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Preparação
Aline Damasceno
Revisão
Gabriel Marquezini
Assim que ele saiu de cima de mim e fechou o zíper da calça, percebi
que eu ainda estava viva e respirando, por mais que a dor fosse tão forte ao
ponto de me deixar tonta. Naquele momento, desejei ter morrido com a
minha mãe e não ter passado por uma situação assim.
— Tem uma cara de boneca. — Deu uns tapinhas no meu rosto com a
mão livre. — Vai me fazer ganhar muito dinheiro. Amanhã vou colocar você
em um avião, vai ir morar na Europa.
— Não... não quero-ro. — Mal tinha forças para falar. Ainda estava
nua na cama, sentindo-me um lixo.
Não tinha mais lágrimas para chorar, mas continuei chorando. Achava
que a dor de perder a minha mãe fosse a pior que eu enfrentaria, mas não
estava preparada para aquele abuso. Entretanto, quando aquele monstro saiu
do meu quarto, imaginei que o meu pesadelo só havia começado.
Wallace, meu braço direito, disse que as mulheres que eu havia pedido
estavam esperando por mim. Depois de um dia exaustivo de trabalho, tudo o
que eu queria era um pouco de distração.
Desci pela escada de pedra que levava até o calabouço, uma parte do
castelo medieval que um dia fora destinada a prender inimigos de guerra, que
havia sido transformado para atender aos meus desejos. Abri a pesada porta
de ferro, ouvindo-a ranger e me deparei com as duas mulheres paradas no
centro de uma sala ampla com os mais diversos “brinquedos”.
— Concordamos.
— Tirem o sobretudo.
— Ajoelha!
Pesei meu olhar sobre ela e dei outra puxada na sua coleira, fazendo
com que entendesse a minha ordem antes que ela precisasse ser dita. Seus
dedos delicados escorregaram pela braguilha da minha calça, provocando
pequenas pulsações no meu membro pela expectativa enquanto abria o zíper
da minha calça e puxava meu pau para fora da cueca boxer. Sua boca
envolveu o meu pau, seus lábios eram quentes e macios e isso me faz
estremecer. Com uma mão, segurei a coleira, e com a outra, segurei seu rabo
de cavalo, empurrando ainda mais a minha pélvis contra a sua cabeça,
fazendo o meu pau tocar a sua garganta. Ela gemeu com meu membro na
boca e percebi que estava revirando os olhos. Quando o prazer começou a
aumentar, percebendo que se continuasse naquele ritmo eu acabaria gozando,
puxei o cabelo dela num tranco para trás e fiz com que parasse.
Segurei a coleira com uma mão e a sua cintura com a outra, trazendo-a
até mim em trancos firmes, que faziam sua bunda e o rabo sintético pularem.
Ela rebolou contra a minha pélvis e investi com mais força, arrancando
gemidos difíceis de se conter.
Ela fez bico, mas sua cara de pidona não foi o suficiente para me
impedir de levantar da cadeira. Precisava preparar algumas coisas para a
minha breve viagem para a Ucrânia.
Capítulo dois
— Você acha graça, mas fico preocupado com a sua imagem. Não se
envolva em escândalos, por favor.
Assim que desci pela escada do avião, senti uma brisa amena tocar o
meu rosto. A temperatura deveria estar dois ou três graus mais quente do que
na Escócia.
Por mais brincalhão que pudesse ter sido com o Wallace, entendi a
cautela dele e, por isso, o mantinha sempre por perto, para ser meu bom
senso. Wallace trabalhava para mim desde sempre e quando a esposa dele
havia falecido com as complicações de um tumor, tudo o que ele tinha era
aquele trabalho e eu sabia que poderia contar com ele para tudo.
Assenti e fiz um gesto com a mão, sinalizando para que ela fosse na
frente. Não queria apenas que me guiasse o caminho, mas também observar a
forma como seu quadril se remexia a cada passo que dava. Presumi, pela
forma como andava, que estava ali para chamar atenção, pois nenhuma
mulher rebolava tanto naturalmente. Se a sua intenção era não me fazer
desgrudar os olhos da sua bunda, estava conseguindo.
— Negócios de família?
Respirei fundo quando a minha cabeça foi coberta pelo saco preto de
algodão. As fibras estavam presas bem juntas, o que não me permitia ver
nada, porém, possibilitava que eu respirasse sem dificuldades.
O espaço era grande, mas não estava lotado. Presumi que o convite que
me fora feito não se estendia a um grupo vasto de pessoas, apenas a uma
seleção restrita com predileções e dinheiro para estar ali.
Fiz um gesto para que o meu segurança esperasse na porta e segui para
um sofá ao redor de uma mesa redonda, que ficava diante do palco.
Acomodado, reparei melhor no ambiente à minha volta. Presas ao teto,
haviam algumas gaiolas com homens e mulheres dentro, eles dançavam de
maneira sensual, no ritmo da música que tocava ao fundo. Os garçons e
garçonetes estavam de lingerie ou cueca boxer. Na frente das peças íntimas
havia um zíper. Não muito longe de mim, vi uma garçonete segurando uma
bandeja tendo um dos convidados abrindo o zíper da sua calcinha, sendo o
bastante para que eu soubesse que não era um acessório falso.
Estava tão distraído observando o ambiente, que nem percebi que uma
delas se aproximou de mim.
— Pode aproximar seu chip, por favor? É pela bebida. — Esticou uma
pequena máquina.
— Imagino que uma mulher tão doce e frágil não possa me fazer mal
algum.
— Se...
— Sim.
— Ótimo!
Segui com ela até o fim do corredor, onde abriu uma porta, revelando
um quarto escuro com apenas uma luz fraca vinda debaixo da cama redonda,
que tinha amarras para as mãos e pés. Peguei a chave que ela segurava e
fechei a porta atrás de nós.
Ela me olhou e olhou para a cama umas duas vezes, antes de atender a
minha ordem.
— Todos eles?
— Sim. — Engoliu em seco e percebi que suas palavras contradiziam
seus atos.
— Não se preocupa. — Passei uma mão pelo seu rosto até pressionar
seus lábios com o meu polegar. — Não vou machucar você, mas vou amarrar
você e vou te foder. Vou perguntar mais uma vez, quer ir embora?
— Okay!
— Os chefes adoram.
— Sim.
— Gosta disso?
— Sim... — Revirou os olhos e percebi que todos os pelos do seu
corpo estavam arrepiados.
Subi na cama, ajoelhando-me sobre ela. Abri o fecho do seu sutiã, que
prendia na frente, e abocanhei um dos mamilos rosados. Ela se retorceu,
gemendo, não sabia meu nome para gritá-lo, nem eu o seu.
Apalpei o seio livre, fazendo-a arfar, então deslizei a mão pelo seu
corpo, traçando um caminho até o meio das suas pernas, que estavam bem
distanciadas pelas amarras. Toquei o clitóris, antes de escorregar o dedo pela
fissura e penetrá-la. Tentou mover as pernas, para fechar as coxas, mas não
conseguiu. Vi prazer se misturar ao desespero em seus olhos enquanto eu
introduzia e extraía o dedo em seu interior.
Percebi que ela merecia uma recompensa e levei uma das mãos ao seu
clitóris, pressionando a parte enrijecida que dava a ela prazer. A prostituta
fechou os olhos e mordeu os lábios, tentando conter os gemidos que ficavam
ainda mais altos.
— Achei que tivesse que ter medo de você, que faria essas coisas
malucas, como me queimar que nem gado, mas é o primeiro homem que tem
um pingo de preocupação com o meu prazer desde que cheguei nessa droga
de lugar.
— Desculpa. — Encolheu-se.
Ela não tinha como saber, mas eu odiava esse tipo de proximidade.
— Talvez seja.
Capítulo três
Queria dizer que ela não era a única, tudo o que desejava era voltar
para a vida que tinha antes da minha mãe morrer, porém, não sabia mais o
que esperar caso voltasse para casa. O lar que meu pai e minha mãe haviam
construído com tanto suor e dedicação, provavelmente pertencia ao novo
marido dela, o monstro que havia apagado uma luz que existia dentro de
mim. Se eu voltasse, ele iria me vender para os traficantes outra vez ou faria
algo pior.
Percebi que havia deixado cair por terra o fato de não querer transar na
frente de ninguém. Ao menos estava vestido e meu pênis muito bem
encaixado dentro da dançarina. Ela continuou rebolando no meu colo, dando
leves quicadinhas como se estivesse dançando. Tomei um gole de uísque,
com a mão na sua cintura, incentivando-a a continuar. Só a deixaria levantar
quando eu tivesse gozado.
Soltei a cintura dela, quando tombei o corpo para trás, ofegante, e fui
obrigado a segurar no sofá para não deitar nele. Sorrindo, a dançarina se
levantou e correu para trás do palco.
Movi a cabeça a tempo de ver Bryan entrar no bar. Ainda que usasse
uma máscara, tendo o visto colocá-la, tornou-o praticamente inconfundível
para mim. Estava um tanto despenteado e com a roupa amassada, me levando
a crer que eu não era o único aproveitando o lugar.
— Qual de vocês não quer uma escrava sexual, uma mulher para
atender seus desejos dia e noite, inteiramente sua? Os prazeres dessa noite
podem se estender por várias outras....
— Hoje, não temos apenas uma virgem, mas duas para satisfazer os
seus desejos.
Custei para perceber que o Bryan estava sentado ao meu lado, e nos
entreolhamos. A expressão de espanto não era restrita apenas a mim.
— Isso é errado.
— Sei que essa é uma dúvida que muitos de vocês têm, então iremos
mostrá-los um exame ginecológico aqui no palco.
— Ah, deveriam pelo menos mostrar a bocetinha dela antes desse cara
arrancar o cabaço.
Levantei a cabeça e olhei para frente, notando o homem alto que estava
parado, segurando um copo com bebida. Ele tinha ombros largos, a barba
estava por fazer e os olhos eram azuis, penetrantes, profundos e firmes.
Recordei-me de que aqueles olhos foram a última coisa que eu vi antes de
desmaiar completamente, devido às coisas que haviam injetado em mim. Não
sabia o que era, mas tinham o efeito suficiente para me deixar acordada, mas
inofensiva, sem força para falar ou gritar, muito menos lutar contra as
barbáries que estavam fazendo comigo.
— Você fala a minha língua?
— Para a Escócia.
— Você está com fome? — Sentou ao meu lado no sofá e eu fui parar
na outra extremidade, recuando o máximo que consegui.
— Tem salada, mas imagino que precise de algo mais forte. Parece tão
abatida, tadinha. — Colocou a bandeja na minha frente enquanto exibia para
mim um sorriso terno.
— Isso é seu? — perguntei para o homem, que agora era o meu dono,
ao apontar para o blazer de terno que estava sobre mim. Não era difícil
deduzir, já que ele estava apenas com uma camisa branca.
— Sim.
— A... ela...
— Quer dizer a outra mulher que estava sendo leiloada junto com
você?
Morri de medo do que poderia ter acontecido com ela. Quem seria esse
outro cara? A qual destino ele sentenciaria a pobre mulher jogada nesse
pesadelo como eu? Por mais que quisesse me preocupar com ela, precisava
me atentar aos meus próprios problemas.
