
lado.

— Vá a Green House mais vezes, você sabe que a mamãe sente


saudades.

— Ela também poderia aparecer mais vezes. Vive reclamando que


não vamos a todos os almoços de domingo, mas só vai lá em casa quando
insistimos muito.
— Sabe que ela queria que vocês fossem morar na mansão. Acha a
casa enorme e vazia demais.

— É só eles mudarem para um lugar menor. — Ele deu de ombros. —


É bem melhor morar perto do trabalho. — Piscou para mim, como se
deixasse a dica pairar no ar.

— Gosto de morar com eles. Fico feliz com a companhia. Não sei se
quero me mudar para o centro de Londres e morar sozinha em um
apartamento. Adoro abrir a minha janela pela manhã e ver o jardim da Green
House. O ar fresco me faz bem.

— Admiro a sua coragem de vir e voltar de Greenwich todos os dias.

— Já me acostumei com o trânsito.

— Tia, e o remédio da Miau? — Rose puxou a manga do meu jaleco,


chamando a minha atenção.

Terminei a receita e imprimi para entregar a ela.

— Entrega para o seu pai pra ele comprar os remédios.

— Deixa comigo. — Ele olhou o papel antes de guardar no bolso do


blazer. — Vou voltar para casa antes que a Lilly cisme de fazer alguma coisa
que eu pedi para ela não fazer sozinha.

— Vai lá! — Ri ao encará-lo.

Já havia se passado mais de quatro anos desde que meu irmão se


casara, mas eu ainda me divertia com ele e a esposa. Eram dois cabeçudos.

— Obrigado, irmã. — Ele me deu um beijo na testa antes de pegar a


caixa de transporte com uma mão e segurar a minha sobrinha com a outra.

— Tchau, tia! — Rose abraçou a minha perna antes de sair do meu


consultório, acompanhada do pai.

— Nos vemos no final de semana — disse, antes que desaparecessem


de vista.

Voltei para o computador e atualizei a ficha da Miau antes de


organizar as minhas coisas para ir embora. Já estava perto do carro quando
ouvi o meu celular tocando.

— Paige? Quanto tempo? — Fiquei surpresa ao ver que a ligação era


de uma amiga da época do Ensino Médio. Nós duas havíamos nos afastado
após entrarmos para a universidade, mas confesso que não fazia qualquer
esforço para me recordar daquele tempo. Preferia as amigas que fizera
depois.

— Rachel Allen, desapareceu, hein, garota?

— Continuo no mesmo lugar.

— Tem razão. — Ela riu.

— Como andam as coisas?

— Ótimas.
— Isso é muito bom.

Mordi o lábio ao abrir a porta do meu carro, para jogar a bolsa no


banco do carona e me acomodar no do motorista. Será que aquela mulher
havia me ligado apenas para bater papo? Revirei os olhos. Lembrei-me da
minha mãe me dizendo que eu precisava aprender a ser gentil com as
pessoas, pois não adiantava ser amorosa apenas com os bichos.
Honestamente, eu preferia lidar com os animais.

— Então? — insisti para que ela continuasse.

— Vou organizar uma festa de reencontro dos ex-alunos. Estou


ligando para te convidar. Gostaria que participasse.

— Será na escola?

— Não. Tentei, mas não foram muito hospitaleiros. Será na minha


casa, Hampstead Lane. Vou enviar o endereço para você.

— Ah, tudo bem!

— Aguardo você lá, Rachel. — Desligou antes que eu respondesse se


iria ou não a tal festa.

Era só o que me faltava. Confraternização com alunos do Ensino


Médio, que eu havia me esforçado tanto para esquecer.

Linguei o carro e dirigi de volta para casa. Não iria perder meu tempo
pensando em um evento que, provavelmente, não iria.
Dois

— Sim? — Puxei a minha cadeira para mais perto da mesa quando


atendi ao telefone.

— Michael Smith?

— Isso! Sou o CEO da Aliance Car, em que posso ajudá-lo?

Revirei os olhos ao me perguntar se a minha secretária não estava


trabalhando direito. Era para que ela filtrasse as ligações para que apenas as
mais importantes fossem direcionadas para mim.

— Ótimo! Sou o Dean, Dean Clark, da Golden Motors. Nós trocamos


e-mails ao longo da semana. Achei melhor ligar para conversarmos.

— Dean, claro! — Abri um sorriso e me senti um idiota por


menosprezar a ligação antes de saber quem estava do outro lado da linha. —
Como está?

— Estou bem e você?

— Também. Imagino que tenha ligado sobre a proposta comercial que


ofereci para você. Somos uma locadora de carros internacional e eu estou
assumindo a presidência. Quero dar um novo foco à empresa e tratar melhor
os clientes de alto luxo nos Estados Unidos e na Europa. A Golden Motors
tem exatamente o perfil de carros que quero oferecer para os meus clientes.
— Estava analisando a proposta que me enviou e acredito que é o
parceiro de negócios que eu estava procurando. É comum alguns clientes nos
procurarem para aluguel de carros, mas nós trabalhamos apenas com vendas.
Teremos uma filial de vocês em cada concessionária da Golden pelo mundo
em troca dos carros serem adquiridos conosco. Será um acordo muito bom
para nós dois.

— Eu tenho certeza disso.

— Fico contente que estejamos pensando o mesmo.

— Eu vou preparar uma proposta comercial mais robusta e te envio


ainda essa semana.

— Perfeito! Tenha um bom dia, Michael.

— Igualmente, Dean.

Desliguei o telefone com um sorriso estampado no rosto. Levar a


Aliance para um público mais sofisticado era a maior aposta da minha gestão.
Esperava não decepcionar o meu pai, que recentemente havia depositado o
controle da empresa familiar nas minhas mãos.

A Aliance Cars fora fundada pelo meu bisavô e possuía filiais por
todo o mundo, com carros de aluguel em todas as faixas de preço e poderes
aquisitivos. Porém, eu esperava dar um cuidado especial à clientes que
viajavam à negócios e que procuravam por modelos mais sofisticados de
carros como Ferrari, Porsche e Lamborghini. Esse perfil de cliente em geral
causava menos transtorno e dava mais lucro à locadora.

Minha porta foi aberta em um rompante e tomei um susto, mas a


minha expressão se amenizou quando vi que era a minha noiva.

— Oi, Mick? — Ela segurou no encosto da minha cadeira e a girou


para que pudesse se sentar no meu colo.

— O que está fazendo aqui, Zoe? — Tirei a mão do teclado para


segurar na cintura dela.

— Estava com saudades de você.

— Não podia esperar até que eu saísse da empresa? Poderíamos ter


marcado um jantar mais tarde. Eu tenho uns compromissos aqui.

— Você também tem compromissos comigo.

— Que podem esperar até mais tarde.

— Tem certeza de que você quer esperar? — Ela desceu do meu colo
e se ajoelhou entre as minhas pernas.

Balancei a cabeça, mas um sorriso iluminou meu rosto. Não podia


negar que a presença dela ali era, no mínimo, conveniente.

— Já que você está aqui... — Subi a mão pela nuca dela e enrolei seu
cabelo preto na minha mão.

— Sei que você gosta das minhas visitas. — Ela passou a mão pela
minha calça e abriu meu zíper, extraindo o meu pau da cueca, que ficou duro
com a provocação.

Zoe umedeceu os lábios e eu empurrei sua cabeça para baixo,


levando-a até o meu pau, e a incentivando a me chupar. Fechei os olhos
quando seus lábios envolveram a minha glande e sua língua molhada e
quente me percorreu.

Segurei o seu cabelo com mais força e aumentei a velocidade dos seus
movimentos, para que ela engolisse todo o meu membro. Poderia parecer
inadequado, mas não havia nada melhor do que um boquete em meio à
jornada de trabalho. Eu a fazia se mover em mim, subindo e descendo os
lábios, enquanto a minha glande tocava a sua garganta. Retorcia-me de
prazer, sendo sorvido, chupado e acariciado com a sua língua.

Com a mão firme em seu cabelo, não deixei que ela se afastasse até
que eu gozasse. Todos os meus músculos se endureceram e eu me derramei
na sua boca. Ofegando, soltei o cabelo dela, deixando que caísse como um
véu sobre o seu rosto.

Com um sorriso, Zoe se levantou, limpando o canto da boca com as


pontas dos dedos.

— Você gosta disso?

— Sabe que eu gosto. — Puxei-a para mim e beijei os seus lábios.

— Senhor Smith... — Ouvi a voz da minha secretaria e a Zoe se


afastou de mim, olhando para a mulher de meia idade com um sorriso
amarelo. — Desculpa interromper.

— Não se preocupa, a Zoe já está de saída.

— É assim? Você goza na minha boca e me manda embora?

A secretária ficou extremamente vermelha com a fala da minha noiva,


porém, tentou fingir que não havia ouvido nada.

— Eu volto depois...

— Pode ficar, Meredith. A Zoe vai embora agora. — Ajeitei a minha


calça ao encarar a minha noiva. —Vejo você mais tarde.

— Você promete?

Balancei a cabeça em afirmativa e ela me deu um selinho.

— Espero você no meu apartamento. Até mais, Meredith. — Zoe


passou pela minha secretária e deixou minha sala.

— Senhor, me desculpa, eu... — A mulher, que era secretária do


presidente desde a época do meu pai, estava tão sem jeito que me fez rir.
Nunca iria entender porque as pessoas tinham tanto tabu com o sexo. Era
comum, todos faziam; não havia motivos para todo aquele embaraço.

— O que precisa de mim, Meredith? — Ajeitei a minha cadeira, para


que ela ficasse novamente rente à mesa, e fingi que nada havia acontecido.
— O balanço financeiro do mês passado acabou de chegar e, além
disso, preciso da sua assinatura em alguns documentos.

— Pode deixar aqui na mesa, que vou ler e assinar.

Ela se apressou para deixar as pastas sobre a mesa e correu para perto
da porta novamente.

— Obrigado. Era só isso?

— Bom, senhor...

— Fala, mulher!

— A minha irmã tem um pequeno procedimento cirúrgico amanhã à


tarde e, como ela é viúva e não teve filhos, não há ninguém que possa ficar
com ela. Eu só queria saber se...

— Agilize as coisas pela manhã e pode ir ficar com a sua irmã, mas
me avise quando for sair.

— Muito obrigado, senhor. — A mulher ficou tão feliz que imaginei


que começaria a dar saltinhos de alegria.

— Pode ir agora, Meredith.

— Obrigada, senhor Smith. — Abaixou a cabeça antes de sair.

Minha mãe dizia que eu era um homem que não sabia lidar com as
pessoas, mas eu me esforçava para que, ao menos às vezes, eu fosse alguém
minimamente gentil.

Puxei um dos envelopes, mas antes que eu pudesse lê-lo, meu celular
vibrou dentro da gaveta. Franzi o cenho ao pegá-lo e não reconhecer o
número no visor. O meu número pessoal não era algo que eu informava a
muitas pessoas, então, estranhava muito quando um desconhecido me ligava.

— Quem é?

— Michael Smith, aqui é a Paige Taylor. Estou ligando para te


convidar para uma reunião de ex-alunos que vai acontecer na minha casa.

— Ex-alunos de quê?

No primeiro momento, eu pensei que poderia ser alguma garota da


faculdade, porém, eu havia estudado na Columbia, nos Estados Unidos, e a
mulher do outro lado da linha não possuía sotaque americano.

— Do College. Nós estudamos na mesma turma.

— Ah! — Balbuciei, sem o menor interesse.

— Espero que você venha. Estou mandando para você um convite


virtual com o endereço.

— Okay! — Eu certamente não iria, porém, não disse nada para que
ela não ficasse insistindo até que conseguisse me fazer mudar de ideia.

— Perfeito! Aguardo você lá, Michael. — Ela desligou a chamada e


eu bufei. Meu ensino médio não fora o melhor de todos. Tinha muitas
lembranças de brigas e suspensões, mas, felizmente, o dinheiro que a minha
família tinha sempre abriu portas e me colocou em uma universidade de
prestígio do outro lado do oceano.

Se dependesse do meu pai, eu teria ido para o colégio interno para


garotos em Windsor, para ter a mesma educação que ele teve, mas a minha
madrasta era contra. Preferia que eu fosse criado por perto, recebendo o
carinho e a atenção da família. Não sabia se havia funcionado bem, mas eu
havia estudado em Londres, num excelente colégio, e, no fim do dia, voltava
para casa e ficava com a minha família. Não podia negar que, ao menos da
parte da Júlia, eu havia recebido muito carinho, mais do que merecia muitas
vezes, pois não fui um adolescente fácil.
Três

— Cheguei! — Entrei no hall da Green House tirando o meu jaleco e


o dobrei no braço, antes de seguir para a sala.

Meu grito não recebeu resposta, então segui em silêncio até a sala,
encontrando os meus pais sentados, assistindo televisão. Um estava com a
cabeça apoiada no outro e, pelos olhos fechados, deduzi que estavam
dormindo. Decidi não os acordar. Meus pais não tinham mais o mesmo pique
de antes e mereciam o descanso.

— Rachel, chegou querida?

— Anne! — Sorri ao ver a mãe da minha cunhada e nossa


governanta. — Já não deveria estar em casa? São oito da noite — disse, após
verificar as horas no visor do meu celular.

— Eu quis deixar tudo pronto para amanhã. Seu pai vai receber
alguns amigos, e me pediu para organizar uma recepção especial.

— Você também merece descansar, Anne.

— Já estou indo, querida. Vou tomar um bom banho e dormir um


pouco. Quer que eu prepare algo para você comer antes de ir?

— Não! Pode deixar que eu me viro.

— Posso preparar um prato...


— Vai para casa, Anne! — Girei-a e a empurrei pelos ombros até a
saída. — O Ben deve estar esperando você para uma noite daquelas.

— Menina! — As bochechas dela coraram e a mulher ficou toda sem


graça. — Não deve falar essas coisas.

— Por que não? Somos todos adultos.

— Mas eu troquei as suas fraldas.

— Isso faz muito tempo, Anne.

Ela balançou a cabeça em negativa, com um sorriso amarelo nos


lábios. Acreditava que uma das maiores dificuldades dos nossos pais era
entender que a gente crescia e que também se tornava adulto, e que fazia
coisas de adulto, inclusive sexo.

— Sabia que eu vi o Will e a Rose hoje? Eles foram lá na clínica.

— Está tudo bem com eles? — Uma ruga de preocupação surgiu no


rosto da velha mulher. — Falei com a minha filha ontem. Ela disse que tudo
estava bem, mas sabe como são os filhos, nem sempre eles contam tudo para
gente.

— Sim, com eles está tudo bem, quem não está tão bem é a gatinha da
Rose. Ela contraiu uma infecção respiratória, mas vai ficar bem. Receitei
alguns remédios para o Will dar a ela.

— Mas não é nada contagioso? A menina fica com o bicho para cima
e para baixo o dia todo. Até dorme com a gata. Fico com medo de ela pegar
alguma coisa.

— Não se preocupe, Anne. A sua neta não terá nada.

— Assim fico mais tranquila. — Ela colocou a mão sobre o peito e


respirou aliviada.

— Boa noite, Anne.

— Até amanhã.

Segui para o meu quarto. Abri a porta e o Faísca veio se entrelaçar


entre as minhas pernas.

— Também senti a sua falta. — Acendi a luz e me agachei para a


acariciar o meu gato.

Ele miou e eu o peguei no colo antes de fechar a porta.

— Como foi o meu dia hoje? Bem tranquilo. Os animais que eu


estava cuidando demonstraram uma excelente melhora e não apareceu
ninguém muito doente.

Fui para a cama e me joguei nela. Faísca veio para perto de mim e
começou a apalpar a minha barriga com as suas patinhas.

— Iria adorar uma massagem. — Virei de costas e deixei que ele


continuasse a me afofar.
Achei que aproveitaria o momento de relaxar por mais tempo, porém
meu celular tocou e eu levantei da cama para atendê-lo.

— Jenna? — Sorri ao ver que era a minha amiga mais próxima da


faculdade. Havíamos cursado veterinária juntas e nos tornamos inseparáveis
durante o tempo do curso.

— Como você está?

— Precisando de um banho.

— Eca! Não tomou ainda?

— Eu ia, mas você ligou.

— Então vai assim que eu desligar.

— Para que tudo isso? Você nem vai me cheirar hoje – brinquei
rindo.

— Engraçadinha. É isso que você fala para os caras com quem transa?

— Ultimamente não estou transando com ninguém, então, não estou


falando nada.

— Que bad, hein?

— Nem tanto. Só ando ocupada demais.

— Você precisa de férias, sair para se divertir. Tenho a solução


perfeita. Estou louca para conhecer Miami. Praia, sol, caras gatos correndo
sem camisa, isso não nos fará nem um pouco mal.

— Como uma boa inglesa, não sou muito fã de sol. Prefiro tempo
nublado.

— Ladainha. Não vem com essa que não cola. Uma semana na praia,
Rachel. É tudo o que nós precisamos.

— Quando está pensando em ir?

— No fim do mês.

— Mas já!?

— Como já? Precisamos de férias para ontem.

— Não é bem assim, Jenna. Eu não posso abandonar a clínica do dia


para a noite. Preciso programar tudo antes de passar tanto tempo fora.

— Tenho certeza de que você vai dar um jeito.

— Vou ver o que consigo.

— Isso! — Vibrou do outro lado da linha.

— Só você mesma. — Suspirei enquanto pensava na última vez que


tinha tirado férias. Desde que havia me formado e aberto a minha própria
clínica veterinária, não conseguia muita folga.

— Você me ama e não sabe o que faria da sua vida sem mim.
— Bem isso!

— Já estou pensando nos carinhas e nos biquínis. Quem sabe rola até
uma festinha em um iate.

— Não exagera, Jenna! Por falar em festa, me chamaram para uma


festa com o pessoal do Ensino Médio. Esses encontros cafonas de ex-alunos.
Não estou animada para ir e acho que não vou. Não tem coisa mais tediosa do
que rever essas pessoas.

— Você vai, sim!

Arregalei os meus olhos com a imposição dela do outro lado da linha.

— Por quê?

— Pensa comigo. Quem não aparece nessas festas é sempre visto


como o fracassado, porque quem deu certo e é feliz quer mostrar isso para os
outros.

— Era uma escola de classe alta. Todos vinham de família rica,


tivemos oportunidades demais para dar errado na vida.

— Ah, amiga, vá por mim. Não duvide da incompetência humana.

Um sorriso surgiu nos meus lábios quando me recordei do irritante


Michael Smith. Poderia ser crueldade da minha parte, mas eu torcia muito
para que ele houvesse dado mais do que errado. Eu não costumava ser
maldosa, mas pela derrota dele, eu torcia.
— Chel, ainda está aí?

— Sim, estou.

— Então vai se organizar para viajar comigo?

— Vou ver se consigo.

— Estou torcendo para que dê um jeito. Boa festa para você, amiga.
Depois me diz como foi.

— Obrigada, Jenna.

— Acho que vou a uma festa, Faísca. — Deixei que o celular


escorregasse pela minha mão e fitei o meu gato.

Faísca miou para mim e saltou da cama, indo para o banheiro.

Me levantei, acatando a indicação dele para ir tomar banho.

Estava ansiosa pela festa, mas não tinha ideia do quanto ela poderia
ser desastrosa.
Quatro

Passei no apartamento da Zoe após o expediente e quando cheguei em


casa já era tarde. Fui da garagem da mansão até o meu quarto. Havia jantado
com a Zoe e não estava com fome. Larguei meus pertences sobre uma
cômoda e me despi para tomar banho, pois preferi não fazer isso por lá. Eu
me vesti e vim embora rápido, porque não queria que ela inventasse uma
desculpa para me fazer ficar.

Abri o registro do chuveiro e deixei que a água escorresse pelo meu


corpo, lavando o estresse, a preocupação, e o cheiro de sexo. Debrucei-me
sobre o azulejo e respirei fundo. Por mais que eu me esforçasse para estar no
caminho certo, às vezes, me sentia perdido.

Puxei uma toalha limpa e saí me secando até chegar no quarto. Tomei
um susto ao ver a Júlia, a mãe que eu havia conhecido, sentada na minha
cama.

— Eu estou pelado, porra!

— Como se eu nunca tivesse visto você assim antes. — Deu de


ombros sem se preocupar com a minha expressão de fúria.

— O que está fazendo aqui? — Enrolei a toalha na cintura antes de


entrar no closet para pegar uma cueca e roupas limpas.

— Você chegou tarde e não foi ver a mim ou ao seu pai. Fiquei
preocupada.

— Você sabe que não tenho mais dois anos. — Olhei-a de esgueira.
Minha irritação desapareceu quando percebi a cautela em seu olhar.

— Não me julgue pelo excesso de zelo.

Saí do closet usando uma cueca boxer preta e dei um beijo na testa
dela.

— Eu estou bem, mãe.

— Onde você estava?

— Com a Zoe. — Vesti uma camisa.

— Aquela garota? — Ela revirou os olhos e bufou.

— Exato, aquela garota. Assim fica difícil. Você vivia dizendo que eu
deveria parar com uma mulher só ao invés de ficar trazendo uma garota
diferente para minha cama todas as noites. Quando decido ficar noivo, você
faz essa cara toda vez que ouve o nome dela. Eu nunca vou entendê-la, mãe.

— Ela não é mulher para você.

— Quem é mulher para mim?

— Uma que pareça menos promíscua.

— Mãe!
— Depois não diz que eu não avisei. — Ela desviou o olhar e me fez
cerrar os dentes. Odiava quando ela fazia aquilo comigo, pois, na maioria das
vezes, ela acabava tendo a oportunidade de dizer para mim que havia avisado.
Esperava que com relação a Zoe isso não acontecesse.

Apesar da cara feia que ela me lançava toda vez que eu falava sobre a
minha noiva, eu a amava. Júlia não era a minha mãe biológica, mas estava
comigo desde que eu tinha dois anos, quando a minha verdadeira mãe
morrera de câncer de câncer e meu pai a havia contratado para ser minha
babá. Ela era imigrante e, na época, estava na Inglaterra em um programa de
intercâmbio e precisava do dinheiro para se manter. Júlia e meu pai se
conheceram por minha causa, mas acabaram se apaixonando e, antes que ela
voltasse para o Brasil, seu país de origem, ele a pediu em casamento. Mais de
vinte anos depois, eles continuavam juntos e eram a minha prova de que o
amor durava.

— Torce por mim dessa vez.

— Sabe que eu sempre torço. — Ela se levantou da cama e afagou o


meu rosto, piscando os olhos castanhos e me dirigindo um sorriso gentil. —
Estou torcendo para estar enganada sobre essa garota.

— Ótimo!

— Vê se liga para o seu irmão e pede a ele para vir para cá mais vezes
nos finais de semana. Desde que foi para Cambridge, ele desapareceu. Tem
muito tempo para os amigos e pouco para os pais. Quando eu ligo, sou a
chata.

— O Matthew só tem dezenove anos. Está encantado pelas festas. Dá


um tempo para ele.

Ela fez bico e me olhou manhosa.

— Okay, eu vou ligar!

— Obrigada, querido. — Me deu um beijo no rosto. — Como foi o


trabalho hoje? Recebeu uma ligação de uma tal de Paige? Ela falou que era
uma antiga colega da escola e que queria convidá-lo para uma festa. Você
vai?

— Ah, então foi assim que ela descobriu o meu número.

— Não deveria ter passado? — Arregalou os olhos.

Balancei a cabeça em negativa.

— Desculpa.

— Tudo bem. Ela realmente queria me convidar para uma festa, mas
nem sei se vou. Esqueci de conversar com a Zoe a respeito. Talvez ela queira
ir.

— Sim, talvez a bis... a sua noiva queira ir.

Me segurei para não rir. Minha mãe se continha, mas não conseguia
evitar que as ofensas à Zoe escapassem. Torcia para que as duas se dessem
bem logo. Não era nada fácil ter a minha mãe e a minha futura esposa em pé
de guerra.

— Vou deixar você descansar. Quer que eu prepare um prato de


comida e traga aqui para você? Já está tarde e você parece tão abatido.

— Não, mãe. Estou bem e já jantei.

— Então, boa noite. — Ela me deu mais um beijo na bochecha antes


de sair do quarto.

Meus amigos, na época da escola, chamavam a minha mãe de


beijoqueira, pois ela estava sempre me beijando e abraçando. Ela
demonstrava mais carinho do que qualquer outra mãe que eu conhecia e,
apesar de passar vergonha, gostava de saber que sempre teria os seus braços
para me acolher e o seu afago para me fazer feliz quando eu precisasse.

Assim que ela deixou o meu quarto, eu tranquei a porta e liguei a


televisão. Estava passando um programa de coleta de objetos antigos e parei
de prestar atenção assim que vi as fotos da Zoe nua que ela havia me enviado
no celular.

Em partes, eu tinha que concordar com a minha mãe. Havia pensado


muito pouco antes de pedir a Zoe em casamento. Fizera essa escolha em cima
do sexo bom, e tinha fé que os demais sentimentos apareceriam com o tempo.

Vi algumas mensagens do meu melhor amigo sobre aposta de cavalos,


que não dei muita importância. Ele gostava de apostas, mas eu fingia um
mínimo de interesse pelo bem da amizade. Tínhamos nos conhecido em um
workshop sobre empreendedorismo. Ele possuía ideias empreendedoras que
me agradavam muito. À frente da Sigman, Joseph Papear era como eu, um
jovem assumindo os negócios da família com uma forte pressão vinda de
todos os lados, onde muitos esperavam que fracassássemos e
decepcionássemos os nossos genitores.
Cinco

— Não acha que um vestido vermelho vai chamar atenção demais?

Eu costumava ser muito segura de mim, mas, diante do espelho,


estava hesitante.

— Não tem outro, de um tom mais claro? — perguntou a minha


cunhada enquanto me analisava da cama, afagando a cabeça do Faísca, que
estava deitado no colo dela.

Jenna chiou, olhando feio para Lilly, que se encolheu, confusa, diante
do ar ameaçador da minha melhor amiga.

— Você está linda assim. É para chamar atenção.

— É, estou linda, mesmo. — Olhei mais uma vez para o meu reflexo
no espelho e sorri.

Meu cabelo loiro estava caindo em ondas ao redor do meu rosto.


Minha maquiagem era delicada, mas o batom era vermelho como o tecido do
meu vestido, longo, com alguns detalhes em renda e uma pequena fenda
lateral. Tinha certeza de que todos os olhos se virariam para mim quando eu
chegasse na festa, e esperava um resultado positivo disso. Era bem-sucedida
com a minha própria clínica veterinária. Não tinha um noivo, nem um
namorado, mas quem estava se preocupando com isso? Se me perguntassem,
eu diria que estava curtindo a vida sem amarras.
— Acho que estou pronta. — Expirei, deixando que o ar pesado
saísse dos meus pulmões.

— Boa festa, Rachel — disse a minha cunhada, levantando-se da


minha cama.

— Vai lá e arrasa. — Jenna piscou para mim.

Assenti, peguei a minha pequena bolsa de mão e segui para o


corredor, descendo os degraus que me levavam até o hall da Green House.

— Olha, Drew, como a tia tá bonita.

Virei para a entrada da sala e vi a minha sobrinha segurando a


mãozinha do irmão mais novo. Ambos olhavam para mim com um ar de
deslumbre.

— Está indo para algum casamento? — Meu pai apareceu atrás dos
netos e também me analisou com o olhar.

— Não, só uma festa com a turma do Ensino Médio.

— Ah, boa festa!

— Obrigada.

Mandei um beijo para as crianças, que mandaram outro para mim, e


segui para onde havia deixado o meu carro estacionado. Era uma BMW
vermelha que combinava perfeitamente com o meu vestido. Nem se eu
tivesse pensado a coincidência teria sido tanta. Coloquei o endereço da casa
da Pagie no GPS e dei partida para seguir as coordenadas. Eu iria até lá,
cumprimentaria algumas pessoas, falaria com algumas outras para que não
pensassem que eu era uma derrotada e voltaria para casa, sem muitas
delongas. Não tinha nada que eu quissesse fazer, nem ninguém que eu
quissesse ver, por lá , ao menos era o que dizia a mim mesma.

Dirigi até o endereço indicado. Não me lembrava de ter ido à casa


dela nos tempos da escola, não que me lembrasse de muita coisa, mas sabia
que me depararia com uma mansão. Os Allen não eram a única família rica
em um país que ainda vangloriava a monarquia. Eu havia passado o meu
Ensino Médio cercada de adolescentes que possuíam o mesmo luxo e regalias
que eu.

Passei as grades de metal, que estavam abertas, e estacionei ao lado


de uma fila de carros. Abri a porta e deparei-me com uma Ferrari, e fiquei me
perguntando quem seria o estravagante que dirigia aquele carro.

William, meu irmão, fora um playboy arrogante por muito tempo, mas
existiam caras piores do que ele.

Peguei a minha bolsa e segui para o interior da mansão. O hall era


lindo, claro e bem iluminado, com o chão de mármore e as paredes pintadas
em um tom creme. Segui o som das vozes e encontrei o grupo reunido na
grande sala, com largos sofás brancos e um piso que reluzia como a
superfície de uma pérola.

Assim que eu parei na entrada, alguém apontou para mim e todos se


viraram. Reconheci alguns rostos, mas outros pareciam completamente
estranhos, e não duvidava que muitos ali haviam feito várias plásticas para se
livrar de algumas imperfeiçoes. Porém, de todos os rostos, havia um para
mim que era inesquecível. Os anos haviam se passado, ele havia envelhecido,
mas eu o reconheci em uma fração de segundos. Aqueles olhos azuis e o ar
de soberba só poderiam pertencer a um cara.

— Michael — balbuciei o nome dele, num sussurro inaudível.

Ele abriu um sorriso debochado, como se tivesse ouvido a minha voz.

— Olha só, a chorona apareceu.

Desde o episódio em que ele havia pregado chiclete no meu cabelo e


que eu chorara durante toda a aula, Michael começou a me chamar de
chorona todas as vezes em que tinha a oportunidade.

— É difícil não chorar diante da sua tão desagradável presença. —


Tentei devolver na mesma moeda, mas percebi que ir naquela festa esperando
confrontá-lo, fora a ideia mais estúpida que eu tivera nos últimos anos. —
Infelizmente, faltou-me a sorte de não o encontrar.

— Todas as garotas amam a minha presença.

Queria jogar uma bebida na cara dele, como havia feito em uma festa
do ensino médio, apenas para apagar aquele sorriso debochado.

— Só as mais estúpidas, com toda a certeza.


— Quem é essa idiota, amor? — Uma mulher que eu não reconhecia,
apoiou as mãos no ombro do Michael e me encarou com ódio. Na mão dela
havia um anel, que reluzia como se possuísse um pequeno holofote embutido.
Michel sempre foi um homem estravagante, e não me surpreendia que ele
tivesse comprado um anel de noivado daqueles.

Noivado... Fiquei surpresa ao constatar que o sujeito que eu mais


odiava no mundo estava noivo. Tinha certeza de que aquele babaca iria
morrer sozinho, mas a Anne costumava dizer que existia louco para tudo.
Certamente, aquela ali, para aceitar um pedido de casamento do Michael
Smith, deveria estar muito fora de si.

— Essa é a miss chatice, mas não se importe com ela. Ladra muito,
mas se você ignorar, ela vai embora com o rabinho entre as pernas.

Seu... Cerrei os dentes diante da forma ofensiva com que ele tinha se
referido a mim perante a noiva. Precisei me conter para não voar no pescoço
dele e iniciarmos as brigas que tínhamos quando éramos mais jovens.

— Rachel, que bom que você veio. — Pagie apareceu do nada e


puxou o meu braço, arrastando-me com ela para longe do Michael.

Talvez ela houvesse se esquecido da forma como nós nos


comportávamos quando estávamos diante um do outro. Porém, alguns
minutos de latidos e olhares ferozes foram o suficiente para que já tentasse
nos separar.

— Achei que você e o Michael tivessem dado um tempo desse lance


— comentou ao soltar o meu braço quando chegamos numa enorme e
sofisticada piscina coberta.

— Não tenho culpa se ele começou.

— Já somos adultos.

— Acho que aquele ali não vai crescer nunca. — Fiz bico.

Pagie balançou a cabeça em negativa, fazendo saltar os cachos de seu


cabelo.

— Tentem não se matar, por favor. Essa é uma festa para celebrar o
nosso reencontro e não um programa de televisão de baixaria.

— Farei o meu melhor.

— Preciso de mais do que o seu melhor, Rachel.

— Vou ficar na minha.

— Obrigada. — Beijou a minha bochecha e me arrastou até um bar


perto da piscina onde um homem servia bebidas e nos sentamos em uns
bancos altos.

Aceitei um Martini e beberiquei.

— Como anda a sua vida? O que tem feito? — Pagie sorria


despretensiosamente ao tentar puxar assunto comigo.

— Cursei veterinária em Oxford e abri a minha própria clínica.


— Ah, legal.

— Não acha?

— Parece monótono.

— Monótono? — Arqueei uma sobrancelha. — E o que você tem


feito?

— Trabalho com filantropia, como voluntária. Criei uma instituição, a


Pagie Taylor, de ajuda humanitária. Traz tanto significado para a minha vida!

— Espero que sim.

Realmente torcia para que a iniciativa dela trouxesse benfeitorias para


alguém além do seu próprio ego.

— E os hotéis Allen?

— São geridos pelo meu irmão.

— Ele continua tão gato quanto eu me recordo? — Um sorriso


malicioso se formou nos lábios dela e me fez bufar ainda mais.

Me lembrava bem de como era no colégio. A cada aparição do meu


irmão em eventos, minhas colegas tinham um princípio de infarto. Talvez
fosse por ser meu irmão, mas eu não entendia toda a graça que viam nele.

— Está casado.

— Ah, casado? — Seu rosto se contorceu em uma careta e contive a


minha vontade de rir.

— Sim, muito bem casado. Pai de duas crianças adoráveis. Rose, de


quatro anos, e Andrew, de dois.

— Espero que ele esteja feliz.

— Ah, ele está, sim. — Sorri ao tomar mais uns goles da minha
bebida.

Adorei cortar as asas dela ao pensar que poderia ter um possível


enlace com o meu irmão, mas não era só porque eu gostava muito da minha
cunhada. Se o William ainda fosse um homem solteiro, não iria a querer se
engraçando com ele. Ela era exatamente o tipo de garota que a minha mãe
odiava ver com o Will.

— E você, está namorando? — Pagie mudou o foco da conversa.


Imaginei que fosse para me desconcertar. Não queria falar a respeito, mas
tentei manter o sorriso. Mais cedo ou mais tarde, alguém, inevitavelmente,
tocaria naquele assunto. Encontros de ex-alunos eram como reuniões chatas
de família, onde seus ex-colegas se comportavam como as tias
inconvenientes.

— Estou preocupada com outros pontos da minha vida.

— É exatamente isso o que eu falo para não comentarem por aí que


estou encalhada. — Gargalhou e eu fiquei ainda mais sem jeito. — Entendo
você perfeitamente, Rachel. — Ela afagou o meu ombro como se se
compadecesse de mim.

Desde quando ela acreditava que eu estava precisando da pena de


alguém? O fato de estar solteira não significava que eu estava desesperada
para encontrar alguém. Estava sendo sincera quando dizia que tinha outras
prioridades no momento. Eu gostava do meu tempo com os animais. De
modo geral, me dava bem melhor com eles do que com os seres humanos.
Eles me entendiam bem melhor do que qualquer pessoa. Confesso que
também gostava muito dos meus sobrinhos e amava o tempo que podia
passar com eles, porque crianças tinham o seu lado especial. Uma magia, que
desaparecia na puberdade.

— Sortuda mesmo é ela. — A voz de Pagie me tirou dos meus


devaneios.

— Ela quem?

— A noiva do Mick. — Apontou com o nariz para o casal que entrava


na área da piscina.

Foi inevitável que os meus olhos seguissem naquela direção. Vi a


noiva do Michael, insinuando-se para ele enquanto ria, passando a mão pelo
cabelo e o colocando para trás.

— Sortuda? — Foi a minha vez de rir. — Eu tenho é pena dela.

— Pena? — Pagie arqueou as sobrancelhas, surpresa com o meu


comentário.
— Sim. Tem que ser muito corajosa ou louca para aceitar se casar
com o Michael Smith. Ele é um ogro, um idiota em níveis impossíveis de se
medir. Tenho certeza de que ela garantiu o lugar no céu só pelo tempo que
passou ao lado dele.

— Não seja exagerada. — Pagie estava curvada para frente no


banquinho, acompanhando o Michael com o olhar e tive a impressão de que
estava babando. — Ele é tão gato. — Umedeceu os lábios enquanto
observava cada detalhe dele.

Tinha se passado sete anos desde que eu vira o Michael pela última
vez. À primeira vista, não havia o achado tão diferente. O mesmo nariz
empinado e o ar esnobe de quem acreditava que tinha o mundo aos seus pés.
Os olhos azuis e o cabelo preto levemente bagunçado, que dava a ele um ar
despojado, também continuavam da mesma forma, porém, seu corpo tinha
mudado. Talvez estivesse alguns centímetros mais alto, sua musculatura
havia se modificado, e ele estava mais forte. Era bonito, mas eu não dava a
mínima para isso. Não seria o primeiro nem o último inglês a arrancar
suspiros.

— É só um idiota — desdenhei, virando meu olhar em outra direção


quando ele viu que eu o estava encarando.

Michael sorriu ao perceber que eu o encarava e deu alguns passos na


minha direção. Levantei-me da cadeira antes que ele se aproximasse por
completo e nossos olhares se chocaram como trens desgovernados. Vi faíscas
saltarem enquanto fitávamos um ao outro com ar de afronta.
— Perdeu alguma coisa em mim, chorona?

— Se tivesse perdido, seria difícil de encontrar, nanico, mas não.


Você só tem uma cara tão feia que me assusta.

Chamava ele de nanico, pois, quando éramos crianças, eu havia


crescido muito rápido e o Michel acabara menor do que eu. Contudo, isso era
quando estávamos na puberdade, o que não se aplicava a situação atual.

— Quem é nanico agora? — Ele estufou o peito como um pavão,


tentando me fazer recuar.

Eu estufei o meu peito de volta, mantendo-me firme. Ele não havia


me amedrontado quando éramos crianças e certamente não faria isso agora.
Michael se aproximou mais de mim, até que nossos corpos se tocassem. A
proximidade demasiada me deixou sem ar. Eu não me lembrava de que estar
próxima dele me deixava de pernas bambas.

Maldito!

— Ainda me acha nanico? — Ele me olhou e fez com que eu o


olhasse de volta, exigindo que eu levantasse a cabeça, pois, sim, Michael
tinha vários centímetros a mais do que eu. Meu olhar se perdeu na imensidão
dos dele e percebi que tinha sido sugada.

— Você cresceu e daí?

— Não pode mais me chamar de nanico, chorona.


— Tem ideia da última vez que eu chorei?

— Sei que ainda posso fazê-la chorar. — Um sorriso debochado


retornou aos seus lábios e isso me deixou ainda mais furiosa.

— Seu idiota! — Eu o empurrei com toda a força, sem medir


qualquer consequência. O que eu não havia reparado era que estávamos bem
perto da beira da piscina.

Michael cambaleou e tombou para trás, mas, antes que ele caísse, seu
braço envolveu a minha cintura e ele me puxou com ele. Só percebi que
estava na água quando nossos corpos se chocaram contra a superfície. Nós
imergimos enquanto o seu braço ainda me envolvia. Desconhecia o motivo
para a situação ter evoluído tão rápido ao ponto de mergulharmos na piscina
juntos com roupa e tudo.

Lutei para que ele me soltasse ao passo que afundávamos. Felizmente,


ou não, não havíamos caído em uma parte muito funda da piscina. Sua mão
libertou a minha cintura e eu me levantei em busca de ar, nadando até chegar
na superfície.

Ofeguei assim que meu rosto tocou a atmosfera e eu pude respirar,


enchendo os meus pulmões. Michael emergiu no mesmo momento que eu, e
quando achei que teria me libertado da presença dele, ele surgiu na minha
frente, com nossos corpos tão próximos outra vez, que me deixou atordoada.
As faíscas aumentaram, assim como o formigamento por todo o meu corpo.
Naquele momento, entendi melhor do que nunca a definição da água ser uma
boa condutora elétrica.

— Você fica engraçada com a maquiagem escorrendo pelo rosto. —


Riu.

— Babaca! — Joguei água na cara dele antes de nadar até a escada


para sair da piscina.

— Não vai chorar, hein? — provocou me fazendo urrar.

Saí pisando duro e deixei ele rindo, ainda dentro da piscina.

Se havia um homem que me enlouquecia e que me tirava


completamente do sério, esse era o Michael Smith. Era impossível odiar
alguém mais do que eu o odiava.
Seis

— Obrigado, Pagie. — Aceitei a toalha que a anfitriã da festa


ofereceu para mim.

Esfreguei o meu cabelo, que pingava, antes de tentar secar o restante


da minha roupa, o máximo possível, com uma enorme e felpuda toalha
branca. Talvez eu devesse estar furioso, mas não conseguia parar de me
divertir ao me recordar do que havia acontecido há pouco.

Eu e a esquentadinha da Rachel Allen havíamos parado dentro da


piscina com roupa e tudo. Era óbvio que eu sabia que poderia encontrá-la
naquela festa, porém não havia previsto que a situação poderia evoluir para o
caos tão rápido. Rachel e eu sempre fomos explosivos juntos. Ela era como a
palha e eu o fogo, extremante destrutivos se colocados frente a frente. Por
sorte, havíamos apenas tomado um banho de piscina e nada mais grave
acontecera.

