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UVV - PSICOLOGIA

Disciplina: Psicologia Hospitalar


Aluna: Beatriz Conde Cavalcanti
Turma: PS8Mb

Portfólio – 2º Bimestre

As aulas que mais me chamaram a atenção foram àquelas destinadas à Psicologia Hospitalar
no que diz respeito ao cuidado pediátrico (para acolhimento pré-operatório e para o processo de
luto). A saúde infantil é uma área que exige uma abordagem holística, considerando não apenas os
aspectos físicos, mas também os emocionais e psicológicos das crianças. Nesse contexto, a
Psicologia Hospitalar Pediátrica emerge como uma disciplina essencial, desempenhando um papel
crucial no cuidado integral e no bem-estar das crianças hospitalizadas. Este texto discutirá a
importância dessa especialidade, destacando seus benefícios na promoção da saúde infantil.
Em primeiro lugar, é importante reconhecer que o ambiente hospitalar pode ser um espaço
intimidante para as crianças. A presença de procedimentos médicos invasivos, a separação dos
familiares e a incerteza em relação ao diagnóstico e tratamento podem gerar estresse e ansiedade
significativos. A Psicologia Hospitalar Pediátrica atua como uma ponte emocional, proporcionando
suporte psicológico tanto para as crianças quanto para suas famílias. Ao oferecer estratégias de
coping e intervenções terapêuticas adequadas à faixa etária, os psicólogos contribuem para a
adaptação emocional das crianças ao ambiente hospitalar, minimizando o impacto negativo dessa
experiência.
Além disso, a Psicologia Hospitalar Pediátrica desempenha um papel crucial na promoção do
desenvolvimento infantil durante o período de hospitalização. As intervenções psicológicas visam
reduzir os efeitos adversos do estresse hospitalar nas diferentes fases do desenvolvimento infantil.
Essa abordagem preventiva contribui não apenas para a recuperação física, mas também para a
manutenção da saúde mental e emocional a longo prazo. É interessante, sobretudo, abordar essa
questão tendo em vista que complicações hospitalares na infância podem desencadear em traumas,
angustias e dificuldades de enfrentamento no que tange à hospitalização no futuro.
Outro aspecto relevante é a colaboração estreita entre a Psicologia Hospitalar Pediátrica e a
equipe médica multidisciplinar. A integração desses profissionais permite uma compreensão mais
abrangente das necessidades das crianças, possibilitando a personalização do plano de cuidados de
acordo com as características individuais de cada paciente. Dessa forma, a psicologia se torna uma
aliada fundamental na abordagem holística da saúde, reconhecendo a interconexão entre o corpo e a
mente. Neste cenário, o psicólogo que atua no ambiente hospitalar deve reconhecer a importância
de uma equipe multiprofissional, a qual pode garantir maior conforto e segurança para a criança a
partir do conhecimento e esclarecimento de dúvidas sobre o cenário, a partir de uma linguagem
simples adequada à faixa etária da criança.
A atuação da Psicologia Hospitalar Pediátrica transcende o ambiente hospitalar, estendendo-se
para a fase pós-hospitalização. O suporte psicológico contínuo, tanto para as crianças quanto para
suas famílias, é essencial para enfrentar possíveis desafios emocionais e auxiliar na reintegração à
vida cotidiana. Essa continuidade de cuidados contribui para a prevenção de complicações
emocionais a longo prazo, promovendo uma transição mais suave para a vida após a hospitalização.
Dessa maneira, a Psicologia Hospitalar Pediátrica é uma peça-chave no quebra-cabeça do
cuidado infantil integral. Sua abordagem sensível e especializada não apenas alivia o sofrimento
emocional das crianças hospitalizadas, mas também promove o desenvolvimento saudável e a
adaptação ao longo prazo. Investir nessa área é investir no futuro, garantindo que as gerações
futuras cresçam não apenas fisicamente saudáveis, mas também emocionalmente resilientes.
A relevância da Psicologia Hospitalar Pediátrica no contexto do pré-operatório é substancial,
uma vez que esse período representa uma fase crítica no processo de cuidados infantis. O pré-
operatório é marcado por ansiedades e incertezas tanto para as crianças quanto para suas famílias, e
a intervenção psicológica nesse estágio desempenha um papel crucial em vários aspectos. Acredito
que seja possível listar alguns desses trabalhados em sala de aula:
 Redução da Ansiedade Pré-Operatória: Crianças frequentemente experimentam ansiedade
significativa antes de procedimentos cirúrgicos. A presença de um psicólogo especializado em
Psicologia Hospitalar Pediátrica pode ajudar a identificar e abordar esses sentimentos, oferecendo
estratégias para reduzir a ansiedade por meio de técnicas de relaxamento, jogos terapêuticos e
comunicação eficaz.
 Preparação Psicológica para Procedimentos Médicos: Muitas crianças têm medo do
desconhecido, e a Psicologia Hospitalar Pediátrica desempenha um papel fundamental na
preparação emocional para procedimentos médicos. Explicar de forma adequada e adaptada à idade
sobre o que a criança pode esperar durante o pré-operatório pode ajudar a diminuir o medo e
aumentar a cooperação.
 Suporte à Família: O impacto emocional do pré-operatório se estende às famílias. Os
psicólogos podem oferecer suporte emocional aos pais, ajudando-os a lidar com suas próprias
ansiedades e preocupações. Isso contribui para a criação de um ambiente familiar mais estável e
acolhedor para a criança.
 Identificação de Necessidades Específicas: Cada criança é única, e o pré-operatório é o
momento ideal para identificar necessidades psicológicas específicas. Algumas crianças podem
precisar de apoio adicional devido a experiências anteriores, enquanto outras podem se beneficiar
de estratégias específicas de enfrentamento. O psicólogo atua como um facilitador na adaptação do
plano de cuidados às necessidades individuais de cada paciente. Por vezes, a criança pode
apresentar hipersensibilidade ou questões referentes ao neurodesenvolvimento que interferem em
sua experiência hospitalar.
 Colaboração Interdisciplinar: A presença de um psicólogo no pré-operatório promove a
colaboração interdisciplinar entre profissionais de saúde. Trabalhar em conjunto com a equipe
médica possibilita uma compreensão mais completa das necessidades da criança, resultando em
abordagens de cuidado mais abrangentes e personalizadas.
Ao considerar a relevância da Psicologia Hospitalar Pediátrica no pré-operatório,
reconhecemos que essa especialidade não apenas alivia o sofrimento emocional imediato, mas
também estabelece uma base sólida para a recuperação pós-operatória, contribuindo para um
processo global de cuidados infantis mais eficaz e compassivo.
Ainda no que diz respeito ao cuidado e à preocupação com as crianças, podemos citar a
importância do psicólogo no processo de luto para algumas crianças. De modo geral, a psicologia
pode contribuir neste momento de perda, proporcionando suporte emocional, compreensão e
estratégias para lidar com essa perda. A perda pode ser experimentada de diversas formas, como a
morte de um ente querido, a separação dos pais, a mudança de cidade, entre outras situações
dolorosas. O psicólogo pode ajudar a criança a compreender a natureza da morte, adaptando a
explicação de acordo com a idade e o nível de compreensão da criança; criar um ambiente seguro e
de confiança para que a criança possa falar sobre seus sentimentos, seja tristeza, raiva, confusão ou
até mesmo alívio; desenvolver a prática da despedida para que a criança expresse seus sentimentos;
e, ainda, orientar os pais sobre como oferecer apoio adequado à criança e como lidar com seu
próprio processo de luto, garantindo um ambiente familiar que promova a expressão e o
enfrentamento das emoções. Outra perspectiva que merece destaque foi a discussão acerca sobre
levar a criança ao cemitério ou não. Essa pauta foi interessante de se discutir visto que se relaciona
a percepções culturais e institucionalizadas até mesmo no ambiente familiar. Trata-se de um assunto
delicado e sensível que deve ser analisado em sua particularidade e faixa etária da criança, pois não
se tem uma regra clara ou conduta adequada para tal cenário. É necessário inserir a criança neste
contexto na medida do possível, mas respeitar sua decisão ainda mesmo que enquanto uma criança,
pois abordar a morte de forma abrupta pode causar danos psíquicos à criança, como ansiedade,
estresse e dificuldade de se relacionar tendo em vista uma possível culpabilização. Logo, devemos
levar em consideração todos esses aspectos tanto para adultos quanto para crianças, principalmente.
Ainda neste semestre, tivemos a oportunidade de aprender a realizar prontuários psicológicos