Seguimos por uma estrada cercada por muros de pedras num tom bege,
ora cinzentas ou avermelhadas. A estrada nos levou através de um portão
para uma entrada com uma enorme porta preta. O carro parou e nós saímos
de dentro dele. Fiquei alguns segundos admirando a arquitetura esplendorosa
daquele lugar. Era como se eu tivesse sido transportada para um filme
medieval. Quem em pleno século vinte e um morava em um castelo? Pelo
visto, o homem que havia me comprado morava.
— Portuguesa?
— Não, brasileira.
— Qual o nome dele? — perguntei para o Wallace, antes que ele fosse
embora e me deixasse sozinha.
— Do senhor?
Fiz que sim. Ele não havia me falado, e nem tinha ouvido alguém
chamá-lo pelo nome.
— Logan, Logan Mackenzie, mas ele não gosta de ser chamado pelo
nome. Então, sempre o trate como senhor.
Havia feito uma boa ação que me custara uma pequena fortuna, mas
iria poder deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo. Salvar uma era
como uma gota no oceano, não é mesmo? Esperava que o Bryan fosse outra
gota, pois havia o visto arrematar a outra mulher e, pela sua expressão, ele
estava tão indignado quanto eu. Ao menos duas não seriam transformadas em
escravas sexuais.
— Senhor?
Levantei a cabeça e tirei o cotovelo da mesa quando o Wallace entrou
no meu escritório. Ele ainda estava com a mesma expressão de espanto que
havia tomado o seu rosto quando apareci na porta do jato segurando uma
mulher desacordada e seminua nos braços. Não falei nada para ele, disse que
explicaria depois. Previ que estava ali para ter a sua resposta.
— Fecha a porta! — Fiz um sinal e ele passou por ela, fechando-a atrás
de si. — Senta! — Apontei para a cadeira de estofado vermelho que ficava
diante da minha mesa de madeira escura, assim como a textura que cobria as
paredes do meu velho escritório.
Wallace não era apenas um empregado dez anos mais velho do que eu,
que trabalhava como meu braço direito, resolvendo problemas pessoais e
profissionais. Era o mais perto de um melhor amigo que eu possuía. Durante
o tempo juntos naquele enorme castelo, era meu confidente e maior aliado.
Passei a mão pelo meu cabelo escuro, puxando o topete para trás,
respirando fundo antes de começar a falar.
— Eu a comprei.
— Então tem um novo fetiche por tirar virgindades? Vai trepar com ela
e a mandar de volta? Não seria mais fácil se tivesse trepado com ela no
avião? Só não entendo porque ela parecia tão assustada e chapada.
— Para que outro não comprasse e fizesse dela uma escrava. Você
precisava ver o que fizeram a ela e outra mulher. Expuseram-nas nuas como
se fossem objetos. Perdi a cabeça e ofereci um lance irrevogável por ela.
— Não! É óbvio que não. — Como ele ainda poderia cogitar em uma
coisa dessas?
— Vá até o vilarejo, compre roupas para ela e consiga dez mil libras.
— Entregue para ela. Imagino que seja o suficiente para comprar uma
passagem de retorno para o lugar de onde veio. Certamente não é escocesa, já
que se esforça para nos entender.
— Foi você?
— Obrigada!
— O que ele vai fazer comigo agora? Devo ficar aqui no quarto
esperando que ele venha transar comigo?
— Ele não transa nos quartos — balbuciou, e percebi que havia algo
sobre aquele homem que eu não sabia.
— Para onde devo ir, então? — Tentei impedir que a minha respiração
acelerasse demais, mas estava tensa e preocupada. Imaginava o quanto
pudesse ser assustador e doer quando aquele homem satisfizesse os desejos
dele comigo.
— Para casa.
— Sim, menina, para o lugar de onde você veio. O senhor não pretende
tomar você como escrava sexual dele, só a comprou para tirá-la daquele circo
de horrores. Mandou que desse um dinheiro para você e a levasse para o
aeroporto de Edimburgo. Assim que quiser ir, eu vou contatar o piloto.
— Sim, claro.
— Obrigada!
Queria voltar para casa, queria muito. Porém, fui tomada por pavor
quando me recordei de que, a casa que tanto amava, o lar feliz onde cresci na
companhia dos meus pais, não existia mais. Quando a minha mãe morreu,
pelo menos parte da casa deveria ter ficado para o meu padrasto. O mesmo
homem que me mostrou a dor das mais diversas formas. Ainda que ele não
tivesse direito a nada, como agiria se soubesse que eu voltei? Poderia ser
vendida de volta, ou pior, morta.
— Mais um pouco?
— Espera!
— Não posso ir. — Sabia que era mais não querer do que não poder,
de fato. Se saísse de perto daqueles homens, quem iria me proteger dos
bandidos?
— Não. É bem provável que não. — Pela forma como franziu o cenho,
tive certeza de que havia colocado-o para pensar.
Mamãe sempre dizia que eu era uma menina esperta, que conseguia
usar a situação ao meu favor e, talvez por isso, houvesse conseguido
sobreviver aquele tempo nas mãos dos traficantes. Por mais que o meu inglês
fosse razoável, nunca havia feito uma viagem internacional antes, no entanto,
para viajar dentro do Brasil sempre precisei do meu documento de identidade
e o equivalente internacional era o passaporte, que eu não tinha.
— Você disse que eu não sou uma prisioneira aqui. — Usei suas
palavras contra ele.
— Pode andar pelo castelo, mas não abra nenhuma porta que esteja
fechada, nem perturbe o senhor.
— Obrigada!
Torcia para que eles fossem tão bons quanto estavam se mostrando e
aquele castelo no meio do nada fosse um recanto seguro.
Capítulo oito
— Achei que tivesse sido claro sobre dar um dinheiro para ela e a levar
para o aeroporto, para que pudesse voltar ao lugar de onde veio.
— Farei isso, mas sabe que essas coisas podem demorar, não é?
— Sim.
— Eu.
Nunca fui o tipo de cara que ria e brincava, contudo, depois de ela ter
acordado tão drogada e assustada no meu avião, gostei de vê-la daquela
forma.
Fiz o que fiz sem esperar aquela expressão de gratidão no rosto dela.
Deparar-me com aquilo me deixou estranho e incomodado.
— É sim.
Aquilo era verdade, mas dizer aquilo foi mais uma das coisas que disse
puramente por impulso diante de toda a indignação que aquele leilão causou
em mim.
Não queria ficar conversando com aquela mulher, pois sentia que ela
mexia com algo dentro de mim que me fazia perder o controle. A coisa que
eu mais odiava era não estar no controle de tudo.
Capítulo nove
— Tão bonitinha, tem uma carinha de menina. Faz muito tempo que
não fodo uma boneca assim.
— O que está acontecendo? Você não para de gritar. Ouvi a sua voz lá
do meu quarto. Acho que está ecoando pelo castelo todo.
Ele arqueou as costas para trás, surpreso com o meu abraço, como se
quisesse fugir dele. Não retribuiu o meu abraço, envolvendo-me nos braços
firmes e fortes dele como eu desejava que fizesse, mas também não me
empurrou para trás.
Antes que eu pudesse implorar para que ele ficasse, para que me
esperasse dormir, Logan já havia ido embora e me deixado sozinha outra vez,
porém, consegui dormir com o som da sua voz ecoando na minha mente e me
dizendo que eu estava segura.
Acordei quando o sol mal havia raiado e segui para a destilaria, que
ficava às margens de um lago, a dez minutos do castelo. Parei o carro na
porta, mas não entrei no prédio, segui até um banco de ferro e fiquei olhando
a água parada. Profunda e densa, era impossível de se saber quantos metros
tinha ou o que havia embaixo.
Havia deitado há pouco após conversar com o Wallace, que ainda não
tinha o contato certo da pessoa no consulado brasileiro que pudesse ajudá-lo
com a situação da Camila. Não tinha pegado no sono, geralmente demorava,
quando ouvi os gritos dela, ecoando como se estivesse sendo torturada. De
fato, sonhar com o que havia passado deveria ser alguma espécie de tortura.
Voltei para o castelo quando já era quase fim da tarde. O sol baixo
tingia o céu de laranja, tornando ainda mais avermelhadas as folhas secas das
árvores na propriedade.
— Estou indo!
— Não pedi para você ir lá para descobrir se ela é ou não legal. Tudo
que precisa é conseguir um passaporte para que ela volte para o Brasil.
— Conseguir um passaporte e torná-la legal pode ser complicado, mas
podemos entregá-la para a imigração. A moça será detida e deportada quando
o caso for processado.
— Ótimo!
— Okay!
— São amigos?
— Não sei se seria a melhor palavra, mas ele está cuidando de mim,
por enquanto.
— Do Brasil.
— Quem sabe eu consiga, mas meu marido não é um homem que gosta
muito de sair. Só para levá-lo para uma consulta em Edimburgo é uma luta
danada.
— Poder pode, mas não precisa comer aqui na cozinha, pode ir até a
sala de jantar.
— O que foi?
Encarei a Elga, que fez que sim com a cabeça antes que eu me
levantasse e seguisse o Wallace para o corredor. O homem colocou as mãos
nos bolsos do terno antes de levantar a cabeça e olhar para mim.
— Não só ele, mas você também, Wallace. Sempre serei muito grata.
— Nem pensar.
Torcia para que todo aquele incômodo fosse embora junto com a
Camila, mas, dada a atual situação, teria que lidar com isso por mais tempo
do que o planejado. Certamente não havia medido qualquer consequência ao
me levantar e oferecer um milhão por ela. Não foi apenas o dinheiro...
Havia trazido para dentro da minha casa uma completa estranha com
nítidos traumas.
— E... eu... eu... — gaguejou, sem conseguir formar uma frase inteira.
Tinha certeza de que isso não era por dificuldade com a minha língua.
— Gosta de chocolate?
— Sei disso, mas estava com saudades de fazer algo bom e prazeroso.
Eu amo bolo de chocolate, mas não comi mais desde que a minha mãe
morreu. Sei que, se eu dormir, vou voltar a ter pesadelos, preferi empenhar o
meu tempo e meus esforços em algo melhor e menos aterrorizante.
— Assim como?
— Implica sim.
— Acha que eu estaria num lugar como aquele onde nos encontramos
se eu fosse um homem casado? — Mantive o tom frio, mas, dessa vez,
Camila não se encolheu diante da minha resposta ríspida.
— Faz sentido. — Esboçou um sorriso. — Sabia que vendiam
mulheres?
— Claro que não! Achei que eram apenas putas e um sexo diferente.
Apenas dei de ombros, sem uma resposta objetiva. Não havia feito
aquilo pela gratidão dela nem de ninguém, apenas por seguir um impulso
idiota da minha consciência.
— Quantos anos você tem? — Era difícil não olhar para ela e pensar
que era uma menina, por isso tantos idiotas naquele clube haviam ficado
alvoroçados quando colocaram os olhos nela.
— Eu?
— Vinte e nove.
Não consegui dormir, para ser honesta, nem tentei. Ficava apavorada
só de pensar que meus sonhos me levariam de volta aos momentos mais
terríveis e angustiantes da minha vida. Sentia-me feliz pela primeira vez em
meses. Até bolo eu comi.