— Quem é ela? — Zoe estava parada ao meu lado, com os braços


cruzados e uma expressão de descontentamento. Imaginava que ela não
houvesse se divertido tanto com a situação quanto eu.

— Ela? — Fiz-me de desentendido, porque ainda estava perdido,


rindo internamente da situação.

— Aquela mulher que caiu na piscina com você. Quem é ela? Por
acaso é uma ex?

Virei a cabeça e busquei os olhos da Zoe quando percebi que ela


estava tendo uma crise de ciúmes. Era só o que me faltava.

— Ex? De forma nenhuma! Acho que só comeria aquela ali se


estivesse muito bêbado.

— Então o que vocês dois são?

— Nós dois nos odiávamos na época da escola. Era quase um impulso


irritar um ao outro.

— Ah!

— Não posso dizer que esse encontro foi tedioso. — Ri enquanto me


balançava como um cão e fazia a Zoe chiar, irritada.

— Vamos embora!

— Pagie, posso levar a toalha?

— Claro, Michael.

Olhei em volta e não vi a Rachel. Imaginei se ela estaria em um dos


quartos ou simplesmente havia ido embora, porém não cabia a mim
perguntar.

Me despedi com um breve aceno para os meus antigos colegas de


classe e fui com a minha noiva até o local onde havia deixado a minha Ferrari
vermelha estacionada. Forrei o assento com a toalha, pois ainda estava com a
bunda molhada. Prendi o cinto enquanto Zoe se acomodava ao meu lado.

Ela ainda estava emburrada, mas não me dei ao trabalho de perguntar


o que estava passando pela sua mente, pois imaginei que poderia me irritar, e
a presença da Rachel já tinha me tirado do sério o suficiente. Felizmente, não
éramos mais colegas de classe e poderia levar outra década, ou mais, para que
nos encontrássemos novamente.

— Você já transou com ela? — Zoe questionou, após longos minutos


comigo dirigindo em silêncio.

— Por que está fazendo essa pergunta? Já disse que não, nem se
estivesse muito chapado.

— A forma como vocês se olharam, senti que existia algo.

— Ah, mas tem, sim!

— Tem?

— Anos e anos de muito ódio. De todas as mulheres no mundo, você


não deveria sentir ciúmes da que eu menos suporto.

— Você e ela...

— Não tem nada a ver, Zoe. Chega disso, foi só uma festa. Não vou
ver ela de novo. Existem coisas mais importantes para se importar. — Soltei
uma mão do volante e peguei a dela, puxando na direção da minha calça e
colocando em cima do meu pau.

Um sorriso surgiu no rosto dela e a minha noiva se debruçou sobre


mim, abrindo o zíper da minha calça e colocando o meu pau na boca.

Minha noiva e os momentos com ela eram bem mais importantes do


que Rachel Allen e a forma como ela me fazia perder o controle.

— Por que você está molhado? — Minha mãe arregalou os olhos


quando me viu passar pela sala.

Eu havia deixado a Zoe em casa antes de seguir para minha, mas o


tempo não fora o suficiente para que eu me secasse completamente.

— Tomei um banho de piscina. — Segui para o meu quarto, mas,


curiosa como ela era, veio atrás de mim e parou na minha porta.

— De terno e tudo?

— Foi um pouco acidental, mas eu estou bem.

— Michael... — Ela me olhou com uma expressão inquisidora e previ


que estava disposta até a dizer meu nome completo para que eu me abrisse
com ela. Eu já tinha vinte e cinco anos, não havia motivos para que ela
tentasse me proteger tanto, mas nunca iria conseguir fazer isso entrar na
cabeça dela. Matthew, meu irmão, filho biológico da Júlia, diferente de mim,
era esperto ao se esquivar.

— A esquentadinha Allen me empurrou na piscina.

— Rachel? — Minha mãe ficou boquiaberta ao constatar sobre quem


eu estava falando. — Ela estava lá?

— Sim. Era um encontro de ex-alunos, a presença dela era uma


possibilidade

— Vocês brigaram de novo, meu filho? Achei que o tempo e o


amadurecimento fossem o suficiente para que parassem de agir feito animais.

— Não tenho culpa. — Comecei a me despir da roupa molhada.

— Sua noiva foi com você? — Percebi que havia uma certa
dificuldade para minha mãe pronunciar aquela palavra. Achava que nunca
iria entender a cisma que ela tinha com a Zoe.

— Sim. Ficou com um ciúme desnecessário da Rachel.

— Ah. Que bom que não sou a única que acha que a menina Allen
seria uma esposa muito melhor para você.

— Quê?!? — Me engasguei, tossindo com o susto diante do que a


minha mãe havia falado. — Ficou louca? Talvez não estejamos falando da
mesma Rachel, aquela que tenta me matar todas as vezes que estamos
próximos um do outro.

— Não seja exagerado.

— Isso parece exagero para você? — Apontei para a minha roupa


toda molhada e minha mãe abriu um sorriso amarelo. — Você diz isso
porque sabe que a Rachel é uma mulher com quem eu nunca me envolveria.

— Se você diz... — Percebi alguma coisa em sua voz que me fez


estremecer, porém, ignorei completamente.

Como eu não falei nada, ela foi até a porta para sair do meu quarto.
Porém, antes de desaparecer no corredor, ela se virou e segurou no batente da
porta para me encarar.

— Seu irmão me ligou. Obrigada por ter falado com ele por mim.
Sinto falta quando vocês estão longe.

— Não falei nada com ele, mãe. O Matthew deve ter sentido
saudades.

— Ah. — Ela não disfarçou o sorriso. — Você jantou por lá?

Balancei a cabeça em negativa.

— Então, toma um banho e desce para jantar comigo e com o seu pai.

— Okay!
Minha mãe fechou a porta e eu entrei para o chuveiro. O banho
quente me livraria do cheiro de piscina e da camada de cloro que envolvia o
meu corpo.

Depois de me arrumar, fui para a sala e encontrei os meus pais


reunidos ao redor da mesa de jantar. Ele levantou o olhar do prato e sorriu
para mim.

— Tudo bem, filho?

Fiz que sim.

Eu tive muitas coisas na vida, inclusive muito carinho dos meus pais.
Bernard Smith era um homem reservado antes de conhecer a Júlia, mas até o
coração frio do inglês havia se derretido diante do sol da brasileira. Alguns
diziam que eu havia recebido demais, por isso era tão mimado, porém não me
importava com o que pensavam a respeito de mim.

— Pai, estou prestes a fechar uma parceria com aquela empresa


americana de carros de luxo, a Golden Motors. Vamos oferecer aluguel de
carros de luxo dentro das concessionárias da própria Golden, para que os
clientes que procuram por essa modalidade possam ser beneficiados. O
Senhor Clark estava me dizendo que o foco da empresa é a venda dos
veículos, então podemos entrar com essa frente e, em contrapartida,
adquirimos os carros a serem locados diretamente deles.

— E você acha que isso pode dar certo?


— As perspectivas são muito boas. Vamos ampliar e gerar receita
muito rápido.

— Michael, querido, seu pai confia completamente no seu


julgamento. — Minha mãe colocou a mão sobre o meu ombro e percebi que
aquele era o seu jeito delicado de cortar o assunto e dizer: nada de conversa
de trabalho na mesa de jantar.

Ela fez com que a conversa fosse revertida para trivialidades, e logo
estavam me perguntando sobre a festa e sobre quando Zoe e eu iniciaríamos
os preparativos para o casamento. Não havia dito isso para ninguém, mas
algo dentro de mim me dizia para ir com mais calma.

Quando voltei para o meu quarto após o jantar, vi que Joseph havia
me mandado várias mensagens sobre um workshop e umas fotos de mulheres
nuas. Apaguei todas o mais rápido que consegui, só pensando na reação da
minha noiva ao vê-las. Eu não precisava de outra mulher me enlouquecendo.
Esse posto já era ocupado desde criança pela Rachel Allen. Ri ao me lembrar
da mulher molhada, com a maquiagem escorrendo pelo rosto, que ficava
linda brava daquele jeito. Os anos haviam feito bem para as suas curvas. Se
ela não fosse tão insuportável, eu até teria vontade de transar com ela.
Sete

Girei na cama e puxei o meu celular debaixo do travesseiro quando


ele começou a vibrar, tanto que já estava fazendo a minha cabeça tremer
também.

— Alô? — Puxei o cabelo de cima do rosto, empurrando as mechas


que se acumulavam sobre os meus olhos para que eu pudesse enxergar.

— Bom dia! Se ainda está dormindo é porque a noite de ontem foi


ótima.

— Não sei se ótima seria o melhor termo, mas cansativa, com toda a
certeza.

— Encontrou algum ex-colega supergato e passaram noite inteira


transando? Estou atrapalhando alguma coisa?

— Está de sacanagem, né?

— Não custa nada torcer.

— Rá, rá! — Fingi uma gargalhada em um tom de deboche.

— Foi horrível? Estão achando que você vai ficar para titia? Eles são
bem mais arrogantes do que eram?

— O Michael estava lá, com uma noiva, e acabamos na piscina.


— Espera, vocês três na piscina? Não achei que você fosse dessas que
curtia ménages.

— Jenna!

— Não poderia perder a piada. Desculpa. — Riu baixinho. — Mas


como vocês foram parar na piscina?

— Só nós dois, ela não caiu. Estávamos nos confrontando. Eu


empurrei ele e o Michael me puxou junto. Fora o fato de a Pagie ter me
emprestado o vestido mais cafona que ela tinha para que eu pudesse voltar
para casa, não aconteceu nada demais.

— Foi de propósito, não é?

— Eu ter empurrado o Michael? Claro que não.

— Estou falando do vestido cafona. Tenho certeza de que ela te deu


esse de propósito.

— Pode apostar que sim.

— Vamos esquecer essa festa e pensar no mais importante: nossa


viagem juntas para Miami. Homens gatos, malhados e de sunga, nada de
sobretudos escuros e chapéus cafonas. Vamos curtir a praia e azarar uns
americanos.

— Sério que você quer atravessar o oceano só para transar?

— Trancada com você nessa mansão em Greenwich é que não vai


rolar. Do que adianta estar solteira se você não curte? Na época da faculdade
você era mais animada, ia a todas as festas, beijava muito... Isso era o que eu
via.

Nisso a Jenna tinha razão, eu era bem mais empolgada para a


azaração na época da faculdade. Talvez estivesse ficando velha e não tinha
mais clima para o pega e não se apega. Queria um homem que fizesse o meu
coração parar, que colocasse um anel no meu dedo e me pedisse em
casamento.

Noiva... Aquela palavra ecoou na minha mente como badalos de um


sino enquanto eu pensava sobre o meu próprio destino.

— Você está certa, nunca iriei encontrar alguém sentada na minha


cadeira olhando pela janela para o jardim da Green House. Quem sabe o
amor da minha vida não está em Miami?

— Eba! Vamos comprar as passagens?

— Eu só vou ligar para a clínica e organizar os meus horários.

— Perfeito. — Você vai amar essa viagem.

Não estava com grandes expectativas, não como a Jenna. Porém,


poderia acabar me surpreendendo.
Oito

Joseph me enviara umas ideias interessantes sobre a campanha de


marketing durante a manhã e eu estava ansioso para conversar com ele a
respeito disso, além de jogar conversa fora sobre alguns projetos que
poderiam me ajudar com a Aliance.

Assim que eu saí do escritório central da locadora, no fim da tarde,


liguei para o meu melhor amigo duas vezes, mas ambas caíram na caixa
postal. O certo seria ir para casa e conversar com ele outro dia, porém, estava
tão empolgado e ansioso, que não podia esperar por uma boa conversa.

O triplex do Joseph ficava em Covent Garden, nada mais adequado


para alguém com o perfil dele do que morar na maior área de entretenimento
e teatro de Londres. Peguei o meu carro e fui para lá. Era fim de tarde e o céu
nublado do outono apenas ficava mais escuro. Como o trânsito estava ruim,
então tive tempo de observar as nuances do céu, que estava indo do cinza
para o cada vez mais cinza. Uma folha veio voando e parou no meu vidro
quando passei diante da Royal Opera House, mas saiu voando quando virei o
carro na próxima esquina. Estacionei em uma vaga na rua e fui para o prédio
residencial onde ele morava. Eu possuía autorização de livre passagem e os
porteiros apenas liberaram a minha entrada e eu segui para o elevador.

Assim que acionei o botão do vigésimo sétimo andar, recordei-me de


que havia esquecido os papéis dentro do carro, porém deixei que o elevador
subisse, pois havia o risco de Joseph ainda não ter voltado. Se eu o
encontrasse, voltaria para pegar depois.

O apartamento dele era o único do andar, então segui até a porta no


fundo sem reparar na decoração do corredor. Eram as mesmas paredes
brancas e o teto de gesso de sempre. Bati na porta, mas ele não respondeu.
Recordei-me de que, sempre que estava em casa, ele deixava a porta aberta, e
ela se abriu quando girei a maçaneta.

Estava prestes a gritar pelo meu melhor amigo e proferir alguma


ofensa em tom de brincadeira, como sempre fazíamos, até que vi um vestido
feminino jogado no chão branco e lustroso da sala.

Joseph estava transando e por isso não havia atendido as minhas


ligações. Eu teria debochado da situação se o vestido jogado aos meus pés
não fosse tão familiar. Peguei a peça em um ato involuntário e vi a costura
soltando no mesmo ponto da lateral que me recordava. Era um vestido
popular, comprado em loja barata, qualquer uma poderia ter um vestido como
aquele, porém, o mesmo defeito por excesso de uso era coincidência demais.
Funguei o vestido sorvendo exatamente o aroma que esperava, flor de
laranjeira.

— Filho da puta. — Com a peça ainda na mão, corri para a escada e


avancei para o quarto dele, ciente do que poderia encontrar, ainda que
torcesse por um resultado diferente do esperado.

Abri a porta de supetão e me deparei com a concretização do meu


imaginário. Zoe estava sobre ele, com as mãos no peito do desgraçado,
enquanto rebolava no seu pau, exibindo um sorriso cheio de malícia.

— A minha mãe estava certa sobre você. — Joguei o vestido nela,


fazendo com que notassem a minha presença.

— Michael! — Levantou-se no susto. — Eu...

— Não vem com esse papo de que pode explicar. Entendi muito bem
o que está acontecendo aqui. Você está trepando com o cara que eu achava
ser o meu melhor amigo.

— Mick... — Joseph começou a dizer, mas o meu rosnado o silenciou


e fez com que recuasse para a cabeceira da cama.

— Há quanto tempo? — Era o único questionamento que eu tinha


para eles.

— Desde a sua festa de aniversário, há quatro meses. — Joseph foi


corajoso o suficiente para responder.

— Que belo presente vocês me deram. — Revirei os olhos. — Como


teve coragem de aceitar o meu pedido de casamento? — Mostrei os dentes.

— Eu amo você, Mick.

— Pode guardar esse amor só para você. — Dei as costas e saí do


apartamento dele antes que perdesse a cabeça e fizesse algo que poderia me
arrepender amargamente.
Cheguei em casa bufando como um touro e chamei a atenção da
minha mãe ao bater a porta de entrada.

— Michael! — Ela veio correndo até mim e me abraçou.

Deixei que os seus braços me envolvessem e apoiei o meu queixo no


seu pescoço. Aquele carinho era algo que eu precisava muito.

— Pode dizer que me avisou. — Desviei o meu olhar para o chão de


mármore, brilhante e em tom creme, do hall da mansão. Sentia que o
principal culpado por aquela situação era eu mesmo.

— A que você está se referindo?

Estava torcendo para que a minha mãe não me fizesse admitir em voz
alta, aumentando ainda mais a minha humilhação. Porém, ela era a melhor
pessoa do mundo para arrancar verdades de mim, por mais dolorosas que elas
fossem.
— Peguei a Zoe trepando com o Joseph. Já estão nessa há quatro
meses, e ainda conseguiam olhar para mim com a cara mais lavada do mundo
enquanto me enchiam de galhos.

— Eu sinto muito. — Afagou o meu cabelo, intensificando o nosso


abraço.

— Ah, mãe! Agora eu sei o que é parecer um idiota.

— Não pense dessa forma, Mick. Sei que deve estar se sentindo
terrível, porém pense pelo lado bom. Ia ser muito pior se você descobrisse
depois do casamento. A Zoe vai sair da sua vida, mas abrirá espaço para a
mulher certa. Eu tenho certeza de que você ainda será muito feliz com a
aquela que será sua esposa.

— Que esposa que nada! — Desvencilhei-me do seu abraço. —


Acabo por aqui com essa tentativa de me casar. Se só transo com elas, não
preciso me preocupar com quem mais estão dormindo. Vivia bem melhor
assim.

— Filho, não diz isso.

— Se quer o meu bem, me deixa ficar desse jeito. — Passei por ela e
segui para o meu quarto.

Estava irritado e precisava ficar sozinho.

A traição da Zoe era a confirmação de um antigo pensamento meu, o


de nunca entregar o coração para ninguém. Contudo, achava que nem estava
sofrendo tanto, pois nunca havia entregue o meu coração para ela de verdade.
Nove

— Não está esquecendo de levar uma blusa de frio? — Anne


apareceu na porta do meu quarto e me olhou, acanhada, enquanto eu
guardava os últimos pertences dentro da mala.

— Lá não faz o frio que faz aqui. A estimativa de temperatura é de


trinta a trinta seis graus durante os dias da minha estadia lá.

— Ela vai para a costa tropical da Flórida, Anne. — Minha mãe


entrou no quarto e deu um beijo na minha testa.

— Ah! — Balbuciou a governanta enquanto ainda me observava com


um ar preocupado. Ela nunca havia saído da Inglaterra e não era uma surpresa
que não conhecesse climas diferentes do que o que encontrávamos na região
metropolitana de Londres.

— Eu vou ficar bem, Anne — prometi para ela, e um sorriso de


contentamento surgiu nos seus lábios.

— Se precisar de qualquer coisa, você promete que liga? — Minha


mãe envolveu o meu pescoço com os braços. A força era tanta que tive a
sensação de que ela queria me sufocar.

— Mãe, eu sou uma adulta. Posso sobreviver alguns dias sozinha em


outro país.
— Sabe que vai ser sempre a minha garotinha. — Apertou as minhas
bochechas. — Ah, Anne, eles cresceram tão rápido.

— Aproveita seus netos enquanto eles ainda estão pequenos, mãe. —


Afastei-me dela para pegar a necessaire que estava sobre a bancada da pia no
meu banheiro.

— Eu amo os meus netos, mas também amo você, minha caçula. —


Ela veio me abraçar de novo quando voltei para o quarto, mas eu me esquivei
com um passo para o lado.

— Promete que toma conta dela por mim? — Busquei o olhar da


Anne, prevendo o quanto a minha mãe poderia ficar, desnecessariamente,
preocupada com a minha viagem.

— Pode contar comigo, senhorita.

— Você é um amor. — Dei um beijo no rosto da Anne enquanto


ignorava a expressão de cachorro abandonado da minha mãe.

— Salvou o número do seu irmão como contato de emergência? —


Meu pai surgiu na porta do quarto, analisando-me minunciosamente com o
olhar. — Eu liguei para ele ontem e o fiz me garantir que, se algo acontecesse
com você, ele iria te buscar. Queria eu poder fazer isso, mas você sabe que a
minha saúde não é mais a mesma.

— Seria melhor se você parasse de desobedecer às recomendações


médicas. — Minha mãe olhou torto para ele, com a recriminação estampada
no rosto, mas o velho fingiu nem perceber as alfinetadas da esposa.

— William vai te socorrer, é só ligar para ele.

— Obrigada, pai, mas o meu irmão tem os próprios filhos e a rede de


hotéis para se preocupar. Não pode ficar de prontidão para cada respiro meu.
Além disso, eu já tenho vinte e cinco anos. Posso me virar muito bem
sozinha. Não é como se eu estivesse saindo para uma missão perigosa. Vou
passar dez dias com a Jenna em um hotel de luxo em Miami.

— Não menospreze a nossa preocupação, Rachel.

— Ah, mãe. — Eu a abracei para conter o riso.

Recordei-me da primeira vez que havia viajado sozinha em uma


excursão da escola. Não importava quantos anos houvessem passado, o
drama continuava exatamente o mesmo.

— Agora eu preciso ir. O táxi já deve estar me esperando lá embaixo.

— Não prefere que eu te leve ao aeroporto?

— Pai, Heathrow não é ali do lado. O senhor não tem mais condições
de dirigir por tanto tempo. Lembre-se do que a mamãe disse: precisa seguir
as recomendações médicas. — Dei um beijo na bochecha dele e outro na da
minha mãe antes de ir abraçar a Anne, que era a governanta ali desde antes de
eu nascer. A considerava como uma segunda mãe. — Toma conta dos dois e
não deixa eles aprontarem na minha ausência, tudo bem?
— Pode deixar, menina. — Ela retribuiu meu beijo no rosto.

— Eu vou ficar bem — prometi, ao pegar as minhas malas pela alça


do carrinho. — Espero que vocês fiquem também.

Deixei o meu quarto e desci a escada, seguindo pelo hall até chegar
na entrada da Green House, onde o taxista aguardava por mim. Ele me
ajudou a guardar as malas no carro e abriu a porta de trás.

Logo eu estaria no aeroporto, rumo ao novo continente. Praias, caras


bonitos e um monte de distrações me fariam bem.

Cheguei no aeroporto e fui direto para o check-in despachar a minha


bagagem e fui para a sala de embarque. Sentei-me em uma das cadeiras de
metal perto de um quiosque com produtos personalizados de Londres para
turistas, como o ônibus vermelho, os soldados da rainha e miniaturas do Big
Ben. Faltavam duas horas para o meu voo, tempo suficiente para que a Jenna
aparecesse e embarcássemos juntas.

Meu celular tocou e eu atendi no primeiro toque.

— Onde você está?

— Rachel, não sei se vou chegar a tempo do voo. — A voz dela do


outro lado da linha era tensa e me deixou nervosa.

— Como assim você não sabe se não vai chegar a tempo? — Rangi os
dentes. Não era possível que a minha amiga havia me botado tanta pilha para
fazermos aquela viagem juntas, mas iria furar comigo no último momento.
— Um cano estourou aqui no meu apartamento e está uma meleca só.
Não posso viajar e deixar as minhas coisas naufragando. Preciso resolver isso
antes de ir.

— Tudo bem. — Respirei fundo, para espantar o descontentamento e


a irritação. — Vou voltar para casa e você me avisa quando iremos.

— Não! De jeito nenhum! Remarcar passagem é um saco e você sabe


disso. Vai e a gente se encontra lá. O encanador está chegando e assim que
resolver o meu problema, eu pego o próximo voo para Miami. Hoje ainda, no
máximo amanhã cedo.

— Quer que eu viaje sozinha? — Arregalei os olhos e dei um grito,


fazendo com que a senhora que estava sentada ao meu lado, com uma caixa
de transporte no colo, olhasse para mim.

— Você só vai chegar na frente. Pode ir abrindo caminho e


conhecendo o território. Se não quiser, só entra no quarto e dorme. Porque
conheço bem você; se voltar para casa, vai mudar de ideia e desistir de ir.

— Jenna, não quero viajar sozinha.

— Você não está viajando sozinha, só indo na frente. Por favor,


Rachel, vou logo depois de você. Assim que notar a minha falta, eu já terei
chegado.

— Okay! — Deixei que meus ombros caíssem, derrotada. — Se você


não aparecer, eu juro que mando alguém te matar.
A senhora ao meu lado abraçou a caixa de transporte e afastou-se bem
para a beirada da cadeira. Porém, não me preocupei em explicar que era
apenas uma expressão, não iria matar a Jenna de verdade, por mais que
quisesse que a minha amiga acreditasse que sim.

— Encontro você amanhã, Rachel — prometeu Jenna, antes de


desligar a chamada.

Joguei o celular de volta na bolsa, irritada. Bela amiga eu tinha. Havia


feito de tudo para me convencer a viajar com ela para me deixar sozinha no
último momento. Já estava no aeroporto mesmo, então concordei que era
melhor seguir viagem do que voltar para casa e provavelmente mudar de
ideia.

Aguardei o horário de embarque e esperei que os clientes da primeira


classe fossem convidados a embarcar. Peguei a minha mala de mão e a bolsa
e me dirigi até a fila, com o meu passaporte entre os dedos.

Entreguei a passagem com o documento para a atendente, que me


desejou boa viagem. Segui para dentro do avião. Procurei pela minha
poltrona e deixei minha bolsa nela, enquanto acomodava a minha bagagem
no compartimento superior.

Fazia tempo que não viajava para destinos tão distantes. Aquelas dez
horas dentro do avião para chegar a Miami poderiam ser bem exaustivas.
Esperava que o destino compensasse.

Peguei o meu celular e os fones de ouvido, iria escutar uma playlist


antes do voo começar. Distraída, procurando pela música perfeita, passando
os dedos de um lado para o outro pela tela do meu celular, não percebi quem
havia sentado do outro lado do corredor até virar a cabeça.

O susto foi tão grande, que imaginei estar em um pesadelo. Situações


como aquela só aconteciam em sonhos mirabolantes. Quando ele sorriu para
mim, supliquei para acordar logo e sair daquela tortura, mas não acordei.

— O que está fazendo aqui? — Mostrei os dentes.

— Eu que pergunto.

— Michael, se tiver de sacanagem comigo...

— Você fretou esse avião e eu não fiquei sabendo, princesinha? —


Ele dobrou as mangas da camisa branca como se não desse a mínima para a
minha presença. — Até onde eu sei, qualquer um pode comprar uma
passagem e se sentar aqui.

— De todos os voos para os Estados Unidos, você tinha que pegar


esse?

— Eu te faço a mesma pergunta. Está insinuando um monte de coisas


sobre mim, mas se for você quem estiver me perseguindo?

— Eu nunca perseguiria você. — Estufei o peito.

— Tenho as minhas dúvidas — disse, debochado.

— Não sei onde comprou esse caminhão de ego, mas só aquela sua
noiva para te achar minimamente interessante. Tadinha! Fico me perguntando
que tipo de lavagem cerebral você fez nela.

A expressão dele se alterou e a arrogância diminuiu vários níveis. Não


sabia em que ponto havia tocado, mas o incomodara ao ponto de fazê-lo
engolir em seco.

— Não estou mais noivo.

— Que sorte a dela.

— Acredito que sim. — Ele virou o rosto, encarando a janela que


estava na outra extremidade do avião.

Era a primeira vez em anos que Michael desviava o olhar do meu tão
rapidamente. Naquele momento eu havia ganhado a nossa batalha de ofensas,
mas não sabia exatamente como ou o porquê.

Tentei não provocá-lo mais. Busquei ser racional, nem que fosse por
um minuto. Michael e eu éramos encrenca juntos. Não poderíamos ficar nos
provocando ou até derrubaríamos o avião para convencermos o outro de
quem era o melhor.
Dez

Era só o que me faltava. Rachel Allen estava no mesmo voo que eu, e
isso parecia a confirmação de que, quanto mais tentava fugir dos problemas,
mais eles me perseguiam.

Após ter pegado a minha noiva trepando com o cara que acreditava
ser o meu melhor amigo, eu havia feito as malas de supetão e decidido ir para
Miami. Estava tentando fechar um importante contrato com uma empresa
cuja sede ficava na cidade paradisíaca americana, e acreditava que aquela
pudesse ser a desculpa perfeita que eu precisava para fugir e pensar sobre o
que havia acontecido e as decisões erradas que tinha tomado na minha vida.

Iria encontrar o Dean Clark pessoalmente e, em contrapartida, ficaria


um tempo longe do que tanto me atormentava em Londres. Não teria que
olhar na cara da Zoe, nem do Joseph, muito menos ficar ouvindo a minha
mãe dizer que o que acontecera, por pior que fosse, tinha sido melhor para
mim.

Entrar no avião e ver Rachel Allen sentada em uma das poltronas da


primeira classe era quase uma piada do destino, que jogava na minha cara
que não era tão fácil assim fugir dos problemas. E Rachel era um problema e
tanto.

O que ela estava fazendo no mesmo voo que eu para Miami eu não
tinha a mínima ideia, contudo, ali estava ela para pisar nos meus calos, como
sempre fazia, só que daquela vez doeu. Odiei ter pensado, mesmo por um
segundo, que ela poderia estar certa. Uma mulher precisava ser louca para se
comprometer comigo?

Não importava! Jamais me amarraria a um compromisso novamente.


Havia cedido a pressão e colocado um anel na mão de uma garota com a qual
estava saindo por seis meses. Aquele era um erro que eu não cometeria
novamente.

O aviso para atar os cintos apareceu no painel e eu me ajeitei na


poltrona. Só precisava sobreviver a um voo com a Rachel e logo teria um
tempo de paz. Fecharia um grande negócio e poderia me dedicar a mim
mesmo por alguns dias.

O avião levantou voo e os comissários de bordo passaram as


instruções de segurança. Por um tempo, capturaram a minha atenção e fiquei
olhando fixamente para eles até que terminassem. Porém, eu não estava
literalmente concentrado nas instruções que passavam; minha mente vagava e
vinha a imagem da traição que sofri. A cena passava várias vezes pela minha
mente, como flashes de um pesadelo. A cada vez que eu revivia aquilo, me
achava ainda mais idiota por ter deixado que a situação chagasse a tal ponto.
Tudo poderia ter sido evitado se eu não tivesse pedido a Zoe em casamento.

Quando a luz de atar cintos apagou no painel, peguei o notebook na


minha pasta e abri a mesa de refeições para usar de apoio. Durante as horas
que me separavam de Miami, eu poderia trabalhar minha apresentação para o
CEO da Golden Motors. Ficar entretido com algo produtivo era o que eu
poderia fazer de melhor para mim mesmo.

Por uma hora, talvez duas, esqueci que Rachel estava sentada na
poltrona do outro lado do corredor. Quando uma comissária de bordo passou
oferecendo comida, bebidas e outros petiscos, peguei um saco de amendoim e
uma dose de uísque. Fiquei reparando na Rachel, nos seus cabelos loiros,
olhos verdes e expressão dispersa. Apesar de ter crescido e envelhecido, vê-la
daquele jeito me fez lembrar exatamente da garotinha que eu havia conhecido
nos meus primeiros anos de escola. Nunca soube explicar o motivo, mas a
vontade de implicar com ela sempre foi muito grande. Peguei um dos
amendoins no saco e arremessei nela.

— Ei! — gritou, ao se virar para mim de dentes cerrados. Eu adorava


vê-la irritada. — Você ficou louco?

Balancei a cabeça em negativa com o meu típico sorriso de deboche.

— Por que está arremessando amendoim em mim?

— Fiquei entediado.

— Tem paciência no sistema de entretenimento do avião, você sabia?

Balancei a cabeça em afirmativa.

— Então, vai jogar e me deixa em paz.

— Não. — Arremessei outro amendoim nela, que quicou na sua testa


e caiu no chão. — Perturbar você é mais divertido.
— Fica quieto, garotão! Não é mais um nanico, mas parece que só o
seu corpo cresceu. Seu cérebro continua do mesmo tamanho que tinha no
maternal. Só assim para justificar tamanha infantilidade.

— Você me acha infantil? — Tombei o corpo para observá-la melhor.

— Acho.

— Que bom que eu não me importo com a sua opinião. — Joguei um


amendoim na boca e outro nela.

Vi o rosto da Rachel assumir um tom cada vez mais vermelho e


presumi que havia feito muito bem o meu trabalho de irritá-la.

— Seu babaca, nanico.

— Acho que alguém aqui perdeu os argumentos.

— Vai para a classe econômica e me deixa em paz!

— Os incomodados que se retirem.

— Eu te odeio! — Ela cerrou os dentes, bufando feito um touro e não


contive a vontade de rir. Gargalhei muito, aumentando ainda mais a fúria
exibida na expressão da Rachel.

— Nosso sentimento é mútuo. — Pisquei para ela.

Ela pegou a colcha, virou de lado e cobriu o rosto, tentando me


ignorar, porém continuei jogando amendoim nela até que Rachel se levantou,
pegou suas coisas e foi procurar um local para se sentar na classe econômica.

Ela havia desistido da batalha muito rápido.

Eu tinha me vingado por ela ter pisado no meu calo quando falou
sobre o meu noivado.
Onze

Assim que peguei a minha mala na esteira do desembarque, segui


para fora do aeroporto para pegar um táxi e ir para o hotel onde eu ficaria
hospedada em Miami Beach. Fiz um gesto para um que estava desocupado e
o motorista me ajudou com a minha mala e abriu a porta traseira para que eu
me acomodasse.

Nem tive o trabalho de ligar para a minha amiga, pois, assim que
peguei o meu celular, ela estava ligando.

— Jenna!

— Já chegou, amiga?

— Sim. Estou no táxi a caminho do hotel. Conseguiu resolver o


problema no seu apartamento?

— O encanador ainda está trabalhando, precisou trocar toda uma


tubulação, mas já remarquei a minha passagem e vou amanhã cedo.

— Amanhã? Não acredito que vai me fazer passar mais de um dia


aqui sozinha.

— Ah, amiga, relaxa, você está em um lugar paradisíaco. Aproveite.

— Tudo o que eu não consegui foi relaxar durante o voo. — Bufei.


Ainda estava uma pilha de nervos devido a péssima companhia que tive que
aturar.

— Por que está dizendo isso?

— Advinha quem estava na primeira classe junto comigo?

— Um cara muito gato que te deixou babando o voo todo e por isso
você nem dormiu.

— Rá, rá. — Fingi uma gargalhada.

— Ah, amiga, eu não tenho bola de cristal.

— O Michael Smith.

— Espera, aquele Michael Smith que tomou banho de piscina com


você?

— O idiota? Esse mesmo! Ah, que ódio! Acredita que ele ficou
jogando amendoim em mim até que eu me levantei e fui para a classe
econômica? Nossa! — Eu me contorci, minhas costas ainda estavam doendo
por ter dormido sem jeito em uma poltrona apertada.

— Não acredito que você foi para a classe econômica só para se livrar
dele.

— O que mais queria que eu fizesse?

— Que mandasse ele parar.

— Acha que eu não tentei? Ele é tão escroto que teve a coragem de
dizer para mim: os incomodados que se retirem... — Tentei imitar a voz
soberba daquele cretino.

Jenna teve uma crise de riso do outro lado da linha e a minha vontade
foi atravessar o telefone e dar nela. Não era possível que poderia ter achado
graça diante do meu relato enfurecido.

— Ah, Rachel! É cada coisa que acontece com vocês, que se eu não te
conhecesse, acharia que era história.

— O importante é que eu já cheguei e não irei mais vê-lo.

— Sim, foco nos americanos. Amanhã, eu chego para curtirmos


juntas.

— Espero que sim, pois se você não aparecer, eu juro que te mato
quando voltar para a Inglaterra.

— Eu estou indo, Rachel. Quando menos esperar, já terei chegado.

— Estou torcendo para que sim.

— Beijos, amiga! O encanador está me chamando. Me manda fotos


do hotel quando chegar.

— Mando, sim.

Ela desligou a chamada e eu me debrucei sobre o vidro do carro para


reparar na cidade. Era completamente diferente de Londres. Além do céu
muito azul e com nuvens pontuais, as ruas estavam cheias de palmeiras muito
verdes, diferentes das árvores escuras e sem folhas que tomavam as ruas da
capital inglesa no auge do outono. As pessoas também eram diferentes,
usavam roupas mais frescas, eram mais morenas e sorriam muito.

Jenna tinha razão, era uma cidade linda.

Alguns minutos, talvez uma hora, depois, o táxi estacionou na entrada


do hotel onde eu ficaria hospedada. Suspirei ao sair do carro e provar do
cheiro de mar que havia na atmosfera. Vir para um lugar paradisíaco e passar
alguns dias de férias me faria muito bem.

O taxista tirou a minha mala e a colocou ao meu lado enquanto eu


procurava por alguns dólares na minha bolsa para pagá-lo.

— Tenha uma boa estadia, senhorita.

— Muito obrigada. — Dei a ele um pouco mais do que o valor da


corrida pela hospitalidade.

Assim que ele voltou para o carro e acelerou para longe, puxei a alça
da minha mala e a arrastei para a recepção do hotel. O hall de entrada era
muito grande, possuía um pé direto alto, com belas colunas que me
lembravam as que compunham os templos gregos. Havia vários arranjos com
plantas muito verdes, como samambaias, entre outras, além de flores tropicais
e muito coloridas. Tinha a sensação de que não havia visto tantas cores na
vida.

Estava completamente encantada com o hotel, admirando o chão claro


e brilhante, até o teto. Por aquele lugar lindo, tinha valido a viagem exaustiva
com o Michael Smith. Continuei a arrastar a minha mala até chegar diante do
balcão da recepção. Eu não havia reparado no homem que estava
conversando com uma das recepcionistas até que me debrucei sobre o
mármore e ele olhou para mim. Aquele par de olhos azuis só poderia ser o
meu maior pesadelo.

— Caralho! — Mordi os lábios ao ficar toda sem graça quando as


recepcionistas olharam para mim assim que gritei o palavrão.

— Sua boca já foi mais limpa, chorona.

— O que diabos você está fazendo aqui? Fala sério! Só pode ser
perseguição, não há outra justificativa.

— Eu cheguei primeiro. Então, se tem alguém perseguindo alguém


aqui, as chances de ser você são bem mais altas.

— Com todos os hotéis em Miami, por que você escolheu esse?

— Era o mais recomendado.

— Você não pode se hospedar aqui! — Afunilei os olhos, esperando


inutilmente que a minha expressão de fúria fosse o suficiente para que ele
fosse embora.

— Não posso? Por acaso esse é um Allen Plaza? Desculpa, mas acho
que não vi o seu nome na fachada.
— Senhora, em que posso ajudá-la? — Uma das recepcionistas
chamou a minha atenção para tentar dispersar o clima de fúria que Michael e
eu havíamos estabelecido.

— Tenho uma reserva em nome de Rachel Allen.

— Pode me emprestar seu passaporte, por favor?

— Sim. — Abri a minha bolsa, vasculhei pelo documento e o


entreguei a ela. — Aqui está.

— Obrigada.

— Sua chave, senhor. — A outra recepcionista entregou um cartão


para Michael com um sorriso todo bobo, como se houvesse encontrado algo
interessante nele. Coitadinha! Estava precisando de óculos novos.

— Obrigado. — Ele piscou de um olho para ela, que alargou ainda


mais o sorriso.

— Se precisar de qualquer coisa, é só ligar para a recepção discando o


zero do telefone. Meu nome é Hope.

— Pode deixar, Hope. Vou ligar quando precisar de ajuda. — Ele a


olhou de um jeito malicioso e meu estômago se revirou quando minha mente
me fez pensar que esse tipo de ajuda poderia ser com o zíper da calça.
Nojento! Com tantas pessoas para jogar o charme dele, era melhor que
poupasse as funcionárias do hotel, mas talvez ele estivesse desesperado
demais para agir com modos. Possivelmente, eu não era a única ali que não
transava há um tempo.

— Sua chave, senhorita Allen — chamou a recepcionista, que estava


me atendendo, e me entregou um cartão. — Seu quarto é o mil e seis. Pode
pegar o elevador ali no fim do corredor. Fica no décimo andar.

— Obrigada. — Sorri para ela e puxei a minha mala, apressando-me


para sair da presença do Michael.

Mesmo estando hospedados no mesmo hotel, torcia para que o meu


caminho não voltasse a cruzar com o dele. Porém, quando o destino
começava a sacanear, ele não dava folga.
Doze

Era só o que me faltava, Rachel Allen no mesmo hotel que eu. Seria
engraçado se não fosse tão trágico. Ela ainda estava furiosa comigo pelos
amendoins durante o voo e tudo indicava que eu ainda teria muitas chances
de enlouquecê-la.

Depois de trocar alguns olhares e sorrisos provocativos com a


recepcionista, peguei o cartão-chave, junto com um pequeno papel que
continha o telefone dela. Esse era um ótimo indicativo de que eu não
precisaria passar a noite sozinho. Uma das vantagens de estar solteiro
novamente era que eu poderia dormir com a mulher que quisesse quando bem
entendesse, sem dever explicações ou satisfações a ninguém. Sem dúvidas,
ter cogitado me casar havia sido a pior decisão que eu tomara nos últimos
anos.

Peguei elevador e segui para o décimo andar e, caminhando pelo


corredor do andar onde estava hospedado, observei a decoração clara e
tropical do hotel. Apesar das paredes e do chão serem brancos, havia muitos
quadros azuis e outras decorações, além de arranjos de flores tropicais e com
cores vibrantes.

Estava torcendo para que o clima alegre do local me influenciasse, e


que eu deixasse para trás, de uma vez por todas, todo o sofrimento que a
traição havia me causado.
Entrei no quarto e deixei a minha mala perto de um roupeiro vazio
antes de me despir, livrando-me do terno para colocar roupas mais frescas.

Abri o frigobar e peguei uma lata de cerveja gelada no momento em


que meu celular tocou.

— Mãe? — disse, ao ver o número dela no identificador de chamada.

— Mick, querido, como você está? Fez boa viagem?

— Sim, já estou no hotel.

— Que ótimo. Fico preocupada quando passa tanto tempo sem dar
notícias.

— Mãe, a senhora precisa parar de se preocupar à toa ou vai ficar


sofrendo desnecessariamente.

— Acho que esse é o mal de toda mãe. Quando você for pai, talvez
entenda o que eu passo quando vocês dois estão longe de mim.

