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Olá, aluno! Para que você possa compreender todo o mecanismo que o trato
gastrointestinal realiza desde o momento da entrada do alimento na boca até sua excreção
através das fezes, inicialmente, é necessário que você conheça as características
anatômicas e histológicas de todas as estruturas que fazem parte do trato gastrointestinal, e
é isso que veremos a partir de agora.
Jorge tem 47 anos, é hipertenso, obeso e, de acordo com seu último check-up, apresenta
uma dislipidemia (colesterol total e triglicerídeos altos e colesterol-HDL baixo). Há 15 dias
ele se queixa de uma “dor abdominal” muito intensa, que piora após as refeições. Por não
aguentar mais passar dor, ele decide ir ao hospital. Durante a consulta, relata ao médico
que a primeira vez que sentiu essa dor abdominal intensa do lado direito superior do
abdômen, que se irradia para as costelas, foi quando estava em um bar com os amigos
comendo salgadinhos fritos e bebendo cerveja, e que, a partir desse episódio, a dor
aparece intensa, em média, uns 30-40 minutos após as refeições e diminui aos poucos.
Junto a essa dor, ele sente náuseas e, às vezes, vômito, assim como observou que as
fezes estão claras e gordurosas. Ao finalizar a consulta, o médico diz que, provavelmente,
ele apresenta uma colelitíase (cálculos biliares, ou “pedra na vesícula”), mas que para ter
certeza será necessário realizar um exame de imagem. Após a realização da
ultrassonografia e a confirmação dos cálculos biliares na vesícula, o médico o encaminhou
para a realização da colecistectomia. Quais são as formas de tratamento dessa patologia?
É necessário mesmo realizar a cirurgia? Como esses cálculos se formam dentro da vesícula
biliar? Qual é a relação da presença dos cálculos biliares com as fezes claras e
gordurosas?
CONCEITO-CHAVE
Os nutrientes que ingerimos através dos alimentos são utilizados pelo nosso organismo
para formar novos tecidos corporais e reparar tecidos danificados, porém a maioria dos
alimentos que consumimos é composta por moléculas grandes demais para serem
utilizadas pelas células do corpo, como proteínas, lipídios, carboidratos complexos e ácidos
nucleicos. Desta forma, o trato gastrointestinal possui funções de digerir os alimentos até
moléculas que sejam absorvíveis, além de promover a absorção de água e eletrólitos e a
excreção de resíduos, fornecendo, de maneira adequada, água, eletrólitos e nutrientes para
que o organismo possa manter suas funções fisiológicas.
O trato gastrointestinal é um sistema tubular formado pela boca, a maior parte da faringe, o
esôfago, o estômago, o intestino delgado e o intestino grosso. Cada parte possui uma
função específica, seja a simples passagem do alimento (esôfago), o armazenamento
temporário do alimento (estômago) ou a absorção (intestino delgado). Este canal tubular
possui um comprimento de, aproximadamente, 5 a 7 m em uma pessoa viva, em
decorrência do tônus dos músculos da parede do canal alimentar. As contrações
musculares que ocorrem nesta parede são responsáveis pela mistura dos alimentos com os
líquidos secretados no decorrer do trato digestório, pela fragmentação física dos alimentos e
pela agitação e pelo impulsionamento desde o esôfago até o ânus. Além desses órgãos que
compõem o canal tubular digestório, temos os órgãos digestórios acessórios, que incluem
os dentes, a língua, as glândulas salivares, o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas. Os
dentes e a língua auxiliam no processo de mastigação e deglutição, mas os outros órgãos
acessórios, por sua vez, não entram em contato direto com os alimentos, eles produzem ou
armazenam secreções que entram em contato com os alimentos através dos ductos. Essas
secreções auxiliam na decomposição química dos alimentos.
Mesmo que todo o processo de digestão e absorção dos alimentos pareça simples, o trato
gastrointestinal se depara com três desafios:
Evitar a autodigestão: os alimentos que ingerimos estão, na maioria das vezes, na forma de
macromoléculas, como carboidratos complexos, proteínas e lipídeos. Para que o organismo
possa utilizar esses nutrientes, é necessário que ocorra o processo de digestão, quando
enzimas potentes são secretadas pelo trato gastrointestinal para digerir os alimentos em
moléculas que sejam pequenas o suficiente para serem absorvidas pelo corpo.
Simultaneamente, essas enzimas não devem digerir o próprio trato gastrointestinal
(autodigestão). Caso os mecanismos protetores contra a autodigestão falharem,
escoriações, conhecidas como úlceras pépticas, podem se desenvolver.
Balanço de massa: manter o equilíbrio entre os líquidos que entram e os que saem do
organismo. Em média, as pessoas ingerem dois litros de líquidos diariamente, porém as
glândulas e as células exócrinas secretam, aproximadamente, sete litros de enzimas, muco,
eletrólitos e água no lúmen ao longo do trato gastrointestinal, totalizando uma média de
nove litros de líquidos que entram no sistema digestório. Para manter a homeostasia, o
volume de líquido que entra no trato gastrointestinal por ingestão ou secreção deverá ser
igual ao volume que deixa o lúmen, através do processo de absorção no intestino delgado e
grosso, além da excreção de líquidos através das fezes (em média, 100 mL).
Defesa: o lúmen do trato gastrointestinal é a maior área de contato entre o meio interno e o
mundo externo, desta forma, é uma região que enfrenta diariamente o desafio entre a
necessidade de absorver nutrientes e água e a necessidade de evitar que bactérias, vírus e
outros patógenos entrem no corpo. Para isso, o trato gastrointestinal possui alguns
mecanismos fisiológicos de defesa, incluindo muco, enzimas digestórias, ácido e a maior
coleção de tecido linfático do corpo. Estima-se que 80% de todos os linfócitos do corpo são
encontrados no intestino delgado.
Camada mucosa: é composta por: (a) um revestimento epitelial, que fica em contato direto
com o conteúdo alimentar e possui a função protetora, de secreção e absorção. Este
epitélio é suportado pela (b) lâmina própria, que possui muitos vasos sanguíneos e
linfáticos, os quais são as vias pelas quais os nutrientes absorvidos no canal alimentar
alcançam os outros tecidos do corpo. E a (c) lâmina muscular da mucosa, que é uma fina
camada de músculo liso que separa a lâmina própria da submucosa responsável pelo
movimento da camada mucosa, independentemente de outros movimentos do sistema
digestório, aumentando o contato da mucosa com o alimento.
Camada submucosa: é um tecido conjuntivo que liga a túnica mucosa à túnica muscular e
possui muitos vasos sanguíneos e linfáticos, os quais recebem moléculas dos alimentos
absorvidos. A submucosa possui também o plexo submucoso, que é formada por uma
cadeia de neurônios interconectados, os quais controlam, principalmente, a secreção
gastrointestinal e o fluxo sanguíneo local.
Camada muscular: é dividida em duas subcamadas, uma interna próxima ao lúmen e outra
camada externa. Entre essas duas subcamadas, encontra-se o plexo nervoso mioentérico e
o tecido conjuntivo contendo vasos sanguíneos e linfáticos. Esta camada é responsável
pelas contrações segmentares (movimentos que misturam o alimento com as enzimas
digestivas) e pelo movimento peristáltico (movimentos que movem o alimento ao longo do
canal alimentar) ao longo do trato gastrointestinal.
É na boca (ou cavidade oral) que o alimento sofre as primeiras transformações para o início
do processo de digestão com a cooperação da língua, dos dentes e das glândulas salivares.
As bochechas formam as paredes laterais da boca e, durante o processo de mastigação, a
contração dos músculos bucinadores junto ao músculo orbicular da boca nos lábios ajuda a
manter os alimentos entre os dentes. Os palatos duro e mole são outras estruturas que
fazem parte da cavidade oral, responsáveis por separar a cavidade oral da cavidade nasal,
formando o céu da boca. O palato é uma estrutura que torna possível mastigar e respirar ao
mesmo tempo. A língua é um órgão digestivo acessório, formado de um músculo estriado
esquelético revestida por uma camada mucosa. Ela auxilia no processo de articulação das
palavras e no processo da mastigação, mistura e deglutição dos alimentos. As faces
superior e lateral da língua são recobertas por papilas, que contêm papilas gustativas,
responsáveis pelo gosto. As glândulas salivares (sublinguais, parótidas e submandibulares)
liberam a saliva dentro da cavidade oral, que possui enzimas, como a lipase e a amilase
salivar, envolvidas na digestão inicial do amido e dos lipídeos, além de umedecer e lubrificar
o alimento, facilitando sua passagem para a faringe e o esôfago. Os dentes, por sua vez,
exercem importantes funções de cortar, rasgar, moer e triturar o alimento. Os seres
humanos possuem duas dentições: decídua e permanente. Os dentes decíduos, também
chamados dentes de leite, começam a aparecer por volta dos seis meses de idade até
formarem os 20 dentes, caindo, geralmente, entre os seis e doze anos, sendo substituídos
pelos dentes permanentes, os quais aparecem entre os seis anos e a idade adulta. Temos
um total de 32 dentes (oito incisivos, quatro caninos, oito pré-molares e doze molares).
A faringe é composta por um músculo esquelético e revestida por túnica mucosa. É uma
região de transição entre a cavidade oral e os sistemas digestório e respiratório, que
funciona como um canal para a deglutição e a respiração. A epiglote é uma cartilagem
responsável por fechar a laringe quando o alimento tem passagem para o esôfago,
impedindo que ele vá para a traqueia.
O esôfago é um tubo muscular de, aproximadamente, 25 cm de comprimento, situado atrás
da traqueia, e possui a função de transportar o alimento da boca ao estômago. Os
movimentos peristálticos fazem com que o alimento seja propelido em direção ao estômago.
Neste caminho, não há secreções digestórias nem absorção de nutrientes, no entanto há
secreções de muco que facilitam o transporte do alimento e protegem a parede do esôfago.
Em cada extremidade do esôfago, a túnica muscular forma dois esfíncteres: o esfíncter
esofágico superior, que consiste em músculo esquelético e tem a função de controlar a
passagem dos alimentos da faringe para o esôfago, além de impedir a entrada de ar no
esôfago e estômago durante a respiração; o esfíncter esofágico inferior, que consiste em
um músculo liso, que fica próximo ao coração, cujo papel é regular o movimento dos
alimentos do esôfago para o estômago e evitar o refluxo do conteúdo gástrico para o
esôfago.
A maior parte da digestão e absorção dos nutrientes ocorre no intestino delgado, por essa
razão, possui uma grande área de superfície, a qual é aumentada ainda mais devido às
pregas circulares, vilosidades e microvilosidades. O intestino delgado possui um
comprimento de, aproximadamente, 3 m na pessoa viva, com 2,5 cm de diâmetro, sendo
dividido em três partes: a primeira é o duodeno, que se inicia no músculo esfíncter do piloro
do estômago, possui 25 cm de comprimento aproximadamente; em seguida, temos o jejuno,
com 1 m de comprimento aproximadamente, e se estende até o íleo, que é a última e mais
longa região do intestino delgado, medindo 2 m aproximadamente, e liga-se ao intestino
grosso em um esfíncter de músculo liso chamado óstio ileal. É na camada mucosa e
submucosa da parede intestinal que temos a formação das pregas circulares, vilosidades e
microvilosidades, que fazem com que a área de superfície para digestão e absorção seja
aumentada, além da presença de diversas células, como caliciformes, enteroendócrinas, de
Paneth, etc., que produzem várias substâncias, as quais são necessárias no processo de
digestão e absorção, como: suco intestinal, secretina, colecistoquinina, polipeptídio inibidor
gástrico, lisozima, muco, etc.
O intestino grosso é a parte final do trato gastrointestinal, tendo como principais funções:
absorção de água, produção de determinadas vitaminas (como do complexo B e K),
fermentação, produção de muco, formação da massa fecal e expulsão das fezes do corpo.
Possui, aproximadamente, 1,5 m de comprimento e 6,5 cm de diâmetro em seres humanos
vivos, indo do íleo ao ânus. É dividido em quatro regiões: ceco, cólon (ascendente,
transverso, descendente e sigmoide), reto e canal anal (ânus). Diferente do intestino
delgado, a camada mucosa no intestino grosso não tem pregas (exceto no reto) nem
vilosidades, no entanto há as criptas, que produzem muco e absorvem água da massa
fecal.
O pâncreas é um órgão glandular constituído de uma cabeça, um corpo e uma cauda, que
mede, aproximadamente, 12 a 15 cm de comprimento, e encontra-se posteriormente à
curvatura maior do estômago. Possui funções exócrinas e endócrinas. As funções exócrinas
são de responsabilidade dos ácinos (pequenos aglomerados de células epiteliais
glandulares), onde as células, em seu interior, secretam o suco pancreático através do
ducto pancreático para o interior do duodeno para a digestão de amidos (polissacarídeos),
proteínas, triglicerídeos e ácidos nucleicos. A parte endócrina é realizada pelas ilhotas
pancreáticas (ilhotas de Langerhans). Essas células secretam os hormônios glucagon,
insulina, somatostatina e polipeptídio pancreático para a corrente sanguínea.
Embora o SNE possa funcionar de forma independente, ele se comunica com o sistema
nervoso autônomo (SNA) através dos nervos simpáticos (inervam igualmente do trato
gastrointestinal) e parassimpáticos (região do reto e ânus), que fazem com que as ações
possam ser intensificadas ou até mesmo inibidas. A estimulação dos nervos simpáticos faz
com que as atividades do trato gastrointestinal sejam inibidas, enquanto os nervos
parassimpáticos estimulam (aumentam) as atividades.
ASSIMILE
REFLITA
EXEMPLIFICANDO
Após Jorge realizar a ultrassonografia e ter a confirmação da presença dos cálculos biliares
em sua vesícula, o médico o encaminhou para a colecistectomia (cirurgia para a remoção
da vesícula biliar). Desta forma, entenderemos como essa patologia ocorre.
Qual é a relação da presença dos cálculos biliares com as fezes claras e gordurosas? A bile
tem a função de emulsionar a gordura proveniente dos alimentos para auxiliar no processo
de digestão e absorção dos lipídeos vindos da dieta. Quando ingerimos um alimento
gorduroso, a vesícula expele a bile para o duodeno, então, caso ocorra uma obstrução no
ducto devido aos cálculos biliares, por exemplo, a bile fica retida na vesícula. As fezes
claras e gordurosas são muito comuns em casos de colelitíase, pois a bilirrubina, que é um
componente da bile, é a responsável pela coloração normal das fezes e faz a emulsificação
das gorduras, para que elas sejam absorvidas. Caso a bile não seja expelida para o
duodeno, não tem bilirrubina para dar pigmentação às fezes e não ocorrerá a absorção
adequada das gorduras, o que faz com que o excesso seja eliminado nas fezes.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
Rita tem 14 anos, é estudante do 3º ano do ensino médio e há dois dias vem sentindo um
mal-estar, anorexia e dores de cabeça. Hoje pela manhã, ela acordou com febre (39° C),
com muita dor ao engolir os alimentos e percebeu que atrás da orelha e abaixo da
mandíbula está bem inchando e sensível. Sua mãe, preocupada, achou melhor ela não ir
para a escola e levou-a até a UBS mais próxima para uma consulta. Com base nos
sintomas, qual é o diagnóstico da Rita? O que pode estar acontecendo com ela, que faz
com que tenha dificuldades de engolir os alimentos?
RESOLUÇÃO
De acordo com os sintomas e a condição clínica de Rita, ela está com caxumba. A caxumba
é uma doença infecciosa, causada pelo vírus da família Paramixovírus, que resulta na
inflamação das glândulas parótidas, ocasionando um aumento delas, assim como febre
moderada, mal-estar e dor na garganta, principalmente, ao engolir alimentos. Devido à
inflamação das glândulas, ocorre um inchaço em um ou ambos os lados da face, atrás das
orelhas e abaixo da mandíbula. É uma doença altamente contagiosa, que é transmitida
através das gotículas pelas vias aéreas, ou por contato direto com a saliva da pessoa
doente. Hoje em dia, temos vacinas disponíveis para a prevenção da caxumba e que fazem
parte da imunização básica da população como, a tríplice viral (sarampo, caxumba e
rubéola) e tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).
DIGESTÃO E ABSORÇÃO
Prezado aluno!
Nesta seção, você continuará a conhecer o sistema digestório, que tem como principal
objetivo fornecer água, eletrólitos e nutrientes de maneira adequada, para que o organismo
possa manter suas funções fisiológicas. Assim, você verá como ocorre todo o processo de
digestão e absorção ao longo de todo o trato gastrointestinal, uma vez que os alimentos que
ingerimos precisam ser digeridos para que, em seguida, sejam absorvidos e transportados
nos fluidos corporais. Desta forma, o trato gastrointestinal, junto aos órgãos digestivos
acessórios, realiza todo esse processo para disponibilizar nutrientes ao organismo.
CONCEITO-CHAVE
A maioria dos alimentos que ingerimos não está disponível ao organismo e deve ser
quebrada em moléculas menores antes de ser absorvida e transportada nos fluidos
corporais, desta forma, o trato gastrointestinal, junto aos órgãos digestivos acessórios,
realizam todo o processo de digestão e absorção para disponibilizar nutrientes ao
organismo.
Quando o alimento entra na boca, ele é inundado pela saliva, que, junto aos dentes, no
processo de mastigação, dão início à primeira etapa no processo de digestão. A saliva é
secretada pelas glândulas salivares parótidas, sublinguais e submandibulares apenas em
quantidade suficiente (fluxo médio de 0,3 a 0,5 mL/min) para manter a boca e a faringe
umedecidas, além de ajudar a manter os dentes limpos. A visão, o sabor, o aroma e a
textura dos alimentos excitam o sistema nervoso central, o qual, por sua vez, aumenta a
atividade simpática e parassimpática, inervando as glândulas salivares, fazendo com que a
produção de saliva aumente em seis a oito vezes (fluxo médio de 1 a 3 mL/min).
A deglutição ocorre em três fases: (1) na fase oral ou fase voluntária, o alimento é
voluntariamente movido em direção à parte superior da cavidade oral com o auxílio da
língua, e a laringe é elevada, de modo que a epiglote cobre a entrada do sistema
respiratório, impedindo a entrada do material ingerido, desta forma, o alimento é passado
para a parte oral da faringe. Quando o bolo alimentar passa pela faringe até o esôfago de
forma involuntária, inicia-se a fase faríngea (2), na qual a presença do alimento estimula os
receptores da parte oral da faringe, fazendo com que o palato mole e a úvula se movam
para cima para fechar a parte nasal da faringe, o que impede que os alimentos e líquidos
ingeridos entrem na cavidade nasal. A epiglote, por sua vez, fecha a abertura da laringe,
impedindo que o bolo alimentar entre no restante do trato respiratório. Quando o esfíncter
esofágico superior relaxa, o bolo alimentar se move para o esôfago. A última fase da
deglutição é a esofágica (3), quando o bolo alimentar passa de forma involuntária através
dos movimentos peristálticos do esôfago até o estômago.
ASSIMILE
Os efeitos intoxicantes e incapacitantes do álcool etílico (etanol) dependem dos seus níveis
sanguíneos. Como o álcool é lipossolúvel, começa a ser absorvido no estômago. No
entanto, a área de superfície disponível para absorção é muito maior no intestino delgado
do que no estômago, de modo que, quando o álcool passa para o duodeno, é mais
rapidamente absorvido. Assim, quanto mais tempo o etanol permanecer no estômago, mais
lentamente o nível sanguíneo sobe. Desta forma, o etanol, quando ingerido com alimentos
ricos em gordura, faz com que o nível sanguíneo de álcool suba mais lentamente, pois os
ácidos graxos presentes no quimo desaceleram o esvaziamento gástrico. Por outro lado, a
enzima álcool desidrogenase, que está presente nas células mucosas do estômago,
degrada uma parte do álcool em acetaldeído, que não é intoxicante, assim, quanto mais
lento for o esvaziamento gástrico, maior será o tempo de contato do etanol com a enzima
álcool desidrogenase e maior será a conversão em acetaldeído no estômago e, dessa
forma, menos álcool alcançará a corrente sanguínea. As mulheres e os homens de origens
asiáticas apresentam níveis mais baixos desta enzima gástrica.