Fiz que sim, era mentira, mas não queria falar para ela sobre o que eu
tinha passado. Gostava muito da forma como sorria com os olhos toda vez
que me via, não queria que essa expressão fosse substituída por um olhar de
pena.
— E você?
— Sempre gostei de fazer bolos, quando era mais nova e não podia
mexer com o forno, minha mãe colocava o bolo por mim e ficava vigiando-o.
— Suspirei ao me recordar dela com saudosismo, era uma época em que as
coisas eram tão diferentes.
— Bom saber que tem esse talento todo, posso recorrer a você quando
o senhor quiser algo de confeitaria, pois confesso que o meu forte são os
pratos salgados. Sei fazer um ensopado de peixe divino.
Terminei meu café da manhã e comi mais uma fatia do bolo que havia
preparado na noite anterior. Ofereci a minha ajuda para Elga, que iria
começar a preparar o almoço, mas ela se recusou, incentivando-me a ir fazer
outras coisas. Afinal, eu era uma hóspede ali e não uma empregada.
Estava encucada que, nem ela ou nenhum outro empregado com quem
cruzei pelos corredores daquele castelo ou no jardim, havia me perguntado o
motivo de eu estar ali. Como não vi nenhuma pena ou espanto nos olhos
deles, imaginei que não soubessem que eu havia sido leiloada. Ou Wallace e
Logan haviam contado alguma outra história ou simplesmente eram bem
menos curiosas do que as pessoas no Brasil.
— Não pode andar pelo castelo e entrar onde bem entende. Você não
está em casa. Estou fazendo um favor para você por ainda mantê-la aqui. Não
morda a mão que a alimenta.
— Disse para você que não sou um homem bom, nem gentil, Camila.
— Você é um sádico?
— Agora tudo faz sentido... — Dei passos cambaleantes para trás, até
conseguir correr.
— O que aconteceu?
— Assim eu espero.
— O que foi?
— Sim.
Estava muito irritado, mas não sabia se era com a Camila ou comigo
mesmo, por tê-la colocado dentro da minha casa sem medir os riscos que isso
poderia causar.
Capítulo quinze
— Camila?
Abri a porta, mas dei vários passos para me afastar o máximo possível
antes que ele entrasse no quarto.
— Sim, mas você não tem nada a ver com isso, garota. Se não quiser
deixar o senhor bravo o suficiente ao ponto de ele entregá-la para a polícia de
imigração, é melhor que fique bem longe daquele lugar, ouviu bem?
— Ótimo! O senhor já está sendo muito bom com você, mais do que
eu o vi fazer por qualquer outra pessoa, então não abuse.
Mais uma noite eu não consegui dormir. Contudo, dessa vez, não sabia
se poderia culpar os horrores que vivi. A verdade era que não conseguia tirar
o que tinha visto da cabeça. Havia um medo tremendo, mas uma curiosidade
maior ainda. Era brincar com o perigo, sabia bem disso.
Levantei da cama e fui até a porta. Abri, mas não vi ninguém. Será que
era coisa da minha cabeça? Logan provavelmente estaria dormindo e não
iria me ver se eu bisbilhotasse um pouco mais, iria?
Desci as escadas, segui pelo corredor até o pátio e depois pelo corredor
lateral que levava a escada para o subsolo, a masmorra. Ouvi um gemido
antes de pisar no último degrau. O barulho me congelou. O que estaria
acontecendo lá dentro?
Cogitei voltar para trás, era melhor não ver e não ficar ainda mais
assustada, mas a minha curiosidade, ou talvez a minha simples estupidez,
falou mais alto. Desci o restante da escada e me aproximei da porta.
Ele se virou na direção da porta, mas antes que ele me visse, saí
correndo, subindo a escada e voltando para o meu quarto.
O coração voltou a acelerar. Contudo, houve algo que eu senti além do
choque e da surpresa. Talvez uma pontada de ciúme. Desde que ele havia me
abraçado em meio ao pesadelo e nossas mãos se cruzaram, não conseguia
parar de pensar no quanto queria mais dele. Sentia que a salvação que ele me
oferecia estava além de um teto para dormir, roupas limpas e uma passagem
de volta para casa. Porém, para ter o Logan, eu precisava me sujeitar aquilo.
Estaria disposta depois de todos os momentos humilhantes e assombrosos
que eu havia passado? Não sabia dizer, precisava pensar.
Capítulo dezesseis
— Bem.
— Liguei para dizer que vou para casa no fim do mês, passar alguns
dias com você.
— Não está em casa agora?
— É, mãe? Não tenho tanta certeza disso, você nunca gostou desse
lugar. Na verdade, ainda me pergunto se gostou de alguma coisa na vida,
considerando a quantidade astronômica de vezes em que você se divorciou.
— Eu gosto de você.
— Era de se prever.
— Querido, achei que iria ficar feliz em saber que estou indo aí.
— A minha mãe.
— O que ela quer? — Seus olhos já estavam até mais abertos. Tocar
naquele assunto acabou acordando-o de vez.
— Disse que vai vir para cá. Transfira umas cem mil libras para ela e
garanta que minha mãe nem pisará no aeroporto de Edimburgo, não estou
com tempo nem paciência para lidar com ela.
Nos próximos dias que se seguiram desde que eu o vira com uma
prostituta na masmorra, mal vi o Logan, mas o Wallace estava sempre de
olho em mim. Parecia uma babá, e eu, uma criança de cinco anos que iria
aprontar a qualquer momento. Felizmente, ele não se impôs contra eu ficar
próxima a Elga. Por mais que elas fossem fisicamente diferentes, a cozinheira
fazia com que eu me lembrasse da minha mãe e me deixava muito feliz.
Gostava muito de ouvi-la e estar perto dela. Durante aqueles dias, aprendi
várias receitas escocesas.
— Seu prato está ali. — Apontou para o balcão. — Não sabia onde
encontrá-lo para servi-lo.
— Não tem família? — Ele me analisava com o olhar. Torcia para que
não notasse o óbvio, eu não queria ir embora.
— Okay!
Não queria voltar para o Brasil no dia seguinte, procurar a minha avó,
que deveria acreditar que eu tinha morrido, contar para ela que tinha sido
estuprada, entregue ao tráfico e vendida. Isso, na melhor das hipóteses,
porque meu padrasto poderia fazer tudo de novo, se descobrisse que voltei,
ou me matar com medo de que eu o denunciasse para a polícia. Poderia ser
nova, mas era esperta o suficiente para saber que nunca mais teria de volta a
vida que tive antes da minha mãe me deixar sozinha com o meu padrasto.
Saí do banho, sequei meus cabelos com uma toalha felpuda e macia e
os penteei, delineando as ondas com os dedos, para que ele ficasse o mais
bonito possível sem um secador ou uma prancha. Mordisquei os meus lábios,
esfregando os dentes até que eles ficassem mais vermelhos do que o comum.
Escolhi um vestido azul simples e pouco decotado. Ele era discreto, mas
pareceu melhor do que jeans e camiseta.
Olhei pela janela e percebi que o céu já estava escuro, sem nuvens e
cheio de estrelas. Uma vantagem de estarmos afastados, no meio do nada, era
que, com menos poluição, poderíamos observar melhor as estrelas.
— Camila? — ele falou meu nome, deixando-o ecoar por todo o quarto
enquanto eu estremecia com o som grave e entorpecedor da sua voz.
Não respondi, apenas terminei de andar até ele e parei na sua frente,
colocando as algemas no seu colo. Logan olhou para o objeto e depois para
mim pelo menos umas três vezes, tentando entender o que estava
acontecendo.
— Você disse que não faz as mulheres sentirem dor. Eu quero saber o
que é não sentir dor. — Ao dizer aquilo, senti que estava tomando de volta o
controle sobre meu corpo.
— Já não acha que pagou o suficiente por mim? — De fato, ele havia
pagado muito, me comprando em um leilão para fazer o que quisesse comigo,
porém, desde que chegamos àquele enorme castelo, não fizera nada a não ser
me dirigir a palavra um punhado de vezes.
— Por que está fazendo isso, Camila? Sabe que não precisa. O Wallace
disse que seus documentos estão prontos e você pode ir embora.
— Não, sei que não preciso, mas eu quero. — Uni meus pulsos e
estendi para ele, dizendo silenciosamente que queria que me prendesse com
as algemas. — Me leva para a masmorra.
— Ou posso gostar.
— Sei disso.
— É o que quer?
Eu vi o brilho nos olhos dele e percebi que, pela primeira vez desde o
início daquele pesadelo, eu tinha vencido.
Ele colocou sobre uma mesa de canto a bebida que estava na outra mão
e me guiou para fora do quarto sem falar nada. A cada passo que dávamos
pelo corredor, aproximando-nos da masmorra, maior era a minha ansiedade,
que fazia o meu coração disparar e a minha boca ficar seca.
Ouvi o som de uma gaveta sendo aberta e não me movi nem mexi a
cabeça, mantendo o meu olhar fixo em um ponto da parede. Fiz de tudo para
não parecer amedrontada e acho que consegui.
Fiz que sim, mantendo-me ajoelhada, mas com o olhar firme nele,
esperando as instruções que tinha para mim.
— Lembre-se de que isso pode durar horas. O mundo não vai acabar
amanhã.
— Okay, Logan.
— Senhor — corrigiu-me.
— Tira o vestido.
Sua ordem cortou minha respiração. Sabia que, mais cedo ou mais
tarde, estaria nua diante dele e em seus braços. Porém, as coisas seriam
diferentes daquela vez, ao menos era isso que eu esperava.
Ele segurou meu braço direito, escorregando a ponta dos dedos longos
e delgados pela minha pele, provocando um delicioso formigamento até que
segurou o meu pulso, levando-o até uma das pontas da cama e prendendo-o
com uma amarra e puxou até que ficasse bem justo ao redor do meu pulso.
Ele escorregou na cama, assim como as suas mãos pela lateral do meu
corpo, até voltarem para a minha cintura. As mãos dele, apesar de firmes,
eram sedosas e se não provocassem uma enxurrada de sensações, seriam
como um tecido macio escorregando por mim. Buscou meus olhos e percebi
que seu olhar estava carregado de desejo, ver o quanto deixou-me ainda mais
empolgada com tudo.
A ansiedade pelo que ele faria a seguir, era tão intensa que me fazia
balançar de um lado para o outro, mas com os braços e pernas atados, eu
ficava apenas me sacudindo e isso parecia diverti-lo. Maldoso...
— Seu hímen ainda está aqui, isso significa que vamos precisar ir mais
devagar.
— Liga...
— E se eu não quiser?
— Por favor...
— Sou eu quem dá ordens aqui, Camila. — Seu olhar ficou mais firme
e eu me encolhi.
— Sim, senhor.
Tentei levantar o meu quadril, levar o meu corpo a ele, mas era
impossível e isso estava me deixando aflita. Queria demais e Logan parecia
não ter percebido, ou apenas estava brincando comigo.
— Quero ouvir em voz alta. Fala para o seu senhor, o que você quer?
