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PSICOSE PURPERAL E OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM PARA A

PREVENÇÃO DE AGRAVOS

Luana Taís Pereira de Jesus ¹


Marcela Ferreira de Sousa ²
Thalita Pereira Veiga ³

RESUMO
Introdução: a psicose puerperal é um transtorno psiquiátrico de emergência que pode acometer mulheres no
puerpério, podendo ser prejudicial para a saúde materna e do recém-nascido, embora seja extremamente raro, é
imprescindível a atuação de uma equipe de enfermagem qualificada para o diagnóstico precoce, através da
assistência à puérpera. Objetivo: este estudo teve como objetivo descrever a prevalência, os fatores de risco da
psicose puerperal, além de identificar o papel do enfermeiro no diagnóstico e relacionar a psicose pós-parto com
a morbidade materna e saúde do recém-nascido. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica,
descritiva, realizada através de consulta nas bases de dados eletrônicos, artigos científicos e periódicos, veiculados
na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), base de dados Medline e Pubmed, Google e Google Scholar, Elsevier e
Springer, outros sites eletrônicos acadêmicos e sites institucionais, que abordam o tema da psicose puerperal,
destacando o papel do profissional de enfermagem na intervenção terapêutica e prevenção desse transtorno
psíquico. Resultados: Após passar pelo refinamento de pesquisa foram inclusos 20 estudos com leitura na íntegra
e os dados extraídos e organizados. As pesquisas enfatizaram que a psicose puerperal abrange inúmeros sintomas
e complicações psicossomáticas, que devem ser apresentadas a equipe de saúde e ao enfermeiro, pois através deste
profissional, que é o protagonista no cuidado integral deste perfil de pacientes, informado, eficiente e observador,
poderão ser alcançados diagnósticos precoces e a terapêutica apropriada e consequentemente a diminuição de
episódios graves, suicídio e infanticídio, garantindo grande benefício para os serviços de saúde. Considerações
finais: nota-se que ainda há uma necessidade de aprofundamento sobre o tema, ainda pouco conhecido, e ressalta-
se a importância do profissional de enfermagem preparado e qualificado para prestar assistência a puérpera de
forma qualitativa.

Descritores: Psicose puerperal. Assistência de enfermagem. Saúde mental. Saúde materna.

___________________________
¹ Graduanda do nono semestre do curso de enfermagem – UNIEURO. E-mail: luanatais.lts@gmail.com
² Graduanda do nono semestre do curso de enfermagem – UNIEURO. E-mail: marceelasousa@gmail.com
³ Docente, Mestre, do curso de enfermagem do Centro Universitário UNIEURO. E-mail: thalita004273@unieuro.edu.br
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INTRODUÇÃO

É indiscutível que durante o ciclo gravídico-puerperal, a mulher passa por alterações


hormonais, biológicas e psicossociais, sendo assim considerado um período de vulnerabilidade
para o surgimento de transtornos psiquiátricos, como a depressão pós-parto, disforia puerperal
e psicose puerperal. (VESGA-LOPEZ, 2008).
De acordo com Lesley (2014), a psicose no período puerperal é considerada um
fenômeno dramático e raro, tornando-se assim um assunto pouco explorado e debatido, que
apresenta um conjunto de diagnósticos e tratamentos terapêuticos considerado desafiadores e
que muitas vezes tem certa omissão nos serviços de saúde.
Conforme Maciel (2019), o Ministério da Saúde, refere-se ao puerpério como o período
que vai desde a primeira hora pós-parto até o quadragésimo segundo dia de nascimento do feto
e que apesar de provisório é um momento de ampla vulnerabilidade psíquica com possíveis
desencadeamentos de oscilações psicoemocionais e corporais (FERREIRA, et al., 2021).
A psicose puerperal é descrita como o transtorno psiquiátrico mais grave que pode
ocorrer no período puerpério, extremamente raro e com prevalência de 0,1% a 0,2% dos casos,
devido à baixa taxa de mulheres acometidas, a psicose puerperal ainda é pouco conhecida.
Geralmente a psicose puerperal é de início imediato ou até 2 semanas após o parto e os sintomas
iniciais são privação do sono, euforia, agitação, humor irritável e ansiedade, associado a
episódios de delírios, alucinações, confusão mental e perda do controle da realidade.
(CANTILINO et al., 2010).
Além disso, os riscos oferecidos por essa doença são preocupantes, uma vez que as
parturientes podem desenvolver pensamentos maníacos e ideias homicidas que podem provocar
algum tipo de dano ao bebê/filho, sendo assim, considerada um transtorno grave e prejudicial
a sua segurança e a da criança recém-nascida, em alguns casos, podendo levar ao suicídio ou
infanticídio (CAMACHO, 2006).
Embora a avaliação diagnóstica da psicose pós-parto ainda seja difícil, devido à
dificuldade de estabelecer os critérios de identificação do diagnóstico e principalmente pelo
modelo de atendimento centrado na criança, os sintomas e indícios são explícitos e evidentes,
mas cabe a equipe de saúde buscar estratégias para o manejo adequado ofertado, incluindo
principalmente os enfermeiros que podem identificar de forma precoce ao construir um vínculo
com a puérpera através do atendimento humanizado e da escuta qualificada, entretanto estes
profissionais precisam estar devidamente qualificados sobre os transtornos mentais que
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acometem as mulheres no ciclo gravídico-puerperal, visto que os sintomas da psicose são


