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Marcos Mendanha

O que Ninguém te Contou Sobre Burnout


© Marcos Mendanha
EDITORA MIZUNO 2022
Capa: Kamila Ferreira
Revisão: Eliane Chainça

Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166

M537 Mendanha, Marcos

O que ninguém te contou sobre Burnout / Marcos Mendanha. – Leme-SP: Mizuno, 2022.

279 p.; 16 X 23 cm

ISBN 978-65-5526-540-8

1. Burnout (Psicologia). 2. Trabalho. 3. Direito trabalhista. I. Mendanha, Marcos. II. Título.

CDD 344.810465
Índice para catálogo sistemático
I. Burnout (Psicologia)

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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
À Paula (minha esposa), Clarice e
Mateus (nossos filhos).

Toda vez que eu penso em viver uma


vida com amor e significado, é em
vocês que eu penso primeiro.
AGRADECIMENTOS

A Deus, muito obrigado!

Também a toda minha família, pela riqueza dos momentos que


passamos juntos.

Aos meus maravilhosos colegas de trabalho da Faculdade CENBRAP;


a todos os meus alunos, ex-alunos, pessoas que me assistiram em alguma
instituição e/ou evento, além dos muitos parceiros de caminhada nas redes
sociais (parte de nossas boas discussões e ideias foi materializada nesta obra).

Aos participantes do Congresso Brasileiro de Psiquiatria Ocupacional


(CBPO), e também do Congresso Brasileiro de Medicina do Trabalho e
Perícias Médicas (CBMTPM), os quais tenho a honra de coordenar.

Ao competente time da Editora Mizuno, em especial, à Eliane


Chainça e ao Rafael Kloss, pela prioridade e zelo que tiveram com este
livro; e à incrível Kamila Ferreira, pela linda capa desta obra.

A todos que, de alguma forma, me incentivaram e contribuíram com


este árduo e edificante trabalho.
APRESENTAÇÃO

Toca, Raul!

Em 2018, juntamente com meus queridos amigos e competentes


psiquiatras, Dr. Pablo Bernardes e Dr. Pedro Shiozawa, tive a honra e a
alegria de escrever o livro Desvendando o burn-out: uma análise interdis-
ciplinar da síndrome do esgotamento profissional (LTr, 2018).
Entre nós três, naquele momento, talvez eu já fosse o mais crítico
à noção vigente sobre o Burnout, tanto no meio acadêmico, quanto no
senso comum. Hoje (2022), com uma bagagem maior de estudos sobre
o tema, confesso que esse nível de crítica está muito, mas muito mais
acentuado.
Nesse processo de mudança, de tantas leituras, algumas me im-
pactaram mais do que outras. Em que pesem eventuais discordâncias
que temos, não posso deixar de mencionar, como exemplo, os pre-
ciosos, ricos e inspiradores escritos do Dr. Estevam Vaz de Lima, do
Dr. Flávio Fernandes Fontes e do Dr. Renzo Bianchi, todos bastante
referenciados nesta obra.
Sim, minha convicção sobre o Burnout é outra quando comparada
a 2018. E agora? Evidenciam-se, então, dois caminhos: deixar tudo
como está, não assumir que mudei e não comprometer minha pretensa
biografia; ou “olhar nos olhos” do mesmo público que comprou e/ou
leu o livro de 2018, e fazer das palavras do cantor e compositor bra-
sileiro Raul Seixas (1945-1989) exatamente as minhas palavras:
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante,
do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
O que Ninguém te Contou Sobre Burnout

Optei por esse último caminho. Não dava mais. Começou a ficar
angustiante ministrar aulas e palestras sobre Burnout e, toda vez, diante
de olhos que me mostravam mais interrogações do que qualquer outra
coisa, terminar com a frase “esse assunto é complicado mesmo, fiquem
tranquilos”.
Como alguém que abraçou a docência como carreira maior,
comecei a me sentir incompetente e, ao mesmo tempo, desafiado para
tornar esse tema mais compreensível para as pessoas. Revisitei-o de
todas as formas que consegui encontrar, de frente para trás e vice-versa.
Revirei-o caetaneando “do avesso, do avesso, do avesso”.
Com algum grau de previsibilidade, fui parar em Platão, na obra
Político narrando um hipotético diálogo entre o Estrangeiro de Eleia e
o jovem Sócrates:
Estrangeiro: Supõe que nos proponham a seguinte questão: nas classes onde
se aprende a ler, quando se pergunta a alguém de que letras é formada esta
ou aquela palavra, fazemo-lo com o intuito de levá-lo a resolver esse problema
particular ou com o intuito de torná-lo mais apto a resolver todos os problemas
gramaticais possíveis?
Jovem Sócrates: Todos os problemas possíveis, evidentemente.