A dor veio, como Logan me disse que viria, estava preparada para algo
muito mais intenso e traumatizante, mas não houve nada disso. Depois da
sensação ser rasgada, que veio logo após a penetração, Logan começou a se
mexer, espalhando o gel de pimenta para além do local onde ficava meu
hímen, e a ardência dele amenizou a dor, anestesiando-a. Pouco a pouco, fui
levada de volta para a sensação de prazer. Era deliciosa, era intensa e os
beijos ferozes do Logan aumentavam ainda mais meu prazer. Poderia estar
amarrada, com meus movimentos completamente reduzidos, mas me senti
livre. Livre dos fantasmas e livre da dor. Poderia recomeçar ali e era
exatamente isso que queria.
Ele voltou a deitar sobre mim e puxou meu cabelo pelo rabo de cavalo
e lambeu meus lábios, antes de voltar a enfiar a língua dentro da minha boca.
Havia ficado com alguns garotos na escola, mas nada se equiparava a
selvageria e a fome com que os lábios dele encontravam os meus.
Em meio ao vai e vem que estava nos levando pouco a pouco ao total
esgotamento, eu o senti pulsar, derramando-se dentro da camisinha antes que
a fricção dos nossos corpos me mostrasse o que era gozar com ele dentro de
mim.
Não podia negar que, durante esse tempo que convivi com ela, senti
desejo e muita atração. Contudo, não iria me impor contra os limites dela. Era
um homem que construía muros e não gostava que os transpusessem, dessa
forma, respeitava os muros das outras pessoas.
— O que foi?
— Sei que já fez muito por mim, mais do que qualquer outra pessoa
faria. — Soluçou e fugiu do assunto.
Por que diabos ela queria continuar ali? Isso era estranho e
inesperado, principalmente depois dela ter visto um lado meu que apenas o
Wallace conhecia.
— Camila, olha...
— Camila, ouça bem, o que eu faço aqui nessa masmorra vai muito
além de amarras. Não é prudente se arriscar assim.
— Então, o que quer que vá fazer comigo não se compara a ter aqueles
nojentos se divertindo enquanto revezavam a minha bunda.
Engoli em seco diante da forma fria com que ela disse aquilo. Camila
era uma sobrevivente e isso me deixou abismado. Poucas passavam por
traumas como o dela e continuavam de cabeça em pé, lutando para se
manterem vivas. Aquela coragem e força de vontade me fez admirá-la, um
sentimento que quase ninguém me despertou ao longo da vida.
— Quero!
— Sabe que é livre para ir quando bem desejar.
— Ótimo! Se estiver tudo bem, peça a ele que receite para você um
anticoncepcional ou coloque um DIU, o que deixar você mais confortável.
— Sei que tem gostos sádicos, mas, posso ter entendido errado, achei
que não fosse tocar na garota. Uma escrava sexual é desprezível.
— Ela está aqui porque quer, Wallace. Pediu para ficar por mais
tempo até encontrar um lugar seguro para ir. Enquanto isso, vou unir o útil ao
agradável, afinal de contas, ela é linda. Contudo, não pense que estou
mantendo-a aqui contra a sua vontade ou a explorando, Camila é livre para ir
quando bem entender.
— Wallace!
Rolei na cama, sentia que, se levantasse, iria ter dificuldade para ficar
de pé, por mais que minhas pernas não estivessem mais bambas. O momento
que havia compartilhado com o Logan havia sido tão irreal que temia ter sido
um sonho. Confesso que, quando me joguei nos braços dele, cogitava que
pudesse ser horrível, traumatizante e dolorido, porém, excedeu positivamente
qualquer uma das minhas expectativas. Gostei de cada minuto, desde o
instante em que ele me amarrou, até tê-lo dentro de mim.
Ouvi uma batida na porta e, por reflexo, me cobri com o cobertor, por
mais que estivesse vestida.
— Sim?
— Posso entrar?
— Ah, sim! — Fiquei sem jeito. Que tonta eu tinha parecido, como se
não soubesse que o Wallace estava sempre muito bem informado sobre tudo.
— Ora, por que não? Não faz bem sair sem se alimentar.
— Que ótimo! Fico feliz. Fiquei sabendo que você ia embora e essa
notícia me deixou muito triste, que bom que decidiu ficar.
— Para onde estamos indo? — perguntei curiosa. Será que iríamos até
o médico a pé? Não era por ser preguiçosa, mas não via nenhuma construção
num raio de quilômetros. Ir andando até a cidade mais próxima poderia levar
horas.
— Coloca o cinto.
Soltei meu cinto e pulei para fora do helicóptero, aceitando a mão que
ele havia estendido para mim.
— Wallace?
— Isso tem alguma coisa a ver com o massacre inglês à cultura das
Terras Altas? — Ainda me lembrava um pouco das coisas que havia visto em
uma série de TV.
— Não tenho certeza, mas acredito que sim, apenas recentemente foi
permitido voltar a ensinar gaélico. Quase não conheço pessoas que falem,
acho que apenas o senhor. O avô do senhor ainda era muito arraigado à
cultura, pois os pais dele ainda tentavam manter tudo às escondidas do
governo britânico.
— Ah, obrigada. — Sorri sem jeito. Nem queria pensar no que ele
tinha ou não deixado de ver.
— Sim.
Apenas segui os dois até uma garagem dois níveis abaixo, no subsolo,
e Jax saiu dirigindo por alguns minutos até chegarmos diante de um pequeno
hospital. Durante o caminho, fiquei observando o castelo de Edimburgo no
alto de uma colina. Era tão lindo quanto o que Logan tinha, porém, maior.
Quis ter um celular naquele momento para tirar algumas fotos. Me perguntei
se poderia comprar um notebook e um celular para mim quando saísse às
compras com o Wallace, tudo iria depender do limite do cartão de crédito.
— Não é escocesa, é?
— Sou brasileira.
— O que foi?
Assenti. Não tinha escolhas, mas, no fundo, estava com muito medo.
Não bastava todo o inferno que aqueles traficantes haviam me feito passar, se
eles tivessem me passado alguma doença, as minhas chances de continuar
com o Logan seriam brutalmente reduzidas, ou ficariam nulas.
— Fiz todos os que você pediu. — Tirei um papel, que havia dobrado e
colocado no bolso, e entreguei a ele. — Essa é a receita do medicamento
anticoncepcional.
Estava tão empolgada andando pela loja que precisei me conter para
não dar pulinhos de felicidade. Meu conto de fadas não se restringia apenas a
um castelo, afinal. Entrei para o provador e a vendedora me entregou o
vestido. Vi o preço e engoli em seco, nem sabia o quanto eram seiscentas
libras em reais, porém, certamente era mais dinheiro do que havia segurado
por toda a minha vida. Wallace tinha falado para eu maneirar, mas não teria
me levado até aquele shopping se eu não pudesse comprar as roupas que
eram vendidas ali.
— Lindo, não é?
Percebi que Jax iria dizer que sim, mas apenas balançou a cabeça em
afirmativa.
— Pode.
— Vai que algum dia o Logan decide me levar para um lugar mais
ensolarado?
Não sabia quanto era o limite daquele cartão, mas achava que o
Wallace fosse me advertir antes que eu estourasse.
Ele me mostrou vários modelos, mas optei pelos mais simples, para
que o Wallace não achasse que eu estava exagerando demais.
— Camila!
Quando voltamos para o helicóptero, com sacolas que não cabiam mais
nas nossas mãos, eu estava feliz e ciente que só dependia de mim para ter um
recomeço. As oportunidades me foram dadas e eu faria de tudo para agarrá-
las.
Capítulo vinte
— Eu gosto.
Reparei bem nela antes de cogitar atender o seu pedido. Estava linda.
Não que já não fosse, mas estava arrumada. O cabelo arrumado, penteado e
liso; os olhos castanhos marcados por uma linha preta; os lábios ressaltados
por um batom vermelho; usando um vestido do mesmo tom, que se moldava
às curvas para lá de provocativas do seu corpo.
— Bom. — O meu tom frio não foi o suficiente para apagar o sorriso
nos lábios dela.
— Obrigada!
— Não me provoque.
— O ou quê? — Continuou subindo o pé, até aproximá-lo da minha
virilha.
— O que mais?
Soltei o talher que ainda estava em uma mão e dei a volta na mesa.
Puxei-a pelo cabelo e fiz com que se levantasse, encarando profundamente os
meus olhos.
— Eu não vou pegar tão leve com você essa noite — disse, antes de
colocar a minha língua de volta na boca dela.
Jogar com ele era um teste apenas para o coração, mas para o restante
do meu corpo, que beirava o colapso toda vez que ele me encarava ou tocava.
Achei que Logan fosse me levar para a cama, mas ele me segurou e fez
com que eu me agachasse outra vez. Caminhou até a cômoda e eu o
acompanhei com o canto de olho, com o coração alternando entre batidas
lentas e desesperadas. O que ele iria fazer comigo a seguir era sempre uma
incógnita. Passou algo de couro diante dos meus olhos e envolveu o meu
pescoço. Imaginei que fosse um simples colar, até que ele puxou meu
pescoço para trás. Uma coleira! Pensei em protestar devido ao susto, mas não
estava, de fato, me machucando.
Pegou algo, que só notei ser uma venda quando o aproximou do meu
rosto. Balancei a cabeça em negativa e cerrei os dentes.
— Quero poder olhar nos seus olhos e ter certeza que é você enquanto
tudo acontece.
Poderia negar para mim mesma e para todo mundo que não haviam
ficado sequelas, mas, no fundo, ainda era guiada pelo medo.
Dessa vez, não houve dor e me senti no meu paraíso particular. Nos
movíamos quase que instintivamente. Ainda estava com as mãos atadas, mas
o fato de ter minhas pernas livres, me ajudava a levar meu corpo até o Logan
sem esperar que ele viesse até mim. Meus gemidos se tornaram mais audíveis
e Logan puxou a coleira, levando a minha cabeça para trás, até que eu a
apoiasse no seu ombro.
Embriagada por cada onda de prazer que me varria, até que fosse
levada ao orgasmo novamente. Assim que Logan apertou um dos meus seios,
que já estava altamente estimulado pelo prendedor de mamilo, eu desvaneci
nos braços dele, sendo sustentada pelas amarras que atavam meus pulsos. Ele
continuou se movendo, dessa vez com mais força, até que senti um líquido
quente jorrar para dentro de mim.
Só depois que ele falou isso que percebi que o esperma dele estava
escorrendo pelas minhas pernas. Ao me tocar que havíamos transado sem
camisinha, fez sentido a preocupação dele em saber se eu possuía alguma
doença e para que eu usasse algum método contraceptivo. Era provável que
transarmos sem camisinha fosse se tornar um hábito.
Iria me virar para encará-lo e comentar alguma coisa, mas antes que eu
fizesse isso, ele foi embora e me deixou sozinha, nua e completamente sem
forças.
Capítulo vinte e dois
— Sim, senhor!
— Podemos falar na sua língua — disse uma das mulheres, sem tirar
os olhos de mim. Percebi que, se dependesse dela, o nosso acordo seria
fechado sem qualquer restrição.