comumente confundidos com as alterações fisiológicas e psicológicas resultantes da nova
realidade materna ou com a depressão pós-parto (MACIEL et al., 2019).
Nesse período de puerpério as alterações psicológicas são bastante evidentes e comuns
nesse momento, uma vez que pode haver sinais de frustração da mãe, por meio dos planos e
pensamentos idealizados nesse período gestacional e muitas das vezes, algumas não estão
preparadas para todas estas modificações físicas e psicológicas que a própria fase impõe e essas
alterações não são processadas por esse público como deveria ser esperado para o momento
(RIBEIRO, 2003).
Diante deste contexto apresentado e descrito, compreendendo que a enfermagem é
protagonista nos cuidados à mulher no ciclo gravídico-puerperal, esta pesquisa buscou
descrever qual o papel do enfermeiro no diagnóstico precoce da psicose puerperal e a assistência
prestada pelos profissionais de enfermagem às mulheres com história deste tipo de alteração
mental, daí a importância desta contextualização e discussão, pois com a implementação de
medidas adequadas beneficia a sociedade de forma geral, que pode estar susceptível a este
transtorno.
Esta discussão é de extrema importância, pois identificará o rápido reconhecimento do
quadro clínico e o desenvolvimento de estratégias de cuidado e o manejo adequado ofertado
pela equipe assistencial no atendimento à essas pacientes e seus familiares, beneficiando a
sociedade em geral, a fim de garantir o bem-estar da criança e da mulher.
Sendo assim, fica evidenciado que a enfermagem atua diretamente nos cuidados as estas
pacientes, o objetivo principal desta pesquisa, foi identificar e descrever o papel do enfermeiro
no diagnóstico precoce da psicose puerperal, além de identificar as práticas nos serviços de
saúde para detectar os distúrbios psiquiátricos.
Dessa forma, este estudo se justificou pela necessidade da compreensão e identificação
da psicose puerperal, uma vez que os sinais e sintomas desta patologia é bastante confundido,
e do papel do profissional de enfermagem frente à essa patologia, visto que o mesmo é o
profissional com contato direto à mulher durante a gestação, parto, pós-parto e o puerpério.
Além disso, o presente estudo também pode contribuir para a melhora e para o aprimoramento
da competência da assistência de enfermagem frente ao tratamento e diagnóstico precoce da
psicose puerperal.
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METODOLOGIA

O artigo trata-se de um estudo bibliográfico, de revisão sistemática de literatura


especializada. Este tipo de pesquisa tem como objetivo descrever e discutir um determinado
assunto com base em um ponto de vista teórico, basicamente através da análise da literatura
publicada em livros, artigos de revistas impressas ou eletrônicas baseadas na interpretação e
análise crítica do autor (ROTHER, 2007).
A seleção dos artigos, foi realizada através do levantamento bibliográfico nas bases de
dados eletrônicos, artigos e periódicos, disponíveis na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), base
de dados Medline, Google, Google Scholar, Elsevier, Scielo e Springer. A busca sistemática
dos estudos ocorreu no período de agosto de 2022 a outubro de 2022 e os dados foram
organizados em quadro com a síntese dos resultados.
Assim, os critérios de inclusão foram artigos científicos publicados no período de 2015
a 2022 e os descritores que foram utilizados para localização dos artigos através do MeSH
(Medical Subject Headings), foram: Depressão pós-parto; Puerpério; Psicose puerperal;
Cuidados de Enfermagem e Saúde Materna. E foram adotadas as publicações realizadas no
período selecionado, artigos com resumo e texto completos disponíveis online; e que possuem
relação direta com o tema e nos idiomas portugueses ou inglês.
Por conseguinte, foram excluídas, as publicações anteriores ao período selecionado; as
que não possuíam relação direta com o tema/que não tratem da temática envolvida, as
publicações duplicadas e que não corresponderam ao objetivo de pesquisa foram excluídas e
por não estarem completos e terem sido publicados em idiomas diferentes do português e inglês.
Na seleção dos artigos, foram encontrados 10.500 artigos nas bases de dados SCIELO,
Google Scholar, Medline, Elsevier e Spriger, 35 artigos foram selecionados após aplicação dos
critérios de exclusão. Com a leitura mais detalhada, por meio dos seus resumos, foi obtido um
resultado de 20 artigos, para a realização desta revisão, conforme descrito nos quadros 1 e 2.
Por fim, após a coleta de dados, os artigos selecionados que atendiam de forma
satisfatória a questão norteadora do presente estudo, foram sintetizados e apresentados em
quadros que contém: título do estudo/autor/ano, tipo de estudo, objetivos, resultados e
considerações finais.
Ressalta-se ainda que a presente revisão de literatura, assegura os aspectos éticos,
garantindo a autoria dos artigos que foram pesquisados e utilizados, usando para citações e
referências dos autores as normas da Associação Brasileira de Norma Técnicas (ABNT).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os estudos encontrados foram organizados em dois quadros tendo em vista o título do


estudo, o conteúdo exposto, o tema proposto, o período de publicação e a disponibilidade do
estudo. Sendo assim, destaca-se os estudos e artigos que após leitura na íntegra e que atenderam
os critérios de inclusão organizados abaixo de acordo, no Quadro 1 e Quadro 2.