A secreção gástrica ocorre em três fases: cefálica, gástrica e intestinal. A fase cefálica
inicia-se antes de o bolo alimentar chegar ao estômago, uma vez que o olfato, a visão, o
gosto e o pensar em determinado alimento estimulam a secreção gástrica por meio da
ativação do plexo submucoso que secreta acetilcolina, a qual, por sua vez, estimula a
secreção de gastrina pelas células G da mucosa gástrica. Tanto a acetilcolina quanto a
gastrina induzem a produção de ácido clorídrico pelas células parietais. Quando o alimento
chega ao estômago, inicia-se a fase gástrica, na qual a presença do bolo alimentar excita os
receptores do plexo submucoso, que liberam gastrina, a qual serve de estímulo para a
produção de suco gástrico. A última fase da secreção gástrica é a intestinal, que ocorre
quando o quimo é liberado ao duodeno. A chegada do quimo ácido ao intestino delgado,
mais especificamente no duodeno, excita o plexo mioentérico e submucoso, controlando a
motilidade do intestino delgado, que faz com que o quimo seja misturado com as enzimas
secretadas durante esse processo, como colecistoquinina e secretina.
REFLITA
As enzimas digestivas estão presentes no processo de digestão dos nutrientes e sua função
é acelerar as reações, uma vez que os alimentos que ingerimos precisam ser quebrados
(digeridos) em pequenas moléculas para que o organismo possa absorver. Pensando nisso,
você saberia indicar as principais enzimas digestivas secretadas ao longo do trato
gastrointestinal?
A maior parte das enzimas secretadas no pâncreas é inativa e se torna ativa quando chega
ao intestino delgado. Como essas enzimas estão na forma inativa, elas não digerem as
células do próprio pâncreas. Quando o tripsinogênio (forma inativa da tripsina) chega ao
intestino delgado, encontra a enteroquinase (presente na borda em escova) e se forma a
tripsina (forma ativa da enzima). A tripsina, por sua vez, atua no quimotripsinogênio,
procarboxipeptidase e proelastase para produzir a quimotripsina, a carboxipeptidase e a
elastase, respectivamente. A liberação do suco pancreático ocorre devido aos estímulos
causados pela distensão do intestino delgado, pela presença de alimentos, pelos sinais
neurais e pelos hormônios secretina e colecistoquinina (CCK). Quando o quimo ácido
proveniente do estômago entra no duodeno, ocorre a estimulação das células S
enteroendócrinas (encontradas em maior concentração no duodeno e jejuno e em menor
concentração no íleo), que liberam secretina. Esse hormônio estimula a produção de uma
secreção rica em bicarbonato de sódio. A presença de proteína e lipídeo no quimo, bem
como sua acidez, estimula as células I enteroendócrinas a liberarem CCK. Esse dois
hormônios estimulam a liberação do suco pancreático para o duodeno através do ducto
pancreático e do ducto pancreático acessório.
Embora a bile seja secretada continuamente nos hepatócitos, sua produção é aumentada
durante as refeições, conforme a digestão e a absorção prosseguem no intestino delgado.
Nos intervalos entre as refeições, depois que a maior parte da absorção já ocorreu, o ducto
biliar se fecha e a bile flui para dentro da vesícula biliar para ser armazenada. Com a
chegada do quimo no duodeno, ocorre a liberação dos hormônios secretina e CCK, que
estimulam o fluxo biliar. A secretina estimula a secreção de bile pelo fígado e a CCK faz a
contração da vesícula biliar e a liberação de bile no duodeno. O ducto pancreático se une
com o ducto biliar hepático antes de alcançar o duodeno, formando a ampola
hepatopancreática, de modo que as secreções pancreáticas e biliar se misturam antes de
entrarem no intestino.
EXEMPLIFICANDO
A fibra dietética é composta por carboidratos não digeridos, como celulose, lignina e pectina
que são encontradas em frutas, legumes, grãos e feijões.
A fibra insolúvel, que não se dissolve na água, passa majoritariamente inalterada e acelera
a passagem do material pelo canal alimentar. Ela é encontrada em cascas de frutas e
verduras e no revestimento em torno de farelo de grãos de trigo e de milho. Por outro lado,
a fibra solúvel se dissolve em água, formando um gel que retarda a passagem do material
pelo canal alimentar. É encontrada em abundância no feijão, na aveia, na cevada, no
brócolis, nas ameixas, nas maçãs e nas frutas cítricas. O consumo regular de fibras reduz o
risco de desenvolver obesidade, diabetes, aterosclerose, cálculos biliares, hemorroidas,
diverticulite, apendicite e câncer colorretal. As fibras solúveis ajudam a diminuir os níveis
sanguíneos de colesterol.
O fígado, normalmente, converte o colesterol em sais biliares, que são liberados no intestino
delgado para ajudar na digestão de gordura. Após ter realizado a sua tarefa, os sais biliares
são reabsorvidos pelo intestino delgado e reciclados para o fígado. Como a fibra solúvel se
liga aos sais biliares para impedir a sua reabsorção, o fígado produz mais sais biliares para
substituir os que foram perdidos nas fezes. Assim, o fígado utiliza mais colesterol para
produzir mais sais biliares, e o nível de colesterol do sangue cai.
Senhor Raul é um paciente de 85 anos que há um ano teve um Acidente Vascular Cerebral
Isquêmico, comprometendo todo seu lado direito e fazendo com que tenha dificuldades na
hora de se alimentar, como um comprometimento na hora de deglutir alimentos e líquidos.
Isso faz com que ele se engasgue e não consiga engolir os alimentos. Devido a isso, ele
não consegue se alimentar e perdeu 10 kg nos últimos meses, comprometendo ainda mais
sua saúde. Senhor Raul foi diagnosticado com disfagia orofaríngea. Pensando no
diagnóstico dele, disfagia é uma doença ocasionado pelo Acidente Vascular Cerebral
Isquêmico?
A disfagia não é uma doença, mas um sintoma, que reflete atraso na passagem de líquidos
e sólidos na cavidade oral para o estômago, ou seja, o indivíduo apresenta uma dificuldade
no ato de deglutir, na transferência dos alimentos da boca ao esôfago e,
consequentemente, ao estômago. Todo o processo de deglutição é coordenado
sistematicamente pelo sistema nervoso central, assim, lesões cerebrais, como Acidente
Vascular Cerebral, podem afetar o controle voluntário da deglutição e da mastigação e o
transporte do bolo alimentar durante a fase oral. A fase oral da ingestão alimentar ocorre
voluntariamente a partir da introdução do alimento na cavidade oral e envolve os processos
de mastigação e captação do bolo alimentar, preparando o alimento para ser enviado à
faringe, ao esôfago e ao estômago. Sendo assim, a disfagia orofaríngea afeta a fase oral,
impedindo o indivíduo de iniciar a deglutição.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
Os últimos meses têm sido muito cansativos e estressantes para Carla. Ela mudou de
cidade, começou um novo emprego e está se adaptando à nova faculdade. Há uns 60 dias,
vem apresentando diarreia, em média, quatro vezes ao dia, muita cólica intestinal e
observou que perdeu peso nos últimos dias. Como sua vida estava passando por várias
mudanças ao mesmo tempo e não estava se alimento corretamente, ela achou que esses
sintomas eram devidos ao estresse e aos maus hábitos alimentares. Tomava escopolamina
quando tinha cólicas e começou a se alimentar melhor, aumentando a ingestão de frutas,
legumes e cereais integrais e diminuindo o consumo de fast-food. No entanto, chegou um
momento que Carla começou a sentir fraqueza, e a perda de peso persistia, mesmo ela
tendo melhorado sua alimentação, então resolveu procurar um médico. Depois de todos os
exames clínicos, laboratoriais e de imagens, o diagnóstico foi que Carla tinha uma doença
inflamatória intestinal, chamada de Doença de Crohn. A princípio, ela ficou assustada e
começou a fazer algumas perguntas ao médico: o que eu posso ter comido que ocasionou
essa doença? Que tipo de tratamento eu posso fazer para me curar?
RESOLUÇÃO
A Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa são doenças inflamatórias intestinais crônicas,
autoimunes, ocasionadas por uma tríade que envolve causas genéticas, ambientais e
imunológicas, cujo sistema imunológico gera uma resposta inflamatória no trato
gastrointestinal. Doença de Crohn pode acometer todas as camadas da parede intestinal,
começando pela mucosa, estendendo-se para outras camadas, como a submucosa, a
muscular e, por fim, a serosa, podendo evoluir para perfuração do órgão e maiores
complicações, além de acometer qualquer parte do trato gastrointestinal (da boca ao ânus),
no entanto o íleo é o seguimento mais acometido pela inflamação. Como essa doença não
tem cura por ser autoimune, o objetivo do tratamento das doenças inflamatórias intestinais é
manter a doença em fase de remissão (sem sintomas) e evitar a fase de exacerbações
(aparecimento dos sintomas), ou seja, é manter a doença sob controle sem os sintomas,
como diarreia intensa, cólicas, etc.
Prezado aluno!
Nesta seção, você conhecerá as principais doenças que acometem o trato gastrointestinal e
os órgãos digestivos anexos. Nas seções anteriores, você aprendeu como funciona todo o
sistema gastrointestinal e sua importância para mantermos nosso organismo em
homeostasia, desta forma, qualquer doença que acometa esse sistema trará um impacto
negativo ao nosso organismo, uma vez que o processo de digestão e absorção é
indispensável ao funcionamento dele.
Suponha que você apresentará aos seus estagiários da clínica em que trabalha um caso
para ser discutido com todos. Os dados do paciente são: C. L. W., gênero masculino, 32
anos, auxiliar administrativo, que foi encaminhado pela UBS ao gastroenterologista devido à
pirose que vem sentindo há mais ou menos três meses. Esse sintoma tem uma piora após
grandes refeições e ao se deitar. Devido aos sintomas clínicos e ao resultado da
endoscopia digestiva alta com biópsia, o paciente foi diagnosticado com a doença do refluxo
gastroesofágico e esofagite. Pensando no diagnóstico dele, como você deverá descrever a
fisiopatologia da doença do refluxo gastroesofágico? Qual é o tratamento clínico e
medicamentoso mais indicado nesse caso?
CONCEITO-CHAVE
A infecção por Helicobacter pylori é a causa mais comum de gastrite crônica, no entanto o
refluxo de conteúdo biliar, o estresse e algumas doenças autoimunes também podem ser as
responsáveis. A gastrite causada pelo H. pylori é uma doença inflamatória crônica que
acomete o antro e o corpo do estômago, podendo causar atrofia da mucosa gástrica e
úlcera péptica do estômago, e está associada ao risco elevado de câncer gástrico. O H.
pylori é uma bactéria gram-negativa, que pode colonizar as células epiteliais secretoras de
muco do estômago, produzindo enzimas e toxinas que têm a capacidade de interferir na
proteção local da mucosa gástrica contra a ação do ácido, causar inflamação intensa e
desencadear uma reação imune. Essa bactéria é extremamente comum, encontrada em
mais da metade da população mundial, porém as taxas de contaminação são ainda mais
altas nos países mais pobres, onde o saneamento básico e os padrões de higiene pessoal
são precários. A principal forma de contaminação é a via fecal-oral, pois a bactéria só
consegue alcançar a mucosa gástrica pela boca, visto que se trata de um microrganismo
não invasivo. Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentar vários graus de
dispepsia. A endoscopia digestiva alta com biópsia e teste de urease é o diagnóstico mais
realizado para pesquisa de H. pylori. O tratamento da gastrite ocasionada por essa bactéria
consiste na eliminação dela com um esquema que utiliza de dois a três antibióticos
(amoxicilina e claritromicina, por exemplo) combinado com inibidores da bomba de prótons
(omeprazol ou lansoprazol), por um período de 7-14 dias.
A doença ulcerosa péptica é um termo usado para descrever lesões erosivas que
acometem, principalmente, estômago e duodeno expostos às secreções de ácido e
pepsina. Essa doença tem como antecedente principal a gastrite crônica ocasionada pelo
uso de determinados fármacos e a infecção pelo H. pylori. Com períodos de exacerbações
e remissões, a úlcera péptica é um problema de saúde crônico. Ela pode penetrar apenas
na superfície da mucosa, ou pode estender-se até as camadas do músculo liso. Em alguns
casos, pode ocorrer de a lesão erosiva penetrar na parede externa do estômago ou do
duodeno. A infecção pela bactéria H. pylori e o uso de ácido acetilsalicílico e outros
anti-inflamatórios não esteroides são os principais fatores de risco para o desenvolvimento
da úlcera. A H. pylori tem a capacidade de provocar inflamação e estimular a liberação de
citocinas e outros mediadores inflamatórios que contribuem para a lesão da mucosa. Os
anti-inflamatórios não esteroides podem lesar a mucosa e inibir a síntese de
prostaglandinas. Dentre os fármacos dessa classe, o ácido acetilsalicílico é o mais
ulcerogênico, embora a formação da úlcera é dose-dependente, mas também há risco
mesmo com doses de AAS de 81 mg/dia. O tabagismo também pode aumentar o risco de
úlcera péptica por dificultar sua cicatrização, e a ingestão de álcool, por sua vez, pode
aumentar a produção de ácido. Os sintomas mais comuns são dor epigástrica, sensação de
queimação, eructações e distensão abdominal. Na úlcera gástrica, esses sintomas tendem
a aparecer logo após uma refeição e, na úlcera duodenal, de duas a três horas após a
refeição. O diagnóstico é dado por exame de endoscopia, pelo qual se pode visualizar a
úlcera e determinar seu grau de sangramento. As complicações mais comuns da úlcera
péptica são hemorragia, perfuração (ocorre quando uma úlcera erode e atravessa todas as
camadas da parede do estômago ou do duodeno), além de obstrução do orifício de saída
do estômago. O tratamento da úlcera tem como objetivo erradicar a causa e assegurar a
cura definitiva da doença. O tratamento farmacológico enfatiza a erradicação do H. pylori, a
atenuação dos sintomas da úlcera e a cicatrização da lesão. Fármacos neutralizadores de
acidez, inibidores da secreção ácida e protetores da mucosa são usados para atenuar os
sintomas e promover a cicatrização da cratera da úlcera. Anti-inflamatórios não esteroides e
AAS devem ser evitados, quando possível.
Náuseas e vômitos são respostas fisiológicas comuns a muitos distúrbios do trato
gastrointestinal. Essas reações podem ser protetoras, na medida em que sinalizam a
existência de alguma doença, como no caso dos vômitos, que removem agentes nocivos do
trato gastrointestinal, no entanto podem contribuir para a redução da ingestão ou perda de
líquidos e nutrientes quando forem em excesso.
A ação de vomitar envolve dois centros bulbares diferentes: o centro do vômito, que está
localizado na região dorsal da formação reticular do bulbo, perto dos núcleos sensoriais do
nervo vago, e a zona do gatilho quimiorreceptor, que está localizada em uma área pequena
do assoalho do quarto ventrículo, onde fica exposta ao sangue e ao líquido cerebrospinal. O
centro do vômito recebe estímulos do sistema digestório e de outros órgãos, do córtex
cerebral e do aparelho vestibular, que é responsável pela tontura causada por movimento,
enquanto a zona do gatilho quimiorreceptor é ativada por muitos fármacos e por toxinas
endógenas e exógenas. A ação de vomitar consiste em uma respiração profunda,
fechamento das vias respiratórias e desencadeamento de uma contração forte e violenta do
diafragma e dos músculos abdominais, acompanhada pelo relaxamento do esfíncter
gastresofágico. A respiração é interrompida durante o ato, que pode estar acompanhado de
tontura, vertigem, queda da pressão arterial e bradicardia.
ASSIMILE
A cirrose é a forma mais grave de dano hepático, sendo consequência frequente do longo
curso clínico de todas as doenças hepáticas crônicas. Dentre as complicações clínicas da
cirrose, temos a encefalopatia hepática, que é caracterizada por uma disfunção mental,
causada por uma intoxicação cerebral devido ao excesso de amônia circulante no sangue.
A amônia é gerada em nosso organismo de uma forma fisiológica por diversas vias.
Normalmente, ela é convertida em ureia no fígado e, depois, removida através da urina. Em
indivíduos com doença hepática crônica, como a cirrose, a amônia não pode ser limpa
adequadamente e, subsequentemente, a concentração aumenta no sangue e cruza a
barreira hematoencefálica, levando à disfunção cerebral.
Uma outra doença muito comum que acomete o trato gastrointestinal, mais especificamente
a vesícula biliar, é a colelitíase, também chamada de cálculos biliares. Essa doença é
causada pela precipitação das substâncias contidas na bile, principalmente colesterol e
bilirrubina. Aproximadamente, 80% dos cálculos biliares são formados de colesterol
basicamente.
Existem diversos fatores que contribuem para a formação dos cálculos biliares. A formação
dos cálculos de colesterol está associada à obesidade e ocorre mais comumente nas
mulheres, especialmente nas que tiveram várias gestações ou que usam anticoncepcional
oral. Todos esses fatores levam o fígado a excretar mais colesterol na bile, mas o
estrogênio, por sua vez, reduz a síntese de ácidos biliares, que são necessários à
manutenção da solubilidade do colesterol. Os fármacos hipolipemiantes aumentam a
excreção de colesterol na bile, contribuindo para a formação dos cálculos biliares. A
formação da lama biliar, que é comum na gestação, na inanição e na perda rápida de peso,
é outro precursor dos cálculos biliares.
REFLITA
Você já parou para pensar que, devido à complexidade do nosso trato gastrointestinal,
qualquer doença que possa acometer qualquer um dos órgãos que fazem parte deste
sistema pode implicar grandes prejuízos ao nosso estado clínico e nutricional?
A constipação intestinal não é considerada uma doença, e sim um sintoma. Pode ser
definida como defecação infrequente, incompleta ou difícil e ocorrer por diversos fatores,
como um distúrbio primário da motilidade intestinal, um efeito colateral de um fármaco, um
problema associado à outra doença ou um sintoma de lesões obstrutivas do sistema
digestório. Incapacidade de reagir ao desejo urgente de defecar, ingestão insuficiente de
fibras dietéticas e líquidos, enfraquecimento dos músculos abdominais, inatividade e
repouso ao leito, gestação e hemorroidas são as causas mais comuns de constipação
intestinal.
A diarreia é um outro distúrbio muito comum que compromete a motilidade intestinal, sendo
definida como uma eliminação excessivamente frequente de fezes moles ou malformadas.
Ela pode ser aguda ou crônica e tem como causa agentes infecciosos, intolerância
alimentar, fármacos ou doença intestinal.
A diarreia aguda começa de forma súbita, persiste por menos de duas semanas e,
geralmente, é causada por agentes infecciosos. Ela pode ser inflamatória, que se
caracteriza por febre e diarreia sanguinolenta (disenteria). Neste caso, é ocasionada por
microrganismos patogênicos, os quais possuem a capacidade de invadir as células
intestinais (por exemplo, Shigella, Salmonella, Yersinia e Campylobacter) ou produzir
toxinas, como a E. coli O157:H7. Na diarreia aguda inflamatória, a eliminação de fezes é
frequente, e elas têm volume pequeno. A defecação está associada às cólicas, há uma
urgência para defecar e tenesmo. Já na diarreia aguda não inflamatória, há eliminação de
fezes líquidas volumosas, mas sem sangue, cólicas periumbilicais, distensão abdominal por
gases, náuseas ou vômitos. Esse quadro é causado por bactérias produtoras de toxinas (S.
aureus, E. coli enterotoxigênica, Cryptosporidium parvum, Vibrio cholerae) ou outros
patógenos (vírus, Giardia).