Não havia legenda, nenhum texto, apenas uma imagem, porém, achei
que dispensava explicações. Uma imagem valia mais do que mil palavras,
como costumavam dizer. Na foto, Camila estava com uma meia-arrastão de
corpo inteiro, que cobria dos seus tornozelos aos pulsos e, ao mesmo tempo,
mostrava tudo através dos quadriculados enormes, que pareciam uma rede de
pesca. Como se não bastasse a roupa, ela estava em um ângulo que me
deixava ver parcialmente o seu sexo. Para completar, havia um buraco na
meia para deixá-lo de fora. Dei zoom na foto, observando a forma como os
mamilos dela se espremiam para passar pelos buracos da meia. Fiquei duro e
senti o meu rosto arder, sendo impossível de evitar. Tinha certeza de que, se
estivesse sozinho no meu escritório, acabaria batendo punheta para a maldita
foto. Aquela menina tinha ficado louca?
Estava puto, talvez não devesse, mas estava. Puto por ter ficado tão
excitado.
Não tive tempo para pensar direito, foi só um impulso. Meti nela, ali
mesmo, no meio do corredor. Ao inferno alguém que passasse ali e achasse
imoral. Queria fazer com que ela pagasse pela sua atitude com gemidos. Com
uma mão, eu segurei a parede, e com a outra, eu segurei a cintura dela,
descarregando de uma vez toda a vontade que havia acumulado. Não fui
paciente, nem delicado, muito menos me perguntei se estava a machucando
enquanto a fazia bater as costas na parede. Contudo, seus gemidos não eram
de dor e o doce agarre cada vez mais intensos dos músculos do seu canal no
meu pau, mostravam que a minha punição estava bem longe de ser ruim para
ela.
— Tem certeza que não quer mais fotos como aquela? — Ela ofegou,
escorando-se na parede quando a tirei do meu colo.
— Tudo bem. — Ela afagou meu ombro e passou por mim, seguindo
até as escadas. Presumi que fosse para o seu quarto tomar um banho e tirar
aquela maldita meia.
Ajeitei a minha calça e respirei fundo. Para onde diabos havia ido o
meu controle?
Capítulo vinte e três
Imaginei que ele já havia saído para trabalhar e desci direto para a
cozinha. Encontrei Elga mexendo em uma massa, talvez um pão. Ela se
assustou quando me viu parada na porta.
— Menina!
— Menina!
— Só queria que ele pensasse em mim.
Ela se afastou e retornou para a massa do pão. Sabia que ela estava
com medo, em outras ocasiões, eu também estaria, porém, não era mais a
menina feliz que tinha passado na faculdade de moda e que ajudava a mãe em
uma loja de roupas.
Será que eu havia irritado tanto o Logan na noite anterior que ele
havia pedido ao capacho para me manter longe dele? Caso fosse isso, iria
precisar reverter a situação ao meu favor.
Ele não poderia me prender daquele jeito por causa de uma maldita
foto, poderia?
Não iria deixar que o Logan fizesse aquilo comigo. Disse que eu era
livre naquele castelo e o recordaria disso.
Capítulo vinte e quatro
Iria tomar um banho e talvez chamá-la para jantar comigo, antes que
eu pudesse levá-la para a masmorra. Quem sabe, até exigisse que usasse
aquela meia-arrastão de corpo inteiro outra vez, apenas a meia.
— Logan, querido.
— Meu amor, achei que ia ficar mais feliz de ver a sua mãe.
— Eu agradeço o presente, mas sabe que não foi por ele que eu liguei.
— Não sei o que fiz para ser tão mal recebida pelo meu próprio filho.
— Imagino que não seja uma empregada, para chamar o meu filho
pelo nome.
— Ela é... — Mordi os lábios. O que eu iria dizer? Essa é uma garota
que comprei num leilão e agora estamos trepando.
— Vou.
— Não adianta ficar com essa cara. Vim para passar um tempo com
você e farei isso. É bom que eu terei a oportunidade de conhecer a sua
namorada. Ela não parece nova demais para você? Parece ser até menor de
idade. Não vá se meter em confusão por causa de um rabo de saia, meu filho.
— Não vai, não! — Dei as costas para ela e saí a procura do Wallace
em algum canto do castelo. Provavelmente ele deveria estar se escondendo de
mim, pois sabia o quanto eu iria ficar puto ao descobrir que a minha mãe
havia chegado.
Tomou um susto com o meu grito e deixou dois livros caírem, mas eu
me curvei para pegá-los antes que tocassem o chão.
— O que eu falei sobre não deixar a minha mãe vir para cá sob
nenhuma circunstância?
— O senhor já a viu?
— Sinto muito, senhor. Ela apareceu do nada e não quis sair. Pedi a
Camila para ficar no quarto e estava esperando você chegar para que
resolvêssemos isso.
— Camila disse que somos namorados e eu não tive escolhas a não ser
confirmar a história dela. Se eu falasse a verdade, a situação ficaria ainda
mais complicada.
— O que quer que eu faça, senhor? — Ele estava pálido e meus gritos
não amenizavam a expressão de espanto em seu rosto.
— Tente, não, faça! Nem que tenha que chamar o Jax ou qualquer
outro segurança da empresa dele para colocar essa mulher para fora daqui.
Saí da biblioteca pisando duro. Se havia algo que eu não gostava, era
perder o controle de tudo.
Capítulo vinte e cinco
Voltei para o meu quarto e sentei na cama, pensativa. Não sabia o que
o Logan tinha contra a mãe dele, mas, através dos gritos e dos olhares, ficou
evidente que ele não gostava da presença dela. Não estava no meu direito
julgar, mas fiquei curiosa.
Logan nunca tinha comentado comigo sobre a mãe, não que ele
comentasse alguma coisa sobre a família de modo geral. Elga falava que ele
era muito solitário, seu pai havia morrido quando era muito criança e os avôs
o criaram. Esses também partiram há alguns anos, mas da mãe eu não sabia
nada, até aquele momento. Independente do motivo que fosse, eles não se
bicavam.
— Camila, certo?
— Posso entrar?
Pensei em dizer que não, era o que Logan iria querer que eu fizesse.
Porém, pensei melhor, não sabia qual poder aquela mulher tinha sobre a vida
dele e era melhor não fazer inimizades, já que queria ficar ali em definitivo.
— Pode. — Abri um pouco mais a porta e saí do caminho para que ela
entrasse.
— Estou muito curiosa a seu respeito. Meu filho nunca teve uma
namorada antes.
— Tenho algum tempo para ficar, por causa do meu visto de turista.
Vamos decidir como as coisas ficam quando ele estiver expirando.
— Brasil.
— De onde eu vim, não tinha praia, mas sei que tem umas lindas pelo
país.
— Não vou!
— Vou tomar um banho. — Levantei e fui até o closet pegar uma peça
de roupa, dentre tantas que eu havia comprado com o cartão do Logan.
— Escorrace!
— Senhor...
— Então o que diabos está fazendo aqui?! — Dei um grito tão alto que
vi a Camila parar na porta, pensando longas vezes se deveria ou não entrar.
— Quero um tempo com o meu filho e poder contar uma ótima notícia.
— Ela balançou a mão na minha direção, fazendo com que eu prestasse
atenção no anel de noivado que exibia. — Eu vou me casar.
— Logan!
— Eu não tenho nada a ver com o que faz da vida ou em quem tenta
dar um golpe. Só quero que saia do meu castelo.
— Apenas por uma noite, prometo não tomarmos muito do seu tempo.
— Só quero que leve você para bem longe daqui. — Virei-me para a
Camila, que me encarou num misto de receio e medo. — Fala para Elga levar
o jantar no meu quarto. Quero ficar sozinho.
Também não fiquei na sala de jantar. Avisei para a Elga servir o Logan
e fui para o meu quarto. Algo dentro de mim me avisava para passar o mais
longe possível da mãe do Logan, se quisesse continuar na minha jornada para
conquistá-lo.
— Sua foto.
— Não. Essa noite não. Minha mãe é enxerida e não quero que ela
saiba da existência daquele lugar. Vamos ficar aqui, no seu quarto, e deixar
que ela pense que estamos transando como um casal normal.
Fiz o que pediu, ficando de joelhos no carpete diante dele. Logan tirou
uma gominha do bolso, penteou o meu cabelo com as pontas dos dedos e o
prendeu em um rabo de cavalo, do jeito que ele gostava. Então, passou na
minha frente a bola de plástico, pressionando-a contra os meus lábios, até que
eu abrisse a boca. Me toquei que era uma mordaça quando o Logan a prendeu
atrás da minha cabeça. Tentei falar alguma coisa, mas consegui apenas emitir
gemidos.
— Tira essa roupa e coloca a meia arrastão de corpo todo. Quero você
só com ela.
Deitei com as costas no colchão e ele trouxe a mala até os pés da cama,
tirando dela uma haste preta com duas algemas de couro nas pontas. Queria
perguntar o que era aquilo, mas não consegui. Logan apenas puxou as minhas
pernas pelos tornozelos e prendeu cada um em uma extremidade, deixando as
minhas pernas bem abertas. Havia outro que ele usou para prender os meus
pulsos. Fiquei com os braços e pernas abertos, além da boca bloqueada pela
mordaça, enquanto ele me observa. Completamente presa, Logan tinha todo
controle sobre mim, mas eu confiava nele.
Ele foi até a porta, viu que não tinha chave para trancá-la e puxou a
poltrona para trás dela, para se certificar de que ninguém iria entrar e estragar
o nosso momento.
Escorregou as pontas dos dedos pela linha da minha coluna, até parar
na minha bunda e me dar um tapa. Gemi com a leve ardência, rebolando na
mão dele, que media a minha nádega com a palma. Ficou passando as mãos
sem qualquer pudor por ela, até descer o indicador a uma parte de mim que já
havia sido brutalmente violada.
Meu corpo retesou. Tentei me virar, mas não tinha qualquer controle
sobre mim estando presa daquele jeito. Ele me acariciou lá com o dedo,
fiquei completamente desconcertada. Lembranças ruins invadiram a minha
mente e tentei gritar, mas a mordaça não permitia, nem era possível cuspi-la.
Logan percebeu a minha aflição enquanto eu me debatia para tentar me livrar
da mordaça. Virou-me de frente para ele e a tirou.
— Não! Por favor... — Minha voz se perdeu em meio a súplica. —
Dói! Dói muito.
Pegou o meu rosto e trouxe para o seu, e boa parte da minha tensão se
desfez na forma carinhosa com que Logan me beijou. Esse carinho foi se
dissipando e logo se transformou em algo mais feroz, selvagem. Queria
abraçar o seu pescoço, puxar seu cabelo e odiei a forma como estava
completamente imobilizada. Ele mordiscou meu lábio antes de deixar a boca
escorregar pelo meu pescoço, chupar, morder e lamber minha garganta,
traçando um caminho até meus mamilos eriçados, que se sobressaiam pelas
fendas da meia. Contornou-os com a ponta da língua, deixando-os úmidos e
bem mais suscetíveis aos estímulos do seu hálito quente e da brisa fresca da
noite que entrava pela janela e serpenteava pelo quarto.
— O que é isso?
— Lubrificante.
— Fica! Vai ser mais fácil convencer a sua mãe que nós somos
namorados se ficar aqui na cama, comigo.
Olhou para o meu corpo mais uma vez antes de deitar na cama.
Capítulo vinte e oito
Não lembrava a última vez que transei com uma mulher e acordei com
ela nos meus braços, nem me recordava se isso já havia chegado a acontecer.
A sensação foi estranha, mas não posso dizer que era ruim. Ela se moveu,
ainda dormindo e se aconchegou ainda mais, por reflexo, acariciei seu cabelo.
