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Principais usos da psicoterapia breve

Prof. Carlos Henrique Gonçalves

Descrição

Neste estudo abordaremos a aplicação da psicoterapia breve (PB) em


crianças, adolescentes, famílias, casais, instituições de saúde e em
alguns grupos patológicos específicos.

Propósito

Saber sobre a utilização da psicoterapia breve é importante pois, cada


vez mais, observamos uma necessidade de dominarmos técnicas que
nos permitam trabalhar em um curto espaço de tempo e com limitações
estruturais de atendimento impostas em alguns casos. Também é
notória a solicitação de pacientes por um tratamento de prazo mais
curto diante das demandas atuais da sociedade.

Objetivos

Módulo 1

Psicoterapia breve com criança, adolescente


e família
Reconhecer as principais características de um atendimento em
psicoterapia breve com crianças, adolescentes e famílias e as
técnicas correspondentes.

Módulo 2

Psicoterapia breve com casais

Identificar as principais características da psicoterapia breve com


casais.

Módulo 3

Psicoterapia breve nas instituições de saúde

Identificar as principais características de uma atuação em


instituições de saúde com psicoterapia breve.

Módulo 4

Psicoterapia breve em grupos especiais

Identificar a aplicação da psicoterapia breve em casos de ansiedade,


depressão, dependência química e transtorno bipolar.

meeting_room
Introdução
Atualmente, observamos um aumento na busca de auxílio por
parte do indivíduo diante de uma sociedade que vem exigindo
cada vez mais respostas rápidas e adequadas nas inter-relações
de uma forma geral, sejam elas familiares, sociais ou
profissionais. Esse fenômeno fez aumentar a demanda por
terapias que se adequem, principalmente, à limitação de tempo e
que sejam eficientes. É fundamental em sua formação que você
tenha contato com a teoria e as técnicas da psicoterapia breve e,
neste estudo, você receberá orientações para o uso da
psicoterapia breve em casos específicos.

A terapia cognitivo-comportamental é um exemplo de


psicoterapia breve por trabalhar com objetivos claros e ênfase na
resolução de problemas, sendo adequada quando o tempo é um
fator limitante. Ela será uma das abordagens que contribuirão na
orientação dos módulos deste estudo, no qual abordaremos o
atendimento às crianças, adolescentes, famílias, casais,
instituições de saúde e grupos especiais de psicopatologias.

Esperamos que você tenha uma boa leitura e que inspire-se para
o aprofundamento de cada tema específico que lhe interessar ao
longo deste conteúdo.

1 - Psicoterapia breve com criança, adolescente e família


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as principais características de um
atendimento em psicoterapia breve com crianças, adolescentes e famílias e as técnicas
correspondentes.

Psicoterapia breve com crianças


Características da psicoterapia breve para crianças

Iniciaremos falando sobre as características principais de uma


psicoterapia breve (PB) com crianças, passando pela importância do
envolvimento dos pais no tratamento e a apresentação de técnicas para
o atendimento.

A PB com crianças tem duas características principais: a necessidade


de identificação de objetivos específicos e o tempo limitado de
tratamento. É importante que a criança e também seus pais estejam
cientes dos objetivos, inclusive auxiliando nessa identificação no
planejamento para a abordagem dos problemas diante da gravidade e
desconforto que podem estar causando. Assim, envolvendo todos no
tratamento, modulamos as expectativas e preparamos seu término,
cuidando para que seja evitada a percepção de abandono,
principalmente por parte da criança.

Como já mencionado, é fundamental o envolvimento dos pais no


processo terapêutico por causa do estado natural de dependência da
criança com relação à sua família. Isso faz com que o terapeuta tenha
necessariamente que lançar um olhar amplo sobre o histórico de
criação da criança, a cultura e a dinâmica relacional da família, assim
como observar as condições necessárias para a promoção de
mudanças desejadas.

É natural que a dinâmica relacional mais observada em uma criança


seja com os seus pais ou cuidadores, de maneira que é esperado que os
conflitos psicológicos sejam relativos a essa relação. É nesse contexto
que o terapeuta lança o seu olhar, para procurar entender inicialmente a
relação dos sintomas com o mundo de representações de seus pais
(OLIVEIRA, 2006). Mais uma vez, fica clara a importância do
envolvimento dos pais no processo terapêutico.

Critérios para indicação da psicoterapia breve para crianças

A PB para crianças pode ser indicada em situações específicas, como:

Mudanças de moradia ou escola

Preparação para cirurgias

Separação dos pais


Adoção

Perdas
Além dessas situações listadas podemos ter muitas outras que sejam
impactantes na vida da criança. Entretanto, é importante ressaltar que a
finalidade da PB para crianças não é atuar na modificação de aspectos
mais estruturantes da personalidade, mas sim auxiliar a criança a
melhor manejar a situação diante dos conflitos internos e assim aliviar e
eliminar os sintomas que estejam gerando desconforto.

A prática terapêutica se dá com uma participação bem


mais cognitiva do que emocional, levando-nos na
direção da terapia cognitivo-comportamental (TCC),
como exemplo de abordagem focal e breve, e na qual o
terapeuta busca ajudar o paciente a identificar
distorções de significados que estejam ocorrendo e,
por meio de uma análise lógica, o ajuda a alinhar a sua
visão em uma direção mais funcional e favorável à sua
vida.

Sendo então mais específicos com relação a quais crianças a PB seria


indicada ou contraindicada, encontramos junto aos principais autores do
tema uma preocupação inicial básica que se refere à avaliação de
resultados esperados com menor ônus possível. Importante reconhecer
a necessidade específica de cada paciente para se oferecer uma
abordagem terapêutica adequada, evitando desperdício de esforços e
riscos iatrogênicos, ou seja, prejuízos em decorrência do processo
terapêutico (OLIVEIRA, 2021).

Casos com a complexidade de transtornos de personalidade, doenças


psicossomáticas, psicoses e disfunções cerebrais indicam tratamentos
de longo prazo.

Entretanto, alguns desses pacientes podem vir a se beneficiar de uma


PB caso estejam vivenciando um momento de ego preservado e em
contato estabelecido com a realidade. Também observamos que
crianças com patologias menos severas tendem a se beneficiar mais da
PB.

A atuação em psicoterapia breve para crianças

Encontramos vários autores e pesquisadores que nos fornecem bons


protocolos de atendimento em perspectivas de prazos diferentes a
depender da abordagem, invariavelmente visando a um processo
planejado e estruturado, permitindo assim um trabalho de forma focal e
breve.

Para se atender a uma criança, é sempre importante que o terapeuta


faça uma boa avaliação inicial com a presença dos pais, o que pode
ocupar mais de uma sessão. Em alguns casos, podemos pensar em
cinco sessões.

Nesses encontros iniciais, você deve colher a maior quantidade de


informações sobre como foi o desenvolvimento da criança, seu contexto
familiar, escolar, círculo de amizades, interesses e demais aspectos
importantes do comportamento que são necessários para uma
avaliação do quadro psicológico.

Esses encontros constituirão uma oportunidade de observar, além do


discurso dos pais e da criança, nuances do comportamento, como, por
exemplo, quando uma mãe diz algo de ruim, que exponha uma
fragilidade ou dificuldade, não raro a criança reage com o olhar ou até
mesmo interpelando a fala da mãe. Outros comportamentos, como
retrair-se, permanecer alheio ou agitado, também podem dar a você
informações importantes sobre a dinâmica relacional e o conflito
psíquico vivido pela criança.

Comentário
Os encontros com os pais também devem ser previstos periodicamente
e previamente, como, por exemplo, de seis em seis sessões, ou quando
for necessário relatar ou esclarecer algo. No caso dos encontros ao
longo do tratamento, você deve ter um cuidado especial com o vínculo
junto a seu paciente, no caso, a criança, e sempre preparando, juntos, na
sessão anterior, o que seria importante dividir ou buscar saber com os
pais.

Não são incomuns casos em que os pais procuram atendimento para


seus filhos e, uma vez engajados no tratamento, são participativos no
comparecimento das sessões em que são solicitados, até mesmo
acatando a sugestão, quando o terapeuta julga pertinente, de eles
mesmos procurarem apoio terapêutico, seja em casal ou individual e ,a
partir daí, somente eles permanecerem em tratamento. Esta
circunstância nos revela a importância do cuidado do ambiente
relacional em que a criança vive, que muitas vezes é disfuncional,
depositando sobre a criança uma demanda com a qual ela ainda não
tem condição de lidar devido ao fato de não estar plenamente
amadurecida em suas capacidades psicológicas.