A diarreia osmótica é causada por nutrientes ou eletrólitos mal absorvidos, que retêm água
no lúmen. Essa água é atraída para dentro do lúmen intestinal pela concentração
hiperosmótica do seu conteúdo em tal volume que o cólon não consegue reabsorver o
excesso de líquido. Isso ocorre nos casos de intolerância à lactose, quando o indivíduo tem
uma deficiência da enzima lactase, a qual está localizada na extremidade das vilosidades
da mucosa do intestino delgado e tem a função de degradar a lactose em glicose e
galactose. Uma vez que a digestão e a absorção da lactose estão prejudicadas, a lactose
não hidrolisada tem atividade osmótica no lúmen intestinal, além de chegar intacta ao
intestino grosso, onde a microbiota intestinal cliva essa lactose em ácidos graxos de cadeia
curta e gás, principalmente hidrogênio (H2), dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4).
Essa retenção da lactose no intestino é a responsável pelos sintomas característicos, como
diarreia osmótica e distensão abdominal devido à produção de gases pela microbiota
intestinal.
EXEMPLIFICANDO
A intolerância à lactose não envolve o sistema imunológico. Ela ocorre devido a uma
incapacidade do organismo de digerir a lactose (açúcar do leite), em virtude da deficiência
da enzima lactase. Os sintomas mais comuns são: diarreia, distensão abdominal e cólicas.
A infecção pela bactéria Helicobacter pylori e o uso de anti-inflamatórios não esteroides são
as duas principais causas de gastrite e úlcera péptica. O tratamento engloba a erradicação
do H. pylori, a diminuição da secreção do ácido clorídrico com o uso de inibidores da bomba
de prótons (IBP) ou bloqueadores de receptor de H2 e/ou o uso de fármacos protetores da
mucosa gástrica.
Os antiácidos são outra classe de fármacos que agem no controle da secreção gástrica.
Eles são bases fracas que reagem com o ácido gástrico, formando água e um sal,
diminuindo a acidez gástrica. As classes de antiácidos mais utilizados são: bicarbonato de
cálcio, carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio e magnésio.
ANTIEMÉTICOS
Anticolinérgicos (escopolamina).
Anti-histamínicos (meclizina, difenildramina, cinarizina).
Antidopaminérgicos (bromoprida, domperidona, droperidol).
Agentes pró-cinéticos (agonistas de receptores da motilina).
Antagonistas serotoninérgicos (ondansetrona, dolasetrona).
Antagonista de NK (aprepitano).
DIARREIA
CONSTIPAÇÃO
Suponha que você apresentará aos seus estagiários da clínica em que trabalha um caso
para ser discutido com todos. Os dados do paciente são: C. L. W., gênero masculino, 32
anos, auxiliar administrativo que foi encaminhado pela UBS ao gastroenterologista devido à
pirose que vem sentindo há mais ou menos três meses. Esse sintoma tem uma piora após
grandes refeições e ao se deitar. Devido aos sintomas clínicos e ao resultado da
endoscopia digestiva alta com biópsia, o paciente foi diagnosticado com a doença do refluxo
gastroesofágico e esofagite. Pensando no diagnóstico desse paciente, como você deverá
descrever a fisiopatologia da doença do refluxo gastroesofágico? Qual é o tratamento
clínico e medicamentoso mais indicado nesse caso?
O esfíncter esofágico inferior contraído tonicamente age como uma barreira efetiva contra o
refluxo do ácido do estômago de volta para o esôfago. A efetividade do tônus do esfíncter
pode ser alterada por vários fatores, fazendo com que essa barreira seja rompida, tornando
possível o refluxo do conteúdo ácido do estômago. Esse refluxo recorrente do conteúdo
ácido pode danificar (lesionar) a mucosa, resultando em um processo inflamatório e
podendo evoluir para um quadro de esofagite. O tratamento clínico do refluxo consiste em
mudanças comportamentais e alimentares, como: evitar gorduras, café, chocolate, álcool;
evitar líquidos durante a refeição, porque podem diminuir o tônus do esfíncter esofágico
inferior; evitar grandes refeições de uma só vez; reduzir o peso corpóreo, se necessário,
pois o aumento da pressão abdominal decorrente da obesidade pode ser responsável pelo
aumento da exposição do esófago ao ácido devido às alterações do tônus; elevar a
cabeceira da cama (em média, 15 cm); aguardar de 30 minutos a uma hora para se deitar
após as refeições. O tratamento medicamentoso é realizado com inibidores da bomba de
prótons, como omeprazol; bloqueadores dos receptores H2 da histamina, sendo ranitidina,
famotidina e cimetidina os mais utilizados, assim como os antiácidos, como alginatos e
sucralfato, que são utilizados para alívio passageiro dos sintomas.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA
Suponha que você tenha sido convidado para apresentar um estudo clínico aos seus
colegas de trabalho, todos da área de saúde. O caso clínico é: R. L. M., gênero feminino, 52
anos, obesa, hipertensa, diabética tipo 2 e com um quadro de dislipidemia. Nos últimos dois
meses, sente fraqueza e falta de apetite. Devido a esses sintomas, ela procura a UBS para
uma consulta com o clínico geral, o qual solicita vários exames laboratoriais. Após o
resultado, verificaram-se alterações nos marcadores hepáticos associados aos sintomas
clínicos, então Regina foi encaminhada ao hepatologista para exames mais detalhados e, a
partir daí, foi constatado que ela está com doença hepática gordurosa não alcoólica. Diante
desse diagnóstico, como você explicaria o que é doença hepática gordurosa não alcoólica?
Quais são as causas e os fatores de risco para esta doença que você deverá considerar na
sua explicação?
RESOLUÇÃO
A doença hepática gordurosa não alcoólica é uma das formas mais comuns de doença
hepática, caracterizada por um acúmulo de lipídeos nos hepatócitos (esteatose hepática). A
patogênese dessa doença ainda não foi totalmente elucidada, mas a teoria mais apoiada
implica a resistência à insulina como o mecanismo principal que leva à esteatose hepática.
A resistência à insulina é uma condição inicial para o acúmulo de ácidos graxos no
hepatócito, uma vez que favorece a lipogênese e inibe a lipólise até mesmo no fígado,
aumentando excessivamente o aporte de ácidos graxos a esse órgão. A doença hepática
gordurosa não alcoólica está fortemente associada a fatores de risco metabólicos, como
obesidade, dislipidemia, resistência à insulina e diabetes tipo 2, e a incidência dessa doença
acompanha as taxas crescentes de obesidade no mundo todo.
UNIDADE 2
CONVITE AO ESTUDO
Um dos momentos em nossa vida em que percebemos de uma forma tão evidente o
impacto do sistema endócrino na condução do desenvolvimento e na regulação das funções
corporais é a puberdade. Ao entrar na puberdade, meninos e meninas começam a
desenvolver diferenças notáveis na aparência física e no comportamento. Nas meninas, os
estrogênios promovem o acúmulo de tecido adiposo nas mamas e nos quadris, modelando
a forma feminina. Ao mesmo tempo ou um pouco depois, níveis cada vez mais altos de
testosterona nos meninos começam a produzir massa muscular e a aumentar as pregas
vocais, resultando em uma voz mais grave. Além desses efeitos, nosso sistema endócrino
secreta a todo momento inúmeros hormônios que ajudam a manter a homeostasia do nosso
organismo. Ele está envolvido em todos os aspectos integrativos da vida, incluindo
crescimento, diferenciação sexual, metabolismo e adaptação a um ambiente em constante
mudança. Levando em consideração a importância do sistema endócrino na manutenção do
nosso organismo, qualquer alteração que ocorra na secreção e ação desses hormônios
acarretará prejuízo na saúde dos indivíduos. A partir de agora, conheceremos as estruturas
que compõem o sistema endócrino, bem como ocorre a síntese dos hormônios, o papel dos
receptores e seu mecanismo de ação. Em seguida, entenderemos a anatomia e a histologia
do pâncreas, como ocorre a secreção da insulina e glucagon e a fisiopatologia da Diabete
Mellitus, abordando o tratamento insulínico e oral e os exames laboratoriais para
diagnóstico e acompanhamento. Para finalizar esta unidade, estudaremos como o eixo
hipotálamo-hipófise regula a liberação de hormônios em nosso organismo, o papel do
hormônio do crescimento e da tireoide na manutenção da homeostase do organismo e as
principais doenças e tratamentos farmacológicos relacionados aos hormônios do
crescimento e tireoidianos.
Nesta seção, você estudará o sistema endócrino, considerado um dos principais sistemas
reguladores do organismo humano. Os hormônios secretados atuarão em células-alvo, com
a finalidade de regular as concentrações sanguíneas de nutrientes, eletrólitos, etc.
Mas, você pode estar se perguntando: por que estudar o sistema endócrino? Como vou
utilizar isso na minha prática clínica? Porque os hormônios regulam diversas funções no
organismo, como a insulina e o glucagon, que atuam no controle da glicemia.
De forma geral, os hormônios são mensageiros químicos que atuam em célula-alvo por
meio dos receptores expressos nas células.
Conheceremos as estruturas que compõem o sistema endócrino, como ocorre a síntese dos
hormônios, o papel dos receptores e seu mecanismo de ação. Em seguida, entenderemos a
anatomia e histologia do pâncreas, como ocorre a secreção da insulina e glucagon e a
fisiopatologia da Diabete Mellitus, abordando o tratamento insulínico e oral e os exames
laboratoriais para diagnóstico e acompanhamento. Para finalizar esta unidade, estudaremos
como o eixo hipotálamo-hipófise regula a liberação de hormônios em nosso organismo, o
papel do hormônio do crescimento e da tireoide na manutenção da homeostase do
organismo e as principais doenças e tratamentos farmacológicos relacionados aos
hormônios do crescimento e tireoidianos.
Suponha que você está trabalhando em uma Unidade Básica de Saúde, na qual trabalhará
com um grupo de adultos com sobrepeso, e o tema abordado serão os hormônios. Antes de
começar a roda de conversa, os participantes chegaram à UBS não muito satisfeitos com o
assunto que seria abordado naquele dia e já começaram a fazer várias perguntas, tais
como: para que servem os hormônios? Em qual alimento eu encontro os hormônios que
preciso? Qual a relação entre os hormônios e a Diabete Mellitus?
Para responder a esses questionamentos, você utilizará conteúdos acerca do estudo dos
hormônios, a respeito das definições e da atuação dos hormônios. Então, vamos conhecer
um pouco mais sobre esse conteúdo tão importante para sua prática. Bons estudos!
CONCEITO-CHAVE
O sistema endócrino participa de muitas funções essenciais, incluindo a regulação da
digestão, o uso e armazenamento de nutrientes, o crescimento e desenvolvimento, o
metabolismo dos eletrólitos e da água e as funções reprodutivas. Todas essas atividades
corporais são controladas por meio da liberação de mediadores, chamados de hormônios.
O termo “hormônio” tem origem grega e significa “despertar para a atividade”. Consiste em
uma molécula mediadora liberada em alguma parte do corpo que regula a atividade celular
em outras partes do corpo. Os hormônios são secretados pelas glândulas endócrinas e por
alguns órgãos e tecidos que contêm células secretoras de hormônios. As glândulas
endócrinas secretam seus hormônios no líquido intersticial, onde se difundem para os
capilares sanguíneos e o sangue os transporta para as células-alvo pelo corpo. Embora um
determinado hormônio percorra o corpo pelo sangue, ele atua apenas em células-alvo
específicas, através de ligações químicas a receptores proteicos específicos. Os receptores,
assim como outras proteínas celulares, são constantemente sintetizados e degradados. Em
geral, uma célula-alvo possui 2.000 a 100.000 receptores para um determinado hormônio.
Em virtude da dependência do sistema circulatório para distribuir seus produtos, as
glândulas endócrinas são alguns dos tecidos mais vascularizados do corpo, considerando
que, para a maioria dos hormônios, os níveis circulantes são tipicamente baixos. A hipófise
e as glândulas da tireoide, paratireoides, suprarrenais e pineal são exemplos de glândulas
endócrinas (Figura 2.1). Além disso, vários órgãos e tecidos não são exclusivamente
classificados como glândulas endócrinas, mas contêm células que secretam hormônios,
sendo eles hipotálamo, timo, pâncreas, ovários, testículos, rins, estômago, fígado, intestino
delgado, pele, coração, tecido adiposo e placenta.
Uma vez que esses hormônios são secretados na corrente sanguínea, passam a circular
como moléculas livres. A maior parte dos hormônios hidrossolúveis circula no plasma
aquoso sanguíneo, não ligado a outras moléculas, como é o caso dos hormônios peptídicos
e proteicos, ou dos hormônios esteroides e tireóideos, que são lipossolúveis e grande parte
deles circula ligada a proteínas transportadoras. Em geral, menos de 10% dos hormônios
esteroides ou tireoidianos existem livres em solução no plasma. Essas proteínas
transportadoras são sintetizadas no fígado pelos hepatócitos e possuem as funções de
tornar os hormônios lipossolúveis temporariamente hidrossolúveis, aumentando, desse
modo, sua solubilidade no sangue; de retardar a passagem de moléculas hormonais
pequenas pelo mecanismo de filtragem nos rins, reduzindo, assim, a perda hormonal na
urina; de oferecer uma pronta reserva de hormônio na corrente sanguínea. A dimensão da
ligação à proteína transportadora influência a velocidade que os hormônios deixam o
sangue e entram nas células. A meia-vida de um hormônio está positivamente
correlacionada com sua porcentagem de ligação às proteínas.
REFLITA
Os efeitos dos hormônios ocorrem por meio da interação com seus receptores de alta
afinidade, os quais, por sua vez, estão ligados a um ou mais sistemas efetores no interior da
célula. Os hormônios são distribuídos pelo sangue a todas as células do corpo, mas
somente as células-alvo são capazes de responder a eles. Para que isso ocorra, uma
célula-alvo deve possuir proteínas receptoras específicas para o hormônio. Os hormônios
apresentam efeitos variados devido ao fato de que um único hormônio é capaz de
desencadear várias respostas celulares diferentes, dependendo da sua ligação à
célula-alvo, como é o caso da insulina, que pode estimular a síntese de glicogênio nos
hepatócitos e a síntese de triglicerídeos nos adipócitos. Para que um hormônio possa
apresentar seus efeitos, em primeiro lugar, é preciso que ele “anuncie a sua chegada” à
célula-alvo por meio da ligação com seus receptores.
Quando estimulada, uma glândula endócrina libera seus hormônios, aumentando, assim, a
concentração sanguínea do hormônio. Na ausência de estimulação, o nível sanguíneo do
hormônio diminui. Essa regulação da secreção, normalmente, evita a produção excessiva
ou insuficiente de qualquer hormônio, ajudando a manter a homeostasia. A secreção
hormonal é regulada por sinais do sistema nervoso, como os impulsos nervosos para a
medula da glândula suprarrenal, que regulam a liberação de epinefrina; por alterações
químicas no sangue, como o nível sanguíneo de Ca2+, que regula a secreção de
paratormônio (PTH); por outros hormônios, como o hormônio da adeno-hipófise (hormônio
adrenocorticotrófico), que estimula a liberação de cortisol pelo córtex da glândula
suprarrenal. A maioria dos sistemas regulatórios hormonais atua via feedback negativo,
porém alguns operam por feedback positivo. A secreção hormonal é muito variável ao longo
de um período de 24 h. Alguns hormônios, como o do crescimento e o adrenocorticotrófico
(ACTH), apresentam flutuações diurnas, que variam de acordo com o ciclo de sono e vigília.
Outros, como os hormônios sexuais femininos, são secretados de uma maneira cíclica
complexa. Os níveis de hormônios, como a insulina e o hormônio antidiurético (ADH), são
regulados por mecanismos de feedback que monitoram substâncias, como a glicose
(insulina) e a água (ADH) no corpo. Os níveis de muitos hormônios são regulados por
mecanismos de feedback.
EXEMPLIFICANDO
O sistema endócrino é regulado por mecanismos de feedback (positivo e negativo) que
possibilitam que as células endócrinas modifiquem sua taxa de secreção hormonal.
A partir dos questionamentos na roda de conversa, você começa explicando para que
servem os hormônios. O termo “hormônio” tem origem grega e significa “despertar para a
atividade”. Consiste em uma molécula mediadora liberada em alguma parte do corpo que
regula a atividade celular em outras partes do corpo. Os hormônios são secretados pelas
glândulas endócrinas e por alguns órgãos e tecidos que contêm células secretoras de
hormônios.
A outra indagação era a respeito dos alimentos que possuem em sua composição os
hormônios. Sobre essa pergunta, você respondeu que os alimentos são formados por
carboidratos, proteínas e lipídeos (macronutrientes) e por vitaminas e minerais
(micronutrientes), portanto os hormônios que atuam no corpo humano são produzidos pelo
próprio corpo humano, e todas as pessoas devem priorizar uma alimentação saudável.
Logo, não existe um alimento fonte de hormônio que possa suprir as necessidades do corpo
humano.
A outra pergunta feita para você era sobre qual a relação entre os hormônios e a Diabete
Mellitus. Você iniciou explicando que a Diabete Mellitus é uma doença na qual o organismo
não produz ou produz de forma insuficiente o hormônio insulina. Esse hormônio é produzido
no pâncreas, em células denominadas de ilhotas pancreáticas. A característica da insulina é
ser um hormônio proteico. Podemos dizer que a insulina é regulada por um mecanismo que
monitora a glicose.
Podemos observar que a roda de conversa está caminhando muito bem, então veremos
mais à frente quais serão os próximos assuntos abordados.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
RESOLUÇÃO
Neste caso, são várias frentes de trabalho, o qual deve ser multidisciplinar, com a atuação
de um nutricionista, cuidando da alimentação, que deve ter foco na redução das
dislipidemias e no controle da glicemia; de um psicólogo, para identificar as causas das
crises de ansiedade que Marcelo está sofrendo; de um educador físico, para melhorar a
capacidade física e evitar lesões por conta do sobrepeso em que se encontra. Para o
controle da glicemia, será prescrito insulina regular de uso diário.
O PÂNCREAS ENDÓCRINO
PRATICAR PARA APRENDER
Por que estudar sobre o Diabetes? A ação da insulina? Qual a função do glucagon? Porque
dados de 2017 nos mostram que o Diabetes aparece como a terceira causa de morte no
Brasil, atrás de doenças cardiovasculares e neoplasias. O cenário que temos é de muitas
pessoas morrendo por conta do Diabetes e outras milhares de pessoas sofrendo com as
complicações desta doença, implicando diretamente a qualidade de vida e altos custos ao
sistema de saúde (GBD, 2018).
Imagine você, em uma Unidade Básica de Saúde, trabalhando junto a uma equipe
multidisciplinar, e hoje será um dia de visita domiciliar. A primeira visita do dia é a K.L.B.,
sexo feminino, 40 anos, com diagnóstico de obesidade e Diabetes Mellitus Tipo 2 há mais
de dois anos. Ela faz uso de insulina e hipoglicemiante oral.
Ao chegar à casa de K.L.B., ela estava fazendo o café da manhã, e você observou que era
café preto e torta de frango. A paciente ficou feliz com a visita, porém informou que não
estava se sentindo muito bem nesses últimos dias. Ela estava fazendo o acompanhamento
da glicemia, a qual estava em torno de 250 mg/dL. Relatou também que estava buscando
entender melhor sobre o Diabetes a partir da leitura de notícias na internet, e até mostrou
algumas coisas que estava lendo, no entanto ela estava com algumas dúvidas, por
exemplo, por que precisava fazer uso da insulina diariamente? Qual era a relação entre a
insulina e o glucagon? Por que, além de aplicar a insulina, ela precisava tomar
hipoglicemiante oral após as refeições?