QUADRO 1. Caracterização da psicose puerperal, sintomas, diagnóstico e prevalência

TÍTULO DO
TIPO DE CONSIDERAÇÕES
ESTUDO/ OBJETIVOS RESULTADOS
ESTUDO FINAIS
AUTOR/ ANO

Destaca-se a
Conclui-se que a psicose
importância de uma
pós-parto pode fazer parte
avaliação integral do
de uma doença crónica ou
Reunir e sintetizar estado de saúde das
ocorrer sob a forma de um
Revisão de a informação grávidas para a
episódio isolado ou
literatura nas atual sobre identificação e
inaugural. Devido à sua
bases de psicose pós-parto, tratamento,
evolução e associação com
dados relacionar a concomitantemente
Psicose Pós- a doença bipolar, mulheres
Medline, psicose pós-parto para a conceptualização
Parto SANTOS. com quadros de mania,
Google, com a da morbilidade materna
V. H. J. (2020) hipomania, depressão
Google morbilidade e do recém-nascido
psicótica, ou com uma
Scholar, materna e saúde associada à PP, torna-se
perturbação psicótica,
Elsevier e do recém-nascido fundamental avaliar a
devem ser corretamente
Springer. e identificar sua severidade e
rastreadas, instruídas e
pontos chaves. ocorrência, assim como
monitorizadas durante as
o seu impacto e
primeiras semanas do pós-
possíveis
parto.
consequências.

O parto é um potente
O início da psicose pós- gatilho de episódios de
Phenomenology parto é isolado dentro transtorno de humor grave.
, Epidemiology Revisão Analisar e de um período de tempo Enquanto metade de todas
and Aetiology bibliográfica descrever a muito específico, as mulheres que sofrem de
of Postpartum de natureza fenomenologia, proporcionando uma psicose pós-parto não têm
Psychosis: A qualitativa e epidemiologia e oportunidade de estudar histórico de doença
Review. análise etiologia do Pós- a etiologia desses psiquiátrica, aquelas com
PERRY et al. descritiva. parto. episódios de uma forma transtorno bipolar ou
(2021) única de outras doenças história de psicose pós-
psiquiátricas. parto estão em risco
particularmente alto.
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Tanto a depressão
O caso apresentado mostra
Estudo de Relatar um caso perinatal quanto a
Prepartum quase todos os sintomas de
caso e raro de psicose psicose são tratáveis, e a
Psychosis and doenças mentais perinatais,
revisão da pré-parto que maioria das mães
Neonaticide: enquanto, ao mesmo
literatura evoluiu para o mantém a custódia de
Rare Case Study tempo, combina depressão
sobre desfecho de seus filhos. A detecção
and Forensic- pré-parto com psicose,
transtornos neonaticídio e precoce e o
Psychiatric escalando para o ponto
mentais resumir a atendimento a todas as
Synthesis of final do neonaticídio. O
periparto literatura sobre mulheres em risco de
Literature. agravo pode ser evitado
relevantes transtornos doença mental por uma
KARAKASI et quando detectado os
para o mentais periparto equipe interdisciplinar
al. (2017) sintomas precocemente e o
estudo. e infanticídio. são de grande
suporte imediato fornecido.
importância.
Destaca-se a necessidade
Psychological Os resultados buscaram de intervenção psicológica
interventions for identificar e abranger e psicossocial após a
Explorar as
managing sobre a segurança e psicose pós-parto para
experiências,
postpartum contenção, o impacto facilitar e melhorar a
necessidades e
psychosis: a psicológico e no recuperação e o
preferências de
qualitative planejamento do futuro, funcionamento a longo
Pesquisa intervenção
analysis of os quais destacam o prazo das mulheres. Foram
exploratória psicológica na
women’s and elemento temporal da fornecidas recomendações
qualitativa. perspectiva de
family recuperação da psicose sobre os tipos de
mulheres com
members’ pós-parto, visto que as intervenção que seriam
psicose pós-parto
experiences and necessidades benéficas, além da
e na perspectiva
preferences. psicológicas das investigação necessária
de familiares
FORDE et al. mulheres mudaram ao para desenvolver e testar a
(2019) longo do tempo. eficácia dessas
intervenções.
O suicídio é raro
durante o episódio A taxa de suicídio é alta nas
Suicide and agudo, mas a taxa é alta famílias de mães com
filicide in mais tarde na vida da psicose pós-parto e em
Revisar a
postpartum Estudo mãe e em parentes de episódios psicóticos
frequência de
psychosis. descritivo e primeiro grau. A taxa de subsequentes, mas não
suicídio e filicídio
BROCKINGTO quantitativo, filicídio é alta nas durante episódios
em uma literatura
N. I. (2016) pesquisa psicoses depressivas maníacos/ciclóides
de mais de 4.000
bibliográfica (4,5%), mas menor nos puerperais agudos. Os
e séries pessoais