Também é uma condição fundamental que você, terapeuta, tenha um


conhecimento aprofundado no campo do desenvolvimento humano e a
respeito dos processos biológicos, psicológicos e sociais envolvidos.
Para ter esse suporte, você ficará seguro caso esteja apoiado nos
grandes teóricos e pesquisadores do desenvolvimento humano, como:

Jean Piaget
Lev Vygotsky

Erick Erickson

Sigmund Freud
Ludoterapia, a investigação clínica com brinquedos

A ludoterapia é uma forma de atuação direcionada principalmente para


crianças na qual brinquedos, jogos e atividades lúdicas são utilizados
com o objetivo de facilitar a sua expressão, ajudando o terapeuta a
observar as expressões emocionais que podem estar relacionadas ao
conflito psicológico. As crianças naturalmente se expressam de forma
mais simbólica, podendo ter dificuldade em expor em palavras seus
sentimentos e impressões.

Por meio de brincadeiras, o terapeuta tem a oportunidade de entrar em


contato com os conteúdos psíquicos conscientes e inconscientes,
como crenças, emoções e atitudes e, por essa via, ajudar a criança a
elaborar e melhor compreender o mundo que a cerca, tendo a
oportunidade de aprender a lidar com as dificuldades e encontrar saídas
mais favoráveis.

Você deve ter alguns cuidados ao optar por essa técnica, como, por
exemplo, ter a sala sempre bem organizada, uma variedade suficiente de
brinquedos e jogos que permitam uma abordagem ampla de temas e,
principalmente, um domínio da técnica em ludoterapia.

Saiba mais

A ludoterapia é uma técnica utilizada por profissionais de saúde mental


como psicólogos, mas também faz parte do arsenal técnico de
assistentes sociais, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.

A importância do vínculo terapêutico

Para muitos autores, e podemos dizer que para a maioria das


abordagens terapêuticas, o vínculo terapêutico é uma das condições
fundamentais para que o processo terapêutico possa ocorrer e auxiliar
na promoção de mudanças na estrutura e forma de atuar do paciente.

O vínculo está relacionado à capacidade do paciente em confiar no seu


terapeuta, estabelecendo assim uma ligação de trabalho que facilite
uma melhor entrega ao exercício de visitar em sessão suas principais
dificuldades. Um paciente que não confia em você não vai aceitar o seu
convite para passear em reflexões difíceis que, muitas vezes, o colocam
em condição vulnerável e expõem sua fragilidade.
O vínculo terapêutico é então um dos primeiros objetivos que você deve
ter ao iniciar um atendimento com PB, e não somente com crianças,
mas também com pessoas em outras fases da vida. Como uma forma
de promovê-lo, a postura do terapeuta é muito importante. Você deve ter
uma postura genuína, parceira, colaborativa, proativa, não julgadora e
com aceitação incondicional do seu paciente.

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Principais particularidades e
características da PB com crianças
Neste vídeo, faremos uma reflexão sobre a psicoterapia breve com
crianças em relação a características, indicações e atuação do
psicólogo na formação do vínculo e uso de técnicas como a ludoterapia.

Psicoterapia breve com adolescente

O adolescente, sobre quem estamos falando?


Antes de iniciarmos a parte diretamente relacionada ao PB com
adolescentes, é importante que revisemos o conceito de adolescência,
deixando evidentes certas características que tornam única essa fase
do desenvolvimento humano, nos chamando a atenção para cuidados
específicos para a prática da psicoterapia.

A adolescência é um período de nossa vida marcado por conturbações


relacionadas à sexualidade, crises e confusões de identidade, estresse,
luto pelo corpo que se modifica, pela identidade infantil que se vai, pelos
pais que deixam de cuidar de nós como crianças, fortes mudanças
hormonais e um corpo que cresce com rapidez.

Todo esse processo pode parecer doentio, pelos desconfortos que


realmente causa, mas é mediante a vivência desse processo que nós, ao
passarmos pela adolescência, temos a oportunidade de desenvolver
nossas identidades e autonomias, ou seja, nos tornarmos adultos.

Ao longo da adolescência, nós passamos por grandes transformações


que têm como finalidade formar um adulto considerado maduro nos
aspectos físicos e biológicos (inclui capacidade de ter filhos), sociais
(capacidade de gerar e manter relacionamentos) e psicológicos. É a
maturidade cognitiva, representada pela capacidade do pensamento
abstrato e a maturidade emocional, que nos dá condição de adotarmos
identidades, termos relacionamentos e desenvolvermos valores. São os
grandes objetivos psicológicos.

Comentário
A adolescência é uma fase que começa no final da infância, marcada
pelos primeiros sinais de puberdade (processo de maturação sexual), e
termina no início da fase adulta, marcada pela aquisição de identidades
e autonomias. É de se supor que, ao longo do processo de adolescência,
vivenciemos, de forma gradativa, a aquisição de novas características.

Essa observação, assim como para a PB com crianças, nos alerta para a
necessidade de que você tenha bom domínio do campo da psicologia
do desenvolvimento humano, de forma a conseguir identificar onde o
conflito psicológico se relaciona com certa característica em
desenvolvimento.

Fazendo psicoterapia breve com adolescentes

É esperado que, ao abordar a adolescência, uma fase notadamente


intensa, você seja remetido à sua própria adolescência, podendo então
se recordar dos possíveis conflitos que vivenciou, principalmente com
os adultos. Mas, nesse momento, você será o adulto diante de um
adolescente que, em muitos casos, não terá, por conta própria, desejado
ir à terapia. Esteja bem preparado para lidar com esse paciente que tem
características bem peculiares. Observe se você tem as habilidades
necessárias de comunicação para lidar com um jovem e, principalmente,
fique atento às suas reações contratransferenciais, ou seja, as reações e
emoções acionadas em você em decorrência da relação terapêutica e
das manifestações do paciente.

Trabalhar com adolescente, assim como com criança, cria a


necessidade de que o seu olhar vá além dele e seus conflitos internos,
sendo importante envolver os pais nos primeiros encontros e nos
demais ao longo do tratamento, sempre que se fizer necessário. Esse
envolvimento tende a contribuir para a diminuição do índice de evasão
do tratamento por parte do adolescente, algo muito comum.

Para que um processo terapêutico, seja ele breve ou de longo prazo,


tenha boas condições de ser útil para o adolescente, é muito importante,
desde o início do tratamento, que você invista no estabelecimento de
uma relação empática entre você e o jovem, na qual ele se perceba
compreendido, e não julgado em seus conflitos e atitudes. Crie um clima
de confiança, tenha sempre uma postura proativa e incentivadora,
aceite-o incondicionalmente, mas lembre-se de que aceitar não
representa concordar, seja franco e acolhedor.
Planejamento e procedimentos técnicos da psicoterapia breve
para adolescentes

Como você já pôde observar, é muito importante que se faça uma


entrevista inicial com a participação dos pais ou envolvidos diretamente
com o adolescente. Entretanto, nem sempre isso é possível. Precisamos
pensar que, em alguns casos, como o de adolescentes
institucionalizados, não teremos essa oportunidade.

Nesses primeiros encontros, você deve buscar identificar quais são os


conflitos internos latentes no adolescente, e frequentemente isso nos é
mostrado em forma de queixas por parte dos pais, da escola ou do meio
social do adolescente.

Esse é um ponto muito importante, pois, ao longo do processo,


precisamos deixar claro que estamos interessados no que ele entende
como problema, e não necessariamente no que os outros se queixam. O
adolescente deve ter a percepção de que aquele adulto que se
apresenta à sua frente (o terapeuta) está ali para atendê-lo, auxiliá-lo nas
suas dificuldades, que não raro ainda precisam ser esclarecidas.