CONCEITO-CHAVE
Cada ilhota pancreática apresenta quatro tipos de células secretoras de hormônio, são elas:
as células alfa, beta, delta e F (Figura 2.3). Essas células se organizam de tal forma que um
centro de células beta e delta é rodeado por três outros tipos celulares (alfa, delta e F). As
células alfa constituem cerca de 17% das células das ilhotas pancreáticas e são secretoras
de glucagon e peptídeos similares ao glucagon (glucagon-like peptides) – GLP-1 e GLP-2.
Predominam nas regiões da cauda e do corpo e na porção anterior da cabeça do pâncreas.
As células beta constituem cerca de 70% das células das ilhotas pancreáticas e secretam
insulina, peptídeo C, amilina e ácido γ-aminobutírico (GABA). Nas regiões da cauda, do
corpo e na porção anterior da cabeça do pâncreas, há um predomínio dessas células. Já as
células delta constituem cerca de 7% das ilhotas pancreáticas, secretando somatostatina,
com um predomínio nas regiões da cauda, do corpo e na porção anterior da cabeça do
pâncreas. E, por fim, as células F constituem o restante das células das ilhotas pancreáticas
e secretam polipeptídio pancreático; localizam-se, sobretudo, nas ilhotas da porção
posterior da cabeça do pâncreas.
HORMÔNIOS DO PÂNCREAS ENDÓCRINO
• Insulina
A insulina é uma proteína sintetizada como preproinsulina nos ribossomos do retículo
endoplasmático rugoso das células β e sofre clivagem por enzimas microssomais, dando
origem à proinsulina, que é armazenada no aparelho de Golgi, aos grânulos limitados por
membrana e aos grânulos secretórios. Nesses grânulos, a proinsulina é hidrolisada,
originando a insulina e um peptídeo de conexão, o peptídeo C. A insulina endógena tem
uma meia-vida de três a cinco minutos, sendo degradada no fígado, no rim e na placenta. O
pâncreas humano secreta, em média, 40 a 50 UI de insulina por dia, sendo que a secreção
basal ocorre sem estímulos, ou seja, durante o jejum, mas pode sofrer influência de
estímulos, que pode ocasionar aumento ou diminuição.
A glicose é o estímulo mais potente às células beta para a secreção da insulina. Quando
ocorre um aumento agudo nos níveis séricos de glicose, há como consequência um rápido
aumento nos níveis de insulina, com pico entre três e cinco minutos e duração de cerca de
dez minutos. Essa fase da resposta insulínica é denominada de fase precoce ou primeira
fase. A segunda fase ocorre se os níveis de glicose se mantêm altos, quando, então, a
secreção de insulina é sustentada; inicia-se em 15 a 20 minutos e atinge seu pico nos
próximos 20 a 40 minutos.
A secreção dos hormônios insulina e glucagon é controlada pelo nível de glicose sanguínea,
em que o glucagon eleva o nível sanguíneo da glicose que se encontra abaixo do normal, e
a insulina, por sua vez, ajuda a reduzir o nível de glicose sanguínea que se encontra muito
elevado.
I. Uma situação de hipoglicemia estimula a secreção de glucagon pelas células alfa das
ilhotas pancreáticas.
II. O glucagon, por sua vez, atua nos hepatócitos, convertendo glicogênio em glicose e
formando glicose a partir do ácido láctico e de determinados aminoácidos.
III. Como resultado, os hepatócitos liberam glicose no sangue de maneira mais rápida, e a
glicemia se eleva.
VI. A insulina pode agir em várias células do nosso organismo para acelerar a difusão
facilitada da glicose para as células, a fim de converter a glicose em glicogênio, para
intensificar a captação de aminoácidos pelas células e aumentar a síntese de proteína, para
acelerar a síntese de ácidos graxos, com o propósito de retardar a conversão de glicogênio
em glicose e tornar mais lenta a formação de glicose a partir do ácido láctico e de
aminoácidos.
VIII. Quando o nível sanguíneo da glicose está abaixo do normal, ocorre a inibição da
liberação da insulina e o estímulo à liberação de glucagon.
REFLITA
O Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1) consiste em uma doença autoimune, na qual ocorre a
destruição progressiva e total das células beta pancreáticas, como resultado de
desencadeadores ambientais em indivíduos geneticamente suscetíveis, ocasionando uma
deficiência total na produção de insulina. Na ausência de insulina, os tecidos sensíveis à
insulina não conseguem captar e armazenar glicose, aminoácidos e lipídios, até mesmo na
presença de níveis plasmáticos circulantes elevados dessas substâncias energéticas. Essa
doença é frequentemente diagnosticada em crianças, adolescentes e, em alguns casos, em
adultos jovens, afetando igualmente homens e mulheres.
Existem outras condições que podem gerar um quadro de DM, como: defeitos genéticos
que resultam na disfunção das células beta, defeitos genéticos na ação da insulina,
doenças do pâncreas exócrino, como a pancreatite, entre outras.
O diagnóstico de DM deve ser determinado pela presença de hiperglicemia, a partir da
análise dos valores glicêmicos de jejum, dos valores obtidos no teste de tolerância oral à
glicose ou do valor glicêmico obtido a qualquer hora do dia (glicemia casual).
A glicemia de jejum, por ser o método mais simples e de menor custo, é o primeiro exame
de escolha para a detecção do diabetes. Neste exame, é realizada a dosagem da glicose no
plasma após um jejum mínimo de oito horas. O diagnóstico é estabelecido quando ao
menos duas glicemias de jejum se encontram acima de 126mg/dL ou quando uma única
glicemia de jejum estiver acima desse valor e associada a outro critério laboratorial positivo
para o diagnóstico do DM, como o teste oral de tolerância à glicose (TOTG) . (Quadro 2.3).
A glicemia pós-prandial, por sua vez, é um exame em que os níveis de glicose são
avaliados, em geral, duas horas após alguma refeição, como café da manhã ou almoço.
Uma das grandes dificuldades é estabelecer valores de referência adequados para a
glicemia pós-prandial. Por essa razão, a glicemia pós-prandial não tem nenhum papel no
diagnóstico do DM, sendo utilizada como um controle glicêmico de pacientes com DM. A
Sociedade Brasileira de Diabetes estabelece um valor de referência de glicemia
pós-prandial de < 160 mg/dL.
Os esquemas de insulina são, com frequência, ajustados ligeiramente a cada dia, de acordo
com atividade do paciente, quantidade e composição das refeições e níveis de glicemia. Um
esquema típico consiste em uma insulina basal de ação longa uma vez (ou duas vezes) ao
dia, junto a uma insulina em bolo prandial de ação curta antes das refeições. As “bombas”
de insulina (dispositivo para infusão subcutânea contínua de insulina) são pequenos
aparelhos programáveis que liberam doses de insulina basal e em bolo por cânulas
subcutâneas de demora e possibilitam a flexibilidade de minuto a minuto nos esquemas de
dose, evitando a necessidade de múltiplas injeções.
A partir dos questionamentos de K.L.B. na visita domiciliar, você começou explicando que
ela precisava controlar a glicemia, a qual estava em torno de 250 mg/dL, e que, para isso, é
importante fazer uma dieta balanceada, reduzindo o consumo de farinha de trigo, açúcar de
mesa, refrigerantes e doces e fazendo mais uso de alimentos integrais, frutas, verduras,
pois, além dos medicamentos, é importante manter uma alimentação saudável, visto que o
valor de glicemia que ela relatou ter aferido está acima dos níveis recomendados. É
importante também fazer o controle da glicemia agora, pois isso evitará complicações a
longo prazo.
Quanto à indagação do porquê de ela fazer uso da insulina diariamente, você pode explicar
que a insulina é administrada, geralmente, por injeção subcutânea com agulha de calibre
fino, que cria um pequeno depósito de insulina no local de injeção. A terapia insulínica visa
mimetizar a reposição de insulina endógena através de uma insulina basal, e o paciente
utiliza o fármaco por via oral, como os agentes que sensibilizam as células-alvo à ação da
insulina. Os fármacos controlam os níveis de glicemia ao diminuírem a velocidade de
absorção dos açúcares pelo trato gastrointestinal.
A outra indagação era sobre a relação entre a insulina e o glucagon. A secreção dos
hormônios insulina e glucagon é controlada pelo nível de glicose sanguínea, em que o
glucagon eleva o nível sanguíneo da glicose que se encontra abaixo do normal, e a insulina,
por sua vez, ajuda a reduzir o nível de glicose sanguínea que se encontra muito elevado.
Para que ela consiga fazer o tratamento adequado, é preciso seguir a orientação médica
para a insulina basal e o hipoglicemiante oral e uma dieta equilibrada, visando à redução de
peso corporal.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
A GLICEMIA DE JEJUM
Você comprou um aparelho medidor de glicose na Black Friday e ele demorou um pouco
para chegar, por conta da greve que estava acontecendo na empresa de entregas, o que te
deixou muito ansioso. A chegada do aparelho coincidiu com o conteúdo que você estava
estudando na graduação a respeito do Diabetes Mellitus, então já se planejou para fazer o
exame no outro dia ao acordar.
No dia seguinte, depois de oito horas de jejum, o resultado da glicemia foi de 100 mg/dL.
Durante a semana, os resultados foram: 89 mg/dL; 110 mg/dL; 100 mg/dL; 99 mg/dL. E
agora, qual sua conduta diante desse cenário?
RESOLUÇÃO
Após os resultados obtidos durante a semana sobre a glicemia de jejum com o aparelho
medidor de glicose, você verificou a Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes
(2017-2018) e encontrou o quadro a seguir, o mesmo quadro que você estudou na aula da
Universidade:
Os hormônios regulam muitas funções do organismo humano, por isso, você estudará sobre
o hormônio do crescimento. Os níveis circulantes deste hormônio aumentam durante a
infância, atingindo seu pico de síntese durante a puberdade e diminuindo sua síntese e
liberação com o envelhecimento. Além disso, ele estimula a lipólise, o transporte dos
aminoácidos nas células e a síntese de proteínas.
CONCEITO-CHAVE
A hipófise é uma glândula pequena, com o tamanho aproximado de uma ervilha, que está
localizada na cela túrcica, cavidade óssea localizada na base do cérebro, e que se liga ao
hipotálamo pelo pedúnculo hipofisário. O eixo hipotálamo-hipófise pertence a dois sistemas:
o sistema endócrino e o sistema neuroendócrino. Fisiologicamente, a hipófise é dividida em
duas porções distintas: a hipófise anterior, conhecida como adeno-hipófise, e a hipófise
posterior, conhecida como neuro-hipófise (Figura 2.4). Uma terceira região da glândula
hipófise, chamada de parte intermédia, atrofia-se durante o desenvolvimento fetal humano e
deixa de existir como um lobo separado nos adultos.
A adeno-hipófise secreta hormônios que regulam uma ampla variedade de atividades
corporais, desde o crescimento até a reprodução. A liberação de hormônios da
adeno-hipófise é estimulada por hormônios liberadores e suprimida por hormônios
inibidores do hipotálamo. Sendo assim, os hormônios hipotalâmicos constituem uma ligação
importante entre os sistemas nervoso e endócrino. A adeno-hipófise é composta por tecido
epitelial e possui células endócrinas, que secretam sete hormônios, são eles:
• Lactotrofos secretam prolactina (PRL), que iniciam a produção de leite nas glândulas
mamárias.
Em torno de 30% a 40% das células de hipófise são somatotrópicas, secretando hormônio
do crescimento, e cerca de 20% são corticotrópicas, secretando ACTH. Cada um dos outros
tipos celulares só corresponde a cerca de 3% a 5% do total; no entanto, eles secretam
hormônios potentes para o controle da função tireoidiana, das funções sexuais e da
secreção de leite pelas glândulas mamárias.
ASSIMILE
O ADH diminui a produção de urina, fazendo com o que os rins devolvam mais água ao
sangue, diminuindo, desse modo, o volume urinário. Na ausência do ADH, o débito urinário
aumenta mais de 10 vezes, passando do normal – um ou dois litros – para cerca de 20 litros
por dia. Muitas vezes, a ingestão de álcool causa micção frequente e copiosa, porque ele
inibe a secreção de hormônio antidiurético. Esse hormônio também pode diminuir a perda
de água pela sudorese e causar constrição das arteríolas, o que eleva a pressão do
sangue. A ocitocina nas mulheres atua durante e depois do parto em dois tecidos-alvo: o
útero e as mamas. Durante o parto, o alongamento do colo do útero estimula a liberação de
ocitocina, que, por sua vez, intensifica a contração das células musculares lisas da parede
uterina; depois do parto, a ocitocina estimula a ejeção de leite (“descida”) das glândulas
mamárias em resposta ao estímulo mecânico produzido pela sucção do bebê. A função da
ocitocina em homens e mulheres não grávidas não é clara. O controle da secreção dos
hormônios da neuro-hipófise é realizada por sinais neurais, cuja origem é no hipotálamo e
terminam na região hipofisária posterior. Os reflexos neuroendócrinos controlam a secreção
de ADH e ocitocina pela hipófise posterior. Por exemplo, em mulheres que amamentam, o
estímulo mecânico do bebê sugando atua através de impulsos nervosos sensitivos ao
hipotálamo, para estimular a secreção reflexa de ocitocina.
REFLITA
Vários fatores podem interferir na secreção do GH (Quadro 2.7). Sabe-se que seu padrão
de secreção é pulsátil, aumentando e diminuindo. Na infância e/ou na adolescência, temos
uma maior concentração deste hormônio; após essa fase, a secreção do hormônio diminui
lentamente com o passar dos anos, atingindo, por fim, cerca de 25% do nível encontrado na
adolescência nas pessoas muito idosas. Em situações de jejum agudo, um quadro de
hipoglicemia é um potente estimulador do GH; por outro lado, em um quadro de
hipoglicemia crônica, a depleção de proteínas celulares é o principal estímulo para a
produção de GH, como é o caso de crianças portadoras de deficiência extrema de
proteínas, que, durante a situação de desnutrição proteica, chamada de Kwashiorkor,
apresentam níveis muito elevados de GH.
Os dois principais reguladores hipotalâmicos da liberação de GH pela adeno-hipófise são o
hormônio de liberação do hormônio do crescimento (GHRH) e a somatostatina, que
exercem influências excitatórias e inibitórias, respectivamente, sobre os somatotrofos. Além
de sua regulação pelo GHRH e pela somatostatina, o GH é regulado por outras
substâncias, como: as catecolaminas, a dopamina e os aminoácidos excitatórios, que
aumentam a liberação do GHRH e diminuem a da somatostatina, resultando em aumento
da liberação do GH. Hormônios, como o cortisol, o estrogênio, os androgênios e o hormônio
tireoidiano, também podem afetar a responsividade dos somatotrofos ao GHRH e à
somatostatina e, consequentemente, a liberação do GH.
HORMÔNIOS DA TIREOIDE
A glândula tireoide, em formato de borboleta, está localizada logo abaixo da laringe. Ela
pesa de 10 a 25 g e consiste em um lobo direito e um lobo esquerdo conectados pelo istmo.
Essa glândula secreta dois hormônios principais: tiroxina, também chamada de
tetraiodotironina (T4), pois contém quatro átomos de iodo, e tri-iodotironina (T3), que
contém três átomos de iodo. T3 e T4 juntas são chamadas de hormônios da tireoide. A
secreção tireoidiana é controlada, principalmente, pelo hormônio estimulante da tireoide
(TSH), secretado pela hipófise anterior. A tireoide também secreta calcitonina (produzida
pelas células parafoliculares ou células C), que ajuda a regular a homeostasia do cálcio.
Uma vez liberados na circulação, os hormônios da tireoide circulam, em sua maior parte,
ligados à proteína, predominantemente (70%) à globulina ligadora da tireoide. As outras
proteínas envolvidas na ligação dos hormônios tireoidianos são a transtiretina, que liga 10%
da T4, e a albumina, que liga 15% da T4 e 25% da T3. Uma pequena fração de cada
hormônio (0,03% de T4 e 0,3% de T3) circula em sua forma livre. Essa fração do
reservatório de hormônio circulante é biodisponível, podendo penetrar na célula para
ligar-se ao receptor de hormônio tireoidiano. Dos dois hormônios da tireoide, a T4 liga-se
mais firmemente às proteínas de ligação do que a T3 e, portanto, apresenta menor taxa de
depuração metabólica e meia-vida mais longa (sete dias) do que a T3 (um dia). Os rins
excretam prontamente a T4 e a T3 livres. A ligação dos hormônios da tireoide às proteínas
plasmáticas assegura uma reserva circulante e retarda sua depuração.
A síntese e a liberação dos hormônios da tireoide são controladas pelo hormônio liberador
de tireotrofina (TRH) do hipotálamo e pelo hormônio tireoestimulante (TSH) da
adeno-hipófise. Esse controle ocorre da seguinte forma:
Em pacientes que possuem uma liberação hipotalâmica deficiente de GHRH, mas têm
somatotrofos da adeno-hipófise normalmente funcionantes, a administração de GHRH
exógeno resulta em liberação aumentada de GH. Os agentes exógenos alternativos
atualmente usados para estimular a liberação de GH incluem glucagon, arginina, clonidina e
insulina.
O indivíduo cuja função da tireoide está normal se encontra no chamado estado eutireóideo.
O estado clínico resultante da alteração da função tireoidiana é classificado em
hipotireoidismo (baixa função da tireoide) ou hipertireoidismo (função excessiva da tireoide).
A exemplo da maioria das anormalidades endócrinas, a alteração da função tireoidiana
pode ser genética ou adquirida, e sua duração pode ser transitória ou permanente. As
doenças autoimunes desempenham um importante papel na doença tireoidiana. As
respostas imunes anormais dirigidas às proteínas relacionadas com a tireoide resultam em
dois processos patogênicos opostos: aumento da glândula tireoide (hiperplasia) na doença
de Graves e destruição da tireoide na tireoidite de Hashimoto.
Agora, Enzo se sente mais capaz de terminar seu trabalho e realizar a prova da disciplina.a
AVANÇANDO NA PRÁTICA
Paola tem 48 anos e trabalha com telemarketing, por isso, passa muitas horas do seu dia
sentada. Ultimamente, o servidor que atende a empresa em que ela trabalha tem
apresentado diversas instabilidades, e isso tem atrapalhado sua rotina de atendimento. Ela
também está passando por uma separação litigiosa, o que a está deixando preocupada.
Paola tem reclamado para sua mãe que está se sentindo muito cansada, com muito sono.
Além disso, falou para sua colega de trabalho que não fez nenhuma modificação em sua
dieta e sentiu que ganhou peso, pois teve que afrouxar o cinto do uniforme que ela usa
diariamente.
Voltando do trabalho, Paola passou em frente à Unidade Básica de Saúde do seu bairro e
aproveitou para marcar uma consulta com o médico clínico geral, por conta de seu cansaço.
Na consulta, o profissional solicitou exames e disse que, quando ela tivesse os resultados,
deveria marcar o retorno.
RESOLUÇÃO
Paola fez todos os exames solicitados pelo médico. No retorno, após analisá-los, o
profissional diagnosticou hipotiroidismo. O hipotireoidismo é uma doença em que ocorre
uma diminuição ou ausência da secreção do hormônio tireoidiano. Os sinais e sintomas
são: sonolência extrema e fadiga; extrema lentidão muscular; redução da frequência
cardíaca, do débito cardíaco e do volume sanguíneo; ocasionalmente, aumento de peso;
constipação; lentidão mental; insuficiência de muitas funções tróficas do organismo,
evidenciada por redução do crescimento do cabelo e descamação da pele e
desenvolvimento de rouquidão.
Paola apresenta alguns desses sinais e sintomas; por outro lado, ela está em uma fase da
vida um pouco conturbada, por isso, foi importante não negligenciar os sinais e sintomas e
procurar um médico. Agora, ela fará o tratamento farmacoterápico prescrito pelo médico.