Meu movimento a despertou e Camila levantou a cabeça, olhando para mim.
— Bom dia.
Ela levantou da cama e me puxou pela mão com tanta força, que
conseguiu me arrastar até o banheiro.
Soltei seus pulsos e levei a mão até o seu clitóris. Ela se esfregou mais
em mim e seus gemidos se tornaram quase gritinhos, até se desmontar nos
meus braços.
Nosso momento foi interrompido por alguém batendo com tanta força
na porta do quarto, que imaginei que fosse derrubá-la.
— Camila, tem alguma ideia de onde o senhor está? O celular está no
quarto, mas não há nenhum sinal dele pelo castelo.
— Não pode ficar no quarto comigo o dia inteiro, pode? — Camila fez
bico ao massagear os meus ombros.
— Não posso?
— Nisso o senhor tem razão. Sabe o que vai fazer quando o visto dela
expirar?
Parei de fitá-lo e desviei o meu olhar para a janela, não havia pensado
nisso até aquele momento. Queria que a Camila fosse embora? Iria deixar
que isso acontecesse?
— É mais fácil do que explicar toda a nossa relação para a Amélia, não
acha?
— Tem razão.
— Por que me chamou tão cedo? Hoje é sábado, não iria até a
destilaria.
— Sim, senhor.
— Sim, senhor.
Fiz que sim, dando leves pulinhos como uma criança empolgada.
Obviamente, não contava para a Elga como o Logan conduzia o sexo comigo,
nem iria, mas a noite anterior havia sido um marco.
— Ele foi para o meu quarto ontem, nós transamos e ele dormiu
comigo. Pude passar a noite inteira abraçada a ele.
Elga sorriu e percebi que, pela forma como ela me olhou, por mais
simples que fosse, vindo do Logan, era sim alguma mudança.
— Espero que vocês dois se acertem de uma vez por todas. Seria muito
bom ver aquele menino com uma esposa e uma família. Vocês dois precisam
muito um do outro.
Uma esposa e uma família... Aquela frase ficou ecoando na minha
mente repetidas vezes enquanto eu me sentava para comer. Não almejava um
passo tão grande quanto me tornar esposa dele, mas confesso que era algo
que me deixaria imensamente feliz, pois havia algo que precisava admitir
para mim mesma: estava cada vez mais apaixonada por Logan Mackenzie e
nem queria pensar na possibilidade de me afastar dele.
— Tome logo, antes que o leite esfrie. — Elga deu uns tapinhas no
meu ombro até que eu pegasse a caneca e desse algumas goladas no leite com
chocolate.
— Ela me perguntou como nos conhecemos e eu disse que foi num bar
em Londres. Eu estava fazendo um mochilão, mas desisti para passar o
restante do visto aqui, com você.
— Pode. — Ele segurou a minha mão. — O tal noivo dela vai chegar.
Vamos lá ver quem esse cara é. Quanto mais cedo esse teatro acabar, melhor.
Torço para que a minha mãe case com esse otário e me deixe em paz.
Minhas mãos estavam suando frio, mas fiz o máximo para que o Logan
não soltasse meus dedos. Estava desesperada e precisava da proteção dele.
— Sim, outra coisa de família. Vou pegar uma dose para você. —
Logan seguiu até a visita e eu fui agarrada a ele como um carrapato. Estava
com medo, nem consegui disfarçar.
— Tem certeza?
Fiz que sim. Eu deveria falar para ele que aquele homem perto da mãe
dele era um dos principais causadores de todo o pesadelo que vivi? Se eu
contasse, o que poderia acontecer? Não queria que o Logan se metesse em
problemas por minha causa.
Ele fez um gesto com a cabeça para que eu o seguisse e voltamos para
perto do Luther e da Amélia. Ela sorria toda boba na presença daquele
homem. Será que fazia alguma ideia do monstro que ele poderia ser, de
todas as coisas que fez a mim e a outras garotas?
— O uísque realmente é um dos melhores que já provei. — Luther
bebericou a sua dose, olhando discretamente e ameaçadoramente para mim.
— Camila...
— Mais calma?
— Chamar a polícia.
A aflição ficou ainda mais forte no meu peito, não sabia o que fazer e
nem como sairia daquela situação.
Olhei para a Elga, que limpava a minha bagunça, e para o Logan, antes
de aceitar a mão dele e seguir pelo corredor.
— Ela não fez nada — garanti, abrindo um sorriso amarelo que deveria
ter parecido mais uma careta.
Voltei com o Logan para sala onde eles estavam e fiquei grata por ele
não soltar a minha mão por um único instante. Ele tinha me mantido em
segurança desde que colocara os olhos em mim e precisava confiar nisso.
— Acho que temos um ótimo gosto para mulheres, não concorda? —
Luther ergueu a taça de vinho ao pesar o olhar sobre mim durante o almoço.
— Não sei se concordo com você. — Logan olhou para a mãe, rindo.
Esforcei-me para passar o dia com um sorriso, não surtar e não parecer
desesperada. Porém, vencer o medo e não ceder ao desespero não era fácil. A
todo o momento, estava esperando que o Luther fizesse alguma coisa para
machucar a mim ou ao Logan. Contava os segundos para que ele e a Amélia
fossem embora e eu pudesse fingir que tudo aquilo não havia passado de um
terrível pesadelo.
Sabia que não iria conseguir dormir ao passar uma noite com aquele
monstro dentro da casa, por mais que ele não houvesse feito nada para
demonstrar que ainda era uma ameaça.
Peguei o livro que estava lendo e sentei na poltrona. Era uma boa
alternativa distrair a mente e não ficar pensando no quanto tudo me
apavorava.
Meu sorriso morreu quando percebi que não era a razão dos meus
suspiros, e sim, a principal fonte dos meus pesadelos.
— Oi, bonequinha!
— Parece que tirou a sorte grande, não é mesmo? Vejo que está sendo
bem tratada aqui. Namorada de um milionário que tem o próprio castelo. Foi
de escrava sexual a senhora. Estou admirado.
— Acho melhor você ficar bem caladinha. Ele já pagou muito caro por
você e, para mim, não tem mais nenhuma serventia. Eu posso acabar com a
sua existência medíocre agora mesmo ou você pode ser um pouco mais gentil
com um hóspede.
Era óbvio que eu estava vestida para o Logan, mas com a mão firme do
Luther envolvendo a minha garganta e pressionando as minhas cordas vocais,
eu não consegui dizer nada, apenas lutava para continuar respirando.
Peguei algumas coisas e segui para o quarto dela. Pensei que, depois
do sexo, pudéssemos conversar, relaxar, talvez tivesse coragem de me dizer o
que estava acontecendo.
Avancei para cima dele sem qualquer vestígio de juízo, apenas raiva.
Que direito ele achava que tinha de entrar na minha casa e tentar estuprar a
Camila, a minha Camila!? Fui educado até demais com aquele sujeito desde
que o vi, não poderia prever que fosse capaz de algo assim. Como noivo da
minha mãe, deveria estar preparado para me deparar com qualquer tipo de
sujeito.
Arregalei os olhos.
Com a minha mão esquerda, tomei o cano da arma tirando a sua mira
do meu peito e empurrando para o lado. Cruzei a mão direita, fazendo um X,
e prendendo o braço dele entre os meus, joguei a arma para fora, na direção
do chão e ela disparou, deixando um buraco no piso. Tomei a arma dele, mas
Luther me acertou com um soco na barriga e a arma escorregou para debaixo
da cama da Camila.
— Você não faz ideia das coisas que fiz com ela antes que viesse parar
na sua mão — gabou-se em meio a um largo sorriso diabólico.
Sua fala fez a minha ficha cair e eu compreendi o medo que a Camila
teve quando aquele homem chegou. Não era qualquer desconhecido, mas
alguém que ela conhecia e que já havia abusado dela. Deveria estar por trás
da organização criminosa que gerenciava o Clube Secreto. Não deveria me
surpreender com a minha mãe se envolvendo com alguém tão baixo assim.
Fui para cima dele, bufando ainda mais, porém, dessa vez, conseguiu
se esquivar do meu golpe e me acertou no pé da orelha, deixando-me
brevemente atordoado. Lembrei do que o Jax havia falado sobre manter a
guarda de pé, não podia dar brechas como aquela, para que ele me acertasse.
— Alguém que comprou uma não é tão melhor do que eu, concorda?
Luther não sabia para onde estava indo, tentava apenas correr de mim.
Saiu por uma porta que levava ao terraço da torre. Em meio ao céu noturno e
na parte mais alta do castelo, pareceu perceber que havia escolhido o pior
caminho possível. Não iria conseguir sair dali sem lutar comigo e eu estava
com sangue nos olhos.
— Me deixa ir embora que podemos fingir ser uma família feliz, posso
até me esforçar para não tentar comer a sua puta de novo. Pode acreditar que
eu consigo, porque só fodi aquela bunda durante o tempo em que ela passou
comigo. Deixei a boceta para você, ou para qualquer outro otário que
estivesse disposto a pagar por ela.
Não sabia se o teria deixado passar caso ele tivesse mantido a língua
dentro da boca. Porém, tudo o que ele disse, falando da Camila daquele jeito
tão ascoroso e desprezível, fez com que eu voasse para cima dele outra vez.
Acertei o seu rosto e me esquivei de um golpe movendo o corpo para trás.
Meu pé chiou contra o chão de pedra, mas a superfície áspera me impediu de
derrapar.
Dei outro soco e acertei o queixo dele. Senti meus dedos doerem com a
força do impacto, mas isso não foi o suficiente para que eu parasse de bater.
Iria fazer aquele maldito pagar por tudo o que havia feito à Camila.
Avancei para cima dele outra vez e Luther deu um passo para trás,
porém, o homem não se deu ao trabalho de notar que estava na beirada e não
havia mais chão ali. Ele pisou em falso no ar e cambaleou, seus olhos se
arregalaram em meio ao desespero.
Confesso que não cogitei, por um segundo que fosse, estender a mão
para evitar que ele caísse. Apenas me aproximei da beirada e vi seu corpo lá
embaixo, sem vida e rodeado por uma poça de sangue.
— Por que não me contou o que aquele homem já tinha feito com você
quando eu perguntei o que havia de errado?
— Não queria atrapalhar o seu momento com a sua mãe. Além disso,
imaginei que seria a minha palavra contra a dele.
— Acha que a sua palavra não é o suficiente para mim? — falou num
tom firme, que me fez estremecer e eu o abracei com mais força.
— Não imaginei que ele fosse tentar abusar de mim de novo, assim, na
frente de todo mundo. Ainda mais com a noiva dormindo em um quarto
próximo, mas ele apareceu aqui e disse... — minha voz se perdeu novamente
em meio a lembranças que eram difíceis demais para lidar. Por muito tempo
coloquei tudo numa caixa de pesadelos e fingia não ter vivido, mas Luther ter
aparecido derrubou a caixa e fez uma grande bagunça.
— Onde ele está agora? — Prendi a respiração, com medo de que ele
pudesse entrar no meu quarto novamente.
— Não. Ele caiu enquanto estávamos brigando. Ele nunca mais vai
tocar em você, Camila.
