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CORAÇÃO

PERIGOSO

M.C Mari Cardoso


2020
Informações
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos
sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de citações, resenhas e
alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é
apenas espelho da realidade ou mera coincidência.

Capa: Mariana Cardoso


Imagem licenciada pela Adobe.
Título da obra: Coração Perigoso.
Revisão: Patrícia Suellen (@patsuerevisoes)

Copyright © 2020 por Mariana Cardoso


Este livro contém cenas de sexo e violência,
recomendado para maiores de dezoito anos.
Dedicatória
Para todas as leitoras que acompanham a série desde o começo
e me ajudaram a construir essa história com apoio e
empolgação. Sem vocês, nada seria possível. Esta história é
para vocês!
“Estas alegrias violentas têm fins violentos
Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora
Que num beijo se consomem”.

William Shakespeare.
PODER & HONRA:
LIVRO 4
Prólogo
Mia.
Meu quarto estava escuro e eu estava terminando de tomar banho,
pensando no quanto queria sair um pouco. Minha mãe estava me mantendo
em casa desde que surgiram algumas fofocas no círculo das suas amigas
fofoqueiras, sobre a possível amante do meu pai estar esperando um filho
dele. Eu estava de saco cheio dos dois, e me escondendo sempre que o meu
pai chegava. Desde que a Luna se casou com um homem poderoso em
Chicago, meu pai ficou ainda mais estranho.
Não era segredo para nenhuma pessoa que vivia dentro da nossa casa
que o meu pai tinha olhos muito longos para a minha prima. Minha mãe
morria de ciúme e agia de maneira cruel com a Luna, sem que ela tivesse
culpa. Ficou ainda mais estressante permanecer em casa. Eu tinha medo
quando o meu pai bebia e ainda mais medo quando a minha mãe cismava de
descontar as suas frustrações em mim.
As surras que levava por não ser a filha perfeita estavam começando a
deixar marcas em minhas costas. Queria fugir, queria viver com a Luna ou
em outro qualquer lugar longe daqui. Ela parecia ser amada e adorada pelo
seu marido, Luna vivia rodeada de mansões, viagens, festas e demonstrava
ser mil vezes mais feliz do que um dia imaginou. Não conseguia esconder
que estava com inveja. Cansada de ser tratada como algo indesejado. Minha
mãe fazia eu me sentir como uma inútil, indesejada, um peso e era horrível
fingir que éramos uma família perfeita em público.
Não podia falar nada, estava apanhando de graça e com as minhas
costas ardendo com feridas ainda cicatrizando, me restava ficar calada. Saí do
banheiro com a minha camisola de dormir e parei assustada ao me deparar
com o meu pai sentado em minha cama.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntei desconfiada.
— Oi, Mia. — Ele estava muito bêbado. Seu olhar me deixou em
alerta.
Um arrepio de medo desceu pela minha espinha.
— MÃE! — Eu gritei, recuando para o banheiro. — MÃE!
— O que foi, garota? — Ela entrou irritada e olhou para o meu pai. —
Silvio, amor. O que houve?
— Nada, Selma. Estarei no escritório. — Ele saiu e bateu a porta em
um estrondo alto que me fez saltar.
Minha mãe virou o rosto lentamente e o seu olhar era de ódio.
— Eu me livrei da Luna e agora, você? — Ela falou baixo, sussurrando
como uma cobra. — Por que você deixou o seu pai entrar vestida assim?
— Não deixei, mãe. Ele entrou aqui enquanto eu estava no banheiro.
— Ergui as mãos, pedindo calma. Ela puxou o cinto da sua roupa. — Mãe, eu
não fiz nada.
— Você não vai ser como a sua prima, Mia. Não vai roubar o meu
marido. — Ela deu com o cinto nas minhas pernas e eu gritei. — Quieta.
Quer ser uma prostituta? Eu vou te mostrar o que é ser uma.
Me agarrando pelo braço, me puxou para fora do quarto e literalmente
me rebocou para a escada. Tentei me forçar contra ela, mas o seu aperto era
tão forte que estava machucando o meu braço. Passamos pela cozinha e eu
entrei em pânico quando abriu a porta da sala dos seguranças e me jogou lá
dentro, fechando a porta atrás dela. Os guardas pararam o que estavam
fazendo, tão chocados quanto eu estava.
Um estava comendo um sanduíche em um sofá e dois estavam
limpando as armas. Eu estava chorando, ofegante e congelada em meu lugar,
usando uma camisola. Meu coração retumbava tão alto no peito que eles
poderiam ouvir. Eram homens da máfia. Farejam o medo por pura diversão.
Pensei que fosse desmaiar quando um deles se levantou, mas ele só
tirou o terno e me cobriu, passando as mangas pelos meus braços e fechou os
botões.
— Está tudo bem, bambina . — Ele falou baixo.
— Essa merda precisa acabar. — O que estava comendo o sanduíche
jogou o prato longe, parecendo irritado.
— Eu vou te acompanhar até o seu quarto, está bem?
Assenti, com medo, pensando em correr, mas a porta da frente estava
trancada e eu não tinha certeza se conseguiria fugir dele. Para a minha
completa surpresa, ele realmente me levou para o quarto. Meu coração
quebrou em milhares de pedaços ao perceber que a minha mãe sequer estava
por perto.
Ela me jogou para os lobos.
— Você tem um telefone, menina? — O guarda perguntou. Balancei a
cabeça e recuei contra a minha porta. — Sua prima é do alto escalão da
família, mande uma mensagem a ela, diga que os executores da família
devem estar no restaurante da rua seis, segunda-feira, meia noite e então, isso
vai acabar para você.
Não entendi nada.
— Menina, seu pai está quebrando as regras da família. Se ele for
morto, você estará livre. — Explicou bem baixo e saiu, sem se abalar.
Entrei em meu quarto e tranquei a porta, aliviada que finalmente estava
sozinha. Empurrei uma poltrona para a porta, me perguntando o que fazer. E
se fosse uma cilada? E se o soldado estivesse brincando comigo a mando do
meu pai ou pior, da minha mãe? O que eu podia fazer? Era tentador demais
acabar com tudo aquilo, eu não me importava com o meu futuro, mas se eu
ficasse sozinha, tinha certeza de que a Luna iria me acolher.
Corri até a minha mochila, peguei o meu telefone e liguei. Não tinha
acesso à internet em casa. Eu só podia confiar em uma pessoa. Ela jurou que
eu poderia confiar nela quando me levou para um passeio, após
ter descoberto sobre os meus planos de fuga.
— Mia? Aconteceu alguma coisa? — A voz dela soou firme.
— Me desculpa ligar tão tarde. Estou com um problema.
— Estou ouvindo atentamente.
Juliana Rafaelli realmente me ouviu.
01
Mia.
As portas do avião se abriram e eu olhei para a minha futura sogra
acenando, praticamente pulando no lugar enquanto a sua filha mais velha,
Milena, apenas sorria, acenando mais contida. Desci as escadas com a minha
mochilinha, toda dolorida do voo longo e cheio de turbulências. Voar da
Inglaterra para os Estados Unidos era muito cansativo. Mal pisei em solo
firme e ela me agarrou apertado.
— Finalmente! — Antonella Biancchi, a mulher que se tornou uma
grande amiga e me ensinou o que era amor maternal nos últimos três anos,
me pegou em um abraço apertado. — Minha filhinha mais nova.
— Mamãe estava surtando. — Milena me abraçou. — Seja bem-vinda,
cunhadinha.
A família Biancchi era a minha futura família. Fui prometida em
casamento ao futuro subchefe mais poderoso do nosso meio. Dante Biancchi
vai herdar uma cadeira com conexões diretas com o chefe supremo Enzo
Rafaelli e a sua esposa, Juliana. O nosso casamento foi uma desculpa para
uma aliança política com Chicago, no qual a minha prima, irmã do coração,
era casada com o chefe. Enrico, marido da Luna, era irmão do segundo chefe
supremo, Damon Galattore.
Eu estava nervosa, em pensar que logo seria uma esposa.
Tinha apenas dezoito anos e me formei apenas há alguns dias. Meu
futuro marido não era muito mais velho, ele tinha vinte anos e nós nos
falávamos por mensagens. Éramos amigos nas redes sociais, compartilhamos
algumas fotos juntos (das idas dele até Londres para me visitar junto com a
sua mãe) e de vez em quando trocávamos algumas mensagens, mas nada
profundo. Ele sempre puxava assunto e eu nunca conseguia desenvolver.
Queria me casar, não que eu tivesse muitas opções, e apesar da minha
relutância com o Dante, a família dele me acolheu de braços abertos. Eram o
oposto dos meus pais. Os Biancchi eram famosos em nosso meio e no mundo
afora, porque eram caridosos, trabalhavam com a política e tinham uma
posição de poder, e eram leais à família Rafaelli. Assim como o Enzo
cresceu, meu futuro sogro foi esperto o suficiente em acompanhar e cresceu
também.
Antonella e a Milena não paravam de falar sobre o casamento. Eu
estava tentando soar animada, mas estava muito assustada. Três dias de
festas. Quinta-feira seria oferecido um jantar de boas-vindas à família. Minha
prima chegará com o seu marido, assim como alguns parentes do Dante. Na
sexta-feira, o jantar de ensaio, com a presença das famílias Rafaelli,
Galattore, Fabrizzi e Biancchi. Sábado pela manhã será o casamento e
domingo, minha viagem de lua de mel para Vermont, bem pertinho, porque
eu demorei a escolher um lugar e ele estava esperando algo que não entrou
em detalhes.
O motorista nos levou para a mansão Biancchi que ficava um pouco
afastada da cidade, próximo ao rio, era deslumbrante. Toda família vivia ali.
Cada filho tinha a sua própria ala privada. Milena era casada, mas não tinha
filhos, já a Monalisa, que todos chamavam de Lisa, também era casada e
estava grávida de quatro meses.
Estava tentando fazer a minha mente assimilar que moraria com tantas
pessoas. Eu não conhecia os seus maridos e já estava com medo. Não
confiava nos homens. A vida me ensinou que homens bêbados e excitados
poderiam fazer qualquer coisa.
Segui as duas para dentro de casa, observando os funcionários agirem
de maneira silenciosa e rápida para descarregar as minhas malas. Eles
subiram as escadas e eu não pude acompanhar mais. Lisa levantou-se do sofá
para me dar um abraço e me apresentou ao seu marido, seu nome era Pietro.
Ele era da família Giuseppe, eu conhecia a mãe dele, uma fofoqueira de
primeira. Ele me deu um aceno contido com um olhar respeitoso. Milena
apresentou o seu marido que entrou na sala segurando um jornal. Seu nome
era Elias e ele foi mais caloroso, mas não de uma maneira errada.
— Minha bambina ! — Meu sogro, Luigi Biancchi, apareceu na sala.
— Seja bem-vinda! — Me abraçou bem apertado. Ele cheirava a charuto e
hortelã.
— Obrigada, Luigi. — Sorri. Eles não permitiam que os chamassem de
senhor e senhora, apenas quando houvesse visitantes, para que ninguém
estranhasse ou achasse que estava agindo com falta de respeito. Em privado,
eles não queriam que eu me sentisse fora da família.
— Você deve estar exausta. — Antonella passou o braço em meus
ombros. — Mandei preparar um jantar tipicamente italiano, você deve estar
com saudades de uma comida boa. Eu vou fazer um tour com você pela casa.
Dante deve estar chegando, ele foi resolver uma questão no trabalho.
— Tudo bem. — Assenti.
Me despedi dos demais e segui com a Antonella pelas salas, havia uma
de jantar social, outra de jantar só para a família, cozinha, copa, dispensa e
grandes portas que levavam ao pátio. Do lado esquerdo do pátio me mostrou
uma sala de visitas, uma sala de convívio para festas e do lado direito um
jardim de inverno enorme que dava para uma varanda gourmet e a piscina.
Todo lado externo era de um gramado bem aparado.
Voltamos para as escadas. Tinha um elevador, mas eu optei por
conhecer o caminho normal. A casa tinha quatro andares. O primeiro andar,
do lado direito, era a ala dos pais. Eles tinham dois quartos, uma sala privada
e um banheiro. Era como um pequeno apartamento. Do lado esquerdo, ela me
mostrou a imensa biblioteca, o escritório do Luigi e a sala de cinema, que era
o lugarzinho mais novo.
A família se reunia toda quarta-feira para assistir um filme juntos e
eu achei muito legal. Subindo a escada, vinha a ala do Nicola. Ela não abriu a
porta e eu respeitei, porque deveria ser um lugar sagrado.
Nicola foi morto há alguns anos e era o filho mais velho. Como eles
eram muito unidos, podia imaginar que existia uma dor sem tamanho. Do
outro lado, era a ala da Milena com o seu marido. Eles tinham três suítes,
uma sala linda e um banheiro social. No próximo andar, era a ala da Lisa, que
era igual ao da sua irmã, mas com a decoração e os móveis totalmente
diferentes. Do outro lado, quatro quartos de hóspedes. O quarto e último
andar era todo do Dante.
Todo meu.
A minha ala tinha cinco quartos, uma sala com um piano e uma
pequena cozinha era tudo tão lindo. Antonella explicou que trocou toda
decoração bagunçada e de solteiro para uma mais sofisticada que era muito
parecida com o que eu escolheria para mim. Ela me conhecia tão bem.
Conheci cada cantinho, ficando sem fôlego com o quarto principal.
— Dante ficará em um dos quartos de hóspedes até o casamento.
Me perguntei o motivo se já éramos casados no papel. Antonella me
explicou que o quarto andar foi reformado há pouco tempo, já que o Dante se
recusava a viver na ala do seu irmão.
— Renata ainda vive conosco, mas ela não sai do seu cantinho. — Me
explicou e assenti. Ela era a viúva do Nicola. — Ainda é difícil para ela
conviver com a família sem ele, então ela aceita visitas da Sienna de vez em
quando. Nós estamos tentando cuidar dela, mas...
— Entendo que não deve ser fácil.
— Descanse agora. — Ela esfregou os meus braços. — Dante é um
bom menino.
Esse era o problema. Nós dois éramos crianças. Duvidava que ele
quisesse esse casamento tanto quanto eu queria. Ele seria um subchefe no
futuro e estava determinado a obedecer às ordens, principalmente se essas
fossem do seu pai ou do homem no topo da cadeia de comando. Dante podia
ser jovem, mas já era um homem iniciado e executava serviços para a máfia.
Sozinha em meu novo quarto, desfiz as minhas malas, arrumei o meu
closet que já estava cheio de roupas, sapatos e bolsas. A maior parte foi
enviado pela minha prima e a outra metade, a minha futura cunhada sem
nenhum controle comprou achando que seria ideal ter roupas novas. Todas
pareciam muito bonitas.
Tomei um banho, porque com a diferença do fuso horário e as horas de
voo, podia dizer que fazia vinte e quatro horas que não pisava em um
chuveiro. Escolhi uma roupa confortável, tranquei a porta e desfiz a cama,
estava precisando tirar um cochilo, entre surtar de ansiedade e ter um ataque
histérico pelo casamento, não dormi muito.
Horas depois e descansada, saí da cama e já estava escuro lá fora. Me
arrumei para o jantar, escolhendo um bonito vestido verde escuro, de mangas
três quartos até os joelhos. Escolhi uma sapatilha simples preta e deixei os
meus cabelos soltos, penteando a franja. Desde que passei a cuidar dos meus
cabelos, eles ficaram mais domados. Costumava escovar, porque eu gostava,
outras vezes deixava os cachos naturais. Eles eram lindos e eu aprendi a amá-
los.
Depois que entendi como cuidar de mim mesma, a minha aparência
não era mais um problema. Eu ainda me sentia inadequada quando se tratava
de outras mulheres e era difícil lutar contra todas as palavras ruins que a
minha mãe jogou em mim durante anos. A minha sobrancelha era do tipo
muito grossa e cabeluda, ela seguia grossa, mas bem delineada e aparada. Era
perfeita.
Quando eu estava sozinha, me sentia linda, mas com outras pessoas, o
peso de não ser o padrão me deixava assustada. Por muito tempo odiei o meu
corpo e as marcas sutis das surras que levei no passado. Minha mãe me
culpava por não ser como a Luna, me culpava por atrair atenção do meu
próprio pai e me culpava por não ser boa o suficiente para ter um bom
casamento. Não foi por ela e muito menos pelo meu pai, que eu tive um bom
casamento.
— Mia? — Ouvi uma batida na porta e era o Dante. Eu não o via há
meses e não sabia o que esperar. — Posso entrar?
Aquele era o nosso quarto.
— Claro. — Virei de frente para a porta e fiquei parada pensando no
quanto ele era um garoto bonito. Se ele pudesse escolher a própria esposa,
duvidava que me escolhesse. Dante era de tirar o fôlego, como os garotos
galãs da televisão e internet. Zac Efron não era nada. — Oi, Dante.
Seu olhar me acompanhou de cima a baixo e sorriu.
— Oi, Mia. — Se aproximou e nos abraçamos bem apertado. — Você
está bonita. — Ele disse.
— Obrigada. Você também. — Mordi o lábio, envergonhada. Ele
usava uma calça preta e uma blusa branca.
— Fez uma boa viagem? — Seu olhar encontrou o meu e assenti. —
Minha mãe encheu o seu armário de roupas. Ela decorou aqui, mas eu pensei
que poderíamos sair amanhã para comprar o que você quiser e deixar do seu
jeito.
— Eu adoraria, obrigada.
Ainda não fazia a mínima ideia de como agir ao redor dele. Ele pegou
a minha mão e me levou para o elevador. Era todo espelhado.
— Uau. É aqui que você tira as suas fotos... — Comentei me olhando
em todos os ângulos. Reparei que ele estava olhando para a minha bunda e
arqueei a sobrancelha. Ele apenas riu e pegou o celular, passou o braço em
minha cintura, ajeitei o meu cabelo e olhei para o espelho. Ele tirou duas
fotos e sorri porque ficaram bonitas.
Saímos no primeiro andar e eu travei um pouco ao ver toda família
reunida na sala, falando alto. Dante andou até um sofá livre e se jogou.
Antonella sorriu, acenou para que eu me sentasse ao seu lado. Era difícil não
ficar tímida ao redor de tanta gente falando e parecendo à vontade um com o
outro. Dante e os seus cunhados estavam rindo e brincando. Seu pai segurava
um copo de uísque e se intrometia em todos os assuntos.
Quando o jantar ficou pronto, eu parei ao ver tanta comida e uma
variedade de massas. Parecia ser um evento raro na família, porque todos
estavam muito felizes e logo foram servir os seus pratos. Reparei que as
minhas cunhadas serviram os seus maridos, mas o meu futuro sogro serviu a
minha futura sogra de um jeito fofo. Dante me viu parada, escolhendo,
perdida pensando no que comer primeiro.
— Não gosta de alguma coisa? — Parou ao meu lado.
— Gosto de tudo, esse é o problema. Estava pensando o que escolher...
— Hum... Eu vou começar com camarão e molho branco, depois eu
vou para o molho vermelho e carne.
— Acho que vou seguir isso... — Estava salivando. Dante pegou um
prato e começou a me servir, pedi que não colocasse muito ou não
conseguiria comer mais nada.
A minha mãe nunca me deixaria comer massa dias antes do meu
casamento. Por um momento, lembrei de todas as vezes que eu comia algo
que não devia e ela me fazia vomitar. Respirei fundo, me acalmando e esperei
que o Dante terminasse de se servir para acompanhá-lo até a mesa.
Fiquei surpresa que o Pietro me serviu vinho. Não estava acostumada a
beber, mas com toda aquela comida, não senti nada, só apreciei o gostinho.
Nunca comi tanto, estava com a barriga estufada e no final da noite, soltando
gargalhadas com as besteiras que o Elias era capaz de falar. A sobremesa foi
servida na sala e a minha futura sogra não se importava se caísse comida no
sofá. Ela disse na maior naturalidade “é só limpar”.
Precisava me libertar das prisões que a minha mãe me colocou, eu só
não sabia como não ficar tão tensa quando me sentia infringindo uma regra
que ela enfiou em minha mente. Dante me entregou uma vasilha de tiramisù e
eu soltei um gemidinho baixo ao provar, estava uma delícia. Eu era
apaixonada por culinária e me especializei em confeitaria na escola. Esperava
poder continuar estudando depois do casamento.
— Está bom? — Ele enfiou uma colher em meu pote e levou à boca.
Desviei o olhar porque eu gostei da maneira que a sua língua tocou a colher.
Era normal gostar de assistir aquilo? — Ei, eu quero mais.
— Pensei que fosse meu. — Tentei afastar o pote.
— Peguei para nós dois. — Ele riu e em um movimento rápido, pegou
o pote. — Tem que começar a aprender a dividir, Mia.
Soltei uma risada pela maneira que ele falou e reparei que todo mundo
estava nos observando. As irmãs dele soltaram um coro de “awn” e eu fiquei
roxa de vergonha. Todo mundo estava rindo e tentei esconder o meu rosto.
Dante passou o braço em meu ombro, me dando apoio e fiquei com o meu
nariz enterrado em seu peito.
Ele era cheiroso.
Muito cheiroso.
Confusa com a reação do meu corpo com a proximidade do seu e o seu
cheiro, me afastei um pouco, ainda tímida. Tarde da noite me despedi e fui
para o meu quarto. Dante levantou-se para me acompanhar e a mãe dele disse
que ele tinha cinco minutos para estar de volta na sala. Nós não podíamos
ficar sozinhos, os pais dele marcavam em cima em relação ao nosso contato.
Eu não tinha esperanças de que o Dante foi fiel ao nosso noivado, porque eu
não seria se não morresse de medo de ser pega e se confiasse nos homens de
um modo geral. Ele nunca fez nada para me machucar ou me fazer sentir mal.
— Eu nunca te perguntei se você está bem com tudo isso. — Parei na
sala da nossa ala e me sentei em um dos sofás, colocando uma almofada em
meu colo. — Somos muito jovens.
— Normalmente você seria atribuída a um homem mais velho, isso é
certo. Você está na idade que a maioria das mulheres se casam, pelo menos
na família, mas não os homens. — Ele se aproximou. — Sendo sincero, eu
não escolheria me casar agora. — Muito menos comigo, eu sabia disso. —
Mas assim como todos, eu faço o que é melhor para a minha família. Espero
que possamos ser jovens mesmo com o casamento. Realmente espero que a
gente saiba se divertir e ser amigos, porque eu não faço ideia de como é ser
um marido. A única referência que tenho é o meu pai, eu acho que a minha
mãe é feliz. — Ele franziu o cenho e eu sorri, apreciando a sua honestidade.
Me senti menos anormal por ele também não saber o que fazer.
— Meu pai era um péssimo marido. — Comentei, brincando com uma
almofada. — A minha mãe era uma mulher terrível e ela me fez sentir muitas
coisas que não valem a pena ser mencionadas agora. — Brinquei com o zíper
de capa. — Eu não sei ser uma esposa, eu não sei nada sobre sexo e eu não
sei se estou pronta para sermos íntimos nessa parte tão imediatamente,
porque estou com medo. Parte do meu cérebro me diz que eu não deveria
estar me abrindo tanto e parte me diz que você vai ser o meu marido e eu
deveria confiar em você.
Dante sentou-se na ponta do sofá e lentamente se aproximou.
— Você deve confiar em mim, eu posso não ter ideia de como é ser
um marido, mas eu vou me esforçar para cuidar de você e te proteger. — Ele
segurou a minha mão. — Quanto a outra parte, eu confesso que nunca pensei
que você poderia estar com medo e peço desculpas. — Ele ficou em silêncio.
— E se a gente namorar?
— O que?
— Quando a gente namora, o sexo nem sempre acontece na noite de
núpcias, porque não tem uma, as pessoas vão simplesmente se conhecendo e
desenvolvendo intimidade.
Franzi o meu olhar.
— E você já namorou alguém, Dante? — Bati com a almofada nele e ri
da sua careta. Ele segurou a almofada e rapidamente me colocou sentada em
seu colo. Ele era ágil e muito forte. Passei a minha palma em seu braço,
sentindo o contorno dos seus músculos.
— Se vamos jogar o jogo da honestidade, eu vou jogar tudo de uma
vez. — Ele olhou em meus olhos. — Eu não sou virgem. Eu já não era antes
de tudo isso começar.
— Eu sei que você não foi fiel ao nosso compromisso, então está tudo
bem, porque era confuso e eu não seria se eu não sentisse medo dessa parte.
Acho que se fosse uma realidade normal, com tantos anos e com um pouco
de proximidade, já teríamos feito. Mas eu vou ficar muito chateada se você
não for após o nosso casamento. — Olhei para a aliança em meu dedo.
— Você não seria? — Sua surpresa e uma pitada de ciúme eram
evidentes.
— Não seja machista. Eu estava em outro país e convivendo com
outras pessoas, conheci garotos bonitos entre os meus amigos, mas além do
guarda-costas o tempo inteiro comigo, eu não sabia se podia confiar neles. —
Ele pegou o meu braço e passou pelo seu ombro. Fiquei ainda mais próxima e
o meu coração disparou no peito. — O que você está fazendo?
— Tentando descobrir do que você tem medo. Ninguém nunca me
contou o que aconteceu...
Apenas a sua mãe e a Juliana sabiam, eu não sabia se o pai dele sabia,
se sim, fingia que não.
— Não vale a pena agora. Foi só um momento realmente ruim. —
Dante não percebeu que a sua mão deu um aperto em minha coxa que
certamente deixaria marcas.
— Nada vai acontecer com você, eu prometo. — Ele falou baixo e
nossos narizes estavam muito perto do outro.
— DANTE NICOLA BIANCCHI! — Ouvimos a mãe dele gritar. —
Não me faça subir aí. — Ela ameaçou e sorrimos. — Se despeça da Mia e
desça agora mesmo!
— Em alguns dias ninguém vai poder me tirar de perto. — Ele
reclamou quando saí do seu colo. Com um sorriso doce, mas seu olhar ainda
estava tão tenso quanto no segundo que lhe contei a verdade. — Até amanhã.
— Me deu um beijo suave nos lábios.
— Até amanhã, Dante.
Ainda estava presa no fato que em alguns dias, ninguém poderia nos
separar e eu estava tão assustada que não tinha certeza se isso era bom ou
ruim.
02
Mia.
Acordei na manhã seguinte um pouco tarde. Ninguém foi me acordar e
eu me senti um pouco envergonhada de sair da cama como se fosse uma
preguiçosa, mas todo vinho que bebi fez o seu efeito. Suada, porque não
liguei o ar e o tempo estava seco como um deserto, tomei um banho para
acordar, escovei o meu cabelo e penteei a minha franjinha que ia até o meio
da testa de um jeito bem exótico.
Levei um tempo arrumando todas as minhas maquiagens em minha
penteadeira, em seguida, cuidei do meu rosto como a minha prima me
ensinou. Pensando nela, fiz uma chamada de vídeo. Luna atendeu no segundo
toque. Ela estava com o Nino no colo e ele estava chorando.
— Oi, mocinha. Pensei que fosse me ligar ontem! — Brigou comigo.
— Desculpa, é que muita coisa aconteceu. — Peguei um pincel. — Por
que ele está tão emburrado?
— Ele vive emburradinho. — Ela sorriu amorosamente.
— Cadê a Laura?
— Está na piscina brincando com a Giovanna e eu estou indo buscar
mais bebidas geladas. Estamos de folga. Então, me conta tudo. Como está
aí?
— Estou bem, fui muito bem recebida e vou passar a semana
arrumando o que falta para o casamento e decorando a minha própria ala. É
como um apartamento dentro da mansão, é a maior de todas porque o Dante é
o filho herdeiro. — Revirei os olhos, porque as irmãs dele também mereciam
algo tão grande quanto, mas pelo que eu fiquei sabendo, a Lisa estava
construindo a sua casa em um terreno não muito longe daqui.
Fiz um tour com a Luna pelo celular mesmo, mostrando um pouco de
tudo e nós jogamos conversa fora até que recebi uma mensagem do Dante
perguntando se eu já estava acordada. Luna quis escolher a minha roupa e eu
lhe mostrei todas as minhas opções, ela sugeriu que eu vestisse um
macaquinho de poá com um cropped branco que era da sua loja de roupas.
Vesti e ficou um pouco justo, atrás estava curtinho, mas não ficou feio.
— Tenha mais confiança em si mesma. — Luna insistiu. — Você está
linda. Se tornou uma mulher estonteante e nada vai te impedir de
desabrochar agora.
— Tudo bem. — Cedi, ciente que trocaria de roupa na primeira olhada
em minha direção, mas eu tinha o direito de tentar.
— Eu te amo, nos vemos em alguns dias. — Ela sorriu e eu era
apaixonada no quanto a Luna era linda e irradiava luz. — Diga tchau para a
tia Mia, Laura. — Ela virou a câmera e a sua filhinha estava toda molhada e
me deu um aceno. Laura era um serzinho de luz como a sua mãe.
— Eu amo vocês. — Coloquei a mão em meu coração e soprei um
beijo.
Coloquei o meu telefone para carregar um pouco enquanto me
maquiava. Luna me enchia de presentes, ela me dava tudo o que não teve.
Apesar da minha mãe me ensinar coisas básicas femininas, ela nunca permitia
que qualquer pessoa em nossa casa pudesse sentir-se mais bonita do que ela.
Quando a Luna se casou, meu inferno particular começou. Aprendi a cuidar
de mim mesma na escola, com as visitas da minha prima, da Antonella e com
as amigas que fiz.
Terminei de me maquiar e enfiei o meu telefone no bolso, saindo do
quarto me deparei com o Dante na sala, jogado no sofá, televisão ligada e
havia uma bandeja com café da manhã no balcão que dava para a pequena
cozinha.
— Bom dia. — Passei por ele e fui direto para a bandeja, com fome.
Peguei um pãozinho e parti ao meio, descobrindo que era recheado. Hum,
que delícia.
— Bom dia, dorminhoca. — Ele sorriu do sofá e se levantou.
— Dormi muito, acho que foi o vinho. Ainda vou me acostumar com o
fuso horário. — Me servi com café. — Você já comeu?
— Sim, eu saí cedo com o meu pai e voltamos agora. A minha mãe
não acorda cedo, não importa o que aconteça, então realmente nada funciona
cedo aqui em casa. As minhas irmãs mantém as suas rotinas separadamente,
costumamos jantar juntos alguns dias na semana, mas cada um vive em sua
própria ala. — Ele explicou e eu assenti. — Precisamos fazer compras ou
assaltar a despensa principal.
— Nada disso, podemos fazer compras. Você disse que poderíamos
sair hoje, por que não resolvemos isso logo? — Olhei em seus olhos e ele
sorriu. Peguei um pote de uvas, bebendo meu suco e ele beliscou o meu café-
da-manhã. — Dante, meu pão! — Reclamei, porque ele comeu o último. —
Você é mau.
— Eu sou. — Ele riu e se inclinou, chegando bem perto. — Pensei
sobre ontem. Você pensou?
— Pensei sobre a proposta de namorarmos sem o peso de um
casamento. — Respondi com as bochechas coradas. — Preciso saber se você
vai levar isso a sério ou vai rir de mim.
— Não vou rir de você. Talvez. — Ele riu e eu bati nele. Ele era um
idiota. Seu rosto se aproximou e admirei o quão belo ele estava, barbeado,
com os olhos verdes escuros brilhando e os cabelos penteados para trás de
uma maneira bem moderna. Dante era mais alto que eu, esguio, malhado,
mas não do tipo grandão. Ele tinha um corpo em forma. — Posso te beijar?
— Eu acabei de comer.
— Isso não é um problema. Você não vai escovar os dentes cada vez
que a gente for se beijar. — Seu rosto estava próximo ao meu, fechei os
olhos e os seus lábios gentilmente tocaram os meus. Foi suave. Fiquei
arrepiada, aquecida, sentindo a sua presença toda em mim. Ele avançou um
pouco mais e segurei o seu braço, ansiosa e sem saber o que fazer. — Relaxa,
Mia.
— O que eu faço?
— Seguir o seu instinto. O que você tem vontade de fazer? Sem
pensar, sem ter medo... Sem pudor. Comigo, você não precisa ter pudor. —
Olhou em meus olhos e me aproximei, ele se endireitou, ficando mais alto e
eu deixei as minhas mãos explorarem seus bíceps, deixei uma mão em seu
ombro e outra na sua nuca. Fiquei na ponta dos pés e beijei a sua boca,
seguindo o meu instinto e a vontade de tocá-lo em todo lugar, não estava me
reconhecendo. Sua língua tocou a minha e hesitante, retribui o beijo. Cansei
de ficar na ponta dos pés, ele agarrou a minha bunda e me colocou sentada no
banquinho. Caramba... O movimento me assustou um pouco e soltei a sua
boca. — Longe demais?
— Não sei. — Estava confusa. — Foi bom. O beijo, quero dizer.
— Foi gostoso pra porra. — Sorriu torto e olhou para as minhas
pernas. — Curtinho.
— Você acha vulgar?
— Eu acho bonito. Você está linda.
Mentiroso.
— Obrigada.
Achei melhor eu ir arrumar a minha bolsa para sairmos. Eu queria
conhecer um pouco ao redor, sair de casa, comprar mantimentos, porque não
queria dar trabalho para ninguém. Se cada um vivia tranquilamente em sua
privacidade, não seria eu que iria dominar a casa como uma visitante. Tinha
que me acostumar que aquele lugar era a minha nova casa. O meu lar.
Peguei uma bolsa sacola, coloquei a minha carteira com documentos e
dinheiro que era meio inútil ali. Dei ao Dante, ele disse que iria trocar e tirou
um rolo de dinheiro do bolso, me entregando. Ok.
Segurando em minha mão, trancou a porta principal da ala e fomos
para o elevador. Me perguntei se ele nunca descia a escada. Ouvi uma música
alta.
— É a Renata. — Explicou dentro do elevador. Dessa vez, eu que
peguei o celular para tirar uma foto. Eu tinha redes sociais e ao contrário dos
meus pais, o Enrico permitia que usasse livremente. Não fazia nada demais,
eu tinha amigas na escola, alguns contatos de amigas da escola de Nova
Iorque e muitos seguidores por causa da minha prima Luna, que era meio
famosinha na internet devido a sua marca de roupas e a associação a Juliana e
a Giovanna.
Tirei uma foto de corpo inteiro. Dante estava atrás de mim, mexendo
em seu celular. Postei no stories e marquei a Luanna , marca da minha prima.
O elevador estava prestes a abrir quando ele tirou uma foto nossa e beijou os
meus lábios, mas ele só postou uma. Acho que a mãe dele iria colocá-lo em
um hotel se ele postasse qualquer foto com contato muito íntimo antes do
casamento.
Não vimos ninguém no primeiro andar. Na cozinha tinha um homem
chamado Miles e ele era o cozinheiro, fui apresentada à Sra. Caprese, seu
nome era Ana e ela era a governanta. Muito por alto, Dante me explicou
como funcionava a questão da cozinha e limpeza, mas ele estava me
rebocando para a garagem.
— Que carro é esse?
— Um Camaro.
— Ahn ... Acho que precisamos de um carro com um espaço atrás.
— Quando terminarmos as compras, vou mandar alguém ir buscar e a
Sra. Caprese vai guardar tudo. — Piscou, entrando no lado do motorista,
achei esquisito estar do lado oposto. — Você tirou a sua habilitação?
— Sim, mas eu vou ter que fazer o exame aqui... Além de treinar
dirigir do lado oposto. Felipe me ensinou a dirigir. Ele vai ser meu segurança
aqui?
Dante saiu em alta velocidade da propriedade e me deu um olhar.
— Você gosta do Felipe?
— Sim, ele era muito legal e sempre me respeitava quando pedia para
não ficar tão perto. Principalmente se eu estava com as minhas amigas. Ele
também me ajudou em dias difíceis. Quando eu fui ao show da Ariana
Grande, eu surtei porque um idiota me puxou pelo braço e ele cuidou de tudo.
— Tagarelei e o Dante me deu um olhar afiado. — Por que você está me
olhando assim?
— Nada. Gostando de saber o quanto Felipe foi atencioso, enquanto eu
sequer tinha autorização para ficar perto. — Me deu um aceno seco e soltei
uma risada. Felipe era obviamente gay. Ele não deixava transparecer porque
na máfia, era proibido ser gay, mas eu o peguei olhando para outros homens e
mais de uma vez vi os garotos da escola saindo do apartamento que foi
atribuído a ele. Provavelmente o meu sogro sabia e a ignorância do Dante o
impedia de perceber.
Além do fato que o Felipe era um pouco mais velho e viveu os últimos
três anos comigo, fora do país.
— Deixa de bobeira. — Bati em sua coxa. — Se eu puder escolher,
prefiro ficar com ele. — Eu sabia que o Felipe tinha zero interesse em mim.
— Vou pensar sobre isso. — Ele segurou a minha mão e colocou na
sua perna.
A coxa dele era firme, bem diferente da minha, acho que deveria
começar a malhar também. Puxei assunto sobre isso e rendeu até o shopping
de decoração. Entramos em uma loja e eu andei apenas empurrando o
carrinho, pegando coisas fofas e aleatórias. Toda nossa ala era tão bonita
quanto o restante da casa, mas eu peguei almofadas coloridas, quadrinhos,
porta-retratos e ele achou por bem mencionar que na nossa cozinha ainda não
tinha utensílios.
Levei um tempo escolhendo pratos, talheres, copos, taças e um monte
de coisa necessária. Uma vendedora me entregou uma lista e nós dois
parecíamos estar brincando de casinha, escolhendo coisas bonitas, legais e
funcionais para a nossa casa. A vendedora não acreditou que a gente ia morar
junto e ela não parava de olhar para o Dante quando achava que eu não estava
percebendo.
Assim que terminamos as compras, a mãe dele me ligou e informou
que teríamos um compromisso no final do dia, minha última prova do
vestido. Todos os modelos eram da grife Alexander McQueen e eu os
experimentei em Londres. Foram enviados antes e ainda precisava de alguns
ajustes finais. Dante se comprometeu em me levar lá depois que finalizarmos
os nossos compromissos.
Em Londres, eu tinha mais liberdade e quando tentei conversar a
primeira vez sobre métodos contraceptivos, a minha sogra se fez de
desentendida. Liguei para a Luna e ela fez acontecer uma consulta, eu não
fazia ideia quando seria íntima do Dante ou se um dia deixaria de ter medo do
sexo, mas eu tinha certeza de que era jovem demais para ser mãe. Eu amava
brincar com a Laura, mas era isso: brincar e devolver para a mãe dela.
— Você usou camisinha todas as vezes que fez sexo? — Perguntei do
nada. Ele desviou o olhar do trânsito.
— Preocupada?
— Na verdade, sim. É importante saber. Eu não tive nada com
ninguém e seria injusto contrair alguma coisa porque você não se cuidou.
Dante franziu o cenho.
— Não tenho doença nenhuma, Mia.
— Tudo bem, mas isso não responde a minha pergunta, você usou
camisinha com as suas parceiras sexuais?
— Precisamos falar sobre isso?
Ele estava brincando comigo?
Dante estacionou o carro próximo ao mercado e eu abri a porta,
fervendo.
— Então eu vou ter relações sexuais até o casamento e depois nós
conversamos sobre doenças sexualmente transmissíveis. — Bati a porta do
carro, peguei um carrinho e fui empurrando bruscamente.
O segurança do mercado me olhou de maneira cobiçosa e eu me
encolhi, passando rápido. Eu sabia que para o Dante, dinheiro não era um
problema, então eu estava jogando no carrinho tudo que eu precisava e o que
não precisava também. Era um mercado de luxo, então, eu tinha os melhores
produtos à disposição. Eu sabia que iria cozinhar na minha casa, porque eu
estava ansiosa para experimentar um pouco de liberdade.
Um carrinho ficou cheio e eu sinalizei para o meu futuro marido se
aproximar.
— Eu preciso que isso vá para o caixa enquanto termino as compras.
— Apontei e ele assentiu, me olhando de maneira cautelosa. — O que foi?
Ele se inclinou e me deu um beijo suave nos lábios.
— Eu estou limpo, mas não acho que seja normal falarmos sobre
coisas antigas, talvez, devêssemos apenas olhar para frente?!
— Você tirou isso de um biscoito da sorte? — Soltei uma risada. —
Tudo bem, mas eu quero exames.
— Eu farei. — Me deu mais um beijo e foi empurrando o carrinho.
Sorri me sentindo um pouco boba. Luna sempre conversou muito sobre
o seu relacionamento. Eu sabia que o Enrico a amava pela maneira que ele a
olhava quando pensava que ninguém estava observando. Esperava que o
Dante pudesse ter sentimentos por mim. Meu pai não amava a minha mãe, ele
era cruel e ela era obcecada por ele, eu não queria aquele tipo de
relacionamento.
Não conseguiria relaxar se não me sentisse minimamente bem cuidada.
Eu merecia mais que um casamento com um homem que não podia me ver
por que não era o que ele escolheu para si. Dante não me escolheu e ele
nunca me escolheria.
— Você quer perder os seus olhos? — Me assustei com o tom de voz
do Dante enquanto pegava alguns cremes. Virei e ele estava falando com o
segurança e puxou a faca da sua cintura.
— Dante! — Chamei-o e toquei o seu braço. Ele estava de um jeito
ameaçador e letal que me deixou nervosa. — Dante, por favor.
— Some daqui. — Ele rosnou.
O segurança saiu e eu segurei o braço do Dante. Ele guardou a sua faca
e me olhou sério.
— É minha culpa por usar algo tão curto.
— Claro que não é sua culpa, porra. — Ele grunhiu, me puxando para
perto. — Vem, vamos mandar essas compras para casa e comer alguma coisa
oriental. Essa coisa de biscoito da sorte me abriu o apetite.
Meu cérebro estava tentando acompanhar todos os acontecimentos dos
últimos minutos. Além do Dante quase ter esfaqueado um homem no
mercado, meu estômago reagiu à ideia de culinária oriental como se nada
tivesse acontecido.
03
Dante.
Mia estava sentada em minha frente, comendo um rolinho primavera
cheio de molho e a sua aliança chamava atenção. Ela me encarou com os seus
olhos verdes expressivos que pareciam ler a minha alma. Seu piti por causa
de doenças sexualmente transmissíveis me fez crer que ela não aceitava tons
definitivos. Eu não fazia ideia do que estava fazendo. Fui iniciado aos onze
anos e foi a primeira vez que eu matei um homem. Ele tentou agarrar a minha
irmã à força na escola e o Nicola me levou no passeio.
Ganhei uma tatuagem, uma arma e me achava o homem da família e
então, o meu irmão mais velho foi assassinado no pátio da casa da sua melhor
amiga e eu me tornei o homem mais importante da casa. Meu pai tinha um
comando extenso. Eram várias pequenas cidades sob o seu domínio e ele
respondia apenas aos homens que mandavam na porra toda. No futuro, esse
era o meu lugar.
Eu mal estava me preparando para isso quando eles anunciaram que eu
me casaria cedo. Meus pais eram contra a história que homens mais velhos se
casavam com mulheres mais jovens, normalmente, eles organizam
casamentos com idades próximas. Como todo homem honrado na família,
iria enfrentar o desafio, não que a Mia fosse complicada, nós mal
nos conhecíamos e não fomos autorizados a ser tão próximos, para que não
falassem sobre ela.
Mia já estava manchada por ser filha de um traidor, que aliciava
menores, mas o que ninguém sabia é que ela quem o denunciou. Foi a Mia
que acabou com o esquema do seu pai. Ela era corajosa, destemida, mas
estava cheia de traumas. Ela tinha medo dos homens, não confiava no sexo e
estava ressentida em ter intimidade com homens de modo geral. Eu adorava
sexo. Era algo que eu não conseguia ficar sem fazer, eu teria que lidar com o
meu desejo e a frustração enquanto ela fica confortável comigo.
Esperava que um dia ela ficasse confortável.
— Por que você pediu esses rolinhos veganos? — Enfiei na boca um
sushi cheio de avocado e pepino, quase cuspi. — Você come carne.
— Gosto de experimentar novos sabores e sou adepta a opções
veganas, normalmente, as receitas conseguem explorar o melhor de um
legume de maneira bastante saborosa. Eu queria descobrir como era a comida
japonesa para veganos. — Encolheu os ombros e pegou um sashimi, me
oferecendo e eu mordi. — Estou satisfeita.
— Você come tão pouco. — Pontuei.
— Estou satisfeita. — Encolheu os ombros. — Além do mais, eu vou
experimentar os muitos os vestidos de noiva que a sua mãe vai me fazer usar.
Não quero que abram todas as costuras porque a minha barriga está
explodindo.
Mia era tão linda que me pegava surpreso com a sua beleza. Seus olhos
me deixavam hipnotizado.
— Enquanto você termina de comer, irei ao banheiro lavar as minhas
mãos. — Anunciou e assenti, pegando o pote do meu yakisoba, mas de olho
nela. O banheiro era relativamente perto e nenhuma pessoa passou na mesma
direção, mas o idiota da outra mesa a acompanhou com o olhar. Ele
comentou algo com o seu amigo, mas foram discretos, porque sabiam que ela
estava acompanhada.
Aquele restaurante era da família, apesar de ser japonês, eles pagavam
pela nossa proteção e era um dos melhores. E os donos eram americanos,
nunca foram ao Japão. Eles eram legais e me enviavam pedidos não
importando o lugar da cidade. Mia voltou e, ao invés de permitir que ela se
sentasse em seu banco, puxei-a para o meu colo e sinalizei para trazerem a
conta.
Ela pegou um guardanapo e limpou a minha boca. Segurei o seu rosto
e lhe dei um beijo nos lábios, ela ficou tensa por menos segundos que antes,
relaxando e pressionando seus lábios nos meus. Se continuarmos nesse ritmo,
ela estaria me beijando por conta própria até o final da semana.
Paguei a conta e a levei até a casa de uma estilista que estava cuidando
das roupas do casamento. Todos os vestidos da Mia eram caros e modelos
exclusivos, cada nota do casamento que passava pela minha mão me deixava
maluco. Meus pais estavam pagando por uma parte, a maior, era do Enrico.
Ele insistia em ser o responsável financeiro da Mia até o casamento. Meu
irmão me deixou um bom dinheiro quando faleceu e eu ganhava bastante dos
lucros dos negócios da família que trabalhava, mas eu não era rico como os
meus pais.
Não ainda, mas eu seria.
— Eu vou direto para a boate, só devo voltar amanhã. — Parei o carro
em frente à casa e ela me olhou séria. — O que foi?
— Você passa todas as noites nos negócios da família?
— Quase todas, mas como iremos viajar por uns dias após o
casamento, tenho que adiantar alguns trabalhos. — Me inclinei no banco e
lhe dei um beijo.
— Tudo bem... — Ela abriu a porta e voltou um pouco. — Você vai
tomar cuidado?
— Sempre, baby. — Pisquei, ela riu e saiu.
Minha mãe apareceu na porta e eu fiquei olhando a bunda da Mia até
que ela entrou. Ia ser um longo caminho, cheio de tortura, aguentá-la toda
gostosa sem poder tocá-la. Eu estava louco para encher as minhas mãos com
a sua bunda e dar um senhor aperto. Desde que ela colocou aquela roupinha
curta que dava para ver a popa da sua bunda, só conseguia imaginá-la de
quatro na minha frente.
Liguei o carro e saí em alta velocidade, andando pelas ruas, passando
por todos os lugares para recolher o dinheiro, verificar a segurança e fazer o
maldito trabalho de um batedor. Depois do casamento eu não precisaria mais
executar esse serviço tão imbecil. Ganharia os meus soldados para comandar
e mais negócios da família para gerenciar, e então eu poderia facilmente
controlar os meus horários e não andar por aí o dia inteiro como um merda.
Era uma grande responsabilidade assumir o lugar que o meu irmão
ocupava com perfeição. Nicola era idolatrado, temido, tinha uma folha de
pagamento extensa e conhecia os segredos de todo mundo. Trabalhando
como um advogado para políticos, meu irmão era um mestre manipulador e
eu nunca conseguiria ser igual. Eu não tinha ideia do que fazer para ser tão
bom, mas iria me esforçar.
Meu telefone vibrou e era uma chamada da Sienna.
— O que você quer?
— Feliz em falar com você. — Ela ironizou.
— O que você quer?
— Eu também te amo, pentelho. — Ela soou divertida. — Recebi fotos
interessantes no mercado. A sua futura mulher tem uma bunda realmente
incrível e você saiu em todas as fotografias olhando para ela.
— Não deixa isso ser publicado ou meu pai vai me comer. Ele não
quer ninguém falando da Mia, nada que possa manchar a reputação dela.
— Nada vai ser publicado. Liguei só para te encher, quando puder,
vem me ver.
— Nos vemos depois. — Sorri e encerrei a chamada.
Meu compromisso na rua levou horas. Fui em casa rapidamente para
tomar banho, trocar de roupa e a Mia ainda estava na rua com a minha mãe.
Enviei uma mensagem para ela, meio sem saber o que dizer, mas eu não tinha
tempo para conversar. Não gostava de chegar atrasado. Já era o suficiente ser
o filhinho do meu pai. Andei acima da velocidade como sempre e parei nos
fundos da boate.
Estava armado e o meu cunhado me deu um aceno, olhando para os
livros caixa. Elias era o contador, tudo que envolvia dinheiro era com ele.
— Boa noite, senhoras. — Passei pelas garotas se preparando para o
palco. Elas usavam os pequenos biquínis dourados que tinham milhares de
coisas que balançavam quando dançavam. Elas soltaram risinhos e algumas
piscadas. Dani me deu um sorriso sexy e eu balancei a cabeça negativamente,
saindo de perto dela bem rápido.
Dani era uma das poucas que eu fodia no clube e eu tinha que ficar
longe, porque ela era uma predadora do cacete. Não queria nenhum dos meus
cunhados me dedurando em casa, já que eles mal olhavam para o lado e
andavam na ponta dos pés, porque sabiam que eu iria matá-los se traíssem as
minhas irmãs.
Eu nunca vi o meu pai olhar para as mulheres do clube e eu não soube
de nenhuma fofoca que ele traía a minha mãe. Se tivesse acontecido, alguém
já teria deixado escapar e eu não queria ser aquele a quebrar o ciclo de
fidelidade da minha família, mas era difícil quebrar a minha rotina de pegar
alguma garota bonita na boate. Haviam frequentadoras realmente gatas e que
basicamente tiravam a calcinha quando me viam. Mia não parecia muito
afetada com o meu sorriso. Ela ficava tímida.
Meu pai me enviou uma mensagem dizendo que não ia aparecer
porque ele estava levando a minha mãe, irmãs e noiva para jantar fora.
Enviou uma foto rodeado delas e pensei que o meu velho estava se achando
muito engraçado. Mia estava linda com um longo vestido preto, com um
lascado que ia até o meio das coxas e uma sandália de tiras pretas. Sua
maquiagem era um pouco mais escura do que eu já tinha visto.
Porra.
Fiquei concentrado na boate, no repasse das drogas, mandando tirar
alguns imbecis que estavam querendo causar brigas. No meio da madrugada,
olhei as minhas mensagens pessoais. Mia me desejou boa noite há algumas
horas e atualizou o seu Instagram, postando stories no Instagram do seu
jantar, fotos com as minhas irmãs e no seu perfil, uma foto dela de corpo
inteiro, exibindo a sua perna.
Gostosa, porra.
Curti e comentei, marcando o meu território. Eu não me importava
com roupas curtas, fotos provocantes, mas eu me importava em deixar claro o
meu lugar ali. Mia me deu zero confiança nos últimos anos, ela mal falava
comigo ou respondia às minhas mensagens, quando nos víamos
pessoalmente, só respondia se falasse com ela diretamente. Era difícil tentar
qualquer conexão, porque os meus pais não deixavam. Eles me disseram para
viver a minha vida normal e discretamente, porque a Mia não estava pronta
para se relacionar comigo, mesmo que à distância.
Apenas no último ano que ela começou a falar comigo mais vezes,
curtir e comentar as minhas fotos, perguntar se eu estava fazendo tal coisa,
mas era apenas o básico, nada íntimo. Ela era divertida e doce. Acho que
ainda levaria um tempo para que a gente tivesse uma conexão.
Saí da boate às quatro da manhã e fui para os laboratórios onde o
dinheiro da noite estava sendo contabilizado. Meu cunhado, Pietro, fazia a
segurança daquela parte e ele parecia estressado com uma das garotas que
separava as notas. Sempre voltava para casa com uma numeração para dar ao
meu pai, assim ele poderia informar à sede que os negócios correram bem,
sem alterações.
Tudo que acontecia em nosso território era monitorado e extremamente
controlado. Meu pai era um dos chefes mais antigos e um dos poucos a
sobreviver tanto tempo. Com a limpeza dos patriarcas no passado, eu
agradeci que o meu velho sempre foi sensato e manteve o nosso território
longe de confusões ambiciosas.
Entrei em casa, meus velhos estavam dormindo e eu estava fedendo.
Entrei no meu quarto, que na verdade era um dos quartos de hóspedes, tomei
um banho e senti o cheiro de algo assando. Não tinha ninguém na cozinha.
Alguma das minhas irmãs deveria estar cozinhando alguma coisa cedo
demais ou alguém estava passando por uma confusão de horários. Subi a
escada silenciosamente e entrei na minha ala.
Mia estava inclinada no forno, usando um short curtinho de pijama e
um top. Ela se endireitou, mostrando que estava suada e corada.
— Oi... O que está fazendo?
— Dante? Merda! — Ela quase deixou cair um tabuleiro quente. —
Que susto.
— Aqui está um forno, por que não ligou o ar?
— Não consegui e eu deixei tudo fechado, porque não queria acordar a
casa inteira. — Ela se abanou e eu consegui ligar o ar. — Estou assando
cupcakes para todos. Eu usei a impressora do seu escritório e montei caixas.
— Apontou para um monte de caixinhas. — Baixei os moldes na internet.
— Cupcakes para todos?
— Como um presente por ter sido bem recebida.
Eu ia dizer que minhas irmãs não faziam mais que a obrigação, porque
todo mundo recebeu bem os seus respectivos maridos, porém eu não ia jogar
água na atitude bonitinha dela, principalmente porque todo aquele calor do
cupcake a fez ficar seminua.
— Acho que vou colocar uma roupa, se a sua mãe entrar aqui e me ver
assim...
— É uma boa ideia. — Uma tremenda pena.
Me joguei no sofá, um pouco cansado e ela voltou com um pijaminha
longo e bonitinho. Minha cabeça estava doendo e precisava dormir um
pouco, então, eu fechei os meus olhos, para cochilar um pouco. Enquanto
dormia, sentia os cheiros doces. De vez em quando a espiava muito
concentrada dedicando-se a decorar os bolinhos.
— Você não vai dormir?
— A sua mãe vai brigar por você estar aqui.
— Ela nunca sabe quando estou em casa ou não. — Sorri torto e ela
limpou as mãos. — Terminou?
— Eles precisam secar para ganhar consistência e ficarem firmes. —
Apontou para as coberturas. — Você quer um?
— Agora não.
— Você está me olhando como se quisesse um. — Ela lambeu o dedo.
— Eu queria que você deitasse aqui. — Bati no espaço livre do sofá.
Ela veio com os dedos sujos de chocolate, agarrei a sua mão e os lambi. — A
cobertura parece maravilhosa.
— É ganache. — Explicou baixinho e lambeu o seu último dedo. Seu
lábio ficou sujinho e não perdi a oportunidade de beijá-la. Não podia deixar a
minha futura esposa com os lábios sujos. Mia suspirou contra a minha boca e
não protestou quando puxei a sua perna, colocando-a em cima de mim. —
Espero que você goste dos meus bolinhos.
— Na sua boca, eu gosto de tudo.
— Você é tão bobo falando essas coisas. — Soltou uma risada. — Eu
duvido muito que isso não seja uma cantada barata.
— Vou ter que me esforçar mais para te surpreender.
— Vai sim. — Deu batidinhas no meu nariz e sem querer, soltei um
bocejo. — Há quantos dias você não dorme?
— Alguns.
— Quer vir dormir comigo? — Seus olhos eram esperançosos. Ela
queria dormir comigo? Pensei que isso fosse a última coisa em sua mente. —
Apenas dormir. Eu nunca senti o que era ter outra pessoa na mesma cama e
estava curiosa sobre isso. A minha prima Luna disse que vocês, homens
iniciados, dormem pouco, e têm um sono extremamente leve e são muito
silenciosos, mas que ela adorava sentir o marido na cama porque ele passa
muitas noites trabalhando. Você deve ter a mesma rotina e eu queria saber
como era a sensação, como está cansado, eu pensei...
— Mia? Respira.
Ela soltou a respiração... e riu.
— Desculpa.
— Está tudo bem. Eu vou adorar dormir um pouco com você.
— Legal.
Empolgada, foi andando para o corredor que levava aos quartos e eu
me senti um projeto científico. Mia pensava demais e analisava todos os seus
pensamentos e sentimentos para sentir segurança. Ela era mais insegura do
que eu previa, então eu não tinha ideia de como lidar com isso. Não nasci
com paciência. Decidi lidar com um dia de cada vez e naquele momento, eu
iria dormir agarradinho.
04
Mia.
Abri os meus olhos e me deparei com o peitoral definido do meu
futuro marido. Ele estava deitado, sem camisa, com uma mão descansando na
barriga e outra atrás da sua cabeça. Ele me deu um olhar sonolento e voltou a
olhar para a televisão, que passava desenhos animados. Soltei uma risada
com o programa inusitado, fiquei prestando atenção, rindo em alguns
momentos e ele pegou o seu telefone, fazendo uma expressão engraçada ao
ver a mensagem no seu telefone.
— O que foi? — Questionei curiosa.
— Minha mãe quer saber se eu te dei os códigos primários da
fechadura, porque ela tentou entrar com os comuns para te acordar e não
conseguiu. — Sorriu torto. — Mas ela está me acusando de estar aqui dentro.
— Ela vai saber que você está aqui.
— Eu sei. Ia sair, mas eu meio que não quis. — Deu de ombros. —
Nós vamos nos casar, não vejo porque continuar com essa palhaçada. — Me
deu um beijo na bochecha. — Tem algum compromisso hoje?
— Não, só o jantar de boas-vindas da família à noite, por quê? —
Ainda estava cheia de sono. Meus horários estavam muito confusos, após o
dia cansativo e todo o vinho no jantar muito divertido que o pai dele
proporcionou às mulheres da família, pensei que fosse dormir à noite inteira,
mas eu só consegui passar por três horas de sono antes de acordar inquieta.
Conversei com a Luna por quase duas horas. Ela me deu vários
conselhos, que acalmaram os meus nervos, sobre estar tão próxima ao Dante.
Luna se casou com um homem mais velho, que já estava inserido na vida de
um homem feito há um bom tempo, e eles levaram um tempinho para se
entender, mas quando se entenderam, segundo as palavras dela, foi perfeito.
Luna deixou claro que não existia nada melhor do que ser um elo só, como a
aliança do casamento, com o seu marido.
Ela me fez enxergar as vantagens de casar com alguém tão jovem
quanto eu e a vida que poderíamos ter juntos. Sempre que conversava com a
minha prima, ela me fazia enxergar o lado bom da vida. Enrico era um dos
homens mais temidos do nosso meio e a minha prima irradiava felicidade. Eu
tinha que acreditar nela, mesmo que eu só pensasse em desgraça quando
fechava os meus olhos.
— Mia? Dormiu de novo? — Dante me cutucou e eu sorri, negando.
— Está calor. Pensei que podíamos ficar na piscina.
— Eu não posso ter marca de biquíni... Dois dos meus vestidos são
bem decotados. — Pontuei e ele me deu um olhar bem animado.
— Vai me fazer pecar dentro da igreja? — Riu e me abraçou. Eu fiquei
tensa e ele ficou quieto, mas relaxei gradativamente e fui me aproximando.
Deixei as minhas mãos livres e lutei contra as imagens pesadas em
minha mente, da noite em que mudou toda a minha vida, é diferente daquela
vez que foi terrível, eu senti carinho. Dante me deu um beijo doce na
bochecha e as suas mãos passeavam de maneira suave pelo meu braço,
apertando a minha cintura e dei um beijo no seu pescoço, bem acima da sua
pulsação.
Eu me sentia muito idiota por não ser como qualquer garota que
imediatamente se jogaria em seus braços. Se ele fosse prometido a qualquer
amiga minha de Nova Iorque, ele já teria até estourado a cereja. Luna me
pediu para manter a calma, que não adiantava nada ficar nervosa e ela
conversaria comigo hoje à noite, já que poderei passar a noite com ela e o
Enrico no hotel. Minha sogra disse que não precisava pedir autorização para
ver a minha família, só avisar ou então ela ficaria preocupada. Luna era a
minha única família.
E agora, os Biancchi se tornariam a minha família pelo casamento.
— Posso te beijar? — Perguntei baixinho e ele afastou o rosto, me
olhando com ternura e assentiu. Dante podia ser fofo como os mocinhos dos
meus livros favoritos? Esperava que sim. Reuni coragem e beijei a sua boca.
Comecei devagar, insegura, mas ele não se aguentou, logo tomando o
controle, o que me deixou mais tranquila. Seguir o seu ritmo era mais fácil.
Soltei um suspiro quando ele apertou a minha bunda, pressionando-se
contra mim e correspondi ao seu beijo, me sentindo aquecida e desejosa. Era
um sentimento novo que despertou em mim um instinto sexual. Ele virou de
barriga para cima e montei em seu colo. A visão era espetacular. Eu tinha
medo, mas não era idiota, apreciava uma beleza quando via. Hesitante, deixei
as minhas mãos passearem pelo seu peitoral, sentindo os gominhos e subi
pelos seus bíceps, me inclinando para frente e o movimento me fez
escorregar em seu colo.
Senti algo que me deixou com a espinha ereta. Dante não falou nada,
me deixou quieta, me analisando e olhei em seus olhos, querendo saber se o
que eu senti era o que estava pensando. Ele abriu um sorrisinho safado que
me fez rir. Beijou a palma da minha mão e subiu as mãos pelas minhas coxas,
passando pela minha barriga, me explorando tanto quanto eu estava
explorando o seu corpo, da cintura para cima. Ele pulou os meus seios e isso
me fez pensar se eram pequenos demais.
Meu formato de seios me fazia parecer uma garota que tinha seios de
gordura. Era exatamente quando uma criança crescia e vai surgindo um seio
gordinho? Meus seios eram obviamente femininos, mas pequenos.
— Você gosta de seios grandes? — Perguntei com um pouco de
hesitação.
— Quer me mostrar os seus?
— Hum, não. Responde a minha pergunta, espertinho.
— Eu gosto de peitos. — Ele encolheu os ombros.
— Qualquer tamanho está bom?
— Mia... Eu estou louco para ver os seus peitos, não tenho preferência
se é o que quer saber. Eu só quero ver os seus peitos, na verdade, te ver
pelada. — Soltou bruscamente e ri de nervoso.
— Sim... Entendi. — Agarrei os meus peitos. — Realmente não são
muito grandes. — Analisei e cocei ambas as palmas na cama. — Quer
segurar? — Arqueei a sobrancelha.
— Porra, sim. — Ele sorriu como uma criança.
Tirei as minhas mãos e quando ele finalmente iria tocar, ouvimos um
estrondo na porta. A mãe dele estava nos chamando. Cobri o meu rosto, rindo
e me dei conta que ela não entrou porque não podia, mas deveria estar louca
por estarmos sozinhos. Eu realmente não entendia, quem poderia saber que
estávamos sozinhos dentro do lugar que seria a nossa casa?
Dante me deu um olhar e mandou um áudio.
— Mia está dormindo, mãe. Ela está sofrendo de jet-lag e eu estou
apenas velando o seu sono de maneira inocente. — Ele encerrou e jogou o
telefone longe. — Espera aí, onde estávamos? — Sorriu e tirou as minhas
mãos do seu caminho. — Peitos, olá. — Segurou ambos e deu uma suave
beliscada em meu mamilo, reagi imediatamente, arqueando meu corpo e
dando uma suave mexida em meus quadris. Ele suspirou. — Você é perfeita.
— Ele grunhiu e sentou-se bruscamente, me dando um beijo nos ombros,
mordendo um pouco, beijou o meu pescoço e agarrou a minha bunda, me
puxando tão próximo quanto possível e tomou a minha boca.
Arfei quando nos afastamos e eu sentia um doce latejar entre as minhas
pernas, a minha pulsação aquecida. Me senti bem por reagir tão normalmente
a uma situação comum.
— Foi tudo bem?
— Foi sim. — Não escondi o meu olhar alegre. — Como foi a sua
primeira vez?
— Nem sei se posso considerar aquilo uma primeira vez, eu tinha treze
anos e o idiota do meu irmão pagou uma garota para fazer um boquete. Eu
estava no auge da punheta. — Soltei uma risada pela maneira que as suas
bochechas ficaram vermelhas. — É sério. A garota me chupou, mas ela
também quis outras coisas, sei lá, foi extremamente confuso. Acho que
melhorei depois.
— O quanto você gosta de sexo?
— De zero a cem, é mil.
Caramba!
— Isso significa que faremos bastante então, não é? — Desviei o meu
olhar para as minhas mãos.
— Se você quiser, sim. Se você fizer obrigada, não vai ser divertido e
eu definitivamente não vou forçar nada, porque é errado, mesmo que digam
que será meu direito como marido. — Ele estava sério e entendi o recado.
Dante não ia me estuprar.
— Entendi. — Segurei o seu rosto e o beijei. — Está com fome? Eu
posso preparar algo para almoçarmos e depois eu vou entregar os bolinhos
para a família.
Dante me seguiu para a cozinha. Preparei dois sanduíches de queijo
derretido e mostarda. Ele adorou a combinação. Servi Coca-Cola gelada nos
copos e coloquei cereja dentro. Quando o meu copo esvaziou, rapidamente
comi as minhas cerejas, adorando o gostinho com gás. Ele experimentou
meio receoso e eu tinha que me acostumar com isso... Com a companhia dele.
Construir uma vida a dois.
Eu mal tinha construído a minha vida e não fazia a mínima ideia de
que tipo de pessoa eu era, mas esperava descobrir. Eu tinha tempo ao
considerar que eu estava com liberdade de viver um pouco além dos muros
da escola e da prisão que a minha mãe me colocou alegremente.
Observei-o lavar a louça e fui trocar de roupa. Escolhi um short jeans e
uma camiseta longa, deixando o meu cabelo preso e ajeitei a franja com os
dedos. Arrumei os bolinhos nas caixas e as empilhei uma em cima da outra.
Ele carregou e o segui pelas escadas. Paramos nas suas irmãs, que estavam
juntas com a mãe dele em uma mesa de chá. Elas gritaram com os bolinhos.
— Eu ia te chamar, mas o Dante disse que estava dormindo. —
Antonella me deu um sorriso maternal. — Está cansada?
— Acho que os meus horários ainda estão confusos. — Puxei uma
cadeira e me acomodei.
— Eu vou desaparecer. — Dante sorriu e saiu depressa. Assunto de
mulheres não era muito a sua ideia de diversão.
— Vocês estavam juntos, não estavam? — Antonella me encarou e eu
encolhi os ombros.
— Mãe... para. — Milena bufou.
— Eles vão se casar, deixa que se divirtam só um pouquinho. — Lisa
completou.
— Não! — Me apressei. — Não fizemos nada. Nós conversamos, eu
dormi, aí assistimos desenhos e depois ficamos falando sobre o casamento.
— Expliquei e elas riram.
— Mia... Eu sei que o meu irmão é um gato. — Lisa me provocou. —
Pode tirar casquinha. Na verdade, você é a única autorizada a tirar
casquinha...
— Ou uma bela de uma lasca. — Milena brincou.
Antonella revirou os olhos, mas riu. Todas elas elogiaram os meus
bolinhos. Quando o Elias e o Pietro chegaram, suados e sem camisa, encarei
a mesa sem parar. Eu estava mortificada com a nudez e eu rapidamente pedi
licença para verificar o andamento do jantar. Desci a escada rapidamente e
entreguei a caixa da Renata para a enfermeira dela, que estava na cozinha
bebendo água. Eu não vi a Renata, mas esperava poder criar laços com ela,
assim como o restante da família.
Espiei a decoração do quintal, estava realmente muito bonito e bem
italiano. Uma grande mesa, garçons arrumavam os pratos e uma mulher
coordenava tudo. Luna me enviou uma mensagem avisando que tinha
acabado de entrar em seu hotel e estava ansiosa para me ver, decidi que
poderia subir e me arrumar. Meu vestido do jantar de boas-vindas não era
branco como os demais, na verdade, ele era vermelho sangue, justo e longo.
Eu não fazia ideia de como usar um salto fino na grama, então eu troquei por
uma sandália preta de saltos quadrados não muito altos.
Arrumei uma pequena mala para passar a noite com a minha prima e
comecei com os meus cuidados. Tomei banho, depilei as minhas pernas com
muito cuidado e escovei os meus cabelos, passando chapinha e enrolando as
pontas, usando fixador. A minha raiz era muito mais lisa que as pontas dos
meus cabelos, com o produto que eu usava, meu cabelo era quase todo liso.
Fiz uma maquiagem caprichada, passando rímel nos cílios e usando um
batom vermelho como sempre quis.
Ficou ousado e atraente, quase não consegui me reconhecer.
— Mia? — Dante bateu na porta do quarto. — Está pronta?
— Sim... acho que sim. — Murmurei, insegura da minha imagem.
Dante entrou no closet e parou. Ele segurava uma rosa vermelha e
sorri.
— Cacete. — Ele passou a mão no cabelo e bebi a sua imagem. Estava
de preto e cinza. Calça social preta, uma camisa social cinza escura, que
parecia de linho, dobrada nas mangas até o cotovelo e com um botão aberto.
Seu cabelo estava penteado para trás e o olhar queimava em mim. — Você
está linda.
— Obrigada. — Fiquei vermelha como o meu vestido.
— Muito gostosa. — Ele estava olhando para a minha bunda.
— Dante... Acho que vou trocar de roupa.
— Relaxa... — Ele parou atrás e me abraçou. — Você está linda. —
Tirou o meu cabelo do caminho. — Muito gostosa. — Beijou o meu pescoço.
— Cheirosa. — Deu mais um beijo e eu estava hipnotizada com o nosso
reflexo, porque realmente estávamos muito bonitos juntos. — A noite é
nossa.
Segurando a minha mão, me puxou para fora do quarto e trancou a
porta principal com o código. Descemos a escada juntos e a Luna estava
chegando quando virei a esquina das escadas para a entrada. Soltei a mão do
Dante e ela imediatamente soltou o Enrico, corremos em direção uma da
outra e nos abraçamos muito apertado. Ficamos tão unidas que quase caímos
no chão.
— Deixe-me ver você. — Ela se afastou e me segurou pelos ombros.
— Esse vestido ficou perfeito. Sabia que eu desenhei exclusivamente para a
minha priminha favorita?
— Você é muito talentosa. — Eu não conseguia conter a minha
felicidade. — Já conheceu o Dante? — Virei para o meu noivo. Luna sorriu
para ele e o Enrico se aproximou. Ele era todo sério e caladão, mas me deu
um abraço e um beijo no topo da cabeça. — Oi, Enrico. Feliz em te ver.
— Oi, Dante! — Luna puxou meu noivo para um abraço. — Seremos
da mesma família, isso não é legal?
— Sr. Fabrizzi. — Dante foi todo respeitoso com o Enrico.
— Apenas Enrico, Dante. — Enrico apertou a mão dele. — Faça a Mia
a mulher mais feliz do mundo e eu sempre serei Enrico para você.
Uau. Não precisava ser mais claro.
Dante me deu um olhar e trocamos uma risada.
— Cristo. Dois adolescentes. Não é fofo? — Luna não conseguia se
conter. Meus sogros estavam muito divertidos, não conseguiam esconder a
risada da minha prima esfuziante. Ela era assim e eu a amava tanto por nunca
perder a sua alegria, mesmo nas situações mais críticas.
Ver a Luna tão confiante e dona de si mesma me enchia de
esperanças.
Dante e eu tínhamos o compromisso de receber os convidados, não
eram muitos como seria no dia seguinte, mas eram pessoas que mereciam
certo zelo. Nós levamos quase uma hora fazendo aquela conversa de boas-
vindas antes de conduzir todo mundo para o pátio. A minha sogra cochichou
que eu não precisava ficar nervosa, para deixar os convidados à vontade.
Enquanto eles se cumprimentavam, Luna insistiu que o fotógrafo fizesse um
ensaio em algumas partes da casa e no jardim. Quase não a reconheci, porque
ela estava mandando tanto que parecia que ela era a chefe de Chicago, não o
Enrico.
— Presta atenção em sua mão, garoto. — Enrico rosnou quando o
Dante parou com a mão em meu quadril, quase na bunda. — Ela só será a sua
mulher em alguns dias. — Ele franziu o olhar. Luna revirou os olhos, eu
fiquei com as bochechas quentes e o Dante deu um aperto desafiador antes de
colocar a mão na minha cintura. Acho que ele só tirou porque o sogro da
Milena estava se aproximando para cumprimentar o Enrico.
— Não seja petulante. — Falei baixinho.
— Foda-se, você é minha. — Me deu um beijo na bochecha.
Luna abriu um sorriso de rasgar a face.
Dante se afastou para pegar bebidas e a minha prima grudou ao meu
lado.
— Uau, o novinho é possessivo. — Me provocou.
— Luna, se controla. — Grunhi.
— Aqui. — Ela pegou uma taça de espumante. — Relaxa, garota. Essa
noite, eu vou quebrar todos os seus tabus. — Me abraçou apertado. — Eu
encontrei a liberdade quando me tornei uma mulher adulta. Sei que no meio
em que vivemos, mulheres são o elo mais frágil, mas se você tiver um bom
casamento, você vai se tornar o elo mais forte. Tudo que eu quero é que você
seja feliz como um dia pensou que jamais seria. Antes de me casar, minhas
duas amigas me contaram tudo que eu precisava saber e eu farei o mesmo
com você. — Me deu um beijo na bochecha.
Eu ia responder a Luna, mas as palavras ficaram presas em minha
garganta quando uma mulher passou pelas portas principais da sala de estar
para o pátio.
Minha mãe.
Como ela ousava?
05
Mia.
Minha mãe desceu as escadas como se fosse a dona do lugar. Minha
tia, sua irmã e o seu marido, seguiam mais atrás, devagar. Luna estava ao
meu lado e ela se adiantou quando a minha mãe andou decidida até mim.
Quase deixei cair a minha taça quando a minha prima sorriu.
— Tia Selma, você teve coragem! — Ela falou em tom alegre, mas era
uma sutil alfinetada.
— Luna. — Minha mãe estava confusa, mas soou seca. De repente,
minha prima a abraçou e falou algo muito baixo. De lado, pude ver seus
lábios se movendo rápido e a expressão muito ameaçadora. O rosto da minha
mãe se amassou. — Eu sou mãe, eu só vim ver a minha filha.
Dante parou ao meu lado, ele segurava um copo de uísque e estava
olhando seriamente para a minha mãe. Só percebi que estava sem respirar
quando ele pediu para eu me acalmar. Estava segurando a minha taça muito
apertado e a minha mãe se aproximou com um sorriso enorme. Haviam
milhares de pares de olhos em nós, as velhas fofoqueiras ansiosas para ter
uma atualização em tempo real.
Minha mãe me abraçou e eu não me movi.
— Você está bonita, Mia. — Seu olhar era pesado. — Dante, meu
querido. — Ela tentou falar com o meu noivo, mas ele sinalizou para ela não
se aproximar.
— Nós não somos íntimos. Não força a barra. — Ele falou baixo. —
Aqui você é uma convidada, atenha-se ao seu lugar e agora se afaste com
esse sorriso assustador no rosto. Tome cuidado com o que vai falar, senão
você pode terminar a noite sem a língua. — Separei os meus lábios para
respirar melhor e a minha mãe se afastou. Meus tios se aproximaram e nos
cumprimentaram muito rapidamente.
Bebi o meu champanhe devagar e apoiei a taça na mesinha, pedi
licença e saí do pátio com calma. Andei pelos corredores até encontrar o
banheiro, abri a porta e me enfiei dentro, tentando controlar a minha
respiração e as batidas do meu coração. Apoiei ambas as mãos no espelho,
meu vestido parecia apertado e fechei os meus olhos, dizendo para mim
mesma que ela não tinha o direito de aparecer depois de anos e derrubar o
meu castelo.
— Mia? Abre a porta, baby. — Dante bateu na porta.
— Estou bem, já estou saindo. — Peguei algumas toalhas de papel e
limpei as lágrimas que escorreram involuntariamente, ajeitei a minha
aparência e abri a porta. — Oi, estou bem.
Ele olhou em meus olhos.
— Se você quiser...
— Não, Dante. — Cortei a sua oferta. — Estou bem, ela não vai me
afetar mais. — Garanti, ele não parecia confiante, dei um beijo em seus lábios
e saí do banheiro.
Andando atrás de mim, só na luz do pátio vi que a boca dele ficou suja
de batom e eu limpei com um dos guardanapos de linho. Evitei a minha mãe
pelo restante da noite e não me aproximei dela nem mesmo nas fotografias.
O jantar estava delicioso e como toda reunião italiana, teve muita conversa,
dança, bebidas e comida farta. No final da noite, me despedi dos convidados
e a minha prima ficou para trás, porque eu ia embora com ela para passar a
madrugada no hotel.
Dante buscou a minha pequena mala e a minha bolsa, ficamos
sozinhos na garagem enquanto minha prima se despedia dos meus futuros
sogros.
Dante fez um beicinho engraçado e me encurralou contra o carro.
— Você vai passar a noite fora...
— Não é como se você fosse autorizado a dormir lá...
— Eu ia entrar escondido e me fazer de desentendido. — Sorriu torto e
se inclinou, me pressionando no carro e me deu um beijo tão intenso que eu
fiquei tonta.
— O que foi isso? — Meu coração chegou acelerar.
— Para sua prima não te convencer a desistir do casamento e ir embora
para Chicago. Sei muito bem que eles tentaram cancelar nosso acordo várias
vezes.
— Luna não queria que eu fosse obrigada a me casar e enquanto as
relações estavam em processo... Hoje em dia, se o Enrico disser que eu não
vou me casar com você...
Dante me beijou de novo.
— Para você convencê-lo a dizer que sim. — Continuou me beijando.
— Se eu fosse vocês, parariam. Enrico está vindo. — Luna comentou e
eu pulei. — Estava dando cobertura. — Encolheu os ombros e estava
rindo.
— Até amanhã. — Dante sorriu maroto e me afastei.
Enrico passou pela porta, com a sua presença intimidante pegou a
minha pequena malinha no chão da garagem, olhando para o meu noivo.
— Espero que esse vermelho em sua boca seja sangue.
Merda.
— Vamos embora, amor? — Luna abriu a porta do carro e apontou
que eu entrasse atrás.
Dante apenas encarou o Enrico com um sorriso torto. Ele não tinha
medo, era um homem que não abaixava a cabeça. Acenei pela última vez e o
Enrico saiu da propriedade dos meus sogros.
— Fala sério, moram todos juntos? E a privacidade? — Enrico me
olhou pelo retrovisor.
— Vocês moram na mesma casa que o Damon e a Giovanna.
— Mas, quase não nos vemos, mesmo dentro da mesma casa, não tem
acesso de uma casa para a outra, apenas para a casa do meio.
— Isso é verdade, Mia. Temos bastante privacidade, cada um no seu
cantinho, com seu jardim, a sua piscina privada e claro, tem as partes em
comum e a piscina principal. — Luna explicou e assenti. — Dante não
mencionou nada sobre morarem em um lugar só de vocês?
— Não falamos sobre isso...
Me perguntei se eu queria ficar sozinha com o Dante ou se eu gostaria
de ter a minha própria casa, sem a mãe dele o tempo todo marcando em cima.
Não fazia a mínima ideia de como será a nossa vida após o casamento. Todo
casal deseja um pouco de privacidade... Será que teríamos? Curiosa sobre
como eram as casas e apartamentos ao redor da cidade, dei uma olhada e
encontrei lugares realmente bonitos. Enviei uma mensagem ao Dante
perguntando se em algum momento, ele pensou em morarmos sozinhos.
“Claro que sim. De vez em quando aqui parece um manicômio”.
“Por que?”
“Muita gente com sangue italiano nas veias, o que você acha?
Ninguém fala baixo. É música alta e gritaria, além de um se intrometendo na
vida do outro. Você quer um lugar só nosso?”
“Estava pensando sobre a nossa privacidade. Será que depois do
casamento ainda vão nos tratar como dois adolescentes?”
Me incomodava a ideia de ser madura o suficiente para me casar e não
para as demais coisas.
“Vamos procurar um lugar?”
“Seus pais não vão ficar chateados?”
“Eu tenho a minha própria família agora”.
Ai que fofo.
“Eu vou dar uma olhada em alguma coisa”.
Dante enviou me uma foto de frente ao espelho, enrolado na toalha, se
preparando para passar a noite na boate. Mordi o meu lábio, aumentando a
foto na tela, dando um belo de um zoom em seus gominhos e na toalha caída
na cintura. Cheguei a me abanar. Enrico e a Luna estavam conversando
baixinho, não parecia ser nada complicado e eu admirei a cumplicidade que
existia entre os dois.
Eles estavam hospedados em um dos hotéis mais caros da cidade e só
quando cheguei lá que eu percebi a comitiva que os acompanhava. A equipe
do Enrico sabia muito bem como se misturar na paisagem. Segui os dois até o
quarto que era como um apartamento.
— Mamãe? — Laura apareceu na sala, coçando os olhos e eu poderia
derreter ali mesmo. Laura era perfeita da cabeça aos seus pés que mais
pareciam pães.
— Você está acordada, minha flor. — Luna a pegou no colo.
— Ela acabou de acordar. — Uma mulher saiu do quarto. — Olá.
— Mia, essa é a Diana, a babá da Laura. Ela fica com o meu solzinho
quando preciso trabalhar e me acompanha nas viagens. — Luna explicou e
cumprimentei a senhora, que parecia muito simpática. — Olha só a tia Mia,
amor.
Laura estava com sono e ela só queria a sua mãe, mas aceitou ir com o
seu pai. Dei privacidade para a família se reunir e colocar a menina para
dormir. Quando amanhecesse, ela estaria mais bem humorada e poderia matar
a minha saudade. Eles separaram um quarto para mim, tomei um banho e
coloquei um pijama. Estava terminando de remover a maquiagem
corretamente quando a Luna entrou com um balde de pipoca, vinho,
chocolate e um saco de balas.
— Ela já dormiu?
— Não sei. O pai dela se vira. — Sorriu e pulou na cama. — Eu
planejei essa noite há muito tempo. Da última vez que nos vimos, a Laura
chorou e ficou pendurada nos meus peitos me deixando maluca. — Revirou
os olhos. — Ela é linda, mas sabe ser manhosa como ninguém.
— Ela é perfeita.
— Hum... Você e o Dante já conversaram sobre bebês?
— Não, isso nem passa pela minha cabeça. Eu fui ao médico na
Inglaterra, optei pela injeção porque fiquei com medo de esquecer as pílulas,
mas eu não sei se estou pronta para o sexo.
— Claro que não está, não é assim que acontece e considerando o
ambiente em que fomos criadas, eu entendo o seu medo. Eu desejei o Enrico
e eu queria ser a mulher dele em todos os sentidos, mas se você não está
pronta, não força a barra. Vai no seu tempo. — Ela me entregou uma taça de
vinho. — O que sabe sobre sexo?
— Nada? Eu li algumas coisas e tudo que aprendi foi nos livros
eróticos. — Minhas bochechas ficaram vermelhas. — Nós nos beijamos e eu
gostei. Ele só tocou minha bunda e hoje cedo deixei que tocasse em meus
peitos, mas foi só segurar, nada além. Eu fico muito nervosa, levo um
tempinho para me acalmar e eu já deixei claro para ele que não estou pronta
para o sexo... Eu quero sentir vontade, não ter medo e não... — Parei de falar.
Luna não sabia o que aconteceu no passado. Implorei para Juliana não contar
ou a Luna se culparia para sempre. Eu sabia que elas eram muito amigas, mas
eu não podia suportar a ideia de Luna sendo infeliz depois de ter se livrado
dos meus pais.
— Mia?
— Eu não quero ter medo dele, do sexo, de tudo...
— Vamos por partes. — Luna pegou o seu telefone. — Faremos uma
aula básica de anatomia e eu vou te dar dicas valiosas, mas lembre-se, isso é
sobre você e não sobre o Dante. Ele deve esperar o tempo que for necessário
e é melhor que ele mantenha o seu pau nas calças ou eu mesma virei cortá-lo
fora.
— Caramba, Luna. A maternidade te deixou tão brava. — Bebi um
pouco do meu vinho, para ter coragem líquida.
Luna conversou comigo como mãe, prima, melhor amiga, a irmã que a
vida me deu. A nossa família não existia mais. Os Maceratta acabaram. Eu
me tornaria uma Biancchi e ela orgulhosamente era uma Fabrizzi. Nunca
conheci o seu pai, não sabia se ele era um homem bom ou ruim, mesmo
pertencendo ao nosso mundo, o meu pai era o pior tipo.
Nós não dormimos, falamos a noite inteira e eu estava me sentindo
mais confiante sobre o casamento. Dante era jovem, talvez isso fosse um
problema, talvez não, mas o importante era que ele não era um homem com
uma vida pronta. Ele iria construir tudo comigo e isso me dava mais
segurança sobre um bom futuro a dois. A Luna tinha a sua própria marca,
trabalhava fora, ela viajava o mundo sem o Enrico e conquistou o seu próprio
nome. Ela era a minha inspiração.
Laura acordou cedo e com energia de sobra. Ela me deu um sorriso
imenso e se jogou no meu colo. Fiquei surpresa sobre o quanto ela falava,
mas a maior parte eu não entendia e precisava de ajuda para traduzir. Ela
tinha o seu pai enrolado no dedo mindinho e o Enrico me deixou de queixo
caído ao ter habilidades em lhe dar comida, mesmo que ela não parasse no
lugar, e trocar a fralda. Eu nunca tinha visto um homem da família cuidando
dos filhos.
— Não fiz o filho com o dedo e foi ele quem pediu para interromper a
pílula. — Luna me deu um sorrisinho maroto. — Eu nunca deixei de dormir
uma noite sequer. Enrico ficou com ela todas as noites. Passei a tirar leite
desde o primeiro dia. Eu ficava meio dormindo e acordando, confiante que
ele cuidaria dela com amor. Claro que teve noites que nós dois ficamos
acordados com ela chorando sem saber o que fazer, mas ter a Gio e o Damon
por perto ajudou muito. A mãe da Gio foi uma dádiva nas minhas primeiras
semanas com a Laura.
— Você tinha dezenove e ela nasceu depois que fez vinte, não se
achou jovem para ser mãe?
— Eu queria ter uma família logo. Giovanna levou cinco anos para
desejar ter filhos... Juliana simplesmente aconteceu. Cada um tem o seu
tempo, Mia. Se você não quiser ter filhos, está tudo bem também. Dante pode
apadrinhar um menino e treiná-lo para colocá-lo em seu lugar no futuro. —
Me deu um sorriso. Duvidava muito que uma família tão tradicional quanto a
do Dante aceitasse a história de não ter filhos. Eles rapidamente dariam um
jeito de me tirar da jogada.
Dante me buscou no hotel um pouco depois do almoço, porque eu
tinha que me arrumar para o jantar de ensaio. Ele estava muito bonito
bancando a juventude transviada com seu carro esportivo, a camiseta branca,
calça jeans alinhada, cabelos penteados para trás e óculos escuros. Seu sorriso
de garoto malandro me encheu de borboletas no estômago. Deus, eu não
posso me apaixonar pelo Dante.
Se ele não me amasse de volta, eu não poderia ficar como a minha
mãe: carente, sedenta e vingativa.
Estava tudo bem viver amigavelmente e com afeição, mas eu nunca
poderia amá-lo.
Encontrar com o Dante depois de tudo que a Luna conversou comigo
durante a madrugada me fez corar ao olhar para o meu noivo com um novo
olhar. Em público, ele não me deu um beijo, apenas um sorriso, entramos no
carro e ele deu a partida. O som do carro estava bem alto, um rock pesado
batia contra os altos falantes e ele colocou a mão na minha coxa. Reparei o
quão grande era.
— Fiquei empolgado sobre o que falamos ontem à noite e dei uma
pesquisada no trabalho. — Ele falou. Sabia que ele era responsável por um
dos empreendimentos mais caros da família e me assustava a
responsabilidade. — Entrei em contato com uma corretora e ela separou uns
lugares, podemos ver alguns hoje. Topa?
— Não quero que a sua mãe fique chateada conosco.
— Ela vai, mas vai passar. Todos voltaram a morar juntos depois que o
meu irmão morreu, mas acho que nós dois merecemos ter o nosso canto. —
Me deu um sorriso e balançou as sobrancelhas.
— Bobo.
Me perguntei como ele não estava com sono, porque eu estava cansada
por não ter dormido.
— Não gosto de apartamentos, é complicado gerenciar com toda a
equipe que precisará estar conosco, então, eu selecionei apenas casas. — Ele
dirigiu até Georgetown. — Mas se você não gostar...
— Prefiro um bairro tranquilo e sei que não poderemos morar
sozinhos, a nossa casa precisa ter espaço para os soldados que você vai
ganhar após o casamento.
— Enzo me chamou para uma reunião essa manhã.
— Fiquei sabendo quando o Enrico saiu. O que eles queriam?
— Além de me ameaçar com castração, parece que eu vou ganhar mais
do que soldados, terei a minha própria área para cuidar enquanto me preparo
para assumir o lugar do meu pai no futuro. — Me deu um rápido olhar. —
Eles querem abrir mais negócios na cidade... Trazer as boates que eles
construíram pelo país para cá. Não é algo que meu pai concorde muito,
porque ele ainda tem o jeito antigo de fazer negócios, mas não vai se opor. Eu
aceitei.
— E você vai cuidar de tudo isso?
— Não posso negar, eu vou ser o chefe um dia e tenho que me
preparar. Como tradição, o nome da primeira boate é sempre da esposa. Eles
me explicaram um esquema meio doido, porém, necessário de te manter
segura financeiramente, independente da família.
Nossa...
— Não sei o que dizer. Nunca imaginei que os homens da família
pensassem em suas mulheres. Meu pai não deixou nada além de vergonha
para a minha mãe.
— Seu pai não é referência, mas eu acredito que a maioria dos homens
devam fazer isso. Só não tenho certeza se todos fazem. — Ele diminuiu a
velocidade. — É aqui.
Nós conseguimos olhar três casas em pouco tempo. Bastava que
olhássemos um para o outro para saber que não. A posição do Dante exigia
certa pompa em uma casa, mas eu queria algo que pudesse me
imaginar passando a maior parte do meu tempo, enquanto não fazia ideia o
que fazer da minha vida. A última casa, o Dante gostou e eu vi a maneira que
seus olhos brilharam na adega e no salão de jogos no porão, que já tinha uma
mesa de ping-pong e sinuca.
A casa estava quase toda mobiliada, tinha mais quartos que eu
realmente estava confortável, porque não iria preenchê-los tão cedo. A
academia precisaria ser equipada, mas o quintal tinha uma piscina, um pátio
agradável e um jardim arborizado que precisaria de uma empresa específica
para manter. Gostei da piscina e principalmente que poderia me deitar ali
para pegar sol. Passeando com a corretora, eu podia nos ver morando ali. Ela
estava curiosa, eu conseguia ver em seus olhos e mal conseguiu disfarçar a
surpresa com a nossa idade, mas se ela vivia na cidade, conhecia o
sobrenome Biancchi e que não deveria fazer muitas perguntas.
Conhecemos a casa do caseiro e seria onde os soldados ficariam. Toda
propriedade, apesar de rodeada por outras coisas, era bem privada. Eu podia
ouvir pássaros e me peguei sonhando com um piquenique nas sombras das
árvores.
— Você quer? — Dante me parou antes de voltarmos para casa.
— Posso nos imaginar vivendo aqui, e você?
— Eu também, tem a vantagem de estar a vinte minutos dos meus
negócios e isso significa que sempre estarei por perto.
Era uma grande vantagem.
— Se você quiser, eu vou comprar.
— Eu quero. — Sorri e ele me deu um beijo suave.
A corretora faltou dançar ao nosso redor, talvez ela ganhasse uma boa
comissão com a venda. Ela disse que encaminhará a papelada. Feliz e ao
mesmo tempo ansiosa, dei a mão ao Dante, reunindo coragem de contar aos
pais dele que nós não iremos permanecer morando com eles por mais tempo.
Meu sexto sentido me dizia que a Antonella não iria gostar nem um pouco do
seu menininho sair da barra da sua saia.
Se eles acreditavam que nós dois poderíamos lidar com um casamento,
eles precisariam aceitar a nossa necessidade de construir a nossa vida longe
dos olhos atentos da família.
06
Dante.
Mia foi direto para o quarto quando chegamos em casa, estava muito
em cima da hora para ela começar a se arrumar. Ela me deu um olhar
preocupado quando eu avisei que estaria no escritório do meu pai, caso
precisasse de mim. Era como se eu estivesse indo para a sala do diretor tomar
uma bronca, eu quis rir da sua expressão fofa, mas deixei de lado. Bati na
porta da sala e entrei, sem esperar autorização. Meu pai estava tomando café
– ele era viciado em cafeína –, lendo o jornal e me deu um olhar entediado.
— Comprei uma casa para viver com a Mia. Devemos nos mudar em
até um mês após o casamento. — Anunciei me jogando no sofá.
— Muito bom. É uma boa casa? Viu o valor no mercado?
— Sim, fiz uma boa pesquisa. Na verdade, eu já estava de olho há um
tempo. — Peguei uma bala de caramelo e comi.
— Sua mãe vai surtar. — Ele adicionou, como se não fosse nada
demais. — Você é um homem feito, embora seja difícil ver você tão adulto,
eu não posso te dizer o que fazer.
— Imaginei que a mamãe seria um problema, mas a minha família
agora é a Mia. Ela merece ter a sua própria casa e nós dois merecemos ter a
nossa própria vida. Além do mais, o que me foi atribuído não foi para dividir
com os meus cunhados. — Abri um sorrisinho.
— Você vai herdar tudo isso aqui quando eu partir, Dante. Você é o
homem dessa família.
Meu pai tinha prazer em emascular os meus cunhados e eu não
entendia essa merda. Ficamos conversando, eu adorava ouvir o meu velho,
ele foi severo e meio psicopata conforme eu crescia. Eu o vi sendo assustador
e um homem tão frio quanto o gelo. Ele sabia como ser carinhoso e como ser
o chefe de uma região poderosa.
Quando olhei a hora novamente, eu precisava me arrumar.
— Não vou contar para a mamãe que nós iremos nos mudar até estar
quase tudo certo. Não quero que ela diga algo que deixe a Mia
desconfortável.
— Está me pedindo para guardar segredo da minha esposa, Dante?
— Não seria a primeira vez. — Sorri e saí do seu escritório, subindo
direto para o meu quarto.
Passei em frente a ala da Renata e ouvi vozes femininas, assim como
um grito estridente. Renata estava sendo contida pela minha mãe e a
enfermeira. Eu não concordava que eles a mantivessem ali como se ela não
precisasse de ajuda profissional em tempo integral. Não era só uma
enfermeira que poderia mantê-la em segurança. Renata não estava bem
mentalmente e ela era um perigo para si mesma e para todas as pessoas ao
redor. Eu a entendia. Ela viu a cabeça do meu irmão explodir quando o filho
da puta do Alonzo o matou.
No meu quarto, tomei banho, fiz a barba que estava começando a
crescer e penteei o meu cabelo com os dedos. Mia estava online e ela postou
uma fotografia com a sua prima em uma cama, dividindo vinho e pipoca. Nos
seus stories, ela postou um boomerang do jardim da nossa futura casa. Eu
sabia que iria gerar curiosidade, mas ia deixar assim por enquanto. Estava
ansioso para me mudar, eu queria morar sozinho há muitos anos, como
raramente ficava em casa, não achei necessidade. Com a Mia, era o certo, ter
a nossa casa e começar a nossa vida.
Meus pais estavam fazendo do meu casamento um grande circo. Eles
queriam competir com os últimos casamentos luxuosos da família e tinham
um desejo de exibir o quanto eram ricos.
As famílias dos meus cunhados já estavam na sala com as minhas
irmãs. Minha mãe estava andando de um lado ao outro e eu parei no corredor,
recebendo o Enrico com a sua filhinha pequena nos braços e a Luna,
empolgada, que me deu um abraço forte. Ela parecia ter muita energia, mas
eu estava de olho na garotinha pequena que parecia um anjinho.
— Essa é a minha dama de honra?
— A mini dama. — Luna sorriu. — Diga olá para o tio Dante, Laura.
A menininha me deu um sorrisinho maroto.
— Oi, oi. — E soprou um beijo.
Ela esticou os bracinhos e eu olhei para o Enrico, que me deu um
aceno autorizando pegar a sua filhinha. A garotinha me deu um sorrisinho,
segurando a gola da minha camisa e cheirei o seu cabelinho cheiroso. Eu não
tinha a mínima vontade de ser pai, mas eu gostava de crianças.
O olhar da Luna brilhou em a direção da escada e eu virei e parei. Mia
estava descendo a escada, usando um vestido branco longo, com uma tiara
com pérolas e ela parecia ter saído direto de um filme de tão perfeita. Seu
vestido me fazia pensar que ela era uma deusa grega. A minha deusa grega.
Devolvi a Laura para o seu pai e andei até minha noiva, incapaz de desviar o
olhar. Suas bochechas estavam coradas e não era pela maquiagem.
— Você está deslumbrante.
— Obrigada. — Ela olhou em meus olhos. — Você está lindo.
Beijei a sua mão, porque eu não poderia beijar a sua boca em público
antes do casamento. Ela estava com uma coisa que deixava os seus lábios
brilhando.
— Vocês vão me deixar doente. — Enrico bufou atrás de mim.
Ele sequer escondia que era protetor com a Mia. As tentativas de
cancelar o nosso acordo de casamento ficaram bem óbvias com o passar dos
anos. Ainda bem que os meus pais nunca desistiram, porque agora que ela
estava aqui, e eu queria ficar com ela. Talvez não sobre casar, mas namoraria.
Na família, não existiam namoros, apenas acordos e casamentos.
Mia sorriu para a sua prima e pegou a Laura com cuidado para não
sujar a sua roupa, mas a chegada dos chefes deixou a entrada da minha casa
bem cheia. Enzo Rafaelli e a sua esposa, Juliana, chegaram com as três filhas
que seriam as minhas damas de honra. As três eram lindas garotinhas que
pareciam uns anjinhos. Elas me cumprimentaram com apertos de mãos e
sorrisos.
— Sra. Rafaelli. — Dei um aceno respeitoso.
— Olá, Dante. — Juliana me deu um sorriso.
— Dante. — Enzo apertou a minha mão e sorriu para a Mia. — Você
está linda, Mia.
Ela sorriu, mas eu podia ver a sua respiração acelerar um pouco e
coloquei a minha mão em suas costas. Ela me deu um olhar e eu sorri, para
mostrar que estava tudo bem.
— Eles estão assim agora, se perdem olhando para o outro e esquecem
do mundo. — Enrico resmungou.
— Deixa de ser bobo. — Luna nos deu um sorriso.
Juliana trocou um olhar com o marido e eles riram, voltando a nos
encarar. Damon se aproximou com uma criança se contorcendo nos braços.
Ele apertou a minha mão e pediu que o menino parasse. O garotinho me deu
um olhar enfezado antes de ameaçar chorar. Luna foi até ele, pegando-o no
colo e falando baixinho.
— Esperem trinta anos antes de terem filhos. — Damon adicionou
secamente.
— Ufa. — Giovanna se aproximou. — Nino conseguiu derrubar tudo
no chão e sair correndo. — Ela nos deu um sorriso. — Vocês são tão lindos
juntos! — Ela abraçou a Mia bem apertado.
Meus pais se aproximaram e eu estava grato com a mensagem de paz
que os chefes trouxeram ao permitir que seus filhos participassem da minha
celebração de casamento. Eles nunca trariam as crianças se não tivessem a
intenção de estreitar alianças.
Mia se reuniu com as mulheres. Enquanto estava em um canto da sala,
bebendo com o Enrico, eu não conseguia desviar os olhos dela. Nem mesmo
quando um dos meus amigos mais próximos chegou com a sua família.
Matteo era filho do conselheiro do meu pai e nós tínhamos apenas dois dias
de diferença entre os nossos aniversários. Nós crescemos juntos e ele estava
empolgado com a ideia de que poderia trabalhar comigo quando assumisse a
minha nova posição.
Seu irmão mais velho, Romeo, se aproximou cumprimentando os
chefes e me deu um aperto, puxando-me para um abraço.
— Uau, Dante. Sua noiva é gata.
— Fale da beleza dela novamente e será a última vez que irá falar na
vida.
Romeo ergueu as mãos.
— Não está mais aqui quem falou. — Ele sorriu e foi para o bar.
— Idiota. — Murmurei e bebi meu uísque. Olhei para a porta e
suspirei. — Merda.
A mãe da Mia chegou com toda pompa e nariz em pé. Eu realmente
odiava que a minha mãe se importava com que os outros iriam dizer se a mãe
da Mia não estivesse presente, mas eu odiava ainda mais o quanto a Mia
ficava nervosa. Aquela mulher não parecia ser uma mãe zelosa e sim, uma
mãe invejosa.
Mia estava rodeada por mulheres poderosas e isso impediu a mãe de se
aproximar. Observei a mulher como um falcão por toda noite. Ela andou ao
redor cumprimentando, conversando, sorrindo, sendo simpática e agindo
como a mãe da noiva orgulhosa.
Nós seguimos com a programação, de fazer um ensaio fotográfico
no jardim com a minha mãe e a Luna parecendo duas diretoras de arte
sanguinárias e em seguida, ensaiando o cortejo. As crianças não colaboraram
muito. Nino só sossegou para entrar com as alianças quando eu cochichei que
o levaria para ver as minhas motos.
— Se você der uma moto para o meu filho, eu vou te matar. —
Giovanna me deu um tapinha no ombro com um sorriso doce na face.
— Eu não vou dar. — Prometi.
— Não até os dezoito. — Damon tossiu atrás de mim.
— Nada de motos. — Giovanna se afastou, olhei para o marido dela e
ele só riu.
Laura estava adorável arremessando flores por todo lugar. Quando
chegou a vez dela de entrar no ensaio, não havia mais flores, então, ela foi
rodopiando e soprando beijos para todos.
— Essa garota vai me matar. — Enrico grunhiu.
Meu casamento seria um circo se as crianças não se comportassem.
Felizmente, as três filhas da Juliana eram mais velhas e executaram os seus
papéis perfeitamente. Enrico entraria com a Mia e eu fiquei um pouco
nervoso ao perceber o quão intenso era o momento que a noiva está andando
em direção ao altar. Eram os seus últimos passos como solteira, entregando-
se de corpo, alma e coração para o seu noivo para protegê-la e amar. Eu não
amava a Mia. Tinha afeição. Foram muitos anos ciente que esse momento
chegaria e eu gostava de pensar que nos daríamos muito bem.
Quando o Enrico a entregou para mim, eu olhei em seus olhos, com o
coração tomado com uma necessidade urgente de protegê-la do mundo. O
olhar da sua mãe em nós me deixou muito irritado. Dei a ela um olhar e
rapidamente se afastou, se escondendo entre os convidados que assistiram ao
ensaio. Durante o jantar, ela se manteve conversando com a fofoqueira da
sogra da minha irmã.
— O que foi? — Mia cochichou.
— Nada. — Olhei para o seu prato quase intocado. — Sem fome?
— Um pouco nervosa. — Admitiu bem baixinho.
— Não precisa ficar nervosa, nada vai acontecer e amanhã será
perfeito.
Mia sorriu, mas eu podia sentir a tensão em seus olhos. Ela voltou a
comer por insistência da Luna, que tentava administrar a filha pequena e o
Nino, que jogavam comida no outro.
— Eu desisto, vá sentar com o seu pai. — Giovanna reclamou e o
menino saiu correndo com um sorriso sardônico. Mia e eu trocamos um
olhar, definitivamente, filhos estava fora da equação para nós dois.
Enzo deslizou um envelope pela mesa e o olhei confuso.
— Presente de padrinho.
Por honra, Enzo e Juliana eram um dos nossos casais de padrinhos.
Enrico e Luna completavam o segundo par, como família da Mia. Peguei o
envelope e abri, revelando ser informações sobre o voo na manhã de domingo
para Turks e Caicos.
— Lua de mel. — Juliana sorriu. Mia me deu um olhar empolgado
pela viagem, e não era pela parte que eu estava ansiando.
— Obrigada. — Mia comemorou. — É um dos lugares que mais
sonhava em conhecer!
— Nós sabemos. Luna deu a dica. — Juliana riu.
— Lua de mel. — Enzo balançou as sobrancelhas e eu ri. Mia ficou
vermelha.
— Para com essa bobeira. — Juliana o repreendeu. — Ignore-o. —
Aconselhou a Mia.
Meus pais estavam observando tudo. Eles sabiam que a Mia tinha
proximidade com pessoas importantes da família e esse era um dos motivos
pelo qual eles almejavam esse casamento. Conexões e laços de sangue era o
que movia os nossos negócios. Meu pai estava louco para se aposentar, mas
ele não vai fazer até que eu tenha um pouco mais de experiência e esteja
estabelecido.
— Eu preciso ir ao banheiro. — Mia cochichou e assenti, ela afastou a
sua cadeira e foi andando pelo pátio com o vestido meio erguido para não
tropeçar.
Mesmo com um falatório terrível entre as mesas, eu notei a ausência da
mãe da Mia e imediatamente saí do meu lugar, entrando na casa.
— O que você quer, mãe? — Ouvi a Mia chorar.
— Eu quero que você convença a família do seu marido a me dar uma
pensão. Você está se casando com um homem rico porque eu fiquei quieta,
querida. — Ouvi a mãe dela soar arrogante. — Sempre quis um bom
casamento para você. Acha mesmo que os Biancchi iriam querer uma mulher
que não é mais pura para o seu único filho? O que vai acontecer se eles
descobrirem que você é uma putinha desde nova?
— Mãe? — Mia estava horrorizada.
— Não vai acontecer nada. — Entrei na sala. — A única coisa que vai
acontecer é que eu vou arrancar a sua cabeça se continuar ameaçando a Mia e
falando besteiras por aí. — Ela arregalou os olhos com a minha presença.
— O que está acontecendo? — Minha mãe entrou na sala.
— Saia da minha casa agora e não ouse comparecer ao casamento.
Fora! Agora!
Dando um olhar vingativo a Mia, sua mãe saiu de cabeça erguida
mesmo com Felipe rebocando a pelo braço. Mia estava congelada no lugar,
com os olhos arregalados e chorando. Meu pai entrou na sala devagar,
desconfiado.
— O que essa mulher estava falando? — Olhei para minha mãe. —
Por que você a convidou? Está satisfeita agora?
— Eu sou virgem. — Mia balbuciou e ela estava olhando para o nada.
— Mia? — Parei na sua frente. — Ei, isso não importa.
— Claro que importa. — Meu pai rebateu. — Antonella, o que está
acontecendo aqui?
— Não importa para mim e eu que sou seu noivo. Amanhã serei o seu
marido, está tudo bem. — Beijei a sua testa e ela escondeu o rosto em meu
peito.
— Alguém vai me explicar? — Meu pai estava perto de explodir e pela
expressão da minha mãe, ela sabia mais do que estava contando.
— Eu matei o meu pai. — Mia falou baixinho, mas eu ouvi muito bem.
Segurei os seus ombros e a afastei gentilmente. Ela chorou mais ainda. — Fui
eu quem o matou, não foi a Juliana. Ela assumiu a culpa por mim quando
chegou, porque eu estava com medo e vergonha que as pessoas soubessem.
