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Achados hematológicos
Anemia é comum, mas não invariavelmente presente; a gravidade tende a ser
semelhante nos membros da mesma família. Há reticulocitose, em geral de 5 a 20%.
A distensão sanguínea mostra microesferócitos, densamente corados, com diâmetro
menor que o dos eritrócitos normais.
Investiga ção e tratamento
Uma rápida análise em citometria de fluxo para eosina-5-maleimida (EMA) ligada
aos eritrócitos é usada como teste para a EH e a deficiência de proteína da
membrana. A identificação exata do defeito não é necessária para o diagnóstico e o
tratamento, mas a eletroforese das proteínas de membrana é realizada em casos
difíceis. O teste EMA substituiu a clássica determina ção da fragilidade osmótica que
mostrava que os eritrócitos da EH são excessivamente frágeis em soluções salinas
diluídas. O teste direto de antiglobulina (teste de Coombs) é negativo, excluindo
uma causa autoimune de esferocitose e hemólise.
A principal forma de tratamento é a esplenectomia, preferentemente laparoscópica,
que só deve ser feita se houver indicação clínica, por anemia, liriase biliar, úlceras
de perna ou retardo de crescimento. A restrição à esplenectomia nos casos
assintomáticos decorre do risco de sepse pós-esplenectomia, sobretudo na infância.
Deve ser feita colecistectomia simultânea se houver litíase com expressão clínica. A
esplenectomia sempre normaliza a hemoglobina, apesar de persistirem esferócitos,
formados no resto do sistema RE. Em casos de EH grave convém receitar ácido
fólico para prevenir a deficiência de folato.
Eliptocitose hereditária
A eliptocitose hereditária apresenta semelhan ças clínicas e laboratoriais com a
esferocitose hereditária, exceto pela morfologia dos eritrócitos na distensão
sanguínea, mas, em geral, é um distúrbio clinicamente mais leve. Ela é geralmente
notada por acaso à microscopia de hemograma, sem haver evidências de hemólise.
Somente pacientes ocasionais necessitam de esplenectomia. O defeito básico é
uma falha na associação de heterod ímeros de espectrina para formar
heterotetr âmeros. Várias mutações genéticas que afetam as interações horizontais
foram detectadas. Os pacientes homozigóticos ou duplamente heterozig óticos para
ovalocitose têm anemia hemolítica grave, denominada piropecilocitose heredit ária.
Ovalocitose do sudeste da Ásia
É comum na Melanésia, na Malásia, na Indonésia e nas Filipinas. É causada pela
deleção de nove aminoácidos na junção dos domínios citoplasmático e
transmembrana da proteína banda 3. As células são rígidas e resistem à invasão
por parasitas da malária. A maioria dos casos é assintomática e não ocorre anemia.
Defeitos no metabolismo do eritrócito
Deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase
A glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) reduz a nicotinamida-adenina-
dinucleot ídio-fosfato (NADP). Ela é a única fonte de NADPH nos eritrócitos e, como
o NADPH é necessário para a produção de glutationa reduzida, sua deficiência
torna o eritrócito suscetível a estresse oxidante.
Epidemiologia
Há muitas variantes normais da enzima G6PD, sendo as mais comuns o tipo B
(Ocidental) e o tipo A (em africanos). Além delas, foram caracterizadas mais de 400
variantes, causadas por mutações pontuais ou por deleções da enzima, que
mostram atividade menor do que a normal, de modo que se estima haver no mundo
mais de 400 milhões de pessoas com deficiência de G6PD.
A herança é ligada ao sexo, acometendo homens e sendo carreada por mulheres,
as quais têm cerca de metade dos valores médios de G6PD eritrocitária. Essa leve
deficiência das heterozigotas atribui-lhes vantagem na resistência ao P. falciparum.
O grau de deficiência varia de acordo com a etnia afetada, quase sempre é leve (10
-60% da atividade normal) em negros africanos, mais grave nos povos do Oriente
Médio e do Sul da Ásia e muito grave nos mediterr âneos (< 10% da atividade
normal). Casos de deficiência grave ocasionalmente ocorrem em raças brancas.
Aspectos clínicos
A deficiência de G6PD, em geral, é assintomática, com hemograma normal entre as
crises de hemólise. Embora a G6PD esteja presente em todas as células, as
principais síndromes clínicas que podem ocorrer são as seguintes.