Ri baixinho, para que ela não ouvisse. Às vezes, Júlia Smith era
superprotetora demais.

— Eu estou bem, não precisa ficar preocupada.

— Que bom! Como foi a viagem?

— Divertida.

— Divertida? — Percebi o estranhamento em seu tom de voz ao me


devolver a palavra que eu havia dito em tom de pergunta.

— Rachel estava no mesmo voo.

— A Allen?

— Sim, ela mesmo.

— Oh, céus! Felizmente vocês estão em terra firme, caso contrário, eu


estaria muito preocupada.

— Preocupada com o quê?

— De vocês derrubarem o avião.

— Não seja tão exagerada.

— Seus professores da época da escola vão garantir que eu não estou


sendo exagerada. Perdi as contas de quantas vezes fui chamada pelos
diretores por causa de alguma briga de vocês.

— Não derrubamos o avião. Na verdade, ela desistiu muito fácil e foi


para a classe econômica.

— Imagino o que você fez com a pobre moça.

— Pobre moça? Sério, mãe!?

— Sim, pobre moça, pois geralmente é você quem inferniza a


pobrezinha.
— Achei que estivesse do meu lado.

— Estou, querido, mas preciso ser justa. Quando você pregou


chicletes no cabelo dela e a pobrezinha teve que cortar, foi muito cruel.

— Não vamos ficar relembrando das coisas que fiz quando tinha
menos de dez anos de idade.

— Deixe-a em paz, okay?

— Ah, mãe...

— Mick, promete que não vai provocar? Você foi aí para fechar um
negócio e não começar uma guerra.

— Não seja exagerada, mãe.

— Michael...

— Okay! Vou me esforçar para não encher o saco da chorona, tudo


bem?

— Sim. Fica bem, querido. Não some e liga para mim quando puder.

— Certo, mãe. Beijos!

— Beijos!

Ela desligou a chamada e eu deixei o celular sobre a cama e caminhei


para a pequena varanda do quarto que me permitia ver toda a área com
enormes piscinas, além do mar muito azul que se perdia no horizonte. Eu
havia escolhido um belo lugar para espairecer.

Desci para a aérea de lazer do hotel e admirei todo o espaço antes de


voltar para o meu quarto e ligar para o Dean Clark. Ele ficou surpreso com a
minha presença na sua cidade natal, mas ficou contente e agendamos uma
reunião presencial no dia seguinte na concessionária de Miami, onde ele
ficava.

Comi um salmão grelhado no restaurante do hotel e quando voltei


para o meu quarto já era noite. Encontrei em um móvel sob a televisão o
telefone da recepcionista e liguei para ela. Um pouco de sexo casual me faria
bem. Após o término trágico do meu noivado, o bom e velho Michael
cafajeste estava de volta, e aquela era a versão de mim que eu mais gostava.
Treze

Estava encantada com o hotel. Após o estresse na chegada, não voltei


a encontrar o Michael, e estava torcendo para que os demais dias da minha
hospedagem fossem assim. Caminhei pela orla da praia, usando um vestido
fresco, e parei para comer em um café enquanto curtia cada momento sem
qualquer estresse.

Seria melhor se a Jenna não houvesse me deixado sozinha, porém,


solitário ou não, o passeio estava sendo incrível.

Voltei para o hotel no início da noite, tomei um banho de piscina e fui


para o meu quarto. Porém, assim que pisei no corredor, um nó se formou na
minha garganta. Eu o vi levando a recepcionista para dentro do quarto, que
era justamente o quarto ao lado do meu.

Revirei os olhos, irritada. Não consegui explicar, mas aquela cena me


incomodou muito mais do que deveria. Talvez fosse por tê-lo visto olhar para
a moça como se fosse um pedaço de carne. Eu estava acostumada a conviver
com cafajestes, tivera um em casa por muitos anos, porém Michael talhava
muito mais o meu sangue do que o meu irmão.

Esperei que eles entrassem no quarto antes de seguir para o meu.


Achei melhor não deixar que o Michael me visse. Se o nanico descobrisse
que o meu quarto era ao lado do dele, faria de tudo para transformar a minha
vida em um verdadeiro inferno. Assim que ele trancou a porta, segui pelo
corredor e esgueirei-me para o meu quarto como se estivesse me escondendo
de alguém, o que, de fato, eu estava.

Tomei um banho e peguei um livro na minha mala. Iria terminar


aquele romance enquanto observava o céu límpido de Miami através da
varanda do quarto. Acomodei-me na cama, afofando um travesseiro atrás de
mim para que as minhas costas ficassem confortáveis e abri na página que
havia parado.

Assim que mergulhei na história, ouvi um barulho que me sugou


completamente.

Gemido?

Fingi que não tinha ouvido nada e continuei lendo. Entretanto, outro
gemido veio logo depois, ainda mais alto e estridente.

— Sério isso? — Bufei enquanto a minha mente se enchia das piores


imagens.

Tudo o que eu não queria era ouvir o Michael transando com a


recepcionista no quarto ao lado.

Imaginei que fossem parar, mas não pararam, foram se tornando mais
audíveis. Chegavam a ecoar dentro da minha cabeça. Ele só poderia estar
espancando a moça para fazê-la gritar tão alto, não havia outra justificativa.

Irritada, peguei o telefone sobre o móvel de cabeceira e liguei para a


recepção.
— Aqua Beach Resort em que posso ajudar?

— Oi, eu estou aqui no mil e seis e tem um escroto no quarto ao lado


que não para de gemer.

— Gemer? Acha que alguém se machucou lá dentro, senhorita?

— Não, provavelmente ele está transando.

— Ah! — Percebi a mudança no tom de voz da mulher que estava do


outro lado da linha.

— Quero que alguém venha aqui e peça para eles pararem. Não sou
obrigada a ficar ouvindo a foda alheia.

— Entendo o desconforto, senhorita. Contudo, quanto a isso, não


podemos fazer nada. Peço que aguarde um pouco, irão parar, nunca dura
muito.

— Aguardar um pouco? — Rangi os dentes. A vontade foi de tacar o


telefone na parede.

— Sim, por favor, aguarde. Tem algo mais em que eu possa ajudá-la?

— Algo mais? Não! — Desliguei a chamada, furiosa. Como ela tinha


a audácia de me pedir para esperar e fingir que nada estava acontecendo?
Aquilo era demais até para mim.

— Ah, por favor, isso! Enfia seu pau em mim.


Peguei o outro travesseiro e o coloquei ao redor do rosto, cobrindo os
meus ouvidos como podia, quando ouvi aquela frase que me nauseou.

— Isso! Ah, que delícia...

Será que a recepcionista não poderia ser um pouco mais silenciosa?


Ou seriam as paredes finas demais?

Minutos se passaram e os gemidos continuaram e não pareciam


próximos de parar. Joguei o travesseiro de qualquer jeito e me levantei,
furiosa. Aquele idiota iria se ver comigo.

Saí do quarto usando um pijama e parei na porta dele. Bati uma, duas,
três vezes com toda a minha força. Só iria parar quando ele abrisse a porta.

Levou alguns minutos, mas a maçaneta girou e Michael apareceu,


com o abdômen sarado a mostra e a parte de baixo envolvida em uma toalha
branca. Atrás dele, eu pude ver a mulher esparramada sobre a cama, coberta
com um lençol branco.

— Chorona, por que está batendo na minha porta desse jeito? Ficou
com saudades?

Balancei a cabeça em negativa, ignorando o comentário


completamente imbecil dele.

— Tentem gemer mais baixo. Tem outras pessoas nesse hotel além de
vocês dois.
— Não.

— Como não? — Elevei as sobrancelhas.

— Existem outras pessoas nesse hotel, mas você é a única que parece
incomodada.

— Fui a única com coragem para falar.

— Isso é porque quer se juntar a nós? — O sorriso malicioso dele me


desconcertou completamente.

— Quê? — Fui varrida por uma onda de choque. — Claro que não!

— Então, não me interrompa. — Ele bateu com a porta na minha


cara.

— Michael! — Fiquei encarando a porta fechada até que os gemidos


retornaram.

Como ele tinha a audácia de continuar transando aquele jeito depois


do meu pedido?

Voltei para o meu quatro batendo os pés. Peguei o travesseiro e


golpeei a cama em um lapso de fúria. Michael era mesmo um grande idiota.

Eu torci para que ele parasse logo, para que o pênis dele caísse ou que
brochasse, mas os gemidos duraram quase a noite inteira. Mal consegui
dormir, o travesseiro sobre a cabeça não era o suficiente para aplacar o
showzinho dele, que parecia mil vezes pior depois da minha reclamação. Eu
conhecia Michael o suficiente para saber que ele estava fazendo de propósito.

Ah, se eu tivesse a oportunidade iria esganar aquele maldito canalha.


Quatorze

Hope deixou o meu quarto antes de amanhecer, pois precisava se


arrumar para a jornada de trabalho, contudo o sorriso estampado nos lábios
dela me diziam que a noite que passamos juntos fora memorável para ela.
Estava com saudades de transar por transar, sem qualquer compromisso

Confesso que a Rachel aparecendo na minha porta me pedindo para


parar fora um incentivo maior para que eu fizesse a Hope gemer muito mais.
Eu a fiz encontrar o orgasmo incontáveis vezes antes de concluirmos o ato. A
cada orgasmo, ela gritava mais alto e eu vibrava com a provocação. Rachel
deveria estar enlouquecendo no quarto ao lado. A Hope no meu quarto não
tinha como objetivo irritar a princesinha Allen, mas viera a calhar. Imaginava
a cara de fúria dela e isso me fazia rir sozinho.

Tomei um banho demorado e relaxante, depois vesti um terno. Apesar


do calor infernal que fazia naquela cidade, iria para uma reunião de negócios
e precisaria estar apresentável. Apesar de ter apenas vinte e cinco anos e ter
assumido recentemente os negócios do meu pai, tentava compensar a minha
pouca idade e a falta de experiencia com boa postura e apresentação.

Tomei o café da manhã no restaurante do hotel antes de pegar um táxi


para a matriz da Golden Motors, que ficava a poucos minutos do hotel onde
eu estava hospedado.

— Obrigado. — Entreguei o dinheiro para o taxista quando ele me


deixou no lugar indicado.

— Tenha um bom dia, senhor.

— Você também. — Afastei-me dele antes que fosse embora.

Da escadaria, eu observei a fachada da concessionária. O letreiro linha


as letras em dourado com uma tipográfica sofisticada e as paredes externas
eram pintadas de preto. Através das vitrines, podia ver os carros de luxo no
saguão principal, e Ferraris, Porches, Corvettes e várias outras marcas, e
inúmeros modelos, enchiam os olhos de qualquer aficionado por carros
esportivos como eu.

Segui para a entrada e fui recepcionado por uma mulher bonita, jovem
e muito simpática.

— Em que posso ajudá-lo, senhor? Está procurando por algo


específico ou quer ver o que temos disponível?

— Não vim para comprar hoje. — Pisquei para ela. — Quem sabe na
próxima vez.

— Ah, sim. — Ficou sem jeito, mas manteve o sorriso.

— Eu vim para uma reunião com o seu chefe, o Dean Clark. Pode
avisar para ele que o inglês Michael Smith está aqui?

— Sim, senhor. — Ela assentiu. — Vou falar com a secretária dele.


Enquanto isso, pode esperar em uma daquelas cadeiras, por favor. —
Apontou para uma cadeira confortável que ficava diante de uma mesa,
certamente, utilizada pelos vendedores.

Segui para o local indicado e fiquei admirando o interior da


concessionária. O local era tão sofisticado, que me fez lembrar o interior de
uma joalheria. Os carros eram expostos como joias, lustres de cristal pendiam
do teto, e o acabamento de todo o ambiente era primoroso.

Alguns minutos depois, a vendedora que havia falado comigo


retornou, parando a minha frente.

— Senhor Smith, pode me acompanhar, por favor.

— Sim. — Alarguei o sorriso que dirigia a ela e a mulher me sorriu


de volta. Enquanto seguia trás dela por um corredor que levava até uma
escada, fiquei reparando no movimento do seu quadril e na curva das suas
nádegas. Precisei me lembrar que estava ali a negócios e que não poderia
levar as funcionárias do meu parceiro para cama.

Ela parou diante de uma porta dupla e abriu uma das partes para que
eu pudesse passar por ela. No fundo da sala, encontrei um homem que
parecia estar na altura dos quarenta anos, tinha cabelos escuros e olhos azuis
como eu. Ele se levantou e deu a volta na mesa, parando diante de mim no
momento em que a porta foi fechada, deixando-nos sozinhos.

— É um prazer conhecê-lo, Michael. — Ele estendeu a mão para mim


em um gesto amigável.
— O prazer é meu, Dean. — Apertei a mão dele. — Você tem ótimas
colaboradoras aqui. — Ri, tentando parecer divertido e descontrair o clima.

— Tenho? — Ele franziu o cenho e pensou por alguns minutos,


depois gargalhou. — Está falando das vendedoras?

Balancei a cabeça em afirmativa, mas fiquei me perguntando se não


tinha dito alguma besteira.

— Os clientes gostam.

— Quem não gosta?

— Nem reparo mais. — Ele voltou para trás da mesa e indicou a


cadeira à frente, incentivando-me a me sentar nela.

— É um pouco difícil de não reparar.

— Presumo que você seja um homem solteiro.

— Sou. Já fui noivo, por pouco tempo; não deu muito certo. —
Engoli em seco ao me recordar da traição.

— Aproveita e come todas as que você puder, porque quando uma te


colocar o cabresto, você está fodido. Foi assim comigo, com o meu irmão...
parece a sina de caras como nós.

— É casado há muito tempo? — Reparei na aliança na mão dele.

— Sou. Há cinco anos.


— Se arrepende?

— De forma alguma! Foi a melhor decisão que já tomei na minha


vida, mas casar é abrir mão de todas para ser de uma só. E elas mandam na
gente, nós querendo ou não, elas mandam.

— Acho que permanecer solteiro será a melhor coisa que farei para
mim mesmo.

— Você acha que eu queria me casar quando eu a conheci? — Ele fez


uma careta e rimos juntos. — Nós, literalmente, não temos escolha.

— Bom saber, para eu fugir dessa garota.

— Não faça isso.

— Por que não? Você não acabou de dizer que elas fodem a gente?

— Você vai estar fodido, mas estará feliz. É bom! — O brilho nos
olhos dele mudou e percebi que havia paixão ao se recordar da esposa.
Questionei-me se, em algum momento do meu noivado, a Zoe fez os meus
olhos brilharem daquele jeito, mas a resposta parecia negativa. Ela não era a
minha garota, mas será que havia alguma garota para mim?

Não iria me preocupar com isso agora. Se Dean estivesse certo, eu


tinha mesmo que curtir.

— Essas são as minhas mulheres. — Ele me entregou uma foto com


uma jovem e duas crianças, duas meninas. — Angel, a minha esposa, e
minhas filhas, Clare e Cristine.

— São lindas. — Devolvi o porta-retratos para ele.

— Obrigado, mas vamos falar de negócios. É um terreno muito mais


seguro do que mulheres. Confesso que não esperava vê-lo aqui em Miami tão
cedo. Estava me programando para fazer uma viagem com a Angel para a
Itália daqui a dois meses, e iria tentar marcar com você uma reunião, mas
acabamos nos encontrando muito antes do previsto.

— Eu precisava viajar um pouco. Decidi aproveitar a oportunidade e


aqui estou eu.

— Unir o útil ao agradável. Isso é bom! Vai adorar Miami; é muito


diferente de Londres, mas tem os seus encantos.

— Com toda a certeza. Passei um dia aqui e já estou apaixonado pelo


lugar, me perguntando porque eu não vim antes. — Peguei a pasta que havia
trazido comigo e tirei alguns documentos dela. — Como havia conversado
com você por telefone, a Aliance Car é uma empresa que está há muitos anos
no mercado de aluguel de carros. Assim como a Golden Motors, temos filiais
pelo mundo. Trabalhamos com aluguel de carros de todas as faixas, dos mais
populares aos mais caros, mas eu assumi a empresa no início do ano e
enxerguei um grande potencial no nicho de alto luxo. Com a nossa parceria,
eu estimo um crescimento de quinze por cento, no primeiro ano, no
faturamento das nossas empresas. Vai ser um excelente negócio.

— Eu estava analisando as projeções, e tenho certeza de que será uma


relação mutualística muito boa.

Passei a manhã toda em reunião com o Dean, discutimos vários


detalhes, e acertamos alguns pontos até que estivéssemos em comum acordo.
Nos próximos dias, iríamos definir a implantação. Estava muito contente com
o resultado do meu encontro com ele. Apenas aquela reunião havia valido a
minha visita a Miami, mas o que eu não sabia era que muito mais ainda
estava para acontecer.
Quinze

— William? — Atendi o telefone, surpresa por ver o número do meu


irmão.

— Oi, irmãzinha, como está a viagem? Gostando dos Estados


Unidos?

— Sim, estou. A cidade é linda. Pela manhã, eu passeei pela orla e fiz
algumas compras. Vi uma tartaruga de pelúcia que a Rose vai amar.

— Acabei de chegar do hotel e ela não parava de perguntar de você.

Olhei através da porta de entrada do hotel para o céu claro da tarde,


mas me recordei que, devido ao fuso horário, em Londres já era noite.

— Achei que fosse a mamãe mandando você ligar para mim.

— Também, mas eu ignorei um pouco, porque se fosse dar ouvidos


para ela, iria ligar para você o tempo todo. Assim, eu não ia conseguir
trabalhar e nem você aproveitaria a viagem.

— Deixa eu falar, papai! — Ouvi a voz do outro lado da linha.

— Calma, filha, já vou deixar.

— Ela é uma fofa.

— Muito sapeca. — Ele riu. — Então, vou dizer para nossas duas
mães que está tudo bem com você.

— A Anne também está pilhada?

— Fica perguntando para a Lilly se eu tenho notícias suas. A Lilly me


pergunta e fica aquele telefone sem fio que você já conhece.

— Papai...

— Vou passar para a Rose antes que ela tire o telefone de mim.

— Okay!

— Oi, tia Chel!

— Olá, minha princesa. — Suspirei, manhosa, ao ouvir a vozinha


doce da minha sobrinha. — Como você está?

— Bem. A Miau também está bem. Nem tossiu mais. Mas ela não
gosta de tomar remédio, que nem o Drew, arranha o papai toda vez que ele
vai dar.

Ri ao imaginar o William brigando com a gata para que ela tomasse a


medicação.

— O importante é que ela está bem.

— Sim. A praia aí é bonita? Pedi a mamãe para me mostrar umas


fotos no celular dela. Achei bonita.

— Sim, é muito bonita, Rose.


— Um dia a senhora me leva para conhecer?

— Levo. Deixa você crescer um pouco mais que eu peço o seu pai
para deixá-la viajar comigo para a praia.

— Eba! Obrigada.

— Filha, agora vamos dar tchau para a tia Chel.

— Tchau, tia.

— Até mais, princesa.

— Sei que os nossos pais já falaram várias vezes, mas, se precisar de


alguma coisa, você me liga — disse o William ao pegar o telefone de volta.

— Eu sei, irmão. Obrigada, mas não precisam mais agir como se eu


fosse uma adolescente.

— Quem mandou você ser a caçula — debochou.

— Okay! A gente se fala depois. — Desliguei no momento em que vi


a minha amiga finalmente descendo de um táxi.

Levantei-me da poltrona da recepção, onde havia passado a tarde


jogada, e corri para a entrada, parando diante da Jenna.

— Finalmente você chegou, pois já estava estudando as formas de te


esquartejar quando voltasse para Londres. — Segurei minha cintura, batendo
o pé no chão, exatamente como a minha mãe fazia quando estava com raiva.
Ela colocou uma mecha do cabelo ruivo atrás da orelha e me deu um
sorriso amarelo.

— Amiga, desculpa. Eu não tinha como prever que um cano iria


estourar bem naquela hora. Sinto muito por ter deixado você sozinha, mas
aqui estou eu. — Apontou para si mesma. — Nem precisa me esquartejar.

— Ainda não mudei de ideia quanto a isso. — Fiz careta e ela riu.

— Não foi tão ruim. Olha esse lugar como é maravilhoso! — Pagou o
taxista e puxou a mala, seguindo comigo para a recepção.

— O lugar é maravilhoso, sim, mas não tem ideia de como a minha


noite foi horrível.

— Como sua noite poderia ter sido horrível? Não é possível que tenha
goteira em um hotel desses.

— Goteiras não, mas as paredes são muito finas.

— Quê? — Ela franziu o cenho, afunilando os olhos verdes, sem


entender ao que me referia com aquela frase.

— Tem vizinhos de quarto que são muito barulhentos e não respeitam


os outros.

— Quem?

— Oi, chorona! — Michael apareceu atrás de mim e tomei um susto


enorme. Será que ele havia chegado naquele exato instante ou estava apenas
esperando o momento para dar o bote?

— Esse é... — Jenna se virou, analisando o sujeito. Ela tinha me


ouvido reclamar muito do Michael, porém nunca o vira pessoalmente.

— Michael Smith? — Ele puxou a mão da minha amiga e beijou o


dorso. — Mick para os mais próximos, mas você pode me chamar do jeito
que quiser. — Piscou para ela e as bochechas da minha amiga ficaram da cor
do seu cabelo.

— Cretino sem educação. É a melhor definição para ele. — Puxei a


mão da minha amiga das garras daquele canalha. Ele poderia lançar o charme
barato para cima de qualquer uma, mas não para ela.

— Ele parece bem educado para mim. — Jenna suspirou toda abalada
por ele. Não era possível que ela estava cedendo tão facilmente aos encantos
daquele otário.

— Vamos! — Puxei o cartão chave dela do balcão e a arrastei comigo


para o elevador.

— Por que você o odeia tanto? Ele é tão lindo. — Se abanou com a
mão quando ficamos sozinhas.

— Ele é um desgraçado, cretino, escroto...

— Calma! Não precisa citar todas as ofensas antes de começar os


palavrões.
— Ele faz de tudo para me irritar. — Bufei. — Gosta de me tirar do
sério em toda oportunidade que tem. Está para nascer alguém mais chato no
mundo do que ele.

— O que ele fez para não te deixar dormir?

— Ficou trepando com a recepcionista feito um animal e fez ela


gemer a noite inteira.

— Hum... Que delícia!

— Jenna! — Chegamos no nosso andar e eu a empurrei para fora do


elevador. — Se contenha! Foco nos americanos, lembra?

— Sim, me desculpa. Nossa, mas é sério que ele a fez gemer a noite
toda? Não me lembro de nenhum cara que tenha feito isso comigo.

Fechei a cara e ela se calou.

— O que ele está fazendo aqui?

— Não faço ideia. Tem momentos que eu tenho a sensação de que ele
está me perseguindo.

— Por que ele faria isso?

— Eu não sei. Ele é louco.

Paramos no corredor e Jenna pegou a chave da minha mão. O quarto


dela ficava diante do meu; havíamos pegado quartos próximos ao invés de
dormir no mesmo quarto, pois ela tinha esperanças de que não dormiria
sozinha.

— Vou tomar um banho e encontro você para sairmos e jantarmos em


algum lugar.

— Okay! Também vou tomar um banho. Você me manda mensagem


quando estiver pronta?

Jenna balançou a cabeça em afirmativa e entrou no quarto.

— Bonita a sua amiga, chorona.

Respirei fundo quando ouvi a voz do Michael. Ele parecia uma


verdadeira assombração me seguindo para todos os locais.

— Vai para o inferno! Porque de anjo, você só tem o nome.

— Pensa assim? — Deu dois passos na minha direção, e eu dei dois


para trás.

— É! — Mostrei os dentes ao abrir a porta do meu quarto. — Se


esqueceu do inferno que fez ontem?

— Ficou irritadinha porque eu estava transando e você não?

— Estou pouco me lixando por onde esse seu pau murcho passa.

Entrei para o quarto, mas ele segurou o meu pulso e entrou comigo. A
porta foi fechada e, no susto, Michael estava em cima de mim, pressionando-
me contra a superfície de madeira.

— Estava pensando em deixar você dormir, chorona, mas eu mudei


de ideia.

Ele me prensou contra a porta e senti nossos corações acelerados, o


meu e o dele. Quase batendo no mesmo ritmo. Achei que ele fosse fazer
alguma sacanagem comigo e sair, como o bom provocador que era, porém
seus olhos se abaixaram e encontraram com os meus. Minhas pernas ficaram
bambas e a minha respiração descompassada. O olhar dele era tão hipnótico
que me paralisava, e eu não consegui gritar nem correr.

Sua boca veio parar na minha com fome e não consegui ter um pingo
de racionalidade diante do beijo inesperado. Abri a boca para gritar, mas
Michael enfiou a língua nela e não consegui fazer nenhum protesto.

Minhas mãos, que empurravam o seu peito, subiram para o seu


pescoço, envolvendo-o, e Michael enfiou uma perna entre as minhas,
distanciando-as, antes de pressionar sua ereção em mim. Não havia nada de
murcho no pau que estufava a sua bermuda. Eu me esfreguei nele, sentindo o
calor correr pelas minhas veias, enquanto nossas línguas duelavam em uma
batalha que não tinha vencedores. Suas mãos saíram da porta e foram até a
minha cintura, escorregaram pelo meu quadril e adentraram o meu vestido,
tocando a polpa da minha bunda sem qualquer cerimônia.

Eu odiei, ao mesmo tempo que estava amando, o maldito magnetismo


que estava me prendendo nos braços do Michael. Eu deveria sair daquele
agarre, mas meu corpo não queria.

Com uma mão na minha bunda, deslizou a outra para a frente, para a
minha virilha. Meu sexo pulsou; queria ser tocado diretamente, mas eu não
deveria estar sentindo aquele desejo todo por ele. Michael percorreu o
elástico da minha calcinha com os dedos e afastou a peça, puxando-a para o
lado.

Movi a cabeça, para que a minha boca encontrasse um melhor encaixe


com a sua, no momento em que seu dedo encontrou o caminho para o meu
clitóris. Com a mão que segurava a minha bunda, ele apertou a minha
nádega, no mesmo instante em que traçava movimentos circulares, com
pressão moderada. Desde quando aquele garotinho insuportável, que havia
pregado chiclete no meu cabelo, sabia masturbar uma mulher?

Gemi contra os seus lábios ao afastar as minhas pernas o máximo


possível, pedindo por mais. Eu deveria estar me sentindo culpada por estar
gostando tanto? Meu corpo estava todo pulsando, a tensão no meu ventre
estava quase explodindo. Meus gemidos, silenciados pelo nosso beijo,
denunciavam o meu prazer. Eu estava a um fio de gozar quando ele afastou a
mão e interrompeu o beijo.

— Vê se não chora — sussurrou ao pé do meu ouvido antes de puxar


a porta e sair por ela, deixando-me completamente sem fôlego.

— Cretino! — gritei, mas ele já estava longe demais para ouvir.

Eu estava tremendo de excitação e raiva. O que ele tinha feito comigo


não era algo que se fazia. Havia me deixado a um passo de gozar e o meu
corpo pedia por isso. Tranquei a porta, tirei a minha roupa e fui para o
banheiro. Abri o registro, e deixei que a água fria escorresse pelo meu corpo,
sem nem me dar ao trabalho de fechar o box. Mas nem a temperatura do
banho foi suficiente para aplacar o calor que aquele canalha havia provocado
em mim. Enfiei a mão entre as minhas pernas e terminei sozinha, tremendo
de raiva, mas sem conseguir parar de pensar no maldito do Michael Smith.
Dezesseis

Rachel me fazia agir por impulso. Eu não pensava direito quando


estava diante dela; apenas agia e, em noventa por cento das vezes, fazia
merda. O gosto da boca dela nos meus lábios e meu pau duro eram a prova de
que eu havia feito uma merda enorme. Enfiara a mão em um vespeiro e iria
levar ferroadas. No caso, esse vespeiro havia sido a calcinha dela.

Eu adorava irritá-la desde moleque, mas não sabia onde beijá-la se


enquadrava para deixá-la puta comigo. Certamente, ela deveria estar me
xingando até a décima geração por tê-la estimulado e deixado-a quase
gozando.

Ri ao compreender que a minha provocação havia chegado a outro


nível. Que quando erámos crianças, as minhas brincadeiras não tinham cunho
sexual. Porém, como adultos, sendo ambos solteiros, eu poderia provocá-la
de outro jeito. Havia um risco, o de irmos além da provocação, porém eu não
estava nem aí.

Eu me despi, tomei um banho e me sentei na cama para assistir


televisão. Contudo, minha cabeça não conseguia parar de pensar no que havia
acontecido com a Rachel. Impossível não concordar que havia adorado.

Meu telefone tocou e eu atendi rapidamente.

— Matt?
— Oi, irmão! Como você está? Cheguei em casa para o final de
semana e o papai falou que você foi para os Estados Unidos, à negócios.
Você é bom em arranjar desculpas para fugir, seu covardão.

— Eu realmente vim a negócios. Estou para fechar um grande


contrato de parceria com uma enorme rede de carros de luxo.

— Isso não tem nada a ver com ter pegado a Zoe com o Joseph?

— Quem te falou?

— A mamãe, quando perguntei se ela tinha viajado com você.


Precisava ver o sorriso dela ao falar que o seu noivado tinha acabado.

— Ela já deve ter espalhado para todo mundo. — Acomodei-me na


cama, colocando o braço atrás da cabeça, irritado.

— Ah, nem sou todo mundo.

— Não, é só o meu irmão caçula chato para caralho. Deveria estar na


faculdade e não me enchendo o saco pelo telefone.

— Vim visitar os nossos pais.

— É, você tem que fazer isso de vez em quando. Não posso ser o
único que a mamãe atormenta.

— Mas você a ama.

— Um de nós tem que passar por isso.


— Rá, rá. — Ele imitou uma risada forçada do outro lado da linha e o
imaginei fazendo bico. Nós dois trocávamos algumas provocações de vez em
quando, mas gostávamos muito um do outro. — Vou te deixar enxugar as
mágoas com uma garrafa de uísque. Se precisar de um ombro amigo e um
colo para chorar você sabe, pode ligar para mamãe. Não tenho saco para isso,
não.

— Você é um idiota.

— Aprendi com o melhor. Você sabia que na psicologia eu estudo o


quanto os irmãos influenciam um ao outro?

— Que psicólogo lixo você vai ser.

— Ainda bem que não atendemos parentes.

— Se tem algo que eu não pretendo fazer aqui é chorar.

— Trepando com americanas? Safado para porra.

— Digamos que fui muito bem recebido por uma recepcionista no


meu primeiro dia, mas não é só isso. Rachel Allen está no quarto ao lado. Vai
ser muito divertido passar alguns dias perto dela.

— Aquela Rachel Allen que quase fez você ser expulso do colégio
umas vinte vezes?

— Essa mesma.

— Pagaria para assistir isso de camarote. Espero que você volte


inteiro para casa.

— Ela é inofensiva.

— Não duvide do que uma mulher irritada pode fazer.

— Nem cisma de agir como a mamãe, por favor.

— Vou fazer pipoca e assistir uma série. Boa sorte.

— Obrigado. Agora vai encher o saco de outro.

— Boa noite para você, e espero que seja melhor do que a minha,
lendo textos da faculdade.

— Até mais, irmão.

— Até.

Desliguei a chamada, rindo. Matt era terrível, e talvez fosse por isso
que eu gostava tanto dele.

Eu me arrumei e saí para jantar. Estava determinado a fazer com que a


minha noite fosse melhor do que a dele.
Dezessete

— Por que você está tão vermelha? — questionou Jenna, quando nos
encontramos para o jantar. Ela parou na minha frente, no meio do corredor,
colocou as mãos na cintura e me analisou como se seus olhos fosse um
escâner. Meia hora, um banho e roupas limpas não foram o suficiente para
me livrar do que Michael fizera comigo.

— Vamos jantar. — Passei a mão pelo antebraço dela e a arrastei para


o elevador. Não queria correr o risco de dizer algo diante da porta dele e
Michael acabar ouvindo.

— Calma, amiga. Assim vamos acabar atropelando alguém.

— Foi aquele cretino do Michael.

— Ele fez algo?

— Oh, se fez. Ele me beijou.

— Estava demorando. — Ela riu alto. — Tinha que haver um tesão


por detrás dessa implicância toda de vocês dois.

— Não viaja, Jenna!

— Amiga — ela apertou o botão do andar onde ficava o restaurante


do hotel —, o tesão de vocês cheirava longe. E para um beijinho te deixar
desse jeito, é muito tesão.
— Não foi só um beijinho — confessei, quando as portas do elevador
abriram diante do restaurante.

Observei as garçonetes usando roupa de marinheiro, sem coragem de


encarar a minha melhor amiga diretamente. Tinha medo do que poderia estar
passando pela mente dela e da expressão de deboche no seu rosto. Michael
era o último homem do mundo que eu esperava ter a mão entre as minhas
pernas.

— Você deu para ele?! — Sua voz ecoou e alguns hóspedes e


funcionários do hotel olharam para nós, deixando-me ainda mais
envergonhada.

— Jenna! — Cobri a boca dela com a minha mão e olhei de um lado


para o outro. Meu sorriso amarelo e desconcertado foi o suficiente para
espantar o olhar dos curiosos. — Não. Michael é o último homem do mundo
com quem eu transaria.

Depois do momento no meu quarto, eu não poderia afirmar aquilo,


pois eu estava a um fio de me jogar nos braços dele e deixar acontecer, porém
me sentia no direito de jurar até a morte e manter a minha dignidade.

— Ele foi um otário como sempre é.

— Um otário como?

— Do tipo que o Michael sempre é — desconversei, desviando o


assunto. Achei melhor não contar para a Jenna que ele quase havia me feito
gozar e depois me abandonado, na vontade. Já era irritante e constrangedor o
suficiente sem ela zombando de mim. — Vamos comer, estou faminta. —
Arrastei-a para uma das mesas e acenei para que uma das garçonetes se
aproximasse de nós.

— O cardápio, senhoritas. — Entregou para nós.

— Obrigada.

Estava correndo os olhos pelas opções de prato principal até que vi a


razão do meu desespero sair do elevador. Ele estava com uma camiseta
branca e solta, uma bermuda caqui e o cabelo molhado brilhava à luz dos
lustres e demais lâmpadas do restaurante. O sorriso despojado e provocativo
dele arrancava mais suspiros e arrepios do que eu gostaria. Não era possível
que um homem tão insuportável quando ele fizesse tanto sucesso com as
mulheres.

— Credo! — exclamou a Jenna, atraindo a minha atenção. — Mas


que delícia.

Torci os lábios diante da fala debochada dela.

— Você pode até achar ele insuportável, mas ele é lindo demais. —
Abanou-se com uma das mãos enquanto o encarava nos mínimos detalhes.

— Ele não é o único homem bonito no mundo.

— Com toda a certeza, mas desse restaurante, é o mais interessante.


— Deve ter algum melhor. — Olhei em volta. Observei os homens
sentados nas mesas e nos bancos de cadeira alta diante do bar. Fora um
sentado com a esposa e uma filha pequena, que deveria ter uns dez anos a
mais do que eu, nenhum deles me parecia mais atraente do que o Michael.

Jenna balançou a cabeça em negativa e eu bufei, sendo obrigada a


admitir.

— Oi, chorona! — Ele se aproximou da nossa mesa e piscou para


mim antes de seguir para uma mesa perto da varanda que descia para uma
piscina.

Jenna o acompanhou com o olhar e quase caiu da cadeira. Eu tentei


manter o meu olhar focado em outra extremidade do restaurante para não
deixar transparecer que ele provocava qualquer reação em mim.

— Oi? — Estalei os dedos na frente do rosto da Jenna para chamar a


sua atenção.

— O que foi? — Piscou os olhos várias vezes, como se estivesse


saindo de um transe.

— Para de babar, por favor.

— É difícil. Não sei como você resiste.

Lembrei do que havia acontecido no meu quarto e pensei que resistir


não era a palavra mais adequada. Contudo, eu ainda estava muito brava pelo
o que havia acontecido. Michael tinha que pagar pelo que fizera comigo.
— Jenna, você ainda tem aqueles remédios para dormir?

— Sim, tenho. Está com insônia?

— Você poderia me dar uns dois, ou três?

— Três é uma dose muito alta, dois já é o suficiente para que você
durma e não acorde nem com um terremoto.

— Então, dois vão servir. — Abri um sorriso perverso enquanto um


plano se desenhava na minha mente.

— O remédio não é para você, né?

Balancei a cabeça em negativa.

— Chel, você não pode...

— Só me dá o remédio — interrompi o discurso dela, impositiva. Não


queria ouvir um sermão. Ela nunca havia sentido na pele a raiva que ele
provocava em mim. O que ele tinha feito, ter ateado fogo e me deixado
queimando, não era algo que se fazia com uma mulher.

Minha amiga balançou a cabeça em negação, mas foi buscar o


remédio para mim. Quando ela voltou, pedi um suco de laranja e joguei os
dois comprimidos dentro dele, deixando que derretessem.

— O que vai fazer com ele, Rachel? — Jenna me lançou um olhar


recriminador quando me levantei e fui até o Michael.
— É melhor você não saber de nada para não ser acusada de
cúmplice.

— Eu já sou cumplice, é o meu remédio.

— Eu só vou ajudá-lo a ter uma boa noite de sono, Jenna.

Ela balançou a cabeça em negativa, mas não disse nada, apenas me


assistiu caminhando até a mesa onde o Michael estava sentado.

— Oi! — Puxei a cadeira e me acomodei diante dele.

— O que foi, chorona? — Ele passou a língua pelos lábios,


umedecendo-os de um jeito bem sacana, que me fez ficar com ainda mais
vontade de jogar o suco na sua cara.

— Nani... — Respirei fundo para não devolver a ofensa. Era quase


automático; toda vez que ele me provocava, eu tinha que revidar, mas,
daquela vez, precisei de todo o meu autocontrole para conseguir colocar o
meu plano em prática. — Michael — sorri para ele —, estou cansada de
ficarmos sempre brigando. Trouxe esse suco como uma oferta de paz. —
Entreguei o copo para ele.

— Paz? — Michael arqueou uma das sobrancelhas, surpreso. Admito


que, se tivesse no lugar dele, também não aceitaria tão fácil. Eram anos e
anos alfinetando um ao outro para simplesmente deixar tudo para lá com um
simples suco.

— Ah, pelo menos tentei. — Puxei o suco de volta, mas Michael


segurou a minha mão.

Virei o rosto automaticamente e o meu olhar encontrou o seu. A


forma como nos fitamos foi tão intensa que desencadeou um calafrio que me
fez estremecer inteira. Eu odiava quando ele me deixava completamente
paralisada e fazia com que eu perdesse os meus sentidos. Eu não entendia
porque ele me deixava daquele jeito; provavelmente era toda a raiva que
nutríamos um pelo outro.

— Eu não recusei o suco. — Seus dedos escorregaram pelos meus e


ele pegou o copo.

— Achei que não iria tomá-lo. — Fiz bico.

— Imagino que esteja delicioso. — Passou a língua pelos lábios de


um jeito provocativo.

— Pode apostar que sim. — Dei um breve sorriso, tentando não


denunciar a minha armação. — Espero que você tenha uma noite ótima. —
Levantei-me da mesa dele e segui rebolando de volta para onde Jenna me
aguardava ansiosa.

Com o canto de olho, observei-o tomar todo o suco, até a última gota.
Vingança era uma bebida que se tomava gelada e com uma sombrinha de
papel.
Com a primeira parte do meu plano em andamento, fui para a
segunda. Acompanhei um Michael trôpego e cheio de sono indo para o
quarto, mantendo uma distância segura para que ele não notasse que eu o
estava seguido. Assim que ele abriu a porta e cambaleou para dentro, corri
para enfiar um papel por baixo, impedindo-a de fechar completamente.

Fui para o meu quarto e esperei. Vinte minutos depois, julguei que o
remédio já houvesse feito o efeito. Puxei o papel e consegui abrir a porta,
esgueirando-me como um gato furtivo antes que alguém notasse a minha
invasão.

Encontrei o Michael jogado na cama. Ele estava deitado de bruços, de


qualquer jeito, como se houvesse literalmente desmoronado sobre a cama.

— Agora você vai ver, nanico, o que é passar apertado.

Procurei por gravatas na mala dele e subi na cama. Eu o despi,


deixando-o apenas com a cueca boxer branca. Esforcei-me para não ficar
analisando o seu corpo. Não era o momento de cair em tentação. Atei seus
braços e pernas à estrutura de madeira da cama. Com um batom, escrevi
sobre o seu peito a palavra canalha.
Contemplei a minha pequena obra-de-arte e saí do quarto me
sentindo vitoriosa. Queria estar por perto para observá-lo acordar, porém iria
me contentar com os gritos quando ele tentasse se livrar da minha armadilha.
Dezoito

Acordei quando a luz do sol invadiu o quarto. Minha cabeça latejava


como se eu houvesse enchido a cara na noite anterior, mas eu havia tomado
apenas um coquetel e um suco de laranja. Um suco dado pela Rachel. Percebi
que ela havia aprontado comigo antes mesmo de contemplar o que ela fizera.

Tentei me levantar, porém minhas mãos e pés estavam atados à cama.


Puxei os braços e pernas e virei a cabeça para o lado, percebendo que estava
atado por minhas gravatas. Se isso já não fosse humilhante o suficiente, eu
estava apenas de cueca boxer e com o pau duro, segurando uma vontade
terrível de urinar.

— Porra, Rachel! — gritei, sentindo a raiva exalar pelos meus poros.

Eu precisava muito ir ao banheiro, mas não fazia ideia de como me


libertaria daquele maldito jogo.