Ele tentou... — Ela ficou sem ar de tanto que soluçava. — Só me defendi.
— Mia, amor. — Minha mãe a puxou para os seus braços. — Está tudo
bem, querida.
Luna estava parada na porta em choque. Ela não sabia.
— É isso que ela estava tentando dizer. Ela acha que ele conseguiu
naquela noite... — Mia fungou. — Meu pai estava em meu quarto quando eu
saí do banho, ele estava bêbado e eu fiquei assustada. Gritei por ela e quando
chegou, me acusou de ter deixado o meu pai entrar e que eu era como a Luna,
querendo roubar o seu marido. Ela me arrastou pela casa até a sala dos
guardas, dizendo que eu ia aprender a ser prostituta de verdade, mas eles só
me cobriram e um deles me levou de volta ao quarto. Foi ele quem me disse
que o meu pai estava traindo a família e então, eu contei para a Juliana o que
iria acontecer. Dias depois, ele quase foi pego com as garotas menores, ele
chegou em casa furioso que alguém o traiu e ele me viu, nervosa, eu corri. Eu
não sei por que eu corri, ele estava quebrando as coisas, apenas senti medo
que desconfiasse que fui eu. Ele correu atrás de mim.
Ela parou um pouco e eu estava com a mente em branco.
— Ele me alcançou na biblioteca, eu caí no chão e então ele rasgou as
minhas roupas.
Foda-se, eu estava fervendo.
— Eu chutei as suas partes... — Ela me olhou nos olhos. — Ele não
conseguiu ficar, você sabe, então ele ficou com raiva e tentou pegar a faca
dele para... Ele gritava comigo, me batia. Quando ele pegou a faca, a arma
dele caiu, eu peguei e atirei nele. Ele ainda estava vivo, só ferido... — O rosto
dela amassou. — Mas eu atirei mais vezes. Eu escolhi matá-lo.
— Meu Deus, Mia! — Luna correu até ela e se jogou. As duas caíram
em um abraço. — Por que você nunca me contou?
— Eu estou com tanta vergonha.
Mia e a Luna choraram juntas, agarradas. Pela expressão da minha
mãe, chorosa e ferida, ela já sabia. Meu pai estava tão chocado quanto eu.
Juliana e o Enzo estavam encostados no fundo da sala. Ele não falou nada,
apenas me encarou. Enrico estava mais próximo das meninas, preparado para
apoiá-las se precisassem. Damon e Giovanna estavam com as crianças no
pátio, brincando e impedindo que entrassem na sala, assim como qualquer
convidado.
— Eu não sou impura. — Mia estava com medo.
— Claro que não é. — Luna garantiu. — Você é perfeita.
— Tirou um macho escroto do mundo, por mim, você é uma heroína.
— Juliana se afastou da parede e encarou o meu pai. — Eu decidi acatar a
decisão da Mia em não contar que ela matou o seu pai por abusar dela. Ele
pode não ter conseguido ir para as vias de fato, mas ele abusou dela física e
psicologicamente. Como o ego dos homens dessa família é uma coisa
realmente frágil, eu decidi ocultar essa parte para que ela pudesse seguir com
o acordo. Quanto a mãe, estava esperando passar o casamento.
— Não importa para mim. — Eu garanti. — Nada disso importa.
Meu pai me encarou, assentiu devagar e olhou para a Mia.
— Se eu soubesse, você nunca ficaria na Inglaterra. — Eu ia avançar
nele se ousasse tentar desfazer o meu noivado. — Você ficaria aqui. Eu
cuidaria para que as suas feridas fossem curadas adequadamente. Você é só
uma menina, Mia. — Ele esticou a mão e ela pegou. — Sinto muito, menina.
Um pai não faz isso. Eu sou pai e amo as minhas filhas, amo a você também.
— Eles se abraçaram. —Não precisam se casar agora. Se precisar de mais
tempo, tudo bem. Nós sempre cuidaremos de você.
Mia me deu um olhar cheio de lágrimas. Se ela quisesse cancelar o
casamento, eu teria que aceitar, mas eu não iria renunciar ao nosso noivado.
— Realmente não se importa? — Hesitante, se aproximou.
— Claro que não. — Segurei o seu rosto molhado. Queria lhe dizer
tantas coisas, mas estava engasgado. Com ódio. Não dela, mas de todos os
homens como o seu pai. — Você é perfeita, Mia.
— Ainda quer se casar?
— Sim e você?
Diria sim mil vezes.
— Sim. — Ela sorriu e me inclinei para beijar os seus lábios, mas o
Enrico me segurou pelos ombros. Mia riu. Só a risada dela me fez ficar
calmo.
— Só amanhã. — Ele bufou.
— Você tinha que estragar? — Luna reclamou e secou o rosto. — Ia
ser perfeito.
— Mia, você tem uma família. Todos nós somos a sua família. —
Enrico garantiu. — Ninguém vai saber o que aconteceu, está bem?
— Obrigada.
— Agora vem, vamos retocar a maquiagem. — Luna segurou em sua
mão e a puxou. Mia me deu um olhar gentil e saiu com a sua prima. Juliana
foi atrás dela. Minha mãe parou em minha frente, me abraçou confessando
que tinha orgulho de mim e saiu com elas.
Ficamos só os homens na sala.
— Eu vou entender se você quiser cancelar o acordo. — Enrico enfiou
as mãos nos bolsos e estava falando com o meu pai. — Um homem na sua
posição pode ficar desconfortável com uma garota que não hesita em
denunciar uma traição.
— Eu vou deixar passar a sua insinuação. — Meu pai ponderou.
— Não é uma insinuação. — Enrico era voraz.
Eu ri. Minha risada atraiu a atenção de todos.
— Muito bem. Eu vou deixar uma coisa clara para todos vocês... —
Apontei para a escada. — Aquela garota é minha. Não vai ter porra nenhuma
de acordo cancelado e se tentarem, eu vou pegar a Mia e entrar no próximo
avião para Las Vegas. Vocês não vão me impedir de casar com ela e quem
decide esse caralho sou eu.
Enzo abriu um sorriso afiado e o meu pai quase explodiu de orgulho.
— Bem-vindo à família. — Enrico apertou a minha mão.
Cacete. Era um teste.
Foda-se todos eles.
07
Mia.
— Você está bem? — Luna parou de retocar a minha maquiagem e
me encarou. — Eu sinto muito, Mia. Por que você nunca me contou?
— Estava com vergonha e não queria que você se sentisse culpada.
— Eu deveria ter levado você comigo. — Me abraçou apertado. —
Se eu soubesse, eu nunca permitiria que a Juliana fizesse um acordo de
casamento. Faria o que fosse possível para te manter em Chicago.
— Era exatamente isso que eu não queria: me tornar uma pária como
a minha mãe. Eu queria a chance de ter um bom casamento e uma boa vida,
como toda mulher em nosso meio. — Segurei em suas mãos. — Tudo que eu
queria era a oportunidade de ser feliz como você.
— Você vai.
— Ah, Luna. Não chora.
— Estou grávida. — Ela soltou e eu ri. — Descobri hoje cedo.
Passei mal com todo o vinho e desconfiei, porque nunca passo mal.
— Parabéns! — Abracei-a bem apertado. — Ah, Luna. Você vai ser
mamãe de novo.
— Eu só quero saber o que eles vão fazer com a Giovanna e eu
grávidas ao mesmo tempo. — Soltou uma risada. Giovanna estava grávida de
três meses, mas ela não estava anunciando para todo mundo. — Vem, vamos
deixar esse baixo astral de lado e apreciar sua despedida de solteira. Os
homens já levaram o Dante e prometeram devolver ele inteiro.
— Espero que devolvam mesmo. — Sorri e voltamos a me maquiar.
Para a minha despedida de solteira, apenas as mulheres mais jovens
foram convidadas. Troquei de roupa, tirei o meu lindo vestido branco modelo
helênico com a tiara de pérolas mais delicada de todo o mundo. Vesti um
clássico tubinho preto com scarpins de saltos finos. Soltei o meu cabelo,
escovando a minha franjinha e eu decidi deixá-la crescer. Dava muito
trabalho mantê-la no lugar.
Pensei que a minha despedida seria algo tranquilo, mas eu quase caí
da escada quando vi a sala. Minha sogra cobriu os sofás com um tecido roxo,
havia uma garota atrás do bar preparando bebidas e a minha cunhada ligou
um painel no qual um grupo de homens apareceram dançando. Ela reduziu as
luzes e era como se estivéssemos com uma boate dentro de casa.
Juliana entrou na sala dançando, avisando que as crianças dormiram
e as babás que vieram com elas estavam nos quartos de hóspedes. Giovanna
me deu um copo de bebida. Era uma batida de morango muito gostosa que eu
bebi quase a metade.
— Tem álcool aí, só para avisar. — Giovanna riu.
— Atenção, senhoras. — Lisa subiu na mesinha com a ajuda da
Milena. — Vamos começar a brincadeira! Como estou grávida, eu não vou
beber, mas vocês vão me ajudar a ensinar essa noivinha como se divertir.
— Eu vou fechar a porta e sair. — Antonella anunciou.
— Não vai ficar? — Parei-a.
— Você não vai querer a mamãe aqui com tudo o que eu arrumei. —
Milena estava com um sorriso maldoso. — Deixa a sua sogrinha sair.
— Até amanhã. — Antonella me deu um beijo e saiu.
— Mia Biancchi, vem aqui. — Milena apontou para a cadeira. —
Esse é o seu trono.
Ai meu Deus, o que elas vão fazer comigo?
Ganhei presentes, muitos deles, minha prima desenhou as mais
lindas camisolas, mas também me deu os pijamas fofos que eu amava usar
em casa. Juliana me deu uma coleção de óleos eróticos.
— Faça aquele garoto usar muito as mãos e a língua. Não aceite
nada menos que ser idolatrada, dentro e fora da cama. — Me aconselhou.
— Eles são os homens da família, mas dentro de casa, são apenas
maridos. — Milena me deu uma caixa de calcinhas e todas eram lindas.
— E como você vai em lua de mel para um lugar paradisíaco, eu
comprei um monte de biquínis. — Giovanna me entregou uma bolsa. — Nós
fizemos uma viagem para lá ano passado e adoramos o lugar.
Agradeci todos os presentes e então, a minha cunhada colocou um
vibrador roxo na minha frente.
— Agressivo, eu sei. — Piscou. Milena era má. — Nessa caixa tem
tudo que uma garota precisa saber para o seu prazer pessoal. Sim, sexo com o
seu marido vai ser gostoso, mas você precisa se conhecer, se tocar, passar a
mão em tudo e assim vai conseguir apreciar qualquer contato a dois.
Abri a caixa preta, encontrei lubrificantes, um vibrador clitoriano,
um vibrador muito menos ofensivo do que estava na mesa e várias cartilhas
com dicas sobre como me tocar. Era um pouco agressivo, mas eu
simplesmente amei que todas elas se reuniram para me dar um pouco de
segurança. Elas não pararam nos conselhos, seguiram firmes em me
enlouquecer com todos os tipos de insinuações sexuais e me dar de presente o
primeiro porre.
— Bebe o shot ou liga para o Dante e tenta fazê-lo entender que
você precisa de lubrificante. Lembre-se que você já bebeu para não ensaiar o
sexo oral. — Milena me entregou o seu telefone. — E amanhã você não quer
estar de ressaca no seu casamento, quer?
— Um dia eu vou me vingar. — Murmurei e peguei o telefone. Eu
não fazia ideia de onde o Dante estava. A maioria dos homens tinham as suas
despedidas de solteiros nas boates e com garotas de programa. Dante fez os
exames que pedi, mas ele ainda não tinha o resultado. Acreditava na palavra
dele que estava limpo, só tinha o direito de garantir.
Liguei para o Dante e ele atendeu no segundo toque.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não, está tudo bem. É que eu preciso de um favorzinho... —
Pensei rapidamente no que dizer. — Você poderia passar em uma farmácia
antes de voltar para casa?
— Está sentindo-se mal?
— Não vai dar tempo de fazer compras antes da nossa viagem... —
Engoli seco. — Então eu queria que você comprasse aquela coisa... que ajuda
a escorregar.
— O quê?
— Sabe... É de passar e normalmente as pessoas usam para facilitar
entradas e saídas. — Fechei os meus olhos, mortificada. Dante começou a rir.
— Dante?
— Você quer que eu compre lubrificante? — Ele estava se acabando
de rir.
Encerrei a chamada sem falar nada, porque eu já tinha conseguido
executar a missão, mas eu estava tão envergonhada que bebi o shot mesmo
assim. Elas estavam rindo de mim e eu joguei um punhado de confetes nelas.
Minha despedida foi maravilhosa, me diverti, bebi, dancei e no meio da noite,
me despedi da Juliana, Giovanna e a Luna com as crianças, junto com uma
comitiva de guardas e carros que quem visse pensaria que o presidente dos
Estados Unidos estaria fazendo um passeio noturno.
Agradeci as minhas cunhadas pela noite e entrei no elevador, porque
eu não tinha pés para subir as escadas. Tomei um banho e vesti um pijama
confortável, estava com fome e sem sono, nervosa demais sobre o dia
seguinte. Fiz um queijo quente na chapa e abri uma latinha de Coca-Cola.
Estava no meio de uma mordida quando Dante abriu a porta, ele estava sem
camisa e com uma calça do pijama, segurando um saco de papel.
— Não acredito que você comprou de verdade.
— Era uma brincadeira? — Ele riu e passou por mim, me dando um
beijo rápido na bochecha e pegou uma latinha para si. — Pode ser útil.
— Idiota. Era uma brincadeira da minha despedida. A propósito,
como foi a sua? — Ele pegou o meu sanduíche e mordeu. — Dante!
— Isso é bom, colocou quantos queijos?
Revirei os olhos e o empurrei para o fogão, ensinando como fazer.
Ele ficou concentrado e eu comi, admirando o quanto era bonito, usando
apenas uma calça de pijama.
— Não vai me contar?
— Ah... Foi diferente do que esperava e definitivamente muito mais
divertido. Eles me levaram para uma competição de carros não muito longe
daqui e eu pude colocar o meu carro na pista. É óbvio que eu ganhei. —
Sorriu torto e eu virei o pão ou ficaria queimado. — Enrico também correu,
mas é melhor você não comentar nada. É tipo clube da luta, eles vão negar
até a morte.
— E por que está me contando?
— Porque você é discreta.
— Você não deveria estar aqui, dá azar ver a noiva antes do
casamento.
— Dá azar matar para viver, então. — Ele sorriu torto. Dante tinha
um péssimo senso de humor. Terminado os sanduíches, sentou-se em um
banquinho e começou a comer. — Você está muito longe, vem aqui. — Me
puxou para os seus braços e me colocou em seu colo. Tentei não ficar toda
tensa, mas eu gostei da proximidade.
Nunca imaginei que a noite anterior ao meu casamento seria
comendo queijo quente e bebendo Coca-Cola com o meu futuro marido. Nós
terminamos de comer e fomos para a cama. Dante não parecia nada inclinado
em sair e eu não pedi que saísse. Ele quase mexeu nos meus presentes e fez
um beicinho pois tudo que ele ganhou foi mais trabalho e uma reunião
surpresa que eu fiquei curiosa, mas não fiz perguntas. Haveriam certas coisas
do seu trabalho que era melhor que eu não soubesse.
Quando acordei, ele não estava mais ao meu lado e a louça estava
lavada. Levantei-me exatamente no momento que Antonella entrou em meu
quarto com a Milena, ambas carregavam o meu vestido com reverência. Elas
penduraram a capa na porta e abriram, revelando o meu vestido. Bati palmas
no centro da cama e a Sra. Caprese entrou com o meu café da manhã. Comi
na cama enquanto um circo era armado no meu quarto. Tirei uma foto do
meu café e postei no Instagram, marcando o Dante.
Ele postou uma foto sem camisa, após malhar, todo suado e com um
sorrisinho. Maldito. Haviam tantos comentários de mulheres que eu quis
responder uma a uma. Imbecil. Enquanto a maquiadora arrumava as suas
coisas e a menina que ia fazer o meu cabelo se encontrava em suas malas de
trabalho, a massagista pediu que eu me enrolasse em uma toalha para a minha
massagem. Fui rapidamente ao banheiro e peguei a toalha, tirei a minha
roupa, me enrolei e parei na frente do espelho, tirei uma foto, editei e postei.
Nunca fui de me exibir, mas eu não conseguia controlar o ciúme.
Dante postava fotos comigo, ele não me escondeu desde o momento em que
nos vimos pela primeira vez.
A minha legenda era sugestiva aos meus preparativos do casamento.
Me deitei na maca para a minha massagem e o meu telefone vibrou. Várias
pessoas curtiram a minha foto, minha prima comentou e em seguida milhares
de comentários das pessoas que me seguiam por causa dela e de Dante.
E pensando nele, comentou em minha foto todo possessivo.
“Minha mulher é muito gata”.
Besta.
Sorri e curti, mas não respondi. Fiz um stories recebendo a minha
massagem, onde aparecia parte das minhas costas e o relevo da minha bunda,
coloquei em preto e branco, postei e fechei os meus olhos. A fotógrafa
chegou para acompanhar o meu dia de arrumação. Luna chegou toda
animada, falando pelos cotovelos. Meu quarto estava com uma rotatividade
de mulheres falando alto, se arrumando e tirando fotos. Quando fiquei pronta,
amei o resultado no espelho.
— Agora é a hora mais importante. — Antonella bateu palmas. — O
vestido!
Minhas cunhadas estavam surtando. Luna ajudou a minha sogra a
tirar o vestido e parecia uma cerimônia para colocação do vestido. Eu não
poderia usar um sutiã por conta do modelo e fiquei só com a minha calcinha e
as meias com a liga. Já acostumada devido às provas, o vestido precisava de
muito cuidado e quando o vesti, fiquei parada na frente do espelho. Luna
levou as mãos à boca, minha sogra começou a chorar de novo e as minhas
cunhadas mal conseguiam se conter.
Eu tinha que admitir, eu estava maravilhosa.
A fotógrafa me levou para alguns lugares da casa e do jardim enquanto
o cortejo se preparava para sair. A festa seria em um hotel da cidade, para que
não ocupasse o quintal dos meus sogros já que festas de italianos
costumavam não ter fim e foi mais fácil para todo o esquema de segurança. A
lista de convidados confirmados beirava a trezentas pessoas entre políticos,
famosos, pessoas ricas, influentes e milhares de membros da família de todo
país.
Luna sinalizou que era hora de irmos e eu estagnei quando chegamos
no carro. Enrico colocou a Laura em uma cadeirinha, ela me deu um sorriso.
Luna entrou e eu fiquei parada.
— Acho que vou precisar de ajuda para entrar no carro. — Olhei para
o Enrico.
— Vamos erguer o seu vestido, você senta, coloca as pernas e eu vou
colocar o restante do vestido em cima de você e fechar a porta. — Explicou e
assenti, foi meio engraçado tentar sentar e eu tive uma crise de riso. Luna se
compadeceu e me ajudou, rindo sem parar. Enrico nos olhou e balançou a
cabeça, com um sorriso contido, como se entendesse que a loucura era uma
coisa de família.
O caminho para a igreja me deixou com os nervos à flor da pele.
Controlei a minha respiração e tentei manter a minha mente limpa, mas ao
ver a quantidade de carros, a imprensa, convidados entrando, polícia,
seguranças, soldados, eu me abanei porque estava suando. Ninguém ousou
tirar foto do carro, mas eles sabiam que era a noiva. Minha sogra saiu da
igreja, toda espalhafatosa, acenou para a imprensa e revirei os olhos. Ela
amava atenção, meu senhor.
— Eu vou levar a Laura para a Giovanna. — Enrico avisou ao sair do
carro, pegou a pequenininha e entrou na igreja.
— Você está bem?
— Sinto que vou desmaiar.
— Vai dar tudo certo. — Luna me deu um sorriso. — Você está tão
perfeita, Mia. Não consigo desviar o olhar de você.
Enrico voltou para o carro e era a nossa deixa. Ele ajudou a Luna a sair
primeiro, em seguida, ela arrumou o meu vestido e eu saí com todo cuidado
do mundo. Meu decote estava firme e a Milena pegou o meu véu e fixou. As
pessoas estavam aplaudindo e me gritando, olhei sem graça para a multidão e
dei um tímido aceno.
— Por que tem tantos homens de preto? — Cochichei com o Enrico.
— O homem mais importante para esse povo está sentado na segunda
fileira.
— Quem?
— O presidente, Mia. Sebastian Vaughn.
— Ah, sim. Eu estava fora do país, esqueceu? Eu nem sabia quem era
o presidente, além do mais, eu nunca votei porque eu estava na Inglaterra. —
Falei e ele riu.
— Eu não voto, sou italiano. — Ele sorriu.
Giovanna soltou um suspiro quando me viu, mas ela mal pode me dar
atenção, estava correndo atrás do Nino. A babá segurou a Laura a tempo de
ela correr na direção oposta. Aquelas crianças iam causar em meu casamento.
Amália me deu um abraço antes de entrar. Ela estava entrando com uma
placa, em seguida, foi a vez da Anna. Aria iria entrar junto com a Laura e o
Nino com as alianças.
— Respira, Mia. — Enrico sussurrou quando chegou a vez da Luna de
entrar. Nós éramos os próximos. — Essa é a sua vida agora.
— O que você quer dizer?
— Damon e eu decidimos dar uma parte do território da Sicília ao
Dante quando ele assumir. É o nosso presente de casamento e um lembrete
claro que você é a parte preciosa desse casamento. — Ele apertou a minha
mão em seu braço e sorri.
— Obrigada.
As portas de madeira se abriram e a igreja lotada se revelou em minha
frente, assim como um longo caminho de um tapete de flores. Respirei fundo
e dei o primeiro passo em direção a minha nova vida.
08
Mia .
Enrico me levou através do corredor e eu mal registrei a presença dos
convidados, olhando fixamente para frente, controlando a minha respiração e
eu sorri para a expressão embasbacada do Dante. Ele chegou a passar a mão
no rosto e gesticular admirado, fazendo os convidados rirem. Quando me
aproximei do altar, ele desceu os degraus e o Enrico segurou a minha mão
entregando para o Dante.
— Você está tão perfeita. — Dante tirou o véu e olhou para o meu
rosto. — Linda.
Caramba... Até poderia acreditar.
Nós subimos a escada até o topo do altar e a cerimônia começou. Meus
sogros faziam questão de uma cerimônia tradicional, o que em meu ponto de
vista, levou uma eternidade. Quando chegou a hora de dizer o sim, nós
observamos as crianças fazendo uma farra ao jogar as flores e entregar as
alianças. A igreja inteira riu quando a Laura arremessou um punhado de
flores bem no Sr. Presidente, Sebastian Vaughn.
Dante desceu a escada e segurou a mão de ambos, Nino me deu um
sorriso adorável, beijei a sua bochecha e ele me entregou as alianças. Laura
continuou pegando as pétalas e arremessando até que a mãe dela pegou-a no
colo e o Nino obedeceu a Luna, seguindo logo atrás.
Nós fomos declarados marido e mulher. A minha aliança combinava
com a minha aliança de noivado. Dante ajeitou o meu véu com cuidado e se
aproximou na hora do beijo, sorrindo como um bobo, agarrando a minha
cintura e finalmente me beijando em público, o que ele era proibido de fazer
até então. Enrico deu a ele um olhar bravo, o que me fez rir ainda mais. Dante
balançou as sobrancelhas, implicando de volta e algo me dizia que os dois
iriam pegar muito um no pé do outro.
Enrico não era conhecido por ter senso de humor e ele era
extremamente protetor.
De mãos dadas, saímos da igreja e fomos recebidos com flashes,
aplausos e chuva de arroz. Entrei no carro primeiro, com menos cuidado que
a primeira vez e ele puxou a saia do meu vestido, entrando em seguida.
Felipe e o Matteo estavam no banco da frente, prontos para nos levar pela
cidade enquanto os convidados seguiam para o Alexandria, o hotel mais lindo
da cidade, parecia um palácio antigo por dentro e era o que tinha o maior
salão.
— Mia, você está perfeita. — Dante apertou o botão e subiu a
privacidade do carro. — Que belos peitos...
— Dante!
— Eu nunca ia imaginar que você usaria esse decote. — Ele colocou o
dedo no meu decote e tentou dar uma espiada. — Por isso que você não podia
pegar sol. — Passou o polegar pela borda. — Você está linda.
— Escolhi o seu smoking muito bem, verde escuro fica perfeito em
você e combina com os seus olhos. — Ajeitei a sua gravatinha. — Nos
casamos.
— Casamos! Sabe o que isso significa?
— Me tornei uma senhora quando mal fui uma senhorita? — Brinquei,
forçando o sotaque britânico. Ele riu e chegou mais pertinho, beijando o meu
pescoço.
— Você é minha. — Falou baixinho e fiquei toda arrepiada. — Eu vi a
foto que você postou recebendo uma massagem. Minha senhora seminua na
internet.
— Você é do tipo ciumento?
— Acho que sim. — Ele riu.
— Eu descobri que sim, mas não vou te impedir de postar nada porque
eu não quero que me impeça também, mas acho que temos que ter bom
senso.
— Sou o rei do bom senso. — Disse o homem que exibia o corpo
sarado nos quatro cantos do universo. Arqueei a minha sobrancelha e ele
tirou uma foto. Ficou engraçada, mas não feia. Ele postou no stories “dois
minutos de casamento e ela já me deu o olhar”. — Estamos chegando, vamos
entrar pelos fundos do hotel e a minha mãe já está me ligando.
— Meu telefone ficou em casa, não tinha onde enfiar. — Gesticulei
para o meu vestido. Ele olhou para o meu decote e balançou as sobrancelhas.
— Idiota.
— Você vai ter que se acostumar, por dez dias vamos ficar sozinhos
em um lugar de praia e eu duvido muito que vá conseguir não ficar de
biquíni. Depois, nós iremos para Itália. Eu recebi uma ordem de trabalho lá
do Damon e eu não sei quanto tempo vamos ficar fora... Ele vai nos
emprestar uma casa em sua villa , então, você vai ter muito tempo com a sua
prima.
Meu coração se encheu de alegria, mas eu me preocupei com o que o
pai dele poderia achar de ficarmos tanto tempo fora.
— E o que o seu pai achou de tudo isso?
— Ele está orgulhoso que os chefes estejam me dando espaço, eu sei
que parte é porque meu pai conquistou muito, fez o seu nome e nunca agiu
fora do comando do Enzo. Isso é importante em nosso meio, lealdade é tudo.
Nicola e Enzo eram próximos, acho que isso conta um pouco, mas eu sei que
os chefes estão fazendo tudo isso porque esse casamento, bem ou mal, é
político. Você é a única parente viva da Luna Di Fabrizzi. Enrico conquistou
muito nos últimos anos, eles enriqueceram e expandiram, então todas essas
coisas são por sua causa. — Dante comentou naturalmente. Gostava que ele
era sincero, sem muitas enrolações e o que me contou fazia todo sentido com
o que o Enrico me disse antes de entrar na igreja.
Sempre me senti como a escolha inevitável e todas essas informações
fizeram com que eu me sentisse muito importante. Eu não pude falar nada,
porque chegamos ao hotel e vi a minha sogra com a fotógrafa. Giovanna
estava tentando organizar as crianças para uma foto e parecia impossível com
o Nino correndo ao redor. O pai dele apareceu, falou algo severamente e o
menino voltou para o seu lugar de braços cruzados. Eu tinha vontade de
morder aquelas bochechas gordinhas.
Dante saiu primeiro, fiquei tentando arrumar o meu vestido e ele
voltou para me ajudar.
— Você está parecendo uma princesa sexy. — Dante refletiu e ri. — É
sério. Eu vou poder tirar o vestido mais tarde?
— Não vou ficar o tempo todo com esse vestido.
— Vai ter uma troca?
— Sim.
Ele fez um beicinho.
— Você pode tirar... e me ajudar com o outro...
Ele sorriu, malandro.
Que Deus me ajudasse a não ficar constrangida na hora.
Nós tiramos fotografias sozinhos, com as crianças, com a família e os
casais de padrinhos. Tirei o véu, que estava pesado e nós esperamos sermos
anunciados pelo DJ para entrar no salão. Estava mais cheio do que imaginei e
ri, de puro nervoso, por estar em tanta evidência. Felizmente, Dante não me
soltou e a Luna estava sempre por perto. Não queria ter um ataque histérico
no meio da minha festa de casamento. Nós passamos cumprimentando os
convidados de mesa em mesa.
— Você cresceu, garoto. — Sebastian Vaughn abraçou o Dante. Pelo
que sei, as famílias se conheciam desde quando o Dante era muito pequeno.
— Parabéns pelo casamento. — Ele sorriu e olhou para mim. — A sua noiva
é maravilhosa.
Conheci a esposa, nora, filho e as filhas. Era uma família muito bonita.
Nós nos afastamos e passamos por mais um monte de mesas. Meus pés
estavam doloridos quando terminamos e eu precisava beber alguma coisa.
Luna me entregou água e a Milena nos deu taças com espumantes. Dante e eu
brindamos e fomos para a mesa, para o jantar e os discursos dos padrinhos.
Enzo e a Juliana foram concisos e doces, já a Luna me fez chorar. Enrico foi
fofo de um jeito protetor para mim e assustador com o Dante, o que arrancou
risadas de um monte de gente.
— O que vai querer primeiro? — Dante pegou o menu do jantar.
— Comida japonesa.
— Vegana?
— Tudo. — Sorri e ele passou o braço em meu ombro. Nós
escolhemos o que queríamos no menu e ele beijou a pontinha da minha
orelha. Fiquei arrepiada e ele percebeu, sorrindo e repetindo. Ergui o meu
rosto e nos beijamos sem nenhum pedido de beijo por parte dos convidados.
O garçom se aproximou, pegou os nossos pedidos e serviu mais espumante
em nossas taças.
A nossa mesa era uma das maiores, mas porque a família era grande.
Do meu lado, estavam os três chefes: Enzo, Juliana e o Damon com as suas
famílias, assim como a Luna e o Enrico com a Laura. Do lado do Dante, seus
pais, irmãs e os maridos. Renata não estava e eu me perguntava se ela não
tinha condições de sair ou se a família escondia a sua loucura.
Nino quis os meus bolinhos de peixe frito e literalmente subiu em meu
colo, adorando as mordidas com os hashis. Giovanna estava com medo de
que ele me sujasse de molho, então Dante nos envolveu com a toalha da
mesa. Aproveitei que o Nino estava sendo bonzinho e simpático, esmaguei as
suas bochechas e enchi de beijo. Todos estavam olhando. A minha sogra
estava morrendo para ter muitos netos e eu balancei a cabeça negativamente.
Nem sonhando que eu seria mãe agora.
— Eu prefiro viver em abstinência a você engravidar logo. — Dante
murmurou pela expressão ansiosa dos seus pais.
— É o único jeito de não engravidar e acho que você deveria aderir,
Dante. — Enrico falou calmamente.
— Se com a Mia você é assim, eu quero que Deus me conserve em
saúde para quando for a vez da Laura. — Dante rebateu secamente e nós
rimos.
— Laura já está prometida. — Damon se intrometeu. — Nino e ela
serão um par no futuro. Mesmo que hoje em dia os dois não consigam ficar
no mesmo ambiente sem se espancar, no futuro, isso será amor.
— Nos seus sonhos. — Enrico bufou.
— Eu nunca irei me casar. — Amália comentou, toda mocinha. Juliana
riu e o seu pai deu um high-five nela, feliz com o seu pronunciamento.
— Até o primeiro Romeo cantar debaixo da janela dela. — Giovanna
adicionou e o Enzo fez uma careta.
— Não vou me casar se eu não puder mandar como a mamãe manda
em todo mundo. — Amália franziu o cenho para a sua madrinha. Juliana
sorriu orgulhosa da sua cria e todos nós rimos. Não era segredo que a Juliana
mandava até no marido. Ou principalmente nele.
Comi até ficar satisfeita, provei um pouco de tudo e bebi espumante o
suficiente para me sentir leve, tanto que eu não fiquei com vergonha na hora
de dançar com o meu sogro, com um tio do Dante, passando pelo Enzo,
Damon, Enrico e por fim, voltando para os braços do Dante. Ele me rodopiou
de brincadeira, ao invés de ficar na distância aceitável, ele grudou em mim,
com as mãos em minha cintura, a música era lenta e eu me senti no baile de
formatura que eu não participei, ao invés do meu casamento.
Dante me deu um olhar diferente. Normalmente ele se escondia atrás
da máscara de brincalhão ou do malandro sexy, mas aquele olhar deixou o
meu coração aquecido e me deu esperanças de que tudo entre nós poderia ser
real e não somente um casamento por política.
— Vão liberar a pista de dança, eu preciso trocar de roupa. —
Cochichei com o Dante.
— Vamos subir.
Segurando a minha mão, a mãe dele tentou impedir que ele me
acompanhasse, mas um olhar foi o suficiente. Uma das coisas que a mãe dele
iria ter muita dificuldade em aceitar era que como um homem casado, Dante
era o chefe de uma família e ele não precisava mais ser o menininho da
mamãe. Ele era um assassino desde novo. Nós entramos no elevador com o
cartão do quarto que passaríamos a noite, de manhã iremos para o aeroporto
para a nossa viagem de lua de mel.
Milena me ajudou a fazer uma mala enorme e o Dante cuidou das suas
coisas, mas a sua mala era bem menor que a minha. Meu segundo vestido
estava esticado no cabide, pendurado na porta, tirei os meus sapatos. Dante já
estava sem terno há muito tempo, nós olhamos para o outro e eu virei de
costas. Na frente, havia um espelho, meu vestido era justo e ele passeou com
as costas da sua mão esquerda pelo meu braço, bem devagar enquanto a outra
segurava a minha cintura, sentindo as minhas curvas bem evidentes com
aquele modelo.
Reunindo as duas mãos no topo das minhas costas, foi abrindo botão
por botão, revelando as minhas costas e o vestido foi ficando cada vez mais
frouxo. Quando ele terminou, a calcinha já estava à vista, respirei fundo e
tirei os meus braços do vestido, ficando só de calcinha, meias, liga e os seios
de fora em frente do espelho com o meu marido atrás de mim. Dante chegou
para frente, segurando a minha cintura, beijando o meu ombro.
Sentir todo seu corpo pressionado ao meu me deixou aquecida. Pelo
espelho, eu conseguia ver a sua atenção em meus seios. Seu olhar tão atento
não me fez sentir inadequada.
— Eu preciso te beijar. — Ele grunhiu, ergui o meu rosto e olhei sobre
os meus ombros.
Dante me deu um beijo tão gostoso que eu virei de frente para ele e
tive o meu corpo pressionado no espelho gelado. Agressivo, de um bom jeito,
seguiu me beijando e ergueu a minha coxa, me pressionando ainda mais.
Soltei um gemido, me agarrando a ele e fiquei surpresa quando se afastou e
me pegou no colo, me levando para a cama.
— Devíamos fazer isso mais tarde. — Ofeguei e ele sorriu, mas sem
parar de me beijar. Eu estava excitada, molhada, mas não confusa. — Ah,
Dante. — Gemi ao senti-lo pressionar a sua ereção em mim.
— Eu sei...
— Dante... — Sua boca estava muito perto do meu seio. Uma batida na
porta me assustou, ele rolou para o lado e gemeu, com uma ereção visível em
sua calça. — Acho que estão nos apressando.
— Eu te assustei?
— O quê? Não. Eu só não sei muito o que fazer de volta... — Encolhi
os ombros e ele me deu um sorriso safado. — Qual a merda que quer sair da
sua boca?
— Eu quero te ensinar todas as putarias do mundo, apenas isso.
— Tudo bem, mas quando a nossa festa acabar, porque estão nos
esperando de volta.
Levantei-me da cama e fui ao banheiro com a minha necessaire. Soltei
o meu cabelo, retoquei a minha maquiagem e o Dante seguia deitado na
cama. Precisei da ajuda dele para colocar o último vestido que parecia de
cetim ou seda, mas era outro tecido muito chique e muito caro. A Luna fez
pessoalmente, porque idealizou para a segunda parte do meu casamento. Eu
me senti bonita.
Me deixou com um corpo que eu não sabia que tinha. Dante se apoiou
nos cotovelos na cama e me deu um olhar aquecido, mostrando a sua
aprovação. Pronta, ele foi se ajeitar. Voltou como se não tivesse doido para
tirar a minha roupa. De mãos dadas, saímos do quarto e ele me pediu para
fazer uma pose no fundo do corredor. Cheia de espumantes e me sentindo
desinibida com uma confiança causada pela minha roupa, fiz uma pose
provocante, incentivada por ele.
Voltamos para a festa recebidos com aplausos. Luna me deu um olhar
engraçado, mas não falou nada. Me entregou o buquê de rosas brancas para
jogar e eu subi no pequeno palco com o DJ. Ele foi excessivamente simpático
e o Dante estava de braços cruzados, encarando-o. Matteo exibia um sorriso
desafiante, querendo que o DJ me tocasse de novo para que eles pudessem
causar uma cena.
Matteo era bonito como o Dante e eu vi várias meninas cheias de
risadinha. Uma das garotas da minha idade, antes de se reunir com as demais
para pegar o buquê, falou algo com o Dante. O sorriso dela em tom de flerte
o que me deixou em alerta. Ela era bonita, longos cabelos castanhos e usava
um vestido vermelho bonito, não muito comportado e ela não parecia ser da
família.
Dante percebeu que estava encarando-o, dei um olhar irado e voltei a
minha atenção para a contagem. Joguei o buquê e uma menina que não
conhecia pegou, parecendo empolgada. Eu ri e ao descer, Dante estava ali
para que pudesse tirar a minha liga e jogar. Ele olhou para as minhas pernas e
para os homens, virou de costas, me cobrindo, impedindo que vissem as
minhas coxas.
— Deixa de ser bobo.
— Bobo é o cacete. — Ele tirou a minha liga. — Não quero ver quem
vai pegar ou eu vou matar um. — Reclamou e jogou de má vontade por cima
dos ombros. Quem pegou, me deixou meio desconfortável. Eu não gostava
dele. Era o irmão mais velho do Matteo. — Eu deveria ter olhado.
Romeo fez uma brincadeira com a liga que eu não consegui ver por
causas das luzes, mas o Dante viu e reagiu no mesmo instante. Luna me
puxou para um lado enquanto o Enrico foi atrás do Dante. Eu não consegui
ver o que era, porque virou uma confusão de homens, mas logo vi o Romeo
sendo escoltado para fora da festa. Dante não parecia satisfeito, na verdade,
ele parecia muito irado. O DJ começou a tocar uma música que eu dançava
muito na época da escola, porque era engraçadinha.
Sempre tinha uma crise de riso boba quando a ouvia. Luna pegou a
Laura e começou a dançar ao meu lado. Dante me viu rindo e a sua expressão
relaxou, no meio da pista, ele me segurou de supetão, dando-me uma
excelente pegada que me deixou até sem ar. Subi as minhas mãos pelos seus
braços e segurei o seu pescoço. Nós começamos a dançar juntos e não levou
segundos para a pista de dança ficar lotada. A garota começou a dançar perto
e eu olhei para o Dante.
— Quem é ela?
— Ninguém importante.
— Se ela chegar perto mais uma vez, eu vou fazer um escândalo.
Eu não faria nada, provavelmente me afastaria e ficaria emburrada,
mas ele não precisava saber disso. Dante riu e me virou de costas, colando o
seu peito em minhas costas e afirmou que ela seguia sendo alguém não
importante, mas eu vi o Matteo tirando a garota de perto. Nós dois
aproveitamos a pista de dança juntos, ele se afastou para buscar bebidas e eu
dancei com as minhas cunhadas.
A festa parecia que nunca ia ter fim, eu estava esgotada e sentindo que
o peso de toda bebida estava me deixando com dor de cabeça. Dante
percebeu o meu mau humor e sinalizou para o Felipe se aproximar, eles
cochicharam. Me despedi da Luna, prometemos tomar café da manhã juntas
porque os aviões estariam no mesmo hangar.
— Vamos fugir da nossa festa de casamento. — Dante murmurou com
um sorrisinho.
— Nós não vamos subir?
— Não vamos passar a nossa noite onde todo mundo sabe. Mandei o
Felipe arrumar o quarto quando descemos, ele já levou tudo para o carro.
— Então nós vamos fugir de verdade? — Me animei com a ideia.
— Sim.
Dante estava determinado a quebrar os padrões da sua família e por
algum motivo aquilo me fazia muito feliz. De mãos dadas, saímos de fininho
da festa. Luna e Matteo carregavam duas caixas e um monte de champanhe,
nós seguimos para o carro que estava nos fundos da cozinha do hotel. Quem
estava trabalhando na cozinha aplaudiu a nossa fuga. Pensei que pelo menos
o Matteo iria conosco, mas o Dante se despediu deles e pegou a chave do
carro.
Nossas malas, minhas bolsas e vestidos estavam no carro. Entrei no
lado do carona, meio curiosa, preocupada e ansiosa para descobrir para onde
ele estava nos levando. Eu fiquei surpresa ao reconhecer o caminho.
— Ela já é nossa?
— Tecnicamente sim, mas não. Eu paguei, a papelada ainda não foi
liberada, mas a corretora me adiantou a chave e eu pensei que seria ideal
passarmos a noite na casa que ninguém sabe que temos. — Ele entrou na
garagem e apertou o botão para fechar.
Por algum motivo eu não estava nervosa em ficar sozinha com o Dante
em nossa noite de núpcias, mas eu estava muito ansiosa pelo que viria a
seguir. Se o que aconteceu no quarto do hotel foi uma prévia, eu não sabia se
eu queria ou se estava com medo de não saber o que fazer.
09
Dante.
Mia entrou em nossa casa meio vazia e olhou ao redor. Ela não
acendeu as luzes, apenas deu um giro e parou me encarando, observando o
que eu faria a seguir. Eu queria agarrá-la e levá-la contra a parede, mas eu
não podia fazer isso. Felizmente, ela não parecia nervosa, apenas ansiosa.
— Você quer ficar aqui ou lá em cima? — Ela soou quase ofegante.
— Onde você quiser.
— Acho que quero tomar um banho, você pode pegar a minha mala
pequena?
— Claro.
Voltei para a garagem, peguei a sua pequena mala e a entreguei. Ela
me deu um olhar antes de subir as escadas e eu peguei o champanhe, as taças
e o pequeno isopor com gelo. Eu estava com fome, porque bebi mais do que
comi no casamento, arrumei as caixas na mesinha e deixei as garrafas ali. Eu
sabia que nada iria acontecer entre nós, mas eu não podia me culpar por estar
com as bolas azuis e explodindo de tesão, doido para avançar algumas bases.
Mia era gostosa pra caralho e tão insegura quanto. Eu não sabia como
acalmar os seus nervos e muito menos como frear a minha vontade de
mostrar a ela o que fazia comigo.
Precisava sair das roupas do casamento, peguei a minha mala, catei
uma calça, acionei os alarmes e subi as escadas, procurei um dos quartos de
hóspedes e tomei um banho rápido. A parte boa da casa estar à venda era que
a limpeza era regular ou não seria possível tomar banho ou ficar ali.
Desci com a minha arma e ela estava na sala, puxando as almofadas do
encosto do sofá e jogando no chão. Ela estava enrolada em um curtinho
roupão de algum tecido fino que eu não fazia ideia. Observando colocar a
minha pistola em cima da mesinha, jogou o último encosto no chão.
— Pensei que ficaríamos mais confortáveis. — Apontou para o
colchão. — Eu quero mais espumante. — Pediu e se sentou, cruzando as
pernas.
Estourei uma garrafa e servi as taças. Entreguei a ela e me joguei ao
seu lado, brindamos.
— Então... Isso é estranho. — Comentou e sorri.
— Você está nervosa?
— Um pouco, é mais... ansiedade.
— Nós não vamos fazer nada... — Joguei e ela me olhou.
— E se eu quiser?
— Você quer?
— Eu não sei. — Encolheu os ombros.
— Então você não quer... — Beijei o seu ombro. — Acho que precisa
ficar mais à vontade, mais desinibida e acho que deveríamos ficar nus e fazer
coisas antes, talvez assim tenha certeza do que você quer. — Me aproximei
um pouco mais. — Me dá um beijo.
Mia apoiou a taça em cima da mesinha e desceu o rosto em direção ao
meu, me beijando devagar. A boca dela estava com o gostinho do espumante,
segurei o seu rosto, mas mantive o beijo calmo. Ela chegou ainda mais perto,
seu roupão abriu um pouco e tive o vislumbre do que estava por baixo.
— Você que me matar. O que é isso?
— Minha camisola de núpcias.
— É mesmo? Posso ver tudo?
Mia mordeu o lábio, mastigando com castigo e eu quase desfiz o meu
pedido quando ela levantou e puxou o laço do roupão, deixando cair no chão
e porra, cheguei a recostar no sofá para poder ver melhor. Ela deu uma
voltinha e o meu pau estava tão duro que estava marcando na calça. Ela usava
uma camisola escura, com rendas, curtinha e lentamente foi subindo a
camisola, revelando uma calcinha pequena, preta, com um lacinho e virou de
costas. Na bunda, a letra D.
— Você quer me matar. — Gemi e agarrei as suas nádegas. — Mia,
porra, você é tão gostosa. Vem aqui, baby. — Pedi e ela sentou-se em meu
colo. — Você é linda. — Ela corou e me deu um olhar lisonjeado. — Ah,
inferno de mulher perfeita.
— Nossa, Dante. — Ela me abraçou. — Você não precisa dizer essas
coisas.
— Por que não?
— Porque sei que não sou isso tudo...
— Mia, você é bonita. Sempre foi, mas, antes éramos muito pirralhos.
Eu também era esquisito, lembra dos aparelhos horríveis?
Ela riu e relaxou.
— Eu fiquei um pouco mais velho, grande e gostoso.
— Convencido.
— Fala a verdade, eu sei que sou gostoso. — Ela riu e beijei os seus
lábios. — Não sou babaca. Eu vou te elogiar pra caralho e não vou deixar que
outro babaca faça isso em meu lugar. Você vai ouvir de mim os melhores
elogios. — Passei o meu polegar em seu mamilo coberto com o sutiã de
renda. Ele ficou durinho e a minha boca encheu de água. — Posso te fazer
gozar?
— Eu nunca gozei antes... Tentei me tocar, mas eu achei que estava...
— Estava o quê?
— Não ria. — Me avisou severamente. — Achei que estava pecando.
Tudo entre um homem e uma mulher me pareceu carnal e pecaminoso, eu
pensava que iria para o inferno se tentasse me masturbar.
— Ah, eu sinto muito. Se é assim, nós vamos para o inferno. Faremos
todo tipo de amor pecaminoso... bem sujo. — Beijei o seu pescoço, fazendo
um barulho alto e cosquinhas. Ela riu e me bateu. — Eu não lembro porra
nenhuma da catequese, mas pelo que sei, não é pecado sexo depois do
casamento. Então você, meu anjo, vai para o céu.
— Você é bobo. — Mia me deu um beijo calmo. — E sim, eu quero
que você me faça...
— Diga a palavrinha... Se não disser, eu não vou fazer e não vamos
pecar juntos. — Belisquei seu mamilo e ela saltou um pouco, ficando
arrepiada. — Isso pode ficar ainda mais gostoso.
— Dante... — Ela me beijou. Beijou mesmo. Deu o beijo que eu passei
semanas fantasiando e reagi imediatamente, levando a para o encosto e ela
deitou-se, permitindo que eu ficasse entre as suas pernas, ainda beijando a
com tanto tesão, o que não me ajudava. Fazia tempo que eu não tinha um
amasso gostoso, porque não era algo que me interessava, mas se a Mia
quisesse, poderíamos nos pegar a todo maldito tempo. Ela gemeu tão gostoso
contra a minha boca que eu poderia ter gozado.
Soltei o seu sutiã, expondo os seus peitos perfeitos e ela tentou
esconder, mas fui rápido em segurar os seus braços. Sem lhe dar tempo para
surtar, desci a minha boca em seu mamilo, chupando e ela soltou um gritinho
ultrajado e meio gemendo, agarrando o meu cabelo e me pressionando contra
o seu peito.
— Isso é bom? — Olhei em seus olhos. Ela estava tímida e excitada.
— É sim.
— E se eu descer um pouco mais?
— Tudo bem...
— Me diga se estiver demais e ficar nervosa, está bem?
Ela assentiu e eu puxei a sua calcinha, olhando fixamente para sua
buceta depilada. Beijei o seu joelho, acariciando as suas coxas e ela estava
me observando atentamente. Eu podia ver a sua umidade, seu clitóris e eu
toquei bem devagar, testando as suas reações, passei o meu polegar em seu
clitóris e ela fechou os olhos, apertando o acolchoado. Lambi os meus lábios,
louco de vontade de chupá-la, mas observá-la reagindo ao prazer era
infinitamente melhor.
— Dante... caramba. — Gemeu e eu intensifiquei o toque, com as
coxas retesando. Ela ia gozar, pela primeira vez, bem na minha frente.
— Isso, baby.
— Dante... — Segurei a sua perna, que ela tentava fechar.
— E agora, foi bom?
— Foi... Uau. Eu gostei disso... E você?
— Nós ainda não acabamos. Não é só isso, linda. — Me inclinei um
pouco mais para frente e mordi a parte interna da sua coxa. Dei uma boa
lambida, saboreando o quanto estava molhada. Chupar uma buceta era
gostoso, mas chupar a Mia era o sétimo céu, porque eu pensei que não
iríamos fazer qualquer coisa por meses e eu estava soltando fogos que ela
queria experimentar alguns avanços entre nós.
Ela gozou de novo e porra, eu tinha fodido por aí, mas aquilo era
diferente. Era a minha mulher. Era surreal pensar que a Mia era minha esposa
e nós faríamos aquilo para sempre. Eu poderia imaginar a minha vida
fodendo.
— E quanto a isso?
— Eu pensei que era uma coisa esquisita e sem sentido, mas na prática
é muito melhor. — Ela suspirou. — Gostei muito disso. É diferente... pensei
que fosse me sentir um lixo por me entregar tão rápido, agora, eu só me sinto
bem.
Gostava que ela se abrisse comigo, porque eu queria entendê-la e não
queria fazer merda.
— Namorados fazem isso? — Ela me provocou.
— Você aceitou ser minha namorada e dias depois aceitou ser a minha
esposa. — Beijei a sua boca. — Namorados e maridos fazem um monte de
putaria. — Ela riu e me beijou de volta.
Ficamos aos beijos no chão e ela parou, me olhando.
— Você vai me ensinar a fazer o mesmo com você?
— Não precisa fazer nada... — Era mentira, eu estava louco pela boca
dela, seus beijos estavam me deixando à beira da insanidade. Mia me deu um
olhar bravo. — Mia, é a nossa primeira noite juntos sem ter ninguém no
nosso pé.
— Eu quero saber como fazer... Não querer, me faz pensar que você
acha que não vai ser bom. — Confessou. A mente dela era um perigo.
Peguei a sua mão, coloquei no meu pau e pressionei. Estava muito
duro. Como ela podia pensar que eu não estava louco por um boquete? Eu
queria tudo, porra. Mia estava sentindo o meu pau, olhando em meus olhos,
moveu a mão, apertou um pouco e fechei os meus olhos, suspirando, ela
afastou a mão e devagar, puxou a minha calça e como eu estava sem cueca,
meu pau literalmente saltou para fora. Ela saiu do meu lado e eu deitei de
barriga para cima, sendo cuidadosamente inspecionado.
Mia sentou-se sobre os joelhos e me olhou com expectativa.
Foda-se. Comecei a falar como me tocar e expliquei como era uma
punheta. Se ela queria aprender, eu iria ensinar tudo. Enquanto me tocava, ela
sorriu.
— O que foi? — Gemi.
— É bom ver você se tocando.
— Imagina como vou me sentir ao ver você se tocando. — Arqueei a
sobrancelha.
— Me tocar? Na sua frente?
— Sim... senta no sofá. — Instrui e ela foi, desconfiada. — Afasta seus
joelhos. — Afastou só um pouco, rindo, brincando com o tesão. Safada. —
Mais, Mia. Eu quero ver a sua buceta brilhando. — Obedecendo, abriu bem
as pernas e eu elevei de modo que ficasse com os joelhos dobrados. — Se
toca.
— Dante...
— Vai, eu te mostrei como faz em você e como faz em mim, você vai
conseguir. — Fiquei de joelhos e ela levou a mão entre as pernas, começando
timidamente e eu me toquei tão devagar quanto ela. Era a porra da visão mais
gostosa e linda do mundo. — Eu preciso te chupar de novo.
Eu ia ensiná-la um meia nove. Seria incrível.
Mia soltou um gritinho com a minha boca em sua buceta. Ela gozou
em pouco tempo e tomada por puro prazer, avançou em mim, me beijando.
Só podia ser tesão com espumante, porque assim que ela se desse conta,
ficaria mortificada. A beijei de volta, colocando a em meu colo e
acidentalmente, meu pau roçou na sua buceta. Eu gemi e ela ficou tensa.
— Calma, eu não vou...
— Tudo bem... — Respirou fundo. — Posso te tocar?
— Sempre.
Mia me tocou e eu mostrei como acelerar quando eu estava quase
gozando. Fechei os meus olhos, morrendo de tesão e explodi, gozando entre
nós dois. Eu ainda estava respirando fundo, tentando acalmar a minha
explosão e ela tocou o meu gozo, testando a textura e se ela colocasse na
boca, eu ia surtar.
— Se quiser experimentar, tem direto da fonte.
— Idiota. — Ela riu e beijei a sua boca. — Estamos gosmentos.
— Eu sei, vem, vamos limpar essa bagunça.
Com a luz do banheiro acesa, ela voltou a ficar tímida. Tomar banho
com alguém era novidade e eu descobri que poderia ser muito divertido. Mia
tinha um humor bobo que venceu as suas inseguranças e timidez quando eu
comecei a provocá-la. Eu odiava admitir o quanto gostava de vê-la sorrir.
Terminado nosso banho, ela vestiu a camisolinha de novo e voltamos para
sala. Ouvi barulhos de carros e o sensor de movimento da propriedade
acendeu. Peguei a minha pistola e espiei pela janela.
— O que foi? — Mia parou no limiar da sala.
— Nos descobriram. — Revirei os olhos. Peguei o meu telefone e
liguei, Matteo enviou uma mensagem dizendo que o meu pai ficou puto e ele
não conseguiu impedir o envio dos soldados.
Meu pai enviou oito soldados para proteger a minha noite de núpcias,
puta que pariu. Os homens nunca iriam me respeitar se ele continuasse com
essa obsessão em me manter vivo, porra. Eu sabia que eles estavam sofrendo
com a morte do Nicola e eu não conseguia mensurar o quanto deve ser difícil
perder um filho, não importando a sua idade, mas se eu queria ser visto como
um homem capaz de proteger a minha própria família, eu não podia tolerar
esse comportamento.
— Dante, está tudo bem?
— Está sim. — Enviei uma mensagem meio desaforada para o meu
pai, puto do jeito que estava, não me importava. Dois minutos depois, um dos
carros foi embora. — Vem, baby. Está cansada?
— Estou com fome. — Sorriu e peguei a sua mão.
Voltamos para o nosso lugar e comemos os variados salgados. Ela
soltou um gemido apreciativo com os docinhos. Mia era uma formiguinha.
Doce não me interessava muito.
Deitamos no chão, aconchegados, juntinhos e sem nenhuma coberta
porque não tinha uma na casa. Mia adormeceu contra mim e me senti o cara
mais sortudo do mundo. Eu tinha vinte anos, iria completar vinte e um em
alguns dias, vivi algumas coisas porque homens da família começam cedo,
mas eu ainda tinha muito para viver e experimentar. Muitas das minhas
primeiras vezes serão em conjunto.
Era meio idiota ficar feliz por isso? Se era, eu não estava me
importando.
Nós dois tínhamos muito para viver. Eu sabia que os próximos anos
seriam a minha prova de fogo. Eu tinha que provar merecer o meu lugar por
direito, dobrar homens com o dobro da minha idade e fazer o meu próprio
nome. Estava disposto a fazer coisas que condenariam a minha vida, esse era
o mundo que eu nasci, me tornei o único herdeiro Biancchi e agora, eu tinha
que construir um mundo para a Mia, e em um futuro bem distante, para os
nossos filhos.
Os chefes estavam de olho em mim, não só porque o meu pai
comandava o segundo maior território dentro da máfia, perdendo para
Chicago, mas porque eu me casei com a Mia. Ela era uma princesinha da
máfia por ser prima da Luna Di Fabrizzi. Esse sobrenome deixava muita
gente arrepiada de medo ou deitada em idolatria. Em pouco tempo, eu iria
transformar o que conheciam como Biancchi. Meu jeito de fazer política era
diferente do meu pai e irmão.
A minha política era com sangue.
10
Mia.
A primeira coisa que vi quando acordei foi o peitoral do meu marido.
Meu marido . Eu não podia acreditar que estava casada, eu tinha um homem
muito bonito, que ontem, me fez sentir que estava nas nuvens e eu pensei que
não faríamos nada. Foi meio natural, meio intenso e muito diferente. Eu
estava cheia de coragem líquida, mas o Dante transformou a noite em
aconchego.
Talvez no hotel eu me sentisse insegura, na nossa futura casa, na
sala, com as coisas do casamento e ninguém mais ao redor, eu pensei que ele
entendeu o que eu precisava, sem que eu soubesse.
Ainda bem que tive muita conversa e orientação, mas eu era
inexperiente e me sentia mais à vontade sendo sincera com o Dante do que
agindo como a garota estúpida que não sabia de nada. Eu queria gravar a
expressão dele gozando. Foi sexy. Dante era sexy em pessoa e eu fiquei meio
interessada em sempre vê-lo nu, porque eu posso, eu era a sua esposa... E a
sua namorada.
Dante me deu um olhar sonolento e me deu um beijo nos lábios,
ficamos abraçados, com o solzinho batendo em nós porque as janelas não
tinham cortinas. O telefone dele começou a vibrar e era o seu pai, ele
desligou a chamada e voltou a me abraçar, me beijando, coloquei a minha
perna em cima da sua cintura e ele escorregou a mão entre nós, me tocando e
eu só suspirei. Aquilo era muito bom. Eu podia estar viciada naquele toque,
na sensação que dominava o meu corpo e me perguntei porque eu nunca fiz
aquilo antes.
Gozei e escondi o meu rosto em seu pescoço, gemendo.
— Bom dia, esposa. — Ele me beijou. — Precisamos sair em alguns
minutos, estão nos esperando.
— Sério? E o que seu pai quer?
— Não faço a mínima ideia. Quero entrar no chuveiro com você! —
Sorriu torto.
Nós saímos da sala e fomos para o banheiro. Eu me senti tímida sob o
olhar atento dele na minha nudez, mas eu me sentia lisonjeada. Ele ficou nu,
seu pênis estava ereto e pelo espelho, o observei ligar o chuveiro e escovei os
meus dentes, sem desviar o olhar. Cuspi a pasta e lavei a minha boca,
secando, ele parou ao meu lado, nu como veio ao mundo, escovando os seus
e eu parei, olhando a nossa nudez e a intimidade. Era um salto tão grande que
parecia surreal.
Entramos no chuveiro e apesar da proximidade, cada um tomou o seu
próprio banho e eu precisei secar o meu cabelo. Dante disse que ia arrumar as
coisas e preparar o carro. Nós não iríamos passar muito tempo voando, pelo
que pesquisei na internet, eram poucas horas de viagem e eu não fazia ideia o
como era feito em um voo particular. Escolhi um look confortável, uma calça
de brim de cintura alta cinza escura, um cropped amarelo de alças finas, era a
primeira vez que o usava e não ficou legal de sutiã, então, eu tirei, meus
mamilos ficaram marcados.
— Você está pronta? Já arrumei tudo. — Ele voltou para o banheiro
vestido e eu terminei de fechar as minhas malas. Ele desceu rapidamente,
carregando tudo e encontrei o meu telefone na bolsa. Estava desligado e pelo
menos, tinha bateria. Não duraria muito. — Mia? — Dante estava ficando
impaciente.
— Está vulgar? — Apontei para os meus seios marcando.
— Assim que bater um vento vai ficar pior. — Encolheu os ombros e
parou atrás de mim. — Mas é simplesmente incrível, porque é só fazer assim.
— Subiu o meu cropped com um movimento fácil. Bati nele. — Está ótimo.
Peguei a minha bolsa e a sala estava limpinha e arrumada. Fofo. No
carro, belisquei alguns bolinhos, morrendo de fome e o Dante seguiu até um
aeroporto privado. Ele passou para os fundos e estacionou próximo a um
restaurante. Felipe e Matteo já estavam lá, porque iriam conosco. Antes de
sair, eu vi o Nino correr por um espaço de grama. Soltei uma risada ao
ver Damon o agarrando pela camisa, impedindo que fosse para a pista.
— Descarreguem e mandem levar o carro para casa, tem comida aí
dentro e se demorar, pode estragar. Levem as malas, as bolsas da Mia e os
champanhes para o avião. — Dante falou com o Felipe e o Matteo. Dei um
aceno tímido a eles e entrei no restaurante. Laura estava comendo um bolinho
e me deu um sorriso.
— Vocês demoraram. — Enrico falou severamente.
— Bom dia para você também, sogro . — Dante foi irônico.
— Está tudo bem? — Luna me perguntou baixinho e ocupei uma
cadeira ao seu lado. Estava todo mundo me olhando, que vergonha.
— Estou ótima.
— Então o garoto mandou bem. — Damon e Enzo bateram os punhos.
Dante riu da expressão azeda do Enrico. Minhas bochechas estavam
vermelhas. Juliana revirou os olhos e mudou de assunto, ignorando os
homens. Eu adorava o jeito que ela falava, tão decidida, direta ao ponto, com
um senso de humor gentil, era um contraste do humor do seu marido.
Nós tomamos café e eu me senti em família. Damon resolveu pegar no
pé do Dante com todas as piadas que ele encontrou em sua mente sobre
recém-casados e o Enrico ficava fazendo ameaças sutis. Até o Dante atingir
uma idade de respeito, ele seria testado e provocado. Esperava que ele tivesse
resiliência, não seria fácil e eu precisaria encontrar em mim empatia para lhe
dar apoio nos momentos necessários.
O voo deles estava programado para sair antes do nosso. Enzo e
Juliana iriam para Nova Iorque. Damon, Giovanna, Enrico, Luna e as
crianças iriam direto para a Itália. Eu não tinha certeza se a Luna e a Gio
voltariam para os Estados Unidos já que estavam grávidas. Giovanna não
anunciou a sua primeira gestação para o público até o nascimento. Ela agiu
como se de repente, ops, pari. Dominou as revistas de fofocas por meses. Ela
passou a gravidez inteira postando fotos do rosto ou bem antigas.
A Luna não falou nada, ela só apareceu com a Laura. Eu entendia a
necessidade de manter esse momento bem privado. Eu gostaria de viver toda
a minha gestação em paz e isso só em segredo.
Dante pediu mais panquecas e eu reparei que ele tinha um apetite
voraz. Luna disse que era normal que os homens comessem muito,
principalmente os que treinavam e ele pegava pesado na academia. Ele me
ofereceu um pedaço de panqueca com morango e creme de avelã, aceitei e
nos beijamos. Enquanto ele comia, dei uma olhada nas milhares de
marcações no Instagram com fotos dos convidados, das revistas de fofoca e
eu me perguntei que horas o Dante conseguiu postar um carrossel de fotos
que ele tirou do seu telefone. Tirei uma foto dele, supostamente distraído,
comendo e postei nos stories, mas não revelei nada.
Felipe sinalizou que o avião estava pronto, Dante pediu a conta e o
garçom entregou, ele soltou uma risada ao ver que os outros deixaram a conta
para ele pagar.
— Eles não vão parar de pegar no seu pé. — Sorri e ele pagou a conta,
tirou uma foto e deve ter enviado para eles. — Vamos?
Andamos até o avião e eu pedi que ele tirasse algumas fotos minhas,
porque eu queria zoar as minhas amigas da escola no nosso grupo, mas eu
não sabia que o Dante era realmente muito bom, porque elas ficaram ótimas e
depois de editar, parecia foto de blogueira famosa. Minhas amigas ficaram
enlouquecidas com as fotos. Ele tinha um olhar sobre mim que me fazia
sentir valorizada. Suas fotos sempre enfatizavam os meus olhos ou o meu
corpo, duas coisas que eu odiava em mim mesma e lutava muito para aceitar
com calma e paciência.
Felipe e Matteo ficaram nos fundos do avião, conversando baixo e eu
observei o Dante mexer no seu telefone, digitando freneticamente, com o
cenho franzido e os meus pensamentos vagaram para a nossa madrugada de
núpcias. Houve um momento que a minha mente estava tão nublada de prazer
que eu o ataquei, o enchendo de beijos, desejosa, dominada por um
sentimento que se ele não fosse tão consciente de tudo e tivesse me
pressionado por sexo, eu teria cedido.
Ainda estava com medo, depois da noite anterior, não parecia tão
absurdo assim. Obviamente, continuaria doendo, mas eu sabia que existia um
prazer mais intenso. Tudo que o meu subconsciente sabia sobre o toque entre
um homem e uma mulher era completamente doloroso, mas o Dante estava
me mostrando que era diferente. Meu pai não podia dominar a minha vida.
Ele estava morto. Eu merecia viver uma vida normal, tanto quanto possível e
por isso, eu estava disposta a me entregar ao Dante, descobrir a minha
sexualidade e viver o meu casamento.
— Está falando com o seu pai?
— Ele tá de putaria porque nós sumimos, mas a verdade é que a minha
mãe deve estar enchendo a porra do saco e ela nem sabe que vamos nos
mudar. — Guardou o telefone no bolso. Soltei o meu cinto e subi em seu
colo. — Você quer deitar no quarto?
— Não estamos sozinhos. Estou com sono...
— Então vai dormir um pouco.
— E você?
— Só vou dormir quando chegarmos. Está tudo bem, você vai ficar
segura.
— Não quero ficar sozinha, posso dormir aqui com você? — Olhei em
seus olhos, ele me deu um sorriso e me beijou, puxando um cobertor azul
escuro com o brasão R di G da família bordado. Ele me cobriu em seu colo,
tirou os meus tênis e fechei os meus olhos, relaxando.
Acordei meio assustada com a voz do piloto e o Dante me segurou
antes que eu caísse do seu colo. Ele estava dizendo que deveríamos afivelar
os nossos cintos, porque iria começar os procedimentos de pouso. A
comissária passou na cabine, passando as instruções de segurança e foi para o
seu lugar. Eu escorreguei para a poltrona ao lado e ajeitei a minha blusinha.
Ainda com sono, fechei os olhos, cansada e tomei um susto com a
aterrissagem.
Ainda estava dia quando chegamos, estava calor, o que era bom,
porque queria aproveitar a praia. Felipe foi até um balcão, falou algumas
coisas enquanto o Matteo descarregava junto com os funcionários do
aeroporto. Não levou muito tempo para um luxuoso carro parar. Felipe pegou
as chaves do homem que estava conduzindo, Matteo guardou as malas com o
Dante e eu entrei no carro, no banco de trás.
Nós quatro seguimos em silêncio, um pouco cansados. Dante estava
mexendo em seu telefone e eu liguei o meu, mas estava sem bateria.
Chegamos a um lindo resort e fomos recebidos com presentes e muito
barulho por parte de um gerente. Giovanna alugou uma das vilas com um
lado particular da praia. Matteo e Felipe ficariam em quartos fora do nosso
lugar, que por sinal, era lindo. Um sonho.
Enquanto o Dante levava as nossas malas para o quarto do casal, eu
olhei ao redor. Havia uma piscina de borda infinita para a praia, um deck
bastante charmoso com uma descida para a areia e aquele mar não parecia
real. Do lado de fora tinha um monte de móveis específicos para pegar um
bronzeado ou relaxar no final da noite. Dentro, o layout era praticamente
aberto, as divisórias eram de madeira, tecidos ornamentados e os sofás eram
brancos, com almofadas coloridas e com desenhos de palmeiras.
Tinha uma cozinha chique, bem básica, mas nós viveríamos de serviço
de quarto. Eu não pretendia cozinhar na minha lua de mel. O quarto era
perfeito, a cama era virada para a praia, totalmente aberto, o banheiro não
tinha divisória com o quarto, o que seria um desafio para a privacidade. Abri
a minha mala, procurando um biquíni e fui para o banheiro, mas parecia uma
estupidez fazer isso se não tinha portas. Voltei para o quarto e tirei a minha
roupa.
— É assim que eu gosto. — Dante entrou no quarto com o menu. —
Quer comer alguma coisa?
— Acho que deveríamos almoçar. — Vesti a calcinha do meu biquíni.
— Para de me olhar.
— Não consigo. — Ele murmurou. — Isso é a sua calcinha? Ainda
bem que esse lugar é vazio.
Me inclinei na mala e dei uma conferida em todos os biquínis. Misturei
com os pares que eu tinha, mas os modelos mais bonitos e modernos eram os
que ganhei. Eu ia matar a Giovanna. Todos os biquínis eram pequenos, fio
dental ou quase. Me olhei no espelho e parecia que a minha bunda era ainda
maior. Ajeitei atrás e coloquei a parte de cima. Dante estava atento. Peguei o
menu da sua mão e olhei as opções, ligando conforme a instrução e pedi o
nosso almoço porque eu estava morrendo de fome.
— Você vai ficar vestido? Eu vou correr para a praia.
— Me espera, apressada. — Ele tirou a roupa, abriu a sua mala, pegou
uma sunga e quando foi pegar uma bermuda, eu o impedi.
— Se eu vou ficar com a bunda de fora, você vai ficar de sunga.
— Se você me quer seminu, tudo bem. — Sorriu torto.
Estava quase no fim da tarde, não achei necessário usar protetor solar,
mas o tempo estava quente e sem vento. Não me preocupei com roupas e
muito menos com toalhas, eu precisava dar um mergulho. Nós andamos de
mãos dadas até a beira da água, que estava gelada, mas não tão impossível de
entrar. Trocamos um olhar e corremos. Dante jogou uma quantidade
considerável de água em mim e eu quase o matei por parecer um rato
afogado.
Me joguei no oceano, nadando como um peixinho e me afastando do
meu marido muito bobo que queria me zoar. Emergi e ele estava só me
observando, começando a nadar em minha direção e o esperei. Ele emergiu
bem na minha frente, me pegou e me ergueu. Cruzei as minhas pernas em sua
cintura, ele beijou cada um dos meus peitos e olhei para o céu, tão lindo, tão
azul e aquele oceano tão cristalino que parecia um sonho. Eu me sentia
vivendo os contos de fadas que tanto lia nos livros.
Dante me abaixou um pouco mais e nos beijamos.
Perdemos a noção do tempo nos beijando e apreciando o oceano.
Lembramos do nosso almoço e saímos da água, a faixa de areia branca podia
até cegar e me lembrei de separar os meus óculos escuros. Voltamos para o
quarto exatamente no momento que a campainha tocou. Neurótico como todo
homem da família, ele deu uma olhada no quarto antes de me deixar entrar,
vestiu o roupão com a sua pistola no bolso e abriu a porta para o serviço de
quarto.
Meu cabelo estava muito molhado para me sentar nas cadeiras
acolchoadas.
— A comida chegou. — Dante avisou e eu apareci na sala.
— Uau, que lindo. Eles colocaram flores. — Peguei o cartão e um
morango, mordi. — Felicitações ao casal. — Sorri e dei a ele o meu
morango. — Esse salmão parece delicioso.
— Estou faminto. — Dante pegou um prato, ignorou a salada e pegou
uma porção de peixe. — Nem vem, coisa verde só de vez em quando. Estou
de férias.
— Cenoura não é verde. — Coloquei no seu prato. — Esse negócio
aqui, que diz ser quinoa, também não é verde. — Coloquei uma colher
pequena. — E isso aqui é arroz com camarão.
— Você é adepta a comida saudável, formiguinha?
— Sim... Como muito doce, eu adoro e não vou negar, mas eu gosto de
experimentar todo tipo de culinária. Espero que possamos viajar porque eu
tenho o sonho de comer muito por aí. — Ele sorriu e comecei a comer. —
Merda, que gostoso! — O arroz estava uma delícia e o salmão mais ainda. —
Acho que iremos voltar para casa com a taxa de iodo bem elevada.
— Nada disso, eu não quero que você passe mal por consumir muito
um tipo de alimento, então amanhã vamos comer frango, no outro dia filé e
tem alguns restaurantes pela ilha onde podemos experimentar um monte de
comida.
Fiz uma careta e comi a minha comida. Dante comeu quase tudo e
pegamos a sobremesa. Era pudim de chocolate, parecia ter sido feito com
chocolate de verdade, o que me fez comer duas vezes. Cheia e satisfeita, me
joguei em um sofá na varanda. Dante deitou atrás de mim. Eu tinha que
pensar em algo especial para o seu aniversário, não seria sexo, porque eu não
era um presente, de alguma forma, isso me fazia pensar que era algo
machista. Talvez encomendar um bolo, um jantar com muito bife e batata,
que era a sua predileção de paladar.
Assistir o oceano batendo contra a areia, com um ventinho bom me
bateu um sono... Foi difícil ficar acordada. Tirei um cochilo gostoso e acordei
com o Dante enterrando o rosto em meu pescoço. Percebi que estava com a
bunda pressionada no seu pau.
— Você se move bastante dormindo... — Ele falou baixinho.
— Não foi você que estava se movendo?
— Ele ficou empolgado quando deitamos e você ficou com essa bunda
quase nua com ele bem no meio. — Grunhiu e eu podia sentir a sua ereção.
Não era como se o sofá tivesse muito espaço para ele esconder como estava
aproveitando a nossa posição de conchinha. — Quero te deixar pelada.
— Aqui fora?
— Não. Lá dentro... na cama.
— E o que nós vamos fazer?
— Coisas gostosas. — Cochichou e eu mordi o seu dedo. — Algumas
aulas práticas de coisas muitas gostosas e talvez batizar o nosso quarto com
gemidos e fluídos.
Me sentei e o olhei todo esperançoso, com um sorrisinho lindo e fui
andando para o quarto. Puxei o lacinho da parte de cima do meu biquíni. Ele
me deu um sorriso, pegou o controle do quarto e apertou um botão,
abaixando as persianas e as portas de vidro foram fechando lentamente. Ele
arrancou a sunga, jogando longe e eu sorri para a sua animação em me pegar,
me dar um beijo de cinema e me jogou na cama terminando de retirar a parte
de cima do meu biquíni.
— Já te disse que você tem um belo par de peitos?
— Ontem à noite...
— Então, eu vou dizer de novo. — Ele agarrou os meus seios. —
Belos peitos, esposa.
Meu rosto estava vermelho.
— Obrigada. — Falei baixinho. — Você tem um belo peitoral.
— Pode me chamar de gostoso, eu não me importo.
Como ele não tinha problemas em me elogiar, eu sorri.
— Você é gostoso.
— Obrigada, gostosa. — Ele sorriu e puxou a calcinha do meu biquíni,
jogando pelos ombros e beijou a minha barriga. — Eu vou te agradecer por
esse elogio.
Se ele fizesse aquilo todas as vezes que eu o chamasse de gostoso, eu
não ia parar mais.
11
Mia.
Ergui o meu rosto e olhei para o Dante jogado na cadeira ao meu lado,
concentrado no seu tablet, lendo uma matéria sobre o mercado financeiro. Ele
estava interessado em investimentos, levando a sério o seu papel de marido e
querendo fazer o seu pé de meia.
Dei uma olhada no seu aplicativo do banco e quase caí de bunda no
chão, porque tinha bastante dinheiro para uso diário, ele fez uma
transferência altíssima para a minha conta e eu pensei que ele me daria uma
mesada mensal, como todo homem da família fazia com as suas esposas.
— Você quer que eu passe mais protetor solar? — Ele desviou o olhar
do seu tablet para mim.
— Não. Quero que passe bronzeador. — Peguei o frasco do óleo.
— Não. Você ficou toda vermelha e empolada.
— Eu disse que não foi do bronzeador. — Reclamei e ele me encarou.
— Não resisti e comi sushi quando você saiu ontem.
— Mia... — Suspirou e colocou o seu tablet na mesa. — Eu vou jogar
todos os chocolates fora. O que acha? Assim não vai comer mais nada que
gosta!
— Não. — Choraminguei. — Não vou comer mais sushi ou camarão
até irmos embora, eu prometo. Deixa os meus chocolates em paz! — Fiz um
beicinho e ele deitou em cima de mim, me abraçando e me beijou. — Hoje é
seu aniversário, você não pode ser mau comigo.
— Você está se intoxicando.
— Eu já parei. Estou com calor, vamos dar um mergulho?
Dante sorriu de um jeito travesso.
— Eu adoro te ver molhada.
Idiota.
Apostamos corrida até o mar e ele ganhou, é claro. Tudo que pediu
como pagamento era um beijo, que virou um amasso e eu estava ficando boa
em provocá-lo. Nós não fizemos nada além do que já fazíamos, talvez um
pouquinho além, porque eu finalmente consegui convencê-lo de que eu
estava pronta para o sexo oral e só depois que fiz que entendi que era bom
dar e receber, com a cara de pau do meu marido e todas as suas palavras
sujas, aprendi rápido e ele dizia gostar, como ele gozava, acreditava em sua
palavra.
Totalmente sozinhos, mal vimos o Felipe ou Matteo, de vez em quando
outros casais passeavam pela frente do nosso chalé, no mais, o resort parecia
oferecer essa privacidade aos casais em lua de mel. Havia um lado mais
barulhento e nós iriamos a uma festa depois de sairmos para jantar.
Eu me sentia feliz pela primeira vez em muito tempo e me sentia
conectada ao Dante. Apesar de estarmos sozinhos, era como uma bolha
perfeita do meu conto de fadas. A parte física não era mais tão assustadora e
o Dante se mostrava o mesmo bobo de sempre, o que ajudava a descansar
todos os meus medos e me dava confiança.
Com fome, saímos do mar e decidimos entrar no chalé. Dante pegou
uma cerveja, olhando ao redor, atento a tudo. Ele sempre acordava quando eu
acordava e eu tentei preparar uma surpresinha de aniversário, mas ele
prestava atenção em meus movimentos e ficou todo irritadinho e com ciúme
quando me viu falando com o Felipe.
Desisti de tentar fazer estripulias, fiz uma reserva no restaurante mais
badalado da ilha, pedi ao chef um pequeno bolo de chocolate com creme
belga, que era o sabor que mais agradava ao Dante. Ele não gostava muito de
doce, então, o chocolate era por minha conta. Tomei um banho refrescante e
vesti apenas um vestidinho fresco. Me sentei na cama para passar creme
hidratante e ouvi o Dante no closet do quarto, mexendo em alguma coisa.
— Olha o que eu achei... — Ele apareceu com a caixa que ganhei de
presente na minha despedida de solteira. — Lubrificante, óleos, calcinha
comestível, um vibrador clitoriano... — Balançou as sobrancelhas. — Mia,
safadinha. Escondendo toda essa diversão do seu marido.
— Deixa de ser idiota, Dante. Eu ganhei isso de presente e a sua irmã
enfiou na minha mala. — Revirei os olhos. Ele jogou a caixa na cama.
— O mais legal é isso aqui. — Olhei para a sua cueca e comecei a
rir. — Vou ligar a vibração porque é tão grande quanto o meu pau.
Interessante.
Ele começou a dançar com o vibrador dentro da cueca, fazendo um
volume bizarro e cheguei a deitar na cama de tanto rir. Deitando-se por cima
de mim, pressionou e o negócio ligou, nos fazendo rir e ele tirou de dentro da
cueca, balançando na minha frente. A coisa se mexia bem rápido, Dante
balançou as sobrancelhas, deixando vibrar no meu mamilo.
— Você é um bobo. Deixa as minhas coisinhas quietas. — Acariciei o
seu rosto.
— Nada disso, nós vamos brincar.
— Alguns homens não gostam quando a mulher usa um vibrador. —
Comentei e ele riu.
— Besteira. Claro que eu vou ficar enciumado e cheio de paranoia se
você preferir o seu vibrador, mas ele pode ser um bom amigo. — Me deu um
olhar brincalhão. — Além do mais, nada pode substituir o meu pau. — Sorriu
torto e revirei os olhos, pegando o frasco do meu creme e terminando de me
hidratar. Ele passou a mão em minha perna depois que passei o creme, com
um olhar de admiração, seus polegares sentindo a maciez. Com um sorriso,
me inclinei sobre ele, dando um beijo em seus lábios. Ele segurou o meu
rosto, aprofundando e eu estava viciada em beijá-lo.
Dante me deitou na cama, cansada do dia no sol, tirei um cochilo
muito necessário, porque passávamos parte da madrugada acordados,
bebendo, conversando e em outra noite, até dancei de tão bêbada.
Acordei e olhei a hora, dormi por uma hora certinho. Me levantei da
cama, procurando o Dante e o encontrei na sala, falando com uma mulher em
chamada de vídeo. Ele parecia feliz, o que me deixou meio enciumada. Se
despediu e encerrou, sinalizou para me aproximar e me sentei em seu colo.
Meu vestido era largo e caiu um pouco, segurei para cobrir o meu peito e ele
puxou mesmo assim, dando um beijinho.
— Com quem estava falando?
— Com a Sienna. Ela não foi ao nosso casamento porque
publicamente, não pode estar no mesmo ambiente que alguns convidados,
mas ela viu todas as fotos e me ligou agora, para desejar parabéns e nos
convidou para jantar em sua casa quando retornarmos. — Beijou a minha
bochecha. — Ela era melhor amiga do meu irmão. — Explicou e eu fiquei
quieta, pensativa. — Na verdade, eu acho que o meu irmão era apaixonado
por ela, mas não podia fazer nada. Sienna era muito mais jovem, não fazia
parte da família e jamais olhou para o meu irmão de outra maneira. Ela era
afeiçoada à Renata, o que deve ter deixado o meu irmão meio abalado.
— Não existem divórcios na família...
— Não. Ele jamais poderia deixar a Renata, mesmo se apaixonando
por outra mulher. Isso é a minha teoria, não é algo que ele tenha me dito,
porque o Nicola era muito fechado quando se tratava da Sienna. No mais,
conversávamos sobre tudo.
— Seu irmão casou tão cedo quanto a gente? — Olhei em seus olhos.
— Sim...
— Hum... — Merda.
— Está preocupada que no futuro eu conheça uma garota mais nova e
me apaixone? — Arqueou a sobrancelha. — A diferença é que o meu irmão
nunca quis se casar com a Renata e com o tempo, o casamento deles
tiveram muitos altos e baixos.
— Se você se apaixonar por outra pessoa, eu vou entender, mas eu vou
querer o divórcio. — Falei simplesmente. Dante me derrubou no sofá,
prendendo as minhas mãos em cima da minha cabeça e me pressionou no
couro macio, beijando o meu pescoço, puxando meu decote expondo o meu
peito e chupou. — O que você está fazendo?
— Te dando motivos para nunca mais falar a palavra divórcio.
— Só vou me divorciar se você encontrar outra mulher. — Encolhi os
ombros.
— Não sou o meu irmão e não vou repetir a mesma história. Eu quis
me casar, é diferente. — Piscou e olhou para o meio das minhas pernas. —
Estou ficando feliz e familiarizado com essa parte do seu corpo. Acho que
somos melhores amigos.
O meu rosto não podia ficar mais vermelho.
— Por que você está vermelha?
— Dante...
Dio... Ele tinha que ser tão direto ao ponto?
— Você adora isso... — Sorriu torto e beijou o interior da minha coxa,
passando a língua e eu suspirei, segurando o seu cabelo. — Tem um
sinalzinho aqui muito bonitinho. — Ele fez um barulho estalado e eu estava
ficando cada segundo mais tentada em pedir para fazermos sexo. Eu era uma
massinha de modelar em suas mãos, porque ele me tocava e eu sentia vontade
de dar tudo de mim e já não existia qualquer pensamento coerente em relação
a isso.
Sua língua no meu clitóris me fez gemer alto.
— Quero tentar...
— O quê? — Ele ergueu o rosto.
— Quero... tentar.
Seus olhos brilharam.
— Sério?
— Sim... — Algumas amigas já tinham perdido, não era um assunto
tabu, eu só sentia medo por tudo que aconteceu. Estávamos fazendo várias
coisas divertidas. Dante agia comigo totalmente diferente do que imaginei
quando voltei para o país e estava assustada com o casamento.
Namorados transam. Marido e mulher também.
Dante não esperou que eu falasse mais nada, me puxou pelas pernas e
me sentei, beijando-o. Ele me pegou no colo e não pareceu ter dificuldade em
me carregar para o quarto. Ele saiu da sua cueca e tirei o meu vestido.
Voltamos a nos beijar e não me senti tímida ao sentir o seu pênis me
tocando em diferente partes e muito menos inibia os seus toques. Ele me
fazia sentir à beira da explosão com as suas mãos e boca por todo meu corpo.
Seus dedos me levaram ao orgasmo, estava ensopada, com calor e cheia de
tesão.
— Você quer usar camisinha? — Ele me beijou, com meu gosto em
seus lábios.
— Não. Eu confio em você. — Minha voz saiu um sussurro. — Dante,
está tudo bem. — Agarrei os seus braços. Ia doer e não teria jeito... Respirei
fundo, sentindo-o pressionar o seu pênis em minha entrada. Tudo que relaxei
antes desapareceu no mesmo segundo. Dante estava concentrado, me
observando atentamente. — Ainda falta muito?
— Não foi nem a metade. — Ele grunhiu.
— Cristo... — Gemi e ele me beijou, segurei a sua nuca, mantendo-o
próximo. Ainda no mesmo cuidado, seguiu empurrando até que eu senti que
não existia a possibilidade de caber mais. — Dante.
— Quer parar? — A voz dele estava tensa.
— Não. Está ruim para você? — Busquei os seus olhos.
— Eu odeio dizer isso, mas serei rápido — me deu um beijo e eu senti
que não era tudo que queria dizer. Eu sabia que ia doer, mas aquilo estava
além do que a minha mente poderia computar. Ele manteve um ritmo calmo,
mas eu senti os seus músculos resetarem e ele soltou um gemido, bem rouco,
com um retumbar profundo, gozando em seguida. — Dio, Mia. Você é
perfeita. — Nos beijamos e estava tentando me acalmar.
— Foi doloroso. — Ainda sentia latejar ao ponto de pensar em um
remédio.
— Foi sim. — Ele concordou. — Não foi excitante te ver sentindo
tanta dor, eu não quero te machucar e metade do meu cérebro estava preso
nisso e a outra metade explodindo de tesão por estar dentro de você. —
Confessou e me senti melhor ao entender os seus sentimentos. — Vai ficar
melhor. — Beijou a minha bochecha.
— Se depender da minha vontade agora, nunca mais. — Disse e me
sentei. — Acho que preciso de um banho.
— Quer ir para a banheira?
— Vai preparar um banho para mim? — Brinquei e olhei para o seu
pênis e vi os resquícios dos nossos fluídos. Afastei as minhas coxas,
conferindo o lençol branco manchado. — Merda.
— O que foi?
— Se os seus pais precisarem de uma prova de sangue... — Estremeci
e saí da cama, eu podia sentir o gozo ainda escorrendo de dentro de mim, mas
a cama estava seguramente manchada com pingos bem expressivos de
sangue. Dante analisou e sorriu.
— Minha mulher era pura. — Provocou e revirei os olhos, saindo de
perto. Ele pulou da cama atrás de mim e preparamos um banho juntos.
Alguns minutos depois, estávamos juntos na espaçosa banheira com espuma,
sais de banho e estava deitada contra o seu peito. — Foi perfeito. — Dante
falou baixinho. — Foi a nossa primeira vez, então, duas pessoas incríveis e
gostosas, só podem produzir algo perfeito. — Completou e sorri.
— Adoro seus elogios com tanto ego.
— Não estou mentindo. — Esfregou os meus braços. — Se quiser,
podemos ficar em casa. — Beijou a minha testa. — Ou nisso aqui que
estamos chamando de casa.
— Não. — Pensei no meu bolo de chocolate, melhor dizendo, o bolo
dele. — Nós não saímos desde que chegamos e é o seu aniversário de vinte e
um. Quero te deixar bêbado, como manda a tradição.
Saímos do banho e eu me refugiei no closet, enquanto Dante solicitava
a troca de lençóis. Fingi que nada estava acontecendo, porque o funcionário
saberia que perdi a minha virgindade. Dolorida, tomei um remédio, peguei a
escova e desembaracei o meu cabelo, passando chapinha na franja toda torta
e peguei o vestido amarelo que escolhi mais cedo. Era de alça, justinho até a
cintura e com uma saia bem romântica, exceto, que ia até o meio da coxa.
Dante entrou no closet e se vestiu rapidamente, ainda estava na
maquiagem quando ele parou atrás de mim, se apoiando e arqueando a
sobrancelha para o pó banana que estava acumulado nas minhas olheiras
enquanto passava uma sombra clarinha cheia de glitter. Ficou me observando
até que passei o batom, perfume e coloquei as minhas joias. Ele beijou o meu
pescoço, literalmente enterrando o nariz em minha pele e ergui o meu celular,
tirando uma foto.
Saímos do nosso quarto de mãos dadas. Dante estava armado, usando
duas camisas, uma branca por dentro e outra xadrez, mais larga, bermuda
jeans e tênis. Ele não ficava só de chinelos nem por um decreto. Passamos
pela área central do resort e percebi que havia muito mais hóspedes que
imaginava. Felipe e o Matteo estavam conversando, nos seguindo à distância
e fazendo parecer que não estávamos juntos. Entramos no restaurante que eu
fiz a reserva e dei os nossos nomes.
— Sr. e Sra. Biancchi? — A recepcionista parecia confusa.
— Sim, somos nós. — Confirmei e ela nos encarou como se eu fosse
jovem demais para ser uma senhora casada. Muito sem graça, pediu as nossas
identidades. Dante entregou a dele, querendo rir e eu a minha. Mia
Alessandra Biancchi. Assentiu, nos devolvendo e disse que a nossa mesa
ficaria pronta em alguns minutos e que podíamos aguardar no bar.
Meu marido me abraçou por trás e me deu um beijo no ombro
enquanto pedia duas bebidas coloridas e com bastante álcool para
começarmos a comemoração do seu aniversário. Seus pais ligaram o dia
inteiro, mandaram mensagem e quando a mãe dele fez uma vídeo chamada,
ele rejeitou.
— Sua mãe vai ficar chateada.
— Não vai dar para falar aqui. — Bebeu o seu drink. — Isso é muito
doce. — Fez uma expressão engraçada. — Uísque, por favor. — Sinalizou
para o barman. Terminei a minha bebida e peguei a dele, já que não queria.
Me inclinei no banquinho e lhe dei um beijo. — Isso sim é uma bebida.
— Não comprei um presente, quer dizer, comprei. — Soltei uma
risadinha e bebi mais um pouco. — Encomendei na internet e mandei
entregar na Itália, já que iremos para lá. A Luna vai receber.
— Dois goles de um drink desse de estômago vazio e você fica
soltinha. — Ele riu.
— Deveria ter bebido antes daquilo... — Olhei ao redor, porque não
queria que ninguém entendesse o que estava falando. — Na nossa noite de
núpcias, o espumante me deixou bem relaxada...
— Não. — Dante franziu o cenho. — Nada de bebida. Não quero que
use o álcool para relaxar, não entre nós dois e por isso eu realmente espero
que você consiga vencer a vergonha.
— Não sei controlar isso. — Dei de ombros.
O garçom se aproximou avisando que ia nos acompanhar até a nossa
mesa e deixei o meu drink, que estava no finalzinho. Pulei do banquinho,
ajeitando a minha saia e segurei a mão do meu marido indo até a mesa. Nós
sentamos no canto, com a linda visão para o bar da piscina e a praia. Felipe e
o Matteo estavam nesse bar conversando com algumas garotas e me
perguntei se o Felipe era capaz de ficar com alguma dessas meninas apenas
para disfarçar.
Desviei a minha atenção dos meninos para ouvir a sugestão do chef.
Era frutos do mar. Meus olhos devem ter brilhado, porque o Dante arqueou a
sobrancelha e murchei no lugar. Ele pediu filés de cordeiro, batatas e uma
salada tropical que parecia muito bonita, de última hora, ele acrescentou mais
bebidas e para as entradas, kibe de peixe, casquinhas de siri e camarão
empanado. Eu poderia me jogar nele se fosse socialmente aceitável, o álcool
em meu sangue me deixou desinibida o suficiente para jogar os meus braços
ao redor do seu pescoço e lhe dar um beijo.
Apesar da bebida, eu apreciei a comida e a carne estava tão macia que
se desfazia. Terminei de comer e esperei ansiosamente pelo bolo. Eu só não
sabia que os garçons e o chef sairiam cantando parabéns e era muito maior do
que imaginava. Precisei filmar o Dante surpreso e tímido com o restaurante
inteiro batendo palmas. Ele sacudiu a cabeça, resignado e assoprou as velas.
Cortei o bolo e ele me deu o primeiro pedaço, servi um pedaço para
ele, pedi que o garçom retirasse mais seis pedaços generosos, guardasse em
uma caixa e o restante poderia servir entre as mesas.
Estava distraída comendo o delicioso bolo quando o Dante deslizou
uma caixinha pela mesa.
— É seu aniversário e eu que ganho presentes? — Peguei a caixinha e
abri. Eram duas pulseiras de prata, a dele era mais grossa que a minha.
Ambas tinham placas com nossos nomes. — É fofo.
— Não é fofo. — Ele bufou. Era fofo, de um jeito possessivo, mas era
fofo. — Eu sabia que você daria um ataque se eu não usasse algo com o seu
nome, então nós dois vamos usar iguais.
— Eu daria mesmo. — Ele colocou em mim e eu coloquei nele —
Ficou muito bonita. Obrigada. Feliz aniversário mais uma vez. — Beijei ele
rapidamente e voltei para o meu lugar, voltando a comer o meu bolo e ele riu
da minha felicidade.
— Já sei como te fazer não ficar nenhum pouco tímida comigo. — Ele
pegou seu garfo e comeu o seu pedaço que eu já estava de olho. — Vou me
besuntar de chocolate. Vai ser pau ao molho de chocolate belga.
Engasguei com o meu pedaço de bolo, soltando uma risada alta e cobri
o meu rosto. Ele era tão idiota que não conseguia se controlar. Enxuguei as
lágrimas que escorreram do meu rosto. Minha vida com o Dante nunca seria
tediosa com o seu senso de humor bobo.
12
Dante.
Sempre fui um homem de apreciar mulheres bonitas, olhava, sorria,
jogava uma cantada e pegava as que me davam confiança. Com alguns dias
de casado, eu podia dizer que as outras mulheres na praia me chamaram
atenção, mas eu não olhei muito, porque a minha mulher era linda, eu estava
puto e com tesão pelo tamanho do seu biquíni e o quanto a sua bunda estava
espetacular.
Mia estava chamando atenção dos outros homens na praia, mas eu
não falei nada, porque não queria que se retraísse. Elogiei e ela ficou feliz.
Enquanto isso, andava atrás dela feito um idiota. Sua calcinha era
vermelha, de cortininha, na frente exibia um corte muito atraente e atrás era
só um triângulo. Felizmente, estávamos na água. Ela estava tentando subir na
prancha de paddle com a bunda bem na minha frente. Dei uma mordida em
sua nádega, ela escorregou de volta e me deu um olhar irado por atrapalhar.
Subi na prancha sem nenhuma dificuldade e ela ficou puta, jogando água em
mim, porque estava há quase meia hora tentando.
Rindo, a peguei meio bruscamente e coloquei na prancha na minha
frente. Soltei o remo enquanto ela ficava de joelhos, me deu um olhar cheio
de expectativas e remei pela água, passando pelas ondas suaves, sorrindo para
a sua felicidade de finalmente estar experimentando o que tanto queria. Meia
hora mais tarde, voltamos para o raso, ela pulou, mergulhou e eu dei um
salto, nadando para refrescar os meus ombros. Devolvemos a prancha e mais
uma vez me controlei para não sair atirando em quem olhava para ela.
Mia se enrolou na toalha, seus olhos estavam vermelhos, assim como a
bochecha.
— Vamos almoçar?
— Sim! — Saiu um pouco brusco, mas eu estava louco para cobrir a
sua bunda. Mia me deu um olhar esquisito, espremeu o cabelo na toalha e
vestiu uma roupa. Seu vestidinho branco era transparente, mas pelo menos,
não estava com a bunda de fora.
Segurei a sua mão, eu pensei que fosse odiar essa coisa de andar de
mãos dadas, mas eu gostava de mantê-la por perto e deixava óbvio que não
estava sozinha. Descobri que as alianças não eram o suficiente. Entramos no
restaurante e pedi uma mesa do lado de fora.
Estávamos naquele lugar por uma semana e ainda tínhamos mais
alguns dias pela frente, mas eu já estava sentindo um comichão de voltar ao
trabalho. Não lembrava quando fiquei tanto tempo à toa, no sentido de não
estar trabalhando.
Mia estava nos inscrevendo em quase todas as atividades disponíveis
no resort e reservando mesa em todos os restaurantes possíveis, ela queria
provar tudo. Milagrosamente, ela pediu apenas salada e um pudim para
sobremesa.
— A consciência pesou?
— Só não estou saindo para correr com você porque estou sem roupas
de ginástica aqui. — Fez um beicinho. — Eu não posso ir embora sem entrar
nas minhas roupas.
— Isso significaria que você ficaria pelada? — Arqueei a minha
sobrancelha. Ela me deu a língua e soltou um bocejo. — Cansada, baby?
— Um pouco.
Comemos e não levamos muito tempo jogando conversa fora, ela
estava com sono e eu queria tomar um banho. Levamos meia hora para
voltarmos para o nosso quarto. Sinalizei para o Matteo que não iria sair mais
e fechei a porta. Mia sabia que eu gostava de verificar todos os cantos do
quarto antes de permitir que ela entrasse, então ficou encostada na parede, me
dando um olhar de que eu era muito exagerado enquanto eu verificava todos
os cantos.
Liberei a sua entrada e estapeei a sua bunda pelo olhar impaciente.
Com muito prazer, a observei ficar nua. Eu nunca me cansaria de vê-la
pelada. Era um sonho molhado vinte e quatro horas por dia. Tirei a minha
roupa e invadi o seu banho. Agarrei a sua cintura, ela esfregou a esponja em
meus braços e eu fiz ainda mais espuma e bagunça lavando o seu cabelo, me
sentei no banquinho para que lavasse o meu.
Observar a Mia se hidratando era a minha parte favorita e cada vez que
ela se sentia mais à vontade comigo, menos corava com os meus olhares. Me
joguei na cama, sem roupa, ficar pelado era a minha segunda parte favorita.
Mia pegou o controle das persianas e apertou, elas desceram lentamente, mas
não todas, uma parte que dava para a praia ela deixou pela metade,
iluminando o quarto.
— Não coloca roupa. — Pedi e ela soltou a sua toalha. — Vem aqui,
baby. — Eu estava morrendo para estar dentro dela de novo. A nossa
primeira vez foi horrível, porque ela estava sofrendo com dor e eu não
conseguia suportar a ideia de causar tanto sofrimento, mas além de ela querer
ir até o fim, eu estava com tesão por ser a nossa primeira vez. Gozei rápido e
acho que ela ficou grata por isso.
Mia se arrastou na cama e a coloquei em cima de mim. Acariciei as
suas coxas, adorava a sua pele macia e olhei para o ápice entre as suas pernas,
passando o polegar em seu clitóris e pela sequência de pelos curtos, bem
aparados, subi as minhas mãos sentindo a textura da sua pele arrepiada.
Segurei ambos os seus seios com os biquinhos intumescidos, eram claros,
pequenos, perfeitos.
Cada mísero pedaço de pele era perfeito, até as pequenas cicatrizes
que ela tinha espalhadas nos ombros, costas e barriga. Eram bem pequenas,
clarinhas, fruto da sua mãe maldita que eu ainda teria uma conversinha.
A segunda vez que transamos, foi menos dolorosa para ela, que parecia
estar mais calma e mais confiante. Foi há alguns dias e acabou acontecendo.
No meio da madrugada, ela acordou para beber água e quando voltou,
ficamos conversando, um beijo aqui, mãos bobas ali, logo ficamos nus e
cheios de más intenções. Ela estava molhada e desejosa, quase gozei só de
esfregar o meu pau em suas dobras e decidimos tentar mais uma vez. Foi
gostoso, mantive a calma, estocadas curtas e ela não gozou com a penetração,
talvez isso levasse um tempo.
Mia beijou a minha boca com calma, como se saboreasse o meu gosto,
explorando a minha língua e gemi, sentando-me e puxei as suas pernas para
cruzar em meu quadril. Ficamos pertinho, meu pau duro alinhado na sua
buceta, explorei a sua pele com a minha boca e devagar, ela tomou a
iniciativa de se mover contra mim, tomada de prazer. Agarrei a sua bunda,
incentivando os seus movimentos, sentindo a sua buceta encharcada no meu
pau e ela gemeu baixinho, escondendo o rosto em meu pescoço, enfiando as
unhas em meus braços.
Sem falarmos nada, ergui um pouco a sua cintura e posicionei o meu
pau. Mia apertou os meus ombros, olhando em meus olhos conforme descia.
— Está desconfortável? — Olhei em seus olhos.
— Não. — Sua boca estava em um lindo formato, soltando os
melhores gemidos.
— Está gostoso, baby? — Meti devagar, controlando os movimentos
da sua cintura e juntos, começamos a nos mover. Mantive o ritmo lento,
gostoso pra caralho, não conseguia parar de beijar a sua boca, movido por
tanto tesão que fechei os meus olhos, lambendo os seus lábios e quanto mais
metia, mais ela rebolava, molhada... — Mia, caralho.
— Continua, baby. Não para. — Soltou um gemido. Apertei a sua
bunda, movendo-a contra mim, com a mão cheia da sua carne, esmagando-a
com meu pau enterrado. Mia gozou, esplêndida na sua beleza, vermelha,
mordeu o lábio com os olhos brilhando e eu estava extasiado. — Dante... —
Choramingou com o meu olhar.
— Você é perfeita. — Beijei a sua boca, a deitei na cama e seu corpo
estava tão relaxado, suas pernas cruzadas em minha cintura e estoquei até
gozar. Deitei a minha cabeça entre os seus seios, suado, ela arranhou o meu
couro cabelo, penteando os meus fios molhados com carinho. Parei,
recuperando a minha respiração e ela me cutucou.
— Olha... — Apontou para fora. O sol estava se pondo e as luzes eram
simplesmente surreais. Beijei a sua bochecha e ao invés de olhar para fora,
observei as luzes pelo seu olhar. Seus olhos verdes estavam marejados,
brilhando e ela virou o rosto, me fitando com intensidade e carinho. Voltei a
beijá-la, incapaz de parar.
— Foi melhor dessa vez?
— Foi muito melhor. — Ela sorriu timidamente. — Ainda foi meio
dolorido, principalmente no começo, mas depois, a dor estava bem no fundo,
como se aumentasse o prazer.
— Grazie à Dio . — Beijei cada um dos seus peitos. Meu pau estava
duro de novo.
— Quer fazer de novo? — Acariciou o meu rosto. — Eu quero... —
Mordeu o lábio como se me querer de novo fosse motivo para vergonha.
— Sempre te quero. — Rolei para o lado e deitei de lado, virando-a de
frente para o pôr do sol na praia. Voltei para o meu lugarzinho favorito,
empurrando dentro, esfregando seu clitóris e quanto mais ela gemia, mais eu
fodia. Quando ela gozou de novo, perdi a minha cabeça, falando tanta putaria
que esqueci totalmente de ir devagar, manter a minha boca tranquila e o ritmo
mais lento. Gozei forte, apertando sua cintura, deitando a minha testa no seu
ombro.
— Uau. Agora você se soltou. — Comentou acariciando o meu braço.
— Te machuquei?
— Não... Só percebi o quanto você se segurava comigo. — Virou o
rosto e beijou os meus lábios. — Você sempre me surpreende com a sua
gentileza.
— Sempre serei gentil com você, mas não espere isso de mim com
outras pessoas. — Devolvi o seu beijo. — Vem, gostosa.
Tomamos uma chuveirada rápida, pensei que ela fosse tirar um
cochilo, mas ela quis uma cerveja e se jogou em um dos sofás na varanda. Ela
estava com uma calcinha de biquíni e uma blusinha apertada. Vesti uma
sunga e me joguei ao seu lado, brindamos e ela jogou as pernas em cima de
mim.
— Sabe o que nos espera na Itália?
— Não. Provavelmente vão arrancar o meu couro e me fazer provar o
meu lugar.
— Espero que não machuquem o seu rostinho bonito... — Me deu um
sorriso zombeteiro. — Ou o meu novo melhor amigo. — Apontou para a
minha sunga.
— Então só te interessa o meu rosto e o meu pau? — Me fiz de
chocado. — Safada.
Meu telefone vibrou e peguei, lendo a mensagem do Matteo. Ele
identificou um federal, não sabia se estava de férias ou não, mas pelo jeito
que observava ao redor, não parecia estar de férias. Agentes da polícia agiam
igual, eles poderiam treinar um pouco melhor, mas não o faziam. Enviei a
foto que o Matteo me mandou para a verificação. Fiz a Mia entrar, ela não
queria, ficou emburrada, jogada na cama e fechei todas as janelas e persianas.
— Dante, o que está acontecendo? — Ela me olhou do quarto. Eu
estava observando o filha da puta andar na frente do nosso quarto, na praia,
como se estivesse apreciando. Como estava tudo fechado, ele ergueu o
telefone e tirou uma foto. Meu dedo coçou para atirar bem no meio da testa.
— Nada, baby.
Meu telefone vibrou. Era o Enzo.
— Sim, chefe.
— Melhor vocês embarcarem mais cedo. Ele não está sozinho na ilha
e até descobrir o que está acontecendo, quero a Mia em segurança . —
Avisou.
— Sim, sairemos hoje mesmo.
— Vou mandar preparar o avião e fique atento.
— Sim, senhor.
— Te vejo em algumas horas.
Mia estava me observando com expectativa e mordeu o lábio. Quando
ia abrir a minha boca para explicar, meu telefone tocou de novo e dessa vez,
era o Enrico.
— Você tem arma e munição o suficiente?
— Sim, pai.
— Eu vou te dar um soco.
— Eu sei. — Sorri e continuei olhando para fora. — Ele está
fotografando o nosso quarto. Está tudo fechado. Matteo e o Felipe não o
viram antes.
— Eles chegaram hoje, é tudo que sabemos. Irei atualizando as
informações.
Encerrei a chamada e a Mia se arrastou da cama, séria.
— Alguma coisa aconteceu?
— Sim, sinto muito. Vamos encerrar a nossa lua de mel mais cedo que
o esperado, porque tem federais na ilha e um deles está lá fora, fotografando.
Vamos agir silenciosamente e sair no começo da noite. Enzo já mandou
preparar o avião, está bem?
— Vou sentir falta desse lugar, mas tudo bem.
— Voltamos depois, prometo. — Beijei os seus lábios.
— Vou arrumar as nossas coisas. — Me deu um breve sorriso e foi
para o closet do quarto.
Para agilizar o processo, guardei as minhas roupas enquanto ela
recolhia tudo. Sorte que a Mia não era do tipo bagunceira e as minhas coisas
eram bem resumidas. Enquanto ela se arrumava no banheiro, separei minhas
duas armas, carreguei, verifiquei as armas, me vesti e ela estava me
observando. Coloquei uma atrás, outra no peito, uma faca no tornozelo. Já
estava acostumado, ela também deveria estar, mas considerando que o seu pai
era um babaca, eu não me surpreendia com o seu olhar preocupado.