Anemia hemolítica aguda em resposta a estresse oxidante - por exemplo,
fármacos, ingestão de favas ou infecções. O feijão fava (Vica fava) contém
um oxidante químico, a divicina. A anemia aguda é causada por hemólise
intravascular rapidamente progressiva com hemoglobin úria. A anemia é
autolimitada, pois eritrócitos novos são formados com níveis enzimáticos
quase normais.
Icterícia neonatal.
Raramente, anemia hemolítica congênita não esferocítica.
Essas síndromes resultam de diferentes tipos de deficiência enzimática grave.
Diagnóstico
Entre as crises, o hemograma é normal. A deficiência enzimática é detectada por
vários exames de triagem ou por dosagem direta da enzima nos eritrócitos. Durante
a crise, a distensão sanguínea pode mostrar células contraídas e fragmentadas,
"mordidas" e "vesiculadas", uma vez que tiveram corpúsculos de Heinz removidos
pelo baço. Os corpúsculos de Heinz (hemoglobina oxidada desnaturada) podem ser
vistos na preparação de reticulócitos, sobretudo em pacientes esplenectomizados.
Também há sinais bioquímicos de hemólise intravascular. Devido ao nível mais alto
de enzima nos eritrócitos jovens, a dosagem da enzima nos eritrócitos pode
fornecer "falso" nível normal na fase aguda da hemólise com grande resposta
reticulocítica. A dosagem subsequente, depois da fase aguda, mostra a baixa
atividade de G6PD, característica da deficiência, quando a população de eritrócitos
volta à distribuição normal de idade.
Tratamento
O fármaco lesivo é suspenso, qualquer infecção subjacente é tratada, o débito
urinário é mantido alto e transfus ões de glóbulos serão indicadas se necessárias
pela gravidade da anemia. Bebês com deficiência de G6PD têm tendência à icterícia
neonatal e, em casos graves, pode haver necessidade de fototerapia e
exsanguineotransfus ão. Em geral, a icterícia não é causada por excesso de
hemólise, mas por comprometimento da função normal do fígado neonatal pela
deficiência de G6PD.
Deficiência de glutationa e outras síndromes
Foram descritos outros defeitos na via pentase-fosfato, particularmente a deficiência
de glutationa, causando síndromes semelhantes às da deficiência de G6PD.
Defeitos da via glicolítica (EmbdenMeyerhof)
São incomuns e causam anemia hemolítica congênita não esferocítica. Em alguns,
há defeitos de outros sistemas (p. ex., miopatia). O mais frequente é a deficiência
de piruvatoquinase (PK).
Deficiência de piruvatoquinase
É autossômica recessiva, e os pacientes acometidos são homozigotos ou
duplamente heterozigotos. Há mais de 100 mutações diferentes descritas. Os
eritrócitos ficam rígidos devido à diminuição da formação de trifosfato de adenosina
(ATP). A gravidade da anemia varia muito (hemoglobina 4-10 g/dL) e provoca
sintomas relativamente leves devido ao desvio para a direita da curva de
dissociação de oxigênio (O2) da hemoglobina, causado por aumento do 2,3-
difosfoglicerato (2,3-DPG) intracelular. Clinicamente, a icterícia é comum e os
cálculos vesiculares são frequentes. Pode haver bossa frontal. A distensão
sanguínea mostra pecilocitose e células distorcidas e espiculadas ("prickle" cells),
particularmente numerosas após esplenectomia. A dosagem direta da enzima é
necessária para o diagnóstico. A esplenectomia pode aliviar a anemia, mas não a
cura, sendo indicada em pacientes que necessitam de transfus ões frequentes. A
sobrecarga de ferro é uma complicação comum, devida à baixa da hepcidina sérica
resultante da eritropoese aumentada e ineficaz e da necessidade transfusional.
Distúrbios heredit ários da síntese de hemoglobina
Diversos distúrbios hereditários da síntese de hemoglobina causam hemólise clínica.
Anemias hemolíticas adquiridas
Anemias hemolíticas imunológicas
Anemias hemolíticas autoimunes
Anemias hemolíticas autoimunes (AHAls) são causadas por produção de anticorpos
contra os eritrócitos do próprio organismo. São caracterizadas por teste direto de
antiglobulina (DAT, ou teste de Coombs) positivo e divididas em dois tipos, "quentes"
e "frios", de acordo com o ótimo térmico dos anticorpos que reagem mais fortemente
com os eritrócitos a 37ºC ou 4ºC.