Desde o início, você deve atentar para a elaboração de uma visão


diagnóstica, contemplando a visão fenomenológica (diagnóstico
psiquiátrico), e uma visão psicodinâmica, ou seja, como os conflitos
psicológicos podem ser compreendidos no histórico relacional e de
desenvolvimento do adolescente. Uma vez tendo claros os pontos de
conflito, o trabalho terapêutico deve ser objetivo e focal nesses
aspectos observados. Todo esse processo deve ser bem compreendido
pelo adolescente, que tem a oportunidade de compreender a proposta
do processo terapêutico, fazendo parte de sua elaboração e condução.
Assim, você também estará preparando o término do processo junto
com seu paciente.
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Particularidades e características da
PB com adolescentes
Neste vídeo, abordaremos a psicoterapia breve com adolescentes,
destacando as características nessa faixa etária, as condições e
indicações, e a atuação do psicólogo na formação do vínculo, bem
como o uso de técnicas com esse tipo de público.

Psicoterapia breve com família


Para a PB com família, é importante que você tenha em mente a
máxima da gestalt de que o todo é sempre maior do que a soma das
partes, ou seja, é importante o olhar individual para cada membro da
família. Todavia, é de maior importância a observação de como se dão
os comportamentos e os modelos de interação entre os seus
integrantes. Dessa forma, teremos uma visão mais apropriada da
natureza dos conflitos familiares, que geralmente aparecem de modo
diverso nas queixas de cada um.
Um atendimento pode se iniciar somente com um membro da família,
sendo necessária a participação de toda a família em alguns momentos,
assim como uma terapia iniciada já com toda a família pode contemplar
encontros individuais. Nesses casos, tenha cuidado e observe o sigilo e
o respeito aos temas que podem expor e fragilizar a pessoa que não
está presente

É importante que o terapeuta que trabalha com família tenha o domínio


de técnicas, tanto para atendimentos individuais quanto para família. A
técnica escolhida será então aquela que melhor convier à atuação, e não
aquela com a qual você se sente mais confortável. Um exemplo é
quando você observa uma situação problema grave, que pode estar
colocando em risco algum membro da família ou comprometendo o
processo terapêutico, exigindo então técnicas comportamentais,
antecipando-se a técnicas mais cognitivas que buscam o insight, por
exemplo.

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Famílias em PB: o todo é mais do que
a soma das partes
Neste vídeo, abordaremos a psicoterapia breve com famílias,
destacando as técnicas, problemas, considerações especiais e como
devem ser combinados os atendimentos individuais e em grupo.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1
Por causa do tempo limitado para o atendimento a crianças em
psicoterapia breve, é importante que os objetivos terapêuticos
sejam identificados logo no início e que, de preferência, os pais
participem da identificação desses objetivos. Qual a razão dessa
identificação de objetivos e do envolvimento dos pais no tratamento
de crianças em psicoterapia breve?

Dessa forma podemos atender mais de uma criança


A
ao mesmo tempo, otimizando os atendimentos.

Com objetivos identificados e o envolvimento dos


B pais, trabalhamos as expectativas de forma mais
clara, preparando o término do tratamento.

Com o conhecimento dos objetivos por parte dos


C
pais, estes podem continuar o tratamento em casa.

Os mesmos objetivos podem ser utilizados para o


D
atendimento de outros membros da família.

Os pais podem comunicar os objetivos a outros


E
terapeutas para prosseguimento do tratamento.

Parabéns! A alternativa B está correta.

É importante que logo no início do tratamento sejam levantados os


principais problemas enfrentados pela criança, envolvendo também
os pais no processo. Para o atendimento de crianças, é muito
importante que o contexto familiar esteja inserido no tratamento
pelo fato de a criança ainda ser muito dependente desse contexto.
Com objetivos claros, será mais fácil trabalharmos as expectativas,
assim como uma melhor condução do término do tratamento,
evitando uma percepção de desamparo ao final.

Questão 2

Ao atender a uma família, precisamos atentar para o fato de que,


mesmo cada um tendo uma personalidade e forma de reagir
específicos, é importante observar como ocorrem as inter-relações
dentro da família. Qual a importância desse olhar para o
atendimento de uma família?

Assim conseguimos compreender melhor cada


A membro da família, pois o objetivo principal é
atender ao indivíduo.

Identificar quem está sendo responsável pelos


B
problemas familiares.

Esse olhar nos permite uma melhor compreensão


C
dos conflitos existentes na família.

Orientar individualmente cada membro da família


D
sobre como proceder.

Selecionar um membro da família para auxiliar na


E
solução dos conflitos.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A gestalt nos orienta para a importância do olhar individual do


membro da família, mas é fundamental compreender como eles se
relacionam e seus modelos resultantes da interação. Esse olhar do
todo contribui para uma melhor compreensão dos conflitos
familiares que podem aparecer de forma diversa na queixa de cada
um.
2 - Psicoterapia breve com casais
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as principais características da
psicoterapia breve com casais.

Contextualizando a psicoterapia com


casais e seus desafios
De uma forma geral, a psicoterapia com casais é um campo de atuação
relativamente novo, como nos revela Costa et al. (2017). Os primeiros
estudos sobre terapia com casais datam da década de 1970. Desde
então, encontramos várias abordagens que se propuseram a discutir e
desenvolver um trabalho direcionado especificamente a casais.
Vejamos a seguir algumas dessas abordagens:

Abordagem comportamental: são terapias que se concentram


inicialmente no comportamento do casal e seus processos de
troca.

Abordagem de influência humanística: são terapias que dão


importância às experiências emocionais e aos padrões afetivos de
ligação do casal e, em algumas delas, valorizando a capacidade de
insight (cognições e percepções).

Abordagem psicodinâmicas: são terapias com bases


psicanalíticas.
É importante que você saiba que todas as abordagens mencionadas
aqui vêm sofrendo aprimoramentos na medida em que pesquisas são
continuamente realizadas.

Feres-Carneiro e Neto (2008) realçam a importância da manutenção do


diálogo entre as diferentes abordagens para o aprimoramento do
trabalho com casais, que, em seu início, contava com movimentos do
tipo aconselhamento matrimonial, até as atuais contribuições das
visões que apontamos anteriormente.

Quando procuramos por estatísticas para nos ajudar a compreender


melhor o que é o problema relativo às relações de casais, encontramos
um cenário bem desafiador. Cerca de 40% dos casais se separam nos
primeiros quinze anos de relacionamento, e somente cerca de 1/4
buscam apoio de uma terapia diante dos problemas que vivenciam.

É mais comum que busquem apoio já em uma segunda relação, mas


também é relevante apontar que aproximadamente 30% dos casais que
buscam apoio terapêutico falham em longo prazo. Muitos casais
demoram a decidir buscar ajuda, o que por si só já revela uma possível
deficiência entre eles na hora de identificar e buscar resoluções para
seus conflitos (DATILLO, 2011).

Em um primeiro olhar, essas estimativas nos revelam o grande desafio


que representa trabalhar com casais, nos sinalizando para o quanto é
importante que, ao se optar por atender casais, tenhamos uma boa
formação nessa área e um domínio considerável das teorias e técnicas
específicas.

Comentário

Um ponto importante a ser observado são as condições iniciais do casal


reveladas nos comportamentos individuais. O primeiro desafio costuma
ser a ausência de escuta de ambos, ou seja, a falta de disposição e
habilidade de um escutar o que o outro tem a dizer. Geralmente, eles
entram em nossos consultórios já apontando queixas e acusações
recíprocas, carregados de um afeto inflamado, com emoções afloradas,
como a raiva ou a tristeza, em que um pode estar acusando ou se
queixando, e o outro, retraído, ou ambos exaltados ou retraídos. Caberá
a você o manejo, no sentido de construir uma circunstância que permita
a ambos se expressarem dentro da sessão. O primeiro objetivo
terapêutico pode vir a ser instalar a calma e a escuta recíprocas.

A motivação também é um aspecto muito importante para o trabalho


com casal e, como você já deve ter percebido nos outros temas em
psicoterapia, para que tenhamos boas chances de benefícios da terapia,
é desejável que ambos estejam com um bom grau de engajamento. É de
se supor que, se procuraram terapia, um mínimo de esperança exista de
benefício e é comum que um dos integrantes do casal tenha insistido
que façam, e então nos deparamos com uma crença também comum
de que a terapia não é algo que possa ajudar.

Bem, nesse momento, você tem diante de você um casal que decidiu
buscar um terapeuta, e já está alertado para observar o estado
emocional de cada um, suas formas de expressão e o nível de
motivação. Já tem também seu primeiro objetivo, que é possibilitar uma
fala que minimamente lhe traga informações sobre os conflitos do
casal.