Felipe bateu na porta para buscar as malas, deixei entrar e a Mia sentou
no sofá com a sua mochila pequena nas contas, o telefone ao lado e ela ficava
brincando com as alianças quando ficava nervosa e não queria deixar
transparecer. Eu percebi isso quando ficamos noivos, há pouco mais de um
ano. Quando recebi a confirmação que as malas estavam no carro, dei uma
última olhada no local e estiquei a mão para minha esposa.
Mia era boa, manteve a sua expressão neutra e ainda sorriu para uma
garotinha que estava correndo do pai e sem querer tropeçou em mim. Saímos
do resort depois de assinar a entrega do quarto e mesmo com a estrada escura
até o aeroporto privado, ninguém nos seguiu. Eles não tinham causa provável
para uma, mas poderiam forjar. Estávamos fora dos Estados Unidos e a Mia
era italiana como eu. Minhas irmãs nasceram nos Estados Unidos, assim
como meu irmão mais velho, mas quando a minha mãe ficou grávida pela
quarta vez, a minha avó estava doente, ela optou por ficar na Itália e eu nasci
antes do previsto.
Os pais da Mia moravam na Itália quando ela nasceu e foram enviados
para Nova Iorque quando surgiu uma vaga. Obviamente, o pai dela estava
ansioso para uma posição melhor do que ser o segundo filho sem função e
tentou a sorte em outro país.
O avião decolou uma hora depois e eu só relaxei minimamente quando
o piloto informou que o tempo estava tranquilo e podíamos transitar pela
cabine. Mia tirou os tênis, ficou de meias e soltou o cinto, procurando
em suas bolsas alguma coisa, tirou um elástico e prendeu o cabelo. Eu sabia o
que ela queria e não ia me pedir. Empurrei a minha pistola para o lado e bati
em minha coxa, sorrindo, ela e arrastou para cima e puxei uma colcha. Mia
dormiu em cima de mim o voo inteiro, meu braço ficou fodido e dormente,
mas eu não me movi.
Sobrevoamos o oceano Atlântico e quando finalmente pousamos no
destino, meus olhos estavam ardendo e a minha cabeça explodindo. Mia
acordou, reclamou de fome e ficou emburrada. Nós passamos muito tempo
voando e ainda tinha seis horas de diferença de fuso horário, com a confusão,
Mia bufou ao ver o sol quente quando as portas do avião desceram. Enrico
estava encostado em um carro e ele imediatamente segurou a Mia
perguntando se estava tudo bem. Revirei os olhos e ele me deu um olhar
bravo.
— Foi tudo bem. — Mia garantiu. — Dante me manteve segura. —
Ela adicionou e eu sorri para a careta do Enrico. — Estou morrendo de fome.
— Vamos para casa. Eu queria que ficassem em minha casa, mas a
Luna preparou uma das casas de hóspedes bem próximo, compartilhamos o
mesmo quintal na última reforma. — Enrico abriu a porta para Mia. Matteo e
o Felipe foram para o carro de trás, que estava sendo conduzido pelo
Antonio. As malas já estavam guardadas. — Estão todos na villa .
— Aconteceu alguma coisa? — Mia perguntou. Enrico trocou um
olhar comigo.
— Nada demais. — Ele desconversou. Nada demais a minha bunda.
Ele dirigiu em silêncio e olhei para trás, sorri para Mia e pisquei, para
não ficar preocupada. Como andava feito um doido, chegamos aos portões de
ferro da villa em meia hora. Passada as casas da entrada e alguns armazéns, vi
a Luna com a Laura no colo. Ela estava com a parte de cima de um biquíni
branco, short jeans e descalça. Mia mal esperou o carro parar antes de pular
fora, correndo para a sua prima.
— Não é relacionado a isso, ainda vamos descobrir, mas você precisa
saber que a mãe dela andou falando demais.
— Não machuco mulheres, mas eu posso mudar a minha política por
ela. Já está na hora, porra. Até quando vão permitir que essa mulher faça o
que bem entender sem punição?
— Isso é com a Juliana. Mia pode não te perdoar se você fizer algo
com a mãe dela, mesmo que a mulher seja um pedaço desagradável de
pessoa. A Luna não queria que a Mia ficasse magoada, a mulher manteve-se
quieta nos últimos anos, mas o casamento foi o estopim.
— Com quem ela falou?
— Com algumas famílias, foi pouco e breve, ela foi convidada a dar
um passeio com um dos nossos.
— Infeliz. Quem vai cuidar disso?
— Juliana. Enquanto isso, você tem coisas a fazer, antes, descanse,
coma alguma coisa porque todos estão de folga hoje.
Assenti e finalmente saí do carro. Cumprimentei a Luna e a Giovanna
que estavam com as crianças no pátio. Damon saiu da casa principal usando
uma bermuda e me deu uma cerveja. Mia estava no chão, brincando com a
Laura e me deu um sorriso feliz. Aquele sorriso valia muito, porque me
impediu de sair por aí caçando a sua mãe e acalmou a ânsia assassina que
estava crescendo e borbulhando em meu peito.
13
Mia.
Eu sabia que todos estavam fingindo que nada havia acontecido, eu
deixei que eles seguissem com o dia conforme achassem melhor. Após o
almoço, Dante e eu fomos levados para a casa que ficaríamos hospedados.
Ele tomou um banho e vestiu uma roupa, indo treinar com o Enrico. Tomei
banho com mais calma, sem sono, apenas vesti uma roupa confortável e fui
atrás da minha prima. Seus cachorros rosnaram para mim e eu travei no lugar,
com medo.
— Zeus e Apolo, para o canil, já. — Luna mandou e eles saíram. —
Desculpa, eu esqueci de apresentar os dois. Agora estou fazendo bolo e não
vou me sujar de pelo, vem, entra. — Sinalizou e passei pela piscina, tirei os
meus chinelos e fui para sua cozinha. — Laura dormiu, o que é um milagre.
Ela nunca dorme de dia. — Minha prima sorriu e eu ainda me surpreendia ao
vê-la tão magnífica. — Como foi a sua lua de mel?
— Quero falar sobre isso depois. — Puxei um banquinho. — O que
está acontecendo? Eu não perguntei ao Dante, porque ele não iria me dizer.
Luna colocou a vasilha com a massa do bolo no balcão.
— Nós duas erramos, Mia. Mentimos uma para a outra... — Ela
sentou-se em um banquinho. — No primeiro ano do meu casamento, eu
soube que você estava tentando fugir. — Meu rosto ficou vermelho. —
Juliana conversou com você, mas em momento nenhum eu te contei que
sabia e você, em nenhum momento, me contou o que estava acontecendo lá.
Se eu soubesse que o seu pai estava tentando abusar de você como ansiava
comigo, eu jamais permitiria que ficasse lá. Eu sabia que eles eram pais ruins,
seu pai era ausente e a sua mãe narcisista, mas... Errei ao pensar que você não
me perdoaria se algo acontecesse com eles porque eu pedi. — Ela apoiou as
mãos e me encarou. — Nunca contei em extremos detalhes tudo o que
acontecia lá, assim como você também não, isso deu força e confiança para a
sua mãe. Ela não se importa com nada e te culpa pela morte do amor da vida
dela, o seu pai.
— Ele ia me estuprar.
— Eu sei, ela está errada. Nós erramos em acobertar isso por medo,
Mia. Precisaríamos ter falado. Deveríamos ter exposto e feito com que os
dois pagassem pelo que faziam!
— Estava com medo. Ainda sinto medo. — Meu lábio inferior tremeu.
— Não chore. — Luna correu para me abraçar. — Me perdoa por não
ter te protegido. Quando tudo explodiu, Juliana já tinha feito o acordo com os
Biancchi e mesmo com as minhas tentativas de dissolver ao longo dos anos,
depois do meu sequestro, as relações estavam sensíveis demais.
Me afastei gentilmente.
— Você foi sequestrada?
Luna mordeu o lábio.
— Sim... Eu não lembro tudo ainda, mas um agente do FBI ao ser
demitido, me sequestrou junto com um membro da família. Ambos queriam
se vingar do Enrico por motivos diferentes, se uniram e me mantiveram por
quase três dias, drogada, amarrada, nua e molhada em um lugar horrível. —
Eu estava chocada que aquilo havia acontecido e eu não sabia. — Nunca quis
te contar, porque sempre desejei preservar a sua inocência ao máximo.
— Luna...
— Ei, não chora. Isso tem tempo, estou bem e com uma vida
maravilhosa. Me perdoa. A primeira coisa que eu deveria ter feito quando me
casei era te tirar de lá e fazer com que os seus pais pagassem por tudo. Você
não precisaria ter matado o seu pai na situação que foi e agora a sua mãe não
teria achado que poderia sair por aí falando o que não deve. Ela cuspiu na
benevolência que lhe deram mesmo depois de ter sido uma completa vaca
monstruosa. — Luna ficou vermelha de raiva. — Eu só precisaria de cinco
minutos com ela.
— É minha culpa. — Encolhi os ombros. — Bem ou mal, ela é a
minha mãe e eu ainda me apegava a isso, mas nos últimos anos, ela só me
procurava para pedir dinheiro ou para tentar me manipular de alguma forma.
As lágrimas de crocodilo sobre ter falhado como mãe duraram pouco tempo.
— Eu sinto muito, mas não haverá um velório.
Velório?
— Hum, ela morreu?
Luna arregalou os olhos.
— Não sei, mas, a Juliana foi até lá ter os cinco minutos que eu
gostaria. Não vai ser um resultado positivo para a sua mãe. Você consegue
definir o que está sentindo?
— Não... Acho que quero beber.
— Tudo bem, vamos beber. — Luna apertou a minha mão e eu sentia
o meu coração apertado como se um punho o espremesse. Eu não sentia nada
pela minha mãe. Nem amor, não mais. Um dia eu a amei, mas com o tempo,
eu passei a ter medo e rancor. Ela não me protegeu como deveria e não me
amava como uma mãe e sim como a possibilidade de um dia fazer com que
tivesse um casamento que a beneficiasse.
Luna terminou o bolo, enfiou no forno e foi até o bar, pegando uma
garrafa de uísque e um copo. Não era bem o que eu estava acostumada a
beber, mas serviria. Enchi o copo mais do que uma dose normal. Virei tudo
de uma vez, tossi, meus olhos lacrimejaram, minha cabeça virou, mas eu
respirei fundo e me abanei. Servi um pouco mais, o gosto não parecia ruim na
segunda vez, porque a minha garganta estava pegando fogo de todo jeito.
Minha prima ficou com pena e me deu gelo, aliviou um pouco e
consegui para beber com mais facilidade.
— Então, como foi a sua lua de mel?
— Estava muito boa e eu queria ficar lá, mesmo que o Dante estivesse
se coçando para se ocupar logo. Ele dormia muito pouco e ficava andando de
um lado ao outro... — chupei o gelo um pouquinho e dei um gole generoso
no que faltava no copo. — Mesmo assim, nós nos divertimos muito e
acabamos...
— Doeu?
— Doeu horrores, puta que pariu. Doeu muito, mas depois, ficou ok. A
última vez, no entanto, minha nossa. — Sorri e a Luna quase pulou no sofá.
— Ele é bem gentil comigo, sempre me elogiando, cheio de carinho. Foi
difícil resistir, porque ele sempre sabia o que estava fazendo e eu gostava
muito de todas as coisas que fazíamos juntos.
— Ele é atencioso?
— Hum, acho que sim. Ele sempre garantia que fosse bom para mim,
principalmente que depois era bem desconfortável e toda parte oral era muito
boa. — A bebida estava me fazendo falar tudo. — Eu o fiz fazer um exame,
mas acabei dando assim mesmo, depois recebemos o resultado e ele estava
limpinho.
— Ele vai ser duramente treinado nos próximos anos, mas vocês
podem ter um no outro paixão, companhia, carinho e muito amor. Eu sei que
o Enrico é capaz de fazer coisas ruins e eu descobri que nessa vida, até eu sou
capaz, mas nós nos amamos muito e estamos muito felizes com o nosso
segundo bebê. — Seus olhos brilharam. — Você pode ser feliz, Mia. Basta
lutar pela sua vida e do seu marido. Ser uma mulher na nossa família exige
muita força e resiliência.
— Obrigada.
Ouvimos uma criança chorar e a Luna apenas olhou para a porta.
Giovanna entrou com o Nino no colo e era ele quem estava chorando. Ela
colocou o menino no chão e ele saiu emburrado, foi até a sala e pegou alguns
brinquedos que estavam em uma caixa no canto.
— Ele está fazendo birra tem duas horas. — Giovanna bufou. — Esse
garoto me tira a paciência. Tem chocolate?
— Tem e vou derreter para o bolo. Espera. — Luna foi severa.
— Eu ia fazer o Damon sair da academia para comprar, mas eles estão
treinando o Dante e não quis interromper. Pelo que vi, o seu marido sabe
bater. — Giovanna pegou um banquinho. — Hum, estou interrompendo
algo? — Ela apontou para o copo.
— Minha mãe vai morrer ou se matar, então, eu estou bebendo
enquanto o bolo está assando. — Soltei e as duas me olharam como se eu
fosse maluca. Giovanna pegou o uísque e me serviu mais.
Laura acordou e chamou pela sua mãe. Luna subiu e eu bebi um pouco
mais. Giovanna suspirou quando o Nino começou a rasgar as revistas, ela
agachou na frente dele e falou muito severamente. O menino fez um beicinho
que lembrava muito o pai e soltei uma risada, os dois me olharam e virei de
frente. Ela terminou de lhe chamar atenção e o fez pegar todos os papéis
picados. Quando a Luna desceu com a Laura, as duas crianças começaram a
correr pela sala, causando um pequeno pandemônio. As mães não pareciam
incomodadas, então, eu não me incomodei.
Luna desenformou um bolo perfeito de chocolate e fez uma cobertura
cheirosa. Giovanna e eu quase brigamos pela panela. Eu cedi porque ela
estava grávida e não queria que rogasse nenhuma praga. Com pena de mim e
talvez pensando na minha sobriedade, ela me deu umas colheradas. Nós
ficamos conversando sobre a nova coleção, as crianças toda hora faziam uma
bagunça e eu continuei bebendo. Quando o Dante passou pela porta junto
com o Enrico, eu estava com a boca cheia de chocolate.
— Você tem um gosto refinado para bebida. — Enrico analisou a
garrafa.
— Foi a Luna que me deu. — Sorri e o Dante estava me encarando,
querendo saber porque eu estava bebendo. Ele provavelmente sabia sobre a
minha mãe e não me falou nada. Eu não sabia se estava irritada com ele.
Dante avisou que iria tomar um banho, estava todo molhado de suor.
Terminei o meu bolo e sorri. — Tchau, gente.
— A garota nem disfarça que vai pular no chuveiro com ele. —
Giovanna riu.
Corri pelo gramadinho e entrei na casinha. Ouvi o barulho do chuveiro
e tirei a minha roupa no quarto. Minha cabeça estava girando com tanto
uísque. Dante estava de costas para a porta, dava para ver as contusões se
formando em suas costas e braços. Ele era muito branco, ficava marcado
fácil. Empurrei o box e ele virou, sorriu e me deu um espacinho entre a
parede e ele.
— Você está bêbada.
— Só um pouquinho. Na verdade, estou alegrinha. Precisava relaxar só
um pouco. — Passei a minha mão de leve na marca de dedos em seu braço.
— Luna me contou.
— Esperava poder te contar... quando tivesse uma confirmação. Eu
não queria te deixar assim antes do tempo. — Hum, então era por isso que ele
ficou chateado.
— Está tudo bem. Luna e eu precisávamos pedir perdão uma para a
outra e esclarecer coisas que escondemos de todos e uma da outra. Eu não
estou triste pela minha mãe e isso me choca, me faz sentir menos humana. —
Lágrimas bem grossas rolaram pelo meu rosto. Queria ter sido amada, uma
filha querida, queria chorar pela minha mãe e pelo meu pai, sentir saudade,
mas tudo que sentia era ódio por todas as vezes que fui humilhada, agredida,
diminuída e abusada.
— Você é humana. É normal não sentir pesar por quem nos machucou.
— Dante abaixou o rosto e me beijou. — Não existe nada errado em você. —
Me beijou de novo e desceu as mãos pelo meu corpo. — A sentença foi dada
por culpa dela e na minha opinião, um pouco tarde, espero um dia entender a
necessidade dos chefes em fazer política ou de ignorar quem eles consideram
ratos.
— Luna me disse que nunca contou tudo ao Enrico até pouco tempo e
eles nunca fizeram nada porque não queriam me deixar órfã. Foi por mim,
Dante.
— Porque você é preciosa. — Dante segurou o meu rosto. — Apesar
de ter a Luna, eu sou a sua família. Nós somos uma família.
— Eu e você contra o mundo. — Fiquei na ponta dos pés e beijei a sua
boca rapidamente.
Tomamos banho e eu fiz uma compressa para cuidar dos seus
hematomas mesmo que ele afirmasse que era desnecessário e que estava
acostumado. Como ele não precisava sair, nós ficamos na cama e eu acabei
pegando no sono. Todo uísque ajudou a relaxar os meus nervos e acalmar o
meu coração. Eu precisava entender que as atitudes e decisões da minha
família não determinavam a minha vida.
Acordei sozinha na cama, com calor, fechei as janelas e liguei o ar-
condicionado. Dante estava na sala, ele lia algo em seu telefone e bebia água.
Minha cabeça estava latejando. Abri a geladeira e peguei um dos muitos
potes de sorvete que a minha prima tinha colocado lá.
— Luna enviou o jantar. Deixei no forno, quer?
— Não. — Retruquei com a boca cheia de sorvete de morango. —
Quer um pouquinho?
— Não vai dividir comigo?
— Sabe que não gosto de dividir. — Enfiei uma colher generosa na
boca. Dante me agarrou, me beijou e forçou a língua em minha boca, eu ri, o
que me fez babar o sorvete. Soltei uma gargalhada, me limpando e ele passou
a língua no colo dos meus seios. Era uma bagunça, mas eu fiquei arrepiada.
Enchi a colher novamente e coloquei um pouquinho na boca, dessa vez,
beijando-o com calma. — Dividir assim é gostoso... — ele chupou a minha
língua. Virei o restante em seu peitoral. — Ops. Acho que precisa limpar.
Dante gemeu, me segurando e chupei a sua pele, limpando. Ele me
pressionou contra o balcão, pegando o pote e apontou para o quarto. Corri na
sua frente, rindo e caímos na cama aos beijos, usando o sorvete como uma
boa adição na nossa cama. Daquela vez, o sexo foi ainda mais gostoso. O
peso da viagem, com bebida e todo exercício na cama me fez acordar
dolorida.
Meu marido estava longe de ser visto. Ele deixou o meu café da manhã
pronto com uma flor e um bilhete. Eu estava lendo quando a Luna e a
Giovanna se aproximaram da janela, prontas para me chamar e ficaram
felizes ao me ver. As duas estavam de biquíni.
— Olha que fofo. — Giovanna pegou a flor. Eu fiquei tensa, porque
não queria que zoassem o meu marido por ser fofo comigo. — Relaxa, eu não
vou contar ao Damon.
— Eu não quero que ele fique tímido e pare.
— Ah... Damon me enche de mimo. Hoje mesmo ele me levou café da
manhã na cama. — Ela sorriu e fiquei mais aliviada. Luna estava comendo o
meu bacon. — Ela está um trator nesta gravidez.
— Eu divido com você e sabe que odeio dividir a minha comida. —
Peguei uma torrada, enchi de ovos e ofereci uma para Giovanna. Nós
comemos, conversando e elas me convidaram para ir a uma praia que ficava
na propriedade. Levariam as crianças e pretendiam passar a manhã.
— Juliana está arrumando as meninas e nós vamos com alguns
guardas.
— Vou me arrumar e encontro com vocês lá no pátio.
Luna foi acordar a Laura e a Giovanna ouviu o grito do Nino, revirou
os olhos e foi ver o que estava acontecendo porque ele estava com a mãe
dela. Abri a minha mala, procurando um biquíni, eu tinha um monte de roupa
para lavar. Separei tudo e levaria para a lavanderia da Luna para lavar quando
voltasse.
Peguei as roupas sujas do Dante e encontrei a sua carteira com os
nossos documentos. Ali dentro tinha a primeira foto que tiramos juntos, há
quase três anos, quando nos conhecemos em Londres. Ele estava
infinitamente mais magro, sem tantos músculos, com aparelho nos dentes e
eu magricela, cabelos cheios com sobrancelhas tão grossas que poderia ser
uma só.
Dante me surpreendia a cada segundo. Ele não tinha motivos para ter
aquela foto e muito menos necessidade, mas ele mantinha e eu não conseguia
frear as batidas do meu coração, que ficava todo bobo e apaixonado quando
ele tinha atitudes como aquela. Guardei a foto no lugar, reuni tudo, terminei
de me vestir e tirei o meu telefone do carregador. Ele me enviou uma
mensagem, desejando bom dia, mas não disse onde estava ou o que estava
fazendo. Avisei que estava indo para praia com as mulheres.
Passei na casa da Luna, mas ela já estava no pátio com a Laura e uma
bolsa de mamãe parecendo cheia de coisas. Giovanna estava passando
protetor solar no Nino e a Juliana me deu um sorriso enquanto prendia o
cabelo da Amália. Anna e Aria correram para me abraçar. Era muita mulher
falando em italiano, parecia uma gritaria, mas era uma conversa normal
mesmo. Ajudei com as meninas, protegendo e arrumando os cabelos.
— Oi, menina. — Juliana me abraçou apertado.
— Quando chegaram?
— De madrugada. Nós estávamos na Sicília desde cedo, mas do outro
lado da ilha. — Olhou em meus olhos. — Eu sinto muito, Mia.
— Não precisa dizer isso...
— Não sinto por ela, sinto por você, mas agora, você e a Luna estão
livres dessa história. Acabou e vão ser felizes. — Ela esfregou os meus
braços. — Vamos nos divertir porque nós merecemos. — Piscou e eu sorri.
Havia um nó em minha garganta, mas eu não queria chorar. Juliana e
Luna tinham razão. Era hora de olhar para o meu futuro e deixar o meu
passado enterrado junto com os meus pais.
14
Mia.
Nós chegamos em uma praia não muito longe da propriedade, com
uma imensa comitiva, mas a praia estava bem vazia, porque era dia da
semana e ali não era um local turístico muito badalado. Espalhamos nossas
coisas. Luna, Giovanna e Lucinda levaram as crianças para a água, porque
elas estavam incontroláveis para mergulhar. Eu sorri para o Nino correndo
como um foguete e invadindo o oceano sem medo. Ele deveria estar
habituado.
Juliana ficou para trás. Ela tirou o seu shorts, ficando de biquíni e me
deu um sorriso, incentivando a tirar a minha roupa. Olhei ao redor e parecia
que estávamos sozinhas. Os guardas sabiam como se esconder e eu estava
com vergonha de tirar a minha roupa sabendo que haviam homens e o Dante
não estava por perto para me proteger. Tirei o meu shorts e a camisa, com
calor, prendi o meu cabelo, procurei na minha bolsa o protetor solar e o meu
óculos de sol.
— Você está tensa? — Juliana estava me sondando. — Está com
medo?
— Um pouco.
— Está insegura por que o Dante não está por perto? — Sentou-se na
espreguiçadeira. Abri o isopor que o Antonio colocou na mesa, ele saiu sem
falar nada. — Não pedi refrigerante porque eu não deixo mais que as meninas
bebam. Giovanna ainda não deu para o Nino e a Luna tem a política do
naturalismo na alimentação da Laura. — Sorriu um pouco e me deu uma
cerveja. — Você sabe se defender, Mia?
— Não, eu nunca lutei...
— Eu não estou diminuindo o Dante, ele será capaz de te proteger, mas
vai ser humanamente impossível estar por perto o tempo todo e você precisa
saber cuidar de si mesma, pelo menos o básico. Eu levei anos para conseguir
convencer a Luna e a Giovanna para isso e elas só entenderam a importância
quando as crianças nasceram.
— Eu não sei se o Dante vai me ensinar...
— Ele é novo, muito mais mente aberta que o meu marido um dia foi,
acho que se falar com ele, vai aceitar. — Brindamos com as nossas cervejas e
demos um gole.
Juliana foi para a beira, segurando a sua garrafa e eu pensei que mal
tinha tomado café da manhã e já estava bebendo. Coisas da vida adulta,
talvez. Dei de ombros e bebi mais um pouco, olhando para as crianças
correndo na areia com as suas mães. Giovanna já aparentava sinais de uma
gravidez. Luna ainda parecia uma musa de cinema. Ela ficou muito bonita na
gestação da Laura e como ainda era jovem, estava no auge da sua beleza.
Juliana tinha um corpo mais torneado, devido a sua intensidade com os
exercícios físicos e por treinar tanto quanto os homens da família.
Luna acenou para ir até ela e deixei a minha garrafa em cima da mesa,
seguindo pela areia com cuidado e cheguei à beira. Ela agarrou a minha mão
e me puxou para dentro da água, as meninas começaram a chutar e mexer os
braços, levantando uma chuva que me deixou ensopada. Para melhorar, Nino
e a Laura arremessaram bolas e bolas de areia molhada.
— Agora você foi batizada. — Giovanna riu. — Quando se sai com
crianças, não dá para ficar intacta. Ainda mais com essas pestinhas reunidas.
Corri e dei um mergulho, nadando um pouco para me lavar e emergi.
Observar as crianças rindo, correndo, me deu uma sensação de melancolia e
felicidade. Luna ajoelhou e a Laura correu para os braços dela com um
sorriso lindo e os olhos brilhando, a minha prima merecia viver aquela
felicidade e eu não sabia se a minha vida chegaria naquele ponto. Dante
queria ter filhos, não agora, mas no futuro e eu não tinha certeza se seria
capaz de ser uma boa mãe. A minha avó era uma mulher terrível e a minha
mãe não tinha palavras para descrever… e se o meu DNA fosse
contaminado?
Afundei de novo, precisando clarear os meus pensamentos e emergi.
Me reuni com as crianças novamente e sentei na areia, bem na beiradinha,
cavando um buraco, sendo pisoteada porque o Nino e a Laura simplesmente
passavam por cima de mim como se eu fosse um tapete. Amália foi eleita a
menina dos baldinhos, mas a Anna queria carregar os baldes, então a briga
começou. Juliana continuou bebendo, jogada, ignorando o estresse e deixou
que as meninas se resolvessem sozinhas.
Aria ainda tinha um corpinho de bebê, gordinha e eu estava
apaixonada pelos seus sorrisos. Era raro que ela sorrisse porque costumava
ser bem séria com pessoas estranhas, aos pouquinhos, estava me aceitando e
agindo de maneira brincalhona. Ela tinha um humor pateta. Juliana disse que
a Aria era a que tinha a personalidade mais parecida com o Enzo. Eu não
sabia que a Amália era adotada.
— Quando você se tornar mãe, vai entender que não existe amor mais
intenso. — Juliana comentou e assenti, sem saber o que acrescentar.
— Eu vou dar um mergulho. — Sorri e me levantei com cuidado para
não voar areia em todo mundo.
Mergulhei por um tempo e voltei, elas estavam nas cadeiras, dando
sucos e frutas para as crianças. Me joguei no meu lugar, coloquei os meus
óculos e fiquei me bronzeando. Luna pegou a sua câmera e me levou para um
canto da praia, tirando algumas fotos porque o biquíni que eu usava era da
sua coleção. Ela tirou lindas fotografias e estava ansiosa para ver todas.
Pouco antes da hora do almoço, eu estava me sentindo bêbada e
ardida. Nós voltamos para a villa porque as crianças estavam com fome e
fomos recebidos pela Nina, governanta da propriedade, com panelas enormes
de paella, caldeirada de frutos do mar e lagostinhas.
— Agora a Mia vai surtar. — Luna me zoou.
— Estou morrendo de fome, não vou esperá-los não. — Giovanna
puxou uma cadeira. — Nino, vem comer com a mamãe. — Ela chamou o
filho. Ajudei a Juliana a servir as filhas enquanto a Luna controlava uma
briga entre a Laura e o Nino. Era muita criança, minha cabeça estava
doendo.
Quando os homens chegaram da rua, eles imediatamente tiraram as
camisas. Dante estava com um curativo no braço e deveria ser mais uma
tatuagem. Ele não tinha muitas, não adiantava, era questão de tempo até virar
um gibi. Ele gostava e eu não me importava. Eu estava chupando a pata de
uma lagosta, com o caldo escorrendo pelo meu braço. Seu olhar encontrou o
meu com diversão, pendurou a camisa nas costas da minha cadeira e abaixou
o rosto.
— O que eu vou fazer se você passar mal? — Me desafiou baixinho.
— Não sei. — Sorri e ganhei um beijo nos lábios. Ele roubou um
camarão do meu prato e quase mordi o seu braço. Enrico colocou um balde
de cerveja na mesa, puxando uma cadeira, me deu um olhar sério.
— Mia, se você passar mal, eu vou te matar se tiver que correr para
o hospital. — Ele foi severo e fiz um beicinho.
— Eu vou dar um antialérgico a ela daqui a pouco. — Luna sorriu.
Não tinha alergia a iodo, não severa, nenhum médico conseguiu
detectar, mas eu sempre ficava um pouco empolada e com o nariz escorrendo
quando comia. O médico acreditava que eu tinha uma sensibilidade ao iodo,
principalmente porque frutos do mar era o que eu mais comia. Dante pegou
uma cerveja e serviu o seu prato. Enzo saiu de dentro da casa principal de
bermuda, sem camisa, aquele homem poderia ter sessenta anos e continuaria
digno de ser chamado de Deus grego.
Os quatro pareciam cansados e me perguntei o que fizeram, mas o
calor estava quase insuportável, o que justificava parte do mau humor.
Terminei de comer e me recostei, cheia. Luna me deu água e um remédio, eu
iria capotar se tomasse, mas não queria passar mal. Dante ia me encher o
saco. Tomei para o alívio de todos e quinze minutos depois, minha cabeça
estava pesando.
— Eu vou levá-la para cama. — Dante anunciou quando a minha
cabeça tombou no seu ombro.
Todo mundo riu.
— É isso aí, vai colocar a ninfa-bebê mirim na cama. — Damon riu.
— Damon! — Giovanna gritou.
— Você não vai chamar a minha prima de ninfa-bebê. — Luna deu
um soco nele, o que me fez rir. Foi uma péssima ideia, porque tudo girou. —
Besta.
— O que é ninfa-bebê? — Perguntei e o riso borbulhou, não
consegui conter. — É um som legal.
— O que você deu a ela? Deveríamos vender. — Enzo brincou.
— Tudo bem, eu vou pensar em algum apelido mais legal para a
Mia. — Damon reclamou do soco.
— Mamma, Mia! — Enzo soltou uma risada.
— Se você chamar a minha mulher de Mamma, Mia eu vou te bater,
sendo o chefe ou não. — Dante bufou. Damon e o Enrico caíram na
gargalhada.
— Você tem coragem, garoto. Te espero no tatame. — Enzo
sinalizou que iria arrebentar o meu marido, o que me fez rir ainda mais.
Dante me ergueu no colo e fechei os meus olhos, segurando-o e quando me
colocou na cama, só rolei para o lado, ficando com os olhos fechados para
dormir logo ou ficaria enjoada.
Peguei no sono ainda ouvindo o Dante pelo quarto e acordei sozinha,
estava de noite, morrendo de calor e levantei da cama com a cabeça doendo.
Tomei banho, me sentindo intragável, como se estivesse de ressaca. Dante
sempre tinha remédios para dor, peguei um, tomei e me vesti. Meu telefone
não tinha mensagens e eu não fazia ideia de onde ele estava. Saí à procura da
Luna, sua casa estava vazia e silenciosa. No pátio, encontrei a Lucinda, mãe
da Gio e ela me explicou como chegar no galpão de treinamento.
Andei com calma, estava meio escuro, me assustei quando um
guarda surgiu de um corredor e com medo, apressei os meus passos,
empurrando a porta bruscamente. Luna estava em um tapete, fazendo
algumas posições de ioga, Giovanna estava deitada em um monte de colchão
mexendo em seu telefone e a Juliana lutava contra o seu marido. Eu estava
hipnotizada pela maneira que seus músculos se moviam e ela parecia ter
pleno controle dos seus movimentos, lutando contra ele de maneira eficaz e
programada.
Desviei o meu olhar para o Damon dando instruções ao Dante.
Enrico bebia água no canto. Meu marido estava só de bermuda, suado,
vermelho e assentia conforme o Damon falava. Saltei de susto com o soco
inesperado que o Enrico deu em Dante e meu marido desviou, batendo de
volta com força. A brutalidade e os sons estavam me deixando apavorada.
— É assim mesmo. — Giovanna comentou do seu lugar.
Juliana saiu do tatame, deixou o Enzo rolando, segurando as bolas e
rindo.
— O que foi?
— Ele tem o costume de apertar os meus botões durante a luta, para
me deixar com raiva, mas dessa vez, ele me enfureceu. Disse que a minha
bunda está cheia de celulites. — Reclamou e ri. — Ele não vai ver a minha
bunda tão cedo. Idiota.
— Luna, eu te odeio. — Giovanna gritou para minha prima, que
estava fazendo uma posição cheia de elasticidade. — Damon ia pirar se eu
fizesse algo assim. É por isso que você engravidou de novo. — Soltou uma
risada.
— Você tem alguma prática? — Juliana me perguntou.
— Corrida e natação, eu nunca fui boa com isso aí. Não tenho
paciência e muito menos concentração. — Sentei-me no chão e dei uma
olhada em Damon e o Enzo exibindo uma luta com facas para o meu marido.
— Dante perguntou se eu queria fazer uma faculdade, mas eu não tinha
certeza se seria autorizada e nunca me preocupei. Toda vez que falava isso
com a minha sogra, ela dava a entender que não era uma decisão minha.
— Sua sogra é das antigas, gosto dela, mas não concordo com quase
nada do que fala. — Juliana sorriu. — Você precisa pensar em algo para
fazer, mas se não quiser fazer nada, a escolha é sua.
Me perguntei se realmente havia alguma escolha na vida das
mulheres da família.
Observei o treino dos homens e aquilo era muito brutal para mim.
Eles pararam uma hora depois, rindo e brincando como se não estivessem se
batendo por muito tempo. Dante pulou do tatame, bebeu água e eu mordi o
lábio para não babar no seu corpo perfeito. Suor escorria entre os seus
gominhos e eu podia levá-lo para dar um banho adequado, uma massagem
relaxante e talvez um pouco de beijos porque aquilo tudo era meu e eu
deveria desfrutar.
Giovanna passou a mão no meu queixo e eu ri. Damon gritou que
deveríamos preparar pizza para o jantar e nós quatro saímos da academia,
andando com calma. Luna estava com fome e pela primeira vez, a vi muito
irritada. Ajeitei o meu shorts jeans e enquanto a Giovanna tirava do seu
freezer (que era do tamanho do meu closet) um monte de pizzas congeladas,
Juliana foi tomar banho e a Luna foi verificar as crianças dormindo e pegar o
seu telefone celular.
— Por que eles ainda não vieram?
— Ah, eles terminaram o treino e o Enzo queria testar a lealdade dos
soldados que vieram com vocês. Dante precisa estar cercado com pessoas de
confiança, ele está prestes a assumir uma grande responsabilidade. —
Giovanna me explicou. — Com a Carina grávida, Alessio não vai se afastar
por muito tempo. Eu estou grávida e a Luna também. Enzo é um só para estar
em todo lado com a Juliana. Dante vai assumir muitas coisas, eles vão levá-lo
ao limite nas próximas semanas e espero que você tenha estômago. Nem
sempre eles terminam o treinamento com a mente no lugar.
Assenti e mordi o meu lábio, de repente, me sentindo preocupada
com o Felipe. Ele aguentaria a provocação e esconderia o seu segredo?
Dante tinha uma mente forte. Eu duvidava que ele desviasse do seu
humor usual no treinamento pesado, porque bem, ouvi todo tipo de rumor
antes do nosso casamento. Todos diziam que o Nicola era assustador e foi ele
que iniciou o Dante.
Giovanna me distraiu com vinho e eu ajudei ralando uma peça
grande de queijo. Luna voltou, empolgada que a Laura estava dormindo
pesado e o Nino também, puxou uma cadeira e começou a comer umas uvas.
Quando a Juliana desceu, de banho tomado e bem humorada, ela começou a
beber comigo.
— Deveríamos sair para dançar enquanto estamos todas juntas. —
Luna sugeriu. — Posso ver se as senhoras que cuidam da Laura quando
preciso sair, podem cuidar delas...
— Minha mãe pode ajudar, ela não vai querer sair mesmo.
— Acho uma excelente ideia, pode não parecer, mas eu só tenho ido
aos empreendimentos para trabalhar e não para me divertir. — Juliana sorriu.
— Preciso colocar a minha bunda para jogo e eu vou provar para o Enzo que
muita gente vai gostar do que eu vou exibir.
— Você não tem celulite, deixa de ser boba. Ele faz isso porque sabe
que te irrita, é como o Damon fica me enxendo o saco que vou ficar enorme
como a primeira gravidez. Eu realmente fiquei enorme, vejo as fotos e não
acredito.
Aquele papo de gravidez me deixava meio entediada, porque não
estava nem interessada em ouvir. Enchi a minha taça com mais vinho,
comendo salame e me refugiando dentro da minha mente. Eu vi o momento
que o Dante passou no pátio, pedi licença dizendo que iria ao banheiro e parei
no pátio. De um lado, a forma do meu marido sumia na escuridão, do outro,
eu vi o Felipe andar com dificuldade para onde os soldados costumavam
ficar.
— Felipe? — Passei pela parede do armazém. Ele me ouviu, virou e
franziu o cenho. — Está tudo bem? — Ele olhou ao redor. Não queria perder
o meu guarda, tinha certeza de que ficaria em pânico ao ficar sozinha com um
homem que não fosse ele. Até o Matteo que era muito amigo do meu marido
me dava umas longas olhadas…
Felipe ficou sério.
— Não podemos nos falar agora. Estamos sozinhos e isso não é
apropriado.
— Desculpa. — Falei e comecei a me afastar.
— Mia? — Dante surgiu do outro lado. — O que vocês estão
fazendo aqui?
— Sinto muito, senhor. — Felipe abaixou a cabeça.
— Responda a minha pergunta.
— Eu o abordei. — Dei um passo à frente. — Felipe, você pode ir.
Ele olhou para o Dante antes de se afastar.
— O que você estava fazendo sozinha com um homem? — Dante
falou de um jeito que me deixou muito assustada. — Responde, Mia.
— Dante? Pelo amor de Deus. — Revirei os olhos. — É o Felipe.
Ele é meu guarda-costas.
— Não no momento.
— Eu soube que vocês iam testar a lealdade de alguns soldados e eu
estava querendo saber se ficou tudo bem, porque... — Parei de falar porque
eu não sabia o que o Felipe havia dito.
— Por que? — Dante deu um passo à frente.
— Nada.
— Nada? Você está de sacanagem com a minha cara? — Ele não
gritou, mas a sua voz engrossou. — Você está na porra do canto mais escuro
da villa falando com um homem sozinha e me diz que não é nada? O que tem
a lealdade dele? Isso não é da sua conta e sim da minha, porque quem decide
quem vai ficar com você sou eu.
— Dante...
— Fala agora, Mia.
— Eu sinto muito, mas não. Você vai ter que me dar o benefício da
dúvida. — Mordi o meu lábio. — Eu sinto muito. Deveria ter pensado melhor
e errei em me colocar nessa posição, mas eu não posso falar e entendo o
quanto isso pode parecer estranho, mas o Felipe é apenas um guarda com o
qual eu tenho uma boa relação.
— Está dizendo que prefere ter um segredo com o seu guarda do que
me falar a verdade? Eu sou o seu marido. Não deveria existir segredos. —
Seu olhar era flamejante.
— Não é guardar segredo… é não contar o que não é da minha
conta. — Estiquei a minha mão e ele relutou em pegar. — Eu estou errada. O
que eu ia fazer, não era da minha conta e por favor, não puna o Felipe por
minha causa.
Dante se aproximou e colocou ambos os meus braços para trás, me
segurando firme e me pressionou contra a parede áspera do armazém. Ele deu
uma mordida forte no meu ombro e o mordi de volta, puta da vida, porque
aquela porra doeu.
— Eu sei que ele é gay. — Confessou e lambeu o meu ombro. —
Mas não me interessa com quem ele possa se relacionar, você é minha. —
Ele chupou o meu pescoço e soltou com um estalo. — Minha. — Me beijou,
agarrando a minha bunda, me pegando com gosto e soltei um gemido contra
os seus lábios. — Eu não quero você sozinha com nenhum homem além de
mim.
— Deixa de ser ciumento. Se ele não gosta de mulheres, não tem
risco nenhum. — Falei baixinho.
— Eu sou ciumento. — Sorriu torto. — Você é gostosa e é minha
mulher.
— Idiota. Sua mordida doeu, você me deu um chupão e o que vai
fazer para se desculpar?
— Te fazer gozar.
Meu rosto ficou quente e sabia que fiquei ainda mais vermelha.
Olhei ao redor.
— Aqui? — Arregalei os meus olhos.
— Não, baby. Dentro de quatro paredes. — Me beijou mais uma vez
e me levou para onde estávamos, passamos escondidos pelo pátio, rindo e me
levou direto para a cama. Caí deitada, rindo e logo ele estava em mim,
cobrindo a minha boca e me fazendo ver estrelas.
15
Dante.
Eu me sentia um homem sortudo pra caralho quando admirava a Mia
com o olhar brilhando depois de gozar. Nós avançamos muito rápido, ela
ainda ficava com muita vergonha e às vezes, quando tomava consciência do
seu corpo nu, queria se esconder, mas eu conseguia mantê-la distraída. Era
simplesmente a coisa mais foda. Seu olhar encontrou o meu e lhe dei um
beijo.
Nossos telefones estavam tocando, ela pegou o seu e riu.
— Luna está mandando nós pararmos de transar e irmos comer. —
Suas bochechas estavam coradas.
— Vem, vamos.
Fui para o banheiro e liguei o chuveiro. Mia apareceu mais devagar.
— Ainda está chateado sobre o Felipe? — Parou na porta do banheiro.
— Um pouco, mas vai passar. Eu não quero que guarde segredos de
mim, Mia. Se fosse qualquer outro membro da família te encontrando sozinha
com um soldado, seria um problema. A sua família poderia fechar os olhos,
mas a minha não teria a mesma benevolência, não depois do caos que a sua
mãe provocou. — Ele falou sério e as minhas bochechas estavam quentes. —
Meus pais anseiam por uma vida perfeita publicamente, eles devem estar
irritados com essa nova arte da sua mãe, não falaram comigo e eu não fiz
perguntas. Seria bom evitar que eles duvidem de você. — Me segurou. —
Entenda que eu sempre vou te defender e proteger, depois da Renata, eu sei
que eles ficariam cautelosos com você por qualquer besteira.
— Entendi.
Não me importava com a opinião dos pais dele.
Dante sorriu e me deu um beijo.
Tomamos banho e me vesti rapidamente, coloquei uma calça jeans,
camiseta e tênis porque eu não gostava de chinelos. Mia vestiu um short jeans
e uma camiseta larga. Tentou esconder o chupão que dei a ela e não obteve
sucesso. Saímos de mãos dadas e encontramos todos espalhados na grande
mesa do pátio com muitas pizzas, vinho, refrigerante e uma barulheira sem
fim.
— Já sabemos quem substituiu a Luna e o Enrico no atraso de comer
para foder. — Damon ergueu a taça.
— Eu só fui ver se vocês devolveram o meu marido inteiro. — Mia
explicou e puxei uma cadeira para ela e me sentei ao seu lado.
— Se ele continuar te dando chupões, eu vou devolvê-lo sem um braço
amanhã. — Enrico falou do seu lugar. Luna quase caiu da cadeira para ver o
pescoço da Mia, que estava vermelha.
— Ritmo frenético, gostei. — Ela zoou. Todo mundo começou a rir.
Eu ri porque eles não iriam parar mesmo.
— Não sei do que está falando. — Desconversei e servi o prato da Mia
com pizzas.
Enzo franziu o cenho.
— Não lembro muito como é ser recém-casado. — Refletiu. — Faz
tanto tempo. Acho que vou me casar de novo e talvez, relembrar. — Riu, e a
Juliana arremessou uma faca na sua direção, ele desviou e riu. — Deixa de
ser psicótica, mulher. Eu iria me casar com você de novo. — Sorriu torto. Ela
só o encarou, séria, sem achar nenhuma graça.
A conversa girou em torno do começo dos casamentos e eu soltei
muita risada com as histórias. Me senti menos mal por ter um começo
aleatório, pelo menos parecia ser algo comum. Enrico disse que a Luna mal
conseguia olhar em sua direção nos primeiros dias e eu concluí que as nossas
esposas foram criadas em um ambiente extremamente opressor.
Eu sabia que nenhuma das minhas irmãs eram santas, elas casaram
virgens, mas não perdidas. Apesar da minha mãe ficar em cima, eu acobertei
algumas saídas porque meus pais eram insuportáveis. Além do mais, eu era
facilmente comprado com elas me encobrindo em algumas saídas escondido.
Aquele grupo era unido, apesar da relação sanguínea dos dois chefes,
eles eram mais unidos que uma família. Tinham um laço forte, inquebrável e
pela Mia, me queriam naquele círculo. Honra e dever faziam parte do meu
DNA, porque eu era um Biancchi e ao dizer sim no altar, a Mia se tornou a
minha família e principal prioridade. Virei o meu rosto e ela estava com as
pernas encolhidas na cadeira, sorrindo e comendo. Percebendo o meu olhar,
sorriu timidamente e me deu um beijo doce.
— Ai, que glicose. — Giovanna jogou um pedaço de queijo em mim.
— Invejosa. — Luna brincou e se debruçou na mesa, dando um beijo
de cinema no Enrico.
— Vem aqui, bella . — Damon colocou a mão na nuca da esposa e a
beijou.
Enzo virou para Juliana e ela fingiu que nada estava acontecendo. Ele
saiu do seu lugar, agarrou o pescoço e queixo dela, a beijando bruscamente.
Ela se debateu um pouco, mas acabou cedendo e beijou de volta. Voltei a
olhar para Mia e eu jurei manter aquele olhar feliz. Era novo. Quando eu a
conheci, seus olhos impressionantes eram sem vida, seu rosto sempre
demonstrando vergonha. Os anos na Inglaterra lhe ajudaram muito, assim
como todas as viagens e temporadas com a sua prima.
Mia ainda tinha muito a florescer. Não me importava nenhum pouco
em ser um idiota babão, por três anos, eu sabia que a Mia seria minha esposa.
Não havia nada mais surreal que se preparar para um casamento. Em poucos
dias, eu ainda não fazia ideia do que esperar do nosso casamento, mas eu
estava ansioso para viver as nossas vidas. Antes, eu precisava sobreviver ao
treinamento que a cada dia parecia mais que eles pretendiam arrancar o meu
couro.
Enrico estava disposto a me foder. Era torturante. Nada do que o meu
pai me ensinou ou o meu irmão, era páreo para as sessões de porrada e tortura
psicológica. Enzo percebeu que a Mia era a única coisa que me fazia reagir e
ele pegava pesado, como eu estava vivo, acreditava que estava me saindo
bem. Mia bocejou e se encolheu na cadeira.
— Está com sono? — Beijei a sua bochecha. — Quer que eu te leve
para cama?
— Não para dormir. — Respondeu baixinho, e o meu pau ficou muito
feliz.
— Maravilha. — Sorri.
Demos boa noite a todos. Luna aproveitou que estávamos saindo e se
despediu também. Luna e o Enrico andaram conosco, mas foram soltar os
cachorros e por isso, entrei com a Mia porque eles não eram muito amigáveis
e não queria atirar nos cachorros da Luna por atacar a minha mulher. Fechei a
porta, as janelas e fui tirando a minha roupa. Mia parou na porta do quarto,
mordeu o lábio, as bochechas vermelhas e o olhar tímido estavam lá.
— Baby...
— Acho que todo aquele vinho me deu tesão. Vinho costuma dar
tesão?
— Tudo me dá tesão por você, até um maldito sorvete agora. — Tirei a
minha calça. — Você está muito vestida. Tira a blusa... — Pedi e ela fez
lentamente, jogando no chão e no processo soltou o seu cabelo. Eles eram
cortados na altura dos ombros e felizmente, ela parou de se importar se a sua
franja estava perfeita ou não. — O sutiã. — Apontei para a peça bonita, rosa
escuro e de renda. Era sexy, mas eu preferia os seus peitos. Mia tirou o sutiã
devagar e eu sempre babava pelos seus peitos.
Eram redondinhos, cabiam na palma da minha mão e eu era viciado em
seus mamilos. Eu podia chupá-los o dia inteiro. Ela parou, esperando a minha
próxima ordem.
— Esse short é muito curto.
— Você não gosta? — Me encarou com diversão.
— Eu adoro. Vira de costas. — Devagar, virou e sorri. — Consigo ver
a sua bunda. Tira. Peça ofensiva precisa sair do meu caminho.
Quando ela se vestiu, não reparei na minúscula calcinha que decorava
a sua bunda, eu simplesmente caí de joelhos, dando um beijo em cada uma
das suas nádegas. Tirei a sua calcinha e a empurrei para cama.
— Dante... Você vai ficar aí mesmo?
— Sim... Quero te chupar assim. — Ela soltou um arquejo. — Relaxa,
baby. — Afastei as suas nádegas, dando uma boa lambida em seus lábios
gordinhos. Empurrei a minha língua nas suas dobras, saboreando o seu
clítoris, sentindo o quanto ela ficava encharcada e desejosa. — Podemos
tentar assim? — Fiquei de joelhos atrás dela. Mia só gemeu. — Se doer, me
avisa.
Agarrei as suas nádegas, apertando e empurrei devagar, milímetro por
milímetro, soltei um gemido alto, ela deitou a cabeça na cama e empinou
ainda mais a bunda. Puta que pariu. Mia estava cada vez mais ruidosa e eu
não duvidava que estávamos sendo ouvidos de longe. Eu não conseguia me
conter e estava quase gozando, mas eu não podia fazer isso sem que ela
gozasse de novo. Quando ela gozava, era tudo.
— Se toca, baby. Vem, goza. — Eu estava perdido. A Mia gozou sem
precisar se tocar. — Caramba. — Eu ainda tinha muito que aprender com o
sexo. — Caralho.
— Acho que eu estou apaixonada por essa posição. — Mia rolou para
o lado, vermelha e passei o meu polegar em sua testa, os padrões confusos da
colcha da cama marcaram a sua pele. — Machucou os meus joelhos também
e não estou reclamando. — Sorriu e nos beijamos. Ficamos embolados na
cama, aos beijos e eu estava surpreso comigo mesmo por não me cansar da
Mia. Eu nunca fiquei com uma garota por mais de um dia, porque
normalmente elas me irritavam, talvez porque eu me preparei
psicologicamente para viver a vida ao seu lado.
Mia dormiu a maior parte do dia, mesmo com todo vinho, ela não
estava com sono. Com o calor, foi tomar banho e eu fiquei procurando a
porcaria do controle do ar-condicionado. Achei um reserva em uma das
gavetas da cozinha e ela teve que tirar as pilhas do seu espelho de
maquiagem. Com o ar ligado, fiquei calmo. Porra, como estava quente. A
única parte realmente boa era que a Mia estava só de calcinha e uma blusinha
curtinha, folgada.
Me joguei na cama e ela estava falando sem parar. Pegou sorvete e
veio para cama, com a boca cheia, contando que as mulheres só falavam de
bebês e maternidade, o que não era um assunto que a interessava. Soltei uma
gargalhada com os seus comentários que ela nunca falaria pessoalmente para
as meninas. Luna engravidou apenas um pouco mais velha que a Mia, mas
ela sempre quis ter filhos. Giovanna levou um tempo para engravidar,
lembrava de ouvir a minha mãe fofocando que ela era infértil e todo mundo
escondia.
Nicola não quis ter filhos inicialmente, depois eles descobriram que a
Renata não poderia ter. Minha mãe considerou pagar uma mulher para ter
filhos com o meu irmão e a minha cunhada criar como se ela tivesse
engravidado. Elas chegaram a encomendar uma roupa que simulava uma
barriga falsa em vários tamanhos... meu irmão nunca aceitou. Ele parecia
querer ter filhos, só não ia fingir isso. Seu afilhado, Jamie, era uma criança
adorável.
Mia não parecia disposta a ter filhos e ainda bem, ela só tinha dezoito
anos e eu vinte e um. Crianças, só as da nossa família, mas eu estava bem em
treinar bastante pelos próximos anos. Se ela engravidasse, eu iria ficar
assustado, talvez preocupado em ser cedo demais e certamente iria assumir a
responsabilidade, porque seria o nosso bebê e o meu herdeiro.
Ela terminou o seu sorvete e disse que estava com sede, pulou da cama
e olhei para sua bunda por todo caminho até a cozinha.
— Tem doce! — Soltou um gritinho.
— Mia... — Eu precisava levá-la ao médico sobre essa compulsão por
doces.
— Vou beber só água, eu prometo. — Sorriu e fiquei vigiando.
Não que eu não confiasse nela, mas a sua ânsia por doces e frutos do
mar era preocupante e me fazia crer que a Mia não tinha nenhum controle
sobre o que gosta. Ela é intensa e se entrega de corpo e alma naquilo que
gosta. O fato de ela saber que o Felipe era gay e não contar a ninguém não
me deixou tão puto quanto pensei, fiquei irritado que ela insistiu em guardar
o segredo dele, mas, por um lado, não sabia se ela seguraria o segredo em
uma sessão de tortura.
Se eu gostava de uma possível proximidade entre os dois? Não. Mas ao
contrário do Matteo, Felipe passou no seu teste com louvor. Ele sequer
piscou quando o Enzo falou da Mia. Ele nem moveu um músculo e não caiu
no papinho da confiança. Com respeito, pediu ao Enzo para não falar da sua
senhora daquela maneira, que ele não se sentia confortável, porque a Mia era
casada e uma boa menina. Ainda falou que tinha mãe e irmãs que ele
esperava que fossem tratadas com respeito, repetiu o seu juramento, mas não
teve medo de mandar o Enzo Rafaelli não falar merda sobre a minha mulher.
Matteo riu. Porra. Nós crescemos juntos.
Ele riu e disse que a Mia era gostosa sim, mas era minha esposa e
ele nunca faria nada. Levou tudo de mim para não invadir a porra da sala e
enfiar a porrada nele. Matteo foi enviado para casa com muitas contusões e
foi destituído do seu posto. Se eu seria elevado, ele não poderia ir comigo,
porque talvez ele pudesse olhar para a minha mulher além do que deveria. Eu
tinha que ficar com alguém que os chefes confiavam, com isso, Stefanio, o
antigo guarda-costas da Juliana, ficaria comigo onde fosse necessário e o
Felipe com a Mia.
— Está com sono? — Mia me cutucou. Eu estava fingindo que estava
dormindo, porque ela não ficava quieta. — Desculpa, vou parar de falar.
— Está tudo bem, pode continuar.
— Não, você vai ter um dia pesado. — Escorregou na cama e deitou.
— Está dolorido? Eu posso fazer uma massagem para você dormir.
Me animei imediatamente.
— Sem roupa? Com um daqueles óleos?
— Pode ser. Não tem nenhum outro, aquele vai ter que servir. —
Sorriu e saiu da cama, voltando com um frasco na mão. — Escolhi esse aqui.
— Deve servir. — Tirei a minha bermuda.
Deitei-me de bruços, ela começou timidamente no começo e então, a
coisa começou a esquentar. Quanto mais ela me tocava, mais quente ficava e
eu comecei a ficar incomodado.
— Isso está te queimando também?
— Porra, sim. As minhas costas estão pegando fogo.
— Hum... — Ela se mexeu, pegou o frasco e leu. — Ops. Acho que ele
é daqueles que esquentam... — Assoprou e ficou tudo gelado, minha pele
arrepiou e soltei um gemido. — E esfriam... Eles são comestíveis, então não
deve te dar alguma reação alérgica. Quer parar?
— Comestíveis? Você sabe o que significa blow job , baby?
Mia saiu de cima de mim e virei de barriga para cima. Peguei a sua
mão, virei uma quantidade de óleo, ela esfregou e sinalizei para o meu pau.
Com as mãos quentes e deslizando, ela tocou uma punheta gostosa enquanto
assoprava, as sensações estavam me deixando maluco. Observar o meu pau
na sua boca me deixava maluco. Estava quase amanhecendo e eu sabia que
não tinha jeito melhor de começar o dia do que estar dentro dela.
Por cima, estava cada vez melhor e incrivelmente gostoso. Seus peitos
ficavam bem na frente do meu rosto, balançando, estapeei a sua bunda,
impulsionando mais e deixei um chupão do outro lado do seu pescoço. Beijei
a sua boca, gozando junto com ela. Nós mal terminamos o nosso banho
quando o Enrico me enviou uma mensagem. O filho da puta nunca dormia?
— Não vai dar tempo para dormir? — Ela ficou preocupada, enrolada
na toalha.
— Não. Ele me quer na academia em dois minutos, tenho que ir.
— Vou dormir por você. — Sorriu.
— Garota má. — Dei um tapa na sua bunda. — Vá dormir. Te vejo
mais tarde.
Vesti as roupas de treino e atravessei o pátio rapidamente, empurrando
a porta. Enrico estava sozinho e parecia muito disposto em passar a manhã
enfiando a porrada em mim.
— Só nós dois hoje?
— Você não vai aguentar comigo. — Ele riu. — Relaxa. Vamos sair
para o campo. Vamos treinar ao ar livre para exigir mais da sua concentração.
Foda-se.
Eu não tinha dormido um mísero segundo.
— Estou ansioso em deixar um pedaço seu para os cachorros.
Carregue as bolsas, vamos. — Apontou para as malas no chão.
Foda-se mais uma vez.
16
Mia .
— Hoje à noite é nossa, gostosas! — Juliana gritou com a sua taça de
champanhe.
— Estou vendo a sua calcinha. — Giovanna brincou do seu lugar da
luxuosa limusine que estava nos conduzindo para a boate.
— Como se essa calça de couro super apertada não fosse como uma
segunda pele. — Juliana deu a língua. — Eu disse que ia mostrar para todo
mundo que a minha bunda é incrível.
— Isso é como preliminar para vocês dois, não é possível. — Luna
balançou a cabeça e eu segui quieta, nervosa demais para abrir a boca.
Meu vestido era vermelho, justo, ia até o meio da coxa e usava uma
sandália preta de tiras, bem alta e uma bolsa preta de mão. Enviei uma foto
para o Dante antes de sair e tudo que ele fez foi me elogiar. Giovanna estava
certa de que o Damon daria um ataque, porque sempre fazia a mesma coisa,
Luna sabia que o Enrico iria apenas sorrir. Ele sabia que ela era linda, uma
tentação, de deixar homens malucos, mas só tinha olhos para ele.
Chegamos no clube, não era exatamente uma boate, porque tinha um
espaço aberto de um bar e era um dos menores empreendimentos, com alas
mais reservadas e entramos pelos fundos. Dante era o único no camarote
quando chegamos, ele deu uma olhada nas meninas, mas não falou nada. Me
deu um sorriso deslumbrante e um beijo gostoso. O local estava cheio, uma
massa dançante pulava ao som do DJ Tiesto. Não era uma música nova, mas
ninguém parecia se importar.
— Quer beber alguma coisa?
Damon entrou no camarote no momento que a Giovanna estava tirando
uma foto e empinando a bunda, falando alguma besteira com a Juliana. Ele
deu um tapa de mão cheia na bunda dela, cochichando algo que a fez revirar
os olhos e rir abertamente. Enrico sorriu para Luna, o sorriso provocante e
falou algo que a deixou tímida.
Enzo e a Juliana estavam discutindo no canto. Rindo, Juliana se
afastou e foi dançar, agarrando o poste, rodopiando e rebolando. Ele cruzou
os braços e apontou algo, que ela ignorou. Dante não parecia nenhum pouco
enciumado com a minha roupa e isso me fez pensar em milhares de paranoias
por segundo. Ele ficou ao meu lado, dançou, brincou, mas não disse nada.
...
Estávamos na Itália por duas semanas e eu estava começando a me
acostumar em falar italiano quase que o tempo todo. Não sentia saudades de
casa, porque eu mal fiquei lá e definitivamente não sentia falta da escola. Eu
estava bem em ficar sem tantas matérias, trabalhos, línguas e competições
para estudar ou praticar.
Enquanto estava ali, me inscrevi em cursos de culinária e eu estava
amando as aulas práticas, aprendendo sobre vinhos e a Juliana me convidou
para dar um tour no seu vinhedo e aprender ainda mais. Ela e o Enzo já
haviam retornado para os Estados Unidos, para lidar com as consequências
da língua grande da minha mãe.
Eu não percebi nada anormal, provavelmente, tudo aconteceu nos
bastidores da nossa vida, mas eu sabia que não era mais segredo que na
verdade, fui eu quem matou o meu pai e ela não disse que foi porque ele
tentou me estuprar e sim porque eu era uma filha ingrata e ciumenta.
Ninguém estava oficialmente falando sobre isso, porque o Damon proibiu,
mas eu não duvidava que era um assunto nas rodas de fofoca. Minha sogra
teve a coragem de ligar e me perguntar se eu já não tinha feito um teste de
gravidez. Eu ri e perguntei se ela estava doida.
Ignorei a questão e nem conversei com o Dante sobre isso. Segui os
dias me divertindo com a minha prima e decidimos sair para fazer compras,
deixamos as crianças em casa e fomos a um shopping. Ainda estava meio
sem graça ao redor do Felipe, mas era inevitável não me esconder atrás dele,
porque ainda tinha certa insegurança de estar na rua. Giovanna e a Luna eram
caçadoras entre as lojas e encontravam peças realmente boas.
Quando elas achavam algo da Luanna , faziam uma dancinha boba,
orgulhosas do seu trabalho na empresa que não parava de crescer. Luna era
tão talentosa.
— Ei, mocinha. Sai daí logo. — Giovanna bateu na porta do provador.
— Só um minuto. — Pedi e tirei uma foto. Enviei para o Dante,
perguntando o que achava da fantasia. Ele respondeu no mesmo instante.
“Gostosa ”. Revirei os olhos e abri a porta. — É a quinta que o Dante apenas
diz gostosa. Eu quero uma que ele surte completamente.
Luna exibiu um sorriso.
— O que acha dessa aqui? — Ergueu o cabide da versão safadinha da
mulher-maravilha. Peguei, vesti e enviei para ele. Era muito curto, muito
sexy e muito revelador. — Ele respondeu?
— Viu e ainda não falou nada.
Esperei ansiosamente e ele enviou: “Gostosa, muito sexy, muito curto e
não tenho certeza se gosto ”. Mostrei a mensagem para as meninas e elas
riram.
— Temos que procurar algo pior. — Giovanna se animou. — Algo que
seja uma surpresa. Eles estarão na festa antes de nós e ele não vai saber o que
você vestiu.
— Terei que esconder. Ter duas fantasias. Dante dá conta de tudo, ele
vê tudo e com toda certeza vai querer olhar as minhas coisas antes de sair. —
Revirei os olhos. Dante estava mostrando mais as asinhas a cada dia que se
passava. Ele não era irritante, mas queria saber de tudo. Não fuxicava as
minhas mensagens ou mexia em meu telefone, ele simplesmente estava em
tudo, não sabia explicar, quando dava por mim, ele já tinha verificado e
metido o nariz.
A única parte realmente boa era que eu falava tudo sobre qualquer
coisa que ele ouvia e raramente retrucava, as vezes ria, mas dificilmente dava
a sua opinião e não era fofoqueiro, porque não contava a ninguém. Eu sabia
que conseguiríamos passar os nossos dias com tranquilidade. Ainda não
brigamos. Nosso único estresse foi sobre o Felipe, mas resultou em um sexo
muito gostoso. Eu nunca ia imaginar que eu iria gostar tanto de transar.
Estava confortável, gostoso e a gente fazia em todo tempo disponível.
Compramos as nossas fantasias e entreguei a que realmente usaria para
a Luna. Almoçamos em um pequeno restaurante à beira da estrada no
caminho para a villa e tinha o melhor ossobuco de toda a minha vida. Eu
comi e fiquei muito satisfeita. Comprei o prato para viagem, tendo almoçado
ou não, Dante iria amar provar. Ele adorava carne.
Ao chegar em casa, ou o que podia chamar de casa na Itália, fechei a
porta, liguei o ar e fui tirando a minha roupa. O verão estava insuportável,
revezando entre chuvas fortes e calor intenso. O tempo seco era o que me
deixava mais estressada.
Tomei banho e quando estava saindo do banheiro, vi o Dante
bisbilhotando as minhas compras.
— Te peguei. — Falei e ele riu.
— Você comprou. — Ele ergueu a fantasia.
— Claro que sim. — Sorri. Ah, se ele soubesse.
— Interessante. — Murmurou e jogou a minha roupa de volta na
sacola, me puxou pela toalha e me segurou, me beijando e agarrando a minha
bunda. — Cheirosa, linda, gostosa, caramba... que sorte a minha. — Sorriu e
o puxei pela barba que estava crescendo. Com o treinamento, ele não estava
se barbeando todo dia. Mal estava dormindo ou comendo, teve noites que ele
sequer deitou ao meu lado, agitado e irritado demais, ficou na sala e eu
respeitei o seu espaço. Noites que sexo era tudo que ele queria, e eu dei de
bom grado. — Estou livre até o horário de sair mais tarde, o que quer fazer?
— Descansar. Vamos passar a noite fora, por que não deitamos na
cama e assistimos um filme? — Ofereci e ele deu de ombros, aceitando a
minha sugestão. Fechei todas as cortinas e deixei tudo bem escurinho.
Ligamos a televisão do quarto pela primeira vez e levei quarenta minutos
apenas procurando um filme. Dante não servia de nada, tudo estava bom e
suspirei, escolhendo qualquer um e me vesti com um pijama confortável.
Em dez minutos de filme, fiquei entediada e me deu sono.
— Vem ficar aqui, eu sei que você gosta. — Ofereceu o seu colo.
Descobri que deitar em cima dele ou em seu colo, era uma das minhas
posições favoritas de dormir. Eu estava tentando entender em que nível isso
me afetava emocionalmente. Não lembrava se ganhei colo em algum
momento da minha vida. A única pessoa fisicamente afetiva comigo sempre
foi a Luna, e a nossa cozinheira, mas ela só podia me tocar quando a minha
mãe não estava por perto.
Dante era afetivo. Ele me tocava, beijava, me abraçava e deixava que
eu dormisse em cima dele por quanto tempo eu quisesse. Em público, ele era
mais distante emocionalmente, mas ficava bem perto. Bem perto de uma
maneira possessiva que era irritante, por isso que eu iria tirá-lo do sério com a
minha roupa mais tarde e me deleitar com a sua reação. Será que ele ficaria
no modo brincalhão ou eu iria conhecer o seu lado muito ciumento?
— Ei, dorminhoca. Acorda. — Ele tirou o cabelo do meu rosto. Seu
olhar estava um pouco sonolento, mas parecia que estava acordado há um
tempo. — Tenho que sair em alguns minutos, você vai dormir mais?
— Não. Eu vou me arrumar. Por que tem que sair mais cedo? —
Bocejei.
— Te vejo mais tarde. — Me deu um beijo. — Se comporte com
aquelas malucas.
— Não seja bobo. — Agarrei o travesseiro, ainda ficando na cama.
Ele tomou banho e ficou andando de cueca, se vestindo, ficando
cheiroso e gostoso.
— Não vai se fantasiar?
Ele tirou do bolso dentes falsos de vampiro.
— Estou como aquele vampiro idiota que você gosta.
— Eu posso dizer que odeio todos os homens, menos você e o Robert
Pattinson. — Sorri da cama, ele se inclinou e me deu um beijo. — Se
comporta.
— Sim, minha senhora. — Bateu continência e saiu armado e enfiando
a sua carteira no bolso.
Peguei todas as minhas coisas e atravessei o quintal, entrando na casa
da Luna para nos arrumarmos juntas. Ela estava com um par de meias e liga,
sem sutiã, dentro do seu quarto e discutindo com o Enrico pelo telefone.
Laura já estava dormindo e a babá com ela no quarto.
— O que foi? — Peguei a minha roupa.
— O idiota não quer que eu use saltos. Estou grávida e não doente,
quase não uso salto ou faço coisas que possam me machucar. Na única noite
que a Laura dorme cedo e não está me enlouquecendo e deixando a babá
preocupada em ficar sozinha com um monstrinho pequeno, eu vou sair linda.
— Bufou e jogou o telefone na cama. — Me ajuda com o meu vestido?
Ainda tem a peruca. Enrico fica maluco quando eu uso vermelho, então... —
ela tirou uma peruca ruiva bem penteada do seu armário. — Será que isso vai
fazer efeito?
— Acho que ele só não vai te jogar sobre os ombros porque você está
grávida, mas isso vai ser interessante de assistir.
— Cheguei! — Giovanna entrou no quarto. — Eu deveria ter
experimentado o maiô direito, olhem isso. — Abriu o casaco longo que
usava. — Todo enfiado na bunda e cavado na frente. Eu vou colocar uma
meia bem escura, mas o Damon vai surtar. Vou usar as minhas botas novas.
— Acho que essa noite vai ser muito divertida. — Sorri e comecei a
me arrumar.
Quando ficamos prontas, tiramos fotos umas das outras. Escondemos
nossas roupas com casacos grandes, porque não queríamos que os guardas
falassem com os nossos maridos. Minha sogra estava me ligando e eu queria
saber que diabos ela queria àquela hora, mas eu não ia atender porque estava
ocupada demais controlando a minha ansiedade em estar com pouca roupa
em público. De repente, eu pensei que fosse surtar.
— Estaremos seguras. — Luna sussurrou em meu ouvido. — Enrico,
Dante e o Damon estarão lá. Nada vai acontecer com você.
— Deveria ter colocado uma meia escura como a da Giovanna.
— Está tudo bem, você está perfeita e você poderia andar nua pela
rua... Ninguém tem o direito de tocar em você se não quiser. — Me deu um
beijo na bochecha.
— Você fica linda ruiva.
— Não tenho coragem para pintar, sabe que não sou muito a favor de
químicas, mas acho que o meu marido vai me querer de peruca de vez em
quando. — Sorriu torto.
— O quão confuso é estar toda fantasiada, mas estou me sentindo
assada e o movimento do carro estar me deixando enjoada? Ao mesmo
tempo, quero comer hambúrguer. Será que lá tem?
— Se não tiver, vamos fazê-los comprar. — Luna deu de ombros.
Enrico fazia absolutamente tudo por ela e eu amava vê-la tão idolatrada.
Luna merecia todo amor que tinha, porque ela sofreu muito. Ver ela
bem vestida, dona de casas lindas, com muito dinheiro na conta e livre para
ser quem era de verdade me dava muito orgulho. Sofri muito quando ela se
casou, não por tudo que aconteceu, mas porque eu sentia falta da sua
companhia e da sua risada doce. Ao chegarmos, o calor da noite me fez suar
dentro do meu casaco.
Felipe e Antonio abriram caminho entre a multidão. Sandro estava
colado na Giovanna e eu segurei a mão da minha prima. Era praticamente
minha primeira vez em uma grande boate, além de fotos na internet, eu não
sabia como era uma por dentro e muito menos que era possível ter tantas
pessoas ali. Entramos em um elevador apenas com o Felipe e o Sandro.
Antonio subiria depois. Ao sairmos, passamos por um bar e eu ri das
fantasias mais criativas.
Tinha um homem vestido de salsicha e ele parecia se divertir com os
seus amigos. Entramos em um camarote espaçoso e o Felipe fechou a porta.
Se não fosse pela sacada, era como se estivéssemos em uma boate dentro da
boate. Giovanna tirou o seu casaco, se abanando. A Luna ajeitou a peruca e o
justo vestido vermelho, mesmo com a sua barriguinha despontando, ela
estava gostosa. Giovanna estava com uma barriga maior, mas não dava para
perceber muito.
O calor me fez tirar o casaco. De branco, a luz negra da boate me
colocava em evidência e eu deveria ter pensado melhor. A cruz vermelha no
meu peito, o estetoscópio e chapéu fajuto me colocava como uma enfermeira
sexy, de maiô branco bem cavado na frente, não tão pequeno atrás, mas
exibia bem a minha bunda. Minhas meias eram brancas e eu usava uma saia
de tule branca. De saltos altos, eu estava mais alta e chamando atenção.
Vi o Dante no meio da multidão porque em uma massa dançante, ele
era o único parado olhando para cima, parecendo em completo estado de
choque. De relance, eu vi o Damon entrar. Ele e a Giovanna começaram a
discutir no canto, até que ela simplesmente o beijou e a briga acabou ali.
Enrico estava segurando o cabelo falso da minha prima e cochichou algo que
ela ficou toda boba. Desviei o olhar de volta para a multidão e perdi o Dante.
Não levou cinco minutos para ele empurrar a porta da sala. Seu olhar
me fez entender que fui longe demais. Ele não gostou. Se aproximou e me
deu um beijo, seus lábios foram firmes, possessivos, pensei que fosse falar
algo, mas só me abraçou, quieto. Muito quieto. Não fez piada, não apertou a
minha bunda e seu beijo foi excessivamente frio.
Peguei uma garrafa de água, tentando abrir e ele pegou, abriu e
devolveu com gentileza. Ele não estava bebendo. Enrico e o Damon sim,
pareciam se divertir, mas eu vi o olhar da Luna preocupado em nossa direção
mais de uma vez.
— Me acompanha ao banheiro?
— Felipe te leva. — Dante retrucou secamente.
— Dante... Eu quero que você venha comigo. — Olhei em seus
olhos.
Ainda sério, segurou a minha mão e me levou para fora do camarote,
ele empurrou uma discreta porta antes do bar e o banheiro era logo ali. Olhei
ao redor, não tinha ninguém dentro, o puxei bruscamente e fechei a porta,
girando a chave.
— O que você quer, Mia? Tenho que voltar.
— Não. Você está de folga, não tem que voltar. — Empurrei ele
para longe da porta. — Olha para mim, Dante. — Pedi e seu olhar era
intenso, irritado, quase podia ouvir o tic tac da bomba relógio. — Explode.
Tudo bem, eu fui longe demais.
— Porra, Mia. — Ele puxou o cabelo. — Não vou explodir com
você, mas isso é demais.
— Está ruim ou está bom demais?
— Está ruim porque está bom demais, eu fico me controlando para
não te dizer o que fazer, mas isso é além do aceitável até para mim. Eu tenho
ciúme, muito ciúme e por mais que você esteja aqui e comigo, eu sei que tem
uma caralhada de tarado te espiando com rapidez. — Virou de frente. —
Não gosto disso. Como você se sentiria se eu andasse por aí de cueca o tempo
todo?
— Você se exibe o tempo todo.
— Me exibo? Eu fico sem camisa, qual o problema nisso?
— Na verdade, nenhum. Eu quis te provocar. — Confessei e ele me
encarou. — Queria saber até que ponto você sentia ciúme de mim, porque eu
me sinto quase uma assassina de tão ciumenta. Você sempre me elogia e diz
que estou linda... Me deu a sensação de que você não se importava. —
Encolhi os ombros. — Você parece ter posse... Isso não é necessariamente
um sentimento, os homens da família são possessivos e sei que sentir ciúme é
diferente.
Ele riu. Jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.
— A veia da minha testa está quase explodindo. Eu considerei matar
vinte pessoas diferentes no curto período em que ficamos no camarote. Eu
quase infartei ao te ver lá de baixo. Eu tenho ciúme, Mia. Muito. Só não
quero ser o cara babaca. — Ele parecia em conflito. — Nós nascemos em
uma vida complicada, é confusa, eu sou um homem iniciado, eu vou viver
com o perigo, com a morte, com dinheiro e até muito luxo. De todas as coisas
que eu não tive escolha na minha vida, eu escolhi me casar com você e não
ter brigas.
— Desculpa. Acho que estou confusa. — Assumi timidamente.
— Por que?
— Acho que gosto de você...
Dante sorriu.
— Do tipo apaixonada? — Ele chegou perto.
— Sim e eu estou preocupada. Não quero me apaixonar por você e
não ser correspondida. Eu não posso falar sobre isso com muitas pessoas,
ninguém entende a profundidade do meu medo de ficar remotamente parecida
com a minha mãe. Não quero ter... — As lágrimas escorreram antes que
tivesse controle. Dante me cortou com um beijo. Ele me empurrou contra
porta e continuou me beijando. Eu sorri quando se afastou.
— Eu odeio essa roupa, mas você está um tesão e muito gostosa. Eu
sinto ciúme porque eu gosto de você. — Mordi o meu lábio. — Você é linda,
Mia. Não estou falando apenas externamente, você é doce, educada,
prestativa e tem um bom coração. Não tem nada remotamente parecido com a
sua mãe. Aquela mulher era um monstro e eu queria devolver a ela cada
cicatriz que você tem no corpo. Sinto raiva e frustração por não ter dado a ela
o próprio remédio... — Ele abriu um sorriso perigoso. — Eu faria o seu pai
implorar. Não sabe o quanto tudo que você passou provoca em mim uma ira
enorme que eu prefiro subjugar, não é sua culpa, nunca vou te tratar como
seu pai tratava a sua mãe. Você não está sozinha.
— Então você gosta de mim do tipo apaixonado?
— Sim. — Me deu um beijo. — Mas é um segredo nosso.
Não iria espalhar por aí, sentimentos eram fraquezas para homens
iniciados e pela maneira que o Dante agia, todo mundo deveria saber que eu
era a sua fraqueza. Damon conversou conosco sobre ser publicamente
afetivos, nós tínhamos que escolher uma imagem a passar e ao voltarmos
para casa, iríamos nos reunir sobre isso.
Enrico deixou claro que não havia problema nenhum agirmos como
um casal jovem e despreocupado com eles ou com a nossa família.
Em público, com pessoas que faziam parte do nosso círculo, era
importante agir dentro de um papel que eu não fazia ideia qual escolher.
Giovanna bancava a inacessível, Luna fazia o tipo simpática muito tímida e a
Juliana todo mundo tinha medo do seu ar de Monalisa fatal. Eu estava
perdida, não sabia o que representar, mas saber que os meus sentimentos
eram correspondidos aliviava boa parte da minha confusão mental.
Dante me beijou de novo e ficamos em um amasso gostoso no
banheiro. Eu estava excitada e ele com uma protuberância nada discreta, mas
voltamos para a festa de mãos dadas. Ao retornamos para o camarote.
Giovanna estava fazendo uma dancinha muito engraçada, sacudindo o seu
rabo de gatinha e mexendo os ombros. Damon estava no canto, rindo, com
um olhar atento. Ela soltou o rabo e elaborou passinhos engraçados, fazendo
com que a Luna e o Enrico rissem do sofá.
— Sossega, Gio. — Damon falou do seu lugar.
— Não. — Ela provocou.
— Depois ela não sabe porquê o Nino só sabe responder não. — Ele
falou e se jogou no sofá. Então, me olhou. — Ninfa-bebê à missão. — Me
provocou. — Você quer matar o meu homem?
— Não. — Ri e me sentei no colo do Dante.
— Eu vou ter que dar umas dicas a ele sobre como não infartar com
as roupas da esposa. — Adicionou secamente. Giovanna sorriu, virou de
costas e continuou dançando, meio que empinando a bunda. Damon esfregou
a mão no rosto. Dante escondeu o rosto em meu pescoço para não rir tão
abertamente quanto o Enrico e a Luna. — Giovanna, eu vou te bater. —
Damon avisou severamente. Ela continuou rindo, de repente, ele a pegou
bruscamente e a colocou em seu colo. — Sossega.
Eu sorri, porque se eles eram felizes, eu poderia ser feliz também.
17
Mia.
Giovanna desfilou para dentro da casa da Luna segurando dois
envelopes.
— Nossos exames chegaram. — Sorriu. — Vou encomendar os bolos.
— Tem que ser dois pequenos, será apenas nós e vai sobrar muito.
— Posso fazer os bolos? Prometo não contar. Eu aprendi a fazer massa
colorida de chocolate no curso ontem e estou doida para experimentar. — Me
intrometi no assunto.
— Claro, vai ser melhor ainda ser alguém de casa. — Giovanna sorriu.
— Eu vou fazer o jantar, a Luna os docinhos e você o bolo. Vou pedir para o
Sandro me levar no centro, quero comprar algumas coisinhas para decorar a
mesa.
— Tem muita coisa do aniversário do Nino e da Laura, vou pegar a
caixa, pode ter algo para decorar. — Luna foi até um quartinho e saiu de lá
com uma caixa cheia de coisas. Elas ficaram mexendo, tirando algumas
decorações.
Giovanna estava com quatro meses, mas ela esperou a Luna decidir
se gostaria de saber o sexo ou não para que as duas fizessem um jantar de
revelação. Dei uma olhada na despensa da Luna e da Giovanna, reunindo
tudo que precisava para fazer dois pequenos bolos. Ambas queriam cobertura
de chocolate, para o meu deleite. Separei os ingredientes nas vasilhas,
arrumei os utensílios e me ocupei na cozinha da Luna. Elas não ficaram por
perto e eu só abri o exame quando era a hora de misturar a cor na massa.
Dei uma olhada nos envelopes e dei pulinhos no lugar de alegria.
Ah, era tão fofo.
— Mia? — Dante chamou antes de entrar. Ele estava de banho
tomado, com uma roupa diferente da que estava mais cedo. — Mais doce,
baby?
— Iremos jantar juntos e as meninas vão revelar os sexos dos bebês.
— Sorri, ele se aproximou, olhando a cor da massa e me deu um sorriso.
— Quer ajuda?
— Eu adoraria. — Beijei a sua bochecha. Não precisava da sua ajuda,
mas queria que ele ficasse comigo e com isso, lhe dei tarefas simples no
começo. Dante mexeu o chocolate no fogo baixo com paciência e
concentração, ele era assim em tudo, atento e responsável. Talvez fosse isso
que o ajudasse a se sair tão bem em suas missões e treinamentos. Dante ouvia
quando todos pensavam que ele não estava ouvindo e prestava atenção nos
mínimos detalhes. — Estou curiosa sobre uma coisa. Seu pai, por muitos
anos, foi o advogado da família e depois o seu irmão assumiu o mesmo lugar.
Você pretende seguir o mesmo caminho? Fazer uma faculdade e ficar com o
escritório?
— Na verdade, não. Meu pai espera que sim, mas eu ainda não
conversei sobre isso com ele. — Ele continuou mexendo o chocolate. —
Nicola deixou a parte dele do escritório para a Sienna e o outro sócio, vendeu
a parte dele para outra pessoa. Em todo caso, eu não quero isso. — Ele se
afastou do fogão e ergueu a camisa. — Fui tatuado.
— Você recebeu a tatuagem? — Soltei a massa. — Isso é bom, certo?
— Isso é ótimo. Eu sou o quarto membro a receber a tatuagem da nova
era, Mia. — Seus olhos brilhavam de orgulho. — Estou fazendo a minha
própria história.
— Parabéns, baby. — Beijei-o. — Espera, quarto? Pensei que o
Alessio fosse tatuado.
— Não. Ele não recebeu. Disse que não quer que o filho seja iniciado.
Apesar da relação familiar, isso não caiu bem para o Damon. Os três
entenderam que o Alessio não se sente capaz de criar um filho no nosso meio.
— Dante explicou e senti um arrepio crescer na minha pele. — Sei que não
queremos ter filhos tão cedo, mas um dia estaremos prontos e o meu filho vai
ser o meu herdeiro.
— Entendi. Se a tatuagem é importante para o que você quer, eu te
apoio. — Não falei a parte dos filhos porque eu não tinha certeza se um dia
teríamos filhos. Eu queria, mas não acreditava que poderia ser uma boa mãe e
uma criança não merecia vir ao mundo apenas por um capricho. — Estou
feliz por você.
— Obrigado. — Ele sorriu verdadeiramente.
Nós nos sentamos na sala enquanto os quatro tabuleiros redondos
assavam. O forno da Luna era grande o suficiente para fazer tudo de uma vez.
Apesar de alguns beijos trocados, ficamos conversando e mexendo na
internet. A mãe dele ligou, mas ele não atendeu, eu ainda não tinha retornado,
ela disse que preferia falar por telefone e não por mensagens, então, eu não
liguei. Se fosse urgente, ela falaria. Desconfiava que era algo para me encher
o saco e não estava com paciência.
— Por que não atendeu?
— Ela descobriu sobre a casa. — Revirou os olhos. — Não vou me
estressar com isso agora, quando chegar em casa, conversarei com ela e com
o meu pai. — Beijou a minha bochecha. Meu telefone apitou e tirei os bolos.
Enquanto esfriava, mexi os recheios e as coberturas, arrumando tudo com
cuidado. Eles ficaram perfeitos. — Você é muito boa nisso.
Dante me ajudou a enrolar os docinhos e decorar os cupcakes, quando
a Luna acordou da sua longa soneca com a Laura, gritou de alegria. Como o
meu marido era o único homem aparentemente desocupado, ele nos ajudou a
arrastar as mesas pesadas do pátio para a área próxima à piscina principal.
Enchi balões de cores diversas, misturando rosas e azuis no bolo para não dar
dicas. Giovanna pediu ajuda ao Dante para carregar as travessas pesadas e
quentes, ela fez lasanha de vários recheios e a sua mãe, Lucinda, preparou um
cordeiro assado.
— Cheguei. — Damon apareceu no pátio e enfiou o telefone no bolso.
— Isso aqui está muito bonito. — Elogiou. — Ninfa-bebê fez o bolo ou a
ninfa-bebê 2?
— Foi a dois. — Giovanna respondeu. Luna arremessou uma bola das
crianças nela. — Ai, desculpa. Foi a Mia. — Ela riu.
— Juro que vou pensar em um apelido. — Damon balançou as
sobrancelhas. — Relaxa, Dante. Não vai ser Mamma, Mia .
Apenas ri. Dante estava mais preocupado com o meu apelido do que
eu. Enrico chegou, roubou um docinho e pegou a Laura, dando um beijo.
Nino sorriu, querendo o colo também e eu fiquei impressionada que ele
aguentava as duas crianças nos braços. Luna tirou uma foto. Logo o Nino
quis descer e correu até uma bola, chutando e sem querer pegou no Dante.
Meu marido começou a jogar bola com o Nino, eu fiquei sentada, só
observando a maneira que ele podia ser doce e brincalhão com as crianças.
— Querendo um pouco daquilo ali? — Giovanna sentou-se ao meu
lado.
— Estou feliz em pegar o Nino de vez em quando. — Sorri.
— Quando você quiser, pode levar. — Eu sabia que era da boca para
fora. Giovanna vivia grudada no filho, ela não tinha uma babá fixa. Ela
recebia ajuda da sua mãe, da Luna e do marido. Era muito legal a maneira
que eles criavam as crianças. — Dante parece ser um cara gente boa, vocês
vão voltar e finalmente começar a vida à dois. Ansiosa?
— Ansiosa em viver por um tempo na casa da família dele. Ainda não
poderemos nos mudar imediatamente, Dante quer ter certeza de que a nossa
casa estará segura e em perfeito funcionamento para nos mudar, além de
precisar comprar milhares de móveis. — Expliquei e a encarei. — Os pais
dele ficam em cima legal. Muito mais em cima que o Enrico.
— Caramba. Enrico está sendo um chato, mas eu culpo a idade.
Quanto mais velhos eles ficam, mais insuportáveis estão. — Ela sorriu,
Damon ouviu e fez uma careta. — Te amo. — Soprou um beijo. — Quando
poderemos comer? É que eu estou faminta.
— Quando não está? — Luna provocou, me fazendo rir.
As grávidas queriam jantar logo, quem seria eu para discutir? Ninguém
se atreveu. Dante serviu o meu prato com lasanha e salada, uma combinação
que ninguém gostava, mas eu sim. Ajudei a Laura a comer, dando colheradas
a ela enquanto comia, foi meio difícil, mas eu queria fazer parte de cada fase
da sua vida. Ela sabia comer sozinha, mas fazia muita bagunça com o Nino e
os dois acabavam nem comendo direito.
Após um pouco de conversa, decidimos cortar os bolos, Dante me
ajudou a pegar com cuidado e colocar no centro da mesa redonda em que
estávamos acomodados.
— Giovanna primeiro, porque está com mais semanas. Toma. — Luna
estava nervosa e empolgada, entregou a espátula. Gio se inclinou na mesa e
cortou. Ela deve ter visto o meio, porque começou a rir e olhou para o
marido, puxando um pedaço de bolo azul.
— OUTRO MENINO! — Soltou um gritinho. Ela e a Luna se
abraçaram apertado e então, Gio se jogou no Damon, trocando um beijo doce.
— Nosso Rafael.
— Ai que fofo. — Luna estava pulando no lugar. — Minha vez.
Segurei a mão do Dante porque já sabíamos o sexo. Enrico estava
sentado, olhando para o bolo com expectativa. Luna cortou o bolo e logo
soltou a espátula, cobrindo a boca.
— Eu não acredito! — Gritou e eu puxei a fatia que ela não conseguia.
— Um menino? — Me olhou nos olhos.
— As duas terão meninos. Estava bem claro lá. — Sorri. Dante tirou
do bolso os exames. Giovanna conferiu e afirmou que elas estavam
esperando meninos.
Luna pulou no Enrico, ele quase caiu da cadeira, rindo. Laura e o
Nino estavam aleatórios, rindo, sem entender nada. Virei para o Dante,
sorridente e ele me deu um beijo doce nos lábios, me puxando para recostar
nele.
Foi uma noite maravilhosa e eu sabia que sentiria falta deles. Em um
dos meus últimos dias, revelei as fotos do casamento que estava com eles e
coloquei em porta-retratos bonitos. Para Luna, dei uma foto que o Enrico está
sentado com a Laura no colo, ela em pé de um lado, com a mão em seu
ombro, eu do outro, também com a mão no ombro dele e com o Dante atrás
de mim, segurando a minha mão. Era um retrato lindo. Representava muito
bem a nossa família.
Para Giovanna e o Damon, dei um quadro do Nino sorrindo com as
bolhas de sabão na pista de dança. O fotógrafo capturou a personalidade
apaixonante do Nino e a sua alegria. Ainda não tinha recebido todas as fotos,
estava muito ansiosa, só recebi algumas prévias. Aprovei o estilo de edição e
ele deu o prazo de cinco dias para entregar tudo. A filmagem levaria mais um
tempo. Dante e eu escolhemos algumas fotos para postarmos nas redes
sociais e os meus vestidos estavam fazendo muito sucesso.
Após pegar o meu certificado no curso de confeitaria, nós
programamos o nosso voo de modo que chegássemos em D.C pela manhã.
Eu estava com o coração muito apertadinho por deixar a Luna. Ela não
voltaria para Chicago tão cedo. Enrico não confiava em ninguém lá devido o
sequestro e agora a sua superproteção fazia todo sentido. Ele fez o Dante
jurar que tomaria cuidado com o Matteo, não só por ter falhado no teste de
fidelidade, mas pelo fato que o Romeo era muito abusado, não respeitava a
posição do Dante como futuro chefe e por ser um Biancchi.
Arrumei nossas coisas com um beicinho no rosto.
— Nós vamos voltar em breve. — Dante deu um beijo em minha
bochecha quando pegou a última mala e levou para o quarto. — Estou até
pensando em comprar uma propriedade por aqui.
— Metido.
Ele riu e saiu do quarto. Sentei-me na cama, com o estômago torcido
em preocupação, a notícia que o Dante recebeu a tatuagem da nova ordem se
espalhou como pólvora e literalmente incendiou no nosso mundinho pintado
de vermelho e com muito pecado. Meu marido estava em evidência e isso me
preocupava tanto. O pai dele não falou nada, a mãe dele me mandou
mensagem bem enigmática com o coração partido. Dessa vez, eu
compartilhava. Enquanto sentia orgulho, também sentia medo.
Não podia perder o Dante. Não queria ser viúva aos dezoito anos.
— Mia? Vamos! — Dante me chamou. Guardei o meu telefone na
bolsa e passei a alça em meu ombro. Encontrei o Dante no pátio, ele me deu
um sorriso antes de me puxar bruscamente para frente.
Enrico e a Luna estavam nos esperando no pátio com as crianças.
Abracei a minha prima, ficamos unidas, apertadinhas, beijei a sua bochecha e
prometemos nos ver em breve. Enrico me pegou em um abraço apertado e
cochichou que eu deveria manter a minha promessa de ligar ou mandar
mensagens todos os dias, não importando que estava casada. Ele fez isso
quando foram me visitar em Londres e eu me senti amada.
— Eu prometo.
Me despedi da Giovanna e do Damon, esperei o Dante terminar de
falar com a nossa família abraçando as crianças e beijando seus rostinhos
perfeitos. Entrei no carro com o Dante, embora me sentisse estranha por
partir, eu sabia que o meu lugar não era ali. Eu tinha uma vida para viver e
estava muito ansiosa por isso. Não levamos muito tempo para chegarmos no
aeroporto privado em que o avião já nos aguardava, sem o Matteo, Dante
ajudou o Felipe com as malas. Embarquei primeiro, me acomodei na poltrona
e simplesmente esperei a decolagem.
Após uma hora no ar, Dante deitou o seu banco e sorriu. Saí do meu
lugar rapidamente e me ajeitei em seu colo, me preparando para dormir. Ele
me abraçou apertado, me cobrindo e me deu um beijo suave na testa.
Aproveitei as últimas horas da nossa bolha, porque eu sabia que assim que
voltássemos para casa, ela seria estourada. Fechei os meus olhos e adormeci.
Dante me acordou quando o piloto informou a descida final. Durante o
pouso na Inglaterra para o reabastecimento eu não saí do meu lugar, fiquei
meio dormindo, meio prestando atenção no que estava acontecendo ao redor.
Saí do seu colo com a bexiga implorando por alívio, corri ao banheiro, voltei
e afivelei o cinto para que começassem o procedimento de pouso. Eu estava
exausta, dolorida, mas fiquei feliz por chegar logo.
Havia um carro com um guarda nos esperando. Felipe desceu na
frente, o cumprimentou e eu dei apenas um aceno simpático. Esperei que eles
terminassem de guardar tudo, me despedi do piloto e da comissária. Dante
estava alerta, ereto, atento, como se ele não tivesse certeza de que pudesse
confiar em quem foi nos buscar. Fiquei meio preocupada ao perceber que o
Felipe estava igualmente tenso. Talvez estivesse acontecendo alguma coisa
que eu não soubesse. Talvez o Dante estivesse preocupado em montar a sua
própria equipe e sem saber em quem confiar depois do treinamento tão
intenso.
Por alto, eu ouvi que a cerimônia da tatuagem era cruel. Dante precisou
fazer algo realmente ruim para que os três achassem que ele merecia ser um
membro como eles. Não queria saber detalhes, minha mente não queria ver o
Dante como um assassino cruel e sim como o meu jovem marido, que fazia
dancinhas de cueca, invadia o meu banho e comia a minha comida sem me
pedir.
— Temos que resolver questões da casa hoje. — Ele estava olhando
em seu telefone.
— Vou desfazer as malas e estou livre.
— Tudo bem, eu volto para te buscar assim que desocupar. Só estarei
em casa à noite, para jantar com você, mas vou para a boate. Estava fora e
não sei como andam as coisas... — Ele seguia digitando. — Merda. Enzo já
marcou a reunião com a equipe da nova boate.
Mal chegamos e o Dante já não tinha tempo. Me inclinei no banco e
beijei a sua bochecha.
— Vai ficar tudo bem, se precisar, eu vou na casa sozinha.
Entramos na propriedade dos pais dele, estava um dia nublado e saí do
carro ao mesmo tempo que Antonella abriu a porta. Ela desceu as escadas e
me deu um abraço, pensei que fosse me ignorar, mas o seu abraço foi muito
bem-vindo. Agarrou o Dante e lhe deu um beijo.
— Eu tenho que sair agora, vamos nos falando por telefone. — Se
inclinou, com o telefone no ouvido e me deu um beijo nos lábios. — Se
cuida. — Olhou para a mãe, soprou um beijo e foi para o seu carro.
— O que está acontecendo? — Antonella estava confusa.
— Dante tem muitas atribuições agora. — Encolhi os ombros. — Eu
trouxe presentes para todo mundo. Giovanna mandou uma mala de roupas
que o Nino nunca usou para o bebê da Lisa. — Abri um sorriso.
— Que história é essa que vocês querem se mudar? — Antonella
colocou as mãos na cintura.
— Não é uma história e não é uma questão de querer, nós vamos nos
mudar. — Esclareci. O seu olhar era gelo puro. — Eu sei que não deve ser
fácil, Antonella. Dante e eu só queremos um espaço para aprendermos a ser
um casal sem estar em tanta evidência. Não quer dizer que não vamos vir
aqui, participar dos jantares de família ou das noites de cinema. — Segurei a
sua mão. — A senhora me ensinou o que é amor maternal, eu te admiro
muito, mas eu não vou pedir permissão em nenhuma das decisões que tomar
com o Dante. Nós não estamos brincando de casinha.
Antonella suspirou e me puxou para um abraço.
— Tudo bem. Você tem razão, não é fácil. — Se afastou um pouco. —
Obrigada pela sua honestidade. Ainda estou chateada, mas entendo. Na
verdade, não entendo, mas o Dante é um homem feito e você a sua esposa. Só
me resta aceitar.
— Obrigada por isso. — Beijei a sua bochecha. — Então, presentes?
— Sim, presentes. Vem, nós sentimos a sua falta. — Passou o braço
em meu ombro e entramos em casa. Antonella não falou nada sobre a minha
mãe, não disse bem feito ou sinto muito, simplesmente não tocou no assunto.
Eu sabia que os pais do Dante não eram tão liberais quanto faziam parecer,
eles tinham muitas preocupações sobre a imagem da família publicamente e
dentro da organização dos negócios. Eles não perdoariam uma indiscrição
minha ou mais um escândalo familiar, felizmente, não havia mais ninguém.
Em algum momento, iria chorar a morte dos meus pais, mas enquanto
sentisse raiva e rancor, eu não conseguiria sentir pesar.
18
Dante.
Vince Vaughn me deu um olhar engraçado quando o meu telefone
tocou pela milésima vez no meio da nossa reunião. Ele já estava com o
projeto da boate, passamos por algumas mudanças devido às leis do Corpo de
Bombeiros do estado e com o Enzo na vídeo-chamada na primeira parte,
decidimos que o terreno oferecia a oportunidade de um bom espaço ao ar
livre, então, seria criado um pub estilo britânico. O nome da boate seria MIA
em letras grandes, roxo neon, bem na entrada e todo lugar remeteria a um
loft.
Mia não era britânica, mas cada boate fazia referência a um país sob a
dominação da família e como ela morou lá por três anos, fazia todo sentido.
Só não esperava que ao chegar, a minha vida já estivesse de cabeça para
baixo. As minhas novas funções se chocando com as antigas.
O que o meu pai estava esperando? Ele deveria saber que nada seria
o mesmo depois do casamento. Meus cunhados estavam me ligando e me
cobrando coisas, acostumados com o Dante batedor. Eu era um capitão
agora... Eu estava acima deles e me preparando para assumir o lugar do meu
pai.
— Obrigado por vir tão em cima da hora. Esse é o meu número, você
pode me ligar a qualquer momento sobre o projeto. — Apertei a mão dele e
atendi a ligação, destravando o alarme do meu carro. — Pai, estou indo em
casa resolver algumas coisas com você.
— Tudo bem. — Ele murmurou e encerrou a chamada.
Em seguida, o meu telefone tocou de novo. Caralho.
— Sim.
— Sr. Biancchi. Sou Stefanio, ligando para informar que já me instalei
em sua propriedade e estou a postos. — Informou em um tom de voz firme.
Ele era mais velho que eu e me chamou de senhor. Eu ia dizer para me
chamar de Dante, não daria certo trabalhar com alguém me chamando de
senhor o tempo todo.
— Vá para casa dos meus pais, terei uma reunião com meu pai e em
seguida sairemos. Temos muito o que fazer.
— Sim, senhor .
Mia estaria rolando de rir com essa merda. Pensando nela, dei uma
olhada nas suas mensagens. Ela estava online, provavelmente em chamada de
vídeo com a Luna. Enrico me ligou umas trinta vezes e podia ouvir as duas se
falando ao fundo. Ele queria dar o primeiro carro da Mia de presente, não
contestei, porque daria todos os outros. Enquanto dirigia para casa, mandei
uma mensagem para a minha esposa, mas ela não respondeu.
Nenhuma novidade.
Mia olhava a mensagem e não respondia imediatamente, isso me
deixava maluco desde que começamos o nosso compromisso.
Entrei em casa em alta velocidade e parei na garagem. Minha irmã,
Milena, apareceu na porta que dava para a cozinha com um olhar
recriminador, mas ela parou quando viu a minha expressão. Entrei em casa
dando boa tarde rapidamente e subi as escadas. Renata estava gritando e eu
podia ouvir a minha mãe tentando acalmar a situação, aquela merda me
deixou ainda mais estressado. Bati na porta do escritório do meu pai e abri
sem pedir licença. Romeo, Matteo e os meus dois cunhados idiotas estavam
ali dentro.
— Saiam. — Eu estava puto.
Meu pai sinalizou para que saíssem e fecharam a porta.
— Matteo não vai trabalhar comigo. É uma ordem acima de nós dois.
— Eu sei, Dante. — Meu pai suspirou, com um ar cansado. — Mas
isso vai ser uma dor de cabeça. Eles são filhos do meu conselheiro.
— De maneira nenhuma o Romeo será meu conselheiro um dia. Não
vou repetir o que aconteceu em Nova Iorque com o Maurízio anos atrás. —
Rebati e puxei uma cadeira. — Romeo é intolerante e não respeita a cadeia de
comando.
— Você precisa impor respeito.
— Certo. Meu jeito de impor respeito não é o mesmo que o seu.
— Não vou te impedir.
— Então, não se meta nas minhas decisões. Eu vou atribuir novas
funções para quem for trabalhar comigo. Stefanio já está estabelecido em
minha propriedade.
Meu pai desviou o olhar dos livros de contabilidade a sua frente.
— Pensei que fosse conversar comigo antes de aceitar a tatuagem. Eu
preparei todo o caminho...
Recostei na cadeira.
— Você deveria saber que eles não pediram, eu aceitava ou negava,
não tinha essa história de “ei, espere um minuto que vou ligar para o meu pai
”. — Revirei os olhos. — Ou você quer que eu seja um homem nessa família,
ou você quer que eu fique debaixo da sua asa não sendo respeitado por
homens como o Romeo.
— Não quero que você se machuque, isso é um fato. Mas aceitar a
tatuagem implica em não seguir a tradição da nossa família. Sempre fomos os
advogados, apoiadores, nunca assumimos tanta responsabilidade. Você está
na cadeia de comando, enquanto sinto orgulho, me preocupo.
— Acha que não vou dar conta?
Ele riu.
— Se alguém pode fazer dar certo, esse alguém é você. Sempre foi
corajoso e feroz, desde novo. Seu irmão vivia dizendo que você era o
verdadeiro herdeiro, porque nasceu comandando mesmo com um sorrisinho
no rosto. — Ele ajeitou os óculos. — Não é o que eu esperava e planejei para
você, mas, não vou te impedir. Só me prometa que vai tomar cuidado, poder
demais nos cega e você é jovem. Conquiste o respeito dos seus homens com
punho de ferro e não sendo arrogante, mostre a eles do que é capaz e que
estará lá para apoiar e punir.
— Obrigado pelos conselhos.
— Sua mãe descobriu sobre a casa.
— Eu sei.
— Converse com ela depois. Agora, chame os homens aqui e dê as
suas ordens, você é o meu herdeiro. — Sorriu torto. Mandei uma mensagem
para o Stefanio subir. Abri a porta e mandei que entrasse.
— Esse é Stefanio, ele será o meu braço direito a partir de agora. —
Apresentei rapidamente. — Pietro e Elias, vocês continuam em suas funções,
mas eu vou dar o espaço para que escolham a sua própria equipe. E eu quero
uma palavrinha com os guarda-costas das minhas irmãs essa noite.
Matteo encarou o chão quando falei.
— Romeo, você fica nos empreendimentos de Baltimore a partir de
agora. Farei uma ligação para informar a sua chegada. — Ele me deu um
olhar irado. — Matteo, você irá trabalhar com as meninas na Wine. Gostaria
que fizesse uma seleção de funcionários para o novo empreendimento. — Ele
assentiu, parecendo aliviado que eu não estava mandando-o para a puta que
pariu. — Quero que reúnam todos os homens hoje à noite, meia noite, no
salão de festas do Clube Swan.
— Algum assunto em especial? — Elias perguntou, curioso como
sempre.
— Vão descobrir à noite. Podem ir.
Assim que eles saíram, percebi que meu pai soltou uma tosse e ficou
de pé com dificuldade. Ele deveria estar cansado. Meu pai não era novo, ele
tinha sessenta e três anos de uma vida perigosa e sem cuidados físicos
necessários. Fumava e comia mal. Ele nunca foi de se cuidar, embora a minha
mãe tentasse cuidar dele mesmo assim.
— Ainda vou precisar da sua ajuda com os livros, está tudo embolado
porque eu não sei mexer no sistema e eu não quis pedir a ninguém. Não
quero atrasar o envio da contabilidade.
— Sem problemas, pai. Eu faço isso de madrugada, quando voltar da
rua e amanhã cedo envio para a sede. Vou subir para ver a Mia, nos falamos
depois. — Dei-lhe um abraço rápido e corri para a escada. Digitei o código
da entrada da minha ala, entrei e não encontrei a Mia nos primeiros cômodos.
Empurrei a porta do quarto e a peguei de calcinha, camiseta, com os cabelos
molhados, dançando uma música pop e distraída com as roupas que estava
dobrando. — Oi, gostosa.
Mia pulou e virou.
— Oi! Você pode fazer um barulho antes de entrar? — Ela colocou a
mão no peito, segurando uma camisa colorida. — Acabei de terminar de
lavar o primeiro cesto de roupas e tomei um banho. Você está bem?
— Estou bem, vim te dar um beijo e sair.
— Sua mãe vai comigo na casa. Falei exatamente o que me disse, ela
ficou bem, então, obrigada. — Mia sorriu, lhe dei um beijo doce nos lábios,
abraçando a e descendo as minhas mãos para a sua bunda.
— Tudo bem, eu ainda vou falar com ela. — Beijei o seu pescoço. Tão
cheirosa. Queria deitar e rolar com ela naquela cama, batizar o nosso quarto
adequadamente, mas eu tinha que sair. — Até mais tarde, baby.
— Se cuida. — Me deu um beijo.
Saí de casa rapidamente e encontrei com o Stefanio na garagem, ele
perguntou se eu gostaria de ser conduzido, como eu não gostava, apenas
peguei a chave. Expliquei a ele como as coisas funcionavam e quais eram as
mudanças que os chefes queriam nos principais empreendimentos. Eu não era
idiota, sabia que o Stefanio tinha muito mais experiência que eu e com isso,
aceitei as suas sugestões sobre o armazenamento das drogas, a maneira de
distribuição e nós passamos o dia inteiro nisso.
Com a mudança, os chefes queriam muito que os empreendimentos
lucrassem mais. Havia uma gama de oportunidades a serem exploradas ao
redor das universidades. Eu tinha vendedores dentro dos campus, de vez em
quando, passava para dar uma olhada e parei para mostrar ao Stefanio quem
era quem. Anoiteceu rápido e comi um sanduíche enquanto distribuía as
novas funções.
Elias, meu cunhado, me deu uma olhada e eu soube que estava
querendo falar comigo.
— Está assustando os homens propositalmente ou tem algo
acontecendo? — Ele cruzou os braços. — Não confio nos irmãos Bracci.
Quero apenas deixar isso claro.
— Eles são filhos do conselheiro do meu pai.
— Eu sei disso, já falei com seu pai e agora que você é o capitão, estou
falando com você. O pior ainda, eu não confio em um monte, se você mudar
os abatedores, vou ficar menos tenso na contagem. Não gosto da sensação de
que algo está passando bem debaixo do meu nariz.