tanto na disciplina de Introdução ao Estágio quanto na disciplina de Psicologia Hospitalar. Foi
interessante fazer essa troca e acredito que esta documentação quando bem realizada contribui para
com a organização do profissional em relação a seus pacientes. De certo modo, auxilia na
memorização dos casos e sintetiza as informações relevantes para possíveis consultas.
Sobretudo, estudar sobre o eixo 3 e as atuações do psicólogo no contexto hospitalar foi de
suma importância para nossa formação. É incrível o quanto as possibilidades são diversas e não se
restringem ao acolhimento psicológico pontual. Por exemplo, nos processos educativos, formativos,
grupais, de mobilização social, de orientação e aconselhamento, dentre outros. Desde Março de
2023, estagio em ambiente hospitalar e gostei muito de visualizar de maneira sistemática e técnica
sobre minhas realizações e contribuições ao longo do ano. Foi possível perceber e mensurar o
quanto foi feito e adaptado aos casos particulares, desde crianças no processo de luto a idosos em
cuidados paliativos.
Quanto aos resultados observados em campo, notei que as atividades propostas e realizadas
contribuíram positivamente para com os pacientes, das mais simples como visita de acolhimento ao
leito às mais complexas como a realização de projetos de humanização. A ideia de realizar um
projeto de leitura (distribuição higienizada de livros doados a instituição), por exemplo, despertou
interesse dos pacientes, principalmente daqueles que deveriam permanecer em repouso. Os
acolhimentos nos leitos, realizados pelas estagiárias de psicologia, foram capazes de proporcionar
momentos de interação positiva entre equipe, paciente e familiares que acompanhavam. Quando o
acolhimento era acompanhado das perguntas do prontuário afetivo, o paciente aproveitava ainda
mais, conversando sobre sua vida, sua história e suas paixões. O prontuário demonstrou sua eficácia
principalmente devido ao desenvolvimento de vínculos entre paciente e equipe.
O estágio fortaleceu as ideias debatidas frequentemente nas supervisões. Através da
elaboração do prontuário afetivo, documento que reúne dados pessoais e preferências do paciente
com o fito de utilizá-las para humanizar a estadia no hospital, é possível observar um fortalecimento
de vínculo entre equipe e indivíduo, de modo a tornar menos solitário e custoso o processo do
tratamento. É necessário restabelecer a figura de sujeito do paciente nas instituições de saúde,
quebrando o padrão de despersonalização (Souza, 2022). O entendimento do paciente como apenas
mais um indivíduo no leito negligencia aspectos importantes de sua saúde mental, que necessita de
um acolhimento individualizado para que possa ser atendido como um sujeito em sua totalidade.
Importa destacar que apesar da suposta necessidade das intervenções, da quantidade de pacientes a
serem atendidos e do ritmo acelerado de trabalho no hospital, os pacientes são dignos de cuidado e
respeito às suas vontades. Não se limita, essa observação, aos profissionais da medicina,
enfermagem ou outras atuações que envolvam intervenções físicas, mas também a psicologia
precisa de atenção para não tomar sua experiência técnica como superior à autonomia do paciente.
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2019), o profissional é especialista em psicologia e a
pessoa atendida é especialista em sua experiência de saúde e de doença e em como sua experiência
está interferindo na realização de suas aspirações de vida.
O último dia no campo de estágio foi muito gratificante. As estagiárias – Beatriz e Maria
Vitória – despediram-se de todos os pacientes, os quais agradeceram e demonstraram carinho pelos
cuidados que receberam ao longo do ano. Foram observadas mudanças importantes nos quadros de
alguns pacientes que estavam presentes desde o início do período de estágio. Dentre eles, um
paciente que chegou em março de 2023, que sofreu uma queda da própria altura descendo de uma
escada. Tal paciente apresentou traumatismo craniano e não conseguia mover-se ou responder ao
chamado das estagiárias no momento em que chegou do Hospital Vitória. Já em 22/11/2023, esse
mesmo paciente demonstrou rastreio e contato visual, sorriu para as estagiárias e mandou beijo
quando despediram-se. Por fim, a assistente social ligou para um ex-paciente por chamada de vídeo,
que se mostrou emocionado com o retorno das estagiárias, rememorando as conversas que tiveram