Em Fedro, Sócrates reforça que o método das divisões é o melhor


jeito de aprender a falar e pensar. Estava dado o caminho. Precisei
dividir o complexo tema Burnout em 4 partes, explicadas já na primeira
das 100 questões deste livro.
Sim, por amor à didática, esse livro foi feito na forma de perguntas
e respostas. São 100 questões discursivas cuidadosamente ordenadas,
respondidas e fundamentadas.
Esta obra pode ser usada como um “manual”, isto é, não há neces-
sidade da leitura da questão anterior para entender a questão seguinte.
Para cumprir esse propósito, em algumas questões fui obrigado a retomar
ideias já tratadas anteriormente, tudo para que o leitor “não perca tempo”,
caso necessite da resposta de apenas uma única questão.
Enfim, tudo ficou mais simples e compreensível. Esse foi o
grande bônus desse árduo trabalho de divisão e análise dos 4 “tipos” de
Burnout. Mais uma vez os filósofos gregos acertaram.

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Marcos Mendanha

Mas há também um ônus. Os que até aqui caminharam na superfi-


cialidade conceitual do Burnout, tendo como referências, por exemplo,
as muitas matérias jornalísticas que versam sobre esse complexo tema,
é possível que sejam tomados por algum grau de espanto e perple-
xidade. Em algum momento, comigo foi assim também. “Como é tão
diferente do que eu imaginava”, certamente alguns dirão após a leitura
desta obra. Quem não quiser correr esse risco, é melhor que não a leia.
No entanto, a todos que fizerem a leitura, registro, desde já, que
compreendo e respeito os que pensarem de forma diversa em relação
ao que expus sobre Burnout ao longo deste livro. Realmente é um tema
com forte sabor polêmico. Seja por discordância com os argumentos
que apresento, seja por dificuldade de mudar de opinião, seja por
convicções pessoais, técnicas, corporativas, políticas e/ou ideológicas:
se a divergência for acompanhada da honestidade intelectual de quem
diverge, considero legítima e digna de toda minha consideração.
Com todos os ônus e bônus possíveis, fato é que eu precisava
escrever esta obra e materializar a metamorfose ambulante que atesto
ser. Não penso mais como em 2018. O que eu penso agora está neste
livro. Foi o mesmo Raul quem me instigou a fazer essa nova tentativa de
abordagem sobre o Burnout e a saúde mental, quando cantou:
Não pense que a canção está perdida.
Tenha fé em Deus, tenha fé na vida.
Tente outra vez.

Senhoras e senhores, bem-vindos à minha nova tentativa. Desejo


uma ótima leitura.
No mais, cuidem-se. A canção não está perdida. Fé em Deus. Fé
na vida.

Toca, Raul!

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Sumário

CAPÍTULO 1
“BURNOUT: QUE MÚSICA É ESSA?”................................................................ 21
1. De que Burnout Estamos Falando: do “Burnout de Freudenberger”, do “Burnout de
Maslach/MBI”, do “Burnout da CID-11” ou do “Burnout do Senso Comum”? (Essa
questão é de leitura obrigatória para compreender esse livro)............................. 21

CAPÍTULO 2
SOFRIMENTO MENTAL É COISA SÉRIA.......................................................... 25
2. Sofrimento Mental Existe?.......................................................................................... 25
3. O Trabalho pode Gerar Adoecimento Mental?........................................................... 25
4. As Instituições Devem Investir na Saúde Mental dos seus Trabalhadores ou isso é
Desperdício Humano e Financeiro?.......................................................................... 26

CAPÍTULO 3
O ESTRESSE E SUAS CONSEQUÊNCIAS (BOAS E RUINS)...................... 27
5. Todo Estresse Adoece?.............................................................................................. 27
6. Qual a Diferença do Estresse Adaptativo para o Estresse Não Adaptativo?............. 27
7. Mesmo o Estresse Crônico pode ser Adaptativo para Alguns e Não Adaptativo para
Outros?..................................................................................................................... 28
8. Todos os Trabalhadores Expostos ao Estresse Crônico Irão Adoecer?..................... 29
9. Por que, num Mesmo Ambiente Laboral com Intenso e Perpetuado Assédio Moral
(Estresse Crônico), Alguns Trabalhadores Adoecem e Outros Não?....................... 30
10. O Trabalho é um Fator de Risco para o Suicídio?................................................... 30

CAPÍTULO 4
CONCEITOS DE SÍNDROME, TRANSTORNO E DOENÇA......................... 33
11. Qual a Diferença entre Síndrome e Doença?........................................................... 33
12. Por que a Síndrome de Burnout Não Atende ao Critério Técnico de uma Síndrome? 34
13. Por que as Doenças Mentais são Também Chamadas de Transtornos Mentais?... 37
CAPÍTULO 5
O BURNOUT, DAS REFERÊNCIAS BÍBLICAS AO INÍCIO DA DÉCADA
DE 1970........................................................................................................................ 41
14. Como Surgiu a Expressão Burnout?........................................................................ 41
15. Como o Termo Burnout se Popularizou Antes Mesmo de ser “Batizado” como
Síndrome?................................................................................................................. 43