e estudo de episódios sem filicídios também são
de 321 psicoses
casos. depressão manifesta incomuns durante as
de parto.
(menos de 1%), e psicoses pós-parto agudas
alguns deles parecem sem características
ser acidentais, sem depressivas.
intenção de matar.
Em suma, foi explorado a
incidência dos transtornos
Descrever e A psicose puerperal,
afetivos puerperais e como
discutir as por sua vez, é a
Consequências e fatores predisponentes
Revisão principais manifestação de maior
fatores podem influenciar na
bibliográfica síndromes gravidade de transtorno
predisponentes ocorrência destes. Portanto,
de natureza psiquiátricas que psiquiátrico puerperal.
dos transtornos este trabalho visa mostrar a
qualitativa e podem ocorrer no Dessa forma, ressalta-
puerperais. necessidade de um olhar
análise período puerperal, se a importância da
HERDI et al. atencioso às mulheres
descritiva. identificando seus atenção à mulher e ao
(2021) gestantes com o objetivo de
fatores causadores recém-nascido neste
promover saúde e
mais comuns. período.
assistência adequada após o
nascimento do bebê.
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O estudo identificou
Discutir qual o
que cerca de 47,05%
posicionamento A presença de transtornos
das mulheres não
teórico e psiquiátricos no puerpério é
realizaram pré-natal e
jurisdicional em um importante fator de
Pesquisa não procuraram ajuda
Infanticídio e casos de risco para a ocorrência do
bibliográfica médica em nenhum
estado de infanticídio, com infanticídio, representando
e momento, nem mesmo
psicose o estudo de o risco de fatalidades
documental na hora do parto. Bem
puerperal: uma aspectos como: principalmente se falando
com base em como, demonstraram o
análise das fatores de risco em psicoses no pós-parto.
uma análise não preparo básico para
jurisprudências. para a prática do Porém o que pôde ser
de acórdãos receber o bebê. Esse
ALMADA et al. infanticídio, observado é que a patologia
do TJMG e dado está, na maioria
(2020) análise do estado por si só não representou
TJRJ. dos casos, ligado com a
puerperal, um alto índice na pesquisa,
ocultação da gravidez
realização de estando acompanhado de
perante os familiares e a
exame de outros fatores.
sociedade em geral, e a
sanidade mental.
negação da mesma.
Defende-se a
construção de uma
assistência obstétrica Tais transtornos quando
Descrever e integral, com subnotificados ou não
discutir as profissionais sensíveis tratados podem ter
Aspectos dos principais às questões repercussões irreversíveis.
Revisão
transtornos síndromes psicossociais. Assim Nesse contexto, é
bibliográfica
mentais comuns psiquiátricas que como, a avaliação e o necessário reforçar a
qualitativa e
ao puerpério. podem ocorrer no acompanhamento das importância do
análise
ASSEF et al. período puerperal, gestantes são acolhimento e atendimento
descritiva.
(2021) identificando seus fundamentais, pois esse humanizado às puérperas e
fatores causadores cuidado gestacional seus filhos bem como o
mais comuns. pode ser o único contato diagnóstico
que esta mulher está precoce desses quadros.
tendo com os serviços
médicos.
A maneira como a
maternidade é vista e
idealizada pela
sociedade, influenciam
diretamente no A gravidez e o puerpério
desenvolvimento dos são períodos em que a
distúrbios do puerpério. mulher está sujeita a várias
Os aspectos A mulher, nesse alterações físico/hormonais
Estudar os
psicológicos da período, está exposta a e psicossociais. Pode se
Pesquisa principais
mulher: da maiores riscos de observar um número maior
qualitativa e aspectos
gravidez ao surgimento de de estudos sobre a
bibliográfica psicológicos da
puerpério. transtornos mentais em Depressão Pós-parto, sendo
. gravidez e do
CASTRO et al. comparação a outras este o mais conhecido entre
puerpério.
(2019) fases da vida, pois na as mulheres. Tendo ainda
fase puerperal as uma escassez de pesquisas
defesas tanto físicas relacionados a outros
quanto psicossociais da transtornos puerperais.
mãe estão direcionadas
à proteção e
vulnerabilidade do bebê
e da mãe.
Transtorno Compreender os Identificou-se que Considerando que os
Pesquisa
mental no riscos e os fatores como gravidez transtornos mentais são
qualitativa,
puerpério: riscos mecanismos de precoce ou não comuns no puerpério,
de caráter
e mecanismos enfrentamento planejada, carência de quanto mais precocemente
descritivo.
de apresentados apoio do companheiro, detectar os fatores de risco,
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enfrentamento pelas puérperas instabilidade familiar e melhor assistência poderá