E daí situações bem características aparecem, como crenças rígidas


que cada um tem do outro, revelando como se veem. É muito importante
que nesse primeiro momento isso seja observado, pois, recorrendo à
premissa da abordagem cognitiva de que nossa percepção é que dita
emoções e comportamentos, imagine que uma crença bem negativa
como “egoísta” ou “descompromissado” domine a visão de um membro
do casal sobre o outro. Com essa crença norteadora, é possível
imaginar como podem vir a ser as percepções distorcidas de eventos
corriqueiros.

Atenção!
Fique atento ao longo das sessões de terapia para que o casal tenha
seus espaços de fala, procurando alertar ao outro para a escuta
interessada sobre o que é dito pelo parceiro ou parceira. Não é incomum
que um dos dois tente trazer o terapeuta como aliado em um esforço de
colocar o outro na situação de ser a causa do conflito.

Um alerta a você: casais não são fáceis de mudar. Não podemos


esquecer que personalidades são estruturas complexas e consolidadas
ao longo do tempo, podendo trazer crenças e aspectos culturais da
família de origem. Estamos falando da forma como cada um do casal
entende o casamento, o que eles esperam de um marido ou esposa e o
conjunto de expectativas que trazem em sua bagagem de experiências
anteriores. Não estamos dizendo aqui que é impossível haver mudanças
e flexibilizações, mas que, em muitos casos, essas personalidades se
entrelaçam mal.

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Desafios e contexto da terapia com
casais
Neste vídeo, abordaremos a psicoterapia no atendimento com casais
demonstrando sua origem, o contexto e principais desafios.

O que trabalhar em uma psicoterapia


breve com casais
Utilizaremos a terapia cognitivo-comportamental (TCC) como
abordagem norteadora para este tópico de estudo por ter, dentre suas
características, a identificação de objetivos terapêuticos claros, o
processo de psicoeducação, trabalho intenso com conteúdos
conscientes e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento,
sendo considerada uma forma de psicoterapia breve.

Ao receber um casal para um primeiro atendimento, é natural que


perguntemos o motivo deles procurarem auxílio terapêutico, sendo
importante que você dê a oportunidade dos dois exporem suas versões.
Inicia-se então uma investigação sobre os conflitos, sua natureza, seus
componentes cognitivos, como crenças, situações em que ocorrem as
desavenças, quais são os comportamentos nessas circustâncias,
expectativas e o que mais for importante para uma melhor
compreensão da natureza dos problemas atuais do casal.

O histórico da relação também é importante, entretanto, é provável que o


tempo da primeira sessão não seja suficiente, tendo que ser continuado
nos próximos encontros.

Atender a um casal representa compreender suas principais


características, ou seja, como eles se relacionam, a forma como se
comunicam, o nível de compreensão sobre os problemas de ambas as
partes, quais são as estratégias que desenvolveram para resolver
problemas. Também é importante fazer uma conceituação cognitiva
individual, compreendendo as principais crenças, esquemas e
estratégias compensatórias que cada um possui.

Comentário
Diante de um casal em estado belicoso, pode ser necessário trabalhar
para instaurarmos a calma durante a terapia, pois, quando envolvidos
pela raiva, os pacientes, de uma forma geral, ficam prejudicados em sua
capacidade de escutar e desenvolver reflexões mais introspectivas.

Ao final de uma sessão em que esse comportamento esteja bem


evidente, você pode propor como exercício uma semana de trégua ao
casal e que até o próximo encontro eles não reajam ao outro de forma
agressiva como de costume. Explique que se trata de uma ação
planejada em sessão. Não é raro eles retornarem com percepções
novas ao experimentarem comportamentos não usuais, tendo efeitos
positivos.

Um passo fundamental para a terapia de casal é que eles consigam


estabelecer uma meta em conjunto, que pode ser parar de brigar entre
si, descobrir o que está errado, ou até mesmo se separar sem gerar
maiores mágoas. Nosso papel é entender se a meta é factível e então
nos colocar em auxílio na direção dessa meta.

Aspectos cognitivos importantes em psicoterapia breve com


casais

Apresentamos aqui duas características perceptivas bem peculiares em


casais que se encontram em conflito. A primeira é a atenção seletiva,
que é a tendência de somente registrar alguns feitos do parceiro, em
geral relacionados à negatividade, em detrimento de outros
comportamentos. A segunda é a atribuição de significados propositais,
nos quais infere-se que um parceiro fez ou deixou de fazer algo com
uma pré-intenção de prejudicar o outro.

Agora, vamos relacionar algumas distorções cognitivas também muito


presentes nos padrões de relacionamento de casais conflituosos
(DATILLO, 2011, p. 33):

check_circle Inferência arbitrária

Acontece quando as conclusões são feitas na


ausência de evidências substanciais.

check_circle Abstrações seletivas

Acontece quando as informações são extraídas de


um contexto e somente alguns detalhes são
enfatizados, enquanto outros, igualmente
importantes, são deixados de lado.

check_circle Supergeneralização

A t d d i t i l d
Acontece quando um ou dois eventos isolados
podem ser os representantes de todas as situações
similares, estando elas relacionadas ou não.

check_circle Maximização e minimização

Acontece quando uma situação é percebida como


mais ou menos importante do que o adequado.

check_circle Personalização

Acontece quando os eventos externos são


atribuídos à própria pessoa, mesmo sem evidências
consistentes.

check_circle Pensamento dicotômico

Acontece quando há um pensamento polarizado, ou


seja, pensamento preto ou branco, tudo ou nada.

check_circle Rotulação inadequada

Acontece quando há a percepção da identidade da


pessoa pelas suas imperfeições e erros cometidos.
check_circle Visão de túnel

Acontece quando há a percepção somente do que


se quer perceber ou ao que se ajusta ao estado de
espírito atual.

check_circle Explicações tendenciosas

Acontece, geralmente, em períodos de estresse,


considerando que sempre o parceiro tem uma
motivação negativa por trás de uma ação.

check_circle Leitura mental

Acontece quando ocorre um pensamento de caráter


“mágico” inferindo com certeza o que o outro está
pensando.

Auxiliar o casal a identificar quais padrões de pensamento um deles


exerce sobre o outro e sobre as situações é bem útil no processo
terapêutico, mas perceba que, para que eles se beneficiem desse
movimento de psicoeducação, é necessário que já tenham gerado uma
mínima consciência da necessidade de cada um olhar para si próprio.

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A terapia breve com casais
Neste vídeo, faremos uma reflexão sobre alguns dos aspectos que
podem ser trabalhados na terapia breve com casais.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

As estatísticas sobre o atendimento de casais nos mostram que


muitos somente procuram auxílio terapêutico em uma segunda
união, e que é comum observarmos uma demora até que decidam
buscar ajuda. Esse fato nos revela que tipo de dificuldade comum
entre casais em conflito?

Deficiência em identificar e resolver problemas na


A
relação.

B A presença de uma hierarquia dentro do casal.

C Uma descrença dos dois com relação a terapias.

D Falta de opções terapêuticas eficientes.

Motivação de sempre resolverem suas situações


E
sem interferência externa.

Parabéns! A alternativa A está correta.

É baixa a procura de auxílio terapêutico por casais ao longo da


primeira união, sendo maior por ocasião da segunda. Entretanto,
cerca de 30% dos casais que buscam terapia falham em seus
objetivos em longo prazo. Observamos também que a demora em
buscar auxílio nos revela um padrão de resolução de problemas
falho no casal, desde a identificação do problema até as estratégias
utilizadas.

Questão 2

Dentre as formas de psicoterapia breve, destacamos a terapia


cognitivo-comportamental (TCC) como uma abordagem adequada
para o atendimento de casais. Identifique a seguir as características
dessa abordagem que confirmam essa afirmação.

A TCC sempre trabalha com tempo fixo e


A
predeterminado para cada caso clínico.

A TCC cumprirá sua proposta de atendimento breve


B desde que o casal também realize atendimentos
individualizados.

A TCC trabalha com identificação de objetivos


terapêuticos claros, técnica de psicoeducação,
C
conteúdos conscientes e o desenvolvimento de
estratégias de enfrentamento.

Para atendimento de casais, a TCC não observa a


D conceituação cognitiva individual, somente
aspectos do casal como um todo.