Puxei meus braços e pernas, várias e várias vezes, sem qualquer


sucesso. Tudo o que consegui foi aumentar a pressão com que prendiam
meus braços e pernas.

— Rachel!

Imaginei que ela estivesse no quarto ao lado, divertindo-se com o meu


sofrimento, como a boa cobra que era.
— Maldita! Me solta!

Se eu fosse um pouco mais forte, teria arrebentado a estrutura da


cama de tamanho ódio que sentia.

— Me solta! — insisti, debatendo-me.

Fiquei preso pelo o que me pareceu longas horas, porém poderiam ter
sido apenas minutos. Já estava rouco quando uma camareira abriu a porta e
me encontrou na situação mais degradante possível.

— Senhor! — A pobre mulher encarou-me com espanto ao me ver na


situação mais constrangedora que eu já estivera.

— Por favor, me solta — pedi, em desespero. Já não sabia mais se


continuava gritando e xingando, ou se começava a chorar.

— Cla-claro — gaguejou, ao largar a vassoura e contornar a cama.


Soltou uma das minhas mãos, e assim eu consegui me livrar do restante dos
nós.

— Obrigado. — Levantei-me da cama e corri para o banheiro.

Eu não iria deixar o que Rachel havia feito comigo sem resposta e as
consequências disso poderiam ser desastrosas para nós dois.
Dezenove

Acordei com os gritos desesperados do Michael. Ele havia se


deparado com a minha singela armadilha e eu estava me contorcendo de tanto
rir do quanto ele gritava o meu nome e me xingava. Quando os gritos
pararam, fiquei me perguntando se ele havia ficado exausto ou se conseguira
se libertar de alguma forma.

Estava contente pelo meu plano ter dado certo e me sentia vitoriosa.
Eu poderia ter feito pior, mas já estava alegre com o resultado.

Espreguicei na cama, criando coragem para me levantar, porém fui


surpreendida por batidas fortes e incisivas na minha porta.

— Rachel!

Era o Michael e algo dentro de mim estremeceu com o tom da sua


voz.

— Rachel, abre a porta.

Sabia que abrir aquela porta poderia ser um enorme erro. Porém, a
vontade de olhar para ele enquanto comemorava a minha vitória foi maior do
que qualquer coisa.

Caminhei descalça sobre o chão amadeirado do quarto até a porta. A


abri e encontrei Michael debruçado sobre o batente, apenas de bermuda, com
aquele abdômen malhado a mostra, e respirando ofegante.

— Por que fez aquilo comigo?

— Foi o troco por você ter me provocado, por ter me deixado quase
gozando e ido embora com o sorriso mais lavado do mundo. — Estufei o
peito e falei confiante.

— Então, tudo aquilo foi só porque eu não te fiz gozar?

Balancei a cabeça, fazendo que sim. Se havia sido engraçado para ele,
eu tinha dado o troco em grande estilo.

— Por que não falou antes? — Michael segurou a minha cintura e me


empurrou para dentro do quarto, fechando a porta atrás dele com o pé.

Antes que eu protestasse, sua boca veio parar na minha. Tentei


empurrá-lo, pressionando seus ombros com as palmas das minhas mãos,
porém Michael segurou os meus pulsos e os prendeu contra a parede onde me
prensava.

Eu perdi completamente o fôlego, mas não consegui interromper o


nosso beijo. Nem quis. A ânsia por mais estava me deixando louca. Eu abri
meus lábios e a sua língua encontrou a minha.

Michael afastou as minhas pernas com o joelho e se acomodou entre


elas. Esfregou a ereção em mim, deixando que eu sentisse o quanto ele estava
duro e pulsando. Soltou os meus pulsos para poder escorregar as mãos pelo
meu corpo. Fiquei apavorada ao me dar conta do quanto eu queria transar
com ele, uma vontade irrefreável, que deixava as minhas pernas bambas e o
meu sexo pulsando. Era como se todo o ódio que eu nutri por ele durante
anos estivesse se transformando em desejo.

Ele interrompeu o nosso beijo e imaginei que pararia. Nunca pensei


que fosse ele a pessoa a ter bom senso entre nós dois, porém Michael apenas
me girou e me colocou de frente para a parede. Segurei a superfície com as
palmas abertas e chiei, contendo o gritinho quando ele me deu uma palmada
na nádega. Sua boca veio parar na minha orelha e meus olhos reviraram nas
órbitas com o calafrio.

Involuntariamente, esfreguei minha bunda nele, roçando em sua


ereção. Meu corpo estava coberto por uma fina camisola, que não continuaria
ali por muito tempo se eu não conseguisse conter a avalanche de sensações
que Michael estava desencadeando em mim. Ele enrolou o meu cabelo na
mão e o puxou para cima, expondo a minha nuca, onde a sua boca foi parar,
provocando ainda mais arrepios e calafrios pelo meu corpo.

— Se você parar dessa vez, eu juro que mato você — falei com a voz
intercortada e carregada de tesão.

— Pode ter certeza de que você vai dar para mim. Eu não vou parar
até estar satisfeito e com o meu pau bem dentro de você.

— Para de falar e faz.

— Ah, você gosta dos que ladram menos. — Ele mordeu o meu
pescoço e me retorci inteira.
Achei que o meu coração fosse saltar do peito. A adrenalina o fazia
bater como nunca. A boca, o hálito e os lábios do Michael me deixavam cada
vez mais excitada. Parei de pensar no quanto o odiava e só me liguei no
quanto ansiava para tê-lo dentro de mim. Não era uma surpresa que ele
estivesse me fazendo perder a razão mais uma vez.

Michael apertou as minhas coxas e deslizou a camisola até me fazer


levantar os braços para removê-la. A peça foi parar em algum canto do
quarto, enquanto suas mãos escorregavam pelas minhas costas, percorrendo a
linha da minha cintura. Eu estava apenas com uma calcinha fina que ele
puxou assim que seus dedos a tocaram. Michael me deixou nua e se esfregou
em mim novamente, e a ereção dentro da sua bermuda era o que eu mais
queria naquele momento.

Ele me puxou pela cintura e me arrastou até a cama, fazendo com que
eu caísse deitada sobre os lençóis revirados. Não tive tempo de raciocinar
antes que ele estivesse sobre mim. Minhas mãos foram parar na sua cintura e
eu puxei sua bermuda, com a cueca e tudo. Michael enfiou a mão por debaixo
do meu corpo, levantando-o do colchão, para agarrar a minha bunda,
prensando seus dedos na minha pele até me fazer gemer.

Eu elevei o meu corpo enquanto a sua boca voltava para minha. Ele
esfregou o pau na minha entrada e no meu clitóris, mas sem me penetrar, e eu
quis amaldiçoá-lo. Até naquele momento ele ainda cismava de brincar
comigo.

Mordi seu lábio inferior e rodeei a sua cintura com as pernas, numa
atitude quase impositiva. Então, sem ternura, ele se inundou em mim,
finalmente atendendo a um desejo meu. Rebolei, levando o meu corpo ao
dele até que encontrássemos o encaixe perfeito. Gememos juntos enquanto o
impensável se realizava. Estava transando com o homem que havia jurado
odiar eternamente. O pior de tudo era que eu estava louquinha para dar para
ele.

Eu agarrei seu cabelo, puxando os fios, prendendo seu rosto ao meu


em meio a um beijo intenso e arrebatador. Sua boca devorava a minha ao
passo que o seu quadril investia contra o meu sexo. Deslizava o meu
calcanhar pela parte de trás da sua coxa enquanto ele escorregava para dentro
e para fora de mim.

Sem sair de dentro de mim, Michael nos girou e me colocou sobre ele.

— Rebola — disse com seu típico ar provocativo ao dar outra


palmada na minha bunda. Dessa vez, sem o tecido da camisola amortecendo
o impacto, minha nádega ficou ardendo, mas eu gostei.

Apoiei as duas mãos sobre o seu peito e devolvi o seu ar de soberba e


aumentei a velocidade com que quicava nele, esfregando o meu corpo no seu.
O calor, a fricção e a presença dele dentro de mim estavam me direcionando
no caminho do prazer.

Em qualquer outra situação, eu jamais transaria com o Michael, mas,


movida pelo descontrole e por sentimentos que eu talvez desconhecesse, não
conseguia fazer outra coisa que não fosse me mover com o pau dele
encaixado dentro de mim. Ele escorregava as mãos pelas minhas coxas,
passeava os dedos pelos meus seios, e essas carícias provocativas me
deixavam com ainda mais vontade de continuar. Se eu fosse me arrepender
daquele ato, seria depois de um belo orgasmo.

Michael enterrou os dedos nas minhas nádegas e me fez mover mais


rápido. Quiquei quase em frenesi, até que a tensão que havia se formado no
meu ventre explodisse. Vi o quarto todo girar em meio ao prazer do orgasmo
e desmoronei, ofegante, sobre o peito do Michael.

Ele me tirou de cima e girou o corpo para o lado, esvaindo-se fora de


mim, sujando o lençol macio da cama.

Fiquei deitada de lado, com a respiração completamente


descompassada. Não me lembrava da última vez que um orgasmo havia sido
tão bom e me deixado tão sem forças.

— Da próxima vez que quiser uma foda, é só pedir com jeitinho. Não
precisa me amarrar na cama. — Levantou zombeteiro e vestiu a cueca e a
bermuda.

Cerrei os dentes, peguei um travesseiro e joguei na sua direção, mas


Michael desviou facilmente, movendo o corpo para o lado.

O arrependimento veio no momento em que ele saiu do meu quarto.


Porém, era tarde, eu já havia cometido um erro irreparável. Provara do
pecado e havia gostado.
Vinte

Tomei um banho, comi umas frutas no buffet de café da manhã do


hotel e segui para uma reunião com o Dean Clark. Chegar atrasado não
estava dentro dos meus planos para a parceria, porém a situação toda havia
saído do controle. Num momento, eu estava preso na cama, puto e me
sentindo um idiota; no seguinte, Rachel estava rebolando no meu colo com a
melhor cara de prazer do mundo.

Trepei com ela e treparia de novo. Caralho!

Ela era a chorona, a garota que eu fazia de tudo para enlouquecer.


Agora, eu queria provocá-la com o sexo também. Eu já havia tido muitos
casos de apenas uma noite, mas aquela mulher mexia tanto comigo que, não
importava quanto tempo tivesse passado, não conseguia deixar para lá. Eu
adorava vê-la com raiva, adorava ouvi-la gritando comigo, mas se teve algo
que eu gostei, e muito, foi de tê-la quicando no meu pau.

— Desculpa, Dean. Não pretendia me atrasar desse jeito. — Entrei


em sua sala e vi o CEO da Golden Motors desviar o olhar da tela do
computador para me encarar.

— Tudo bem, ainda temos tempo. Imagino que tenha tido uma noite e
tanto. Miami tem as suas distrações.

— A noite não, mas a manhã foi surpreendente — confessei, e


naquele momento minha mente se encheu de imagens da Rachel nua.

— Que ótimo! — Dean deu um risinho, já imaginando o que estava se


passando na minha cabeça. — Também cheguei tarde hoje, mas foi porque a
minha esposa estava de plantão no hospital e a minha caçula chorou a noite
toda; acho que são os dentes.

Ri ao puxar a cadeira e sentar-me diante dele.

— Vou só terminar um e-mail para o representante de uma das


fábricas parceiras e já conversamos.

— Sem pressa. — Fiz um gesto com a mão para que ele não se
preocupasse.

Enquanto aguardava o Dean digitar o e-mail, pensava sobre o que


havia acontecido. A minha mente ia e voltava pensando em uma forma de
provocá-la o suficiente para que terminássemos na cama novamente.
Vinte e um

Coloquei sobre a mesa um pratinho redondo de louça com panquecas


e mel, antes de puxar a cadeira.

— Bom dia! Dormiu bastante, hein?. — Jenna bebericou o copo de


leite.

— Não. Acordei bem cedo.

— Então, por que demorou tanto para descer? Banho demorado? —


Piscou para mim, insinuando coisas.

— Não gozei sozinha, se é o que você está pensando. — Cortei um


pedaço da panqueca com o garfo e o joguei na boca. Desviei o olhar quando
senti as minhas bochechas corarem.

— Com quem? — Jenna arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos


verdes, em total surpresa.

— Com o Michael. — Engoli a panqueca e o pedaço escorregou, sem


mastigação, pela minha garganta, quase me fazendo engasgar.

— Você transou com o Michael?!

— Para de gritar. — Cerrei os dentes. — Transei.

— Desculpa. — Abaixou o tom de voz. — Quando vocês evoluíram


de ódio eterno para o sexo? Porque ontem, você queria matá-lo.

— Ainda queria fazer isso hoje de manhã.

— Mas decidiu que era melhor sufocar o pau dele com a sua vagina.

— Jenna!

— Estou tentando entender o que aconteceu. — Deu de ombros.

Decidi que era melhor contar tudo para ela. Falei tudo o que havia
acontecido entre mim e o Michael, desde a chegada ao hotel até aquela
manhã em que acabamos na minha cama. Me lembrei da forma como ele
havia falado comigo depois do sexo e a vontade de esganá-lo retornou.

— E foi bom? — Jenna estava com o queixo escorado nas mãos e me


fitava com total atenção. Parecia interessada demais no que havia acontecido.

— O quê?

— O sexo! — Fechou a cara.

— Ah! — Minhas bochechas arderam. — Foi, mas ele é um completo


idiota. Foi só uma brincadeira para ele.

— Você queria que fosse algo sério?

O questionamento dela me desconcertou e fez com que eu engolisse


em seco. Ter algo sério com o Michael era impensável, porém isso não
justificava o incômodo que senti ao ser tratada como um brinquedo, como
mais uma qualquer em quem ele enfiava o pau e depois ia embora.

— Jenna, curtimos muito enquanto estávamos em Oxford. Festas,


calouros... eu gostava muito da azaração, mas...

— Mas...

— Acho que estou ficando velha para isso. — Suspirei, deixando as


mãos caírem sobre a mesa.

— Amiga, você só tem vinte e cinco anos. Ainda há muitas bocas por
aí para você beijar. Além disso, não viemos para Miami para você arrumar
um namorado.

— Não quero o Michael brincando comigo — confessei, ao perceber


que era exatamente isso o que ele havia feito.

— Você não precisa deixar. Ignora ele e foca em outras coisas. Ele
não precisa parar na sua cama se você não quiser.

— Como se fosse fácil. Eu tentei ignorar ele a vida toda. Contudo,


quanto mais eu o ignorava, mais ele aprontava, até que eu não tivesse escolha
a não ser bater de frente com ele. Parece que é um esporte para ele arrumar
confusão comigo.

— Tente com mais determinação. Não caia no joguinho dele, amiga.

— Eu vou tentar.

— Não! Você vai fazer! Porque se não conseguir, não vai adiantar
nada ficar reclamando por cair no joguinho dele.

— Você tem toda a razão. Michael brincou comigo a vida toda.


Chega!

— É isso que eu gosto de ouvir. — Ela pegou um papel e o colocou


na minha frente. — Encontrei esse folheto na recepção enquanto estava
esperando você dar sinal de vida. Vai ter uma festa na praia hoje à noite, com
direito a música latina e tudo mais. Pode ser uma ótima oportunidade para
conhecermos gente nova e você se livrar do Michael.

— Parece perfeito! — Sorri ao voltar minha atenção para a panqueca.

— Vamos tomar um banho de mar e depois voltamos para nos


arrumarmos para a festa no fim da tarde.

Assenti. Estava ansiosa para conhecer outros homens, para que


tirassem a minha mente da confusão em que eu havia me metido ao me
envolver com o Michael.

— Vai ser como nos velhos tempos. — Jenna ergueu o copo de leite
meio vazio e eu brindei com o meu de iogurte.
Vinte e dois

Dei o melhor de mim para me concentrar no trabalho após ter


chegado atrasado para a minha reunião com o Dean. Felizmente, ele parecia
ser um homem tranquilo e não criara caso, mas se eu estivesse fechando
negócio com outro inglês, provavelmente teria passado uma péssima imagem.

Nós dois definimos vários detalhes naquela manhã e esboçamos um


contrato, que foi enviado para o setor jurídico das duas empresas. Se tudo
estivesse certo, assinaríamos o acordo em alguns dias, antes da minha volta
para a Inglaterra.

Admito que, ao voltar para o hotel, a primeira pessoa que eu queria


ver era a Rachel. Estava ansioso para tocar o seu corpo e sentir a sua boca na
minha. Quando éramos crianças, eu queria a atenção da menina, mas agora, já
adultos, eu ansiava por algo mais.

Bati na porta do seu quarto, mas ela não abriu. Presumi que pudesse
não estar. Iria tomar um banho e procurar por ela em outros locais do hotel.
Contudo, antes de entrar no chuveiro, minha mãe ligou para mim.

— Mick, como você está?

— Bem, mãe. Você e o meu pai têm passado bem?

— Sim. Ele me trouxe para passear em Dublin.


— Um passeio romântico.

— Sim. — Percebi um leve desconcerto em seu tom de voz. —


Viemos hoje.

— Então, aproveitem a viagem. Eu estou bem.

— A negociação que você pretendia fazer, está correndo bem?

— Sim! Nós já chegamos a um ótimo acordo para ambas as partes.


Agora, só falta acertar alguns detalhes.

— Fico muito feliz! E com a Rachel, está tudo bem?

— Por que não estaria? — Fiz-me de desentendido, perguntando-me


se de alguma forma maluca minha mãe poderia saber do que havia acontecido
entre Rachel e eu.

— Porque quando estão juntos vocês perdem os modos.

É, perdemos mesmo...

— Nada saiu do controle ainda, mãe.

— Michael, o que você fez? — A voz dela ficou tensa, e me lembrei


de quando era criança e recebia broncas ao aprontar.

— Eu não fiz nada, foi ela.

— Ela? — O tom de desconfiança da minha mãe me deu um xeque-


mate. Ela me conhecia bem demais. Era algo na nossa relação que eu amava e
odiava na mesma proporção.

— Okay! Eu comecei.

— Michael!

— Não vem me dar bronca pelo telefone. Não sou mais um garoto. Já
disse para aproveitar a sua viagem com o meu pai e não se preocupar com o
que está acontecendo aqui.

— O que aconteceu?

— Mãe, não é o tipo de coisa que quero contar para você. — Bufei,
estalando os dedos dos pés. Eu poderia ter perdido o meu melhor amigo, mas
não iria conversar com a minha mãe sobre as mulheres com quem eu transava
ou deixava de transar. Em especial a Rachel, a que me deixava mais confuso.

— Vocês fizeram sexo?

Que porra de bola de cristal aquela mulher tinha?, praguejei em


pensamentos.

— Mãe, não vou falar sobre isso. Vou desligar...

— Não desliga na minha cara, Michael Philip Smith! — Poucas vezes


ela dizia o meu nome completo, mas, em todas, eu me sentava e ouvia. — Eu
gosto dela, Mick. É uma boa garota. Além disso, a Thessa é uma mulher
amável e muito compreensiva. Sempre se esforçou para me ajudar a resolver
as confusões em que vocês dois se metiam.
— Mas eu não gosto dela — cuspi as palavras, mas, na verdade, eu
estava mais confuso do que furioso.

— Então, por que fizeram sexo?

— Eu não sei!

— Ela pode...

— Mãe, não faz isso...

— Okay! Seu pai está me chamando, vou desligar. Eu te amo, Mick.

— Também amo você, mãe.

Ela era a única mulher que havia arrancado de mim tais palavras.

Sentei-me na cama com o celular nas mãos, completamente


desconfortável com a conversa. Minha mãe tinha o poder de me deixar sem
jeito. Se ela não houvesse ido trabalhar como minha babá e se casado com o
meu pai, eu seria hoje um homem muito diferente, pois, como um bom
inglês, Bernard Smith era um homem reservado e de poucas palavras.

Repeti para mim mesmo que Rachel e eu como casal era algo tão
improvável quanto nevar no deserto e fui para o banho. Ela era só mais uma
na minha longa lista de transas.
Vinte e três

— Estou pronta. — Alisei o vestido com as mãos e bati na porta da


Jenna. Estava suando frio.

— Uau! — Ela me encarou com os olhos arregalados quando saiu no


corredor.

— Coloquei o vestido que compramos ontem. Gostei das flores e do


clima tropical. Acho que ficou bom.

— Ficou ótimo! — Ela me abraçou. — Vamos para festa! — Puxou a


minha mão e me arrastou até o elevador.

— Estão indo jantar?

Engoli em seco e senti as minhas pernas tremerem quando ouvi a voz


do Michael. Havia passado o dia todo sem vê-lo, porém, inevitavelmente,
mais cedo ou mais tarde, nos esbarraríamos novamente. Eu esperava que
fosse bem mais tarde, porém, quando se tratava dele, eu não possuía um
pingo de sorte.

— Não. Vamos para uma festa e você não está convidado — Jenna
respondeu por mim, e agradeci mentalmente.

— Festa onde? — Ele apertou o passo e parou ao meu lado.

— Ela já disse que você não está convidado. — Virei o meu rosto em
outra direção. Sabia que ficar encarando-o me levaria a tomar atitudes
impensáveis.

— O elevador chegou. — Jenna tentou me puxar para dentro da caixa


de metal, porém Michael tomou meus pulsos e fez com que eu o encarasse.

Estremeci quando o meu olhar se perdeu na imensidão dos seus olhos.

— Chel, que festa?

Por que ele estava me chamando pelo apelido? O sexo havia dado
mais liberdades do que eu havia imaginado. Não gostei disso, pois me deixou
ainda mais sem jeito.

— Uma na praia.

— Particular?

— Não. A Jenna viu num panfleto na recepção.

— Ah, então eu posso ir. — O ar debochado voltou para o seu rosto.

— Não! Você que fique por aqui ou que vá para qualquer outro lugar.
Ninguém o quer estragando a noite. Rachel tem outros planos.

— Desde quando o papagaio de pirata fala por você?

— Sim. Eu tenho outros planos. — Desvencilhei-me dele e entrei no


elevador.

Antes que Michael pensasse em entrar, Jenna apertou o botão para


fechar a porta e descemos para a portaria.

— Você tem razão.

— Sobre? — Pisquei os olhos; ainda estava desorientada pela atitude


do Michael.

— Ele é um idiota.

— É o que eu falo sempre. — Abri um sorriso amarelo.

Enquanto Jenna resmungava algumas coisas sobre o quanto ele era


grosseiro e mal-educado, eu só conseguia pensar no motivo de ele ter ficado
curioso. Será que ele estava cogitando ir conosco? Por quê?

Chegamos à avenida que ficava diante do hotel. Já estava escuro, mas


os muitos postes, as luzes dos empreendimentos e os faróis de carro
deixavam a rua muito bem iluminada.

Dei sinal para um táxi que manobrou e parou diante de nós. Fui a
primeira a entrar e Jenna se acomodou no banco ao meu lado.

— Vamos para essa paia. — Jenna entregou o folheto para o taxista.

— É bem perto.

— Então, leva a gente para lá — disse a minha amiga.

O motorista assentiu e nós colocamos o cinto de segurança.

Fiquei olhando pela janela, analisando as pessoas, as ruas e cada


ponto da cidade ao alcance dos meus olhos enquanto a minha amiga
respondia mensagens no celular. Não levou mais do que dez minutos para
que chegássemos a tal praia. Devido a toda a aglomeração e o som da música
dançante, tive certeza de que havíamos chegado ao local certo.

Descemos do táxi e eu paguei pela corrida. Seguimos, então, até a


pequena multidão que se reunia na areia. Nem havíamos deixado a calçada e
Jenna já estava se sacudindo no ritmo da música.

— Calma! — Ri, sem jeito, da atitude dela.

— O que foi, Rachel? Viemos aqui para curtir.

— Tem razão. — Balancei um pouco, mas parei ao perceber o quanto


era descoordenada.

Suspirei quando os meus pés tocaram a areia. A praia da Flórida, de


areia amarela e fofa, era bem diferente das costas pedregosas da Inglaterra.

Segui a Jenna até que nos aproximamos de um grupo, onde havia três
caras que grudaram os olhos em nós assim que nos viram. Eles bebericavam
suas cervejas e nem se deram ao trabalho de disfarçar. Minha amiga jogou o
cabelo ruivo para trás, insinuando-se, e eles tomaram coragem para se
aproximar.

Os três tinham pele morena e olhos e cabelos castanhos. Uma beleza


exótica e latina, que eu não estava acostumada, e que chamou muito a minha
atenção.
— Olá! — um deles ousou dizer, puxando assunto.

— Oi! — Jenna estava toda sorridente.

— Vocês são turistas? — Um dos rapazes aproximou a cabeça da


minha orelha para falar, com a desculpa da música alta.

— Sim, somos inglesas.

— Dá para perceber pelo sotaque. — Ele riu.

— Só consigo notar o seu sotaque. — Ri de volta e ele chegou mais


perto.

Esperei sentir as mesmas reações que a proximidade com o Michael


causava em mim, porém, apesar do arrepio e do calorzinho, nem se
equiparou. Contudo, era um desconhecido, e as sensações poderiam melhorar
à medida que nos aproximássemos.

— Você é divertida. — Riu para mim e minhas bochechas coraram.


— Meu nome é Juan, e o seu?

— Rachel.

— Gosta de dançar, Rachel?

— Não sei dançar. — Tombei a cabeça para o outro lado e escondi o


rosto, envergonhada. — Acho que eu tenho dois pés esquerdos. Sou
completamente descoordenada.
— Não é tão difícil. — Ele umedeceu os lábios carnudos e vermelhos
e senti as minhas bochechas corarem. Talvez não fosse tão mal beijar aquela
boca.

— Para você.

— Quer que eu te ensine? — Ele entregou a garrafa de cerveja para o


amigo que estava conversando com a Jenna.

— Aqui?

— Por que não? — Esticou a mão para mim, incentivando-me a


segurá-la.

— Okay! — Acanhada, depositei a minha mão sobre a dele e Juan me


puxou de uma vez, pegando-me de surpresa, e me colou ao seu peito.

Suspirei e levantei a cabeça. Meus olhos encontraram os castanhos


dele e eu pude naquele momento entender porque falavam que os latinos
eram tão sensuais. Ele me girou em 360 graus e me colocou de volta no chão,
antes de começar a se mover de um lado para o outro, levando-me junto.
Parecia que eu era uma boneca flexível nos seus braços.

De repente, me esqueci que a Jenna e outras pessoas estavam


próximas a nós. Esforcei-me para acompanhar os movimentos do cara,
movendo-me de um lado para o outro. Juan me fez recuar dois passos, depois
me puxou para frente. Ele me girou novamente e a sua mão foi parar na
minha cintura, fazendo-me rebolar quando ele colocou uma perna entre as
minhas. A dança muito sensual fez com que o meu coração palpitasse
acelerado. Ele era um completo estranho, mas, em meio a toda aquela ginga,
foi impossível não ficar completamente rendida.

— Tira as mãos dela!

Eu não percebi o soco que veio logo atrás do grito, mas Juan me
empurrou para me tirar da mira do golpe e eu caí sentada na areia.

Pisquei algumas vezes e vi que Michael estava em cima da minha


paquera da noite.
Vinte e quatro

Desci do táxi que tinha me levado até a praia onde acontecia a festa e,
quando me dirigia para a areia, me deparei com uma imagem que me fez
perder completamente o juízo. Rachel estava nas mãos de um cara, que se
esfregava nela sem qualquer pudor. O estopim para a minha ira foi perceber o
sorriso de satisfação que ela carregava.

— Tira as mãos dela! — Segui pisando duro sobre a areia e parei ao


lado deles, empurrando o cara e desferindo um soco com toda a minha força.

— Que porra é essa? — O sujeito massageou o nariz, que sangrava.


Imaginei que o impacto houvesse sido muito forte, pois meus dedos estavam
doloridos.

— Fica longe dela — rosnei como um cão feroz, dominado por uma
fúria intensa e incompreensível.

— Não sabia que ela tinha namorado.

— Eu não tenho. — Sentada na areia, Rachel me encarava com uma


expressão confusa. — Sai daqui, Michael!

— Quem é esse cara? — o sujeito perguntou para ela.

— É só um otário que me persegue. — Bufou.

Era comum Rachel e eu trocarmos ofensas, porém, daquela vez,


vendo-a se referir a mim daquele jeito para um homem que estava interessado
nela, me deixou com ainda mais raiva.

— Sai daqui, mané! — Empurrou-me pelos ombros.

A atitude dele foi o suficiente para que eu me descontrolasse de uma


vez por todas. Dei outro soco, mas ele revidou, acertando em cheio o meu
rosto. Cambaleei para trás e precisei abrir os braços para me equilibrar e não
cair de bunda no chão, como havia acontecido com a Rachel. Assim que o
meu corpo se estabilizou, fui para cima do cara de novo. Dessa vez, nós dois
fomos parar no chão.

Rachel gritou, colocando as mãos na cabeça, desesperada.

Outro cara me segurou pelos ombros e me afastou antes que eu


tomasse outro soco no rosto, mas não fui poupado, pois a pancada acabou
acertando o meu estômago. Não consegui respirar e um gosto amargo tomou
conta da minha boca.

Ouvimos um apito e, quando tomei consciência, estava sendo


arrastado por um policial. Sempre fui muito encrenqueiro, mas era a primeira
vez que um policial me levava para o banco de trás de uma viatura. O pior era
que eu ainda me debatia, dominado pela vontade de continuar batendo no
cara. Por quê? Porque ele estava com as mãos na garota que não deveria.
Fui jogado por um policial dentro de uma pequena e abafada cela
cinza com grades na mesma cor. O colchão da cama estava rasgado e parecia
sujo, já o vaso era pequeno e não oferecia qualquer privacidade.

— É só mais um turista drogado — resmungou um dos policiais ao


fechar a cela.

— Espera! — Grudei-me na grade, mas fui completamente ignorado.


— Eu quero um advogado! Tenho direito a uma ligação.

Eles me deixaram lá, falando sozinho, enquanto desapareciam para


um canto esmo da delegacia.

Eu havia ido atrás da Rachel em uma festa e, sem ter raciocinado


direito, havia acabado em uma delegacia.
Vinte e cinco

— Desculpa! — Tentei me aproximar do Juan.

Com uma mão no nariz, ele usou a outra para me manter afastada.

— Não quero problemas, moça.

— Vamos embora. — Jenna puxou o meu antebraço e me arrastou


para longe quando percebeu que o clima da festa havia sido completamente
prejudicado pela atitude do Michael. Ele sempre fora muito idiota em suas
atitudes, mas era a primeira vez que batia em alguém.

— Você é uma estúpida, Rachel. — Jenna me soltou e bateu os pés no


chão para tirar a areia quando chegamos na calçada e paramos perto de um
ponto de táxi.

— Eu não fiz nada.

— Fez, sim! Não deveria ter falado para ele da festa. Até parece que
não conhece o cara. Ele deu chilique de ciúmes e acabou preso. Bem-feito!

— Ciúmes? — Franzi o cenho, confusa com a afirmação dela. Nunca


imaginei que o Michael poderia sentir ciúmes de mim.

— Claro que foi ciúme. Não tem outra explicação para ele ter dado
aquele surto.
— Ah, ele sempre foi desiquilibrado.

— Com você, Rachel.

— Não entendi.

— Como não? Amiga, você não pode ser tão estúpida.

Continuei de cenho franzido, analisando o que ela havia acabado de


falar. Não era fácil para mim processar aquela informação.

Jenna revirou os olhos, abriu a porta de um táxi e me empurrou para


dentro. Assim que entramos, passou o nome do hotel onde estávamos
hospedadas para o taxista, que apenas assentiu, concordando em nos levar.

— Desculpa. — Abaixei a cabeça e fiquei fitando o carpete do carro.


Entendi que havia sido a minha atitude que comprometera a nossa noite. Se
eu não houvesse falado para o Michael da festa na praia, ele não teria
aparecido e a situação não teria ficado tão horrível.

— Lembra do que você falava do seu irmão?

Levantei uma sobrancelha e olhei para ela, tentando entender a que


estava se referindo.

— Acho que é de família.

Uma chave virou na minha cabeça, porém a negação ainda era muito
forte.
— Com o Will era diferente. Ele sempre amou a Lilly, fazia tudo por
ela, e estava sempre perto dela. Já o Michael sempre fez de tudo para que eu
o odiasse.

— As pessoas lidam de modo diferente com os sentimentos, mas isso


não quer dizer que eles não sejam os mesmos.

— Você está dizendo que Michael gosta de mim? De um jeito muito


louco e psicótico?

— Não estou simplesmente dizendo, amiga. Depois do que acabou de


acontecer, eu tenho certeza. Ele não bateu no cara na praia à toa, foi por
ciúme.

— Ciúme de mim?

Jenna balançou a cabeça e bateu a mão na testa, demonstrando toda a


sua indignação diante da forma como eu estava reagindo.

— Chegamos — avisou o taxista ao parar diante do hotel.

— Vem! — Jenna pagou o motorista e me puxou pela mão para que


eu saísse do veículo.

— Espera. — Desvencilhei-me dela e permaneci no banco.

— O que vai fazer?

— Tirar aquele idiota da cadeia.


— Boa sorte. — Ela riu ao fechar a porta e caminhar para a recepção
do hotel. Jenna não se posicionou contra a minha atitude, porém não iria me
ajudar.

Meu coração estava palpitando; eu sentia uma aflição e uma angústia


estranhas. Havia criticado muito o William por não ter tomado uma atitude
em relação a Lilly, porém, naquele momento, tinha percebi que era muito
mais difícil do que parecia. A aflição era tanta que eu sentia que algo dentro
de mim daria um nó a qualquer momento.

— Me leva para a delegacia. — Debrucei-me sobre o banco do taxista


para informar a ele o meu destino.
Vinte e seis

— Até que enfim! — Levantei-me da cama e caminhei até a grade da


cela quando um policial pareceu com a chave para abri-la. — Vão me deixar
fazer aquela ligação?

Eu deveria estar há pouco tempo naquela cela, mas a sensação era de


que já haviam se passado horas.

— Pagaram a sua fiança. Vê se não decepciona a moça bonita e fica


bem longe daqui.

— Moça bonita? — questionei, mas ele não me respondeu, apenas fez


um gesto para que eu deixasse a cela.

Passei pela grade aberta e o segui pelo corredor. Caminhei atrás do


policial até chegar na parte da frente da delegacia, onde vi Rachel sentada em
uma cadeira preta em um canto da recepção. Ela ficou de pé quando me viu e
abriu um sorriso amarelo. Seu vestido estava sujo de areia e o cabelo loiro um
pouco fora do lugar, mas ela continuava linda.

De todas as pessoas no mundo, Rachel era a última que eu esperaria


que viesse me tirar da cadeia.

— Você me deve dois mil dólares — resmungou, virando as costas e


caminhando até a porta.
Porém, antes que ela saísse, fui até ela e segurei o seu pulso, fazendo
com que se virasse para mim.

— Espera! Por que me soltou?

— Talvez pelo mesmo motivo que você bateu naquele cara na praia.

— Qual motivo?

— Gosto de você. — Ela mordeu os lábios. Foi uma pequena frase,


mas me desconcertou completamente.

Rachel estava prestes a se virar, porém, antes que ela conseguisse,


segurei seu rosto e a puxei para mim. Sua boca veio parar na minha e não me
importei se estávamos na frente da delegacia. Minha língua adentrou a sua
boca, procurando pela dela, e enterrei meus dedos em sua nuca.

Porém, alguém pigarreou perto de nós e fui obrigado a me afastar dela


antes que um policial nos jogasse dentro de uma cela por atentado ao pudor.

— Vamos voltar para o hotel — disse, sem me afastar dela


completamente.

Rachel assentiu com um movimento de cabeça e indicou um táxi que


parecia estar esperando por ela.

Gosto de você... as palavras da Rachel ficaram ecoando na minha


mente e pareciam demais para que eu as digerisse. Contudo, era inegável o
fato de que eu havia ficado louco de ciúme ao vê-la com outro homem.
Entramos no táxi e o meu impulso era continuar beijando-a, porém
Rachel foi para a outra extremidade do veículo. Achei melhor não tentar
nada, ao menos não até chegarmos no hotel.
Vinte e sete

Eu gosto de você... pensei na forma idiota como havia me declarado


para o cara que eu havia odiado a vida toda. Admito que estava esperando
ouvir no mínimo um eu também, no entanto, ele apenas me beijou. Não era a
resposta que eu esperava, mas, de tudo, não havia sido tão ruim. Contudo,
minha mente voava enquanto voltávamos para o hotel. Talvez eu houvesse
me deixado influenciar demais pela fala da Jenna e acabara agindo
precipitadamente. Michael e eu éramos diferentes do meu irmão e sua esposa.
A nossa situação poderia não se resolver apenas contando a verdade.

Fui a primeira a descer do táxi e passei reto pela recepção, indo direto
para o elevador. Nem me dei ao trabalho de olhar para trás e reparar se o
Michael estava me seguindo. Entrei na caixa de metal e escorei minhas costas
na parede. Estava muito exausta daquele jogo. Se ele não queria nada
comigo, era melhor parar de atrapalhar a minha vida. Eu teria tido uma noite
muito boa com o dançarino latino se Michael não houvesse nos interrompido.

Saí do elevador no mesmo momento que um outro abria as portas ao


lado. Não me preocupei em olhar quem saia dele até que dei de cara com o
Michael.

— Fugindo de mim, chorona?

— Só indo dormir, já que você estragou a minha noite. — Dei de


ombros e tentei passar por ele, porém Michael continuou na minha frente,
como uma muralha.

— Ainda pode ter uma ótima noite. — Ele envolveu a minha cintura e
eu perdi a estabilidade das minhas pernas. Por sorte, seus braços envolvendo-
me forte como aço me impediram de cair.

Michael me arrastou até a porta do seu quarto, tirou um cartão-chave


do bolso, abriu-a, e me puxou para dentro. Fui prensada contra a porta
quando Michael nos trancou no cômodo. Suas mãos subiram da minha
cintura e foram para o meu rosto. Sua boca envolveu a minha e não houve
qualquer recato. Ele me beijou com ferocidade e fome. Sua língua duelando
com a minha me deixava cada vez mais sem ar, porém nem a necessidade de
respirar me fazia aplacar o beijo.

Seu peso me prensou ainda mais contra a superfície de madeira e


imaginei que derreteria nos seus braços. Poderia estar arrependida de ter
contado para ele sobre os meus sentimentos sem medir os riscos, porém,
naquele momento, nos braços do Michael, estava livre de pensamentos que
me chateavam.

Suas mãos saíram do meu rosto e foram parar nas minhas coxas.
Enquanto o beijo continuava enlouquecedor, suas palmas contornavam a
minha pele, traçavam as minhas curvas e subiam o meu vestido, até que ele
se tornasse um amontoado de tecido ao redor da minha cintura. O toque da
sua pele na minha me fazia formigar e iniciava pequenas erupções de
calafrios e fogo em cada parte que tocava.
Estar nos braços de um cara que me atraía era bom, mas com Michael
era diferente, era inexplicável e inacreditável. Ele me tocava e eu era capaz
de sentir, no corpo todo, a necessidade por mais pulsar como nunca.

Seu joelho foi parar entre as minhas pernas e esfreguei a minha virilha
na sua coxa. Gemi baixinho quando seus lábios saíram dos meus e foram
parar no meu pescoço. Seus dentes rasparam minha pele e um gemido mais
agudo escapou do interior da minha garganta. Tombei a cabeça para o lado e
deixei o caminho livre para que ele me enlouquecesse com seus beijos, seus
lábios, sua língua e dentes.

Esfreguei o interior da minha coxa na lateral da sua, um ato


completamente impulsivo, tentando aplacar a vontade que pulsava no meu
sexo e reverberava por todo o meu corpo. Queria o insuportável do Michael
Smith dentro de mim, e queria logo.

Envolvi a sua cintura com as mãos, escorregando-as para dentro da


sua camisa, e segurei a barra para puxá-la para cima. Michael ergueu os
braços e permitiu que eu tirasse a peça, porém, no instante seguinte, sua boca
voltou a buscar o meu pescoço, queixo e seios. Ele lambeu a elevação que
aparecia pelo decote, antes de puxar e tirar o meu vestido. A minha calcinha,
com amarras laterais como a peça de um biquíni, era fácil de remover e logo
Michael livrou-se dela.

Antes que eu cogitasse tirar a sua bermuda, Michael caiu de joelhos,


postando-se diante de mim e suas mãos agarram as minhas coxas. Ele as
distanciou, puxando-as para o lado, e sua boca foi parar no meu sexo. Michel
soprou seu hálito quente e meu reflexo foi me encolher inteira, fechando-me,
por mais que a vontade de tê-lo dentro de mim fosse muito grande.

Eu me espichei, retorcendo-me contra a porta, e fechei os olhos,


deixando-me levar pelo prazer de ter a sua boca no meu clitóris. Rebolava
enquanto a sua língua contornava os meus grandes lábios, brincava com o
meu clitóris e me levava a um precipício. Segurei o seu cabelo, percorrendo
os fios macios, enquanto me deixava levar pela névoa de luxúria, desejo e
êxtase.

Rocei-me no seu rosto pedindo por mais, e meu coração palpitava em


euforia, enquanto mantinha os meus olhos fechados para aproveitar ao
máximo o que ele me fazia sentir.

Michael apertou a minha coxa com força antes de subir com a outra
mão pelo interior delas e me penetrar com um dedo. Gemi, puxando o seu
cabelo, quando o dedo dele passou a se mover ritmado com a língua. Eu
queria mais e ele me deu. Sem qualquer comedimento, sua boca e sua língua
fizeram com que eu me perdesse para me encontrar gozando. Estremeci e
minhas pernas ficaram bambas, balançando, enquanto a sensação me fazia
vibrar toda.

