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GUAJARÁ-MIRIM
2023
MARIA JOSÉ LIMA DE SOUZA
GUAJARÁ MIRIM
2023
1
Professora Ma. voluntária e Tradutora e Intérprete de Libras do Campus Jorge Vassilákis de Guajará-
Mirim.
2
Professora Ma. do departamento acadêmico de ciências da educação do Campus Jorge Vassilákis de
Guajará-Mirim.
Catalogação da Publicação na Fonte
Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR
32 f.: il.
MINISTERIO DA EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - GUAJARA-MIRIM
ATA DE REUNIÃO
Documento assinado eletronicamente por MARIA JOSÉ LIMA DE SOUZA, Usuário Externo, em
01/03/2023, às 20:10, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do
Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
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AGRADECIMENTOS
a esse momento
quando nos dizia, e obrigada pelas artes de dizer das suas mãos e
1
Acadêmica do curso de Letras/português do Campus Jorge Vassilákis de Guajará-Mirim
SUMÁRIO
1 Um pouco de mim ______________________________________________________ 6
2 O ato de pesquisar e como realizei a pesquisa: ___________________________ 7
2.1 Caracterização geral da pesquisa ____________________________________________ 7
2 FAMÍLIA NA VIDA DA PESSOA SURDA _______________________________________ 10
3 A Linguística e os sinais caseiros _______________________________________ 13
3.1 Onomástica e Antroponímia em Libras ________________________________ 15
4 Motivação e Iconicidade ________________________________________________ 16
4.1 Como nomeamos? ___________________________________________________ 18
5 Apresentação dos Dados da Pesquisa __________________________________ 20
5.1 Sinais caseiros/Sinais emergentes __________________________________________ 22
Considerações finais ____________________________________________________ 26
REFERÊNCIAS __________________________________________________________ 27
1. Um pouco de mim
Meu nome é Maria José Lima de Souza, sou natural de Coreaú, Estado do
Ceará e vim para Rondônia ainda criança com a minha família e nos estabelecemos
em Guajará-Mirim, onde cresci e resido até os dias de hoje.
Tenho dois filhos. Sou funcionária pública da Rede Municipal de Ensino, a
Prefeitura, ocupante do cargo de auxiliar administrativo, onde exerço essa função até
hoje. Estou concluindo o curso de letras com muita dificuldade, devido a problemas
de saúde que venho enfrentando, porém tenho muita força de vontade e pretendo dar
continuidade aos meus estudos ao concluir a graduação.
Durante o meu curso, enfrentei vários problemas; enfrentei o desafio do estudo
remoto, devido às aulas presenciais terem sido interrompidas por causa da pandemia
da Covid-19 eu não tenho tecnologia favorável para assistir as aulas nem
conhecimentos sobre tecnologia que me oportunizasse avançar nesse trabalho.
Esses acontecimentos trouxeram novas experiências que me possibilitaram
repensar as dificuldades em torno da linguagem como elemento que constitui as
trocas de conhecimento.
Essa atitude de repensar a linguagem aconteceu porque me dei conta da
importância da comunicação na vida do ser humano, de modo que pude me colocar
no lugar da minha irmã, Josineide, que é surda e enfrentou dificuldades em seu
processo de socialização na vida familiar.
Com base nessa problemática pretendo produzir dados a partir dos sinais
caseiros utilizados por minha irmã na interação familiar. Minha irmã Josineide
atualmente tem com 50 anos de idade. Infelizmente não adquiriu muitos
conhecimentos durante os anos escolares devido a carência de profissionais
capacitados para esse fim.
Nos últimos anos mudou-se para Porto Velho, lá aprendeu Libras e atualmente
faz parte da comunidade surda, de modo que esses sinais caseiros são herança do
nosso convívio familiar, já que não aprendemos a Libras.
O tema deste estudo se reveste de importância para mim porque enfrentei
muitas dificuldades durante o curso, e agora, as dificuldades de antes foram
agravadas por causa dos problemas físicos e emocionais comprometendo minha
saúde, de modo que precisei buscar elementos em minha própria vida para
desenvolver meu TCC perpassando pelas práticas sociais de linguagem com fins à
comunicação.