CAPÍTULO 6
O “BURNOUT DE FREUDENBERGER” (BF).................................................... 47
16. Quando Burnout foi Descrito pela Primeira Vez como Síndrome e Quem Fez essa
Descrição?................................................................................................................ 47
17. Quem foi Herbert Freudenberger e o que o fez Pensar na Síndrome de Burnout?. 47
18. Como Freudenberger Encontrou o Termo Burnout para dar Nome à Síndrome que
Propôs?..................................................................................................................... 49
19. Quais eram as Características Clínicas (Sinais e Sintomas) da Síndrome de Burnout
Descrita por Freudenberger?......................................................................................... 49
20. Quais eram as Causas e os Fatores de Risco para a Síndrome de Burnout, Segun-
do Freudenberger?................................................................................................... 51
21. Quais os Possíveis Tipos de Burnout, Conforme Freudenberger?.......................... 52
22. Quem são as Pessoas Mais Propensas a Desenvolver a Síndrome de Burnout,
Conforme Freudenberger?........................................................................................ 53
23. Para Freudenberger, a Síndrome de Burnout é Uma Doença?............................... 56
24. Para Freudenberger, a Síndrome de Burnout tem Cura? Quais as Maneiras de
Combatê-la?.............................................................................................................. 58

CAPÍTULO 7
O “BURNOUT DE MASLACH/MBI” (BMMBI)............................................... 61
25. Como o Burnout Passou a ser Relacionado ao Trabalho de Forma Mais Enfática e
Específica?................................................................................................................ 61
26. Quem é Christina Maslach e Por Que essa Pesquisadora é tão Importante para
Entendermos a Síndrome de Burnout na Atualidade?.............................................. 62
27. Para Maslach, o que é a Síndrome de Burnout?..................................................... 64
28. Quais são as Principais Diferenças entre o “Burnout de Freudenberger” (BF) e o
“Burnout de Maslach/MBI” (BMMBI)?....................................................................... 66
29. Há Alguma Relação entre a Síndrome de Burnout Proposta por Maslach e a Chamada
Síndrome do Impostor?........................................................................................................ 68
30. Qual o Instrumento Recomendado para Avaliação Individual e/ou Populacional da
Síndrome de Burnout Proposta por Christina Maslach?............................................... 70
31. Além do MBI (Maslach Burnout Inventory), Existem Outros Instrumentos que se
Propõem a “Medir o Burnout”?.................................................................................. 70
32. O que é o MBI, como Ele foi Feito e Qual Sua Importância?................................... 71
33. Quais são as Versões do MBI?................................................................................ 73
34. Como o MBI está Estruturado? E como Ele é Utilizado?......................................... 75
35. Como a Pontuação do MBI Deve ser Interpretada e Qual o Ponto de Corte para Afirmar
que Alguém está (ou Não) com a Síndrome de Burnout Proposta por Maslach?............ 79
36. O MBI Serve para Detectar se Alguém tem (ou Não) a Síndrome de Burnout Pro-
posta por Maslach?................................................................................................... 83
37. No MBI, há Critério de Exclusão para a Síndrome de Burnout Proposta por Maslach?
Há Como Não ter o “Burnout de Maslach”?.................................................................. 84
38. Qual o Maior Risco para a Saúde Pública Quando se Usa o MBI como Referência
para o Diagnóstico da Síndrome de Burnout Proposta por Maslach?...................... 85
39. O MBI Serve para Mensurar o “Burnout de Freudenberger”?.................................. 88
40. Qual o Conceito de Despersonalização para a Psicopatologia (Disciplina Funda-
mental para Psiquiatria e Psicologia Clínica)? E para o MBI e a Síndrome de Burnout
Proposta por Maslach?.................................................................................................. 88
41. Caso Alguém com “Problemas Sérios e Continuados no Casamento” seja Sub-
metido ao MBI: Os Resultados podem Sugerir Graus Mais Altos da Síndrome de
Burnout Proposta por Maslach?................................................................................ 91
42. Caso Alguém com Transtorno Depressivo (Não Relacionado ao Trabalho) Seja
Submetido ao MBI, os Resultados Podem Sugerir Graus Mais Altos da Síndrome
de Burnout Proposta por Maslach?........................................................................... 93
43. Quais Outros Transtornos Mentais Podem “Contaminar” (Confundir) os Resultados
Aferidos pelo MBI?......................................................................................................... 96
44. Com Base no MBI, a Síndrome de Burnout Proposta por Maslach tem Quantos
Sintomas?................................................................................................................. 98
45. O MBI Pode Considerar Outros Diagnósticos Psiquiátricos como Sendo a Síndrome
de Burnout Proposta por Maslach?............................................................................... 99
46. É Possível Estabelecer Alguma Correlação entre a Síndrome de Burnout Proposta
por Maslach e as LER/DORTs?................................................................................ 99
47. Não é Objetivo do MBI Atestar se Alguém tem (ou não) a Síndrome de Burnout
Proposta por Maslach. Por que a Maior Parte das Pesquisas que Usam esse Ins-
trumento Não Respeita isso?.................................................................................... 101
48. Quais as Repercussões dessa Divergência entre Christina Maslach (que Afirma Não
ser Objetivo do MBI Atestar se Alguém “Tem” ou “Não Tem” a Síndrome de Burnout
por Ela Proposta) e os Pesquisadores que Também Fundamentam seus Estudos no
MBI, Mas Não Seguem a Recomendação da Própria Autora do Instrumento?........... 103
49. Se o MBI Qualifica 100% dos Entrevistados com a Síndrome de Burnout Proposta
por Maslach, Por Que Existem Pesquisas que Usam o MBI, Mas que Mostram Dife-
rentes Porcentagens de Burnout na População Avaliada? Não Deveria ser 100% de
Burnout para Toda Amostra Analisada e em Todos os Estudos?................................. 105
50. É Verdade que o MBI e seus Manuais são Protegidos por Direitos Autorais? Se
Sim, Qual a Repercussão Disso?............................................................................. 106
51. Para Maslach, a Síndrome de Burnout é uma Doença?.......................................... 107
52. Para Maslach, a Síndrome de Burnout que Ela e seus Colaboradores Propõem
tem “Cura”? Se Sim, como essa “Cura” se Estabelece?.......................................... 109
53. Conforme Christina Maslach, Quais as 6 Áreas Mais Importantes que Uma Insti-
tuição Deve Observar, de Tal Forma que seus Trabalhadores Tornem-se Cada Vez
Mais Engajados (e sem a Síndrome de Burnout Proposta por Ela)?........................ 111
54. Conforme Maslach, como as Instituições Devem Mensurar a Percepção dos Tra-
balhadores sobre as 6 Possíveis Áreas de Discordância entre Pessoa e Trabalho? 118