Sustentei o meu peso, apoiando na porta, antes que eu não tivesse


forças para me mover e puxei a cabeça do Michael pelo cabelo. Ele ficou de
pé e a sua boca voltou para a minha, permitindo que eu sentisse o meu
próprio gosto na sua língua.
Abaixei a mão e senti o volume na sua calça, sentindo-o pulsar sob o
jeans. Abri o zíper e enfiei a mão dentro da sua cueca, sentindo-o nos meus
dedos. Senti a textura da sua glande e espalhei o líquido de cima dela com as
pontas dos dedos antes de envolver seu pau, fechando a mão ao seu redor. Eu
o estimulei e foi a minha vez de ouvir os seus gemidos.

Michael livrou-se do resto das roupas e ambos fomos parar na cama,


nus. Ele se sentou na beirada da cama, procurou a bermuda e tirou uma
camisinha da carteira, envolveu seu pau e me puxou para o seu colo. Sentei-
me de frente, observando os seus olhos azuis, escuros pela penumbra do
quarto, e desci rebolando no seu colo até que ele estivesse completamente
dentro de mim.

Joguei o cabelo para trás, balançando a cabeça, e segurei em seus


ombros. Michael envolveu a minha cintura e me puxou para frente, e o
movimento fez com que o meu clitóris roçasse no seu colo. Com as mãos na
minha cintura, ele tentava ditar parte dos movimentos, porém, naquela
posição, era eu quem estava no controle. Michael não reclamou nem um
pouco quando comecei a rebolar mais rápido, cravando-o bem fundo em
mim. A fricção do pênis dele nas paredes da minha vagina era maravilhosa.

Michael agarrou o meu cabelo com uma das mãos e, com a outra,
segurou a minha cintura e meu corpo se uniu ainda mais ao dele. Movi a
minha cabeça e procurei os seus lábios. Apesar de todo o calor que me
incendiava, a minha boca estava gelada e percebi que a dele também. Sua
língua brincou um pouco com a minha até procurar o caminho para os meus
seios. Voltei a jogar a cabeça para trás enquanto meu corpo era puro instinto,
fazendo movimentos circulares sobre ele.

Eu gemi, gritei e estremeci quando a sensação do orgasmo me acertou


em cheio. Michael levantou comigo no colo, ainda cravado em mim, e,
enquanto eu ainda me perdia nos espasmos do gozo, ele me pregava na
parede. Investindo em mim com agilidade e força, as minhas costas batiam na
superfície rígida a cada estocada. Abracei sua cintura com as pernas e seu
pescoço com os meus braços, temendo cair, mas deixei que ele continuasse.
Michael sempre foi muito bom em jogos e não poderia negar sua maestria
naquele.

Michael parou e senti o seu coração palpitando contra o meu enquanto


ele gozava. Como, dessa vez, ele estava de camisinha, não se deu ao trabalho
de tirar.

Ficamos ali parados, apenas sentindo a respiração e a pulsação um do


outro, por longos minutos. Não ousamos dizer nada para não estragar o
momento, e achei melhor assim.

Ele saiu de dentro de mim e me colocou no chão. Cambaleei para o


lado sem força nas pernas até encontrar apoio em uma mesa.

Esperei que ele fosse me expulsar do quarto como o idiota que era.
Porém, ele foi ao banheiro, jogou a camisinha fora, e, ao voltar para o quarto,
ao invés de se vestir, ele pegou outra na carteira.

Ainda estava desequilibrada e sem fôlego quando ele me puxou para a


cama.

— É a sua vez de gemer a noite toda.

Sua boca tomou o caminho de volta para a minha e eu afastei as


pernas, para que o Michael se acomodasse entre elas e me penetrasse de
novo.

Eu gemi, gemi muito enquanto ele elevava o sexo a níveis além do


racional e me fazia gozar inúmeras vezes.
Vinte e oito

Acordei com o toque de um celular, mas não era o meu. Rachel saiu
dos meus braços e caminhou até perto da porta. Encontrou a bolsa que havia
deixado cair ali na noite anterior, pegou o aparelho e atendeu a chamada.

— Mãe? Sim, eu estou ótima.

Levantei-me da cama e fui até ela, envolvendo-a por trás e beijando o


seu ombro parcialmente coberto pelo cabelo loiro.

— Onde eu estou?

— Comigo. — Mordi a orelha dela, que se encolheu arrepiada.

— No hotel. — Olhou para mim de expressão cerrada, num sinal


claro de que esperava que eu ficasse calado.

Subi com as mãos pelo seu ventre e apertei seus seios, brincando com
os mamilos.

— Para, Michael! — Sacudiu-se tentando me afastar. — Não, mãe.


Está tudo bem.

Pressionei o meu pau na bunda dela e Rachel deu um saltinho para


frente e soltou um gemido. Foi inevitável não me encher de desejo.

— Mãe, eu preciso desligar agora. Estou ótima, não se preocupa, mas


a gente se fala depois, tá? Beijos!

— Está tudo bem com a Thessa? — Olhei para a Rachel com o meu
típico sorriso brincalhão.

— Não consegui perguntar, porque você ficou me atrapalhando. Será


que você não consegue?

— Consegue o quê? — Fiz-me de desentendido.

— Se comportar quando está perto de mim. — Fez bico.

— É muito difícil.

— Então se esforça.

— Para quê? Já disse que você fica muito linda quando está irritada?

— Você fala um monte de coisas, mas são poucas as que eu presto


atenção. — Desviou o olhar, tentando fazer pouco caso de mim.

— Existem algumas coisas que não preciso falar. — Girei-a de frente


e toquei o seu sexo.

Rachel esticou a mão para afastar a minha, mas acabou mudando de


ideia quando escorreguei o dedo por entre os seus grandes lábios, sentindo a
sua vagina depilada, até encontrar seu clitóris. Chel chegou mais perto e
debruçou-se sobre o meu ombro.

— Você gosta disso? — Toquei o ponto do seu corpo onde ela mais
sentia prazer e movi o dedo até arrancar dela um gemido.

— Gosto. — Sua voz saiu abafada, pois estava com a boca enterrada
no meu ombro.

— Isso é bom. — Empurrei-a, até que Rachel fosse amparada pela


parede e ela rebolou na minha mão.

— Assim vou gozar de novo — falou com as bochechas vermelhas e


a voz manhosa.

— Quer que eu pare? — Cogitei afastar as mãos, mas ela fechou as


coxas, tentando me prender ali.

— Nem se atreva! — Mordeu meu ombro.

— Então goza para mim. — Aumentei o ritmo do meu dedo,


pressionando o seu botão até que os seus gemidos denunciaram o seu prazer.

Rachel levantou a cabeça do meu ombro e sorriu enquanto ofegava.


Tinha perdido as contas de quantas vezes havia a feito gozar durante a noite.
Considerando que eu poderia ter dormido na cadeia por uma briga
impensada, o saldo da minha noite havia sido muito positivo.

Eu a abracei e desci as mãos para apertar a sua bunda, apalpando as


nádegas macias. Apesar de pequena, era bem redonda e atraente.

— Quero comer aqui. — Desci com um dedo pela linha da sua cintura
e escorreguei pela junção das suas nádegas até tocar o seu buraco enrugado.
— Quê? — Ela deu um pulo de susto e se desvencilhou de mim, indo
para a outra extremidade do quarto.

— Anal, Rachel. Nunca fez?

— Não.

— Eu posso ser o primeiro. — Sorri ao perceber que havia uma parte


do corpo dela que nunca havia sido tocada.

— Por que eu faria com você? — Vestiu a calcinha como se houvesse


ficado assustada diante do meu pedido.

— Porque eu estou pedindo e acho que a noite passada já foi o


suficiente para provar as minhas habilidades.

— Não vou fazer anal com você. Na verdade, isso — ela apontou para
nós dois pelados —, nem deveria estar acontecendo.

— Por que não?

— Porque não!

Não entendi porque ela havia ficado tão irritada comigo. Num
momento estávamos bem, havíamos passado a noite fazendo sexo e, no
seguinte, ela estava gritando comigo.

— Eu vou para o meu quarto. — Colocou o vestido. — Preciso de um


banho.
— Tem chuveiro aqui.

— Quero o meu chuveiro.

— Bom, acho que o seu está em Londres.

— Cala a boca! — Bufou. Pela primeira vez, eu a estava irritando sem


querer. Sem fazer as coisas de propósito, havia deixado a Rachel furiosa.

— Okay! Vai para o seu quarto, então.

— Ótimo! — Colocou as mãos na cintura e me olhou com o peito


estufado antes de pegar a bolsa e abrir a porta.

— Rachel — chamei, e ela se virou para mim. Parecia esperar que eu


dissesse alguma coisa, porém eu não sabia o que era. Talvez fosse péssimo
para perceber os sinais.

— O que foi?

— Quer sair comigo hoje? Pensei em alugar uma lancha.

— Eu vou pensar. Não sei o que a Jenna quer fazer.

— Okay! Você me fala. É sábado, e pode haver outros programas


para fazer.

— Com toda certeza há. — Voltou a estufar o peito. Eu não era o


único soberbo entre nós.

Rachel abriu a porta e foi embora. Sentia que precisava fazer alguma
coisa, mas não sabia o quê. Sempre que eu fazia algo com ela, acabava a
afastando e não queria que ela se afastasse, não mais.
Vinte e nove

Por melhor que houvesse sido a minha noite, estava arrependida de ter
transado com o Michael de novo. Pensar que ele sentia algo por mim do jeito
que eu queria que ele sentisse poderia ter sido uma atitude muito equivocada
da minha parte. Já havia me envolvido com vários caras antes, sabia o que era
só me divertir. Inclusive tive namorados, porém com o Michael eu não
controlava nada e tudo parecia uma grande montanha-russa. Odiar era fácil,
mas amar era bem mais difícil, e poderia me machucar muito mais.

Entrei no meu quarto e fui direto para o chuveiro; esperava que o


cheiro de sexo impregnado em mim fosse embora com a água. Assim que saí,
ouvi uma batida na porta e esperei que fosse o Michael, mas me deparei com
a Jenna. Ela estava com um sorriso radiante demais para quem havia saído no
meio da festa.

— Parece que viu um passarinho verde.

— Acho que está mais para marrom-avermelhado.

— Hum. — Torci os lábios, esperando que ela continuasse.

— Achou que ia ser a única a transar nessa noite? Não mesmo!


Troquei telefone com um dos caras da festa e ele acabou de ir embora.

— Que ótimo, Jenna!


— E você, como foi? Tirou o encrenqueiro da cadeia?

— Dois mil dólares de fiança que eu poderia ter gastado com roupas,
mas eu vou fazê-lo me devolver.

— Nossa, foi ruim? — Empurrou-me pelos ombros e entrou no quarto


comigo.

— Ruim não foi. Transamos a noite inteira. Ele é ótimo na cama.

— Mas...

— Eu disse que gostava dele lá na delegacia.

— E o que ele fez?

— Me beijou. Porém, não falou nada, sequer tocou no assunto depois.


Senti que fiz papel de palhaça.

— Se ele te beijou, já é algum sinal.

— Sinal de quê?

— Que ele gosta de você.

— Ou que ele quer me irritar.

— Chel, você está sendo pessimista demais.

— Não quero alguém brincando comigo para ficar com o coração


destroçado depois. Michael é o tipo de cara que faria exatamente isso. Ele já
aprontou muito comigo ao longo dos anos.

— Te iludir é um pouco demais, não acha?

— Sei lá! — Joguei-me sobre a cama e me afundei nos travesseiros.

— O que você vai fazer? Continuar com o sexo?

— Acho que não devo, mas quero. — Mordi o lábio ao pensar que ele
havia pedido para fazer anal comigo. Não tinha tanta certeza se queria. Era
muito insegura quanto a tudo que envolvia o Michael. — Ele me chamou
para fazer um passeio de lancha mais tarde.

— Você vai?

— Não.

— Por quê?

— Viemos para cá juntas. Não vou deixá-la sozinha. Até onde eu sei,
você não deve estar com vontade de segurar vela.

— Chel, deixei você sozinha no primeiro dia. Eu posso me virar


também, não se preocupa comigo. Se quiser ir e curtir o Mick, eu apoio.
Além disso, o cara com quem eu dormi também me chamou para sair mais
tarde. — Piscou para mim com um olhar travesso.

— Eu estou com medo. — Puxei um travesseiro e cobri o rosto.


Sentia vergonha demais para deixar que ela me fitasse.
— Rachel Allen com medo. Está aí um dia que nunca pensei que
chegaria.

— Eu gosto dele, Jenna. Odeio você por ter me feito enxergar isso.
Quando o Michael me toca é como se o restante do mundo deixasse de
existir. Porém, todas as vezes em que estamos vivendo um momento incrível,
de repente, ele abre a boca e estoura a bolha. Ele sabe estragar algo perfeito
como ninguém.

— Meu conselho pode ser ruim, mas acho que deveria sair com ele. Já
que não vai mesmo conseguir sair com outro homem sem que o cara surte, vê
no que dá, Rachel. Ele pode ser só um sexo bom, então, curte o cara, depois
chuta ele quando voltarmos para Londres.

— E se eu não conseguir?

— Se ele continuar sendo escroto como sempre, você vai dar um


jeito.

Suspirei e tirei o travesseiro do rosto.

Queria tocar aquele envolvimento louco sem sentir nada, porém


parecia bem mais complicado. Poderia ter o coração despedaçado brincando
de pega e não se apega com o Michael Smith. Contudo, o que eu poderia
esperar de um cafajeste?
Trinta

Meu celular vibrou e eu sorri ao ver a mensagem da Rachel. Minha


tarde de sábado não estava perdida como imaginei.

Pode alugar a lancha, encontro você na recepção depois do


almoço.

Estava contente por ela ter decidido ir. Pela forma como Rachel saíra
do meu quarto, já estava pensando sobre alguma forma de convencê-la a
mudar de ideia.

Liguei para um telefone que encontrei na internet e combinei com o


sujeito de nos encontrarmos no píer de Miami por volta da uma da tarde. Saí
do quarto já quase no horário do almoço, porém não encontrei com a Rachel
no restaurante do hotel. Ela poderia ter ido com a amiga a outro lugar.

Havíamos passado a noite juntos, mas estava louco para encontrá-la.

Gosto de você... a frase dela ecoou pela minha mente. Será que a
Rachel esperava alguma resposta para essa declaração? Se esperava, o que eu
deveria dizer? Já havia gostado de algumas mulheres, gostava da Zoe e deu
no que deu: peguei a minha noiva na cama com o meu melhor amigo. Gostar
era difícil, mas gostar da Rachel parecia ainda mais complicado, pois deixaria
a nossa situação ainda mais louca.

Balancei a cabeça. Deixaria para pensar sobre o assunto quando ele


não me incomodasse tanto.

Voltei para o quarto e me arrumei para sair. Vesti uma bermuda, uma
camisa polo branca e desci para a recepção. Era pouco mais de meio-dia, mas
não vi nenhum sinal da Rachel pelos próximos minutos. A espera revelou em
mim uma pessoa muito ansiosa.

Sentado em uma poltrona, eu balançava o pé e mordia os lábios, além


de conferir a horas no visor do celular a cada segundo.

Estava muito impaciente quando ela finalmente apareceu. Rachel


estava linda em um vestido amarelo que combinava com o loiro do seu
cabelo. Seu sorriso radiante despertou o meu quando nossos olhos se
encontraram. O contentamento que observei nela me deixou mais tranquilo.

— Oi! — Ela parou na minha frente, balançando as mãos de um lado


para o outro. A aflição não havia se apoderado apenas de mim.

— Oi. — Levantei-me da poltrona e, sem cerimônia, puxei seu rosto


pela nuca e trouxe a sua boca até a minha.

Ela retribuiu meu beijo, levando a língua a minha, mas houve


comedimento, e me deixei acreditar que era por causa do local onde
estávamos.
— Para onde vamos? — Afastou-se de mim e colocou uma mecha do
cabelo atrás da orelha.

— Para o píer.

— Vai chamar um táxi?

Fiz que sim.

— Vamos? — Estiquei a minha mão para que ela segurasse e


seguimos de mãos dadas para o exterior do hotel. Na rua, um táxi logo parou
para nos levar ao destino.

Sentados no banco de trás do carro, coloquei uma mão na sua coxa;


ela não tirou, porém, não teve qualquer reação. Ela estava tensa e eu não
gostava disso. Esperava que, após alguns beijos e no meio do mar, ela
relaxasse.
Trinta e um

Fui a primeira a descer do táxi diante do píer. Foi lindo ver as


gaivotas que sobrevoavam o local em voos rasantes no céu muito azul e os
belos barcos, das mais variadas marcas e modelos, ancorados. Teria sido
muito romântico chegar ali com o Michael se eu não estivesse tão tensa.

— Qual é a lancha? — Busquei seus olhos quando ele parou ao meu


lado.

— O dono ficou de me encontrar aqui. — Ele olhou de um lado para


o outro até que um homem, que estava tomando água de coco, escorado em
uma grade, acenou e veio até nós.

— Boa tarde!

— Kelvin River, certo?

— Sim. Imagino que seja o Michael que conversou comigo pelo


telefone.

— Sou eu, Michael Smith! — Ele estendeu a mão para cumprimentar


o homem.

— É um prazer conhecê-lo, senhor. Aqui está a chave da lancha. É


aquela ali. — Ele apontou e meus olhos seguiram a direção do seu dedo.

Deparei-me com uma bela embarcação branca de aparência luxuosa,


com assentos em couro e acabamento em madeira.

— O frigobar tem bebidas e algumas opções de frios para que


consumam durante o passeio. Aguardo a devolução da lancha em quatro
horas, aqui, neste mesmo local.

— Obrigado. — Michael pegou a chave da lancha com o homem e


assentiu, colocando uma mão na minha cintura, direcionando-me até a
embarcação.

— Tenham um bom passeio. — Disse o dono da lancha enquanto nos


afastávamos.

Com Michael caminhando ao meu lado, mantendo a mão na minha


cintura e um sorriso gentil no rosto, eu até conseguia me esquecer de todo o
ódio que ele me fizera cultivar durante a nossa infância e adolescência.

Meu peito estava tomado por uma sensação estranha. Era como se
algo houvesse sido tirado da balança, quebrando o equilíbrio. Será que o meu
coração havia fugido para ele e por isso eu sentia que faltava alguma coisa?
Ou talvez a insegurança estivesse sobrando e estava causando a sensação de
desequilíbrio.

— Chel? — Michael me chamou pelo meu apelido novamente e eu


sorri involuntariamente. — Solta a corda e me dá a mão.

Pisquei os olhos e percebi que ele já estava dentro da lancha. Olhei


em volta e percebi que havia uma corda presa a um pequeno tronco de
madeira. Desamarrei o nó e segurei a mão do Michael, que me puxou para
dentro da lancha, pouco antes da embarcação afastar-se um pouco do
ancoradouro pelo movimento da água.

— Já pilotou uma lancha antes? — Virei-me para ele quando vi o


Michael ligar o motor e tomar controle do volante.

— Sim. Fiz um curso quando eu era garoto, quando passei um tempo


em uma colônia de férias na Escócia.

— Não sabia disso. — Sentei numa cadeira ao lado dele.

— Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe, porque estava
ocupada demais brigando comigo, ou simplesmente porque não se deu ao
trabalho de perguntar.

— Eu quero saber agora. — Cruzei os braços e as pernas. — Me


conta.

— O que quer saber? — Ele virou a lancha e seguimos para mar


aberto.

— Tudo o que eu não sei. — Dei de ombros.

— Meu pai, quando era criança, sempre ia para um acampamento


para garotos na Escócia. Quando éramos crianças, meu irmão e eu íamos para
o mesmo acampamento durante as férias de verão e ficávamos lá por um mês.
Fazíamos vários tipos de atividade: natação, remo, escalada... Minha mãe
gostava pela autonomia que ganhávamos toda vez que íamos.
— Parece legal! — Sorri.

— Você fazia coisas assim?

Balancei a cabeça em negativa.

— Minha mãe não gosta de me ver longe agora que tenho vinte e
cinco. A possibilidade de me ter fora por um mês quando eu ainda nem era
maior de idade deveria ser enlouquecedora para ela.

— Era assim com o seu irmão também?

— Nada! William sempre foi muito mais largado. — Bufei, revirando


os olhos.

— Bom, somos apenas eu e o Matthew. Nunca tive uma irmã para


comparar.

— É... — Debrucei-me sobre a lateral do barco para observar o céu e


o mar. Ambos muito azuis, em tonalidades diferentes. — É tudo muito
lindo... — Suspirei.

— Sim, e a água é cristalina.

Continuei observando o oceano. Estava apaixonada pela paisagem. Os


tons de azul eram muito vivos e intensos. O sol brilhava como nunca e eu o
sentia aquecer a minha pele como num abraço terno.

De repente, o motor do barco foi desligado e estávamos parados no


meio do oceano. Para onde quer que eu olhasse, só via água. Se eu não
estivesse tão encantada, teria me desesperado um pouco, porque não sabia
pilotar e tinha as minhas dúvidas sobre confiar ou não no Michael.

Ele abriu o frigobar e tirou dele uma garrafa de espumante e pegou


duas taças.

— Aceita?

Fiz que sim.

Ele me entregou uma taça e serviu nós dois. Se em algum outro


momento alguém me dissesse que eu estaria no meio do oceano, em um
momento para lá de romântico, com Michael Smith, eu riria na cara da pessoa
e iria afirmar que ela estava no mínimo muito bêbada. Nunca havia pensado
em nós dois como um casal até ele ser preso e Jenna jogar a situação na
minha cara; depois disso, não conseguia parar de imaginar esse cenário. Com
ele me proporcionando aquele momento, ficava ainda mais difícil não pensar
em como seria se nós dois nos amássemos, ao invés de nos odiarmos tanto.

— Chel? — Ele parou na minha frente e eu pisquei os olhos, tentando


focar o seu rosto.

— Oi? — Balancei a cabeça, recuperando a concentração.

— Você estava encarando o nada.

— Só pensando. — Beberiquei a minha taça.

— Em quê?
— Nada importante. — Abri um sorriso amarelo. Não iria falar para
ele que estava pensando em nós dois como casal, pois a falta de resposta ao
gosto de você já havia me magoado o suficiente. Não queria que ele jogasse
na minha cara que era apenas um momento. Queria que fosse eterno enquanto
durasse.

— Tem certeza?

— Sim. — Terminei minha bebida e deixei a taça sobre uma pequena


mesa lateral perto do frigobar. — Vamos nadar?

— Nadar? — Sorriu.

— Sim.Não gosta? — Virei-me de costas para ele e apontei para o


zíper do meu vestido.

— Gosto muito — sussurrou com voz rouca, ao ficar atrás de mim e


beijar meu ombro.

Senti o zíper do meu vestido ser aberto e Michael empurrar a alças


para que ele caísse, escorregando até o chão, revelando o meu biquíni
vermelho. Achei que ele fosse se afastar, mas Michael segurou o meu cabelo
e beijou a minha nuca. Fui varrida por um calafrio, mesmo que o sol brilhasse
forte, e Michael deu uma risada.

— Está com frio?

— Não é bem frio. — Escondi o rosto corado.


— Ah, é!? — Seus lábios foram descendo pela minha nuca até que ele
abocanhou a amarra do meu biquíni, abrindo-o com os dentes.

— Ei! — Segurei o tecido sobre os meus seios para não ficar nua da
cintura para cima. — O que está fazendo? Era para tirar só o vestido.

— Estamos sozinhos aqui, Rachel. Não precisa do biquíni.

— Está me pedindo para nadar pelada, seu tarado?

— Estou. — Abriu seu típico sorriso debochado, como se não se


importasse com a minha cara fechada.

— Michael!

— Olha, eu posso tirar a minha roupa primeiro. — Ouvi o som da


camisa dele caindo no chão e me virei a tempo de vê-lo tirar a bermuda e a
sunga.

Mal havíamos trocado algumas carícias e ele já estava de pau duro,


mas não teve nenhuma vergonha quando os meus olhos foram direcionados
para lá. Umedeci os lábios quando a minha boca salivou. Deixei que a parte
do meu biquíni caísse para frente e passei a mão pelas costas, terminando de
abrir a peça. Deixei-a cair sobre o assento da lancha e fiquei de topless.
Imaginei que o Michael estivesse esperando que eu tirasse a parte debaixo,
porém, ao invés disso, ajoelhei-me à sua frente e envolvi seu membro com as
mãos.

Ele agarrou o meu cabelo e trouxe o meu rosto para frente. Rocei
meus lábios no seu membro e Michael deixou que um gemido escapasse do
fundo da sua garganta. Senti a textura da sua glande com a ponta da língua
enquanto dava pequenos toques apenas para provocá-lo e enchê-lo de
vontade. Lambi a glande, contornando-a com a língua, mas sem botá-lo na
minha boca, porém foi o suficiente para que eu o visse revirando os olhos.

Michael me empurrou pelos ombros e eu apoiei minhas costas no


assento da lancha. Soltei seu membro, esperando o que ele iria fazer e
Michael o colocou entre os meus seios. Ele esfregou o membro no vale entre
os meus seios, subindo e descendo o membro, imitando o vai e vem que faria
se estivesse dentro de mim. Meu rosto ardeu com um misto de vergonha e
embaraço. Nunca havia feito aquilo antes.

— Faz assim. — Michael pegou as minhas mãos e as colocou sobre


os meus seios. — Mantém apertado assim.

— Desse jeito? — Segurei meus seios, pressionando-os contra o pênis


dele.

— Isso! — Michael mordeu os lábios, revirando os olhos.

Eu estava começando a ficar menos desconfortável com a situação e


Michael parecia estar gostando muito de ter o pênis estimulado pelos meus
seios.

— Que delícia, Chel — murmurou baixinho.

Sorri e apertei os meus seios com um pouco mais de força.


Michael continuou se movendo como se estivesse dentro de mim, até
que parou para agarrar o meu cabelo e, com um pouco de selvageria,
empurrou a minha cabeça para baixo.

— Me chupa — ordenou com a voz rouca, e eu o atendi, deixando


que o seu pênis entrasse na minha boca enquanto ele ainda se movia por entre
os meus seios.

Enquanto seu pau socava o céu da minha boca, seus dedos enredavam
nos fios e puxavam o meu cabelo, incentivando-me a o engolir mais.
Abandonei completamente o pudor enquanto dava prazer ao Michael de
forma indecorosa. Ele explodiu na minha boca e eu engoli o seu gozo.

Soltei os meus seios e segurei o membro dele outra vez. Passei a


língua pela sua glande e o lambi empolgada, até envolvê-lo com meus lábios
novamente.

— Chega, gatinha. — Michael me levantou antes que eu reiniciasse


os movimentos de sucção. — Sua vez agora? — Tentou se agachar diante de
mim, mas eu coloquei a mão sobre o seu peito, impedindo-o.

— Não iriamos nadar?

— Pensei que houvesse mudado de ideia.

— Só fiz um boquete em você. — Passei o dedo pelo canto da boca.

— E que belo boquete, com direito a espanhola. — Juntou seu corpo


ao meu e colocou as mãos sobre a minha cintura. — Mas você está vestida
demais para nadar comigo. — Puxou as amarras da parte debaixo do meu
biquíni e ele caiu aos meus pés.

— Pronto! — Empurrei-o com as duas mãos sobre o seu peito e tomei


distância para que pudesse pular da lancha no mar.

A água estava quente e rapidamente eu me senti confortável por ser


envolta por ela.

Logo Michael saltou, afundando ao meu lado e emergindo segundos


depois. Seu cabelo com topete arrepiado, outro símbolo da sua arrogância,
estava baixo e reluzente por causa da água. Ele se chacoalhou como um cão e
eu me encolhi.

— Ei! — resmunguei, servindo para que ele jogasse mais água em


mim.

— Não reclama, chorona!

— Para de se comportar como um brutão, seu nanico.

— Acho que tem partes do meu corpo que são bem satisfatórias. —
Estremeci diante do seu olhar safado.

Michael nadou para perto de mim e eu tentei escapar dele, nadando


em círculos ao redor da lancha. Porém, ele era mais rápido do que eu e logo
suas mãos envolveram a minha cintura. Michael me puxou para ele e me
abraçou por trás, com força o bastante para que eu não pudesse escapar do
seu agarre.
— Me solta!

— Tem certeza disso? — falou, com a boca na minha orelha, as mãos


sobre os meus seios e o pau na minha bunda.

— Tenho — resmunguei, sem certeza nenhuma.

— Okay! — Michael me soltou.

Estava tão distraída que me esqueci de nadar, mas ele me segurou


outra vez antes que eu começasse a afundar.

— Toma cuidado.

— Para quê? — brinquei com um ar travesso. — Tenho você aqui


para cuidar de mim. — Com meus olhos firmes nos seus, joguei meus braços
sobre os seus ombros.

— Não brinca com uma coisa dessas.

— Como se você fosse se importar caso eu me afogasse.

— Eu me importaria, sim. Me importaria muito.

— Mentiroso! — Fiz bico. — Você nem iria ligar se eu me afogasse.

— De onde você tirou essa ideia?

— Você nem gosta de mim.

— Quem te disse isso? — Franziu o cenho.


— Você.

— Eu não disse nada disso.

— Dá no mesmo. — Olhei de esgueira, enquanto tirava meus braços


do pescoço dele e tentava me afastar, porém Michael segurou a minha cintura
e não permitiu que eu me afastasse.

— É muito diferente. — Ele subiu com uma mão para a minha nuca
até enfiar os dedos no meu cabelo, puxando o meu rosto até o seu.

Mais uma vez, Michael não colocou nenhum sentimento em palavras;


apenas me beijou. Sua língua procurou a minha e me deixei levar pelo
contato que me arrebatava. Nem se tentasse, teria conseguido resistir. Erámos
apenas nós dois, o oceano e uma bela lancha.

Escorreguei as mãos dos seus ombros pelo seu peito musculoso e


contornei-o até descê-las pelas suas costas. Toda a água que nos cercava
parecia se aquecer à medida que nos beijávamos. Em um beijo cada vez mais
voraz.

Michael pressionava seu corpo contra o meu e não havia água que
conseguisse nos afastar. Meus seios estavam pressionados contra o seu peito
firme e o seu membro cutucava o meu sexo. Minha cabeça se movia de um
lado para o outro, sacudindo o meu cabelo, enquanto tentava encontrar o
melhor ângulo para se encaixar na dele.

Uma das suas mãos escorregou da minha cintura e apertou a polpa da


minha bunda enquanto eu agitava os meus pés, buscando nos manter
flutuando em meio a todo o amasso, que me roubava o fôlego e o juízo.

Esfregava-me cada vez mais no corpo dele à medida que o meu


desejo aumentava. Eu sentia tudo, seu corpo, sua pele, seu calor, a água, até
mesmo o sol que nos aquecia ainda mais. Perdi-me completamente naquele
momento, nos beijos e na pressão dos seus braços enquanto nadávamos nus
no oceano.

A mão do Michael que estava na minha bunda desceu para o interior


das minhas coxas e as distanciou até que ele encaixasse seu membro. Ele
roçou no meu clitóris antes de entrar na minha vagina e soltei um gemido
agudo.

Esfreguei ainda mais no Michael com o seu pênis me preenchendo,


mas era muito difícil fazer sexo sem apoio para os nossos pés. Começamos a
nos mover, porém, a cada vez que distraímos, nós fundávamos e, naquele
passo, acabaríamos nos afogando antes de chegar ao ápice.

— Vamos para a lancha. — Saí do seu agarre e nadei para a


embarcação.

Michael veio logo atrás de mim e subiu primeiro na lancha, me


ajudando em seguida. Assim que meus pés tocaram na superfície rígida, fui
empurrada contra um dos assentos e deixada de quatro. A palmada que veio
em seguida deixou a minha nádega ardendo, mas eu gostei. Rebolei na sua
mão, pedindo por mais, e o tapa que veio em seguida deixou ambas as
minhas nádegas com uma leve ardência.

— Você é uma safada, Rachel Allen. — Posicionou-se atrás de mim e


mordeu o lóbulo da minha orelha.

— Preferia que eu não estivesse de quatro esperando você enfiar? —


Olhei-o de esgueira e tentei me esquivar.

— De forma alguma. — Michael segurou a minha cintura e fez com


que me mantivesse na posição. — Gosto de você assim. — Voltou com a
boca para perto da minha orelha e eu me arrepiei inteira.

Ele roçou o pênis no meu clitóris, movendo o membro para cima e


para baixo e eu cravei as unhas no assento de couro. Revirei os olhos e
empinei mais a bunda, esperando, pedindo que ele me penetrasse. Chiei
baixinho; aquela expectativa era enlouquecedora.

A boca do Michael saiu da minha orelha e foi para a minha nuca e a


sua língua despertou em mim uma nova onda de calafrios.

Ele voltou a esfregar o pênis no meu clitóris e eu me retorci, tentando


fechar as pernas por reflexo em meio ao prazer, mas Michael enfiou a mão
entre as minhas coxas e as manteve abertas. Continuou friccionando a glande
no meu clitóris até que eu fui varrida pelo orgasmo. Foi tão intenso que
desmoronei, jogando todo o meu peso sobre o assento.

— Eu quero a sua bunda, Chel.

— Mick... — Escondi o rosto no assento, completamente


envergonhada. — Nunca fiz isso antes.

— Eu sei. — Ele acariciou a minha bunda, descendo as palmas


abertas pelas curvas das minhas nádegas. — Vou ser cuidadoso. — A voz
dele era sensual demais para que eu conseguisse dizer não. Além disso, eu
estava completamente entorpecida pelo orgasmo.

— Okay! — Ainda estava envergonhada demais para encará-lo. —


Seja cuidadoso.

— Serei. — Ele me soltou e se afastou. Achei que houvesse desistido


até que percebi que ele havia pegado algo na bermuda.

Mick voltou a se posicionar atrás de mim e primeiro senti seus dedos.


Seu dedo do meio desceu da minha cintura até chegar ao local almejado. Ele
me rodeou, passando a ponta do dedo devagar e percebi que estava passando
algum óleo ou gel.

Virei a cabeça para tentar ver melhor e Michael piscou para mim
quando os nossos olhos se encontraram. Ele me penetrou com um dedo e eu
me espichei. Joguei o cabelo para o lado enquanto me acostumava com a
sensação do dedo dele me penetrando e se movendo. Olhei para o mar e
suspirei. Não havia local mais bonito para perder a minha virgindade anal.

Michael introduziu mais um dedo e eu gritei baixinho, mais de


surpresa do que de dor. Não era desconfortável, muito menos estava me
machucando; era, simplesmente, novo. Mick estava indo com calma e eu
consegui me acostumar.
— Pronta?

— Acho que sim. — Mordi o lábio e meu coração voltou a bater


acelerado e tenso.

— Vem aqui. — Michael segurou o meu rosto e tomou os meus


lábios, voltando a me aquecer com um beijo intenso.

Senti o seu pau forçar passagem e o meu primeiro impulso foi me


fechar e apertar mais as minhas unhas contra o assento.

— Relaxa — Mick disse com a boca ainda na minha. — Se ficar


tensa, eu não consigo entrar.

Assenti, voltando a ficar com as bochechas coradas. Estava me


entregando completamente para ele sem qualquer garantia. Porém, não havia
em mim um pingo de bom senso que me obrigasse a me levantar e impedir
que ele penetrasse a minha bunda.

Michael levou uma das mãos até o meu clitóris e começou a me


estimular e, involuntariamente, eu abri as pernas, aguardando a penetração, e
ela veio, mas não onde eu estava acostumada.

— Delícia! — Michael deu uma palmada na minha bunda e eu a


empinei em sua direção.

Ele esperou que eu me acostumasse com a sua presença antes de se


mover. Era diferente de tê-lo dentro da minha vagina, mas não houve dor ou
qualquer outro incômodo e, por instinto, rebolei nele, enquanto Michael
puxava a minha cintura para que pudesse entrar mais fundo.

Mick se debruçou sobre mim, tirou meu cabelo das costas e traçou um
caminho de beijos, mordidas e chupões pelos meus ombros, nuca e costas.
Com uma mão, ele segurava a minha cintura, me mantendo na mesma
posição enquanto investia contra mim, e com a outra, ele estimulava o meu
clitóris. Assim, foi impossível não sentir prazer.

— Viu, chorona, não é tão ruim me ter metendo na sua bunda —


brincou, ao morder a minha orelha.

— Cala a boca ou vou te mandar sair daí. — Cerrei os dentes, mas a


minha expressão de seriedade logo foi desfeita por outro gemido. Com ele
estimulando o meu clitóris, eu estava sentindo prazer, muito prazer.

— Sei que não gosta de parar na metade. — Riu ao se lembrar do que


havia feito comigo durante o nosso primeiro beijo.

Apenas rosnei e ele riu. Mick parou de se mover e nos girou. Quando
dei por mim, estava caindo sentada no colo dele, com o seu pau ainda na
minha bunda. Michael afundou os dedos nas minhas nádegas, segurando
meus glúteos com força, e busquei equilíbrio, apoiando as mãos nos seus
joelhos.

— Rebola vai! Adoro ver a sua bunda se movendo em mim, e estando


dentro dela é melhor ainda.

— Abusado! — Para sorte dele, eu estava sentada de costas e ele não


viu os meus dentes cerrados.

— Admite que você gosta. — Puxou meu cabelo para trás e mordeu o
meu pescoço.

Queria dizer que não, mas o meu corpo estava me traindo. Se havia
algo que o Michael dominava bem era o sexo.

Ele deu outra palmada na minha bunda e, por reflexo, comecei a


quicar nele. Tombei o meu corpo para frente e busquei o melhor ângulo para
me mover. Michael gemeu e eu virei o rosto a tempo de vê-lo fechando os
olhos. Ele estava delirando de prazer e isso me impulsionou a me mover mais
rápido.

Ele voltou a afundar os dedos nas minhas nádegas e logo eu o senti


gozando em mim. Continuei rebolando até que ele me forçasse a parar.

Michael me sentou ao seu lado no pequeno sofá e tirou a camisinha,


amarrando-a e a jogando em um cesto de lixo. Ele tombou o corpo para trás e
se deitou no assento. Imaginei que estivesse exausto e fosse apenas descansar
um pouco.

— Vem aqui, Rachel. — Fez um gesto para que eu me aproximasse.

— Quer que eu me deite com você?

Michael balançou a cabeça em negativa.

— Senta no meu rosto.


— No seu rosto? — perguntei, num misto de embaraço e confusão.

— Sim, vem! — Puxou a minha mão.

Fui até ele e Michael moveu a cabeça para que um dos meus joelhos
se acomodasse ao lado dela e, como o espaço era pequeno, minha outra perna
precisou ficar para fora; mantive o meu pé no chão, enquanto Michael
acomodava a cabeça e me puxava na direção do seu rosto. Sua língua
encontrou o meu clitóris; eu joguei a cabeça para trás e rebolei no rosto do
Michael, mergulhando no prazer que ele estava disposto a me dar. Com o
Michael, eu estava fazendo sexo para além da forma que eu achava ser
adequada e, o pior, era que eu estava amando.

A língua dele contornava o meu clitóris, percorria os meus grandes


lábios, provava das minhas texturas e me fazia sentir prazer além do que eu
julgava ser possível. Quando eu gozei, a onda foi ainda mais intensa do que
da última vez. Precisei ter todo o cuidado para não desmoronar sobre o rosto
dele.

Puxei a perna e saí cambaleando, sem fôlego ou equilíbrio, para o


meio da lancha, porém Michael me puxou de volta e me fez sentar no seu
colo novamente, mas, dessa vez, ao invés de me penetrar, ele apenas me fez
um carinho.

— Acho que agora eu estou cansado.

— Você acha? — Movi a cabeça, procurando seus olhos.


— Pode ser que daqui a uma meia hora eu esteja pronto para outra. —
Deu de ombros.

— Assim você vai me deixar assada! — Saltei do colo dele e me


sentei ao seu lado.

— Eu posso meter na sua boceta. — Ele botou a mão entre as minhas


pernas e deu um tapinha no meu monte de vênus. — Tenho certeza de que ela
aguenta mais um round.

— Você é terrível Michael. — Afastei a mão dele antes que


começasse a me estimular.

— Mas você gosta.

— É, gosto! — Virei o rosto e fiquei emburrada.

— O que foi? — Ele percebeu que eu tinha ficado irritada.

— É a terceira vez que você me faz dizer isso e em todas eu me sinto


uma idiota. Você sempre brincou comigo, Michael.

— E acha que eu estou brincando agora? — Ele puxou o meu queixo


e me forçou a encará-lo.

— Acho.

— Então, por qual motivo me deixou fazer?

Não sabia dizer se ele estava se referindo apenas ao anal ou ao sexo


como um todo. Porém, para os dois a resposta era a mesma.

— Eu também quis.

— E se eu te disser que não estou brincando? Eu gosto do que está


acontecendo conosco, adoro trepar com você, e confesso que estava
sonhando com o que fizemos aqui.

— Talvez isso não seja o bastante. — Voltei a cruzar os braços.

— E o que seria o bastante para você? — Puxou o meu queixo,


forçando-me a encará-lo.

— Que você me ame. — Se Michael queria a verdade, era o melhor


momento para revelá-la. Sempre fui muito boa para ofendê-lo, e precisava ser
boa para jogar limpo também.

— Ame? — Arregalou os olhos, como se a palavra amor quase fosse


uma ofensa.