UNIDADE 3
CONVITE AO ESTUDO
Nesta seção, você continuará a conhecer o sistema endócrino, que atua por meio da
produção e liberação pelas glândulas endócrinas de mediadores químicos chamados
hormônios, auxiliando o sistema nervoso na manutenção da homeostasia corporal. Assim,
você verá que as diferentes glândulas do sistema endócrino apresentam várias
características morfológicas, anatômicas e funcionais, que implicam diretamente a
regulação da atividade celular do nosso organismo e a manutenção da homeostasia.
Conseguirá reconhecer todas essas características, tornando possível a compreensão e a
aplicação desses conhecimentos no seu dia a dia profissional. Dessa forma, a partir dos
conceitos abordados na seção, você será capaz de identificar as características estruturais
do sistema endócrino, relacionando-as com suas funções, como também entender de que
forma essas características podem influenciar e contribuir para o bom funcionamento do
nosso organismo, sempre fazendo a relação desses conceitos com o seu contexto
profissional.
Na primeira etapa do estágio realizado pelo nosso aluno, ele está acompanhando as
discussões de casos clínicos de alguns idosos participantes do programa. Durante uma das
reuniões realizadas pela equipe do programa, foi discutido o caso clínico da paciente M.S.B,
61 anos, que vem sendo acompanhada há cerca de dois anos. A paciente procurou o
ambulatório da universidade queixando-se de dores ósseas generalizadas, lombalgia,
astenia e palpitações. Apresentava história pregressa de fratura do quadril e osso da mão.
Os exames laboratoriais revelaram hipercalcemia, hipofosfatemia, aumento do paratormônio
intacto, aumento de fosfatase alcalina óssea e osteocalcina, além do aumento da excreção
urinária de cálcio. A densitometria óssea indicou a presença de osteoporose avançada na
coluna lombar e colo do fêmur esquerdo. A ultrassonografia do pescoço revelou a presença
de uma massa abaixo do lobo esquerdo da tireoide. Foi realizada a remoção cirúrgica dessa
massa e, por meio de exame anatomopatológico, foi observado um quadro histológico
compatível com adenoma da paratireoide. Frente a todos esses achados, a paciente
acabou sendo diagnosticada com hiperparatireoidismo primário. Ainda durante a discussão
desse caso clínico, o supervisor do programa aproveitou para instigar o estagiário a
relembrar alguns conceitos importantes a respeito das características anatômicas e
funcionais das glândulas paratireoides. Ele fez os seguintes questionamentos: você saberia
explicar qual é a relação entre os sintomas apresentados pela paciente e as glândulas
paratireoides? Qual é a importância dessas glândulas para o funcionamento do nosso
organismo?
CONCEITO-CHAVE
O sistema endócrino compreende diferentes glândulas, que atuam por meio de hormônios
secretados no meio interno para regular diversas funções celulares e orgânicas, atuando
junto ao sistema nervoso na manutenção da homeostasia. Fazendo parte desse sistema,
encontramos a hipófise, subdividida em adeno-hipófise e neuro-hipófise, assim como a
glândula pineal, as glândulas paratireoides, entre outras.
OCITOCINA
VASOPRESSINA
ASSIMILE
O aumento da reabsorção de água nos rins, promovida pelo ADH, ocorre por meio da
inserção de canais de água, denominados aquaporinas, na membrana luminal das células
dos ductos coletores. Os canais de água regulados pelo ADH são denominados
aquaporinas 2. Esses canais encontram-se dentro de vesículas dispersas pelo citoplasma
das células dos ductos coletores mais profundos. Por ação do ADH, essas vesículas se
fundem com a membrana luminal, resultando na inserção das aquaporinas nessa
membrana. Como são canais para passagem de água, o aumento do número de
aquaporinas na membrana luminal favorece a passagem de água, por difusão simples, do
lúmen dos ductos coletores para o interstício medular, determinando a concentração da
urina.
PROLACTINA
GLÂNDULA PINEAL
A melatonina, por seu caráter rítmico de secreção, parece atuar como um mediador entre os
eventos ambientais cíclicos e as atividades fisiológicas do organismo, que são cruciais para
a sobrevivência do indivíduo. Assim, são atribuídas à melatonina ações, como regulação
endócrina, metabólica e reprodutiva, bem como regulação do ciclo sono-vigília, sistema
imunológico, entre outras. Por seus efeitos fisiológicos, a melatonina vem sendo utilizada no
tratamento de alguns tipos de distúrbios do sono, como na insônia por atraso das fases do
sono, para indução do sono em casos de latência prolongada para o sono, assim como para
regularizar o sono de trabalhadores noturnos que necessitam dormir durante o dia, ou para
corrigir distúrbios causados pelo “jet lag”. Também tem sido empregada como tratamento
coadjuvante em doenças neurológicas degenerativas que acarretam distúrbios do sono e
dos ritmos biológicos circadianos, por promover a regularização do ciclo sono-vigília, e no
tratamento de distúrbios depressivos, de doenças metabólicas, de certos tipos de
enxaqueca e como coadjuvante antitumoral e/ou antimetastático.
GLÂNDULAS PARATIREOIDES
São quatro glândulas localizadas na face posterior da glândula tireoide, geralmente, duas
em cada lobo. Nas paratireoides, as células principais são responsáveis pela produção do
paratormônio (PTH), um hormônio envolvido na remodelação óssea, na regulação das
concentrações de cálcio e fosfato no sangue e, ainda, na ativação da vitamina D.
REFLITA
No corpo humano, o cálcio é o mineral mais abundante, sendo o quinto elemento mais
encontrado. Ele desempenha funções consideradas fundamentais para o nosso organismo
e, dessa forma, contribui para a nossa sobrevivência. Você saberia indicar quais são as
funções do cálcio no nosso corpo? Como esse conhecimento implica a sua atuação como
futuro profissional da área da saúde?
O PTH atua diretamente sobre os ossos e rins e indiretamente sobre o trato gastrointestinal,
promovendo aumento das concentrações de Ca2+ no sangue. Esse aumento se deve a
ações do hormônio, que resultam em mobilização de Ca2+ nos ossos (aumenta a
reabsorção óssea pelos osteoclastos), aumento da reabsorção de Ca2+ pelos rins e, por
influência do calcitriol, aumento da absorção desse íon pelo trato gastrointestinal. Ainda,
nos rins, o PTH diminui a reabsorção de fosfato, aumentando sua excreção urinária.
CALCITRIOL
EXEMPLIFICANDO
Agora que você conheceu e aprendeu a respeito das principais características anatômicas e
funcionais das glândulas paratireoides, retomaremos a nossa situação-problema. A partir de
agora, consideraremos que você seja um estagiário da área da saúde na universidade de
sua cidade e, nesta etapa do seu estágio, você acompanhará a equipe multidisciplinar
responsável por um Programa de Atenção Integral à Saúde na sua instituição. Neste
primeiro momento, você está acompanhando a análise e discussão de diferentes casos
clínicos de pacientes idosos participantes do programa.
Durante uma das reuniões, foi discutido o caso de uma paciente que apresentava os
seguintes achados clínicos: dores ósseas generalizadas, lombalgia, astenia, palpitações,
história pregressa de fratura do quadril e osso da mão, hipercalcemia, hipofosfatemia,
aumento do paratormônio intacto, da fosfatase alcalina óssea e osteocalcina, aumento da
excreção urinária de cálcio e osteoporose avançada na coluna lombar e colo do fêmur
esquerdo. Foi observada a presença de uma massa abaixo do lobo esquerdo da tireoide,
que foi excisada cirurgicamente e enviada para análise histopatológica, sendo compatível
com adenoma de paratireoide. Assim, diante de todos os achados, a paciente acabou
sendo diagnosticada com hiperparatireoidismo primário.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
Nesta semana, como parte das atividades práticas de um curso da área da saúde, um
grupo de alunos acompanhará a rotina do Banco de Leite Humano de sua universidade.
Assim, durante esse período, ele poderá participar de atividades, como atendimento às
mães, execução das coletas do leite materno, além do processamento, da estocagem e do
controle de qualidade do leite humano ordenhado. No primeiro dia de atividades no Banco
de Leite, uma das alunas do grupo acompanhou o caso de Maria, que teve o seu bebê há
duas semanas e não estava conseguindo produzir leite suficiente para garantir a
amamentação do recém-nascido. Como ela apresentava fissuras nos mamilos, que doíam
muito, resolveu procurar seu médico, que a orientou a procurar o Banco de Leite, para que
pudesse ser instruída e acompanhada na realização correta da amamentação. Ao ser
atendida, Maria foi instruída sobre a importância da amamentação e como deveria ser
realizada a pega adequada da mama pelo bebê. A enfermeira que a acompanhava
comentou que sua produção insuficiente de leite, provavelmente, estaria relacionada com a
realização de uma pega inadequada da mama pelo bebê e pela diminuição da frequência
de mamada devido às dores nos mamilos lesionados no momento da amamentação. Assim,
para que ela tivesse sucesso na amamentação, o bebê deveria ser colocado com maior
frequência para mamar e da forma correta. Quando o acompanhamento de Maria terminou,
a enfermeira perguntou à aluna se ela saberia explicar qual seria a relação da realização da
sucção mamilar adequada e a produção do leite. Por que a frequência das mamadas
auxiliaria no aumento da produção do leite? Suponha que você seja essa aluna. Como você
responderia a esses questionamentos?
RESOLUÇÃO
Você já viu vários conceitos importantes a respeito do sistema endócrino, então sabe que a
amamentação depende da produção do leite (lactogênese) pelas células dos alvéolos
mamários e por sua ejeção, permitindo que o leite seja disponibilizado para o neonato. O
hormônio responsável pela lactogênese é a prolactina, cuja secreção é estimulada pela
sucção mamilar. Além de induzir a secreção de prolactina, garantindo a lactogênese, a
sucção mamilar também apresenta efeito estimulatório sobre a secreção de ocitocina,
hormônio responsável pela ejeção do leite.
A sucção dos mamilos ativa mecanorreceptores locais, originando sinais sensoriais, que
trafegam pelos nervos torácicos e entram no sistema nervoso central pela raiz dorsal da
medula espinal. Desse local, os sinais ascendem pela coluna anterolateral até o tronco
encefálico e, depois, para o hipotálamo, inibindo os neurônios dopaminérgicos do núcleo
arqueado e, consequentemente, a diminuição da secreção de dopamina. Como a dopamina
é o principal fator inibitório sobre a secreção de prolactina, a redução na liberação de
dopamina acarreta aumento na secreção de prolactina, induzindo o aumento da produção
do leite. No hipotálamo, os sinais sensoriais gerados pela sucção mamilar também
estimulam os neurônios magnocelulares dos núcleos supraóptico e paraventricular a
produzirem e secretarem a ocitocina, que atua promovendo a contração das células
mioepiteliais, presentes ao redor dos alvéolos mamários, levando à ejeção do leite. Embora
a sucção mamilar seja o principal estimulador para a liberação de ocitocina e consequente
ejeção do leite, a liberação de ocitocina também pode ser influenciada por fatores
emocionais maternos, como pensar no bebê (aumenta a liberação), ou por momentos de
ansiedade ou estresse (diminui a liberação), diferente do que se observa para a secreção
de prolactina, que necessita do estímulo mecânico da sucção. Assim, para garantir o
sucesso da amamentação, são necessárias a sucção do complexo mamilo-areolar realizada
de forma correta, por meio da pega adequada, e a manutenção da frequência das
mamadas.
Nesta seção, você, aluno, continuará a conhecer o sistema endócrino, o qual, junto ao
sistema nervoso, trabalha para regular e coordenar o funcionamento de praticamente todas
as estruturas do nosso corpo e, dessa forma, auxiliar na manutenção da homeostase
corporal. Você conhecerá as principais características morfológicas, anatômicas e
funcionais das glândulas adrenais. Assim, será capaz de compreender como essas
características podem influenciar e contribuir para o bom funcionamento do nosso
organismo e a importância desses conceitos no seu contexto profissional.
Nessa etapa do estágio realizado pelo nosso aluno, ele continua acompanhando as
discussões de casos clínicos de alguns indivíduos participantes do programa. Nesse
momento, a equipe está discutindo o caso clínico da paciente S.T.R., 34 anos, atendida no
ambulatório da universidade. No primeiro atendimento, a paciente queixou-se de
“escurecimento da pele”, que havia se iniciado há cerca de dois anos. Além disso, há seis
meses, aproximadamente, ela vem apresentando náuseas, fadiga, mialgia, perda de peso e
episódios de hipotensão postural. A paciente apresentava-se lúcida e em bom estado geral,
apesar da perda de peso. Os exames laboratoriais mostraram níveis baixos de cortisol
sérico e ACTH muito elevado. Não havia histórico de tuberculose, trauma, cirurgias e outras
comorbidades. Adicionalmente, a paciente negou tabagismo, etilismo, uso de drogas ou de
qualquer medicação. Frente aos dados clínicos apresentados e resultados dos exames
laboratoriais, ela foi diagnosticada com Doença de Addison.
Como rotina das discussões entre a equipe multidisciplinar e seus estagiários, o caso clínico
apresentado foi utilizado para que estes fossem instigados a relembrar conceitos
anatômicos e funcionais importantes sobre as glândulas adrenais e, desse modo,
relacioná-los à sua realidade profissional. Para tal, o supervisor da equipe levantou os
seguintes questionamentos ao nosso aluno de graduação, um dos estagiários da equipe:
você saberia explicar qual é a relação entre os sintomas apresentados pela paciente e as
glândulas adrenais? Qual é a importância dessas glândulas para o funcionamento do nosso
organismo?
CONCEITO-CHAVE
CÓRTEX ADRENAL
O córtex pode ser subdividido em três zonas com características morfofuncionais distintas:
Zona glomerulosa: região mais externa, correspondendo a 15% do córtex, responsável pela
produção de mineralocorticoides, como a aldosterona.
Zona reticular: região mais interna do córtex, responsável pela produção de esteroides
sexuais, principalmente androgênios.
A síntese de cortisol segue as primeiras etapas descritas para a aldosterona até a produção
de progesterona. A partir dessa etapa, ocorre uma nova hidroxilação na molécula pela ação
da enzima 17α-hidroxilase. Essa etapa pode acontecer antes ou após a conversão da
pregnenolona em progesterona. Caso aconteça antes, a molécula formada será a
17α-hidroxipregnenolona; se ocorrer depois, o produto será a 17α-hidroxiprogesterona. A
17α-hidroxipregnenolona formada pode ser convertida em 17α-hidroxiprogesterona, em
uma sequência de reações que envolvem a enzima 3β-HSD e uma isomerase, constituindo
as mesmas enzimas que convertem a pregnenolona em progesterona. A
17α-hidroxiprogesterona é convertida no retículo endoplasmático liso em 11-desoxicortisol
pela enzima 21α-hidroxilase. E, finalmente, por ação da 11β-hidroxilase, o 11-desoxicortisol
é convertido em cortisol.
REFLITA
No corpo humano, o cortisol apresenta vários efeitos fisiológicos importantes que auxiliam
na manutenção da homeostasia e, dessa forma, garante a nossa sobrevivência. Você sabia
que alguns distúrbios psiquiátricos podem estar associados a alterações nos níveis de
cortisol? E que podem estar relacionadas tanto com o excesso como com a deficiência
desse hormônio esteroide? Como esse conhecimento implica a sua atuação como futuro
profissional da área da saúde?
ASSIMILE
Alteração na produção dos diferentes hormônios pelas glândulas adrenais pode resultar na
perda da homeostase corporal e no consequente aparecimento de patologias. Dentre as
principais patologias associadas às glândulas adrenais, temos:
Dependente de ACTH, porém ocasionada por uma neoplasia não hipofisária, mas que
secreta ACTH.
EXEMPLIFICANDO
MEDULA ADRENAL
A medula adrenal, porção mais interna da glândula, representa cerca de 15% desta, sendo
formada por células cromafins, responsáveis pela produção e secreção de catecolaminas
(epinefrina e norepinefrina). A principal catecolamina produzida é a epinefrina (adrenalina),
constituindo, aproximadamente, 80% do produto de secreção dessa porção da adrenal. Em
condições basais, a quantidade de norepinefrina secretada pela suprarrenal é pequena,
sendo a maior parte dessa catecolamina oriunda das fibras simpáticas pós-ganglionares
que inervam os tecidos.
O estresse pode ser classificado como agudo ou crônico, dependendo da sua intensidade e
duração. O estresse agudo é intenso e curto, usualmente conhecido como resposta de “luta
ou fuga”, na qual o evento de desafio ou ameaça imediata dura minutos ou horas, sendo
seguida de uma resposta de relaxamento. Já o estresse crônico é contínuo, durando dias,
semanas ou meses, porém um pouco menos intenso.
Embora esses dois sistemas sejam ativados pelo estresse, a ativação do SNA simpático
ocorre em segundos, permitindo uma resposta adaptativa mais rápida. A ativação do eixo
HPA gera uma resposta mais lenta ao estressor, uma vez que envolve a liberação de uma
sequência de hormônios até a secreção final de cortisol. Como mencionado anteriormente,
a curto prazo, os efeitos decorrentes da ativação do eixo HPA e do SNA simpático, como
resposta a um estresse, não trazem grandes consequências ao organismo. Porém,
exposições prolongadas a um estressor ou frequentemente repetitivas (estresse crônico)
podem levar a uma ativação sustentada desses sistemas, resultando no desenvolvimento
de doenças, uma vez que o organismo passa a não conseguir se adaptar frente ao novo
desafio. Podem ser observadas alterações importantes e prejudiciais no sistema imune,
fertilidade, sistema ósseo, sistema cardiovascular e metabolismo intermediário.
Agora que você conheceu e aprendeu a respeito das principais características anatômicas e
funcionais das glândulas adrenais, retomaremos a nossa situação-problema. A partir de
agora, consideraremos que você seja um estagiário da área da saúde na universidade de
sua cidade e, nesta etapa do seu estágio, você está acompanhando, junto à equipe
multidisciplinar, a discussão de casos clínicos de pacientes participantes do Programa de
Atenção Integral à Saúde na sua instituição.
Durante uma das reuniões, foi discutido o caso de uma paciente que apresentava os
seguintes achados clínicos: hiperpigmentação mucocutânea, náuseas, fadiga, mialgia,
perda de peso, episódios de hipotensão postural, níveis baixos de cortisol sérico e ACTH
muito elevado. Diante de todos os achados, a paciente acabou sendo diagnosticada com
Doença de Addison.