Meu pai nunca ouvia os meus cunhados porque gostava de subestimar,
mas, se o Elias estava desconfiado de algo, eu daria atenção. Não demonstrei
que a informação me interessou, mas ficaria atento. Recebi a mensagem do
Felipe que ele havia acabado de deixar a Mia e a minha mãe em casa. A
reunião com a arquiteta e o engenheiro levou mais tempo que imaginei. Se a
Mia deu ouvidos a minha mãe, a casa entraria em reforma completa.
Supervisionei a abertura de três boates, minha cabeça estava
explodindo e eu queria sentar e beber alguma coisa, mas eu sabia que para
provar o meu lugar, eu não podia ficar vadiando. Era a minha chance de
trabalhar o dobro para que ninguém duvidasse do meu poder e parassem de
achar que era um filhinho do papai.
No teste de fidelidade dos guardas das minhas irmãs, fiquei banhado
de sangue. No clube, meu pai ficou na escuridão, os homens espalhados ao
redor, falando baixo, curiosos, armados e tensos. Arrastei uma cadeira,
fazendo um barulho infernal, arranhando o piso lentamente. Eles ficaram em
silêncio, esperando o que ia fazer.
— Por favor, tragam o convidado de honra.
Silêncio total enquanto Stefanio jogava o corpo desmaiado no lugar.
— Isso é o que acontece quando eu descubro que um homem que
presta serviços dentro da minha casa não é fiel a sua palavra. Eu quero ordem
e respeito até em seus pensamentos, quero servidão e força. Eu exijo
fidelidade. — Apontei para o homem e atirei na sua cabeça. — E eu quero o
sangue de vocês. Jurem lealdade a mim ou morram.
Houve um silêncio até que o Stefanio cortou a sua palma, meus
cunhados, e eu pensei que o Matteo, depois tudo fosse se recusar. Ele cortou
e o sangue escorreu pelo seu braço. Um a um, palmas cortadas, sangue,
desejos de posse. Tirei a minha blusa cheia de sangue. Eu sabia que os
homens estavam sedentos por mais dinheiro e poder, com as mudanças, todos
poderiam ter uma fatia. Bastava se aliar a mim ou não ficariam vivos. Não
estava disposto a permitir que ratos se proliferassem.
— Senhores... Bem-vindos ao meu comando.
Meu pai saiu da escuridão, andou devagar até a mim, tirou a faca do
bolso e cortou a sua palma. Ele era o apoio mais importante de todos.
Apertamos nossas mãos e ele me puxou para frente, com nossos peitos
batendo no outro.
Após a reunião, tomei banho em um dos vestiários da academia da
família e não tinha outra camisa, então, eu fiquei sem. Era duas da manhã
quando me dirigi para casa, estacionei o carro na garagem, estava com fome,
cansado, precisando beber e dormir por algumas horas. Entrei na minha ala
tirando os sapatos, a luz do abajur da sala estava acesa, a cozinha cheirava a
algo realmente bom e encontrei a Mia ainda acordada. Ela estava de pijama,
mexendo no seu telefone e um filme passava na televisão, mas estava baixo.
— Oi você. — Ela sorriu. Me inclinei e beijei seus lábios. — Tomou
banho? — Seu tom era meio ciumento. Mia precisava se acostumar que nem
sempre chegaria em casa com a mesma roupa que saí.
— Sim, estava muito sujo. — Pisquei e não falei mais nada. — Por que
ainda está acordada?
— Estou toda bagunçada com o jet-lag . Eu dormi por duas horas e
perdi o sono. — Ajoelhou no sofá e ficou me olhando. Tirei a calça e a cueca,
joguei a roupa no cesto e fui até o quarto, pegando uma cueca limpa. Voltei
para a sala e abri a geladeira, peguei água e bebi duas garrafas. — Tem
comida pronta... Acordei com fome e acabei fazendo uns bolinhos de carne
que compramos congelados, comi com salada. Deixei para você, não sabia se
você ia chegar com fome ou não.
— Obrigado, baby. Estou faminto. — Peguei os bolinhos no forno.
Mia saiu do seu lugar, pegou a vasilha com a salada e virou no meu prato. —
Desnecessário. — Reclamei, ela não falou nada, me olhando com intensidade
e me observando comer. Se afastou, pegou uma garrafa de uísque do armário
e serviu uma dose, colocando na minha frente.
— Acho que está precisando de algo como isso... — Apoiou-se no
balcão. — Foi um dia intenso. Quer falar sobre?
Terminei de comer e peguei o meu copo, indo para o sofá. Ela sentou-
se ao meu lado, encolhidinha e me olhou com expectativa. Relaxei no lugar,
apreciando um pouco a escuridão e o silêncio. A minha companheira, minha
arma, estava no mesmo lugar que deixei, brilhando, dentro do suporte e voltei
o meu olhar para Mia, que estava com o queixo apoiado no joelho.
— Fiz o meu primeiro juramento de sangue. — Comentei, olhando
para o teto. — Foi a primeira vez que eu fiz um. Participei de alguns, como
espectador, mas eu me senti poderoso com tantos homens jurando honra e
fidelidade. Eu quero fazer isso funcionar, não posso fazer sozinho, mas é foda
não poder confiar em quem está ao meu redor. O guarda-costas da Milena
não passou no teste...
— Como o Elias reagiu a isso?
— Um pouco mal. Milena não é fácil... nunca foi. Seria preciso ter
muita confiança para não desconfiar sobre algo... — Bebi o restante da dose.
— Eu o matei. Se a minha irmã pulou a cerca com seu guarda-costas, eu vou
protegê-la. Eu só disse ao Elias que ele não confessou nada além de ter
sentimentos, não que era recíproco.
— Você fez o certo em proteger a sua irmã. Ela pode não ter feito, só
foi simpática, amigável, nunca se sabe o quanto homens podem entender um
sorriso errado. — Ela comentou, brincando com os dedos. — Quem vai ser o
guarda dela agora?
— Vou deixar o Elias escolher. — Dei de ombros e terminei a minha
dose de uma vez só. — Quando assumir o lugar do meu pai, precisarei fazer
uma declaração sangrenta. — Falei olhando para janela. — Isso é uma coisa
que eu nunca gostaria que você visse.
— Não sente nada quando mata alguém?
— Não. Nada. — Ela segurou a minha mão e beijou. — Eu sentiria se
precisasse matar o Matteo. Ele sempre foi meu amigo, agora que sei que não
posso confiar nele, vou manter a distância, mas eu não vou hesitar em fazer o
que tiver que fazer.
— Entendo. — Mia se aproximou e beijou a minha bochecha. — Vem,
vamos para cama. Precisa descansar porque amanhã será um longo dia. —
Ela desligou a televisão e colocou a louça suja na pia. Voltou para a sala e me
puxou.
Aceitei ser conduzido para o quarto, ela fechou a porta atrás de nós,
acendeu as luzes suaves que ficavam no chão, próximo à parede e desforrou a
cama. Deitei, a observei ainda pegar umas coisas, passar um creme nas mãos
e com um sorriso, veio para cama. Ela tentou passar por cima de mim, mas eu
não deixei, tudo que precisava para sair do meu tormento era olhar para o seu
rosto bonito, seus olhos expressivos e beijar a sua boca macia.
Minha mente estava confusa, sombria, mas tocá-la era como se eu
voltasse à superfície novamente e mesmo que eu não tivesse a intenção real
de algo mais, não levou muito tempo para o meu sangue estar correndo pelas
minhas veias, incendiado de desejo por ela.
Me perdi dentro dela, consumido por milhares de emoções diferentes,
mas finalmente em paz. Minha alma estava marcada. Sangrenta. Cheia de
pecados. Mas quando estava com a Mia, eu me sentia no céu. Era como se eu
finalmente encontrasse o meu paraíso.
19
Mia.
— Mármore escuro? — Dante parecia cético com a minha escolha para
a reforma do nosso banheiro na suíte principal. — Não vai ficar tudo muito
escuro?
— Se você estivesse ouvindo o que estou dizendo... — Desisti de falar
quando ele voltou a olhar o seu telefone. Simplesmente levantei do meu lugar
e saí da sala, deixando-o sozinho. Eu não estava com paciência. Ele disse que
veio em casa rapidamente para dar uma olhada no projeto da reforma e não
estava me dando atenção. Desde que retornamos da Itália, eu mal o via de dia
e só o sentia na cama tarde da noite, isso quando ele não me acordava.
— Mia... — Ele andou atrás de mim. — Sinto muito. — Me puxou e
me prendeu em seus braços. — Desculpa. Larguei o telefone lá na sala,
vamos olhar isso. — Me deu um rápido beijo.
— Se você não pode falar sobre isso agora, tudo bem. Só não me faça
perder o meu tempo. — Resmunguei. Ele me deu um olhar conflituoso. —
Você vai surtar querendo dar conta de tudo. — Acariciei o seu rosto. —
Porque não fazemos assim... Você sai agora para resolver seja lá o que o
Pietro está implorando ajuda e a noite nós jantamos juntos, passamos pelo
projeto e você vai para a boate?
— Obrigado. — Me deu um beijo excitante. — Pietro fez merda, ele
acha que sei como resolver.
— Que merda?
— Algo que meu pai vive chamando atenção dele. Ele é legal, sabe?
Mas desatento toda vida.
Ser desatento na nossa vida não era algo realmente bom.
— Sua irmã está grávida, eles passaram a noite acordados porque ela
estava sentindo-se mal. Eu fiquei lá por algumas horas quando ele precisou
sair, o enjoo e a tontura voltaram. Ele não tem dormido muito e
provavelmente ficou preocupado com ela.
— Vou ter uma conversinha com esse médico dela. Como ele não pode
ajudá-la?
— Isso é uma condição delicada. É um quadro que algumas gestantes
têm, o jeito é repousar e suportar. Vá ajudar o seu cunhado e volte logo. —
Dei-lhe um beijo e ele saiu, sabia que não ia deixar a história do médico.
Guardei as folhas do projeto e saí da nossa ala, descendo a escada e bati na
porta da ala da Lisa. Ela estava no sofá, pálida e irritada. A sua barriga ainda
era super tímida, mas ela estava sofrendo com hiperêmese gravídica. —
Ainda ruim?
— Mamãe acabou de me fazer um chá, estou me sentindo melhor e
acho que vou dormir um pouco.
— Não quer tentar almoçar? Posso fazer um suco de laranja e uma
salada.
— Acho que sim, não tenho certeza... — Ela parecia cansada só de
pensar em comer. — Pede para a Sra. Caprese preparar.
— Tudo bem, eu já volto.
Saí da sua ala e desci o primeiro lance de escadas quando me deparei
com a Renata. Eu sabia quem ela era, mesmo sem tê-la visto pessoalmente.
Seu cabelo ruivo estava todo despenteado, sua pele pálida e os lábios
cortados de tão ressecados. Usava uma camisola e um roupão de banho
aberto. Na sua mão, uma faca de cozinha suja de sangue.
— Oi, Sienna. — Ela falou baixo, com raiva. — Eu te vi beijar o meu
marido no jardim ontem... Pensei que pudesse confiar em você.
Dante e eu tivemos um breve encontro no jardim na tarde anterior. Eu
estava ajudando a sua mãe a cuidar do jardim e ele passou em casa para
buscar alguns documentos, me deu um beijo de cinema entre os arbustos e
um monte de promessas sexuais. O quarto da Renata era virado para o jardim,
mas eu não percebi que ela estava nos observando. Dei um passinho para trás,
olhando para a faca.
— Eu não sou a Sienna. — Falei com calma. — Sou a Mia e eu sou
esposa do Dante. Você me viu com o Dante... Não com o seu marido.
Ela riu e lambeu os lábios.
— Por que você quer me enganar? — Ela falou baixo. — Dante é um
bebê. Eu te acolhi quando você estava grávida, com medo, eu te dei apoio e
você tirou o meu marido.
— Não fiz isso. Não sou a Sienna. Eu sou a Mia. — Fui recuando e
bati com o meu pé na escada. — Você precisa se acalmar.
Tentei subir correndo, mas ela correu atrás de mim e para quem vivia
dopada, tinha rapidez e força. Eu a empurrei, preocupada em rolar escada
abaixo. Lisa gritou, nervosa e eu gritei de volta, que se escondesse. Renata
puxou o meu cabelo, me levando ao chão e me defendi dos seus ataques com
a faca, tentando segurar o seu pulso a todo custo. A lâmina passou próximo
ao meu rosto. Rapidamente eu vi a Milena se jogar contra Renata, mas a dor
aguda no meu braço me fez gritar.
Segurei o corte, o sangue estava vazando, me deixando molhada e
escorria pelo chão. Por um instante, me senti voltando para o chão da
biblioteca da minha antiga casa em Nova Iorque, os gritos estridentes da
minha mãe, o corpo sem vida do meu pai e a maneira que ela tentou pegar a
arma da minha mão e atirar em mim. Nós escorregamos no sangue, lutando
pela mesma arma até que eu dei uma cabeçada nela, tão forte que desmaiou.
Fiquei sozinha, em uma poça de sangue, com o meu pai morto de um
lado e a minha mãe desmaiada do outro. Um grito estridente me fez sair do
transe, Renata conseguiu escapar da Milena e pular em mim novamente,
gritando que eu estava roubando o seu marido, sem a faca, arranhou os meus
braços e a chutei, ela rolou para longe e me arrastei pela escada. Tudo estava
acontecendo tão rápido. Felipe subiu a escada correndo, com a arma em
punho, ele conteve a Renata com o novo guarda-costas da Milena.
— Ai meu Deus, Mia. — Lisa ajoelhou ao meu lado. — Ela está
perdendo muito sangue! — Gritou, histérica e a Milena segurou o meu braço.
— O que aconteceu aqui? — Antonella gritou. — Ai meu Deus, Mia!
— Não desmaia. — Lisa pediu.
Elas estavam ficando cada vez mais longe, uma gritaria, minha mente
estava dispersa e confusa. Eu vi o momento que o Luigi deu uns tapinhas no
meu rosto, Felipe enrolou o meu braço em um tecido, me erguendo no seu
colo e descendo a escada. De repente, Antonella estava no banco da frente de
um carro. Alguém estava falando comigo, mas era longe, desconexo e optei
por fechar os meus olhos.
— O que temos aqui? — Um homem falou. — É um belo corte.
Rompeu a veia, ela perdeu muito sangue. Vamos levá-la para a sala de
cuidados intensos.
— Eu posso ir junto? — Antonella estava chorando.
Não ouvi o que o médico respondeu, delirando com a dor latejante do
meu braço, minha cabeça girando e eu quis dormir. Quando a dor passou,
finalmente encontrei um pouco de paz e adormeci. Acordei com o meu braço
latejando, eu estava na cama de um hospital, o quarto estava escuro,
confortável e puxei um pouco a colcha... Era a minha colcha do sofá. Dante
estava sentado no canto, na poltrona, com as pernas esticadas na frente, a sua
arma na barriga e o seu dedo no gatilho como se ele fosse atirar em qualquer
um que passasse pela porta.
Sua expressão me deixou preocupada. Levantei a minha cabeça e o
movimento o fez me olhar.
— Oi. O que foi?
Ele riu secamente.
— Você está em uma cama hospitalar e me pergunta o que foi? —
Levantou-se e se aproximou com cuidado. — Está sentindo dor?
— Só o meu braço latejando. — Dei uma olhada. — Não tem pontos?
— A pele estava colada, vermelha e com uma gosma em cima.
— O médico disse que assim não vai ficar uma cicatriz marcada, só
uma linha fina quando cicatrizar. Temos que tomar muito cuidado para não
inflamar, então, sua alimentação vai ser bastante controlada e vamos manter
tudo limpo. — Ele beijou a minha testa.
— Suas irmãs estão bem?
— Lisa precisou de um calmante, ela só gritava depois que você veio
com os meus pais e o Felipe. Eu cheguei em casa para buscar uma roupa,
ouvi os gritos, vi o sangue e a Milena mal conseguia falar. Ela estava toda
arranhada. Só depois que eu gritei que me explicaram que você estava
ferida... — Ele segurou o meu rosto. — Sinto muito. Meus pais deveriam ter
colocado a Renata em uma clínica.
— Ela achou que eu era a Sienna. Se recusava a acreditar que você não
era o Nicola. Estava em um surto muito grave...
— Renata feriu a enfermeira gravemente, a mulher está entre a vida e a
morte. Perdeu muito sangue por conta de seus ferimentos e pelo visto, a doida
não toma as medicações há dias. Se os meus pais não tirarem aquela mulher
de lá, nós vamos para um hotel até a nossa casa ficar pronta, porque eu me
recuso a te deixar no mesmo lugar que ela.
— Dante... Apesar de estar muito irritada, sei que ela não fez
intencionalmente, então, eu vou tomar cuidado. Não podemos viver em um
hotel, é muito exposto e você não vai conseguir trabalhar. — Tentei me
mover e não consegui. Ele me colocou sentada e olhei para os arranhões em
meus braços. — Vou ter que ficar aqui muito tempo?
— Não. Ele só queria te esperar acordar, você estava sentindo dor e
perdeu sangue, acabou desmaiando com a medicação. — Esfregou o nariz no
meu. — Quer ir embora?
— Se eu puder levar a medicação que ele fez passar a dor antes, sim.
Prefiro ficar em casa. — Beijei os seus lábios. — Isso atrapalhou todo o seu
dia, não é?
— Não importa, você é mais importante. — Seu telefone vibrou. —
Não se preocupe, não tenho que atender ninguém agora.
O médico que entrou no quarto era bonito demais para ser um médico,
a não ser que ele fosse um médico de uma série de televisão. Fiquei até muda
e com as bochechas vermelhas. Eu morria de vergonha quando achava um
homem atraente e principalmente se ele precisasse tocar em mim, homens
ainda me assustavam em sua totalidade e ciente que ele fazia parte da família
em algum nível, me deixou ainda mais retraída.
Dante segurou a minha mão, percebendo a minha confusão e ficou
com um sorriso divertido.
— Ai!
— Então está doendo mais do que está me dizendo. — Dr. Ricci sorriu
torto.
— Não quero ficar aqui. — Eu odiava hospitais.
— Tudo bem, vou prescrever a sua medicação e se abrir, tiver qualquer
sangramento, febre, a região ficar quente, voltem imediatamente. — Escreveu
algumas coisas e destacou. — Meu número está no rodapé. — Entregou ao
Dante. — Melhoras. — Ele sorriu e saiu.
— Sua roupa estava toda suja de sangue, você pode colocar o meu
casaco e ficar com a sua calça.
Dante me ajudou com a roupa, foi meio complicado passar o braço na
manga do casaco e eu desisti, ficando apenas com ele dobrado dentro da
roupa. Minha calça de moletom estava nojenta, mas era melhor que sair
apenas de calcinha e eu não queria esperar ele ir em casa para buscar roupas
limpas. Saímos pelos fundos, minha cabeça estava meio pesada, mas não
reclamei. Ele parou em uma farmácia no caminho, ainda meio arisco, como
se fosse culpa de todo mundo que a Renata teve uma crise.
Segurei o saco da farmácia e ao chegarmos em casa, entramos pela
cozinha. A Sra. Caprese fez um pouco de alarde, querendo saber se eu
precisava comer alguma coisa, o meu estômago embrulhado acreditava que
comida era uma péssima ideia. Agradeci o seu carinho e o Dante me levou
para o elevador. Eu não precisava ver a minha mancha de sangue e não queria
encontrar com a Renata novamente.
— A porta está trancada, ok? — Ele garantiu.
— Pode me ajudar a tomar um banho? Você tem que sair logo?
— Não agora, eu te ajudo no banho.
O corte seguia dois dedos abaixo da minha axila até um dedo acima do
cotovelo. Dante tirou a minha roupa com cuidado enquanto a banheira
enchia. Minhas pernas e pés estavam manchados de sangue, então, eu queria
me esfregar e me sentir limpa. Com a minha mão boa, conseguia fazer
sozinha, mas ele parecia precisar lavar todo sangue. Sua expressão estava tão
carregada que eu não sabia o que dizer para confortar.
— Estou bem. — Garanti e ele só me olhou. — Não briga com a sua
família por isso.
— Eu sei que o que aconteceu com você foi ruim o suficiente, mas se
ela machucasse a Lisa? Se a minha irmã perdesse o bebê por isso?
Pensando por esse lado, ele tinha razão.
— Minha mãe está triste, ela estava chorando tanto quando cheguei na
clínica que eu pensei que você tinha morrido. Meu pai precisou me acalmar e
explicar. — Ele puxou o ralo para retirar a água suja e ligou o chuveirinho no
morno. — Ela deve estar dopada de remédios agora. O meu pai não
conseguia acalmá-la.
— E as suas irmãs? — Tentei prender o meu cabelo e não consegui.
— Devem estar bem. — Deu de ombros.
— Como será que a Renata está? — Mordi o lábio.
— Não sei e no momento, não quero saber. — Ele voltou a ficar
emburrado.
— Não foi culpa dela e sim da sua mente paranoica. A gente nunca vai
saber a profundidade da sua confusão mental. — Dei-lhe um beijo na
bochecha. — Obrigada pela sua ajuda. — Sorri e dei-lhe um beijo nos lábios.
Limpa, seca, com um sutiã e uma calça de pijama, me envolvi em um
roupão quando o pai dele avisou que estava subindo para me ver. Não
conseguia erguer o meu braço para vestir uma blusa. Era melhor ficar com o
meu braço encolhidinho, sem forçar esticar a pele, porque doía. Luigi não
estava sozinho. Ele subiu com as minhas cunhadas, seus maridos e a
Antonella. Dante estava emburrado e não fez a social.
— Ah, minha filha. — Antonella me abraçou.
— Ainda não consigo entender o que aconteceu. — Milena estava
quase chorando e pelo seu rosto inchado, não seria a primeira vez.
— Ela achou que eu era a Sienna. — Expliquei e o Dante me abraçou.
— Disse que me acolheu, cuidou de mim e no final, roubei o seu marido.
— Foi o surto mais intenso até agora e eu nunca pensei que ela
pudesse chegar a tanto. — Antonella secou o rosto. — Foi horrível.
— Ela precisa sair daqui, mãe. — Dante falou e eu o belisquei. Ele
ignorou. — Sei que nós somos a família dela, mas não podemos cuidar. Tem
que ficar em um lugar no qual tenha profissionais a monitorando o tempo
todo. Vai esperar que ela surte com a Lisa? Já imaginou se o bebê for um
gatilho para ela?
Pietro abraçou a Lisa de forma protetora.
— Eu sei. — Minha sogra chorou. — Seu pai e eu já vimos uma
clínica para colocá-la, embora isso me doa. Eu fico imaginando... Nicola
sempre foi muito na dele, mas ele jamais teria um caso com a Sienna. —
Colocou as mãos na cintura. — Ela é muito mais jovem e estava claramente
envolvida com o bebê pequeno, depois em ter uma carreira...
— Não quer dizer nada, mãe. — Milena comentou. — Eu teria ciúme
da conexão entre eles. Se o Elias arruma uma melhor amiga linda, mais
jovem, que o entendesse melhor do que eu poderia, isso iria me enlouquecer.
Somando com todos os problemas que eles tinham...
Olhei para o Dante e fiz um pequeno beicinho. Ele sabia o que eu
sentia sobre tudo aquilo. Ele fez que não com a cabeça, me dizendo que não
iria acontecer conosco e me deu um beijo. Aproveitou para dizer que eu
precisava tomar a medicação e descansar um pouco. Suas irmãs me deram
abraços, seu pai um beijo na testa e eles saíram com calma. Havia um clima
pesado, muitos sentimentos confusos e um pouco de culpa por parte de
todos.
Tomei a medicação, comi uma banana e fui para cama.
— Eu vou sair e volto em pouco tempo. Estarei em casa para o jantar e
passar a noite. Stefanio vai ficar no meu lugar agora que está mais
ambientado com o funcionamento aqui. — Me deu um beijo.
Não contei à Luna o que havia acontecido porque ela falaria com o
Enrico, ele iria explodir com o Dante, falando que não me protegeu direito e
isso atenuaria todo estresse e culpa que o Dante estava sentindo
desnecessariamente. Joguei conversa fora com ela e com algumas amigas
enquanto ainda não sentia sono, a dor latejante estava me deixando irritada e
quando diminuiu, fechei os olhos, tentando cochilar, mas parecia ser
impossível. Soltei um grunhido de frustração. Não tinha uma mísera posição
que eu conseguisse ficar sem que o meu braço doesse.
Acordada, era inevitável reviver tantas cenas, o passado se misturando
com o presente. As semelhanças da Renata com a minha mãe me assustavam
tanto. Sabia que era possível viver um amor, porque eu tinha exemplos de
casais que viviam um relacionamento lindo. Eu estava apaixonada pelo
Dante, era impossível esconder e mal conseguia conter os meus sentimentos
que borbulhavam a cada sorriso dele. Eu não podia terminar como a minha
mãe, obcecada e doente e muito menos como a Renata.
— Ei, você não conseguiu dormir? — Dante entrou no quarto devagar.
Rato sorrateiro não fazia um mísero barulho quando entrava.
— Não encontrei uma posição que não doesse. — Franzi o nariz. —
Não percebi que o tempo passou tão rápido. Estou sentindo cheiro de algo
bom, o que é?
— Trouxe o jantar.
— O que?
— Rolinhos primavera de legumes, lámen sem carne de porco e uma
porção de frango teriyaki para dividirmos. — Sorriu e ajoelhei na cama, feliz
pela comida. — Está com fome agora? — Me provocou e saí atrás dele. —
Eu vou arrumar a mesa para comermos melhor, então, fique quieta lá.
— Eu posso fazer as coisas com as mãos.
— Não quero que faça esforço, eu não confio nessa história de cola, só
autorizei porque você ficaria chateada com uma cicatriz. Quero que cure
direito. — Apontou para a cadeira, me sentei, confortável, porque a cadeira
era quase uma poltrona imperial. Era de veludo e acolchoada, não era um
problema esperar nela. — Eles tomaram cuidado em preparar os alimentos
nas chapas limpas e eu fiz com que preparassem a sopa em uma panela
totalmente limpa, sem nenhum contato com o que poderia te dar uma reação.
Ele deve ter ameaçado e assustado o dono do restaurante até o seu
último fio de cabelo. Dias atrás, os meus bolinhos vieram errado e o rapaz fez
questão de entregar um novo pedido. Tudo para não cair na lista negra do
Dante. Não duvidava nada que ele fez tudo muito fresco, não só pelo padrão
do restaurante, mas porque o meu marido era jovem e surtado. Enquanto ele
não vinha, quebrei o meu biscoito da sorte. A mensagem me fez sorrir:
“Deixe de lado as preocupações e seja feliz”.
20
Mia.
Ergui o meu braço diante do espelho e dei uma olhada na fina cicatriz
que decorava a minha pele. Já estava cicatrizada. Foi um processo chato, mas,
eu contei os dias até que tudo ficasse bem. Foi difícil dormir nas últimas
semanas, mesmo com o Dante passando a maior parte da noite apoiando o
meu corpo em uma posição confortável que conseguimos encontrar. Escovei
a minha franja e todo meu cabelo, olhando a minha sobrancelha, tirando
alguns fios que estavam crescendo fora do lugar.
— Cadê a minha mulher? — Dante entrou no quarto. — Oi, linda. —
Me deu um beijo na bochecha. — Feliz aniversário, baby.
— Obrigada.
— Como está se sentindo com dezenove anos?
— Com alguns fios brancos. — Brinquei, ele sorriu, me encarando
pelo espelho. — Tudo certo para mais tarde?
— Sim. Fiz as reservas em um bom restaurante e depois, vamos à
boate. — Beijou o meu pescoço e foi subindo as mãos por dentro da minha
blusa. — Ops, encontrei peitos.
— Bobo. — Recostei nele, sorrindo. Suas mãos estavam dentro da
minha camisa sem nenhum pudor. Ele riu e beliscou ambos os meus
mamilos. — O que é isso?
— Estou com saudades... — Falou baixinho e lambeu a pele sensível
do meu pescoço.
— Me perguntei quanto tempo você aguentaria.
— Estava sendo um marido enfermeiro. Até pensei em usar uma sunga
vermelha, um jaleco, um aparelho de pressão... — Balançou as sobrancelhas
e eu ri. — Você podia usar aquela fantasia de médica de novo e então,
faríamos a festa.
— Eu adoraria te ver de enfermeiro. — Virei-me de frente à ele. — E
adoraria mais ainda brincar de médico. — Dei uma bitoca em seus lábios. —
Obrigada por cuidar tão bem de mim nas últimas semanas.
— Não me agradeça por isso.
Passei os meus braços em seu pescoço e fiquei bem agarradinha,
começando a provocar o seu pescoço, subindo dando beijos molhados e
mordidas suaves, desci as minhas mãos e agarrei a sua bunda. Nos beijamos,
cheios de mãos bobas e ele estava duro contra mim, se esfregando, soltando
gemidinhos baixos e ergui a minha blusa, tirando, ele beijou um caminho
entre os meus seios, brincando com a língua em meus mamilos e gemi, doida
por mais. Abri o meu short, ele puxou para baixo junto com a calcinha e me
colocou sentada na pia.
Dante abriu as calças com pressa, com beijos sôfregos e um desejo
ardente, ele puxou as minhas pernas, pressionando seu pau na minha entrada
e me preenchendo. Soltei um gemido, necessitada e me inclinei para trás,
indo de encontro a ele, começando um ritmo muito gostoso em um sexo bem
desleixado no banheiro do nosso quarto. Gozei e gemi alto, ecoando por todo
ambiente e ele puxou fora, gozando na minha barriga.
— Isso é tão gostoso... — Ele sorriu do jeito que me deixava maluca.
— Você é tão gostosa e tão minha. — Me beijou.
— Olha quem fala... — Suspirei e passei a minha mão em seu cabelo.
— Senti falta disso, mas confesso que não estava com cabeça. Com o braço
doendo e com um pouco de chateação.
— Eu sei. Vem, eu vou limpar o que eu sujei.
O cabelo que arrumei ficou arruinado com o banho cheio de bagunça
com o Dante.
— Estou parecendo um rato afogado. — Reclamei ao ver o meu
cabelo.
— Desculpa. — Ele riu, secando o cabelo. Mordi o lábio para impedir
o sorriso e o observei andar nu pelo banheiro sem nenhum pudor. Às vezes,
era como se eu não pudesse desviar os olhos. Percebendo a minha atenção,
piscou e sorriu. Dante quase não ficava em casa, eu ainda conseguia me
distrair fazendo companhia para Lisa, que estava de repouso absoluto, ou
conversando com a Milena. Mesmo sabendo que eu ficaria muito solitária em
nossa casa, eu ainda queria a nossa privacidade.
Toda vez que a gente transava, eu tinha a sensação de que seus pais
conseguiam ouvir os meus gemidos ou a cama batendo contra parede. Nós
não fizemos sexo bruto e barulhento como fizemos na nossa lua de mel, eu
sabia que ele tinha noção que as paredes eram praticamente de papel. De vez
em quando, não queria sair da cama porque eu não tinha nada para fazer e eu
ficava preocupada que todo mundo pensasse que eu era antipática e não
queria socializar.
Dante saiu do banheiro, terminei de cuidar de mim, refazendo o meu
cabelo, a minha franja parecia que tinha tomado um choque elétrico. Não
abaixava de jeito nenhum e precisei prender com alguns grampos. Me enrolei
no roupão e vi que a cama estava cheia de embrulhos.
— É setembro e não estamos no natal. — Apontei para a cama.
— Sei disso, mas é o primeiro ano que estou autorizado a te dar
presentes.
— Você sempre pôde me dar presentes. Ano passado você me deu
ingressos para o show do Harry Styles e eu amei. — Me aproximei da cama e
abri o primeiro embrulho. — Claro... Esse tipo de presente só sendo o meu
marido. — Ergui a minúscula calcinha preta. — É para usar em público?
— Tenta a sorte. — Sorriu torto.
Dante me deu umas roupas sexy, um vestido azul muito lindo e até
decidi usá-lo à noite depois de experimentar. Era um Versace e ele me deu
um cartão com o trecho da música do Bruno Mars. Achei fofo que ele fez um
trocadilho com uma música que eu vivia ouvindo. O embrulho maior era uma
caixa que tinha uma batedeira planetária profissional que eu nunca me atentei
em comprar e milhares de utensílios de confeitaria, todos eles tinham o meu
nome no cabo.
— Isso aqui é incrível.
— Descobri um lugar que fazia essa personalização. Agora você tem
todo o equipamento de confeitaria para fazer os seus bolinhos.
— Obrigada, eu amei. — Beijei-o. Ele implicava com os meus
bolinhos só para me tirar do sério. — Eu amei cada um deles, mesmo as
calcinhas safadas e a fantasia.
— Eu sou incrível. — Riu e me agarrou. — É oficialmente o primeiro
ano que podemos comemorar nossos aniversários juntos. — Tirou um lenço
do bolso. — Tenho que colocar isso em você porque a Luna e o Enrico
mandaram algo. O presente da Giovanna chegou ontem, então a Lisa
guardou. Ela vai te dar lá embaixo.
Corri para me vestir. Escolhi um vestidinho rosa claro, era de um
tecido gostoso, com a saia leve que fazia um pequeno volume como se eu
fosse uma princesa. Era de alças finas e ia até os joelhos. As duas saias de
dentro eram brancas e eu me sentia uma rosa, com isso, prendi o meu cabelo
com um laço verde. Coloquei as minhas joias e passei uma maquiagem
básica porque o meu rosto estava todo vermelho da barba do Dante. Passei
perfume e ele estava jogado na poltrona do nosso quarto, me esperando.
— Estou curiosa, o que é?
— Vou ser bonzinho e te vendar apenas no elevador. — Sorriu torto,
empolgado.
Saímos de mãos dadas, chamamos o elevador e quando chegou,
tiramos uma foto antes de apertar para o térreo. Dante me vendou muito bem,
fiquei até com medo do meu rímel me borrar toda. Ele me puxou com
cuidado, podia ouvir a sua família ao nosso redor, provavelmente curiosos.
— Está preparada? — Dante estava na minha frente.
— Sim. — Sorri e ele tirou a venda. No pátio, estava um Porsche 911
branquinho. Era igual o que elas tinham na Itália e eu era apaixonada. — É
meu?
— Presente do Enrico e da Luna. — Dante sorriu. O carro tinha um
laço vermelho enorme. Empolgada, desci as escadas, passei a mão e olhei
tudo, entrando, ele estava me filmando o tempo todo e rindo das minhas
reações. Minha habilitação para dirigir estava “maluquinha” para ser
estreada. Eu tinha licença para dirigir em Londres, mas eu precisei fazer
novamente quando voltamos.
Pelo retrovisor, eu vi que mais um carro entrava e dessa vez era um
Jeep de luxo.
— Esse é meu. — Dante piscou.
Saí do carro e corri para o outro. Stefanio saiu e me deu um sorriso.
Pulei no lugar, olhando ao redor. Era prata escuro, muito bonito e bem
grande. Puxei o laço com um gritinho. Milena e a Lisa não paravam de rir,
duvidava que elas tiveram reações diferentes quando ganharam seus
primeiros carros de luxo. Encostei no capô e sinalizei com o meu indicador
para o Dante se aproximar. Ele veio, me abraçou.
— Tamanho não é documento. — Provoquei.
— Ah é sim. — Ele riu junto com seus cunhados, e eu fiquei vermelha
que o seu pai riu também. Milena e a Lisa só balançaram a cabeça, revirando
os olhos. — Ele queria te dar o seu primeiro carro e eu dei o segundo.
— Eu amei os dois. Tenho meu carro de passear e o meu carro de dona
de casa. — Sorri contra os seus lábios. — Obrigada, baby.
— Tudo por você.
Apesar de estar doida para sair com meus bebês imediatamente, eu
tinha que dar atenção à minha família. Ganhei abraços e beijos, com
presentes incríveis. Lisa me deu um par de sapatos maravilhosos que usaria
à noite para o meu jantar de aniversário. Reservamos um restaurante para
cinquenta convidados. Minha sogra convidou a maioria, Dante ficou com os
convidados da boate e eu chamei algumas pessoas legais que eu gostava.
Milena me deu um conjunto de joias delicadas muito lindas. Eu estava
apaixonada. Meus sogros disseram que me dariam o meu presente amanhã,
porque teríamos que ir a um lugar e estava muito curiosa. Ambos sorriram e
se recusaram a dar uma dica. Pelo sorriso do Dante, ele sabia o que era. Nós
almoçamos todos juntos, Miles preparou sanduíches, frutas e várias
bebidinhas coloridas com álcool.
Recebi buquês de flores. Damon me enviou um enorme, com um
cartão, Enzo me enviou um de rosas vermelhas e me chamou de Mamma Mia
, em letras minúsculas, bem pequenininho, como se no meio da mensagem de
aniversário estivesse sussurrando. Dante bufou ao ler e eu ri. Enzo fez para
implicar muito mais com o meu marido do que comigo. Ganhei um bolo em
formato do número dezenove da Sienna e do seu marido, Adam. Ainda não
conseguimos ir visitá-los e estava meio receosa depois de tudo o que
aconteceu com a Renata.
Cortei um pedaço do bolo, chegava a dar pena de comer, mas servi de
sobremesa e comi quase todas as frutas e macarons que o decoravam em
cima. Estava cheia, meio entupida de doces, mas me animei em sair para
escolher os móveis da casa nova. Tirei tudo o que estava na casa, alguns
móveis foram para a casa que o Stefanio estava vivendo, outros para a casa
de segurança e uns encontraram o caminho do lixo porque não dava para
aproveitar. Dante e eu queríamos nos mudar logo, não queria perder tempo.
Apesar de ter bebido um pouco, eu estava sóbria e estreei o Jeep
primeiro, porque iríamos comprar algumas coisas e precisávamos de espaço
para guardar na mala. Dante ficou ao meu lado, ele não deu pitaco na minha
direção, só não queria que eu colocasse a música tão alta e ficasse com o
banco na posição certa. Revirei os olhos para as suas instruções. Sua mãe
ficou rindo no banco de trás. Stefanio e o Felipe nos seguiam no carro logo
atrás.
Estacionei no espaço aberto da floricultura e o carro ficou todo torto
porque era grande demais.
— Vamos fazer umas aulas de baliza e de estacionamento de modo
geral. — Dante me provocou.
Dei a língua e segurei a sua mão. Escolhemos alguns vasos grandes
para a entrada, algumas mudas para o jardim e outras para dentro de casa.
Eles entregavam, o que era melhor ainda, ficou agendado para o dia seguinte.
De lá, eu optei que o Dante dirigisse porque pegaríamos uma via expressa
para irmos a uma loja de móveis de luxo.
Eu sabia que seria meio complicado escolher móveis com o Dante
junto com a mãe dele dando pitaco, mas eu estava indo no preço e na
qualidade, eu queria que os sofás, cadeiras e poltronas fossem confortáveis e
bonitas, não somente bonitas. Dante tinha as medidas da sala e o tamanho que
o sofá deveria ter. Ele olhou muitos, sentou, deitou e então se jogou em um
que era enorme e realmente muito bonito, parecia um sonho, mas ele custava
meio milhão de dólares.
— Isso é quase o valor da casa. — Não era, mas eu quis exemplificar.
— É maravilhoso. — Ele me puxou para o seu colo. — Imagina as
noites de filme e quantas coisas realmente pervertidas podemos fazer aqui?
— Cochichou. Sorri e perguntei a vendedora se tinha a cor que eu queria e
felizmente tinha, mas era três mil dólares a mais. Porra.
— Vamos levar. Quando entregam? — Dante parecia uma criança sem
controle.
Tivemos uma breve discussão sobre a mesa da sala de jantar, depois
sobre as poltronas, a única coisa que realmente nos entendemos foi a cama e
os móveis do nosso quarto. O maldoso estava escolhendo as coisas pensando
em posições sexuais e eu na decoração. Com todas as camas, móveis e
utensílios básicos encomendados, eu ia focar nas roupas de cama e toalhas.
Talvez no final do mês poderíamos nos mudar.
Voltamos para casa e tinha mais flores e presentes para abrir. Aquilo
era ser uma Biancchi. Minha sogra estava anotando o nome de todas as
pessoas para fazermos cartões de agradecimentos. Miles tinha mais bebidas
prontas, Milena colocou música no sistema central da casa, comecei a dançar,
rodando com o meu copo na mão, comemorando o meu aniversário do jeito
que eu realmente merecia.
Me arrumei para o meu jantar com o meu vestido lindo, azul e ele
brilhava em dourado como se fosse holográfico, quando eu mudava de
posição. Era de manga, com os ombros em brilho, um decote em V profundo
e a sorte que não tinha muito peito ou ficaria ainda mais chamativo que já
estava, como era todo justo, estava colado no corpo até o meio das coxas. Me
inclinei para passar o batom, Dante entrou no banheiro, parou e olhou para a
minha bunda.
— Estou vendo a sua calcinha. — Comentou e parou atrás de mim,
subindo as mãos por dentro do vestido. — Se você se inclinar assim na boate,
não serei o único a ver.
— Está ruim? — Não conseguia não ficar insegura.
— Está linda, baby. — Beijou o meu pescoço. — E você pode empinar
essa bunda para mim a noite toda. Eu realmente adoro. — Me pressionou e ri.
— Gosto quando usa salto... fica na altura certinha. — Segurou o meu
quadril.
— Sossega. — Bati nas suas mãos.
Terminei de me arrumar e me olhei no espelho. Inacreditável.
— Se você quer fotos, você tem que relaxar, deixar a timidez, você
está linda e gostosa. — Dante estava com o seu telefone. Ele me fez tirar
fotos em vários lugares e ficaram bonitas.
Ansiosa com a noite, saímos de casa, ele escolheu o seu Aston Martin
Vulcan para sairmos. Ele ganhou aquele carro no seu aniversário de dezoito
anos e era o seu bebê de estimação. Era potente e andava pelas ruas em uma
velocidade impressionante. Ele deixou o seu telefone tocando a playlist do
nosso casamento, sorri ao ouvir a música que dançamos e eu pensei que a
letra nunca fez tanto sentido. Não a escolhi, na época, por causa do
significado, apenas porque achava bonita. Dante provou ser o homem capaz
de passar por cima do meu passado e lidar com os meus traumas.
— Quer casar de novo?
— Não. Eu estava muito nervosa.
— Estava linda.
— Pelo menos dessa vez você teria uma noite de núpcias completa. —
Coloquei a minha mão em sua coxa e apertei. Ele sorriu, segurou minha mão
e beijou.
— Gostei das nossas núpcias. Se tivesse rolado naquela noite, seria um
desastre. Ainda bem que passamos a ponte da virgindade porque foi terrível
para mim te causar tanta dor. Não acho que seja uma coisa muito justa... —
Comentou. Dante era sensível para muitas coisas, mas eu não apontava esses
detalhes porque não queria que ele analisasse e se retraísse.
Eram muitas cobranças de postura para um homem da família.
Chegamos ao badalado The Dabney. Era um restaurante cinco estrelas,
com alguns pratos de luxo, mas todo atendimento e aparência era bem jovem.
Dante comprou o jantar ali duas vezes, estava apaixonada pelo peixe com
legumes grelhados, uma salada fresca que eles usavam um vinagre cítrico.
Era completo, de pratos simples de paladar comum à pratos mais elaborados,
por isso foi bem fácil o escolher para a reserva do meu aniversário.
A maioria dos convidados estavam espalhados entre as mesas. Como o
meu sogro queria esbanjar, um buffet foi contratado, mas todos os pedidos
dos convidados seriam pagos por ele. Dante achou uma palhaçada, uma
exibição de dinheiro sem medida, mas, eu não podia ignorar que meu sogro
era o chefe de D.C e comandava toda região, ele tinha que mostrar poder com
uma pitada de generosidade. Não discutimos quanto a isso, a palavra dele não
deixava de ser uma ordem só porque éramos uma família.
Recebi abraços e presentes, já não tinha mais mãos e palavras de
agradecimento.
Fiquei um pouco tensa quando os Bracci vieram me cumprimentar. Eu
não tinha nada contra o Romeo pai, que era conselheiro do meu sogro e a sua
esposa parecia ser o tipo muito quieta, submissa, sem erguer os olhos. Matteo
me deixava nervosa porque eu sabia que ele havia falhado no teste, mas o
Romeo... ele fazia com que os meus pelos se arrepiassem de medo.
Dante não permitiu que ele chegasse perto de mim, para o meu
alívio, mas a mulher do meu casamento estava com eles e o olhar dela para o
meu marido me deixou enciumada. Descobri que ela era sobrinha dos Bracci,
na verdade, sobrinha da esposa.
— Você já ficou com ela. — Comentei quando o Dante me puxou para
longe.
Ele respirou fundo.
— Sim, faz tempo. Foi antes do nosso noivado.
Então fazia tempo mesmo.
— Não quero que fale com ela. — Não me importava que estava sendo
infantil e ciumenta.
— Eu não vou. — Ele me deu um beijo. — Sua surpresa chegou.
Enzo e Juliana passaram pela porta do restaurante, sorri, feliz em vê-
los. Nova Iorque era perto, mas era uma viagem e eles não tinham obrigação
de aparecer no meu aniversário. Foi uma gentileza, uma demonstração
pública de aliança e apoio. Fora isso, eu estava feliz em ver pessoas que eu
sabia que gostavam de mim de verdade.
— Você está tão linda. — Juliana me segurou. — Me faz sentir velha,
pare com isso. — Brigou. — Cada dia que passa me orgulho mais da mulher
que está se tornando.
— Obrigada por vir.
A abracei bem apertado. Se não fosse por ela, nada teria mudado.
Juliana acreditou em mim. Se ela tivesse ignorado o meu apelo naquela noite,
o meu destino seria um totalmente diferente. Mesmo sendo doloroso, as
lembranças ainda me deixavam tonta, eu não conseguia ignorar que se os
meus pais ainda estivessem vivos, talvez eu não estivesse. Eu tinha muitos
motivos para comemorar mais um ano de vida.
21
Dante.
Mia estava dançando de maneira hipnotizante no meio da pista de
dança. Ela só foi dançar porque o DJ chamou todas as mulheres e pediu para
que os homens liberassem o espaço. Ela estava rebolando e rindo, rodopiou e
eu estava maravilhado do meu lugar. Mal conseguia desviar o olhar. Estava
debruçado na pista, sabia que ninguém iria tocar nela, porque além do Felipe
estar pronto para enfiar a porrada, era a sua festa de aniversário e todos que
estavam ali eram convidados.
Juliana e a Mia se abraçaram, rindo, alegrinhas, não paravam de pedir
bebida, eu não conseguia imaginar como estavam se equilibrando naqueles
saltos finos e porra, minha mulher estava tão gostosa naquele vestido curto,
brilhante, o sapato só deixou a suas pernas ainda mais torneadas. Aquilo tudo
de mulher era meu...
— Oi, babão. — Enzo debruçou-se ao meu lado. Ele me deu um copo
de uísque. — Estava conversando por aí. Parece que você tem assustado
algumas pessoas.
— Não sei do que está falando.
— Isso é bom. Mantenha seus homens leais. Eles precisam te temer
para te respeitar. — Ele deu um gole na sua bebida, olhando a Juliana dançar.
Mia estava dançando com a minha irmã. Meu cunhado, Elias, estava de olho
na Milena. Ele era muito ciumento. — Conversei com o seu pai, ele deve te
avisar isso amanhã, mas eu não quero mais que você faça serviços de batedor.
Stefanio está aqui para você fazer o que é necessário, você não vai dar conta
de tudo e vai falhar. Eu não quero que falhe. — Enzo agarrou o meu ombro.
— Entendeu?
— Sim, senhor. Eu não vou falhar. — Garanti preocupado em já ter
falhado. Stefanio poderia ter falado algo para o Enzo.
— Relaxa, seu pai precisava ouvir de mim que você cresceu. Tenha
paciência com o seu pai, ok?
Por algum motivo, eu senti que era algo além da família. Eu conhecia o
Enzo desde sempre, ele era amigo do meu irmão antes mesmo de se tornar o
chefe. Seu tom foi familiar e não uma ordem, tinha algo acontecendo que eu
não sabia, e isso me deixou tenso. Assenti, para mostrar que entendi e voltei a
olhar a Mia rindo e conversando com a minha irmã e a louca de pedra da
Cleo Vaughn.
— Você tem que priorizar o seu tempo com a Mia. Quando merdas
acontecerem, porque elas vão, ela vai ser a única pessoa ao seu lado. Não a
coloque em segundo plano.
— Estou tentando, mas a nossa vida é muito corrida, ela fica muito
sozinha com a minha família e me preocupo que ao nos mudarmos, ela vai
ficar isolada. Ao mesmo tempo, eu quero a privacidade da nossa casa e
construir a nossa vida. — Bebi todo meu uísque. — É foda .
— Você vai se encontrar e sinceramente, eu me casei e não tive
privacidade. Então, de todas as coisas, escolha sempre ter privacidade. — Ele
sorriu.
O DJ mandou que os homens invadissem a pista. Enzo e eu pulamos a
cerca, deixando os nossos copos para trás e avançamos com rapidez para as
nossas esposas. Mia soltou uma risada quando a agarrei, beijei o seu pescoço
e dancei contra ela. Agarrei o seu quadril, a provocando a dançar, ela virou de
frente, sorridente, se deixando levar pelo ritmo da música.
Nós passamos a maior parte da noite dançando e três da manhã, dei a
ela o meu terno e saímos pelos fundos da boate. Ela estava com fome e com
frio, parei em uma lanchonete que ficava aberta vinte e quatro horas por dia e
pedi um combo de café da manhã completo para viagem, ficamos no carro
esperando e ela não parecia estar com sono, pelo contrário, seus beijos eram
intensos e ao mesmo tempo que me beijava, colocou a sua coxa em cima da
minha. Enfiei a minha mão por dentro do seu vestido, apertando a sua bunda
e observei o garçom trazer as nossas sacolas.
Mia se ajeitou no lugar, enquanto dirigia para casa, foi comendo
bacon, batata frita e me dando alguns pedaços generosos enquanto bebia o
seu milk-shake de morango. Estacionei em casa, na garagem e saí do carro e
fui ajudá-la. Andamos em silêncio para não acordar os meus pais. Os sons de
gemidos vindos da ala da Milena me fizeram rir. Mia enfiou um monte de
batata na boca, rindo e entramos em nossa ala. Faltava pouco para não ouvir a
minha irmã transando. Queria lavar o meu cérebro.
— Preciso tomar um banho. Estou gosmenta de suor. — Ela foi para o
nosso quarto. Dei privacidade para o seu banho e arrumei toda a comida na
mesa. O milk-shake da Mia era muito doce, puta merda, não conseguia beber
aquilo. Servi vinho na taça e esperei que saísse do banheiro para o closet para
tomar um banho rápido. Ao sair, ela estava usando a camisola preta, pequena
e sexy que lhe dei mais cedo. — Que tal? — Segurou a taça e deu um gole.
— Tenho um excelente gosto de roupas para você, baby. — Me
aproximei dela e passei a mão no tecido. — Ficou muito bom em você. O que
não ficaria? — Dei um tapão em sua bunda. — Acho que a história de dar de
quatro é verdade. Sua bunda não para de crescer.
— Dante! — Ela gritou e me mordeu. — Eu nunca mais vou ficar
nessa posição na minha vida. — Bateu em mim e ri. — Não tem perdão.
— Ah, baby. — Soltei uma risada com a maneira que ela estava puta.
— Foi um elogio legal. Sabe que amo a sua bunda. — Abaixei e dei uma
mordida em sua nádega. — Ela é perfeita.
— Minha bunda está cheia dos doces que você vive reclamando que
estou comendo.
— Então continue. — Dei outro tapa, ela acertou a minha cabeça, me
fazendo rir.
— Idiota. — Me deu um beijo. Ela comeu o seu lanche, bebendo o
meu vinho e o seu milk-shake. — Estou finalmente satisfeita. — Foi até a
geladeira, abriu e soltou um gritinho ao ver o bolo do seu aniversário ali. —
Meu café da manhã vai ser incrível... Seria, se o meu marido não tivesse
bebido todas as latas de refrigerante.
— Você deveria beber menos refrigerante e mais água.
Mia revirou os olhos teatralmente e foi para o quarto, batendo o pé e eu
segui, rindo. Fechei a porta do nosso quarto e apaguei as luzes. Avancei para
cima dela, rindo e beijei a sua boca, finalizando a comemoração apropriada
do seu aniversário. Foi difícil sair da cama no dia seguinte, ela estava
agarrada em mim, quentinha e nua. Seus lábios estavam inchados da nossa
noite intensa e seus mamilos intumescidos. Tirei o seu cabelo cacheado do
rosto, dormiu molhado e secou naturalmente. Ela ficava tão bonita com os
cabelos cheios e formando lindos cachos emoldurando o seu rosto.
Beijei o seu rosto, os seus lábios, ela abriu os olhos e me deu um
sorriso.
— Bom dia, linda. — Ela sorriu, sonolenta e beijei os seus lábios.
Abracei a, escondendo o meu rosto em seu pescoço, dei um beijo barulhento
ali. Mia riu ainda mais, ficamos na cama, aos beijos, rolando por baixo do
edredom. Meu telefone começou a tocar.
— Não... Fica aqui. — Me prendeu com as pernas. Meu pau estava
aninhado em um lugar muito bom para sair. — Ah, isso... — Gemeu e me
beijou.
Sexo matinal definitivamente era o meu tipo favorito. Eu pensei que
acordar todos os dias com a mesma pessoa deveria ser um saco. Imaginava
que um dia, acordar com o outro seria um completo estresse. Ainda ficamos
na cama, pedi que a Sra. Caprese subisse com algumas latas de refrigerante e
deixasse na cozinha. Mia ficou deitada em cima de mim, quieta e acariciei as
suas costas. Recebi a mensagem que o buquê que encomendei chegou junto
com mais um presente.
Saímos da cama, ela se enrolou no roupão, vesti uma calça de pijama,
indo para a sala que era dividida com a cozinha. Mia pegou o bolo na
geladeira e gelo para beber com a Coca-Cola. Cortou os pedaços e me deu
um beijo pelo buquê de rosas vermelhas. Sua boca estava cheia de bolo de
chocolate, eu não entendia o quanto ela gostava daquilo.
— É isso que faz a sua bunda crescer.
— Eu vou te matar. — Avisou e eu ri, disposto a passar o dia inteiro
enchendo o saco.
— Não vai, porque amo a sua bunda. — Puxei-a para sentar em meu
colo. — Gostosa. — Beijei a sua boca. Apertei a sua bunda, puxando a para
frente e ela soltou um gemido. — Eu fico assim por você e ninguém mais. —
Abri o seu roupão e chupei o seu mamilo.
— Dante... — Gemeu e puxou o meu cabelo. — Baby... — Sorriu e
pulou quando a campainha tocou. — Que diabos?
— É a campainha que deveria ser tocada, mas a minha família é do
tipo que abre sem bater. Eu bloqueei a porta ontem à noite, não queria correr
o risco que ninguém me visse tão enterrado dentro de você como eu estava
ontem. — Balancei as sobrancelhas.
— Idiota. Eu vou ver quem é. — Fechou o seu roupão e peguei uma
almofada para esconder o volume da minha calça. — Oi, entra. Estamos
comendo agora...
— Eu vim ver se ainda tinha bolo. — Lisa desfilou para dentro,
acariciando a sua barriga. — Eu sonhei com ele e quase fiz o Pietro vir aqui
buscar de madrugada.
— Ia ser difícil me tirar de onde eu estava. — Murmurei. Minha irmã
revirou os olhos e a Mia bateu na minha cabeça. Eu ri e servi bolo para minha
irmã. Não levou dois minutos para Milena entrar atrás de bolo, logo as três
estavam falando sem parar. Eu adorava todas elas, mas era um assunto
feminino que não me interessava.
Eu tinha mais o que fazer no dia, pedi licença, me vesti e saí para dar
uma olhada na contabilidade da noite.
Encontrei com o meu cunhado, Pietro, no escritório, analisando a
sua parte e deixei que terminasse para poder olhar o balanço completo.
Enquanto esperava, tive uma breve reunião com o meu pai. Meu velho estava
fumando, quis jogar o seu cigarro longe, aquela merda me irritava. Já estava
cansado de discutir com ele sobre isso. Ele falou sobre tirar as minhas
funções de batedor, passando para outro soldado e eu ficaria apenas com as
minhas novas funções, o que me daria mais tempo de estar em casa para ver a
Mia.
A contabilidade era a pior parte, nenhum número podia estar errado e
eu perdia horas naquela merda. Meu pai gostava de fazer as coisas do jeito
antigo, como os nossos negócios não eram legais, não podiam ter muitos
rastros e eu tomava cuidado em limpar todo dinheiro antes de enviar para
uso. Mia me enviou uma mensagem, usando um vestidinho branco e
segurando as rosas que lhe dei, dizendo que ia espalhar pelo nosso quarto. Ela
ia sozinha olhar a nossa casa, que estava ficando muito bonita e eu estava
ansioso para me mudar. Ia passar uma semana andando nu.
— Dante? — Elias bateu na porta da minha nova sala. — Estou com a
minha parte.
— Deixe aí, já vou dar uma olhada. — Apontei para a mesa, sem
querer tirar a minha atenção dos cálculos, mas de alguma maneira, percebi
que ele queria falar. — O que foi?
— Cara, eu estou preocupado. Ontem eu vi o Romeo fotografar a Mia.
Eu não tenho certeza, mas eu vi o telefone dele na direção dela mais de uma
vez. Eu estava observando porque a Milena estava com ela... Quando a Milly
veio para o meu lado, ele continuou fazendo.
— Vou dar uma olhada. — Bati com a minha caneta na mesa. — Não
gosto do que essa porra tá me cheirando.
— Eu também não. Ele é um sorrateiro, não sei qual é a dele, mas,
vamos ficar de olho.
Assenti e ele saiu. O que o Pietro tinha de desatento, o Elias tinha de
atento demais. Precisava de ajuda. Enviei uma mensagem para o Stefanio me
encontrar no escritório, ele saberia como hackear a nuvem do telefone do
Romeo, se eu encontrasse fotos da Mia lá, ele seria morto hoje mesmo. Não
iria dar espaço para um motim, uma traição ou que um idiota colocasse a
minha mulher ou o meu casamento em risco.
Esperei o Stefanio digitar silenciosamente no seu computador.
— Achou alguma coisa?
— Achei muita coisa, Dante. — Ele analisou e me deu um olhar. —
Tem fotos suas, mensagens comprometedoras com uma prima, fotos da Mia e
muitas mensagens dúbias que eu entendo como traição. — Arqueou a
sobrancelha e me entregou o seu notebook. — Como quer proceder?
— Acusação formal de traição e vou fazer o meu pai bater o martelo,
ou ele vai sofrer um misterioso acidente. Eu não quero saber de política. —
Analisei. — Vamos vigiá-lo de perto.
— Instalei um guardião no telefone dele, terei acesso a todas as suas
mensagens. — Stefanio explicou e assenti.
— Vou ficar mais próximo da Mia, eu não confio em ninguém para
protegê-la até que isso se resolva.
— Se existir uma sala em sua casa, podemos trabalhar de lá. Eu posso
instalar um sistema seguro, assim poderá fazer os livros e a contabilidade.
— Certo, vamos fazer isso. — Determinei.
Stefanio saiu para arrumar as suas coisas, liguei para minha mãe,
pedindo uma das salas, ela imediatamente liberou, dizendo que levaria os
móveis da biblioteca para lá. Avisei aos meus cunhados que trabalharíamos
de casa, não expliquei, eles não pediram explicação e rapidamente arrumaram
tudo que era necessário para levar. Liguei para o meu pai, avisando que
precisava conversar com ele assim que chegasse em casa, mas para minha
infelicidade, ele tinha uma reunião com o Bracci e me chamaria depois.
Enzo me ligou, provavelmente Stefanio falou com ele sobre instalar
uma rede segura na minha casa. Essa autorização partia sempre dele ou do
Damon. Enquanto dirigia, ele lia as mensagens e refletia as possibilidades.
— Estou na dúvida se esse M que ele fala é um Mendez, uma famosa
gangue no sul da Virgínia.
— Já ouvi falar. Seu irmão manteve as coisas sob controle com eles.
— Não são irritantes, ficam na deles e sempre pedem permissão ao
passar por aqui ou se algo vai acontecer aqui. Soube que o líder morreu de
velhice mesmo e um novo assumiu. Ou pode ser Mortrix. Ele é da Bratva
local. As duas opções me soam terrivelmente ruins.
— Você dormiu com uma garota da família, Dante?
— Ela não é da família e eu não fui o primeiro a passear por ali.
— Ele fala sobre estar quase convencendo o pai a pedir uma pensão,
ele pretende te acusar de romper a inocência da sua prima.
— Ela é sobrinha da esposa dele, não faz parte dos negócios e
definitivamente não foi um caso de romper a inocência. Ela rompeu a minha.
— Murmurei. Enzo soltou uma gargalhada. — Nada contra, foi uma ficada
consentida, eu não forcei a barra, ela queria, topei, transamos e acabou ali. Ao
chegar em casa, minha mãe disse que marcou o meu noivado e eu me afastei
das mulheres desde então.
— Certo. Eu sou extremamente a favor de vigiar, manter a rédea curta
nos próximos dias e ver até onde ele vai. Pelo menos descobrir se ele está
trabalhando para os cubanos ou para os russos. Se ele está desviando as
minhas drogas, quero saber para quem. — Enzo determinou. — Vamos nos
falando.
Mia estava entrando em casa no momento que virei a rua. Ela parou o
carro, toda atrapalhada, dei a volta por ela, usando a minha tag. Ela buzinou e
entrou. Felipe estava de moto ao seu lado.
— Não sei porque o portão está com problema em ler a tag da moto.
— Felipe estava franzindo o cenho. Ele tirou e ficou testando o sensor.
Um dos guardas se aproximou e disse que as novas estavam com
falhas e que o meu pai já tinha chamado a empresa para verificar.
— Fique em cima, não quero ninguém estranho circulando pela
propriedade e pergunte absolutamente tudo. — Determinei ao Felipe. Ele
assentiu e andei até a Mia. Ela estava cheia de sacolas no banco de trás do
Jeep, olhei para a sua bunda em um short jeans, usava uma camisetinha azul e
tênis brancos. — Oi, linda. Passeando por aí?
— Fui comprar algumas coisas, cada hora que sento para analisar, vejo
que está faltando alguma coisa e também comprei coisas de papelaria. —
Seus olhos estavam brilhando. — Seus pais me deram um mês de curso com
o melhor chef da cidade. Eu fui ao restaurante agora, é lindo e as minhas
aulas irão começar semana que vem, todos os dias de manhã e ele disse que
se você quiser me acompanhar em algumas aulas, não tem problema. Eu não
disse nada porque sei que você é bem ocupado. — Tagarelou. Sorri para sua
felicidade. Beijei a sua boca macia, feliz por ela.
— Vem, eu vou te ajudar a subir com essas coisas. — Peguei as
sacolas mais pesadas.
Subimos para o nosso lado da casa e deixei as coisas dentro do quarto
onde estava tudo que iria para casa nova. Mia estava começando a desmontar
nosso armário, como ela tinha mais roupas que uma loja de departamento, ia
levar um tempo.
— Por que tem tantos carros chegando? — Mia perguntou da janela da
sala.
— Vou trabalhar em casa nas próximas semanas, isso significa que os
meus cunhados também, então nossos homens precisam estar perto.
Minha mãe devia estar maluca com a Sra. Caprese para organizar
almoço para todos. Meus pais faziam questão de alimentar toda propriedade.
Mia assentiu e se aproximou, eu podia ver o seu olhar quase histérico por ter
tantos homens ao redor. Às vezes eu achava que ela tinha evoluído nesse
sentido, mas aí eu percebia que o fato de ela ter relaxado comigo não
significava que ela confiava nos homens de modo geral. Duvidava que ela
fosse colocar o pé no jardim, só para não ter que encontrar com um guarda
fazendo ronda.
— Sabe o que isso significa? — Olhei em seus olhos, tentando conter
o meu sorriso.
— Tem algum problema acontecendo? — Mia era esperta.
— Talvez, mas não é isso que significa.
— Então o que significa? — Ela era adorável confusa e preocupada,
sem captar a maldade no meu tom de voz. Ninguém podia me culpar por
pensar com o meu pau. Cochichei algo realmente sujo em seu ouvido, ela
ficou vermelha. — Dante, nossa!
— Vamos começar agora... cadê aquele lubrificante?
— Para de bobeira. Estou com fome, vou fazer um sanduíche. — Se
afastou até a cozinha. Ela não me respondeu. — Vai querer?
— Está mudando de assunto?
— Não. Estou te ignorando, são coisas diferentes. — Sorriu e eu quis
beijá-la. — Não vamos transar com milhares de pessoas pela casa. Se alguém
passar aqui no corredor para ir à sacada e nos ouvir transando?
— Não deveriam, esse andar é meu.
— Nada disso, quando usamos a escada, ouvimos a sua irmã transar,
então, pode acontecer com qualquer um. Com a casa lotada, nós não vamos
fazer isso.
— O que? — Quase gritei.
— Não de dia, pelo menos e a noite, só se for bem silencioso.
— Foda-se, vamos nos mudar hoje. — Me aproximei e ela riu.
— Não. Nosso quarto ainda está sendo pintado e a cama não chegou,
esses móveis são dos seus pais e não nossos, então, sossega. — Brigou
comigo e fiz um beicinho. — Vem comer, eu vou fazer o queijo quente que
você gosta. — Sorriu e pelo menos uma coisa boa em estar em casa de dia. A
comida da Mia.
22
Mia.
— Nem um beijinho mais quente? — Dante ainda estava
inconformado com a regra de não fazer sexo durante o dia. — Poxa. — Ele
choramingou e tentou me beijar. Um beijo e eu era vendida, então, fugi dele.
— Não, vai trabalhar. — Apontei para porta, e ele foi, com um
beicinho e eu ri, doida para pular nele, mas eu não podia contar quantas
pessoas estavam circulando pela casa. Ninguém precisava ouvir os meus
gemidos. Tranquei a porta, comecei a lavar louça ouvindo música e fui para a
minha tarefa interminável de começar a empacotar as nossas roupas.
Luna me ligou em chamada de vídeo, querendo saber tudo sobre o meu
aniversário e foi uma distração falar da minha festa enquanto ficava sentada
no chão, dobrando roupas e eu reparei que não tinha absolutamente nada que
era do meu antigo quarto. Nós falamos sobre isso, de não termos boas
lembranças da nossa infância, e eu pensei em todas as festas que o meu pai
ostentava com presentes, e a minha mãe os tomava dias depois. Ela fazia
questão de não dar nada a Luna, me fazia fotografar com os presentes e tirar
em seguida.
— Giovanna acha que a minha tendência em dar presentes para as
crianças têm tudo a ver com a minha infância. Eu estava em cólicas até
receber o vídeo que recebeu o carro. — Luna comentou, e sorri, agradecendo
mil vezes. — Dante tinha que dar o outro carro ontem? Eu briguei com o
Enrico. Eles não podem ficar nessa competição porque daqui a pouco o
Enrico vai te dar um Boeing.
Soltei uma risada.
— Dante é bobo. Ele adora implicar com o Enrico.
— Eu sei disso, meu marido cai na pilha muito fácil, todo mundo sabe
disso e ele não aprende. Damon e ele brigam o dia inteiro. — Revirou os
olhos.
Luna precisou desligar depois de alguns minutos, coloquei música e
estava cansada. Dormi pouco, minhas coxas doíam por causa do salto, de
dançar e ficar muito tempo em pé. Terminei um lado do armário e fechei a
caixa, etiquetando e carreguei com dificuldade para o quarto onde todas as
coisas da mudança estavam armazenadas. Eu teria um trabalho infernal para
arrumar tudo. Minha sogra ainda achava que eu tinha que lavar todas as
roupas de cama, toalhas de banho e cozinha antes de usar. Ela tinha razão, só
me dava preguiça pensar em fazer isso.
Meu telefone estava acabando a bateria, saber que o Dante estava em
algum lugar da casa, me dava menos ansiedade do que vê-lo correndo por aí.
Como ele estava em casa depois de semanas, eu não precisava jantar sozinha
ou com os pais dele, empolgada, até senti vontade de preparar o jantar.
Escolhi fazer filés pela primeira vez e esperava que ficassem bons. Segui um
tutorial em vídeo, preparando uma salada de legumes grelhados, escolhi o
vinho e logo a cozinha estava com um cheiro divino.
Quando ficou pronto, eu não podia acreditar que preparei o jantar. A
Luna sempre foi boa em cozinhar, ela me ensinou algumas coisas, mas a
minha paixão estava na confeitaria. Costumava preparar pratos simples, fazer
filés era uma arte para entender o ponto da carne e o molho perfeito.
Estava me sentindo muito a esposinha perfeita, era até engraçado, me
servi com vinho e preparei um banho gostoso porque eu merecia. Enquanto
estava enfiada na banheira, bebendo meu vinho, enviei uma mensagem para
ele, sondando o seu tempo, e ele disse que subiria em meia hora, que estava
terminando de treinar com o Stefanio e os seus cunhados, não sairia mais
porque o Stefanio que iria para as boates essa noite. Sorri, satisfeita e não
falei mais nada.
Terminei o meu banho e vesti um conjunto de pijama confortável, ele
teve as cotas de roupas sexy, e eu não estava com saco para ficar com renda
fazendo a minha pele coçar.
— Eu não sei o que quero primeiro. — Pulei de susto, filho da mãe! —
Oi, baby. Eu tentei fazer barulho. — Sorriu, e eu sabia que era mentira.
Sorrateiro. — Como eu ia dizendo, não sei o que quero comer primeiro, você
ou o filé.
— Imbecil. — Bati em sua nuca. Ele tentou me pegar no corredor, mas
eu corri e pulei no sofá, jogando uma almofada nele. — Não, se afasta.
— Decidi te comer antes. — Ele estava rindo feito um diabinho.
— Dante! Não! — Não conseguia parar de rir. Corri pela cozinha, dei
a volta na sala, derrubei algumas cadeiras para impedir, mas ele tinha um
reflexo rápido e pulava. Derrapei no corredor, sem saber para onde ir e entrei
no quarto. Ficamos cercando uma poltrona. Ele estava concentrado, corri para
o lado, ele me pegou e me jogou na cama. Gritei com a primeira mordida em
minha barriga, o ataque dos seus dedos era cruel, assim como os seus dentes.
— Não seja mal.
— Eu disse que queria te comer. — Me virou de bruços e deu uma
mordida na minha bunda.
— Ai, isso doeu! — Gritei, e ele massageou onde mordeu, puxando
meu short para baixo, expondo a minha bunda como se não fosse nada
demais e deu um beijo barulhento. — Dante!
— Oi, gostosa. — Me virou na cama e debruçou por cima de mim, me
dando um beijo gostoso. Ele estava todo molhado. — Não tinha toalha no
vestiário lá embaixo e eu me sequei só nessa correria.
— Você precisa de outro banho, que cheiro é esse?
— Sabonete de erva doce, ajuda a acalmar a pele, segundo a doida da
minha mãe.
— Sua mãe não é doida, mas eu prefiro o cheiro do seu sabonete. Vá
tomar um banho direito, e eu vou arrumar o nosso jantar. — Beijei os seus
lábios e saí da cama.
Arrumei a mesa com um jogo preto e branco bem bonito, os filés e os
legumes na travessa cinza escura, com salada verde que já tinha pronta na
geladeira. Cortei um pão australiano que comprei e ia acabar estragando,
umas fatias de queijo, salame, presunto de parma e vinho. Tirei uma foto e
enviei para a Luna “meu jantar adulto”. Ela estava brigando comigo sobre a
quantidade de porcaria e fast food que estava comendo nas últimas semanas.
Decidi parar porque reconheci que estava demais.
Tirei uma foto mais elaborada e postei no meu stories, eu parei de
compartilhar muito, apenas coisas aleatórias como as minhas unhas feitas,
arrumação do closet, algumas dicas bobas e fotos que não tinham muito
sentimento ou coisa do tipo.
Dante apareceu sacudindo o cabelo como se fosse um cachorro. Ele
pendurou a toalha no ombro, puxou uma cadeira para mim como um perfeito
homem educado. Ele ocupou a cabeceira, colocou música para tocar e ele
sempre escolhia músicas que me faziam pensar em sexo, ou a minha mente
estava ficando cada segundo mais poluída, porque eu pensava em sexo o
tempo todo.
— Mia... Se não desse tanto trabalho, você deveria abrir um
restaurante. Esse molho está muito bom. — Dante passou a carne na travessa,
comendo o seu último pedaço. Não satisfeito, ficou molhando pedaços de pão
ali, comendo com queijo. — Sei que cozinhar de modo geral não é difícil,
mas fazer uma boa comida assim é um dom. A minha comida é comestível,
minha mãe até que faz umas coisas boas, outras ela não acerta nem por um
decreto, mas você consegue fazer tudo gostoso. — Fiquei toda vermelha com
o seu elogio. — Estava preocupado porque se você não cozinhasse, eu teria
que fazer e a minha comida é tolerável para quem está morrendo de fome.
— Eu gosto do seu macarrão, mas o seu molho é meio picante. Você
coloca pimenta até no sanduíche, eu fico toda suada e com os lábios ardendo.
Dante abriu um sorriso lentamente.
— Posso te deixar toda suada e com os outros lábios...
— Caramba, garoto! Você é incorrigível. — Soltei uma risada e peguei
os nossos pratos. Todo vinho me deu um pouco de calor, lavei a louça com a
água morninha, guardei tudo, limpando o balcão e a mesa, e ele colocou um
cesto de roupas dele para lavar. — Dante! Não mistura as blusas! — Vi umas
peças coloridas.
— São só cuecas. — Ele resmungou.
— Vai ficar usando cuecas manchadas? — Coloquei as minhas mãos
na cintura.
— Só comprar novas.
Respirei fundo e tomei o cesto da mão dele. O bonito estava quase
saindo da lavandeira, achando que eu ia lavar as roupas, mas o puxei pela
cueca e soltei com um estalo doloroso.
— Esmagou as minhas bolas, obrigado. — Bufou, e o olhei bem brava.
Ensinei ele a lavar a roupa corretamente. Aprendi a lavar roupa ainda
pequena, a Luna me ensinou, ela me disse que um dia teria a minha própria
casa e precisava saber me virar sozinha. Engraçado que a Luna nunca se
referiu em cuidar de um marido, mas sim de cuidar de mim mesma. — Viu
só, lindo. Roupas lavadinhas.
Conviver com o Dante não era difícil. Setembro não foi um mês difícil,
convivemos muito bem, ficamos juntos em seu tempo livre, e ele teve muito
trabalho, mas não estava correndo por todo lado como no começo. Algumas
noites eu o acompanhei nas boates, e ele tentou estar presente na mudança, na
entrega dos móveis e nos acertos finais da nossa casa. Contei com a ajuda das
minhas cunhadas e sogra.
— Uau, Mia. Sua casa é perfeita. — Milena olhou ao redor. Nós
deixamos tudo pronto, levou tanto tempo que parecia surreal que já estava
pronto. — A decoração é fofa e jovem, bem a cara de vocês.
— Obrigada por toda ajuda. — Me joguei no sofá de quinhentos mil
dólares, exausta.
— Mal vejo a hora de me mudar, mas o Pietro quer a casa do nosso
jeito, estamos investindo muito nisso, e eu quero passar os primeiros meses
do bebê com a mamãe. — Lisa comentou.
— Elias e eu estamos procurando a casa perfeita, sinto que tudo está
melhor agora e podemos sair, viver as nossas vidas. Sei que a mamãe vai
enlouquecer, mas eu preciso de privacidade com o meu marido.
— Ou de paredes com aquele abafador de som. — Brinquei
timidamente.
Lisa soltou uma gargalhada, e eu cobri o meu rosto com uma almofada
enquanto a Milena me batia com outra. Antonella entrou na sala quando nós
estávamos rindo histericamente. Oficialmente mudada, até o meu closet
estava arrumado e a ala na casa dos pais do Dante completamente vazia. Até
a comida nós trouxemos. Seria a primeira noite que dormiria na casa nova e
seria sozinha, já que o Dante estava em Nova Iorque com o Stefanio em uma
reunião com o Enzo.
Alguma coisa estava acontecendo e eu não sabia. Dante desconversava
toda vez que perguntava diretamente, isso estava me irritando muito. Escolhi
não brigar enquanto precisava concentrar as minhas energias na mudança,
agora, a minha mente podia focar apenas nisso.
— Senhoras, eu vou levá-las para jantar. Nós merecemos uma boa
comida. — Me levantei, e todas se empolgaram. Peguei a minha bolsa e
avisei o Felipe que iríamos sair.
Fiquei no banco da frente do meu Jeep, ele no volante e as três atrás.
Estávamos sendo seguidas pelos guardas de cada uma em outro carro. Lisa
escolheu uma hamburgueria artesanal e como ela estava grávida, nós não
discutimos. Ninguém queria ficar mal com ela. Tirei foto do meu hambúrguer
monstro e mandei para o Dante, mas ele não estava online há um tempo e não
tinha visualizado nenhuma das minhas mensagens anteriores.
Felipe dirigiu até a casa dos meus sogros, e quase fiquei lá para dormir,
mas eu tinha que ser uma menina grande e fui embora para casa com ele.
— Obrigada, Felipe. Tenha uma boa noite. — Saí do carro com a
minha bolsa. O quintal estava iluminado, tinha dois guardas na casa de
segurança, sensores de movimento em toda propriedade. — Você pode deixar
todas as luzes dos jardins acesas? Não temos vizinhos, acho que não vai
incomodar a ninguém.
— Claro, elas ficarão acesas. Boa noite, senhora. — Ele saiu em
direção a casa.
Entrei pela cozinha, pendurei a chave, abri o painel do alarme e
acionei, trancando as portas e janelas porque estava bem tarde. Peguei uma
garrafa de água, olhando os móveis e pensando em todos os dispositivos que
o Dante colocou para que as armas escondidas não fossem encontradas por
detectores. Ele passou uma semana abrindo os móveis, criando fundo falso e
eu gostei de vê-lo com um cinto de ferramentas, jeans e sem camisa. Ele disse
que o seu irmão o ensinou a fazer aquilo e para ele, era meio agridoce estar
vivendo tudo isso porque o seu irmão morreu.
Desliguei a luz da cozinha, deixei a do corredor acesa e subi a escada.
A casa era maior do que um dia sonhei viver, mas era linda e cada cantinho
estava bonito e aconchegante. Entrei em meu quarto, acendi a luz, deixei a
minha bolsa em cima do aparador e fui tirando a minha roupa. Estava
fedendo a gordura e batata frita, então, um banho era muito necessário antes
de deitar na minha cama com a roupa de cama limpinha. Tomei banho, me
hidratei, me enchi de perfume e desfiz a cama.
A tela do meu telefone acendeu com uma mensagem, peguei
empolgada achando ser o Dante, era apenas Antonella querendo saber se eu
estava bem. Desejei boa noite, deixei a luz do banheiro acesa e a porta
entreaberta, para não ficar na escuridão total. Foi inevitável não sentir a
ausência do Dante, mesmo que ele normalmente só deitasse na cama no meio
da madrugada, eu o sentia sempre, ganhava beijos e abraços quentinhos.
Abracei o seu travesseiro e fechei os olhos, adormecendo.
— Ei, ladra de travesseiro. — Dante sussurrou e abri os olhos, confusa
de sono. — Cheguei, baby. — Beijou a minha bochecha. Ele estava debaixo
das cobertas, senti as suas pernas nuas, soltei o travesseiro e o abracei quase
que imediatamente. — Ei, que saudade.
— Que horas são?
— Três e meia. Nós viemos dirigindo, saí de lá logo que a reunião
acabou. Cheguei, tomei um banho lá embaixo para não te acordar, mas você
estava com o meu travesseiro. — Explicou, e beijei os seus lábios, sem
querer mais conversar. — Hum... Você me quer, baby?
— Sim, estou com saudades de você.
— Temos que batizar a cama...
— E toda casa. — Falei contra os seus lábios.
— Porra... — Ele gemeu com a ondulação do meu quadril. Me
esfreguei nele de novo, chupando o seu pescoço, deixando marca, e ele nos
rolou pela cama, fiquei por cima, tirei a minha camisola, jogando longe, e ele
agarrou os meus seios, beliscando os meus mamilos, e rebolei contra ele. —
Dio , Mia. Eu vou viajar mais vezes. — Sorriu, e o beijei.
Gostava de ficar por cima, me sentia poderosa, ele ficava maluco e
gozava gostoso. Se eu pudesse, filmava a sua reação. Cada vez que a gente
transava, me soltava um pouco mais e aprendia um pouco a mecânica do
sexo, do relacionamento a dois e me sentia ainda mais conectada a ele. Nós
dois não éramos totalmente experientes, mas estávamos nos empenhando
para a intimidade ficar ainda melhor.
De manhã cedo, deitei-me suada na cama, ainda sem roupa, e ele
estava com um olhar divertido, brilhando e sorriu, beijando-me com um
sorrisinho bonito.
— Que noite gostosa... — Beijou o meu pescoço suado. — Adoro seu
cheiro com sexo. É o melhor perfume de todos. — Deu uma breve
mordidinha na pele do meu ombro.
— Estava meio chateada de passar a primeira noite em nossa casa
sozinha.
— Eu sei, baby.
— Você voltou por causa disso? — Olhei em seus olhos, e ele só me
encarou, sem falar nada, mas o tom rosado das suas bochechas denunciou. —
Ai, que fofo. — Rolei para cima dele. — Lindo. — Beijei os seus lábios
repetidamente. Dante me abraçou, sorrindo, e ficamos na cama. Ele me
deixou ainda mais feliz ao anunciar que ficaria comigo por todo final de
semana.
Nós dormimos por algumas horas e eu o acordei, cheia de energia e
louca para sair. Pulei na cama, batendo com o travesseiro em suas costas e
empurrei a minha unha em sua bunda branquinha.
— Ai, maluca. — Ele gritou e saiu da cama. — Vamos sair.
Ele foi tomar banho, e eu fui escolher uma roupa, mas deu tempo de
entrar no chuveiro com ele e tomar um banho rápido. Escolhi um macaquinho
jeans, uma blusa branca e o meu par de tênis favoritos. A minha bolsa estava
pronta no aparador, peguei e ele quase me rebocou para um dos seus carros.
Pegou o Audi, colocou óculos escuros e ligou o som.
— Muito bem, Sra. Biancchi. Para onde vamos?
— Ainda dá tempo de almoçarmos na feira de produtos orgânicos, tem
uma pizza maravilhosa com produtos frescos lá.
— Comida vegana?
— Tem carne, eu juro. Bifes de açougue artesanal. — Prometi.
— Menos mal. — Ele fez um beicinho.
Chegamos na feira meia hora depois, estava um pouco cheio, mas eu
consegui fazer um pedido de pizza de rúcula com mussarela e alguns pedaços
de presunto. Dante pediu um hambúrguer gigantesco, batatas fritas e latas de
refrigerante. Encontramos uma mesa pertinho de um jardim. Dante estava
comendo, mas em alerta. Felipe e o Stefanio estavam próximos, comendo,
fingindo ser pessoas comuns embora a aparência deles gritasse “sou um
gângster, se afastem”.
Após a feira, nós fomos ao shopping fazer umas compras bobas, ele
queria trocar o meu computador, e eu queria comprar uma luminária para o
escritório dele. Andamos de mãos dadas, sem pressa, olhando as vitrines e
compramos mais coisas que realmente precisávamos. No domingo, passamos
o dia em casa, usamos a piscina mesmo que o tempo não estivesse muito bom
para isso. Usei um biquíni que a Giovanna me deu, o que deixou o Dante
muito feliz e querendo me deixar nua a todo custo.
Amei cada segundo do nosso tempo juntos, tirando a lua de mel, foi o
primeiro final de semana de folga e esperava que ele pudesse ter mais.
— Meus pais estão convidando seus filhos e companheiros para um
jantar de família. — Dante leu a mensagem que chegou em seu telefone. —
Minhas irmãs aceitaram. É no restaurante que comemoramos o seu
aniversário.
— Eu aceito. Estou louca para me intoxicar com uma enorme lagosta.
— Me vesti, empolgada, escolhi jeans, camiseta cinza escura com umas
boquinhas em rosa, botas de cano médio e saltos quadrados. Peguei um
casaco longo.
— Nada de lagosta. — Dante me deu um beijo.
Como se eu fosse obedecer.
Entrei no carro, rindo e ele estava me olhando todo severo. Ignorei o
seu discurso que jantamos comida japonesa na noite anterior e eu tinha que
cumprir a minha promessa de ficar um mês sem consumir tanto iodo. Fiquei
jogando em meu celular, balançando a cabeça, fingindo que estava
concordando e combinando com a Milena sobre ela pedir lagosta e me
oferecer um grande pedaço. Ele estacionou o carro do outro lado da rua, saiu
primeiro, falou alguma coisa com o Stefanio e abriu a minha porta.
Nós estávamos no meio da rua quando um carro se aproximou em alta
velocidade. Dante me empurrou bruscamente contra um carro e me abaixou,
atirando de volta. Stefanio e o Felipe avançaram na rua. Tão rápido como
começou, acabou e eu estava congelada no lugar.
— Você está bem? — Dante segurou o meu rosto.
— Sim. Estou bem. — Balancei a cabeça.
Ele me levantou do chão e me levou rápido para o carro, entrou no
lado do motorista e arrancou pela rua, gritando ordens em seu telefone. O
jeito que ele estava dirigindo fez o meu estômago embrulhar. Em menos
tempo que o normal, entramos em casa. Dante estava agindo tão dominante e
brusco que não parecia o meu doce e brincalhão marido. Ele apoiou a sua
arma no balcão da cozinha, falando no telefone e o meu tocou.
— Vocês estão bem? — Antonella estava nervosa.
— Sim, foi tudo muito rápido. Dante está meio ocupado falando com
os seus homens... — Comentei, olhando-o berrar na varanda com os seus
guardas.
— Ainda bem que nós não saímos de casa. Estou tentando descobrir o
que aconteceu, se souber de algo, eu te mando mensagem. Fiquem seguros.
— Vocês também. — Coloquei o meu telefone no balcão.
Dante entrou em casa e ficou andando de um lado ao outro. Seu olhar
era assassino e parecia um leão em plena fúria, preso em uma jaula, de
repente, ele me pegou e me deu um beijo doce, me esmagando em seus
braços.
— Estou tão aliviado que você está bem. — Grunhiu, e sorri contra os
seus lábios. Aquela era a preocupação dele? Eu estava histérica que ele
poderia ter levado um tiro protegendo o meu corpo com o seu.
— Você teve um reflexo muito rápido, mas quem sabia que iriamos
jantar lá?
— Meu pai deve ter dito ao Bracci, que comentou em casa, não preciso
somar dois mais dois. Carro sem placa, o motorista tinha uma tatuagem da
máfia russa, sei quem foi e vou sair daqui a pouco para resolver isso.
Não adiantava nada pedir que ele ficasse em casa. Dante tinha que
provar o seu valor e mostrar para os seus homens que era destemido e letal. A
família nunca confiaria no seu poder se ele não tomasse a frente em
vinganças como aquela, mesmo que o meu coração explodisse no peito, eu
não podia bancar a manhosa e implorar que ficasse em casa. Abracei-o
apertado.
— Volte para casa. — Beijei os seus lábios. — Lembre-se sempre que
somos recém-casados e eu não quero ficar sem você.
— Vou voltar, gostosa. Não vou te deixar linda por aí não. — Sorriu
torto e me deu um beijo que me deixou incendiada. Olhei em seus olhos, ele
estava em chamas, agitado, querendo sangue e me querendo. — Vamos
estrear o sofá, eu preciso de você antes de sair.
— Sou sua. — Era verdade. Ele me tinha. Fizemos sexo rápido, bruto,
sujo, com palavrões e gemidos crus. Sempre me surpreendia o quão forte ele
podia ir, sem me machucar, apenas me mostrando outro tipo de prazer. — Eu
te amo! — Gozei e arregalei os olhos, me dando conta das palavras que
saíram da minha boca. Dante olhou em meus olhos, e eu queria que o chão
me engolisse. — Não... Eu quero dizer que...
— Que me ama. — Me deu um beijo e me jogou deitada no sofá,
mudando a posição, e desesperada, puxei a colcha. — Que foi? Você quer se
cobrir?
— Não quero sujar o meu sofá muito caro com esperma, obrigada. —
Rebati secamente, quase aliviada que conseguimos mudar de assunto e fingir
que nada tinha acontecido.
— Mia, olha para mim. — Ele pediu gentilmente. — Eu te amo. —
Beijou os meus lábios, e eu estava com o coração acelerado com a sua doce
admissão. — Amo muito. Vou sair agora, quando voltar, vamos fazer amor
muito gostoso.
— Vou te esperar.
Eu o esperaria todos os dias da minha vida sem arrependimentos.
23
Mia.
Não consegui dormir à noite inteira. Depois que o Dante saiu, Juliana
me ligou para falar algumas coisas, eventos que ela queria que eu
comparecesse e talvez sondar se eu não estava surtando completamente. Eu
confessei que estava morrendo de preocupação com o Dante, e ela com a sua
experiência, acalmou os meus nervos. Juliana não era próxima de ninguém na
família, a minha própria sogra reclamava o quão distante emocionalmente ela
era das mulheres e não tinha a baboseira de oferecer eventos.
Em Chicago, a Luna e a Giovanna costumavam fazer uma firula ou
outra, mas só para algumas pessoas. Juliana não era mulher de dar a mão ou
sorrisos, ela comandava os nossos negócios com o seu marido. Então, com os
seus conselhos, me acalmei, mas não consegui dormir.
De manhã cedo saí da cama e de pijama, desci a escada pensando
em preparar um café bem forte para lidar com a minha dor de cabeça e
ansiedade. Parei na porta da cozinha ao ver o Dante sentado em uma das
cadeiras de madeira, sua arma e faca na mesa e ele estava todo sujo de
alguma coisa preta, como asfalto, e machucado.
Sua camisa estava no chão e provocou uma poça de sangue no piso.
Ele ergueu o olhar, e me quebrou por dentro. Seus olhos estavam
vermelhos e marejados.
— Matteo está morto. — Ele falou baixinho.
— Ah, Dante. — Me aproximei com calma, pulei a sua camisa
ensanguentada e me sentei em seu colo. Ele imediatamente me abraçou e
escondeu o rosto em meu pescoço. — Sinto muito, baby.
— Romeo fugiu. Ele nos levou a uma emboscada com os russos, foi
muito intenso, um dos homens do Mortrix atirou contra mim, mas o Matteo
pulou na frente. Não consegui estancar o sangramento, ele morreu lá, no
chão, no meio da pista, e o irmão dele nem olhou para trás ao fugir. — Seu
aperto era doloroso. — Eu vou vingar a morte dele. Eu não vou parar até
pegar o Romeo.
— Você vai, baby. Vem, você precisa se limpar e cuidar desses
ferimentos. — Segurei a sua mão e puxei com calma para o banheiro do
escritório. Ele tirou a roupa, e eu liguei o chuveiro, temperando a água para
ficar morna. Havia um corte grande em sua costela e escorria sangue, mas
estava criando uma casquinha, então, já deveria ter algumas horas.
— Entra aqui comigo. — Pediu, e tirei a minha roupa, agarrando a
esponja e coloquei sabonete líquido, lavando-o com calma e carinho. Beijei
os seus lábios, abraçando-o debaixo do jato de água e ao sairmos, peguei o kit
de primeiros socorros, limpando e cuidando de cada ferimento.
Dante estava quieto, o que era enervante. Ele era barulhento e
brincalhão, vê-lo tão introspectivo me deixava nervosa. Subimos para colocar
uma roupa, escolhi um vestido longo confortável, e ele só uma calça de
moletom. Desci, recolhendo as roupas sujas, limpando e joguei fora, a camisa
estava destruída e a calça toda cortada. Limpei o chão e lavei as mãos,
ouvindo-o falar bem baixo no telefone na sala. Peguei a sua arma e faca, não
sabia como cuidar da lâmina, só coloquei no esconderijo no escritório, e ele
cuidaria depois.
Comecei o preparo do café, decidindo por fritar uns ovos, bacon e
assar o pão para torrada. Eu não sabia o que fazer, comida confortava e ele
precisava se alimentar. Sentindo o cheiro, entrou na cozinha quando estava
colocando o seu prato. Bebi apenas café, com o estômago embrulhado.
Matteo era tão jovem quanto o Dante, o que me deixava ainda mais tensa e
preocupada, eles estavam estremecidos, mas eu sabia que eram próximos de
uma vida inteira.
Como Romeo teve coragem?
— Você pode me acompanhar na casa dos Bracci?
— Claro que sim. Eu vou pegar um casaco e uma sapatilha.
Voltamos para o quarto, enquanto ele se vestia, me arrumei
rapidamente. Esperei que ele fizesse o que precisasse fazer no escritório e
entramos na SUV com Stefanio e o Felipe no banco da frente. No caminho,
escorreguei a minha mão no banco e toquei a mão dele com o meu mindinho,
ele cruzou o seu no meu e ficamos em silêncio. Não havia muito o que dizer.
Meia hora mais tarde, entramos em uma opulenta mansão e havia alguns
carros do lado de fora.
Saímos do carro, e o Luigi abriu a porta da frente, abatido, e o Dante
passou por ele sem falar nada. Meu sogro me deu um beijo, abri um sorriso
tímido e abracei a minha sogra. A Sra. Bracci estava no sofá, secando o rosto
e ficou de pé quando o Dante se aproximou. Desviei o olhar quando eles se
abraçaram, com os olhos lacrimejando. Na escada, a sobrinha da Sra. Bracci
apareceu. Ela estava pálida, com o rosto inchado, e eu soltei um arquejo pela
maneira que o Dante a segurou pelo pescoço.
— Você não vai escapar. — Ele falou entredentes.
— Dante? — A Sra. Bracci gritou.
— Vou te fazer pagar e vai ser doloroso.
A garota tentava falar, sufocada, e os meus sogros estavam parados.
Eles sabiam que não adiantava nada impedir o Dante. Sr. Bracci apareceu e
arregalou os olhos. Stefanio e o Felipe o impediriam de agir. Dei um passo à
frente e toquei o braço do meu marido.
— Ela pode ter algo a mais para dizer. — Falei baixo. Ele me
encarou e a soltou. — Você tem algo a dizer?
— Não estou com tempo para palhaçada. — Dante deu um passo à
frente, ela se encolheu no chão, nervosa, com as mãos no pescoço. — Fala
logo! — Ele gritou, e ela chorou.
— Fui eu que contei ao Matteo da emboscada, mas ele não
acreditou. — Ela gritou, chorando. — Ouvi o Romeo falando com um tal de
Mortrix que se ele te matasse, não teria um Biancchi para assumir e ele era o
filho do conselheiro. — Ergueu os olhos. — Ele pretendia matar a sua esposa
para garantir que não haveria herdeiros. Quando o primeiro plano dele não
deu certo, ficou todo furioso, dizendo que eu tinha que tentar ser a sua
amante.
— O quê?
— Romeo queria que eu ficasse com você para te conquistar e assim
não seria difícil me tornar a sua amante, mas você nunca mais me deu
confiança e nem chegou perto. Ele me fazia insistir. Ele até estava planejando
convencer o titio que eu perdi a minha virgindade com você e exigiria uma
pensão, para causar uma ruptura entre vocês dois. — Confessou, e olhei para
o Dante. — Eu só não sabia da segunda parte. Quando ouvi ontem, eu corri
para contar ao Matteo, ele não acreditou em mim. Ele disse que o Romeo
jamais trairia a família e se eu fizesse intriga, isso afastaria a posição dele
ainda mais. Tentei impedir a emboscada distraindo o Romeo, tentei avisar
que o Matteo estava com você, mas o Romeo não cancelou.
A Sra. Bracci simplesmente desmaiou nos braços do marido.
Deveria ser duro saber que o seu filho não impediu a morte do outro. Ajudei
a levantá-la do chão junto com a minha sogra, nós a levamos para o sofá, e a
mulher não conseguia parar de chorar. Antonella a abraçou, e olhei para o
Dante, que parecia considerar se matava a garota ou não.
— Vocês são primos, como você podia ter um caso com o Romeo?
— O Sr. Bracci estava enojado.
— Romeo sabe que não é filho biológico da titia.
— Não importa! Sua tia sempre o amou como próprio filho, vocês
são primos e ponto final. Confiei em vocês dois. Confiei em você, Cat. — Ele
estava desapontado. — Por que não me contou quando os meninos não te
ouviram?
— Fiquei com medo.
— Deve continuar com medo. Matteo morreu porque você apoiou
uma traição.
Luigi colocou a mão no ombro do Dante, falou algo baixo, e o meu
marido se afastou. Prestamos condolências e ajudamos a família Bracci com
os preparativos do velório, assim como a recepção, que aconteceria em dois
dias para dar tempo de todos os parentes chegar de longe.
Minha sogra parecia meio sem cabeça, ela conhecia o Matteo desde
bebê e deveria ser um baque enorme ver alguém que você viu crescer, morrer
assim, mesmo sendo basicamente comum em nossas vidas, não deixava de
doer. Me dediquei em dar ao Matteo um velório bonito, ao contrário da
tradição, pedi que todos os convidados fossem de branco e levassem rosas
vermelhas, encomendei o buffet e fui à biblioteca para limpar o livro fúnebre
da família Bracci.
Estava sozinha, sentada no chão, com uma flanela e um produto de
limpeza específico para capas de couro quando a porta abriu, pensando ser o
Dante, ergui o rosto com um sorriso, mas era a Catherine. Ela andou
silenciosamente em minha direção e afundou no chão a minha frente, mas
com uma distância. Não confiava nela e não gostava dela.
— Sei que você pode não acreditar na minha palavra, mas, talvez
chegue na sua casa um DVD. É um vídeo de sexo. Romeo gravou a noite em
que Dante e eu ficamos, eu não sabia e tentei fazê-lo não enviar, mas agora,
ele pode enviar. Dante e eu ficamos em uma das boates, ele pediu ao Matteo
para desativar as câmeras da sala, mas o Romeo, de alguma maneira,
conseguiu gravar em alguns ângulos. — Ela mordeu o lábio. — É humilhante
ter sido gravada, como eu transava com o Romeo, eu não me importei muito
no começo, mas eu não queria que fosse a público. Ele pode enviar dando a
entender que é recente, mas não é. Foi antes do noivado.
Parte de mim queria avançar nela, eu me imaginei pulando em cima
dela, parte sabia que o meu desejo era irracional e ciumento. Não falei nada.
Voltei a limpar o livro, pensando que o momento era sobre o Matteo.
Entendendo a dica, saiu da biblioteca em silêncio, e eu percebi que estava
esfregando a capa com força demais. Não podia explodir com o Dante sobre
a Catherine, não hoje, mas estava atravessado na garganta. Terminei com o
livro e deixei em cima da mesa.
Dante estava me esperando para irmos embora, eu fiquei quieta no
carro até chegarmos em casa. Estava com fome, cansada, precisando tomar
um banho relaxante. Sem clima para cozinhar, fiz um pedido em um dos
restaurantes da família e subi para tomar banho. Tirei a minha roupa,
enchendo a banheira e eu não sabia onde o meu marido estava, e talvez ele
precisasse de um tempo sozinho. Me enfiei na água quentinha, apoiei a
cabeça no aparador acolchoado e fechei os meus olhos, relaxando.
Acordei assustada ao estar afundando, bati os braços, e o Dante
entrou correndo no banheiro. Puxei o ar, com o coração a mil, e ele tirou a
espuma do meu rosto.
— O que aconteceu? — Estava assustado.
— Eu dormi e afundei, que susto. — Meu coração estava
bombeando em meu peito.
— Vem, baby. — Dante me ergueu e pegou uma toalha.
Me sequei e enrolei-me no roupão. A comida estava na mesa, ele
recebeu e ainda arrumou nos pratos. Comemos em silêncio, ambos esgotados,
subi a escada e me joguei na cama. Dante deixou o quarto escuro, mas ele
ficou jogado no sofá, olhando para a janela, bebendo um uísque, quieto.
Fechei os meus olhos, com sono e logo adormeci.
— Mia, vem cá. — Dante me puxou e me acordou, assustada, ergui
o rosto. — Deita em mim. — Me pediu baixinho, e rolei para o seu lado, me
acomodando, e ele me pegou, literalmente me fazendo deitar em cima dele.
— Assim, dorme comigo assim. — Beijou a minha testa.
Estava com tanto sono que não conseguia ficar acordada nem se eu
quisesse. Voltei a dormir feliz por estar pertinho dele, mas acordei sozinha na
cama e era bem tarde. Fui direto sem acordar com nenhum barulho. O roupão
me deixou toda assada, passei um desodorante e perfume, me vestindo e o
meu estômago estava roncando. Era quase hora do almoço. Desci a escada,
ouvindo vozes masculinas no escritório do Dante e passei silenciosamente
para a cozinha, fechando a porta.
Fiz um suco de laranja para não ceder à tentação de beber
refrigerante, fritei ovos, abri um abacate e espremi um limão, comendo com
bacon e torrada.
— Oi, minha filha. — Luigi apareceu na cozinha. — Como você
está?
— Estou bem, sogro. E você?
— Ainda precisando envolver a minha mente em torno disso. —
Beijou a minha testa.
Felipe, Stefanio e mais dois guardas saíram do escritório do Dante e
passaram pela cozinha sem falar nada, mal olhando em minha direção e
saíram de casa, com cuidado ao fechar a porta.
— Boa tarde, baby. — Dante me deu um beijo nos lábios e pegou a
minha última torrada com bacon, dando uma ótima mordida. — Não briga
comigo, eu não comi nada. — Ele se adiantou com a minha expressão
emburrada.
— Vou deixar vocês, crianças. — Luigi estava rindo da nossa quase
briga boba e foi embora.
Dante pegou a última fatia de bacon, enfiou toda na boca e saiu
correndo. Eu queria matá-lo. Sabendo que eu estava puta, me agarrou e me
beijou, enfiando a língua na minha boca, e bati nele repetidas vezes.
Agarrando a minha bunda, me ergueu no lugar, e cruzei as pernas em sua
cintura. Ele assoprou o meu pescoço, fazendo um barulhão, soltei uma risada
e era bom rir, mesmo com o clima pesado.
— Catherine me disse algo ontem. — Me afastei um pouco. —
Romeo tem um DVD de sexo... seu e dela. — Expliquei, e ele arregalou os
olhos. — Ela disse que você pediu ao Matteo para desligar as câmeras, mas o
Romeo conseguiu manter algumas ligadas e pretendia enviar como se você
estivesse me traindo. Não quero ver esse vídeo e não quero que ele se torne
público. Não vou suportar a ideia de que todas as pessoas te vejam transando
com outra mulher.
— Mia... Eu não sabia disso.
— Acho que ela ficou com medo de te falar.
— Não vou permitir que se torne público, farei o que estiver ao meu
alcance para impedir isso e eu jamais faria um vídeo de sexo.
— Imaginava que não, mesmo assim, eu não quero que isso exploda
agora. Já é ruim o suficiente saber que você dormiu com ela e existe uma
prova disso. É mais fácil fingir que nenhuma mulher te tocou quando eu não
sei quem elas são.
Dante ficou em silêncio.
— Me desculpa por isso.
— Tá bom. — Beijei os seus lábios.
Dante ficou em casa, ao contrário do seu usual, não ficou andando
atrás de mim, fazendo barulho e muito menos falando sem parar. Ficou no
escritório, trabalhando, falando ao telefone ou trancado por horas com o
Stefanio. Eu mantive o silêncio e o espaço, cozinhei molho de tomate do zero
pela primeira vez para lidar com a ansiedade e o tempo ocioso. Fiz molho ao
pesto e quando o silêncio estava me enlouquecendo, coloquei música e fiz
massas.
Mais tarde, entreguei ao Stefanio uma travessa de espaguete com
molho de tomate e bastante queijo para os guardas. Ele sorriu e agradeceu,
saindo pelos fundos.
— Você passou o dia inteiro cozinhando e limpando a casa? —
Dante entrou na cozinha, e eu estava esfregando o balcão.
— Ansiedade. — Suspirei, e ele pegou a esponja da minha mão.
— Mia, se acalma. — Ele me abraçou. — Calma.
— Poderia ter sido você! — Explodi, arrancando a esponja da mão
dele. — Era uma emboscada para te matar! Romeo quer matar você e me
matar, para que não exista a possibilidade de termos um herdeiro. Como você
quer que eu fique calma?
— Ele não vai conseguir. — Enfatizou.
— Como você pode ter certeza?
— Porque eu sou melhor que ele, sempre fui e sempre vou ser. —
Sua confiança me irritava. — Nada vai acontecer conosco, baby. — Segurou
o meu rosto e me beijou. — Ele não vai vencer e eu vou vingar a morte do
Matteo lavando essa cidade com o sangue do Romeo.
— Cuide-se sempre, me prometa.
— Eu prometo. — Ele olhou em meus olhos.
Servi nossas comidas e guardei tudo que cozinhei a mais em potes
para congelar no freezer. Adiantaria o preparo de outros jantares. Dante
pegou uma garrafa de vinho que nós dois cuspimos assim que provamos.
Simplesmente horrível. Começamos a rir ao ver a mesa suja de vinho.
— Que porra é essa? Vinagre de uva? — Ele olhou a garrafa.
— Acho que não temos um paladar muito refinado. — Comentei e
peguei o meu telefone, olhando na internet as resenhas e combinava
perfeitamente com o nosso prato. — Será que armazenamos errado?
— Essa porra custou dois mil dólares. É melhor comprar vinho
barato... — Reclamou, e olhamos as instruções, a nossa adega parecia
cumprir todos os requisitos. Abrimos outro vinho, não da mesma marca ou
safra, apenas um Riesling suave. — Melhor. Já que esse é ruim, vou dar as
garrafas para o Pietro.
— Bobo. — Enrolei o meu espaguete.
Nós terminamos de comer e lavamos a louça juntos, deitamos para
dormir e na manhã seguinte, ele estava quieto e distante de novo. As rosas
que encomendei chegaram logo cedo, lembrando do peso do dia e do nosso
compromisso. Dante vestiu uma calça branca e uma blusa de mangas brancas,
com um casaco bege. Escolhi um conjunto social branco que era a minha
roupa de eventos da família ou para acompanhá-lo em algo importante.
Quando comprei, não imaginei usar em um enterro. Com as rosas no
banco de trás do carro, chegamos à capela do cemitério e foi um pouco
emocionante ver todos de branco pelo Matteo. Ele era um homem iniciado,
um assassino da máfia, mas tinha apenas vinte anos e era um filho ao qual os
pais amavam muito. Eu não me importava com o que fazíamos, ele morreu
protegendo o meu marido, dando a sua vida pela do Dante.
A cerimônia foi bonita, toda em italiano e em uma grande procissão
para o local do enterro. Dante estava carregando o caixão junto com os seus
cunhados e mais um rapaz que eu conhecia apenas de vista. Segurando uma
rosa, andei sozinha, imaginando que poderia ser o Dante.
Desejei nunca fazer aquele caminho como a viúva. Nós dois ainda
tínhamos muito a viver juntos, e esperava passar todos os anos da minha vida
ao seu lado. Esperava que a nossa história não fosse brutalmente
interrompida por uma fatalidade, causada por uma consequência da nossa
vida suja de sangue e muito pecaminosa.
24
Dante.
A imagem do caixão do Matteo descendo, enquanto todos rezavam em
italiano, estava gravado em minha mente como uma tatuagem e eu ainda
tinha o adicional da imagem da Mia, toda de branco, segurando uma rosa
vermelha, olhando em minha direção. Aquele olhar em seu rosto era
devastador. Minha mulher estava com medo de me perder. Esperava que ela
nunca tivesse o olhar solitário de ter me perdido.