para a promoção diante dos baixas condições ser oferecida à puérpera.
da saúde. transtornos socioeconômicas
MACIEL et al. mentais no pós- podem contribuir como
(2019) parto. agentes facilitadores no
surgimento de algum
transtorno mental na
puérpera.

QUADRO 2. Síntese dos estudos sobre assistência de enfermagem na psicose puerperal

TÍTULO DO
ESTUDO/ TIPO DE CONSIDERAÇÕES
OBJETIVOS RESULTADOS
AUTOR/ ESTUDO FINAIS
ANO
Reconhecer o
papel do
A assistência enfermeiro na A pesquisa permitiu Fica evidente a necessidade
de prevenção de compreender a atuação de práticas nos serviços de
enfermagem agravos, a da assistência da saúde que detecte de forma
no diagnóstico Revisão puérpera e seu enfermagem com a precoce possíveis
precoce da bibliográfica filho, ao equipe multidisciplinar distúrbios psiquiátricos,
psicose nas bases de diagnosticar em relação a PP, que venham acometer a
puerperal. dados precocemente desempenhando o papel puérperas , como a loucura
CARDOSO et MEDLINE e transtornos na prevenção, detecção após o parto , afim de lhe
al. (2019) LILACS mentais e tratamento, evitando proporcionar o devido
adquiridos pós- assim possíveis danos tratamento mantendo
parto a exemplo uma vez que atinge a íntegra a sua saúde e a do
da psicose interação mãe-bebê. bebê .
puerperal e suas
consequências
O estudo demonstra os
principais fatores que
Interface entre Descrever a
levam ao maior risco de
prevalência, prevalência da O presente estudo mostrou
psicose puerperal e
fatores de psicose puerperal relação entre história de
consequentemente do
risco e em adolescentes, transtorno bipolar e o
suicídio materno. Com
terapêutica da os fatores de risco desenvolvimento de
Revisão isso, foram mostradas
psicose associados, psicose pós-parto, sendo
narrativa da inúmeras alternativas
puerperal: impactos da este o principal fator de
literatura, de tanto durante a
uma revisão doença no período risco. Mesmo sendo rara, a
natureza gestação, como em
de literatura. pós-parto e psicose pós-parto é a maior
qualitativa. períodos fora da
RIBEIRO et enumeração das emergência relacionada à
gravidez, as quais
al. (2021) intervenções para saúde mental pós-parto,
ajudam mulheres ser
um melhor causando um maior número
tratadas e
desfecho na saúde de suicídio e infanticídio.
acompanhadas para
da mãe e filho.
melhor vínculo mãe-
filho.
Descrever a Pôde-se ver uma Reafirma a conduta do
assistência tendência amparada nos enfermeiro frente ao
Transtornos
Revisão prestada pelos estudos discutidos de transtorno, objeto do
mentais:
integrativa de profissionais que a enfermagem atua estudo, tanto como parte da
assistência de
literatura enfermeiros a de forma significativa e equipe multidisciplinar
enfermagem
descrita mulheres com que suas intervenções como no protagonismo da
na psicose
através de apresentação de são necessárias em toda prestação de cuidados em
puerperal.
pesquisa psicose puerperal, a rede de atenção à toda a rede de atenção à
FERREIRA et
bibliográfica a fim de garantir o saúde, nos momentos saúde. Ao fim, destaca-se a
al. (2021)
bem-estar da em que as pacientes necessidade de
criança e da estejam em ambiente fortalecimento dos
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mulher. / De que hospitalar, no programas e políticas


forma o acompanhamento do públicas e mobilização de
profissional pré-natal e em ambiente gestores, pesquisadores e
enfermeiro pode domiciliar, de modo a profissionais de saúde na
atuar frente à manter e prevenir efetivação de práticas
psicose puerperal? possíveis incidentes profissionais que garantam
causados pela psicose a qualidade da assistência à
puerperal. saúde da mulher.
Este é o primeiro estudo
Nursing A análise identificou que identifica intervenções
interventions três temas: tratamento de enfermagem para
for patients do transtorno mental, doentes com PP prestadas
with que envolve numa UBS e, ao mesmo
Identificar as
postpartum intervenções para tempo, descreve a lógica
intervenções de
psychosis Estudo melhorar o bem-estar subjacente a essas
enfermagem
hospitalized in qualitativo mental e físico da mãe; intervenções. Os resultados
utilizadas em uma
a psychiatric descritivo, cuidado da díade mãe- mostram que a assistência
unidade
mother–baby análise bebê, que envolve de enfermagem foi prestada
psiquiátrica mãe-
unit: A temática com intervenções destinadas dentro de uma estrutura de
bebê, quando uma
qualitative abordagem a promover interações cuidados integrados ao
paciente está
study. contextualista. seguras entre mãe e paciente, bebê e parceiro,
internada com
KORTELAN bebê; e cuidar do com intervenções que
psicose pós-parto.
D et al. (2019) parceiro, que envolve focaram simultaneamente
intervenções para no tratamento do transtorno
melhorar o bem-estar mental transtorno, cuidado
do parceiro. com a díade mãe-bebê e
cuidado com o parceiro.
O estudo identificou
várias áreas em que A avaliação clínica inicial
pesquisas futuras são para psicose pós-parto
Treatment of
necessárias. Esforços requer uma história médica
Psychosis and Descrever os
de colaboração também e psiquiátrica completa,
Mania in the resultados da
devem continuar a se incluindo exames físicos e
Postpartum pesquisa de
Pesquisa concentrar na neurológicos. A interação
Period. tratamento com
quantitativa e construção de grandes mãe-bebê merece atenção
BERGINK et 64 pacientes com
exploratória. amostras de mulheres especial. Além disso, o
al. (2015) histórico de
com psicose pós-parto, apoio ao pai também é um
psicose pós-parto
para que os aspecto importante para o
e mania.
biomarcadores sucesso do tratamento na
genéticos e outros perspectiva da unidade
possam ser familiar.
identificados.
O modelo de As ações do enfermeiro
Apontar as atendimento ao durante o pré-natal e
possíveis binômio mãe-filho está puerpério podem diminuir
intervenções centrado na criança e e até mesmo eliminar a
A atuação do
medicamentosas e não considera as possibilidade de que a mãe
enfermeiro nas
Revisão não necessidades da mãe venha a cometer
situações de
bibliográfica, medicamentosas diante de um surto infanticídio logo após o
psicose
utilizando feitas pelo psicótico. O tratamento parto, motivada pela
puerperal.
material profissional de pode ser psicose puerperal.
AGUIAR et
publicado enfermagem na medicamentoso e não Contudo, considera-se que
al. (2016)
entre 2006 e prevenção e medicamentoso e a as políticas de saúde
2016. tratamento da atuação da enfermagem destinadas à mulher
psicose puerperal. é fundamental para que gestante no Brasil abordam
se possa fazer a escuta somente as questões
da gestante e da fisiológicas, deixando as
puérpera, prevenindo a possíveis alterações
doença. psíquicas de lado.
10