Primeiramente, devemos lembrar que as glândulas adrenais podem ser divididas em duas
regiões distintas: córtex e medula. O córtex apresenta três regiões: zona glomerulosa, zona
fasciculada e zona reticular. A zona glomerulosa produz mineralocorticoides; a zona
fasciculada é responsável pela produção de glicocorticoides; a zona reticular sintetiza
androgênios. Os glicocorticoides produzidos no córtex adrenal exercem vários efeitos
biológicos no nosso organismo, visto que receptores específicos para eles são encontrados
em quase todos os tecidos corporais. Assim, alterações na produção de glicocorticoides
(cortisol) afetam a homeostase corporal e, consequentemente, podem acabar acarretando
doenças. Um dos distúrbios endócrinos relacionados às alterações no funcionamento das
glândulas adrenais é a Doença de Addison, ou insuficiência adrenocortical primária. Essa é
uma doença rara, caracterizada pela incapacidade das glândulas adrenais de produzirem
quantidades adequadas de glicocorticoides, como resultado de um defeito presente na
própria glândula devido à destruição das suas camadas corticais. A Doença de Addison
pode apresentar diferentes causas, como: hemorragias, neoplasias ou metástases,
infecções (como a tuberculose), medicamentos, entre outros. Os sintomas mais comuns
dessa patologia incluem hipotensão postural, hiponatremia, hiperpigmentação cutânea e
mucosa, astenia, perda de peso, fadiga, náuseas e vômitos. Na Doença de Addison,
observa-se a destruição das camadas corticais das adrenais, o que, geralmente, acarreta
uma deficiência de glicocorticoides e mineralocorticoides. Como o cortisol, por meio de
mecanismo de retroalimentação negativa, inibe a síntese e liberação de ACTH, na Doença
de Addison, a deficiência na produção de cortisol acaba resultando na produção e secreção
excessiva de ACTH. De fato, na situação-problema, a paciente apresenta níveis baixos de
cortisol sérico e ACTH muito elevado. Uma consequência da produção excessiva de ACTH
é a hiperpigmentação observada em mucosas e pele. O ACTH, quando em quantidades
excessivas, se liga ao receptor 1 da melanocortina (MC1R), localizado nos melanócitos da
pele e mucosas, estimulando a síntese e dispersão da melanina e, dessa forma,
ocasionando o escurecimento dessas estruturas. A diminuição de mineralocorticoides leva à
redução do volume extracelular, resultando em hipovolemia e, consequentemente, em
queda da pressão arterial. Ainda, com a diminuição da produção de cortisol, há uma
diminuição da resistência vascular periférica, devido à vasodilatação generalizada,
predispondo à ocorrência de hipotensão arterial. A deficiência de cortisol também acarreta
anemia, uma vez que o cortisol estimula a produção de eritropoietina, estimulando a
produção de glóbulos vermelhos. No Addison, pela diminuição do cortisol, temos a redução
da motilidade e secreção do trato gastrointestinal, a diminuição da absorção de vitamina
B12 e ferro e a diminuição do apetite, fatores predisponentes à perda de peso. O tratamento
dessa patologia envolve a administração oral diária de glicocorticoides e
mineralocorticoides.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
FEOCROMOCITOMA
RESOLUÇÃO
Você já viu vários conceitos importantes a respeito das glândulas adrenais e sabe que
essas glândulas são responsáveis pela produção de diferentes hormônios esteroides. A
porção cortical da glândula produz mineralocorticoides, glicocorticoides e androgênios,
enquanto a porção medular é responsável pela produção de catecolaminas. Ainda, você já
sabe que alterações no funcionamento dessas estruturas resultam em diferentes efeitos
fisiológicos, que podem ser deletérios ao organismo. Dentre as patologias associadas às
glândulas adrenais, temos os feocromocitomas. Estes são tumores que se originam nas
células cromafins e podem ou não estar restritos à porção medular da adrenal. Esses
tumores secretam grandes quantidades de catecolaminas, levando a vários efeitos
metabólicos, sendo a principal manifestação clínica a presença de hipertensão arterial.
Outros sintomas, como taquicardia, cefaleia, episódios de sudorese excessiva, ansiedade,
tremores e intolerância à glicose, também podem estar presentes. De fato, as
catecolaminas aumentam a frequência cardíaca (taquicardia), promovem vasoconstrição e
aumentam a resistência periférica total, determinando a elevação do débito cardíaco e o
aumento da pressão arterial. O diagnóstico do feocromocitoma é realizado por meio da
história clínica, evidenciando sinais de tônus adrenérgico aumentado, detecção laboratorial
de quantidades aumentadas de catecolaminas e seus metabólitos na urina, bem como uso
de exames de imagem para detecção da presença de massas tumorais. O tratamento
dessa patologia, geralmente, é cirúrgico, com remoção das glândulas adrenais, associada à
prescrição de glicocorticoides e mineralocorticoides sintéticos. Por não serem vitais ao
organismo, as catecolaminas não são repostas no tratamento, contudo a não reposição das
catecolaminas pode resultar, em alguns indivíduos, em uma resposta adaptativa a estímulos
estressores agudos menos eficaz.
HORMÔNIOS GONADOTRÓFICOS
Muito curioso para entender o caso do pai, o primo do nosso estagiário fez os seguintes
questionamentos: você saberia explicar qual é a causa da perda de cabelo do couro
cabeludo? Acontece mais em homens? Por que foi utilizado um inibidor da 5α-redutase para
o tratamento? Você, no lugar do estagiário, como responderia a todos esses
questionamentos de seu primo?
CONCEITO-CHAVE
REFLITA
GÔNADA MASCULINA
Algumas doenças podem estar associadas aos hormônios gonadotrópicos e/ou à produção
de esteroides sexuais estimulados por esses hormônios. A seguir, são apresentados alguns
desses distúrbios em homens:
Criptorquidia: é a não descida dos testículos para a bolsa escrotal, podendo ser uni ou
bilateral. Essa patologia é comum em lactentes que apresentam secreção reduzida de
androgênios. Como a produção de espermatozoides (espermatogênese) necessita que a
temperatura na bolsa escrotal esteja cerca de 2 °C abaixo da temperatura corporal, nessa
patologia, a produção de espermatozoides encontra-se comprometida, sendo menor que o
normal, uma vez que a temperatura da cavidade pélvica é maior. Desse modo, a condição,
se não tratada ou corrigida, pode levar o indivíduo à esterilidade. Para o tratamento da
criptorquidia, utiliza-se terapia hormonal (androgênios) e procedimentos cirúrgicos para
deslocamento dos testículos para a bolsa escrotal.
Algumas doenças podem estar associadas aos hormônios gonadotrópicos e/ou à produção
de esteroides sexuais estimulados por esses hormônios. A seguir, são apresentados alguns
desses distúrbios em mulheres:
Cistos ovarianos: são tumores benignos bastante comuns em mulheres. Esses cistos se
formam pela obstrução do ducto de um folículo ovariano, levando à formação de cavidade,
que se enche de líquido, formando um cisto. Geralmente, são assintomáticos e regridem
espontaneamente, não necessitando de tratamento. Contudo, em alguns casos, pode haver
o crescimento expressivo ou sangramento no interior do cisto, causando desconforto e dor
difusa no lado afetado, necessitando de remoção cirúrgica.
EXEMPLIFICANDO
O planejamento familiar envolve a atuação dos profissionais de saúde e está pautado na
Constituição Brasileira, a qual garante a homens e mulheres o direito de ter ou não filhos.
Para tal, existem diferentes métodos contraceptivos, sendo um dos mais utilizados os
contraceptivos orais. Estes, geralmente, são combinações entre estrogênio sintético e uma
substância similar à progesterona, a progestina ou progestágeno. Dessa forma, o
estrogênio e a progesterona presentes nos contraceptivos orais podem inibir a liberação das
gonadotrofinas pelos gonadotrofos da adeno-hipófise, inibindo, assim, a ovulação. Alguns
contraceptivos orais são constituídos somente por progestágenos e, nesse caso, não atuam
impedindo a ovulação, mas alterando a composição do muco cervical, diminuindo a
capacidade do espermatozoide de transpor o colo do útero e inibem a proliferação do
endométrio uterino, tornando desfavorável a implantação do embrião. Embora seja
considerado um método bastante seguro, o uso de contraceptivos orais pode apresentar
alguns riscos, embora a taxa de ocorrência seja muito pequena. São atribuídos ao uso de
contraceptivos orais o risco aumentado de infarto do miocárdio ou de acidente vascular
encefálico isquêmico, trombose, aumento do peso corporal, alterações de humor e cefaleia.
Como a atuação dos profissionais de saúde no campo do planejamento familiar está
amparada no § 7º do art. 226 da Constituição Federal, o qual envolve o campo da
contracepção, além de ser atribuído ao profissional dessa área promover a orientação sobre
os métodos contraceptivos e o acompanhamento dos usuários, torna-se fundamental
também que o profissional da área da saúde conheça os principais efeitos fisiológicos das
gonadotrofinas e como funcionam os diferentes métodos contraceptivos.
Agora, que você conheceu como ocorre a síntese das gonadotrofinas e quais são as
funções que esses hormônios exercem no nosso organismo, você é capaz de compreender
a importância do conhecimento desse tema para uma atuação profissional adequada e
segura, visando ao bem-estar e à promoção da saúde.
Agora que você conheceu e aprendeu a respeito das gonadotrofinas e suas funções,
retomaremos a nossa situação-problema. A partir de agora, consideraremos que você seja
um estagiário da área da saúde e está conversando com seu primo durante uma reunião
familiar. Nesse momento, seu primo está comentando que andou bastante preocupado com
o pai, de 45 anos, que andava deprimido e incomodado com sua “careca”. Com a ajuda da
família, ele buscou atendimento médico e foi diagnosticado com calvície de padrão
masculino. Como tratamento inicial, o médico sugeriu a utilização de um inibidor da
5α-redutase, o que evitaria a queda dos cabelos do couro cabeludo.
Curioso para entender o caso do pai, o primo fez os seguintes questionamentos: você
saberia explicar qual é a causa da perda de cabelo do couro cabeludo? Acontece mais em
homens? Por que foi utilizado um inibidor da 5α-redutase para o tratamento? Agora, você já
é capaz de responder ao seu primo.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
ESTEROIDES ANABOLIZANTES
RESOLUÇÃO
Você já viu vários conceitos importantes a respeito da ação das gonadotrofinas sobre as
gônadas, tanto masculina quanto feminina, e sabe que essas glândulas são responsáveis
pela produção de diferentes esteroides sexuais, sendo os principais: no homem, a
testosterona, e na mulher, o estradiol e a progesterona. Na mulher, também temos a
produção de androgênios, pelas adrenais e pelos ovários, porém os níveis plasmáticos são
baixos quando comparados aos níveis apresentados por um homem. Contudo, os
androgênios nas mulheres exercem funções importantes, como estimulação do crescimento
dos pelos púbicos, pelos axilares e manutenção do impulso sexual. Porém, em excesso,
eles podem causar o que chamamos de virilismo. Nesse caso, observa-se o
desaparecimento do padrão feminino de distribuição de gordura, aumento da massa
muscular esquelética, engrossamento da voz, aumento do clitóris, diminuição das mamas,
aparecimento de acne e aumento de pelos pelo corpo, assumindo um padrão masculino de
distribuição. Muitos indivíduos fazem uso de androgênios exógenos para buscar o “corpo
perfeito”, exatamente pelas ações fisiológicas que eles apresentam sobre diferentes
tecidos-alvo no corpo humano, que podem favorecer a obtenção mais rápida desse padrão
estético. Dentre as várias ações dos androgênios, temos: efeitos anabólicos no músculo
esquelético, eritropoese, espessamento das cordas vocais (voz grave), lipólise (quebra da
gordura corporal), desenvolvimento da genitália externa, padrão masculino dos pelos
pubianos e da distribuição dos pelos pelo corpo e aumento da secreção das glândulas
sebáceas. Além dessas ações, têm sido reportados ao uso de esteroides anabolizantes:
isquemia miocárdica, predispondo ao infarto agudo do miocárdio; alterações
comportamentais, como irritabilidade e agressividade; câncer hepático, devido à
hepatoxicidade das drogas; entre outros. Embora os esteroides anabolizantes sejam
utilizados clinicamente para o tratamento de deficiências androgênicas, como
hipogonadismo e puberdade atrasada, atualmente, o seu uso indiscriminado e sem
prescrição e/ou acompanhamento médico vem crescendo, devido, em maior parte, aos seus
efeitos anabólicos (aumento de massa muscular e ganho de força física). Junto ao aumento
do uso dos esteroides anabolizantes, crescem os riscos associados em uma população
relativamente jovem em busca de um padrão “ideal” de corpo.
UNIDADE 4
CONVITE AO ESTUDO
CONCEITO-CHAVE
O sistema urinário é formado por rins, ureteres, bexiga urinária e uretra. A principal função
desse sistema é a excreção de substâncias do corpo. Essa função tão importante é
realizada pelos rins, enquanto as demais estruturas desse sistema atuam como vias de
passagem e locais de armazenamento.
Cada rim é formado por duas regiões distintas: córtex renal, mais externo e em contato com
a cápsula renal, e medula renal, localizada mais internamente. A medula renal é constituída
por estruturas em forma de cone chamadas pirâmides renais, entre as quais porções do
córtex renal se estendem, formando as colunas renais. Os ápices das pirâmides renais são
denominados papilas renais e encontram-se direcionadas para a região interna do rim.
Cada papila renal se projeta para uma depressão pequena chamada cálice menor. Os
cálices menores de diferentes pirâmides se unem, formando cálices maiores, e estes, por
sua vez, também se unem, formando uma câmara alargada chamada pelve renal. A função
da pelve renal é coletar a urina dos cálices e transportar para o ureter.
O córtex renal, junto às pirâmides renais, forma o parênquima, a porção funcional do rim.
Dentro do parênquima, encontramos as unidades funcionais dos rins, responsáveis pela
formação da urina, denominadas néfrons. Cada néfron é formado por um corpúsculo renal e
um túbulo renal. O corpúsculo renal é composto pelo glomérulo e pela cápsula de Bowman,
enquanto o túbulo renal apresenta três partes principais: túbulo contorcido proximal, alça de
Henle e túbulo contorcido distal. Os túbulos contorcidos distais de vários néfrons drenam
para um único ducto coletor. Assim, os néfrons são estruturas microscópicas, sendo
encontradas mais de um milhão delas em cada rim, envoltas por pequenos vasos
sanguíneos. O líquido filtrado a partir do capilar sanguíneo e que entra no néfron é chamado
de filtrado. Este é modificado à medida que percorre as estruturas do néfron, por meio de
diferentes processos de transporte. Assim, o filtrado formado no néfron drena para os
ductos coletores e, destes, para os cálices renais menores e maiores. A partir do momento
que o filtrado chega nos cálices, passa a ser chamado de urina, uma vez que, a partir dessa
estrutura, não ocorre mais alterações nesse líquido por processos, como reabsorção e
secreção. Dos cálices, a urina drena para a pelve renal e, daí, para o ureter e,
posteriormente, para a bexiga urinária.
ASSIMILE
O rim é uma estrutura extremamente vascularizada, o que torna suas funções bastante
efetivas. O sangue arterial entra no rim por meio da artéria renal, localizada no hilo, que se
ramifica em artérias segmentares, as quais, por sua vez, se dividem em artérias
interlobares. Estas passam entre as pirâmides renais através das colunas renais em direção
ao córtex e se ramificam em artérias arqueadas. Cada artéria arqueada origina várias
artérias interlobulares, que se projetam no interior do córtex renal. Cada artéria interlobular
origina várias arteríolas glomerulares aferentes, que suprem individualmente os néfrons,
mais especificamente os glomérulos. O sangue que não é filtrado no glomérulo deixa essa
estrutura a partir das arteríolas glomerulares eferentes, seguindo para os capilares
intertubulares (que envolvem os túbulos contorcidos dos néfrons) ou para as arteríolas retas
(envolvem os túbulos ascendentes e descendentes dos néfrons). A partir desses capilares,
o sangue é drenado do rim para as veias interlobulares, veias arqueadas e veias
interlobares. Estas últimas passam pelas pirâmides renais e formam a veia renal, que deixa
o rim através do hilo e desemboca na veia cava inferior.
URETERES
Constituem um par de tubos que se iniciam como uma continuação da pelve renal, seguindo
inferiormente até a bexiga urinária. Os ureteres penetram através da parede posterior da
bexiga urinária, formando o óstio do ureter. A função dos ureteres é transportar a urina dos
rins para a bexiga urinária.
• Camada muscular: camada intermediária constituída por uma camada longitudinal interna
e uma camada circular externa de músculo liso. No terço distal dos ureteres, há também
uma camada externa à camada circular composta de fibras musculares longitudinais.
Principal função da camada muscular é o peristaltismo, permitindo o movimento da urina
através dos ureteres em direção à bexiga urinária.
BEXIGA URINÁRIA
A parede da bexiga urinária é formada por três camadas, sendo a mais profunda a túnica
mucosa, constituída por epitélio de transição e lâmina própria, bem semelhante ao
observado nos ureteres. A presença desse epitélio de transição permite o estiramento da
parede da bexiga, assim como a presença das pregas de mucosa. A camada intermediária,
chamada túnica muscular ou músculo detrusor da bexiga, é composta por três camadas de
músculo liso: duas longitudinais (interna e externa) e uma circular, que se encontra disposta
entre elas. A contração do músculo detrusor da bexiga é responsável por expelir a urina
para o interior da uretra. Ao redor da abertura da uretra, as fibras musculares circulares
formam o esfíncter interno da uretra, responsável pelo controle involuntário da bexiga sobre
a eliminação da urina. A camada mais externa da bexiga urinária é a adventícia, presente
somente na face posterior e inferior da bexiga, formada por tecido conjuntivo. Revestindo
externamente a porção superior da bexiga, encontramos a túnica serosa, formada por uma
camada de peritônio.
URETRA
EXEMPLIFICANDO
Alguns termos médicos são utilizados para indicar alterações nos diferentes sistemas
corporais. Com relação ao sistema urinário, é importante aos profissionais da área da saúde
ter ciência de termos bastante utilizados, como:
• Hematúria: presença de sangue na urina, que pode estar associada, por exemplo, a
traumatismos.
• Glicosúria: presença de glicose na urina, comum em casos de Diabetes Mellitus, mas
também pode ser ocasionada por medicamentos, como anti-inflamatórios e quimioterápicos,
bem como infecções urinárias graves.
• Disúria: dor ao urinar; pode ser sinal de infecção das vias urinárias.
• Bacteriúria: presença de bactérias na urina.
• Piúria: presença de pus na urina; geralmente, consequência de presença de infecção.
• Oligúria: baixa produção de urina, que pode estar associada à desidratação, a efeitos
colaterais de medicamentos, entre outros.
• Poliúria: produção excessiva de urina, que pode ser causada por ingestão excessiva de
líquidos, consumo de álcool, Diabetes Mellitus, entre outros.
• Enurese: é a perda involuntária de urina, bastante comum na infância, devido à falta de
habilidade no controle do esfíncter e, consequentemente, da urina. Em adultos, a enurese é
chamada de incontinência urinária e pode estar relacionada à disfunção da musculatura do
assoalho pélvico, diabetes, entre outros.
Nos néfrons, ocorrem três processos básicos, cujo resultado é a produção da urina. Os
processos são:
• Filtração: é caracterizada pela passagem de líquido e grande parte dos solutos do sangue
para o néfron. Esse processo ocorre no corpúsculo renal, onde a água e os solutos
atravessam as paredes dos capilares glomerulares inicialmente e, depois, a cápsula de
Bowman, dirigindo-se para os túbulos renais. O fluido que atravessa essas estruturas passa
a ser chamado de filtrado.
• Reabsorção: à medida que o filtrado flui através dos túbulos renais e ductos coletores, a
água e os solutos úteis são reabsorvidos do lúmen tubular de volta para o sangue, através
dos capilares peritubulares.
• Secreção: à medida que o filtrado flui através dos túbulos renais e ductos coletores,
substâncias são seletivamente secretadas para o lúmen tubular. Dessa forma, substâncias,
como resíduos metabólicos, excesso de íons e fármacos, são removidas do sangue para o
lúmen tubular, sendo excretadas pela urina.
Agora que você conheceu e aprendeu a respeito das principais características anatômicas e
funcionais do sistema urinário, retomaremos a nossa situação-problema. Consideraremos
que você seja um estagiário da área da saúde na universidade de sua cidade e, nesta etapa
do seu estágio, você acompanhará a equipe multidisciplinar responsável por um Programa
de Atenção Integral à Saúde na sua instituição. Neste primeiro momento, você está
acompanhando a análise e discussão de diferentes casos clínicos de pacientes atendidos
em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) parceira do Programa.