Meu telefone vibrou e olhei a mensagem dela, pedindo para descer até
a ala da Lisa porque as minhas irmãs queriam falar comigo. Deixei a minha
antiga ala, que estava vazia e desci as escadas. Estava esperando o meu pai
para uma reunião antes de viajar com a Mia para Nova Iorque.
Nós participaremos da festa de aniversário da Juliana e da festa de
ação de graças. Meus pais costumavam ir, mas esse ano o meu pai optou em
fazer com que a Mia e eu fizéssemos uma estreia como casal.
— O que vocês querem? — Entrei sem bater. — Caramba, Lisa. Você
vai explodir.
— Imbecil. — Minha irmã rosnou, cruzando os braços.
— Ele continua sendo um bebezão irritante. — Milena comentou e a
Mia riu. — Lembra quando ele tinha aquelas bochechas gordinhas fofas?
— Ele adorava que a gente lhe desse beijos barulhentos. — Lisa
adicionou.
— Continuo adorando beijos, mas só da minha mulher. — Fui galante
com a minha esposa, ela sorriu e lhe dei um beijo nos lábios. — Linda.
— Você é tão bobo. — Mia riu.
— Tá, sei que não me chamaram aqui para ver a minha beleza incrível.
O que vocês querem?
Milena trocou um olhar com a Lisa. Mia estava quieta, desviou o olhar
e fiquei meio preocupado. Quando ela não conseguia me encarar era porque
algo estava acontecendo, algo que ela não iria ferir o sigilo que lhe foi
pedido.
— Achamos que nossos pais estão escondendo algo grave sobre a
saúde de um deles. — Lisa soltou. — Eu os ouvi falando sobre exames e a
mamãe estava com aquela expressão estressada, fazendo de tudo para não
chorar ou gritar.
— Pietro descobriu sem querer que eles foram a uma clínica médica.
Os guardas estão mudos em relação a isso. Se for a mamãe, ela nunca vai
dizer. E se for o papai, ele vai proibi-la de dizer algo.
Isso me preocupava, mas as minhas irmãs eram histéricas.
— Se eles não querem falar, vamos respeitar.
Milena bufou.
— Você pode ser menos homem honrado e mais filho? — Ela
explodiu. — Se um deles estiver doente, como filhos, temos que fazer parte
disso e apoiar.
— Como filhos, temos que respeitar as escolhas deles. — A mentira
escorreu da minha boca com facilidade. — Não fiquem preocupadas com
isso. Talvez eles estejam poupando a Lisa de um estresse. Talvez seja algo
simples, eles estão na terceira idade, ir ao médico é normal.
Minhas irmãs estavam irritadas com as minhas respostas, mas eu não
queria colocá-las em uma preocupação que estava crescendo no fundo da
minha mente nas últimas semanas. Quando o meu pai chegou, me reuni com
ele para acertar tudo que eu deveria fazer e ouvir todos os seus conselhos
sobre como me portar como um homem da família e representando a sua
posição em Nova Iorque nos próximos dias. Ele estava falando e fiquei
encostado na cadeira, do outro lado da sua grande mesa, olhando-o.
— Sei que você tem se provado ser um homem, mesmo com o
casamento e todas essas responsabilidades, está dando conta de tudo com
louvor, mas é o seu primeiro evento e o Enzo é um homem volátil que não
tolera erros. — Avisou severamente. Mordi o lábio, contendo a risada. —
Muito bem. Por que está me olhando assim?
— Por que você está escondendo algo de mim?
— O que te faz pensar que estou escondendo algo? — Ele torceu a
boca.
— Velho, velho. — Levantei-me porque estava em cima da hora de
sair. — Seja o que for, irei descobrir. — Sorri e saí da sua sala. — MIA! —
Gritei. Ela apareceu no topo da escada com as mãos na cintura. Apontei para
a porta como se fosse uma ordem. Ela arqueou a sobrancelha. — Agora,
mulher.
— Você está maluco? — Ela desceu a escada devagar, pegou a sua
bolsa no aparador e passou por mim, dando um tapa em minha nuca. — Fala
comigo direito.
— Desculpa, amor. — Murmurei rindo.
Stefanio e o Felipe iriam conosco e estavam aguardando do lado de
fora. As malas estavam no porta malas desde que saímos cedo de casa. Mia
levou quase uma semana fazendo a mala, tirando e colocando roupa, ligando
para Luna e fazendo uma consultoria de estilo interminável e ainda desfez
toda a minha mala, escolhendo o que ia usar, da cueca às meias. Era uma
viagem simples. Mulheres mostravam ser surtadas nas mínimas coisas.
Mia estava planejando reencontrar algumas amigas, queria se exibir e
eu não ia privar isso. No carro, ela cruzou as pernas, imediatamente coloquei
a minha mão em sua coxa, apertando e subi a divisória. Assim que estávamos
em privacidade, soltei o meu cinto e ataquei o seu pescoço, ela riu e puxou o
meu rosto pelo cabelo, tomando a minha boca e ela estava cada vez mais
bruta, mais segura e beijando com mais desejo.
— Beijo gostoso... — Falei contra a sua boca. — Vamos entrar para o
clube das alturas?
— O que quer dizer? — Sua expressão confusa era fofa.
— Sexo no ar.
Suas bochechas ficaram agradavelmente vermelhas.
— Não estamos sozinhos.
— Podemos ser silenciosos.
— Providencie uma viagem no qual estaremos sozinhos e você terá a
sua vez no ar. — Me deu um sorriso e uma bitoquinha rápida. Puxei o laço da
sua blusa, tentando ver o seu sutiã, ela andava usando umas roupas íntimas
bem sexy, não que eu me importasse com as calcinhas grandes, tudo que me
interessava era tirar, mas quando ela usava coisas com rendas me deixava
maluco. — Dante!
— Deixa ver o sutiã. — Pedi com beicinho.
— Quando chegarmos. — Sorriu e me empurrou.
Fiquei em cima dela, beijando o seu pescoço e deixando-a toda
excitada. Chegamos ao aeroporto e como estávamos atrasados, não levou
muito tempo para embarcar e decolar. Mia sentou-se do outro lado, de pernas
cruzadas, usava jeans, uma camisa bonita e tênis. Seus cabelos estavam
naturais, domados, de um jeito bonito que deixava o seu rosto ainda mais
atraente. Percebi que estava nervosa porque estava torcendo as suas alianças.
— Desembucha.
— Sabe o que aconteceu com a casa dos meus pais? — Seu olhar
nervoso encontrou o meu.
— É nossa. Por que?
— Quero ir lá...
— Isso vai te fazer bem?
Deu de ombros.
— Acho que preciso de um encerramento. Ainda sinto como se os
meus pais pudessem aparecer a qualquer momento. — Esfregou as mãos na
calça. — Não voltei mais lá desde a noite que a Juliana me encontrou no chão
da biblioteca.
— Não tenho certeza se alguém entrou na casa depois disso, eu estava
pensando em mandar limpar e fazer uma reforma. Se você não quisesse ficar
com ela, colocaria a venda ou cederia para algum soldado de confiança. —
Me inclinei e peguei as suas mãos. — Não acho que ir lá vá te fazer bem, mas
se você quer, eu vou te levar. — Beijei os seus dedos.
— Obrigada. — Ela se inclinou e me beijou.
— Talvez você tenha essa sensação de não encerramento porque não
teve um enterro. Se com um enterro, é surreal pensar que o Matteo está
morto, imagina sem um... — Comentei pensativo. — Quer fazer um velório
para os seus pais? Faremos isso sozinhos. Apenas para você deixar isso no
passado, eles não estão mais aqui para te machucar e eu te amo, a sua família
sou eu, mesmo que o Enrico tenha um infarto ao ouvir isso.
— Ele não gosta quando você diz isso, porque ele e a Luna são a nossa
família também, assim como os seus pais e irmãs. — Explicou de forma
doce. Ela era fofa. Esmaguei as suas bochechas, arrancando um gritinho e
uma risada.
— Não. Eu e você. — Beijei a sua boca. — Daqui a uns dez anos,
teremos filhinhos.
— Filhinhos? No plural? — Seus olhos arregalaram comicamente.
— Daqui a dez anos... — Sorri e ela assentiu. — Quer saber uma
coisa? — Me aproximei do seu ouvido. — Você é tão gostosa... Que a
primeira coisa que farei quando chegarmos vai ser te comer. — Mordi o
lóbulo da sua orelha, ela ficou toda arrepiada e sorriu. Aquele olhar me
deixava maluco e de pau duro. Beijei a sua boca até que nossos lábios
estavam doloridos. — Quero você.
— Aqui não. — Ela estava tímida.
Soltei o seu cinto e ela veio para o meu colo. Stefanio e Felipe estavam
em outro lugar, fechados, sem nos ver. Era melhor que eles ficassem à
vontade. Os dois pareciam se dar bem e ficavam confortáveis ao redor do
outro, mas ao contrário do Felipe, Stefanio gostava de mulher – e muito,
porque era um desfile de garotas entrando e saindo da sua casa na minha
propriedade. Ele tinha a sua própria entrada e saída, mas, eu via o movimento
pelas câmeras.
Puxei a colcha sobre nós, a comissária estava no seu lugar e não nos
vigiando. Mia ficou acomodada, toda inocente e voltei a beijá-la, atiçando o
seu fogo. Ela gemeu baixinho, desci a minha mão para a sua calça, abrindo o
botão. Seu olhar encontrou o meu e olhou ao redor, preocupada, desci o seu
zíper e brinquei com o meu dedo por cima da calcinha.
Um suspiro escapou dos seus lábios, não parei até sentir a sua
calcinha molhada, sorri e empurrei para o lado, com o meu dedo
escorregando entre as suas dobras. Ela agarrou o meu braço, chupando o meu
pescoço e soltando os gemidinhos mais perfeitos.
— Dante... — Ela gozou gostoso.
— Delícia... — Chupei o meu dedo. — Melhor sabor do mundo.
— Meu Deus, você ainda me mata fazendo essas coisas. — Sussurrou
com o rosto vermelho.
— Fala a verdade, baby. Você está doidinha para foder.
— Estou, vamos fazer valer a pena em um quarto e uma cama...
— Sério... Estou louco para explorar sexo em público. Vamos tentar
um dia?
Mia me empurrou.
— Um lugar vazio, sim. Eu tenho vontade dentro do carro, naquele dia
que saímos sozinhos com o meu carro, se você falasse mais, ia ceder. —
Confessou e quase me chutei. Estava doido para foder naquele dia e ela
estava com vergonha. — No mais...
— Vamos fazer isso quando voltarmos. — Prometi. Ela riu, sem
acreditar em mim.
Dez minutos mais tarde, nós pousamos e havia um carro enviado pelo
Enzo nos aguardando. Stefanio conhecia o guarda que estava lá. Saímos do
aeroporto direto para o complexo de prédios que a maior parte da família que
trabalhava diretamente com o Enzo morava. Ele vivia em uma cobertura no
meio entre três prédios. Mia e eu fomos atribuídos a um apartamento
espaçoso de dois quartos no vigésimo andar. Stefanio e o Felipe ficariam no
apartamento da frente.
Juliana enviou uma enorme cesta de café da manhã com todos os doces
que ela sabia que a Mia adorava e uma cesta de queijos e vinhos. Nós
combinamos de sairmos todos juntos mais tarde, jantar fora e ficar um pouco
com as meninas já que elas não participariam da festa de aniversário da mãe e
muito menos do jantar de ação de graças, era muito público e eles não
permitiam que elas ficassem em público.
Fechei a porta, Mia mordeu o lábio, me olhando com expectativa.
— Acho que precisa tirar a sua roupa, pelo que me lembro bem, a sua
calcinha está ensopada. — Adicionei. Ela ainda ficava vermelha, mas tirou a
blusa, eu estava certo. Sua roupa íntima era das mais sexys. A calcinha era
incrível. — Acho que vai rolar de calcinha mesmo.
— Não. Eu fiquei toda assada. — Riu e tirou a calcinha, jogando em
mim.
Arranquei a minha roupa com pressa e peguei a minha mulher, levando
para o quarto, estreando a cama que bateu alegremente contra a parede. Eu
não sabia quem morava embaixo, mas o teto tremeu. Deitei o meu rosto entre
os seus seios, ouvindo o seu coração bater rápido e a respiração quente. Sua
pele estava arrepiada, suada e cheirosa. Caí ao seu lado e a puxei para mim.
Mia era do tipo que gostava de proximidade, de dormir junto, normalmente,
ela ficava apenas enquanto não caía no sono pesado, inconsciente, acabava
rolando um pouco mais para o lado.
— Posso confessar uma coisa? — Ela perguntou baixinho.
— Claro que pode.
— Sempre tive medo de não gostar do sexo. De ser o tipo de mulher
que fazia apenas o seu papel sem a chance de sentir prazer ou que eu nunca
tivesse algo realmente bom. — Ela beijou o meu peito. — Eu amo sexo com
você. Sei que só fiz com você e espero fazer pelo resto da minha vida, até
ficar velhinha, mas eu penso nisso o tempo todo. Esses dias...
— O que você fez?
— Eu me masturbei. Você não estava em casa e estava cheia de tesão,
levaria horas até você a chegar, então eu fiz. — Desviou o olhar. — Foi bom.
— Da próxima vez filma ou me liga, diz assim “vem para casa agora!”.
Eu vou correndo, nem que seja literalmente correndo em minhas pernas bem
ágeis. — Prometi e ela soltou uma risada alta. — Ficaria maluco em ver esses
dedinhos safados.
— Para...
— É sério.
— Você faz isso?
— De vez em quando. — Dei de ombros. — Definitivamente faço
muito menos do que antes do casamento. Teve uma semana que você estava
meio enjoada, eu estava explodindo de tesão devido às vitaminas do treino
e precisava dar um jeito.
— Já te falei para não tomar isso.
— É natural e ajuda no metabolismo. Além do mais, você não reclama
muito quando eu tomo... — Balancei as sobrancelhas. Normalmente a gente
transava a noite toda. Sexo era algo constante, por isso não havia a mínima
necessidade de punhetas como solteiro. — Você sente vontade de se tocar
quando a gente transa?
— Normalmente, não. Mas quando você pede, fica ainda melhor. —
Puxei-a para cima de mim e passei a minha mão por trás do seu joelho.
— Se toca.
— Dante...
— Vai, baby. Se toca...
Timidamente, desceu a mão entre nós e começou a se tocar. Ela estava
olhando em meus olhos, mordendo o lábio, sentindo prazer, agarrei o meu
pau, bombeando até que ficou demais e eu a queria novamente. Com o rosto
corado, montou em mim e com cuidado, desceu no meu pau, começando a
rebolar gostoso. Agarrei a sua bunda, incitando e assisti com o maior prazer a
minha mulher desmoronar em cima de mim e gozei em seguida.
Ficamos abraçados na cama, em silêncio, acariciei as suas costas e
pensei no quanto eu queria viver aquilo para sempre. Daria o meu sangue
para proteger a Mia e dar a ela vida de rainha que merecia. Queria viver
tardes como aquela todos os dias e que o olhar de medo, enquanto assistia o
Matteo ser enterrado, nunca mais voltasse para o seu rosto, principalmente
por minha causa.
— Te amo. — Falou baixinho.
— Eu te amo. — Beijei a sua testa. — Muito.
Quando fiquei noivo, meu pai me disse para nunca temer o amor. Ele
era a única coisa boa em nossas vidas e eu acatei o seu conselho. Ele só não
me disse o quão assustador era ter medo de perdê-lo. Eu não podia perder a
Mia.
25
Mia.
Me olhei no espelho de corpo inteiro, analisando a minha roupa, estava
frio lá fora e eu escolhi uma calça jeans preta, botas de cano médio e saltos
finos, uma blusa azul escura de gola alta e um casaco de cashmere escuro.
Dante estava arrumando o cabelo com os dedos, arrumado, todo de preto,
com o casaco bege. Escolhi a sua roupa, um pouco mais à vontade e
consciente do seu estilo e levando-o para o jeito que gostava. Mesmo de
saltos, ele ainda estava maior que eu.
Peguei a minha bolsa, ele agarrou a minha mão do seu jeito possessivo,
e saímos do pequeno apartamento. Stefanio e o Felipe estavam prontos e no
corredor, entramos os quatro no elevador e descemos para a garagem. A
revoada de vento me deixou arrepiada e me perguntei como eu conseguiria
usar o meu vestido para o aniversário no dia seguinte, talvez devesse sair e
comprar uma meia do tom da minha pele, mas bem grossa para me ajudar a
aquecer.
Luna me enviou uma foto antiga, Enrico e eu dormindo juntos no chão
da sala com a Laura entre nós. Ela era tão pequenininha. Foi no final de
semana que voei até a Itália para conhecer a pimentinha. Laura estava cada
dia mais terrível, mas aquela foto me deu a sensação de pertencimento... Luna
e o seu marido não precisavam me acolher com tanto amor, ela poderia seguir
a vida e me deixar me virar. Mostrei ao Dante e ele sorriu.
— Papai muito chato e as suas filhinhas. — Provocou. Enrico pegava
tanto no pé do Dante que eu tinha pena do futuro marido da Laura. — Hoje
ele me enviou um vídeo sobre castração química.
— Ele pega no seu pé porque você caí na pilha.
— Ele quer torrar o meu pau com química, como não ficar pilhado? —
Dante arregalou os olhos e ri. Discretamente, coloquei a minha mão em sua
calça, apertei um pouco. — Estou gostando muito do caminho dessa mão aí...
— Só ia dizer que nada vai acontecer a esse meu melhor amigo. —
Sorri, e ganhei um beijo.
Chegamos ao badalado restaurante e havia paparazzis do lado de fora.
Fiquei um pouco tímida, segurando a mão do Dante, e os seguranças nos
ajudaram a passar, entre flashes e gritos, porque esperavam que fosse algum
famoso ou porque o lugar era frequentado por pessoas muito ricas da região.
A recepcionista sorriu e nos levou para o segundo andar que estava reservado
para o nosso jantar. Aria correu em minha direção e imediatamente abaixei,
pegando a minha daminha de honra no colo.
— Oi, princesa.
— Oi, tia Mia. — Ela sorriu. Aria deu ao Dante um beijo na bochecha.
Amália estava uma mocinha, de batom e com uma bolsa Chanel linda.
Sorriu educada e maravilhosa como a sua mãe. Dei a ela um beijo e um
abraço. Anna estava ocupada comendo as torradas e só me deu um sorriso de
bochechas estufadas. Juliana saiu do seu lugar, trocamos um abraço apertado,
enquanto Enzo e o Dante trocaram tapas fortes.
— Você está linda, Mia. — Enzo me deu um rápido abraço.
— Obrigada.
— Se eu te chamar de linda, ele vai arremessar uma faca na minha
direção. — Dante falou com a Juliana. Soltei uma risada.
— Pode me chamar de linda. — Juliana brincou, e o Enzo grunhiu, nos
dando um olhar brincalhão. — Estou feliz que puderam vir. É uma pena que
os seus pais não puderam vir esse ano, a sua mãe é sempre adorável, o que
me acalma a vontade de matar todas as outras senhoras muito chatas. — Ela
riu, e corei.
A conversa fluiu fácil ao redor da mesa, com as meninas, o assunto era
leve e calmo. Eu me senti muita adulta tendo um jantar quase em família, a
comida estava deliciosa e eu pedi sopa de frutos de mar, beliscando a sopa de
abóbora do Dante, compartilhamos o mesmo pedido principal, filés com
batatas, salada de verão e torradas com manteigas especiais da casa. Percebi
que estavam nos fotografando quando as menções chegaram no meu perfil do
Instagram, eles estavam acostumados, não fizeram nenhum alarde sobre isso,
e fiquei quieta, porque o lado público da família me assustava.
Na volta para casa, Dante e eu subimos sozinhos. Ele fez um
boomerang no elevador, porque estávamos muito elegantes. Como era de
conhecimento público que estávamos em Nova Iorque, ele postou e me
marcou, sem falar nada. Entramos no apartamento, tirei as botas e a minha
roupa, ele ligou o aquecedor e perguntou se eu queria um pouco mais de
vinho.
— Estou cansada. Não quer dormir logo?
— Só um pouco, mas eu vou deitar com você. — Sorriu e me seguiu
para o quarto.
Nos preparamos para dormir separadamente, depois da tarde intensa de
sexo, o jantar e todo vinho me deixou esgotada e pronta para dormir. Ele se
deitou atrás de mim, me abraçando, e eu amava o nosso carinho na cama
antes que pegasse no sono. Antes de me casar, pensei que seria um caminho
totalmente solitário, como eu já me sentia. Dante e eu vivíamos em uma
bolha dentro de casa e a conversa que tive com a sua mãe mais cedo estava
rondando em minha mente.
— Sua mãe me disse que não acha saudável a maneira que ficamos
grudados, nos isolando, e ela disse que precisamos de mais maturidade como
casal.
— Não dê ouvidos aos conselhos não solicitados da minha mãe. — Ele
falou baixo e beijou a minha nuca. — O que fazemos dentro da nossa casa é
da nossa conta. Foi por isso que nos mudamos, e ela só está reclamando
porque não ficamos lá para que ela possa se intrometer e gerir o nosso
casamento.
— Tudo bem, mas você sabe que eu não tenho um parâmetro... Tenho
medo de ser demais e acabar agindo de maneira não saudável. — Murmurei
brincando com seus dedos tatuados.
— Tem sim. Luna e o Enrico vivem em uma bolha, eles sequer saem
da Itália.
— Isso é verdade. Estou com saudades deles.
— Iremos vê-los em breve.
Aquecida e me sentindo segura, adormeci e acordei sozinha na cama.
Era muito cedo para o Dante estar fora, saí de fininho, com um pouquinho de
frio e o encontrei na sala, fazendo flexão, estava todo suado e concentrado,
usando apenas uma cueca e em seguida, começou abdominais. Parei,
encostada na porta e mordi a pontinha da minha unha observando o quanto o
seu corpo perfeito estava torneado, ele parou e me encarou. O volume em sua
cueca me deixou ciente que ele estava fora da cama para não me acordar para
transarmos. Tirei a minha camisola e me aproximei.
— Não dormiu?
— Não muito.
Olhei para sua arma e faca bem perto, ele estava em alerta demais para
relaxar, mesmo que fosse um território amigo, ele estava com as suas defesas
ao máximo. Dormi feito uma princesa, e ele preocupado com o meu bem
estar e segurança, mas quando ficava muito tempo acordado, seu humor se
transformava completamente, e eu queria que fosse uma viagem feliz e não
uma viagem em que eu precisaria pisar em ovos porque ele estava mal
humorado. Mesmo em poucos meses juntos, eu conhecia alguns traços do seu
humor de homem da família.
Só havia um jeito de derrubá-lo.
Fizemos sexo ali no chão, e o arrastei para cama, mesmo todo suado,
fiz com que dormisse e fiquei vigiando o seu sono. Dante dormiu por uma
hora bem pesado, eu soube quando ele começou a cochilar e ficar atento,
observando bem o seu rosto, podia ver as suas pálpebras se agitando e os
cílios que eu mataria para ter. Me inclinei para mais próximo do seu rosto só
para analisar os fios perfeitos e de repente, ele agarrou o meu rosto e me
beijou.
— O que foi, stalker?
— Seus cílios. Tenho inveja deles. — Reclamei e ele sorriu.
— Deus me fez perfeito.
— Ai, Sr. Ego. — Beijei os seus lábios. — Tem algum compromisso
imediato?
— Não, apenas uma reunião a tarde com o Enzo. Quer sair e
explorar?
— Um pouco. Quero te levar em uma cafeteria que eu sempre quis
conhecer. Minhas amigas da escola viviam falando de lá, mas a Luna e eu
não éramos autorizadas a sair. Eu comi um fast-food pela primeira em
Londres. — Pulei fora da cama, mas ele me puxou de volta, nos cobrindo.
— Não está esquecendo de nada?
— Não vou te chamar de lindo e gostoso, dá um tempo. — Revirei
os olhos para a sua regra estúpida que ao dar bom dia, eu tinha que chamá-lo
de lindo e gostoso. Rindo, o empurrei e saí da cama de novo. — Além do
mais, Sr. Ego, eu te dei um boquete e literalmente sentei em seu pau não mais
de duas horas atrás.
— Foi incrível, Sra. Gostosa. Se quiser, estou aqui. — Sinalizou
para o seu corpo.
— Vai tomar banho, no sentido literal, porque estou com fome. —
Apontei para o banheiro. — Anda, Dante. — Gritei e o mordi, ele riu e saiu
de perto. Ele odiava as minhas mordidas.
Como ele se arrumava bem rápido, escolhi a minha roupa e tirei o
meu pijama, entrando no chuveiro no momento que ele estava saindo. Ele
quase voltou, mas eu não deixei. Meu estômago roncou realmente alto, nos
fazendo rir.
— Vou te alimentar, você fica insuportável quando está com fome.
Espero que eles tenham comida suficiente. — Provocou e saiu de perto antes
que o acertasse com o meu vidro do xampu.
Terminamos de nos arrumar e agasalhados, saímos do complexo de
prédios com o Felipe. Stefanio estava treinando e nos encontraria na rua
depois, mas eu achava desnecessário. Dante estava obcecado em me manter
cercada por seguranças todo tempo, desde que o Romeo assumidamente se
declarou um inimigo tentando matar o Dante e a prima dele confessou os
planos, ele está mais em casa, me pedindo para sair menos, eu estava
basicamente indo do curso de culinária para casa, sem nenhuma pausa ou
passeio.
Era por isso que eu estava quase como uma criança nas ruas cheias
de Nova Iorque. Andamos de mãos dadas, ele estava todo alerta, tenso e eu
quase pulando entre as pessoas. Entrei em duas lojas, dei uma olhada nas
roupas, comprei um cachecol vermelho lindo e enfim chegamos à lanchonete.
Só tinha uma mesa disponível, porém, o Dante fez um casal sair do seu lugar
para que ele pudesse sentar em um lugar que tinha total visão das portas, do
banheiro e ainda vigiava o balcão.
Ignorei o seu rompante, olhando para o cardápio e fingindo que nada
estava acontecendo. Era fácil esquecer que o Dante era um homem da família
quando ele agia de maneira doce e brincalhona comigo todo o tempo. Ele era
um alfa, às vezes me irritava quando simplesmente dizia “não” e ponto final.
Luna me disse que isso se superava com jeitinho. O meu jeitinho era
arremessar algo em sua direção, nunca me vi como uma mulher capaz de
enfrentar um homem, sempre tive muito medo, mas o Dante apertava todos
os meus botões com algumas atitudes que eu tinha vontade de explodir.
— Pode parar de agir como se fosse atirar em alguém e escolher a sua
comida? — Reclamei. Ele olhou ao redor antes de pegar o cardápio.
— O que você acha que é bom?
— Eu pedi um pouco de tudo para experimentar.
— Então peça um pouco mais e vamos dividir. — Botou o cardápio na
mesa.
Enquanto esperávamos a nossa comida, pedi café com leite e para ele
café puro. Dante estava com o cenho franzido e de repente, ele segurou a
jaqueta do homem que ia passar pela nossa mesa e o forçou a sentar no
banco. Não me atrevi a olhar ao redor, assustada e preocupada.
— Calma, Dante. — O homem disse e fez o movimento para puxar um
distintivo. Merda. — Já que você me convidou para sentar, podemos
conversar.
— Se você continuar me seguindo, eu vou te mostrar um tipo de
conversa muito interessante. — Dante falou bem baixo. — Você vai pegar
seu distintivo de merda e a sua bunda feia, sair por aquela porta e ficar bem
longe, fui claro?
— Não tem interesse de ouvir?
— Meu interesse é tomar um café da manhã com a minha esposa. Saia
de perto. — Ele avisou severamente, o Felipe parou como se estivesse
esperando a vez para passar, mas ele colocou o cano da sua arma na cintura
do policial. — Fora.
Sem falar nada, o homem ajeitou a jaqueta e saiu com o Felipe. Minhas
mãos tremiam enquanto pegava o meu café, dei um gole e botei de volta à
mesa.
— Temos que ir embora?
Dante agarrou a minha mão e beijou.
— Não. Desculpa, eu perdi a cabeça. Ele está nos seguindo desde que
saímos e porra, se eu tivesse sozinho até poderia tolerar isso, mas não com
você. — Beijou os nós dos meus dedos.
Fazia todo sentido porque ele estava tão insuportável. Relaxei no
banco e olhei ao redor, as pessoas seguiam comendo e interessadas em seus
telefones. Voltei a encará-lo e pensei o quão intenso deve ser a
responsabilidade de estar atento a tudo o tempo todo. Não percebi que
estávamos sendo seguidos, assim como só me dei conta do carro se
aproximando em alta velocidade quando o Dante me jogou no chão. Em
ambas as situações eu poderia acabar morta.
Precisava mudar minha percepção do perigo. Juliana tinha razão
quando insistia que começasse a treinar, iria conversar com o Dante quando
ele estivesse menos estressado.
— Meu herói. — Me inclinei na mesa e beijei a sua boca. As pontas
das suas orelhas ficaram vermelhas, mas ele me deu um sorriso muito
contido.
Nós comemos em um clima agradável e voltamos para o apartamento.
Perdi todo meu clima de passear, ele tinha uma reunião com o Enzo, então,
não queria atrapalhar. Fiquei na cama lendo, matando o tempo e pensando
que deveria descansar para mais tarde. Era a minha primeira aparição com
muita evidência ao lado do Dante. A notícia que a boate teria o meu nome já
tinha se espalhado, sabia que os rumores eram propositais para gerar
marketing ao público e no submundo, reafirmar a posição da família como
donos do território.
Queria ir à casa dos meus pais, ver como estava, mas não tinha
coragem. Não queria chegar a noite com o rosto inchado e irritada. Talvez
não fosse o momento de provocar memórias ruins. Talvez tivesse que
aprender a ser uma menina grande e deixar o meu passado para trás, porque
eu tinha uma vida maravilhosa.
Ouvi o Felipe falar na sala que eu estava bem e me perguntei que
diabos estava acontecendo. Colei o meu ouvido na porta e não consegui
identificar nada. Espiei e ele estava verificando as janelas, voltei para o
quarto e mandei uma mensagem para o Dante, querendo saber se estava tudo
bem e ele disse para não me preocupar. Era impossível. Com os meus nervos
à flor da pele sobre o evento, minha paranoia estava correndo solta.
Quando achei razoável, comecei a me arrumar. Como usaria meias,
decidi não me depilar, ultimamente, estava diminuindo a escova porque eu
me sentia confortável com o meu cabelo, mas para a festa, decidi fazer algo
diferente, um penteado elaborado com a minha franja de lado e um coque que
deu muito trabalho. Usei fixador e muitos grampos. Me maquiei com calma,
sem querer exagerar e parecer uma palhaça com os flashes das câmeras, testei
com o meu próprio flash do celular para garantir.
Me sentindo pronta, fui para o vestido, que era uma criação da Luna
que seria lançada na próxima coleção e ela me enviou para estreia exclusiva.
O vestido era branco e curto, mas o seu tecido leve deixava um ar meio sexy,
porque apesar de ser todo coberto na parte de cima, marcava bem o contorno
dos meus seios e acabava no meio das minhas coxas. As meias eram para me
aquecer, mas eu duvidava que fosse aguentar dentro da boate. Decidi tirar as
meias, me depilei e passei um creme hidratante que brilhava.
— Caralho. — Dante entrou no quarto já tirando a roupa. — Se eu não
estivesse com a minha bexiga explodindo, eu ia te atacar agora mesmo. —
Tirou a calça e jogou longe, indo para o banheiro. Revirei os olhos e ele
quase gemeu fazendo xixi. Dante não fechava a porta desde que nos casamos,
não que o nosso quarto da lua de mel nos desse qualquer privacidade no
banheiro.
Fazia xixi na frente dele, no começo, ele simplesmente entrava no
banheiro, mas outras coisas eu ainda fechava porta. Ele não, o que não me
deixava surpresa. Dante era desprovido de inibições e esse seu jeito me
ajudava a lidar com as inseguranças do meu corpo. Ficava pelada na sua
frente com facilidade e não me sentia envergonhada. Nu, entrou no chuveiro,
tomando um banho rápido, mordi o lábio observando a água escorrendo pelo
corpo, o pacote de seis gomos perfeitos, as tatuagens e o restante do corpo
perfeito.
— Pena que não me esperou ou poderíamos nos divertir antes de sair.
— Balançou as sobrancelhas.
— Estou bem?
— Está gostosa pra caralho. — Ele sorriu e puxou uma toalha.
Sentei na cama esperando que se arrumasse e ele fez em menos de
meia hora. Todo de preto, lindo, cheiroso, se inclinou sobre mim e me deu
um beijo gostoso. Ele não precisava dizer mais nada depois daquele beijo.
Peguei os meus sapatos e me inclinei, o idiota parou atrás de mim e ficou se
esfregando, erguendo a saia do meu vestido e ri, batendo nele.
— Vou falar sério agora. — Dante me puxou de pé. — Essa pulseira
tem um gps, evite tirá-la e não molhe. As coisas estão tensas, os russos estão
atacando nossos territórios com força e com o Romeo com eles, muitos dos
nossos passos foram entregues. Já agimos em relação isso, mudando tudo
como sempre, mas, essa noite será uma festa muito cheia. Não aceite bebidas
de ninguém além de mim ou do Felipe. Não saia sozinha. Não aceite balas,
doces ou até mesmo água. Vai ter drogas de todo tipo como degustação e
seria ideal que não ficasse bêbada, porque não sabemos o que esperar.
— Tudo bem. — Balancei a cabeça e ele fechou a pulseira em mim. —
Você vai precisar sair?
— Apenas se for necessário, mas a ideia é permanecer no local por um
tempo. — Beijou o meu pescoço. — Não fique nervosa, precisamos aparecer
juntos publicamente e vai ficar tudo bem.
Sem saber o que falar, balancei a cabeça, peguei a minha bolsa e
saímos juntos. O elevador estava parado, Stefanio e Felipe do lado de fora,
Enzo e Juliana dentro juntos, falando e pela expressão do Enzo, ele estava
irritado com algo que a Juliana parecia feliz. Ela estava deslumbrante em um
justíssimo vestido colado ao corpo, exibindo o seu corpo torneado e ninguém
diria que ela tinha mais de trinta anos e dois filhos. Seu rosto ainda era
perfeitamente jovem, o olhar sempre sereno e o sorriso lindo.
Enzo olhou para minha roupa e olhou para o alto, como se pedisse a
Deus paciência.
— Foda-se, vocês duas vão me fazer matar um. — Ele grunhiu. —
Não quero que fiquem sozinhas.
— Eu sei me defender, Enzo. — Juliana revirou os olhos.
— Mia não sabe. — Estava apavorada com a ideia de algum homem
encostar em mim.
— Posso defender a nós duas, inclusive, defender você. — Ela lhe
soprou um beijo. Dante estava divertido, mas sentiu a minha tensão, me
puxou para os seus braços e dizendo que estava muito gostosa.
Observar a Juliana e o Enzo discutindo sobre o quão curta era roupa
dela no carro distraiu um pouco o meu pânico. Nós chegamos ao local da
festa, senti o coração quase explodindo no peito. Juliana e Enzo saíram
primeiro, de mãos dadas, sorriram para os fotógrafos e responderam às
entrevistas. Em seguida, chegou a nossa vez, tremi um pouco de frio, mas a
mão firme do Dante me impediu de desmoronar em tamanho nervosismo.
Sorri para as fotos, parei nos lugares indicados e virei de costas para que
pudessem ver os detalhes do vestido.
Dante foi o único a responder às perguntas dos jornalistas, eu sorri e
corei quando ele me elogiou para a repórter. Juliana e eu paramos para as
fotos juntas no painel de entrada, tiramos uma fotografia em casal e depois,
uma com o Dante. Meus olhos estavam ardendo com as fotos, a minha
sensibilidade à luz me deixou marejada ao entrarmos na escuridão da boate,
que já estava lotada. Subimos a escada para o camarote e vi alguns rostos
conhecidos.
Alessio Valentinni estava lá, mas ele não falou com o Dante, senti
certa tensão por parte de ambos. Enzo sorriu, ignorando os dois. Passamos
por uma série de mesas, cumprimentando pessoas que conhecia de vista.
Ilaria e o Marcus estavam na noite que matei o meu pai, desviei o olhar
quando os encontrei e como não eram do tipo muito acessível, mantiveram a
distância. Chegamos a nossa mesa, Dante ficou de pé, conversando com o
Enzo e com um homem que eu não conhecia, os três estavam armados.
Stefanio me deu um olhar e parou ao fundo. Felipe estava mais próximo.
Juliana estava falando sem parar com as pessoas que chegavam e me
apresentou a tantas que estava perdida. Uma mulher chamou minha atenção.
Ela era muito bonita. Seu nome era Kate King, seu marido era alto,
assustador e eu tentei não me encolher quando apertou a minha mão. Dante o
conhecia, os dois falaram com familiaridade e riram de algo que o Enzo
disse.
Dante pegou uma bebida colorida para me fazer relaxar, do meu lugar,
conseguia observar todo mundo. No patamar abaixo, conseguia ver as
pessoas ficando cada vez mais loucas e mais insanas. Juliana olhou algo em
seu telefone e sentou-se ao meu lado, cochichando que estava na hora de
irmos embora. Dante e o Enzo ficariam porque eles precisavam fazer algo.
Não podia me despedir dele, era estranho sair sem lhe dar um beijo de
despedida e senti um aperto no coração, mas segui o Felipe, Stefanio e a
Juliana para os fundos, entrando no carro e saindo em alta velocidade pelas
ruas frias e vazias de Nova Iorque.
— Ele vai ficar bem, bobinha. — Juliana riu do meu olhar preocupado.
— Você não faz ideia quem o Dante é como um homem feito?
— Ele não costuma deixar que eu veja muita coisa.
— Isso é bom e ruim. — Inclinou a cabeça para o lado. — Bom porque
ele se importa com você e ruim porque você merece conhecê-lo em todas as
partes, principalmente as ruins.
— Como ele é, você sabe?
— Dante é impressionante. Não conheci muito o Nicola, mas o Enzo
sim e ele vive falando sobre o quanto ele era um mestre manipulador e feroz.
— Juliana analisou bem as suas palavras. — Dante não demonstra um pingo
de emoção. Ele não aparenta estar sentindo raiva, remorso, rancor, nada. Eu o
vi durante uma tortura, ele faz com que a pessoa implore para morrer e o vi
sendo torturado, ele ri. É como se ele fosse uma mistura com o humor
distorcido meio psicótico do Enzo, a escuridão letal do Damon e a frieza do
Enrico. No começo, me preocupava que ele estivesse simulando as emoções
para te fazer bem, mas vejo que não. Ele é capaz de sentir afeição, amor, ter
carinho, mas quando se trata dos negócios, ele não tem nada.
— Isso é bom? — Estava confusa e muito assustada com a descrição.
— É. Ele dificilmente vai entrar em colapso por duelar com os seus
sentimentos e os deveres da família, por outro lado, ele não tem limite. Se ele
começa a matar, ele dificilmente vai parar. A única coisa que o detém é a
ordem. Ele obedece e honra, mas eu não quero estar por perto quando ele
encontrar o Romeo. — Encolheu os ombros e assenti. Dante estava com
desejo de morte tão intenso que ele não parava de pensar sobre isso.
— Você tem medo dele? — Juliana me encarou, preocupada.
— Não. Eu o amo e sei que ele me ama também. — Sorri, boba e ela
devolveu o sorriso, tranquila.
26
Mia.
Dante chegou no pequeno apartamento no amanhecer. Ele não se
aproximou da cama imediatamente, podia ouvir a sua respiração pesada,
acendi a luz do abajur, meio tonta de sono e me descobri, esperando-o tomar
banho. Ele saiu do banheiro nu, deixou a sua arma na mesinha do lado, e me
ajoelhei na cama, abraçando-o. Beijei o seu peito, onde o seu coração parecia
que ia explodir e segurei o seu rosto, beijando a sua boca. Sabia que era
errado usar sexo como calmante, mas era o que o ajudava a se conectar
comigo, e eu não me importava que a nossa ligação era o que o puxava de
volta.
Ele me deitou e puxou a minha camisola, tirando a calcinha, sua boca
tomou o meu mamilo, e gemi, agarrando a sua nuca e pressionando, amando
a sua boca em mim. Sempre que o Dante estava com a boca em mim, meu
sangue aquecia e me sentia à beira da explosão. Soltei um gemido alto,
excitada, afastei um pouco mais as minhas pernas e o acomodei, precisando
de atrito. Tentei me esfregar nele, e propositalmente se afastou, com um
sorriso maroto, agarrou o meu pescoço e chupou para deixar marca.
— Você é minha. — Rosnou. Bruscamente, me puxou para cima, e
bati minhas costas na cama ao ponto de quicar. — Todos estavam olhando
para você, falando sobre você e adivinha só? Você é minha. — Deixou um
chupão do outro lado. — Vou te fazer gritar tanto...
— Dante... — Suspirei com os seus dentes mordiscando diversos
lugares do meu corpo, afastou os meus joelhos e me deu uma boa lambida,
olhando em meus olhos e chupou o meu clitóris. Arqueei o meu corpo,
agarrando o lençol e gritei de prazer. — Cristo.
— Cristo não... Dante. — Ele grunhiu, querendo ouvir da minha boca
o seu nome o tempo inteiro. Cantarolei o seu nome só para satisfazê-lo e
porque estava extremamente perdida em uma nuvem de prazer. Ele manteve
as minhas coxas separadas, me segurando no lugar e sem parar de ser tão
exigente com a boca, me levou ao ápice.
— Vira. Empina a bunda. — Mandou e ainda estava tonta. Ele me
virou e deu um tapa estalado em minhas nádegas. — Gostosa. — Meteu com
tudo. — Porra.
Não conseguia falar ou pensar, estava consumida, mergulhando,
explodindo em um orgasmo intenso e apaixonante. Os sons da minha bunda
contra a sua pélvis foram ficando mais altos e ruidosos, erráticos, ele me fez
gozar mais uma vez, provocando meus pontos sensíveis e então, gozou.
Deitei na cama, respirando fundo e ele me puxou para os seus braços,
beijando a minha nuca. Precisei ir ao banheiro rapidamente e voltei para
cama, me rastejando para cima dele. Beijei bem acima do seu coração,
ganhando um sorriso de pós sexo.
— Quer falar sobre essa noite?
— Não aconteceu nada demais. — Ele murmurou. — Mas eu engoli o
meu ciúme com todos os olhares que você recebeu para explodir agora.
— Você ama me exibir, bobo.
— Eu amo te ver linda, porque você fica feliz e ver a felicidade em seu
rosto me deixa maluco. — Passou o polegar em meu lábio, me inclinei,
beijando-o. — Não consigo não ter ciúme.
— O que mais aconteceu essa noite? — Sondei, querendo saber se ele
falaria algo além de reagir sobre a minha roupa. — O que fizeram depois que
saímos?
— Invadimos um laboratório dos russos... — Comentou
distraidamente, olhando para o meu peito. — Havia algumas pessoas lá,
tentei extrair informações sobre o paradeiro do Romeo, mas só tinha alguns
batedores e homens do baixo escalão. Nada demais.
— Você matou alguém? — Olhei em seus olhos.
— Sim.
— Você está bem?
— Agora que estou com você, sim. — Ele sorriu e me beijou. Não
queria falar sobre a sua noite e me perguntava se ele sequer absorveu o que
fez.
Ao olhar em seus olhos, sabia que as suas palavras eram verdadeiras,
porque eu sentia o seu carinho e amor. Não era falso, era honesto, o que
significava que ele realmente não sentia porcaria nenhuma ao ser um homem
cruel.
— Quero você de novo.
— Eu sei. — Soltei um riso nervoso. — Estou sentindo. — Movi os
meus quadris, ele gemeu baixo, segurando as minhas coxas com um olhar
excitado.
Fizemos amor mais uma vez, foi gostoso e me deixou exausta. Mal
consegui tomar um banho, porque estava suada. Me joguei na cama,
apagando em um sono bem pesado e acordei com a voz dele soando baixo.
Não virei de lado para continuar ouvindo.
— Estou bem, Sienna. Fala logo o que você quer. — Ele ficou em
silêncio. — Foda-se, a minha resposta é não e é melhor você começar a
respeitar a minha determinação. Não sou o Nicola que você tinha nas mãos,
fui claro? — Mais um momento em silêncio. — Sim, pode autorizar a
publicação das fotos. Quando voltar, resolvemos essas questões
pessoalmente.
Virei na cama e coloquei a mão em seu peito. Sabia que já tinha
amanhecido. Me perguntei se ele dormiu em algum momento...
— O que foi?
— Sienna tem dificuldade de aceitar a minha ordem porque me viu
crescer. Ela tem a mania terrível de passar por cima, indo falar com meu pai
ou com o Enzo. — Falou baixo. — Enzo me disse para impor o meu lugar,
que ele me colocou para resolver as coisas e não quer ser incomodado com
isso.
— Entendi. — Beijei a sua bochecha. — Ela vai te respeitar agora.
— Espero que sim. Sienna tinha uma relação muito próxima com o
meu irmão e ela fazia o que bem entendia. Não vai ser assim comigo. Ela
trabalha para nós e não o contrário, como às vezes ela pensa que o mundo
vive ao seu favor. — Revirou os olhos e ri. Ele raramente fazia uma atitude
tão boba. Me estiquei e beijei a sua boca.
— Preparado para ser o Sr. Biancchi a noite?
— Não gosto muito desses eventos, mas, vamos sobreviver.
— Estou com fome. — Reclamei e ele riu. — Vamos comer alguma
coisa muito gostosa.
Seu telefone apitou de novo e me mostrou a mensagem. Enzo estava
nos intimando para o café da manhã, porque as meninas estavam perguntando
por mim. Animada, saí da cama e troquei de roupa. Dante se vestiu com mais
calma, colocou a arma na cintura e fomos para o elevador. Ao chegarmos na
cobertura, digitamos o código e entramos. As meninas estavam na sala de
pijama, cabelos bagunçados e muita energia.
Aria se jogou no ar, Dante pegou com um reflexo rápido, ela riu e a
Anna fez o mesmo, mas eu não tinha força e nem agilidade, então, caímos as
duas no chão.
— Tia Mia! Nós caímos! — Ela gritou indignada.
— E a culpa é minha? — Gritei de volta, rindo.
Aria se jogou em mim, rindo, beijei as duas meninas, abraçando ao
mesmo tempo. Amália estava rindo da energia das suas irmãs e me soprou
um beijo, mas gritou indignada que o Dante bagunçou o seu cabelo.
— Duas com energia e uma mal humorada, essa é a minha rotina. —
Juliana apareceu na sala.
— Eu não estou mal humorada. — Amália resmungou.
— Dois minutos atrás você deu uma crise porque o seu pai tirou o seu
telefone do carregador. — Juliana rebateu e a Amália fez um beicinho. —
Linda da mamãe. — Ela agarrou as bochechas da Amália e deu um beijo
barulhento.
— Tio Dante, não. — Aria gritou com as cosquinhas do Dante. —
Papai está fazendo panquecas, você gosta? — Seus lindos olhos como do seu
pai arregalaram e sorriu.
— Eu adoro panquecas. As da tia Mia são as melhores, mas eu vou
provar as do seu pai. — Dante retrucou. Enzo apareceu na porta da cozinha
de avental e segurando uma espátula. Aquele homem assustava muitas
pessoas, todas as pessoas que eu conhecia morriam de medo dele e jamais
poderiam acreditar que ele era um pai que cozinhava o café da manhã em
uma quinta-feira de ação de graças.
— Vem me ajudar. — Ele determinou ao Dante. — Cozinho de graça
apenas para mulheres.
— Você conquista pelo estômago? — Perguntei do meu lugar. Juliana
soltou uma gargalhada.
— Ele aprendeu a cozinhar quando engravidei da Aria e levou um
tempo para fazer qualquer coisa comestível.
— A comida do papai era tenebrosa. — Amália confidenciou, me
fazendo rir alto.
Enzo bufou, mas levou o Dante para cozinha, eles ficaram lá
conversando e preparando a nossa comida. Fiquei sentada no chão com as
duas mais novas, pintando em um livro de gravuras e a Juliana penteava o
cabelo da Amália. Pela fresta da porta, vi a expressão do Dante e ele parecia
tão perigoso e irritado. Aquele olhar furioso trouxe um arrepio a minha pele,
mas não fiquei encarando porque não queria ser pega. Estava me roendo de
curiosidade, não iria perguntar porque as meninas estavam na sala.
— Estava linda ontem a noite. Quero o vestido. — Juliana comentou e
eu sorri.
— Tudo bem. Vou deixar com você.
Voltei a olhar para cozinha e o Dante estava próximo a uma janela,
falando, mas eu não podia ver os seus lábios. Ele estava sério e sombrio, o
que me causava um pouco de conflito. Enzo saiu da cozinha com o que
faltava para a mesa do café da manhã e o Dante o seguiu com alguns pratos
com ovos e bacon. As meninas estavam famintas, porque elas correram para
mesa, pegando os seus lugares, levantei devagar, analisando a expressão do
meu marido, mas ele sorriu e me deu um beijo doce.
A mesa estava repleta de comida o que alegrou o meu estômago
faminto. Como sempre, Dante começou a me servir. Ele sabia que eu comeria
doce primeiro, então, ele pegou uma panqueca média, frutas vermelhas e
passou alguns fios de cobertura de syrup por cima e uma colher generosa de
chocolate derretido. Fez o meu café com leite sem açúcar. Sorri e o beijei,
grata.
Juliana olhou para nossa troca com um beicinho e esticou o seu prato
para o Enzo, que já estava comendo, distraído e não entendeu. Ela cruzou os
braços e ficou esperando. Dante apontou para comida.
— Não tenha esses modos na minha casa. Minha esposa vai pensar que
eu devo fazer igual. — Enzo resmungou e começou a encher o prato da
Juliana. — Eles são recém-casados, é obrigação dele agradar, ou não tem
ação. — Ele provocou e eu corei. Dante riu. Juliana deu um olhar irado ao
marido. — O que foi? — Ele soava até inocente.
— Você quer que eu exponha nossa vida sexual aqui ou sigo fingindo
que era como casamos? — Ela arqueou a sobrancelha. Enzo soltou uma
risada e a puxou bruscamente, beijando-a. — Idiota.
— Nossa vida sexual é melhor do que quando casamos. — Enzo
comentou e sorri. Juliana mordeu a bochecha dele, mandando parar de falar
besteira. — Bruta.
— O que há com elas e mordidas? — Dante balançou a cabeça. — A
Mia parece um cachorro.
Dei um tapa forte nele.
— Tia Mia, o que aconteceu com o seu braço? — Aria estava de olho
em minha cicatriz e furou um morango, levando a boca, mas continuava me
encarando com curiosidade.
— Eu caí da escada. — Ocultei que a minha cunhada teve um acesso
de fúria e queria me matar. — É por isso que tem que tomar cuidado na
escada.
— Tudo bem. — Ela sorriu.
— Muito bem, meninas. Vocês terminaram de comer, agora vão subir,
lavar as bocas e escolher as roupas para o dia. Vou subir para verificar vocês
em alguns minutos. — Juliana limpou a boca da Aria.
As três saíram correndo, mas a Aria era menor que todas, ela
aparentava ser uma criança pequena para a sua idade. Ela gritou para as suas
irmãs esperarem e teve dificuldade de subir a escada correndo.
— Anna, abre a porta! — Ela bateu com os punhos na porta. Sua voz
era tão fofa.
— Abram a porta para Aria! — Juliana gritou e imediatamente a porta
foi aberta. — A caçula sofre. — Suspirou e então olhou para a minha cicatriz.
— Ficou bem...
— Doeu como um inferno. — Olhei para a linha fina e o rosto do
Dante mostrava o quanto ele ainda estava irritado com a situação. — Está
tudo bem agora. — Dei um tapinha na coxa do meu marido. — Já passou.
— Temos uma missão para vocês. — Juliana se inclinou para frente.
— Devido aos acontecimentos da noite passada, nós precisaremos viajar por
dois dias para resolver essas questões em Chicago, já que o Damon está na
Itália e muito ocupado. Precisamos que vocês fiquem com as meninas, por
favor. — Apoiou o queixo nas mãos.
— Emerson irá comigo, minha cunhada está na Itália e o Alessio, por
motivos óbvios, não está com a cabeça no lugar para ficar com elas.
— Será um prazer. — Sorri, empolgada em tomar conta delas.
— É uma honra, agradeço a confiança. — Dante apertou a mão do
Enzo e as tatuagens se tocaram.
— Eu gostaria que você viesse comigo, mas eu prefiro ficar tranquilo
que as meninas estarão seguras. Nós não costumamos ficar longe delas
quando estamos aqui em Nova Iorque e não há tempo de levá-las para a villa
bella . Quando a Giovanna está aqui é mais fácil. — Enzo comentou.
Giovanna costumava tomar conta das meninas por bastante tempo, como ela
era madrinha, era como se fossem suas filhas. — Antes disso, vamos treinar.
Eu preciso bater em alguém antes de aguentar a festa de hoje a noite.
— Eu vou te derrubar. — Dante torceu o sorriso.
Enzo riu.
— Você vai tentar.
— Quer treinar alguns golpes? — Juliana me ofereceu. — As meninas
estão acostumadas a se distrair na academia quando treino com o Enzo.
Topei treinar, mas eu não tinha roupas para o treino, então, a Juliana
me emprestou. Ela era menor que eu, então, o meu peito ficou derramando
pelo top e o short bem curto e apertado, marcando toda a minha bunda.
Peguei uma camisa do Dante para me cobrir e calcei chinelos, no dojo não
podia usar sapatos. Levei meias para vestir durante o treino.
Cheguei na academia e o Dante estava lutando contra o Alessio. Os
sons dos socos eram assustadores. Juliana me deu um sorriso, mas eu podia
sentir a tensão entre eles e fiquei preocupada se o Dante estava levando o
treino como uma luta real porque às vezes, ele perdia a noção.
— O que aconteceu entre os dois? — Parei ao lado da Juliana.
— Alessio tem dificuldade em aceitar ordens e ele ficou meio mordido
que o Dante ganhou a tatuagem, mas ele fez uma escolha e precisa lidar com
isso.
Com a tatuagem, Dante era o quarto homem e isso significava que ele
tinha muito mais que a sua futura posição de subchefe, ele podia transitar
entre os territórios e comandar os homens como os outros. Fiquei arrepiada
quando o Dante deu um soco, em seguida deu um chute, o som foi horrível e
o Alessio caiu de costas em um baque.
— Já chega. — Enzo determinou e o Dante se afastou como se nada
tivesse acontecido. Ele pegou uma garrafa de água e ofereceu ao Alessio, que
puto, tomou a garrafa e saiu da academia. Não consegui ouvir o que o Enzo
disse ao Dante, mas o meu marido sorriu e pulou no lugar, se preparando para
lutar contra o Enzo.
Alessio não voltou mais, eu prestei atenção nos golpes que a Juliana
me ensinava. Não era muito fácil manter o equilíbrio com toda a minha falta
de jeito e sedentarismo. Juliana era ágil, parecia tão fácil, quando tentava, era
mais complicado. O primeiro treino me deixou determinada a tornar isso algo
fixo na minha rotina. Suadas, paramos algumas horas antes do jantar de ação
de graças que seria oferecido em um hotel no centro. Juliana ficou para trás
com o Enzo e as meninas, entrei no elevador sozinha com o Dante.
— Se você usar essas roupinhas em casa, podemos treinar. — Dante
apertou a minha bunda e ri.
— Não perguntou a minha opinião, mas é uma boa ideia brigar com o
Alessio? — Olhei para o seu rosto vermelho e suado.
— Se você pensa que eu vou me dobrar porque ele é mais velho ou
parente da Juliana, está muito enganada. Se ele não me respeitar, não terá o
meu respeito. Se me enfrentar, bancando o valentão, vai descobrir que eu
brinco com quem eu quero. — Deu um beijo na minha bochecha. — Não se
preocupe com isso. Alessio é um homem grandinho, ele vai superar.
Ele podia ser um homem grandinho, mas era um homem da máfia e
eles tinham orgulho como paixão da vida. Alessio era o segundo no comando
em Nova Iorque, até que o Enzo fez o acordo com o Damon, o outro lado da
família levava as coisas de um jeito mais duro. A decisão do Alessio teve um
peso e não era culpa do Dante, mas não queria que houvesse brigas entre duas
pessoas de confiança do Enzo e da Juliana. Não queria que o meu marido
sofresse por essa posição.
— Mia? — Dante segurou a minha mão. — É sério. Confia em mim,
eu disse para não se preocupar. Desfaça essa expressão séria e sorria.
— Não quero que entre em problemas. — Avisei severamente. —
Confiança e família no nosso meio é mais importante que tudo. Alessio é
como um irmão para a Juliana, então, tome cuidado com as suas atitudes.
— O que prova uma lealdade nessa família não é o sangue
comprovado em um DNA e sim aquele que derramamos em dias difíceis. —
Dante abriu a porta do apartamento. — Se ele acha que a família não é o
ambiente que quer criar o filho, ele não merece o respeito e não deveria ficar
com raiva de mim. Apenas isso. — Piscou e eu lembrei do quão feroz ele
estava lutando. — Você tem um chute forte, vamos treinar essas pernas
quando voltarmos para casa.
— Você só me quer com pouca roupa e suada.
— Sou tão óbvio assim? — Brincou, me fazendo rir.
Era melhor ficar com a versão do Dante brincalhão do que com a
versão do Dante feroz.
27
Dante.
Mia estava distraída se olhando no espelho do elevador, retocando o
seu brilho labial que eu tirei beijando a loucamente no carro a caminho daqui.
Olhei para a sua bunda, passei a mão e coloquei a minha mão em suas costas
nuas. Ela usava um macacão azul escuro, cumprido, todo coberto na frente,
com as costas descobertas, saltos altos bem finos, ela estava muito gostosa.
— Tira a mão da minha bunda, Sr. Ego.
— Não consigo, Sra. Gostosa. — Murmurei e beijei o seu pescoço.
— O elevador vai abrir. — Me deu uma cotovelada.
Assim que as portas abriram, coloquei um sorrisinho irônico no rosto e
segurei a minha mulher possessivamente. O local estava muito cheio, era
esperado boa parte das famílias e associados, por isso foi organizado em um
hotel. Mia e eu passamos por algumas pessoas e cumprimentamos apenas as
certas. Nossa mesa foi atribuída ao lado do salão que estava a maioria dos
subchefes.
Romano Carlucci era o novo subchefe da Filadélfia, ele estava viúvo
e procurando uma nova esposa, o seu olhar para a Mia me fez lhe dar um
olhar de aviso. Mais uma olhada e ele ficaria sem os dentes.
— Biancchi. — Romano esticou a mão. Apertei bem firme. Mia
sorriu. — Olá, Sra. Biancchi. Me disseram que era uma mulher encantadora,
mas é ainda melhor pessoalmente.
Mia ficou vermelha.
— Me disseram que você é um homem vaidoso, mas pode levar um
tempo reconstruindo a sua arcada dentária. — Dei de ombros. Mia me olhou.
Eu nunca reagiria a qualquer comentário sobre ela, mas existia um limite que
o meu sangue conseguiria aguentar.
Romano apenas sorriu, piscou e foi cumprimentar um casal que estava
se aproximando. Antes que ela pudesse falar algo sobre o meu rompante,
duas garotas que regulavam a sua idade se aproximaram. Ambas estavam
bem vestidas e armadas com vestidos irritantes. Mia ficou ereta, olhando-as
com cuidado, coloquei a mão na base das suas costas, analisando as garotas.
— Mia, uau! — Uma delas abriu os braços. — É até difícil acreditar
que é você. Está tão bonita. Sua roupa é linda... Deixe-me adivinhar, algum
modelo exclusivo da coleção da sua prima? Ela é maravilhosa.
Porra, que vaca.
Mia me deu um olhar nervoso e virou o rosto.
— Sim, é da nova coleção.
— Você é literalmente a versão do patinho feio que virou um cisne. É
impressionante o quanto conseguiu domar os seus cabelos e fazer as
sobrancelhas. — A outra comentou, eu virei, a olhando de cima a baixo.
— Saiam daqui. — Falei baixo. Elas prenderam a respiração. —
Agora.
Ambas se afastaram rapidamente.
— Porra. O que foi isso? — Tirei o seu cabelo do ombro.
— Garotas da escola não deixam de ser garotas da escola. — Encolheu
os ombros. Ela ficou chateada com os comentários, mas não falou nada. —
Vamos cumprimentar o Vincent e a sua esposa, Aurora. Eles estão na mesa
da lateral. — Mudou de assunto. Segurei a sua mão e a levei até o casal.
Esses eventos eram insuportáveis, eu estava irritado só de ser um dos
muitos convidados, já estressado ao pensar que no próximo ano precisaria
oferecer um evento desse em minha casa, porque a família gostava dessas
tradições, era honroso convidar os membros com um banquete. Eu odiava ser
simpático e esperava que a Mia conseguisse não ser tão tímida em público.
Seria um pesadelo receber milhares de pessoas e ela mal abrir a boca,
querendo se esconder, mas eu tinha que reconhecer que ela evoluiu muito nos
últimos meses.
O jantar de ação de graças foi longo, muita comida, bebida e é claro
que alguns convidados ficaram muito bêbados. No meio da noite nós
voltamos para o apartamento, Mia tirou a roupa, ficando de calcinha, me
joguei na cama a observando andar de um lado ao outro arrumando as nossas
coisas para viajarmos cedo.
Ficaremos em Hamptons com as meninas e para mim, era uma honra
do caralho ter a confiança dos chefes para proteger as meninas e eu daria a
minha vida por elas. Mia estava no sétimo céu. Stefanio e Felipe estariam
conosco, assim como Demetrio, o guarda-costas delas.
Mesmo honrado em estar com as meninas, eu ia ficar sedento se na
viagem para Seattle eles encontrassem o Romeo. Porra. Esperava que o chefe
o trouxesse para mim. Era capaz de ir a pé até lá para matá-lo.
— Acho que guardei tudo. — Mia olhou ao redor, conferindo, eu
estava só olhando-a sem sutiã, de calcinha e eu queria cair de boca naqueles
peitos. — Vou colocar isso no banheiro. — Se aproximou para pegar a minha
necessaire, eu a agarrei, jogando na cama. — Dante, eu não sou uma boneca
de pano!
— Ainda bem que não é uma boneca, adoro quando você geme e
dança junto. — Mordi o seu ombro, ela me deu um tapa, beijei a cicatriz do
seu ombro. — Estou feliz que tenha usado costas nuas hoje. Você estava
linda. Mostrou para esse bando de bastardos que você é foda.
— Não sou nada. Eu deveria ter respondido aquelas garotas e travei.
— Assumiu tímida. — Me odiei por não ter respondido, agora elas vão dizer
que preciso de você para me defender. Sinto que falhei.
— Não falhou nada, um dia vai falar e sim, eu vou te defender até o
fim da minha vida. Você encanta com a sua doçura. Tem que criar uma casca
mais grossa e enfrentar os seus medos, principalmente matar os seus pais
dentro da sua mente. — Bati com meus dedos na sua testa. — Eles te
consomem aí dentro. Entendo que foram anos de medo e opressão, mas eles
estão mortos, não te controlam mais, sou seu marido e estou te dizendo que
só não pode sair pelada. — Ela sorriu e beijei os seus lábios.
— Estou tentando.
— Sei que vai conseguir.
Nós ficamos conversando na cama, falando sobre o jantar e os
convidados. A maioria dos subchefes estavam tensos e as esposas loucas para
se exibirem. Mia estava linda e era uma das mais jovens. Ela foi adorável
com cada uma delas, mesmo as mais vacas. Esses eventos eram importantes
para reafirmar as alianças e negociar o necessário, mas eu estava sendo
visado por ter sido o quarto escolhido e pelo que sabia, nenhum outro seria.
Não por enquanto.
Meu pai sempre atraiu muita atenção por agir no meio da política e
por saber livrar as pessoas dos seus pecados, ele tinha um livro de pessoas
que lhe deviam favores e um caderno de segredos.
Ao contrário do meu irmão, não segui os mesmos passos e eu não tinha
paciência nenhuma para agir diplomaticamente. Precisaria aprender, porque
era o costume da minha região de dominação, mas não seria tão engomadinho
e cheio de merda. Nicola conseguia transitar entre os dois mundos sem sujar
o terno, mas o meu irmão era um fodido psicopata que me ensinou a quebrar
ossos em uma tortura quando eu tinha onze anos.
Nicola fez questão de tirar de mim cada mísera luz e esperança, ele
torceu meus sentimentos e expulsou a minha bondade de garoto.
Tudo que havia de bom em mim estava dormindo ao meu lado.
Quando conheci a Mia, eu senti algo diferente, tão diferente que só consigo
identificar hoje. Sempre fui honroso e obediente, eu nunca mancharia o nome
da minha família, eu amaria os meus pais e as minhas irmãs até o fim da
minha vida e pensei que levaria um tempo para me afeiçoar a Mia. Foi
instantâneo. Ela tinha um sorriso tímido, um olhar assustado e uma adoração
por tudo que a minha mãe falava.
Meu pedaço de luz era ela e por mim, estava bom.
Acordei com a sua bunda movendo-se contra o meu pau, ela estava
acordando e querendo sair do meu aperto, mas eu segurei o seu quadril,
enfiando o meu rosto em seu pescoço.
— Deixa de ser tarado, eu preciso fazer xixi. — Ela me empurrou e ri.
Saiu da cama e foi para o banheiro. — Estou com fome. — Reclamou do
banheiro.
Eu estava com fome dela, mas iria alimentar a minha mulher ou ela
ficaria insuportável. Saí da cama e entrei no banheiro no momento que ela
estava tirando a calcinha para tomar banho. Seu rosto estava todo manchado
de maquiagem, sabendo que estava mal humorada, decidi começar a encher o
saco.
— Você está parecendo um panda. — Falei do meu lugar da pia. Ela
me deu um olhar exasperado. Eu ia apertar os seus botões até me mandar à
merda. Desci o meu olhar para a sua bunda. — Talvez você devesse começar
a treinar mesmo. Ganhou peso desde que casamos. — Mia virou o rosto e
abriu a boca, mas não falou nada. Seu rosto ficou vermelho, de vergonha e
não de raiva. — Te chamei de gorda e você não vai reagir?
— Eu sei o que você está fazendo, estou com fome e se não parar de
tentar me irritar, eu vou ficar puta e te agredir. — Suspirou e lavou o rosto.
Tirei a minha cueca e entrei no chuveiro. — Não vem de graça, você acabou
de me chamar de gorda.
— Você sabe porque estou te provocando. — Dei um tapa na sua
bunda. — Você não engordou nada. — Abracei-a. — Mas queria que
reagisse.
— Não tem graça com você. — Fez um ligeiro beicinho. — Ganhei
peso sim, seu bobo, mas pela primeira vez, não estou mal com isso.
— Não?
— Não... Gosto de como estou agora.
— Que bom, porque se emagrecer e perder essa bunda, vou perder a
minha mente.
— Idiota. — Murmurou antes de me beijar. Ela me provocou
chupando a minha língua. — Não se empolga. — Tarde demais. — Estou
com fome.
Fiz um beicinho e tomamos banho rapidamente. Ela foi se vestir, dei
uma olhada no quarto, guardando o que faltava e esperei que terminasse para
fechar a sua mala ou ela nunca iria parar de mexer nas coisas. Me vesti e
recebi a mensagem para subirmos porque as meninas estavam prontas. Mia
estava com fome e talvez um pouco cansada, então, ela ficou muda. Deu
abraços e beijos na Juliana, arrulhou com as meninas, mas ficou quieta, o que
era muito engraçado.
— O que ela tem? — Enzo inclinou a cabeça na direção dela.
— Fome.
— As meninas também, então, boa sorte. — Sorriu, apertamos as
nossas mãos e nossas tatuagens se tocaram. — Nos vemos domingo a tarde.
— Vamos ficar bem.
Juliana me deu um abraço apertado e apertou a minha bochecha.
— Guarde os seus monstros no armário e seja o melhor tio para as
minhas filhas, mas se alguém ousar machucá-las, solte-os. — Sorriu e
pisquei.
Peguei a Aria no colo, ela escondeu o rostinho em meu pescoço, com
medo das pás do helicóptero corporativo. Mia entrou na frente com a Amália,
ajudando a Anna a subir. Subi com a Aria e a coloquei no banco, prendendo
com o cinto e ajustando os fones. Stefanio e Felipe entraram por último. O
piloto informou a decolagem, acenamos uma última vez, nos despedindo. A
viagem em si não era longa, a visão era espetacular, olhar toda cidade de
cima e em seguida, o oceano.
Pousamos no quintal dos fundos, foi uma comoção e eu vi que
definitivamente não estava preparado para ter filhos, porque cada uma delas
tinham milhares de coisas e exigências. Mia estava rindo do tanto que elas
gritaram e me chamavam. Sinalizei para que os guardas se virassem com as
malas. Aria estava irritada e se recusava a andar, então, mais uma vez,
atravessei o quintal com ela no colo.
A governanta da casa nos recebeu com arrulhos e falando alto como
toda italiana de raiz. Malena avisou que o café da manhã estava pronto, foi
como música aos meus ouvidos, as meninas saíram correndo, Mia sorriu pela
primeira vez desde que abriu os olhos. A mesa da cozinha estava repleta de
comida. Stefanio, Felipe e Demetrio juntaram-se a nós quando terminaram de
carregar as malas.
— Ai, que delícia. — Mia suspirou ao comer os cannolis. — Como eu
estava com fome!
— Eu também. — Anna sorriu. — Mamãe nos deixou dormir demais.
— Reclamou e eu ri. Juliana iria pegar as três por reclamar dela.
— Depois do café, vocês vão me mostrar a casa?
— Podemos brincar na praia um pouco? — Amália pediu.
— Está frio, então, será agasalhadas. — Mia determinou e elas
sorriram.
Após terminarem de comer, Mia subiu com elas, segui para me
ambientar. A casa era enorme, mas a Malena nos colocou em um quarto de
hóspedes próximo ao quarto das meninas, bem perto do quarto principal que
era uma ala meio separada dos demais. Elas ainda dividiam o mesmo quarto,
que era enorme e cada uma tinha uma cama de solteiro um pouco maior que
as convencionais.
Dei privacidade para que trocassem de roupa, pegando algo mais
aquecido e eu abri a mala, pegando as botas e casacos da Mia. Não adiantava
prevenir que as meninas não ficassem resfriadas se ela ficasse doente. As
quatro correram para a areia com brinquedos e cobertores. Parei no alto da
colina, olhando-as e o Stefanio parou ao meu lado. O vento estava frio, pelo
menos, não estava forte.
— Alguma novidade?
— Por enquanto, não. — Ele enfiou as mãos no bolso do casaco. —
Estou analisando a planta de possíveis lugares que eles possam estar.
Devemos planejar uma invasão calculada para que eles não se escondam
novamente.
— Vamos organizar equipes, mas eu quero todos treinados e agindo da
mesma maneira. — Retruquei sem desviar os olhos das meninas na areia.
— Seu pai deu alguma posição sobre tirar o Bracci?
— Não. Ele acha que podemos começar uma guerra política, mas não
me importo. Não posso agir com o Bracci aconselhando meu pai e eu vou
matar o seu filho. Acha mesmo que ele vai me ajudar a articular um plano
para executar o Romeo? — Bufei e o Stefanio ficou sério.
— Se o seu pai não tirar...
— Eu sei o que fazer.
Ficamos em silêncio e a Mia sinalizou para me aproximar. Desci a
escada para areia e a Aria jogou uma quantidade de areia em minhas calças
sem querer.
— Estamos cavando um fosso para construir o nosso castelo.
— Não deveria construir o castelo e depois o fosso? — Questionei.
Mia me deu um olhar. — Tudo bem, façam do jeito que quiserem. — Ergui
as minhas mãos.
Eventualmente, ajudei na construção do castelo e as meninas ficaram
alegres por finalizar. Mia tirou fotos delas com a obra de arte, juntas e
separadamente, nós saímos da praia na hora do almoço, lavamos as mãos e
almoçamos um delicioso espaguete com almôndegas que a governanta da
casa preparou. Mia subiu com elas para ajudar com o banho, fiquei no sofá,
esperando. Uma hora depois, minha esposa desceu a escada e se jogou em
mim.
— Cansada?
— Fazer esforço na areia me deixou exausta. — Murmurou e beijei a
sua testa. — Preciso de um banho. — Resmungou e me olhou. — Quer me
dar um banho?
— Pensei que nunca fosse oferecer. — Suspirei e saímos do sofá.
As meninas não podiam passar de quarenta minutos de soneca ou
demorariam a dormir mais tarde, então, eu não era idiota em mantê-las
acordadas até tarde. Entramos no quarto de hóspedes e tiramos as milhares de
roupas de frio. Ela ligou a torneira da banheira, aquecendo a água e se
inclinou, com a sua bunda perfeita empinada em minha direção sem nenhuma
maldade. Eu amava aquela bunda.
O banho começou muito bem, mãos bobas, água aquecida, Mia
gozando nos meus dedos, prontinha para uma farra na água, quando ouvi uma
batida tímida na porta.
— Tia Mia? Anna me bateu! — Aria estava chorando.
— Já estou indo, amor. — Mia avisou e me deu um olhar divertido. —
Acho que você vai precisar terminar com as mãos. — Me deu um beijo e saiu
da banheira, secando-se rapidamente e se enrolou em um roupão. — Vem,
Aria. Vamos conversar com a sua irmã sobre te bater. — As vozes foram
subindo.
Olhei para o meu pau muito duro e suspirei. Eu me recusava a tocar
uma punheta, mas parecia que sexo era algo praticamente impossível com
três meninas ao nosso redor querendo atenção o tempo todo. Saí do banho,
me sequei e vesti uma roupa. Esvaziei a banheira e encontrei a Aria com os
olhos vermelhos, a Anna com um beicinho e a Amália pintando as unhas.
Elas dormiram apenas trinta minutos e nada mais... Maravilha.
— Nós vamos ter uma tarde de cinema, um monte de filmes e pipoca.
Você é bem-vindo em ficar conosco. — Mia terminou de trançar o cabelo da
Anna. Ela ainda estava envolvida com o seu roupão.
— Tenho um pouco de trabalho a fazer. — Me inclinei e beijei seus
lábios. Ela me deu um olhar que sabia muito bem o que eu queria e sorri. —
Mais tarde vou ficar com vocês.
— Tudo bem, bom trabalho. — Aria me deu um aceno e soltei uma
risada.
Devidamente expulso do quarto das meninas, peguei o meu notebook e
comecei a trabalhar. Eu tinha um traidor para caçar e esperava poder matá-lo
em breve.
28
Mia.
Dante estava com uma espada de plástico lutando contra uma boneca
que era a bruxa má. Ele lia as frases no livro e atuava, pulando pelo quarto,
rolando na cama e as meninas estavam com os olhos brilhando de excitação e
paixão. Eu estava do mesmo jeito. Meu coração não podia se apaixonar ainda
mais. De repente, ele me pegou no colo e me deu um beijo, me curvando.
— E eles viveram felizes para sempre. — Anunciou, elas pularam na
cama, começando a gritar de alegria e eu ri, apaixonada pela empolgação.
Dante se curvou e me obrigou a fazer o mesmo, aceitando os aplausos.
— Muito bem, meninas. Hora de ir para cama. — Sorri e me
aproximei. — Agradeçam ao tio Dante por essa história incrível.
— Obrigada, tio Dante. — Elas soaram juntas e uma a uma foram dar
um beijo de boa noite nele, que aceitou com amor e fazendo arrulhos.
Meia hora depois, elas finalmente dormiram, podia sentir os meus
músculos doloridos. Um dia inteiro de brincadeiras e lidando com a energia
de sobra delas, estava exausta como no dia anterior, que eu dormi antes de
jantar e acordei cedo com a Aria me chamando. Saí do quarto de fininho,
quase na ponta dos pés e desci as escadas, encontrando o Dante na sala de
jantar servindo vinho nas taças. O abracei e beijei o seu pescoço.
— O melhor contador de histórias, o meu príncipe maravilhoso. — Ele
sorriu e nos beijamos.
As meninas jantavam cedo demais e decidimos comer mais tarde. Ele
esquentou o delicioso risoto que a Malena preparou com bastante queijo,
trufas negras e um filé assado que, segundo ele, estava simplesmente macio.
Comemos a meia luz, com um clima de romance, sabia que ele estava super
excitado, pela manhã tomou todas as suas vitaminas e as cápsulas de proteína
que tinham estimulante sexual e ele costumava ficar maluco. As meninas não
facilitaram em nada, mal nos beijamos.
Me recusei dormir deixando a cozinha suja e ele me ajudou a limpar
tudo, roubando beijos quentes, me pressionando contra o balcão, empurrando
a sua ereção em mim e com as suas mãos bobas por todo lugar.
Subimos em silêncio para o quarto, fechei a porta, trancando, apenas
para não sermos surpreendidos. Ele tirou a minha roupa, literalmente
atacando os meus peitos como um homem faminto, fomos para cama, com
beijos, abraços aquecidos, ia dizer para ele não descer em mim para
economizar tempo, mas, deixei de lado quando senti sua boca no meu clitóris.
Soltei um gemido e cobri a minha boca, mordendo o lábio para me
conter, excitada, segurei o seu cabelo e gozei, gostoso, sorri e ele parecia
incrivelmente satisfeito. Ainda me descobrindo sexualmente, nem sempre
conseguia chegar lá, com a penetração só acontecia se estivesse muita
excitada. Dante me empurrava além da minha vergonha de estar tão exposta,
o medo e as inseguranças sobre o meu corpo com facilidade.
— Minha gostosa... — Ele grunhiu, com tesão, me deu um beijo de
nublar os meus pensamentos e meteu gostoso demais e estocou contra mim.
— Deliciosa...
— Tia Mia! Não consigo dormir! — Aria deu com os punhos na porta.
Dante parou no meio do movimento, nos olhamos chocados, mas eu
comecei a rir.
— Não é possível. — Ele gemeu, me movi, precisando sair para
atender a menina. Puxando fora, rolou para o lado. — Isso é um pesadelo. —
Olhou para o seu pau realmente muito duro.
— Eu já vou, Aria. — Falei baixo. Ela parou de bater. — Eu te amo.
— Me inclinei e o beijei.
— Eu também te amo e quero te comer. — Fez um beicinho. Ri e saí
da cama, me enrolei em um roupão longo na esperança de voltar para cama e
continuar de onde paramos.
Aria estava com os olhos vermelhos de chorar de sono. Peguei ela no
colo e vi que tinha acordado as suas irmãs, que estavam irritadas. Deitei em
uma cama e não levou cinco minutos para as três deitarem ao meu redor, cada
uma com seu ursinho favorito de dormir. Fiquei esmagada entre elas e fechei
os olhos, pensando que se eu fingisse estar dormindo, elas dormiriam logo.
Acordei e suspirei, droga. Era a manhã seguinte. Elas estavam
dormindo ainda, saí da cama, entrei no quarto em frente e estava vazio.
Tomei banho para acordar, vesti uma calça jeans que era bem justinha e me
deixava com as pernas bonitas, uma blusa branca simples com um
casaquinho de cashmere rosa escuro. Fiquei de meias, a casa estava bem
aquecida, mas estar de meias era mais fácil para calçar o sapato e sair com as
meninas para o quintal.
Não sabia que horas os pais delas chegariam e eu estava com fome.
Desci as escadas e ouvi vozes na cozinha. Empurrei a porta e me deparei com
Enzo, Juliana e o Dante. Malena estava fazendo o café da manhã com um
sorriso.
— Bom dia, dorminhoca. — Dante me deu um sorriso torto. Fiz um
beicinho.
— Bom dia. — Me refugiei em seus braços. — Desculpa, eu dormi.
— Está tudo bem. — Me deu um beijo.
— Oi, gente. — Acenei para o casal que nos olhava com interesse. —
Foi tudo bem?
— Poderia ter sido melhor. — Enzo retrucou enigmático.
Dante terminou de fazer a sua bebida proteica fedida.
— Então você toma isso e vai treinar? — Juliana conferiu o copo na
frente dela. Dante serviu um para o Enzo, que cheirou e deu de ombros.
— Eu ia correr hoje, mas posso treinar agora que vocês chegaram.
Machuquei o Stefanio ontem e acho melhor descansar por uns dias. — Dante
explicou, revirei os olhos discretamente. — Preciso avisar que tem algumas
coisas aí que deixa meio excitado.
— Meio? — Bufei e cobri a minha boca. — Desculpa.
— Tem estimulante sexual? — Juliana abriu um sorriso. — Bebe,
Enzo. Agora.
Soltei uma risada alta e escondi o meu rosto no peito do Dante por
estar rindo do Enzo. Ele pegou o copo e virou tudo de uma vez só. Juliana
cobriu o nariz e bebeu, mais devagar, mas bebeu tudo. Dante me ofereceu, eu
neguei, aquilo tinha um gosto de terra com capim, era horrível. Parecia
chocolate batido, mas era só enganação.
— Essa coisa deixa excitado mesmo? Na sua idade, eu tirava sangue
do nariz sem ajuda, tomando isso aqui... Coitada da Mia. — Enzo brincou, eu
ri, olhando para o Dante.
— Ele que use as mãos. — Juliana deu de ombros.
— Nah. — Dante riu e me abraçou. — Quando voltarmos para casa
resolvemos isso tudo.
Os olhos do Enzo brilharam.
— As minhas bloqueadoras de pau atrapalharam o coito? — Ele soltou
e gargalhei. Dante assentiu ansiosamente porque era impossível negar.
Juliana deu um soco no braço dele, mas riu.
— Foi a Aria, certo? Ela tem uma coisa dentro dela, tipo um alarme
que desperta cada maldita vez que nós vamos transar. — Ele continuou rindo.
— Ela sempre bate na porta com uma desculpa inteiramente esfarrapada e
sem sentido na hora H.
— Isso é verdade. — Juliana estava vermelha de rir. — Ela já nos fez
parar no meio de cada situação, mas as outras duas não ficam atrás. —
Comentou e falando nas pestinhas, elas entraram correndo na cozinha porque
devem ter ouvido a voz do pai. — Meus amores! — Juliana abriu os braços.
— Mamãe! Papai! — Elas gritaram tanto que cobri os meus ouvidos,
mas foi lindo o reencontro e eu estava apaixonada pela cena. Por um instante,
me deu vontade de chorar porque eu nunca fui abraçada daquela maneira
pelos os meus pais. Enzo e a Juliana mandavam no nosso mundo, eles eram
cruéis e poderosos, mas, eram pais apaixonados que amavam as suas filhas
mais do que tudo.
Dante passou o braço em meu ombro e beijou a minha bochecha, me
fazendo desviar o olhar da cena. Para me ocupar, comecei a ajudar a Malena
arrumar a mesa e colocar todos os pratos nos lugares certos. Não levou muito
tempo para estarmos ao redor, passando vasilhas de comida, ajudando as
meninas a comer, Enzo suspirou feliz por comer a comida de casa, me
perguntei o que eles comiam quando ficavam na estrada, disfarçados, se
misturando na multidão e caçando pessoas...
— Quer dar uma caminhada na praia? — Dante me ofereceu,
prontamente aceitei, nós não ficamos sozinhos como estamos acostumados e
dei um beijo em seus lábios, empolgada.
Juliana e o Enzo subiram com as meninas, calcei as botas para passear
na areia que estava extremamente fria. De mãos dadas, saímos da casa e
descemos as escadas para a areia. Uma revoada levantou os meus cabelos e o
mar parecia furioso, mas, era uma paisagem linda. Caminhamos em silêncio
por um tempo, contemplando a beleza a nossa frente e então, ele tirou o
celular do bolso, fotografando e virou a câmera para mim.
Tiramos algumas fotos juntos e em seguida, ele sentou na areia, me
puxando para o seu colo. Beijei os seus lábios, ficando aquecida entre os seus
braços. Senti que o seu humor estava meio tenso.
— Você está chateado?
— Um pouco. — Ele apoiou o queixo na minha cabeça.
— Por causa de ontem à noite? — Meu coração deu um salto.
— Claro que não, bobinha. — Apertou o meu nariz. — A viagem deles
não trouxe resultados positivos. Depois de anos com os russos mantendo a
sua organização fora do país, eles estão voltando e comendo na beirada dos
nossos territórios. Em uma das reuniões, descobriram que as células locais
estão unindo esforços com gangues inimigas para depois dividirem ou
brigarem pelo território.
Merda.
— Coisas grandes virão por aí e tudo que me preocupa é te manter
protegida. Penso nas minhas irmãs, no bebê da Lisa, na minha mãe... —
Suspirou e virei em seu colo, montando-o.
— Quero aprender a lutar, a usar armas e facas, pelo menos o
suficiente para me defender. — Esfreguei o meu nariz no seu. — Você é uma
das pessoas mais espertas e determinadas que eu conheço, sei que vai
encontrar uma maneira de me manter segura e o nosso território também.
— Você é linda. — Sorriu e beijei os seus lábios.
— Vamos ficar bem.
Ainda ficamos alguns minutos contemplando a paisagem quando o
Stefanio apareceu no alto da colina e sinalizou. Voltamos com calma, vi o
olho roxo do Stefanio, fiz uma careta feia para o Dante e entrei na cozinha.
Juliana e o Enzo estavam prontos para treinar.
— Estou sabendo que o tio Dante é um príncipe encantado. — Enzo
cruzou os braços. — Fez uma luta com espadas e beijou a tia Mia princesa no
final da historinha.
As orelhas do Dante ficaram vermelhas e eu ri. Juliana mandou o Enzo
parar e apertou as bochechas do meu marido, sem conter a risada. Logo
estávamos rindo, mostrei o vídeo que gravei, porque o Dante estava muito
fofo interpretando. A risada não parou mais, mesmo quando eles foram para
academia treinar. Subi para arrumar as nossas coisas porque íamos embora
logo que o Dante terminasse de treinar e conversar com os chefes.
Troquei a roupa suja de areia por uma confortável para viajar.
Terminei as malas, arrumando próximo a janela e parei próximo a janela,
olhando a praia.
— Pensativa? — Juliana bateu na porta.
— Admirando a paisagem. — Não abri as minhas preocupações.
— Tenho algo para você. — Estava segurando uma caixa. — São
algumas coisas que acho que poderá te ajudar. — Sentamos na cama e abri a
caixa. — Essa é uma 9mm. Ela é pequena e fácil de manusear, você vai
conseguir aprender a se defender com ela antes de partir para outras. — Ela
tirou da caixa uma pequena faca, item por item, foi me explicando como usar
e como seria útil no meu dia a dia. — Eu dei uma joia para Giovanna quando
o Damon fez a tatuagem, em seguida, dei para a Luna quando se casou com o
Enrico... E agora você. As tatuagens unem nossos maridos como uma única
família e eu dei essas pulseiras que nos unem como irmãs.
— Isso é tão atencioso, Juliana.
— Enzo tem observado o Dante há anos, seu marido provou ser leal e
muito mais forte que qualquer prova de sangue. Estou feliz, porque você
merecia estar no topo como a princesa que você é.
Coloquei a pulseira em meu braço, tinha o símbolo da família em
dourado, reluzente, era delicada e feminina. Era perfeita. Toquei a
correntinha e a encarei.
— Posso te fazer uma pergunta? Você matou a minha mãe?
Juliana se moveu na cama e me encarou, cautelosa.
— Não.
Soltei um arquejo.
— Não?
— Achei que seria muito injusto que ela morresse sem ver que você
está incrivelmente melhor sem ela e que ela deveria provar um pouco de tudo
que te fez passar. — Encolheu os ombros. — Entendo que fique chateada. —
Mordeu o lábio. — Mas torturar a sua mãe me faz vingar a mãe que habita
em mim. Ela te jogou em uma sala cheia de homens que poderiam não ter o
escrúpulo que tiveram. Ela te punia ao invés de denunciar o próprio marido.
Não tenho certeza se uma morte rápida ou uma conversinha me faria sentir
que acabou.
— Não acabou. — Confessei baixinho. — Não para mim.
— O que você quer dizer?
— Não consigo esquecer. — Meus ombros tremeram com o choro
preso. — Eu ainda tenho sonhos das mãos dele me puxando pelas pernas, da
minha roupa sendo rasgada, dela em cima de mim tentando me sufocar
porque eu o matei. Depois do Dante, melhorou bastante, principalmente
depois que ele me mostrou o quanto o toque entre o homem e uma mulher
pode ser bom.
— Ah, querida. — Juliana me abraçou. — Talvez você precise falar
com alguém.
— Fazer terapia?
— Pode te ajudar. — Ela secou o meu rosto. — Você está livre, Mia.
Eventualmente, irei matar a sua mãe. Ela cometeu traição.
— Ela me destruiu de tantas maneiras que não consigo perdoar. Eu me
odeio todas as vezes que tenho pensamentos ruins, que não consigo me sentir
o suficiente, sempre duvidando do que vejo no espelho e do que as pessoas
sentem por mim. Dante diz que preciso matar os meus pais na minha mente,
sei que tem razão, mas é forte.
— Não é mais forte que você. Acredita em mim, as suas inseguranças
e seus medos não são mais fortes que o seu coração. Se você precisar estar lá,
eu te levarei.
— Vou pensar sobre isso, mas se não conseguir ir, você pode me
contar?
Juliana sorriu.
— Claro que sim, eu vou te contar.
Dante entrou no quarto e derrapou ao ver a Juliana na cama comigo.
Ele franziu o cenho ao me ver com o rosto molhado e inchado, ela aproveitou
para sair e fechou a porta atrás dele. Ainda me olhando, Dante tirou a camisa,
mudou sua atenção para caixa na cama e foi para o banheiro. Recolhi tudo
que estava espalhado, guardei e coloquei a tampa. Ele tomou um banho
rápido, olhei a hora e percebi que estávamos bem em cima da hora para
sairmos.
Saindo do banheiro nu, pegou a roupa que separei e vestiu
rapidamente, colocando os coldres com as armas e facas. Olhou a hora e me
deu um sorriso hesitante, esticando a mão e peguei. Ele pensava que era
algum problema com ele? Nós não tivemos oportunidade de falar, Stefanio
apareceu para nos ajudar com as malas e meio que apressar. O carro estava
ligado, nos esperando, me despedi das meninas com beijos e abraços,
prometendo outro final de semana divertido e abracei a Juliana. Enzo me deu
um beijo no cabelo.
Felipe e o Stefanio estavam no carro de trás, com as malas e nós fomos
conduzidos pelo Demetrio até o pequeno aeroporto privado alguns
quilômetros da propriedade. O avião compartilhado entre os quatro estava
nos esperando, havia mais de um, sabia que o último ganhou o meu nome.
Enzo gostava de nomear as coisas com o nome das mulheres, desviava um
pouco o foco deles e como o mundo era machista, ter carros, aviões e iates
com nome de mulher não era uma novidade atraente.
Decolamos e ele ficou me olhando.
— O que foi?
— Por que estava chorando?
Mudei a minha posição.
— Você sabia que a minha mãe está viva? — Olhei em seus olhos.
Ficaria muito chateada se ele soubesse. Ele não sabia.
— Não. Por que ela está viva?
— Juliana está torturando-a. — Respirei fundo.
— Vem aqui, baby. — Ele soltou o meu cinto e me puxou para o seu
colo. — Você está magoada com isso? Chateada? Por um instante, pensei que
estivesse magoada comigo por alguma coisa, sabe que posso ser sem noção.
— Não estou chateada, também não estou triste, talvez seja por isso
que eu ainda sinta tantas coisas. — Escondi o meu rosto em seu pescoço.
— Se você precisar estar lá, eu estarei com você, viva ou morta, sua
mãe não te controla mais. — Ele falou baixinho e sorri.
— Eu vou me acostumar com isso. — Ergui o meu rosto e beijei a sua
boca, provocando-o com a minha língua e ele ficou todo arrepiado. Seu olhar
era fogo puro. — Espero que não tenha nenhum compromisso imediato
quando chegarmos em casa.
— Meu único compromisso será me enterrar em você e eu não vou sair
tão cedo. — Chupou o lóbulo da minha orelha. — É uma promessa.
29
Mia.
Estava concentrada decorando o bolo do chá de bebê da Lisa, quando o
Dante surgiu atrás de mim e agarrou a minha cintura, dando um tapa em
minha bunda e voou glacê para todo lado. Inclusive no rosto dele. Virei e
limpei os seus olhos, lambendo meus dedos e ri. Ele estava todo sujo. Beijei
os seus lábios, ele enfiou o dedo na vasilha e provou.
— Isso está bom. Tem um gostinho de limão. — Lambeu os lábios e
sinalizei para o bolo. — Uau! Mia, isso está lindo. É um belo bolo, tenho
certeza de que a minha irmã vai amar. — Sorriu e eu estava orgulhosa do
meu trabalho.
— Dona Mia, está perfeito. — A Sra. Caprese entrou na cozinha e
levou as mãos a boca. — É melhor que muitos bolos encomendados. Não
acredito que fez em casa.
— Eu vou precisar de ajuda para fixar o bolo menor nos apoios, ele é
pesado.
— É todo comestível? — Dante ainda estava comendo o glacê que
sobrou. — Caramba, baby. Você arrasa. Me diz o que fazer.
Instrui como colocar o bolo em cima do outro e decorei com as flores
comestíveis. O chá de bebê da Lisa seria o evento do ano na família (após o
meu casamento) e apesar do frio, a casa era espaçosa o suficiente para
oferecer um grande evento. Duas das salas estavam ocupadas com mesas
redondas e sendo decoradas com flores rosas e azuis porque ninguém sabia o
sexo. Lisa e Pietro desejavam uma surpresa no parto, então, eu fiz o bolo
verde clarinho.
Assim que o bolo foi levado para a mesa, comecei o preparo dos
cupcakes, decorando os docinhos de chocolate e acabei passando o dia inteiro
ocupada, quando a campainha tocou com a primeira família convidada, eu
estava toda suja de doce e suada. Sinalizei para Antonella esperar para abrir a
porta, minhas cunhadas riram da minha corridinha para o elevador.
Apertei o botão do último andar e saí em frente à minha antiga ala,
que a minha sogra acabou deixando arrumada e sempre pronta para usarmos.
Dante estava jogado no sofá, assistindo televisão e com a mão dentro
da calça.
— Você deveria estar pronto. — Briguei e ele só tirou a mão da calça e
bocejou. — Já chegaram alguns convidados. — Avisei e ele só assentiu.
Revirei os olhos. Seu ânimo para participar do chá de bebê era zero. Tirei a
minha roupa e entrei no chuveiro, meu cabelo estava gosmento e cheirando a
doce, então, eu tinha que lavar. Peguei o meu xampu na bolsa e soltei um
palavrão ao perceber que trouxe o condicionador do Dante e não o meu.
Meu marido entrou nu no banheiro e ocupou o chuveiro.
— Você demorou tanto para me atrapalhar?
— Não vou te atrapalhar, podemos tomar banho juntos, fazemos isso
sempre. — Deu de ombros. Entrei no chuveiro, ele me pegou pela cintura,
puxando para frente e me beijou.
— O que você quer, safado?
— Um motivo para descer bem humorado. — Sorriu torto. — Você é o
meu valium.
— Sexo é o seu valium, idiota.
— Nada disso. Sexo com você, mas ficar agarradinho também ajuda.
— Fofo. — Fiquei na ponta dos pés e o beijei. — Seja rápido e
gostoso, não podemos nos atrasar demais. — Avisei e ansioso, assentiu.
Gostoso foi, como sempre, ele me deixava maluca de tesão, rápido
nem tanto porque o meu cabelo ficou todo molhado, esquisito com o
condicionador dele e levou uma vida para ficar bom, o que resultou em uma
hora de atraso para descer. O Dante nem disfarçou a cara de feliz e satisfeito
pós foda. Aparecemos de mãos dadas, o puxei para o nosso lugar antes que a
mãe dele brigasse. Lisa nos deu um sorriso feliz, ela estava exultante mesmo
com a barriga enorme na frente. Pietro estava ao seu lado, parecendo um pai
babão.
Havia várias famílias do nosso meio e eu segurei a mão do Dante
quando o Bracci e a sua esposa entraram no salão. Coloquei a mão dele na
minha perna e cruzei, assim ele não enrolaria em punhos. O garçom nos
serviu com espumantes, dei um gole, precisando relaxar e sorri junto com a
risada de todo mundo porque eu não fazia ideia qual foi a piada que a
organizadora contou. As brincadeiras começaram e fui chamada para
participar.
Dante e eu ganhamos um bebê, percebi o olhar de um homem, ele era
primo do meu sogro e ficou atento em minhas pernas nuas. Estava usando um
short de alfaiataria cinza clarinho de cintura alta, com cinto branco, uma
blusa rosé e um terninho do mesmo tom do short com um sapato scarpin nude
bem alto. Prestei atenção no que era para fazer, uma competição entre os três
irmãos com os seus companheiros, com um bebê falso. Era uma boneca
reborn e chegava dar nervoso.
Tive dificuldade de abrir o pacote de fraldas após o banho, Dante
pegou o canivete, rasgou o embrulho e segurou o bebê, ao mesmo tempo,
arremessou o canivete na primeira mesa. Todo mundo gritou. Parou um
centímetro da mão do homem que me olhava de maneira cobiçosa.
— Foi sem querer. — Ele deu um sorriso apertado para sua mãe. Me
entregou o bebê, terminei de vesti-lo, terminando pouco depois da Milena.
Lisa e o Pietro estavam rindo mais do que tentando segurar o bebê. Antonella
parecia exasperada com os filhos.
Dante foi até a mesa, puxou seu canivete e falou algo baixo para o
homem que o rosto ficou vermelho e a esposa encarou as taças, sem graça.
Voltou para o meu lado e fez graça, ninando o bebê falso.
— Nosso bebê é bonitinho. — Brincou e revirei os olhos.
Ganhamos um prêmio bobo, uma medalha falsa de segundo lugar e
voltamos para o nosso lugar. Cruzei as minhas pernas, ele colocou a mão,
possessivo, espalhado, olhando ao redor com um pouco de raiva. Em dado
momento, os homens foram levados para biblioteca beber e fumar charutos,
as mulheres ficaram no salão, conversando, comendo as coisas deliciosas do
buffet e a maior parte dos doces fui eu quem fiz, estavam deliciosos e eu
estava vermelha com tantos elogios.
— Sua nora é muito talentosa, Antonella.
E assim surgiram milhares de elogios, agradeci a Milena quando
mudou de assunto, chamando uma nova brincadeira, para medir o tamanho da
barriga da Lisa. Eu não fazia ideia e a minha corda quase deu duas voltas.
— Não estou tão enorme, Mia. — Lisa resmungou e sorri.
— Desculpa. Eu sou péssima nisso, não sei nem estacionar.
— Só Deus sabe como você tem uma carteira.
Não tinha nada a ver com Deus, tinha tudo a ver com o meu
sobrenome. Sorri e voltei para o meu lugarzinho. Uma senhora me pegou em
um assunto sobre os seus filhos e partos. Queria encher a cara só de ouvir os
relatos de parto e o corpo pós-parto. A minha sogra soltou uma risada ao ver
a minha expressão. Quando a Milena precisou de ajuda para servir os
cupcakes, eu rapidamente levantei e me ocupei.
Quando os homens saíram da biblioteca, Dante estava tenso e eu
estava feliz que era o fim do chá. O bolo foi cortado, servido, Lisa ganhou
presentes e nós ficamos na porta nos despedindo de cada família. Meus pés
estavam doloridos e o meu rosto estava com o sorriso congelado.
— Não vamos demorar a ir embora. — Dante cochichou e seguiu o pai
dele para o escritório. Pensei que ficaríamos conversando até tarde com a
família, deu tanto trabalho que queria aproveitar mais. Antes de descer, deixei
as coisas arrumadas e vi o Felipe saindo com as bagagens.
— Eu queria ficar e ver os presentes, mas o Dante quer ir embora. Ele
deve sair para trabalhar.
— Você pode ficar. — Lisa fez um beicinho.
— Eu duvido muito que o chato do Dante vai deixar a Mia aqui e sair.
— Milena revirou os olhos. — Grudento. — Gritou quando ele passou de
volta.
— Eu nunca reclamei dos sons que vinham da sua ala. — Retrucou e
ri. Milena deu a língua. — Vamos, linda?
— Vamos. — Sorri e me despedi da sua família, muito cansada.
Tirei os meus sapatos no carro enquanto o meu marido dirigia para
nossa casa. Ele ficou com a mão na minha perna, acariciando, indo do joelho
até o meio das minhas coxas, apertando e dando tapinhas. O carro estava
escuro, com uma música suave no fundo e podia me acostumar com a nossa
vida assim. Eu poderia pedir para ficar com os pais dele, mas, eu preferia
ficar com ele.
Entramos em casa, guardei as coisas que usamos, troquei de roupa e
aproveitei o tempo para colocar as roupas do cesto para lavar. De calcinha e
uma camiseta dele, andei pela casa, ele estava na sala, só de cueca, jogado no
sofá e mudando de canal como um louco.
— Não vai para boate? — Passei por ele e me sentei ao seu lado,
prendendo o meu cabelo, ajeitando a minha franja. Ele puxou a minha perna e
me acomodei.
— Noite de folga. — Explicou.
— Hum, pensei que fosse trabalhar devido a sua pressa de vir embora.
— Me ajeitei no lugar.
— Minha pressa era para ficar sem roupa no sofá, eu vou pegar uma
cerveja. — Balançou as sobrancelhas. Fiquei feliz que ele estava em casa e
poderíamos ter uma noite rara juntos. Nós nunca ficamos na sala – sem ser
algo rápido, conversando antes dele precisar sair.
— Quer pizza? Ainda tem massa fresca e ingredientes. — Ofereci.
Ele me deu um sorriso que não precisava de resposta. Ganhei um tapa
na bunda quando levantei, arremessei uma almofada nele, indo para cozinha.
Pelo barulho, ainda estava procurando um filme e gritou que iria alugar um
de ação que tinha acabado de sair do cinema. Tirei a massa da geladeira,
espalhei na tábua redonda de ir ao forno e lancei o molho de tomate caseiro
bem gostoso que a Sra. Caprese fez e me deu vários potes.
— Já vai colocar no forno? — Ele passeou pela cozinha, pegou uma
cerveja.
Metade da pizza eu fiz de rúcula com tomate seco e a outra metade
com queijo e bacon para o Dante não surtar que não havia carne. Enfiei no
forno e voltei para sala. Ele estava bebendo, com a tela da televisão
congelada no começo do filme, me joguei ao seu lado e peguei a sua cerveja,
dando um gole, mas era algo que não conseguia beber. Fiz uma careta e
engoli.
— Quer vinho?
— Agora não, vamos ver o filme. — Devolvi a garrafa.
O filme era de ação e muito mentiroso, na sala escura, com cheiro de
pizza estava perfeito. Com a pizza pronta, comemos com o filme pausado, era
fantasioso, mas tinha uma boa trama.
— Vou provar um pedaço com essa coisa verde. — Ele pegou uma
fatia com rúcula, mordeu e fez uma careta, mas comeu tudo. — Não sei como
você gosta disso.
Terminamos de comer, limpei tudo, detestava deixar as coisas sujas e
peguei uma colcha porque a sala estava fria. Ele deu play de novo, me
embolei no cantinho com as pernas em cima dele. Distraído, ficou fazendo
uma carícia suave em meu tornozelo que começou a me incendiar lentamente.
Era só o polegar, mas eu sentia por toda a minha perna. Cansado da sua
posição, deitou-se ao meu lado, com o rosto virado para televisão, mudei,
colocando a minha perna em cima dele.
A carícia do tornozelo foi para a parte de trás do meu joelho. Ele
estava distraído com o filme e me deixando maluca. Soltei um suspiro,
acariciei a sua barriga definida, ele virou e olhou para o meu rosto.
Percebendo que estava além do filme, virou de lado, ficando de frente para
mim e puxando a colcha para cima dele também.
— O que foi? Não vai terminar de ver o filme?
— Acho que não. — Me deu um beijo, passando a mão pela minha
coxa e me puxou ainda mais para frente. Sua boca começou a fazer
maravilhas em meu pescoço. Arranhei o seu braço, precisando de fricção e só
porque ele estava sendo mau, dei um chupão no seu peito.
O beijo se tornou um amasso muito gostoso, cheio de necessidade e
mordi o seu lábio, desejosa. Com uma injeção de ousadia, montei nele e
deixei a colcha escorregar para o chão. Tirei a minha blusa, ficando de
calcinha, ele agarrou os meus peitos, tirei as suas mãos, beijando a sua boca,
brincando com a minha língua na sua e explorando o pescoço, peitoral,
descendo e puxei a sua cueca. Dante amava quando o chupava, eu ainda tinha
muita insegurança e raramente fazia por conta própria.
Naquele momento estava me sentindo inspirada e disposta a deixá-lo
maluco, tão maluco quanto me fez sentir com um inocente toque. Assoprei a
cabeça do seu pau, lambendo, ele gemeu, agarrando o sofá para não agarrar o
meu cabelo porque me deixava nervosa. Peguei a sua mão e deixei que pela
primeira vez, fodesse a minha boca enquanto o chupava. Ele estava perdido,
gemendo de verdade, nada de prazer silencioso.
— Amor, eu vou gozar. — Avisou e apenas continuei. — Foda-se. —
Gozou na minha boca pela primeira vez. Soltei e engoli, não era ruim, mas
definitivamente não era bom. Eu faria por ele e por ganhar aquele olhar.
Peguei a minha taça de vinho e bebi o finalzinho para tirar o gosto da língua.
— Vem aqui. — Me puxou.
— Você gostou?
— Acho que estou sonhando. — Falou contra os meus lábios. — Foi
incrível. — Me beijou, apertando a minha bunda. — Foi muito incrível.
Porra...
Me senti feliz em superar isso, porque ele me fazia sentir muito bem
no sexo oral e sempre era incrível. Nós fizemos amor apaixonadamente no
sofá, ele ficou por cima, me levando para o ápice de prazer mais de uma vez.
— Precisamos de noites de cinema mais vezes.
— Você só precisa de noites de folga. — Sorri e beijei o seu pescoço.
— Eu sei. Não gosto de te deixar tão sozinha, mas às vezes é
inevitável.
— Não me sinto tão sozinha, claro que sinto a sua falta, mas você está
sempre vindo, e durante o dia está trabalhando no escritório pertinho de
mim.
Seu telefone tocou e eu sabia que a nossa noite havia acabado. Ele
pegou e leu a mensagem, com um suspiro exasperado.
— Pietro só me fode. — Reclamou. — Vou precisar sair. Quer vir
comigo?
Me animei na hora.
— Claro. Eu vou me arrumar.
Subi correndo, como não tinha muito tempo, não me arrumei muito. Já
eram duas da manhã, então, alguns clubes já tinham fechado, apenas as
boates estavam abertas. Tomamos um banho rápido, vesti uma calça jeans,
uma bota e uma blusa preta bonita, justa e decotada. Na falta de tempo, passei
apenas base, pó, blush, rímel e gloss. Soltei o cabelo, arrumei a franja, ele
estava pronto, falando ao telefone. Nossa garagem já estava com todos os
seus carros, ele escolheu o Aston Martin porque era veloz.
Levamos meia hora para chegarmos no clube, que estava vazio. Os
garçons estavam limpando as mesas, as garotas estavam com seus biquínis e
reunidas no bar. Dante passou comigo sem falar nada com ninguém, elas me
olharam e uma delas meio que torceu o nariz, mas eu ignorei e segui para o
segundo andar. Elias e Pietro estavam dentro de uma sala com um homem
todo ensanguentado, mas o Dante abriu a porta de um escritório. Não havia
nada pessoal no escritório, era apenas mobiliado e confortável. Fiquei no
sofá, ele fechou a porta e saiu, mas demorou uma eternidade.
Espiei o corredor vazio e desci a escada. Felipe estava no bar, falando
com o barman.