De acordo com as
entrevistas, as
enfermeiras, no que diz
Cuidados de respeito as alterações
Apontar as
enfermagem psicológicas, não Fica notório a necessidade
principais
no período sabem de certa forma de realizações de educação
complicações
pós-parto: um Pesquisa de identificar a ocorrência continuada com a equipe de
durante o
enfoque na campo, do tipo de complicações enfermagem e a
puerpério e
atuação do descritivo- psicológicas, na implementação de
descrever os
enfermeiro exploratória e perspectiva de evitar protocolos operacionais
cuidados de
diante as quali- complicações padrão para unificar e
enfermagem
complicações quantitativa. puerperais, as nivelar a assistência, dando
necessários frente
puerperais. enfermeiras subsídios para os cuidados
à estas
TEIXEIRA et responderam que as as puérperas.
complicações.
al. (2019) orientações são uma
importante forma de
prevenções de
complicações.
Possibilidades de
prevenção e
tratamentos das
possíveis
intercorrências
Explicitar e psicológicas
descrever as Foi possível realizar o
decorrentes desse
Pré-natal intervenções da levantamento de indícios
momento de vida da
psicológico Pesquisa de técnica de PNP, de que o PNP traz
mulher, entre eles: o
para gestantes revisão de analisando na benefícios à gestante e é
levantamento de quais
como literatura literatura se há eficaz para na prevenção e
transtornos são mais
prevenção aos narrativa de indícios da minimização dos impactos
recorrentes neste
transtornos natureza eficácia desta em relação aos transtornos
período, os fatores de
puerperais. qualitativa, ferramenta na puerperais em dois dos
risco, possíveis
CAMARGO descritiva prevenção de artigos pesquisados. O
consequências dos
et al. (2021) exploratória. transtornos período referido é um
transtornos para saúde
gravídico- momento que requer
materna e infantil e
puerperal. acompanhamento.
benefícios da técnica de
PNP, e a evidência da
importância deste
trabalho através de um
profissional
qualificado.
Na grande maioria dos
atendimentos, os
enfermeiros abordam
Conclui-se que há diversas
questões fisiológicas da
complicações
Identificar quais gestação, deixando de
Período psicossomáticas na
as complicações questionar e analisar os
Puerperal e puérpera, que devem ser
Estudo mais frequentes fatores emocionais.
Atuação do inspecionadas pelo
descritivo, na puérpera, além Alguns enfermeiros
Enfermeiro: enfermeiro, além das
realizado a de verificar a escutam e apoiam as
uma Revisão possíveis causas
partir uma atuação do mulheres com DPP,
Integrativa. hereditárias. Sem este
revisão enfermeiro porém, muitas vezes, só
AZEVEDO et profissional capacitado, o
integrativa. perante o iniciam esta abordagem
al. (2018) início de um novo ciclo de
puerpério. quando os sinais
vida pode estar
depressivos já foram
comprometido, caso
identificados pelos
ocorram complicações.
agentes comunitários de
saúde e familiares
destas mulheres
11

Compreender a
relevância da
assistência de As análises realizadas
Revisão enfermagem mostraram que embora
integrativa diante dos os distúrbios
transtornos É fundamental o apoio da
sobre a psicológicos no
psicológicos no equipe de enfermagem
assistência de puerpério sejam um
puerpério, tendo centrado em um pré-natal
e Enfermagem Revisão tema atual e recorrente,
em vista os riscos com uma visão holística, no
frente aos integrativa de pouco se debate sobre o
e perspectivas de planejamento familiar e na
transtornos literatura. assunto e a maioria dos
pacientes condução da gestação e
psicológicos trabalhos se referem a
acometidos por puerpério, com empatia e
no puerpério. depressão pós parto e a
síndromes resolutividade.
CASTRO et assistência de
al. (2022) psíquicas e o enfermagem prestada às
papel do puérperas.
enfermeiro nesse
enfrentamento.

Segundo os dados da pesquisa, a literatura observada aponta a definição de psicose


puerperal como sendo uma doença que se inicia subitamente, podendo acometer a mulher já
nos 2° e 3° dias após o parto, causando alucinações, delírios (em sua maioria com temas
religiosos), mudança súbita de humor e pensamento confuso e desorganizado. Devido ao seu
início repentino, ao fato de a doença evoluir rapidamente, e por sua associação com o suicídio
e infanticídio, a psicose puerperal (PP) é considerada uma emergência psiquiátrica. (SANTOS,
2020).

Em média, a prevalência da PP na população atinge cerca de 0,1 a 0,2%, ou seja, 1-2


casos a cada 1000 mulheres. Embora, um estudo recente tenha identificado que uma em cada
cinco mulheres com transtorno bipolar é afetada no puerpério por um episódio psicótico ou
maníaco, sendo assim na maioria dos casos, a psicose pode ser também uma manifestação do
transtorno bipolar. (PERRY et al., 2021)

De acordo com Santos (2020), O ICD-10 contém uma categoria do período perinatal
para episódios que se apresentam em até às 5 semanas após o parto, além disso o DSM-V
corrobora a classificação e não reconhece a psicose puerperal como uma identidade própria,
tendo assim uma dificuldade de diagnóstico, mesmo que alguns autores argumentem que a
psicose pós-parto é uma condição por si só.