Contei para ela tudo o que aconteceu, desde o momento que o Luther
entrou no meu quarto até ele o Logan saírem brigando.
Assenti.
— Você é brasileira?
— Ele caiu, foi um acidente, não tenho culpa disso. Além do mais,
ainda que eu tivesse o matado com as minhas próprias mãos, ninguém me
culparia por me livrar do bastardo que tentou estuprar a minha garota e quase
atirou em mim.
Precisei conter a minha vontade de bater nela e apenas dei outro grito:
— Logan, querido...
— Fora!
Ela olhou para mim uma última vez e percebeu que a minha posição
seria irredutível, correu escada acima para recolher suas coisas. Aquela noite
havia testado os meus limites e me levado a um grau de fúria além do
imaginado.
Tomei um banho para relaxar e fui até o quarto da Camila. Ela estava
de pé e fitava a noite escura através da janela. Ela deveria estar tensa por
causa dos acontecimentos daquela noite e era impossível julgá-la, pois eu
também estava uma pilha de nervos.
— Vem aqui! — Abri meus braços e ela atravessou o quarto para que
pudesse se aconchegar neles.
Não sei porque fiz aquela oferta, não era do meu feitio, talvez porque
quisesse ter certeza de que ela estivesse bem perto de mim e que eu pudesse
protegê-la de qualquer outra coisa.
Depois daquela noite e de reviver o trauma, senti que ela iria precisar
de espaço, que eu estranhamente estava disposto a dar.
Capítulo trinta e três
Durante aquela semana, não houve sexo, nem da forma dele nem do
jeito mais carinhoso, apenas dormimos e ele vigiou meu sono para que eu não
revivesse, através de pesadelos, os momentos horríveis de abuso.
Levantei da cama, fui até o banheiro, fiz minha higiene pessoal, troquei
de roupa no meu quarto e desci para a cozinha.
— O que está fazendo? — perguntei para a Elga, que olhou para mim
com um sorriso.
Cheguei mais perto e ela apontou para o meu café da manhã, que
estava em um canto do balcão. Puxei uma cadeira e beberiquei o copo de
leite.
— Como você está, menina? — Elga não foi específica, mas soube
bem sobre o que ela estava perguntando. Havia poucos empregados naquele
castelo e todos deveriam estar fofocando sobre a morte do noivo da mãe do
Logan e o que ele havia tentado fazer comigo antes de morrer.
Era verdade, eu estava bem. Dormindo nos braços do Logan, era difícil
ter pesadelos. Sabia que poderia até não estar segura cem por cento do tempo,
mas sempre o teria perto de mim para me proteger.
— Que ótimo!
— Por que acha isso ruim? Aquele lugar é terrível, parece um filme de
terror. — Ela se remexeu, estremecendo, como se tivesse sido atravessada
por um calafrio.
— Como foi seu dia? — perguntei para ele quando Logan entrou no
quarto e começou a se despir para tomar um banho e preparar-se para dormir.
— Foi bom! — Ele me procurou pelo quarto até me encontrar dentro
do closet. — O que está... — Sua voz morreu em meio a pergunta quando
colocou os olhos em mim. Vasculhou-me dos pés à cabeça e eu estremeci
com o peso do seu olhar. — Camila?
— Tenho.
Logan fechou a porta e eu percebi que não era mais aquela medieval,
pois possuía uma tranca na parte de dentro. Desse jeito, nenhum desavisado
poderia abrir a porta e nos encontrar lá dentro.
— Agora, me deixa ver o que tem aqui por baixo. — Ele me puxou
pela lapela do sobretudo e me fez estremecer quando o meu corpo se
encontrou com o seu. Senti o fogo se acender entre as minhas pernas e me
recordei de que aquilo era o que eu gostava de sentir quando um homem se
aproximava tão intimamente de mim.
— Parece que você está fazendo um ótimo uso dele. — Ele escorregou
a mão pelas minhas costas, provocando arrepios onde seus dedos me tocavam
e deu um tapa na minha bunda, que estalou ecoando por toda a masmorra.
Ele deu um risinho diante da minha luta tola para me soltar e abriu o
fecho do meu sutiã, deslizando as alças pelos meus ombros e deixando
minhas costas completamente expostas. O vi pegando a vela e trazendo para
perto de mim, senti um pouco de medo ao pensar na possibilidade de ser
queimada, mas eu confiava que o Logan não iria me machucar. Percebi que
ele tinha virado a cera da vela quando algo quente tocou o meio das minhas
costas. Estava muito quente, mas não o suficiente para queimar, apenas me
deixou ainda mais em chamas, como se lava de vulcão estivesse escorrendo
pelas minhas veias.
Percebi que não era uma cera de vela qualquer, quando o Logan a
colocou de volta sobre a mesa e passou as mãos firmes e pesadas pelas
minhas costas. Sua palma escorregava com facilidade pela minha pele. Era
óleo. Suspirei com o peso das suas mãos e a fricção dos seus dedos
deslizando pelas minhas costas. Não poderia prever que o perigo de uma vela
poderia acabar em uma deliciosa massagem.
— Não quero mais esperar — disse ao tomar seus lábios com os meus.
Eles estavam escorregadios e tinham sabor de chocolate.
— Por que soltou o cabelo? — Entrei debaixo da água junto com ela.
— Não disse isso, só acho que as coisas podem ser um pouco mais
flexíveis. — Ela se ajoelhou diante de mim e me lançou um olhar travesso ao
segurar o meu pau entre os dedos.
— Flexíveis, não precisa ser menos masmorra, mas pode ser mais
banheiro, mais no quarto e até mesmo no jardim...
— Quer dar para mim no jardim? Não está se achando muito safada?
Confesso que não iria achar nada mal ter mais banho como aqueles.
— Banheiro e jardim, é?
Puxei-a para mim e a beijei, fazendo com que aquele banho durasse
muito mais do que alguns minutos.
Capítulo trinta e cinco
— Tenho sim, Elga, muito obrigada. Não estou me sentindo bem hoje.
Uma dor de cabeça terrível.
— Obrigado.
— Alô!
Não queria aguardá-lo, rosnei para ela, mas a minha cara feia não a
intimidou. A enfermeira apenas apontou para um banco de aço com um
estofado gasto, esperando que eu me sentasse nele. Porém, antes que eu a
obedecesse, o médico abriu a porta e olhou para mim.
Ele era um homem velho, na faixa dos sessenta anos, com poucos
cabelos brancos e olhos azuis. O leve sorriso que ele tinha nos lábios
estranhamente me deixou mais calmo.
— Entre, por favor. — Ele abriu mais a porta para que eu pudesse
passar por ela e percebi que Camila estava deitada sobre uma maca, mas
estava acordada. Isso aliviou um pouco mais a pressão do meu peito.
— Como você está? — Fui direto nela e segurei as suas mãos entre as
minhas.
— Não foi por nada — disse o médico –, mas não é nada com que
devam se preocupar, na verdade, é uma boa notícia.
— Não entendendo por que ele ficou tão bravo. — Deixei que ela me
levasse até um banco e sentei ao seu lado quando percebi que o Logan não
estava mais lá. — Onde ele está?
— Isso é algo que pode acontecer com o sexo. Algo que certamente
você não fez sozinha.
— Então, por que ele está tão furioso? — Limpei as lágrimas com as
costas das mãos, para que pudesse encará-la, mas era difícil parar de chorar.
— Eu quero esse bebê — revelei a verdade do meu coração.
— Sei que não, querida. — Afagou o meu cabelo. — Vai ficar tudo
bem. — Me deu um beijo no alto da cabeça, mas eu não tinha tanta certeza
disso.
Parei o carro perto de uma ponte sobre um riacho de pedras diante das
montanhas. O pico delas já estava congelado, ainda que o inverno não tivesse
começado. Desci do carro e uma brisa gelada se deparou contra o meu rosto,
tão fria que cortava como pequenas lâminas. Coloquei as mãos nos bolsos,
pois estava sem luvas e peguei o celular. Sem pensar muito, liguei para o
Wallace.
— Senhor? — O tom de voz dele estava tenso, imaginei que fosse por
causa da cena que eu havia feito na clínica.
— Leve a Camila de volta para o castelo, fale para ela juntar as coisas
e a leve para Edimburgo, coloque-a em um voo de volta para o Brasil. Depois
disso, abra para ela uma conta bancária com depósitos mensais agendados,
para garantir que esteja financeiramente assistida.
— Tem certeza?
— Certo.
— Senhor?
— Desde quando cabe a uma empregada decidir isso por mim? Se quer
manter o seu emprego e não ir embora com ela, é melhor que não se
intrometa.
Não sei por que permiti que Elga prolongasse sua fala por tanto tempo.
Deveria ter desligado ao ouvir as primeiras palavras sobre a minha infância,
mas não fiz isso, deixei que falasse e talvez esse tivesse sido o meu maior
erro.
— Senhor, você pode dar para o seu filho uma infância melhor do que
a sua.
Meu filho... Aquelas duas palavras ecoaram pela minha mente. Estava
tão puto com tudo o que acontecera, que apenas naquele momento a minha
ficha caiu.
Tinha feito muitas coisas para ficar com ele, para permanecer ali nos
seus braços e sob a sua proteção, mas ficar grávida não era uma delas. Nem
sabia se estava pronta para ser mãe e, honestamente, nem havia pensado
nisso. Tinha planejado outra vida antes da minha mãe morrer, estava
estudando e mal tive tempo para namorar.
— Não posso levar os cremes? — Olhei para ele sem entender. O que
iriam fazer com cosméticos usados?
— No avião, você não pode entrar com nenhum frasco que contenha
mais de cem mililitros.
— O senhor me falou para criar uma conta bancária para você, mas
vou entregar algum dinheiro para a viagem.
— Não demore.
— Acho que esse foi um dos muitos equívocos que cometi de cabeça
quente. Onde está a Camila?
— Menos de dez...
Não esperei que ela terminasse de falar. Saí correndo, mesmo com toda
a minha prática atlética, não me senti rápido o bastante. Corri por quase um
quilômetro até chegar ao heliporto do castelo, e quando pisei na marca no
chão, o helicóptero já havia levantado voo.
Antes que desligasse, eu corri para a porta e bati nela para que fosse
aberta. Imaginei que, se ele demorasse mais um pouco, acabaria abrindo um
buraco na janela de vidro blindado.
Abri o casaco que estava usando e tirei dele uma caixinha de presente.
Ela puxou tampa da caixa e o seu olhar ficou ainda mais confuso ao
ver os sapatinhos de bebê.
— Promete que não importa o que aconteça, você não vai abandoná-
lo?
Ele não era luxuoso, não custava milhares de libras, nem ostentava
uma bela pedra de diamante, mas foi o melhor que consegui com alguns
minutos passando de carro pela vila, pensando sobre o que deveria ou não
fazer.
Eu tinha comprado uma garota por impulso, trouxe-a para a minha vida
e não percebi que ela estava mudando tudo até ser tarde demais.
Epílogo
Coloquei meu filho no berço assim que ele dormiu após terminar de
mamar e ajeitei o cobertor sobre os seus ombros, antes de me curvar para
beijá-lo, no alto da cabeça.
Ele também estava contente, tinha a família que nunca teve e a sua mãe
felizmente não voltou a aparecer. Eu acreditava que ela tinha medo de ser
responsabilizada por partes dos crimes horrendos do ex-noivo, era melhor
assim para todo mundo.