CAPÍTULO 8
O “BURNOUT DA CID-11” (BCID11).................................................................. 121
55. Por Que a CID-11 Deve Ser Considerada a Principal Fonte sobre Burnout na
Atualidade?............................................................................................................... 121
56. O Burnout está na CID-10? Se Sim, em Qual Parte?.............................................. 124
57. O Burnout Está na CID-11? Se Sim, em Qual Parte?.............................................. 125
58. Levando em Conta Apenas os Fatores Causais, o “Burnout de Freudenberger”
Está para a CID-10 Assim como o “Burnout de Maslach/MBI” Está para a CID-11.
Qual o Sentido Dessa Correlação?........................................................................... 128
59. Como a Síndrome de Burnout está Definida na CID-11?......................................... 129
60. Para a CID-11, Burnout é uma Síndrome?............................................................... 129
61. A Culpa da Síndrome de Burnout Proposta pela CID-11 é Sempre do Empregador?
Quem é o Responsável pelo Gerenciamento do Estresse Crônico no Local de Trabalho:
Trabalhador ou Instituição?..................................................................................................... 131
62. Qual foi a Base Teórica Usada na Conceituação da Síndrome de Burnout Proposta
pela CID-11?............................................................................................................. 133
63. Para a CID-11, o Burnout é Uma Doença? E para o DSM-5?................................. 135
64. Se Fosse uma Doença, em que Capítulo do DSM-5 (e Também da CID-11) Estaria
Descrita a Síndrome de Burnout Proposta pela CID-11?.......................................... 137
65. Conforme a CID-11, Quais Transtornos Mentais Precisam ser Excluídos Antes de
se Atestar que Alguém Está com a Síndrome de Burnout?...................................... 147
66. Quais as Diferenças entre a Síndrome de Burnout (SB) Proposta por Maslach e
seus Colaboradores e a SB Proposta pela CID-11?................................................. 150
67. A Síndrome de Burnout Proposta pela CID-11 é um Quadro Grave?...................... 153
68. Qual a Diferença entre a Síndrome de Burnout Proposta pela CID-11 e a Depressão?. 154
69. Entre ter Burnout ou ter Depressão, o que as Pessoas Preferem?......................... 156
70. Qual a Diferença entre a Síndrome de Burnout Proposta pela CID-11 e o Transtorno
de Ansiedade Generalizada (TAG)?.............................................................................. 157
71. Qual a Diferença entre a Síndrome de Burnout Proposta pela CID-11 e o Transtorno
de Pânico?...................................................................................................................... 158
72. Qual a Diferença entre a Síndrome de Burnout Proposta pela CID-11 e o Transtorno
de Ajustamento (ou de Adaptação)?.............................................................................. 160
73. Atestar a Síndrome de Burnout Conceituada na CID-11 é Ato Médico?.................. 161
74. Qual a Especialidade do Médico que Pode Atestar a Síndrome de Burnout Proposta
na CID-11?...................................................................................................................... 163
75. Para a CID-11, a Síndrome de Burnout Pode Estar Relacionada a Questões Extra-
laborais (Ex.: Um Caso de Adoecimento na Família, um Casamento Conflituoso,
Problemas Financeiros etc.)?.................................................................................... 164
76. Na CID-11, Qual Qualificação Praticamente se Equivale ao Burnout, mas que pode
ser Causada pelo Estresse Crônico de Qualquer Origem, e Não Apenas de Origem
Ocupacional, como é o Caso do Burnout?............................................................... 165
77. Para a CID-11, o Burnout tem “Cura”?..................................................................... 169
78. Para a CID-11, Existe Nexo Causal entre a Síndrome de Burnout e o Trabalho?... 170
79. Conforme a CID-11, Qual a Classificação de Schilling Sugerida para a Síndrome
de Burnout?............................................................................................................... 170
80. O Médico (de Qualquer Especialidade, Ex.: Psiquiatra, Médico do Trabalho, Médi-
co da Unidade Básica de Saúde - UBS Etc.) pode Atestar o Burnout sem Conhecer
em Detalhes o Ambiente de Trabalho do Paciente? E se o Trabalho for em Home
Office?....................................................................................................................... 172