Ainda assim, semelhante à diversos transtornos psiquiátricos, a etiologia da psicose pós-


parto é explicada pela complexa e abrangente interação de fatores biológicos, psicológicos e
sociais. Sendo que, inerentemente à PP, abrange fatores obstétricos, como complicações na
gravidez ou no parto e nos relacionamentos familiares sem apoio, como causas potenciais da
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doença psicótica pós-parto. Além dos demais fatores sendo eles hormonais, biológicos,
genéticos, privação de sono e mormente fatores genéticos. (PERRY et al., 2021)

Por conseguinte, mais de 40% das mulheres afetadas pela PP não possuem histórico de
doença psiquiátrica grave, entretanto o restante apresenta algum histórico de uma doença
psiquiátrica pré-existente, predominantemente de um transtorno psicótico ou de humor, como
o transtorno bipolar, o qual evidências indicam uma forte relação, indicando que na maioria dos
casos a PP pode ser uma manifestação do transtorno bipolar em mulheres vulneráveis ao gatilho
puerperal. (PERRY, 2021)

De acordo com Perry (2021), os fatores psicossociais são, ainda hoje, inconsistentes
para indicar uma relação de causa com a PP, todavia com base nos dados qualitativos existentes
nessa área, é possível sugerir que uma parte das mulheres que passaram por experiências
difíceis de parto e por relacionamentos familiares e conjugais sem apoio, como possíveis causas
da psicose pós-parto. Sendo assim, é necessário destacar todas as possíveis causas e olhar a
psicose puerperal como uma doença complexa e passível de análise e estudos.

É também de suma importância a investigação quanto ao sentimento da mulher com


relação a gravidez, sua aceitação, as redes de apoio da gestante, condições de habitação e
isolamento social. Além de investigar a existência de violência doméstica, abuso sexual e
traumas vivenciados pela mulher. (SANTOS, 2020)

Dentre os sinais e sintomas da PP incluem principalmente: confusão, despersonalização,


insônia, irritabilidade, alteração do conteúdo do pensamento (delírio e/ou alucinações) e
alteração do humor (mania ou agitação; depressão; misto). Entretanto, não existem exames
laboratoriais para a Psicose puerperal, sendo realizados alguns exames apenas com a finalidade
de descartar alguma doença orgânica subjacente. (SANTOS, 2020)

Diante do exposto sobre a PP, percebe-se agora a importância do rastreio precoce da


mesma, sendo já na consulta de pré-natal é recomendado investigar sobre a história pessoal e
familiar de doenças psiquiátricas, e fatores que possam ser estressores e desencadeantes da PP,
como uso de drogas, estado de saúde do feto e da mãe durante a gestação. (SANTOS, 2020)

Embora a ciência procure respostas sobre a base fisiopatológica desta doença nos
campos da genética, imunologia, e neuro-endocrinologia, permanece a origem complexa e
multifatorial desencadeante da PP. (SANTOS, 2020).
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Portanto, a literatura enfatiza e entende que a PP é considerada uma urgência médica,


onde se faz necessário a intervenção hospitalar na fase aguda da doença, sendo assim, essencial
à criação de um plano multiprofissional e planejamento de cuidados onde envolva o tratamento
do transtorno mental, a relação mãe-bebê e o apoio ao parceiro e família.

A leitura dos estudos e artigos selecionados, destaca e retrata uma visão e principalmente
um trabalho partilhado da equipe multidisciplinar da saúde, mormente na identificação dos
sintomas e possíveis intervenções. Os 10 artigos com os subtemas relacionados ao papel do
enfermeiro especificados no Quadro 2, reiteram as especificidades e contribuições da equipe de
enfermagem frente à psicose puerperal, buscando assim explorar possíveis ações de cuidado e
diagnóstico precoce a fim de promover melhorias do ciclo gravídico-puerperal.

Em um estudo realizado por Azevedo (2018), corrobora que o enfermeiro possui um


papel central e primordial na assistência ao puerpério, desde as orientações durante o pré-natal,
no processo de escuta, reconhecer as mulheres propensas a apresentarem psicose puerperal, mas
principalmente na sua atuação no período pós-parto, pois cabe a enfermagem auxiliar a puérpera
durante a transição para a maternidade, além de monitorar sua recuperação e controlar qualquer
possível desvio da normalidade que possa acometer a paciente. Além disso, Cardoso (2019)
reforça a responsabilidade do enfermeiro de avaliar o estado de saúde da mãe e do bebê; orientar
e apoiar a família, e não menos importante se atentar para as interações entre mãe e filho,
observando assim fatores de risco ou intercorrências para o devido tratamento e diagnóstico.

Apesar da dificuldade por parte dos enfermeiros para rastrear a doença precocemente,
devido ao fato de ser uma doença de início súbito, pode-se ao longo da gestação até o período
após o parto, observar todos os pontos apresentados anteriormente, e de acordo com a história
da mulher observar possíveis sinais de alerta de acordo com a predisposição da mesma a
doenças psiquiátricas. Ou seja, segundo Camargo (2021), reforça-se o acompanhamento da
gestação e como o enfermeiro acompanha o período gestacional desde o início, é de suma
importância que ele tenha conhecimento e preparo sobre transtornos puerperais para que possa
conduzir e orientar, bem como rastrear possíveis sinais de incidência da psicose.