— Boa noite, Sra. Biancchi. Gostaria de uma bebida? — Ele ofereceu,
educado.
— Uma taça de vinho meio seco, por favor. — Puxei um banquinho.
As meninas estavam do outro lado, conversando, se alongando, não se
aproximaram e não falaram comigo, por mim, estava bem. Não gostei dos
olhares e dos cochichos. Felipe estalou a língua, irritado, elas desapareceram,
deixando o salão praticamente vazio. Dante ainda ficou lá em cima por um
tempo, quando desceu, estava com outra camisa e com o rosto meio molhado.
— Bom vinho?
— Para matar o tempo. — Terminei de beber. — Vamos?
— Vamos.
Não perguntei o que ele precisou fazer com os seus cunhados, muito
menos quem era o homem, havia certas coisas que eu optava não por saber.
Saímos do clube e estava chovendo, a temperatura caiu bruscamente e o
Felipe estava no carro de trás. Dante podia me proteger sozinho, mas ele
andava tão paranoico que se saísse comigo, o meu guarda ia junto ou o
Stefanio.
Sempre tenso, ao chegarmos em casa, fiquei calma. A sensação de
estar sendo observada ou que alguém poderia nos atacar a qualquer momento
me dava nos nervos.
— Então... — Ele começou a se despir na sala mesmo. — Onde
paramos?
— Dessa vez vai ser no quarto. Não quero bagunçar o meu sofá muito
caro de novo.
— Só comprar outro. — Soltou e revirei os olhos.
— Pobre menino rico. Vem, riquinho. Vamos bagunçar a cama...
30
Dante.
Entrei em casa de fininho, eram cinco da manhã e eu não queria
assustar a Mia. Estava sujo de sangue e rapidamente tomei um banho em meu
escritório, esfregando bem a minha mão e usando um produto específico para
me lavar. Saí do box e reparei que o banheiro estava muito cheiroso e hoje
não era dia de limpeza. Mia deve ter passado o dia faxinando a casa. Ela tinha
um problema sério com sujeira, a maior parte estava em sua mente.
Havia cuecas e toalhas limpas próximo a pia, peguei uma cueca e
pensei que ela estava ociosa demais. O curso de culinária ainda a ocupou um
pouco, mas ele acabou há alguns dias. Em parte, foi bom, havia tanta comida
nessa casa que eu não aguentava mais. Mia poderia trabalhar em um dos
empreendimentos, eu não tinha problema quanto isso, mas, eu não
conseguiria ficar tranquilo com ela exposta na rua. Isolar era uma péssima
ideia, mas a única que eu tinha.
Pelo menos nós estaríamos fora do país para as festas de fim de ano e
ela ficaria na Itália até o nascimento do bebê da sua prima. Eu ficaria indo e
vindo, porque obviamente, não podia me afastar tanto tempo e faria coisas
que era melhor a Mia ficar segura e bem longe. Já era meio de dezembro e eu
não conseguia acreditar que o tempo passou tão rápido, em poucos meses
iremos completar um ano de casados.
Subi a escada e entrei em nosso quarto. Estava na temperatura perfeita
para dormir o dia inteiro. Seu Kindle e telefone celular estavam do meu lado
da cama. Peguei o controle das cortinas e desci o blackout, ela costumava
deixar apenas as cortinas para poder acordar, mas tudo que eu não queria era
acordar com o sol em meu rosto. Tirei as suas coisas do meu lado e
escorreguei para o meu lugar. Com o sono pesado, não acordou
imediatamente, beijei o seu ombro.
Quase uma hora depois ainda estava acordado, depois de alguns
cochilos, sabia que não ia conseguir dormir. Minha mente estava cheia. Mia
saltou ao meu lado, seus olhos se abriram e encheram de lágrimas.
— Ei, o que foi?
— Oi... — Suspirou e se aconchegou em mim. — Tive um sonho ruim.
— Reclamou e secou o rosto. Beijei a sua bochecha, secando as lágrimas.
— Estou aqui, durma.
— Não quero dormir. — Brigou comigo, sonolenta e segurou o meu
rosto, me beijando. — Você estava morto. Eu quero você...
— Não vou morrer, linda.
— Eu quero você, Dante. — Falou firme e ela nunca tomava iniciativa
para o sexo. Se a minha mulher me queria, ela me tinha. Fizemos amor
apaixonadamente, do jeito que ela queria e gostava. Segurei-a contra mim
após o sexo, beijei o seu pescoço e ficamos abraçados. — Não quero te
perder.
— Você não vai. — Garanti.
— Não sei se quero ficar aquelas semanas na Itália sem você. —
Acariciou a minha mão.
— Você vai detestar se não estiver lá para o nascimento do bebê da
Luna e eu não posso ficar muitas semanas ausente. Eu prometo estar lá
quando o bebê nascer, está bem?
Já era ruim o suficiente nos ausentarmos com os russos comendo pelas
beiradas, mas era importante para o nosso significado de família.
Politicamente falando, tudo estava sob controle, todos os nossos associados e
a folha de pagamento em dia, alerta, de olhos abertos, os nossos homens
prontos para qualquer ataque, mas eu estava cansado com a rotina intensa de
estar o tempo todo em alerta e procurando traidores entre nós. Meus nervos
estavam à flor da pele.
Mia voltou a dormir, relaxei contra ela, adormecendo. Ela saiu da
cama algumas horas depois, continuei cochilando até que a fome me chutou
fora da minha vontade de dormir. Fui ao banheiro e desci a escada de cueca.
Não existia nada melhor do que a liberdade de andar pela casa do jeito que
eu quisesse. Entrei na cozinha, ela estava fritando ovos, comendo um biscoito
de chocolate e me deu um sorriso sem mostrar os dentes. Seu cabelo estava
todo bagunçado em um coque no alto e a sua franja presa com grampos.
— Bom dia, linda. — Beijei a sua bochecha e peguei os potes dos
meus shakes de treino. Comecei a bater um copo de 500ml e tirei as cápsulas.
A maioria dos homens da família treinavam sem cuidar do próprio corpo.
Meu corpo era o meu templo. Eu gostava de me sentir disposto e muito
saudável, assim eu tinha uma vantagem enorme dos outros.
— Fiz três ovos, está bom? — Ela virou em um prato para mim,
colocando os bacons bem assados e torradas. — Coloca uma banana nessa
coisa para ter um gosto tolerável.
— Já me acostumei. — Dei de ombros, bebendo tudo. Ela serviu café
em uma caneca, sentou-se no banquinho e começou a comer. Bebi tudo,
peguei um garfo e comecei a comer. — Tem algo a fazer hoje?
— Nós vamos receber a sua família hoje, lembra?
— Não esqueci. Quero saber durante o dia...
— Cozinhar toda comida do jantar. Vou colocar o peru no forno logo
que terminar nosso café.
— Vou passar o dia em casa. Quer ajuda? — Ofereci querendo ficar
com ela.
Seu sorriso era a resposta que eu precisava. Assim que terminamos de
comer, lavei a louça, ela borrifou álcool no balcão, esfregando e espalhou os
ingredientes. O peru estava descongelado na água dentro da pia da lavanderia
e eu peguei a coisa. Mia começou a trabalhar nele, temperando, furando e
enfiando coisas no meio. Envolveu em alumínio e coloquei no forno.
A coisa levaria horas para ficar pronto. Ajudei a cortar os legumes,
temperos, utilizando todos os meus dons com a faca e aprendendo o modo
correto que a minha masterchef linda fazia questão de ensinar. Todas as facas
em casa eram extremamente afiadas, não só por ela e o seu uso, mas por ser
uma arma ao alcance de mãos. Eu sou capaz de matar uma pessoa com a
coleção de facas de cozinha da Mia.
Passamos a maior parte do dia na cozinha, mas deixamos tudo pronto.
Era o primeiro jantar que oferecemos em nossa casa para a minha família.
Nós nunca chegamos a oferecer nada por aqui, estava na hora. Minhas irmãs
conheciam a casa, minha mãe também, mas o meu pai e cunhados não. Como
iríamos viajar para Itália, não passaria as festas de fim de ano com os meus
pais e a minha mãe estava muito chateada. Ela precisaria lidar com isso.
No meio da tarde, lavei todas as louças, sequei e guardei tudo. Mia
subiu a escada, fui atrás, olhando para a sua bunda o tempo todo.
— Quer descansar um pouco antes?
— Não quero perder o forno apitando. — Começou a arrumar a cama e
eu a conhecia o suficiente para saber que ela queria a casa impecável, nos
dividimos entre os cômodos, arrumando tudo, deixando as luzes acesas, o
jardim iluminado e ela acendeu as velas aromáticas, criando um clima bom.
O peru ficou pronto e ela subiu para se vestir. Decidi cortar os queijos
para adiantar, arrumando do jeito que eu já conhecia e dei uma olhada nos
vinhos. Quando o meu pai avisou que estavam saindo de casa, subi correndo
para me vestir e peguei a toalha limpa, indo tomar banho, Mia estava quase
pronta, passando batom e estava linda com um vestido azul escuro, de alças
finas, decotado e ia até os joelhos. Soltei um assobio do banheiro, que não
tinha divisória para o closet, apenas uma porta para o quarto.
Sorrindo, deu uma voltinha e aplaudi porque no começo, ela nunca
faria tal coisa. Apesar de ainda agir timidamente com outras pessoas, ela
estava solta comigo e faltava pouco para mostrar a sua faceta tão brincalhona
e determinada. Queria que todos conhecessem a mulher inteligente, que fazia
cálculos de cabeça, sorria para desenhos bobos pela manhã e cozinhava como
uma deusa.
— Estive pensando... — Ela comentou quando saí do chuveiro. —
Será que eu poderia assumir a administração da propriedade?
Terminei de me secar e parei ao seu lado.
— Cuidar de tudo?
— Acho que não deve ser tão difícil. — Encolheu os ombros. — Sou
muito boa com matemática e organizada. Posso cuidar da contabilidade,
pagar as contas e organizar os serviços.
— Sim, a casa é nossa. Não é tão complexo, porém, não pode esquecer
que garantimos a alimentação e a energia das outras casas também. — Peguei
a minha escova. — Stefanio costuma fazer as suas próprias compras, mas os
demais são jovens e acabam compartilhando a cozinha. Os dois mais velhos
não dormem aqui, eles costumam ir embora no final dos seus turnos.
— Eu posso fazer isso e vai me dar uma ocupação.
— Se você conseguir administrar a casa, quem sabe não começa a
trabalhar nos livros dos empreendimentos comigo? É algo que eu faço daqui
de casa, pode te distrair.
Os olhos dela brilharam de felicidade e eu resolvi o problema sobre ela
ficar ociosa limpando a casa excessivamente, ou cozinhando comida para
milhares de pessoas. Os guardas adoravam. Eles nunca nem viram tantos
pratos em suas curtas vidas. Terminei de me arrumar e olhamos a casa. Desde
que nos mudamos, era a primeira vez que a sala de estar estava acesa e em
uso.
Recebemos a mensagem que a nossa família estava no portão e os
carros entraram na propriedade. Mia correu até a árvore de natal que estava
cheia de presentes e acendeu as luzes. Eu disse a ela que não queria aquela
coisa acesa o tempo todo porque corria o risco de incêndios. Abri a porta da
frente e eles estavam saindo dos carros, agasalhados.
Milena e o Elias foram os primeiros a entrar, foi realmente estranho a
coisa toda de mostrar os armários de casacos e receber a família. Nos
reunimos na sala primeiro, carreguei a bandeja com os frios que estavam
prontos e servi vinho. Para Lisa, Mia fez suco de laranja fresco e tinha
garrafas de suco na geladeira.
— Não posso acreditar que o nosso bebê Dante tem a sua própria casa
e esposa. — Milena comentou enquanto servia vinho em sua taça.
— Ele já é um homem. — Meu pai ergueu a sua taça. — Mia, você
está linda.
— Obrigada, Luigi.
— Engraçado... Eu acho que o casamento fez muito bem aos dois.
Dante está até mais bem humorado. — Lisa me deu um sorriso torto. —
Aquele bebezinho de bochechas gordinhas.
— O próximo bebezinho de bochechas gordinhas vai chegar em alguns
dias. — Mia sorriu para Lisa.
— Estou sem dormir de ansiedade.
O assunto girou em torno do nascimento programado do bebê, já que a
data do parto já havia passado e nada da criança desejar sair. Lisa faria uma
cesariana e todos nós estaríamos lá para receber a nova geração da família.
Servi mais vinho e fiquei vigiando a minha mãe conversando com a Mia ao
montar a mesa para jantar. Eu sabia que ela ia jogar uma piadinha sobre
viajarmos nas festas.
Nos sentamos ao redor da minha grande mesa e eu estava na ponta,
junto com a Mia.
— Caramba, Mia. — Elias gemeu. — Se você tivesse um restaurante,
iria ter filas intermináveis. — Ele comeu o purê. — Seu tempero é
maravilhoso.
— É verdade, cunhadinha. Você arrasa na comida. — Milena
completou.
Minha mulher ficou vermelha de vergonha, mas feliz com os elogios.
Havia muita comida, sobrou pouca coisa, a conversa foi tranquila e a noite
toda bem divertida. Servimos as sobremesas e assistimos ao vídeo do
casamento na sala de televisão. Cada vez que via as fotos e os vídeos do
casamento, era surreal pensar que era um homem casado. Eu pensei que a
minha vida seria jogada de cabeça para baixo, mas até agora, eu tinha
encontrado mais liberdade em minha própria vida e mais espaço.
Nunca ia imaginar que o casamento me traria tanta independência
quando no mundo inteiro, o matrimônio era sinônimo de prisão.
Após a troca de presentes adiantada, depois da meia noite eles foram
embora, Mia me deu um sorriso exultante.
— Nosso primeiro jantar com sucesso. — Me deu um beijo. — Eu vou
guardar a louça.
— Já vou te ajudar. — Sorri e peguei o meu telefone, me afastando até
o escritório. Liguei para o Stefanio. — Tudo certo?
— Tudo feito. Ele está acordado .
— Fez o restante?
— Sim. Tudo vai explodir em algumas horas.
— Ok. Eu vou esperar a primeira ligação.
— Vamos nos falando.
Stefanio encerrou a chamada e eu fui para cozinha. Jamais contaria a
Mia que usei o nosso jantar como álibi contra o meu próprio pai, mas acabou
que a reunião surgiu na hora perfeita. Há algumas semanas eu estava sendo
incapacitado e enganado, apesar do meu pai confiar no Bracci, eu não
confiava e sabia que cedo ou tarde, ele não aceitaria fazer parte de um plano
para matar o seu filho mais velho. Desconfiava que o Bracci pudesse vazar
algumas informações, pelo menos para o Romeo fugir antes de alguma
emboscada.
Stefanio estava monitorando a rede Wi-fi da casa, descobrimos que um
dos celulares estava trocando mensagens com um telefone pré-pago. Meu pai
jamais autorizaria uma ida a casa dos Bracci sem uma prova real, seria um
escândalo, mas eu tinha os meus próprios planos e o meu próprio comando.
Meu pai me acusaria de traição, então, eu simplesmente armei uma invasão a
casa dos Bracci. Fingimos ser os russos... Stefanio articulou tudo. As
mulheres não saberiam diferenciar, homens encapuzados, telefones
recolhidos e o Bracci sequestrado.
Tudo para parecer que ele estava envolvido com o Romeo.
Eu não iria permitir que qualquer um me atrapalhasse em destruir o
Romeo e os russos em meu território. Ratos traidores crescem com facilidade
quando pensamos em política. Stefanio estava certo quando sugeriu que o
Bracci estava envolvido.
Meu telefone vibrou. Enzo estava me ligando.
— Seu pai acabou de me ligar. Disse que o seu conselheiro foi levado
pelos russos. A esposa e a sobrinha disseram que foi muito rápido e foram
encontradas evidências de que ele poderia estar trabalhando com o filho. —
Enzo disse calmo. — Estou chegando em duas horas. Juliana vai direto para
sua casa.
— Sim, senhor.
— Não deixe rastros, eu lido com o restante.
— Sim, senhor. — Falei mais debochado.
— Vou dar um soco em vocês dois por aprontarem essa merda. —
Avisou e eu ri. Ele encerrou a chamada. Enzo sabia que eu estava ignorando
o velho jeito do meu pai, que estava cego, pela velhice, pela benevolência e
pela amizade. Matteo era o meu amigo e entrou na frente do fogo cruzado,
cumprindo o seu juramento de sangue. Ele morreu porque seu irmão o matou.
Stefanio só seguiu as minhas ordens, claro que ele estava empolgado
em fazer uma merda como essa e a adrenalina de ser pego.
— Amor, eu vou dormir. — Mia apareceu no escritório. — Está tudo
bem?
— Juliana chegará em algumas horas, tire um cochilo enquanto isso.
— Aconteceu alguma coisa? — Seus olhos arregalaram.
— Parece que o Bracci estava em contato com o filho... — Não
consegui e soltei uma risada.
Mia me encarou e cruzou os braços.
— O que você fez, Dante?
Fiz um beicinho. Ela me conhecia bem.
— Se você armou algo, disfarce melhor na frente do seu pai. — Brigou
e fiquei sério.
— Eu sou um bom ator, só estou incrédulo que esse plano de merda
deu certo. — Soltei uma risada de novo. Ela revirou os olhos e se
aproximou.
— Tem certeza de que fez a coisa certa? Bracci...
— Eu sei que ele é pai do Matteo, mas ele também é pai do Romeo e já
te disse, quando se trata da sua segurança e do meu território, eu não vou
perdoar quem estiver no meu caminho.
— Tome cuidado. — Ela ficou na ponta dos pés e me deu um beijo. —
Vou dormir só um pouquinho, me avise se for sair, não quero ficar
preocupada.
Fiquei no escritório fazendo hora. Meu pai não me ligou em momento
nenhum, meus cunhados estavam me atualizando, sem entender porque ele
não me chamou. Stefanio garantiu que não deixou rastros e nada que pudesse
nos ligar ao ocorrido. Fiquei em casa o tempo todo, estava limpo em meu
álibi.
Enzo entrou na minha propriedade sem um guarda costas. Juliana saiu
do carro primeiro e me deu um abraço.
— Você não vai me dar cabelos brancos, Dante.
— Prometo não dar. — Sorri torto. — Mia está lá em cima.
— Já vou subir, antes, quero saber de tudo.
— Moleque, não poderia ter feito isso de manhã? — Enzo bateu em
minha nuca. — Mas foi engraçado. Stefanio me mandou os vídeos. Vocês
dois juntos só vão fazer merda.
— Eu te avisei. — Juliana ponderou.
Atravessamos o quintal e entramos na casa do Stefanio. Ele estava no
sofá, com a televisão ligada e o convidado estava sendo filmado em tempo
real. Em cima do balcão da cozinha estavam todos os telefones e
computadores da casa. Stefanio e eu batemos nossos punhos e sorrimos um
para o outro. Insanidade era o nosso novo sobrenome.
Juliana rapidamente os ligou, procurando o que precisávamos, olhei
para o Bracci vendado, amarrado, sentado em uma cadeira que parecia
pequena demais para o seu corpanzil. Por muitos anos, a casa dele foi como
uma segunda casa para mim. Matteo e eu vivemos muita coisa juntos, mas
isso era além. Isso tudo era sobre lealdade a família em primeiro lugar.
— Eles estavam trocando mensagens, o Bracci sabe onde o filho está,
parece ser um tipo de esconderijo conhecido. — Juliana me olhou. — Pode
imaginar algo?
— Não imediatamente. Alguma coisa mais?
— Ele pediu para o Romeo fugir, não se associar aos russos, mas sair
do país e se refugiar em algum lugar longe do nosso alcance que com a sua
nova posição, não haveria perdão. Romeo seria usado como exemplo. — Ela
bufou. — O filho da puta mata o próprio irmão, trai o seu juramento e ele
acha que seria um mero exemplo? Idiota.
— Consegue triangular alguma localização, senhora? Eu não consegui
ir muito longe. — Stefanio se aproximou.
— Se me chamar de senhora de novo, eu vou te bater. — Juliana
agarrou a orelha dele. — Vou tentar, mas isso parece ser além do meu
conhecimento.
— Fiquem aqui tentando, eu vou até o Biancchi fazer a minha
aparição. — Enzo olhou para o seu telefone e o meu tocou. Era o meu pai.
Enzo sinalizou para todo mundo ficar em silêncio.
— Oi pai, aconteceu alguma coisa?
“Sonso .” Juliana murmurou para mim.
— Você estava certo. — Eu podia dizer que as palavras estavam com
gosto de fel na sua boca. — Bracci estava protegendo o Romeo. Tem alguma
maneira de vir até aqui? Enzo está vindo, precisamos nos reunir.
— É claro, pai. Eu vou deixar o Felipe protegendo a Mia e estou
saindo. — Encerrei a chamada. Olhei para o Enzo. — Vai na frente, eu vou
chegar alguns minutos depois. — Enfiei o meu telefone no bolso. — Apague
esse infeliz, não vou lidar com ele até amanhã.
— Mate-o. Não vamos obter nada além do que já temos. — Enzo
ordenou e o Stefanio assentiu. — Vai pensando em um conselheiro. Não
vamos deixar a cadeira esfriar por muito tempo. — Ele foi até a Juliana, disse
algo baixo e trocaram um beijo. — Dez minutos. — Apontou para mim e
saiu.
— Vem, eu vou te mostrar o meu escritório. — Chamei a Juliana. Nós
atravessamos o quintal, ela pegou a sua pasta no carro, ligando o computador.
— Mia está dormindo, eu vou chamá-la e avisar que estou saindo.
Não havia nada realmente comprometedor em meu escritório, não por
causa dela ou por causa da família. Mandatos podem ser executados e uma
limpa feita, o meu trabalho era certificar que a polícia nunca encontrasse nada
nessas possíveis batidas.
— Não precisa acordá-la por minha causa. Não vou poder mandar
mensagem diretamente ao Enzo, ele precisa estar concentrado na reunião,
então fica de olho no seu. Assim que eu tiver uma localização, vou pegar o
Stefanio e sair. Nós nos encontramos no local. Tem alguma equipe de
segurança que possa agir silenciosamente?
— Tenho.
— Deixe-os prontos.
— Fique à vontade, ok? Tem bebida na geladeira e comida também.
Juliana sorriu.
— Obrigada. Agora, vai. — Apontou para porta. Corri para o meu
carro e liguei para o Felipe, mas ele estava atento a tudo e sinalizou que
ficaria na minha cozinha para proteger a Mia bem de perto.
A adrenalina corria nas minhas veias e de alguma maneira eu sentia
que essa noite traria mudanças.
31
Mia .
Saltei assustada com o estrondo na sala. Levantei da cama com o
coração na mão. Dante saiu há três horas, uma hora depois a Juliana me
acordou para avisar que estava saindo e o Felipe estava na cozinha, acordado.
Eu estava muito sonolenta para me atentar quando o Dante saiu, mas quando
ela falou que o Felipe ficaria comigo dentro de casa, percebi que havia algo
acontecendo. Era muito além da gracinha do Dante ter sequestrado o Bracci
para tirá-lo do seu caminho.
Apareci no corredor, olhei para baixo e vi o Enzo colocando o Pietro
no sofá. Ele estava todo ensanguentado, em seguida, Stefanio carregou o
Dante. Corri escada abaixo, apavorada.
— Estou bem, amor. — Dante grunhiu com a mão na barriga.
— Primeiros socorros. — Juliana me parou antes que chegasse ao
Dante.
Corri até o escritório e peguei a caixa com tudo que tínhamos para
cuidar de feridas. Voltei para a sala, deixando a caixa e ajoelhei ao lado do
Dante. Ele tirou a camisa com dificuldade e jogou longe, havia um ferimento
em sua barriga, imediatamente abri as gases, liberando as luvas e abrindo os
pacotes de medicação. Juliana pediu que eu colocasse luvas e a ajudasse com
o Pietro, que estava desacordado e vazando sangue.
— Segurem-no, a morfina ainda não fez efeito e ele vai acordar. —
Juliana orientou. Stefanio, Felipe e o Enzo agarraram o Pietro. — Mia, com a
pinça, repita o que vou fazer aqui. — Me entregou uma pinça. — Você
precisa extrair a bala. Espero que nenhuma delas tenha se rompido em
estilhaços ou precisaremos levá-lo a emergência. — Murmurou e assustada,
assenti.
Tentei não surtar de nervoso quando enfiei a pinça no ferimento, mas
rapidamente senti a bala e puxei. Pietro soltou um grito ensurdecedor.
Conseguimos tirar todas as balas inteiras, ela cuidou dos ferimentos com
experiência, eu pude virar a minha atenção para o Dante, mas ele estava
bebendo vodca diretamente da garrafa e costurando a própria barriga. Fiquei
arrepiada com a visão. Peguei panos limpos e limpei o Pietro, rezando que ele
ficasse bem. Seu bebê nasceria em alguns dias.
— Ele está bem? — Elias entrou na minha sala. — Aquela filha da
puta me arranhou todo. Parece uma gata. — Reclamou e olhou para o
Stefanio. — Amarrei no seu quarto de hóspedes.
— Tudo bem, eu vou lidar com ela. — Juliana passou a mão no rosto.
— Porra, o que foi isso?
— Será que ela é Lara Rostov mesmo? — Elias passou a mão nos
braços arranhados.
Fiquei arrepiada com o sobrenome. Rostov. Kátia Rostov devastou
muitos homens da família no passado e eu lembrava muito bem que os
guardas estavam estressados com a guerra forte contra os russos. Eu sabia
que ela matou o irmão do Stefanio. Era um dos motivos pelos quais ele estava
sedento para destruir os russos. Nunca haveria paz se dependesse dele e do
Dante.
— Você está bem? — Segurei a mão do Dante.
— Estou, foi de raspão. Esse maluco, puta que pariu. Eu vou matar o
Pietro.
— E eu vou te matar, Dante! — Juliana gritou. — Mandei você sair!
— Não vou embora e deixo os meus para trás. — Ele rebateu. — Não
importa o que você diga, eu não ia te deixar. Sei que você é leve e pequena,
poderia sair com facilidade, mas eu não faria isso.
— Sei me cuidar. — Ela rebateu.
— Não duvido, com todo respeito, faria de novo. — Dante enfatizou.
Enzo suspirou e olhou para o Pietro. Eu estava perdida. — É melhor levá-lo
para cama lá em cima. Lisa vai ficar histérica se vê-lo assim.
— Eu carrego. — Elias pegou o Pietro com Stefanio e subiram a
escada para um dos quartos de hóspedes.
Juliana estava toda suja de sangue e com alguns ferimentos.
— Vem, vamos para o meu quarto. Vou cuidar de você e descemos
novamente. — Segurei a sua mão e puxei para escada. Entramos em meu
quarto, acendi a luz e levei-a para o banheiro. Ela tirou a roupa suja, corri
para o meu closet, pegando uma calça confortável, uma calcinha limpa que eu
nunca havia usado e sutiã. Escolhi uma das blusas do Dante para que ela
pudesse ficar confortável e não se sentir exposta.
— Obrigada, Mia. Nenhum corte precisa de pontos, só vou tomar
banho. — Ficou nua e entrou no chuveiro. — Encontramos um esconderijo
dos russos. — Contou e me sentei na pia. — Parecia vazio, mas não estava.
Romeo não estava lá, mas encontramos o Mortrix, seu vice fugiu, o nome é
Toffoi. Mortrix está morto. Achamos uma garota acorrentada e ela disse ser
Lara Rostov...
— Se ela é filha da Rostov, por que estava como prisioneira?
— Eu não sei, mas eles não poupam mulheres. A garota está toda
arrebentada. Você pode me ajudar a cuidar dos ferimentos dela?
— Claro. Será que foi sequestrada?
— Não sei, ela não falou muito, só gritou.
— Deve estar assustada. O que aconteceu com o Pietro?
Juliana fechou o chuveiro e lhe entreguei a toalha.
— Eu fiquei para trás, o Dante voltou para me dar cobertura, nisso, o
Pietro também voltou para não deixar o Dante sozinho. Enzo e os demais
estavam do lado de fora, presos pelo fogo. A polícia estava chegando e não
tínhamos muito tempo. — Secou o cabelo e pegou a roupa. — Eles acertaram
o Pietro. No final, o Dante carregou o Pietro nas costas sozinho, eu não podia
ajudar porque estava procurando um jeito de sairmos. Dante achou uma saída
e o Enzo nos deu cobertura. Seu marido teimoso poderia ter me deixado, sei
me virar.
— Ele nunca faria isso, Juliana.
— Eu sei. Pietro vai ficar bem.
Quando saímos do quarto, o médico estava com o Pietro em outro
quarto. Na sala estavam reunidos o meu sogro, Enzo, Dante, Stefanio e o
Elias. Juliana juntou-se a eles, sentando-se ao lado do Dante. Meu marido me
deu uma piscadinha, passei direto para cozinha, preparando café porque não
sabia o que fazer. De longe podia ouvi-los discutindo sobre qual seria o
próximo passo, com o líder local morto, os russos costumavam levar alguns
meses para se reagrupar.
— Se ela estava como prisioneira, ela é um trunfo que eles querem. —
Dante comentou. — Não é bom mantê-la aqui. Vamos levá-la para um lugar
onde eles não podem pisar.
— Acha que devemos levá-la para Itália? — Juliana virou para ele e
aceitou a caneca de café. Servi todo mundo e o Dante me puxou para o seu
colo. Houve o momento de silêncio enquanto todos apreciavam a bebida
quentinha. — Acho que é uma boa. Lá nós podemos controlar quem entra e
sai.
— Primeiro precisamos fazê-la falar. É realmente curioso o motivo de
manter a herdeira da Kátia Rostov como prisioneira. — Enzo bebeu seu café.
— Não é incomum a briga pelo poder entre eles, levaram anos para se
organizar depois dela. — Luigi se inclinou. — Ela pode ser um trunfo ou o
impedimento. Talvez a queiram fora do caminho...
— Ela não parece ter o perfil de uma líder. — Elias comentou. — Está
furiosa porque está com medo.
— Ela pode ter fugido. — Comentei e todos eles me olharam. — Não
sabemos como ela foi criada. Kátia era uma mulher cruel e a maioria dos
homens da organização não respeitam mulheres. Eu posso falar com ela...
— Não. — Dante me apertou.
— Ela estava presa em um cativeiro, por que motivo confiaria em
vocês?
— Ela pode te machucar. — Dante retrucou.
— Eu vou estar por perto, mas acho uma boa ideia. — Stefanio se
manifestou.
— Não deixe que ela encoste na Mia. — Dante avisou severamente.
Stefanio assentiu ansiosamente e me levantei. Juliana e eu
atravessamos o quintal com o Stefanio. Entramos na casa dele, eu raramente
pisava ali, a não ser para deixar o jantar na cozinha dele quando ainda estava
na rua. Passamos pelo corredor e ele abriu a porta cautelosamente. A garota
estava encolhida no canto, sua roupa estava suja e com o cabelo grudado de
sangue na testa.
— Oi... — Me aproximei devagar e parei quando o Stefanio sinalizou.
— Meu nome é Mia. Sei que o seu é Lara. — Gesticulei para o seu rosto. —
Eu queria cuidar dos seus ferimentos, se você permitir.
Lentamente, ela virou o rosto.
— Vocês pegaram a garota errada. — Balbuciou. Ela era loira, com
sobrancelhas mais escuras, grandes olhos verdes e um rosto expressivo.
— Sabemos que você é a garota certa, mas depende do que tem a
dizer.
— Eu não sei de nada! Não sou envolvida com os negócios, só me
deixem ir e eu vou desaparecer.
— Sabe que não é tão simples. — Dei mais um passo à frente. — Se
você não está envolvida, por que eles te pegaram? Nós podemos cuidar de
você.
— Mia. — Stefanio não queria que eu me aproximasse mais.
— Cuidar de mim? Vocês são italianos, tudo que mais odeiam na vida
é a minha origem e o meu sobrenome maldito. — Soltou uma risada irônica e
eu vi a dor em seus olhos. Ela só era uma garota ferida. — Me torturem o
quanto quiserem. Não sei de nada.
— Por que não? Você é uma Rostov.
— Só no sobrenome. — Lambeu os lábios feridos.
— Tudo bem, você não está pronta para falar. — Toquei a sua mão. —
Me deixa cuidar dos seus ferimentos. Você precisa de um banho e de uma
roupa limpa, além de uma comida quente.
Devagar, assentiu. Juliana entrou no quarto com a caixa de coisas que
separamos. O quarto tinha um banheiro, eu realmente fiquei incomodada que
a Juliana fez com que ela tomasse um banho com algemas, mas, eu entendia
que ela não era confiável só porque estava quieta. Com calma, cuidei dos
seus ferimentos, eram muitos, ela tinha muitas contusões antigas e quase
chorei ao pensar há quanto tempo ela estava apanhando. As marcas nas suas
coxas me deixaram estagnada. Juliana parou um pouco, se dando conta do
que aquilo significava.
— Você precisa de um médico ginecologista? — Juliana perguntou
baixo.
— O que importa agora? Estou condenada. — Lara retrucou.
— Eles te estupraram? — Sussurrei com a garganta seca.
— Você quer que eu conte quantas vezes? — Rebateu e virou o rosto
com as lágrimas caindo dos seus olhos.
— Chame o médico. — Juliana determinou para o Stefanio que estava
no quarto. — Você vai receber o tratamento adequado. Se não quiser falar
conosco sobre o que aconteceu, fale com o médico.
— Trouxe essas roupas, elas são confortáveis. — Terminei o curativo
no braço dela.
Lara se vestiu com calma e voltamos para o quarto. Desviei o olhar
quando o Stefanio a prendeu novamente, dessa vez, apenas um braço. Ele
entregou a ela um prato de comida com purê de batata, almôndegas e salada
de legumes. Tímida, começou a comer devagar, mas ao sentir o gosto da
comida, comeu com mais vontade, devorando, reparei que estava muito
magra.
— Vocês precisam se preocupar com Igor Rostov. — Ela nos pegou de
surpresa. — Ele é meu irmão gêmeo e definitivamente não compartilha das
mesmas opiniões que eu. Ele quer se vingar de todos vocês por ter tirado a
oportunidade de matar a nossa mãe e de mim, por ter fugido.
— Por que você fugiu dele?
Lara ergueu os olhos e encarou a Juliana.
— Ele é um monstro capaz de cometer coisas terríveis, como vender a
irmã gêmea para assegurar seu lugar na organização. Eu fugi, mas eles me
encontraram. Não quero nada com ele, com a organização ou com vocês. Não
faço parte disso, eu odeio esse mundo. — Empurrou o prato de volta. — Igor
está sedento. Ele é manipulador e implacável. Ele está com o Romeo. Mortrix
apresentou os dois e me ganhou como recompensa.
— Romeo tocou em você? — Stefanio perguntou.
— É mais fácil perguntar quem não. — Ela cuspiu de volta. — Apenas
o Mortrix ia até o final. Os outros podiam tocar outras partes e assistir.
— Eu sinto muito, Lara. — Suspirei, chocada.
— Já disse, acreditem em mim, eu não sou o problema. Igor é.
— Quem é o pai de vocês? — Juliana sentou-se na outra ponta da
cama.
— Somos filhos de laboratório. Eu sei de uma história que a minha
mãe teve gêmeos que foram roubados dela. — Lara lambeu os lábios. —
Anos depois ela nos encomendou com uma barriga de aluguel. — Revirou
olhos. — Igor e eu fomos criados por pessoas diferentes. Ela me despejou em
uma escola e ele ficou com um tio nosso. Cresci dançando ballet, ela só me
via nas apresentações e muito mal. Igor foi criado por um homem que o
ensinou a ser quem ele é. Eu não o conheço muito, mas tudo que conheço é
cruel e assustador. Por favor, me deixem ir. Ele não vai desistir de me
encontrar.
— Você precisa descansar. O médico virá te ver. — Juliana
determinou.
Peguei o prato de comida.
— Cuide dela. — Falei baixinho para o Stefanio.
Assim que saímos da casa, eu estava tão perdida que não sabia o que
pensar.
— Isso está me cheirando a algo muito pior. — Juliana andou ao meu
lado. — Sinto que vem algo realmente grande por aí. É uma guerra de poder
e uma guerra por vingança.
— Ela está em perigo.
— Está. Ainda não consigo desconfiar da sua história, mas não posso
dizer que é verdade porque não tenho provas e muito menos evidências. Lara
não existe em nenhum banco de dados... Ela sequer tem documentos. A Kátia
deve tê-la registrado com outro nome ou usou documentos falsos ao longo da
vida. — Entramos em minha casa e os homens nos olharam com expectativa.
Dante não escondeu o alívio bobo. Eu só fui conversar com a garota, não fui
praticar tortura.
Juliana e eu contamos tudo que ouvimos e isso deixou todo mundo
desconfortável e cheios de teorias. Estava quase amanhecendo e parecia que
havia um mundo de possibilidades à nossa frente. Pietro acordou dolorido,
mas quis ir para casa, e o Luigi o levou com o Elias. Enzo estava com fome,
preparei um lanche para todos, arrumei na cozinha e fiquei ouvindo a
conversa e as decisões tomadas.
Dante e eu iríamos para a Itália com as meninas o mais rápido
possível, era importante tirá-las de circulação, meu marido não me queria
exposta de jeito nenhum. Com o Enrico no telefone, Damon falando ao
fundo, era quase impossível entender, mas eles estavam pensando no bem
maior de todos e nos planos táticos de manter os territórios seguros. Foi o
Enzo que matou a Kátia, se o Igor queria vingança, a família Rafaelli era o
seu principal alvo. Se o Romeo estava junto, Dante e eu estávamos no bolo.
— Eu vou mandar preparar o avião para que vocês possam ir com as
meninas. Por enquanto, elas vão ficar com vocês, depois eu irei buscá-las. —
Juliana parecia aflita.
— Vou cuidar delas. — Segurei a sua mão e apertei. — Luna e a
Giovanna também, vamos ficar bem. Elas estarão seguras. — Garanti e ela
me deu um sorriso grato.
— Dá para usar a agência nessa? — Dante apoiou os cotovelos na ilha
da cozinha. — Não temos uma descrição, mas se ele é gêmeo da garota, não
vai ser tão difícil encontrar alguém para fazer um retrato falado. Precisamos
soltar equipes pelo país e pela Europa.
— Dominic e a Kate podem lidar com qualquer coisa na América
Central e Sul. — Juliana olhou para o Enzo, meio que concordando com o
Dante.
— Enzo? Vamos fazer isso . — Damon soou firme na linha.
— Sim, vamos envolver a agência. Vou providenciar os recursos com
a Kyra. — Ele determinou.
— Estou mandando o MIA de volta para os Estados Unidos . —
Damon avisou na linha. — Vejo vocês em algumas horas.
Um silêncio caiu sobre a cozinha. Minha mão involuntariamente
encontrou com a mão do Dante, entrelaçamos os nossos dedos e apertamos.
Não importava o que fosse acontecer, enquanto estivéssemos juntos,
ficaríamos bem. Eu não podia viver sem o Dante e estava disposta a fazer
qualquer coisa para que ele e todas as pessoas que eu amava ficassem
seguros.
32
Mia.
Me despedi da Juliana com um abraço apertado e ela entrou no avião
com o Enzo. As meninas estavam indo para Itália com Alessio, Emerson e a
Linda. Elas ficariam na Villa Valentinni até o Natal. Apesar da intensidade da
noite anterior, nossas mentes e corações se acalmaram. Havia tanto a ser feito
antes de partir, o nascimento do bebê da Lisa, Dante precisava lidar com a
“traição” dos Bracci e com o pai dele, que até então, não parecia ter
desconfiado de nada.
— Vem, linda. — Dante segurou a minha mão. — O bebê já nasceu.
— Stefanio vai levar a Lara ao médico?
— Sim... Ela precisa fazer alguns exames. — Dante desviou o olhar.
Ele estava incomodado com a Lara, não confiava e não gostava dela. A
garota cuspiu nele, mas eu entendia a sua resistência aos homens. Foi
abusada, sequestrada e subjugada. Ninguém sabia a profundidade do seu ódio
e dor. Ao mesmo tempo que o Dante não confiava nela, ele sentia um
pouquinho de pesar por tudo que aconteceu, mas não iria falar sobre isso. Ele
nunca iria assumir. No fundo, ele não se importava com ela o suficiente.
Estava ajudando porque eu pedi e porque ela era Lara Rostov. Enquanto a
verdade não fosse descoberta, ela ficaria conosco por ordem do Enzo.
Chegamos ao hospital, ele olhou ao redor, tenso, segurou a minha mão
e entramos na área da maternidade, subindo para o segundo andar.
Encontramos a nossa família no berçário. Milena e Antonella estavam com o
rosto grudado no vidro. Luigi e o Elias tiravam fotos com seus telefones. Me
aproximei e vi o Pietro segurar um bebezão para o vidro.
— É uma menina? — Soltei um gritinho quando vi a pulseirinha rosa
claro.
— Sim, uma princesinha. — Milena chorou. Trocamos um abraço.
Dante estava todo bobo. Lisa estava apagada da cirurgia, só acordaria
em algumas horas e nós poderíamos vê-la à noite. Eu estava ansiosa para
segurar a minha nova sobrinha. Ela era bonitinha, perfeita. Seu narizinho
arrebitado e a boquinha rosa. Olhei para o Dante e ele secou as minhas
lágrimas de emoção, rindo que eu chorava à toa e me abraçou apertado. Deu
um beijo na minha testa e ficamos agarrados, olhando a nossa sobrinha.
Stefanio enviou uma mensagem avisando que estava de volta a
propriedade com a Lara e que os resultados seriam enviados em alguns dias.
Voltamos para o carro, estava com fome e precisava dormir um pouco,
cansada dos últimos dois dias intensos e sem parar para dormir. Só de pensar
que a minha maior preocupação era proporcionar um jantar de natal
antecipado para a minha família e não que havia uma garota sequestrada, um
maluco querendo se vingar e o Romeo a solta.
— Estou com muita fome. — Reclamei no carro. Estava sem comer
desde o almoço do dia anterior.
— Quer comer alguma coisa no caminho?
— Sim, por favor. Meu estômago está furioso. — Bufei e ouvimos
roncar. Ele riu e colocou a mão em minha barriga, ia brincar, mas algo
chamou a sua atenção. Ele empurrou o meu banco e caí deitada. De repente, o
carro sofreu um solavanco e bati com a minha cabeça.
Dante colocou o braço na frente e o airbag explodiu, ele bateu no meu
queixo e mordi o lábio. O carro estava rodopiando. Segurei na lateral e de
repente, os vidros estavam sendo atingidos. Levei um tempo para perceber
que eram tiros. Mal percebi o Dante chutando a porta e atirando de volta.
Felipe estava na lateral do carro, atirando também e gritou que abaixasse.
Escorreguei no banco, mas era um carro esportivo, não tinha muito espaço.
Gritei de susto com o impacto nos vidros e gritei mais ainda ao ver o
Felipe lutando corpo a corpo com um homem maior que ele. Abri o porta
luvas e tirei a pistola extra que ficava ali. Empurrei a porta do carro, zonza,
caí no chão, mas eu consegui mirar e acertar no homem que lutava contra o
Felipe, mas não machuquei o suficiente para parar. Felipe deu um golpe na
cabeça dele, pegou a arma no chão e atirou.
Me apoiei no carro e toda fumaça me impediu de ver o Dante.
Confusa e querendo vomitar, olhei ao redor e vi um homem avançando em
meu marido. Eles lutavam implacavelmente. Senti algo gosmento escorrendo
em meu pescoço, mas não consegui desviar o olhar da luta à minha frente.
Atirei contra o outro carro, isso o distraiu e foi a oportunidade para o Dante
avançar e matá-lo.
Vomitei quando vi a maneira que o Dante torceu o pescoço do homem.
Foi como se tivesse torcido um papel. Ele parou e ficou olhando o corpo,
ofegante e com o rosto ensanguentado.
— Vem, temos que sair daqui. — Felipe me pegou.
— Dante!
— Estou aqui, vá com o Felipe. — Ele gritou comigo.
Zonza, pude ver carros se aproximando. Stefanio pulou fora de um dos
carros antes mesmo que parasse. Ele me ergueu no colo, pressionando algo
em meu pescoço e entrou no banco de trás.
— Vai ficar tudo bem, Mia. — Elias falou acima de mim e me pegou
no colo.
— Dante?
— Estou aqui. — Ele falou do banco da frente. — Vamos para o
hospital. Ela bateu com a cabeça quando o carro bateu no nosso.
— Toffoi? — Stefanio conferiu.
— Morto. — Dante falou sombriamente. Quem era Toffoi?
O carro ficou silencioso, fiquei indo e vindo, perdendo a consciência,
mas alguém sempre me sacudia. Na minha mente, ia e vinha a imagem do
Dante matando o homem. Eu nunca o vi tão letal. Ele matou uma pessoa com
as próprias mãos, sem arma, sem uma faca, apenas com a força dos seus
punhos. Aquilo era assustador.
Acordei bruscamente ao ser colocada em uma maca, aquele lugar
não parecia ser um grande hospital e imediatamente reconheci o Dr. Ricci
falando comigo. Virei para o lado e vomitei, mas logo fiquei atenta às mãos
da enfermeira em mim, limpando os cortes e pediu para alguém erguer o meu
cabelo.
— Não vai precisar de pontos, apenas de uma limpeza. Foi uma ferida
por impacto, ela bateu com a cabeça muito forte. — Ela disse com calma. —
Você vai ficar bem.
— Cadê o meu marido? — Lambi os meus lábios.
— Já vou permitir que ele entre. — Garantiu e voltou a me limpar. Ela
tirou os cacos de vidros, limpou o sangue do meu pescoço e os pequenos
cortes causados pelo impacto. Tomei uma medicação e fui levada a uma sala
de exames, mas o médico garantiu que eu estava bem, que sentir dor de
cabeça era normal. Quando voltei para o quarto, Dante estava lá, a enfermeira
insistia em cuidar dele e ele não deixava.
— Mia! — Ele deu a volta por ela. — Você está bem mesmo? —
Segurou o meu rosto.
— Minha cabeça dói um pouco. Você está bem?
— Se você está, eu estou. — Piscou. Olhei para o seu braço, estava
roxo, horrível. — Foi o airbag. Precisei segurá-lo ou ele iria quebrar o seu
nariz.
A enfermeira saiu dizendo que nos daria privacidade.
— Dante... — Eu estava horrorizada. — Por que você fez isso? Olha o
seu braço!
— Vai passar, baby. — Me deu um beijo na testa. — Eu te amo.
Meu coração derreteu.
— Eu te amo... — Suspirei e o abracei.
Dante recusou qualquer medicação, ele disse que cuidaria de si mesmo
em casa, uma hora depois, fomos liberados. Stefanio estava no banco do
motorista e o Felipe no carona, ambos pareciam bem, para o meu alívio.
Deitei minha cabeça no ombro do Dante e só consegui relaxar aliviada
quando entramos em nossa casa. Lara estava sentada na minha sala, com as
mãos no colo e ficou de pé assim que entramos. Seu olhar me esquadrinhou e
o Elias falou para ela sentar novamente.
— Ela prometeu não me atacar se a deixasse solta.
— Ele estava lá? — Ela estava nervosa.
— Não, Lara. — Dante suspirou. — Apenas o Toffoi e outro homem,
você pode tentar reconhecer? — Ele tirou o telefone do bolso e mostrou a
foto do homem morto.
Lara e eu fizemos uma careta.
— Eu não sei o seu nome, mas ele trabalhava com o Mortrix. Sempre
dava atualizações das vendas da boate. — Lara explicou. — Com o Toffoi
morto, acha que o Igor vai desistir?
— Você acha que ele vai desistir? — Dante rebateu secamente e ela se
encolheu. — Em todo caso, todos precisam descansar. Nos reunimos à noite.
— Determinou. Stefanio sinalizou para Lara sair, ela me deu um olhar tímido
e foi andando de cabeça baixa. — Não gosto disso. — Dante bufou. Me
sentei na pontinha do sofá. Seus pais estavam nos ligando repetidamente. —
Porraaa! Me deixem em paz! — Ele saiu, batendo a porta e foi para o
escritório.
Minha bolsa estava cheia de cacos de vidros, limpei com cuidado na
lavanderia e enviei uma mensagem para Antonella. Eu estava bem e não
queria muita perturbação na minha cabeça. Subi a escada, indo direto para o
meu quarto, tirei a roupa suja e joguei no cesto, tomei um banho com cuidado
e vesti um pijama, porque eu queria cama e conforto.
— Mia, baby? — Dante subiu a escada correndo. — Não fica
silenciosa. Pensei que tivesse desmaiado.
— Só vim tomar banho.
— Vai dormir?
— Eu preciso deitar um pouco. — Meu corpo estava dolorido. Olhei
para o seu braço. — Me deixa cuidar disso aí, por favor. — Peguei a sua mão
e dei um beijinho. — Seu braço poderia ter quebrado com o impacto do
airbag.
— O mais importante é você. — Me puxou para um abraço. — Sinto
muito pelo susto de hoje.
— Você não tinha como saber e esse é o risco que corremos em nossa
vida. — Beijei o seu pescoço. — A única parte boa é que eu não vou precisar
ficar escondida na Itália por muito tempo, vamos poder voltar a programação
normal.
— Enquanto Igor Rostov estiver vivo e por aí, as meninas estão em
risco e sinto pelos pais que vão precisar ficar longe delas. Romeo é um
covarde. Mandou um grupo e não apareceu.
— Eu sei que você não se importa com a Lara, mas ela é uma vítima.
— Até que se prove o contrário. — Falou secamente. — Não podemos
acreditar em nada do que ela diz. Ela pode ser uma espiã e já é fodido o
suficiente que esteja aqui, conheça a casa e pode muito bem ajudar o seu
irmão gêmeo e o Romeo. É por isso que nós vamos vender esse lugar
imediatamente.
Dei um passo atrás.
— O quê? Nós acabamos de comprar a nossa casa, eu amo viver aqui.
Não vamos vender nada!
Dante segurou os meus ombros.
— Eu sei e sinto muito, mas a sua segurança é mais importante que
tudo. Stefanio vai tirá-la da propriedade imediatamente. Foi uma emboscada
precisa.
— Como ela poderia ter contado ao Igor ou ao Romeo que estávamos
no hospital? Você percebe o que está falando? — Passei a mão no meu
cabelo. — Ela está sendo vigiada 24h por dia, vocês a enfiaram em uma
máquina para ver se não havia dispositivos de rastreamento, e ela sequer
esteve perto de um telefone celular. Você não viu as coxas dela, não viu o
quanto está ferida. Por que ela ajudaria quem a feriu?
— Ela é russa e isso me basta. — Dante não ia ceder.
— Tudo bem, leve-a para um esconderijo, trate-a como uma
prisioneira, mas não a machuque. Ela já foi ferida o suficiente. Se, por algum
acaso, descobrirmos que ela não é quem diz ser, tudo bem. Eu vou dar o meu
braço a torcer e não interferir mais.
Dante arqueou a sobrancelha e eu cansei de discutir. Peguei a pomada
para passar no seu braço, mas ele optou por tomar banho antes. Nós deitamos
na cama em silêncio, e eu poderia dizer que o braço dele estava doendo tanto
quanto a minha cabeça, mas o teimoso não falou nada.
Não consegui dormir muito, o telefone dele não parava de tocar, não
queria que saísse da cama, prendendo-o com as minhas pernas. A noite,
levantei porque a dor venceu e tomei a medicação receitada e me arrumei
para ir ao hospital visitar a minha cunhada e sobrinha.
Suspirei ao descer o último degrau da escada, a sensação era que o
meu quadril iria despencar a qualquer momento. Dante desceu a escada
vestido, cheiroso, pegou a chave do carro e eu a minha bolsa. Em silêncio, ele
dirigiu, sem colocar música, sem brincar com a mão na minha perna e percebi
o movimento rígido do seu braço. Estacionou próximo ao hospital, segurei a
sua mão, empurrando para emergência. Ele tentou me puxar de volta.
— Nós vamos ter uma briga muito feia se você não passar por um
atendimento médico. — Falei entredentes. — Vamos procurar por uma
consulta agora.
Dante arqueou a sobrancelha e me seguiu junto com a enfermeira para
uma estação médica. A doutora que estava lá dentro quase uniu as
sobrancelhas no cabelo quando expliquei que ele segurou o airbag no
acidente que tivemos mais cedo e estava preocupada com o seu braço. Ela
tirou um raio-x na sala ao lado, meu marido voltou emburrado e foi preciso
fazer uma tomografia.
— Para ter certeza da extensão, é um belo hematoma, precisamos
cuidar adequadamente. Ele poderia ter quebrado o braço ou deslocado o
ombro. — Explicou e assenti, ansiosa com o resultado.
Ignorei o humor irritante dele até voltar do exame, de braços cruzados.
— Para de ser insuportável. — Dei uma encarada irada para o Dante.
Ele sustentou o meu olhar porque ele era teimoso.
— Pronto, fique com essa compressa essa noite e passe a pomada
todos os dias.
— Muito obrigada. — Agradeci a médica e estiquei a minha mão para
o meu marido teimoso. Ele pegou com cuidado e saímos da sala de
atendimento. Parei-o no corredor e fiquei nas pontas dos pés, segurando o seu
rosto e lhe dei um beijo nos lábios. — Eu te amo e obrigada por pensar em
mim em primeiro lugar, mas se você se recusar a se cuidar de novo eu vou te
bater.
— Uau, baby. Usa esse tom mandão mais tarde. — Ele sorriu e
segurou a minha cintura, apertando. — Se você se vestir como uma
dominatrix, eu vou gozar na cueca.
— Idiota.
Rindo, entramos no elevador e saímos no andar da maternidade. Era
um hospital muito chique, que tinha aquelas suítes enormes de parto e bati na
porta antes de entrar. Com a mente confusa, esqueci das flores e dos milhares
de presentes que comprei para o nascimento.
— Deixa de ser boba, Mia. — Lisa me abraçou. — Estou feliz e
aliviada que estão bem, isso é tudo que me importa. — Me deu um beijo na
bochecha. — Vem aqui, meu bebezão. — Ela abriu os braços para o Dante e
o pegou em um aperto.
— O que aconteceu com o seu braço? — Milena perguntou, segurando
a nossa menininha e eu passei álcool nas mãos e braços para me aproximar.
Antonella me deu um abraço e me envolveu com uma toalha para poder
segurar a bebê. Dante apenas sorriu, mas não disse o que aconteceu.
— Dante segurou o airbag para não bater em meu rosto. — Expliquei e
peguei a princesinha linda, toda enroladinha em uma manta rosa, com uma
boquinha vermelha fofa. Pietro estava com o olhar atento em mim, mas todo
mundo virou para o Dante, surpresos. — Tio Dante é um herói. — Brinquei e
ele sorriu, tímido. — Você é tão linda.
— Então, qual é o nome? — Dante perguntou.
— Nicole. — Lisa sorriu emocionada.
— É perfeito. — Dante sorriu. Uma homenagem ao irmão que eles
amavam incondicionalmente. — Ele estaria maluco com ela. — Ele se
inclinou e apoiou o queixo em meu ombro. — Oi, linda. Titio vai te ensinar
um monte de coisa que vai deixar a sua mãe maluca e eu não vou deixar
nenhum idiota chegar perto.
Pietro sorriu. Ele e o Elias estavam trocando charutos. Antonella e o
Luigi não conseguiam desviar os olhos da neta, devia ser um sentimento
intenso em ver a sua filha tendo uma filha. Dante e eu seguramos a Nicole
por quase uma hora, e com tantos adultos babões, ela mal ficaria no berço.
Assim que saiu dos meus braços, foi direto para o colo da avó babona. Lisa
estava bem, considerando que passou por uma cirurgia. Sentamos ao redor do
quarto do hospital, eu estava grata pelo dom da vida.
Essa manhã, Nicole nasceu para completar a nossa família e na mesma
manhã, Dante e eu poderíamos ter perdido as nossas vidas. Romeo estava
sedento, mas ele perdeu dessa vez. Um dos seus cúmplices estava morto.
Nessa batalha da longa guerra contra os russos, nós vencemos. Dante segurou
o meu queixo e me deu um beijo com cuidado porque os meus lábios estavam
inchados devido ao corte.
Quando o horário de visitas acabou, aceitamos o convite dos pais dele
para jantarmos juntos. Miles preparou uma refeição deliciosa, não percebi o
quanto precisava comer até dar a primeira colherada da sopa de abóbora.
Comi a sopa, o prato de salada e o prato principal com vontade.
— Foi um longo dia, não é? — Milena acariciou a minha mão.
— Foi sim, mas eu estou feliz que no final, deu tudo certo. — Olhei
para o Dante, ele conversava baixo com o seu pai. Antonella estava cortando
a torta de sobremesa.
— Você é forte. Elias me falou que você deu um disparo de distração
quando o Dante estava lutando com o Toffoi. — Ela olhou em meus olhos.
— Eu precisava ajudar de alguma maneira. — Encolhi os ombros. —
Não que o Dante precisasse, eu acho. — Toquei o meu lábio dolorido. —
Então, Nicole mexeu com os seus ovários?
Milena riu e olhou para o Elias.
— Talvez um pouquinho? E com você?
— Nem de longe. Vou amar ser titia pelos próximos anos.
— Elias e eu sempre dissemos “ano que vem vamos engravidar” e esse
ano nunca chegou para nós até recentemente, mas eu quero me mudar antes.
Dante e eu voltamos para casa bem tarde da noite. Ele dirigiu em alta
velocidade, e não levamos muito tempo nos preparando para dormir. Havia
um silêncio entre nós, mas nada estranho, talvez fosse o sentimento de medo.
Foi a primeira vez que passamos por uma situação tão intensa juntos.
Deitados na cama, ficamos de lado, um de frente para o outro e não levou
cinco minutos para nossas pernas estarem emboladas na outra, abraçados,
beijei o seu queixo.
— Ficou com medo hoje? — Ele me perguntou baixinho.
— Medo de perder você. Como está se sentindo?
— Queria tê-lo torturado por informações, mas eu não queria arriscar
com você por perto e eu optei em te manter segura.
Fiquei arrepiada e não falei mais nada, encerrando o assunto tenso com
um beijo delicado em seus lábios e me refugiando em seus braços para ter
uma noite de sono tranquila.
33
Dante.
Mia olhou para a tatuagem em minha mão e sorriu, virando e olhando
no espelho a tatuagem no seu braço. Eram iguais. Uma borboleta batendo
asas. Mia era a minha borboleta, ganhou asas e voou com liberdade. Minha
princesa apaixonante, a mulher da minha vida e tudo que eu tinha de bom
dentro do meu coração. Me inclinei, equiparando as nossas alturas e lhe dei
um beijo.
Nós decidimos fazer uma tatuagem igual como o nosso presente de
natal mútuo, mas teria que ser algo que simbolizasse o nosso casamento.
Liberdade nunca fez tanto sentido.
— Não acredito que você tatuou o meu nome... — Apontou para a
minha virilha com as bochechas vermelhas. Puxou a minha cueca e olhou o
seu nome ali, em letras grandes e pouco abaixo de uma caveira que eu tinha
na barriga que entrava na sunga.
— Você disse para tatuarmos algo que representasse o nosso
casamento. — Sorri e decidi irritá-la. — A partir do momento que eu disse
sim, esse pau ficou submisso a uma dona só. Antes ele era de todas. —
Provoquei e ela agarrou as minhas bolas. — Porra, Mia!
— Eu vou arrancar o seu pau fora se você repetir essa gracinha. — Mia
agressiva fazia o meu dia.
— Te amo, gostosa. — Agarrei-a apertado e empurrei contra o
espelho. — Minha esposa furiosa.
— Idiota, você sabe que estou de TPM e tirou o dia para me irritar.
— Meu bichinho furioso. — Beijei a sua boca que não estava mais tão
inchada. — Agora, deixe-me ver sua nuca. Quero olhar o seu machucado.
Suspirando e impaciente, virou de costas e ergueu o cabelo. Estava
cicatrizando muito bem. Dei um beijinho em cima e a abracei apertado, nos
encaramos no espelho, sorri para a sua beleza. Ela usava um biquíni amarelo
bonito, tentei puxar a cortininha, mas ganhei tapas nas mãos. Estávamos em
um quarto de hotel na França, para os nossos três dias de lua de mel
comemorando sete meses de casados.
Depois dos acontecimentos intensos da semana passada, eu queria
ter um momento sozinho com a minha esposa. Ela se saiu tão bem, tão
madura e eu nunca poderia descrever o quanto fiquei surpreso ao vê-la dar
um tiro de distração para ajudar o Felipe e em seguida, criando uma janela de
vantagem entre o Toffoi e eu.
Escolhemos Nice para esse breve momento. Apesar de Paris ser ideal
para o inverno, provavelmente estava muito mais cheio que Nice, que era um
local de praia, não era interessante no inverno. Nós queríamos passear, sair
para comer e utilizar a hidromassagem aquecida do nosso quarto com uma
esplêndida visão para a nossa praia. A coisa já estava ligada e batendo há
alguns minutos, peguei as toalhas, o champanhe e ajudei a minha mulher a
entrar, afundando em seguida.
— Por que não temos uma coisa dessas em casa? — Ela gemeu,
fechando os olhos.
— Vou mandar derrubar a parede do quarto ao lado e fazer um
banheiro maior com uma coisa dessas. Vai ser o quarto da foda.
— Quarto da foda? O nosso quarto já não é o quarto da foda? — Ela
riu e arqueou a sobrancelha.
— Vamos ter outro. Temos um monte de quartos. — Mordi o lábio
para as suas bochechas vermelhas, a puxei pelas pernas e fiz com que
montasse em meu colo. — Assim é muito melhor, não acha? — Beijei cada
um dos seus peitos. Mia me viu matar um homem, eu sempre tive medo de
que ela me deixasse ao ver o quão cruel eu poderia ser, mas ela não fez isso.
Ela atirou para me ajudar e estava preocupada comigo. Mia ainda estava
descobrindo a sua força e era muito mais forte que todos pensavam. —
Ansiosa para o nascimento do bebê?
— Pelo que a Luna falou comigo, Giovanna acha que vai nascer a
qualquer momento. Tem muitos bebês nascendo ao nosso redor, somos os
tios da rodada.
— Depois que ficamos com as meninas, eu vi que filhos é literalmente
mudar a vida sexual e eu não estou pronto para isso. Acabamos de começar.
— Dei um beijo no seu pescoço, deixando um chupão leve, que iria sair em
algumas horas e apertei a sua bunda. — Mesmo assim, a Nicole é a
criaturinha mais linda, não é? — Esfreguei o meu nariz no seu.
— Ela é perfeita. Aquelas mãozinhas perfeitas... — Mia estava com os
olhos brilhando.
— Chega de falar de bebês ou os meus nadadores podem ficar
animados, não quero que eles se animem, só o meu pau mesmo. — Beijei o
seu ombro. Ela se esticou e pegou o seu telefone, colocando uma música
suave para tocar.
— Você imaginou que seria assim?
— O quê?
— A vida depois de casado. Eu estava com tanto medo, que eu só
conseguia pensar que não chegaria viva ao fim do ano, mesmo sendo com
você, que sempre foi doce e apaixonante comigo. O medo é uma coisa
impressionante, ele alimenta nossos monstros mesmo sem nenhum motivo.
— Nada me faz mais feliz do que ver você feliz. Eu nunca, nunca,
quero te dar motivos para ter medo. — Ela molhou os meus braços. — Sou
seu e você é minha.
Ela sorriu, com seus olhos brilhando, beijei a sua boca, batizando
aquela hidromassagem e a pequena cama ao lado. Mais tarde, agasalhados,
saímos para passear pelo bairro e encontramos um pequeno restaurante de
aparência charmosa e com o menu mais caro que encontrei na minha vida.
Convertendo o prato da sala, custaria setenta dólares. Mia estava ansiosa para
provar os pratos, o seu francês era perfeito.
— O que foi? — Me deu um sorriso.
— Fala em francês mais tarde. — Cochichei com um olhar atento na
sua reação. — Algo bem sujo... — Sorri torto e as suas bochechas ficaram
vermelhas. — Me ensina a falar buceta. — Pedi e ela arremessou um pão em
mim, mandando falar baixo, mas só havia mais dois casais, e as mesas
estavam bem espaçadas. — Vai, amor. Me ensina a falar putaria em francês.
— T’es trop sexy . — Ela riu.
— O que você disse?
— Você é muito sexy. — Deu de ombros.
— Nah. Isso já sabemos. — Ela revirou os olhos. — O que mais?
— Ce soir je vais te sucer . — Seus olhos brilharam.
— Não sei o que é, mas gostei.
— Não sei se falei certo porque não sou especialista em falar putaria
em francês, mas eu disse que essa noite eu vou chupar você. — Falou
baixinho se inclinando na mesa. — Só se você se comportar. Não faremos
nada em público, somos italianos que moram nos Estados Unidos e não quero
ser presa na França por atentado ao pudor. — Piscou e o garçom se
aproximou com as entradas.
Mia acertou no pedido do vinho e na comida, foi uma refeição
deliciosa e escolhemos a sobremesa para viagem. Caminhamos com calma de
volta para o hotel e paramos em diversos lugares para tirarmos fotos. Meu
telefone vibrou com uma mensagem do Enzo nos atualizando sobre o
paradeiro do Igor Rostov e nada havia mudado, para a minha irritação e
infelicidade. Isso significava que a Lara continuaria conosco e a Mia sentia
pena dela. Eu não conseguia sentir porra nenhuma por ela.
Era russa, filha de uma inimiga e ponto final.
Voltamos para o quarto do hotel, servi o que restava do vinho que
bebemos mais cedo e abrimos a sobremesa. Me joguei na cama, observando-a
se despir. No começo morria de vergonha, sete meses depois, era natural. Sua
nudez não era motivo de corar, seu corpo não era motivo de vergonha.
No sexo, avançamos muito, estava incrível e eu pensava que sabia
muito sobre transar, mas o casamento me mostrou que não. Me descobri
sexualmente com a Mia e eu gostava de todas as putarias que fazíamos
juntos, não sentia saudade de ser solteiro e ter uma variedade de mulheres.
Até porque, a Mia de TPM tinha mais de três personalidades.
Nossos dias de folga e de lua de mel foram maravilhosos, esperava
conseguir viajar com ela para mais lugares. Ela tinha uma lista de lugares
para conhecer e fiquei empolgado em organizar as viagens sempre que
possível. Voamos para Sicília para o nascimento do Rafael e as festas de fim
de ano. Mia ficaria até fevereiro, para o nascimento do bebê da Luna, já
estava pensando em como ficar dois meses sem a minha mulher. Eu iria
enlouquecer, e isso era um fato.
Pousamos sem problemas, apesar do tempo fechado, o vento frio fez a
Mia espirrar. Enrico estava esperando fora do carro e a Mia imediatamente
foi para os seus braços. Trocaram um abraço apertado, ganhei um soco no
braço, rindo, ele me deu o dedo. Mia revirou os olhos para o nosso
cumprimento, corremos para o carro aquecido. A viagem para a villa foi
rápida, Mia falou sem parar sobre a nossa viagem e o que mais gostou de
Nice mesmo no frio.
Enrico me deu um olhar e eu sabia o que ele queria dizer, Mia estava
falando pelos cotovelos. Ela não falava assim antes, não com tanta alegria e
propriedade. Assim que chegamos, ele nos informou que a Luna preparou um
lanche na nova sala comum. Eles construíram uma sala grande de convívio
que dava para a nova piscina principal, o novo jardim e ficava entre as duas
casas para ambas as famílias.
— Você chegou! — Luna gritou e eu sorri para a sua barriga. Ela
agarrou a Mia apertado. — Minha lindinha, meu eterno bebê! — Agarrou as
bochechas da minha esposa. — Você está linda, que corpão, olha só como ela
está linda, Gio!
Na dica, Giovanna saiu da sua casa com uma barriga esticada à frente.
— Ela está linda. — Giovanna sorriu para bobeira da Luna. — Oi,
Dante. Como você está? — Me deu um abraço e a sua barriga se moveu
contra mim, tomei um susto e dei um passo para trás. — Rafael está dizendo
olá.
— Oi, carinha. — Abaixei para barriga e coloquei a mão. — Uau! —
Ele movia muito e a barriga praticamente ficava torta. — Caramba.
— É assim mesmo. — Ela riu. Mia colocou ambas as mãos na barriga
para sentir mexer, trocamos um olhar, rindo, tendo o mesmo pensamento
sobre bebês. — Caramba, eles aprimoraram a conversa com o olhar. —
Giovanna riu. Puxei uma cadeira para que ela sentasse. — Obrigada, Dante.
— Peguei outra para colocar os pés para o alto. Lisa vivia com os pés para o
alto.
— Vem aqui, garoto. — Luna me abraçou. — Parece que está
cuidando muito bem da minha menina, mas você está com cara de homem
casado.
— Mia está me alimentando bem. Ninguém cozinha melhor que ela. —
Pisquei para Mia. Sorrindo, minha esposa me deu um beijo doce.
— Ai, fofos. — Luna suspirou.
Damon saiu de casa e disse que o Nino estava dormindo, mas a Laura
estava firme e acordada em seu colo. Ela estava sorridente e comendo um
biscoito de chocolate. Mia correu até a Laura, apertando a menininha,
esmagando as bochechas e o cabelinho loirinho estava todo bagunçado. Nos
reunimos ao redor da mesa, com bolos, doces e salgados variados. A pizza
estava uma delícia e eu precisava de uma boa ingestão de carboidratos para
treinar porque eu sabia que o Enrico estava sedento para arrancar a minha
pele. Mia comeu e falou, contando sobre a nossa viagem, a nossa casa,
dominando o assunto e ela nem percebia que eles estavam olhando-a
embasbacados.
— Uau, agora eu encontrei um apelido: tagarelamia . — Damon
brincou.
— Tagarela com Mia, que bobo. — Giovanna riu.
— Desculpa. — Mia ficou vermelha. — Estava com saudades e muito
empolgada.
— Estou tão feliz que você chegou. — Luna segurou a mão dela. —
Mais feliz ainda que vai ficar comigo pelos próximos meses. Dante vai
morrer de saudades.
— Vou sim. — Confirmei e a Mia me olhou. Ela queria ficar e ao
mesmo tempo não queria que eu fosse embora. — Mas vai passar bem
rápido.
As mulheres se reuniram na sala, conversando, levei as malas para o
quarto que ficaria com a Mia na casa do Enrico. Troquei de roupa, vestindo
uma bermuda de moletom, meias, tênis e um casaco, sem a camisa por baixo,
só com os coldres. Enrico estava na sua sala, jogado no sofá e me juntei a ele.
Damon estava fazendo um café na cozinha.
— Mia parece outra mulher. Estou feliz em vê-la tão independente,
segura e está cada dia mais linda. Isso é bom, assim não vou arrancar a sua
cabeça. — Enrico comentou e eu ri.
— Ela mudou muito. Se o papai está satisfeito, tudo bem. — Ele me
deu o dedo médio.
— Soube que o Stefanio já chegou na Catânia com o pacote. —
Damon estava olhando o seu telefone. — A mensagem chegou tem dez
minutos, só vi agora. Giovanna precisou de ajuda para se mover. Ela fica
puta, mas a barriga dela fica enorme. É impressionante como volta para o
lugar depois que nasce, leva umas semanas, mas volta e parece mágica.
— Pedi que o Felipe acompanhasse. Ele é de confiança. — Eu não ia
comentar sobre o tamanho da mulher dele. Mia me fez memorizar uma lista
de comentários não agradáveis para grávidas porque ela não queria que a
minha boca sincera me colocasse em problemas. Ela ainda disse que era
melhor deixar o Enzo se ferrar sozinho nas piadas. Meu telefone tocou e era o
Felipe. — Fala. — Atendi no viva-voz. — Felipe?
— Fomos atacados . — Ele gemeu e parecia gorgolejar, como se
estivesse com a boca cheia de sangue. — Stefanio foi levado com a garota .
— PORRA!
— Vamos sair agora! Avise ao Antônio. — Enrico saltou de pé.
— O que está acontecendo aí? — Gritei com o Felipe.
— O Savoia está morto. Eles são muitos. — Felipe gritou algo. —
Preciso de reforços. Estou seguindo para onde estão levando-a.
— Reforços estarão lá em dois minutos. — Damon gritou alto o
suficiente para o Felipe ouvir. Enrico pegou uma mala pronta com armas e
munições, gritei para Mia e ela estava assustada com a Luna, nos olhando
sair, mas o Antonio as levou para dentro. — Vamos!
Damon estava dirigindo até o helicóptero que nos faria chegar lá em
menos tempo. Nós decolamos e sobrevoamos a ilha, chegando ao limite da
cidade da Catânia. De longe podíamos ver o armazém pegando fogo. Abri a
porta do helicóptero e me pendurei, agarrado ao cinto e com o rifle, mirei
bem na cabeça do imbecil que estava atirando contra o meu soldado. Enrico
me agarrou pela camisa, me equilibrando, Damon parou ao meu lado e o
helicóptero baixou o suficiente para puxar o Felipe.
— Eles jogaram o Stefanio em uma sala e levaram a garota para um
barco. Eles estavam escondidos em um dos navios do porto. — Felipe gritou,
com a adrenalina a mil. — Savoia foi traído pelos homens do porto. — Ele
respirava com dificuldade. — Nós mal saímos do iate e fomos atacados. Foi
muito rápido.
— Eu vejo o barco. — O piloto gritou. — Tem uma garota loira
correndo com um homem de cabelos pretos na estrada. Eles estão sob fogo
cruzado.
— É o Stefanio! — Gritei e dei cobertura a fuga deles. Enrico e eu
atiramos, o Damon pulou do helicóptero, correndo até eles e ajudou a
carregar o Stefanio que estava ferido. Puxei a Lara em um único solavanco e
ajudei a subir o Stefanio ferido. Damon voltou para o seu lugar na frente. —
Vamos, vamos!
— Atenção, eu quero que vocês peguem todos os filhos da puta e
deixem vivos. Eu quero respostas e quero logo! — Damon estava gritando no
rádio. Do alto podíamos ver os homens locais avançando, pressionei a ferida
na barriga do Stefanio, que estava indo e vindo na consciência.
Lara estava com a cabeça dele no colo, chorando, o olhar que vi entre
eles me deixou arrepiado. Não, porra. Nem fodendo.
— Se afasta, Lara. Você está ferida?
— Não sei. — Ela chorou, mas a sua barriga sangrando me disse outra
coisa. Adrenalina demais para sentir dor. Ergui a sua camisa e havia um corte
extenso. Ela ficou muda quando viu a ferida, me olhando com desespero. Não
gostava dela, mas não seria negligente.
Nós pousamos em uma clínica médica próximo ao vilarejo, carreguei o
Stefanio para dentro, enquanto o Enrico pegava a Lara no colo para
entrarmos rápido. Eles foram encaminhados para o salão de tratamento com
duas enfermeiras e o Felipe foi para sala de exames.
— O que vai ser feito agora?
— Eu vou voltar com o Enrico. Você fica aqui, dê assistência a eles e
os homens em casa sabem que devem te obedecer, se eles sabem o que é bom
para vida. — Damon me entregou um rádio. — Qualquer sinal de movimento
estranho, atira. Eu lido com qualquer consequência, mas não deixa ninguém
se aproximar da villa . Enzo e Juliana chegarão de madrugada, mas eles
sempre avisam quando estão se aproximando.
— Tudo bem. — Respirei fundo e voltei a minha atenção para o
Stefanio. Ele estava mal.
Lara segurou a mão dele, a proximidade entre os dois me deixou quase
histérico. Precisava tirá-la de perto dele e da Mia o mais rápido possível.
Agarrei o rádio ao ouvir a voz preocupada do Antonio pedindo atualizações e
falei rapidamente. Enviei uma mensagem de áudio para Mia, sem entrar em
detalhes. Fiquei observando o médico trabalhar nos ferimentos do Stefanio,
uma enfermeira costurou a barriga da Lara, que não estava reclamando da
dor, só chorava descontroladamente.
— Seu irmão estava lá? — Me aproximei dela.
— Ele não é meu irmão apenas porque compartilhamos um DNA. —
Ela rebateu do seu jeito arisco. — Não o vi, mas os homens eram dele. As
tatuagens, o sotaque muito forte...
— Viu quantos?
— No barco tinha três, mas saindo do container no navio haviam
muitos.
A pergunta era: como eles sabiam que a Lara estava sendo levada para
Catânia pelo iate?
— Você armou isso, Lara? — Me aproximei devagar. — Contou para
o seu irmão como entrar aqui? — Peguei o bisturi e ela se encolheu. — Não
me faça arrancar a verdade te causando mais dor.
— Como eu poderia? Vocês estão me vigiando o tempo todo, e eu
juro, eu juro que tudo que menos quero nessa vida é estar perto do Igor. —
Ela chorou. — Eu jamais faria isso com o Stefanio.
— Se afaste dele, Lara. Você vai matá-lo. — Coloquei o bisturi em seu
rosto. Ela se encolheu no canto. — Você vai causar uma destruição na vida
dele.
— Nunca colocaria a vida de ninguém em risco, só quero viver em
paz. Eu não tenho nada a ver com os negócios e não sei porquê o Igor tanto
me quer! — Gritou e tentou me empurrar. — Por favor, acredita em mim.
Nunca nessa vida. Me afastei quando o Stefanio recobrou a
consciência e imediatamente me aproximei dele.
— Cadê a Lara? — Ele gemeu. Foda-se.
— Está ali e viva por alguns minutos a mais. — Retruquei e ele abriu
os olhos.
— Não. Ela voltou para me salvar. — Grunhiu e tentou levar a mão a
barriga. — Porra, isso está doendo mais que da última vez. — Soltou um
gemido de dor. — Acho que eles nos reconheceram quando ficamos no porto
de Nice. Havia uns homens lá... O Felipe verificou, mas não encontrou nada
demais, mantive a peruca, os casacos, mas pode ter sido. O barco saiu em
partida antes de nós...
— Vocês ficaram navegando por três dias, eles poderiam ter atacado
em alto mar, principalmente para ter a certeza de que chegariam no mesmo
lugar.
— Ou alguém entregou a nossa rota. — Ele suspirou e olhou para
Lara.
— Você vai ficar bem, descanse.
Antonio enviou mais carros para que pudesse levar o Stefanio na maca
para a villa e mandei que ele colocasse a Lara em um lugar separado. Ela me
olhou com ódio, não me importei. Ela não causaria mais estragos. Já bastava
a Mia torrando a minha cabeça sobre como tratá-la. Em três carros, entramos
na villa, logo a Mia correu para o pátio, com os olhos cheios de lágrimas.
— Coloquem o Stefanio para descansar e levem a Lara para uma das
casas de visitantes, quero dois guardas fazendo a segurança. Ela não tem
direito a ver a luz do dia!
— Dante! — Mia se aproximou. — Por favor, levem água e comida,
dê a ela a medicação que precisar e avisem que em breve irei ver os seus
ferimentos.
— Mia... — Trinquei os meus dentes.
— Ela foi atacada, quando você vai parar? — Ela sussurrou, brigando
comigo.
— Nunca.
Seu olhar encontrou o meu.
— Você tem como provar que ela causou tudo isso? — Cruzou os
braços me desafiando.
— Isso aqui não é a justiça ou democracia, Mia. Já falei para você não
se meter nisso. — Me elevei sobre ela, que ergueu o queixo e empinou o
nariz, empurrando o seu dedo indicador no meu peito.
— Eu vou repetir: não sou os seus homens que você manda e
desmanda, sou a sua esposa e estou enxergando o que você se recusa. Lara é
uma vítima, se vocês se deram o trabalho de resgatá-la, pare de tratá-la como
uma prisioneira perigosa. A vida dela está em risco! — Alterou o tom de voz
e nesse meio tempo, a Lara passou acompanhada do Antonio.
— Eu sei que eu sou grossa e grito com você, mas você me assusta
tanto quanto todos os homens. — Lara parou na minha frente. — Você pode
me deixar amarrada e amordaçada, só por favor , me deixa ficar com ele. —
Implorou. Mia me deu um olhar marejado. Será que ela não via o circo que
isso era? — Stefanio salvou a minha vida hoje, ele correu atrás de mim, eu
juro que matei aquele homem só porque eu queria sair correndo.
Aquilo me chamou atenção.
— Você matou um deles?
— Não tive alternativas, sei que vocês precisam interrogá-los. — Ela
pensava que eu estava com raiva porque matou um deles? Coitada.
— Não pense que isso vai me fazer confiar em você. — Sinalizei para
o Antonio. — Leve-a para o Stefanio, mas não os deixem sozinhos.
— Obrigada. — Ela praticamente correu para casa que o Stefanio
estava.
— O que foi isso? — Mia me abraçou e deitou a cabeça em meu peito.
— Eles estão apaixonados e isso é uma tremenda merda. — Beijei os
seus cabelos.
— Se apaixonar nunca é um problema. — Mia me encarou. — É uma
solução.
Não era tão simples. Não ela sendo um Rostov e ele um homem
italiano honrado.
34
Mia.
Stefanio estava suando, delirando de febre e pressionei a compressa
fria em sua testa, enquanto a Juliana xingava em todas as línguas que
conhecia, cuidando dos pontos que se abriram enquanto o médico ainda
estava a caminho da villa . Enzo segurava as pernas dele para que não nos
chutasse inconsciente.
Lara entrou no quarto com um balde de água e o Dante estava atrás
dela com mais toalhas, ela se ajoelhou ao meu lado e me ajudou a limpá-lo e
ao mesmo tempo, tentando diminuir a febre.
— Ele vai ficar bem? — Lara sussurrou.
— Sim, ele vai. — Juliana vociferou. — Stefanio, seu maldito. Você
vai ficar bem.
— Ele vai sim, é forte. — Tranquilizei a Lara.
Assentindo, voltou a pressionar a toalha no rosto dele, foi inevitável
não perceber a sua afeição. Ela tremia da cabeça aos pés com a presença do
Enzo e do Dante, mal respirava se o Enrico e o Damon estivessem no mesmo
ambiente, acreditava em suas palavras. Só uma mulher que teve algo de si
tomado sabe exatamente o que a outra está dizendo.
Meu pai pode não ter ido até o final fisicamente, mas não mudava
em nada que ele tomou a minha inocência naquela noite e em todas as outras
que eu dormi com medo dele. Dante não conseguia enxergar que havia
verdade nela.
— O médico está aqui. — Damon avisou e o Dante me ajudou a
levantar, estava rígida de estar na mesma posição há muito tempo. Demos
espaço para o médico da família trabalhar, ajudei a Juliana a lavar as mãos,
tirar todo sangue dos seus dedos.
— Você acredita na Lara?
— Em parte sim, em parte não. A minha natureza é programada para
desconfiar. — Secou as mãos. — Você está emocionalmente envolvida e
romantizando o sentimento entre eles.
— Estou errada?
— Não. Mas de todas as coisas, o que você não deve fazer é ir contra o
seu marido. Vocês dois são um time sempre... — Olhou em meus olhos e
segurou a minha mão. — O que tiver que acontecer, deixa o destino ditar.
Stefanio é um homem leal a família e a Lara... vamos desvendar o seu
mistério.
— Espero que todos vocês levem em consideração as evidências, não
somente a sua naturalidade e sobrenome. Sei que não somos a democracia,
mas contra fatos, sempre tem evidências. — Pedi sinceramente e ela assentiu,
sem fazer promessas.
Estava esgotada. Lara acordou o guarda quando o Stefanio teve uma
convulsão de febre e ele nos chamou. Todos nós saímos da cama depois de
uma exaustiva reunião para definir o que realmente aconteceu, fomos dormir,
acho que fechei os olhos por meia hora.
Dante e eu estávamos meio emburrados um com o outro, não nos
tocamos, discutimos e divergimos sobre a Lara na frente de todo mundo.
Felizmente, Luna e a Giovanna estavam do meu lado, entendiam o meu ponto
de vista. Enzo e a Juliana foram bem imparciais. Damon e o Enrico estavam
divididos entre concordar com o Dante e entender o meu ponto de vista.
Todos concordaram que ela não estava por trás do ataque de hoje.
Stefanio e ela foram seguidos desde que saíram dos Estados Unidos. Após a
morte do Toffoi, nossos carros foram vigiados de longe. Igor não estava
interessado em mim ou no Dante, ele estava interessado no Enzo e na Lara.
Segundo as informações compartilhadas pela Juliana, Igor foi
classificado como terrorista, não apenas um contraventor da máfia russa,
porque ele estava envolvido em compras de materiais perigosos. Informantes
da agência contaram que a organização estava em uma forte guerra interna.
Eles ainda estavam brigando pelo poder.
O interesse do Igor na Lara era para provar o seu poder dentro da
organização. Ela era filha da Kátia Rostov e valia o interesse como presente
para alguns associados certos. Os amigos do Enzo e da Juliana, Kate e
Dominic King, nos informaram que havia uma curta movimentação dos
russos interessados na cocaína venezuelana, mas não conseguiram um
acordo.
Dante entrou em contato com todos os associados que o seu irmão
conquistou e agora ele controlava, assim minou os acordos dos russos com as
gangues pequenas. A última informação era que o Igor estava na Rússia.
Quando o médico avisou que o Stefanio estava melhor e passaria a
noite em observação, respirei aliviada e saí com o Dante de mãos dadas.
Caminhamos em silêncio até a casa da Luna e entramos de fininho porque ela
e a Laura estavam dormindo.
— Eu vou fazer um chá, você quer? — Ofereci ao Dante.
— Preciso tomar banho, fiquei todo sujo. — Ele me deu um beijo e
subiu.
Enrico entrou pelos fundos e se aproximou devagar, silencioso como o
Dante era, mas já estava com os meus ouvidos treinados.
— Quer um chá? — Ofereci e ele negou, pegando uísque. Mafioso de
raiz.
— Você está muito envolvida com a Lara, Mia. Não quero que se
machuque. — Enrico puxou um banquinho. — Na nossa vida, as pessoas não
são boas, sei que você sabe bem. Pessoas mentem, se disfarçam, se apegam
aos seus objetivos e lutam por isso. Entendo o seu ponto de vista, mas eu não
posso ignorar que ela pode não ser quem diz ser. No mundo real, Lara Rostov
não existe, ela não tem documentos reais e não há evidências. Ou a mãe dela
escondeu muito bem, ou ela não é quem diz ser.
— Por que ela faria isso se não pode se envolver com nada?
— Talvez a missão dela seja ganhar a nossa confiança. — Deu um
gole no seu uísque.
— Talvez... — Suspirei e enfiei o meu saquinho de maçã na água
quente dentro da caneca. — Talvez não.
— Você é teimosa como a Luna, puta que pariu. — Enrico bufou e
sorriu.
— Sinto que alguém tem que defendê-la. — Bebi o meu chá. — Vocês
acreditaram em mim, me acolheram e me apoiaram...
— É diferente, Mia. — Ele terminou o seu uísque. — Não demore a
dormir. Laura acorda muito cedo e ela vai invadir o seu quarto porque irei
mandar apenas para irritar o Dante.
Soltei uma risada e terminei de beber o meu chá, lavei a louça e subi
para o meu quarto. Abri a porta de fininho e encontrei o Dante na cama, o
quarto todo escuro. Entrei no banheiro para tomar um banho rápido, fiz tudo
o mais silenciosamente possível e não me vesti. Tranquei a porta do quarto e
puxei a coberta, deitando em cima dele.
— Marido...
— Oi, esposa. — Dante me abraçou depois do meu tom manhoso e
porque eu estava pelada. Ele nunca conseguia resistir.
— Não fica de beicinho comigo. Eu te amo... — Choraminguei e ele
beijou a minha testa.
— Não estou de beicinho com você. — Ele sorriu e montei em seu
colo. — Só um pouco preocupado com os seus sentimentos e muito
estressado com tudo que está acontecendo. — Acariciou minhas coxas,
mesmo na escuridão do quarto, sabia que o seu olhar estava no meu corpo nu.
— Sabia que eu amo quando você fica assim? — Levou a mão entre as
minhas pernas. — Safadinha, atirada, gostosa... E sabe como estou me
sentindo? Fazendo sexo escondido na casa do sogro.
— Deixa de ser bobo. — Não falei que o Enrico tinha planos de irritar
o Dante logo cedo. — Vamos batizar a cama?
— Porra, sim.
Nós fizemos amor silenciosamente, insisti que ele se vestisse
novamente, desci para beber água e voltei, deixando a porta aberta, dormindo
de conchinha com o meu marido. Ele iria embora em nove dias, mas eu
estava sofrendo antecipadamente. Eu ouvi os passinhos no corredor, as
risadinhas e então, a porta foi bruscamente aberta. Dante começou a rir e
soltou um hoompf com a Laura se jogando nele e pulando.
— Bom dia! — Gritou e soprou beijos.
— Bom dia, pimentinha. — Dante riu e ela se jogou em mim, beijando
a minha bochecha. Seu cabelo estava todo em pé e a boca cheirava a leite. —
O que foi esse ataque?
— O papai mandou acordar. — Ela respondeu com um sorrisinho feliz.
Pimenta.
— Seu pai mandou, é? — Dante fez cosquinhas nela. — Será que o
seu pai vai vir te salvar do meu ataque brutal de cosquinhas?
Laura gritou e se debateu antes que o Dante pudesse encostar nela. Os
gritos e as gargalhadas fizeram a Luna e o Enrico entrarem no quarto.
— Papai, me salva! — Soltou vários risinhos. Enrico ajoelhou na
cama, imobilizando o Dante e pegou a Laura, que rindo, deu a língua. Fiquei
tão surpresa que caí na gargalhada. Dante fingiu avançar nela de novo e a
bichinha quase escalou o peito do pai, indo para as costas. Nunca ri tanto pela
manhã. — Não me pega! — Gritou para o Dante. — Papai, corre!
Enrico riu e saiu correndo, fingindo que estava fugindo do Dante, pulei
da cama para ver a disputa no corredor que fazia a Laura gritar de rir. Eles
desceram a escada, e fui mais devagar. Luna estava na cozinha, sorrindo e
com lágrimas nos olhos. Os hormônios também estavam felizes com a cena a
sua frente. Dante agarrou a Laura e explodiu de beijos em sua barriga,
colocando-a sentada no cadeirão alto. Sem fôlego e ainda rindo, pediu água
ao seu pai.
— Bom dia. — Dei um beijo na bochecha da Luna.
— Bom dia. Enrico estava ansioso para acordar o Dante, ele ia jogar
água gelada, mas eu disse que você ficaria irritada, ele optou por usar a
Laura.
— Definitivamente foi melhor usar a Laura. Fiquei tão distraída que
não te vi descer, precisa de ajuda com alguma coisa? — Peguei o prato
pesado da sua mão. Estava cheio de torradas com o meio cortado. — Você
fritou ovos na torrada?
— Acho bonitinho. — Ela sorriu. — Só falta isso. — Andamos para a
sala de jantar. Dante e o Enrico estavam falando baixo. Luna limpou a
garganta ruidosamente e eles pararam. Era proibido ter conversas tensas
durante as refeições.
A porta foi aberta bruscamente, Nino entrou correndo e rindo. Sua mãe
veio mais devagar junto com o Damon. O garotinho subiu em uma cadeira e
arrematou o pão da Laura, enfiando na boca. A expressão consternada dela
foi a melhor de todas. Laura encheu a mão de bolo e arremessou no rosto do
Nino, chegando a esfregar. Foi tão rápido que não deu para as mães
impedirem. Tentei não rir e falhei miseravelmente, escondendo o meu rosto e
acalmando a risada enquanto Damon brigava severamente com os dois. Cada
um foi colocado de um lado da mesa.
— No futuro isso vai ser amor, não é possível. — Dante estava rindo.
— Eles já se amam. — Giovanna riu. — Só demonstram dessa
maneira.
— Como será que vai ser a personalidade dos meninos? — Luna
suspirou, acariciando a sua barriga. — Será que vai ser invertido?
— Eu duvido muito que essa criança aqui vá ser diferente. Ele se mexe
tanto quanto o Nino se mexia... A personalidade do Damon é forte demais
para não reproduzir. — Giovanna bufou. Damon sorriu parecendo muito
orgulhoso. — Queria ter uma menininha. Laura não deixa colocar um laço
nessa cabeça.
— Ela não parece ser do tipo vaidosa. Aquele quarto cheio de coisas
fofas para ela dizer “Rosa não, mamãe! Preto!” — Luna sorriu com amor
para a Laura, que comia de olho no Nino do outro lado da mesa.
— Minha princesinha gosta das mesmas coisas que o papai. — Enrico
quase explodia de orgulho.
Juliana e o Enzo dormiram até tarde, ambos estavam visivelmente
cansados, e as meninas dormiram no embalo, já que estavam todos no mesmo
quarto. Após o café da manhã, Dante saiu com o Enrico, para fazer algumas
coisas na rua que ele não entrou em detalhes e o Damon ficou para ajudar a
carregar as coisas pesadas. O nosso espaço comum tinha uma cozinha
equipada e com fornos maiores, pensando nas festas e reuniões de família,
então, eu passei o dia inteiro cozinhando.
Luna e a Giovanna ficaram sentadas, descascando ou picando o que
era necessário. Dante saiu e voltou milhares de vezes, eles comparam as
bebidas que precisávamos e me ajudou a carregar as travessas pesadas, assim
como as decorações que as duas senhoras mandavam. Elas tinham muita
sorte de estarem grávidas. Dante me deu um olhar divertido com as ordens da
Giovanna sobre as guirlandas, fiquei me esticando na escada, tentando
colocar no lugar impossível, me desequilibrei e caí.
— Opa. — Dante me pegou e segurou no colo estilo noiva. As doidas
bateram palmas. — Gostosa. — Ele cochichou e me deu um beijo, só quando
voltei para escada que percebi que a minha bunda estava bem na frente do
rosto dele. Olhei sobre os meus ombros e ri.
— Sem olhares de sexo! — Luna gritou e arremessou uma almofada.
— Elas estão nos assistindo como um filme. — Dante murmurou, ri e
me inclinei, passando a guirlanda. Meu marido me deu uma mordida na
bunda e gritei, mandando parar. — Estou dando a elas o que assistir.
— Filhote do Enzo, sossega. — Giovanna jogou um pacote de flores
natalina em nós. — Falta essa! — Mandou.
— O Papai Noel vomitou aqui. — Juliana passeou para dentro. — Mia,
seu marido está tarando a sua bunda exatamente como o meu faz comigo. —
Ela riu. Enzo entrou, olhou para o Dante e soltou uma risada.
— Esporte favorito. — Piscou para o Dante e revirei os olhos,
terminando de colocar as malditas flores. — Algo cheira bem aqui. — Enzo
bisbilhotou os fornos. — Estou faminto. Tentei comer, mas as minhas três
pestinhas adoram tudo que está no meu prato.
— Não fala assim delas. — Juliana brigou.
— Pestes adoráveis. — Ele corrigiu.
— Aria, não! — Anna gritou do quintal. — Mãe!
Juliana saiu e foi resolver a briga no quintal. Amália estava sentada
com um livro, olhando para as irmãs com interesse. Laura e o Nino estavam
cavando um buraco no quintal, ignorando a briga entre as duas meninas.
Dante se aproximou para olhar o buraco e começou a rir, sinalizando para
Enrico e o Damon se aproximar. Curioso, Enzo foi junto. As duas criaturas
pequenas estavam enterrando as chaves dos carros que conseguiram pegar na
gaveta.
Dante e eu deixamos os pais lidando com as crianças. Ele me ajudou a
desinformar os doces e deixar arrumado em travessas bonitas. Com todo
mundo distraído, agarrei a mão dele e puxei em direção a casa da Luna. Ele
entendeu o que eu queria e subimos as escadas, rindo, entramos no quarto e
tranquei a porta. Ele me empurrou contra ela, tomando a minha boca e
apertando a minha bunda. Me pegou no colo, me esfreguei nele, sentindo-o
crescer contra mim, gemi com a chupada deliciosa no meu peito.
— Tia Mia! Mamãe mandou parar e descer! — Laura bateu na porta.
— Tá de sacanagem. — Dante gemeu. — Me livrei da Aria e ganhei a
Laura. — Resmungou.
— Tia Mia! — Laura insistiu. — Papai!
Dante me colocou no chão, abri a porta, correndo atrás dela. Garota
pentelha. Luna estava no quarto principal, rindo. Ela abriu os braços e
refugiou a pequena garota.
— Não mandei nada, foi o Enrico. — Luna explicou. — Eu vou
dormir um pouco com essa garota e vocês podem voltar, mas não façam
muito barulho. — Sorriu e bufei, rindo, voltando para o meu quarto. Meu
marido estava no quarto ainda, para a minha felicidade e dessa vez, fechei a
porta e não iria me importar o quanto batessem. Eu tinha só alguns dias antes
de passar semanas sem ele.
— Foi o Enrico, não foi? — Dante sorriu torto.
— Ele deve ter prometido um pirulito para a pestinha. — Tirei a minha
blusa.
— Vou pensar em algo para revidar. — Ele sorriu e me abraçou. — O
que você tem? Não gosto desse olhar...
— Estou com medo desse tempo separados. — Confessei baixinho. —
Vou sentir a sua falta.
— Eu sei que a sua cabeça está criando um monte de paranoias, eu juro
que é tudo infundado. — Colocou o meu cabelo atrás da orelha e ergueu o
meu rosto, me obrigando a olhar em seus olhos. — Não fica insegura.
— É meio difícil não ficar, nós ficamos grudados e fazemos sexo
quase o tempo todo.
— Está achando que eu não vou aguentar? — Ele sorriu. — Mia,
bobinha. — Apertou o meu nariz e tentei morder a sua mão. — Te amo e isso
não vai acontecer, vai ter que confiar em mim.
— Tudo bem. — Fiz um pequeno beicinho. — É o nosso primeiro
natal casados.
— Você comprou presentes para o seu marido super gostoso? — Ele
arregalou os olhos, sentei na cama, com uma expressão culpada. — Não
comprou? — Fez um beicinho.
— Claro que sim. Eu comprei pela internet e mandei entregar aqui,
mas um deles você só vai ver quando voltar. Eu vou pedir para alguém filmar
a sua reação quando chegar. — Sorri como uma criança, ansiosa quando ele
visse o meu caro presentinho, mas muito especial. — E você?
— Quero te dar algo antes de se arrumar. Talvez você use com a sua
roupa daqui a pouco. — Saiu da cama e foi até o closet, mexendo em algo na
sua mochila e me deu um saquinho de veludo. Ansiosa, virei na minha mão e
era um lindo colar com uma correntinha em ouro branco. O pingente era uma
pedra em formato de gota, tinha algo dentro e levantei na luz para ver
melhor.
— Espera aí... É a foto do nosso casamento?
— Escolhi a foto do beijo para colocar, achei que ficaria romântico e
isso te faria pular em mim. — Piscou e sorri, analisando a imagem refletida
ali dentro. Não sabia como aquilo foi feito, mas era bonito e definitivamente
o tipo de presente romântico que me faria tirar a calcinha. — Acertei? —
Balançou as sobrancelhas me fazendo rir.
— Você é tão idiota e fofo ao mesmo tempo. — Me inclinei e beijei a
sua boca rapidamente. — Coloca em mim? — Pedi e virei de costas, ele
colocou, toquei a pedra fria contra a minha pele. — Agora, tira a minha
roupa.
— Sabia que tinha acertado no presente. — Esfregou as mãos, me
fazendo rir e puxou a minha blusa, abrindo o sutiã e arremessou longe. Deitei
no centro da cama observando-o abrir o meu short e puxar junto com a
calcinha. Jogou por cima do seu ombro, bateu na parede e caiu no chão. —
Tão gostosa... — Suspirou e beijou o meu joelho. Antes de avançar, ele olhou
para a porta e esperou. — Ninguém está vindo?
— Aproveita ou elas podem aparecer. — Soltei uma risada e logo a
minha boca foi ocupada.
Era possível já sentir falta dele, e ele não ter partido? Porque eu já
estava com saudades do seu humor bobo e com o coração cheio de
preocupação enquanto ele estivesse fora, ajudando na caçada do homem que
queria destruir a nossa família.
35
Mia.
O Natal nunca foi uma data mágica para mim. Eu odiava os natais em
casa, quando fui para escola, o primeiro ano, passei com a Luna e ela estava
grávida da Laura, o ano seguinte, passei com o Dante e ano passado, mais
uma vez com a Luna. Esse ano até cogitei fazer uma ceia em casa, mas era o
primeiro ano que o Dante se tornou um deles , eu queria estar com a minha
família. Adorava os meus sogros e as minhas cunhadas, talvez no próximo
ano passasse as festas com a família dele.
Escolhi um vestido preto, de mangas três quartos, marcado na cintura e
com uma saia plissada que foi horrível para passar. Felizmente eu tinha um
marido excelente em passar roupas e ele arrumou o meu vestido. Deixei os
meus cabelos soltos, uma maquiagem básica e olhei para o Dante se vestindo.
Ele estava com um jeans novo e uma camisa também nova, gola polo que
comprei para ele. Sentou na cama para colocar as meias nos pés e me viu
olhando-o. Meu vestido ficou ainda melhor com o meu colar.
Dante detestava que o chamasse de fofo, mas ele era um. Ele me
deixava fazer as suas unhas dos pés e das mãos, em casa, costumava fazer
sem que ninguém soubesse e aqui ele me fez jurar que não falaria nada. Ele
gostava de se cuidar, mas fazia o básico: perfume, desodorante, lavava o
cabelo com o primeiro xampu que encontrava no mercado, detestava que o
seu cabelo ficasse bom com qualquer coisa.
Depois que casamos, passei a comprar xampu e condicionador para
o seu tipo de cabelo e insisti em fazer as suas unhas. As minhas fazia em um
spa. Ele também aceitava passar um creme hidratante específico para quem
tinha a pele tatuada. Pronta, parei na frente dele e ajeitei o seu cabelo,
ganhando um beijo e pequenos punhos bateram na porta.
— Tia Mia! Mamãe tá chamando! — Laura gritou e eu abri a porta.
Dante me deu um beijo e riu para criança descabelada na nossa frente.
Dante desceu a escada, bati na porta do quarto da Luna, mas a Laura
saiu empurrando aberta com uma força surpreendente. Menininha bruta. Luna
precisava de ajuda para fechar o seu vestido e estava toda frustrada para ficar
pronta logo. Seu cabelo estava pela metade e a sua filha não ajudava em nada
tirando tudo que as suas mãos alcançavam do lugar.
— Normalmente o Enrico me ajuda, mas ele teve que sair
rapidamente. Quando ele voltar, ainda vão se reunir antes de jantarmos. —
Luna suspirou e o bebê se mexeu. — Então, menino. Você pode se comportar
para a mamãe vestir os sapatos? — Sentou-se na cama, ajoelhei na sua frente,
ajudando com os sapatos. — Estou empolgada para o nosso tempo sozinhas.
Enrico vai voltar para Chicago depois do Ano Novo e só vai retornar próximo
a data do nascimento do bebê. Damon vai ficar, porque provavelmente a
Giovanna terá parido até lá, ele é chato, mas fica tranquilo.
— Não vou negar que estou muito insegura e com ciúmes em deixar
o Dante sozinho, além de já estar com saudades, mas eu também quero estar
aqui com você. — Fechei as suas sandálias. — Quero ver o bebê nascer.
— Ele vai ser fiel, Mia. Dante não tem olhos para ninguém além de
você. — Luna segurou o meu rosto. — Ele é tão doce com você, não parece
ser do tipo infiel, além do mais, ele vai passar muito tempo com a Juliana em
D.C. Ela vai matá-lo se olhar para o lado.
Isso me deixou infinitamente mais tranquila.
— Por que ela vai ficar lá?
— Não sei detalhes, sabe que não me meto, mas pelo que ouvi, tem a
ver com uma série de reuniões sobre o acordo com o governo. Não tenho
certeza, acho que o atual líder do país teve a sua campanha financiada por
nós.
— Sei quem é, o filho dele parece ser bem próximo do Enzo... Dante
está trabalhando com ele.
— Acho que tem a ver com a Lara. Ouvi o Enrico conversar com o
Damon que a história que ela foi feita em laboratório é verdadeira. Parece que
a médica foi uma mulher envolvida em coisas que aconteceram no passado. É
meio confuso, não sei detalhes, fico pescando e o Enrico não quer que eu me
preocupe com nada na reta final. Giovanna deve saber mais, ela cutuca o
Damon até ele falar tudo.
— Dante costuma me contar algumas coisas, eu duvido que ele irá
falar qualquer coisa sobre a Lara, porque estamos em desacordo sobre isso.
— Não briguem por isso, Mia. Entre o seu marido e outra mulher
que você não conhece, não é difícil escolher. — Luna foi severa. Fiz um
beicinho. — Você faz esse biquinho desde pequena. A Laura faz um
igualzinho.
Laura ouviu o seu nome e nos deu um sorriso, calçando os sapatos
da mãe e batendo-os contra o piso. Soltei uma risada e tirei uma foto, aquele
momento era único. Voltei a olhar para Luna e mordi o lábio, pensando se
deveria falar sobre a minha mãe ou não, mas ela tinha o direito de saber.
— Você sabia que ela está viva?
Luna parou de acariciar a sua barriga e me deu um olhar confuso até
que a luz do entendimento brilhou em seus olhos. Nós ficamos em silêncio
por um tempo e então, contei sem entrar em detalhes que a Laura pudesse
compreender. Olhamos um para a outra e demos as mãos.
— Ela me poupou das cicatrizes físicas, mas não das emocionais e
com você, ela não te poupou de nada. Eu juro que um dia gostaria de
entender, como mãe, é impossível. Não sinto pena e espero que ela esteja
sentindo tudo que nos fez passar.
— Eu não me importo. Tudo que quero é esquecer, é difícil. Sempre
que tiro a roupa, vejo as marcas sutis em meu corpo ou sempre que tenho um
pensamento ruim. Me sinto evoluindo aos poucos, estou me dedicando muito,
mas, eu acho que quero estar lá no fim. Eu preciso ver o encerramento para
me sentir livre, a Juliana disse que me levaria. Como ainda não estou pronta,
ela não fez.
— Acha que um dia vai estar pronta para ver isso?
— Não sei. Ela me machucou tanto, tanto, que não existe nada... só
ódio.
— Não queria que você manchasse os seus olhos com algo assim,
mas se é o que você quer, eu vou com você. Será o nosso ponto final e nunca
mais iremos falar sobre isso.
Assenti e me levantei do chão, pegando a Laura e começando
arrumá-la para a festa de natal. Luna fez um vestido magenta de veludo lindo,
com um gorrinho de natal e meias brancas bem grossas. Laura não era fã de
vestidos, mas ela aceitou ser subornada com chocolates. Claro que a mãe dela
não me ouviu falando, porque brigaria comigo, mas eu queria tirar onda com
a Giovanna que consegui arrumar a Laura sem estresse. Descemos as três
prontas, saímos da casa e encontramos a Juliana terminando de trançar o
cabelo da Amália. Anna e a Aria estavam sentadas, quietas e lindas com seus
vestidos iguais.
— Você vestiu as meninas iguais? Estão fofas. — Luna suspirou.
— É um castigo. Elas brigam o tempo todo pelas roupas e eu disse
que iria vestir como trigêmeas bregas até que parassem. — Juliana sorriu. Ela
era uma mãe muito legal.
Amália não parecia feliz, o que deixava tudo mais engraçado.
Giovanna saiu da sua casa mais devagar e o Nino saiu correndo,
segurando um foguetinho.
— Você está tão linda, minha princesa! — Giovanna arrulhou para a
Laura. — De vestido, que milagre! — Levou as mãos ao rosto.
— Tia Mia que botou! — Laura rodopiou. Abri um sorriso
orgulhoso e a Giovanna me deu a língua. — Ela vai me dar chocolate! —
Laura continuou e eu bufei. Fofoqueira.
— Assim é fácil. — Giovanna sentou-se e foi elogiar as suas outras
afilhadas.
