Você está na página 1de 265

Página 1 de 265

Ele se chama Spider.

Eu só o conhecia como o cara pecaminosamente lindo com olhos da cor


de fogo que o destino colocou ao meu lado no avião.

Não sabia quem ele realmente era... a futura estrela do rock... o meu
meio-irmão.

Ele me beijou porque achava que nunca nos veríamos novamente. Nós
iríamos.

Todos me avisaram sobre ele.

Eles disseram que ele era implacável e ferrado.

Que ele me deixaria com um buraco no meu coração.

Talvez, eu deveria ter escutado.

Talvez, devesse ter construído uma fortaleza para mantê-lo longe.

Mas, eu me apaixonei em vez disso.

Eles dizem que um fio inquebrável liga aqueles que estão destinados a se
encontrar. Se isso for verdade, então no momento em que ele se sentou ao meu
lado, fomos unidos para sempre.

Ele só tinha que descobrir isso antes que fosse tarde demais...

Página 2 de 265
Página 3 de 265
Parte I
Muitas vezes encontra-se o seu destino na estrada que leva para
evitá-lo.

Página 4 de 265
Capítulo Um
ANTES
Rose

Um relâmpago cruza o teto do meu quarto e eu acordo com um pulo


na escuridão. A Mamãe tem tocado música alta a noite toda, mas é a
tempestade que me assusta, é um tremor de sacudir as paredes dentro de
nossa pequena casa em um bairro degradado de Dallas, no Texas.
Comumente é referido como Tin Town por causa de seus ferros-velhos,
centros de reciclagem e lotes de carros usados, é um viveiro da pobreza
e crime. Como eu sei disso se eu tenho apenas onze anos? Porque vejo
as notícias, muito obrigado. Às vezes até vejo a minha rua lá quando
alguém é baleado ou assaltado.
Os sons de gotejamento atingem meus ouvidos e vejo como uma
pequena gota escorrega pela minha parede. Uma grande rajada de vento
soprou as telhas do telhado na última primavera, fazendo com que o
vazamento no teto escorra no canto do meu quarto. Mamãe disse que ia
buscar o proprietário para consertá-lo, mas nunca o fez.
A voz profunda de um homem traz o som do "Hotel California" dos
Eagles, e meu coração mergulha.
Todos os pensamentos de voltar a dormir desaparecem.
Conheço bem essa voz. É do namorado da Mamãe o Lyle - ou um
pedaço de merda, como a avó gostava de chamá-lo.

Página 5 de 265
Ele vem de vez em quando e começa a deixar a mamãe irritada. Eles
brigam como gato e cachorro, se dilacerando com os punhos e lançando
insultos, e então, tão apressadamente, eles se reconciliam e se beijam.
De fora no corredor, parece que eles estão discutindo, e enrijeço, o
ar crepitando com uma energia estranha. Talvez seja a tempestade
batendo contra a casa ou o timbre escuro de sua voz, mas algo está fora.
Eu ouço a mamãe cacarejar como ela faz quando ela está alta, e o medo
me pica sobre mim, enviando arrepios por todo o caminho para meu
couro cabeludo.
A minha avó sempre disse que eu tinha bons instintos e que eu tinha
herdado sua capacidade de ler as pessoas, e eu confio agora.
Tempo para se esconder.
Lutando fora de minhas cobertas, corro debaixo da minha pequena
cama, empurrando a poeira para fora do caminho. Agarrada ao meu
peito há um ursinho de pelúcia A avó me deu antes de morrer.
Há uma briga na minha porta.
Sussurros.
Meu medo se acumula.
– Apenas deixe-me olhar para ela. – o ouço dizer a Mamãe. – Eu
não vou machucá-la.
– Ela está dormindo. Deixe-a em paz. – a Mamãe diz de maneira
vacilante, e imagino que ela está passando as mãos em seu peito como
faz antes de ir ao quarto.
Ela está tentando distraí-lo de mim, porque ela se preocupa comigo,
ou porque ela está com ciúmes. Eu nunca sei seus motivos; ela é uma
das poucas pessoas que não consigo ler.
– Vamos. – ele a persuadiu com uma voz provocante. – Deixe-me
ver a sua menina bonita. Eu quero ver como ela cresceu. – seu tom é
Página 6 de 265
suave, mas há escuridão lá, uma qualidade que faz com que o cabelo em
meus braços fique de pé para cima.
Eu não quero que ele venha no meu quarto.
Eu sei o que os homens como ele querem.
Eu vejo a maneira como ele olha para mim.
Ele diz que eu tenho pernas longas, o suficiente para envolver em
torno de um poste de stripper.
A avó me avisou que um dia ele também viria até mim.
A maçaneta se move.
Fuja!
Movendo-me nas mãos e joelhos, voo para fora da cama e rastejo
para a janela ao lado. Flashs irregulares de relâmpagos piscam lá fora,
enquanto abro a janela e subo no peitoril, empoleirada por meio segundo
antes de saltar. Pouso em uma poça de lama no fundo, gotas marrom
pingam nas minhas pernas nuas.
O vento me atinge, enquanto corro, em direção aos pinheiros finos
nos fundos da casa.
Olhando por cima do meu ombro, vejo uma luz, acesa no meu
quarto e ouço a Mamãe chamando o meu nome. Ouço sua voz, irritada e
dura, enquanto ela grita por mim pela janela.
Seu tom enche meu estômago de gelo.
Eu me escondo atrás de um tronco e me abaixo tremendo, enquanto
a tempestade cai me atingindo.
Eles nunca vieram até mim.

Página 7 de 265
Horas depois, pisco meus olhos, enquanto o sol aparece. Eu quero ir
para casa, mas às vezes o Lyle permanece lá por dias até que ele se
canse da Mamãe.
Na baixa luz da manhã, ando ao longo de uma trilha através do
bosque para o Quickie Mart¹ na estrada principal. A minha intenção é
clara: roubar algo para comer. Já fiz isso antes, um saco de batatas fritas
aqui, uma barra de chocolate ali.
Eu vejo o lixo oxidado verde no estacionamento dos fundos e paro,
com meus sentidos em alerta máximo, vendo como um maço de dinheiro
e um pacote marrom são trocados entre um adolescente com cabelo
branco despenteado e um traficante de drogas conhecido no bairro.
Eu não posso desviar o olhar.
O adolescente é novo para mim, ele é lindo com maçãs do rosto
proeminentes que acentuam perfeitamente o nariz reto e os lábios
carnudos. Ele usa um jeans limpo que me faz o invejar, uma blusa de
gola alta preta e com faixas no cabelo que faz o seu cabelo branco
destacar. O seu cabelo é tão brilhante e arrumado, imagino que ele gaste
mais tempo arrumando-o do que eu demoro toda a manhã quando tomo
banho e me preparo para a escola. Uma jaqueta de couro que aparenta
ser cara completa a sua roupa.
Ele parece uma estrela de cinema e, obviamente, não pertence a este
bairro.
Eu deveria pelo menos me esconder nas altas ervas daninhas, uma
vez que é um acordo de drogas, mas não me escondo, imobilizada por
como diferente ele é de alguém que já conheci, com os meus olhos

Página 8 de 265
grosseiramente presos na forma como os seus ombros encolhem sem
esforço enquanto ele fala.
O analiso como faço com todos, arquivando-o no armário da minha
mente: bonito, arrogante, rico e um problema.
Seu rosto vira diretamente para mim, seus olhos escuros que se
movem por vontade própria. Mais rápido do que o relâmpago, eu me
escondo nas ervas daninhas, com o coração acelerado.
Os minutos vão passando lentamente, enquanto me agacho na
grama encharcada pela chuva. Finalmente, ouço um carro começar a se
afastar. O alívio percorre através de mim. No ano passado, uma das
crianças da minha escola testemunhou um acordo de drogas e se gabou
disso, nos contando todos os detalhes e até os nomes. Cerca de uma
semana depois, ele simplesmente desapareceu, e ninguém soube o que
aconteceu com ele.
Eu espero, contando até cem antes de me levantar.
Quando chego a cinquenta, um par de tênis caros aparecem na
minha frente.
– Oi. Você está procurando por insetos aí embaixo? – diz o cara
bonito, com o seu sotaque estranho.
Olho para ele. – Eu não vi nada.
Ele faz aquela coisa de encolher os ombros, aquela em que os seus
olhos iriam automaticamente para o seu peito. É um bom peito, tanto
quanto posso dizer. Ele não é forte como um jogador de futebol, posso
lidar com ele se for preciso.
– Não me importo com o que você viu. Qual é o seu nome?
– Não sou ninguém importante. – digo laconicamente, desafiando-o
a me contestar.

Página 9 de 265
Seus lábios se contraem. – Prazer em conhecê-la, ninguém
importante. Quando você irá se levantar e me deixa te ver?
Eu me levanto e o enfrento.
Ele levanta a sobrancelha para minhas pernas nuas e a minha camisa
de dormir.
Puxo a barra do tecido, esperando que cubra a minha bunda. Ela
cobre... mal. Devo parecer como um rato molhado.
Ele franze os lábios, com os olhos castanhos me observando
intensamente, fazendo-me contorcer. Acho que vejo um lampejo de
compaixão no rosto. – Deixe-me adivinhar, você fugiu de casa?
Os meus lábios se apertam. Não vou falar do Jack para ele. Posso
enrolar esse garoto em dois segundos e depois correr como o vento se
for preciso.
Ele olha ao redor do estacionamento. – As coisas podem ser difíceis
em casa, garota, mas este não é um bom lugar para você. Há coisas aqui,
você sabe o que quero dizer? Uma garota poderia entrar em um grande
problema.
Eu olho para ele. Ele acha que eu sou lerda?
É claro que este lugar é perigoso.
Meu mundo inteiro é.
– Você tem um lugar para ir? Alguém que você quer que eu ligue? –
seus olhos pousaram sobre o ursinho que peguei na saída. Puxo-o mais
perto do meu peito.
– Estou com fome. – deixei escapar.
Ele suspira fundo e esfrega o rosto, com a sua expressão pensativa
enquanto ele se inclina para mim. Do bolso vem outro maço de dinheiro
como o que eu vi antes. Ele tira três notas. – Aqui. Tome isso e compre
Página 10 de 265
um pouco de comida e não o gaste em doces. Compre alguma proteína
para você. Você está magra.
Olho o dinheiro com desconfiança mesmo quando o meu punho o
segura. Nunca vi uma nota de cem dólares, muito menos três ao mesmo
tempo. Isso é o suficiente para me manter com barras de chocolate por
meses.
– O que você quer de mim? – sei o que acontece quando os homens
dão dinheiro às mulheres. Eles sempre querem algo em troca.
Ele franziu a testa novamente e coloca as mãos nos bolsos. – Nada.
Apenas pegue algo para comer, e se as coisas ficarem difíceis em casa,
chame a polícia ok?
– A polícia não é nada boa. Eles só me colocariam em outra casa, e
pode ser uma que é ainda pior. – dou a ele o meu olhar, você deve ser
um idiota.
– Fugi algumas vezes também, criança. Já estive no seu lugar.
– Sim, e daí? – encolho os ombros.
Ele ri de mim, e olho para ele, fascinada mais uma vez. Quanto mais
ele fala com esse sotaque estranho, mais quero olhar para ele. Observo o
anel de caveira no seu dedo, o redemoinho de uma tatuagem que aparece
para fora de sua gola alta. Ele parece um bad boy, mas ele não é, mesmo
que esteja no estacionamento dos fundos do Quickie Mart.
É o coração que sempre sabe, e o meu sabe disso.
– Quantos anos você tem? – deixo escapar.
Ele sorri para mim com um flash de dentes brancos. – Dezesseis.
– Eu tenho onze anos. – falo a ele com um olhar. – Você pinta o seu
cabelo dessa cor? É extremamente branco. A princípio, pensei que você
poderia ser um albino, mas seus olhos são da cor errada para isso e sua
pele não é pálida.
Página 11 de 265
Ele joga a cabeça para trás e ri... como ele se ele fosse intocável e
fosse dono do mundo.
O meu estômago ronca.
Ele fica sério. – Você precisa comer.
Eu encolho os ombros. Não ajuda que fui para a cama com fome.
– Porque você está me olhando? – pergunto depois de alguns
minutos de sua observação.
Ele balança a cabeça, como se estivesse atordoado. – Eu não sei.
Você me intriga e estou entediado.
Indico a protuberância no bolso lateral. – Você comprou as suas
drogas. O que está mantendo você em TinTown?
Ele coça a cabeça, e nós nos olhamos fixamente.
– Dê-me o seu braço. – ele diz alguns segundos depois, quando ele
se aproxima de mim.
Estremeço, é um velho hábito e dou um passo firme para longe dele.
– Não.
Ele levanta as mãos de uma forma apaziguadora, depois tira uma
caneta do bolso da jaqueta.
– Eu não vou te machucar... deixe-me dar a você o meu número no
caso de você entrar em algum grande problema, ok?
Eu aceno com a cabeça, observando-o cautelosamente enquanto ele
se aproxima mais, pegando o meu braço e escrevendo os números em
meu antebraço: 555-481-9066. – Esse é o meu número de telemóvel.
– É chamado de celular, e se alguma vez conseguir um, irei ligar
para você. – falo com frieza, tentando parecer mais velha do que sou. –
Pode demorar um pouco. Eu não sou rica, você sabe.

Página 12 de 265
Os seus lábios curvam novamente e ele balança a cabeça. – Você
me lembra de alguém.
Eu inclino a minha cabeça. – Quem?
– Ninguém importante. – ele faz uma pausa, com o seu rosto triste.
– Eu.
Eu sorrio.
– Você vai ficar bem, certo? Você vai me ligar se precisar de ajuda?
– Sim.
Ele acena com a cabeça e se afasta de mim, caminhando para trás
como se quisesse manter os seus olhos em mim o tempo todo.
Mas não é um olhar estranho e desprezível como o do Lyle, quando
ele me olha; não, é mais... como se ele não soubesse qual categoria me
colocar.
Eu entendo isso.
Eu coloco todos em uma categoria.
Tenho um faro para isso.
Lyle: ruim. Avó: boa. Mamãe: quem diabos sabe.
O Cara lindo é um dos bons.
Talvez, ele pense que sou também.
Um rubor quente colore o meu rosto.
– De onde você é? – pergunto a ele quando a distância entre nós
aumenta. Não quero que ele vá.
– Do outro lado da lagoa. – ele responde com alegria, enquanto ele
caminha em direção a um jipe preto com rodas tão brilhantes e nítidas

Página 13 de 265
que brilham como o sol. Ele me dá um último olhar e abre o carro, a
música de rap explode, enquanto ele sai do estacionamento.
Eu sinto falta dele imediatamente.
Depois de devorar um saco iscas de frango e duas barras de doces,
caminho de volta na trilha, com meus pensamentos ainda nele.
Ele me deu dinheiro e não queria nada em troca.
Quem diria que essas pessoas existem?
Venho para a fileira de árvores e a minha janela ainda está aberta,
com as cortinas se movendo ociosamente com o vento suave.
Caminhando para frente da casa, vejo que o Lyle já se foi. Abro a porta
e entro na varanda. A sala cheira como cigarros velhos e alimentos
antigos. Vejo a mesa de café tombada, o vaso quebrado e as garrafas de
cerveja espalhadas pelo chão.
Já vi isso antes.
Está tudo bem.
Ela está bem.
Encontro a Mamãe atrás do sofá, com a cabeça inclinada para um
ângulo estranho, seus olhos vazios olhando para mim, lembrando-me de
um peixe morto do mercado.
Ela está assustadora.
A minha respiração muda, chegando mais rápido.
– Mamãe? – minha mão segura o apoio do braço no sofá.
– Mamãe?
Esticando o polegar em sua direção, toco a sua mão e depois para a
sua pele fria.
Largo o meu saco de comida e grito tão alto quanto posso.
Página 14 de 265
Até que a minha garganta esteja seca.
Até que as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Até a polícia correr pela porta.
E, mais tarde, nada se encaixa até que o destino me dá uma rasteira
e me recompense no meu caminho.
Até eu vê-lo novamente...

1. Quickie Mark: nome do supermercado.

Página 15 de 265
Capítulo Dois
Seis Anos depois
spider

Essa não.
Não só minha cabeça está latejando, mas estou perdendo tempo com
uma senhora o suficiente para ser minha avó.
A segurança do portão bem vestida cruza os braços. Ela está
cansada de mim. A maioria das mulheres chegam nesse ponto,
eventualmente.
– Senhor, você não pode carregar sua guitarra. Você precisará se
restringir a isso.
– Faça uma exceção para mim? Por favor, Betty? – eu digo, olhando
para o crachá e acentuando o meu sotaque Inglês. Geralmente, meus
tons pausados me deixam fora de situações difíceis, especialmente com
a metade feminina da população, mas eu estava batendo em uma parede
de tijolos desde o momento em que caminhei até o balcão. Talvez, sejam
minhas tatuagens, a jaqueta de couro e a regata de malha - eu não grito
exatamente como um cara bom.
Os seus olhos redondos percorrem em cima de mim, demorando na
obra de arte da viúva negra no meu pescoço, e em seguida, se movem
para olhar para o meu cabelo. Eu o toco conscientemente. É azul cobalto
neste mês, puxado para trás em um estilo pompadour² com os lados
raspados próximo do meu couro cabeludo. Na próxima semana, estarei
pintando de branco. Não importa a cor, as meninas ficam loucas por ele.

Página 16 de 265
Não a Betty.
– Sinto muito, mas você já tem uma bagagem de mão e um item
pessoal. Isso é tudo o que é permitido no avião. Essas são as regras, e
elas estão claramente escritas. – ela aponta para uma placa na parede ao
meu lado que explica as regras para voar com a Delta. É a segunda vez
que ela apontou-as para mim, e o idiota teimoso que eu sou, me recuso a
olhar.
– Mas ela é meu verdadeiro amor. – levemente explico o caso.
– Isso é uma guitarra. – ela me diz secamente.
Levanto o estojo em cima do balcão e abro os fechos de metal,
dando a ela uma visão do instrumento amarelo e azul. – Ela é uma
Gibson Les Paul é arrojada para caramba, mas leve, ao mesmo tempo.
Ela é feita a partir de carvalho com incrustações de jacarandá o melhor
que o dinheiro pode comprar, no valor de mais de cinco mil. Paguei por
este bebê sozinho. Meu querido pai nem sequer me ajudou. – aponto
para uma faixa horizontal pequena no final do revestimento no braço da
guitarra. – Vê isso aqui? Essa é a porca do baixo e ela controla a posição
da corda. Ela é feita de um osso verdadeiro. Não sei que tipo de osso é,
mas gosto de pensar que é de um leão ou um tigre. Claro, eles não foram
mortos para fazer a guitarra, mas seus ossos foram doados depois que
eles morreram em alguma majestosa batalha na natureza. Oportuno, não
é? – sorrio.
Vamos, Betty, deixe-nos entrar no avião, os meus olhos imploram.
Mas, a Betty me ignora, as sobrancelhas grisalhas grossas baixaram
em uma carranca por trás dos minúsculos óculos de leitura. Seus lábios
finos se fecham, enquanto olha para baixo, para a bela obra de arte. –
Por favor, tire esse item da minha mesa, senhor.
Eu me inclino sobre o balcão, arregalando os meus olhos, dando-lhe
o efeito Spider completo, ou em outras palavras: meus deslumbrantes

Página 17 de 265
olhos com longos cílios pretos. As pessoas me dizem que é um olhar que
é devastador para os órgãos reprodutivos femininos, e eu me pergunto se
ela tem essa anatomia funcionando, porque ela não parece perturbada
pelo o meu fascínio, mesmo quando mordo o meu lábio. – Helene e eu -
esse é o nome dela, Helene - estamos juntos desde que eu tinha quatorze
anos.
– Isso é legal. – ela já está olhando por cima do meu ombro para a
pessoa atrás de mim.
Eu continuo, mentindo através dos meus dentes. – Minha namorada
me largou, enquanto eu estava aqui em Nova York. – a verdade é que
não é difícil fingir sentimento com uma ressaca enorme. – Ela sempre
teve um problema com traição. Uma vez foi com meu primo que ela
dormiu - fale sobre algumas reuniões estranhas da família depois disso.
– suspiro. – Viemos aqui para... você sabe, para conhecer as coisas, e
então, ela o conheceu.
– Olhe, Sr...
– Por favor, me chame de Spider.
As sobrancelhas dela levantaram e seus olhos saltaram para a
tatuagem da viúva negra no meu pescoço. – Hum, Sr. Spider, eu sinto
muito pela sua namorada. Ela parece horrível, mas...
– Você já foi traída, Betty?
Ela balança a cabeça, embora, com um pouco de má vontade.
Eu aceno minhas mãos para ela. – Você sabe, então - da decepção.
Deus, a maneira que ela me tocou.
– Foi seu primo de novo?
Eu aceno com a cabeça, esfregando meus olhos com um guardanapo
que eu coloquei no bolso ontem a noite no clube. Olho para a Betty,

Página 18 de 265
vendo como ela se move trocando os pés, os seus olhos me avaliam,
procurando por sinceridade.
– Meu cachorro também morreu na semana passada. – joguei como
um último esforço, chamando a atenção dela para mim.
A coisa é, que estou indo ver o meu pai, e apenas o pensamento de
vê-lo me faz querer vomitar. Ele verá como estou e saber a verdade.
Eu preciso de ajuda.
Mas, também... foda-se.
– Qual era a raça do cachorro? – Betty pergunta, me surpreendendo.
Qual era a raça do cachorro?
Merda. Eu paraliso, incapaz de tirar uma raça de cachorro do nada.
Pense em um cachorro! Não é tão difícil. Como aquele collie³ colorido
que teve seu próprio programa nos anos setenta? Ah, minha cabeça.
Deus, as ressacas me consomem.
– Diga Yorkie. – uma voz feminina sussurra no meu ouvido por
detrás, o impulso das suas palavras causam arrepios que deslizam para
baixo da minha coluna, enquanto ela respira no meu pescoço. – Eles são
fofos e pequenos. Ela vai gostar deles. Além disso, eu realmente aprecio
se você sair do meu caminho para que eu possa pegar o meu avião. Você
está segurando essa fila para sempre. Isso é rude.
O calor da menina me deixa quando ela dá um passo para trás.
Sinto-me sumariamente abandonado.
– Collie³. – digo a uma Betty em espera. – Como em Lassie, o
programa de TV.
– Também gosto dos Yorkies. – Betty murmura, enquanto ela tecla
no computador.
– Eu te disse. – resmunga a voz da menina atrás de mim.
Página 19 de 265
A ignoro e coloco o nosso CD mais recente na mesa, autografando-
o rapidamente com um marcador permanente da minha mochila. –
Algum dia vou ser famoso, e esse é meu presente para você e não vou te
dar isso, por você cuidar da Helene... isso é porque você é uma bela
mulher, Betty, e toda mulher bonita merece um pouco de surpresas em
seu dia. – meus lábios ampliam em um sorriso. – Mas, se você puder
encontrar uma maneira de colocar a minha guitarra no avião, bem, isso
seria apenas a cereja do bolo. Talvez, eu escreva uma canção sobre você
- Betty soa bem para isso.
E eis que uma covinha aparece em cada uma das suas bochechas,
enquanto ela pega o CD e me dá um olhar mais caloroso. – Nós temos
um lugar na primeira classe que geralmente reservamos para os casacos
e afins. Talvez, haja espaço lá. Deixe-me verificar.
Então, dois segundos depois ela chama alguém, para verificar se
eles têm um lugar para a minha guitarra.
Eu sinto a vitória.
Algo suave me cutuca na parte de trás.
– O que... – eu me viro e vejo um travesseiro grande que está
atualmente segurado pela garota que sussurrou em meu ouvido. Movo
meus olhos para cima e me concentrei nela.
Lábios vermelhos como rubi.
Um vestido preto justo.
E um par de Converses cano alto vermelhos.
Porra. Eu mordo o meu lábio - e desta vez, isso não é falso.
A garota do travesseiro checa todas as minhas caixas.
Eu meio que esperava alguma velha com uma roupa de freira, mas
ela não parece velha, talvez próximo da minha própria idade de vinte e
dois anos. Ela é linda de uma forma que faz com que os caras - e as
Página 20 de 265
meninas - olhem para ela duas vezes – talvez, três vezes, mas vejo
mulheres lindas o tempo todo na estrada.
Seus olhos arregalados me olham fixamente, pousando na minha
tatuagem, e depois caindo para observar os meus ombros, quadris e
pernas. Sorrio amplamente porque sei que pareço apertado. O meu rosto
é quase perfeito, meus ombros são musculosos e as minhas longas
pernas parecerem muito boas em um jeans.
– Sinto muito, eu acertei você. – ela diz com um levantar de sua
sobrancelha.
De alguma forma, eu não acho que ela sente muito. Acho que ela
estava tentando chamar a minha atenção.
Sorrio. – Já pensou tentar um travesseiro de pescoço ao invés dessa
coisa gigante? – apontei com a cabeça para o seu grande e fofo
acessório. – Eles são pequenos e para viajar é bem melhor. Você pode
até comprar um no aeroporto.
Seus lábios carnudos, perfeitos e fodidos, se fecham. – Eu gosto do
meu travesseiro.
Faço uma pausa, enquanto uma sensação de déjà vu passa por mim.
Há algo sobre o rosto dela...
Inclino a minha cabeça. – Eu te conheço?
Ela balança a cabeça, mas ela não parece certa.
Eu olho para ela com os olhos entreabertos. – Você tem certeza de
que não nos conhecemos antes?
– Nós não nos conhecemos. – ela me diz secamente. – Vi sua banda
em Greenwich Village ontem a noite.
Ah, aquele bar ao lado da Universidade de Nova York. Tinha sido
um show lotado, e não saí de lá até as três da manhã.

Página 21 de 265
Eu aceno com a cabeça. – Que vergonha. Não me lembro de você.
Ela encolhe os ombros. – Não estou surpresa. Você estava coberto
de garotas.
– Nós podemos nos conhecer um ao outro no avião? – pergunto a
ela, levantando uma sobrancelha em sua direção.
Ela pisca para mim como se a perturbasse, e isso me faz sorrir.
– Você não é meu tipo.
– É uma pena. – murmuro. – Você é o meu.
Os seus olhos se arregalam.
Betty desliga o telefone. – Boas notícias! Você pode levar a sua
guitarra. Há uma comissária a bordo chamada Heidi que estará
procurando por você.
Finalmente.
Eu sorrio amplamente quando a Betty examina a minha passagem,
dou um sorriso sarcástico para a garota e saio para embarcar no avião,
com os meus pensamentos em ver o meu pai pela primeira vez em seis
meses. Ele me chamou para sua casa em Highland Park, fora de Dallas,
onde ele está começando uma nova vida. Ele quer que eu conheça a sua
nova esposa onde podemos fingir ser uma grande família feliz.
Tanto faz.
Se eu quiser o seu dinheiro, tenho que jogar de acordo com suas
regras.

Página 22 de 265
Eu desço pela a escada de desembarque e paro na entrada do avião,
onde uma comissária de bordo está cumprimentando os passageiros.
– Heidi? – digo, enquanto os meus lábios se curvam para a ruiva
curvilínea com a típica saia azul marinho e saltos.
Ela sorri também, me observando. – Você deve ser o dono da
guitarra.
– Sim.
Ela ri. – Ótimo. Só guardarei isso no armário de casacos na primeira
classe para você. Você pode pegá-la quando aterrizarmos. – seu sorriso
se amplia. – Adoro seu sotaque. Você tem uma banda?
Eu aceno com a cabeça. – Sim. O Vital Rejects. Já ouviu falar de
nós?
Ela me dá um olhar vazio.
– Sim, não somos ninguém... no momento.
Ela joga uma mecha de cabelo sobre o ombro dela. – Eu vou ter
certeza de te verificar muitas vezes. – ela me diz, com os seus lábios se
curvando. – Se você precisa de um cobertor ou um travesseiro...
– Santo Deus, você nunca para de flertar? Por favor, somente entre.
Você está bloqueando o caminho para todos. – diz uma voz irritada atrás
de mim.
A garota do travesseiro.
Caramba, ela está em toda parte.
Eu a observo com divertimento, enquanto ela passa por mim, com a
sua bunda se esfregando em minha virilha quando ela bufa e continua a
andar pelo corredor.

Página 23 de 265
Sua bunda em forma de coração balança de um lado para o outro em
seu vestido preto. Ela tem que ter, no mínimo, 1,80m e sem contar com
os saltos. As suas pernas são bronzeadas, macias e longas...
Alguém esbarra em mim, enquanto a vejo, então, dou mais espaço
aos passageiros que entram no avião.
– Você gostaria de conhecer o piloto? – Heidi me pergunta com o
seu sorriso contagiante.
– A Delta é a minha companhia aérea preferida. – digo.
Ela ri e me apresenta ao piloto, eu acabei dando a ambos uma cópia
do nosso CD e uma rápida conversa sobre a nossa música. Eu autografo
os dois, e antes que perceba, que outras duas comissárias de bordo estão
se aglomerando na área do cockpit, insistindo por uma cópia.
Eu sorrio para elas, eu costumava chamar a atenção.
Uma das meninas maliciosamente enfia seu cartão de visita no bolso
de trás da minha calça jeans, enquanto ela dá um tapinha na minha
bunda.
Eu sorri para ela e movo minhas sobrancelhas.
Ela e Heidi trocam algumas palavras sussurradas, e é óbvio que ela
está avisando a outra garota que eu já fui reivindicado.
Eu ri.
O Sebastian Tate, o nosso vocalista e o meu melhor amigo desde os
meus tempos de escola preparatória em Highland Park, brinca que eu
tenho um jeito de atrair as pessoas. A sua teoria é que é o sotaque, mas
principalmente é por me divertir como se o mundo estivesse acabando.
Eu sou o amigo que todos querem. Inferno, sou o cara que se convida
para uma cerveja (e paga por ela) e depois volta com uma caixa de
tequila e um carro com mulheres bonitas.
Viva rápido e não colecione nenhum coração, é o meu mantra.
Página 24 de 265
Eu sou destemido.
Afinal de contas, não tenho nada a perder na vida, não quando eu já
perdi tudo.
Afastei esses pensamentos sombrios culpando-os na minha cabeça
latejante. Maldita ressaca. Eu só preciso de uma porção de felicidade
pura para me colocar sobre a borda.
Depois de beijar as comissárias na bochecha, vou para o meu lugar e
vejo que o meu colega de assento já chegou - e adivinhe quem é?
Ela ainda está tão sexy quanto antes.
Eu paro e olho para ela, ficando surpreso quando dou uma olhada no
que vejo em seu Kindle: 100 regras infalíveis para fazer um homem
cair de amor por você.
Eu sorrio.
A menina está tentando ter um cara?
Oh sim.
Este voo não será tão longo como eu esperava depois de tudo.
Você conhece o velho ditado de transformar limões em limonada?
A garota do travesseiro é o meu limão e vou transformá-la em uma
bebida mais doce de todos os tempos.

2. Pompadour: um corte do cabelo, como o do modelo da capa.


3. Collie: raça de cachorro.

Página 25 de 265
Capítulo Três
Rose

Ando pelo corredor do avião e olho do lugar da janela que fui


designada. Três, talvez quatro metros me separam da morte.
Sim, eu sou forte, mas voar me deixa louca de medo.
Aviões são basicamente apenas caixões que estão viajando um
milhão de milhas por hora. Misture com uma pequena tempestade –
como essa atualmente que está em torno de nós – e fico um caso
perdido. Gotas de suor escorrem na minha testa, enquanto penso no meu
corpo mutilado no chão em meio a destroços em chamas.
Minhas mãos tremem quando abro a minha mochila, tirando minha
cópia de bolso de Jane Eyre4, no meu Kindle, você não pode ter muitos
livros e um suéter. Estou congelando neste avião, e não tenho certeza se
é de nervos ou se está realmente frio. Nervos, decido enquanto examino
furtivamente os outros passageiros que parecem quentes e confortáveis.
Tremendo, movo no meu assento e tento ler o livro ridículo que a
minha prima Marge baixou no meu Kindle. Uma nova-iorquina de mais
de vinte anos, eu fiquei com ela enquanto visitava a Universidade de
Nova York nas férias da primavera na escola preparatória. Tivemos
alguns momentos de conversa no final da noite, e quando mencionei que
meu crush Trenton estava de vota ao Highland Park, ela fez sua missão
me carregar com livros de auto-ajuda e conselhos sobre como conseguir
o homem dos meus sonhos.
É uma idéia idiota, e eu sei disso.

Página 26 de 265
Mas é difícil dizer a Marge não.
Esquecendo o livro, inclino minha cabeça para trás contra o apoio
de cabeça no assento. Estou cansada da minha noite com ela, apesar de
me sentar no canto nos fundos do bar e acabamos o assistindo toda a
noite. Fiquei nervosa já que tenho apenas dezessete anos e usei uma
identificação falsa, que a Marge me deu. Vou ter dezoito em setembro,
cerca de cinco meses a partir de agora.
Meus pensamentos voltam para o cara sexy do portão.
Desde o momento em que o vi pela última vez ontem à noite, algo
sobre ele apenas... chamou por mim.
Era como se eu o conhecesse, mas não conhecia.
Meus olhos seguiram-lhe a noite inteira, a maneira como ele cruzou
o palco como se ele não tivesse medo, a forma como seu corpo magro e
musculoso se movia, movendo-se com o ritmo de sua musculatura e
sugestiva música. Com uma desculpa para Marge que eu tinha que ir ao
banheiro, eu mesmo o segui durante o intervalo onde observei da porta
quando ele fumou um cigarro, inclinando a cabeça contra o tijolo do
prédio enquanto ele soprava a fumaça no ar. Ele não me notou... claro.
Havia muitas garotas ao seu redor disputando por sua atenção. Em
poucas palavras, ele estava fora dos meus limites.
Esqueça sobre ele.
Certo.
O que eu deveria estar fazendo é concentrar-se em convencer minha
mãe adotiva Anne a deixar-me comparecer à NYU neste outono.
Como se ela soubesse que eu estava pensando nela, o meu celular
vibrou com uma mensagem de texto dela.

Marge se comportou? Na infância, ela era bastante selvagem.


Página 27 de 265
De Anne, isso realmente significa que ela acha que a Marge é uma
vagabunda. Fiquei realmente surpresa quando ela concordou em me
deixar visitar a Marge, e atribuo o seu consentimento a sua recente
gravidez surpresa e ao posterior casamento precipitado. Está certo.
Minha mãe adotiva tímida, de quarenta e cinco anos de idade, teve uma
noite e engravidou.
Dou uma resposta. Ela está ótima. Foi muito hospitaleira. Seu
apartamento é perto de NYU.
Sua resposta é rápida e veloz, e imagino seus dedos digitando as
palavras furiosamente. Ela odeia qualquer menção de NYU e toda vez
que eu vou chegar lá, ela me encerra.

Sei que NYU parece emocionante, mas a Universidade de Winston


é menor e aqui na cidade. Além disso, você foi aceita. É muito tarde
para se candidatar a NYU. Apenas mais algumas semanas e você vai
se formar no ensino médio.
Amor Anne.

Somente Anne escreve mensagens de textos como se fosse um


termo, com frases completas e pontuação correta.
Suspiro, meus dedos ficam vagarosamente na superfície do meu
celular. Não quero me candidatar na Winston. É exclusiva e localizada a
apenas dez minutos da Highland Park, é como a escola de preparação
que atualmente frequento, apenas com estudantes mais velhos. É
também onde a Anne foi à faculdade. Quero dizer, agradeço que ela me
dê uma educação, mas gostaria de ter uma palavra a dizer sobre o
assunto.

Página 28 de 265
Ela tem a impressão de que esta viagem foi apenas uma visita rápida
para ver sua prima e aproveitar as férias de primavera. Ela não sabe que
eu secretamente já me candidatei na NYU há meses e recentemente
recebi a carta de aceitação. Eu só tenho que conversar com ela.
Uma conhecida filantropa de Dallas, que conhecia a Anne depois de
dois anos de ter embarcado no sistema de acolhimento. Naquele dia, ela
se sentou comigo no escritório do Departamento de Serviços Humanos e
ficou maravilhada com a cor do meu cabelo (uma mistura de castanho e
avermelhado) e elogiou a minha pele perfeita. A li imediatamente, ela
era uma senhora rica que procurava um acessório, e a usei para a minha
vantagem, contando-lhe sobre os meus resultados de testes acima da
média e o meu sonho de obter um doutorado em psicologia algum dia.
Funcionou, e uma vez que ela me levou e me adotou, me deram uma
transformação completa: um novo corte de cabelo em camadas com um
tutorial como de estilo, roupas conservadoras e um curso sobre maneiras
e etiqueta. Quer saber onde o copo de água deve estar em um local?
Basta me pedir... a aproximadamente um centímetro da ponta da faca do
jantar. Ela me moldou na idéia de como uma garota perfeita deveria ser.
Suspiro, enquanto a culpa se instala em ir ao bar em Nova York...
por ter querido frequentar a NYU. Ela me deu muito, e não gostaria de
me afastar dela, mas não consigo respirar no Highland Park. Com
residentes famosos como ex-presidentes, celebridades da música country
e figurões do Texas, simplesmente não pertenço ao subúrbio rico.
Antes de termos de ligar nossos celulares no modo avião, aparece
outra mensagem de texto, desta vez do Trenton.
As borboletas ficam loucas no meu estômago, enquanto a leio.

O baile de primavera dos veteranos está chegando. Quer ir?

Página 29 de 265
O baile de primavera dos veteranos é uma festa notoriamente
secreta patrocinada pelos estudantes populares em Claremont Prep e
realizou o primeiro fim de semana em maio, geralmente em um destino
que só foi revelado no último momento possível. Se você não receber o
convite, você é um ninguém, o que eu sou. Realmente não me importo
em ir, mas o Trenton é popular e atraente, e eu seria louca para dizer a
ele que não.

Sim, respondo então rapidamente bloqueio meu celular, antes de


dizer qualquer outra coisa, é uma coisa de amigo ou uma coisa de
encontro?
Ele e eu estamos flertando um com o outro por um tempo...
Tanto faz. Posso descobrir tudo isso mais tarde.
Olhando para cima do meu assento, vejo o Spider - sim, eu soube o
seu nome no bar na noite passada – o perseguindo como um deus grego.
Usando jeans pretos caros com buracos nos joelhos, botas de motoqueiro
e uma jaqueta de couro cinza, ele tem uma grande vibração de garotos
malvados por todo ele.
Completamente perigoso.
Completamente o maior pegador.
Não vou mentir, ele tem o tipo de rosto que rouba a respiração e
para você nos seus limites. Apenas olhar para ele de frente fez-me corar.
Ele não é classicamente bonito como o Trenton, com o queixo quadrado
e os ombros atléticos. Em vez disso, ele pega a minha atenção com suas
bochechas ocas, os ângulos definidos ao longo de sua mandíbula e os
espessos cílios pretos que cercam seus olhos.
Ele para ao lado do meu assento e estica os seus antebraços
musculosos no compartimento de bagagens. Ele é magro, mas ainda

Página 30 de 265
assim é tonificado com músculos bem definidos, com a altura de pelo
menos de 1,82m. Minha respiração vacila, quando o seu olhar encontra o
meu. Ele olha para mim e eu não desvio. Calorosos e cor de mel, seus
olhos são piscinas de luz solar brilhando através do whisky. Poderia
ficar bêbada nessas piscinas.
Oh... Espere. Eu pisco.
Ele ficará sentado aqui? Comigo?
Doce menino Jesus. Eu já era.
Fique forte, Rose.
Eu coloco o meu Kindle no assento.
Ele sorri, seus olhos me percorrem e eu faço uma careta, percebendo
que ele provavelmente viu o que eu estava lendo.
– Ótimo. – diz ele. – Me sentarei ao lado da Garota do travesseiro.
Ignorando o apelido, encolho os ombros. – E eu me vejo sentar com
o cara que mente para senhoras sobre sua namorada traindo ele - e não
podemos esquecer o pobre collie morto que você perdeu recentemente.
E enxugando seus olhos com esse guardanapo - excelente lance.
Não sei por que estou tão irritada com ele.
Sim, você está.
Eu suspiro. Ok, eu sei. Realmente queria que ele se lembrasse de
mim no bar. Queria que ele estivesse tão fascinado por mim quanto
estava por ele. Na noite passada depois do show, eu até sonhei com ele e
esta manhã, quando acordei, ele foi a primeira coisa em minha mente.
Estranho.
O que havia nele que me afetou? Eu não sei.
Seus lábios se contraem. – Quase coloquei tudo isso a perder. Não
estou exatamente no meu melhor jogo hoje.
Página 31 de 265
– Aposto que você nunca teve um cachorro. – eu sorrio, suavizando
as palavras enquanto observo seu perfil, contornando as curvas de um
rosto que é perfeitamente devastador. É difícil ficar irritada com alguém
tão lindo.
Ele riu enquanto ele se acalma no espaço e se senta. – Eu tive, um
enorme mastiff chamado Noodles. Minha irmã e eu costumávamos
montá-lo como um pônei, e ele amava cada minuto disso. – Ele coloca o
cinto de segurança e me vejo observando seus longos dedos, percebendo
o quanto elegante eles são. Lembro-me de como esses próprios dedos
tocavam em sua guitarra na noite anterior. Não posso deixar de imaginá-
los na minha pele enquanto o calor se instala em tudo abaixo do meu
umbigo.
Se controle, Rose. Ele é muito velho para você.
– Eu não tenho certeza de que posso confiar em uma coisa que você
diz depois das mentiras que você disse a Betty. – digo.
Ele encolhe os ombros. – É uma história verdadeira. A parte triste é
que o meu pai o vendeu junto com nossa propriedade quando nos
mudamos para os EUA. Muitas vezes me pergunto o que aconteceu com
o grande brutamontes.
Propriedade? Ele deve ser rico.
– O que o levou ao EUA? Música? – estou curiosa sobre o que faz o
carrapato.
Algo aparece sob a expressão controlada de indiferença que ele usa,
e o olho intensamente, tentando pegar a mudança minúscula em suas
emoções. Ele solta um suspiro enquanto seus dedos tocam nervosamente
nas coxas. – Meu pai queria sair de Londres, como um novo começo
para nós.
Interessante. Estou com muita ansiedade em perguntar a ele por que
o novo começo, mas o senso comum me diz que é muito pessoal.
Página 32 de 265
– Noodles é um nome bonito. Deve haver uma história aí?
Um rápido sorriso fantasmas apareceu em seu rosto. – Quando ele
era filhote, ele nunca implorou por sobras. O meu pai o treinou em uma
escola de cachorros, então ele sabia como se comportar, mas se o
cozinheiro servisse um molho bolonhesa com espaguete - todas as
apostas eram deixadas para lá. Nenhuma repreensão ou choque em sua
coleira fazia-o parar de latir até que você colocasse um pouco em sua
tigela. – ele joga a cabeça para trás e ri. – Então, trocamos o seu nome
para Noodles. Muito melhor do que Bertram, eu estou certo? – seu olhar
desliza para mim, com diversão, transformando as curvas firmes de seu
rosto.
Ninguém tem o direito de ser tão assustador.
Eu engulo, sentindo todos os dezessete anos e completamente fora
do meu elemento. – Sim. Totalmente.
O meu vocabulário geralmente adepto está tristemente ausente.
– Você tem animais de estimação? – ele pergunta enquanto seus
olhos permanecem no meu rosto. – Aposto que você é uma pessoa de
gatos.
– Por que você diria isso?
Ele sorri. – Você é um pouco rabugenta... como uma gata com
atitude.
Ah. A maneira como ele diz a palavra gata, como se ele gostasse,
me faz sentir... inquieta. – Adoro todos os animais, mas moro no campus
no momento. – os dormitórios dos alunos são uma coisa recente para
mim desde que a Anne se casou e depois rapidamente pegou uma lua de
mel de um mês. Eu insisti que estaria bem em sua casa em Highland
Park até que eles retornassem, mas ela foi inflexível que eu me mudasse
para o dormitório da escola, onde havia alguma supervisão. Como a

Página 33 de 265
Anne está no conselho da escola, a administração concordou em me
deixar entrar até a formatura.
– Ah, uma faculdade.
Eu minto - ou pelo menos, não o corrijo. Aceno com a cabeça e
tusso enquanto mudo de assunto. – Sua banda foi incrível ontem à noite.
– Obrigado. Qual música foi sua favorita?
Amei toda a música deles, mas algumas se destacaram,
especialmente uma balada lenta chamada "Albatross", onde o Spider
cantou e tocou a guitarra. – Aquela sobre o cara perdido no mar e
sozinho. – paro, me sentindo consciente enquanto penso sobre o tema
subjacente da música e como eu me relacionava com ela. – Foi uma
gravação do poema The Rime of the Ancient Mariner, certo?
Ele concorda com a cabeça, parecendo pensativo enquanto ele bate
a cabeça e me observa. – Nem todos conseguem isso.
Encolho os ombros. – Adoro literatura e música. A música... Trata-
se de carregar seus fardos em seu pescoço? Você escreveu isso?
Ele pisca para mim. – Sim, ambos. Você é muito inteligente. – ele
fica quieto, e posso dizer que toquei em um nervo. Está claro que ele não
quer ser muito profundo.
Ele pigarreia. – Olha, desculpe por ter prendido a fila mais cedo...
com a Betty e a comissária de bordo.
Eu encolho os ombros. – Me desculpe por ser tão mal-humorada. O
voo me deixa estranha.
– Então, podemos começar de novo?
Aceno com a cabeça, já que ele se sentou, e ele sorriu, com uma
expressão séria crescendo em seu rosto. – Desde que estamos falando de
música, o que você achou do meu solo de guitarra na música

Página 34 de 265
"Superhero"? Você gostou do casaco de vison? Por sinal, era, falso. Eu
nunca usaria uma pele real.
Fico corada, lembrando dos flashes de seu pau bem dotado em uma
cueca estampada de leopardo enquanto ele se exibia no casaco longo de
peles, uma roupa que ele colocava apenas para aquela música. Somente
alguém com enorme quantidade de confiança poderia usar isso em
conjunto. – Se seu objetivo era que as mulheres jogassem suas calcinhas
em você - funcionou.
Ele sorri timidamente. – Sou difícil de resistir, mas você nunca sabe.
Gostaria de obter opiniões sérias.
Eu reviro meus olhos no seu comentário difícil de resistir, e ele ri.
Ele tira sua jaqueta e estica as suas longas pernas, e o seu perfume
flui na minha direção, cedro misturado com o cheiro de couro. Isso me
deixa um pouco vertiginosa.
Estamos nos sentindo incrivelmente perto e, embora eu saiba que
não deveria, estou olhando para ele. Ele é tão diferente com as tatuagens
e os cabelos azuis. Meus olhos continuam olhando furtivamente sobre
ele e tomando notas mentais. Eu observo a palavra PERDIDO tatuada
em seus dedos esquerdos.
– Você tem um nome? – ele pergunta alguns instantes depois,
quando ele se depara com o encosto de cabeça.
– Primrose, mas todos me chamam de Rose.
– Legal. Eu gosto de Rose... antiquado, mas bonito. – ele sorri e isso
me atinge diretamente no coração... diabólico, encantador e desarmante
ao mesmo tempo. Seus olhos se deslizaram preguiçosamente sobre meu
rosto, seu olhar pousando na minha boca e não se movendo.
Meu coração acelera em uma batida, e eu engulo.

Página 35 de 265
Fato: se os homens olharem para sua boca, eles querem beijar você
- ou você tem dentes realmente ruins.
Graças a Anne, os meus são perfeitamente retos.
Mas antes que eu possa formular uma resposta a seu comentário,
tudo dentro de mim se congela quando o avião começa taxiar pela pista
de pouso.

4. Jane Eyre é um romance da escritora britânica Charlotte Brontë


publicado em 1847.

Página 36 de 265
Capítulo Quatro
spider

Nós taxiamos pela pista de aterrissagem e levantamos voo, a pressão


fazendo as orelhas aparecerem. Olho para a Rose e vejo que ela está
agarrando os lados de seu assento, seu rosto pálido com a elevação em
altitude.
– Você está bem? – pergunto suavemente, franzindo a testa com a
perda de cor nas suas bochechas.
Ela arrepiada todo o corpo, com a garganta em movimento enquanto
engole. – Odeio voar e as tempestades. Além disso, o assento da janela
me deixa com raiva.
Porra. Se eu soubesse, eu teria mudado com ela mais cedo. – Você
pode ter o meu assento uma vez que nos estabilizamos.
Ela balança a cabeça. – Tudo bem, estou bem agora... apenas está
muito frio.
Odeio que ela esteja com frio. Uma vez que chegamos à altitude de
cruzeiro e podemos tirar nossos cintos de segurança, sinalizo para a
comissária de bordo próxima para nos trazer um cobertor.
Heidi traz o cobertor e entrego a Rose.
– Obrigada. – ela aceita e nossas mãos se tocam.
– Aquela comissária de bordo gosta de você. – ela diz, seus olhos
observam enquanto a Heidi se afasta. – Ela não tirou os olhos de você
desde que você embarcou.