Um exemplo claro pode ser observado em um estudo de relato de caso, em que o autor
Karakasi (2017) apresenta a história real de uma mulher de 30 anos que apresentou quadro de
psicose puerperal, onde a mesma não tinha história prévia de doença psiquiátrica, mas que
depois de passar por 2 internações por complicações na gestação, começou a apresentar
sintomas de ansiedade e preocupação crescente com o bebê, projetando nele seus sintomas,
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crendo que a criança estaria com alguma doença ou má formação, apesar de após ser avaliada
por obstetra, ser constatado o perfeito estado de saúde do feto. O caso começou com sintomas
de depressão a partir do 4° mês de gestação, mas que se agravou durante a gestação para o
quadro de psicose puerperal e consequentemente ao infanticídio. Este exemplo demonstra a
importância do rastreio precoce e sintomas de depressão e psicose, porque apesar de ter iniciado
com sintomas não muito claros, se agravou e levou ao quadro de psicose puerperal.

É necessário que o enfermeiro possua um olhar crítico e analítico, com sua ação voltada
não somente para a doença em si, mas com ações de rastreio, prevenção, promoção em saúde e
educação em saúde, voltadas para a saúde da mulher, família e comunidade. Teixeira (2019)
salienta que o processo de psicoeducação é essencial no fortalecimento de uma aliança
terapêutica e que a enfermagem deve ser reconhecida como parte essencial da equipe
multidisciplinar.

Como bem se observa nos relatos de caso de Forde (2019), foi constatado que a família
possui um papel fundamental e seu apoio é essencial para a recuperação da mulher durante o
cuidado e planejamento do tratamento. Foram também identificados problemas nos serviços de
saúde, pois pacientes e familiares contaram suas experiências diante do diagnóstico de psicose
puerperal, relatando estarem se sentindo sobrecarregados, assustados e confusos, porque nos
pré-natais os profissionais de saúde pintavam um “quadro róseo”, não preparando as mulheres
adequadamente para os problemas que poderiam surgir. Além deste problema, outros ainda
foram detectados como falta de explicação do que é a doença, as mulheres que buscavam o
serviço de saúde não se sentiam apoiadas, falta de pessoal, má continuidade do atendimento,
preocupações com a confidencialidade, falta de preparo para responder a um trauma.

Sendo o enfermeiro o profissional que está em contato maior com a mulher nesta fase
da doença, tem um papel de destaque e grande importância no manejo da PP, podendo atuar
ativamente no diagnóstico precoce, prevenção e assistência as pacientes com PP.

É válido salientar ainda, que em um estudo realizado por Korteland (2019) relata que a
literatura nas últimas 3 décadas evidencia apenas sobre a saúde no puerpério, ao processo de
aleitamento materno e ao cuidado com a criança enfatizando questões educativas e que nos
últimos cinco anos esse processo vem se transformando, uma vez que, os estudos revisados
nesta pesquisa, demonstram certa preocupação com questões objetivas e subjetivas que
envolvam a vivência da mulher nesse período, e também, a necessidade de um sistema de
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acolhimento, tratamento eficaz para manutenção e promoção da saúde, atuando cada vez mais
em processo de melhoria contínua.
Portando, conforme Cardoso (2019), pôde-se evidenciar, uma tendência amparada nos
estudos discutidos de que a enfermagem atua de forma significativa e que suas intervenções são
extremamente necessárias em toda a rede de atenção à saúde, principalmente nos momentos em
que as pacientes estejam ainda no ambiente hospitalar, no acompanhamento do pré-natal e em
ambiente domiciliar, de modo a manter e prevenir possíveis incidentes causados pela psicose
puerperal.
Apesar de não haver diretrizes formais específicas para o manejo da PP, Korteland
(2019) destaca algumas intervenções voltadas para a melhoria do bem-estar mental e físico da
mulher com esta psicose, promoção do crescimento e fortalecimento da relação mãe-bebê e
cuidados com o parceiro do paciente, todavia ainda há necessidade de maior aprofundamento
sobre o tema e o impacto que esta patologia pode desenvolver nas relações interpessoais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa possibilitou compreender a conduta da enfermagem frente a este tipo de


transtorno, objetivo principal do estudo, e vem reafirmar o seu protagonismo em conjunto com
a equipe multidisciplinar, reconhecendo suas potencialidades como forma de melhor assistir
essas pacientes.
O estudo também ajudou a identificar as dificuldades, atuais barreiras no atendimento e
as necessidades que não são atendidas, devido à falta de conscientização e atrasos no acesso ao
tratamento adequado, reafirma-se a compreensão de que a maternidade não anula o fato de que
é necessário olhar a paciente também como mulher e não apenas como mãe.
Sendo assim, é necessário que os profissionais se encontrem preparados para identificar
precocemente os sinais e sintomas, uma vez que a psicose puerperal que é mais rara, porém,
mais grave, apresentando sinais e sintomas como alucinações e agressão, proporcionando um
diagnóstico rápido, favorecendo assim, ações de prevenção e promoção da saúde da mulher e
família.
Ao fim, destaca-se a necessidade de fortalecimento dos programas e políticas públicas
e mobilização de gestores, pesquisadores e profissionais de saúde na efetivação de práticas
profissionais que garantam a qualidade da assistência à saúde da mulher horizontalmente.
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