— Sim. — Mantive o olhar firme. Não iria sofrer do mesmo mal do


meu irmão, por simplesmente não ter coragem de enfrentar os próprios
sentimentos.

— Rachel, isso é complicado para mim. — Ele soltou o meu queixo e


foi a sua vez de desviar do meu olhar. — A minha ex-noiva...

— Você ainda a ama? — perguntei, sem conseguir esperar que ele


terminasse a frase. Se ele dissesse que sim a decepção seria grande, mas eu
precisava saber.

— Não! De forma alguma.

— Então, o que houve?

— Nosso relacionamento não terminou bem.

— E daí?

— E daí que não quero amar. A vida de solteiro tem menos surpresas
e decepções.

— E o que está rolando entre nós?

— É só um caso.

Mordi os lábios para segurar a vontade de chorar. Algo dentro de mim


gritou um eu te avisei. Conhecia muito bem o Michael; não podia esperar que
ele se transformasse de inimigo a namorado apenas porque nossos corpos se
atraiam. Para que eu estava cogitando me enganar?

— Admite, Rachel, é muito melhor transarmos do que ficarmos


brigando.

— Me leva de volta.

— Por quê? Ainda temos tempo.

— Me leva de volta. — Elevei o tom da minha voz, mantendo o tom


firme.
Levantei-me e fui procurar pelo meu biquíni, que estava largado pelo
chão da lancha.

— Rachel. — Ele tentou segurar o meu pulso, mas eu me


desvencilhei e me vesti.

Michael ficou me encarando, porém, ao perceber que eu não mudaria


de ideia, vestiu a sua roupa e me levou de volta para o píer.

Eu achava que havia botado um ponto final na nossa situação, mas


nós dois havíamos nos reencontrado demais para que pudesse ter certeza de
que acabaria daquele jeito.
Trinta e dois

Em um momento, Rachel e eu éramos beijos e prazer. Eu gostava


daquilo, gostava de como estava com ela e de ter toda a sua atenção em mim,
porém foi ela me pressionar e a situação desandou. Eu nunca poderia prever
que fazer aquele passeio juntos acabaria daquele jeito.

Algo dentro de mim me fazia pensar que a culpa era minha, porém,
como reagir diferente? Eu já havia tentado um compromisso antes e o
resultado fora um par de chifres e a perda do meu melhor amigo.

Rachel e eu nos engalfinhávamos e nos enlouquecíamos, e não seria


uma viagem e o bom sexo que mudaria tudo.

Entrei no quarto desorientado; joguei meu corpo sobre a cama e


afundei meu rosto nos travesseiros. Estava irritado e, talvez, triste.

Se era só um caso, terminaria mais cedo ou mais tarde, porém ter


terminado mais cedo não deveria ter me incomodado tanto.

O telefone tocou e pensei em não atender. Era sábado, e eu estava


com raiva pela forma como o meu encontro com a Rachel terminou. Tudo o
que eu desejava era continuar na cama; poderia ouvir música, ou passar o
meu tempo com qualquer outra coisa que me distraísse.

Seja lá quem fosse, ligou novamente e a insistência fez com que eu


atendesse o telefone.
— Dean?

— Oi, Michael, tudo bem? Sei que vocês ingleses presam pela
pontualidade e antecedência, mas, mesmo estando em cima da hora, queria te
fazer um convite. Meus irmãos chegaram e vamos fazer uma festa, algo mais
íntimo, porém seria bom se você viesse.

— Quando?

— Hoje. Eu vou enviar para você o endereço.

Eu estava chateado. Ficar no hotel remoendo o quanto toda a situação


com a Rachel me incomodava não era, no entanto, a melhor alternativa.

— Eu vou, sim.

— Vejo você mais tarde.

— Obrigado.
Trinta e três

— Por que vocês são tão idiotas? — rosnei para o telefone ao atendê-
lo, com lágrimas nos olhos.

Havia chegado no hotel e corrido direto para o meu quarto. Mal fechei
a porta e o meu celular vibrou com uma ligação do meu irmão.

— Quê?

— Parece que gostam tanto de ficar sozinhos que agem como uns
idiotas toda vez que uma mulher ameaça a sua vida de cafajeste.

— Chel, o que está acontecendo? — A voz do William do outro lado


da linha era pura confusão.

— O imbecil, idiota e escroto do Michael Smith.

— Vocês estão se digladiando aí também?

— Antes fosse. — Peguei um travesseiro da cama e joguei contra a


parede. Ele caiu sobre um copo que estava em cima do frigobar, mas,
felizmente, não o derrubou.

— Então, o que aconteceu?

— Eu dei para ele. Dei várias vezes e agora estou me sentindo uma
boba. — Passei a mão livre pelo cabelo, quase o arrancando, e saí com uns
fios loiros agarrados no dedo.

— Ele forçou alguma coisa, pois se... — A voz do William assumiu


um tom ameaçador e me perguntei o que o meu irmão poderia estar cogitando
fazer com Michael e achei que ele merecia. Contudo, não poderia acusá-lo de
algo que ele não havia feito.

— Não. Ele não forçou nada. Eu quis, e isso faz com que eu me sinta
ainda mais idiota.

— Você só transou com o cara, qual o problema? Do nada, vai


começar a pensar como a Lilly? Casar virgem não dá mais tempo; você
perdeu a sua virgindade no banco de algum carro em Oxford.

— Foi em um dormitório! — corrigi, ficando ainda mais irritada.

— Tudo bem, irmã. Isso não é algo que eu fico pensando. Liguei para
saber se você está bem, mas parece que não.

— Fui dar ouvidos para uma coisa que a Jenna falou e isso me deixou
confusa.

— Sobre o Michael?

Talvez o William fosse mais esperto do que eu imaginava. Revirei os


olhos diante daquele pensamento; não era ofendendo o meu irmão que eu
resolveria a minha irritação. Apesar do meu jeito de ser, o William sempre foi
muito cuidadoso comigo. Ele era oito anos mais velho e, assim como os meus
pais, achava que poderia me proteger de tudo.
— O que a Jenna falou, Chel? — insistiu, esperando que eu me
abrisse.

— Que talvez Michael e eu pudéssemos ser como você e a Elizabeth.


Que o amor sempre esteve ali, mas que não conseguíamos perceber. Agora,
eu tenho certeza que é só ódio mesmo. O conselho dela foi muito furado.
Porque eu tentei fazer diferente, me confessei, mas ele me ignorou todas as
vezes.

— Se fosse só ódio, vocês não teriam terminado na cama.

— Ódio com tesão, mas ódio.

— Rachel, você pode estar se precipitando.

— Will, eu disse para ele, mas ele disse que era só um caso. E se eu
parar na frente dele, vou fazê-lo engolir cada uma das palavras.

— Ele pode não ter ouvido direito ou não ter compreendido.

— Tenho certeza de que ele ouviu muito bem.

— Só dá tempo ao tempo, irmã. Tudo vai se ajustar.

— O noivado dele já deu errado.

— Nem tudo acontece da mesma forma.

— Quem morreu e te decretou sábio? — Fiz bico; estava emburrada


demais para pensar direito e a minha raiva estava sobrando até para o meu
irmão.

— Você me pediu conselhos e estou fazendo o meu melhor. —


Imaginei ele revirando os olhos do outro lado da linha.

— Vou deixar o Michael para lá.

— Se isso fizer bem a você, ótimo.

— E se não fizer? — Prendi a respiração, ficando tensa.

— Vai precisar de uma resposta diferente dele.

— Deve ser só o sexo, porque quando ele me segura, sinto que posso
flutuar. Hoje, antes de ele estragar tudo, nós transamos numa lancha, e ele...

— Não preciso de detalhes, Rachel. Você ainda é a minha irmãzinha.

— Okay! — Engoli em seco.

— Quando você volta para casa? Vai ser mais fácil ajudar você
estando aqui. Mas se te anima, quem me dera seu eu tivesse percebido antes.

— Não adianta nada perceber algo sobre o cara errado. Também


percebi uma coisa, é muito mais fácil julgar quando se está de fora.

— Vai ficar tudo bem, Rachel.

— Tenho certeza que sim. Vou voltar para casa e para a minha vida.

Estava me garantindo que seria fácil apagar aqueles momentos com o


Michael, mesmo sabendo que não seria; porém, era melhor postergar
qualquer sofrimento.

— Vou colocar a Rose na cama dela, acabou dormindo agarrada com


a Lilly. Se você precisar de alguma coisa, você me liga, okay?

— Okay!

— Beijos, irmãzinha, se cuida.

— Você também, Will. Manda um beijo para a Lilly e para as


crianças por mim.

— Pode deixar. — Ele desligou a chamada e eu fiquei olhando para o


celular na minha mão.

Estava prestes a me levantar e ir para o banheiro, quando uma batida


na porta chamou a minha atenção. Por um momento, imaginei que pudesse
ser o Michael, arrependido, e isso fez aquecer no meu peito a esperança de
sermos feitos um para o outro, porém, ao abrir a porta, deparei-me com a
Jenna e a minha vontade foi esganá-la.

— Oi, Chel? Como foi o passeio de lancha? Pode me contar tudo e


não me esconda os detalhes. — Ela entrou empurrando a porta e se sentou na
minha cama.

Respirei fundo e fechei a porta do quarto antes de ir para perto dela.

— Foi como uma montanha-russa, mas só que, depois do ápice, só


teve descida.

— Terminou mal?

Balancei a cabeça, sentindo o pesar em até mesmo abrir a boca para


dizer.

— Só terminou o que nem deveria ter começado. Onde eu estava com


a cabeça quando fui dar ouvidos a você?

— Alto lá, não sou do tipo de amiga que dá conselhos terríveis.


Sempre torci muito por você, sabe bem disso.

— Mas dessa vez você errou feio.

— Em quê? — Arqueou as sobrancelhas, descrente.

— Michael não gosta de mim.

— Ele pode não admitir, mas eu tenho certeza que ele gosta. Você
sabe como os homens são. Seu irmão é a prova disso.

— Para início de conversa, a Lilly nunca disse que gostava dele.


Nenhum dos dois chegou a se confessar. Já o Michael, deixou bem claro que
éramos apenas um caso. Ele curte ficar comigo, mas não é nada sério.

— Isso foi antes ou depois de você dizer que ama ele?

— Depois... E eu não o amo!

— Que idiota!
— Nisso eu concordo.

— Vou pisar nas bolas dele com salto agulha. — Ela fez uma careta e
eu gargalhei.

— Quero voltar para casa, Jenna.

— Mas já? Mal chegamos... tem tantos lugares e homens para


conhecer aqui.

— A última vez que fomos para uma festa não foi nada bom.
Honestamente, estou de saco cheio.

— Do Michael?

— De tudo!

Preferira dizer que estava farta a admitir que o meu coração estava
partido, como não se partia há muito tempo. Eu me entreguei demais a
possibilidade de que Michael e eu poderíamos ter algo real, tanto que acabei
trazendo à tona um sentimento com o qual não estava habituada a lidar. Meu
amor pelo Michael deveria ter continuado escondido sob uma camada de
ódio.
Trinta e quatro

Observava as mansões da ilha das estrelas através da janela do táxi


enquanto a minha mente ia e voltava nas imagens da tarde que eu vivi com a
Rachel. Como um momento tão bom poderia ter acabado tão tragicamente?
Aquele foi um sinal; todas as vezes em que me envolvia demais com uma
mulher, a situação fugia completamente do meu controle.

Foi melhor ter acabado de uma vez,, garanti para mim em


pensamentos, na esperança de que me incomodasse menos.

Desci em frente a enorme mansão clara quando o taxista me indicou


que havíamos chegado. A casa dos Clark era bem vibrante e moderna se
comparada a Sky House, que pertencia aos Smith há gerações. Exalava o
clima de mundo novo que possuía os Estados Unidos. Ajeitei o relógio de
pulso e o blazer antes de caminhar até a entrada da casa. Fui recebido por um
segurança truculento, que me indicou o caminho depois que me apresentei,
informando o meu nome, que ele checou constar em uma lista em seu celular.

Segui a música até notar que ela vinha da área da piscina. Surpreendi-
me com o homem sentado em um pequeno palco. Não sabia que o Dean
cantava, porém a situação ficou ainda mais estranha quando vi o Dean me
chamando, vindo de outra direção.

— Michael, que bom que você veio! — Ele me cumprimentou com


um aperto de mão e um largo sorriso.
— Irmão gêmeo? — Apontei para o cara no palco.

— Sim! Você não conhece o Dylan? — Arqueou a sobrancelha,


surpreso demais para não me causar estranhamento.

Balancei a cabeça em negativo, pensando se não havia cometido uma


grande gafe. Pela reação do Dean, o irmão dele deveria ser muito conhecido.

— Dean e Daphne são os rostos da família. — Ele riu. — São eles


quem distribuem autógrafos. O Dylan já ganhou o Grammy várias vezes.

— Acho que estou preso na bolha do rock.

— Ouve um pouco, você vai gostar.

— Obrigado.

— Curte a festa, sinta-se bem-vindo. Vou ver porque a minha esposa


ainda não desceu e já volto.

— Não se preocupe comigo.

Dean acenou para mim e se esgueirou por entre os convidados até


desaparecer de vista. Fiquei observando o pequeno show do irmão dele e as
pessoas que se aglomeravam para assistir. Joguei o nome dele no Google e
encontrei milhares de notícias a respeito. Algumas falavam do nascimento da
filha mais nova. Havia fotos da bebê por todos os tabloides. Eu não sei se
suportaria toda aquela exposição. Ainda bem que a Aliance me fazia um
homem rico, mas não uma celebridade. Além disso, o povo britânico se
preocupava muito mais com a família real do que com a plebe. Considerando
que a família Smith havia surgido do meio da burguesia e feito a sua fortuna
através do comércio, não tínhamos a mesma atenção do que a nobreza.

Dylan parou de cantar e uma ruiva muito bonita se aproximou dele.


Eles trocaram carícias e carinho. Presumi, pelas alianças que usavam, que
fossem casados. Não sabia por quanto tempo, porém imaginei, pelo ar
apaixonado com que ele olhava para ela, que fosse bem pouco.

Logo, Dean retornou acompanhado de uma mulher que não parecia


muito mais velha do que eu. Fiquei me perguntando qual seria a diferença de
idade entre eles, já que o Dean estava perto dos quarenta.

A mulher percebeu que eu reparava nela e olhou para mim com um


sorriso gentil. Seus olhos castanhos e grandes me analisavam com
curiosidade. Ela também estava tentando saber mais sobre mim. Não sabia se
o Dean havia mencionado sobre o nosso acordo comercial, ou se eu era um
completo estranho para ela. Confesso que sua beleza latina me chamou
bastante atenção. Seu cabelo era preto, a pele tinha um tom moreno-claro, o
corpo era magro, porém, curvilíneo. A beleza poderia não ser o grande
motivo pelo qual Dean havia se apaixonado por ela, entretanto, a meu ver,
facilitou muito.

— Michael, essa é a minha esposa, Angel Clark — apresentou Dean.

— Encantado. — Puxei a mão dela e beijei o dorso.

O sorriso dela se alargou. Angel tinha um sorriso e um jeito doce que


era difícil de não ficar encantado. Apesar de admitidamente cafajeste, eu não
era o tipo de homem que dava em cima de mulher casada. Apenas estava
admirando a beleza dela, que me parecia ser o que havia encantado o Dean.

— O Dean estava me dizendo que você é inglês.

— Sim, nasci e cresci em Londres.

— Ah, dá para perceber pelo sotaque.

— Vocês dão um jeito de diminuir as palavras e falam mais embolado


do que nós. — Fechei a cara e ela riu. Eu conseguia ser um cara simpático
quando me esforçava minimamente.

— Veio sozinho, senhor Smith? Não estou vendo nenhuma


acompanhante.

— Michael ainda é um homem curtindo a vida, amor. — Dean piscou


para mim.

— Ah. — O sorriso de Angel diminuiu um pouco e percebi que algo a


havia incomodado.

Vi o Dylan se aproximar por trás. Dean não percebeu até que o irmão
envolveu seu pescoço com uma chave de braço. Fiquei esperando o que iria
acontecer até que Dean deu uns tapinhas no braço do irmão, rendendo-se por
falta de ar.

Dylan se afastou gargalhando e Dean olhou de esgueira, parecendo


irritado, mas logo começou a rir. Imaginei que estivessem apenas brincando.
Matt e eu também tínhamos dessas coisas.

— Quem é esse? — Dylan parou ao lado do Dean ao me notar.

— Esse é Michael Smith, o CEO da Aliance Cars.

— Ah, aquela locadora? Já ouvi falar. Muito prazer. — Ele esticou a


mão para mim e eu a apertei.

— O prazer é meu.

— Já loquei carros com vocês quando estava em outras cidades para


turnês. O atendimento é muito bom.

— Obrigado. Fico contente que tenha gostado do serviço.

— Recomendo sempre que tenho uma oportunidade.

— Fechamos um ótimo acordo entre a Golden Motors e a Aliance


Cars. Depois eu te passo os detalhes.

— Ótimo! — Dylan deu um tapinha no ombro do irmão. — Não vai


fazer um discurso?

— Eu?

— Claro, não estou vendo outro Dean aqui.

— Palhaço! — Dean fechou a cara e Dylan riu. — Não, não vou. É só


o meu aniversário de casamento, ah, e o seu também.
— Vocês se casaram na mesma época? — perguntei para a Angel,
que confirmou com um movimento de cabeça.

— Foi um casamento duplo, dos gêmeos. Aquela é a minha cunhada.


— Ela apontou para uma ruiva que acenou para nós antes de se aproximar,
jogando os braços sobre os ombros de Dylan.

— Sua mãe não quer descer, disse que não tem mais idade para festas
e quer ficar com os netos. Botou as crianças em roda e está contando
histórias. O mais engraçado é ver a Cristine e a Beatrice realmente prestando
atenção, mesmo sendo apenas bebês. Angel — voltou-se para a cunhada, — a
Laura conteve o pequeno Harrison melhor do que eu. Ele parou de puxar o
cabelo da Clare após algumas ameaças da avó.

— Ainda bem. — Angel respirou, aliviada. — Dona Laura é um


amor.

— Deixa a minha mãe cuidar das crianças. Bom que podemos curtir
nosso aniversário de casamento. — Dylan puxou a ruiva e a beijou. Não um
beijo casto, como os meus pais costumavam trocar na minha frente, mas um
beijo voraz, que me permitiu ver as suas línguas.

Angel olhou para mim com as bochechas coradas, como se estivesse


se perguntando o que estaria passando pela minha cabeça, mas, logo, foi se
aconchegar nos braços do marido. Não era comum que eu me sentisse
sobrando em algum lugar, mas, daquela vez, foi um pouco angustiante estar
cercado de casais aparentemente felizes.
Talvez, se eu soubesse que era uma festa de aniversário de casamento,
não teria vindo. Principalmente depois da forma como o meu caso com a
Rachel acabou.

Rachel...

Por que pensar nela estava me deixando tão incomodado? Depois de


ter visto a Zoe com o Joseph, havia me prometido que não passaria pela
mesma situação de novo. Ter ficado noivo havia sido um erro. A vida de
solteiro era bem mais fácil, não era? Então, por que, apesar disso, os gêmeos
Clark olhavam para as esposas de forma tão amorosa?

Afastei-me deles quando percebi que já não tinham mais atenção em


mim e caminhei até o bar. Pedi um drink e segui para perto da piscina,
bebericando.

Parecia ser uma pegadinha ser arrastado para uma festa de


comemoração de casamentos poucas horas depois de ter dito que não era o
que eu queria para mim. Quando se tratava de Rachel e eu, as circunstâncias
gostavam de brincar conosco.

Percebi que havia uma mulher junto a um grupo de pessoas que


olhava para mim, discretamente. Encarei-a de volta e recebi um sorriso. Ela
passou as mãos pelo cabelo castanho e o colocou atrás da orelha. Piscou para
mim e eu pisquei de volta. Foi o suficiente para que ela tomasse coragem
para se aproximar de mim.

— Olá!
— Oi. — Desviou os olhos castanhos, passando a mão pelo cabelo.
Assim como a Angel, ela também tinha traços latinos, porém parecia ser mais
jovem do que a esposa de Dean Clark. Vinte, no máximo vinte e dois anos.

— Sou Michael, Michael Smith, e você?

— Luna Garcia. Sou auxiliar no hospital onde a Angel faz residência.

— Interessante. Sou parceiro de negócios do Dean.

— Tem um sotaque forte. — Ela umedeceu os lábios enquanto me


encarava.

— É porque sou inglês. — Tomei o último gole da minha bebida.

— Você é solteiro, Michael?

— Você é bem direta. Gosto disso. — Ri.

— Prefiro não perder o meu tempo, nem o seu.

— Isso é bom... — Estava prestes a respondê-la quando vi o Dean se


aproximando do pequeno palco, praticamente empurrado pelo irmão.

Ele fez uma careta e Dylan riu, como se estivesse se divertindo com a
relutância do irmão.

— Vai lá, mané — incentivava o cantor, do melhor jeito debochado e


fraterno.

— Você é melhor com as palavras do que eu.


— Porra nenhuma! Sou melhor cantando, mas para falar, somos dois
merdas.

— Então, por que não vem aqui e canta?

— Já cantei.

— Mas...

— Vai logo, Dean! Larga mão de ser medroso.

— Medroso é seu...

— Olha a boca! — gritou uma mulher que estava próxima a eles. Ela
era morena e tinha olhos azuis como os dos gêmeos. — Querem que eu vá
buscar a mamãe para dar um jeito em vocês?

— Não. — Dean terminou de subir no palco e pegou o microfone. —


Vale ressaltar que é o Dylan quem está com medo de falar.

— Ah, vai tomar no cu. — O cantor cerrou os dentes.

— Dylan! — gritou a mulher perto deles. O rosto dela me era muito


familiar; imaginei que já a havia visto em algum lugar, mas não sabia onde.

— Fica na sua, Daphne!

Ouvir Dylan a chamando pelo nome me fez lembrar quem ela era.
Daphne Clark, a atriz. Dean havia falado algo sobre os irmãos distribuírem
autógrafos. Lembrar dessa informação confirmou a minha suspeita.
— Meu anjo. — Dean estendeu a mão, chamando pela esposa, que
subiu no palco para se juntar a ele. — Cinco anos juntos — ele falou,
segurando o microfone na altura da boca e usando a mão livre para entrelaçar
os dedos nos da esposa.

Angel balançou a cabeça em afirmativa, concordando com ele, e o seu


sorriso se alargou.

— Sei que não sou um homem fácil de lidar.

— Ainda bem que ela é um anjo — comentou Dylan em meio a uma


gargalhada.

— A Carol também tem o lugar dela no céu — Dean devolveu na


mesma moeda.

Dylan deu de ombros e Dean voltou sua atenção para a esposa.

— Cinco anos e eu te amo mais a cada dia que passa. — Afagou o


rosto dela e Angel fechou os olhos, para sentir o toque melhor. — Queria ser
capaz de colocar em palavras a felicidade que eu sinto todos os dias em que
acordo pela manhã e você está deitada ao meu lado. Você merecia um
discurso, mas você sabe que eu sou só bom para falar de negócios. Na
ausência de palavras bonitas, eu vou apenas gradecer. Obrigado por estar ao
meu lado, ter aceitado o meu jeito estúpido de ser, por ter perdoado as minhas
falhas quando não deveria, e por me amar mesmo quando eu não merecia.
Obrigado por ter me dado duas filhas que são a razão da minha vida. — Dean
soltou o microfone e os olhos de Angel estavam marejados.
Ele se ajoelhou diante dela e segurou as duas mãos da esposa entre as
suas. As mulheres perto de mim estavam suspirando e eu apenas assistia à
declaração do meu parceiro de negócios, tentando processar o que ele dizia e
quanto tais sentimentos poderiam impactar alguém.

— Eu quero que você me permita estar ao seu lado não somente pelos
próximos cinco anos, mas pelos próximos cinquenta, e por quantos mais eu
viver. Não consigo pensar em mais um ano da minha vida em que você não
esteja nele.

Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Angel o puxou pelos ombros e


Dean se levantou, beijando-a.

Aquela cena e o discurso improvisado não deveriam ter significado


nada para mim, porém fizeram com que o meu coração começasse a bater de
um jeito estranho, apertado.

— Não me respondeu. — Voltei a prestar atenção na mulher que


estava ao meu lado quando ela colocou a mão no meu ombro.

— Eu sou... — Engoli em seco. Por que, olhando para o Dean e para a


Angel no palco, foi tão difícil dizer que era solteiro? Imaginei que esse fosse
o sentimento que a minha mãe descrevia quando falava sobre encontrar
alguém que eu amasse.

— É solteiro? — ela completou.

Balancei a cabeça em afirmativa, mas mal olhava para ela. Fiquei


compenetrado no palco quando o outro gêmeo subiu carregando a ruiva nos
braços. Dylan colocou a esposa no chão e Dean desceu, de mãos dadas com a
Angel.

— Sabe, amor — Dylan acariciou o rosto dela enquanto a encarava


—, pensei em cantar a música que escrevi para você, mas já deve ter enjoado
dela durante os últimos cinco anos. Então, eu vou falar. Espero que me saia
melhor do que o Dean.

— Isso não é uma competição, amor.

— É, eu sei. — Puxou-a pelo queixo e deu um selinho nela. —


Caroline, você sabe que é a peça para que a minha vida funcione direito. Eu
não seria metade do Dylan que sou sem você. Como cantor, como pai, até
mesmo como pessoa. Só você, Carol, tem meu manual de instruções e sabe
me desvendar como ninguém. Sei que fui feito para amar você, mesmo que
eu tenha metido os pés pelas mãos durante o caminho. Fui idiota demais e
não consegui notar que sempre te amei. Até a minha mãe percebeu primeiro e
deixou que eu me enforcasse. Precisei te perder para entender que não era
mais dono de uma parte de mim. Os poucos dias que passei sem você durante
aquele furacão me mostraram que eu posso ter qualquer coisa, mas se eu não
tiver você, eu serei sempre incompleto...

Caroline envolveu o pescoço do marido com os braços e o beijou,


findando o discurso, e seus olhos estavam marejados.

Fui idiota demais e não consegui notar que sempre a amei.... Saí de
perto da garota e fui até o bar com aquela frase martelando na minha cabeça.
Aquele dia estava me fazendo experimentar um pouco de todos os
sentimentos, indo do êxtase a angústia.
Trinta e cinco

— Acho que você deveria ficar — falei para a Jenna, quando nós duas
chegamos na recepção.

— Não, amiga. Ficar aqui sozinha vai ser um saco. — Jogou uma
mecha do cabelo ruivo para trás e colocou a mão na cintura.

— Você não estava sozinha na noite passada. — Pisquei para ela ao


recordar que ela tinha transado com um dos caras da praia.

— Era só um lance. Ele nem me ligou depois que saiu do meu quarto.
Sabe que eu não sou dessas que corre atrás de homem.

— Não, você espera que eles venham atrás de você. — Ri.

— Exatamente isso. Vamos embora, Rachel. Quando chegarmos a


Londres, podemos ir para um pub beber, nos divertir e conhecer caras, sem
ter o Michael enchendo o saco.

— Ah, o Michael... — Estava lutando para não pensar nele e no


quanto meus sentimentos recém-descobertos estavam me fazendo sofrer.
Com tanto homem no mundo para amar, ele não era a melhor escolha.

Eu não deveria estar surpresa com o resultado do nosso envolvimento.


Sempre, desde criança, ele arrancava lágrimas de mim. Como, em sã
consciência, poderia ter cogitado um relacionamento feliz entre nós dois?
— Esquece ele, amiga. — Jenna afagou os meus ombros.

— Foi você quem falou o nome dele.

— Me desculpa. Bom, vamos embora. Voltar para casa nos fará bem.
Faísca e os outros devem estar sentindo falta de você.

— Sim, o Faísca. — Lembrar do meu gato, que estava aos cuidados


de Anne, me fez sorrir. Lidar com os animais era sempre bem mais fácil do
que com os seres humanos. Ao menos, eles não escondiam os seus
sentimentos.

— Queremos fazer o checkout. — Coloquei o cartão-chave sobre o


balcão, chamando a atenção da recepcionista.

— Decidiram antecipar a partida?

Fiz que sim.

— Que pena.

— Às vezes, o melhor é ir embora e deixar algumas coisas para lá.

— Não preferem esperar até amanhã e irem embora durante o dia?

— Gosto de voar a noite e poder ir dormindo.

— Compreendo. Espero que tenham tido uma ótima estadia conosco e


que retornem em uma próxima oportunidade.

— Obrigada. — Peguei a minha carteira para acertar os custos da


estadia.

Poderia estar deixando Miami, mas depois de tudo o que eu havia


vivido com o Michael ali, seria muito difícil esquecer aquele lugar.
Trinta e seis

Luna parou de me rodear depois que percebeu que, após os discursos


dos gêmeos sobre o casamento, eu estava diferente e não correspondia mais
aos flertes dela. Sentado num canto em uma mesa perto do bar, eu me sentia
um bêbado largado em um pub qualquer. Havia afirmado com veemência que
ser solteiro era mais fácil, porém a solteirice que eu vivia antes não
costumava vir com aquela angústia.

— Você está bem? — Dylan puxou uma cadeira e se sentou ao meu


lado. Custei a perceber que o cantor estava falando comigo.

— Acho que eu bebi demais. — Massageei as têmporas, observando a


piscina e tudo girar ao meu redor.

— Relaxa, é uma festa. Ninguém vai te julgar por ter ficado bêbado.

— Espero que não. — Ri, sem graça.

— Parece que tem algo te incomodando.

— Observador da sua parte. — Não encarei o Dylan, apenas continuei


a fitar a piscina, que parecia ter águas tão tremulas quanto o oceano. Sabia
que era a minha visão turva causando aquele efeito.

— Eu tenho um filho de quatro anos que quer mexer em


absolutamente tudo. Se eu não estiver atento, ele sobe em lugares
inimagináveis. Uma vez, Carol e eu o encontramos dentro do armário da
cozinha no nosso apartamento em Nova York. Você precisava ver o desespero
da minha esposa. Depois disso, eu nunca mais deixei o moleque sozinho.

— Parece terrível! — Fiz uma careta.

— Sim, mas também é a melhor coisa do mundo. Quando se tem a


própria família é muito diferente de quando se tem apenas seus pais e irmãos.
Não me leve a mal, também já fui como você, e sei que a vida de solteiro é
muito boa.

— Eu já tentei, mas isso não é para mim.

— Tinha uma namorada?

— Fiquei noivo de uma garota, mas peguei ela transando com o meu
melhor amigo.

— Que horrível!

— Pois é! — Bufei, socando o vento. — Essa coisa de casamento não


é para mim.

— Mas ela era a garota certa?

— Certa? Sei lá! Acho que sim. Ela era divertida, o sexo era bom e
minha mãe a odiava. — Ri ao me recordar de que, em toda oportunidade que
tinha, minha mãe fazia a caveira da Zoe. — Como eu descubro se ela era ou
não a mulher certa?
— É aquela que faz o seu coração sangrar no momento em que você
percebe que você poderia fazer qualquer coisa, até abrir mão de qualquer
uma, para ter apenas aquela.

— Parece coisa de livro de mulher. — Ri, debochado.

— Quando eu tinha a sua idade, eu concordaria plenamente com você.

— O que te fez mudar de ideia?

— Quando ela se afastou de mim e isso doeu.

— Você disse que havia sido idiota demais para perceber, por quê?

— Porque a Carol já era a minha produtora, trabalhava para mim e


estava sempre comigo. A felicidade estava bem debaixo do meu nariz, o
tempo todo, mas eu fui muito cego. Acabei metendo os pés pelas mãos.

— Achei que fosse mais fácil tomar a decisão certa.

— Garoto, nunca é fácil. Às vezes, nós erramos muito até acertar.

— Com certeza a Zoe foi um grande erro. — Bebi o último gole do


meu copo e a bebida desceu morna pela minha garganta.

— Foi a Zoe que te deixou desse jeito? — Ele moveu a cabeça para
me analisar melhor.

Engoli em seco e minha garganta arranhou. Queria dizer que sim,


mas, após a tristeza inicial, houve um certo alívio com o fim do meu noivado.
Se eu não fosse solteiro, Rachel e eu não teríamos vivido aqueles momentos.

— Seria possível amar uma mulher que cresceu comigo e que estava
ao meu lado o tempo inteiro, mas eu nunca ter percebido?

— Isso só você vai saber.

— Mas como?

— Sinto muito, Michael, mas eu não sou um especialista nisso. Eu


errei. Meu irmão errou mais ainda.

— Eu tenho medo.

— Todos temos. Poucos tem coragem de admitir, mas todos sentem


medo.

— Acho que eu vou embora. — Olhei em volta e vi que a festa já


estava bem vazia. — Avise ao Dean que eu ligo para ele.

— Pode deixar.

— Foi um prazer conhecê-lo, Dylan.

— Igualmente.

Pedi um táxi por um aplicativo enquanto cambaleava indo para a


entrada da mansão. Procurei pelo número da Rachel e liguei para ela. Poderia
ter esperado chegar no hotel, mas culpei a alta concentração de álcool no meu
sangue pela atitude impulsiva. Contudo, não adiantou nada, pois nem
chamou, indo direto para a mensagem de desligado. Será que a raiva que ela
estava sentindo de mim era tão forte que havia cortado todos os contatos?

Respirei fundo quando o táxi chegou. Iria até o quarto dela quando
chegasse no hotel, mas iria falar o quê? Estava confuso; qualquer certeza que
eu tinha de que não deveria amar a Rachel, nem nenhuma outra mulher, havia
desaparecido diante dos belos discursos apaixonados dos irmãos Clark.

A vontade que eu sentia de tomar ela nos braços aumentou ainda


mais. Eu já pensava nela bastante, antes de tudo, mas, após aquela festa, não
conseguia afastar a imagem da Rachel da minha mente.

Deveria ser só desejo. Ela era uma mulher linda. Os olhos verdes e
brilhantes como duas esmeraldas, o cabelo loiro sempre muito vibrante, a
boca deliciosa...

Estar bêbado deveria impedir que eu pensasse tanto, mas a minha


cabeça não parava de fervilhar. Entender os sentimentos era difícil, por isso a
maioria das pessoas, inclusive eu, preferia fugir deles.

Desde criança, queria chamar a atenção dela, queria que pensasse em


mim, nem que fosse por raiva. Isso não deveria significar nada, eu era só um
garoto e ela a menina bonita com quem todos queriam estar. Estava
demorando para a ficha cair, mas complicava ainda mais quando eu tentava
negar a existência de qualquer sentimento.

O táxi parou diante do hotel, eu joguei uma nota de cinquenta dólares


para o motorista e fui direto para o elevador, apertando o botão do décimo
andar, ofegante. Assim que as portas de metal se abriram, eu corri para o
quarto dela. Vi a porta aberta e entrei com tudo, mas ao invés de encontrar a
mulher que estava esperando, deparei-me com uma camareira arrumando a
cama e o quarto, sem seus pertences pessoais estarem à vista.

— Onde está a hóspede?

— Uma mulher loira?

— Essa mesma! Loira, jovem, bonita e com sotaque britânico.

— Ela foi embora. Me pediram para arrumar o quarto, porque um


outro hóspede vai chegar pela manhã e ficará aqui.

— Para outro hotel?

— Não sei dizer.

— Faz muito tempo?

— Algumas horas.

Será que Rachel havia mudado de hotel para não ficar perto de mim
ou havia voltado para Londres?

Eu fui para o meu quarto e me joguei na cama. Ali, bêbado e deitado


como um bobo, fiquei sem saber o que fazer. Liguei de novo e, mais uma
vez, me deparei com a mensagem de voz dizendo que o celular estava
desligado. Algo dentro de mim me fez ter certeza de que ela estava em um
voo de volta para Londres, para longe de mim.
Repeti a mesma coisa de sempre, fiz exatamente o que precisava para
fazer Rachel chorar, porém, daquela vez, eu chorei também. Por medo, por
culpa, ou, simplesmente, por estar bêbado.

Com os olhos embaçados, percebi que não tinha mais o direito de


chamá-la de chorona. Por que era tão difícil aceitar algo que sempre existiu?
Trinta e sete

Ver as placas de boas-vindas no aeroporto de Heathrow me trouxe um


novo ar de esperança. Voltar para o meu país me fez firmar os pés no chão e
parar de sonhar. Meu breve envolvimento com o Michael havia ficado nos
Estados Unidos.

— Não foi a viagem que eu esperava, mas...

— Foi bom. — Sorri para a Jenna antes que ela me fizesse lembrar de
coisas que eu não queria. Mantive o sorriso e fingi que o meu coração era
feito de aço, e que não poderia ser partido em milhares de pedaços por
alguém que, desde sempre, foi um completo babaca comigo.

Saímos pelo portão de desembarque e ouvi um gritinho que encheu o


meu coração de alegria.

— Tia Chel!

Foi impossível não sorrir quando a minha sobrinha veio correndo na


minha direção e abraçou as minhas pernas.

— Rose, que bom ver você! Como está?

— Com saudades. — Ela abraçou o meu pescoço.

— Eu também morri de saudades de você e do seu irmão, meu


amorzinho. — Afaguei o rostinho redondo dela e dei um beijo na sua
bochecha.

— Como você está? — Ouvi a voz do meu irmão e movi a cabeça,


procurando por ele.

Foi uma surpresa encontrar um William diferente. O cabelo, que há


vários anos ele mantinha abaixo da linha dos ombros, estava curto e
levemente arrepiado.

— Passo pouco mais de uma semana fora e tosam você? — Fiz uma
careta e a Rose riu.

— A Lilly e a mamãe me convenceram, mas, por favor, não me faz


entrar em detalhes. — Ele bufou e eu gargalhei. Queria muito saber a qual
ponto havia chegado aquela negociação. — Vamos para casa?

— Não precisava ter vindo me buscar.

— Faz parte do trabalho de irmão mais velho.

— Obrigada. — Sorri. Não estava no clima para discutir e me sentia


contente por ver o meu irmão.

— Quer uma carona para casa, Jenna? — William perguntou para


minha amiga.

— Aceito, sim.

Ele puxou as nossas malas mais pesadas enquanto eu seguia atrás dele
com a minha sobrinha no colo e Jenna ao meu lado. Até a casa da minha
melhor amiga, a viagem foi completamente silenciosa, porém, assim que ela
saiu do carro e Rose dormiu no meu colo, William olhou para mim pelo
retrovisor central e fez a pergunta que eu estava torcendo para que ele não
fizesse.

— Você voltou mais cedo por causa do Michael?

— Vai acreditar se eu disser que não?

— Dificilmente. — Ele tinha seus olhos voltados parra o trânsito, mas


parecia estar bem atento a mim.

— Então, por que está perguntando?

— Fica mais fácil quando admitimos.

— Falou o muito experiente em admitir alguma coisa.

— Rachel, foi você quem ficou me falando o tempo todo que eu


deveria admitir para Lilly que eu a amava. Deveria aplicar um pouco disso na
sua vida.

— Já ouviu aquela: faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço?
Além disso, o meu lance com o Michael é bem diferente. Ele sempre foi um
babaca comigo, não deveria gostar dele, muito menos admitir. Não vou ficar
correndo atrás dele.

— Nem pedi a você para fazer isso.

— Ótimo! — Olhei para a ponte sobre o rio Tâmisa. — Will...


— O que foi?

— Posso dormir na sua casa hoje?

— Por quê?

— Amo a mamãe, mas não quero responder as perguntas dela hoje.

— Pode, sim.

— Obrigada.

Aos poucos tudo voltaria ao seu lugar, inclusive os cacos no meu


peito, e eu não estaria mais me sentindo tão triste.
Trinta e oito

— Acho que é isso. — Apertei a mão do Dean ao assinar o contrato.

— Que essa parceria gere muitos lucros para nós dois.

— Tenho certeza de que vai gerar. — Sorri, mas meus lábios logo se
contorceram em uma careta.

— Está tudo bem, Michael?

— Sim, por que não estaria? — Mexi no meu blazer, inquieto.

— Não sei, é você quem tem que me dizer. Deveria estar contente
com o nosso acordo, mas está com uma cara horrível.

— Eu estou muito feliz, muito mesmo.

— Mas...

— É só um problema pessoal. Nada com que você deva se preocupar.

— Tem certeza? Bom, convidei você para a minha festa de


aniversário de casamento. Acho que podemos falar sobre o pessoal.

— Desde a festa na sua casa que eu estou me sentindo estranho.

— Por quê?

— Tem uma garota. Garota, não! — Balancei a cabeça; estava


confuso. — Nós crescemos juntos e eu sempre fiz de tudo para irritá-la. Eu a
chamava de chorona, mas ela sempre chorava por algo que eu tinha feito.
Irritá-la era divertido. Depois do Ensino Médio, cada um foi para um canto.
Vim para cá estudar na Colúmbia e ela foi para Oxford. Há pouco tempo, nos
reencontramos em uma festa de ex-alunos e ela despertou muito tesão em
mim, mas eu ainda estava noivo e continuávamos discutindo sobre tudo. Eu
provocava na maioria das vezes. Achei que nunca mais nos veríamos, até ela
estar no mesmo voo para cá e se hospedar no mesmo hotel que eu.

— Vocês transaram. — Era uma afirmação, não uma pergunta, e ele


riu.

— E foi muito bom, todas as vezes.

— E onde ela está agora?

— Voltou para Londres.

— Por isso você parece péssimo.

— Estava tudo indo bem, Dean. Até que ela disse que gostava de mim
e esperava que eu gostasse dela também.