Página 37 de 265
– Ela não é a única que eu quero que goste de mim. – murmuro. É
bastante abrupto e direto ao ponto, mas sempre digo o que quero dizer.
Por que perder tempo? Eu quero a Rose.
Eu a observo para avaliar a sua reação.
– Ah. – um rubor ergue o rosto quando ela se ocupa, tentando fazer
o cobertor curto cobrir as suas pernas e a área do peito. Vejo
imediatamente que não vai funcionar.
– Aqui, tenho uma idéia. – levanto do meu assento, retiro a minha
jaqueta e a arrumei sobre o seu torso. Inclino-me sobre ela para ajustá-la,
coloquei-a em seu ombro, enquanto a cubro.
Ela sorri suavemente e me agradece, fazendo-me corar, o que é tão
estranho.
Pigarreio. – Tenho que avisá-la, embora que... Esta é a minha
jaqueta favorita. As garotas geralmente não conseguem usá-la, então,
você é muito especial. Sem babar se você adormecer, ok?
Ela morde o lábio inferior, o que não consigo parar de olhar. – Se eu
não babar significa que posso ficar com ela?
– Depende.
– O que? – ela diz, e sua voz baixou.
– O que você está disposta a fazer para obtê-la.
Outro silêncio preenche o ar entre nós quando nos encaramos, mas
não é estranho ou desconfortável. É quente e elétrico.
Ela quebra a tensão rindo. – Não faço nada que eu não queira, então,
acho que você pode ficar com ela.
Eu ri.
Droga. Ela não vai facilitar isso para mim.

Página 38 de 265
Sentindo-se um pouco nervoso por ela, olhei para o Kindle que ela
colocou no assento. Com todas as nossas conversas anteriores e o seu
medo de voar, quase o esqueci. Aceno a minha cabeça para seu Kindle e
pigarreio. – Eu vi o que você estava lendo. Se você quer aprender como
fazer um homem se apaixonar por você, posso dar alguns conselhos.
Ela bate a cabeça. – Sério? Espero que não me envolva usando
biquínis de estampa de leopardo e casaco de vison.
– Touché.
Ela sorri, parecendo satisfeita, e isso me faz querer beijá-la.
– Quem é o cara pelo qual você está lendo isso?
Ela fica rígida. – Não há cara.
– Hum. Sempre há um cara.
Ela suspira. – Ok, talvez haja um cara, mas a minha prima Marge
realmente comprou esse livro.
– Este cara, ele não está em você?
– Ele está com muitas garotas, a maioria popular - e eu não sou.
Rose merece um bom cara. Eu não sei como sei disso, mas
simplesmente sei. – Talvez, você devesse jogar duro para conseguir.
– Eu não jogo jogos.
– Ah, uma garota com o meu próprio coração. – observo a sua pele
impecável, assumindo a forma quando os seus cílios movem contra suas
bochechas. Seu longo cabelo está torcido em algum tipo de nó com
cordões ondulados pendurados em seu rosto, e imagino como ela
pareceria com ele caindo sobre seus ombros, acariciando os seus seios
nus...

Página 39 de 265
Ela arruma o seu cobertor e o seu cheiro me atinge, mel e baunilha
misturado. É intoxicante, e eu rio com um estranho nervosismo, lutando
contra o desejo de pressionar o nariz no seu pescoço e inalar.
Isso é estranho, Spider.
Pigarreio. – Se eu quiser alguma coisa, vou atrás. Talvez, você
devesse se concentrar em outra pessoa. Como eu, o Sr. Próximo a você
no avião que quer fodê-la.
Ela encolhe os ombros. – Talvez. Ele é sexy.
A ira explode no meu estômago. Estou com ciúmes. Como... um
estúpido.
– Ele é tão sexy como eu? – levantei o meu braço, mostrando o meu
bíceps para ela.
Ela meio que bufou. – Você é encantador, eu vou te dar isso. Não é
de admirar que a pobre Betty tenha se apaixonado por ele.
– Sério ainda... Ele é? – quero saber - eu preciso saber.
Ela olha para mim, vendo que estou falando sério. Seu olhar
permanece nas minhas tatuagens. – Ele é... diferente de você, mais
conservador. – ela acena as mãos. – Ele pratica esportes. Você toca
guitarra.
– Ah. – pelo menos agora sei como é o tipo.
– O livro está funcionando para você? – pergunto.
– Não tentei.
– Então, pratique em mim. Use algumas dessas aventuras do livro.
Deixe-me ser sua cobaia, e eu vou te dizer se você for mau.
Os olhos dela se arregalam. Você conhece essa cor verde que o
oceano tem depois que uma tempestade acontece? Essa é a cor dos olhos
dela. Inclino-me mais perto, pegando o dourado em torno das partes
Página 40 de 265
internas de suas íris. Meu dedo toca a curva de seu lábio inferior. –
Como você faz um homem se apaixonar, Rose? – murmuro suavemente.
– Conte-me.
Seu rosto fica vermelho quando ela morde o lábio inferior onde
toquei. Sua língua aparece e lambe o local. Ela parece achar o seu
equilíbrio, enquanto ela pigarreia e se inclina para sussurrar
conspiradoramente. – Seja provocante. Isso foi o que acabei de ler.
Muito bobo, certo?
Meu pau está duro porque apenas observo os seus lábios dizer a
palavra provocante. – Não de todo. – digo com voz rouca. – Mostre-me
como você é provocante.
Ela balança a cabeça. – Eu nem conheço você.
– O que torna isso ainda melhor. Nunca nos veremos novamente.
– Você vai rir.
Eu sorrio. – Tente.
Radiante, ela me observa por um momento, depois se estica e puxa
os cabelos para fora do cobertor em que está, criando uma cascata de
longos cabelos castanhos ao redor de seu rosto. Grosso e ondulado, com
diferentes cores do outono se ondulam sobre seus ombros, fazendo-me
querer pegar um dos fios e passar os dedos através deles. Imagino-a em
uma cama, com os seus cabelos espalhados por um travesseiro...
Engulo o nó na garganta. – Legal. – digo enquanto cheiro um fio. –
Cheira a baunilha. Não é o meu favorito - uma mentira -, mas funciona.
– Você é demais.
– Não basta. O que mais você conseguiu? Mande.
– Tudo bem, que tal isso. – ela tira um colar de prata de seu vestido
e acaricia a corrente enquanto ela simultaneamente move seu cabelo
sobre o ombro e me dá um olhar firme. Ela morde os longos cílios
Página 41 de 265
comigo, mas mordida no lábio inferior. É um pouco bobo, mas estou
excitado.
– Hmmm, você está bem. – penso, fingindo desinteresse.
Seus ombros se desinflam. – Sério? Quero dizer, esse é o melhor
que tenho.
E isso é muito sexy.
– Se importa se eu der uma olhada no livro?
Ela o entrega e vejo algumas páginas, verificando uma lista de
tarefas.
Uma palavra: laser. Remova todos os pelos do seu corpo, incluindo
pernas, axilas e partes do sul. Ninguém gosta de pelo, a menos que ele
seja um Neanderthal.
Você sabe o que os homens odeiam? Peitos pequenos. Faça uma
cirurgia plástica ou desista de encontrar um cara.
Não consigo ler mais.
– Fascinante que as pessoas ganhem dinheiro com essa merda. –
digo secamente.
– Confie em mim, sou muito inteligente para colocar qualquer
economia nele. – ela balança a cabeça tristemente. – Agora estou com
vergonha de achar que sou tão estúpida.
Pigarreio, lendo dramaticamente partes dele em voz alta. Ela ri e
tenta me calar, mas não me calo. Os outros passageiros notaram e estão
olhando fixamente.
Finalmente, com o rosto vermelho de vergonha, ela me bate no
braço e puxa o Kindle da minha mão. – Você tem que parar! Ninguém
neste avião quer ouvir sobre aumento de peito.
– Ah, mas eu quero. – uma idéia vem para mim. – Beije-me, Rose.
Página 42 de 265
– O quê? – ela pisca.
– Beije-me. Vou mostrar a você como obter o seu cara, e a primeira
coisa que você precisa saber é como usar essa boca linda sua.
– Por quê?
– Deixe-me te dizer um pequeno segredo. – digo. – Obter seu cara é
principalmente sobre o que você não diz. Você segue seus movimentos
com seus olhos? Quando você está caminhando juntos, seus passos estão
sincronizados? Quando você entra em uma sala, os olhos dele vão direto
para você, mesmo com belas mulheres ao seu redor? Se a resposta for
não para qualquer uma dessas, então você está fodida. Você não pode
mudar a química, e nenhuma quantidade de jogar o cabelo ou de seios
falsos podem criá-la. É só... é. A atração é mágica, e você não consegue
encontrá-la em um livro.
Ela parece achar minhas palavras fascinantes. – O que o torna o
especialista em amor?
Eu aceno para ela - nem mesmo indo lá. – E os teus lábios... Eles
são perfeitos. Esse pequeno recuo que você tem no fundo é sexo puro,
mas se você não sabe como usar corretamente... – minha voz se abaixa.
– OK.
– Tudo bem, ok? – levanto uma sobrancelha. – Isso é um sim? – ela
vai me deixar beijar ela?
Ela acena com a cabeça, e antes que possa terminar o movimento,
pego o seu colar, viro o seu rosto para o meu e a beijo.
E esta é a parte estranha: eu não beijei uma menina nos lábios há
muito tempo, mas a beijo como se eu estivesse morrendo de fome.
Seus lábios se separam imediatamente dos meus, como se estivesse
esperando por isso também. Ela tem sabor de cerejas amadurecidas pelo
sol, e aprofundo explorando-a. Depois de alguns segundos, ela o
Página 43 de 265
corresponde, com a sua língua encontrando a minha e a entrelaçando. É
suave, mas sexy como o inferno. Segurando seu rosto, eu gemo
enquanto encho a sua boca com pequenos beijos suaves, deixando meus
dentes morder levemente seu lábio inferior enquanto me afasto.
– Spider. – ela diz suavemente, com seu peito subindo e descendo
rapidamente.
Meu pau está mais duro do que nunca já me lembrei, e tudo que eu
quero fazer é beijá-la novamente.
Ela se aproxima de mim, com seus seios pressionando contra meu
peito. Minha mão desliza até seu pescoço e eu acaricio a pele macia lá,
acariciando-a enquanto penso em meus lábios chupando sua garganta.
Imagino que minha língua brinque com seus mamilos. Porra. Eu a quero.
– Eu quero você. – digo, com a minha voz carregada com a luxúria.
– Beije-me novamente. – ela diz enquanto olho para seus olhos.
Droga. Há algo sobre ela...
Um pouco de turbulência sacode o avião do nada, vários passageiros
gritam e choram.
Eu me esqueço de beijar enquanto o medo aparece no seu rosto e ela
se agarra mais uma vez. – Isso foi normal?
– Apenas a turbulência. O piloto provavelmente nos levará para
mais alto para sair dela. – digo, enquanto a trepidação continua.
Ding! A luz para colocar nossos cintos de segurança acende.
Ela fecha os olhos, a voz alta e linda. – Nós vamos bater, não é?
Nós vamos morrer.
– Ei. – pego sua mão e entrelaço nossos dedos, querendo confortá-
la. – Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Página 44 de 265
Ela olha para nossas mãos com surpresa, assim como outro choque
envia um passageiro tropeçando no caminho do banheiro.
Ela fica verde quando se inclina no meu peito. Coloquei os meus
braços ao redor de seus ombros. – Está tudo bem, Rose.
Quando fico com medo, minha garganta fica seca, então olho em
volta para uma comissária de bordo para pegar um pouco de água. No
entanto, elas desapareceram, provavelmente encolhendo-se. Tirei o meu
cinto de segurança, mesmo que eu não seja suposto e fiquei procurando
uma garrafa de água na minha mochila, pendurada no compartimento de
bagagens, então ela cai. Uma vez que a encontrei, rapidamente me viro e
dou a ela.
– Milhares de aviões decolam e pousam todos os dias. – digo
enquanto ela vira a garrafa.
– Você é músico, não é um engenheiro aeroespacial. – sua voz está
um pouco rápida.
Eu entendo... ela está aterrorizada.
Entendo isso. Tenho meus próprios problemas: não deixo as pessoas
perto de mim.
– Eu também não gosto de voar. Apenas escondo isso muito bem. –
peguei sua mão novamente, entrelaçando os dedos.
Ela olha para mim. – Mesmo?
Concordo. – Você sabe do que mais tenho medo? Abrir cortinas de
chuveiro em cada hotel em que fico. Estou convencido de que haverá
uma psicopata com uma faca que pareça com a Dolly Parton esperando
por mim. Talvez, sejam os peitos gigantes, talvez seja a peruca, mas algo
sobre ela me assusta. Além disso, baratas com asas. Sei que sou um
homem adulto, mas e se eu tentar matar o inseto e o perder e depois ela

Página 45 de 265
voltar com todas as suas amigas de noite, depois se arrasta no meu
ouvido e mexe com meu cérebro?
Ela sorri, apenas uma dica. – Sua imaginação é ilimitada.
– Não me faça começar com zumbis. Quero dizer, o que diabos há
com os americanos e os programas assustadores? Eles não sabem que
um dia os cientistas vão reanimar as pessoas, e então, o que vamos
fazer? Mandar esses esqueletos ambulantes para Marte?
– Eu amo The Walking Dead. – ela murmura.
– Você é uma amante de zumbis, simplesmente perfeito.
– Se morrermos, vamos voltar como zumbis.
– Contanto que possamos estar juntos, tudo bem, amor. – levanto
uma sobrancelha e observo quando um rubor lento começa em seu
pescoço e aparece em seu rosto.
Algo muda entre nós, tornando-se mais suave e mais íntimo - mais
ainda do que o beijo. Parece bom. Relaxando pela primeira vez no que
parece ser semanas em estar na estrada e fazer shows, inclino minha
cabeça para trás contra o assento e olho para ela, separando as suas
características e tentando descobrir qual parte eu mais gosto.
Tem que ser os lábios.
Ou os reflexos vermelhos em seus cabelos.
Não, é definitivamente a forma como ela olha para mim com os
olhos erguidos e o queixo ligeiramente baixo, como se ela não soubesse
o que fazer comigo.
– A turbulência parou. – ela diz, com seus olhos brilhando enquanto
ela se senta em seu assento e olha em volta da cabine.
Eu concordo. – Parou há alguns minutos enquanto conversávamos.

Página 46 de 265
– Obrigada por me distrair. – ela olha a tatuagem da aranha no meu
pescoço. – Você tem que me dizer... Como conseguiu um nome como
Spider?
A pergunta dela envia-me girando em uma direção totalmente nova,
encarando a escuridão, mas eu empurro-a e me concentro em uma
memória feliz. – Era o nome que a minha irmã gêmea deu para mim.
Acredite ou não, minha cor de cabelo natural é quase preto, e quando eu
era jovem, era super magro com longas pernas e braços, mais eu adorava
escalar tudo. Eu fazia essa coisa em que eu me esconderia e pularia nela.
Uma vez me sentei na prateleira superior do armário do quarto por duas
horas esperando que ela voltasse para casa depois dela chegar da hora de
brincar. Ela abriu a porta e... boom... eu pulei e cai em seus pés. – eu
lembro do rosto irritado de Cate e como ela me expulsou do quarto. –
Ela disse que eu parecia uma aranha. Na manhã seguinte, ela me chamou
de Spider para me deixar bravo, mas eu gostei, e só meio preso. – paro,
olhando para nossas mãos. – Ela morreu quando nós tínhamos treze
anos.
Seu rosto entristece. – Deus, eu sinto muito. O que aconteceu?
– Não é algo sobre o qual eu falo.
Ela acena com a cabeça e com o seu rosto sério. – Não deveria ter
perguntado. Eu sinto muito.
Aceno e desviamos o olhar. Não há como no inferno, que eu posso
lhe dizer a verdade, que sou a razão pela qual a minha irmã morreu.

Página 47 de 265
Depois de falar sobre filmes e livros por quase duas horas, Rose se
vira para dormir por volta de três horas de voo. Estou desapontado por
não ter a atenção dela, mas sei que ela está cansada da sua noite, e
depois por ter medo de voar. Quanto a mim, estou ansioso para chegar a
Dallas e ao meu pai. Eu preciso de uma dose de algo... qualquer coisa.
Heidi caminha por algumas vezes, seus olhos se alimentam como se
eu fosse sua última refeição. A ignoro primeiramente, exceto para pedir
uma dose dupla de tequila. Ela é como as meninas comuns que vejo nos
shows... Sedutoras e prontas para qualquer coisa. Eu fisgo muito delas. É
o que eu faço.
Mas Rose... ela é diferente.
Heidi retorna com a minha bebida, e então, se inclina e sussurra no
meu ouvido: – Quer me encontrar no banheiro na parte de trás do avião?
Você entra primeiro, e eu o seguirei.
Meu instinto diz que não, não faça, mas meu cérebro... Precisa de
algo para calar a boca.
Ela se endireita e bate seus cílios para mim. – Cinco minutos?
Eu olho para a Rose e faço uma pausa por um segundo, mas depois
volto para a Heidi e dou a ela um rápido aceno de cabeça.
Quinze minutos depois, estou me sentindo quente do álcool, mas
ainda não sai do meu lugar.
Heidi caminha novamente e me envia um olhar persistente. Foda-
me, por favor, seus olhos dizem.
Não a quero, de verdade. Eu quero o esquecimento, sim, mas isso é
diferente.
Quero ficar aqui com a Rose.
E esse é um enorme e maldito erro.

Página 48 de 265
Regra nº 1: Não envolva o seu coração.
Por que se preocupar quando as pessoas sempre se afastam?
E com esse pensamento em mente, eu tirei o cinto e caminhei para
os fundos.
Eu me inclino no banheiro apertado e com cheiro de anti-séptico e
abro o rosto do crânio no meu anel de prata esterlina, revelando o pó
branco dentro. Coloco uma pouco na minha mão e o cheiro, a ardência
me atinge com força.
Sim.
É isso aí.
Misturado com a tequila... tudo vai ficar bem.
Ouço uma batida na porta e a abro. Ela entra, cheirando como um
balcão de perfumes no shopping e nada como mel e baunilha. Não deixo
nossos olhos se encontrarem, e eu não a beijo na boca.
Mas algo não parece bem.
Ela deve sentir a minha hesitação porque ela abaixa os meus jeans
com pressa, sussurrando para mover meus braços e as pernas para
maximizar o espaço. Só leva seis minutos, ambos chegando a um novo
tipo de altura a trinta mil pés. Isso preenche meu vazio por alguns
momentos, me faz esquecer que há uma garota legal lá sentada no
assento ao lado do meu e, por um momento, quase a deixei entrar.
Termino e saio do banheiro. Ela me segue.
Não vou lembrar o nome dela. Eu nunca quero.

Página 49 de 265
Capítulo Cinco
Rose

A comissária de bordo veio em minha direção com uma expressão


de satisfação no rosto, e estou pronta para arrancar todos os cabelos da
cabeça dela. Minhas mãos se fecham em torno do meu assento.
Como ele poderia estar com ela? Depois de me beijar?
Talvez, eu esteja errada.
Talvez, eles simplesmente tenham ido conversar.
Sim, certo, Rose. Não seja uma idiota.
Uma imagem dele com suas danças na minha cabeça, enquanto a ira
churns no meu estômago.
– Bom dia, dorminhoca. – ele diz exuberantemente quando ele senta
de volta ao seu assento e afivela seu cinto. – Parece que estamos prestes
a descer. – percebo que há um rubor no rosto dele, enquanto ele bate
seus dedos nos joelhos de forma errática. – Você perdeu o sujeito na
13B, que roncava tão alto que pensei que poderia ter que enfiar uma
meia na garganta dele. Louco.
– Uhum.
– Você está bem? – ele pergunta e me dá um olhar antes de desviar.
Eu estreito meus olhos, observando-o. – Você está?
Seus olhos se recuperam para o meu. – Estou bem. Mais do que
bem. Estou animado e pronto para lidar com Dallas.

Página 50 de 265
Não sei o que isso significa, e não pergunto. Estou muito brava para
me importar com o que ele vai fazer em Dallas. Espero nunca mais o
ver.
– Como está a Heidi? – digo, mantendo o rosto cuidadosamente
composto, mesmo que eu queira derrubá-lo.
Ele empalidece e abre a boca para dizer alguma coisa, mas depois
pressiona os lábios e olha para as mãos dele. Seu dedo indicador traça as
linhas da tatuagem PERDIDO.
– Você realmente fez sexo com ela? – estava esperando com a
esperança de que eu estava errada.
Ele concorda.
A decepção bate no meu peito, machucando mais do que deveria ter
por um cara que acabei de conhecer. – Você é um idiota.
Ele engole, falando rápido. – Eu sei, mas nada aconteceria entre nós.
Você é muito legal para mim e, obviamente, nunca nos veremos de
novo, e confie em mim, se tivéssemos ligados, não teria ligado para você
no dia seguinte e te convidar para um encontro. Eu não faço isso nunca.
– Não há necessidade de me explicar. Não estou com ciúmes. – eu
gritei. – Sinto muito por você. – estiquei sua jaqueta para ele.
Ele a coloca devagar, seus olhos ainda me observando, e embora, eu
me recuse a olhar para trás, meu corpo inteiro sente a intensidade de seu
olhar, como se estivesse sob um microscópio.
– Rose, olha, não significava nada. O sexo nunca significa nada para
mim.
– É bom saber que você é um puto. – balanço minhas mãos.
Por que eu deixei ele me afetar assim?
Porque você gostou dele.
Página 51 de 265
Pelo canto dos meus olhos, vejo-o esfregar o rosto e a sombra
escura em seu rosto.
– Eu nem sequer a beijei... Nunca as beijo. – ele não diz as palavras
na minha cara, mas sim para o assento diante dele.
Ignoro-o e olho pela janela.
O avião começa a pousar. Normalmente estaria presa ao assento,
com o meu coração na garganta, mas estou muito agitada.
– Eu sempre faço merda. – ele murmura.
Paramos na pista de pouso e ele levanta o mais rápido possível, indo
para Heidi, que lhe entrega sua guitarra e um pedaço de papel.
Provavelmente com o número de telefone dela.
Eu odeio ser a que diz isso para ela, mas ele não vai ligar.
Ele dá um olhar para trás sobre seu ombro para mim e meus olhos
brilham para ele, mesmo quando minha garganta se aperta.
Eu me sinto estúpida.
Ingênua.
Na saída, ele vira para trás uma vez mais, e seus olhos se encontram
com os meus, enquanto ele levanta uma mão como para se despedir.
Eu bato continência com um dedo.
Ele desaparece da minha visão, assim que o meu celular vibra com
uma mensagem de texto da Anne.

Robert e eu estamos esperando você no andar de baixo ao lado da


esteira de bagagens. Temos uma surpresa para você. ☺ Amo você,
Cachos5! Anne.

Página 52 de 265
Afastando a minha raiva do Spider, eu gemo. Odeio as surpresas de
Anne. No ano passado, foi uma viagem de carro até Tin Town para ver
minha antiga casa e bairro. Ela disse que era porque queria que eu visse
até onde cheguei, mas principalmente me senti simplesmente doente, me
lembrando do Lyle e da Mamãe. Odeio Tin Town e o que ela tomou de
mim, mas é quem eu sou, e de alguma forma não acho que eu possa
superar isso.

O que está acontecendo? Eu respondo.


Você irá conhecer seu novo meio-irmão hoje.

Ah. Franzi a testa, já com um humor de merda. Não me lembro da


Anne mesmo me dizer que o Robert Wainwright tinha um filho.
Mas então, eu não sabia muito sobre o Robert. Ele e a Anne estão
recém-casados e estão de volta da lua de mel.
Outra mensagem de texto vem, mas não checo porque estou muito
ocupada saindo do avião. Paro no banheiro para me refrescar e trocar de
roupa antes da Anne me ver neste vestido, que sei que ela não vai
aprovar. Eu não sou um prazer para as pessoas, mas tento manter as
coisas fáceis entre nós. Como eu não poderia? Nos últimos quatro anos e
meio, ela cuidou de mim. Ela me levou de um sistema de acolhimento
que não me fazia favores. Na verdade, na última casa em que vivi antes
da de Anne, tive que lutar para evitar que um dos garotos mais velhos
rastejasse na minha cama à noite. Mais tarde, fui afastada daquela casa
por dar um chute nos dentes dele. Confie em mim, Anne tem suas
peculiaridades, mas sem ela, eu nunca teria conseguido ir a uma escola
particular ou ter roupas legais.
Ela quer uma garota perfeita do Highland Park e eu faço o meu
melhor.

Página 53 de 265
Exceto por me candidatar secretamente a NYU.
E fazendo minha tatuagem de borboleta em Nova York.
Sentindo-se animada, olho no espelho e puxo a parte de trás do meu
vestido pelo meu pescoço para ver como está. Ainda vermelha e
dolorida, a borboleta de tamanho da mão fica cerca de três centímetros
abaixo da minha nuca, e sei que a Anne finalmente vai vê-la, mas não
ligo. Estou apaixonada por ela porque me lembra do belo menino que
entrou em minha vida brevemente quando eu tinha onze anos. Ele entrou
e me deu esperança. Sua bondade significava algo e ver ela é uma
lembrança.
Dentro de uma cabine, tirei meu vestido e entrei em uma calça
marrom e um suéter simples, de gola alta e marrom, que a Anne
comprou para mim. Pego um par de botas de cano curto e as coloco nos
meus pés. Depois de me vestir, tiro o batom vermelho e aplico rosa em
vez disso. Coloco uma leve camada de rímel, aplico pó no nariz e
escovo o meu cabelo longo até que ele brilhe.
Depois de colocar o vestido e o Converse na minha mochila,
caminho até a esteira de bagagens, esticando o pescoço para encontrar o
cabelo loiro de Anne.
Porque o Robert é alto e vestido de forma evidente em um terno
caro, eu o vejo imediatamente e a Anne atrás dele. Vestida de forma
conservadora em uma saia de lápis até o joelho, saltos e com maquiagem
impecável, ela tem a atenção dela para o Robert e para a pessoa com
quem ele está falando - um cara alto com uma jaqueta de couro cinza.
O que?
Eu paro de respirar quando percebo.
Robert é Inglês, Spider é Inglês.
Não.

Página 54 de 265
De jeito nenhum.
Meus olhos passam entre o Robert e o Spider enquanto eles estão
conversando.
Eles não são nada parecidos.
Eles são como a noite e o dia, fogo e gelo.
Talvez, eles simplesmente conversem, como velhos amigos que
perceberam que eram do mesmo país.
Meu celular vibra novamente e eu tiro para ver duas mensagens de
textos da Anne. O primeiro foi enviado enquanto ainda estava no avião,
mas estava muito ocupada para ler.

Seu meio-irmão está no avião.


E aí está... confirmado.
A próxima é: onde você está?

Ela deve ter acabado de enviar.


Olho para trás para observar enquanto a Anne se volta para Spider e
o abraça. Não é nada para uma pessoa como eu que lê os outros bem
para ver que ela está desconfortável com ele imediatamente. A verdade
está em seu rosto sério e a maneira como ela continua dando olhares em
direção a Robert. Robert move-se para ficar ao lado dela, enquanto
ambos conversam com o Spider. Não perco os olhos do seu pai se
estreitarem sobre ele, explorando-o, como se estivessem procurando por
algo.
O Spider ainda não me viu, e vejo enquanto ele afasta o cabelo que
caiu no rosto dele, puxando as pontas como se estivesse ansioso.
Percebo a aparência vulnerável em seus ombros quando ele abaixa para

Página 55 de 265
pegar sua guitarra. Uma pequena parte de mim esquece minha raiva e
me pergunta o que está acontecendo com ele e seu pai.
Eu me agarro ao meu travesseiro e finjo que é uma parede entre
Spider e eu enquanto ando até onde eles estão. Meu coração bate tão
forte que tenho certeza de que todos na proximidade podem ouvi-lo.
Estou nervosa e zangada, mas estranhamente excitada por ver o Spider
novamente.
– Clarence esteve na estrada nos últimos meses. – Robert diz a Anne
que eu me aproxime.
– Você não pode me chamar de Spider como todos os outros? – diz
Spider, com o rosto sério.
Robert ignora-o, com seus olhos passando pelo ombro de Spider
para mim. Ele pede que ele fique quieto. – Espere, tem a Rose. – o ouço
dizer.
Anne acena e depois pega minha mão enquanto eu as alcanço. Ela
me puxa para um beijo suave na bochecha, o cheiro de seu perfume
familiar e reconfortante mesmo que não estejamos muito perto. Sorrio
amplamente para ela enquanto pergunta como estou e como o voo foi.
Respondo normalmente. De jeito nenhum, vou deixar escapar qualquer
coisa sobre o Spider. Já posso sentir que as coisas são duvidosas entre
ele e o seu pai, e não importa suas falhas, não quero adicionar ao seu
drama familiar particular.
Olho para longe da minha visão periférica enquanto o Spider se vira
lentamente para me encarar.
A surpresa está em seu rosto, ainda mais quando os seus olhos
absorvem a mudança de roupa e o batom moderado.
Robert, que conheci apenas alguns meses atrás, quando a Anne
anunciou que estava grávida, sorri para mim. Nós ainda nos sentimos

Página 56 de 265
afastados, mas minha impressão inicial dele é que ele é muito parecido
com a Anne... Conservador e pouco emocionante.
Ele aponta para o Spider. – Clarence, gostaria que você conhecesse
a Rose, sua nova meia-irmã.
O Spider agarra a minha mão, e um e uma corrente passa entre nós.
Lembro-me daquele beijo no avião mesmo que eu não queira.
Ambos ficamos ali.
Acho que ele está cambaleando.
Sei que eu estou.
Afastei minha mão, percebendo que nós estamos segurando as mãos
demais para que seja normal.
– Ela tem dezessete anos. – diz Robert com cuidado em seus tons
pausados e seus olhos vão de mim para o Spider.
Um instante de surpresa atravessa o rosto do Spider antes de abri-lo
rapidamente. – Isso é verdade? Pensei que você era... mais velha. – ele
diz, com um pouco de acusação em seu tom.
Meus lábios se fecham e eu aceno com a cabeça. – É porque sou
alta, mas nunca tive que assumir. Quantos anos você tem?
– Vinte e dois. Parece que eu tive dezessete milhões de anos atrás.
– É um prazer conhecê-lo. – digo por que não sei mais o que dizer.
Esta é a situação mais estranha em que eu já me encontrei - e isso está
dizendo muito. Meu meio-irmão é um cara que eu beijei no avião... que
depois fodeu a comissária de bordo. Não há um livro de etiqueta para
isso.
– Vocês se conheceram no avião? – pergunta o Robert.

Página 57 de 265
Meus lábios se apertam. – Eu não o conheci. – o que era verdade.
Conheci um cara que construí na minha cabeça, um cara que era doce e
me beijou como ele quis dizer isso.
Eu não conhecia essa outra pessoa.
Robert olha para o Spider, que atualmente olha para mim, com um
arrependimento no rosto.
Aquele olhar... Isso me deixa hesitando por um momento, mas eu
repito. Não vou deixá-lo chegar em mim novamente.
– Estou ansioso para conhecê-la. – ele diz, com os seus olhos no
meu rosto, como se estivesse tentando me descobrir. Então, em frente a
Deus e a todos no aeroporto, ele se inclina e beija levemente a minha
bochecha. Seu toque faz meu corpo arrepiar e meu coração dar piruetas.
Coração estúpido e idiota.

Depois de uma movimentação bastante animada no Mercedes preto


do Robert, durante o qual o Spider continua me olhando, finalmente
chegamos à casa do Robert e da Anne em Highland Park. Robert viveu
aqui por vários anos, pelo menos quando ele não está viajando por todo
o mundo para gerenciar sua empresa imobiliária, e a Anne recentemente
mudou-se com ele. Tenho um quarto aqui, mas só fiquei por várias
vezes. Prefiro a última casa da Anne, que também está em um ótimo
bairro, mas muito menor do que essa. Ela vendeu assim que se casaram.
Uma vez que o Robert estaciona o carro na garagem circular, não
posso sair rápido o suficiente. Preciso de algum espaço do Spider.

Página 58 de 265
Em vez de entrar na casa, abraço a Anne e o Robert da porta da
frente com uma promessa de jantar no final daquela noite. Anne quer
que eu vá e conte a ela mais sobre Nova York, mas digo a ela que estou
cansada. Ela parece entender.
Enquanto estou caminhando para o meu Highlander5 que estacionei
aqui enquanto eu estava fora, Spider me chama. Eu me viro e olho para
ele me seguindo.
– Sim? O que foi? – digo bruscamente quando jogo minha mochila
no carro, pronta para fugir e processar todas as coisas loucas que
aconteceu hoje.
Ele muda de um pé para o outro. – Eu... eu só queria dizer que me
desculpe. Novamente.
Fico rígida, precisando mais do que apenas uma desculpa dele, mas
não sei o que é isso. O nível de emoção que ele traz em mim me
surpreende. – Não importa. Tudo acabou. Agora temos que nos dar bem.
– meus lábios se curvam. – Como você disse, nada aconteceria entre nós
de qualquer forma, certo?
– Certo. Especialmente porque você é menor de idade. – ele enfatiza
a última palavra e eu fujo.
– Você não tem o direito de julgar. – digo.
Ele enfiou as mãos nos bolsos e fez careta. – Eu sei. Você tem todo
o direito de me odiar.
– Não odeio você. Eu nunca poderia te odiar.
Não sei por que isso é verdade com ele, mas é. Talvez seja porque
sinto que há mais na superfície dele. Ele tem problemas, e posso me
relacionar com isso com meus antecedentes. Olho por cima do ombro
para ver que o Robert ainda está na porta, observando-nos com um olhar
contemplativo no rosto.

Página 59 de 265
Minha raiva alivia mais quando desvio meus olhos de seu pai para
ele. Suspeito que aconteceu algo horrível entre esses dois. – O que há
com o seu pai?
Não perco os ombros do Spider como se ele estivesse se preparando
para uma batalha. – Nós não nos damos bem.
– Então, por que você está aqui?
Ele faz uma pausa. – Não o vejo em seis meses, e ele queria que eu
viesse e conhecesse a nova família. Então, aqui estou. – ele levanta as
mãos e sorri.
Há mais desta história, mas não o pressiono. Ainda.
Ele dá um olhar por cima do ombro para o Robert e vejo um gesto
de cabeça quase imperceptível que ele lhe dá como se estivesse dizendo:
Eu vejo você e eu estou indo.
– Até mais tarde, Rose.
Ele me dá uma última olhada, e então, ele está caminhando pela
entrada da casa.
Olho até que ele esteja na porta com o Robert, ocupando dois bons
metros de distância que eles reservam entre seus corpos, um sinal
revelador de tensão. Percebo que o rosto do Robert está mais sombrio do
que o habitual, como se o Spider tivesse feito algo que ele desaprovasse.
Eu arquivo tudo e planejo descobrir isso mais tarde.
Neste momento, estou pronta para sair daqui, então entrei no meu
carro e voltei para os dormitórios de Claremont, a cerca de dez minutos
de distância.
Ao passar, eu me concentro nas próximas semanas e no estudo que
preciso fazer antes da formatura. Eu estou em todas as disciplinas
avançadas e faço o meu melhor para ficar no topo. A vovó está sempre

Página 60 de 265
na minha mente, e isso me encoraja a pensar sobre o quanto orgulhosa
ela estaria por fazer algo para mim mesmo.
Uma batida interrupta atinge minha porta depois de uma hora de eu
chegar, e abri a porta para ver meus dois melhores amigos. Vestida com
uma saia de couro e uma blusa jeans, Lexa entra no quarto como se ela
fosse dona do lugar. Nós somos inseparáveis desde o primeiro ano,
quando ambas terminamos na mesma aula horrível de tênis, onde
nenhuma de nós conseguimos acertar uma jogada decente no vôlei.
Como eu, ela mora em dormitórios estudantis desde que sua família
mora em Atlanta. Ao contrário de mim, ela foi criada com uma colher de
prata na boca, mas ela é legal de qualquer forma.
A boca dela se abre. – Ah, meu Deus, estou tão feliz que você está
de volta! Esta espelunca estava M-O-R-T-A nessas férias de primavera.
Eu não tinha com quem falar!
– Você me teve, mas, aparentemente, eu não sou bom o suficiente! –
Oscar diz com calma quando ele entra pela porta logo atrás dela, de
forma bastante dramática, com o seu longo fraque de couro preto. Seus
de cachos castanhos balançam enquanto ele me agarra e beija tanto as
minhas bochechas. – Deus, senti sua falta. Por sinal, Lexa é uma
pequena vadia quando você não está aqui para mantê-la sã. Como foi
Nova York? Você viu algum modelo? Atores? Alguém? Deus, essa
cidade é uma merda. Vamos para Nova York e moramos juntos em um
apartamento - como em Friends.
Dou uma risadinha em suas perguntas.
Estudante de uma pequena cidade rural fora de Dallas, ele é meu
amigo mais velho da escola preparatória de Claremont. Na verdade, nos
encontramos no momento em que entrei no escritório no meu primeiro
dia para pegar meu cronograma. Ele deu uma olhada no meu rosto sem
medo e imediatamente me ofereceu para me mostrar ao redor do
campus. Nós nos unimos ao nosso amor pela moda e pela excelente

Página 61 de 265
literatura. Não sei o que faria sem ele. Ele é minha tribo, e nosso sonho é
viver juntos em Nova York.
Oscar sorri. – Você se apaixonou pelo campus? Anne sabe o quanto
você quer se mudar? Ela vai deixar você sair do estado do Texas?
Lexa abre seu estojo compacto e reaplica o seu batom já perfeito. –
Todos nós sabemos a resposta a isso - não. Anne quer você aqui para
que ela possa te mostrar como a garota que ela salvou das ruas. Você é
seu pequeno prêmio.
– Isso significa. – Oscar diz quando ele joga um travesseiro para ela.
– Vou tirar a Lexa da nossa lista de orações, Rose.
Balancei minha cabeça e sorri. – Qual lista de oração?
Ele levanta as mãos. – Aquela que vou começar para todas as
pessoas que precisam de orações por aqui.
Eu ri. Cara, eu senti falta dele.
Lexa ignora o Oscar, ainda se concentrando em Anne. – Ela
literalmente fez você a garota propaganda no seu jantar de gala de
caridade no ano passado, quando ela colocou você em um cartaz. Você
deu um discurso sobre o centro da cidade e tudo mais. Ela está
moldando você para ser uma mini-Anne. Você já se veste como ela quer.
– ela aponta as suas mãos para a minha roupa.
Sinto as palavras da Lexa. Não sou uma mini-Anne. Sou apenas eu.
Sim, Anne gosta de me levar a seus eventos de caridade e me mostrar
porque sou uma história de sucesso, mas ela também me paga para fazer
aulas de autodefesa porque me faz sentir mais segura. Eu devo a ela.
Olho para a Lexa, levando as roupas caras e o Louis Vuitton que ela
casualmente jogou na minha cama quando ela chegou. Ela não entende
porque nunca teve que se preocupar com a origem da próxima refeição.
Eu tive. – Algumas dessas crianças vêm de situações horríveis, e se eu

Página 62 de 265
posso ser uma razão pela qual alguém contribui... então, farei a minha
parte.
Seu rosto se suaviza quando ela olha para mim. – Ah, sinto muito.
Você deve pensar que sou uma pessoa horrível. Claro, você quer ajudar
essas crianças. É quem você é. – ela acena as mãos. – Estou ansiosa por
você, porque sei o quanto você quer ir para a NYU - e ela não vai deixar
você ir.
Eu mordo meu lábio. Não quero pensar sobre isso agora.
Oscar joga um longo braço ao redor do meu ombro e o aperta. –
Ignore a Lexa - ela está menstruada. Diga-nos todas as partes suculentas
sobre sua viagem.
Então, eu digo. Falo a eles sobre o Spider - do clube ontem à noite,
do beijo, da comissária de bordo e então a bomba de ser meu meio-
irmão.
Há um breve silêncio e olhos arregalados antes do Oscar gritar. –
Você beijou um cara aleatório em um avião? Como você não ficou com
ele? Pensei que você odiava voar?
– Eu odeio.
Ele gira em um círculo, claramente animado. – Ah, meu Deus, você
gosta do seu meio-irmão. É tão... pervertido. – ele esfrega as mãos. – É
como aquele filme Sem pistas onde a heroína tem tesão por seu meio-
irmão. Eu amei ele.
– Não gosto dele. – declaro, mas parece errado dizer isso e respiro
profundamente. – E você esqueceu a parte onde ele parafusa a garota no
banheiro? Você deveria estar bravo com ele em meu nome.
– Verdade... e eu estou. – ele tira o celular dele. – Mas agora, tenho
que ver esse cara por mim mesmo.

Página 63 de 265
– E você vai vê-lo hoje à noite no jantar? – pergunta Lexa. – Talvez,
você possa usar seu garfo de aperitivo para arrancar os olhos dele. – seus
olhos estão sérios.
– Você é assustadora. – comenta o Oscar, enquanto ele percorre seu
celular.
Ela pensa nisso, com um pouco de brilho em seu olhar. – Mas
seriamente... aqui está uma idéia: talvez, você devesse ir atrás desse bad
boy, depois atraí-lo e quebrar o coração dele. – ela concorda com a
cabeça. – Sim, gosto mais disso. Menos sangue e tripas no prato de
jantar.
– Hmmm, talvez. – a idéia me intriga. – Não acho que ele tenha um
coração para quebrar.
Oscar mantém uma foto triunfante dele junto com os membros de
sua banda, que eu reconheço do show no bar. – Santa merda, Sherlock,
esse cara é lindo. – ele se senta. – Estou na página do Facebook da
banda, e deixe-me dizer-lhe, ele é sexy.
Lexa sorri. – Pare de dizer sexy. Você não vai fazer nada, não aqui
em Claremont, nem em Dallas e nem em Nova York.
Ele a virou e ela ri.
Olho para o Oscar. – Falando em Nova York... você já contou sobre
sua bolsa para NYU?
– Eu fui aceito, é claro, mas não sei sobre a bolsa de estudos... – sua
voz se abaixa e eu ouço a preocupação. Ele está em Claremont com uma
bolsa integral, porque ele é super inteligente, mas NYU raramente dá
bolsas integrais, e sem a ajuda financeira que a bolsa de estudos
forneceria, ele não pode ir. Ele deveria ter ouvido alguma coisa até
agora, e estou aguardando que ele tenha.

Página 64 de 265
Ele tira um fio no seu casaco. – Sempre posso ir para UT. Eles vão
me levar. – sua voz está baixa de forma incomum.
Suspiro, vendo o seu rosto pensativo. Ele quer sair do Texas tanto
quanto eu. Estou correndo para me afastar do meu passado e ele está
fugindo de uma família disfuncional que se preocupa por ele ser gay.
– Nós iremos lá... juntos. – eu digo a ele. – De alguma forma.
Oscar encolheu os ombros e posso dizer que ele não quer falar sobre
isso. Ele olha novamente para a foto do Spider. – Não posso acreditar
que você tenha beijado esse delírio. Você morreu?
Eu balancei minha cabeça para ele e ri. – Não. Estou bastante viva.
Não posso deixar de me inclinar e observar a foto do grupo e
espreitar dentro da vida do Spider. Na foto, ele está de pé no meio de
seus amigos em uma praia com uma bebida no ar como se estivesse
brindando. Usando um chapéu Union Jack e um par de shorts esportivos,
ele não está com camiseta, seu ombro bronzeado e musculoso. Ele
parece sexy. Isso me faz lembrar dele caminhando no palco em seu
casaco de vison. Um sorrisinho espontâneo cresce no meu rosto. Algo
sobre ele... apesar de estar com raiva dele... me atrai.
Eu ignoro e continuo.
– Ele gosta de ser o centro de tudo. – digo.
– Ele pode entrar no meu centro a qualquer momento. – Lexa acena
enquanto ela se inclina sobre meu ombro.
Oscar bateu na cabeça, sem olhar muito seguro. – Se você decidir
quebrar o coração dele como a Lexa disse, é melhor você tomar cuidado
com isso. Aqueles olhos...
Conte-me sobre isso.
Lexa bufa. – Você só o quer para você mesmo.

Página 65 de 265
– Eu quero todos, querida. – ele joga seu lenço em volta do pescoço
dele.
Eu ri quando me levantei e abro meu armário. – Sou a única que tem
que jantar com ele esta noite.
Oscar pula e entra dentro do armário, vasculhando os cabides. – Se
você está indo ver aquele gostoso, então use isso! – ele tira um vestido
vermelho de seda, um que ele e eu encontramos em uma loja de segunda
mão no centro da cidade. Com tiras de finas e uma fenda nas costas, é
curto e insinuante e não um que a Anne aprovaria. Eu o adoro. – É
cortado em sua fenda e ele não conseguirá parar de olhar para essas
longas pernas suas. Combine com aqueles saltos prateado Jimmy Choos
que encontrei. – ele beija a ponta dos dedos. – Perfeição.
– Estou usando meu cabelo em um rabo de cavalo, calças de ganga
velhas e chinelos. Nem vou escovar os cabelos nem os dentes. – estou
provocando, é claro, mas adoro ver seus rostos.
Lexa ri. – Anne vai morrer.
O rosto de Oscar está teatralmente devastado. – Por favor, Rose. Ele
é uma potencial estrela do rock. Impressione-o e depois quebre o
coração dele.
– Não.
Lexa ignora o meu comentário e se levanta da cama onde ela se
deitou mais cedo e começa a vasculhar minha gaveta de roupas íntimas.
– Você precisa de uma tanga para esse vestido.
Eu ri. – Não estou usando esse vestido estúpido para jantar. Isso é o
suficiente de vocês dois. Preciso concluir essa tarefa antes de segunda-
feira, além de eu ter um trabalho para fazer.
Eles resmungam, mas concordam. Lexa murmura algo sobre ir ao
shopping e Oscar diz que planeja ver um filme. Eventualmente, eu os

Página 66 de 265
tirei da porta e me concentrei em meus estudos, mas a cada poucos
minutos, olhei para o vestido vermelho que o Oscar pendurou no lado de
fora do meu armário.
Um pequeno impulso de emoção passa por mim, enquanto imagino
que o Spider me veja.
Mas depois há Anne. Ela não vai gostar.
Uma pequena parte de mim não se importa. Talvez, seja por causa
do comentário da mini-Anne, ou talvez, seja porque sei que o Spider está
atraído por mim e eu quero que ele sofra enquanto me sento em frente
dele no jantar.
Sim, uma vozinha sussurra na minha cabeça. Use-o, mexa com o
bad boy.