Damon saiu de casa arrumado e cheiroso, nós fizemos um assobio
em coro, ele ficou todo bobo e deu uma voltinha. As meninas bateram palmas
para o padrinho, que bobo, ficou lisonjeado. Giovanna estava se acabando de
rir.
— A mamãe te chamou de chato. — Laura contou para o Damon e
subiu em um sofá.
Luna ficou vermelha e todo mundo caiu na gargalhada.
— Você tem que defender o dindo . — Damon piscou para Laura.
Ele saiu para se reunir com os homens na sala, ficamos falando sobre
o quanto as crianças repetiam o que falávamos. Juliana contou histórias
engraçadas que as três meninas já protagonizaram e saiu para se reunir com
os homens. Fiz um pequeno beicinho porque eu queria estar lá e ouvir
também. Me servi com vinho e bebi um pouco, o tempo todo olhando para a
sala que eles estavam. Giovanna estava jogada no sofá, sua data limite tinha
passado há dois dias, então, era questão de tempo.
Luna ainda faltava algumas semanas.
Ociosa e meio ansiosa, arrumei o que faltava da mesa, esquentei as
comidas, a mãe da Giovanna saiu da casa. Ela deve ter chegado quando saí
com o Dante. Trocamos um abraço e ela me ajudou com a comida. Servi
alguns petiscos para as grávidas e dei às crianças bolinhos para comer. Era
natal, não esperava que os pais fossem exigentes com a alimentação delas.
Minha mãe nunca me deixava beliscar nada, nossa comida era
controlada, ela queria que eu fosse magra como ela, mas eu puxei o biótipo
da família do meu pai: curvas por todo lado. Eu tinha menos seios que a
Luna, mas a nossa bunda não era na discreta.
Eles saíram da sala rindo. Enrico deu um mata leão no Dante, mas
estavam brincando. Damon disse algo que fez o Enzo gargalhar. Juliana saiu
de perto deles revirando os olhos, não achando nenhuma graça. Dante sentou-
se atrás de mim e imediatamente me abraçou, beijando o meu pescoço de um
jeito barulhento que fez com que as crianças rissem. Virei o meu rosto e lhe
dei um beijo nos lábios, eu era tão apaixonada por ele.
— Seu colar é tão bonito, tia Mia. — Aria subiu em cima de mim.
Todo mundo sabia que ela não podia ver um casal junto que logo queria
separar. Ela segurou a pedra e olhou com cuidado. — O que tem dentro? —
Seu cenho franziu de um jeito fofo.
— Sou eu e o tio Dante no dia do nosso casamento. — Expliquei.
— Sério? — Luna ouviu do outro lado da sala. — Vocês dois estão
dentro da pedra?
— Dante mandou desenhar a nossa foto dentro da pedra.
— Dante... — Enzo suspirou. — O que eu te disse sobre esses
presentes impossíveis? Agora todas elas vão querer algo assim. Você pode
ser menos romântico?
— Deixa o meu marido em paz. — Dei a língua para o Enzo e ele
devolveu.
— Eu quero. Quero uma foto com todos os bebês. — Giovanna
virou para o Damon.
Todos os homens olharam para o meu marido, eu sorri, orgulhosa.
Dante disse que daria o nome da empresa que ele encomendou. Enrico
começou a servir as entradas, ninguém falou absolutamente nada sobre a
reunião, minha curiosidade estava correndo solta, mas consegui me distrair o
suficiente para esquecer a reunião. Dante e eu nos afastamos para fazer uma
chamada de vídeo, minha sogra atendeu, animada e o telefone passou de mão
em mão por quase uma hora.
Adorava os pais do Dante, eles me mimavam como se eu fosse uma
das suas filhas e não apenas a nora. Eles sempre foram gentis e muito
carinhosos, depois do casamento, só melhoraram. Encerramos a chamada e
ao invés de voltarmos logo, Dante recostou na mureta e me abraçou.
— Amasso no escurinho? — Brinquei e ele me pegou e colocou
sentada no muro. Minha meia poderia lascar, mas eu não estava me
importando.
— Já disse que está linda? — Acariciou as minhas coxas por dentro
do vestido.
— Não nos últimos trinta minutos. — Sorri e ele se aproximou do
meu ouvido.
— Você está linda, minha gostosa. — Sussurrou e beijou a minha
bochecha. — Estou pensando como vou dormir sem essa bunda incrível.
— Bobo. Só agarrar o meu travesseiro. — Beijei-o e mordi o seu
lábio.
— Não, nem vou dormir na nossa cama para não sentir tanto. Vou
dormir no sofá.
— É uma boa coisa ele custou 500 mil dólares. — Soltei uma risada
e ele beijou o meu pescoço. Ficamos abraçados aos beijos, ouvimos
risadinhas bem infantis atrás dos arbustos. — Não estamos sozinhos. —
Cochichei.
— Eu sei, estava tentando ignorar, mas essas pestinhas... — Ele saiu
correndo atrás delas, atrás das plantas, gritaram. Dante perseguiu as meninas
e o Nino pelo jardim. Fiquei observando a bagunça que atraiu atenção de
todo mundo. Ele agarrou o Nino e fingiu jogá-lo longe. — Suas praguinhas.
— Tudo empata foda. — Enzo riu, comendo batatas temperadas com
calabresa.
— Espero que vocês não estivessem tentando batizar o meu jardim.
— Enrico falou preguiçosamente. — Jovens.
— Nós já batizamos o jardim. — Luna acariciou a barriga
calmamente. — Se não me engano, esse bebê foi feito atrás das roseiras. —
Sorriu torto.
Enrico ficou vermelho com a risada generalizada.
— No nosso jardim? — Damon virou, fingindo estar chocado. —
Tenham modos.
— Rafael foi feito na garagem, no carro da Barbie da Luna. —
Giovanna comentou. Ela e a Luna deram um high-five.
— Vocês precisam falar sobre isso? — Enrico bufou.
— Não vou deixar que impliquem com os recém-casados. — Luna
deu a língua para o marido.
Juliana e o Enzo estavam rindo, aproveitaram que as meninas saíram
correndo de novo para falar sobre todos os lugares públicos em que fizeram
sexo. Damon e Giovanna tinham uma coleção de lugares, Luna e o Enrico
eram mais de lugares externos, porém, seguros. Dante estava louco para
estrear sexo em público e no avião, percebendo que outros casais se
aventuravam na intimidade com tranquilidade, me senti mais disposta a
tentar. Um pouco mais segura com o sexo, poderia tentar.
Troquei um olhar com o Dante e sorri. Ele sabia o que estava
pensando, porque só me deu um beijo e não falou mais nada.
A noite de natal foi divertida, ficamos até quase o amanhecer
conversando e comendo. Deitei para dormir porque já estava tonta de tanto
vinho. Dante não ficou muito tempo na cama, Enrico o chamou por algum
motivo e eu me arrastei na cama da Luna, dormindo com ela e a Laura.
— Acordem. — Juliana entrou no quarto agitada e com um sorriso.
— Giovanna está parindo e se recusa fazer isso sem a Luna. — Revirou os
olhos, mas parecia feliz. Laura não entendeu nada, irritada de sono, aceitou
vir em meu colo, toda agasalhada, atravessamos o quintal. Estava de pijama e
um roupão me aquecendo. — Meu Deus, estou tão ansiosa que parece que é
eu que vou parir.
— Calma, Juliana. Se você ficar nervosa, a Giovanna vai ficar uma
pilha. — Luna aconselhou. Entreguei a Laura dormindo para o Enrico e me
sentei com o Dante. Os dois estavam suados, deveriam estar se batendo desde
cedo.
Damon estava no quarto, a médica e as enfermeiras obstetras
chegaram alguns minutos depois. Tudo foi preparado para o parto. Dante foi
tomar um banho rápido e colocar um casaco. Enrico foi assim que ele voltou,
deixando a Laura dormindo no sofá. Anna e a Aria não acordaram, mas a
Amália e o Nino estavam sentados no sofá com o Enzo. Nino estava com a
mãozinha agarrada na camisa do Enzo. De alguma maneira, ele entendia o
que estava acontecendo e começou a chorar quando ouviu a Giovanna soltar
um gemido de dor no andar de cima.
— Não, chore. Está tudo bem, menino. — Enzo o acalmou. —
Mamãe está dando a luz ao seu irmão, não tenha medo, é algo incrível e
bonito.
Dante me abraçou apertado, a aflição do parto me deixou arrepiada,
levou duas horas para ouvirmos o choro do bebê. Foi simplesmente
emocionante. Damon desceu com um bebezinho nos braços e levou até a sala
ao lado, o pediatra estava junto, a enfermeira lavou o Rafael e ele gritou.
Nino estava com os olhos focados no irmão e a Laura praticamente em cima
do bebê.
— É um meninão lindo. — Damon estava visivelmente emocionado.
— Olha o seu irmão, Nino.
— É pequeno. — Nino falou baixo.
— Você também era. — Damon sorriu.
Dante, Enrico e o Enzo cercaram o Damon, olhando o bebê e eu tirei
uma foto. Nino estava no colo do Enzo, olhando o irmão, e aquela era a
linhagem da família. Subi para ver a Giovanna, ela estava saindo do banheiro,
aparentava estar cansada e seus olhos marejados não conseguiam sair do
bebê. Ajudei a arrumar a cama para que ela pudesse descansar, deixamos a
família no quarto. Era o primeiro nascimento que eu quase presenciava.
— Ele é um bebê muito fofo. — Suspirei ao começar a arrumar a
mesa porque todo mundo estava com fome. Enzo estava cortando frutas para
a Anna, sempre me surpreendia quando homens faziam coisas domésticas
com seus filhos.
— Todo enrugado, parece um joelho. — Enzo brincou.
— Que horror, papai. — Amália brigou com ele.
— Viu só? Foi isso que te orientei. — Brinquei com o Dante, ele
sorriu, cortando um pão em fatias para facilitar. — Boca sincera sempre tem
problemas.
— Ignore-a, Dante. Levo alguns tapas na nuca por dia, mas ninguém
me impede sobre o que falar. — Enzo sorriu do seu jeito irritante. Amália
revirou os olhos, o que me fez rir.
— Qual é a merda que o meu marido está falando? — Juliana se
aproximou. — Sei que ele fala besteira o tempo todo. — Sorriu e beijou as
cabeças das filhas. — Comam tudo.
Nos reunimos ao redor da mesa para comer. Damon pegou apenas
algo e saiu, voltando a ficar com a Giovanna no quarto. Nino estava uma
mistura de estar com ciúme da mãe e querendo ficar com o irmão, que era
uma novidade. Luna estava exultante com o nascimento, ansiosa para o seu
parto e o Enrico implicando com cada palavra que saía da boca do Dante.
Cortei meu bolo red velvet e servi, as meninas atacaram.
— Porra, Mia. Eu vou embora com trinta quilos a mais. — Juliana
gemeu.
— Eu quero que você faça esse bolo todo dia. É o meu novo desejo
de grávida. — Luna lambeu a colher.
— Isso é doce demais. — Dante me devolveu o prato. Ele nunca
comia muito os doces que eu fazia. Sempre uma mordida e devolvia. Ele
amava meu queijo quente com mais de um tipo de queijo e mostarda.
Caramba, eu ia sentir falta de preparar a nossa comida do jeitinho que nós
dois gostamos.
— É bom, gostoso. — Enzo provou. — Vermelho como sangue.
Mamma, Mia!
— Maluco. — Enrico tossiu.
Ainda comendo, percebi uma movimentação e olhei, querendo saber
o que era. Lara estava entrando em um carro e o Stefanio seguiu devagar, não
parecia que estava tão mal como na manhã do dia anterior.
— O que está acontecendo? Para onde eles estão indo?
— Lara precisa ficar fora do radar até que toda essa questão do Igor
se resolva. Stefanio se ofereceu para ir com ela, apesar de precisar se
recuperar, para onde eles estão indo, ele vai conseguir um tempo de descanso.
— Enzo me respondeu. — Eu ouvi todos os lados da história, inclusive o seu.
Além do mais, descobrimos que a Lara realmente foi feita em laboratório,
inclusive, nos Estados Unidos, encontramos documentos que ela foi dada a
uma senhora, que a colocou em uma escola e ela cresceu em uma companhia
de ballet, viajando o mundo em apresentações e ficando em um internato.
Com isso, podemos supor que ela estava em cativeiro e é um alvo, então, eu
não vou dar ela ao Igor. — Me deu um sorriso.
— Então vocês decidiram protegê-la? — Parei de comer, com o
estômago embrulhado.
— No momento, ela não parece interessante, apenas algo que o Igor
quer e só porque ele quer, eu não vou dar. Você e o Stefanio deveriam ser
promotores, sabem como ser bem persuasivos. Costumo ouvir a minha
família, Mia. — Dei um aceno. — Mas a partir do momento que ela
representar um perigo, será eliminada, mesmo que isso machuque o Stefanio
ou a você.
— Entendi. Obrigada por me ouvir.
Dante passou o braço em meu ombro, ele parecia incrivelmente
satisfeito que a Lara estava indo para bem longe. Ele não gostava dela e não a
queria perto de mim. Também não queria perto do Stefanio, mas isso era algo
que ele não conseguia controlar exatamente. Sabendo que a Lara ficaria
segura até que encontrassem o Igor, me sentia mais tranquila e tinha até mais
motivos para ser grata no Natal.
36
Dante.
Enrico me agarrou pelo pescoço e estava tentando me derrubar, ele era
mais pesado e malandro, então, eu tinha que ficar esperto ou seria jogado no
chão. Puxei a sua orelha e torci de um jeito bem dolorido, ele grunhiu e se
afastou, ri da sua careta e desviei do soco.
Damon soltou um assobio nos fazendo parar e sinalizou para que
nos aproximasse. Pulei fora do tatame, puxei uma toalha e sequei o meu
rosto. Enzo enviou uma mensagem de áudio, ele estava sozinho na Catânia
fazendo um levantamento de danos e lidando com os eventos pós-ataque.
Ainda seria preciso levantar alguém para ficar lá, eu estava puto que o
Stefanio se envolveu com a Lara.
Seria a oportunidade dele finalmente se tornar um subchefe. Ele nasceu
em uma família de soldados, provou a sua lealdade e era um homem que
sabia comandar, mas, não fazia ideia quando ele voltaria e se voltaria leal a
família, ou vivo. Sua escolha foi muito perigosa.
Peguei uma garrafa de água e me aproximei da janela do antigo
armazém, que por dentro, era todo reformado e moderno. Mia estava sentada
em um dos bancos do jardim, enrolada em um cobertor e lia algo que a fez
rir. Estava virando a noite com uma série de livros sobre bruxos e eram todos
eróticos. Lendo algumas partes, até ficamos bem empolgados.
Enrico avisou que a Luna precisava dele e saiu da academia. Damon
ainda ficou falando no telefone com o Enzo, ele voltaria a noite, poderíamos
nos reunir melhor. O foda que um território em fraqueza rompia o elo e com
isso, começava uma fodida reação em cadeia.
Tudo parecia bem e dentro da rotina em D.C, mas em Nova Iorque
tivemos dois ataques originados dos russos. Foi aleatório e sem comando,
então, contido com rapidez. Em Chicago, essas coisas não aconteciam dentro
do território, apenas nas fronteiras. Damon tinha uma defesa muito forte. O
tradicionalismo ajudava muito na ordem e obediência. Em Nova Iorque,
estado muito grande, felizmente, todos os subchefes ao redor eram bons.
Saí da academia e me aproximei da Mia.
— E aí, safadinha. — Me inclinei e beijei a sua bochecha. — Quantos
paus e bucetas no último parágrafo?
— Não é sexo o tempo todo, tem um enredo bem legal e esse aqui, eles
se transformam em vários animais. O primeiro livro, o mocinho se
transformava em um urso, tem o mordomo que é a melhor pessoa, se você se
comportar, eu vou ler uns trechos bem quentes mais tarde. — Me deu um
sorriso. Eu amava aquele sorriso. — Vai tomar banho?
— Eu vou e nós vamos sair para dar uma voltinha.
— Tudo bem, vou te esperar aqui. — Ela pareceu empolgada em sair.
Entrei na casa do Enrico e rapidamente subi as escadas até o nosso
quarto, tomei banho, peguei uma calça jeans, meias, tênis e uma camisa preta.
Prendi minha arma na cintura e uma faca do outro lado. Não tinha muito
tempo para enrolar, peguei a cesta que a Luna preparou a meu pedido, e
escondido da Mia, porque queria fazer uma surpresa.
Entrei na garagem e devia ter uns dez carros ali dentro, escolhi a
caminhonete com a caçamba coberta. Pesquisei um lugar para levar a Mia,
assistir ao pôr do sol e namorar a minha mulher sem milhares de crianças nos
atrapalhando.
Tirei o carro da garagem e parei próximo a entrada. Ela me viu,
sinalizei para trazer o cobertor que estava enrolada e entrou no carro.
— Peguei só o meu celular e documentos. — Avisou. Mia nunca
andava com dinheiro se estivesse comigo, o que não era um problema, mas
era muito engraçado porque eu não lhe dava uma mesada, apenas transferia
grandes quantias para sua conta e não prestava atenção em seus gastos.
— Sem problemas, amor. — Dei um beijo em sua bochecha.
Saí da villa com cuidado e acelerei um pouco mais na estrada que
levava a cidade, antes de chegar a clínica que ficava no meio do caminho,
virei em uma pequena estrada de terra bem esburacada que levava para um
penhasco.
— Uau! — Mia se inclinou ao perceber a paisagem que nos aguardava.
Dei a volta e parei de ré. — Esse lugar é lindo. Como encontrou?
— Damon disse que tinha um lugar que ele costumava trazer a
Giovanna, ou vir sozinho para pensar. O sol vai descer, e trouxe uma cesta de
piquenique.
Os olhos da Mia brilharam de alegria, saímos do carro e abri a
caçamba. Forrei o cobertor e me deliciei em segurar a sua bunda para ajudá-la
a subir na parte de trás. Levantei a saia do seu vestido e dei um tapa na sua
nádega esquerda, ela riu e sentou-se ao fundo, abrindo a cesta e tirando as
coisas. Luna caprichou, até colocou flores. Vinho rosé, sanduíches
ornamentados com azeitonas e um prato com frios diversos. Tirei as taças
com cuidado e abri o vinho, servindo, Mia me deu um sorriso animado e
bebeu.
— Ah! Um brinde. — Soltou um gritinho. — A nós.
— A nós, baby. — Me inclinei e beijei os seus lábios suavemente.
— Obrigada por preparar esse lindo encontro. — Segurou o meu rosto
e aprofundou o beijo, eu ia esperar mais um tempo antes de atacar, mas se ela
queria me beijando daquele jeito, não iria perder a oportunidade. Segurei-a
em meu colo, colocando as suas pernas nas minhas laterais e agarrei a sua
coxa. — Eu amo quando você me beija assim. — Gemeu, mordi o seu lábio,
chupando um pouco, puxei o seu decote e expus o seu mamilo direito,
chupando. Ela voltou a me beijar movendo o quadril.
— Digo o mesmo, principalmente quando o beijo vem acompanhado
dessa rebolada e as minhas mãos livres na sua bunda. — Dei uma boa
apertada. — Que sorte a minha ter uma mulher tão gostosa...
— Tira a camisa. — Pediu e não pensei duas vezes.
Arranquei fora, ela continuou em meu colo, bebendo, beijando o
meu pescoço, deitei-a no cobertor, abrindo os botões do seu vestido, expondo
seus mamilos lindos, arrepiados. Seu olhar estava brilhando, mas eu queria
que ela se perdesse na sua mente de tanto prazer. Desci a minha boca em seu
peito, revezando entre eles e levei a minha mão para entre as suas coxas,
afastando-as, pressionando em cima da sua calcinha. Afastei para o lado,
esfregando o seu clitóris e observando a sua reação.
— Você quer isso, amor?
— Sim. Não pare. — Agarrou o meu braço e ondulou contra minha
mão.
— Só quer a minha mão? — Beijei o seu pescoço, voltei a chupar os
seus peitos. Ela gemeu alto.
— Não. Quero você todo.
Mia puxou o botão do meu jeans, desceu o zíper e sorriu ao perceber
que eu estava prontinho e sem cueca. Pela sua posição, sua punheta estava
desengonçada, me empurrando, queria que eu deitasse e mordeu o lábio.
Olhou ao redor e se inclinou. Mia fazia o meu dia quando me chupava. Ela
ficou tão boa naquilo que eu viveria de joelhos pedindo por um boquete,
felizmente, ela nunca me deixava sentir saudades da sua boca. Ela estava
quase me fazendo gozar.
— Não, não. — Grunhi e ela se afastou, lambendo os lábios. — Vem
aqui, baby. Senta no meu pau e rebola gostoso...
— Hum... — Pegou a sua taça e deu um golinho, sentou em meu
colo, apenas se esfregando e me fazendo ver estrelas. Podia sentir o seu calor
através da calcinha, imaginando o quanto estava molhada. Ainda brincando
comigo, ergueu um pouquinho do seu vestido, suas bochechas estavam
vermelhas, mas eu estava hipnotizado. Ela enfiou a mão na calcinha, se
tocando bem na minha frente e com o meu pau aninhado entre as suas
pernas.
— Não brinca assim comigo. — Segurei a sua cintura, inclinando-se,
seus peitos estavam bem diante do meu rosto. Chupei os mamilos, agarrando
a sua bunda, ela chegou a calcinha para o lado, segurando o meu pau e desceu
sobre ele. Nós dois gememos. Ah, porra. — Gostosa pra caralho.
— Você não me deixou brincar. — Murmurou contra os meus
lábios.
— Estou cheio de tesão, brincamos mais tarde na cama. — Prometi.
O sol se pondo, Mia rebolando no meu pau até gozar era o melhor
fim de tarde. Depois, nós ficamos deitados, a garrafa de vinho estava no final,
ela estava quieta e com o olhar calmo. Beijei a sua testa, tirando a franja que
estava colada e sorri para maneira doce que estava me encarando. Sua mão
subia e descia pelo meu abdômen, o som do oceano batendo nas pedras era
bem relaxante e com isso, eu podia ver que ela dormiria se não fôssemos
embora. Já estava escuro.
Voltamos para estrada e ela ficou com a mão na minha coxa,
brincando.
— Foi bom a primeira vez fora de casa? — Mantive o meu olhar na
estrada esburacada.
— Claro que foi. — Me deu um sorriso. — Podemos tentar em
outros lugares ou nos deixar levar. — Beijei a sua palma.
— Minha mulher aventureira. — Provoquei e trocamos um sorriso.
A villa estava silenciosa, os cachorros soltos, mas eles já estavam
acostumados conosco. Guardei o carro na garagem, recolhemos a nossa
bagunça e andamos de mãos dadas até a casa da Luna. De longe, podíamos
ouvir o Rafael chorando. Ele era um recém-nascido e isso era tudo que ele
conseguia fazer. Luna e o Enrico estavam na cozinha preparando o jantar.
— Foi um bom passeio? — Luna pegou a cesta. — Poxa, vocês nem
comeram. — Reclamou.
Mia ficou vermelha.
— Eu vou tomar banho. — Saiu rapidamente da cozinha e eu ri.
Enrico passou por mim e deu um tapa em minha nuca.
— Eu vou ajudar a minha mulher a tomar banho. — Avisei e saí de
perto dele o mais rápido possível. Ele tentou me acertar com uma faca, mas
ela bateu na parede e a Luna gritou com ele. Corri escada acima e entrei no
quarto, trancando a porta.
— Parem de se provocar. — Mia estava nua no banheiro e abriu o
chuveiro. — Vem tomar banho. Não quero atrasar o jantar. — Ordenou. Tirei
a minha roupa e entrei na área do box com cuidado, pegando o sabonete
líquido dela e enchendo a minha mão, fazendo espuma e me preparando para
esfregar e massagear a sua pele maravilhosa. — Obrigada pelo dia hoje, foi
gostoso e eu amo nossos momentos sozinhos.
— Vamos tentar sair mais antes que precise voltar. — Abracei-a.
— Acho que vou embora com você.
— Sem o Stefanio lá, eu prefiro que fique aqui. Não vou ficar em
casa e não quero que fique exposta ou com os meus pais. Terei que viajar
bastante enquanto Enrico e o Damon ficam aqui na Itália. Acima de qualquer
coisa, vamos trabalhar para que seja seguro, com toda essa história desse Igor
Rostov com o Romeo, preciso ter certeza que você vai ficar bem.
Seu beicinho era lindo, mas não iria me convencer. Juliana estava
com planos bem ambiciosos e precisaria da minha ajuda. Era o momento de
usarmos toda vantagem que tínhamos em relação ao governo para impedir
possíveis ataques e manter os nossos negócios seguros. Enquanto focava
nisso, não queria me preocupar com a Mia sozinha em casa ou andando
sozinha pela cidade, sendo um alvo em potencial. Aqui ela ficaria na villa e
no máximo, passearia na cidade, mas o local era fortemente protegido.
— Vou sentir sua falta.
— Eu vou trabalhar muito e provavelmente tentando não surtar
completamente, mas, de todas as coisas, a que eu tenho mais certeza, é que
vou sentir falta dessa bunda gostosa. — Dei um apertão em ambas as
nádegas, ela grunhiu e me bateu, provavelmente porque doeu um pouco.
— Vamos comer, amor bruto. — Brincou e saiu do box.
Enquanto ela se secava e se arrumava, dei uma olhada em meu
telefone. Enzo estava voltando e disse que tinha algumas novas informações,
mas dava para esperar o jantar. Quando descemos, Luna estava terminando
de arrumar a mesa. Enrico estava abrindo os vinhos, colocando na mesa e o
Damon mexia no telefone, mas de olho no seu filho na sala com a Laura.
Giovanna estava com o pé em um carrinho, empurrando suavemente e o bebê
resmungava ali dentro.
— O que ele tem? — Parei próximo ao carrinho.
— Não sei, acho que ele quer resmungar. — Giovanna suspirou.
— Posso?
— Claro. — Ela sorriu e peguei o bebê. — Se você conseguir que
ele durma, eu vou surtar de alegria.
Mia me deu um olhar engraçado ao me ver com o bebê. Ele era todo
pequenininho, bochechudo e tinha o nariz arrebitado como da sua mãe.
Rafael ficou me olhando com interesse enquanto andava com ele pelo
corredor, mas logo os seus olhinhos foram pesando e ele dormiu. Era
realmente bonitinho.
Minha esposa parou ao meu lado, olhou para o bebê dormindo e
suavemente tirou de mim, colocando no carrinho na sala. Nino e a Laura já
estavam comendo, quietos, então o bebê tinha chances de permanecer na sua
soneca para os pais conseguirem jantar.
— Treinando, Dante? — Enrico me perguntou com um sorriso.
— Não, sendo tio.
— Obrigada, Dante. — Giovanna me agradeceu.
Enzo entrou na casa, enfiou o telefone no bolso e puxou uma cadeira
dando um sorrisinho irritante a todos. Juliana e as meninas foram embora
para Nápoles por alguns dias. Ela tinha uma agenda de compromissos
separada dele. Enzo, Mia e eu iremos encontrá-la no dia seguinte. Mia foi
convidada para conhecer a Villa Valentinni , a produção dos vinhos, o
restaurante da Tia Malia e nós dois poderíamos passar alguns dias sozinhos
antes de retornar para a festa de ano novo que o Damon está organizando em
um dos seus clubes.
Após o delicioso jantar, ajudei lavando a louça com a Mia, ela foi
para sala com as mulheres e eu para o escritório.
— Romeo foi visto em Los Angeles. Lá tem uma pequena gangue de
motoqueiros que vende drogas para os russos e fornecem armamento quando
eles estão na estrada, então, acredito que estejam se reagrupando. — Enzo
explicou. — Depois do ataque na Catânia, eles vão recuar. Igor ainda está na
Rússia.
— Quem vai assumir na Catânia agora? — Cruzei os meus braços.
— É território problemático. Savoia fazia um bom trabalho, mas
antes dele, era o seu pai e ele nos traiu. Não sobrou nenhum traidor, fizemos
a limpa, mas... — Enrico me respondeu.
— E o Giovanni? — Sugeri. — Na verdade, eu tinha pensando no
Stefanio, mas ele fez uma escolha. Giovanni é primo da Juliana, pelo que
lembro, ele sempre foi um líder.
— Não me oponho. — Damon deu de ombros. — Quem vai ficar
com a função dele?
— Vou deixar Alessio de forma permanente na Itália. Sempre foi o
plano, no momento, é a melhor saída. É uma posição de respeito, vai acalmar
os Valentinni. — Enzo decidiu.
— Quanto ao Romeo, algo a fazer? — Enrico me perguntou.
— Ele está se escondendo. Covarde como é, vai organizar os
ataques, mas não vai pessoalmente. Ele não reagiu com a morte do pai. A
mãe e a prima estão escondidas.
Nós ficamos no escritório até tarde e esvaziamos uma garrafa de
uísque enquanto conversávamos. A casa estava silenciosa, subi a escada
devagar, evitando as madeiras que rangiam e entrei no quarto. Mia estava
deitada na cama, por cima das cobertas, usando uma camisolinha realmente
bonita e lendo. Seu olhar vidrado na história era muito engraçado.
— O que está lendo? — Tirei a camisa, abri a calça, ela me encarou
divertida.
— Eles estão fazendo um meia nove. — Sorriu torto.
— Hum... — Peguei o seu leitor digital e coloquei na mesinha ao
lado. — Quer praticar um?
— Não, eu vou gemer muito alto. Anote a dica para amanhã à noite.
— Cochichou e me deu um beijo. — Foi tudo bem na reunião?
— Romeo foi visto em Los Angeles, mas sumiu de novo. A
informação é de dois dias, então, ele pode estar em qualquer lugar do país.
Duvido muito que vá sair, ele está arquitetando algo. Penso que possa estar se
correspondendo com o Igor agora que o Toffoi está morto. — Suspirei e ela
cruzou as pernas na minha cintura, me mantendo pertinho. Passou os braços
nos meus ombros.
— Você vai conseguir pegá-lo. — Me deu um beijo suave.
Ficamos conversando, abraçados, até que ela caiu no sono. Observá-
la dormir era um dos meus passatempos favoritos. Seu rosto sereno, os cílios
descansando nas bochechas, peguei no sono, acordei com o seu movimento
na cama, colocando a perna em cima de mim e beijou o meu braço. Virei de
lado, acariciando a sua coxa, começamos a nos beijar, começou tranquilo e
logo incendiamos. Sua mão safadinha estava tocando uma punheta tão
gostosa que não queria parar, mas estar dentro dela era muito melhor.
Cobri a sua boca quando gozou, ela me mordeu e depois mordeu o
lábio, segurando os seus gemidos mais altos. Gozei, escondendo o meu rosto
em seu pescoço com o meu pau pulsando dentro dela. Mia segurou o meu
cabelo e me beijou.
— Nove meses atrás eu estava morrendo de medo do nosso casamento
e como seria toda parte física. — Parei de beijar o seu pescoço para olhar em
seus olhos. — Essa é a minha parte favorita agora.
— De tudo você só gosta do sexo? — Me fiz de horrorizado.
— Claro que não é só sobre sexo, é sobre tudo entre nós.
— Me ama mais que sushi?
— Muito mais. Eu te amo muito. — Sentei-me e a puxei para o meu
colo, abraçando tão apertado que soltou um gritinho. — Dante, credo,
parecem braços de aço. — Soltou uma risada.
— Pode apostar que eu te amo muito, mulher.
37
Mia.
Dante estava andando atrás de mim, com as mãos enfiadas nos bolsos e
de olho em minha língua que saboreava a minha bola de sorvete de baunilha
em cima e morango embaixo. Estávamos andando em uma feirinha em
Nápoles, olhando alguns produtos únicos e experimentando as comidinhas
das barracas. Dei mais uma lambida provocante, olhando-o rapidamente e me
afastei. Rindo, deu um apertão na minha bunda, saltei e lambi o que estava
escorrendo.
— O que eu vou fazer com você e essa sua língua? — Falou baixinho.
— Você eu não sei, mas eu sei o que vou fazer com a sua. —
Retruquei ousada, e ele riu.
Distraída com o seu olhar safadinho, virei de frente e uma mulher
esbarrou em mim, deixando cair o meu sorvete no chão e algumas sacolas
dela. O susto me fez soltar um gritinho. Dante passou o braço na minha
cintura e puxou.
— Não vê por onde anda? — Ele vociferou com a mulher.
— Me desc... — A mulher parou de falar e ficou pálida como um
fantasma, congelando no lugar, olhando para o Dante com susto e surpresa.
— Está tudo bem. — Adiantei e segurei a mão do Dante. Eu ia me
abaixar para ajudar a mulher com as sacolas, ele não permitiu, entrando no
concurso de encarar. Felipe pegou as coisas e entregou para a mulher. Ela
saiu, nervosa e ainda esbarrou em mais pessoas antes de sair da feira. —
Amor, você não precisa ser rude com pessoas. Ela esbarrou sem querer.
— Quer outro sorvete? — Me ignorou totalmente, indo até a
barraquinha do sorvete artesanal, mas antes, encontrei uma com espaguete ao
sugo que estava tão cheiroso que me deu água na boca. — Quer isso antes do
sorvete? — Arqueou a sobrancelha, tirou o dinheiro e pediu um prato. Eu
amava quando falava em italiano, era sexy. — Está quente.
— Ai, caralho. — Brinquei com o prato na minha mão. — Tá quente
mesmo. — Peguei o garfinho e comi. — Uma delícia. Quero queijo.
Dei algumas garfadas na boca dele, limpando com guardanapo e
satisfeita, ele terminou de comer o meu prato dizendo que poderia, pelo
menos, ter pedido com alguma carne. Dante não entendia que eu não sentia a
necessidade de comer carne como ele, normalmente, me sentia muito cheia.
Gostava muito mais da leveza do peixe e do frango.
A maioria dos pratos não precisavam de um acompanhamento como
ele achava. Com um novo sorvete, andamos pela feira, comprei bonequinhas
de pano para as meninas, uma toalha de mesa xadrez vermelha com branco.
No final do dia, Felipe e o Dante estavam nos bancos da frente do carro,
avançando em alta velocidade pela estrada, eu e cheia de comida, fechei os
meus olhos, tirando um cochilo.
— Ei, comilona. — Dante passou a mão em meu rosto.
— Comilona é a sua mãe. — Bati no seu braço e cobri a minha boca
ao bocejar. — Chegamos?
— Sim e tem três meninas pulando na janela. — Apontou, e vi as
meninas em cólicas. Elas choraram querendo sair comigo, mas era muita
responsabilidade ficar em um evento tão exposto, e os pais delas não estavam
na cidade. Eu não sairia sem pedir permissão. — Devem ter guardado energia
para brincar.
— Tio Dante vai ter que virar príncipe na hora de dormir também.
— Brinquei e saí do carro.
Felipe pegou as sacolas com as bonecas e me entregou, já rindo das
meninas gritando atrás da porta. Tia Malia abriu, e elas saíram correndo,
quase me derrubando, e distribuí as bonecas. Eram simples, com cabelos de
lã e vestidos de feltros. Entraram em casa felizes, e eu me senti a tia mais
legal do mundo. Dante sinalizou que iria para o escritório, provavelmente
saber se o Enzo teve algum sucesso encontrando o Igor em Londres, onde ele
foi visto há dois dias.
Por enquanto, nada do Romeo. Eu estava começando a ficar
histérica sobre ele ser tão capaz de fazer acordos. Ele, provavelmente, estava
prometendo rotas das drogas ou o tão sonhado endereço dos laboratórios de
drogas do Damon. Ninguém sabia o endereço. A única coisa que eu sabia era
que o endereço estava dividido em tatuagens no corpo deles, mas, só eles
poderiam dizer a ordem.
Brinquei com as meninas na sala e quando a Martina chamou para o
jantar, elas saíram correndo, porque o jantar era hambúrguer com batatas
fritas. Bati na porta do escritório e enfiei a minha cabeça dentro.
— Martina fez um hambúrguer de 150g com batatas fritas. Vai
deixar passar?
Ele sorriu e abaixou a tampa do notebook.
— Nem fodendo.
Alessio passou por nós, sinalizou que precisava falar com o Dante, e
fui andando na frente, ajudando a administrar a ansiedade das meninas em
comer logo. Elas amavam o dia da besteira, como apelidaram o dia que não
precisavam comer comida “chata” que a mãe as obrigava a comer. Filmei as
três traiçoeiras falando da culinária da mãe delas e mandei, rindo. Juliana
respondeu várias carinhas rindo e outras bravas. Após o jantar, as levei para o
quarto para se prepararem para dormir.
— Tio Dante vai contar história hoje? — Amália perguntou depois
de vestir o pijama.
— Eu ouvi o meu nome? — Dante entrou no quarto. — As
mocinhas para cama! — Apontou, e elas correram. Ele foi até a estante. — A
história de hoje será com um burro, um Shrek e uma princesa Fiona. — Me
deu um olhar engraçado.
— Tia Mia não é uma ogra! — Anna me defendeu.
— Vocês não a viram com muita fome pela manhã. — Ele rebateu, e
ri, arremessando uma almofada nele. — Tia Mia é muito ogra. Ela arrota e
peida.
Inacreditável. As meninas riram de rolar na cama.
— Começa a contar essa história agora mesmo. — Falei entredentes,
ele riu e saiu de perto antes que eu conseguisse jogar meu sapato. — E vocês,
nada de demorarem a dormir. Tia Carina foi colocar o bebê na cama, mas ela
vai vir aqui verificar.
Dante contou a história fazendo a graça que as meninas amavam.
Elas pegaram no sono depois de um pouco de conversa, e a Carina entrou,
para verificar e nos liberar. Saímos do quarto, e belisquei o braço do idiota do
meu marido.
— Ai, bruta. O que foi isso? — Esfregou o braço.
— Tia Mia arrota e peida? Sério? Eu nem faço isso na sua frente, ao
contrário de você.
— Faz quando dorme. — Retrucou, e eu corri atrás dele pelo
corredor.
Dante entrou no quarto fugindo de mim, e acertei o meu tênis nele.
— Eu vou ficar nua, molhada e com espuma nesse banheiro
completamente sozinha. E, para melhorar, eu vou usar os meus dedos entre as
minhas pernas. — Sorri torto e entrei no banheiro, mas ele correu atrás de
mim, entrando no banheiro também. — O que está fazendo aqui?
— Vou tirar a sua roupa, a minha roupa, vamos ficar molhados,
ensaboados, gemendo, e vou te deixar toda gozada. — Puxou o meu vestido,
e ri.
— Uau. Meu marido quer putaria. — Brinquei, e só tomamos banho,
ele tentou, mas eu preferia estar deitada porque ele me fez andar a feira
inteira para que não “perdesse” nada.
Fizemos uma bagunça divertida na cama, e fiquei dormindo e
acordando enquanto o Dante treinava com o Felipe e fazia uma corrida.
Carina estava com as meninas, e elas estavam estudando. Amália iria para
escola no próximo semestre, talvez a Anna também, mas a Aria ainda seria
educada em casa até ter um pouco mais de maturidade para estar com outras
crianças.
Me arrumei para sair com o Dante, ele queria me mostrar a casa dos
seus avós e a vizinhança que os seus pais cresceram. Era a casa que ele
nasceu também, então, eu estava bem empolgada. Não tinha a mínima
vontade de conhecer o local que a minha família cresceu. Luna até comprou a
casa dos seus pais, ela e o Enrico foram lá algumas vezes e era na ilha da
Sardenha. Dante e eu combinamos de ir lá para passar um tempo, porque era
na beira da praia, mas, eu não iria onde as minhas tias ainda vivem.
Escolhi um vestidinho azul escuro, de alças, coloquei um casaco e
botas. Não coloquei meias, porque não achei necessário, esperava não sentir
tanto frio. Estava terminando de me arrumar quando o Dante entrou no quarto
todo suado, rosto vermelho, sem camisa, com a bermuda manchada de terra e
entrou no chuveiro. Uma contusão se formando em suas costas era o
sinônimo que ele e o Felipe pegaram pesado. Desde que o Romeo fugiu, eles
estavam intensificando os treinos. Não conseguia assistir.
— Estou bonito? — Parei de me maquiar e o olhei, rindo. — Claro
que estou bonito. — Revirei os olhos, e ele parou atrás de mim. — Viu,
amor. Estou usando a blusa justinha que você ama. Será que eu ganho alguma
ação com isso?
— Caramba, Dante. Você quer me deixar assada até ir embora?
Ele fez um beicinho e assentiu. Dei uma cotovelada em sua barriga,
guardei o meu batom na bolsa e passei perfume. Terminamos de nos arrumar
e saímos. Felipe ficou. Dante queria ficar sozinho comigo e seria um tour
pela mansão antiga da sua família, então, não havia perigo. A viagem não foi
longa, mas foi bonita e paramos em alguns lugares para tirarmos fotos. Meu
marido me fez de modelo e aproveitei, as fotos ficaram lindas. Trinta minutos
mais tarde entramos em um vilarejo.
Dante parou em uma pitoresca casa que na verdade era um bar. Um
homem grande gritou de trás do balcão, abrindo os braços, e soltei uma risada
pela maneira que ele pegou o Dante em um abraço engraçado.
— Tio Benny, essa é minha esposa. — Dante me apresentou.
— Olá, minha senhora.
— Está com a chave da casa dos meus pais?
— Eu não sabia que você viria ou teria preparado uma refeição. Seu
pai costuma avisar quando um de vocês estão para vir. — Ele pegou uma
chave no bolso.
Dante não avisava aos pais o que iria fazer, muito menos pediria
permissão para entrar no lugar que já era seu por direito. Com a chave,
dirigiu devagar. Perguntei quem estava comandando aquela região, e ele
disse ser um primo distante, que vivia na cidade vizinha, quando o pai do
Dante falecesse, esse primo estaria debaixo da ordem do Dante e todo
território seria parte do rendimento do meu marido.
Chegamos a uma linda residência que parecia um castelo antigo.
Antes de entrar, Dante mostrou a casa da sua avó materna. Era uma casa
bonita, mas não se comparava a residência dos Biancchi bem tradicional. Ele
estacionou na lateral e assim como muitas casas dos subchefes, havia casas
no mesmo terreno. Saímos do carro, ele abriu a porta da frente e o lugar
estava arejado, não muito limpo, mas era lindo. Parecia cenário de um filme
antigo.
— Nossa. Esse lugar é lindo.
— Vou abrir as janelas. — Avisou e com a claridade, ficou ainda
melhor.
Nós olhamos os quadros, as fotos na parede e tinha uma linda foto
dele bebê no colo do Nicola em um gramado que parecia ser do lado externo.
Subimos a escada, olhamos os quartos, armários, o sótão e voltamos para
biblioteca. Tinha muitas caixas e livros.
— Fotografias. Acho que a minha mãe estava grávida. — Pegou um
álbum e jogou de lado.
— Não quer ver a sua mãe grávida?
— Para quê? — Deu de ombros e pegou uma foto dele no colo do
Nicola. — Devo ter dias aqui.
Peguei as fotos e dei uma analisada. Milena estava muito pequena
nas fotos para ser gravidez do Dante, na legenda dizia ser, só não fazia
sentido, a não ser que ela fosse uma criança pequena. Depois dessa
fotografia, havia milhares de fotos do Dante recém-nascido. Peguei um
monte, ele foi uma criança absurdamente linda, de bochechas gordinhas
como as irmãs diziam, e eu estava apaixonada. Ele mexeu em tudo, parecia
procurar algo, mas disse que estava apenas curioso querendo olhar se
encontrava alguma coisa legal. Deu uma lida em alguns livros da família, e
nós passamos as páginas do livro de nascimentos antigos e achamos um
fúnebre, que terminava no bisavô dele.
— Você tem o nome do seu avô.
— Minha mãe deve ter homenageado primeiro com Nicola e depois
resolveu colocar tudo igual em mim. É legal essa coisa de ter nomes
repetidos, eu acho maneiro.
— Eu também.
Saímos para passear no local, andamos de mãos dadas
tranquilamente e almoçamos no bar meio restaurante do seu tio. Eu comi uma
salada com folhas verdes, tomate, cenoura, pepino e bastante atum, já ele
comeu um prato de cordeiro assado com batatas e pão. Não bebeu porque
estava comigo e ia voltar dirigindo, mas eu bebi uma cerveja que o tio dele
produzia, era doce e um pouco pesada, mas era gostosa. Uma bomba
calórica.
Na volta, nós paramos para um grupo de crianças atravessar a rua e
eu vi a mulher da feira. Dante também viu, porque ele franziu o cenho. Ela
olhou para o carro e rapidamente sinalizou para as crianças atravessarem
logo.
— Você a conhece?
— Não. Ela ficou nervosa na feira porque sabe quem sou e
provavelmente, com medo do que poderia fazer. Até que é uma reação
tolerável agora.
— É, pode ser. — Murmurei pensando na foto. Talvez estivesse indo
longe demais com os meus pensamentos... — Eu amei conhecer a casa da
família. Espero que possamos tirar um final de semana para aproveitar ao
redor. Esse lugar é lindo.
— Temos muitos lugares para conhecer. — Pegou a minha mão e
beijou.
— Tipo o mundo todo.
— O mundo é nosso, amor. — Piscou e começou a acelerar quando
chegou à estrada. Coloquei o meu cinto de segurança, relaxando no lugar e
escolhi uma música para ouvir.
Dante gostava de rock pesado e só porque estava de bom humor, não
monopolizei o rádio com o meu estilo musical pop. Ele dizia que eu gostava
de torturar e que tinha sorte que era bonita. Dormi no meio do caminho,
mesmo com a música batendo no fundo e a cerveja me deixou com uma dor
de cabeça insuportável. Ao chegar, estava latejando tanto que precisei tomar
um remédio e deitei para dormir com a Aria. Dante ficou preocupado porque
me deu enjoo.
— Você é maluca de beber uma cerveja de produção artesanal
duvidosa. — Carina riu e me cobriu. — Melhor dormir mesmo.
— Não queria fazer desfeita com um parente do Dante.
— Uma vez eu caí nessa e comi um monte de coisa que uma tia por
parte do pai do Alessio fez, e eu vomitei a nossa viagem de lua de mel inteira,
até que fomos ao médico e eu estava com uma infecção, então, segue o meu
conselho e não faça mais isso. — Contou, e eu fiquei apavorada porque eu
não sabia ao certo as condições de higiene que a cerveja era produzida.
Como era muito doce, também não fazia ideia qual era o teor
alcoólico. Dormir me fez sentir melhor. O quarto das meninas estava vazio,
mas eu podia ouvi-las brincando no quintal. Carina estava sentada na grama
com o bebê, balançando-o, e o Dante estava no escritório. Nós voltaríamos
para Sicília na manhã seguinte, e eu queria sair para passear mais um pouco.
O vinhedo era um lugar realmente lindo e bem romântico.
— Reservei uma mesa no restaurante da Tia Malia e um monte de
garrafa de vinho porque nós podemos virar a noite. — Piscou e balançou a
sobrancelha.
— E o que mais?
— Uma festa no quarto ao voltarmos.
— O que está fazendo? — Me aproximei, e ele apontou para uma
planilha. — Hum, números.
— O trabalho não pode parar apenas porque estamos aproveitando
um tempo sozinhos. — Me deu um beijo, e me sentei na pontinha da mesa.
— Está melhor? Aquela cerveja te deixou pálida.
— Ela parecia boa no começo, mas é o tipo de bebida que engana
porque é doce. — Dei de ombros. — Vou te deixar terminar e vou começar a
me arrumar.
— Use algo bem sexy para que eu possa tirar com os dentes. —
Pediu com o seu sorrisinho safado. Era o meu favorito.
— Combinado. — Bati continência.
38
Mia.
Acordei assustada com o toque do meu telefone e sorri ao ver que era
mensagem do meu marido. Ele foi embora há uma semana, e eu já estava
com muita saudade. Respondi a sua mensagem safadinha de bom dia e rolei
para o lado, abraçando o travesseiro, ainda com um pouco de sono e dor de
cabeça. Estava um pouco enjoada, comendo excessivamente, testando
milhares de receitas que sempre quis fazer, porque Giovanna e a Luna eram
duas traças que me davam apoio.
Damon estava no céu. Sem o Enrico e o Dante, ele era o único homem
entre nós devorando tudo. Era estranho estar sem o Dante, me acostumei com
a nossa rotina, em acordar ao seu lado, ter as suas perturbações durante o dia.
Laura bateu na porta, empurrou aberta e ela queria comer. Fui ao
banheiro com a sua supervisão atenta, lavei as mãos, escovei os dentes e
troquei de roupa. Descemos a escada, e comecei o preparo do café. Luna
estava começando a sentir as dores das últimas semanas e demorava a sair da
cama.
— Quer chamar a mamãe para comer?
Ao invés de subir a escada novamente, ela andou até a ponta e gritou.
— Mãe! Comida!
Inacreditável.
— Se fosse para gritar, eu mesma gritava, mocinha. — Coloquei as
minhas mãos na cintura. — Vá para o seu lugar. — Apontei, e rindo, correu
para a sua cadeirinha.
— Estou descendo. — Luna murmurou. — Tão rápido quanto
consigo.
— Sem pressa. O café vai estar quente quando você chegar aqui, ou é
só esquentar novamente. — Brinquei e parei na ponta da escada. Ela apoiou
na ponta do corrimão e desceu devagar. Estava com um top e shorts de
dormir. — Já falou com o Enrico hoje?
— Logo cedo. Fizemos uma chamada de vídeo, mas a Laura
monopolizou a atenção. — Revirou os olhos. — Essa aí fala pelos cotovelos.
O pai dela adora...
— Fiz xixi sob a supervisão dela. — Sorri e nos acomodamos. — Tem
alguma ideia de quando será o parto? — Perguntei ao vê-la fazer uma careta
com o bebê se movendo.
— Ainda não sinto nada, estou apenas no cansaço normal de não
conseguir dormir e de não ter uma posição confortável para ficar. Sou muito
ativa e não gosto de estar lenta. Minha data do parto é em duas semanas
ainda, eu não quero que ele nasça antes. — Deu um tapinha na barriga. — E
você? Saudades do Dante?
— Muitas. — Fiz um beicinho. — Ele está muito ocupado em Nova
Iorque.
— Eles despejaram uma responsabilidade enorme nas costas dele, mas
eu entendo. Damon e o Enrico começaram a chefia um pouco mais tarde, mas
já tinham grandes responsabilidades. Dante começou tão cedo quanto Enzo...
— Luna mordeu o lábio. — O território dele é muito grande. Acho que o pai
dele vai se aposentar.
— Você ouviu algo?
— Talvez...
— Luna, sem mistérios comigo.
— Eu não sei, mas a conversa que a Giovanna ouviu deu a entender
isso. Damon e o Enzo estavam conversando tarde da noite. Não tivemos
tempo para ouvir mais. Você está preparada para ser a esposa do chefe?
— Vai ser estranho com a minha sogra viva e pentelhando, mas é
como se eu já fosse, com o Dante agindo assim desde que nos casamos. O pai
dele estava certo em prepará-lo antes, não vai ser uma transição confusa.
Seria pior se fosse por uma tragédia repentina... — Comi o meu pãozinho
cheio de geleia e cream cheese. — Que delícia...
— Melhorou?
— Ainda acordei com um pouco de náusea.
— Deve ser o fígado. Estamos comendo muita coisa gratinada e você
sempre foi sensível.
Dei de ombros, comendo e bebi todo meu café com leite. Fiz um
pequeno beicinho em lavar a louça porque em casa essa tarefa era do Dante
(se ele participasse da refeição). Giovanna apareceu com o Rafael, Nino, seu
computador e uma bolsa de brinquedos. Laura e o Nino ficaram brincando no
tapete, assistindo televisão, elas espalharam um monte de tecidos, croquis e
ficaram trabalhando. Sem querer atrapalhar, peguei o meu notebook e fiquei
na sala com as crianças.
Enquanto fazia compras pela internet e navegava, observei com
diversão a brincadeira, e sempre acabava rolando uma briga entre o Nino e a
Laura. Ela era muito autoritária, ele tinha o humor sardônico do pai. Uma
combinação explosiva. Eram lindinhos.
Pensando em bebês, enviei as fotos do Dante bebê para sua mãe.
Digitalizei logo que voltamos e salvei em meu computador. No texto da
mensagem, escrevi que ele era lindo e que tinhas as bochechas mais fofas do
mundo, perguntei se ela tinha mais fotos grávida dele, apenas para ver se
alguma tinha a Lisa, porque em todas, tinha apenas a Milena.
Será que a Lisa era adotada? O Dante era extremamente parecido com
o pai e com o Nicola. Lisa era parecida com o pai, não muito com a
Antonella. E se... Lisa fosse filha de uma amante? Caramba, precisava parar
de criar teorias, só achei muito estranho. Me distraí na internet até a hora do
almoço, preparei salada e sanduíches para todo mundo. Ajudei as crianças a
comer enquanto as mães trabalhavam e fiz o Rafael dormir, tão pequeno e
fofinho. Um dia me tornaria a tia que diria “eu te peguei no colo, garoto”. Eu
seria essa tia com prazer.
— Lisa me enviou fotos lindas da Nicole. Ela está crescendo tão
rápido... — Suspirei ainda olhando para o Rafael. — Eles vão crescer tão
rápido... Daqui a pouco seremos as tias das aventuras.
— Nós somos jovens, continuaremos jovens enquanto eles crescem. A
parte realmente boa é que poderemos aproveitar muito, e eles ficarão
sozinhos. — Giovanna comentou.
— Os meninos serão iniciados cedo. — Luna falou com desânimo.
— É algo que não podemos fugir. Damon e o Enrico começaram cedo,
eles foram treinados primeiro e depois assumiram responsabilidades, é o que
me conforta.
— Dante foi iniciado bem cedo. — Dei de ombros. — Ainda é
estranho pensar sobre isso.
Me deixava muito nervosa que ele estivesse com tanta
responsabilidade e logo ficasse a frente do território. Dante ainda tinha a
vantagem de escorregar da exposição porque o seu pai era o subchefe no
comando, depois da tatuagem ficou impossível não ficar sob os holofotes.
Confiava no potencial dele e tinha orgulho que fosse tão requisitado,
significava que era bom no que fazia. Eu o vi em ação, era ágil e letal,
também tinha uma mente muito rápida e era inteligente na hora de organizar
planos táticos. Meu homem era completo.
— Esse menino nunca vai ficar sozinho no carrinho ou no berço
porque tem você, a Luna, o pai e a minha mãe para segurar o tempo todo. —
Giovanna me castigou.
— Não ouça a sua mãe. — Sussurrei para ele, que me olhava
atentamente. — Todas as crianças dessa família são terrivelmente mimadas.
— Beijei a sua cabeça cabeluda.
Acompanhar a reta final da gravidez da Luna me fez enxergar o quanto
a gestação e todo aspecto maternal me assustava e me deixava em pânico de
verdade. Ela começou a ficar desconfortável, mal humorada e querendo o
Enrico em casa, mas ele estava em Chicago. Dante até foi lá por dois dias e
eu fiquei meio enciumada dos dois juntos. Fiz um bolo de aniversário para o
Nino, cantamos parabéns após um delicioso jantar que a mãe da Gio
preparou.
No final de janeiro, estava doida para voltar para minha casa. Era
muito engraçado que eu me sentia tão bem com a minha vida junto com o
Dante, que sentia falta da nossa rotina, estava com saudades de limpar a
minha casa, cozinhar e dormir na minha cama. Assim como a Luna estava
ficando insuportável, comecei a me sentir mal. Uma dorzinha abdominal
sempre que terminava de caminhar na esteira ou quando pegava a Laura no
colo, mas foi o enjoo matinal que me deixou preocupada.
Passava a manhã inteira bem nauseada, mal conseguia comer e a minha
barriga doía com uma leve cólica. Meus peitos estavam bem inchados, tanto
que o Dante comentou em uma foto que mandei de biquíni para usar a piscina
aquecida com as crianças. Antes de viajar, renovei o meu método
contraceptivo e eu não atrasei nenhum dia. Preocupada com o que poderia
ser, queria eliminar a possibilidade de uma gravidez antes de agendar uma
consulta médica.
Esperei que a Luna fosse deitar para não cismar de ir comigo. Me
arrumei depois de fazer uma rápida chamada de vídeo com o Dante, cheia de
saudade, estava até meio irritada.
— Felipe, você pode me levar até a cidade? Eu preciso ir à farmácia
comprar alguns remédios e uns cremes.
Como sempre, Felipe não reclamou de ter que sair no meio de um dia
frio. Ele dirigiu com tranquilidade, em silêncio, e as minhas mãos estavam
suadas. Chegamos a um centro comercial, logo entrei na farmácia, ele ficou
na porta, me dando privacidade. Peguei cremes para disfarçar e três testes de
marcas diferentes. Joguei todos os produtos na cestinha e fui para fila do
caixa. Enjoada, comprei um remédio, balas e chicletes. Queria me encher de
besteira e assistir a um filme para fingir que nada estava acontecendo ou que
eu poderia estar grávida.
Paguei as minhas compras e não quis ver mais nada, voltando para o
carro imediatamente.
Não estava preparada para ser mãe, não conseguiria ficar feliz com a
ideia de carregar um bebê sem nenhum preparo. Eu nem tinha certeza se
queria ter filhos... A minha família por parte de mãe não era conhecida por
afeto, boa educação ou sequer amor. Eu poderia amar o meu bebê? A minha
mãe nunca foi capaz de me amar em nada e eu nem sabia...
— Está tudo bem? — Felipe me perguntou e assenti ansiosamente. —
Quer que eu pare o carro?
— Não, estou bem. Só preciso ir para casa logo. — Me encolhi no
lugar.
Me olhando ainda preocupado, acelerou pela estrada e apesar do meu
enjoo, consegui chegar em casa intacta. Luna ainda estava dormindo e a
Laura estava com a Giovanna. Passei direto para o meu quarto, meu telefone
estava tocando e era o Dante. Felipe deve ter dito que saí, e o meu marido
sempre me ligava quando eu saía, querendo saber o que fui fazer ou o que
comprei.
Entrei no banheiro com os testes e fiz os três, andando de um lado
ao outro, esperando o resultado e o Dante não parava de me ligar.
Um dos testes deu o resultado primeiro, mas não levou muito tempo
para que os outros confirmassem o que o primeiro resultou.
Atendi a ligação. Ele apareceu sorridente, sem saber que estava em
minutos de pânico.
— Ei, amor. O que houve? Por que não me atendeu?
— Dante…
39
Dante.
Juliana estava com cinco computadores espalhados em minha sala. Nas
telas, estavam imagens de pessoas que precisávamos monitorar nos últimos
dias. No meu computador, a contabilidade da noite. Ela estava falando baixo
no telefone do outro lado da sala, e o Enzo estava jogando uma bolinha na
parede e pegando. Quando era mais novo, ficava curioso com o que o meu
irmão sempre fazia quando era chamado para essas missões de manipulação
política, e agora, aquilo era a minha função.
Estava fodido, porque eu não era como o Nicola, exceto a boa
aparência e ternos caros no armário, eu entendia o básico e não tinha
paciência. No entanto, coisas precisavam ser feitas para que os negócios
continuem em pleno funcionamento. Enquanto não precisaríamos sair,
estávamos vigiando os nossos alvos bem de perto. Câmeras de segurança,
câmeras internas, câmeras em carros e até em seus notebooks.
— Olha isso aqui... — Juliana se inclinou. — Parece que o Senador
McKeller está ganhando uma ação da sua assistente. — Apertou o botão para
gravar a tela.
— Ótimo. Esse é o babaca que ataca a Aurora o tempo todo. — Enzo
continuou jogando a bolinha.
— Senador Miller é irmão da Sienna. Talvez devêssemos dar a cortesia
a ela em intervir? — Sugeri. Sienna sempre foi uma associada leal, mas o
irmão dela não era envolvido nos nossos negócios e um tremendo pé no
saco.
— Vou pensar. — Enzo resmungou. — Talvez deva lembrar a ela
como o escritório que tem muito orgulho surgiu. — Deu de ombros. O
escritório era da minha família, e o idiota do meu irmão deixou para ela como
herança. Meu pai quase infartou ao saber. Enzo disse para deixar como
estava, contanto que a Sienna continuasse prestando os serviços que o meu
irmão prestava quando eles trabalhavam juntos. — Quer resolver isso?
— Passo. Sienna é muito chata. Ela é toda sua. — Apontei para
Juliana.
— Vocês, meninos grandes, sempre precisam de mim. — Ela sorriu e
pegou a sua bolsa. — Já volto. — Piscou e saiu com o seu guarda.
— Para com a porra dessa bola. — Reclamei e ele arremessou a bola
em mim, desviei rindo, peguei a bola e joguei nele de volta. Ficamos em uma
competição inútil com a bolinha que ajudou a tirar toda tensão dos meus
ombros. Voltei para os livros e consegui terminar. — Quer comer alguma
coisa?
— Você sabe cozinhar? Eu sei e a minha comida não é boa. — Ele
sorriu do sofá.
— Algo comestível. A masterchef é a minha esposa. — Fui até a
cozinha e comecei a preparar sanduíches de queijo quente com mostarda
como a Mia me ensinou. Caralho, estava sentindo muita falta dela. Eu nunca
pensei que ficaria com tantas saudades como estava. A casa estava vazia, a
minha vida parecia tediosa, só focada no trabalho e a nossa cama parecia
enorme sem a minha ladra de travesseiros.
— Isso é bom. — Enzo mordeu o sanduíche e foi quase todo. Seu
telefone vibrou. — Juliana acabou de chegar no escritório e a Sienna a
recebeu pessoalmente.
— Ela vai fazer de tudo para que o irmão dela saia da nossa mira, mais
do que ninguém, sabe como trabalhamos e que não tem nada que nos impeça.
É bem capaz que ela queira entrar no jogo em troca de algum dinheiro. —
Terminei de comer e coloquei o meu prato na pia.
— Nah . Não quero pagar por isso, porque quero ter certeza de que o
serviço vai ser bem feito. — Ele sorriu. — Vai ser divertido.
Damon ligou e ele foi para sala para conectar a chamada de vídeo. Dei
uma olhada nos monitores, gravando algumas imagens interessantes e fiquei
dando opiniões não solicitadas na conversa deles. Enrico me ligou para avisar
que estava embarcando para Sicília nas próximas horas e ele estava indo de
vez para o nascimento do seu filho. Eu deveria estar lá em alguns dias, só não
tinha certeza se seria possível com tantas coisas acontecendo ao mesmo
tempo.
Apesar de estar feliz pelo nascimento, o que me deixava realmente
empolgado com a data do parto se aproximando era que eu teria a minha
mulher de volta. Mia não ficaria muitas semanas longe depois que o bebê
nascesse e a nossa vida voltaria ao normal.
Juliana voltou, eu estava gravando um senador cheirando cocaína em
sua sala, rindo porque eles eram tão idiotas de cometer cada estupidez em um
local que pertencia ao governo e que poderia estar sendo monitorado 24h ao
dia. Com a facilidade que conseguimos entrar no servidor, não éramos os
únicos que passeavam por ali, talvez fosse por isso que a Sienna e o marido
estavam ficando cada vez mais ricos. Limpar a sujeira desse povo deveria
custar muito caro.
— Sienna vai fazer com o que o irmão saia do nosso caminho. —
Jogou a bolsa no sofá. — Ela entendeu rapidamente as consequências.
— Claro que entendeu. — Enzo voltou a jogar bolinha. — Faltam
apenas dois, certo?
— Esses dois precisarão ser convencidos de outra maneira... Uma mais
eficaz. — Bati com os meus dedos na mesa. — Teremos que fazer uma
visitinha pessoalmente.
— Não posso me expor. Tecnicamente, não estou aqui. — Enzo
arremessou a bola em mim. — Vocês dois vão. Dante, por favor, não mate
ninguém.
— Farei o meu melhor. — Coloquei a minha mão no coração.
— Sinto que precisarei colocar uma coleira em você. — Juliana bufou
e sorri.
Nós passamos o dia em casa, eles foram para o quarto ligar para as
meninas, dormir e eu me joguei na cama, ligando para a minha mulher, ela
atendeu no segundo toque.
— Oi amor. — Ela sorriu. Porra, eu amava o seu sorriso. — Como foi
o seu dia?
— Foi muito ruim porque estou sem o colírio para os meus olhos. —
Retruquei e ganhei o olhar mais lindo e apaixonado do mundo. — Estou com
saudades de você. O que tem feito?
— Nada demais. Os dias aqui têm sido bem difíceis, mesmo porque a
Luna está extremamente mal humorada. — Revirou os olhos. — Ela está
uma cadela de pés inchados e muito autoritária. Ainda bem que o Enrico
está voltando porque eu não sei como agradar.
— São os hormônios. Foi por isso que eu não queria ver a Lisa nos
últimos dias da gestação e você ficou brigando comigo. Quando é com a sua
irmã, você faz um beicinho. — Provoquei e ela me deu a língua. — Caramba,
amor. Você está com uns peitões.
— Estou retendo bastante líquido. — Reclamou e para o meu deleite,
tirou a camisa. Seu sutiã era sem bojo, branco, dava para ver os seus
mamilos. — Não me chama de gorda ou eu não mostro os meus peitos. —
Avisou e sorri.
— Gorda nunca, gostosa sempre. — Mordi o lábio. — Tira o sutiã,
agora!
— Tudo bem, mandão, mas você tira a camisa e calça. A cueca eu vou
pedir daqui a pouquinho...
Cheguei a sentar na cama porque a minha mulher estava disposta a um
pouco de sacanagem virtual. Eu estava mal acostumado com a nossa vida
sexual porque estava subindo pelas paredes. Tirei a minha roupa, ficando só
de cueca e ganhei um showzinho na tela. Ver a Mia desinibida, se despindo
devagar me deixou duro sem ajuda. Virou de costas mostrando a calcinha
pequena, tirou devagar e recostou na cabeceira da cama. Falar putaria e ver a
minha esposa gozando, me querendo, me fez gozar rapidinho.
— Você nunca mais vai ficar tanto tempo longe de casa. — Reclamei
depois de me limpar.
— Eu sei. Estou completamente dividida, querendo ficar aí e aqui ao
mesmo tempo. — Suspirou e ficou deitada de lado. — Sinto a sua falta o
tempo todo.
— Eu também. Você está sentindo-se melhor?
— Ainda acordei meio nauseada, preciso parar de comer o tempo
todo e a Luna acha que está atacando o fígado. Ela tem razão. Muito queijo
e muita gordura. — Sorriu torto. — É difícil resistir a culinária da mãe da
Gio e a oportunidade de cozinhar o que eu quiser.
— Cuidado. Sua saúde em primeiro lugar. Sei que é difícil se controlar
aí, mas, não gosto de te ver passando mal. Aqui você come melhor e só
salada. — Arqueei a sobrancelha.
— Está me dizendo que preciso voltar para casa para me alimentar
melhor?
— Sim, você fica cuidando de mim e se preocupa em cuidar de você. E
aí eu também posso te fazer uma massagem... O avião pode ficar disponível
em algumas horas. — Avisei.
— O bebê ainda não nasceu. — Fez um beicinho.
— Em duas horas você pode embarcar. — Continuei colocando pilha.
Se ela estivesse em casa em algumas horas, certamente eu seria um homem
mais feliz.
— Para de me atentar. Isso quer dizer que você não vai poder vir?
— Ainda não sei, as coisas estão um pouco fodidas agora, não tive
mais nenhum vislumbre do paradeiro do Romeo, mas estamos agindo para
tirar todos os comparsas ou pessoas que ele possa se associar da toca.
— Você só vem me buscar ou vou embora sozinha com o Felipe?
— Não sei ainda, mas não fique confortável com o Felipe. Seu marido
sou eu.
Ela sorriu e ficou séria.
— Damon convidou Romano Carlucci para vir jantar aqui semana
que vem e a Gio me pediu ajuda, ela está bem enrolada com o trabalho, a
Luna quase parindo e a Nina ajuda com as crianças...
Fodido filho da puta, ele me encontrou em Nova Iorque semana
passada e soube que a Mia estava na Itália. O desgraçado ia comer capim pela
raiz. Era melhor que se afastasse da minha mulher, porra. Romano estava
procurando uma nova esposa. Não ia ser a minha.
— Eu vou matá-lo se ele tocar em você, fizer qualquer elogio, olhar
em sua direção e... — Fechei os meus olhos. — Foda-se, estarei aí.
— Dante, deixa de ser idiota. Eu não me interesso por ele. — Revirou
os olhos. — Eu sei que você surta com isso, que tem ciúme, por isso que
optei por te contar. Romano é um homem bonito.
— Bonito? Foda-se!
— Me deixa terminar de falar! — Me cortou. — Romano é um homem
bonito, mas eu sou casada e eu te amo, então, não faz diferença nenhuma a
presença dele. Além do mais, ele vai vir aqui para conversar sobre a sua
noiva. Ela é daqui e é bem bonita. — Me deu um sorriso, mas eu ainda estava
fervendo. — Me dá um sorrisinho, vai.
— Não quero agora.
— Dante petulante. — Me provocou.
— Se eu não estiver aí, não senta do lado dele.
— Agora você está me ofendendo. Acha que vou pular no colo do
primeiro homem bonito que aparecer na minha frente?
— Não! Só não quero que ele fique falando, você fique desconfortável
e acabe se retraindo. Romano é do tipo predador. — Dei de ombros.
— Enrico jamais permitiria que ele fique ao meu lado. Você está
sendo irracional como eu sou quando estou com ciúmes, agora, o que você
me diz mesmo: “Se controle”? Ou você diz: “toda minha gostosura é só
sua”?
— As duas coisas são inteiramente verdade.
— Digo o mesmo agora. — Arqueou a sobrancelha. — Eu te amo, está
tarde aí e você precisa descansar apenas um pouco. Tenha um bom dia
amanhã. — Soprou um beijo.
— Eu te amo, se comporta. — Pisquei e encerrei a chamada.
Passei a noite cochilando e acordando ao som de qualquer mísero
barulho fora do quarto. De manhã cedo coloquei um calção de basquete e fui
treinar. Malhei por duas horas, voltei e preparei o café. Juliana desceu pronta
para o nosso dia na rua e o Enzo pronto para ficar fazendo a cobertura de
casa, ou seja, de jeans, camisa e pés descalços. Preparei o básico, torradas,
ovos, bacon, um pouco de salsicha e café preto. Juliana comeu frutas e ovos,
Enzo e eu devoramos todo restante.
Subi rapidamente para me arrumar e devido os compromissos do dia,
precisava estar impecável com terno, gravata, colete e sapatos sociais. Tirei
uma foto antes de sair e a minha mulher ficou toda animadinha. Mia nunca
me viu vestido formalmente sem ser no nosso casamento. Ela estava estranha,
foi muito fria e normalmente, seu humor pateta sempre aparecia durante as
mensagens. Não estava com muito tempo para descobrir o que havia de
errado.
Desci a escada e a Juliana já estava me esperando no carro.
— Cuida da minha mulher, malandro. — Enzo fechou a porta.
— Eu sei me cuidar. — Ela rebateu, e fingi que não estava ouvindo.
Aqueles dois brigavam por prazer, já não fazia nenhum sentido tentar
entender. Liguei o carro e saí da minha casa dirigindo em alta velocidade até
o centro da cidade. Parei o carro em um estacionamento estratégico. Eu sabia
o que tinha que fazer, eram cinco para cada. Juliana e eu decidimos dividir e
conquistar, levaria menos tempo e como sabíamos que todos os envolvidos
estavam “trabalhando” em suas respectivas salas, era ainda mais fácil.
— Olá, McKeller. — Sorri ao entrar em sua área reservada sem um
anúncio. Sua assistente ficou de pé. — Economiza o meu tempo e não abra a
boca. Senta. — Apontei para a sua cadeira. — Vamos conversar.
— Dante Biancchi. — McKeller sorriu. — Tudo bem, Susie. Não será
rápido.
— Isso quem decide sou eu. — Sorri torto. — A não ser que você
queira que a tarde quente de ontem e o café da manhã safadinho de hoje entre
vocês vá parar no facebook...
Seu rosto ficou pálido e ele imediatamente abriu a porta da sua sala.
— Muito obrigado. — Dei um aceno e passei.
Em mais cinco visitas, eu tinha as respostas agradáveis que precisava
ouvir. Encontrei com a Juliana antes de passarmos no último escritório
necessário e peguei um vidrinho de ácido desentupidor em um dos carrinhos
de limpeza que encontrei no caminho. Senador Johnson era um pé no saco e
um homem que achava estar acima do bem e do mal. Toda sua campanha era
baseada em conceitos cristãos e em busca do tradicionalismo. Racista e
homofóbico, teve a sua campanha financiada pelo meu irmão e tinha mais
laranjas que uma plantação para lavar o dinheiro que corria pelos bastidores.
Juliana começou a falar primeiro. Ela era gentil e educada, mas o idiota
estava sendo irritante. Meu sangue estava fervendo. Ainda bem que não fiz
promessas sobre matar um, disse que faria o meu melhor.
— Eu não devo mais nada a vocês. O meu acordo morreu junto com o
Nicola.
Foda-se ele.
— Deixe-me ver se entendi. — Me intrometi no assunto, andando
calmamente pela sala. — Você acha que pode usar o nosso dinheiro e
influência, entrar em uma vaga que não te pertencia e parar de fazer o que nós
precisamos assim... do nada? — Dei a volta, puxei a sua gravata e o
enforquei.
— Eu paguei a vocês. — Tossiu.
— Tenho certeza de que o meu irmão explicou os termos. —
Cochichei. — Caso você não lembre, eu vou te ensinar de um jeito mais
eficaz. — Olhei para Juliana enquanto mantinha o homem em um aperto
firme. — Por favor, vá até o banheiro e encha a pia, apenas um pouco.
Dando os ombros, foi até o banheiro e ouvi o barulho da água. Ele
estava tentando falar, mas eu estava ignorando e apertando a sua garganta.
Juliana saiu do banheiro, ergui o homem pelo terno, levando bruscamente
para o banheiro e enfiei o seu rosto na água, afogando-o. Juliana me deu um
olhar, mas não me impediu. Tirei o pacotinho do meu bolso, ergui o rosto do
idiota, jogando dois tipos de pastilhas dentro da pia.
— Estou lembrando agora, por favor, pare.
— Use o dinheiro da máfia e você pagará pelo resto da sua vida. —
Pressionei o seu rosto próximo às bolhas. Juliana ficou encostada na porta. —
Entendeu agora?
— Sim, eu entendi.
— Sabe o que fazer ou eu voltarei. — Me inclinei. — Não será em
uma pia que eu vou te afogar no ácido. — Informei e balancei a cabeça,
soltei-o. Tossiu e fez um som de vômito, um nojo. — Ótimo. Já que você
entendeu, vai receber as instruções em breve. Foi um prazer negociar com
você novamente. — Sinalizei para Juliana sair. Fechei a porta atrás de mim
com um clique suave.
— Aquilo tudo era ácido de verdade? — Juliana murmurou.
— Metade era pastilha efervescente para azia que a Mia me faz
carregar no carro. Achei que seria útil em algum momento. — Sorri. Juliana
segurou o meu braço, rindo.
— Você é um maluco bem eficaz. — Deu um tapinha em meu braço.
Chegamos em casa meia hora depois. Enzo ainda estava vigiando as
telas, comentando as reações logo que deixamos as salas. Recebi uma
mensagem do Felipe que a Mia não estava sentindo-se bem, que foram à
farmácia. Pedi licença para falar com ela. Subi a escada correndo, tirei o
terno, ficando só com a camisa social azul escura, chutei os sapatos longe e
liguei. Ela não atendeu de primeira.
Na terceira chamada, ela atendeu e apareceu pálida, com os olhos
arregalados como se fosse chorar a qualquer segundo.
— Ei amor, o que houve? Por que não me atendeu?
— Dante... — Ela suspirou. — Estou grávida.
40
Mia.
As três tirinhas a minha frente me fizeram cair de bunda no chão. Perdi
totalmente a força nas pernas. Dante estava me chamando e resgatei o
telefone, incapaz de acreditar que estava grávida. Minhas mãos tremiam e
parecia um pesadelo o resultado na minha frente. Meu coração estava batendo
rápido, o suor escorria e a minha boca estava seca. Definitivamente tendo um
ataque de pânico.
— Mia! Cadê os testes? Você tem certeza? — Dante me chamou, e
olhei para o telefone.
— Os três deram positivo. — Sussurrei e os filmei no balcão. — Como
isso é possível?
— Você não renovou o seu contraceptivo?
— Claro que sim! — Rebati na mesma hora. — Não esqueceria. Eu
jamais seria desatenta com isso... Dante, isso é um pesadelo.
— Ei, calma. Amor... Nós somos casados, vai ficar tudo bem, não é
como a gente quisesse, mas sempre será bem-vindo... — Falou com calma.
— Respira fundo, você está surtando, fica calma.
— Ficar calma? — Gritei com ele. — Não quero ficar calma! Eu não
estou pronta para ser mãe, eu nem sei se posso ser e não quero esse bebê!
Dante endireitou a postura.
— O que você quer dizer com “não quero esse bebê”?
— Não sei de quantas semanas estou, eu acho que podemos tirar...
— Você está maluca, porra? Que caralho está falando? Você não vai
tirar o nosso bebê.
Seu tom de voz me deixou furiosa.
— É o meu corpo, Dante. Como você pode pensar que estou pronta
para ser mãe?
— Ninguém nasce pronto, não é assim, eu sei que nós não planejamos.
Como você pode falar algo do tipo? Nós somos um casal e é uma decisão que
não precisamos tomar... — Ele estava gaguejando, nervoso. — Você não vai
tirar o nosso bebê. Somos casados e teremos uma família mais cedo ou mais
tarde. Por que está fazendo isso conosco?
— Não é você que decide isso. — Estava com raiva dele por não me
entender.
Dante riu sombriamente.
— Acredite em mim, Mia. Sou eu que decido sim. — Ele encerrou a
chamada.
Tentei ligar de volta, mas ele não atendeu, furiosa, arremessei meu
telefone na parede com tanta força que ele quebrou em duas partes. Droga.
Fiquei de pé e olhei para os testes, abri a lixeira e os joguei fora. Voltei para o
quarto, fiquei na cama, chorando pela briga com o Dante. Não conseguia
chegar a nenhum pensamento coerente, abraçada com o travesseiro, chorei o
dia inteiro. Todos os meus medos estavam aflorados, borbulhando e causando
um pandemônio dentro da minha cabeça.
Luna abriu a porta do meu quarto.
— Oi, querida. Você está bem? — Se aproximou da cama.
— Sim, estou bem. — Sequei o meu rosto. — Não quero falar sobre
isso agora.
— Tem certeza? — Acariciou o meu rosto. — Te ouvi chorar o dia
todo.
— Tive uma briga com o Dante, quebrei o meu telefone e agora sequer
consigo falar com ele.
— Vou pedir que o Antônio vá comprar outro enquanto ainda tem
umas lojas abertas e te empresto o meu. Ele vai sair para buscar o Enrico. —
Tirou o seu telefone do bolso, digitou uma mensagem e me entregou. —
Estou na sala, me avisa se precisar de mim.
Liguei para o Dante, ele só atendeu na terceira vez.
— Dante, sou eu.
— Eu sei que é você . — Rebateu. Podia sentir a sua irritação.
— Precisamos conversar.
— Conversar? Se você acha que vou conversar sobre um aborto está
profundamente enganada. — A raiva na sua voz me deixou ainda mais triste e
confusa. Eu não queria deixá-lo daquele jeito, mas eu não conseguia pensar
na possibilidade de ter um bebê crescendo dentro de mim. Que tipo de vida
daria a essa criança? — Não estou com tempo para isso agora. Falamos
depois. — Encerrou a chamada, e fechei os olhos, as lágrimas caíram sem
ajuda.
Desci para entregar o telefone da Luna, perguntei se ela precisava de
ajuda com algo para o jantar, mas disse que a Nina preparou e seria servido
quando o Enrico chegasse. Pedi licença para me arrumar, voltando para o
quarto, tirei a minha roupa e me olhei nua na frente do espelho. Me recusei a
colocar a mão em minha barriga, tomei banho pensando no Dante e no que
estava fazendo que não podia falar comigo. Me vesti para o jantar e fiquei no
quarto por um tempo.
— Mia! Jantar! — Luna chamou.
Saí do quarto desanimada, mas corri quando vi a bolsa da Apple no
balcão da cozinha, peguei o meu chip e rapidamente comecei a configurar o
telefone. Enrico desceu a escada, tinha acabado de tomar, me deu um beijo na
testa.
— O que aconteceu com o seu telefone?
— Quebrou. — Dei de ombros. — Eu já vou indo.
— Não demora. — Saiu de casa e esperei o telefone ligar. Entrei com a
minha conta e apareceu os meus contatos, baixei os aplicativos e liguei
normalmente para o Dante, mas ele não me atendeu. Irritada e muito
frustrada, saí para o pátio. Os cachorros me seguiram de perto.
O jantar era peixe, com purê e molho de camarão. Era o meu prato
favorito, mas me deixou enjoada e fiquei brincando com a comida, sentindo
uma dorzinha bastante incômoda. Enquanto eles comiam e conversavam,
fiquei olhando o meu telefone, pedindo para que o Dante me respondesse. Ele
foi bem sucinto, deu ordens ao Felipe que eu não podia sair de casa e todas as
minhas compras seriam controladas. O que ele estava pensando que iria
fazer?
Um aborto.
Ficamos três dias sem falar com o outro, ele não me respondia,
simplesmente ignorava cada vez que eu tentava saber sobre ele ou falar sobre
o elefante branco que era a minha gravidez. Eu odiava que isso estivesse nos
afastando, odiava a dor do meu coração partido, odiava a saudade e odiava o
medo.
Todas as noites chorava até dormir, estava descontrolada. Eu sabia
que precisava ir ao médico, fazer alguns exames, a ausência do Dante me
deixou tão desesperada que eu teria o bebê só para fazê-lo feliz, e isso era tão
problemático, porque eu nasci para que o meu pai tivesse um herdeiro, o que
não aconteceu e eles nunca tentaram mais porque, obviamente, o meu pai
odiava a minha mãe que o amava demais.
Como podia sujeitar um bebê a isso? Se eu nunca o amasse como
amava o Dante? E se ele se sentisse inferior, indesejado, não amado e um
estorvo?
Poderia dar ao bebê abraços e beijos que nunca recebi? E se eu fosse
má como a minha mãe?
Por que ela me destruiu tanto?
Não conseguia sair da cama de tanto chorar. Abraçada ao travesseiro
que já estava molhado e manchado com as minhas lágrimas, tentava superar o
incômodo, o enjoo e a vontade de desaparecer.
— Já chega! — Luna empurrou a porta do meu quarto e puxou o
edredom. Ela abriu as cortinas. — Sai dessa cama agora! Vai lavar o rosto,
trocar de roupa e descer para comer.
— Luna...
— Agora, Mia! — Ela gritou e puxou todos os travesseiros. — Se você
não sair dessa cama, eu vou ignorar que é uma mulher adulta, casada e vou
jogar um balde de água gelada.
Irritada, saí da cama e bati a porta do banheiro. Meu rosto estava
horrível, eu estava nojenta e definitivamente precisava de um banho. Entrei
no chuveiro, lavei o cabelo e me esfreguei com o sabonete líquido. Me sequei
e deixei o meu cabelo molhado, vestindo uma calça de moletom e uma
camisetinha, passando desodorante e perfume. De chinelos, saí do quarto, e a
Luna tirou a minha roupa de cama. Me senti mal porque ela estava quase
dando à luz e não precisava passar por tanto estresse.
Desci a escada encontrei ela e Enrico na cozinha. Ele estava bebendo
café, o cheiro me deixou enjoada, torci o nariz e tentei não correr para o
banheiro.
— O que está acontecendo? Te ouço chorar a noite inteira e mandando
mensagens de voz para o Dante te responder. — Enrico se inclinou. — Você
não come, vomita, não sai da cama. O que está havendo?
— Enrico... — Luna tentou falar e ele lhe deu um olhar. Ela parecia
derrotada. — Estamos preocupados com você. Se você e o Dante brigaram e
querem privacidade, tudo bem, mas são recém-casados e às vezes, a gente
sente vontade de matar o outro mesmo. Falar ajuda.
— Dante fez alguma coisa? Porque se fez, eu vou pegar...
Desviei o olhar para o balcão.
— Não foi o Dante que fez algo. Fui eu. Ele está magoado comigo e se
recusa a conversar sobre isso, acho que ele quer que o tempo passe e se torne
inevitável. — Murmurei e me abracei. — Estou grávida.
— Mia! — Luna me abraçou e comecei a chorar. — Querida, o que
foi?
— Eu disse para o Dante que queria fazer um aborto. Ele surtou.
Os dois ficaram em silêncio. Enrico colocou a caneca de café bem
devagar no balcão.
— Vamos para o sofá. — Pediu. Me sentei entre eles. — Conta o que
está acontecendo. Por que você quer fazer isso?
— Como eu posso ser mãe? Eu tenho dezenove anos... — Suspirei e
sequei as lágrimas que escorriam como uma cachoeira em meu rosto. —
Como posso ser mãe? E se eu fizer o meu bebê sofrer como a minha mãe me
fez sofrer?
Luna ficou horrorizada.
— Mia!? Você não pode dizer isso! — Ela me sacudiu. — Bateu com
a cabeça em algum lugar? Você não tem nada da sua mãe. Sei que é muito
capaz de amar. Seu coração é puro, nada manchado e cheio de rancor como o
dela.
— Estou com tanto medo e eu acabei explodindo com o Dante, ele
ficou furioso, incrédulo, e nós ficamos com raiva. Ele está com medo de que
eu faça algo, proibiu o Felipe de me levar em qualquer lugar, comprar
qualquer coisa, estou tentando falar o meu lado, mas ele não quer ouvir.
— Eu não gostaria de ouvir se estivesse no lugar dele. — Enrico falou
baixo. — Dante te ama e ele acabaria aceitando por amor a você, mas isso
pode estar consumindo-o por dentro.
— Não era minha intenção fazê-lo sofrer. Só estou com medo... —
Parei de falar ao ver a Luna colocar a mão na barriga. Ela recostou no sofá,
soltando um suspiro. Enrico deu a volta por mim e ajoelhou na frente dela,
mas, seu grunhido foi o suficiente para mostrar que estava com uma
contração. Segurei a sua mão, acariciando até passar.
— Definitivamente, começou. Pode ligar para a médica, baby. — Luna
falou com o Enrico.
— Você já sabia?
— Estou ciente desde cedo, é diferente. — Me deu um sorriso.
— O que precisa que eu faça?
— Fique bem aqui do meu lado. Laura está com a governanta e o
Nino, logo a Gio vai estar aqui. — Ela me deu um sorriso. Enrico terminou a
chamada com a médica, pegou a Luna no colo e levou para o quarto de
hóspedes que já estava preparado para o parto. Arrumei os travesseiros para
que ela pudesse ficar confortável. Luna tinha um sexto sentido e uma
sensibilidade fora do comum, porque ela avisou que a bolsa iria estourar,
meia hora depois, estourou.
— Você sempre me assusta. — Giovanna ajudou-a se levantar para
que pudesse se lavar. — Como está se sentindo?
— Que lá vem mais uma. — Reclamou e apertou os meus dedos com
tanta força que pensei que ela poderia quebrá-los. — Ai meu Deus, eu não
lembrava que isso doía tanto.
Assistir o trabalho de parto me deixou nervosa, mas havia algo
incrivelmente mágico. A calma da Giovanna, o suporte do Enrico, as palavras
sábias da enfermeira obstetra tornaram as horas algo tão significativo que
fiquei emocionada. A médica chegou alguns minutos antes de começar a
empurrar. Ela fez o parto da Giovanna, e pelo que sabia, era a médica regular
delas que ganhava muito bem para estar onde elas estivessem
exclusivamente.
Toda dor parecia completamente surreal. Luna gritava cada vez que
fazia força. Enrico estava atrás dela, dando apoio, falando baixo, mesmo
parecendo impossível de aguentar, eu podia vê-la feliz. Fiquei ao seu lado o
tempo todo. Giovanna estava fotografando o parto e ajudando no que era
necessário.
Ajoelhada ao lado da Luna, ela agarrou a minha mão quando a
médica avisou que seria o último empurrão. Ver o bebê saindo, nascendo, era
uma sensação esquisita, mas era único. Um momento que jamais se repetiria
e estava gravado em minha memória.
Ele chorou alto, bem forte, se mexendo e foi colocado em cima da
Luna. Ela e o Enrico se abraçaram, felizes, apaixonados e eu comecei a
chorar sem conseguir me controlar com tamanha perfeição. Um nascimento
era um milagre. Observando os três juntos eu tive a realização mais poderosa
da minha vida. Podia fazer aquilo. Eu conseguiria sim ser mãe. Eu já era mãe,
e o bebê estava crescendo em meu ventre.
Dante e eu seríamos felizes. Senti com a força da minha alma o
quanto amaria todos os filhos que tivéssemos. Eu os amaria com a minha
vida e estava tudo bem, era assim que tinha que ser.
Chorei de tamanho alívio, meu coração parecia que ia explodir no
peito.
— Ele é perfeito. — Sussurrei.
— Ele é. Diga olá a tia Mia. — Luna falou baixo.
Enrico saiu de trás dela e com cuidado, pegou o bebê e levou para
balança. A Dra. De Luca estava terminando com a Luna e eu me afastei, as
enfermeiras precisavam estar perto e toda mecânica do parto em casa era um
pouco delicado. Apesar de saudável, era algo que eu não escolheria para mim
devido a minha paranoia.
— Mia, vem aqui. — Enrico me chamou. — Me ajuda a cortar o
cordão? — Ofereceu e assenti ansiosamente. Aquele era um dos momentos
mais importantes da vida dele como pai e mesmo assim, queria compartilhar
comigo. — Quer segurá-lo?
O bebezinho em meus braços ainda estava todo gosmento, chorando,
se movendo e era tão perfeito. Com a pediatra, Enrico cortou o cordão e ela
levou o bebê para o quarto ao lado. Enrico foi junto. Giovanna pediu que
ajudasse com a Luna no banheiro, era impressionante que ela estava dolorida,
mas de pé, sorridente, com lágrimas nos olhos e ansiosa para segurar o seu
bebê novamente. Quando Enrico voltou com ele nos braços, fui buscar a
Laura. Damon estava na sala com as duas crianças ansiosas.
Nino quis subir também. Eles prometeram se comportar. Foi lindinho
assistir a Laura conhecendo o irmão, já não tinha certeza se tinha mais
lágrimas e me afastei, lavei o meu rosto e as mãos, peguei o meu telefone e
mandei uma mensagem para o Dante.
— Sei que você não quer falar comigo e eu entendo. Eu preciso que
saiba que te amo. Acabei de presenciar o nascimento do nosso mais novo
sobrinho e foi o momento mais incrível da minha vida. Queria que estivesse
aqui... — Suspirei e parei um pouco para controlar a minha respiração. — Por
favor, precisamos conversar. Eu te amo muito.
Enviei a mensagem e fiquei na cama, esperando que ele ficasse online.
Dez minutos depois enviou uma mensagem de voz.
— Oi Mia, eu fico muito feliz em saber sobre o nascimento, me envie
fotos assim que puder. Sei que precisamos conversar, estou embarcando
agora para Seattle. Negócios precisam ser feitos. — Ele parou um pouco. —
Eu te amo, e sempre vou amar.
— Fique seguro.
— Sempre, baby.
Fiquei com o telefone na mão e coloquei no peito, ansiosa com o que
ele tinha que fazer em Seattle. Lá era um território neutro, não muito
dominado pela família e não tinha muitas gangues. Não tinha certeza se isso
era bom ou ruim, em todo caso, comecei a rezar para que tudo corresse bem.
A ideia de perder o Dante era ruim em qualquer momento, mas nesse
momento, era simplesmente pavorosa. Coloquei a mão na minha barriga.
— Ainda não sei como ser mãe, ainda não me sinto pronta e eu não sei
por que o destino quis que você viesse agora. — Falei olhando para baixo. —
Estou assustada e me sinto jovem, sinto muito por tudo que disse. Vou me
esforçar em ser a melhor mãe do mundo porque você merece, não somente
porque amo o seu pai enlouquecidamente. Essa família é uma coisa de louco,
mas enquanto eu puder, irei te proteger e fazer com que tenha uma vida
incrível.
Mandei uma mensagem para Juliana, precisando falar com ela sobre
algo delicado e como sempre, tive a sua resposta de maneira calma e
satisfatória. Estava na hora de colocar o fim em um capítulo muito importante
da minha história. Era hora de ficar livre.
41
Mia.
Enrico Jr., carinhosamente apelidado de Nico pela Laura, estava em
meus braços. Ele estava menos inchado, com a boquinha tremendo devido ao
seu choro querendo o peito. Luna estava tomando banho, então, ele tinha que
esperar. Parecia ser um menininho bem impaciente porque ele não parava de
chorar até conseguir o que queria. Laura estava ao meu lado, olhando o irmão
com interesse, sorrimos uma para a outra. Quatro dias de nascido e ele tinha a
irmãzinha envolvida em torno do seu dedo mindinho.
— Mamãe está de volta. — Luna saiu do banheiro enrolada em um
roupão. — Espero que você durma depois de mamar porque mal deu para
lavar o cabelo.
— Eu disse que dava tempo.
— Meus peitos e eu ficamos muito nervosos quando ele está chorando
de fome. — Comentou e me deu um olhar doce. — Você vai entender em
alguns meses.
— Acho que sim. — Suspirei e entreguei o bebê. — Sei que marquei a
consulta aqui, mas eu acho que vou voltar para casa mesmo que o Dante não
queira. Nós precisamos conversar pessoalmente. Ele ainda não está falando
comigo direito. Uma mensagem por dia é agoniante.
— Talvez ele precise de um tempo. — Luna colocou o bebê para
mamar.
— E eu não? — Arqueei a sobrancelha.
— Mia... Você, em algum momento, disse que nunca queria ter filhos?
Não quero te julgar e nem fazer parecer que estou sendo preconceituosa com
a sua decisão, mas, você dava a entender que um dia queria ter. Quando a
gente é casado e tem relações sexuais, uma gravidez assusta, mas não é o fim
do mundo. — Explicou balançando o bebê e beijou o cabelinho loirinho da
Laura, que estava sonolenta. — Se você sente que a maternidade não é para
você, tudo bem. Algumas mulheres ficam perfeitamente bem sem ter filhos.
Dante vai entender.
— Essa não é a questão. Quando o Nico nasceu, foi uma
transformação. Eu olhei para o bebê, para você e o Enrico e eu quis tanto
viver um momento como esse com o Dante. Foi como se colocasse os meus
medos de lado, claro que ainda estou assustada e óbvio que eu não faço ideia
de como vou sobreviver com uma criança dependendo de mim vinte quatro
horas por dia, mas, eu amo o meu marido, vou amar ter uma família com ele.
— Segurei o pezinho do bebê. — Se eu pudesse escolher, seria em alguns
anos, mas, se veio agora, eu vou lidar com isso. Eu vou fazer com que o meu
bebê sinta todo amor do mundo.
— Ah, querida. — Luna me deu um beijo na testa. — Você tem um
coração lindo, apaixonado, tão intenso e não tem nada da sua mãe. Nós
tivemos uma criação horrível sim, mas não quer dizer que somos pessoas
ruins. Na verdade, tudo que aconteceu, nos fez melhores. Olha só para você,
a parceria incrível que você e o Dante, tão jovens, conseguiram ter.
— Acho que isso quebrou o meu casamento. — Cobri a Laura que
estava quase dormindo. Luna estava conseguindo fazer os dois dormirem ao
mesmo tempo. Laura só estava cochilando porque ela acordava todas as
vezes que o irmão chorava e ficava em cima, ansiosa.
— Não quebrou. Vão se aproximar novamente... Vai ficar tudo bem.
— Segurou a minha mão e beijou. — Vai lá ligar para o seu marido.
Meu telefone estava carregando na sala, descer a escada me fez sentir
uma dor aguda no ventre e me inclinei no balcão. Peguei o meu telefone,
estava carregado e deitei no sofá. Essas dores eram normais? A Dra. De Luca
disse que algumas mulheres sentem cólicas porque o útero estava se
expandindo para acomodar o bebê e talvez fosse isso. Não tinha experiência
nenhuma. Deitada no sofá, mandei uma mensagem para o Dante, ele
respondeu por voz, estava dirigindo e ainda não estava de volta a D.C.
Dante estava negociando um novo fornecimento de algo que ele não
entrou em detalhes em Los Angeles. Poderia ser drogas ou qualquer outra
coisa ilegal, era difícil saber.
Fechei os meus olhos para descansar um pouco, abracei o meu
travesseiro e a dor foi piorando. Tateei a mesa, procurando o meu telefone e
eu precisava chamar alguém. Ouvi a porta ser aberta ao mesmo tempo em que
senti a minha calcinha e calça ficando molhadas.
— Enrico? — Chamei nervosa e ele apareceu rápido. — Tem alguma
coisa errada. Acho que estou abortando... — Chorei ao ver a mancha
vermelha de sangue.
— Calma, vai ficar tudo bem. — Ele abaixou e me pegou no colo. —
LUNA! Estou levando a Mia para o hospital! — Gritou. Ouvi os passos
apressados da minha prima. — Fica aí, baby. Ela vai ficar bem! — Ele a
tranquilizou, devo ter apagado porque me assustei com a claridade do lado de
fora. — Nós vamos para o hospital agora. — Me embalou no seu peito e saiu
gritando para o Felipe. Antonio apareceu primeiro, soltei um grito de dor, foi
como uma contração. — Vai ficar tudo bem... Não desmaia, querida.
No carro, ele ainda me manteve em seu colo, gritando que o Felipe
fosse mais rápido. O carro deu uma boa freada, chegando a cantar pneus e as
portas foram abertas. Enrico saiu comigo e me colocou em uma maca,
gritando com o enfermeiro de expressão assustada que estava em cima de
mim. Agarrei a mão do Enrico, com medo de ficar sozinha.
— Liga para o Dante. — Chorei. Enrico acariciou o meu cabelo. — Eu
quero o meu marido.
— Shh , vai ficar tudo bem. — Enrico garantiu. — Você vai ficar bem,
estou aqui.
— Estou com medo, eu quero o Dante, por favor.
— Eu sei, te prometo que vai ficar tudo bem.
Ao fundo, podia ouvir a agitação médica e eles falavam sobre o quanto
estava perdendo sangue. A tontura e a dor me davam a sensação de que
estava caindo em um abismo. A escuridão me abraçou. Tudo que eu queria
eram os braços confortadores do Dante porque ele saberia o que dizer e fazer
a dor passar.
Acordei sentindo uma dor que se espalhava pelo corpo inteiro. Estava
sozinha em um quarto hospitalar, uma máquina estúpida fazia um barulho
irritante ao lado, havia agulhas com tubos no meu braço.
A porta do quarto estava entreaberta, bem na frente estava um
homem de jaleco, com um prontuário azul escuro aberto com a Luna, seu
rosto estava vermelho e encostado nos bíceps do Enrico. Dante estava de
braços cruzados, falando bem sério com o médico. Ele parecia desalinhado,
seu cabelo estava por todo lugar, com a camisa preta amassada, calça jeans e
tênis. Estava armado e não estava escondendo.
— Ela acordou. — Luna olhou quando me movi desajeitada. Ela
entrou no quarto e acendeu uma luz próximo ao banheiro. — Como você
está?
— Dolorida. O que aconteceu?
— Olá, Sra. Biancchi. Eu sou o Dr. Filippo e fui o cirurgião
responsável pela operação ontem à tarde. — O médico entrou no quarto.
Dante deu a volta na cama rapidamente, só de olhar para ele, as lágrimas
começaram a descer. Segurou a minha mão, apertou e beijou.
— Oi, amor. — Ele beijou a minha testa, a pontinha do meu nariz e os
lábios.
— O que aconteceu? Eu perdi o bebê?
— Sinto muito, Sra. Biancchi. — Dr. Filippo voltou a falar quando o
Dante não me respondeu. — Você teve uma gravidez ectópica. É quando o
bebê se desenvolve fora do útero. Devido a intensidade da sua hemorragia,
precisamos fazer uma cirurgia pelo abdômen. Ainda será preciso fazer mais
alguns exames e como foi uma cirurgia delicada, você ainda vai ficar aqui por
um tempo.
Não falei nada, ele me olhou, esperando alguma reação e apenas
encarei as minhas mãos. O que eu fiz? Ninguém precisava me dizer que a
minha óbvia rejeição ao bebê atraiu tamanha desgraça. O médico avisou que
a enfermeira me daria uma dose de medicação para dor que estava sentindo e
saiu, alegando voltar em algumas horas e que poderíamos chamá-lo se
precisasse.
— Nós vamos pegar um café. — Luna soltou a minha mão e empurrou
o Enrico para fora do quarto. Eles fecharam a porta.
— Dante... — Virei o meu rosto. — Eu...
— Não vamos falar sobre isso agora, foi uma longa cirurgia, você
perdeu muito sangue, e eles precisaram remover a sua trompa. Você precisa
de repouso agora. — Acariciou o meu rosto. — Peguei o avião o mais rápido
possível. Fui de voo comercial para Londres e lá o JULIANA estava
abastecido e me esperando.
— Eu sinto muito. — Solucei e não consegui parar mais. — Eu não fiz
nada.
— Não precisamos falar sobre isso agora, você está muito nervosa e o
médico foi claro sobre a importância do seu repouso, está bem? — Me deu
um beijo e fomos interrompidos pela enfermeira.
— Sinto muito, hora da medicação. — Explicou e aplicou algo no tubo
ligado ao meu braço.
Depois que ela saiu, Luna e o Enrico voltaram. Eles começaram a falar
comigo sobre a cirurgia, tentando me acalmar, tentei ficar acordada, mas eu
não consegui. Acordei dolorida novamente, ao meu lado, Giovanna estava
coberta e dormindo em um sofá. A porta estava aberta e o Damon estava no
corredor falando ao telefone. Ele parecia sério, mais do que normalmente era.
Fechei os meus olhos, meio zonza e ouvi a Giovanna sair do sofá.
— Ele está bem?
— Dante acabou de chegar lá. Ainda não tem informações sobre o
Enzo.
— Caramba, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Espero que o pai do
Dante fique bem e que o Enzo seja uma ferida superficial. — Giovanna
suspirou.
— Vai ficar tudo bem. Stefanio matou o Igor, agora, resta o Romeo,
vamos acabar com isso logo.
Abri os olhos e virei o rosto.
— O que aconteceu com o Luigi?
Giovanna se aproximou.
— Seu sogro sofreu um ataque cardíaco após uma emboscada ontem.
Ele estava em uma reunião com o Enzo em Nova Iorque. — Ela segurou a
minha mão. — Dante chegou lá agora e em breve vai dar notícias. Enzo se
feriu, mas não tenho informações. Juliana estava aqui na Itália...
— Foi o Igor?
— Sim e eu não sei de onde o Stefanio surgiu, mas ele apareceu e
matou o Igor. Foi horrível e infelizmente, com muita cobertura da mídia.
Aquela mulher está trabalhando para limpar a bagunça. Vim passar a noite
com você... Damon está aqui porque prometeu ao Dante. — Giovanna me
deu um sorriso amoroso. — Você está bem?
— Sienna Miller é o nome da mulher. — Lambi os meus lábios. —
Estou dolorida. Minha barriga está pegando fogo.
— Vou chamar a enfermeira. — Ela saiu rapidamente do quarto.
Damon entrou no quarto e tirou o meu telefone do bolso.
— Dante precisou ir, com o pai dele hospitalizado, ele é o chefe agora.
Gravou um vídeo e mandou para o seu telefone. Vou te dar privacidade para
assistir. — Me entregou o aparelho e saiu, fechando a porta.
Ansiosa e preocupada, desbloqueei o meu telefone e estava cheio de
mensagens. Pulei todas as conversas, abrindo a dele. Baixei e dei play. Ele
estava com roupa que o vi e dentro do avião.
“Oi, linda. Eu sinto muito não estar aí, logo que você dormiu eu soube
que o meu pai sofreu um ataque cardíaco e possivelmente, o Enzo levou um
tiro. Precisava estar de volta o mais rápido possível, sinto muito mesmo por
falhar na minha promessa na saúde e na doença. Ainda não sei como vai ser,
os médicos disseram que você levaria uns dias internada e não teria
autorização para viajar por um mês. Quero que saiba que se pudesse, estaria
aí ao seu lado, eu te amo e tudo vai ficar bem”.
Assisti o vídeo duas vezes antes de cair no choro. Foi difícil me
acalmar. A enfermeira entrou com uma bandeja de ferro, colocou ao lado,
mas a Giovanna foi rápida em me abraçar. Fechei os meus olhos me sentindo
dilacerada e ansiosa por estar longe dele, por não podermos ficar juntos
quando mais precisava.
A minha tristeza era tão grande que mal podia definir a raiz de tudo.
Triste pelo bebê, triste por não ter sido uma gravidez normal, triste porque eu
desejei não ter o bebê, triste por magoar o Dante, triste por estarmos tão
afastados e não era apenas a distância física.
Se eu pudesse voltar no tempo, escolheria não ter sido tão cruel e
surtada, dominada por tantos medos. Ele merecia uma mulher inteira e não
uma garota quebrada. Dante sempre fez com que me sentisse amada, bem-
vinda e ele nunca me tratou como os meus pais me tratavam. Por que eu fiz
aquilo?
Os primeiros dias após a cirurgia, passava a maior parte do tempo
dormindo ou chorando. Fiquei muito sozinha, porque a Luna estava com um
bebê recém-nascido e a Giovanna também. Enrico e o Damon ficavam
comigo algumas horas, mas eles não podiam lidar com as lágrimas.
Felipe não saiu do hospital, ele sempre me carregava quando a
enfermeira precisava trocar os lençóis ou me colocar na cadeira. Luna
aparecia todas as manhãs e depois que as crianças dormiam, eu disse que ela
não precisava vir, estava visivelmente cansada, não queria ser mais um
trabalho.
Dante me enviava mensagens, mas não estávamos conversando sobre
nada além do meu estado de saúde. Antonella me enviava notícias do Luigi.
Minhas cunhadas me ligavam em chamada de vídeo e pelo menos, o telefone
me distraía, assim como as novelas estúpidas que passavam na televisão. O
tempo sozinha me fez pensar e escrever muito. Escrevi a mão diversas cartas
que explicavam os meus sentimentos. Escrevi cartas para o Dante e para
Luna. Escrevi cartas para mim mesma e cartas para minha mãe.
Eu senti que precisava colocar no papel tudo que o meu coração estava
transbordando.
Uma semana depois da cirurgia, recebi alta para terminar os cuidados
em casa. Luna estava andando pelo quarto arrumando as minhas coisas e o
Enrico estava abaixado na minha frente amarrando os meus sapatos como se
eu fosse uma criança. O lugar onde estavam os pontos da cirurgia ainda doía
muito e de modo geral, sentia um grande incômodo beirando a dor, mas só de
saber que voltaria para casa, estava feliz. Eu não aguentava mais dormir em
uma cama hospitalar.
— Está tudo pronto. Antonio, pode levar, por favor? — Ela abriu a
porta e ele pegou as malas.
Enrico me tirou da cama e me colocou na cadeira de rodas. Agradeci as
enfermeiras, elas estavam felizes com as flores e chocolates que pedi que a
Luna comprasse. Todas elas foram gentis e cuidadosas, não só porque tinham
medo do Enrico, mas porque eram excelentes profissionais e aguentaram as
minhas crises de choro com paciência.
No caminho para casa, Luna ficou falando sobre o quanto o Nico
estava maior e eu só sorri, olhando para o meu telefone, querendo falar com o
Dante, mas ele não me respondia. O carro entrou na villa , Enrico parou
próximo ao pátio principal, Luna saiu rapidamente, dando a volta, eles me
deram apoio para sair, mas eu conseguia andar sozinha se fosse devagar.
Qualquer impacto brusco causava dor.