A TCC não se ocupará com o histórico do


E relacionamento do casal, trabalhando somente os
problemas atuais de forma objetiva.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A terapia cognitivo-comportamental tem como características


trabalhar com objetivos claros a serem levantados em conjunto
com os pacientes, além de auxiliá-los na compreensão de suas
dificuldades individuais e relacionais por meio da psicoeducação e
ajudar na identificação dos padrões de enfrentamento dos
problemas do casal, permitindo o aprimoramento desses padrões e
o desenvolvimento de novas estratégias. Será importante para o
terapeuta que aplica a TCC a compreensão do histórico do casal,
assim como a observação do padrão cognitivo de cada membro.

3 - Psicoterapia breve nas instituições de saúde


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as principais características de uma
atuação em instituições de saúde com psicoterapia breve.

Pensando a psicologia nas


instituições de saúde
Antes de iniciarmos a contextualização sobre a atuação do psicólogo
em instituições de saúde, é importante saber que a formação
acadêmica do psicólogo não fornece uma total capacitação para
atuações em instituições de saúde, como, por exemplo, hospitais. Sendo
assim, é recomendável que se façam estudos complementares, visando
garantir uma melhor condição de atuar nesse ambiente que tem muitas
particularidades.

Vale ressaltar também as diferenças com as quais você poderá se


deparar entre a formação acadêmica, a realidade estrutural das
instituições e as condições sociais da população. Para ilustrar esse
comentário, pense na realidade socioeconômica da comunidade onde
você convive e, para além dela, na realidade da sociedade do seu bairro,
da sua cidade e do país como um todo.
É provável que você consiga imaginar situações em uma estrutura
aquém do ideal para o atendimento de uma população menos
favorecida. Será possível observar demora nas consultas, exames e
procedimentos necessários, além do que seria desejável nessa mesma
população, que já passa por outras adversidades, antes mesmo de
necessitar de auxílio médico.

Exemplo
Imagine atender a uma criança que esteja internada devido a maus
tratos de seus cuidadores e a instituição não ter a estrutura desejável de
suporte de saúde e social, ou uma mulher vítima de um agressor, ou até
mesmo o sujeito que cometeu uma agressão mas que, nesse momento,
é seu paciente em um leito de hospital.

Outro aspecto importante é o fato de que o psicólogo será mais um


agente de saúde a atuar em uma organização já estabelecida, que
contém suas normas e cultura de funcionamento. Conforme já
comentamos, você pode se deparar com uma realidade estrutural ou
normativa que pode entrar em choque com suas referências de relações
humanas ideais, não só com seu paciente, mas também com a equipe
multiprofissional que atua no hospital.
Nesse aspecto, é muito importante você ter em mente que, para poder
beneficiar o paciente com aquilo que a psicologia pode oferecer, ou seja,
a mitigação do sofrimento causado pela patologia e a internação, é
importante que você tenha habilidade de lidar com essas possíveis
barreiras observadas.

Então, é desejável que você possua aptidão para trabalhar em equipe,


para seguir normas e tenha versatilidade para encontrar meios de atuar
junto ao seu paciente.

Quando falamos de uma estrutura profissional multidisciplinar, nos


referimos a profissionais médicos, enfermeiros, assistentes sociais,
outros psicólogos e agentes administrativos em geral, que formam
equipes de atuação dentro de um hospital ou clínica, evidenciando que a
atuação do psicólogo não é isolada, mas em conjunto com esses
profissionais.

video_library
O papel do psicólogo nas instituições
de saúde
Neste vídeo, propomos uma reflexão para compreender qual o papel do
psicólogo nas instituições de saúde.

Fazendo psicoterapia breve em


instituições de saúde
O paciente de uma instituição de saúde possui características
peculiares que devem ter a atenção especial do terapeuta. O primeiro
ponto a ser observado é a despersonalização que o paciente sofre ao
ser, por exemplo, internado para tratar de alguma doença. Ele passa a
ser reconhecido como o paciente do leito x, e do diagnóstico y, e ainda
perde muito de sua autonomia sobre seus horários, deslocamentos,
hábitos de higiene e de alimentação, ficando submetido às rotinas
médicas e da enfermagem.

Imaginem, de uma hora para outra, aquela pessoa que conduzia sua
vida com autonomia e sendo produtiva, até mesmo provedora de uma
família, ser submetida a esse estado. É de se esperar que ela
desenvolva uma série de crenças relativas à sua condição, crenças que
agravam o sofrimento psíquico da pessoa, além da doença em si
(ANGERAMI, 2004).

É parte do seu trabalho como psicólogo buscar resgatar a humanidade


desse paciente, identificando e flexibilizando as crenças relativas à sua
condição de vida atual e futura, diante de um quadro de doença que
pode ser temporário ou permanente, e a melhor maneira de fazer isso é
sendo acolhedor, com uma escuta incondicional, e procurando entender
o ponto de vista do paciente, auxiliando-o a desenvolver visões
alternativas e sentidos mais favoráveis e possíveis.

A sua primeira tarefa diante de um paciente internado em uma


instituição é realizar uma avaliação psicológica utilizando-se das
ferramentas que julgar necessárias e que sejam pertinentes à situação,
como entrevistas, testes psicológicos, entrevistas com familiares e
profissionais envolvidos no caso e observação de comportamentos.
Nesse primeiro momento, a intenção é buscar informações sobre o
estado cognitivo, emocional e comportamental do paciente, sendo
também importante observar esses mesmos aspectos com relação à
família, o sistema de saúde envolvido e o contexto sociocultural do
paciente.

Comentário

É de se esperar que uma pessoa entre em sofrimento psíquico pelo


simples fato de ser hospitalizada. Imagine uma criança separada de
seus amiguinhos, um homem que está prestes a sofrer uma amputação
em decorrência do agravamento de sua diabetes ou uma mulher que
recebeu a indicação de uma mastectomia. O processo de hospitalização
deve ser visto além da circunstância de momento, como algo que pode
trazer questões do histórico de vida do paciente e da visão de futuro,
após a realização dos procedimentos, e suas possíveis consequências.

A terapia realizada dentro de uma instituição de saúde não segue os


fundamentos básicos de uma psicoterapia realizada em um consultório
particular, onde o paciente tem a iniciativa de buscar um auxílio
terapêutico. Devemos nos atentar para as limitações e diferenças da
psicoterapia realizada em uma instituição, na qual primeiramente não
teremos como objetivos principais levar o paciente a um exercício de
autoconhecimento e autocrescimento ou à cura de sintomas
específicos, mas, como já foi dito, buscar mitigar o sofrimento
proveniente da situação em que ele se encontra no momento.

Outro ponto específico é o ambiente de atendimento que, longe de ter as


características de um setting terapêutico, se mostra bem diferente, com
situações invasivas ocorrendo todo o tempo, como, por exemplo, uma
enfermeira que entra para a higiene e medicações, independentemente
de horários, quartos que são coletivos e a necessidade de convívio com
outros pacientes. Até mesmo o psicólogo pode ser algo invasivo no
primeiro momento, pois o paciente pode não ter solicitado atendimento.
A primeira abordagem, bem como as demais, deve ocorrer com o
máximo de sensibilidade para o conforto e aceitação do paciente. Você
deve estar pronto para lidar com todo tipo de situações invasivas,
inclusive a interrupção em pleno atendimento pelas situações
corriqueiras de um ambiente hospitalar.

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A terapia breve em hospitais
Neste vídeo, propomos uma reflexão sobre as particularidades da
terapia no ambiente hospitalar, além de também elencarmos os
principais desafios.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A formação acadêmica tende a não ser suficiente para habilitar o


psicólogo a atuar em instituições de saúde, sendo recomendáveis
estudos mais aprofundados e especializados. O profissional poderá
se deparar com algumas diferenças de realidade entre a formação
acadêmica e as instituições. Aponte a alternativa que indica essas
possíveis diferenças.

Situação socioeconômica e cultural desfavorável da


A população incidindo sobre suas reações e estrutura
precária de atendimento da instituição.

Falta de apoio para aperfeiçoamento dos estudos


B por parte da instituição e falta de equipe
multidisciplinar.

Estrutura adequada, mas falta de reconhecimento


C do profissional de psicologia por parte da
instituição.