5. Highlander: modelo do carro.

Página 67 de 265
Capítulo Seis
spider

– A primeira regra desta casa é que você não pode, repito, você não
pode brincar com a Rose. – agitando as mãos, ele continua: – Nós todos
sabemos sobre a sua... reputação com as mulheres, mas ela é sua irmã e
tem um futuro brilhante à frente dela. – o tom do meu pai é nítido como
unhas enquanto me sento em frente a ele em uma cadeira dura em seu
escritório. Nós entramos aqui assim que chegamos do aeroporto.
Rose. Dou um suspiro enquanto o arrependimento me engole sobre
o que aconteceu no avião.
Sem dúvida, ele viu a maneira como eu olhava para ela.
– Eu vi como você estava olhando para ela. Ela é muito jovem para
você, então não tenha nenhuma idéia.
Levanto uma sobrancelha. – Não estou tendo idéias. – mas, estou
mentindo para ele. Rose me fascina. Ela é linda e doce.
Eu afasto esses pensamentos.
Ela terminou comigo, e eu não a culpo nem um pouco.
Ela deveria estar com raiva de mim. Ela não merece alguém tão
fodido como eu.
Penso nela em uma caixa, coloco uma corrente ao redor e coloco-a
em um canto escuro da minha mente.
Vou esquecer ela, digo a mim mesmo.
Afinal, afastar as pessoas é algo que aprendi bem com meu pai.
Página 68 de 265
Alto e imponente com ombros largos e um rosto feito de granito, ele
é um homem que bate as portas, fala com franqueza e a merda está feita
- sem importar o custo.
Ele não é nada como a Mamãe, que era a luz do sol e luz, mas pelo
menos ele ficou por perto um pouco. Seis meses depois que a Cate
morreu, ela foi embora com um novo amante. Ainda a vejo de vez em
quando, entre namorados e férias em lugares exóticos. Nosso
relacionamento é... complicado. Eu acho que é difícil para ela me ver e
não pensar em Cate. Por outro lado, é difícil para eu ver a minha mãe e
não pensar nela me deixando.
A voz do meu pai me traz de volta ao presente. – Em segundo lugar,
não há drogas em torno da Anne e a Rose. Isso não será tolerado.
Meus olhos encontram o dele e suspiro, meus dedos tremem
enquanto eu os tamborilo no meu jeans. – Com todas essas regras, estou
surpreso que você mesmo me tenha convidado.
Ele soltou uma respiração profunda. – Acredite ou não, eu quero
que você faça parte da minha nova família. Não nos vimos em meses.
Meus lábios se apertam. – Seis para ser preciso.
O que não é incomum. Quando nos mudamos para os EUA, quase
não o vi. Ele me separou em uma escola exclusiva chamada Briarwood e
fingiu que eu não existia. Eu era um garoto confuso de treze anos, por
Cate ter morrido e a mamãe saindo, mas ele continuou sua vida como se
nada tivesse acontecido.
Tenho certeza de que ele vê essa parte da nossa vida de forma
diferente, mas eu não. Ele me deserdou quando mais precisava dele.
Ele se levanta e se serve com um Scotch e fica em pé na mesa. –
Olha, eu só quero que você fique em Dallas por alguns dias e conheça a
Anne. Eu também quero ter certeza de que você está... Bem. Espero que
esteja bem, Clarence. Você não quer voltar para a reabilitação.
Página 69 de 265
Minhas mãos se apertam, lembrando os dois meses que passei em
um "spa" no norte da Califórnia alguns anos atrás. – Não tenho um
problema com drogas. Nunca estive melhor. – mentiras. Tudo mentiras.
Mas, eu não ligo. Estou irritado e atingido por antes, só quero terminar
essa conversa. Preciso de um choque. Meus dedos esfregam meu anel.
Talvez, eu possa entrar em um dos banheiros no andar de cima...
Concentro-me enquanto eu percebo que o meu pai me observa,
procurando por sinais em mim. – Estou bem. – digo, com meu tom
nítido.
Ele engole e acena com a cabeça. – OK. É possível ficar aqui ou na
cobertura que tenho na cidade.
Eu concordo. – Vou ficar com a cobertura.
– Tudo bem. – ele diz, e eu não perco o olhar de alívio em seu rosto.
A coisa é, que ele provavelmente me quer aqui para conhecer sua nova
esposa e me verificar, mas eu o deixo desconfortável. Ficar na cobertura
é mais fácil para todos.
Pigarreio. – Você mencionou um presente monetário? Uma herança
adiantada, talvez? – quando ele me ligou para me convidar, ele disse que
iria valer o meu tempo e assumi que era o que ele queria dizer. Eu o
observo, procurando respostas.
– Claro. – ele toma uma dose seu Scotch, e olho isso com inveja.
Entrelaço minhas mãos no meu colo. – De quanto dinheiro estamos
falando?
Ele nunca me deu nada. Não sou um bebê do fundo fiduciário.
Claro, ele pagou pelo meu internato e as despesas, mas uma vez que
descobriu que não estava indo para a faculdade, meu cartão Amex foi
cancelado. Eu tenho me sustendo nos últimos cinco anos. Ele chamava
isso de amor rígido; Chamei isso de que ele queria controlar minha vida.

Página 70 de 265
Talvez, ele esteja certo - talvez eu deva ter um diploma, mas a música é
o que desejo. É minha pele, meu tudo. Não consigo respirar sem ela.
Ele pega uma caneta na mesa de mogno. – Você mencionou a
mudança para Los Angeles com a banda. Imagino que as despesas estão
altas se você quiser se encaixar na multidão certa. Vou dar cem mil.
Caramba. Eu tento evitar que a surpresa apareça no meu rosto. Eu
esperava talvez dez ou vinte se ele estivesse se sentindo magnânimo.
Francamente, estou surpreso por ele mesmo me oferecer qualquer coisa.
Quero dizer, eu teria vindo de qualquer jeito... eventualmente. Ele é meu
pai, e eu ainda anseio sua aprovação depois de todos esses anos.
É possível que ele esteja tentando corrigir?
Ele suspira e se inclina para trás em sua cadeira de couro, uma
expressão cansativa flutuando em seu rosto. As linhas desaparecem dos
olhos e vejo que o cabelo dele diminuiu bastante desde a última vez que
o vi.
– Você fará cinquenta e cinco anos esse mês? – pergunto.
– Estou surpreso que você se lembrou. – ele olhou para mim
olhando para a janela nas terras bem cuidadas da casa, e sigo seus olhos
e vejo a Anne sentada em um dos bancos do jardim. Ela é do tipo dele,
linda e mais jovem do que ele, talvez no início dos quarenta anos. Mas
estou surpreso por ele se casar novamente.
– Depois que a mamãe foi embora, achei que você havia desistido
para sempre de casamento.
Nos anos em que eles estiveram separados, eu nunca soube que ele
teve um relacionamento sério há mais de alguns meses, apenas uma
longa fila de namoradas bonitas que vieram e foram.
– É diferente desta vez com a Anne. – ele esfrega uma ruga na ponta
do nariz.

Página 71 de 265
– Enxaqueca? – pergunto. Elas aparecem quase toda vez que ele me
vê - apenas parte do meu encanto.
– Não. – ele suspira pesadamente.
– Então, o que é?
Há alguns momentos de silêncio, a tensão na sala se movendo de
mim para ele enquanto seu olhar se volta para sua esposa. Seu semblante
se torna suave. – Ela esta grávida.
– Merda. – minha boca se abre. – Como? Por que você não me disse
isso?
Ele ri, o primeiro desde que ele esteve comigo. – Eu não sei. Ainda
estou...se recuperando disso. Nós nos conhecemos em uma convenção
de hotel e pensei que nunca mais a veria, mas então, ela me ligou com as
novidades. – um sorriso incrédulo pisca seu rosto. – Ela já tem cinco
meses. É como... Estou começando de novo.
Estou me recuperando também. – Você já não ouviu falar de
camisinha?
– De fato. – ele se levanta da cadeira e anda pela sala com painéis
escuros. – Anne está tão chocada quanto eu. Foi dito a ela que nunca
teria filhos. – ele faz uma pausa. – Ela adotou a Rose quatro anos atrás.
Ah, interessante. Notei que eles não são favoráveis a todos.
– Anne nunca se casou? – pergunto.
– Não. Ela tentou várias tentativas de fertilização in vitro com um
doador, mas nada funcionou. – um olhar incomum de incerteza cruza
seu rosto. – Nós já tivemos algumas complicações com a gravidez, e as
coisas têm sido tocar-se e sairmos. É importante que você esteja no seu
melhor comportamento em torno da Anne. Primeiro, eu estava um pouco
hesitante, mas agora... Acho que estou bastante feliz.
Eu começo, chamando a atenção.
Página 72 de 265
Bem feliz?
Besteira! Isso é tão bom quanto uma declaração de amor paternal.
É enorme.
Pego no buraco desgastado no meu jeans. – Então, você vai ser um
bom pai? – porque você não estava comigo, está implícito e ele sabe
disso.
Seus olhos de cor de fumo pousam nos meus, e vejo algo lá... talvez
lamento. – Eu quero ser.
Bato meus dedos em minha cadeira, pronto para sair daqui e
processar tudo. Tem sido um dia louco como o inferno... uma meia-irmã
de dezessete anos que eu quero foder, uma nova madrasta que me
desaprova já (eu posso dizer), e agora um bebê novo.
Eu mudo o tópico, voltando ao ponto crucial da questão. Eu sigo
meus dedos e dou a ele um longo olhar. Estar sozinho me ensinou a ir
pelo que eu quero. – Volte ao dinheiro... Farei tudo o que me pedirem
por duzentos mil.
Seus olhos brilham, e vejo um pouco de admiração neles. – Você
está fazendo um acordo comigo?
Concordo. – E você tem que me chamar de Spider. Não mais desta
besteira de Clarence. Cate me deu o nome e é meu. É algo que você não
pode tirar de mim.
Ele tomou outro gole de seu Scotch, seus olhos permanecendo nos
meus antes de ir para a Anne. Ele me olha e acena com a cabeça,
sinalizando que a nossa reunião acabou. – Combinado.

Capítulo Sete
Página 73 de 265
Rose

Este dia inteiro foi bizarro e sugou o ar para fora de mim. A única
maneira de ficar entusiasmada por estar de volta é ligar a "Defying
Gravity" e cantá-la o mais alto que puder enquanto vou para Highland
Park. É a minha música favorita no musical Wicked principalmente
porque é sobre capacitação, sobre saltar para o desconhecido enquanto
você confia em seus instintos e avança com o que acha que está
certo. Eu quero ser essa garota. Desesperadamente quero dar um salto e
ser tudo que já imaginei...
Mas não em Highland Park.
Com um suspiro, cruzo os portões duplos e estaciono ao lado do
Mercedes de Robert.
Anne e eu vivíamos confortavelmente em um subúrbio em Dallas,
mas esta casa é louca. É de tijolos caiados de três andares com detalhes
rurais franceses, desde as persianas rústicas nas janelas altas até a
imensa porta da frente de aspecto medieval. Na parte dos fundos é um
quintal coberto, com duas lareiras, uma piscina em forma de lago de
montanha e uma cozinha ao ar livre que parece que pertence a uma
revista. Além da piscina é um jardim intrincado, completo com um
labirinto de arbustos, bancos de pedra e alcovas. Fica á cerca de cinco
hectares, a propriedade é uma das maiores em Highland Park.
Eu tento imaginar Spider crescendo aqui, mas não posso. Ele não se
encaixa aqui, e nem eu.
Toco a campainha porque não me sinto em casa, e um Spider recém
tomado banho atende, parecendo irritantemente bonito com o cabelo
úmido, usando calça jeans baixas e com uma camiseta preta dos
Beatles. Os meus olhos traidores permanecem em seus ombros bem
definidos.

Página 74 de 265
Um pequeno sorriso brinca em volta dos seus lábios. – Olá,
senhorita Dezessete. – seu sotaque toma conta de mim, cortado, suave e
profundo com camadas.
E assim, estou sob seu feitiço, sugado em seu fascínio de novo. Eu
me lembro do nosso beijo... a magia dele... o jeito que suas mãos
seguraram meu rosto.
Sentindo-me frustrada, afasto esses pensamentos e sentimentos e
passo por ele na sala de estar. – Vamos esclarecer uma coisa, meio-
irmão, seu sotaque sexy não vai funcionar em mim.
– Nunca disse que iria, meia-irmã. – ele se inclina contra a parede e
seus olhos de cobre derivam preguiçosamente sobre a minha roupa. Seu
lábio se curva. – Você usou isso em meu benefício?
Endireito meus ombros e o meu corpo, automaticamente lembrando
das lições de comportamento que tive. Sim, usava o vestido vermelho e
os saltos. E eu pareço bem.
Eu passo por ele, como uma gazela... talvez. – Eu usei para mim. –
mentira.
– Não estou surpreso. Eu não valho a pena para você se vestir. Você
está linda, a propósito. – ele olha pensativo, enquanto olha para mim, e
eu suspiro, lembrando-me que ele é meu novo meio-irmão, e tenho que
ser uma adulta e me dar bem com ele. Eu passo o meu olhar sobre a sua
roupa. – Sem regata de malha? Devo confessar, vou sentir falta de todas
aquelas tatuagens em exibição.
Ele me dá um rápido olhar, como se estivesse tentando descobrir se
estou brincando com ele ou não. Seus olhos procuram os meus e eu
sorrio, só um pouco.
Uma risada rouca escapa dele, e pela primeira vez desde a coisa
toda com a comissária de bordo, há um ligeiro alívio entre nós.

Página 75 de 265
Pigarreio e estendo a minha mão. – Eu espero que possamos ser
amigos. O que você acha?
Ele pega a minha mão e isso é como faíscas sobre a minha pele. –
Por mim, tudo bem.
Eu levanto uma sobrancelha. – Fingir não se importar é geralmente
a tendência de alguém que realmente se importa mais... Clarence.
Ele joga a cabeça para trás e ri, o som nítido e profundo. Isso acende
uma lembrança em mim, uma da minha infância. Eu me agarro para
segurá-la, mas ela se afasta rapidamente.
Nossas mãos se separam, um pouco relutantemente, enquanto seus
olhos brilham para mim. – Você sabe, odeio esse nome com uma paixão,
mas quando escuto em seus lábios... não muito.
– Estou falando sério. É chamado de mecanismo de defesa e as
pessoas fazem isso para não se machucar.
Ele olha de lado para mim. – Alguém já te disse que você lê muito
as coisas?
– Talvez. – olho para as minhas mãos, percebendo que elas estão
nervosamente torcendo as alças da minha pequena bolsa. Tenho o meu
próprio diz. – Eu gosto de analisar as pessoas.
– E o que você descobriu sobre mim? – seus olhos olham para os
meus antes de olhar para si mesmo no espelho. É como se ele estivesse
com medo de me olhar por muito tempo, e eu me pergunto o porque.
Insiro minha voz com confiança que eu realmente não tenho. – Que
você é perigoso.
– Eu? Por quê?
Eu mordo o meu lábio inferior. – Você não se importa com quem se
machuca para evitar sentir qualquer coisa, o que provavelmente significa
que você se machucou no passado. Você tem demônios.
Página 76 de 265
Ele paralisa, seu olhar voltando para o meu rosto. – Parece que você
me pegou, então.
Eu hesito. – Todos nós temos demônios, certo? De alguma forma ou
outra.
Ele apenas olha para mim. – Qual é o seu demônio, Rose?
– Eu não pertenço aqui. É como se eu estivesse jogando um jogo de
fingir. – olho em volta da casa grande. – Este não é o tipo de lar a que
estou acostumada. É o mesmo quando estou em Claremont. Não me
encaixo com aquelas crianças. Eu cresci em Tin Town, provavelmente
não o que você esperaria.
Ele me observa enquanto falo - ou mais como divagar - me
deixando nervosa.
– Nunca me encaixei em qualquer lugar, quando estava na escola
preparatória. – ele faz uma pausa. – Você não é nada como eu
esperava. Quando o Robert mencionou uma meia-irmã mais jovem ao
telefone, imaginei uma menininha de tranças e uniforme escolar.
– Eu tenho um uniforme escolar.
Uma expressão séria aparece em seu rosto. – Você sabe, eu nunca
teria beijado você se soubesse a sua verdadeira idade. Eu sei melhor que
isso.
Eu fiquei rígida, me sentindo defensiva. Lembro-me dos dias em
que cresci, dos lares adotivos, dos tempos em que tive que lutar para
defender minha virtude. – Eu posso ter dezessete anos, mas não sou uma
criança.
Robert aparece na sala de estar, com os seus olhos saltando de mim
para o Spider, com o seu olhar procurando.
– Tudo bem aqui fora?

Página 77 de 265
Eu aceno enquanto o Spider se levanta e passa por nós para entrar
na sala de estar formal.
É um lugar espaçoso com um teto com vigas e uma lareira
emoldurada por pedras caiadas de branco. O ponto focal da sala é o par
de desenhos a carvão que estão pendurados na parede atrás do couro
creme seccional.
Spider pisca enquanto caminha pela mesa de café e fica na frente
das fotos. Meu interesse despertou, eu o sigo enquanto o Robert se move
para tomar uma bebida no bar. Eu estou ao lado de Spider, nossos
ombros não se tocam quando olhamos para a arte.
O da direita é uma casa de estilo Tudor feita de pedra com brocas
intrincadas e portas em arco. O outro é um garotinho deitado de barriga
para cima na grama enquanto olha para o céu com um grande sorriso no
rosto. É perfeitamente travesso.
Os observo de perto, observando a qualidade infantil da arte. Acho
que vejo o nome dele rabiscado no canto de um dos desenhos. – Seu?
Ele acena, indicando o desenho à direita. – Apenas o da casa. O
outro foi desenhado por minha irmã Cate.
Um fantasma de sorriso passa pela boca de Spider. – Nós dois
gostávamos de desenhar, mas ela sempre foi melhor em desenhar
pessoas.
Seus dedos são mágicos com uma guitarra, então não é surpresa que
ele possa desenhar também. – Ambos são muito bons. – eu me movo em
direção ao menino. – Aposto que você era dava trabalho.
– Eu tive a atenção de um mosquito. – um longo suspiro vem dele. –
Eu era o assunto favorito dela. Ela quis dizer... muito para mim. – a
escuridão cruza o seu rosto, e imediatamente quero fazer isso ir embora.
– É onde você cresceu? – inclino minha cabeça para a casa.

Página 78 de 265
Ele concorda. – Essa era a propriedade da nossa família, a minha
verdadeira casa, e nós tivemos a corrida. Mamãe e papai tinham ido
muito longe, mas com a Cate por perto, sempre havia algo para fazer. –
ele enfiou as mãos nos bolsos. – Já faz um tempo desde que vi isso. Eu
nem sabia que ele as colocou aqui.
– Por que você saiu de Londres? – ele fez alusão a isso mais cedo no
avião com seu novo comentário, mas estou curiosa para saber mais.
– Meu pai... ele queria ficar longe das memórias.
– Que memórias?
Seus olhos se voltam para mim e você sabe que os olhos são as
janelas para a alma? Li os dele. Os luminosos olhos âmbares de Spider
me encantam, me capturando com sua solidão.
Minha respiração fica presa.
Ele abre a boca para dizer algo mais, mas a voz de Robert vem do
outro lado da sala, interrompendo nossa conversa. – Rose, me fale sobre
suas aulas neste semestre. Como está indo? – há uma qualidade nítida
em sua voz, e eu me viro para observá-lo enquanto ele atravessa a sala
em nossa direção, com as suas calças cuidadosamente vincadas se
movendo a cada passo.
Franzo a testa. Ele claramente se preocupa com a Anne, e eu gosto
muito dele, principalmente porque ele amacia a Anne e a faz feliz, me
dando mais espaço. Mas é claro que ele não quer que o Spider esteja
perto de mim. Notei isso mais cedo na porta quando ele nos observava -
e agora ele está tentando interromper as nossas conversas obviamente
privadas.
Como se o Spider sentisse a tensão no ar, ele se afastou de mim e se
sentou no sofá.

Página 79 de 265
Ele vai aprender que eu não desisto tão fácil. Algo sobre ele me faz
querer cavar por mais. Eu quero a história dele.
Estou salva de mais conversas enquanto a Anne entra na sala, linda
em um vestido rosa, que esconde artisticamente sua barriga crescendo.
Ela passa os olhos pelo meu vestido vermelho, parando na barra e
uma pequena ruga se forma em sua testa. – Eu não acho que já vi você
usar isso.
É o jeito dela de dizer que pareço horrível.
Sentindo-me autoconsciente, eu toco o corpete da roupa de seda. – É
algo que o Oscar encontrou para mim em uma de suas lojas de
consignação. É vintage, eu acho. Gosto dele. – eu me incomodo, me
sentindo desconfortável enquanto sua carranca cresce. Ela passa os olhos
pelo meu cabelo e eu estou feliz que o uso solto, já que cobre a
tatuagem.
– Eu não. – diz ela.
Robert coloca um braço ao redor da Anne. – Ela está linda,
querida. Não dê a ela um tempo difícil.
Os lábios de Anne se apertam e não estou surpresa. Eu esperava sua
desaprovação e usei mesmo assim. Raramente me rebelo contra ela, mas
ultimamente com toda a coisa da NYU, eu me sinto impaciente.
Ela suspira. – Da próxima vez que você vier, vista-se mais
modestamente. Esse vestido é muito curto e dá a impressão errada. –ela
sorri brilhantemente para mim como costuma fazer depois de uma
crítica. Chamo isso de rotina de “cortar e abraçar”. Ela se vira para
Robert, sem esperar pela minha resposta. – Agora, que tal um
refrigerante?

Página 80 de 265
– Caramba, eles são um pouco assustadores. – Spider sussurra atrás
de mim, enquanto o Robert e a Anne caminham até o bar para que ele
possa trazer para ela uma água tônica.
– O que você quer dizer? – pergunto, virando para encará-lo.
Ele coloca as palmas em sua tatuagem de aranha. – Quero dizer, o
meu pai está agindo estranho e a Anne está... bastante rigorosa. –ele olha
para mim, demorando-se no corpete do meu vestido e eu sinto me
arrepiar. – Não dê ouvidos a ela. Eu amo o vestido. – ele sorri. – Afinal,
você usou para mim, certo?
Eu balancei minha cabeça para ele. Ele vai do fundo ao arrogante no
espaço de alguns minutos. Eu não posso acompanhá-lo.
– Anne é grande em aparências. Ela não quer que eu me transforme
em minha mãe, e sua maneira de garantir que isso não aconteça é para
me dizer cada movimento a ser feito. – suspiro.
– Não deixe que ela esmague o seu espírito. – ele procura o meu
rosto. – Se você quiser conversar, eu estou aqui - como um meio-irmão,
é claro.
Eu nos imagino conversando... depois nos beijando... então, fazendo
mais. Imagino suas mãos no meu corpo, deslizando sob meu vestido...
Merda. De onde veio isso? Respiro fundo. Esqueça esses
pensamentos, Rose.
Eu concordo. – Certo.

Página 81 de 265
Depois do jantar, Spider pede licença para subir as escadas para seu
quarto. Ele mencionou que vai ficar na cobertura, mas ainda não está
nessa direção.
Ele mal disse muito durante a refeição de cinco pratos, com os olhos
fixos no prato. Eu não gosto que ele seja diferente em torno do Robert e
a Anne. Eu quero o meu Inglês Irritante do avião.
Vinte minutos depois, ele desce as escadas vestido com shorts
pretos de ginástica e uma camisa esportiva.
– Correndo? – pergunto estupidamente enquanto ele caminha até a
porta da frente.
– Sim. Eu preciso sair deste lugar por um tempo. – com a mão na
maçaneta da porta, ele olha de volta para mim. – Você quer vir?
Eu lhe envio um olhar irônico. – Meus saltos não foram feitos para
correr. Eu estava pensando que poderíamos pegar o Robert e a Anne e
jogar alguns jogos. Caça-palavras?
– Caça-palavras? Com o meu pai? – seu rosto está surpreso, e posso
ver que ele provavelmente nunca jogou muitos jogos com o
Robert. Novamente, eu me pergunto o que há entre eles, e parte de mim,
a parte que é como a vovó, quer analisar o relacionamento deles e talvez
ajudar a consertá-lo.
– Pode ser divertido se conhecer melhor.
Ele balança a cabeça e se afasta. – Eu nem sei que porra de universo
isso é. Eu tenho que ir.
A porta se abre e ele se vai, sua forma alta escapando pela noite.
Fico na porta aberta e o vejo desaparecer enquanto ele corre para
longe.

Página 82 de 265
Jogamos uma rodada de caça-palavras, e às dez, o Robert se retira
para dar a Anne e a mim algum tempo sozinha.
Como de costume, nossa conversa é formal e muito trivial. Ela não
é uma pessoa calorosa e vaga.
– Então, como foi NYU? – sua voz tem um tom de preocupação.
– Eles têm um ótimo prédio de psicologia, e um dos professores
com quem conversei é de Dallas. Seria como um pouco de casa. –
prendo a respiração. – Eu gostaria de ir para a NYU.
Ela sacode a cabeça. – Eu quero que você fique por perto. O bebê
estará aqui em breve, você não quer estar aqui? Poderia precisar de ajuda
nos fins de semana.
Ela não vai precisar da minha ajuda. Já a ouvi e o Robert discutindo
a contratação de uma babá. – Eu poderia voltar para casa para as férias.
Ela me dá um olhar - você sabe qual, como se eu deveria saber a
resposta antes mesmo de perguntar. – Dói-me até mesmo ouvir você
falar dessa maneira. – ela dá um tapinha na minha perna. – Vamos
colocar um alfinete na coisa da NYU por um tempo, ok? Veja como as
coisas vão no ano que vem?
Ela está me protegendo e eu fico rígida. – Eu sempre posso pagar
por isso sozinha. – eu digo. – Estou trabalhando três noites por semana
no Jo's. – Jo's é uma lanchonete da região onde sirvo mesas desde agosto
passado. Gosto de trabalhar porque me faz sentir que tenho um
propósito. Anne não aprovou a minha decisão de trabalhar, mas eu
insisti. Ela teria preferido que eu trabalhasse no clube de campo ou em
uma das butiques da cidade, mas não era eu.

Página 83 de 265
Ela franze a testa e esfrega a barriga. – Isso é ridículo. Você não vai
ganhar dinheiro para a NYU na lanchonete. Além disso, você está muito
atrasada para se candidatar a este ano.
Eu suspiro. Obviamente, o Robert e a Anne têm o dinheiro para me
mandar para a NYU - Winston é tão cara - que ela simplesmente não
quer que eu vá porque ela gosta de me ter por perto para me controlar. E
porque ela já fez tanto por mim, eu odeio pedir a ela qualquer coisa que
ela não queira me dar. Talvez, o novo bebê a mude.
Mas ainda...
Essa coisa da NYU...
Eu não posso deixar isso para sempre... mas eu posso deixar passar
por agora.
A voz da Anne me puxa de volta. Ela está se levantando do sofá e
presumo que ela está indo para a cama. Ela caminha até mim, seus olhos
procurando. – Além disso, notei que você encarava muito o Spider
durante o jantar. Quero que você seja educada com ele, mas ele tem uma
história de uso de drogas e, claro, ele está em sua música. Você sabe que
tipo de estilo de vida que esses tipos têm.
Eu suspiro, irritada com ela. Novamente. Às vezes parece que a
Anne é a criança e eu sou a adulta. – Spider está bem. Eu gosto dele.
Ela levanta as sobrancelhas. – Só não goste muito dele.
– Sim, senhora.
Eu não digo a ela que é tarde demais.

Página 84 de 265
Capítulo Oito
Spider

Eu corro.
Corro até que não possa respirar e meu peito dói.
Suado e cansado, eu paro em um parque próximo com muitos postes
para recuperar o fôlego. Minha cabeça está cheia de meu pai, sua nova
esposa e a Rose.
Tudo dentro de mim parece de cabeça para baixo no meu dia
louco. Eu esfrego o meu rosto. Às vezes, o exercício mantém os desejos
à distância, mas, no momento, não está funcionando.
Eu preciso de algo forte para afugentar tudo.
Exausto, eu coloco minha bunda em um banco e faço um plano para
a noite. Poderia voltar para casa durante a noite, mas por algum motivo
estou com medo e isso tem muito a ver com a Rose. Eu preciso ficar
longe dela. Mesmo que mal a conheça, ela de alguma forma conseguiu
ficar sob a minha pele.
Eu solto um longo suspiro, sentindo-me sozinho. Eles estão lá atrás
em casa rindo e jogando caça-palavras. Eles são uma família e eu não
me encaixo.
Mudo de direção e penso sobre a nossa banda e como nós estivemos
na estrada nos últimos meses, tocando em bares e pequenos espetáculos
por todos os EUA. Fizemos bem em não ter uma gravadora. Não é muito
dinheiro, mas é o suficiente para nos levar a encontrar uma residência
permanente em LA, em algum lugar para criar raízes. Sebastian é de lá e

Página 85 de 265
conhece alguns produtores de discos com quem queremos trabalhar. Ele
é a única família que eu realmente tenho...
O que me traz de volta ao jogo de caça-palavras.
Porra. Eu realmente não quero voltar para aquela mansão. Depois de
pensar, decido pegar minhas roupas e guitarra amanhã. Eu chamo um
Uber para me levar ao The Galleria para comprar o básico: jeans,
algumas camisas aleatórias, um par de chinelos de couro e roupas
íntimas. Depois das minhas compras, vou para a cobertura tomar banho.
Uma hora depois, estou sentada em um bar em Uptown. Peço uma
dose de tequila no momento em que uma morena curvilínea se aproxima
de mim. Ela me lembra da Rose com seu cabelo comprido, mas ela tem
aquela vibe de garota rica que reconheço a um quilometro de distância -
cara petulante, bolsa cara, e peitos comprados.
Ela diz que o nome dela é Kirsten e eu compro uma bebida para
ela. Inferno, eu compro várias bebidas para ela.
Nós nos esgueiramos para o banheiro e eu a puxo para uma cabine
onde fazemos uma fileira de cocaína juntos e ela me chupa. Mais tarde,
eu me jogo na pista de dança para alguma música techno que eu
geralmente odeio. Eu me sinto incrível. A vida é boa. Eu posso lidar
com qualquer coisa com uma bebida, uma menina e um pouco de
cocaína.
Uma hora depois, estamos tomando mais bebidas quando ela
sussurra no meu ouvido e suas mãos esfregando o meu peito. – Meu
carro está do lado de fora e meu condomínio fica a um quilômetro
daqui. Você quer fazer essa festa lá?
Eu sorrio para ela.
Eu nem sequer paro. – Claro.

Página 86 de 265
Ela fica na ponta dos pés para me beijar, mas evito seus lábios com
uma rápida virada do meu rosto.
Rose aparece na minha cabeça, com seus grandes olhos verdes e o
jeito que ela me observa. Ela sabe que eu sou um impostor - que tenho
um maldito mecanismo de defesa de todas as coisas.
Eu tenho que esquecê-la.
– Vamos sair. – eu digo para a menina.
Pago a conta e entramos em um Lexus branco. Ela nos leva, mesmo
que ela provavelmente esteja bêbada. Os postes de luz piscam enquanto
recosto no interior de couro.
– Você é de Dallas? – a garota me pergunta, e percebo que mal
trocamos informações pessoais pelos nossos nomes.
Grunho uma afirmação, não querendo falar com ela. Dallas apenas
me lembra que o meu pai está começando tudo de novo com uma nova
família quando ele nunca foi realmente a minha.
Nós estacionamos e eu caminho até a porta dela antes de começar a
ficar quente, e não de um jeito bom. Eu sinto que posso estar doente. O
ar diminui e eu suspiro alto.
– O que há de errado? – ela pergunta.
Porra, qual era o nome dela?
Ela coloca a mão no meu ombro e me afasto. Meu estômago revira
com o pensamento de rolar com ela em uma cama que não é
minha. Claro, me sinto bem e me faz esquecer, mas eu sempre me sinto
vazio depois.
Porra. Eu me sinto vazio já.
Minha embriaguez se foi e estou deixando de funcionar.
Apenas vá lá e transe com ela.
Página 87 de 265
Você se sentirá melhor.
Você vai esquecer que decepção você é para o seu pai.
Você vai esquecer a Rose.
Ela envolve uma mão em volta do meu bíceps e aperta. – Ei, baby,
não seja tímido. Deixe-me fazer você se sentir bem.
Eu olho para ela. Seus olhos são azuis quando o que eu realmente
quero é verde.
Eu me afasto dela.
– Onde você está indo? – seu rosto está confuso.
– Não sei, provavelmente para o inferno. – murmuro, em seguida,
corro, descendo os degraus na escada dois de cada vez.

Página 88 de 265
Capítulo Nove
Rose

Na próxima vez que vejo o Spider, são alguns dias depois e no lugar
mais inesperado.
– O pedido está pronto, Rose. – isso vem de Archie, o cozinheiro
chefe do Restaurante do Jo, uma réplica fofa de um restaurante dos anos
cinquenta. Ele desliza dois pratos sob a lâmpada de calor, um
hambúrguer do lado de batatas fritas picantes e outro com uma salada ao
lado de um frango grelhado.
Eu aceno, colocando as mechas errantes da minha trança francesa
atrás das minhas orelhas. É uma noite de semana e volte a escola, junto
com meu trabalho de meio período.
Colocando os pratos na minha bandeja junto com os refis de bebida,
eu levo o pedido até a mesa onde a Lexa e o Oscar estão sentados,
fingindo fazer o dever de casa enquanto eles me irritam no trabalho. Eu
coloco na frente deles.
Lexa levanta uma sobrancelha escura cuidadosamente desenhada.
Eu reviro meus olhos. – E agora?
– Oi? Eu preciso de molho para a minha salada.
Eu assopro os fios de cabelo que escaparam e estão fazendo cócegas
na minha testa. – Você sabe onde é. – aponto para o bar ao longo da
parede do fundo do restaurante, que é revestido com dispensadores de
refrigerante, guardanapos e uma variedade de condimentos. Na verdade,
é uma configuração bem legal. – Pegue você mesmo.
Página 89 de 265
Oscar bufa. – Sim, vaca. Não há funcionárias aqui no Jo.
Mandei a ele um aceno de gratidão e me movi para a mesa que a
recepcionista estava sentada, uma ao lado das janelas do restaurante.
Eu pisco com a imagem na minha frente.
Spider Wainwright está sentado em uma cabine, parecendo bastante
confuso e fora do lugar. Ele está vestindo jeans, uma camisa apertada da
Vital Rejects que acentua perfeitamente os seus bíceps e um par de
Converse preto.
– Você. – digo, praticamente sem nada.
– Eu. – ele sorri ironicamente e brinca com o cardápio. Quase
timidamente, ele olha para mim, seus olhos absorvem minhas meias
Keds, o jeans boyfriends enrolado e a polo preta com o logotipo
vermelho de um hambúrguer do Jo. Há um pequeno avental amarrado na
minha cintura.
As meias e polo horrível são um requisito para trabalhar aqui, e não
é exatamente fofo. Com um cheiro permanente de batatas fritas, é a
roupa mais legal de todos os tempos, mas em uma boa noite, eu posso
ganhar uma centena de gorjetas sozinha.
– O que você está fazendo aqui? – pergunto.
– Eu vim para te ver.
Ele está aqui... em Jo... e ele veio me ver.
Uma enxurrada de borboletas enlouqueceu no meu estômago.
– Como você sabia que eu trabalhava aqui?
Ele encolhe os ombros. – O meu pai mencionou quando peguei
minhas coisas esta semana. – um olhar pensativo cruza seu rosto. – Ele
gosta de você. Posso dizer pelo jeito que ele fala sobre você.
Eu fico lá, tentando parecer legal. – Você gostaria de pedir algo?
Página 90 de 265
Ele olha para o cardápio na mesa. Ele está nervoso, com seus dedos
batendo na mesa. – O que você recomenda?
Enfio minhas mãos nos bolsos do meu avental, dedilhando o
dinheiro que juntei desde que comecei a trabalhar hoje à noite. – Nossos
milk-shakes são ótimos.
– Hummm, sim. – diz ele enquanto olha para mim. Seus olhos estão
nos meus lábios.
– Você gostaria de um?
– O que?
Eu mordo meu lábio para não rir. Acho que estou distraindo ele e
nem estou tentando. – Um milk-shake?
Ele olha para o cardápio enquanto o rubor denuncia seu rosto. – Ah,
certo. Sim, por favor, um de chocolate. E um hambúrguer e batatas fritas
- quero dizer batatas fritas.
Ele não está tão arrogante como de costume, e eu estou perplexa.
– O que há com você? – pergunto.
Ele esfrega o queixo. – Só pensei em parar e ver uma... amiga? Isto
é, se ela ainda quer ser a minha amiga? – seus olhos castanhos estão
hesitantes enquanto ele me observa.
– Ela quer.
Ele concorda. – Na verdade, recebi boas notícias hoje e queria
contar-lhe sobre isso.
– Ah? O que é?
– Rose, pedido. – ouço Archie chamar da parte dos fundos.

Página 91 de 265
Spider olha em volta, como se estivesse surpreso em se encontrar
lá. – Pode demorar um pouco para lhe dizer. Você pode se juntar a mim
quando meu pedido estiver pronto?
Olho em volta para a minha seção embalada. Tenho dois caras da
fraternidade cujos pedidos estão cozinhando.
Eu tenho pausas, mas nunca durante o expediente, e desde que é a
primeira semana de volta das férias, todo mundo está entrando no Jo
para socializar ou pegar o jantar.
– É muito louco aqui, mas saio em duas horas. Podemos sair, então?
Diga sim.
Eu quero falar com ele mais. Eu quero...
Ele faz uma careta. – Droga. Já fiz planos com alguns amigos com
quem fui para a escola.
– Ah? Aonde você vai? Talvez, eu possa ir junto?
No começo, eu estou surpresa com a minha franqueza, mas depois
decido que está tudo bem. Tudo com o Spider parece ser
assim... impermanente, como se ele pudesse desaparecer em um instante,
então por que não colocar tudo já para fora?
Ele encolhe os ombros. – Para um bar no centro da cidade.
– Ah.
Ele franze a testa. – Provavelmente não é uma boa idéia para você
se juntar a mim.
– Verdade.
Lutando contra a minha decepção, digo a ele que preciso fazer o
pedido dele e ir embora. Meu caminho me leva além de Oscar e Lexa,
que estão sussurrando furiosamente quando me aproximo. Lexa acena

Página 92 de 265
para mim, seus dedos apontando para o Spider, com seus olhos grandes
como pires.
Oscar tem o cardápio escondendo metade de seu rosto enquanto ele
o examina. Spider acena também, obviamente percebendo sua atenção.
Querido Jesus. Eles são ridículos.
– É ele? – Lexa sussurra quando chego à mesa deles.
Eu arregalo meus olhos para ela. – Pare de cobiçá-lo.
– Ah. Meu. Deus. Ele é a criatura mais linda já criada. O cabelo
dele... essa tatuagem... Eu quero morrer. Por favor, por favor, por favor
com açúcar no topo você vai nos apresentar? – Oscar diz, segurando as
mãos como se estivesse implorando.
Eu olho para o teto em frustração. – Você tem idade suficiente para
fazer fan-boy sozinho. Você não precisa da minha ajuda.
O sino acima da porta soa quando o Trenton e seu companheiro de
equipe Garrett entram no restaurante. Rico, atlético e atraente, ambos
são premiados na Claremont. Aria Romero, prima de Trenton e garota
malvada da primeira elite, segue atrás deles. Ela está namorando Garrett,
que tem o tipo de cara que está definido em um sorriso permanente, e
seus olhos estão constantemente colados ao meu peito.
Eles são o alto escalão de Claremont e eu estou no fundo - não que
eu me importe.
– É como um anúncio da J.Crew. – Oscar diz com um sorriso
enquanto valsam na porta e todos os olhos se voltam para eles. – Tão
chato. O que aconteceu em ser um indivíduo?
Bato na boina que ele está usando. – Nem todo mundo é tão
elegante quanto você.
Oscar bate os cílios. – Ah, cale-se, você vai me fazer corar.

Página 93 de 265
Os olhos de Aria passaram pelo lugar e pousaram em nós, fazendo
minhas mãos apertarem em torno da minha bandeja.
Ela é linda com cabelo castanho encaracolado, uma silhueta de
ampulheta e uma língua que pode esfolar um peixe. Seus olhos são azuis
e árticos.
Quando cheguei pela primeira vez ao primeiro ano de Claremont,
ela adorava me dizer o quanto estava arrependida por eu não ter
escolhido o clube social em Claremont. O Claremont Chicks não achou
que meu “fundo superficial” se encaixaria com eles.
Desnecessário dizer que eu faço o meu melhor para evitá-la.
– A vadia número um da Claremont, está na nossa direção. –
exclama Oscar, dizendo em voz alta, enquanto a recepcionista os
acompanha mais para dentro. Ele também não suporta a Aria, e suspeito
que seja porque ela tem como alvo alguém que é um pouco diferente da
norma, o que certamente inclui Oscar. – Vamos todos aplaudir. – ele
começa um lento aplauso insultuoso até que eu escovo suas mãos para
detê-lo.
Os olhos de Trenton encontram os meus e ele acena, seu olhar passa
sobre mim. Corando, eu aceno de volta. Um jogador de beisebol e cara
legal, eu conversei com ele algumas vezes desde que voltei, mas a
maioria tem sido na aula.
– Você acha que Aria vai ser legal? – Lexa diz enquanto endireita a
camisa.
Oscar geme para ela. – Por que você se importa tanto em estar nos
Claremont? O ano letivo está quase no fim.
Ele e eu batemos as mãos. – Amém. – eu digo. – Sugiro que nós
definitivamente colocamos a Aria na sua lista de oração. Ela precisa de
toda ajuda que puder para ser um ser humano decente.

Página 94 de 265
Oscar bufa ao meu comentário enquanto a Lexa reaplica seu batom
e fala sobre isso. – Aria Romero faz parte do grupo que planeja o Baile
de Primavera. Talvez eu queira ir.
Disse a eles sobre o Trenton me convidando. Eles não foram
convidados ainda. Honestamente, não será muito divertido se os meus
amigos não estiverem lá.
Eu suspiro e olho para a Lexa. – O melhor indicador de um
comportamento futuro é o comportamento passado, então, é altamente
duvidoso que ela seja legal. – pego seus pratos agora vazios e dou um
passo para trás, ansiosa para sair antes que a Aria chegue a mesa. –
Estou saindo antes que ela chegue e descubramos com certeza. Tchau!
Corro de volta para a cozinha para pegar o milk-shake do Spider e
ponho seu pedido de comida, enquanto rezo para que a recepcionista não
coloque o novo trio em minha seção.

Página 95 de 265
Capítulo Dez
Rose

Chego a um impasse quando saio da cozinha com o milk-shake do


Spider e outro pedido para uma mesa diferente. A recepcionista está
juntando mesas para colocar a Lexa, Oscar, Trenton, Garrett, Aria e
Spider juntos. Na mesma mesa.
Eu quase deixo cair a minha bandeja. O que eu perdi?
Caminho até eles depois de deixar os outros itens, não perdendo que
a Aria está sentada ao lado do Spider, mais perto do que um saquinho de
embalar alimentos, sua cabeça inclinada para ele enquanto ele olha para
algo em seu celular.
Garrett encara o Spider e a Aria, e me pergunto se eles estão ligados
ou de folga neste mês. A julgar pelo quanto perto ela está do Spider,
estou supondo que eles estão de folga.
Coloquei o milk-shake na frente dele. – Vejo que você encontrou
algumas... companhias.
Oscar sorri, sentado do outro lado do Spider. – Eu me apresentei a
ele. – seus olhos se voltaram para a Aria - e então, o resto deles insistiu
em uma apresentação. Então, a Aria sugeriu que todos sentássemos
juntos. Não foi legal?
Eu olho para a Aria e ela está sorrindo. – Não sabia que você tinha
um famoso rockstar como meio-irmão, Rose. – ela pisca. – E você
provavelmente não sabe disso porque você não é de Highland Park, mas
o pai do Spider e o meu costumavam jogar golfe juntos. – ela dá um

Página 96 de 265
sorriso para o Spider e balança o dedo para ele. – Você tinha uma boa
reputação de encrenqueiro por aqui no passado. Eu me lembro daquelas
histórias malucas sobre você ser o cara festeiro...
– Que legal. – eu digo, interrompendo-a. – Deve ser super, ser de
Highland Park.
Aria me dá um olhar sombrio, mas a ignoro e olho para o Spider,
concentrando-me na parte de seu comentário que me interessa. –
Famoso?
Spider pigarreia, com um brilho de excitação em seus olhos
castanhos. – É a minha grande novidade: nosso videoclipe está se
tornando viral. Sebastian ligou hoje para me avisar. Não só isso, mas
estações de rádio estão pegando e tocando nossa música. Isso é louco. –
um sorriso lento se espalha em seu rosto. – Eu ia lhe contar primeiro,
mas aparentemente a Aria viu isso no TMZ esta noite e me reconheceu.
– ele sorri. – Parece que "Superhero" vai ser um grande sucesso.
Ah.
O espanto me preenche e sorrio amplamente - exatamente quando a
mão de Aria toca seu ombro.
Meus lábios pressionam.
Ela aponta para o celular. – Olha, encontrei seu vídeo. Ele já tem
um milhão de visualizações. – ela segura o telefone, e olho para o vídeo
no YouTube, onde o Spider e a sua banda estão tocando sua música
“Superhero” no telhado de um arranha-céu no que parece ser Nova
York. Assim como no programa, Spider está usando seu casaco de vison
azul e a cueca com estampa de leopardo, mostrando seu pacote e suas
tatuagens. Isso é um pouco exagerado, mas ele também. Eu vejo como
ele se move com sua guitarra, seu corpo se curvando e movendo com a
música. Os meus olhos traçam o seu peito esculpido, ansiosamente

Página 97 de 265
absorvendo a linha V finamente esculpida onde sua cintura desaparece
em sua pélvis.
Ele é sexy com um lado da música pesada. E isso faz meu coração
disparar.
Seu braço encosta no meu enquanto ele coloca a mão na mesa para
ficar de pé, para que possa assistir comigo. Como se o meu corpo tivesse
uma mente própria, me inclino mais perto dele. – Eu amo essa
música. – murmuro.
– Você gosta mais do que "Albatross"? – sua voz é sexy e bem ao
meu lado, com o calor de seu corpo intoxicante. Sei que se eu virar para
encará-lo, nossos rostos estariam a centímetros de distância.
Eu lambo meus lábios. – Amo “Albatross” porque você canta... e é
uma balada.
– Vou pensar em você na próxima vez que eu cantar. – diz ele
suavemente.
– Sim?
– Definitivamente.
Parece como se houvesse uma corrente passando de mim para ele, e
se eu chegar mais perto, se eu tocá-lo, vou ficar frita, mas meu corpo
não se importa. Eu me viro para encará-lo, e é evidente que estamos
invadindo o espaço pessoal um do outro, mas nenhum de nós parece se
importar. Seus olhos olham para mim, com o seu olhar procurando o
meu. Minha respiração está parada. Ele está tão perto de mim e, por um
momento, parece que estamos sozinhos...
– Sinto muito. – diz Aria, interrompendo os meus pensamentos. –
Você pode nos dar alguns menus, por favor?
Spider parece sair de um nevoeiro, se afastando de mim e sentando
ao lado de Aria.
Página 98 de 265
Ainda estou me recuperando da intensidade dele quando o Trenton
bate o Ray-Ban na mesa para chamar minha atenção.
Eu quase esqueci que ele estava aqui.
– Ei, Rose. Como está indo? – ele me dá o seu famoso aceno com
o seu queixo sexy. – Você parece ótima. Sentimos sua falta no Jo
enquanto você estava fora.
Eu sorrio. Ele mencionou que ficou na cidade nas férias. – Isso é
gentil. Obrigada.
Aria revira os olhos, mas Trenton não vê. Ela é boa em esconder o
que uma garota malvada é.
Eu me concentro em Trenton. Esta noite ele está vestindo uma
camisa da Claremont, jeans e um boné de beisebol. Classicamente
bonito e de uma família rica, ele poderia namorar qualquer uma que ele
quisesse. Não sei por que ele está interessado em mim, a não ser que eu
não o persiga ou mande uma mensagem ou tente chamar a sua
atenção. Tivemos em um laboratório de biologia juntos no primeiro ano,
e embora ele estivesse namorando alguém na época, havia uma faísca de
atração lá. Ele já se separou daquela garota, e parece que estamos nos
aproximando um do outro, decidindo se realmente gostamos um do
outro ou não.
– Recebi minha carta de aceitação da NYU. Estou muito feliz. – diz
Trenton para mim. – Já te disseram alguma coisa?
Concordo. – Fui aceita. – mas isso não significa que eu esteja
indo. Não digo essa parte porque não quero ser chata e não quero
estragar a sua animação pela sua própria aceitação.
Ele se levanta, obviamente animado quando ele vem para onde eu
estou e me pega e me dá um abraço. – Isso é incrível, Rose! Estou feliz
que nós dois estaremos lá.

Página 99 de 265
Ele me abaixa e sinto o calor do olhar de Spider em mim. Quando
olho para o Spider, seu rosto é inescrutável, exceto por um tique
revelador em sua mandíbula, e me pergunto o que isso significa.
Eu acho que sei. Ele não gosta do Trenton.
A voz de Aria, irritantemente estridente, interrompe. – Eu não tenho
certeza do que é preciso para pedir um pouco de comida por aqui, mas
tenho certeza que gostaria.
Trenton acena para ela. – Calma aí. Esta é uma grande notícia. Nova
York é uma cidade grande e vai ser bom conhecer algumas pessoas lá. –
ele sorri para mim, com os dentes retos e brancos contra a pele
bronzeada. – Talvez, tenhamos algumas aulas juntos.
Se eu for embora...
– Que bom. – diz Spider e ouço o sarcasmo em sua voz. Felizmente,
ninguém mais parece notar ou se o fizeram, eles não reconhecem isso.
Dou uma olhada para ele, observando a maneira como ele está
observando o Trenton.
Trenton não parece notar porque seu olhar azul celeste está em mim.
Eu me sinto desconfortável e estou prestes a sair correndo para
pegar alguns cardápios para fugir quando o Oscar cobre seu coração com
a mão. – A música do Spider e a aceitação do Trenton para a NYU são
incríveis, mas você sabe o que tornaria este momento verdadeiramente
maravilhoso?
– O que? – Aria diz quando ela olha para o Trenton e para mim. Ela
está obviamente irritada porque o Trenton gosta de mim. Ela não acha
que eu sou boa o suficiente para ele. Estou tentada a mostrar minha
língua para ela - mas isso é muito infantil. Mas, cara, às vezes, eu
realmente quero.