— E o que você fez?

— Disse que preferia continuar solteiro.

— Vacilou. — Ele fez uma careta, balançando a cabeça em negativa.

— O que você queria que eu fizesse, cara? Acabei de sair de um


noivado, onde a mulher me traiu com o meu melhor amigo.

— É a mesma garota?

— Não.

— Então, ela não tem nada a ver com isso — afirmou me deixando
desconcertado. —Michael, eu já fui como você, diria que até pior. Pensa em
uma coisa: você estava noivo da mulher errada, porque se ela fosse a mulher
da sua vida, você não estaria atraído por outra na festa. Quanto ao seu melhor
amigo, é bom que tenha se livrado dele.

— Então, está me dizendo que a mulher certa é a Rachel?

— O que você sente?

— Estou com raiva por ela ter ido embora. Estou com raiva de mim
por tê-la deixado ir. Principalmente, estou com raiva porque não sei o que
fazer. Ontem, eu passei o dia todo tentando ligar para ela e acho que foi o
domingo mais angustiante que eu já tive.

— Alguns sentimentos devem ser revelados frente a frente.

Enquanto Dean falava comigo, percebi que não havia ganhado apenas
um parceiro de negócios, mas um amigo.

— Volta para Londres, Michael. Os assuntos comigo agora podem ser


resolvidos por telefone.
Trinta e nove

Afaguei a Miau quando a gata se acomodou no meu colo. Estava


assistindo a um programa bobo de namoro quando a Lilly trouxe um balde de
pipoca e se acomodou ao meu lado.

— Obrigada por terem me deixado ficar aqui por uns dias. — Sorri
para ela.

— Você é sempre bem-vinda, Rachel.

— Estava precisando de um tempo para espairecer, mas volto para


casa amanhã. As férias que me dei também terminam; vou voltar para a
clínica. Trabalhar me fará bem. — Peguei o celular sobre a mesa de centro
quando ele vibrou, mas era uma mensagem da Jenna me chamando para ir a
um pub.

— É ele? — perguntou Lilly, curiosa.

— Não. Depois de todas as ligações que evitei dele, deve ter


desistido.

— Por que você acha que ele está ligando?

— Eu não sei, Elizabeth. O Michael sempre gostou de brincar


comigo. Deve ser mais um dos planos dele para me enlouquecer.

— Por que não atende? Assim irá descobrir o que é.


— Ele já me magoou muito. Odiar ele era muito mais fácil.

— Então, volte a odiar.

— É o que eu estou tentando fazer. — Mordi o lábio e desviei o olhar


quando um casal se beijou na televisão. — Por que eles são tão complicados,
Lilly?

— Nós somos complicadas, também. Às vezes, o que queremos não é


exatamente o que precisamos.

— Eu não deveria ter transado com ele. — Bati a mão na testa.

Lilly riu de mim.

— Acho que a confusão sempre começa por aí.

— Sabe o que é pior? — Virei-me para a minha cunhada, encarando-a


com uma expressão de revolta.

— O quê? — Afunilou os olhos, prestando atenção.

— Ele é bom.

— É? — Franziu o cenho.

— Sim, o sexo com ele é maravilhoso!

— Com quem? — William apareceu na sala no exato momento do


meu desabafo.
— Ninguém. — Não iria repetir a minha exclamação tola.

— Ainda bem que as crianças estão dormindo. — Ele balançou a


cabeça em negativa.

— Falou o puritano. — Mostrei a língua para ele. — Como se eu


nunca tivesse visto vocês dois transando.

— Chel, aquele episódio no jardim...

— Estou me referindo aos episódios depois do casamento.

Elizabeth puxou uma almofada do sofá e cobriu o rosto corado.

— William, precisamos parar.

— Eu não vou parar nada. — Cruzou os braços e a sua indignação me


fez rir. — A Rachel que precisa parar de vagar pela Green House de
madrugada.

— Não faz mal nenhum vocês entrarem para o quarto e trancarem a


porta.

— Você tem razão. — William estendeu a mão para a esposa.

— A sua irmã... — Elizabeth começou a protestar, mas ele a puxou e


a tomou nos braços, segurando-a no colo. Minha cunhada suspirou em meio
ao embaraço.

— Ela vai ficar bem.


— Boa noite, Rachel. — Ela escondeu o rosto corado no peito do meu
irmão.

— Boa noite, Lilly. Não se preocupa comigo.

Não era porque a minha tentativa de relacionamento havia fracassado


que eu precisava atrapalhar o deles.

Aumentei o som da televisão para não ficar constrangida com


qualquer som que escapasse do quarto do casal e me deitei no sofá.

Com o tempo, o que tinha vivido em Miami seriam apenas


lembranças, como todas as demais da minha infância e adolescência que
continham o Michael.
Quarenta

Com as mãos suando, escorregando pelo couro do volante da minha


Ferrari, estacionei diante da Green House, a mansão dos Allen, que ficava
nos arredores de Greenwich. Disposto a seguir o conselho do Dean, estava ali
de cara lavada, coração apertado e milhares de dúvidas. Havia chegado dos
Estados Unidos e passado em casa apenas para tomar um banho e me trocar,
e seguira atrás da Rachel.

Eu nunca havia me sentido tão inseguro na vida. Sempre fui um


homem confiante, que tomava grandes decisões e não desapontava. Por isso
meu pai estava tão confiante para entregar a presidência da empresa para
mim. Porém, apesar da influência da brasileira que havia me criado, falar de
sentimentos era difícil.

Queria ter certeza do que eu estava fazendo, mas não tinha. Sequer
sabia o que iria dizer para a Rachel. Estava apenas atendendo a necessidade,
que gritava dentro de mim, de vê-la.

Desci do carro, sendo observado de longe por um segurança que


ficava em uma guarita no portão, e caminhei até a entrada da mansão.

O dia estava nublado, nada muito incomum para a Inglaterra, porém


parecia refletir o meu interior, que era pura tempestade.

Antes que eu batesse na porta, uma mulher de olhos azuis e cabelos


grisalhos a abriu. Ela me analisou dos pés à cabeça, depois abriu um leve
sorriso.

— Sou a senhora Lewis, a governanta. Posso ajudá-lo com alguma


coisa, meu rapaz?

— Estou procurando a Rachel.

— A senhorita Allen não está.

— Sabe me dizer onde posso encontrá-la? Quero muito falar com ela.

— Ela viajou com uma amiga para os Estados Unidos, e não sei
quando ela retorna.

— Tem certeza de que ela não voltou?

— Sim, meu rapaz.

— Mas... — Mordi a língua. A pobre mulher não merecia ser alvo do


meu descontentamento e tristeza.

— Tem algo mais que eu possa ajudá-lo? Quer deixar algum recado?

— Não. Muito obrigado. — Enfiei as mãos no bolso, irritado. —


Preciso falar com ela pessoalmente.

— Semana que vem deve encontrá-la na clínica veterinária que ela


tem em Londres.

— Semana que vem?


— Sim.

— Obrigado. — Voltei para o carro de cabeça baixa e as mãos


enfiadas dentro dos bolsos.

— Como foi a viagem? — perguntou minha mãe, quando saí da


garagem. — Você chegou e saiu tão rápido que nem o vi.

— Eu precisava resolver um assunto. — Mantive os olhos baixos.

— E conseguiu?

— Não. — Inspirei profundamente, mas isso não diminuiu o aperto.

— Era da empresa?

— Não.

— Por que está tão monossilábico?

— Estou irritado, mãe.


— É por causa do acordo? Não deu certo?

— Eu e o Dean assinamos um ótimo contrato.

— Então, por qual motivo você está tão irritado?

— Por causa da Rachel.

— O que tem ela?

— Aquela garota me enlouqueceu. — Bufei, irritado. Mas, no fundo,


sabia que a culpa era mais minha do que dela.

— Você me contou que tinham ficado juntos, e imaginei que


estivessem bem.

— Foi só sexo, mãe!

— Tem certeza? — Ela me olhou de esgueira, mas esperava que eu


dissesse o quê?

Desviei o rosto, fitando o chão cinza. Não queria encará-la, porém


minha mãe acabou com a pouca distância entre nós e me abraçou.

— Oh, querido!

Tentei me livrar daquele abraço angustiante, mas ela não me soltou.


Minha mãe tinha aquele jeito dela, às vezes sufocante, mas não podia negar
que, naquele momento, foi muito bom ser abraçado. Ficamos assim por
alguns minutos. Apesar de eu não saber direito que atitude tomar a respeito
do que estava ou não sentindo, sabia que teria o apoio dela.

— Você quer conversar? — Ela afagou o meu rosto ao se distanciar


para me olhar nos olhos.

Assenti com um leve movimento de cabeça e segui com ela para a


velha biblioteca, onde, quando eu era criança, ela costumava ler para mim.

Sentei-me em um sofá para leitura, observando o enorme lustre com


lâmpadas que imitavam velas, e minha mãe se acomodou ao meu lado,
puxando a minha cabeça para o seu colo. Me senti um moleque; quando me
assustava por algum motivo ou simplesmente estava com medo, deitava em
seu colo.

— Pedi a Zoe em casamento e tudo aquilo aconteceu. Achava que o


Joseph era meu amigo, mas ele sequer se deu ao trabalho de tentar se explicar
depois que peguei ele com a minha noiva.

— Joseph não era seu amigo, Michael.

— Pois é...

— Além disso, sempre disse que a Zoe não era mulher para você.
Temia que algo assim acontecesse e lamento muito por estar certa.

Em outras ocasiões ficaria irritado com o sutil eu te avisei. Porém,


naquele momento, eu só queria ser acolhido. Estava confuso. Na verdade,
essa confusão vinha da minha incapacidade de simplesmente admitir o que eu
sentia.
— A Zoe...

— A Rachel não é como a Zoe, filho.

Eu não precisei dizer nada para que a minha mãe soubesse exatamente
quem estava me deixando daquele jeito.

— Como a senhora pode saber? — Busquei seus olhos; queria


confrontá-la, no entanto, buscava apenas um pouco de razão em meio aqueles
sentimentos tão conflitantes.

— Eu simplesmente sei. — Sorriu, confiante. Eu queria ter dez por


cento da sua certeza.

— Como eu posso sempre ter gostado dela? Eu era só um moleque —


falei, finalmente, o que estava me angustiando de verdade.

Os Clark, a festa de aniversário de casamento e, principalmente, o


discurso do Dylan não saiam da minha cabeça.

— Como pude amar uma pessoa por tanto tempo e, simplesmente,


não perceber?

— Acredite, filho, às vezes é bem mais difícil enxergar o que está


bem debaixo do nosso nariz.

— Eu não sei o que fazer.

— Sim, querido, você sabe.


— Fui a Green House e me disseram que ela ainda está em Miami. É
possível que ela tenha trocado de hotel, são inúmeros. Porém, acho que ela
simplesmente não quer falar comigo.

— Você a chateou. Dê um pouco de tempo a ela.

— É angustiante.

— Tenha paciência, querido. Vocês ainda são tão jovens!

— Estou perdido.

— Você não está. Se estivesse, não estaria doendo.

Respirei profundamente e me aconcheguei mais no colo dela.


Entender o que eu estava fazendo não me deixava menos angustiado.
Quarenta e um

— Bom dia, doutora Allen! — disse Evelyn, a tutora de um cachorro


labrador preto, quando eles entraram no meu consultório.

Saí da minha mesa e caminhei até o animal, parando diante deles.


Agachei-me para acariciá-lo e o animal fungou na minha mão antes de se
aconchegar nela.

— Olá, Rex, como você está?

Ele latiu antes que eu me levantasse para conversar com Evelyn.

— Ele já está visivelmente melhor.

— Sim, nem parece o mesmo cachorro que eu resgatei. — Ela afagou


o alto da cabeça do animal, que abriu a boca, fungando.

O cachorro havia sido encontrado em uma esquina pela mulher e,


quando ela o trouxe para a consulta, pesava pouco e tinha déficit de vários
nutrientes.

— Vamos pesá-lo para ver quantos quilos ele ganhou?

— Parecem muitos. — Riu Evelyn. — Quando eu o peguei na rua,


conseguia carregá-lo, mas agora já tenho uma enorme dificuldade.

— Vamos lá ver. — Eu o puxei pela coleira e o levei até a balança


que ficava no fundo da sala do meu consultório.

Acomodei o animal sobre a balança e ele ficou me encarando.

— Bom rapaz! — Sorri ao fazer carinho na sua cabeça. — Nove


quilos e seiscentos gramas. São sete quilos a mais do que quando iniciamos o
tratamento. Estou muito feliz com o progresso dele.

— Agradeço muito, doutora Allen. Quando eu o resgatei, nem


acreditava que fosse sobreviver. É muito bom vê-lo assim.

— Ele vai ficar saudável. Vamos manter o complexo vitamínico e o


concentrado hipercalórico. Também quero repetir o exame de sangue na
semana que vem para identificar se os níveis dele estão normalizados.

— Sim, doutora.

— Logo você vai parar com os remédios, garotão. — Acariciei a


cabeça dele e Rex latiu.

Terminei a consulta do cachorro, fiz o pedido do exame e, assim que a


tutora saiu do consultório, levando o seu animal, meu celular tocou. Eu o
puxei do bolso do meu jaleco, observei o número e me deparei mais uma vez
com uma ligação do Michael. Ele estava sendo bastante insistente. Depois da
forma como havia se referido a nós, não conseguia compreender tamanha
insistência. Eu poderia esperar qualquer coisa daquele homem, mas, em
noventa por cento das vezes, as atitudes dele me magoavam e me faziam
sofrer. Era assim desde que éramos crianças. Não sei onde estava com a
cabeça para acreditar que poderíamos ter algo bom; conhecia o Michael a
minha vida toda e, definitivamente, não éramos como o Will e a Lilly.

O telefone tocou novamente e eu estava pronta para desligar a


chamada quando vi que era a Jenna. Como eu tinha alguns minutos antes da
próxima consulta, atendi.

— Oi.

— Como foi o primeiro dia de volta?

— Bem. Sobreviveram sem mim.

— Eu tinha certeza disso. Por aqui também está tudo bem. — Jenna
era a responsável pelos cavalos do haras da família.

— Isso é bom.

— Você não parece tão bem. — Ela percebeu pelo meu tom de voz e
não gostei disso. — Pensando no Michael?

— Tentando não pensar, mas odiando você.

— Nossa! Por quê? Não fiz nada.

— Claro que fez! — Cerrei os dentes, girando a minha cadeira de um


lado para o outro. — Não deveria ter me feito pensar que ele poderia gostar
de mim e me incentivado a tirá-lo da cadeia. Deveria tê-lo deixado apodrecer
lá.
— Amiga, eu só te fiz enxergar a verdade. Não tenho culpa se ele é
um estúpido, que não percebe isso. Porque se ele não voou em cima daquele
cara por ciúmes, eu não sei mais o que poderia ser.

— Tenho parte da culpa nisso. Não deveria ter me envolvido com ele
esperando um resultado diferente do óbvio. Michael não é um príncipe, ele
sempre foi um idiota.

— Alguns sapos viram príncipes, Chel.

— Não esse!

— Okay! Vamos parar de falar dele. Temos assuntos mais


importantes e interessantes para nos preocupar, e outros caras para conhecer.
O que acha de irmos naquele pub novo? Você pode ficar aqui e dormir no
meu apartamento.

— Passei tempo demais longe de casa.

— Qual é? Você é uma mulher adulta. Não vai parar de remoer o que
aconteceu se não sair e curtir um pouco.

— Na sexta-feira, pode ser?

— Combinado! — Ela vibrou do outro lado da linha.

Minha secretária abriu a porta e fez um gesto para chamar a minha


atenção.

— Jenna, preciso desligar agora. Vou atender meu próximo paciente.


— Bom trabalho, Rachel.

— Obrigada! — Desliguei a chamada e acenei, indicando para que o


próximo animal entrasse.

Cuidar dos bichos e me cercar deles faria com que eu não pensasse
tanto no quanto havia sido um erro esse breve envolvimento com o Michael.
Ódio e amor talvez não andassem tão próximos quanto todos diziam.
Quarenta e dois

Entrei na minha sala, joguei a chave do carro sobre a mesa e derrubei


meu corpo na cadeira de couro. Tivera um dia exaustivo de reuniões com
diretores das filiais, meus pés e meus ombros estavam doloridos, porém o
trabalho fazia com que eu me sentisse um pouco menos incompetente.

Desde a minha volta dos Estados Unidos e a conversa com a minha


mãe, havia descoberto que queria a Rachel, porém, para a minha total
surpresa, ter a atenção da mulher que eu queria era muito mais difícil do que
ter a de qualquer outra. Percebi que era péssimo em conquista, pois as
mulheres simplesmente me queriam. Jogava a isca e várias vinham atrás.

Confesso que, várias vezes, fiquei me perguntando se realmente era o


caminho certo, se o que eu estava sentindo não passaria em uma semana ou
em um mês.

O telefone sobre a mesa tocou e eu o atendi sem pensar muito. O fixo


era para assuntos comerciais e eu esperava que isso me mantivesse distraído.

— Michael Smith, com quem falo?

— Mick? Mick, meu amor? Finalmente consegui falar com você. —


Dentre todas as vozes femininas do mundo, aquela era a última que eu
gostaria de ouvir. — Por favor, não desliga — disse, quando percebeu que eu
não falava nada.
— O que você quer, Zoe?

— Eu cometi um erro, Mick. — Sua voz era fanha, chorosa, mas eu


estava tão furioso que jurava que era uma farsa.

— Jura?

— Eu não deveria ter me envolvido com o Joseph.

— Se está procurando um padre para confessar seus pecados, você


ligou para a pessoa errada.

— Preciso de uma segunda chance, por favor. Prometo que farei


diferente. Mick, eu amo você.

Eu ri; foi impossível segurar a gargalhada diante daquele discurso.

— Só pode achar que eu sou muito estúpido para perdoá-la depois do


que eu vi. Você não só me traiu, como deu para o meu melhor amigo.

— Amigo seu ele não era.

— Deu para perceber.

— Mas eu...

— Você é tão culpada quanto ele, Zoe. Ambos deveriam ter honrado
a relação que tinham comigo, mas não se importaram.

— Estou arrependida, por favor, me perdoa. Volta para mim. — Ela


chorava de maneira forçada, que me permitia ouvir seus soluços, porém não
seria aquele teatrinho que me esmoreceria. Além disso, mesmo que ela não
tivesse me traído, não iria querê-la de volta. Havia outra mulher que fazia
meus sentimentos serem mais fortes e insanos.

— Não perca seu tempo ligando para mim.

— Você me ama. Iríamos nos casar.

— Ainda bem que não cometi esse erro.

— Não fala isso, por favor, Mick. Você só está com raiva, mas eu
juro que serei a melhor esposa que você poderia querer. Me perdoa.

— Zoe, chega! Não perca o seu tempo nem o meu com esse seu
drama. Vá se entender com o Joseph, eu não quero você!

— Por quê? — Parou de soluçar e sua voz assumiu um tom mais


raivoso. — Tem outra mulher?

— Sim — respondi rápido demais, e isso pode ter sido um erro.

— Quem?

— Não é um assunto que lhe diz respeito.

— É a Rachel, não é? Estava na cara que você iria correr para ela na
primeira oportunidade que tivesse.

Estava tão na cara assim? Ainda era difícil aceitar que eu havia sido
tão estúpido que não percebera o óbvio: sempre tinha amado a Rachel.
— Tenho certeza de que comemorou o motivo para terminar tudo
comigo. Está aí todo ofendido, mas aposto que estava me traindo também —
continuou o discurso, que eu não queria ouvir.

— Não justifique seus erros com uma possibilidade infundada.

— Infundada coisa nenhuma. Vi bem vocês dois naquela festa. Na


minha frente, na frente de todo mundo.

— Zoe, chega!

— Mick, por favor.

— Segue a sua vida que é o melhor que pode fazer para nós dois. —
Desliguei a chamada na cara dela; não estava disposto a ficar discutindo um
relacionamento que eu não queria mais. A única suposição que eu tinha era
que o lance dela com o Joseph não havia dado certo, pois, caso contrário, não
estaria correndo atrás de mim.

Debrucei-me sobre a mesa do meu escritório. Estava cansado e não


queria mais fazer as escolhas erradas na minha vida amorosa.

O telefone tocou novamente e eu atendi, cuspindo fogo pelas ventas.

— Não me liga mais!

— Nossa! Fiz alguma coisa? — Ouvi a voz do Dean do outro lado da


linha. Felizmente, esboçava um tom travesso.

— Desculpa. — Soltei o peso do meu corpo no encosto da cadeira e


bufei, exausto. Não havia nada que me enlouquecesse mais do que os
confusos assuntos do coração. — Achei que era a minha ex-noiva. Acabei de
desligar uma chamada dela.

— Imagino que não tenha sido uma ligação agradável.

— Nem um pouco. — Inspirei e expirei, buscando ter calma. Meu


parceiro de negócios, e mais recente amigo, não deveria ser alvo dos meus
excessos de raiva por motivos pessoais. — Ela queria voltar comigo, como se
a traição não tivesse efeito nenhum.

— Isso é desagradável.

— Pode apostar que sim. — Massageei as têmporas, sentindo a minha


cabeça latejar.

— Ao menos com a Rachel você conseguiu se acertar?

— Não. Acho que a maior culpa do meu mal humor é o fato de ela
não me atender. Parece que a Zoe me ligando depois de tanto tempo é um
sinal de que não vai ser tão fácil.

— Vai desistir só porque ela está te dando um pouco de gelo?

— Não — respondi rápido, diante da afirmação dele. Talvez Dean


estivesse me desafiando de propósito. — Paciência não é um dos meus
pontos fortes.

— Não se julgue demais. Também não é o meu e nem de ninguém


que eu conheça.

— Só posso dizer que foi muito bom tê-lo conhecido, Dean. Não
apenas para o futuro da Aliance.

— Reconheço muito de mim em você, garoto. É bom saber que faço


bem de alguma forma.

— Muito obrigado. Assuntos pessoais a parte, qual o motivo da sua


ligação?

— Pensei em planejarmos a primeira etapa da implantação do projeto


para a filial da Golden Motors em Londres. Entrei em contato com a equipe
de arquitetura que presta serviço para nós e ela vai desenvolver o projeto de
reforma que você receberá até o fim da semana, assim como os custos de
implantação.

— Isso é ótimo, Dean! Estava precisando de uma boa notícia.

— Perfeito. Se precisar falar comigo, pode ligar aqui no escritório ou


no meu número pessoal.

— Espero que venha para Londres para a inauguração.

— Pode apostar que sim. Até mais, Michael.

— Até, Dean.

Para a minha surpresa, a ligação do Dean acabou amenizando os meus


ânimos, que foram alterados pela Zoe. Contudo, ainda havia um assunto
pendente que roubaria as minhas noites de sono até que fosse solucionado.

Eu não sabia onde a Rachel trabalhava, mas havia um Allen um pouco


mais acessível, só que não havia qualquer garantia de que eu conseguiria
falar com ele.

Levantei-me da mesa, peguei a chave da minha Ferrari e fui para um


dos hotéis com o nome da Rachel na fachada.

Aflito, eu batia os pés no chão quase em frenesi. Quando a minha


paciência começou a ser testada nos últimos dias, foi que descobri que
possuía pouca, ou quase nenhuma.

Olhei de um lado para o outro da pequena recepção, enquanto o sofá,


que deveria ser confortável, causava uma comichão nas minhas costas que
me fazia balançar de um lado para o outro. Havia ido até o Allen Plaza que
ficava perto da estação Kings Cross a procura do irmão da Rachel, que regia
o lugar. Era o hotel mais perto da sede da Aliance onde eu trabalhava, porém
a recepcionista me disse que o presidente geralmente era encontrado no hotel
perto da estação Victoria, onde tinha um escritório permanente, mas ela não
poderia me garantir que ele estaria lá.

Sem pensar muito, dirigi para o outro hotel. Era fim de tarde e o
trânsito só serviu para me deixar mais irritado. Por fim, a recepcionista
daquela unidade ligou para a secretária do William, que me colocou sentado
em um sofá diante da sala do cara. Minha vontade era arrombar a porta,
porém, usei o restante de bons modos que ainda me restava para permanecer
sentado, quase como uma criança colocada de castigo.

— Senhor Smith? — A secretária chamou a minha atenção ao parar


na minha frente.

Levantei os olhos para encará-la e mordi os lábios. Tudo o que me


faltava era ela me dizer que William não me receberia. Não costumava ser tão
pessimista, mas culpava a irritação e a ansiedade por isso.

— Sim. — Estalei os dedos.

— Pode entrar, o senhor Allen irá recebê-lo.

— Obrigado. — Levantei-me e fui até a porta, abrindo-a com um


empurrão.

A sala era ampla, mas bem mais rústica do que a minha. Possuía
objetos de decoração antigos e muitas fotos de uma mulher morena e um
casal de crianças. Pela aliança, que vi na mão dele assim que fitei o homem
loiro sentado atrás da mesa, imaginei que fosse sua esposa e filhos.

— William? — Tomei a liberdade de chamá-lo pelo primeiro nome e


ele desviou os olhos verdes como os da Rachel da tela do computador para
me encarar.

Sua expressão era impassível e não consegui identificar com clareza o


que poderia estar passando pela mente dele. Porém, me contentei em
imaginar que ele estava se perguntando o que eu estaria fazendo ali.

— Michael Smith... — Ele me estudou com o olhar. Tinha uma


expressão de cão de guarda e a sensação que eu tive era de que, se pudesse,
estaria me farejando. — Da última vez que eu te vi, você era menor.

— Isso faz muito tempo. — Cruzei os braços e estufei o peito. Não


iria me deixar intimidar por ele. Estar ali, por si só, já era um ato de coragem,

Quando Rachel e eu estudávamos juntos, o irmão dela era o


ameaçador, o cara maior e mais velho. Com os anos que se passaram e meu
surto de crescimento próximo aos dezoito anos, William Allen era só o
sujeito com mais de trinta.

— O que está fazendo aqui? — Ele nem se deu o trabalho de se


levantar, apenas continuou me encarando.

— Quero falar com a sua irmã. Fui até a mansão Allen e me disseram
que Rachel ainda estava em Miami, mas sei que ela já voltou. Ela não atende
nenhuma das minhas ligações, não responde minhas mensagens e não sei
onde encontrá-la.

— E acha que eu sei?

— Você é o irmão dela. — Mantive meu olhar firme; não seria a


expressão ameaçadora dele que iria me assustar.

— E por qual motivo acha que eu vou pedir para ela para falar com
você?

— Porque eu preciso de uma chance para falar com ela e me


desculpar de algumas coisas que eu disse.

— Rachel sempre foi uma mulher muito bonita. Você acha que eu
vou interceder com a minha irmã em nome de qualquer idiota que aparece na
minha porta? Ainda mais no fim do expediente, quando eu estou louco para ir
para casa e ficar com a minha mulher e os meus filhos?— Ele revirou os
olhos.

— Não qualquer um. — Fiquei admirado com a firmeza da minha


voz. — Eu sou o idiota que sempre a amou, mas era burro demais para
perceber. Preferi fazer com que ela me odiasse a simplesmente entender o
que eu sentia por ela desde que era moleque.

Ele não disse nada, apenas abriu uma gaveta e tirou o celular dela.
Discou um número e me entregou o telefone, já estava chamando. Não sei
exatamente o quê, mas algo no meu discurso foi o suficiente para que ele
intercedesse ao meu favor.
Meu coração parou de bater durante os segundos que o telefone
chamou, e voltou acelerado quando, finalmente, após vários dias, ouvi a voz
dela.

— Will, o que foi? A Miau está bem? A Lilly e as crianças também?

— Ra-Rachel... — A minha voz oscilou e toda a confiança que eu


demonstrei na frente do irmão dela simplesmente se desmoronou.

— Michael? — Percebi a surpresa no seu tom de voz.

— Sim.

— O que está fazendo com o celular do meu irmão?

— Ele me emprestou já que você não quer atender as minhas ligações.

— Já pensou que eu tenho um bom motivo para isso? Cansei de você


brincando comigo e fazendo de tudo para me irritar como se eu fosse o seu
jogo favorito.

— Você é meu jogo favorito.

Wiliam revirou os olhos e percebi que talvez houvesse falado algo


que não deveria, mas era a verdade. Eu a irritava tanto porque queria a sua
atenção, e não a conseguir estava me deixando louco.

— Então arruma outro brinquedo, porque comigo não vai rolar.

— Rachel, espera! — supliquei antes que ela desligasse a chamada.


Tinha atravessado Westminster e suplicado pela ajuda do irmão dela, não
poderia ser para nada. — Não desliga, por favor.

— Por qual razão eu não faria isso? — Ela poderia não estar na minha
frente, mas a imaginei diante de mim, com dentes cerrados e uma expressão
fechada.

— Porque eu amo você. — Abri o meu coração e percebi que era


muito mais fácil me declarar do que eu imaginava. Foi como se um peso
houvesse deixado os meus ombros. Era a verdade que eu convivia há tanto
tempo, que, ao ser revelada, se tornou um alívio.

A linha ficou muda e me perguntei se ela ainda estava do outro lado.

— Rachel?

Era demais esperar um eu também?

— Já disse o quanto eu odeio quando você joga comigo, nanico?

— Não estou jogando, Rachel. Eu juro!

— Acha que eu sou algum tipo de idiota?

— Pode apostar que não.

— Porque é o que está parecendo.

— Sai comigo? Me dá uma chance de mostrar que eu estou falando a


verdade.
— Eu não...

— Por favor. Você me conhece, Rachel. Sabe que eu não sou do tipo
que suplica.

— Okay! Pode me buscar na casa do meu irmão, às oito.

— Combinado. — Não contive o sorriso que tomou conta do meu


rosto quando ela desligou. Tudo o que eu precisava era de uma chance para
mostrar a Rachel que eu era mais do que o cafajeste que a irritava. — Preciso
do seu endereço. — Devolvi o celular para o William.

Ele ignorou o aparelho e se debruçou sobre a mesa, agarrando o


colarinho da minha camisa.

— Se você pisar na bola com a minha irmã, eu vou arrancar as suas


— rosnou. — Estamos entendidos?

— Sim.

— Ótimo! — Soltou a minha camisa e me empurrou para trás,


fazendo com que eu cambaleasse alguns passos até me estabilizar.

— Obrigado. — Ajeitei a minha camisa amassada e mantive o sorriso.

William estava fazendo o papel dele como irmão, e eu precisaria


aprender a lidar com isso até provar que eu era confiável.
Quarenta e três

Eu poderia ter ido me arrumar para o encontro em qualquer hotel da


rede da minha família, ou até mesmo na casa da Jenna. Contudo, a escolha da
casa do meu irmão foi estratégica. Além de me sentir segura lá, eu iria olhar
nos olhos do William e saberia se ele havia compactuado com aquilo, e que
não apenas tivera seu celular roubado por aquele maníaco.

Eu amo você... a voz do Michael ecoando na minha mente era quase


como um delírio. Acreditar parecia impossível. Por que simplesmente dizer
não? Acabar com o jogo idiota pouparia o meu coração, mas, no fundo, eu
queria crer que pudesse ser verdade. Tola ou não, essa esperança fazia o meu
coração bater mais forte e me deixava suspirando. A pequena chance de
Michael e eu darmos certo me enchia de esperanças.

— Lindo vestido, Chel.

Eu me virei e vi a minha cunhada parada na porta do quarto de


hóspedes me observando encarar o espelho. Ela estava com o filho mais novo
nos braços, e o menino brincava com o cabelo preto da mãe sem se importar
com o que acontecia à sua volta.

— Estou nervosa.

— Não precisa ficar.

— E se ele estiver armando isso para aprontar comigo, Lilly? —


Mordi os lábios e coloquei uma mão sobre o peito, sentindo o meu coração
saltar.

— Acha que o Michael iria atrás do William para tentar falar com
você e dizer que a ama, para simplesmente ser tudo uma brincadeira?

— Você não o conhece, Lilly.

— Eu conheço um cabeça-dura. — Ela riu. Estava se referindo ao


meu irmão, e eu ri de volta. Sim, o William era um belo de um cabeça-dura.
Contudo, a situação dela e do Will era oposta à minha e a do Michael.

— Não fuja esperando encontrar o que busca em outro lugar. Às


vezes, a gente quebra mais a cara do que quebraria lutando pelo o que
realmente sente.

— Está falando do Charles? — Lembrei do ex-noivo da minha


cunhada, o homem que parecia perfeito, mas era gay e a queria como esposa
apenas para se manter no armário diante da família.

— Dele também, mas eu sequer me dei ao trabalho de pensar que


poderia ter com o seu irmão algo mais do que sexo. Joguei tudo fora sem
sequer tentar, porque eu tinha medo e achava que a imagem que eu tinha do
William era imutável. Jurava por qualquer coisa que ele jamais seria o pai e o
marido maravilhoso que é hoje.

— Está me dizendo que o Michael pode ser mais do que só um


canalha comigo?
— Acho que é possível. É melhor você tentar do que ficar pensando
no que poderia ou não ter acontecido se você tivesse dado uma chance para
vocês dois. Não estou dizendo que você não pode se machucar, mas sim, que
pode ser que dê certo. Está na cara que você sente alguma coisa por ele.

— Eu o amo, Lilly.

— Então, dê a vocês essa chance.

— Obrigada. — Toquei os olhos com as costas das mãos para secar as


lágrimas que poderiam estar se acumulando ali.

— Oi, amor. — Vi o William surgir no corredor e abraçar a Lilly por


trás. Ele a beijou nos lábios e afagou o filho antes de olhar para mim.

— Você está linda, irmãzinha.

— Obrigada!

— Vai mesmo sair com ele?

— Culpa sua. — Mostrei a língua e ele se encolheu como se houvesse


sido atingido.

— Minha nada. Só dei a chance para que ele pudesse falar para você o
que acreditava que precisava dizer.

— Agora está tirando o corpo fora? — Cruzei os braços e fiz bico.

— De forma alguma. Já disse que corto as bolas dele se estiver


brincando com você.

— Obrigada. — Abri um sorriso amarelo. A minha esperança de que


o William atestaria as palavras do Michael se evaporou.

— Você vai ficar bem, não vai? — Ele segurou a minha mão e me
olhou como se eu fosse a sua filha de quatro anos e precisasse dele para tudo.

— Will, é só um encontro — disse a Lilly para tranquilizá-lo.

— Se você precisar de...

— ... qualquer coisa eu ligo para você — interrompi ele. — Sei disso.

— Tem um carro vermelho na rua. — Rose pareceu na porta do


quarto, toda serelepe.

— Como você sabe, filha? — William a pegou no colo e a garotinha


se aconchegou no peito do pai.

— Eu vi pela janela.

— Ela é tão esperta. — Apertei a bochecha da minha sobrinha.

— É o seu namorado, tia Chel?

— Meu namorado? — Engoli em seco.

— Deixa a tia Chel ir passear, Rose — Lilly chamou a atenção da


filha, desviando o assunto que havia me deixado desconfortável.
— Passear? Eu posso ir também?

— Outro dia a tia leva você, meu amor. — Dei um beijo na bochecha
dela e a menina assentiu com um movimento de cabeça.

— Se cuida. — William apertou meu ombro quando passei por ele e


pela esposa.

— Okay!

Segui pelo corredor revestido de madeira escura até a escada que me


levava ao hall da casa. Quando abri a porta, eu me deparei com o Michael
parado ao lado da mesma Ferrari vermelha que eu tinha visto no encontro de
ex-alunos. Ao contrário da bermuda e da camiseta que ele havia usado para
sair comigo em Miami, ele estava usando um terno preto bem alinhado e seu
cabelo preto também estava penteado. Fiquei me perguntando se me levaria a
um baile.

— Você está linda! — Ele abriu um largo sorriso que iluminou a rua
toda.

— Você também.

Ele esticou a mão para segurar a minha e pensei por alguns minutos se
deveria aceitá-la.

— Chel? — insistiu e toquei sua palma com a minha.

Michael se curvou e beijou o dorso da minha mão carinhosamente,


como se fosse um cavalheiro. Confesso que o ver se portando de tal forma me
assustou um pouco.

Quando ele ergueu a cabeça e nossos olhos se encontraram, senti um


calafrio que me varreu completamente. Era inegável o magnetismo que ele
exercia em mim. Ele segurou o meu rosto e despertou uma corrente elétrica
que me deixou arrepiada.

— Posso? — perguntou ao meu encarar. Não importava o quanto algo


dentro de mim me impulsionasse a manter as minhas barreiras, era
impossível resistir ao calor daquele toque e a pressão daquele olhar.

Assenti, pouco antes de sentir a boca de Michael procurar a minha.


Seus lábios vieram com suavidade, mas logo a sua língua pediu passagem e
eu cedi sem hesitar. A mão que estava livre foi parar na minha cintura e eu
movi a cabeça, buscando o melhor encaixe para nossas bocas. Ele me apertou
contra o seu peito e um calor subiu do meu sexo e despertou meu corpo
inteiro. O tesão era outra sensação inegável quando eu estava perto do
Michael.

Ouvimos um pigarro e eu me distanciei, empurrando o Michael para


trás a tempo de ver meu irmão surgir atrás de mim na entrada da casa.

— William. — Michael o cumprimentou com um breve aceno.

— Traga a minha irmã de volta para casa em segurança.

— Farei isso.
— Saiba que não é o único capaz de encontrar o escritório de alguém.

— Vou cuidar dela.

Foi engraçado ver o meu irmão ameaçando alguém. Tive um ou outro


namorado ao longo da vida, mas o Will não costumava se comportar como
um cão de caça. Porém, era como se, com o Michael, o cuidado dele estivesse
redobrado. William me conhecia melhor do que eu imaginava e sabia que o
meu coração estava em jogo.

Michael se aproximou da Ferrari e abriu a porta, indicando que eu me


sentasse e, quando eu obedeci, ele fechou a porta e deu a volta no carro para
assumir o volante. Michael deu partida no carro e fiquei observando meu
irmão parado na porta de sua casa até que a construção sumisse de vista.
Estava muito tensa, mas sabia para quem correr caso nada saísse como o
esperado.

— Fiquei louco quando você não me atendia. Eu sei que...

— Para onde está me levando? — interrompi Michael, mudando de


assunto. Não queria falar sobre nós, não naquele momento, pois temia acabar
estragando tudo.

— Para a ópera. Vamos ver o Ballet, reservei um camarote para nós.

Apesar de morar nos arredores de Londres a minha vida toda, eu


nunca havia ido a ópera. Sabia que era romântico através dos relatos da
Elizabeth. A minha cunhada gostava muito de programas como ópera e
teatro. Eu era mais dos pubs, das boates e do cinema.

Fiquei observando as ruas da cidade, cada vez mais frias com a


aproximação do inverno, as folhas secas voando ao vento, os turistas olhando
tudo deslumbrados, desde os vasos de flores presos aos postes às cabines
telefônicas e os ônibus vermelhos.

Em alguns minutos, estávamos estacionando no Royal Opera House e


Michael me deu a mão para me levar até a entrada. Ao passarmos pelo
portão, tudo era puro luxo e sofisticação. As paredes eram claras com
detalhes em madeira, e a iluminação não foi poupada, havendo pontos de luz
vindos de todas as direções. Deixei que Michael me guiasse e seguimos pela
escada até o restaurante. Lá, era ainda mais bonito do que a entrada. O teto e
as paredes eram feitos de metal e vidro, algo que me recordava a gaiola de
um passarinho e ao mesmo tempo uma casa de bonecas, de tamanha
delicadeza. E o vidro entre os vãos do aço me permitia ver o céu. Eu achava
que conhecia muito sobre o Michael, porém desconhecia a parte dele que
poderia ser romântica a tal ponto.

— Como pensou nesse lugar? — questionei, deslumbrada, quando ele


puxou uma cadeira para que eu me sentasse em uma mesa no mezanino, onde
eu poderia ver o outro andar do restaurante, vários metros abaixo de nós.

— Admito que tive ajuda. — Ele sorriu e percebi um leve corar das
suas bochechas. Era mais fácil reparar nas expressões dele quando fazia a
barba.
— Ela foi perfeita.

— Há outras coisas perfeitas além dela. — Ele tocou a minha mão


sobre a mesa e foi a minha vez de corar. Ainda era difícil acreditar que aquele
mesmo Michael pudesse ser tão carinhoso comigo.

— Boa noite. — Um garçom parou ao lado da mesa e o Michael


soltou a sua mão da minha.

— Boa noite. — Michael voltou-se para o garçom — Por favor, traga


o seu melhor tinto e vieiras como entrada. Deixe o cardápio, que iremos
decidir o prato principal.

— Sim, senhor. — Assentiu o garçom e colocou um cardápio na


frente de cada um de nós antes de se afastar.

— Você me disse que éramos só um caso, o que fez você mudar de


ideia? — disse, sem conseguir conter a pergunta. Contudo, mordi a língua
instantes depois, sabendo que poderia estragar o nosso jantar antes que
chegássemos na sobremesa.

— Um aniversário de casamento.

— Quê? — Franzi o cenho.

— Percebi que existem mais caras perdidos como eu, incapazes de


encontrar o seu farol. Ainda que às vezes ele esteja debaixo do nosso nariz.
Confesso que tinha medo de que aquilo que aconteceu com a Zoe se
repetisse, e não se envolver é tão mais fácil! Só que, às vezes, nos
envolvemos mesmo sem querer.

— Não está mais com medo?

Ele balançou a cabeça em negativa, e continuou me encarando com


um sorriso.

— Por que não?

— Porque você é o meu farol.