Normas e procedimentos muito rígidos que


D
impossibilitam a atuação do psicólogo.

Equipe multidisciplinar que não atua em conjunto e


E falta de reconhecimento da população com relação
aos serviços do psicólogo.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Vivemos em uma sociedade com grande variação de condições


socioeconômicas e culturais, e na qual uma grande parcela da
população não tem suporte do Estado, algo que pode não ser
retratado na formação do psicólogo que trabalhará nas instituições
de saúde. Espera-se então que o paciente traga demandas
psicológicas que extrapolam aquelas ocasionadas pela doença que
o fez procurar uma instituição de saúde, além do fato de que a
realidade nos revela circunstâncias estruturais prejudiciais ao
atendimento, como espaços inadequados, atrasos em consultas e
exames, entre outros problemas.

Questão 2

Um paciente instituicionalizado está submetido a situações


peculiares, pelo simples fato de estar inserido em um contexto
coletivo de atendimento e sendo cuidado por diversos profissionais
dessa instituição. Uma dessas situações é a

A desvinculação.

B anulação.

C despersonalização.

D desvirtuação.

E paralização.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Um paciente internado, via de regra, perde muito da sua autonomia


e, dependendo da gravidade do caso, perdendo-a totalmente, não
decidindo mais sobre seus horários, movimentos, alimentação,
dentre outras atividades que anteriormente tinha a condição de
comandar. Soma-se a isso o fato de sofrer um processo de
desumanização, vindo a ser reconhecido pelo número do leito e por
seu diagnóstico. Essa situação merecerá, por parte do terapeuta,
atenção adequada no sentido de mitigar o sofrimento do paciente.
4 - Psicoterapia breve em grupos especiais
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a aplicação da psicoterapia breve em
casos de ansiedade, depressão, dependência química e transtorno bipolar.

Psicoterapia breve em casos de


ansiedade
Transtorno de ansiedade é um dos distúrbios mais prevalentes dentre
os problemas mentais da nossa população. De acordo com Dattani,
Ritchie e Roser (2021), em 2017 tínhamos cerca de 3,8% da população
mundial (aproximadamente 284 milhões) com algum tipo de transtorno
de ansiedade e, ainda de acordo com esses autores, desde 2019 o Brasil
está entre os países que possuem o maior índice, com 7,7% da
população (aproximadamente 15 milhões) com esse problema.

Mesmo que não se caracterize um transtorno de ansiedade, é muito


comum que ela esteja envolvida entre as queixas que se apresentam.
Assim, é importante que você tenha conhecimentos sobre essa emoção
e domine técnicas para auxiliar seu paciente a lidar com ela.

Tipos de ansiedade

Antes de apresentarmos alguns transtornos que envolvem a ansiedade,


vale destacar que esses distúrbios são caracterizados pelo medo
excessivo, em que os sintomas são graves a ponto de trazer prejuízos
em alguma área de vida da pessoa, seja a profissional, saúde, afetiva ou
de relacionamentos pessoais. A seguir, veremos alguns transtornos
classicamente considerados na categoria de transtornos de ansiedade
ou que de alguma forma apresentam uma base de ansiedade
importante:

Transtorno de ansiedade generalizada expand_more

Preocupação excessiva, quase que diária sobre uma série de


eventos e de difícil controle, com duração de seis meses ou
mais.

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) expand_more

É uma doença crônica caracterizada pela presença involuntária e


intrusiva de pensamentos obsessivos e compulsões - seguindo o
manual de classificação DSM - 5 (APA, 2014), o TOC passa a
fazer parte de uma categoria de classificação independente dos
transtornos de ansiedade.

Transtorno do pânico expand_more

É caracterizado por pico de ansiedade agudo e intenso,


geralmente acompanhado por pensamentos de tragédia ou
morte, com duração de 20 a 30 minutos.

Hipocondria expand_more

É a preocupação excessiva com doenças e a própria saúde,


apresentando queixas de múltiplos sintomas, não havendo
flexibilização mesmo quando nada é constatado por exames
médicos.

Fobias expand_more
Ansiedade intensa, persistente e irrealista em resposta a algum
estímulo ou situação específica.

Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) expand_more

Ansiedade que ocorre em decorrência de experiência de grande


estresse físico e emocional ‒ seguindo o manual de
classificação DSM – 5 (APA, 2014), o TEPT passa a fazer parte
de uma categoria de classificação independente dos transtornos
de ansiedade.

Tratando o paciente ansioso com psicoterapia breve


Ao fazer uma avaliação inicial com seu paciente, necessária em todo
tipo de processo terapêutico, é importante que você observe o nível de
ansiedade do paciente, se ele tem a consciência desse estado e se
possui ferramentas para lidar com ela. É bem comum que ele esteja
deficiente em algum ou todos os pontos mencionados.

Essa avaliação é importante, pois mesmo a PB não se propondo a fazer


um tratamento aprofundado de autoconhecimento, é necessário que
este tenha uma mínima condição de promover reflexões e insights, o
que tende a ser prejudicado quando ele está envolvido em um estado
emocional muito exacerbado, no caso aqui, a ansiedade.

É muito útil que você utilize algumas técnicas iniciais, como a


psicoeducação, que consiste em auxiliar o paciente a compreender seus
episódios de ansiedade em termos orgânicos e psicológicos. Muitos
pacientes com transtorno do pânico se beneficiam quando
compreendem suas reações fisiológicas de acionamento do sistema
simpático e parassimpático, desmistificando a ideia de que estão
prestes a morrer por causa do extremo desconforto durante um
momento de pânico.

Saiba mais
Técnicas comportamentais como controle de respiração, relaxamento
muscular, desfocalização, dentre outras, também são muito úteis na
fase inicial do tratamento, pois permitem que o paciente adquira a
possibilidade de amenizar seu momento de crise, trazendo algum
conforto.

Uma vez que você consiga obter esses avanços iniciais, é hora de nos
concentrarmos em aspectos mais cognitivos relacionados à percepção
de realidade do paciente, principalmente os fatores que representam
ameaças. Nessa fase, que pode ser chamada de reestruturação
cognitiva, você deve trabalhar as seguintes situações: continuidade da
identificação dos medos, avaliação das estratégias, a percepção mais
realista dos eventos ameaçadores, a percepção do paciente de sua
própria capacidade de lidar com os eventos e, por fim, o auxílio para
desenvolver novas percepções e estratégias.

Para que você conduza bem o paciente ao longo desse processo, é


muito importante que você respeite o tempo e a capacidade desse
paciente, de modo que ele não se sinta pressionado a fazer coisas para
as quais ainda não está preparado, acionando resistências e crenças de
incapacidade.

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A ansiedade e a terapia breve
Neste vídeo, abordaremos os tipos de transtornos de ansiedade e as
possibilidades de intervenção na terapia breve.
Psicoterapia breve em casos de
depressão
A depressão é um problema psicológico muito comum a todos nós.
Muito provavelmente já experimentamos ou experimentaremos um
estado de tristeza em algum momento da vida, podendo este ser
caracterizado como depressão.

Comentário
Em alguns casos, a depressão pode persistir e se tornar patológico se
não for tratado, podendo evoluir para o desenvolvimento de
pensamentos suicidas. Apesar da condição de gravidade que uma
depressão pode causar, existem tratamentos muito eficazes com
medicamentos, estimulações cerebrais e psicoterapias, dentre as quais
destacamos a terapia cognitivo-comportamental, que se enquadra nos
moldes de uma psicoterapia breve.

Sabendo mais sobre a depressão

A depressão pode ser compreendida como um transtorno do


pensamento que afeta diretamente a forma como você pensa, sente e
como reage às situações e às suas rotinas diárias. Uma pessoa em
depressão tende a perceber e interpretar as coisas que acontecem de
forma negativa, inclusive a si, não percebendo suas capacidades, além
de visualizar o futuro de forma pessimista, resistindo a qualquer indício
que contradiga esta percepção.

Uma pessoa pode ser considerada deprimida se tiver cinco dos


sintomas que descreveremos a seguir, por pelo menos duas semanas,
podendo variar seu estado entre leve, moderado e grave:

Humor deprimido.

Redução de interesse ou prazer em todas ou quase todas as


atividades.

Perda ou ganho de peso.

Insônia ou hipersonia.

Agitação ou retardo psicomotor.