Página 100 de 265


– Sim, o que? – Lexa pergunta. Ela tem observado a interação
inteira em silêncio e agindo com calma.
Oscar pigarreia. – Bem, vendo que o Trenton convidou a Rose para
o Baile da Primavera, acho que seria super especial se a Lexa e eu
também fossemos convidados? – ele pisca para o Trenton.
Eu seguro uma risadinha. Oscar não tem vergonha.
Trenton acena como um rei. – Feito. Vocês dois estão convidados.
Bem, isso foi bastante fácil.
Aria se enche. – Não podemos sair por aí convidando todo mundo,
Trenton. É uma festa exclusiva - esse é o ponto principal.
Trenton encolhe os ombros. – Eu sou o presidente da classe, e digo
que eles podem vir.
Garrett, que tem estado calado até este ponto - suspeito que porque
ele é lento e incapaz de seguir nossa conversa - decide falar. – Está
parecendo quente nessa pólo, Rose. Se eu te dar uma gorjeta grande o
suficiente, ganho um lap dance particular mais tarde? – ele levanta as
sobrancelhas.
Spider imediatamente faz uma careta, seu rosto duro. – Cale a boca,
babaca. Mostre algum respeito.
Garrett debocha. – Tanto faz cara. Ela é a Rose Tin Town, ela sabe
que estou apenas brincando, certo?
Meu punho aperta dentro do bolso do meu avental com o apelido
estúpido. Alguns alunos me chamaram assim quando cheguei e isso
ainda volta para me assombrar.
– Claro. Você é hilário. – eu digo. – Mas, não dou lap dances aos
jogadores de beisebol que perderam o status inicial. Apenas para os
melhores.

Página 101 de 265


Isso não é segredo que o treinador recentemente o colocou no banco
de reservas. Há rumores de que ele está festejando demais e não
mostrando alguns de seus treinos.
– Se deu mal. – diz Oscar, rindo como uma idosa quando ele faz um
som explosivo.
O rosto do Spider está vermelho e tenso, e vejo quando ele se
inclina sobre a mesa e sussurra algo em voz baixa para o Garrett. Tento
ouvir o que é, mas não consigo, não com a Aria no meu ouvido. –
Menus? Hoje? – ela grita em voz alta.
– Certo. – eu pulo e estou no meio do caminho de volta para a
cozinha quando o Trenton me pega no balcão. – Ei, desculpe pelo
Garrett. Sua boca fica fora de controle às vezes.
Eu concordo.
– Por que não vamos jantar esta semana? – ele diz. – Como um
encontro de verdade antes do Baile de Primavera chegar.
Eu mal estou escutando, meus olhos estão em Spider enquanto a
Aria flerta com ele.
Garrett parece ter saído porque não o vejo em lugar nenhum. Eu me
pergunto o que Spider disse a ele.
Só então a Aria toca a tatuagem do pescoço do Spider, e a raiva
passa sobre mim.
Ah. Estou tão ciumenta.
– Rose?
Olho de volta para o Trenton, chegando a uma decisão rápida. –
Gostaria disso.

Página 102 de 265


– Boa. Estou ansioso para isso. – ele hesita e, em seguida, beija
minha bochecha. – Vou pegar os menus para a nossa mesa. Você faz o
que você precisa fazer.
– Ok. – eu digo, me sentindo bastante confusa quando ele se afasta.
Passo o resto da noite como uma espécie de louca apressada,
tentando chegar a todas as minhas mesas antes que meu turno termine,
meus pés estão doendo. Meus colegas de classe pedem suas refeições,
então, mal os vejo, em vez disso, envio minha colega de trabalho, Cyndi,
prometendo a ela toda a gorjeta.
Eu mantenho um olhar cauteloso na mesa enquanto recebo pedidos
das outras mesas, olhando para cima de vez em quando. Cada vez que
olho, o Spider encontra meu olhar... e o mesmo acontece com o Trenton.
Mais tarde, vou ao banheiro para evitar dizer adeus. Eu mal tenho
minhas mãos lavadas quando Spider entra e fecha a porta atrás dele.
Meus olhos brilham. – O que você está fazendo?
Ele cruza os braços, um sinal claro de que ele está se fechando ou se
sentindo vulnerável. – Seus amigos são todos idiotas - exceto o Oscar.
– Tudo bem. – cruzo meus próprios braços. – Você parece estar se
divertindo com a Aria.
Ele solta um grunhido frustrado. – Para alguém tão inteligente, é
interessante que você esteja perdendo o que está bem na sua frente.
Eu sacudo minha cabeça. – Do que você está falando?
Ele range os dentes e olha para mim. – Eu estou em uma
lanchonete... em um banheiro que cheira a Clorox... falando com uma
garota... aquela... que eu gosto.
Eu coro. – Isso é uma coisa ruim?

Página 103 de 265


– É quando você é minha meia-irmã e eu fui avisado para ficar
longe de você. – ele fica com uma expressão frustrada no rosto.
Não, eu não quero isso.
– É isso que você quer?
Ele olha para o chão. – A única razão de eu ter vindo aqui foi para te
ver e contar a minha boa notícia, e agora eu descobri que o Trenton é o
cara por quem você estava lendo o livro. Estou certo? – ele olha para
trás, e há cautela em seu olhar, quase como se ele estivesse se
preparando.
– Sim.
Ele suspira e passa as mãos pelos cabelos. – Porra.
– Porque você se importa?
– Por nada. Somente... nada.
– Você está com ciúmes. – digo baixinho, com a compreensão tão
clara que estou tonta.
Ele ignora isso. – E você vai para a NYU com ele?
Eu paro, meu peito aperta quando penso no meu sonho. – Anne não
me deixa. Eu não queria estragar as notícias dele, então não disse nada.
– Mas você quer ir? – ele me observa.
– Não por ele. Quero ir por mim. Minha avó sempre me prometeu
que eu e ela sairíamos de Tin Town e fugiríamos para a Nova York. –
faço uma careta, pensando que ela estava morrendo quando eu tinha dez
anos, um ano antes de mamãe. – Foi apenas algo que ela disse, e eu acho
que ainda estou tentando chegar lá.
Ele me dá um olhar devastadoramente bonito, enquanto coloca a
mão em sua tatuagem de aranha.

Página 104 de 265


– O quê? – pergunto.
Ele solta um suspiro pesado e passa a mão pelo cabelo. –
Simplesmente não consigo suportar o pensamento de você com
ele. Odeio tanto que me dá vontade de bater nele - e nem me faça
começar a falar sobre o Garrett. Eu disse a ele para sair do restaurante,
ou então...
Minha mente está se recuperando de ouvir isso. Quero colocar meus
braços em volta do Spider e abraçá-lo. Talvez mais.
Ele se vira para a porta.
– Spider! Espere. – eu o chamo. – Você não pode sair depois disso.
Mas ele não se vira ou para.
Já que é o fim do meu turno e eu não tenho mais nenhuma mesa, eu
rapidamente desfaço a minha trança e aplico uma rápida camada de
gloss que eu tenho no meu avental. Spider e eu vamos conversar.
Eu saio na porta a poucos minutos depois dele, mas ele já se foi.
Na verdade, o lugar inteiro quase se esvaziou, exceto o Oscar e a
Lexa. Ambos me dão abraços rápidos e saem também, dizendo que têm
dever de casa esperando por eles. Cyndi vem até mim, radiante porque o
Spider deixou uma nota de cem dólares como uma gorjeta. Ela se
oferece para me dar metade, mas eu suspiro e digo não.
Eu só o quero, não o dinheiro dele.

Página 105 de 265


Capítulo Onze
Spider

Passo minha mão através do painel do meu jipe. Ele pode ser perto
de seis anos, mas o meu pai manteve em forma primitiva, enquanto ele
guardou em uma de suas garagens na casa. Ele traz boas lembranças... e
ruins. Aria estava certa - eu era um grande encrenqueiro na escola
preparatória. Eu até fugi algumas vezes, qualquer coisa para chamar a
atenção do meu pai.
Observo a Rose enquanto ela leva sua bandeja de volta para a
cozinha. Parece ser o fim de seu turno, enquanto ela se ocupa limpando
as mesas.
Por que ela trabalha quando não precisa? Acho isso admirável.
Esfrego o couro envolto no volante. Ela não é como nenhuma garota
que já conheci antes. Ela tem aquele jeito de me olhar como se ela
pudesse ver cada detalhe do meu interior, como se ela soubesse
exatamente o que eu estou pensando.
Meu celular toca - Sebastian. Ele já me ligou três vezes hoje do seu
apartamento em Nova York, uma vez para me contar das novidades, e
depois mais duas vezes para me atualizar, já que as visualizações no
vídeo continuavam aumentando.
– Cara! – ele grita no meu ouvido quando atendo. – Você está vendo
os pontos de vista?
– Sim, é doce.

Página 106 de 265


Ele ri. – É insano. E... pegue isto... Um dos produtores musicais que
nos interessava me ligou hoje. Ele viu o vídeo e quer se encontrar
conosco em Los Angeles.
Isso é enorme. É a cereja no topo do vídeo.
– Estou pronto para ir a Los Angeles e ir embora, sabe? Encontre
um apartamento e um estúdio. Precisamos de muitas coisas!
Eu sorrio com sua exuberância.
Ele continua, me dando atualizações sobre os outros membros da
banda. – Rocco e eu estamos indo a Los Angeles neste fim de semana
para procurar um lugar para morar. Quando você pode chegar o mais
cedo aqui? Precisamos começar a trabalhar nas novas músicas do álbum.
Acabei de chegar aqui; Eu não estou pronto para sair.
O que é engraçado, porque normalmente não posso esperar para sair
de Dallas.
– Eu fiz este acordo com o meu pai que ficaria por um tempo. Ele
vai nos dar algum dinheiro inicial. Você acha que pode esperar?
Ele suspira. – Eu não sei, cara. Precisamos pular nisso enquanto está
quente. Com essa coisa de vídeo se tornando viral, Mila já está
trabalhando na criação de algumas entrevistas em alguns programas,
talvez até com o Kimmel6. Seria bom se você já estivesse aqui se
recebêssemos a ligação.
Eu esfrego minha testa. Mila é nossa garota de relações públicas que
trabalha principalmente por ninharia e a chance de sair com a gente. Nós
frequentamos a escola preparatória juntos e já que ela é uma garota de
fundos fiduciários, ela tem tempo e dinheiro para fazer nosso vídeo
promocional. Somos seu projeto de estimação e, reconhecidamente, ela
fez um trabalho fantástico. Ela montou nossa mercadoria no site,
organizou o videoclipe e até mesmo programou as paradas da turnê. Ela

Página 107 de 265


é insubstituível e livre - não posso esquecer isso. Ela atualmente mora
em Dallas, mas quer se mudar para Los Angeles para estar perto de
nós. Eu provavelmente deveria ir vê-la ou ligar para ela, mas ainda não a
vi. Ela tem uma queda por mim e eu não quero encorajá-la.
Suspiro. – Meu pai se casou, cara, e tem essa garota. – meus dedos
brincam com o volante novamente. – Ela é diferente.
Diferente é um eufemismo, e estou intensamente consciente dela, de
cada movimento dos ombros até o pulso no pescoço.
Pensei que ela era simplesmente bonita.
Ela é radiante.
E a melhor coisa que posso fazer é evitá-la.
– Cara, há garotas lindas por dias, em Los Angeles. – sua voz é
suave, mas sinto o seu desconforto. O decepcionei antes, quando estava
usando... entrando em brigas ou aparecendo para os ensaios destruído.
Estou distraído enquanto vejo a Rose pegar sua jaqueta do cabide e
vesti-la.
– Spider? Você está aí? – Sebastian pergunta.
– Sim, Sim. Vou resolver isso e deixar você saber.
A tensão aumenta pelo telefone enquanto sua voz se aprofunda. –
Eu preciso de você, cara. Nós passamos cinco anos na estrada e isso está
começando a valer a pena. Não nos decepcione.
Rose sai do restaurante, entra no carro e sai do estacionamento.
– Tenho que ir, Cara. Eu te ligo mais tarde.
– Espere... – o ouço dizer, mas eu já terminei a ligação.
Eu me levanto e sigo os faróis traseiros.

Página 108 de 265


6. Kimmel: é um apresentador de TV.

Página 109 de 265


Capítulo Doze
Rose

Depois do estacionamento, caminho na calçada que leva até a


entrada do meu dormitório, xingando em voz baixa que a luz da rua
deste lado do meu prédio está apagada. Considerando o quanto a
mensalidade é de 30 mil por ano, incluindo o embarque, você acha que a
manutenção faria um trabalho melhor. Além disso, as nuvens
obscurecem o quarto da lua, deixando-me quase sem luz. Eu deveria ter
trazido uma lanterna.
Atravesso a escuridão rapidamente, ansiosa para chegar ao meu
quarto e entrar no chuveiro. Eu chego a um metro e meio da porta perto
do estacionamento antes que perceba que já passou das dez, o que
significa que a entrada lateral está trancada e vou ter que contornar e
entrar pelo saguão principal. Ah.
Eu viro de volta, pegando a longa calçada que serpenteia através do
paisagismo bonito e árvores. Ansiosa para chegar em uma área bem
iluminada, eu mexo na minha mochila e vasculho em torno pelas minhas
chaves.
Um farfalhar vem de trás de mim.
Sem parar, os meus olhos percorrem o estacionamento à minha
esquerda e a paisagem escura à minha direita. Nada se move, mas meu
pulso começa a acelerar.
Você está bem, eu digo para mim mesma. Além de ser um dos
bairros mais ricos do mundo, Highland Park também é um dos mais
seguros.
Página 110 de 265
Com um pouco mais de ânimo no meu caminho, eu me concentro
em chegar à porta da frente.
Outro som chega aos meus ouvidos, desta vez um som arrastado que
para quando eu paro. Olho por cima do meu ombro, formigamentos
fazendo meu couro cabeludo arrepiar.
Alguém está aqui fora.
Me observando.
Me seguindo.
– Quem está aí? – eu chamo, olhando para a escuridão.
Silêncio.
– Eu tenho um spray de pimenta. – eu digo. – E não tenho medo de
usá-lo.
Minhas mãos ficam úmidas. Estou a apenas cinquenta metros da
entrada principal. Eu poderia soltar minha mochila e me arriscar.
– Não enlouqueça. Sou só eu, querida. – ouço uma risada, e então,
Garrett surge por trás de um pequeno arbusto. Vestindo um gorro preto,
ele enfia as mãos nos bolsos e faz uma pose indiferente, mas seus passos
são firmes e decididos. – Achei que este fosse o lugar onde você
morava. Meu dormitório fica bem ao lado do seu. Realmente vi você
estacionando no estacionamento e pensei em dizer oi.
Oi? Claro, tudo bem.
Dou um passo para trás, com minha testa franzindo. – Está tarde. O
que você quer?
Ele encolhe os ombros, aproximando-se mais e parando a cerca de
cinco passos de mim. Com mais de 1,83m de altura e com músculos
volumosos, ele é intimidante.
– Nada de mais. Só quero conversar.
Página 111 de 265
Meu estômago congela.
Há um tom malicioso em sua voz.
Não deveria ter enfrentado ele. Deveria ter o deixado com a sua
pequena observação sobre o lap dance e ter deixado para lá, o orgulho
vem antes de uma queda e toda essa animação.
Ele chegou até a mim agora e seu rosto marcante aparece, com um
olhar sombrio passando por seu rosto enquanto ele passa os olhos sobre
mim.
– Não tenho tempo para brincar, Garrett. Vá encontrar a Aria se é
isso que você está procurando. – viro, mas ele agarra o meu braço.
– Não tão rápido. Eu não terminei aqui.
Seu hálito cheira a whisky, e eu afasto o meu rosto para longe e tiro
meu braço do seu alcance. – Não coloque suas mãos em mim.
Ele levanta as mãos e acena para mim. – Ou o quê, você vai me
dizer? Porque razão? Não estou fazendo nada de errado. Estamos apenas
conversando.
Endireito meus ombros. – Você está vestindo um gorro preto
quando está a vinte e um graus. Você me seguiu no estacionamento e se
escondeu nos arbustos. Isso é o que eu chamo de perseguição. – digo as
palavras com bravura, mas por dentro eu estou com medo. Eu realmente
não o conheço, realmente não sei do que ele é capaz.
Tudo que eu quero fazer é correr.
Mas algo me diz que é o que ele quer.
Minhas mãos tremem enquanto lentamente me inclino para trás em
direção à porta. Com a minha insistência com a Anne, eu tive um ano de
treinamento de autodefesa no Krav Maga, mas neste momento, não
consigo me lembrar de uma manobra defensiva.

Página 112 de 265


Eu engulo, passando pelo básico.
Não mostre medo.
Mantenha a calma.
Seja como um urso.
Vá para as partes moles.
Meus olhos disparam atrás de mim para a porta da frente. Há uma
campainha para apertar em casos de problemas. Se eu pudesse alcançá-la
antes que ele.
Ele pula em mim, agarra meus pulsos e me puxa em direção a ele
até que meu peito esteja pressionado no dele. Minha mochila cai na
calçada, com o conteúdo voando, incluindo meu spray de pimenta. O
cheiro do seu suor flutua no meu rosto. Eu me movo para fugir, mas ele
puxa meu couro cabeludo até que minha cabeça está inclinada para trás,
forçando-me a olhar para ele. O estranho ângulo estica minhas cordas
vocais, impedindo-me de fazer qualquer coisa além de gemer enquanto
tento gritar.
Meus pés o chutam, procurando pela sua virilha, enquanto o meu
coração dispara e os meus olhos se movem ao redor, procurando por
ajuda. Minha respiração acelera, tornando-se superficial e rápida.
Merda.
Nesse ritmo, vou desmaiar.
Ele pressiona os dentes. – Nunca fale de beisebol na minha cara
novamente. Você não sabe nada sobre o que falou...
Um dos meus pulsos se solta do seu aperto e eu dou um soco na
garganta dele.
Ele cambaleia para trás e se inclina, segurando o pescoço.

Página 113 de 265


Raiva e medo se misturam, fazendo meus punhos se fecharem. Meu
peito se expande enquanto eu sugo o ar.
Os olhos se estreitaram quando ele ofegou, ficando de pé. Antes que
eu possa recuperar o fôlego, ele já está vindo em minha direção.
Eu endireito minha postura, me preparando para ele me enfrentar -
mas o Garrett se agacha para o lado quando uma sombra colide com ele,
fazendo-o voar para o chão.
Spider é como um borrão quando ele o derruba.
De onde ele veio?
Seu punho bate no rosto do Garrett, jogando-o para o
lado. Contorcendo, Garrett consegue ficar de pé. Spider o soca de novo,
desta vez no estômago, fazendo com que uma explosão surja de Garrett.
– Nunca mais se aproxime dela! – Spider grita, atingindo o Garrett
na mandíbula.
Garrett diz palavrões e se balança, com um olhar selvagem em seus
olhos enquanto ele corre em direção do Spider, derrubando-o e
prendendo-o no chão. Ele recebe dois bons golpes antes do Spider se
contorcer debaixo dele.
Spider lança e empurra o gorro para fora, usando-o para envolver o
pescoço de Garrett, cujos olhos incham. É óbvio que ele pode respirar,
mas mal.
– Se algum dia te ver de novo a cem metros dela, eu te mato, filho
da puta. Você entendeu? – Spider rosna, enquanto o solta, empurrando-o
para longe de nós com um chute na bunda. – Agora saia daqui, seu
idiota, antes que mude de idéia e te bata sem sentido!
Garrett decola pela grama, suas longas pernas voam enquanto ele se
dirige para o campus e para o dormitório de atletismo.

Página 114 de 265


Meu peito arfa quando o Spider se vira para mim. Corro até ele para
checá-lo, usando o meu celular para vê-lo com mais luz. Há um corte
sob o olho direito e sangue na bochecha.
– Precisamos ver isso. – digo, com o meu coração ainda disparado
da adrenalina.
– Eu estou muito bem. – seu olhar me inspeciona para me verificar e
eu posso dizer que ele ainda está agitado, seus olhos indo do meu rosto
para os meus braços. Seu peito arfa. – Ele deixou hematomas? Você está
bem?
Eu nem sei se ele fez. Eu não me importo. Tudo o que importa é que
estou bem e o Spider também. Eu aceno. – Obrigada por isso. – deixo
escapar uma risada, adrenalina ainda bombeando quando eu digo: –
Estava indo muito bem sozinha, certo? – engulo. – Foi bom socar a
garganta dele.
– Eu queria matá-lo. – ele murmura enquanto aperta os punhos.
Ele anda ao meu redor, parecendo distraído e ansioso. – Devemos
chamar o segurança do campus.
Balanço minha cabeça. – Não vai funcionar. Ele vai negar e colocar
a culpa toda em mim. Sua família tem muito dinheiro e muita influência
por aqui. Ele é um atleta superstar e as pessoas vão me culpar de alguma
forma. Confie em mim, vi isso acontecer uma e outra vez. Além disso,
ele tem dezessete anos e você não.
– Foda-se. – ele esfrega o rosto com seus olhos incertos. – Você tem
certeza?
Concordo. Eu não quero colocá-lo em uma situação estranha onde
ele se parece com o agressor quando ele claramente não era, e parte de
mim não quer esse incidente voltando para o Robert e a Anne. Eu sei
que eles vão julgá-lo por isso, e meus instintos de proteção são maiores
quando se trata de Spider.
Página 115 de 265
Eu nem sei porque.
Eu suspiro, esfregando meus braços. – A verdade é que não é a
primeira vez que tenho que me defender. Eu vivi em um orfanato por
dois anos antes que a Anne aparecesse.
– E se ele tentar de novo e eu não estiver aqui?
– Esqueça-o. Acho que você o assustou. – pego a sua mão,
percebendo que está inchando. – Isso dói?
– Não. – ele olha para sua mão, enquanto a seguro. Seus olhos
aparecem para capturar os meus. Ele engole.
Eu o observo, lembrando seu comentário anterior sobre não poder
me encontrar depois do trabalho. – O que aconteceu com ir a um clube
hoje à noite?
Ele encolhe a mão, quase com relutância e solta um suspiro,
enxugando o sangue no rosto com a barra de sua camisa. Eu tenho a
visão perfeita do seu abdômen rígido e o V profundo que leva até o seu
jeans. Ele é como rocha sólida, magro e perfeito. – Meus planos
mudaram... obviamente. Eu te segui para casa do trabalho. Teria estado
aqui antes, mas meu pai me ligou assim que estacionei.
Ah.
– Por que você me seguiu?
Ele tem esse olhar de advertência no rosto. – Não posso evitar
quando se trata de você.
Ah.
Deixo escapar um sorriso, ainda me sentindo longe de Garrett. –
Venha para o meu quarto para que possamos te limpar.
Ele morde o lábio inferior, com seus dentes hipnotizantes. – Eu
devo ir.
Página 116 de 265
– Talvez, essa seja a escolha inteligente.
– Definitivamente. – diz ele, com os seus olhos nos meus.
– Mas, você vai de qualquer maneira. – eu digo. – Você quer.
Alguns segundos passam enquanto ele olha para mim, com seus
olhos a meio mastro e os cílios tão grossos que deveriam ser ilegais. –
Minha meia-irmã está me convidando para um motivo oculto?
Claro que sim.
Spider é um sol brilhante e quente e eu sou Ícaro, voando muito
perto.
– E se eu dissesse sim?
Um pequeno sorriso brincalhão aparece em seus lábios. – Então, eu
diria para me mostrar o caminho.

Como pode um homem ser tão sexy?


Spider senta no meu banheiro, sem camisa, enquanto olho em seu
olho inchado. Estou fazendo o meu melhor para manter meus olhos
desviados da tinta em seu corpo, a maneira como suas tatuagens
aparecem sob seus jeans, a forma como seu peito é esculpido em pedra.
Claro, sou a pessoa estúpida que sugeriu que ele tirasse a camisa
para que pudesse ver se ele tinha algum hematoma no peito. Uma
costela quebrada ou trincada pode causar muita dor e eu quero ser
meticulosa, isso é tudo - eu juro pelo menino Jesus.

Página 117 de 265


Ele sorriu ao meu pedido e o sacudiu - e é por isso que estou agora
uma bagunça.
Não há praticamente nenhum espaço para respirar com ele no meu
pequeno banheiro.
Eu limpo a mancha de sangue em sua bochecha enquanto ele me
observa estoicamente, nunca tirando os olhos de mim, acompanhando
cada movimento meu.
– Isso vai ficar pior amanhã. – murmuro, apenas para aliviar a
tensão. Estou entre suas pernas abertas, ciente do cheiro dele, seu
magnetismo puro. Minhas mãos tremem e eu tenho que me concentrar
para afastar uma imagem de mim em cima dele, ambos nus, fora da
minha cabeça. Eu quero passar minha língua por cima da tatuagem no
pescoço dele. Eu quero mordê-lo como um animal enquanto ele desliza
para dentro de mim.
Meu Deus, Rose, pare com a fantasia!
Certo. Sou virgem e não tenho muita ideia do que acontece depois
disso. Claro, eu tive alguns namorados, mas nada sério. Não tenho muito
em comum com os meninos de Highland Park.
– Você seria uma boa enfermeira. – diz ele suavemente com os
seus longos cílios negros batendo suavemente contra as maçãs do rosto
esculpidas.
– Doutora em Psicologia. – eu o corrijo.
– Da NYU? – sua voz é inquisitiva e acho que ele está acima do
ciúme com o Trenton e eu na NYU juntos.
– Oscar e eu queremos ir. Está... tudo para mim.
– Seu sonho?
– Sim. – embora, agora eu esteja sonhando com ele...

Página 118 de 265


– Eu conheço esse sentimento. É assim que a música é para mim. –
seus olhos castanhos dourados me observam enquanto alcanço o armário
de remédios por mais anti-séptico e creme antibacteriano, com o meu
peito perigosamente perto de seu rosto. Juro que os meus mamilos estão
chegando até ele.
– Por que psicologia?
Eu aceno, fingindo que não estou toda descontrolada. – Minha avó
principalmente. Ela adorava ler as pessoas - literalmente. Ela dirigiu um
pequeno negócio de leitura de mãos em sua casa antes de morrer. Todas
as senhoras do bairro vinham conversar com ela. Ela faria café e elas
simplesmente... conversavam, e então, ela diria a elas o que precisavam
ouvir enquanto eu me sentava no chão ao lado dela e ouvia. Não havia
mágica envolvida, é claro. – eu rio. – Mas... ela era incrívelmente
intuitiva. Ela apenas lia as pessoas. Se alguém se mexesse ou olhasse
para a esquerda ou para a direita enquanto falavam, ela teria uma razão
para isso e me contaria tudo depois que elas fossem embora.
Ele sorri. – Como você chegou a Highland Park?
– Através de um orfanato, até a Anne. – jogo no lixo a bola de
algodão que usei para limpar seu olho.
– O que aconteceu com seus pais verdadeiros? – há suavidade em
seu olhar, como se ele sentisse a dor de estar sozinho.
Eu suspiro. – Bem, vovó me criou, mas ela morreu quando eu tinha
dez anos. A mulher que me deu à luz engravidou de um homem que
fugiu alguns meses depois, então nunca encontrei meu pai verdadeiro. A
última coisa que ouvi, foi que ele estava na prisão na Flórida. O único
cara que conheci era o namorado da mamãe, Lyle. Uma noite ele bateu
nela com força e quebrou o pescoço dela. – suspiro bruscamente com a
lembrança. – Os policiais o pressionaram no interrogatório e ele apontou
uma arma para eles. Um dos policiais atirou nele e ele também morreu.

Página 119 de 265


Seu rosto ficou sério enquanto falei e pigarriei. – Não sou uma
vítima, então, não coloque isso na sua cabeça. Vovó me criou para
procurar o bem em todos e nunca deixar o passado me levar para
baixo. Ela disse que não importava de onde eu era e exatamente onde eu
estava indo - e eu estou indo a lugares. Estou saindo desta cidade, nem
que seja a última coisa que faço.
– Acho que eu teria amado sua avó. – ele passa um braço em volta
de mim, puxando-me para perto até que meu peito está a uma distância
de cabelo longe de seu rosto. Eu me lembro do nosso beijo épico no
avião. Sinto a pressão de suas coxas tensas e minha respiração acelera
enquanto o desejo se desenrola dentro de mim, envolvendo-me e me
aproximando de mim.
– Não duvido por um instante que você vai ser uma médica algum
dia. – ele murmura. – Você tem um peso no seu ombro, o que significa
que você vai lutar com unhas e dentes. Você é um pouco amarga e tem
pessoas para provar que estão errados. Vejo isso em seu rosto. – ele sorri
ironicamente. – Obviamente você não é a única que gosta de analisar as
pessoas. – seus lábios carnudos e sensuais se curvam em um sorriso.
Um zumbido aquece meu sangue. Eu o quero - desesperadamente.
E é totalmente tolo.
Ele é meu meio-irmão.
Ele não liga para as garotas.
– Como você sabe muito sobre mim? – pergunto, sentindo-me
gravitando mais perto.
Ele pensa sobre isso, empurrando uma mecha de cabelo dos meus
olhos. Segurando a minha nuca, ele me puxa com mais força até que
nossos narizes se encontram. A parte de trás da sua mão acaricia minha
bochecha e o calor de seu toque queima, mas há uma tensão nos
músculos tensos de seus braços, como se ele estivesse se controlando.
Página 120 de 265
– Porque eu sou você. – ele diz suavemente. – Nós somos muito
parecidos, é impressionante. – ele faz uma pausa e olha profundamente
nos meus olhos. – Com uma exceção: você é melhor do que eu. Eu
joguei fora minha adolescência com drogas e bebida. – ele morde o
lábio. – Eu ainda estou fazendo isso. Eu não posso parar, Rose. Alguns
dias eu quero parar, porra, eu realmente quero, mas eu nunca tive nada
que fosse suficiente para me dar força para fazer isso. Isso faz sentido?
Eu concordo. Não consigo pensar. Ele está tão perto de mim, seus
olhos queimando nos meus enquanto ele tenta cruzar o que ele quer
dizer.
Ele fecha os olhos e suspira. – Te quero, Rose. Você é inebriante.
Respiro fundo e os nossos lábios estão separados por centímetros.
Ele vai me beijar? Eu quero que ele me beije.
Seus olhos se abrem depois que o silêncio se prolonga por muito
tempo, um sorriso se formando em torno de sua boca. – Você está com
medo de mim, Rose?
Nunca.
– Estou com medo de você arrancar meu coração.
Ele olha para a tatuagem PERDIDO em sua mão. – Provavelmente
vou.
Ele fica de pé e o meu pequeno banheiro encolhe ainda mais. Dando
uma respiração constante, encho tudo de novo no armário e o conduzo
ao meu quarto.
Ele olha em volta do espaço, ainda sem camisa, observando meu
pequeno quarto no canto. Seu olhar permanece na cama de tamanho
normal, em seguida, se move para a mesa e a minha parede com
livros. Fotos da Ponte do Brooklyn e do o Edificio de Empire State são
minha única arte.
Página 121 de 265
– Não há colega de quarto? – pergunta ele enquanto pega uma foto
de Oscar, Lexa e eu juntos no Amigos da Biblioteca no ano passado.
– Não. É privado, uma das vantagens de ter a Anne no conselho
escolar.
Ele passa os dedos ao longo da minha coleção de livros de bolso. –
Qual é o seu favorito?
Eu me movo para ficar ao lado dele e pego a cópia de Jane Eyre de
Charlotte Brontë, em seguida, pressiono-a em sua mão. – Você deveria
ler.
Sua testa franze. – Talvez, eu já tenha.
Eu fico animada. – Mesmo?
Ele ri. – Não, sinto muito. Não sou tão culto quanto você pensou
agora?
– Não importa. Leia agora. Aceite, por favor, como um presente de
mim para você.
Ele inclina a cabeça enquanto passa o polegar pelas páginas,
algumas das quais eu destaquei e sublinhei. – Por quê? É sobre o que?
– Uma menina órfã que procura toda a sua vida por amor. É sobre
como ela finalmente encontra nos braços de um homem que lhe
disseram que ela não pode ter.
Seu peito se expande quando ele olha para mim e para o livro. –
Você tem muito apego a esse personagem?
Concordo. – Ela é pobre e luta com a baixa opinião de outras
pessoas de sua classe social. – faço uma pausa, sentindo uma emoção
inesperada me puxando. – Acho que quero o que a Jane consegue no
final do livro: felicidade apesar de tudo que passou. Ela merece isso. Eu
mereço.

Página 122 de 265


Ele me observa com temor em seu olhar e a emoção tão evidente
que, naquele momento, eu perco meu coração.
– Você vai encontrá-la. – diz ele. – Algum dia, Rose. Eu prometo.
Eu engulo. – Talvez, eu já tenha.
Sua expressão muda, tornando-se despedaçada.
– O quê? – pergunto.
– Nada. – ele balança a cabeça.
Eu toco seu braço, deixando minha mão cair em seus dedos. Estou
cansada de fingir. – Spider... Há algo aqui entre nós. Você sabe.
Ele suspira, olhando para o chão com alguns tiques antes de levantar
a cabeça para encontrar a minha. Suas bochechas coram uma cor linda e
eu começo.
Confiante e convencido, Spider é tímido - por seus sentimentos por
mim?
O mundo está realmente se inclinando em seu eixo.
– Eu não quero repetir a velha merda, mas eu quero que você saiba
que realmente sinto muito por isso... o que aconteceu no avião com a
comissária de bordo. É o que faço - decepcionar as pessoas
constantemente. Basta perguntar a qualquer um. Você é uma menina
doce, Rose... muito doce para mim.
O meu coração dói. – Não quero falar sobre a comissária de
bordo. Acabou.
Ele olha para cima. – Eu magoei você.
– Nós nem nos conhecíamos. – eu digo, tentando afastar os
pensamentos. Eu quero encaixotar essas imagens, jogá-las no oceano e,
em seguida, empilhar um monte de pedras de cimento por cima. –
Vamos esquecer que nos conhecemos assim.
Página 123 de 265
Ele balança a cabeça, passando a mão pelos cabelos e puxando as
pontas. – Começar de novo, você quer dizer? Amigos, como eu disse no
restaurante? Eu gostaria disso.
Fecho os meus olhos. Amigos não é certo. Quero... forte, selvagem
e imprudente.
Ele não espera que eu responda.
Eu não sei porque.
Talvez, seja o que ele vê no meu rosto.
Ele suspira. – Tenho apenas vinte e dois anos, mas sei muito sobre
perder pessoas, Rose. Perdi a minha irmã para uma sepultura
prematuramente. Perdi a minha mãe quando ela fugiu para ficar com
outra pessoa, e eu perdi meu pai ainda há mais tempo. Não deixo as
pessoas me deixarem mais e você... você tem apenas um pouco de poder
sobre mim. É o suficiente para mexer com a minha cabeça. Eu preciso
de calma e música e meus companheiros de banda. Você entende? – sua
voz é terrivelmente suave, as palavras cortando o frágil vidro que é meu
coração.
Eu entendo perfeitamente. Ele está me decepcionando fácil.
Eu suspiro profundo.
– Sinto muito sobre a Cate.
Ele inclina o ombro na parede e cruza as pernas, me observando.
– Se você quiser falar sobre ela, eu estou aqui com você.
Ele vacila e observa as mãos, com um tremor ali. – Eu deixo ir. –
Dor passa em seu rosto. – Eu a deixei ir. É minha culpa que ela se foi.
Fico enjoada com as imagens que suas palavras trazem quando
começo a entender. Não sei como Cate morreu, mas minha imaginação
está enlouquecendo. – Você a deixou ir?
Página 124 de 265
Ele olha para cima e acena com a cabeça, com o seu rosto como um
terreno baldio.
– O que você quer dizer? – pergunto.
Ele passa a mão pelo cabelo, os dentes mordendo o lábio inferior. –
Fomos avisados para ficarmos fora de um lago que havia congelado. Eu
não escutei, claro, e parcialmente caí. Eu fiquei bem... consegui sair da
água, mas ela saiu para me checar e escorregou e... – ele se afasta.
– Ela caiu? – horror passa sobre mim.
Ele concorda com a cabeça, enquanto engole convulsivamente. – O
gelo se abriu quando ela caiu, e ela foi completamente para baixo. Eu
tentei puxá-la para fora... mas ela continuou escapando. Ela estava tão
fria... e segurei a mão dela o máximo que pude. Tentei puxá-la, mas não
fui forte o suficiente. Gritei e berrei por ajuda, mas não havia ninguém
por perto. – seus olhos se fecham e eu vejo a umidade lá. Ele prende
uma respiração trêmula. – Nossas mãos apenas... escorregaram.
Frio me preenche, e eu sinto falta de ar como se estivesse lá no
momento, vendo isso acontecer com ele.
A resignação se instala em seus ombros caídos. – Meu pai me culpa.
– Não. – sussurro. – Ele não pode. Por que ele faria? Foi um
acidente. Vocês eram crianças.
– Você é muito legal, Rose.
– Eu não sou, você sabe. – eu paro. – Quero meu meio-irmão.
Seus olhos encontram os meus e não tenho certeza de quanto tempo
ficamos ali, olhando um para o outro.
Um raio de eletricidade dispara de mim para ele e minha parte
inferior do corpo está quente. O quero pressionado contra a minha pele.

Página 125 de 265


Seu olhar permanece nos meus lábios, em seguida, desliza de volta
para o meu rosto.
Eu quero ir até ele, envolver meus braços ao redor dele, mas ele se
move primeiro, envolvendo seus braços em volta de mim e segurando
minha cabeça em seu ombro. – É hora de eu ir.
Não!
Eu sou uma confusão de emoções, com medo de tudo que ele me
faz sentir.
Com medo de como ele está perdido.
Seu peito arfa quando ele me solta. Mãos quentes e tatuadas
seguram as minhas bochechas. – Tranque a porta atrás de mim, e se esse
cara sequer olhar para você, me ligue. – ele dá um passo para trás para
escrever seu número em um pedaço de papel e colocá-lo na minha mesa.
– Não vá. – sussurro enquanto ele se move para a porta. – Fique.
Ele não responde, mas seu rosto diz tudo. Vejo o tormento. Eu vejo
indecisão. É tão difícil para ele ir embora quanto é para eu vê-lo ir.
Não consigo respirar.
Ele está me deixando.
Ele abre a porta, sai e desaparece.

Página 126 de 265


Capítulo Treze
Rose

No dia seguinte, enquanto rumores sobre os olhos negros de Garrett


começam a circular pela escola, eu mentalmente me preparo para uma
possível retaliação.
Isso acontece antes da minha aula de cálculo depois do almoço. Aria
vai até mim no meu armário - assim como ela pode nos saltos altos - e
me deixa ouvir, sua voz estridente ecoando pelos corredores de concreto
enquanto ela me diz que pessoa horrível eu sou por deixar meu meio-
irmão bater no Garrett.
– Ficou claro para todos que você estava o provocando na
lanchonete. – diz ela, com as mãos nos quadris. – E graças a você, o
treinador de beisebol o expulsou da equipe por brigar.
– Ele estava vestindo um gorro e se escondendo no bosque. –
quanto mais ela precisa saber? – Ele é um idiota.
Seus olhos estão frios. – Vou fazer tudo o que puder para garantir
que você e seu pequeno grupo de desajustados não sejam convidados
para o Baile de Primavera. Trenton é louco por querer você lá.
Meus dentes rangeram. Não me importo muito comigo, mas o Oscar
e a Lexa ficarão devastados.
Ela joga o cabelo para trás. – Eu não sei porque ele gosta de você.
Minhas mãos passam em volta dos meus livros. Deus, estou farta
deste lugar. Estou farta de garotas como a Aria. Principalmente, eu só

Página 127 de 265


quero fugir e encontrar um lugar onde eu pertenço... em algum lugar, em
qualquer lugar que não seja aqui.
O rosto de Oscar aparece ao meu lado e seu nariz está franzido
como se cheirasse a peixe ruim. – Tem algum problema?
– Não. – digo, sem tirar os olhos dela. – Eu cuido disso. Aria estava
apenas saindo.
Aria revira os olhos sobre o sobretudo de couro preto que ele está
usando em cima de sua calça cáqui escolar e camisa branca de botão. Ela
faz uma careta. – Você é tão estranho. – ela disse com desdém antes de
ir.
– Que putinha. – diz ele, seguindo-a com os olhos antes de se virar
para mim. – Você está bem?
Eu aceno. Eu não quero contar a ele sobre a festa.
– Você sabe que eu realmente não me importo com essa festa,
certo? – ele diz como se estivesse lendo minha mente.
Franzo a minha testa e ele ri. – Ok, eu me importo, mas se este
episódio com o Garrett faz você se sentir desconfortável, então,
podemos simplesmente abandonar isso e fazer o que queremos.
– E perder a fonte de champanhe e o DJ? Triste. – eu sorrio.
– Não se esqueça dos muitos bêbados que podemos tirar sarro.
– Eles são todos idiotas.
Ele sorri. – Não nós.
Eu rio e o abraço. Não importa o que o resto do ano traga, estou
feliz por tê-lo.

Página 128 de 265


Depois da escola, eu corro para o meu dormitório, onde rapidamente
tiro a minha saia xadrez e camisa branca, trocando-as por meu jeans e
outra pólo preta. Estou com pressa e mal tenho tempo para trançar meu
cabelo antes de sair pela porta e ir trabalhar, o que estou estranhamente
ansiosa. Eu preciso da distração para me impedir de pensar em Spider.
Acabei de chegar ao meu carro quando a voz profunda de Trenton
me alcança. – Rose! Espere!
Ótimo. Não consegui vê-lo durante todo o dia porque estou
preocupada sobre como ele vai reagir a todo o incidente do Garrett, mas
agora ele está aqui. Eu dou um sorriso, em seguida, viro e o vejo correr
em minha direção.
Quando ele se aproxima, eu suavizo. Com seu cabelo loiro ondulado
e areia e físico forte, ele é fácil de observar.
– Eu tenho perseguido você o dia todo. – diz ele quando para na
minha frente.
Eu não posso deixar de sorrir. – Você correu pelo campus para me
encontrar?
Ele concorda. – Eu fui para o seu dormitório, e a menina no andar
de baixo na recepção disse que você tinha acabado de sair. – ele olha
para mim com uma pequena carranca entre os olhos. – Você está me
evitando?
Eu mudo de um pé para o outro. – Você sabe sobre o Garrett, certo?
Ele me dá um aceno rápido. – Você está bem?

Página 129 de 265


– Graças ao Spider. – movo meus lábios. – A fofoca é que o Garrett
foi expulso do time. Eu presumi que você poderia estar chateada comigo
sobre isso desde que você é seu companheiro de equipe.
Trenton me dá uma olhada séria. – É com você que estou
preocupado. Eu gosto muito de você, Rose.
Eu mexi na minha mochila.
Ele chega um pouco mais perto com o seu cheiro como o ar do mar
e a brisa do oceano. – Garrett e a Aria estavam em minha casa na outra
noite quando mencionei que iria ao Jo. Eles me acompanharam e eu
gostaria que não tivessem.
Ele está dizendo as coisas certas, e meu coração gosta disso.
Mas... Spider.
– E... o avisei pessoalmente para ficar longe de você.
Penso em Oscar e a Lexa. – Então, todos nós ainda estamos
convidados para a festa?
– É claro. – ele parece desconcertado que eu até sugeri isso. Eu não
falo sobre os comentários da Aria; ela é sua família e eu não quero entrar
no meio disso.
Poucas horas depois, estou apenas colocando comida em um dos
quatro lugares quando o Spider entra na porta. Quase tropeço na perna
de um cliente enquanto o vejo pegar a mesma cabine de ontem a noite.
Ele está aqui! meu coração se alegra.
Não fique animada! minha cabeça retruca.
Assim que pego a mesa, a bebida é reabastecida, endireito o avental
e sigo em sua direção. Ele tem uma pequena contusão sob os olhos, mas
não é tão ruim quanto a de Garrett.

Página 130 de 265


Ele me observa, seu olhar não se move do meu rosto, e eu acho que
a maneira como ele olha para mim, tão intensamente, é uma das razões
pelas quais o considero incrívelmente intoxicante. É como se ele
estivesse me estudando e fazendo anotações.
Sorrio para ele e ele sorri também. – Você está bem da noite
passada, certo? Alguma coisa aconteceu na escola hoje?
Eu aceno para ele. – As coisas estão bem. Aria está estranha, mas
não se preocupe comigo. Como está o famoso vídeo do YouTube?
Seus olhos brilham. – Sebastian está me ligando a cada poucas
horas com atualizações - como se eu não pudesse ver por mim mesmo
que está ficando louco. O Show de Ellen ligou, ou tentou, eu acho. Vai
ser... grande.
– Claro que será. Você é incrívelmente talentoso.
Há uma longa pausa enquanto nos encaramos, e eu pigarreio. –
Então, posso te oferecer alguma coisa?
Ele deixa seus olhos vagarem sobre mim, permanecendo em meus
lábios. – Hum, sim. Na verdade, vim falar sobre isso. – ele tira a cópia
de Jane Eyre que eu lhe dei. – Fiquei acordado até as três da manhã
lendo esse bad boy. Não terminei, mas estou te culpando pelas olheiras
debaixo dos meus olhos.
– E o hematoma?
Ele ri.
Minha excitação é tão grande que tenho que me impedir de gritar,
eu tenho o Spider lendo Jane Eyre! Bom trabalho!
– O que você achou? – antes mesmo de eu perceber o que está
acontecendo, estou sentada em frente a ele.
Ele me analisa. – Acho que... Jane é forte. Já estou meio apaixonado
por ela.
Página 131 de 265
Ah.
Meu estômago se agita e eu engulo. – E Rochester? O que você
acha dele?
– Ele é um idiota que está envolvido em seus erros do passado, e
essa louca esposa dele é louca. – ele morde o lábio. – Estou na parte em
que ele quer que Jane seja sua amante. Está... tenso.
Meu corpo fica quente, imaginando-o como Rochester e eu como
Jane. Imagino-nos em algum lugar da Inglaterra, encolhida diante de
uma fogueira que arde no quarto de nossa grande propriedade. Estou
usando um vestido branco e ele me deita e tira minha virgindade.
Eu volto quando o Spider pergunta: – Ela o quer tanto quanto ele a
quer?
Meu coração pula uma batida. – Sim. – digo sem fôlego.
– Diga-me como termina. – diz ele. – Ele já superou Jane? Ela vai
para a Índia com aquele horrível veado de São João? A esposa de
Rochester mata todos eles? Porra, essas pessoas serão felizes?
De repente, parece que não estamos falando sobre o livro.
Impulsivamente, eu estico e toco sua mão. Parece ser a norma para
mim quando se trata dele. Eu não tenho auto-controle. – O amor vence
se você deixar.
Meus olhos estão dizendo mais a ele.
No começo, ele parece confuso; então ele parece dilacerado quando
se inclina para trás em sua cadeira e a ação afasta sua mão da minha. Ele
pigarreia e olha ao redor do lugar. Eu posso ver que ele está recuando.
Eu não quero que ele recue.

Página 132 de 265


– Eu provavelmente deveria ir. – diz ele, enfiando o livro de volta
dentro de sua jaqueta de couro. – Eu disse ao meu pai que passaria e
falaria com ele sobre Los Angeles. Ele conhece muitas pessoas lá.
Parece sincero, mas parece uma desculpa.
No fundo, ouço o tilintar da campainha e o som da voz do
cozinheiro quando ele grita que um pedido está pronto.
Suspiro e estou prestes a me levantar quando um braço é colocado
ao redor do meu ombro e Trenton senta na cabine ao meu lado. Ele me
dá um aperto rápido.
– Ei, linda.
Eu pisco e olho para ele, me trazendo de volta à realidade. – Ei!
Ele dá um olhar para o Spider e faz uma saudação rápida, mas isso
não importa, porque o Spider já está de pé e franzindo a testa para
nós. Seu rosto está pálido enquanto ele vira e sai pela porta, deixando-
me sentindo sem fôlego e muito o que diabos aconteceu.
– Foi algo que eu disse? – Trenton pergunta com os seus olhos
observando meu rosto.
Eu sacudo minha cabeça. – Não, não se preocupe com isso. Ele está
apenas... com pressa, eu acho.
Com pressa de ficar longe de mim...