Pesquisar, de acordo com Serrano (2011), é uma ação que se aprende e que
exige a aplicação de conhecimentos e habilidades. O autor ainda destaca que toda
investigação “constitui uma possibilidade, aberta e complexa, cujas alternativas de
materialização permaneceriam truncadas se não soubéssemos nem pesquisar e nem
o que estamos pesquisando” (SERRANO, 2011, p. 10).
Uma pesquisa, portanto, exige métodos claros, coerentes e bem planejados
para que os resultados sejam confiáveis e apresentem contribuições à ciência e à
sociedade.
Dito isso, apresentamos a caracterização deste estudo, resumidamente parte
da seguinte questão: como a pessoa surda nomeia pessoas e objetos no
estabelecimento de comunicação com a família sem o aprendizado da Libras.
• O objetivo geral desta pesquisa, como dissemos, é identificar as
estratégias de comunicação de uma pessoa surda que nasceu em
família de ouvintes.
Os objetivos específicos são;
• Registrar os sinais que nomeiam os integrantes da família, bem como
outros seres animados e inanimados presentes nesse convívio.
• Identificar a percepção da família sobre uma pessoa familiar que é surda
• Relacionar os dados com as teorias linguísticas e culturais valorizando
as estratégias de comunicação entre família e parente surdo.
2
Depois de passar três anos em uma instituição para deficientes intelectuais, menino tem diagnóstico de que
possui apenas surdez e assim família busca aprender a se comunicar usando a língua de sinais. Filme baseado
em fatos reais dirigido por Richard "Dick" Michaels no ano de 1979.
https://www.youtube.com/watch?v=pc8mM0DHRB4
sanguíneos e desempenham a missão de cuidar, propiciar a saúde, o bem-estar e a
proteção até que cada indivíduo consiga se integrar na sociedade.
No entanto, quando se parte de uma relação que envolve a surdez todos os
apontamentos são válidos e reforçados, devido à questão linguística, isto é a
importância da se dedicar na aprendizagem de outra língua, neste caso a Língua de
Sinais.
Através da comunicação que o indivíduo interage, participa, convive e se molda
dentro da família e posteriormente perante a sociedade. Nesse processo, a família do
Surdo aparece como grande responsável, pois ela precisará passar por algumas
adaptações para que o sujeito se desenvolva da melhor maneira possível.
Há uma necessidade de transformar a comunicação oral para a comunicação
visual o que gera certo desconforto por não reconhecerem os gestos como atos de
comunicação e a Libras como língua e o que é pior associarem os gestos a
incapacidade de se expressar como se os gestos não dessem conta suprir a falta da
fala.
É importante entender o que é a surdez e o que é o surdo, para oportunizar um
tratamento coerente ao sujeito surdo, tendo em vista que é sim um jeito de ser e
conviver diferente, mas não precisa ser visto e tratado como alguém com deficiência
em si.
Quadros (2002) “esclarece que a deficiência não é um problema da pessoa que
a tem, mas sim de quem a vê”. É importante entender essa problemática que envolve
preconceito e aceitação da condição da pessoa com surdez, que necessita ser
compreendida e acolhida por parte de todos do ciclo familiar do indivíduo.
O processo de desenvolvimento do surdo depende da cooperação familiar, que
o mesmo necessita de elos afetivos e comunicativos, superando os limites de cada
um, para construir verdadeiramente a inclusão no ambiente familiar, ou seja, valorizar
as pessoas no seu modo de ser.
Tendo em vista que os elos sentimentais são construídos no processo de
interação/comunicação realizamos registro de sinais/nome de pessoas e objetos
como manifestação da interação verbal da pessoa surda sem o uso da Libras, ou seja,
a partir de sinais caseiros criados no convívio familiar.
Com base nos elementos teóricos foram produzidos questionário e vídeos
registrando formas de nomeação utilizados pela pessoa surda (Josineide) a fim de
estabelecer comunicação com a família.