81. O Médico (de Qualquer Especialidade, Ex.: Psiquiatra, Médico da Unidade Básica
de Saúde - UBS etc.) pode Visitar a Instituição (Ex.: Empresa) onde Trabalha seu
Paciente para Fazer o Estudo do Ambiente e Organização do Trabalho?............... 178
82. O que a Instituição Deve Fazer Quando Recebe Muitos Atestados de Burnout Fei-
tos por Médicos (Ex.: Psiquiatras, Médicos das Unidades Básicas de Saúde - UBS
Etc.) que Não Conhecem em Detalhes o Ambiente de Trabalho Dessa Instituição?
O que Fazer Nesses Casos Também em Relação ao INSS?................................... 179
83. No Lugar do Burnout e como Equivalente Sintomatológico Próximo do Fenômeno,
o que o Médico (de Qualquer Especialidade, Ex.: Psiquiatra, Médico do Trabalho,
Médico da Unidade Básica de Saúde - UBS Etc.) pode Atestar, sem que haja
Qualquer Necessidade de Estudo Prévio e Detalhado do Ambiente de Trabalho do
Paciente?.................................................................................................................. 185
84. Qual Percurso Clínico-Metodológico deve ser Usado pelo Médico (de Qualquer
Especialidade, Ex.: Psiquiatra, Médico do Trabalho, Médico da Unidade Básica de
Saúde - UBS etc.) Antes de Emitir um Atestado de Burnout?................................... 186
85. Como o Médico Estabelece o Nexo de Causalidade entre a Síndrome de Burnout
Proposta na CID-11 e o Ambiente Laboral do Paciente-Trabalhador?..................... 203
86. Quais as Pessoas Mais Propensas a Desenvolver o Burnout Proposto na CID-11,
Conforme a Literatura Atual?.................................................................................... 203
87. O que os Trabalhadores podem Fazer (Individualmente) para Evitar o Burnout e
os Indesejados Efeitos do Estresse Crônico Advindo do Trabalho?............................. 206
88. Legalmente, no Brasil, o Burnout pode ser Considerado Uma Doença Ocupacional? 211
89. O Indivíduo com Diagnóstico Legalmente Reconhecido de Burnout como uma
Doença Ocupacional tem Isenção do Imposto de Renda?....................................... 215
90. Qual a Inconsistência Técnica Encontrada na Legislação Brasileira no que se
Refere à Qualificação do Burnout como Possível Doença Ocupacional?................ 216
91. Do Ponto de Vista Previdenciário (INSS), a Síndrome de Burnout pode ser Consi-
derada uma Doença Ocupacional?........................................................................... 218
92. Do Ponto de Vista Previdenciário (INSS), a Síndrome de Burnout pode ser Con-
siderada uma Doença Ocupacional por Via do Nexo Técnico Epidemiológico
(NTEP)?.................................................................................................................... 218
93. Qual o Período de Afastamento Sugerido para um Segurado do INSS com Diag-
nóstico de Síndrome de Burnout?............................................................................. 222
94. Como Contestar no INSS um Auxílio por Incapacidade Temporária do Tipo Acidentário
(“Auxílio-Doença” Acidentário: B91) Decorrente do Burnout?........................................... 230
95. Um Empregado Pode Processar Judicialmente uma Empresa em Virtude da Síndrome
de Burnout?.......................................................................................................................... 234
96. Numa Perícia Médica Judicial, o Laudo Pericial sobre o Burnout Pode ser Feito
por Um Médico do Trabalho, ou Necessariamente deve ser Confeccionado por um
Psiquiatra?................................................................................................................ 234
97. Como o TST (Tribunal Superior do Trabalho) Tem Julgado as Ações que Envolvem
a Síndrome de Burnout? Como os Juízes devem Mensurar o Quantum Indenizatório
nos Processos que Envolvem Burnout, à Luz da CID-11? Do Ponto de Vista Jurídico,
o que Mudou a Partir do Início da Vigência da CID-11?............................................... 236
98. Como as Instituições Podem Agir e se Respaldar (Inclusive Juridicamente)
Quanto ao Enfrentamento da Síndrome de Burnout e Transtornos Mentais entre
seus Trabalhadores?............................................................................................ 244
99. Afinal, para o Autor deste Livro, na Prática, a Síndrome de Burnout Proposta pela
CID-11 Existe ou Não Existe?................................................................................... 253
CAPÍTULO 9
O FUTURO DO BURNOUT.................................................................................... 255
100. O Que o Futuro Reserva para o Burnout? (Uma Reflexão Baseada numa Breve
História da Neurastenia)............................................................................................ 255