Página 133 de 265


Capítulo Quatorze
Rose

Sigo pelo resto da semana com um peso de uma pedra no meu


estômago.
Spider consome todos os meus pensamentos.
Tento afastá-lo da minha cabeça. Vou jantar com o Trenton e deixo
ele me beijar. Eu saio com o Oscar e a Lexa na biblioteca. Eu trabalho
um turno extra no restaurante da Cyndi apenas para me manter
ocupada. Eu até frequento um grupo de estudos para a minha aula de
cálculo que está dando um pontapé na minha bunda, mas nada funciona
para expulsá-lo do meu cérebro.
Anne e Robert organizam outra refeição em família na noite de
sexta-feira. Estou ansiosa por isso, planejando usar uma calça branca e
uma regata de seda amarela com um suéter creme que a Anne comprou
para mim em uma de suas lojas favoritas. Oscar está no quarto quando o
escolho e ele o chama de “roupa de rica e velha”, mas não me
importo. Vou usar qualquer coisa desde que consiga ver o Spider.
Eu me visto com a regata de seda e as calças no banheiro, e em
seguida, corro para o quarto para deixar o Oscar dar uma olhada. Prendi
meu cabelo em um rabo de cavalo elegante e dou uma viradinha para
ele.
Oscar dá sua aprovação e eu vou para Highland Park para o jantar.
Não é até eu chegar lá que descubro que o Spider não está vindo. Eu
como meu jantar, me sentindo decepcionada e apenas... desamparada. É
esse estado de espírito que me leva a falar sobre a questão da NYU
novamente, desta vez com o Robert.

Página 134 de 265


Anne está de costas ereta. – Já tivemos essa discussão. Eu não quero
você tão longe.
– Mas por quê? – preciso de uma boa razão!
Seus lábios se apertam. – Você precisa de supervisão, Rose.
Suas palavras me machucam.
– Tenho quase dezoito anos. – digo. – Posso ir para a faculdade em
outro estado, se eu quiser.
Ela sacode a cabeça. – Estou pagando apenas pelo Winston. Só faz
sentido que você frequente uma escola próxima para que eu possa
supervisionar você. Além disso, você ainda pode falar nos jantares de
gala. Você não quer ajudar essas crianças?
Meu queixo fica rígido com as suas manipulações. – Claro que sim,
mas você está tentando me fazer sentir culpada por querer ir para a
faculdade, Anne.
– Eu não gosto da sua atitude. – diz ela bruscamente. – Por favor,
use um tom respeitoso quando você falar comigo.
Aqui vamos nós com as boas maneiras...
Eu abaixo a minha colher de sobremesa e me levanto, precisando
sair daqui.
– Você não foi desculpada. – diz ela, limpando a boca.
Robert lhe dá um olhar suave. – Rose provavelmente tem planos,
querida. É uma noite de sexta-feira.
Ela solta um suspiro e balança a cabeça. – Bem. É óbvio que você
precisa de algum tempo para esfriar de qualquer maneira.
Estou prestes a ir, mas decido voltar, minha raiva está muito forte
para esquecer. – Não se engane, Anne, sei exatamente quem sou e não
preciso de supervisão. Eu vivi uma vida inteira antes de te conhecer. Eu
cuidei de mim mesma quando a mamãe não cuidou. Eu me mantive

Página 135 de 265


longe do Lyle. Quando você apareceu, eu já tinha visto coisas que você
nunca imaginou.
Sua boca se comprime. – Chega disso.
Balanço a cabeça e fecho os punhos, tentando não levantar a voz
quando tudo que quero fazer é gritar. – E, a propósito, já me candidatei à
NYU e fui aceita. Quer você pague ou não, eu vou para Nova York.
Ela respira fundo com a mão no estômago.
Dou a ela um breve olhar e saio da sala de jantar. Estou correndo
com adrenalina enquanto entro no meu carro, e em seguida, saio da
garagem e me afasto de Highland Park.
Antes que eu perceba para onde estou indo, eu estou indo para a
cobertura de Robert na cidade, onde o Spider está hospedado.
O porteiro me reconhece quando ajudei a mover algumas das coisas
de Anne e me cumprimentou calorosamente, enquanto me acompanhava
até o elevador.
Com dedos nervosos, eu aperto o botão da cobertura, meus olhos
absorvem a opulência das paredes espelhadas. O elevador para, se
abrindo para um piso de mármore. Eu ouço música vibrando pela porta
da frente de aço.
Eu bato.
E bato de novo.
A música está desligada e ouço sons de farfalhar atrás da porta.
– Sou eu. – eu digo. – A garota que você está evitando.
A porta se abre e o cara que está lá não é o Spider. Ele está em torno
da idade do Spider, com a nuca raspada e o cabelo loiro selvagem que
flui do rosto dele como uma juba de leão. Ele está usando um short
esportivo e uma regata, e o suor escorre da testa dele.
Olhos azuis frios enrugam nos cantos enquanto me observam.

Página 136 de 265


Eu o observo também e quebro a minha cabeça, tentando lembrar
por que ele parece tão familiar.
Eu estalo meus dedos. – Sebastian? É o vocalista do Vital Rejects?
– Sim, anjo. – ele enxuga a testa e se inclina no batente da porta, me
dando um sorriso arrogante. – E você deve ser a garota. – ele abaixa as
sobrancelhas.
A garota? Com ênfase?
Afinal, o que isso quer dizer?
Spider está falando de mim?
– Afaste-se da minha meia-irmã, idiota. – vem a voz do Spider do
fundo do corredor, embora, eu não o veja. Ele deve estar em outro
quarto.
– Porra. – Sebastian grita por cima do ombro. – Você esqueceu de
mencionar o quanto sexy ela é.
– Veja. Eu vou bater na sua bunda se você tocá-la. – Spider o
adverte com um tom agudo, e sinto um rubor colorindo as minhas
bochechas. Acho que isso responde a questão de saber se ele está ou não
falando de mim.
Sebastian abre mais a porta e acena com a cabeça na direção do
interior do apartamento. – Entre. Ele sairá em um minuto. Ele tem que
ficar lindo antes de sairmos.
– Ah? – eles estão saindo?
Provavelmente para um bar... onde há garotas mais velhas... e
álcool.
Atividades que não posso participar.
De repente estou repensando tudo. Eu não deveria ter vindo.

Página 137 de 265


Mas cheguei até aqui e preciso vê-lo. Sigo Sebastian para o
apartamento e fico incerta na sala enquanto ele me dá um refrigerante da
geladeira.
Pego os lados do meu jeans. – Onde vocês estão indo?
Antes que Sebastian possa responder, Spider entra na sala e meus
poderes de fala me deixam por um momento.
– Seu cabelo... está branco. – sussurro quando finalmente recupero
minhas faculdades, meus olhos se movem avidamente sobre seu estilo
de sweptback7. Os fios branqueados enquadram perfeitamente seu rosto,
acentuando a nitidez de suas maçãs do rosto, a escuridão de seus olhos, a
longa coluna bronzeada de sua garganta. Meu peito aperta com a visão
dele. Como pode um cara ser tão sexy? Não é justo com o resto da porra
do mundo. – O que aconteceu com o azul?
Ele toca nele. – É um retorno, mas um sempre favorito. Você gosta
dele?
– Sim. – digo com a minha voz sem fôlego.
Eu dou um passo para trás, minhas pernas batendo no sofá, fazendo-
me sentar de repente. Eu não me importo, porque sinto que algo grande
está acontecendo, e eu só preciso agarrá-lo e possuí-lo.
– Você está bem? – ele pergunta. – Parece estranha.
Eu balancei minha cabeça, pensando... sobre um garoto de cabelos
brancos.
O sotaque.
Aquele cabelo demoníaco e encolhendo os ombros.
Uma memória distante me alcança e me leva para o passado. Lá
estou eu, na parte de trás do Quickie Mart. Eu engulo, minha cabeça está
sobrecarregada por coisas que tranquei em um caixão com a mamãe
anos atrás.
Eu vejo minha mãe no chão com hematomas escuros no pescoço.

Página 138 de 265


Eu vejo... um menino lindo.
ELE.
Sebastian e Spider estão ambos olhando para mim e depois para o
outro, mas os ignoro enquanto tiro meu celular da minha bolsa e ligo
para um número, um estampado no meu cérebro e no meu corpo.
Eu aperto os dígitos, mas como sempre fazia antes, a chamada vai
para uma linha desligada.
Mesmo assim, deve ser ele.
Deve ser.
Os anos podem ter embaçado seu rosto em minha memória infantil,
mas tudo está voltando agora.
– O que está acontecendo? – Sebastian parece confuso. – Você está
tentando ligar para alguém?
Chego a uma decisão e me concentro em Sebastian. – Eu não te
conheço, e odeio ser rude, mas você pode por favor nos deixar em paz
por um tempo?
Spider envia a ele um aceno rápido e o Sebastian endireita sua
forma alta com o seu olhar me lendo. Tudo o que ele vê o faz agir. –
Peguei vocês. Estou saindo. Me ligue mais tarde, Spider. – ele sai do
apartamento com a porta se fechando suavemente atrás dele.
– Está tudo bem? – Spider me pergunta.
Eu balancei minha cabeça enquanto eu tirava o meu suéter. Eu puxo
minha regata de seda para cima e sobre a minha cabeça, jogando-o no
chão de madeira. Ele respira bruscamente com o seu olhar indo direto
para o meu sutiã de renda branca.
– Rose, coloque sua camisa de volta. – sua voz é firme, mas seus
olhos - Ah, Deus - esses olhos estão me queimando.
– Não. – eu marcho em direção a ele e ele recua até a parede.
– Rose? – seu peito se expande, e eu sei que ele está me inspirando.
Página 139 de 265
– Eu conheço você. – minha voz é suave, dolorida com memórias,
querendo que ele visse. – Da Tin Town... quando eu tinha onze anos e
você tinha dezesseis. Você estava no Quickie Mart e me deu trezentos
dólares. Foi na manhã depois que a mamãe morreu. Você... você me deu
seu número de celular e me disse para ligar para você se eu precisasse de
você.
Há um reconhecimento em seus olhos.
Levantando meu cabelo com as mãos, me viro para mostrar minhas
costas. Eu sei o que ele vê: a tatuagem de borboleta na parte superior das
minhas costas, pintada de laranja, verde e roxo. Embora pequena, seu
número do celular está gravado dentro dos redemoinhos da asa direita.
– A borboleta... é em memória a você, um lembrete do garoto que
passou por um instante e me deu esperança e depois foi embora, voando
para outro lugar. Eu fiz em Nova York. Seu antigo celular está dentro
das asas.
Eu não posso ver seu rosto, mas o ouço respirar enquanto ele traça
os números com dedos gentilmente. Meu corpo treme quando arrepios
se elevam ao seu toque.
Há um silêncio profundo enquanto ele processa isso.
Eu não me importo.
Sua voz está cheia de admiração. – Esse é meu número antigo. Meu
pai desligou quando não fui para a faculdade. Como você... – sua voz
para. – Eu me lembro de você. Você estava com fome.
Eu me viro e o encaro, olhando para aqueles olhos insondáveis e
aqueles que carreguei em meu coração por anos. Repeti esses números
repetidas vezes quando me depararam com irmãos adotivos, noites
famintas ou simplesmente solidão.
Seus olhos encontram os meus e nos encaramos.
Meu cérebro sabe que ele vai ser uma estrela do rock. É claro como
o nariz no meu rosto que ele vai partir meu coração.

Página 140 de 265


Mas eu não posso deixá-lo ir.
Eu respiro profundo com os meus olhos ainda se agarrando ao
dele. – Olhar para alguém por mais de seis segundos indica que você
quer fazer sexo com eles ou assassiná-los. Qual dos dois é?
Ele fecha os olhos e eu toco minhas mãos em seus cabelos brancos,
puxando as pontas enquanto nossos lábios se juntam.
Ele hesita um pouco e depois geme com as suas mãos indo para
minha bunda e me puxando para ele.
Com um movimento rápido, ele me vira até que eu esteja contra a
parede e ele esteja no controle. Ele me beija também com um desespero
que diz que tem medo de eu desaparecer no espaço em um batimento
cardíaco. Há uma barba em seu queixo que esfrega em meu rosto e na
minha garganta, enquanto seus lábios me provocam, me devorando.
Ele se afasta de mim, com sua respiração entrecortada, seus ombros
tremendo como se ele estivesse se contendo com a máxima restrição.
– Não pare. – eu digo.
Meu corpo gravita em direção a ele, minha respiração é fraca,
enquanto uma onda de emoções passam por mim. Entro para pegar seus
lábios novamente, mas ele me segura, encostando a testa na parede atrás
de nós.
Ele finalmente fala, com a sua voz rouca como se tivesse sido
arrastada por pedras. – Disse ao meu pai que te deixaria em paz, mas não
posso.
– Graças a Deus.
Ele levanta a cabeça e olha para mim e sinto como se tivesse
enlaçado ele, capturado ele. Eu me sinto como uma sereia que chama os
marinheiros para pular de seus navios e adorá-las para sempre.
– Você é muito boa para mim. – diz ele, com a sua mão tocando
levemente o meu ombro antes de abaixar para acariciar meu braço. Seus
lábios pairam sobre os meus... esperando.
Página 141 de 265
– Eu não sou. Quero você do jeito que você é. Não me importo com
mais nada. – tracei o contorno de seus lábios, puxando o inferior até ele
gemer. Beijo a sua boca com a minha língua entrelaçando na dele,
inalando o seu cheiro de especiarias e couro. Sou rude com ele porque
eu quero isso também. Quero o desespero dele. Quero a sua necessidade.
Ele geme meu nome e empurra para baixo as alças do meu sutiã até
meus seios saltarem livres. Sua boca envolve um dos meus mamilos e o
puxa enquanto sua mão segura o outro, movendo-o com o polegar. –
Você é tão bonita. Eu quero tocar em você em todos os lugares.
– Sim. – eu gemo.
Ele beija o lado do meu pescoço e suga a pele. – Quero foder você,
Rose. Eu quero desde o momento em que te vi. – sua voz é gutural e
áspera, e as suas palavras obscenas faz meu núcleo se apertar.
– Eu não estou parando você.
Minhas mãos vão para o seu jeans e o abre, chegando para envolver
minhas mãos em torno de seu pau duro, meus dedos deslizando por sua
pele aveludada.
Ele geme, com a sua boca reivindicando a minha mais uma vez.
Em meio a nossa respiração pesada, a camisa desaparece quando ele
a coloca sobre a cabeça. Eu beijo o caminho até o pescoço enquanto ele
desliza a mão dentro da minha calça e debaixo da minha calcinha. Estou
molhada quando ele me toca, deslizando para dentro e para fora.
Tudo se move em um borrão enquanto nos fundimos, nos agarrando
e nos beijando.
Em um piscar de olhos nós estamos em um quarto, nossas roupas se
foram, nossa pele tocando em lugares que me fazem gemer e levantar
meus quadris em direção a ele com necessidade.
Nos deitamos em cima de um edredom de penas brancas e ele paira
sobre mim. Eu me aproximo, precisando dele dentro de mim. Parte de
mim quer apressar, para ter a parte dolorosa.

Página 142 de 265


– Você é virgem? – ele pergunta, com os seus olhos castanhos
calorosos ainda hesitantes.
Eu aceno e ele solta um suspiro. – Quero dizer que sinto muito por
tirar isso de você, mas eu estou feliz que sou eu e não o Tren...
Eu coloquei um dedo nos lábios dele. – É você. Sempre foi você.
Ele passa um longo dedo pelo meu rosto, seus olhos castanhos
segurando os meus, uma ansiedade que faz meu coração palpitar ainda
mais. – Antes de fazermos isso... você vem para LA comigo? – ele
sussurra. – Quero você comigo, Rose. O tempo todo.
E quanto a Nova York?Penso por meio segundo, mas ele me beija.
Eu quero estar com ele. Ele é a minha borboleta.
– Eu vou seguir você em qualquer lugar. – digo.
Ele me beija novamente, seus lábios quentes e as suas mãos mais
quentes quando ele toca o meu centro, me preparando para ele. Eu me
contorço e imploro para ele se apressar.
Nenhum de nós ouve nossos pais entrarem na sala.

7. Sweptback: é um corte de cabelo.

Página 143 de 265


Capítulo Quinze
Spider

– Você disse que você a deixaria em paz. – o meu pai grita enquanto
nos enfrentamos na cozinha do apartamento. Ele olha para mim,
enquanto anda pela cobertura. Sento-me em uma banqueta sem camisa,
bebendo o aguado Jack&Coke que o Sebastian deixou para mim antes
que tudo fosse para o inferno.
Abaixo o copo e passo uma mão trêmula pelo meu cabelo, puxando
as pontas. Porra. Realmente estraguei as coisas agora.
Rose já saiu, levada por Anne assim que vestiu as roupas.
Deus, o rosto dela.
Estava branco como um lençol.
Ela estava envergonhada... e chamando o meu nome.
Como uma groupie.
– Você é um maldito mentiroso que não pode manter as mãos para
si mesmo. – papai deixa escapar, enquanto tomo outro gole e bato meu
copo no balcão.
– Você pode sair a qualquer momento. – eu grito.
– Esta é a minha cobertura. – seus lábios se apertam. – Sejam
mulheres, drogas ou bebidas, você sempre exagera demais. – ele balança
a cabeça. – A propósito, a governanta encontrou a cocaína que você
deixou no banheiro no andar de cima. Você foi longe demais,
Clarence. Muito longe.
– Cai fora. – esfrego meu rosto.
Página 144 de 265
Rose.
Ela é tudo que posso ver.
O rosto dela. Aqueles olhos que olham para mim como se eu fosse
um herói.
Longe disso, eu sou uma maldita confusão.
Não estou apto para ninguém - não assim, não de verdade.
Fecho meus punhos. O que eu tenho para oferecer para ela?
Preciso de alguma coisa.
Preciso de uma dose.
Preciso de qualquer coisa.
Preciso de Rose.
Meu coração se parte, porra ele quebra no meu peito, e eu quero
rasgar o meu corpo e arrancá-lo. Em vez disso, eu me levanto e ando ao
redor da sala, optando por fazer outra bebida e tomá-la. O meu pai me
observa com cautela, com seus lábios sérios.
Sebastian entra pela porta e para abruptamente, com um olhar de
confusão no rosto enquanto observa a cena. Seu olhar passa pelo lugar,
procurando por Rose. Ele apareceu aqui ontem para me ver e me
convencer a arrumar minhas malas e vir para Los Angeles com ele agora
em vez de mais tarde.
Papai desvia o olhar para ele, com a sua voz mais baixa do que
quando ele falou comigo. – Esta é uma conversa privada, Sebastian.
Sebastian dá uma olhada no meu rosto e fica em pé. – Eu entendo,
mas acho que vou ficar, senhor. Spider pode precisar de mim.
Eu suspiro. Sebastian é o melhor amigo que eu tenho. Ele sempre
esteve aqui comigo desde os dias de escola, pegando os pedaços. Eu não
o mereço também. Eu não mereço nada.

Página 145 de 265


– Ele chegou até nós.
O rosto de Sebastian empalidece. – Porra. – ignorando o meu pai,
ele vem e coloca a mão no meu ombro. – Você está bem?
Aceno com a cabeça.
Então, a agito. – Não. – meu estômago dói, e o olhar no rosto de
Rose quando ela saiu me destruiu. Fecho meus punhos e esfrego os
meus olhos. – Eu estraguei tudo. Preciso ir encontrar a Rose.
Um longo suspiro vem de Sebastian. – Spider... cara... pense muito
nisso. Ela é uma criança e você está saindo da cidade. Talvez... talvez,
seja assim que deveria ser.
Meu pai entra em cena. – Você tem alguma ideia do que isso
poderia fazer com a Anne... para o nosso relacionamento?
Olho para ele e há preocupação misturada com a raiva gravada em
seu rosto.
– Sou apenas uma má sorte para você, não é? – digo.
Cate, meus olhos dizem. Mamãe.
Ele suspira e levanta as mãos. – Não é assim, Spider. Este é apenas
um novo começo para mim. Para nós, se você quiser.
Encolho os ombros e desvio o olhar dele. Não quero pensar em
novos começos.
Ele puxa a gravata, afrouxando-a. – Eu não estava por perto quando
você era jovem, mas essa coisa com a Anne... Eu a amo... – ele se afasta.
E quanto a mim?
Ignorando-o, passo por ele e saio para a varanda, onde tiro um
cigarro do bolso e o acendo, sugando a nicotina.
Ouço o meu pai e o Sebastian falando baixinho lá dentro, mas eu os
ignoro.

Página 146 de 265


Fumei cinco cigarros quando senti o meu pai se juntar a mim
mesmo que não olhe para ele. Ele fez sua própria bebida e está tomando
um Scotch, com um tremor visível em sua mão. Ele solta um profundo
suspiro. – Eu posso te dizer muito bem da Rose, e talvez, isso seja mais
do que apenas um dos seus habituais...
Eu lhe dou um olhar fulminante. – Não. Você não sabe nada sobre
mim. – eu rosno.
Ele balança a cabeça, com aquele exterior inglês legal dele com
força total. – De fato. Você está certo, eu não te conheço, porque nunca
passamos muito tempo juntos. Eu mal tive tempo para você quando você
era um bebê. Sua irmã morreu, sua mãe foi embora e eu continuei como
se nada tivesse mudado. Deixei você em um colégio interno em um país
estrangeiro e fui trabalhar. Foi terrivelmente errado da minha parte, e
minha única desculpa é... bem, não sabia como ser o que você
precisava. Sinto muito por isso. Eu me sinto parcialmente responsável
pela situação em que você se encontra atualmente - usando drogas e
pensando que você está apaixonado por uma garota menor de idade.
Eu aperto o corrimão da varanda. Não posso acreditar que ele
acabou de dizer tudo isso. Eu dou um olhar para ele, feliz que ele disse
isso. Isso torna real. – Acho que quase cobre isso. – paro. – Depois que a
minha mãe foi embora, vi você seis vezes em quatro anos. Isso foi uma
merda.
Ele concorda. – Posso fazer melhor. Eu quero.
Ficamos lá ao vento e observando os carros se moverem lá
embaixo. Penso no passado, em como o meu pai provavelmente se
sentiu infeliz desde a Cate e a mamãe.
Eu dou uma respiração profunda. – Acredite ou não, eu estou... feliz
por você. – aceno minhas mãos para ele. – Anne e o bebê. Você merece
uma segunda chance.
Um olhar tenso e pensativo passa por seu rosto enquanto ele enfia as
mãos nos bolsos e olha para o horizonte. – Todo dia é uma segunda
chance, filho. Tudo o que você precisa fazer é agarrar.

Página 147 de 265


Movo meus olhos para os dele, avaliando sua reação. – Talvez,
Rose seja o que eu preciso.
Uma firmeza se instala em seu rosto. – Há apenas uma coisa certa
nessa situação e é que você precisa sair da vida dela.
Eu sei que ele está certo.
Há um lado meu que também se sente desapontado comigo mesmo,
pela minha incapacidade de deixá-la em paz. Esfrego a minha testa.
– Posso fumar um cigarro? – pergunta ele.
Ele não fumou desde que eu estava de fraldas, pelo menos não que
eu tenha visto. Passo um para ele e ele acende como um profissional,
colocando a chama contra o vento.
– Não acho que eu realmente te conheço. – digo, olhando para ele.
Ele balança a cabeça enquanto seus olhos me observam. – Sério.
De repente estou muito cansado. – O que você quer de mim?
Ele dá uma longa tragada, com as sobrancelhas franzidas, como se
estivesse pensando muito. – Tenho uma proposta para você. – diz ele,
inclinando-se sobre a varanda e olhando para o horizonte. – Eu tenho
conversado com o Sebastian sobre algo, e acho que tenho um plano que
funcionará bem para todos os envolvidos.
Eu paro. – Incluindo a Rose?
Ele concorda. – Especialmente a Rose.
Eu concordo. Ele me conta sua ideia e, antes mesmo de terminar, sei
que é a coisa certa a fazer.

Página 148 de 265


Capítulo Dezesseis
Rose

– Seu comportamento é totalmente inaceitável. – diz a Anne do


balcão da cozinha enquanto se serve com um copo de chá gelado. – Não
vou deixar você se jogar em algum marginal. – mesmo que ela esteja
claramente abalada, suas palavras são ditas sem drama. Isso é só ela.
Não responda, digo para mim mesma. Você só vai piorar. Ela é
uma pessoa julgadora; você não pode fazer ela mudar de ideia.
Sento-me à mesa do café da manhã, minhas mãos fechadas sob a
mesa, me segurando. Nós estamos sentadas aqui por meia hora e minha
cabeça lateja. Aparentemente, a Anne usou um aplicativo no meu celular
para rastrear onde eu fui depois que eu saí de sua casa e viu que eu
estava na cobertura. Ela e o Robert foram ver o porquê.
– Você estava na cama com ele. – ela suspira alto.
A vergonha colore meu rosto e olho para a mesa. – Nós não fizemos
sexo.
Eu olho para verificar meu celular para ver se ele me mandou uma
mensagem.
– Afaste-se do seu celular, Rose.
Eu o viro para baixo. – Desculpa.
Ela se senta na minha frente com o seu rosto pálido. – Você não vai
vê-lo novamente. – suas palavras são pequenos sinos que não podem ser
tocados... clara, fria e final.
– Isso vai ser difícil, já que você é casada com o pai dele. Eu vou
vê-lo. – digo, agarrando a beirada do meu assento.

Página 149 de 265


Ela sacode a cabeça. – Eu não queria te dizer isso, mas a governanta
encontrou drogas no quarto dele desde a noite em que ele esteve aqui.
Estou surpresa, mas não chocada. – Não me importo. – eu digo. Ele
e eu vamos resolver isso.
Seus lábios se separam. – Você não sabe o que está dizendo. Se
você se envolver com ele... bem, você vai ficar confusa também... como
sua mãe.
Eu não sou nada como a minha mãe.
Eu sou quase perfeita, considerando de onde eu vim.
– Eu não sou como ela. Eu sou como a vovó.
– Você não pode agir como alguém de Tin Town, mesmo a sua avó.
– diz ela bruscamente.
Não posso deixá-la colocar a vovó em sua categoria de pessoas de
Tin Town.
Fico de pé, a tempestade que está passando por mim, me varre a
superfície. – Não importa de onde eu sou. Tudo o que importa é onde
estou indo.
Pego meu celular da mesa e mando uma mensagem para ele. Meu
coração está acelerando. Eu preciso sair daqui.

Por favor, venha me pegar. Eu preciso de você. Estou em casa.

Anne suspira e levanta-se para levar o copo para a pia, onde o lava e
depois o coloca no escorredor. Uma careta triste está em seu rosto
quando ela olha para mim. – Ele não vai responder.
Minha cabeça se vira para ela. – Como você sabe? O que está
acontecendo?

Página 150 de 265


Ela olha para as unhas. – Robert me mandou uma mensagem há um
tempo atrás. Spider está partindo para Los Angeles. Ele não te quer.
Eu sento. Não, isso não pode estar certo. Ele me pediu para ir a Los
Angeles com ele. Ele me quer tanto quanto eu o quero.
– Quando?
Ela encolhe os ombros. – Em breve.
Uma mensagem de texto chega e vibra o meu celular e eu o pego,
meu coração dispara quando vejo que é dele.
Eu leio e meu coração se parte.

Eu não posso. Adeus.

Página 151 de 265


Capítulo Dezessete
Rose

Na segunda-feira, já faz três dias que nunca mais ouvi falar de


Spider. De alguma forma, consegui me impedir de mandar uma
mensagem para ele ou ir até a cobertura. Estou brava com ele pelo adeus
enigmático e ainda estou furiosa com a interferência da Anne. Ela me
ligou e me mandou uma mensagem várias vezes, mas me recuso a
responder.
Eu me arrasto para a escola preparatória de Claremont, afastando os
dois da minha cabeça.
Mas eu não posso me concentrar.
Minha cabeça vai para o Spider em cada aula, meu cérebro e meu
coração embriagados com pensamentos de sua aparência nervosa e
perigosa. A maneira como seus olhos me seguem onde quer que eu
vá. A maneira como seu corpo se sente pressionado na minha pele
nua. Eu quero aquilo. Eu o quero.
Ele é drogado.
Ele usa as garotas.
Eu reproduzo todas as coisas que a Anne me contou.
Meu coração não se importa.
Onde ele está?
Por que ele não me mandou uma mensagem?
O que eu fiz de errado?

Página 152 de 265


Assim que o sinal toca para nos dirigirmos ao nosso último período,
eu me esquivo do ataque dos estudantes e saio pelas portas duplas da
frente como tenho todo o direito de fazer. Ninguém percebe, e eu suspiro
de alívio.
Entro no meu carro e saio da Highland Park, em direção à
cobertura. Fiz o meu melhor para fingir que está tudo bem, como se eu
não estivesse pensando nele a cada segundo, mas é mentira.
Depois de uma viagem de vinte minutos, onde escuto a sua música,
encontro um lugar para estacionar na Avenida Bandera, a poucos
quarteirões do seu prédio. Ainda usando minha saia escolar xadrez azul
e verde, meias azul-marinho na altura do joelho e uma camisa branca de
colarinho de Peter Pan, corro para o parque em frente ao seu
apartamento.
É um dia de sol, mas uma nuvem escura escurece o sol e o medo se
forma em meu estômago.
O ar parece ameaçador.
Eu olho para o topo do prédio e meus olhos pousam na varanda. Eu
fico ali parada, me sentindo idiota e hesitante ao chegar até aqui, meio
que esperando que ele saiba que estou aqui e saia.
Mas ele não faz. Ninguém sai para a varanda e acena para mim.
Se ele queria você aqui, ele teria dito isso, uma parte do meu
cérebro me lembra, mas ignoro ele. Ele te disse adeus.
Mas eu não me importo.
A vida é para arriscar, dizer como você se sente e foder com as
consequências. Quero dizer, como você vai saber que é uma decisão
errada se você nunca fizer isso primeiro?
Eu mando uma mensagem para ele com as minhas mãos nervosas e
molhadas de suor.

Você ainda está aqui? Parece que você está.


Página 153 de 265
Nenhuma resposta enquanto ando em torno de um banco do parque.
Meia hora se passa e o céu escurece.
Apenas vá até lá, digo a mim mesma. Peça ao porteiro para
anunciar você.
Mas eu não tenho coragem de entrar... então, eu espero.
Se ele quiser me dizer adeus, vai ser na minha cara.

Eu digito, estou do lado de fora do seu apartamento e não vou


embora até você me ver.

Eu gemo com o quanto carente eu pareço, mas acho que é tarde


demais para me importar. Eu estou muito longe para me importar como
eu soo para ele.
Só então, uma limusine preta estaciona no meio-fio e uma garota
bonita de vinte e poucos anos sai usando uma minissaia rosa pálida,
saltos brancos e um suéter branco macio que se molda a cada curva. Seu
cabelo castanho está preso em um rabo de cavalo e amarrado com um
laço de bolinhas.
Eu me pergunto quem ela é quando o meu celular soa.

Vá para casa, Rose. Eu não posso fazer isso com você agora.

Ele está aqui. Eu sabia.

Você sente algo por mim, eu respondo.

Página 154 de 265


Há um atraso de vinte segundos antes que ele responda. Eu sei
porque estou contando com o meu coração acelerado.

Não, não sei.

Eu sinto que ele me deu um tapa. Eu tropeço de volta para o banco e


vejo os cães passearem. Mulheres afluantes me olham com cuidado, e eu
sei o que elas veem - uma estudante com um celular apertado contra o
peito como se fosse uma tábua de salvação.
Eu me concentro no meu celular.

Não estou acreditando na sua besteira. Há algo grande entre


nós. O que há de errado em admitir isso?

Cinco longos minutos passam enquanto a desesperança e a raiva se


agitam dentro de mim.
Deus.
Por que eu não apenas vou embora?
Por que estou aqui de novo?
Para falar com ele.
Para dizer adeus ao seu rosto.
Para fazê-lo me dizer adeus na minha cara.
Ele não te quer, Rose.
Ele não te quer.

Eu digito outro texto. Eu tenho que estar no trabalho hoje à noite,


mas eu não vou, não até que eu veja você.
Página 155 de 265
Meia hora depois, o ar congelou quando soprou uma brisa. Eu tremo
quando esfrego meus braços.
Um casal sai do prédio, as primeiras pessoas que vejo saem e meus
sentidos saltam para um estado de alerta. É ele! Seu cabelo é como um
farol e meus olhos o absorvem, absorvendo o passo confiante enquanto
ele caminha ao lado da garota de rosa que saiu da limusine mais cedo. O
porteiro está atrás deles, empurrando uma mala e carregando o estojo da
guitarra.
Do outro lado da rua, sinto seu olhar passar pela área, mas ele não
para em mim.
Ele está me ignorando.
Eu pulo do meu lugar assim que ele coloca um braço em volta da
garota bonita. Seus dedos agarram as alças do cinto em seu jeans como
se ela fosse dona dele, e enquanto eu observo, ela sorri para ele com uma
expressão confusa no rosto.
Ele a vira para encará-lo e a beija nos lábios. Suas mãos percorrem
suas costas, pressionando-a perto.
Não consigo respirar.
Meu peito está doendo.
Meus olhos estão ardendo quando as lágrimas se formam.
É então, que noto outras coisas nela. Seu cabelo está solto do rabo
de cavalo e está despenteado como se as mãos tivessem passado através
deles.
Sua saia, embora seja difícil dizer a partir daqui, parece estar detrás
pra frente, com a fenda na frente, como se tivesse sido apressadamente
puxada para trás.
Eu quero arrancar cada fio do cabelo castanho feio dela.
Eu quero arranhar seu rosto.

Página 156 de 265


Ele... ele... a beijou nos lábios, porra.
Eu respiro fundo, sentindo-me sem fôlego. Pressiono a minha mão
no meu peito para esfregar a dor. Corro para o trânsito que se aproxima
e buzinas soam para mim, enquanto desvio dos carros para chegar até
eles.
Tropeço no meio-fio quando eu corro. Sei como devo parecer
agora. Minha trança está se desfazendo e pequenos fios de cabelos
desarrumados flutuam em volta do meu rosto. Eu não uso maquiagem
porque esfreguei tudo. Minha camisa está aberta, e os meus oxfords de
fivelas estão arranhados de bater no banco. Eu sou uma bagunça total, e
eu nem me importo.
– Rose? – ele diz o meu nome como se estivesse surpreso, mas eu
não acho que ele esteja, mesmo que haja um olhar arregalado em seu
rosto.
Eu dou uma rápida olhada para a garota, e ela está ostentando um
sorriso eufórico.
Eu quero vomitar.
– Você conhece essa garota? – ela pergunta a ele com a sua mão
enfiada no bolso de trás dele. Uma risadinha vem dela. – Você já tem
uma stalker? Meio jovem, você não acha?
– Uma nova meia-irmã.
Suas sobrancelhas se levantam. – Ah.
– O que você quer? – seus olhos passam por mim e eu engulo,
percebendo que ele nunca me viu no meu uniforme escolar.
Pela primeira vez com ele, me sinto terrivelmente jovem. Eu aperto
minhas mãos, afastando a vontade de fugir.
Eu vim por todo esse caminho. Corri através de quatro fileiras no
trânsito para ter este momento.
Não há como voltar agora.

Página 157 de 265


Meus olhos olham apenas para ele e não para a morena, embora eu
saiba que seu rosto será para sempre marcado no meu cérebro.
– Preciso falar com você. – digo quando o motorista da limusine
surge e abre a porta detrás para eles.
Spider se virou para o veículo e apontou para ele. – Estou indo para
Los Angeles. Não há mais nada a dizer. Nossos pais cuidaram disso.
Mas seu corpo diz algo diferente. Há um olhar angustiado em seu
rosto que combina com o meu, e seus ombros estão tensos quando ele
me encara de frente, me devorando com o olhar. Seus olhos castanhos
estão bloqueados nos meus e, assim como ele, eu me recuso a deixar a
conexão se perder.
– Você está mentindo. – estou mais perto agora e sinto o cheiro
dele, o cheiro de couro usado, fumaça de cigarro e tempero todos
misturados para formar seu próprio perfume inebriante particular. Eu
quero me banhar nele. Eu quero seus braços em volta de mim e não ao
redor dela.
A garota - Deus, eu a odeio - olha para o Spider e passa a mão
magra pelo rosto dele. Uma expressão resignada percorre seu rosto,
enquanto os seus olhos saltam de mim para ele. – Fale com ela,
querido. Ela precisa ouvir isso de você. Eu estarei esperando no carro.
Eu vejo como ela passa por mim e desliza na caverna escura do
banco de trás. Muito em breve, ele estará sentado lá atrás com ela. Eles
estarão se beijando novamente...
Pare.
Não faça isso.
Porra.
Sua saia está para trás.
Eu fecho meus olhos. Eles estavam juntos, provavelmente nus na
cama dele no andar de cima, onde eu estava apenas alguns dias atrás.

Página 158 de 265


Seu olhar injetado de sangue queima no meu, seus olhos estão
enormes. Ele não dormiu, ou está de ressaca - talvez ambos.
– Fale o que você precisa falar. E me deixe em paz. Estou
preparado, Rose. – suas palavras são suaves e ternas, e percebo que ele
precisa de mim para atacar, mas não vou facilitar isso para ele.
– Eu te amo. – eu digo.
Seus olhos brilham e seus lábios se separam quando um barulho de
ar sai. – Não diga isso.
– Por que não? É verdade. Acho que você também me ama.
Ele sacode a cabeça. – Você nunca vai me ouvir dizer essas
palavras, Rose. Eu não amo ninguém. O amor é para pessoas que
querem se machucar.
– Eu não posso evitar como me sinto. – grito.
– Você está apaixonado por quem você pensa que eu sou. – ele
aponta para a garota dentro da limusine. – Você sabe que eu peguei ela,
certo?
Raiva explode em um instante e eu empurro seus ombros, fazendo-o
tropeçar para trás no asfalto de concreto. – Foda-se você e todas as
garotas que você fode. Você não pode me dizer como me sinto.
Ele empalidece. – Deus... Sinto muito. Isto é o que faço. Eu estrago
tudo, lembra? Estou perdido, Rose. Não sou o que você precisa - nunca.
Balancei minha cabeça para ele. – Deixe-me ir a Los Angeles com
você.
Ele fecha os olhos e os abre com dor ali e ansiando... por mim.
Eu sei isso. Eu vejo isso.
– O que você está sugerindo é impossível. Tenho uma carreira para
pensar. Você tem a faculdade.

Página 159 de 265


– Eu não me importo. – corro com as palavras, na esperança de
convencê-lo. – Sei que é inexplicável, mas quando vejo você... Estou em
casa, como se fôssemos peças de um quebra-cabeça que finalmente se
juntaram.
– Você pode me querer agora, mas em uma semana ou um mês,
quando eu estiver drogado e trair você... – sua voz se esvai tensa.
Eu tremo. Meu corpo está no modo de briga ou fuga. Olho para a
garota no carro. – Você se importa com ela?
Ele bate os dedos no jeans e seus olhos se recusam a olhar para
mim. – Eu tenho um avião esperando por mim, Rose.
– Isso não é um adeus. – eu digo com a minha voz embargada. – Eu
me recuso a deixar você sair até que você me diga que eu não significo
nada para você - nada! – grito as últimas palavras com as minhas mãos
fechadas.
Mas estou falando ao ar.
Ele está caminhando na direção da limusine.
– Se você se afastar de mim agora... – deixei as palavras pairarem
no ar.
Ele sabe o que quero dizer.
Ele para, seus ombros se expandindo enquanto ele respira e sua mão
fazendo aquela coisa batendo em sua perna.
Ofego, dizendo coisas que não quero dizer, dizendo qualquer coisa
enquanto percebo algo que ele possa se importar. – Juro por Deus, se
você me deixar aqui, ficarei com Trenton... Eu vou deixar ele ser o meu
primeiro. Eu nunca mais vou pensar em você. Eu juro, não vou. É isso
que você quer? – minha voz se interrompe.
Ele está lá, e estou contando os segundos, meus olhos implorando
para ele se virar e olhar para mim.

Página 160 de 265


Sua voz é baixa e rouca enquanto ele deixa escapar. – Diga a
Trenton, oi por mim, Amor.
E então, ele entra no carro e se afasta lentamente.
Eu limpo minha boca com as costas de uma mão que está tremendo
incontrolavelmente.
Ele se foi.
Com... alguém.
Não sei quanto tempo fico ali, talvez, dez minutos, talvez meia
hora. O porteiro sai e me observa, mas eu o ignoro.
Não é até que o céu se abre e comece a chover, que eu finalmente
começo a ver a verdade quando a clareza chega aos poucos e em
fragmentos.
Eu nunca fui especial para ele como ele foi para mim.
Eu toco as minhas bochechas. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, a
umidade delas é um lembrete de que eu nunca me machuquei assim
antes... Nunca. Eu sinto que estou morrendo de uma doença horrível,
como se eu pudesse me enfraquecer.
É isso que parece se apaixonar por alguém e não ser correspondido?
É com isso que as canções de amor são escritas?
Eu quero gritar com os meus pulmões. Eu quero bater minhas mãos
no chão. Eu quero vomitar.
Eu percebo que as pessoas sempre vão embora, mesmo aquelas que
você mais ama. Eles se esgueiram em sua vida e depois se afastam como
se nada tivesse acontecido. Eles deixam você caminhar até a sua
destruição e deixam seu coração para perseguir suas próprias ambições.
Eu sei o que tenho que fazer.
Eu nunca vou deixá-lo perto do meu coração novamente.

Página 161 de 265


Parte II
Onde quer que um homem possa estar, o que quer que um homem
possa empreender, ele sempre acabará retornando ao caminho que a
natureza definiu para ele.

Página 162 de 265


Capítulo Dezoito
DOIS ANOS DEPOIS
SpideR

Uma meia hora antes da hora do show no Madison Square Garden,


eu estou tomando uma dose de tequila cara quando uma batida vem na
porta do meu camarim. É a minha segunda bebida antes do show
começar. Preciso disso para me soltar, mas nunca sou bombardeado no
palco. Eu fiz uma promessa para o Sebastian que eu não faria isso, e até
agora eu cumpri isso.
Mas depois, uma vez que a música acabou e a plateia foi embora... é
um novo jogo.
Eu estou vestindo a minha roupa de costume para um show: jeans
skinny preto e uma camisa cinza apertada com buracos artisticamente no
tecido caro. Estou usando joias de prata e a maquiadora já apareceu para
delinear meus olhos de preto.
Abro a porta, esperando o Sebastian ou o nosso baterista
Rocco. Ambos são grandes palestrantes que gostam de conversar antes
de continuar... principalmente irritar. Rocco gosta de falar sobre os
desenhos de carvão que eu venho fazendo, e o Sebastian gosta de falar
através dos sets. Max, nosso guitarrista rítmico, é um cara quieto que
gosta de ficar sozinho até entrarmos no palco.
Mas não é nenhum deles. É o Rick, um dos roadies da turnê Acorde
e Morra que estamos fazendo após o enorme sucesso do nosso último
álbum.
– Oi. O que foi? – pergunto.

Página 163 de 265


Ele está mascando tabaco e os joga para falar. Ele tem um sotaque
lento do sul; Eu acredito que ele é do Alabama.
– Há uma garota na porta dos fundos pedindo para ver você.
Levanto uma sobrancelha. – Sem groupies até o show terminar,
Cara. Apenas ligue para segurança.
Ele cospe em uma garrafa de água vazia. – Chamei no rádio deles,
mas não consigo colocá-los na linha.
– Ela vai embora quando o show começar. – digo a ele com a minha
cabeça já se movendo para outras coisas. Preciso ligar para o meu pai e
verificar onde vou ficar aqui em Nova York depois do show. Sempre
que venho aqui, normalmente acabo ficando em uma de suas
propriedades em vez de um hotel. Eu provavelmente deveria ter feito
isso agora, mas estamos no final da nossa turnê e minha cabeça está em
todo lugar.
– Ela diz que conhece você. – ele está olhando para mim com os
olhos entreabertos agora, como se ele soubesse algo que eu não sei.
– E não são todas elas?
Ele olha para a nova tatuagem que eu tenho em cima da minha mão
esquerda, uma rosa vermelha envergada. Fiz na semana passada. Nas
minhas costas há outra rosa, que ganhei durante o primeiro ano depois
que saí de Dallas.
– Ela diz para dizer que seu nome é Rose.
Sinto como se todo o ar tivesse sido sugado do quarto, e eu me
agarrei ao lado da porta de metal para não cair.
– Você a viu? Como ela é? – minha voz é baixa.
Ele concorda. –Abri a porta, chefe. Ela é atraente, está vestida com
um vestido preto apertado e saltos. Parece o seu tipo, uma morena.
Sebastian se aproxima, vestido como se estivesse pronto, com jeans
e uma jaqueta de couro preta. Sua juba dourada cai em torno de seu

Página 164 de 265


rosto, e eu posso ver que ele acabou de ter seu cabelo alisado. Ele para
em minha porta. – Cara, você parece que acabou de ver um
fantasma. Você está bem? – seus olhos procuram os meus.
– Estou bem. – deixo escapar.
Ele nos olha com cautela, mas continua andando. – Vejo você na
porta do palco em alguns minutos?
Eu aceno de cabeça para ele, mas estou olhando para o Rick.
Ele continua. – Normalmente, eu simplesmente ignoro garotas na
porta dos fundos, mas ela sabia o seu nome verdadeiro: Clarence.
O calor puro se inflama quando imagens de Rose voam para
mim... nosso beijo no avião... ela debaixo de mim na cobertura... suas
respirações eram como asas de um anjo quando tocaram na minha pele.
A única lembrança que passa na minha cabeça é a expressão dela
quando ela me viu com a Mila.
Eu afasto a imagem de seu rosto pálido.
Não pense sobre isso.
Acima de tudo, penso na promessa que fiz ao meu pai quando saí de
Dallas. Eu jurei a ele que deixaria a Rose viver a vida dela, para crescer
e ser a pessoa que ela deveria ser. Eu peguei sua oferta de meio milhão
de dólares e fiz uma vida para mim em Los Angeles.
Sim, mas você não gostaria de apenas... vê-la?
Meu coração acelera com o pensamento.
– Chefe, o que você quer que eu faça?
Deixe-a entrar, meu corpo grita.
Ela não tem mais dezessete anos.
Mas...

Página 165 de 265


Eu ainda não estou bem. Claro, eu tenho bons dias, mas não sou o
que ela precisa. Eu tenho que ser forte para mim antes que possa ser
forte para ela.
Sebastian grita meu nome. – Dez minutos. Vamos, quero ver algo
além de você.
Olho para o Sebastian sem expressão, com a minha cabeça em outro
lugar, e ele me dá um olhar impaciente. – Você vem?
Eu aceno e empurro o Rick. – Diga a ela que você está chamando a
polícia se ela não sair.
Corro para o palco com o meu corpo agitado, enquanto cubro a
distância entre onde estou e onde eu preciso estar. Eu corro, caso
contrário eu poderia apenas me drogar.
Eu poderia abrir a porta dos fundos e deixá-la entrar.
Eu poderia pressionar os meus lábios nos dela e contar a verdade.
Que ela é aquela em que eu penso quando fecho meus olhos à noite.

Eu acordo enquanto uma sirene da polícia passa pela janela aberta.


Porra.
Onde estou?
Olho em volta e observo o pequeno e apertado apartamento. Roupas
estão espalhadas por toda parte, e o lugar cheira a fumaça de cigarro e
bebida alcoólica. Eu olho para cima e vejo o teto empipocado, a mancha
escura de água no canto da parede. É um lixo, mas já acordei em lugares
piores.

Página 166 de 265


Esfrego meu rosto, minha cabeça batendo como a bateria no show
da noite passada.
Eu ouço um gemido do outro lado da cama.
Há uma garota nua ao meu lado e o rosto está irreconhecível. Tudo
o que vejo é uma massa de cabelo loiro bagunçado. Obrigado, porra -
não aguento mais morenas.
Eu me levanto e me estico, com a minha cabeça passando pelo que
aconteceu depois do show.
Uma boate em cima de algum hotel.
Cheirando e gozando na bunda de uma garota no banheiro.
Eu visto o meu jeans e a camiseta, sentindo como se a morte tivesse
à espreita. Eu tenho que dar o fora daqui.
– Onde você está indo? – diz a garota, enquanto se apoia na
cabeceira da cama, com os seios de fora. Meu estômago revira e
rapidamente olho para baixo enquanto enfio os meus pés em meus
Chucks8.
– Eu tenho que ir.
– É cedo ainda. Vamos tomar café da manhã. – ela se levanta, e dou
uma olhada em como ela é alta.
Ah, isso pelo menos explica porque eu a escolhi.
Garotas altas, morenas, garotas de olhos verdes - são todas Rose na
minha cabeça.
Eu as aceito porque não posso tê-la.
Ela está encolhendo os ombros em uma túnica de seda, enquanto
saio para a sala de estar.
– Espere! – ela chama. – Preciso do seu número. Você não quer me
ligar quando voltar para Nova York?