Fiquei sem palavras. Michael sempre foi bom em me desarmar, mas


daquela vez ele tinha se superado.

— Como sabe? — A minha incredulidade não permitia que ele me


tirasse completamente o ar.

— Eu sempre quis você, Rachel. Eu só não conseguia perceber e me


expressava de um jeito completamente errado. Estar com você lá em Miami
fez com que eu percebesse uma série de coisas.

— E simplesmente descobriu que me ama?

— Foi bem menos simples do que parece.

— Entendi. — Eu estava com um nó na garganta. A angústia me


sufocava. Ao mesmo tempo que queria me atirar nos braços dele e jurar amor
eterno, havia muito medo da situação sair do controle num piscar de olhos, e
o castelo de sonhos que estava sendo construído se desfizesse no primeiro
sopro de verdade.
— Ainda gosta de mim? — Tocou o meu queixo e não me deixou
olhar em nenhuma outra direção que não fosse os seus olhos.

— Sei que pode ser um erro.

— Não vai ser.

— Como tem tanta certeza?

— Porque agora eu entendo o que eu sinto e estou bem com isso.

— Se eu disser que sim, vamos namorar?

— Se for o que você quer.

— Sem surpresas?

— Só boas.

— Se você estiver aprontando para cima de mim, eu vou deixar o meu


irmão arrancar as suas bolas.

Ele engoliu em seco e bebericou o vinho que o garçom acabara de


servir.

— Acho justo.

— Que bom!

— Você não vai ser arrepender, Chel. — Acariciou o meu rosto com
as pontas dos dedos, sem se importar se estávamos em público.
— Espero que não, nanico.

— Estou me segurando para não chamar você de chorona.

— Continue segurando.

Nosso jantar foi servido e eu parei de sabotar a minha noite


romântica. Não havia outro lugar que quisesse estar que não fosse com o
Michael, então aproveitei o momento.

Depois do jantar, nós fomos para o camarote do Ópera onde


assistiríamos ao Ballet. As cadeiras com estofado vermelho eram muito
confortáveis e o voil , que revestia a parte externa do camarote, nos dava um
pouco de privacidade. As velas que iluminavam o ambiente tornavam tudo
ainda mais romântico. Entendi porque a Lilly amava tanto ir com meu irmão
naquele lugar.

Eu me acomodei em uma cadeira e o Michael se sentou ao meu lado.


Havia espaço para outras pessoas, mas estávamos apenas nós dois; imaginei
que ele houvesse reservado todo o local.

As luzes foram apagadas, deixando apenas as poucas velas acesas, e a


apresentação começou. Estava observando as bailarinas quando percebi
Michael sair da cadeira e ajoelhar-se diante de mim. Ele segurou as minhas
coxas e me puxou até a beirada da cadeira.

— O que você... — quis questioná-lo, mas fui interrompida por seu


dedo cobrindo meus lábios.
— Tenta não gemer.

— Não iríamos assistir à peça?

Percebi que não, quando ele puxou o meu vestido para cima e tombou
a cabeça na direção do meu sexo. Algo dentro de mim se retorceu quando seu
hálito entrou pelos fios da renda da minha calcinha. Tentei fechar as pernas
em um movimento involuntário para que ele parasse, porém Michael agarrou
as faces internas das minhas coxas e as manteve bem abertas. Não podia
negar que, no sexo, gostava da forma como ele me dominava.

Sua língua passou pelo elástico da minha calcinha e a umidade me


provocou um calafrio; eu me retorci na cadeira e encolhi a ponta dos pés.

— Alguém vai nos ver...

— Não vai, ninguém vai entrar. Me certifiquei disso.

Dentre todos os possíveis locais, não imaginava que ele fosse me


levar para transar em uma ópera. Apesar da surpresa, aquele era o bom e
velho Michael...

Parei de pensar racionalmente quando ele mordeu a lateral da minha


calcinha, puxando a peça com os dentes. Senti o tecido escorregar pela minha
pele enquanto ele depositava beijos e mordidas pelo caminho e me
enlouquecia com calafrios e calor. Meu pudor foi posto de lado quando a
minha calcinha caiu.

Michael enterrou os dedos nas minhas coxas e controlei o impulso de


fechar as pernas. Seu hálito veio primeiro e tocou a minha intimidade
exposta, provocando um incêndio em mim. Depois, ele deu leves tapinhas
com a língua no meu clitóris e eu joguei a cabeça para trás, balançando-a e
revirando os olhos. Parei de me preocupar se estávamos em público e que
uma apresentação acontecia no palco abaixo de nós.

Ele soltou uma das minhas coxas e seu dedo foi parar sobre o meu
clitóris enquanto a sua língua percorria as texturas do meu sexo e me
penetrava levemente. Fui dominada por uma onda de luxúria e precisei
morder os lábios para não gemer alto, gritando o nome dele. Ele sabia muito
bem usar a língua e os dedos para me enlouquecer.

Seus lábios envolveram meu clitóris e seu dedo adentrou meu canal.
Rebolei na cadeira e o prazer do sexo que ele fazia comigo se tornou ainda
maior. Eu gostava da boca dele na minha, mas sua boca me dando prazer
daquele jeito era incomparável. Habilmente, Michael me levava a um
precipício onde eu não tinha escapatória a não ser me atirar. Entrar no jogo
dele era a melhor e mais deliciosa alternativa.

Desci os dedos pelo cabelo dele e puxei os fios, empurrando a sua


cabeça para frente e fazendo com que ele enterrasse o rosto em mim.
Levantei um pouco as pernas e acariciei os seus antebraços com as pontas dos
pés, enquanto sua boca não me dava descanso, e eu nem queria que desse.
Segurei a cabeça dele ali, e só iria permitir que se afastasse quando me
fizesse gozar.

Michael aumentou o ritmo com a língua e eu me perdi em sensações.


Ele escorregou as mãos por debaixo das minhas coxas, adentrou o
vestido e apertou as minhas nádegas. Esfreguei-me no rosto dele e Michael
me chupou com mais força, agitando o dedo dentro de mim.

Talvez fosse o amor em jogo, mas o sexo com ele era muito intenso e
viciante, o melhor que eu tinha provado. Eu queria mais, muito mais. Michael
agitou o dedo dentro de mim, e os movimentos rápidos, frenéticos, somados a
precisão da sua língua, me levaram ao ápice em poucos minutos, mas ele não
parou de me enlouquecer mesmo percebendo que eu estava gozando.

Quando o Michael se levantou, eu estava estirada na cadeira,


entorpecida e estremecendo. Não me arriscaria a falar se não quisesse que a
minha voz saísse entrecortada, mas o meu peito subindo e descendo
rapidamente já denunciava a minha dificuldade de respirar.

— Vem aqui! — Ele agarrou o meu cabelo e me puxou para frente até
que meu nariz tocasse a braguilha da sua calça.

Com os dedos trêmulos e escorregando pelo suor gelado, abri o botão


e desci o zíper. Com o olhar de predador, enquanto ele me encarava sob a luz
de velas, sabia o que ele queria e eu queria também, pois minha boca estava
salivando. Ainda com ele segurando o meu cabelo, como se mandasse em
mim, abaixei a sua cueca e puxei o seu pênis; sem qualquer calma ou
joguinhos, eu o abocanhei, engolindo o máximo que conseguia. Chupei,
escorregando os meus lábios por toda a sua extensão, sentindo-o pulsar
através das veias.
Michael puxava o meu cabelo de forma dolorida e movia a pélvis na
direção da minha boca, tomando um pouco o controle dos movimentos.
Naquela noite, eu era dele e não me importei. Acariciei sua bunda e suas
costas enquanto ele se movia para dentro da minha boca. Achei que só fosse
parar quando gozasse na minha língua, porém, repentinamente, ele
interrompeu os movimentos e tombou a minha cabeça para trás, fazendo com
que eu o encarasse.

— Ajoelha na cadeira, de costas para mim — ordenou com uma voz


rouca, que me deixou ainda mais excitada.

Michael soltou o meu cabelo e se afastou um pouco para que eu me


movesse. Virei de costas para ele, segurei o encosto da cadeira e me ajoelhei
sobre o assento. Ele aproveitou o momento para colocar a camisinha. A saia
do vestido caiu, cobrindo a minha intimidade, porém Michael logo a subiu
novamente, enrolando na minha cintura. Ele se posicionou atrás de mim,
segurando a minha cintura com uma mão e o meu ventre com a outra. Sua
boca veio parar na minha orelha e o tesão se tornou ainda mais intenso.

Mordi os lábios para não gritar de prazer quando ele escorregou para
dentro de mim; seu pênis preencheu meu canal e eu rebolei para que
encaixasse perfeitamente. Ele apertou a minha cintura e mordeu a minha
orelha enquanto seu corpo se chocava contra o meu no movimento mais
gostoso do mundo.

Virei a cabeça para o lado e procurei pela sua boca, para que o beijo
abafasse meus gemidos. Porém, o estalo que a minha pele fazia ao se chocar
com a dele era difícil de aplacar.

Ele puxou o meu cabelo para frente e fez com que eu me debruçasse
sobre a cadeira o máximo possível.

— Empina a sua bunda para mim, Chel — falou baixinho, e eu


deveria ter ficado envergonhada, mas apenas atendi. Com o seu pau em mim,
era difícil pensar em outra coisa que não fosse todo aquele prazer.

Com uma mão ainda na minha cintura, ele usou a outra para penetrar
meu ânus. Dei um gritinho que foi abafado pela música da apresentação e me
espichei, num misto de prazer e vergonha. Ele iria fazer de novo?

Michael tirou o pênis da minha vagina e me penetrou onde estava o


seu dedo. Fechei os meus olhos e me entreguei para ele, sabendo que era do
Michael, como não seria de mais ninguém.

Ele procurou a minha boca e me beijou, imitando com a língua o vai e


vem que fazia dentro de mim. Seus dedos encontraram o caminho para o meu
clitóris e, mais uma vez, fez com que eu me perdesse em prazer. Meus lábios
já estavam machucados de tanto que eu os mordia para não gemer. Senti a
pressão do gozo dele na camisinha no mesmo momento em que cheguei ao
ápice mais uma vez.

— Acho que agora podemos assistir o restante da apresentação. —


Tentei me recompor.

— Sim. — Ele não tirava o sorriso safado dos lábios. — Continuamos


depois no meu carro ou na minha cama.

Não neguei. No fundo, eu queria mais, mas, enquanto ambos


estávamos cansados, apenas recostei a minha cabeça no ombro dele para
assistir o que ainda restava da apresentação.
Quarenta e quatro

Acordei com um barulho e abri os olhos em um rompante. Vi a


Rachel nua, recolhendo seu vestido, calcinha e sapatos espalhados pelo meu
quarto enquanto se preparava para sair furtivamente.

— Vem aqui — disse, ao me sentar na cama e bater no colchão perto


de mim.

— Mick! — Virou o rosto, envergonhada por perceber que eu a


estava observando.

— Aonde pensa que vai? — Levantei-me da cama e a abracei por


trás.

— Embora.

— Você não pode ir. — Beijei sua nuca arrepiando os pelos finos do
seu corpo.

— Preciso ir. — Ela tentou se desvencilhar, mas fez pouca força; no


fundo, não queria se soltar de mim de verdade. — Eu tenho que ir trabalhar.
Hoje ainda é quinta-feira. — Soltou um gemido quando a minha boca foi
parar na sua nuca.

— Passa o dia comigo. — Escorreguei as mãos pela lateral do seu


corpo, até envolver os seios macios e roliços.
— Sabe que eu não posso.

— Não pode ou não quer? — Virei-a de frente e nossos olhos se


encontraram.

— Não posso. — Ela ficou nas pontas dos pés e levou a sua boca até a
minha.

Eu uni nossos lábios, esfregando-os nos seus enquanto a minha língua


invadia a sua boca sem qualquer cerimônia. Empurrei Rachel contra a parede
fria de pedra e prensei-a com o meu corpo.

— Você não cansa? — questionou, com a boca na minha orelha, e o


seu corpo cedendo ao meu.

— Não. — Agarrei uma das suas pernas e a coloquei em volta da


minha cintura. — Sei que você gosta.

Lambi seu mamilo túrgido, saboreando-a, e subi, beijando e


mordendo a sua pele até que a minha boca encontrasse a sua novamente. Ela
laçou minha cintura com as pernas e meu pescoço com os braços. O beijo se
tornou feroz. Devorava a boca dela sem direito a pausa para respirar.

Escorreguei as mãos pelas curvas do seu corpo, redesenhando-as, até


agarrar suas nádegas, enterrando meus dedos na bunda alva e macia. Não
estava disposto a deixá-la ir embora sem estar dentro dela ao menos mais
uma vez.

Eu me ajeitei, encostando a cabeça do meu pau na entrada latejante da


sua vagina e a penetrei em um tranco firme, fazendo-a gritar de prazer e
cravar as unhas na minha nuca. A leve dor não me impediu de investir contra
ela, inundando-me em seu interior cada vez mais úmido e quente devido a
fricção. À medida que eu me movia, cada vez mais forte e mais rápido, fazia
com que ela batesse as costas na parede e rebolasse em mim.

Tirei as mãos das suas coxas e a desci para o chão. Rachel me olhou
com um bico e uma expressão furiosa, mas eu a puxei pelo cabelo, fazendo-a
soltar um gritinho, e a trouxe para a cama. Sentei-me na beirada do colchão e
acomodei-a no meu colo de frente para mim. Rachel apoiou os joelhos na
cama e jogou os braços sobre os meus ombros antes de se encaixar em mim,
movendo-se.

Sorri, malicioso, ao vê-la jogar o belo e sedoso cabelo loiro para trás e
rebolar em mim. Os olhos verdes reviravam de prazer a cada vez que quicava
em mim. A fricção era insana e deixei que ela conduzisse o nosso sexo,
desfrutando da visão dela em mim, entregando-se completamente. Se o meu
corpo suportasse, não iria permitir que parássemos.

Agarrei seu cabelo pela nuca e trouxe a sua boca para a minha. Seus
lábios estavam gelados e ela gemia enquanto a sua boca buscava a minha
desenfreadamente. Tinha que admitir que era mil vezes melhor estar assim
com ela do que brigando.

Rachel era a minha garota agora, e eu estava feliz como não me


lembrava de ter estado antes.
Com uma mão na sua nuca, mantendo a sua boca na minha,
escorreguei a outra pela linha da sua cintura e agarrei sua bunda,
intensificando os movimentos. Apertei ela em mim e a fricção aumentou. Era
uma delícia sentir os mamilos rígidos e os seios roliços esfregando no meu
peito.

Segurei o quanto pude, contendo-me para não acabar com o


momento, mas fui incapaz de prolongá-lo por muito tempo. Eu explodi
dentro dela, derramando a minha semente no seu útero, porque não me dei ao
trabalho de colocar a camisinha.

Rachel continuou rebolando no meu pau, quicando deliciosamente em


mim, até que eu colocasse a mão entre nossos corpos e estimulasse o seu
clitóris inchado. Logo fiz com que ela se juntasse a mim e Rachel tombou
sobre o meu ombro, ofegando.

— Então, é verdade? — perguntou com a respiração urgente enquanto


se recuperava do orgasmo.

— O quê? — Passei a mão pelo seu rosto suado e a fiz me encarar.

— Que estamos namorando?

— Sim, nós estamos. Você é a minha garota, Rachel Allen.

— Só se você for meu também. — Afunilou os olhos.

— Eu sou. — Dei nela um selinho carinhoso.


— Agora, eu realmente preciso ir, mas você me melou toda.

— Vamos tomar um banho e o café-da-manhã, que depois eu levo


você até a casa do seu irmão.

— Okay! — Ela assentiu com um movimento de cabeça e eu a peguei


no colo, levando-a comigo para o banheiro.

Tomamos banho juntos e descemos para a sala de jantar, onde meus


pais estavam fazendo a refeição. Rachel congelou na porta, mas eu segurei
firme seus dedos gelados pelo suor frio e a incentivei a entrar.

— Bom dia, senhor e senhora Smith — cumprimentou, com um


sorriso amarelo.

— Rachel, querida! — Minha mãe empurrou o prato e se levantou


para abraçá-la. — Que bom vê-la.

— Obrigada, senhora Smith. — Rachel retribuiu o abraço.

— Pode me chamar de Júlia, querida.

— Obrigada, Júlia. — O sorriso da Rachel ficou um pouco mais


descontraído.

— Sente-se para comer conosco. — Meu pai indicou um lugar na


mesa para ela. Ao lado de onde eu tinha o hábito de me sentar. — Imagino
que esteja com fome. — Ele me direcionou um olhar e imaginei que estivesse
se referindo a noite barulhenta que tivemos.
— Muito obrigada. — Rachel puxou a cadeira e se acomodou.

— Vocês estão juntos? — perguntou a minha mãe, ao me encarar sem


me dar a oportunidade de dizer.

— Estamos — respondi, sem hesitar, e isso fez com que as duas


mulheres sorrissem.

— Que bom, meu filho. Estou muito feliz por vocês. — Minha mãe
nos olhou amorosamente antes de voltar a comer.

Quando apresentei a Zoe como minha noiva, minha mãe não havia
sorrido da mesma forma, nem demonstrado a mesma felicidade. Ela sempre
tinha gostado da Rachel, apesar da nossa constante batalha. Provavelmente,
ela já havia percebido o que eu demorei tanto para notar. Eu sempre amei a
Rachel.

Certo de que finalmente estava no caminho certo para o meu coração,


dei um rápido beijo na Rachel diante dos meus pais e depois me concentrei
em tomar o café-da-manhã. Por maior que fosse a minha vontade de passar o
dia na cama com a Rachel, nós dois tínhamos compromisso com o trabalho.
— Mick?

Virei o rosto quando a minha mãe bateu na porta ao abri-la, para


chamar a minha atenção. Parei de mexer com a gravata e dei atenção a ela.

— Oi, mãe.

— Vai sair com a Rachel de novo?

Havia passado o dia entre os papéis da implantação do projeto com a


Golden Motors e estava ansioso para ver a minha namorada novamente. Tudo
o que eu não queria era que a minha mãe encontrasse algum motivo para
atrapalhar meu momento.

— Vou, sim. Achei que você gostasse dela.

— Ah, eu gosto! Gosto muito.

— Então, qual o problema?

— Problema? — Franziu o cenho, estranhando a minha pergunta. —


Problema nenhum.

— Você está estranha, Júlia.


— Não tenho culpa se é desconfiado demais, garoto. — Sorriu e sua
expressão tranquila me fez relaxar um pouco.

Ela entrou no quarto, parou diante de mim e segurou a minha mão,


colocando algo nela.

— O que é isso?

Minha mãe não respondeu, apenas afastou-se para que eu percebesse


o que repousava sobre a palma da minha mão.

— É o seu anel? — Arqueei as sobrancelhas, surpreso e confuso. —


Você disse que não iria me dar. — Abri a caixa e vi o anel de diamante rosa
em formato de coração, que o meu pai havia dado para ela quando a pedira
em casamento.

— Não. Eu iria te dar quando você estivesse com a mulher que ama.
Estou muito feliz por você e a Rachel finalmente estarem juntos. Espero que
você faça o pedido no momento certo.

— Obrigado, mãe! — Beijei-a no rosto.

— Espero que você seja muito feliz.

— Eu também.

Nós nos abraçamos e ficamos assim por alguns minutos, até que ela
saiu do quarto e me deixou sozinho para que terminasse de me arrumar.
Peguei a caixa com o anel que ela havia me dado e o guardei em uma gaveta
da cômoda. O apoio da minha mãe ao meu relacionamento com a Rachel me
indicava, ainda mais, que eu estava no caminho certo.
Quarenta e cinco

Um mês depois...

— Acho que o sexo com o Mick está fazendo bem a você — disse
Jenna em um tom debochado, antes de tomar um gole do seu chocolate
quente.

Eu havia me encontrado com ela em uma cafeteria perto da minha


clínica veterinária para que nos víssemos, já que fazia um tempo que não nos
encontrávamos pessoalmente.

— Não é para tanto. — Virei o rosto, escondendo as minhas


bochechas coradas. De fato, sexo não era algo que havia faltado durante o
último mês namorando o Michael. — Não é só sexo. Fizemos outras coisas
além de transar.

— Posso apostar que sim. — Riu, debochada. — Hoje é sexta-feira, o


que está pensando em fazer?

— Comprei ingressos para uma peça. Pensei em fazer uma surpresa


para ele. Vou sair daqui e ir ao escritório da Aliance Cars, onde ele costuma
ficar. Não tenho consultas à tarde, então imaginei que o nosso final de
semana pudesse começar mais cedo.

— Isso aí, garota! — Ela só não bateu palmas porque a mão estava
ocupada com o copo de chocolate quente. Devido ao frio que havia chegado
com o início do inverno, duvidava que Jenna fosse soltar a bebida quente. —
Em cima da mesa não é o lugar mais confortável, mas pode ser bem
excitante.

— Jenna! — Cobri o rosto com a mão e ela riu.

Não estava indo até ele esperando que transássemos, mas se


acontecesse no escritório dele, não seria a primeira vez.

— Eu vou lá. — Levantei da cadeira e tomei o restante do meu


chocolate, que já estava morno.

— Isso! Me abandona mesmo. Sei que ele é muito mais interessante


do que eu, mas ainda continuo sendo sua melhor amiga.

— Sem drama, Jenna!

— Boa fod... peça para você.

— Obrigada. — Ri balançando a cabeça em negativa.

Dei um beijo na bochecha da minha melhor amiga e saí do café.


Coloquei meu casaco de frio e atravessei a rua até o meu carro, que estava
estacionado do outro lado. Dirigi até a empresa do Michael, ansiosa para vê-
lo. Depois de muitos anos brigando, tinha que admitir que era muito melhor
estarmos nos beijado do que discutindo. Aquele homem havia me deixado
louca durante toda a minha vida, mas nunca tinha imaginado que essa frase
pudesse ganhar um sentido positivo.
Os funcionários já estavam acostumados comigo e subi sem qualquer
dificuldade para a sala dele. Esperava que ele não estivesse envolvido com
nenhum assunto muito importante, pois já estava muito ansiosa para me atirar
nos braços dele.

O elevador abriu no andar e eu tirei o casaco, sentindo calor no


ambiente aquecido. Olhei-me no espelho uma última vez e joguei o meu
cabelo para o lado. Esperava estar bonita o bastante para que ele parasse de
fazer qualquer coisa e olhasse para mim.

Segui pelo corredor com o coração apertado e ansioso.

— Olá! — cumprimentei a secretária do Michael.

— Senhorita Allen, espera. — Tentou impedir-me de entrar de


supetão no escritório do meu namorado.

— Não se preocupa, o Michael não vai brigar com você por me deixar
passar. — Segui, abrindo a porta. O que eu não poderia prever era que não
era a fúria do Michael que ela estava tentando evitar.

Não foi o meu namorado que encontrei sentado na cadeira giratória de


couro. Foi uma mulher; e não era qualquer mulher, mas a ex-noiva, que eu
vira com ele na festa dos ex-alunos. Ela estava com uma saia curta e a
camiseta aberta, revelando os seios sem sutiã, e o cabelo despenteado.
Procurei Michael com o olhar pela sala e não o encontrei de imediato. Porém,
logo ouvi o som da descarga e Michael saiu, segundos depois, de uma porta
lateral que levava a um banheiro. Ele estava ajeitando a calça e a primeira
coisa que a minha mente imaginou foi que ele estava se limpando após ter
gozado, pois era o que fazia quando estava comigo.

— Michael... — O nome dele saiu trêmulo pelos meus lábios.

— Rachel? — Ele arregalou os olhos azuis, surpreso por me encontrar


ali.

Com os olhos cheios d’água, dei as costas e saí correndo dali o mais
rápido que consegui. Achava que o Michael não fosse mais brincar comigo,
mas ele poderia ter armado a maior brincadeira de todas e destruído o meu
coração no processo.
Continua em Paixão Inevitável...

Lançamento dia 09/10/2020


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Sinopse:

William e Elizabeth são completos opostos, mas cresceram juntos e se


tornaram inseparáveis.
Ele é um playboy rico que sempre teve tudo o que quis e está assumindo
os negócios da família, ficando à frente de uma rede de hotéis de luxo. Ela,
uma moça humilde, filha dos empregados, e apaixonada por história, vive de
seus ganhos em uma pequena loja de antiguidades.
Uma amizade forte entre uma virgem, que espera encontrar o homem dos
sonhos, e um cafajeste com incontáveis conquistas. Porém, a relação deles
está prestes a mudar quando Elizabeth sofre uma desilusão ao ver o noivado
perfeito da sua melhor amiga acabar e percebe que esse homem idealizado,
pelo qual tanto esperou, pode não existir. Decidida a curtir a vida de um jeito
que não fazia antes, percebe que precisa fazer algo primeiro: perder a
virgindade.
Elizabeth vai ver no seu melhor amigo o cafajeste perfeito para a sua
primeira noite de sexo casual. Preocupado com a amizade, William a faz
prometer que a transa não mudaria a relação deles, mas será que vão
conseguir cumprir a promessa de continuarem melhores amigos?
Agradecimentos

Meu enorme agradecimento aos leitores e leitoras que


me motivam a continuar todos os dias, em especial às
meninas do meu grupo do WhatsApp “Leitores da Jéssica”
por todo incentivo, surtos e carinho.
Agradeço a Aline Damasceno e a Ana Roen pelo
carinho com os meus livros para que eles cheguem da
melhor forma possível aos leitores.
Agradeço também ao meu marido, Gabriel, por todo
o apoio, aos meus pais, à minha irmã, aos meus mentores,
protetores e todos os seres de luz que são me alicerce nessa
árdua jornada.
Sobre a autora

Jéssica Macedo é mineira de 24 anos, mora em Belo


Horizonte com o marido e três gatos, suas paixões. Jéssica
escreve desde os 9 anos, e publicou seu primeiro livro aos
14 anos. Começou na fantasia, mas hoje escreve diversos
gêneros, entre romance de época, contemporâneo, infanto
juvenil, policial, e ficção científica. Com mais de cinquenta
livros publicados, é escritora, editora, designer e cineasta.
Tem ideias que não param de surgir, e novos projetos não
faltam.
Acompanhe mais informações sobre outros livros da
autora nas redes sociais.
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Sinopse:

Gutemberg Toledo, Guto, sempre se destacou pelo talento com os números, e


transformou um mercadinho familiar em uma rede de supermercados
espalhada por todo o país. Astuto, determinado, e um empresário incrível, ele
conquistou tudo, menos o que mais ansiava: uma família. Ao se divorciar,
esse sonho parecia estar mais distante do que nunca.

Sem laços familiares fortes, tudo o que ele tem de mais importante é a
amizade de décadas com o sócio. O que ele não esperava era que a filha do
seu melhor amigo, dezoito anos mais jovem, nutrisse sentimentos por ele, um
amor proibido. ⠀

Guto vai lutar com todas as forças para não ceder à tentação. Dentre todas as
mulheres do mundo, Rosi deveria ser intocável; não era permitida para ele.
Porém, às vezes é difícil escapar de uma rasteira do desejo.
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Sinopse:

Vitor Doneli era um playboy e o herdeiro de um império, mas ele decidiu


desafiar o pai e traçar o próprio caminho, antes que o destino pesasse sobre
ele e fosse obrigado a se tornar o CEO da empresa da família. Cursando
Direito em uma faculdade pública, cercado de amigos e mulheres de vários
níveis sociais abaixo do dele, terá a sua realidade de cafajeste virada de
cabeça para baixo quando uma caloura atravessar o seu caminho.

Cíntia deixou sua casa, sua família e seu namorado e foi estudar em uma
cidade grande. Determinada a se tornar uma advogada, ela não queria um
relacionamento, mas o destino estava prestes a surpreendê-la. Cíntia tentou e
lutou com todas as forças para não se aproximar, não se apaixonar... Vitor era
o completo oposto de tudo o que desejava. Um jovem mimado e rico, que a
provocou, enlouqueceu e roubou seu coração.

Uma gravidez inesperada apenas intensificou o amor entre eles. Eram o
destino um do outro, ou acreditavam nisso. Porém, o coração deles será
partido, promessas serão quebradas, e todo o amor que viveram se tornará
uma triste lembrança do passado na qual se negarão a desistir... ⠀
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Sinopse:

Logan Mackenzie é o herdeiro de um império secular que rege com


maestria. No entanto, por trás do excêntrico e recluso homem de negócios,
que vive em um isolado castelo no interior da Escócia, há muitos segredos e
desejos obscuros. Ele não se rende a uma única mulher, tem várias, e com
elas explora a sexualidade ao máximo.
Um convite inesperado o levará ao exclusivo Clube Secreto, um lugar
onde todos os pecados podem ser comprados. O que não imaginava era que
se depararia com um leilão de mulheres. Logan nunca foi uma alma caridosa,
mas até os mais egoístas vivem um momento de altruísmo. Ele decide salvar
uma delas, e por tê-la comprado tem direito a tudo, inclusive a libertá-la.
Camila já havia experimentado o medo nas suas piores formas. Lançada a
um terrível destino, não esperava acordar no jato particular de um milionário
a caminho do nada.
Ele já havia feito a sua cota de boa ação, só esperava que ela fosse
embora, mas o que se fazer quando Camila se recusa, pois não há para onde
ir? O lar que ela tinha havia se transformado em pesadelo e aquele que
imaginou que cuidaria dela, roubou sua inocência e a vendeu para o tráfico
humano.
Logan não queria protegê-la, não estava disposto a baixar seus muros por
mulher nenhuma. Porém, enquanto ele a afasta, Camila descobre o lado mais
obscuro daquele homem frio, mas também vai perceber que existe uma
chama que pode salvar ambos.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores de


dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta inadequada
de personagens.
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Sinopse:

Diana era o motivo de orgulho para os seus pais adotivos. Esforçada,


estudiosa, cursava medicina, com um futuro muito promissor, mas um
convite para visitar o Inferno vai mudar tudo.
O Inferno era apenas um bar pertencente a um moto clube, ao menos era a
imagem que passava a quem não o frequentava. Porém, ele era uma porta
para o submundo, um lugar de renegados, como Trevor. Um dos irmãos que
lidera o Dark Wings é a própria escuridão, nascido das trevas e para as trevas,
que acabará no caminho de Diana, mudando a vida da jovem para sempre.
Uma virgem inocente que foi seduzida pelas trevas...
Uma noite nos braços do mal na sua forma mais sedutora, vai gerar uma
criança incomum e temida, além trazer à tona um passado que Diana
desconhecia, e pessoas dispostas a tudo para ferir seu bebê.
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Sinopse:
Harrison Clark abriu uma concessionária de carros de luxo em Miami. Se
tornou milionário, figurando na lista dos homens mais ricos do Estados
Unidos. O CEO da Golden Motors possui mais do que carros de luxo ao seu
dispor, tem mulheres e sexo quando assim deseja. Porém, a única coisa que
realmente amava, era o irmão gêmeo arrancado dele em um terrível acidente.
Laura Vieira perdeu os pais quando ainda era muito jovem e foi morar com a
avó, que acabou sendo tirada dela também. Sozinha, ela se viu impulsionada
a seguir seus sonhos e partiu para a aventura mais insana e perigosa da sua
vida: ir morar nos Estados Unidos. No entanto, entrar ilegalmente é muito
mais perigoso do que ela imaginava e, para recomeçar, Laura viveu
momentos de verdadeiro terror nas mãos de coiotes.
Chegando em Miami, na companhia de uma amiga que fez durante a
travessia, Laura vai trabalhar em uma mansão como faxineira, e o destino
fará com que ela cruze com o milionário sedutor. Porém, Harrison vai
descobrir que ela não é tão fácil de conquistar quanto as demais mulheres
com quem se envolveu. Antes de poder tirar a virgindade dela, vai ter que
entregar o seu coração.
Quando a brasileira, ilegal nos Estados Unidos, começa a viver um conto de
fadas, tudo pode acabar num piscar de olhos, pois nem todos torciam a favor
da sua felicidade.
Uma virgem para o CEO (Irmãos Clark
Livro 1)

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Sinopse:

Dean Clark nasceu em meio ao luxo e o glamour de Miami. Transformou a


concessionária de carros importados que herdou do pai em um verdadeiro
império. Ele é um CEO milionário que tem o que quer, quando quer,
principalmente sexo. Sua vida é uma eterna festa, mas sua mãe está
determinada a torná-lo um homem melhor.
Angel Menezes é uma moça pacata e sonhadora que vive com a mãe em
um bairro de imigrantes. Trabalhando como auxiliar em um hospital, sonha
em conseguir pagar, um dia, a faculdade de medicina. As coisas na vida dela
nunca foram fáceis. Seu pai morreu quando ela ainda não tinha vindo ao
mundo, e a mãe, uma imigrante venezuelana, teve que criá-la sozinha. Porém,
sempre puderam contar com uma amiga brasileira da mãe, que teve um
destino diferente ao se casar com um milionário.

Laura mudou de vida, mas nunca deixou para trás a amiga e faz de tudo
para ajudar a ela e a filha. Acredita que Angel, uma moça simples, virgem, e
onze anos mais jovem, é a melhor escolha para o seu filho arrogante e
cafajeste, entretanto, tudo o que está prestes a fazer é colocar uma ovelhinha
ingênua na toca de um lobo.

Dean vai enxergar Angel como um desafio, ele quer mais uma mulher em
sua cama e provar que ela não é virgem. No jogo para seduzi-la, ganhará um
coração apaixonado que não está pronto para cuidar...

Será que o cafajeste dentro dele se redimirá ou ele só destruirá mais uma
mulher?
Uma noiva falsa para o popstar (Irmãos
Clark Livro 2)

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Sinopse:

Dylan Clark sempre teve o mundo aos seus pés. Dono de uma voz cativante e
um carisma ímpar, ele é um astro do pop famoso mundialmente, com uma
legião de fãs apaixonadas. Lindo, sexy e milionário, ele tem uma lista
interminável de conquistas. Entretanto, seu estilo de vida cafajeste está
ameaçado pelo noivado do seu irmão gêmeo.

Caroline Evans é determinada e uma profissional impecável. Viaja o


mundo como parte da equipe do astro do pop. Produtora, ela cuida para que
tudo corra bem durante as turnês, mas Dylan, o estilo de vida dele e sua
personalidade egocêntrica, talham o seu sangue e a tiram do sério.

Com o casamento do seu irmão, Dean, Dylan sabe que sua mãe tentará
fazer o mesmo com ele, mas não quer abrir mão da vida que leva. Acha que a
melhor solução é dar a mãe o que ela quer, um noivado. A primeira mulher
que vem a sua mente é Caroline, ninguém o conhece melhor do que ela e é a
candidata perfeita para convencer sua mãe da farsa.

Será que o cafajeste vai ser livrar de um casamento ou cair na própria


armadilha?
Um canalha para a estrela (Irmãos Clark
Livro 3)

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Sinopse:

Daphne Clark é uma aclamada atriz de Hollywood que nasceu em berço de


ouro e tem tudo a um estalar de dedos: dinheiro, luxo e glamour, exceto um
grande amor. As relações a sua volta são superficiais, prezam muito mais
pelo que ela tem do que pelo que é. Imersa em um mundo onde apenas as
aparências importam, ela só viveu relacionamentos vazios. Vendo seus
irmãos casados e apaixonados, pensa que o seu dia nunca vai chegar.

Adan Watson já acreditou no amor, mas não acredita mais. O magnata,


dono de uma destilaria de uísque e um hotel de luxo, foi traído, abandonado e
fechou seu coração para sempre. Sua vida se resumiu a dinheiro e sexo. Seu
único motivo de felicidade é o filho de seis anos.

O destino fará com que a vida dos dois se cruze. A estrela vai se hospedar
no hotel do canalha para as gravações de um filme. Em meio a uma relação
explosiva, podem descobrir que são exatamente o que o outro precisa, mas
fantasmas do passado podem voltar e por tudo a prova.

Será que Daphne está pronta para brigar pelo amor de verdade ou o
deixará ir?
Meu primeiro amor é o meu chefe

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Sinopse:
Jeniffer nunca acreditou no destino, mas ele parece sempre unir ela ao
Leonardo...
Depois de tê-lo conhecido na escola quando ainda eram adolescentes, tê-lo
desprezado e visto tudo desmoronar quando finalmente confessou seus
sentimentos a ele, Jeniffer achou que nunca mais voltaria a vê-lo. Contudo, o
destino gostava de juntar os dois.

Ao começar a trabalhar em um grande projeto, Jennifer se depara com o


chefe que menos esperava: o primeiro homem que ganhou seu coração e que
não via há mais de uma década. Entretanto, muitas coisas aconteceram nesses
anos longe um do outro.

Será que ainda há amor entre eles ou já seguiram em frente?


E se... Ele fosse real?

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Sinopse:
Kalina Richter é uma aclamada escritora de romances, mas seus próprios
relacionamentos não tiveram tanto sucesso. Divorciada e com uma filha, sua
maior paixão, focou apenas nos livros, nos quais os homens podiam ser
"perfeitos". Quando um dos seus livros se torna filme, tudo pode mudar.
Jake Montagu é um herdeiro inglês que desistiu de tudo para se tornar galã
de Hollywood e vê no filme "Paixão Avassaladora" a oportunidade de se
tornar um grande astro. Está determinado a fazer desse o seu maior papel.
Com jeito de lorde inglês, cavalheirismo e charme, Kalina pode acabar se
deparando com o "homem dos seus sonhos" de carne e osso.
Possessivo & Arrogante

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Sinopse:
Atenção: Esta é uma obra de ficção imprópria para menores de 18 anos. Pode conter
gatilhos, incluindo conteúdo sexual gráfico, agressão física e linguagem imprópria. Não
leia se não se sente confortável com isso.
_______________________
"Entre a cruz e a espada." Esse ditado nunca fez tanto sentido para Vânia.

Uma mulher brilhante, uma advogada admirável, mãe de um adorável bebê, mas que não
consegue se livrar de um relacionamento abusivo com o pai da criança. Entretanto, a vida
está prestes a brincar com o seu destino.

Um caso polêmico a levará a defender o CEO Franklin Martins, um homem arrogante,


excêntrico e extremamente sexy... Suas próprias feridas farão com que ela duvide da
inocência dele, contudo, haverão provas irrefutáveis e uma atração quase explosiva. Porém,
qualquer envolvimento entre os dois pode colocar a vida de ambos em risco.
E agora... quem é o pai?

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Sinopse:
Quantas burrices você pode fazer quando tá muito triste depois que pegou
seu futuro marido transando com uma aluna dele?
Cortar o cabelo, comer uma panela de brigadeiro sozinha, torrar o limite
do cartão de crédito no shopping com as amigas... Eu fiz a maior besteira de
todas! Transei com meu melhor amigo e um tempo depois eu descobri que
estava grávida. Agora não sei se é dele ou do ex babaca.
Esse filho é meu!

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Sinopse:
Ter um filho sempre foi um sonho para mim, mas não significava que eu
precisava de um homem para isso. Decidi que teria meu bebê sozinha,
produção independente, mas eis que um cara bonito e rico cisma de sacanear
a vida de uma mulher bem-sucedida e cheia de si. Foi exatamente o que
pensei quando aquele sujeito arrogante decidiu que tinha qualquer direito
sobre o meu filho. Ele não deveria passar de um doador de esperma, mas ao
que parece, a clínica que fez a minha inseminação artificial usou uma amostra
que não deveria, e um juiz sem noção determinou uma guarda compartilhada.
Terei que conviver com ele como "pai" do meu filho, até conseguir reverter
essa situação insana.
Minha bebê coreana

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Sinopse:
Minha viagem para a Coreia não deveria passar de uma experiência
cultural e artística, mas ela mudou a minha vida inteira.

Como artista plástica, eu sempre me encantei pelas cores e formas do


oriente, mas isso não foi a única coisa que me seduziu por lá. Conheci o Kim
Ji Won, um médico gentil que evitou vários micos meus pela diferença de
cultura. Ou, pelo menos, tentou... Passamos algumas noites juntos e, como
toda viagem tem um fim, voltei para o Brasil. Só que, ao chegar aqui,
descobri que estava grávida e não contei para o pai do outro lado do mundo.
Um CEO enfeitiçado

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Sinopse:
Ela é uma mulher determinada, que tem um único objetivo: tê-lo aos seus
pés.
Marcus Werner é o CEO de uma grande empresa de games. Dono de uma
beleza sedutora e carisma ímpar, é o homem perfeito para as pretensões de
Melissa, que está disposta a fazer de tudo para tê-lo.
Trabalhando como recepcionista na empresa, nunca foi notada até que
consegue ir a uma festa e ter uma chance de ficar a sós com Marcus. A
química entre eles é intensa e evidente. Melissa estava certa de uma ligação
no dia seguinte, mas isso não aconteceu...
Chateada por tudo apontar para apenas o caso de uma noite, ela se vê
desesperada e encontra em um cartaz na rua a única solução para tê-lo aos
seus pés.
E a ligação acontece...
Leve-me à loucura

Lucas sempre foi um policial exemplar, em todas as áreas, mas ele nunca
imaginou que a sua beleza e charme um dia seriam usados como arma.
Trabalhando para a narcóticos na luta constante contra o tráfico em São
Paulo, ele receberá uma missão um tanto inusitada: se infiltrar entre os
bandidos para seduzir e conquistar a princesa do tráfico, filha de um dos
maiores líderes de facção criminosa no país.
Era simples, pegue, não se apegue e extraia as informações necessárias
para prender todos os bandidos, porém em jogos que envolvem o coração as
coisas nunca saem como esperado e Patrícia o levará à loucura.
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