— Caralho, me solta!
Segurei o rosto dele e encostei minha testa na sua, para não fitar outra
coisa que não fosse os seus olhos. Queria me perder naquela imensidão azul
enquanto ele me levava ao prazer da forma mais arrebatadora.
— Sim.
— Vai ver por você mesma quando chegarmos lá. — Deu de ombros.
Fim!
Leia o Livro do Bryan...
Sinopse:
Proprietário do Paradise Resort nas Ilhas Maldivas, Bryan Maldonado
construiu seu patrimônio com dedicação na administração de sua herança.
Além do sucesso profissional, ele explorava sua sexualidade ao extremo. Sem
compromisso ou paixões que durassem mais que uma noite, Bryan era
racional e sabia como lidar com as mulheres, tomando o que ele queria e
dando a elas o que necessitavam.
Convidado para participar do exclusivo Clube Secreto, ele estava
disposto a investir altas quantias para experimentar uma nova forma de sentir
prazer. Ao descobrir que se tratava de um leilão de mulheres, percebeu que
estava além do seu limite, ele tinha princípios. Todavia, não conseguiria ir
embora sem tentar salvar pelo menos uma delas.
Valkyria não sabia o que tinha acontecido com ela até acordar em um
quarto desconhecido. Até que chegasse nas mãos de Bryan, ela conheceu o
pior do ser humano, ela não sabia o que tinha feito para merecer tanto.
Ele não era um salvador, muito menos um príncipe, Bryan estava mais
para o perfeito representante do deus Afrodite.
Disposto a libertá-la, a última coisa que ela queria era rever aqueles
que poderiam ser os causadores da sua desgraça. E, enquanto ela não decidia
o que fazer da sua vida, tornou-se parte da rotina de Bryan, conheceu seus
gostos, experimentou suas habilidades e tentou não se apaixonar pela melhor
versão de homem que já conheceu.
O único problema era que Bryan tinha limitações e Valkyria parecia
disposta a ultrapassar todas elas antes que seu tempo com ele terminasse.
Sobre a autora
Jéssica Macedo é mineira de 24 anos, mora em Belo Horizonte com o
marido e três gatos, suas paixões. Jéssica escreve desde os 9 anos, publicou
seu primeiro livro aos 14 anos. Começou na fantasia, mas hoje escreve
diversos gêneros, entre romance de época, contemporâneo, infanto juvenil,
policial e ficção científica. Com mais de trinta livros publicados, é escritora,
editora, designer e cineasta. Tem ideias que não param de surgir, novos
projetos não faltam.
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Outras obras
Sinopse:
Sinopse:
Diana era o motivo de orgulho para os seus pais adotivos. Esforçada, estudiosa, cursava
medicina, com um futuro muito promissor, mas um convite para visitar o Inferno vai mudar
tudo.
O Inferno era apenas um bar pertencente a um moto clube, ao menos era a imagem que
passava a quem não o frequentava. Porém, ele era uma porta para o submundo, um lugar de
renegados, como Trevor. Um dos irmãos que lidera o Dark Wings é a própria escuridão,
nascido das trevas e para as trevas, que acabará no caminho de Diana, mudando a vida da
jovem para sempre.
Uma virgem inocente que foi seduzida pelas trevas...
Uma noite nos braços do mal na sua forma mais sedutora, vai gerar uma criança incomum
e temida, além trazer à tona um passado que Diana desconhecia, e pessoas dispostas a tudo
para ferir seu bebê.
Um milionário aos meus pés (Irmãos Clark Livro 0)
Sinopse:
Harrison Clark abriu uma concessionária de carros de luxo em Miami. Se tornou
milionário, figurando na lista dos homens mais ricos do Estados Unidos. O CEO da Golden
Motors possui mais do que carros de luxo ao seu dispor, tem mulheres e sexo quando assim
deseja. Porém, a única coisa que realmente amava, era o irmão gêmeo arrancado dele em
um terrível acidente.
Laura Vieira perdeu os pais quando ainda era muito jovem e foi morar com a avó, que
acabou sendo tirada dela também. Sozinha, ela se viu impulsionada a seguir seus sonhos e
partiu para a aventura mais insana e perigosa da sua vida: ir morar nos Estados Unidos. No
entanto, entrar ilegalmente é muito mais perigoso do que ela imaginava e, para recomeçar,
Laura viveu momentos de verdadeiro terror nas mãos de coiotes.
Chegando em Miami, na companhia de uma amiga que fez durante a travessia, Laura vai
trabalhar em uma mansão como faxineira, e o destino fará com que ela cruze com o
milionário sedutor. Porém, Harrison vai descobrir que ela não é tão fácil de conquistar
quanto as demais mulheres com quem se envolveu. Antes de poder tirar a virgindade dela,
vai ter que entregar o seu coração.
Quando a brasileira, ilegal nos Estados Unidos, começa a viver um conto de fadas, tudo
pode acabar num piscar de olhos, pois nem todos torciam a favor da sua felicidade.
Uma virgem para o CEO (Irmãos Clark Livro 1)
Sinopse:
Angel Menezes é uma moça pacata e sonhadora que vive com a mãe em um bairro de
imigrantes. Trabalhando como auxiliar em um hospital, sonha em conseguir pagar, um dia,
a faculdade de medicina. As coisas na vida dela nunca foram fáceis. Seu pai morreu
quando ela ainda não tinha vindo ao mundo, e a mãe, uma imigrante venezuelana, teve que
criá-la sozinha. Porém, sempre puderam contar com uma amiga brasileira da mãe, que teve
um destino diferente ao se casar com um milionário.
Laura mudou de vida, mas nunca deixou para trás a amiga e faz de tudo para ajudar a ela
e a filha. Acredita que Angel, uma moça simples, virgem, e onze anos mais jovem, é a
melhor escolha para o seu filho arrogante e cafajeste, entretanto, tudo o que está prestes a
fazer é colocar uma ovelhinha ingênua na toca de um lobo.
Dean vai enxergar Angel como um desafio, ele quer mais uma mulher em sua cama e
provar que ela não é virgem. No jogo para seduzi-la, ganhará um coração apaixonado que
não está pronto para cuidar...
Será que o cafajeste dentro dele se redimirá ou ele só destruirá mais uma mulher?
Uma noiva falsa para o popstar (Irmãos Clark Livro 2)
Sinopse:
Dylan Clark sempre teve o mundo aos seus pés. Dono de uma voz cativante e um carisma
ímpar, ele é um astro do pop famoso mundialmente, com uma legião de fãs apaixonadas.
Lindo, sexy e milionário, ele tem uma lista interminável de conquistas. Entretanto, seu
estilo de vida cafajeste está ameaçado pelo noivado do seu irmão gêmeo.
Caroline Evans é determinada e uma profissional impecável. Viaja o mundo como parte
da equipe do astro do pop. Produtora, ela cuida para que tudo corra bem durante as turnês,
mas Dylan, o estilo de vida dele e sua personalidade egocêntrica, talham o seu sangue e a
tiram do sério.
Com o casamento do seu irmão, Dean, Dylan sabe que sua mãe tentará fazer o mesmo
com ele, mas não quer abrir mão da vida que leva. Acha que a melhor solução é dar a mãe
o que ela quer, um noivado. A primeira mulher que vem a sua mente é Caroline, ninguém o
conhece melhor do que ela e é a candidata perfeita para convencer sua mãe da farsa.
Será que o cafajeste vai ser livrar de um casamento ou cair na própria armadilha?
Um canalha para a estrela (Irmãos Clark Livro 3)
Sinopse:
Daphne Clark é uma aclamada atriz de Hollywood que nasceu em berço de ouro e tem tudo
a um estalar de dedos: dinheiro, luxo e glamour, exceto um grande amor. As relações a sua
volta são superficiais, prezam muito mais pelo que ela tem do que pelo que é. Imersa em
um mundo onde apenas as aparências importam, ela só viveu relacionamentos vazios.
Vendo seus irmãos casados e apaixonados, pensa que o seu dia nunca vai chegar.
Adan Watson já acreditou no amor, mas não acredita mais. O magnata, dono de uma
destilaria de uísque e um hotel de luxo, foi traído, abandonado e fechou seu coração para
sempre. Sua vida se resumiu a dinheiro e sexo. Seu único motivo de felicidade é o filho de
seis anos.
O destino fará com que a vida dos dois se cruze. A estrela vai se hospedar no hotel do
canalha para as gravações de um filme. Em meio a uma relação explosiva, podem descobrir
que são exatamente o que o outro precisa, mas fantasmas do passado podem voltar e por
tudo a prova.
Será que Daphne está pronta para brigar pelo amor de verdade ou o deixará ir?
Meu primeiro amor é o meu chefe
Depois de tê-lo conhecido na escola quando ainda eram adolescentes, tê-lo desprezado e
visto tudo desmoronar quando finalmente confessou seus sentimentos a ele, Jeniffer achou
que nunca mais voltaria a vê-lo. Contudo, o destino gostava de juntar os dois.
Sinopse:
Atenção: Esta é uma obra de ficção imprópria para menores de 18 anos. Pode conter gatilhos,
incluindo conteúdo sexual gráfico, agressão física e linguagem imprópria. Não leia se não se sente
confortável com isso.
_______________________
"Entre a cruz e a espada." Esse ditado nunca fez tanto sentido para Vânia.
Uma mulher brilhante, uma advogada admirável, mãe de um adorável bebê, mas que não consegue se
livrar de um relacionamento abusivo com o pai da criança. Entretanto, a vida está prestes a brincar com
o seu destino.
Um caso polêmico a levará a defender o CEO Franklin Martins, um homem arrogante, excêntrico e
extremamente sexy... Suas próprias feridas farão com que ela duvide da inocência dele, contudo,
haverão provas irrefutáveis e uma atração quase explosiva. Porém, qualquer envolvimento entre os dois
pode colocar a vida de ambos em risco.
E agora... quem é o pai?
Sinopse:
Minha viagem para a Coreia não deveria passar de uma experiência cultural e artística,
mas ela mudou a minha vida inteira.
Como artista plástica, eu sempre me encantei pelas cores e formas do oriente, mas isso
não foi a única coisa que me seduziu por lá. Conheci o Kim Ji Won, um médico gentil que
evitou vários micos meus pela diferença de cultura. Ou, pelo menos, tentou... Passamos
algumas noites juntos e, como toda viagem tem um fim, voltei para o Brasil. Só que, ao
chegar aqui, descobri que estava grávida e não contei para o pai do outro lado do mundo.
Um CEO enfeitiçado
Lucas sempre foi um policial exemplar, em todas as áreas, mas ele nunca imaginou que
a sua beleza e charme um dia seriam usados como arma.
Trabalhando para a narcóticos na luta constante contra o tráfico em São Paulo, ele receberá
uma missão um tanto inusitada: se infiltrar entre os bandidos para seduzir e conquistar a
princesa do tráfico, filha de um dos maiores líderes de facção criminosa no país.
Era simples, pegue, não se apegue e extraia as informações necessárias para prender
todos os bandidos, porém em jogos que envolvem o coração as coisas nunca saem como
esperado e Patrícia o levará à loucura.
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