Página 167 de 265


Foda-se não. Eu me encolho com o pensamento.
Há um chapéu de palha no encosto do sofá. Eu pego ele e giro isto
ao redor. – Se importa se eu levar isso?
Ela murmura um ok, mas me diz que é um chapéu de garotas.
Eu não dou a mínima; Eu só não quero ser reconhecido.
– Posso te ver de novo? – ela passa as mãos pelo o meu peito,
enquanto coloco o chapéu na minha cabeça e me aproximo da porta.
Eu invoco uma desculpa, dizendo que estarei fora do país em turnê
pelos próximos meses, e então, antes que ela possa me seguir, murmuro
um obrigado apressado e saio pela porta.
Em vez de esperar pelo elevador, eu pego as escadas. Eu nem sei o
quanto alto estou, mas não me importo.
Eu preciso do ardor.
Subo as escadas de dois em dois, até que finalmente atravesso a
porta e entro na manhã de Nova York. Eu inalo profundamente,
finalmente consigo respirar. As ruas são quase todas quietas porque é
domingo, e eu verifico as placas da rua, saindo do telefone para ver onde
estou: Bedford Street, na área de Greenwich Village.
Meu cérebro meio acordado descobre que estou perto da NYU. Eu
paro. Rose está por perto. .. apenas a alguns quarteirões de distância. Eu
sei porque ela está vivendo em uma das propriedades do meu pai, e eu
sei disso porque... Bem, eu sei tudo sobre a Rose. Papai me mantém
atualizado e eu tenho meu próprio pessoal que checa ela periodicamente.
Eu nem tenho consciência do que meus pés estão fazendo... não até
que eu esteja do lado de fora do prédio dela perto do Washington Square
Park.
Eu entro em um Starbucks do outro lado da rua para pegar algo para
beber, e uma hora depois, estou sentado em uma banqueta de frente para
o seu apartamento quando ela sai.
Ela é... tudo.
Página 168 de 265
Seu rosto é uma obra de arte. Seus movimentos como uma música
doce.
Ela estica o pescoço e olha para a rua como se esperasse
alguém. Meus olhos disparam descontroladamente ao redor... e então, eu
o vejo andando na direção dela. Ele está acenando para ela, com um
largo sorriso no rosto bonito.
Trenton.
Fecho meus olhos para não vê-los juntos... mesmo que não seja uma
surpresa. Afinal, eu a coloquei aqui com ele. Criei essa porra de
confusão.
Eu não posso deixar de abrir meus olhos e observá-los.
Eu preciso ver. Eu preciso ver se ela me trocou.
Ele a alcança, levanta-a nos braços e a beija profundamente.
Ela envolve os braços em volta do pescoço dele e se agarra a ele.
Quanto a mim... Eu morro.
Eu morro porra.
Porra. Porra. Porra.
Deus.
Eu me odeio. Eu odeio essa vida que tenho sem ela. Eu odeio tudo.
Eu não posso continuar sem ela. Não mais. Eu tentei pelos últimos
dois anos. Eu fingi que estou bem... mas não posso mais fazer isso.
Quero arrancá-la dos braços de Trenton e fazê-la me amar de novo.
E o meu coração... sabe o que tenho que fazer para que isso
aconteça.
Eu tenho que ficar bem.

Página 169 de 265


8. Chucks: é o All Star que conhecemos aqui.

Página 170 de 265


Capítulo Dezenove
DOIS ANOS DEPOIS
Rose

– Feliz aniversário, sexualidade9! – Oscar diz, levantando o copo


para um brinde, enquanto nos sentamos no Bono, meu bistrô italiano
favorito e um dos lugares mais badalados de Manhattan. Também
trabalho aqui em meio-período para ganhar um dinheiro extra, enquanto
frequento a pós-graduação.
Eu levanto meu copo para ele e tomo a tequila. O lugar gira apenas
um pouco, enquanto coloco o copo de volta na mesa.
Estou com vontade de comemorar.
É setembro, e nós nos formamos na NYU em maio passado. Oscar,
que acabou recebendo a bolsa de estudos que queria, formou-se com um
diploma em design e conseguiu um trabalho cobiçado na Barneys como
balconista, com aspirações de ser um gerente algum dia. Quanto a mim,
atualmente estou matriculada no programa de pós-graduação da NYU,
trabalhando para o meu doutorado em psicologia.
– Se ao menos Trenton não tivesse que trabalhar. – Oscar murmura
com um beicinho, enquanto endireita os óculos escuros estilo hipster. –
Mas não se preocupe. Eu serei o seu namorado hoje à noite e me
certificarei de que você chegue em casa sóbria. – ele toma outra dose de
tequila em frente a mim, e eu dou a ele um olhar sinistro.
– Você sabe o que a tequila faz para mim. – digo quando eu volto
para ele. – Eu também quero brigar ou tirar a roupa, e eu não acho que
vou estar fazendo isso hoje à noite.
– Briga, briga, briga. – diz ele, batendo as mãos na mesa.
Página 171 de 265
Eu rio enquanto checo meu celular para ver se o Trenton ligou ou
mandou uma mensagem desde hoje de manhã quando nos encontramos
para tomar café. Ele não mandou, e isso me deixa frustrada. Ele está
trabalhando até tarde quase todas as noites esta semana.
Eu suspiro, lembrando-me o quanto importante o seu novo trabalho
é para ele. Ele é um gerente de uma empresa de boutique; felizmente,
seu pai conhecia alguns caras na faculdade.
– O que o Sr. Empresário está fazendo hoje à noite? – Marge
pergunta enquanto ela toma outro martini. Com seu cabelo vermelho
encaracolado e sorriso sombrio, ela tem sido uma boa amiga para mim
desde que me mudei para Nova York, quatro anos atrás, para frequentar
a NYU. Nós ainda rimos na noite em que ela me pegou no bar para ver o
Vital Rejects.
Sim, Anne - com o incentivo de Robert - concordou em me mandar
para a NYU. Eles nos apoiaram nos últimos quatro anos, até mesmo
permitindo que o Oscar e eu morássemos em um de seus prédios.
Desde a noite da discussão com o Spider, meu relacionamento com
Anne mudou. Não tolero suas manipulações e ela sabe disso. Ela parece
ter percorrido um longo caminho e eu a aprecio. Ela sempre quis o
melhor para mim; nós simplesmente não concordamos sobre o que era
isso.
Marge acena com a mão na frente do meu rosto. – Olá? Você está
com a gente?
– Sim. – digo com uma risadinha. – Trenton saiu com alguns caras
do escritório dele. Eles estão comemorando um grande cliente hoje. Ele
está fazendo conexões e toda essa animação. Ele provavelmente vai
aparecer mais tarde.
Oscar levanta uma sobrancelha. Ele e o Trenton nunca foram
grandes amigos, e eu leio o rosto dele como um livro aberto. Ele acha
que o Trenton não estar aqui é um movimento idiota.
– A carreira dele é importante para ele. – acrescento.

Página 172 de 265


Oscar encolhe os ombros, parecendo elegante em sua calça e camisa
azul de botão com as mangas enroladas. – Ele sempre pode nos pegar no
clube, porque nós vamos dançar, menina! Estou feliz que você tenha
usado seus sapatos de dança.
Axe, o cara novo na vida de Oscar, olha para baixo e assobia para o
meu presente de aniversário, um par de Christian Louboutins de prata
metálica - da Barneys, é claro.
Oscar suspira e cobre seu coração. – Meu desconto de dez por cento
é a única razão pela qual você me ama.
Eu bato no braço dele. – Isso não é verdade - eu só amo você porque
você cozinha como um sonho.
Ele franze as sobrancelhas. – Panquecas amanhã?
Eu coloco meus braços ao redor dele. – Eu vou fazer os ovos, ou
pelo menos vou tentar.
Ele ri quando uma mensagem de texto chega para mim e eu corro
para olhar para ela, pensando que é o Trenton. Não é, mas não estou
muito desapontada, já que a Lexa me deseja um feliz aniversário de
Atlanta. Eu mostro para o Oscar e tiramos uma selfie para mandar para
ela. Ela frequentou a Universidade de Emory depois de Claremont e nos
separamos ao longo dos anos. Embora, eu ainda gosto de ouvir sobre
ela.
Alguns minutos depois, deixo a mesa para ir ao banheiro.
Um edifício de forma retangular longa, a maior parte dos assentos
do Bono é perto da frente com uma grande área de bar ao longo da
parede direita. Há um banheiro na parte dos fundos ao longo do lado
esquerdo, mas o lugar está lotado e não sinto como se estivesse lutando
através da multidão de sábado à noite de solteiros à espreita. Em vez
disso, opto por bater nos banheiros no subsolo, com uma parte do
restaurante que é menos urbana e mais confortável, geralmente
reservada para festas particulares. Uma vez encontrei a Reese
Witherspoon nesta seção quando ela estava comemorando um filme em
Nova York.

Página 173 de 265


Bono é um lugar popular, especialmente com celebridades, e
considerando o meu currículo consistia no Restaurante do Jo em
Highland Park, fiquei emocionado por ter uma posição aqui. A sorte
parece me seguir por toda parte em Nova York; é estranho. Talvez, seja
porque estou tão feliz por estar fora de Highland Park que as minhas
vibrações positivas se espalham ao meu redor.
Subo as escadas com cuidado em meus saltos, e estou no último
degrau, prestes a me virar e entrar no banheiro feminino, quando paro
por completo.
Choque me atinge, roubando minha respiração. É ele.
Há um feroz golpe no meu coração... primeiro amor sempre corta
mais profundo.
Spider olha para o celular, movendo o polegar, enquanto vira o
corredor que leva ao banheiro.
Ele ainda não me viu, e os meus olhos o levam avidamente.
O cabelo dele é mais comprido do que eu me lembro, e vejo quando
ele o afasta para longe de sua testa, em vez de branco ou azul, a cor é um
marrom escuro com reflexos loiros. É novo e diferente. Ele está quente
como o inferno.
Minha pele cora, enquanto olho para ele descaradamente, ansiosa
por qualquer pequeno detalhe.
Vestindo um suéter marrom de cashmere com decote em V que se
encaixa nele como uma luva e um par de calças justas, ele é mais largo
nos ombros, mais alto até, embora, não ache isso possível.
Ele parece um cara que quebra corações a cada noite com apenas
um dedão de seus dedos na guitarra - ou na pele de uma garota.
Eu paro esse tipo de pensamento.
Apenas a lembrança da garota em Dallas me faz querer vomitar.

Página 174 de 265


Ele coloca o celular no ouvido, como se estivesse fazendo uma
ligação, e quase inconscientemente, volto para a sombra escura de um
canto criado pela escada.
– O apartamento está pronto? – eu o ouço dizer.
Ele não parece gostar do que ouve porque coloca a palma da mão
livre na parede como se para se equilibrar e um olhar vulnerável nos
ombros enquanto ouve quem está falando.
– Claro. Você não mencionou essa informaçãozinha antes. Como
diabos você espera que eu fique no mesmo prédio que ela...
Ele para abruptamente, como se a pessoa do outro lado o tivesse
interrompido. Ele bate os dedos na parede enquanto a conversa
continua. Eu me movo para frente, esforçando-me para ouvir, apavorada
que ele se vire e me veja, mas eu não consigo me impedir, especialmente
quando o tom dele muda para de um bajulador.
Eu ouço trechos.
– Oi, querida... te vejo em breve... amor...
Ele ri calorosamente.
– Diga a ele que vou te trazer um cachorrinho, amor. Veja como o
papai gosta disso... Quem é o seu irmão mais velho favorito, Bella? – ele
diz, claro como o dia, e meu peito se contrai.
Bella!
É claro que ele sabe dos três anos de idade da Bella, Robert e
Anne. Nós dois a vemos de vez em quando - apenas nunca ao mesmo
tempo. Eu vou aparecer para o Natal, e em seguida, Robert menciona
casualmente que o Spider está chegando alguns dias depois que eu ir. É
estranho e bizarro, mas acho que ele simplesmente não quer me ver.
– Tchau, doces. Eu te amo. Diga ao papai que vou vê-lo logo,
ok? Além disso, diga a ele para se acostumar com as cenouras - você
precisa de mais pudim de chocolate. – ele ri enquanto enfia o celular no

Página 175 de 265


bolso e seu corpo se voltando para mim. Eu me endireito contra a
parede, me preparando para o momento em que ele finalmente me verá.

9. O Oscar faz uma referência sobre a idade da Rose, é como uma


saudação a sexualidade.

Página 176 de 265


Capítulo Vinte
SpideR

– Preciso ir ao banheiro. – grito para o Sebastian sobre a multidão


enquanto ele pede outra rodada de bebidas no bar do andar de baixo do
Bono. Levanto meu copo de ginger ale10 e dou a ele um sorriso. Graças a
um bom terapeuta, à minha arte e ao meu pai que me apoiou, estou bem
há algum tempo.
Nós estamos comemorando com a equipe porque na próxima
semana é o nosso último show e uma vez que a turnê terminar, o
Sebastian e estaremos indo para locais diferentes. Sebastian e companhia
estarão voltando para LA, onde eu morava, mas há muito tempo
abandonado por um apartamento em Londres. É menos agitado lá, e
parece em casa.
Ele me dá um aceno com o queixo e eu saio, precisando de alguma
distância do barulho para que eu possa ligar para o meu pai. Ele tentou
me ligar várias vezes hoje, e esta é a primeira oportunidade que tive de
retornar para ele.
Ligo e ele me diz a localização do meu novo apartamento na
cidade. Minha cabeça gira quando ele me deixa saber que é o mesmo
prédio e o mesmo andar onde a Rose mora. Ainda não estou preparado
para vê-la, mas há pouco que ele possa fazer. Ele não tem mais nada
disponível, e a cobertura pessoal que ele possui na Park Avenue está
sendo pintada atualmente. Eu poderia conseguir um hotel, mas as
groupies sempre acham um jeito de entrar, e é barulhento quando as
pessoas andam pelos corredores todas as horas do dia e da noite. Eu
preciso de paz e tranquilidade. Eu preciso do meu próprio espaço.
Então, estou preso em Greenwich Village.

Página 177 de 265


Robert coloca a Bella no telefone e eu converso com ela antes de
desligar. Digo a eles adeus e desligo o celular. Eu me endireito, prestes a
ir para o banheiro, quando uma figura feminina sombria me chama a
atenção embaixo da escada. Eu estreito meus olhos enquanto ela abaixa
a cabeça, uma cortina de longos cabelos ruivos sombreando seu rosto.
Sentindo que devo estar bloqueando o caminho, eu imediatamente
murmuro um pedido de desculpas e dou espaço para ela passar.
Ela não passa.
Eu olho para ela novamente, desta vez com mais discernimento,
tentando ler suas características.
Ela é uma stalker? Repórter? Groupie?
Eu a observo enquanto ela dá um passo hesitante para fora da
alcova. Um senso de familiaridade me incomoda.
Lábios vermelho rubi.
Pernas longas.
Um vestido curto.
Eu engulo com o meu peito se expandindo enquanto me aproximo.
Não pode ser. Ela não deveria estar trabalhando hoje à noite. Liguei
mais cedo e verifiquei com o gerente para ter certeza.
É engraçado porque eu escolhi este lugar para o nosso grupo hoje à
noite. É porque eu quero estar onde ela esteve - sem realmente vê-la.
– Rose?
Seu nome nos meus lábios é como um golpe no meu coração.
– Spider. – ela se move totalmente para fora das sombras e a
iluminação do teto ilumina seu rosto.
Eu respiro fundo.

Página 178 de 265


Ela é diferente com o cabelo ruivo. Deus, mal posso acreditar que é
ela.
Mas, isso é...
Ela é linda... ampliada por um milhão.
Vestindo um vestido branco curto frisado com tiras finas, ela fica lá
com uma ligeira inclinação no queixo, como se estivesse se preparando
para a batalha. Olhos verdes que uma vez leram minha alma, olham para
mim. Ela estende a mão para se apoiar no tijolo branco pintado da
parede.
Eu mal posso respirar, e não acho que ela esteja afetada por mim.
– O que você está fazendo? – pergunto. Uma pergunta tão estúpida.
Sua boca se abre, mas nada sai, até que finalmente ela pigarreia. –
Eu trabalho aqui... literalmente sou uma funcionária. – sua respiração e
voz parecem reunir força enquanto ela fala, suas feições se fixando em
uma máscara fria enquanto ela se recompõe.
Claro, eu sei disso, mas não posso dizer como.
Pego no meu cabelo, apenas para me impedir de chegar até
ela. Quero dizer, tem sido minha intenção desde que fiquei bem para
recuperá-la, mas tenho esperado... Eu não sei para quê. Deus, estou com
medo.
Estou com medo de que ela me odeie.
Estou com medo de que ela me ame e depois me deixe.
Não estou preparado para vê-la esta noite e meu coração bate forte.
– Você é real, então?
Eu pergunto porque há noites em que acho que ela está comigo,
noites em que eu estava chapado ou bêbado e ela era uma imagem
confusa no fundo.
– Eu sou.
Página 179 de 265
Eu inclino meu ombro na parede, procurando fundo por alguma
indiferença. Eu estou vindo de uma performance e me sentindo
nervoso; não há como dizer o que eu poderia dizer a ela. – Imaginei isso
mil vezes... te vendo de novo.
Ela cora, a cor vermelha subindo por suas bochechas. – Sim, eu
aposto. – diz ela secamente. – Eu vim te ver em um show há dois
anos. Eu apareci na porta do palco, mas você obviamente não queria me
ver. Foi um momento fraco da minha parte. Isso nunca vai acontecer
novamente. – ela encolhe os ombros. – Você nunca consegue me ver nos
jantares de férias em família também.
Porque dói ver o que eu perdi.
Alguém passa por nós quando saem do banheiro e eu mal olho para
eles.
Eu mordo meu lábio. – Eu sei. Estou ocupado. Eu vou para casa
quando posso. Bella... ela é incrível. Eu sou louca por ela. Ela me chama
de "Spidie".
Ela balança a cabeça com os seus lábios sérios.
Porra.
Ela está com raiva de mim.
Você pode culpá-la?
Ela move a cabeça e um cacho de cobre desliza por cima do ombro
até o decote do vestido.
– Eu gosto do seu cabelo.
Ainda estúpido, Spider.
Ela engole. – Eu... preciso ir. Oscar está no andar de cima... – sua
voz desaparece quando ela se vira para sair.
Eu agarro o braço dela. – Espere.
– O quê? – ela pisca para o meu braço e depois de volta para mim,
balançando em seus pés.
Página 180 de 265
– Você está bem?
Ela balança a cabeça com os olhos brilhando. – Não... sim... Eu não
sei. Eu só não esperava ver você.
Meu coração martela. Porra. Ela é tão... Rose... e minha cabeça está
em todo lugar. – Você está feliz que você viu?
– Não.
– Rose! – Alguém chama o nome dela. Ela vira a cabeça e seu rosto
se enche de algo que parece alívio.
Eu me viro para ver como o Trenton se aproxima, vestindo um terno
cinza, não mais como um garoto jovem de dezessete anos. Ele a beija na
bochecha antes de sussurrar algo em seu ouvido que a faz sorrir.
Meu coração cai como um peixe morrendo.
– Trenton, você se lembra do meu meio-irmão, Spider? – ela me dá
um breve sorriso formal.
Ele agarra a minha mão, agitando-a com firmeza, parecendo cada
centímetro do homem de negócios polido que ele claramente se esforça
para ser. Mais sociável do que eu me lembro, ele me dá um tapinha no
ombro e percebo que ele bebeu muito, se a intensidade do cheiro de
bourbon é algo para se avaliar.
– Claro, o cara da música. Espero que você não esteja aqui para
roubar minha garota. Ele ri e olha para a Rose, que tenta um meio
sorriso. – Ela está sempre ouvindo sua música, cara. A ama.
– Ele é meu meio-irmão. – ela murmura.
Trenton a acena com um sorriso. – Você sabe o que eu quero dizer,
querida. – ele coloca as palmas na parte inferior das costas dela, apenas
contornando a sua bunda e a beija de novo, desta vez nos lábios. Merda,
eu deveria sair? Ir embora?
Eu não posso.

Página 181 de 265


É como um acidente de trem que você não pode deixar de ver,
mesmo que você esteja parado ali nos trilhos, sabendo que isso vai te
matar.
– Alguém está bebendo tequila. – ele murmura, rindo baixinho
enquanto ele coloca um braço ao redor da cintura dela. – Eu sei o que
isso significa. Você sente vontade de sair daqui e voltar para sua casa
mais cedo ou mais tarde?
Um fantasma de um sorriso aparece em seus lábios. – Temos planos
para a balada.
Ele se inclina para cheirar o pescoço dela. – Você cheira tão bem
pra caralho.
Eu me lembro do cheiro dela, mel e baunilha. Eu sinto meus dentes
rangendo, mas ainda não posso fazer a coisa cavalheiresca e sair. Em
vez disso, fecho os punhos com um músculo estourando no meu queixo.
Trenton se afasta e me dá um olhar malicioso. – Desculpe pela
demonstração de afeto em público. Eu não a vi muito esta semana... –
ele divaga, algo sobre um trabalho importante e como ele odiava perder
sua festa de aniversário, então ele se afastou para vê-la... blá blá blá.
Eu não estou ouvindo. Eu estou a observando.
Ela está no círculo de seus braços e nos encaramos.
É como se o Trenton não existisse e nós silenciosamente tivéssemos
nossa própria conversa.
Ela parece bem, como um fodido manequim em uma loja de
departamentos, mas sei que é uma mentira quando vejo o pulso
revelador no pescoço dela, o jeito que ele lateja furiosamente em sua
pele macia.
Ela interrompe o contato visual comigo para sorrir para o Trenton e
eu suspiro, sentindo raiva. Olhe para mim! Eu quero dizer.
Porra.

Página 182 de 265


Quatro anos é muito tempo. Muitas coisas podem acontecer - as
Olimpíadas, a Copa do Mundo, todo um mandato presidencial.
Inferno, tudo pode acontecer.
Talvez, ela esteja completamente sobre mim.
Eu não a superei.
– Ei, Oscar e alguns amigos estão lá em cima. – diz Trenton, suas
palavras penetram no meu cérebro e me tirando do meu nevoeiro. –Você
quer se juntar a nós? – ele está olhando para mim.
– Eu não posso, tenho que descansar. – seguro a minha tatuagem de
aranha, um sinal seguro de que estou nervoso, e a Rose me observa e seu
cérebro analítico não perde isso. Uma carranca aparece em seu rosto,
enquanto ela olha fixamente com os seus olhos focados na minha mão
no meu pescoço.
Porra.
Eu rapidamente tiro a minha mão e coloco no meu bolso.
Seus olhos se levantam de volta para os meus, enquanto ela respira
fundo, seus dentes de cima cravam em seu lábio inferior. Ela não está
enganada. Ela vê a tatuagem de rosa no topo da minha mão.
– Ah. – diz Trenton, franzindo a testa. – Mas vocês não se veem há
algum tempo e é aniversário dela...
– Tenho certeza que ele está aqui com outras pessoas. – diz Rose em
voz baixa.
Eu aceno, agarrando-me a isso. – Sim, a banda toda está aqui -
roadies também. Estamos na cidade para mais um concerto e depois vou
para Londres. Pigarreio, meus olhos a devorando pela última vez. –
Olha, tem sido ótimo ver você... vocês dois.
Eu nem sequer dou a eles tempo para me despedir antes de sair
correndo para a área do bar. Encontro o Sebastian, faço uma saudação
final e saio pela noite.

Página 183 de 265


Eu acordo frio e solitário em uma cama king-size e olho para a luz
do sol que brilha na porta de vidro que leva à varanda do lado de
fora. Coçando meu maxilar, eu me estico, soltando os músculos que
estão tensos por estar em turnê nos últimos quatro meses. Além do
show, a coisa que estou mais ansioso para sair de Nova York é a minha
exposição de arte. Isso tem sido parte da minha terapia de recuperação e
ver isso acontecer significa muito para mim.
O som da música vem do apartamento vizinho e viro meu rosto para
a parede, escutando. É uma das nossas, um remake de "Love is a
Battlefield" de Pat Benatar. Eu estou no apoio, e a guitarra está no local.
Um pequeno sorriso brinca em volta da minha boca.
É surreal pensar em quanto sucesso tivemos, em grande parte
devido ao dinheiro e influência do meu pai.
Pensar nele traz de volta tudo da noite passada e, de repente, estou
bem acordado e de pé.
Apenas um pensamento está passando pela minha cabeça agora.
Eu coloco a minha palma na parede de onde a música veio.
Essa é ela?
Papai disse que ela estava no mesmo andar que eu e há apenas
quatro apartamentos no andar. Respiro profundamente, como se eu
pudesse sentir o cheiro dela.
Ela está aqui... bem aqui.
Eu sei disso.

Página 184 de 265


Pela primeira vez em muito tempo, a alegria inalterada e irrestrita
que não tem nada a ver com drogas me toma.
Eu me sento na cama, sentindo tontura.
Ela está tão perto.
A questão é... o que eu vou fazer sobre isso?

10. ginger ale: é um refrigerante comum nos Estados Unidos.

Página 185 de 265


Capítulo Vinte Um
Rose

Minha música toca no meu alarme às oito da manhã é a minha


sugestão para tirar minha bunda da cama. É domingo e tenho o turno das
onze horas no Bono.
Minha cabeça lateja e o meu estômago revira quando me sento. Eu
definitivamente não deveria ter tido aquela última dose. Ah. Eu coço o
ninho de rato que é o meu cabelo e solto um profundo suspiro.
Eu ouço o Oscar batendo panelas e frigideiras ao redor enquanto ele
faz o café da manhã de domingo de costume dele para nós. Do banheiro,
o som da água se aproxima, e imagino que já seja o Trenton. Ele mora a
alguns quarteirões daqui, mas fica aqui algumas vezes, ou fico na casa
dele. Ele está me pedindo para morar com ele permanentemente desde a
formatura, mas algo me impede. Além disso, o Robert deixa o Oscar e
eu morar aqui sem aluguel. Ele não é extravagante, mas é bom e em
grande parte do Greenwich Village.
A brisa do Oscar carrega uma grande caneca cerâmica de unicórnio
com "Eu sou Mágico" escrita nela. – Bom dia. Pensei que você poderia
precisar de uma dessas depois de ver uma certa pessoa na noite passada.
– ele se senta ao meu lado na cama, tomando a sua própria caneca
combinando.
Eu tento sorrir, tanto quanto posso com uma ressaca. – Lembre-me
de nunca mais beber de novo.
Ele levanta uma sobrancelha. – Você sabe o que o Frank Sinatra diz
sobre pessoas que não bebem... que quando eles acordam de manhã, é
triste, porque é tão bom quanto eles vão se sentir o dia todo. – ele ri
enquanto toma seu café.

Página 186 de 265


Eu sorrio. – Seu herói é sábio e você é uma alma velha com o
coração de um hipster.
– Você sabe disso. – ele me olha com cuidado. – Sério mesmo, você
se lembra de tudo que aconteceu ontem à noite?
Eu forço o meu cérebro tentando refazer a minha noite depois de ver
o Spider, mas tudo está embaçado. Eu aperto a ponta do meu nariz. – Eu
pedi algo chamado Cherry Blow Pop¹¹?
– Três deles.
Eu quase engasgo. – É por isso que estou tão enjoada.
Ele cruza as pernas. – Não é tão surpreendente com pêssego e
amaretto, e um pouco de um líquido verde que não tenho idéia do que
era.
– Isso nem é de cereja!
– Lembro claramente de você não se importou desde que funcionou.
– ele inclina a cabeça. – Mas... uma palavra de conselho: as coisas que
você diz quando está bêbada geralmente são o que você realmente pensa
quando está sóbria.
Minha cabeça lateja ainda mais forte, se possível. – Porra. O que foi
que eu disse?
Oscar faz careta. – Você fez um pequeno discurso sobre as estrelas
do rock sexys e como eles são todos idiotas que estragam qualquer coisa
em um segundo.
Eu mordo meu lábio. – Porra. Eu mencionei você-sabe-quem?
Ele me dá uma olhada. – Menina, tenho certeza que todos nós
sabíamos quem - até mesmo Trenton.
Eu xingo sob a minha respiração. Quatro anos atrás, quando
comecei a namorar o Trenton, isso não trouxe o Spider. No começo foi
porque eu não queria que o Trenton pensasse que ele era o meu cara
substituto quando ele obviamente era, e mais tarde quando os meus
sentimentos por Trenton se transformaram em amor, simplesmente não
Página 187 de 265
era apropriado. Spider é meu meio-irmão, e a maioria acha que é errado
- especialmente pessoas de Highland Park.
– Obrigada pelo aviso. – digo quando tomo um profundo gole do
líquido espumoso e inclino a minha cabeça contra a cabeceira da cama. –
O que eu faria sem você?
– Você seria consideravelmente menos elegante e estaria com fome.
Eu sorrio. – Embora, eu tenho mais dinheiro.
– Quem precisa de dinheiro quando você me tem?
A água desliga no banheiro e fico de pé, notando que eu ainda estou
vestindo minha roupa de baixo da roupa da noite anterior: um sutiã
branco de renda e calcinha. Suspiro. Nenhum sexo com o
Trenton; infelizmente, não estou surpresa. Ultimamente, parece que
estamos à deriva, ambos presos em nossas vidas cotidianas. Mas eu o
amo e sei que ele me ama.
Oscar assobia sua apreciação. – Seu corpo está balançando, mas
palavra de conselho, seu cabelo está pronto para o Halloween. – ele me
dá um tapinha na perna. – Agora suba e deixe a mamãe Oscar fazer
umas panquecas para você.
– Eu te amo! – eu digo de costas enquanto ele sai do meu quarto e
vai para a cozinha.
No momento em que o Trenton sai do banheiro, eu estou vestida
com calças de yoga e uma camiseta. Vou esperar para tomar banho
depois do café da manhã; minha barriga às avessas precisa de fritura
para se sentir melhor e pronta.
Ele entra no meu quarto já vestido com bermuda de algodão e uma
pólo esportiva. Eu observo o seu rosto, procurando sinais de que eu
revelei muito sobre o Spider na noite anterior, mas ele parece ser o seu
eu calmo de sempre. Um pouco sem emoção, nada parece irritar suas
feições. Às vezes, gostaria que ele tivesse mais paixão, mas é
só... ele. Pelo menos ele é previsível.

Página 188 de 265


Lembro-me da noite em que dormimos juntos pela primeira vez. Foi
depois do Baile de Primavera e o meu coração ainda estava arrasado
com o Spider. Solitária e deprimida, fiz o que disse a Spider que
faria; Eu me concentrei em Trenton. Naquela noite, Trenton nos levou
para um quarto de hotel e foi gentil e meigo quando transamos. Deitada
em seus braços, chorei pelo meu coração estúpido, mas nos próximos
dias aprendi a amá-lo. Estamos juntos desde então, um relacionamento
fácil e sem drama.
Ele me dá um beijo nos lábios, cheirando a menta e fresco.
– Onde você está indo? – pergunto. – Eu pensei que nós tomaríamos
café da manhã juntos.
Ele penteia seu cabelo na frente de um espelho apoiado em minha
cômoda, trabalhando o produto em suas madeixas loiras areia. – Não
posso. Estou conhecendo alguns dos sócios de um clube de campo em
Connecticut. Eu preciso pegar a estrada se quiser jogar golfe.
Estou desapontada, mas também aliviada.
Preciso de algum espaço hoje para pensar, refazer cada detalhe da
minha interação com o Spider na noite passada - o que está errado. Eu
nem deveria estar pensando nele. – Parece que mal nos vemos nos dias
de hoje.
Seus olhos encontram os meus no espelho. – Eles gostam de mim e
eu preciso alimentar essas relações se eu quiser subir. Tenho um bom
pressentimento sobre esta empresa. – ele se aproxima e me envolve em
um abraço. – Venha, não fique triste. Você sabe, você não precisa servir
mesas até obter seu diploma de pós-graduação...
– Mas eu quero. – eu digo, interrompendo-o.
Sua boca se fecha. – Parece que você trabalhando no Bono e na
escola, você está ocupada demais para mim.
Fico tensa e me afasto. Este é um argumento familiar com a gente
desde a formatura. Ele é um cara tradicional que quer que eu termine a
escola e passe o meu tempo com ele. Às vezes, parece que ele está

Página 189 de 265


colocando distância entre nós e permanecendo ocupado de propósito,
apenas para me manipular a fazer o que ele quer - que é desistir de tudo
e ir morar com ele.
Ele suspira. – Então, talvez, possamos almoçar um dia nessa
semana?
– Claro.
Ele dirige-se para a porta do meu quarto, mas antes que ele vá, ele
olha para mim, uma expressão estranha no rosto. – A propósito, acho
curioso que o Spider não quisesse comemorar conosco ontem a
noite. Existe algum tipo de tensão entre vocês dois?
– Não. – digo rapidamente.
Ele franze a testa. – Tem certeza? Você se queixou de rock stars
ontem a noite. Parecia haver algumas... animosidades.
– Eu estava arrasada. Não há como repetir o que eu disse. – aceno
para ele. – Spider... bem. Nós apenas levamos vidas muito diferentes.
Ele balança a cabeça lentamente, mas há um olhar em seus olhos
que diz que ele não acredita em mim. Ele faz uma pausa por alguns
instantes como se fosse dizer algo mais, mas depois sai pela porta. Solto
um suspiro de alívio quando o ouço dizendo adeus a Oscar na cozinha,
enquanto ele sai.
Meia hora depois, as coisas estão melhorando enquanto coloco um
pedaço do melhor bacon que já comi na boca. Então uma batida soa na
porta.
Oscar está ocupado fritando mais bacon, então, eu ando até a porta e
a abro, meio que esperando ver o Trenton. Ele está sempre deixando as
coisas aqui, e em seguida, fazendo uma corrida louca para buscá-las.
Não é o Trenton.
– Bom dia, meia-irmã.

Página 190 de 265


O choque passa sobre mim quando a minha mão agarra a beirada da
porta e, assim, não consigo respirar. Ele está na minha frente - de
novo. Eu deixo o meu coração desacelerar.
Ele parece mais confiante esta manhã, e isso me enfraquece.
– O que... Como você chegou aqui?
Ele me deu aquele encolher de ombros dele. – Sou seu vizinho. Bem
ao lado.
– Isso não faz sentido. – não consigo pensar direito. Eu não posso
nem começar a ligar os pontos. Ele está muito bonito para ser tão cedo, e
eu sei que pareço uma pessoa demente com o cabelo assustador.
– Porque o meu pai é seu padrasto e ele é dono deste prédio. Ele me
disse na noite passada que estávamos no mesmo andar. Ouvi sua música
esta manhã, e acabei supondo que esse era seu. Acho que estava certo. –
ele se inclina para trás e aponta para a porta do apartamento à minha
esquerda. – Esse é meu.
– Ah. – suspiro, arrumando o meu cabelo. – Você sempre ficou no
4E quando está na cidade? – sei exatamente quantos concertos ele teve
em Nova York - três. Eu fui naquele onde ele não saiu para me ver, mas
eu afastei isso da minha cabeça.
Ele balança a cabeça. – Papai disse que isso era tudo que ele tinha
na cidade...
Oscar grita da cozinha, interrompendo-o. – Meu Deus, pare de
interrogar o homem e deixe-o entrar e comer! Somos do Texas, garota,
onde está sua hospitalidade?
Eu sorrio. Acho que Oscar ouviu tudo o que dissemos.
O interesse ilumina os olhos do Spider. – Isso seria ótimo. – diz ele
suavemente. – Cheira muito bem aqui, para ser honesto. Além disso, eu
não tenho café lá. Estou morrendo.

Página 191 de 265


Dê cabo a hospitalidade sulista. Quero dizer a ele para ir se foder, eu
realmente quero, mas não posso. É ele em carne e osso e tem poder
sobre mim.
– Posso entrar, Rose? – seus olhos são como raios de luz solar
através do âmbar, e eu suspiro.
– Eu nunca negaria café a um homem. – contrariada eu me afastei
para deixá-lo entrar e a sua mão acidentalmente encostou na minha. A
eletricidade vibra, agitando as minhas entranhas, mas eu me afasto.
Ele entra na cozinha e eu dou um olhar malvado para o Oscar por
convidá-lo, mas o Oscar mal percebe. Ele está dando beijos no ar em
ambas as bochechas como se fossem velhos amigos. Eu mostro a minha
língua para ele atrás das costas de Spider, e ele me ignora.
– O que será essa manhã, Spiderman? Panquecas? Omelete? Veja
bem, é melhor você comer bem, porque só faço isso uma vez por
semana.
Spider sorri enquanto vai até o balcão para se servir de uma xícara
de café. – Eu vou querer tudo o que você tem.
– Você está muito esperto esta manhã. – eu resmungo.
Ele bebe da sua caneca. – Vida saudável. É incrível como as manhãs
são ótimas quando você não está se recuperando de um problema.
Eu dou a ele um olhar, procurando em seu rosto a verdade. Robert
mencionou que o Spider estava bem na última vez que fui visitá-los, mas
eu me recusei a pensar muito sobre isso, para me perguntar sobre como
era sua vida agora.
Ele faz uma pausa. – Não uso álcool ou drogas há quase dois
anos. Agora cigarros... isso é outra história.
– Isso é incrível. Estou muito feliz por você. Parabéns.
Ele dá de ombros e fica quieto.

Página 192 de 265


Felizmente, o silêncio é preenchido quando o Oscar coloca um prato
na frente dele. Spider se abaixa, fatiando a sua refeição e a comendo
com uma lentidão excruciante, saboreando cada mordida.
Ele parece sexy - apenas comendo - e isso me deixa nervosa. Bufo e
corto um pedaço de panqueca, provavelmente parecendo um cachorro
sarnento.
Um pouco depois, o Oscar se levanta para colocar sua caneca na
pia. – Bem, pombinhos, eu odeio ir, mas tenho que ir checar o meu
homem. Posso contar com vocês dois para se dar bem, enquanto eu
estiver fora?
Eu gaguejo. – Claro.
Spider sorri. – Obrigado por me deixar tomar o seu café da manhã.
Oscar dá a Spider um olhar sério. – Sem problemas. Só não
machuque a minha garota novamente... ou eu vou te matar. – antes que
qualquer um de nós possa responder, ele está correndo para seu quarto e
fechando a porta.
Eu suspiro, mortificado enquanto Spider olha para mim, seus olhos
escuros com uma emoção que não consigo ler. Talvez eu não queira ler.
Ele limpa a boca com o seu olhar me observando atentamente. –
Você quer que eu saia? Estou supondo que você só me convidou por
causa do Oscar.
Eu engulo com meu peito doendo quando olho seu rosto esculpido,
o jeito que suas maçãs do rosto perfeitamente esculpidas acentuam seu
queixo. Meus dedos doem para tirar o cabelo do rosto dele. Porra. Ele
está rasgando meu coração de novo... apenas sentando na minha
frente. – Sim.
Ele balança a cabeça com um olhar de compreensão em seu rosto
enquanto se levanta.
Eu estou com ele e minha mão apertando enquanto falo as palavras
que meu cérebro não poderia formar na noite passada. – A verdade é que
não quero ver você de novo. O que você fez para mim... como você me

Página 193 de 265


machucou... nunca pode ser desfeito. Só quero esquecer que isso
aconteceu, mas não posso fazer isso quando te vejo.
Ele concorda. – Antes que eu saía, há algo que eu quero que você
saiba.
– O que?
Ele suspira e abre a boca, mas nada sai. Ele morde o lábio e passa a
mão pelo cabelo, depois esfrega o queixo. Ele está atrapalhado, tentando
encontrar as palavras, mas ele não pode.
Meus olhos vão para a tatuagem de rosa que vi ontem à noite, no
topo da mão com PERDIDO nas juntas. – É sobre mim?
Ele olha para baixo. – Sim. Eu ganho uma. – ele respira fundo. – A
cada ano que estamos separados.
Eu não acredito nele. Meu rosto está quente.
Ele suspira. – No primeiro ano, ganhei uma rosa nas minhas
costas. A mão foi a próxima. – ele levanta a manga do suéter azul
marinho e me mostra o interior de seu braço, onde meu nome está
escrito em letras minúsculas ao longo de seu bíceps. – A ganhei no
terceiro ano.
Eu respiro fundo, processando suas palavras.
Ele fica lá, inquieto.
– E este ano? O que você conseguiu?
– Nada. Estou esperando...
– Para quê? – digo com a minha voz trêmula, e eu quero voltar
atrás. Eu não quero que ele veja como suas palavras estão me afetando,
como sua vulnerabilidade está me aproximando.
Ele morde o lábio e olha para mim longo e sério. – Por você. Este é
o ano em que eu te trago de volta.

Página 194 de 265


Eu suspiro e dou um passo para trás. – Você não tem o direito de
supor isso - não tem motivo.
– Eu sei.
– Eu tenho uma vida sem você - uma perfeita.
– Eu sei. – ele enfia as mãos em seus jeans skinny.
– Eu estou com o Trenton.
– Confie em mim, eu sei.
– E você não pode esperar apenas entrar aqui e me pegar de volta...
– Eu não.
– Você me machucou! – grito para ele, cansada de sua calma. Eu
preciso que ele esteja tão zangado quanto eu. – Você dormiu com outra
pessoa imediatamente depois de quase dormir comigo! Você me deixou
em Dallas depois que prometeu que me levaria para Los Angeles. Você
é um mentiroso, um horrível, um mentiroso horrível, eu te odeio por
isso. – minhas palavras são amargas e duras, e é bom tirá-las, dizer todas
as coisas que se acumularam dentro de mim desde que ele partiu.
Ele engole com o seu rosto lidando com a emoção, parecendo em
conflito. – É apenas... Eu sabia que tipo de garota você era, forte e
forte. Eu sabia que se você realmente me quisesse, encontraria um jeito,
e eu não poderia deixar isso acontecer. É por isso que te magoei, Rose. –
sua voz soa como se tivesse sido arrastada no cascalho. – Eu... Eu
prometi ao meu pai que te deixaria em paz.
– Mas, porque?
Ele me encara de frente, com seu rosto como pedra. – Ele me deu
meio milhão de dólares para sair de Dallas e começar minha carreira. A
condição era que eu tivesse que te deixar para trás.
Fecho meus olhos. – E olhe para você agora... você é famoso.
Ele sacode a cabeça. – Não, Rose, olhe para você.

Página 195 de 265


– O que você quer dizer?
– Você se formou na NYU com louvor. Está na pós-graduação. Está
vivendo a vida que você queria.
Lágrimas ardem nos meus olhos com a idéia de que ele sabe coisas
sobre mim que nunca contei a ele, como se ele continuasse
comigo... mas rapidamente as enxugo. Eu não posso ser gentil ao seu
redor. Isso dói demais. – Você não tem o direito de supor que eu não
teria essas coisas com você em Los Angeles. Você tomou a decisão de
pegar o dinheiro para você porque percebeu que eu não valeria a
pena. Eu teria acabado atrapalhando as coisas que você realmente queria
fazer - transar com qualquer coisa que mexesse, encher o nariz e o que
fosse.
Seu rosto empalidece. – Mereço isso. Deixei você sem explicação e
isso não foi certo. Sinto muito por Dallas. Eu não era o homem que você
precisava.
– Você acha que é agora? – a descrença é evidente no meu tom,
enquanto olho para ele.
Quem ele pensa que é?
Será que ele acha que pode simplesmente voltar para a minha vida
como se os últimos quatro anos nem tivessem acontecido?
Ele me observa com cuidado, seu olhar passando pelo meu rosto e
se demorando nos meus lábios. – Você é minha, Rose, sempre será.
E então, ele se foi antes que eu possa até formar uma resposta.

11. Cherry Blow Pop: é um nome de uma bebida.

Página 196 de 265


Capítulo Vinte e Dois
Rose

É quarta-feira a noite, quando me levanto acordada ao som do


trovão que cruza os prédios altos de Manhattan.
Perfeito, exatamente o que preciso - e em uma noite em que o Oscar
fica com o Axe.
Verifico o meu celular e vejo que é uma da manhã e na verdade
quinta-feira. Ah. Saio da cama na escuridão e caminho até ao
banheiro. Tem sido uma semana estranha e tem tudo a ver com o Spider.
Você é minha, Rose, ele comentou no domingo.
Eu me encaro no espelho, vendo as olheiras pela falta de sono esta
semana.
Só então, um relâmpago cruza o céu e o seu ataque repercute pelas
paredes de concreto do meu apartamento. Um grito escapa de mim,
quando a energia se apaga, mergulhando-me na escuridão total. Odeio
tempestades desde a noite em que mamãe foi morta.
Tropeçando no escuro, volto ao meu quarto, onde rapidamente bato
o meu dedo e grito. Droga! Pulando em um pé e xingando, consigo
encontrar a gaveta do criado do mudo onde eu mantenho minha pequena
lanterna no caso do apocalipse zumbi... ou um apagão.
Mas não está lá. Oscar. Ele foi em um acampamento no mês
passado com o Axe e a pediu emprestado. Grito com ele na minha
cabeça.
Descansando em meus travesseiros, encontro o meu celular e uso a
lanterna dele, mas sei que não vai durar muito, já que a minha bateria
está fraca. Caminhando para a porta da varanda, tenho coragem de
espreitar, tentando ignorar o estrondo alto de outro ataque do
Página 197 de 265
relâmpago. A escuridão em um quarteirão da cidade encontra o meu
olhar. Sem faróis vermelhos, sem letreiros luminosos, sem postes de luz,
nada. O raio deve ter atingido um transformador em algum lugar.
É assustador na cidade e eu tremo de novo.
Velas. Eu preciso de velas.
Estou na cozinha, revirando as gavetas em busca do estoque de
velas perfumadas da Bath & Body Works e fósforos do Oscar. Eu não
estou tendo sorte e quando bato minha cabeça em uma porta de armário
aberta, eu xingo sem parar.
Para piorar as coisas, tudo o que eu acho são velas e nenhum
fósforo. Com esse agravante e lutando contra um surto, decido esquecer
e me deitar debaixo dos cobertores na minha cama enquanto rezo para
que a tempestade passe logo.
Uma batida soa na porta e eu grito.
– Rose? Você está bem?
Eu mantenho a porta aberta, deixando o trinco. Eu coloco a luz do
meu celular nele, fazendo-o fechar os olhos.
Vestindo nada além de um boxers Union Jack é o Spider. Seus
abdominais musculosos estão à mostra, e é claro que ele está maior
desde a última vez que os vi. Seu peito é largo e esculpido, seus bíceps
parecem que eu poderia pular neles, e o V profundo em sua cintura está
me fazendo salivar. Todos saúdem a Inglaterra.
Movo a luz para verificar as suas pernas. Sim, elas são sexys
também. Droga.
Eu afasto meus olhos do corpo dele e me concentro no rosto dele.
Pelo menos o cabelo dele está espetado. Bem feito.
Ele levanta a mão para bloquear a luz em seus olhos. – Você pode,
por favor, desligar essa coisa? Você está me cegando.

Página 198 de 265


Ele olha além de mim e entra na área da sala de estar. – Eu ouvi
você gritar e fiquei preocupado. Lembrei-me de que tempestades te
assustam.
– Como você sabia disso? – pergunto, não me lembro de ter contado
a ele.
– Quando nos conhecemos no avião, você me disse.
– Ah. – mordi meu lábio, surpresa, ele lembrou. Eu me lembro de
outro detalhe do avião. – Você ainda está com medo de Dolly Parton se
escondendo em seu chuveiro?
Um sorriso curva os seus lábios. – Porra, apavorado.
Relâmpagos novamente, e eu recuo.
– Você está bem? Precisa de alguma coisa?
Eu fico lá e pretendo dizer a ele que estou bem, mas algo em mim
suaviza.
– Oscar pegou a minha lanterna e eu não tenho nenhum fósforo. –
digo, com um sorriso.
Ele sorri segurando uma pequena lanterna. – Quer alguma
companhia?
Uma pequena batalha se enfurece dentro de mim. Eu estou
desconfortável com a tensão entre nós, mas também odeio ficar sozinha
durante as tempestades.
Eu suspiro, tiro o trinco e dou um passo para que ele possa entrar.
As minhas entranhas estremecem com a nossa proximidade,
especialmente porque posso ver todos os seus músculos ondulados e
cabelos despenteados.
Eu olho seus boxers. – Você não está com frio?
Seus lábios se curvam. – Quer que eu coloque algumas calças?