REFERÊNCIAS. .............................................................................................................. 259

ÍNDICE ALFABÉTICO REMISSIVO................................................................................ 273


CAPÍTULO 1
“BURNOUT: QUE MÚSICA É ESSA?”

1. De que Burnout Estamos Falando: do “Burnout de Freudenberger”,


do “Burnout de Maslach/MBI”, do “Burnout da CID-11” ou do
“Burnout do Senso Comum”? (Essa questão é de leitura obrigatória
para compreender esse livro)

Em 2022, completei exatos 25 anos de atuação como professor.


Seja para alunos do ensino médio e cursos pré-vestibular (quando
comecei), seja para alunos com formação superior nas mais diversas
áreas do conhecimento (público com o qual trabalho atualmente);
meu maior desafio docente sempre foi buscar ser o mais didático e
simples possível em todas as informações que transmito, tornando-as
de fácil assimilação. Algumas matérias, no entanto, dificultam, pela sua
complexa natureza, esse meu objetivo. Burnout é uma dessas matérias.
Adianto que ao longo desta obra usarei os termos Burnout e
Síndrome de Burnout com as iniciais maiúsculas, apenas e tão somente
pela valorização do tema objeto deste livro. Assim como fez a Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS), em notícia veiculada em seu site
oficial, também me referirei ocasionalmente ao Burnout como fenômeno
ocupacional ou simplesmente fenômeno. E mais: quando me referir ao
Burnout, usarei eventualmente a palavra diagnóstico sem aspas, consi-
derando o sentido mais amplo possível do verbo diagnosticar: iden-
tificar, indicar, determinar, detectar, descrever, entre outros possíveis
sinônimos.
Prosseguindo, por que é tão difícil explicar sobre Burnout e não
deixar dúvidas a ninguém? Vou fazer uma analogia para tentar res-
ponder a essa pergunta. Imagine uma banda de música instrumental.
Ela é formada por quatro músicos: um baterista, um contrabaixista, um
guitarrista e um tecladista.
O que Ninguém te Contou Sobre Burnout

Agora, imagine que quando essa banda se apresenta, todos


os componentes tocam músicas diferentes entre si: o baterista toca
uma música chamada de BF, o contrabaixista, outra música chamada
de BMMBI, o guitarrista, outra chamada de BCID11, e o tecladista,
outra chamada de BSC. São quatro canções distintas tocadas ao mesmo
tempo. Imaginaram o caos musical que se instalaria? Ainda que todas as
músicas fossem perfeitamente entoadas por cada um dos componentes
da banda, a plateia ouviria apenas um som ruidoso, feio e confuso.
Surge a pergunta: “mas e o Burnout, o que tem a ver com isso?”.
Nessa analogia, guardada as devidas proporções, as quatro músicas
tocadas pelos instrumentistas representam as principais ideias e con-
ceitos existentes sobre o Burnout em nível mundial. O som produzido
pela banda toda, constituído pela junção anacrônica e simultânea dessas
quatro canções, é o Burnout no sentido mais amplo e genérico possível:
um emaranhado de notas musicais que se entrelaçam confusamente em
compassos desiguais; um som impossível de se compreender e admirar.
Mas, se conhecermos separadamente cada uma das quatro músicas
tocadas pelos componentes dessa banda, tudo fará mais sentido. Para
isso, apresento, desde já, uma despretensiosa legenda sobre essas
quatro músicas que, repito, representam as quatro principais ideias e
conceitos sobre o Burnout na atualidade:

› BF: “Burnout de Freudenberger”. Trata-se do Burnout


que, pela primeira vez, foi caracterizado como uma síndrome
clínica, em 1974, por Herbert Freudenberger.
› BMMBI: “Burnout de Maslach/MBI”. Refere-se à Síndrome
de Burnout caracterizada por Christina Maslach e seus colabo-
radores, e medida pelo MBI (Maslach Burnout Inventory). O
BMMBI é diferente do BF.
› BCID11: “Burnout da CID-11”. Trata-se da Síndrome
de Burnout descrita na décima primeira e última revisão da
Classificação Internacional de Doenças (CID-11) feita pela
Organização Mundial de Saúde (OMS). O BCID11 é diferente
do BMMBI (embora com alguma semelhança) que, por sua
vez, é diferente do BF.

22
Marcos Mendanha

› BSC: “Burnout do senso comum”. Refere-se ao Burnout


que não é o BF, o BMMBI ou o BCID11, e que normalmente
está impresso no linguajar popular, nos almoços de família,
nas conversas de boteco, em várias obras literárias, em alguns
artigos acadêmicos e, muitas vezes, na grande mídia, como
sinônimo de estados extremos, seja de cansaço (algo muitas
vezes expresso como “estou no meu limite, não aguento
mais”), seja de falta de paciência e alto grau de intolerância
(nesse último caso, expresso como “estou de saco cheio”).