3 A Linguística e os sinais caseiros
4 Motivação e Iconicidade
O autor divide os nomes de uma língua em dois grandes grupos: os nomes cuja
motivação podem ser recuperados e os nomes cuja motivação não pode ser
recuperada. Aqueles que possuem motivação reconhecida, “[...] parecem ter
motivações de duas origens distintas: uma origem extralinguística e mais complexa e
outra meramente linguística, sistêmica e previsível na própria gramática da língua”
(FERRAREZI JR., 2019, p. 112).
Desse modo, para melhor visualizar suas considerações, Ferrarezi Jr. (2019)
apresenta a seguinte ilustração
Como bem destaca o autor, há nomes que não possuem uma motivação
reconhecida (em português, temos “mesa”, “cadeira”, “touro” etc.; em Libras, temos
os sinais TER e CONVERSAR, por exemplo) e com motivação reconhecida. Nesse
último caso, a motivação pode ser extralinguística (como no caso, em português, das
metáforas: ex: Ele é fogo!; ou, em Libras, o sinal ÁRVORE) ou sistêmica (como ocorre,
em português, com as palavras derivadas “goiabada”, “cocada” – que são formadas
por processos de natureza gramatical; ou, em Libras, com os sinais SENTAR, que é
derivado do sinal CADEIRA).
Ferrarezi Jr. (2019) inclui, entre os nomes formados por natureza
extralinguística aqueles que possuem natureza icônica, “baseada em características
imitáveis dos referentes” (FERRAREZI JR., 2019, p. 112).
A iconicidade, de modo especial, nos interessa para o presente estudo, uma
vez que, como afirma Perniss (2007), a iconicidade participa da estrutura das línguas
de sinais. Sousa (2019; 2022) destaca que, no caso dos nomes próprios, a iconicidade
é muito presente na criação dos sinais em Libras.
Martins (1991) destaca que o nome próprio é mais que um signo linguístico,
“ele é um texto” (MARTINS, 1991, p. 11) – o que Ferrerezi Jr. (2019) concorda quando
afirma que os nomes devem ser estudados do ponto de vista enunciativo e cultural.
Para Martins (1991):
Sem dúvida, o nome, antes de mais nada, é uma palavra que tem um
cunho bastante peculiar. Isto exige que focalizemos o nome próprio
dentro de um contexto maior, a fim de permitir que entremos no mundo
do nome próprio com alguns conceitos essenciais. Não podemos
aceitar a ideia simplória e cartesiana de que o nome é somente um
sinal que marcaria o outro (MARTINS, 1991, p. 11).
Quando a senhora Ela tinha dois meses quando percebi que ela não escutava. Ficava procurando
desconfiou que a Josineide conversar com ela.
era surda? Eu colocava lá na rede, né, porque lá tinha mais espaço. Deitava com ela assim,
ficava de frente.
Era alegre, brincando, alegre, alegre.
Daí, eu me afastava um pouco para ela não me ver, me escondia atrás da rede pra
ela não me ver.
Daí lá eu fazia zoada, chamava, batia palma assim, ela nem… parecia que não
tinha ninguém, ela nem ligava.
a senhora começou a -Eu levei lá no médico, né? Aí, o doutor brincando, né? Falou bem assim que eu
perceber que ela era surda, estava muito nervosa, estava doente que estava muito nervosa demais. Ele me disse
né? que ainda era muito cedo para saber se ela vai me escutar.
Meu celular, né, daí eu atendia… Aí, elas mesmo encaminharam ela lá pro
Tamandaré com as irmãs, porque ela foi estudar, já entrou no quarto ano.
Os sinais na família que a O pai dela era o óculos que ela fazia, né… o óculos. E o meu pai, que era o avô
Josineide faz pra poder se dela, era assim. Ele era velhinho, né?!
relacionar com pai dela…? E eu quebrava castanhas mais o meu sobrinho, e era assim…
Ela fazia o movimento da … Não me lembro muito bem desse cachorro não. Os gatos… os gatos era assim…
uma cara redonda, assim…
Como a senhora desconfiou Eu percebia assim quando ela tinha dois meses, eu já percebi que ela não escutava,
que a Josineide era surda, a porque a criança quando sempre tem umas conversinhas quando é novinha ainda
senhora fez o que, a senhora e a gente vai acompanhando né, aí fui acompanhando ela e eu observei na frente.