Página 199 de 265


O trovão cruza novamente e um raio atinge como um flash brilhante
vindo das janelas dos fundos do apartamento. Ilumina a sala de estar e a
área da sala por alguns segundos. Minhas mãos se apertam. – Não. –
digo apressadamente. – Não me deixe. Não até a tempestade
acabar. Este relâmpago... ele me deixa nervosa.
Sua testa franze com o seu olhar em como estou encostada na mesa
de entrada. – Oi, estou aqui. Eu não vou a lugar nenhum. – ele acende a
luz ao redor do apartamento, verificando as grandes janelas na parte dos
fundos.
– Você tem janelas no seu quarto?
Eu concordo. – Do chão ao teto de um lado. Pensei em pedir a
Robert algum tipo de cortinas, mas ele já fez muito. – minha voz se
abaixa. – Os únicos quartos que não têm janelas são os banheiros e a
área da cozinha.
Ele pensa por um momento e diz. – Vamos, eu tenho uma ideia.
Eu o sigo, enquanto ele entra na sala e observa os meus
móveis. Parecendo chegar a uma decisão, ele começa a movê-los. Minha
testa enruga enquanto o vejo empurrar uma cadeira pela área. Ele pega
uma luminária de chão e a aproxima da cadeira. O que ele está fazendo?
Ele se inclina para dar uma olhada melhor em uma mesa e eu
suspiro. Sua bunda dura... Fecho os meus olhos com o meu corpo
corando. Estou ficando quente e não é pela umidade da tempestade.
– Onde está Oscar? – ele pergunta, enquanto move a mesa de café.
Eu mordo meu lábio. – Ele vai ficar no Axe hoje à noite.
– Ah.
Eu não posso esperar mais, perplexa com suas ações. – O que você
está fazendo? Algum tipo de feng shui?
Ele me dá um sorriso e, pela primeira vez desde que o vi, parece o
que costumava acontecer conosco... assim como em casa.
– Você vai ver, Amor.
Página 200 de 265
Eu o sigo, enquanto ele segue seu caminho infalivelmente para o
meu quarto, tira os travesseiros e lençóis, e em seguida, os leva de volta
para a sala, ainda usando a lanterna para iluminar o caminho.
– Eu preciso de mais algumas colchas. Você tem alguma?
Eu aceno e mostro a ele o armário de roupas de cama. Ele coloca
embaixo dos braços e volta para a sala.
Ele arruma as colchas e os travesseiros no carpete e depois arrasta
vários lençóis sobre os móveis que ele moveu para mais perto do centro
da sala. A luminária de chão é o ponto mais alto e cria um efeito de
tenda. Ele dá um tapinha no chão, indicando uma pequena abertura que
ele fez para eu rastejar.
– Você fez um forte. – eu digo. – Para eu me esconder?
Ele balança a cabeça e fazendo um daqueles encolhimentos de
ombros sem esforço. – Só quero que você se sinta segura. Pelo menos o
raio não será tão perceptível. Quero dizer, sei que você ainda pode ver
através dos lençóis...
– É perfeito. – eu digo, mordendo meu lábio. – Você está vindo?
– Se você quer que eu faça isso? – há um som hesitante em sua voz.
– Eu quero.
Eu me inclino e rastejo, e olho por cima do ombro para vê-lo me
observando, provavelmente vendo a calcinha de renda amarela que estou
usando sob a minha camiseta folgada.
Assim que me estabeleço, ele dá a lanterna. – Agora feche os olhos
e conte até cem - em voz alta, para que eu possa ouvir você. Eu volto já.
Meus olhos brilham quando ele se levanta. – Você está indo?
– Só por um segundo. Espere... – e então, ele se foi. O ouço abrindo
a porta da frente e depois silêncio.
Eu suspiro, fecho meus olhos e começo a contar.

Página 201 de 265


Ele chega ao redor por trás e se aproxima. O ouço brigando em
volta da minha sala, um grunhido alto quando ele bate em alguma coisa,
e depois o som de um isqueiro.
A abertura da porta do forte sussurra quando ele entra, mas
mantenho meus olhos fechados. Seu ombro encosta no meu e a sua voz é
abafada. – Ok, você pode abrir seus olhos agora.
Eu os abro e meu foco está paralisado nas inúmeras velas que ele
colocou ao redor da sala e acendeu. Várias estão sobre a lareira, e
algumas estão na mesa da sala de estar ao lado da porta da frente.
Meu peito se expande e percebo que não posso olhar para ele. –
Está... um país das maravilhas.
Ele aperta meu ombro, nós dois sentados de pernas cruzadas sobre
as colchas. – Da próxima vez que você tiver uma tempestade, faça
isso. Talvez, isso mude toda a sua perspectiva.
– Sim. – não sei mais o que dizer.
Estou impressionada por ele. Por sua consideração.
Ele vira meu queixo para ele e... estamos tão perto. Eu vejo que ele
colocou calça de pijama depois de tudo; Ela é xadrez de azul e verde e
pendem folgadamente em seus quadris.
– Você ainda está com medo?
– Não. – sussurro. Eu estou algo completamente diferente.
Ele puxa algo de trás dele, um pequeno embrulho embrulhado em
papel grosso e caro e amarrado com um laço de tecido.
– O que é isso? – minha voz é suave e um pouco ofegante.
– Um presente. Eu... Eu tive isso por um tempo.
– Por que você não me enviou?

Página 202 de 265


Um longo suspiro vem dele e ele engole. – Rose... Eu não podia te
ver ou ter contato com você... Não até que eu estivesse bem. É por isso
que não cheguei à porta dos fundos na noite do concerto.
Eu processo suas palavras, sentindo-as. – Você esteve bem por um
tempo, certo? Se foi tão importante para você... por que você não me
procurou?
Ele esfrega a mão no rosto. – Eu não sei... estar bem tem sido difícil
e eu estou descobrindo isso enquanto eu fico. Eu vejo um terapeuta e eu
desenho para manter os demônios longe. Meu pai e eu... conversamos
mais e tentamos nos ver com frequência. Apenas tendo o apoio
dele... significa muito para mim.
Eu concordo.
Ele morde o lábio inferior. – Não houve um dia que não tenha
imaginado como você estava e o que você estava fazendo. – ele para e
respira profundamente. – Eu fiquei bem por você. Por nós.
– Não há nós. – lembro a ele.
– Ainda.
Suas palavras enviam uma sensação de pura necessidade através de
mim, mas eu a ignoro.
Ele machucou você, Rose, eu me lembro.
Pego o pacote dele e abro gentilmente. Meus olhos lacrimejam
quando vejo o que é - uma cópia da primeira edição de Jane Eyre - e
olho para ele. – Isso deve ter custado a você... milhões.
Viro a capa do livro, passando os dedos sobre a página do título
cuidadosamente preservada.
Ele encolhe os ombros com o seu rosto suave.
Olho para a capa marrom, minhas mãos segurando-a como uma
tábua de salvação. Nunca quero a deixar. Ele me beija gentilmente na
bochecha e de repente eu não consigo respirar com o meu corpo todo
quente e formigando.
Página 203 de 265
Ele tocou em uma mecha do meu cabelo. – Eu terminei, você sabe,
há muito tempo.
– O que você achou? – pergunto.
– No fundo, é uma história sobre o destino, o destino de Jane e
como ele está entrelaçado com o de Rochester. O destino é uma coisa
maravilhosa, certo? – uma pequena risada escapa, e me pergunto se ele
está pensando o que eu sou... o destino nos reuniu naquele dia no
Quickie Mart e depois no avião.
Ele continua. – Jane é uma porra de chefe, como você, embora as
pessoas queiram derrubá-la. Ela só quer... Eu não sei, liberdade para ser
ela mesma e tomar suas próprias decisões.
– Sim.
Ele pigarreia, os lábios mais próximos dos meus do que antes, a
mudança em nossa posição quase imperceptível. – Ela recusa a oferta de
Rochester de ser sua amante porque ela quer ser fiel a si mesma.
– E quanto a Rivers? – pergunto, perguntando sobre o outro
interesse amoroso de Jane. – O que você acha dele?
Ele ri baixinho. – Ele é um babaca religioso.
Eu estou tão completamente fascinada por suas palavras... o fato de
que ele leu por minha causa.
– Como você sabe que ela não ama o idiota? – digo, com meus
olhos perfurando os dele.
– Porque ela não pode esquecer o Rochester. Ela nunca vai estar
acima dele, e quando ela ouve a voz dele chamando por ela, ela vai... –
sua voz para, com seu rosto corando quando ele encostou na minha
bochecha.
Sua boca se detém a poucos centímetros da minha com o seu peito
subindo e descendo rapidamente.
Se eu não tocar nele...

Página 204 de 265


Deus, se eu não tocar nele... Eu vou morrer aqui mesmo.
– Rose, eu realmente quero te beijar agora.
– Deus, sim. – digo sem fôlego.

Página 205 de 265


Capítulo Vinte e Três
SpideR

Eu beijo ela gentilmente, como se estivéssemos em um primeiro


encontro, saboreando-a com reverência, meus lábios reivindicando os
dela tão dolorosamente lentos, como se dissessem: Você pode se afastar
a qualquer momento.
Eu não quero assustá-la.
Minhas emoções são incrivelmente ferozes neste momento, quentes
com a necessidade, e eu tenho que me segurar para não esmagá-la em
meus braços.
Eu a respiro, minha mão envolvendo seu pescoço e puxando-a para
mais perto, até que tudo que eu posso pensar, cheirar, querer é ela.
– Spider. – ela sussurra entre beijinhos no meu pescoço, seus dentes
raspando na minha clavícula, fazendo-me gemer e o meu pau já está
duro como aço.
Eu gemo, minha mão deslizando sob sua blusa e apalpando o seu
peito, meus dedos beliscando seu mamilo.
– Nós não devemos. – diz ela, enquanto levanto a camisa até os
ombros.
Inclino o queixo para cima e olho em seus olhos. – Não há nada de
errado com a maneira como eu me sinto sobre você e como penso que
você se sente em relação a mim, mas esta é uma decisão sua. Eu quero
você. Eu te quero tanto que não posso respirar.
Ela fecha os olhos com seus cílios encostando em suas bochechas.
– Olhe para mim.
Página 206 de 265
Seus olhos se abrem.
– Apenas me diga para parar e eu vou. – meu polegar percorre seu
lábio inferior. – Você diz a palavra e eu nunca vou beijar esses lábios
novamente. Nós podemos continuar fingindo e andando na ponta dos
pés quando nós dois sabemos que esse calor entre nós é algo que não
podemos ignorar para sempre. O destino tem outros planos. Ele quer
isso. Você quer?
Um rubor lento inicia em seu pescoço. – Sim.
Minha mão passa em seu cabelo e aproximo o seu rosto no meu. –
Então, deixe-me mostrar o quanto quero você.
Eu a beijei novamente, mais forte desta vez com os meus dentes e
língua possuindo a dela.
Ela ofega com uma mão enfiando nos meus cabelos para agarrar
meu crânio, puxando-me enquanto a outra puxa minha calça de pijama,
deslizando para dentro e por baixo da minha cueca de seda para agarrar
meu pau.
Afasto-me dela com uma risadinha e deito as costas contra os
travesseiros, meus olhos devorando-a. – Você vai me fazer gozar muito
cedo, amor.
– Tudo bem. Nós podemos sempre ir de novo. – ela tira sua camisa
e chuta a sua calcinha, me fazendo gemer.
Ela está com pressa, e eu suspeito que é porque, como eu, ela está
no momento e tem medo dessa coisa entre nós desaparecer.
Altos e tonificados com seios de tamanho perfeito que fazem a
minha boca salivar, ela é a personificação da forma feminina em meus
olhos. Ela sempre foi.
Eu tiro minhas calças e boxers e os chuto para fora do caminho.
Seus olhos vão direto para a haste que está ereta.
– Eu sei, é formidável.

Página 207 de 265


Ela ri.
– O que é tão engraçado? – digo, olhando para baixo.
– Nada. É apenas... Eu esperei tanto tempo e estou nervosa... – sua
voz desaparece.
Eu me estico e seguro a cabeça dela, beijando-a. – Eu também. Eu
me sinto como uma adolescente com você.
Ela se inclina e me leva em sua boca, sua mão bombeando meu pau,
enquanto ela me explora com longas lambidas, se abaixando com seus
lábios até que eu sinto o aperto de sua garganta.
Jogo a minha cabeça para trás, sem estar preparado quando ela
acaba comigo, enviando meu coração para uma prorrogação enquanto
ela me chupa. – Porra... Rose.
Ela geme, e eu a deixo me chupar mais algumas vezes antes de me
afastar.
Eu quero saboreá-la... estar dentro dela.
Eu a levo de volta para a colcha e a beijo novamente. Ela se levanta,
querendo mais enquanto desço seu corpo, não parando até que ela esteja
esticada na minha frente. Meus lábios a exploram, a curva do joelho, a
curva dos quadris e a inclinação do pescoço. Parte de mim quer pegá-la
com força porque parece que eu esperei para sempre, mas o outro lado
de mim quer ser gentil. Eu não sei qual vai ganhar.
Eu a rolo para o lado dela e presto atenção especial à tatuagem no
topo das costas dela, a que tem o meu número antigo dentro da
borboleta. Minha língua traça o contorno, meus lábios acariciando a sua
pele acetinada. Agarrando o seu quadril, meus dedos deslizam até a sua
fenda e os penetro nela.
– Você está tão molhada, Amor.
Ela geme enquanto minha boca segue, provando-a. Ela chama meu
nome e separa suas pernas, levantando-se para mais perto, enquanto a
penetro com os dedos, alcançando seu ponto G.
Página 208 de 265
– Você gosta? – digo em sua boceta com a minha língua brincando
com seu clitóris.
– Não pare. – ela murmura com uma dificuldade em sua voz.
Eu nunca posso negar nada a ela. Acaricio a minha língua sobre ela,
pegando sua protuberância e chupando forte, enquanto ela grita meu
nome e se quebra, suas paredes apertando em torno dos dois dedos que
eu tenho dentro dela.
Ela cai de costas contra os travesseiros. – Ninguém nunca fez isso.
Meus olhos brilham, e porra, eu não quero dizer o nome dele, mas
um milhão de perguntas queimam em minha mente.
Ela olha para baixo, obviamente envergonhada. – Eu nunca quis que
ele fizesse isso.
Eu afasto os pensamentos dele e me concentro nela.
– Temos muito mais para fazer. – eu sorrio. – Você tem camisinha?
Ela acena e me diz onde elas estão, então, corro para pegá-las. Em
dez segundos, estou de volta ao forte e os seus braços estão abertos. –
Demorou muito tempo.
Eu rio e relaxo entre suas pernas, e em seguida, me viro, a
colocando em cima de mim.
– O que você está fazendo? – ela diz suavemente.
– Isso. – eu a separei com meus polegares e a coloco no meu pau,
gemendo ao sentir seu aperto em meu pau, enquanto deslizo para dentro
dela. Sim. Isso.
Ela geme e arqueia as costas enquanto agarro os seus quadris e
bombeio. Seus seios pulam com cada impulso, mamilos apontando para
mim, e abro meus lábios neles com a minha língua provando seu suor e
meu nariz inalando sua pele.
Ela é linda.

Página 209 de 265


Ela é tudo.
Nós nos movemos um no outro, meu pau deslizando quase todo o
caminho para fora e depois de volta. O som da nossa reunião de pele é
inebriante, me empurrando mais forte. Ela ofega e grita quando empurro
mais forte, ficando mais profundo, querendo que cada centímetro seja
envolvido por ela. Tudo desaparece e tudo que vejo é ela.
Eu quero queimar rápido e arder.
Ela parece ter a mesma urgência, como se esse momento pudesse
ser o último.
Eu a viro de costas e deslizo de volta para dentro, a breve ausência
suficiente para fazê-la ofegar com o contato renovado. Eu tomo o
controle, entrando e saindo dela, forte e rápido. Eu ponho a perna dela
por cima do meu ombro. Mais.
Minha mão livre encontra a sua boceta e brinca com o seu clitóris, o
acariciando ao ritmo dos meus impulsos. – Você é minha. – murmuro
com a voz rouca.
Eu mordo a palma da mão dela e grunho quando eu a faço gozar, o
movimento frenético, mais intenso quando ela se aproxima com as
pernas me apertando ao redor.
– Para sempre. Sempre. Sempre. – digo com a minha voz como
cascalho.
Eu me empurro dentro dela mais rápido, sentindo o formigamento
na base da minha coluna. Nós transamos como animais e estou prestes a
gozar. O suor escorre pelo meu rosto e cai em seus seios. – Goze para
mim. – eu me afasto, torcendo o seu mamilo com os dedos.
Seus olhos estão selvagens quando ela se separa novamente, seus
músculos ordenhando meu pau e me enviando para a felicidade com ela.
Com o meu coração ainda disparado, caio ao lado dela com as
minhas emoções em todo o lugar. Isso foi... tão incrível.
Ela se vira até que estamos deitados cara a cara com as nossas
pernas entrelaçadas. Uma expressão preocupada cruza em seu rosto.
Página 210 de 265
– O que há de errado? – digo, passando a mão pela sua bochecha.
Ela morde o lábio. – É sempre assim com você? Assim... intenso?
A satisfação me preenche e eu sorrio. – O melhor que você já teve,
hein?
Ela revira os olhos e me coloca no braço, me fazendo grunhir. Não
faz mal, claro, mas gosto de fazê-la sorrir.
– Talvez. – ela admite quando levanta a cabeça com o cotovelo. – E
quanto a você? Eu fui a melhor?
Eu fico sério enquanto olho em seus olhos. – Tudo é diferente com
você. Eu nunca fiz sexo com alguém com quem eu me importava, então
sim, foi incrível. Inferno, geralmente agora estou vestido e saio pela
porta. – o meu coração aperta. – Eu não vou ir embora... a menos que
você queira.

Página 211 de 265


Capítulo Vinte e Quatro
Rose

Na manhã seguinte, acordo antes de Spider. Em algum momento da


noite, deixamos o forte, apagamos as velas e nos mudamos para a cama.
Dormimos encolhidos um ao lado do outro e de costas para o peito
dele. Durante as primeiras horas, senti seus lábios encostarem no meu
ombro, quase reverentemente... esperançoso.
Mas esta manhã, enquanto olho para o brilho do sol entrando pelas
persianas, a culpa está se formando, especialmente quando eu verifico
meu celular.
Eu passo os olhos nas mensagens de textos.
Todas elas são de Trenton.

Você está bem? Enviado em torno do tempo que as luzes devem ter
se apagado. Seu apartamento fica a cinco quarteirões daqui, mas
imagino que todas as sirenes e reportagens provavelmente o tenham
alertado sobre o blecaute.

Outro foi enviado alguns minutos depois, provavelmente no tempo


em que o Spider bateu na minha porta.

Rose, eu sei que você está acordada. Você está aí? Você está
assustada?

Página 212 de 265


Então, outra meia hora depois, Ok, você deve estar dormindo. Boa
noite. Eu te amo.

– Tudo bem? – Spider murmura, levantando-se para espiar por cima


do meu ombro. Seu cabelo está em toda parte com um pequeno sorriso
em seus lábios carnudos.
Eu coloco meu celular para baixo e tento afastar os pensamentos de
Trenton para longe. Eu olho para Spider enquanto ele esfrega os olhos e
se alonga. Ele parece... sexy. Eu pego um vislumbre de seu peito largo
das cobertas e tudo que quero fazer é me jogar em cima dele.
Mas, eu não posso.
– Tudo está ótimo. – eu digo brilhantemente. Mas, isso não é
verdade. Eu estou preocupada com Trenton e no que fiz.
Eu saio da cama, envolvendo o edredom em torno do meu corpo nu,
enquanto eu corro para o banheiro.
– Ei, volte aqui, mulher. Eu não terminei com você. – sua voz está
me provocando, e isso me faz sorrir um pouco.
Vou para a minha cômoda, sentindo-me deliciosamente dolorida. –
Eu tenho uma aula em algumas horas. Preciso tomar banho e sair daqui.
Não estou olhando para ele, mas sei que ele está me observando. Eu
o ouço rondando quando ele se senta na cama.
– Rose?
– Sim? – vasculho a minha gaveta de roupas íntimas com os meus
dedos nervosos pegando o que eu puder encontrar. Eu pego o cetim
branco - puro e ingênuo... destinado a meninas que não traem seus
namorados.
– Você está bem?
Eu olho para ele enquanto ele se levanta em sua glória nua, o sol
criando um efeito de halo em torno de sua cabeça.

Página 213 de 265


Eu pisco com a magnificência dele. Além das tatuagens incríveis
que ele tem, seu peito é bronzeado e ondulado com músculos. E o V
delicadamente esculpido que leva até a cintura é malditamente perto do
pedaço mais bonito de carne que eu já vi. Ele direciona o meu olhar
direto para o seu pênis, que atualmente está longo e grosso. Minha boca
o quer chupar.
Meu corpo vibra, precisando dele novamente.
Ele é sem dúvida a criatura mais linda que eu já tive.
E eu o tive com certeza.
Eu o quero de novo. Agora mesmo.
Uma sensação de remorso me atinge.
Eu sou terrível! Eu deveria encontrar o Trenton para jantar hoje a
noite. Como vou poder enfrentá-lo?
Spider se aproxima de mim e apoia a palma da mão na parede atrás
de mim com inquietação em seu rosto. – Você está se arrependendo?
Esse homem me fez apaixonar por ele e depois foi embora.
– Não tenho certeza se posso confiar em você, Spider. Você me
deixou.
Ele olha para a rosa em sua mão. – Eu te deixei para respirar.
A emoção obstrui minha garganta e eu me afasto dele, saindo de seu
alcance.
Ele me traz de volta, agarrando minha mão e entrelaçando nossos
dedos, sua expressão passando do desconforto para a determinação. – O
que está errado?
Eu mordo meu lábio. – Estou com pressa... Eu tenho um teste que
eu realmente deveria estudar.
Ele passa a mão pelo meu pescoço. – Não me faça implorar para
passar mais tempo com você.
Página 214 de 265
– Spider...
Ele me interrompe e me beija, sua língua entrelaça com a minha,
enquanto a sua mão desliza sob o edredom e cobre a minha bunda, me
puxando para ele. – Isso... é isso que eu quero. Me diga que você
também me quer.
– Eu quero. – gemo.
Todo pensamento coerente voa pela janela.
Ele sabe que me tem.

Página 215 de 265


Capítulo Vinte e Cinco
Spider

Com meus óculos aviadores espelhado azul e um boné de beisebol


dos Yankees sobre meus olhos, sinto-me bastante incógnito enquanto
saio do prédio e caminho pela rua até a padaria para pegar a Rose e
tomar um café da manhã. Paro na esquina e vejo um homem mais velho,
maltrapilho, sentado em um velho caixote de leite e tocando um
ukulele¹6. Ele tem um olhar faminto sobre ele com feições magras e um
pouco de barba grisalha até o pescoço. Seus olhos estão vermelhos e
turvos.
Ele poderia ter sido eu algum dia.
O pequeno vira-lata que descansa ao lado do homem da música late
para mim, como se estivesse lendo meus pensamentos, me fazendo
sorrir. Eu paro na frente dele, me aproximando, mas determinado a ficar
e ouvir enquanto o velho toca uma pequena melodia que soa familiar,
embora eu não possa reconhecer. Deixo cair cem dólares no seu estojo
aberto.
Ele olha para mim. – Que você encontre alegria e felicidade hoje.
Eu aceno, virando-me para responder a ele enquanto me afasto. – Já
tenho, e ela é linda.
Eu corro até a padaria e pego algumas coisas que eu acho que ela
gostaria - dois sanduíches de croissant com ovo e bacon, vários bolinhos
de mirtilo e dois muffins de morango. No impulso, pego alguns biscoitos
de chocolate recém-assados. Nós comemos pouco ontem à noite, e eu,
por exemplo, estou morrendo de fome.
– Ei, eu não te conheço? – a balconista me pergunta enquanto pago
em dinheiro.
Página 216 de 265
– Não.
Ela estreita os olhos, observando-me enquanto pega os biscoitos e
os adiciona ao saco de guloseimas. Ela olha a tatuagem no meu pescoço.
– Você se parece com aquele cara, o Spider do Vital Rejects.
– Quem? – pergunto, colocando uma expressão confusa no meu
rosto.
Ela inclina a cabeça. – Sim, você é como seu sósia.
Apenas me dê o meu troco, eu penso.
Ela se inclina conspiratoriamente. – Você pode me dizer. Eu não
vou contar a ninguém.
Eu suspiro. – Sim, eu sou o Spider. – afinal, é bastante óbvio com a
tatuagem.
– AH, MEU DEUS. – ela grita.
Eu levanto as minhas mãos, fazendo sinal para ela se acalmar. As
pessoas estão olhando.
Ela lambe os lábios e joga uma mecha de cabelo por cima do
ombro. – Ei, você sabe, você é meu passe livre.
Minha testa franze. – Isso é algum tipo de café grátis?
Ela ri. – Não, isso significa que vou transar com você e o meu
namorado tem que estar bem com isso.
Pisco, olhando para ela agora, em vez de salivar sobre a caixa da
padaria.
Ela é uma loira escultural com belos traços e um par de seios firmes.
– Eu não fodo pessoas aleatórias. – eu digo. Não mais.
Ela levanta uma sobrancelha. – Não com todos esses trapos de
supermercado. – ela pega um bloco de anotações, rabisca algo nele e
joga na sacola - seu número de telefone, sem dúvida.

Página 217 de 265


Respiro com a minha boca contraindo. Eu o pego e entrego de volta
para ela. – Eu não quero isso.
Um olhar mal-humorado cruza seu rosto. – Tudo bem, eu só pensei
que você estaria nisso, é tudo.
Eu poderia ter estado há dois anos, mas não agora.
Alguns minutos depois, volto para o apartamento da Rose com as
sacolas e ela está olhando para mim incerta. Imagino que ela esteja
pensando em Trenton e no que vem a seguir. Estou aterrorizado
francamente. Eu quero que ela me diga que ela nunca mais o verá, mas
há uma distância em seus olhos que me dá uma pausa.
Eu passo meus olhos por cima de sua calça casual cinza de yoga e
camiseta da NYU. Ela tira o fôlego. – Você está linda.
– Obrigada. – ela sorri hesitante enquanto abro seus armários e pego
pratos para os doces.
Nós comemos juntos, ambos quietos. Eu estou nervoso; ela está
nervosa. Alguns momentos passam enquanto a sala se enche de
silêncio. Eu a vejo comer o bolinho, meus olhos em seus lábios
perfeitos, o jeito que o cabelo dela cai sobre o ombro. Meu pau está
duro, e tudo o que posso pensar é esticá-la sobre a mesa. Eu digo a mim
mesmo para relaxar. Eu não quero sobrecarregá-la.
Ela olha para mim enquanto mastiga. – Fizemos sexo e agora as
coisas estão esquisitas.
Eu engulo a última mordida de um croissant. – Sei como não ficar
esquisito.
– Ah? – ela arqueia uma sobrancelha.
– Vamos fazer de novo. – digo com um pequeno rosnado.
Ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha e solta um suspiro
trêmulo.

Página 218 de 265


– O que você está pensando? – pergunto, inclinando-me sobre a
mesa para limpar uma migalha de sua bochecha.
Ela não fala, mas seus olhos estão baixos e seus cílios tremulando.
– Diga-me o que você está pensando. – a minha voz está quase
implorando.
– Eu te quero tanto que não posso respirar. Não consigo pensar
direito...
Ela não consegue terminar a frase.
Eu a pego em meus braços e a levo de volta para o quarto.

16. ukulele: o instrumento musical.

Página 219 de 265


Capítulo Vinte e Seis
Rose

EU SOU UMA PESSOA HORRÍVEL.


Uma traidora.
Uma mentirosa.
Eu me sento no metrô e o meu estômago se agita, enquanto esfrego
a minha testa.
Tudo que eu penso é o meu tempo com o Spider.
Sobre como tivemos momentos sensuais em todo meu apartamento
hoje.
Ele é inebriante.
Fascinante.
Encantador.
Hipnotizante.
Ele é tudo em que posso pensar.
Está acontecendo de novo e estou com medo de que ele vá me
arruinar.
O metrô ressoa e eu olho para cima para perceber que é minha
parada. Trenton... Deus. Meu estômago revira quando penso em como
contar a ele.
Entro na sala de sua empresa dentro do enorme prédio de escritórios
e paro na recepção que fica no centro da sala. O lobby tem duas janelas,
cada uma decorada com poltronas personalizados. Ao longo da parede
Página 220 de 265
há uma fileira de cadeiras confortáveis e de aparência formal em estilo
Queen Anne, cheirando a dinheiro velho e tradição familiar. Isso me
lembra de Highland Park.
A recepcionista se vira com papéis, então, pigarreio para chamar sua
atenção. Ela se vira para me encarar e eu dou uma olhada.
– Aria? – minha voz está surpresa, e estou bastante certa de que
minha boca pode estar aberta.
A última vez que ouvi do Trenton, ela ainda estava no Texas e
frequentava a faculdade. Sim, ela é prima dele, mas ele raramente a vê,
exceto nos feriados, quando estavam nas mesmas reuniões de
família. Evitei qualquer evento em que soubesse que ela estaria, mas a vi
uma vez em um casamento de outra prima. Nós mal nos falamos, o que
foi fácil o suficiente para fazer, uma vez que estava lotado.
Por que ele não me disse que ela se mudou para cá?
Ela ainda é linda, é claro, com o cabelo castanho mais curto e
cortado em um estilo reto. Vestindo uma saia lápis vermelha curta e uma
camisa de botão estampada, ela parece incrível. Eu olho para as minhas
calças de yoga e moletom. Estou praticamente como uma andarilha
comparado a ela.
– Olááááá, Rose! – diz ela, arrastando a saudação em seu suave
sotaque sulista. – Comecei na semana passada. Trenton não te contou? –
ela levanta uma sobrancelha.
Eu sacudo minha cabeça.
Sua risada tilintou no escritório com janelas escuras, irritando os
meus nervos. – Bem, aqui estou eu... a nova funcionária do escritório. –
ela estende os braços e faz uma pirueta completa em seus sapatos pretos.
Eu concordo. – Trenton tem estado tão ocupado com esse novo
caso, acho que ele esqueceu de me dizer.
Ela sorri com firmeza, sem me mostrar seus dentes, seus olhos
passando pela minha roupa e aterrissando diretamente no meu Converse
vermelho. – Você tem algo em seu moletom aí. – diz ela, apontando para
Página 221 de 265
mim e entreabrindo os olhos com uma expressão no rosto como se ela
cheirasse algo ruim.
Eu olho para baixo e vejo uma pequena mancha branca, que eu acho
que é o açúcar do muffin que o Spider me trouxe esta manhã ou, mais
embaraçosamente, minha pasta de dente.
Parece o Highland Park mais uma vez, e estou de volta a minha
gordurosa pólo do Restaurante do Jo.
A tensão que sempre esteve entre nós aparece e eu suspiro.
Eu correspondo o seu sorriso tenso. – Então, o pai de Trenton te deu
esse emprego? Não conseguiu encontrar mais nada na cidade?
– Somos uma família e nos unimos. – ela suspira, colocando a mão
em seu coração, mostrando um enorme anel de noivado de diamante. –
Tenho sorte de ter minha família de verdade, sabe? Tantas pessoas não
têm nos dias de hoje.
Meus dentes rangem com a insinuação.
Ela se inclina sobre o balcão. – Claro, espero que possamos superar
nossas diferenças. Trenton é meu primo e quero que sejamos amigos.
– Eu não achei que tivesse o pedigree certo para ser sua amiga.
Ela encolhe os ombros. – Acabamos de nos mudar para cá e tenho
certeza de que o Trenton vai querer sair com a gente. Esta é uma cidade
bastante grande e somos uma família.
– Nós? – meus olhos pousam em seu diamante novamente, quase
cega pelo tamanho dele.
Ela sorri amplamente e estende a mão. – Garrett, claro. Vai ser um
casamento no verão depois que ele terminar o primeiro ano de faculdade
de medicina aqui.
As minhas mãos se fecham, mas disfarço bem, sorrindo. –
Esplêndido. Agora vou ver o Trenton.

Página 222 de 265


Ela grita atrás de mim enquanto vou até seu pequeno escritório, mas
eu a ignoro, abrindo a porta.
Ele está de pé atrás de sua mesa, seu cabelo loiro e avermelhado
bagunçado como se ele passasse as mãos por ele várias vezes. Sentada
em uma cadeira ao lado de sua mesa está sua assistente Vivien, uma
senhora elegante de cinquenta anos que conheci na primeira semana em
que ele começou. Papéis e pastas enchem a sala.
– Rose! – seu rosto está preenchido com uma carranca quando ele
me vê e a Aria bem atrás de mim.
– Eu disse a ela que você estava ocupado, mas ela me ignorou. – diz
Aria.
Ele acena para ela por cima do meu ombro. – Está bem. Eu posso
dizer oi para a minha garota.
– Oi. – eu digo, entrando na sala e ficando um pouco animada de
fechar a porta no rosto de Aria.
Ele vem ao redor da mesa de carvalho e me encontra no meio do
caminho, me dando um abraço. – Agora há uma visão para os olhos
doloridos. – ele me beija profundamente nos lábios, e eu reflexivamente
o beijo também, me sentindo errada - horrivelmente, terrivelmente
errada.
Vivien diz oi, e seu olhar imediatamente se volta em seu trabalho.
– Então, e a Aria? Isso é uma novidade.
Ele sorri. – Claro, desculpe, esqueci de te contar. Eu espero que
possamos resolver as coisas com eles... se você estiver confortável com
o Garrett.
Confortável? Ele é um babaca. Eu franzo a testa. – Eu não estou.
Ele acaricia sua mão pelo meu braço. – Eles estão comprometidos,
então ele fará parte da minha família. Talvez, devêssemos dar uma
chance para ele.

Página 223 de 265


Começo a dizer algo, mas fecho a boca quando percebo que, a essa
altura, Garrett é um ponto discutível.
Há uma razão pela qual estou aqui e não tem nada a ver com a Aria
ou o Garrett.
– Olha, me desculpe por não ligar primeiro, eu só... precisava falar
com você. Talvez, você possa fazer uma pausa e possamos ir ao café do
outro lado da rua?
Ele verifica o seu relógio com um olhar de pesar em seu rosto. –
Pode esperar? Este cliente virá amanhã para uma conferência, e
acabamos de receber algumas adições de última hora do gerente de
investimentos, para que não estejamos despreparados. – ele me beija na
testa. – Eu prometo a você, uma vez que os próximos dias acabem, que
eu ficarei com você, mas você tem que me deixar fazer isso.
Eu mexo na minha mochila, sem encontrar os seus olhos. – Nós
precisamos conversar.
Ele inclina o meu queixo para cima com os olhos azuis me
observando e franzindo a testa. – Alguém está morrendo? Está todo
mundo bem em Dallas?
– Isso é sobre nós, Trenton.
Impaciência cruza as suas feições esculpidas. – Estou no trabalho,
Rose. Este trabalho é novo e a Vivien e eu temos um prazo final.
Vivien pigarreia e ele dá um passo para trás em sua direção. – Vou
te mandar uma mensagem depois. Jantar, talvez?
Concordo. – Vou aparecer em seu apartamento e podemos pedir.
Ele acena para mim distraidamente, já voltando para a sua mesa.
Dou a eles um olhar final, embora nenhum deles perceba. Pegando
minha mochila no meu ombro, eu cruzo a sua porta e saio para o
escritório principal.

Página 224 de 265


Capítulo Vinte e Sete
SpideR

Onde você está?


Eu cliquei mandando a mensagem de texto para Rose enquanto eu
estava sentada dentro de uma livraria pequena e mal iluminada ao lado
do nosso prédio. Tento não deixar o pânico me consumir, mas quando
ela me disse na casa dela que iria falar com o Trenton depois da aula, a
preocupação tomou todo o espaço na minha cabeça.
Ela disse que iria terminar com ele, mas havia dúvida em seu
rosto. Foi a dúvida sobre o Trenton ou eu?
Porra. Eu não sei. Estou preocupado. Eu só a quero de volta e em
meus braços. Isso é tudo.
Ela é uma maldita flor e eu quero abrir cada pétala, uma a uma.
Sebastian se senta à minha frente e bebe uma cerveja. Nós dois
estamos usando bonés e óculos aviadores e mantendo o queixo
baixo. Talvez, os óculos de sol sejam demais à noite, mas há coisas mais
estranhas nesta cidade. Sebastian já teve um grupo de repórteres de
alguma forma tirando uma foto dele em sua varanda no Hotel
Madison. Rocco e Max estavam saindo na casa de um amigo até o show.
Mila, nossa garota de relações públicas, caminhando de onde ela
estava procurando algum tipo de livro de romance.
Lembro-me de como pedi a ela que aparecesse naquele dia em que a
Rose apareceu no meu apartamento em Dallas. Eu sabia que a Mila tinha
uma queda por mim e eu a explorei, pedindo a ela para fingir que
fizemos sexo e para colocar a saia detrás para frente. Claro, ela
concordou e, bem... o resto é história.
Página 225 de 265
Nós bagunçamos um pouco em LA, mas era meio indiferente, e
nunca transamos. Quando ela percebeu que eu estava usando ela para
afastar a Rose da minha cabeça, ela seguiu em frente, e está namorando
atualmente uma estrela da música country.
Vestida com sua roupa habitual - uma minissaia rosa e uma camisa
branca, ela bate um livro de poemas sobre o amor na mesa. – Se ela ama
Jane Eyre e quer conquistá-la, é melhor você ler. Talvez, leia alguma
poesia para ela. – ela ri com os seus olhos observando as pessoas ao
nosso redor, certificando-se de que ninguém está ouvindo. Ela é a nossa
pequena buldogue e se esforça para nos proteger.
– Eu sei como cortejar. – levanto as minhas sobrancelhas.
Sim, eles sabem que dei a ela o livro, mas não contei sobre a nossa
noite juntos. Eu nem sequer lhes disse que ela é minha vizinha. Eu não
sei porque não posso admitir a felicidade que estou sentindo. Talvez,
seja porque eu tenho medo de falar muito sobre isso, que ela vai
desaparecer. Como a Cate e a mamãe. O pensamento de perdê-la
novamente... me esmaga.
Mila engasga. – Por favor, não me fale sobre sua vida sexual. Eu
posso vomitar.
Eu sorrio.
Mila me encara, como se ela estivesse tentando me entender. – Você
a ama. – diz ela, com uma expressão satisfeita no rosto. – O poderoso
Spider se apaixonou.
Eu pisco. – Não sei o que você quer dizer.
– Só não posso dizer a palavra com A, não é? – Sebastian sorri
quando ele toma a sua cerveja.
Eu tomo um gole da minha água com gás. – Não estamos tão em
contato com nossos sentimentos como você está. – mas ele está certo. Eu
não uso a palavra amor.
– Pena.
– Cai fora, babaca.
Página 226 de 265
– Cai fora você. – ele diz.
Eu rio. – Você nem sabe o que significa.
– Isso não significa erva? – ele pergunta com um brilho nos olhos.
– Não, babaca.
Mila se senta ao meu lado. – Eu amo todos os seus palavrões, mas
babaca é a minha favorita. – ela diz.
Eu rio e ela me dá um soco no meu punho.
Ela envolve um braço em volta de mim e me dá um abraço de
lado. – Estou feliz que a viu. Você já decidiu o que vem depois? Você
vai convidá-la para sua exposição de arte? – ela sorri.
Eu a abraço também e a beijo na bochecha. – Sim.
Eu não vejo a Rose entrar no bar e nos observar.
Eu não a vejo quando ela sai.

Página 227 de 265


Capítulo Vinte e Oito
Rose

Estou quase de volta ao apartamento quando meu olhar vai para as


luzes do bar e da livraria do outro lado da rua. Um ponto de encontro
favorito, eu costumo parar depois das aulas para conferir seus livros e
assados. Não é uma típica livraria, é escura e aconchegante e serve
ótimos biscoitos assados.
Eu decido entrar e pegar um pretzel... ou dois. Talvez Spider esteja
em casa e eu compartilharei com ele. Eu sei que o show dele é amanhã à
noite, então é possível que ele esteja ensaiando até tarde, mas você
nunca sabe. Meu celular está morto ou eu mandaria uma mensagem e
perguntaria a ele.
Eu vou para dentro e chego ao bar enquanto uma risada familiar me
chama a atenção. Tirando o meu pretzel da caixa, viro meus olhos
aterrissando nas costas e nos ombros de Spider. Um boné na maior parte
esconde o cabelo, mas eu sei disso. Uma morena bonita em uma saia
super curta está inclinada em seu espaço. Outro cara fica um pouco
longe deles, também com um boné.
A garota.
Eu a conheço.
Meu estômago cai e náuseas se agitam enquanto a vejo abraçar o
Spider. Ele coloca as mãos nos ombros dela e beija sua bochecha.
Minha respiração para - inferno, o mundo todo para.
Há algo entre eles, uma facilidade que fala que estão muitos anos
juntos.

Página 228 de 265


Lambo os meus lábios, sentindo tontura com o meu coração aberto e
sangrando.
Eu reproduzo a memória que tenho dela... ela sai do prédio dele com
a saia para trás... isso me diz que ele acabou de foder com ela.
– Ei, você está bem? – pergunta o caixa que entregou meu pretzel.
Eu engulo e aceno com a cabeça, as lágrimas ardendo em meus
olhos, palavras furando a minha garganta enquanto me inclino contra a
parede. Em um borrão de movimento, corro para fora da porta e para a
noite.

Eu chego em casa em transe. Às nove, meu celular está carregando


e vibrou com mensagens do Trenton perguntando se eu estou indo e
várias do Spider querendo saber onde estou.
Eu ignoro todas elas.
Anne tenta me ligar e eu caio em declínio.
Alguns minutos depois, ela me envia um texto dizendo que eles
estão vindo para Nova York em poucos dias.
Eu não me importo. Só quero me enclausurar e esquecer o que vi
esta noite.
Eu como forçado o pretzel e bebo um copo de vinho... e depois
outro. Logo eu tenho a garrafa na mesa de café para poder beber direto
dela.
No momento em que Oscar chega em casa, por volta das dez, estou
empilhada no sofá com um cobertor de pele sobre mim, apoiada em
travesseiros, chorando por um filme no Lifetime.
Página 229 de 265
Ele se senta e coloca o braço em volta de mim. Eu liguei para ele
mais cedo no seu intervalo e contei tudo a ele. – Estou aqui, menina. É
hora de uma intervenção do Oscar.
Eu aceno para ele para ficar quieto, embora eu realmente não queira
que ele faça isso. Eu preciso de alguém para conversar, mas estou com
medo de encarar a verdade: Spider estava saindo com a garota de
Dallas. Quem é ela para ele? Por que ele a beijou? Por que eles pareciam
estar juntos há muito tempo? Ele sempre me disse que não tinha muito
tempo com garotas... mas obviamente ela é diferente.
Oscar me considera. – Acho que você precisa parar de se esconder
aqui e crescer garota.
Funguei. – Pode esperar? O herói está prestes a descobrir que a
garota teve o bebê dele secretamente dez anos atrás.
– Você está assistindo a porra da TV para evitar seus problemas. Eu
acredito que em suas aulas de psicologia que eles chamam isso de
evitação clássica.
Eu pego um lenço e bufo. – Você está lendo meus livros novamente.
Ele encolhe os ombros. – Ele está bem ao lado. Você precisa ir até
aquele apartamento e perguntar o que está acontecendo.
– Mas eu não deveria terminar Meu bebê secreto do pai bilionário?
Ele pega o controle remoto da mesa de café, desliga a TV e me dá
um olhar sério.
– Agora eu nunca vou saber o que acontece!
Oscar não está comprando nada disso. – Talvez, o que você viu não
seja como realmente é.
– Ela estava abraçando todo ele. – eu digo. – E ele estava olhando
para ela como se importasse com ela. – minha voz desvanece.
Deus. Eu tenho que saber. Eu preciso chegar ao fundo disso.

Página 230 de 265


Com uma expiração profunda, eu me levanto, arrumando as minhas
calças de ioga e camisa amassada. Não estou usando muita maquiagem e
meu cabelo está em um topete solto que há muito tempo decidi colocar
para o lado.
Eu vou para a porta.
– Espere! – Oscar grita. – Você não pode ir até lá assim. Pelo menos
calce os sapatos e penteie o cabelo.
– Por quê?
– Porque você cheira a vinho e parece uma andarilha. – ele move os
olhos para a garrafa de chardonnay na minha mão. – Pelo menos deixe o
vinho aqui.
Eu tomo um gole. – Eu não quero perder minha alegria.
Ele se agita ao meu redor, prendendo o meu cabelo e limpando os
meus olhos. – Só me deixe limpar esse rímel.
Coloquei o meu Converse e caminho para fora da porta, me
estabilizando contra as paredes do corredor. Estou um pouco bêbada e
eu não me importo.
Eu bato na porta dele e ela se abre.
É ela.
Às dez horas da noite.
Em seu apartamento.
Se isso não é mais evidente do que antes, então não sei o que é.
Ela abre a porta cerca de dois centímetros, em seguida, lentamente,
ela se fecha enquanto ela me olha com cautela.
Eu bufo. Claramente ela está desconfiada de mim.
Seus olhos passaram sobre mim, arregalando ao ver a garrafa na
minha mão. – Você está entregando a comida chinesa?

Página 231 de 265


– Pareço que tenho comida chinesa? – murmuro, com a palavra
comida saindo como sangue.
Sua testa franze, mas isso não tira a sua beleza. – Eu conheço você?
Eu a empurro. Ela deveria me conhecer de Dallas, mas é provável
que eu pareça diferente com meu cabelo acobreado com um nó e minhas
roupas desarrumadas. Além disso, ela provavelmente não prestou muita
atenção em mim como fiz com ela.
Ela estica o pescoço para o corredor e verifica cuidadosamente. –
Como você chegou até este andar?
Eu a ignoro e fecho a minha boca, olhando com desdém para as
migalhas que caem na minha mão. Oscar estava certo - pareço uma
andarilha.
Mas eu não dou a mínima, minha mente grita.
Aponto meu dedo para ela, usando a mão que segura a garrafa. –
Eu quero ver o Spider. Agora.
Ela franze a testa como se estivesse confusa e vai mais longe para
bloquear minha visão no apartamento. – Eu não sei quem é.
– Mentirosa. Eu sei que ele vai ficar aqui.
Ela estreita os olhos para mim. – Sugiro que você saia antes que eu
chame a polícia.
Eu rio. – A última coisa que ele quer é um relatório policial sobre
uma briga de garotas dentro do seu prédio.
Ela inclina a cabeça. – Você parece muito familiar...
Não a deixo terminar, em vez disso, empurro a porta. Ela empurra
para trás e nos debatemos para frente e para trás.
Eu penso brevemente que provavelmente vou me arrepender disso
de manhã, mas agora, eu não me importo.

Página 232 de 265


Eu tenho álcool e Converse do meu lado enquanto ela é pequena
com um par de tamancos rosa que parecem pertencer a uma criança de
dez anos de idade. Eu a empurro para o lado e marcho para a sala de
estar do apartamento enquanto ela puxa meu braço. Eu o sacudo. É fácil,
especialmente porque estou correndo com adrenalina e pura raiva.
Uma rápida olhada ao redor do apartamento dele mostra um quarto
vazio e a cozinha. Roupas estão por toda parte, algumas penduradas em
plásticos de limpeza a seco. Partituras se espalham pelo chão junto com
telas de arte em branco. Paro um pouco sobre elas, pensando sobre elas,
mas fico concentrada em um cardigan rosa macio pendurado na cadeira
da sala de estar. Eu me encolho, sabendo que é dela.
Eu viro ao redor. – Onde ele está?
Ela me dá um olhar lívido enquanto pega seu celular. – Você está
invadindo, e eu estou chamando o porteiro. Eu vou deixar ele lidar com
você.
Eu bato no celular da mão dela. Ela realmente não é páreo para
mim, não com as aulas de autodefesa que eu ainda tenho e a raiva
queimando no meu estômago.
– Onde ele está? – deixo escapar as palavras. – Apenas me diga.
Ela dá uma respiração trêmula e por um momento vejo medo
cruzando seu rosto, mas então ela parece se recuperar, sua determinação
se fortalecendo enquanto ela circula em volta de mim, me impedindo de
me mover mais para dentro do apartamento.
Meus olhos vão para o quarto e meu coração se parte.
Ela endireita os ombros. – Ele está no chuveiro. Feliz?
Meus olhos voltam para o quarto, e o silêncio ensurdecedor me
permite ouvir a água caindo. Um momento depois, para de cair.
– Você precisa ir agora. – ela diz, me enxotando com as mãos
como se eu fosse uma mosca errante que ela quer que saia do
apartamento.