Fadiga ou perda de energia.


Sentimentos de desvalia ou culpa inapropriados.

Redução de concentração ou ideias de morte ou suicídio.

Tratando uma pessoa em depressão com psicoterapia breve

Uma vez diante de um paciente com depressão, o primeiro cuidado que


você deve ter é identificar se existem ideações suicidas e, caso haja,
verificar seu potencial. Se você considerar algum grau de risco, mínimo
que seja, o primeiro objetivo terapêutico passa a ser mitigar essa
condição.

Se você considerar que o paciente não está em risco, você deve avaliar
seu grau de motivação para o tratamento, lembrando que a depressão
causa desmotivação e descrédito por parte do paciente nele próprio e
na visão de futuro, incluindo-se aí o próprio tratamento. Sendo assim,
invista no vínculo terapêutico e na motivação do paciente.

Já observamos que o paciente em depressão mantém uma disfunção


na sua forma de pensar, distorcendo sua percepção para um viés
negativo, revelando uma rigidez cognitiva e um estado de
vulnerabilidade em que ele perde a resiliência e pequenos desafios
podem ser muito desafiadores.

Faça uma boa avaliação inicial do caso e, além do diagnóstico, levante


os principais problemas que ele apresenta na vida, fazendo um
planejamento de intervenção de forma a iniciar o tratamento pelos
problemas mais fáceis de serem abordados, deixando os mais difíceis
para um momento posterior, quando o paciente já poderá ter recuperado
minimamente sua capacidade de resolução de problemas. Entretanto,
não negligencie situações graves que, mesmo difíceis, podem estar
prejudicando ou colocando o paciente em risco.

Comentário
O objetivo de uma PB no tratamento de uma depressão é fazer com que
o paciente readquira sua flexibilidade cognitiva, que significa conseguir
avaliar uma mesma situação de outras formas. Nessa direção, você
deve se utilizar de um arsenal de técnicas não somente cognitivas, mas
também comportamentais na direção da reativação de atividades
prazerosas por parte do paciente.

Assim como em casos de ansiedade, fique atento ao tempo do paciente,


tomando cuidado para não exigir demais, evitando assim que ele se
frustre acionando crenças de incapacidades. É muito importante para
um paciente deprimido que ele se sinta compreendido no que está
passando. Ao final do tratamento, busque reforçar os ganhos
terapêuticos, além de levantar as situações que possam ser
desafiadoras para o paciente, prevenindo recaídas.

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Principais considerações com
pacientes depressivos
Neste vídeo, abordaremos os principais cuidados e considerações na
psicoterapia breve com pacientes depressivos, destacando os sintomas,
objetivos e pontos de atenção.

Psicoterapia breve em casos de


dependência química
A dependência química é um quadro desafiador para todas as
abordagens terapêuticas dada a sua complexidade por envolver
aspectos psicológicos, orgânicos, genéticos e socioculturais do
paciente. Somam-se a essas condições a variedade de drogas lícitas e
ilícitas disponíveis para uso e suas consequências diretas e indiretas no
próprio usuário, na sua família e na sociedade.
É importante salientar que encontramos na literatura sobre PB a
orientação de que sua aplicabilidade deve ocorrer em casos nos quais a
pessoa se encontra fora da fase aguda e com o seu ego preservado, o
que representa dizer, por exemplo, que uma pessoa em fase intensa de
consumo de crack ou outra droga pesada não seria indicada para um
atendimento em PB.

O que é a dependência química

Atualmente, a dependência química é entendida como um transtorno


neuropsiquiátrico que afeta usuários de substâncias psicoativas e cuja
exposição prolongada torna o seu consumo compulsivo. De uma forma
geral, drogas psicoativas ativam circuitos de recompensa e, com a
continuidade do consumo, observa-se prejuízo cerebral, tornando o
cérebro mais sensível a fatores estressantes e trazendo prejuízos
também à capacidade de controle.

Alguns conceitos importantes para o trabalho com dependência


química:

Uso
Experimentar, consumir esporadicamente alguma substância psicoativa
não acarretando prejuízos por causa desse uso.

Abuso
Ao se dar continuidade ao uso, passar a ter prejuízos em alguma área da
vida (social, profissional, familiar, saúde ou outra) que esteja relacionada
ao uso.

Dependência
Passa a ocorrer diante da perda do controle no consumo, acentuando-se
os prejuízos em decorrência do uso.

Fissura ou craving
É o desejo intenso de usar uma droga específica em busca do efeito
causado por ela.

Tolerância
É a necessidade de se ter doses maiores da droga para que se obtenha
o mesmo efeito.

Síndrome de abstinência
É o conjunto de sintomas que ocorrem em decorrência de um tempo
sem o consumo da droga.

Tratando a dependência química com psicoterapia breve

É importante que você saiba que casos de dependência química


apresentam grande índice de ocorrência, altas taxas de recaídas e um
baixo índice de recuperação. A maioria dos pacientes que buscam ajuda
terapêutica apresentam comorbidades psiquiátricas, usam mais de um
tipo de droga e têm graus variados de motivação para o tratamento ou a
interrupção do uso da droga.

Iniciando então um atendimento de um dependente químico, você deve


observar em sua avaliação inicial qual o estado de motivação de seu
paciente, no que Proshaska e DiClemente (1986) nos auxiliam:

Pré-contemplação expand_more

Não reconhece que tem problemas relacionados ao uso de


drogas.

Contemplação expand_more

Reconhece que tem problema, porém não consegue mudar seu


comportamento, nem seu estilo de vida para que cumpra seu
objetivo de não usar.

Ação expand_more

Reconhece seu problema relacionado ao uso de drogas e se


compromete a mudar seu comportamento, considerando
alterações no estilo de vida e já reconhecendo e enfrentando
situações de risco.

Manutenção expand_more

Uma vez que conseguiu atingir a abstinência, toma decisões no


sentido de manter o novo comportamento.

Você deve ter em mente que o vício não é uma escolha, mas um
caminho encontrado pelo indivíduo para lidar com alguma dificuldade
com a qual ele se deparou na vida, mostrando uma característica muito
presente em casos de dependência química, que é a baixa tolerância à
frustração. Essa dificuldade deve ser identificada e inserida como
objetivo terapêutico em alguma fase do tratamento.

Comentário
Na perspectiva da terapia cognitivo-comportamental, entramos em
sofrimento quando, diante de situações desafiadoras, acionamos
crenças centrais relacionadas ao desamparo, desamor e desvalor,
gerando pensamentos automáticos distorcidos e estratégias
compensatórias para eliminarmos o sofrimento causado pela crença
central acionada. Nessa direção, é muito importante que você faça essa
conceituação cognitiva, além de identificar as crenças facilitadoras e
permissivas relacionadas à substância utilizada.

O tratamento deve envolver a psicoeducação acerca dessas crenças,


identificação de estratégias até então utilizadas, a preparação para o
processo de abstinência, o desenvolvimento de novas percepções sobre
o uso da substância, novos hábitos e, principalmente, o
desenvolvimento de estratégias e situações de apoio para a prevenção
de recaída.

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A terapia breve na dependência
química
Neste vídeo, abordaremos os principais cuidados e considerações na
psicoterapia breve com pacientes que apresentam algum tipo de
dependência química, destacando conceitos básicos, graus de
motivação, objetivos e pontos de atenção.

Psicoterapia breve em casos de


transtorno bipolar
Você encontrará diversas referências comentando sobre indicações e
contraindicações para a utilização da PB e muitas delas citarão o
transtorno bipolar como não indicado. Entretanto, há algum tempo,
constatamos o benefício da abordagem considerada breve, como é o
caso da terapia cognitivo-comportamental para esses casos (KNAPP;
ISOLAN, 2005). Identificaremos a seguir os benefícios possíveis dessa
abordagem considerada breve, principalmente em conjunto com o
tratamento farmacológico, essencial para o tratamento do transtorno
bipolar.

O que é o transtorno bipolar?


Todos nós experimentamos variações de humor, ficamos tristes e
desanimados diante de uma notícia ruim, alegres e encorajados quando
conseguimos algo que tanto queremos e, dessa forma, vivemos uma
variedade de emoções ao longo de um mesmo dia, sendo que isso faz
parte de nossa vida.
Uma pessoa com transtorno bipolar viverá tais variações de maneira
que seu humor, pensamentos, emoções e comportamentos alteram-se
visivelmente, afetando o seu cotidiano, oscilando entre o extremamente
baixo (depressão) e o extremamente alto (mania).