Durante uma das reuniões, foi discutido o caso de uma paciente que apresentava os
seguintes achados clínicos: dor e ardência ao urinar há três dias, vontade de urinar com
maior frequência nas últimas 24 horas, urina com coloração mais escura, mas sem
alteração de cheiro, sem presença de febre e outras comorbidades. O exame de urina
mostrou bacteriúria, piúria e hematúria. Assim, diante de todos os achados, a paciente
acabou sendo diagnosticada com cistite.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
RESOLUÇÃO
Você já viu vários conceitos importantes a respeito do sistema urinário e sabe que ele é
responsável por diversas funções cruciais para o nosso organismo, como a manutenção do
meio interno. Sabe também que alterações no funcionamento das estruturas que compõem
esse sistema resultam em diferentes efeitos fisiológicos, que podem ser prejudiciais ao
nosso corpo. E assim como os demais sistemas corporais, o sistema urinário também
envelhece. Dentre as alterações observadas com o envelhecimento dele, temos a
diminuição do número de néfrons, das unidades funcionais dos rins e do fluxo sanguíneo
renal, acarretando uma diminuição no tamanho dos rins e da função renal. Ocorre o
enfraquecimento da musculatura pélvica e, desse modo, os esfíncteres perdem o tono
muscular, tornando-se menos efetivos para atuar na retenção voluntária da urina. A uretra
atrofia, perdendo sua elasticidade. Ocorrem também alterações vesicais, como redução no
tamanho e na capacidade da bexiga que, junto ao enfraquecimento da musculatura pélvica
e da atrofia uretral, colaboram para o aparecimento da incontinência urinária, assim como
para o aumento da frequência e urgência urinária. Com o envelhecimento do sistema
urinário, as infecções tornam-se mais comuns, bem como a disúria, poliúria e hematúria.
Nos homens, pode ocorrer retenção urinária como consequência de hiperplasia prostática
benigna, bastante comum em homens a partir dos 50 anos de idade. Nesse caso, o edema
e a deformação dos tecidos da próstata causam obstrução do fluxo urinário ao comprimirem
a parte prostática da uretra, impedindo o fluxo da urina. O edema e a deformação tecidual
também alteram significativamente o trato urinário inferior, causando, por exemplo, a
instabilidade do músculo detrusor.
Nesta seção, você conhecerá a estrutura anatômica do néfron e como o seu funcionamento
auxilia na manutenção da homeostase corporal. Verá os diferentes segmentos do néfron e
quais processos renais básicos ocorrem em cada um deles e que resultam na formação da
urina. Além disso, compreenderá como ocorre o reflexo da micção e como ele pode ser
controlado consciente e inconscientemente. Assim, você será capaz de reconhecer todas
essas características, tornando possível a compreensão e a aplicação desses
conhecimentos no seu dia a dia profissional. Dessa forma, a partir dos conceitos abordados
na seção, você poderá identificar as características estruturais do néfron, unidade funcional
dos rins, relacionando-as com suas funções, e perceber como essas características podem
influenciar e contribuir para o bom funcionamento do nosso organismo, sempre fazendo a
relação desses conceitos com o seu contexto profissional.
CONCEITO-CHAVE
Os rins são responsáveis pela formação da urina, sendo suas camadas formadas por
túbulos microscópicos denominados néfrons. Em cada rim, podemos encontrar cerca de um
milhão de néfrons, considerados suas unidades funcionais. Aproximadamente, 80% dos
néfrons estão localizados quase completamente dentro do córtex renal, sendo chamados de
néfrons corticais. Os outros 20% penetram na região medular do rim e, por isso, são
chamados de néfrons justamedulares. Cada néfron é formado pelo corpúsculo renal e por
uma estrutura tubular. Esta última é formada por quatro porções, denominadas túbulo
proximal, alça de Henle, túbulo distal e ducto coletor.
O corpúsculo renal faz parte do néfron, sendo que cada um dos corpúsculos é formado por
uma rede de capilares glomerulares chamado glomérulo. Envolvendo o glomérulo,
encontramos a cápsula de Bowman, uma câmara de parede dupla, com espaço no seu
interior (espaço de Bowman) preenchido com líquido (filtrado glomerular). A função do
corpúsculo renal é promover a filtração do plasma para dentro dos túbulos renais, a primeira
etapa da formação da urina. A partir do momento que o plasma é filtrado para dentro da
cápsula de Bowman, passa a ser chamado de filtrado glomerular, sendo composto,
principalmente, de água e solutos dissolvidos.
O sangue chega em cada glomérulo pela arteríola aferente e, ao fluir pelo glomérulo, parte
do plasma acaba sendo filtrado para a cápsula de Bowman. Aproximadamente, 20% do
plasma que flui ao longo dos rins é filtrado para dentro do néfron. O restante, junto às
células sanguíneas e à maior parte das proteínas plasmáticas, acaba não sendo filtrado,
sendo drenado do glomérulo pela arteríola eferente. A essa porcentagem de volume total do
plasma filtrado inicialmente para a cápsula de Bowman e, depois, para o interior dos túbulos
renais é dado o nome de fração de filtração.
Para que a filtração ocorra, o plasma precisa atravessar a membrana de filtração do rim
antes de alcançar o lúmen tubular. Essa membrana é formada por três barreiras de filtração:
o endotélio do capilar glomerular, uma lâmina basal e o endotélio da cápsula de Bowman.
Os capilares glomerulares são capilares fenestrados, portanto apresentam poros grandes
entre as células endoteliais, que permitem a passagem da maior parte dos componentes do
plasma, exceto a passagem de células sanguíneas e proteínas plasmáticas carregadas
negativamente. A lâmina basal, segunda barreira de filtração, é uma camada acelular de
matriz extracelular, formada por glicoproteínas carregadas negativamente, colágeno e
proteoglicanos, localizada entre o endotélio do capilar glomerular e o endotélio da cápsula
de Bowman. A lâmina basal impede a passagem da maioria das proteínas plasmáticas. E,
ainda, fazendo parte da membrana de filtração, temos o endotélio da cápsula de Bowman.
Este envolve cada capilar glomerular, sendo formado por células epiteliais especializadas,
denominadas podócitos. Os podócitos apresentam extensões citoplasmáticas chamadas
pedicelos, que envolvem os capilares glomerulares e se entrelaçam entre si, formando
lacunas, chamadas de fendas de filtração, que impedem a passagem de proteínas e
macromoléculas. Após passar pela membrana de filtração, o filtrado glomerular desemboca
no espaço de Bowman e, depois, passa para o lúmen do túbulo proximal.
ASSIMILE
Desse modo, a PEF é de, em média, 10 mmHg, do capilar glomerular para o interior da
cápsula de Bowman, direção que favorece a filtração. Contudo, conforme o sangue flui ao
longo do capilar, a PCG diminui. Isso ocorre devido à resistência ao fluxo, causada pelo
comprimento do capilar. Por outro lado, conforme o líquido vai sendo filtrado, a
concentração de proteínas aumenta no capilar glomerular, promovendo um aumento da
πCG ao longo desse capilar. Mas, mesmo com a diminuição da PCG ao longo do capilar
glomerular, esta ainda permanece maior do que as pressões que se opõem a ela,
permitindo a filtração ao longo de praticamente todo o comprimento dos capilares
glomerulares. O volume de fluido filtrado para o interior da cápsula de Bowman por unidade
de tempo é denominado taxa de filtração glomerular.
REFLITA
Após o filtrado glomerular deixar a cápsula de Bowman, ele flui para o sistema de túbulos
renais, sendo modificado ao longo deles pelos processos de reabsorção e secreção tubular,
para formar a urina. Assim, inicialmente, o filtrado drena da cápsula de Bowman para o
primeiro segmento tubular, denominado túbulo proximal, passando a ser chamado de fluido
tubular ou urina. A partir de agora, seguiremos o trajeto desse fluido através dos diferentes
segmentos tubulares.
O túbulo proximal apresenta duas porções: uma inicial mais tortuosa, denominada porção
convoluta ou contorcida, e uma porção reta, localizada mais no final desse segmento
tubular. O túbulo proximal é revestido por epitélio cúbico simples, no qual as células
apresentam duas membranas: uma apical ou luminal, voltada para o lúmen tubular e com
presença de uma borda em escova com microvilosidades, e uma basolateral, que constitui o
limite entre a célula e o interstício e os capilares peritubulares.
A saída de Na+ e outros solutos do lúmen tubular para o LIT promove uma diluição do fluido
tubular e um aumento da concentração do LIT, criando um gradiente osmótico que favorece
o movimento da água do lúmen tubular em direção ao interstício. Além disso, esse
transporte de água gera um gradiente favorável ao transporte de ureia. A saída da água do
lúmen tubular resulta em aumento da concentração de ureia no fluido tubular, gerando um
gradiente de concentração para o movimento dela do lúmen tubular para o LIT. E,
finalmente, no túbulo proximal, acontece a reabsorção da maior parte das proteínas e dos
peptídeos pequenos filtrados através da membrana de filtração. A reabsorção dessas
substâncias ocorre, geralmente, por pinocitose. Assim, aproximadamente, 70% da água e
dos solutos filtrados, assim como praticamente toda a glicose, os aminoácidos e as frações
significativas de íons importantes acabam sendo reabsorvidos no túbulo proximal. Uma vez
no interstício, a água e os solutos se movem para os capilares peritubulares, retornando à
circulação sistêmica.
A alça de Henle é responsável pela reabsorção de cerca de 25% de Na+ e Cl- filtrados e
15% de água filtrada. O ramo descendente fino, o primeiro dessa estrutura, é altamente
permeável à água. Nesse ramo, a água é reabsorvida por osmose, a favor de um gradiente
de concentração gerado pelo interstício circundante hiperosmótico em relação ao fluido
tubular. A reabsorção da água ocorre através de canais de água, chamados aquaporinas-1
(AQP1), os mesmos presentes no túbulo proximal e que permitem a reabsorção de água
naquele local. No entanto, no ramo fino descendente, não ocorre reabsorção de Na+ e Cl-.
Assim, o fluido tubular, ao sair desse ramo, apresenta maior concentração de Na+ e Cl-,
devido à reabsorção de água.
Nos ramos ascendentes fino e grosso da alça de Henle, não há reabsorção de água, pois
esses segmentos não apresentam aquaporinas (AQP), sendo, portanto, impermeáveis à
água. Por outro lado, nesses segmentos, ocorre a reabsorção de Na+ e Cl-. No ramo
ascendente fino, a reabsorção de Na+ e Cl- é passiva, a favor de um gradiente de
concentração, uma vez que a chegada do fluido tubular concentrado em solutos, (Na+ e
Cl-), oriundo do ramo descendente fino, acaba favorecendo a difusão desses solutos do
fluido tubular em direção ao LIT. Além do processo de reabsorção de Na+ e Cl-, no ramo
ascendente fino, também se observa a secreção passiva de ureia para o fluido tubular. No
ramo ascendente grosso, a reabsorção de Na+ e Cl- é favorecida pela atividade da bomba
Na+-K+-ATPase na membrana basolateral das células tubulares, que mantém baixa a
concentração de Na+ dentro da célula tubular, gerando um gradiente de concentração que
favorece o movimento desse íon do fluido tubular para dentro da célula. O transporte do
Na+ e Cl- através da membrana apical da célula para o seu interior ocorre via proteínas
transportadoras por cotransporte de 1Na+-1K+-2Cl-, movendo o Na+, Cl- e K+ para dentro
da célula. Os K+ acabam sendo reciclados, retornando para o fluido tubular através de
canais de potássio presentes na membrana apical. O transporte de Na+ na membrana
apical também pode ser realizado por proteínas transportadoras por contratransporte de
1Na+-1H+, movendo Na+ para dentro da célula e H+ para o fluido tubular. Dessa forma,
além da reabsorção de Na+ nesse segmento, ocorre também a secreção de H+. Assim, o
resultado dos processos que ocorrem nos ramos ascendentes da alça de Henle é um fluido
tubular mais diluído em relação ao plasma e ao interstício que envolve esse segmento. Isso
acontece porque, na alça de Henle, ocorre reabsorção de maior quantidade de NaCl do que
de água, tornando esse fluido tubular hiposmótico em relação ao plasma e ao interstício
circundante. Como a reabsorção de NaCl acaba sendo o responsável por esse fluido mais
diluído e essa reabsorção ocorre no ramo ascendente da alça de Henle, este ramo é
chamado de “segmento diluidor”.
O fluido tubular deixa a alça de Henle e entra no túbulo distal, que pode ser dividido em um
segmento inicial, denominado túbulo distal convoluto, e um segmento final, chamado túbulo
distal final. O túbulo distal se inicia logo após a mácula densa (um curto segmento do ramo
ascendente espesso da alça de Henle formado quando o néfron passa entre as arteríolas
aferente e eferente que o suprem), estendendo-se até o local onde muitos néfrons se unem
e formam um único ducto coletor cortical, o qual penetra na medula renal, originando o
ducto coletor medular.
Com relação aos processos básicos renais, no túbulo distal convoluto não há reabsorção de
água, pois esse segmento é impermeável à água. Contudo, o túbulo distal convoluto
reabsorve Na+, Cl- e Ca2+, além de secretar H+ e amônia. Nesse segmento, o transporte
de Na+ e Cl- na membrana apical em direção ao interior da célula tubular ocorre através de
proteínas transportadoras por cotransporte Na+-Cl-. Por ação da bomba Na+-K+-ATPase na
membrana basolateral das células tubulares, o Na+ deixa o meio intracelular, movendo-se
em direção ao LIT. Já o Cl- é movido do interior da célula tubular para o LIT por difusão via
canais de Cl-. Dessa forma, nesse segmento, o fluido tubular perde solutos sem reabsorção
de água, diluindo ainda mais.
Do túbulo distal convoluto, o fluido tubular entra no túbulo distal final e, depois, nos ductos
coletores. Esses dois últimos segmentos do túbulo renal apresentam dois tipos celulares:
células principais e células intercaladas. As células principais são responsáveis pela
reabsorção de Na+, Cl- e água e pela secreção de K+. Já as células intercaladas
reabsorvem K+ e secretam H+. Nas células principais, a reabsorção de Na+ e a secreção
de K+ envolvem a atividade da bomba Na+-K+-ATPase, presente na membrana basolateral.
Essa bomba promove a captação de K+ a partir do LIT para a célula e o movimento do Na+
da célula para o LIT. Com isso, a concentração de Na+ intracelular diminui, gerando um
gradiente químico que favorece o movimento do Na+ do fluido tubular para o interior da
célula, via difusão por canais seletivos ao Na+, canais do tipo ENac, presentes na
membrana apical das células tubulares. A secreção de K+ ocorre por canais específicos
para esse íon presentes na membrana apical. Com a saída de Na+ do líquido tubular, este
torna-se com voltagem mais negativa, o que favorece a reabsorção passiva de Cl- por via
paracelular (entre as células). A quantidade de água reabsorvida nos túbulos distais finais e
ductos coletores é variável e dependente da presença de hormônio antidiurético (ADH), que
regula a permeabilidade à água nesses segmentos tubulares. O ADH estimula a migração
de vesículas presentes no citoplasma das células tubulares dos túbulos distal e ductos
coletores em direção à membrana apical e sua posterior incorporação a essa membrana. As
membranas dessas vesículas apresentam agregados de canais de água que são sensíveis
ao ADH, chamados aquaporinas 2 (AQP2). Quando as concentrações plasmáticas de ADH
estão baixas, as AQP2 são retiradas da membrana apical por endocitose, resultando em
pouquíssima reabsorção de água nesses segmentos tubulares e, consequentemente, em
um fluido tubular com grande volume e hiposmótico (diurese hídrica). Porém, se as
concentrações plasmáticas de ADH estão aumentadas, acaba determinando a incorporação
de AQP2 na membrana apical e, consequentemente, maior reabsorção de água nesses
segmentos, tornando o fluido tubular hiperosmótico e com menor volume. Dessa forma, a
alteração na quantidade de AQP2 incorporada na membrana apical constitui um mecanismo
rápido de controle da permeabilidade da membrana à água. Diferentemente, a membrana
basolateral desses segmentos não depende da ação do ADH, sendo livremente permeáveis
à água. Esta deixa a célula tubular em direção ao interstício hipertônico por canais de água,
chamados AQP3 e AQP4, presentes na membrana basolateral. A secreção de K+pelas
células principais para o fluido tubular é mediada pela atividade da bomba Na+-K+-ATPase
na membrana basolateral, que capta o K+do LIT para o interior da célula. Posteriormente, o
K+ deixa a célula em direção ao fluido luminal por difusão via canais de K+ presentes na
membrana apical.
EXEMPLIFICANDO
É o volume de plasma a partir do qual uma substância específica é totalmente removida por
minuto e excretada na urina. A depuração plasmática pode ser utilizada para medir a TFG
e, portanto, ser um indicativo da função renal. Dessa forma, uma TFG reduzida indicaria um
declínio da função renal. A depuração plasmática (D) pode ser calculada pela fórmula:
Assim, quando uma substância é livremente filtrada no corpúsculo renal, não sendo
secretada nem reabsorvida pelo néfron, sua depuração plasmática será igual à sua TFG,
pois a quantidade de substância filtrada é igual à quantidade da substância excretada. Um
exemplo seria a inulina, um polissacarídeo não fisiológico. Contudo, embora a inulina seja
ideal para a avaliação da TFG, sua utilização é tecnicamente difícil e pouco prática, o que a
torna pouco adequada para uso rotineiro na prática clínica. Clinicamente, a substância
utilizada para a medida da TFG é a creatinina, produto do metabolismo da creatina nos
músculos esqueléticos, sendo liberada no sangue em um ritmo constante. A creatinina é
livremente filtrada nos corpúsculos renais e não é reabsorvida pelos túbulos renais.
Entretanto, essa substância é secretada pelo túbulo proximal, de modo que cerca de 10%
da creatinina acaba sendo excretada pela urina, o que levaria a uma superestimação da
TFG. Mas, devido a um erro de igual magnitude do ensaio realizado em laboratório, o valor
da TFG acaba sendo compensado, validando a sua utilização na prática clínica.
MICÇÃO
Agora que você conheceu e aprendeu a respeito das principais características anatômicas e
funcionais dos componentes do néfron, retomaremos a nossa situação-problema.
Consideraremos que você seja um estagiário da área da saúde na universidade de sua
cidade e, nesta etapa do seu estágio, você acompanhará a equipe multidisciplinar
responsável por um Programa de Atenção Integral à Saúde na sua instituição. Neste
primeiro momento, você está acompanhando a análise e discussão de diferentes casos
clínicos de pacientes atendidos em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) parceira do
Programa.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
HEMODIÁLISE
Nessa semana, como parte das atividades práticas de um curso da área da saúde, um
grupo de alunos acompanhará a rotina do setor de hemodiálise do hospital de sua
universidade. Assim, durante esse período, os alunos poderão acompanhar o atendimento a
pacientes renais crônicos e agudos realizado pela equipe multidisciplinar. No primeiro dia de
atividades, o diretor responsável pelo setor recebeu os estudantes para uma conversa a
respeito do tipo de atendimento realizado por eles. Nesse momento, foi mencionado que,
além da hemodiálise, os pacientes recebiam orientações nutricionais, de higienização,
acompanhamento psicológico e realizavam exercícios físicos acompanhados e
individualizados, visando à sua reabilitação. Diante disso, segundo o diretor, o setor atuava
não somente na realização da hemodiálise mas também em ações para ajudar os pacientes
no enfrentamento da pesada rotina de tratamento, buscando auxiliar na melhora da
qualidade de vida deles, bem como no tratamento de outras patologias decorrentes da
doença renal. Ainda, o setor conta com 20 equipamentos de hemodiálise para atender
pacientes internados no hospital universitário ou emergências encaminhadas pelo pronto
socorro, além de pacientes externos que apresentam comprometimento renal e necessitam
de diálise.
Como primeira atividade do grupo de alunos, o diretor sugeriu que eles continuassem o
bate-papo, discutindo alguns conceitos importantes para o melhor entendimento do tipo de
tratamento realizado no setor de hemodiálise. Nesse momento, ele levantou os seguintes
questionamentos: vocês saberiam explicar o que é uma hemodiálise? Qual a importância
desse procedimento para o bom funcionamento do nosso organismo?