Página 233 de 265


A voz de Spider grita do quarto. – Ei, deixei as minhas coisas na
lavanderia. Seja um amor e me traga algumas boxers, sim? Por favor? –
ele ri, o som vindo para onde estamos.
Eu me sinto estranha como se eu não estivesse realmente na sala,
mas em um filme assistindo a garota perceber que o herói realmente é
um idiota. Eu não posso mais evitar a verdade.
Eu ainda o amo muito.
Eu não sei como é possível, mas desta vez dói mais. Isso martela o
meu coração um pouco mais forte, um pouco mais profundo. Eu esfrego
o meu peito, me sentindo mal. Como se eu pudesse vomitar.
Nós fizemos amor.
Ele disse que eu era dele.
Não, isso foi apenas foda para ele.
Leopardos não mudam seus costumes. Comportamento passado é o
melhor profeta para um comportamento futuro.
Amá-lo é inútil, e se há uma coisa que sei que é verdade, é que não
mereço esse tipo de amor.
Cardigan rosa me encara. Ela está no celular falando com alguém. –
Eu chamei o porteiro lá embaixo. Ele está subindo.
Sem outra palavra, eu tropeço para fora da porta que ela ampliou
para mim, então ela bate atrás de mim.
Desesperadamente, ando os poucos passos de volta ao meu próprio
apartamento, a minha bravura se foi e o meu espírito está quebrado. Eu
abro a porta e entro.

Página 234 de 265


Capítulo Vinte e Nove
SpideR

No dia seguinte, por volta das onze, bato na porta da Rose, mas
ninguém responde. O show é hoje à noite e eu tenho uma tonelada de
coisas para fazer, mas estou ansioso para ver o rosto dela. Eu estou
querendo saber se ela pode vir nos ver correr pelo nosso set. Eu quero
contar a ela sobre a minha próxima exposição de arte e talvez apresentá-
la ao resto da banda.
Estou preocupado quando fico lá e bato.
Ontem à noite, eu bati na sua porta depois que a Mila deixou a
minha roupa, mas Oscar atendeu e disse que a Rose estava doente e não
queria me ver. Eu queria invadir e checá-la, especialmente desde que ela
não respondeu a nenhum das minhas mensagens de textos anteriores,
mas o rosto sério do Oscar me fez parar. Algo parecia fora do lugar, mas
eu não pude apontar para isso. Isso me fez me preocupar com o Trenton
e o que aconteceu entre eles. Eu decidi dar a ela algum espaço, então me
afastei e voltei para a minha casa.
Não foi até esta manhã no chuveiro quando eu estava pensando na
noite, especialmente na parte sobre a garota aleatória que apareceu
bêbada no meu apartamento, que tudo fez sentido. Mila mencionou que
a menina parecia familiar, mas ela não podia lembrar dela. Ela assumiu
que ela era uma das groupies que nos seguem de cidade em cidade,
tentando encontrar maneiras de entrar em nossos quartos de hotel e
casas. Uma vez em Los Angeles, uma garota até se escondeu no meu
carro e dormiu lá, surpreendendo-me quando entrei para ir ao estúdio no
dia seguinte.
Mas...

Página 235 de 265


E se essa garota aleatória tivesse sido a Rose?
Quer dizer, eu não disse a Mila que ela morava no apartamento ao
lado e se a Mila abriu a porta para a Rose antes que eu tivesse a chance
de explicar a ela sobre Dallas...
Com um nó no estômago, eu bato na porta dela novamente, desta
vez com mais força. Eu não recebo nada além de silêncio.
Puxando meu celular, eu digito um texto rápido para ela. Você está
em casa? Você está se sentindo melhor?
Agitado, eu me inclino no corredor e espero por sua resposta, mas
não recebo nada. Passei a mão pelos cabelos e andei pelo corredor,
imaginando o que fazer a seguir. A garota que apareceu na minha porta
está realmente me incomodando... parece sinistro, e eu quero me livrar
disso.
Eu tenho que saber se era a Rose.
Mando outra mensagem de texto. Você veio ao meu apartamento
ontem à noite?
Sim, é a resposta imediata. Eu a vi.
Porra.
Pavor está no meu estômago enquanto imagino a cena do jeito que a
Rose poderia ter percebido. Não é boa.
Não é o que você pensa, digo a ela. Eu posso explicar, mas não
através de mensagem de texto. Abra a sua porta.
Eu estou na biblioteca. Estou desligando meu celular. Adeus.
Eu bato minha mão na parede e empurro, me sentindo frustrado. Eu
não sei o que está acontecendo com ela. Ela está com raiva? Ela vai me
deixar explicar? Porra!
Talvez, eu deva ir à biblioteca e encontrá-la. Estou assumindo que é
a biblioteca da NYU, mas não tenho certeza. Pode ser qualquer

Página 236 de 265


biblioteca. Ansioso e nervoso, eu decido que não está ajudando ficar por
perto, então me movo e saio para executar minhas incumbências.
Minha primeira parada é na galeria de arte no Soho, onde meu show
será daqui a alguns dias. É um evento apenas para convidados, onde
vários músicos estarão mostrando seu trabalho. Eu tenho trabalhado
nisso há meses, e estou ansioso para vê-lo se concretizar.
Eu entro e a Jenny, a dona da galeria, me encara com um largo
sorriso. Uma loira com um largo sorriso genuíno, ela aperta a minha
mão com entusiasmo. – Você quer dar uma espiada em tudo?
Balanço a minha cabeça. – Só aqui para pegar mais convites para o
show. Eu não achava que meu pai e sua esposa iriam conseguir, mas eles
virão. Eu também preciso de um para uma garota.
Ou pelo menos espero que sim.
Meu pai ligou ontem para me dizer que eles estavam vindo para ver
o meu show. Ele não tinha certeza, porque a Anne quebrou a perna em
uma viagem de esqui há algumas semanas e ele não sabia se ela estaria
pronta para viajar. Felizmente, ela está, e estou feliz. Parece que a Anne
me tolera a maior parte do tempo, e verdade seja dita, estou bem com
isso.
É o meu pai que quero garantir um relacionamento sólido.
Eu disse a ele sobre ver a Rose e ele me desejou sorte.
Eu pego os convites de cartolina da Jenny e saio. Com o mal-estar
ainda me consumindo sobre a Rose, eu entro no meu carro para ir ao
local do show. Digito mais uma mensagem de texto para ela. Posso te
ver hoje à noite depois do show?
Eu não recebo resposta.

Página 237 de 265


Capítulo Trinta
Rose

Depois de ler o texto do Spider, eu guardei o meu celular. Eu disse a


ele que iria desligá-lo, mas não vou. Eu simplesmente não posso falar
com ele agora.
Fecho meus olhos e inclino a minha cabeça na parede da biblioteca
onde estou me escondendo, supostamente trabalhando em um trabalho
de pesquisa para uma das minhas aulas.
Pego o Gatorade do Oscar, com sabor de cereja, que eu enfiei na
mochila esta manhã e tomo junto com algumas Saltines17 - almoço de
campeões.
Depois de me forçar a fazer mais algumas anotações no meu
notebook, eu guardei as coisas e fui para a aula de Krav Maga de fim de
semana em uma pequena academia na Brewster Street. Assim que me
mudei para Nova York, me inscrevi para o curso que comecei em
Dallas. Empregando movimentos eficientes e instintos, meu instrutor é
um dos melhores da cidade.
Depois de uma cansativa lição em que meu parceiro me joga no
tatame mais vezes do que eu acho necessário - embora meu corpo goste
- tomo banho lá e coloco minhas calças pretas de sempre e blusa branca
de botões com gola de renda, meu uniforme do Bono. Eu penteio o meu
cabelo e prendo em um topete. Minha única maquiagem é meu batom
vermelho escuro e um pouco de rímel.
Esta noite, estou trabalhando no turno do restaurante. É o fim de
semana, então as coisas vão ficar agitadas, e fico feliz porque não vou
ter tempo para pensar em Spider.

Página 238 de 265


Ao entrar pela porta, recebo outra mensagem de texto da Anne. Ela
enviou uma a noite passada dizendo que eles estavam vindo para Nova
York e eu nunca respondi. Eu respondo e pergunto sobre seus planos,
ansiosa para saber se vou ver a Bella. Ela me diz que eles estão vindo
sem a Bella e ficando na cobertura deles, desde que os pintores já
terminaram. Ela me convida para jantar no domingo à noite, e eu digo a
ela que sim, já que não estou trabalhando.
No próximo texto dela, ela me manda.

Nós estaremos participando da exposição de arte do Spider na


segunda-feira. Você vai?
Exposição de arte? Eu não sei nada sobre isso.

Não sei como responder a ela.


Um dos gerentes chama meu nome e eu sei que é hora de começar a
trabalhar. Querendo saber mais sobre a exposição, mas também
precisando não ser demitida, eu guardo meu celular.
Às nove, quando a agitação do restaurante diminuiu, estou servindo
uma mesa com quatro entradas quando ouço uma voz familiar atrás de
mim.
– Acho que você percorreu um longo caminho quando saiu do
Restaurante do Jo em Manhattan. No entanto, você ainda é uma
garçonete. Que... pitoresco.
Meus dentes rangem quando me viro para ver a Aria, o Trenton e o
Garrett sentados onde a recepcionista os colocou, e ela me dá um olhar
de desculpas após o comentário da Aria. – Esses caras querem sua seção.
Eu suspiro. – Ótimo.

Página 239 de 265


Trenton me dá um abraço arrebatador. – Estamos aqui para
comemorar. Consegui tudo na hora certa e o cliente está me indicando
para alguns dos seus amigos.
Eu pisco, de repente, lembrando que eu deveria aparecer em sua
casa ontem à noite para conversar.
Ele não menciona que eu nunca respondi as suas mensagens de
textos, provavelmente porque a Aria e o Garrett estão aqui.
– Fantástico. Parabéns. – minha voz é calma.
Aria estreita os olhos para mim. – E é claro que você se lembra do
Garrett, meu noivo. – ela enfatiza a última palavra.
Eu concentro meu olhar nele. Vá se foder, meus olhos dizem.
Garrett perdeu o cabelo em cima e parece azedo e um pouco mal-
humorado, com os ombros rígidos enquanto ele me observa. Um ligeiro
desdém curva seus lábios antes de desaparecer num piscar de olhos, uma
microexpressão, aquelas coisas que as pessoas fazem quando querem
esconder como realmente se sentem. A maioria deles é completamente
involuntário. É como quando você entra na casa de alguém e sente o
cheiro de urina de gato - você não consegue esconder a breve expressão
de desprazer.
Eu respiro e olho para o Trenton.
Hoje... com todos os três aqui, minha cabeça apenas... dói.
– Eu não vou ser sua garçonete. – afirmo.
– Isso é pura preguiça. – murmura Aria. – Você não ganha dinheiro
com gorjetas?
– Eu não quero o seu dinheiro. – enfrento o Trenton, uma bola de
raiva construindo. – Você os trouxe aqui... sem sequer me perguntar?
Seu rosto se contorce como se não gostasse do meu tom. – Eles são
da família. Se isso é sobre meu trabalhando...
– Não. – levanto minha mão. – Isso é sobre você e eu.

Página 240 de 265


Ele deve ler alguma coisa no meu rosto porque ele pega o meu
cotovelo e me leva para longe da Aria e do Garrett até que estamos de pé
a poucos metros de distância perto da porta da frente.
– O que há de errado com você, Rose? – sua voz limita entre irritada
e surpresa.
Normalmente, sou fácil e pronta para ir junto com o que ele quiser.
O ar está tenso, e sei que este momento é sobre a verdade, sobre ser
fiel a mim mesmo quando não sou há muito tempo. Olho para o Trenton,
meu instinto percebendo que acabei de passar o tempo com ele, contente
com nosso relacionamento, mas não muito feliz. Ele não consegue ver
quem eu sou e o que eu preciso.
– Eu não posso mais ver você.
O choque se instala em seu rosto. – Eu... Eu não posso acreditar
nisso. O que eu fiz de errado?
– Nada. Não é você. É apenas... nós estamos nos separando por um
tempo.
Ele suspira. – Nós nos veríamos mais se você fosse morar comigo e
parasse de trabalhar...
– Eu não sou para você. – eu digo, interrompendo-o.
Seus olhos se arregalam. – O que é isso quer dizer realmente?
Meus lábios se fecham.
Ele me observa. – Isso é sobre o Spider? Eu poderia estar bêbado na
noite em que vi vocês dois juntos, mas eu teria que ser um idiota para
não ver que ele quer você.
Presa por um pequeno detalhe, em mil.
Fecho os meus punhos por força. – Eu fiz sexo com o Spider... Esta
semana. – arranco o Band-Aid, pronta para chegar na parte de cura.

Página 241 de 265


Seu rosto fica pálido e um músculo flexiona em sua mandíbula. Seu
peito se expande quando ele inspira profundamente.
Eu concordo. – Sinto muito te machucar. Eu realmente sinto. Nós
não estamos dando certo... a muito tempo.
Ele está com raiva agora, seu pescoço e rosto ficando vermelhos. É
a maior reação que vejo em muito tempo. – Todo mundo sabe que ele é
um drogado, Rose. Ele nunca será fiel a você.
As suas últimas palavras me matam, porque elas podem ser
verdadeiras. Não posso pensar sobre isso agora, e me concentro em dizer
a verdade. – Eu o amo mais do que tudo. – Mais do que você.
Emoção aparece em seu rosto e ele balança a cabeça para mim. Suas
mãos se fecham, e eu posso dizer que ele está lutando com os seus
sentimentos, decidindo o que dizer para mim. Eu me preparo para ele me
atacar. Ele não decepciona e as palavras que ele usa só provam que ele e
eu nunca fomos feitos para ficar juntos. – Eu deveria ter escutado os
meus amigos. Você é mesmo uma escória, Rose.
Então, ele se vira e volta para onde a Aria e o Garrett esperam. Eu
vejo quando ele diz algo a eles brevemente e eles se viram para olhar
para mim. Sem outra palavra, eles juntam suas coisas da mesa onde a
recepcionista os colocou e saem pela porta.

Depois do meu turno, estou exausta. É quase meia-noite e tudo o


que quero é cair na cama.
Enquanto eu caminho para o apartamento, Oscar me manda uma
mensagem que ele irá passar a noite com o Axe de novo, mas estará em
casa pela manhã para nos fazer o café da manhã de domingo. Eu dou

Página 242 de 265


uma resposta rápida dizendo a ele para convidar o Axe também. Estou
feliz que pelo menos um de nós tenha uma ótima vida amorosa.
Quando chego ao meu prédio, o porteiro me deixa subir e eu entro
no elevador e encosto na parede.
– Segure a porta. – Spider grita pouco antes de se fechar.
Eu seguro a porta como um reflexo e ele entra. Eu tento ignorar seu
perfume masculino e a maneira como a sua camisa se molda ao seu peito
largo. O seu cabelo está úmido como se tivesse tomado banho
recentemente, e acho que o show acabou e ele está bem. Ele está ao meu
lado, e eu deveria me afastar, mas sou fraca e quero estar perto dele por
mais algum tempo.
– Eu mal consegui focar no concerto. Você está bem? – seus olhos
procuram os meus, descendo para ver a minha roupa de garçonete.
Eu ignoro sua pergunta.
– Eu estava no trabalho... e eu terminei com o Trenton.
Alívio cruza o seu rosto. – Obrigado porra. – ele afasta uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha. – Você esteve doente ontem à noite ou
foi tudo pela Mila? Eu quero explicar isso...
Fico tensa, meu queixo levantado quando o interrompo. – Ela é a
garota que estava no seu apartamento no dia em que você deixou Dallas?
Ele me dá um aceno curto. – Olha, ela é apenas nossa Relações
Públicas e eu a conheço há anos. Não é...
Eu o interrompi com as minhas palavras firmes. – Eu vi você com
ela no bar do outro lado da rua. Então, bati na sua porta e ela
atendeu... enquanto você estava tomando banho.
Ele solta um suspiro. – Rose, me escute. Nunca dormi com ela. Eu
apenas fingi aquele dia em Dallas. Liguei para ela para vir e fazer um
show para ter certeza que você não arruinasse a sua vida e talvez me
seguir até LA. Eu odiei fazer isso e odiei me afastar de você naquele dia,
mas eu tive que fazer. – ele faz uma pausa, com o seu rosto ansioso

Página 243 de 265


enquanto observa o meu rosto, procurando por minha reação. – Eu teria
dito a você antes, mas... tem sido louco e não tivemos tempo.
Há um sinal de verdade em sua voz.
Mas...
– Vocês dois parecem ser muito carinhosos. Você teve algum
relacionamento com ela em algum momento em Los Angeles?
– Nós nunca fizemos sexo. – seus olhos estão implorando para eu
entender, e parte de mim entende. Ele a usou para chegar até mim, para
enfatizar aquilo.
– Ela é uma amiga e uma colega de trabalho, Rose. E ontem à noite,
ela estava deixando a minha lavagem a seco. É isso aí. Eu não me sinto
assim com ela. Eu nunca me importei. É você. Só você.
Suavizo com as suas palavras, mas as lágrimas ardem nos meus
olhos enquanto penso em voltar para aquele dia em Dallas. – Eu sei que
você pensou que eu era muito jovem e que você estava muito ferrado,
mas eu teria ido para os confins do mundo com você.
Ele parece torturado. – Eu não estava pronto.
– Você está pronto agora?
Ele concorda. – Sim.
Mas há um olhar incerto no rosto dele, como se ele estivesse
inseguro... e isso me assusta. Eu não consigo descobrir onde está sua
cabeça.
Eu preciso mais dele.
Eu preciso das palavras. – Você me ama?
Há uma luta no rosto dele, e ele apenas olha para mim.
A clareza chega quando eu o aceito. Com o Spider, sempre foi sobre
as pessoas que ele perdeu, mas é hora dele descobrir que eu não vou
deixá-lo.
Página 244 de 265
Eu mordo meu lábio inferior e coloco tudo na reta. – Você diz que
eu sou sua, mas tudo que vejo é um cara que me quer em seus
termos. Você aparece e espera que eu caía em seus braços quando
deveria ter me contado sobre a Mila na primeira vez que você me
viu. Você poderia ter me dito a noite da tempestade. Você deveria ter me
encontrado hoje de alguma forma e explicado para mim - e você não o
fez. Sua hesitação e falta de compromisso me aterrorizam. Você tem
medo do tamanho dessa coisa entre nós. – eu paro. – Eu preciso de mais,
Spider. Quero que seja épico. Eu quero que alguém me ame com a
mesma intensidade que sinto por ele. – respiro fundo. – E até que você
dê isso para mim, eu não posso ver você.
Ele suspira, enquanto olha para mim, com a emoção ardendo em
seus olhos.
A porta do elevador se abre e saímos. Ele me observa enquanto eu
vasculho minha bolsa pelas chaves. Finalmente as encontro e destranco
a minha porta.
Eu me viro para olhar para ele, com o meu coração doendo.
Ele ainda está lá quando eu fecho a porta.
Eu me apoio nela e deixo as lágrimas que mantive durante todo o
dia finalmente chegarem.

17. Saltines: é a marca de um biscoito de água e sal. Como a cream


cracker.

Página 245 de 265


Capítulo Trinta e Um
Rose

No dia seguinte, Oscar e eu vamos para a cobertura do Robert e da


Anne para o jantar. Oscar não os viu muito ao longo dos anos, apenas
algumas vezes quando eles iam a Nova York para uma rápida visita.
– Como eu pareço? – ele me pergunta, parecendo ansioso enquanto
endireita sua gravata roxa do Tom Ford18 enquanto estamos na frente das
pesadas portas duplas cor creme, prestes a bater.
– Impressionante.
Ele pigarreia com um olhar estranho no rosto. Ele está nervoso e eu
franzo a testa, lendo sua linguagem corporal. – O que é isso? Você não
está me dizendo algo.
Ele suspira e seus ombros abaixam quando ele se vira para mim. –
Tem uma coisa que eu preciso te contar. Talvez, eu devesse ter contado
a você há muito tempo, mas não o fiz.
– Ok, isso soa sinistro. Você é realmente hetero?
Ele bufa e aponta para seu terno cinza claro com calças justas e
meias amarelas argila. – Este conjunto diz diretamente algo para você?
– Não.
– Certo. – ele arruma o seu cabelo.
– Desembucha. Você está mantendo segredos de mim. Você e o
Axe vão se casar?

Página 246 de 265


Ele suspira. – Eu desejo. Não, Robert me pediu para não contar, mas
lembra de quando eu lhe contei que consegui uma bolsa de estudos de
última hora para a NYU e foi assim que consegui ir para Nova York?
Eu concordo. – Sim, você sempre me disse que você teve a bolsa de
estudos de pessoas que não eram inteligentes e que também gostavam de
ser gays. Lembro-me que a sua carta foi de última hora e fiquei
preocupada com você.
Oscar faz careta. – Minha carta não chegou atrasada. Ela veio e a
bolsa de estudos foi negada. Simplesmente não posso te dizer por que eu
sabia o quanto você queria a NYU para nós dois.
Ah. – Ok, então como você conseguiu o dinheiro?
Oscar me dá uma olhada. – Robert... ou Spider... Eu não sei com
certeza... pagou a conta por tudo.
Minha boca se abre e eu rapidamente fecho. Sacudo a minha
cabeça. – Pare de brincar. O que está acontecendo?
Ele suspira. – Quatro anos atrás, um dia depois do Baile da
Primavera, recebi essa ligação do Spider. Ele disse que só queria checar
você.
Estou chocada. – Não posso acreditar que não me contou! Você
sabe o quanto gostaria de saber disso!
– Você já estava com o Trenton e, sinceramente, só não queria que
você ficasse triste ou fosse tentar vê-lo em Los Angeles. – ele me dá
uma olhada.
Eu aceno, lembrando como eu estava deprimida. Eu poderia ter ido
para Los Angeles. Eu não sei.
– De qualquer forma, ele fez algumas perguntas e queria saber se eu
estava indo para a NYU com você e contei a ele toda a história... que eu
fui aceito, mas minha bolsa de estudos não. Isso parecia ser o fim disso.
– Mas não foi?

Página 247 de 265


Ele sacode a cabeça. – Alguns dias depois, Robert apareceu na
minha porta com papéis para assinar de uma fundação que pagou por
toda a minha educação. Tudo o que eu tinha que fazer era contatar a
fundação a cada semestre com meu total e eles pagariam. O endereço da
fundação era um lugar em LA. É por isso que acho que foi o Spider
quem pagou por ela.
Meu coração está batendo e minha cabeça está tentando entender
toda essa informação. – Por que o Robert não quer que eu saiba?
Ele encolhe os ombros. – Não sei. Talvez, ele não quisesse que você
cavasse mais fundo e corresse para Los Angeles. Ele me pediu para não
lhe contar, e ele foi muito gentil com isso, e eu fiquei tão agradecido por
ter a oportunidade de viver nosso sonho aqui na cidade que deixei
passar. Era muito dinheiro, Rose.
A porta se abre, interrompendo mais alguma conversa.
Robert e a Anne nos cumprimentam com abraços na porta, mas eu
ainda estou cambaleando. Não tenho certeza se posso ficar. Não tenho
certeza se posso comer alguma coisa... mas eu entro porque parte de
mim está esperando que o Spider esteja chegando. Eu só quero vê-lo,
mesmo que não estejamos juntos. Isso é tudo.
Anne olha para o meu vestido vermelho decotado e dá uma
respiração profunda.
– Eu gosto de vestidos apertados, então, não comece. – digo com
um sorriso, suavizando minhas palavras.
Ela balança a cabeça e engancha o braço no meu e me leva para a
sala de jantar. Eu vejo que há outro lugar em frente a mim.
Meu coração entristece.
– Spider está vindo?
– Ele foi convidado, mas pediu desculpas. – Robert diz, com o seu
tom inquisitivo e seus olhos atentos quando ele olha para mim.

Página 248 de 265


Isso machuca que ele não veio. – Ah. – pigarreio, precisando
conversar, precisando descobrir o que diabos está acontecendo. – Oscar
me contou que você... ou Spider... pagou a mensalidade dele. Há mais
alguma coisa que você não está me contando?
Ele olha para a Anne e eles parecem ter algum tipo de comunicação
silenciosa. Ela acena com a cabeça.
– Sim. – diz ele. – Porque você não entra no escritório e nós
podemos conversar antes de comermos?
Eu concordo.
Finalmente. Algumas respostas.

18. Tom Ford: é uma marca de um nome de estilista.

Página 249 de 265


Capítulo Trinta e Dois
Spider

Deus, eu desejo ainda beber whisky.


Mas, então, acho que não seria capaz de correr cinco quilômetros
como eu posso agora.
Eu faço o meu ritmo, correndo pela trilha no Central Park, mas não
importa o quanto eu tente manter meu foco, mantenha minha respiração
contida e, até mesmo, eu me sinto desequilibrada e desligada.
Eu não tenho a Rose.
Nada está certo.
Meu telefone tem tocado e ligado por vinte minutos, e eu finalmente
paro na ponte de pedra com vista para o parque, em seguida, tiro-o do
meu bolso para verificar.
É o meu pai.
– Oi. – respiro pesadamente no celular enquanto me sento em um
banco próximo. – Você recebeu seu convite para o show?
– Spider... – sua voz é calma, mas forte ao mesmo tempo. – Tenho
más notícias.
Minha cabeça corre em um milhão de direções. – É a Rose?
– Não, não. Não podemos fazer o seu show hoje à noite. Bella está
com febre alta e nós queremos voltar para Dallas. Anne e eu temos um
voo em apenas algumas horas. Eu só queria que você soubesse. Eu odeio
perder isso, filho. Eu realmente quero dizer isso.

Página 250 de 265


– Posso fazer alguma coisa?
Ele ri baixinho. – Não a menos que você queira segurar uma criança
chorando por algumas horas.
Eu ri.
Ele fica sério, um longo suspiro vindo dele.
– Há outra coisa? – pergunto.
Eu o vejo balançando a cabeça com o rosto severo. – Rose veio
ontem à noite. Eu contei tudo a ela.
Agora é a minha vez de suspirar. Eu ando de um lado para o outro
no pequeno caminho com o celular no meu ouvido, pensando. – O que
ela disse?
– Não muito.
– Ah. – desapontamento passa sobre mim.
O que eu esperava?
– Sinto muito, filho. Espero que funcione para vocês dois.

Página 251 de 265


Capítulo Trinta e Três
rose

Estou toda nervosa quando andando na galeria. Oscar está ao meu


lado com uma expressão sombria e contemplativa em seu rosto, e eu
acho que ele ainda está remoendo a conversa que tivemos ontem à noite
com o Robert.
Acho que voltei para a pasta que ele me deu, a que tinha recibos do
Oscar e a minha mensalidade para a NYU, o custo total de mais de
quatrocentos mil dólares, todos pagos com acréscimos, conforme o
Spider saltou para o sucesso nos últimos quatro anos. Robert até me
disse que o Spider negociou que eu iria para a NYU como parte de seus
termos de me deixar. Ele também queria pagar por isso... apenas algo
que ele queria fazer por mim.
Isso confundiu o meu cérebro que o Robert lhe deu meio milhão de
dólares para ir embora, e então, ele voltou e deu a maior parte para mim
e o Oscar.
Também incluiu na pasta um convite belamente escrito com o
endereço para a galeria no Soho.
Estou aqui esta noite para perguntar por que.
Por quê... tudo.
A primeira pessoa que vejo é a Mila.
Nossos olhos se encontram do outro lado do lugar e o seu rosto
começa empalidecer, enquanto ela coloca a sua bebida na bandeja de um
garçom que passa e cruza a multidão para chegar até nós.
Eu paraliso, com as minhas costas rigidas.

Página 252 de 265


Oscar me fala de lado. – A vadia está chegando?
– Veremos. – murmuro.
– Droga. Eu deveria ter trazido o meu soco inglês. – ele entrelaça o
braço no meu. – Estou com você, menina. Eu e você, podemos ser
pobretões do Texas, mas ficamos bem fazendo isso.
– Você parece gostosa, a propósito. – diz ele. – Estou feliz que você
usou o vestido branco, faz você parecer uma noiva. Por outro lado, a
visão que se aproxima em rosa é um pouco difícil de se ver por muito
tempo.
– Ela me lembra de algodão doce, certo? – olho para o Oscar com o
meu rosto fazendo caretas. – Talvez, isso não tenha sido uma boa ideia.
Ele sacode a cabeça. – Não, apenas escute ela. Você chegou até
aqui. Estamos aqui e há champanhe e camarão grátis. Um homem tem
que comer.
A visão no vestido maxi rosa com um milhão de lantejoulas para em
frente a nós. Tenho que apertar os olhos para que ela não os machuque.
– Então, você é a Rose. – diz ela, olhando-me com cautela, como se
eu fosse um cão raivoso que poderia mordê-la. – Eu estava tão nervosa
em Dallas que mal olhei para você. Você também é diferente dos
retratos que ele desenhou de você... embora, esta seja a primeira vez que
os vejo.
Quais retratos?
Mila ainda está falando. – Sou um pouco lerda. Eu não tinha ideia
de quem você era quando chegou à porta do Spider. Pensei que você
fosse uma groupie bêbada.
– Isso teria feito diferença em como você me tratou?
Uma expressão horrorizada cruza seu rosto. – Claro! Ela é... você
é... a sua Rose.

Página 253 de 265


Mila toca meu braço, um pouco hesitante. – Olha, eu não estou mais
com ele. Se eu estivesse, não poderíamos trabalhar juntos. – seus olhos
estão arregalados e diretos enquanto ela olha para mim. – Eu realmente
sinto muito por pensar que você era uma fã maluca perseguidora.
As pessoas que mentem tendem a olhar para cima e para a esquerda.
Ela não está e eu acredito nela.
Olhamos uma para a outra, me lembro dela e do Spider se beijando
todos aqueles anos atrás, e a minha dor deve aparecer nos meus olhos
porque ela me empurra para a entrada da sala de arte onde os convidados
estão entrando e saindo. – Olha, apenas entre. Eu não acho que você vai
se arrepender. Se você ainda tiver dúvidas depois, eu responderei, mas
não acho que você vá.
Oscar e eu saímos e entramos na sala quando a anfitriã nos entrega a
programação com as informações sobre a exposição. Com um alto teto
abobadado, claraboias espaçosas e paredes brancas, a exposição de arte
ocupa toda a atenção.
Convidados circulam por toda parte e alguns reconhecem.
– Nossa é a Mary Tyler Moore e aquele é o Sting no canto? – Oscar
sussurra no meu ouvido.
Desvio os meus olhos onde os seus dispararam, no fundo da sala. –
Parece com ele. Você deveria ir ver. Vou começar do começo e cruzar a
sala. Eu vou te encontrar lá?
Ele dá um tapinha na minha mão. – Tem certeza?
Eu aceno, querendo ficar sozinha.
Quando começo a exposição no lado da sala do Spider, vejo logo
que as peças são feitas em carvão, como as de sua irmã. Eu me movo de
lado a lado, percebendo que está organizado como uma jornada
autobiográfica. Há uma de Cate brincando na neve do lado de fora da
casa de sua infância. Eu as observo atentamente, observando os traços
ousados e a sensação moderna. Eu sorrio. Ele é realmente incrível e
talentoso.
Página 254 de 265
Existe alguma coisa que ele não pode fazer?
Suspiro quando chego perto de uma minha... servindo mesas no
Restaurante do Jo, meu cabelo em uma trança, vestindo aquela horrível
polo. É de perfil, e meus lábios estão carnudos e exuberantes quando eu
mordo o meu lábio inferior. Eu pareço assim... linda e dolorosamente
jovem.
Meu coração dispara.
Os próximos três desenhos são todos meus.
Uma de mim com uma cópia de Jane Eyre na minha mão.
Uma das minhas costas nuas com o meu rosto escondido, o foco na
tatuagem da borboleta com o seu número de celular dentro das asas.
Finalmente, há uma minha do lado de fora do seu prédio em Dallas,
sentado no banco do parque. Meu rosto está virado para cima como se
eu estivesse procurando por ele e eu tenho meu uniforme escolar.
Aperto a minha bolsa de mão de missangas, a emoção me açoitando
e, instintivamente, sigo em frente, precisando ver como isso termina.
As próximas passam em um borrão, embora, eu observe cada uma
delas, cada uma representando a si mesma.
Spider fazendo uma linha fora de um pequeno espelho.
A cabeça do Spider em uma mesa com uma garrafa de whisky ao
lado dele.
Cru e real.
Eu me esforço para conter meus sentimentos. Não posso me quebrar
aqui, não quando isso não é realmente sobre mim. É sobre ele.
Chego ao fim, outro auto-retrato dele olhando para um espelho, sua
guitarra amarrada nas costas. Sua mão passa pelos cabelos e seu rosto é
nítido e magro com os olhos abertos e claros. É intitulado Recuperação.

Página 255 de 265


Enxugo os olhos e vou para o banheiro do lado, evitando todos. De
pé na frente da pia, eu limito meu rosto, e uma vez que eu reapliquei o
meu rímel, eu lavo minhas mãos, ainda oscilando em perder o controle.
Tenho que ver ele. Eu tenho que dizer a ele que não me importo se
ele não pode dizer as palavras, eu quero estar com ele de qualquer
forma.
Eu nem sei que ele me seguiu até o banheiro até levantar a cabeça
para pegar um lenço.
– Rose.
Eu me viro para encará-lo, virando e prendendo a minha respiração.
Ele parece incrivelmente bonito com calças pretas e um suéter
cinza. Uma pulseira de couro está em seu pulso e um colar de prata
pendurado no pescoço, acentuando a sua pele bronzeada e os destaques
em seu cabelo escuro, mas é os olhos que têm a maior parte de minha
atenção.
Há luxúria neles.
– Você pagou para eu ir para a faculdade? E o Oscar? – não sei por
que essas são as primeiras palavras que saem da minha boca, em vez de
um elogio sobre sua arte, mas desde que o Robert entregou a pasta, eu
fiquei em choque.
Ele me dá um aceno rápido quando se inclina no batente da porta e
cruza os braços.
Balanço a cabeça para ele, lembrando o conteúdo da pasta, as
pequenas coisas que me surpreenderam. – Você fez questão de entrar
nas aulas de Krav Maga mesmo que a lista de espera fosse ridícula e
você até ligou para o dono do Bono assim que eu me candidatei para um
emprego?
Ele concorda.

Página 256 de 265


Engulo, sentindo a emoção me rasgando. – Costumava me perguntar
por que tive tanta sorte em Nova York. – mordo o meu lábio. – Como
você me acompanhou?
Ele suspira com seus olhos examinando meu rosto, memorizando-
o. – Por um tempo tive alguém te observando periodicamente... nada
intrusivo... só para ter certeza que você estava bem. Robert me manteria
atualizado sobre as coisas que você queria ou mencionava, e eu tentaria
fazer isso acontecer para você. Não foi nada grande.
– Porque não deixar o Robert pagar pela NYU? – eu sinto que ele
teria.
– Queria fazer algo por você, Rose. Eu trabalhei por esse dinheiro e
foi meu. Eu queria que você fosse feliz e tivesse seu amigo com você. –a
angústia cruza seu rosto. – Eu te machuquei tanto.
– Porque tudo isso? – pergunto, espalhando minhas mãos.
Ele sorri, embora mal, como se doesse fazer mais alguma coisa. –
Acho que você sabe o porquê.
Eu concordo.
Seu peito se expande enquanto seus olhos se movem sobre mim, e
eu sei o que ele vê: uma garota que se vestiu só para ele. Meu vestido é
todo branco, justo e frente única que mostra claramente minha tatuagem
com o seu número e com os meus cabelos compridos em cachos. A saia
é um pedaço ridiculamente curto de tule que choca em minhas coxas
quando ando em meus sapatos prateados.
– Você está linda.
Suas palavras são como um bálsamo para minha alma.
– Obrigada.
Ele se aproxima e toca meu rosto gentilmente, como se temesse que
eu desaparecesse.
Eu fecho meus olhos.

Página 257 de 265


Deus.
Eu quero ser tudo dele.
Eu quero que ele seja consumido por mim.
Eu quero ser a pessoa que o mantém na linha reta e estreita.
Eu quero que ele não seja capaz de sair da porra da cama a menos
que eu esteja ao lado dele.
Eu quero que ele desmorone se eu for embora.
Eu quero que ele me ame para sempre.
Eu digo essas coisas para ele enquanto lágrimas escorrem pelo meu
rosto.
Seu rosto parece triste quando ele se ajoelha.
– Rose, estive pensando sobre o que você disse. Sempre foi minha
intenção de ter você de volta algum dia, mas todo mundo sempre me
abandona. – diz ele, com a voz baixa. – No dia em que papai me deixou
no Texas, jurei que seria frio, duro e implacável pelo resto dos meus
dias. Jurei nunca deixar ninguém partir o meu coração, mas então, você
veio... e eu fiquei tão perdido em você.
Toco sua bochecha e ele se inclina para mim e seus lábios acariciam
minha mão.
– Eu não admiti para mim mesmo até que eu estava no avião para
Los Angeles, mas me apaixonei por você no momento em que nos
beijamos, mas estava muito confuso e eu não te merecia. Eu não poderia
te arrastar para baixo comigo. Tive que te dar uma vida de verdade sem
mim, eu tive que te dar algo, então quando nos encontrássemos
novamente, você saberia que eu estava pronto para sempre.
– Você tem sido minha para sempre desde que eu tinha onze anos. –
eu me ajoelho na frente dele.

Página 258 de 265


Ele respira fundo e a umidade brilha em seu intenso olhar. – Eu te
amo, Rose, mais que tudo. Sinto muito por eu não dizer isso antes. Se
você ainda me quer, se ainda nos quer, então estou bem aqui.
Meu coração dispara.
– Claro que ainda te quero. Eu amo você. – sussurro. – Não posso
ter outro dia sem estarmos juntos. Sinto muito por precisar ouvir essas
palavras bobas. Tudo o que precisamos é um do outro...
Ele me beija, me interrompendo com os seus lábios pressionando
nos meus.
– Para sempre. – ele diz no meu ouvido.
E foi...

Página 259 de 265


Epílogo
ALGUNS ANOS DEPOIS
Spider

– Senhor, você não pode levar isso no avião.


Levanto minha sobrancelha para a bilheteira. Ela tem cerca de
cinquenta anos com um halo de cabelo loiro e batom rosa
brilhante. Normalmente, posso fazer qualquer mulher jogar o meu jogo
com o meu sorriso arrogante e sotaque inglês, mas verdade seja dita, não
tento tanto quanto costumava ter.
– Claro.
Ela acena com a cabeça.
Seu crachá diz que o nome dela é Gwendolyn, e eu sorrio, apesar de
ter saído de uma turnê de três meses que acabamos de fazer em Nova
York.
– Gwendolyn... Posso te chamar de Gwen?
Ela pisca. – Não.
Não fico perturbado. Eu me inclino e apoio meus braços no balcão,
dando a ela uma ótima visão dos meus musculosos bíceps na camisa de
manga curta da Vital Rejects que estou usando. Tenho trabalhado
diariamente, e não tenho vergonha de compartilhar meus belos músculos
com o mundo. – A verdade é que não posso viver sem Helene - esse é o
nome da minha guitarra. – olho para o estojo aos meus pés. – Ela está
comigo desde o começo de, bem, tudo, e é má sorte viajar sem ela. Além
disso, estou completamente exausto, e se não tenho minha guitarra... Eu
posso ficar triste.

Página 260 de 265


A bilheteira me dá um olhar uma vez, com seus olhos demorando no
cabelo preso, que é branco este mês. – Eu conheço você?
Eu sorrio. – Você gosta de estrelas do rock britânico?
– Não em particular.
– Homens lindos com tatuagens? – viro meu pescoço para que ela
possa ver a aranha.
Seu nariz se levanta. – Definitivamente não.
Eu sorrio. – Que tal música com riffs de guitarra incríveis?
Ela comprime os lábios. – Não quero nada disso que faça os meus
ouvidos doerem. Ouço o Kenny Rogers e a Dolly Parton.
Meus olhos brilham e paraliso - Dolly me assusta. Talvez, seja o
cabelo, talvez, seja os peitos, mas apenas a menção dela evoca imagens
mentais dela se escondendo atrás de uma porta ou uma cortina de
chuveiro com uma faca. Não sei porque. Não posso explicar o
medo; apenas isso.
– Precisa de ajuda, querido? – Rose sussurra atrás de mim, tão perto
que sua respiração ventila contra a parte de trás do meu pescoço. Apenas
o som de sua voz me relaxa e me faz querer virar e beijá-la, mas tenho
que me concentrar. Estou determinado a conquistar esta bilheteira.
– Não. – sussurro baixinho. – Eu cuido disso.
Ela ri. Antes de chegarmos à mesa, apostamos se conseguiríamos ou
não levar a Helene no avião conosco. Normalmente nós viajamos de
primeira classe e não é um problema colocar o estojo no armário de
casacos, mas quando você está em uma classe econômica, tudo é
diferente. Se permitido, eu poderia apenas a verificar, mas me incomoda
se ela não está perto.
– Senhor. – diz Gwendolyn, olhando-me com desdém quando ela
olha por cima do meu ombro. – Se você seguir em frente, posso chegar à
próxima pessoa.

Página 261 de 265


Eu tento novamente, mostrando um sorriso brilhante e balançando
minhas sobrancelhas. – Caso você não saiba, sou o Spider do Vital
Rejects. Nosso quinto álbum acabou de ganhar platina dupla.
– Nunca ouvi falar de você. – ela torce o nariz.
Puta merda. Deixe eu pegar a pessoa que não conhece música.
Atrás de mim, Rose ri, lembrando o tempo em que nos conhecemos
em um avião todos esses anos atrás. – Você não vai mentir sobre a sua
namorada traindo você com alguém - ah, ou talvez um cachorro morto?
Eu lhe respondo: – Minha namorada - também conhecida como
minha esposa - nunca me trairia. Ela está feliz com o que ela tem, se
você quer saber. Seu marido é muito incrível.
– Ele é agora? – Rose diz.
– Não é nenhum segredo que ele é um companheiro de stand-up,
além de um garanhão no quarto.
– Sim, ele é. – ela murmura. – E eu o amo.
A satisfação profunda me atinge. – Você me ama o suficiente para
lidar com essa velhota? Eu não acho que ela ligue para minha aparência,
minhas tatuagens ou minha música.
– Você está falando para si mesmo, senhor? – a bilheteira
finalmente pergunta com a sua sobrancelha franzida sobre os olhos
redondos. Ela está me encarando desde que comecei a falar com a Rose
sem realmente me virar. Acho que pareço estranho. – Preciso chamar o
segurança?
Eu pisco. Segurança? Merda. Realmente perdi essa aposta. Suspiro,
perturbado por não conseguir mais uma guitarra em um avião.
– Deixe-me lidar com ela. – declara Rose, enquanto ela passa por
mim com a bunda em formato de coração balançando em todas as
maneiras corretas quando ela passa na minha frente em seu vestido
frente-única preto. É verão e as pernas dela estão nuas e bronzeadas, e o
cabelo de cobre dela é preso para cima em algum topete que parece

Página 262 de 265


bagunçado e elegante ao mesmo tempo. Com um olhar determinado em
seu rosto, ela caminha até a mesa.
Eu sorrio e vejo como ela faz o que faz melhor: ler as pessoas e
saber exatamente como avaliar suas reações. Suas habilidades vêm a
calhar como nossa publicitária de turnê para a banda, concentrando-se
principalmente em grandes pontos de mídia quando estamos na
estrada. Mila, que recentemente se casou, ainda é nossas Relações
Públicas geralmente, mas ela não viaja conosco.
Rose vasculha em sua bolsa, pega o celular e mostra algo para
Gwen - que decididamente mudou de tom e sorri de orelha a orelha.
Espere...
O que está acontecendo?
Eu me inclino para ver a Rose mostrando suas fotos de Chloe e do
Connor, nossos gêmeos de um ano de idade.
– Eles são adoráveis! – ela diz, brincando com uma foto deles
tocando no Central Park há poucos dias.
Rose sorri. – Eu sei. – ela aponta a cabeça para mim. – E essa
estrela do rock arrogante é o pai deles.
Gwendolyn me dá um olhar crítico, mas acho que vejo uma
suavização lá. – Ele é um bom pai?
Sorrio e apenas fico atrás para esperar pela resposta de Rose. Nós
estivemos juntos nos últimos quatro anos, e cada momento foi um
sonho. Nós passamos pelo inferno descobrindo isso todos esses anos
atrás, mas agora que estou bem, nossos destinos se alinharam.
– Ele é o melhor pai de todos os tempos. – ela murmura baixinho
com a mão sobre o coração.
Belo toque, meus olhos dizem.
Eu aprendi com o melhor, o dela diz em resposta.

Página 263 de 265


Rose pigarreia e se concentra em Gwendolyn. – Então, se você
puder encontrar um lugar para a guitarra em um armário ou depósito,
isso seria fantástico. Normalmente, voamos de primeira classe, mas
trouxemos alguns amigos para ir a Londres e todos decidimos ir juntos
de ônibus.
– Estamos lotados e o armário provavelmente já está cheio. –
Gwendolyn pensa sobre isso com o seu rosto em dúvida.
– Pronto! Graças a Deus! – Oscar diz, enquanto corre até nós,
empurrando os gêmeos em um carrinho duplo. Vestindo seu sobretudo
preto, ele parece confuso. Axe caminha atrás dele, sorrindo.
– Você não mencionou que esses diabinhos são repugnantes com o
cocô deles. Ah, meu Deus, isso é fora de controle. – Oscar exclama com
o seu rosto pálido, enquanto ele olha para eles. – Eles são assim... uma
aparência angelical. Quero dizer, não faz sentido.
Bato no ombro dele e rio. – Você os teve por dez minutos, Cara.
– Dez minutos é muito quando você não consegue respirar por medo
de engasgar.
– Ele é sua babá? – Gwendolyn pergunta a Rose.
Oscar revira os olhos e acena para ela. – Não, Senhora. Sou o
melhor amigo. Estamos todos indo para Londres para passar as férias em
sua nova casa de campo.
Axe levanta a mão. – Sou o noivo. – ele diz para uma Gwendolyn
piscando.
Só então, Chloe solta um choro horripilante e seu rosto se vira, e eu
cedo a sua exigência.
Antes que eu possa fazer isso sozinho, Rose a pega e a acalma,
acariciando-a nas costas, enquanto ela a levanta para cima e para
abaixo. Eu as observo, emocionado. Como se ela me sentisse pensando
nela, os olhos verdes de Rose se afastam de Chloe e encontram os
meus. Eu recebo um burburinho da conexão que sempre esteve entre nós

Página 264 de 265


e o conhecimento de que ela e eu somos duas partes de um todo. Eu
solto um suspiro.
Eu não sou nada sem isso.
Sem ela.
Connor, o mais sossegado, olha para mim com seus grandes olhos
castanhos, e porque eu estou me coçando para estar perto dele, o pego e
o seguro.
Gwendolyn se derrete com à vista. Não fiz isso para ganhar a
aposta, mas ela pegou seu celular e começou a me chamar, e em apenas
alguns segundos nós temos uma comissária de bordo nos ajudando com
o carrinho e a guitarra, que eles conseguiram achar espaço no armário de
casacos.
Alguns minutos depois, estamos sentados com a Rose e eu ao lado
um do outro. Ela segura a Chloe e eu o Connor. Os assentos de Oscar e
Axe estão atrás de nós, e eu sinto que estou no topo do mundo.
É apenas um dia simples, mas são os pequenos momentos que mais
significam, aqueles que moldam as nossas vidas.
Penso no passado e como foi difícil chegar a esse nível de amor.
Fiz coisas auto-destrutivas e magoei as pessoas, e não posso voltar e
desvendar o nó que fiz, mas o passado é o passado e agora... Eu tenho
um futuro.
Eu tenho a Rose.
Eu tenho uma família que me ama.
Eu me inclino e beijo a Rose, como fiz há oito anos, só que desta
vez cada um tem um filho no colo. Olho em seus olhos sorridentes e sei
que ela é minha rocha. – Você é meu tudo. – digo baixinho. – Eu te amo.
Ela irradia felicidade em seu olhar. – Um amor épico... você e eu.

Página 265 de 265

Você também pode gostar