O transtorno bipolar é muito comum, tendo seu início precoce, em que o


paciente permanece em depressão por um longo período, podendo
ocasionar ideações e tentativas de suicídio. Também causa um grande
sofrimento no círculo familiar, sendo motivo de muitos conflitos e
separações. Esse transtorno possui causas biológicas, com disfunção
nos sistemas de neurotransmissores e fatores genéticos, que são
permeadas pela dificuldade em lidar com situações que evocam o
estresse.

Podemos dividir os sintomas nos seguintes domínios:

Maníacos, com a manifestação de euforia, grandiosidade,


impulsividade, aumento de libido, inquietação, desinibição social e
diminuição de necessidade de sono.

Depressivos, com sintomas característicos da depressão,


ansiedade, irritabilidade, hostilidade, violência e ideações suicidas.

Psicóticos, com delírios e alucinações.

Cognitivos, com a ocorrência de aceleração do pensamento,


distratibilidade, desorganização e diminuição da atenção.

Tratando o transtorno bipolar com psicoterapia breve

A terapia cognitivo-comportamental, considerada como uma forma de


PB, mostra-se útil no auxílio a casos de transtorno bipolar por ser
estruturada e orientada para a resolução de problemas. Com base nessa
abordagem, conheça agora quais são as orientações terapêuticas
específicas e importantes.
Como em todo início de tratamento, você deve identificar o grau de
motivação do paciente assim como o seu grau de consciência sobre o
problema que está vivenciando, nesse caso, o transtorno bipolar.
Também é muito importante que você avalie se existe potencial suicida,
pois, como já mencionamos, é comum que ocorra. Uma vez observados
esses pontos, é importante que você informe ao seu paciente sobre o
transtorno e suas características, já dentro de um processo
psicoeducativo. Investigue quais são as circunstâncias estressoras na
vida de seu paciente e quais são as percepções e reações dele nessas
circunstâncias, no sentido de compreender sua vulnerabilidade e
desenvolver flexibilidade cognitiva para uma melhor regulação
emocional.

Atenção!
Durante a terapia é importante que você ajude o paciente a compreender
melhor a sua condição, auxiliando-o a identificar sinais de início de um
estado depressivo ou aumento na sua energia na direção da mania.

Construa junto com o paciente uma estrutura de apoio a qual ele possa
recorrer, desde o envolvimento de pessoas próximas, como amigos e
familiares, que podem servir de sinalizadores dessas mudanças, até
profissionais que podem ser acionados. É necessário que, se possível, a
família seja envolvida no tratamento, sendo necessário fornecer a eles
informações sobre o que é o transtorno bipolar.

Como a medicação é essencial para o tratamento desse transtorno, e o


que observamos é uma baixa adesão do paciente ao uso de remédios, é
muito importante identificar as crenças relativas à medicação e
trabalhar no sentido de gerar consciência da sua importância.

video_library
Os transtornos bipolares e a terapia
breve
Neste vídeo, abordaremos os principais cuidados e considerações na
psicoterapia breve com pacientes que apresentam transtorno bipolar,
destacando conceitos básicos, sintomas, objetivos e pontos de atenção.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Segundo os manuais de psiquiatria, temos vários transtornos que


envolvem a ansiedade. Qual o nome do transtorno que tem como
característica a ocorrência de ansiedade como consequência da
experiência de grande estresse físico e emocional?

A Transtorno de ansiedade generalizada.

B Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

C Transtorno do pânico.

D Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

E Hipocondria.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Uma pessoa que passe por uma situação que tenha grande impacto
físico, principalmente com a experimentação de uma emoção muito
forte, como, por exemplo, sofrer um acidente de trânsito, pode
desenvolver TEPT. O aparecimento dos sintomas pode ocorrer
tempos depois do fato e com comorbidades, como depressão e
dependência química.

Questão 2

A dependência química é considerada um transtorno psiquiátrico,


no qual pessoas passam a usar de forma compulsiva alguma
substância psicoativa (drogas) após exposição prolongada. Como
essas substâncias atuam no cérebro?

O uso contínuo de drogas faz com que o cérebro


A
não consiga reconhecer situações de estresse.

Após um longo período de utilização de uma droga,


B os neurônios desidratam, causando a síndrome de
abstinência.

O risco da instalação de uma dependência química


C ao nível cerebral só ocorre em caso de uso de mais
de um tipo de droga.

Com o tempo de uso, a região do cérebro para


D tomada de decisões tem prejuízos severos e
irreversíveis.

Com o uso contínuo de uma droga, o cérebro torna-


se mais sensível e vulnerável a situações de
E
estresse, além de prejuízos na capacidade de
controle.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A droga proporciona efeitos prazerosos como a percepção de


recompensa, ativando a liberação de neuroquímicos
correspondentes a essa percepção. Com o uso continuado, existe a
tendência da perda da capacidade em se ter prazer sem o uso da
droga e com menos tolerância à frustração. A capacidade de
controle também é afetada. Um único tipo de droga que tenha seu
uso continuado pode ocasionar essa condição.

Considerações finais
Como vimos, o atendimento em psicoterapia breve segue princípios
fundamentais que precisam ser observados em usos específicos, como
os apresentados neste conteúdo. É fundamental que você tenha não
somente o domínio das técnicas da psicoterapia breve, mas que
também seja um conhecedor dos universos nos quais se propõe a
atender, sejam crianças, adolescentes, família, casais, instituições de
saúde e patologias específicas.

Pelo fato de ser uma proposta de atendimento em condições limitadas,


seja de estrutura ou tempo, estamos certos de que este estudo lhe
orientou como proceder na identificação dos objetivos terapêuticos
importantes a serem abordados, nos procedimentos técnicos, como a
formação do vínculo, a compreensão dos contextos de atendimento,
históricos e de suporte dos pacientes, escolha de técnicas e o cuidado
com o término do tratamento. A observação das técnicas da
psicoterapia breve é tão importante quanto saber em que situações ela
encontra seus limites de atuação.

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Podcast
Neste podcast, faremos uma reflexão sobre as caraterísticas da
psicoterapia breve em atendimentos com tipos variados de sujeitos e a
importância da terapia em instituições de saúde.
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Pesquise o site Our World In Data e veja dados sobre estatísticas a
respeito dos principais problemas do mundo e do Brasil. Veja a área
específica de saúde mental.

Para uma introdução à terapia cognitivo-comportamental, considerada


uma psicoterapia breve, veja o livro Terapia cognitivo-comportamental:
teoria e prática, de Judith S. Beck.

Pesquise sobre a atuação de diversas drogas no cérebro e no


comportamento na página Learn Genetics, da Universidade de Utah.

Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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Cengage Learning, 2004.

COSTA, C. B.; DELATORRE, M. Z.; WAGNER, A.; MOSMANN, C. P. Terapia


de casal e estratégias de resolução de conflito: uma revisão
sistemática. Psicologia: Ciência e Profissão, jan./mar. 2017, v. 37, n. 1,
208-223.

DATILLO, F. M. Manual de terapia cognitivo-comportamental para casais


e famílias. Porto Alegre: Artmed, 2011.

DATTANI, S.; RITCHIE, H.; ROSER, M. (2021). Mental Health. Our World In
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FÉRES-CARNEIRO, T.; NETO, O. D. Psicoterapia de casal: modelos e


perspectiva. Aletheia 27(1), p. 173-187, jan./jun. 2008.

KNAPP, P.; ISOLAN, L. Abordagens psicoterápicas no transtorno bipolar.


Rev. Psiq. Clín. 32, supl 1;98-104, 2005.
OLIVEIRA, I. T. O planejamento da psicoterapia breve infantil a partir do
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– Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

OLIVEIRA, I. T. Psicoterapia breve infantil: planejamento do processo. 3.


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PROCHASKA, J. O.; DICLEMENTE, C. C. Toward a comprehensive model


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process of change. NY: XLVI Encontro da ANPAD ‒ EnANPAD 2022 On-
line  ̶ 21-23 set. 2022 ‒. 2177-2576. versão on-line Plenum, 1986. p. 3-
27. Sci Hub. Consultado na internet em: 23 fev. 2023.

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