desconfiou como, quantos Eu ficava na frente dela assim era porque ela era a maior alegria do mundo, aí eu
meses ela tinha, como a saía, ela não me via, eu passava pra trás do lado da rede, batia palma, falava tudo,
senhora se sentiu quando nem ligava; ela nem ligava.
descobriu a surdez da Aí eu dava outra voltinha, voltava e ela ficava toda alegrezinha e aí, eu ficava
Josineide, a senhora ficou observando, por isso, né?
triste, a sua reação, qual foi? Aí, eu fui no médico, doutor perguntou como que era que eu sabia, disse que eu
tava nervosa, tinha que me tratar tudo, como é que eu sabia que a menina tava
surda, como é que eu ia pensar isso aí né, sem ninguém falar nada, eu digo “não,
doutor, é porque pelos outros, que eu já criei tudinho e eu to achando a diferença,
mas aí eu to observando que ela não escuta, mas aí ele disse assim “ a menina
escuta, a menina é boa, é normal, escuta, não tem nada de, a senhora está nervosa
demais, a senhora que precisa se tratar”.
Ai, eu fui pra casa, depois eu volta lá com ele de novo.
Eu fui passando uns tempos… um mês, mais ou menos, eu voltei.
Aí foi fazer o mesmo teste, ele montou, ai, foi fazendo o teste dele; batendo palma
também lá. Aí ele disse “é verdade, geralmente, a menina não escuta mesmo não,
ela é surda, não ouve” e ai eu tive que me conformar, mas aí foi conversar comigo,
né, que não era pra me preocupar, que tem estudo pra ela, ia aprender, ia viver
igual muitos outros, não tem tratamento, ele disse né não tem tratamento, mas tem
aparelho, depois pode fazer umas consultas médicas, passar aparelhos pra ela e vai
dar tudo certo, e eu fui acompanhando e vou ter que me conformar, me conformei.
E naquele tempo não tinha esses ensinos que tem agora, essas facilidades, e em
casa os meninos conversavam, acompanhavam, tanto que aprenderam a língua
dela, e se entendiam muito bem, eu que nunca me entendi com ela, mas os meninos
aprenderam e deu tudo certo.
Qual foi a orientação dos Mas vergonha eu nao senti nao, eu senti foi preocupação com ela. Mas aí eu senti
professores? tristeza, bastante dificuldade pra cuidar dela, continuar criando dela, porque no
Qual foi a orientação dos lugar daquele não tinha recurso, eu tinha medo dela cair e algum acidente através
médicos, o que que os dela não escutar, tinha muito medo disso aí, mas de outras coisas não, tudo isso eu
médicos falaram pra pensava. Então eu me senti arrasada com isso ai, mas ai foi indo com o tempo e
senhora, o que a senhora acostumando.
deveria fazer, o que a Aí foram umas pessoas lá em casa, umas irmãs, me confortaram muito, eu fiquei
senhora deveria ajudar, mais tranquila, e através daquelas irmãs ela foi lá pro… quando cresceu mais, foi
auxiliar a Lucineide depois crescendo e através delas, no colégio delas lá e eles liam bastante, ela ficou mais
que descobriu que ela não esperta e fiquei mais tranquila. Ela foi crescendo e arrumaram uma vaga no
ouvia, e o auxilia da família governo pra ela, no tamandar, ela foi estudar pra lá e.. já na quarta série, quarto
nessa parte pra ajudar e a ano. E aí já aliviou bastante, e eu me conformei, senti mais firmeza e não aconteceu
senhora sentiu vergonha de nada, graças a deus, eu tinha muito medo de acidente, eu tinha muito cuidado e
dizer que tinha uma filha acompanhava ela todo tempo.
surda? Assim pela reação,
dos seus sentimentos,
comportamento, o carinho
que tinha por ela?
Figura 5- Farinha
Figura 6- Chuva
Figura 7- Pai
Figura 8- Avô
Considerações finais
REFERÊNCIAS