Volto à pergunta: por que é tão difícil explicar sobre Burnout e não
deixar dúvidas a ninguém? Pois, diante de todos os seus usos possíveis,
Burnout tornou-se um termo amplo e genérico demais. Existem vários
tipos diferentes de Burnout circulando por aí, quer seja nas conversas
informais, quer seja nos ambientes acadêmicos. Para uma melhor com-
preensão do tema, portanto, torna-se indispensável conhecer melhor
cada um dos seus principais tipos: BF, BMMBI, BCID11 e BSC. É o que
também faremos ao longo deste livro.
Adianto que, como opção pessoal, escolhi a CID-11 (WHO,
2018) como a principal, menos iatrogênica e mais confiável fonte sobre
Burnout na atualidade. Conquanto a CID-11 também seja alvo de
inúmeras e consistentes críticas, por ter a assinatura da OMS, pela sua
confecção acadêmica colegiada e representativa, pela importância e reco-
nhecimento mundial desse documento, além de outros motivos que
descrevo na questão n. 55 deste livro, estou convicto que fiz a melhor
opção e, desde já, sugiro que todos também a façam.
Para finalizar essa questão, uma dica prática e preciosa para você,
leitor deste livro: quando ouvir falar sobre o Burnout, não deixe de
questionar: “de qual Burnout se está falando? Do BF, do BMMBI, do
BCID11 ou do BSC?” A resposta dessa simples pergunta é assom-
brosamente esclarecedora para o entendimento do complexo tema
Burnout.

23
CAPÍTULO 2
SOFRIMENTO MENTAL É COISA SÉRIA

2. Sofrimento Mental Existe?

Sim, existe. E como existe!


Eu me assumo como crítico à noção do Burnout (aqui englobando
BF, BMBI, BCID11 e BSC) enquanto uma entidade clínica equivalente
aos transtornos mentais já conhecidos e devidamente catalogados. Ao
longo desta obra, serão vários os fundamentados argumentos nesse
sentido. No entanto, tal posicionamento não pode ser confundido, sob
qualquer pretexto, com insensibilidade de minha parte em relação ao
sofrimento mental alheio, em especial, dos trabalhadores acometidos
por esse tipo de dor.
Sim, independentemente das causas, o sofrimento mental existe.
Os consultórios dos psiquiatras e psicólogos estão cada vez mais cheios,
e isso não é à toa. Essa lágrima é verdadeira. Esse sofrimento é real.
Não é “mimimi”, não é “modinha”. Dói. Em alguns casos, dói muito.
Pode ser aterrorizante, desolador, incapacitante e aniquilar a esperança
por dias melhores. Pode tirar o colorido da vida e, em casos extremos,
apagá-la.
Sim, a saúde mental e, consequentemente, o sofrimento mental
são pautas sérias. Muito sérias. Quem convive ou conviveu com alguém
que sofre ou sofreu mentalmente sabe da real, imensa e inequívoca
importância desse tema. Eu sei.

3. O Trabalho pode Gerar Adoecimento Mental?

Para Dejours (1998), o trabalho nunca é neutro em relação à


saúde e favorece, seja a doença, seja a saúde. Portanto, sim, o trabalho
pode gerar ou estar relacionado com o adoecimento mental de um
trabalhador.
O que Ninguém te Contou Sobre Burnout

O trabalho pode. O adoecimento de um ente querido pode. Um


casamento conturbado pode. Conforme veremos adiante, qualquer
fonte de estresse crônico (inclusive o trabalho) pode adoecer men-
talmente (e também fisicamente) alguém.

4. As Instituições Devem Investir na Saúde Mental dos seus Tra-


balhadores ou isso é Desperdício Humano e Financeiro?

Sim, as instituições (públicas e privadas) não devem poupar es-


forços para promoção da saúde mental dos seus trabalhadores. E as
razões são muitas, inclusive de ordem financeira.
Atualmente, governos, empregadores e trabalhadores reconhecem
que a introdução de sistemas de gestão e promoção da segurança e
saúde no trabalho (SST) em uma instituição tem impacto positivo, tanto
na redução de acidentes, doenças e outros agravos ocupacionais, como
no aumento da produtividade (ILO-OSH, 2001).
Para além de programas teóricos e burocráticos que muito mais
visam a certificações e/ou comprovações documentais a quem inte-
ressar possa, as instituições devem agir de forma efetiva (com base em
evidências e nas melhores práticas), contínua, planejada (metrificada,
aferida e com responsabilidades atribuídas) e revisada periodicamente,
em prol da saúde mental de seus colaboradores.

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CAPÍTULO 3
O ESTRESSE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
(BOAS E RUINS)

5. Todo Estresse Adoece?

Não. Não é todo estresse que adoece. Aliás, faz-se necessário


aqui uma justa homenagem ao chamado estresse adaptativo. Desde que
a humanidade existe, os estressores ambientais (ameaças), mediante
uma série de reações biológicas autônomas que ocorrem em nosso
organismo e que já foram bastante estudadas, puderam nos despertar
o medo, um estado de alarme que, em última instância, foi responsável
pela nossa autopreservação (RODRIGUES; LEDOUX; SAPOLSKY,
2009). Esse é o estresse adaptativo.
No trabalho, no esporte, nos estudos, enfim, no cotidiano social, o
estresse adaptativo seguramente esteve (está e estará) relacionado com
boa parte (se não com todos) nossos maiores êxitos em grandes desafios.
Mesmo para os mais devotos de uma vida terrena isenta de
qualquer sobressalto, alerto que, do ponto de vista fisiológico, a au-
sência total e permanente de estresse não é compatível com a própria
existência, ou se'ja, equivale à morte. Assim, um brinde à vida, um
brinde ao estresse adaptativo!