RESOLUÇÃO
Você já viu vários conceitos importantes a respeito dos processos de filtração, reabsorção e
secreção renal e sabe que esses processos são responsáveis pela eliminação de produtos
metabólicos e substâncias nocivas ao organismo, bem como pelo retorno à circulação
sistêmica de substâncias fundamentais ao bom funcionamento dos sistemas corporais,
como glicose, água e vários íons. Ainda, você aprendeu que alterações nesses processos
podem resultar em diferentes efeitos fisiológicos que podem ser prejudiciais ao nosso
organismo. Doenças ou lesões renais podem alterar esses processos e, nesse caso, as
funções renais precisam ser suplementadas ou substituídas por um processo artificial
chamado diálise. Esse método se baseia na difusão de solutos através de uma membrana
seletivamente permeável. Um dos métodos de diálise é a hemodiálise, procedimento no
qual o sangue do braço é direcionado para uma membrana de diálise, que apresenta poros
que permitem a passagem de pequenos solutos, localizada dentro de um aparelho
chamado hemodialisador. Ao redor dessa membrana, é bombeado um líquido, denominado
dialisado, que mantém um gradiente de difusão e, dessa forma, o sangue do indivíduo que
flui através dessa membrana é filtrado, e as escórias metabólicas, os eletrólitos e os
líquidos em excesso são removidos, bem como substâncias necessárias ao organismo são
adicionadas a ele. Também é adicionado um anticoagulante, para evitar que haja a
coagulação do sangue que está sendo depurado dentro do hemodialisador. Após passar
pela membrana semipermeável, o sangue depurado flui através de um detector de êmbolos
de ar, para a remoção de ar que possa estar presente nesse sangue e, em seguida, o
sangue retorna ao corpo do indivíduo. Todo esse processo pode durar de três a cinco horas
e, dependendo do caso, três vezes por semana.
CONCEITO-CHAVE
HIPERTENSÃO ARTERIAL
É uma condição caracterizada pela elevação sustentada da pressão arterial (PA), ou seja,
PA sistólica maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica maior ou igual a 90 mmHg. A
hipertensão arterial é uma doença crônica, multifatorial e, geralmente, é assintomática.
Contudo, ela pode evoluir, ocasionando alterações estruturais e funcionais em diferentes
órgãos e tecidos do nosso corpo, tornando-se um fator de risco para doenças
cardiovasculares, doenças renais crônicas e mortes prematuras. Assim, para garantir um
fluxo sanguíneo adequado aos diferentes órgãos e tecidos do corpo, bem como evitar
danos a essas estruturas com consequente instalação e desenvolvimento de patologias, a
PA precisa ser mantida dentro de valores considerados normais.
A hipertensão arterial é classificada, de acordo com suas causas, em: hipertensão primária
ou hipertensão secundária. A hipertensão primária, também chamada hipertensão
essencial, não apresenta uma causa específica. Porém, alguns fatores podem contribuir
para o seu desenvolvimento, como: idade (mais comum em adultos do que em crianças),
sexo e raça (mais prevalente em afrodescendentes), histórico familiar, dieta, níveis
plasmáticos de lipídios, tabagismo, etilismo, sedentarismo e obesidade. Já a hipertensão
secundária é a elevação sustentada da PA como resultado da presença de outra patologia.
Como os rins apresentam um papel predominante no controle da pressão arterial, por meio
da regulação do volume dos líquidos corporais, a causa mais comum de hipertensão
secundária envolve a diminuição do fluxo sanguíneo renal. Nesse caso, a hipertensão
secundária é denominada hipertensão renovascular. A redução do fluxo sanguíneo renal
ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona. Como isso acontece nos rins? Para
entendermos, precisamos, inicialmente, conhecer as características anatômicas e
funcionais do aparelho justaglomerular.
Nos néfrons, o túbulo distal contorcido encontra-se em contato com o seu respectivo
glomérulo e suas arteríolas aferente e eferente correspondentes. Essa unidade, formada
por vasos e túbulo, é chamada de aparelho justaglomerular. Na parede do túbulo distal
contorcido, parte do aparelho justaglomerular, encontramos as células da mácula densa,
que detectam tanto variação de volume do líquido tubular como na sua composição. Já na
camada média da arteríola aferente, no lugar do músculo liso, nota-se a presença de
células epiteliais chamadas células justaglomerulares ou granulares. No citoplasma das
células justaglomerulares, encontramos grânulos contendo a enzima renina, que faz parte
do sistema renina-angiotensina-aldosterona.
Diante do exposto, podemos inferir que falhas nos mecanismos de controle da PA, ou seja,
na homeostasia, podem acabar levando ao aparecimento da hipertensão arterial.
É uma condição bastante comum das vias urinárias, caracterizada pela formação de
agregados de cristais de sais presentes na urina e que, ocasionalmente, podem se
precipitar, solidificar, tornando-se insolúveis e alojando-se nas diferentes regiões do sistema
urinário. Geralmente, são unilaterais, podendo ser únicos ou múltiplos. Existem quatro tipos
principais de cálculos renais: de sais de cálcio (oxalato de cálcio e fosfato de cálcio), de
ácido úrico, de cistina e formados por fosfato de amônio e magnésio. Contudo, os cálculos
formados de sais de cálcio são os mais comuns na prática clínica. Alguns fatores estão
envolvidos na formação dos cálculos renais, como: (1) aumento da concentração sanguínea
e urinária dos componentes que constituem os cálculos, como resultado de ingestão
excessiva de cálcio ou associados a quadros de hipercalcemia e/ou hipercalciúria
(ocasionados por ingestão excessiva de cálcio, distúrbios na absorção tubular de cálcio,
acidose tubular, hiperatividade das glândulas paratireoides, bem como presença de alguns
tipos de tumor e metástase), dieta rica em purinas ou alterações na absorção tubular de
aminoácidos (cálculos de cistina) e doenças como gota (apresentam concentrações altas de
ácido úrico na urina); (2) anormalidades anatômicas das estruturas do sistema urinário; (3)
presença de infecção no trato urinário (ocasionado por bactérias que decompõem a ureia);
(4) volume urinário baixo (baixo consumo de água).
REFLITA
Vários fatores estão envolvidos na formação dos cálculos renais, como baixa ingestão de
água, histórico familiar, distúrbios metabólicos (excesso de ácido úrico ou de cálcio), entre
outros fatores. Você sabia que a restrição dietética pode auxiliar na prevenção de formação
de cálculo renais? Quais alimentos devem ser evitados? Variam conforme o tipo de cálculo
renal? Como esse conhecimento implica a sua atuação como futuro profissional da área da
saúde?
As manifestações clínicas do cálculo renal dependem do seu tamanho, formato e
localização. Os cálculos grandes são, geralmente, assintomáticos, a não ser que estejam
associados à obstrução do fluxo urinário e a infecções. Cálculos com tamanho variando
entre 1 e 5 mm provocam dor de intensidade variável, intermitente, sendo frequentemente
acompanhada por náuseas e vômitos. A presença de hematúria é bastante comum,
ocasionada por traumatismo e ulcerações provocadas pela presença do cálculo renal ou
seu deslocamento. Os cálculos podem permanecer ao longo do trajeto do ureter e causar
obstrução desse canal e, consequentemente, do fluxo urinário, assim como podem alcançar
a bexiga, favorecendo o aparecimento de infecções. Raramente, os cálculos se alojam na
uretra. A obstrução prolongada das vias urinárias pode acarretar hidronefrose, isquemia,
necrose, além de úlceras por compressão exercida pela presença do cálculo renal. O
tratamento consiste em analgesia e medicamentos para facilitar a eliminação do cálculo,
como bloqueadores de alfa-receptores (por exemplo, tansulosina). Para cálculos
persistentes ou que causam infecções, recomenda-se a remoção completa por meio do uso
de diferentes técnicas, como a remoção ureteroscópica e a litotripsia extracorpórea por
ondas de choque.
ASSIMILE
Hidronefrose
É a dilatação da pelve e dos cálices renais causada pelo acúmulo de urina ocasionada por
uma obstrução mecânica ou funcional do trato urinário. A obstrução mecânica é a principal
causa da hidronefrose, podendo ser causada por hiperplasia da próstata, cálculos renais,
tumores na bexiga, entre outros. A obstrução do trato urinário impede a drenagem da urina,
promovendo um aumento da pressão no interior da pelve renal que leva ao achatamento e
ao encurtamento das papilas renais, dilatação e, em seguida, atrofia progressiva dos
túbulos renais. A hidronefrose pode ser unilateral ou bilateral. Devido à atrofia progressiva
do parênquima renal, a hidronefrose acarreta comprometimento da função renal e, se não
tratada ou houver demora no diagnóstico, pode levar a lesões irreversíveis no rim.
INSUFICIÊNCIA RENAL
A lesão renal aguda (LRA), antes chamada de insuficiência renal aguda, é a perda rápida
da função renal, levando ao acúmulo de escórias nitrogenadas no sangue (azotemia) e ao
desenvolvimento de distúrbios hidroeletrolíticos. A LRA, na maioria das vezes, é reversível,
desde que haja o diagnóstico precoce da lesão, bem como um tratamento adequado. Os
tipos de LRA são:
• LRA pré-renal: ocasionada por fatores extrarrenais que levam à diminuição do fluxo
sanguíneo renal. Pode ser causada, principalmente, por perda de volume do líquido
extracelular (decorrente de ingestão inadequada de líquidos, hemorragias, diarreia, sepse,
entre outros) e diminuição da perfusão renal decorrente de doenças cardiovasculares, como
insuficiência cardíaca e choque cardiogênico. Observa-se oligúria e aumento das
concentrações de ureia no sangue. Em geral, é reversível quando eliminada a causa.
• LRA intrarrenal: ocasionada por distúrbios que levam à lesão de estruturas presentes nos
rins. Os distúrbios podem envolver vasos sanguíneos, glomérulos, túbulos renais ou
interstício. As principais causas da LRA envolvem: manutenção prolongada de causas
pré-renais, ação de nefrotoxinas diretamente sobre os rins (fármacos e contrastes
radiográficos) e doenças primárias do parênquima renal, como glomerulonefrites, necrose
tubular aguda, nefroesclerose maligna, entre outros).
• LRA pós-renal: resulta da obstrução da drenagem da urina produzida nos rins, podendo
ocorrer nos túbulos coletores (hidronefrose intraparenquimatosa), no ureter (cálculos e
estenoses), na bexiga (tumores) ou na uretra (hiperplasia prostática).
O tratamento da LRA é baseado na definição e remoção da causa da lesão. Porém, quando
não é possível a manutenção sob controle das escórias nitrogenadas e do equilíbrio
hidroeletrolítico, geralmente, torna-se necessária a realização de hemodiálise.
É a perda da função renal de modo lento e gradativo, resultando em perda irreversível dos
néfrons e consequente diminuição progressiva da filtração glomerular, da capacidade de
reabsorção tubular e das funções endócrinas dos rins, podendo evoluir para a insuficiência
renal. Inicialmente, a IRC é assintomática. Nessa fase, há destruição de cerca de 75% dos
néfrons funcionantes, porém os sinais e sintomas não costumam aparecer, pois os néfrons
funcionantes remanescentes sofrem hipertrofia e passam a realizar uma hiperfiltração
compensatória, o que contribui ainda mais para sobrecarga e lesão renal. Com o aumento
progressivo da destruição dos néfrons, instala-se de fato a insuficiência renal. Os rins
perdem a capacidade de manter o equilíbrio hidroeletrolítico, há uma redução precoce da
capacidade de concentrar a urina e eliminar ureia e creatinina (azotemia), seguida de
uremia, retenção de água e sódio, hiperpotassemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia, acidose
metabólica e anemia. Podem ocorrer também alterações fisiológicas secundárias, como
hipertensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e edema pulmonar. Assim,
inicialmente, na IRC, observa-se presença de fadiga, lentidão, anorexia e diminuição da
acuidade mental. Mas, na IRC mais grave, são observados sintomas adicionais, como
aumento da pressão arterial, manifestações neuromusculares, hálito urêmico, sedimento
urêmico na pele, desnutrição e dispneia. Quando, aproximadamente, 90% dos néfrons
estão perdidos, inicia-se uma fase terminal da doença, denominada doença renal em
estágio terminal, que se caracteriza por oligúria e concentrações plasmáticas de escórias
nitrogenadas e creatinina ainda mais altas. A IRC pode ser causada por uma variedade de
distúrbios que apresentem potencial para ocasionar lesão renal, como glomerulonefrite
crônica, doença renal policística, pielonefrite, hipertensão e diabetes. O tratamento da IRC
inclui controle das doenças secundárias e outras complicações, suplementação de
bicarbonato de sódio, possível necessidade de restrição de proteína, fosfato, potássio e sal
na dieta, bem como ingestão de água. Dependendo do estágio da IRC, são indicados
tratamentos, como diálise e transplante renal.
DIURÉTICOS E SUAS AÇÕES
Os diuréticos são fármacos que atuam sobre os túbulos renais, aumentando o volume de
urina excretada. A maioria desses fármacos atua inibindo a reabsorção de Na+ e do ânion
que o acompanha (em especial, Cl-), promovendo um aumento da excreção desses íons e,
consequentemente, de água. Visto que a reabsorção de água é dependente da reabsorção
de solutos, principalmente, de Na+. Por suas ações, os diuréticos acabam sendo utilizados
para reduzir o volume do líquido extracelular via redução de NaCl corporal. Existem
diferentes tipos de diuréticos, classificados de acordo com seus efeitos nos túbulos renais,
como:
EXEMPLIFICANDO
Agora que você conheceu as principais patologias associadas ao sistema urinário, é capaz
de compreender a importância do conhecimento desse tema para uma atuação profissional
adequada e segura, visando ao bem-estar e à promoção da saúde.
Agora que você conheceu e aprendeu a respeito das principais patologias associadas ao
sistema urinário, retomaremos a nossa situação-problema. Consideraremos que você seja
um estagiário da área da saúde na universidade de sua cidade e acompanhará a equipe
multidisciplinar responsável por um Programa de Atenção Integral à Saúde na sua
instituição. Neste primeiro momento, você está acompanhando a análise e discussão de
diferentes casos clínicos de pacientes atendidos no pronto socorro do hospital. Durante uma
das reuniões, discutiu-se o caso de um paciente que apresentava os seguintes achados
clínicos: dor forte no flanco direito, irradiando para região inguinal, náusea, vômito, sangue
na urina, sem febre. Paciente apresenta síndrome metabólica, consome grande quantidade
de proteína de origem animal e ingere pouca quantidade de líquidos por dia. O exame de
urina mostrou hematúria microscópica, presença de cristais, baixo pH e hiperuricosúria. A
ultrassonografia abdominal constatou presença de cálculo no ureter direito. O paciente
recebeu quantidade grande de líquidos por via endovenosa, para eliminação do cálculo, e
anti-inflamatório não esteroide (AINEs) para alívio da dor. Após a eliminação do cálculo, foi
realizada análise laboratorial, confirmando que se tratava de um cálculo renal de ácido
úrico.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
Nessa semana, como parte das atividades práticas de um curso da área da saúde, um
grupo de alunos acompanhará a rotina do ambulatório do hospital de sua universidade.
Durante esse período, eles poderão acompanhar o atendimento a pacientes da comunidade
realizado pela equipe multidisciplinar do hospital. No primeiro dia de atividades, os
estudantes acompanharam o caso da paciente V.S.N., 59 anos. Ela era hipertensa e fazia
seu acompanhamento há dez anos nesse local. Segundo a paciente, seus medicamentos
estavam sendo efetivos no controle da pressão arterial, porém, nas últimas semanas, ela
começou a se sentir cansada, com fraqueza e câimbras musculares. No exame clínico,
observou-se uma pressão arterial de 140 mmHg/102mmHg. A avaliação laboratorial
mostrou concentração plasmática normal de sódio e baixa de potássio, levando à suspeita
de uma disfunção da secreção de aldosterona. Assim, foram realizados novos exames, que
mostraram um aumento da concentração plasmática de aldosterona e baixa de renina.
Diante dos achados, a paciente foi diagnosticada com hiperaldosteronismo primário. Ela já
utilizava um bloqueador do receptor de angiotensina e o diurético furosemida, sendo
indicada a associação da espironolactona para o tratamento inicial, até que se achasse a
causa do hiperaldosteronismo primário.
RESOLUÇÃO
Você já viu que os néfrons são responsáveis pela manutenção do meio interno, e que
alterações no seu funcionamento resultam em diferentes efeitos fisiológicos, os quais
podem ser prejudiciais ao nosso organismo, acarretando o aparecimento de patologias.
Você já sabe que alguns fármacos agem nos diferentes segmentos dos néfrons, atenuando
ou revertendo alterações no volume dos líquidos e eletrólitos corporais, como os diuréticos.
Na situação-problema, a paciente apresentava uma hipertensão refratária, ocasionada por
um aumento na produção de aldosterona, resultado do hiperaldosteronismo primário. De
fato, a aldosterona é um mineralocorticoide produzido e secretado, principalmente, pela
zona glomerulosa do córtex da glândula adrenal. Esse mineralocorticoide atua na regulação
do volume corporal, no equilíbrio eletrolítico, na pressão arterial e no pH dos líquidos
corporais. Interessantemente, essas funções da aldosterona estão relacionadas ao seu
efeito estimulatório exercido, sobretudo, sobre as células principais do túbulo distal
convoluto e ducto coletor renal, promovendo um aumento na reabsorção de sódio e na
secreção de potássio e hidrogênio nesse local. O principal fator fisiológico estimulatório para
a secreção de aldosterona é a angiotensina II (ANG II). Assim, baixas quantidades de Na+
que chegam ao aparelho justaglomerular estimulam a secreção de renina e,
consequentemente, ANG II. Esta atua nas adrenais, promovendo a secreção de aldosterona
e, dessa forma, completa o sistema renina-angiotensina-aldosterona, que participa da
regulação do volume corporal por controlar a retenção renal de Na+. Como consequência, a
aldosterona acarreta o aumento do volume do líquido extracelular e da pressão sanguínea.
No caso do hiperaldosteronismo primário apresentado pela paciente, mesmo com baixa
concentração plasmática de renina, há o aumento da secreção de aldosterona, indicando
que esse aumento de secreção não parece estar envolvido com a ação da ANG II, o que
também é reforçado pela ausência de correção na concentração de aldosterona quando
utilizado o bloqueador do receptor de aniotensina. A furosemida, utilizada no tratamento da
paciente, diminui a reabsorção de NaCl, por promover inibição da atividade do
cotransportador 1Na+-1K+-2Cl-, localizado na membrana apical das células epiteliais do
ramo ascendente espesso da alça de Henle, sem que haja aumento simultâneo na
secreção de K+. Devido ao quadro de hiperaldosteronismo, a paciente apresenta diminuição
das concentrações plasmáticas de potássio (hipocalemia). Essa redução da concentração
de K+ extracelular diminui a excitabilidade dos neurônios, das células cardíacas e das
células musculares e, se a hipocalemia for grave, pode acarretar paralisia, arritmias
cardíacas e morte. Na situação-problema, a paciente apresenta hipocalemia decorrente da
ação realizada pela aldosterona. Nos rins, a ação da aldosterona envolve a estimulação da
expressão gênica de proteínas responsáveis por aumentar a atividade ou o número de
canais do tipo ENac, na membrana apical das células epiteliais do túbulo distal convoluto e
ducto coletor, e as bombas Na+-K+-ATPase na membrana basolateral das dessas células, o
que promove aumento da reabsorção de Na+ e da secreção de K+. Assim, a
espironolactona, um diurético poupador de potássio que atua inibindo a aldosterona no
ducto coletor cortical, foi indicado no tratamento da paciente, uma vez que promove,
simultaneamente, a redução da reabsorção de Na+ e da secreção de K+ no ducto coletor
cortical e, consequentemente, causa o aumento das concentrações plasmáticas de potássio
e a diminuição de sódio, auxiliando na manutenção da pressão arterial e revertendo o
quadro de hipocalemia.