Na sala comum tinha faixas, balões, Nino e Laura jogando confetes
para o alto, os dois bebês deitados no carrinho duplo, arrumadinhos.
— Seja bem-vinda de volta. — Lucinda me abraçou.
Todos me deram abraços e havia um almoço tipicamente italiano,
muita comida, muita coisa gostosa na mesa. O computador ligado mostrava o
Dante dirigindo, olhando de tempos em tempos e eu sorri quando ele
percebeu que estava me aproximando. Ele parou o carro e pegou o telefone,
sorrindo. Nós ficamos nos encarando por um tempo.
— Estou feliz que esteja de alta. Sinto muito por não estar aí.
— Está tudo bem. Como está o seu pai?
— Estou indo vê-lo agora, ainda não vai receber alta pelo alto risco
de ter outro ataque cardíaco. O médico disse que as enzimas cardíacas ainda
estão altas.
— Já descobriu o que ele tem? — Puxei uma cadeira para me sentar.
— Câncer no esôfago. Estágio dois, ele estava fazendo tratamento,
então ele vai continuar cuidando da saúde. Se tornou oficial ontem.
— Então agora você é o poderoso chefão?
— É, agora eu sou.
— Sei que vai se sair muito bem.
— Vou deixar que almoce e depois, vá descansar. Eu te ligo mais
tarde. — Ligou o carro novamente e me deu uma piscada marota antes de
encerrar a chamada.
Enrico se aproximou, recostei a minha cabeça em sua barriga. Luna
ajoelhou na minha frente, me abraçando apertado.
— O que você quer fazer agora? — Enrico me perguntou.
— Eu quero ir embora e costurar o buraco que fiz no meu casamento.
— Ainda não, em breve. — Luna garantiu.
Após o almoço, precisei deitar e pedi que arrumassem uma cama no
sofá, assim não precisaria subir e descer escadas, mas o Enrico não quis e me
carregou escada acima. Pedi que a Luna me desse o caderno com as cartas
para continuar escrevendo enquanto ainda não tinha sono. Ficar na cama era
um saco, mas eu tinha que admitir que na primeira semana após a alta, ainda
não conseguia fazer muitas coisas.
Saindo do banho, o primeiro sem a Luna pairando em cima de mim,
ouvi uma batida suave na porta. Juliana abriu e sorriu, entrando e fechando
atrás dela.
— Desculpe não poder estar aqui antes, foram semanas realmente
loucas.
— Está tudo bem. Como está o Enzo? — Trocamos um abraço bem
apertado.
— Ele está bem, é um paciente tenebroso e tem três mini enfermeiras
bem atenciosas e meio brutas. — Me deu um sorriso. — E aí, como está?
— Estou melhorando e louca para voltar. — Sentei-me na ponta da
cama. — Você não estava com o Enzo por que te pedi aquele negócio, não é?
— Sim, mas não sinta culpa. Enzo e eu não ficamos juntos o tempo
todo. Ele tem a parte dele no trabalho, e eu a minha, às vezes fazemos juntos
e às vezes, separados. Além do mais, foi um tiro limpo. Ele precisou de
cirurgia por causa da queda que sofreu, não por causa do ferimento e já está
me enchendo o saco, então, está muito bem. — Sentou-se ao meu lado. —
Você pediu para te contar quando acontecesse e está feito. Definitivamente
feito.
— Tudo bem... Você pode caminhar comigo até os fundos do jardim?
— Você pode caminhar?
— Sim e não. — Sorri e peguei os papéis dobrados. — Mas eu
precisava da sua confirmação para fazer isso. É mais simbólico do que real.
Juliana me ajudou a descer a escada. Luna estava na cozinha dando
biscoitos a Laura e achou estranho que precisaria ir até os fundos do jardim
com a gente, mas ela não questionou quando pedi um isqueiro. Nós andamos
devagar, peguei as cartas para a minha mãe e acendi o isqueiro, queimando
tudo que ela fez contra mim, todos os medos e os meus traumas. Luna
começou a chorar comigo, ficamos abraçadas olhando os papéis queimarem e
as fuligens sendo levadas pelo vento.
Era o fim da minha história com a minha mãe.
42
Dante.
Dirigi em alta velocidade pelas estradas arborizadas que davam acesso
ao meu bairro e diminuí a velocidade quando cheguei à área escolar,
passando pelas primeiras casas e seguindo até o lado mais vazio, que tinham
casas grandes como a minha. Entrei na minha propriedade, parei o carro de
qualquer jeito próximo a garagem e entrei em casa pela cozinha. Parei de
supetão ao ver a Mia lavando uma fruta. Ela fechou a torneira, virando,
puxei-a para os meus braços.
— Você está em casa! — Falei com alegria, sentindo o seu perfume e
tateei o seu corpo. — Está tudo bem? Está sentindo alguma coisa?
Mia riu, mas os seus olhos estavam lacrimejados.
— Estou feliz por estar em casa. — Segurou o meu rosto e me deu um
beijo. Ficamos abraçados no meio da cozinha. — Como está o seu pai? Quero
tanto vê-lo logo.
— Podemos jantar na casa dos meus pais hoje. — Acariciei o seu rosto
perfeito.
Era impressionante o quanto eu a amava, mesmo ainda louco de raiva.
Mia puxou o meu tapete de um jeito que eu nunca imaginei ser possível. De
todas as coisas que ela poderia me ferir, aquilo foi inesperado. Mia me tirou
do eixo quando menos podia, minha cabeça ficou fodida e pela primeira vez
eu entendi o que significava coração esmigalhado. Quando ela disse que não
queria ter o nosso bebê, me quebrou em milhares de pedaços. Senti raiva,
mágoa, me senti traído e tão furioso que não queria falar com ela.
Estava com raiva, ocupado, com pessoas exigindo tudo de mim, ao
mesmo tempo que eu precisava sentar e conversar com a minha esposa.
Sentar e conversar era a última coisa que eu queria porque eu sabia que iria
ceder. Ela queria tirar o nosso bebê, eu não a obrigaria a uma gravidez na
qual ficasse infeliz e rejeitasse o nosso filho. Isso iria romper o nosso elo, me
faria infeliz porque por mais que não quisesse ter filhos agora, eu nunca
pediria que ela tirasse um bebê porque não estou pronto.
— Está tudo bem? — Mia me olhou nos olhos.
— Vai ficar. — Beijei os seus lábios. Meu telefone tocou. — Tenho
que voltar ao trabalho.
— Dante, nós precisamos conversar.
— Eu sei, mas eu não quero. Volto mais tarde para te buscar. — Dei-
lhe um beijo e saí antes que falasse algo.
Fiquei na rua o dia inteiro propositalmente e não voltei para casa,
porque não queria enfrentar a conversa que iria nos machucar. A gravidez
ectópica poderia levar a Mia a morte e só de pensar nisso, ficava maluco.
Ainda assim, apesar da tristeza de não ter sido uma gestação normal, se fosse,
ela não queria ter o nosso bebê. Como seríamos uma família no futuro se ela
não queria ter um bebê? Eu queria ser pai e jamais obrigaria a Mia a ser
infeliz.
Meu pai estava mal de saúde há um tempo, ele optou por não contar a
ninguém porque não queria que pensassem que ele precisava de ajuda. Eu
entendia. O ataque cardíaco foi devido ao susto com as bombas de efeito que
o Igor e o seu grupo usaram para invadir o prédio comercial em que o meu
pai estava reunido com o Enzo e dois fornecedores de vodca que ajudavam
no contrabando entre alguns estados. Enzo levou um tiro, mas caiu dois
andares nas escadas.
— Ela chegou bem? — Stefanio me deu um copo de uísque quando
voltei para o escritório no final da noite. — Pensei que fosse passar o dia em
casa.
— Vou folgar depois. — Bebi o uísque de uma vez.
— Estive pensando em buscar a Lara. — Comentou e o encarei.
— Enzo ainda não decidiu sobre isso. — Me joguei no sofá. — Igor
está morto, mas ela ainda é trunfo para a máfia russa. — Inclinei a minha
cabeça para o lado. — Sua cabeça está a prêmio, seria ideal manter a
distância ainda.
— Ela pode pensar que eu não vou voltar.
— É verdade. — Ponderei. — Mesmo assim, acha que vale a pena o
risco?
— E se ela fugir pensando que eu morri?
— Vou pensar em algo. — Estiquei o meu copo e joguei na mesa.
Stefanio tinha me decepcionado quando aceitou ficar escondido com a
Lara. Para falar a verdade, eu não sabia como a coisa toda aconteceu entre os
dois, mas ele disse que queria ficar com ela e protegê-la. Em seu lugar, faria
diferente. E no final, ele acabou fazendo o que eu faria: deixou a Lara em
segurança e saiu pelo mundo, disfarçado, caçando como foi treinado. Eu
recebi o seu primeiro contato após a noite de ano novo e ele não podia falar
muito, para não ser pego.
Enzo e eu ficamos controlando a situação e abrindo caminho para que
ele pudesse seguir como um fantasma. Stefanio rastreou o Igor, não foi tarde
demais, porque ainda conseguiu impedir uma catástrofe maior. Igor não
estava interessado em mim e sim na Lara e no Enzo. Enquanto isso, eu estava
focado no Romeo. Sem o Igor, ele não tinha apoio dos russos, mas encontrou
espaço com os motoqueiros, o que era um problema. Eles costumavam ser
nômades e viver totalmente fora do radar.
Se não fosse toda essa coisa com a Mia, ele estaria morto. Eu estava
prestes a encontrá-lo quando recebi a ligação desesperada do Enrico. Larguei
tudo que estava fazendo e entrei no primeiro voo comercial para Inglaterra e
em seguida, peguei o avião particular para Itália.
Mia teve uma complicação severa na cirurgia, a trompa que eles
achavam que poderiam salvar, se rompeu de vez, e ela perdeu muito sangue.
Ao invés de uma simples cirurgia exploratória, foi preciso uma cirurgia
tradicional.
Quando cheguei, ela estava na UTI e não podia receber visitas. Eu
não sabia o que era uma gestação ectópica, o médico me explicou, olhei no
google e eu fiquei tão assustado que a Mia estivesse passando por algo tão
ruim e a sensação de ser o pior marido do mundo pairou sob a minha cabeça
com o ataque cardíaco do meu pai. Eu precisava estar aqui para assumir o
comando e não fazer parecer que estávamos em um momento de fraqueza.
Stefanio estava de volta, trabalhando, fingindo que estava tudo
normal apenas no caso de estarmos sendo vigiados. Depois do escândalo
envolvendo o atentado, foi rapidamente resolvido e esquecido pela mídia,
mas era bom manter as coisas tranquilas enquanto não parecia ser seguro para
Lara voltar. Ela era um alvo e sendo um alvo, não ficaria perto da minha
esposa. Já tinha problemas demais para gerenciar.
Voltei para casa perto do horário de sair para jantar. A casa estava
silenciosa e escura, mas, o cheiro do perfume dela estava em todo lugar. Subi
a escada rapidamente e entrei no nosso quarto. Ela estava nua na frente do
espelho, vestindo um sutiã quando me viu. Perdeu muito peso,
provavelmente, uns cinco a sete quilos, era visível. Vê-la nua depois de tanto
tempo acendeu tudo em mim, era inevitável, Mia mexia comigo. Meu olhar
desceu para a sua cicatriz e ainda estava bem vermelha.
— Está tudo bem? — Questionou, me encarando pelo espelho.
— Sim... Vim tomar um banho para sairmos.
Assentiu e pegou a calcinha, sentando no banquinho para vestir, me
aproximei e tomei a peça da sua mão, ela ficou de pé apoiando em meus
ombros e coloquei a sua calcinha no lugar. Beijei a sua cicatriz e coloquei a
minha cabeça no seu ventre.
— Está tudo bem, não dói tanto. — Garantiu e mesmo assim, era
ruim o suficiente.
— Eu vou trabalhar em casa nas próximas semanas e não quero que
fique subindo e descendo a escada à toa. O médico disse que não poderia
fazer esforço por mais algumas semanas.
— Sei disso. — Me deu um sorriso. — Vá se arrumar, não podemos
nos atrasar.
Fiquei pronto para sair quinze minutos depois, ela já estava vestida,
com o cabelo preso e passando um batom claro nos lábios. Usava um vestido
longo, rosa escuro, marcado na cintura e com um lascado até a coxa. Seu
saltos eram médios, plataforma, pegou a bolsa e desceu atrás de mim com
cuidado. Ajudei-a a se sentar no carro, ajustando o banco para o cinto de
segurança não machucá-la e lhe dei um beijo suave, dando a volta para o lado
do motorista, logo saindo de casa.
Ela colocou música para tocar e a sua mão na minha coxa. Senti a
sua falta nos mínimos detalhes. Inclusive, nesses.
— Soube que você estava perto de pegar o Romeo. Sinto muito por
isso.
— Está tudo bem, me fez pensar melhor. Romeo está nos levando a
novos inimigos e por incrível que pareça, a novos territórios. Já levamos
quatro famílias para Seattle. — Olhei-a rapidamente. — Estou articulando um
plano, com ele, tudo que posso fazer é agir friamente.
— Um plano?
— Sim, se ele quer brincar de pique-esconde, tudo bem. — Não ia
entrar em detalhes com ela.
— Depois você diz que não é bom em articulação política. — Sorriu.
Chegamos na casa dos meus pais dois minutos antes do horário
combinado. Deixei o carro na garagem, entrei pela cozinha e o Miles estava
terminando de montar as travessas de comida. Minha mãe e irmãs estavam na
sala de jantar, arrumando a mesa. Todas elas pararam para cumprimentar a
Mia, dando beijos e abraços apertados. Meu pai entrou na cozinha devagar,
Elias estava logo atrás dele e o Pietro entrou com a Nicole acordada nos
braços. Com pouco mais de três meses, minha sobrinha estava cada dia mais
linda. Era muito parecida com a minha irmã.
— Olha só o quanto você cresceu... — Mia se aproximou e a pegou
no colo. — Que cheiro maravilhoso. Titia trouxe tantos presentes e roupas
novas.
— Você deveria sentar para ficar com ela no colo. — Peguei uma
cadeira. Ela não estava autorizada a carregar nenhum tipo de peso. Nicole
estava muito interessada no cordão da Mia e ficou quieta, mas quando o pai
brincou com ela, abriu um sorriso que deixou a família inteira derretendo.
Com o jantar servido, percebi que a Mia estava com um apetite
reduzido, eu a servi, mas ela não comeu tudo e antes da sobremesa, parecia
estar desconfortável.
— Acho melhor irmos para o sofá. — Minha mãe anunciou ao
perceber a expressão de dor da Mia. — Está na hora de alguma medicação?
— Sim, está na minha bolsa. — Mia respondeu e eu peguei
rapidamente.
Ninguém falou sobre a gravidez e estava tudo bem por mim. Nós
conversamos sobre o meu pai ser um paciente terrível. A sobremesa foi
devorada e a medicação fez a Mia começar dar longas piscadas, decidi que
era hora de irmos embora. Nos despedimos e voltamos para casa. Lutando
contra o sono, parecia nervosa. Mastigando o lábio com crueldade e
levantando as peles das unhas. Guardei o carro porque não iria sair mais.
Stefanio estava na rua, no meu lugar e eu tiraria a noite de folga porque
estava na merda da correria há meses.
Entramos em casa e antes que ela subisse sozinha, carreguei-a
escada acima. Ela jogou a bolsa no sofázinho do corredor e a coloquei na
cama, no nosso quarto.
— Dante, por favor, vamos conversar. Eu preciso te dizer umas
coisas...
— Agora não, Mia. — Falei e virei para sair do quarto.
— Agora sim! — Ela gritou e arremessou o despertador digital nas
minhas costas. — Volta aqui para conversar agora!
— Mia...
— Eu preciso falar, você não entende? — Começou a chorar. — Eu
preciso te pedir perdão.
Parei no meio do caminho e voltei. Ia começar falar, mas ela ergueu
a mão e me impediu.
— Eu estava errada, mas foi o medo e o susto que me levou a dizer
aquelas palavras. — Saiu da cama e ficou de pé. — Claro que não muda o
fato que eu ainda sinto muito medo e estou despreparada para ser mãe. Foi...
— Ela respirou fundo. — Senta, por favor. Eu vou começar...
Sentei no sofá e ela voltou para cama. Ficamos próximos, mas com
uma distância de cinco passos. O quarto estava apenas com a meia luz do
abajur que sempre ficava aceso.
— Desconfiei que estava grávida quando os enjoos não passavam,
mas eu estava em negação antes mesmo de fazer os testes. Pedi ao Felipe
para me levar a farmácia e com isso, eu apenas surtei. — Passou a mão no
rosto. — Por um momento, tudo que eu lembrava era o quão ruim a minha
mãe me fez sentir, e se eu que não queria estar grávida, estivesse tendo um
bebê para se sentir da mesma maneira? Se eu não pudesse controlar a
rejeição? Se fosse mais forte que tudo?
— Você nunca me disse que era assim, você ocultou isso de mim e
se eu soubesse, tentaremos resolver de outra maneira.
— Eu não tirei o bebê, Dante.
— Dessa vez foi uma gestação ectópica, mas não muda o fato de que
você queria abortar o nosso bebê. Eu também não queria filhos agora, não
estava me sentindo preparado e nem com tempo para ser pai. Concordo que
somos jovens e temos muito a viver, mas a opção aborto nunca esteve em
pauta. — Bati a mão na minha coxa. — Como você pôde considerar?
— Porque nunca quis que o bebê sentisse como eu me senti a vida
inteira!
— Você não é a sua mãe, droga! — Gritei, perdendo a minha
paciência.
— Eu sei! — Ela gritou de volta. — Agora, eu sei. — Suspirou e se
aproximou, sentando-se ao meu lado. — Surtei sim, não nego e eu estava
apavorada. A ideia de ser mãe me paralisou, parte porque não estava pronta,
parte porque o medo de ser como a minha mãe me cegou completamente,
mas quando o bebê da Luna nasceu... — Segurou a minha mão. — Foi uma
realização, Dante. Eu senti na minha alma o quanto estava errada, o quanto eu
podia amar não só a você, como amar muito o meu bebê. Vi a doçura do
Enrico segurando a Luna enquanto ela entregava o Nico e eu quis aquilo. Vi
o quanto seria lindo para nós dois. Tenho que te pedir perdão pela maneira
que agi, mas você não ajudou em porcaria nenhuma evitando falar sobre
isso...
— Estava com medo de ceder. — Falei baixo e fiz com que sentasse
em meu colo. — Medo de aceitar que fizesse o aborto porque te amo e quero
te ver feliz. Eu nunca conseguiria te obrigar a ter um bebê para odiá-lo. —
Acariciei o seu rosto. — Me magoou muito. Ter filhos com você era um
sonho, um plano futuro.
— Eu sei, amor. Me perdoa por te magoar dessa maneira. Depois
que o Nico nasceu, entendi os meus sentimentos. Quero ter filhos sim, eu vou
amá-los sim, mas eu não quero ter agora. — Falou baixo e soltou uma risada
irônica. — Se eu puder tê-los.
— O médico disse que podemos tentar por inseminação e que muitas
engravidam com apenas uma das trompas. Temos tempo para tentar quando
estivermos prontos, se é o que você quer. E por favor, não queira apenas
porque vai me fazer feliz e porque é esperado para nós.
— Não é apenas para te fazer feliz, será por nós, pela nossa família e
porque eu quero. — Me deu um beijo gostoso. — Eu te amo muito, Dante.
Esse tempo longe quase me enlouqueceu.
— Te amo muito e me desculpa por ter me afastado, eu não soube
lidar com isso. Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo me deixou à beira
da insanidade. Eu só queria largar tudo, te levar para o mais longe e fingir
que não era um pesadelo.
Mia olhou para o meu rosto, acariciou a minha nuca e me deu um
sorriso amoroso.
— Você é o chefe agora. Isso parece tão certo...
— Certo o suficiente e certamente enlouquecedor. — Esfreguei o
meu nariz no seu pescoço. — Estamos bem quanto a isso?
— Eu te perdoo, você me perdoa, sei que vamos lidar com isso no
dia a dia, mas a gente sempre conversou sobre tudo e espero que possamos
continuar conversando. — Parou um pouco e se moveu em meu colo. — No
entanto, eu gostaria de fazer terapia. Sei que não é algo permitido entre nós,
mas, eu realmente preciso falar com alguém e chegar a um entendimento
sobre os meus sentimentos.
— Vamos ver alguém. Algo mais?
— Hum, eu gostaria de retirar nosso material para congelar. Sei que
não queremos ter filhos agora, mas eu quero ter a oportunidade de ter um dia,
mesmo que seja por uma barriga de aluguel.
— Tudo bem. — Beijei os seus lábios. Ficamos abraçados, matando
a saudade e a vontade de estar junto. Cansada pela viagem e por toda
medicação para dor, capotou em cima de mim. Precisei acordá-la para
colocar a sua roupa de dormir.
Desci para beber água, passei na sala para verificar se as janelas
estavam fechadas porque começou a chover. Na sala de estar tinha um
caderno e alguns estojos. Recolhi para guardar quando a primeira frase me
chamou atenção.
“Dante,
Eu não deveria escrever e sim te dizer tudo que sinto...”
Sentei no sofá sem conseguir parar de ler. Eu sabia que era uma
invasão de privacidade, mas as suas palavras me pegaram. Eram os seus mais
profundos sentimentos nas semanas que passamos afastados. Foi como se ela
tivesse desnudado toda a sua alma como uma mulher que nasceu, cresceu e se
casou em uma família perigosa. Alguém que desde os seus primeiros dias
descobriu quem éramos. Eram cartas que me levaram diretamente para dentro
do seu coração, que de tão puro, amava o meu tão perigoso.
Larguei o caderno onde estava e subi as escadas, correndo para o nosso
quarto, deitei ao seu lado e abracei-a bem apertado.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa? Seu pai está bem? — Acordou
assustada.
— Está tudo bem. Só quero ficar abraçado com você.
— Nunca vou reclamar disso.
Nunca seria um homem bom, não fui criado para isso e o meu trabalho
me impedia de ser. Mia era o meu coração e alma, a minha luz, e depois de
ler o que sentiu, eu entendi a raiz dos seus medos e faria de tudo para que se
curasse, encontrasse a paz que fosse possível em nossa vida tão instável e
perigosa.
43
Mia .
Acordar na minha cama era delicioso, senti falta do meu aconchego e
da minha casa, mas acordar agarrada com o Dante, depois de três meses
distantes, era o bônus mais incrível de todos. Ele estava acordado, mandando
uma mensagem, mas estava sem camisa, de cueca e quentinho. Sua mão fazia
uma carícia suave e gostosa em meu couro cabeludo. De madrugada, depois
da nossa tensa conversa, me acordou e desde então, não me soltou mais.
Beijei a sua barriga, ele escorregou na cama e ficamos abraçados.
Ainda não estava liberada para o sexo, saberia na próxima consulta,
mas o Dante não sabia que eu voltei sem autorização médica. Depois da alta,
ainda voltei para o hospital mais duas vezes.
Uma vez porque os pontos doíam muito e não achei normal, o
segundo passei a noite para drenar um abscesso que surgiu, para a minha
infelicidade. Isso levou a minha recuperação para mais tempo que o normal,
mas eu não podia ficar mais um dia longe de casa e estava cansada de dar
trabalho para Luna. Ela era incrível, nossa ligação e amizade eram únicas,
mas eu precisava cuidar de mim mesma, da minha casa e do meu casamento.
— Não tem que trabalhar hoje?
— Vou para o escritório fazer a contabilidade em alguns minutos, já
verifiquei o andamento da noite e está tudo dentro da rotina.
— Vou preparar o nosso café...
— Daqui a pouco. — Me cortou e me deu um beijo, caramba, eu senti
falta daquele beijo que começou carinhoso e foi crescendo para um cheio de
tesão. Agarrei os seus braços, arranhando, e ganhei um apertão na bunda. —
Porra, Mia.
— Estou com tanta saudade... — Choraminguei me esfregando na sua
ereção.
— Você não faz ideia o quanto te quero. — Se afastou um pouco e
suspirei.
— Falta pouco... A consulta é semana que vem. — Mordi o seu lábio.
— Será que vai ser liberada?
— Não sei, na verdade, eu não sei como vai ser daqui para frente, mas
eu me sinto bem a maior parte do tempo. Ontem fiquei cansada porque viajar
é tão exaustivo, mesmo no maior conforto do avião. — Beijei o seu queixo e
me afastei. — Preciso ficar longe de você, tentação.
Dante sorriu, mas logo ficou sério.
— Li o seu caderno de cartas ontem. Foi difícil não ler... Sinto muito,
Mia. Espero que possa me perdoar por todo medo e insegurança que lhe
causei quando me afastei. Falhei em não saber lidar com os meus sentimentos
e não olhei para o quanto estava ferida. — Segurou o meu rosto e passou o
polegar em meu lábio. — Se ser mãe fosse te causar tamanha infelicidade, eu
sei que não seria fácil, mas eu aceitaria uma vida sem filhos, porque para
mim, é mais importante ter uma vida ao seu lado. Me desculpa por ter ficado
com raiva.
— Errei em não compartilhar os meus medos, em não me abrir e ainda
agir daquela maneira. Reagimos com raiva porque foi estressante, se não
fosse uma gravidez ectópica, eu estaria grávida agora e feliz. Mas estou grata
ao perceber que você me apoiaria em qualquer decisão que tomasse, por mais
difícil que fosse. — Me inclinei e beijei os seus lábios. — Eu te amo muito
mais por isso, Dante.
— Você é tão linda.
Ai meu Deus.
— Que sorte a minha...
— Para de bobeira. Se você não pode me comer, vou te alimentar com
comida de verdade.
Dante fez uma expressão horrorizada.
— Três meses acompanhada das gêmeas pentelhas e você volta assim.
— Provocou.
— Cala a sua boca. — Dei a língua.
— Você mandou que eu calasse a boca?
— Sim, vai fazer o quê? — Arqueei a sobrancelha, saindo da cama.
Ele me puxou bruscamente, pairou em cima de mim me imobilizando, me
deu um beijo todo bruto, lambeu a minha bochecha, algo que me deixava
irritada e o seu olhar maldoso me fez arquejar. — Dante Nicola Biancchi, não
ouse.
— Desafio aceito. — Atacou as minhas costelas, fazendo cosquinhas.
— Filho da... — Cobriu a minha boca com a dele. Comecei a rir.
Idiota. — Chega, Dante.
Rindo, saiu de cima de mim e me ajudou a sair da cama. Estava com
saudades das brincadeiras brutas do meu marido, mesmo que atualmente,
doesse muito mais que antes.
— Voltou muito mal criada, vou ter que te colocar no seu lugar de
esposa. — Deu um tapão na minha bunda. — Agora vai preparar o meu café.
— Vai se ferrar. — Esfreguei a minha bunda.
Ele me abraçou por trás, e andamos assim até a escada. Me pegou no
colo e desceu, colocando no chão no final da escada, descer até que não era
tão ruim, subir sim, e segundo o médico, não podia pegar peso e muito menos
fazer esse movimento de subida e descida. A geladeira estava vazia, Dante
não deve ter comido em casa ou encomendou comida, eu precisava ir ao
mercado com urgência. Não tinha nada na dispensa e muito menos comida
congelada que eu deixei pronta.
— Você comeu direito?
— Na casa da minha mãe e fiz as vitaminas de treino.
— Não tem muito o que comer, nem cereal, encomenda alguma coisa e
vou me vestir para ir ao mercado. — Falei e ele assentiu, mas estava distraído
como seu telefone. — Aconteceu alguma coisa?
— Estou vendo se todos os números batem. — Ergueu o dedo e revirei
os olhos, tomei o telefone da sua mão. — Vou pedir o café. — Pegou o meu
enquanto conferia a contabilidade da noite. — Faturamos bem?
— Faturar sim, lucrar não. Está com algum gasto a mais no estoque de
destilados. Tem que ver os relatórios separadamente para ver qual das casas
está indo além das doses por noite. — Devolvi o seu telefone. — Vou subir
para me arrumar. — Dei-lhe um beijo, mas ele andou atrás de mim e me
pegou no colo no susto. — Dante, você não vai poder me pegar cada vez que
precisar subir e descer.
Ele ignorou e me colocou no quarto. Tomei banho para começar o dia
suave e cheirosa, escovei os dentes, deixei o cabelo preso e a franja de lado.
Arrumei a minha bolsa ouvindo-o falar no quarto. Dante já não parava e não
tinha muito tempo antes, como chefe, ele ficaria muito ocupado. Pelo menos,
ele sempre optava por trabalhar no escritório de casa e ia para o escritório do
centro apenas uma vez no dia.
— Você não me mandou os laudos médicos... — Comentou do quarto.
Merda. — Não que não confie no médico que te atendeu lá, mas eu confio
muito no Dr. Ricci, ele sempre foi profissional com você e queria que desse
uma olhada. A mãe dele é ginecologista/obstetra, pode dar uma olhada nos
seus exames. Ele disse que posso enviar por e-mail.
— Vou separar. — Murmurei. Ele ia me encher o saco até entregar.
Nosso café foi entregue, comemos juntos na cozinha, espalhando as
vasilhas de isopor pelo balcão principal. Comi panquecas, um pouco de ovos
e bebi todo meu café com leite. Dante devorou o restante, fez uma vitamina
proteica de banana, me deu um beijo e foi malhar. Deixei os exames e laudos
na sua mesa do escritório.
Quando saí, Felipe estava pronto para me seguir de moto. Escolhi o
Jeep por causa da mala. Ajeitei o banco, Dante deve ter usado o meu carro,
estava tudo fora do lugar. Juliana usou o Porsche quando esteve aqui, não me
incomodava, mas o Dante tirava todos os meus cheirinhos, a lixeirinha da
Minnie e as balas.
Coloquei uma música alta, dirigindo animada para um grande
mercado, minha sogra me ligou, acabamos rindo ao perceber que estávamos
indo para o mesmo lugar sem combinar.
Fazer compras com a minha sogra foi até mais rápido que
normalmente faria. Enchi três carrinhos, porque não tinha nada, o gênio do
meu marido achava que as coisas brotavam em casa sem que precisasse repor
quando acabavam. Felipe me ajudou a carregar tudo, ele pegou todo peso, me
despedi da Antonella com um abraço. Ela estava com pressa para voltar para
o meu sogro, que segundo a Milena, estava subindo e descendo a escada
desnecessariamente.
Com o carro pesado, dirigi mais devagar, em um sinal, o Dante me
ligou em chamada de vídeo.
— Oi, estou voltando.
— É bom mesmo. — Ele estava irritado. — Você não recebeu alta
para viajar.
— Não é bem assim.
— Está bem claro aqui.
— Em casa conversamos. — Dei de ombros. Já estava aqui, ele
poderia dar o piti que quisesse.
Sem pressa para voltar para casa, dirigi batucando no volante, Felipe
piscou os faróis quando não percebi um sinal aberto. No bairro de casa, as
crianças estavam saindo das escolas e fiquei bem abaixo da velocidade.
Entrei em casa, estacionei de qualquer jeito e o Felipe começou a tirar as
compras do carro. Abaixei para pegar uma sacola, o Dante tomou de mim.
— Pode indo sentar agora. — Brigou e saí, sorri quando ele não estava
vendo. Não queria carregar peso mesmo. Tirei os sapatos e deitei no sofá
favorito da casa. — Porra, Mia. Por que você fez isso?
— Porque eu queria voltar para casa e eu passei a viagem inteira muito
bem. Não estou fazendo esforço exageradamente, estou melhor
emocionalmente, tomando todos os remédios certinho e cuidando da minha
alimentação. Não vou ter outro abscesso, já não sinto dor da cirurgia e eu
precisava reagir para vida ou eu nunca melhoraria. — Coloquei os meus pés
no encosto. — Se dependesse do médico, da Luna e de você, eu ficaria seis
meses na Itália.
— Assim você faz parecer que eu não queria que você voltasse.
— Não sei. — Dei de ombros.
— Sabe sim, estava com saudades de você. E a questão é que você
mentiu sobre a sua saúde, estou puto, não tenta mudar para o meu lado. —
Reclamou e sorri. — Para com esse sorriso!
— Eu estou bem.
— Quem vai dizer é o médico e ele está chegando em alguns minutos.
— Você vai fazer o médico vir aqui? — Arqueei a sobrancelha.
— Desisto de você. — Saiu da sala e ri.
Saí do sofá para guardar as minhas compras, levei quase uma hora com
a tarefa e comecei a fazer bolinhos de banana com chocolate para receber o
médico com um café fresquinho. Estava enfiando a massa no forno quando o
Dante surgiu na esquina da sala de jantar para cozinha, de braços cruzados.
— O que está fazendo?
— Bolinhos para receber o médico. Vai que ele me libera para o sexo?
— Ele não vai olhar partes delicadas, apenas a cicatriz. — Avisou todo
severo.
— E se eu pedir? — Desafiei.
Dante deu a volta no balcão da cozinha e me pegou bruscamente,
colocando no balcão.
— Está querendo me irritar?
— Estou conseguindo? — Sorri e apertei suas bochechas, eu amava as
covinhas que surgiam quando ele sorria. Beijei os seus lábios, brincando com
eles, em seguida, aprofundei o beijo. Suas mãos automaticamente foram para
a minha bunda. — Estava apenas pensando se ele derrubaria esse resguardo.
— Resguardo porque você teve uma inflamação e precisa se cuidar, ou
ele vai durar mais. Se serve de ânimo, estou ansioso que ele termine. — Me
deu uma bitoca. — Nada de bolinhos para o médico. — Avisou e saiu.
— Claro que vai ter bolinhos para o médico. — Falei sozinha, coloquei
uma música e fiquei vigiando a massa crescer. Cupcakes de massa de banana
com chocolate ao leite em cima. Ainda decorei com algumas raspas,
confeitos coloridos e bolinhas de cereal de chocolate. Arrumei em uma
travessa e fiz café. A porta dos fundos foi aberta.
— Eu quero isso. — Stefanio arrematou um e enfiou quase todo na
boca.
— Você não vai mastigar? — Gritei e ele riu, enfiando o restante
enquanto ia até o escritório. Felipe parou. — Você pode pegar, Felipe. —
Sorri e ele pegou com educação. — Por favor, me diz como você consegue
ser um anjo passando o dia inteiro com o Stefanio e o Dante?
— É um dom. — Ele piscou e saiu.
— MIA! TODO MUNDO GANHOU BOLINHO? — Dante gritou. Eu
não ia levar para ele, só por ser implicante.
O Dr. Ricci, como sempre, chegou todo educado e extremamente
profissional. Ele olhou os meus pontos, disse que não parecia inflamado, mas
ele queria repetir o meu exame de sangue e o de imagem. Colheu o sangue
em casa e pediu para ir à noite no hospital que ele estaria de plantão. Só a
mãe dele como ginecologista poderia dizer sobre relações sexuais. Dante me
deu um olhar de aviso, quando ofereci os bolinhos, ele quase se perdeu de
vez. Educado, Dr. Ricci aceitou para levar e saiu com a sua maleta.
— Você está querendo apanhar?
— Se segura, Christian Grey. — Brinquei e dei a ele um bolinho. Ele
ia morder e me devolver, mas dessa vez, ele mordeu e arregalou os olhos.
— Caramba. Isso é bom. — Comeu tudo. Foi a primeira vez que ele
comia um bolinho inteiro. — Esse eu gostei, não é tão doce.
— Não coloquei açúcar porque bananas geralmente são doces e a
cobertura é de chocolate ao leite, mas não tinha muito e coloquei uma barra
de meio amargo. — Expliquei enquanto ele comia mais dois.
— É perfeito. Esses você deve fazer sempre. — Limpou a boca.
— Finalmente. Quase um ano depois, acertei o seu gosto.
— Não existe alguém que me conheça melhor que você. — Piscou e
pegou o telefone. — Tenho que sair, coloque essa bunda no sofá, volto para
te levar no hospital daqui a pouco.
— Sim, senhor. — Bati continência, peguei um bolinho, comi e bebi
uma caneca de café.
Luna e eu ficamos horas em chamada de vídeo, peguei no sono e
acordei assustada, ela desligou e mandou uma mensagem, rindo que eu dormi
de babar enquanto mostrava a coleção nova da loja. Pedi desculpas e estava
me espreguiçando quando o Dante voltou, jogando a chave na mesinha,
fiquei com preguiça de trocar de roupa, escolhendo ir ao médico do jeito que
estava para ficar confortável mais tarde.
— Topa uma noite de cinema com pipoca mais tarde? — Dante
ofereceu enquanto dirigia.
— É tudo que preciso. — Sorri e me inclinei no banco para beijar a sua
bochecha.
Ocorreu tudo bem na ida ao médico, compramos algumas besteiras no
caminho de casa, comida japonesa, refrigerantes e cerveja que esqueci de
comprar no mercado mais cedo. Ficamos juntos a noite inteira, namoramos
como podíamos e aproveitamos o tempo juntos. Parecia quase uma lua de
mel após perdão. Claro que durou apenas alguns dias porque no primeiro
desentendimento, nós falamos algumas coisas dolorosas, ficamos magoados
com o outro um dia inteiro. Ele pediu desculpas e eu me expliquei.
Ficamos bem, meio de bico, mas bem. Quando saiu para trabalhar,
arrumei a cama e tentei não ficar o tempo todo mandando mensagens com
coisas que lembrei de dizer depois da discussão inútil que já nem sabíamos
mais como começou. Peguei no sono, abraçada com o travesseiro dele e
acordei com a claridade do dia no rosto. Normalmente ele abaixava as
cortinas quando chegava, virei e o seu lado estava completamente arrumado e
frio.
Nervosa, peguei o meu telefone e não tinha mensagens. Saí da cama
bem rápido, correndo pelo corredor e quase caí na escada, virei no corredor e
o escritório estava vazio. Peguei um roupão, vesti e ouvi um barulho suave na
cozinha. Devagar, andei pelo corredor e empurrei a porta. Soltei um suspiro
de alívio ao vê-lo ali, mas fiquei preocupada ao perceber a garrafa de uísque
completamente vazia, camisa no chão, sua arma na mão, dedo engatilhado e
ele colocou em cima da mesa quando me viu, relaxando a postura para não
me assustar.
Dante bebia vodca diretamente da garrafa.
— É uma mistura ruim. — Falei baixo.
— Acabou o uísque. — Murmurou depois de um longo gole, que a
garrafa esvaziou pelo menos um dedo. — Peguei a sua vodca.
— É tudo nosso. — Me aproximei e encostei na mesa, mas ele me
puxou para o seu colo, me abraçando apertado. Soltou uma respiração que me
deixou alerta. Foi trêmula como se ele quisesse chorar e não pudesse. —
Dante, o que aconteceu?
— Meu pai morreu.
— O que?
Ele afastou o rosto do meu pescoço e os seus olhos estavam marejados.
— Meu pai passou mal há duas horas e não resistiu, ele nem conseguiu
chegar ao hospital. Ele morreu em meus braços enquanto o Stefanio dirigia.
Tentei reanimá-lo, mas...
— Ah, meu amor. — Abracei-o apertado, chorando. — Sinto muito.
— Sussurrei com a garganta apertada. Meu coração estava quebrado de luto.
Eu amava o Luigi, ele me recebeu em sua casa com amor, me tratando como
sua filha. — Está doendo tanto... — Solucei.
Dante e eu ficamos na cozinha, abraçados, colocando para fora a dor
do luto que não poderíamos deixar transparecer quando todos chegassem para
os procedimentos fúnebres.
44
Mia.
Enterrar o Luigi foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Os
dias seguintes após a sua morte foram horríveis, mal consegui comer ou
dormir, não parei de chorar e foi ainda mais complicado ficar com a
expressão neutra durante o enterro. Perdi a batalha para o choro muitas vezes
durante o velório e fiquei abraçada com a Milena, contendo os meus soluços.
Dante estava sozinho na parte mais alta da cerimônia, sua expressão
não dizia nada, apenas representava o seu poder como o chefe.
A recepção fúnebre foi muito triste. Estar na casa sem ele, lamentando
a sua ausência e vendo tantas pessoas entrando e saindo. Fiquei em uma
posição de destaque, recebendo os cumprimentos e aturando conversas que
não me interessavam. Todos os chefes estavam presentes com suas esposas e
alguns com filhos. A casa estava cheia. Dante recebeu os cumprimentos com
polidez e educação, com algumas pessoas ele foi propositalmente frio e
assustador.
— Dante, querido. Sinto muito. — Uma mulher acompanhada de um
homem realmente alto puxou o meu marido para um abraço. — Você está
bem?
— Estou como devo estar, Sienna. — Dante foi meio rude. — Adam.
— Sinto muito, Dante. — Adam apertou a mão dele.
— Mia, gostaria que conhecesse Adam e Sienna. — Ele apresentou o
casal.
— Lamento finalmente nos conhecermos em uma situação tão ruim. —
Sienna me deu um aperto de mão educado. Ela era muito bonita, baixinha,
com o corpo delicado. Seu marido era um contraste. Grande, alto e do tipo
bem forte. — Sinto muito pela sua perda.
— Obrigada. — Agradeci.
Sienna deu espaço para que a próxima família nos cumprimentasse e
sentou com familiaridade com a Antonella. Fiquei um pouco mordida que a
Renata sequer podia estar presente e a Sienna agia como se fosse parte da
família. Me incomodava e não consegui esconder muito bem. Sebastian
Vaughn com a sua esposa chegaram, junto com a sua assistente, Kourtney.
Logo que eles se afastaram, Aurora entrou com o Vince. Ela estava vindo
como candidata a governadora em Nova Iorque e tinha uma base de
campanha bem sólida.
Devido a proximidade, ninguém precisava me dizer que a campanha
estava sendo financiada pela família.
— Você precisa de um tempo, vem comigo. — Juliana se aproximou e
segurou a minha mão. — Enzo vai ficar aqui com o Dante.
— Eu já volto. — Avisei ao Dante, ele me deu uma piscada e voltou a
ficar sério.
Me escondi no escritório desativado, me joguei na poltrona e tirei os
meus sapatos.
— Deixe-me ver os seus pontos.
— Estou dolorida, acho que é muito tempo em pé e aquelas escadarias
do cemitério. — Ergui a minha blusa. — Estou chateada que essa infecção
não some.
— Baixa imunidade, falta de repouso adequado e uma pitada de
teimosia. Como será que vai cuidar dos pontos se você não sossega?
— Não deu para sossegar muito. — Fiz um beicinho.
Estava na hora da minha medicação, mandei uma mensagem para o
Felipe subir com a minha bolsa e um copo de água. Tinha que voltar e fazer a
social, mas eu queria ficar na cama escondidinha. Meu guarda-costas entrou
com uma bandeja, dizendo que o Dante pediu que comesse um pouco em paz
antes de voltar. Ele sabia que não podia tomar todos os remédios de estômago
vazio.
— Estou feliz que você e o Dante estão bem. — Juliana comentou. —
É importante ficarem juntos agora. Dante perdeu um amigo, um filho e o pai
em um curto espaço de tempo. Ele pode ficar instável emocionalmente,
principalmente que está muito focado em pegar o Romeo pela morte do
Matteo e traição.
— Ele disse que tem um plano. — Comentei esperando a sua reação.
Juliana grunhiu. — É insano?
— Na minha opinião sim, mas ele não perguntou por ela, Dante tem
autonomia para fazer o que bem entender nesse sentido. Acho loucura porque
ele está tirando pessoas perigosas dos seus lugares e isso atrai revolta, mas é
inteligente.
— Ele é inteligente e sei que vai saber dosar os riscos. — Defendi o
meu marido.
— Puxa-saco.
Voltei para sala e segurei o braço do meu marido na hora que ele
precisou dar o seu discurso e liberar para que as pessoas pudessem preencher
o livro fúnebre. Antes da página do Luigi, tinha uma foto do Nicola e
milhares de mensagens e assinaturas. Dante foi o primeiro a assinar, sem
nenhuma mensagem, eu coloquei o meu nome ao lado e embaixo, escrevi:
“melhor pai e sogro do mundo inteiro”. Era uma verdade que eu não estava
disposta a esconder do mundo.
No final da noite, voltei para casa e como Juliana e Enzo estavam
hospedados conosco, decidi preparar um jantar caprichado porque cozinhar
me acalmava. Tomei um banho, vesti uma roupa confortável sem me
importar em estar arrumada, porque só tinha família em casa.
— Deveríamos pedir pizza e você deveria estar na cama. — Juliana
entrou na cozinha falando e eu a encarei. — Ou você cozinha porque me deu
esse olhar assustador.
— Preciso cozinhar porque me ajuda a ficar menos ansiosa. —
Comecei a refogar o molho de tomate. — Massa gratinada com bastante
molho.
Abri um vinho para Juliana, não resisti e bebi uma taça para relaxar.
Minhas pálpebras estavam visivelmente inchadas e os olhos vermelhos de
tanto chorar. Dante ficou o tempo todo trancado no escritório com o Enzo.
O jantar ficou pronto, eles saíram para comer, uma conversa calma e
amigável fluiu durante a refeição e com a sobremesa, eles voltaram. Juliana e
eu ficamos na sala conversando por horas, quando chegou a contabilidade,
Dante pediu que fizesse porque ele estava ocupado com outra coisa.
— Já pensou em assumir essa posição de forma permanente? —
Juliana me questionou.
— Ainda me sinto insegura. Estou começando a administrar a nossa
propriedade, ele me pediu para fazer da casa dos pais dele também, porque a
mãe dele nunca soube fazer tal coisa. Ela não é muito atenta a notas, gastos,
essas coisas... — Dei de ombros. — Espero começar aos pouquinhos, é algo
que gosto e para falar a verdade, antes de viajar, era o que me ocupava.
— Não vejo problema nenhum que trabalhe na área administrativa dos
empreendimentos. Há muita coisa legal a ser feita entre eles, que você pode
controlar, assim como as ilegais. Hoje eu lido totalmente com o vinhedo, sou
a CEO publicamente e acredite em mim, ele é muito lucrativo e dá muito
trabalho, mas conseguimos equilibrar as duas coisas perfeitamente. Eu não
vejo porque você não possa se preparar para assumir algumas boas posições.
— Aconselhou.
— Dante não vê problema que eu trabalhe, na verdade, ele até
incentiva. Ele costuma ficar preocupado que fique ociosa em casa o tempo
todo.
— Se trabalhar, não vai. — Piscou e bebeu toda sua taça de vinho.
Ela me fez companhia até terminar e enviar a contabilidade, decidimos
dormir, não avisei ao Dante, para não atrapalhar. Ao invés de ficar na cama,
peguei a manta e fiquei próximo à janela, olhando o quintal, a lua refletida na
piscina e senti vontade de tomar um chá quentinho para ver se acalmava a
minha ânsia, a sensação ruim que borbulhava no peito, porque mesmo que já
fizesse algumas semanas que o Dante assumiu a posição de liderança, com o
pai dele morto, era apenas ele.
Percebi uma movimentação no quintal, Stefanio falando ao telefone,
me inclinei para olhar melhor. Enzo abriu uma mala, recarregando algumas
armas, era impressionante o quanto ele conseguia fazer bem rápido e com
precisão. Eles estavam se unindo para sair. Desembolei as minhas pernas da
manta para ir atrás do Dante e ele entrou no quarto.
— Pensei que estivesse dormindo. — Colocou as mãos na minha
cintura.
— Sem sono. Não vou conseguir dormir sem você. — Abracei-o.
— Vai sim. — Me deu um beijo doce. — Vou sair e volto de manhã.
— O que vai fazer, amor? Seu pai morreu, fica em casa...
— Não. Eu coloquei um valor na cabeça do Romeo, ofereci dez
milhões só para começar e já o pegaram. Não precisei me esforçar muito.
— Por que não fez isso antes? — Acariciei o seu rosto.
— Não era o chefe e devia respeito ao meu pai, ele disse que não e eu
não fiz. Além do mais, eu não tinha acesso a todos os fundos, só dos
empreendimentos que administrava e não podia colocar os negócios em risco.
— Vale a pena pagar dez milhões para matar o Romeo?
— Para tê-lo morto, eu pagaria o dobro. — Me deu um beijo. — Te
amo, vá dormir. Vou ficar bem, então, não se preocupe.
Era impossível não me preocupar e só de saber que ele estava saindo
para uma reunião possivelmente perigosa, meu coração passou a noite inteira
apertadinho. O dia amanheceu e ele não retornou. Tomei a minha primeira
dose de medicação, troquei de roupa e desci a escada. Juliana estava na sala
de jantar, usando o seu computador e pelo cheiro, fez café. Ela também não
conseguiu dormir muito. Me servi com uma caneca de café bem grande,
coloquei um pouco de leite e açúcar, não era sempre que conseguia beber
café puro.
— Alguma notícia? — Me aproximei da Juliana.
— Eles estão no mesmo lugar desde às 3h. É um lugar da família... —
Ergueu o olhar do computador. — A gaiola. Não sei se você sabe o que é
uma...
— Lugar de tortura. — Murmurei e puxei uma cadeira.
— É, algo como isso. — Deu de ombros. — Quer ir lá?
— Então, eles o pegaram?
— Por dez dolorosos milhões... Enzo falou tudo por alto porque estava
agitado demais para me dar explicações.
— Se o Dante está bem, fico tranquila. Vou ligar para minha sogra, eu
já volto.
Antonella estava dormindo, segundo a Milena, passou a noite acordada
e de manhã, Lisa achou melhor dar a ela um calmante. Me ofereci para ir até
lá ajudar em alguma coisa, mas elas queriam que eu descansasse para
melhorar logo.
— Mia! Seus exames chegaram! — Juliana gritou da porta da frente.
— Estou abrindo porque sou curiosa!
Entrei no escritório do Dante para buscar os primeiros e comparar. Eu
ia ligar para o Dr. Ricci sem esperar o Dante chegar em casa, mesmo que ele
fosse dar uma crise por isso. Aparentemente, a infecção diminuiu de um
exame para o outro, o que era muito bom. A nova medicação me fez sentir
melhor, a dor passou, conseguia subir e descer sem sentir nada. Estava
prontinha para uma noite de sexo alucinante.
Dr. Ricci enviou uma mensagem de volta dizendo que a mãe dele
poderia me atender no próximo horário. Juliana e eu subimos para nos
arrumar, fofoqueira como era, colocou no grupo que iríamos juntas. Luna e
Giovanna começaram a colocar todos os gifs sexuais que podiam.
Dante não negaria sexo, porque ele estava no limite de muitas
maneiras, mas eu duvidava que fosse um retorno romântico. Não que eu
tivesse em clima de romance com a mente tão perturbada com os últimos
acontecimentos.
A consulta me deu respostas positivas, saber que estava
potencialmente recuperada me deixou muito feliz. Toda história da gravidez
ainda pesava no meu coração e me fazia sentir que falhei comigo mesma e
como mulher. Fui encaminhada para um grupo de apoio a mulheres que
tiveram gestações ectópicas, como pretendia começar a terapia de todo jeito,
apenas guardei o folheto. Saímos do consultório e a Juliana quis almoçar
fora.
Felipe estava nos acompanhando, ele encontrou uma churrascaria bem
agradável que estava com uma movimentação tranquila. Ela queria comer
carne.
— Desejo de grávida, minha senhora? — Brinquei ao perceber que
estava quase salivando com o bife. — Será que vem mais um menininho aí?
— Não tenho saúde para ter mais filhos. Enzo e eu até pensamos em
adotar uma criança, assim eu não passaria por uma gravidez e a da Aria foi
bem complicada no final.
— Não se preocupa com quem vai assumir no lugar dele no futuro?
Juliana me deu um sorriso amável.
— Nós já sabemos quem vai ficar no lugar do Enzo no futuro. — Me
deu um sorriso enigmático. — Sua salada de atum está boa?
— Sim e o salmão também. — Empurrei o meu prato.
— Você é quase um peixe.
Juliana foi embora no final da tarde, fiquei em casa, anoiteceu, nada do
Dante e me arrumei para ver a minha sogra. Felipe foi conduzindo o meu
carro, nós conversamos amenidades no caminho, enviei uma mensagem
querendo saber se estava tudo bem e guardei o telefone na bolsa quando
chegamos a residência principal da família Biancchi. Miles e a Sra. Caprese
estavam na cozinha, em silêncio, ambos me deram sorrisos bem tristes.
Lisa estava na sala com a Nicole dormindo em um berço portátil.
Milena apareceu quando ouviu a minha voz. Antonella estava na biblioteca,
sentada no chão, entre milhares de fotografias. Sentei-me ao seu lado com
calma, no começo, ela me mostrou fotos do seu casamento, os primeiros anos
do Nicola e depois, eu fui pegando as fotos por conta própria. Uma foto me
chamou atenção, ela estava distraída com o álbum do nascimento da Milena.
Enfiei a foto em meu bolso discretamente, iria olhar melhor com
calma, prestei atenção no álbum do nascimento da Lisa e eu fiz as contas.
Como a Milena podia ter o mesmo tamanho e corte de cabelo com as fotos
que ela dizia ser da gravidez do Dante? No álbum dele só tinha duas fotos
dela grávida, a maioria era dele bebê, lindo, gordinho, muito bochechudo.
Tinha muitas fotos do Dante com o Nicola. Banho, passeios, trocas de fralda,
dormindo...
— Ele era um irmão muito atencioso.
Antonella sorriu com melancolia.
— A diferença de idade entre eles ajudou muito. Nicola amava as
irmãs de paixão, ele sempre foi um irmão presente, não seria diferente com o
Dante. — Ela pegou o álbum de mim. — Ah, Mia. Eu vivi mais tempo com o
meu marido do que com os meus pais. — Suspirou e lhe abracei. — Vou
sentir falta dele todos os dias a cada mísero segundo.
— Sinto muito. Sou eternamente grata pela maneira que ele me
recebeu nessa família. Ele foi como um pai amoroso para mim, obrigada por
tudo.
— Sempre me preocupei com quem o Dante casaria, mas a partir do
segundo que te conheci, eu soube que era você a mulher para o meu
menininho. Ele sempre vai ser o meu bebê.
— Ele morre por ouvir isso, no fundo, acho que gosta.
Jantar só com as mulheres foi meio melancólico. Voltei para casa bem
tarde, pensei que o Dante estivesse lá, mas não estava. Ele ficou fora de casa
por mais três dias, respondia as minhas mensagens de tempos em tempos,
mas não voltou. Enzo ainda estava com ele. Juliana estava para voltar, ela
tinha uma reunião com a Sienna e ofereci que ficasse na minha casa. Era
grande, eu podia receber quem quisesse.
Para minha felicidade, Luna e Giovanna estavam voltando para os
Estados Unidos, elas precisavam lançar a coleção em dois meses e não dava
mais para ficar na Itália em home office, assim que tudo acalmasse, viajaria
para ver a minha família.
Juliana entrou na minha casa com a sua cópia da chave. Ela estava com
uma aparência exausta.
— Preciso dormir.
— Está tudo bem?
— Estamos sendo investigados... — Suspirou e se jogou no sofá. —
Isso não é incomum, de tempos em tempos acontece, mas sempre é exaustivo
ter a certeza de que nada está fora do lugar.
— Por que parece muito preocupada?
— Jackson Bernard foi intimado para depor. Nós rompemos com ele
há alguns anos e desde então, ele prestou alguns serviços, mas está totalmente
fora. Ele vive com a família em uma fazenda, é avô, então, ele está
preocupado. Sinceramente? Eu não me importo nenhum pouco com ele, mas
se ele for preso, a casa cai para todo mundo. — Juliana me olhou. — Eu digo
todo mundo, literalmente, todos os associados, sócios, amigos, chefes,
agentes, tudo.
Meu coração gelou.
— E agora?
— Agora? Não depende exatamente de mim.
— Normalmente vocês eliminam as testemunhas antes dos
depoimentos, por que não fazer isso com ele? — Questionei realmente
curiosa, não conhecia o Jackson, mas sabia como a família trabalhava.
— Jackson é complicado. — Foi tudo que ela ofereceu.
— Vai dormir, eu vou pedir pizza. — Ofereci e ela me deu um olhar.
— Vai ter um bicho morto, prometo. Estou até com vontade de comer um
bacon.
— Vai chover. — Murmurou e saiu do meu sofá.
Deixei que dormisse por algumas horas, pedi três pizzas de variados
sabores para nós duas. Enquanto ela não descia, voltei para a minha missão
de tentar recuperar a foto que encontrei nas coisas da minha sogra. Era uma
foto velha ou estava muito puída, baixei um programa de edição e alguns
tutoriais para ver melhor. Reconheci dois das quatro pessoas ali.
Nicola e o Enzo estavam sentados em uma grama, ambos sem
camisa, jovens, de bermuda de praia, porque eram curtas e diferentes,
pareciam à vontade, junto com eles estavam duas mulheres. Uma delas eu
tinha certeza de que conhecia.
— Quem é essa piranha pendurada no meu marido? — Juliana me
assustou, quase deixei cair o computador. — O que você está fazendo?
— Recuperando uma foto que encontrei... Nada demais. — Fechei a
tampa do meu notebook. — A pizza deve estar chegando a qualquer
momento, vou pegar vinho e os petiscos que fiz.
— Volta aqui, mocinha. — Juliana me puxou pela calça. — O que está
fazendo e por que não quer me contar?
— Não é nada demais, estou apenas sendo curiosa.
— Curiosa com quê?
— Com o Nicola. Eu vi essa foto e pensei em recuperar...
Juliana cruzou os braços.
— Cuidado com que vai tropeçar, às vezes, algumas coisas precisam
ficar no passado. — Avisou severamente. — Só toma cuidado, ok?
— O que você sabe que eu não sei?
— Se o segredo fosse meu, eu te contaria, mas parece que o seu
narizinho curioso está seguindo o caminho certo.
Balancei a cabeça meio pensativa e fui até a cozinha, peguei o vinho e
o pratinho com alguns frios que preparei só para esperar a pizza chegar.
Quando voltei para sala, Juliana estava em uma chamada de vídeo com as
meninas, que falavam ao mesmo tempo, fazendo queixa, brigando entre si e
eu sorri. Só ela conseguiria lidar com tantas coisas ao mesmo tempo.
Conversei com as meninas por um tempo e encerramos a chamada.
— Você e o Dante decidiram se vão tentar outro bebê?
— Decidimos voltar ao planejamento inicial de não ter bebês tão cedo.
Não estamos prontos, mesmo com o que aconteceu, ainda não é o momento.
Ele acabou de se tornar o chefe e eu nem sei o que fazer da minha vida para
ser mãe. Foi um momento de aprendizado, me fez enxergar o quanto eu
preciso de ajuda e o quanto eu tenho um marido maravilhoso.
— Um brinde a isso.
Dante e eu ainda tínhamos muito que aprender, viver muitos momentos
lindos antes de sermos uma família, era assim que funcionava para nós dois e
pela primeira vez na minha vida, não estava insegura. Ele me amava, eu o
amava e o nosso casamento foi a melhor decisão das nossas vidas, mesmo tão
jovens. A nossa juventude era a maior vantagem. Juntos, ficamos mais
fortes.
45
Dante.
Dei mais um soco ao lembrar que o meu pai estava morto, dei um
chute pensando no Matteo e quebrei a sua clavícula ao pensar no quanto a
Mia estava sofrendo física e emocionalmente com uma gravidez não
planejada e ainda por isso, ectópica. Romeo estava em minha frente, com
sangue escorrendo pelo corpo, o problema de bater nele era que me
machucava também, mas eu não estava me importando. Três dias e ele era
todo meu. Finalmente frente a frente.
Ofereci dez milhões pela sua cabeça. Era justo? Não. Mas quem se
importava? Estava planejando fazer isso há tempos, meu pai foi contra, ele
estava puto que eu estava fora do seu comando em sua maior parte, vetei
todas as suas escolhas de conselheiro e enquanto a Mia esteve fora, gastei o
meu tempo e dinheiro caçando o Romeo. Eu tinha mais o que fazer do que
procurá-lo, meu pai queria uma caçada honrosa, foda-se a honra, eu queria
matá-lo.
Honra era para quem merecia, poder era para ratos como o Romeo.
Com a morte do Igor, ele enfraqueceu, sem recursos vindo das vendas de
drogas dos russos, precisou se esconder e se associar a pessoas que ficavam
do lado do dinheiro e não tinham um pingo de lealdade correndo nas veias. A
primeira coisa que eu fiz quando me tornei chefe foi colocar um preço na
cabeça dele. Ainda iria oferecer mais se demorasse muito... Até que não.
Dez milhões mais bem gastos que estariam de volta em breve. Romeo
foi entregue na mala de um carro fodido, vivo, sem um arranhão, meio
drogado, mas estava do jeito que eu queria. Três dias depois, não havia mais
nada dele para tirar. Eu arranquei o ódio, orgulho, o medo e a dor. Eu o
deixei com um olhar vazio e sem arrogância.
Romeo nunca gostou de mim e a recíproca era verdadeira, muitos não
gostavam de mim, mas honravam a ordem da família. Nem tudo era sobre
amizade, mas sim sobre a honra de fazer parte, sobre o sangue que corria em
nas nossas veias e sobre lealdade. O verme na minha frente não sabia nada
sobre isso e morreria sem saber. Sua cabeça tombou para trás, ele estava
morrendo lentamente, eu não ia acabar com a sua agonia, cada vez que
pensava em atirar na sua cabeça, lembrava do olhar do Matteo perdendo a
vida, minhas mãos que não foram capazes de parar a hemorragia e o quanto
ele morreu sentindo-se traído.
— Rose Bracci.
Era a décima vez que ele falava o nome dessa mulher durante o delírio.
Não conhecia nenhuma mulher com esse nome na sua família, mas iria
investigar. Se ele queria que perguntasse, estava enganado. Tudo que queria
dele, era a sua morte. Atrás de mim, os homens estavam assistindo. Romeo
realmente estava servindo de exemplo, porque eu estava mostrando a todos
eles o quanto eu nunca iria parar quando descobrisse uma traição. Eles
aprenderam que eu estava sedento.
Romeo morreu ainda com algumas gotas de sangue pingando no chão.
Dr. Ricci verificou e sinalizou que estava morto. Virei para os homens que
me observavam.
— Matem todos e peguem o meu dinheiro de volta. — Ordenei.
Olhei para o homem morto e para os homens. O recado estava
explícito. Era a prova de fogo. Ou eles saíam e matavam todos que se
associaram aos russos, ao Romeo e de alguma maneira, financiou um dos
dois, ou eles morreriam. No meu comando, não tinha acordo de paz. Não
assim. Muitos se levantaram quando lancei a oferta de dinheiro, os acessos no
meu leilão me fizeram ter a localização de cada grupo, gangue, motoqueiros,
assassinos de aluguel e quem mais se interessou.
Ninguém iria ficar no meu território. Se era meu, podia fazer o que
bem entendesse. A era da política cheia de diplomacia estava terminada com
a morte do meu pai.
— Tirem-no daqui. — Enzo ordenou e dois levaram o corpo. — Foram
três dias intensos, vamos para casa. Você está no limite,
— Não estou bem para ficar perto da Mia. Estou com raiva.
— Então, vamos sair daqui.
Nós saímos do pequeno teatro velho que a família comprou há anos
para usar como depósito, passamos no escritório, tomei banho, troquei de
roupa, Stefanio pediu comida e agarrei uma garrafa de uísque para relaxar um
pouco. Depois de beber e me acalmar, eu estava louco para voltar para casa.
Pronto para voltar para minha mulher.
— Quero Stefanio como meu conselheiro. — Avisei ao Enzo.
Ele sorriu. Bebeu e continuou rindo.
— Você quer um soldado sem família para ser o seu conselheiro? O
mesmo homem que está relacionado a uma mulher russa?
— Sim. Ele é leal, apoia as minhas merdas e desaprova algumas. Ele é
bom.
— Ele é. Seus homens vão aceitar um conselheiro que pretende ter um
relacionamento que não envolve as nossas tradições com a filha de uma
inimiga?
— Esse é o ponto. Você entendeu tudo, é por isso que é o chefe.
— Já te pedi para não me dar cabelos brancos, se é o Stefanio que você
quer, terá. Eu não vou interferir porque confio que sempre vai manter os
olhos abertos, ouvidos atentos e braços sempre ágeis para reagir. Você está
comandando este lugar em meu nome, honre isso e sempre terá o que quiser.
— Sempre honrarei. — Prometi com a minha alma.
Stefanio voltou para sala com algumas atualizações, apontei para
cadeira com a minha arma em mão. Ele sentou e cruzou as pernas, me
encarando. Sinalizei para erguer a mão onde a tatuagem tradicional da família
estava bem pintada. Ele entendeu e não precisei dizer mais nada, começou o
seu juramento. Mesmo que ele amasse a Lara, ele amava a família e faria de
tudo para unir as duas coisas. Em algum momento, ambos precisariam fazer
uma escolha e para o bem deles, era melhor que escolhessem a família.
— Está na hora de trazer a Lara para casa. — Avisei a ele.
Stefanio sabia que a sua verdadeira prova de fogo e lealdade a família
tinha acabado de começar.
Enzo e eu voltamos para casa. Era manhã. Mia estava na cozinha,
ouvindo música e conversando com a Juliana. Elas estavam rindo de alguma
coisa, só de ouvir a risada bonita da minha mulher, senti paz. Andei
diretamente a ela, segurei a sua cintura e puxei para um abraço. Ela me
apertou com prazer e carinho, balançamos de um lado ao outro, sem falar
nada, me afastei, olhei em seu rosto ainda com marcas de sono, seus olhos
lindos, verdes, brilhantes, apaixonantes, me inclinei, beijando os seus lábios.
— Senti sua falta, Sr. Ego.
— Eu também senti a sua falta, Sra. Gostosa.
— Acabou?
— Não, amor. Só começamos. — Beijei seus lábios mais uma vez.
— Tudo bem, estou aqui.
Juliana se preparou para uma reunião importante com a Sienna e
algumas pessoas que poderiam intervir na investigação politicamente. Enzo
estava usando toda sua influência nisso, mas, eu peguei o caderno do meu pai
e me tranquei no escritório. Era o momento de lembrar como o dinheiro
funcionava nessa cidade. Eu vi o meu irmão fazendo aquilo tantas vezes que
foi bem fácil.
— Jackson ainda vai precisar depor. — Enzo confirmou quando voltei
para sala. — Será apenas porque já foi anunciado publicamente. Sienna está
repassando a história dele, o idiota não vai escorregar, ele sabe o que vai
acontecer.
— Estão vigiando a família?
Enzo me deu um sorriso torto.
— Eu não sou o único. — Deu de ombros.
Mia ficou meio desconfortável com o assunto, mas não falou nada,
focada no seu computador. Juliana desceu pronta, usando preto, cabelos
presos, estava elegante. Soltei um assobio e ganhei um tapa na cabeça do
Enzo. Ele nunca ia parar de se irritar, eu nunca iria parar de provocar.
— Sabe a história do carma? — Juliana cruzou os braços e olhou para
o Enzo. — Ele vem com crueldade. Bem feito.
Mia riu, ela não ligava porque sabia que era brincadeira. Enzo fingiu
que ninguém estava falando nada, mas saiu atrás da mulher quando ela se
despediu. Voltei a atenção para minha esposa, tão concentrada que estava
mordendo o lábio.
— O que está fazendo?
— Nada demais. — Mudou a tela do computador.
— Me mostra. — Estava curioso.
— Achei uma foto velha na casa da sua mãe e estou recuperando.
Fiquei curiosa porque é do seu irmão com o Enzo. Eles estão com duas
garotas. — Apontou e me inclinei. Conhecia muito bem aquela foto. Foi
tirada da carteira do Nicola quando ele morreu. — O rosto da mulher com o
Nicola é familiar.
A desconfiança estava crescendo no fundo da minha mente.
— Pergunte ao Enzo. Ele deve saber, com toda certeza, ele sabe de
tudo...
— Não vou perguntar.
— Eu pergunto. — Sorri e o Enzo voltou para sala. — Quem são? —
Mostrei a foto. Enzo avaliou e eu percebi que seu olhar parou na garota que
estava com o meu irmão.
— Foi um verão que passamos na Itália...
— Por que meu irmão guardava essa foto na carteira? — Cruzei os
meus braços.
— Onde encontrou essa foto?
— Mia pegou na casa dos meus pais, ela ficou curiosa sobre as
mulheres e quis recuperar a foto porque acha que conhece a mulher de algum
lugar.
— Por que você acha isso? — Enzo perguntou a Mia.
— Acho que ela é Rose Bracci. — Mia respondeu e o nome me fez
virar. — Eu limpei o livro fúnebre de família na morte do Matteo. —
Explicou nervosa, achando que fez algo errado. — Ela estava em algumas
fotos em mensagens coladas nas páginas.
— Romeo murmurou esse nome muitas vezes nas últimas horas de
vida. — Voltei a olhar para o Enzo. — O que essa mulher tem a ver com o
meu irmão?
Enzo puxou a cadeira e cruzou as pernas, sinalizou para que me
sentasse também. Voltei para o meu lugar, Mia puxou o computador.
— Nicola estava prometido a Renata desde muito novo, ele nunca quis
o casamento, eles não tinham muito em comum e a Renata era o tipo de
garota mimada que queria as coisas do jeito dela o tempo todo. Ele passou a
viver e fingir que não estava prometido... Vivendo a vida normalmente.
Saindo, ficando com mulheres, conhecendo o mundo... — Enzo começou a
falar sem desviar o olhar do meu. — Éramos jovens, mas tínhamos dinheiro,
todos sabiam que era impossível nos parar. Meu pai ainda era o chefe, então,
eu só era o moleque descoordenado, raivoso, com muito poder. Com Nicola
não era diferente. Em um verão, nós decidimos aloprar pela Europa, bebemos
muito e fizemos muita merda. Alugamos um iate, uma garota teve uma
overdose, nós não sabíamos quem era e muito menos como entrou na festa.
Bateu aquela culpa, o peso de uma garota inocente no meio que ela não
deveria estar, nós pedimos desculpas aos pais, o que fez com que o meu pai
surtasse completamente e nos mandasse para Itália para ficar fora da mídia
por um tempo.
— Quem era a garota?
— Não sei. Nós nunca descobrimos, ela era uma penetra que usou o
que não estava acostumada e acabou morrendo. Uma situação realmente
delicada. — Comentou e parecia que ainda era delicado para eles. — Nicola
foi o que mais sentiu culpa, porque uma coisa é fazer uma festa com pessoas
que sabem o que somos, que usam o que vendemos, outra coisa é jogar uma
menina inocente no meio. Ela deveria ser o tipo deslumbrada em estar em
uma festa que dois homens ricos estavam oferecendo. Fomos para Itália, para
casa dos Biancchi, ficamos sozinhos com os funcionários enquanto meu pai
não mandasse voltar. Foi aí que nós conhecemos essas meninas da foto.
Enzo virou um pouco o computador.
— Ana e Rose Bracci. Ana é a que está comigo, ela morreu há dois
anos. Soube que teve câncer e deixou um filho pequeno, a outra, é Rose
Bracci. Diferente da Ana e eu, que não passou de alguns beijos e mãos bobas,
porque ela era uma menina da família e não poderia casar impura e eu não ia
me casar por causa disso, Rose e o Nicola aproveitaram muito.
— Nicola era apaixonado por ela?
— Não sei. Talvez tivesse um sentimento, é difícil dizer. Eles estavam
juntos, mas o Nicola estava prometido a Renata, que assim que soube que ele
estava fixo com outra garota, deu uma crise histérica e quebrou a casa inteira.
Os pais dela, que faziam tudo que ela queria, pressionaram o meu pai e ele,
para abafar o que aconteceu durante a nossa viagem, marcou a data do
casamento. Nicola tentou cancelar, mas, o filho da puta do meu pai não
voltava atrás em nada. Nicola não queria se casar, aí mesmo que ele obrigou
dizendo que um homem da família não pode quebrar um acordo de honra. —
Enzo explicou. Renata sempre foi histérica, mas eu pensava que era culpa do
meu irmão que não lhe dava atenção. Saber que ela era assim desde nova
explicava algumas coisas. — Com a data do casamento marcado, Nicola
voltou para casa, eu continuei vadiando por aí, fazendo serviços para família.
Ana me procurou semanas mais tarde para contar que a Rose estava grávida,
que os pais queriam expulsá-la de casa e que não sabia como contatar ao
Nicola.
— Foda-se, cara.
— Era uma ruína para família Bracci. A filha mais velha grávida de
um homem prometido a outra mulher. Eles estavam furiosos que o Nicola
rompeu a virgindade da garota, envergonhados, foi uma confusão. Renata
soube e deu uma crise, ela quebrou milhares de coisas na casa, no seu irmão,
disse que jamais aceitaria o filho bastardo. — Enzo parou um pouco. —
Nicola disse que ia assumir o filho e cuidar da Rose, mas, não foi aceito. Os
pais da Renata pressionando, os Bracci pressionando, uma guerra começou
entre as famílias, um novo racha estava quase nascendo quando Antonella
disse que assumiria o bebê. Ela foi para Itália e ficou com a Rose. Nicola e a
Renata se casaram em uma cerimônia pequena. Renata estava feliz achando
que nunca precisaria ver o bebê, três meses depois, a criança nasceu. Você
nasceu.
Senti como se a casa tivesse caído na minha cabeça.
Me inclinei para frente, meio sem ar.
— Eu sou a criança. Sou filho do Nicola. — Balbuciei e olhei para
Mia, que parecia congelada com a boca aberta.
— Nicola jamais deixaria um filho de lado. Nos primeiros meses, você
ainda ficou com a sua mãe, mas os seus avós maternos não aceitavam que a
Rose perdeu a chance de um bom casamento. Antonella e o Nicola te levaram
para casa, eles assumiram para todos que não sabiam da história que você era
filho, no caso, dos seus avós. Todo mundo aceitou que ela escolheu uma
gravidez tranquila com a família na Itália porque já tinha quarenta anos, era
um risco. — Enzo se inclinou para frente. — Você ficava com o Nicola todos
os finais de semana e ele ia te ver todos os dias. Renata odiava isso e com o
tempo, Antonella ficou com medo de que as atitudes impensadas da Renata
pudessem te machucar, já que era um bebê. Nicola escolheu se mudar para
mansão, assim ele não perderia nada da sua vida e estaria com você o tempo
todo. Quando você chamou o Luigi de papai pela primeira vez, ele sofreu.
— Era por isso que os meus pais me chamavam de herdeiro o tempo
todo. Eu sempre fui o herdeiro.
— Eis o motivo pelo qual Nicola não se esforçou para ter filhos com a
Renata. Quando eles descobriram que não podiam ter, ou precisariam fazer
um tratamento, ele não foi a frente. Isso deixou a Renata furiosa. A família
dela calou a boca, você lembra bem como o Nicola era e os Bracci aceitaram
um cala boca em troca do Romeo se tornar conselheiro do Luigi. —
Explicou. Olhei para as minhas mãos que tremiam. — Nicola não teve filhos
para que você assumisse quando ele morresse, cedo ou tarde.
Caramba. Era muita coisa para assimilar.
— Eu te batizei. — Ele continuou falando. — Você não tem o meu
segundo nome porque já era difícil para o Nicola não te assumir como filho,
ele não queria que você perdesse qualquer coisa por ser fora do casamento.
Quando o acordo de casamento da Luna aconteceu, eu sugeri a Mia ao Luigi,
porque ela é a ponta da corrente do lado de lá e você, a minha ponta da
corrente. — Ele inclinou a cabeça para o lado. — Quis ter filhos com a
Juliana por ter filhos, para ter uma família, você pode perguntar a ela, nunca
nos importamos com a pressão de produzir um menino. Acabou que o destino
decidiu que eu teria filhas... e estava tudo bem para mim, porque você é o
meu afilhado mais velho. Cedo ou tarde, a verdade iria aparecer.
— É por isso que você ia me iniciar?
— Pais ou padrinhos fazem isso... Luigi, convenhamos, te mimou
demais. Nicola foi severo com você, mas era por amor. Dias antes da sua
mudança para Nova Iorque, Nicola decidiu te iniciar. Ele era seu irmão mais
velho, acabou que ninguém reclamou.
— Ele era meu pai. — Inacreditável. Ele era o meu pai.
— Muitas decisões da sua vida foram tomadas por ele como pai. Ele
era louco por você, eu só entendi o que ele sentia quando tive filhos.
— Espera. — Mia interrompeu. — Você já planejava o nosso
casamento antes de tudo?
— Apesar do seu pai ser uma peça inconveniente, você estava
diretamente ligada ao Enrico, o que é a mesma coisa de estar ligada com o
Damon. Eu não podia permitir que se casasse com qualquer um. Dante é o
meu afilhado, você é como irmã para Luna. Fechei o nosso círculo. — Deu
de ombros. — Não fica chateada. Juliana já estourou os meus ouvidos com
isso.
— Por que nunca me contou antes? — A acusação explodiu. Porra.
— Eu não poderia te contar enquanto o seu pai estava vivo e para ser
honesto, eu não sabia como chegar e dizer que tudo que você conheceu como
vida era uma mentira. Você foi provado, duramente testado, precisou de mais
do que qualquer outro, não era porque todos te viam como um filhinho
mimado. — Enzo pegou o meu braço. — Você ganhou essa tatuagem por
provar ter o sangue do Nicola Biancchi correndo forte em suas veias. Nino
vai herdar a posição do Damon, Rafael vai herdar a do Frank, Enrico Jr a do
pai. Me chame de louco o quanto quiser, eu precisava de alguém para o meu
lugar. Alessio pulou fora, Emerson é confuso, então, por que não o meu
afilhado?
Minha cabeça estava doendo muito, precisava de um tempo, saí da sala
e passei para os fundos. Eu nunca me permiti chorar a morte do Nicola, ele
disse que eu não podia chorar em público, que nunca deveria permitir que
qualquer pessoa visse os meus sentimentos, perdê-lo foi uma dor que eu não
podia extravasar. Saber que ele era o meu pai e não somente o meu irmão
mais velho, trouxe a dor de volta.
Ouvi passos suaves se aproximando, Mia sentou em meu colo e me
abraçou. Ela não precisava falar nada, apenas ficar comigo.
— Enzo ficou preocupado com você.
— Vou ficar bem, só preciso assimilar tudo e talvez, conversar com a
minha mãe... avó. Porra. Eu tenho uma mãe que nunca pôde ficar comigo por
causa dessa família fodida que temos. — Suspirei e ela segurou o meu rosto.
— Lembra da mulher da feira? A que ficou muito assustada e chorou
quando te viu? — Acariciou o meu rosto, seu carinho era para me acalmar.
— É ela?
— Enzo acha que sim, pela descrição, parece com as fotos, é por isso
que eu não consegui esquecer. O que vai fazer agora?
— Não sei. Talvez nada. Talvez deva apenas seguir em frente e me
preparar para o futuro. Ou só de um tempo.
— Não importa o que for acontecer, eu e você sempre estaremos
juntos. Sempre vou te apoiar. Eu sinto muito por tudo, não sei o que dizer
além de “puta merda, que história louca!” , mas estou aqui. — Soltei uma
risada com a maneira que falou. — Sendo o chefe ou apenas o subchefe, você
e eu juntinhos.
— Quase como um só? — Balancei as sobrancelhas.
— Em falar em quase como um só, estamos liberados para uma dança
na horizontal, vertical, de quatro, de lado e do jeito que estou, até de cabeça
para baixo. — Fez uma dancinha em meu colo, e ri bem alto. — Eu amo a
sua risada.
— Eu amo você.
Saber que havia um parentesco com o Matteo fazia todo sentido a
nossa proximidade, ao mesmo tempo, isso significava que também tinha algo
com o Romeo. Infelizmente, famílias não eram perfeitas. Ser filho do Nicola,
neto do Luigi, bisneto do Dante... Eu era um Biancchi e sempre sentiria
orgulho da minha linhagem.
46
Mia.
Ao me despedir da Juliana no dia seguinte, ela deu um aperto em meu
nariz, fazendo menção a minha curiosidade que levou à verdade. Só depois
que eles decolaram que eu percebi que as aparições frequentes, a
aproximação, confiança e cuidado com as meninas eram tudo parte do plano.
Enzo estava preparando o Dante desde que o Nicola morreu e não foi nada
sutil. Luigi não poderia dizer nada contra, ele só engoliu que o caçula, no
caso o seu neto, tinha algo maior.
Dante segurou a minha mão enquanto voltávamos para o carro. Ele
raramente andava de mãos dadas, sempre ao lado, bem perto, com a mão na
base das costas, mas nunca de mãos dadas. Entrelaçou os nossos dedos e após
sair do aeroporto com o carro, perguntou se eu queria passear. Aceitei e
imediatamente entrei na agenda cultural da cidade, encontrei uma feira de
produtos orgânicos que estava louca para ir e tinha várias barraquinhas de
comida.
Estacionou próximo a entrada, me deu um sorriso e uma piscadinha,
saiu do carro e peguei a minha bolsa no chão, abrindo a porta do carro, mas
ele já estava do meu lado. De mãos dadas mais uma vez, sem seguranças,
andamos entre as barracas, comprei legumes e verduras frescas, frutas, ele
estava carregando tudo e rapidamente foi até o carro guardar, enquanto eu
pedia o nosso almoço em uma barraca de churrasco brasileiro. Eles serviam
muita comida. Dante carregou a bandeja até as mesas de cimento do parque.
Era raro podermos sair como pessoas normais. Ele estava armado, mas
não parecia. Usando um conjunto de camiseta branca, camisa xadrez azul
escura, com as mangas puxadas até os cotovelos. Adorava o jeans que ele
estava usando, porque marcava bem a sua forma torneada e o deixava bem
gostoso. Eu vi a mulherada olhando-o conforme andamos pelo parque após o
almoço que estava me fazendo sentir a beira da explosão.
— Tem espaço para um sorvete? — Me perguntou ao chegar pertinho
de uma barraquinha. — Lembro quando era pequeno, eu não podia ouvir a
música do caminhão do sorvete. Nicola me colocava em seus ombros e me
levava até ele. Era algo nosso. — Soltou uma pequena risada. — Deve ter
sido muito difícil para ele, como pai, não poder me criar como pai e para
Rose, que precisou renunciar ao filho para não ficar à margem da nossa vida.
Que caralho injusto.
— Seus avós tentaram consertar, mas a verdade, é que se as tradições
da família não fossem tão injustas, ela não seria tão julgada. Nicola estava
errado em trair a Renata, mesmo que ele não quisesse o relacionamento e
fosse uma promessa. Tudo ficou errado muito rápido. — Refleti. Ele me
abraçou por trás enquanto ficávamos na fila. — Não foi justo com a Rose.
Ela nem pôde te ver crescer para que você não ficasse com o estigma de
bastardo. Era por isso que o Romeo te odiava tanto. Você era um filho fora
do casamento, ele era um, que recebia o tratamento de ser o filho da outra.
— Não justifica nada do que ele fez.
— Não estou dizendo isso, apenas encontrando a raiz dos seus
problemas. — Beijei o seu braço.
Pedi sorvete de morango e milagrosamente, ele pediu de chocolate.
Andamos de volta para o nosso carro. Era o meu Jeep. Dante parecia não
estar com pressa, andou com calma e fomos para casa. Lavei tudo que
compramos, arrumei a fruteira com as bananas lindas, maçãs, comi uns
morangos enquanto ele estava no escritório. Stefanio entrou pelos fundos
pronto para sair e buscar a Lara. Eu estava tão ansiosa.
— Posso comprar umas coisas para recebê-la? — Pedi, não querendo
ser intrusa. — Para que ela se sinta bem-vinda.
— Ainda não sei se a Lara vai querer morar comigo. — Ele parecia
nervoso.
— Eu vou preparar as coisas mesmo assim. Vai ficar tudo bem.
Stefanio entrou no escritório, dei privacidade, mesmo louca para ouvir.
Luna me enviou uns vinte vídeos das crianças, como boa tia que era, fiquei
babando e procurando coisas na internet para mimá-los ainda mais. No meio
das compras, acabei encomendando algumas coisas para minha casa,
matando o tempo. Procurei uma psicóloga, olhei as referências, agendei ainda
meio insegura, mas eu precisava passar por isso, mesmo que fosse pela
experiência.
— Oi, linda. — Dante entrou no quarto, tirou a camisa, calça e sentou
ao meu lado, segurando uma caixa. Fechei o meu notebook e apoiei na
mesinha ao lado. — Pedi que a minha mãe separasse algumas fotos minhas
com o Nicola. Eu vou contar a ela que sei a verdade, mas acho melhor fazer
pessoalmente.
— É melhor mesmo. Que fotos tem aí?
— Pedi umas fotos do meu avô, quer dizer, bisavô, fotos com o Luigi e
o Nicola. É bizarro porque eu não sei como chamá-los.
— Você pode chamar do que quiser, se vai te fazer bem chamar o
Nicola de pai, tenho certeza que onde ele estiver, ele vai amar ouvir. Vamos
ver as fotos.
Dante recebeu o nome do pai do Luigi, que se chamava Dante Nicola,
exatamente como ele, que ganhou o segundo nome do pai, que também era
uma homenagem ao avô. Com um novo olhar, era possível ver o quanto o
Dante era parecido com o Nicola e o quanto era uma relação paternal velada.
Peguei uma foto linda que ele deveria ter uns quatro anos, estava no colo do
Nicola, os dois riam muito e coloquei em um porta retrato na mesinha que
ficava no corredor.
— Estou curiosa sobre algo. Como era a sua relação com a Renata? —
Voltei para o quarto.
Ele estava relaxado na cama.
— Renata sempre foi meio intolerante. Quando era pequeno, era toda
seca e má quando não tinha ninguém por perto, boazinha na frente do Nicola
ou de outras pessoas. — Deu de ombros. — Agora faz todo sentido. Ela
passou a me respeitar quando fui iniciado.
Renata sabia que um garoto quando iniciado não tinha controle, se ela
cometesse deslize, ele poderia machucá-la para revidar.
Fechei a porta do quarto e as cortinas, peguei as fotos e tirei da
cama. Meu marido estava deitado, de cueca, com as mãos atrás da cabeça e
aquela visão fazia o meu dia. Tirei o meu vestido, joguei no chão, soltei o
meu sutiã e ainda de calcinha, engatinhei na cama e parei em cima dele.
Dante me deu um olhar divertido, abrindo um sorrisinho gostoso e bem
safado.
— É agora que faremos aquela dança da horizontal até de cabeça
para baixo? — Balançou as sobrancelhas, me agarrando pela cintura e nos
virou na cama. — Até ter certeza que está tudo bem, temos que ir devagar.
Não quero te machucar, fiquei com medo de te perder e foi uma cirurgia que
trouxe muitas complicações. Aos poucos, voltamos para a nossa rotina de
foder como coelhos.
— Está tudo bem, tudo que quero é fazer amor com você.
— Quero fazer amor com você todos os dias, até ficar velho, sem
dentes, usando dentadura, precisando de bengala e de algumas pílulas azuis
para manter o ritmo. — Ele simulou movimentos de penetração me fazendo
rir. — Te amo muito, Mia.
— Eu sei, bobo. — Beijei-o. — Te amo do tamanho do universo.
Mais tarde, após o jantar, ele estava lavando a louça enquanto eu
terminava de comer a minha sobremesa. Ele secou as mãos e virou,
apoiando-se no balcão. Peguei a garrafa de vinho e servi mais em sua taça.
Ele se aproximou um pouco, me dando um beijo suave.
— Quero conhecer a Rose. — Comentou. Observei bem a sua
expressão. Ele estava cauteloso porque não queria ser julgado.
— Você pode fazer o que quiser. — Acariciei o seu rosto, ele beijou
a minha palma. — Você pode ter uma relação com ela. Hoje, você é o chefe,
então, se você quiser falar com ela, conhecer, criar um laço, nada pode te
impedir. Se ela não quiser, paciência, vamos respeitar e seguir em frente.
— Obrigado.
— Pelo quê? — Fiquei confusa.
— Por me apoiar, ficar ao meu lado e por me amar mesmo quando
eu não mereço. — Me abraçou apertado. — Ter você como minha mulher é a
melhor parte da minha vida.
— Dizer sim, foi a melhor decisão da minha vida. Se naquela noite
do nosso jantar de ensaio, a gente decidisse adiar o casamento e esperar até
que eu ficasse melhor, não seria assim. Tudo que passamos foi necessário e
estou bem com isso. Te amar me fez ser uma mulher melhor, me fez me amar
e me aceitar como sou. — Olhei em seus olhos. — Somos jovens, temos
muito a viver juntos e vamos aprender com a vida.
— Minha borboleta.
Dante tinha muito a provar, ele estava apenas começando o seu
comando com o peso de ser afilhado do Enzo Rafaelli. Nos próximos anos,
nós dois teríamos muito nas mãos, eu estava pronta para enfrentar o que fosse
preciso ao seu lado. Nosso elo era maior que um casamento arranjado para
fins de aliança. Nós encontramos amor, paz, companheirismo e
principalmente, força, para vivermos juntos nas adversidades que a nossa
vida poderia proporcionar.
Epílogo.
Mia.
Dois anos e alguns meses depois...
— Ei, dorminhoca. — Dante cutucou o meu pé. — Acorda. — Ele deu
um chute leve na cama. Abri os olhos, ainda morrendo de sono e preguiça,
virei na cama e imediatamente sorri. — Bom dia, Sra. Biancchi. — Ele estava
irresistível, de cueca, segurando uma bandeja na cama, e me sentei.
— Bom dia, Sr. Biancchi. Que lindo, amor. — Apontei para bandeja
com o café da manhã completo, flores e um bolinho com três velas em cima.
— Feliz três anos. — Me inclinei e o beijei.
— Feliz três anos, linda. — Segurou o meu rosto e aprofundou o beijo
ainda mais.
Compartilhamos o café na cama, ele preparou uma salada de frutas,
ovos, torrada com manteiga temperada, bacon bem tostado, algumas
linguiças que comprei no mercado outro dia, presunto, queijo, pastrami
defumado com pão de centeio e mostarda. Depois da noite intensa que
tivemos, era muito bom repor as energias. Sujei os meus dedos de chocolate,
ele pegou a minha mão, lambendo os meus dedos.
Empurramos a bandeja de lado, aos beijos, voltamos a deitar e ficamos
na cama praticando um pouco de putaria em comemoração ao aniversário de
casamento. Perto da hora do almoço tomei banho, deixei o meu cabelo
molhado e coloquei um vestidinho leve, amarelo, tirei os lençóis bagunçados
da cama e desci com eles nos braços.
Passei pelo corredor que dava direto para cozinha, entrei na
lavandeira e joguei tudo no cesto. Dante estava no escritório, sem camisa,
olhei a tatuagem NICOLA bem em suas costas, com asas caídas, que segundo
ele, representavam a dor do seu luto eterno.
Dante lidou muito bem com a mentira. Melhor do que eu lidaria. Ele
era um homem iniciado que sabia das consequências, do peso de ter um filho
fora do casamento e que todos os envolvidos queriam o melhor para ele,
inclusive a sua mãe biológica. Nós a conhecemos oficialmente seis meses
depois que descobrimos tudo. Ela era gentil, adorável para ser bem sincera,
vivia a sua vida tranquilamente na Itália, era professora do primário e criava o
sobrinho. Nunca se casou e quando os pais morreram, foi viver com a irmã
que já era viúva. Rose ficou extremamente emocionada em conhecer o
Dante.
Foi um encontro que me deixou chorosa. Dante riu de mim, mas eu
sabia que ele estava emocionado também. Após a verdade vir à tona, eu
descobri que todo mundo sabia. Luna soube logo depois que o Dante recebeu
a tatuagem. Giovanna sabia há alguns anos, quando ficou “presa” em uma
ilha com a Juliana e lá, elas conversaram sobre isso. Fiquei puta por algumas
semanas, de beicinho e ignorando as três. Depois engoli e aceitei que elas não
podiam trair o segredo que os seus maridos pediram.
Me aproximei e apertei a bunda durinha do meu marido. Ele riu e o
abracei por trás, beijando entre as duas omoplatas.
— Passou pela sala? — Acariciou os meus braços.
— Não. Por que?
— Vai lá.
Curiosa, saí do seu escritório e dei a volta, cobri a minha boca. A sala
estava tomada por vasos brancos com rosas vermelhas, balões com os nossos
nomes e um com o número três em dourado. Ah, fofo. Tirei uma foto, peguei
o cartão “Três anos do melhor momento das nossas vidas. Eu amo você”.
Sorrindo, pulei em seus braços e o beijei repetidas vezes até começarmos a
rir.
Dante passou os últimos anos como um dos chefes mais temidos. Eu
vi com os meus próprios olhos o quanto ele poderia ser cruel, mais de uma
vez passamos por situações realmente tensas juntos, principalmente depois
que passei a administrar os empreendimentos. Eu estava cursando
Administração de Negócios e pretendia seguir com a pós em contabilidade.
Fazia à distância, assim eu conseguia estudar onde estivesse.
— Tenho que ir trabalhar agora, Sra. Gostosa.
— Eu sei. Quando voltar, estarei pronta para irmos.
Com um beijo e um tapa na bunda, ele vestiu a camisa, pegou as
suas coisas no escritório e saiu. A casa estava uma zona porque passei a
semana inteira ocupada, estudando, indo trabalhar no escritório e ainda
participei de alguns eventos que a minha sogra organizou. Dois anos sem o
meu sogro, ela finalmente estava aceitando que a vida dela não estava no fim.
Quando Dante a confrontou, ela ficou arrasada e morrendo de medo de perder
o filho, melhor dizendo, neto.
O mundo inteiro sabia que Enzo Rafaelli tinha um afilhado. Muita
coisa que Enzo jogava para o Dante resolver passou a ter sentido. Enzo não
jogava cartas para perder. Ele adorava manipular e tudo, absolutamente tudo,
aconteceu conforme ele queria. Tirando os detalhes ruins da minha vida e
perder o Luigi de uma maneira bem dolorosa, ele conseguiu os feitos
conforme planejou.
Arrumei a casa superficialmente, só para não ficar muito suja e
joguei fora as comidas em potinhos da geladeira para não ter cheiro. Passei o
dia inteiro ocupada com a nossa viagem. Dante finalmente poderia passar
alguns dias fora, conseguimos viajar bastante, fomos a vários países que eu
era louca para conhecer, mas não viajamos de lua de mel novamente.
Teríamos alguns dias sozinhos antes de viajar para grande festa de 25 anos do
Dante na Itália.
Recebi mensagens da nossa família nos felicitando por mais um ano
de casamento. Lembrava da garota temerosa, com tantos problemas, que não
sabia como mantinha os meus ombros eretos.
Dois anos de terapia me ajudaram muito a enxergar a minha força.
Eu não era do tipo dona da porra toda como a Juliana, mas encontrei o meu
lugar na administração, eu amava a faculdade e o quanto aprendia em como
manter os nossos negócios em pleno funcionamento de muitas maneiras.
Aprendi a lutar, treinava todos os dias com o Dante, passei a malhar
regularmente, cuidar do meu corpo e principalmente da minha mente.
Depois de muito relutar, Dante me ensinou a atirar e lutar com facas.
Ele ficava nervoso quando treinava com Felipe ou Stefanio. Enrico ficava
como uma mãe galinha dando milhares de recomendações. Quando
acidentalmente me cortei em um dos treinos, Dante deu um piti, e nós
tivemos uma briga feia, ficamos emburrados um com o outro até
esquecermos.
Não planejava sair com ele como Juliana saía, não era do meu feitio,
mas era importante saber me defender como já foi necessário mais de uma
vez. Nada muito intenso, alguns idiotas que não sabiam quem eu era ou
estavam drogados demais para se importar, precisavam ser colocados em seus
lugares quando me puxavam pelo braço na boate. No mais, a maioria sabia
quem eu era e nunca ficavam em meu caminho.
Desci com as malas para adiantar e vesti uma roupa confortável. A
viagem não era longa, mas, meu marido finalmente entraria para o clube das
alturas porque iríamos viajar sozinhos. Nós colecionamos lugares, no
escritório era quase como em casa, na boate mais de uma vez, no carro perdi
as contas, assistindo o sol nascer em um terreno abandonado que só depois
descobri que era da família, muitas vezes. Nós dois gostávamos muito de
aproveitar a vida.
— Mia? — Ele entrou em casa e jogou as chaves no pratinho de
vidro da mesinha. — Tudo pronto?
Apareci arrumada e ele sorriu.
— De vestidinho. — Deu uma boa olhada em minhas coxas. — Essa
viagem vai ser muito divertida. — Mordeu o lábio, quase me joguei nele, mas
podia me controlar por mais alguns minutos.
— Vamos logo, não podemos atrasar o voo. — Bati palmas,
apressando-o.
Felipe nos conduziu até o aeroporto para jatos privados, estava tão
empolgada em viajar sozinha com o Dante que não conseguia ficar parada no
lugar. Subi a escadinha do avião praticamente dançando, ele estava rindo
atrás de mim e agarrou a minha bunda, me empurrando para frente.
Candice, nossa comissária favorita, nos recebeu com sorrisos e
felicitações. Os procedimentos de voos começaram e logo que se estabilizou,
soltamos os cintos, Dante pegou o champanhe, estourando e servindo nas
taças.
Brindamos e saí do meu lugar. As bolhas fizeram cosquinhas na
minha língua, beijei o seu pescoço, ele deitou o banco um pouco mais, cruzei
as minhas pernas. Casamento era uma coisa assustadora, no dia a dia algo um
pouco difícil de lidar, mas em sua maior parte, era uma entrega gostosa de
viver.
Dante e eu compartilhamos muitos momentos bobos, momentos
tensos, preocupações e dias que ser feliz era tudo que nos restava. Seu
trabalho me deixava sem dormir e com a tensão na boca do estômago, desde
que comecei a estar fora a quase toda noite, conseguia me sentir mais segura
porque tinha a confiança de que ele sempre se esforçava para voltar para casa.
Três anos do sim mais bonito de toda minha vida.
Candice fechou as portas que davam para o seu lugar, apaguei as
luzes em cima de nós, criando um clima bem agradável.
— Dessa vez eu vou estrear sexo no ar? — Ele sorriu. Beijei as suas
covinhas. — Estou sonhando?
— Isso depende... — Soltei o lacinho que sustentava o meu decote.
— Por um tempo com esses peitos, derrubo até o avião. — Ele
terminou de abrir os meus botões. Bebi o finalzinho do champanhe que
estava na taça e a joguei de qualquer jeito no balde. — Que delícia... —
Desceu o rosto e chupou o meu mamilo, provocando com a língua, fiquei
toda arrepiada. Sua mão subiu pela minha coxa até entre as minhas pernas,
soltou o meu peito assim que se deu conta que estava sem calcinha. — Mia
Biancchi, sua safada.
— Tudo para adiantar. — Afastei as minhas pernas dando uma
ampla visão para ele.
Seus dedos maravilhosos começaram a trabalhar para me fazer ver
estrelas. Molhada, mudei de posição, beijando-o e de repente, o avião tremeu.
O piloto avisou que passaríamos por nuvens carregadas, enfrentando uma
pequena turbulência. Ele não pediu que colocasse os cintos novamente.
— Não, nuvens, vocês não vão me foder. — Dante reclamou.
— Sempre tem, então, se você quer alguma ação, ou fazemos logo
ou deixamos para volta. — Falei contra os seus lábios, abrindo a sua calça.
— Sempre com ação. — Ajudou puxando a sua calça para baixo,
rindo, quase caí do seu colo. — Não vamos contar essa tentativa, vamos?
Peguei a camisinha e abri, ele fez a mesma expressão safada sempre
que colocava camisinha.
— Não. Vamos fazer de novo. — Soltei um gemido ao descer no seu
colo. Seu pau sempre me fazia sentir muito bem cheia, preenchida, eu tinha
uma relação muito especial com a anatomia do meu marido. Ele agarrou a
minha bunda, rebolei contra ele, gemendo, com os meus peitos balançando
contra o seu rosto. O avião sacudiu de novo, ri, de nervoso misturado com
prazer.
— Essa porra vai cair. — Ele brincou e me beijou, metendo gostoso
para me fazer gozar.
— Não antes de gozar. Ai meu Deus... — Choraminguei, sentindo a
familiar sensação que foi crescendo e explodindo até a planta dos meus pés.
Enfiei as unhas nos braços do Dante, tremendo, levando-o a loucura. Eu me
sentia a mulher mais incrível do mundo ao ouvir seus gemidos profundos. Ele
gozou em seguida, me abraçando, a voz do piloto cortou o clima avisando
que a turbulência estava chegando e deveríamos colocar os cintos. — Amor,
hum, eu nunca te perguntei... tem câmeras?
— Não. Eu não deixaria ninguém gravar a minha mulher chegando
ao prazer. — Ele sorriu, voltei para o meu lugar, ele tirou a camisinha e jogou
no lixo, fechando a calça. Tentei ajeitar a minha roupa, meu cabelo, soltei um
grito com o solavanco da aeronave. — Espero que o homem lá em cima não
queria derrubar o avião, porque eu realmente gostaria de ter uns dias de folga.
— Não sei nadar. — Fiz um beicinho.
— Amor, se cair, não vai precisar nadar. — Me deu um olhar
enviesado. Bati no seu braço e agarrei a poltrona, um pouco nervosa,
felizmente, passou logo. Era assustador ver uma tempestade do alto, mas ela
não oferecia riscos, conseguimos passar pelo restante do voo com
tranquilidade.
Apesar disso, estava chovendo muito quando pousamos.
Corremos para o carro do hotel que nos aguardava. Dante ficou
quieto e atento ao caminho, falando com o funcionário e enchendo de
perguntas. Chegamos ao mesmo resort que ficamos da primeira vez. Nós
conhecemos as Maldivas, Caribe e até Aruba, mas Turks e Caicos tinha um
lugarzinho especial. O lugar da nossa primeira viagem, a nossa primeira vez e
que criamos um laço de amizade que fortaleceu o nosso casamento nos dias
mais difíceis.
Quando pensava no quanto Dante era irritante agindo como o
poderoso chefão comigo, lembrava que o nosso casamento era baseado no
amor e companheirismo, caso contrário, eu o jogaria da sacada do nosso
quarto. Soltei uma risada com o déjà-vu ao vê-lo verificar o nosso bangalô
antes de me deixar entrar. Ele colocou as malas no closet. Estávamos no
mesmo lugar, não havia mudado muito, talvez algumas coisas na decoração e
nas cores.
— Então? — Me abraçou apertado.
— Continua lindo, mesmo chuvoso. — Suspirei em seus braços.
— Deveríamos ter voltado mais cedo, pelo menos, não vai ter nenhum
policial dando incerta por aqui. — Beijou a minha bochecha. — Vou pedir o
jantar enquanto a cozinha ainda está aberta.
Aproveitei que ele se afastou, corri para o closet, abri a mala e peguei a
primeira lingerie. Quando casei, não tive coragem de usar nada sexy ou
provocante, apenas com o tempo fiquei confortável em ousar. Três anos
depois, eu sabia como deixar o meu marido maluco. Ele apreciava roupas
íntimas. Tomei banho, caprichei no hidratante e perfume, vesti um body de
renda azul escuro, era todo transparente, com algumas partes bordadas, me
escondi quando ele passou avisando que tomaria um banho.
Soltei os cabelos, ajeitei o fio dental na bunda, me encarando no
espelho. Meu corpo mudou nos últimos anos, me tornei mais mulher, coxas
torneadas do treino, barriga de quem malhava e bebia cerveja com o marido
no final de semana, peitos continuavam pequenos à médios. Cheguei a
cogitar colocar silicone, mas o Dante foi veementemente contra. Me
perguntei se ele seguiria contra depois que a idade chegasse e os filhos se
pendurassem nos peitos.
Todo mundo nos perguntava quando finalmente teríamos filhos, mas
essa era uma realidade que nós não cogitamos. Não ainda. Sempre que
conversamos sobre o assunto, descobrimos que temos mais lugares para
conhecer e festas para aproveitar. Damon e o Enrico diminuíram muito a
intensidade na rua quando se tornaram pais. Dante ainda não estava
preparado.
A primeira coisa que ele fez como chefe, após a morte do Romeo,
foi organizar um ataque simultâneo em vários inimigos. No fim, foi uma boa
coisa, com isso, o foco da investigação contra família desviou para a grande
quantidade de gangues e organizações dominando os bairros mais simples.
Naquela noite, vários grupos caíram, obviamente, eles se reagruparam
novamente, mas estavam bem afastados do nosso território principal. Foi um
recado sobre aceitar traidores em seu meio e um aviso muito claro aos
membros da família que poderiam ter uma ideia sobre trair o juramento de
honra.
Dante surtou em várias noites, ele matou alguns chefes sem aviso,
sem explicação óbvia, apenas porque não estavam obedecendo, ou relutando
em seguir as ordens. Ele transformou o seu primeiro ano em uma busca
implacável pelo poder. Ele fez com que todos o enxergassem como o chefe.
Em muitas noites, me assustou e me fez pensar sobre como a nossa
vida era cruel. Não conhecia outra, não podia afirmar nada e muito menos
agir como se sentisse culpa. Não existia outro tipo de vida para uma mulher
nascida no seio da máfia. Nós éramos marcados, para falar a verdade, não
éramos os únicos. Desde que o mundo se tornou o mundo que conhecemos,
existia uma briga por quem tinha mais poder. Sempre existiria.
Deixando os pensamentos sobre a nossa vida de lado, resolvi
procurar o meu marido.
Dante estava enrolado na toalha, arrumando o jantar na mesinha
próximo ao sofá, me perguntei se ele atendeu a porta exibindo seu corpo
torneado para alguma camareira.
— Sr. Ego. — Chamei parada no meu lugar e ainda fiz uma pose,
colocando a mão no batente da porta. Ele virou e largou o prato que segurava,
que quase caiu no chão. — Gosta?
— Porra. Dá uma voltinha? — Pediu movendo o indicador. Virei
devagar. — Hum, consigo ver o meu nome daqui. — Revirei os olhos.
— Eu vou apagar.
— Não vai não. Tenho seu nome do lado do meu pau, por que não
pode ter o meu na bunda?
Meses atrás, decidimos sair e beber. Ele me deixou bêbada, louca,
depois de uma rapidinha no carro, eu cismei que queria tatuar o nome dele na
minha bunda.
Dante acordou uma tatuadora conhecida da família para escrever o
seu nome bem no triângulo que ficava o biquíni. De tão louca, não senti que
doeu, acordei no dia seguinte com uma ressaca mortal, com o meu marido
muito feliz e a minha pele ardendo. Briguei com ele por permitir que fizesse
algo bêbada e ele ainda achava tudo bem, que era só o seu nome na minha
bunda.
No fundo, não estava chateada, até porque, as noites de sexo por
causa dessa tatuagem foram incríveis e continuavam sendo.
Sexo depois de atiçar a possessividade do meu marido sempre era
muito bom.
— Você quer ser o jantar ou quer jantar antes?
Puxei-o pela toalha e joguei no chão, respondendo a sua pergunta e
finalmente começando a lua de mel que nós dois merecíamos.
FIM
Agradecimentos
Obrigada a todas as minhas leitoras, minha mãe maravilhosa e amigas pelo
apoio incondicional. Obrigada à KF Assessoria Literária pelo trabalho em
conjunto. Em especial, a Paula Guizi por ser a melhor beta de todas! O quarto
livro da série Poder & Honra foi um prazer escrever e em breve, teremos
mais.
[Sobre a autora]

Mari Cardoso tem 29 anos, nasceu em Cabo Frio e


atualmente mora no Rio de Janeiro com sua mãe, uma gata e um
cachorro. Formada em fotografia, trabalha como fotografa e design
gráfico, possui uma loja de papelaria personalizada.
Até o momento, tem algumas histórias publicadas na Amazon
e estas são:
Em Outra Vida
A Valentia do Amor
Caminhos do Coração
Legalmente Apaixonados
Bem Me Quer
Uma Segunda Chance Para o Amor
O Melhor Presente
Apenas Entre Nós
Curvas do Destino
Alguém Como Você
Diga Que Me Ama
Perigoso Amor
Império Perigoso
Perigosa Tentação
Prontos Para o Amor
Realeza Selvagem
Coração Perigoso
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