ao longo do processo de hospitalização.
Ao cuidar de você no momento final da vida, quero que você sinta que me importo pelo fato
de você ser você, que me importo até o último momento de sua vida e, faremos tudo que estiver ao
nosso alcance, não somente para ajudá-lo a morrer em paz, mas também para você viver até o dia de
sua morte (Saunders, 2004). É preciso reconhecer que os Cuidados Paliativos não se referem ao
exclusivo cuidado da morte, mas sim ao cuidado da vida que a antecede. A experiência prática da
psicologia em um hospital de Cuidados Paliativos comprova essa ideia e aproxima ainda mais dois
conceitos que caminham juntos na esfera do cuidado em sofrimento: Responsabilidade e
sensibilidade. Enquanto profissional da saúde, ao deparar-se com um paciente terminal com
sintomas agudos de dor, cabe a responsabilidade de fornecer as melhores técnicas para o alívio de
seu desconforto. Mas, além disso, faz-se essencial desenvolver a sensibilidade que aquele momento
precisa para que seja possível alcançar o sujeito não só através do que a medicina pode ali oferecer,
mas no que ele próprio é capaz de demonstrar que precisa. A terminalidade (ou melhor, a convicção
de um prazo para o “fim”) traz consigo um caráter vulnerável que há pouco o sujeito não estava
acostumado a apresentar. A angústia, o medo, o arrependimento e a raiva não são incomuns no
paciente paliativo, dado que a possibilidade real da morte não é pensada ou planejada durante a
vida. Mas a escuta sensível e o cuidado dirigido ao paciente são capazes de contribuir na condução
do tratamento, como também de ajudar a tornar mais tolerável o sofrimento, de modo que o sujeito
compreenda e atribua valor à vida enquanto vivo.
Há, entretanto, um questionamento sobre o que significa, afinal, ajudar o paciente que está
morrendo. Se cada sujeito é único e possui seus próprios desejos e dores, como saber o que o
paciente precisa durante o Cuidado Paliativo? Uma boa forma de chegar nessa resposta é buscando
conhecer, pois, quem é o paciente antes de ser terminal. Como viveu esse sujeito, ou melhor, de que
maneira ele gostava de viver? A elaboração do prontuário afetivo é um exemplo certeiro de como
conhecer o paciente na vida, em sua vida mais plena, em suas próprias lembranças. Para estar ao
lado de alguém que está morrendo, precisamos saber como ajudar a pessoa a viver até o dia em que
a morte dela chegar. Apesar de muitos escolherem viver de um jeito morto, todos têm o direito de
morrer vivos. Quando chegar a minha vez, quero terminar a minha vida de um jeito bom: quero
estar viva neste dia (Quintana, Ana Claudia, 2019).
A experiência no Hospital Vitória foi enriquecedora e gratificante. Cursar a disciplina de
Psicologia Hospitalar durante e após estagiar em tal ambiente, contribuiu demais para minha
formação pessoal e profissional. Como dito anteriormente, foi possível mensurar e vislumbrar
nossos feitos e contribuições de maneira técnica. Acredito que as aulas destinadas à Psicologia
Hospitalar Pediátrica me chamaram mais atenção, tendo em vista que era um estudo novo para
mim. Atuo na área infantil há quase 3 cursos, em estágios alternados, e nunca havia pensado dessa
maneira sobre as crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, e até mesmo as crianças
típicas, neste cenário e as possíveis complicações pertinentes em que a Psicologia poderia intervir.

REFERÊNCIAS

Aulas de Psicologia Hospitalar

CAMPOS, T. C.P. Psicologia hospitalar: a atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo:


EPU.1995.

São Paulo: Casa do Psicólogo/CFP, 2019. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução


CFP N.º 06/2019.

CFP (Brasil). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) nos serviços hospitalares do
SUS / Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia e Centro de Referência
Técnica em Psicologia e Políticas Públicas. 1. ed. Brasília: CFP, 2019.

Saunders, C. (2004). Foreword. In: Doyle, D., Hanks, G., Cherny, N., Calman, K. (Eds.), Oxford
textbook of palliative medicine (3rd ed., pp. 17-20). Oxford, UK: Oxford University.

Sudário, E. C. R., Sousa, B. M. G., & Duarte, S. M. P. (2018). Atenção psicológica voltada aos
familiares acompanhantes de pacientes hospitalizados. Life Style, 5(2), 11-29.

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