6. Qual a Diferença do Estresse Adaptativo para o Estresse Não


Adaptativo?

Diferenciar com exatidão o estresse adaptativo do estresse não


adaptativo (também chamado de estresse patológico ou patogênico)
pode não ser uma tarefa simples.
O estresse adaptativo, como regra, é um estresse agudo, de
efeito não prolongado (SAPOLSKY, 2003). No entanto, isso não significa
que todo estresse agudo deva ser compreendido como adaptativo. A
depender da vulnerabilidade individual, um estresse agudo de grande
O que Ninguém te Contou Sobre Burnout

intensidade pode provocar o chamado transtorno de estresse agudo


(TEA), descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais - 5a Edição - DSM-5 (APA, 2014).
Por outro lado, está cada vez mais sedimentada a tese neuro-
científica que defende que o estresse crônico, duradouro, independen-
temente de sua causa (seja o trabalho, seja o casamento tempestuoso,
sejam problemas socioeconômicos etc.), é um potencial causador de
doenças. Por isso, o estresse crônico, também como regra, é consi-
derado não adaptativo (SAPOLSKY, 2003).
Inúmeros estudos comprovam que o estresse crônico pode
gerar efeitos danosos no sistema imunológico, cardiovascular, neuroen-
dócrino, além do sistema nervoso central (Anderson, 1998). Entre suas
consequências, já bastante estudadas, citamos o enfraquecimento do
sistema imunológico; a hipertensão arterial; dores musculares difusas;
doenças cardíacas; obesidade; além de transtornos ou doenças mentais,
como o transtorno depressivo e o transtorno de ansiedade (BAUM;
POLSUSNZY, 1999).

7. Mesmo o Estresse Crônico pode ser Adaptativo para Alguns e


Não Adaptativo para Outros?

Sim. A magnitude e as consequências do estresse crônico estão


mais relacionadas com a valoração e significados individuais atribuídos
a ele do que com a frequência, intensidade e duração do agente/fato
estressor em si.
Por várias causas, que frequentemente se entrelaçam (ex.: ge-
nética, personalidade, estrutura psicológica, sensibilidade afetiva, entre
outras), já é provado que alguns são mais resilientes ao estresse crônico.
Outros são mais vulneráveis (ELBAU; CRUCEANU; BINDER, 2019).
Uma vez esgotados os mecanismos cerebrais adaptativos frente a
um determinado estressor, havendo manutenção do agente estressor,
consolidam-se, juntamente com a vulnerabilidade individual, os me-
canismos sine qua non para o desenvolvimento de possíveis doenças,
inclusive mentais.
Assim, podemos hipotetizar que os agentes estressores serão
tão mais capazes de desencadear transtornos mentais, quanto menos

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Marcos Mendanha

resilientes forem nossos recursos adaptativos e quanto maior for nossa


predisposição genética para a doença em questão (BORSBOOM, 2017).
Em outras palavras, deve-se prestar atenção à noção de que
sintomas psicopatológicos estão conectados através de uma miríade
de mecanismos biológicos, psicológicos e sociais. Estes mecanismos
atuarão em conjunto na etiopatogênese dos transtornos mentais, num
processo contínuo que vai dos mecanismos adaptativos até processos
disfuncionais: uma linha imensurável e indivisível entre o saudável e o
patológico (MENDANHA; BERNARDES; SHIOZAWA, 2018).
Fato é que os resilientes adaptam-se mais facilmente a um de-
terminado estresse crônico (para eles, portanto, esse estresse poderia
ser classificado como adaptativo). Os mais vulneráveis, diante desse
mesmo determinado estresse crônico, podem adoecer (para eles,
então, esse estresse seria não adaptativo).
Assim, sublinho que diferenciar com exatidão o estresse adap-
tativo do estresse não adaptativo (também chamado de estresse
patológico ou patogênico) pode não ser uma tarefa simples e, muitas
vezes, acaba demandando análises individualizadas e retrospectivas (do
passado para o presente). Somente a partir dessa análise, que considera
a complexa “digestão” que cada um de nós faz do estresse crônico
que nos acomete, é que poderemos classificá-lo com maior segurança
como sendo um estresse adaptativo ou não adaptativo.

8. Todos os Trabalhadores Expostos ao Estresse Crônico Irão


Adoecer?

Nem todos os trabalhadores expostos ao estresse crônico


adoecem. Nessa análise, a vulnerabilidade individual importa.
Todos os pais que possuem filhos acamados por longos anos
adoecem? Todos que padecem de agruras financeiras por períodos
“intermináveis” adoecem? Todos os maridos e esposas integrantes de
casamentos longos e conflituosos adoecem? Todos os trabalhadores
de um mesmo setor acometidos por intenso assédio moral de seus
gestores adoecem? Para todas essas perguntas a resposta é não. Isso
porque, mesmo diante de situações cronicamente estressantes, cada
indivíduo elaborará, dentro do repertório que possui, a sua própria
resposta, a sua própria reação, de forma individualizada e única.

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